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82 NÚMERO 82 – 2019 ANO XXV BRASÍLIA DF ISSN 1517-6959 ENTREVISTA: SUZANA BRESSLAU, DO MAPA, E AS MEDIDAS DE COMBATE À RESISTÊNCIA ANTIMICROBIANA ARTIGO ABORDA TRATAMENTO, PREVENÇÃO E CONTROLE DA PESTE SUÍNA NO BRASIL CLÍNICA VETERINÁRIA: DETALHES QUE IMPRESSIONAM O CLIENTE PRÁTICA EM CURSO Novas diretrizes curriculares provocam mudanças para melhorar formação dos futuros médicos-veterinários T Aula em campo de Medicina Veterinária na Fazenda Água Limpa, da Universidade de Brasília

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º 82

82NÚMERO 82 – 2019

ANO XXV BRASÍLIA DF

ISSN 1517-6959

ENTREVISTA: SUZANA BRESSLAU, DO MAPA, E AS MEDIDAS DE COMBATE À

RESISTÊNCIA ANTIMICROBIANA

ARTIGO ABORDA TRATAMENTO, PREVENÇÃO E CONTROLE DA PESTE

SUÍNA NO BRASIL

CLÍNICA VETERINÁRIA: DETALHES QUE IMPRESSIONAM O CLIENTE

PRÁTICA EM CURSONovas diretrizes curriculares provocam mudanças para melhorar formação dos futuros médicos-veterinários

T Aula em campo de Medicina Veterinária na Fazenda Água

Limpa, da Universidade de Brasília

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nº 82

CAPA

8 Revolução positiva no ensino

ENTREVISTA

5 Suzana Bresslau, do Mapa, sobre

resistência antimicrobiana

15 CFMV se faz cada vez mais

presente no Congresso Nacional

CRMVS EM PAUTA

18 De janeiro a agosto, CRMV-RN

fez mais de mil fiscalizações

19 Projeto-piloto incentiva

desenvolvimento da aquicultura

20 CRMV-RR participa de vacinação

antirrábica e orientação sobre

posse responsável

21 Rio ratifica presença de médico-

-veterinário como RT em pet shops

ARTIGOS TÉCNICOS

22 Peste suína clássica e peste

suína africana: as doenças e os

riscos para o Brasil

27 Análise da suplementação de

biotina no crescimento dos cascos de

equinos adultos criados a pasto

33 Hipertensão pulmonar tipos 1 e

2: existe diferença na clínica de cães

e gatos?

37 Suplemento científico

62 Clínica veterinária

SUMÁRIO

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Conselho Federal deMedicina VeterináriaSIA – Trecho 6 – Lotes 130 e 140Brasília-DF – CEP 71205-060Tel.: (61) 2106-0400www.cfmv.gov.brPresidenteFrancisco Cavalcanti de AlmeidaCRMV-SP nº 1012Vice-PresidenteLuiz Carlos Barboza TavaresCRMV-ES nº 0308Secretário-GeralHelio BlumeCRMV-DF nº 1551TesoureiroWanderson Alves FerreiraCRMV-GO nº 0524Conselheiros EfetivosCícero Araújo PitomboCRMV-RJ nº 3562Francisco Atualpa Soares JúniorCRMV-CE nº 1780João Alves do Nascimento JúniorCRMV-PE nº 1571José Arthur de Abreu MartinsCRMV-RS nº 2667Therezinha Bernardes PortoCRMV-MG nº 2902Wendell José de Lima MeloCRMV-PB nº 252/ZConselheiros SuplentesAntonio Guilherme Machado de CastroCRMV-SP nº 3257Fábio Holder de Morais Holanda CavalcantiCRMV-AM nº 41/ZIrineu Machado Benevides FilhoCRMV-RJ nº 1757Nestor WernerCRMV-PR nº 0390Paula Gomes RodriguesCRMV-SE nº 047/ZDiretora de ComunicaçãoFlávia LôboRevista CFMVEditorCícero Araújo PitomboCRMV-RJ nº 3562Subeditora e Jornalista ResponsávelViviane MarquesMTb [email protected] EditorialEmanoel Elzo Leal de Barros CRMV-DF nº 240/ZLigia Maria Cantarino da Costa CRMV-DF nº 0981Marcelo Hauaji de Sá Pacheco CRMV-RJ nº 4034 Diagramação Bonach ComunicaçãoFoto da capa Gilberto Soares (Giba)ImpressãoMarina Artes GráficasTiragem impressa6 mil exemplaresE

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A Revista CFMV é trimestral e se destina a divulgar ações do CFMV, promover

educação continuada e valorizar a Medicina Veterinária e a Zootecnia. Distribuída

gratuitamente em repartições públicas, instituições de ensino e Conselhos Regionais

de Medicina Veterinária (CRMVs), encontra-se disponível em formato PDF para ser

lida diretamente on-line ou para download, no endereço cfmv.gov.br.

AGRIS L70 CDU619 (81)(05)

O conteúdo dos artigos técnicos e científicos é de inteira responsabilidade de seus autores e não representa, necessariamente, a opinião do CFMV e do jornalista responsável pela revista. Não há retribuição financeira pelos artigos enviados, cujas assinaturas configuram declaração de autoria. Parte ou resumo das pesquisas publicadas, quando enviados a outros periódicos, deverão assinalar, obrigatoriamente, a fonte original. As fotos enviadas, com os devidos créditos, serão indexadas ao banco de imagens do CFMV.

OS PRÓXIMOS 50 ANOS

Francisco Cavalcanti de AlmeidaPresidente do Conselho Federal de

Medicina Veterinária (CFMV)

PALAVRA DO PRESIDENTE

Encerradas as celebrações e análises despertadas pelos 50 anos do Sistema CFMV/CRMVs, é hora de olhar para frente. O passado, claro, permanece como referência de aprendizado e alegria pelas conquistas. Uma delas estampa a capa deste número: após quatro anos de trabalho e articulação do conselho, o Ministério da Educação homologou as no-vas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) do curso de graduação em Medicina Veterinária, deixando claras a inclusão de saúde única, susten-tabilidade econômica, social e ambiental e a importância do bem-estar animal nos componentes curriculares.

As novas DCNs foram pensadas no intuito de preparar profissionais melhores para o exercício profissional, médicos-veterinários mais com-pletos e conectados às necessidades atuais da sociedade. Entretanto, a Proposta de Emenda à Constituição nº 108/2019 nos obriga a enfren-tar uma nova batalha, ao tentar acabar com os conselhos profissionais. Nada mais absurdo! Temos a competência legal de proteger a população dos serviços prestados pelos maus e falsos profissionais. Fazemos isso fiscalizando o exercício profissional nos 27 estados e no âmbito fede-ral, regulamentando e orientando 183 mil médicos-veterinários e 30 mil zootecnistas do país sobre as diretrizes éticas e técnicas que norteiam a conduta adequada.

Um trabalho como o que gerou as novas diretrizes mostra que nos-sa função vai além da punição. Esse documento, gerado dentro do sistema, prova que acreditamos na neces-sidade de investir em formação adequada aos pa-drões de excelência que a sociedade espera. Que daqui a 50 anos possamos colher esses e outros frutos do trabalho realizado hoje.

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ENTREVISTA

SUZANA BRESSLAU

O uso indiscriminado e equivocado de antibióticos

ameaça a vida humana, animal e o meio ambiente. Que

riscos e quais dados atestam a gravidade da situação?

A Organização Mundial da Saúde (OMS) esclarece que a resistência aos antimicrobianos (AMR, na sigla em in-glês) ocorre naturalmente, ao longo do tempo. No en-tanto, o uso indiscriminado e excessivo em humanos e animais está acelerando esse processo. Novos meca-nismos de resistência estão emergindo e disseminan-do-se globalmente, ameaçando a habilidade de tratar infecções comuns, resultando em prolongamento de doenças, incapacitação e mortes. A AMR é um problema complexo que afeta toda a sociedade, gerado por fatores interconectados. Por isso, a OMS, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a Organiza-ção Mundial da Saúde Animal (OIE) trabalham numa aliança tripartite na abordagem de saúde única para promover as melhores práticas, a fim de evitar sua emergência e disseminação. A ausência de antimicrobianos efetivos para a pre-venção e tratamento de infecções torna de alto risco procedimentos médicos como transplante de órgãos, quimioterapia, cirurgias, entre outros. Adicionalmen-te, aumentam os custos de assistência à saúde por conta de prolongadas internações hospitalares e necessidade de terapia intensiva. São cruciais ações coordenadas entre saúde humana e animal e setores do meio ambiente. Antimicrobianos são um bem pú-blico global e seu uso responsável e prudente em ani-mais, de acordo com os padrões intergovernamentais da OIE, torna possível resguardar a eficácia desses medicamentos essenciais. Um estudo sobre o tema coordenado pelo economis-ta britânico Jim O’Neill estimou que o problema cau-sa 700 mil mortes por ano. Até 2050, caso não haja mudança na abordagem, serão dez milhões, levando a mais óbitos anuais que o câncer e gerando um impacto à economia global de cerca de cem trilhões de dólares, relacionando a AMR à perda econômica pela diminui-ção da produtividade.

Gerada pelo uso excessivo e indiscriminado de

antibióticos, a resistência antimicrobiana é um

problema complexo e que afeta toda a sociedade,

alerta a médica-veterinária Suzana Bresslau. No

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

(Mapa), ela é chefe da Divisão de Programas Especiais

da Coordenação Geral de Medicamentos Veterinários do

Departamento de Saúde Animal e Insumos Pecuários,

área da pasta responsável pela coordenação das

atividades de prevenção e controle da resistência aos

antimicrobianos. Auditora fiscal federal agropecuária

desde 2008, também coordena os grupos técnicos da

Comissão do Codex Alimentarius sobre Resíduos de

Medicamentos Veterinários em Alimentos e a força-

-tarefa sobre resistência aos antimicrobianos – esta

em conjunto com a Agência Nacional de Vigilância

Sanitária (Anvisa). “O veterinário está na linha

de frente na prevenção e controle da resistência

antimicrobiana”, afirma.

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Revista CFMV Brasília DF Ano XXV nº 82 55

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Qual é o papel do médico-vete-

rinário no uso consciente desses

fármacos? E como o zootecnista

pode atuar?

Em contato com animais e criado-res, o veterinário está na linha de frente da prevenção e controle da AMR. Ele deve prescrever antimi-crobianos somente após o exame clínico dos animais, escolhendo o agente baseado na experiência clínica e no diagnóstico laborato-rial, quando possível, bem como considerando a lista de agentes antimicrobianos de importância veterinária da OIE. Medicamentos não devem substituir as boas prá-ticas pecuárias, as medidas de hi-giene e biosseguridade e os pro-gramas de vacinação.O zootecnista pode, sim, atuar em prol da prevenção e controle da AMR, adotando na produção ani-mal boas práticas agropecuárias, com destaque para a nutrição adequada e de qualidade, e im-plementando medidas pelo bem--estar animal, reduzindo a neces-sidade do uso de antimicrobianos.

Quais são os maiores desafios para

que se chegue, mundialmente, ao

uso equilibrado de antibióticos?

Em 2015, os países-membros da OMS aprovaram o Plano de Ação Global sobre AMR, atendendo ao conceito de saúde única em cola-boração com FAO e OIE, compro-metendo-se a elaborar planos de ação nacionais. O plano tem como objetivos estratégicos melhorar a

conscientização e compreensão sobre o tema; fortalecer os co-nhecimentos e a base científica, por meio da vigilância e pesquisa; reduzir a incidência de infecções com medidas eficazes de higiene e prevenção; otimizar o uso de an-timicrobianos, bem como preparar argumentos econômicos voltados ao investimento sustentável, con-siderando necessidades de todos os países e de aumento no inves-timento de novos medicamentos, ferramentas de diagnóstico, va-cinas e outras intervenções. Dos 194 países-membros da OMS, 93 já possuem um plano e 50 estão desenvolvendo um. A Conferência Global da OIE em Resistência aos Antimicrobianos, em outubro de 2018, teve como lema “Colocando padrões em prática”, reforçando que, para ga-rantir uma resposta de sucesso, harmonizada e sustentável para enfrentar a AMR, as recomenda-ções internacionais devem ser implementadas em todos os ní-veis e áreas relacionadas à saúde e produção animal. Destacam-se a importância de ferramentas de comunicação e estratégias que disseminem mudanças compor-tamentais na redução do uso de antimicrobianos em animais, a promoção do uso responsável e prudente e a ampliação da cola-boração entre os envolvidos.Portanto, o grande desafio é que todos os países consigam, efe-tivamente, implementar os seus

planos nacionais de forma alinha-da às recomendações internacio-nais, o que demanda comprometi-mento político, regulamentação e governança efetiva, envolvimento multissetorial, além de investi-mentos financeiros para a execu-ção das intervenções necessárias.

Em 1998, o Mapa restringiu di-

versos antimicrobianos para

melhorar o desempenho de reba-

nhos. Em 2018, publicou o Plano

de Ação Nacional de Prevenção

e Controle da Resistência aos

Antimicrobianos no Âmbito da

Agropecuária (PAN-BR AGRO),

como parte do Programa Nacio-

nal de Prevenção e Controle de

Resistência a Antimicrobianos na

Agropecuária (AgroPrevine). Po-

deria listar as principais ações vol-

tadas à atuação do médico-veteri-

nário e de que forma o Conselho

Federal de Medicina Veterinária

(CFMV) está contribuindo?

Os médicos-veterinários são con-siderados protagonistas nas ações relacionadas à prevenção e contro-le da AMR e há diversas ações do PAN-BR AGRO voltadas ao profis-sional. Destacam-se a promoção de estratégias de comunicação e educação em saúde, o aprimora-mento da formação e capacitação de profissionais e gestores da área de saúde animal, a atualização e aprimoramento do currículo do curso de Medicina Veterinária, a implementação de medidas de prevenção e controle de infecções,

ENTREVISTA

Revista CFMV Brasília DF Ano XXV nº 826

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boas práticas agropecuárias, a pro-moção do uso racional e o geren-ciamento adequado dos resíduos de antimicrobianos de uso veteri-nário, entre outros. O CFMV participa de eventos or-ganizados pelo Mapa e de grupos de discussão. Apoiou a elaboração e divulgação de materiais de cam-panha, bem como está organizan-do, em conjunto com o ministério, uma oficina para alinhar diretrizes da elaboração de protocolos de uso racional de antimicrobianos em animais. Ele é um parceiro es-tratégico para que o Brasil avan-ce nas atividades de prevenção e controle da AMR, atendendo ao conceito de saúde única.

No Brasil, hoje, exige-se a receita,

mas não a sua retenção. Isso pode

mudar?

Um dos objetivos estratégicos do PAN-BR AGRO é a otimização do uso de antimicrobianos, tendo como atividade avaliar e propor estratégias regulatórias para au-mentar a supervisão veterinária no uso de antimicrobianos em ani-mais, tema de uma oficina realiza-da em setembro, com a presença de representantes do Mapa, An-visa, CFMV e entidades represen-tativas da indústria e produtores rurais. A legislação atual já prevê a comercialização dos antimicro-bianos ao usuário sob prescrição do médico-veterinário, bem como a obrigatoriedade da retenção de receituário veterinário para a fa-

ENTREVISTA

mas de vacinação. O PAN-BR AGRO prevê a elaboração de protocolos de uso racional de antimicrobianos para diferentes áreas e cadeias da Medicina Veterinária.

E quanto à prescrição de anti-

bióticos de uso humano para

uso veterinário, que riscos estão

envolvidos?

O ideal é que os veterinários so-mente prescrevam antimicrobia-nos de uso humano caso não haja nenhum produto de uso veteriná-rio indicado para a espécie ani-mal e patologia diagnosticada. Em especial para animais produtores de alimentos, a prescrição deve ser restrita a situações excepcio-nais, apenas caso não haja apro-vação da substância para outra espécie animal. Todo uso extra-bula de antimicrobianos, ou seja, o emprego de modo diferente do previsto na sua rotulagem, deve ser limitado e restrito aos casos em que não haja opções, sem-pre sob a responsabilidade direta do médico-veterinário, baseado em diagnóstico, com a ciência e consentimento do proprietário do animal e, em especial, preser-vando as classes de antimicro-bianos criticamente importantes na medicina humana. A presen-ça de resíduos acima dos limites de segurança estabelecidos em alimentos e o desenvolvimento e disseminação da AMR são con-siderados riscos à saúde pública relacionados ao uso extrabula.

bricação de alimentos para ani-mais contendo produtos antimi-crobianos de uso veterinário. Na oficina, foram ainda ressaltadas as recomendações da OIE quanto ao uso em animais e à necessida-de de atenção especial a antimi-crobianos das classes quinolona/fluorquinolona (ciprofloxacina, norfloxacina, danofloxacina, en-rofloxacina), cefalosporina de terceira e quarta geração (ceftio-fur, cefoperazone, cefquinome) e polimixina (colistina). Concluiu-se que novas regras para implemen-tação de retenção de receituário veterinário devem prever fases de transição e prazos diferencia-dos para adequação, tanto por ca-deias animais quanto por classes de antimicrobianos, bem como a necessidade de treinamentos re-lativos às futuras alterações na legislação e à implementação de novos procedimentos.

Fala-se muito do uso dos antimicro-

bianos na produção animal. Em re-

lação às demais espécies, principal-

mente, para animais de companhia,

há uma orientação específica?

As orientações gerais são as mes-mas: receitar antimicrobianos so-mente após o exame clínico, com base em experiência clínica e diag-nóstico laboratorial, quando possí-vel, e considerar a lista de agentes de importância veterinária da OIE. No caso de animais de companhia, antimicrobianos não devem substi-tuir medidas de higiene e progra-

Revista CFMV Brasília DF Ano XXV nº 82 7

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CAPA – EDUCAÇÃO

REVOLUÇÃO POSITIVA NO

ENSINONovas DCNs devem ser implementadas em até dois anos e imprimem modernidade aos cursos de graduação em Medicina Veterinária

Viviane Marques

Revista CFMV Brasília DF Ano XXV nº 828

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Publicadas em 16 de agosto de 2019, no Diário Oficial da União, as novas Diretrizes Curricu-lares Nacionais (DCNs) do curso de graduação

em Medicina Veterinária prometem uma revolução positiva no ensino. A Resolução CNE nº 3/2019 prevê mais atividades práticas ao longo da formação, além de indicar que todas as ações pedagógicas devem ser pautadas nos conceitos de bem-estar animal, susten-tabilidade ambiental, ética e saúde única.

“O prazo de dois anos para implementação provo-cará uma movimentação nas instituições. Elas terão de mostrar, em seus Projetos Pedagógicos de Curso (PPCs), como realizarão a inter e a transdisciplinaridade, além de maneiras de promover a integração com a pós-gra-duação. As DCNs regulamentam o Trabalho de Conclu-são de Curso (TCC), o que é uma novidade, e abordam atividades complementares e o estágio curricular obri-gatório, cumprido ao longo do último ano”, descreve Rafael Mondadori, presidente da Comissão Nacional de Educação da Medicina Veterinária do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CNEMV/CFMV), que participa desde o início da elaboração do documento.

O novo modelo de estágio, formação em serviço, será desafiador para as Instituições de Ensino Superior (IESs). No nono semestre, ele será em serviços próprios da instituição, em sistema de rodízio pelas áreas de atuação profissional. No décimo, o estudante escolhe-rá a área de sua preferência para estagiar. A mudança conduzirá a um remanejamento na matriz de disciplinas. “Será preciso distribuir os 280 créditos do nosso curso em oito semestres”, assinala Ricardo Miyasaka de Almei-da, coordenador da graduação em Medicina Veterinária da Universidade de Brasília (UnB), onde uma comissão trabalha na reformulação do PPC.

Formar profissionais melhores e mais preparados é, para Mondadori, a principal conquista das novas DCNs. Isso se deve à ênfase nas atividades práticas e ao de-senvolvimento de competências e habilidades gerais a partir do uso das metodologias ativas de ensino-apren-dizagem. “O foco sai do conteúdo e passa a ser a apli-cação do conhecimento na prática. Isso inclui o desen-volvimento de competências humanísticas, algo ainda pouco utilizado”, diz.

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Revista CFMV Brasília DF Ano XXV nº 82 9

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MEC

Revista CFMV Brasília DF Ano XXV nº 8210

HISTÓRIA

As novas diretrizes são resultado de um processo iniciado em 2014, no Seminário Nacional de Educação (Senemev), promovido pelo CFMV. Debates e contri-buições dos grupos de trabalho indicaram os temas que precisavam de atualização, como os conceitos de bem-estar animal e saúde única.

A CNEMV/CFMV consolidou as sugestões em um documento, que recebeu contribuições dos Conselhos Regionais de Medicina Veterinária (CRMVs) e de coor-denadores de cursos. Em 2017, a primeira proposta foi

Desde 2018, o professor Luiz Roberto Liza Curi está à frente do CNE. Como presidente da Câmara de Ensi-no Superior do órgão, contribuiu desde o início com as mudanças nas diretrizes curriculares dos cursos de graduação em Medicina Veterinária.

entregue ao Conselho Nacional de Educação (CNE) do Ministério da Educação (MEC). “No CNE, surgiram su-gestões, como a aprendizagem em serviço no penúlti-mo semestre e a obrigatoriedade de clínicas ou hospi-tais veterinários próprios”, lembra Mondadori.

A Câmara de Educação Superior do CNE debateu a minuta com o CFMV e outros interessados e, em 23 de janeiro de 2019, o texto foi aprovado pelos conselheiros Antonio Carbonari Netto (relator), Luiz Roberto Liza Curi (presidente do CNE) e Marco Antonio Marques da Silva. Na sequência, foi publicada a Resolução CNE nº 3/2019.

ENTREVISTA

LUIZ ROBERTO LIZA CURI, PRESIDENTE DO CNE

As propostas foram convergentes com as formuladas na base da organização curricular realizada pelo CNE, ao qual coube, em processo amplo de mobiliza-ção, levantar aspectos organizacionais das DCNs para discussão com a comuni-dade: coordenadores, docentes, discentes, empregadores e CFMV. Elas devem expressar um estímulo a novas políticas institucionais curriculares, inspirar no-vas formas de aprendizado, focar em competências e perfis e não em procissão de disciplinas. Devem guiar um aumento das atividades acadêmicas práticas e buscar inserir a pesquisa e a extensão como formas curriculares de aprendi-zado. Uma diretriz é muito mais a organização curricular do que a reafirmação de disciplinas.

Destacaria os pontos referentes às competências, à expansão de atividades prá-ticas, aos perfis esperados dos egressos e às formas de interação. O processo avaliativo proposto também estimula o aprendizado focado nas práticas e elas próprias devem conduzir diversos conteúdos. Além disso, buscam habilidades gerais que ampliem a inserção dos egressos em espaços sociais formais de tra-balho e seus requisitos gerais, e não apenas de conhecimento específico da área.

Quaisquer que forem as modalidades, a organização curricular nas DCNs deve ser robusta, especialmente, na diversidade do aprendizado, nas práticas e aproxima-ções de ambientes profissionais. O CNE está à disposição para participar de deba-tes, esclarecer dúvidas, a convite de instituições e do CFMV, mas, principalmente, zelar para que o MEC organize uma avaliação adequada dos cursos com novos currículos. Também ficamos à disposição para zelar para que haja uma adequada supervisão pelo ministério dos cursos que não cumprirem as diretrizes.

O senhor presidiu a comissão para a

revisão das diretrizes da graduação em Medicina

Veterinária. Como avaliou o texto proposto pelo Sistema CFMV/CRMVs?

A partir de sua experiência na área de educação, que pontos destacaria no texto que vão contribuir para o

avanço da profissão?

Existe um prazo de dois anos para a implementação das

novas diretrizes. De que forma o ministério planeja verificar a

adequação dos cursos, visto que hoje o país possui mais de 400

deles, muitos na modalidade a distância? E que tipos de sanção

estão previstos no caso de não cumprimento?

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T Comissão do CRMV-GO reuniu-se com coordenadores de cursos

T Alunas do segundo semestre da UnB em aula de Anatomia

Revista CFMV Brasília DF Ano XXV nº 82 11

PRINCIPAIS

MUDANÇAS

Aprender fazendo: a universidade deve preparar o estudante para usar a informa-ção teórica para resolver problemas reais.

Os dois últimos semestres (nono e déci-mo) passam a ser estritamente práticos. No nono, os alunos farão rodízio nos próprios serviços da instituição, em modelo seme-lhante aos internatos dos cursos de Me-dicina; no décimo, poderão optar por uma área específica para o exercício profissio-nal sob supervisão.

As instituições terão de dispor de clínicas ou hospitais próprios para grandes e pe-quenos animais, com casuística adequa-da, bem como de laboratórios de serviço nas diferentes áreas. A fazenda de ensino pode ser conveniada, mas deve ter todas as áreas necessárias para compor a forma-ção dos discentes.

É preciso que o projeto pedagógico de-monstre como realizará a inter e a transdis-ciplinaridade ao longo do curso, bem como as metodologias ativas de ensino-aprendi-zagem, indicando, inclusive, existência de programa permanente de atualização e ca-pacitação de docentes.

As ações pedagógicas devem se pautar por bem-estar animal, sustentabilidade am-biental, ética e atendimento a expectativas humanas e sociais, ou seja, o conceito de saúde única está explícito e a diretriz deixa mais evidente o papel do médico-veteriná-rio como profissional da saúde.

Fonte: CNEMV/CFMV

REGIONAIS SE MOBILIZAM

As Comissões de Educação vêm debatendo formas de implementar as mudanças previstas no documen-to. No Piauí, as DCNs foram debatidas, entre outros te-mas, durante o I Seminário de Educação da Medicina Veterinária do Piauí, realizado em 16 e 17 de setem-bro. Em Goiás, após uma reunião da Comissão Estadual de Ensino da Medicina Veterinária do CRMV-GO com coordenadores e diretores de cursos, o presidente da comissão, Benedito Dias de Oliveira Filho, anunciou a intenção de, até o início de 2020, fazer reuniões nas regiões do estado para orientar os 21 cursos goianos sobre as novas diretrizes curriculares.

Já a Comissão Estadual de Educação da Medicina Veterinária do CRMV-RJ convidou comissões do re-gional para debater os impactos da Resolução CNE nº 3/2019 em suas áreas. “As diretrizes reforçam carac-terísticas de competências gerais listadas em 2003, levando em consideração também as necessidades atuais”, ponderou o presidente da comissão, Paulo Ce-sar Amaral, que também levou coordenadores e direto-res de cursos de graduação do estado para debater o tema. A ideia foi conhecer as particularidades de cada instituição, a fim de definir as ações que visam à quali-dade dos cursos de Medicina Veterinária do estado, de acordo com o documento. A comissão planeja realizar, ainda, um seminário estadual de educação.

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CNEMV/CFMV

RESPONDE

Não. O propósito da formação em serviço nos últimos dois semes-tres é para que a fundamentação teórica realizada nos semestres anteriores, combinada à experiência vivenciada e problematizada, produza conhecimento, habilidades e atitudes, ou seja, a ética e competências humanísticas necessárias ao exercício profissional, além de parte das tecnologias que os futuros profissionais deverão lançar mão em seu trabalho.

A formação em serviço no penúltimo semestre do curso deve ocorrer nos serviços próprios da IES, atendendo a aspectos es-senciais das áreas de atuação profissional (saúde animal, clínicas médica e cirúrgica veterinárias, medicina veterinária preventiva, saúde pública, zootecnia, produção e reprodução animal e inspe-ção e tecnologia de produtos de origem animal). A carga horária fica a critério da instituição, mas o tempo em cada área para ati-vidades teóricas é limitado a 10%. No último semestre, o estágio poderá ocorrer fora da IES e o educando escolherá atuar em uma ou mais áreas de sua preferência.

Durante a etapa cumprida na IES, o estudante deve ser permanen-temente acompanhado por docente.

Conforme o Parecer CNE/CES nº 70/2019, a Comissão do CNE/Câma-ra de Educação Superior do MEC, por entender que a aprendizagem em serviço é fundamental para a formação do profissional e que é por meio da vivência nas diferentes áreas de atuação da profissão que se aprende o relacionamento interpessoal e com os animais, reservou os últimos dois semestres do curso para estágio curricular obrigatório de formação em serviço, o que na maioria das IESs cor-responderá a mais de 10% da carga horária total do curso.

O texto não explicita esse ponto, realmente. No entanto, recomen-da que o PPC as contemple e as instituições criem mecanismos de aproveitamento de conhecimentos adquiridos pelo estudante, por meio de estudos e práticas independentes presenciais e/ou a distância, como monitorias e estágios, programas de iniciação científica, de extensão e de intercâmbio nacionais ou internacio-

As novas diretrizes indicam que o estágio deverá ser nos dois últimos

semestres. Será permitido mantê-lo somente no último, como ocorre

atualmente?

Como operacionalizar o estágio supervisionado nos dois últimos pe-

ríodos, com 50% ocorrendo na institui-ção e 50%, fora? De que forma serão realizados? Qual é o limite máximo e

razoável de carga horária total, den-tro de um contexto pedagógico?

Ainda sobre o estágio supervisionado, como fica a presença permanente do

professor, visto que o aluno, quando se encontra a campo, está sob a tutela de um supervisor que, não

necessariamente, é um professor?

A que se deve a ausência do percentual mínimo de 10% do estágio supervisionado em relação à carga horária do curso, contemplado nas diretrizes de 2003 e não nas atuais?

O art. 14 não deixa claro se as atividades complementares poderão ser aproveitadas pelo estudante para a integralização da carga horária do

curso. Se sim, qual é o limite?

As Comissões de Educação da Medicina Veterinária dos CRMVs dos estados de Goiás, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Bahia enviaram dúvidas sobre as novas DCNs, respondidas pela CNEMV/CFMV

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Poderia citar alguns exemplos prá-ticos de incorporação da extensão na grade, pensando na sua integra-

ção com o currículo?

A fazenda-escola, que o instrumento de avaliação do MEC informava que

deveria ser própria, agora poderá ser conveniada?

O ensino por competências deve ocor-rer por meio de metodologias ativas,

mas o assunto é contemplado de forma ampla. Haverá alguma regulamenta-

ção específica? Elas serão obrigatórias ou cada curso poderá se adequar à

realidade local?

Seria possível citar exemplos práticos do uso da transversali-

dade dos conteúdos relacionados ao meio ambiente, bem-estar

animal, legislação e ética?

Em relação à infraestrutura laborato-rial e de hospital/clínica veterinária próprio, esses setores devem estar

vinculados ao curso no organograma da instituição (art. 20) ou podem estar ligados a outros setores e atender ao curso ocasional ou voluntariamente?

nais, estudos complementares e cursos realizados em áreas afins, bem como qualquer outra possibilidade contemplada no PPC do curso. Com isso, orienta a construção de um projeto que estimule a aprendizagem ativa, incentivando estudos e práticas elencados no citado artigo.

Sugerimos consultar a Resolução CNE nº 7/2018, que regulamen-ta as atividades acadêmicas de extensão dos cursos de graduação, na forma de componentes curriculares.

A fazenda de ensino poderá ser própria ou conveniada e utilizar “modernas tecnologias de produção, abrangendo todas as etapas de produção nas seguintes áreas essenciais de formação do profis-sional: bovinocultura de corte e leite, avicultura, suinocultura, equi-deocultura, ovino/caprinocultura, piscicultura”.

De acordo com o art. 20, “o Curso de Graduação em Medicina Ve-terinária deverá contar minimamente com a infraestrutura labora-torial e hospital/clínica veterinária próprios, para atendimento de animais de produção e de companhia”.

Neste caso, também se aplica o Parecer CNE/CES nº 70/2019, cita-do anteriormente, destacando o trecho: “O Curso de Graduação em Medicina Veterinária deverá utilizar metodologias ativas e critérios para acompanhamento e avaliação do processo ensino-aprendiza-gem e do próprio curso, bem como desenvolver instrumentos que verifiquem a estrutura, os processos e os resultados, em conso-nância com o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) e com a dinâmica curricular definida pela IES em que for implantado e desenvolvido”.

Os temas transversais são assim adjetivados por não pertencerem a nenhuma disciplina específica, mas atravessarem-nas como se a todas fossem pertinentes, correspondendo a questões presentes na vida cotidiana. Seguem alguns exemplos hipotéticos:a) Na clínica médica e na semiologia, a contenção física pode ser

relacionada ao bem-estar da espécie em questão.b) Meio ambiente: orientar sobre descarte correto de dejetos, car-

caças e substâncias químicas em geral e o impacto ambiental.c) Ética:

- Profissional: conjunto de normas éticas que formam a cons-ciência do profissional e representam imperativos de sua con-duta contidas no Código de Ética da profissão (CFMV), aplicável a atividades de formação do educando.- Ética e cidadania são conceitos fulcrais na sociedade e rela-cionados às atitudes dos indivíduos e à forma como interagem na sociedade.

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A temática colabora na formação de um cidadão capaz de agir e pensar de maneira respeitosa frente às diversidades, começando pelo espaço escolar e se estendendo à sociedade. Alguns exem-plos são atividades de extensão em comunidades quilombolas, in-dígenas e colônias de pescadores.

Dependerá da política da IES e de seus critérios, conforme explici-tado no § 3º do citado artigo.

O instrumento de avaliação, para autorização, reconhecimento ou renovação do reconhecimento do curso, apresenta vários indicado-res que direcionam os avaliadores do MEC a considerar o que está contido no PPC elaborado com base nas DCNs. Portanto, a imple-mentação será avaliada pela análise do PPC.

Poderiam dar exemplos práticos do que seria a incorporação das

culturas nacionais e regionais, estrangeiras e históricas, em um contexto de pluralismo e diversi-

dade cultural (art. 16)?

Como o PPC poderá definir e re-gulamentar exames para certifi-cação parcial de aprovação em

disciplinas ou áreas (art. 19)?

A CNEMV/CFMV tem alguma in-formação sobre a efetiva fisca-

lização pelo MEC em relação à implantação das novas diretrizes?

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CFMV SE FAZ CADA VEZ MAIS PRESENTE NO CONGRESSO NACIONALSolenidade na Câmara dos Deputados e premiações encerraram celebrações do jubileu de ouro

Articulação, celebração, valorização, reconheci-mento e fortalecimento resumem o trabalho do Conselho Federal de Medicina Veterinária

(CFMV) no último trimestre. Em outubro, a autarquia encerrou, de forma especial, um ano de comemorações

INSTITUCIONAL

pelos seus 50 anos. A data foi marcada por três ações: uma sessão solene na Câmara dos Deputados em ho-menagem ao cinquentenário do Sistema CFMV/CRMVs; a entrega dos prêmios Professor Paulo Dacorso Filho e Professor Octávio Domingues – Edição 2018 e da Co-menda Ivo Torturella; e o lançamento do livro 50 anos do Conselho Federal de Medicina Veterinária.

Realizada na manhã do dia 23 de outubro, a sessão solene lotou o Plenário Ulysses Guimarães de médi-cos-veterinários, zootecnistas, parlamentares e outros convidados. Os discursos apresentados reconheceram o papel da autarquia como representante máxima das duas profissões e as conquistas obtidas graças à atua-ção do sistema.

A homenagem foi uma solicitação do parlamentar mineiro Domingos Sávio, também médico-veterinário, que abriu a solenidade lendo uma mensagem do pre-sidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, que ressaltava: “As duas categorias têm hoje um papel de destaque no desenvolvimento do agronegócio brasi-leiro, permitindo ao Brasil abrigar o maior rebanho bo-vino do mundo”.

T Mesa na sessão solene da Câmara dos Deputados. A partir da esquerda: Bruno Divino Rocha, presidente do CRMV-MG; Maria José Sena, reitora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE); Francisco Cavalcanti de Almeida, presidente do CFMV; Domingos Sávio, deputado federal; Milton Thiago de Mello, ex-presidente da Academia Brasileira de Medicina Veterinária; Eros Biondini, deputado federal; e Luiz Carlos Rodrigues Cecílio, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária

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T Discurso de Cavalcanti abordou EaD e PEC 108

T Cinco profissionais foram agraciados com a Comenda Ivo Torturella

Em seu pronunciamento, o presidente do CFMV, Francisco Cavalcanti de Almeida, destacou que o con-selho repudia veementemente a modalidade de Ensi-no a Distância (EaD) para a área da saúde e reforçou aos presentes que a Proposta de Emenda à Constitui-ção (PEC) nº 108/2019, que pode levar à extinção dos conselhos profissionais, é um retrocesso, sendo bas-tante aplaudido pelo público presente.

Ainda sobre a PEC 108, Cavalcanti assinou um ar-tigo, publicado no jornal Correio Braziliense, no dia 29 de outubro, no qual defendeu que, para além da ques-tão administrativa, a proposta ameaça a segurança da sociedade. “Como conselho profissional, temos a com-petência legal de proteger a população dos serviços prestados pelos maus e falsos (charlatões) profissio-nais. Fazemos isso fiscalizando o exercício profissional nos 27 estados e no âmbito federal, regulamentando e orientando os mais de 180 mil médicos-veterinários e os cerca de 30 mil zootecnistas do país sobre as di-retrizes éticas e técnicas que norteiam a conduta ade-quada”, escreveu.

Nos últimos dois anos e meio, as ações de fiscali-zação do sistema resultaram em 20,3 mil multas, 47,2 mil autos de infração, 80 mil termos de constatação de irregularidades e 61,4 mil certificados de regularidade para estabelecimentos aptos a prestar serviços à so-ciedade. Também foram instaurados 1.500 processos éticos, entre 2013 e 2017, os quais geraram penalida-des de advertência até cassação profissional.

PREMIAÇÃOA entrega dos prêmios Professor Paulo Dacorso

Filho e Professor Octávio Domingues – Edição 2018 também ocorreu no dia 23 de outubro, como parte do encerramento das celebrações. A homenagem é feita pelo conselho a médicos-veterinários (desde 1977) e zootecnistas (desde 2008) que tenham realizado ser-viços relevantes para a ciência veterinária ou o desen-volvimento agropecuário no país.

A solenidade contou, ainda, com a entrega da Comenda Ivo Torturella, instituída pelo CFMV em comemoração ao seu jubileu de ouro, por meio da Resolução nº 1.227/2018. Foi concedida a médicos--veterinários e zootecnistas que contribuíram signifi-cativamente para a promoção e valorização da ciên-cia animal brasileira ou o desenvolvimento de suas áreas correlatas.

Em 2019, os agraciados foram Maria José de Sena (Professor Paulo Dacorso Filho) e José Neuman Miran-da Neiva (Professor Octávio Domingues). Já as comen-das foram designadas a Alberto Neves Costa, Aristeu Pessanha Gonçalves, Benedito Dias de Oliveira Filho, David Driemeier e Carlos Wilson Gomes Lopes.

LIVRONa ocasião, houve o lançamento do livro 50 anos

do Conselho Federal de Medicina Veterinária, editado pelo conselho. A obra reúne a história de 50 médicos--veterinários, de diversos segmentos, que contribuí-ram para o crescimento e a valorização da Medicina Veterinária e colaboraram, de maneira ímpar, para o desenvolvimento do sistema. O livro se encontra disponí-vel para download no Portal CFMV.

A intenção é que cada médico--veterinário do Brasil se reconheça e se sinta homenageado, por meio dos aprendizados, lembranças e trajetórias de seus colegas re-

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tratados na obra. A história do Sistema CFMV/CRMVs é a história de cada médico-veterinário que honra a sua profissão, colaborando para o desenvolvimento do Brasil, impactando diretamente a saúde animal e humana e preservando o meio ambiente, conceito defendido pela saúde única.

ARTICULAÇÃOAlém da participação na celebração pelo cinquen-

tenário do conselho, o presidente do CFMV compare-ceu à Câmara dos Deputados em outras duas ocasiões para defender a valorização dos profissionais e divul-gar o trabalho desenvolvido pelo sistema.

No dia 3 de outubro, participou da sessão sole-ne em homenagem ao Dia Mundial dos Animais, na qual falou sobre a importância dos profissionais para o bem-estar deles. Lembrou que o Brasil é o segundo país do mundo em número de animais de estimação, perdendo apenas para os Estados Unidos. Segundo da-dos de 2018 da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), há mais de 139 milhões de pets no país. “Precisamos urgente-mente de um órgão que trate dos animais de estima-ção”, ressaltou Cavalcanti.

Já no dia 27 de agosto, em audiência pública na Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF), de-fendeu que os conselhos profissionais participem da aprovação dos novos cursos de graduação com o Mi-nistério da Educação (MEC). Com discurso contra o EaD na Medicina Veterinária, o presidente participou de de-bate sobre os Projetos de Lei (PLs) nº 5.414/2016, nº 6.858/2017 e nº 7.121/2017, que tramitam em con-junto e têm o objetivo de alterar a legislação vigente sobre EaD na saúde.

Na audiência, destacou que há cursos sendo autori-zados sem que a faculdade possua hospital veterinário. “É importante que o conselho analise se as faculdades realmente atendem às exigências previstas nas novas Diretrizes Curriculares Nacionais, recentemente atuali-zadas pelo Conselho Nacional de Educação”, observou.

Vale lembrar que o CFMV aprovou, em fevereiro de 2019, a Resolução nº 1.256, que proíbe a inscrição de egressos de cursos de Medicina Veterinária realizados na modalidade a distância. O Ministério Público Fede-ral (MPF) apresentou, em outubro, uma recomendação ao MEC para que a pasta suspenda imediatamente a autorização para o funcionamento de novos cursos de graduação a distância na área da saúde.

Até que seja concluída a tramitação do PL nº 5.414/2016, que trata do tema, ou haja a devida re-gulamentação do art. 80 da Lei nº 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) sobre o de-senvolvimento do EaD, o pedido é para que se mante-nha a suspensão.

Ainda sobre articulação política, vale recordar que, em 20 de agosto, o presidente do CFMV reuniu-se com Rodrigo Maia, em Brasília (DF). Cavalcanti esteve acom-panhado do deputado Ruy Carneiro (PSDB-PB), parcei-ro do conselho na construção do PL nº 2.237/2019, que estabelece diretrizes e normas para atender aos princípios de bem-estar de animais domésticos e sil-vestres em diversas atividades. Na ocasião, o presiden-te do conselho falou sobre o PL e outras demandas da Medicina Veterinária e Zootecnia.

JUSTIÇANo dia 11 de outubro, foram publicados, no site

do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), dois acórdãos da 7ª Turma do tribunal reconhecendo que são nulas as resoluções dos Conselhos Federais de Far-mácia (CFF) e de Biomedicina (CFBM) que autorizavam farmacêuticos e biomédicos a realizar exames labora-toriais em animais, emitir laudos e exercer responsa-bilidade técnica em laboratórios de análises clínicas médico-veterinárias, avançando em competências pri-vativas do médico-veterinário.

Outro avanço recente foi a mesma turma do TRF1 ter decidido, por unanimidade, pela legalidade da Re-solução CFMV nº 947/2010. O acórdão, publicado em 4 de outubro, confirmou que compete ao médico-vete-rinário a responsabilidade técnica de estabelecimen-tos de produção/reprodução de aves e ovos em larga escala. Marta Moraes

T A reitora da UFRPE, Maria José de Sena, recebe o Prêmio Paulo Dacorso das mãos de Francisco Cavalcanti de Almeida

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DE JANEIRO A AGOSTO, CRMV-RN FEZ MAIS DE MIL FISCALIZAÇÕES Pela primeira vez, fiscais percorreram todos os 167 municípios do estado em menos de um ano

Em apenas oito meses, de janeiro a agosto de 2019, o Conselho Regional de Medicina Veteri-nária do Rio Grande do Norte (CRMV-RN) atingiu

um recorde: pela primeira vez na sua história, realizou mais de mil fiscalizações no período de um ano. Até 30 de setembro, esse número já havia chegado a 1.312 fiscalizações. Também de forma inédita, todos os 167 municípios potiguares receberam visita da equipe de fiscalização do conselho neste ano.

O resultado representa um crescimento de 308% em relação ao mesmo período do ano passado, quando houve 321 fiscalizações. Comparada a 2017, a diferen-ça chega a 940% – foram registradas 126 fiscalizações nos oito primeiros meses daquele ano.

O fortalecimento da fiscalização e o trabalho de orientação contribuíram também para o aumento dos re-gistros de Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), o que significa mais emprego para os profissionais. Até se-tembro, foram emitidas 791 ARTs. No mesmo período do ano passado, foram 320, um aumento de 147%, enquan-to na comparação com 2017 o percentual vai a 211%.

De acordo com o presidente do CRMV-RN, Wir-ton Peixoto Costa, foi preciso reestruturar o regional para que a fiscalização pudesse ocorrer de forma mais abrangente, atendendo também a eventos como va-quejadas. A previsão é de que o trabalho aumente

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ainda mais com a contratação de servidores, após a nomeação dos aprovados no recente concurso público realizado pela autarquia com vagas para fiscais e agen-tes administrativos.

“Vamos aumentar a fiscalização, reconhecer es-tabelecimentos e eventos agropecuários para que os profissionais possam ser contratados e, mais importan-te, para que a sociedade tenha alimentos com qualida-de, saúde, sanidade e os animais sejam sempre bem tratados nos quesitos saúde e produção pelos médi-cos-veterinários e zootecnistas”, ressalta Costa.

CONTATO FACILITADOEm setembro, o CRMV-RN passou a fixar um adesi-

vo em todos os estabelecimentos fiscalizados. Após a fiscalização ser concluída, o fiscal do conselho cola o adesivo próximo ao certificado de regularidade e do alvará de funcionamento da empresa.

O documento deve ficar em local visível e traz in-formações como a data em que o local foi visitado e um QR code para contato com a autarquia. A ferramenta é ativada ao se apontar a câmera do smartphone para a imagem, estabelecendo contato direto via WhatsApp com o regional, com o objetivo de tirar dúvidas, fazer co-mentários ou mesmo denunciar alguma irregularidade. Igor Jácome, Assessoria de Comunicação do CRMV-RN

T Estabelecimentos fiscalizados passaram a ter adesivo

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PROJETO--PILOTO INCENTIVA A AQUICULTURA

Técnicos do Mapa estiveram no CRMV-DF para apresentar programa de capacitação profissional na área

Em busca de incentivar o desenvolvimento da aquicultura no Distrito Federal, a equipe da Coordenação de Desenvolvimento da Aquicul-

tura em Estabelecimentos Rurais e Áreas Urbanas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a diretoria do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Distrito Federal (CRMV-DF) reuniram-se, em agosto, para que o regional integre um projeto-pi-loto a ser desenvolvido localmente e, na sequência, expandido para todos os estados brasileiros.

Os técnicos do Mapa apresentaram o programa “Forma Jovem Segura”, que tem o objetivo de capacitar profissionais e mostrar as possibilidades que o mercado de aquicultura oferece a médicos-veterinários e zootec-nistas. “A ideia inicial é realizar esse trabalho de capaci-tação, para passar um padrão de produção preventivo”, explicou o coordenador da área no Mapa, Bruno Machado Queiroz, que compareceu acompanhado pelo técnico Rui Donizetti Teixeira. Eles foram recebidos pelo presidente do CRMV-DF, Laurício Monteiro Cruz; pelo vice-presiden-te, Saulo Borges; pelo secretário-geral, Emanoel Barros; e pelo assessor da Presidência, Roberto Carneiro.

O programa tem como base o trabalho preventivo já na produção de alevinos, com o estabelecimento de normas para que o transporte ocorra de maneira a con-trolar possíveis disseminações de doenças e melhorar o custo-benefício da produção de pescado. Segundo os técnicos do Mapa, os protocolos para manejo e produ-

CRMVsEM PAUTA

ção de animais são muito antigos e, quando a legislação foi criada, o mercado operava basicamente com animais de sangue quente, como bovinos, suínos e aves. Mas as demandas se modernizaram e surgiram outras necessi-dades de consumo – como a busca por pescados.

A ideia de Queiroz é reunir profissionais multitarefas, com o auxílio de órgãos de governo como os CRMVs, além de outros conselhos que estejam envolvidos na cadeia produtiva e de bem-estar animal, para juntos criarem uma rotina de esclarecimentos na prevenção de doenças, promoverem o bem-estar animal e melhorar o custo-be-nefício na produção. “As escolas de ensino superior qua-se não têm essa disciplina como obrigatória”, comentou o coordenador do Mapa, que é médico-veterinário.

ALÉM DO PESCADOSegundo o presidente do Sindicato do Comércio

Varejista e Serviços para Animais de Pequeno Porte e Domésticos do Distrito Federal (SindPet-DF), Fernando Toniol, o mercado de piscicultura no mundo é cinco ve-zes maior do que o de cães. Os continentes asiático, europeu e a América do Norte são os principais consu-midores. “Ainda há mercado e espaço para trabalhar e se desenvolver”, afirma. “A piscicultura talvez seja uma janela a ser explorada”, complementa.

Nos últimos anos, o consumo de pescados cres-ceu no Brasil, porém a legislação que regula o setor foi adaptada de outros. A área de aquicultura sofre também para desenvolver pesquisas em produção de fármacos, engorda e desenvolvimento de produtos químicos para o controle do ambiente aquático. Wel-lington Oliveira, Assessoria de Comunicação Social do CRMV-DF

T Aquicultura oferece possibilidades a médicos-veterinários e zootecnistas

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CRMV-RR PARTICIPA DE EVENTO PARA TUTORESProfissionais informaram sobre posse responsável e importância da vacinação antirrábica

A Comissão de Bem-Estar Animal do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Roraima (CRMV-RR) participou, em setembro, da Campa-

nha de Vacinação de Cães e Gatos promovida pelo curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Estácio da Amazônia e pelo Centro de Controle de Zoonoses de Roraima (CCZ).  Os membros da comissão orientaram os presentes sobre posse responsável e deram informa-ções sobre a raiva e a importância da vacinação.

O coordenador do curso de Medicina Veterinária da Estácio, Fábio Silva de Souza, destacou que a raiva é altamente contagiosa, principalmente para animais que vivem em áreas com animais silvestres ou viajam para área de risco, como sítios e fazendas. “Manter o pet vacinado é uma questão de segurança. A vacina é a única forma de prevenção”, explicou.

Souza destacou que é preciso tomar precauções, como evitar se aproximar de cães e gatos sem donos e não mexer neles quando estiverem se alimentando, com crias ou mesmo dormindo. “Não se deve tocar em morcegos ou outros animais silvestres diretamente, principalmente quando estiverem caídos no chão ou forem encontrados em situações não habituais”, com-pletou o médico-veterinário.

POSSE RESPONSÁVELO mercado pet brasileiro é o segundo maior do

mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Em 2018, se-

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gundo o Instituto Pet Brasil (IPB), o setor movimentou R$ 34,4 bilhões, um aumento de 4,6% em relação a 2017, e gerou cerca de dois milhões de empregos. Tais números refletem a importância do animal de estima-ção na economia. 

A médica-veterinária Raquel Lisbôa, presidente da Comissão de Bem-Estar Animal do CRMV-RR, alertou os tutores sobre os perigos da aquisição por impulso. “A pessoa que quer um animal de estimação deve pensar antes em características como tamanho, para adequa-ção do espaço físico, e se prefere um pet calmo ou mais ativo, além de considerar custos com vacinas, vermí-fugos e tratamentos de saúde, custo mensal e tempo disponível para interagir com o animal”, explicou.

Raquel destacou que o tutor deve se informar com o médico-veterinário ou zootecnista sobre o melhor alimento para o animal e manter comedouros e be-bedouros em local seco, limpo e protegido do sol. “É preciso estar realmente disposto a manter e cuidar do animal. Cães e gatos podem viver por mais de dez anos e ao adotar assume-se o compromisso de cuidá-los e protegê-los nesse tempo. Animais de estimação não são descartáveis, nem brinquedo. Devem ser parte da família”, concluiu. Scheila Muller, Assessoria de Comuni-cação do CRMV-RR

T Membros do CRMV-RR orientaram sobre cuidados com pets

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"Cães e gatos podem viver por mais de dez anos e ao adotar assume-se o compromisso de cuidá-los e protegê-los nesse tempo."

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RIO RATIFICA MÉDICO- -VETERINÁRIO COMO RT EM PET SHOPS

Em vigor desde setembro, Lei Estadual nº 8.531/2019 visa à garantia da sanidade e do bem-estar dos animais

Na contramão da decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que nos Temas 616 e 617 estabele-ceu a dispensa de contratação de médico-veteri-

nário como Responsável Técnico (RT) por empresas que comercializam animais vivos e medicamentos veteriná-rios, o estado do Rio de Janeiro promulgou, em setem-bro, a Lei Estadual nº 8.531.

Entre outros itens, a medida dispõe sobre nor-mas e princípios a ser adotados pelos estabeleci-mentos comerciais envolvidos com a exposição, manutenção, higiene, estética, venda ou doação de animais. O principal ponto é tornar obrigatória a pre-sença nesses locais do médico-veterinário como RT devidamente inscrito no Conselho Regional de Me-dicina Veterinária do Rio de Janeiro (CRMV-RJ).

Para o assessor jurídico da Presidência do regional, André Siqueira, a normativa reforça e ratifica as ações de fiscalização do CRMV-RJ nesses estabelecimentos comerciais, complementando a Resolução CFMV nº 1.069/2014, visando à garantia da sanidade e do bem--estar dos animais sob sua guarda.

“Essa lei representa um marco. No Rio de Janeiro, nenhum pet shop pode mais funcionar sem a contra-tação de um médico-veterinário RT e o devido regis-tro no CRMV-RJ. A lei resguarda a proteção da socie-dade”, esclarece.

A saúde pública também é a grande beneficiária da nova lei, uma vez que o profissional é um impor-tante agente, atuando como fiscal sanitário na garantia da qualidade do produto e do serviço que estão sendo consumidos pelo cidadão. Para Siqueira, isso reforça o entendimento do Sistema CFMV/CRMVs acerca da importância do médico-veterinário para resguardar a saúde única.

“O interesse do Sistema CFMV/CRMVs é proteger a sociedade. A lei fará com que tanto a população quan-to o poder público reconheçam a importância do mé-dico-veterinário para a proteção da saúde única”, res-salta o assessor jurídico.

Siqueira acredita que, a exemplo do que ocorreu no estado de Pernambuco no início do ano (Lei Estadual nº 16.536/2019) e, agora, no Rio de Janeiro, as leis es-taduais poderão estimular um efeito-cascata pelo país, levando o STJ a reconsiderar a decisão, “uma vez que não houve uma análise concreta da questão, tampou-co uma consulta aos órgãos de saúde, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”. Adrielly Reis, da Assessoria de Comunicação do CRMV-RJ

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T Lei fluminense reforça entendimento do Sistema CFMV/CRMVs sobre a importância do médico-veterinário para a saúde única

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PESTE SUÍNA CLÁSSICA E PESTE SUÍNA AFRICANA: AS DOENÇAS E OS RISCOS PARA O BRASIL*Técnicos do Mapa e da Embrapa destacam o risco para o sistema de produção de suínos e como prevenir a entrada da PSA no Brasil ou a disseminação da PSC para a zona livre

O Brasil é o quarto maior produtor e exportador mundial de carne suína. Em 2018, produziu mais de 3,9 milhões de toneladas, exportou

aproximadamente 650 mil toneladas e a movimentação financeira de toda a cadeia de suínos foi de aproxima-damente R$ 150 bilhões, posicionando-se entre as ati-vidades econômicas mais importantes do agronegócio.

A manutenção e a abertura de mercados depen-dem dos padrões de qualidade e competitividade, do fortalecimento da condição sanitária e da capacidade de certificação dos serviços veterinários. Nesse con-texto, as doenças infecciosas, caracterizadas por surtos súbitos, que muitas vezes tomam proporções epidêmi-cas, representam uma ameaça. Entre os aspectos que podem levar à emergência de doenças infecciosas em animais domésticos, estão a intensificação da produ-ção, mutações nos patógenos, mudanças no meio am-

T A PSA e a PSC são doenças virais graves que infectam suídeos, mas não são transmitidas a humanos ou outras espécies animais (foto ilustrativa)

ARTIGOSTÉCNICOS

biente, intensificação do comércio de animais vivos, material genético, insumos e produtos de origem ani-mal e intensa movimentação de pessoas.

De acordo com o agente infeccioso, os países são considerados livres, endêmicos ou com a presença da doença em certas áreas. Essa condição sanitária é a prin-cipal referência para o comércio seguro de animais e seus produtos entre os países. Entre as doenças mais relevan-tes para o comércio internacional de produtos suínos, a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) destaca a Peste Suína Africana (PSA) e a Peste Suína Clássica (PSC).

Atualmente, o Brasil é considerado livre de PSA junto à OIE, pois, apesar de a doença ter ingressado no país em 1978, foi erradicada em 1984 (Figura 1A). Com relação à PSC, possui grande parte de seu território – e cerca de 95% da suinocultura industrial – reconhecida como zona livre pela OIE. Os surtos recentes que têm ocorrido na região Nordeste estão localizados na área considerada endêmica para a doença (Figura 1B).

A PSC causa prejuízos sanitários e socioeconô-micos graves, principalmente pelas perdas diretas e restrições comerciais impostas a produtos oriun-dos de áreas não livres da doença. Sua presença em parte expressiva do território nacional ameaça a po-sição do país no mercado internacional, causando

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limitações para as comunidades locais que têm na criação de suínos uma alternativa de fonte alimentar e de renda.

A PSA, devido à rápida disseminação a vários países nos últimos dez anos, tem sido a principal preocupação da sanidade dos suínos em nível mundial. A doença atin-ge hoje vários países no Leste Europeu e Ásia, provocan-do graves perdas na produção e elevando os riscos de atingir outras partes do mundo. Sua expansão ainda não atingiu as Américas, o que favorece os países da região no comércio internacional, configurando-se como uma oportunidade para a suinocultura e, ao mesmo tempo, uma grande ameaça de um eventual ingresso da doença.

Este trabalho aborda aspectos importantes de PSA e PSC em suídeos domésticos e asselvajados, desta-cando o risco para o sistema de produção de suínos e como prevenir a entrada da PSA no Brasil e a dissemi-nação da PSC para a zona livre.

T Figura 1. Mapa do Brasil mostrando a situação sanitária dos estados frente à PSA (A) e PSC (B)

T Figura 2. Distribuição mundial dos focos de PSA, de 2009 a 2019, segundo o Sistema WAHIS/OIE

HISTÓRICO

A PSA é causada por vírus DNA da família Asfarvi-ridae, gênero Asfivirus, compreendendo 24 genótipos. O vírus foi identificado no continente africano em 1921, onde a doença é endêmica e subclínica em suí-nos selvagens, por meio de um ciclo de transmissão complexo que envolve suínos selvagens africanos, carrapatos (Ornithodoros spp.) e suínos domésticos. Em 1957, foi introduzido em Portugal, disseminando--se para Itália, França, Holanda, Bélgica, Malta e Amé-rica do Sul, inclusive Brasil e Caribe, sendo o vírus ca-racterizado como genótipo I. A doença foi erradicada em todos esses países.

Em 1982, o vírus foi introduzido na Sardenha (Itália), onde permanece endêmico. Desde 2014, novos surtos continuam a ocorrer em vários países, inclusive na Europa. Em 2017, uma nova introdução viral a partir do continente africano voltou a ocorrer na Geórgia e Leste Europeu; neste caso, o genótipo II foi detectado. A partir da Geórgia, o vírus dissemi-nou-se por vários países do Leste Europeu e Ásia. Em setembro de 2018, foi detectado em suínos de subsistência, na China e na Romênia, e em javalis, na Bélgica. Desde então, novos surtos foram reportados na Europa (Rússia, Bulgária, Hungria, Letônia, Moldá-via, Polônia, Romênia, Sérvia, Eslováquia e Ucrânia), Ásia (China, Coreia do Norte, Coreia do Sul, Laos, Mianmar, Camboja, Vietnã, Filipinas) e, mais recente-mente, Timor Leste (Figura 2).

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No Brasil, a PSC era endêmica em vários estados até 1980, porém programas oficiais de controle e er-radicação, com uso massivo de vacina viva modificada, reduziram drasticamente a ocorrência da doença no país. Atualmente, grande parte do território brasileiro é reconhecida pela OIE como livre de PSC, compreen-dendo Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Sergipe, To-cantins, Rondônia, Acre, Distrito Federal e mais quatro municípios amazonenses (Figura 1B).

PONTOS IMPORTANTES DA TRANSMISSÃO DOS VÍRUSA PSA e a PSC são doenças virais graves que in-

fectam suídeos, mas não são transmitidas a huma-nos ou outras espécies animais. Embora sejam sín-dromes hemorrágicas que podem ser clinicamente confundíveis, apresentam diferenças clínico-epide-miológicas significativas, com aspectos ainda a ser

elucidados. Informações detalhadas sobre as formas de apresentação clínica e epidemiologia das duas doenças estão disponíveis no site da OIE (https://www.oie.int/standard-setting/terrestrial-code/ac-cess-online).

A principal via de transmissão dos vírus é pelo contato direto entre suínos infectados e suscetíveis ou ingestão de produtos cárneos de origem suína (como salames e embutidos) contaminados com vírus, oriun-dos de restos da alimentação humana.

Na PSA, tanto a transmissão quanto a manutenção do vírus no ambiente podem ocorrer pelos ciclos sil-vestre e doméstico. A epidemiologia da doença varia em diferentes partes do mundo, de acordo com a cepa prevalente, o habitat, a presença ou não de suídeos selvagens e vetores (por exemplo, Ornithodoros spp.) e os tipos de criação.

Para PSC, a infecção congênita causa o nasci-mento de leitões clinicamente sadios, mas persis-

T Figura 3. Situação sanitária oficial dos países junto à OIE em relação à PSC, 2019

A PSC é causada por vírus RNA da família Flaviviri-dae, gênero Pestivirus, sendo atualmente descritos três genótipos. A doença tem distribuição mundial, mas alguns países, como Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Estados Unidos, Chile, Argentina, Paraguai e Uruguai,

são livres, conforme ilustrado na Figura 3. Nos anos 1990, grandes surtos ocorreram na Holanda, Alema-nha, Bélgica e Itália. No Japão, onde a PSC não ocorria desde 1992, foi novamente detectada em setembro de 2018 e desde então vários focos foram relatados à OIE.

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tentemente infectados, o que os torna uma impor-tante fonte de infecção e transmissão da doença. A movimentação e introdução de suínos infectados num rebanho são a principal forma de disseminação da doença. Veículos que transportam suínos podem carrear fezes ou urina de animais infectados a longas distâncias e transmitir o vírus em casos de falha na biosseguridade.

TRATAMENTO, PREVENÇÃO E CONTROLENão existem vacinas ou tratamento para PSA. Nos

países africanos onde a doença é endêmica, é difícil eliminar o vírus devido à presença de vasto reservató-rio natural em suídeos selvagens. Em países livres, sua prevenção depende de políticas de importação rigo-rosas, garantindo que não sejam introduzidos suínos vivos infectados ou produtos de origem suína oriun-dos de países ou regiões afetados pela doença. Entre as medidas de prevenção, estão: descarte adequado, com tratamento térmico, de resíduos de alimentos de aeronaves, navios ou veículos provenientes de países com ocorrência de PSA; fiscalização de bagagens em aeroportos e portos; e aplicação de medidas rigorosas de biosseguridade em granjas.

Em focos de PSA, é essencial o sacrifício sanitário rápido de todos os suínos, com eliminação adequada de cadáveres, além de limpeza e desinfecção comple-tas das instalações. É preciso designar as zonas infec-tadas e de risco epidemiológico, com investigação e rastreamento de possíveis fontes de disseminação da infecção, além de vigilância em toda a área circundan-te e controle de movimentação dos suínos e produtos com risco de veicular o agente.

No caso de PSC, também não existe tratamento. Os suínos afetados devem ser abatidos e as carcaças, enterradas ou incineradas. Como profilaxia sanitária, recomendam-se: comunicação eficaz entre autorida-des veterinárias, médicos-veterinários e criadores de suínos para a detecção precoce e investigação de casos suspeitos; política rígida de importação de suínos vivos, sêmen e carne suína fresca e curada; quarentena de suínos antes da entrada no rebanho; vigilância sorológica direcionada a suínos e javalis; e medidas de biosseguridade dos rebanhos. A vaci-nação com vírus vivo modificado é eficaz na redu-ção de perdas em áreas onde a PSC é endêmica, mas deve estar associada a ações de vigilância e elimina-ção de focos. Em países considerados livres ou onde

a erradicação está na fase final do processo, a vaci-nação é proibida.

AÇÕES DO MAPA E DA EMBRAPAO Ministério da Agricultura, Pecuária e Abasteci-

mento (Mapa) tem reforçado as ações, visando a: (i) evitar o ingresso da PSA no país e da PSC na zona li-vre; (ii) mitigar os riscos de exposição dos suínos aos agentes infecciosos; (iii) fortalecer a detecção precoce de casos suspeitos; (iv) aperfeiçoar a capacidade de realizar o diagnóstico de forma rápida; (v) melhorar as capacidades de preparação e resposta a eventuais emergências; (vi) buscar condições para a continuida-de dos negócios e minimizar os impactos comerciais das doenças.

Para proteger o status sanitário do rebanho suíno brasileiro, elaborou o Programa Nacional de Sanidade Suídea (PNSS), que tem como objetivo a coordenação, normatização e suporte às ações de defesa sanitária animal referentes à suinocultura nacional. O PNSS con-ta com um sistema de vigilância para as síndromes he-morrágicas dos suínos, com Laboratórios Federais de Defesa Agropecuária capacitados para o diagnóstico delas, incluindo teste laboratorial para PSA como dife-rencial de PSC.

Diante da disseminação da PSA em várias partes do mundo e da ocorrência de focos de PSC na zona não livre do Brasil, o ministério intensificou a vigi-lância nas fronteiras internacionais e divisas da zona livre, assim como a fiscalização de bagagens e a im-portação de produtos agrícolas e alimentos de países onde a PSA está ocorrendo. Recentemente, o Sistema de Vigilância Agropecuária Internacional (Vigiagro) publicou a Instrução Normativa (IN) nº 11/2019, que estabelece o regulamento para ingresso no território nacional de produtos de origem animal, presumivel-mente não veiculadores de doenças contagiosas, em bagagem de viajantes, para consumo próprio e sem finalidade comercial.

Com relação à PSC, em 1981 foi instituído o Pro-grama de Combate à Peste Suína (PCPS), que exigiu a adoção de procedimentos para definir as zonas livres da doença, tais como: diagnóstico laboratorial, abate e incineração dos animais positivos; vacinação e mo-nitoria sorológica em abatedouro. Em 1992, foi reali-zado um processo progressivo de zoneamento no país iniciado nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, com reformulação do programa preconizando

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AUTORES

DANIELLE GAVA, JANICE REIS CIACCI ZANELLA, LUIZINHO CARON, REJANE SCHAEFER E VIRGÍNIA SANTIAGO SILVAEmbrapa Suínos e Aves

GERALDO MARCOS DE MORAES, JORGE CAETANO JUNIOR E RONALDO CARNEIRO TEIXEIRAMapa

a suspensão da vacinação nos grandes centros pro-dutores, criação de um cinturão de vacinação com-pulsória em torno dessas áreas, controle de trânsito e criação de fundos de indenização administrados pela iniciativa privada.

As normas para erradicação da PSC no território nacional e o Plano de Contingência de PSC foram es-tabelecidos pelas INs nº 6/2004 e nº 27/2004, res-pectivamente. Em 2009, foram estabelecidos os pro-cedimentos do sistema de vigilância sanitária na zona livre de PSC, por meio da Norma Interna nº 05, que contempla a vigilância em Granjas de Reprodutores Suídeos Certificadas (GRSCs), granjas de suínos, cria-tórios de suídeos (criações de subsistência, sem fins comerciais) e abatedouros. Em 18 de setembro de 2014, foi aprovado o Plano de Vigilância de Suídeos Asselvajados na área livre de PSC no Brasil, por meio da Norma Interna nº 03.

Apesar de grande parte da suinocultura brasileira estar localizada na zona livre de PSC sem vacinação, em 2018 e 2019 foram detectados focos no Ceará, Piauí e Alagoas. Cabe a ressalva de que os focos localizados no Ceará e Piauí estão longe da fronteira com a região con-siderada livre, enquanto o foco em Alagoas está somen-te a 7 km da zona livre, porém os limites entre a zona livre e a não livre estão separados por barreiras naturais e postos de fiscalização e vigilância, os quais atuam de forma contínua (Nota Técnica nº 43/2019). Embora a ocorrência de PSC na zona não livre não altere o reco-nhecimento internacional concedido às 16 unidades da federação, o Mapa lançou, em 2019, o Plano Estratégico para a Erradicação da PSC dos estados de Alagoas, Ama-pá, Amazonas, Ceará, Maranhão, Pará, Paraíba, Pernam-buco, Piauí, Rio Grande do Norte e Roraima.

Devido às características das doenças, a comu-nicação de casos suspeitos é primordial, pois, se não controladas, continuarão a se alastrar, trazendo gran-des prejuízos para o país. Frente a qualquer suspeita de infecção pelo vírus da PSA e PSC, a comunicação deve ser feita imediatamente ao órgão estadual de defesa agropecuária ou diretamente ao Departamen-to de Saúde Animal (DSA/Mapa). Em casos de surtos, o serviço veterinário oficial determinará as medidas a ser implementadas, seguindo as recomendações da OIE de sacrifício sanitário e demais formas de vazio e descontaminação.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Mapa, por meio da Unida-

de Descentralizada Embrapa Suínos e Aves, tem o papel de fornecer informações sobre a PSA e PSC e os impactos na cadeia produtiva de suínos, subsi-diando a tomada de decisão dos órgãos competen-tes. Não existem pesquisas sobre a PSA no Brasil, pois o país é considerado livre. Contudo, a Embrapa atua em apoio aos órgãos oficiais e setor produti-vo na capacitação de médicos-veterinários e outros públicos com vistas à vigilância de síndromes he-morrágicas e desenvolve pesquisas em vigilância e monitoramento sanitário de suídeos asselvajados na zona livre de PSC.

* Trabalho elaborado a convite do Conselho Editorial da Revista CFMV.

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ANÁLISE DA SUPLEMENTAÇÃO DE BIOTINA NO CRESCIMENTO DOS CASCOS DE EQUINOS ADULTOS CRIADOS A PASTO

Grupo de professores e alunos da Universidade Estadual do Oeste do Paraná realizou experimento acompanhando 12 animais

O objetivo deste trabalho foi avaliar o cresci-mento dos cascos de equinos criados a campo suplementados com diferentes níveis de bio-

tina. Foram utilizados 12 equinos no Setor de Equideo-cultura do Núcleo de Estação Experimental da Univer-sidade Estadual do Oeste do Paraná, suplementados com 0 mg de biotina (T1 – testemunha), 14 mg (T2), 28 mg (T3) e 42 mg (T4). Foram feitas as medidas de altura de muralha, altura de talão e espessura de muralha, em intervalos de 30 dias, de acordo com o casqueamento, com o uso de fita métrica. O delineamento experimen-

T Animais com rachaduras no casco receberam doses de biotina e, após um período, tiveram recuperação total (foto ilustrativa)

ARTIGOSTÉCNICOS

tal foi inteiramente casualizado em esquema fatorial 4x3, com quatro níveis de suplementação e três ida-des diferentes. Após a coleta dos dados, estes foram tabulados e submetidos à análise de variância. As va-riáveis idade e tratamentos foram submetidas ao teste de Tukey a 5% de probabilidade. Todos os dados foram avaliados pelo programa estatístico SAEG versão 8.1. O tratamento-testemunha apresentou melhores resulta-dos de crescimento. Não foi necessária a suplementa-ção de biotina para animais com baixa atividade física e criados a pasto.

Ao observar um equino com rachaduras no casco e apresentando falta de pedaços na circunferência distal externa na capa da córnea dos quatro membros, além de sinais de parede fraca, fina e lacuna de separação entre a sola e a muralha do casco, dificultando e impedindo a fixação da ferradura, Ribeiro (1987) forneceu 15 mg de biotina a esse animal durante cinco meses e 12 dias e

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verificou que houve recuperação total dos cascos, não apresentando limitações para seu ferrageamento.

O casco é um estojo córneo responsável pela pro-teção e sustentação da extremidade do membro equi-no. Quando em equilíbrio, possibilita o amortecimento do impacto, a partir da dissipação do choque que o casco sofre ao tocar o solo, por isso deve ser um objeto de atenção permanente.

A parede do casco possui três camadas: estra-to externo, médio e interno. O estrato externo é uma camada córnea espessa, o médio consiste de túbulos córneos e tecido córneo intertubular, dando volume à parede, e o interno é responsável por ligar o casco ao cório, por meio de ramificações de lâminas microscó-picas (STASHAK, 2006). A muralha estende-se da coroa ao solo e é dividida em três porções: em pinça, que corresponde à porção anterior; quartos lateral e me-dial, que correspondem à porção intermediária do cas-co; e talões lateral e medial, correspondendo à porção posterior do casco. A muralha apresenta uma espes-sura que varia entre 0,2 e 0,5 cm, cresce cerca de 8 a 10 mm por mês, levando de nove a 12 meses para se renovar completamente (MELO et al., 2006).

O clima pode interferir no crescimento do casco, apresentando-se mais lento nos climas frios e em am-bientes secos. Como a muralha cresce uniformemente no sentido distal à epiderme coronária, a parte mais jovem e mais elástica do casco se encontra nos talões, portanto essa região ajuda na expansão dos talões du-rante a concussão (SAMPAIO et al., 2013).

A sola é a superfície inferior do casco, que deve ser côncava, pois sua função não é suportar o peso do animal. Sua espessura é de cerca de 1,27 cm e contém 33% a mais de água que a muralha, portanto é menos resistente. É um aparelho fibroelástico que amortece os choques durante o trabalho e é constituído pela ranilha, talões, barras, linha branca e superfície solear da parede. No ponto em que se une à muralha, a sola apresenta um sulco denominado linha branca, que, por uma inflexão em nível de talões, se volta para o cen-tro da sola, formando as barras. O cório sensível está imediatamente interno à linha branca, que serve como marcador para determinação da posição e do ângulo dos cravos a ser introduzidos nas ferraduras dos equi-nos (ZÚCCARI et al., 2009).

A ranilha é uma estrutura córnea elástica que par-te dos talões, avança para o centro da sola e termina num vértice ou ápice. Deve ser proeminente e estar

longe do solo em aproximadamente 12 mm em nível dos talões (STASHAK, 2006). Sua função não está bem definida, mas durante a locomoção dissipa a com-pressão sobre a face da sola, distribuindo o impacto que recebe aos demais componentes do aparelho fi-broelástico do casco (THOMASSIAN, 2005), e parece auxiliar na irrigação sanguínea de seu interior (MELO et al., 2006).

Como todo animal, o cavalo desenvolveu caracte-rísticas próprias, adaptadas ao ambiente em que vivia. Os cascos desenvolveram um mecanismo fisiológico, cujo funcionamento necessita que o cavalo ande e se exercite constantemente, como fazia em seu ambiente natural, onde percorria grandes distâncias em busca de alimento e fugia de predadores. Para que o meca-nismo fisiológico de apoio funcione e o cavalo possa ter cascos sadios e perfeitos, é necessário que ocorram a expansão e contração do casco, o efeito bomba da cartilagem alar sobre a rede circulatória, o efeito amor-tecedor do coxim plantar coronário e aprumos corretos (JUNQUEIRA, 1991).

A biotina (vitamina H) é uma vitamina hidrossolú-vel que se mostra essencial para a síntese de proteí-nas e a formação de ácidos graxos de cadeia longa que compõem a matriz intracelular dos cascos. Somente a partir da década de 1980, a influência da alimentação sobre a integridade dos cascos dos equinos passou a ser estudada. Os primeiros trabalhos, baseados em pesquisas realizadas com suínos, demonstraram a in-fluência da biotina sobre o desenvolvimento dos cas-cos, bem como os problemas inerentes à sua carência na dieta (DITTRICH, 1992).

A biotina parece ser um nutriente de influência sobre a resistência dos cascos. Zenker et al. (1995), ao trabalhar com 42 garanhões da raça Lipizzaner, dos quais 90% com problemas nos cascos, verifica-ram que a suplementação com biotina melhorou a sua condição. Essa melhora ocorreu na linha bran-ca, na histologia e na resistência após 19 meses de suplementação. O aumento da resistência e dureza do casco ocorreu após 19 a 33 meses do início da suplementação.

Devido à seleção genética e à alteração no manejo alimentar dos equinos imposta pelo homem, as neces-sidades de biotina para suprir todas as funções meta-bólicas dos animais aumentaram (COMBEN et al., 1984).

Carrol et al. (1949) conduziram um experimento com cavalos alimentados com dietas purificadas baixas

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em vitaminas do complexo B e quantificaram a síntese das vitaminas tiamina, riboflavina, ácido pantotênico, biotina, entre outras, no ceco e cólon. Os requerimen-tos de vitaminas, assim como de outros nutrientes, são afetados pela idade, estágio de produção e uma variedade de situações de estresse, como infecções in-testinais e exercício muscular intenso. A necessidade de suplementação vitamínica depende do tipo e qua-lidade da dieta, da quantidade de vitamina microbiana sintetizada no sistema digestivo e da extensão da ab-sorção da vitamina a partir do local da síntese. Cavalos a campo em pastagens de alta qualidade não preci-sam de suplementação, pois as forragens são fontes ricas de vitaminas lipossolúveis e hidrossolúveis (NRC, 1989). De acordo com o NRC (1989), as informações das concentrações de biotina nos alimentos para equi-nos são limitadas; sabe-se que a alfafa tem maiores concentrações de biotina no feno de alfafa (0,2 mg/kg MS) e na alfafa fresca (0,49 mg/kg MS); concentrações intermediárias para aveia (0,11 a 0,39 mg/kg MS), ce-vada (0,3 a 0,17 mg/kg MS), farelo de soja (0,18 a 0,5 mg/kg MS) e milho (0,06 a 0,1 mg/kg MS). A exigência de biotina não foi disponibilizada para equinos, assim como para aves e suínos.

Carrol et al. (1949) alimentaram equinos com dietas contendo apenas 0,01 mg de biotina/kg MS e encontraram as seguintes concentrações na digestão (mg/kg MS): duodeno, menos de 0,1; íleo, 0,1; ceco, 0,2; cólon maior anterior, 3,8; e cólon menor anterior, 2,3. Dessa forma, os pesquisadores comprovaram a síntese microbiana entérica de biotina (NRC, 1989).

A biotina é essencial em duas etapas importantes do processo de formação de tecido córneo, denomi-nado queratinização: síntese de proteínas e síntese de substâncias lipídicas. Essa vitamina é sintetizada pe-los microrganismos do trato gastrointestinal no cavalo adulto. A suplementação com 10 a 30 mg de biotina por dia durante nove meses pode melhorar a qualida-de do casco equino. Doses diárias de 15 mg de biotina são recomendadas como tratamento preventivo de la-minite (FARIA, 2009).

Apesar de o NRC (2007) ter postulado que a su-plementação de biotina pode ser indicada apenas para populações de equinos com cascos frágeis, ainda não foram abordadas as condições de manejo diário de animais submetidos a situações de estresse dos cascos em função de programas de treinamento para provas equestres e até mesmo sua criação e manutenção a

campo, onde são submetidos ao sol e a outras condi-ções edafoclimáticas.

Diante do exposto, objetivou-se, com a realização desta pesquisa, avaliar a suplementação de biotina no crescimento dos cascos de equinos adultos cria-dos a pasto.

MATERIAIS E MÉTODOSO experimento foi conduzido no Setor de Equi-

deocultura do Núcleo de Estações Experimentais da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, no muni-cípio de Marechal Cândido Rondon (PR). A área total de pastagem utilizada foi de 2 ha, divididos em dez unidades de piquetes, com área média de 1.930 m², os quais foram cultivados com grama Tifton 85. O ma-nejo adotado durante todo o período experimental foi o rotacional e o tempo de permanência dos ani-mais em cada piquete variou de acordo com a dispo-nibilidade de matéria natural e altura do dossel (mé-dia de 20 cm).

Foram utilizados 12 equinos, sendo quatro puros da raça Árabe, um mestiço Árabe e Quarto de Milha, quatro mestiços Quarto de Milha, um mestiço Campo-lina e dois Sem Raça Definida (SRD), entre eles cinco machos castrados, um garanhão e seis fêmeas com idade aproximada entre dois e 28 anos. A avaliação cronológica dos animais que não tinham ficha zootéc-nica nem controle de nascimento foi realizada com base na dentição.

Embora a estimativa da idade dos equinos pelo exame dentário tenha atualmente uma aplicabilidade limitada, continua a ser a melhor forma de conhecer a idade na ausência de provas documentais. Conside-ram-se, nessa avaliação, aspectos relativos à estrutura, tipos de dente, fórmula dentária, evolução dentária dos equinos e cronologia dos eventos observáveis no exame dentário, principalmente da arcada inferior dos equinos (SILVA et al., 2003).

Antes do início do experimento, todos os equinos foram vermifugados (Ivermectina 1,87 g/kg PV). Os animais foram mantidos exclusivamente a pasto, com consumo de forragem à vontade e acesso à água ad li-bitum; durante todo o período experimental, não foram suplementados com sal mineral.

Os tratamentos experimentais se basearam em diferentes volumes de um suplemento comercial à base de biotina. A suplementação vitamínica, mine-ral e de aminoácidos foi em frascos de 1 L (1 kg) na

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forma líquida, cuja composição foi: betacaroteno (10 mg/kg), biotina (2.800 mg/kg), DL-metionina (20 g/kg), enxofre (10 g/kg), L-lisina (53 g/kg), manganês (4.200 mg/kg), selênio (32 mg/kg) e zinco quelatado (18 g/kg).

O experimento consistiu em quatro tratamentos distribuídos em três grupos baseados na idade, com quatro cavalos por grupo. O tratamento 1 (T1), teste-munha, foi baseado na ausência de suplementação

diária com biotina; o tratamento 2 (T2), com suplemen-tação diária de 14 mg de biotina, contidos em 5 mL do suplemento; o tratamento 3 (T3), com suplementa-ção diária de 28 mg de biotina contidos em 10 mL de suplemento (recomendação do fabricante); e o trata-mento 4 (T4), com suplementação diária de 42 mg de biotina contidos em 15 mL de suplemento (Tabela 1). O suplemento comercial à base de biotina foi ofertado uma vez ao dia, por via oral.

TABELA 1. DISTRIBUIÇÃO DOS ANIMAIS POR GRUPO DE IDADE E POR TRATAMENTO.

Grupo T1 (0 mg) T2 (14 mg) T3 (28 mg) T4 (42 mg)

A (1-10 anos) A2 A3 A8 A9

B (11-17 anos) A4 A5 A7 A11

C (18-30 anos) A1 A6 A10 A12

O experimento teve a duração total de 210 dias (sete meses). As coletas de dados do crescimento dos cascos foram feitas a cada 30 dias, coincidindo com a data prevista do casqueamento de todos os animais, tendo sido este feito pelo mesmo profissional em to-das as coletas.

FIGURA 1. ESQUEMA DAS MEDIDAS DOS CASCOS FEITAS NAS COLETAS (ALTURA DOS TALÕES, ALTURA DAS MURALHAS E ESPESSURA DAS MURALHAS).

Fonte: Adaptado de Brasil Hipismo (2015).

As mensurações de biometria (crescimento do cas-co) foram realizadas antes e depois do casqueamento, com o auxílio de uma fita métrica. Foram medidas a al-tura dos talões, altura das muralhas e espessura das muralhas (Figura 1), nos cascos anteriores esquerdos e direitos e posteriores esquerdos e direitos (cm).

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TABELA 2. RESULTADOS DE CRESCIMENTO DE MURALHA (CM), CRESCIMENTO DE TALÃO (CM) E CRESCIMENTO DE ESPESSURA DE MURALHA (CM), EM DIFERENTES NÍVEIS DE SUPLEMENTAÇÃO (0, 5, 10 E 15 ML) E EM DIFERENTES IDADES A (1-10 ANOS), B (11-17 ANOS) E C (18-30 ANOS).

Tratamento Crescimento de muralha Crescimento de talão Espessura de muralha

0 mg (testemunha) 1,1653a 0,9764a 0,0528

14 mg (5 mL) 0,8903b 0,8139b 0,0444

28 mg (10 mL) 0,9225b 0,8750ab 0,0514

42 mg (15 mL) 0,9667b 0,8764ab 0,0389

Idade

A 0,9740 0,8927 0,0510

B 1,0094 0,8948 0,0510

C 0,9771 0,8688 0,0385

P

Trat. 0,0001 0,0081 0,4606

Idade 0,6459 0,7812 0,2389

Trat. * Idade 0,1122 0,9654 0,0822

CV (%) 29,42 32,21 25,74

Nota: Médias nas colunas, seguidas pela mesma letra minúscula, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de significância.

Foi feito o delineamento inteiramente casua-lizado em esquema fatorial 4x3, com quatro níveis de suplementação e três idades diferentes. Após a coleta dos dados, estes foram tabulados e subme-tidos à análise de variância; no caso de os valores apresentarem significância (α = 5%), as variáveis foram submetidas ao teste de média. As variáveis idade e tratamentos foram submetidas ao teste de Tukey a 5% de probabilidade. Todos os dados foram

avaliados pelo programa estatístico SAEG versão 8.1 (UFV, 2003).

RESULTADOS E DISCUSSÃOOs resultados encontrados no T1, em que os ani-

mais não receberam nenhum tipo de suplementação, foram estatisticamente superiores aos demais trata-mentos para a característica de crescimento de muralha, apresentando valores médios de 1,1653 cm (Tabela 2).

Considerando o período total de duração do expe-rimento, os animais suplementados com biotina não apresentaram taxas superiores de crescimento, o que coincide com o proposto por Dittrich (1992), que cita que a suplementação de biotina de até 40 mg/dia, em três meses de testes, não apresentou nenhuma taxa acelerada de crescimento da muralha. O mesmo autor relata que a suplementação de 40 mg de biotina/dia apresentou uma diminuição do crescimento da mura-lha dos cascos, quando comparada aos outros trata-mentos de 10 e 20 mg de biotina/dia.

O tratamento de 0 mg/dia também apresentou su-perioridade em relação ao tratamento de 14 mg/dia no crescimento de talão, porém, em relação aos demais tratamentos, não obteve diferença estatística nessa característica (Tabela 2), indicando efeito nulo da su-plementação de biotina.

Para os resultados de espessura de muralha, não foi observada nenhuma diferença. Todos os valores fo-ram próximos a 1 cm de espessura.

Os cascos não apresentaram diferenças no seu cres-cimento em relação à idade dos animais; todos os va-lores encontrados foram semelhantes, o que contradiz com o proposto por Faria (2009), que cita que o grau de crescimento do casco declina com a idade do animal.

Todos os animais demonstraram crescimento de casco dentro dos valores médios para crescimento ci-tados por Wintzer (1986), que são de 8 a 13 mm men-sais. O mesmo autor afirma que um incremento na taxa de crescimento ou diminuição no período de renova-ção do tecido córneo do casco não deve ser esperado com uma suplementação de biotina.

Os resultados obtidos neste experimento po-dem estar ligados ao tempo de pesquisa realizado,

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sendo necessário maior período de coleta de dados, pois Schulze e Scherf (1989) relataram que melho-ras evidentes nos cascos dos animais em tratamen-to, utilizando níveis suplementares de 15 mg/dia, só aparecem após seis a nove meses de administração da vitamina.

Os animais apresentaram uma melhora na apa-rência dos cascos, com seu fortalecimento, levando em consideração o aspecto visual, podendo ser com-parado aos dados citados por Dittrich (1992), o qual relatou que, com uma dose de 40 mg de biotina/dia, se consegue um fortalecimento de todas as estrutu-ras dos cascos dos equinos tratados num período de três meses, embora com outros níveis de suplemen-tação (10 mg e 20 mg) esse fortalecimento dos cascos possa ocorrer em um período maior de suplementa-ção da vitamina.

O mesmo autor cita que níveis suplementares de 40 mg de biotina/dia permitem um aumento no in-tervalo entre as sucessivas práticas de casqueamento pela diminuição da taxa de crescimento e pelo aumen-to na resistência das partes córneas do casco.

Segundo pesquisa realizada por Josseck et al. (1995), a biotina melhora a qualidade do casco, porém sem afetar seu crescimento. Os resultados encontrados neste experimento podem ser explicados pelos dados encontrados no NRC (1989), que cita que os cavalos criados a campo em pastagens de alta qualidade não precisam de suplementação, pois as forragens são fon-tes ricas de vitaminas lipossolúveis e hidrossolúveis. Por isso, Dittrich (1992) comenta que, nas criações em que as pastagens se encontram degradadas e a alimentação concentrada é formulada com farelos de oleaginosas e grãos de cereais, geralmente a alimentação não supre as quantidades de biotina necessárias para um perfeito desenvolvimento do estojo córneo dos equinos.

A alimentação influencia a qualidade do cresci-mento do casco, sendo inapropriados tanto a carência quanto o excesso de proteínas, minerais e vitaminas. Segundo Ley et al. (1998), a biotina, a metionina, o zin-co e o enxofre são os nutrientes geralmente utilizados para estimular uma melhora na qualidade do casco.

CONCLUSÃOA suplementação de biotina para equinos criados a

pasto é desnecessária, uma vez que os microrganismos do ceco e cólon produzem níveis de biotina endógena suficientes para o crescimento regular dos cascos.

AUTORES

JEFERSON AUGUSTO KÜHLLIGIA ALVES SALVADOR JULIA ANDRESSA BOUFLEURGraduandos em Zootecnia na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste)

ANA ALIX MENDES DE ALMEIDA OLIVEIRA Zootecnista CRMV-PR nº 1052/Z

NILTON ROHLOFF JUNIOR Zootecnista CRMV-PR nº 1400/Z

PAULA KONIECZNIAK Médica-veterinária CRMV-PR nº 12430

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HIPERTENSÃO PULMONAR TIPOS 1 E 2: EXISTE DIFERENÇA NA CLÍNICA DE CÃES E GATOS?

Doença não tem cura e o paciente necessita de tratamento por toda a vida. Objetivos da terapia, entre outros, são melhorar os sinais clínicos, reduzir a progressão da doença e proporcionar maior sobrevida, com qualidade

A Hipertensão Pulmonar (HP) é uma enfermi-dade complexa, caracterizada por aumento progressivo da resistência vascular pulmo-

nar. Sua etiologia pode ser primária ou secundária a outras doenças, como a Degeneração Mixomatosa da Valva Mitral (DMVM), dirofilariose, cardiopatias congê-nitas como persistência do ducto arterioso e síndrome de Eisenmenger. Hemodinamicamente, define-se por pressão média da artéria pulmonar igual ou superior a 25 mmHg em repouso (DIAS et al., 2015).

ARTIGOSTÉCNICOS

Possui sinais clínicos diversos, com gravidade va-riável, e seu diagnóstico em animais se baseia na uti-lização de ecodopplercardiografia. O tratamento é um desafio para o clínico de pequenos animais, uma vez que não há consenso sobre medicamentos e doses mais eficazes, principalmente na HP secundária.

ETIOLOGIAA Pressão Arterial Pulmonar (PAP) é o resultado de

interações entre fluxo sanguíneo pulmonar, impedân-cia vascular e pressão pós-capilar. Assim, a HP pode ser classificada como Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP – tipo 1), também descrita como “ativa”, resul-tante de anormalidades no lado arterial do sistema vascular pulmonar, e Hipertensão Venosa Pulmonar (HVP – tipo 2), também descrita como “passiva”, as-sociada a múltiplas anormalidades pulmonares ou do sistema cardiovascular, reação inflamatória sistêmica ou doenças infecciosas, como a endocardite (KEL-LIHAN; STEPIEN, 2012). Já em gatos, a HP é uma con-

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dição rara, com poucos estudos e relatos na literatura (HENIK, 2009).

Além da HAP idiopática, algumas doenças deter-minantes incluem dirofilariose e desvios congênitos sistêmico-pulmonares, como comunicação interatrial, comunicação interventricular, persistência do ducto arterioso e vasculite/arteriolite necrosante (HAW-KINS, 2010).

Em contraste, a HVP é consequência de PAP eleva-da resultante do aumento do pico pressórico arterial pulmonar (PAWP) com Resistência Vascular Pulmonar (RVP) normal. Esse tipo de hipertensão ocorre, mais co-mumente, em cães com DMVM e na cardiomiopatia di-latada. A HAP e HVP podem ocorrer simultaneamente em pacientes com doença cardíaca do lado esquerdo (KELLIHAN; STEPIEN, 2012).

Outras classificações têm sido utilizadas para a doença, como HAP induzida por hipóxia, HP trom-boembólica secundária a doenças respiratórias e alte-rações congênitas. Dessa forma, o fator desencadeante da doença pode influenciar o manejo terapêutico e o prognóstico do paciente (KELLIHAN; STEPIEN, 2012).

DIAGNÓSTICOO diagnóstico inicial da HP em cães e gatos se

baseia nos sinais inespecíficos observados ao exa-

me físico, como tosse, dispneia, letargia, intolerância ao exercício e cianose, que podem ser decorrentes da diminuição do Débito Cardíaco (DC), associada à vasoconstrição sistêmica e à relação ventilação-per-fusão deficiente, determinando hipoxemia (JOHN-SON et al., 1999).

Na maioria das vezes, o diagnóstico é obtido após exames em cães que apresentam suspeita de problemas cardíacos ou respiratórios, sendo a ecodo-pplercardiografia o método de maior utilidade para o diagnóstico da HP, pois é amplamente disponível e possibilita descartar ou confirmar afecções cardíacas concomitantes.

A ecodopplercardiografia permite a obtenção da pressão na artéria pulmonar de forma não invasiva, di-minuindo consideravelmente a necessidade de catete-rismo cardíaco. A pressão na artéria pulmonar em ani-mais saudáveis é de aproximadamente 20-25 mmHg durante a sístole e 6-10 mmHg na diástole, sendo a HP identificada quando a pressão sistólica é superior a 25-30 mmHg (BOON, 2011).

Utilizando a ferramenta ecocardiográfica Do-ppler (pulsado e contínuo), é possível obter os fluxos valvares e observar a presença de fluxos regurgitan-tes, pois na HP é frequente a Regurgitação Tricúspi-de (RT) (Figura 1) e pulmonar (BOON, 2011). Pyle et

T Figura 1. Exame ecocardiográfico, modo Doppler pulsado, posição apical esquerda quatro câmaras em um cão com HVP moderada, mostrando regurgita-ção na valva tricúspide com velocidade de 4,42 m/s e pressão de 78,3 mmHg.

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al. (2004) definem HP leve como uma PAP sistólica entre 30 e 55 mmHg, moderada entre 56 e 79 mmHg e grave em 80 mmHg ou maior. A quantificação da HP pode definir melhor prognóstico e auxiliar na conduta terapêutica.

Além da avaliação e quantificação dos volumes regurgitantes, outros índices ecocardiográficos podem predizer indiretamente a possibilidade da presença de HP, como o Índice de Performance Miocárdica do Ven-trículo Direito (IPM-VD). Esse índice (Figura 2) tem de-monstrado uma correlação positiva com a presença de HP secundária em cães com DMVM. Segundo Kellihan e Stepien (2012), em cães, um IPM-VD superior a 0,25 é favorável ao diagnóstico de HP.

O speckle tracking bidimensional (2D-STE) é uma das mais recentes ferramentas de ultrassono-grafia que permitem o acesso à função miocárdica. Tem sido empregado para avaliação mais precoce da função ventricular e do efeito da HP sobre a função dos ventrículos direito e esquerdo. Estudos como de Nishimura et al. (2012) têm avaliado a relação entre a deformação radial e a hipertrofia ventricular es-querda em pacientes hipertensos. Além disso, tem sido sugerida uma avaliação quantitativa da contra-tilidade do ventrículo direito por meio do 2D-STE para obter um valor prognóstico significativo (FINE et al., 2013).

Alguns biomarcadores, como o peptídeo natriuré-tico cerebral (BNP), têm sido utilizados como auxiliares

no diagnóstico da HP. Em cães, tem sido usado para discriminar doença cardíaca de doença respiratória, enquanto, em humanos, para estratificar a gravidade da doença. No estudo de Sastravaha et al. (2010), as concentrações séricas de NT-proBNP em cães com In-suficiência Cardíaca Congestiva (ICC) foi significativa-mente maior (2.977 ± 184 pmol/L) que em cães com doença cardíaca sem ICC (611 ± 46 pmol/L) e doença respiratória (583 ± 52 pmol/L).

O cateterismo cardíaco direito, apesar de considera-do o exame padrão ouro para diagnosticar a HP, na Medi-cina Veterinária ainda não é uma realidade, uma vez que possui custo elevado e equipamentos específicos. Além disso, essa técnica necessita da utilização de anestésicos, o que pode ser um risco aos pacientes, principalmente aqueles em estado crítico. Soydan et al. (2015) demons-tram que o exame ecodopplercardiográfico para estimar a PAP em cães é satisfatório e apresenta uma moderada correlação com uso de cateterismo cardíaco direito.

TRATAMENTO É importante ressaltar que, até o momento, a doença

não tem cura e o paciente necessita de tratamento por toda a vida. Os objetivos da terapia são melhorar os sinais clínicos, diminuir a pressão pulmonar e a sobrecarga do ventrículo direito, reduzir a progressão da doença e, com isso, obter maior sobrevida e melhora da qualidade de vida do paciente (SUBRAMANYAM et al., 2010).

Como a maioria dos casos de HP em cães e gatos é do tipo 2, o tratamento visa a eliminar ou melhorar o esta-do da doença subjacente. Por esse motivo, o tratamento varia de acordo com os sinais clínicos apresentados pelo paciente; além disso, conseguir um tratamento efetivo para HP grave é muito difícil de ser alcançado, devido ao fato de que muitas causas secundárias possuem caráter progressivo e resultam em alterações irreversíveis na vas-culatura pulmonar (ATKINSON et al., 2009).

As opções de tratamento para os cães incluem bloqueadores do canal de cálcio, diuréticos, inibido-res da enzima conversora da angiotensina, digoxina e tromboprofilaxia, mas são muitas vezes ineficazes em cães com HP grave. Já as medicações de uso humano incluem três grupos de fármacos: os bloqueadores dos receptores de endotelina, os inibidores da fosfodieste-rase e os análogos da prostaciclina. No entanto, a res-posta dos pacientes à terapia também é insatisfatória (RAMOS et al., 2015).

O sildenafil é o fármaco mais recentemente utiliza-do na rotina da clínica médica para o controle da HP em

T Figura 2. Exame ecocardiográfico demonstrando obtenção do IPM-VD. O índice é calculado a partir dos fluxos sanguíneos obtidos pelo Doppler pulsado na fase diastólica da valva tricúspide (imagem à esquerda) e na fase sistólica da valva pulmonar (imagem à direita). Para cada ciclo car-díaco, há duas ondas na fase diastólica: onda E (diástole precoce) e onda A (diástole final). Mede-se a distância entre a extremidade da onda A (fechamento da valva tricúspide) e o início da onda E’ (abertura da valva tricúspide no ciclo seguinte). O fluxo pulmonar é utilizado para calcular o tempo de ejeção pulmonar (TE = duração do fluxo, determinado pelo início e fim do envelope espectral). A diferença entre a duração AE e TE corresponde à soma dos tempos isovolumétricos (diástole e sístole). O índice é definido como a relação entre a diferença (AE - TE) e TE.

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pequenos animais. Possui efeito inibidor da fosfodies-terase tipo 5 (PDE5), uma superfamília de enzimas que têm diferentes distribuições e afinidades de substrato nos tecidos, com expressão abundante da PDE5 em te-cidos pulmonares. Seu efeito inibitório resulta em au-mento das concentrações de guanosina monofosfato cí-clica (GMPc) e, dessa forma, promove uma vasodilatação mediada pelo óxido nítrico (BACH et al., 2006).

O sildenafil pode produzir efeitos benéficos na HP por mecanismos múltiplos, mas o principal parece ser a vasodilatação direta da artéria pulmonar. Ainda, pode melhorar a condutância da membrana capilar do alvéo-lo e a troca gasosa, bem como contribuir para a prote-ção da permeabilidade das células endoteliais, atenua-ção de hipóxia alveolar e facilitação de condutância do gás alveolar (GUAZZI et al., 2004).

Nos cães, o uso desse fármaco tem demonstrado resultados animadores, como o alívio sintomático em portadores de síndrome de Eisenmenger, após um a três meses de terapia, mostrando eficácia semelhante quan-do comparado aos humanos com a mesma síndrome. No entanto, a dose terapêutica utilizada é variável, demons-trando a ausência de padronização (0,5 a 3,0 mg/kg, uma, duas ou até três vezes ao dia) (NAKAMURA et al., 2011].

O tratamento da HP em cães utilizando o pimoben-dan possibilitou, em curto prazo, a redução da gravi-dade da doença, melhorou a qualidade de vida dos pacientes e reduziu os níveis de BNP. Em longo prazo, só foi observada redução da velocidade do fluxo re-gurgitante da valva tricúspide (ATKINSON et al., 2009).

CONSIDERAÇÕES FINAISA HP ainda é um desafio para os clínicos, uma vez

que na Medicina Veterinária ela ocorre principalmente na forma secundária, o que pode dificultar a eficácia do tra-tamento, bem como a taxa de sobrevida. Além disso, não estão bem estabelecidas as doses terapêuticas e o trata-mento instituído é apenas paliativo, objetivando melhora da qualidade de vida do paciente. Recomendam-se mais estudos sobre os medicamentos disponíveis, bem como desenvolvimento de drogas mais específicas.

AUTORES

MARIANA DE RESENDE COELHOMédica-veterinária CRMV-MG nº 14001MSc, doutoranda em Ciências Veterinárias na Universidade Federal de Lavras (UFLA)

CLAUDINE BOTELHO DE ABREUMédica-veterináriaCRMV-MG nº 13286MSc, doutoranda em Ciências Veterinárias na UFLA

RUTHNEA APARECIDA LÁZARO MUZZIMédica-veterináriaCRMV-MG nº 4671MSc, DSc, PhD, docente da UFLA

LUIZ EDUARDO DUARTE DE OLIVEIRAMédico-veterinárioCRMV-MG nº 13455MSc, doutorando em Ciências Veterinárias na UFLA

LORENA LORRAINE ALVES FURTADOMédica-veterináriaCRMV-MG nº 14278MSc, autônoma

LEONARDO AUGUSTO LOPES MUZZIMédico-veterinárioCRMV-MG nº 4672MSc, DSc, PhD, docente da UFLA

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Suplementocientífico

38 Primeira detecção de DNA de Anaplasma platys e

Ehrlichia canis em Culex spp.

45 Modelo sintético de medula espinhal de cão

para ensino de lesões segmentares

52 Os efeitos da música clássica na

produção de leite de vacas

56 Redução de coroa clínica em dentes caninos

mandibulares com hipercrescimento em suíno da linhagem Yucatan – relato de caso

A SUBMISSÃO DE NOVOS ARTIGOS ESTÁ TEMPORARIAMENTE SUSPENSA. EM BREVE, DIVULGAREMOS, EM NOSSO PORTAL E MÍDIAS SOCIAIS, NOVAS NORMAS PARA APRESENTAÇÃO.

Revista CFMV Brasília DF

Ano XXV nº 82

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PRIMEIRA DETECÇÃO DE DNA DE ANAPLASMA PLATYS E EHRLICHIA CANIS EM CULEX SPP. FIRST DETECTION OF DNA OF ANAPLASMA PLATYS AND EHRLICHIA CANIS IN CULEX SPP.

As erliquioses são causadas por bactérias gram-negativas e podem ocorrer em um grande número de animais, incluindo o ser humano. Nos cães, a Ehrlichia canis e a Anaplasma platys (Ehrlichia platys) causam pancitopenia tropical canina e anaplasmose trombocítica, respectivamente, e têm como vetor o carrapato Rhipicephalus sanguineus, que, durante o repasto sanguíneo, inocula com a saliva as formas infectantes de Rickettsias. O objetivo deste estudo foi avaliar a prevalência de culicídeos naturalmente infectados por hemoparasitos em diferentes áreas da região Noroeste do estado de São Paulo, Brasil, e relatar a primeira detecção de DNA de E. canis e A. platys em Culex spp. Armadilhas luminosas e de gás carbônico foram instaladas para captura dos mosquitos. Os culicídeos foram separados em nível de espécie, formando grupos que, posteriormente, foram triturados em solução fisiológica salina estéril e congelados. Essas amostras foram analisadas por meio da técnica de real time PCR. Dos sete grupos analisados, 100% (7/7) apresentaram amplificação positiva para E. canis e 42,8% (3/7), para A. platys. Não houve amplificação positiva nas amostras para Babesia canis, Rangelia vitalii, Mycoplasma haemocanis e Leishmania infantum. Todos os grupos infectados corresponderam àqueles compostos pelo gênero Culex, ocorrendo entre as espécies Culex quinquefasciatus e Culex pipiens. O número de Aedes aegypti capturado foi inexpressivo quando comparado com Culex sp. e resultou como negativo nos testes. Este estudo demostra o primeiro relato da infecção natural de mosquitos do gênero Culex por A. platys e E. canis, fazendo-se, assim, necessária a realização de mais pesquisas sobre a possibilidade de mosquitos atuarem no ciclo das erliquioses.

Palavras-chave: Anaplasmose. Bactéria gram-negativa. Erliquiose. Pancitopenia tropical canina. Pernilongos.

Ehrlichiosis are diseases caused by gram-negative bacteria and can occur in a large number of animals, including humans. In dogs, the Ehrlichia canis and Anaplasma platys (Ehrlichia platys) can cause the canine tropical pancytopenia and the thrombocytic anaplasmosis, respectively, and have as vector the Rhipicephalus sanguineus which, together with saliva inoculates the Rickettsias. The objective of this study was to evaluate the prevalence of culicidae naturally infected by hemoparasites in different areas of the northwest region of São Paulo state, Brazil and report the first detection of DNA of E. canis and A. platys in Culex spp. Traps of light and carbon dioxide were installed to catch mosquitoes. Culicidae were separated at the species level forming groups that were macerated in sterile physiological saline solution and frozen. These samples were analyzed by means of the Real Time - PCR technique. Of the seven groups analyzed, 100.0% (7/7) presented positive amplification for E. canis and 42.8 (3/7) for A. platys. There was no positive amplification in the samples for Babesia canis, Rangelia vitalii, Mycoplasma haemocanis and Leishmania infantum. All the infected groups corresponded to those composed by the genus Culex, occurring between the species Culex quinquefasciatus and Culex pipiens. The number of Aedes aegypti captured was inexpressive when compared to Culex spp. and was negative in the tests. This study shows the first report of the natural infection of mosquitoes of the genus Culex sp. by A. platys and E. canis, thus making it necessary to implement further studies on the possibility of mosquitoes being able to act in the cycle of the ehrlichiosis.

Keywords: Anaplasmosis. Canine tropical pancytopenia. Erhlichiosis. Gram-negative bacteria. Mosquitoes.

RESUMO

ABSTRACT

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

INTRODUÇÃO

Os carrapatos são vetores de grande número de doenças aos animais e seres humanos. Entre essas enfermidades, se destaca a transmissão de bactérias do gênero Rickettsia (GUEDES et al., 2005; YU et al., 2007), sendo o carrapato Rhipicephalus sanguineus o principal vetor da erliquiose canina (GROVES et al., 1975; SILVA et al., 2010). O potencial zoonótico dessa doença encontra fundamentação em diversas pesqui-sas, em que fica demonstrada a similaridade genética de E. canis detectada em carrapatos, cães e humanos infectados numa mesma área (DORAN et al., 1989; GOLDEN et al., 1989).

Os ixodídeos parasitam grande número de animais, particularmente os mamíferos. Por serem parasitas intra-celulares obrigatórios, as diferentes espécies de Ehrlichia podem infectar monócitos (E. canis, E. risticii, E. sennetsu), granulócitos (E. ewingii, E. equi, E. phagocytophila) e trom-bócitos (Anaplasma platys), denominadas atualmente

como E. platys (DUMLER et al., 2001). Além dessas Rickett-sias, os carrapatos podem atuar como vetores da mico-plasmose (DANTAS-TORRES, 2008), babesiose (SILVA et al., 2014) e rangeliose (SILVEIRA et al., 2014).

Entre as diversas zoonoses de transmissão ve-torial, destaca-se a leishmaniose, doença parasitária transmitida por dípteros hematófagos conhecidos como flebótomos, sendo, no Brasil, a espécie Lut-zomyia longipalpis o principal transmissor da doen-ça entre animais e seres humanos (DANTAS-TORRES, 2008). Semelhantemente aos carrapatos e flebóto-mos, os culicídeos são vetores de diferentes agentes patogênicos, com destaque para a malária, as filario-ses e várias arboviroses, como dengue, Chikungunya, Zika vírus, febre amarela, além de várias encefalites virais (GOUVEIA DE ALMEIDA, 2011).

O objetivo deste estudo foi avaliar a prevalência de culicídeos naturalmente infectados por hemopara-

T Figura 1. Locais de captura de culicídeos no município de Andradina, São Paulo, Brasil (marcadores amarelos) – 2018.

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sitos em diferentes áreas da região Noroeste do esta-do de São Paulo, Brasil, e relatar a primeira detecção de DNA de E. canis e A. platys em Culex spp.

MATERIAL E MÉTODOSLocal do estudo

O critério utilizado para distribuição das armadi-lhas foi baseado na distribuição espacial norte/sul das cidades, incluindo a parte leste do município de An-

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Foram instaladas armadilhas no ambiente interno e externo de duas associações protetoras de animais (Figura 3). No período do experimento, havia na asso-

dradina, onde se encontra abrigado grande número de cães e gatos durante todo o ano, seja por um período transitório, seja permanente. Armadilhas luminosas e de gás carbônico foram instaladas em diferentes loca-lidades das cidades de Andradina (latitude 20°53’38” Sul, longitude 51°23’1” Oeste, 405 m de altitude) e Ilha Solteira (latitude 20°25’52” Sul, longitude 51°20’33” Oeste, 366 m de altitude), estado de São Paulo, Brasil (Figuras 1 e 2).

T Figura 2. Locais de captura de culicídeos no município de Ilha Solteira, São Paulo, Brasil (marcadores amarelos) – 2018.

ciação de Andradina um total de 30 cães e, em Ilha Sol-teira, 45 cães e 27 gatos. Esses animais eram de dife-rentes raças, faixas etárias, incluindo machos e fêmeas.

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

T Figura 3. Armadilhas para captura de culicídeos instaladas na parte in-terna (superior) e externa (inferior) dos abrigos de animais – 2018.

Formação dos grupos e extração do DNA

Os culicídeos capturados foram separados com identificação para tribos e gênero de Culicinae adultos e em nível de espécie, conforme descrito por Consoli e Oliveira (1998) (Figura 4).

Formou-se um total de sete grupos a partir de sua espécie e local de origem, que, posteriormente, foram triturados em solução fisiológica salina estéril, tamisa-dos, aliquotados em tubo plástico Vacuplast® estéril contendo EDTA K3 num volume mínimo de 2 mL, e con-gelados a -20 °C até a extração do DNA genômico, uti-lizando oligonucleotídeos de gênero específico para o gene 16S rRNA de Ehrlichia spp. e oligonucleotídeos Ebr1 (sense) 5’-CCT CTG GCT ATA GGA AAT TG- 3’ e Ebr5 (antisense) 5’ -GGA GTG CTT AAC GCG TTA G- 3’ C com temperatura de anelamento de 53 °C para a reação em cadeia de polimerase (PCR) e amplificação do frag-mento-alvo de 765 pb de E. canis, conforme descrito por Alves et al. (2005).

A PCR para amplificação do fragmento de 556 pb do gene 16S rRNA de A. platys foi realizada utilizan-do primers EPLAT5 (sense) 5’-TTT GTC GTA GCT TGC TAT GAT-3’ (MATHEW et al., 1997) e ERB2 (antisense) 5’ CTC CGG ACT CTA GTC TG-3’) (ENGVALL et al., 1996), com temperatura de anelamento de 72 °C. As amos-tras foram enviadas para laboratórios de referência em diagnóstico e sanidade animal, junto de uma amostra de sangue de cão positivo na citologia para E. canis e outro para A. platys.

Após a divulgação dos resultados para E. canis e A. platys, foi solicitada ao laboratório a inclusão do painel PCR real time multiplex (sondas TaqMan) para os agentes B. canis, R. vitalii, M. haemocanis e L. infantum nas amos-tras de teste.

RESULTADOSDos sete grupos analisados, 100% (7/7) apre-

sentaram amplificação positiva na PCR para E. canis e 42,8% (3/7), para A. platys. Não houve amplificação positiva nas amostras para B. canis, R. vitalii, M. haemo-canis e L. infantum.

Todos os grupos infectados corresponderam àque-les compostos pelo gênero Culex, ocorrendo entre as espécies Culex quinquefasciatus e Culex pipiens (Qua-dro 1). O número de Aedes aegypti (cinco exemplares) capturado foi inexpressivo quando comparado com Culex sp. e resultou como negativo nos testes.

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

T Figura 4. Pool de insetos capturados por meio de armadilha luminosa (esquerda), separação e classificação dos insetos (direita) – 2018.

QUADRO 1. PREVALÊNCIA DE HEMOPARASITOS EM CULICÍDEOS CAPTURADOS NA REGIÃO NOROESTE DO ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL.

Andradina Ilha Solteira

Área 1 Área 2 Área 3 Área 4 Área 5 Área 1 Área 2

A. platys --- --- --- XCq XCq XCq ---

E. canis XCp XCq XCp XCq XCq XCq XCq

B. canis --- --- --- --- --- --- ---

L. infantum --- --- --- --- --- --- ---

M. haemocanis --- --- --- --- --- --- ---

R. vitalii --- --- --- --- --- --- ---

Notas: X = PCR real time positiva. --- = PCR real time negativa. Cq = Culex quinquefasciatus. Cp = Culex pipiens.

DISCUSSÃO

Este é o primeiro relato da infecção natural de culicídeos por Ehrlichia spp. e, frente a estes acha-dos, far-se-á necessária uma abordagem sobre a

avaliação da competência vetorial de culicídeos na transmissão das Rickettsias com base no ciclo bioló-gico desses agentes.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXV nº 8242

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Os mosquitos são vetores de numerosas doenças, incluindo protozoários, helmintos e numerosos vírus, apresentando elevada capacidade de adaptação, pro-liferação e dispersão no meio ambiente (GOUVEIA DE ALMEIDA, 2011). Complementa-se a importância dos mosquitos na epidemiologia das zoonoses com a re-cente descoberta da infecção natural de A. aegypti por Leishmania spp. (COELHO et al., 2017).

Os carrapatos destacam-se na transmissão de doenças aos animais, particularmente a erliquiose (SOUZA et al., 2010; SILVA et al., 2011). Ao realizar o repasto sanguíneo em animais infectados, a Ehrli-chia spp. multiplica-se no interior do carrapato, que passa a transmitir as formas infectantes, inoculando--as com a saliva (SAITO et al., 2008). Entretanto, com exceção dos carrapatos, a transmissão de Rickettsia felis (HORTA et al., 2006) e Rickettsia acari tem as pulgas e os ácaros como vetores, respectivamente (YU; WALKER, 2004).

A competência vetorial de outros ectoparasitos na transmissão da erliquiose foi analisada por Lemos--Monteiro et al. (1932), que avaliaram a infecção de pulgas, piolhos, percevejos e ácaros na transmissão da febre maculosa e nada constataram.

Devido à similaridade genética encontrada en-tre a E. canis obtida de pessoas doentes (PERES et al., 1996) e a E. canis encontrada em cães e carrapatos de uma mesma área, atribui-se a transmissão zoonótica dessa Rickettsia ao R. sanguineus (UNVER et al., 2001), que pode ser encontrado parasitando seres humanos (DANTAS-TORRES et al., 2006). Como diferentes espé-cies de carrapatos podem parasitar os seres humanos, muitas outras espécies de Ehrlichia também podem in-fectá-los (DUMLER et al., 2007).

Neste estudo, demonstra-se também o primeiro relato da infecção natural de culicídeos por A. platys. Embora seja aceito que, na epidemiologia das Rickett-sias, a transmissão entre cães ocorra principalmente pelo carrapato R. sanguineus (INOKUMA, 2000; RAMOS et al., 2014), Almeida et al. (2010, 2012) alertam que o ciclo de desenvolvimento de A. platys no cão ainda não está completamente definido, sugerindo que ele

pode ser semelhante ao de E. canis, podendo infectar, inclusive, a população de gatos domésticos (LIMA et al., 2010), uma vez que a transmissão experimental de A. platys por R. sanguineus como vetor não foi comprova-da (RAMOS et al., 2014).

A transmissão de anaplasmas tem sido objeto de discussão entre os pesquisadores, especialmen-te sobre os meios de transmissão e a importância epidemiológica de possíveis vetores. Em relação à anaplasmose bovina, por exemplo, a infecção por Anaplasma marginale ocorre por meio dos carrapa-tos ixodídeos, predominantemente Boophilus mi-croplus. No entanto, sugere-se a possibilidade de transmissão iatrogênica e transplacentária, além de outros insetos hematófagos como vetores (KESSLER, 2001). Kessler (2001) sugere ainda que a capacida-de de transmissão de A. marginale para insetos he-matófagos deve ser objeto de mais pesquisas, antes de considerá-la vetor de importância epidemiológi-ca, o que está de acordo com este estudo.

Nesta pesquisa, não foi constatada a amplificação de DNA de B. canis, R. vitalii e M. haemocanis nos culicí-deos. Todavia, não se pode afirmar que os pernilongos não serão infectados em outro momento, porque se tra-ta de um trabalho pontual que não avaliou a incidência desses hemoparasitos nos culicídeos. A literatura cien-tífica contempla que a transmissão de hematozoários, como B. canis, R. vitalii e M. haemocanis, ocorre a partir de carrapatos infectados (SILVA et al., 2014) e que, no ciclo das leishmanioses, embora o vetor competente sejam os flebótomos (DANTAS-TORRES, 2008), o DNA desse protozoário tem sido detectado em outros pa-rasitos artrópodes, como mutucas (COELHO; BRESCIA-NI, 2013), carrapatos, pulgas (COLOMBO et al., 2011) e mosquitos (COELHO et al., 2017).

CONCLUSÃOEste estudo demostra o primeiro relato da infecção

natural de mosquitos do gênero Culex sp. por A. platys e E. canis, fazendo-se, assim, necessária a implementa-ção de mais estudos sobre a possibilidade de os mos-quitos atuarem no ciclo destes.

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REFERÊNCIAS

WILLIAN MARINHO DOURADO COELHOMédico-veterinárioCRMV-SP nº 22512Departamento de Patologia Animal da Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina (FCAA)[email protected]

FABIANO ANTONIO CADIOLIMédico-veterinárioCRMV-SP nº 1081Departamento de Clínica, Cirurgia e Reprodução Animal da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus Araçatuba (SP)

LUCIANO ALVES DO ANJOSBiólogoCRBIO nº 451688-6Departamento de Biologia e Zootecnia da Unesp, campus Ilha Solteira (SP)

JULIANA DE CARVALHO APOLINÁRIO COÊLHOFisioterapeutaCREFITO nº 71837-fEstudante de Enfermagem na FCAA

AZIZ ABDELNOURMédico-veterinárioCRMV-SP nº 44075

ANTÔNIO GILBERTO GASPARELLI JR.Médico-veterinárioCRMV-SP nº 21963

ROBSON DOURADOAcadêmico de Medicina Veterinária na FCAA

KATIA DENISE SARAIVA BRESCIANIMédica-veterináriaCRMV-SP nº 7161Departamento de Apoio, Produção e Saúde Animal da Unesp, campus Araçatuba (SP)

AUTORES

Revista CFMV Brasília DF Ano XXV nº 8244

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MODELO SINTÉTICO DE MEDULA ESPINHAL DE CÃO PARA ENSINO DE LESÕES SEGMENTARES SYNTHETIC MODEL OF CANINE SPINAL CORD FOR THE TEACHING OF SEGMENTAL LESIONS

Métodos alternativos de ensino são desenvolvidos para diminuir ou mesmo excluir o uso de animais na educação. Na Medicina Veterinária, muitos confrontos éticos e morais ocorrem diante do uso de animais, que implica limitações na qualidade do conteúdo fornecido ao estudante pela falta de métodos que substituam ou diminuam o número ou o sofrimento dos animais. O estudo prático da neurologia veterinária é um dos grandes desafios no ensino, devido à dificuldade dos estudantes de interpretar o exame clínico e correlacioná-lo com a neuroanatomia. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi desenvolver um modelo sintético que simulasse lesões na medula espinhal de cães e as alterações observadas nos principais reflexos testados na rotina clínica. Foram projetados quatro esquemas de lesões, um para cada segmento da medula e alterações encontradas nos principais testes neurológicos nos segmentos medulares craniais e caudais a cada lesão. A medula foi representada com luzes de LED de diferentes cores, que acendiam e apagavam de acordo com a propagação dos impulsos nervosos e reflexos medulares que se pretendia demonstrar. O modelo, em associação com dois cães vivos saudáveis, foi aplicado na aula de Semiologia do Sistema Nervoso. A utilidade do modelo para o aprendizado dos estudantes foi avaliada por meio de um quiz sobre reflexos medulares, respondido após a aula prática, resultando em 77,5% de acertos. Também foi aplicado um questionário aos estudantes sobre a eficácia do modelo proposto como forma de ensino. Os discentes aprovaram a aula prática associando modelo sintético com animal vivo.

Palavras-chave: Cão. Neurologia veterinária. Métodos alternativos. Trauma medular.

The use of alternative methods for teaching purposes can reduce or even exclude the use of animals in education. In veterinary medicine, many ethical and moral confrontations arise from the use of animals, which implies limitations to the quality of the content provided to the student due to the lack of methods that replace or reduce the number of animals or their suffering. Veterinary neurology practice is challenging in terms of teaching due to the students’ difficulty in interpreting clinical examination and correlating it to the neuroanatomy. Thus, the aim of this study was to develop a synthetic model of the canine spinal cord that simulates spinal cord injuries in dogs and the alterations observed in major reflexes tested in the clinical routine. Four lesion schemes were designed. Each scheme represented a segment of the spinal cord and its related cranial and caudal neurological alterations found in the reflex tests. The spinal cord was represented with LED lights of different colors, which turned on and off according to the propagation of the nerve impulses and spinal reflexes that it was intended to show. In a practical class of veterinary semiology (physical animal examination), the synthetic spinal cord model and two healthy live dogs were used. The model’s usefulness to the students’ knowledge was evaluated through a quiz about spinal cord reflexes, resulting in 77,5% correct answers. The students also answered a questionnaire about the effectiveness of the spinal cord model in learning. They approved practical class’s use of a synthetic model in conjunction with a living animal.

Keywords: Alternative methods. Dog. Spinal cord trauma. Veterinary neurology.

RESUMO

ABSTRACT

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Revista CFMV Brasília DF Ano XXV nº 82 45

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

INTRODUÇÃOAs síndromes medulares são causadas por lesão em

algum segmento da medula espinhal. Podem ocorrer por traumas, tumores, doenças degenerativas na colu-na vertebral ou na medula espinhal em si (ESCALHÃO, 2010). A localização da lesão, normalmente, é possível realizando somente um bom exame físico do paciente (MARQUES JR. et al., 2013). Dessa forma, o conhecimen-to da anatomia e do funcionamento da medula espinhal, incluindo reflexos medulares, é de extrema importância para a formação de um bom profissional.

Nas aulas de neurologia da disciplina Semiologia Geral Veterinária de nossa universidade, tradicional-mente são utilizados cães saudáveis (pertencentes aos próprios estudantes) para demonstração prática dos reflexos medulares, porém a demonstração em casos de lesões nos segmentos medulares não é realizada em aula prática. Por questões éticas, a única possibili-dade para que os alunos acompanhem o exame físico de um animal com lesão medular seria se assistissem a uma consulta de rotina de um paciente naturalmen-te lesionado. Mesmo assim, por questões logísticas de coincidir a consulta com o horário da aula, conseguir diferentes pacientes com lesões em distintos segmen-tos medulares e incluir uma grande quantidade de estudantes no ambulatório da consulta, esse acompa-nhamento, na prática, se torna inviável.

Métodos alternativos ao uso de animais são utiliza-dos em diversos centros de ensino (CERQUEIRA, 2008), mas, na literatura pesquisada, não foram encontrados modelos de lesões medulares para auxiliar no ensino da neurologia veterinária. Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi desenvolver um modelo de coluna verte-bral com medula espinhal de cão para auxiliar no estudo anatômico e demonstrativo dos reflexos medulares em cão saudável e nas síndromes neurológicas cervical, cer-vicotorácica, toracolombar e lombossacra. Objetivou-se, ainda, avaliar a assimilação do conteúdo da aula prática pelos estudantes, bem como sua aceitação do modelo.

MATERIAL E MÉTODOSPara demonstração das diferentes lesões medula-

res e suas implicações nos reflexos flexores de mem-bros torácicos e pélvicos e reflexo patelar, inicialmente

foram desenhados cinco esquemas, sendo um repre-sentando a medula sem lesões e quatro, lesões em dis-tintos segmentos, tendo como base a divisão neuroa-natômica dela. As lesões representadas foram: cervical, cervicotorácica, toracolombar e lombossacra.

Os esquemas foram planejados para ser repro-duzidos, posteriormente, em um modelo com luzes LED que acendessem, apagassem ou alterassem sua intensidade de acordo com a representação de cada lesão (os autores podem disponibilizar o relatório da montagem do circuito para os interessados). Cada um representava o paciente hígido ou com lesão em um segmento medular, para demonstrar de forma faci-litada quais reflexos e regiões estariam responsivos (aceso) ou não responsivos (apagado) e as diferentes intensidades do reflexo patelar (normal, aumentado ou diminuído) (Figuras 1A, 2A, 3A, 4A e 5A).

O modelo foi confeccionado utilizando uma co-luna vertebral sintética de cão, que serviu como base para inserção dos fios e luzes. Um único modelo foi suficiente para acoplar os sistemas de luzes dos cinco esquemas propostos. As vértebras foram marcadas de forma a facilitar sua identificação com o local corres-pondente da lesão. As Figuras 1B, 2B, 3B, 4B e 5B mos-tram o modelo em funcionamento.

T Figura 1. A - Esquema de medula espinhal de cão sem lesões. As setas com círculos verdes representam os neurônios sensitivos (aferentes) dos reflexos flexores do membro torácico e do membro pélvico e as setas com círculos amarelos, os neurônios motores (eferentes). A seta com círculos vermelhos representa o neurônio sensitivo (aferente) do reflexo patelar e a seta com círculos azuis, o neurônio motor (eferente). Por se tratar de um animal sem alterações, todas as luzes estão acesas e com intensidade normal. B - Representação no modelo de um animal saudá-vel, com os reflexos flexores e patelar preservados.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXV nº 8246

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

T Figura 2. A - Esquema de uma lesão em segmento cervical de medula espi-nhal de cão e repercussão nos reflexos flexores e patelar. O X indica o local da lesão e a representação gráfica mostra que as luzes na medula após a lesão não se acendem mais. As setas com círculos verdes representam os neurônios sensitivos (aferentes) dos reflexos flexores do membro toráci-co e do membro pélvico e as setas com círculos amarelos, os neurônios motores (eferentes). A seta com círculos vermelhos representa o neurônio sensitivo (aferente) do reflexo patelar e a seta com círculos azuis, o neurô-nio motor (eferente). Nessa lesão, o reflexo patelar se mostra aumentado; suas luzes devem, então, ser representadas com maior intensidade. B - Re-presentação da lesão cervical no modelo. Observar a ausência de luzes na medula caudal à lesão, porém com reflexo flexor preservado. As luzes azuis de maior intensidade representam o reflexo patelar aumentado.

T Figura 4. Esquema de uma lesão em segmento toracolombar de medula espi-nhal de cão e repercussão nos reflexos flexores e patelar. O X indica o local da lesão e a representação gráfica mostra que as luzes na medula após a lesão não se acendem mais. As setas com círculos verdes representam os neurônios sensitivos (aferentes) dos reflexos flexores do membro torácico e do membro pélvico e as setas com círculos amarelos, os neurônios motores (eferentes). A seta com círculos vermelhos representa o neurônio sensitivo (aferente) do reflexo patelar e a seta com círculos azuis, o neurônio motor (eferente). Nessa lesão, o reflexo patelar se mostra aumentado; suas luzes devem, então, ser representadas com maior intensidade. B - Representação da lesão toracolom-bar no modelo. Observar a ausência de luzes na medula caudal à lesão, com reflexo flexor de membros torácicos e pélvicos preservado. As luzes azuis de maior intensidade representam o reflexo patelar aumentado.

T Figura 5. A - Esquema de uma lesão no segmento lombossacro (intumes-cência lombossacra) de medula espinhal de cão e repercussão nos reflexos flexores e patelar. O X indica o local da lesão e a representação gráfica mos-tra que as luzes na medula após a lesão não se acendem mais. As setas com círculos verdes representam os neurônios sensitivos (aferentes) dos reflexos flexores do membro torácico e do membro pélvico e as setas com círculos amarelos, os neurônios motores (eferentes). A seta com círculos vermelhos representa o neurônio sensitivo (aferente) do reflexo patelar e a seta com círculos azuis, o neurônio motor (eferente). Nessa lesão, o reflexo patelar se mostra diminuído; suas luzes devem, então, ser representadas com menor intensidade. Há também alteração na resposta do reflexo flexor do membro pélvico e suas luzes não se acendem, portanto as luzes do neurônio motor não se acendem. B - Representação da lesão da intumescência lombossacra no modelo. Observar a ausência de luzes na medula caudal à lesão, com reflexo flexor de membros torácicos preservado e de membros pélvicos au-sente (neurônio motor apagado e neurônio sensitivo aceso). As luzes azuis de menor intensidade representam o reflexo patelar diminuído.

T Figura 3. A - Esquema de uma lesão em segmento cervicotorácico (intu-mescência cervicotorácica) de medula espinhal de cão e repercussão nos reflexos flexores e patelar. O X indica o local da lesão e a representação gráfica mostra que as luzes na medula após a lesão não se acendem mais. As setas com círculos verdes representam os neurônios sensitivos (aferen-tes) dos reflexos flexores do membro torácico e do membro pélvico e as setas com círculos amarelos, os neurônios motores (eferentes). A seta com círculos vermelhos representa o neurônio sensitivo (aferente) do reflexo patelar e a seta com círculos azuis, o neurônio motor (eferente). Nessa le-são, o reflexo patelar se mostra aumentado; suas luzes devem, então, ser representadas com maior intensidade. Há também alteração na resposta do reflexo flexor do membro torácico, portanto as luzes do neurônio motor não se acendem. B - Representação da lesão cervicotorácica no modelo. Observar a ausência de luzes na medula caudal à lesão, com reflexo flexor de membros torácicos ausente (neurônio motor apagado e neurônio sen-sitivo aceso) e de membros pélvicos preservado. As luzes azuis de maior intensidade representam o reflexo patelar aumentado.

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

O modelo foi utilizado em uma aula da disciplina Semiologia Geral Veterinária, correspondente ao se-gundo ano do curso de Medicina Veterinária. Primei-ramente, foi ministrada aula teórica de semiologia do sistema nervoso, cujo conteúdo contemplava, entre outros tópicos, as síndromes medulares. Após a aula teórica, foi ministrada a aula prática, com a utilização de dois cães saudáveis e do modelo. Os cães foram empregados para demonstração do exame neurológi-co, desde os testes de nervos cranianos até os testes proprioceptivos, reações posturais e reflexos flexores e patelares normais. O uso deles na aula foi aprovado pela CEUA-SCA, sob o protocolo nº 023/2013. O mo-delo foi utilizado para demonstração das alterações decorrentes de lesões medulares.

No fim da aula prática, os estudantes participaram de um quiz com oito perguntas para testar seu conheci-mento referente ao conteúdo dado. O teste foi monta-do por meio do programa on-line gratuito Kahoot, sen-do o link https://create.kahoot.it para a formulação das questões e o link https://kahoot.it para a participação dos estudantes.

Após o quiz, foi solicitado aos estudantes que respondessem a um questionário considerando sua percepção ou opinião acerca da aula teórica, prática, utilidade do modelo para seu aprendizado e uso dos cães na aula prática. O questionário foi composto de 13 questões, sendo seis em escala Likert, três de múltipla escolha e quatro abertas. Foi aplicado em papel impresso e respondido de forma anônima.

A análise dos dados foi realizada por estatística descritiva, considerando as respostas obtidas no quiz e no questionário.

RESULTADOS Participaram do estudo duas turmas da disciplina

Semiologia Geral Veterinária, em um total de 40 estu-dantes. Durante a aula prática, o modelo foi colocado em funcionamento mais de uma vez para que as dúvi-das fossem esclarecidas. O quiz teve 77,5% de acerto total e as porcentagens para cada questão estão des-critas na Tabela 1. O método teve aprovação dos es-tudantes e suas opiniões estão descritas na Tabela 2.

TABELA 1. QUESTÕES E ALTERNATIVAS DO QUIZ APLICADO NA AULA DE NEUROLOGIA VETERINÁRIA E PORCENTAGEM DE ACERTOS DOS ESTUDANTES PARA CADA QUESTÃO. AS RESPOSTAS CORRETAS ESTÃO MARCADAS COM ASTERISCO.

Questão Alternativas Acertos (%)

Lesões em intumescências normalmente causam perda dos reflexos flexores correspondentes?

Sim*Não

94,1

Com o reflexo patelar diminuído, onde se localiza a lesão?

Medula cervicalMedula cervicotorácicaMedula toracolombarMedula lombossacra*

86

Diante de uma lesão em intumescência cervicotorácica, espera-se notar diminuição de reflexo patelar?

SimNão*

84,5

Em uma lesão entre L6-L7, quais sinais espera-se notar no paciente?

Aumento de reflexo patelar e presença de reflexos flexores em membros pélvicosDiminuição de reflexo patelar e ausência de reflexos flexores de membros pélvicos*

82,2

Continua

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Questão Alternativas Acertos (%)

Em uma lesão toracolombar, o reflexo flexor do membro torácico estará:

AumentadoDiminuídoAusenteNormal*

76,5

Em uma lesão em C6, quais sinais espera-se notar no paciente?

Presença de reflexos flexores em membros pélvicos e torácicos e aumento de reflexo patelarAusência de reflexo flexor de membros torácicos com presença de reflexo flexor em membros pélvicos e aumento de reflexo patelar*

73,5

Se o animal tem uma lesão cervicotorácica, o reflexo flexor nos membros torácicos estará:

PresenteAusente*

54,3

Em um paciente com ausência de reflexos flexores em membros torácicos, espera-se uma lesão em região cervical?

SimNão*

48,1

TABELA 2. OPINIÃO DOS ESTUDANTES SOBRE AULA PRÁTICA DE SEMIOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO COM ASSOCIAÇÃO DE MODELO SINTÉTICO E CÃO VIVO. QUESTIONÁRIO APLICADO NA AULA DE SEMIOLOGIA GERAL VETERINÁRIA. DF – DISCORDO FORTEMENTE; D – DISCORDO; N – NEUTRO; C – CONCORDO; CF – CONCORDO FORTEMENTE (ESCALA LIKERT).

Questão DF D N C CF

Você compreendeu somente com a aula teórica os reflexos medulares e o que ocorre com a resposta do neurônio motor superior e inferior nas lesões medulares.

2(5%)

21(52,5%)

9(22,5%)

8(20%)

0(0%)

A aula prática foi essencial para a compreensão dos reflexos medulares e o que ocorre com a resposta do neurônio motor superior e inferior nas lesões medulares.

0(0%)

0(0%)

7(17,5%)

9(22,5%)

24(60%)

A utilização do modelo artificial contribuiu para seu aprendizado.

0(0%)

0(0%)

0(0%)

8(20%)

32(80%)

Após a aplicação do modelo, como você classifica seu nível de compreensão.

2(5%)

0(0%)

8(20%)

18(45%)

12(30%)

O modelo é útil e deveria continuar nas próximas turmas da disciplina Semiologia Veterinária.

0(0%)

0(0%)

0(0%)

3(7,5%)

37(92,5%)

Você acha importante a confecção de modelos, como o utilizado, para o aprendizado de neurologia.

0(0%)

0(0%)

0(0%)

5(12,5%)

35(87,5%)

Continuação

Revista CFMV Brasília DF Ano XXV nº 82 49

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Considerando as disciplinas já cursadas em Medi-cina Veterinária até o segundo ano da graduação, foi perguntado aos estudantes que nível de dificuldade atribuiriam ao estudo da neurologia veterinária: 18 (45%) consideraram o nível de dificuldade do assunto neutro; 16 (40%), difícil; quatro (10%), muito difícil; e dois (5%), fácil. Quanto à importância da neurologia na vida profissional, 29 (72,5%) responderam ser extre-mamente importante e 11 (27,5%), muito importante.

Os discentes foram também questionados sobre o for-mato da aula, sendo que 100% consideraram que, além da aula teórica, a associação das duas técnicas (modelo e animal vivo) seria o melhor formato para o aprendizado. Quando perguntados sobre a utilidade do modelo e se ele deveria continuar nas próximas turmas da disciplina, todos responderam positivamente, sendo que 37 (92,5%) con-cordaram fortemente e três (7,5%) concordaram.

Sobre os pontos fortes e fracos do modelo, os estudantes citaram como pontos fortes: ser bastante didático; facilidade na visualização dos segmentos medulares; e auxílio na compreensão do assunto abor-dado. Como pontos fracos, relataram: cores das luzes de LED semelhantes para mais de um segmento me-dular, sugerindo a melhoria de quatro cores distintas na medula; e falta de movimentação dos membros em resposta aos reflexos flexores.

Também foi perguntado aos estudantes se eles con-sideravam a aula prática prejudicial aos animais, sendo apontado o cansaço e estresse deles. Outra questão aberta se referia à sugestão de tópicos para a confecção de novos modelos para aulas de neurologia, cujas res-postas foram: regiões do cérebro, coleta de liquor, teste de propriocepção e teste de nervos cranianos.

O questionário tinha, no fim, um espaço para que os acadêmicos fizessem comentários e sugestões so-bre a aula, sendo transcritas aqui algumas das respos-tas: “A aula foi muito boa para aplicar os conhecimen-tos de neuroanatomia, fisiologia e semiologia. Muito importante saber reconhecer sinais e ser capaz de tes-tar animais com suspeita de lesão”; “Foi muito didática e ajudou muito a compreender esse assunto, que não é simples”; “Neurologia é um dos assuntos de que tenho menos compreensão, mas com o uso do modelo pude

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

entender a relação entre neurônios motores superiores e inferiores”; “Foi muito boa e bem didática, permitiu rever conceitos”; “Manter o modelo ajuda muito, juntamente do teste no celular [se referindo ao quiz respondido on--line]”; “Foi muito boa a associação da parte teórica e prática em sequência”.

DISCUSSÃONa clínica de cães e gatos, a lesão medular é a prin-

cipal causa de deficits neurológicos na deambulação dos pacientes. O prognóstico é feito com base na aná-lise do exame clínico e nas informações obtidas pelo diagnóstico por imagem (WEBB et al., 2010). Essas in-formações corroboram a grande relevância dessa abor-dagem prática, visando à realização correta do exame neurológico e sua interpretação. Saber a localização da lesão na medula é de extrema importância para a requisição de exames adequados para cada síndro-me medular e a determinação correta do tratamento. O modelo proposto auxiliou na interpretação das al-terações referentes aos reflexos medulares de acordo com o segmento lesado, como verificado pelo alto ín-dice de acertos no quiz, levando a um aprendizado de maior fixação pelos estudantes. Durante sua aplicação, foi possível observar grande interesse e concentração dos estudantes na tentativa de acertar as questões. No fim da aula, vários deles elogiaram e deram opiniões positivas quanto à realização do teste. Segundo sua opinião, o uso do modelo proporcionou um aumento no nível de compreensão da matéria.

A utilização dos recursos didáticos diminui a tensão dos estudantes durante o treinamento, como também pos-sibilita as repetições necessárias, levando a um aprendiza-do mais eficaz e menos estressante (MAGALHÃES; ORTÊN-CIO FILHO, 2006). Neste estudo, isso pôde ser observado pela reação dos estudantes, que se mostraram focados e interessados no assunto abordado durante toda a aula prática, comprovando que a utilização de métodos alter-nativos cumpre seu objetivo de auxiliar no aprendizado e deixar a aula mais interativa e interessante.

É possível a substituição de animais nas aulas práticas, mantendo a qualidade de ensino, evitando o sofrimento dos animais e induzindo valores éticos aos

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

estudantes (DINIZ et al., 2006). Os autores deste tra-balho estão de acordo com a substituição, no caso do uso prejudicial de animais. No entanto, na aula de se-miologia do sistema nervoso, os cães foram utilizados de forma não prejudicial, pois não foram feitas inter-venções que causassem dor ou sofrimento. Supõe-se que a forma respeitosa com que os cães foram utiliza-dos repercutiu de forma positiva nos estudantes, pois, quando perguntados sobre sua preferência quanto ao uso de animais e/ou modelo na aula desse tema, a opi-nião foi unânime, escolhendo a opção de associação dos dois recursos didáticos, animal e modelo sintético, como melhor forma de aprendizado.

Uma limitação deste projeto foi a quantidade de alunos (n) que participaram da aula, por se tratar de turmas pequenas, para que testes estatísticos pudes-sem ser aplicados. Foram pensadas alternativas, como aplicação do quiz antes e depois da aula, porém o viés referente ao efeito do aprendizado quando se apre-senta o quiz duas vezes como avaliação de pós-teste teria que ser considerado, pois, na segunda vez, se es-pera que o resultado seja superior, como verificado em

um estudo utilizando um simulador para ensinar fisio-logia do choque (CENDAN; JOHNSON, 2011).

Todos os estudantes concordaram que o modelo deveria continuar sendo utilizado nas próximas turmas da disciplina, o que leva a concluir que o método foi útil no auxílio do entendimento do assunto e que os alu-nos gostaram da experiência. Entre os pontos fracos do modelo apontados pelos discentes, alguns podem ser considerados para modificação, como colocar os LEDs de cada segmento medular de uma cor, mas outros são mais complexos, como, por exemplo, os membros se movimentarem ou não em resposta ao teste, podendo ser uma proposta para modelos futuros.

CONCLUSÃOApesar do número pequeno de participantes neste

estudo, foi possível avaliar a eficácia do modelo apre-sentado e a opinião dos estudantes com relação à sua utilização nas aulas. Eles consideraram o modelo útil para o entendimento das lesões medulares e sugeri-ram que continue sendo empregado nas próximas tur-mas da disciplina Semiologia Geral Veterinária.

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REFERÊNCIAS

JULIANA IKEDA ISHIKURAMédica-veterináriaCRMV-SP nº [email protected]

CAROLINA TROCHMANN CORDEIROMédica-veterináriaCRMV-PR nº 10462Mestra e doutoranda em Ciências Veterinárias na Universidade Federal do Paraná (UFPR)

MATHEUS BARBOSA GOMES CRUZMédico-veterinárioCRMV-PR nº 11124Doutorando em Ciências Veterinárias na UFPRProfessor adjunto da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP)

SIMONE TOSTES DE OLIVEIRA STEDILEMédica-veterináriaCRMV-PR nº 10626Doutora em Ciências Veterinárias e professora associada da UFPR

AUTORES

Revista CFMV Brasília DF Ano XXV nº 82 51

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OS EFEITOS DA MÚSICA CLÁSSICA NA PRODUÇÃO DE LEITE DE VACAS CLASSIC MUSIC EFFECTS ON THE DAIRY CATTLE MILK PRODUCTION

Atualmente, para atender à crescente demanda da população, a produção de produtos de origem animal se tornou um desafio no setor produtivo quando se refere à quantidade e qualidade. No campo da bovinocultura leiteira, os produtores buscam constantemente uma forma de aumentar a produtividade sem que ocorra aumento no custo de produção. A musicoterapia é uma forma de enriquecimento ambiental não invasiva e de baixo custo que pode ser usada para aumentar a produtividade animal em vacas leiteiras. O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da música clássica na produção de leite de vacas. O experimento foi realizado com 12 vacas em lactação, num período de 48 dias. A música foi reproduzida em sequência aleatória, uma hora antes da ordenha, com as vacas no sistema free stall e sala de espera, e durante todo o período da ordenha (aproximadamente duas horas). Os parâmetros observados foram a quantidade total de leite produzida e a quantidade de leite produzida por vaca. Os resultados mostraram um aumento significativo na produção de leite durante o período em que as vacas foram ordenhadas ao som de música clássica. Conclui-se que a musicoterapia afetou positivamente a produção de leite dos animais analisados durante o experimento, sugerindo que a estimulação auditiva pode ser usada para aumentar sua produtividade..

Palavras-chave: Musicoterapia. Gado de leite. Bem-estar. Ordenha.

Currently, to attend the growing demand of the population, the production of the products of animal origin has become a challenge in the productive sector when it comes to quantity and quality. In the field of dairy cattle, farmers are constantly seeking a way to increase productivity without an increase in the cost of production. Music therapy is a low-cost, non-invasive form of environmental enrichment that can be used to increase the efficiency of dairy cows. The objective of this study was to evaluate the effect of classical music on the dairy cattle milk production. The experiment was accomplished with 12 lactating cows in a period of 48 days. The music was played in random order, one hour before milking, with cows in the free stall and waiting room, and throughout the milking period (approximately two hours). The parameters observed were the total amount of milk production and the amount of milk per cow. The results showed a significant increase in the milk production during period with classical music. In conclusion, music therapy positively affects dairy cattle milk production analyzed during the experiment and therefore, auditory stimulation can be used to increase animal productivity.

Keywords: Music therapy. Dairy cattle. Welfare. Milking.

RESUMO

ABSTRACT

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

INTRODUÇÃO

Atualmente, para atender à crescente demanda da população, a produção de produtos de origem animal, em quantidade e qualidade, se tornou um desafio no se-tor produtivo (PAZ, 2012; SILVA et al., 2014), o qual pode

ser resolvido pela seleção de raças mais produtivas, seleção de diferentes sistemas de produção, melhoria nutricional ou métodos de enriquecimento ambiental, em que muitas vezes os produtores visam apenas ao

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

aumento da produtividade, desprezando a preocupação com o bem-estar dos animais (PAZ, 2012; BATISTA et al., 2014; SILVA et al., 2014). Quando se fala em bem-estar de animais de produção, o principal fator abordado é o econômico, pois o animal que é criado em baixas con-dições de bem-estar tem uma produtividade menor e é mais suscetível a enfermidades, devido à diminuição da imunidade (PAZ, 2012; SILVA et al., 2014).

No campo da bovinocultura leiteira, os produto-res buscam constantemente uma forma de aumentar a produtividade sem que ocorra um aumento no custo de produção (PAZ, 2012). A musicoterapia é um recur-so opcional usado com finalidade terapêutica e tem se mostrado um enriquecimento ambiental de sucesso em seres humanos. Estudos mostram que a reprodu-ção de música, principalmente clássica, pode reduzir a dor, depressão, estresse e ansiedade (INFANT; SANTES, 2008; BRÉSCIA, 2009; MARQUES et al., 2013; JAYAMA-LA et al., 2015). Além disso, a música pode melhorar a coordenação motora, a respiração e a dicção, aumentar a produção de leite em mulheres que estão amamen-tando, aumentar o bem-estar, ajudar em problemas emocionais, além de causar alterações fisiológicas, como diminuição da frequência cardíaca e respiratória e redução do cortisol, gerando relaxamento, confor-to e diminuição do estresse (INFANT; SANTES, 2008; BRÉSCIA, 2009; MARQUES et al., 2013; JAYAMALA et al., 2015; CALAMITA et al., 2016). Segundo Kudryavtzev (1962), as vacas têm a audição bem desenvolvida, por-tanto a musicoterapia pode ser uma forma eficiente de enriquecimento ambiental não invasiva e de baixo custo, que pode ser usada para aumentar a produtivi-dade animal em vacas leiteiras (UETAKE, 1997; KOGAN et al., 2012; PAZ, 2012; BATISTA et al., 2014).

O reconhecimento de que a música pode ter efeito sobre os seres humanos tem gerado interesse em inves-tigar seu efeito sobre outras espécies (BRÉSCIA, 2009; PAZ, 2012). Um número limitado de estudos explorou os efeitos da música sobre animais não humanos (BRÉSCIA, 2009; KOGAN et al., 2012; PAZ, 2012; KENISON, 2016). Por exemplo, a música clássica tem sido utilizada para diminuir o comportamento estereotipado de elefantes e gorilas (WELLS; IRWIN, 2008; ROBBINS; MARGULIS,

2014); diminuir a vocalização e tremores corporais e au-mentar o sono de cães alojados em canis (KOGAN et al., 2012); promover o bem-estar e o crescimento acelera-do de carpas (PAPOUTSOGLOU et al., 2007); induzir uma melhor aprendizagem em ratos, fazendo com que eles consigam passar por situações de desafio e completem o labirinto mais rápido e com menos erros (RAUSCHER et al., 1998); além de diminuir o estresse e aumentar a produção de leite em vacas (UETAKE, 1997; MCCOWAN et al., 2002; BATISTA et al., 2014; KENISON, 2016).

Este estudo teve por finalidade avaliar se a musi-coterapia é capaz de interferir positivamente na pro-dução de leite das vacas.

MATERIAL E MÉTODOSO experimento foi realizado com 12 vacas mestiças

Holandês x Jersey, apresentando peso médio de 550 kg e entre a segunda e a terceira semana de lactação. O estudo ocorreu no Clube de Campo Pró-Vida, em Ara-çoiaba da Serra, São Paulo, onde o sistema de criação é semi-intensivo e as vacas ficam parte de seu tempo em pastagens de braquiária e parte no sistema free stall, que é constituído por baias individuais nas quais os animais entram e saem espontaneamente para repousar sobre um piso de borracha. O sistema free stall é localizado ao lado da sala de espera e sala de ordenha. A ordenha é mecânica e a equipe de ordenhadores e manejadores é composta por três funcionários fixos da propriedade. Os animais foram alimentados durante todo o experimen-to com ração produzida no local, contendo milho (287 kg), farelo de algodão 38% (180 kg), guabi lactage gold (17,5 kg), calcário calcítico (5 kg), sulfato de amônia (1,5 kg) e ureia (9,0 kg), sendo oferecidos 5 kg da mistura duas vezes ao dia, de manhã e à tarde, após a ordenha. Além disso, foi oferecida silagem de milho duas vezes ao dia durante o período de estudo, também após as or-denhas. Cochos com água foram disponibilizados para os animais ad libitum.

O experimento foi aprovado pelo Comitê de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Universidade de Soroca-ba (Uniso), sob o protocolo nº 138/2018.

Foram feitas duas ordenhas ao dia: às 07h00 e às 15h00. Antes do início do experimento, realizou-se um

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

período de adaptação à presença do pesquisador, de 20 dias, sem reprodução de música aos animais. Com o início do experimento, foi implementado um período de controle de 14 dias, em que todas as vacas selecio-nadas para o estudo foram avaliadas sem a reprodução de música. Logo após, houve um período de 14 dias em que todas as vacas foram avaliadas com a reprodução de música clássica (Beethoven, Mozart, Schubert, entre outros). Para reproduzir a música, utilizou-se uma caixa de som (JBL®) posicionada 3 m acima da máquina de ordenha. A música foi reproduzida em sequência aleató-ria, uma hora antes da ordenha, com as vacas no sistema free stall e sala de espera, e durante todo o período da ordenha (aproximadamente duas horas).

Durante o período de experimentação, foram coleta-dos os seguintes dados: quantidade de leite total produ-zida por dia e quantidade de leite produzida por ordenha por cada animal. Para análise estatística dos dados, foi realizado o teste de comparação de médias T de Student, para um nível de significância de 5%, em que foram cal-culadas as médias da quantidade total de leite de todas as ordenhas, tanto do período da manhã quanto do pe-ríodo da tarde. A análise estatística foi realizada mediante comparação entre: produção total de leite, sem distinção de período, apenas comparando as fases com e sem mú-sica; produção de leite de cada animal submetido ou não à reprodução de música durante os períodos da manhã e da tarde; e produção total de leite nas fases com e sem música, nos períodos da manhã e da tarde.

RESULTADOS E DISCUSSÃOA produção total aumentou significativamente du-

rante o período com música (m = 8,2 ± 2,8 L/vaca/dia, p < 0,05) quando comparado com o período sem música (m = 7,5 ± 3,2 L/vaca/dia, p < 0,05). Analisando a produtivi-dade diária, houve tendência a aumentar a quantidade de leite obtida com a música ao longo do estudo, sendo os últimos dias os de maior diferença entre as coletas com e sem música. O aumento total de produção obtido durante o período foi de 9%, resultando numa renda adicional de R$ 300,00, com base no preço médio de R$ 1,35/L com a comercialização do leite. O efeito que a musicoterapia teve sobre os animais estudados em

relação ao número de ordenhas e à produção total de leite está indicado no Gráfico 1. Os resultados obtidos estão de acordo com os dados observados por Kenison (2016), que, ao estudar a produção de leite em vacas submetidas à musicoterapia, obteve aumento linear na produção de leite total durante o período com música.

230

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Música

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7 8 9 10 11 12 13 14

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202 201204

212218

180 SEM

GRÁFICO 1. PRODUÇÃO TOTAL DIÁRIA DE LEITE NOS PERÍODOS COM E SEM MÚSICA.

GRÁFICO 2. QUANTIDADE TOTAL DE LEITE PRODUZIDA NO PERÍODO DA MANHÃ E DA TARDE NOS MOMENTOS COM E SEM MÚSICA.

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COM

Música

Dia

186 187

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2000

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1000

500

0

Litros de leite

Período

1794 1735

*975813

Manhã Tarde

Nota: * p < 0,05.

No período da manhã, no qual todas as vacas se mostraram mais produtivas, a diferença na produção de leite entre a fase com e sem música não foi signi-ficativa (p > 0,05). Já no período da tarde, a diferença entre as fases com e sem música foi significativa (p < 0,05). Pode-se observar que a diferença conseguida na quantidade total de leite com e sem música ocorreu principalmente no período da tarde (Gráfico 2).

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Segundo observações de McCowan et al. (2002), a reprodução de vocalizações de bezerros durante a ordenha aumentou a produção de leite das vacas lei-teiras. Mesmo com a adoção da reprodução de música clássica, em vez da vocalização de bezerros, neste es-tudo, foi possível observar um aumento significativo da produção total de leite. Dessa forma, pode-se infe-rir que tanto a reprodução de música clássica quanto a reprodução de vocalizações de bezerros podem ser ferramentas utilizadas para obter um aumento na pro-dução de leite em vacas leiteiras.

No estudo realizado por Jayamala (2015), a re-produção de música aumentou significativamente a quantidade de leite em mulheres que deram à luz be-bês prematuros, comparando com mulheres que não passaram pelas sessões de musicoterapia. Este estu-do realizou o experimento com vacas, demonstrando

também o benefício da musicoterapia, com o aumento significativo da produção total de leite.

CONCLUSÕESOs resultados deste estudo sugerem que a musi-

coterapia afeta positivamente a produção de leite das vacas leiteiras; portanto, a estimulação auditiva pela música pode ser usada para aumentar a produtividade dos animais.

O período que mais sofreu alterações na quantida-de de leite total foi o da tarde, quando as vacas produ-ziam menos em relação ao período da manhã e, devido à reprodução de música, começaram a produzir mais.

Futuros estudos envolvendo mais tipos de música e um período de avaliação maior são importantes para continuar a determinar os efeitos da musicoterapia no gado leiteiro brasileiro.

BATISTA, K. J. B.; ROSALINO, L. C.; MENDONÇA, A. C. O.; SILVA, V. I. B. F.; ROSSI, R. O. D. S.; ANDRADE, P. L. O Reflexo da Música na Resposta Comporta-mental de Bovinos Leiteiros Durante a Ordenha. In: Semana Multidisciplinar do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro, 2014, Uberlândia, 2014. p.1.BRÉSCIA, V. P. A Música Como Recurso Terapêu-tico. In: ENCONTRO PARANAENSE, CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOTERAPIAS CORPORAIS, XIV, IX, 2009, Curitiba: Centro Relchiano, 2009. p. 3-9.CALAMITA, S. C.; SILVA, L. P.; CARVALHO, M. D.; COS-TA, A. B. L. A música e seus diversos impactos so-bre a saúde e bem-estar dos animais. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV-SP, v.14, n. 3, p. 6-11, 2016.INFANT, T. J. M.; SANTES, F. R. La Musicoterapia como Alternativa para Disminuir la Ansiedad de Lactantes. Revista de Educación y Desarrollo, v.8, p. 43-48, 2008.JAYAMALA, A. K.; LAKSHMANAGOWDA, P. B.; PRA-DEEP, G. C. M.; GOTURU, J. Impact of Music Therapy on Breast Milk Secretion in Mothers of Premature Newborns. Journal of Clinical and Diagnostic Re-search, v. 9, p. 4-6, 2015.KENISON, L. The Effects of Classical Music on Dairy Cattle. 2016. 46 f. Thesis in Partial Fulfill-

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REFERÊNCIAS

NATALYA GARDEZANI ABDUCHMédica-veterináriaCRMV-SP nº 43447Mestranda em Produção Animal Sustentável no Instituto de Zootecnia do Governo de São Paulo

ANA CAROLINA RUSCA CORRÊA PORTOMédica-veterináriaCRMV-SP nº 15669Doutora em Clínica Médica de Equinos e pós-doutora em Reprodução AnimalCoordenadora do curso de Medicina Veterinária da Uniso

FABIO ANDRÉ FERREIRA CUSTÓDIOMédico-veterinárioCRMV-SP nº 14636Especializado em Reprodução Bovina e Sanidade de Animais de Produção e mestre em Processos Tecnológicos e AmbientaisDiretor técnico do Centro de Treinamento Agropecuário Ltda. e docente da Uniso

AUTORES

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REDUÇÃO DE COROA CLÍNICA EM DENTES CANINOS MANDIBULARES COM HIPERCRESCIMENTO EM SUÍNO DA LINHAGEM YUCATAN – RELATO DE CASO CLINICAL CROWN REDUCTION IN MANDIBULAR CANINE TEETH WITH OVERGROWTH OF SWINES FROM YUCATAN STRAIN – CASE REPORT

O hipercrescimento dentário é uma afecção comum encontrada em dentes caninos de suínos criados como ani-mais de estimação. Dentes que apresentam hipercrescimento podem causar desconforto, maloclusão e saliva-ção excessiva, além de permitir lesões teciduais em região oral. O objetivo deste relato é evidenciar a importân-cia da técnica de redução de coroa clínica em dentes com hipercrescimento em um suíno da linhagem Yucatan. Com histórico de disfagia e intensa vocalização à manipulação da cavidade oral, ao exame físico específico, foi diagnosticado hipercrescimento de ambos os dentes caninos mandibulares. Radiografias intraorais e de crânio foram importantes ferramentas complementares para o planejamento cirúrgico. Elegeu-se como conduta tera-pêutica a ressecção parcial de coroa clínica em ambos os dentes caninos inferiores, sendo confirmada a preser-vação do tecido pulpar pela realização de radiografia intraoral após o procedimento cirúrgico.

Palavras-chave: Porco-miniatura. Tratamento cirúrgico. Maloclusão.

Dental overgrowth is a common condition found in canine teeth of pigs raised as pets. Teeth that present hypergrowth can cause discomfort, malocclusion and excessive salivation, besides allowing tissue lesions in the oral region. The objective of this report is to highlight the importance of the technique of clinical crown reduction in teeth with overgrowth in a pig of the Yucatan lineage. With a history of dysphagia and intense vocalization to the manipulation of the oral cavity, at the specific physical examination, it was diagnosed hypergrowth of both mandibular canine teeth. Intraoral and skull radiographs were important complementary tools for surgical planning. The clinical crown partial resection of both lower canine teeth was chosen as therapeutic treatment, and preservation of the pulp tissue was confirmed by intraoral radiography after the surgical procedure.

Keywords: Swine miniature. Surgery. Malocclusion.

RESUMO

ABSTRACT

INTRODUÇÃODesde o desenvolvimento do mini pig, em 1940,

pelo Instituto Hormel nos Estados Unidos (ENGLAND et al., 1954), os porcos-miniatura têm sido extensamente

utilizados como modelo animal para diversos experi-mentos biomédicos (WANG et al., 2007). Razões para a utilização desses animais na pesquisa incluem simila-

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

ridade anatômica e fisiológica com os seres humanos, vantagens econômicas e questões éticas (WANG et al., 2007). Entretanto, eles também conquistaram o mer-cado pet, tornando-se populares nesse ramo, de modo que o número de mini pigs criados como pets vem au-mentando progressivamente (SIPOS et al., 2007).

Todo suíno doméstico (Sus scrofa domesticus) é descendente do javali selvagem (Sus scrofa), o qual pertence à ordem de mamíferos placentários Artio-dactyla. Com a domesticação e inbreeding ou endocru-zamento realizado, o crânio do mini pig tornou-se mais curto e com perfil frontal mais côncavo (ŠTEMBÍREK et al., 2010). Apesar disso, a cavidade oral e a dentição mantiveram-se similares às demais espécies de suínos. Assim como nos humanos, a dentição reflete a dieta onívora, apresentando-se como difodontes e hetero-dontes (STEMBÍREK et al., 2010), respeitando a fórmula dentária para adultos de 2 (I 3/3, C 1/1, P 4/4, M 3/3), em um total de 44 dentes (LENNOX; MIWA, 2016).

Os suínos possuem dois incisivos maxilares cen-trais arqueados e curvados mesialmente. Os incisivos mandibulares são projetados rostralmente e utiliza-dos para chafurdar. Os pré-molares permanentes, muitas vezes, não têm predecessores decíduos e au-mentam de tamanho caudalmente. O primeiro pré--molar inferior surge imediatamente caudal ao canino mandibular e rostral ao espaço interdental. O quarto pré-molar maxilar tem quatro ou cinco raízes (SHI-VELY, 1984; EISENMENGER; ZETNER, 1985). Os mola-res tornam-se mais fortes caudalmente, apresentando quatro a seis principais cúspides e até seis raízes. Os dentes mesiais da mandíbula são importantes para a apreensão e dilaceração dos alimentos, assim como nos carnívoros, sendo a mastigação realizada caudal-mente (EISENMENGER; ZETNER, 1985).

O dente canino mandibular é maior do que o ca-nino maxilar e apresenta forma triangular, curvado sentido caudal e coberto com esmalte apenas na face vestibular (HARVEY, 1985; OEHME, 1988). O cemento que cobre o restante do dente desgasta-se mais facil-mente. Devido ao atrito contínuo com os dentes cani-nos maxilares, bordas afiadas formam-se nos caninos

mandibulares (OEHME, 1988). Já o canino maxilar é mais curto em relação ao mandibular e curva-se ves-tibularmente à medida que cresce no sentido dorsal. O esmalte cobre apenas a cúspide da coroa do canino maxilar (EUBANKS; GILBO, 2005).

Embora a maioria dos dentes seja anelodonte e braquiodonte, com período de crescimento limitado e coroas curtas, respectivamente, os dentes caninos nes-sa espécie são elodontes e hipsodontes, ou seja, com crescimento contínuo e coroa longa (LENNOX; MIWA, 2016), com crescimento estimulado pela testosterona (TYNES, 1999; AMPA, 2016). Portanto, um suíno macho não castrado apresentará maior crescimento desses dentes se comparado ao macho castrado e à fêmea (TYNES, 1999; AMPA, 2016; LENNOX; MIWA, 2016).

Quando erupcionados, os caninos permitem o atrito com seus opositores, tornando-se afiados e com pontas (TYNES, 1999; LENNOX; MIWA, 2016). Grave dano cor-poral no próprio animal ou em contactantes pode ocor-rer a partir desses dentes afiados (AMPA, 2016).

De acordo com a Associação Americana de Mini Pigs (AMPA), os dentes caninos devem ser desgastados pela primeira vez entre o primeiro e o terceiro ano de vida do animal. Entretanto, Amstutz (2014) relata ser pre-ciso passar por avaliação de médico-veterinário para verificar a necessidade desse procedimento. Woods e Tynes (2012) preconizam o intervalo entre desgastes de seis a 12 meses, enquanto Amstutz (2014) refere como procedimento anual. Pelas diretrizes da AMPA, o desgaste deve ser realizado conforme a necessidade individual de cada animal. Apesar de haver variação entre machos e fêmeas, castrados e não castrados, de-ve-se considerar que a taxa de crescimento da presa varia individualmente, sendo que alguns machos cas-trados requerem desgaste na mesma frequência que porcos não castrados (WOODS; TYNES, 2012).

Dentes caninos com hipercrescimento podem causar desconforto, maloclusão, movimento de masti-gação persistente e salivação (AMSTUTZ, 2014). Além disso, podem crescer em ângulo inapropriado e causar lesões em tecidos moles, intra e extraorais. Nesses ca-sos, o desgaste não é opcional e deve ser realizado ro-

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tineiramente para a manutenção da saúde e bem-estar do suíno acometido (AMPA, 2016).

O desgaste dentário deve sempre ser realizado sob anestesia geral ou sedação (AMSTUTZ, 2014; AMPA, 2016), a fim de evitar aspiração de resíduos transope-ratórios. Ainda, os suínos, quando submetidos a situa-ções de estresse, podem desencadear a síndrome do estresse suíno, resultando em parada cardiorrespirató-ria, sendo, portanto, a anestesia necessária para evitar esse tipo de situação (AMPA, 2016).

A odontossecção deve ser realizada o mais pró-ximo possível da linha da gengiva, sem que a mucosa oral ou os lábios sejam lesados. Ademais, deve-se evi-tar exposição do canal radicular após o desgaste (AMS-TUTZ, 2014) e as pontas e rebordos dentários devem ser arredondados (WOODS; TYNES, 2012).

RELATO DE CASO Um suíno-miniatura da linhagem Yucatan, macho,

não castrado, de um ano e sete meses de idade, com 50 kg de peso vivo, foi admitido no Laboratório de Odonto-logia Comparada da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (LOC-FMVZ/USP), com histórico de disfagia e intensa vocalização à manipulação da cavidade oral. A alimentação consistia em ração específica para suínos, associada a legumes e vegetais e fornecida de forma umedecida e pastosa.

Ao exame clínico geral, o animal apresentou-se alerta, com bom escore de condição corporal e sem demais alterações sistêmicas. Ao exame clínico da cavidade oral, realizado sob sedação, observou-se hipercrescimento dentário de ambos os caninos man-dibulares. A porção coronal do canino mandibular di-reito permitia sua maloclusão com a região de mucosa alveolar, distal ao canino maxilar direito, provocando exposição do osso alveolar (Figura 1). O canino mandi-bular esquerdo também apresentava hipercrescimen-to dentário, apesar de não ter sido identificada lesão em tecidos moles adjacentes. Contudo, o diagnóstico presuntivo foi de doença periodontal de grau modera-do e maloclusão dentária, com consequente laceração de tecidos moles.

T Figura 1. Setas indicando a lesão em gengiva e mucosa alveolar na face vestibular do canino superior direito do suíno, expondo osso alveolar.

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Sob sedação, foram realizadas imagens radiográfi-cas de crânio, as quais identificaram integridade óssea e ausência de comunicação oronasal. O exame permi-tiu a avaliação da câmara pulpar dos caninos mandibu-lares previamente à intervenção cirúrgica, tendo sido constatada a ausência da câmara pulpar bilateralmen-te nesses dentes. Exames complementares de sangue, como hemograma e bioquímico, foram coletados ainda com o animal sedado, para avaliação pré-anestésica, sem alterações significativas.

O procedimento cirúrgico foi realizado sob anestesia geral inalatória, com o paciente posicionado em decúbito esternal. Inicialmente, fez-se a higienização da cavidade oral com água e gluconato de clorexidina a 0,12%, segui-da de profilaxia oral com raspagem e polimento dentário, visando a reduzir a carga bacteriana oral, o que minimi-zaria o risco de infecção pulpar em eventual exposição do canal durante o desgaste dentário. Após esse preparo, foram realizadas radiografias intraorais dos dentes cani-nos mandibulares, utilizando películas radiográficas pe-riapicais e oclusais (Figuras 2 e 3), para avaliação do canal pulpar. Nelas, foi confirmada a ausência da câmara pulpar em região da coroa clínica, como previamente identifica-do pela radiografia de crânio. O protocolo cirúrgico insti-tuído consistiu no desgaste dentário de ambos os cani-nos inferiores no nível gengival. No entanto, o material necessário para realização do capeamento pulpar, caso houvesse exposição do canal, estava adequadamente disponível ao longo do procedimento.

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Revista CFMV Brasília DF Ano XXV nº 8258

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

T Figura 2. Radiografia do canino inferior direito do suíno, antes da realização do desgaste dentário. Seta indicando ausência da câmara pulpar em coroa anatômica e raiz cervical.

T Figura 3. Radiografia intraoral do canino inferior esquerdo do suíno. Avalia-ção da coroa anatômica antes do desgaste dentário. Seta indicando ausên-cia da câmara pulpar em coroa anatômica.

T Figura 5. Imagem ilustrando o exame físico com o uso do explorador no canino inferior direito após o desgaste da coroa dentária. O mesmo procedi-mento foi realizado no canino inferior esquerdo.

T Figura 4. Imagem ilustrando o desgaste após a amputação da coroa do ca-nino inferior esquerdo, com broca FG Carbide 703 e caneta de alta rotação. Nota-se irrigação realizada por solução fisiológica estéril.

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A ressecção da coroa clínica foi realizada com caneta de alta rotação e broca FG Carbide 703 (Figura 4). Para evitar o superaquecimento dentário, o qual poderia cul-minar em pulpite iatrogênica, foi feita irrigação com so-lução fisiológica durante todo o procedimento (Figura 4).

A ressecção da coroa foi sucedida do desgaste dentá-rio, com arredondamento das bordas dentárias, a fim de evitar lesões em mucosa e língua. O exame físico com o explorador confirmou a ausência de comunicação com a cavidade pulpar após o procedimento (Figura 5).

Revista CFMV Brasília DF Ano XXV nº 82 59

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

pulpar, caso haja o envolvimento da polpa (EUBANKS; GILBO, 2005), evitando, assim, a dor e formação de abscessos periapicais nos dentes envolvidos. Mesmo havendo confirmação radiográfica, a equipe, ciente do risco, preparou-se com materiais adequados para possível tratamento endodôntico, como indicado por Eubanks e Gilbo (2005).

A irrigação deve ser utilizada em abundância para evitar o superaquecimento do órgão dentário acima do tolerado pelo tecido conjuntivo pulpar, conforme refe-rido por Aranha et al. (2011). Segundo Zach e Cohen (1965), o calor friccional excessivo gerado sobre o te-cido dental pode degradar a porção fundamental da matriz extracelular da polpa, comprometendo suas funções e, consequentemente, ocasionando a morte pulpar. Neste caso, utilizou-se solução fisiológica esté-ril como método de irrigação contínua para controlar o calor gerado pelo instrumental rotatório no elemento dentário, além de minimizar a contaminação local.

Os suínos possuem o gene halotano (gene hal), que, em homozigose recessiva (nn), está associado com o aparecimento da síndrome do estresse porcino, o que pode ocasionar a morte do animal submetido à situação de estresse (BASTOS et al., 1998; BASTOS et al., 2001), como, por exemplo, manipulação e contenção para o desgaste dentário (AMPA, 2016). Esse gene tam-bém é responsável por algumas manifestações clíni-cas, como a hipertermia maligna, comum reação após a administração de anestésicos voláteis (destacando-se o halotano) (BASTOS et al., 1998). Apesar disso, o des-gaste dentário nessa espécie deve sempre ser realiza-do sob anestesia geral ou sedação (AMSTUTZ, 2014; AMPA, 2016), o que torna o procedimento mais seguro para toda a equipe (LENNOX; MIWA, 2016).

A correta e rápida condução do caso, com equipe multidisciplinar envolvendo profissionais anestesiolo-gistas e odontologistas veterinários, permitiu o correto diagnóstico e tratamento para o caso de maloclusão dentária secundária ao hipercrescimento de dentes caninos em um suíno doméstico, interrompendo o pro-cesso álgico e infeccioso instalado, levando à restitui-ção da qualidade de vida do paciente.

O tecido necrosado em mucosa alveolar, ocasiona-do pela maloclusão do dente canino mandibular direi-to, foi removido pela curetagem e desbridamento da região com descolador de Molt, além de sua higieni-zação com clorexidina a 0,12%. Manteve-se a prescri-ção de higienização da cavidade oral com clorexidina 0,12% a cada oito horas por dez dias. A imediata reso-lução do quadro permitiu restabelecimento da saúde e ausência de dor, confirmada em reavaliação após dez dias do procedimento.

DISCUSSÃOQuadros de maloclusão dentária em animais

com dentes elodontes podem ser identificados clinicamente. Os sinais clínicos observados, como dor durante a manipulação oral, maloclusão e le-sões em tecidos moles adjacentes causadas pelo crescimento dos caninos inferiores em ângulos ina-propriados, coincidem com os sinais descritos por Amstutz (2014).

Segundo Lennox e Miwa (2016), o exame radio-gráfico de crânio é importante para a avaliação das estruturas dentárias, especialmente para a avaliação óssea e dos elementos dentários. Importantes anor-malidades podem ser detectadas por esse exame, incluindo fraturas, infecção e alterações em tecidos periapicais. Neste caso, o exame radiográfico con-vencional auxiliou no descarte de alterações ósseas, como abscesso periapical e comunicação oronasal secundários à maloclusão dentária. No transoperató-rio, a utilização de radiografias intraorais foi impres-cindível para avaliação mais detalhada da estrutura dentária. Elas permitiram o direcionamento do pro-cedimento, evitando o acometimento da câmara pul-par durante a ressecção da coroa clínica. Assim, em concordância com Woods e Tynes (2012), ressalta-se a importância da radiografia intraoral prévia ao proce-dimento, uma vez que o comprimento do canal pode variar individualmente nessa espécie.

Conforme foi observado nas radiografias intraorais do paciente relatado, não houve exposição aparente da câmara pulpar; todavia, indica-se o capeamento

Revista CFMV Brasília DF Ano XXV nº 8260

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

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AMSTUTZ H, MERCK MANUAL – Veterinary Manual. 2014. Disponível em: <http://www.merckvetma-nual.com/exotic-and-laboratory-animals/potbel-lied-pigs/management-of-potbellied-pigs>. Aces-so em: jun/2017.

ARANHA, V. M. .; SILVA-CONCÍLIO, L. .; NEVES, A. C. .; BARCELLOS, D. .; RODE, S. . Comparação da va-riação da temperatura produzida por dois tipos de instrumentos cortantes rotatórios diamantados no preparo cavitário. Brazilian Dental Science, v. 14, n. 1965, p. 38–41, 2011.

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REFERÊNCIAS

NAIÁ CARVALHO SOUZAMédica-veterináriaCRMV-SP nº 47003Especializada em Odontologia Veterinária e mestra em Ciências pela FMVZ/[email protected]

CARLA PANTAROTTO BONI Médica-veterináriaCRMV-SP nº 39735Residente em Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais pela FMVZ/USP

PAULA ABREU VILLELA Médica-veterinária CRMV-SP nº 33688Residente em Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais e mestra em Ciências pela FMVZ/USPEspecializada em Odontologia Veterinária pela Anclivepa-SP

JULIANA BAIA DURIGANMédica-veterináriaCRMV-MT nº 4730Mestra em Ciências pela FMVZ/USPEspecializada em Odontologia Veterinária pela Anclivepa-SP Coordenadora do Instituto de Ensino Didax

MARCO ANTONIO GIOSOMédico-veterinárioCRMV-SP nº 5642Professor doutor livre-docente do Departamento de Cirurgia da FMVZ/USP

AUTORES

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O hipercrescimento dentário é uma afecção comu-mente encontrada em dentes caninos de suínos-mi-niatura, sendo considerados tratamento de eleição a redução da coroa clínica e o acompanhamento odonto-lógico semestral a anual para o planejamento cirúrgico adequado a cada caso, de acordo com a necessidade do paciente. Destaca-se que essa técnica deve ser rea-lizada sob anestesia geral, com equipamentos odon-

tológicos adequados, evitando lesões iatrogênicas no órgão dentário e, consequentemente, desconforto do paciente. Exames radiográficos, extra e intraorais, são essenciais para avaliação da cavidade pulpar e devem ser feitos para delineamento terapêutico. Por fim, res-salta-se que, devido às particularidades anatômicas e fisiológicas da espécie, esse procedimento deve ser realizado por profissionais especializados, prezando pela qualidade de vida do animal.

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BOAS PRÁTICAS NO ATENDIMENTO CLÍNICO

Higiene, atenção e cuidado da equipe aumentam a percepção de qualidade do estabelecimento

A consulta é o momento da clínica veterinária no qual interagem tutor, médico-veterinário, paciente, colaboradores do estabelecimento, bem como as cadeias da indústria pet. O cliente escolhe um local de atendi-

mento indicado por pessoas próximas ou por meio de publicidade. Sua impres-são, no entanto, é influenciada por fatores aos quais o proprietário do estabele-cimento deve estar atento, tais como:

» Fachada: com boa apresentação e manutenção do letreiro. » Recepção: atenção da equipe, higiene e organização; explicações claras so-

bre os serviços oferecidos e odorização (eleger uma fragrância para ficar como marca). O cabeçalho da ficha do cliente deve ser preenchido na to-talidade e o valor da consulta deve ficar claro, assim como procedimentos e formas de pagamento. Banheiro limpo e abastecido com papéis toalha e higiênico, equipado com espelho de corpo inteiro.

» Consultório: piso, paredes, mesa de atendimento, lixeiras, termômetros e demais equipamentos limpos e organizados.

» Consulta: presencial, com roteiro da ficha de avaliação previamente im-presso contendo sequência de perguntas. O tempo total mínimo de consul-ta deve ser de 15 minutos, por mais evidente que seja o diagnóstico.

» Consultas em domicílio: necessárias em caso de tutores com dificuldade de lo-comoção, pacientes estressados ao sair do seu ambiente etc. Como o local não dispõe dos recursos do consultório, o profissional deve levar um auxiliar e estar consciente de que sua conduta será constantemente avaliada pela família.

» Receita: impressa e contendo, no máximo, quatro medicamentos, pois o cliente pode ter dificuldade de administrar e/ou adquirir produtos. Caso sejam necessários mais, sugira a internação.

» Recomenda-se ligar para o cliente de 24h a 48h depois do atendimento. Além de demonstrar interesse pelo animal, ainda está em tempo de alterar a prescrição.Em casos de eutanásia, não recomende o procedimento de forma direta.

Esclareça a real situação do animal, deixe o tutor decidir e concorde com sua escolha. Se tiver de ocorrer, anestesie o animal antes da administração do me-dicamento letal. Não realize eutanásia em um paciente com doença curável. Se o animal for encaminhado por um colega, exija um termo assinado e carimbado, com as justificativas para o procedimento.

Caso o paciente vá a óbito na clínica, o tutor deve ser comunicado de forma presencial ou por telefone – nunca envie mensagens ou deixe que o cliente sai-ba da notícia no momento da visita. Na presença do proprietário, não coloque o animal em saco preto, pois passa uma ideia de desprezo. Prefira caixas, tecidos ou embalagem plástica branca.

Após uma semana, envie um cartão/mensagem de condolências, deixando clara a importância de paciente e cliente para o médico-veterinário e o estabelecimento.

CLÍNICAVETERINÁRIA

Wanderson Alves Ferreira Tesoureiro do CFMV e sócio

proprietário de clínica

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BOAS PRÁTICAS NO ATENDIMENTO CLÍNICO OUVIDORIA

CFMVUM CANAL DIRETO COM VOCÊ

A Ouvidoria soluciona conflitos, tira dúvidase leva informação à sociedade.Também é possível enviarsugestões e elogios.

Estamos prontos para lhe atender!

http://portal.cfmv.gov.br/

Acesse Ouvidoriano portal do CFMV

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0800-618080

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