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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA
CURSO DE MESTRADO EM ODONTOLOGIA SOCIAL
SONEMY VIEIRA DE ASSUNÇÃO PAIVA
PROGRAMA DE ODONTOLOGIA PARA BEBÊS
uma avaliação quantitativa e qualitativa
Natal/RN
2000
SONEMY VIEIRA DE ASSUNÇÃO PAIVA
PROGRAMA DE ODONTOLOGIA PARA BEBÊS
uma avaliação quantitativa e qualitativa
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado
em Odontologia Social da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, para obtenção do título
de mestre em Odontologia Social.
Orientador: Prof. Dra. Delane Maria Rêgo
Natal/RN
2000
Catalogação na Fonte. UFRN/ Departamento de Odontologia Biblioteca Setorial de Odontologia “Profº Alberto Moreira Campos”.
Paiva, Sonemy Vieira de Assunção. Programa de odontologia para bebês: uma avaliação quantitativa e qualitativa / Sonemy Vieira de Assunção Paiva. – Natal, RN, 2000.
97 f. : il. Orientador: Dra. Delane Maria Rêgo.
Dissertação (Mestrado em Odontologia Social) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências da Saúde. Programa de Pós-Graduação em Odontologia Social.
1. Odontologia preventiva – Dissertação. 2. Cárie dentária – Dissertação. 3.
Lactente – Dissertação. 4. Avaliação em saúde – Dissertação. 5. Odontopediatria – Dissertação. I. Rêgo, Delane Maria. II. Título.
RN/UF/BSO Black D27
SONEMY VIEIRA DE ASSUNÇÃO PAIVA
PROGRAMA DE ODONTOLOGIA PARA BEBÊS:
uma avaliação quantitativa e qualitativa
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Odontologia
Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para
obtenção do título de mestre em Odontologia Social.
Aprovada em: 25/02/2000
________________________________________________________
Profa. Dra. Delane Maria Rêgo Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Orientadora
________________________________________________________
Prof. Msc. Pedro Alzair Pereira da Costa Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Membro
________________________________________________________
Profa. Dra. Maria Celeste Morita Universidade Estadual de Londrina/PR
Membro
Ao meu esposo Pedro e às minhas filhas Juliane e Luane, carinhos maiores da minha vida, que junto comigo sofreram a ausência necessária para que este trabalho se concretizasse.
“Ensina a criança no caminho em que deve andar, e a inda quando for velho, não se desviará dele.”
Provérbios de Salomão, 22:6
AGRADECIMENTOS
À Deus, razão maior da minha existência, presença m arcante nos
momentos de angústia dando-me paz, conforto e força s;
Ao meu marido e filhas pelo amor que me impulsiona a lutar;
Aos meus pais que nunca mediram esforços para que e u atingisse
meus objetivos;
À minha avó pelo amor e auxílio desde o início da m inha carreira
profissional;
Aos meus irmãos e demais familiares por toda alegri a e beleza de
vivermos juntos;
À professora Doutora Delane Maria Rêgo, orientadora amiga que em
todos os momentos me incentivou com carinho a concl uir mais esta etapa;
À professora Doutora Edna Maria da Silva, pessoa si mples em seus
ensinamentos e grande em sua sabedoria, indispensáv el ajuda para o meu
crescimento;
À professora Doutora Maria do Socorro Rodrigues, pe la prestimosa
colaboração, sem a qual não poderia ter concluído e ste estudo;
Aos professores Doutora Iris e Doutor Kênio pela co laboração
importantíssima, assim como aos demais professores do CMOS que
contribuíram para o meu desenvolvimento intelectual ;
Aos funcionários do CMOS, pelas atitudes prestativa s e atenção;
Aos profissionais que formam a equipe de saúde da u nidade de
candelária, pela ajuda durante a coleta de dados;
Às crianças e mães que participaram deste trabalho, o meu respeito;
Aos colegas de turma; Hugo, Júnior, Osvaldo, Elisab eth Maisa, Lavínia
e Carlos, sentirei saudades;
Aos irmãos na fé que me ajudaram sustentando-me com suas orações;
À minha grande amiga Tereza Cristina, pelo apoio em todo o meu
percurso profissional, carinho e incentivos nos mom entos de aflição;
Aos profissionais da digitação, correção bibliográf ica, do português,
pela dedicação e paciência.
RESUMO
O presente estudo teve como objetivo avaliar um programa de odontologia para bebês em funcionamento há cinco anos na cidade do Natal. A pesquisa foi pautada em duas análises, uma quantitativa que buscou verificar a prevalência de cárie em 52 crianças acompanhadas pelo programa e outra qualitativa que através de entrevistas feitas com as mães, pela técnica de grupo focal, procurou apreender o efeito do programa nas atitudes relacionadas aos cuidados em saúde bucal de seus filhos. Para a análise quantitativa da prevalência de cárie foram aplicados os índices CEO-d, CEO-s e Knutson e os valores obtidos apresentados de forma descritiva e analítica. A análise qualitativa do discurso das mães foi feita segundo BARDIN. Os resultados apontaram que 4,2% dos bebês de 24 a 36 meses apresentaram a doença cárie. As crianças de 36 a 48 meses e de 48 a 60 meses apresentaram respectivamente uma prevalência de cáries de 18,2 e 16,7%. A análise qualitativa revelou um alto grau de satisfação das mães relacionado ao acesso, relação profissional-paciente e possibilidade de manutenção da saúde bucal de seus filhos.
Palavras-Chave: Odontologia preventiva. Cárie dentária. Lactente. Avaliação em saúde. Odontopediatria.
ABSTRACT
The objective of this study was to evaluate a baby dentistry program which has been in the city of
Natal for five years. The research was based on two analysis: a quantitative one, which tried to check
caries prevalence in 52 children supported by the program and a qualitative one, which, through
interviews carried out with the mothers, using the focus group technique, tried to realize the effect
of the program their attitudes related to the care of their children´s oral health. For the quantitative
analyses of caries prevalence there was the use of def-s and knutson rates and the values obtained
were shown in a descritive and analytical way.The results showed that 4.2% of babies ranging 24 to
36 months old presented carie disease. Children from 36 to 48 months old and above 48 months old
presented 18.2% and 16.7% carie prevalence respectively.The def-s averages found in ages 24 to 36,
36 to 48 and 48 to 60 months old were 0.08; 0.40 and 1.16 respectively, considered as being equally
low, going along with Knutson rates. The qualitative analyses showed a high level of the mothers`
satisfaction, considering the access,practitioner-patient relationship and opportunity to keep the oral
health. Children supported by the program showed a low carie prevalence and the program turned
out to be effective under the mothers` point of view.
Key-Words: Preventive dentistry. Dental caries. Infant. Health assessment. Pediatric dentistry.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Distribuição das crianças da amostra por sexo. Natal, RN. 1999... 45
Tabela 2 – Distribuição das crianças da amostra por faixa etária. Natal, RN.
1999.................................................................................................
46
Tabela 3 – Índice de Knutson, segundo o total absoluto e percentual de
crianças sem experiência de cárie ou com esta experiência nas
diferentes faixas etárias. Natal, RN. 1999.......................................
47
Tabela 4 – Escala de valores limites para análise do índice Knutson
proposta por CERQUEIRA (1998)..................................................
49
Tabela 5 – Índices ceo-d e ceo-s em relação às faixas etárias. Natal, RN.
1999.................................................................................................
49
Tabela 6 – Escala de valores limites para análise do índice ceo-s proposta
por CERQUEIRA (1998)..................................................................
50
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Temas e categorias...................................................................... 52
Quadro 2 – Conceitos de saúde bucal............................................................ 74
Quadro 3 – Conhecimento sobre higiene bucal.............................................. 75
Quadro 4 – Conhecimento sobre prevenção................................................... 77
Quadro 5 – Mudanças relacionadas com a higienização................................ 79
Quadro 6 – Mudanças relacionadas com a alimentação................................ 80
Quadro 7 – Mudanças relacionadas com hábitos de sucção.......................... 81
Quadro 8 – Alimentação.................................................................................. 82
Quadro 9 – Remoção de hábitos..................................................................... 83
Quadro 10 – Higienização................................................................................. 83
Quadro 11 – Satisfação como programa em relação ao entendimento da sua
importância...................................................................................
84
Quadro 12 – Satisfação como programa associada à relação
profissional/paciente.....................................................................
85
Quadro 13 – Satisfação com o programa em relação ao acesso..................... 87
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Atendimento de um bebe no sistema joelho-joelho executado
pela dentista do programa............................................................
33
Figura 2 – Atendimento a gestantes executado pela dentista do programa. 33
Figura 3 – Consulta inicial e anamnese......................................................... 34
Figura 4 – Aplicação de flúor a 0,2%............................................................. 35
Figura 5 – Orientação de escovação............................................................. 36
Figura 6 – Exame clínico na posição joelho-joelho....................................... 38
Figura 7 – Limpeza bucal com gaze úmida realizada previamente ao
exame...........................................................................................
38
Figura 8 – Exame clínico com espelho bucal para a tomada dos índices de
cárie..............................................................................................
39
Figura 9 – Realização das entrevistas em grupo.......................................... 41
Figura 10 – Distribuição das crianças da amostra por sexo............................ 45
Figura 11 – Distribuição das crianças da amostra por faixa etária.................. 46
Figura 12 – Proporção das crianças da amostra com ceo-d diferente de
zero por faixa etária......................................................................
47
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................ 12
2 OBJETIVO .............................................................................................. 14
2.1 OBJETIVO GERAL................................................................................. 14
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS................................................................... 14
3 REVISÃO LITERATURA ........................................................................ 15
4 METODOLOGIA..................................................................................... 29
4.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO......................................................... 29
4.2 CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO ALVO....................................... 30
4.2.1 Bebês ...................................................................................................... 30
4.2.2 Mães....................................................................................................... 30
4.3 CARACTERIZAÇÃO DO BAIRRO E DA UNIDADE DE SAÚDE............ 31
4.4 CARACTERIZAÇÃO DO PROGRAMA................................................... 32
4.5 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS................................................................... 37
4.6 PROCEDIMENTO DE LEVANTAMENTO DE DADOS........................... 37
4.6.1 Instrumentos Metodológicos da Análise Quantitativa ...................... 37
4.6.2 Instrumentos Metodológicos da Análise Qualitativa ......................... 39
4.7 ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES............................................................. 42
4.8 CONSTITUIÇÃO DO CORPUS.............................................................. 42
4.9 ORGANIZAÇÃO EM UNIDADES DE ANÁLISES................................... 42
4.10 PROCESSO DE CATEGORIZAÇÃO...................................................... 42
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................. 44
5.1 ANÁLISE QUANTITATIVA...................................................................... 44
5.2 ANÁLISE QUALITATIVA......................................................................... 51
6 CONCLUSÃO ......................................................................................... 88
REFERÊNCIAS....................................................................................... 89
ANEXOS................................................................................................. 97
12
1 INTRODUÇÃO
A assistência odontológica pública no Brasil tem se estruturado a partir de
diversos modelos que traduziam as políticas vigentes no momento histórico,
prevalecendo entre os anos 50 e 70, o modelo de assistência a escolares que se
tornou hegemônico. A partir daí, passaram a surgir algumas alternativas a este
modelo com dois pilares distintos, a Odontologia Simplificada e a Odontologia
Integral. Todos esses modelos estabelecidos a partir do paradigma curativo
reparador mostrando-se ineficazes.
Diante da impossibilidade da Odontologia, sob esta ótica, promover saúde,
tem-se observado algumas tendências atuais que, apesar de ainda não totalmente
disseminadas no país, se replicaram em diversos municípios. Tem sido dada maior
importância à prevenção e ao início da atenção mais precocemente, destacando-se
o Sistema Inversão da Atenção e Atenção Precoce em Odontologia, no qual está
incluída a Odontologia para Bebês. (OLIVEIRA, et al, 1999).
A experiência pioneira desta prática no Brasil teve início na Universidade
Estadual de Londrina (UEL), onde se desenvolveu uma série de pesquisas e
programas tendo como temática a atenção à saúde bucal nos primeiros meses de
vida e no período pré-natal, reforçando a necessidade de se rever aspectos culturais
para a promoção de saúde. (WALTER; FERELLE; ISSAO, 1996).
Devido ao sucesso desta experiência na UEL, a mesma foi estendida ao
serviço público, em algumas cidades brasileiras, sendo notória a implantação de
programas similares de forma acrítica e desvinculada de ações de saúde bucal mais
globais. A atenção precoce é uma conquista da Odontologia e sua inserção nos
13
modelos assistenciais é uma estratégia fundamental além de representar a
incorporação de um novo entendimento na perspectiva de promoção de saúde
bucal, no entanto, as ações necessitam de constantes avaliações para que se tenha
claro se os objetivos iniciais estão sendo alcançados. (OLIVEIRA, et al, 1999).
Os Programas com esse perfil têm se expandido e sido aplicados em
diversas realidades sem uma sistemática de avaliação permanente, o que dificulta a
análise dos resultados. Em Natal, RN, a Secretaria Municipal de Saúde implantou o
Programa Bebê-Clínica, em três dos quatro Distritos sanitários, tendo sido o primeiro
na Unidade de Saúde de Candelária em 1996, Distrito Sul. Posteriormente, as ações
desta modalidade de programa foram também implantados nos Distritos Oeste e
Leste. Até o presente momento não há registro de qualquer processo sistemático de
avaliação com vistas a favorecer a compreensão do mesmo e de seus resultados.
Este fato foi decisivo para a definição da realização deste estudo, que tem como
principal objetivo, dotar o Programa de dados que auxiliem o processo gerencial e
organizacional, além de facilitar possíveis mudanças no redirecionamento do
mesmo.
A análise realizada foi quali-quantitativa com o objetivo também de verificar o
impacto que esta iniciativa teve na redução dos níveis da cárie dental da população
alvo, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida.
14
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Avaliar os resultados do Programa de Odontologia para Bebês da Unidade
de Saúde de Candelária da cidade do Natal-RN.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1- Analisar a prevalência de cárie das crianças que participam do programa
desde o primeiro ano de vida.
2- Avaliar o nível de adoção de novas atitudes das mães em relação aos
hábitos que influenciam na saúde bucal de seus filhos.
3- Estudar o nível de percepção em saúde bucal das mães que nunca
participaram do programa em comparação com o das mães que têm filhos
cadastrados no mesmo.
4- Investigar o grau de satisfação das mães em relação à assistência prestada
pelo serviço.
15
3 REVISÃO DA LITERATURA
Embora nas últimas décadas a Cariologia tenha avançado rapidamente e os
dados divulgados pelo Ministério da Saúde indiquem um declínio da cárie dentária
em torno de 53,98% (FERREIRA, 1998), os desafios para a primeira infância são
imensos, pois nesta faixa etária a cárie pode se manifestar de forma muito
agressiva. Este fato deve-se à características peculiares como amamentações
freqüentes, inclusive noturna, ausência de higienização, imaturidade do esmalte dos
dentes recém erupcionados e presença comum de hipoplasias. (SEOW, 1998).
A cárie dentária em bebês tem sido um problema significante em alguns
países desenvolvidos e subdesenvolvidos e diversos estudos têm demonstrado a
alta prevalência da doença cárie em bebês. A Divisão de Saúde Dentária do
Departamento de Saúde Pública da cidade de Illinois (EUA), durante a Conferência
Anual sobre Saúde do bebê (Well Baby Conferences) no período de 1939 a 1942,
efetuou uma série de exames em 3000 crianças de 1 a 71 meses de idade, de
ambos os sexos em diversas áreas da cidade. Foi verificado que as crianças de 18
meses já apresentavam lesões de cárie, expressando um ceo-d de 0,02, enquanto
as crianças de 30 meses possuíam cáries e obturações com o ceo-d de 0,22. Para o
grupo de 42 meses o ceo-d encontrado foi de 1,06. (FULTON, 1952).
No mesmo país, Savara e Sueher (1954), avaliaram 650 crianças de 1 a 6
anos, matriculadas em unidades pré escolares de Portland, Oregon, e observaram
um percentual de 22,2% crianças com cárie no primeiro ano de vida, 23,1% no
segundo ano e aos três anos de idade este dado aumentava para 61,8 %. Aos 4, 5 e
16
6 anos os percentuais foram respectivamente 70,9%, 78,3% e 83,3%. Não se
encontrou diferença estatisticamente significante entre os sexos.
Na Hungria, Toth e Szabo (1959), investigaram 2699 crianças de ambos os
sexos entre 2 e 7 anos. Não houve diferença estatística entre os sexos e os
resultados encontrados do ceo-d para as crianças com 2 e 3 anos incompletos foram
0,15 e 0,78 respectivamente. Quanto ao percentual de crianças livres de cárie, este
correspondeu a 95% para os menores de 2 anos e 75% para as de 3 anos
incompletos.
Um estudo sobre prevalência de cáries foi realizado em 5 centros de saúde
da cidade de Londres por Winter, et al (1971). Os resultados indicaram que não
houve diferença significativa entre os sexos além de demonstrar que 98% das 172
crianças de 12 a 23 meses eram livres de cárie, perfazendo um ceo-d 0,04,
enquanto que 82% das 173 crianças de 24 a 35 meses eram também livres de cárie,
resultando um índice ceo-d de 0,76 para este grupo.
Na Suécia, Wendt, Hallonsten e Koch (1991), desenvolveram um estudo
longitudinal de cárie em crianças de 1 e 2 anos. Observaram que para as idades de
1 e 2 anos, 99,5% e 92,3% das crianças eram livres de cárie respectivamente,
evidenciando a necessidade e aplicação de programas para intensificar cuidados
preventivos e restauradores em bebês.
No Brasil, na cidade de Brasília - Distrito Federal, foi efetuado um estudo
epidemiológico da doença cárie em 200 crianças, por Bezerra (1990). Os resultados
revelaram uma prevalência de 16,7%, 55,5%, 32,1% e 69,0% das crianças
examinadas nas faixas etárias de 12 a 18, 18 a 24, 24 a 30 e 30 a 36 meses
respectivamente, evidenciando-se, portanto o aumento deste indicador de acordo
17
com a idade. A autora verificou também que não houve diferença estatisticamente
significante entre os sexos.
Walter e Nakama (1992) realizaram um levantamento epidemiológico em
Londrina-PR. Foram examinadas 2264 crianças de 0 a 36 meses e os resultados
divididos por faixas etárias. No grupo de 6 a 12 meses, a prevalência da doença
cárie foi de 4,5%, atingindo 28,5% entre as crianças de 13 a 24 meses. A maior
prevalência foi de 49,1% no grupo de 25 a 36 meses. Dessa forma os autores
comprovaram que a experiência de cárie é cumulativa, aumentando com o evoluir da
idade, principalmente quando não controlada.
Morita, Walter e Guillain (1993), estudaram 1974 crianças de 0 a 36 meses
que buscaram a clínica de bebês da Universidade de Londrina entre os anos de
1985 a 1990. Foi constatado que 1,16% das crianças de 0 a 6 meses já possuíam
cárie. Das crianças pertencentes à faixa etária de 7 a 12 meses, 4,93% também
eram portadores dessa doença. Para as faixas etárias de 13 a 18, 19 a 24, 25 a 30,
31 a 36 meses os percentuais detectados foram 14,25%, 32,36%, 45,65% e 46,77%,
respectivamente. Os autores apontam para a necessidade de desenvolvimento de
medidas preventivas, diagnóstico e tratamento em crianças antes da idade escolar.
Através de um estudo sobre prevalência de cárie em Piracicaba, S.P.
realizado por Graner, et al (1994) em 354 crianças de 0 a 3 anos, foi encontrado um
percentual de 76% livres de cárie. Entre as crianças de 7 a 12 meses foram
encontradas apenas lesões iniciais, mas no grupo de 13 a 18 meses foram
detectadas lesões cavitadas. Observaram ainda que 14,6% das crianças possuíam
uma média de 74,7% de superfícies cariadas, demonstrando a importância da
identificação precoce destas crianças para direcionar as ações preventivas de
acordo com o risco.
18
Bönecker (1996), pesquisou a prevalência da cárie em 548 crianças em
Diadema, SP e encontrou ceo-d e ceo-s respectivamente de 0,16 e 0,17 para
crianças de 1 ano de idade, 0,87 e 1,13 para as de dois anos e 2,54 e 3,68 para as
crianças de 3 anos de idade. Também foi utilizado o índice de Knutson, através do
qual o autor observou o percentual de crianças que apresentaram lesões de cárie
nas faixas etárias entre 0 e 1 ano, 1 e 2 anos e 2 e 3 anos, sendo respectivamente,
8,92%, 34,50% e 66,50 %. Os resultados indicaram a necessidade de atendimento
ao paciente infantil no consultório odontológico antes do primeiro ano de vida.
Na cidade do Natal/RN, Cerqueira (1998) analisou a prevalência da cárie
dentária, dieta e utilização de medidas preventivas em crianças de 0 a 36 meses. De
acordo com o índice de Knutson, o percentual de crianças que apresentaram
experiência de cárie foi de 13,5% na faixa etária de 0 a 12 meses, 43,80% para
aqueles de 12 a 24 meses e 70,67% no grupo de 24 a 36 meses. Em relação ao
ceo-d e ceo-s, os resultados encontrados foram respectivamente 0,0 e 0,0 para os
bebês de 6 a 12 meses, 0,10 e 0,12 para aqueles na faixa etária de 12 a 18 meses,
0,32 e 0,34 para as crianças de 18 a 24 meses. Os índices mostraram-se maiores
entre os 24 e 30 meses atingindo 0,85 e 1,21. Com base nestes resultados concluiu-
se que os valores dos índices aumentaram de acordo com a idade, sendo a
prevalência baixa nas faixas etárias de 12 a 18 meses e de 18 a 24 meses. No
entanto, de 24 a 30 meses a prevalência foi considerada moderada e alta para a
faixa de 30 a 36 meses. Em relação à dieta, o aleitamento através de mamadeira,
sendo predominantemente à noite e o alto consumo de açúcar contribuíram para a
classificação de altamente cariogênica. As medidas preventivas eram usadas de
forma inadequada pela população e a autora conclui observando relação entre este
item, dieta cariogênica e prevalência de cárie.
19
Estes dados alertam para a alta freqüência do surgimento precoce da
doença cárie no Brasil e no mundo, sendo urgente a definição de estratégias e
ações capazes de prevenir e promover saúde bucal. Neste contexto, vários autores
têm sugerido o início da atenção odontológica o mais precocemente possível.
Mc Donald (1977) já aconselhava a realização do primeiro exame entre 16 e
24 meses. Dez anos depois, um estudo realizado por Goepferd, (1987) através da
aplicação de questionários a pais de crianças, concluiu que a intervenção precoce
provém da presença de condições indesejáveis como a presença de cárie de
mamadeira, práticas alimentares incorretas, hábitos orais inadequados,
administração incorreta de flúor. O autor relata que melhores resultados serão
obtidos num programa de prevenção quando se inicia na idade de 6 a 12 meses.
Kamp (1991) sugere este início de atenção nos primeiros seis meses de
vida, assim como Velasco, et al, (1993), sugerem a época de erupção do primeiro
dente como o momento oportuno de iniciar as visitas ao odontopediatra, visando a
prevenção da cárie dental, doença periodontal ou qualquer outra alteração
estomatológica. Além disso, é estabelecido um contato positivo entre bebê e
profissional, com intervenções preventivas e sem necessidade de intervenções
curativas.
Konishi (1995) fala sobre o período de gestação ser o momento em que os
pais estão mais receptivos à informações e que a educação da mãe grávida é
essencial na prevenção de doenças orais do bebê.
Algumas evidências têm demonstrado que geralmente as gestantes não
possuem entendimento correto sobre hábitos relacionados à saúde bucal. A
identificação da introdução precoce do açúcar na alimentação de bebês em conjunto
20
com a alta freqüência de consumo do mesmo e ausência do hábito de higienização
bucal comprovaram tal despreparo. Dessa forma, tem sido relatada a importância de
uma atenção precoce com ênfase em educação em saúde para que os bons hábitos
sejam instituídos corretamente em bebês. (GOEPFERD, (1987); FRAIZ e ISSAO
(1994); PAUNIO et al, (1994)).
Uma tendência mundial tem sido a adoção de estratégias de educação em
saúde bucal em programas públicos. Nos últimos anos tem sido abordado na
literatura, a importância de mudança nas políticas de saúde enfatizando a
necessidade de programas destinados a gestantes e lactentes. (GOEPFERD, 1987).
Como fruto deste novo pensamento diversas atuações têm surgido nesta área. Uma
das primeiras experiências ocorreu na Suécia, em 1985, onde os programas
preventivos da cárie dentária já eram organizados pelo Serviço Público de Saúde
Dental, tendo como alvo bebês a partir de 6 meses. Em 1987 foi introduzido em
Londres, (Inglaterra), um programa de cuidados dentários nos Departamentos de
Serviço Social das Creches. Nos Estados Unidos da América, a Universidade de
Iowa estabeleceu de 1984 a 1986 um programa destinado a bebês baseado numa
série de fatos, inclusive a alta prevalência de cárie de mamadeira. (WALTER;
FERELLE; ISSAO, 1996).
No Brasil, apesar das recomendações do antigo Instituto Nacional de
Providencia Social (INPS) sobre a atenção à gestante e ao filho, mostrando a
importância da limpeza dos dentes do bebê, normalmente a primeira visita ao
dentista era realizada após os 3 anos. O conceito de prevenção precoce só era
associado à educação. Entretanto, na Universidade Estadual de Londrina, Paraná,
desde 1983 teve início o atendimento odontológico a bebês, que envolve além de
21
educação e medidas preventivas, tratamentos curativos específicos, sendo
considerado pioneiro no país. (WALTER; FERELLE; ISSAO, 1996).
Na Bebê Clínica da Universidade Estadual de Londrina, o atendimento a
bebês inicia-se a partir de reuniões educativas com os pais. Imediatamente após
realizam-se as ações preventivas e exames clínicos, seguindo-se o tratamento
curativo quando se faz necessário. De acordo com a avaliação realizada pelos
autores, 92,6% dos bebês que iniciaram no programa sem a doença cárie,
permaneceram livres da mesma e a porcentagem daqueles que iniciaram com a
doença e não desenvolveram mais lesões foi de 92,3%. Através de um levantamento
epidemiológico em crianças de 6 a 7 anos observaram que o índice de morbidade
dos dentes molares permanentes das crianças que participaram do programa
quando eram bebês foi de 23%, enquanto para as que não tiveram esta
oportunidade, foi de 75% .Os autores concluíram que tanto no âmbito público como
no privado, o programa de Odontologia para Bebês, constitui-se em iniciativa
adequada a ser utilizada e estimulada. (WALTER; GARBELINI; GUTIERREZ, 2001).
Dando continuidade à nova filosofia de atendimento, outras Universidades
Nacionais também começaram a implantar o serviço como a Universidade Estadual
de Ponta Grossa,PR, Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Faculdade de
Odontologia de Caxias,RJ. As primeiras experiências no setor público surgiram com
a instalação do programa na Companhia Siderúrgica Nacional em Volta Redonda,RJ
e no município de Cambé, PR. (WALTER; FERELLE; ISSAO, 1996).
No programa de Odontologia para bebês implantado no município de
Cambé/PR, conforme Garbelini, et al (1991), a educação em saúde destinada aos
pais constitui a primeira etapa do programa seguida da diminuição do risco. Em
22
seguida é realizada a interposição dos hábitos de higiene e incluída uma rotina de
terapias que visam o aumento da resistência do dente. Após a realização de um
levantamento, foi encontrado um percentual de crianças que entraram sem cárie e
continuaram sem adquiri-la de 92,28%. Para aquelas que iniciaram o programa com
cárie, 62.7% não desenvolveram novas lesões cariosas.
Paiva, Peret e Gonçalves (1994), expõem o programa direcionado a crianças
de 0 a 24 meses, realizado na região leste de Belo Horizonte. Em sua rotina são
realizadas reuniões com equipe multiprofissional para esclarecimentos acerca de
saúde bucal do bebê, além de reuniões com os pais, que tem o objetivo a educação
em saúde. Durante o atendimento, além do exame clínico são realizadas ações de
higiene bucal. As consultas de retorno são marcadas de acordo com a idade do
bebê e as crianças são atendidas aos 8, 9, 12, 16, 20 e 24 meses de vida. Os
autores relatam que a adoção de métodos educativos-preventivos aos pais de
crianças nesta faixa etária e a utilização de um trabalho multidisciplinar é viável.
Garboza e Walter (1997), estudaram a prevalência de cárie numa população
de 0 a 5 anos atendida precocemente pela Bebê-Clínica da Universidade Estadual
de Londrina. A princípio a população apresentava um grande risco de desenvolver
cárie, visto que 88,81% dos pacientes tinham o hábito de aleitamento noturno e 81%
não realizavam higiene dental após a mamada noturna. Entretanto, após o ingresso
no programa, verificou-se que a população estudada apresentou um baixa
prevalência de cárie tanto do tipo de mamadeira (0%) quanto de cárie simples (2%).
Os resultados mostram a eficácia do atendimento precoce na promoção da saúde
bucal nessa faixa etária.
23
Milanez e Walter (1997) avaliaram a presença de placa visível e de cárie
dentária em 70 crianças de 18 a 40 meses de idade que freqüentavam duas creches
distintas. As crianças da creche que não possuíam atendimento odontológico
precoce apresentaram um maior percentual de placa visível. Em relação à cárie
dentária esta mesma população apresentou maior número de crianças com a
doença, o que demonstrou que a placa visível é um fator de risco. Os resultados
reforçam o entendimento de que através da educação dos pais quanto à higiene oral
é possível promover a saúde bucal da criança.
Apesar desta preocupação relacionada ao atendimento à bebês, de uma
forma geral, os diversos programas instituídos não têm sido avaliados de forma
rotineira, dificultando assim a possibilidade de transformações e adaptações
necessárias. Através da avaliação pode-se ter um entendimento sobre a qualidade
do serviço prestado e torna-se possível adequar as ações de acordo com a
realidade local. (OLIVEIRA et al, 1999).
De acordo com Donabedian (1990), há alguns atributos que definem a
qualidade dos serviços de saúde. Entre eles pode-se citar a eficácia, que é a
habilidade dos serviços em fornecer melhoria de saúde para os usuários de acordo
com as condições de trabalho existentes. A melhor forma de obter esta informação é
através de pesquisas de controle clínico. Em contraste ao item anterior, destaca-se a
efetividade, ela é a melhoria na saúde, levando-se em consideração a alteração
causada no curso natural da doença. Isto pode ser feito através de comparação com
algum padrão existente ou entre dois tipos de tratamento destinados a determinada
doença. Quando o objetivo é avaliar a relação custo-benefício, parte-se para a
avaliação de eficiência, isto é, habilidade de obter melhorias na saúde com baixo
custo e otimização. Há ainda outras formas de se avaliar a qualidade de um serviço.
24
Através da aceitabilidade, isto é, preferências do paciente de acordo com acesso,
relação profissional-paciente e efeitos dos cuidados; legitimidade, em conformidade
com as preferências sociais a respeito de tudo citado anteriormente e eqüidade, que
é o princípio que determina o quão justo tem sido a proporção da distribuição dos
cuidados e benefícios entre os membros da população.
Bellini (1991) refere-se a duas questões como um desafio para os serviços
de saúde: a mudança de atitude em relação à doença, atuando-se na promoção de
saúde e a mudança de comportamento da população que depende do repasse de
conhecimento sobre saúde e incentivo às ações preventivas e diagnóstico precoce.
O autor relata que a introdução de um programa de saúde bucal no Brasil é tarefa
árdua, pois o sistema nacional está eminentemente ocupado com as enfermidades,
sem um programa nacional de saúde. Entretanto, relata alguns cuidados básicos
que devem ser considerados como, por exemplo, ser componente de um programa
global de saúde na comunidade, possuir integração do serviço de emergências aos
serviços básicos, de forma a encaminhar as pessoas que o procuram para um
processo de educação e melhoria da saúde. O autor considera ainda a importância
de bases educacionais e preventivas evitando-se o paternalismo e direcionando aos
pacientes responsabilidades e obrigações bem definidas para haver continuidade do
programa. Outro ponto citado é a definição de grupos de risco, essencial para
facilitar o direcionamento de medidas específicas para indivíduos de alto risco.
No aspecto da avaliação dos resultados, o mesmo autor indica algumas
variáveis necessárias: incidência de cáries, doença periodontal, perda de dentes,
pelo menos após dois anos, lembrando que os estudos longitudinais através dos
anos possibilitam melhores avaliações.
25
Os aspectos conceituais e metodológicos a respeito da avaliação de
serviços em saúde foram revisados por Azevedo (1991). O autor a reconhece como
um elemento importante na caracterização de um sistema de saúde desejável e
aponta o quadro conceitual de Donabedian como o mais acatado, citando as três
áreas de exame reconhecidas por ele: Estrutura, Processo e Resultados. Ressalta
ainda que a análise, quando se leva em consideração o aspecto quantitativo, é
relativamente fácil, passando a tornar-se mais complexa e de difícil caracterização
quando se busca o componente qualitativo. O estudo da qualidade deve envolver
possíveis transformações do paciente ao nível do conhecimento, atitudes e
comportamentos. Os instrumentos utilizados neste caso poderão ser abertos,
envolvendo um componente subjetivo maior, ou fechados, mais objetivos e, assim,
limitados no seu alcance. O enfoque da avaliação pode ser dirigido a um
profissional, uma conduta ou situação. A avaliação de resultados é a mais atraente
do ponto de vista científico e alguns aspectos considerados para avaliar a qualidade
dos cuidados são a satisfação da clientela, a morbidade e mortalidade.
Segundo Akerman e Nadanovsky (1992) muitas vezes há dificuldade na
tomada de decisão sobre o que se avaliar num serviço, pela ausência de clareza na
função do mesmo. Há aqueles que super dimensionam este papel e também os que
o limitam. Os objetivos do serviço precisam estar claros e nortear a avaliação.
Apesar de existirem evidências de que a melhoria da qualidade de vida das
populações e a redução da mortalidade não estão relacionadas à operacionalização
dos serviços diretos de atendimento, eles possuem atributos sociais, políticos e
econômicos que os qualificam a serem submetidos a uma investigação. A tarefa do
serviço de saúde vai além da cura, pois tem a função também de tranqüilizar, aliviar
26
e confortar. Daí a importância de se avançar o processo avaliativo para áreas de
atendimento direto tendo como um ponto a ser avaliado a satisfação dos pacientes.
Para um entendimento diferenciado desta dimensão dos serviços torna-se
necessário uma análise qualitativa que segundo Minayo e Sanches (1993) tem suas
potencialidades e limitações assim como a abordagem quantitativa. Os autores
discutem ainda que estes instrumentos utilizados pela saúde pública servem para se
aproximar da realidade observada e que nenhuma das duas é boa no sentido de ser
suficiente para a compreensão completa da mesma. Um bom método será aquele
que procura a associação, sendo operacionalmente exeqüível.
A importância da avaliação das ações e serviços, para que recursos não
sejam desperdiçados e para que não se perca de vista o rumo dos objetivos a
alcançar, é relatada por Narvai (1996), que também a entende como um desafio
permanente para os administradores e autoridades de saúde. Afirma ainda que “é
parte no processo gerencial influenciada pelo contexto organizacional e político e se
constitui em poderoso e indispensável instrumento de transformação, não se
limitando a mera atividade acadêmica”.
Um estudo do programa de atenção à saúde da criança, foi realizado por
Santos (1995) em algumas unidades do Distrito Sanitário Barra - Rio Vermelho em
Salvador/Bahia e o seu objetivo principal foi identificar critérios utilizados pelos
usuários para avaliação dos serviços. Os responsáveis pelas crianças matriculadas
foram entrevistados e através da técnica de análise de conteúdo, foi possível
classificar a avaliação dos mesmos. Os critérios foram relacionados ao acesso,
relação interpessoal, resultado e continuidade da atenção, possuindo graus distintos
de acordo com os motivos que os levaram a buscar o serviço. Aqueles que
27
procuraram o serviço por prevenção, valorizaram mais a relação interpessoal,
enquanto que, para os que buscaram cura, a eficácia foi mais valorizada. A autora
ressalta que avaliação de qualidade dos serviços é um processo contínuo e as
conclusões neste tipo de estudo tem caráter provisório.
Em Londrina/PR, foi realizada uma avaliação do programa da Bebê-Clínica
por Oguido e Nakama (1999) através de entrevistas semi-estruturadas com sete
mães participantes do projeto, objetivando analisar a relação paciente-profissional.
Os resultados demonstraram que a procura por tratamento odontológico precoce é
baseada em indicações e afirmações positivas, que levam a um entendimento, por
parte dos pais, de que a prevenção é importante. Outro ponto observado foi a
satisfação pessoal da mãe ao ser bem atendida pelo profissional, indicando que o
bom relacionamento entre dentista e paciente pode otimizar os resultados dos
programas de promoção de saúde bucal. As autoras concluíram que o profissional
de saúde deve desenvolver suas habilidades de comunicação interpessoal, estar
sensível às expectativas das mães, tanto na técnica quanto no relacionamento. A
cumplicidade é a base de um trabalho de educação em saúde, exigindo um alto grau
de empatia, isto é, a capacidade de colocar-se na perspectiva de visão dos
pacientes.
Entre os trabalhos que avaliam qualitativamente os serviços de saúde,
observa-se atualmente a utilização da técnica de grupo focal, que caracteriza-se
pela realização de discussões em grupos, cuidadosamente planejadas, para que os
participantes possam expressar percepções, crenças valores e atitudes num
ambiente não constrangedor. Westphal, Bógus e Faria (1996), descrevem cinco
pesquisas de avaliação de qualidade dos serviços realizadas por professores da
Faculdade de Saúde Pública da USP, no Estado de São Paulo entre 1989 e 1992
28
utilizando esta técnica. Três dos cinco estudos fizeram parte de projetos mais
amplos e tiveram caráter complementar. Os outros dois foram realizados com dados
obtidos unicamente nos grupos focais. As experiências demonstraram que a técnica
é eficiente, possibilitando, em curto período de tempo a identificação e análise
aprofundada de problemas a partir do ponto de vista da população. Entre as
inconveniências destaca-se a utilização de uma amostra intencional e pequena que
exige em certos casos que os grupos focais sejam utilizados como técnica
complementar a estudos quantitativos. Esta técnica é apropriada quando o objetivo
do pesquisador é verificar de que modo as pessoas avaliam uma experiência, como
definem um problema, e como suas opiniões, sentimentos e significados encontram-
se associados a determinados fenômenos. Nestes estudos, os grupos possibilitaram
o conhecimento de percepções, conceitos e opiniões do universo cultural da
população. Com isso, os educadores planejaram e avaliaram programas educativos
a partir das necessidades e da visão da população.
De acordo com Merton et al apud Morgan (1988) os principais critérios para
a efetividade dos grupos focais são cobrir uma extensão máxima de tópicos
relevantes, prover dados específicos, favorecer interação explorando os sentimentos
dos participantes com profundidade e considerar o contexto dos participantes nas
respostas. A meta é, portanto, obter informações que dêem ao pesquisador um
entendimento das perspectivas dos participantes. Este contexto pode ser baseado
em regras sociais e categorias que os participantes ocupam ou ter base em
experiências individuais.
29
4 METODOLOGIA
4.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO
Este estudo enquadra-se em três correntes, pesquisa de campo do tipo
quantitativo-descritivo, por procurar efeitos e resultados de um programa; pesquisa
avaliativa do tipo Análise dos efeitos, pois dedica-se ao julgamento de uma
intervenção com utilização de métodos científicos, analisando os rendimentos, assim
como suas relações com o contexto e ainda pesquisa aplicada por caracterizar-se
por um interesse prático, isto é, os resultados poderão ser utilizados, imediatamente,
na solução de problemas que ocorrem na realidade (TRIPODI; FELLIN; MEYER,
1975; CONTANDRIOPOULOS et al, 1997; ANDER-EGG, 1978).
Desta forma, o estudo envolve duas análises, uma de natureza quantitativa,
através da aplicação dos índices epidemiológicos ceo-d, ceo-s e Knutson, com os
quais verificou-se a prevalência de cárie em crianças que ingressaram em um
programa de Odontologia para bebês, no primeiro ano de suas vidas, sem atividade
de cárie e foram acompanhadas por um período superior a 24 meses. A segunda, de
caráter qualitativo, buscou avaliar o grau de satisfação das mães, o nível de
conhecimento em saúde bucal das mesmas e a ocorrência ou não de mudança de
atitude em relação aos hábitos interrelacionados com a saúde bucal. O estudo foi
norteado, então, pelas seguintes questões:
1- As crianças que iniciaram no programa com menos de 12 meses e
permaneceram por mais de 24 meses conseguiram continuar livres da doença
cárie?
2- Houve adoção de novas atitudes das mães em relação à saúde bucal de
30
seus filhos após o ingresso no programa?
3- Como as mães consideram a qualidade do programa no qual seus filhos
estão inseridos?
4- As mães que participam do programa têm um entendimento, no tocante
à saúde bucal, diferente de outras mães que não tiveram a oportunidade de
participar?
4.2 CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO ALVO
4.2.1 Bebês
A amostra pesquisada no estudo foi constituída por 52 crianças com idade
média de 33 meses variando de 24 a 60 meses. O critério de seleção determinou a
inclusão apenas de crianças que ingressaram no programa até os 12 meses e
tiveram permanência superior a 24 meses. Esta escolha deu-se em função da
citação de diversos autores que sugerem o primeiro ano de vida como idade ideal
para dar-se início a ações educativas e preventivas (KAMP, 1991; VELASCO, 1993;
KONISH, 1995; BÖNECKER, 1995). A permanência limite de 24 meses no programa
é o mínimo exigido para se executar uma avaliação em saúde (BELLINI, 1991).
Para uma melhor distribuição da amostra foi realizado um agrupamento das
crianças por faixa etária, utilizando-se para tal um intervalo de 12 meses. Portanto a
prevalência de cárie foi estudada levando-se em consideração as faixas de 24 36,
36 48 e 48 60 meses.
4.2.2 Mães
Para a análise qualitativa do programa foram realizadas entrevistas através
31
da técnica de grupo focal (MORGAN, 1988) aplicada em 18 mães divididas em três
grupos de seis pessoas. Paralelamente foi formado um outro segmento de mães
freqüentadoras da Unidade, porém sem os filhos terem participação no programa.
Os grupos também foram formados e divididos com o mesmo número de mães. Para
obtenção de uma homogeneidade, as mães foram distribuídas de acordo com o grau
de escolaridade e nível sócio econômico.
4.3 CARACTERIZAÇÃO DO BAIRRO E DA UNIDADE DE SAÚDE
A Unidade de Saúde de Candelária, localizada no Distrito Sanitário Sul da
Cidade do Natal, RN, foi escolhida intencionalmente para o estudo por ter sido
pioneira na implantação de um atendimento direcionado a Bebês na cidade e por
estar em atividade nesta área há mais de quatro anos.
O Distrito Sanitário sede do programa, abrange os bairros de Lagoa Nova,
Nova Descoberta, Candelária, Pitimbú, Neópolis, Capim Macio e Ponta Negra. O
bairro de Candelária possui uma população de 18018 habitantes, sendo 7.39% entre
0 e 4 anos (IBGE, 1991). Para atender às necessidades de saúde dessa população,
o bairro dispõe da Unidade de Saúde no âmbito municipal, além de clínicas
privadas. Em relação à Odontologia para bebês, o serviço da Unidade é o único na
área.
A equipe da Unidade de Saúde é composta de duas assistentes sociais, três
enfermeiras, uma nutricionista, uma psicóloga, quatro dentistas, quatro médicos
(Clínica Geral e Ginecologia), duas bioquímicas, nove auxiliares de enfermagem e
três atendentes de consultório dentário. Existem outros programas à disposição dos
usuários, como o Pré-Natal, Grupo da Terceira Idade, Crescimento e
Desenvolvimento da criança de 0 a 5 anos (CD), Sistema de Vigilância Alimentar e
32
Nutricional (SISVAN), para crianças de 0 a 5 anos e gestantes.
4.4 CARACTERIZAÇÃO DO PROGRAMA
Com o intuito de iniciar um programa odontológico voltado para gestantes e
bebês, a Secretaria Municipal de Saúde do Natal promoveu, em março de 1996, um
curso de capacitação, no qual houve a participação de vinte dentistas, dentre elas a
Odontóloga da Unidade de Saúde de Candelária.
Inicialmente o programa era desenvolvido isoladamente no consultório
dentário. Aos poucos a sistemática de trabalho foi ampliada e profissionais de outras
áreas, como, assistentes sociais, nutricionistas, enfermeiras, psicólogas, médicos e
auxiliares de enfermagem, passaram a integrar a equipe.
O principal objetivo é a promoção da saúde bucal em crianças de 0 a 36
meses. Isto se dá através de tratamento preventivo - educativo e quando necessário
terapia curativa. Uma vez matriculado no programa, o bebê passa a ser
acompanhado regularmente, com consultas em intervalos de um a três meses, de
acordo com o risco à cárie, sem limite de idade para sair. As crianças maiores de
dois anos que procuram o programa também são atendidas em função da unidade
não possuir um setor de atendimento de odontopediatria.
Durante os dois primeiros anos o atendimento era realizado no sistema
joelho – joelho (Fig. 1) e as gestantes, após um exame inicial, eram encaminhadas
ao consultório odontológico. Em 1999 um novo consultório odontológico, específico
para o programa, foi instalado e o atendimento à gestantes e bebês passou a ser
realizado. (Fig. 2).
33
Fig. 1 : Atendimento de um bebê no sistema joelho-joelho executado pela dentista do programa
Fig. 2: Atendimento a gestantes executado pela dentista do programa
34
As mães e gestantes usuárias da unidade são encaminhadas para o
ingresso no programa pelo setor de distribuição de fichas, enfermeiras do CD e pré-
natal, médicos, nutricionistas, assistentes sociais e também pela equipe da
imunização. A primeira consulta é realizada após uma entrevista com as assistentes
sociais que buscam um maior conhecimento sobre a realidade social. Na ocasião
são explanados os direitos e deveres do usuário da unidade, objetivos,
funcionamento e normas do programa, importância da prevenção das doenças
bucais e o compromisso dos pais com a saúde bucal das crianças.
O atendimento odontológico propriamente inicia-se após a observação das
condições gerais dos pacientes através da análise dos prontuários. Segue-se então
a anamnese que investiga hábitos alimentares (freqüência, aleitamento materno, uso
da mamadeira, lanches e uso do açúcar) hábitos bucais (chupeta, sucção de dedo,
outros) higiene bucal, uso de medicamentos, e uso de dentifrícios (Fig. 3). Mediante
as informações obtidas são feitas as orientações necessárias sobre
transmissibilidade da cárie e prevenção das doenças bucais.
Fig. 3 : Consulta inicial e anamnese
35
Em relação à dieta, as mães das crianças que se alimentam com
aleitamento materno exclusivo são incentivadas a continuar amamentando e são
informadas sobre a importância da orientação feita pela nutricionista na época do
desmame.
As crianças que entram no Programa após o desmame, muitas vezes já
apresentando hábitos dietéticos nocivos (mamadeira noturna, dieta inadequada, leite
ou sucos adoçados), recebem orientações sobre a influência da dieta no processo
de formação da cárie e são encaminhadas à nutricionista para uma avaliação mais
detalhada.
Fig.4: Aplicação de flúor a 0,2%
36
A limpeza bucal é orientada de forma direta com o objetivo de ensinar as
mães como realizá-la. Para os bebês sem dentes erupcionados, é feita a limpeza
dos rodetes gengivais, língua e mucosa jugal com fralda umedecida por água fervida
ou filtrada depois das principais mamadas e após a erupção dos primeiros
dentinhos, inicia-se a aplicação de flúor a 0,2% (Fig. 4). Mediante a erupção dos
primeiros molares decíduos, as mães são orientadas para realizar a limpeza bucal
com escova macia (Fig. 5). Na presença de lesões cariosas, o procedimento
consiste em aplicações de cariostáticos e/ou restaurações. Com relação ao retorno,
este é estabelecido de acordo com o risco e presença ou não de manchas brancas e
lesões cariosas e na oportunidade também são reforçadas as orientações dadas às
mães. Há preocupação de se observar as datas marcadas pelos outros programas,
no sentido de se evitar múltiplas vindas à unidade e também a época do desmame
para encaminhamento à nutricionista. Faz parte do serviço a realização de palestras
em grupos que têm sido feitas de forma esporádica e não sistematizada.
Fig. 5 : Orientação de escovação
37
Inicialmente era distribuída a solução de fluoreto de sódio a 0,2% em frascos
plásticos pequenos (aproximadamente 10 ml) para uso caseiro, contudo alguns pais
apresentavam muitas dificuldades quanto ao uso da solução, não observando a
dosagem ou a freqüência recomendada. Além disso, foi observado que uma parcela
de mães só procuravam o serviço para aquisição do flúor. Em razão desses fatos, a
distribuição para uso caseiro foi suspensa.
4.5 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS
Após aprovação do trabalho pelo comitê de ética, foi enviado à direção da
Unidade de Saúde, um ofício pedindo autorização para realização do mesmo. Com a
aprovação da direção, as mães ou responsáveis foram esclarecidos sobre a
pesquisa e assinaram um termo de consentimento de acordo com a resolução
196/1996 do Conselho Nacional de Saúde (Anexos 1 e 2).
4.6 PROCEDIMENTO DE LEVANTAMENTO DE DADOS
A coleta de dados deste estudo foi realizada em dois momentos. Na primeira
etapa foram relacionados os dados quantitativos e posteriormente efetuada a
avaliação qualitativa.
4.6.1 Instrumentos Metodológicos da Análise Quantitativa
As crianças selecionadas foram submetidas a um exame clínico no
consultório odontológico da Unidade de Saúde, utilizando-se o índice ceo-d ( número
de dentes cariados, com extração indicada e obturados), ceo-s (número de
superfícies dentárias cariadas, com extração indicada e obturadas) e o índice de
Knutson (percentual de crianças livres de cárie) Chaves (1986), para a avaliação da
38
prevalência de cárie e do percentual de indivíduos que não apresentam sinais
presentes ou passados da doença cárie. (Fig. 6).
Os exames clínicos foram realizados à luz artificial, unicamente com o
espelho bucal, após limpeza realizada com gaze úmida, (Fig.7). A sonda exploradora
não foi utilizada pela possibilidade de causar danos mecânicos ao esmalte
desmineralizado, além de transferir microrganismos cariogênicos de fissuras
infectadas para aquelas livres de contaminação (LOESCH, SVENBERG, PAPE,
1979 ; LUSSI, 1991). (Fig.8).
Fig. 6: Exame clínico na posição joelho-joelho.
Fig. 7 : Limpeza bucal com gaze úmida realizada previamente ao exame.
39
A análise destes dados foi realizada de forma descritiva, sendo os valores
obtidos através dos índices de prevalência apresentados por faixas etárias de 12 em
12 meses.
4.6.2 Instrumentos Metodológicos da Análise Qualitativa
Para um maior aprofundamento do caráter social e intencionalmente
construir o conhecimento de forma mais integral, optou-se por uma análise
qualitativa através da técnica de grupo focal, metodologia que vem sendo utilizada
por epidemiologistas e educadores em saúde. Desta forma, há possibilidade de
atingir um maior número de pessoas simultaneamente, assim como, facilidade na
obtenção de dados com um certo nível de profundidade em um tempo reduzido.
Fig. 8: Exame clínico com espelho bucal para a tomada dos índices de cárie
40
Esta técnica utiliza sessões grupais como foros facilitadores da expressão e obtém
dados a partir de discussões planejadas onde os participantes expressam suas
percepções sobre uma questão específica num ambiente permissivo e não
constrangedor. (MORGAN 1988).
Foi organizado um roteiro de discussão para cada grupo que foi testado
anteriormente através de um estudo piloto e preparado de acordo com os objetivos
do estudo. Uma vez que as comunicações dos entrevistados estavam em
consonância com as questões, não houve necessidade de reajustes e as
informações obtidas nesta fase fizeram parte da pesquisa. O número de sessões foi
definido de acordo com a quantidade e qualidade dos dados obtidos, sendo
encerradas quando atingiram o chamado grau de saturação.
De acordo com Azevedo (1991) uma avaliação de resultados deve levar em
consideração além da morbidade, a satisfação da clientela. Akerman e Nadanovsky
(1992), afirmam que a tarefa do serviço vai além da cura, devendo tranqüilizar,
aliviar e confortar. Dessa forma torna-se importante, segundo os autores, a
satisfação dos pacientes no processo de avaliação.
Levando-se em consideração este entendimento, entre as mães que
participam do programa foi discutido o grau de satisfação em relação ao serviço
prestado (levando-se em consideração acesso, relação profissional/paciente,
resolução de problemas em saúde), assim como o conhecimento relacionado à
saúde bucal, as dificuldades encontradas na instituição de hábitos saudáveis em
seus filhos e as atitudes que foram adotadas após o ingresso no programa. O outro
grupo teve como objetivo principal analisar o grau de percepção das mães em
relação aos cuidados em saúde bucal que devem ser realizados no primeiro ano de
vida.
41
Pretendeu-se com esta técnica observar se há relação entre os resultados
quantitativos e possíveis mudanças de atitude das mães, além de observar como as
mesmas avaliam a experiência no programa, se está satisfazendo as suas
necessidades, e como definem o problema da saúde bucal dos bebês, suas
dificuldades e se há diferença entre o nível conhecimento das mães que participam
do programa e aquelas que não participam.
A pesquisadora exerceu a função de moderadora dos grupos, encorajando
os participantes a expressarem livremente seus sentimentos, opiniões e pareceres
sobre a questão em estudo. Manteve também a discussão focalizada, fazendo
resumos e retomando o assunto quando alguém se desviava dele. As sessões foram
gravadas com o consentimento das mães e depois transcritas para análise,
proporcionando uma visão geral dos grupos em relação ao tema enfocado. (Fig. 9 )
Fig. 9: Realização das entrevistas em grupo
42
4.7 ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES
Para verificar as questões de estudo e identificação dos significados das
comunicações obtidas durante a investigação, optou-se pela Análise de Conteúdo
de acordo com Bardin (1977), a qual consiste no conjunto de técnicas que auxiliam
na explicitação e sistematização do conteúdo das mensagens. Dessa forma algumas
etapas foram seguidas para uma aproximação mais precisa dos significados do
material analisado.
4.8 CONSTITUIÇÃO DO CORPUS
De acordo com Bardin (1977), corpus é “o conjunto dos documentos tidos
em conta para serem submetidos a procedimentos analíticos.” Neste estudo o
corpus é constituído por seis entrevistas em grupo realizadas entre mães
participantes e não participantes do programa.
4.9 ORGANIZAÇÃO EM UNIDADES DE ANÁLISES
Após a transcrição das entrevistas e leitura minuciosa foram estabelecidas
as unidades de análise, separando o conteúdo em frases que forneceram
significados possíveis de serem analisados, sistematizados e situados no contexto.
4.10 PROCESSO DE CATEGORIZAÇÃO
Os elementos foram classificados e reagrupados de acordo com temas
previamente definidos e dessa foram estabelecidas as categorias que emergiram em
cada um individualmente.
Tema 1- Conhecimento sobre saúde bucal
C1- Conceito de Saúde Bucal
43
C2- Higiene Bucal
C3- Prevenção
Tema 2-Mudanças de Atitudes
C1-Higiene Bucal
C2- Padrão Alimentar
C3- Hábitos Bucais
Tema 3-Dificuldades
C1-Alimentação
C2-Remoção de Hábitos Bucais
C3- Higienização
Tema 4-Satisfação com o programa
C1- Importância do programa
C2-Relação Profissional / Paciente
C3- Acesso
44
5 RESULTADOS E DISCUSSÂO
Levando-se em consideração a natureza dos dados desta investigação,
optou-se por apresentar os resultados juntamente com a discussão, formando um
corpo único, com a finalidade de melhor situar o leitor e evitar repetições ao longo do
texto.
Uma outra situação posta diz respeito a necessidade de uma análise
qualitativa como complementar aos dados quantitativos a serem apresentados.
(MINAYO; SANCHES, 1993). Por outro lado torna-se interessante destacar a
hegemonia da análise qualitativa, cujos dados foram coligidos através da técnica de
grupo focal, instrumento metodológico aplicado rotineiramente no campo das
ciências sociais. (MORGAN, 1988).
Dessa forma, iniciar-se-á a apresentação dos resultados a partir das
informações acerca da prevalência de cárie, que se constitui como indicador do
sucesso ou não do Programa de Odontologia para Bebês, objeto desta pesquisa.
5.1 ANÁLISE QUANTITATIVA
A abordagem quantitativa, realizada as expensas da prevalência de cárie
será apresentada de forma descritiva.
A amostra do presente trabalho esteve constituída de 52 crianças que
ingressaram no Programa Bebê-Clínica com menos de 12 meses e tiveram uma
permanência superior a 24 meses. Do total de crianças examinadas, 55,8% eram do
sexo feminino e 44,2% do sexo masculino (Tab. 1 e Fig. 1).
45
TABELA 1 - DISTRIBUIÇÃO DAS CRIANÇAS DA AMOSTRA POR SEXO.
NATAL, RN. 1999.
NÚMERO DE CRIANÇAS DA AMOSTRA SEXO
Absoluto %
Feminino 29 55,8
Masculino 23 44,2
Total 52 100,0
Feminino
55,8%
Masculino
44,2%
FIGURA 10 - DISTRIBUIÇÃO DAS CRIANÇAS DA AMOSTRA POR SEXO
A prevalência de cárie foi estudada levando-se em consideração a divisão
da amostra em 3 faixas etárias, utilizando-se para isto um intervalo de 12 meses.
Os bebês de 24 a 36 meses constituíram a maior parte da amostra,
perfazendo um total de 46,2%, seguido de 42,3% de crianças entre 36 e 48 meses.
46
Apenas 11,5% da amostra apresentavam idade superior a 48 meses (Tab.2 e
Fig.11).
TABELA 2 - DISTRIBUIÇÃO DAS CRIANÇAS DA AMOSTRA POR FAIXA ETÁRIA.
NATAL, RN. 1999.
NÚMERO DE CRIANÇAS DA AMOSTRA IDADE (meses) Absoluto %
Até 36 24 46,2
Mais de 36 até 48 22 42,3
Mais de 48 até 60 6 11,5
Total 52 100,0
Ate 36 meses
46,2%
Mais de 36 até 48
42,3%
Mais de 48 até 60
11,5%
FIGURA 11 - DISTRIBUIÇÃO DAS CRIANÇAS DA AMOSTRA POR FAIXA
ETÁRIA
47
Do total de 52 crianças integrantes da amostra, 11,5 % apresentaram-se
com experiência de cárie após o ingresso no programa conforme Tabela 3 e Figura
12 a seguir:
TABELA 3 - ÍNDICE DE KNUTSON, SEGUNDO O TOTAL ABSOLUTO E
PERCENTUAL DE CRIANÇAS SEM EXPERIÊNCIA DE CÁRIE OU
COM ESTA EXPERIÊNCIA NAS DIFERENTES FAIXAS ETÁRIAS
NATAL, RN. 1999.
CRIANÇAS SEM EXPERIÊNCIAS DE CÁRIE
CRIANÇAS COM EXPERIÊNCIAS DE CÁRIE
FAIXAS ETÁRIAS
(meses) N %
N %
24 36 23 95,8 1 4,2
36 48 18 81,8 4 18,2
48 60 5 83,3 1 16,7
Total 52 88,5 6 11,5
Até 36 Mais de 36 até 48 Mais de 48 até 60
Faixa Etaria
0
20
40
60
80
100NºCriancas
s/exper.
c/exper.
FIGURA 12 - PROPORÇÃO DAS CRIANÇAS DA AMOSTRA COM ceo_d
DIFERENTE DE ZERO POR FAIXA ETÁRIA
48
Pode-se observar pela análise desta tabela que houve aumento na
prevalência de cárie entre a 1ª e a 2ª faixa etária e uma sutil diminuição na 3ª. Este
fato pode ser explicado pelo pequeno número de unidades amostrais neste último
grupo.
Na faixa etária de 24 a 36 meses, apenas 4,2% dos bebês examinados
apresentaram lesões de cárie. Estes valores encontraram-se distantes do perfil
epidemiológico para esta idade, apresentado por alguns autores em levantamentos
realizados no Brasil.
Walter & Nakama (1992) encontraram um percentual de 49,1% de crianças
afetadas pela doença e Bönecker (1996) registrou 66,50% de casos na mesma faixa
etária. Apesar de ter analisado crianças de 0 a 36 meses, Graner et al (1994)
encontrou um percentual de 34,8%, o que encontra-se superior ao observado nesta
pesquisa. Uma alta prevalência de 52% também foi verificada por Montandon, Alves,
Menezes (1997) em Recife, PE, na faixa etária de 24 a 30 meses.
Os resultados encontrados por Arias, Brandão e Nogueira (1997), embora
tenham sido inferiores aos estudos citados anteriormente, ainda encontram-se
diferentes desta pesquisa. Eles obtiveram uma prevalência de cárie de 11,28% na
faixa etária de 12 a 24 meses e 13,83% de 24 a 36 meses.
Ao confrontar-se os índices de Knutson obtidos no presente estudo com a
classificação proposta por Cerqueira (1998), observa-se que os mesmos
enquadram-se no intervalo de classe 0,0 a 10,0 do trabalho referenciado acima,
situando-se pois no mais baixo nível de prevalência. Todavia, considerando que a
referida autora analisou crianças de 0 a 36 meses e sugeriu uma escala referência
de valores para a prevalência de cárie em bebês (Tab. 4) verifica-se que os dados
49
da presente pesquisa, mesmo no caso da faixa etária maior, situaram-se dentro da
classificação de baixa prevalência.
TABELA 4 – ESCALA DE VALORES LIMITES PARA ANÁLISE DO ÍNDICE
KNUTSON PROPOSTA POR CERQUEIRA (1998)
Faixas etárias Percentual % Prevalência
0,0 10,0 Baixa
10,0 15,0 Moderada
15,0 25,0 Alta 24 36 meses
+ 25,0 Muito alta
Fonte: Dissertação de mestrado, CERQUEIRA, 1998.
Situação semelhante verificou-se quando se comparou os dados relativos ao
índice ceo-s (Tab. 5) do presente estudo com a escala proposta por Cerqueira
(1998) (Tab. 6). Igualmente pôde-se considerar uma baixa prevalência de cárie entre
os bebês do programa. A este respeito convém destacar dados de Toth e Szabo
(1959) e Bönecker (1995) que encontraram para esta faixa etária escores médios de
ceo-d de 0,78 e 2,54 respectivamente. Portanto, acima dos valores aqui obtidos.
TABELA 5 - ÍNDICES ceo-d E ceo-s EM RELAÇÃO ÀS FAIXAS ETÁRIAS. NATAL,
RN. 1999.
Faixas etárias ceo-d médio ceo-s médio
24 36 meses 0,08 0,08
36 48 meses 0,40 0,40
48 60 meses 1,16 1,16
50
TABELA 6 – ESCALA DE VALORES LIMITES PARA ANÁLISE DO ÍNDICE eco-s
PROPOSTA POR CERQUEIRA (1998)
Faixas etárias Valores Prevalência
0,0 ≤ ceo-s < 1,1 Baixa
1,1 ≤ ceo-s ≤ 2,4 Moderada 24 30 meses
ceo-s > 2,4 Alta
0,0 ≤ ceo-s < 1,3 Baixa
1,3 ≤ ceo-s ≤ 2,6 Moderada 30 36 meses
ceo-s > 2,6 Alta
Fonte: Dissertação de mestrado, CERQUEIRA, 1998.
Outros estudos, nos quais também se utilizou o índice ceo-d, revelaram uma
prevalência superior à encontrada nas faixas etárias estudadas. Dentre eles o de
Tomita et al (1994), que detectou um ceo-d de 0,43 para a faixa etária de 0 a 24
meses e 2,02 para crianças de 36 a 48 meses em creches da cidade de São
Paulo,SP e em Bauru,SP estudando as mesmas faixas, os referidos autores
encontraram valores ainda mais altos, 1,18 e 5,49 para as respectivas faixas.
Quanto ao índice ceo-s o presente estudo revelou na faixa etária de 24 a 36
meses um valor médio de 0,08. Tal resultado mostra-se inferior ao encontrado por
Bönecker (1996) de 1,13 aos 24 meses e de 3,68 aos 36 meses e Cerqueira (1998)
que estudou crianças na faixa de 24 a 30 meses obtendo um valor médio de 1,21.
No mesmo trabalho a autora encontrou um valor de 3,35 na faixa de 30 a 36 meses.
No que diz respeito ainda a programas que têm como clientela prioritária
bebês de 0 a 36 meses, permitindo portanto uma comparação com o Bebê-Clínica,
51
merece destaque o referenciado por Walter, Garbeline, Gutierrez (1991). Os autores
avaliaram crianças que ingressaram no programa de Odontologia para Bebês de
Londrina e de Cambé, tendo verificado que na primeira cidade citada, 92,6% das
crianças que iniciaram sem cárie continuaram sem manifestação da doença.
Percentual semelhante foi encontrado em Cambé (92,28%), mas os autores não
deixam claro o período de participação avaliado. No presente estudo obteve-se um
percentual de 84,61% em crianças com período médio de participação de 32,5
meses.
Ainda nesta mesma linha encontra-se o estudo de Garbosa e Walter (1977)
que realizaram uma avaliação com uma amostra semelhante a este referente
trabalho. As crianças analisadas entraram no programa em torno de seis meses e
permaneceram por dois anos. Os autores encontraram um percentual de 0% de
cárie de mamadeira e 2% de cáries simples. Comparando-se o percentual de cárie
de mamadeira semelhante na avaliação do Distrito Sul de Natal, denotando um
resultado satisfatório, porém o percentual de cárie simples situou-se em 11,5%
(Tab.10). Este fato tende a significar que o programa de Natal ainda precisa de um
redirecionamento das ações no sentido de melhorar a sua eficácia.
5.2 ANÁLISE QUALITATIVA
A pesquisa qualitativa se preocupa com o aspecto da realidade que não
pode ser quantificado, isto é, trabalha com significados, valores e atitudes. No
presente estudo a técnica escolhida foi a de Grupo Focal que tem como objetivo
verificar de que forma as pessoas avaliam uma experiência, definem um problema,
emitem opiniões e sentimentos.
52
Foram selecionados para o estudo, temas que ajudassem a analisar a
eficácia do programa em questão, como o conhecimento das mães sobre saúde
bucal, as mudanças de atitude observadas que pudessem ser uma conseqüência
direta do programa, as dificuldades encontradas no processo e o nível de satisfação
dos usuários. Dessa forma foi possível cobrir uma extensão máxima de tópicos
relevantes, além de favorecer a apreensão de dados específicos. O contexto dos
participantes foi considerado na análise das respostas e a abrangência dos temas
atende aos pressupostos teóricos de Merton apud Morgan (1988) para a efetividade
dos grupos focais.
Levando em consideração as experiências anteriores e os ensinamentos de
pesquisadores envolvidos nesta área, como Morgan (1988) & Minayo (1988) dentre
outros, após a realização das entrevistas em grupo, transcrição de todas as
evocações e leitura exaustiva, as citações foram categorizadas dentro dos temas
aos quais guardavam relações em função do significado (Quadro 1).
QUADRO 01 - TEMAS E CATEGORIAS
TEMAS CONHECIMENTO EM
SAÚDE BUCAL
MUDANÇAS DE
ATITUDE DIFICULDADES
SATISFAÇÃO COMO
PROGRAMA
CONCEITO HIGIENE BUCAL ALIMENTAÇÃO IMPORTÂNCIA DO
PROGRAMA
HIGIENE PEDRÃO ALIMENTAR REMOÇÃO DE
HÁBITOS
RELAÇÃO
PROFISSIONAL/
PACIENTE
C
A
T
E
G
O
R
I
A
PREVENÇÃO HÁBITOS HIGIENIZAÇÃO ACESSO
53
Partindo do primeiro tema estudado, Conhecimento sobre Saúde Bucal ,
procurar-se-á destacar as concepções das mães. Dessa forma, englobou-se todas
aquelas falas nas quais se apreendeu um conceito de saúde bucal e aspectos
abordados que foram interpretados como facilitadores da elaboração de uma atitude
positiva quanto à preservação da saúde dos bebês. Convém destacar que os
sujeitos incluídos nesta primeira temática constituem o grupo de mães que foram
beneficiados pelas ações do programa e em outro grupo aquelas que ainda não
tiveram acesso ao mesmo.
Com esta avaliação buscou-se verificar se havia diferença sobre o
entendimento do que é saúde bucal entre estes dois grupos, a partir dos discursos
pronunciados. Neste sentido, é válido ressaltar que o conceito de saúde bucal por
mais amplo que se conceba na atualidade, foi aos poucos construído pelas mães de
ambos os grupos à cada fala, surgindo na maioria das vezes como sinônimo de
higienização e preocupação com dieta cariogênica (Quadro 2).
Mães Participantes:
“(...)saúde bucal é tratar bem dos dentes, após as refeições sempre
escovar (...) evitar ficar dando bala para não estragar os dentes.”
Mães não Participantes:
“(...)é ter higiene dos dentes, estar sempre escovando (...) é evitar que
a criança viva com confeito.”
É interessante situar que ambos os grupos apresentaram conceitos
semelhantes como visto acima. Percebeu-se, entretanto, uma riqueza de situações
54
enfocadas pelas mães participantes do programa no sentido de melhor aproximar-se
ao conceito mais amplo de saúde bucal, como pode ser visto nas evocações
seguintes:
“(...)saúde bucal é a prevenção primeiramente, não ter problema, é ter
saúde de um modo geral, prevenção e bem estar completo, não só bucal, mas a mente,
físico, é o bem estar (...)é ter dentes e gengivas em geral, limpos, saudáveis, fortes, manter
longe de cárie(...)é saúde dos dentes, gengiva, língua, garganta.”
Possivelmente este fato tenha ocorrido em função da participação destas
mães em ações educativas que fazem parte do programa. Não se pode perder de
vista no entanto, que a Odontologia contemporânea vem conseguindo aos poucos
dar uma conotação preventiva às suas ações, quer no serviço público ou privado,
embora de forma hegemônica ainda seja de cunho curativo.
No decorrer das entrevistas, quando foi suscitado o conhecimento sobre
cuidados com a saúde bucal do bebê, apreendeu-se diversas construções verbais
que igualmente permitiram uma análise comparativa entre os dois grupos. Neste
caso Higiene Bucal foi à categoria mais evidente nos discursos das mães conforme
mostra o Quadro 3.
De qualquer forma, à semelhança da questão anterior, observou-se que as
mães participantes do programa apresentaram maior desenvoltura em responder e
apresentaram conceitos mais amplos, enquanto as outras demonstraram algumas
distorções das informações recebidas. Este fato pode ser confirmado quanto ao
pronunciamento da limpeza da boca do bebê, sem dentes erupcionados, realizada
55
com cotonetes, acessório de higiene normalmente utilizado para aplicação de
fluoretos.
Mães Participantes:
“(...)tem que passar a fralda depois do leite, do suco, começando a
limpeza antes mesmo que ele não tenha dentes(...)desde os primeiros dias de vida a gente
tem que fazer a limpeza depois das refeições.”
Mães não participantes:
“(...)quando ele era de braço eu sempre limpava após a alimentação,
pegava um cotonete, molhava e passava(...)eu limpava mesmo antes dele ter dente porque
eles golfam, para não dar sapinho tem que ficar limpando(...)depois de dar banho tem que
passar um cotonete na gengiva da criança ou uma fralda.”
O fato de existir em funcionamento um programa que se preocupa com a
prevenção, tem influenciado o surgimento de atitudes diferenciadas entre os não
participantes que têm como fontes de informação, profissionais ligados a outros
setores da Unidade Sanitária, também engajados de forma indireta no programa.
Convém ressaltar que as mães não participantes do programa, embora
tenham algum conhecimento a cerca do tema, não dão muita prioridade à limpeza
bucal, principalmente dos bebês ainda sem dentes erupcionados, justificando a
ausência de tempo disponível como determinante da situação.
Mães não participantes:
“(...)eu boto para escovar , eu não limpava a boca não, quando não
tinha dente(...)eu não, se eu disser que limpo todas as vezes eu minto, não posso dizer que
56
estou limpando porque geralmente eu vivo mais na rua que em casa(...)a gente sabe que
tem que limpar, eu pelo menos eu não faço porque eu não tenho tempo(...)eu não vou dizer
que limpo direto mesmo, eu não posso todos os dias estar limpando. ”
Por outro lado, é possível destacar-se no discurso das mães participantes uma
aproximação que parece refletir uma preocupação em potencial com ausência de
higienização e sua relação com o surgimento da doença cárie. Este fato não é
observado entre as mães não participantes, mas o grupo apresenta um aspecto cultural
arraigado e intimamente relacionado a hábitos tradicionalmente estabelecidos, como
escovar após o café, limpar após regurgitação e higienizar em função do hálito.
Mães Participantes:
“(...)manter os dentes limpos para manter longe de cárie(...)se você
sempre que comer procurar limpar a boca, não causa tanto problema.”
Mães não Participantes:
“(...)tem que escovar após as refeições(...)tem que escovar depois do
jantar e depois do café (...)tem que limpar os dentes à noite e de manhã(...)eu limpava
mesmo antes dele ter dente porque eles golfam(...)eu acho que o mais importante é escovar
de noite, que dorme com a boca fechada e fica aquele mau hálito.”
Foi verificado o surgimento de outra categoria, especialmente no grupo das
mães participantes que foi a importância da prevenção , como pode ser visto no
Quadro 4. Pôde-se observar entre as mães participantes a preocupação em ajudar
seus filhos a prevenir a doença cárie e a noção de que se não houver um cuidado
57
precoce, aparecerão problemas no futuro. Este fato pode ser ilustrado com as falas a
seguir:
Mães Participantes:
“(...)devemos cuidar dos dentes agora para depois ser melhor(...)é uma
preocupação que eu não vou ter no futuro com certeza (...)tem que ter mais cuidado ainda,
porque se não tiver cuidado quando é novinho, vai apresentar o problema mais tarde,
quando tiver numa idade maior e tiver todos os dentes, aí já todo cheio de cárie já tá sem
jeito porque não cuidou quando era bebê(...)a preocupação da gente é fazer com que a
gente não veja no futuro a criança da gente com dor de dente, arrancando dente cedo,
usando prótese dentária.”
As dificuldades de acesso às ações curativas do sistema de saúde, de
alguma forma no grupo estudado, têm despertado a atenção para o cuidado de
cunho preventivo.
Mães Participantes:
“(...)por isso que a gente deve cumprir direitinho, para depois ser
melhor, porque é difícil. O pessoal não consegue ficha para dentista para criança.”
Durante as entrevistas com as mães não participantes, embora tenha sido
evidente a importância dada a prevenção, as citações a este respeito foram mais
escassas e tiveram menor expressão do que no outro grupo. Pôde-se detectar
também uma associação entre a procura pela atenção odontológica e a existência
do problema já configurado.
58
Mães não Participantes:
“(...)se não cuidar desde bebezinho vai criar cárie quando tiver um ou
dois anos(...)quando tiver problema tem que vir ao dentista.”
Ainda em relação à categoria prevenção pôde-se destacar somente entre as
mães integrantes do programa, um entendimento de que a doença cárie pode ser
transmissível.
Mães Participantes:
“(...)A pessoa que vai cuidar do seu filho deve não ter problema de
cárie, porque se tiver vai passar(...)a questão do beijo diretamente na boca, no caso de
brinquedos de boca em boca, chupetas, mamadeiras, tudo isso tem possibilidade de contrair
cárie(...)a pessoa que cuidava do meu primeiro filho era cheia de cárie, mas eu tinha que
trabalhar, tinha que pegar(...)mamadeiras e chupetas podem transmitir cárie, principalmente
se alguém tiver com início de cárie.”
Estudos realizados por Keyes em hamsters, em 1960 já demonstravam ser a
cárie dentária uma doença infecciosa e transmissível e a comprovação em humanos
deu-se em 1971 por um estudo realizado por Jordan et al apud Oliveira (1997) .
Embora já com comprovações científicas a respeito, a transmissibilidade não é um
tema de notório conhecimento popular, tendo-se discutido somente em grupos
específicos de Odontologia. Portanto, não é surpreendente que esta questão não
tenha emergido entre as mães não participantes.
Este conceito é importante na área de Odontologia para bebês, pois
conforme Alaluusua e Renkonen (1983), o estabelecimento precoce de bactérias
59
cariogênicas favorece um alto risco de cárie na dentição decídua, que pode se
estender até à dentição permanente.
Algumas citações abordadas pelas mães, embora não tenham emergido
como categoria, merecem análise por sua inclusão em conhecimentos em saúde
bucal. Elas referem-se ao uso de antibióticos conforme os relatos seguintes.
Mães Participantes
“(...)O problema da medicação à noite, que a criança toma, é muitas
vezes antibiótico no horário certo, que ela vai dormir. Não é o antibiótico que enfraquece o
dente, é o açúcar que tem dentro que deixa a cárie aparecer.”
Mães não participantes
“(...)o antibiótico interfere na saúde bucal, talvez a criança não tenha se
excedido nas balas, mas o problema está na medicação, o antibiótico interfere(...)já ouvi
falar que antibiótico é melhor evitar(...)a mãe deve evitar antibiótico, porque meu sobrinho
não tem nenhum dente que presta de tanto antibiótico que ele tomou.”
O conhecimento popular de que o antibiótico causa cárie foi destacado no
discurso das mães não participantes, enquanto no outro grupo já existe um
pensamento mais elaborado de que o açúcar contido nas medicações é o que
poderia ocasionar a doença.
Avançando nas análises, buscou-se verificar se os ensinamentos a cerca de
saúde bucal, objeto das atividades de educação em saúde do Bebê-Clínica, foi
suficiente para despertar nas mães o surgimento de novas atitudes. Assim efetuou-
se uma análise das evocações que pudessem denotar a aquisição de novas
atitudes, as quais poderiam ser uma decorrência da introjeção das novas
informações resultantes de uma ação educativa contínua durante o programa.
60
Alguns autores confirmam que há necessidade de reforço permanente para que se
consolide comportamentos favoráveis à prevenção dos problemas bucais
(MOREIRA et al, 1980).
Neste sentido verificou-se que a categoria Higiene Bucal foi o que mais
suscitou depoimentos das mães no sentido de um redimensionamento da sua
prática. Esta situação encontra-se explícita no Quadro 5 e exemplificada nas
citações abaixo.
“(...)eu sempre escovei o dentinho dele, mas agora tenho mais atenção,
mais cuidado, eu tenho que pensar na dentição, insistir mais, não deixar para lá não, eu
agora insisto até fazer a limpeza direito (...)mudei na forma de escovar, porque a gente não
tem conhecimento e escova de forma errada e eu nem sabia que era necessário escovar a
língua(...)agora tenho noção de limpar todo dia, antes eu nem ligava, não ensinava a
escovar, do jeito que ele escovasse eu achava que estava bom, agora não, a gente tem
noção de como passar a escova, isso eu aprendi.”
Este resultado citado pelas mães está de acordo com Allaluusua e
Malmivirta apud Milanez e Walter (1997) que verificaram relação positiva entre
ausência de placa visível com o acesso ao atendimento precoce. Ainda de acordo
com Zoli et al apud Milanez e Walter (1997), a interposição de medidas de higiene
através do atendimento odontológico precoce, é um dos fatores responsáveis pela
baixa prevalência de cárie de crianças até 4 anos de idade.
No que diz respeito às preferências dietéticas das crianças que participam
do programa foi observado durante as entrevistas, (Quadro 6) que aquelas mães
apresentaram depoimentos nos quais se depreende a criação de hábitos saudáveis
61
no sentido de não estar patente a preferência por alimentos ricos em sacarose,
potencialmente cariogênicos. Estas crianças tiveram o privilégio do estabelecimento
de um padrão alimentar próximo do aceitável, conseqüência de uma nova
estratégia adotada pelas mães de combate ao excesso de açúcar, a partir dos novos
conhecimentos adquiridos. Este fato reflete, de alguma forma, o sucesso das ações
educativas, o que está de acordo com Newbrun (1988) o qual advoga que o controle
dietético na prevenção da cárie depende em primeiro lugar e antes de tudo da
vontade e tenacidade dos pais. Ainda pode-se salientar que, os hábitos dietéticos
adquiridos na infância, formam a base para o futuro padrão alimentar (WALTER;
FERELLE; ISSAO, 1996).
A participação integrada dos pais no Bebê-Clínica desencadeia uma
sensibilização e conscientização relacionadas às novas atitudes preventivas
tornando-os mais responsáveis e comprometidos, imagina-se. De acordo com
Walter, Ferelle e Issao (1996) o sucesso do aconselhamento depende não só da
transferência de informações à família, mas também da adaptação das
recomendações à realidade em que a criança vive.
“(...)ele nem gosta muito de bala(...)mudei em relação à alimentação
evitando o açúcar, ela me orientou muito e disse que eu colocasse o mínimo
possível(...)doce assim ele não gosta muito, não foi criado comendo balinha, então ele hoje
bota uma bala na boca e bota fora, não gosta(...)a criança vai se acostumando a não comer
muito doce e até ela própria come uma coisinha doce e já não quer(...)às vezes o pessoal
quer dar uma balinha para ele e eu digo que não que ele vai botar fora...ele dá uma
chupadinha e diz para jogar fora. (...)mudei em termos de açúcar, é tanto que o meu não
gosta nem de doces”
62
Ainda segundo este autor, quando o bebê é menor de seis meses, o
aleitamento materno é feito sem nenhuma restrição devido sua importância
relacionada ao desenvolvimento físico e emocional nesta idade. O controle deve
começar a ser realizado após a erupção dos primeiros dentes para que o desmame
ocorra por volta dos doze meses, quando os incisivos já estão erupcionados e inicia-
se a mastigação. Em relação às crianças do programa avaliado, outro ponto no qual
ocorreram mudanças importantes foi nesta área, como pode-se observar nas falas
seguintes:
“(...)mudou o horário das mamadas, que os outros mamavam quase a
noite toda, de instante em instante, agora não(...)a dentista dizia que tinha que evitar
alimentação durante a noite, aí pronto, passou aquele costume, eu dava uma balançadinha
para dormir de novo ao invés de alimentar(...)eu não sabia que leite materno prejudicava os
dentinhos, eu amamentava a noite toda, aí comecei a evitar(...)agora eu dou mamadeira à
noite, mas antes dele dormir, depois ele escova os dentes(...)evito mamadeira noturna
porque causa cárie(...)muita coisa a gente não sabia, cárie de mamadeira...eu não sabia
disso(...)o leite materno que dá cárie(...).”
A mudança verificada deve-se principalmente, segundo as mães, ao
conhecimento da existência de cárie causada por alimentações noturnas (cárie de
mamadeira). Este pensamento está de acordo com Mc Donald (1977), que cita a alta
possibilidade da amamentação noturna produzir cárie, uma vez que neste período
há redução do fluxo salivar e do reflexo de deglutição favorecendo a retenção do
alimento junto ao dente. Segundo Walter, Ferelle e Issao (1996), as medidas
educativas mais eficazes para a prevenção da cárie dentária na primeira infância,
são aquelas relacionadas ao controle da amamentação, principalmente a noturna.
63
Pode-se observar então a importância desse tipo de comportamento para a
comprovação da eficácia do programa.
Em relação aos hábitos de sucção , (Quadro 7) pôde-se observar relatos
sobre a retirada de hábitos (chupetas e mamadeiras) após o ingresso no programa
bem como o estímulo a amamentação.
“(...)meu filho deixou chupeta, mamadeira, tudo por causa do
programa(...)se não fosse o programa acho que ele ainda estava usando chupeta e
mamadeira, por ser assim...manhoso (...)se eu não tivesse vindo aqui, eu tinha dado
chupeta e mamadeira, mas aí ela dizia para dar no copinho(...)o meu nunca chupou chupeta
e mamadeira, ele só mamava(...)os outros com quinze dias já começavam a tomar
mamadeira, esse agora eu não dei nem mamadeira nem chupeta, só amamentação,
copinho e colher.”
Observou-se nas falas de algumas mães que participam do programa que
elas não expressam exatamente os problemas como decorrência de hábitos bucais,
demonstrando algumas vezes que retiraram chupeta e mamadeira constrangidas e
sem a noção exata do futuro problema odontológico, apenas por obediência às
orientações recebidas da dentista.
“(...)ele tanto usava chupeta como mamadeira, usou até dois anos a
mamadeira, mas aí Dra. Socorro dizia...olha, vai causar isso, vai causar aquilo, e a gente foi
tirando com muita pena.(...)influenciada pelo programa eu consegui tirar, tanto a mamadeira
como a chupeta."
64
Entretanto, alguns discursos mostram a absorção inclusive do entendimento
da má oclusão ocasionada pela continuação de alguns hábitos.
“(...)influenciada por Dra. Socorro tirei a chupeta dele e acho que para
ele melhorou muito, porque já estava ficando dentuço(...) O uso da chupeta Dra. Socorro me
orientou muito, a minha já estava ficando com mordida aberta e ela orientou que eu tirasse,
eu consegui e estou notando que já está voltando ao normal.”
Reconhecendo não ser fácil o processo de conscientização e que para tal
demanda-se muito tempo, há fragilidade neste estudo, para conclusões neste
sentido, principalmente pelo fato de que o Bebê-Clínica ainda se constitui uma
iniciativa nova para a Secretaria Municipal de Saúde de Natal. Certamente, ações
mais efetivas e duradouras de educação em saúde são necessárias para que se
possa lograr mudanças significativas dos usuários. Todavia, sem querer tirar
conclusões precipitadas, observou-se, alguma diferença no tocante as posturas das
mães frente a saúde bucal dos filhos. Sendo que estes casos ocorreram apenas no
que diz respeito a situações específicas e de maior domínio popular, como
higienização, cuidados com alimentação e correção de hábitos danosos à saúde
bucal. Entretanto, em uma das falas há o aprofundamento do discurso de forma mais
abrangente:
“(...)mudou muita coisa, mais a conscientização, porque a gente sabe
que é necessário, mas agora é com aquela compreensão, é muito difícil mas a gente quer
atingir aquela meta, o objetivo mesmo é que o meu filho cresça sem cárie, sem problema
com os dentes. Essa conscientização é muito importante porque você não se afasta.”
65
A este respeito Minayo (1993) enfatiza ser mais importante a profundidade
alcançada nos discursos do que a quantidade das evocações.
Apesar de todas as descrições que enfatizam os alcances do programa, no
percurso foram registradas dificuldades para uma possível ruptura dos hábitos e
conhecimentos populares arraigados e introjetados anos a fio em toda a existência
destas mães. Foram citados problemas com o redimensionamento da alimentação
(Quadro 8), reversão de hábitos bucais (Quadro 9) e o adequado manejo com as
crianças no tocante à higienização (Quadro 10).
Em relação à alimentação , algumas falas demonstram a dificuldade no
desmame com permanência do hábito por mais de um ano, como demonstram as
citações a seguir:
“(...) ele era mais o peito, foi muito difícil tirar o peito dele, mamou mais
de três anos. (...) eu ainda estou com dificuldades, porque ele ainda mama, não quer deixar
o peito, ele está com três anos e seis meses, eu já fiz tudo para ele sair do peito.”
Algumas mães colocam como dificuldade o filho não aceitar a mamadeira e
só querer o peito, pois a mamadeira seria mais prático. Neste tipo de discurso
observou-se o quanto os traços culturais influenciam, pois mesmo sabendo que o
ideal é a criança sair do peito para o copo, a questão da mamadeira é muito forte na
nossa cultura.
66
“(...)eu tive dificuldade, meu menino mamou até sete meses, não comia
nada, nunca pegou mamadeira, nem chupeta, eu tentei ainda para ver se ele pegava,
porque era muito difícil para mim ficar dando de colher, eu trabalho, a mamadeira é mais
rápido, mas ele não quis pegar. Toda vida que eu tentava ele vomitava, aí foi na colher
mesmo(...) quando eu ia trabalhar, eles não tinham paciência de dar a comida com colher,
quando eu chegava, do jeito que eu deixava a comida estava e o menino morrendo de fome,
não tive outra alternativa, comecei a levar para o trabalho e passava o dia com ele lá.”
Ainda em relação à alimentação houve a dificuldade de retirar a mamada
noturna:
“(...)A dificuldade foi tirar o peito de madrugada(...)eu já tirei ele do meu
quarto, mas ele às vezes escapa do quarto dele e vem para onde eu estou para mamar(...)a
única dificuldade que eu tive foi tirar a mamadeira, porque ele tomava mamadeira antes de
dormir e acordava durante a noite para tomar mamadeira de novo(...)quando ele mamava
era a noite toda e eu ficava preocupada com isso, mas graças a Deus ele deixou.”
Algumas dificuldades foram relacionadas à retirada de hábitos de sucção, no
caso a chupeta.
“(...)foi difícil para mim tirar a chupeta e mamadeira, foi horrível, ele
chorou dois ou três dias, mas consegui tirar(...)tive problema porque veio outra criança e ela
se sentia no lugar dele e quis voltar a usar chupeta e mamadeira(...)a maior dificuldade foi a
chupeta, mas ela deixou, graças a Deus(...)”
A higienização também foi abordada neste item:
67
“(...)a maior dificuldade foi a escovação que muitas vezes eles não
querem(...)ele é muito comelão, às vezes vou botar ele para dormir, dou banho nele, escovo
os dentes, aí ele, mãe ... quero mingau, e ele já não quer escovar mais porque já
escovou...durante o dia não tenho dificuldade nenhuma(...)a dificuldade é mais a escovação,
às vezes acordo eles e digo: passa os dois para o banheiro...aí sai um atrás do outro
correndo(...)às vezes as crianças não querem abrir a boca, acham irritante ficar limpando,
tem dias que é excelente, mas tem dias que não quer.”
Apesar das mães citarem algumas dificuldades observa-se que vários
obstáculos têm sido vencidos, como observa-se nestas declarações:
“(...)a dificuldade às vezes está na colaboração da criança, a minha
dificuldade era a escovação, que hoje em dia, graças ao programa, já foi
superado(...)quando ele chegou dava espetáculo grande, agora já senta na cadeira, já
superou(...)o meu problema maior era que ele comia muita bala que eu vendia, aí mudei o
comércio para longe de casa e melhorou.”
As dificuldades visíveis com relação a higienização fazem supor que embora
estas mães tenham recebido as orientações tecnicamente corretas dadas por
ocasião das ações educativas e tentado executá-las, a condução do processo
educacional depende de diversos fatores como estabilidade emocional, instinto
maternal, disponibilidade de tempo etc. (RESSINI; DOUGLAS, 1998).
Dando continuidade à análise e considerando que a proposta do Programa
Bebê-Clínica é centralizada na promoção de saúde bucal das crianças de 0 a 36
meses, sendo para isso indispensável à participação dos pais, torna-se importante a
avaliação do nível de satisfação dos mesmos, visto que a partir disto depende a
participação continuada ou não. Esta preocupação foi citada por Akerman
68
Nadanovsky (1992) considerando que as avaliações dos serviços devem se utilizar
de medidas que levem em conta a satisfação do usuário.
Foi possível classificar a avaliação feita pelos usuários de acordo com a
relação interpessoal, acesso, resultado e continuidade da atenção, o que está de
acordo com o que foi encontrado por Santos (1995) quando avaliava a qualidade
dos serviços de saúde sob a ótica do usuário. Ainda em consonância com esta
autora, observou-se que as mães valorizaram principalmente a relação interpessoal,
pois a busca pelo serviço foi em sua grande maioria para serviços preventivos.
Segundo a autora, quando a busca é por tratamento curativo, o usuário valoriza
mais a resolutividade do serviço.
Durante as entrevistas foram observadas diversas afirmações que
caracterizam a importância dada pelas mães ao programa (Quadro 11).
“(...) você traz a sua criança e ela vai sendo acompanhada, você sabe
como orientar a criança para ela não ter cárie (...) é muito importante este Bebê-clínica
porque tinha muita coisa que a gente não sabia e agora estamos sabendo.”
Percebe-se o entendimento das mães de que o acompanhamento e as
informações recebidas são cruciais para a manutenção da saúde bucal dos seus
filhos. Uma outra avaliação positiva do programa, sob a visão das mães, é a
adaptação da criança ao ambiente odontológico sem traumas, o que era difícil de
acontecer no passado. Dessa forma, de acordo com Velasco et al (1993), é
estabelecido um contato positivo entre o bebê e o profissional, com intervenções
preventivas e sem necessidade de procedimentos curativos. Estes muitas vezes,
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responsáveis pelos traumas decorrentes de uma situação de dor vivenciada na
cadeira do dentista. A atenção precoce é uma forma de eliminar este tipo de
experiência traumática.
“(...) as mães só traziam a gente para o dentista quando estava
precisando mesmo e era aquela frustração, era aquele medo, no programa não, desde
bebezinho já está conhecendo.”
Há uma concepção clara de que houve um avanço nítido entre a geração da
mãe(que era levada ao dentista quando existia a doença) e a do filho, que teve
oportunidade de participar de um programa de ações educativas e preventivas. Esta
é mais uma satisfação das mães em poder proporcionar aos filhos o que não tiveram
oportunidade de vivenciar em suas realidades.
“(...)é importante porque o que a minha mãe não fez comigo, eu hoje
faço, tento fazer o máximo para ele não ter cárie(...)é um acompanhamento que eu não tive,
estou passando para ele.”
O programa se constitui também como investimento que no futuro propiciará
dispender muito menos recursos para a atenção odontológica de seu filho, levando
em consideração o alto custo da odontologia privada e as marcantes dificuldades de
acesso ao serviço público.
70
“(...)acho muito bom, que não pare tão cedo porque é muito difícil ir ao
dentista(...)é muito importante porque tratamento odontológico é muito caro, eu acho muito
importante.”
Uma usuária reconhece a ausência de serviços com capacitação técnica
para o atendimento à bebês valorizando dessa forma, a iniciativa do serviço.
“(...)é importante porque hoje em dia ter uma assistência dentária na
idade deles é bem mais difícil”.
A meta do programa, de manter a criança livre de cárie, é razão de
satisfação das mães, o que demonstra claramente sua valorização pelas ações de
cunho preventivo, o que não deixa de ser uma nova compreensão em relação à
promoção de saúde.
“(...)eu acho bom esse programa porque eles têm uma meta, de manter
a criança livre de cárie, então eu achei super interessante, desde bebezinho é uma
prevenção muito boa, porque às vezes a gente começa a tratar do dente da criança já
tarde.”
A satisfação dos usuários foi demonstrada também através da qualidade dos
serviços da unidade, ressaltando o bom atendimento e o funcionamento do trabalho
em equipe. Isto demonstra que o programa de Odontologia para bebês encontra-se
integrado com as demais ações de saúde da unidade. Este fato está de acordo com
71
Bellini (1991) que afirma que um programa de saúde bucal terá êxito mais facilmente
se for componente de um programa global de saúde na comunidade.
“(...)o trabalho aqui é conjunto, a gente para vir para o dentista, passa
pelo CD(crescimento e desenvolvimento), assistente social, etc(...)aqui há um trabalho em
equipe e é muito bom, tanto que quando a gente vem eles encaminham logo para o CD,
pediatra, é um trabalho em conjunto na orientação de uma para a outra (...)eu moro lá em
Cidade Satélite e saio de lá para cá, por quê? Porque sou bem atendida aqui eu acho
excelente o posto, até hoje não tenho nenhum tipo de reclamação, todo o pessoal atende
muito bem.”
Em relação especificamente às ações desenvolvidas pela dentista, as
opiniões das mães são unânimes. A dedicação, o carinho e a capacitação
profissional satisfazem e superam as expectativas.
“(...)ela tem assim um carinho, uma atenção com eles, que acho que é
difícil um atendimento desses num posto de saúde, hoje eu acho que é difícil.”
Uma boa relação profissional/paciente demonstra o quanto o tratamento
humanizado cria vínculos e induz uma resposta positiva ao programa (Quadro 12).
“(...)minha filha vem aqui super feliz, ela vem para a consulta como
sendo uma coisa muito boa(...)eu aprendi o que eu não sabia, eu gosto muito, quando
chega o dia fico animada e atenta, vou levar ele hoje, aí eu gosto muito.”
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As formas de acesso (Quadro 13) demonstram satisfação do usuário em ter
facilidade na marcação e remarcação de consultas, o que normalmente não ocorre
em serviços de saúde pública.
“(...)aqui é muito bom, marca o dia certo que a gente vem, o que não
acontece em outras unidades(...)eu acho ótimo aqui, que continue do jeito que tá, sem tirar
ficha, ela marcando, é importante demais, já fica marcado.”
Enfim, é interessante ressaltar que há unanimidade das mães quanto ao
pronunciamento tanto às formas de acesso, quanto ao tipo da assistência prestada
inclusive chegando a sugerir a ampliação das ações do serviço a outros bairros
como uma forma clara de avaliação positiva do programa.
“(...)era bom aumentar o número de profissionais, que a prefeitura
incentivasse sempre e tivesse em outros postos.”
Conforme Hartz (1997), “avaliar consiste fundamentalmente em fazer um
julgamento de valor a respeito de uma intervenção, com objetivo de ajudar na
tomada de decisões”. Dessa forma, os resultados obtidos nesta análise poderão ser
utilizados pela equipe responsável pelo desenvolvimento do mesmo, de maneira a
redefinir os objetivos iniciais e as ações num processo cíclico. A prevalência de cárie
das crianças que participam do programa desde o primeiro ano de vida é baixa
quando se leva em consideração alguns levantamentos epidemiológicos realizados
no Brasil. No entanto, ao visualizar-se resultados superiores obtidos por programas
semelhantes, imagina-se que ainda há pontos que merecem aperfeiçoamento.
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Em relação à avaliação de qualidade, o item satisfação do usuário é
considerado um elemento importantíssimo por Santos (1995) e Azevedo (1991).
Nesse sentido pôde-se observar unanimidade entre as mães entrevistadas que
ressaltam sobremaneira o bom relacionamento com a Dentista e demais
funcionários do posto, a facilidade de acesso e a importância que o programa
representa na vida de seus filhos.
Vale salientar que quanto mais uma avaliação é bem sucedida, mais abre
caminhos para novas análises. Ela suscita dúvidas sem ter condições de dar todas
as respostas. Em função disso a implantação de um programa permanente de
avaliação pela Secretaria Municipal é vital e a continuidade de estudos na área,
propiciará mecanismos de retroalimentação no que diz respeito a qualidade do
cuidado em saúde bucal.
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TEMA 1 – CONHECIMENTO SOBRE SAÚDE BUCAL
QUADRO 2 – Conceito de saúde bucal
Mães participantes
“(...)é fazer prevenção (...)é tratar bem os dentes, após as refeições sempre escovar(...)é manter a higiene
bucal, escovar três vezes ao dia(...)limpar os dentes(...)é escovar os dentes após as refeições, vir sempre ao
dentista, evitar balas chocolates, sempre que comer ensinar sempre a escovar os dentes, usar sempre fio
dental(...)é ter dentes sadios, cuidar bastante, vir ao dentista regularmente(...)cuidar dos dentes, escovar
após as refeições(...)é a higiene(...)é a limpeza do dia a dia, quando comer(...)saúde bucal é a prevenção
primeiramente, não ter problema, é ter saúde de um modo geral, prevenção e bem estar completo, não só
bucal, mas a mente, físico, é o bem estar (...)é ter dentes e gengivas em geral, limpos, saudáveis, fortes,
manter longe de cárie(...)é saúde dos dentes, gengiva, língua, garganta(...)para mim é ter gengivas e dentes
sadios, isso é ter saúde bucal(...)é cuidar bem dos dentes não só esperando acontecer a cárie, ficar
saudável, evitar, prevenir(...)vir ao dentista para não ter problema depois(...)é cuidar direitinho não
somente da boca(...) é higienização, fazer escovação após comer.”
Mães não participantes
“(...)saúde bucal é ter higiene dos dentes, estar sempre escovando(...)escovar os dentes(...)é ter cuidado
com os dentes, escovando(...)ter cuidado com as crianças para sempre estar escovando(...)é escovar os
dentes após as refeições(...)é evitar que a criança viva com bagana, confeito(...)evitar comer doces, a minha
tem mania de mastigar, ela chupa chiclete demais(...)é ter cuidado até por que uma dor de dente incomoda
muito, demais, quem já teve sabe o que é uma dor de dente, é igual uma dor de ter menino.”
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QUADRO 3 – Conhecimento sobre Higiene Bucal
Mães participantes
“(...) após as refeições sempre escovar(...) manter os dentes limpos para manter longe de cárie(...)escovar
três vezes ao dia(...)escovar os dentes após as refeições(...)escovar os dentes após as refeições(...)se você
sempre que comer procurar limpar a boca, não causa tanto problema(...)é importante usar o fio
dental(...)cada vez que se alimenta tem que escovar os dentes(...)tem que fazer escovação após comer(...)a
rotina diária é sempre mandar escovar os dentes(...)tem que escovar, inclusive até a língua(...)a principal
escovação é à noite, que vai dormir(...)é importante a escovação, fazer a limpeza da boca da criança,
utilização do fio dental(...)cada vez que ele mamava eu fazia a limpeza da boca(...)quando eram novos eu
fazia a limpeza com a fraldinha, agora procuro sempre manter a escovação(...)cada vez que acabar de dar
de mamar tem que fazer a limpeza com a fralda(...)sempre que mamava eu limpava, e até hoje estou
mantendo a escovação(...)tem que passar a fralda depois do leite, do suco, começando a limpeza antes
mesmo que ele tenha dentes(...) depois da mamada tem que limpar a boca(...)desde os primeiros dias de
vida a gente tem que fazer a limpeza depois das refeições(...)dormir com a boca cheia de leite não
dá!(...)tem que insistir, não deixar para lá não, eu insisto até fazer a limpeza direito(...)quem participa do
programa dá uma importância grande à limpeza bucal da criança.”
Mães não participantes
“(...)quando ele era de braço eu sempre limpava após a alimentação, pegava um cotonete, molhava e
passava(...)eu limpava mesmo antes dele ter dente porque eles golfam, para não dar sapinho tem que ficar
limpando(...)depois de dar banho tem que passar um cotonete na gengiva da criança ou uma fralda(...)tem
que ter cuidado no que ele bota na boca(...)a gente deve limpar a boquinha, a língua, para não dar sapinho,
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feridinha(...)escova o dente, bem ou mal escovado, mas escova, então acho que para alguma coisa
serve(...)eu boto para escovar , eu não limpava a boca não, quando não tinha dente(...)eu não, se eu disser
que limpo todas as vezes eu minto, não posso dizer que estou limpando porque geralmente eu vivo mais na
rua que em casa(...)a gente sabe que tem que limpar, eu pelo menos eu não faço porque eu não tenho
tempo(...)não faz escovação quatro, cinco vezes que eu não tenho tempo(...)eu não vou dizer que limpo
direto mesmo, eu não posso todos os dias estar limpando(...)tem que escovar após as refeições(...)tem que
escovar depois do jantar e depois do café (...)tem que limpar os dentes à noite e de manhã(...)eu acho que o
mais importante é escovar de noite, que dorme com a boca fechada e fica aquele mau hálito.”
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QUADRO 4 – Conhecimento sobre Prevenção
Mães participantes
“(...)se prevenir contra doenças é uma forma de saúde(...)devemos cuidar dos dentes agora para depois ser
melhor(...)venho sempre ao dentista para fazer limpeza, aplicar flúor e os dentinhos dele estão sadios, não
tem nem uma cárie(...)trago sempre para Dra. Socorro, as orientações eu vou seguindo, e tá sem nenhuma
cárie(...)quero que ela não tenha problema como esse que tá com os dentes perdidos. O cuidado tem que
ser redobrado(...)é uma preocupação que eu não vou ter no futuro com certeza(...)comecei a limpeza antes
mesmo que ela tivesse dentes e até hoje ela não tem cárie(...)tem que ter mais cuidado ainda, porque se
não tiver cuidado quando é novinho, vai apresentar o problema mais tarde, quando tiver numa idade maior
e tiver todos os dentes, aí já todo cheio de cárie já tá sem jeito porque não cuidou quando era bebê(...)a
preocupação da gente é fazer com que a gente não veja no futuro a criança da gente com dor de dente,
arrancando dente novo, usando prótese dentária, é o modo que a gente tem. Na época das mães da gente
elas não eram tão orientadas(...)acho muito importante a gente ter a dentadura perfeita. Porque é muito
difícil, a mãe da gente não teve essa orientação e tendo essa oportunidade é muito bom a gente ter esses
cuidados, para no futuro o filho da gente ter uma dentadura bonita(...)por isso que a gente deve cumprir
direitinho, para depois ser melhor, porque é difícil, o pessoal não consegue ficha para dentista para
criança(...)eu acho esse programa interessante, é uma proteção, sua criança vai sendo acompanhada, você
sabe como orientar a criança para ela não ter cárie(...)desde o início na prevenção que é o mais
importante(...)antigamente não existia esse trabalho de prevenção, o dentista era aquele terror para as
crianças(...)a criança acompanhada desde novinha perde aquele medo, de cadeira de dentista(...)o
problema da medicação à noite, que a criança toma, é muitas vezes antibiótico no horário certo, que ela vai
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dormir. Não é o antibiótico que enfraquece o dente, é o açúcar que tem dentro que deixa a cárie aparecer.
“(...)A pessoa que vai cuidar do seu filho deve não ter problema de cárie, porque se tiver vai passar(...)a
questão do beijo diretamente na boca, no caso de brinquedos de boca em boca, chupetas, mamadeiras,
tudo isso tem possibilidade de contrair cárie(...)a pessoa que cuidava do meu filho mais velho era cheia de
cárie, mas eu tinha que trabalhar, tinha que pegar!”
Mães não participantes
“(...)se não cuidar desde bebezinho vai criar cárie quando tiver um ou dois anos(...)quando tiver problema
tem que vir ao dentista(...)tem que tratar dos dentes, trazer para o médico dizer como tratar(...)o
antibiótico interfere na saúde bucal, talvez a criança não tenha se excedido nas balas, mas o problema está
na medicação, o antibiótico interfere(...)já ouvi falar que antibiótico é melhor evitar(...)a mãe deve evitar
antibiótico, porque meu sobrinho não tem nem um dente que presta de tanto antibiótico que ele
tomou(...)trocar as escovas quando tiverem velhas (...)tem que olhar se o dentinho tá nascendo normal.”
79
TEMA 2 – MUDANÇAS
QUADRO 5 – Mudanças relacionadas com a Higienização
“(...)mudou muita coisa, mais a conscientização, porque a gente sabe que é necessário, mas agora é com aquela compreensão, é muito difícil mas a
gente quer atingir aquela meta, o objetivo mesmo é que o meu filho cresça sem cárie, sem problema com os dentes. Essa conscientização é muito
importante porque você não se afasta(...)eu mudei naquele hábito de higiene que é para limpar mais, que antes eu nem ligava, os outros até tiveram
cárie de peito(...)eu mudei em relação à limpeza, eu pensava que bebê não tem dente, então vou fazer limpeza para que? eu passei a aprender aqui que
toda vida que mamava tinha que passar uma fraldinha molhada(...)eu achava que o bebê não precisava tanto cuidado como a dentista falou, começando
a limpeza antes mesmo que ele tivesse dentes...então a dentista influenciou, eu comecei a usar e até hoje ele não tem cárie(...)mudou muito porque eu
também achava que não importava limpar que não tinha dente, e mudou muito para mim, quando ele acabava de comer eu limpava, hoje é ele comendo
e correndo para escovar os dentes...já se acostumou(...)ele já tinha alguns dentes, mas eu não tinha aquele cuidado, agora tenho cuidado de
escovar(...)aprendi a fazer a limpeza da boca, a escovação, a utilização do fio dental, antes não dava importância(...)aprendi como lidar com a criança
quando ela não quisesse(...)aprendi escovação da maneira correta(...)mudei na escovação e fio dental que antes eu não usava nele, hoje em dia
faço(...)eu não sabia que se limpa com a fralda depois da mamada(...)mudei na parte de limpar a boquinha(...)eu sempre escovei o dentinho dele, mas
agora tenho mais atenção, mais cuidado, eu tenho que pensar na dentição, insistir mais, não deixar para lá não, eu agora insisto até fazer a limpeza
direito(...)passei a dar uma importância maior a higiene bucal(...)mudei na rotina diária, de sempre mandar escovar os dentes, se a gente não tem noção,
a gente deixa por conta deles(...)mudei na forma de escovar, porque a gente não tem conhecimento e escova de forma errada e eu nem sabia que era
necessário escovar a língua(...)agora tenho noção de limpar todo dia, antes eu nem ligava, não ensinava a escovar, do jeito que ele escovasse eu achava
que estava bom, agora não, a gente tem noção de como passar a escova, isso eu aprendi(...)assim que ele come alguma bala, ele mesmo vai e ele mesmo
escova, sem precisar estar ali em cima, isto para mim é um alívio.”
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QUADRO 6 – Mudanças relacionadas com a Alimentação
“(...)ele nem gosta muito de bala(...)mudei em relação à alimentação evitando o açúcar, ela me orientou muito e disse que eu colocasse o
mínimo possível(...)doce assim ele não gosta muito, não foi criado comendo balinha, então ele hoje bota uma bala na boca e bota fora, não
gosta(...)a criança vai se acostumando a não comer muito doce e até ela própria come uma coisinha doce e já não quer(...)às vezes o pessoal
quer dar uma balinha para ele e eu digo que não que ele vai botar fora...ele dá uma chupadinha e diz para jogar fora. (...)Mudei em termos
de açúcar, é tanto que o meu não gosta nem de doces(...)mudou o horário das mamadas, que os outros mamavam quase a noite toda, de
instante em instante, agora não(...)a dentista dizia que tinha que evitar alimentação durante a noite, aí pronto, passou aquele costume, eu
dava uma balançadinha para dormir de novo ao invés de alimentar(...)eu não sabia que leite materno prejudicava os dentinhos, eu
amamentava a noite toda, aí comecei a evitar(...)agora eu dou mamadeira à noite, mas antes dele dormir, depois ele escova os
dentes(...)evito mamadeira noturna porque causa cárie(...)muita coisa a gente não sabia, cárie de mamadeira...eu não sabia disso(...)o leite
materno que dá cárie.”
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QUADRO 7 – Mudanças relacionadas com Hábitos de Sucção
“(...)meu filho deixou chupeta, mamadeira, tudo por causa do programa(...)se não fosse o programa acho que ele ainda estava usando
chupeta e mamadeira, por ser assim...manhoso (...)se eu não tivesse vindo aqui, eu tinha dado chupeta e mamadeira, mas aí ela dizia para
dar no copinho(...)o meu nunca chupou chupeta e mamadeira, ele só mamava(...)os outros com quinze dias já começavam a tomar
mamadeira, esse agora eu não dei nem mamadeira nem chupeta, só amamentação, copinho e colher(...)ele tanto usava chupeta como
mamadeira, usou até dois anos a mamadeira, mas aí Dra. Socorro dizia...olha, vai causar isso, vai causar aquilo, e a gente foi tirando com
muita pena.(...)influenciada pelo programa eu consegui tirar, tanto a mamadeira como a chupeta(...)influenciada por Dra. Socorro tirei a
chupeta dele e acho que para ele melhorou muito, porque já estava ficando dentuço(...)O uso da chupeta Dra. Socorro me orientou muito, a
minha já estava ficando com mordida aberta e ela orientou que eu tirasse, eu consegui e estou notando que já está voltando ao normal.”
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TEMA 3 – DIFICULDADES ENCONTRADAS PELAS MÃES
QUADRO 8 – Alimentação
“(...)ele era mais o peito, foi muito difícil tirar o peito dele, mamou mais de três anos. (...)eu ainda estou com dificuldades, porque ele ainda
mama, não quer deixar o peito, ele está com três anos e seis meses, eu já fiz tudo para ele sair do peito(...)eu tive dificuldade, meu menino
mamou até sete meses, não comia nada, nunca pegou mamadeira, nem chupeta, eu tentei ainda para ver se ele pegava, porque era muito
difícil para mim ficar dando de colher, eu trabalho, a mamadeira é mais rápido, mas ele não quis pegar. Toda vida que eu tentava ele
vomitava, aí foi na colher mesmo(...) quando eu ia trabalhar, eles não tinham paciência de dar a comida com colher, quando eu chegava, do
jeito que eu deixava a comida estava e o menino morrendo de fome, não tive outra alternativa, comecei a levar para o trabalho e passava o
dia com ele lá(...)A dificuldade foi tirar o peito de madrugada(...)eu já tirei ele do meu quarto, mas ele às vezes escapa do quarto dele e vem
para onde eu estou para mamar(...)a única dificuldade que eu tive foi tirar a mamadeira, porque ele tomava mamadeira antes de dormir e
acordava durante a noite para tomar mamadeira de novo(...)quando ele mamava era a noite toda e eu ficava preocupada com isso, mas
graças a Deus ele deixou.”
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QUADRO 9 – Remoção de Hábitos
“(...)foi difícil para mim tirar a chupeta e mamadeira, foi horrível, ele chorou dois ou três dias, mas consegui tirar(...)tive problema porque
veio outra criança e ela se sentia no lugar dele e quis voltar a usar chupeta e mamadeira(...)a maior dificuldade foi a chupeta, mas ela
deixou, graças a Deus(...)”
QUADRO 10 – Higienização
“(...)a maior dificuldade foi a escovação que muitas vezes eles não querem(...)ele é muito comelão, às vezes vou botar ele para dormir, dou
banho nele, escovo os dentes, aí ele, mãe ... quero mingau, e ele já não quer escovar mais porque já escovou...durante o dia não tenho
dificuldade nenhuma(...)a dificuldade é mais a escovação, às vezes acordo eles e digo: passa os dois para o banheiro...aí sai um atrás do
outro correndo(...)às vezes as crianças não querem abrir a boca, acham irritante ficar limpando, tem dias que é excelente, mas tem dias que
não quer(...)a dificuldade às vezes está na colaboração da criança, a minha dificuldade era a escovação, que hoje em dia, graças ao
programa, já foi superado(...)quando ele chegou dava espetáculo grande, agora já senta na cadeira, já superou(...)o meu problema maior
era que ele comia muita bala que eu vendia, aí mudei o comércio para longe de casa e melhorou.”
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TEMA 4 – SATISFAÇÃO COM O PROGRAMA
QUADRO 11– Satisfação com o programa em relação ao entendimento da sua importância
“(...)é importante por causa do interesse próprio da criança, ele é muito interessado, escova os dentes direito(...)para mim foi muito bom porque eu não
sabia, ele é meu primeiro filho e eu não sabia como era que limpava(...)no programa a gente está mais orientada(...)você traz a sua criança e ela vai
sendo acompanhada, você sabe como orientar a criança para ela não ter cárie(...)ela orienta demais a gente, isso já era para ter acontecido há muito
tempo, muitos anos(...)é muito importante este Bebê-clínica porque tinha muita coisa que a gente não sabia e agora estamos sabendo(...)acho bom por
que a gente recebe informações em relação aos cuidados do dia a dia, agora temos noções de como fazer(...)eu continuo porque acho ótimo a gente
aprende muita informação mesmo(...)habitua a criança sem aquele problema de medo do dentista(...)o programa ajuda, o meu senta normalmente(na
cadeira do consultório), sem problema nenhum(...)as mães só traziam a gente para o dentista quando estava precisando mesmo e era aquela frustração,
era aquele medo, no programa não, desde bebezinho já está conhecendo(...)é importante porque o que a minha mãe não fez comigo, eu hoje faço, tento
fazer o máximo para ele não ter cárie(...)é um acompanhamento que eu não tive, estou passando para ele(...)eu acho muito importante, procuro vir
sempre no dia certo(...)a freqüência é muito boa, quando a gente não tá participando do programa e vai ao dentista, aguarda seis meses(...)acho muito
bom, que não pare tão cedo porque é muito difícil ir ao dentista(...)é importante porque hoje em dia ter uma assistência dentária para idade deles é bem
mais difícil(...)eu acho interessante, não conhecia, achei muito legal, é uma proteção(...)é muito importante porque tratamento odontológico é muito
caro, eu acho muito importante(...)eu acho bom esse programa porque eles tem uma meta, de manter a criança livre de cárie, então eu achei super
interessante, desde bebezinho é uma prevenção muito boa, porque às vezes a gente começa a tratar do dente da criança já tarde(...)eu estou feliz por
poder acompanhar ele, vir sempre à dentista, ele está bem graças a Deus e eu fico muito feliz. Evitar ele não ficar com os dentes estragados, vai ser
melhor para o futuro dele”
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QUADRO 12– Satisfação com o programa associada à Relação Profissional/Paciente
“(...)eu sou satisfeita, eles são bem atendidos, eu gosto(...)estão sendo bem atendidos, bem orientados(...)eu acho ótimo o atendimento da
dentista(...)o atendimento é ótimo(...)quanto à dentista ninguém nem discute(...)a gente chega, é bem atendida(...)ela orienta demais a gente,
Dra. Socorro é ótima(...)aqui tratam a gente bem(...)estou muito satisfeita com o atendimento, é bom, excelente(...)em tudo que se refere ao
programa, ao atendimento, à criança, à mãe à orientação, é excelente!(...)eu acho que até hoje estou aqui por causa do atendimento(...)a partir
da hora que você não é bem atendido, você vai procurar um lugar que seja bem atendido(...)eu moro lá em Cidade Satélite e saio de lá para cá,
para ser bem atendida aqui, por quê? Porque sou bem atendida aqui(...)é excelente o atendimento, a partir de Dra. Socorro, é excelente, me
trata super bem.”(...)eu acho ótimo, sou muito bem orientada(...) eles estão sendo bem orientados, de outra forma não poderia ser(...)o
trabalho aqui é conjunto, a gente para vir para o dentista, passa pelo CD(crescimento e desenvolvimento), assistente social, etc(...)eu acho
excelente o posto, até hoje não tenho nem um tipo de reclamação, todo o pessoal atende muito bem e a criança também aprende muito com a
dentista, não é só a mãe, as crianças aprendem muito(...)aqui há um trabalho em equipe e é muito bom, tanto que quando a gente vem eles
encaminham logo para o CD, pediatra, é um trabalho em conjunto na orientação de uma para a outra(...)esse trabalho é mais pela manhã,
porque à tarde não tem dentista nem nutricionista, eu vinha para o CD à tarde e dentista pela manhã, aí eu venho agora só pela manhã(...)eu
também gosto muito do atendimento daqui, de tudo em geral, gosto muito daqui do posto de saúde todo, é muito bom(...)eu acho que estão de
parabéns, eu quero que continue assim muitos, muitos anos(...)devia ser mais divulgado, sair na TV(...)eu acho excelente o atendimento, a
orientação, é tudo muito bom, maravilhoso, ótimo, tudo bom, eu quero é mais...risos! (...)ela tem assim um carinho, uma atenção com eles,
que acho que é difícil um atendimento desses num posto de saúde, hoje eu acho que é difícil(...)a atenção que ela tem com as crianças, meu
filho na primeira vez deu um show, agora ele vem numa boa, gosta muito dela, adora ela!(...)a atenção que ela tem com as crianças, as
crianças se apegam muito a ela, demais até, aquela paciência, adoro ela, gosto muito(...) Dra. Socorro é excelente, tanto como profissional
86
como pessoa, trata super bem(...)minha filha vem aqui super feliz, ela vem para a consulta como sendo uma coisa muito boa(...)ela tem uma
maneira especial de tratar a criança e mesmo que a criança não goste, termina sentando na cadeira e aceitando, é excelente(...)é muito boa
como pessoa e como profissional(...)temos que agradecer as atitudes da Dra. Socorro que trata com muito carinho, ela está de parabéns,
né?(...)ela é demais, é difícil alguém assim, é difícil achar alguém desse jeito(...)gosto de tudo, todo o esforço que ela fez prá conseguir esse
consultório, prá gente ter acesso a esse programa na comunidade, eu acho que foi válido, acho que só devemos a ela mesmo(...)a boa vontade
dela foi muito boa, eu não tenho nem o que dizer, a gente tem que agradecer, né?(...)se não fosse ela...ela lutou demais(...)prá Dra. Socorro
faltar ela tem que ter ido para um congresso, mas mesmo assim é difícil, mas ela avisa, é só remarcar e pronto(...)é uma pessoa
...realmente...eu acho que ela faz com gosto, sabe?(...)ela vai atrás, vai procurar as crianças, né? ela tendo oportunidade ela anda a pé nas
casas, procurando(...)eu elogiaria a pontualidade que ela tem, ela é uma das primeiras a chegar(...) Eu trago ele sempre que posso, apesar de
trabalhar dois expedientes e meu marido também, mas eu deixo, ele estuda, falta aula, mas sempre eu trago ele, nunca deixei de trazer(...)eu
aprendi o que eu não sabia, eu gosto muito, quando chega o dia fico animada e atenta, vou levar ele hoje, aí eu gosto muito(...)quando às vezes
acontece da gente não estar cumprindo, é por parte da gente, que a cobrança é grande (...)não acho que tenha o que mudar, a gente que tem
que não faltar, que o atendimento aqui é ótimo e todo mundo atende bem.”
87
QUADRO 13– Satisfação com o programa em relação ao acesso
“(...)a gente chega, é fácil marcar(...)quando a gente vem já fica marcado para o próximo mês(...)aqui é muito bom, marca o dia certo que a
gente vem, o que não acontece em outras unidades(...)aqui a gente consegue marcar e consultar(...)sempre agente é atendida(...)eu acho
ótimo aqui, que continue do jeito que tá, sem tirar ficha, ela marcando, é importante demais, já fica marcado(...)mesmo no dia que a gente
não pode vir, a gente fala e ela sempre atende, remarca, não tem problema não(...)todo mundo é ocupado, eu por enquanto estou aqui, mas
vou mudar para o planalto, aí eu vou continuar vindo aqui, se mudar para pegar ficha, vai ficar muito difícil para mim.”
88
6 CONCLUSÃO
• A prevalência de cárie dentária verificada em crianças do Programa Bebê-
Clínica, na faixa etária de 24 60 meses, foi 11,5%.
• A menor prevalência de cárie (4,2%), foi registrada na faixa etária de 24 36
meses, seguida de 18,2% na faixa etária de 36 48 e de 16,7% para as crianças
com idade igual ou superior a 48 meses.
• O ceo-s médio encontrado nas faixas etárias de 24 36, 36 48, 48 60 meses
foi respectivamente 0,08; 0,40; e 1,16, acompanhando os dados do índice de
Knutson.
• Entre as mães participantes do Programa Bebê-Clínica observou-se uma
concepção mais ampla de saúde bucal e a existência de noções específicas
centradas na prevenção de cáries.
• Segundo as mães, houve mudanças de atitudes em relação a hábitos
alimentares, de sucção e, especialmente, ao hábito de higiene bucal após o
ingresso no Programa.
• As mães demonstraram-se satisfeitas com o programa no tocante ao acesso,
sistemática de trabalho integrado da unidade de saúde e a qualidade do
relacionamento com a dentista. Ainda na percepção das mães, o programa
mostrou-se resolutivo em relação às ações preventivas, no entanto, faz-se
necessário a implantação de um setor de Odontopediatria capaz de absorver e
dar continuidade a demanda infantil.
89
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94
ANEXOS
95
ANEXO 1
TERMO DE CONSENTIMENTO
Autorizo o exame clínico bucal no meu filho(a)
________________________________________________________________
e concordo em participar de uma entrevista em grupo sobre a sua dieta, medidas
preventivas que utiliza e outros possíveis temas importantes para o fornecimento
de dados para a pesquisa: Programa de Odontologia para Bebês: uma avaliação
quantitativa e qualitativa.
Natal, ______ de _____________________ de _____.
_____________________________________________
Assinatura da Mãe ou responsável
96
ANEXO 2
FICHA CLÍNICA
Identificação
01. Nome
02. Idade __________ anos _________meses
03. Data de Nascimento: ___/___/___
04. Sexo: ( ) masculino ( ) feminino
Exame Físico Intra – bucal
55 54 53 52 51 61 62 63 64 65
8/5 8/4 8/3 8/2 8/1 71 72 73 74 75
CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO
A- Não erupcionou
H- Hígido
MB- Mancha Branca
C- Com cárie
E- Extração Indicada
O- Obturado
97
ANEXO 3
Roteiro para entrevista com as mães participantes do programa.
1 – O que é saúde bucal?
2 – O que você sabe sobre os cuidados com a saúde bucal do bebê?
3 – Quais foram as dificuldades que você teve em relação à colocar em prática esses
cuidados?
4 – você mudou algum hábito ou comportamento após o ingresso no programa? Qual?
5 – Você está satisfeita com o atendimento que seu filho e você recebem?
6 – Você gostaria de criticas algum procedimento ou atitude dos profissionais?
7 – Você teria alguma sugestão para melhorar os serviço?
Roteiro para entrevista com as mães não participantes do programa.
1 – O que é saúde bucal?
2 – O que você sabe sobre os cuidados com a saúde bucal do bebê?
3 – Você sabia que existe um programa de atendimento odontológico a bebês na
unidade de saúde de candelária?
4 – Por que você nunca levou seu filho para participar do mesmo?