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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral http://slidepdf.com/reader/full/100896336-manual-de-historia-oral 1/120 es quj s ado r es e c:; l u dio ::;os da s di ver s a s á r ea  ; da ci ên ci a s h u1na n a s n ão po d e1n pr e -c in d ir d es l a obra d e abrangen do toda a s e ta p a s de pr ep ar a ção r ea l ização c tr a t am en to d e en tr evi sta s de hi stória ora · l O rnanual fornece orientações pr ecios a s para a . mplanta ç ão d e pr o gr a n1a s de hi s t ória or a l \ a pr ep a r a çã o e r ea ]i zaç ã o de en tr evist a s e o tra ta rnen to e difus ão do a cer vo  consid er an do a s 11 o va s t ecnol ogi a s d e ç ã ~ d isponívei s . 1 · r  · 3 9 78 8 522 5 4 7 32

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Verena

an

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ISBN 85-225-0473-3

Copyright ©

Verena Alberti

Direitos desta edição reservados

à

EDITORAFGV

Praia de Botafogo,

190 14

 

andar

22250-900 - Rio

de

Janeiro, RJ - Brasil

Tels.: 0800-21 -

7777 21

-2559-5543

Fax:2l -2559-5532

e-mail: [email protected]

web site: W N .-v.editora.fgv.br

Impresso

no Brasil

I Printed

n

Brazil

Todos os

direitos reservados.

A

reprodução

não

autorizada desta publicação, no todo

ou

em parte, constitui violação

do

copyright (Lei nll 5.988).

s

conceitos emitidos neste livro são

de

inteirn

responsabilidade da

autora.

2a ed

ição revista e atualizada - 2004

EDITORAÇÃO

ELETRôNICA: Victoria Rabello

REVISÃO : Fatima Caroni e Marco Antonio Co

rr

êa

CAPA:

Adriana Moreno

Ficha catalográlica elaborada pela Biblioteca

Mario Henrique Simonsen/FGV

Alberti, Verena

Manual de história ora l Verena Alberti. - 2. ed. rev. e

atua l -

Rio de Janeiro : Editora FGV, 2004.

236p.

Primeira edição publicada com o título: I listória ora l: a experiên

cia

do CP

DOC.

I. História oral. 2 Centro de Pc5quisa c Documentação de História

Contemporânea do Brasil. I Fundação Getulio Vargas.

11

Título.

CDD   907.2

SuMÁRIO

Apresentação

da

seg

unda

edição

Apresentação

da

primeira edição

Aspásia Camargo em dezembro de 1989)

Introdução

PARTE I

Da

Implantação de Programas de Histór

O projeto

de pesQuisa

1 1 A escolha do método

1.2 A escolha dos en trevistados

l.3 O número de entrevistados

1 4 A escolha do tipo de entrevista

1 5 O papel do

projeto

de pesquisa em programas de

2 Formação

da eQuipe

2.1 Pesquisadores

2.2

Co

nsultores

2.3

Técnico

de som

2.4 Estagiários

2.5 Profissionais envolvidos no processamento das en

2.6 Editores especializados

3 O eQuipamento

3 1 Trajetória de

um

depoimento gravado

3.2 A questão

da tecnologia a empregar

3.2.1 Um pouco de história da técnica

3.2.2 Ana lógico ou digital?

3.3 Gravação em vídeo

3.4 C

uidados

a obser

var

3.4.1

Na

gravação

3.4.2

Na

duplicação

3.4.3

Na

escuta

3.5 Conservação das gravações

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3.6

Outros

materiais

74

PARTE

3

 6 1

Material

perm

anente

75

O Tratamento do AI: ervo

3.6.2

Mate

rial

de

consumo

75

Apênd

ice Cronogr

ama

de

trabalho

8

A base

de dados

76

8 1

Co

ncepção e desenvolvimento

8.2

A base

do Programa de Históri

a

Oral

do Cpdoc

PARTE

8.2. 1

As subtabelas

A Entrevista

8.2.2

A tabela

principal:

cadastro de entrevistas

4

O início

da

pesQuisa

81

8.2.3

Consultas

e

relatórios

4.1

Pesquisando o objeto

de

estudo

8

8.2.4

Alimentação

4 2

Roteiro geral

de

entrevistas

83

9

lntrumentos de auxílio à consulta

Preparação de uma entrevista

85

9 1

O sumário

S.l

Primeiras providências

85

9 1

.1

O formato

5 1 1

Seleção do ent revistad o

85

9.1.2

Quem faz e

quando

5.1.2

Escolha dos entrevistadores

85

9.1.3

Como tàzer

5.1.3

Contato inicial

86

9.2

Os

índices

5 2

Roteiro

individual

89

9 2 1

Índi

ce temático

5.2

 1

Biografia do entrevistado

89

9.2.2

Índice onomástico

5.2 2

Cruzando biografia e

roteir

o geral: elaboração

lO

O processamento: passagem para a forma escrita

do

roteiro

individual

92

I0 1

Transcrição

5.2.3

Roteiro

parcial: desdobramento do ro

teiro individual

97

I0 1 1 Quem faz

5.3

Ficha

da entrevista

e

caderno

de

campo

99

10.1.2

Como

fazer

6 Realização

de

uma entrevista

101

1

0 2

Conferência de fidelidade da transcrição

6 1

A relação de entrevista

101

10.2.1

Quem faz e

quando

6.2

As

circunstâncias de entrevista

106

10 2

.2

Procedimentos de

auxílio

6 2 1

Local

107

10.2.3

Pesquisas paralelas

6.2.2

Duração

108

10.2.4

A correção da

transcrição

6.2.3

Apresentação

dos entrevistadores

108

10 2

 5

A adequação do oral para o escrito

6.2.4

Pessoas

presentes

à

entrevista

1

09

10

3

Copidesque

6.2.5

O gravador

112

10

 3

 1

Quem

faz e como

6

 3

A

co

ndução de uma

entrevista

114

I

0.3.2.

Norm as

gramaticais

e de

redação

6 3 1

O

papel

dos entrev istad ores

114

I0

3.3.

Adequando o t

exto para

a lei tu ra

6.3

 2

Co mo conduzir a entr evi

sta

119

Apêndice

A

participação

do

entrevistado

no proc

6.3.3

Auxiliando

no tratam

en

to

da en

trevista

gravada

123

l Liberação para consulta

6.4

Retornando ao caderno de campo

126

l l l

Fo

lha

de rosto

7

Encerramento

de

uma entrevista

129

11 2

Ficha

técnica

7

 1

Quando

ençerrar

129

11 3 Catalogação

e arquivamento

7 2

Como encerrar

131

11 4

O

controle sobre

a

consulta

7 3

Carta de cessão

132

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  presentaçãod

segund

edição

alguns anos o anual de história

or l do pdoc

encontra

cado em 1990, foi bastante consultado por pesquisadores in

tação de

programas

e no desenvolvimento de pesquisas de

Muitos leitores e colegas perguntavam-me

quando

sairia

era uma tarefa fácil, porque muita coisa mudou nesses 14an

matéria de tecnologia. Para se ter uma idéia, a primeira ediç

ta à máquina elétrica,

numa

época em que as entrevistas

er

à máquina e, após as etapas

de

conferência

da

transcrição e

vamente datilografadas. De acordo

com

a primeira edição

etapa do processamento das entrevistas era a revisão de dati

defasagem

em

relação à tecnologia de gravação. Em 1990, a

que

o acervo

de

segurança

de

um programa

de

história

oral

de rolo. Hoje em dia, já não se acha mais

no

mercado esse

A segunda edição do manual precisou, pois, de uma re

mas práticas

de

trabalho

do pdoc

modificaram-se

no

pe

adequação

do

texto. Se

em

1990 estávamos apenas cogitan

mais todas as entrevistas liberadas para o público, hoje a con

já é procedimento usual. A instituição de

uma

base de dad

acervo e o acesso às info rmações sobre as entrevistas pelo

bém alteraram nossa rotina. Paralelamente, o chamado m

oral

no

Brasil dinamizou-se e hoje contamo s com diversas i

pesquisa

que

se dedicam

ao

assunto, além

de

nossa Associaç

ria Oral (ABHO), responsável pelos encontros nacionais e r

tam uma

constante troca

de

experiências e

de

reflexões. Ess

obsoletas duas listage

ns qu

e se encontravam

ao

final da p

nual: a extensa bibliografia de história oral e a relação de ins

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lO

Vl

R(I\A

'"

I

ERTI

vam com a metodologia no Brasil. Informações atualizadas podem ser obtidas

hoje nos encontros acadêmicos, nas inúmeras publicações, en tre elas a revista is-

tória Oral

da ABHO, ou pela Internet, por exemplo.

Assim como na elaboração da pr imeira edição, a revisão e a atualização do

Manual de história oml do

Cpdoc só foi possível devido

à

experiência que pude

acumular no trabalho com essa metodologia.Por isso, devo ao Cpdoc e a sua equi

pe de pesquisadores e profissionais a oportunidade de ter escrito este livro. Agrade

ço

à

instituição na pessoa de sua diretora Marieta de Moraes Ferreira,

com qu

em

tenho trocado muitas reflexões sobre o campo da história oral, pois, além de reali

zar pesquisas e publicar textos na área,

foi

presidente das associações Brasileira e

Internacional de História Oral. Devo um reconhecimento especial a minha colega

Ignez Cordeiro de Farias,

que

me

ensinou

a trabalhar com história oral e com

quem divido as preocupações com o acervo de depoimentos do Cpdoc. Os pesqui

sadores do Centro que enriquecem nosso acervo com as entrevistas produzidas

em

seus projetos e que contribuem para a reflexão sobre a metodologia através de seus

textos e de sua participação nos encontros acadêmicos também são interlocutores

constantes e me auxiliaram a conceber este Manual. O mesmo devo dizer dos pro

fissionais envolvidos com as atividades de conservação

e

difusão das entrevistas,

como o técnico

de

som e os responsáveis pela passagem das entrevistas para a for

ma

escrita, desde os transcritores até

os

editores especializados,

que

preparam os

depoimentos para publicação. Os estagiários e auxiliares de pesquisa do Programa

de História Oral também contribuíram com sua atuação nas tarefas de preparação

e

tratamento das entrevistas.

Ao

longo desses anos, participei de muitos encontros e cursos de história oral

no

país e

no

exterior. Em todos eles

pud

e ampliar o conhecimento sobre as poten

cialidades da metodologia e aprimorar a percepção sobre possíveis dúvidas e de

mandas do público interessado em história oral. Também aprendi muito com os

colegas da ABHO, que desde a fundação da entidade, em 1994, vêm-se dedicand o a

man t

er

dinâmico e crescente o chamado movimento

da

história oral no Brasil.

A todas essas pessoas e instituições devo a possibilidade de ter elaborado tanto

a primeira como a segunda edição deste livro.

presentação da primeira edição

Quinze anos de história oral documentação e

Aspásia Camar  o em dezembro de 198

Em 1990, o Programa de História Oral do Cpdoc completa

mos a alegria de comemorar a data com a realização de

um

v

ção de um manual que sintetize a sua bem-suced ida experi

Quando o criamos, em 1975, contávamos apenas com

mesma) e um estagiário, e o nosso propósito era bem prag

poimento de muitas pessoas que colaboravam conosco na

de arquivos e documentos e

que

acorriam também ao

Cp

diálogo e da possibilidade de trocar id éias sobre as grandes

cada de 1930, das quais haviam sido atores

ou

testemunha

primeiras listas de potenciais entrevistados. As surpreenden

ouvíamos eram

em

sua maioria ignoradas do grande públic

nos pareciam de extrema relevância para melhor compreen

quele momento, em que se iniciava um processo de abertur

tos criaram um estímulo a mais para

co

mpreendermos o n

ainda envolto em brumas, e o

tumultu

ado curso de nossa hi

Confirmaram, acima de tudo, nossa crença na necessidade d

civil e democrático, d e maneir a sólida e duradoura.'

A sse respeito, ver Aspásia Cama rgo, O ator, o pesquisador c a histór

Implantação do C pd oc." in: NUNES, Edson (org.). A m etztum sociol

Improviso e método na pesquisa social. Rio de Janeiro, Zahar, 1979,

p.

2

Camargo,

Thc

Actor

and the

System: Trajectory of the Brazilian

Po

Daniel (org.).

iogmphy mui

Society: th e Lifc History Approach in the

Sage Publications Inc.,

lnt

ernational Sociological Association. 1981,

p.

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  4

V

ERE

NA ;

\18

l R11

quer do passado, na história oral a versão represe

nta

a ideologia em movimento e

tem

a particularid ade,

não

necessariamente negativa,

de

reconstruir e tota

li

zar,

reinterpretar o fato.

A

história oral tem também o mérito singular de

introduzir

o

pesquisador na construção

da

versão, o

que

significa introjetar no

documento

pro

duzido o controle sistemático da produção da própria fonte. Tudo isto,

que

pod e

parecer discussão merame nte formal, pod e ser em verdade constatado na prática e

na pdxis

do

próprio programa. E nos induz a afirmar que a contribu ição da histó

ria oral será cada vez

maior

na sociedade

do

futuro, na qual as

fo

ntes não-escritas

tendem a perder terreno e as fontes orais vão se tornar cada vez mais confiáveis e

fidedignas.

Co

ube

a Verena Alberti a missão difícil de consolidar neste volu

me

as práticas

e a experiência acumulada em nosso programa , que resultaram tanto dos êxitos

quan to dos erros - do aprendizado

por

nós obtido. É

por

isso mesmo

um

traba

lho

que

sint

et

iza longo e co

ntinuado

esforço

de

equipe,

ao

qual

não

faltou o seu

talento de antropóloga, preocupada com o d iário de campo, isto é, com os procedi

mentos

regulares que devem ser seguidos

pa

ra obter

maior

fidedignidade e

maior

quantidade e qualidade

de

informação. E este talvez seja também um trabalho

essencial do programa: pensar a história oral como um esforço

interdisciplinar

e de

equipe, no qual não devem faltar os rigores da pesquisa histórica e da etnografia, a

visão global da sociologia, e a sensibilidade de abo rdagem da psicanálise e da psi

cologi

a.

Este óltimo é aspecto dos mais relevantes, tendo em vista que a entrevista

ganha maior dim ensão quando resulta da cumplicidade prolongada entre entre

v istador e entrevistado,

4

cabendo ao pesquisador construir ao mesmo tempo, com

seu entrevistado, uma relação

de

sensibilidade e de rigor; de adesão no processo de

compreender e de crítica atenta no pro cesso de indagar; de reconstituição e ques

tionamento

. É esta

cumplicidade controlada 

típica

da

sociologia qualitativa e dos

métodos de história

de

vida, que garante a dimensão e a consistência

do qu

e é

revelado .

Finalmente, cabe registrar

que

este é

um

manual cons

truído

a

partir

de uma

experiência exaustiva, que é o Programa de História Oral do Cpdoc. Seu objetivo é

atender aos iriómeros pesquisadores e insti tuições que têm nos procurado nos ól

t imos anos para solicitar instruções básicas a

part

ir das quais possam construir

seus

próp

rios

programa

s.

Cab

e,

no

entanto,

uma

advertência para aqueles que por

ventura indaguem do alcance e

da

universalida

de

dos procedimentos que es

tam

os

4

Ver tam bém Aspásia

Camargo

Márcia

Nune

s,

Co

mo

aze r

um

entrevista?

Rio

de

Janeiro, Finep/

Cpdoc, 1977. (Técnica de Entrevista e Transcrição; documento de trabalho, 12). (da t. )

.

\IA

, UAI 0

IIISl

ÓRit\ OR;

 l

propondo, visto ser o Cpdoc uma instituição voltada para d

tradicionalmente margina

li

zados dentro

da

história ora l:

estudo das elites.

Devemos esclarecer que tais procedimentos são uni

tão bem a governadores

e

ministros de Estado, quanto a li

militan tes operários, também presentes no programa do C

não esquecer que a

contr

ibuição da histó ria oral

é

sempre

pouco

est

udad

as

da

vida social

em que

predom

inam zonas

d

estudo das elites, seja das grandes massas. No primeiro caso

do caráter secreto de muitas decisões estratégicas, da marg

vencidos e da teia com plexa de interesses que comandam o

vida pública. No segundo caso, a obscuridade resulta

do

d

oficiais pela experiência popular, da ausência de documen

autode

fensiva que se cria

natura

lmente em

torno

dos

mo

parti r de suas própr

ia

s lideranças.

5

Em ambos os casos, o

história oral

é

o ignorado - ou o parcialmente ignorado.

desvendar as

mólti

plas experiências

e

versões, buscando

dar

pre provisória, para temas relegados ou s

ubmetidos

ao fogo

e das ideologias.

6

s A esse respeito, ver também Aspásia Camargo, Os usos da história

trabalhando com

elites políticas:· in:

Dados -

Revista

de

Ciências Sociai

pos,

v.

27,

n.

I, 1984, p. 5-28.

Trabalho apresentado no

X Congresso Mun

ago. 1982.

6

Ver Aspásia C

amar

go. ' História oral: técnica c fo

nt

e his

tóri

ca. in: FUNDA

Centro

de

Pesquisa c

Doc um

en

tação

de História Contemporânea

do

B

Oral;

Catá

logo

de Depoimen

tos. Rio

de

Janeiro, 1981, p. 19-24

{Introdu

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 ntro

uçã

A elaboração de

um

manual sugere, de antemão, que e

conhecimento que pode se transformar em instrumento

ressados. Um manual geralmente ensina como fazer alg

de

procedimentos possíveis e serve

de

modelo para aplic

tido, ele

tem

um valor

eminentemente

instrumental,com

que auxilia, orienta, mas está situada em um espaço ad

desenvolve o trabalho

propriam

ente dito.

Neste

Manual

ensinamos como fazer história or

delo

de

procedimentos

qu

e pode ser

tomado

co

mo

refe

mento

de

trabalhos com história oral. Não

é

nossa inte

esse

modelo

um valor exclusivo,

como

se não houvesse

empregar a história oral, ou

como

se estivéssemos receita

o errado . O

mode

lo

que

aqui construímos resulta

da

ex

História Oral

do

Cpdoc e também

elo

conhecimento qu

le itura de outros modelos c de ou tras experiências. Isso

namos aqui

é

igualmente para nó s

um

modelo:

é

p

rodu

de nossa prática de trabalho e da articulação dessa pr

literatura sobre história oral, diz respei to ao como faze

de um manual pressupõe a existência de um conhecimen

tido, ensinado': tal conhecimento não deve ser considera

texto em que foi constituído.

A história oral

pode

ser empregada

em

diversas disci

nas e tem relação estreita com categorias

como

biografia

linguagem falada, métodos qua litativos etc. Depende

nd

lho, pode ser definida como

método

de investigação cien

quisa, ou

ainda

como

técnicn

de

produção e tratamento d

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18

Vl

KlNA Al ll

l K

Não se pode dizer que ela pertença mais à história do que à antropologia, ou às

ciências sociais,

nem

tampouco

qt1e

seja uma disciplina particular no conjunto das

ciências humanas. Sua especificidade está no próprio fato de se prestar a diversas

abordagens, de se mover num terreno multidisciplinar.

Mas o que vem a ser, afinal, esse método-fonte-técnica tão específico? Se po

demos arriscar

uma

rápida definição, diríamos que a história oral é um método de

pesquisa (histórica, antropológica, sociológica etc.)

que

privilegia a realização de

entrevistas

com

pessoas

que

participaram de,

ou

testemunharam, acontecimentos,

conjunturas, visões de mundo, como forma de se aproximar

do

objeto de estudo.

Como conseqüência, o método da história ora l produz fontes de consulta (as en

trevistas) para outros estudos, podendo ser reunidas em um acervo aberto a pes

quisadores. Trata-se de estudar acontecimentos históricos, instituições,

grupos

so

ciais, categorias profissionais, movimentos, conjunturas etc. à luz de depoimen tos

de pessoas

que

deles participaram ou os testemunharam.

Historicamente, esse método de aproximação do objeto de estudo não

é

nada

recente.

1

á

Heródoto

e Tucídides lançavam

mão

de relatos e depoimentos para

construir suas narrativas históricas sobre acontecimentos passados. Acontece que à

época não se

tinha

o recurso do gravador para registrar tais relatos e, portanto,

transformá-los em documentos de consulta. Sabe-se hoje que, desde a Idade Mé

dia até antes do advento do gravador, o recurso a relatos e depoimentos para a

reconstituição de acontecimentos e conjunturas não era i ncomum . No século XIX,

ent retanto,

com

o predomínio da história pos itivista e a quase sacralização do

documento escrito, a prática de colher depoi mentos esteve relegada a segundo pla

no. Considerava-se

que

o depoimento não poderia ter valor de prova, já

que

era

imbuído de subjetividade, de uma visão parcial sobre o passado e estava sujeito a

fa lhas de memória.

Foi apenas na segunda metade do século depois de algumas experiên

cias nas primeiras décadas do século, como a de Tho mas e Znaniecki, por exemplo

1

Sobre a história da história oral, ver, entre outros, Trcbitsch, Michel. A função epistemológica e

ideológica da história oral no discur

so

da história cont

empo

rânea·: in: Ferreira, Marieta de

Mora

es

(o rg.). Hi

stó ria

oral e multidi

scip

linnridade Rio de Janeiro, Diadorim/Finep, 1994,

p.

19-43; Ferreira,

Marieta de Moraes. Histó ria oral: um inventário das diferenças': in: Ferreira, Marieta de Moraes.

(o

rg.).

Entre-vistas: abordagens e liSOS dn história oml.

Rio de Janeiro,

FGV,

1994,

p.

1- 13; Philippe

)outard.

H

istó ria

ora

l: balanço da metodologia e da prod ução nos últimos 25 anos , in: Ferreira.

Marieta de Moraes Amado, Janaína (coord.).

Usos nb11sos

dn história

oral

Rio de Janeiro, FGV,

1996, p. 43-62, c Thomson, Alistair. Aos cinqüenta anos: uma perspectiva internacional da história

oral': in: Ferreira. Marieta de Moraes; Fernandes, Tania Maria Alberti, Verena

(o

rg.).

História oral:

desnfios

pam o é r ~ l o XXI.

Rio de Janeiro, Fiocru

z,

Casa de Oswaldo Cruz, Cpdoc-Fundação Getulio

Vargas, 2000,

p.

47-65.

MANUAL Dl

HIST

ÓRIA ORAl

- que a história oral se apresentou como potencial de estu

e conjunt uras sociais. Atribui-se a isso uma espécie de insat

res com os métodos quantitativos, que, no pós-guerra, co

aos métodos qualitativos de investigação. O recurso do gra

dos anos

1960,

permitia congelar o depoimento, possib

avaliação em qualquer

tempo

e transformando-o em fonte

sas. As entrevistas passaram a ter estatuto de documento

própria definição do que seja o trabalho com a história or

para procedimentos técnicos de gravação e de tratamento

importância para que o acervo constituído seja aberto

à

con

A entrevista

adqu

iriu estatuto de documento mas iss

história ora l tenha se ajustado aos ditames da história po

trata-se de tomar a entrevista produzida como documento

objeto documentado: não mais o passado tal como efetiv

as formas

como

foi e é apreendido e interpretado. A entrev

seu registro gravado e

transcrito-

documenta uma versã

supõe que essa ve rsão e a comparação entre diferentes ve

ser relevantes para es tudos na área das ciências humanas

conhecimento sobre acontecimentos e conjunturas do pas

aprofundado de experiências e versões particulares; de p

sociedade através do indiví duo

que

nela viveu; de estabelec

e o particu lar através da análise comparativa de diferentes t

as formas

como

o passado é apreendido e interpretado

p

como dado

objetivo para compree nder suas ações.

Assim, n ão é mais fator negativo o depoente poder d

falhas de memória ou errar em seu relato; o que imp

ocorrências em

uma

reflexão mais ampl a, perguntando-se

vistado concebe o passado de uma forma e não de outra

e

medida sua concepção difere (ou não) das de outros de

qualitat ivo e produtora de fontes de consulta, a história or

ficidade tal que nos permite estabelecer apenas frouxas ap

ticas de coleta de testemunhos de que se tem notícia desde

A difusão da história oral

no

início da década de 19

Estados Un idos e Europa, resultou na implantação de vário

oral, bem

como

de inúmeras pesquisas que dela se valeram

ti

gação. Foi

no

contexto desse movimento que começaram

entrevistas

no

Programa de História Oral

do

Cpdoc, impl

ro no Brasil, o programa

procurou

conjugar duas tendênc

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20

t RLNJ\ J\LIIEKTI

da história oral: de um lado, a norte-americana, que privilegiava a formação de

bancos de depoimentos orais, sem que sua produção se subordinasse necessaria

mente a

um

projeto de pesquisa,e, de outro, a européia,que privilegiava a lógica da

investigação científica, sem que

as

ent revistas dela resultantes fossem necessaria

men te colocadas

à

disposição de um público de pesquisadores.

Articulando documentação e pesquisa, o Programa de História Oral do Cpdoc

foi implanta do

com um projeto de pesquisa específico, Trajetória e desempenho

das elites políticas brasileiras

 ,

que orient ou a produção das entrevistas e

imprimiu

uma

linha ao acervo aberto ao público. A idéia era estudar o processo de monta

gem do Estado brasileiro, permitindo inclusive compreender

como

se chegara ao

regime militar

então

vigente.

Com as

entrevistas, procurava-se conhecer

os

proces

sos de formação das elites,

as

influências políticas e intelectuais, os conflitos e

as

formas de conceber o mundo e o paí

s.

Para alcançar

ss

objetivo, o mais apropria

do era realizar entrevistas de hist

ór

ia de vida, que se estendem por várias sessões e

acompanham

a vida

do

entrevistado desde a

inf

ância, aprofundando-se

em

temas

específicos. Essa linha de acervo continua em vigor até hoje e abarca políticos,

intelectuais, tecnocratas, militares e diplomatas, entre outros, desde os que ocupa

ram cargos formais

no

Estado até os que, fora do Estado,

com

ele cooperaram ou

lhe fizeram oposição.

Com o tempo, o acervo do Programa de História Oral foi sendo enriquecido

também com entrevistas que visavam compreender acontecimentos e conjunturas

específicos da história do Brasil. Surgiram então os conjun tos de depoimentos so

bre a formação e a trajetória de agências e empresas estatais, sob

re

a história de

determinadas atividades profissionais, sobre a trajetória de instituições de ensino e

sobre movimentos sociai

s

ent re outros. Esses projetos produzem em geral entre

vistas mais curtas, que denominamos temáticas

por

se voltarem prioritariamente

para o envolvimento do entrevistado no assunto em questão. Atualmente conta

mos

com

cerca de mil entrevistas, somando mais de quatro mil horas gravadas,

sendo que grande pa rte desse acervo está devidamente tratada à disposição de pes

quisadores.

A difusão da história oral alcan

çou

igualmente outras instituições do Brasil,

que inauguraram novas linhas de acervo, amp liando as possibilidades de consulta

e estendendo os benefícios

do

método para variados temas de pesquisa. A partir

dos anos 1990, o chamado movimento da história oral ampliou-se significativa

mente, tanto nõ Brasil quanto no exterior. Em abril de 1994, foi fund ada a Associa

ção Brasileira

de

História Oral (ABHO),

por

ocasião do II Encontro Nacional de

História Oral. Desde então a comunidade de pesquisadores e interessados

no

as-

~ A N U A L [

IS TÓRIA ORAL

sunto só fez crescer, impulsionada pelos encontros regiona

internacional,

em

1996 criou-se em Gotemburgo, Suéci

History Association (l OHA),

com

expressiva participação

leiros. A comunidade internacional tem-se reunido de dois

gressos internacionais aos quais comparecem muitos pesq

Esta, então, em linhas gerais, a história da história ora

mas das especificidades que decorrem do emprego da hist

de

amp

liação

do

conhecimento e como fonte de consulta.

Em primeiro lugar, está claro que ela só pode ser em

sobre temas recentes, que a memória dos entrevistados al

tempo, as entrevistas assim produzidas poderão servir de

pesquisas sobre temas não t ão recentes, mas a realização de

estudo de acontecimentos e/ou conjunturas ocorridos nu

damente 50 anos.

Outra

especificidade decorre do fato de o trabalho

co

tuir, desde o início, uma produção intencional de docum

em vez de organizarmos

um

arquivo de documentos já exis

após cr iteriosa avaliação, o caráter de fontes em potencial

na história or

al

produzimos deliberadamente, a

tr

avés de

mento que se

torna

fonte. Veremos

como

esta espec

ifi

cida

ou tras.

Em primeiro lugar, dela decorre a estreita relação ent

tação. Impossível, a nosso ver, realizar

uma

ou mais entrevi

que se tenha

um

projeto de pesquisa, com hipóteses, obje

teórica definida.

É

claro que todo projeto pode e deve s

mesmo abandonado, caso a pesquisa assim o venha a exigi

tolher mudanças ou novas abordagens que se façam neces

jeto

é

antes de tudo a de orient ar a pesquisa, que, no caso

e aco

mpanha

a tomada do s depoimentos. Senão,

como

sab

tar, que perguntas formular e como orientar o tratamento

É por isso que na história oral há sempre casos e casos

to e dos objetivos do trabalho, pode ser conveniente a reali

acompanhem a trajetória de vida dos informantes, ou, ao

atençõesem apenas um período específico de suas vidas. D

2

Sobre a ABHO,

pode se consu

ltar a página W\V\v.cpdoc.fgv.br/abho

W'.vw.ioha.fgv.br.

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VL

RfNA Al

6fRTI

tado, do

andamento da en

trevista e

também

dos objetivos da pesquisa, pode-se dar

mais ênfase a questões

de

interesse factual ou informativo,

ou

a questões

de cunho

interpretativo, que exijam do depoente

um

trabalho de reflexão crítica sobre o

passado. E possível ainda optar entre diferentes formas

de

apresentação do depoi

mento, desde a gravação, passando pela transcrição fiel com as alterações exigidas

pela forma escrita, até a edição da entrevista com vistas a sua

publ

icação.

Outra especificidade também resulta da participação direta do pesquisador na

produção do documento

de

história oral. Sabemos

que

qualquer

documento

tanto

o escrito quanto o oral,

ou

ainda o iconográfico ou o

sonoro de maneira

geral -

pode

ser inte

rpret

ado de diversas maneiras pelos historiadores c que os

critérios que distinguem a boa  e a má interpretação são divergentes e se modi

ficam conforme se modifica a visão sobre a própria história e o papel dos historia

dores. Porque é volitiva, a produção

do documento de

história

oral

já inclui

um

primeiro trabalho de crítica interna e externa do documento, que

é

feita

concomi

tante à realização da entrevista (o que não exime o pesquisador que irá consultá-la

do

mesmo

esforço). A autoria do depoimento, é claro,

não

deve gerar

dúvid

as,

uma

vez

que

é o pesquisador-entrevist

ado

r

quem

procura o entrevistado e está

diante dele

durant

e a entrevista, sabendo, com certeza, de

quem

se trata. Apenas

duas circunstâncias -

certamente

improváveis-

podem comp rometer a autoria

de um documento

de

história oral: a

impostura

(quando o

entrev

istado se faz

passar

por

outro)

e a adulteração

da

gravação. (Tais circunstâncias, entretanto,

não

são exclusivas da história oral, podendo

ocorrer na

produção de

qualquer

outro

tipo

de fonte.) Quanto ao conteúdo do depoimento, tanto o ent revistador, durante

a entrevista , quanto o pesquisador

que

consulta o

documento têm

condições

de

perceber falhas, excessos, incorreções e ade quações

no

discurso do entrevistado.

Se

este último distorce o passado em função de sua visão particular, omite informa

ções, evita falar sobre

determinados

assuntos, isso pode ser percebido ainda duran

te a gravação da entrevista e,

dependendo

da relação estabelecida, problematizado

junto com

o entrevistado, além de colocado

em

questão

no

caderno

de campo

e

incorporado à preparação de novas sessões de entrevista. A participação direta

do

pesquisador na produção do documento de história oral

permite

assim uma cons

tante avaliação desse documento

ainda

durante sua constituição.

A en trevista de história

oral permit

e

também

recuperar aquilo

que não

en

contramos em docum

e

ntos de outra

natureza: acontecimentos

pouco

esclarecidos

ou nunca evocados, experiências pessoais, impressões particulares etc. Nos dias

atuais, em

que

é mais fácil dar-se um telefonema, passar um e-mail, ou viajar rapi

damente de um

lugar para outro, muitas informações são trocadas prescindindo-se

da forma escrita (ou então, no caso da troca

de

e-mails, deixando-se

de

preservá-

MA,..UAl Ol 5T ÔRIA OR

AL

l o s -

informaçõ

es inéditas que podem ser resgatadas du

história oral e confrontadas com

outros

documentos escr

Mas acreditamos

que

a principal característica do

doc

não

consiste

no

ineditismo

de

alguma informação,

tamp

de lacunas de que s ressentem os arquivos de documentos e

por exemplo. Sua

peculiaridade-

e a

da

história oral co

de

toda uma

postura com

relação

à

história e às configura

privilegia a recuperação do vivido conforme concebido p

sentido que

n

ão

se

pode pensar em

história

oral

sem pensa

ria. O processo

de

recordação

de

algum acontecimento ou

de

pessoa

para

pessoa,

conforme

a importância

que

se

im

mento no momento em que

ocorre

e no(s)

momento(s)

e

não

quer diz e r -

e

as ciências

da

psique já o disseram - q

tante

é

recordado;

ao

contrário,

muitas

vezes esquecemo

cientemente, eventos e impressões

de

extrema relevância.

Haveria que dizer muito mai s sobre a

memória, ma

registrar aqui

é

a peculiaridade da história oral

vis à vis

es

ção de entrevista privilegia-se, é claro, a biografia e a

me

mas, diversamente

da

autobiografia, a presença e o pape

acrescentam-lhe outra(s) biografia(s) e

outra(s)

memória(

(en trevistado e en trevistadores) constroem, num momen

das, uma abordagem sobre o passado, condicionada pela r

se estabelece em função das peculiaridades de cada

uma

d

do ent revistadoré tão relevante nesta cr iação do concebido

inclusivediferente

de outras

criações,como a autobiografia

cindível

contar com sua

honestidade,sensibilidade e comp

deve ter consciência

de sua

responsabilidade

enquanto

co-

cumento de história oral.

Sua

biografia e sua memória são

priamente

em questão, mas ambas são decisivas em

sua

fo

sua

memória

a respeito do tema

e/ou ator em

evidência na

de parte de suas pesquisas (afinal, é esse seu trabalho), e

consciência

da

importância desse trabalho para o exercício

Perguntar-se-á en tão - e muitos já fizeram esta ob

trabalho

de

história oral se a subjetividade

(a

biografia,

quem o faz

é

tão imp eriosa. Não estaríamos comprometen

sária a

qualquer trabalho

científico? sabido que jamais

real tal

como

ele

é;

apesar disso, insistimos

em

obter

um

mais acurada dele,

para aumentar

qualitativa e quantitati

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  4

V R

rN I OCR I

mento. Este é o zelo científico, do qual a história também não escapa, mesmo que

se discuta a propriedade de chamá-la de ciência. O trabalho do cientista, contudo,

é também

um

ato de criação. A objetividade, então, acaba por condicionar-se à

competência, à sensibilidade e à honestidade do pesquisador na crítica interna e

externa dos documentos que elegeu e na determinação do peso (ou valor) de cada

um deles

no

corpo de seu trabalho.

Entre t antas especificidades do trabalho com a história oral, resta falar da pe

cu

liaridade de seu registro, o fato de constitu ir

um documento

oral. Mesmo

que

seja transcrita, a entrevista de história oral deve ser considerada em função das

condições de sua produção: trata-se

de

um diálogo entre entrevistado e entrevista

dores, de uma construção e interpretação do passado atualizada através da lingua

gem falada. Nesse sentido, é sua característica se desenvolver

em

meio a recuos e

evocações paralelas, repetições, desvios e interrupções,

que

lhe conferem um po

tencial de análise em grande parte diverso daquele de um documento escrito: a

análise

da

entrevista tal como efetivamente transcorreu permite que se apreendam

os significados não diretamente ou intencionalment e expressos;permite que o pes

quisador se pergunte

por

que a questão x evocou y ao entrevistado; por que, ao

falar dez recuou para a; por que não desenvolveu a questão c assim como fez em b

e assim por diante. lém disso, o caráter oral do depoimento, resguardado pela

gravação, fornece ao pesquisado r outr as possibilidades de investigação, no

que

diz

respeito às particularidades e recorrências do discurso do entrevistado, ao registro

de suas hesitações, ênfases, autocorreções etc. Tudo isso, conforme os propósitos

da pesquisa

e

as indagações que se faz o pesquisador que consulta um documento

de história oral, pode conter dados significativos, lém de permitir uma análise de

discurso propriamente dita, que, em se tratando de um acervo de depoimentos,

pode engendrar estudos comparativos por gerações, g rupos sociais, formação pro

fissional etc.

O trabalho

com

história oral exige do pesquisador um elevado respeito pelo

outro,

por

suas opiniões, atitudes e posições,

por

sua visão de

mundo

enfim. É essa

visão de

mundo que

norteia seu depoimento e que imprime significados aos fatos

e acontecimentos narrados. Ela é individual, particular àquele depoente, mas cons

titui também elemento indispensável para a compreensão da história de seu grupo

social, sua geração, seu país e da humanidade como

um

todo, se considerarmos

que há universais nas diferenças. Assim, se trabalhamos com visões particulares e

muitas vezes id ossincráticas para amp liar nosso conh ecimento acerca

da

história,

é porque de alguma forma acreditamos que a história é um nome genérico para

designar s históri s vividas e concebidas, diferentes

ou

parecidas, criadas por pes-

M NU L [ III

STÓR I  OR l

soas em contato com o mundo. Conseqüentemente, somos

peso do imponderável e do próprio indivíduo nessa histór

ia

mos. Isso não significa que a história, vista sob este ângul

somatório de histórias individuais, nem tampouco que dev

neralização e a abstração próprias ao pensamento cient ífico

rância das infinitas versões.

Ao

contrário, admitir e consid

diversidade de

ve

rsões e experiências no decorrer da aná

li

s

um

con hecimento acurado -

porque

cuidadoso

a respe

xão, base para a formulação de abstrações e generalizações.

Écaracterística deste anual o fato de se constituir num

te institucional,

que

representa e expressa a prática e o co

com respeito à história oral, desenvolvidos não só em seu

Oral, como também nos outros setores do Centro, que tiver

ativa na constituição, na preservação e na divulgação de no

tas. Do ponto de vista da construção do texto, muito ajud

com pesquisadores e profissionais que visitaram o progra

conhecer sua prática, e com o público que assistiu a aulas, pa

que participei

em

diversas regiões ao longo desses anos. As

o interesse que demonstravam contribuíram para que eu p

do possível leitor deste livro.

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P RTE

a Implantação de rogramas de His

Um programa de história oral se caracteriza por desenvolv

fundamentados

na

produç ão de entrevistascomo fonte priv

mente constituir um acervo de depoimentos para a consul

individuais como teses acadêmicas

por

exemplo podem

de depoimentos mas ao contrário

do

que objetiva

um

prog

se destina de antemão a formar um acervo aberto à cons

estrutura

de

um

programa de história oral são portanto

complexas

do

que a investigação de

um

objeto de estudo a

de história oral sem a preocupação de formar um acervo d

Como

qualquer pesquisa histórica  aquela realizada po

necessariamente um projeto de pesquisa no qual sejam sist

os objetivos

da

invest igação o tema o recorte de análise

s

gia etc. Tal projeto tem o pro pósito d e fixar quais questões s

estudo

e quais os

caminhos que

a investigação deve p

aproximar-se das respostas.

Ora esse esforço de sistematização do con teúdo da pe

que e

como

se pretende

investigar

não constitui novidad

quisas. Para alguns talvez seja novidade a escolha da metod

que imprime algumas especificidades ao projeto: é necessá

locadas ao objeto de estudo sejam condizentes com o empr

gia qualitativa e investigação e que a realização de entre

constitua efetivamente caminho apropriado diante das per

dor se faz.

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  8 VERr NA

I B

ERTI

Quando se trata da formação de um programa de história oral, devem-se de

finir ta

mb

ém os procedimentos que serão adotados na preservação e na socializa

ção de seu acervo. Isso significa que o projeto de constituição de um programa é

necessariamente institucionaL Para que o progr ama efetivamente funcione, é pre

ciso cont

ar

com um local apropriado para

sua

instalação e com

uma

equipe de

trabalho permanente. No local escolhido deve ser possível fornecer condições de

trabalho

à

equipe, gravar entrevistas, acondici

onar

com segurança o acervo pro

duzido e o equipamento de gravação e atender a pesquisadores. A definição dessas

condições

no momento

de elaboração

do

projeto é fundamental para determinar

o número e o tipo de recursos de pessoal, de equipamento, de tempo financei

ros etc.) necessários

à

execução dos trabalhos.

O projeto de implantação de um programa deve

dar

conta, ao mesmo tempo,

dos objetivos da

pesquisa

e

da

constituição da

documentação

Sem ele, é impossível

resolver

que

procedimentos serão adotados

em

todas as etapas a serem cumpridas:

quem, como e quantos entrevistar, o que pesquisar e como fazer os roteiros, qual a

duraçã o das entrevistas, quantos profissionaisestarão envolvidos e quais serão suas

especialidades,como tratar os docume ntos e, finalmente, como divulgar o acervo.

Nesta primeira parte do

Manual

estaremos tratando das especificidades de

um

projeto de pesquisa

em

história oral, da formação da equipe de trabalho de um

programa e do material necessário a seu funcion amento - três questões básicas a

serem observadas quando

da

implantação de programas de história oraL Como

entretanto, as características institucionais não anulam o que

de

comum

entre

programa s de história oral e pesquisas que usam a mesma metodologia sem a preo

cupação de constituir acervo, o

que

se segue

também pode

interessar aos que pre

tendem desenvolver pesquisas de histó ria oral em caráter não institucional.

O PROJETO

E

PESQUIS

Fazer história oral não

é

simplesmente sair com

um

gravad

perguntas na cabeça, e entrevistar aqueles que cruzam noss

falar um pouco sobre suas vidas. Essa noção simplificada

punhado de fitas gravadas, de pouca ou nenhuma utilidade,

dadas sem que se saiba muito bem o que fazer com elas. Mu

criada por

uma

concepção talvez ingênua e certamente equ

ria oral, em vez de meio de ampliação de conhecimento so

mos, o

próprio

passado reencarnado

em

fitas

gravadas-

de deixar registrados depoimentos de atores e/ou testemunh

o pesquisad or da atividade de pesquisa.

Sendo um método de pesquisa, a história oral não é u

sim um meio de conhecimento. Seu emprego só se justific

investigação científica, o que pressupõe sua articulação com

previamente definido. Assim, antes mesmo de se pensar em

haver questões, perguntas, que jus tifiquem o desenvolvime

ção. A história oral só começa a participar dessa formulaçã

é

preciso

determinar

a abordagem

do

objeto

em

questão:

c

Não é nossa intenção dissertar sobre a elaboração de p

isso é matéria que ultrapassa os objetivos deste

Manual.

Ent

dologia adotada em uma pesquisa influi diretamente sobre

deramos relevante chamar a atenção para alguns aspectos a s

do d a elaboração de projetos de pesquisa que tomam a histó

privilegiado de investigação.

I I escolha do método

De modo geral, qualq uer tema, desde que seja contempor

ainda vivam aqueles que têm algo a dize r sobre e l e - é pas

através da história oral. Contudo,

como

qualquer método, a

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30

VlRlNA AL tRTI

natureza específica que condiciona as perguntas que o pesquisadorpode fazer. Em

s tratando de uma forma de recuperação do passado conforme concebido pelos

que o viveram,

é

fundamental que tal abordagem seja efetivamente relevante para

a investigação que se pretende realizar.

Deve ser importante, diante

do

tema e das questões que o pesquisador se colo-

ca, estudar as versões que os entrevistados fornecem acerca do objeto de análise.

Ou mais precisamente: tais versões devem ser, elas mesmas, objeto de análise. As-

sim,

uma

pesquisa de história oral pressupõe

semp

re a pertinência

da

pergunta

como os ent revistados viam e vêem o tema em questão? . Ou: O que a narrativa

dos que viveram ou presenciaram o tema pode informar sobre o lugar que aquele

tema ocupava (e ocupa) no contexto histórico e cultural dado? 

Sejamos mais claros. Suponhamos

que

se pretenda estudar a história de deter-

minada empresa. Haveria diversas maneiras de abordar o tema. Uma delas consiste

m

pesquisar

os

documentos escritos

que

a empresa

produziu

desde sua criação:

seus estatutos, as atas de reuniões, as faturas, correspondência etc. Uma pesquisa

sistemática nessas fontes pode resultar na produção de um documento de trabalho

que dê conta da trajetória da empresa, seus percalços, o

tipo

e o

número

de funcio-

nários empregados ao longo dos anos, as mudanças de rumo, sua relação com o

mercado, a estrutura de produção etc. Uma outra possibilidade consiste em em-

pregar a metodologia de histó ria ora l: dirigir o foco de interesse

não

para aquilo

que os documentos escritos podem dizer sobre a trajetória da empresa, e sim para

as versões

que

aqueles que participaram de, ou testemunharam, tal trajetória po-

dem fornecer sobre o assunto. Isso pressupõe que o estudo de tais versões seja

relevante para o objetivo da pesquisa.

Se o emprego da história oral significa voltar a atenção para as versões dos

entrevistados, isso não quer dizer que se possa prescindir de consultar as fontes já

existentes sobre o tema escolhido. Ou seja: voltando ao exemplo acima, caso seja

pertinente estudar a história da empresa tomando como foco o ponto de vista dos

que dela participaram, o conjunto de documentos escritos que ela produziu serve

de apoio p ara a investigação e de instrumento de análise das entrevistas. Um rela -

tório assinado por um dos diretores da empresa, por exemplo, pode servir de con-

traponto

à versão que esse mesmo diretor fornece 30 anos depois sobre o mesmo

assunto.

Quanto à escolha do método, então, é preciso compreender que a opção pela

história oral depende intrinsecamente

do

tipo de questão colocada ao objeto de

estudo. Por

outro

lado, ela também depende de haver condições de se desenvolver

a pesquisa: não é apenas necessário que estejam vivos aqueles

que

podem falar

MANUAL r ISTÓRIA ORM

sobre o tema, mas que estejam disponíveis e em condições

empreender a tarefa que lhes será solicitada.

1 2 A escolh

dos

entrevist dos

Comecemos novamente por um exercício de negação. Assim

história oral não constitui

um

fim

em

si mesma, independe

simples existência de entrevistados em potencial tam bém não

Ou seja: não é porque em determinado momento se dispon h

sadas em falar sobre o passado que iremos iniciar uma pesq

A escolha dos entrevistados é, m primeiro lugar, guia

pesquisa. Assim, reto

mando

o exemplo da pesquisa sobre a h

sa, se seu objetivo principal for o estu do das relações trabalh

determinado período, será necessário escolher os possíve

is

pessoas

que

efetivamente

podem

contribuir nesse sentido

diretores da empresa, representantes sindicais etc. Se,

por

o

específico repousar sobre as relações entre a empresa e o

entrevistados poderá recair sobre os dirigentes da empresa e

governo,

por

exemplo. Por fim, se os objetivos da pesquisa

abrangente, envolvendo todos os aspectos vinculados à histó

verso de entrevistad os

em

potencial se alargará consideravelm

dos e diretores, passando

por

funcionários

do

governo e rep

eventualmente por membros de outras empresas, até usuár

consumidores de seus produtos, por exemplo.

É no contexto de formulação da pesquisa, durante a elab

portanto, que aparece a pergunta quem entrevistar?': Sua oc

à

opção pelo método da história oral, uma vez que tal opção

pessoas a entrevistar. Se os objetivos da pesquisa forem claros

primeiro passo

em

direção à resposta, determinando

que

tipo

(os diretores da empresa, os empregados, os representantes

tão proceder a uma seleção (quais diretores, quais empregad

A escolha

dos

entrevistados não deve ser predomina

nt

critérios quantitativos, por

uma

preocupação com amostrag

posição do entrevistado no grupo, do significado de sua e

primeiro lugar, convém selecionar os entrevistados entre a

ram, viveram, presenciaram ou se inteiraram de ocorrência

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32

V

ER NA AL

RERTI

ao tema e que possam fornecer depoimentos significativos. O processo de seleção

de entrevistados em uma pesquisa de história oral se aproxima, assim, da escolha

de informantes em antropo logia, tomados não como unidades estatísticas, e sim

como unidades qualitativas- em função de sua relação

co

m o tema estudado -

seu papel estratégico, sua posição

no

grupo etc.

Escolher essas unidades qualitativas entre os integrantes de uma determina

da categoria de pessoas requer

um

conhecimento prév io do objeto de estudo.

t

preciso conhecer o tema, o papel dos grupos que dele participaram

ou

que o teste

munharam

e as pessoas que, n ss s grupos, se destacaram, para identificar aqueles

que, em princípio, seriam mais representativos em função da questão que se pre

tende investigar - os atores e/ou testemunhas que, por sua biografia e por sua

participação

no

terna estudado, justifiquem o investimento que os transformará

em entrevistados no decorrer da pesquisa.

O conhecimento prévio do objeto de estudo é requisito para a formulação de

qualquer projeto de pesquisa. No caso da história oral, dele depend em as primeiras

escolhas

que

devem ser feitas no encam inhamen to da pesquisa:

que

pessoas entre

vistar, que tipo de entrevista adotar e quantas pessoas ouvir (sobre os dois últimos

aspectos, ver adiante). Ta is escolhas fazem parte da prática da história oral e devem

ser objeto de reflexão no momento de elaboração do projeto de pesquisa. Convém

então recorrer a fontes secundárias e

à

documentação primária, se possível, para,

conhecendo melhor o tema, imprimir urna base consistente ao recorte. Caso não se

disponha de fontes suficientes para esse conhecimento prévio, pode ser adequado

realizar algumas entrevistas curtas,

de

cunho exploratório, que forneçam informa

ções úteis para o processo de escolha.

No projeto de pesquisa convém listar os prováveis entrevistados sobre os quais

se pretende investir ao longo

do

trabalho, justificando,em cada caso, a escolha. Isso

pode ser feito acrescentand o-se ao nome do possível entrevistado um resumo de

sua participação no tema. Tal listagem deve ser tomada como uma relação dos

entrevistados

em potenci l

daquela pesquisa, já que está sujeita a circunstâncias

que podem modificar os rumos

do

trabalho.

Uma primeira circunstância diz respeito

à

disponibilidade

real do

ator sele

cionado: é preciso considerar a possibilidade de det erminadas pessoas se negarem

a prestar depoimentos sobre o assunto, bem

como

que estejam excessivamente

ocupadas para cederem parte de seu tempo à realização de ent revistas. Essas cir

cunstâncias forçosamente alteram a listagem inicialmente elaborada podem re

sultar na substituição dos nomes antes considerados por outros. Se determinado

representante sindical, por exemplo, não se dispuser, de modo algum, a conceder a

M1\NUAL

0

III

STÓRIA OR L

entrevista, é preciso pensar na conveniência de substituí-lo

trajetória e atuação, possa ocupar espaço semelhante na inv

estudo. Outra circunstância que

pode

alterar a listagem ini

gimento, no decorrer da pesquisa, de nomes antes não co

realiz,ação de uma entrevista, por exemplo, pode acontecer

vistado chamar a atenção para a atuação de um terceiro, an

depoimento passe a ser fundamental para a pesquisa. Novo

nhas podem também surgir a partir

do

estudo mais detal

sobre o assunto, que pod e trazer informações sob re o envol

soas no tema.

Por fim, é possível que a listagem seja ainda alterada em

nho de certos entrevistados não corresponder às expectativ

pação no tema

pode

não ter sido tão profunda quanto

pare

do da pesquisa, pode se transformar em dadosignificativo p

a respeito das razões que levaram os pesquisadores

à

image

do; sua disposição para n arrar e refletir sobre experiências v

da; sua memória, assim corno a capacidade de articulação

ser insuficientes para os propósitos da entrevista e assim

p

há que decidir,

no

decorrer da pesquisa, se cabe acrescentar

conjunto, para completar as lacunas abertas por esse tipo d

Podemos concluir então que a escolha dos entrevistado

justificada que seja durante a formulação

do

projeto de pes

fundamentada no

momento

de realização das entrevistas,

última instância, a propriedade ou não da seleção feita. É

pode avaliar a outra face da escolha, aquela que até ent ão p

da por

dizer respeito apenas ao entrevistado, não se deixan

térios

do

pesquisador antes de iniciada a entrevista. Trata-s

tado, de sua predisposição para falar sobre o passado,

do

daquele depoimento para o conjunto da pesquisa.

Há, portanto, um último fator que incide sobre a prop

entrevistados de urna pesquisa de história oral, o qual, e

pode ser incorporado aos critérios de seleção no momento

jeto de pesquisa, pois independe dos pesquisadores e da fo

estudo. Estamos falando daquilo que poderíamos chamar

Há pessoas que, por mais representativas que sejam p ara f

assunto, simplesmente não se interessam por,

ou não

pode

mente sua experiência de vida e discorrer sobre o passado, c

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34

VtK ENA

AI

HrRTI

estratégica no tema o fizesse crer. Isso não quer dizer que a escolha tenha sido

equivocada.

Ao

contrário: ela continua plenamente justificada pelos objetivos do

estudo e pode se

tornar

particularmente relevante quando tomamos a própria par

cimônia do discurso como objeto de reflexão, quando nos perguntamos por que o

ent

revistado, que

tem

todas as razões para prestar um depoimento aprofundado

sobre o assunto, não se dispõe a (não sabe, não quer, não pode) falar sobre ele com

igual intensidade. O ideal seria poder escolher entrevistados dispostos a revelar sua

experiência

em

diálogo franco e aberto e que, de sua posição no

grupo ou

em

relação ao tema pesquisado, fossem capazes de fornecer, além de informações subs

tantivas e versões particularizadas,

uma

visão de conjunto a respeito

do

universo

estudado. Como na definição do bom entrevistado de Aspásia Camargo:

Aquele que,

por

sua percepção aguda de sua própria experiência, ou pela importância das

funções que exerceu,

pode

oferecer mais

do

que o simples relato

de

acontecimentos,

estendendo-se sobre impressões de época, comportamento de pessoas ou grupos, funcio

namento de instituições

e

num sentido mais abstrato, sobre dogmas, conflitos, formas de

cooperação e solidariedade grupal, de transação, situações de impacto etc. Tais relatos

transcendem o âmbito da experiência individual, e expressam a cultura de um povo, pais

ou Nação, chegando, a partir de categorias cada vez mais abrangentes- por que

ão -

ao

denominador comum à espécie humana.'

No

Cpdoc, o objetivo inicial de estudar a trajetória e o desempenho das elites

políticas brasileiras fez com que o acervo constituído até o início dos anos 1990

fosse composto predominantementede entrevistas de pessoas idosas, que desem

penharam funções relevantes em acontecimentos e conjunturas históricas desde a

década de 1920. A escolha dos entrevistados muitas vezes coincidia então com sua

predisposição e vontade de falar sobre o passado. Geralmente

as

pessoas mais ve

lhas, quando estão aposentadas ou se afastaram do centro da atividade política,

voltam suas atenções para aquilo que foram

ou

fizeram.

Como

conseqüência, se

sentem mais

à

vontade para falar sobre sua experiência e interpretar o passado,

reavaliando inclusive suas posições e atitudes, como uma espécie de balanço da

própria vida. Além de não correrem mais muitos riscos ao revelar ac ontecimentos

ou opiniões que, à época em que ocorreram, poderiam comprometer os envolvi

dos, os entrevistados idosos em geral gostam de falar sobre o passado e sobre sua

1

Camargo, Aspá;ia. História oral e história Rio

de

Janeiro: Cpdoc, 1977 17f., p. 4-

5.

(Trabalho

apresentado no I Seminário Brasileiro

de

Arquivos Municipais. Niterói, Universidade Federal

Flu-

minense, 2-6 ago. 1976.)

MANUAl OE II ISTÓRIA ORAl

atuação, principalmente se sua experiência puder se perpe

ção, para além do momento da entrevista .

Voltemos à listagem dos entrevistados em potencial,

mulação do projeto

de

pesquisa. Já prevendo as alteraçõ

so(rer no decorrer da pesquisa, pode ser útil ampliá-la pro

do todas as possibilidades de investimento permitidas pe

seja, um maior número de pessoas possível, independe nte

tadas em sua totalidade. Ao lado desse universo extenso, d

ridades: aqueles atores

e/ou

testemunhas sobre os quais se

de recorrer a alternativas.

Como, entretanto, a realização de entrevistas constit

lho de história oral, todo planejamento de um program

grau de definição

da

quantida de de entrevistas que se pret

desse fator o orçamento, o material, o pessoal envolvido

lho, entre outros. Assim, para não prejudicar o planejam

adoção de uma listagem

por

demais extensa e flexível, já

com rigor quantas e quais pessoas serão entrevistadas, co

para a quantidade de horas de entrevistas gravadas que

final do projeto. O número estimado de horas gravadas

cálculo de custos de

um

projeto de história oral.

1 3 O número

de entrevist dos

As considerações sobre a escolha dos entrevistados em

oral levam naturalmente à questão de quantas pessoas

trabalho. Novamente tal decisão depende diretamente d

Se

ela estiver sendo desenvolvida fora

do

âmbito de

um

p

o número de entrevistados pode até se restringir a uma ú

mento es

tiver sendo

tomado

como contraponto e compl

for suficientemente significativo para figurar como inve

isolado

no

conjunto da pesquisa.

Essa circunstância

não

se aplica, entretanto, àquelas

ou

não, que adotam a história oral como metodologia

produção de entrevistas e sua análise como investimento

sos, o que interessa é justamente a possibilidade de comp

dos entrevistados sobre o passado, tendo como

ponto

d

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36

V[ R[ NA A

lBER

TI

permanente aquilo que as fontes já existentes dizem sobre o assunto. Assim, é na

tural

que

quanto mais entrevistas puderem ser realizadas, mais consistente será o

material sobre o qual se debruçará a análise.

Isso não quer d.zer que se deva passar a realizar indiscr iminadamente o maior

número possível de e

nt r

evistas, como se a simples quantidade pudesse, por si só,

garantir a qualidade do acervo produzido .

Ao

contrár io: já dissemos que a escolha

dos entrevistados de

uma

pesquisa

de

história oral segue critérios qualitativos, e

não quantitativos. Ocorre que tais critérios devem levar em conta também quan tos

en trevistados são necessários para que se possa começar a a rticular os

depoim

en

tos entre si e, dessa articulação, chegar a inferências significativas para os propósi

tos da pesquisa. Ou seja: uma única entrevista pode ser extremamente relevante,

mas ela só adquire significa

do

completo

no mo m

ento em que s

ua

análise

puder

ser

art iculada com outras fontes igualmente relevantes. No caso da metodologia de

história oral, essas

outras

fontes são também e prioritariamente

outras

entrevistas.

O número de entrevistados de uma pesquisa

de

histó ria oral deve ser suficiente

mente significativo par a viabilizar certo grau de genera

li

zação dos.resultados do

trabalho.

Ora assim como não se pode estabelecer com precisão quais serão os depoen

tes de uma pesquisa de histó ria oral no momento de elabo ração do

seu

projeto, é

também muito difícil definir, de antemão, quantos entrevistados serão necessários

para garantir o valor

do

s resultados

da

pesquisa.

É

somente

durante

o trabalho

de

produção das entrevistas que o número de entrevistados necessários começa a se

descortinar com maior clareza, pois é conhecendo e produzindo as fontes de sua

investigação que os pesquisadores adquirem experiência e capacidade

para

avaliar

o grau de adequação do material já obtido aos objetivos do estudo. Esse processo

ocorre em qualquer pesquisa: é o

pe

squisador, con hecendo progressivamente seu

obje

to

de estudo, que pode avaliar quando o resultado de seu trabalho junto às

fontes já fornece instrumental suficiente para que possa construir uma interpreta

ção

bem

fundamentada. Assim, a decisão sobre quando encerrar a realização de

entrevistas só se configura à medida que a investigação avança.

Como forma

de

operacionalizá-la, pode ser útil recorrer

ao

conceito de satu

ração , formulado por Daniel Bertaux.

 

De acordo com esse autor, há um mom en

to

em que

as entrevistas acabam

por

se repetir, seja

em

seu cont

do, seja na forma

pela qual se constrói a narrativa. Quando as ent revistas realizadas em uma pesqui-

 

Bertaux, Daniel. L'approche biographique':

Cahiers IntematiotJaux de Sociologie

Paris, PUF,

v

69,

juil I dec. 1980, p. 197-225.

MIINUAl Of fiiSTÓRIII

ORM

sa de história oral começam a se tornar repetitivas, contin

aumentar o investimentoenquanto o retorno é reduzido, j

menos informação. Esse é o mo mento que o autor chama

que o pesquisador chega quando tem a impressão de que n

a apreender sobre o objeto de estudo, se prosseguir as e

nesse ponto, é necessário mesmo assim ultrapassá-lo, re

entrevistas, para certificar-se da validade daquela impressã

ção, entretanto, só

pode

ser aplicado, segundo Bertaux, c

procurado efetivamente diversificar ao máximo seus info

peito ao tema estudado, evitando que se esboce uma espé

em

função

de

o conjunto de entrevistados ser de antemão

Apesar de ser impossível estabelecer com antecedência

soas a entrevistar no decorrer da pesquisa, a

li

stagem exte

vistados

em

potencial, acompanhada do registro dos que

fornece uma idéia do número de entrevistas que podem

dissemos ser

imp

ossível fixar previamente quantas pessoas

não que r dizer que a questão escape a qualquer t ipo de e

objeto

de

estudo que vai informar, inicialmente, o número

em

princípio capazes

de

fornecer depoimentos significativ

recorte,

por

exemplo, recair sobre os dirigentes de

uma

entrevistad

os

em

potencial nesse universo será

de

antemã

ro de diretores em condições de cederentrevistas. O que se

número seja suficientemente representativo para engendr

tiva consistente. Se apenas um diretor estiver disponível p

to,

é

o caso de se pensar em ampliar o recorte, incorpora

atores e/ou testemunhas à investigação.

I 4 esco lh

do

tipo de

entrevist

Sempre

de

aco rdo

com

os propósitos da pesquisa, definid

à questão que se pretende investigar, é possível escolher

realizado: entrevistas

temáticas

ou

entrevistas de

história

As entrevistas temáticas são aquelas que versam prio

ticipação do entrevistado no tema escolhido, enquanto a

como centro de interesse o próprio indivíduo na história

desde a in fância até o momento em qu e fala, passa ndo pel

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38

VERENA

LK

E

RTI

tos e conjunturas que presenciou, vivenciou ou de que se inteirou. Pode-se dizer

que a entrevista de história de vida contém, em seu interior, diversas entrevistas

temáticas, já que, ao longo da narrativa da trajetória de vida, os temas relevantes

para a pesquisa são aprofundados. Podemos concluir desde já que uma entrevista

de

história de vida

é

geralmente mais extensa

do

que uma entrevista temática: falar

sobre uma vida, realizando cortes de profundidade em determinados momentos,

exige que entrevistado entrevistador disponham de tempo bem maior

do

que se

elegessem apenas

um

desses cortes

como

objeto da entrevista.

Apesar dessas diferenças, ambos os tipos de entrevista de história oral pressu

põem a relação com o método biográfico: seja concentrando-se sobre um tema,

seja debruçando-se sobre

um

indivíduo e os cortes temáticos efetuados em sua

trajetória, a entrevista terá como eixo a biografia do entrevistado, sua vivência e

sua experiência.

Decidir entre

um ou

outro tipo de entrevista a ser adotado ao longo da pes

quisa dependedos objetivos do trabalho . Em geral, a escolhade entrevistas temáticas

é adequada

para

o caso de temas que

têm

estatuto relativamente definido na traje

tória de vida dos depoentes, como, por exemplo, um período determinado crono

logicamente, uma função desempenhada ou o envolvimento e a experiência em

acontecimentos

ou

conjunt uras específicos. Nesses casos, o tema pode ser de algu

ma forma extraído

da trajetória de vida mais ampla e tornar-se centro e objeto

das entrevistas. Escolhem-se pessoas que dele participaram

ou

que dele tiveram

conhecimento para entrevistá-las a respeito. Numa entrevista de história de vida,

diversamente, a preocupação maior não é o tema e sim a trajetória do entrevistado.

Escolher esse tipo de entrevista pressupõe que a narração da vida do depoente ao

longo da história tenha relevância para os objetivos do trabalho. Assim,por exem

plo,

se no

estudo de determinado tema for considerado importante conhecer e

comparar as trajetórias de vida dos que nele se envolveram, será aconselhado

realizarem-se entrevistas de história de vida.

Ou, por

outra, se a pesquisa versar

sobre determinada categoria profissional ou social, seu desempenho, sua estrutura

ou suas transformações na história, torna-se igualmente aconselhada a opção por

entrevistas de história de vida.

É possível que em determina do projeto de pesquisa sejam escolhidos ambos os

tipos

de

entrevista

como

forma de trabalho. Nada

imp

ede que se façam algumas

entrevistas mais longas, de história de vida, com pessoas consideradas especialmen

te representativas

ou

cujo envolvimento com o tema seja avaliado como mais estra

tégico, ao lad o de entrevistas temáticas com outros atores e/ou testemunhas. [sso

depende, novamente, da adequação desse procedimento aos propósitos do projeto.

MANUAL

l t

HISTÓRIA OAAl

Nos primeiros 20 anos de existência

do

Programa de H

adotou-se preferencialmente a entrevista de história de vid

balho, porque o projeto que orientava as atividades visava a

do desemp

enho

das elites políticas na história contempor

nesse contexto, houve casos em que a opção pela entrevista

ria. Muitas vezes o entrevistado não dispunha de

tempo

s

um depoimento de história de vida, geralmente mais lon

temática. Nesses casos, apesar

do

interesse em abarcar toda

de tomá-lo como centro da entrevista, éramos obrigados

tema no qual tivesse tido

uma

atuação destacada - um pe

exerceu, a participação em certo episódio, por exemplo-

de um registro considerado relevante para o projeto. Em

possível v oltar ao entrevistado anos mais tarde, em circunst

realização de

uma

entrevista de história de vida, o que exp

existência, no Programa de História Oral do Cpdoc, de dua

com o mesmo depoente em períodos distintos.

medida que o pr ograma foi diversificando seus pro

vinculados

à

pesquisa original, a realização de entrevistas te

freqüente. Nessas entrevistas, que se estendem por

uma

ou

ter de duas a seis horas de duração, por exemplo, procura

inicial da vida

do

entrevistado (origens familiares, socializ

fim de situarmos melhor

quem

fala e

por

que

optou ou

levou a participar

do

tema em questão.

l S papel do

projeto

de pesq uisa

em

programas

Tudo o que dissemos até aqu i sobre os fatores que devem se

a elaboração de um projeto de pesquisa de história oral diz

científica propr iamente dita, ou seja: às questões que se col

à abordagem

do

objeto

de

estudo e às decisões que devem

da opção pela história oral. Nesse sentido, tais procedime

quer

projeto

de

pesquisa de história oral, institucional

ou

No presente item procuraremos acrescentar às conside

cificidades de um projeto de pesquisa elaborado

no

âmbi

história oral. E a primeira delas diz respeito ao caráter em

das atividades de pesquisa. Ou seja, a implantação de um pr

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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40

VEREN

L tRT

I

ve

m acompanhada de projeções de longo prazo; a intenção de constituí-lo é atam

bém intenção de inaugurar um tipo de tra balho que se estenderá por muitos anos,

sem previsão de términ

o.

Nesse sentid

o

convém em primeiro lugar que o recorte

inicial

do

objeto de estudo seja suficientemente abrangente para viabilizar o inves

timento contínuo de realização de e

nt

revistas. Poder-se-ia

denominar

esse recorte

inicial tema continente, passível de ser desdobrado em temas paralelos, objetos de

investigação específica.

No

Cpdoc, por exemplo, o Programa de História Oral

foi

instituído em 1975

com o tema continente T

rajetória e desempenho das elites políticas brasileiras .

Essa escolha orientou-se pelo próprio perfil da instituição, que recolhe arquivos

privados de homens públicos e que priorizacomo área de pesquisa a história polí

tica do Brasil. Assim, a definição do tema continente de um programa de história

oral é uma decisão eminentemente institucional, que transcende interesses con

junturais e pessoais. No interior do

projeto inicial arrolaram-se segmentos como

políticos propriamente ditos, militares, elite burocrática; temas como tenentismo,

Revolução de 1930, regime militar, além de divisões regionais e geracionais. Com a

ampliação das áreas de atuação do Centro, os projetos de história oral passaram a

se voltar também para outras direções de interesse político, econômico, social e

cultural, de modo que atualmente podemos definir nosso acervo de entrevistas

como

dizendo respeito a acontecimentos e conjuntur

as

da história contemporânea

do Brasil, especialmente a partir do s anos 1930.

É importante

que um programa,

no

momento em que é implantado, defina

sua linha de acervo, dada pelo tema continente': dentro do qual desenvolverá suas

atividades. Essa linha dará

ao

programa uma identidade institucional, facilitando

inclusive a consulta dos depoimentos produzidos, uma vez que

os

pesquisadores

externos saberão de antemão que tipo de preocupação rege a realização das entre

vistas e que

tipo

de entrevistados poderão encontrar

no

acervo. Se, ao contrário,

um programa produzir suas entrevistas sem s preocupar em manter

um

mínimo

de coerência

na

escolha dos entrevistados ao longo dos anos e

na

formulação das

questões que o rientam as atividades, o resultado pode ser pouco operacional para

fins de consulta, uma vez que se terá blocos de entrevista sem relação entre si e com

um tema principal, tornando-sedifícil identificar o que, afinal, orienta aquele acervo

e que universo de atores

e/ou

testemunhas ele abarca.

Por

outro

lado, o estabelecimento

do

tema continente também deve levar em

conta o tipo de demanda dos usuários em potencial, tendo em vista

as

linhas de

acervo adotadas em outras instituições, como arquivos, bibliotecas e universida

des. É importante verificar se o tema co ntinente realmente contribui para o de-

M NU

L DE HISTÓRI  OK L

senvolvimento da pesquisa histórica e de ciências humanas

documentos produzidos fornece a possibilidade de investim

da não cobert

os

po r outros acervos, ou se, ao contrário, o te

do resultará apenas em uma duplicação de fontes já dispon

Note-se entã o que o tema continente, além de viabiliz

pio permanente do programa,

uma

vez que pode ser desdo

temas correlato

s

também diz respeito à linha de acervo que

tocando assim em outra especificidade básica

do

projeto de

contexto de

um

programa

de

história oral, qual seja, o ob

púb lico de pesquisadores. Pode-se dizer que este objet

iv

o e

prazo são os dois fatores primordiais qu e diferenciam o pro

programa daquele formulado em caráter não institucional

Ora, a preocupação

com

o público deve ser incorpora d

je

to

de implantação de um programa de história oral e r

parcial que for elaborado ao longo dos anos. É preciso ter

tivos

do

programa é o de abrir seu acervo à consulta de p

que precisam ser informados sobre quem é o entrevistado e

entrevista. É por essa razão qu e a entrevista deve contemp

entrevistado- se não toda, pelo menos a parte da biograf

car melhor quem fala e de que ponto s de vista (como já foi

socialização e formação, por exemplo).

Se o objetivo de constituir um acervo para

ser

aberto à

formulação das qu estões a serem investigadas e nos proce

das entrevistas, sua influência é ainda maior no planejame

segue à gravação de cada depoimento. Isso porque é eviden

a entrevista seja preservada, além de tratada antes de ser li

preciso que o programa estabeleça as normas de tratame

mentos de auxílio à consulta e, principalmente , providenc

depoimento, sem a qual a entrevista permanece fechada ao

O trabalho da fase posterior à realização das en

tr

evista

a parte III deste Manual deve constar do projeto de pesqu

história oral, pois incide diretamente sobre o planejamento

cursos humanos, do

material necessário,do orçamento e do

to de formulação

do

projeto que se deve fixar que

pro

ce

d

na preservação do acervo e em sua abertura para consulta

Vejamos agora outros dois conju ntos de preocupações

rados na implantação d e programas de história oral: a equi

pamento necessário ao desenvolvimento

do

projeto.

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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  FORMAÇÃO D EQUIPE

O número e a especialidade dos profissionais que formam a

ma dependem diretamente das diretrizes fixadas no projet

Eles

devem levar

em

conta a linha de acervo os procediment

vação e no trat amen to das entrevistas os resultados espera

cursos financeiros de que dispõe a instituição.

2 1 esctuisadores

Um programa de história oral não funciona sem um equ

responsável pelo estudo das fontes primárias e secundárias

investigação pela elaboração do roteiro geral de entrevistas

lização das entrevistas por parte

do

tratamento dos depoim

análise do material produzido com vistas à produção de do

que sistematizem os resultados obtidos com a pesquisa.

Assim o primeiro passo de constituição

d

equipe de

um

de providenciar a contratação dos pesquisadores. Os critéri

passar pela competência e seriedade dos profissionais  deve

áreas de interesse e especialidades.

em

função dos objet

abordagem do objeto de estudo que tais critérios podem s

exemplo determ inado programa se volta para o estudo

d

de um região específica tendo como interesse primordial s

mação econômica d região é importante que conte em su

sadores especializados em história econômica. A formação d

cionados  portanto deve coincidir com os propósitos do est

Como entretanto os objetivos de

um

programa ultrap

única pesquisa já que seus resultados serão socializados entre

consultarem o acervo convém também incorporar à equipe

rentes especialidades de

modo

a abarcar n produção das en

diversificado de questões e abordagens. Assim ao lado do e

econômica mencionado no exemplo pode ser conveniente co

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44

VE

RENA 1\l BERTI

res especializados em história política

ou

em ciência política, para procurar enten

der as articulações entre as empresas e a política local e nacional; com pesquisado

re

s da área de história social ou de sociologia, para estudar

as

t

ra

nsf

or

mações en

gendradas pelo funcionamento das empresas,ou aindac

om

pesquisadores voltados

para a história das mentalidades

ou

a antropologia, para apreender possíveis

mu

danças nas concepções de m

und

o geradas pelo crescimento econômico. Mesmo

que não s

ej

a

poss

ível incorporar

à

equipe pesso

as

e

fe

tivamente especializadas em

di

fe

rentes áreas

do

conhecimento, convém considerar a relativa diversidade de inte

resses como fator positivo para o desenvolvimento dos trabalhos.

Convém procurar selecionar os pesquisadores de um programa entre aqueles

que possam se adequar à metodologia de história oral, identificando-se com a abor

dagem qualitativa, e, principalmente, entre aqueles que possam desempenhar a

contento a função de entrevist adores sobre o papel

do

entrevistador

numa

entre

vista de história oral, ver

parte

II). É muito importante que o pesquisador seja

capaz de sustentar

um

diálogo franco e aberto com o entrevistado, respeitando

  o

enquanto diferente e contribuindo

para

que seja produzido um depoimento de

alta qualidade.

Observados essescritérios qualitativos de seleção, vejamos agora qua ntos pes

quisadores são necessários para que se constitua

uma

equipe. O trabalho de

um

programa de história oral é fundamentalmente um trabalho de equipe. Ele exige,

como se verá adiante, constantes decisões

em

conjunto, a serem tomadas em todas

as etapas e conforme surjam problemas específicos e não são poucos

s

casos

que fogem

à

regra, pois trata-se de

uma

metodologia que depende fundamental

mente da relação com os entrevistados. Assim, é necessário que os membros da

equipe estejam integrados entre si e com o projeto de pesquisa e que discutam

periodicamente o andamento das atividades. Para estabelecer seu número,

é

preci

so considerar que os pesquisadores geralmente trabalham em dupla quando estão

engajados na preparação e na realização de uma entrevista sobre a conveniência

desse número, ver parte Il), e que cada entrevista pode se prolongar

por

muitas

semanas, especialmente

no

caso das de históriade vida. Durante esse período, cada

dupla de pesquisadores estará preparandoe realizando sessões

de

entrevista perió

dicas,

uma

ou duas vezes

por

semana.

Ora, o investimento exigido pelas entrevistas sempre ultrapassa o núme ro de

horas despendido em sua gravação: é necessário preparar cuidadosamente cada

sessão, elaborando os roteiros parciais; reservar pelo menos o quíntuplo

do

tempo

de gravação para a elaboração dos instrumentos de auxílio

à

consulta e as tarefas

MI\N Ur

l

DE

HISTÓRIA

ORr\l

de processamento da entrevista ver parte Ill) , além de pre

gasta uma manhã ou tarde inteiras para a gravação de uma

car-se até o local da entrevista, empreender

uma

conversa

equipamento, reservar espaço para as interrupções etc.). Ass

estenda,

por

exemplo, por duas horas de gravação, na verdad

dores mais de dez horas de dedicação, entre sua preparação

tratamento. claro

que

tal estimativa não tem

nenhum

car

tão-somente para deixar claro que o investimento

do

pesquis

mente a duração de uma entrevista.

Além disso,

é

preciso considerar que o trabalho realizad

visível e sofre atrasos significativos, em função de tentativas

entrevistados,

da

necessidade de recorrer a outros, quando o

tos estão impossibilitados de

dar

entrevistas, ou ainda

do

ca

vistas por parte

do

entrevistado. Pode acontecer, por exemp

por várias semanas

um

depoimento em decorrência de

um

viagem

do

entrevistado.

Em função

do

volume de investimento necessário à ativ

entrevistas, não convém que

um

pesquisador se ocupe de m

semana. Assim, cada dupla pode,

no

limite, se ocupar de trê

taneamente, se cada

um

deles

es

tiver fornecendo seu depo

semana.

que se considerarainda que, durante a realização d

deve se reunir periodica mente para trocar informações e ava

trabalhos. Desse modo, se

uma

dupla estiver engajada em trê

taneamente, realizando entrevistas, digamos, às segundas, q

nos outros dias estará ocupada

com

as atividades de prepa

com as discussões,

na

equipe, de avaliação

do

trabalho.

Isso tudo serve de pano

de fundo

no

momento

de

estabe

sadores serão necessários à execução dos trabalhos. Consid

recursos financeiros e o número de horas gravadas que se

possível chegar a

um

número de pesquisadores satisfatório, q

do

trabalho.

á

que o trabalho de

um

programa de história oral req

uma

equipe de pesquisadores que avalie constantemente os

e discuta as questões da pesquisa, e

que as entrevistas s

realizadas em dupla, segue-se que o núme ro míni mo ideal de

pe

é

de quatr o pesquisadores, que permite a formação de du

tadores e garante a prática de trabalho em grupo.

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46

Vl RC

NA

Al 6f RTI

2.2 Consultores

Para completar a qualificação da equipe de pesquisadores de

um

programa

pode

ser útil recorrer à contratação temporária de outros profissionais, caso haja neces

sidade

de

cobrir áreas de conhecim ento específico.

Suponhamos

por

exemplo, que em determinado projeto se torne necessário

aprofun

dar

os conhecimentos sob re

uma

área que os pesquisadores não dominam:

direito trabalhista, processo de produção de determinada mercadoria, contabilidade,

geologia .. Nesses casos,

pode

ser conveniente contratar

um

especialista

no

assunto

para fins de consultoria, a quem caberá esclarecer os pesquisadores sobre as especifici

dades

da

matéria,

tornando

-os capazes de

cond

uzir

uma en t

revista sobre o assunto.

Eventualmente os consultores podem ser chamados a participar de algumas

entrevistas. Nesse caso, devem estar a par do projeto que orienta a pesquisa e da

especificidadeda metodologia empregada, bem co

mo

ter os atribut os necessários a

um

bom

entrevistadorde história ora

l.

2 3 T

éc

n

ico

de som

Além dos pesquisadores, a equipe de trabalho de um programa de história oral

deve contar com um técnico de som, encarregado da gravação e das tarefas de

duplicação e conservação das míd ias gravadas. Para pesquisas cujos propós itos não

incluem a constituição de um acervo permanente para consulta, nas qua is os de

poimentos de história oral são produzidos para uso exclusivo dos pesquisadores

diretamente envolvidos

no

estudo, é possível prescindir

do

técnico

de

som

uma

vez

que

qualquer pesquisador é capaz de operar um gravador portátil para regis

trar entrevistas. Ent retanto, havendo necessidade de preservar as gravações para

consulta posterior e sendo freqüente o manuseio e o uso das mídias, cabe contar

com

um profissional especializado para cuidar do acervo gravado.

O técnico

de

som além de conhecer o equ ipame nto e ser capaz

de

otimizar os

recursos de que dispõe, deve ter habilidade para organizar o material gravado, or

denando e catalogando o arquivo sonoro a fim de viabilizar sua consulta, bem

como sua utilização no decorrer

do

tratamento das entrevistas.

2 4

E

stag

i

ár

ios

A equipe de um programa de história oral pode ser reforçada pelo trabalho de

estagiários, estudantes de graduação das áreas de história e ciências sociais, ou de

M\NU: l DE BIS

TÓR

IA ORAL

outras disciplinas vinculadas ao tema da pesquisa. Trabalh

o estagiário adquire experiência e se especializa, podendo

com

vistas a ser

incorporado

à equipe tão logo esteja form

sua vez, pode se beneficiar desse tipo de trabalho, designan

que yão desde a participação no levantamento de dados em

para a preparação dos roteiros das entrevistas, passando pe

rios e índices e pela verificação dos dados necessários

à

conf

transcrição, e estendendo-se até a catalogação das entrevist

tarefas devem ser constantemente supervisionada

s.

A qua

estagiários depende, em primeiro lugar, de uma boa seleçã

do

cu idado com seu treinamento inicial. Assim, cabe aos p

veis promover a int egração do estagiário com a pesquisa

projeto,

do método

utilizado da prá tica de trabalho, e

resultados de suas primeiras tarefas, para que possa apre

efet

iv

amente deve proceder. Uma vez bem treinado, a equip

confiança

em

seu trabalho, e o estagiário passa a s tornar

para o andamento da pesquisa.

2 5 rofissionais envolvidos no

processamen

to da

Cha mamos de processamentoda

en t

revista o conjunto

de

e

sagem do depoimento da

fo rm

a oral para a escrita a esse

Não há dúvida de

que

a consulta ao documento

na

forma

dificuldade do que a audição de sua gravação: a leitura tran

mais fácil para o pesquisador selecionar

os

trechos que lhe

a gravação de um depoimento nem sempre

é

clara e audíve

de compreensão, principalmente

quando

são enunciados

nhecidos

do

pesquisador. Por

outro

lado, a transcrição de

um

além de altos custos financeiros, uma série de problemas n

mação do discurso oral em discurso escrito. Se o usuário

do

ressado nos pormenores da fala do ent revistado - como

núncia, titubeações etc. - melhor que consulte a gravaç

Como ambas as formas de consulta apresentam aspect

ráveis, a decisão acerca

da

passagem do documento da fo

deve ser tomada em função dos propósitos e possibilidades

meiros 15 anos de

atividades do Programa

de

História Ora

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48

VERENr\ r\LBERTI

pio, todas as entrevistas liberadas eram abertas à consulta na forma de texto, pas

sando pelas etapas de transcrição, conferência da transcrição e copidesque, mas

devido aos altos custos e

às

necessidades de tempo e pessoal disponível para

as

tarefas, nos anos 1990 passamos a transcrever apenas uma parte das entrevistas,

disponibilizando as demais em áudio ou vídeo o usuário do programa consulta

diretamente a gravação).

A passagem das entrevistasda forma oral para a escrita implica contratar pro

fissionais habilitados para as tarefas de tr nscrição propriamente dita e de copidesque

das ent revistas, atividades que serão aprofundadas na parte III.

É

convenienteque

esses integrantes da equipe tenham, além do domínio da língua, algumas noções

do tema pesquisado, porque o conhecimento dos assuntos tratados e das designa

ções utilizadas durante as entrevistas pode auxiliá -los a desincumbirem-se de suas

tarefas.

Como

a transcrição e o copidesque são feitos diretamente

no

computador,

é necessário que os profissionais dominem também o processador de texto em

geral Word) utilizado pelo programa.

O número desses profissionais varia em função da extensão do projeto, ou,

mais especificamente, em função das horas de fitas gravadas e do prazo de realiza

ção da pesquisa:

quanto

mais

curto

esse prazo e quanto mais horas gravadas, maior

o número de tra nscritores e copidesques necessários para o cumprimento desse

trabalho. Sua seleção pode ser feita por meio de testes, explicando-lhes previamen

te como se espera seja empreendida a tarefa. Assim, ao candidato a transcritor

poderá ser sugerido que transcreva

um

trecho de entrevista, enquanto o candidato

a copidesque poderá ser solicitado a trabalhar sobre algumas laudas de um trecho

já transcrito.

2 6 ditores especializados

A constituição e a preservação de

um

acervo de entrevistas, sua análise e sua aber

tura para consulta são as principais metas de um programa de história oral. Muitos

projetos podem ter també m como objetivo a publicação das entrevistas gravadas,

o que permite atingir um público bem mais amplo do que aquele que se dirige ao

programa para consultar os depoimentos.

Como as entrevistas muitas vezes contêm trechos repetidos e não obedecem a

uma ordem temática

ou

cronológica o entrevistado pode pular de assunto, reto

mar em sessões posteriores um assunto já tratado etc.), a publicação do material

tal qual foi gravado pode tornar o texto desapropriado para leitura. É possível

M NU L O ISTÓRI  OR L

recorrer então a editores

especializados-

seja editores de

vista for publicada em livro, seja editores de imagens, quand

nada pública em vídeo, por exemplo. O editor ordena a ent

uma seqüência temporal e/ou temática, retira repetições, re

de um mesmo assunto, divide o material em capítulos etc

uma pessoa hábil em suas tarefas, que domine o português

os equipamentos e as possibilidades de uma ilha de edição)

ções e a fala do entrevistado. O editor dificilmente trabalha

cesso

de

edição de entrevistas exige o envolvimento permane

estagiários, na revisão do texto, na elaboração de notas e de

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3 O EQUIPAMENTO

Para implantar

um

programa ou proceder a

uma

pesquisa

so, evidentemente, contar com um equipamento de gravaç

e/ou vídeo, cuja sofisticação dependerá, como sempre, do

Tomemos como exemplos dois casos extremos: o primeir

de algumas entrevistas de história oral como forma de com

o material levantado durante uma pesquisa, e o segundo,

vo permanent e de entrevistas de história oral, a ser consu

de diversas áreas. O material necessário para cada um dos

da variação dos objetivos específicos. No primeiro caso,

preender seu trabalho contando apenas com um bom gr

fitas virgens, talvez um microfone e um fone de ouvido, e

um micro system com dois gravadores cassete, por exem

fitas gravadas como medida de segurança. No segundo cas

rios equipamentos de gravação portát eis e alguns de maio

amplificadores e mixers, fones de ouvido e microfones, e

para arquivar os áudios e vídeos e computadores para pro

vos em texto, em áudio e em vídeo, se for o caso, e eventua

de dados. Evidentemente, pode haver situações intermedi

pamento sempre será condicionada pelos propósitos do t

3 l Trajetória de

um depoimento

gr v do

Vejamos, em primeiro lugar,

as

etapas técnicas a serem cu

vação de uma entrevista, no contexto de um programa de

de sua complexidade e precisão, inclusive diante do volum

conveniente que sejam desempenhadas por

um

profission

co de som

e/ou

vídeo.

Uma entrevista pode ser gravada em fitas magnéticas

sete), em fitas magnéticas digitais fitas DAT

digital audio

minidiscs, CD-R, discos rígidos), em vídeos analógicos V

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52 VERENA ALBERT I

vídeos digitais, por exemplo. Se for realizada fora d as instalações do programa, na

casa do entrevistado ou em seu local

de

trabalho, digamos,

é

preferível proceder a

seu registro em equipamentos portáteis, mais fáceis de serem transportados e ins

talados. Se for gravada nas instalações do programa, pode-se usar equipamento de

maior porte. De qua lquer forma, logo após a realização de

uma

entrevista, cabe ao

técnico de som duplicá-la, de preferência em suporte diferente do que foi usado na

gravação original. Os dois suportes devem ser arquivados

em

locais diferentes, dis

tantes entre si, para que não corram os mesmos riscos, mantidos sob temperatura

constante e

umidade

controlada.

Podemos

dividir os dois conjuntos de suportes da seguinte forma: um sedes

tina à preservação do acervo, enquanto o outro se destina ao uso, ao acesso seja

porque será ouvido/visto para ser tratado e processado, seja porque será disponibi

lizado para consulta.

A

manutenção do

acervo

de

segurança é importantíssima na prática de

um

programa. Digamos, por exemplo, que uma fita cassete se parta durante o trabalho

de conferência

de

fidelidade ou

então

que o transcritor a perca no caminho para

casa. A existência de

uma

cópia de segurança arquivada

no

programa impede a

perda irremediável do documento, pois haverá sempre a possibilidade de duplicá-la

para

viabilizar o

tratamento da

entrevista e sua consulta.

Imaginemos um exemplo: o programa realiza uma série de entrevistas com

José

de

Sousa. A

primeir

a sessão

de ent

revista

é

gravada

em

fita cassete

e

tem duas

horas de duração, totalizando duas fitas. Escrevem-se, nas fitas magnéticas e em

suas caixas, os dados daquela entrevista: nome do entrevistado, data e número da

fita. Em seguida, antes

mesmo

do próximo encontro com José de Sousa, o técnico

de

som

deve copiar a primeira sessão em outro suporte, anotando igualmente os

dados

da entrevista. O m

esmo

procedimento deve ser

adotado após

as demais ses

sões. Suponhamos que a entrevista seja concluída ao final da sétima sessão, e que

todas as sessões tenham transcorrido ao longo de duas horas. Encerrado o traba

lho de

duplicação

da

gravação, teremos

um

total

de

14 fitas cassete e uma quanti

dade

x

do segundo suporte escolhido, todos referindo-se à mesma entrevista. Um

conjunto

será arquivado para garantir a existência

permanente

do acervo e o outro

(as fitas cassete, por exemplo) será utilizado para a elaboração dos instrumentos de

auxílio

à

consulta

sumá

rio

e

índice temático)

e

colocado à disposição

do

público

de

pesquisadores.

Caso a en rrevista seja passada para a forma escrita, o segundo conjunto

ainda

será ouvido sucessivamente pelo transcritor, o encarregado da conferência de fide

lidade e o copidesque. Em virtude de seu uso freqüente, convém que seja arquiva-

MANUAL t tiiSTÓRIA ORAL

do em local acessível

e

segundo uma ordem lógica,

de

mo

possa ser encontrada com facilidade, no meio das demais.

Continuando nosso exemplo, digamos que, após rea

entrevista com José de Sousa, o transcrit

or

já se encarreg

gravações em fitas cassete, antes mesmo de concluída a en

Este procedimento permite que a realização

de

entrevist

constituam tarefas quase concomitantes. Em seguida, devo

ro

as

quatro

fitas cassete

e

o material transcrito correspon

sessões de entrevista, o transcritor já pode requisitar as g

quanto um dos entrevistadorescomeça a conferir a fidelid

tando

as mesmas fitas.

Conforme

decorrem estas

duas

etap

material transcrito e conferido pelo entrevistador já po

copidesqu

e

que, escutando mais uma vez as mesmas fit

final ao texto.

Resumindo-se a trajetória do depoimento gravado, te

Gravação da

entrevista

em

suporte A

Duplicação

da entrevista

em

suporte B

Arquivamento

das entrevistas

no

suporte A

para prcservaçclo

Arquivamento

das entrevistas

no

suporte B

para acesso

3.2 Questão da tecnologia

a

empregar

Esc

ins

- su

- ín

Cas

-es

-es

tr

- e

Es

o

Para cumprir a trajetória antes detalhada, são necessário

gravação e de reprodução de áudio e vídeo. Até meados d

Este item é inédito neste anual de história oral

do

Cpdoc. A no

medida texto que elaborei como parte do projeto integrado de pesqui

História Oral

do

Cpdoc': desenvolvido sob minha coordenação com

de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) entre março

Uma versão resumida

do

texto

foi

apresentada

no

IV

Encontro Na

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

http://slidepdf.com/reader/full/100896336-manual-de-historia-oral 29/120

54

VtKtNA

A

ll li RTI

muita

dúvida com relação ao equipamento a ser empregado

em um

programa de

histó ria oral. O mais recomendado era consti

tuir um

acervo em fitas cassete e de

rolo, arquivadas em locais separados, sendo que as de rolo geralmente funciona

vam

como

o acervo de segurança.

Hoje em dia há muitas dúvidas sobre as técnicas de conservação e arquiva

mento: qual o

melhor

suporte para se grava r as entrevistas e

como

evitar sua dete

rioração e obsolescência?

uma

especificidadeem relação às fontes orais,

comumente

evocada na lite

ratura

sobre o assunto,

que

torna sua conservação particularmentedifícil.

Ao con-

trário das fontes textuais ou mesmo iconográficas sobre suporte de papel, as fontes

orais e audiovisuais não

podem

ser consultadas sem a intermediação de um equi

pamento.Assim, além de nos preocuparmos com a longevidade

do

suporte sobre o

qual gravamos nossas entrevistas, temos de estar sempre atentos

à

disponibilidade

de aparelhos

que

reproduzam o

som

gravado naquele suporte.

2

Essa questão se tornou particularmente dramática nos últimos anos, diante da

velocidade com

que

tecnologias e equipamentos vão se

tornando

ultrapassados.

Os formatos de vídeo Umatic e Betamax

estão obsoletos. A cada ano surgem

novidades,

como

a fita

DAT

-áudio, o DVD

(digital video disc ,

o minidisc.

.

No Cpdoc, o acervo de segurança de entrevistas de história oral está todo gra

vado em fitas de rolo, em perfeito estado de conservação, pronto para ser reprodu

zido

ou

regravado

quando

necessário, mas o gravador de rolo,

comum nos

anos

espaço plural , realizado

em Recife 

Universidade Federal

de

Pernambuco,

de 11

a

14 de

novembro

de

1997, e

publicada

em

História oral: um espaço plural.

Org. por Antonio Torres Montenegro

Tania Maria Fernandes (Recife, Universitária, UFPE, 200

I,

p.

31-41

).

Outra

versão,

contendo

novas

informações técnicas,

foi

apresentada

no

XI Congresso Internacional

de

História Oral, realizado

em

Istambul, Turquia, em

junho

de

2000, sob

o título

How

to deal with

sound

archives? Ditem mas

on

the technical prescrvation

of

oral history intcrvicws':

e

publicada em

Historia, Antropología

y

Fuentes Orales,

sob

o título

tCómo

abordar el problema de los archivos sonoros? Dilemas sobre la

conscrvación técnica

de

las entrevistas (Barcelona, Publicacions Universitat de Barcelona, n.

24,

ano

2000, 2

Época, p.

113-119).

A presente versão incorpora os resultados das pesquisas que realizei

sobre o assunto até a elaboração dos originais deste livro. t preciso considerar, contudo, que em

matéria dessa natureza poucos meses já bastam para que as í1ltimas recomenda ções técnicas

se

tornem obsoletas.

2

É

claro que,

no

caso de documentos mi crofilmados, necessitamos. para a consulta, da intermedia

ção de

uma

leitora de microfilme. Mas esse equipame

nt

o, que basicamente não

mudou

de formato

desde seu aparecimento, não está tão s uscetível às mutações do mercado quanto os equipamentos

de

gravação audiovisual.

Ver,

a esse respeito,

Van

llogart, John W. C.

Magnetic tape storage

a11d

handli11g. A guid e

for

libraries a11d archives. Washington St. Paul,

Th

c Co

mm

iss ion

on

Preservation

and Acccss National Media Laboratory, Junc 1995. p. I.

MANUAl

l HI

HÓKIA

OI AL

] 970 e 1980, desapareceu

do

mercado. De

qu

e adianta,

po

is

porte se co rremos o risco de, em pouco tempo, não conse

que foi gravado?

Co

mo lidar com o risco de obsolescência dos equ ipam

de gravação? Pela própria natureza da questão, não há solu

qüilizadoras. O

que

devemos fazer, em

um

primeiro

mome

as informações gravadas continuem em condições de ser r

caso, regravadas

em

formatos mais novos, antes

que

os for

nem

obsoletos.

3.2. 1

Um

pouco de história

da

técnica

Os profissionais que trabalham com história oral geralme

nhecimento das técnicas de gravação sonora e audiovisual

mente,

do

conhecimento indispensável ao manuseio do gr

sabemos, por exemplo, que, desde 1890 até meados dos an

folcloristas, etnomusicólog os e lingüistas utilizavam os cili

registros fonográficos de campo e que hoje em dia ainda ex

documentos de pesquisa nesse formato

em

todo o

mundo

fei t

os

de

uma

mistura de diferentes ceras e sua superfície re

bava sendo alterada a cada reprodução. Apesar disso, graças

regravação, é possível pass ar

para

formatos

moderno

s infor

formato histórico, recuperando dados que de

outro modo

mente

perdidos.

Em

1995,

por

exemplo, o Arquivo Fonográ

graças ao desenvolvimento dessas técnicas de re-recording,

do

Arquivo Nacional da Eslováquia.

4

Depois

dos

cilindros de cera, a história das técnicas

registra o gramofone, que reproduz sons gravados em disco

gravação impossível de

transportar

para as pesquisas de c

foi

em

pregado

no

registro de gravações de estúdio. Calcula

da existam cerca de dez milhões de discos de laca e três milhõ

em que

foram registradas gravações da indústria fonográf

3

Cf. Schüller, Dietrich. Audio-

und

Videomaterialien ais wissenschaftli

Verfügbarkeit':

Mitt

eil

rm

gen der Arrthropologischw Gesellschaft in Wien

1995/96, p. I03.

4

lbid

.

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56

VER

E

NA

ALBlRTI

radiodifusão, com

uma

pequena porcentagem para as gravações

de

instituições

científicas. Desde o fim dos anos 1940, os d iscos de vinil, muito mais estáveis e

resistentes, passaram a

dominar

a in dústria fonográfica, mas é

muito

raro

que

te

nham sido usados como suportes de infor mações de pesquisas científicas.

5

A invenção da técnica de gravação em fita magnética representou uma verda

deira revolução na constituição de fontes

ora

is. Surgida

em

meados dos

an

os 1930

na Alemanha, a fita magn

ét

ica teve uso restrito até o fim da Segunda Guerra Mun

dial,

quando

foi adotada com sucesso nos Estados Unidos, na

produção

de shows

de rádio. No âmbito da pesquisa científica, ela teve sua verdadeira difusão a partir

dos

anos

1950,

com

o desenvolvimento dos aparelhos

de

gravação portáteis, mas

registros de que já em 1937 o lnst

itu

to de Pesquisa Musical Alemão de Berlim

gravava informações em fitas magnéticas.

6

Um dado important

e na difusão dessa técnica

de

gravação foi o fato

de

os

gravadores portáteis passarem a ser alimentados a pilha, libertando o pesquisador

da

dependência do fornecimento

de

energia elétrica. A partir

de

então, a possibili

dade

de

se fazerem registros

sonoros de boa

qualidade, em

todo

o lugar e

de modo

não

muito

caro, fez com que a

pe

squisa sonora se estabelecesse em praticamente

todas as disciplinas. Disso resultou

um

cresci

mento enorme de

material produzi

do, exigindo que arquivos, instituições de pesquisa e universidades se adaptassem

às novas exigências

de

conservação e arm azen

amen

to.

Para complexificar

ainda

mais os desafios

com

que se

deparam

arquivistas e

profissionais preocupados com a conservação

de

fontes audiovisuais, o registro

eletrônico

de

imagens em fita magnética, isto é, o videocassete, veio

ampliar

o vo

lume de material produzido

na

pesquisa

son

ora. As primeiras gravações em vídeo

foram feitas em estúdios em 1956, e logo no início elas

não

tiveram maior signifi

cado na constituição

de

fontes

de

pesquisa. Novamente foi a invenção

da

câmera

portátil

que difundiu

o uso do vídeo para o registro de informação audiovisual. E

aqui temos

um

problema

ainda

mais sério do

que no

caso das técnicas

de

gravação

em áudio, porque os formatos de vídeo c os aparelhos necessários à gravação e à

reprodução são cada vez mais

comp

lexos e mudam

com

uma velocidade assusta

dora. Esse é, afinal, o principal paradoxo

da

modernização tecnológica:

enquanto

os discos fonográficos permaneceram no mercado cerca

de

50 anos, os primeiros

formatos

de

gravação

em

vídeo se

torn

a

ram

obsoletos

em

dez anos. Além disso, se

hoje podemos. reconstruir, ainda que de modo oneroso, um aparelho de

reprodu

-

s Cf. Schüller, Dietrich, op. cit. p. 104.

/bid.

M NU L E HISTÓRIA ORAL

ção do cilindro Edison, isso se torna inviável para um apa

obsoleto, uma vez

que

não se fabricam

ma

is as peças

de

re

3

 2 2

Analó8ico ou di8ital?

Quando

se fala

em

digitalização

de

arquivos

sono

ros e

aud

diversas possibilidades a serem levadas em conta: existem

discos ót icos

que podem

ser gravados, os discos rígidos do

da sistemas

de armazenamento

digital de massa.

Segundo os especialistas, a

grande

vantagem do arquiv

dade

de

reprodução

do

som. Na gravação, os sinais

de

áudi

formados em dígitos O ou 1), que reproduzem a intensid

uma

amostragem. No

momento

da leitura, os dígitos são f

dos outros ruídos como os ruídos inerentes à fita e ao di

cos etc.) e apenas eles

são

reproduzidos. Por esse process

podem

ser feitas

sem nenhuma perda de

qualidade. No caso

ao contrário, os ruídos

da

fita e eletrônicos são registrados j

original, que,

ao

ser copiada, torna-se

menos

nítida do

que

A principal vantagem que deve apresentar um novo

tr

adicionais

fitas

magnéticas de gra

v

ação

analógica é, s

sua po

ssível longevidade.

É

claro

que

s

abemo

s

pouco

ai

nd

logias digitais

de armazenamento-

alguns

suportes

pode

não

- , mas

uma

informação

não podemos

deixar de bus

difusão daquele suporte em diversas regiões e instituições

nos salvaguardar quanto a possíveis passagens para s

uport

Essa parece ser

uma

das razões pelas quais as fitas

DAT

mendadas para a constituição

de

acervos. Elas

têm

uso resid

nas instituições

de

radiodifusão, vêm sendo utilizadas mais

gravação do que como sistema de edição. Seu uso é exclus

como

não

um

mercado consumidor, os fabricant

es podem

em

breve.

8

Este já não seria o caso

do

CO-R,

compa

tível c

Van

Bogart,

op

cit. p.

9.

8

Ver

noticia

de

Alan Ward,

do The

British Library National Sound Arc

Symposi

um

)TS), que teve lugar em Paris

em

janeiro de 2000. O )T

técnico organizado pela primeira vez

em

Estocolmo

19

83) c

em

seguid

1990) e Lon

dr

es 1995). A notícia foi publicada

no lnformntion Bullet

tion

of

Sound and

Audiovisual Archives

IA

SA)

n. 33, maio 2000).

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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58 VCRf.NA Alli( RTI

áudio. Como existem (pelo

menos

atualme

nte

) milhões

de

equipamentos

de

repro

dução de CD no mundo, quando esse formato for substituído, haverá tempo para

que os arquivos sonoros em CD possam ser transferidos para novos formatos.

O problema

do CD

parece ser, entretanto, a própria mídia, fabricada em gran

de quantidade e de forma pouco estável - problema que a fita DAT de uso majo

ritariamente profissional, parece não sofrer. Alguns autores

têm

chamado a aten

ção para as diferenças entre estoques de CO-R mesmo quando são comprados os

de

mesma marca e tipo. Por causa dessa inconstância, é necessário sempre fazer

testes para certificar-se

de que

o

suporte

está livre

de

erros, antes

de

proceder

à

gravação. Além disso, é preciso atentar para o fato de o CD requerer todos os cui

dados de limpeza dispensados a outros suportes, ao contrário do que parece ter

sido veiculado como propaganda quando de seu lançamento no mercado. Devem

ser evitados arranhões, poeira

ou

outros danos, tanto em

sua camada de

verniz

quanto no lado inferior, a fim de que o raio l ser possa ler sem problemas a infor

mação nele contida.

9

Uma

questão que parece não estar ainda totalmente esclarecida diz respeito à

durabilidade das informações digitalizadas. Não se trata aqui de discutir a longevi

dade do suporte (as fitas DATou os discos óticos), mas

de

nos

perguntarmos

por

quanto tempo um supor te dessesconserva registradasas gravações nele digitalizadas.

O relatório do programa da Unesco Memory of the World,

de

1995, é bastante

claro

quanto

a isso:

receios

de que

acervos digitalizados possam requerer fre

qüentes cópias, com os conseqüentes custos de t rabalho, energia e de novos supor

tes. Receia-se que haja uma vida garantida de apenas dois a três

anos

para informa

ções digitalizadas armazenadas em fitas magné ticas, e de três a cinco anos para

discos óticos."

10

Van Bogart também chama a atenção para o risco de perda das

informações gravadas

em

formatos digitais. Segund o ele, a vantagem da gravação

analógica é o fato de sua deterioração ser gradual e discernível,permitindo regravar

a fita antes que ela atinja um nível

de

degradação irreversível.

á

no caso

da

grava

ção digital, a deterioração na qualidade é quase imperceptível até o

momento

da

perda catastrófica, quando longas seções da informação gravada estarão completa-

Schüller,

op.

cit., p. 108, e Schüller, Dietrich. "Preservation of audio and video materiais in tropical

countries·:

/ASA journal.

lnternational Association

of

Sound and Audiovisual Archives. n. 7, May

1996,

p.

35-45,

p.

43. O

mesmo cuidado

se aplica, di z Schüller,

ao

digital video disc

(DVD).

que

funciona

segundo

p

mesmo

princípio e arm azena uma

quantidade ainda maior

de dados.

1

Memory o the World.

General Cuide/ines to S

afeg

uard Doc

um

entary Heritage.

Paris, Unesco, 1995.

Especialmente Apêndice D: "Technica1 aspcc ts o f

pr

eservation - recommcndations of the Sub

Committce on Technology·: p . 52-70, p. 56.

MANUAL 0 [ HISl ÓRIA ORA l.

mente perdidas.

 

George Boston, secretáriodo subcomitê p

grama da Unesco, considera, entretanto , que é possível mon

a qualidade da s gravações digitalizadas, as quais podem ser r

mas de correção antes de se tornarem irremediave lmente p

mos de ixar de observar que até os especialistas divergem em

para a decisão sobre a conversão de formatos.

A incerteza quanto

à

estabilidade do suporte e

qu

anto

à

ra de aparelhos e softwares capazes de ler a informação dig

principal preocupação

de

Frank Rainer Huck, em artigo p

Associação Internacional de Arquivos Sonoros e Audiovisua

ciation

of

Sound and Audiovisual Archives, IASA ).

 3

Huc

para informações guardadas em programas de texto é neces

manente de conversão e nova formatação, sempre que sur

software, ou ainda novos formatos de disquete (como é o c

que raríssimos computadores ainda conseguem ler). Se esse

simples

programas de

texto, imagine-se com documentos

s

Decidir-se pela digitalização de arquivos sonoros implica, se

risco de ter de convertê-los permanentemente para novos fo

Há autores que defendem o emprego de sistemas de a

em massa

digital mass

stor ge

systems),

que corrigem autom

erros

que

levem

à

perda das informações digitalizadas e

não

tornar obsoletos, uma vez que prescindem de mídia espe

minidisc etc.).

14

No caso de discos óticos, por exemplo, a inte

se produzir prontuários de erros. Se o índice de erros cresc

uma cópia enquanto o original ainda puder ser lido. Esse p

pensável nos sistemas de

armazenamento

de massa, que efe

piam,

quando

necessário, automaticamente. Entretanto, par

culdades na montagem de sistemas desse tipo.

1

s

11

Van Bogart,

op. cit.,

p. 9.

12

Informação constante de fax de 20/10/1996.

3

Huck, Frank Rainer.

Der

ewige Datensatz'oder: lõst Digitalisierung wirk

IASA /ou

mal

lnternational Association o Sound

and

Audiovisual Archives

14

Ha

e

fn

e

r

Albrecht.

Digitisation- the

devil's work

or

brneftcia

lt

oo l? A

Hu

ck's article,

IASA

Journal n. 11':

/ASA joumal.

n. 12 , January 1999,

]oumal,

n. 13, July 1999,

p.

4).

15

Ver notíc

ia

de Allan Ward, citada na no ta 12 .

M NU  LOE HI

ST

ÓRI OR  L

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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60

VEREN LBERTI

Vale registrar também a recomendação dos autores sobre a compressão de

arquivos de som e/ou imagem digitalizados. Segundo Schüller, há

um

consenso

em torno dessa questão: para a conservação de material científico e cultural, não

deve ser usado o processo de compressão, porque ele prejudica a qualidade das

reproduções futuras dos sinais gravados. Disso resulta uma necessidade gigantesca

de memória para guardar arquivos sonoros e audiovisuaisdigitalizados, sem com

primi-los evidentemente.

6

Mas talvez seja um alento saber que a cada ano se mul

tiplica por dois, no mínimo, a quantidade de dados que po de ser armazenada pelo

mesmo preço que no ano anterior. Guardar arquivos não comprimidos tornar-se

á, portanto, cada vez menos oneroso.

Se o arquivo usado para a preservação da gravação deve ser gerado em forma

to não comprimido (como é o caso do formato wave, ou .wav,

por

exemplo), o

mesmo não se aplica às gravações destinadas ao tratamento das entrevistas, à di

vulgação e à consulta do acervo de documentos sonoros. Neste caso, podem ser

usados formatos comprimidos (como mp3, por exemplo), mais rápidos de copiar

e de transmitir. Para duplicar uma gravação de 60 minutos

em

fita analógica, é

necessário contar com pelo menos 60 minu tos de trabalho de um técnico de som.

a gravação digital pode ser transformada em arquivo digital, passível de ser co

piado ou acessado via Internet em poucos segundos. A escolha do formato deve

levar em conta também a disponibilidade de aparelhos para a escuta da parte de

transcritores e usuários

do

programa. De nada adianta,

por

exemplo, duplicar a

entrevista exclusivamente em formato comprimido se o transcritor, terceirizado,

só possuir um gravador cassete para ouvi-la.

Vimos que os especialistas

não

são unânimes quanto à tecnologia de gravação

a utilizar. Tentemos organizar os argumentos. Contra a gravação digital destaca-se

a incerteza quanto à longevidade do suporte, da informação gravada e da tecnologia

empregada.

Esse

é o principal obstáculo e, certamente, o pior de todos, por que não

há perspectiva de certeza nessa área: nunca saberemos por qu anto tem po a tecnologia

e o suporte irão existir. Tanto é assim que a maioria dos autores - inclusive o

comitê técnico da IASA

17

-recomenda

conservar os arquivos analógicos origi

nais após a migração para o formato digital.

a favor da gravação digital há o argumento da qualidade das cópias e, princi

palmente, o fato de

as

tecnologias digitais serem

uma

alternat iva efetiva aos procedi

mentos de gravação analógicos, que parecem estar condenados ao desaparecimento.

6

Schüller, 1995/96, p.

111

7

Ver Huck, op cir., p 14

Fatores financeiros são também importantes na defini

da tecnologia a empregar. Quando as tecnologias digitais su

investimento em equipamentos de gravação e reprodução

para centros de pesquisa, universidades e arquivos científi

tempo, contudo, os bons equipamentos de gravação analóg

vez mais raros e, conseqüentemente, mais caros. Mesmo q

disponíveis, qual instituição

vai

querer investir em um equ

risco de se tornar obsoleto em alguns anos? E isso vale ta

gravadores de rolo,

por

exemplo, quant o para a opção pel

realidade, que at inge arquivos audiovisuais em praticament

apenas no Brasil, é que universidades, instituições de pesqui

não têm dinheiro para investir

em

grandes transformações,

se tornar obsoletas em pouco tempo. De que adianta, por

durar cem anos, co mo prevêem algumas estimativas, se, em

ca de sua leitura se revelar obsoleta?

Finalmente, é preciso não perder de vista que, mesmo q

sagem das gravações analógicas para formatos digitais, mui

procedimento será precedido de seleção do material a ser co

sa feita em 1996 junto a 21 arquivos de rádio existentes no m

guardam cerca de 2,5 milhões de horas gravadas em fitas an

essas instituições decidissem converter simul taneamen te seus

para digitais, necessitariam, cada uma, de quase

118

mil h

média de oito horas de trabalho por dia, levaria cerca de 40 a

esses, é muito difícil que a totalidade dos arquivos seja di

porque novas tecnologias e formatos surgirão nesse espaço

O alto grau de incerteza, aliado à correta convicção de

próximo as instituições de arquivo terão de tomar alguma

seus acervos sonoros e audiovisuais, faz com que um invest

nável e imprescindível nesse contexto: a obtenção de inform

Pesquisadores que lidam com a metodologia da histór

campo de trabalho está vinculado à modernização das soc

história se diversificaram e passaram a incorporar, ao lado

18

Ver Holst, Per "Digita l mass storage systems in radio

sound

archives

/ourna/ International Association

of

Sound and Audiovisual Archives. n

19

Ver

Huck,

op

cit., p. 14. O cálculo

é

feito considerando-se o trabalho d

como observa Haefner op. cir.).

62 VERENA Al llERTI

M

 

NUI\L E HIS TÓRl

r\

ORt\ l

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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tual, fotografias,

fi

lmes, discos, entrevistas, propagandas etc. Os documentos sono

ros e audiovisuais firmaram sua importânc ia no conjunto

do

"legado

da

humani

dade", e dificilmente irão perder esse estatuto. As informaçõesaudiovisuais desem

penham

um

papel crescente nos campos da comunicação, da documentação cultural

e da pesquisa, fazendo com que o terreno

do

audiovisual se torne indispensável

em

todo país do mundo.

20

Essa difusão e relevância permite que tenhamos alguma dose de otimismo

no

que concerne ao tratament o de nossas fontes orais, porque o tema das tecnologias

de gravação e de conservação de arquivos sonoros audiovisuais provavelmente

nunca deixará de ser atual. Mas isso não basta.

É

preciso que os próprios profissio

nais que trabalham com a produção e a preservação de fontes orais se manten ham

constantemente atualizados sobre as novas tecnologias.

Existem hoje no mundo alguns fóruns de discussão desses assuntos. O princi

pa

l

de

les, para

ossos

propósitos, é a Associação Internacional de Arquivos Sono

ros e Audiovisuais (http://www.iasa-web.org/), que edita uma revista e

um

boletim

e se reúne anualmente. Além da ASA, o program a da Unesco Memory of the

World destina-se a promover a preservação de todo tipo de documentação, seu

comitê de tecnologia empenha-se em tentar responder às questões relativas

à

digitalização de informações. Esses e outros organismos devem ser permane nte

mente consultados. Não resolveremos nossos dilemas

na

conservação das fontes

or is

tanto os atuais quanto os futuros - se nos mantivermos desligados dos

circuitos de informação.

3 3 Grav  ção em vfdeo

A gravação de entrevistas de história oral em vídeo tem-se difundido bastante

ultimamente. Ela permite o registro da imagem

do

entrevistado e da situação de

entrevista impede que se percam os gestos e expressões faciais que complemen

tam e

enr

iquecem a enunciação, expressando reações e, muitas vezes, indicando a

intenção do falante.

No Cpdoc, ainda utilizamos com certa parcimônia esse tipo de

registro-

·menos de

2

de nossas entrevistas estão gravadas em vídeo. Além do custo maior

que o da gravação

em

áudio,

as

entrevistas em vídeo geralmente causam maior

inibição. Hoje em dia já se encontram no mercado filmadoras capazes de registrar

z Ver Schüller, 996, p. 35.

imagens

em

ambientes internos sem luzes especiais, mas m

dade de equipamento de iluminação, que pode incomodar

rio pensar também no ambien te de realizaçãoda entrevista. N

o ideal

é

realizar a entrevista em

um

ambiente suficienteme

possível filmar não só o entrevistado, mas também os en

situação mesma da entrevista: a posição dos

que

dela pa

expressões e

mo

vimentos, procurand o assim registrar o cl

de produção do documento de históri a oral. Isso porque o p

res

é

também fundamental para a análise posterior desse t

se justificando, portanto, limitar-se a filmagem ao entrev

alguns momentos a câmera

pode

se restringir

à

imagem

do

as circunstâncias

da

entrevista já tiverem sido registradas.

Gravar muitas horas de entrevista

em

vídeo é certame

cabe a cada instituição avaliar as vantagens e desvantagens

dalidade de gravação. Convém considerar também o mome

poimento: assistir a muitas

ho

r

as

de

uma

entrevista gravada

se cansativo. Para con tornar essas dificuldades, temos optad

do Cpdoc, pela filmagem de entrevistas curtas, ao lado da

entrevistas mais longas. Por exemplo, após algumas sessões

selecionamos os assuntos que se mostraram mais ricos e de

rante a entrevista,

para

conversar sobre eles

em uma

sessão

sim temos a imagem do entrevistado e dos entrevistadores e

de entrevista a um custo bem inferior do que se fôssemos

em vídeo.

É

claro que essa solução não permit e recuperar

sessões

de

entrevista e pode ser que se perca uma imagem i

repetirá na sessão gravada em vídeo.

Em geral as gravações

em

vídeo são feitas visando a s

em documentários, CD-Roms, exposições etc. Nesses casos,

que aparece divulgada, mas apenas alguns trechos seleciona

Cabe, portanto, a cada instituição ponderar as vantagen

uso em produtos audiovisuais) e desvantagens (inibição

d

custo da gravação) do uso do vídeo na pesquisa de história

qual será o procedimento a ser adotado. Caso se opte pelo re

~ r a l

das entrevistas

em

vídeo, será necessário, assim como n

mteirar-se das questões técnicas que a matéria envolve.

Em primeiro lugar, convém gravar também em áudio a

sendo registradas em vídeo. Como a durabilidade dos regis

 

f RUM

l

J R1 1

MNWAL

DL IIISTÓRI A

OK \l

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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geralmente menor do que a dos registros em áudi o, a

gravação

em ambos os for

matos é

uma medida

de segurança para o acervo const itu ído . Além disso, caso se

dec ida pela transcrição da entrevista, a taretà pode ser bastan te agilizada se o trans

critor

tiver de

lidar apenas com um gravador

de

áudio e o

t o

ne de ou v ido,

do

que

se

precisar parar e retornar vár ias veles a imagem gravada.

Quanto à

digitali7.

ação das

gravações em vídeo, os autores aind a são ret icen tes.

O relatório do

programa

Memory

of

thc \\'orld é bastante claro: O subc om itê de

tecnologia recon

hece

que algum, tipos de documentos não são apropriados para

digitalização

no

presente. As raz

ões

variam.

Por

exemplo, filmes

de imagens em

movimento requere m maior espaço de armuenam c

nl

o digita l do

qut.>

a tecnologia

pode

prover

com recurs

os econômicos

no momento , e ma pas c plan

os

m u

ito

ex

tensos

não

se ajustam aos scanners existen tes."

21

Yan

Bogart

observa, no mesmo sentido, que a digitalização de imagens de

vídeo está

limitada

pelo

número

de sinais

permitido em

cada formato. Assim, po r

exemplo, uma imagem digitalizada

em

8bits/cor permite a reprodução

de

apenas

256 cores distintas,

ao

passo

que a gravação analógica de uma

imagem

reproduz

um

número

infinito de cores.

É

claro que,

aumentando

a proporção de bits

por

cor, o número

de

cores reproduzidas aumenta

consideravelmente.

Por exemplo,

uma proporção de

24bits/cor

permite

a reprodução de 16.777.216 cores distintas.

Mas, nesse caso, há necessidade de um volume de memória muito maior para ar

mazenamento. As gravações digitais em áudio, aliás, também

são

limitadas pelo

número de

bits:

um

CD,

por

exemplo, só permite a distinção de 65.536 sons distin

tos e

uma

freqüência máxima de

22kHz,

enquanto a reprodução de

gravações

analógicas

não

tem limites. Podemos supor,

contudo,

que

um

ouvido

não

treinado

não percebe aí

nenhuma

diferença.

22

3 4 uidados

observ r

Para

cumprir

as etapas técnicas de

um

depoimento gravado, isto é, a gravação, a

duplicação da

gravação

e a escuta,

são

necessários alguns cuidados, com vistas a

melhorar

a qualidade

de

gravação e

reprodução

das entrevistas. Sua relevância

justifica-se em virtude do fato de um depoimento gravado constituir um docu

mento

de

valor único

e insubstituível:

ao proceder

à

sua gravação

e

ao lidar com

o

2

Memory o lhe World, op cit.  p. 53-4.

22

Van Bogart,

op.

.  p. 9.

suporte

em

que foi gravado, o técnico de so m, assim corno

demais pr

ofissiona is

devem cuidar para que tal documento não

de técnica, para que não se percam

tam bém

as fo

nt

es

de

con h

ne

le

imbuídas.

3  I Na gravação

Antes de começar a

gravação

Je uma entrevbta,

de

ve -se obse

que

terá

lugar

e

procurar adaptá-lo aos propó

sitos

da

entrevis

gar, convém que ent revista do e en t revist ado r(es) estejam conf

lados,

facilitando

-se

assim

a relação

prolongada

que

irá

se esta

gem de som, caso não se esteja lançando mão de

um

gravad

instalada a certa

distância das

pessoas, a tl.m de não

constrang

do equipamento. Apenas os microfones devem ser colocados

roupa (no caso dos de lapela) de

quem

fala.

A

qualidade

dos

microfones

é um dado importantíssimo

trevistas de história oral. Deve-se evitar utilizar os microfones

relhos

de

gravação, que em geral

são multidirecionais,

captan

espécie

de

sons. O ideal é

contar

com microfones unidirecion

qualidade (como, por exemplo, os

da

marca Schure). A quanti

a utilizar depende evidentemente

do

número de entradas para

relho de gravação. Se não for possível empregar microfones

cada

pessoa que participa

da

entrevista, pode-se utilizar um

mesa, posicionado mais à frente do entrevistado, sendo

que

os

vem

procurar falar um pouco mais alto para que suas vozes ta

das pelo microfone.

Observe-se que a importância do microfone condiciona

dos aparelhos de gravação:

gravadores

cassete, equipamentos

em

áudio

e câmeras

de

vídeo devem, preferencialmente, ser

m

para microfones, evitando-se o uso de seus microfones embut

Antes de

iniciar

a

entrevista,

é preciso observar ta mbém

vação do local. Ao instalar o equipamento, deve-se tentar im

de

sons externos,

fechando

portas, janelas

e cortinas,

e posici

nes

longe das

fontes

geradoras daqueles

sons.

Os aparelhos

com

seu ruído

constante, interferem prejudicialmente

na

grav

esteja sendo realizada

com

microfones unidirecionais; convém

los. De qualquer forma, para evitar so ns externos e ruídos de f

66

VERENt\ Al

BERTI

MAN UA

l.

DE

li

iSTÓ RIII ORAL

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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posicionar os microfones o mais próximo possível de quem fala, sendo, por isso,

mais apropriad os os microfones de lapela. Se for necessário, é possível

aumentar

a

distância entre

os

microfones os aparelhos através de

um

fio de extensão, de

espessura igual à do fio do microfone.

Periodicamente convém testar toda a aparelhagem e verificar os contatos das

tomadas e dos fios de extensão.

s

fios no interior dos pingues dos microfones

podem se

romper com fa

cilidade, além de encostarem

um

no outro, o que impede

a gravação. Para evitar esses acidentes, é preciso sempre tomar cuidado ao retirar o

plugue

do

aparelho, nunca

puxando

pelo fio

do

microfone,

e

sim segurando

e

puxando o pró prio plugue. O mesmo cuidado

se

aplica às tomadas dos aparelhos e

aos fones de ouvido: nunca se deve desligá-los puxando pelo fio

No caso de a entrevis ta ser realizada fora das instalações do programa , deve-se

acondicionar a aparelhagem nas respectivas embalagens para o transporte,

e

levar

ainda fios de extensão e pilhas e baterias, prevendo dificuldades na instalação elé

trica e falhas de energia.

Caso a gravação esteja sendo realizada em fitas magnéticas, é preciso muita

atenção na troca de lado da fita, evitan do reiniciar a gravação sobre o lado da fita

que já tiver sido gravado. Isso pode acontecer se, findo o lado 2 da fita, o pesquisa

dor apenas inverter sua posição no gravador, em vez de providenciar nova fita, e

gravar novamente sobre o lado

l

Se o entrevistado continuar a falar enquanto a

fita estiver sendo trocada, convém pedir-lhe que repita o ass unto assim que a gra

vação for reiniciada para evitar a perda daquele conteúdo.

Logo que a entrevista for encerrada, deve-se escrever nas mídias gravadas e

em suas caixas os dados relativos àquela sessão: o nome do entrevistado, os núme

ros da fita e da sessão e a data da entrevista,

bem

como outros dados julgados

relevantes para sua identificação posterior como o local da entrevista, os nomes

dos entrevistadores,

número

e marca dos aparelhos utilizados, velocidade de gra

vação etc.).

Em caso de gravação em fitas magnéticas, deve-se quebrar,

com

o auxílio de

uma

chave de fenda, as duas plaquetas plásticas situ adas

na

parte posterior da fita,

deixando duas pequenas janelas de forma quadrada, para evitar o apagamento

acidental da fita.

Para acompanhar os registros das sessões das entrevistas, convém ainda elabo

rar

uma

ficha de gravação

do

depoimento, à qual devem ser acrescentados

os

dados

relativos às midias e ao

número

de horas de gravação, à medida que evoluir o

trabalho de gravação e duplicação. Esta ficha p ode fazer parte da base de dados

do

programa ver parte III).

3 4 2 a

duplicação

A duplicação das fitas gravadas deve ser realizada,

como

após cada sessão de entrevista, permitindo inclusive que o

poimento se inicie ainda durante a gravação de novas ses

cuid ado para duplicar todo o conteúdo da gravação origi

lhável controlar o processo de duplicação com

um bom

f

ligado ao gravador

onde

estiver sendo realizada a cópia. Fo

equipamentos indispensáveis no trabalho com a história

em todas as etapas posteriores à gravação do depoimento

da entrevista, consulta) e

mesmo durante a gravação, caso

panhada por

um

técnico de som, que pode controlar sua

mesmo de realização da entrevista.

Repetindo -se o procedimento adotado logo após a gra

ta, convém escrever nas mídias que contêm a cópia da grav

dados pertinentes: números da mídia e da sessão, nome do

entrevista, entre outros. Além disso, deve-se completar a

informações acerca

do número

e

do

tipo de mídias resulta

ção e, eventualmente, sobre a correspondênc ia entre elas e

Na constituição de

um

acervo de entrevistas é preciso

de armazenamento das mídias gravadas. As gravações orig

ser guardadas em salas separadas de preferência andares

o

tre si). No caso de fitas magnéticas, o ideal é usar armário

desmagnetizá-las. A disposição das mídias no interior dos a

obedecer

à

organização adequada aos propósitos

do

progr

das em ordem numérica ou alfabética

por

entrevistado, ou

te é respeitar esta organização para facilitar o acesso dos

profissionais aos documentos.

3 4 3 tva escuta

Por

ocasião da escuta de fitas magnéticas para

os

trabalhos

sament o da entrevista, bem co mo em sua consulta, deve-s

lugar, se foram retiradas as plaquetas plásticas da parte po

do-se qu e a gravação seja apagada

por um

acionamento a

vação do aparelho.

Em

seguida, convém conferir os contatos internos ao

do e entre este e o gravador, pois podem ocorrer defeitos q

68

ENA ALUERTI

M NU L OE HISTÓRI ORAL

Page 36: 100896336 Manual de Historia Oral

8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

http://slidepdf.com/reader/full/100896336-manual-de-historia-oral 36/120

ção da gravação, principal mente em sua reprodução em estéreo, isto é, em ambos

os fones de ouvido.

3

onservação

das gravações

  3

Ainda que

as

tecnologias digitai s estejam

amp

lamente difundidas, grande parte

das informações audiovisuais produzidas pela e para a pesquisa científica encon

tra-se ainda

em

fitas magnéticas analógicas. Para conservar

as

gravações, pensando

inclusive em sua digitalização futura, recomenda-se:

• manter temperatura e umidade baixas e estáveis;

• evitar poeira, marcas de dedos, fumaça, comida, poluição etc.;

• evitar quedas, choques e deformações mecânicas das fitas;

• evitar exposição à luz

e

a raios ultravioleta

s;

• manter as fitas afastadas de campos magnéticos;

• manter os aparelhos de gravação e reprodução

em bom

estado;

• arquivar as fitas verticalmente, como livros

em

estantes, a fim de evitar

distorções em sua distribuição em torno da bobina;

• guardar

as

fitas sempre em seus invólucros após uso;

• manusear as fitas o menos possível;

• não tocar

na

superfície

ou no

s

ca

ntos das fitas magnéticas, a não ser que

sej im

prescindível, e, nesse caso, usar luvas

que

não soltem fios;

• rebobinar as fitas periodicamente (pelo menos uma vez ao ano), para manter

sua distribuição uniforme em volta da bobina.

24

Alguns desses cuidados aplicam-se também a mídias digitais (certamente às

fitas magnéticas DAT mas também a CDs, minidiscs etc.). Como lidamos com

arquivos históricos é muito important e observá-los. Uma partícula de poeira, por

exemplo,

pode

ser transportada para o espaço entre a fita e o cabeçote

do

gravador,

causando perda de decibéis e reduzindo ou até eliminando o sinal sonoro.

De todas as medidas, a mais fundamental é o controle da temperatura e da

umidade do recinto onde estão acondicionadas as fitas.

23

Este item tam oém é inédito nesta segunda edição. Valem para ele as mesmas observações que

constam na nota ao item 3.2.

24

Para esses cuidados, ver Van Bogart, op

cit ;

Schüller, 1995/96 e 1996.

As

fitas magnéticas, tanto de áudio qua nto de vídeo,

camadas principais: uma camada composta pelas partícula

componente de

flXação

e uma camada que sustenta a camada

exp

li

ca a estrutura da camada magnética através de uma an

pigmento,

ou

a fruta, que compõe a gelatina corresponde

às

que são mantidas unidas pelo componente de fixação que

maior risco de degradação da fita recai sobre a camada mag

inferior, compost a

de

PVC

ou

poliéster, é relativamente es

de

flXação

a gelatina, na analogia de

Van

Bogart

é

mu

química denominada hidrólise, que ocorre

em

reação com

Nesse processo, as moléculas longas, em reação com a á

pedaços, dando

origem a moléculas curtas.

Como

em

um

mente

Van

Bogart, é como se os fios de lã fossem sendo pa

manchar o própri o suéter. Uma fita em processo de hidról

e pegajosa, deixando resíduos

no

aparelho de gravação, h

total das informações nela gravadas.

O risco de hidrólise torna o problema da umidade u

arquivamento de fitas magnéticas. Segundo alguns auto

resfriamento do local não é suficiente, porque o ar-condi

também aumentando a umidade

do

ambiente. Isso porque

de estariam intimamente relacionadas: quanto maior a tem

quantidade de vapor d'água ele contém.

Se

nos limitamos

muito quente, aumentamos a umidade relativa do ar, lev

ponto de condensação.

  6

Esse problema torna-se especialmente expressivo em a

regiões tropicais, como é o nosso caso. Dietrich Schüller, d

gráfico de Viena, dedica um

artigo a essa questão, com bas

em arquivos audiovisuais localizados

em

regiões tropicais

beY Segundo ele, os arquivista s dessas regiões, na melhor

ram estar

cumprindo

pelo menos 50 das exigências quan

to das fitas ao resfriar o ambiente com ar-condicionado.

5

Nos anos 1940 e 1950, entretanto, usava-se acetato nessa camada inf

que

o filme

de

poliéster e mais freqüentemente responsável pela de

camada magnética.

26

Ver a esse respeito, Schüller, 1995/96 e 1996.

7

Schüller, 1996.

70

VF

RF.NA

At6fRTI

, 11\1\

liAl

Dr HI

STÓRI

A ORAL

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estão prejudicando muito mais o arquivo do que se não tomassem atitude alguma.

Isso

porq

ue favorecem o processo de condensação de água nas estantes e dentro

das fitas magnéticas o que, no caso das fitas de vídeo especialmente, reduz a

longevidade a apenas alguns anos (calcula-se de um a três anos).

A hidrólise não ameaça apenas arquivos localizados

em

zonas tropicais. O

arquivo fonográfico de Viena registrou casos,por exemplo, de fitas magnéticas que

viajaram longas distâncias

no

compartimento de bagagens de um avião an tes de

aterrizarem em lugares quentes e úmidos. O fato de as fitas resfriadas receberem

uma

grande

quantidade

de água condensada desencadeou

um

grave processo de

hidrólise, levando os técnicos de arquivo a recomendar em que

fitas magnéticas_

virgens ou gravadas- fossem transportadas sempre na bagagem de mão. 28 Ocor

re, ent retanto, que alguns aparelhos detectores de metal usados nos aeroportos

geram campos magnéticos suficientemente fortes para apagar parcialmente infor

mações gravadas nas fitas.

29

Eis, portanto, mais um dilema na preservação de fon

tes orais.

O processo de hidrólise é o mais destacado na literatura sobre conservação de

fitas magnéticas, mas

não

é o ún ico risco a ser observado. Valores elevados de tem

peratura e

umidade

são

também

prejudiciais porque o calor acelera os processos

químicos e aágua é agente freqüente nas reações. lém da hidrólise, há que conside

rar

a corrosão, os fungos e a possibilidade de condensação na superfície da fita,

que

pod

e levar a adesões e a danos do

eq

uipamento de gravação. Schüller observa

que

fitas que contêm par tículas de metal,como as usadas para vários formatos de vídeo

e as fitas

DAT

são especialmente propensas à corrosão em sua camada magnética.

Além disso, o prob lema de condensação na superfície da fita é

part

icularmente fre

qüente

no

caso dos formatos de cabeças rotativas, como em vídeos e fitas

DAT.3o

Finalmente, os valores de temperatura e umidade devem permanecer cons

taJ1tes

porque

sua oscilação submete a fita magnética a processos de contração e

expansão que causam distorções

em

sua reprodução. No caso de fitas de vídeo, por

exemplo, ocorre o fenômeno conhecido como

místracking

em que a cabeça do

gravador não consegue mais ler integralmente as pistas gravadas na fita. Por essa

razão é totalmente inconveniente manter o local do arquivo de fitas refrigerado

durante o dia, desligando-se os aparelhos de ar-condicionado

à

noite e nos fins de

semana, para economizar energia.

ZK Ver Schüller, J99ó, p. 43.

9

Ver Van Bogart, op cit. p. 5 e 24.

30

Schüller, 1996, p. 36 -7.

Quais seriam então os valores ideais de temperatura

que defendem, a esse respeito, duas situações, dada a no

verdade,

duas

finalidades de acondicionamento: a de arqui

a de acesso ou uso. No primeiro caso, as condições de tem

podem ser as mais baixas possíveis, de

modo

a maximizar

rial; já

no acondicionamento

para

uso, os baixos

va

lores de

insalubres para arquivistas, técnicos e pesquisadores.

As condições de conservação atualmente recomendad

são de

soe

de temperatura e

20o/o

de umida de relativa

do

a

trado

que temperaturas abaixo de

soe

podem comprome t

risco de exsudação, isto é, transpiração, dos lubrificantes

q

magnética d as fitas. As variações de temperatura e umidad

res do

que

4oe e IO

o o

RH, respectivarnente.

3

necessári

aclimatação do material arquivado nessas condições, antes

outro

ambiente. O tempo de aclimatação para os valores de

hora

para

fitas de áudio e

dua

s horas p ara fitas de vídeo

em

matação às novas condições de umidade é mais lenta: seis

um dia

para

fitas de rolo, e

quatro

dias para fitas de vídeo.

32

do a fita magnética estará apta a ser reproduzida. Em geral a

ria para toda mudança brusca de temperatura e

umidadeY

Quanto

ao acondicionamento das fitas para uso, não

indiscutivelmente ideais. Para Schüller, as condições de con

tendidas como um meio-termo entre o grau de deteriora

qüência do uso, o bem-estar dos arquivistas e os custos e

padrão a esse respeito são geralmente estabelecidos em país

recomenda-se urna temperatura em

torno

de

20°e,

com um

xima de 2oe a

3°e,

e urna umidade relativa do ar em torno

máxima de So o a 10  .

34

3

Ver Van 13ogart, op cit. c Schüller, 1996. Os valores

recomendados

le

de

diferentes instituições ligadas à conservação

de

arquivos audiovisu

Engincering Society

(AES), do

American National

Standards lnstitute (A

Picture

s and Television Engineers

(SMPTE).

3

Ver Van 13ogart, op

cit.

p.

19.

H Jd. p. 23.

Esses são os valores apresentados

por

Schüller, 1995/96 c 1996. Van

B

ratura em torno

de

18°C a 21 °C e a

uma

umidade relativa

do ar em to

72 VERENA ALBlRTI

NUAL DE HISTÓRI 1 ORAL

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Em regiões tropicais,

no

entanto,

como

bem observa

Sc

hüller (1996), manter

os padrões rec

ome

ndados para o clima temperado representa

um

gasto considerá

vel de energia e de recursos financeiros. Nessas regiões, a temperat

ura

externa pode

variar de 25°C a 40°C, ou mais, e a umidade pode flutuar de valores extremamente

baixos,

em

zonas ár idas, até

lOOo/o

de umidade, em zonas úmidas durante o perío

do das chuvas.

Idealmente, os arquivos em regiões tropicais deveriam seguir as recomenda

ções internacionais e aco

nd i

cionar o material sonoro e audiovisualem temperatu

ra constante de

20

°C,

com

flutuação diária não maior

do

que 1

oc

e anual não

maior do que 2°C, e umidade relativa do ar em t

orno

de 30

o/o

a

40o/o com

flutuação

máxima de cerca de

5o/o.

35

Para minimizar

os

custos com a obtenção de tais condições, Schtiller sugere

algumas providências a serem tomadas. Em primeiro lugar, o isolamento térmico

de prédios e/ou salas que conservam arquivos sonoros e audiovisuais. Sempre que

possível, devem-se escolher salas localizadas no centro da construção, cujas pare

des não coincidam

com

as

par

edes exteriores

do

edifício. O isolamento térmico

também pode ser obtido através da construção de um duplo telhado e de

uma

dupla fachada,

com

um espaço de alguns centímetros de largura entre a parede

exterior e a interior. Isso impede que os raios de sol atinjam diretamente a sa

la do

arquivo. Outra solução seria o uso de áreas de subsolo,que permitem a djminuição

de custos

com

energia. Mas nesse caso é preciso prevenir-se contra o risco de inun

dações, razão pela qual essa solução só se aplica mesmo a regiões secas.

Além das providências com relação

à

localização espacial do arquivo,

é

preciso

controlar a temperatura e a umidade do ambiente, s

endo

requisito essencial a aqui

sição de

um termômetro

e de um higrômetro. Schüller sugere que, entre os apare

lhos de ar-condicionado, sejam escolhidos aqueles capazes de resfriar e desumidificar

o ambiente simultaneamente. No caso de ser impossível atingir os níveis ideais,

pod

e-se trabalhar

com

valores máximos de 25°C de temperatura e de

60o/o

de

umidade relativa do ar, sabendo-se, contudo, que essas condições comprometem a

longevidade das fitas.

Se

ambos os parâmetros não puderem ser atingidos simulta

neamente, é

pref

erível garantir níveis baixos de umidade do que de temperatura.

nas recomendações

fe

itas entre 1982 e 1990 por

tr

ês instituições ligadas

à

conservação

de

arquivos

sonoros c audiovisuais, entre elas a

citada SMPTE e a National Archives

and

Records Administra

tion (NARA). Schilller observa que ultimamente as tendências caminham em direção a valores

mais baixos de umidade. Com efeito, a recomendação de autoria daNARA datada de 1990 é de uma

umidade em torno dos 40 , com vari ação máxima de

±

5 , conforme registro de Van Bogart.

Js Ver Schüller, 1996, p. 39.

Schüller recomenda ainda a aquisição de

um

gerador que

energia no caso de falhas no fornecimento pela rede públic

A poeira é

outro

problema constante dos a rquivos s

atingindo principalmente aqueles localizados em regiões tr

períodos de seca.

Em

suas visitas a arquivos dessas regiões,

poeiras vermelhas e amarelas cobriam freqüentemente os a

se armazenavam dentro de caixas e das próprias fitas magné

ra compromete bastante as fontes audiovisuais. Em discos,

sulcos causa

ndo

estalidos e crepitações. Nas fitas magnétic

nos cabeçotese arranhões

na

superfície das fitas e nas peças

finalmente, ela causa arranhões que podem inviabilizar a

Para fazer frente a esse perigo, Schüller sugere que se cont

ve;ificando inclusive o efetivo funcionamento dos filtros d

dicionado, e que se fechem hermeticament e janelas e vãos q

acondicionamento das fontes audiovisuais. Não é recome

dualmente as fitas, porque isso pode favorecer processos

quais se inclui a própria hidrólise, ou ainda estabelecer, de

clima diverso do de fora, com umidade mais elevada.

Tomando-se todas as medidas de conservação descrita

gevidade

de

fitas magnéticas, tanto de áudio quanto

de

v

anos.

38

É claro que esse período pode ser radicalmente r

danos mecânicos ou perda de sinal magnético. Por essa raz

recomendação de que todo arquivo audiovisual tenha pel

segurança de cada

documento

sob sua guarda e que esse a

acondiciona

do

em loca l diferente

do

primeiro, devido aos r

dações e outr os tipos de catástrofe.

Para fazer frente à situação crônica da falta de recurs

instituições pode ser útil na conservação de acervos audiov

por exempl

o

a instalação de arquivos centrais, responsáve

servação de material produzido em diferentes instituições

rato, diz ele, manter uma unidade maior em

co

ndições cl

que cuidar para que várias unidades menores cheguem pe

36

Schüller 1996, p. 39.

37

l

p.

39.

38

Ver Van Bogart, op cit. p. li e 28.

74

VERENA AI

BF

RTI

MANUAl DE IIISTÓRIA ORJ\L

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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d a d o s . ~

Talvez se pudesse pensar em iniciativas desse tipo em algumas regiões do

Brasil, reunind o universidades, secretarias

de

educação e cultura, bibliotecas

blicas etc., que busquem apoio financeiro junto a agências de fomento e aos pode

res públicos locais, ou mesmo ao setor privado que, com o benefício de leis de

incentivo fiscal, participe da preservação material dos docume ntos audiovisuais.

Não se deve pressupor que a iniciativa privada seja alheia à preservação da

herança cultural e histórica das sociedades. Schüller observa,

com

razão, que aos

poucos está se formando,

no

mundo informatizado e ligado em rede,

uma

cons

ciência de que só é possível partilha r a informação que se detém. Essa idéia leva

necessariamente a que se reconheça- principalmente em combinação com a pa

lavra-chave multimídia - o quão inseguros, para não dizer passageiros, são os

dados audiovisuais que possuímos, e que precisamos realmente fazer algo se dese

jamos conservá-los, mesmo que seja apenas para com eles

poder

fazer negócio.

40

Ou seja, na era das informações, a memória preservada pode se transformar em

valiosa mercadoria.

3 6

utros m teri is

Além do equipamento de gravação, duplicação e reprodução de fitas, um progra

ma de história oral deve contar com material complementar para desenvolver seu

trabalho. A quantidade e a especificidade deste material devem ser estabelecidas

em função das dimensões e dos propósitos do projeto que orienta su as atividades.

Quanto maior o número de horas de entrevistas, maior a quantidade de mídias e

de memória em computadores para as tarefas de tratamento dos depoimentos;

dependendo do alcance e da socialização do acervo, e caso se opte pela passagem

do depoimento para a forma escrita, estimar-se-ão o número e o tipo de cópias de

cada entrevista transcrita; conforme o programa organize o controle das tarefas,

deverá ser concebida a base de dados e estimada a quantidade de arquivos, e assim

por diante.

Vejamos, de maneira geral, que tipo de material deverá ser providenciado quan

do da implantação de um programa.

39

Schüller, 1996,

p.

4

1.

40

Schüller, 1995/96, p. 113.

3 6

  1 Material permanente

a) rmários

de

m deir - para o acondicionamento de

equipamento de gravação. O arquivamento de fitas em

provocar sua desmagnetização. Pelo mesmo motivo, a

dadas em armário diferente daquele usado para acond

de som;

b) mes

de so

para viabilizar os trabalhos de gravaçã

vação dos depoimentos gravados;

c)

microcomput dores e

impressor s

para controle do a

ção, listagens de entrevistas e base de dados) e a execuç

mento das entrevistas;

d) rquivos

de

ço ou outro m teri l para o acondicion

transcritas em papel e demais documentos do program

3 6 2 Material e consumo

a)

fit s m gnétic s virgens

cassete ou DAT por exemplo

cassete, convém adquirir

as de 60

minutos;

as

de

90

minu

por forçarem em demasia o motor do gravador e rom

facilidade;

b

dem is mídi s p r gr v ção em áudio ou vídeo - con

grama, devem ser adquiridos em quantidade suficiente

vídeo em VHS

ou

digital.

A quantidade de mídias virgens necessárias para a grav

depoimentos deve ser estimada em função do número e da

realizadas. Como esta estimativa só pode ser aproximada, já

ver o

tempo

exato de cada entrevista, convém contar sempr

excedente de mídias. pouco

comum

que uma entrevist

completas de gravação, restando freqüentemente uma parte

Se

por

exemplo, uma sessão de entrevista gravada em fita ca

encerra após uma hora e 50 minutos, os dez minutos restan

rão virgens e não poderã o ser gravados na sessão seguinte,

per

o depoimento pouco tempo depois de ter começado. D

convém gravar entrevistas diferentes em uma mesma míd

última gravação de uma entrevista for finalizada passados 2

76

Vt R NA AlBERTI

MANUAl Ot IIISTÓRIA

ORAL

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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cassete, não se deve aproveitar os 40 minutos restantes gravando novo depoimento

com outro entrevistado, pois isso prejudicaria sobremaneira a catalogação, o con

trole e o arquivamento das fitas.

c fios

de extensão

plugues sobressalentes pilhas e baterias;

d) p st s para arquivar cópias das entrevistas em papel, cartas de cessão, ma

terial de pesquisa, relatórios de entrevista etc.;

e p pel além dos blocos e cadernos necessários para o trabalho diário, deve-se

considerar as folhas

de

papel necessárias para a impressão das entrevistas trans

critas. Calcula-se uma média de 20 laudas por hora de ent revista gravada, para

além das laudas necessárias à apresentaçã o e aos instr umento s de auxílio

à

con

sulta, anexados ao depoime nto. Seo programa optar por manter uma cópia das

entrevistas transcritas em papel, deve, pois, providenciar as folhas necessár ias.

Apêndice ronograma de trabalho

A elaboração de projetos de pesquisa requer geralmente um cronograma de traba

lho, que varia, evidentemente, de acordo com os objetivos da pesquisa e o tempo

disponível para realizá-la. Deixando de lado as especificidades de cada projeto,

vejamos algumas questões relativas

ao método de

trabalho

com a h istó ria oral

que

podem servir

de

orientação par a a elaboração do cronograma

de

uma pesquisa

nessa área.

É preciso reservar uma boa parte do início do cronograma

à

pesquisa e

à

ela

boração

do

roteiro geral de entrevistas, etapa de aprofundamento

no

tema e de

preparação da equipe. Durante esta fase, se estará também procedendo

à

seleção

dos primei

ro

s entrevistados, aos quais se chega à medida

que

o estudo sobre o

tema indica com que pessoas convém iniciar a pesquisa. Ao

la

do dessa seleção,

começam os primeiros co

ntatos

com os entrevistados em potencial, para com eles

acertar a realização das entrevista

s.

Estes contatos

pod

em prolongar-se por um

periodo maior do que o previsto, havendo inclusive o risco de serem frustrados,

devendo-se

então

proceder a novas seleções e co

ntato

s.

É conveniente estabelecer os primeiros con tatos quando a equipe já estiver

razoavel

mente

preparada

para

as entrevistas,

porque

pode acontec

er de

determi

n

ado

entrevistado, por restrições

de

tempo ou

outras

limitações, só estar dispo ní

vel para dar seu depoimento

im

ediatamente após o contato. Em

outros

casos, é

possível estabelecer com o entrevistado um prazo para o início das ent revistas,

durante o qual os pesquisadores terão condições de estuda r

e elaborar o roteiro individual de entrevista.

Como resultado dos acertos efetuados nos primeiros con

pas a serem previstas no cronograma são a elaboração dos rote

da

da realização das entrevistas. Esta últ i

ma

exige

um

segmen

ma, podendo estender-se até um pouco antes do prazo de enc

Logo após o inicio da etapa de realização de entrevist

trabalho de duplicação d as fitas, bem como todas as tarefas

mento

e, se

fo

r o caso,

à

sua transformação

em

do

cu

m ento

Eventualmente, se constar

dos

objetivos do projeto a ela

go dos

depoimentos

produzidos no período, deve-se prever

cronograma, a preparação dos originais e o trabalho

de

ed

publicado.

Finalmente, caso esteja prevista a produção de artigos,

sob re o assunto estudado, com

ba

se na pesquisa e n

as

ent

trabalho

deve ser evidentemente incluído no cronograma.

trabalho de edição e publicação das en

tr

evistas propriam en

Apenas a título de exemplo, vejamos como se apresenta

pesquisa para 12 meses, estando prevista a realização de cerc

vistas gravadas:

ATIVIDADES

/ MES

ES

I

3

4

s

6

PeSQ..ísa eelaboraçãodo ro

te

iro

X

gera

l de entrevistas

A.Q.uísíção do ecwípamento X

X

Contatos Iniciais e elaboração dos

)

X

X

X X

roteiros Individuais de

entrevista

Realização

das

entrevistas

X X

Duplicação c catalogação

X X X X

das entrevistas

Tratamento eprocessamento

X X

X X

passagem

para

a

orma

escrita c

elaboração

e Instrumentos

de

auxnío à peSQ.Uísa

Edição das entrevistas

X

Eaboração

e

catálogo

Produção de artigo

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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P RTE

Entrevista

Nesta parte esta remos tratando

do

cerne do trabalho com

onde a investigação e a prática científicas se aliam e prod

realização de entrevistas que se situa efetivamente o fazer a

que convergem os investimentos inic iais de implantação

do

é de lá

que

partem os esforços de tratamento do acervo. Po

etapa deve ser objeto de todo cuidado e dedicação da parte

significa entre outr s coisas investir seriamente na elabor

duzir os instrumentos de controle e de acompanhamento d

carta de cessão de direitos do depoimento e principalme

especificidade da relação q ue se estabelece com o entrevista

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O

INÍCIO D

PESQUISA

4 1 esQuisando o objeto de estudo

Uma vez implanta do o programa de história oral e definido

sa a primeira atividade para a qual se devem voltar os pesqu

ção exaustiva

do

objeto de estudo em fontes primárias e sec

tivo de obter um base firme de conhecimento do tema qu

dos trabalhos subseqüentes. É conhecendo e estudando o m

arquivos bibliotecas e outras instituições que os pesquisado

rão se prepar  ndo para desempenhar todas as atividades v

das entrevistas.

Na história oral a pesquisa e a documentação estão i

especial  um vez que é realizando um pesquisa em a rqui

com base em

um

projeto que se produ

ze

m entr e

vi

stas que

documentos os quais por sua vez  serão incorporados ao co

novas pesquisas. A relação da história oral com arquivos e

consulta a

do

c

um

entos

é

portanto  bidirecional: enquanto s

existentes material p r a pesquisa e a realização de entr

tornar-se-ão novos documentos enriquecendo e muitas vez

aos quais se recorreu de início.

É possível objetar entretanto que não é todo tema esco

em histór i oral que se presta a

um

a investigação aprofund

muita s vezes escolhem-se temas sobre os quais não há docum

dárias disponíveis nas instituições

usu

almente procuradas. E

se verifica integralmente se compreendermos o sentido dess

da. Digamos

por

exemplo

que

a escolha

do

tema tenha recaí

dade rural

em

determinado período da história brasileira so

sido escrito e cujos membros não costumam registrar sua atu

ou

outras

fo

nt

es

escritas. primeira vista os pesquisadores

fundar seus conhecimentos sobre o objeto da pesquisa. Entre

seus objetivos e o enfoque de trabalho podem começar cons

lizados sobre comunidades rurais  passandoem seguida para

82

V R[N/1 1\LKERTI

MI\NUAL 0 III STÓRIA ORAL

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tivas período da história brasileira em que inseriram a pesquisa, com atenção

e s ~ e c i a l para os assuntos e acontecimentos vinculados à questão da terra.

Os

pes

qutsadores também podem

amp

liar seu conhecimento do tema recorrendo a traba

l ~ o s

sobre a história _da região onde se fixou a comunidade em questão. É possível

amda consultar arqmvos locais, tanto civis quanto

paroquiais,

como também

perió

dicos e

a n a i ~

das câmaras de vereadores dos municípios vizinhos para inteirar-se

dos acontecimentos sociais marcantes

qu

e envolveram aquela comunidade, bem

~ o r n o

_das relações políticase econômicas vigentes

no

período. Por fim,

durante

esta

mvesttgação aprofund ada, os pesquisadores

podem

descobrir novas fontes de con

sulta, relevantes para seu processo de formação e incursão no terna.

Tai

s pro cedime?tos não_ iferem daqueles

que

devem ser adotados

qu

an

do

se

trata de um tema

UJO

rnatenal de pesquisa é mais acessível. Nestes casos, a investi

gação aprofundada deve igualmente passar por fontes secundárias, obras de análi

e _documentos p ú b l i ~ o s e privados, com o objetivo de compreender

0

período e

mteirar-se dos acontecimentos e das situações políticas, econômicas e sociais.

Ampliar e a p r o f ~ n d a r o conhecimento sobre o tema não significa passar a

saber

t_udo

a seu respeito. mesmo porque, se isso fosse possível, não haver

ia

sequer

n e c e s s ~ d a d e

de prossegmr na pesquisa e

procurar

conhecer ainda mais através das

entrevis.tas_ ~ n t r e t

a n t o essa medida é fundamental para a produção dos documen-

:os de histo

na

oral, desde a elaboração

do

roteiro até o tratamento das entrevistas.

E o n ~ e c e n a ~ p l a m e ~ t e o tema que o pesquisador pode otimizarseu desempe

nho e m ~ n m i ~ a produçao dos documentos de história oral um alto grau de quali

dade. Sera

s s t v

e l ,

por

exemplo, situar

com

bastante clareza a atuação de

detenni

nado e n t ~ e v i s t a d o com relação ao objeto estudado e preparar-se para dele

obter

um

depounento

~ : g r a n d e valor

para

a pesquisa, formulando perguntas enrique

c e d ~ r a s para o dtalogo .e reconhecendo respostas significativas.

s

informações

obtidas durante

a pesquisa

podem

transformar-se em incentivo para

 

ent

revista

do no momento

da entrevista, já que encontrará diante de si

um

interlocutor ver

s a d ~

nos assuntos em questão, capaz, inclusive, de auxiliá-lo no esforço de recor

daçao.

Po: out:o a ~ o .

a equipe de pesquisadores assim preparad a

po

de reconhecer

respostas m s a t t s f a t o n ~ s

ou

a ~ u ? a s no depoimento, sendo possível

apontá

-las, seja

decorrer da entrevtsta, solicitando o esclarecimento da parte

do

entrevistado,

SeJa

ao longo

do

processamento, indicando,

com

notas, sua ocorrência. A constata

~ ã o _

d.essas

_ s i t u ~ ç õ e s

viabilizada pelo conhecimento

aprofundado do

tema,

pode

mcidJr mais tarde s ~ b r e a análise das entrevistas: o pesquisador capacitado deve

g u n t a r - s e a respe1to das razões e dos significados das respostas

do

entrevistado

e mcorporar essa reflexão à avaliação do trabalho realizado.

Sem esta investigação aprofundada sobre o tema, corr

veitar o potencial

do

trabalho com a história oral, uma p

documentos

com

a participação ativa dos pesquisa

dor

es.

lhor preparados estiverem estes últ imos, mel

hor

será o r

por

isso

que

insistimos na importância da pesquisa exa

iniciarem-se as entrevistas.

A preparação da equipe deve ir além do conhecimen

tema; ela inclui a integração dos membros e a prática

do

Desde o início da pesquisa, é necessário

que

os pesquisado

0

projeto e

troquem

as informações obtidas na investigaç

tema, a fim de refletir,

em

grupo, a respeito das atividades s

ção da equipe e o conhecimento claro

do

projeto e

do

tem

cem o

andamento

da pesquisa,

que

depende,

em

todas as

do trabalho em conjunt o. Essa medida também se aplica

rios, transcritores e copidesques, além

do

técnico de

som É

esses profissionais

tenham

conhecimento

do

projeto de pe

que orientem seu trabalho, das informações obtidas com

importante que

as tarefas sejam desempenhadas em colab

pe, havendo consultas e auxílios recíprocos e discussão c

enfrentados, a fim de

que

as soluções se apresentem firm

reflexão de

todo

o grupo.

4 2 otei ro geral de entre

vista

s

O roteiro geral de entrevistas deve ser elaborado com base

exaustiva sobre o tema. Sua função é dupla: promove a sín

tadas

durante

a pe

sq

uisa em fontes primárias e secundária

to

fundamental

para orientar

as atividades subseqüentes, e

ção dos roteiros individuais .

O

momento

de elaboração

do

roteiro geral encerra a

e estruturar todos

os

p

on to

s levantados durante a pesquis

estabelecidos no

projeto. Nesse sentido, trata-se de

um

es

dados levantados até então e de articulá-los com as ques

pesquisa.

Como

primeiro passo, cabe fazer consta r

no

rot

gia minuciosa

do

s acontecimentos ocorridos no período

considerados relevantes em relação aos objetivos do est

84

VERCNA ALBERTI

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convém acrescentar a essa cronologia informações relativas às análises dos autores

consultados, julgadas procedentes e significativas para o estudo, bem como reme

ter para documentos-chaves considerados representativos de determinados itens

arrolados. Reunindo-se tais dados no roteiro geral, ter-se-á uma visão abrangente

e ao mesmo tempo aprofundada daquilo que

se sabe

do

objeto de estudo e da-

quilo que se quer saber através das entrevistas.

E assim chegamos à segunda função do roteiro geral: ele servirá de base para a

elaboração dos roteiros individuais e, posteriormente,de instrumentode avaliação

dos resultados da pesquisa. Como sugere o nome, trata-se de

um

roteiro amplo e

abrangente, que contém todos os tópicos a serem considerados na realização de

cada entrevista, garantindo a relativa unidade

do

acervo produzido. importante

que nas entrevistas realizadas os pesquisadores procurem abarcar

as

questões que

foram definidas como gerais a todos os entrevistados.

Se

por exemplo, no roteiro

geral constar a Revolução de 1932, todos

os

entrevistados poderão ser perguntados

a respeito, mesmo

que

não tenham participado diretamente do evento,

ou

ainda

que tenham estado fora do país na ocasião.

Se

por exemplo, um depoente tinha

menos de dez anos à época, mesmo assim convém que lhe seja proposta a questão,

porqueele pode se lembrar de alguns aspectos que lhe chamaram a atenção quando

criança ou de comentários que ouvia em casada parte dos adultos. Se esteve afasta

do do país, pode revelar sua reação e suas impressões quando recebeu a notíciada

revolução. O fato de determinada questão constar no roteiro geral não significa,

portanto, que será tratada da mesma forma

em

todas

as

entrevistas, nem tampouco

que terá pesos iguais.

Ao

contrário: a preocupação em abordá-la permite justamen

te quese comparem versões diferentes sobre o mesmo assunto ,dadas pelas posições

também diferentes que os entrevistados ocupavam e ocupam em relação ao tema.

Suponhamos, por exemplo, que o roteiro geral não seja empregado em deter

minada pesquisa. Nesse caso, é bem provável que

as

entrevistas versem sobre as

suntos desconexos ent re si, difíceis de serem comparados. Determinado entrevista

do pode ser solicitado a discorrer apenas sobre certo aspecto do tema, mesmo que

sua experiência e sua atuação o autorizem a falar sobre os demais, enquanto outro

entrevistado, igualmente capaz, pode ser conduzido a tra tar exclusivamente de outr o

aspecto

do

tema. Dessa forma, ambas as entrevistas, seguindo direções diversas,

dificilmente poderão se prestar a uma análise comparativa, devido à ausência de

unidade em sua condução. A unidade dada pelo roteiro geral permite que se iden

tifiquem divergê ncias, recorrências

ou

ainda concordâncias entre as diferentes

ve

r

sões obtidas ao longo da pesquisa, aprofundando-se as possibilidades de análise do

acervo.

PREP R ÇÃO DE UM ENTREVIST

5 I rimeiras

providências

S

I I Seleção

do

entrevistado

Diante da lista

de

entrevistados

em

potencial,já apresentad

conhecimentos adquiridos através da pesquisa exaustiva e

ro geral de entrevistas, é chegado o momento de escolher a

ras) pessoa(s) a ser(em) entrevistada(s). Essa escolha depen

tégias fixadas pela equipe para o início da pesquisa, em f

variam conforme cada caso específico. Ela pode recair so

destacada em relação ao tema, julgadas mais representativa

pareçam essenciais para a realização das demais

en

tre

condicionar-se pela idade dos indivíduos listados, mostran

çar a entrevistar os mais idosos, enquanto ainda dispõem d

prestar seu depoimento. possívelainda que a escolha dos

recaia sobre atores e/ou testemunhas menos estratégicos, à

mentos possam fornecer subsídios para a elaboração dos

de maior peso. Finalmente, pode ser adequado iniciar a

aqueles aos quais se tenha alguma facilidade de acesso, e

relação estabelecida, mediar novos contatos no interior

do

S

1 2 Escolha dos entrevistadores

Escolhida a primei ra ou as primeiras) pessoa(s) a entrevi

quais pesquisadores do conjunto da equipe se ocuparão d

considerando-se a relação

de

dois pesquisadores para cada

dos entrevistadores deve levar em conta seu interesse e su

mos, por exemplo, que entre os entrevistados em potencia

a história de uma empresa haja economistas, administrado

Apesar de todos os pesquisadores estarem preparados pa

depoente da lista, em virtude do

es

tudo aprofundado em f

86

V[R[NA ALB RTI

MANUAL DE lii STÓRI OR l

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dárias sobre a história da empresa, pode-se alcança r o aproveitamento ótimo da

equipe

s

forem considerados a formação, a especialização e o interesse de cada

pesquisador. Assim, por exemplo, aquele que tem

uma

formação mais voltada para

a abordagem econômica poderá ser mais capacitado para entrevistar os economis

tas,

enquanto

o pesquisador familiarizado com o estudo sob re militares pode ser

indicado para os depoimentos deste setor. Por o utro lado, isso não quer dizer que

apenas aqueles que têm formação econômica podem entrevistar os economistas e

assim por diante, porque, dependendo dos propósitos da pesquisa, pode ser conve

niente que

um

pesquisador com outros interesses e outra especialização também

faça parte da produção daquele documento de história oral, chamando a atenção

para outros aspectos da experiência

do

entrevistado que não os especificamente

econômicos. Assim, convém que entre os entrevistadores haja também diferenças

de formação, concorrendo para o enriquecimentoda entrevista.

Pergunta-se, com certa freqüência, se entre entrevistado e entrevistador pode

haver

uma

relação anterior àquela estabelecida por ocasião do primeiro contato

para a entrevista,

ou

seja, se o fato

de

ambos se conhecerem previamente é prejudi

cial ao depoimento. Isto também constitui fator a considerar

quando

da escolha

dos pesquisadores encarregados de uma entrevista.

Como

regra geral, podemos

dizer

que

este conhecimento anterior não prejudica a produção

do

documento

de

história oral, apesar de nela interferir, porquan to o próprio diálogo e s avaliações

recíprocas entre entrevistado e entrevistador situar-se-ão sobre bases diferentes

do

que se não houvesse algum tipo de relação anterior. Uma entrevista será sempre

produto de uma situação singular, a relação ent re entrevistado e entrevistador, es

tabelecida de acordo com a imagem que se fazem de

si

mesmo e

do

outro, sendo o

conhecimento prévio entre ambos se houver mais um entre os muitos dados

sobre os quais cada

um

constrói estas imagens. Há que s considerá-lo e refletir

sobre seu peso na relação, pois se este conhecimento prévio,

por suas característi

cas, implicar um retraimento do entrevistado, será melhor escolher

outro

entrevis

tador.

S / 3 ontato inicial

Definidos os pesquisadores que se encarregarão das primeiras entrevistas, caberá a

eles

entrar

em contato

com

os entrevistados escolhidos e procurar deles

obter

o

acordo

em

participa r da pesquisa. Este contato inicial é muito importante porque

constitui

um

primeiro momento de avaliação recíproca, base sobre a qual se de

senvolverá a relação de entrevista. Ele pode ser feito

por

telefone,

por carta ou

e-mail, ou ainda, se não houver

outro

meio de acesso ao e

uma primeira visita. Pode-se procurar já agendar a entrevis

rio, convém sugerir uma conversa preliminar.

No primeiro contato com o entrevistado, cabe aos pe

t r b ~ l h o do

programa e o método empregado na história o

vistado a par dos propósitos da pesquisa. Porocasião da conv

levar ao entrevistado algum material já produzido pelo pro

de en trevistas anteriores, folhetos explicativos, entrevistas

blicados, para que possa se inteirar das atividades desenvo

sua seriedade.

f: possível que o entrevistado se mostre reticente quant

que se farão na entrevista e o uso posterior de seu depoime

quisadores devem assegurar-lhe que a entrevista de história

ções de

cunho

sensacionalista

ou

a situações comprometedo

do

terá o direito de não o pinar sobre assunto que não qu

trechos da entrevista a consultas futuras, bem como solicita

seja desligado o gravador enquanto discorre sobre determin

O importante, nesse primeiro contato, assim como n

que irá se estabelecer, é, através

do

comportamento e da p

entrevistado,

a tornar claro que seu depo imento é de grand e relevânci

haverá muita satisfação, da parte dos pesquisadores, e

b mostra r franqueza na descrição dos propósitos

do

trab

entrevistas. Não convém aos pesquisadores, sob pena d

quanto outras relações com entrevistados, forjar uma i

do

programa que não corresponda à prática efetiva. Ist

ta seguir os rumos adequados a trabalhos deste gênero

que serádifícil sustentar uma imagem impostada, e o ent

se ludibriado. Veremos adiante como é importante o

para o

enr

iquecimento do documento de história oral

nesse sentido desde o primeiro contato com o

ent

revis

c evidenciar o respeito que se nutre pelo entrevistado, en

tor de

significados outros que os dos pesquisadores.

Co

e suas interpretações que se buscam em uma entrevista

ciso mostrar ao entrevistado que não se tenciona mo

forma

de

ver o mw1do, suas crenças e opiniões.

88

VE

Rr

NII

1\LB[ Rl l

~ I A N U I \

OE

IIISTÓRIII ORI\l

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O primei ro contato po de ser também ocasião de solicitar ao entrevistado do

cumentos pessoais currículo fotografias e outros registros de seu passado que

serão considerados quando da preparação

do

roteiro individual de entrevista.

É

possível que por seu valor particular estes documentos não possam ser transpor

tados pelos pesquisadores sob o risco de serem extraviados

ou

ainda por zelo

do

entrevistado. Nesses casos deve-se estabelecer

um

horário propício a ambas

as

partes

para

que

os pesquisadores trabalhem sobre os

docum

entos na residência ou em

outro local designado pelo entrevistado obtendo assim dados para a preparação

da entrevista.

Pode ocorrer que  na conversa preliminar o entrevi stado se entusiasme pelo

assunto e pela oportunidade de dar seu testemunho e discorra sobre suas experiên

cias passadas. Nesse caso convém tom ar nota de suas opiniões e de seus relatos

para retomá-los mais tarde ao longo da entrevista propriamente dita quando o

recurso do gravador permitir o registro de seu discurso. As informações que o

entrevistado fornece

no

primeiro contato com os pesquisadores também consti

tuem portanto dados para a elaboração do roteiro individual.

Informando sobre a cessão de direitos d entrevista

O contato inicial com o entrevistado objetiva também colocá-lo a

par

das implica

ções contratuais de seu depoimento informando-lhe sobre a existência do docu

mento

de

cessão de direitos sobre entrevista. Trata-se de

um

documento

at

ravés

do

qual o entrevistado cede ao programa os direitos sobre sua entrevista e sem o qual

não há como abrir aquele depoimento para consulta. Dependendo de cada progra

ma e das disposições de cada entrevistado o teor desse documento pode variar

bastante.

 

O important

e

nesse momento é deixar o entrevistado a par dessa práti

ca para que não seja surpreendido ao final

da

entrevista com uma fÓnnalidade da

qual nem havia tomado conhecimento.

Há programas de história oral que estabelecem a prática de assinatura

do

do

cumento de cessãode direitos antes de iniciar-se a entrevista mas essa conduta não

é

muito adequada. Em primeiro lugar porque

uma

pessoa simplesmente

não

pode

assinar cessão de direitos sobre alguma coisa antes mesmo de ela existir.

Em

segun

do

lugar por que o entrevistado

não

pode saber de antemão o que vai falar mu ito

menos sobre o que será indagado sendo-lhe difícil assinar

um

documento

que

garanta ao programa o uso e mesmo a publicação de

um

conteódo ainda desco-

1

Ver

capítulo 7.

nhecido. Em terceiro lugar porque essa prática é pouco apr

ção que está apenas começando podendo o entrevistado

enganado

quando

lhe solicitam a assinatura sobre algo q

Por isso é preferível selar o contrato apenas ao final da e

relação já se estabeleceu ao longo de horas de conversa e

sendo reservado ao entrevistado o direito de modificar o

fazendo as restrições que achar necessárias inclusive embarg

sulta julgue inconveniente.

5 2

Roteiro ndividual

Agendada a entrevista após o contato inicial os pesquisado

roteiro que servirá de base para as sessões de entrevista. Não

dessa tarefa antes

do

primeiro contato com o entrevistado

de a realização da entrevista ser impossível: o entrevistado e

ocupado

com uma

série de compromissos

durante

longo

mente não querer dar o depoimento

ou

ainda não estar

para a tarefa. Nesses casos

um

investimentoprévio mais ap

grafia pouco con tribuirá para o andame nto da pesquisa. O

constitui portanto condição para dar início à preparação

5 2 1

iografia do entrevistado

A importância da biografia do entrevistado na elaboração

dual varia conforme o enfoque dado à entrevista considera

tivos da pesquisa. Em geral quando se preparam entrevis

nas quais o interesse repousa sobre a trajetória de vida

do

s

até momentos atuais o conhecimento de sua biografia é f

boração do

roteiro.

nos casos de entrevistas temáticas

solici tado a falar apenas sobre determinado tema

um

conh

sua biografia pode não ser tão relevante. Mas tanto

num

devem-se considerar os dados biográficos

do

entrevistado

do

roteiro da entrevista a fim de obter melhores resultad

realização.

Suponhamos por exemplo

um

a entrevista temática

com José de Sousa que dele participou. Mesmo que para a

90

V

ER

  NA

MANUAL l lii STÓ KIA

<

l

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sidere relevante conhecer sua trajetória de vida, o fato de ter sido incluído na lista

das pessoas a serem entrevistadas para aquela pesquisa já indica que pelo menos

um

aspecto de sua biografia era conhecido: sua participação

no

movimento. Ou

seja, o conhecimento prévio da biografia do sujeito, mesmo que limitado a apenas

um dado, constitui condição para iniciar-se uma entrevista de história oral. Agora,

se

ampliarmos

este

conhecimento no

momento da preparação da entrevista,

defrontar-nos -emas com novos dados a respeito de sua vida, que poderão sugerir

questões e associações ante s não aventadas, enriquecendo, portanto, a condução da

entrevista.

Em termos pnHicos, conhecer sua biografia permite compreender melhor o

relato de sua experiência,

seu

discurso e suas referências mais particulares. Por

exemplo, se José de Sousa, ao longo de seu relato sobre o Movimento X, evocar,

em

função de uma comparação,

outra

experiência pessoal, anterior ou posterior, será

mais fácil e até mais estimulante para o desenrolar da conversa se o entrevistad or

estiver a par dessa experiência, ou se puder situá-la em sua trajetória. Além disso, é

geralmente benéfico para a relação de entrevista fazer o entrevistado perceber que

seu caso foi estudado e que h á efetivamente grande interesse em seu depoimento.

Nas entrevistas de história de vida, o estudo da biografia do entrevistadodeve

ser mais aprofundado, uma vez que é a trajetória de vida

do

sujeito que constitui o

objeto daquela entrevista. Conhecê-la, portanto,

no momento

da elaboração do

roteiro, é essencial para cob rir exaustivamente todos os acontecimento s e as expe

riências

do

depoente. Para isso, será necessário realizar nova pesquisa, desta vez

centrada não tanto

no

tema e sim na vida do entrevistado. chegado o momento

de estudar seu currículo, procurar dados a seu respeito em arquivos públicos e

privados, em periódicos e nos livros que eventualmente mencionem sua atuação

no campo

em que se especializou. Além disso, se o entrevistado escreveu artigos ou

outros trabalhos, convém analisá-los, inteirando-se

do

conteúdo e de suas opi

niões, que pod erão ser cotejadas

com

o

ponto

de vista emitido dura nte a entrevista.

nesse momento també m que se deve levantar e analisar o material particular

do

entrevistado, solicitado na ocasião do primeiro encontro: fotografias, diários, car

tas e outros documentos pessoais que tenha concordado em ceder para a consulta

dos pesquisadores.

Reunindo -se e organizando-se o material levantado nessa pesquisa, obtêm-se

dois produtos que servirão de base para a elaboração

do

roteiro e de apoio para a

realização das ·entrevistas: uma cronologia minuciosa da vida do entrevistado e o

material resultante d a análise das fontes,

como

alguns documentos, resumos, ob

servações e anotações diversas. Ambos devem ser incorporado s ao roteiro indivi-

dual de entrevista, obtido pelo cruzamento desses dois pr

geral de entrevistas.

O material que resulta da análise dos documentos ser

entrevista durante sua realização, sendo possível recorrer a

são sobre determinado assunto. Digamos, por exemplo, que

fia encontrada duran te a pesquisa sejasignificativa em funç

teses de trabalho. Os entrevistadores podem propor ao entre

fotografia a época e o propósito que reuniu aquelas pess

exemplo) ao longo da entrevista e, a partir desse documento

série de assuntos associados à situação fotografada. Suponh

minado entrev istado não se lembre de seu envolvimento com

Se, ao longo

da

pesquisa, for encontrada uma carta

do

entre

é possível mostrar-lhe o documento e sugerir que fale de s

aquele grupo. Os resumos e as anotações realizadas ao long

também ser consul tados duran te a entrevista. Pode-se,

por e

fichamento de

uma

obra do entrevistado,

no momento

em q

sobre seu conteúdo. O entrevist ador pode consultar suas ano

cimentos, prática que certamente enriquecerá a conversa.

uando

o

estudo prévio da biografia não

or

possível

Há casos

em

que o estudo prévio

da

trajetória de vida

do

tarefa quase impossível, diante da inexistência de fontes. D

que o objeto de estudo de uma pesquisa seja a formação e a

uma comunidade de pescadores sobre os quais não se dispõ

nenhum dado prévio, a não ser talvez os registros civis

no

c

ração do roteiro indiv idual, nestes casos, não poderá servir

prévios sobre a biografia de cada entrevistado. Diante dessa i

quisador passa a contar apenas com os dado s biográficos fo

tado no momento mesmo da entrevista, devendo refletir a s

cer as devidas correlações quase que imediatamente, para, ain

lançar questões p ertinente s sobre seus significados. Esse esfo

do

entrevistador uma apreensão sólida das questões contid

entrevistas, conferindo-lh e segurança suficiente para avalia

formações que

obtém

e inseri-las em

um

contexto articulad

Evidentemente, a necessidade desse esforço não se restr

roteiros estejam incompletos. Mesmo em entrevistas exten

9 VERENA ALBERTI

MANUAL l HISTÓRIA

ORA

L

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entrevistador pod e deparar-se com situações semelhantes, nas quais deve articular

de imediato

uma

reflexão sobre informações que obtém naquele momento. A en

trevista é também momento de aprendizado; se soubéssemos efetivamente

tu o

sobre o entrevistado, de que adiantaria ouvi-lo e entrevistá-

lo?

Nos casos de entrevistas de história de vida em que o estudo prévio da biogra

fia for impossível, pode ser adequado realizar previamente entrevistas de caráter

exploratório, nas quais se solicite ao entrevistado um depoimento sobre sua traje

tória de vida. Uma vez obtidos estes dados sobre sua biografia, o pesquisador pode

meditar sobre sua relevância, levando em consideração o roteiro geral de entrevis

tas e, então, estar apto a elaborar o roteiro individual para aquele entrevistado.

5 2 2 Cruzando biografia e roteiro geral elaboraçã do roteiro individual

Conforme explicado anteriormente, o roteiro geral de entrevistas tem a dupla fun

ção de sistematizar as questões levantadas durante a pesquisa exaustiva sobre o

tema e servir de base para os roteiros individuais. O roteiro individual,por sua vez,

decorre

do

cruzamento

do

roteiro geral com os

re

sultados da pesquisa biográfica

sobre o entrevistado,

ou

seja,

um

cruzamento entre o que há de particular àquele

sujeito e o geral a todos os que foram listados, isto é, aquilo que se constituiu, ao

longo da pesquisa,

no

conhecimento sobre o tema.

Importa, em primeiro lugar, conjugar a cronologia da vida do entrevistado

com aque

la

que cobre os momentos históricos, os acontecimentos e as conjuntu

ras do período escolhido. Para facilitar este trabalho, convém justapor ambas

as

cronologias dividindo uma folha de papel em duas colunas verticais, a primeira

contendo informações tópicas acerca

do

tema estudado (extraídas

do

roteiro ge

ral) e a segunda, os dados biográficos, ambas em ord em cronológica.As duas colu

nas apresentar

ão lacunas, que devem ser preservadas como tais, evidenciando a

necessidade de cobri-las ao longo das entrevistas. Podemos,

por

exemplo, não sa

ber o que o entrevistado fazia durante o movimento comunista de 1935: onde

estava, que tipo de atividade exercia etc. Nesse caso, enquant o na primeira coluna

constar a menção ao movimento, na segunda haverá um espaço em branco, possi

velmente com

um ponto

de interrogação.

As

informações que preenchem as lacu

nas, ou mesmo aquelas que não foram previstas no roteiro, serão adquiridas ao

longo

do

depoimento.

interessante observar que esse tip o de ocorrência pode modificar o roteiro

geral de entrevistas. Suponhamos que

um

entrevistado mencione um fato

do

qual

os entrevistadores não tinham conhecimento e que esse fato tenha relação com o

grupo estudado,

do

qual o entrevistado

faz

parte:

uma

reu

qual se decidiu algo importante. Diante de sua relevância e s

a pena consultar os demais entrevistados a seu respeito, o q

esse fato ao roteiro geral de entrevistas. Note-se que o trabalh

constantemente retroalimentado: conforme avançamos em

mos para modificar algo de seu início. Isso evidentemente ex

equipe, renovada

em

reuniões de trabalho, nas quais se troqu

xões e idéias e se decida, por exemplo, que

os

pesquisadores

mais entrevistas procurem obter informações sobre aquele fa

Além de haver lacunas

no

roteiro, pode ocorrer também

ao preparar o roteiro, podemos incluir informações sobre

achando que o entrevistado saberá discorrer a seu respeito,

entrevista, verificamos que seu envolvimento com aquele tem

to menor do que imaginávamos. Digamos, por exemplo, qu

fica realizada durante a preparação de

uma

entrevista tenha

entrevistado nasceu em

uma

cidade gaúcha, junto à fron

Sabendo-se da peculiaridade da vida na fronteira e

de

sua

mação dos grupos políticos do Rio Grande

do

Sul e para

como um todo, levantou-se material sobre o assunto e prev

tópico a seu respeito: como havia sido a experiência

do

e

morador de uma cidade de fronteira. Formulada a pergunta

ta, contudo, podemos surpreender-nos se o entrevistado resp

informar-nos a respeito, já que, com poucos meses de vid

família para a capital. no momento da entrevista, portanto

cos contidos

no

roteiro vão se ajustando, adquirindo às ve

dos previstos.

A organização dos dados

de

forma tópica,

em ordem

c

nas permite a visão geral do objeto de uma entrevista de his

do sujeito na história. A justaposição das duas colunas fa

depreender correlações entre

amb

as, resultando em questõ

carreira do entrevistado for política, por exemplo, pode-se

tos de maior e de menor projeção com a conjuntura política

aventar sua vinculação a certo grupo ou pessoa. Num estudo

possível

supor

esses vínculos a partir da formação

do

sujeito

dade

de direito X em determinado período, provavelmente

que se destacou

por

desenvolver

uma

tendência política Z

tenha partilhado essa tendência. Esses poucos exemplos mos

94

VlRlNA ALBlRTI MANUAL D[ HISTÓRIA ORAL

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do sujeito e a história da sociedade c do

grupo

de que

faz parte

se relacionam

continuamente.

As

observações, questões, dúvidas

que

resultam da relação

entre

as

duas colunas devem ser anotadas ao lado,

ou numa outra

folha, passando a fazer

parte

do

roteiro.

O roteiro individual de entrevistas constitui portanto a justaposição das duas

colunas - biografia e conjunturas sociais históricas

em ordem

cronológica-,

acrescida das anotações - também tópicas - decorrentes da reflexão sobre as

relações

entre

ambas as colunas. Sua função

é

orientar os pesquisadores

no mo

mento

da entrevista; é

um

roteiro aberto e flexível,

que

não deve ser seguido à risca

e naquela ordem, não havendo sequer perguntas prontas a serem formuladas.

Imaginemos

um

exempl o. Estamos diante do sen

hor

João Sá para começar

uma

série de entrevistas sobre sua v

id

a. Temos um material considerável resultante

da pesquisa: fichamentos, observações, o rote iro ge ral sobre o tema

do

projeto,

eventualmente documentos. Em destaque, o rotei ro individual,

onde

estão arrola

dos, em duas colunas, tópicos sobre o tema e sobre sua biografia. Começamos a

entrevista

pedindo que nos fa

le de suas origens familiares, seus pais, irmãos, sua

casa, escolas etc. No roteiro, constam apenas sua data de nascimento, alguns dados

sobre a família e eventualmente informações sobre as escolas

que

freqüentou. O

resto, ele nos contará. Assim,

os

dados do roteiro servem apenas para orientar-nos

e ajudar-nos a acompanhar sua narração; não são perguntas prontas que devem

ser

respondidas à risca. Estamos

numa

relação diferente d a

que

ocorre

numa

entre

vista jornalística,

por

exemplo. Em primeiro lugar, ouvimos seu relato. Obviamen

te ele nos contará aquilo de

que

se lembrar no momento, e nossa função é estimulá-lo

a

lembrar

. Digamos que, após falar

um

pouco so bre sua família, João Sá considere

o assunto encerrado e fique em silêncio. Com o auxílio do roteiro individual, po

demos lembrá-lo de mais alguma coisa:

Nós

sabemos

que

seu avô esteve

na

guer

ra

do

Paraguai. O senhor pode nos falar um pouco sobre as histórias que contava?"

Ou

ainda:

O senhor

nasceu no bairro tal,

onde

viveu

boa parte

de sua infância.

Pode contar-nos

como

era a vida nesse bairro naqu ela época?" Eassim por diante.

O roteiro, então,

nos

ajuda a conduzir a entre

vi

sta, a não esquecer de perguntar

algumas coisas, mas não

é uma

camisa-de-força.

Suponhamos ainda que, ao fa l

ar

sobre a vida do bairro em que nasceu, João Sá

evoque uma cidade X que visitou anos mais tarde, cujo comércio se parecia com o

de sua infânc a. Esse tipo de salto ocorre

com

muita freqüência

na

rememoração

dos acontecimentos e da s experiências de vida.

Como

temos diante de nós o roteiro

individual, podemos acompanh

ar

seu relato c verificar que provavelmente visitou

aquela cidade no

momento

em que ocupava a função Y, que o obrigava a viajar

pelo país. Podemos então perguntar se essa idéia se confi

rm

fundar-nos nas características daquela função. O roteiro

como auxiliar na entrevista; a

ordem

cronológica não preci

apenas de orientação ao pesquisador.

É

claro

que

o roteiro individual de

uma

entrevista não

trumento

de orientação dos entrevistadores para a conduç

de ser o mais estruturado e, por isso, mais acessível naquele

tecer que a certa

altura

o pesquisador lance

uma

questão

q

no roteiro individual e

que

lhe ocorreu

em

virtude de seu c

sobre o tema: determinado assunto tratado pelo entrevis

exemplo, um artigo específico, que,

por

questões de espaço o

particular, não

foi

incluído

no

roteiro individual. O pesquis

sua existência e provavelmente tem seu fichame

nt

o e sua ref

materiais resultantes da pesquisa. Se julgar

oportuno, pode

tado algo vinculado àquele artigo: "O autor X fala Y no s

forma,

cont

radiz o

que

o senhor falou há pouco. O

que

o

nião de X?

Há outras

perguntas

que podem

ser feitas ao entrevi

previstas

no

roteiro individual. A experiência de cada entre

na forma

como conduz

a entrevista. Ao falar de determi nad

do

pode

relatar um evento

que

seja familiar ao pesqu isado

seus pais ou tios relato semelhante. Esse conhecimento não d

pesquisa sobre o tema, e sim da própria história do entre

julgar procedente, perg

untar

mais coisas sobre o fato, com

via: É interessante o senhor estar contando isso porque eu

pai

também me

contava essa hi

stó

ria,

que

o havia marcado

razões. Ele dizia também que ti

nha

acontecido isso. O sen ho

vistado

pode

sentir-se inclusive mais estimulado a

fa

l

ar

sob

que passou a

con

hecer um aspecto relativamente afetivo e ín

havendo inclusive uma certa identidade entre ambas as par

Assim,

numa en

trevista de história oral, os pesquisadore

exclusivamente ao roteiro individual: ele deve ser tido com

de grande utilidade para a orientação do entrevistador, m

recurso a ser considerado. Evidentemente, isso exige

um

es

pesquisador

durante

a entrevista

do

que se precisasse apen

do

roteiro, na ordem dada e independente

do

ritmo

do

entre

muito mais atento ao

que

este último fala: é preciso saber

96

VEREN1\ Al l l RTI

~ \ M I

111 11

1\lllK IA ClK/11

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prática, saber ar ticular o

que

se ouve com o

que

está no roteiro.

Daremo

s

um

último exemplo sobre esse assunto.

Digamos que, ao sentarmo -nos diante de Maria Barbosa para iniciarmos

uma

entrevista, estabeleça-se

uma co

nversa ligeirJ. sobre o

tr

ânsito,

que

estava infernal

em virtude de

um

acidente qualquer. Instalamos o gravador e aguardamos o mo-

mento

opor

tuno

para

dar

início à entrevista, conforme estabelecido

no

início de

nosso roteiro. Ligamos o gravador, mas, par a nossa su rpresa, a conversa sobre o

trânsito remeteu Maria Barbosa a

outro

acidente, que abalou sua vida

por

ter imo

bilizado

seu

filho mais moço. Ao invés de co

rtarmos

o assunto

par

a formular

uma

pergunta

de acordo

com

o início de nosso roteiro, devemos ouvir e alentar para

~ q u i l o que a entrevistada nos conta. Seu relato, não previsto, pode conter aspectos

tmportantes para nossa pesquisa: pode indicar, por exemplo, como Maria Barbosa

concebe a participação

dos

filhos na economia doméstica,

em

face da incapacidade

tempo rár ia do filho; pode forne cer dados para

compreender

a relação familiar, a

locomoção dos membros da

fa

mília, a utilização dos serviços médicos na região

etc. Tópicos a respeito desses assuntos provavelmente fazem

part

e de nosso roteiro,

se a pesquisa versa sobre o cotidiano de uma comunidade e suas modificações ao

longo de determinado período. Enquanto Maria Barbosa nos con ta esse episódio,

devemos articular

sua

narrativa com nosso roteiro e ano tar passagens considera

das significativas

para

aprofundá -las a seguir:

A

senhora falou

que

seu filho não

ficou no hospital porque a

senhora

queria que fosse

tratado

pelo dr. Alexandre,

que trabalhava aqui nas redondezas. Poderia nos falar

um

pouco mais sobre esse

doutor,

como

a senhora o conheceu e

que

tipo de atendimento ele fazia?" Ou

en

tão: A

sen

hora falou que seu filho tinha

de

ir toda semana

ao

serviço para bater

ponto. Ele

não

obteve licença médica?" E assim por diante.

Conforme a conversa progride, podemos nos

lembrar de

outras questões inte

ressantes e o assunto pode acabar tomando

um

tempo considerável em virtude de

sua singularidade e de sua

import

ânc ia para a pesquisa. Assim, pod emos deparar-nos

com uma situação tal que, apesar de abordados alguns

pontos

do roteiro, a entre-

vista tenha seguido

um

rumo bastante diverso daquele previsto originalmente. Isso

exige e s f o r ç ~ consid

er

ável do s entrevistadores, que devem ser capazes

de

acompa

nhar e respettar o pensamento da entrevistada e de articular seu relato com tópicos

esparsos do roteiro. Evidentemente, os tópicos não abordados nessa entrevista de

verão cons

tar

da

s seguintes,

par

a

garantir

a relativa

unidade na cond

ução de

todos

os depoimen tos incluídos naquela pesquisa. Se, por exemplo, foi julgado impor

t ~ t e

s ~ e r

como

cada entrevistado chegou a estabelecer-se

naqu

ela região, e não

fo1 posstvel perguntar isso a Maria Barbosa, este assunto deverá ser abordado na

próxima entrevista. E, para sistematizar essas questões, será p

roteiro: o roteiro parcial de entrevista.

S

2 3 Rote1ro

p < ~ r c i a l

desdobramento do roteiro individuJI

O roteiro par cial dew ser elaborado e ntre

um

a sessão e outra

trevista, tendo

em

vista a prepar<1çào para a sessão seguinte. F

ficar o que foi deixado

de

lado na sessão anterior, ou seja,

o

individual

que

não for

am

abordados, c de formular novas que

vistas,

com

base em informações que o entrevistado deu dura

Quando trabalhamos com entrevistas de história de vida,

gas, a elaboração

de

rote iros parciais torna-se prática

com

u

pr

e

paramos

para uma próxima sessão. Isto porque o roteiro i

sos,

é

bastante extenso, sen do

imp

ossível abordar em profund

ria

de

vida do sujeito em apenas duas horas

de

entrevista. Ass

inclusive a primeira, deve ser preparado

um

roteiro parcial,

individual, o

nde

estarão listados tópicos a serem

abordad

os a

vista. Obviamente, esse roteiro deve ser igualmente aberto e

que se converse sobre assuntos nele não arrolados. Eventua

anotações

ma i

s detalhadas sobre

documentos

ou acontecimen

peito dos quais se ten ci

ona

indagar o

ent

revistado naquela se

O ro teiro parcial

pode

ser tido

como

um

roteiro

que

de

passagens contidas no ro teiro individual. Digamos, por exempl

res, após avaliar as sessões de entrevista anteriores, tenham co

para a

próxima,

indagar o entrevistado sobre

sua

atuação enq

nete no ministério

X.

No roteiro individual haverá apenas alg

u

desse assunto,

ent

re

outra

s atividades e experiências

do

entre

sua vida. A elaboração do roteiro parcial constitui então a pr

fundada de cada

um

desses tópicos, com auxílio do material

realizada ant eriormente. Assim, em nosso exemplo, se prete

n

para

entrevista r o sujeito sobre sua atuação no ministério X,

uma

série de tópicos sobre o assunto, tentando ab.1rcar

di,

·er

volvidos: a com posição daquele e dos demais ministérios, os

do período, a relação

entre

aquele ministério e

ou

tros, medida

daquele ministro,

outros

funcionários

do quadro

e suas atuaç

de relevo no perío

do

etc. s informações necessárias para co

devem ser reunidas com base no ma terial de pesquisa levantad

98

VlR tN A t t RTI

M

t\N

UA L DE

II

ISTÓRI ORAl

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http://slidepdf.com/reader/full/100896336-manual-de-historia-oral 51/120

Eventualmente, para

um

ou

outro

assunto específico, será necessário consultar novas

fontes - livros, doc

umen

tos

ou

artigos de jornal, por

exemplo-,

a fim de reunir

outros elementos indispensáve

is

para o roteiro.

Como

os

demais roteiros, o parcial deve ser feito

em

conjunto pelos pesquisa

dores envolvidos na entrevista. Encerrada uma sessão, devem sentar-se diante

do

roteiro individual e do

ma t

erial de pesquisa e avaliar o

que

foi fei to até

ent

ão: o

que

o entrevistad o falou; até que ponto alguns tópicos do roteiro individual foram

cobertos,

quai

s tópicos foram esgotados e quais devem ser re

tomado

s; o

que

o

entr

evistado revelou em seu discurso que não havia sido previsto e qu e merece

pequena pesquisa para ser aprofundado nas pró ximas sessões e assim por diante.

Após essas reflexões feitas as consultas necessárias, elabora-se o roteiro parcial,

em folha separada, arrolando, em tópicos, os assuntos a serem tratados na próxima

sessão. Esse

pro

cedi

mento

não

é

exclusivo de entrevistas de história de vida, deven

do ser igualmente adotado nos casos de entrevistas temáticas que se prolongam

por

mais de uma sessão.

No

momento

da entrevista, o roteiro parcial terá m aior destaque. Em princípio,

é a ele que se deve recorrer sempre que houver ocasião de formular novas perguntas.

Mas os demais in

strument

os de auxílio, co

mo

o roteiro individual e o material re

sultante da pesquisa, devem ser igualmente utilizados, caso a entrevista siga rumos

diferentes dos previstos no roteiro parcial. É sempre bom, portanto, ter todos esses

instrumentos

à

mão ao dirigir

mo-no

s

para

uma nova sessão de

ent

revista.

Síntese: os roteiros em trabalhos com história oral

Há , portanto, três tipos de roteiros a serem elaborados em fases

di

stintas de um

trabalho com histó ria oral: o roteiro geral, os rote iros individuais os roteiros

parciais . O primeiro deve ser elaborado após a etapa de pesquisa exaustiva sobre o

tema, constituindo momento de sistematizaçãodo conhecimento adquirido e ins

trumento que

garante a unidade de todas as entrevistas. Ao longo da p esquisa, ele

poderá ser revisto aprimorado. Os roteiros individuais são elaborados a partir de

um cruzamento da biografia do entrevistado com o roteiro geral, considerand o-se

as inter-relações

en

tre o caso daquele sujeito e o tema geral da pesquisa. Consti

tuem um dos instrumentos de orientação do pesqu isador no momento da entre

vista. Os rotei ros parciais devem ser elaborados nos intervalos de sessões de cada

entrevista, com. base no roteiro individual e

no

material obtido das pesquisas sobre

o tema e sobre a biografia do entrevistado. Sua elabo ração pe rmite a consta

nt

e

avaliação de cada sessão de ent revista e o estabelecimento de diretrizes para as

próximas. Constitui igualmente um dos ins

trumento

s de

dor

no

momento

da en trevista.

Esquematicamente, poderíamos representar os divers

pesquisa

em

história oral da seguinte forma:

Roteiro indiv

idu

al

Rotero parcial I  

Roteiro p

Entrevistado A

entrevis ta

entrevista

Entrevist

ado

A

E

ntrevista

Rot eiro individua  

Roteiro pa

rcia

l

11

Roteiro p

Entrevistado

B e

ntrevi

sta

entrevi

s

ta

Entrev

istado

8

Entrevist

Roteiro geral

Roteiro

parcial I

Roteiro p

oteiro individual

Entrevistado C

entrevista

entrevis

t

Entrevi

stado

C

Entrevist

Roteiro

individual

...

Entr

ev

istado D

5.3 icha da

entrevista

caderno de campo

Ainda

no

contexto de preparação de

uma

entrevista, con

gis

tr o

s de seu acompanhamento, que devem ser comple

medida

que

o trabalho avança: a ficha da

ent

revista e o c

A

fi

cha de uma entrevista constitui inst rumento de c

pas pelas quais passa um

dep

oimento até ser liberado

p

nela contidos po dem variar, segundo decisão de cada pro

objetivos

da

pesquisa e os critérios estabelecidos para o

que seja iniciada

no momento

da preparação da entrevist

alguns dados referentes ao depoimento, como nome, end

vistado, tipo de

entr

evista e nomes dos entrevistadores. N

Oral do Cpdoc, essa ficha faz parte, atualmente, de uma

todas as informações sob re o acervo ver

parte

III).

O caderno de

campo

deve ser elaborado pelos pesqui

entrevista. Nele será registrado todo tipo de observações a

da

re

la

ção

que

com e

le

se estabeleceu, desde antes

do

p

vos

que

levaram o programa a escolhê-lo

como

entrevis

nais de mediação en tre o programa e aquele depoente,

quem o indicou para o programa) ; como o entrevistado

1

YERENt\

AL

  ERTI

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pesquisadores,

por

ocasião

do

primeiro telefonema

ou

encontro; descrições sobre

como decorreram as sessões de entrevista: a reação do entrevistado a determinadas

perguntas, dificuldades dos pesquisadores, interrupções e problemas

na

gravação,

relação

do

entrevistado com o objeto de pesquisa, comentários sobre sua memó-

ria, informações obtidas

quando

o gravad or estava desligado; a evolução da rela

ção: o

que mudou

na atitud e de ambas as partes entrevistado e entrevistadores) ao

longo das sessões de entrevista à medida que a relação foi s aprofundando; even

tuais alterações

do

local da entrevista e

do

corpo dos entrevistadores; como,

quan-

do por

que

decidiu-se encerrar a entrevista; contatos posteriores com o entrevis

tado etc.

A elaboração desse caderno de

campo

auxiliará na posterior reflexão sobre o

documento no conjunto da pesquisa, constituindo instrumento de crítica e de ava

liação de seu alcance de suas limitações,

dada

a própr ia especificidade da entre

vista de história oral, sempre vinculada às condições e situações de sua produção.

Caso

a entrevista seja consultada

por outros pesquisadores

é

interessante

fornecer-lhes,

na

forma de prefácio ao depoimento transcrito, um resumo das in

formações contidas

no caderno

de campo, de forma a auxiliá-los

na

crítica

que

farão ao documento.

6 REALIZAÇÃO DE

UM

ENTREVISTA

6 I A rel ção

de entrevist

A relação estabelecida entre entrevistado entrevistador

modo

genérico, das demais relações

que

mantemos com

da vida. Em toda relação há códigos que indicam padrõ

seguidos

ou

não, conforme a empatia entre as partes, a cu

daquela experiência. Os padrões de conduta variam

em

fu

ção

que

estabelecemos

com

nosso dentista,

por

exemplo,

mos

estabelecer

com

um companheiro de trabalho), em

de cada uma das partes envolvidas podemos ter mais em

nheiro de trabalho

do que com

outro, por exemplo).

Uma

relação de entrevista é,

em

primeiro lugar,

um

diferentes,

com

experiências diferentes e opini ões

também

comum

o interesse por determinado tema, por determin

conjunturas

do

passado. Esse interesse é acrescido de um

respeito

do

assunto: da parte do entrevistado,

um

conheci

experiência de vida, e, da parte

do

entrevistador,

um

conh

sua atividade de pesquisa e seu engajamento

no

projeto. Te

em que

se

deparam

sujeitos distintos, muitas vezes de ge

isso mesmo, com linguagem, cultura e saberes diferentes

gam sobre

um mesmo

assunto.

Como

em

toda

relação, quando se inicia

uma

entrevi

vistadores se avaliam

mutuamente

e começam a formular

tor.

Como

o

outro

se

comporta

como fala, como reage, c

sição em estar ali fazendo parte daquela relação, tudo iss

que

entrevistado e entrevistadores teçam impressões e idéia

dialogam. Tais impressões e idéias vão sendo corroborada

que

se prolonga a entrevista e que, portanto , ambas as par

melhor.

É

por

isso

que

essa relação ten de a se aperfeiçoa

mais de

uma

sessão de entrevista. Passada a fase inicial de

co, é possível alcançar

uma

empatia benéfica para a reflex

102

v RI NA AIBCRTI

MA NUAL Ul

HISTÓRI

I\ O RAl

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que entrevistado e ent revistadores se tornem cúmp lices na proposta de recuperar,

problematizar e interpretar o passado. Considerada nesses termos a ent revista deve

se r

tomada

e ana lisada como um todo, levando-se em con ta todos os passos per

corridos, as mudanças na situ ação d e entre

vi

sta, o

modo como

são feitas as per

guntas

e as características das respostas, enfim, todo indício

de

como efetivame

nte

se deu aquela relação particular.

Vamos a um exemplo, para tornar ma is clara a interdependência entre a rela

ção estabelecida e os resultados da ent revista. Digamos que, num a p

rim

eira sessão,

seja proposto ao entrevistado

qu

e expresse sua o pinião sobre determinado ass

un

to, e

que

,

em

ra z

ão

do estranh am

ento

com

que

percebe seus in terlocutores, o

en

trevistado seja conciso e formal em sua resposta. Se, mais adiante,na quarta sessão,

por exemplo,

lhe

for

proposto

o m esmo te

ma

, de forma talvez diferente, é possível

que, devido à confiança já adquirida o entrevistado se sinta mais à vontade para

expressar sua opinião, o que, evidenteme

nt

e, incidirá sobre os resultados da entre

vista. É por isso

que

dizemos que a qualidade

da

entrevista, das informações obti

das e das declarações, associações e op iniões emitidas pelo entrevistado depende

estreitamente do

tipo

de relação es tabelecida en tre as partes.

O ideal, numa situação de ent re

vi

sta, é que se caminhe em d ireção a um diálo

go in formal e sincero, que permita a

cump

licidade entr e entr e

vi

stado e entrevista

do res, à med ida

que

am bos se engajam na reco nstrução, na reflexão e na interpre

tação do passado . Essa cum p lici

dade pr

essupõe necessariamente qu e amb

os

reco

nheçam sua

s d iferenças e respeitem o o

ut

ro enq

ua

nto po

r

tador

de

uma

visão

de m undo diferente, dad a po r sua experiência de vida, sua fo r mação e sua cul tur a

específica. Assim, cabe ao ent revistador, em pri meiro lugar e principalmente, res

peitar o entrevis

tado

enq uan to produto r

de

signi ficados d iferentes

dos

seus, e de

forma nenhuma tentar dissuadi-lo de suas convicções e opiniões, ou ainda tentar

convencê-lo

de

que está

errado

  ede qu e dev

er

ia

ad

e

rir

às posições do entrevista

dor. Essas tentativas se tornam inteiramente es téreis num trabalho de história oral,

que se caracteriza justamente

por

rec

up

erar e interpretar o passado através da ex

periência e da visão de mundo daquele que o viveu

e/ou

testemunhou. Se o entre

vistador não souber respeitar essa experiência e ouvi-la, permitindo que seja gra

vada para

transformar-se em

fonte de es

tud

o, é preferível

optar

por outro

tipo

de

trabalho, no qual se sinta mais recompensado.

Isso

não

quer

diz

er,

contud

o, que o en

tr

evistador deva manter-se

ap

enas cala

do

e atento ao

que

diz o entr evistado, po is nesse caso não haveria sequer necessida

de de sua pre s

en

ça, bastand o que es tivesse virt ualmen te p resen te através do grava

do r. Assim , o p a

dr

ão de conduta de uma en trevista inclui t ambém a participação

do ent revistador, que deve se adequar ao r itmo do entrevi

interromper o curso de seu pensamento acompanhando se

perguntas, reformulando suas próprias idéias a

partir

d

aq

enfim

procurando

ajustar o diálogo com base nos dad os q

vis

tado

a respeito d e si mesmo e d e suas limitaç

õe

s. É o e

imprime o tom à entrevista e cabe ao entrevistad or aprend

quar seu próprio

desempenho

àquela relação específica.

Imaginemos por exemplo, do is casos opostos: um en

gosta de relatar

os

acontecimentos com todos os detalhes, ao

expressa suas opiniões com convicção, n

ão

parecendo d ispo

e um ent revistado que se expressa com poucas palavras,

facilidade nas questões propostas e se caracteriza

por

ser c

r itmos e estilos diferentes,

que

precisam ser observados e a

sador, a fim de otimizar o resultado da entrevista.

No

primeiro

caso, convém escutar o entrevistado, suas

cor respondendo portanto a seu desejo de ser ouvido, mas,

curar introduzir questões que o entrevistado não considera

no contexto da pesquisa, são julgadas relevantes. Desse mo

tros ca

minh

os de recuperação e interpre tação do passado,

blematizar alg

um a

s

de

suas

opiniõ

es já cristalizadas. Essas s

te, devem ser feitas

com

cuidado, para que o e

nt

revistado n

provocado, e

é

s

empre

bom

acompanhá-la

s com expressõe

interesse do pesqu isador pela resposta, e não for mu lá-las c

provas ao ponto de vista do entrevistado. Não há po r q

se

ntir

-se testado, uma vez

que

o

que

interessa é just

am e

nt

nião so

br

e o assunto.

Como

o pesquisador e

stud

ou aque

deve te r outros pontos

de

vista, mas na relação de en tre

vi

s

na cumplicidade, tais

pontos

de vista não devem ser apres

abs

olut

as, contraprovas ao que o entrevistado pen

sa

, c sim

serem observados e igualment e passíveisde questionament

um entrevistado que parece já ter formado toda a sua conce

pesquisado e constrói seu discurso sem espaço pa ra nov

as

dor

de

verá se

moldar

a tais características,

ou

v

ind

o c om

tam bém suge

rindo cuidadosament

e novos aspectos a se r

e

á

no segundo exemplo, o do entrevistado que desenv

ciso, cabe ao entrevistador te

ntar

est

im

ulá-lo com pergun

específicas a

determinad

o acontecimento, ou mesmo gera

104

VERENA LBEKTI \1AI<UAL

l HISTÔRI

ORAL

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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fato

s

a fim de ativar sua memória e sua disposição p

ar

a falar. Tais

pe r

g

un

tas de

vem ser formuladas - corno em geral todas as questões propostas num a e

nt

revista

om

o cuidado de serem abertas  de não encerrarem  em

si

mesmas

as

respos

tas de

modo

que o

entr

evistado não se limite a apenas concordar ou discordar do

que foi dito e se sinta efetivamente inclinado a explorar aquele assunto. O esforço

de estimular o entrevistado deve ser empreendido de vá r

ias

maneiras experimen

tando abor

dar

o tema de dife re

nt

es ângulos a fim de que se possa apre

nd

er ao

longo da entrevista quais a titudes concorrem para

um

mel

hor

resultado.

Eve

n

tualmente e se for possíve l  convém incluir nesse esforço alguns recursos

con

cretos

que incentivem o

entr

evistad

o

como fotogra

fi

as  artigos de periódicos ou

outr

os

documentos da época em questão a partir dos quais pode ser mais fácil conversar.

Sendo assim sobre a relação de entrevista deve-se dizer que seu ritmo o per

curso da lembrança e da construção do pensamento são dados pelo entrevistado

mas que a entrevista não se faz sem o entrevistador que tem um papel fundamen

tal na busca da cumplicidade entre ambos de

modo

que o tema proposto possa ser

aprofundado e explorado em um diálogo profícuo. t por causa dessas característi

cas que geralmente

uma

rel ção prolong d de entrevista se mostra mais apropria

da para os objetivos do trabalho

com

a história oral: é a continuidade da relação

entre entrevistado e entrevistador que permite a ambos se conhecer melhor esta

belecer pontes e aproximaçõesentre o que foi dito em sessões diferentes identificar

as

peculiaridades de cada

um

e

as

situações que parecem conduzir a

um

diálogo

mais proveitoso para o objetivo comum.

Isso

não

quer dizer  contudo que se deva invalidar qualquer tentativa de en

trevista que não se estenda por mais de

uma

sessão. Muitas vezes um depoimento

de pouco menos de duas horas de duração pode fornecer dados relevantes e cons

tituir fonte de reflexão primordial para a compreensão do objeto de estudo. Isso

depende da profundidade alcançada por entrevistado e entrevistadores condicio

nada pela boa preparação da ent revista e pela experiência do entrevistado e seu

hábito de refletir sobre seu mundo. De qualquer forma havendo a

oportunidade

e

sendo conveniente para os propósitos da pesquisa  é preferível procurar estender a

duração da entrevista de

modo

a alcançar melhores resultados.

Dito isso é fácil depreend er que a relação de entrevista assim como a entrevis

ta em si deve ser tida e analisada como

um todo

 

importando

tanto o conteúdo do

que se deixa gravado quanto a forma com que é enunciado. O fato

por

exemplo

de determinado assunto ter sido abordado ou aprofundado em uma ocasião e não

em

outra

pode ser explicado pelas circunstâncias da relação naqueles dois

momen

tos distintos. Considerar esse fator

é

importante tanto durante a entrevista quanto

depois  quando ela é analisad

a.

Cabe ao entrevistador obse

bilidade para as condicionantes que influem no andamen

dendo a identifi

ca

r seus efeitos sobre o depoime

nto

obtid

melhores

re

sultados possíveis. Estão entre essas condicio

percepção que o entrevistado tem de seu interlocutor que

do de seu discurso. Ass im  determinado entrevistado

pod

e

entr

evistador e não a outr o já que o que se diz depende s

em

entr

evistador competente deve saber avaliar os limites d

perceber de

qu

e forma ele próprio

in t

erfere sobre a inform

Isso não quer dizer que o

entr

evistador deva forj

ar um

responda à sua prática de vida a fim de obter melhores res

vista. Ao contrário qualquer simulação numa relação de

negativamente sobre seu objetivo.

Ao

impostarmos

uma

c

mos acostumados é bastante provável que nosso interlocut

cia e nos retribua com

outra

afetação. E assim aquela re

construída

com

cuidado pode desviar-se dos propósitos d

Digamos  por exemplo que numa entrevista haja

um

significativa e

ntre

entrevistado

e

entrevistador.

É

possível q

que seu interlocutor

com

um neto ou

uma

neta passando

como

se estivesse

ocupando

um papel de avô: explica min

lhe

imprim

e um

tom

didático a suas respostas cuida pa

aprenda algo sobre o

mundo

através da larga experiência

carrega. O entrevistador não poderá aparentar muito mais

mas deve estar apto a reconhecer de que

modo

ele mesm

parte o que e c

omo

fala o entrevistado. E  percebendo t

reconhecê-las

como

únicas aproveitando aquela oportuni

cações pacientes e extensivas que o entrevistado tende a

da

jovem por exemplo

podem

ser de

muit

a valia para o estu

entrevista é portanto analisá-la e avaliá-la constantemen

da mais tarde

quando

se prepara a próxima sessão e fina

duzem os

textos de análise do material obtido

com

a pesq

Cabe sublinhar uma

última

evidência: a entrevist

vista-

além de se constituir

num

todo  é

se

mpre única n

de de se repetir em outras circunstânc

ia

s.

Se

um

mesmo en

do mais tarde

por

outros pesquisadores  mes

mo

que com

para prestar um novo depoimento as dua s entrevistas po

mas jamais serão iguais: a relação entre

as

partes será dif

1 6

VlKlNA

\LBlRll

MAMIAL [ IIISTÓRI/1 ORIIL

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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pessoas, que não serão as mesmas, e o momento de realização da entrevista tam

bém

será outro, seja

do ponto

de vista da vida pessoal do entrevistado, seja

em

função

do quadro

social, político e econômico de seu grupo

ou

país.

Do

mesmo

modo, se entrevistado e entrevistadores se

encontram

mais adiante para uma nova

en trevista, passados alguns meses, por exemplo, o resultado dessa segunda relação

será bastante diferente daquele

obtido

anteriormente. Além das mudanças impos

tas pelo

tempo

decorrido entre

uma

entrevista e outra, o fato de ambas as partes já

se conhecerem imprime novas características à relação. Assim, mesmo que as pes

soas engajadas nas entrevistas não sejam diferentes, cada

um

dos

depoimentos será

único e precisa ser analisado em função das peculiaridades em que é produzido o

momento

pessoal e histórico de realização da entrevista, os objetivos

que

o gera

ram e a relação que se estabeleceu entre as partes).

Tomada, então, como

um todo que

se desenvolve

com uma

lógica própria,

determinada pelas pessoas

que

a produzem e pelo contexto em

que

é realizada, a

entrevista de história oral adquire especificidade. Trata-se de

uma

relação entre

pessoas diferentes

que

segue determinado s padrões de conduta, dados pelos objeti

vos da pesquisa e

do

método da história oral, e cuja atualização varia conforme a

simpatia e a empatia entre as partes.

Tendo fixado a necessidade de se conceber

uma

entrevista de história oral

como

relação, passemos agora para aspectos mais práticos que podem ser observados em

função das circunstâncias de sua realização.

6 2

s

circunstânc ias

de

entrevista

Chamamos aqui de circunstâncias de entrevista os aspectos físicos e práticos que

fazem parte

do

ambiente de produção de um depoimento de história oral,

como

o

local, a duração, o número e o tipo de pessoas presentes e o papel do gravador. O

peso de tais aspectos

pode

tornar-se reduzido

no momento em que

se consulta a

en trevista, quando a atenção se volta especialmente para o material colhido e regis

trado, mui tas vezes já transcrito. Mas,

durant

e a realização da entrevista, as cir

cunstâncias

que

a envolvem

podem

muitas vezes sobrepor-se ao

depoimento

,

incidindo indubitavelmente sobre seu andamento e conteúdo.

Se,

por

exemplo,

em

determin ada sessão de entrevista, o entrevist ado tiver

um

compromisso

que

o obrigue a encerrar o depoimento mais cedo

do que

de costu

me, essa circunstância pod erá interferir em sua disposição de falar mais detalhada

mente sobre um assunto, já que estará preocupado em consultar o relógio para

não perder a hora. Os entrevistadore

s por

sua vez, avisad

deverá ser encerrada antes

do

que esperavam, podem sentir

o roteiro daquela sessão, deixando questões mais extensas e

oportunidad

e

.Eis como

circunstâncias

em

princípio alheia

interterir em seu

andamento

. Sua ocorrência é muitas vezes

entrevistadores adequar-se a elas. Há, contudo, algumas circ

ferência

pode

ser minimizada de

modo

a não incidir prejud

trevista, e é sobre elas

que

falaremos neste item.

6 2 I Local

O local de gravação da entrevista deve ser decidido de

comum

vistado. Dependendo de sua disponibilidade, pode-se realiz

talações

do

programa, caso haja

uma

sala de gravação. Se a

casa

do

entrevistado

ou

em seu local de trabalho, deve-se

que reúna boas condições

para

sua gravação: de preferência

do, ao qual outras pessoas não tenham acesso durante a entre

so

possível e, se for viável,

com uma

mesa

em torno

da

qua

l e

tadores possam se instalar confortavelmente.

O recurso à mesa se justifica devido ao manuseio

do

equ

durante

a entrevista: se o gravador

puder

ser colocado sobre

um dos

entrevistadores, é mais fácil con trolá-lo. Além disso

quisadores

podem

acomodar o material de pesquisa, o rot

mentares em que fazem anotações. E sentando-se em torno

fácil concentrar-se naquilo

que

se está fazendo, olhan do o

o

vamente de perto, havendo meno s possibilidade dedispersão

plo, um documento ou

uma

fotografia sobre os quais discut

ximo

um do

outro

e contar

com

o anteparo da mesa,

do qu

de

mão em

mão, sem

que

todos o vejam ao mesmo tempo.

O ideal

é

que o espaço e a acomodação não

perturbe

atenção sobre o que se está fazendo. Se for o caso, pode-se so

permissão para

arrumar um

pouco os móveis

ou

improvisa

cuidar da acomodação das pessoas, é preciso adequar o espa

gravação, aproximan do o g ravador da fonte de energia cas

posicionando adequadamente

os

microfones e reduzindo o

forme explicado

no

capítulo 3. O importante é que o local d

vista contribua para se atingir os objetivos que a geraram e

ção estabelecida, nem a gravação do depoimento.

1 8

\ lRL -A Alll lKII

,\ IA

 - l lAl Dl

I ORlA

ORAl

mos sugerir com isso que o entrevistador deva providenciar um

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6 2  2 Duração

A duração de uma sessão de ent revista depende da relação estabelec ida entre entre

vistado e entrevistadores c das circunstâncias especítkas àquele momento.

É

preciso,

em primeiro lugar, respeitar os limites do entrevistado: se for uma pessoa muito

ocupada, podendo dispor de apenas

uma

hora por semana para a entrevista, é evi

dente que a duração de cada sessão deve se condicionar a essa exigência.

Se

suas

cond1ções físicas a impedirem de falar du rante muito tempo, é preciso igualmente

compreender esses limites. O interessedemonstrado pelo entrevistado também pode

determinar o encerramento de uma entrevista.

Se

a conversa estiver sendo penosa

pouco estimulante,é possível que o momento de conclusão de determinado assunto

coincida com o momento adequado de encerrar a sessão, procurando-se recuperar a

empatia e o interesse no próximo encontro. Por outro lado, se entrevistado e entre

vistadores estiverem mantendo um diálogo informal e rico, pode ser que se esque

çam da hora e prolonguem aquela sessão para além do tempo inicialmente previsto.

Consideradas,enfim, as circunstâncias particulares a cada entrevistado e a cada

relação de entrevista, pode-se, de qualquer modo, estimar uma média de dua s ho

ras de gravação por sessão de entrevista.

Essa

duração

perm

ite que seja abordado e

aprofundado mais de um assunto específico, uma

ve

z que há tempo suficiente para

estabelecer um diálogo profícuo e refletir em conjunto sobre o passado. Por outro

lado, é

bom

que a entrevista não se estenda para muito além de duas horas, a fim

de que entrevistado e

entr

evistadores não se sintam esgotados com o esforço em

preendido. Realizar

uma

ent revista é sempre cansativo para ambas as partes.

Do

lado do ent revistado, porque

é

solicitado a exercitar sua memória e a refletir sobre

o passado, o que mui tas vezes exige elevado esforço intelectual e emocional. Do

lado dos entrevistadores, porque devem estar permanentemente atentos a tudo: ao

que diz o entrevistado, ao funcionamento do gravador, ao andamento daquela

relação, às indicações do

roteiro, às oportunidades de formular as perguntas, às

anotações que devem ser fei tas, enfim, a todo

um

conjunto de procedimentos que

ex

i

ge um

esforço redobrado e contínuo.

6 2 3 Apresentação dos

en

tre vistadores

Neste subitem trataremos de uma circunstância que pode parecer fora de propósi

to para alguns pesquisadores, mas cuja obse

rv

ação pode favorecer a relação de

entr

ev

ista. Trata-se da

ap r

esentação física, ou seja, da ro upa que se usa no primeiro

contato com o entrevistado c nas sessões de entrevista subseqüentes. Não quere-

para exercer sua função, ou ainda que deva se vestir em desac

usual. Queremos apenas chamar a atenção para um fator im

cultura, que exerce influência sobre as avaliações que fazemos

aquelas que se fazem a respeito de nós.

Se

, por exemplo, nos dirigirmos a uma entrevista com

um

governo de tênis e camiseta, essa nossa apresentação possivel

mas ao andamento da entrevista. O entrevistado pode identifi

de

ves tir um

sinal de negligência e de desrespeito, o que pod

boa vontade em prestar o depoimento. Por outro lado, se form

com

um

a lavadeira com trajes finos, como se estivéssemos pro

um casamento, tal apresentação não favorecerá a empatia nece

vimento de uma relação de entrevista.

Isso não quer dizer, entretanto, que o entrevistador deva

diferente do que

é

de seu agrado; basta escolher, entre as roupas

quais se

si

nta à vontade, aquela que melhor se adapta à ocas

estilo de vida do entrevistado.Essa é uma das circunstâncias, em

à entrevista, que sem dúvida interferem em seu andamento.

entrevistador se apresenta não chama a atenção do ent revistad

belecer o diálogo e se voltar para o objetivo mesmo da entrev

assim as atenções para aquilo que efetivamente interessa na en

6 2 4

essoa

s presentes

à

entrevista

Temos insistido no caráter concentrado de uma situação de en

esforço de impedir que circunstâncias alheias à relação e aos ob

interfiram em seu andamento. E necessário que entrevistado e

tejam concent rados sobre o que e como) se

fa la

Nesse sen

terceiros durante a gravação de uma entrevista pode constituir e

e às vezes limitador. Digamos, por exemplo, que em determinad

juge do entrevistado esteja assistindo ao depoimento. Mesmo

com opiniões ou lembranças próprias, pode ser que o entrevist

com sua presença, ou de alguma forma obrigado a reportar-s

co nstituição do passado, de maneira a incluí-lo na conversa. O

companheiros de trabalho, ou tros parentes ou amigos.

Um amigo,

por

exemplo, pode sentir-

se

inclinado a prestar

mento sobre o assunto tratado, tirando a palavra do entrevistad

110

Kf NI\

r\LB[K1

1

expresse seu ponto de vista.Essa situação pode se agravar se o entrevistadofor uma

MANUAl

DE HI Sl ÓRJA OR \ 1

m

odo

, não ser

ia

fact

íve l.

É claro

que em

casos como esse

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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pessoa de estilo mais conciso, passando a se sent

ir

aliviado diante da prolixidade

do

amigo. A solução para esse tipo de situação pode ser dada com um convite expres

so

ao amigo,

para que

ele

mesmo

seja

entrevistado

em

data

a

ser marcada

sugerindo-se que não participe mais daquela entrevista, uma v z

que

terá

oportu

nidade de falar sobre sua experiência mais tarde. É claro que tal decisão só deve ser

tomada se efetivamente o depoimento

daqu

e

la

terceira pessoa for considerado re

levante para a pesquisa. Pode ser que o amigo ou parente também tenha participa

do

ativamente

do

tema

que

se investiga, havendo então um real interesse em apro

veitaraquele contato

para

uma

nova entrevista. Caso não exista tal interesse, deve-se

procurar contornar

a situação, solicitando cuidadosamente

que

a

entr

evista seja

feita a sós com o entrevistado.

Algumas vezes, contudo pode não ser possível impedir que

uma

terceira pes

soa participe da entrevista.Nesses casos, será necessário

um

cuidado especial

quando

de seu tratamento. Os dados

do

amigo ou parente presente devem ser registrados

na ficha

da

entrevista e

no

caderno

de

campo, caracterizando-se claramente,

na

apresentação da

ent

revista, qual seu papel ao longo

do

depoimento. Podem ocor

rer com mais freqüência conversas paralelas e superposi ção de vozes, que devem

ser identificadas na passagem da entrevista para a forma escrita.O responsável pela

conferência de fidelidade deve saber diferenciar com precisãoa voz

do

ent revistado

da voz

do amig

o,

para não

atribuir àquele observações feitas pelo último.

Ou

seja,

a interferência resultante da participação de terceiros no

depoimento

ultrapassa o

âmbito estrito de realização da entrevista e requer cuidados especiais

na

liberação

do documento

para o público.

Mas pode acontecer, em determinadas situações de entrevista, que a presença

de

uma

terceira pessoa constitua fator favorável

para

a relação estabelecida. Diga

mos,

por

exemplo,

que

determinado entrevistado julgado essencial para o desen

volvimento da pesquisa esteja fisicamente debi litado para falar. Após avaliação cri

teriosa desses limites, pode ser

qu

e os pesquisadores ainda considerem relevante

realizar a entrevista, em função da atuação estratégica daquele ent revistado e da

contribuição cruci

al

de seu depoim

ento

para a compreensão

do

objeto de estudo.

Nesse caso, a presença de um parente ou de pessoa

pr

óxima ao entrevistado

duran

te a gravação

do

depoimento pode ajudar bastante, principalmente se essa terceira

pessoa tiver sensibilidade suficiente para auxiliar o

ent

revistado

em

seu esforço de

ser compreendido ou de

rememor

ar o passado, sem interferir em suas op iniões e

em sua visão de

mundo.

Assim,essa terceira pessoa estaria funcionando como urr.a

espécie de intérprete, viabilizando a produção daquela entrevista, que, de outro

essa.

t e ~ c ~ i r

presença

por

ocasião da análise

do

document

ma 111Ctdm sobre aquela situação específica. Além disso,

é

p

p r ~ s e . n l a ~ ã o do do

c

ument

o liberado para consulta, p

bem .seJa mtetrado dessa circunstância especial.

outra

sit

ua

ção em

qu

a presença de mais

uma

pes

da a v ~ r á v e l para a entrevista. Digamos, por exemplo, que s

entrevtstar

um

casal

que

teve parti cipação relevante

no

tem

que a entrevista

s

desenvolva muito bem es tando ambos o

tes, e que,

por meio

de

um

diálogo rico, se estabeleça

um

in

u ~ n dos entrevistados passa a se sentir motivado a falar sobr

VIsta

e sua atuação à medida

que

o

outro

também fala e se

das situações relacionadas ao tema.

Em

casos

como

esse, e

falar presença de terceiros': uma vez que a terceira pes

entr

evistados, perfeitamente integrado à entrevista.

E já que tocamos no assunto, vale abrir um parêntese p

zação

e . e n t r ~ v i s t a s com

mais de

um

depoente. Na prática d

ma

de

Htstóna

Oral

do

Cpdoc não é comum realizarmos e

mais entrevistados ao mes

mo

tempo.

Ao

contrário, a grande m

é

~ m ~ o s t a

de n t r ~ v i s t s

com um

único depoen te. Isso se dev

p r o ~

na metodologta de história oral,que pressupõe

um

estud

p a r t i C u l ~ r e s

cada

um

deles toma

do enquanto

objeto de inv

p r o f u n d i ~ a d e com que

s

estuda

um

ator e a qualidade da

en

tanto mawres

quanto

mais exclusiva for a dedicação àquele c

preparação, realização e processamento da

ent

revista. Elabo

trevista para um único entrevistado

permit

e abranger aquele

dam

ente

do que

se tivéssemos de nos

ocupar

de dois atores c

mesmo se aplica ao mom ento da ent revista:

quando

duas pes

ao mesmo.tempo, atenções têm que ser redobradas, é pr

um

r e ~ I s t

nao se

so

breponha a

outro

e torna-se ma

e x p ~ n

ê n c t

e as opiniões individuai

s no

ritmo e na perspe

particular. Por fim, o trabalho exigido na passagem do docum

forma escrita também requer esforço redobrado.

O ~ t a ~

pela

e l i z ~ ã o

de entrevistas com mais de

um

dep

da ~ v a l w ç a o dos

~ s ~ U i s a d o ~ e s e n ~ o l v i d o s

no projeto sob re a

cedi.

mento ~ o s

ObJe tivos da mvestigação. Se, por exemplo, a

trevista r

dOis

atores

rel

evantes para a pesquisa

ó puder

se co

I 2

clição de ambos serem entre

vi

stados ao mesmo tempo - o que pode ocorrer se os

A1J\NUM O

111\

TÓRIA ORAL

preocupem em demasia com seu desempenho, com possíveis e

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p

es

quisadores tiverem de se deslocar ?ara outr cidade para gravar o depoimento e

se os próprios entrevistados só dispuserem de um tempo restrito para prestar seus

depoimentos, por exemplo - ,

é

possível que, após avaliação criteriosa de tais limi

tes, os pesquisadores julguem conveniente realizar a entrevista, mesmo contando

c

om

cin  unstâncias pouco favoráve

is.

6 2  5 O

gra\ador

Uma última circunstânc

ia

sobre a

qu

al é preciso f

al

ar dil. r

es

peito ao papel do

gravador numa situação de entrevista. É

claro que atualmente nã o se pode pensar

em história oral sem o equipamento de gravação, de áudio

ou

vídeo:

é

o gravador

que permite falar em produção de documento, no retorno à fonte, na montagem

de acervos de depoimentos, na autenticidade de trechos transcritos e na análise de

entrevistas. Uma entrevista que não pode ser gravada é apenas um entrevista du

rante a qual o pesquisador certamente faz anotações de próprio punho, adquire

conhecimento esubsídios para trabalhos posteriores, mas à qual não pode retornar

para checar informações, tirar novas conclusões, recuperar associações, ou ainda

reavaliar sua análise.

Durante a realização de uma entrevista de história ora

l,

o gravador evoca a

presença virtual de outros ouvintes, do

público e da posteridade . Em geral, entre

vistado e entrevistadores preocupam-se mais com seu desempenho, cuidam da lin

guagem e do peso de suas palavras. Não estamos falando apenas com nosso inter

locutor direto, mas também com um universo ainda pouco definido de ouvintes.

Sabendo que será ouvido e talvez citado mais tarde, o entrevistado se preocupa

com os efeitos de seu depoimento sobre o público.

Is

so pode resultar, por exemplo,

em discursos laudatórios a respeito de

si

mesmo, ou, do contrário, em urna inibi

ção exacerbada. É possível também que estimule uma vontade de denúncia, ou

seja: já que o depoimento está sendo gravado e que possivelmente o entrevistado

julga que não tem nada a perder, a entrevista pode se transform r em excelente

ocasião para colocar

as

cartas na

mesa .

Seja como

for, é

indubitável que a presença do gravador na entrevista exerce

influência sobre o que e como se

fala.

E, quanto a isso, o papel dos ent

re

vistadores

é

muito importante: cabe a eles procurar minimizar

es

sa influência, conferindo ao

gravador apenas a atenção indispensável. Para alcançar esse objetivo,

é

preciso, em

primeiro lugar, que os próprios entrevistadores

á

tenham perdido grande parte de

sua inibição: que não se sintam constrangidos ao falar ao microfone, que não se

de gramática, e assim por diante. É por isso que uma entrevista

bem-sucedida quando os entrevistadores já têm, atrás de si, urn

ficativa naquela função: qu ndo já tomam o ato de entrevistar

ao gravador, como familiar. Caso isso não seja possível, convé

dor

novato re

ali ze

sua primeira entrevista juntamente com

um

periente na função, atenuando,assim, sua insegurança. Convém

da a lidar com o gravador, experimentando gravar sua própria

Para conferir ao gravador a atenção apenas indispensável

o equipamento corretamente e confiar em seu funcionamento.

mostrar muito preocupado com o gravador durante a entrevi

funcionamento de cinco em cinco minutos, por exemplo, ou ain

freqüentemente a gravação para

ce

rtificar-se de que o depoim

gistrado, é claro que esse comportamento levará o entrevista

também com a aparelhagem, funcionando como

um

lembrete

seu depoimento está sendo gravado.

Se,

ao contrário, o entrev

sembaraço e prática ao lidar com o equipamento e co m o mic

turalmente, sem se preocupar com o registro de seu discurso, e

entrevistado (e não para o gravador), essa atitude levará o d

gravador também

em

segundo plano, concorrendo para min

que o equipamento pode

exe

r

ce

r sobre o andamento da entrev

Pelo mesmo motivo, deve-se evitar desligar o gravador com

ou

ainda acionar a tecla pausa muitas vezes, limitando-se es

apenas às situações realmente necessárias: quando a entrevista

um

telefonema

ou por

outras pessoas, quando há necessidade

fita, ou ainda qu ndo o próprio entrevistado solicita que o grav

À exceção de situações como essas, é preferível não acionar

as

durante a entrevista, o que se aplica também aos momentos d

mente prolongado, durante os quais

é

melhor deixar o gravado

m

lmente, para que o entrevistado não se preocupe com o te

formular seus pensamentos.

No decorrer de uma entrevista, pode acontecer de o ent

preocupações a respeito

do gravador. Digamos, por exemplo,

alcançado

um

clima cordial e informal, o

ent

revistado se surp

brança de que aquela conve

rs

a está sendo gravada:

ele

pode ter

dota,

por exemplo, ou ainda ter descuidado por alguns instante

gramatical.

Se

es

tiver preocupado com

os

efeitos de tal inform

  4

V

lKlN

Al8lR 

se fará de seu depoimento, pode expressar sua insegurança perguntando, afinal,

MANUAl DI. HISlÓRIA ORAl

anotações de apoio, e estar constantemente

olhando

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como será

tra

tada aquela gravação. Nessecaso, os pesquisadores devem assegurar-lhe

que o depoimento passará por um tratamento cuidadoso e que, caso o entrevista

do julgue

oportuno, pod

e embargar aquela anedota ou outro trecho que

porv

en

tura queira

suprimir

do depoimento. O importante, nesse tipo de negociação, é

procurar

manter

o clima inform al já alcançado, certificando o entrevistado d e que

suas preocupações serão respeitadas, e prosseguindo a entrevista novamente sem

dar atenção demasiada ao gravador.

Out

ro entrevistado, por exemplo, pode

ex

pressar sua preocupação

quanto

às dificuldades em se compreender e/ou

tran

scre

ver seu depoimento. Em ocasiões como essa, é sempre bom demonstrar com atitu

des e palavras que os aspectos técnicos daquela ent revista (a qualidade da gravação

e o

tratamento

posterior do documento) correm

por

con ta do programa, que já

acumulou experiência suficiente a respeito para produzir bons resultados. Por fim,

ai

nda

com

relação às preocupações do entrevistado, resta fa lar das ocasiões

em que

ele expressa seu desejo de que o gravado r seja desligado, para que possa falar sobre

determinado assunto em

off

Nesses momento s, é mu ito importante obedecer ime

diatamente a sua solicitação e desligar o gravador, para reiterar o respeito sobre o

qua l se constrói a relação de ent revista.

6 3 A

condução de

um

entrevist

Tendo passado pelas características de uma relação de entrevista e pelas circuns

tâncias que a envolvem, chegamos enfim ao cerne deste capítulo, ou seja, ao como

conduzir uma entrevista. Desde já,

é

preciso lembrar

que

cada sessão de entrevista

guarda sua especificidade e que aquilo que se dirá a seguir deve ser ponderado e

criticado antes de ser adotado. Como já dissemos mais de uma vez, este Manual

constitui apenas uma o

ri

entação para que cada um discuta e defina sua própria

prática de trabalho, e não pretendemos esgotar

tod

as as situações e nuanças que

podem

ocorrer

durante

a condução de

ent

revistas de história oral.

6 3 1 O papel dos entrevistadores

Durante a gravação de uma ent revista, é preciso destinar o máximo de atenção ao

entrevistado, não só pela importância do que ele diz, mas também porque essa

clara demonstração de interesse concorre para que se si

nt

a estimulado a falar.

As

sim, deve-se procurar desviar o menos possíve l os olhos para o gravador ou para as

certificando-o de

que acompanhamo

s o

que

diz. Sabemo

estar conversando com uma pessoa que não nos olha de f

ocupada com outros pensamentos- incômodo que se ac

relatando experiências cuja seqüência é preciso acompanha

desfecho. Convém também usar gestos e expressões que de

tado

que

se está

acompanhando

seu relato e

que

ele tem dia

interessados. Por exemplo, afirmar com a cabeça e usar expr

a apreensão do que está sendo dito (do tipo

hum,

hum , é

Uma entrevista de história oral constitui uma reflexão e

do

levada a efeito ao longo de

uma

conversa. Uma conversa c

é gravada e

tampouc

o acompanhada de anotações. Se

um

al

é de se esperar que tome nota e que, portanto, não fique olh

d

urante

todo o tempo. Numa conversa, ao con trário, não

daquilo que o outro fala, e é possível que o recurso freqüen

uma

entrevista produza

no

entrevistado um certo re traime

inibido ao ver

que

aquilo

que

diz adquire peso semelhant

então, pode achar que aquilo sobre o que se está tomando

importante

para o pesquisador e que,

port

anto,

é

necessári

Tomar nota durante uma entrevista pode ter um

efe

ito parecido

o fato de chamar a atenção

do

entrevistado para a responsab

Pode-se dizer

que

uma

situação de en

tr

evista reúne o

por um lado, e da aula, por outro. Da conversa, em virtu

acerca das vantagens de

um

relacionamento mais informal

aula, porque dela fazem parte tipos de registro e de fixação

anotações. bastante difícil para

um

único entrevis

tador

de

ções exigidas pela conjunção de ambas as

moda

lidades de int

dirigido ao entrevistado, acompanhando seu discurso com

e interesse ouv ir o que diz; consultar o roteiro; articular

ganchos fornecidos pelo p

róp

rio entrevistado; verificar o f

vador; to mar nota de palavras, nomes próprios e de questõ

das depois

que

o entrevistado concluir seu raciocínio; locali

mentos e ao material de apoio à entrevista (documentos, fot

a serem explorados com mais vagar, e assim por diante. D

entrevista

é

praticar no limite máximo nosso

poder

de con

uma coisa ao mesmo tempo: utilizamos os olhos, os ouvid

para escrever e manusear o equipamento d e gravação- e,

  6 VERLNA ALBERTI

ça. E tudo deve funcionar harmonicamente  de modo que o entrevistado não fique

MANUAL

DE ltiSTÓRIA

ORAL

Geralmente quando acont

ece

de uma entrevista ser rea

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ansioso ou de alguma forma ofuscado pela perturbação do pesquisador.

viabilizar essa harmonia que conv

ém

dividir os encargos da condução

de uma entrevista entre dois entrevistadores.Ao primeiro caberia em princípio

tomar

a dianteira da conversa isto é conduzir propriamente a entrevista manten

do o olhar voltado para o entrevistado formulando

as

perguntas ouvindo suas

respostas enfim funcionando como

uma

espécie de primeiro interlocutor

no

campo

de visão do depoente. O segundo entrevistador seria responsá

vel

pelos elementos

de apoio àquela entrevista cont rolando o gravador; tomando nota das questões a

serem aprofundad

as ou

esclarecidas das palavras e nomes próprios que serão che

cados posteriormente com o entrevistado; verificando os pontos do roteiro que

foram/não foram abordados; registrando gestos e outras situações que surjam

no

decorrer da conversa e que devam constar do depoimento depois de transcrito;

localizando documentos como cartas fotografias etc. em meio ao material de

pesquisa levado par a a entrevista e ass

im por

diante.

Essa divisão de tarefas não implica necessariamente que o primeiro entrevista

dor

não possa se encarregar

de

tomar notas ou de ajudar a verificar o funciona

mento do gravador nem tampouco qu e ao segundo seja vedada a formulação de

perguntas. O segundo entrevistador também pode e deve intervir

quando

achar

necessário retomando questões pouco exploradas

ou

ainda lançando outras que

tenham passado despercebidas pelo primeiro. É possível também que ambos esta

beleçam entre si

uma

alternância de funções conforme a natureza

do

assunto a ser

tratado de modo que cada

um

tome a diantei ra da conversa

no

momento em que

o tema tratado é aquele que mais domina. O importante é que ambos estejam

muito bem entrosados - entre si e com o roteiro - e determinem previamente

como conduzirão cada sessão de entrevista.

Isto posto vale abrir

um

parêntese para discutir se a presença de mais de dois

entrevistadores se torna prejudicial no trabalho com a história oral. Novamente

estamos diante

de uma

questão que deve ser avaliada a cada programa em função

dos casos parti

cu

lares com que se deparar. Pela prática do Cpdoc podemos dizer

que a participação de mais de três entrevistadores numa entrevista já começa a

incidir negativamente sobre o seu andamento. preciso lembrar que muitas ses

sões são realizadas também com a presença do técnico de som o que já eleva o

núm

ero de pessoas presentes. possível que o depoente comece a se sentir ini

bido ao constatár que há pessoas dema

is

interessadas

no

que

vai

izer pessoas

aliás muito bem preparadas e

in f

ormadas a

re

spe ito de sua vida e do assunto

em

questão.

sadores  convém que o terceiro seja

um

consultor ou especi

seja considerada indispensável para a qualidade

do

depoim

zando uma pesquisa sobre a história de

uma

indústria q

possível que determinadas entrevistas

ex

ijama presença de um

so

de produção

da

s substâncias químicas para que secompre

relações com os fornecedores de matérias-primas o custo d

especialização

da

mão-de-obra etc.

É

necessário evidente

esteja bem integrado com o projeto de pesquisa e com os o

uando

se ultrapassa o

núm

ero de três entrevistador

entrevista corre risco de se transformar

em um

debate n

veiculados pela televisão. Na históri a oral o que interessa

temas com a presença de

um

ator que deles tenha particip

mais det ido da experiência particular de indivídu os e de su

is

so  é necessário

qu

e se dê prioridade ao relato

do

entrev

reservando-lhe o

es

paço

da

entrevista situação

que

po

alcançada quando mais de três pessoas partici pam ativam

Além

do núm

ero de entrevistadores e de suas atribu

neste item algumas observações que dizem respeito à ati

dur

ante

uma

entrevista.

Vale

lembrar que tal atitude deve

respeito ao entrevistado considerando-se

as

preocupaçõe

correr do depoiment

o

Assim  como já

foi

dito  faz parte d

dor infor

mar

o depoente sobre a existência da

ca

rta de cess

os objetivos e o destino daquela entrevista bem co

mo

des

que solicitado. Além desses procedimentos pode acontece

rer ver o roteiro da entrevista antes de se iniciar a gravaçã

também mostrar-lhe o que pede esclarecendo trata r-se ap

de apoio

que

não será seguida à risca. Eventualmente caso

roteiro com antecedência pode-se preparar uma síntese l

suntos de

modo

a inteirá-

lo do

conteú

do

da conversa.

Recomenda-se conduzir a entrevista com bastante

evitando-se expressar impaciênciaou ansiedadeem encer

os pontos do roteiro 

ou

questionar o qu e está sendo dito.

o entrevistado esteja se desviando do objetivo de uma qu

tato e paciência para trazê-lo de volta ao tema 

es

perando

mento ant

es

de refazer a pergunta. Do mesmo modo  é pre

com os períodos de silêncio durante

uma

entrevista evitan

  8

VlR li\A

AlHlRTI

sivamente novas perguntas apenas para preencher o vazio': Há casos, por exemplo,

,\IP.,,IlAl

[ IIISTÓRIA

ORAl

daquele apelido

e

prosseguir seu depoimento mais estimula

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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em que

o entrevistado

faz

pausas de reflexão

para

articular melhor seu

pen

samen

to, e é preciso distinguir entre tais momentos e aqueles

que

se seguem à conclusão

de

uma

idéia. Nestes últimos,

quando

o depoente dá

por

encerrado aquele pensa

mento, é possível preencher o silêncio com

uma

nova pergunta,

dando andamento

à

entrevista. Quando, ao contrário, a pausa serve para pensar em como formular

melhor

um

pensamento,

é

preferível aguardar que o entrevistado encontre o cami

nho

de sua narrativa sem interrompê-la com outras perguntas. claro que isso é

muito

relativo e depende da sensibilidade

do

entrevistador

em

identificar o tipo

de

pausa com

que

se depara. Em todo caso,

é

bom

saber de antemão

que

os períodos de

silêncio são comuns em entrevistas de história oral e que convém respeitá-los. Há

estudos, inclusive,

qu

e

tomam

o silêncio dos entrevistados

como

objeto de análise

para identificação

do

que se pode

chamar

de zonas de

int

erd ito,

ou

seja, aqueles

temas sobre os quais não se pode ou não se consegue falar.

1

A calma

que

se deve

manter diant

e

dos

períodos de silêncio é a mesma

que

convém utilizar para não interromper o entrevistado enquanto fala. Digamos, por

exemplo,

que durante

o relato de

um

caso ocorra ao entrevist

ado

r

uma

nova

que

s

tão, seja para esclarecer deter minada passagem, seja para aprofundar um

ponto

pouco

explorado. Se o entrevistador interromper o depoente, é possível

que

este

último

acabe esquecendo

aquilo que

iria dizer antes

de

ser

interrompido,

perdendo-se talvez informações importantes para a entrevista. Para evitar tais si

tuações, convém

que

o

ent

revistador tome nota da questão que lhe ocorreu, sem

interromper o entrevistado, e aguarde o momento de conclusão daquela idéia para

formular sua pergunta.

casos, entretanto,

em

que o fato de interromper o en

trevista

do pode produ

zir efeitos positivos. Como a entrevista de história oral se

caracteriza por sua forma dialógica, há ocasiões em que um pequeno comentário

sobre o

que

está

sendo

dito funciona como estímulo para o ent r

ev

istado

continuar

sua narrativa e contribui para estabelecer o clima de cumplicidade da entrevista.

Digamos,

por

exemplo,

que

o entrevistador interrompa a narrativa

lembrando

o

apelido de determinada pessoa sobre a qual o entrevistado estava falando. Trata-se

de uma interrupção pequena e pitoresca que pode reforçar a

cum

plicidade ent re

ambos. O entrevistado

pode

se sentir gratificado pela

oportunidade

de se lembrar

1

Cf.,

por

exemplo, .Pollak, Michael. La gestion de l'indicible ,

Actcs

de

la Recherche en Sciences

Sociales n. 62/63, juin 1986, p 30-53, c, do mesmo ;1utor, Memória, esquecimento, silêncio. Estu-

dos Históricos

3: Memória. Rio de Janeiro, Associação

de

Pesquisa e Documentação Histórica, v 2,

n.

3,1989, p. 3-15.

entrevista.

Como a entrevista de história oral constitui

uma

conv

também as ocasiões

em que

o

próprio

entrevistado

pode

esta

rompido

. Isso ocorre quando, em seu relato, encontra dif

fatos, datas, nome s etc., hesitando antes de definir o

que qu

convém vir

em

seu auxílio e esclarecer a dúvida,

ou

ainda ad

se tem conhecimento exato a respeito.

Quando

se recomenda não interromper o entrevistado

mais

como

orientação

do

que como

regra. Novamente, cabe

car em

prática sua sensibilidade

para

saber que

atitud

e t

om

exercício dessa sensibilidade é tanto mais fácil quanto maio

trevistador

na

condução de entrevistas e na apreensão

do

es

do em

particular. Assim, se a interrupção de determinado r

dicial, esse erro  cometido pelo en trevistador servede aprend

ocasiões, o

que

significa dizer

que é

fazendo entrevistas que

6 3 2

Como conduz

ir

a entrevista

Uma

vez

tendo

fixado o papel

dos

entrevistadores

em um

oral, tratemos agora de alguns aspectos que dizem respeito

trevista: o

que

dizer, como dizer, como ouvir. Na literatur

possível

encontrar

autores

que

defend

em

diferentes

pr

áticas

vistas, desde aquelas em que o entrevistado r apenas liga o g

do

entrevistado, passando por modalidades mistas de condu

primeira

parte

em que o entrevistador apenas ouve e, em se

para discussão),

até

aquelas

em que

se formulam

pergunt

a

mento do

depoimento. No Programa de História Oral d

adotar a prática

do

diálogo entre entrevistado e entrevistad

espaço

para

o discurso d aquele. Isso implica

que

o entrevis

também conduz a conversa; ou seja: també m fala. Essa opção

se baseia na crença de

que uma

entrevista

co

nduzida

em

medida

do

possível prolongad a,

produz

melhores resultado

o pesquisador não intervém diretamente.

Há pessoas

que

nos perguntam se a atuação

do

entrevis

ent

revista não compromete a

impar

cialidade

do

depoimen

o entrevistado por camin

hos

traçad

os

pela pesquisa, ao inv

12

Vf

R

[:-<A Al8lRTI

pontaneamente

. É evidente que isso acontece, e sabemos que n

ão

há como fugir a

M.-\NUAl Ol I iS I OKIA

ORAl

Além de evitar que o entrevistado seja

induzido

a resp

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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isso

em

trabalhos com a história oral e em pesquisas históricas

em

geral. Se

admi

tirmos a interferência de nossa própria visão

do

objeto de estudo na forma de

conduzir uma pesquisa, teremos andado meio

caminho

em direção à objetividade

científica nas ciências sociais. E, como reverso da objeção

que

se faz a entrevistas

diretivas, diríamos que a

atitude

e a presença do pesquisador, naquelas que não são

dirigidas, também intervêm no conteúdo e na forma do depoimento. O entrevista

do

so

li

citado a discorrer livr

emente

sobre cer to assunto

pode orientar

sua narrati

va de acordo com o

que

imagina

que

seu ouvinte queira ouvir e de acordo com a

postura, a expressão, o

comportamento do

pesquisador.

Se optamos por entrevistas diretivas, isso não quer dizer que o façamos sem

maiores cuidados. Ao

contrár

io, conduzir uma entrevista pro

cu

rando reduzir as

influências

do

pesquisador sobre o

depoimento

requer

muita

atenção

na

hora

de

falar. Assim, se o

que

nos interessa é a experiência e a visão do en trevistado sobre o

passado, não cabe,

em uma

entrevista de história oral, induzir o depoente a con

cordar com nossas própria s idéias sobre o assunto. Isso significa que se deve cuidar

para

formular

pergunt

as abertas, que forneçam espaço

para

o

ent

revistado expor

seu ponto

de

vista,

ind

e

pendentemente de uma

direção previamente traçada.

Assim, por exemplo, ao invés de O senhor acha

que

o general X agiu dessa

forma

porque

estava comprometido com os fazendeiros da região? , teríamos:

A

que o

senhor atribui

o f

ato de

o general X ter agido dessa forma?': Observe-se que

a

primeira pergunta

pode

levar o entrevistado a dizer apenas

sim

ou

não':

ou,

quando

muito,

a acrescentar

uma

justificativa para a resposta, do

tipo

Não, por

que

o general não se importava com os fazendeiros': A segunda pergunta, ao con

trário, não fornece direção

priori

para a resposta e se abre para qualquer

caminho

que o en trevistado queira seguir. Desse modo, deve-se

atentar

para

não introduzir

nas perguntas elementos

que

sugiram o percurso das respostas,

e

muito

meno

s

usar

de

malabarismos que deixem o entrevistado sem alternativa. Tais procedi

mentos devem ser reservados a outros tipos de entrevista, e não aos propósitos da

história oral.

Uma vez tendo obtido do

depoente

sua versão sobre a questão proposta, pode

acontecer que o entrevistador ainda queira colocar

em

xeque sua própria opinião a

respeito. Nesse caso, ele

pode

lançar mão da pergunta fechada, mas com

cuidado

para conservá-la flexível: Mas o

senhor não

acha que o general X também agiu

assim porque estava comprometido

com

os fazendeiros da região? Dessa forma, e

somente após ter

dado

espaço para a visão do entrevistado, o pesquisador estará

colocando o tema em discussão,

abrindo

novas possibilidades

de

abordagem.

en

tr

evis tador deseja, o emp rego de perguntas abertas funcion

que

o

ent

revist

ado

efetivamente fale - e fale bastante - s

Perguntas que podem ser respondidas apenas com sim  ou

fornecem estímulos para seu desenvolvimento, o

que

pode co

o entrevistado é pouco falante. Ao invés

de perguntar

O s

Revolução de 30? , talvez seja mais produtivo usar O

que

o

Revolução

de

30?  .

Ao lado das perguntas abertas, há outras formas de incen

como,

por

exemplo,

procurar ancorar

as questões a do

cumen

artigos de

jornal

etc.) e a fatos específicos. Uma referência a um

ajudar a recordá-lo

e

permite o desdobramento da resposta

po

com outros

fatos. Assim,

ao

invés de

perguntar

genericamen

achou do governo de Fulano de

Tal? ,

pode ser mais produtivo

creto, a

uma

greve ou

à

composição do ministério naquela ge

estimula r as respostas é

retomar

referências que o entrevista

possam ser usadas como ganchos para novas questões. Assim,

nhor falou

há pouco

que Fulano não

pôde

subir a seu

apart

elevador eque o senhor teve de descer os nove andares no escuro

te a falta de energia naquela época?  O recurso a fatos concretos

devam abandonar as questões generalizantes. Ao contrár io, elas

va

lia

em

momentos de

análise de conjunturas e de elaboração

de

Na reconstituição

de acontecimentos e conjunturas

do

pa

uma pesquisa de história oral, é muito útil poder contar com v

cada entrevistado,

para

ampliar a margem de comparação do

si. Assim, cabe aos entrevistadores cuidar para que as questõ

pesquisa sejam desenvolvidas extensivamente, propondo difere

dagem, fazendo

perguntas

que forneçam detalhes que

confir

que o entrevistado acabara de dizer, enfim, cercando aquele te

quê?, o quê?, onde?, quando?, corno?, quem? etc. Mas atenção:

sas perguntas, deve-se cuidar para

não

interrogar o entrevista

já tenha dito. Ou seja: se, em meio a seu relato, disser que

avenida Rio Branco, não se vá perguntar adiante onde

foi

a pas

mas muitas vezes pode ser esquecido e é preciso antes

de

tu

poder perguntar.

Ouvir

com atenção evita que se pergunte so

sido dito e permite identificar, no discurso do entrevistado, os

que podem

se transformar em belas perguntas adiante.

  22

V R[NA

A l BERTI

Outro aspecto a ser considerado é a formulação de perguntas curtas, simples e

MANUAl DE fl iSTÓR IA ORAL

do. Geralmente

is

so acontece quando ele esquece já ter falad

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diretas. Devem-se evitar introduções extensas antes de enunciar a pergunta pro

priamente dita, porque elas geralmente dão

uma

impressão de formalidade, po

dendo prejudicar a relação

de

entrevista. É preferível ser simples e direto, aproxi

mando o ritmo da entrevista daquele de uma conversa. Questões longas com muitos

itens, também devem ser evitadas, sendo mais conveniente proceder a seu desdo

bramento, perguntando uma coisa de cada vez de modo que o entrevistado não se

sinta extenuado

ant

es mesmo de começar a responder.

Além de saber ouvir e de formular perguntas, o entrevistador deve aprender a

lidar

com

alguns elementos recorrentes em entrevistas de história oral e que va

riam em função

do

estilo

do

entrevistado. São eles as repetições, os avanços e re

cuos e a falta de cronologia. Os três últimos

foram tratados no capítulo sobre a

preparação de entrevistas, quando

enfatizamos a necessidade de

tomar os

roteiros

de modo flexível. Se o entrevistado avança, recua ou não segue a cronologia em sua

narrativa, isso não deve constituir problema para o entrevistador acompanhar a

entrevista e continuar a conduzi-la. Uma entrevista de história oral é também re

pleta de repetições. Repetem-se temas, fatos, expressões. Numa entrevista com mais

de uma sessão, é muito comum constatarmos que um mesmo tema é tratado mais

de uma vez,

em

dias diferentes. O próprio entrevistador pode ser responsável

por

isso,

quando

solicita esclarecimentos sobre assuntos já tratados. O entrevistado

também é gerador de repetições, e é muito interessante verificar que tipo de acon

tecimentos e expressões se repetem, como se estivessem cristalizados em sua ap re

sentação de si . Por exemplo, determinadas expressões-chave em forma de ditad os

que

começam a se revelar recorrentes, mesmo aplicadas a ocasiões distintas.

Ocorreu-nos, por exemplo, entrevistar uma pessoa que empregava recorrentemente

uma espécie de máxima ao se referir

à

administração de diferentes governos. Dizia

que Fulano se servia

do

povo, ao invés de servir o povo ,

ou

então que Fulano

efetivamente servia o povo e não se servia do povo': Tal expressão, ao se

tornar

freqüente, mostra s eu caráter fixo na visão de mundo

do

entrevistado, permitindo

que seja incorporada

à

análise de sua interpretação do poder.

Um entrevistador atento percebe quando as repetições refletem cristalizações

de determinadas maneiras de ver o mundo. Elas podem ocorrer também com rela

ção a episódios

do

passado. Determinado acontecimento, por exemplo, pode ser

relatado pelo entrevistado

em

sessões diferentes, mas sempre da mesma forma,

incluindoseus detalhes. Isso acontece em função

do

caráter estável que aquela his

tória adquiriu

no

conjunto da experiência de vida, fixado à medida que

foi

sendo

narrada repetidamente depois de ter acontecido.

Outra

situação presente em entre

vistas de história oral é a repetição de episódios que o entrevistado já tenha relata-

contar o caso como se os entrevistadores não o conhecess

não

oferecerem

maior

interesse, podem ser genti

lm

ent

enunciações

do

tipo O senhor

nos contou sobre isso .

bom,

antes de interromper o entrevistado, procurar verif

momento nos conta sobre o episódio pode vir acrescido de

de comentários importantes, que modifiquem a primei ra v

caso, é preferível aguardar qu e conclua seu raciocínio.

As repetições devem ser tratadas com cuidado durante

vistas de história oral. Elas podem ser importantes por indi

corrências na forma de o entrevistado conceber o mundo,

nhadas

de

novas abordagens sobre o assunto

tratado, f

lembrar de aspectos que anteriormente não tinha men ciona

os avanços e recuos devem ser respeitados como caracterí

Não cabe ao entrevistador imprimir-lhessua própri a lógica

dadosamente os efeitos de sua interferência.

6 3 3 Auxiliando no tratamento d entrevista

gr v d

Quando se conduz uma entrevista de história oral, deve-se te

la gravação passará por uma série de etapas e será aberta ao

objetivo de facilitar seu tratamento e de fornecer aos futu

docum ento compreensível, é preciso observar alguns aspec

Em primeiro lugar, ao iniciar

uma

sessão de entrevista

gravar os dados relativos a ela. No Cpdoc, utilizamos uma

esta: Rio de Janeiro, 1Ode julho de 1988, segunda entrevist

cargo dos pesquisadores tais e tais, no contexto do projeto

Cpdoc da Fundação Getulio Vargas. Pode-se acrescentar ain

ta

(se estamos no escritório

do

entrevistado,

em

sua casa,

ou

programa, por exemplo), ou outros dados julgados relevan

iniciar a gravação com essa espécie de cabeçalho são muita

do arquivo sonoro, o controle da duplicação de fitas, pass

transcrição, até o acesso a essas informações du rante a cons

não adotar essa prática,

à

medida que ampliar seu acervo i

grande volume de mídias gravadas, sem condições de sabe

trata,

quando

e por quem foram feitas etc. A cada nova se

cabeçalho , informandoo novo número da entrevista.

124

VEREI-A

Al6[RTI

Tomada

essa

medida

, inicia-se a entrevista dirigindo-se a

primeira pergunta

Mt\NU L [ 1 ÓKI ORAL

da que

tenha

atendido

a um telefonema

sobre

o qual

se

venha

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ao entrevistado. No decorrer da conversa, c também com vistas a não dificultar a

escuta e o

processamento

do

depoimento, convém

evitar falas superpostas. É bom

sempre esperar o entrevistado

parar

de falar para fazer nova pergunta ou tecer um

comentário, caso contrário, no momento de ouvir ou transcrever a entrevista

torna-se

mais difícil identificar o

que

cada

um

falou, correndo-se o risco

de perder

o fim do enunciado do depoente. Do mesmo modo, caso o entrevistado comece a

falar

enquanto ainda estamos formulando

uma

pergunta, convém parar de

falar

para

que

apenas a voz dele seja gravada. Em seguida, se necessário, esperamos que

encerre seu pensamento para refazer a pergunta antes interrompida . Esses são cui

dados que

se

mostram

indispensáveis nos

momentos em que

o

depoimento

é trans

crito e em que é feita a conferência de fidelidade da transcrição. Édurante a reali

zação dessas tarefas que o responsável

por

elas percebe o

quanto

é difícil decifrar

tudo

o

que

foi

dito

quando entrevistado e entrevistador falam ao mesmo tempo.

Outro tipo de precaução que

se deve

tomar durante

a realização

de

entrevistas

diz

respeito às anotações

que

vão se rvir

de

apoio para a consulta do

depoimento,

ou para a tarefa de conferência de fidelidade da transcrição.

Durante

a entrevista,

convém tomar nota dos nomes próprios que

o entrevistado proferir,

sobretudo

daqueles sobre os quais não se tem conhecimento. Pode acontecer, por exemplo, de

o

entrevistado citar

um professor

de nome

Álvares.

Durante

a escuta

do depoi

mento, pode

ser que se ouça Alves ou Alvaro,

em

vez

de

Alvares. A lista

de

nomes

elaborada durante

a entrevista

ajuda

a esclarecer a questão,

evitando

-se

ter de

re

corre

r

ao

entrevistado

para

verificar o nome

correto

do professor,

ou ainda impe

dindo que a entrevista seja aberta ao público com uma informação incorreta.

Além

dos nomes próprio

s

(de

pessoas e de lugares),

convém anotar também

as palavras proferidas

de

forma

pouco

clara e que possam causar dificuldade na

escuta do depoimento. Nesses casos, é bom escrever a frase ou um trecho da frase

em que

a palavra aparece,

para

facilitar a consulta à

anotação

feita . Se,

por

exem

plo, o

en t

revistado disser a palavra zênite de forma pouco clara, sua anotação

deve

vir acompanhada

do

trecho de

frase

em que

aparece,

para não

ficar solta

em

meio às

outras

observações, dificultando sua localização na entrevista. Assim, cabe

escrever a frase proferida, os atores saem lá do zênite cá para baixo': sublinhando

a palavra

que pode gerar

dúvidas.

s

anotações

feitas

durante

a entrevista

devem conter também todo tipo de

observação que facilite as tar efas de tratamento do depoimento. Assim,

por

exem

plo, se a gravação for interrompida por alguma razão especial - digamos que o

en

tr

evistado

tenh

a feito um gesto

so 

c

itando que

se des

 

gasse o gravador,

ou ain

-

retomada a entrevista-, cabe ao entrevistador

anotar

a ocorr

registrar

em qu

e

altura do depoimento ocorreu

a

interrupção.

nota de

orientação

à

escuta da entrevista, a ser

também

inclu

transcrito, informando a especificidade daquela interrupção.

Em

entrevistas gravadas

apenas em

áudio, as expressões fac

acompanham

o discurso do entrevistado e que incidem sobre o

enunciação também merecem ser anotados.

Se,

por

exemplo, o

Fulano

tinha

uma cicatriz bem aqui , o entrevistador deve regi

tações, o local da cicatriz,

para que

se possa elaborar

uma nota

a

documento

estiver

sendo

tratado. O mesmo se aplica a

tamanho

pode ser referida,

por

exemplo,

com

enunciações do tipo O u

cor

aqui , e os

tamanhos

podem

ser informados com

gestos:

E

desse tamanho.

Convém que as

palavras e situações sejam

anotadas em

modo

que

a ordem

em

que aparecem na folha de anotações co

em que ocorreram durante a gravação. Isso facilita sua localizaç

mento da

entrevista, pois à

medida que

o responsável pelas tar

depoimento, encontra, na folha de anotações, as informações d

Em determinadas situações, caso não seja inconveniente in

vistado, pode-se registrar, na

própria

gravação, os esclarecime

compreensão de determinado

trecho. Assim,

quando

o

entre

nome de seu

professor,

pode-se

repeti-lo

em forma de pergunt

na gravação,

que

se trata de Alvares e

não

de Alves ou Álvaro.

proferida

de forma pouco

clara,

pode-se perguntar: Os

atores

zênite? Sim, do zênite. O local da cicatriz pode ser traduzi

exemplo. Se o entrevistado fizer um gesto indicando uma cor,

apontada;

se

mostrar

um

tamanho com

as mãos, pode-se suger

medida: Aproximadamente 40 centímetros? Assim se estará tr

vras

os elementos não

verbais

que completam

o

sent

ido

do que

Muitas vezes,

contudo,

tais interferências

podem

parecer

redund

preferível optar pela anotação.

Outra interrupção com

vistas a facilitar a escuta e o proce

vista

pode

se dar

quando

o entrevistado enuncia

nome

ou pal

difícil compreensão. Nesses momentos, é possível optar

por

inte

va

para pedir que

soletre o nome

enunciado.

Antes de fazê-lo,

c

perguntar se

aquela

interrupção não poderá

desviar o

en

trevi

sta

  26

VEREN Al.tlf.RTI

pensamento anterior prejudicando o encadeamento

do

relato. Caso não se queira

M NU L

E

ISTÓRIA OR \L

Por se constituir m um

exer í io

muito individual obe

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correr o risco de interferir prejudicialmente na narrativa deve-se anotar a palavra

proferida escrevendo-a de forma aproximada ao que foi ouvido e aguardar o

momento de esclarecer a grafia correta com a ajuda do entrevistado.

Geralmente convém reservar os minutos finais da entrevista para checar com

o depoente a lista de nomes e palavras desconhecidas que se elaborou ao longo da

entrevista. Assim já com o gravador desligado pode-se completar e corrigir as

anotações feitas naq uela sessão  aproveitando que os assuntos estão frescos

na

me

mória e que o entrevistado se lembra do contexto em que aquelas palavras foram

proferidas.

6 4

etornando ao caderno de

campo

É recomendável que o pesquisador se ocupe

do

caderno de campo logo após a

entrevista nele registrando suas idéias e impressões sobre o que aconteceu. Ele

pode começar com um exercício retrospectivo escrevendo tudo o que se passou

desde o início da entrevista e intercalando o relato com observações acerca das

reações do entrevistado e de suas próprias expectativas com relação ao depoimen

to. Uma narrativa retrospectiva permite avaliar o que mudou: que informações

importantes modificaram a conduta

do

pesquisador e sua concepção

do

objeto de

estudo fazendo

com

que

saísse da entrevista de

modo

diferente

do

que

quando

nela entrou; quais perguntas e/ou observações modificaram o comportamento

do

entrevistado alteraram o

tom

que imprimia à narrativa ou resultaram em infor

mações relevantes; enfim o que efetivamente aquela entrevista trouxe de novo

para a pesquisa.

Pode ser útil ao pesquisador consultar o roteiro parcial daquela sessão e as

anotações feitas du rante a entrevista para recuperar o clima que se estabeleceu os

momentos problemáticos e

os

pontos significativos do depoimento de modo a

explorar exaustivamente aquele encontro no caderno de campo.

Além de permitir uma avaliação

da

entrevista realizada verificando-se até que

ponto

foi

bem-sucedida a prática do caderno de campo contribui para arrumar as

idéias para as novas sessões detectando-se áreas a serem aprofundadas questões

não resolvidas e novas perguntas. O exercício de reflexão também constitui passo

importante pará articular os resultados obtidos com o projeto de pesquisa como

um todo. Escrever no caderno de campo as imp ressões e idéias decorrentes da en

trevista é portan to praticar a reflexão em torno do objeto de estudo.

lógica do entrevistador momentos após a entrevista não há r

o caderno de campo a não ser a recomendação de se procura

perspicaz possível na reconstituição do que se passou. Há ent

tos a serem observados no sentido da organização formal

do

o caderno de campo poderá ser consultado mais tarde pelo

equipe e pelo pesquisador que nele escreveu suas impressões

de recursos que permitam a rápida identificação dos trechos

subtítulos e convencionar destaques gráficos para os temas tr

seja possível distinguir por exemplo  os comentários sobre o

vista  os trechos de reflexão sobre o objeto de estudo e aquele

idéias para as próximas sessões de entrevista. No mesmo s

esquecer as informações sobre o número da entrevista a data

mistu rar os registros de sessões diferentes e permitir a rápida

rial após arquivado. Além disso convém que o pesquisador

derno

de

campo assinando seu relato

ou

simplesmente anot

medidas se justificam diante

do

volume de material que um

mular ao longo dos anos considerando-se inclusive a possibi

alterada.

  ENCERRAMENTO DE UM ENTREVISTA

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Uma

vez

tendo coberto

as

fases de preparação e realização de

semos agora rapidamente pelas implicações de seu encerramen

do, depois de alguns encontros com o entrevistado, é chegad

aquela relação, reiterar

os

agradecimentos e se despedir? Com

mento? Quando e como dar a entrevista por concluída?

7 I

uando

encerrar

Em situações normais de realização de entrevista,quando a co

mento não é afetada

por

circunstâncias alheias

à

vontade do

eles que cabe decidir sobre o momento de encerrar aquela relaç

alheias podem ser de diversos tipos, desde a recusa do entrevis

entrevista, passando por sua transferência para lugares de di

que tenha ido morar fora do país), até eventual

mente-

e infel

Mas deixemos de lado essas situações particulares, para ing

efetivamente importa neste item: quando encerrar

uma

entrev

de uma decisão dos entrevistadores, claro está que devem e

tomá-la. Não trataremos das entrevistas que se realizam com

porque, nesses casos, a decisão sobre seu final vem acompanha

tâncias importantes: o tempo decorrido - que não pode ser e

cansar entrevistado eentrevistadores- ou o and

am

ento da co

encaminhar para um desfecho que coincida adequadamente c

Para reconhecer o momento de encerrar uma entrevista

mais de duas sessões deve-se tomar seu roteiro e verificar se to

cobertos, se não há alguns que poderiam voltar a ser explo

declarações

do

entrevistado,

ou

se não vale a pena retomar ou

depoente não tenha querid o falar anteriormente.

Em

seguida

tes com os outros membros da equipe e no andamento da pes

convém se perguntar se não haveria outras questões a serem c

tado, das quais não se tenha cogitado durante a elaboração do

força dos rumos da pesquisa, igualmente merecem atenção. U

130 Vl REN t\ 1 L6 l R

não consultado

ou uma

declaração feita por outro depoente podem exigir a for

mulação de novas perguntas ao entrevistado, a fim de que se possa

comparar

sua

  i

NUAL 0 ( ISTÓRIA OR \L

to mais completo;

por

exemplo, se não deixaram passar i

ções import antes sem investigá-las mais profundamente.

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versão com as novas fontes. No mesmo sentido, vale reler atentamente o caderno

de campo para certificar-se de que todas as idéias suscitadas pela reconstituição de

cada entrevista foram consideradas, e verificar se aquelas que podiam se transfor

mar em novas perguntas tiveram seu destino cumprido.

Pode ser útil também recorrer ao conceito de saturação e aplicá-lo ao caso

de uma única entrevista. Já nos referimos a esse conceito quando tratávamos

do

número de entrevistados necessário para o desenvolvimento de

uma

pesquisa de

história oral (capítulo

1).

Trata-se,

grosso

modo

de encerrar a realização de entre

vistas após ter sido atingido o ponto em que os novos depoimentos começam a se

tornar repetitivos em relação aos que já foram feitos.

Quando

se trabalha com uma

entrevista longa, especialmente as de história de vida, em que se procura, entre

outras coisas, compreender a relação do entrevistado com o mundo e com seu

passado, pode ser interessante incorporar o conceito de saturação aos critérios que

vão determinar o encerramento da entrevista. Ou

seja, além de esgotar os po ntos

do roteiro e

as

demais qu estões julgadas relevantes, é possível ve rificar

quando

a

visão que o entrevistado tem sobre o mundo e sobre sua experiência de vida come

ça a se repetir, a ponto

de

a entrevista não trazer mais nada de substancial àquilo

que já foi gravado. Esse seria o ponto em que aquele investimento começa a se

saturar. Entretanto, em virtude da riqueza de

uma

entrevista de história oral e do

muito que ela tem de imponderável, é preciso extremo cuidado para não diagnos

ticar

uma

saturação

quando

não se explorou todo seu potencial.

Em entrevistas temáticas e nos cortes temáticos q ue se fazem

em

entrevistas de

história de vida por exemplo: dedicar algumas sessões da entrevista para tratar

extensivamente da atuação do entrevistado na presidência de determinado órgão),

é possível também que se detecte, após horas de conversa, uma certa saturação

do

tema. Isto

é:

indagado

de

diversas maneiras e a partir de diferentes ângulos de abor

dagem, o entrevistado não tem mais nada a acrescentar sobre aquele assunto;

verifica-se que seu discurso começa a se repetir. O conceito de saturação, então,

além de poder ajuda r na decisão sobre quando encerrar uma entrevista, pode indi

car o momento de se

mudar

de assunto e propor novo tema ao entrevistado.

Decidir sobre o

momento

de encerrar

uma

entrevista pressupõe, então,

uma

avaliação de seu rendimento; verificar se aquele trabalho efetivamente rendeu o

máximo que podia, dados os propósitos da pesquisa e os limites

do

entrevistado. É

nessa

oportunidade

também que

os

entrevistadores devem se perguntar pela últi

ma vez sobre seu desempenho, seus próprios limites, e verificar se algumas qu es

tões não poderiam ser retomadas com mais afinco, para delas obter um depoimen-

7.2

omo encerr r

Uma vez que os próprios entrevistadores têm consciência d

ta, isto é, daquilo que afinal querem saber do entrevistado,

ber

quando

a entrevista está chegando ao fim.

À

medida

coberto e que resta pouca coisa a perguntar,

à

medida que

a

tado sobre sua experiência e seu passado começam a se rep

de estabilidade em sua concepção do mundo, então os entr

ver aproximadamen te quantas sessões ainda faltam para c

O entrevistado, entretanto, pode não ter conheciment

o que consta no roteiro, desconhece a extensão

do

interes

sendo a entrevista semelhante a uma

conversa em que u

pode imaginar que aquela relação tem

tudo

para se prol

sendo po uco provável que se encerre por falta de assunto. A

vistadores procuravam de toda forma imprimir um cunh

timular o en trevistado a falar, e mostravam interesse em p

era dito, revelando que estavam acima de t

udo

dispostos a

dimento é quase o oposto: trata-se de mostrar ao entrevista

chegando a seu fim, que não se encontrarão mais

toda

se

teresse que tin ham foi saciado.

Alguns entrevistados podem se sentir aliviados diante

trevista. Se for

uma

pessoa ocupada, pode enfim deixar de

misso semanal; se o esforçode repensar o passado tiver sido

te voltar ao presente sem a obrigação de dedicar algumas h

parte de sua vida que prefere esquecer; enfim, se o tema sobr

nunca lhe pareceu tão importante, pode afinal descansar d

pond er àqueles pesquisadores tão bem intei rados

do

assunt

entretanto, podem mesmo sentir muito o rompimento d

permitia falar sobre o que quisessem, reviver episódios esq

mesmos, e garantir a sobrevivência de suas idéias muit o a

vam ali as gravações, que seriam trabalhadas e pesquisadas

Num

caso

como no outro

, os entrevistadores são ca

base naquilo que aprenderam sobre o estilo e as expectativa

o encerramento da entrevista será recebido. Se o entrevis

  32

VlRENA AlBf.Rl'l

envolvido com a entrevista, importando -se com seu andamento e com a relação

estabelecida, convém prepará-lo com alguma antecedência para a possibilidade de

M,\NUAI. )f.

f

IST ÓR

IA ORAL

didas, reforçar os agradecimentos e apresentar ao entrevist

direitos, elaborada previament e pelos pesquisadores:

Com

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terminar o depoiment o. Assim, nas duas ou três sessões anteriores à última, talvez

seja bom fazer ligeiros comentários indicando a proximidade

do

encerramento: ao

final das sessões, ao reiterar os agradecimentos, pode-se observar que já se está

chegando ao final, que resta pouca coisa a tratar, ou que em mais dois ou três

encontros se terá liqüidado tudo o que ainda falta. Essas breves observações, feitas

em

meio às despedidas costumeiras, permitem que o entrevistado se acostume com

a idéia, evitando ser surpreend ido quando efetivamente se encerrar a entrevista. Já

nos casos

em que

se pressupõe, pela atitude do entrevistado, que o final da entre

vista possivelmente será de seu agrado, o aviso pode ser dado com menos antece

dência, bastando talvez informá-lo, na penúltima sessão, que o depoimento se en

cerrará provavelmente

no próximo encontro.

Dado o aviso, os entrevistadores devem se preparar para a última entrevista.

Prepara-se o roteiro parcial da última sessão, incorporando-lhe as questões de es

clarecimento, os pontos a serem retomados e aqueles que tenham ocorrido duran-

te a avaliação da entrevista. Convém prever

um

espaço para que o entrevistado

tenha oportunidade de retomar, ele mesmo, algumas questões, fazer esclarecimen

tos e emitir opiniões sobre a entrevista e seu conteúdo. hora de permitir que ele

também faça

um

balanço

do

que foi dito e destaque aquilo

que

julgar importante.

Uma

vez preparados para a última sessão, pode acontecer

de

os entrevistado

res se surpreend erem ao verificar,

no

decorrer da conversa, que aquela não será a

sessão de encerramento . Isso ocorre,

por

exemplo,

quando

uma

questão

de

esclare

cimento provoca um desenvolvimento maior

do

que o esperado, suscitando outras

formas de abordagem

ou

ainda informações importantes,

ou

quando, ao emitir

suas opiniões finais, o entrevistado acaba se lembrando de outros episódios, faz

associações relevantes etc., exigindo novas investigações. Nesses casos, convém trans

ferir o final

do

depoimento para a sessão seguinte e se adaptar ao novo estado

de

coisas, prosseguind o a conversa como de costume.

Entre as providências a serem tomadas quando se aproxima o final de uma

entrevista está a carta de cessão de direitos sobre o depoimento , que os pesquisado

res devem levar para a úl tima sessão, a fim de que seja assinada pelo entrevistado.

7 3 arta de cessão

Ao final da última sessão, desligado o gravador, feitos os esclarecimentos de praxe

sobre nomes e palavras enunciados du rante a entrevista,

é

hora de iniciar as despe-

nhor, nós precisamos de uma assinatura sua cedendo a e

para que ela possa ser consultada pelos pesquisadores que

documento

de cessão. O senhor, por favor, leia,

ve

rifique se

e assine aqui embaixo."

Este é um momento bastante delicado, porque, mesmo

sobre a carta de cessão desde o primeiro encontro, o entr

peso da responsabilidade de

tudo

o que tenha dito e hesitar

se

torne

público. Além disso, a assinatura

é

um

ato carrega

sociedade. Não é à toa que todos aprendemos a não assin

antes ler seu conteúdo e ter ciência

de

seu destino. Assim, p

entrevista tenha decorrido em clima amigável e de cu mpli

poucas razões para o entrevistado desconfiar dos pesquis

assinar a carta de cessão po de ser desconfortável para o de

Os entrevistadores podem procurar minimizar esse inc

aquilo tem apenas um conteúdo burocrático, o qual infeliz

do, e sugerindo, com isso, que a relação estabelecida não

formalidade como aquela. Entretanto, isso pode não ser s

entrevistado de suas preocupaçõ es e pode acontecer de ele

condições para liberar o documento. Inicia-se, então, um

que deve ser conduzido com todo respeito.

Para facilitar o acordo, os entrevistadores devem saber

entrevistado.

Com

base

em

tudo o que aprenderam a seu re

de vida, podem procurar descobrir

onde

efetivamente est

seu interlocutor está reticente em assinar o documento. C

fácil negociar a cessão

do

depoimento, principalmente porq

a perceber que suas preocupações são compreendidas pel

reconhecendo dois aliados,ao invés de dois inimigos. O imp

to, é mostrar ao entrevistado que a relação mantida até ent

sinceridade e a honestidade continuam a imperar na intenç

Entre

as

condições impostas pelo entrevistado pod em e

mos da carta de cessão, o acréscimo de observações que rest

está escrito, a disposição de permanecer com o documento

melhor analisá-lo antes de assinar, e a condição de apenas

depois de examinar a entrevista transcrita.

Se

a negociação

uma dessas hipóteses, os entrevistadores devem acatá-la

de

tar que o entrevistado acabe não cedendo os direitos do dep

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1

  6

Vf REN1\ A L

BER

TI

Uma

vez

dispondo do modelo de carta de cessão, cabe aos entrevistadores

preenchê-lo com os dados relativos àquela entrevista nos espaços a eles reservados.

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Caso não saibam, por exemplo, o número da carteira de identidade e do CPF do

entrevistado, ou ainda seu endereço completo e a profissão pela qual costuma se

identificar, podem deixar esses espaços

em

branco, a fim de que sejam preenchidos

pelo entrevistado no momento da assinatura do documento. Deve-se providenciar

também para que sejam impressas duas viasdo documento: uma para o programa

e o utra para o entrevistado.

Se

for considerado conveniente, pode-se ainda per

guntar ao entrevistado,

uma

vez assinado o documento, em que cartório tem regis

tr

o de sua assinatura, para que se possa reconhecer sua firma.

Uma última observação a ser feita diz respeito aos casos em que o entrevistado

falece antes de assinar a carta de cessão. Inicia-se então uma negociação com seus

herdeiros, que deve ser encamin hada com muita paciência. Possivelmente o entre

vistado estava disposto a ceder o depoimento sem restrição alguma, tendo conhe

cido seus entrevistadores e confiado no programa.

seus herdeiros podem ter

dúvidas a respeito, receosos da imagem que se fará de seu parente se a entrevista for

aberta ao público. Podem julgar, por exemplo, que o entrevistado falou demais

sobre certos assuntos, não ce nsurou suas opiniões,ou ainda confund iu fatos e de

talhes, denunci ando falhas de me mória e dificuldades de raciocínio.

É preciso saber respeitar esses cuidados, procurando conduzir a negociação

para um desfecho favorável,ou seja, para a assinatura

da

cessão de direitos, mesmo

que ela venha acompanhada de restr ições importantes.

Se

os herdeiros quiserem

examinar o depoim ento antes de cedê-lo,

ou

se impuserem restrições para

su

a con

sulta e

sua

publicação, tais condições devem ser respeitadas, caso contr ário, corre -se

o risco de ficar com aquela entrevista totalmente fechada, o que decididamente

não interessa ao programa.

Ao elaborar a cart a de cessão a ser assinada pelos herdeiros, deve-se ter o cui

dado de nela listar todos os que judicialmente têm poder de decidir a respeito,

evitando que o documento fique invalidado pela ausência

de

uma ou outra assina

tura. Quanto à forma de redigi-la, convém basear-se no modelo normalmente uti

lizado, fazendo apenas as modificações necessárias na identificação do autor da

cessão: não mais o própri o entrevistado, mas o conjunto de seus herdeiros, todos

identificados de modo completo.

P RTE

O Tratamento do cervo

Chamamos de tratamento do acervo de um programa de his

balho posterior à gravação propria mente dita das entrevistas

ção

da

gravação para a formação de

um

acervo de seguran

registro da entrevista na base de dados do programa, a elabo

tos

de

auxílio

à

consulta sumário e índice temático), a passag

a forma escrita, a que também damos o nome de processa

parte a transcrição, a conferência de fidelidade e o copides

para consulta.

8 A B SE DE DADOS 

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Preservar e possibilitar acesso a entrevistas de história oral

é

acervo de entrevistas do Cpdoc tem por volta de quatro mil h

depoimentos produzidos desde 1975, como parte de diversos

história contemporânea do Brasil. Há diferentes variáveis disti

tas: entrevistadores, projetos, resultados, duração, assuntos, da

de tratamento e acesso, entre outr as. Desenvolvemosum sistema

facilitar o con trole dessas variáveise o acesso às informações so

Os dados podem ser reunidos em catálogoe acessados via Internet

de modo que pesquisadores e pessoas interessadasem história c

sam ser informados sobre o conteúdo de nosso acervo. Neste ca

experiência do pdoc na informatização de seu banco d e entre

8 1 oncepção e desenvolvimento

O desenvolvimento de uma base de dados decorre da necessida

le sobre, e de rápido acesso a,

um

grande volume de informa

1996, dado o tamanho do acervo de entrevistas de história ora

mos a cogitar de

produzir

uma base de dados que nos poss

rapidamente a questões como quais entrevistas versam sobre ta

ent revistas do projeto tal ainda não têm carta de cessão e por q

tas que interessavam tanto ao pesquisador que quisesse cons

mentos

quanto aos responsáveis pela organização

do

acervo. N

cia

do

Programa de História Oral, a própria equipe controlava

uma rápida consulta às fichas servia para confirma r a respos

média de cem entrevistas gravadas por ano, no contexto de v

prescindível contar com

um

sistema informatizado de contro

A constituição de uma base de dados requer, de um lado, u

informática, tanto no que diz respeito ao equipamento quan

Este capítulo baseia-se

no

texto Informatização de acervos de história o

rante o XII Congresso Internacional de História Oral, realizado em Pieterm

em junho de

2002 (disponível para dowulo d em www.cpdoc.fgv.br).

.\ A NUAL O l HI

STÓ RIA

O R

  l

plo, de pouco adianta criar um descritor ao qual será relacion

vista do acervo, mas também não é produtivo criar

um

descr

culadas todas as entrevistas sem exceção. claro que o escopo

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der do universo dos assuntos tratados no acervo como um tod

deverá estar sempre aberta a acréscimos, conforme novos tem

recorrentes e, portanto, necessários para indexar corretamen

Uma vez concebida a base de dados, em conjunto

co

informática responsáveis pela execução da tarefa, a equipe do

ter-se

à

disposição para acompanhar o desenvolvimento do

testes de verificação de seu correto funcionamento. Esta etap

de

por

um período maior do que o inicialmente previsto, p

correção de um erro acaba fazendo surgir um outro antes

que a cada nova versão da base

é

preciso repetir os testes

testes devem cons istir em: inserir, excluir e alterar registros

executar todas as consultas previstas, utilizando diferentes

sistema, é possível alimentar a base com as informações do

A concepção, o desenvolvimento e a manutenção de u

etapas que requerem muita tenacidade dos membros da eq

de história oral. Se o projeto for bem executado, tudo leva

ajudar em muito as atividades de controle e de liberação do a

preciso

manter

o grau de qualidade e de exigência após o fu

ma, garantindo sua correta alimentação. As possibilidades

como no

caso da base

do

Programa de História Oral

do

imediata com a Internet: toda vez que uma nova entrevista é

ta, as informações a seu respeito se

tornam

acessíveis pelo

pendendo dos recursos tecnológicos, é possível ainda relacio

entrevista o arquivo contendo sua gravação digital em áud

permitindo a escuta da entrevista através da própria base. U

ser considerado é a geração permanente de uma

cóp

ia de se

que seu conteúdo não se perca por problemas técnicos.

8 2

base do Programa de História Oral do Cpdoc

Segue-se uma descrição da base de dados do Programa de Hi

como

forma de fornecer

um

exemplo do que

é

possível im

Ela é composta de uma tabela principal, o Cadastro de Entrev

os cadastros de Projetos, Temas,

Ent

revistadores, Entrevista

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I

11{1 NA

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11.\ \ll;\l OI 11

,

\ lORI\

• Cadastro de Lo ca is. A criação deste cadastro. contendo os cam

dade da tederação c pa1s visou igualmente à uniformidade

locais no Cadastro

de

Ent revistados nos campos loca is

de

n

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• Cadastro

de

Instituições. Este cadastro , que contém o nome e o endereço com-

pletos das instituições, visa novamente a garantir a uniformidade das in fo r

mações inseridas na base. Trata-se de

uma

subtabela relacionada a outros ca

dastros toda vez em que uma instituição é objeto de alimentação de um campo,

o

que

ocorre no Cadastro de Entrevistadores

(no

campo que dá conta

do

vín

culo institucional do pesquisador-entrevistador) e no Cadastro ele Projetos

nos

campos que dão

conta das instituições financiadoras ou conveniadas ).

tf · y

.

  p

.

j

MtftbHf

f t t t f t

®fi

@@

cimento) e no Ca dastro de Entrevistas

(no

cam po local de

trevista).

• Cadastro de Equipe. Neste cadastro estão arrolados os nom

tod os os profissionais exceto entrevistadores , que já têm

um

fico) envolvidos nas diferentes atividades do Programa de Hi

os

técnicos de som, passando pelos transcritores e pelos enca

mários e

do

tratam ento da entrevista, até os responsáveis pel

do caderno de cnmpo, por exemplo.

Cndastro de Doadores. Aqui são registrados os eventuais

d

físicas ou jurídicas)

e

entrevistas de histó ria oral para o a

Algumas entrevistas que integram nosso acervo não foram

tuição, sendo necessário, nesse caso, regis

trar

os dados refe

Esse ca

dastr

o com

posto de

apenas dois campos: o

nome

campo livre de observações, para que as circunst:incias da do

cificadas.

  46

Vf RENA Al6ERTI

8 2 2

A tabela principal cadastro de entrevistas

A principal tabela da base do Programa de História Oral é o Cadastro de Entrevis

MANUAl l f l l l ~ l Ó R I ORAL

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tas. A cada nova entrevista realizada, criamos um novo registro nessa tabela. Os

campos deste cadastro são relacionados a seguir.

• Título da entrevista - campo livre, preenchido com o nome

do

entrevistado.

Em conformidade com as normas

do

Cpdoc, a grafia

do

nome

do

entrevistado é

uniformizada nesse campo (po r exemplo, Melo ao invés de Mello; Gouveia ao

invés de Gouvêa etc.). Pode acontecer de o título da entrevista

não

corresponder

ao nome completo do entrevistado (por exemplo, Barbosa Lima Sobrinho, ao

invés de Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho ). Sendo assim, não

necessa

riamente uma correspondên cia entre este campo

do

Cadastro de

En

trevistas e o

campo contendo o nome completo

do

entrevistado no Cadastro de Entrevista

dos (em cujo preenchimento respeitamos a grafia particular de cada nome).

Caso haja mais de uma entrevistagravada com o mesmo entrevistado, os títulos

da

s entrevistassão acrescidosde números em romanos para diferenciá-las entre si

(por exemplo: Barbosa Lima Sobrinho C Barbosa Lima Sobrinho

li

etc.).

• Tipo da

entrevista- campo

com duas opções excludentes entre si, devendo

se optar pela classificação Temática

ou

História de vida':

• Razões

da

escolha

do

entrevistado e objetivos da entrevista- campode preen

chimento livre.

Entrevistadores-

campo

próprio para inserir os entrevistadores daquela en

trevista (relacionado ao Cadastro de Entrevistadores).

Entrevistados-

campo próprio para inserir o(s) entrevistado(s) daquela en

trevista (relacionado ao Cadastro de Entrevistados). Ge ralmenteuma entrevista é

feita com

um entrevistado apenas, mas há exceções no acervo do Cpdoc, sendo en

tão necessário relacionar mais de um entrevistado ao registro de uma entrevista.

• Projeto(s)- campo próprio para inserir o(s) projeto(s) em cujo contexto foi

realiza

da

a entrevista (relacionado ao Cadastro de Projetos).

• Levantamento de

d dos campo próprio para inserir o(s) nome(s) do(

s)

responsável(is) pelo levantamento de dados para a elaboração do roteiro (re

lacionado ao Cadastro de Equipe).

• Pesquisa e elaboração

do

roteiro - campo próprio para inserir o(s) nome(s)

do(s) responsável(is) pelo roteiro (relacionado ao Cadastro de Equipe).

• Lo

c is

campo próprio para inserir a(s) cidade(s)

onde

foi( foram) gravada(s)

a entrevista {relacionado ao Cadastro de Locais). Pode acontecer de as sessões

de uma entrevista serem gravadas em cidades diferentes.

• Ficha de gr

avação-

botão que dá acesso a uma jan

campos

qu

e se referem a cada sessão de gravação

da

e

número da sessão;

data da sessão;

duração;

número e lado das fitas

ou

de outro suporte onde

em áud io, seja em vídeo);

nom

e

do

técnico

de

som (relacionado ao Cadastro

A cada nova sessão, inserimos as informações acima

cessa automaticamente a contagem total

da

duração d

datas inicial e final (a primeira e a última sessões) e ca

de

outro supor

te, gravadas. Há ainda

um

campo livre

a gravação

(por

exemplo,

A

fita 3-A não

foi

gravad

senta ruídos etc.);

  8

\ l

R

\ ,\ '  Kl

RTI

..., F1chn de Grovaçilo

_

\

A

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LIA

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N Acetvo de Hu;tóna O ~ ~ : t · Cadarlfo de Enhemta.a Ceuão

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• Cess

ã

botão

que dá

acesso a

uma

jane

la

, conten

do

diferentes campos:

- data

da

assinatura

da

cessão

(quando

este

campo não

está preenchido

é

sinal de que o documento de cessão de direitos sobre a entrevista ainda não

foi assinado);

- cedente -

campo

com duas opões excludentes, devendo-se optar por

Entrevistado  ou Herdeiro(s) ;

nome(s) do(s) herdeiro(s)

- c a mp o

livre a ser preenchido caso a cessão

tenha sido assinada pelo(s) herdeiro(s);

restrições- campo

livre a ser preenchido caso a cessão tenha sido assina

da com restrições;

encaminhamento-

campo

livre destinado ao detalhamento

do

processo

de obtenção do documento de cessão (por exemplo,

se

o

do

c

um

ento

es

com o entrevistado para exame, ou onde se e

ncontra

arquivado, caso já

tenha sido assinado);

condições de uso conforme o contrato com

a

instituição conveniada -

campo livre que deve

conter

as informações a esse respeito constantes no

Caderno

de campo

- botão

que dá

acesso a

uma

janela,

campos:

data

do

preechimento

do

caderno de campo;

responsável pelo preenchimento- campo relacionadoao

con t a to -

campo livre onde devem ser preenchidas as

o contato feito com o entrevistado (através de que pess

se houve dificuldade em con tatá-lo, qual foi sua reação

local da entrevista

- c a mp o

livre

onde

deve ser indic

entrevista (se no Cpdoc, na casa

ou

no escritório do entr

plo). Para a informação sobre a cidade em

que foi

real

usa

do

o

campo

Locais;

observações sobre o andamento da entrevista- camp

mudanças durante a entrevista - campo livre destin

sobre mudanças

rel

evantes para o entendimento da e

havido

mudança

de ocupação

do

entrevistado,

ou

mu

próprio tema estudado);

I 50

\ 'I ~ I : - . : . \ \ lllRTI

interrupções

-

campo

livre onde

podem

ser inseridas informações sobre

longas interrupções na gravação

da

entrevista (por exemplo, por doença

elo entrevistado);

ção e do su mario da entrevista nomes dos responsáveis

conferência da transcrição, o copidesque e o smmüio (

c

dos ao Cadastro de Equipe).

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pessoas p r e s e n t e s ~ entrevista - campo livre

onde

pode ser informado se,

além

dos

en trevistadores c

elo

entrevistado, houve outr:1s pessoas presentes;

comentários sobre a cessão do depoimento

campo

livre para info

rm

ar

se a cessão foi assinada sem problemas ou se houve resistências por parte

do entrevistado;

ou tras observações -

campo

livre.

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Situação da ent re

vi

sta-

botão que

dá acesso a

uma

janela,contendo diferen

tes campos que dão conta da situação de tratame

nt

o da en trevista:

entrevista liberada ou

fec

ha

da

para consulta- opções

ex

cludentes entre si;

justificativa - campo livre para preencher no caso de a entrevista estar

fechada para consulta;

código na sala de c onsu ltas - caso a entrev ista es teja liberada, este é o

campo para informar seu

cód

igo;

três opções

não

excludentes, i

ndicando

a fo r

ma de

consulta -

Consu

l

ta

em

texto,

Consulta em

áudio, Consulta em audiovisual;

en

t revista em p rocessamento- reúne uma série

de campos

para

cont

role

do processamento da ent revista, como local ização dos textos

da

transcri-

l

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Sum ário da en trevista- campo livre para inserção do text

vendo

possibilidades de diferenciação

entre

s

umário para

e

em

texto, em áudio

em

aud iovisual.

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• Temas- campo próprio para inser ir o(s) terna(s) da entrevista (relacionado

ao

Cadastro

de

Temas).

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1961

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lr legól;mo

o l o P ~ s s o a

Resumo para

fi

cha técnica - campo livre para a redação de um pequeno

resumo das informações sobre a

ent

revista, a ser inser

ido

na ficha técnica

(por

exemplo: "Entrevista realizada no contexto do projeto tal, desenvolvido em

convênio com a inst ituição tal, no período tal. A escolha do entrev istado se

deveu a tais tais razões. O projeto resultou em tais produtos. Sobre a entre

vista e o pro

jeto

podem

ser consultados tais textos publicados.").

Publicações- campo livre para inserir a referência completa dos textos pu

blicados relacionados

à

entrevista.

Arquivo no Programa de Arquivos Pessoais - campo para registrar se há

arquivo do entrevistado no Programa

de

Arquivos Pessoais do Cpdoc.

Entrevista doada ao Cpdoc - campos destinados ao no me do doador (rela

cionado

ao

Cada

st

ro

de Doador

es), à data da doação e a observações, caso a

entrevista tenha sido doada.

Observações finais - campo livre para observações que forem necessárias

8 2 3 Consultas e relatór os

O acesso às informações

da

base

de

dados do Programa

de

estruturado de tal forma que é possível montar qualquer consult

que

r

campos de todo

o s istema, bem

como

lançar

mão de

relat

definidos. Na montagem de consultas, escolhem -se os camp

visualizados no relatór io e os campos

que

servirão de filtro (p

todas as entrevist as cujo campo "data" seja inferior a /11199

apenas o título das entrevistas

como

o nome dos entrevistador

tuação

de

seu tratamento). É possível gravar consultas que são

freqüência,

pa

ra evitar ter

de mont

á- las toda vez que for necess

entr evistas que dispõem de carta de cessão mas não estão libera

ou

listagem das entrevistas por projetos.

154

Vf.Kf.Nt\

,\ J

MANUAl l lf

III

STÓRI:\ ORAl

8 2 4 Alimentação

A eficácia

de uma

base de dados

depende não

apenas da boa

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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E]

ENTREVISTADO

· ·

EJ ENTREVISTA

·fil Código de Enbev>sta

EJl

ÜbJeh

vo

da Emrev

rs

151

T ipo

do

EnbeVlsto

EJl ObseNações

f }

Forma

de

Consulta Trenscr <a)

· · 5J Formode Consulta  Escuta)

·  

5l Forma

de

Consulta AudtovisueQ

Situação de Entrev>

s1a

E;l

Número de D isq uetes Trenscnção)

1jl Cód tgo

na

Sala de Consu

ha

{f } Numeto de Pagmas Ttanset çõ.o)

{fl}

Jus

1i

ficet

iva

8 · f } Data

daAss

inarura da Cessão CPDOC)

··

16

•)

N

UL

L

.t:'\

1-t.-..A  r

f

O V  If \

( . \ : ~ .

· ~ 1 . > : o t . ~ . . , ; . . - ~ - __

..

Quanto aos relatórios, é possível desenvolver o sistema de tal forma que ele os

monte no formato

desejado. No Programa

de

História Oral

do

Cpdoc temos

basi

camente dois tipos de relatório, que

podem

ser montados por entrevista ou para

todas as entrevistas registradas

na

base: o "Catálogo

de

entrevistas",

que reúne to-

das as informações relevantes ao pesquisador externo com respeito às entrevistas

liberadas para consulta, e o relatório "Liberação de entrevista para c o n s u l t a ~ ha

vendo, nesse caso, diferenças

para

a consulta

em

texto, em

áudio

e

em

audiovisual.

Este último é montado toda vez em que uma nova entrevista é liberada para con-

St lta,

sendo composto

da folha

de

rosto,

da

ficha técnica e do

sumário da

entrevis

ta.

Em ambos

os casos os relatórios poupam o trabalho

da

equipe do programa,

que não precisa montar os documentos, bastando clicar sobre o botão correspon

dente ao

relatório desejado.A base r

eúne então

as informações registradas

em

dife

rentes campos dos cadastros, produzindo rapidamente um documento. O relató

rio

''Catálogo

de

eNtrevistas"

pode ser

consultado

também

via

Internet

,

no

Portal

do

Cpdoc, constituindo

-se

na

janela Informações sobre a entrevista'' a que se

tem

acesso na

consu

lta

ao

acervo de

entrev

istas.

estrutura e de suas consultas e relatórios, mas igualmente de

fidedigna

c

atualizada. De pouco

adianta

fazer

uma

consulta à ba

entrevistas ainda não estão abertas ao púb lico e por quê?) qua

entrevistas gravadas estão registradas e nem todos os campo s

corretamente .

É claro que, uma vez desenvolvido e colocado em funcion

deve-se calcular

um período

relativamente extenso

para

a alimen

as informações de todo o acervo já existente.

Ao

mesmo tem

alimenta

ndo o sis

tema com

as novas entrevistas.

No Programa d

Cpdoc,

por

exemplo, toda vez que

uma

nova entrevista é gravad

seu respeito (título da entrevista, entrevistadores, nome do ent

data

e

duração

das sessões

de

gravação, locais etc.) são acresci

que ainda não seja possível preencher todos os campos. Isso pe

em

dia

com

a

produção do Centro, sendo

possível, a

qualquer m

plo,

perguntar ao

sistema

quantas horas de

entrevistas ou

quan

mos no total.

9 INSTRUMENTOS DE UXÍLIO

À

CONSULT

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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Cahe a um programa e história oral elaborar instrumentos qu

  ultn de seu acervo: c s

r i o s

das entrevistas e os

índicec;

dos

que tais instrumentos cumpram efetivamente sua f i n a l i d a d e

pe os mantenha permanentemente atualizados,evitando o a...:úm

o futuro.

9  I O

sumár o

Cada entrevista do acervo de um programa deve ser liberada ao

de

um sumário que

in

forme o pesquisador sobre seu conteúd

sumário poupa o usuário do programa do trabalho de vasculha

à procura do assunto que lh e interessa, ou, por outra, impede qu

da a gravação

ou

lida a versão

da

entrevista em texto,

se

dé conta

subsídios para o que pretendia pesquisar.

Convém também que o sumário indique aproximadament

assuntos no corpo da entrevista. Se o pesquisador estiver inter

que o entrevistado

fala

sob

re

sua atuação em determinado órg

sumário

da

entrevistadeve ser suficiente para permitir

u

prim

depoimento: informar se o depoente

fala

sobre o assunto naqu

fala,

em que altura da gravação

ou

em que páginas isso pode se

Uma das características da formação de acervos de depoime

é o fa to de nunca podermos saber com precisão que tipo de inte

dores poderão ter com relação às entrevistas. Por isso, na elabo

não se deve descartar n priori tetnas que pareçam pouco import

equipe do programa,

por

não

se

referirem diretamente ao pro

função do sumário

é

informar sobre o que \C falou. Se o entrev

minutos falando sobre um filme a que a \sistiu, c mesmo que is

resse imediato, deve-

se

incluir um tópico a respeito no sumá

sobn.' o

fi

lme

X, de

Fu la

no,

a que assistiu em

1965':

Isso quer d

rarmos um sumário, não cabe selecionar

os

ass untos, registrar a

158

VL RLNA Al HLRII

po rt<1ntc c dispensar o que não é. Não se trata de uma síntese dos principais temas,

tampouco de um resumo das idéias do entrevistado. Trata-se, isso sim , de uma

sucessão

de

tópicos,

que

devem

dar

conta, em poucas pahwras, dos assuntos que

hiANUAl r

lll   Ó

RIA OKAl

na ent revista, recorre-se

à

pontuação para representar essa situ

dois

pontos

permite também que se aglutinem os assuntos tra

mo t

ítu

lo, ev itando repe tições desnece

ss<1r

ias. Assim,

por

exem

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apa recem na entrevista. A cada assunto, dá-se um título e, na sucessão de títulos, o

pesquisador

procura aque

le

que

se refere à questão

que

inves tiga.

Por exemplo:

Jt intr i  Ísta {5/9/2000): Origem t :lmiliar; formação escolar; motivaçôes da escolha da

carrei

ra

de economista; innuência e relação

com

Ignácio Rangel; o

curso da

Faculdade

de

Econom ia e Administraçf1o

da

Universidade Federal

do

Rio de Janeiro,

no

qual ingressou

em 1964: professores c sua participaç;io na formulação do Programa de Ação Econômica

do Governo (Paeg); avaliação do Plano Trienal c as

div

ergências ent re Celso

Fur

t

ado

e

Ignácio Rangel; atuação

do

entrevis

tado

na políti ca es

tuda

nt

il

em 1964

9

I . I

O (ormato

Para

elabor

ar os sum ários

das

en trevistas, o

programa

deve estabelecer um con

jun to de normas, padronizando o uso de maiúsculas e minúsculas, a grafia de no

mes próprios, o emprego de siglas, a referência a datas etc. Note-se que no exemplo

ac ima os tópicos se sucedem em linha contínua,

sendo

sepa rados entre si por

pontos-e-vírgulas. Essa é a

norma

usada no Cpcloc. Há programas que elaboram

s

umários

gra ficamente mais esquemáticos, nos quais a

mudança de

tópico

é

tam

bém rep resentada por um a mudança de linha. É importante que se defina um

padrão único para

todo

s os sumários de um mesmo acervo, a fim de uniformizar a

apresentação das entrevistas e conferir-lhes um mesmo

tratamento

. Cabe à equipe

do programa,

portanto

, decidir sobre o formato de sumário adequado a seus obje

tivos c a sua prática de trabalho.

Quando a entrevista t

em

mais de

uma

sessão, convém elaborar um su mário

para cada

uma

delas, jtí que conservam certa unidade em relação ao depo ime

nt

o

como

um

todo. No Cpdoc, o sumário

de

cada sessão vem precedido do número da

entrevista a que corresponde e, ao final de cada bloco resumido, colocamos um

ponto

final para indic

ar

o encerramento da sessão, bem co

mo

informamos as pá

ginas

co

rrespondentes àquele sumár io no corpo da ent revista. No caso da en trevis

ta estar disponível apenas em sua fo rma gravada, o nú mero de páginas pode ser

subst

ituído

pelo número das fitas

em que

aparecem os assuntos.

Pelo

padrão

de

sumár

io

adotado no

C

pdo

c, cada bloco

é

inicia

do

com

letra

maiúscula e as subdivisôes internas aos tópicos podem ser feitas com vírgulas ou

do is po ntos. Assim, se

um

assu nto a que se deu um título mais amplo é d

es

dobrado

vermos quatro t

óp

ic o s Getúlio, Juscelino, o desenvolvime

túlio, Juscelino

c

as relações com a classe trabalhadora; Ge

conjuntura econômica externa; Getúlio, Juscelino e a política

mos lançar mão de um único t ópico Comparação entre

desenvolvimento c inflação, relações com a classe trabalhadora

mica externa

e

política interna':

9.1.2

Qu

em fàz e

Quando

Em situações ideais, convém

que

o próprio pesquisador

que p

vista seja responsável pela elaboraçã o do s

um

ário. Ele conhe

temas

abordados

na entrevista, sendo-lhe mais fácil sintetizá-lo

nentes e agrupar os subtemas correlatos sob uma mesma rubri

re men os risco de

omitir

assuntos relevantes, de confundir ab

reunindo-as

improp riamente

em

tópicos por demais generali

sup

er valorizar questões que não tenham peso semelhante na e

todo.

Se a entrevis

ta

tiver sido transcrita, ele p

ode

se ocupar do

tempo em que faz a conferência de fidelidade. lsso evita que se

dois

profi

ssionais para o c umprimento de ambas as tarefas e

e

de uma leitura do documento: o pesquisador que faz a conferên

entrevista não necessita lê-la cuidadosamente mais uma vez pa

rio. A título de recomendação, dir íamos que convém intercala

fazer o

sumário por

sessão de ent revista, assim que se conclu

transcrição corres

pondente

. Encerrada a conferência

de

fidelida

são,

por

exemplo, o pesqui sad

or

s ocuparia do sumário daqu

sando em seguida à conferência de

fid

elidad e da segunda sessão

Esse pro ced im

ento

permite

que

se concluam ambas as tarefa

mesmo

tempo, o que significa que o trabalho não ficará acumu

A elaboração do s

umário pode

ser

também

at ribuída a um

liar de pesquisa. B

em

treinado, possuindo boa capacidadede sín

o

assunto

tratado, o

t a g i ~ í r i o

est

an1

apto

a elaborar o

su

mário

desde que possa recorrer ao pesquisador sempre que tiver dúv

sumário deve ser revisto pelo pesquisador antes de aberto para

16

VtKlNA

ALBCRTI

Quando

a entrevista

não

é transcrita, o sumário tem de ser feito a partir da

escuta da gravação. Convém então estabelecer alguma forma de localização do

assunto

tratado

na mídia utilizada. Por exemplo, se o sumário for feito a

partir

de

M NU L DE HISTÓRIA ORAL

algumas regras para essa tarefa. Digamos que, em meio a deter

mento, o entrevistado emita uma curta opinião sobre outro

mente diferente. Essa pequena passagem tem atributos neces

formar em tópico do

sumário?

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fitas cassete- que serão ouvidas quando da consulta à entrevista - onvém re

gistrar, no sumário, em qual lado de qual fita encontra-se o assunto resumido.

9 .3 Como fazer

Baseando se

n s

respostas

O primeiro aspecto a ser considerado na realização do sumário de uma entrevista

é

voltar a atenção para as respostas do entrevistado, e

não

para as perguntas que lhe

são feitas. Se elaborarmos os tópicos do sumário com base nas perguntas, muitas

vezes estaremos deixand o de retratar o conteúdo da entrevista, porque freqüente

mente o entrevistado simplesmente não responde ao que foi solicitado,

ou

se des

via dos objetivos da pergunta. Essa regra, entretanto, tem também sua exceção.

Trata-se das ocasiões em

que

o entrevistado não sabe

ou

não quer discorrer sobre

determinado tema proposto pelos entrevistadores. Se for um assunto importante

proposto aos outros depoentes para fins de comparação entre as versões, sua au

sência,

no

sumário pode dar a entender que não foi abor dado. Assim, é

importan

te que nesses casos o sumário possa informar que aquele assunto esteve

em

pauta

na

entrevista, mas

que

o entrevistado não fa l

ou

a respeito.

Como

informar essa

presença ausente deve ser estipulado pelo programa com antecedência,

junta

mente com as demais regras de elaboração do sumário.

Identificando os assuntos

Ler uma entrevista com a atenção voltada para os assun tos nela tratados

é

ativida

de de interpretaçãode texto. Trata-se de saber detectar quando um assunto se esgo

ta e quando outro se inicia. Muitas vezes, porém um novo assunto pode se iniciar

antes de um

outro

acabar. lsso é muito

comum

na linguagem oral: desenvolvendo

determinado tema, o entrevistado pode se lembrar

de

outro, explorá-lo, e só então

voltar ao primeiro.É preciso então muita atenção para identificar os assuntos, ve

rificando se eles têm algum estatuto independente que os diferencie

em

meio ao

volume

de

temas tratados. Para cada assunto detectado

numa

entrevista, convém

ler o trecho até o fim (até ser substituído

por

outro assunto), antes de lhe atribuir

o título pelo qual será identificado no sumário.

ê

bom que o

programa

estabeleça

No.Cpdoc os critérios para decidir a esse respeito são, ev

permeados pela opinião particular daquele que elabora o sum

final das contas, vai decidir se aquele microassunto merece

no sumário

. Entretanto, temos como regra geral não omitir

que sejam

pouco

explorados. Por isso os sumários tendem

diferenciar os assuntos dos microassuntos  usamos alguns

detalhados adiante.

Seguindo a ordem da entrevista

Na elaboração do sumário, deve-se cuidar para que os tópicos

ma

ordem em que

os assuntos a eles correspondentes

ocorrem

facilita a localização dos temas a partir

do

sumário. Vejamos u

a ordem cronológica foi ignorada, em respeito

à

ordem em

sucedem na entrevista:

Ca

mpanha do

entrevistado para o Senado pela Bahia ( 1954); ele

Bahia (1958); disputa com Jãnio Quadros pela candidatura

à

pr

( 1960); prisão em 1922; o período na Escola Militar: os colegas de t

politicas, as confraternizações anuais; início das atividades conspi

ção de Luís Car los Prestes

no

Senado ( 1947) c seu debate com o e

Lidando com repetições

Na elaboração

do

sumário de entrevistas

de

história oral, é

depararmos com assuntos repetidos. Por exemplo: depois de

quatro assuntos diferentes, o entrevistado volta a falar do prim

der nesses casos? Deve-se repetir o assunto em novo tópico ou

na primeira

z em

que aparece?

No

Cp

doc

utilizamos

uma

regra simples: se a repetição

primeira menção ao tema, não cabe elaborar novo t

óp

ico par

que

aparece. Digamos

que no

exemplo

dado

acima o entrevi

st

falar sobre a campanha para o Senado logo depois

de

discorr

para o governo da Bahia. Nesse caso, não é necessário fazer

16

2

VE

RE NA

Al B

F.RTI

assunto no sumário, uma vez que consideramos a primeira suficiente para infor

mar o pesquisador que naquela entrevista se fala sobre aquilo. Já se a repetição

ocorrer distante

da

primeira vez em que o assunto aparece

na

entrevista, julgamos

necessário registrá-la em novo tópico, para informar que mais adiante há outras

MAN

UA

L DE HIST

ÓR IA

ORAL

estrutura gramatical dos tópicos

Entre as regras que orientam a elaboração do sumário, con

estrutura gramatical que será usada na construção dos tópic

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informações a respeito. Ainda com relação ao exemplo, se o entrevistado voltasse a

falar sobre a campanha para o Senado depois de explorar o período da Escola

Militar, caberia elaborar um novo tópico: outras observações sobre a campanha

para o Senado pela Bahia': por exemplo. No caso de determ inado assun to se repetir

em diferentes sessões de entrevista, optamos igualmente

por

repetir sua menção no

sumário. Assim, se a campanha para o Senado for ainda objeto de discussão,diga

mos, na terceira, na quinta e na sexta sessões, os sumários de cada uma dessas

entrevistas terão sempre um tópico a respeito.

Definindo os assuntos

Na elaboração dos tópicos de um sumário, é necessário definir bem de que assunto

se trata, para efetivamente informar o pesquisador sobre o conteúdo da entrevista.

Tópicos vagos devem ser evitados, porque acabam não c umprin do a função infor

mativa. Convém, sempre que possível, indicar o contexto do assunto e localizá-lo

no espaço e no tempo. Algumas vezes isso exige uma pesquisa complementar em

obras de referência ou outras fontes, a fim de que nomes próprios, datas, siglas e

demais informações estejam corretamente referidos no sumário . Vejamos um exem

pio de sumári o que se torna pouco informativo

em

função

de

sua indefinição:

Origem familiar; início da vida profissional; políticos paraibanos (o que sobre

eles?,

quando?);

coronelismo (o que sobre?); pluripartidarismo e voto secreto (idem); papel do parlamen

tar

(quando?, em que contexto?); refor

ma

agrária (quando?, onde?, o que sobre ela?);

salário mínimo (quando? o q ue sobre ele?); política estudantil (onde?, o que sobre?) etc.

Ao invés dessa linguagem telegráfica, um sumário que objetiva orienta r o pes

quisador deve conter dados suficientes para que ele possa identificar os assuntos

que lhe interessam. Assim, por exemplo, em vez de simplesmente Força Naval do

Nordeste , o tópico do sumário deve procur ar explicar o assunto a que se refere:

atuação

da

Força Naval do Nordeste no final da Segunda Guerra Mundial .

Ou

ainda, em vez de simplesmente política econômica e divergências entre Simonsen

e Veloso': ter-se-ia as medidas macroeconômicas adotadas em 1974 e as discor

dâncias entre os ministros da Fazenda, Mário Henrique Simonsen, e do Planeja

mento, Reis Veloso .

sumários adquiram uma linguagem relativamente uniform

quanto entre si.

o Cpdoc optamos por adotar uma construção substa

como título par

a o assunto. Assim, preferimos participaç

Revolução de 1930 a o entrevistado participa da Revoluçã

um tópico que reproduza pobremente o que disse o entrevis

democrático incentiva o governante preferimos

dar um

opinião sobre o regime democrático , ou vantagens do re

Fornecendo a dimensão do Ue ito

Em alguns tópicos, convém recorrer a mecanismos que dêe

de tratamento do assunto. Digamos,

por

exemplo, que, em

entrevistas, a maioria dos depoentes fale sobre a Revolução d

semos preocupados com a especificidade de tratamentodess

tas, os sumários certamente se tornari am idênticos nesse po

o tópico a Revolução de 1930': Os entrevistados, entretanto

ra diferente. Um pode estar

fa

lan

do

sobre sua própria part

de 1930; outro po de estar analisando o impacto do movim

estado, enquanto outro, ainda, pode estar descrevendo as l

do engajamento de

um

tio nas fileiras do movimento.

com o propósito de fornecer ao pesquisador a dime

assunto que pro curamos acrescentar ao tópico elementos qu

cidade das abordagens. Isso permite reconhecer, já a partirdo

entre os depoimentos, e evita que o pesquisadorseja obriga

entrevistas para verificar o que, afinal, se fala sobre o assunto

estiver interessadono impac to da Revolução de 1930no esta

o sumário tiver somente a indicação Revolução de 1930': ir

descobrir que a abordagem em questão não é propriamente

Em termos instrumentais, pode-se dividir os indicado

tratamento dos assuntos em dois tipos. Os primeiros seriam

da dimensão qualitativa de abordagem, ou seja, da sua natu

dagem

é

feita? Trata-se do relato da participação do depo

lú1 \ f K[l\,\ \ 11 K

1930,

ou da avaliação dos impactos

do

movimento no estado de Santa Catarina?

A

dimensão qualitativa pode s r transmitida

ao

sum<írio com o

emprego de

substan

tivos

diferenciadores,

que permitem especificar melhor o que sobre aquele assunto

é

falado. Assim,

por

exemplo,

ao

invés de simplesmente r\1-5 ,

pode

-se especificar,

()-; a<;c;\lnto-; redu7idamcnte explclr<Jdos e

aqueles

sobre

podem

vir marodos no

sumário

para ft>rnecer a0 pc<;qui-;ad

titativa"

do

tema em

questão.

No Cpdoc. usamo<; geralmen

pontos p;:tra

os

assuntos >obre o:. quai:.

>e t'.lla

t..'Xtcn:.iv.tmc

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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conforme o caso:

o

processo de elaboraç:io

do

Al -5", ''comeqüências do AI-S",

pa

rti

cipação do entrevistado

na elaboraç:io

do

Al-5 ,

impacto do Al-5

sobrem

rumos do

movimento'' etc.

Listamos

a seguir

alguns

sub >tant1vos que podem

>Cr

utc1s na especificação da

natureza

do que

está sendo dito. Além dos j:í c itados, teríamos:

a) com relação a acontecimentos, instituições,períodose tc conjuntura, eclosão,

antecedentes, histórico,

estrutura,

reperc ussão

de

.. sobre , limites/resistências

de .. razões para .. motivos pelos quais .. vantagens/desvantagens de .. exem-

plos de .. condições

de

.. efeitos de .. sobre, problemas enfrentados em .. de-

talhes sobre .. significado

de

.. implicações

de

.. para, diferenças

entre

.. se-

melhanças entre ..

b) com

relação a

pessoas

interesse

de

.. por, atuação

de

.. em, papel

do

entre

vistado

em

.. (tamb

ém

útil para eventos: papel da crise de 929 na eclosão da

Revolução de 930"), relação de .. com, perfil de fulano, contatos com .. de-

sempenho de

..

em

.. posição

de

. . em relação a .. reação

de

.. a, situação de ..

em, a experiência de ... em,

influência

de ..

sobre,

opção por .. atitude de ..

c)

com

relação

ao tipo de abordagem

feita -

comparação de

..

com, opinião

sobre .. caracterização de .. observações sobre .. considerações sobre .. co-

mentário sobre

..

avaliação/balanço de

..

crí

ticas a .. ret1exões

sobre

..

apre-

ciação

de

.. importância/relevância de .. para, questões sobre .. impressões

sobre .. informações so bre .. discussão/debate sob re .. interpretação

de

.. re-

lato

de

.. descrição

de

.. exposição de .. lembranças/recordações

de

.. expli-

cações sobre ..

O

segundo

tipo e indicador

da di m

ensão

em

que os temas são tratados diz

respeito a sua

extensão.

Seria, se assim podemos dizer, s

ua

dimensão quantitati

va": fala-se

muito

ou

po u

co

daquele

assunto? Muitas vezes acontece

de

o entrevis

tado fazer uma pequena referência, de três frases, digamos, a determinada questão.

S

uponhamos que mencione em poucas

pal:wras o

que

significou a vitória da Re

volução

de

1930

em

seu

e s t ; : ~ d o

Se, no sum{lrio, constar "s ignificado

da

vitória

da

Revolução

de

1930

em Santa

Catarina", o

pesquisador pode ser levado

a

crer que

tal

assunto é extensivamente

desenvolvido

no corpo

da entrevista

. Localizando o que

procu

ra,

depara

-se

com uma pequena

frase, o

que

c

ontraria

suas expectativas.

tema foi explorado de

diversos

ângulos. Imagmemo\, por

significado

da

Revolução

de 1930

em

S.mta

Cat .

nina: novas

der, tmpacto sobre a indústria têxtiJ, repercussão na imprt..

sobre

a agropecuária

e posição das populações

penlencas

.

niente, pode-se

também

indic

ar que muito

foi dito sobre

lançando

mão de

adjetivos:

rdato

prolongado

de': exposiçã

ga explicação sobre etc.

J:í os assuntos rapidamen te abordados pod em vir prec

que indiquem

essa circunstância.

Por

exemplo: " breve referê

Revo lução de

1930 em

Santa Catarina': Dependendo do cas

rênci a", " li

geira

referência",

menção ,

breve comentário", rá

tre", "ligeiras considerações sobre etc.

O emprego desse recurso diferenciador evita que se dêem

assun tos que,

no corpo da

entrevista, adquirem profundidade

so, permite a diferenciação entre os sum:ír ios das entrevista

quisador quais depoimentos possivelmente exploram em m

tema

que

procu

ra, e quais os

que

apenas mencionam o assu

Na elabo ração de sumários

no

Cpdoc, procuramos sem

mas

a

seguir.

CPDOC-FGV

PROGRAMA DE

HISTORIA

ORAL

NORMAS PARA

ELAI30RAÇÃO DE

SUMÁRIOS

DE

E

1-

No início do suméí rio, fazer nm cabeçalho informand

o:

nome

o sumário, nome do entrevistado, local da entrevista, nomc(s) do

nome

do

projeto. Indicar também

se

é "sumário de

cscut;1"

(feito

ou "sumário de texto" (feito a partir da transcrição).

2-

Indicar o início de cada sessão de entrevista com a data c come

seguin te, com a primeira letra em maiúsculo. Os

s s u n t o ~

dev

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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168

VlRENA ALBERTI

A elaboração do índice temático de um acervo de entrevistas exige o estabele

cimento prévio

e

regras. Deve-se, em primeiro lugar, decidir pelo escopo de temas

(também chamados

e

descritores) a serem incluídos no índice.

Se

o programa se

dedicar, por exemplo, à história política do Brasil, evidentemente deverá instituir

MANUAL DE

HISTÓRIA

ORAL

que temas) será que ele pode eleger? É sempre bom lembra

instrument os de consulta, como o sumário e os índices, tem

acervo acessível ao público. Por isso, a indexação de uma e

pensando nos caminhos

que

o pesquisador externo pode t

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descritores para os partidos políticos, pois

é

muito provável que, em suas

ent

revis

tas, esse seja

um

assunto recorrente. Pode ser também importante estabelecer os

descritores Segunda Guerra Mundial ,

ou

G

uerra Civil

Espanhola -

digamos

que, pela geração dos entrevistados, esses também sejam temas freqüentemente

explorados. Assim, com base

no

projeto de pesquisa e no universo de entrevista

dos, a equipe pode chegar a uma listagem justa de assuntos que tenham estatuto

suficiente para integrar o índice temático do acervo.

Suponhamos, entretanto, que em determinada entrevista apareça

um

tema

não previsto: a guerra das Malvinas, por exemplo. Trata-se de assunto que merece

ser destacado como tema no índi

ce

, ou será possível incluí-lo em uma entrada'' já

es

tabelecida, como,

por

exemplo, relações internacionais ? Para decidir a respeito,

convém ponderar se a abertura de um novo registro no índice será efetivamente

útil. Se o tema servir para indexar

uma ou

duas entrevistas apenas, convém não

instituí-lo como descritor, mas, se cobrir

um

escopo maior de entrevistas, cabe

inaugurá-lo. Isso mostra que o índice temático de um programa será sempre ne

cessariamente flexível, admitindo continuamente novas entradas, se forem julga

das procedentes.

Além de decidir sobre quais assuntos entrarão

no

índice temático do acervo,

cabe ao programa padronizar os títulos dos temas. Ter-se-á Guerra das Malvinas ,

Conflito das Malvinas , ou Questão das Falklands , por exemplo? E quais serão

os temas eleitos e os

não

eleitos? Isto é, como serão

as

e

nt r

adas remissiv

as?

Ter-se-á

Falklands-

ver Conflito das Malvinas ? Tudo isso são questões a serem discuti

das

em

conjunto, a fim de

imprimir

o máximo de precisão e qualidade ao instru

mento

de

consulta.

O índice temático necessita

s r

atuali

za

do sempre que uma nova entrevista

passe a integrar o acervo. O trabalho de indexação das entrevistas pode ser feito

com base

no

sumário da entrevista:

à

med

id

a que, no sumário, aparecem os temas

tratados, registram-se os descritor

es

especí

 

cos àquela entrevista. Convém, por

tanto, que a indexação de uma en

tr

evista seja feita pela mesma pessoa que

faz

seu

sumário. Ambas

as

tarefas podem ser realizadas concomitantemente.

Ao

indexar

uma

entrevista

é

bom

fazer

um

exercício de se colocar

no

lugar de

um

usuário

do

programa.

Se

ele estiver interessado

no

assunto

X,

tratado na entrevista, como será

que

fará para chegar a ele

durant

e sua consulta ao índice temático? Que tema (ou

assuntos que lhe interessam.

No Cpdoc, o registro dos temas eleitos para cada entrev

mente na base de dados

do

Programa de História Oral (ver ca

que, encerrado o trabalho de indexação de uma entrevista, e

ao índice temático

do

acervo, em cada

um

dos temas pertine

de dados está ligada ao Portal do Cpdoc, é possível então faze

to via Internet tão logo uma nova entrevista indexada seja

Digamos,

por

exemplo, que

s

queira consultar

as

entrevist

movimento sindical. Basta eleger como assunto sindi  ou se

resultado da pesquisa para, em seguida, escolher

as

entrev

deseja mais informações. Pelo sumário,que aparece na janel

entrevista , é possívelverificar se o tipo de abordagem dado a

interessa ao pesquisador, para, então, consultar a entrevista

o

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L_

e i U i J N ~ i l

Consulta por ssunto

Seledoner documentos con

tend

o

r

Pelo menos 1 dos •nuntos selec•on.edos

(

Todas os 4Uuntos st

multene•mente

Optando

pela consulta

por

assunto.

170

V ~ R l AL OC

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I

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tra ali'wtdO'es)

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MANUAl DF ORA l

AU1[.RI,DA

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l O coM:e _ l o ;-roJ te

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Seleclon•

r

documento• contendo

r

Ptlo menos l

dos

auul'ltos a n o d o ~

Escolhendo um ou mais assuntos.

. ~ .

CI'OOC h: . ~ J : i . ; . .

C.ntro

d•

Pesquis.o e Oocum•ntoç6o d• H i . - t ~ Contempor6n.o do Bro-11

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CEIÓ;

A :

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S

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IEctutpe:

. t eventemento de dedos: ANGELA

M : O ~

DE CASTRO GOM.ES

• P et:( Ulf l l 1t r e ç l do roteir o: ANGELA MAR A DE C ~ S T R GOMES

Esco

lhendo

uma delas, apa recem as informações sobre a e

9 2 2 Índice onomástico

O índice

dos nome

s citados

em

uma

entrevista

também

é útil n

informações de um acervo de história oral. Nos primeiros anos

do Programa

de

História Oral do Cpdoc, as entrevistas processa

um índice

onomást

ico, que fazia parte do documento em sua fo

ment

e,

lim

ita

mo

-

no

s a

elaborar ín

dices

onomásticos da

s e

publicadas em livro.

Os

nomes de pessoas recorrentemente refe

tas fazem

parte

do

índice temático do acervo, podendo, pois, ser

assunto

s.

Para elaborar o índice onomástico, começa-se

por um

a

li

citados pelo entrevistado,

indicando

aproximadamente a altura

na entrevista, para o caso

de

ser necessário tirar alguma dúv

relação de nomes deve passar

por um

processo de padronização

sob r

eno

mes c

prenomes

àqueles que estiverem

incomp

letos, p

me

nt

e exige

uma

pesquisa

em

obras

de

referênc

ia ou outras

fon

bém padronizar a forma de entrada dos nomes. Por exemplo,opta

172

VEREN

At ERTI

Humberto de Alencar Castelo , ou Castelo Branco, Humberto de Alencar ? Ecomo

fazer nos casos

de

pseudônimos? O pseudônimo remeterá ao nome,

ou

vice-versa?

Convém decidir também se efetivamente todos os nomes citados farão parte do

índice. Por exemplo, a professora de primeiras letras do entrevistado, referida ape

I O PROCESSAMENTO PASSAGEM

PARA A FORMA ESCRITA

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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nas como d. Candinha, fará parte da lista de nomes?

Além do índice onomástico por entrevista, um programa pode optar por

elaborar um ín dice onomástico geral do acervo,

à

semelhança do índice temático

do acervo. É preciso avaliar, contudo, se o esforço do trabalho será compensado

pelos resultados obtidos.

O sumário e os índices constituem instrumentos preciosos de consulta

às

en

trevistas produzidas por

um

programa. Sem eles, podemos dizer que o acervo per

manece mudo pois se torna impossível recuperar seu conteúdo.

Se

o usuário não

puder contar com pelo menos um desses instrumentos de consulta, será necessário

ouvir ou ler todas as entrevistas para verificar, primeiro, se o que investiga encon

tra-se no acervo, e, segundo, onde e como o assunto de seu interesse é tratado.

Não se pense, contudo, que esses instrumentos de auxílio

à

consulta refletirão

perfeitamente o conteúdo do acervo. Eles serão sempre uma tradução, realizada

por diversos membr os de uma equipe e, por isso, condicionada

às

interpretações

de cada um. Mas como sua relevância

é

evidente, o acervo de

um

programa de

história oral

não

pode passar

sem

eles.

Chamamos de processamento todo o processo envolvido na p

ta da forma oral par a a escrita, compreenden.do

as

etapas de t

cia

de

fidelidade da transcrição e copidesque. Cabe a cada pro

forma de apresentação final das entrevistas ao público. Caso

ção final na forma escrita, convém que o depoimento passe p

No Programa de História Oral do Cpdoc, até aproximada

entrevistas liberadas para consulta eram transcritas e proce

optamos por liberar algumas entrevistas

na

forma de escuta.

recebem uma ficha técnica e os instrumentos de auxílio à

índice temático). A única diferença é q ue o pesquisador inte

las escuta a gravação diretamente na fita gravada, em vezde l

depoimento.

Pode ser conveniente elaborar uma ficha de orientação

constariam todas as informações necessáriasà compreensão d

a lista de nome s próprios proferidos, passando pela explicaç

claros, pela correção de dados inexatos e o esclarecimento d

difíceis de entend er, até a descrição de gestos, expressões facia

tâncias que acompanham e muitas vezes alteram o conteúdo

medida que o pesquisador escutasse a gravação, poderia segu

ção de escuta, onde as observações se sucederiam na mesm

passagens a elas correspondentes aparecessem na entrevista.

A alternativa que nos colocamos para o tratamento das

gravadas não nos exime, contudo, de processar aquelas que ne

tadas na forma escrita. Por exemplo,

as

entrevistas que, por ex

tados, só podem ser liberadas para consulta depois de lidas po

podem ser consultadas diretamente na fita, por t

er

em sido parc

pelos entrevistados, ou ainda as que serão publicadas. Nesses

proceder do

modo

habitual, passando o depoimento para a f

Vejamos agora com mais vagar o que constitui o proces

trevista.

s

tarefas nele envolvidas são penosas e requerem d

174

VI. Kt.

Nt\

1\L

 

RTI

sensibilidade. É no momento de realizá -las que percebemos o quanto é importante

cuidar

da

qualidade da gravação de

um

depoimento, não só no

que

diz respeito ao

equipamento e às condições que oferece o local de gravação ausência de ruídos

externos,

por

exemplo , como

também

na forma

de

conduzir a entrevista,

Mi\

,

 

UA I Df. H TÓKI1\ OR \

O I

uem

faz

O ideal para a transcrição das entrevistas de um programa ser

equipe fixa de transcritores,

que

se ocupari a exclusivamente da

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evitando -se falas simultâneas e tomando nota, durante a gravação, de palavras ou

frases pronunciadas com pouca clareza.

É

durante o processamento que percebe

mos , por exemplo, a importância de artigos e preposições, os quais, se aplicados

incorretamente, podem modificar o conteúdo da fala do entrevistado. Trata-se,

portanto,

de trabalho meticuloso, ao qual toda atenção deve ser dispensada, o

que

significa muitas horas de dedicação.

s

etapas do processamento são realizadas sucessivamente, d e modo

que

a

qualidade de cada

uma

delas influirá na realização das posteriores. Isso significa,

por

exemplo, que quanto melhor a transcrição de um depoimento, mais fáceis e

ágeis serão as taretàs subseqüentes. Aconselha-se, portanto, que todos os profissio

nais envolvidos no processamento de uma entrevista consultem as orientações da

das neste capítulo a todas as etapas de processamento. Um transcritor,

por

exem

plo, pode incorporar a seu trabalho procedimentos aqui indicados como próprios

à etapa

de

copidesque da entr evista, facilitando, assim, o desenvolvimento das eta

pas subseqüentes.

O tempo dedicado a cada uma das fases do processamento varia conforme as

dificuldades encontradas na escuta das fitas. Pode acontecer de uma entrevista ter

sido gravada obedecendo-se a todos os cuidados recomend ados, mas ter sua quali

dade

comprometida pela péssima dicção

do

entrevistado, o

que

dificulta seu

pro-

cessamento. Já se a gravação for ótima, e se for possível

entender

todas as palavras

proferidas por entrevistado e entrevistadores, a passagem da forma oral para a

escrita será mais fácil e rápida.

O Transcrição

Na passagem da entrevista da forma oral para a escrita, a transcrição constitui a

primeira versão escrita do depoimento, base de trabalho das etapas posteriores.

Trata-se de um primeir o decisivo esforço de traduzir para a linguagem escrita

aquilo que

foi

gravado. Por sua importância, é necessário que todos os esforços se

dirijam para a qualídade do trabalho produzido, o que significa ser

fiel

ao

que

foi

gravado, cuidar da apresentação do material transcrito e respeitar as normas esta

belecidas pelo programa.

zidas. Treinados de acordo com os objetivos do programa e in

das pesquisas, tais transcritores poderiam incorporar, em seu t

procedimentos que, neste capítulo , reservamos às eta pas de co

dade e copidesque.

Em muitas instituições, contudo, não há recursos nem e

uma

equipe fixa de transcritores. No Cpdoc, costumamo s ent

das fitas gravadas a prestadores de serviço. Com o tempo, ac

uma equipe estável e competente, mas essa pode não ser a reg

prestadores de ser viço se dedicam a esse trabalho nas horas vag

complementar, e isso pode resultar na elevada rotatividade des

que impede, evi dentemente, seu aper feiçoamento cumulativo.

toso selecionar os transcritores entre estudantes de história e

nham um

bom

domínio do portug uês. Seu interesse pelo assun

to de que já dispõem funcionam geralmente como estímulo p

um bom

trabalho.

Cabe certificar-se de que o transcritor possui, em casa, u

reprodução da gravação e um bom fone de ouvido, bem com

com o processador de texto utilizado pelo programa, a fim d

transcrita

em

arquivo capaz de ser posterior mente revisto e mo

Convém conversar com o profissional sobre a entrevista

antes que comece seu trabalho. Por exemplo, narrar um pou

entrevistado, explicar as razões

que

levaram o programa a pr

conteúdo

da

gravação, indicar como reconhecer a fala dos difere

e adiantar o tipo de dificuldades que poderá encontrar. Even

passar a ele as anotações feitas durante a entrevista e a lista de n

são citados naquela gravação cuidando-se para conservar um

rial junto ao programa, já que deverá ser consultado também

rência

de

fidelidade).

Caso o programa opte por delegar a transcrição a prestado

vém designar um membro da equipe responsável pelo control

caberá registrar

que

fitas estão

sendo

transcritas fora da ins

transcritores encarregados de cada uma delas, bem como marcar

  76

VlRl A ALBERTI

do trabalho concluído. Para isso, deverá organizar também um fichário com os

dados

do

s transcritores (endereço, telefone etc.), para

poder

contactá- los

sempr

e

que necessário (em caso de atraso na entrega, de novas fitas da mesma entrevista a

serem transcritas etc.) .

M NU

  L

Ol

HISTÔRIA ORAL

registro que indique o

núm

ero da fita em questão. Apena

um lado de fita, interrompemos a

tra

nscrição para graf

ar

,

e entre colchetes, a ocor rência:

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I O  I  2 Como fazer

O cuidado em ouvir

É muito importante , antes de começar a transcrição propriam ente di ta, que o tra ns

critor ouça um trecho da fita, para se acostumar com o ritmo da entrevista e o falar

característico de entrevistado e entrevistadores. Se ouvir a fita

durante

uns cinco a

dez minutos, a gravação já se torna relativamente familiar, sendo mais fácil repro

duzi-la.

É necessário também que o transcritor se esforce em ouvir as construções-

as frases, os apostos e t c até o fim, antes de transcrevê-las. Isso impede que ele

antecipe palavras ao falante, antes de ter ouvido a conclusão de seu pensamento, e

facilita a pontuação, evitando, por exemplo, que encerre uma sentença ali

onde há

apenas uma pausa.

A apresentação o material transcrito

Cabe ao programa estabelecer convenções a serem seguidas na apresentação da

transcrição

da

entrevista. Vejam-se alguns aspectos a serem definidos.

a) O cabeçalho. O program a deve decidir como lidar com o cabeçalho gravado

no início de cada sessão de entrevista: convém transcrevê-lo na íntegra,

ou

basta indicar os dados que contém? No Cpdoc, convencionamos marcar o

início de cada nova sessão de entrevista registrando o número da sessão segui

do

de sua data:

la.

Entrevista 10/3/1988 ,

por

exemplo. As demais informa

ções contidas no cabeçalho gravado (nomes

do

entrevistado e dos entrevista

dores, local, projeto, instituição) são incluídas na folha de rosto e na ficha

técnica da entrevista.

b) A indicação das mídias. Convém indicar, na transcrição, a gue fita (ou outra

mídia) da entrevista corresponde o trecho transcrito. No Cpdoc efetuamos o

registro a cada vez que se encerra o lado de uma fita,

por

exemplo. Assim, em

seguida ao cabeçalho, inicia-se Jogo a transcrição da entrevista, sem

nenhum

[FINAL DA

FITA

l-A]

Na eventualidade de a fita não ter sido integralmente grav

ocorrência em nota, como por exemplo:

[FINAL DA

fiTA 1-Aj

•A

fita

1 A

não foi integralmente gravada.

Ou, ainda, entre colchetes:

[A

FITA 1-B NÃO

FOI

GRAVADA]

c) As iniciais dos falantes. É igualmente necessário estabelec

cada fala da entrevista será graficamente introduzida. No

namos introduzi-la pelas iniciais do falante. Assim, a auto

do

é

dada

pelo registro prévio de quem

tomou

a palavra.

Z.E. - O senhor tem alguma lembrança desse período em que sua

M.P.

-

Eu

era ainda muito menino, mas me lembro, por exemp

tivemos de nos esconder na casa dos meus tios . .

Neste exemplo hipotético, Z.E. indica, digamos, Zélia Mac

entrevistadores), e M.P. se refere a, suponhamos, Marcos

donça Pires

(o

entrevistado).

No

Cpdoc formam os as inic

primeiro e o último nome dos falantes.

O Ue observar ao transcrever

Como regra geral, o transcritor deve ser instruído para repro

dito, sem fazer cortes ou acréscimos. Entretanto, se for um pro

que já trabalhe há algum tempo no programa, pode-se solicit

das tarefas aqui reservadas às atividades de conferência de fidelid

Se o

programa

decidir,

por

exemplo,

que

as transcrições dos d

rão

com

expressões

do

tipo hã ..

hum

..

,

pode-se solicitar ao

as transcreva,

para poupar

o trabalho futuro.

178

VE

R

ENA

Al8ERTI

Caso o transcritor não cons

ig

a compreender determinada palavra ou trecho,

deve indicar a ocorrência entre colchetes e em negrito, para q ue seja facilmente

reconhecida pelo encarrega do da conferência de fidelidade.

Ele

deve ser instruído

para escrever as palavras de acordo com a norma ortográfica (não transcrever, por

MANUAl

I>E

liiSTÓRIA ORAL

dores que consultarem o depoimento em sua forma final, qu

dos sobre o significado de cada uma das convenções adotada

a) Interrupção de gravação. É

comum

que durante uma en

ções na gravação, seja porqu e interrompeu-se a convers

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exemplo, "Eu vô fazê um isforçu pra respondê"). É

bom

solicitar-lhe

também

que,

em caso de contração de palavras, proceda a seu desmembramento: ao invés de

<C ? , (( -  ?)) . é d ))

ne. , usar nao e. ; ao mv s e pra, usar para ou para a"; ao invés de "tá': usar

"está': e de "tô': usar "estou" e assim por diante.

s

m rc ções

Na passagem de narrativas orais para a forma escrita, muitas vezes pod e ser neces

sário lançar mão de marcações que informem o leitor sobre elementos

que

ultra

passam o conteúdo estrito das palavras proferidas. Essas marcações

têm

a função

de suprir algumas das deficiências

que

resultam da passagem

do

documento para a

forma escrita:

uma

vez que não

é

possível,

no

documentoescrito, reproduzir o

tom

de voz, seu ritmo, a pronúncia das palavras etc., ao menos se pode procurar forne

cer outros indícios que complementam a simples leitura das palavras enunciadas.

A quantidade e a aplicação dessas marcações devem ser estabelecidas

em

for

ma de normas do programa, para que sejam adotadas em todas as entrevistas de

seu acervo. Éno momento da transcrição q ue elasserão incluídas pela primeira vez

no

texto escrito, mas cabe ao encarregado da conferência de fidelidade verificar se

foram corretamente empregadas.

Trataremos aqui das marcações empregadas

no

trabalho de processamento do

Programa de História Oral

do

Cpdoc, que devem ser consideradas apenas como

possibilidades, já que o tipo de ent revistas realizadas e os objetivos que orientam a

formação de um acervo de história oral determinam em grande parte quais as

marcações adequadas em cada caso.

Com a intenção de não sob recarregar o texto escrito e facilitar su a leitura, pro

curamos adotar o

mínimo

de marcações possível, reservando às notas de pé de pági

na (tratadas no próximo item) muitas das informações sobre como decorreu a en

trevista.

Outros

programas, contudo, podem preferiradotar

uma

quantidade maior

de marcações, como as usadas em peças de teatro, por exemplo, em que cada fala vem

acompanhada de t:lma especificação sobre como deve o ator representar aquele trecho.

Convém sempre listar o tipo e a aplicação das marcações utilizadas, para orientar

não só aqueles que se encarregarão do processamento, como também os pesquisa-

para atender ao telefone ou para tratar de um assunto e

interrupções são identificadas por mudanças na gravação

no

texto da entrevista. No Cpdoc marcamos a ocorrên

local onde oco rrem:

[INTERRUPÇÃO

DE GRAVAÇÃO]

A marcação das interrupções permite ao pesquisador

qu

ta compreen der possíveis mudanças de assunto

ou

abord

te ocorrem após a interrupção da conversa.

Ela também

do

programa com seus documentos, evitando-se suspe

gravação, caso um pesquisador esteja escutando a entre

transcrição. Se, por exemplo, ao escutar a fita, o pesqui

alteração da gravação e não houver registro corresponde

depoimento, pode pensar que houve ali uma montagem

tar

da confiabilidade do documento.

b ~ n f a s e s É importante procurar indicar as ênfases feitas

trevistador, para evidenciar o destaque que quiseram

im

assunto

ou

conceito. Uma palavra proferida enfaticame

mo

de

significado

que

precisa ser transmitido ao leitor

ênfase pode ser conferida a

uma

palavra ou expressão

enunciação destacada das sílabas ou ainda acompanha

por

movimento de mão batendo na mesa, por exemplo.

as ênfases grifando em

itálico

as palavras ou trechos qu

de destaque, como no exemplo abaixo:

Chegou um pai com

um

garoto sangrando, que eu tinha queb

"Olha o

que

o seu neto fez aqui para o meu filho " Eu, agarrado n

disse: "Meu neto

fez

isso

no

seu filho?" "Fez, sim, senhora."

c) Silêncio. Pode acontecer, duran te uma entrevista, que se

mais prolongada entre

uma

frase e out ra

ou

em meio ao

silêncio pode ser significativo para a análise da entrevista

18 VlRli\A t\lKl RII

uma

reflexão prévia a determin ada enunciação, ou mesmo

um

embaraço dian

te de uma pergunta. No Programa de História Oral do Cpdoc marcamos essas

ocorrências para informar o leitor da entrevista a seu respeito e contribuir,

portanto, com mais um dado para a interpretação

do

documento. Por exemplo:

MAI\UAL

[

fiiSTÓRIA ORAl

O meu

irmão

mais velho já estava fazendo o curso da Escola Nava

rença de idade muito grande. Eu fui o penúltimo. E agora sou o ú

os meus ir mãos todo s faleceram, fiquei só eu. [emoção]

Note-se que, para registrar ocasiões de emoção, o transcrit

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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Entrevistador- E como ficou seu relacionamento com João Goulart a partir daí?

Entrevistado - Ficou .. [silêncio] Não ficou estremecido; ele ficou magoado comigo,

mas cu não fiquei com ele.

A marcação de silêncio deve ser feita

com

cuidado. Para

não

sobrecarregar o

texto e não diluir o valor desse registro,

é

preciso aplicá-lo apenas nos casos

em que

efetivamente ocorre

uma

pausa prolongada, e não cada vez em que,

por alguns segundos, houver uma suspensão da conversa. Pausas cu rtas são

com

uns na

linguagem falada e devem ser marcadas pela pontuação usada na

linguagem escrita; reserva-se a marcação

r

ilêncio] apenas aos casos em que a

duração da pausa for maior e chamar a atenção

do

ouvinte.

d) Risos. Para traduzir a relação o clima de uma

ent

revista, marcamos também

as ocasiões em que entrevistado e ent revistadores riem de determinado assun

to ou palavra, fa t

or que também pode

se

tornar

relevante para a interpretação

do

documento. Distinguimos, nesse caso, duas situações de marcação: a pri

meira,

em que

ri apenas a pessoa que está falando, c a segunda,

em que

riem

todos. Elas correspondem às formas [riso] e l isos], respectivamente. Vejamos

os exemplos:

Ent

revistador-

Então o senhor teve apoio da UDN regional e frieza da UDN nacional.

Entrevistado-

Apoio total da UDN regional, o

que não impediu

[riso]

que

muitos

próceres

da

UDN nacional viessem me pedir coisas para

eu

pedir ao presidente.

Até há

uma

anedota muito curiosa: dois carregadores pensando e um dizendo: "Ah, se eu

fosse presidente da República Eu só acordava lá para o meio-dia, depois ia almoçar lá

pelas três horas,

quatro hor

as, depois, então aí é que cu ia fazer o primeiro carreto:' [risos]

De modo que todo

mundo

pensa em ser o presidente da República, não é?

e) Emoção.

Como

o riso, as lágrimas também acrescentam significa

do

à expres

são verbal e devem ser marcadas para transmitir ao leitor da entrevista o en

volvimento e os sentimentos do entrevistado em relação a determinado as

sunto. E não só as lágrimas expressam esse envolv

im

ento,

como também um

tom

de

voz claramente emocionado. Em casos

como

esse, então, procedemos

como a seguir:

anotações feitas durante a entrevista, uma vez que as lágr

poderão ser ouvidas na fita gravada. Caso não disponha

marcação moção] deve caber ao encarregado da conferê

f Trechos lidos. Pode acontecer,

durante

uma entrevista,

qu

um trecho d e livro, artigo, poesia ou similar. Essa circunst

trada nas anotações feitas

durante

a entrevista e

transm

it

cação própria, ao leitor da entrevista. Isso porque,

em

sua

dor que consultar o depoimento deve estar ciente de

qu

lido, o

que pode

justificar

um

estilo de linguagem mais f

precisão de palavras inexistente no resto da entrevista.

No Cpdoc, marcamos os trechos lidos de duas formas. Um

da

quando

pelo contexto pelo conteúdo da entrevista, fic

vistado está lendo. Nesse caso, usamos apenas aspas para i

exemplo:

Eu tenho cópia do inquérito, autenticada até pelo escrivão, mas e

vou apenas citar algumas coisas que eu achei muito estranhas,

não

vamos ver umas perguntas: "Teve o general Assis Brasil alguma infl

do professor Darci Ribeiro no Gabinete

Civ il,

uma

vez

qu

demissionário?" Aí eu disse: "Creio

que

não. Esses problemas

era

reserva, de maneira que cu não participava deles."

Nos casos em

que

não é possível, pela simples leitura da

que

o entrevistado está lendo, marcamos a ocorrência c

página. Ocorreu-nos, por exemplo, de um entrevistado h

forma escrita

uma

parte do

que qu

eria dizer. Apesar de a en

oral ser essencialmente um diálogo, não nos

foi

possível, p

cida, evitar a leitura de algumas páginas do discurso pro

trecho transcrito

foi

tratado da seguinte maneira:

Bom, eu devo começar fazendo

um

retrospecto, assim,

um

históri

Revolução de 1930, assumiu o governo Getúlio Vargas, então chefe

em meio a uma das mais graves crises mundiais que se abateu sob

 

2

VE

R[

NA

AL8l

RTI

( .. O DASP

teve também marcante influência na vida dos estados e municípios, através

da Comissão de Estudos Estaduais e Municipais.] Essas são as breves notas, de início, de

um trabalho que eu pretendo ainda um dia, quando tiver tempo, co mpletar.

Entre colchetes trecho lido pelo entrevistado.

MANUAl

Ot

li

iSTÓ

RI

A O

RA

L

Nas transcrições de entrevistas

no

Cpdoc, procuramos

normas a seguir.

C

PD

OC-FG V

PROGRAMA DE

HISTORIA

ORAL

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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Mais uma vez, caso o transcritor não tenha sido informado previamente sobre

o início e o final do trecho lido, será difícil que possa registrá -lo em sua versão

do

documento

escrito. Quando isso acontecer, a marcação deve caber ao en

carregado da conferência de fidelidade do depoimento.

g) Enunciados incompletos. É muito comum, na linguagem oral e no diálogo,

que algumas frases permaneçam incompletas, seja porque

foram interrompi

das pelo interlocutor, seja

porque

não se concluiu o pensamento, restando o

enuncia

do

suspenso. Nesses casos, marcamos a ocorrência com reticências,

como no

exemplo:

E o meu pai vivia na casa do Lauro Müller. E,

por

causa dessa ligação

..

Meu pai era

ligadíssimo ao Lauro Müller, tinha retrato dele lá em casa, tudo isso.

Há um caso muito comum de enunciados incompletos em entrevistas de his

tória oral, dado pela também suspensão

do

pensamento,e que se pode chamar

de falso começo de frase . Ocorre

quando

se inicia a verbalização de uma

idéia, formulando-a de determinada maneira,

mas

abandona-se esse falso

começo empregando uma nova formulação, que pretende abordar aquela

idéia por

outro

ângulo.

No

Cpdoc também separamos tais falsos começos

da frase seguinte p

or

ret icê ncias, estas últimas seguidas de letra maiúscula no

início

do

novo período. Veja-se o exemplo:

Entrevistado -

Ele

emprestou

a

meu pai a importância para pagar os uniformes.

Entrevistador- 1: isso era puxado mesmo.

Entrevis

t do

E daí, a minha .. O meu pai uma

vez

me disse

isso:

que o almirante tinha

emp restado dinheiro a ele

pa

ra que nós pudéssemos entrar para a Escola N

aval.

E daí em

diante eu tive uma admiração muito grande por ele.

Nesse exemplo, a idéia que começou a ser formulada em E daí, a

minha

..

fo

i

abandonada pelo entrevistado

para

ser retomada mais adiante, na última fra

se, onde fo i concluída.

O uso de reticências na marcação de enunciados incompletos deve ser poste

riormente v

er

ificado pelo copidesque da ent revista, a

qu

em

ca

berá avaliar a

propriedade de sua aplicação.

NORMAS

PARA TRANSC

RIÇÃO DE FITAS

1  No início da transcrição, fazer um cabeçalho informando:

no

local da entrevista, nome(s) do(s) entrevistador(cs), nome do pro

do

transcritor e data

da

transcrição.

2  Iniciar todas as entrevistas com:

l

Ent

revista  2.8.1987

-observar

no exemplo acima o uso de caixa alta e baixa, itáli

- nas entrevistas seguintes, proceder

da

mesma forma:

ª Entrevista 10.9.1987

- se houver apenas uma sessão de entrevista, a

mar

cação dev

Entrevista

2.8.1 987

3- As iniciais prim eiras letras do primeiro e do último nome) d

e

ntr

evis

tado

dever

ão

vi

r

como

se segue:

A ] texto

4- No final de um lado de fita, anotar, pulando linha e centra lizan

(F

INAL

DA FITA 1-A]

ou

[FINAL DA FITA 2-B]

-

o

é

necessário anotar o início de nova fita;

- quando o lado da fita se guinte ao último transcrito não tiv

tiver sido gravado apenas

em part

e, usar asterisco e

abr

ir not

  84

Vf.

R[ NA A

LBERT

I

[FINAL DA FITA 3-A]*

*A

fita 3-A não

foi

gravada (ou não

fo

i gravada integralmente) .

5-

Quando

houver interrupção de gravação, anotar, mudando de linha e centralizando:

MANU

AL

OE HISTÓRIA ORAL

I 0 2 onferência de fidelidade da

transcrição

Realizar a conferência de fidelidade da transcrição de um de

como diz

o n

ome,

em conferir se o

que

está no papel

é

o

qu

assim, parece uma tarefa fácil e imediata, o que,

contu

do, não

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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[INTERRUPÇÃO DE GRAVAÇÃO]

6- No final do depoimento, não é necessário anotar final de fita, e sim

[FINAL DO DEPOIMENTO]

7- Deixar espaço em branco para palavra ou trecho inaudível.

8- Anotar entre colchetes, no corpo do texto, quando for o caso:

[risos] [riso] moção] ilêncio

9- Grifar em itálico as palavras pronunciadas com ênfase (mas atenção: não sobrecarre

gar de grifos; marcar apenas quando for realmente uma ênfase).

10 - A ocorrência de enunciados incompletos deve vir marcada com reticências.

11- A numeração das laudas deve vir sempre no canto superior direito.

12- Observações suplementares:

a. Senhor e doutor só são abreviados quando antecedem nome próprio. No corpo

da frase, abreviados ou não, virão em minúscula.

b. Corrigir as formas:

né? - não é?

pr p ra

tava, t eve estava, esteve etc.

o que que ..? -  o que..? ou o que é que ..?

c.

Quando

tiver sido enunciada a expressão entr e aspas , deve ser transcrito en

tre aspas , e

não

colocadas aspas na palavra em questão.

Exemplo: O mome nto político e o projeto político

do

Ge

isel

davam a limita

ção e a esperança- quer dizer, a legitimidade entre aspas.

As aspas devem ser usadas para marcar início e fim de fala reproduzida dentro da

entrevista (Então ele falou: Nunca mais vou repetir

isso. },

destacar título

de

ar

tigos 0 senhor publicou

O

rei da Belíndia em 1972.) etc.

parte das vezes, por melhor que seja a transcrição sobre a qua

A conferência deve ser realizada escutando-se o depoimen

po lendo-se sua transcrição, corrigindo erros, omissões e acrés

tos pelo transcritor, bem

como

efetuando algumas alterações

q

o depoimento à sua forma escrita e viabilizar sua consulta. Isso

pausas, retrocessos e interrupções

na

escuta

da

gravação.

É

por

realização dessa etapa ultrapassa

em

muito o tempo de duraçã

mamos

uma

média de cinco horas de trabalho de conferênci

uma

hora de gravação.

10 2 1 Qu  m faz e Quando

A conferência de fidelidade da t ranscrição de

um

depoimento

rencialmente em período

próximo à

realização da entrevista e

sadores que dela participaram. Há diversas razões para isso,

em

entrevistador, por ter participado da entrevista em momento

mais apta a lembrar-se de seus detalhes, de palavras proferidas

ma de enunciar característicos do entrevistado e de gestos e ac

ridos

du

rante aquele contato.

É

ele,

portanto,

que poderá re

mente a interpre tação do que foi gravado e transmitir informaçõ

sobre aquela relação para o documento escrito.

Vamos a um exemplo. Suponhamos que, paralelamente a

lizada na casa do depoente, esteja havendo uma manifestação n

Digamos

qu

e, e m

dado momento,

enquanto fa la sob re

dete

entrevistado reso

lv

a emitir alguma opinião sobre a manifestaçã

entrar pela janela, sem esclarecer, contudo, em palavras, que m

transcrição da gravação, o trecho apa recerá assim:

Porque eu não acho que tenha sido relevante para o departamento

ponsáveis pelo setor de materiais.

Isso

foi

outro caso;

na

verdade

é? - o superintendente não queria ver envolvido seu nome naque

186

VERENA AL

  ERTI

A expressão que loucura isso, não

é?

é a opinião sobre a manifestação, que o

entrevistado proferiu apontando para a janela, tornando a mudança de assunto

inteligível apenas para seus interlocutores diretos e não para os que ouvirão a gra

vação ou lerão a transcrição do depoimento. Cabe ao pesquisador, portanto, já que

participou da entrevista e sabe o teor daquela observação, transmiti r aos que vão

t\

U \ l DE HISTÓRIA OR;\ l

I 0 2 2 Procedimentos de auxílio

É bastante provável que, mesmo realizando a conferência

mento próximo ao da entrevista, o pesquisador não se lem

falado e de todos os detalhes e gestos que acompanharam

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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consultar o documento

as

informações que detém. Assim,ele interpreta a gravação

e acrescenta

uma

nota àquela expressão; esclarecendo

que

o entrevistado estava se

referindo à manifestação e não ao fato de o superintendente não querer ver seu

nome envolvido naqueles papéis:

Isso foi

outro

caso;

na

verdade - que loucura isso, não

é?*

- o superintendente não

queria ver envolvido seu nome naqueles papéis.

• A expressão entre travessões refere-se a uma manifestação em favor da causa x, que pas

sava naquele moment o na rua onde morava o entrevistado.

Realizar a conferência de fidelidade de um depoimento logo após a entrevista

permite p ortant o que o pesquisador se lembre de detalhes desse tipo e das circuns

tâncias em que transcorreu a ent revista. Além disso, determinadas palavras profe

ridas pelo entrevistado podem ser ininteligíveis para o ouvinte co mum, enquanto

o pesquisador, que teve contato c om o entrevistado e as ouviu diretamente, tem

mais facilidade de decifrá-las. Isso também se aplica a cacoetes de linguagem, ento

nações diferentes das usuais, nomes próprios, que podem ser ouvidos e interpreta

dos incorretamente

por

quem

não

esteve presente à entrevista.

Tivemos, por exemplo, a oportunidade de entrevistar uma pessoa que fre

qüentemente utilizava a expressão

t

coetera a qual mu itas vezes

foi

transcrita como

é certo': devido

à

aproximação do som. Um dos entrevistadores, inteirado desse

cacoete do entrevistado, pôde corrigir esse erro de transcrição, cuja manutenção

implicaria

uma

mudança de sentido no discurso do entrevistado.

Nossa experiência tem mostrado, então, que a tarefa de conferência de fideli

dade deve ser uma extensão

do

trabalho do entrevistador,

por

estar mais apto a

garantir a fidedignidade do depoimento produzido.

Se,

entretanto, não for possível

ao entrevista dor dedicar-se à conferência de fidelidade de uma entrevista, aquele

que realizar a tarefa em seu lugar deve estar em perm anente comunicação co m o

primeiro. Assim, cabe ao entrevistador passar ao encarregado da conferência de

fidelidade todas as informações e anotações necessárias à adequação da gravação à

sua forma escrita, e ficar

à

disposição para quaisquer dúvidas que surj am

no

de

correr

do

trabalho.

mente quando se trata de entrevista longa, com mais de dez

exemplo. Nesses casos, então, convém recorrer a procedim

processamento.

notações durante a entrevista

Como já

foi

dito, é importante tomar nota, no decorrer da e

nomes próprios, acontecimentos, detalhes, gestos e expressõe

escrito pode facilitar a compreensão da gravação.

Tivemos,

por

exemplo, ocasião de ouvir um entrevista

pessoa como um sujeito que tinha muita oportunidade e, e

última palavra, faz ia o movimento indicativo de dinheiro, co

indicador, o que nos levava a concluir que queria dizer que

dinheiro, em vez de - ou então por isso mesmo - oport

gesto deve ser anotad o durante a entrevista, para que não se

que o entrevistado quis imprimir a seu enunciado, e deve se

quisador que consultar a entrevista por meio de nota elabo

rência de fidelidade.

As

anotações feitas durante a entrevista permitem q ue o

ferência de fidelidade se lembre de dados relevantes para a co

mento; que palavras mal enunciadas e, porta nto, de difícil

recuperadas, e que trechos não decifrados pelo transcrito se

retamente.

Recorrendo a terceiros

Pode acontecer que determinadas palavras sejam difíceis de

porque foram proferidas em voz baixa ou de forma pouco

decorrência de

um

ruído gravado simultaneamente, e que e

passado despercebida pelo encarregado das anotações durant

balho de conferência de fidelidade, após algumas tentativas

solicitar a ajuda dos outros membros da equipe, pedindo q

  88

VEREN LBERTI

tentem entender o que

foi

dito. É possível q ue uma pessoa não diretamente envol

vida com a entrevista, em virtude justamente desse distanciamento, tenha condi

ções de reconhecer, no instante em que ouve o trecho, a palavra ou expressão pro

ferida. Mais um vez, verifica-se a necessidade de trabalho com um equipe

integrada, disposta a auxiliar-se mutuamente.

0

HISTÓRI OR L

Claro

es

tá que, se a conferência de fidelidade

es

tiver sen

entrevistadores, o trabalho de pesqui

sa

será reduzido e talvez

que aquele pesquisador

es

tará inteirado das referências e nom

quisa

e

aos temas sobre os quais transcorreu a entrevista. Muit

entrevistado pode mencionar assunto não diretamente vincula

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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ecorrendo

ao

entrevistado

Durante o trabalho de conferência de fidelidade, convém anotar

as

dúvidas refe

rentes a trechos ou palavras de difícil compreensão, bem como de nomes próprios

de grafia desconhecida, para, se for o caso, retornar ao entrevistado, e solicitar sua

ajuda n identificação d quelas informações.

e

for necessário, pode-se pedir ao

entrevistado que ouça os trechos de fita correspondentes

às

dúvidas arroladas, para

que possa contribuir no trabalho de recuperação do que

foi

dito.

A opção por esse recurso depende d relação que se estabeleceu dur nte a

entrevista.

e

a relação de

ent

revista tiver sido agradável e proveitosa, muitas vezes

o entrevistado tem prazer em prolongar o contato com os entrevistadores través

das oportunidad es oferecidas pelo trabalho de decodificação do que foi dito. Nes

ses casos, convém prevenir o entrevistado, ao final do depoimento, acerca dessa

possibilidade. Outra s vezes, contudo, o entrevistado pode não querer mais retomar

o contato com os pesquisadores, seja porque a entrevista não tenha correspondido

a suas expectativas, seja porque se trata de pessoa extremamente ocupada, para

quem já tenha sido difícil ceder parte de seu tempo para prestar o depoimento.

Nesses casos, é preciso avaliar previamente a oportunidade de incomodá-lo mais

um vez para que esclareça pontos duvidosos da entrevista.

De qualquer maneira, a possibilidade de retorno ao entrevistado

é

mais

um

motivo para que a conferência de fidelidade seja feita em momento próximo ao d

realização da entrevista, evitando-se que se passem meses até que se restabeleça o

contato com o depoente.

/0 2 3

esQuisas

paralelas

Na realização d conferência de fidelidade de uma entrevista,

é

necessário estar

sempre atento a fatos, nomes e outras referências e evitar que sua transcrição per

maneça incorreta até o momento da consulta ao documento. Em muitos casos,

é

preciso realizar um pesquisa em dicionários,enciclopédias e outras obras de refe

rência para garantir a exatidão de palavras ou trechos de um depoimento.

o qual o entrevistador não tem conhecimento. Pode citar um

local

ou

órgão, cuja grafiaou significado devem ser verificados

sentação

no

texto da entrevista.

e

for julgado conveniente,

também incluir o mecanismo de retorno ao entrevistado, p

esclareça

as

dúvidas encontradas.

esQuisa

sobre nomes

próprios

É

muito comum, no decorrer de um entrevista, a ocorrência d

às

quais o ent revistado esteve ligado ou que de alguma forma t

em

sua experiênciade vida.

É

import nte que,

n

ent revista tra

no sumário), esses nomes apareçam corretamente.

A maioria

do

s nomes provavelmente fará parte

do

univ

entrevistador,que deve saber, a partir de seu estudo e do conta

do, qual sua grafia correta. Outros, contudo, podem ser descon

sável pela conferência de fidelidade, sendo necessário então

consulta para verificar como são escritos.

Assim, ocorre com freqüência que o transc rito escrevao

n

d forma e, ao fazer-se a conferência de fidelidade e eventualm

sobre sua grafia, chega-se a outro resultado. Por exemplo:

Transcrito:

Kropotniki

Marcos Reis

Ivo Meireles

Roberto Aquino

Tloteloco

Gabriela Megides

Correto

após

con

Kropotkin

Marques dos Reis

llvo Meireles

Roberto Abdenur

Tlateloco

Graciela Meijide

Eventualmente, o próprio entrevistado pode enganar-se e,

crição corresponda ao que

foi

dito, é aconselhável conferir s

exato, caso contrário, convém colocar uma nota ao pé da págin

19

VlRl

A J\

1

 

1RT I

o

<. ngaJW

do entrevistado e remetendo

ao

nome correto. Certa

oca

sião,

por ex<.•m-

plo, um dos

atores entrev

i

stados pelo Programa

de l fist6ria Or a l do Cpdoc ci tou o

nome Dinar

co Silveira c, tanto o transcritor quanto o encarregado da conferência

de fidelidade ouviram clarament e o mesmo

nome. Tratava-se

entretanto de uma

associ

ação de dois nomes semelhantes

-

Dinarco

Reis c

Dinartc Silveira-, equí

,\\i\\llJt\

1

l f

fi

iS

TÓ Rit\ OKt\1

o nome correspondente :lquele pseudônimo ou apelido, prin

ú

lt

imos forem mais

difundidos

c

conhecidos

do que o próprio

vém

proceder da seguinte forma:

E

parece que o Paulo Lacerda c o Miranda* escreviam os relatóri

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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voco que foi esclarecido

através

de

uma

nota de pé

de página.

Nesses casos,

geralmente convem não alterar

a

forma

que o

cntre\'Ístado

us

ou

para referir-se àquela pessoa, c sim indicar o engano

em

nota de pé de página. Isso

porque consideramos importante

co ns

er

var

as associações e os eq u ívocos, que

podem

ser

relevantes

para

compreender a relação

daquele

ator

com

o

munJo

a

partir da forma com que se refere às pessoas que o compõem. Esse é também o

motivo

pelo qual

conservamos os

nomes tal

qual proferidos

,

sem

acrescentar-lhes

pre

no m

es ou sob renomes que o

en

trevistad o não tenh a incluído em seu discurso.

Se, por

exemplo,

refere-se a Juscelino, ao invés

de

a Juscelino

Kubit

schek de Olivei

ra, isso pode indicar uma tendência

de

geração ou mesmo

de

cultura política, do

modo de

se ver

atores de relevo na

história

do país. Evidentemente, essas ob se

rva

ções se justificam

porque uma

das

especificidades

da história

oral é justamente o

fato de se configurar em discurso oral, e não escrito. É

importante

preservar a

linguagem

or al, na qual a refer

ência

a pessoas ge

ralm

ente é feita prescindindo-se

do

nome

completo.

Ainda com relação a enganos do entrevistado na enunciação de nomes de

pessoas, veja-se, por

exemplo,

uma passagem

em que foram

n ecessárias ao mesmo

te

mpo

um

a

pes quis

a e

uma not

a

para indicar

o equívoco:

Transcrito

Um dos participantes era o

Arnold

[

Fabai Haussmann

[. Depois

retornou e foi promovido por me-

recim

ento.

Correto após n pesquisa

Um dos

parti

c

ipantes

era o Arnold

Pairbaim Hasselmann. Depois

retornou e foi promovido por me

reci

mento.

'0

entrevistado inverteu a

ordem

dos sob renomes . O correto é

Arnold Hasselmann Fairbaim.

Uma

ou t

ra

possibilidade a que o

encarregado da conferênc

ia

de

fidelidade

deve

estar atento diz

respeito a apelidos,

codinomes

ou pseudônimos, que podem

ser e

mp r

egados pelo

e

ntr

ev

istado

,

sendo nec

essá rio

pr o

ce

der

a

seu

escl

arecimento

em notas.

Muitas

ve1.es

pode

ser preciso realizar pequena pesqui sa para identifi ca r

tudo

pront

o para o povo se levantar.

•Miranda - um

dos

pscudó

nimo

s de Antônio i c i J J dir

Por

fim, é preciso contar com a

imposs

ibilidade de

confer

a ~ > e l i d o s ligados :l

vida privada

do

entrev

istado. E

le

pode refe

d 1 s t a n ~ e

ou

a

uma

professora

de primeiras

letras,

nomes que di

s e ~ venficados. em uma pesquisa. Nesses casos, convém

consulta

perto dos apelidos e da grafia correta dos nomes. Se não

for

pos

para

solucionaras

dúvida

s

surg

idas durante a conferência de fide

manter o

nome

escrito de forma aproximada ao que fo i proferi

fazer

uma

ressalva em

not

a informando que não se

tem certeza

ção.

Por exemplo:

Nom e sujei

to

a

confirmação.

lém dos nomes de pessoas,

os

nomes próprios de cidad

~ u t ~ a s

.lo

_ca

lid ades;

de

rios,

mo n

tan has e outros acidentes topog

m

st

JtUIÇoes, embarcações etc.

devem

passar pela confe

rên

cia de

em

obras de referência, obedecendo às

mesmas

regras estabele

vém,

nesses casos, consultar diciom\rios, índices e

enciclopédia

fim

de adotar

um

a

forma

unificada de referência a esses

no m

es e

sa ao docum ento.

esQuisa para esclarecer passagens obscuras

Pod e

haver

~ e c e s s i d a d e

em determinados trechos

de entrevist

~ t ~ e n a pesqUJsa para esclarecer passagens ambíguas c

fornecer

ao

Ira. ~ l t a r o d

oc

um.ento

informa

ções mais

clar

as a respeito

da

retcrencw. A profu

nd

idade c a extensão desse tipo de pesquisa i

critérios

formulados

pelo programa. Geralmente, deve

-se supor q

que consultar o depoimento tem co ndi ções de ,

por

si só, realiza

achar necessária s para am pliar sua compreensão acerca do dep

P ~ r ~ u e

é difícil estimar

quais

serão

as dúvidas

de

cada

um

dos p

UtiliZarão o

documento

no futuro . Uma no ta esclar<. ccdora julgad

respo nsável pela c

onferência

de fidelidade pode ser considerada

  92

vrRrNA

AllllRTI

uns e

fundamental

por

outros.

Será difícil atender a todas as necessidades.

Ocorreu-nos, por exemplo, de

um

e

ntr

evistado opi

nar

sobre o

movimento do

Custódio na Marinha , menção que julgamos suficiente para identificar a Revolta

da Armada

1

893-1895), chefiada pelo então contra-almirante Custódio José de

Melo. Pelo contexto em que o entrevistado se referia a esse movimento, não seria

.\IA. WA

 

f

TÓRIA ORA

l

Além da ambigüidade, pode haver passagens que, à primeir

incongruentes ou até mesmo incorretas, necessitando de esclar

por exemplo, o seguinte trecho:

l n c l u ~ i v e o pessoal do São Paulo que estava exilado

em São Paulo

c aí foi, o levante.

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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dif

ícil ao pesquis ador que consultasse o depoimento depreender de que revolta se

tratava. O mesmo não se aplica a entrevistas editadas para publicação, cujas notas

são mais detalhadas e numerosas, pois o depoimento, nesses casos, se destina a

um

público amplo e diferenciado.

Vejamos, contudo,

um

exemplo em que

uma

nota esclarecedora foi necessária

para evitar ambigüidades na interpretação da entrevista. Eis o trecho:

Eles

eram um

pouco herdeiros das idéias de 35. Eles todos

eram

muito inspirados nas

idéias de 35. Esse movimento revolucionário

entusiasmou-

e até hoje entusiasma - a

mocidade do Rio Grande.

Se

não

houver outros indícios que esclareçam de que movimento fala o entre

vistado, a passagem pode dar lugar a uma interpretação equivocada. O pesquisa

dor pode pensar que se trata da revolta comunista de 1935, enquanto, na verdade,

o movimento em questão

é

a Guerra dos Farrapos, iniciada em 1835. A passagem

exige então

uma

nota que desfaça a ambigüidade:

Eles eram

um

pouco herdeiros das idéias de 35.• Eles todos eram muito inspirados nas

idéias de 35. Esse movimento ..

*1835-

ano

de deflagração

da

Guerra dos Farrapos (

1835

-45),

no

Rio Grande

do

Sul.

Esse exemplo pede um desdobramento. Pode-se objetar que, para desfazer a

ambigüidade, bastaria acrescentar à data proferida pelo entrevistado a centena e o

milhar correspondentes, isto é, que em vez de manter 35 , a data fosse

de

imediato

corr igida para 1835 . Entretanto,

do

mesmo modo que para nomes proferidos

sem

prenome ou

sem sobrenome, consideramos

que

acrescentar

ao próprio

texto

da entrevista informações que o entrevistado não proferiu altera o documento e as

potencialidades

de

sua análise. Assim, se o entrevistado

não enuncia

1835 e sim

apenas 35 é

porque

tem uma razão para isso, o que pode ser relevante para

depreender suas representações sobre acontecimentos que ocorreram há mais de

cem anos,

os

quais talvez considere ainda próximo s pela

importância

que

tiveram

em sua formação.

por daí é que v io

Ao ler esse trecho, um pesquisador pode estranhar a dupla o

lidade São Paulo e a impossibilidade de estar-se exilado n o própr

suscinta pode esclarecer a passagem:

Inclusive o pessoal do São Paulo que estava exilado lá em São Paulo,

e por aí foi, daí é que veio o levante.*

•Refere-se a integrantes

da revolta do couraçado São

Paulo

que, após

guai, retornaram clandestinamente ao país, estabelecendo-se no esta

esQuisa p r orrigir erros de conteúdo

Algumas vezes

pode

acontecer

que tanto

entrevistado

quanto

e

metam erros de conteúdo.É preciso que o responsável pela confe

de esteja bastante atento para essa possibilidade e, caso necessite

quisa

que

forneça a informação correta acerca daquela pass

exemplo,

no

trecho

E aí há uma passagem que u eu cheguei a essa conclusão - ache

Foi quando foi organizado o primeiro gabinete parlamentarista; o ch

San Tiago Dantas,

que

era

uma

figura de um talento fora

do

comum

há um equívoco

que

precisa ser retificado em nota:

...o chefe do gabinete era o SanTiago Dantas,

que

era uma figura d

comum.

•·

san

Tiago Dantas foi ministro do Exterior no primeiro gabinete par

bro de

1961

a junho de 1962) e seu

nome foi

sugerido

por

João Go

pelo Congresso, para chefiar o segundo gabinete.

Evidentemente, o programa deve sempre considerar a possi

erros

de

conteú

do

passarem despercebidos

durante

a conferência

porqueo entrevistado podeeventualmentefalarsobre assunto não d

  94

VERENA ALB E

RTI

vi

do com a pesquisa, o qual a equipe de pesquisadores talvez desconheça.

As

 sim, por

exemplo, se no caso de uma pesquisa sobre partidos políticos em âmbito nacional

um

dos entrevistadosmencionar a atuação de

um

vereador

de um

pequeno municí

pio do interior na década de 1920, e esse assunto nã o tiver relação direta com o tema

da pesquisa, dificilmente os entrevistadores e o responsável pela conferência de fide

M NU L

[

HISTÓRIA ORAL

por exemplo, cujo significado é desconhecido fora daquele m

tais empregos dificultam a compreensão de seu discurso e c

uma pesquisapara descobrir o significadodaquela expressão

ve de certificar o leitor da entrevista de que aquela palavra foi

e que não se trata de erro de transcrição ou de digitação. Por

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lidade poderão saber se há informações incorretas naquele trecho. A verificação a

esse respeito deve ficar a cargo

do

pesquisador que consultar o depoimento e que

porventura tiver interesse em certificar-se da exatidão daque las observações. Nesse

particular, uma entrevistade história oral não difere muito de outras fontes. Que m

garante,

por

exemplo, que a informação veiculada

por um

jornal

do

mesmo muni

cípio

do

interior

no ano

de 1923 acerca daquele vereador seja correta?

Ou

uma

carta, um decreto? Será que a providência estabelecida em de terminado decreto

foi

realmente adotada?

As

dúvidas que podem - e devem - surgir com respeito à

veracidade do que

é

dito

por

um entrevistado são

as

mesmas que devem surgir na

consulta de qual quer docume nto escrito, iconográfico etc. Em todos os casos é pre

ciso proceder à crítica: analisar a narrativa do entrevistado, sua coerência, as hesita

ções e os equívocos, bem como a relação entre entrevistado e entrevistadores, e con

frontar aquela versão com outras versões, documentos e registros.

PesQuisa para solucionar dúvidas surgidas durante a entrevista

No decorrer de uma entrevista, pode acontecer que tanto entrevistado quan to en

trevistadores tenham dúvidas com relação a determinado assunto, as quais não

chegam a ser solucionadas

por nenhum

deles até o final

da

sessão. Convém, então,

reparar essa lacuna no momento

da

conferência de fidelidade e, após pequena pes

quisa, esclarecer a questão em nota. Por exemplo:

Entrevistador - Tem Nascimento no nome, não t em desse oficial que coman dava a

guarda de fuzileiros navais no palácio.

Entrevistado -

Ali

bom, esse era um tenente, se não me engano fuzileiro, do corpo de

fuzileiros navais. Júlio

..

Júlio Régis

..

Qual era o nome? Comandava a guarda e estava

acumpliciado com os integralistas ..

*O comandante da guarda de fuzileiros navais do palácio Guanabara, responsável pelo

plano de ataque, chamava-se Júlio Barbosa do Nascimento.

PesQuisa sobre o significado de determinadas palavras

Pode acontecer

de

o entrevistado empregar palavras que fazem parte de

uma

lin

guagem mui to específica, comum a sua atividade profissional, região ou geração,

Mas saíam

60

fortalezas voadoras. Elas iam até lá, à zona da ilha d

ali, e voltavam. E o plano er a o seguinte: cada

um

tinha

uma e r r

no espaço

em

relação à Rússia

..

Derrota- termo náutico, rota de embarcação em viagem

por

PesQuisa sobre títulos de obras

Em alguns casos, pode acontecer que o entrevistado cite alg

peça teatral, música, quadro, poesia, artigo, cujo tí tulo deve

que possível, com o mesmo objetivo das demais pesquisas: f

sulta o depoimento informação correta a partir da qua l po

assuntos de seu interesse.

Como no caso dos nomes próprios, os títulos de obra

erradamente pelo transcritor ou

podem

ser proferidos inco

prio entrevistado. Neste último caso, a correção se

faz

em n

para não alterar o que foi dito. Muitas vezes, contudo, o título

efetivamente a reprodução escrita

do

que o entrevistado fal

pequenas alterações, imperceptíveis até na escuta durante a

dade. Por essa razão convém sempre conferir em obras esp

informação está correta.

Veja-se o seguinte exemplo, em que a versão transcrita p

pelo som semelhante, ao que fora di to pelo entrevistado:

Transcrito:

Aí aconteceu o seguinte: o dr. Epi

tácio, naquele livro dele,

Toda

ver-

dade que ele escreveu quando saiu

da

presidência

da

República, tam

bém

fez

umas críticas ao relatório.

Correto após a pe

aconteceu o seg

tácio, naquele livr

dade

que ele escre

  96

VERENA

Al llt.Kl l

esQuisa sobre palavras ou expressões estrangeiras

Em uma entrevista,

é

possível que sejam enunciados trechos, títulos de obras, ex

pressões ou palavras em língua estrange ira. Ness

es

casos, é necessário consultar

dicionários para tentar, pelo s

om

e pelo contexto, chegar à palavra

ou

expressão

utilizada e certificar-se de sua grafia correta, a qual deve ser aplicada no texto da

MANUAl

Dl

HIS

T

ÓK

IA

ORAl.

... emqueelessereferemàS CTA

..

. .. .em qu e eles

SAFTA

...

South American

Podem acontecer equívocos de transcrição quase imper

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entrevista. Por exemplo:

Transcrito:

... correspondeu a uma, para usar o

termo,uma

consitance, tipicamente

..

esQuisa sobre siglas

Correto após a pesquisa:

... correspondeu a uma, para usar o

termo, uma constituency tipica

mente ..

Na linguagem falada, é comum referirmo-nos a órgãos, projetos e instituições ape

nas pelas siglas, se essas nos são mais familiares

do

que os próprios nomes. Em

entrevistas

de

história oral, empregam-se siglas com certa freqüência, sem que se

jam informados os nomes que a elas correspondem.

O significado da maior parte das siglas que ocorrem numa entrevista prova

velmente

é conhecidotanto por entrevistado quanto porentrevistadores. Pode acon

tecer, cont udo,

que

o depoente utilize determinadas siglas desconhecidas do

ent

re

vistador,

as

quais, se não esclarecidas no momento da ent revista, necessitam de

pesquisa para serem decodificadas.

f

preferível tentar resolver tais problemas ain

da por ocasião da entrevista, seja perguntando ao entrevistado o que quer dizer

aquela sigla tão logo a tenha enunciado, seja aguardando o final da sessão para

indagar a respeito. Se essa providência não for tomada, o significado daquela sigla

só será obtido mediante pesquisa em publicações pertinentes, ou, se for o caso,

retornando ao entrevistado. Mesmo a informação prestada pelo entrevistado con

vém ser verificada, pois ele pode se equivocar em relação a alguma palavra

ou

à

ordem das palavras, por exemplo. Realizada a pesquisa, o nome do órgão ou insti

tuição correspondente à sigla deve ser acrescentado à entrevista em nota de pé de

página. Vejam-se alguns exemplos:

Transcrito:

Até porque o México, que

é

mem

bro da Alade .

Correto após a pesquisa:

Até porque o México, que é memb ro

da Aladi*

*Associação Latino-Americana de

Integração

melhança entre siglas. Aconteceu-nos, po r exemplo, de num

sigla

IBRE

(correspondente ao lnstituto Br

as il

eiro de Econo

tulio Vargas), mas uma leitura acurada do trecho revelou qu

de, do IBRI, Instituto Brasileiro de Relações Internacionais.

são igualmente pronunciadas, foi preciso atenção redobrad

conferência de fidelidade para reconhecer o equívoco.

Os itens referentes à pesquisa durante o trabalho de con

arrolados correspondem apenas aos casos mais freqüentem

nossa prática de trabalho. Evidentemente não se pode restri

verificação apenas a esses casos; ela surge

no

decorrer

do

pr

de entrevista para entrevista. Cabe ao responsável pela con

detectar e determinar quando deve interromp er a escuta da

livros e fontes específicas informações que elucidem passag

curas e nomes, palavras e trechos de cuja exatidão não tem c

I O 2 4 A correção da transcrição

Trataremos agora de alguns erros de transcrição comument

balho de conferência de fidelidade. Veremos como muitas

pequenos em extensão, mas de peso considerável, porquant

mente o conteúdo do

que foi dito.

Épor

isso que toda atençã

sada ao trabalho de conferência de fidelidade, que deve vir a

atitude de estranhamento permanente do texto. Ou seja, é

nhar o que está escrito e questionar-se se aquilo correspond

foi

dito. Isso porque pode acontecer de sermos induzidos pe

que determinado trecho tenha sido transcrito corretamente

mar

erros, seja pela aproximação do som entre a palavra

proferida, se

ja

pelo fato de a palavra transcrita, mesmo erra

quele contexto.

  9

8

VERf

N

LSrRTI

alavras err d s

Algumas vezes, ocorre que o transcritor atribua ao entrevistado ou ao entrevista

dor palavras que eles não proferiram na entrevista. Dura nte a conferência de fide

lidade,

é

preciso estar bastante atento para não deixar passar esses erros. Para

detectá-los

é

necessário retornar a gravação algumas vezes para descobrir que a

M NU L DE HISTÓRIA ORAL

Merece em termos, digamos, de co

notação valorativa ..

Quando soube da composição po

lítica encabeçada pelo prefeito,

mandou que retornasse imediata

Merece

é

um termo

notação valorativa

Quando soube da

encabeçada pelo p

que retornasse ime

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palavra proferida

é

outra

que

não a transcrita, apesar da proximidade de som entre

ambas.

Vejam-se alguns exemplos o grifo nas palavras corrigidas visa apenas a

destacá-las no conjunto do exemplo).

Transcrito:

E passamos num bar, tinha uns ca

ras muito mal-encarados, estivemos

jogando lá uma bisca qualquer, e o

Agildo foi comprar cigarros.

Eu

estava muito interessado em sa

ber dos planos minerais lá da China.

Fecha-se o Atlânti co Sul. A vigilân

cia fecha, então dá

um poder

de

Marinha nosso enorme.

... alvez uma certa nuança,uma cer

ta inserção ..

... de

modo

que essas medidas todas,

eu fico co m grande surpresa ..

... e com o tem po acabou tendo que

ser abandonada.

Eu não diria que foi uma política

de indefinição ..

Até pelo port e dele eram incompa

tíveis com a tradição e a estatura

dele ..

Co

rreto

após

a

conferência:

E passamos num bar, tinha uns ca

ras muito mal-encarados,

digamos

jogando lá uma bisca qualquer, e o

Agildo foi comprar uns cigarros.

Eu estava muito interessado em sa

ber dos planos qüinqüenais lá da

China.

Fec

ha-se o Atlântico Sul. A vigilân

cia fecha, então dá um poder de

barganha nosso enorme.

... alvez

uma

certa nuança,

uma

cer

ta infl

exão ..

... de

modo

que essas medidas todas

surgiram

com grande surpresa ..

... e com o tempo acabou tendo que

ser reavaliada.

Eu não diria que foi um período de

indefin ição ..

Até oferecerem

postos

que eram in

compatíveis c om a tradição e a es

tatura dele ..

mente à capital.

... sso em 93, mais ou menos.

pital.

... isso

levou

um

m

nos.

Erros de ortografia

também podem

ocorrer em

uma

trans

parte, poderão ser corrigidos pelo copidesque. Mas há casos

deverá ser feita ain da durante a conferência de fidelidade, qua

sentido do que foi dito. Por exemplo, onde está escrito caçad

do

 ,

a manutenção do erro de grafia imprime outro signific

Com a mesma atenção devem ser corrigidos tempos de ver

preposições e desinências de gênero e número, que alteram o

dito. Por exemplo:

Transcrito:

Quando cheguei na Espanha, en

contr

ei uma

nova situação.

Aquilo se passou mesmo com o ofi

cial-de-gabinete, mas não podia: a

gente está na chuva é pra se molhar.

Correto após a con

Quando cheguei

contrei uma

nova

Aquilo se passou

oficiais-de-gabine

dia: a gente está n

molhar

A correção deve ser feita mesmo que a versão transcrita

do que foi dito. O depoiment o transcrito deve respeitar a ling

palavras do entrevistado e dos entrevistadores. Assim, por ex

Isso porque os padres costumavam procurar os lugares elevado

que eles tivessem se instalado

, nos seus primórdios.

há um erro de transcrição que não modifica o sentido

altera a forma de expressão

do

entrevistado, que, na verdade

200

V

  FNA

Al HfRTI

Isso porque os padres

costumavam pro

curar

os

lugares elevad

os

.

De

modo qu e

é

possível

que eles tivessem se instalado lá

nos

seus primórdios.

A transcrição

err

ada de palavras não s e restringe a vocábulos isolados; pode

haver casos em

que

frases e trechos maiores sejam transcritos sem correspondência

com o que foi dito. Veja-se o seguinte exemplo:

MMWAl Dl II ISTÓRit\ ORAL

Transcrito:

Voltando ao Júlio de Castilhos e ao

Borges

de

Medeiros, eles

eram

duas

pessoas muito diferente

s.

Fo

i então que houve um estreme

cime

nto

e

nt r

e Vargas e Borges de

C

orr

eto

apó

s a con

Vo ltando ao Júlio d

Borges de Medeiros

duas pessoas muito

Fo

i então que houv

cimento entre

os

Va r

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Transcrito:

Até

qu

e chegou a época

do

Barão

no

Ministério

do

Exterior, que, ten

do

o problema c

om

a Argentina,

sentiu

que

a solução

para

resolver

o

probl

ema das Missões era a es

quadra

de

19

10.

A Argentina tam

bém

se equipou, mas não pôde fa

ze

r mais porquepara evitar a crise lá.

In

versão

da ordem das palavras

Corr

e

to

 

após

a c

o

e

rên

cia:

... AArgentina ta

mbém

se e

quipou

,

mas não pôde fazer nada; teve que

aceitar a

soluçã

o

do

Cleve

land.

Pode acontecer que o transcritor troque a

ordem em que

palavras de

uma

mesma

frase foram proferidas, engano que, conforme o caso, precisa ser corrigido durante

a conferência de fidelidade. Algumas vezes essa inversão

pode

levar à

mud

ança

completa de sentido, como no exemplo abaixo:

Transcrito:

O Borges deve ter ajudado, nessa

hora o velho Vargas deve ter ajuda

do, senão ele não conseguia tirar os

filhos de lá.

Omissões

Correto

após a conferência:

O Borges deve ter ajudado, nessa

hora deve ter

ajudado o velho

Vargas, senão ele não conseguia ti

rar

os filhos de lá.

É

comum

durante

a

co

nferênc

ia

de fidelidade, deparar mo-nos

com

omissões rea

lizadas pelo transcr itor,

qu

e

pode

m ou não alterar o conteúdo

do

que foi dito, e

que

devem ser corrigidas.

Algumas vezes, a omissão de palavras

ou tr

echos compromete muito o signifi-

cado

do

discurso. Por exemplo:

Medeiros. Medeiros.

Muitas vezes, na linguagem falada, proferimos mais de um

palavra ou trecho, de

modo

a conferir-lhes ênfase através da re

tor

deve ser alertado

sobr

e essa

po

ssibilidade, evitando

omitir

repetidos. A repetição pode ser também resultado de hesitaçã

mos a forma adequada de exprimir dete

rmin

ada idéia.

Du

rant

ferência de fidelidade, é preciso ter bastante sensibilidade e acui

perceber se determinada repetição de palavras advém de hes

apenas titubeação comum à linguagem falada. Estas úl timas,

para facilitar a leitura, e falaremos delas adiante. Quan to às

encarregado

da co

nferência de fidelidade avaliar se sua manu te

e acrescentá-lasao texto, caso tenham sido omitidas pelo transc

deve levar

em

conta o

tom

de voz e a velocidade de enunciação.

exemplo,de

um

ent revistado ficar realmente

em

baraçado

em

d

e repetir seis vezes a palavra de antes de resolver o que iria e

então, convém indicar a hesitação repetindo-se a palavra por d

do

reticências

par

a evidenciar

qu

e naquele trec

ho

houve dificu

Como

proceder

nos

diferentes casos de repetição deve ser dec

pela equipe de pesquisadores

do

programa.

Pode acontecer também de o transcritor omitir express

muitos casos, convém mantê-las apesar de não implicarem m

sentido,

porque

refletem a justa medida

com

a qual entrevista

res resolve

ram tratar

de determinado assunto. Vejamos alguns

Transcrito:

O marechal Lott queria manter a esta

bilidade. E o nosso minis

tro

da Mari

nha, o Amo

rim do

Vale, e o da Aero

náutica não

qu

e

ri

am.

Correto   após a conf

O marechal Lott q

estabi lidade. E o

no

Marinha, o Amorim

Aeronáutica,

acho

qu

202

V

 

REN  l

  RT

I

A França, nesse tempo, era muito

retrógrada em relação a esses pro

cessos modern os de administração.

E aí foi o maior rebu.

A França, nesse tempo, era muito,

digamos assim retrógrada

em

rela

ção a esses processos modernos de

administração .

E aí foi o maior rebu, como dizem

M N

U L

[

ISTÓR   OR l

contrário, complementa a idéia. Entretanto, é preciso corrigi- l

forma de enunciação escolhida pelo entrevistado: o fato de refer

navais apenas como fuzileiros pode indicar sua proximidade c

so,

por

sua profissão ou experiência de vida. Pode também indic

.. tado considerava seus interlocutores inteirados do assunto, o que

viar sua enu nciação,

ou

ainda que proc

ur

ava acompanhar seu

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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Outro tipo de

om

issão feita com f re

ência pelo transcritor incide sob re as

interferências do entrevistador,

em

meio

à

fala do entrevistado. Pode acontecer,

por exemplo, de o entrevistador tentar ajudar o entrevistado

quando

este último

tem dificuldade

em

achar a palavra adequada para qualificar determinado tema.

Nesses casos, a interferência

do

entrevis

tador

deve ser

mantida no

texto da entre

vista para evidenciar que a categoria usada pelo entrevistado partiu de uma suges

tão

do

entrevistador. Por exemplo:

Transcrito:

Entrevistado E havia o núcleo

do

Partido Comunista, que era o nú-

cleo que estava, digamos, oculto, na

sombra, mas que de fato era quem

orientava.

créscimos indevidos

Correto após a conferência:

Entrevistado E havia o núcleo do

Partido Comunista, que era o nú-

cleo que estava, digamos, oculto,

na

sombra,mas que de fato era quem ..

Entrevistador Orientava.

Entrevistado

Orientava.

Outro

erro de transcrição que ocorre com certa freqüência diz respeito a acrésci

mos de palavras ou trechos que

não

foram enunciados

durante

a entrevista, os

quais o transcritor pensou ter escutado. Aqui també m devemos prestar muita aten

ção porque tais erros

podem

passar despercebidos durante a conferência de fideli

dade, devido à influência que exerce o texto transcrito so bre a escuta da gravação.

Mesmo que o acréscimo feito pelo transcritor faça sentido dentro do contexto,

devemos ter a preocupação d e respeitar o discurso tal qual se passou e não comple

tar o pensamento

ou

expressão

por

nossa conta.

Por exemplo, na passagem Ele chegou lá

com uma

tropa d e fuzileiros navais

e não teve força para fazer a tropa atirar , há um erro de transcrição por acréscimo

indevido, porque, rra verdade, o entrevistado não falou a palavra navais , tendo

proferido apenas o seguinte: Ele chegou lá

com uma

tropa de fuzileiros e não teve

força para fazer a trop a at irar. O acréscimo, nesse caso, não altera o significado, ao

expressão mais ágil, em vez de d emorar-se na enunciação de ma

manutenção do discurso tal qual proferido é mais um dado para

da entrevista e as especificidades do estilo de cada entrevistado.

A ocorrência de acréscimos indevidos é c

omum

nos casos d

tas, que,

no

texto

da

entrevista, devem permanecer incompletas,

rarmos completar a idéia com palavra ou expressão que nos par

zentes com o contexto. Por exemplo:

Transcrito:

Mas o resultado foi aquele desenlace,

aquela solução, que

para

a Marinha não

foi nada bom.

.

.

foi muito radical e acabou caindo no

descrédito.

Correto após a confer

Mas o resultado foi

aquela solução, que p

foi nada ..

.. .foi

muito

radical e

10 2 5

adeQuação do oral para o escrito

Iniciado na etapa de transcrição da entrevista, com a inclusão

acrescentam informações ao texto transcrito, o trabalho de adeq

oral para o escrito prossegue durante a conferência de fidelidad

cessário verificar a propriedade

da

s marcações feitas pelo transc

de fita, ênfase, silêncio, riso, emoção, trechos lidos), é precisoaten

gens que necessitam ser trabalhadas de modo a ajustar o conteúd

se passou na

ent

revista .

Notas

Além

das

notas

decorrentes

do

trabalho de pesquisa realizado

rência de fidelidade,

outras

notas

podem

traduzir

para

a forma

percebidas

no momento

da entrevista,

ou

durante

a escuta. Vejam

plos.

204

V RtNA

AL6 RTI

a)

Quando

o entrevistado não dá atenção

à

pergunta formulada. Algumas vezes,

acontece de o entrevistadoestar bastante envolvido com

um

assunto e não prestar

atenção a

uma

nova pergunta feita pelo entrevistador, prosseguindo no raciocí

nio desenvolvido anteriormente. Essas ocorrências são geralmente identificá

veis

na

escuta, pelo tom de voz e a forma de falar, que indicam que o entrevista

do continuou falando sem atentar para a pergunta formulada. Na leitura da

MANUAL

DE

IIISTÓRIA

OR L

Entrevistador- O Ministério da Indústria e Comércio tinha assen

to

na

comissão, quanto depois, no Conselho Interministcrial. E é

u

importante para a questão

da

inflação, conter a inflação, essa parte

preços industriais também, era fw1damental haver um acerto entre

funcionava, volto a insistir nisso, a representação do setor privado

Co

missão Nacional

de

Estímulo de Estabilização de Preços,

lnterministerial de Preços? Essa representação tinha poder de dec

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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entrevista, contudo , não há como perceber que a fala

do

entrevistado não cons

titui uma resposta à pergunta formulada,e sim a continuação do assunto ante

rior, e isso pode levar a interpretações equivocadas, como no exemplo a seguir:

Entrevistado-

Essa

exposição

foi

um pouco desconexa, mas isso não tem importância,

não

é?

Entrevistador- Não, é assim mesmo.

Entrevistado - Depois a gente vai alinhavando, é melhor. Agora, que outras coisas, na

época da Aliança,

eu

posso dizer? ..

Entrevistador-

Quando a Aliança é fechada, como vocês continuaram?*

Entrevistado - Tive contato nessa época com o Carlos Lacerda, com o Ivan Martins, o

Maurício Lacerda, figuras assim que a gente tinha contato.

*O entrevistado não registrou essa pergunta, prosseguindo no raciodnio iniciado ante

riormente.

Nesse exemplo, o entrevistado não prestou atenção à pergunta formulada e

continuou falando sob re a época da Aliança, lembrando-se do que poderia

dizer mais sobre o assunto. A leitura

do

trecho, contudo, p ode suscitar outra

interpretação, a de que a últi ma fala

do

entrevistado constitua efetivamente

uma

resposta

à

pergunta. E essa interpretação equivocada permite

um

erro de

conteúdo: pode-se concluir que o contato com Carlos Lacerda, Ivan Martins e

Maurício Lacerda se deu após o fechamento da Aliança, enquant o o entrevis

tado está se referindo

à

época em q ue a Aliança ainda atuava legalmente. Daí a

necessidade de

uma

nota esclarecendo que a pergunta não foi considerada

naquele momento pelo entrevistado. Conforme decisão

do

programa, pode

se optar também

por

supri mir a pergunta que não foi respondida e manter a

fala do entrevistado sem interrupção.

b)

Quando

o entrevistado concorda com o movimento de cabeça. Pode aconte

cer que o entrevistado concorde com o que diz o entrevistador sem expressar

essa concordância verbalmente,

ou

seja, acenando com a cabeça, movimento

que não

é

registrado em gravações de áudio. Cabe ao responsável pela confe

rência de fidelidade,

com

base nas anotações feitas

durante

a entrevista, regis

trar

esse dado na transcrição do depoimento, como no exemplo:

Entrevistado - Olha, hoje gabam-se muito

de

aplicarem estas e

faziamos. E eles votavam

omo

qualquer um.

•o

entrevistado concordou com a cabeça durante a formulação de

c)

Quando

gestos acompanham a fala. Muitas vezes os gestos

modificam o conteúdo de determinada expressão verbal,

centados ao texto da entrevista por intermédio

de

notas.

caso de

um

dos entrevistados

do

Programade História Ora

dizer que "Fulano tinha

muita

oportunidade", fazia o sin

dinheiro com os dedos indicador e polegar. Vejamos ago

plos de gestos relevantes para a compreensão do

que

foi d

Inclusive a única es trada de bitola universal está lá, com

1 435

met

um titã Um homem fantástico, mas assim.*

entrevistado acompanhou essa expressão com o gesto de mão f

o Antunes era

p ã o - d u r o ' ~

Ele

tinha o hábito de fazer assim."

0

entrevistado puxa de leve o lábio inferior com os dedos polega

d) Quandocircunstâncias da entrevista são necessárias para co

ciado. Circunstânc ias que ocorrem durante a entrevista p

observação no meio

da

fala, que é preciso explicar ao leitor

falamos disso anteriormente, quando supusemos o exemp

vistado fazia uma observação

à

manifestação que passava p

do

essa observação

à

sua fala. Vejam-se outros dois exemp

tâncias desse tipo foram esclarecidas em nota:

Ele ficou uma bala comigo. Então me escreveu um bilhete que eu

nhor

ministro, não es tou doente. Estou de boa saúde, posso

cumpr

determinar."

Eu

estava contando o caso que aconteceu com o meu

muito vaidoso.,. E então

eu

o prendi porque ele tinha feito umas de

governo etc.

"A entrevistadora Z.E. retoma ao local de gravaçãoe o entrevistado

sobre o qual está discorrendo no momento.

2 6

V ~ R E N J\LBfRTI

Então o Teatro Municipal ficou com aquela escadaria suntuosa, bonita, agradável

à

vista,

que depois, já no tempo dessa menina, • chegou a assistir a bailes de carnaval, tudo isso.

"Refere-se à entrevistadora S.U.

e) Quando a forma de proferir palavras é alterada propositadamente. Algumas

vezes, o entrevistado pode querer imitar alguém modificando sua dicção e a

M NU

L

l

ORt\1

En trevistador - O que eu queria saber, que da outra vez não fico

arquiduques do início dos anos 20.

"Por solicitação do ent revistado, que discorreu sobre o assunto em

No Programa de História Oral

do

Cpdoc explicamos a ra

de fita nos casos em que entrevistado e entrevistadores c

sando sobre o tema da entrevista, para indica r que, duran

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forma de enunciar as palavras. Convém que essa intenção seja evidenciada em

notas de pé de página, constituindo

uma informação para análise da entrevis

ta. Assim, por exemplo:

Então, ele decidiu: O xenhor vai xer o meu minixtro."* Eu fiquei surpreso.

O

entrevistado imita o falar característico de Dutra.

f

Quando

é preciso retificar enganos ligeiros. Muitas vezes, na linguagem fala

da, nos confundimos e enunciamos

uma

palavra enquanto pensamos em ou

tra. Ocorrências desse tipo são facilmente identificáveis pelo interlocutor, mas

podem

confundir o leitor do depoimento, sendo necessário então corrigi-las

em notas, como por exemplo:

Eu

recordei tudo, só não recordei

um ponto do

exame. Pois caiu esse

ponto

para cima de

mim, até hoje me lembro do nome: o que eles me pediam de animais era protocórdios.

Era

um

negócio chato, eu não gostava daquilo: "Isso não vai cair." Po is eu

fiz

13 pontos na

loteria: caiu protocórdios. Tinha

uma

questão

zi

nha

de

mineralogia vagabundamas a ques

tão básica era mineralogia. • E eu fiz a prova como a minha cara: horrorosa

*Certamente o entrevistado enganou-se e quis dizer protocórdios.

g)

Quando

as interrupções de gravação precisam ser explicadas. Já menciona

mos as interrupções de gravação, que devem ser registradas pelo transcritor

no corpo

do

texto. Pode acontecer que determinada interrupção tenha sido

solicitada pelo entrevistado,

com

a intenção de

fa

lar alguma coisa

com

o gra

vador desligado. Em casos como este,

é bom

indicar essa particularidade em

nota de pé de página para que o leitor da entrevista saiba que, durante alguns

minutos, entrevistado e entrevistadores conversaram

sob

re assunto que o pri

meiro não quis trazer a público. Assim, por exemplo:

Entrevistador - E como o senhor viu a decisão do governo Castelo Branco de acabar

com a aviação nával do Brasil?

Entrevistado-

Eu

vi

muito mal.

[INTERRUPÇÃO DE G R V Ç Ã O

relação de e nt revista prosseguiu e que o entrevistador ob

ções, não disponíveis ao pesquisador que consulta o docu

caso não

as interrupções feitas em atenção ao desejo do

também aquelas decorrentes de falhas na gravação- seja

de

desativar a tecla de pausa, seja

porque

o microfone apre

ainda por rompimento da fita. Nessas eventualidades, enq

dores não se dão conta do defeito de gravação, a conversa

me

nte, sem que seja possível reproduzi-la para consulta po

que fique claro ao pesquisador que a relação de entrevist

que fosse gravada, informamos a

ocorr

ência dessas interr

demais não vêm acompanhadas de explicações sobre sua

seja feita a marcação [INTERRUPÇÃO DE

GRAVAÇÃO]

Isso porque não consideramos necessário indicar se a i

para

um

cafezinho, para trocar o lado da fita ou para aten

exemplo. Ent retanto, mesmo nesses casos, pode haver exc

ma explicação sobre a interrupção se faz necessária para

uma

referência

fe

ita adiante, na entrevista. Digamos, por

trevistado mencione

uma

parte da conversa telefônica q

uma dessas interrupções. Se sua menção for clara apenas

tores diretos, cumpre acrescentar uma nota ao leitor do do

do a que se refere o entrevistado, como,

por

exemplo:

Então, é como eu estava dizendo agora há pouco:* não se pode m

investimentos.

*Refere-se ao que disse em conversa telefônica

à

cunhada, durante

ção de fita.

Esses são alguns exemplos de ocasiões em que as notas fora

a correta interpretação

do

texto escrito. Evidentemente, pode

situações, além das

arroladas, que exijam esclarecimentos

importante

que o programa estabeleça regras gerais a respeito d

orientação de toda a equipe.

208

VI

Rt.\t\ t\LU RT

I

fn udível

Na passagem

de

uma entrevista para a forma escrita, podemos nos defrontar com

passagens impossíveis de ser d ecifradas, mesmo após diversas tentativas. Nesses

casos conferimo-lhes o atributo de "inaudíveis". Emp regamos a marcação [ina u

dível]

no

lugar de palavras ou trechos impossíveis de serem recuperados. Essa indi

MANLIAL

l

III

STÓRi

t\

OR L

No

meu

arquivo,

eu

tenho a exposição de motivos do almirante

Vargas, redigida de próprio punho. [Pegou)• uma folha in teira

dele.

'Palavra

mais aproximada do

que foi

possível ouvir.

Quando é maioria, tem os dissidentes que começam a arranjar " d

bar a maioria.

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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cação é necessá ria para justificar uma possível incompreensão do texto em decor

rência

da

falta

de uma

palavra ou expressão informar o pesquisador que ele deve

considerar, em sua análise, a existência daquela lacuna. De maneira nenhuma deve-se

substituir uma expressão inaudível

por

outra que pensamos ser

adequada

ao con

texto,

atribuindo

a entrevistado

ou

entrevistador palavras

que

na verdade

não

pro

feriram. No Cpdoc, empregamos a marcação entre chaves, no local onde não foi

possível decifrar o que foi dito. Por exemplo:

Houve uma solenidade

muito

grande, ele

fez

um discurso, teve o cumprimento formal de

[inaudível] e

pronto,

vim-me

embora.

Vale mais

é

aqui no Rio,

onde SOo/o

são da Marinha,

20o/o

da Aeronáutica,

20o/o

do Exército

e JO

o/o

para os [inaudível), que usam o reembolsável nosso.

O

Re

sek seguiu uma linha de adesão aos países do [

inau

dível) .

As chaves, das quais também fazemos uso em outras marcações, indicam que

se trata

de

registro externo

à

entrevista, feito, portanto,

durante

seu processamento.

O

uso da marcação [inaudível] é inevitável quando não conseguimos decifrar

o que foi dito e

sua

ocorrência implica prejuízos

ao

documento

de

história oral.

Para evitá-lo, devemos atentar para a qualidade da gravação, o desempenho

na

con

dução da entrevista - evitando falas superpostas procurando esclarecer palavras

mal enunciadas - e a precisão

da

escuta

durante

a conferência

de

fidelidade. Entre

tanto, mesmo com todos esses cuidados,é provável que a versão final de uma entre

vista ainda

contenha

marcações desse tipo. Sua ocorrência rompe o encadeamento

de idéias torna nulas as possibilidades de interpretação

do

trecho em questão.

Assim, antes de se decidir pela marcação [ naudível o responsável pela conferência

de

fidelidade

pode

lançar

mão

de recursos que

contornem

o problema.

O primeiro deles diz respeito a ocasiões em que temos quase certeza de termos

entendido determiriada expressão. Nesse caso, podem os evitar a marcação [inaudí

vel) e fornecer

ao

leitor pelo

menos um

indício sobre aquele trecho,

demonstran

do ,

contudo,

nossa incerteza a respeito. Pode-se proceder da seguinte forma:

•Palavra mais aproximada do que foi possível ouvir.

Nesses exemplos, as palavras entre colchetes são as que ma

que foi

ouvido

pelo encarregado

da

conferência de fidelidad

gar

antir que tenham

sido realmente empregadas pelo entrevis

é plausível nos casos em que se tem quase certeza da correspond

cr ito e o gravado- e não nos casos

em

que apenas supomos

correspondência.

O

segundo caso em que podemos evitar a marcação [inaudí

palmente a palavras ou sons curtos, proferidos em voz muit

enquanto se está

pensando

no que dizer ou então em finais

de

comum, tanto em finais de frase descendentes, quanto durante

pen samento, que entrevistado e entrevistador emitam sons q

palavras curtas, mas

que não

têm significado. Substituir tais

palavras pela marcação [inaudível] pode sugerir ao leitor da

enunciou efetivamente uma palavra significativa, a qual

não

fo

preferível então marcar estas passagens com reticências ao invé

vel].

Vamos aos exemplos:

O presidente cortava todas as verbas

do

palácio. Quando chegava o

que era o

Artur

Sousa Costa, e tinha que fazer corte para reduzir

ver o palácio." Aí cortava tud o que era do palácio, deixava o palácio

coisa.

Nesse exemplo, as reticências substituem um

som

curto, en

significar "dizia", o qual não deve ser substituído pela marcaç

não

dar a

entender

inadequadamente

que

o entrevistado falou

sob re o corte de orçamento

do

ministro da Fazenda.

Eu sabia a mat éria e agüentei o

L<tfaye

ttc ,

que

era

um carne

de pesco

história natural que nem .. Mas passei o

m u

grau seis c saí satisf

210

V R

EM t\  

RTI

Nesse exemplo, as reticências substituem um som proferido

ao

final da frase,

que não constitui propriamente uma palavra.É comum na linguagem falada, con

cluirmos assim r

apidam

ente uma idéia para podermos expressar o

pensamento

segui

nte

e,

ne

sse caso, não é próprio classificar a passagem como inaudível.

Trecho interditado pelo entrevistado

M;\1\

lt\

L 0  

HI

STÓRIA

OR

l

O m eu avô materno era cearense e diretor do Telégra

fo

em Santa C

Vejamos outros e

xemp

los de autocorreção imediata:

Transcrit

o

Tínhamos uma admiração muito

Correto  após a

con

f

Tínhamos uma adm

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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Pode acontecer, em uma entrevista, que o entrevistado exponha sua opinião sobre

determinado

assunto ou relate

um

caso e revele, em seguida,

que

não

quer que

aquela passagem venha a público. Ele não pedi u para desligar o gravador, mas disse

claramente

que não quer que

seja divulgada sua opinião

ou

seu relato. Nesses ca

sos, a consulta

à

gravação deve permanecer fechada e, na versão escrita do depoi

mento, a ocorrência deve ser indicada. Por exemplo:

Transcrito:

.. Isso que eu estou falando é

super

moff

utocorreções

Correto  após a conferência:

[INTERDITADO PELO ENTRE

VISTADO]

Na linguagem falada ocorrem com freqüência momentos em que o falante se cor

rige imediatamente após ter enunciado uma palavra ou trecho. Isso acontece

quando

efetivamente se cometeu um engano,

ou

quando se prefere substituir a expressão

usada

por

outra

mais adequada.

Denominamos

essa ocorrência autocorr eção ime

diata. Cabe ao encarregado da conferência de fidelidade prestar atenção para que

os casos de autocorreção imediata não prejudiquem o entendimento do texto.

Veja-se, por exemplo, a passagem

O meu avô paterno, materno, era cearense e diretor do Telégrafo em Santa Catarina.

Apesar

de

ter sido corretamente transcrita, ela gera dúvidas de interpretação:

não se sabe, afinal, a qual dos dois avós se refere o entrevistado. Ouvindo atenta

mente a gravação, o responsável pela conferência de fidelidade é capaz de perceber

que

se

trata de

uma autocorreção,

ou

seja:

que

o entrevistado se

enganou ao

dizer

paterno e se corrigiu imediatamente. Para não deixar passar a impressão de uma

ambigüidade

que

na verdade não existiu, deve-se suprimir a palavra que

foi

corrigida,

respeitando a intenção do entrevistado:

grande

por

ele. Inclus

ive

esse fato,

que todos nós sabíamos, soubemos

depois que tinha acontecido.

Naquela época a categoria não tinha

toda aquela, todo s aqueles benefícios.

grande por ele. Incl

que todos nós soube

tinha acontecido.

Naquela época a ca

nha todos aqueles b

Perceber ocorrências desse tipo também requer sensibili

rante a escuta, porque,

dependendo

do tom de voz e do ritm

tratar

de

acréscimo

de

uma palavra para completar a idéia

autocorreção imediata, como no exemplo:

Depois, esses negócios vão para a Justiça, passam-se os anos e aca

porque

aquilo tudo é apagado,

anu

lado.

Nesse trecho, a escuta cuidadosa permitiu perceber que o v

não foi enunciado para corrigir o anterior, e sim para comple

respeito do assunto, razão pela qual ambos devem ser mantido

Pontuação

A pontuação como ve remos, é o aspecto mais delicado na tran

so oral para o escrito e deve ser empregada com o máximo de c

traduzir o ritmo da fala sem prejuízo de seu conteúdo. Erros d

adulterar inteiramente o que foi dito e tanto o responsável

fidelidade quanto o copidesque devem estar muito atentos p

Veja -se,

por

exemplo, a diferença entr e as duas orações:

Não fui a Recife.

Não, fui a Recife.

Nos casos de erros de

pontua

ção

qu

e

mudam

o sentido d

cabe

ao

responsável pela conferência de fidelidade corrigi-lo

2 2

VERfNA

AIBF.RTI

ainda passar pelo crivo do copidesque, que saberá empregar

os

sinais de pontuação

com mais precisão. Vejam-se alguns exemplos em que erros de pontuação altera

ram o sentido

do

discurso e foram corrigidos duran te a conferência de fidelidade:

Transcrito

É, porque se o ministro da Mari

Correto

após a conferência

É

porque se o ministro da Mari

MANUAL DE IIISTÓRIA ORAL

assunto. No Cpdoc, por exemplo, convencionamos usar esta

da federação e Estado

quando

referente à nação. Assim, em

que se segue, no qual há referência a medidas d e política agrá

Borges de Medeiros

no

Rio Grande do Sul, só pode fazer a c

inteirado do conteúdo da entrevista.

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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nha não estivesse em condições de

saúde ele teria que mandar um

substituto à altura.

Ele

não esperou

que o Exército tomasse a iniciativa.

Entrevistador -E o senhor parti

cipava dos debates, das discussões?

Entrevistado-Participava.

Como

eu falava, o inglês podia participar.

Seria impossível detalhar toda essa

imensa batalha travada nesses lon

gos anos. Agora que atingi a velhice,

e que não tenho nem mais condi

ções de rememorar tantos detalhes,

meu objetivo é mais falar sobre a

reforma

do

serviço civil brasileiro.

Pensou-se

em

mim como elemen

to

capaz de

ir

à Europa para

dar

co

nhecimento lá a pessoas, a elemen

tos que eu

não

sei quais seriam.

Naturalmente, na época me seriam

indicados, sobre

as

causas da der

rota do movimento de 35.

ormas de redação

nha não estivesse

em

condições de

saúde, ele teria

que

mandar

um

substituto à altura.

Ele

não: espe

rou que o Exército tomasse a ini

ciativa.

( .. ) Entrevistado - Participava.

Como eu falava o inglês, podia par

ticipar.

Seria impossível detalh ar toda essa

imensa batalha trav ada nesses lon

gos anos, agora que atingi a velhice

e que não tenho nem mais condi

ções de rememor ar tantos detalhes.

Meu objet ivo é mais falar sobre a

reforma do serviço civil brasileiro.

Pensou-se em

mim como

elemen

to capaz de ir à Europa para

dar

co

nhecimento lá a pessoas,a elemen

tos que eu não sei quais seriam -

naturalmente, na época, me seriam

indicados

-

sobre

as

causas da

derrota do movimento de 35.

Em geral, é ao copidesque qu e cabe aplicar, em uma entrevista,

as

normas de reda

ção estabelecidas pelo programa. Algumas vezes, contudo, essa tarefa cabe ao

en

carregado da conferência de fidelidade, porque exige um conhecimento prévio

do

Transcrito

De posse, passavam também a ter a

propriedade da terra e, do que so

brava, o Estado fazia a colonização.

Correto após a co

De posse, passava

propriedade da te

brava, o estado faz

Enfim, esperamos que tenha ficado claro ao longo deste

conferência de fidelidade deve ir muito além de apenas confer

crito corresponde ao que foi gravado. Fazer a conferência d

transcrição é realizar

um

trabalhode pesquisa, corrigir os erro

a transcrição e adequar a entrevista gravada à forma escrita. A

zada com muita atenção, e seu resultado está diretamente con

cuidadosa, a sensibilidade e o bom senso. Um programa de h

do em processar suas entrevistas deve estabelecer previament

procedimentos a serem adotados durante a conferência de fid

do-se, para isso, que

toda a equ ipe envolvida participe das re

devem ser flexíveis o bastante para permitir alterações

à

medi

do

casos não previstos e situações excepcionais.

Por fim, não custa repetir que o trabalho de conferênc

estreita relação com

as

demais tarefas envolvidas na passage

sua forma ora l

para

a escrita. Isso significa q ue a interação ent

conferência de fidelidade e o copidesque, encarregado do te

etapa subseqüente, é recomendada e proveitosa.

I

0 3 opldesq_ue

Tendo passado pela conferência de fidelidade, a entrevista ai

último tratamento para poder ser consultada em sua forma

copidesque, que objetiva ajustar aquele

documento

para a ati

Cpdoc, essa etapa

do

processamento sofreu alterações ao lon

mente julgamos ter alcançado um padrão satisfatório e adeq

2 4

V[ RENA ill.BERTI

des da história oral. O copidesque não modifica a entrevista: não interfere na

or-

dem das palavras, mantém perguntas e respostas tais quais foram proferidas, não

substitui palavras por sinônimos, enfim, respeita a correspondência entre o

que

foi

dito e o

que

está escrito. A ação do copidesque sobre a entrevista limita-se

a:

corri

gir erros de português (concordância, regência verbal, ortografia, acentuação), ajus

tar o texto às

normas

estabelecidas pelo programa (maiúsculas e minúsculas, nu

MI\NU Il DE HISTÓRit\ ORAL

com

as diretrizes da instituição. O profissional encarregado do

ta, antes de mais nada, de um perfeito domínio do português e

to prático

dos

recursos que o registro escrito oferece para que

no papel, a entrevista. Além disso, deve estar em constante c

pesquisadores do programa, porque muitas das decisões que

texto

dependem

de consulta prévia aos responsáveis pela entre

compreender plenamente o con teúdo da en trevista, convém

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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merais, sinais como aspas, asteriscos etc.) e adequar a linguagem escrita ao discurso

oral (esforço

no

qual a pon tuação desempenha papel fundamental).

O copidesque de

uma

entrevista é, portanto, diverso daquele que geralmente

se faz

em

textos de

outra

ordem,

como

artigos de periódicos, por exemplo. Não se

trata de

aprimorar

a forma de enunciar as idéias para alcançar

uma

linguagem

mais elaborada. Ao contrário: porque o

documento

de história oral guarda uma

especificidade

que

o distingue de

outras

fontes, convém preservar as características

da linguagem falada. Assim, os critérios de "elegância" de um texto escrito não são

empregados

no

tratamento da entrevista: na linguagem falada permitem-se repeti

çõesde palavras, frases inconclusas, expressões informais etc., qu e,

no

texto escrito,

são evitadas. O copidesque

mantém,

na entrevista transcrita, as informações de

que o pesquisador necessita para fazer sua análise daquela fonte produzi da: man

tém a ordem de perguntas e respostas fundamental para a análise do documento,

uma vez

que

a resposta

do

entrevistado depende da forma pela qual lhe foi feita a

pergunta),

mantém

as categorias uti lizadas pelo entrevistado na con strução de seu

discurso e

mantém

as indicações sobre como transcorreu aquela relação particular.

O

mesmo

princípio não se aplica aos casos

em que

a entrevista é

edit d

para

publicação. Na edição

podem

ser usados recursos

como

cortes de passagens repeti

das ou

pouco

claras e a ordenação da entrevista

em

assuntos, modificando-se a

ordem em que foram tratados. Entretanto, deve ser sempre mantida a correspon

dência

en

tre o

que

é publicado e o

que

foi gravado, de

modo que

o

que

se

lê no

livro esteja sem dúvida na entrevista. Assim, caso

um

programa decida publicar

uma entrevista, pode optar por estender a ação

do

copidesque para além dos limi

tes sugeridos neste item.

I 0 3 I

Quem

faz

e

como

Caso o programa tenha

optado

pelo processamento das entrevistas realizadas, pode

contar em seus quadros com

uma

equipe de copidesques, cujo tamanho varia em

função

do

volume de depoimentos produzidos e de sua simultaneidade. O traba

lho também

pode

ser feito

por

prestadores de serviço,

que

devem estar afinados

inteirado

do

tema da pesquisa e das

qu

estões que

se

pretende

Para evitar o acúmulo de material a ser copidescado e d

mento

do

acervo, convém que o copidesque de uma entrevis

pois da conferência de fidelidade. Essa medida também se b

pesquisador ainda ter a entrevista fresca na memória e porta

copidesque

com

maior proveito, além de evitar

um

lapso de

entre o fim da entrevista e o retorno ao entrevistado, caso es

depoimento

antes de liberá-lo para consulta.

Para desempen har a tarefa, é recomendado que o copides

gravação da entrevista enquanto trabalha o texto.

Esse

proc

principalmente em

função da

pontuação do

texto,

que

d

entonação que entrevistadoe entrevistadores imprimem ao d

gravação, o copidesque certamente estará mais apto a percebe

ta, esforçando-se

para que

ele seja preservado

no

texto, e te

correção de determinadas passagens. Além disso, ele pode f

um elemento

que

confere a fidedignidade do texto transcrit

decifrar palavras

que

o encarregado da conferência de fidelida

como

inaudíveis.

I

3 2

  Normas gramaticais

e

de redação

O trabalho

do

copidesque consiste, em primeiro lugar, em ad

trevista a

um

conjunto de normas preestabelecidas. Entre

gramaticais,

que

regulamentam o u

so

da língua, e as normas

pelo programa para a uniformização dos textos das entrevist

Quanto

às normas gramaticais, cabe ao programa deci

adotá-

Ias

na apresentação final de suas entrevistas. Há instit

voltadas especialmente para o

campo

da lingüística,

que

adot

gistro inteiramente peculiar para transcrever as palavras tal q

216

Vl .

r-..\

tando-se pelo

som

enunciado e

não

pelas regras

de

ortografia. No Programa de

História Oral do Cpdoc, optamos por seguir

as

normas gramaticais. Assim, se um

entrevistado enuncia: Eu então disse para ele: 'P

ode

vim,

que eu

estou preparado' ,

corrigimos a frase para Pode vir,que eu estou preparado . Do

mesmo

modo proce

demos nos casos de erros de concordância e de regência verbal, muito comuns no

discurso oral,

em que

não se está tão atento

à

correção da linguagem

como

no escri

to. Erros

de

concordância, aliás, são plenamente justificados em cons

tr

uções longas

r - . U IH II

I

HÓIUA OR \l

nistro ou Ministro ?; b ) a grafia e o emp rego de numerais

Incluem-se nesse caso os

nume

rais cardinais, os ordinais, as fr

gens, os horários, os algarismos romanos; c) a grafia dos antropô

-  Arthur  ou 'Artur ?, Mello  ou Melo ?,

No

va York  ou

uso de s iglas e abreviatura  Sudene ou SUDENE ?, I02

metros ?; e) o uso

de

gr i fos

]ornai do Brasil

ou Jornal do l3ra

sao Paulo ou São Paulo ?, know

 h

ow Oll know-how ?; f o

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da linguag

em

falada, nas quais a distância entre sujeito e verbo

pode

resultar no

esquecimento

do

primeiro, a

ponto

de não se saber mais

como

flexionar o segundo.

Ajustamos a fala

de

entrevistadoe entrevistadores

à

norma gramatical

porque

con

sideramos

que

os erros cometidos na linguagem falada não têm peso equivalente

aos da linguagem escrita. Mantê-los na entrevista transcrita seria conferir-lhes um

destaque que

não

adquirem

na

conversa.Se, eventualmente,um pesquisado r estiver

interessado

em

pesquisarjustamente a recorrência desse tipo de erro nas entrevis

t s

digamos

que

seja um

l ingüista-,

pode resgatá-los escutando a gravação.

Por ou tro lado, essa orientação pode ter algumas exceções. Por exemplo,

quando

o erro é enunciado propositadamente, como para caracterizar uma pronúncia

específica. Por exemplo:

Ele virou

-se para

mim

e disse:

O

problema .. Aliás, o problema, não: ele sempre dizia

pobrema':

O

pobrema é que eles não querem saber se isso é constitucional

ou

não.

Do

mesmo

modo procedemos nos casos

de

contração

de

palavras. Já mencio

namos que,

na

orientação dada ao transcritor, solicitamos

que

escreva as palavras

de acordo

com

sua grafia completa, evitando contrações

do

tipo tô , ''tá': pra e

né': Como regra geral,

adotamos

estou , está etc., a não ser que a contração

tenha função específica na frase. Em construções do tipo a gente está na chuva é

pra

se molhar , preferimos manter a contração pra , ao invés de transformá-la em

para': Esse

tipo de

detalhe, entretanto, deve ser decidido em função

de

cada caso

particular.

Outra correção a

que

o copidesque deve estar atento diz respeito às normas de

acentuação das palavras. Nos casos de palavras hornógrafas, por exemplo,

um erro

de

acentuação pode resultar em nlUdança de conteúdo, quando, por exemplo, se

d iz pôde , n1as se transcreve pode , ou pára , e se escreve para .

Quanto

às

normas

de redação, convém que o programa estabeleça

um

con

junto

de regras a serem seguidas

em

todas

as

entrevistas transcritas. Entre outros

aspectos, convém decidir: a) os critérios

de

emprego

de

caixa alta e caixa

b ix -

adotar-se-<1, por exemplo, nação ou Naçilo ?, república ou República ?, mi-

relaç;1o ~ : o m a pontuação - Ele disse: Pois então vamos ver ,

então vamos ver ?; g) as notas virão com asteriscos ou numera

I

0 3

3 AdeQuando o lcxlo para a leitura

Ao

ouvir a gravação

enquanto

trabalha sobre o texto transcrito,

ter em

mente

que sua função, além

de

aplicar as normas, co

entrevista inteligível através da leitura. Por isso, convém que, d

o texto, retire o fone de ouvido e leia mais

uma

vez a entrevist

de

que

pode

ser compreendida.

Isso não quer dizer

que

se deva entender seu conteúdo int

podem

ocorrer trechos realmente difíceis

de ente

nder, c

mesmo

participou da entrev ista pode não saber ao certo o que o entrev

enunciá-los.

Nesses casos, as passagens continuarão probl

copidescado, mas é importan te que efetivamente

traduzam

o qu

vés de

uma pontuação

correta. Veja-se,

por

exemplo, o

tr

echo

Entrevistador - Então, eu pergunto o seguinte: por que

foi

escolh

para presidente, uma coisa que ninguém entende até hoje?

Entre

vistado-

Mas isso

foi

no início, logo no início. Porque

tudo

sempre ass

im

mesmo, não

é? Ele foi

no início.

iv1as

se mpre fo i consi

período Bento Gonçalves na Frente Parlamentar.

Eventualmente essas passagens podem vir acompanhadas

pelo entrevistador, nas quais se sugira uma possível interpretaç

Pontuação

O

prin

cipal recurso

de

que

o copidesque dispõe para

tornar

o te

zir para a linguagem escrita o guc foi gravado é a pontuação.

<1

2 8

VERE

NA ALilt R i

no item 10.2, como a pontuação incorreta pode alterar o conteúdo do que foi dito.

Além de atentar para o conteúdo, o copidesque deve saber administrar a peculiari

dade da linguagem falada, que, mais do que a escrita, pede o emprego recorrente de

sinais como reticências, travessões, dois pontos e pontos-e-vírgulas.

É comum, no discurso oral, intercalarmos idéias em uma sentença, concluin

do a formulação inicial apenas adiante, ou, conforme o caso, deixando-a inconclusa

M NU L

E HI

STÓRIA ORAl

Nas três ocasiões em que se aplicaram os dois pontos nes

tornou-se possível transmitir ao leitor a idéia de conseqüência

que se segue ao sinal e a formulação anter ior. Esseefeito não teri

no lugar dos dois pontos,se empregassem apenas pontos- ness

ção não estaria expressamente indicada, apesar de poder ser dedu

O uso de vírgulas e de pontos também requer sensibilida

que foi dito. Digamos,

por

exemplo, que se tivessem

tr

anscrito

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para desenvolvermos outras associações. O uso de

travessões- no

caso de idéias

intercaladas em um período - e de reticências - no caso de formulações

inconclusas - geralmente se mostra adequado. Por exemplo:

Havia o Chaves e havia outro amigo dele - que

foi

quem me trouxe o caso do Chaves

-

cujo nome eu não me recordo agora, mas que também já exercia uma função de supervi

sor ai

dentro

da .. E o Chaves estava muit o perturbad o

por

razões de vida particular. In

clusive, depois que ele teve essa suspensão revogada .. Ele era

um

homem agitado, vamos

dizer assim, do ponto de vista emocional, uma personalidade um pouco instável.

O uso de reticências nos casos de falas interrompidas, suspensas ou de "falsos

começos de frase" já foi mencionado no item sobre a transcrição da entrevista.

Cabe ao copidesque verificar se o transcritor as empregou corretamente,

ou

se

deixou de aplicá-las em algumas passagens. Pode acontecer, por exemplo, de haver

necessidade

de

reticências no interior mesmo de

um

período, para indicar

que

o

entrevistado não completou seu pensamento. Por exemplo:

Ele denunciava uma série de coisas que julgava erradas; algumas certas, outras, vamos

dizer, de julgamento .., nas quais lhe faltava base profissional para

entrar no

mérito das

coisas.

Outro recurso geralmente bem-sucedido é o emprego de dois pontos para

indicar que o que se segue

é

conseqüência do que estava sendo dito. Muitas vezes

esse tipo de subordinação de uma idéia a outra não é expresso com frases do tipo

"então eu pensei que ..

, ou

"o que

eu

quero dizer com isso é

.

.'' O copidesque deve

exercitar sua sensibilidade para reconhecer, na entonação da voz, a subordinação

entre idéias. Veja-se, por exemplo, o efeito do emprego de dois pontos no trecho a

seguir, já citado anteriormente:

Eu recordei tudo, só não recordei um ponto do exame. Pois caiu esse ponto para cima de

mim, até hoje me lembro do nom

e:

o que eles me pediam de animais era protocórdios.

Era um negócio chato, eu não gostava daquilo: "Isso não

vai

cair." Pois eu fiz 13 pontos na

loteria: caiu protocórdios.

do trecho citado do seguinte modo:

Eu recordei tudo. Só não recordei um ponto do exame, pois caiu es

mim. Até hoje me lembro do nome.

O efeito produzido seria diferente. Entre "Eu recordei tudo

um ponto do exame': marcar-se-ia uma separação que talvez n

intenção do falante. E, inversamente, entre "Só não recordei

um

"pois caiu esse ponto para cima de mim", imprimir-se-ia uma re

de que não foi dada ao enunciado. O "pois': na intenção do fala

de a "porque"; ele tem

uma

função enfática, equivalente a "O

adversativo do que explicativo.

t

igua

lm

ente importante saber administrar o uso

de

ponto

dicar a finalização de uma primeira etapa do pensamento,desd

ção seguint

e.

O uso desse sinal na tradução da linguagem oral n

aplicações que podem ser feitas em

um

t

ex

to escrito.

Veja

-se,

po

já citado anteriormente:

Ele denunciava uma série de coisas que ele julgava erradas; alguma

dizer,

de ju

lgamento ..

Cabe ao copidesque também marcar os parágrafos do text

posta se estende por muitas linhas, podendo ser dividida intern

tar a apreensão do enunciado, ou quando, mesmo que o parágra

clara mudança de assunto, como no exemplo a seguir:

Entrevistado- .. ) Ainda agora

é

um tripé, mas todo ele voltado

tem ninguém exclusivamente voltado para a área de administraçã

Nós estamos chegando quase em cima da minha hora. Mais algum

por hoje está encerrado?

Entrevistador - Por hoje podemos encerrar e na próxima a gente

220

V[Rli\A Al8[RTI

upressões

Ao

fazer o copid esque de

uma

entrevista, deve-se ter

em

mente

que

muitas passa

gens perfeitamente inteligíveis

quando

se ouve a fita correm o risco de prejudicar a

fluidez da leitura, quando transcritas. Assim, por exemplo, a passagem

Meu avô era .. era paulistano e .. ahn .. fun cionário da prefeitura. Minha, minha mãe era

MANUAL

Of

ltiS fÓRIA

ORAl

ou até mesmo

uma

espécie de pont uação da linguagem

convém suprimi-los. A distinção entre mera titubeação e

va depende, portanto, de escuta cuidadosa:

é

atentando

ritmo da fala e seu conteúdo

qu

e podemos perceber de q

Vejamos

um

exemplo de como o copidesque pode lim

titubeações:

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cata rinense,

de

, de I'Jorianópolis, e meu pai, ele, ele era primo-irmão de minha mãe.

apesar de ter sido corretamente transcrita, com todas as palavrase sons proferido

s,

é de difícil leitura. Cabe ao copidesque tornar trechos

como

esse inteligíveis

à

pri

meira leitura,

suprimindo

repetições, fonemas e sons que dificultem sua

compr

een

são. Evidentemente, se as repetições forem de ênfase ou hesitação significativa, de

vem ser mantidas, mas não

é

esse o caso do trecho,

onde

elas ocor rem por titubeação

comum

à linguagem falada. Assim, feitas as supressões adequadas, a passagem se

apresentaria da seguinte forma:

Meu avó era paulistano

e

funcionário da prefeitura. Minha mãe era catarinense, de

Florianópolis, e meu pai era

primo-irmão

de

minha

mãe.

Destacamos a seguir alguns casos mais

comuns em que

a supressão de pala

vras ou frases se faz necessária para permitir uma boa leitura da entrevista trans

crita. Aconselhamos que tais supressões sejam feitas de

comum

acordo

com

0

res

ponsável pela conferência de fidelidade, para que não sejam eliminadas palavras

ou

expressões relevantes para a compreensão

do

conteúdo

do

depoimento. De qual

quer forma, depois de copidescada, a entrevista

ai

nda pode retornar ao encarrega

do

da conferência de fidelidade, para revisão.

a) Supressão de titubeações. Já

nos

referimos à diferença entre uma titubeação e

uma h esitação significativa. No trabalho do copidesque, não convém que esta

última seja suprimida, como

no

exemplo, já citado anterio rmente:

O

l i ~ z e r

me convidou para duas coisas: primeiro, para abrir

uma

caixa-postal, na qual

devena chegar correspondência da Europa para líderes

da da

Aliança _

0

Eliezer sem

pr

e tinha cuidado; eu não sei se ele tinha bem participação com os elementos do Partido,

mas ele sempre falava Aliança .

Muitas vezes, contud o, a repetição de palavras

ou

a emissão de sons isolados

não significa necessariamente

uma

hesitação,

podendo

constituir

uma pau

sa

Transcrito:

O fuzileiro naval ati rou na,

na

,

no

Ministério da Marinha, abriu dois

rombos, na, na parede

do

Ministé

rio da Marinha. Eu botaria ordem,

não

tinha medo

de

dar ordem

para,

para

bombardear aquele,

aquele

s

indicato

dos , dos

metalúrgico

s.

Avisaria antes: Ou vocês se retiram

daí, ou eu vou, vou atirar dentro de

cinco minutos.

Alterado pelo copid

O fuzileiro naval a

tério da Marinha,

bos

na

parede do

Marinha. Eu botari

nha

medo

de

dar o

bardear aquele sind

lúrgicos. Avisaria a

se retiram daí, ou e

tro de cinco minut

b) Supressão de cacoetes de linguagem. Muitas vezes, o en tr

vistador tem o hábito de repetir determinada palavra ou

cacoete, sem utilizar-se de sua força expressiva. Na leitura

mantidos os cacoetes, fica difícil perceber

que

aquela e

não

tem

significação

no

texto e que substitui apenas

um

ção. Isso pode confundir aquele

que

consulta o depoime

achar

que

há ali

uma

força de expressão

que

efetivament

entrevistador não conferiu ao discurso. Estão neste caso

sões

do

tipo não

é?,

está enten dendo?': sabe? , realme

vezes intercalamos entre

outros

vocábulos sem necessaria

sentido. Vejamos,

por

exemplo, o trecho a seguir:

O que a gente tem discutido até agora é a necessidade, sabe, de t

num lugar

com

devido apoio de pessoas qualificadas,

não

é, a

me

sabe, do instituto.

Neste exemplo, as expressões

não

é

e sabe ,

que

ocor

prejudicam a leitura

do

texto,

que

se torna interrompida

222

VERENA A1.8ERTI

vém, portanto, suprimi-las,

uma

vez que não têm a função de significar a

lg

o.

O trecho corrigido torna-se mais leve e fácil de ler:

O que a gente tem discutido até agora

é

a necessidade de talvez concentrar,num lugar com

devido apoio de pessoas qualificadas, a memória

do

setor, na área

do

instituto.

Por outro lado, cacoetes desse tipo fazem parte do estilo do entrevistado e do

M NU L

DE HISTÓR

I

ORAl,

Entrevistador - Provocaram o

quê? A diversidade?

Entrevistado- Provocaram adver

sidade.

Entrevistador- Ah, sim.

Entrevistado - Isso porque eles

não

viam

como poder

recuperar

eles não viam co

rar seus investim

neira.

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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c)

entrevistador, o qual convém tentar manter na entrevista transcrita,evitando-se

uma

padronização dos discursos. Aconselha-se, pois, procurar um equilíbrio

entre supressão e manutenção de cacoetes de linguagem, deixando-os aqui e

ali

no

corpo da entrevista, em locais

onde

não prejudiquem a compreensão do

discurso.

Os cortes de cacoetes de linguagem requerem sensibilidade, pois é preciso aten

ção para não su primir palavras que preenchem urna função expressiva. Veja

se o exemplo:

O negócio é o seguinte: os franceses são muito petulantes, não é?

Eu

me lembro que uma

deputada

da

Normandia declarou que estavam esperando para mandar

um

cruzador aqui

para acabar com isso.

Neste caso, a expressão

não é?

preenche corretamente sua função e deve ser

mantida, porque indica que o entrevistado supõe ou solicita a concordância d e

seu interlocuto r, e constitui informação sobre a relação e o clima de entrevista.

Supressão de interrupções provocadas pelo entrevistador

para

auxiliar o pro

cessamento.

á

mencionamos que na condução de uma entrevista o entrevista

dor deve ficar atento a palavras, expressões e nomes próprios proferidos de

forma pouco clara pelo entrevistado, e procurar esclarecê-los no momento

mesmo

em que foram enunciados, se isso não prejudicar o fluxo do pensa

mento

do depoente. Assim, na transcrição da entrevista,

podem

surgir palavras

ou trechos que visam apenas a torn ar claras tais passagens e informar sobre a

grafia correta de palavras ou expressões. Para não penalizar a leitura do depoi

mento, convém suprimir essas palavras ou trechos, como nos exemplos :

Transcrito

Entrevistado - De modo que es

sas medidas prÓvocaram a adversi

dade dos elementos que tinham in

teresse na exportação.

Alterado

pelo copidesque

Entrevistado - De modo que es

sas medidas provocaram a adversi

dade dos elementos que tinham in

teresse na exportação. Isso porque

d

seus investimentos daquela maneira.

Entrevistado-

Eles criaram o pro

cesso de avaliação de distância,com

um

grupo de

oficiais

que

faziam

treinamento, que

chamavam

os

spotters. O

nome

é inglês e nós não

traduzimos.

Entrevistador - Como é que se es

creve, o senho r sabe?

Entrevistado- Spotter: esse, pê, ó,

erre .

Entrevistador- Esse, pê, ó, erre .

Entrevistado-Esse, pê, ó, tê, tê, é,

erre.

Entrevistador - Ah, spotter.

Entrevistado - Esses spotters, a

gent e fazia

um

treinamento

de

ava

liação da distância.

Entrevistado-

E

cesso de avaliação

um grupo

de of

treinamento,

qu

spotters. O

nome

traduzimos. Esse

fazia um treinam

da distância.

Supressão de perguntas repetidas quando não foram ou

do. Algumas vezes pode acontecer de o entrevistado n

formulada pelo entrevistador, principalmente quando se

com dificuldade de audição. Nesses casos, para

não

sob

crito, convém cortar a repetição do entrevistador, com

Transcrito

Entrevistador- O senhor

entrou

no Ateneu aos sete anos de idade?

Entrevistado- Hein?

Entrevistador-

O senhor

entrou

no Ateneu aos sete anos de idade?

Alterado pelo

cop

Entrevistador-

no

Ateneu aos se

Entrevistado- N

depois de

fazer

o

blica; entrei com d

224

V R Nt\

Al8

 

RT

Entrevistado-Não, não, eu entrei de

pois de fazer o curso da escola púb lica;

entrei com dez anos de idade.

Ao proceder a supressões deste tipo, é preciso considerar a possibilidade de o

entrevistado ter escutado a pergunta, mas ter procurado ganhar tempo para

MANlJAI Of. HIS TÓRIA OR J\L

Igualmente devem ser mantidas expressões de acompan

entrevistador, quando solicitado pelo entrevistado, cor

Entrevistado-

Porque aquelas esculturas são uma coisa fantás

Entrevistador- t

Entrevistado - Então eu resolvi tirar umas fotografias para m

coisa semelhante aqui.

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respondê-la solicitando que fosse formulada

outra

vez. Nesses casos, que po

dem ser identif1cados durante a entrevista observando-se o comportamento

do entrevistado, convém não

suprimir

tais passagens do diálogo, que podem

indicar o embaraço do depoente com relação a determinado assunto.

e) Supressão de expressões de acompanhamento do entrevistado

r.

Durante

uma

entrevista, é

comum

que o entrevistador pronuncie expressões indicando que

está acompanhando a fala

do

entrevistado. Estas expressões visam apenas a

confirmar ao entrevistado que sua narrativa encontra interlocutor interessa

do, funcionando como estímulo para a continuidade da conversa. Na transcri

ção da entrevista, contudo, tais expressões interrompem e interferem na leitu

ra, podendo perfeitamente ser suprimidas, como

no

exemplo:

Transcrito

Entrevistado - A idade mais

ou

menos assim eu não lembro, por

que não tenho idéia ..

Entrevistador-

Hum,

hum.

Entrevistado- ... que o meu pai ti

vesse feito qualqu er menção a isso.

Alterado pelo copidesque

Entrevistado - A idade mais ou

menos assim eu não lembro, por

que não tenho idéia que o

meu

pai

tivesse feito qualquer menção a isso.

Não devem ser suprimidas, contudo, intervenções que indiquem surpresaou

espanto, p orque essas são significativas para compreender a fala subseqüente

do entrevistado, que geralmente tende a explorar mais aquele assunto diante

da reação de seu interlocutor. Por exemplo:

Entrevistador- Mas, entào, durou pouco tempo, não é?

Entrevistado - Não, nã o

foi

pouco tempo, não. Creio que mais de

ez

anos.

Entrevistador - Ah, é?

Entrevistado -

É,

porque quando o departamento se instalou, nós já estávamos h í três

anos funcionando

no

escritoriozinho da rua Passos

e,

depois, ainda tivemos três

ou

qua

tro mudanças de estrutura interna.

As expressões de acompanhamento, quando não indic

zem parte

do

diálogo, só devem ser suprimidas quando

pelo entrevistador, e nunca pelo entrevistado. Isso por

tipo

hum,

hum ,

é ,

pois é proferida pelo entrevis

que está concordando com

o que diz o entrevistador,

importante

para a análise da entrevis ta. Veja-se o exem

Entrevistado  Na semana passada o senhor disse que seu pai

rante Álvaro Alberto.

Entrevistado - Era.

Entrevistador- E que foi ele quem deu o enxoval para o senh

Entrevistado - Hum, hum.

Entrevistador- Agora, nós queríamos que o senhor nos falass

riências dele e o trabalho na área de explosivos.

f) Supressão

do

vocábulo que ,

quando

repetido. É igua

guagem falada repetirmos o vocábulo que em formu

rogativo,

do

tipo Por

que

que o

senhor

foi

escolhido

todo esse aparato? , ou O que que eu podia fazer?': Em

suprimir a repetição, a fim de aliviar o texto transcrito

leitura. Por exemplo:

Transcrito

Isso ocorreu em julho de 64, antes

de sua posse, inclusive. Como se deu

isso,

por

que qu e se deu isso? O que

é que houve?

Alterado pelo co

Isso ocorreu em

de sua posse, incl

isso, por que se

que houve?

Note-se que, neste exemplo, suprimiu-se apenas o vo

gue a por que , e não aquele que se repete na última fras

necessário p reservar o tom dado à última pergunta,

226

V R NA LBERTI

que tem

uma

função enfática, que seria cancelada caso se adotasse simples

mente O que houve?':

g) Supressão de pronomes retos

qu

e sucedem imediatamente o substantivo a

que

se referem.

Outra

ocorrência comum no discurso oral

é

o emprego de prono

mes retos que apenas repetem o substantivo enunciado logo antes. Novamen

te para permitir a fluidez da leitura, pode-se suprimi -los sem prejuízo

do

que

foi dito. Por exemplo:

MANUAl

DE HISl ÓKI/\ OKA L

Transcrito

Tanto é que eu era o único funcio

nário

que trabalha

va

de

paletó

e

gravata. Que só o superintendente

pode

ser

chamado

a qualquer ins

tante; os

outros

todos iam trabalhar,

vamos dizer, com trajes esportes.

Alterado

pelo cop

Tanto

é

que eu er

nário

que

t rabalha

vata. Porque só o

pode ser chamad

tante;os

outros

to

vamos dizer, com

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Transcrito

Algum dia nós vamos ter que fe-

char totalmente o circuito da refi

naria, porque essa água aberta, ela

é

uma

agressão

à

ecologia. Porq ue

quando ela volta, sempre tem al

gum

arrasto de hidrocarboneto.

Alterado pelo copidesque

Algum dia nós

vamos

ter que fe

char totalmente o circuito da refi

naria, porque essa água aberta é

uma

agressão à ecologia. Porque

quando ela volta, sempre tem al

gum

arrasto de hidrocarboneto.

Note-se que neste exemplo só se suprimiu o pronome que se segue imediata

mente ao sujeito água aberta , e não aquele que se enuncia na frase seguinte

- quando ela volta, sempre tem .. -, ndispensável para identificar sobre o

que se está falando.

As supressões aconselhadas, se realizadas com cuidado, não alteram o conteú

do

de um

documento

de

história oral, nem retiram dele as especificidades decor

rentes da linguagem falada. Suprimir cacoetes, titubeações, palavras soletradas etc.

visa

tão-somente

a

limpar

o texto escrito

de

obstáculos

à

leitura,

sem

modificar a

forma de falar e

muito

menos o conteúdo. Pode-se objetar que, para um exame

mais detalhado da enunciação, a que podem estar voltados pesquisadores do cam

po

da

lingüística, por exemplo, tais supressões prejudicam a análise do depoimen

to. Nesses casos, aconselha-se que seja consultada a gravação

da

entrevista,

confrontando-se-a com o texto escrito.

eQuenos

créscimos

Em algumas passagens, pode ser

ainda

conveniente que o copidesque faça peque

nos acréscimos ao texto, de

modo

a

tornar

seu conteúdo mais claro ao leitor. Por

exemplo, quando o vocábulo que é empregado como conjunção causal. Em al

gumas ocasiões,

pode

ser necessário transformá-lo

em

porque , para deixar claro

o sentido da

enunciação. Vejam-se dois exemplos:

Quando a diretoria se reunia com

todos os seus órgãos - o que não

era muito freqüente, que os órgãos

já passaram a ser

muito

grandes ..

Quando a direto

todos os seus

órg

muito freqüente,

já passar

am

a ser

Podem acontecer outras situações em que o acréscimo

sições etc. incida positivamente sobre a compreensão do tex

conteúdo. Vejamos dois últimos exemplos:

Transcrito

Teve uma hora que eu não me con

tive e pedi permissão para tecer al

guns

comentários

.

Estou me lembrando de

um

movi

mento sério que o Brasil passou,

no

ll

de

novembro

de

55,

que come

çou

exatamente

com

o discurso

do

coronel Mamede.

lterado

pelo cop

Teve uma hora e

contive e pedi pe

alguns comentár

Estou me

lembra

mentosérioporq

o Brasil passou,

n

de 55,que começo

o discurso

do

cor

Encerrado o copidesque, convém que a entrevista tra

quisador que fez a conferência de fidelidade, para uma últim

liberada para consulta. Nessa ocasião, o pesqui sador deve at

feitas e, caso não concorde com algumas delas, deverá ent

copidesque, para discutir com ele a propriedad e de suas aplic

por exemplo, que o copidesque tenha suprimido uma pa

acordo com o pesquisador que fez a conferência de fidelidad

para indicar a hesitação do entrevistado naquele momento

bos devem expor seus motivos e resolver em conjunto que p

tado. A revisão final permite também que possíveis dúvidas

  8

VERENA A ltlfKTI

trem receptor indicado para resolvê-las. Digamos,

por

exemplo, que determinada

passagem tenha parecido pouco clara ao copidesque; ele pode fazer uma anotação

à margem sugerindo que o pesquisador elabore ali uma nota explicativa. Assim, a

comu

nicação

ent

re os responsáveis pelo processamento de uma entrevista se faz

com base no próprio trabalho desenvolvido, utilizando-se como suporte a entre

vista transcrita.

M NU l Or IIISTÓRI OR l

Muitas vezes o entrevistado revela-se descontente com

da linguagem falada, menos formal do que a empregada em

rando-se com construções que considera deselegantes, ele p

vras, inverter sua o rdem, suprimir expressões etc., a ponto de

seu discurso. Por considerar que uma das características de u

tória oral é justame

nte

o fato de ser oral, optamos por resgu

especificidade na transcrição do depoimento, evitando mos

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pêndice A participação do entrevistado

no processamento

Alguns programas de história oral costumam incluir a participaç ão do entrevista

do no processamento da entrevista, fornecendo-lhe uma cópia da transcrição

em

sua forma final para que a aprove. Nessa oportunidade, o entrevistado tem a pos

sibilidade de rever o

que

falou, fazer novas considerações, ampliar outra s e, se achar

conveniente, alterar algumas passagens. No Programa de História Oral do Cpdoc

não

costumamos

proceder dessa forma, a menos

que

o entrevistado imponha a

verificação da entrevista transcrita

como

condição para ceder o depoimento à con

sulta do público. Nos demais casos, até agora mais freqüentes na história

do pro

grama

, a entrevista é liberada ao público tão Jogo seja tratada.

Evitamos mostrar a entrevista

tran

scrita ao depoente ant es de liberá-la para

consulta

porque

as ocasiões

em

que o fizemos mostraram

que

o entrevistado cos

tuma alterar excessivamente tanto o conteúdo

quanto

a forma do

documento

gra

vado, o que implica versões díspares do mesmo depoimento, criando uma série de

dificuldades.

A primeira delas diz respeito à legitimidade do depoimento: qual das dua s

formas

pode

ser considerada autêntica, a gravação

ou

a transcrição alterada pelo

entrevistado? Será

que

a gravação perde seu valor documental diante da versão

escrita modificada? E se o pesquisador quiser consultar a gravação da entrevista,

que

também

foi cedida para consult a através da carta assinada pelo entrevistado?

Nos casos em que a revisão da transcrição pelo entrevistado resultar em alte

rações no texto

da

entrevista, é preciso indicar, com notas de pé de página, os tre

chos que foram modificados e que, portanto, não encontram correspondência na

gravação. Por exemplo:

Porque

nenhum

outro partido tinha o programa do PTB, e o que interessa num partido

político

é

o seu programa partidário]. *

•Acréscimo feito pelo entrevistado, não consta

d<

gravação.

antes de sua liberação. Isso não impede que o programa ent

uma cópia do

depoimento

processado após ter sido liberad

fo rm a de retribu ir o esforço despendido o tempo cedido d

Se o entrevistado se

mostrar

reticente

em

ceder o

dep

desejo de vê-lo transcrito antes de assinar a carta de cessão,

res tentar

contornar

a situação garantindo-lhe que a gravaçã

todo cuidado e

que

o programa conta

com

profissionais

com

adequar o discurso oral à forma escrita. Pode-se também in

acerca da importância de

manter

o

documento

transcrito f

como

peculiaridade do

método

da histó ria oral. Se, diante de

o entrevistado continuar sustentando seu desejo, é preciso re

documento

após ter sido por ele conferido. E nesse caso, ha

vém passar a entrevista por um novo copidesque, para adeq

u

texto original e marcá-las

com

notas.

e

as alterações forem

considerar a possibilidade de liberar para consulta apenas a v

vista, respeitando- se a vontade do entrevistado.

O mesmo se aplica aos casos de entrevistas

com

trechos

trevistado, cuja ocorrência deve vir indicada na versão tran

gado pelo entrevistado ]. Evidentemente, não se pode perm

ouça a gravação dessa entrevista enquanto consulta o depoim

caso o fizesse, ficaria inteirado do conteúdo daquele trecho,

Assim, a gravação de entrevistas

com

trechos embargados f

do público.

Para

garantir

o respeito a restrições e obedecer às norma

cas a cada entrevista sem perder seu controle, todos esses cas

dos na ficha da entrevista, ou no registro da entrevista incluíd

programa.

  LIBERAÇÃO PARA CONSULTA

Antes de liberar para consulta

uma

entrevista devidament

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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elaborar sua folha de rosto, na qual estão incluídas as norm

ficha técnica, que contém informações sobre sua produçã

base de dados

do

Programa de História Oral

do pdoc já p

mentos em

forma

de

relatório, bastando acionar

um

coma

capítulo 8). À folha de rosto e à ficha técnica seguem-se ent

vista e, se for o caso,

sua

transcrição conferida e copidescada.

níveis para downlo d no Portal

do

pdoc www.cpdoc.fgv.

como

procedemos

em sua

apresentação final.

I

olha de rosto

No Cpdoc, incluímos na folha de rosto de uma entrevista as

a seu respeito: o

nome

da instituição, o título da entrevista e

bem como as normas de consulta e a indicação correta de

co

I 1 2

icha

técnica

Na ficha técnica são fornecidas ao pesquisador os dado s nece

documento: data, local e duração

da

entrevista, nomes dos p

veis pelas respectivas etapas

do

trabalho, quantidade

de

míd

caso, de páginas datilografadas. A ficha técnica também conté

projeto no qual a entrevist a está inserida e sobre as razões da e

Exemplo

de

ficha técnica

de

entrevista liberada

em

text

232

V[Rli .A AL6(RT I

Fie ta Téorica

tipo de entrevista: temática

ent revistador(es): Alzira

Alves

de Abreu; Lúcia Lippi Oliveira

levantamento de dad

os:

Alzira Alves de Abreu; Lúcia l.ippi Oliveira

pesquisa e elaboração do roteiro: Alzira

Alves

de Abreu; Lúcia Lippi Oliveira

MANUAl. DF HISTÓRIA OR L

Exemplo de ficha técnica de entrevista liberada em áudi

Fieira Técn ica

tipo entrevist

a:

história de vida

entrevjstador(es): Aspásia Alcântara de Camargo; Maria Clara M

levantamento de dados: Aspásia Alcântara de Camargo; Maria C

pesqu

isa

e elaboração

do

roteiro: Aspásia Alcântara de Camargo;

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sumário: Nara Azevedo de Brito

conferência da transcrição: Lúcia Lippi Oliveira

copidesque: Dora Ro cha

técnico de gravação: Clodomir Oliveira Gomes

local: Rio de Janeiro -

R

Brasil

data: 09/06/1981

duração: 3h

fi

tas cassete: 03

páginas: 64

Entrevista realizada no contexto da pesquisa História da sociolog ia no Brasil

 ,

projeto

da

pesquisadora Lúcia Lippi Oliveira. A escolha do entrevistado se justificou pelo im

portante papel que teve

na

constru ção

do

pensamento sociológ

ic

o brasileiro e

por

ter

sido um intelectual dos mais destacados

do

Instituto Superior de Estudos Brasileiros

(ISEB). A pesquisa resultou no livro A

sociologia

do Guerreiro (Rio de Janeiro, UFRJ,

1995), de autoria de Lúcia Lippi Oliveira. O livro reproduz, na íntegra, a transcrição da

entrevista (p. 131 -183).

temas: Alberto Guerreiro Ramos, Comissão Econômica Para A América

La

tina, Estados

Unidos, Faculdade Nacional de Filosofia, Fundação Getulio Vargas, Governo Getúlio

Vargas (1951-1954), História do Brasil, Hélio Jaguaribe, Instituições Acadêmicas, Insti

tuto Superior de Estudos Brasileiros, Intelectuais, João Goulart, Marxismo, Racismo,

Religião, Soci olog

ia.

Alberto Guerreiro Ramos

sumário: Verena Alberti

técnico de gravação: Clodomir Oliveira Gomes

loca l: Rio de Janeiro - RJ - Brasil

17/11/1982 a 24/l0/1983

duração: 25h45min

fitas cassete: 26

Entrevista realizada

no

contexto da pesquisa Trajetória e dese

mp

cas brasileiras , parte integrante do projeto institucional do Seto

CPDOC, em vigência desde sua criação em 1975. A esposa do e

esteve presente em algumas sessões.

O depoimento foi editado e publicado na primeira parte do livro

tico encontros com AfonsoArinos

(Brasília, Senado Federal,

Dom

Q

ro, CPDOC/FGV, 1983).

~ o Arinos de Melo Franco, Afrânio de Melo Franco, A

Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, Atuação Parlamentar, Bened

de

Medeiros, Brasília, Campos Sales, Carlos Lacerda, Che Gueva

omuni

smo, Congresso Nacional, Conspirações, Constituição Fe

tuição Federal (1967), Constituições, Costa E Silva, Crise de

19

54,

to, Eduardo Gomes, Eleições, Elites, Fidel Castr o, Getúlio Vargas, G

no Getúlio Vargas (1951-1954), Governo Jânio Quadros (1961)

(1964- 1985), História, Humberto de Alencar Castelo Branco, Igr

João Batista Figueiredo, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros, Leo

mo, Literatura, Luiz Inácio Lula da Silva, Minas Gerais, Ministério

res, Modernismo, Márcio Moreira Alves, Olegário Macie

l,

Ordem

Brasil, Organização das Nações Unidas, Parlamentarismo, Partido

Partido Social Democrático, Pedro Ernesto, Pinheiro Machado, P

tadual , Política Externa, Prudente de Morais Neto, Regimes Político

Rodrigues Alves, Rui Barbosa, San Tiago Dant as, Tancredo Neves

Nacional, Virgílio de Melo Franco, Voto Distrital.

  34

VEREN

At ERTI

A apresentação final da entrevista liberada para consulta depende dos crité

rios estabelecidos para cada programa. t possí

vel

por exemplo, que o tipo de en

trevista, as especificidades do projeto a demanda do público tornem indicado

acrescentar uma pequena biografia do entrevistadoao corpo da entrevista, de

modo

a contribuir para a análise do documento. Pode-se optar por fornecer ao pesquisa

dor

um resumo do caderno de campo, relatando

as

circunstâncias em que trans

correu a entrevista, bem como

as

impressões dos entrevistadores. Isso tudo deve

ciclos e para os fins indicados uma dissertação, uma exposi

Cpdoc, como boa parte da consulta tem sido feita através d

usuário e o termo de compromisso constam, em parte, do

dastro

de

usuários, seja na janela

que

solicita ao internauta

limitações de uso e a obrigatoriedade de citação da font

e.

trechos da gravação para documentários

ou

exposições, por

do usuário a assinatura de um termo de cessão de uso. t

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8/19/2019 100896336 Manual de Historia Oral

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ser determinado em conjunto, considerando-se

os

propósitos

do

programa, a dis

ponibilidade da equipe e

as

necessidades do público.

I I 3 atalogação e arQuivamento

A entrevista

m

sua apresentação final deve ser catalogada e arquivada de forma

apropriada, a fim de ser agilmente localizada. Isso se aplica tanto a sua versão im

pressa

em

papel quanto a seu arquivo em formato digital. É preciso estabelecer

com precisão onde serão arquivados, nos computadores do programa,

as

folhas de

rosto e fichas técnicas, os sumários e as transcrições finais das entrevistas. Serão

abertas pastas para cada depoimento?

As

ent revistas estarão arquivadas em ordem

alfabética? Por projeto? Estabelecer-se-á um número para cada entrevista? Qual

quer que seja o procedimento adotado, é importante não esquecer

de

fazer cópias

de segurança de todos os arquivos, que devem ser guardadas em mídias diferentes

disquete, CD, ou

outro

disco rígido).

1 I

4

O controle

sobre

a

consulta

O programa também deve decidir se irá adotar mecanismos de controle sobre a

consulta de seu acervo. De um lado, tais mecanismos se configuram em atitude

preventiva com relação a um eventual mau uso das entrevistas e, de outro, permi

tem a avaliação do trabalho de socialização do acervo: saber quem consulta, o que

consulta, que documentos são mais procurados etc.

Pode-se solicitar ao usuário do programa que preencha formulários de con

trole da consulta, co_m campos referentes a seus dados pessoais, os dados sobre sua

pesquisa e os depoimentos consultados. Caso o pesquisador venha a solicitar cópia

de algumas entrevistas, pode-se solicitar que assine

um

termo de compromisso,

garantindo que o documento será utilizado apenas dentro dos limites preestabele-

documentos sejam elaborados com o auxílio de um advoga

l'a ' '

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Esta obro

foi impresso pelo

lmprinto

Gr

áfica e Editora Lid

a

em papel offset

Chombril Book poro o Editoro FGV

em ma io de 2004  

Verena

Alber

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