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PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 428 • ANO XXXVIII MARÇO 2009 • MENSAL • 1, 50 PORTUGAL COMANDA FORÇA NAVAL DA NATO

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Page 1: PORTUGAL COMANDA FORÇA NAVAL DA NATO...PORTUGAL COMANDA FORÇA NAVAL DA NATO “Vega” Tradição e Classe A gora que foi iniciado o processo de abate do Navio Escola “Vega”,

PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 428 • ANO XXXVIII MARÇO 2009 • MENSAL • € 1,50

PORTUGAL COMANDA FORÇA NAVAL DA NATO

Page 2: PORTUGAL COMANDA FORÇA NAVAL DA NATO...PORTUGAL COMANDA FORÇA NAVAL DA NATO “Vega” Tradição e Classe A gora que foi iniciado o processo de abate do Navio Escola “Vega”,

“Vega”Tradição e Classe

Agora que foi iniciado o processo de abate do Navio Escola “Vega”, lembramo-nos que ao longo de três décadas ele con-tribuiu para a formação inicial dos futuros oficiais da Mari-

nha permitindo que, através do embarque de pequenos grupos de Cadetes da Escola Naval, estes aprendessem a respeitar o Mar e a tra-balhar em equipa. Esta Tradição garantiu que os jovens Cadetes, de ambos os sexos, colocassem em prática os seus ensinamentos nas áreas de Marinharia, Nave-gação, Organização, bem como, desenvolvessem em grupo as suas competências comporta-mentais nas áreas da Liderança, Cidadania e na Socialização.

A proximidade dos elemen-tos, o sentir que o sucesso da missão e das tarefas atribuídas ao navio dependiam da forma como a equipa trabalhava, fez com que os alunos, depois de ultrapassado o natural perío-do de adaptação e interioriza-ção da manobra do barco, con-seguissem corresponder como um grupo homogéneo, coeso e acima de tudo realizado.

Quando assis t iamos ao “Vega” a rasgar o Mar ao sabor do vento de feição não podemos ficar indiferentes à sua classe. Classe de um barco com umas linhas finas, um casco de madei-ra e com um desempenho náu-tico e uma atitude marinheira única. Esta imagem não era vir-tual, era real e era um facto. No rio Tejo, à bolina, não deixava os seus espectadores indiferen-tes, assim como, quando a um largo ou a uma popa com o ba-lão içado e mareado tornava-se imponente e marcava o fundo de qualquer ambiente náutico ou desportivo.

Incontestavelmente o “Vega” mercê da sua presença, foi muito querido no seio da comunidade náutica de Portugal e de Lisboa em particular, tornando-se mes-mo um ex-libris do rio Tejo.

O seu nascimento começou em 1948, quando um arquitecto na-val de renome, John G. Alden, desenhou e projectou um yawl, que viria a ser construído no ano de 1949 por Henry Hinckley no Maine, EUA. Foi lançado à água a 22 de Novembro de 1949, com o nome de “VALHALLA”, tendo sido seu primeiro proprietário Camme-nis Catherwood. Chamou-se depois “MAI TAI”, “CURRITUK” e “JANIE C”.

Em 1964 foi adquirido por José Manuel de Mello que o bapti-zou de ARREDA IV. No mesmo ano, o seu aparelho foi revisto por Spark man & Stephens, ficando com a armação de sloop. Oferecido

ao Clube Náutico dos Cadetes da Armada - CNOCA, em Fevereiro de 19731, recebeu o nome de VEGA. Foi aumentado ao Efectivo dos Navios da Armada a 7 de Maio de 1976.

O “Vega” desde esta data, para além das suas missões típicas de formação de Cadetes ao fim-de-semana, realizou e participou em

diversos eventos náutico ou des-portivos. Desta participação con-tinuada em provas desportivas resultou um palmarés digno de registo. Ressalta deste conjunto a participação nas comemorações do Liberty Day de 1976, tendo o “Vega” realizado a travessia em regata do Atlântico até aos EUA (3º lugar na perna Tenerife – Bermudas), a regata do Jubi-leu da Rainha de Inglaterra em 1977, em 1982 efectuou a regata Falmouth - Lisboa - Southamp-ton, (tendo ganho a etapa Lisboa – Southampton) e em 1983 efec-tuou e ganhou o Troféu Infante D. Henrique entre Lisboa - Horta – Lisboa. Afigura-se importante referir como prova de manifesta-ção de uma tradição, associada a este barco de linhas tão clássicas, a participação assídua na Rega-ta bienal Canárias – Funchal. A sua assiduidade foi alvo do re-conhecimento dos Clubes orga-nizadores da prova que em 2003 (ano da até agora última partici-pação) lhe atribuíram um pré-mio pela sua veterania nesta re-gata tão emblemática nas águas Atlânticas. Também em algumas oca siões navegou pelo Medi-terrâneo, com diversas escalas, nomeadamente Barcelona, Car-tagena, Almeria, Génova, salien-tando-se a recepção, das mãos do Rei de Espanha, do galardão de “embarcação mais elegante” na sua participação de 2006 no Tro-féu Conde de Barcelona em Pal-ma de Maiorca.

O Navio Escola “Vega”, tem o seu espaço conquistado, é uma imagem de marca de uma orga-nização secular, a Marinha, natu-ralmente, num meio muito pró-prio, que é o mundo da náutica

de recreio. Esperamos que esta Old Lady2 não seja esquecida e se en-contre uma solução que permita manter viva a sua memória.

CFR J. Coutinho de LucenaNotas

1 A venda foi simbólica, já que importou apenas 500 escudos. A nota corres-pondente a esta importância, devidamente emoldurada como prova de agrade-cimento, foi entregue pelo CNOCA ao ex-proprietário do “Vega”.

2 Old Lady – Expressão utilizada por um ex-Comandante, CMG Novo Palma, para designar a idade e delicadeza do Navio.

“Vega”Tradição e Classe

N.R.P. “VEGA” Comandantes

07-MAI-76 a 07-DEZ-82 CTEN José Luís Lopes Celestino da Silva

07-DEZ-82 a 20-MAR-87 CFR José Manuel Malhão Pereira

20-MAR-87 a 27-OUT-89 CTEN José Armando Rodrigues Leite

27-OUT-89 a 22-MAR-93 CTEN António Carlos Vieira Rocha Carrilho

22-MAR-93 a 23-MAI-96 CTEN Jorge Manuel Novo Palma

23-MAI-96 a 06-OUT-98 CFR António Maya Dias Pinheiro

06-OUT-98 a 21-MAR-01 CTEN Nuno Murray Bustorff Silva

21-MAR-01 a 09-MAR-05 CTEN Pedro Sassetti Carmona

09-MAR-05 a 22-MAR-07 CTEN José P. Prazeres Coutinho de Lucena

22-MAR-07 a 21-OUT-08 CTEN Artur Manuel Simas Silva

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Publicação Oficial da Marinha

Periodicidade mensalNº 428 • Ano XXXVIII

Março 2009

DirectorCALM EMQ

Luís Augusto Roque Martins

Chefe de RedacçãoCMG Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira

Redacção2TEN TSN Ana Alexandra Gago de Brito

Secretário de RedacçãoSAJ L Mário Jorge Almeida de Carvalho

Colaboradores PermanentesCFR Jorge Manuel Patrício Gorjão

CFR FZ Luís Jorge R. Semedo de MatosCFR SEG Abel Ivo de Melo e Sousa1TEN Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves

Administração, Redacção e PublicidadeRevista da Armada

Edifício das InstalaçõesCentrais da Marinha

Rua do Arsenal1149-001 Lisboa - Portugal

Telef: 21 321 76 50Fax: 21 347 36 24

Endereço da Marinha na Internet http://www.marinha.pt

e-mail da Revista da Armada [email protected]

Fotocomposição, paginação electrónica, fotolito,

montagem e produçãoPágina Ímpar, Lda.

Estrada de Benfica, 317 - 1º F1500-074 Lisboa

Tiragem média mensal:6000 exemplares

Preço de venda avulso: € 1,50Registada na DGI em 6/4/73

com o nº 44/23Depósito Legal nº 55737/92

ISSN 0870-9343

SUMÁRIO

ANUNCIANTES: MAN FERRoSTAAl PoRTUgAl, lda.; RoHDE & SCHWARZ, lda.

“VEGA” – TRADIÇÃO E CLASSE 2PONTO AO MEIO DIA 4ABNEGAÇÃO, SACRIFÍCIO E CARÁCTER 7COMBATE À POLUIÇÃO 8A MARINHA DE JOÃO III (43) 9CRIAÇÃO DE VALOR NA MARINHA 12CONVERSANDO COM ... O CABO CARLOS SIMÕES 14TOMADAS DE POSSE 21ACADEMIA DE MARINHA 22OS PATRULHAS DA CLASSE “FAIAL”. CONCLUSÃO 23NRP “CACHALOTE” (1969-1975) / PRÉMIOS CNOCA 2008 26VIGIA DA HISTÓRIA 8 / NOTÍCIA 27NOTÍCIAS 29HISTÓRIAS DA BOTICA (61) 30CONDECORAÇÃO DO ARQUITECTO CARLOS RAMOS / ACADEMIA DE MARINHA: AVISOS 31QUARTO DE FOLGA / NOTÍCIA / CONVÍVIOS 33NOTÍCIAS PESSOAIS 34INSTALAÇÕES DA MARINHA CONTRACAPA

REVISTA DA ARMADA • MARÇo 2009 3

O Património Arqueológico Subaquático

10

O CALM Pereira da Cunha é o novo Comandante da SNMG1

5

O NRP “Álvares Cabral” na Standing Nato Maritime Group 1

6

DiuChaulDabul

Angediva

CananorCalecutCochimCoulão

Aden

Mar

Ve rm

e l ho

Oceano Índico

Arábia Índia

Índia

A Grande Batalha de DiuO PODER NAVAL

E O DOMÍNIO DO MAR NO SÉC. XVI

17

PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 428 • ANO XXXVIII MARÇO 2009 • MENSAL • € 1,50

PORTUGAL COMANDA FORÇA NAVAL DA NATO

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4 MARÇo 2009 • Revista da aRmada

PONTO AO MEIO DIA

COMANDO NAVALA Actividade Operacional da Marinha em 2009

Este ano o Comando Naval tem um Programa de Actividade Operacio-nal preenchido e diversificado, que

se constitui como um desafio exigente à capacidade de afirmação da Marinha e de Portugal, com actividades tão diferentes como a imposição da autoridade do Es-tado no mar, o comando de forças navais multinacionais, a participação em opera-ções de manutenção de paz e o apoio à in-vestigação científica e ao desenvolvimen-to económico do país, em cenários que vão do Norte da Europa à Austrália, passando pelo Afeganistão e por África, sem esquecer as acções de treino, essenciais à ob-tenção e manutenção dos padrões de prontidão, e o apoio à formação dos re-cursos humanos da Ma-rinha.

No domínio da segu-rança e autoridade do Estado no mar, a maior percentagem da activi-dade operacional desen-volvida será em apoio à manutenção do dispositi-vo naval, assegurando no Continente e nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, duas corve-tas, dois patrulhas e cinco lanchas de fis-calização com missão atribuída 365 dias por ano e 24 horas por dia. A estes meios compete a vigilância dos espaços maríti-mos sob responsabilidade nacional, pela fiscalização da pesca, pelo combate aos ilícitos no mar, onde se incluem o tráfico de estupefacientes, os crimes ambientais e a exploração ilícita de recursos, asse-gurando, também, o serviço de busca e salvamento marítimo, numa área de res-ponsabilidade que se estende do litoral do Continente até ao meridiano central do Atlântico e ao paralelo de Cabo Verde, totalizando uma área de aproximadamen-te 5,8 milhões de quilómetros quadrados, isto é, cerca de 63 vezes a dimensão do território nacional.

No âmbito da defesa militar e apoio à política externa, assumem particular rele-vância dois Comandos de Forças Navais internacionais. Portugal assumiu no pas-sado dia 23 de Janeiro de 2008 o coman-do do Standing NATO Maritime Group 1

(SNMG1), actual designação da bem conhecida Standing Naval Force Atlantic (STANAVFORLANT). O CALM Pereira da Cunha é o terceiro oficial general da Marinha a comandar esta força, que se constitui como o elemento naval de eleva-da prontidão a partir da qual se desenvol-ve a componente naval da NATO Response Force (NRF). Para o apoio ao comando a Marinha empenhará, em permanência e durante o período de um ano, uma fraga-ta da classe Vasco da Gama, que desem-

penhará as funções de navio-chefe. Para o efeito as fragatas “Álvares Cabral” e “Corte-Real” viram reforçadas as suas já elevadas capacidades de comando e con-trolo, habilitando-as para o cumprimento destas funções num empenhamento que, pela primeira vez, levará uma força naval da NATO ao Extremo -Oriente e à Austrá-lia, como afirmação da capacidade global da Aliança Atlântica.

Em Setembro de 2009 Portugal assumi-rá, por um período de dois anos, o coman-do da EUROMARFOR. Esta força naval multinacional, criada em 1995, tem um carácter não-permanente podendo ser configurada para as especificidades de cada missão, o que lhe confere uma eleva-da flexibilidade de emprego. É composta por meios navais de Portugal, Espanha, França e Itália, estando vocacionada para desempenhar missões humanitárias, de manutenção de paz e de gestão de crises, por decisão conjunta dos quatro estados--membros ou em apoio a iniciativas da

União Europeia, da Organização de Segu-rança e Cooperação na Europa (OSCE) da NATO e da ONU. O comando operacional da força será exercido pelo Comandante Naval, apoiado pelo seu estado-maior e por uma célula multinacional, que para o efeito será activada no Comando Naval. Quando activado, o grupo-tarefa da EU-ROMARFOR será comandado no mar por um oficial da Marinha.

Contudo, o empenhamento de meios do Comando Naval na observância dos

compromissos interna-cionais do país não se es-gota aqui. Os fuzileiros continuarão a integrar as Operational Mentor and Liaison Teams (OMLT), contribuindo activamente para o sucesso da missão da NATO no Afeganistão, através do apoio ao de-senvolvimento do Exér-cito Nacional Afegão. Ainda durante o primei-ro semestre de 2009 uma companhia de fuzileiros integrará um dos gru-pos de batalha europeus, participando na Spanish Italian Amphibious Force (SIAF). Simultaneamen-te, militares da área do

Comando Naval integram os estados-maiores do comando da componente naval da United Nations Interim Force in Lebanon (UNIFIL), em operações de ma-nutenção de paz ao largo do Líbano, do comando da operação ATALANTA, em-penhada no combate à pirataria nas cos-tas da Somália, da missão europeia de es-tabilização do Chade (EUFOR CHADE) e da Africa Partnership Station, iniciativa dos Estados Unidos da América que procura incrementar os laços de cooperação com as marinhas de África.

No plano de apoio à política externa, também está previsto dar continuidade à operação Mar Aberto, junto das Marinhas dos países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, para além da partici-pação em exercícios de cooperação com os países amigos da bacia do Mediterrâ-neo, como o SEABORDER 09, no âmbito da Iniciativa 5+5.

Durante todo o ano a Força Naval Por-tuguesa mantém em prontidão de 48 ho-

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Realizou-se no pas-sado dia 23 de Ja-neiro, em Ferrol,

Espanha, a cerimónia de transferência de Comando da Stand ing Nato Mariti-me Group One (SNMG1) da Marinha Espanhola para a Marinha Portu-guesa.

O CALM José Domin-gos Pereira da Cunha as-sumiu o Comando desta Força de reacção imedia-ta da NATO. A cerimó-nia foi presidida pelo Co-mandante da Componente Marítima de Northwood, Almirante da Marinha Inglesa Sir Mark Stanhope e contou com a presença do Vice-Almirante Comandante Naval José Manuel Torrado Saldanha Lopes e do seu congénere espanhol.

Na cerimónia, que teve lugar na Base Naval de Ferrol, para além dos Estados--Maior dos dois Comandos, contou com a participação do NRP “Álvares Cabral”, que assumiu funções de navio-almirante

da SNMG1, e da Fragata espanhola “Al-mirante Juan de Borbon”.

Permanentemente atribuída à NATO, a SNMG1 é uma Força Naval multinacional que garante à Aliança a capacidade de res-ponder rapidamente a situações de crise em qualquer parte do mundo. A SNMG1 é um elemento naval que forma um núcleo flexível de navios que permite responder a uma ampla gama de missões, incluindo

evacuações de não-comba-tentes, combate ao terroris-mo, resposta às crises, ope-rações de embargo, etc

Durante o comando Por-tuguês, a Força irá partici-par em diversos exercícios multinacionais, e condu-zirá operações cirúrgicas de luta contra o terrorismo no Mediterrâneo ocidental (Operação Active Endea-vour). A partir de Março, irá participar em operações no Médio-Oriente e sudes-te asiático, fora da área normal de responsabilida-de da NATO - operando a

distâncias nunca antes atingidas por For-ças NATO.

O navio chefe, NRP “Álvares Cabral”, é comandado pelo CMG Jorge Manuel No-bre de Sousa e a sua guarnição é constituí-da por 208 militares, em que está incluído o destacamento de voo (helicóptero Lynx MK95), uma secção de Fuzileiros e uma equipa de Mergulhadores-sapadores.

Revista da aRmada • MARÇo 2009 5

ras o comando da força e respectivo esta-do-maior, uma fragata, uma corveta, um submarino, o reabastecedor de esqua-dra, uma força de fuzileiros, um grupo de combate do Destacamento de Acções Especiais e uma equipa de mergulhado-res-sapadores, no âmbito da Componente Naval Força de Reacção Imediata (FRI).

No domínio do desenvolvimento eco-nómico, científico e cultural continuará o apoio à Estrutura de Missão para a Ex-tensão da Plataforma Continental, através do empenhamento dos navios hidrográfi-cos, que recolhem dados necessários para a fundamentação da reivindicação de li-mites da plataforma continental até às 350 milhas náuticas. Também neste domínio 2009 será um ano relevante, pois Portugal apresentará a sua proposta de extensão da plataforma continental à Comissão de Li-mites da Plataforma Continental (CLPC), órgão constituído no âmbito da Conven-ção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM). Este projecto permitirá a Portugal assumir-se, cada vez mais, como um importante país marítimo europeu, constituindo, ao mesmo tempo, um lega-do para as gerações futuras, que poderão vir a usufruir e a explorar os recursos do fundo desta vasta zona de mar.

Nenhuma das actividades até agora

mencionadas é sustentável sem a mo-dernização dos meios disponíveis, pelo que a integração na esquadra dos no-vos meios, designadamente das fraga-tas “Bartolomeu Dias”, aumentada ao efectivo da Marinha no passado dia 16 de Janeiro, e “D. Francisco de Almeida”, que será aumentada ao efectivo no final de 2009, constituem um reforço assinalá-vel da capacidade oceânica de superfície. Continuarão, também, os processos de edificação da 5ª Esquadrilha de Subma-rinos, estando a recepção do submarino “Tridente” prevista para Janeiro de 2010, e do Destacamento de Guerra de Minas, vocacionado para operação em águas pouco profundas e que inaugurará a uti-lização de veículos subaquáticos não-tri-pulados nas operações navais nacionais. Este Destacamento constituirá o terceiro Destacamento Operacional de Mergulha-dores da Marinha.

Finalmente, o treino e adestramento das guarnições empenharão um conjun-to significativo de meios, quer ao nível do treino individual das unidades navais, de fuzileiros e de mergulhadores, quer ao nível do treino de Força. Assim, a Força Naval Portuguesa realizará dois exercí-cios de treino básico da série INSTREX e um exercício avançado, incluindo a com-

ponente anfíbia, o CONTEX/PHIBEX 09, previsto para Maio de 2009, para além de participar no LUSÍADA 09, exercício anua l da FRI. Meios navais participarão em diversos exercícios internacionais, dos quais se destacam o PHOENIX EXPRESS 09 e o TAPON 09. Os fuzileiros continua-rão o seu aprontamento para a NATO Response Force (NRF) 13, e participarão nos exercícios TAPON 09 e BREDEX 09, enquanto os mergulhadores serão empe-nhados no DEEP DIVEX 09 e IT MINEX 09, apoiados por uma corveta.

O apoio à formação dos recursos hu-manos da Marinha será concretizado através de viagens de instrução e embar-ques de cadetes da Escola Naval, de que se destaca a participação de uma fragata e de uma corveta no CADET TRAINING 09, e de embarques para estágio no âm-bito dos processos de formação dos mili-tares da Marinha.

O ano de 2009 afigura-se exigente para o Comando Naval, contudo os desafios são, também, oportunidades para conti-nuar a afirmar a Marinha – pela relevân-cia, pela prontidão e pela flexibilidade das suas forças e unidades operacionais.

J.C. Saldanha LopesVALM

O CALM Pereira da Cunha é o novo Comandante da SNMG1

O CALM Pereira da Cunha é o novo Comandante da SNMG1

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6 MARÇo 2009 • Revista da aRmada

“adeus”, “Boa viagem”, “Vai dan-do notícias”. As famílias des-pedem-se daqueles que estão

prontos para iniciar a missão da NATO, a bordo do navio-almirante da Standing Nato Maritime Group 1. Os familiares vêm a Fragata afastar-se do cais, retirando-se aos poucos enquanto o navio se afasta em di-recção à saída do Canal do Alfeite.

Os primeiros dias são marcados por cres-centes expectativas relativamente à missão atribuída. De forma a aferir os estados de prontidão das várias áreas operacionais do navio, embarcou uma equipa de elemen-tos da Flotilha, que contribuíram para uma maior qualidade do treino interno efectua-do, avaliando séries de exercícios variados no âmbito da batalha interna, como a simu-lação de incêndios e alagamentos.

Objectivo Ferrol. A chegada à cidade é marcada por dias de frio e chuva. A guar-nição mobiliza-se para terminar todos os preparativos necessários para que o navio receba o comando da SNMG1 no dia 23 de Janeiro, numa cerimónia simples, mas carregada de significado para a Marinha e para a guarnição. Nesse mesmo dia foi oferecida uma recepção a bordo do ago-ra navio-almirante, com convidados da fragata espanhola SPS “Almirante Juan de Borbon”, altas entidades da NATO e da Marinha Portuguesa.

Muitos são os destinos e os locais a vi-sitar. A base naval espanhola, situada em Ferrol, permitiu dias de descanso à guar-nição, com as suas ruas pitorescas, restau-rantes e lojas. Para quem quis, foi possível ir conhecer Corunha ou Vigo, e os mais saudosos aproveitaram a oportunidade de fazer uma viagem até Lisboa e surpreen-derem as famílias com uma visita. No fim--de-semana, a região foi atingida por uma tempestade que poucos já terão assistido. Chuva, granizo e rajadas de vento de 150 km/h fizeram aumentar o tempo de estadia em Espanha em mais um dia.

No dia seguinte, uma volta rápida pela cidade revelou um cenário invulgar, com árvores de grande porte tombadas na es-trada, candeeiros caídos, carros com os vidros estilhaçados e telhados destruídos.

A partida adiada ocorre finalmente e signifi-ca, aos olhos da toda a guarnição, o verdadeiro início da missão. O próximo destino seria o por-to inglês de Portsmouth, com chegada marcada para dia 30 de Janeiro.

A tirada é curta, mas com muitas actividades. O planeamento diário de actividades contempla

exercícios de incêndio e alagamento, exercícios de guerra anti-submarina e guerra anti-aérea, exercícios de comunicações, marinharia e no

final da semana um exercício de postos de com-bate nas áreas de exercício a Sul de Plymouth, em companhia dos navios a realizarem o Ope-rational Sea Training.

À chegada a Portsmouth, já na companhia do FGS “Emden”, somos surpreendidos pelo bom tempo que se faz sentir. Apesar das temperaturas negativas, o sol irradia as ruas da cidade e o navio, aumentando o bem-estar entre a guarnição.

Para grande felicidade de todos, foi disponi-bilizado um transporte diário, com partida às 0800 da manhã e chegada de volta às 1800 da

tarde com destino a Londres. O Big Ben, o “London Eye” e o Palácio de Buckin-gham são as grandes atracções das fotogra-fias dos que se aventuraram por Londres. Também neste porto foi oferecida a bordo uma recepção pelo COMSNMG1, con-tando com a presença de ilustres convida-dos como o Almirante Sir Mark Stanhope KCB OBE, Commander Allied Maritime Component Command Northwood, numa agradável noite de saudável convívio.

A guarnição despediu-se de Ports mouth com um grande nevão, deixando para trás uma paisagem branca e gelada, rumo a mais uma ocupada semana em compa-nhia do FGS “Emden”, que entretanto in-tegrou a SNMG1.

Nas seguintes semanas de mar, que nos separam de uma estadia em Lisboa, vol-támos a ter um planeamento bem preen-chido incluindo uma nova passagem nas áreas de exercício do FOST, em que os navios da força treinaram em companhia da TG 603. Foram realizados diversos e exigentes exercícios, que mais uma vez se revelaram proveitosos para a manuten-ção dos padrões de prontidão da Força. São exemplo disso os exercícios do tipo CASEX e ADEX, culminando com a parti-cipação na “Weekly War” para treino em ambiente multi-ameaça.

Terminada a participação no OST a for-ça rumou a Sul, em direcção a águas por-tuguesas, a fim de participar no exercício INSTREX 09. Este exercício, liderado pelo Comandante da Força Tarefa Nacional, CMG Luis Carlos de Sousa Pereira, a bor-do do N.R.P. “Corte-Real”, contou assim com a participação dos navios da SNMG1. Nesta semana preenchida foram criadas oportunidades de treino nas mais diversas áreas, envolvendo todos os navios: N.R.P. “Corte-Real”, N.R.P. “Bérrio”, N.R.P. “João Roby”, N.R.P. “António Enes”, N.R.P. “Bap-tista de Andrade”, N.R.P. “Orion”, N.R.P. “Hidra” e N.R.P. “Bacamarte”, e os na-vios da SNMG1, já contando com o USS “Klarkring” que entretanto integrara a For-ça. Foram jogados diversos cenários de guerra anti-submarina com o N.R.P. “Bar-

racuda”, guerra anti-aérea com a colaboração de aeronaves da Força Aérea Portuguesa, tiro contra alvo rebocado, operações de interdição marítima, boarding com as equipas do PEL-BOARD embarcadas e reabastecimento com o N.R.P. “Bérrio”.

(Colaboração do COMANDO DO NRP “ÁLVARES CABRAL”)

O NRP “Álvares Cabral”NA STANDING NATO MARITIME GROUP 1

O NRP “Álvares Cabral”

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Revista da aRmada • MARÇo 2009 7

A minha recente nomeação para professor da Escola Naval sus-citou-me uma reflexão sobre

as responsabilidades que decorrem do exercício deste cargo. Certamente que, do ponto de vista académico, são im-portantes. Porém, na Escola Naval não sou, nem me sinto apenas professor! Usufruo da condição de oficial da Ar-mada e o título que me foi atribuído é de professor militar. Por isso, o exercício do cargo não me responsabiliza apenas por leccionar ma-térias académicas, tarefa que está ao alcance de muitos. Requer, também, que as ministre no contexto da minha condição militar, o que é bem mais exigente e alician-te. Na realidade, tais circunstâncias impõem a todo o professor militar da Escola Naval um desafio acres-cido, decorrente da necessidade de passar às novas gerações um saber adequado sobre as virtudes militares que devem cultivar e praticar, o que, face às características da função social dos oficiais da Armada, ad-quire tanta importância como as compe-tências académicas.

Decidi, por isso, que ao longo de 2009 dedicarei aos cadetes da Escola Naval um conjunto de artigos sobre as virtu-des militares que devem ser educadas e exercitadas pelos oficiais da Armada, apresentando-os consoante permitirem as circunstâncias das minhas actuais fun-ções e as disponibilidades editoriais da nossa revista. Este primeiro artigo tem a particularidade de ser escrito com o pensamento num amigo recentemente falecido, o vice-almirante António Sac-chetti, um grande professor militar que tive, cuja carreira pública permanecerá como um belo exemplo de uma longa ca-minhada, que patenteia as três virtudes militares primaciais de todo o oficial da Armada, que servem de título a este arti-go: abnegação, sacrifício e carácter!

A abnegação, por um lado, implica

disponibilidade para realizar trabalho impessoal, focalizado nos interesses na-cionais e regulado por princípios morais, cujo resultado apenas proporciona a sa-tisfação do dever cumprido. Por outro lado, a abnegação é traduzida pela soli-dariedade ilimitada que o oficial da Ar-mada manifesta à Pátria, que jurou de-fender com o sacrifício da própria vida. Ora, isso só é possível a quem dispõe de um carácter firme e indissolúvel peran-te as maiores adversidades e perigos, e

a quem, nessas circunstâncias, manifesta uma total disponibilidade para cumprir as suas tarefas com um sentido de dever inigualável, que se sobrepõe ao de qual-quer outra função social ou profissão.

O oficial da Armada também deve possuir um elevado espírito de sacrifí-cio, traduzido pela: probidade na satis-fação das suas necessidades materiais à custa de um salário modesto face ao es-forço que desenvolve; adopção de uma vida frugal e de total dedicação à insti-tuição militar e ao país, quantas vezes renunciando aos desejos pessoais e às solicitações familiares; manutenção de um respeito firme pelos regulamentos militares, mesmo quando daí decorrem prejuízos pessoais; lealdade inabalável ao juramento prestado, de servir a Pátria até ao limite das suas capacidades.

A abnegação e os sacrifícios só são as-sumidos voluntariamente pelos oficiais da Armada dotados de um carácter que, para além de firme e indissolúvel peran-te adversidades e perigos, também é cor-

recto nas atitudes, ponderado na força das acções e firme na vontade.

A correcção das atitudes está ligada à generosidade dos sentimentos, ao senti-do de justiça na sanção das faltas, à inte-gridade moral, à prudência, à austerida-de de conduta e à magnanimidade.

A força das acções depende da ener-gia que o oficial da Armada dispõe para, com rigor e ponderação, impor a sua au-toridade nos momentos difíceis, revelan-do autoconfiança e tenacidade.

A f i rmeza da vontade é revela-da pela constância no cumprimento do dever, pela co-ragem moral, pela preserverança e pelo repúdio ao mal e à desones-tidade.

As qualidades de nobreza de ca-rácter, que levam a comportamentos abnegados e com espírito de sacrifí-cio, não resultam da condição social do cidadão que ingressa na Esco-la Naval, da força

das leis e dos regulamentos militares que balizam os seus comportamentos, nem dos postos a que é promovido ao longo da carreira. São uma proprieda-de que cada oficial da Armada cons-trói permanentemente, pela educação e pelo hábito. Nestas circunstâncias, nós, os professores militares da Escola Na-val, quando nos situamos no presente e nos relacionamos com os jovens cade-tes, tal como fez o Vice-almirante Antó-nio Sacchetti com seus alunos, devemos: incentivar o amor à Marinha e à Pátria; evidenciar a importância da correcção das atitudes e do desempenho das suas obrigações; realçar a importância da fir-meza no comando e da cordialidade no trato; enfatizar a ponderação no discur-so e no sentido do respeito por superio-res e subordinados; proclamar a conduta adequada e irrepreensível como pilar da disciplina militar.

António Silva RibeiroCALM

Abnegação, sacrifício e carácterEm memória do VALM António Sacchetti

Abnegação, sacrifício e carácter

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8 MARÇo 2009 • Revista da aRmada

l Em cumprimento do plano anual, a Autori-dade Marítima Nacional, em cooperação com a Agência Europeia de Segurança Marítima (EMSA), realizou nos dias 17 e 18 de Novembro, o exercício de combate à poluição do mar por hidrocarbonetos “Austral 2008”, perto da vila da Salema (Vila do Bispo, Algarve), com uma com-ponente de praia e outra de mar. Esta zona, inse-rida no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e da Costa Vicentina e onde o tráfego marítimo que cumpre o Esquema de Separação de Tráfego do Cabo São Vicente se aproxima das costas al-garvias, é sensível e tem riscos que exigem pron-tidão e treino para a acção.

No “Austral 2008” simulou-se a resposta a um sinistro: na tarde de 17 de Novembro, uma ex-plosão num navio-tanque a 15 milhas a Sul da Salema, provocou um derrame de 2.000 m3 de IFO 380, que veio a atingir a costa na praia da Boca do Rio (freguesia de Budens, concelho de Vila do Bispo). Foi activado o Plano Mar Limpo no 2º grau de prontidão, com a direcção e a co-ordenação das operações de combate à poluição a cargo do Chefe do Departamento Marítimo do Sul (DMS), ainda que com apoio de meios e pes-soal, ao Serviço de Combate à Poluição do Mar por Hidrocarbonetos (SCPMH) da DGAM.

Perante a constatação do “derrame”, o exer-cício simulou na noite de 17 de Novembro o pedido de cooperação internacional, através do Monitoring and Information Center (MIC) da UE, e de que resultou a “contratação” do N/T “Galp Marine”, baseado em Sines e sob contrato da EMSA para apoiar os Estados-membros da UE

em situações deste tipo.Na manhã de 18 de Novembro, instalou-se o

dispositivo e iniciaram-se as operações de limpe-za na praia da Boca do Rio, e instalou-se o dispo-sitivo no mar, a Sul da vila da Salema, para conter e recolher o poluente derramado.

Na praia, usando folhas secas para simular o poluente, deu-se ênfase ao treino do pessoal do DMS e respectivas capitanias, do Comando da Zona Marítima do Sul e do SCPMH na limpe-za de rochas, da areia e do rio, e na articulação com as autoridades locais quanto à remoção e eliminação dos resíduos. Participaram nas ope-rações 20 alunos da Universidade do Algarve, e dez especialistas em vida marinha coordenados pelo ZOOMARINE. Estiveram envolvidos nas operações da praia, que se concluíram pelas 16h, cerca de 100 homens e mulheres entre ci-vis, militares e militarizados, incluindo os agentes da Policia Marítima.

No mar, a mancha foi simulada por pipocas e usou-se a configuração em “J”, com um chicote duma barreira oceânica de 250 m no N/T “Galp

Marine” e o outro chicote num rebocador, para conter o poluente e o recolher por um recupera-dor operado desde o navio-tanque. Efectuaram-se duas operações de recolha, com um rebocador e um rumo diferentes em cada uma, e após o NRP “Sagitário” lançar cerca de 400 kg de pipocas de cada vez. Os dois rebocadores foram disponibi-lizados pelo Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos, que se associou ao “Austral 2008”. Além do NRP “Sagitário”, o Comando Naval atribuiu o NRP “António Enes” para embarcar as autoridades e os convidados a observar a com-ponente de mar, e a Força Aérea Portuguesa ce-deu um helicóptero Alouette III para a Marinha efectuar filmagens aéreas.

A ondulação inferior a um metro, o vento fra-co e a temperatura amena ajudaram ao êxito do exercício.

Colaboraram ainda no “Austral 2008”, a C.M. de Vila do Bispo, a GNR, a J.F. de Budens, as au-toridades regionais e locais da protecção civil, o INEM, os B.V. de Vila do Bispo e a Cruz Verme-lha Portuguesa. Assistiram ao “Austral 2008”, na praia ou embarcados, cerca de 50 convidados, das autarquias locais, das autoridades ambien-tais, de protecção civil e policiais, de empresas petrolíferas e de recolha de resíduos, de centros de investigação e universidades, dando corpo ao espírito de cooperação pluridisciplinar e plu-ri-institucional e servindo o fim de dotar Portu-gal da adequada prontidão de resposta à polui-ção do mar.

CMG Luís Reis Ágoas, Chefe do DMSCMG ECN Jorge Silva Paulo, Chefe do SCPMH

ExErcício “AUSTrAL 2008”

l Realizou-se de 21 a 23 de Novembro o exer-cício PROCIV IV, que visou treinar a resposta dos meios de protecção e socorro a um sismo na região de Lisboa. Este exercício foi concebi-do e coordenado pela Autoridade Nacional de Protecção Civil, tendo a Marinha e a Autoridade Marítima Nacional participado em alguns dos subcenários que se desenvolveram nas margens do estuário do Rio Tejo, no âmbito das suas atri-buições de Protecção Civil com incidência no mar e na faixa litoral. Este artigo centra-se no sub-cenário 4C, que decorreu em 23 de Novembro, junto às instalações da Tanquipor no Barreiro, no qual esteve envolvido o Serviço de Combate à Poluição do Mar por Hidrocarbonetos (SCPMH) da DGAM.

No subcenário 4C assumiu-se que uma réplica mais violenta do sismo original, ocorrida cerca das 9h, provocou uma fuga num tanque de amo-níaco da Tanquipor e um derrame de combustível de um navio atracado no cais; assumiu-se que a amarração se desfez, ficando o navio livre e aca-bando por ir encalhar no molhe Oeste.

Logo que as autoridades de protecção civil alertaram a Autoridade Marítima Local (capitão

do porto de Lisboa) para o derrame junto ao cais da Tanquipor e no canal do Montijo, foi activado o Plano Mar Limpo no 2º grau de prontidão, por se presumir que foram dezenas de toneladas der-ramadas, o que exige um grande empenho de re-cursos no rio e numa longa extensão de margens. As duas horas ocupadas no combate à nuvem tó-xica por outras entidades foram usadas para des-locar os meios do SCPMH para a Tanquipor. O combate à poluição no rio iniciou-se pelas 11h, depois de se ter dissipado a nuvem tóxica.

As operações de combate à poluição foram di-rigidas pelo chefe do Departamento Marítimo do Centro e executadas pelas Autoridades Marítimas

Regional (Centro) e Local (Lisboa) e pelo SCPMH, presente com os seus 20 efectivos, duas lanchas fluviais de combate à poluição, a UAM “Enchen-te” (navegou pelos seus meios para o local) e a UAM “Vazante” (transportada sobre galera por terra), uma semi-rígida e um bote de apoio, bar-reiras de estuário, máquinas de lavagem, recupe-radores e tanques portáteis, duas viaturas pesadas e três ligeiras, e uma auto-grua.

As operações duraram duas horas e consisti-ram na recolha do poluente (simulado por 50kg de pipocas, lançadas ao rio em frente ao cais), usando as duas lanchas fluviais de combate à poluição, e na colocação de barreiras em volta do “navio sinistrado”, para conter a mancha e facilitar a recolha do poluente localmente. Pelas 13h, concluiu-se o exercício de combate à polui-ção e também o PROCIV IV. De notar que desde 2004 que aquelas lanchas não eram usadas em situações reais ou exercícios, pelo que o PRO-CIV IV, ocorrido logo após o “Austral 2008”, foi uma excelente oportunidade para treinar todos os meios do SCPMH.

CMG ECN Jorge Silva PauloChefe do SCPMH (DGAM)

ExErcício “ProciV iV”

COMBATE À POLUIÇÃO

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Revista da aRmada • MARÇo 2009 9

A MARINHA DE D. JOÃO III (43)

As campanhas no Mar Vermelho e Golfo PérsicoAs campanhas no Mar Vermelho e Golfo Pérsico

A região do Médio Oriente teve um papel preponderante no movimen-to comercial que escoava os exce-

dentes do Índico, que passavam para o Mediterrâneo e eram distribuídos para a Europa. Naturalmente que foi esta uma das grandes fontes de rendimento dos sultões do Cairo, na altura em que os portugue-ses chegaram à Índia. D. Manuel teve uma clara noção disso e definiu como objectivo nacional a asfixia deste fluxo de mercado-rias, bloqueando-lhe as portas de acesso. Não era, porém, uma região homogénea nas suas capacidades comerciais nem era controlada por um só poder político. De-vemos distinguir a parte mais ocidental, inicialmente sob a alçada dos mamelucos e de-pois dos otomanos, e uma zona oriental, onde imperava o reino da Pérsia, com controlo sobre uma parte do Golfo de Ormuz. Para além destes dois potenta-dos, proliferavam – como era típico no Índico – um conjunto de pequenos reinos, com auto-nomia relativa, que geriam as suas relações externas como um jogo de gato e rato cujo objectivo era garantir a sua in-dependência política e pros-peridade económica. Assim acontecia, por exemplo, com o reino de Ormuz, que tutelava a ilha à entrada do Golfo, su-jeitando-se à vassalagem por-tuguesa, com o beneplácito do Sha da Pér-sia que assim obtinha um aliado poderoso contra os turcos.

Do lado do Mar Vermelho dominava o sultão do Cairo, substituído em 1517 pelos Otomanos, mas com igual animosidade contra os portugueses. Foi do Egipto que saiu a esquadra que defrontou D. Lourenço de Almeida em 1509, e era do Mar Verme-lho que saíam, amiúde, pequenas frotas de corsários que atacavam os aliados dos por-tugueses nos Golfos de Aden ou de Oman. E deve ter-se em conta que o Golfo Pérsi-co não era apenas um ponto de passagem de mercadorias e tinha riquezas próprias como eram os cavalos árabes ou as pérolas do Bahrain, que pagavam taxas na alfânde-ga de Ormuz. Para além disso, era local de presas fáceis, onde os fidalgos gostavam de ir temperar as suas armas, em campanhas marítimas de custo reduzido.

De forma que uma das primeiras deter-minações de D. Afonso de Noronha, logo após a resolução dos conflitos de Cochim, foi o envio de uma pequena armada de cinco fustas ao Mar Vermelho, cujo coman-

do entregou a Luís Figueira. Este fidalgo p ertencia ao círculo de amizades do infan-te D. Luís e tinha grande prestígio na Índia, mas no ano anterior estivera no Estreito e viera de lá sem grande brilho e acusado de cobardia, por ter arribado e fugido ao com-bate com o corsário Cafar, que viera atacar Mascate e as naus que, em Outubro, se-guiam de Ormuz para Goa. Figueira queria provar a sua valentia com uma ansiedade que não é boa conselheira e convida à pre-cipitação. Saiu de Cochim em Janeiro de 1501, passou por Goa e seguiu para o Bab el Mandeb, onde se acoitou no meio das ilhas que ficam à entrada do Estreito, esperando

surpreender o adversário que lhe fugira no ano anterior. De facto, seis ou sete dias de-pois apareceu Cafar com cinco navios, mas o ataque dos portugueses não foi feito da melhor forma, perdendo a vida Luís Figuei-ra e aprisionada toda a sua tripulação. O resto da armada saiu do Mar Vermelho com ponente rijo. Gaspar Nunes, que comandava outra fusta, não suportou o vexame do su-cedido, envergonhado por ter perdido o seu comandante sem que a esquadra se tivesse empenhado num combate franco. Não su-portava regressar a Goa com esse peso na consciência, de forma que resolveu encalhar o navio na costa da Etiópia, metendo-se a pé por terra dentro em direcção ao reino do Preste João. As três fustas restantes foram para Goa, atacando, pelo caminho, um na-vio que detinha cartaz de salvaguarda por-tuguês, em mais uma acção desastrosa por que vieram a ser julgados.

A campanha saldara-se por um resultado desastroso, mas o vice-rei não deixaria de en-viar outra armada à zona no ano seguinte. Desta vez sob o comando de seu sobrinho, D. Antão de Noronha, com 1200 homens em

sete galeões e 12 navios de remo, que parti-ram em Abril de 1552, com uma missão espe-cífica de socorrer os aliados do Golfo Pérsico, assolados pelos ataques turcos. Apesar da sua crónica dificuldade em desenvolverem grandes acções no mar – sobretudo com na-vios de alto bordo em combates que exigis-sem grande capacidade de manobra – o raio de acção destes poderosos inimigos cruzava toda a Península Arábica e chegava à costa ocidental do Golfo. Desta vez tinham ataca-do e tomado Bassorá e a cidade de Catifa, muito perto do Bahrain. Esta última ficava em plena zona de produção de pérolas, e Bassorá domina o Shat el-Arab, canal em que

se juntam os rios Tigre e Eufra-tes, antes de entrarem no Golfo. Bassorá é o último entreposto da Mesopotâmia e a grande ligação a Bagdad do tempo do califado, com uma importância estratégi-ca determinante para a Pérsia e para todos os reinos das imedia-ções de Ormuz.

Sobre Catifa foi montado um cerco com 1100 portugueses e cerca de 3000 persas, com um forte dispositivo de artilharia que atacou as muralhas defen-didas por 400 turcos, e a cidade caiu em pouco tempo. A tutela sobre ela era do rei de Ormuz, mas foi decidido destruí-la por incapacidade em deixar ali uma guarnição que impedisse a sua reocupação. De seguida, D. An-

tão dirigiu-se a Bassorá, com os navios de remo que trouxera da Índia e outros que re-colhera em Ormuz, num total de 18 fustas, onde embarcou quase todo o contingen-te português, esperando um reforço per-sa para o ataque. Os otomanos, contudo, conseguiram montar um estratagema que enganou os aliados persas e impediu a co-ordenação de esforços. Antão de Noronha acabou por retirar-se sem a atacar e, em Se-tembro, já se encontrava em Goa, como lhe tinha ordenado o vice-rei, porque precisava dele para comandar a Armada do Malabar, durante o resto da estação. A sua missão era dar caça aos navios de Calecut ou do Extremo-Oriente que iam para o norte sem o controlo português. O vice-rei, entretan-to, empenhara-se numa importante jorna-da à ilha de Ceilão, de que falaremos numa próxima Revista. Era assim mesmo o jogo diplomático português na Índia: proteger aliados para garantir ajudas estratégicas e manter a predominância naval.

J. Semedo de MatosCFR FZ

Arquivo Nacional da Torre do Tombo - Fragmento de uma carta da autoria de João Teixeira (1620-40). Nela se pode ver a expansão do Império Otomano no Egipto e Arábia, assina-lada pelas bandeiras com o crescente, sem entrar na região da Pérsia, cujo reino continuou a dominar uma parte da costa do respectivo golfo.

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10 MARÇo 2009 • Revista da aRmada

UM TESOURO A PRESERVARENQUADRAMENTO

O que nos interessa sobretudo na His-tória será dar (…) conteúdo eterno ao que acaba por aparecer como um empoeirado, como um arqueológico episódio do passa-do (Agostinho da Silva - filósofo).

Quando falamos de património ar­queológico subaquático é neste in­teresse de dar conteúdo eterno que

estamos essencialmente a pensar. Que­remos que estas peças de cultura sejam investigadas, analisadas, preservadas e possam ser partilhadas como patrimó­nio comum da huma­nidade.

Este património é di­versificado e é constituí­do, principalmente, pe­los mais de três milhões de navios naufragados, que se estima existirem, desde o mediático “Ti­tanic” até aos navios de Cristóvão Colombo, para além de outros ves­tígios subaquáticos que não navios. Conforme é referido numa brochura da UNESCO (United Na-tions Educational, Scien-tific and Cultural Orga-nization), um naufrágio, assim como uma ruína submersa é uma cápsula do tempo esperando para ser revelada. Todos estes vestígios podem contribuir para o conhecimento histórico e social da humanidade e são um teste­munho inestimável da cultura das civili­zações passadas.

O interesse pelos sítios e artefactos ar­queológicos são diversificados. Vão desde a comunidade científica que quer preser­var e analisar esta valiosa fonte de infor­mação, até às empresas de turismo, em geral, e em particular as dedicadas ao mer­gulho de lazer, e ao público, que continua a frequentar os museus sobre estas maté­rias (v.g. o navio Mary Rose em Portsmou­th). Dentro destes interesses, há um que não pode ser esquecido: as empresas que desenvolvem actividades como caçado­ras de tesouros para fins comerciais e cujo principal objectivo é a obtenção de lucro. A exploração, recolha e comércio destes artefactos são actividades lucrativas, nor­malmente associadas à utilização de téc­nicas destrutivas que fazem desaparecer todo o conhecimento (v.g. furto e utiliza­ção de explosivos).

Tendo em atenção que as actividades su­

baquáticas são milenares e sempre foram fundamentalmente relacionadas com ac­tividades militares e económicas (resgate de bens perdidos nos naufrágios e recolha de recursos naturais), porquê esta preocu­pação relativamente recente com este pa­trimónio? As preocupações arqueológicas surgem quando o património começa a ficar em perigo. Desde meados do sécu­lo XX, quando foi inventado o escafandro autónomo (Self Contained Underwater Brea-thing Apparatus - SCUBA), que se passaram a atingir maiores profundidades no mer­gulho. Actualmente já se consegue descer a 140 metros com circuito fechado, para

além da possibilidade de serem usados aparelhos não tripulados.

Assim, com o progresso nas técnicas de exploração e com uma acessibilidade a es­tes equipamentos sem precedentes, os fun­dos marinhos e os vestígios arqueológicos e históricos nele assentes ficam explorá­veis por empresas e pessoas sem prepara­ção, nem formação, mas essencialmente sem escrúpulos. Como referiu Francisco Alves, Director do Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática, cita­do pelo jornal Expresso, sobre a nau por­tuguesa descoberta na Namíbia: trazemos conhecimento para casa, conhecimento para o futuro. É a diferença entre nós e os caçadores de tesouros, cujo objectivo é o lucro. De facto, a profundidade já não protege da depre­dação e destruição.

A RESPOSTA DO DIREITOA resposta que a comunidade interna­

cional está a dar às actividades dos caça­dores de tesouros, que procuram as lacu­nas no ordenamento jurídico, para, na falta

de protecção jurídica, poderem explorar e apropriar­se de objectos com vista só ao lu­cro, passou pela criação de uma convenção internacional, a Convenção da UNESCO para a Protecção do Património Cultural Subaquático (Convenção da UNESCO de 2001). Esta Convenção entrou em vigor para os Estados­partes em 02 de Janeiro de 2009, integrando Portugal o grupo ini­cial de vinte países, ao ter ratificado a Con­venção em 2006.

A recepção desta Convenção no ordena­mento jurídico Português implicará uma alteração do quadro legal nacional. Este contém diversos diplomas que dispõem

sobre o património cul­tural subaquático, no que concerne à compe­tência, ao regime e às disposições sanciona­tórias. Assim, a compe­tência nesta matéria, no continente, é do IGES­PAR, I.P. – Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Ar­queológico (Decreto­Lei n.º 215/2006, de 27 de Outubro, entre outros), embora outras entida­des também tenham nas suas atribuições a pre­servação e a protecção deste património (v.g. Sistema de Autoridade Marítima).

Quanto ao regime que rege a actividade arqueológica subaquáti­ca, está em vigor o Decreto­Lei n.º 164/97, de 27 de Junho. Este diploma já não res­pondia, de forma cabal, à necessidade de protecção do património cultural suba­quático, mesmo antes da entrada en vigor da Convenção, pois só “protege” o que se encontra para o interior das 12 milhas náu­ticas, i.e. mar territorial e águas interiores, para além de outras águas que pertencem ao domínio público lacustre e fluvial. Des­te modo, este diploma não inclui ainda, no seu quadro sancionatório, contra­ordena­ções relativas a trabalhos ilícitos na zona contígua (ZC ­ entre as 12 e as 24 milhas náuticas), cuja legitimidade para fiscalizar encontra fundamento no art. 303.º da Con­venção das Nações Unidas sobre o Direi­to do Mar (CNUDM), em conjugação com o Decreto­Lei n.º 34/2006, de 28 de Julho (“Lei do mar”).

Importa aqui salientar que a fiscaliza­ção é uma tarefa essencial. Nesta matéria, o paradigma é colaboração, pois embora a actividade de fiscalização do cumprimento das disposições do diploma seja da com­

O Património Arqueológico Subaquático O Património Arqueológico Subaquático

Trabalhos subaquáticos em São Julião da Barra.

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Revista da aRmada • MARÇo 2009 11

petência do IGESPAR, este pode solicitar a colaboração de outras entidades. É no âmbi­to desta necessidade de colaboração que surgiu o Decreto Regulamentar (DR) n.º 86/2007, de 12 de Dezembro, que visa re­gular, de forma integrada, a articulação, nos espaços marítimos sob soberania ou jurisdição nacional. No que a esta maté­ria diz respeito, o DR dispõe que, na ZC, os órgãos locais da Autoridade Marítima adoptam medidas cautelares e urgentes de fiscalização e de polícia.

Devido aos problemas já explicitados no início, a comunidade internacional vem desde há alguns anos a mostrar a sua preo­cupação e a recomendar a criação de uma convenção sobre a matéria ora em apreço, pois a CNUDM só dispõe de dois artigos relevantes (art.s 149.º e 303.º), que têm sido considerados manifestamente insufi­cientes. Neste sentido, foram dados diver­sos passos ao longo dos anos, desde recomenda­ções, a declarações de princípio, projectos de convenções por entida­des relevantes (UNES­CO, Conselho da Eu­ropa, Cultural Heritage Committee da Internatio-nal Law Association), ou mesmo a Carta do ICO­MOS (International Cou-ncil on Monuments and Sites) sobre a Protecção e Gestão do Património Cultural Subaquático. Finalmente, a 2 de No­vembro de 2001, surge a já citada Convenção da UNESCO, que ora entrou em vigor. Trata­­se de uma Convenção específica para esta matéria e reflecte a consciência da comunidade internacional relativamente à importância cultural e his­tórica deste património e os perigos cres­centes associados e pela qual efectuaremos um breve excurso.

A Convenção define património cultu­ral subaquático como todos os vestígios da existência do homem de carácter parcial ou to-talmente, periódica ou continuamente, submer-sos há, pelo menos, 100 anos. Um princípio essencial é que os Estados têm obrigação de conservar o património cultural su­baquático em benefício da humanidade. Dentro desta obrigação, a conservação in situ, i.e. no leito marinho, é considerada como a primeira opção. Esta manutenção no local é importante em termos científi­cos e respeita o contexto histórico do ob­jecto, para além de atingir o equilíbrio com o ambiente e ficar melhor preservado. O mar torna­se o protector da sua presa. Outro dos grandes princípios é a preven­ção da exploração comercial e da especu­lação. Esta regra vem estabelecer que estes bens não têm carácter comercial, pelo que

não devem ser negociados, comprados ou trocados. Foi necessário acabar com a tra­dição antiga do princípio first come, first served das normas sobre os salvados ma­rítimos. A Convenção não regulamenta a propriedade ou titularidade de um bem cultural entre as várias partes interessa­das (normalmente entre Estado costeiro e o Estado de pavilhão). Também não toma opção, relativamente aos direitos sobre os navios ou aviões de Estado, entre o princí­pio da imunidade soberana (um navio ou aeronave de Estado, mesmo afundado, em qualquer local, mantém a sua imunidade e também a propriedade do Estado) e o prin­cípio da protecção do património cultural. Neste âmbito, o Estado Português, embora defenda que o princípio da imunidade so­berana deva ser respeitado, o que deseja é que o seu património cultural subaquáti­co seja protegido e investigado, e que con­

tribua para o desenvolvimento da ciência e da cultura. Foi o que aconteceu quando da descoberta dos vestígios de nau portu­guesa do século XVI, descoberta em Abril de 2008 ao largo da Namíbia.

Dependendo da localização, nas zonas marítimas, dos bens arqueológicos, a Con­venção estabelece regimes específicos, pelo que passaremos a descrever sucintamente aqueles que são inovadores:

Na Área a legitimidade para actuar é só do Estado de pavilhão do navio de onde parte a actividade relativa aos bens arqueo lógicos (cada país tem obrigação de legislar no sentido dos seus nacionais comunicarem as descobertas). Por outro lado, a Zona Económica Exclusiva e a Pla­taforma Continental são zonas de jurisdi­ção muito limitada, no que diz respeito aos bens arqueológicos, pelo que a pala­vra­chave da Convenção é cooperação, associada a uma obrigação de comunica­ção internacional. Se nenhum Estado tiver jurisdição sobre o local, será nomeado um Estado coordenador com competência es­tabelecida na Convenção.

Por fim, uma palavra sobre o Anexo; este é constituído por 36 artigos, com base na carta de ICOMOS, e é uma parte essencial desta Convenção, pois contém regras prá­ticas, de carácter técnico, que já represen­tam um padrão internacionalmente aceite, mesmo antes da sua entrada em vigor, no tratamento e na investigação do patrimó­nio cultural subaquático.

CONCLUSÃO

Face ao exposto, importa reter os seguin­tes pontos conclusivos:

Portugal aderiu à Convenção da UNES­CO de 2001, o que demonstra a vontade de integrar o grupo dos que querem efec­tivamente proteger o património cultural subaquático, lutando contra os saques e pilhagens, e contra a delapidação deste pa­trimónio comum da humanidade.

A entrada em vigor da Convenção de 2001, a 02 de Janeiro de 2009, obri­ga os Estados a adaptar a sua legislação nacional. Portugal não é excepção, pelo que o Decreto­Lei n.º 164/97, de 27 de Ju­nho terá que ser altera­do, estabelecendo pro­cedimentos obrigatórios para as diversas zonas marítimas, ligados a um adequado regime con­tra­ordenacional, por forma a exercermos uma protecção eficaz.

Por último, a pala­vra­chave – cooperação. Para além da coopera­ção externa, também a cooperação interna é

muito importante e deve haver sensibili­zação pelos órgãos competentes, nas ma­térias da arqueologia subaquática para que todas as entidades públicas participem na fiscalização destas actividades com o fim de evitar práticas ilícitas. A Marinha cer­tamente está disponível e pronta para esta “batalha”.

Sabemos que estas poucas linhas são uma pequena gota num oceano de informação. No entanto, com muitas pequenas gotas de água se faz um mar e, neste mundo, ainda algo misterioso, porque escondido debaixo da água, é preciso juntar as gotas, colabo­rar, estarmos atentos e trabalhar em equipa, pois da distracção da maioria se faz a profunde-za de alguns (Vergílio Ferreira).

António Neves CorreiaCFR

Fotos: CFR Alves Salgado

NotaTexto adaptado de uma palestra efectuada na Aca­

demia da Marinha, em 06NOV08, no Symposium “Os Naufrágios Portugueses e Espanhóis no Arquipélago dos Açores” (em fase de publicação)

Trabalhos subaquáticos em São Julião da Barra.

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12 MARÇo 2009 • Revista da aRmada

As Provas de Aptidão Profissional na Escola de Tecnologias Navais

a Prova de Aptidão Profissional (PAP) consiste na concepção, execução e defesa por parte do aluno, de um

projecto de Aptidão Profissional visando o desempenho profissional em áreas do sector relacionado com o curso frequentado.

O projecto tem carácter de investi-gação aplicada, integradora e mobi-lizadora dos saberes e competências adquiridos ao longo do plano de for-mação desenvolvido em sala de aula e em contexto de trabalho.

A PAP é uma das componentes do currículo de formação das escolas pro-fissionais, constituindo-se como con-dição de obtenção de diploma pro-fissional.

No decorrer do ano transacto, na Es-cola de Tecnologias Navais (ETNA), rea-lizou-se em Março e Julho, a apresenta-ção das PAP do Curso de Formação de Sargentos Maquinistas Navais – Alista-mento (CFA31) e Curso de Formação de Sargentos Electrotécnicos – Alistamento (CFA36), respectivamente.

A PAP é desenvolvida integralmente pelos alunos dos 3ºs Anos dos CFA31 e CFA36, sendo esta, um requisito impor-tante para o reconhecimento da certifi-cação profissional de nível III conferida a estes cursos. Esta prova consiste na apresentação de um trabalho que pre-tende, por um lado, reflectir a capacidade de inovação e criatividade dos formandos, e por outro observar o grau de conhecimen-to adquirido ao longo do curso nas diversas áreas de formação, tanto ao nível teórico como prático.

Foram elaborados, com sucesso, em 2008, doze projectos: oito pelos formandos do CFA36 e quatro pelos do CFA31. Entre os doze trabalhos apresentados destacam--se alguns deles pela sua complexidade, inovação e aplicabilidade no seio da Mari-nha. São exemplos do anteriormente refe-rido, os seguintes projectos:

• Torpedo Trolley – O “Torpedo Trolley” é um equipamento pronto para utilizar, após

aprovação da DN, a bordo das Fragatas da classe “Vasco da Gama” e “Bartolomeu Dias” no municiamento do torpedo MK46 mod 5A (s) no helicóptero LYNX Mk95.

Este projecto consistiu em desenvolver um carro de transporte e carregamento de

torpedos - “Torpedo Trolley” moderno, com tracção, direcção e elevação óleo-hidráuli-ca, recorrendo ainda, a um sistema de con-trolo e de operação mais moderno e sofisti-cado que os actualmente existentes, sendo por isso mais fácil de manobrar e operar.

Com o desenvolvimento desta PAP os alunos propuseram vantagens significativas para a operação. Passou-se dos actuais qua-tro elementos na manobra para apenas dois (operador e supervisor), necessários para a operação de municionamento do torpedo no helicóptero LYNX Mk95.

Não existe no mercado nenhum equipa-mento com as funcionalidades do Trolley da ETNA.

• Unidade de Lavagem & Aspiração de Pavimentos – Esta PAP consistiu em recu-perar um aspirador auto da Esquadrilha de Helicópteros (EH) que se encontrava ino-perativo devido a diversas limitações ope-racionais.

Durante a sua recuperação, os alunos identificaram e corrigiram todas as ano-malias. A carroçaria estava deteriorada, o circuito eléctrico danificado, verifica-va-se uma acentuada perda de potência no sistema hidráulico e o circuito de combustível (gás butano) apresentava-se em mau estado geral.

Após a recuperação o equipamento ficou com o aspecto da figura. Proce-deu-se, ainda, à elaboração do manual com especificações técnicas e esque-mas de todos os circuitos.

• Estação móvel para testes hidráu-licos no helicóptero Lynx MK95 - “RiG Hidráulico” – Este trabalho consistiu em projectar e construir um RIG, para responder a todas os requisitos técni-cos estabelecidos pela DN e EH. O “Rig hidráulico” desenvolvido no âm-bito da PAP tem como “objectivo prin-cipal” testar todos os circuitos hidráu-licos existentes no helicóptero “LYNX MK95”, sem que para esse efeito seja necessário colocar os seus motores em funcionamento. Diga-se que é o mais

pequeno conhecido para operar a bordo de navios que embarcam Lynx e causou o espanto e interesse de vários Adidos Mi-litares e Navais que visitaram a ETNA no final de 2008. O valor de mercado deste equipamento, em tamanho maior e com menos funcionalidades, é muito superior ao custo de fabrico do equipamento cons-truído na ETNA .

• Caixa de Sinais para Reabastecimento Nocturno – Este trabalho teve por base o de-senvolvimento de um sistema de sinais para reabastecimento nocturno de modo a tornar este processo mais seguro e automatizado, favorecendo a comunicação nocturna entre navios no que respeita ao reabastecimento.

Criação de Valor na MarinhaCriação de Valor na Marinha

Aspirador Auto na Esquadrilha de Helicópteros.

Torpedo “Trolley” proposto na PAP.

Aspiradora auto totalmente recuperada. RIG Hidráulico construído pelos alunos.

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Revista da aRmada • MARÇo 2009 13

Este protótipo está presentemente a ser utilizado na ETNA pelo Departamento de Formação Geral (DFG), para formação e treino em procedimentos de reabasteci-mento (RAS.)

• Transmissor e Receptor ASK e FSK – Esta PAP visou o desenvolvimento de um apare-lho capaz de efectuar a transmissão e recep-ção de um sinal digital utilizando modulação de amplitude ASK (Amplitude Shift Key) e fre-quencia FSK (Frequency Shift Key).

Este projecto foi concebido para ser uti-lizado como kit de demonstração de todo o processo de modulação e desmodulação dos referidos sinais, no âmbito da discipli-na de Sistemas de Transmissão e Recepção leccionada no Departamento de Armas e Electrónica (DAE) da ETNA.

Para finalizar, importa referir que nos úl-timos oito anos muitas destas provas foram desenvolvidas e estão hoje a funcionar ao Serviço da Marinha em diferentes unida-des, referem-se, a título de exemplo, as seguintes:

• Upgrade da estrutura móvel – Dunker – O “Dunker” consiste numa “cabine” com características semelhantes às saídas de emergência de um helicóptero Super Lynx MK95 e permite simular o abandono da ae-ronave em meio aquático (submersa). Este equipamento é de extrema importância para a certificação das equipas que compõem as tripulações dos helicópteros “LYNX MK95” e todos os que possam embarcar nas mais diversas situações de emprego destas aero-naves, nomeadamente operadores sonar, Equipas de Fuzileiros (DAE inclusive), Flo-tilha, Equipas das UN, entre outros.

Antes deste Upgrade, o exercício era re-alizado com recurso a uma estrutura fixa

para elevação do “Dunker” - através de um sistema de roldanas e cabos de massa – de elevadas dimensões físicas e que carecia de pelo menos seis homens para a execução da manobra de submersão e emersão do

“Dunker”, tornando o exercício bas-tante complexo e moroso.

Tomando consciência do sucesso do projecto realizado, assim como da sua extrema utilidade para a Marinha, os alunos propuseram executar um “upgrade” a essa estrutura, tornando-a mais segura, mais autónoma e mais prática para os seus regulares utiliza-dores. Procedeu-se à instalação de uma uni dade energética hidráulica na estru tura móvel (entre outras ac-ções) capaz de execu tar todo o exer-cício de forma mais simples, incutindo um maior realismo aos utiliza dores do simulador, pois per mite, para além da sim-ples simulação de amaragem do helicóptero, efectuar a ro-tação me cânica do “Dunker” em 180º para ambos os bordos, quando submer so. Esta unida-de energética é com posta por um sistema de quatro bra ços mecânicos actuados aos pares por dois cilindros hidráulicos, que têm como função colocar e retirar o “Dunker” da água. Destaque-se ain da a aplicação

do mecanismo com posto por dois tirantes e um motor eléctrico, res-ponsável pelo suporte e rotação do “Dunker” em 180º em torno do seu eixo longitudinal. Não foram esqueci-das as preocupações relativas à segu-rança, tendo para tal sido projectado uma bomba hi dráulica manual, que permite criar redundância no caso de falha da unidade hidráulica, e ainda instala dos dois fixadores à estrutura com a função de a elevar, evitando que as rodas deslizem. Por último, e em projecto, os alunos idealizaram apli car um sistema de tele-vigilância, composto por uma câmara e respec-tivo monitor. A câmara teria ligação wireless ao monitor e deveria ser co-locada no interior do “Dunker”. Desta forma, o operador teria possibilidade de visualizar o exercício com a cabi-ne submersa, e responder rapidamen-te a possíveis situações de emergên-cia. Esta funcionalidade ainda não foi implementa da, no entanto é inques-tionável o valor des tes trabalhos no âmbito das PAP, que acrescentaram ao treino da Es-quadrilha de Helicópteros da Marinha.

Para finalizar, importa referir que nos úl-timos oito anos muitas destas provas fo-ram desenvolvidas e estão hoje a funcio-nar ao Serviço da Marinha em diferentes unidades; referem-se, a título de exemplo, as seguintes:

• Quinadeira para chapa até 10 mm e 60

tons de Força (ao serviço da ETNA – DPE)• Calandra para enrolar chapa até 6 mm

(ao serviço da ETNA – DPE)• Bancada didáctica e torre de refrigera-

ção para formação na área do frio/refrige-ração (ao serviço da ETNA – DPE)

• Simulador de Motor Bi-fuel para for-mação na área de motores (ao serviço da ETNA – DPE)

• Simuladores de bombas hidráulicas e de osmose inversa para formação em má-quinas auxiliares (ao serviço da ETNA – DPE)

• Simulador de estabilização de balan-ço e simulador de porta estanque para for-mação na área de hidráulica (ao serviço da ETNA – DPE)

Com estas provas, apoiadas pelo Banco

Português de Investimento (BPI), os forman-dos encontram os desafios que necessitam para investigarem, aplicarem e desenvolve-rem saberes e competências adquiridos na formação, mas também a oportunidade de realizarem projectos e de os verem funcio-nar e serem utilizados no dia-a-dia, criando valor para a Marinha.

(Colaboração da ETNA)

Caixa de Sinais para Reabastecimento Nocturno.

Caixa de Sinais para Reabastecimento Nocturno.

Dunker – Estrutura móvel com o Upgrade.

Dunker – Estrutura móvel sem o Upgrade.

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14 MARÇo 2009 • Revista da aRmada

Quando atendeu, sabia apenas ser Cabo ar-tilheiro Reformado e um entusiasta leitor da Revista da armada, mas pelo desembaraço do discurso, pelo afirmado timbre da voz e pelo seu tom envolvente, rapidamente concluí que, acertado o dia, a hora e o local, iria estar pe-rante um eterno e cativante jovem, um notá-vel narrador de vivências, uma personalidade ímpar. assim aconteceu.

ainda não se tinha sentado e enquanto ia tirando dum saco de plástico alguns do-cumentos, perguntou, antes de mais:

Carlos salvador simões - O senhor é Almi-rante?

Ra - Não. esse é o senhor director, eu sou 1teN… fiquei por aqui!

Css - Eu também! E sabe porquê? O que eu gostava era de navegar.

Não lhe disse mas, eu, também…Css - Está aqui a minha Caderneta e olhe, es-

tava no «Zarco» quando o tufão Wanda1 passou em Hong Kong. Em 1962! Sabe? Fui eu quem salvou o navio! Veja! Esse não, esse é um lou-vor colectivo. Mas veja abaixo, um louvor que me foi dado. Assinados pelo Cte Pedro Frago-so de Matos.

De facto escassos meses separam o significati-vo louvor dado, na ocasião, à guarnição do «Zar-co» do louvor ao Marinheiro do Leme em postos de Faina e percebe-se a legitimidade da relação que permite aquela afirmação. Não seria o mari-nheiro de D. João II mas não lhe ficava atrás2!

Ra - vamos por partes! Quando é que veio para a armada?

Css - Em 1942, tinha 19 anos. Nasci a 30 de Junho de 1921!, foi, está aí, no dia 5 de Ja-neiro. Éramos recrutados no Exército e depois diziam que os que estavam apurados para Ar-tilharia podiam escolher ir para a Armada. De-safiei quatro amigos mas só dois é que viemos para a Marinha.

Naquele dia vim do Barreiro, a pé, até ao Alfeite. Aí entregaram-nos a farda (a farda de “alumínio”, lembra-se?3), a maca e o saco e meteram-nos numa vedeta que nos levou a Vila Franca de Xira. Não gostei nada. Era mui-ta… disciplina.

Ra - então?Css - Eu era muito miúdo e era muito atrevi-

do. Quer ver? Na Escola de Alunos Marinhei-ros, em Vila Franca, o instrutor de ginástica era o 2Ten Tengarrinha Pires. Está a ver o plinto? Eu era alto, ainda sou, e ele mandava pôr mais uma caixa e mandava-me saltar.

Ra - Bom…Css - Ao sair do salto dei, olhe foi mesmo um

“bate-cu”, que fiquei aflito e aí ele mandou-me repetir o salto. Sabe o que lhe respondi?

Ra - Não.Css - Salte o senhor se quiser!Pelo terror que o Cte Tengarrinha Pires, na

«Sagres», inspirava aos cadetes, ficámos suspen-

sos da reacção do então jovem tenente.Css - Já ele era mar-e-guerra e eu disse-lhe

que o grumete que se tinha recusado a saltar o plinto era eu e sabe o que ele respondeu? «Lem-

bro, lembro-me dessa passagem…». Bom ho-mem, sem dúvida…

Mais tarde, Professor de Direito Internacio-nal Marítimo, pudemos conhecê-lo melhor. Recordamo-lo, já Almirante, ao nosso lado na

Academia de Marinha, confirmando que, único cadete a bordo, tínhamos medido um vento de 100 Km/h que, ao dobrar o Cabo de S. Vicente, nos surpreendera… em 1959!

Ra - e depois?CSS - Embarquei na «Sagres». Fazíamos a bal-

deação todos os dias, com areia, muito cedo. Aí fizeram-me Carpinteiro, está aqui na caderneta, mas pouco depois fui para o «S. Braz» e fui seis vezes buscar petróleo, a Aruba, na Venezuela, e a Curaçau. Largávamos o combustível para os lados do Poço do Bispo e partíamos logo. Uma vez, estávamos no molhe do Arsenal do Alfeite e metemos água salgada mas veio tanto lodo que em Curaçau tivemos de lavar os tanques. Olhe o imediato, era o Sanches de Miranda, até me deu mil escudos (5a).

Ra - isso era uma fortuna!Css - Era, era. Dei tudo à minha Mãezinha.

Os meus Irmãos, somos do Barreiro (sou, por-tanto Barreirense!), estavam todos presos. Nun-ca fui preso, sabe porquê? Eu andava sempre no mar e não queria nada com a política.

Ra - e então naqueles tempos…Css - Foi na Revolta da Margem Sul, em

1943. Os marinheiros também eram desordei-ros. Havia uns que até eram conhecidos pelos «RAF’s»4.

Ra - Nunca tal ouvi mas não me admira.Quanto é que era o pré?Css - Eram quarenta escudos (0,20a) e, a

navegar, com o subsídio de embarque, ia aos 52$00.

Foi a última vez que aconteceu! Depois pas-sámos a embarcar água doce!

Ra - era a minha ideia. e dessas viagens?Css - O Comandante era o Joaquim dos San-

tos Oliveira Júnior. Passávamos entre as ilhas Martinica e Dominicana e sabe o que aconte-ceu logo na primeira viagem? Fui eu que vi!

Ra - Que é que viu?Css - Eu era impedido e ia levar uma sanduí-

che ao senhor oficial de quarto quando vi uma luz a piscar atrás de nós. Alertei logo o cabo si-naleiro que não viu nada mas eu insisti. Ele lá viu e pegou numa lanterna Aldis e começou a fazer sinais mas eles não respondiam, faziam sempre o mesmo sinal até que eu disse; «Olhe que com o balanço o submarino não o conse-gue ver. O senhor tem os projectores de sinais a cada bordo, pode utilizá-los!». Ainda me lembro de o senhor oficial de quarto, era o se-nhor 1TEN Vieira Coelho, usava um bigodinho, (conheceu-o, não conheceu?5) a dizer para ele: «Olha que o grumete tem razão!»

Ra - Um alemão, julgo.Css - Isso mesmo! Mandou-nos arriar um

bote e ainda nos mandou um tiro. Eu, como os meus Irmãos na CUF, era remador6. (Olhe! A correr ninguém me apanhava). Assim, ofereci--me logo para ir ao submarino e, mal lá chegá-mos, eu disse logo; «We are Portuguese!». Lá nos deixaram ir.

O nosso navio, todo iluminado, parecia uma cidade!

Ra - isso é que foi…Css - Doutra vez trouxemos dois mil bidões

O Cabo Carlos SimõesConversando com…

O Cabo Carlos Simões

Árvore notável (pintura do Comandante Sousa Machado).

O Aviso “Gonçalves Zarco” fundeado em Dili.

O Cabo Carlos Simões.

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Revista da aRmada • MARÇo 2009 15

de gasolina para avião. Não podia vir nos tan-ques.

Ra - do «s. Brás» foi para ondeCss - Fui para o «Lima», para os Açores.

Foi…Ra - Com o Cte sarmento Rodrigues?Css - Não, não! Era o Manuel Beja Corte

Real. Estivemos lá seis meses. O navio encalhou mas lá conseguimos safá-lo.

Ra - e daí?Css - Fui para o «Gonçalves Zarco», um Avi-

so de 2.ª. Fomos integrados numa Força Naval, dois Avisos de 1.ª e outro de 2.ª, e dois navios mercantes, o «Sofala» e o «Angola», com tropas para Timor. Em Lourenço Marques estivemos muito tempo à espera de ordens.

Ra - em 1939 aconteceu uma coisa semelhante mas acabaram por ir para a Índia e macau. timor ficou desguar-necida.

Css - No Canal de Moçambique sal-vámos vinte e nove ingleses. Está aqui a fotografia deles. Fui eu quem viu os very-lights! Vinham numa baleeira pois o navio deles tinha sido afundado por um subma-rino alemão. Recolhemo-los. Íamos para a Beira mas fomos levá-los a Lourenço Marques com a baleeira a reboque. Não me lembro do nome do navio.

Ra - espere lá! vamos ver isso nos «setenta e cinco anos no mar» … Cá está! Foi no dia 18 de Julho de 1944. O navio inglês era o s/s «director». O ca-pitão, sete oficiais e vinte e um tripulan-tes. exacto!

Css – Mas houve uma outra baleeira que foi dar a Durban.

Ra - É isso!Css - Nesta estamos nós com os náu-

fragos. Todos lhes demos roupas.Ra - escreva a data e o nome do navio

nas costas da foto.Css - Não vale a pena. Estas fotos são

todas para oferecer. Para si!Ra - Não faça isso! são recordações

muito importantes para si.Css - Não, não. Eu estou já mais para

lá do que para cá.Ra – Ora essa! Fico com elas, agora,

mas depois devolvo-lhas. Combinado?Css - Olhe esta! Foi um passeio a Za-

vala.Ra - Os célebres marimbeiros…Css - Oh! Isso mesmo. Fizeram-nos cá

uma festa! Aquilo é que foi. Eram milhares. Se quisessem tinham dado cabo de nós7.

Até que, estávamos nós em Nacala, nos man-daram seguir todos para Colombo, no Ceilão. Que agora é o Sri-Lanka.

Ra - mas não iam para timor?Css - Veja esta fotografia, nós em cima dum

elefante. Eu estive lá! Havia, todos os domingos, no Jardim Zoológico de Colombo, espectáculos com elefantes. A fazer habilidades.

Não, não… O «Afonso» e o «Velho» foram, dali, directos, com o «Sofala» para Macau e nós, com o «Bartolomeu Dias» e o «Ango-la», rumámos a Timor. Sabe o que aconteceu à chegada?

Ra - diga.Css - O comandante do «Bartolomeu» era

mais antigo que o do «Zarco» mas o comandan-te da expedição era o Brigadeiro Varejão que ia a bordo do nosso navio e que era mais antigo que o comandante do Aviso de 1ª. Fundeados em Dili (olhe só!) cada um arriava a bandeira a sua hora pois, eles que até eram amigos, não se entenderam.

Ra - essa versão é mais lógica do que a que conheci, décadas depois.

Css - Ainda apanhámos trinta japoneses mas quem libertou Timor, sabe, não sabe? Foram os… Australianos!

Havia militares nossos, do Exército e da Arma-

da8. Fazia impressão a fome daquela gente, as crianças com umas barrigas muito inchadas. Eu tinha comprado umas latas de conserva e mui-to açúcar para levar para Lisboa (era o raciona-mento!) mas dei tudo. Eram pacotes de açúcar! Gosto de dar, sou assim…

Ra - vejo que estiveram 72 dias em ti-mor…

Css - Sim. Fomos reabastecer a Darwin. Só lá havia militares… E regressámos pelo Suez, via Colombo. Olhe! Esta foto é de Aden. O Coman-dante era o Zola da Silva e o Imediato o Metzner, o pai9. O Sousa Machado era um jovem tenente. Tudo boa gente. Via-o muito aqui na Revista e vim, ali, ao funeral dele. Rolou-me uma lágrima,

parecia mesmo que estava a dormir…Ra - Uma pessoa extraordinária.Css - Tenho aqui um desenho dele! Cá está.Ra - Um dos dois avisos de 1ª. e…Css - Estive na Base. Lembro-me do Cte Vir-

gílio da Cruz. Quando calhava ele estar à frente do Rancho é que se comia bem na Base Naval. Já sabíamos!

Ra - Pois…Css - Uma vez puseram-me de cabo de ran-

cho mas eu não tinha jeito nenhum para aquilo. Fui ter com o médico e pedi-lhe para me dar dez dias de baixa. «Mas, Carlos, tu não estás doente! Como é que queres que eu faça isso?»

Tive que lhe explicar que eu não servia para aquilo e acabou por me pôr de baixa e lá me livrei.

Ra - Por onde é que andou que olho para as suas fotos da caderneta e não me lembro de nunca o ter visto?

Css - Estive na Escola de Artilharia Na-val, no Comando Naval de Angola, …

Ra – eu também. Como aluno e pro-fessor. e em angola…

de facto nunca coincidimos mas mui-to provavelmente nunca teríamos tido oportunidade de nos conhecermos a não ser que, por qualquer circunstância, tivéssemos concorrido nalgum episódio conspícuo.

Css - Aqui está outro louvor. Este é do tenente Bacharel! Grande homem, muito meu amigo. Conhecemos todas as ilhas dos Açores.

Ra – e esta parada?Css – Isso foi em Macau, na comissão

no «Pedro Nunes».Mas voltei no «Zarco» a Macau e a

Timor.Ra - em que ano?Css - Então? De 60 a 64!Ra - Claro!Css - Com o Cte Fragoso de Matos e

depois com o Malheiro do Vale. Já depois de deixar a Revista da Armada ele conti-nuou a organizar os almoços da guarni-ção do «Zarco». Eu tinha pedido para fi-car quando foi a rendição da guarnição.

Ra - estive em timor em Janeiro de 1966.

Css - Estava lá o Cte Azevedo Mafra! Era o Capitão de Porto e Comandante da Defesa Marítima. Estava lá também um sargento. Conheceu-o?

Ra - talvez. Não me recordo.Css - Era mau! Muito mau. Queria que eu fos-

se castigado por uma coisa que ele é que tinha feito mal e o Mafra participou de mim. Quan-do o oficial imediato me chamou eu disse-lhe: «Eu sei que o Senhor Imediato acredita mais na palavra de um sargento do que na duma praça, mas as coisas não se passaram assim!» ao que ele me respondeu. «Carlos, já te conheço há quatro anos. Fala!».

Ra - Como ficou isso?Css - O Senhor Botelho Neves ouviu-me mas

o Cte Mafra não queria retirar a participação. O Imediato ia todos os dias a casa do Capitão de Porto, nas proximidades do farol (eram do mes-

Força da Marinha desfilando em Macau.

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mo curso ou amigos) até que acabou por o con-vencer de que eu não tinha culpa nenhuma.

Ra - ainda bem!Css - Mas tive um imediato em Macau que

era “bera”. Mesmo “bera”! Sabe o que me fez?

Ra - Não imagino, sequer.Css - Como eu era carpinteiro tinha direito

a um subsídio de cem escudos. Pois entendeu que não mo tinha que dar e não deu enquanto lá esteve. Foi o único que me fez isto!

Ra - estou a ver.Estávamos a pensar como a simples e ocasio-

nal negação dum elementar direito pode revol-tar tanto, a ponto de, ao longo de toda uma vida, mesmo cheia, ficar a remoer na memória… quando

Css - Veja esta foto! Foi tirada da praia com a Kodak dum camarada. Vê-se o «Zarco» ao fundo, o gasolina de bordo (eu vou lá) e vê-se a jangada/pontão liga-da a terra por um passadiço. Havia um se-nhor que revelava as fotografias em Dili e eu levava-lhe os rolos do pessoal. Dei-lhe muito dinheiro a ganhar.

Ra – Não havia aqui uma grande árvo-re a que os navios amarravam?

Css - Sim, sim. Mas ao contrário do Malheiro do Vale10, com o Cte Fragoso de Matos ficávamos fundeados ao largo.

Deu-se uma cena muito engraçada nessa jangada/pontão. Passou por lá uma esquadra soviética que ia a caminho da Indonésia e os marujos deles estavam à espera da lancha mas, como eram mui-tos, aquilo desequilibrou-se e uns quantos foram ao malagueiro.

Ra - em 1965, quando saímos de Lis-boa íamos informados de que podería-mos ser mandados seguir para o extre-mo Oriente mas, desta vez, por causa de uma visita de “cortesia” que uma es-quadra indonésia de navios de fabrico so-viético, entretanto fizera. Foi assim que de repente zarpámos de Luanda. deve haver uma relação entre essa visita, que desconhecia, e a que refiro.

Css - Dali fomos para Macau e quan-do estávamos para partir para Lisboa, em Hong Kong, o Comandante ofereceu um jantar ao nosso cônsul. O criado que ser-via à mesa veio ter comigo e perguntou--me: «Ouça lá! Que é que você fez ao cônsul que o homem não se cala a fazer--lhe elogios!»... «Eu? Nada!». Mas não é verdade…

Ra - (sorrimos…)Css - Como eu era a ordenança do navio ia

muitas vezes ao consulado e o senhor gostava muito de conversar comigo e recebia-me sem-pre muito bem.

Como em Dili havia uma senhora que fazia um doce de limão muito bom, eu comprei-lhe uns boiões e ofereci um ao senhor cônsul. Deve ter sido isso!

Ra - Não foi só por isso…Nas costas desta foto, de 1961, escreveu

«BONs temPOs». Claro! Com uma chinesi-nha…

CCs – Quando são novinhas são tão boni-tas! Ah! Um encanto, mesmo. Mas depois de terem filhos ficam com as maçãs do rosto, as-sim, muito ossudas…

Ra – vejo que é entendido. Nem pergunto mais nada… era outra entrevista!

Css – (Risos) Mesmo em Lisboa, fui orde-nança. Sabe como é que me chamavam. Era o «Carlos da Pasta».

Ra – Pois. Nela está devidamente equipado. a pasta, o cinturão e o sabre. Bem me recordo das ordenanças dos navios. aprumados e… desen-rascados. são, nos portos de escala, nacionais ou estrangeiros, a primeira imagem do navio…

CCs – No regresso, viemos pelo Suez. Passá-mos em Singapura e de lá, de autocarro, fomos a Malaca. Umas três horas…

Ra – a cidadela dos descendentes dos Por-tugueses… Onde ainda hoje se fala o «Papiá Cristão»!

Qual foi o seu último embarque? Css – Foi na «João Belo». Estivemos em An-

gola em 1973 e 74.Esta é em Cabinda. Veja! As chamas dos po-

ços de petróleo à noite.Ra – em 1962, oficial de quarto, recordo,

quando iniciaram a prospecção dos poços, das gerbes das explosões. mas de dia!

esteve em todas as províncias ultrama-rinas?

Css – Sim!Ra – Com muito que contar e uma belís-

sima Caderneta. deixe ver! Cá estão elas. medalha da expedição militar a timor, as de Cobre e de Prata (logo duas!) de Com-portamento exemplar e a de mérito militar. sim senhor!

Css – Sabe? Eu tinha um livro com tudo apontado mas a minha Mulher, nas arruma-ções, coitada, deve tê-lo deitado fora. Se calhar até fui eu, sei lá, distraidamente. É assim…

Ra – acontece e é pena11. Quando passou à Reserva estava…

Css - … na oitava Secção da Dire cção do Serviço do Pessoal.

Ra – Não lhe pergunto se tem sauda-des. melhor que tê-las é poder reviver assim tantas e tão belas recordações. tê-lo feito com a Revista da armada não só nos honra mas, sobretudo, nos enriquece. Junto dos leitores só espero que a palavra escrita não traia o vigor do que nos disse e, sobretudo, o modo espontâneo e caloroso como o fez. Um grande “Bem haja!”.

Dr. Rui Manuel Ramalho Ortigão Neves1TEN

Notas1 Havia trinta anos que não passava um tufão

com tal violência. Afundou dois ou três navios. Um jornal chinês chegou a noticiar o afunda-mento do «Zarco».

2 Em Fernando Pessoa, na «Mensagem», em «O Mostrengo».

3 A farda de cotim cinzento, com o corte dos uniformes de passeio das nossas praças actuais e que era o uniforme de serviço, usado, durante alguns anos, também pelos cadetes da Escola Naval, e, em passeio, pelos jovens recrutas.

4 Por alusão aos temíveis caças «Spitfire» da Royal Air Force.

5 Comandante da «Pêro Escobar» na viagem de «Guarda Marinhas» do Curso de «Duarte Pa-checo», em 1961. Pela entoação dada pareceu--nos estar a ouvi-lo!

6 A CUF manteve sempre uma bem treinada e temida equipa de remo (shell), com quem o CNOCA disputava, no Sul, o primeiro lugar.

7 Temos fotos da visita do Marechal Carmona, o PR, a Moçambique, em 1939, em que se vê uma massa compacta de africanos, em trajes de guerra, dançando furiosamente enquanto dois casais des-cuidadamente fazem pose para a fotografia.

8 Foi professor no Colégio Militar um oficial do Exército, major Garcia de Brito, que ocasio-nalmente nos narrava a sua odisseia nas mon-tanhas onde se teve de refugiar. Contava-se na

Armada que um oficial, em virtude da guerra que já assolava a Europa, se vangloriava de se ter voluntaria-do para Timor onde acabou por ser o único a, amar-gamente, sofrer as agruras da IIGG.

9 De facto o nosso entrevistado citou os nomes com-pletos de todos os muitos oficiais com que se cruzou, revelando nesse aspecto e em todos os outros uma prodigiosa memória.

10 Quem terá inaugurado a ponte cais de Díli e que atracava em Macau onde, em Fevereiro de 1966, dra-gado um canal, verdadeira almofada de lodo, atracou a «D. Francisco de Almeida» vinda de Timor a cami-nho de Moçambique.

11 De facto à História da Armada faltam os testemu-nhos das suas Praças e até de Sargentos que, noutra perspectiva, enriqueceriam, com a sua leitura, os fac-tos que a história regista.

16 MARÇo 2009 • Revista da aRmada

NRP “Gonçalves Zarco”1963

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Revista da aRmada • MARÇo 2009 17

O espaço índico à beira do século XVI, quando ali chegaram os navios de Vasco da Gama, era um mundo de

complementaridades étnicas, sociais e co-merciais ligadas por uma teia de vias marí-timas que, simultaneamente, as uniam e se-paravam. Ao ritmo rigoroso das monções, do Mar Vermelho saíam navios que se diri-giam à costa oriental africana, para comprar ouro e marfim, que pagavam com algodão do Guzerate, e usavam depois para adqui-rir as especiarias do Malabar, de Samatra ou Java, que em Malaca ou na China eram tro-cadas por sedas e porcelanas, com que vol-tavam ao ocidente.

Olhando para o cha-mado Mundo Índico – um espaço que se estende da África Oriental ao Mar da China e aos confins da Indonésia a ctual – verifi-camos que é dominado por dois potentados de grande desenvolvimen-to civilizacional e produ-tores de mercadorias de elevada procura, como são a Índia e a China. Entre os dois pólos circu-lam as produções de cada um, mas sem que as duas potências se empenhem verdadeiramente no seu comércio ou, pelo menos, no seu transporte. Existe, portanto, um outro espa-ço do Mundo Índico reser-vado aos verdadeiros mercadores, onde as comunidades islâmicas foram ganhando uma influência crescente, mas sem unida-de política. Subsistem e relacionam-se com base na solidariedade inerente a uma cren-ça religiosa comum, cimentada pela língua árabe dos escritos sagrados, mas disputam--se e rivalizam como se disputavam nóma-das e sedentários no deserto.

Após o estabelecimento do califado Abás-sida em Bagdad, no século VIII, o mundo islâmico abriu as portas do Oceano Índico espalhando-se com a sua fé até aos confins da China Imperial, como uma mancha de tinta pode alastrar sobre um tecido poroso: de forma pacífica, persistente e indelével. Tal como nos caminhos da Arábia, aprenderam a vaguear de porto em porto como o faziam de oásis para oásis, entendendo o comércio como uma forma sublime de vida, e assu-mindo uma tarefa que era repudiada por alguns dos detentores dos principais meios de produção locais. Foi assim que se estabe-leceram por todas as orlas marítimas, des-de o Mar Vermelho a Sofala, desde o Golfo Pérsico ao Cabo Comorim, a Ceilão, Malaca,

ao Arquipélago e ao Mar da China. Aconte-ce – como digo – que nunca se sujeitaram a uma estrutura unificada de poder, e nunca lograram alcançar uma política comum que lhes desse a força necessária para se oporem a todo e qualquer inimigo. E, de certo modo, actuaram com os portugueses como com quaisquer outros concorrentes do grande espaço comercial do Índico, combatendo-os quando eles afrontaram os seus interesses di-rectos, mas procurando a sua aliança ou pro-tecção noutras disputas e rivalidades.

Foi graças a esta maneira de proceder dos pequenos potentados islamizados do Orien-te, que os navios de Vasco da Gama foram

perseguidos em Moçambique e Mombaça, mas foram acolhidos em Melinde, onde o rei lhes deu um piloto para fazerem a travessia até Índia. De igual forma, nos anos que se se-guiram, foram atacados, sem piedade, pelo Samorim de Calecut, acicatado pelos comer-ciantes islâmicos do reino, mas foram prote-gidos e apoiados pelo Raja de Cochim, que neles viu a possibilidade de assumir um pro-jecto próprio de comércio. Ou seja, se algu-mas das forças vivas da região se apercebe-ram que a sua chegada traria complicações ao escoamento de produtos orientais para o Mediterrâneo – que constituía uma das com-ponentes importantes do comércio islâmico do Índico – outros houve que não viram nis-so problema nenhum, porque venderiam aos nacionais o que já vendiam a outros.

Portugal não se apercebeu de imediato de todas as nuances do comércio do Índico, no-meadamente, naquilo que inicialmente mais lhe interessava, que era o tráfico das especia-rias. Elas não obedeciam a uma só lógica e só com o passar dos anos seria possível desven-dar todos os seus mistérios. A partir de 1500 foi possível obter acordos comerciais com

Cochim, de forma a trazer para o reino uma quantidade apreciável de pimenta, mas isso ocorreu sem que estivesse organizada uma defesa consistente, nem que fossem prepara-das verdadeiras alternativas. Calecut lutava desesperadamente pela sua sobrevivência e empenhou fortes cabedais na expulsão dos portugueses de Cochim e de todo o Malabar, sabendo-se como isso só não aconteceu gra-ças à acção decisiva de figuras como Duarte Pacheco Pereira, actuando em circunstân-cias tremendamente difíceis. E a guerra pro-metia continuar e alargar-se, considerando os graves prejuízos económicos que aquela presença acarretava ao Samorim. Desde a se-

gunda viagem de Vasco da Gama, em 1502, que perdia sucessivas campa-nhas de pimenta, que se reflectiam na asfixia dos mercadores muçulmanos e na carência significativa dos fluxos que acediam aos portos do Mar Ver-melho. Nestes primeiros anos da presença portu-guesa na Índia, uma das tradicionais cadeias de negócio tinha sido seria-mente abalada pela de-terminação lusa, afectan-do pequenos e grandes poderes cujos centros se estendiam desde o Mala-bar ao Egipto e a Veneza, passando, naturalmente, por uma miríade de in-

termediários que faziam o transporte ma-rítimo. E o sultanato Guzerate, localizado à volta do Golfo de Cambaia – onde se impu-nha a grande cidade de Diu – era um dos in-directos prejudicados por esta perturbação, não porque fornecesse pimenta ou outras es-peciarias, mas porque os seus algodões eram um dos elos da cadeia agora quebrada.

Digamos que eram estes os ingredientes principais para que surgisse uma aliança com o objectivo de expulsar os portugue-ses da Índia. E a única potência que poderia tomar a iniciativa de a organizar era, natu-ralmente, o sultanato egípcio, sustentado na estrutura militar dos mamelucos. Apoiá-lo-iam, no Índico, o Guzerate, Calecut e um ou outro reino que já tivesse sido afrontado pelos navios portugueses, acreditando ser possível destruir o seu poderio naval. E, si-multaneamente, do lado do Mediterrâneo, actuava de forma velada a Senhoria de Ve-neza, encobrindo as suas intenções oficiais, mas fornecendo uma parte do material e o conhecimento necessário para o fabrico de navios e canhões. Foi esta aliança que permi-tiu a expedição marítima, com a qual os na-

DiuChaulDabul

Angediva

CananorCalecutCochimCoulão

Aden

Mar

Ve rm

e l ho

Oceano Índico

Arábia Índia

Índia

O PODER NAVAL E O DOMÍNIO DO MAR NO SÉC. XVIA Grande Batalha de DiuA Grande Batalha de Diu

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18 MARÇo 2009 • Revista da aRmada

cionais se defrontaram em Chaul, em Março de 1508, e em Diu, a 3 de Fevereiro de 1509. Precisamente há quinhentos anos.

Sabemos por uma crónica dos últimos anos do sultanato mameluco do Cairo, es-crita por Ibn Iyâs, que os preparativos para enviar um expedição à Índia datam de 1505 ou mesmo antes, tendo em conta que em 29 de Setembro desse ano, o Sultão passou re-vista ao contingente e pagou quatro meses de salário aos soldados. Compunham-no, essencialmente, magrebinos, arqueiros afri-canos e turcomanos, a que foram acrescenta-dos pedreiros, carpinteiros e operadores de equipamento pesado, com o objectivo de que fosse construída uma muralha em Djedá, an-tes de avançarem para o Oriente.

D. Manuel sabia destes preparativos ape-nas com o pormenor possível, atendendo às difíceis comunicações da época. Certo é, porém, que conhecia as dificuldades do Sultão e o seu desespero, bem como a colaboração dos técnicos venezianos. As vias da espionagem cruzavam-se com as da traição e jogo duplo, de forma que estas infor-mações acabavam por circular, embora sem-pre com acrescentos ou omissões inerentes à passagem por mui-tas bocas, muitas ima-ginações e muitos inte-resses.

A nomeAção de um Vice-Rei

Certo é que, em 1505, o rei decidiu criar na Ín-dia uma estrutura de projecção do seu poder, nomeando um vice--rei e dotando-o de meios diversos para exer-cer o cargo, de forma a defender e alargar a influência dos portugueses. Esta atitude tem sido interpretada como uma iniciativa estra-tégica directa, que tem em conta as circuns-tâncias do relacionamento dos portugueses com o Mundo Índico, mas sem considerar os preparativos em curso no Egipto. Este últi-mo factor, contudo, pode não ser despicien-do, considerando que as informações circu-lavam e a ameaça era real.

Nesse mesmo ano foi nomeado Tristão da Cunha, para o exercício do importante car-go de representante da coroa, imediatamen-te substituído por D. Francisco de Almeida, por razões de saúde do primeiro. Seria este, portanto, o primeiro vice-rei da Índia, rece-bendo para o seu exercício uma Carta de Po-der e um vastíssimo Regimento, com detalhes sobre a sua viagem e acção, mostrando-nos com toda a clareza que a coroa tinha ideias muito definidas sobre a forma de actuar. A Carta concedia-lhe poderes para administrar a fazenda e a justiça, fazer a guerra e a paz e tomar as medidas necessárias ao cumpri-

mento das instruções específicas constantes no Regimento. Este sim é um documento fun-damental, cuja análise de pormenor é indis-pensável para compreender o pensamento do rei e dos seus conselheiros.

Os navios saíram separados em duas ar-madas, uma delas comandada por Pêro de Anaya, com a missão de se estabelecer em Sofala, onde deveria construir uma fortaleza, dispensando três velas para irem a Cochim carregar pimenta e regressar com o resto da esquadra. Com o vice-rei iam 14 naus e seis caravelas, que deveriam passar por Quíloa, e submeter o seu rei à soberania nacional, re-clamando-lhe o tributo necessário em ouro, passando depois por Melinde e seguindo para Angediva, onde deveria ser feita uma fortaleza. Finalmente iriam a Cochim onde reforçariam a posição aí construí da no tem-po de Francisco de Albuquerque, e carre-gando as naus destinadas à especiaria, que

partiriam no princípio de 1506 para Lisboa. Recomendava ainda que se tentasse fazer uma fortaleza à entrada do Mar Vermelho, “porquanto por aqui se cerrava, não poden-do mais passar nenhuma especiaria à terra do sultão”, ao mesmo tempo que deveriam tomar-se medidas em relação a Cambaia (Guzerate), na medida em que os seus algo-dões tinham uma importância especial para o negócio do ouro de Sofala. Em relação a esta última região, contudo, não determina-va um comportamento específico, nem im-punha uma via de guerra, sugerindo que se tentassem os acordos necessários para obter a mercadoria necessária ao comércio portu-guês. Resumindo as suas medidas, nos seus pontos mais importantes, teremos: erigir uma fortaleza em Sofala; submeter Quíloa; montar uma fortaleza em Angediva; obter uma posição fortificada à entrada do Mar Vermelho; tentar um acordo com o sultão do Guzerate e fazer a guerra aos navios não autorizados que dali se aproximassem para negociar. Acrescia a recomendação de que devia carregar as naus da especiaria para o reino, fazendo-o em Cochim e completando -o

em Coulão, onde deveria tentar fazer tam-bém uma fortaleza.

Não há nada neste Regimento que reco-mende uma atenção especial aos prepara-tivos do sultão do Egipto – tanto mais que o corpo expedicionário está apenas em em-brião – mas deve notar-se que a nova estru-tura determinou um considerável aumento do poder naval português na Índia, multi-plicando o número de navios e homens de guerra, e criando um programa de patrulha dos mares que vigiava o Malabar, o Guzerate e a entrada do Mar Vermelho. José Virgílio Pissarra – que se tem dedicado ao estudo da situação naval portuguesa no Índico, neste primeiro período – observa com perspicácia este aumento de forças, notando que ele não foi tido em conta pelo sultão, que fez preci-pitar a sua força, contando apenas com o dispositivo existente antes da chegada de D. Francisco de Almeida. Salienta o mesmo au-

tor, que as capacidades navais do Egipto ma-meluco não poderiam ir muito além do que con-seguiu projectar, nesta altura, mas faz notar a forma leviana e desleixa-da como as galés do sul-tão se precipitaram para enfrentar uma força que dificilmente poderiam derrotar. Parece óbvia a falta de informação da parte das forças do Egip-to, e o protelar do con-fronto directo pelos anos de 1506 e 1507, com ex-pedições de menor inte-resse em Djedá e noutros locais do Mar Vermelho, só trouxe vantagens aos portugueses, enfraque-

cendo cada vez mais os mamelucos, retiran-do confiança aos seus soldados e, sobretudo, aos aliados locais. Por outro lado, se D. Ma-nuel não recomenda nada de especial quanto à força expedicionária egípcia, é notório em múltipla documentação diplomática – quer para o Papa quer para outros soberanos eu-ropeus – que tem em mente um plano para afrontar ou aniquilar o sultanato, tendo em conta a ameaça que o próprio fizera em 1505 ao Papa, de que vedaria o acesso aos luga-res sagrados de Jerusalém, caso persistisse a presença portuguesa na Índia. Uma ameaça que o rei português desprezou, prosseguin-do com o plano de acção para o Índico.

D. Francisco cumpriu todas as instruções que diziam respeito ao controlo da costa oriental africana, nomeadamente ao estabe-lecimento de Sofala e sujeição de Quíloa, se-guindo para Angediva, onde começou a fazer uma fortaleza que se revelaria inútil e difícil de manter, dadas as condições da ilha. Seguiu, depois para Cochim onde teve notícia que a feitoria portuguesa de Coulão tinha sido ata-cada, enviando, de imediato seu filho, D. Lou-renço de Almeida, com uma parte da armada

Barra de Chaul – D. João de Castro, Tábuas dos Roteiros da Índia.

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que chegara de Lisboa, para castigar a afronta. É importante observar este acontecimento, na medida em que revela os planos que o vice-rei tinha para aquele jovem destemido e ambicio-so, com pouca experiência enquanto capitão do mar e sem a escola de combate do Norte de África, mas cheio de vontade de triunfar na Índia. Mandou-o a Coulão, como coman-dante da armada de desagravo da afronta feita à feitoria, mas embarcou-o na nau do experiente João da Nova, e fê-lo acompanhar dos veteranos capitães que com ele vieram do reino, conhecedores do Oriente e dos seus meandros. Naquele porto estavam 27 naus de Calecut, responsáveis pelo ataque às ins-talações portuguesas (onde tinham morrido queimados o feitor e cerca de 12 homens), que não imaginaram que os portugueses ousas-sem atacá-los, dada a superioridade que sen-tiam ter. Enganaram-se, contudo, e perderam todos os navios. D. Lourenço tinha assim um começo auspicioso de uma carreira em que seu pai colocara todo o seu empenho. Depois desta acção, o vice-rei nomeou-o capitão da Armada da Índia, e foi nessa qualidade que viria a ter a sua pri-meira grande batalha naval, contra os navios de Calecut, ao largo da costa de Cananor.

De acordo com as crónicas, eram onze os navios portugueses, guarnecidos por cerca de oitocentos homens. Os de Calecut tinham “oytenta & quatro naos grossas, & cento e vinte paraos gran-des em que avia mouros & Naires de pele-ja sem conto”, tomando como verdadeiro o relato de Castanheda. A batalha foi mui-to dura, mas a capacidade das bombardas portuguesas foi suficiente para lograr uma vitória que parecia impossível, trazendo um especial ânimo aos portugueses. Foi, talvez, a primeira grande batalha naval do Índico, entendida como um confronto entre forças navais onde a acção concertada do fogo e manobra foi determinante para o resultado final. Muitas embarcações inimigas deram à costa perdidas de forma irrecuperável, con-tando-se entre os despojos aprisionados por D. Lourenço cerca de oito navios mouros car-regados de mercadoria e duas bandeiras do rei de Calecut, que levou a seu pai.

o PodeR nAVAl e A BAtAlhA decisiVA

A batalha de Cananor podia ter sido um golpe decisivo nas forças do Samorim, se outros acontecimentos e circunstâncias não tivessem recuperado o seu ânimo e morali-zado os seus aliados. É verdade que a esta-

ção estava no fim e, aos navios portugueses, não restava outra alternativa que invernar em Cochim ou nas barras protegidas que estivessem sob domínio português. Só em Setembro voltariam as condições para an-dar no mar, e nessa altura a prioridade era socorrer a precária fortaleza de Angediva, que fora cercada durante toda a monção de sudoeste e estava em apuros. D. Francisco compreendera como era difícil manter aque-la posição e, quando lá enviou D. Lourenço, deu-lhe instruções para desactivar a posição, desmantelando todas as estruturas defen-sivas. Angediva revelara-se um erro estra-tégico que, apesar de corresponder a uma posição importante, aparentemente, com controlo sobre a navegação entre o Malabar e o norte, não tinha abrigo suficiente para os navios, nem meios próprios de subsistência em caso de cerco ou quando a estação fosse mais rigorosa.

No tempo da navegação à vela, os cami-nhos do mar eram definidos pelo regime de ventos e obrigavam ao respeito de épocas favoráveis à navegação e rotas muito pró-prias. Estas condições faziam com que de-terminados locais se tornassem particular-mente importantes para o controlo das vias de acesso, especialmente quando permitiam avistar os navios que se aproximavam (de forma directa ou com patrulha marítima), oferecendo condições para lançar ataques em vantagem táctica. Foi isso que os portu-gueses procuraram em Angediva, um pon-to entre o Malabar e o Guzerate, sobre a rota das naus de Meca, que demandavam o norte ou que passavam em direcção ao Mar Ver-melho. Mas a posição, em si, não era sufi-ciente para garantir as condições de controlo marítimo. Necessitando, como disse, de dar abrigo aos navios e ter meios suficientes para alimentar e fazer repousar as guarnições, não tinha condições para isso, e fora uma má es-colha, devendo ser abandonada e substituí-da (Em 1510, viria a ser encontrado em Goa o porto necessário para este efeito). Contu-do, o abandono depois de prolongado cer-

co e com a perda de alguns navios, era algo que prejudicava a imagem dos portugueses na Índia. Assumia o ar de um recuo, apesar de ocorrer depois da devastadora vitória de Cananor. Estas questões ganham uma certa importância psicológica e pesam na capaci-dade de decisão dos inimigos, dando-lhes vontade redobrada de combater e prejudi-cando o domínio que Portugal pretendia ter sobre o Mundo Índico. A contagem dos facto-res que determinavam o Poder Naval capaz de lograr este objectivo de D. Manuel tinha de fazer-se contando com todos estes porme-nores: são os navios e a sua operacionalida-de, são as capacidades para os substituir, são os pontos de apoio para os reparar e prote-ger, são os locais a partir de onde podem ser lançados os ataques e é a moral e a vontade dos combatentes. Há sempre um conjunto de circunstâncias, com componentes precários e dependentes do comportamento dos pró-

prios homens. A retira-da de Angediva podia ser apenas um por-menor negativo, sem nenhuma importân-cia e facilmente recu-perável, mas o ano de 1507 teve mais acon-tecimentos negativos e, alguns deles, quase apagaram a memória da vitória de Cananor. Assim aconteceu, por exemplo, em Dabul, onde o vice-rei envia-ra a Armada da Índia, para dar escolta a uns navios de Cochim e Cananor, assediados por uma armada de Calecut. Os portugue-ses deveriam proteger

os seus aliados com a mesma energia com que defenderiam os seus próprios navios, mas o Conselho de D. Lourenço de Almei-da, reunido antes da batalha, teve uma opi-nião contrária. A barra era difícil, a despro-porção de forças muito grande, a praça era muito forte e, certamente, iria dar apoio aos inimigos, enfim, um série de argumentos que o jovem capitão registou e fez assinar em acta, justificaram a retirada dos portu-gueses com a perda dos seus aliados. Pouco importa aqui julgar a pusilanimidade dos capitães ou a inexperiência de D. Louren-ço, que não conseguiu impor a vontade de combater. São julgamentos difíceis. O que ficou, no entanto, foi uma imagem de hesi-tação, ocorrida logo depois de Angediva, e a que se acrescentou o facto dos navios do reino terem perdido a monção e não apare-ceram nesse ano para carregar a especiaria, causando algum desespero aqueles que ti-nham abdicado do comércio tradicional para fornecerem os portugueses.

Eu diria que os acontecimentos de 1507 deram alguma ousadia aos inimigos dos portugueses, e criou condições para que se

Barra de Diu – D. João de Castro, Tábuas dos Roteiros da Índia.

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consolidasse a tríplice aliança entre o Egipto mameluco, o reino de Calecute e o sultanato do Guzerate, representado pelo governador de Diu, Melik Ayaz. O corpo expedicionário egípcio, finalmente, decidia-se a sair do Mar Vermelho, Calecut dava a sua tímida cola-boração (talvez fosse o único que não tinha nada a perder), e Diu tinha as condições ne-cessárias para albergar a frota dos mamelu-cos, numa posição vantajosa em relação a toda a Índia, pronta a actuar como fosse ne-cessário. Era essa, aliás, a grande vantagem estratégica daquele local, como reconheceria, anos mais tarde, Lopo de Sousa Couti-nho, definindo-a como “fortissima, e n’ella haver bom porto e vasadouro, e ser a barlavento de toda a India” (His-tória do cerco de Diu).

Apesar das circunstâncias favore-cerem uma moral elevada, por parte da coligação anti-lusitana, só os egíp-cios estão convencidos de que a vitória será uma coisa fácil. Todos os outros já experimentaram a capacidade militar portuguesa, e perceberam que as tro-pas do sultão não têm destreza nem condições para os combates navais do Índico. Melik Ayas tem uma noção cla-ra disso, perturbando-o ainda a postu-ra destes aliados, que se comportavam como conquistadores no seu território. E será ele o elo mais fraco da aliança, jogando com um pé de cada lado da barricada para poder salvar os seus domínios, aconteça o que acontecer. Sobretudo, percebe que os mamelucos não podem ficar em Diu, sob pena de tomarem conta dos seus próprios domí-nios. Mas vai deixar correr os aconteci-mentos enquanto não puder fazer outra coisa, pois isso lhe reclama a solidarie-dade islâmica e os interesses comerciais de Guzerate, do Egipto e de Calecut.

D. Lourenço de Almeida andava pelo norte, onde fora escoltar vinte navios de Cochim que iam a Chaul carregar mercadoria. Está desprevenido do pe-rigo que o espreita, e quando o vice-rei soube que os mamelucos estavam em Diu, não valorizou suficientemente a ameaça, imaginando que a Armada da Índia seria suficientemente forte para se desembaraçar de qualquer ataque. Manda recado ao filho para que se mante-nha de sobreaviso, mas recomenda-lhe que não procure o contacto com o inimigo, prote-gendo a carga dos navios, e evitando um de-sastre como o que ocorrera em Dabul no ano anterior. A Armada está dentro da barra de Chaul, e aí se manterá sendo completamente surpreendida pelo ataque dos egípcios, que a forçaram a uma batalha em condições fran-camente desfavoráveis, sem possibilidades de manobrar e sem poder tirar todo o ren-dimento da artilharia. Dois dias de comba-tes não tiveram um desfecho definitivo, com Melik Ayas a tentar manter-se à distância para manter o jogo duplo. Mas quando teve de entrar a barra e assumir as suas respon-

sabilidades, aos portugueses nada mais res-tava senão retirar-se. Conseguiram proteger a saída dos navios de carga e prepararam--se para largar, mas os mamelucos estavam atentos. O navio de D. Lourenço foi o último a picar a amarra e a ousadia valer-lhe-ia um rombo que o pregou ao lodo, deixando-o à mercê da artilharia inimiga que o sepultou no leito do rio.

Evidentemente que a morte do capitão da Armada da Índia significava uma vitó-ria para os egípcios, independentemente dos danos que tinham sofrido e do facto dos res-

tantes navios terem conseguido sair a barra sem danos de monta. O seu capitão pensava certamente isso, mas Melik Ayas sabia que aquela força era uma ínfima parte da capa-cidade naval portuguesa, e que a morte de D. Lourenço não deixaria de merecer uma resposta por parte do vice-rei seu pai.

Quando D. Francisco de Almeida recebe a notícia da morte do filho, sentiu como que um golpe final sobre todas as ambições com que partira para a Índia, provido de cargo tão honroso. Sabia como as intrigas contra ele tinham grassado na corte de Lisboa, e o tom das cartas que recebia do rei mostravam a forma negativa como a sua acção estava a ser julgada pelo soberano. É conhecido o de-

salento que expressa numa sua carta escrita em 1508, mas essa mesma carta mostra tam-bém a sua compreensão do momento que se vivia na Índia, tão óbvio na célebre expres-são: “quantas mais fortalezas tyverdes, mays fraco será cá vosso poder. Ao presente vossa força está cá no mar, e se nele não formos po-derosos levemente se perderão vossas forta-lezas”. Uma frase que despertou muita dis-cussão e suscitou interpretações erradas do seu pensamento, não tendo em conta que dissera antes: “Meu filho está morto, como a Nosso Senhor aprouve e Vossa Alteza sabe-

rá. Mataram-no venezeanos e mouros do Soltam [...] da qual cousa ficaram os mouros destas partes bem favorecydos, com esperança de grande socorro, e parece-me que não podemos deixar de nos este ano ver com eles de verdade, que será a cousa que eu agora mais de-sejo”. Algo que não pode ter outra leitu-ra que não passe pela sua interpretação da situação militar do momento, consi-derando que a esquadra mameluca está em Diu, e a prioridade portuguesa só pode ser a sua destruição.

Não é possível fazer aqui um relato circunstanciado da forma como decor-reu essa batalha, preferindo alargar a explicação das circunstâncias em que ela se tornou tão importante para as forças portuguesas na Índia, no século XVI. D. Francisco de Almeida concen-trou as forças em Cochim a partir de Setembro, procedendo a todas as repa-rações necessárias e aprontando todos os navios disponíveis. A 2 de Fevereiro de 2009, chegou à vista de Diu, onde es-tava toda a armada inimiga que se pre-parou para lhe dar combate. Foi Melik Ayaz que aconselhou a que se recolhes-sem no rio e combatessem ao abrigo da artilharia da fortaleza ou a derrota seria inevitável. O combate deu-se a 3 de Fe-vereiro, com os navios a entrar pela bar-ra quando começou a soprar a viração. Em pouco tempo, o inferno da artilha-ria portuguesa se impôs aos inimigos, e os sobreviventes foram apenas o seu comandante, Hussein Mushrif (mame-luco curdo), que conseguiu fugir a ca-valo com 22 homens.

Os mamelucos não desistiram de vol-tar a combater os portugueses no Índico, mas nunca mais ousaram sair do Mar Vermelho. Em 1517, o sultanato soçobraria ao ataque dos turcos otomanos, que retomariam o objectivo de expulsar os portugueses, mas os resultados seriam sempre os mesmos. A derrota de Diu fora suficientemente devas-tadora e não encorajava a que fosse repeti-da a iniciativa de 1507. Foi o que a estratégia naval do século XX chamaria de batalha deci-siva, a partir da qual os portugueses garanti-ram o domínio naval do Oceano Índico por várias décadas.

J. Semedo de MatosCFR FZ

D. Francisco de Almeida – Quadro do Museu Nacional de Arte Antiga, retirado da Galeria dos Vice-Reis, em Goa.

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O CALM Fernando Manuel de Macedo Pires da Cunha nasceu em Lisboa e entrou para a EN em 1974. Passou os primeiros anos de oficial, a bordo do N.R.P. “Com. Ro-berto Ivens” e do N.R.P. “Gen.Pereira D’Eça”. Após a especialização em A/S, foi Oficial A/S no N.R.P. “Alm. Magalhães Corrêa”, que esteve envolvido em exercícios nacio-nais, NATO e multinacionais, os da série JMC, OPEN GATE, OCEAN SAFARI, tendo ainda participado na STANAVFORLANT (1982).

Teve o primeiro comando no mar no N.R.P. “Zaire”. Foi Oficial Imediato do N.R.P. “Jacinto Cândido”. O segundo comando, foi o N.R.P. “Com. Hermenegildo Capelo” e participou em exercícios nacionais, NATO e multinacionais, integrando a força da EU-ROMARFOR em duas das suas activações. Entre as várias missões, operações e exercí-cios, realça-se a de apoio à paz em Timor-Leste, durante processo da sua independência. No principio de 2002, foi nomeado Chefe do EM do Grupo-tarefa nacional (POTG), desempenhou as funções de Chefe do EM (CSO) do COMSTANAVFORLANT, quan-do a SNFL esteve empenhada na Operação Active Endeavour, de apoio ao combate do terrorismo internacional. Foi instrutor de navegação e comandante de companhia na EN, e desempenhou as funções de Oficial responsável pelas Operações de Super-

fície e Anfíbias no CN (COMNAV). Esteve colocado no CINCIBERLANT (actual JC LISBON), onde foi responsável pelas áreas da Guerra A/S e da GE, e ainda Adjunto do Oficial responsável pelo planeamento dos exercícios de responsabilidade do IBER-LANT, tendo estado envolvido no desenvolvimento do conceito dos exercícios do tipo LINKED SEAS, que sucederam aos da série “GATE” que se baseavam em conceitos desenvolvidos durante o período da “guerra fria”. Em 1995 foi colocado como capi-tão dos portos de Vila Real de Santo António e de Tavira. Desempenhou funções no EMA, primeiro como Adj. do Chefe da DIV. OP’s. para o Treino e Exercícios, e mais tarde como Chefe da DIV. OP’s. Foi 2o Comandante da Flotilha.

Frequentou vários cursos e aperfeiçoamentos: a especialização de Oficiais em A/S, o curso de Combate à Droga, o curso de GE, o curso de Táctica e Operações Navais, o CGNG, o CCNG, o Curso de Promoção a Oficial General. No estrangeiro frequentou o curso de Operações Anfíbias em Pool, e o curso de Guerra no Mar (MWC) na HMS Dryad, ambos no Reino Unido. Frequentou o curso avançado de GE, e o curso de Aná-lise e Planeamento de GE, ambos em Oberammergau – Alemanha.

Possui vários louvores e condecorações.

Revista da aRmada • MARÇo 2009 21

l Realizou-se no passado dia 7 de Outubro, no Gabinete do Comandante Naval no Palá-cio do Alfeite, a cerimónia da tomada de pos-se do cargo de Comandante da Flotilha e de 2º Comandante Naval, pelo CALM M Pires da Cunha, em substituição do CALM Perei-ra da Cunha.

A posse foi presidida pelo CN VALM Var-gas de Matos. Estiveram presentes o VALM Vilas Boas Tavares, VALM Carvalho Abreu, bem como outros oficiais generais da Marinha, e oficiais superiores dos outros ramos das FA’s, bem como oficiais de diversas unidades e militares que prestam serviço na Flotilha.

Das palavras do novo Comandante da Flotilha é de realçar: “…Propomo-nos: continuar o desenvolvimento sustentado dos três pilares de actuação da Flotilha, designadamente, o treino e avaliação, o apoio financei-

ro e o segundo escalão de manutenção da esquadra, (…) bem como manter e se possível incrementar uma estreita e profícua colaboração com todas as entidades da Marinha que directa ou indirecta-mente contribuem para melhorar o desempenho do produto operacional da Marinha – nomeada-mente, os navios, os submarinos, os helicópteros, e os mergulhadores. (...)

(…) Por outro lado, será também uma das mi-nhas principais preocupações o estudo e a elabo-

ração de propostas conducentes à implementação de mecanismos que per-mitam a melhoria da vida a bordo, do bem-estar e da motivação do pessoal embarcado (… ) ”

No final o VALM CN, enalteceu a acção do Comandante anterior, manifestou a sua confiança no novo Comandante e reafirmou a im-portância da Flotilha para a Marinha.

COMANDANTE DA FLOTILHA

TOMADAS DE POSSE

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ra

l Realizou-se no dia 12 Dezembro na Sala de Reuniões da Direcção de Navios, a cerimónia de tomada de posse do novo Director de Navios, o CALM ECN Cunha Salvado, em substituição do CALM EMQ Pais Loureiro. A posse foi presidida pelo SSM, VALM Conde Baguinho, na presen-ça de Comandantes, Directores e oficiais de organismos que se relacionam com a DN além do pessoal militar e civil da pró-pria guarnição.

Após a leitura da ordem, usou da palavra o novo Director de que se realça: “ ... Os constrangimentos com que a DN se depara são conhecidos. O país e a sua Marinha têm o direito de esperar “the best value for money”, de cada euro que entrega às suas Forças Armadas. E será da minha responsabili-dade providenciar para que esse princípio seja zelosamente seguido...”

No final e das palavras do VALM SSM refere-se:“... Com efeito, uma das envolventes com que terá de lidar será a nova realidade

resultante do processo de empresarialização do AA. Ainda que não conheçamos, por agora, os exactos contornos dessa realidade, sabemos que o relacionamento da Marinha através da DN com essa nóvel empresa será diferente do actual. No entanto, é suposto que após um curto período de adaptação os resultados sejam globalmente benéficos para a materialização tempestiva e com qualidade dos pla-neamentos de manutenção e das actividades de reparação naval. No que concerne à complexidade e ao esperado acréscimo de tramitação processual que a recente le-gislação de contratação pública exige, julgo que haverá alternativas a explorar no sentido de obviar a tal complexidade ou, pelo menos a minimizá-la (…).

Outra das envolventes é a que se relaciona com os novos meios e a sua integração na Marinha e, consequentemente, no Sistema de Gestão da Manutenção...”

DIRECTOR DE NAVIOS

O CALM ECN Francisco de Figueiredo e Silva Cunha Salvado é licenciado em Ciências Militares Navais (EMN) na EN; Constructors Training Course no Royal Naval Engineering College em Manadon, Plymouth; Msc (Master of Science) in Naval Arqui-tecture no University College London, (1º Classificado “Distinction”); Submarine Design Course, University Colege London.

Participou em diversos Congressos e Cursos, de que se salientam: Estágio na área de submarinos, no Admi-ralty Research Establishment Dumfermline; Curso de Análise e Concepção de Estruturas em Materiais Com-

pósitos, INEGI; ALGOR ACUPAK Non-Linear Finite Element Analysys Course, Univer-sidade de Navarra, S. Sebastian; Curso Monográfico de Liderança, ISNG; CGNG, ISNG; Curso de Gestão de Recursos Humanos, Vector Liderança, EF, (1º Classificado); CGNG, ISNG (1º Classificado); Ship’s Project and Maintenance Management Course, do Royal Institution of Naval Architects, Londres. Chefiou os Serviços de Máquinas e LA dos NRP’s “Com. Sacadura Cabral”, “Honório Barreto” e “Oliveira e Carmo”; Engº do GE/DGMN; Engº Naval da Divisão de Estudos e Projectos (DEP), AA; Chefe da DEP (AA); Perito ECN da DGAM e Capitania do Porto de Lisboa; Chefe do Depart. de Construções, DN; Chefe da Equipa de Projecto do NPO; Director de Gestão de Projectos e vogal do conse-lho de administração do AA. É Professor Convidado da Licenciatura em Engª Mecânica e Industrial da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNL e Consultor.

Participou no restauro da fragata D. Fernando II e Glória; Projecto de Lanchas de 20m em PRFV para a Guiné-Bissau; Coordenação do projecto das LFR “Centauro”; Lanchas da PM de Macau; colaboração em mais de vinte projectos de embarcações, militares e ci-vis, salientando-se entre outros uma lancha rápida de salvamento e combate a incêndios para o Aeroporto de Macau; estruturas navais para o Pavilhão do Conhecimento dos Mares da EXPO 98; acessoria à Marinha Real de Marrocos; Peritagem a um naufrágio para um Tribunal Arbitral e um projecto de uma comporta para Doca Seca.

Foi Coordenador do Colégio de Engenharia Naval da Região Sul da Ordem dos En-genheiros; Participou na Comissão de Acreditação do Curso de Engenharia Naval do IST. Colabora regularmente com a Revista de Marinha.

Tem diversos louvores e condecorações.

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Júlio

Tito

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22 MARÇo 2009 • Revista da aRmada

Lançamento e apresentação do livro “Norte dos pilotos – Guia dos Curiosos”

Lançamento e apresentação do livro “Norte dos pilotos – Guia dos Curiosos”

Realizou-se no passa-do dia 20 de Janeiro, no auditório da Aca-

demia de Marinha uma ses-são dedicada à apresentação do livro “Norte dos pilotos – Guia dos Curiosos” (Um livro de Marinharia do Séc. XVIII) da autoria do Coman-dante Malhão Pereira.

Presidiu à sessão o Prof. Doutor Contente Domingues, Vice-Presidente da Acade-mia, ladeado pelo CALM Rui Abreu, Presidente da Comis-são Cultural da Marinha, Sr. Carlos Serra em representa-ção da editora, Prof. Doutor Henrique Lei-tão e pelo Comandante Malhão Pereira.

O CALM Rui Abreu fez a apresentação do autor da obra, e o Sr. Carlos Serra agra-deceu em nome da editora a oportunidade da feitura do livro.

Seguiu-se a intervenção do Professor Hen-rique Leitão que relembrou as contribuições históriográficas dos oficiais de marinha que ao longo de décadas souberam cativar num espírito de amor à cultura e à investigação histórica a tal ponto que, das fileiras da Ma-rinha ter saído um notável escol de historia-dores. Citando: Como não pensar em nomes tão significativos como os de Morais e Sousa, Gago Coutinho, Fontoura da Costa ou Teixeira da Mota? E como não pensar em outros, como Ar-mando Cortesão ou Luís de Albuquerque que, não sendo da Marinha, se apoiavam de maneira essen-cial nas investigações desses primeiros?

Esta tradição estende-se até aos dias de hoje e é do seio deste imponente esforço colectivo de compreensão do passado que surge agora o con-tributo histórico do senhor Comandante José Manuel Malhão Pereira.

Continuando a sua exposição, o Profes-sor Henriques Leitão afirmou que O Norte dos Pilotos, Guia dos Curiosos, de subtítulo «Um livro de marinharia do século XVIII» é um livro que resulta das provas académicas de Mestrado do comandante Malhão Perei-ra. Consiste no estudo e análise de um texto, intitulado precisamente «Norte dos Pilotos, Guia dos Curiosos», redigido entre os anos de 1730 e 1750, por Manuel dos Santos Rapo-so, um homem de grande experiência naval. A análise do Norte dos Pilotos, Guia dos Pilotos, Guia dos Curiosos dá-lhe a ocasião para olhar para este topos dos estudos de cultura e ciên-cia portuguesa. Para olhar e para discordar. E assim, do importante campo da história da náutica e navegação vem mais um aler-

ta, dirigido a todos os historiadores, de que a descrição habitual que carateriza como deca-dente a ciência e técnica nacional dos séculos

XVII e XVIII, necessita de uma profunda revisão.

Seguiu-se a comunicação do Comandante Malhão Pe-reira que começou por agra-decer ao falecido Almirante Ferraz Sacchetti esta oportu-nidade de aqui estar no am-biente que tinha escolhido para efectuar o lançamento do seu trabalho, rodeado pela sua família e amigos.

O orador agradeceu as palavras amigas do Profes-sor Contente Domingues, ao senhor Carlos Serra e as dos apresentadores da obra

o Almirante Rui Abreu e o Professor Hen-rique Leitão.

Seguiu-se a preparação da dissertação, os mi-lhares de horas de consulta em bibliotecas, o con-tacto com os simpáticos bibliotecários que tan-to me ajudaram, o que me permite fazer agora a inevitável comparação com a época actual, em que se pirateiam documentos via internet entre outros expedientes informáticos.

Assim, este trabalho só foi possível graças ao apoio dado pela Academia de Marinha, por inter-médio do Senhor Almirante Ferraz Sacchetti, da Comissão Cultural da Marinha através do Al-mirante Rodrigues de Abreu, da Câmara Mu-nicipal de Lagos por intermédio do seu Presi-dente e do Professor Rui Loureiro que naquela autarquia dirige um departamento, e ainda do Professor Engenheiro José Cardoso de Menezes, da empresa 4 SEA, que decidiu esse apoio sem qualquer solicitação da nossa parte.

O texto final foi revisto pelo Professor Luís Filipe Thomaz e pelo Almirante Max Justo Gue-des, meus orientadores de Tese, que me deram úteis e importantes sugestões.

O mesmo devo à Professora Raquel Soeiro de Brito, que me fez extensas observações e valiosas ideias de melhoria do texto.

À Professora Margarida Garcês Ventura devo também úteis sugestões e ao Coronel Durão agradeço a revisão final do texto, que lhe deve ter dado uma grande trabalheira.

Finalmente, deu os parabéns ao seu ami-go Carlos Serra, da Editora Mar de Letras, pelo seu empenho na execução gráfica desta obra, que lhe deu tanto gosto em manusear e admirar, o que certamente acontecerá com os seus leitores, concluindo com o agrade-cimento a todos os presentes na cerimónia de lançamento do seu livro.

(Colaboração da ACADEMIA DE MARINHA)

Fotos Reinaldo Carvalho

Mesa da Presidência.

Comandante Malhão Pereira.

ACADEMIA DE MARINHA

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Revista da aRmada • MARÇo 2009 23

CONCLUSÃOIII

O “naval trawler” “HAYLING”, (T271), da classe “ISLES” da Armada Britâni-ca foi construído, no estaleiro Cook,

Welton & Gemmel: Holmes, Grã-Bretanha. Teve a sua quilha assente em 1941, foi lançado à água em 17 de Agosto de 1942, tendo a sua construção ficado concluída naquele ano.

Em 8 de Outubro de 1943 chegou ao porto da Horta e naquele mesmo dia foi aumentado, temporariamente, ao Efectivo dos Navios da Armada, pas-sando a ter bandeira e guarnição por-tuguesas, a ser designado por patrulha P3 e a ter aquele indicativo visual pin-tado a branco nas amuras.

As suas dimensões e demais caracte-rísticas, as máquinas, o ar mamento, os equipamentos e a lotação eram iguais às do patrulha P1/ ”S. MIGUEL” que também pertencia à classe “ISLES”.

Durante os anos de 1943, 1944 e 1945, patrulhando as águas do arquipélago dos Açores, largou para o mar mais de 120 vezes, fazendo base geralmente no porto da Horta mas entrando por vezes em Ponta Delgada, Lajes e Santa Cruz das Flores, Vila do Porto e Angra do Heroísmo. Em 25 de Junho de 1945, ter-minada a sua comissão de serviço nos Açores zarpou da Horta para Lisboa onde chegou no dia 30, indo amarrar a uma bóia do Quadro dos Navios de Guerra. Em 1 de Julho foi incorporado no Comando da Defesa Marítima do Porto de Lisboa.

Em 11 de Junho de 1946 foi aumen-tado ao Efectivo dos Navios da Arma-da de forma definitiva e passou a ser designado por vapor “TERCEIRA”, conforme a portaria nº 11410 de 29 de Junho de 1946, mantendo o mesmo indicativo visual P3. Em 19 de Outu-bro de 1946, de acordo com a porta-ria nº 11532, passou a ser o patrulha “TERCEIRA” e o seu indicativo vi-sual a ser a letra T pintada a branco e sombreada a preto, nas amuras. Em 24 de Maio de 1951, pela portaria nº 13547, passou a ter a designação de draga-minas e o indicativo visual M 402 pintado a preto nas amuras e na popa. Em 28 de Junho de 1956 foi re-classificado caça-minas de acordo com a portaria nº 15893 e o seu indi-cativo visual passou a ser M 393 ao mesmo tempo que cedia o indicativo visual M 402 ao draga-minas costeiro “RI-BEIRA GRANDE”. Em 26 de Abril de 1957 o caça-minas “TERCEIRA” foi abatido ao Efectivo dos Navios da Armada conforme a portaria nº 16265.

IVO “naval trawler” “WHALSAY” (T293) da

classe “ISLES” da Armada Britânica foi cons-truído, no estaleiro Cook, Welton & Gemmel: Holmes, Grã-Bretanha.

O assentamento da quilha teve lugar em 1941 e o lançamento á água em 4 de Abril de 1942 ano em que a construção ficou terminada. Cedido a Portugal a título provisório chegou ao porto da Horta na madrugada de 8 de Outubro

de 1943 e naquele mesmo dia foi aumentado, temporariamente, ao Efectivo dos Navios da Armada, passando a ter bandeira e guarnição portuguesas, a ser designado por patrulha P4 e a ter aquele indicativo visual pintado a bran-

co nas amuras. Pertencendo à classe “ISLES” as suas

características principais eram idên-ticas às do P1/”S.MIGUEL” e às do P3/”TERCEIRA” mas o armamento anti-aéreo era igual ao do P2/”FAIAL” que consistia, inicialmente, na peça de 76 mm/40 calibres e em três metralha-doras Oerlikon de 20 mm.

Durante os anos de 1943, 1944 e 1945 saiu para o mar mais de 100 vezes pa-trulhando as águas do Arquipélago dos Açores fazendo base quase sempre no porto da Horta mas entrando, por ve-zes, em Ponta Delgada e em Vila do Por-to. Em 21 de Junho de 1945, terminada a sua comissão de serviço nos Açores, zarpou com destino a Lisboa, fundean-do em Caxias no dia 26. Naquela data ficou a depender do Comando da De-fesa Marítima do Porto de Lisboa. Em 11 de Junho de 1946 foi aumentado de-finitivamente ao Efectivo dos Navios da Armada e passou a ser designado por vapor “SANTA MARIA” conforme a portaria 11410 de 29 de Junho de 1946, mantendo o indicativo visual P4. Em 19 de Outubro de 1946, de acordo com a portaria nº 11532, passou a ser o pa-trulha “SANTA MARIA” e a ter como indicativo visual as letras MR pintadas a branco nas amuras e sombreadas a pre-to. Em 24 de Maio de 1951, pela portaria nº 13547, passou a ter a designação de draga-minas e o indicativo visual M 404 pintado a preto nas amuras e na popa. Em 28 de Junho de 1956, segundo a por-taria nº 15893, o “SANTA MARIA” foi reclassificado caça-minas e passou a ter o indicativo visual M 392 pintado a preto nas amuras e na popa ao mesmo tempo que cedia o indicativo M 404 ao draga-minas costeiro “ROSÁRIO”.

Tendo navegado durante mais de 27 anos sob a bandeira das quinas teve uma vida muito activa e provei-tosa tendo participado em numerosos exercícios para adestramento da guar-nição e em grande variedade de ou-tras missões.

Pela observação de fotografias cons-tata-se que o “SANTA MARIA”, em data que não foi possível determinar

com exactidão, terá sido adaptado a lança-mi-nas, no Arsenal do Alfeite, tendo-lhe sido ins-talados dois paus de carga à popa, provavel-mente durante o primeiro semestre de 1955. Em Março, Agosto e Dezembro de 1957 e em

OS PATRULHAS DA CLASSE “FAIAL”OS PATRULHAS DA CLASSE “FAIAL”

Patrulha “SANTA MARIA”.

Patrulha P4.

Patrulha “TERCEIRA”.

Patrulha P3.

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24 MARÇo 2009 • Revista da aRmada

Abril de 1958 efectuou exercícios de lança-mento de minas do tipo “Saulter-Harlé” e em Dezembro de 1957, Fevereiro de 1958 e Junho de 1962 lançamentos de minas do tipo “AZ”. Em Julho de 1960 lançou minas acústicas e magnéticas. Em Julho e Ou-tubro de 1968 efectuou mais lançamen-tos de minas mas não foi possível saber qual o tipo.

Encontrando-se em missão de fiscali-zação da pesca na zona centro entrou no porto de Peniche no dia 10 de Dezem-bro de 1970 indo amarrar à bóia ali exis-tente destinada aos navios de guerra.

Nessa noite o vento refrescou, atin-gindo rajadas de 70 quilómetros por hora, ao mesmo tempo que rondava para SW o que originou que a referida amarração se partisse e o “SANTA MA-RIA” impelido pelo vento e pelas vagas fosse encalhar na praia, no interior do porto de Peniche. Todos os esforços para desencalhar o navio foram baldados e no dia 15 de Abril de 1971 foi abatido ao Efectivo dos Navios da Armada.

VO “naval trawler” “GRUINARD”

(T239) da classe “ISLES” da Armada Britânica foi construído, no estaleiro John Crown & Son Ltd, Sunderland, Grã-Bretanha. Teve a sua quilha assen-te em 30 de Abril de 1942 e foi lançado à água em 20 de Novembro do mesmo ano. A sua construção foi dada por con-cluída em 1 de Março de 1943. Cedido a Portugal a título provisório, chegou pela primeira vez ao Tejo no dia 7 de Outu-bro de 1943 e naquele mesmo dia foi aumentado, temporariamente, ao Efec-tivo dos Navios da Armada, passando a ter bandeira e guarnição portuguesas, a ser designado por patrulha P7 e a ter aquele indicativo visual pintado a bran-co nas amuras.

Como também pertencia à classe “IS-LES” as suas características eram muito semelhantes às do P4/”SANTA MA-RIA” inclusivamente no que se refere ao armamento anti-aéreo que, além da peça Vickers-Armstrong de 76 mm/40 calibres, também compreendia três me-tralhadoras Oerlikon de 20 mm. Já o armamento anti-submarino constava de dois morteiros e 30 cargas de pro-fundidade.

De 21 de Outubro a 20 de Dezembro de 1943 largou 12 vezes para o mar em missão de patrulha e desde 3 de Janeiro a 25 de Junho de 1944 largou mais 31 ve-zes fundeando ora em Sesimbra ora em Caxias. No dia 26 de Junho de 1944 foi devolvido à Royal Navy e passou a usar novamente o nome “GRUINARD”. Em 4 de Julho de 1944 foi abatido ao Efecti-vo dos Navios da Armada Portuguesa, segundo a portaria nº 10696. Em 1946 passou a ser o navio mercante “PRESIDENT F. D. ROOSEVELT” e em 1950 foi rebaptiza-do “ODIN”.

VIO “naval trawler” “ERISKAY” (T217), da

classe “ISLES”, da Armada Britânica foi cons-

truído no estaleiro Fleming & Ferguson, Ltd, em Paisley, Escócia.

O assentamento da quilha aconteceu em 20

de Novembro de 1941, foi lançado à água em 28 de Agosto de 1942 e a sua construção ficou terminada em 18 de Outubro de 1942.

Cedido a Portugal a título provisó-rio, entrou a barra do Tejo, pela primei-ra vez, no dia 7 de Outubro de 1943 e naquele próprio dia foi aumentado, temporariamente, ao Efectivo dos Navios da Armada, passando a ter bandeira e guarnição portuguesas, a ser designado por patrulha P8 e a ter aquele indicativo visual pintado a branco nas amuras.

Pertencendo também à classe “IS-LES”, como atrás já foi dito, as suas características principais eram idên-ticas às do P1/”S. MIGUEL” e às do P3/”TERCEIRA” inclusivamente no que se refere ao armamento antiaé-reo. Já o armamento anti-submarino era igual ao do P7, consistindo em dois morteiros e 30 cargas de profundida-de. Entre 18 de Outubro de 1943 e 25 de Junho de 1944 saiu 35 vezes para o mar em missão de patrulhamento fundeando quase sempre ao largo de Caxias mas também duas vezes em Sesimbra e uma em Setúbal. No dia 26 de Junho de 1944 foi devolvido à Royal Navy, passando a usar de novo o nome “ERISKAY”. Em 4 de Julho de 1944 foi abatido ao Efectivo dos Navios da Ar-mada Portuguesa de acordo com a por-taria nº 10696. Em 12 de Novembro de 1945, navegando com bandeira e guar-nição inglesas, perdeu-se, por encalhe, junto à baía da Fajã do Negro, Mana-das, na ilha açoriana de S. Jorge.

VIIO “naval trawler” “SALTARELO”

(T128) da classe “DANCE”, da Arma-da Britânica, foi construído, no estaleiro Henry Robb Ltd., Leith, Grã-Bretanha. Teve a sua quilha assente em 12 de Ja-neiro de 1940, foi lançado à água em 6 de Agosto de 1940 e a sua construção foi concluída em 19 de Outubro do mesmo ano. Adquirido ao governo britânico, em 1947, foi baptizado “SALVADOR CORREIA” e inicialmente classificado como navio-patrulha tendo actuado de 1948 a 1954, na qualidade de navio da Marinha Privativa de Angola. Porém, em 1953, passou ao serviço exclusivo da Armada sendo reclassificado navio-hidrográfico com uma guarnição de 38 homens. Esteve ao serviço da Missão Hidrográfica de Angola e S. Tomé en-tre 1954 e 1955 e da Brigada Hidrográ-fica Independente do Continente entre 1955 e 1961. Como navio-hidrográfico o seu indicativo visual era A 522 pin-tado a preto nas amuras. Em 1956 foi reclassificado caça-minas e em 1959 novamente navio-hidrográfico. Per-tencendo à classe “DANCE”, como já

foi citado, as suas características eram ligeira-mente diferentes das da classe “ISLES” e das da classe “TREE”.

Patrulha P8.

Patrulha P7.

O “SANTA MARIA” como lança-minas.

Caça-minas “SANTA MARIA” encalhado na praia de Peniche.

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Revista da aRmada • MARÇo 2009 25

- Comprimento de fora a fora .....48,80 metros- Comprimento entre p.p. ............45,70 metros- Deslocamento Standard ...........530 toneladas- Velocidade ...............................................11,5 nós

Quando na Armada Portuguesa o seu ar-mamento consistia apenas numa peça Vi-ckers Armstrong de tiro rápido, antiaérea, de 76 mm/40 calibres, montada em caça e numa metralhadora Oerlikon de 20 mm, tam-bém antiaérea, instalada por ante a ré da chaminé. Em 1961 foi rebaptizado “BALDAQUE DA SILVA” e deixou de navegar tendo sido abatido ao Efectivo dos Navios da Armada em 31 de Janei-ro de 1961.

VIIIO “naval trawler” “RUSKHOLM”

(T211) da classe “ISLES” da Armada Bri-tânica, foi construído, no estaleiro Goole Shipbuilding & Repairing Co Ltd. Amos & Smith, Grã-Bretanha. Teve a sua qui-lha assente na carreira em Agosto de 1941 e foi lançado à água em 4 de Feve-reiro de 1942, tendo a construção fica-do concluída em Maio do mesmo ano. Adquirido pelo governo português em 1947 foi baptizado “BALDAQUE DA SILVA” e adaptado a navio-oceanográfi-co. Tinha uma guarnição de 36 homens. Esteve ao serviço da Missão de Estudos de Pesca em águas de Angola e de Cabo Verde entre 1948 e 1961. Mais tarde foi reclassificado navio-hidrográfico e re-baptizado “SALVADOR CORREIA”. Posteriormente efectuou trabalhos de oceanografia em águas do Continente. Foi abatido ao Efectivo dos Navios da Armada em 1967.

IXO “requisitioned trawler” “CAPE

PORTLAND” (FY246) da Armada Bri-tânica, foi construído, de aço, em 1936, no estaleiro Cochrane & Son, Ltd, em Selby, Grã-Bretanha. Começou por ser um arrastão para pescar em águas da Islândia mas em Setembro de 1939 foi requisitado pelo Almirantado Britânico e adaptado para poder desempenhar missões de patrulhamento, de escolta de comboios e de dragagem de minas. Foi então classificado como ABV, (Ar-med Boarding Vessel), na versão A/S.

Eis as suas características principais:- Comprimento Total ........51,72 metros- Boca .......................................8,41 metros- Calado máximo .................5,34 metros- Deslocamento máx. ......585 toneladas- Deslocamento stand. ....570 toneladas- Arqueação bruta ....................1407,5 m3

- Velocidade máxima ....................12 nós- Velocidade de cruzeiro .............8,5 nós- Autonomia ........4600 milhas a 8,5 nós

O aparelho propulsor consistia numa má-quina alternativa de vapor de tríplice expan-são, com uma caldeira cilíndrica e três for-nalhas. Potência 850 cavalos indicados. A dotação de carvão era de 220 toneladas. Foi armado com uma peça de artilharia Vickers de 101,6 mm/40 calibres montada em caça,

duas metralhadoras Oerlikon de 20 mm antiaéreas instaladas na ponte a um e outro bordo, duas metralhadoras Vickers de 12,7 mm montadas a ré, em reparo duplo, duas metralhadoras Lewis de 7,7 mm antiaére-as na ponte, quatro morteiros e duas calhas para o lançamento de cargas de profundida-de e um dispositivo para disparar foguetões

com pára-quedas e com arames, contra avi-ões. Estava também equipado com aparelha-gem de detecção de submarinos Asdic.

A guarnição era composta por três oficiais, três sargentos e 23 praças. (o Imediato e al-gumas praças pertenciam à Reserva Maríti-ma). Chegou ao porto de Ponta Delgada em 7 de Outubro de 1943 e nesse mesmo dia foi

aumentado, temporariamente, ao Efectivo dos Navios da Armada com a designação de patrulha P5, passando a ter aquele indi-cativo visual pintado a branco nas amuras e bandeira e guarnição portuguesas.

Desde 14 de Dezembro de 1943 a 2 de Maio de 1944 largou 28 vezes para o mar patrulhando as águas do grupo oriental

do arquipélago dos Açores, fazendo sempre base em Ponta Delgada. No dia 6 de Agosto de 1944 entrou no porto da Horta para ser devolvido à Royal Navy. No dia 8 de Agosto foi abatido ao Efectivo dos Navios da Armada Portuguesa de acordo com a portaria nº 10726 de 15 de Agosto de 1944. Ao hastear de novo a “whi-te ensign” voltou a ostentar o nome de “CAPE PORTLAND” e o indica-tivo visual FY 246. Foi devolvido ao armador em 1945.

XO “requisitioned trawler” “VAS-

CAMA” (FY185) da Armada Britâni-ca foi construído, de aço, em 1935, no mesmo estaleiro em que foi construí-do o “CAPE PORTLAND”. Também ele começou por ser um arrastão para pescar nas águas da Islândia mas em Setembro de 1939 foi igualmente re-quisitado pelo Almirantado Britânico e adaptado para passar a ser um “Ar-med Boarding Vessel”, versão A/S, muito semelhante ao “CAPE POR-TLAND” do qual diferia apenas nas seguintes características:- Deslocamento máx. ...560 toneladas- Arqueação bruta ............... 1265,9 m3

- Velocidade máxima ...............8,4 nósAs dimensões, o aparelho propul-

sor e o armamento eram em tudo idênticos. Também ele chegou ao porto de Ponta Delgada no dia 7 de Outubro de 1943 sendo nessa data aumentado, temporariamente, ao Efectivo dos Navios da Armada com a designação de patrulha P6, passan-do a ter aquele indicativo visual pin-tado a branco nas amuras e bandeira e guarnição portuguesas..

Desde 11 de Dezembro de 1943 a 19 de Junho de 1944 saiu para o mar 31 vezes patrulhando as águas do ar-quipélago dos Açores utilizando Pon-ta Delgada como base. Tal como o P5 entrou no porto da Horta, no dia 6 de Agosto de 1944 para ser restituído à Royal Navy.

No dia 8 de Agosto foi abatido ao Efectivo dos Navios da Armada Por-tuguesa conforme a portaria nº 10726

de 15 de Agosto de 1944. Ao hastear nova-mente a “white ensign” tornou a ostentar o nome “VASCAMA” e o indicativo visual FY 185. Foi vendido em Abril de 1945.

José Ferreira dos SantosCapitão da Marinha Mercante

Membro efectivo da Academia de Marinha

Patrulha P6.

Patrulha P5.

Navio-oceanográfico “BALDAQUE DA SILVA”.

Navio-hidrográfico “SALVADOR CORREIA”.

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26 MARÇo 2009 • Revista da aRmada

N.R.P. “ Cachalote” (1969 – 1975)

PRÉMIOS CNOCA 2008

N.R.P. “ Cachalote”

PRÉMIOS CNOCA 2008

A história dos pri-meiros Submari-nos Portugueses

dignos desse nome come-ça no dia 24 de Setembro de 1964, data em que foi assinado o contrato de aquisição de 4 submari-nos e 4 fragatas a França. “Albacora”, “Barracuda”, “Cachalote” e “Delfim” que iriam constituir a 4ª Esquadrilha de Submarinos.

O N.R.P.”Cachalote” (S165) foi o terceiro submarino da Classe Albacora, construído no Estaleiro Francês “Ateliers Dubigeon – Normandie, em Nantes.

Em 27 de Outubro de 1966 foi assente a quilha, sendo lançado à água em 16 de Fevereiro de 1968.

Foi aumentado ao efectivo dos navios da Armada no dia 25 de Janeiro de 1969, e entrou o Tejo pela primeira vez em 25 de Maio de 1969

Participou em vários exercícios nacionais e in-ternacionais dos quais se destaca a colaboração no exercício “Convex 71” com a Marinha Espanhola. No final deste exercício permaneceu em Cartage-na onde deu instrução à guarnição do SPS “Del-fin” (S61), Submarino que deu nome á classe dos Submarinos tipo “Daphné” da Marinha Espanho-la. (existe placa comemorativa deste evento na es-quadrilha de Submarinos).

Com a Bandeira Portuguesa o “Cachalote” vi-sitou os Portos do Funchal, Plymouth, Cádis, Mahón (Minorca), Cartagena, Setúbal e Leixões e fundeou em Portimão, Sesimbra e Tróia.

A decisão de vender o “Cachalote” ficou a de-ver-se ao atraso na resposta da cadeia logística da Marinha à Grande Revisão dos Submarinos

da Classe Albacora.Assim, quando o “Alba-

cora” atingiu o tempo para iniciar a GR, o Arsenal ain-da não estava preparado para o receber, o que vai acontecer também com os restantes submarinos.

A solução passou por mandar o “Albacora” fa-zer a GR em França, o

“Barracuda” fazer a GR no Arsenal do Alfeite e dos restantes optou-se por fazer aguardar o “Delfim” e vender o “Cachalote” a França que por sua vez o vendeu ao Paquistão.

Em condições normais, era perfeitamente possível ao Arse-nal do Alfeite manter os 4 submarinos dentro dos padrões re-queridos.

Ao longo de quase sete anos o “Cachalote” navegou 4974 ho-ras, subiu o plano inclinado do Arsenal do Alfeite oito vezes e

teve seis Comandantes. O “Cachalote” passou ao estado de desarma-

mento a 17 de Outubro de 1974 e voltou ao estado de armamento e lotações normais a 16 de Abril de 1975, para ser entregue ao Estaleiro.

O N.R.P. “Cachalote” foi abatido ao efectivo dos navios da Armada no dia 29 de Outubro de 1975.

No mesmo ano, foi aumentado ao efectivo da Marinha do Paquistão e baptizado com o nome “Ghazi” (S134). Foi equipado com mísseis Sub--Harpoon e serviu a Marinha do Paquistão duran-te 31 anos, sendo desarmado e abatido ao efectivo no dia 2 de Janeiro de 2006.

Filipe de Almeida2TEN

Em 3 de Dezembro, a bordo do N.R.P. “Sagres” atracado em Al-cântara, realizou-se o tradicio-

nal jantar e distribuição de prémios das provas náuticas do CNOCA de 2008. A cerimónia, que foi presidida pelo CALM Gonçalves de Brito, em representação do Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada, contou com a presença de cerca de 220 convidados, incluindo representantes dos organis-mos e entidades que têm apoiado o Clube, quer da Marinha como exter-nas, bem como os participantes das diversas competições organizadas pelo CNOCA.

Apesar das condições meteorológicas desfavoráveis que se fi-zeram sentir durante toda a tarde, uma oportuna acalmia contri-buiu para que a cerimónia decorresse de forma exemplar, tendo recebido dos participantes os maiores elogios, graças ao empenho do Comando do navio e da sua guarnição que, após um longo período de ausência do país, em missão, de forma pronta se dis-

ponibilizou para a realização deste tra-dicional jantar que une a comunidade da Náutica de Recreio e a Marinha.

No final do jantar, após algumas pa-lavras do Presidente do Clube, CMG ECN Bento Manuel Domingues, pro-cedeu-se à entrega dos prémios de vela ligeira e de cruzeiro do Dia da Marinha 2008 e do 59º Festival Náutico e do pré-mio Comandante Victor Victorino, atri-

buído ao consócio Rogé-rio Chumbinho pela sua participação e resultados obtidos na modalidade de “vela de cruzeiro” durante o ano de 2007, correspondendo a uma deliberação assumida na precedente Assembleia-Geral de Sócios.

Comandantes do N.R.P. “Cachalote”CteN Gomes Nemésio(25JAN69 – 02ABR71)

CteN Pereira Leite(02ABR71 – 12ABR73)CteN Baptista da silva(12ABR73 – 14DEZ73)

CteN Carmo duro(14DEZ73 – 01JUL74)CteN Colaço Cancela(07MAI75 – 14AGO75)CteN esteves de sousa(14AGO75 – 29OUT75)

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VIGIA DA HISTÓRIA 8

Ditos PopularesDitos Populares

Alguns dos ditos, de que a nossa sabedoria popular é bem rica, estão muitas vezes relacionados com o mar, quem não terá já ouvido, ou mesmo utilizado, por exemplo, os seguintes:

Há mais marés que marinheiros, ou ainda Quem vai para o mar, em terra se avia, ou Gaivotas em terra, tempestade no mar.Outros ditos há que, não estando relacionados com o mar, estão

de uma forma ou outra ligados à Marinha, ligação essa que não sur-ge de forma tão óbvia como os atrás citados.

A zona onde se encontra a Base Naval de Lisboa integrava a pro-priedade real do Alfeite, propriedade essa constituída pelas quin-tas do Alfeite, da Romeira, do Antelmo, da Bomba, do Outeiro, da Piedade e da Quintinha.

O local deveria ser, então, bastante aprazível dada a frequência com que os Reis por lá permaneciam.

Até o general Junot que, embora não fosse Rei de Portugal, por vezes, se comportava como tal, utilizou a propriedade do Alfei-te para seu deleite, no dia 12 de Abril de 1808, com uma sessão de música e, segundo o cronista do acontecimento, acompanhado de algumas madames.

A manutenção da propriedade, à custa do Estado, acarretava en-cargos avultados o que, com frequência, originava grande contro-vérsia política.

O facto de se poder usufruir de algo agradável ou proveitoso sem que se tenha o ónus do respectivo encargo, associado ao número das quintas do Alfeite, está na origem da expressão:

“Estar nas suas sete quintas”O outro provérbio, além de estar relacionado com o mar, está-o

também com o tráfico de escravos, cuja abolição, como é sabido, teve na Inglaterra um dos seus campeões.

No século XIX o tráfico de escravos, levado a cabo por portugue-ses e brasileiros, assumia proporções significativas movimentando avultadas quantias, percebendo-se assim todas as tentativas efectua-das para a manutenção de tal actividade.

Em 1815, na sequência de outros acordos, foi celebrada uma con-venção estabelecendo a proibição de tráfico de escravos, em qual-quer ponto da Costa de África a Norte do Equador, ficando pois o principal “ponto de abastecimento”, S. João Baptista de Ajudá, abrangido pela proibição.

Esta convenção constituiu, desde logo, um rude golpe nos “in-teresses” dos negreiros os quais foram agravados ainda, em 1817, quando foi estabelecido, com carácter de reciprocidade, o direito de visita e busca aos navios portugueses e ingleses, pelos navios das Marinhas de Guerra dos respectivos países.

A perda de navios e “carga” sofrida pelos portugueses e brasilei-ros, em consequência da fiscalização efectuada pelos navios ingleses, levaram-nos a conceber um subterfúgio para obviar a tais perdas, as-sim, ao largarem dos respectivos portos de armamento, usualmente a Baía, declaravam como portos de destino os que se situavam fora da zona proibida ao tráfico, declaração essa que ficava registada nos passaportes, dos navios, emitidos pelas autoridades locais.

Toda a gente sabia que os passaportes eram falsos mas, mesmo assim, serviam os seus objectivos já que eram unicamente

“Para inglês ver”.

Com. E. Gomes

l No dia 17 de Dezembro, a Marinha e o Instituto Superior de Ciências da Informação e da Administração (ISCIA) assinaram um protocolo de cooperação, a bordo da corveta “General Pereira d’Eça”, acostada no cais do Porto de Aveiro.

Este protocolo tem como objectivo promo-ver o desenvolvimento estratégico do centro do País, através de uma cooperação na área da formação superior e pós-graduada com enfo-que nas tecnologias do mar, na segurança, na política marítima e na gestão portuária.

Assinaram o Protocolo o CALM Luís Manuel Macieira Fragoso, Comandante da Escola Naval, e o Prof. Doutor Armando Teixeira Carneiro, Director do ISCIA. Assistiram ao acto solene elementos do Conselho de Administração dos Portos de Aveiro e da Figueira da Foz, o Presidente da Câmara de Ílhavo, representantes das Comuni-dades Portuárias e Autoridades Locais.

No acto de assinatura, o CALM Macieira Fragoso salientou que “a Marinha quer servir o país e, assim, compete-lhe apoiar e desenvolver todo o conhecimento relacionado com a actividade do mar” e que “é importante, para um país que se quer virado para o mar, habilitar pessoas com conheci-mentos sólidos nessa área”.

Armando Teixeira Carneiro, por sua vez, aproveitou para clarifi-car que “através deste protocolo será desenvolvido o DETMAR - Departa-mento de Tecnologias do Mar do ISCIA que tem vindo a realizar cursos de

pós-graduação na área da logística e da gestão ma-rítima e portuária”. Em breve, anunciou, conta “oferecer um alargado conjunto de cursos de cur-ta duração, na forma de “blended learning” e na forma puramente distal, para responder a neces-sidades formativas específicas, não só no territó-rio português como na alargada zona da CPLP e, também, para apoio a necessidades formativas de forças portuguesas projectadas em acções de segu-rança e de paz”.

No primeiro trimestre de 2009, é esperado o início de um mestrado em gestão portuá-

ria e, no próximo ano lectivo, uma licenciatura na área das tecnolo-gias do mar.

Este Protocolo entre a Marinha e o ISCIA é um claro e positivo exemplo do estabelecimento de redes de conhecimento e a prova da relevância da participação da Marinha em projectos estratégicos de desenvolvimento do País, num entendimento alargado e moderno do conceito de “Defesa Nacional”.

Este reforço da formação superior de cariz politécnico na Região de Aveiro vem apoiar a estratégia de desenvolvimento do eixo logís-tico dirigido à Europa a partir de Aveiro e da Figueira da Foz, pela via Viseu-Guarda-Salamanca-Valladolid, em franca e saudável con-corrência com os outros eixos estratégicos de que se desenvolvem a norte, com base nos Portos de Leixões e de Vigo, e a sul, com base nos Portos de Lisboa, Setúbal e Sines.

MARINHA ASSINA PROTOCOLO COM O INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA INFORMAÇÃO E DA ADMINISTRAÇÃO

NOTÍCIA

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l A Marinha participou, entre 13 e 18 de Novem-bro, através do N.R.P. “João Coutinho”, no Plano de Campanha LUSO-ESPA-NHOLA – ESPOR, no âm-bito do projecto de Extensão da Plataforma Continental Portuguesa.

A campanha ESPOR, tem por objectivo es-tudar a estrutura da Margem Continental do Banco da Galiza e o seu prolongamento natu-ral, na região da Zona de Manto Continental Exumado (ZECM) e estabelecer o limite oeste desta zona de a partir do qual se dá a ocorrên-cia de crusta oceânica franca.

A campanha insere-se no quadro de um projecto de colaboração técnico-científica Lu-so-Espanhola, compreendendo a realização de uma linha sísmica de refracção, designada IB201, na região do Banco da Galiza, utilizan-do meios navais de Portugal, para instalação e recolha do conjunto de nove OBS (“Ocean Bottom Seismographs”) e o navio da armada espanhola “Bio Hespèrides” para a realização de disparos acústicos sobre os instrumentos.

A bordo da corveta “João Coutinho” embarcaram, no Porto de Lei-xões, dois técnicos do Instituto Geofísico Infante Dom Luís (IGIDL), Dr. Carlos Corela (Geofísico e Investigador) e o Eng. José Duarte e respectivo equipamento, com o objectivo de lançar no fundo do mar, ao longo da linha sísmica referida, os nove OBS numa extensão de, aproximadamente, 100 milhas náuticas.

O OBS é uma estação sísmica de fundo oceânico usada para dois tipos de campanha. A Campanha Passiva, a qual regista a sismici-dade local das regiões onde é instalada e a Activa, que regista as ondas refractadas na costa/manto de eventos sísmicos provocados pelo homem.

Posteriormente à largada dos OBS, e depois de percorridos os cerca de 5500 metros até ao fundo do mar, o navio espanhol “Bio Hespèri-des”, com uma equipa de representação da Estrutura de Missão para a

Extensão da Plataforma Continental (EMEPC) a bordo, iniciou uma sequência de disparos acústicos ao longo da linha IB201. Na sequên-cia dos disparos, e aquando do impacte no fundo do mar é gerada uma onda sísmica que se propaga pela estrutura da margem conti-nental e é registada nos OBS permitindo assim identificar os vários tipos de litologia (1).

O tratamento dos dados será realizado em conjunto por Portugal e Espanha. Em Espa-nha será efectuado o estudo da reflexão sísmi-ca de acordo com os resultados obtidos pelo “Bio Hepèrides” e os dados referentes à refle-xão sísmica, obtidos através dos OBS opera-das a partir do N.R.P. “João Coutinho” serão tratados em Portugal no IGIDL.

Depois de concluídos os disparos acústicos por parte de “Bio Hespèrides” o N.R.P. “João Coutinho” iniciou o processo de recolha dos OBS, que consiste na emissão de um sinal acús-tico, através de um transdutor portátil, que por sua faz actuar um dispositivo que liberta a OBS

do seu lastro. Ao adquirir flutuabilidade positiva inicia-se a subida a uma velocidade de cerca de 50 metros por minuto demorando, neste caso, cerca de duas horas a atingir a superfície. Para melhor permitir a sua detecção e localização, o OBS dispõe de um pequeno farolim e de um transmissor que emite um sinal rádio detectável através do ra-diogoniómetro.

Terminada a operação de recolha dos OBS, o N.R.P. “João Coutinho” dirigiu-se de novo para o porto de Leixões a fim de desembarcar os técnicos e o material do IGIDL, concluindo assim mais uma missão de interesse público para o País numa Marinha parceira no desenvol-vimento, ao serviço de Portugal.

(Colaboração do COMANDO DO N.R.P. “JOÃO COUTINHO”)

Nota:(1) Característica física de uma rocha que inclui a composição mineral, distri-

buição e tamanho dos grãos, estrutura e grau de compactação dos sedimentos ou rochas.

l O Comando Operacional da Madeira (COM) e o Serviço Regional de Protecção Civil e Bom-beiros da Madeira (SRPCBM), realizaram em estreita ligação e cooperação nas fases de pla-neamento e execução um exercício com a de-signação Mau Tempo 08 Zarco 082 no ar-quipélago da Madeira no período de 19 e 20 de Novembro de 2008.

Este exercício conjunto, de carácter regio-nal, teve como objectivos gerais: no âmbito do SRPCBM, proceder ao planeamento conjunto com as FA’s como Agente de Protecção Civil; activar e coordenar os vários Agentes de Pro-tecção Civil necessários a uma Operação de Emergência. No âmbito do COM, planear e executar um exercício no âmbito das “Outras Missões de Interesse Público – Protecção civil”, em conjunto com o SRPCBM; Desenvolver e aperfeiçoar a interoperabilidade entre as forças e meios dos três Ra-

mos das FA’s sedeados na Região Autónoma da Madeira (RAM), em resposta a solicitações do SRPCBM.

Para o referido exercício foi criado um cenário fictício na Ilha da Madeira, inserido no âmbito de um acidente grave originado por condições meteorológicas muito severas e que colocaram em risco a segurança e o bem estar das popula-ções, provocando a destruição de infra-estrutu-ras e bens essenciais para o normal desenvolvi-mento das actividades das populações.

Este exercício permitiu assim treinar a inter-operabilidade dos Comandos e Unidades se-deadas na Região Autónoma da Madeira com o SRPCBM, tendo os objectivos propostos sido

sobejamente alcançados.

(Colaboração do COMANDO OPERACIONAL DA MADEIRA)

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NOTÍCIAS

N.R.P. “JOÃO COUTINHO” COLABORA NO PROJECTO DE EXTENSÃO DA PLATAFORMA CONTINENTAL PORTUGUESA

EXERCÍCIO MAU TEMPO 08 ZARCO 082

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“…Bem aventurados sois, quando vos in-juriarem e vos perseguirem e mentirem, dis-serem todo o mal contra vós…”

Evangelho de São Mateus

Pode um homem lutar contra tudo e to-dos e mesmo assim sobreviver? A lógi-ca diz-nos que não, todavia tenho co-

nhecido muitos em que assim não acontece, que apesar de tudo prevalecem. São habitual-mente pessoas discretas, com as quais nos cruzamos muitas vezes sem darmos sequer pela sua existência. Quem os conhece – e eu, felizmente, conheço muitos – sabe que têm uma vida dura e uma história cheia de obstáculos.

De entre as pessoas assim estão muitos da-queles que cozinham para nós, que limpam o que sujamos, que, enfim, trabalham para o nosso conforto. São, muitas vezes, no mundo actual os descartáveis…Aqueles que não inte-ressam, números sem nome. A muitos destes, sem-nome, tenho procurado dar cara de pes-soa e vida nestas histórias. Existem ainda ou-tros, aqueles que apesar de um mundo cada vez mais imoral insistem em defender ideias e princípios, apesar de essa atitude lhes tra-zer muito poucos proveitos e, frequentemente mesmo, verdadeiros dissabores…

A história que vos trago hoje é de um ho-mem assim, que nesta história vou apelidar de O Grumete Justo. Este rapaz, com cerca de 20 anos, procurou os meus serviços pelas habituais queixas cardíacas, que apresentam muitas vezes todos quantos têm sofrimento do espírito. Eles são as palpitações, picadas, sensações de que o “ar não entra” e muitas outras a que já me habituei e que – naquelas idades – geralmente são sintomas benignos, ditos psicossomáticos (…isto é, são uma for-ma de a mente dizer ao corpo que ele, corpo, não está bem). Assim foi também neste caso. Após a bateria habitual de exames verificou--se que o nosso jovem tinha um coração são, sem qualquer maleita que justificasse tantas queixas.

Passamos, depois à fase seguinte, tentar perceber afinal o que estava em jogo. Afinal qual era a fonte de sofrimento? Para isso é pre-ciso fazer algo pouco em voga nas consultas actual mente – é preciso perder tempo. Depois de alguma conversa de circunstância lá me foi dizendo o rapaz que nascera e vivera quase toda a sua vida numa aldeia, pequena, per-to de Viseu. Que tinha um tio padre católico, que o aconselhou a seguir os seus passos. Na verdade – acabou por confessar - tinha feito a escolaridade num seminário, mas, no final, não achou que aquele era o seu caminho…Seguiu então a opção naval. Era uma forma de sair da aldeia – “era uma forma de ver o mundo” dizia…

Já na Marinha foi valorizado no curso que fez, particularmente pelos conhecimentos teóricos que trazia e também pela dedica-ção ao trabalho – que, percebíamos imedia-tamente pela sua postura, sotaque serrano e atitude séria, só podia ser absoluta. Os pro-blemas tinham sido na relação com os ca-maradas. Acontece que um grande número de jovens praças são actualmente oriundos de meios urbanos, digo mesmo suburbanos, com atitudes e cultura muito distintas deste nosso Grumete.

Se a cultura for um código, que tem como sinais exteriores o vestir, falar, o sentir, compre-endi que este jovem não tinha nada a ver com os seus camaradas. Não ouvia a mesma músi-ca, era respeitador de um modo quase esque-cido neste nosso país, não era particularmente fã de discotecas, ou de “shots” disto ou daquilo e, estranheza imensa, acreditava no Deus com que cresceu toda a sua vida…é profundamen-te católico. Sofria, percebíamos então, porque se achava desajustado, diferente…

Pude compreender este grumete perfeita-mente. Vivemos actualmente numa situação em que a afirmação de uma religião qual-quer religião, é quase um crime. Os políti-cos evitam fazê-lo, ao contrário dos políticos de novos continentes, como a América do Norte, para os quais religião, é sinónimo de moralidade e, como tal, um bem desejável e vendável politicamente…Muitos de nós, tam-bém, fazem de conta que a sua herança ca-tólica morreu. Contudo, continuam-se a pro-ceder a imensos baptizados e casamentos na igreja, compreende-se, é outra solenidade, é outra festa…

Sabe-se também – e eu sou o primeiro a admiti-lo – que a Igreja Católica e muitas outras igrejas, ou religiões, cometeram ao longo dos séculos verdadeiros crimes e ain-da hoje estão, nalguns aspectos, longe da moralidade que elas próprias apregoam. No entanto, todos reconhecemos, as religiões são feitas por homens e, estes, por defini-ção, são imperfeitos.

Considero que a mensagem do Novo Testa-mento é – ainda hoje – verdadeiramente revo-lucionária, como atesta a citação acima, que glorifica os pequenos, diferentes e persegui-dos da vida. Considero, ainda, que qualquer religião atribui ao homem uma riqueza moral, dificilmente alcançável de outro modo, pois lhe dá a noção da sua finitude pessoal e da grandeza que são as preocupações, quando altruísticas e anónimas, com outros. Neste sentido, é esta preocupação, e este sentir su-perior, que nos separa dos animais não racio-nais e da boçalidade, egoísta e feroz, com que nos defrontamos quotidianamente.

Percebi então que o jovem militar se sen-tia discriminado pelos seus pares. Pelo seu sentir diferente e provavelmente por algu-ma ingenuidade (…que na minha mente é uma forma de bondade), que evidencia-va. Era de solidão e de desencanto que este marinheiro sofria, não de qualquer doença cardíaca – que seguramente não possuía. A solidão, tomo-o por certo, pode ser fonte de sofrimento, mas também pode ser imensa-mente criativa. Por outro lado, qualquer um que revele diferença, também o sei por ex-periência, será perseguido, desvalorizado e muitas vezes exposto pejorativamente, pela

30 MARÇo 2009 • Revista da aRmada

HISTÓRIAS DA BOTICA (61)

O Grumete Justo…O Grumete Justo…

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sua diferença – como também há não muito tempo me aconteceu.

Nada disto interessa, ou deverá importar ao Grumete Justo, ou neste sentido a qual-quer dos humildes justos, que partilha as nossas vidas. Foram técnicas e tácticas de discriminação e intimidação de massas que permitiram a grandes e pequenos ditadores (…com que também ocasionalmente nos confrontamos), impor a sua vontade, ainda que – sabemos todos e a história universal o comprova – por pouco tempo…Aconselhei

vivamente este Grumete Justo a procurar ou-tros como ele. A procurar aqui, neste meio urbano, quem partilhe as suas ideias – geral-mente pessoas mais discretas e muito menos agressivas para com os outros.

Devo, a bem da verdade, revelar que toda esta história me perturbou. Devo mesmo, ter exagerado na paixão que me embargava a voz enquanto falámos, afinal até Cristo se enfureceu contra os vendilhões do templo, também eu, humano de pouco préstimo, me enfureço contra as injustiças que amiú-

de presencio e contra as que eu mesmo te-nho sofrido. Aconselhei o nosso jovem ma-rinheiro a deixar correr o tempo, a transigir só naquilo que a sua alma e consciência permitirem. Afirmei-lhe, por fim, que por nos castigarem pela diferença, não deixamos de ser dignos e correctos, sobretudo se formos sempre fiéis a nós próprios. É uma verdade profunda que guardo no coração e me aque-ce, quando tudo parece perdido…

Doc

Revista da aRmada • MARÇo 2009 31

Condecoração do Arquitecto Carlos Ramos

No passado dia 22 de Janeiro realizou-se, na sala “ VALM Bernardo de Sousa Macedo“, nas instalações da Comissão do Domínio Público

Marítimo ( CDPM ),na UAICM – Pólo Junqueira, a ce-rimónia de condecoração, com a Medalha Militar da Cruz Naval – 2ª classe, do arquitecto Carlos Oliveira Ramos, vogal cessante da Comissão em representação do departamento de tutela do Turismo na CDPM.

Neste evento, que contou com a presença da quase totalidade dos vogais da CDPM, foi lido o louvor que o Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada conce-deu, em 6 de Janeiro p.p., a este ilustre ex-membro da Comissão, no qual são, mais uma vez, reconhecidas publicamente as suas elevadas qualidades humanas e os consoli-dados conhecimentos técnico-profissionais que contribuíram, de forma permanente e muito relevante, para a consolidação da com-petência e credibilidade da Comissão do Domínio Público Marí-timo e, por consequência, da acção da Marinha na defesa consis-

tente e determinada do Domínio Público Marítimo.O arquitecto Carlos Ramos terminou o desempenho das suas

importantes funções após mais de trinta anos de devotado empe-nhamento, tendo sido substituído pelo novo representante do Tu-rismo, arquitecto António José dos Reis Baeta.

Condecoração do Arquitecto Carlos Ramos

“PRÉmiO aLmiRaNte saRmeNtO ROdRiGUes”

Está aberto o concurso na Academia de Marinha, até ao dia 25 de setembro de 2009, para atribuição do “Prémio Almi-rante Sarmento Rodrigues”.

O “Prémio Almirante Sarmento Rodrigues” destina-se a impulsionar e dinamizar a pesquisa, a investigação científi-ca e o estudo da história das actividades marítimas dos Por-tugueses.

O referido Prémio, é constituído por um diploma e por uma quantia pecuniária no valor de 5000 € (cinco mil euros).

Podem concorrer a este Prémio os cidadãos nacionais e es-trangeiros que apresentem trabalhos originais nos domínios referidos. Consideram-se originais os trabalhos inéditos ou cuja publicação tenha sido concluída no ano a que se refere o concurso ou, ainda, no ano anterior.

Os trabalhos apresentados a concurso devem dar entrada na Academia de Marinha até às 16h30 do dia 25 de setem-bro de 2009.

O Regulamento do Prémio está à disposição dos concorren-tes na Academia de Marinha.

Para mais pormenores pode ser contactada directamente a Academia pelos telefones 21 325 54 93 e 21 325 54 96, ou fax 21 342 77 83, ou por escrito para:

Academia de MarinhaEdifício da Marinha Praça do Município1100-038 LISBOAE-mail: [email protected]

aCademia de maRiNHaPROGRama maR/JUN 2009

17 MAR- “Formulação da estratégia naval portuguesa”C/Alm. Silva Ribeiro, Com.tes Novo Palma e Sardinha Monteiro

24 MAR - “Perú: encontro inopinado com Portugueses”Dr. Rui Ortigão Neves

2/3 ABR - Observatório da China (a confirmar)

7 ABR- “Primeiros resultados do salvamento arqueológico do na-vio português do séc. XVI naufragado na Namíbia”Dr. Francisco Alves

15 ABR - Comunicação (a confirmar)

21 ABR- “Alguns documentos inéditos sobre galeões e caravelas portuguesas do séc. XVI”Com. Fernando Gomes Pedrosa

28 ABR

- “Entre Terra, Céu e Mar: viagens portuguesas e conhe-cimento da África Austral nos Roteiros e Diários de Na-vegação da primeira metade do Séc. XVI”Doutor Ana Cristina Roque

12 MAI- “Subsídios para o estudo dos ataques de piratas à cos-ta portuguesa”Prof. Fernando Castelo Branco

2 JUN

- “A «Outra Banda» e a Expansão Portuguesa: o contributo dos fornos de biscoito de Vale de Zebro para a empresa dos Descobrimentos”Doutor António G. Ventura

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Revista da aRmada • MARÇo 2009 33

QUARTO DE FOLGA

JOGUEMOS O BRIDGEJOGUEMOS O BRIDGEProblema Nº 116

Todos vuln. Após a abertura de N em 1♦, S vai jogar 6♠ com a saída a ♣R, não tendo havido quaisquer intervenções durante o leilão. Qual deverá ser a sua linha de jogo para tentar cumprir este contrato?

TAPE OS JOGOS DE E-W PARA TENTAR RESOLVER A 2 MÃOS.

SOLUÇÕES: PROBLEMA Nº 116

Analisando as hipóteses existentes, temos que S poderá optar pela passagem à D de ♦, e se estiver bem e o naipe 3-3 até fará 7♠, pois balda ♥D no 4º ♦; poderá tam-bém ser tentado a fazer a passagem a ♥R. Tudo isto serão más opções, conforme já constatou ao ver as 4 mãos. Vejamos então qual a linha de jogo 100% segura com base na indicação preciosa dada pela saída de W: faz de A em N e joga ♣2 que cor-ta; destrunfa tendo o cuidado de deixar um trunfo alto no morto para entrada poste-rior; joga ♦A e ♦ para o R, e de seguida ♣V para eliminar o naipe e no qual balda o 3º ♦ da mão; W faz e não poderá jogar ♣ que será corte e balda, se jogar ♥ é para o seu AD e se tiver ♦ para jogar vai-lhe dar a balda que precisa para a perdente a ♥. Tivemos portanto um problema em que se verificou mais uma vez que não se deve-rá deixar levar pelas passagens, por mais tentadoras que elas possam parecer, para depois se lamentar “que nunca acerta e tem muito azar”.

Nunes MarquesCALM AN

Oeste (W):

93

R972

97

RD1075

Este (E):

6

V1043

D1083

9642

Norte (N):

A82

865

RV62

AV3

RDV10754

Sul (S):

AD

A54

8

PALAVRAS CRUZADASProblema Nº 399

PALAVRAS CRUZADAS

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HORiZONtais: 1 – Passagem ou corredor que havia nas embarcações romanas, por onde o mestre da tripulação comunicava com os remadores; curas. 2 – Estaciona; género de plantas a que pertencem a batateira, o tabaco, etc. 3 – Rescrito do antigo sultão da Turquia; pessoa seca e magra (fig). 4 – Símb. quím. do cério; lie; república da África Ocidental, que se estende pelo antigo território do Sudão Francês. 5 – Pronome pes. femin.; zangais. 6 – Filho de Dédalo com quem fugiu do labirinto da ilha de Creta. 7 – Metal branco; raiva. 8 – Constelação do he-misfério boreal; composição poética; o que respiramos. 9 – Dário na confusão; santo a que se dedica um templo ou capela. 10 – Produzira manchas em; luar; na confusão. 11 – Cidade da Alemanha (Saxónia); género de mamíferos anfíbios carnívoros, semelhantes à foca.

veRtiCais: 1 – A parte mais elevada de uma coisa; químico alemão (1902-1958) que tra-balhou com Otão Diels, e recebeu com este o prémio Nobel da Química em 1950 (ap). 2 – Perdiz, na época do cio; quatro romanos. 3 – Época; abastece. 4 – Adia na confusão; nome vulgar de um mamífero carnívoro, a que também se dá o nome de papa-mel. 5 – Ciência da moral; altar. 6 – Musa que preside à alegria. 7 – Ruído; charrua sem jogo dian-teiro. 8 – Ilumino; engano. 9 – Conjunto dos ramos ou folhas de uma planta (pl); caminho ladeado de casas, paredes ou renques de árvores, numa povoação (inv). 10 – Relativo a mulher velha; maldições. 11 – Tocais; armadilha.

SOLUÇÕES: PALAVRAS CRUZADAS Nº 399HORiZONtais: 1 – Ageia; Saras. 2 – Para; Solano. 3 – Irade; Mumia. 4 – Ce; Ate; Mali. 5 – Ela ; Irais. 6 – Icaro. 7 – Prata; Ira. 8 – Lira; Ode; Ar. 9 – Diora; Orago. 10 – Eivara; Rual. 11- Riesa; Morsa.

veRtiCais: 1- Apice; Alder. 2- Garela; IIII. 3 – Era; Prove. 4 – Iada; Iraras. 5 – Éti-ca; Ara. 6 – Erato. 7 – Som; Arado. 8 – Alumio; Erro. 9 – Ramas; Aur. 10 – Anil; Pragas. 11 – Soais; Arola.

Carmo Pinto1TEN REF

NOTÍCIA

NOVO SECRETÁRIO DE REDACÇÃO DA REVISTA DA ARMADA

l Em substituição do 1SAR M António Ma-nuel Lopes Pires Afonso, foi nomeado para o cargo de Secretário de Redacção da Revista da Armada o SAJ L Mário Jorge Almei-da de Carvalho.

O SAJ L Carvalho ingressou na Marinha, como voluntário, em 1980, tendo efectuado duas comissões de embarque e prestado serviço em várias unidades terrestres, entre as quais a própria RA (1981-83). Nos últimos três anos e meio, exerceu funções de For-mador no Departamento de Administração e Logística da Escola de Tecnologias Navais (ETNA) - Pólo de Vila Franca de Xira.

CONVÍVIOS

“FILHOS DA ESCOLA” CONCELHO DE CASCAISl Realiza-se no próximo dia 7 de Março no Pavilhão Polidesportivo de São Domingos de Rana um almoço-convívio dos “Filhos da Escola” do concelho de Cascais. Para mais informações contactar: Carapinha tm: 96 806 88 84, Fi-lipe Santos tm: 96 278 02 50, Vitor Garcia tm: 96 902 68 43.

“FILHOS DA ESCOLA”– RECRUTAMENTO MARÇO 1962l Realiza-se no dia 23 de Maio, em Alenquer – Quinta do Canavial, o almo-ço-convívio do 47º Aniversário, dos “Filhos da Escola” Recrutamento Março 62. Para mais informações contactar: Amável Gomes: 214 357 223, Tm: 966 870 629; José António Ramos: 219 145 748, Tm: 965 019 382.

DIA DA ESQUADRILHA DE SUBMARINOSl Vai comemorar-se no dia 18 de Abril o dìa da Esquadrilha de Submarinos. Convidam-se todos os submarinistas e mergulhadores (na situação activo/reserva/reforma) a estarem presentes, podendo fazer a sua inscrição até dia 09 de Abril por escrito, ou através dos telefones: 302323 (rede interna) (Se-cretaria ES), 210977263 (rede externa).

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34 MARÇo 2009 • Revista da aRmada

NOTÍCIAS PESSOAIS

RESERVA VALM Carlos Alberto Viegas Filipe CALM AN Luís Carlos Calceteiro Serafim CFR OT José António Carvalho SMOR M Joaquim António Botas Faustino SCH FZ Florêncio do Rosário Duarte SCH U António José Gaspar SAJ CM Francisco Martins Fernandes SAJ CM António Simões Fradinho SAJ M António Martins Cordeiro Carvalho SAJ M António Manuel Gonçalves Fernandes SAJ H José Ma-nuel Monteiro Marques SAJ L Alfredo Boavida da Silva SAJ MQ Mário Manuel Henriques Figueiredo SAJ FZ José Manuel Martins SAJ FZ José Avelino Trindade Corucho SAJ M António Moreira Fernandes SAJ L Américo Alexandre Casimiro 1SAR E Daniel de Oliveira Santos 1SAR L Manuel das Neves Ferreira 1SAR V Manuel Eduardo Pinho Cravo 1SAR CM José Manuel Seabra Martins Damas CAB A Rui dos Santos Gomes CAB CM José Maria Castro Malheiro CAB CM Jorge Daniel Correia da Silva CBA CRO Manuel Francisco Nunes CAB CRO Eugénio Figueiredo Certo CAB M José Carlos Miguens dos Santos CAB FZ João Manuel Pereira dos Santos CAB FZ Miguel Ângelo Dias Graça CAB L Alexan-dre Alberto Veríssimo de Figueiredo CAB L Jorge Humberto Matos Falé CAB V Manuel do Espírito Santo Pessoa CAB FZ António Manuel Inácio Alves.

REFORMA CMG SEL António Luís Monteiro CTEN OT João Faleiro Vicente 1TEN OT Luís José Pereira Mota, SMOR T António Manuel da Luz Chaveiro SMOR L Manuel Joaquim Pires Raposo SAJ CM Luís Carlos Salgueiro SAJ M João António Viegas 1SAR CE António Furtado Rodrigues 1SAR M Idalino Al-cario Saramago 1SAR CM Victor Manuel Raposo Gavancha 1SAR MQ Ale-xandre Manuel Teixeira Esteves CAB TFH João António Lourenço CAB A Manuel Chelinho CAB CM Eduardo Manuel Alves Godinho CAB E António Alberto Ferreira de Jesus CAB TFH José Carlos dos Santos Silveira.

FALECIMENTOS VALM REF António Emílio de Almeida Azevedo Barreto Ferraz Sacchetti VALM REF Fernando Manuel Palla Machado da Silva CALM REF António Du-arte Pedroso Cruz Filipe CMG REF Miguel Pereira dos Santos Trigoso CFR SG REF Fernando de Almeida Colaço CFR SEE REF José António Rodrigues Antunes 1TEN OT REF Isaurindo Afonso Horta 1TEN OT REF Joaquim Ma-ria Bação 2TEN SG REF António Mendonça SMOR FZ REF Joaquim Motaco Nunes SAJ A REF Henrique Duarte SAJ FZ REF Mário Augusto Rodrigues SAJ CE REF Joaquim Augusto Marques SAJ V António de Almeida Barbosa SAJ E REF António Rei 1SAR A REF Luís Vaz Ferreira Nabais 1SAR TF José Amaro Monteiro Martins 1 SAR ARE REF Afonso Morais 1SAR E REF António João Filipe Traitolas 2SAR T REF Joaquim Pereira Mendes CAB TFD REF José Lourenço CAB A REF Manuel de Almeida Pinto CAB T RES Francisco Manuel Martins Costa CAB TFH REF Manuel Morais Clemente CAB FZ REF Heraclides Raimundo Feiteira CAB A REF João Borges Correia CAB L RES Manuel Vicente Almeida Silva CAB E REF Fernando Duarte da Silva Lourenço CAB TFD REF Horácio Chaves Cândido MAQ CHE APOS José da Silva Morão AG 1ª CL PM APOS Miguel António Carralo Labucha Patrão Costa APOS Domingos Meira da Silva Porto.

COMANDOS E CARGOSNOMEAÇÕES

CALM EMQ Ilídio Cardoso Pais Loureiro nomeado coordenador dos pro-gramas dos novos meios navais CALM EME António José Gameiro Marques nomeado Presidente da Comissão Eventual da Direcção de Análise e Gestão de Informação, e da Comissão Eventual da Direcção de Tecnologias de Informação e Comunicação em substituição do CALM EME José António Gimenez Salinas Ribeiro CALM MN RES Valdemar Goulart Porto nomeado Presidente da Junta Médica de Revisão da Armada CALM MN Eduardo Teles Martins nomeado Director do Serviço de Saúde, e exonerado de Subdirector do Serviço de Saúde CMG MN Rui Manuel dos Santos Martins nomeado Subdirector do Serviço de Saúde CFR MN José Alberto Galvão nomeado Director do Centro de Me-dicina Naval, em substituição do CMG MN Joaquim Henriques Pedreira Alves da Silva CFR José Cardoso da Cruz Gomes nomeado Chefe da Repartição de Sargentos e Praças (interino) da Direcção do Serviço do Pessoal, em substituição do CMG José António Peixoto de Queiroz CFR José António Vizinha Mirones nomeado Comandante do NRP “Bartolomeu Dias”.

CORRECÇÕES

No artigo ABATE AO EFECTIVO - N.R.P “Zambeze” (P1147) pu-blicado na RA nº 424 de NOV08, a lista de Comandantes não estava completa, pelo que se publica agora a referida lista actualizada.

N.R.P. “ZAMBEZE”Comandantes

1º Ten. José Manuel Ferreira Gouveia 20-JUL-72 A 23-AGO-741º Ten. João Alberto Magalhães Cruzeiro 23-AGO74 A 07-JUL-761º Ten. Álvaro Amado Bordalo Ventura 07-JUL-76 A 29-AGO-771º Ten. José Augusto Vilas Boas Tavares 29-AGO-77 A 24-AGO-791º Ten. António José da Costa Mateus 24-AGO-79 A 19-DEZ-81

1º Ten. Augusto César da Gama Ferreira de Carvalho 19-DEZ-81 A 16-JUN-83

1º Ten. Luís Filipe Borges Pereira e Cruz 16-JUN-83 A 15-MAR-851º Ten. Luís Alberto Quartin Pereira da Costa 15-MAR-85 A 10-OUT-85

1º Ten. Guilherme José Lucrecio Chambel 20-JAN-87 A 29-SET-881º Ten. Diogo Alberto Font Xavier da Cunha 29-SET-88 A 31-JUL-90

1º Ten. Fernando José da Silva Coelho 31-JUL-90 A 23-DEZ-911º Ten. Aníbal Júlio Maurício Soares Ribeiro 30-ABR-93 A 16-MAR-94

1º Ten. Nuno José de Melo Canelas Sobral Domingues 30-MAR-94 A 29-SET-95

1º Ten. Miguel Nuno Pereira de Matos Machado da Silva 03-JAN-96 A 19-DEZ-96

1º Ten. Nuno Maria D’orey Ruquette Cornélio da Silva 19-DEZ-96 A 20-JAN-99

1º Ten. António Pedro Ferreira Moreira 20-JAN-99 A 17-JAN-011º Ten. Pedro Gil Miranda de Castro 17-JAN-01 A 27-AGO-021º Ten. César Manuel Pires Correia 27-AGO-02

Na R.A. nº 427 FEV 09 nas Notícias Pessoais - Reserva, onde se lê CAB L Luís Manuel dos Santos Pessoa, deverá ler-se CAB L Luís Manuel dos Santos Costa.

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13. A Escola de Fuzileiros

Instalações da MarinhaInstalações da Marinha

A antiguidade das primitivas edificações em Vale de Zebro remon-ta, segundo se crê, ao reinado de D. Afonso IV (sec. XIV), sendo que as primeiras referências conhecidas a uns “fornos de Palhaes” foram feitas ao tempo do rei D. Afonso V com a criação do cargo de Al-moxarife1 para aquele estabelecimento. Esses fornos eram parte de um complexo de que fazia parte um moinho d’água alimentado por uma grande caldeira – actual pista de lodo da Escola de Fuzileiros (EF) – com a finalidade de moer o grão destinado à farinha para o biscoito que fornecia “as Armadas, naus da Índia, conquistas e for-talezas do reino e do Ultramar2”.

O terramoto de 1755 veio a danificar seriamente aquelas estru-turas. Por determinação do Marquês de Pombal, procederam-se en-tão a reparações da fábrica do biscoito, segundo uma traça pom-balina actualmente bem visível e sob o risco do arquitecto Mateus Vicente de Oliveira.

Depois de o Almoxarifado ter sido extinto em 1776, a administra-ção dos fornos passou por vários serviços, quer de Secretaria da Guer-ra, quer de Secretaria da Marinha, até que, em 1835, foi entregue à Intendência da Marinha. Em 1843, por decreto-lei de D. Maria II, foram estas instalações adaptadas a asilo de inválidos da Marinha.

No início do século XX (1906), foi instalada em Vale de Zebro a Es-cola Prática de Torpedos e Electricidade, ficando ali sediado o serviço de torpedos móveis (e em Paço de Arcos o de torpedos fixos). Em 1924, ano em que foi extinta, foi substituída pela Brigada de Mecânicos da Armada, criada pelo desdobramento em brigadas do Antigo Corpo de Marinheiros da Armada, que funcionava em Lisboa (Alcântara). Ficou então em Vale de Zebro a Secção de Torpedos, dependente da Direc-ção do Serviço de Material de Guerra e Tiro Naval (DSMGTN).

Em 1934, a Brigada de Mecânicos então denominada Escola de Mecânicos da Armada é transferida para Vila Franca de Xira sendo o edifício ocupado pela DSMGTN.

O perímetro militar de Vale de Zebro ocupa uma área com cerca de 625.000 m2; situado na margem direita do rio Coina beneficiava de condições geográficas ímpares para o cumprimento da missão de formação militar, técnica e física, especialmente na vertente anfíbia. E é por reunir tais características que foi escolhida como o local ideal para instalar uma Escola de formação de Fuzileiros.

As infra-estruturas existentes na EF remetem a várias épocas e, no que respeita ao tipo de construção, também muito diversificadas. É de salientar o elevado número de edifícios, cerca de 60, na grande maioria de piso térreo, estando a sua implantação muito dispersa pela Unidade.

Em 1961, com início da guerra nas ex-Províncias Portuguesas em África, tornou-se urgente para a Marinha o aprontamento de Unidades de Fuzileiros preparadas para intervir naquele conflito, o que levou à criação da EF na dependência do então Corpo de Ma-rinheiros3. Foram na altura adaptadas algumas das antigas edifica-ções em alvenaria já existentes que, remontando à década de 40, haviam servido como armazéns para manuseamento de munições e material de guerra, instalando-se aí o ginásio, a sala de boxe e a sala de judo, entre outras.

Simultaneamente, foram construídos numerosos edifícios pré-fa-bricados, de carácter provisório, destinados a responder às neces-sidades de uma Escola de formação de Fuzileiros. Surgiu assim um conjunto de 8 cobertas que podiam alojar cerca de 120 homens cada e um refeitório para praças, edificados no topo norte do perímetro da Unidade e cujo tipo de construção se insere no pré-fabricado com cobertura em fibrocimento. São também deste tipo de construção os pavilhões destinados às salas de aulas, sala de estar das praças, bar, cantina, e outros serviços de apoio, que foram instalados num

alinhamento tipo “comboio” enquadrados a norte pela pista de lodo e a sul pela “parada velha”.

Em 3 de Fevereiro de 1969, a EF foi considerada Unidade Inde-pendente e o seu primeiro Comandante o CFR Bustorff Guerra. Com a criação do Corpo de Fuzileiros, 24 de Julho de 1974, a EF passou a ser uma unidade dependente daquele comando.

Ao longo do tempo foi sendo construído um outro grupo de infra--estruturas com recurso ao betão onde se destacam a messe de ofi-ciais, o edifício destinado ao serviço de saúde, a piscina de 25m e um pouco mais tarde o actual edifício do comando, que entrou em funcionamento em 1976. Foi também neste mesmo ano inaugurada a parada nova que lhe fica a nascente. Posteriormente veio a surgir um edifício de três pisos destinado ao Batalhão de Instrução.

Hoje, como ontem, a Escola continua a formar as forças espe-ciais da Marinha - os Fuzileiros, acolhendo, num passado recente, novas atribuições:

Em 1993 passou a ministrar formação em liderança a vários cursos da Marinha e a entidades civis. Actualmente o Departamento de For-mação em Comportamento Organizacional (DFCO) desenvolve as suas actividades lectivas no Batalhão de Instrução (gabinetes e salas de aula), em anfiteatro, em pistas próprias construídas dentro da EF e na mata da Machada (provas nocturnas de liderança).

Em 1996 a EF passou a assumir também a formação militar bá-sica de todos os militares que ingressam na Marinha, excepto para os cadetes que frequentam a Escola Naval, vulgarmente conhecida como recruta, tornando-se a principal porta de entrada para todos os cidadãos que escolhem servir Portugal na Marinha.

Com estas novas atribuições, a EF teve necessidade de novas ins-talações para pessoal e surgiu um outro grupo de edificações erigi-das na transição do milénio e que entraram em função no começo da década actual: são eles as três novas cobertas e o refeitório geral, sendo construções de rés-do-chão e 1º andar, que entraram em fun-cionamento em 2001 e 2002 respectivamente.

Em 2005, decorrente da transferência do Gabinete de Instrução de Viaturas do então GN1EA para esta Escola, constituiu-se o De-partamento de Formação em Transportes Terrestres, responsável pela formação em condução e mecânica automóvel, que integra o único centro de exames de condução da Marinha.

Na EF encontra-se sediada a Unidade de Meios de Desembar-que (UMD), na dependência operacional do Comando do Corpo de Fuzileiros. Desenvolve as suas actividades em instalações um pouco precárias sendo de um modo geral edifícios de tipo misto, pré-fabricado/alvenaria com coberturas em fibrocimento, situados nas margens do rio Coina e servidos por um cais para atracação e uma rampa de acesso à água. É no âmbito desta Unidade que foi montada uma pequena fábrica responsável pela construção de bo-tes pneumáticos para a Marinha.

O núcleo histórico da EF, constituído pelo imponente edifício de dois pisos onde em tempos funcionou a fábrica do biscoito, alber-ga actualmente, para além da messe de sargentos que ocupa todo o segundo piso, a Sala-Museu do Fuzileiro e diversos serviços que repartem entre si a área do piso térreo.

(Colaboração de ESCOLA DE FUZILEIROS)Notas

1 Almoxarife era o encarregado do fabrico e da distribuição do biscoito para as Armadas, assim como o responsável pela escrituração das operações do estabelecimento

2 “Regimento dos fornos Valdezebro”, dado por D.João IV em 22 de Ju-lho de 1653

3 Portaria 18509, de 3 de Junho, do Ministro da Marinha.

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14 Janeiro 2003 • Revista da aRmada

13. A Escola de Fuzileiros

Instalações da MarinhaInstalações da MarinhaFoto Esquadrilha de H

elicópteros