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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA BOSMAN, PELÉ E AS NOVAS TENDÊNCIAS DO MERCADO DA BOLA Por: Marco Aurelio Daumas de Moura Orientador Prof. William Rocha Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

BOSMAN, PELÉ E AS NOVAS TENDÊNCIAS DO MERCADO DA

BOLA

Por: Marco Aurelio Daumas de Moura

Orientador

Prof. William Rocha

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

BOSMAN, PELÉ E AS NOVAS TENDÊNCIAS DO MERCADO DA

BOLA

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em: Direito Desportivo

Por: Marco Aurelio Daumas de Moura

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AGRADECIMENTOS

....aos amigos e parentes, todos que

sempre acreditaram e me apoiaram......

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DEDICATÓRIA

.....meu pai, que sempre me motivou com

o orgulho que tinha do filho.

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RESUMO

O futebol não é mais o mesmo. Aquele esporte conhecido como o mais

amado e mais seguido já não pode ser analisado sob esse prisma. Hoje, o

futebol é antes de tudo um negócio altamente lucrativo que envolve cifras

absolutamente impensáveis para quem o seguia como uma atividade de lazer

ou um simples hobby torcendo por seu clube preferido ou lendo diariamente as

notícias em um jornal qualquer.

Futebol no século XXI envolve um número de pessoas trabalhando

direta ou indiretamente incompatível para um simples lazer. Essas mudanças

não podem passar em branco ou simplesmente serem consideradas como

uma alteração banal na atividade desportiva. Este estudo teve como objetivo

avaliar uma das principais alterações sofridas dentro do mundo do futebol.

Contratar, negociar ou trocar jogadores, emprestar um atleta que não

está sendo utilizado por um clube. Essas atividades existem desde o momento

que o futebol foi inventado e desenvolvido com suas primeiras regras. Tudo

isso continua sendo aplicado hoje em dia, mas as cifras envolvidas chegam a

assustar e chamam atenção. É de suma importância que os clubes, os

jogadores, os empresários, enfim, todos que façam parte desse mecanismo de

transferência de um atleta de um clube para outro, estejam a par de como as

coisas funcionam, afinal os valores envolvidos são do mais alto escalão.

Tentando entender e esclarecer esses pontos fundamentais na

administração do futebol, este material foi escrito, buscando explicar as novas

tendências que o futebol apresenta, com suas novas leis que alteraram de

forma contundente esse aparentemente simples segmento deste desporto.

Assim como os clubes precisam conhecer seus direitos e deveres, o mesmo

vale para os atletas e seus empresários. O futebol deste século deixou de lado

o amadorismo apaixonante e assumiu o profissionalismo frio e calculista. Cada

um que atua nesse meio deve estar ciente das novas situações.

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METODOLOGIA

Este estudo visou avaliar como estão sendo feitos os negócios no

mundo do futebol de hoje, como o enorme montante financeiro investido no

desporto vem sendo tratado e como os clubes estão se preparando para viver

esta nova realidade. Para buscar soluções para esse tema, foi traçado um

paralelo entre o futebol dos anos 60, 80 e hoje em dia. Como funciona a

relação patrão/empregado (clube/atleta) antes e hoje. O surgimento dos

empresários no mundo da bola e seu crescimento. As respostas foram

encontradas através de pesquisa e leitura de diversos livros e periódicos

especializados e por meio de entrevistas feitas com pessoas responsáveis pela

administração de clubes ontem e hoje.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Futebol – O Começo 10

CAPÍTULO II - Transferências no Futebol – Um Paralelo nos Últimos 50 anos o

13

CAPÍTULO III – Transferências Internacionais. Um Negócio da China. Para

quem? 18

CAPÍTULO IV – Empresários. Uma Nova Realidade no Futebol Atual

20

CAPÍTULO V – Nova Lei Pelé. Mecanismo de Solidariedade. O Futebol se

Adapta. 24

CAPÍTULO VI – Clubes. Qual o Caminho a Seguir 28

CAPÍTULO VII – Categorias de Base. A Solução Definitiva

34

CONCLUSÃO 36

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 37

ÍNDICE 39

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INTRODUÇÃO

Futebol. O que ele realmente representa na sociedade moderna. Qual a

relevância desse esporte. Por que o futebol mexe tanto com a paixão e a

emoção dos cidadãos.

Um dos segmentos que mais movimenta dinheiro neste século, o futebol

tem diversos lados de uma mesma moeda. É um esporte tão cativante quanto

polêmico. Para cada amante, há uma opinião contrária, para cada torcedor, há

alguém sempre disposto a desprezá-lo. O fato é que ignorá-lo seria um

equívoco tão grande quanto não considerar o efeito estufa, por exemplo.

Amado ou odiado, o futebol está aí e ocupa uma parcela gigantesca do

dia a dia da nossa sociedade. Em cada canto do mundo, o futebol é notícia,

envolve a paixão do ser humano, traz alegria inocente nas vitórias e uma

tristeza infantil nas derrotas. Só o futebol é capaz de parar o mundo, só o

futebol já parou até guerras, só o futebol tem a capacidade de juntar as mais

diferentes etnias, as mais diversas culturas e religiões em busca de um mesmo

prazer, o de torcer por seu time, por seu país.

O futebol é um dos segmentos que mais emprega trabalhadores. Seja

de forma direta ou indireta, o número de pessoas envolvidas em uma partida

de futebol ou em uma competição é tal que já mereceria por parte de seus

¨inimigos¨ uma reflexão mais imparcial. Naturalmente, com tanto dinheiro

envolvido, o futebol tornou-se um imã que atrai pessoas de todos os lados,

fascinados com a possibilidade de ganhar dinheiro fácil em qualquer uma das

mil portas que o futebol costuma abrir.

È através de uma dessas portas que este estudo visa se aprofundar um

pouco mais, para tentar entender e explicar como funciona o mecanismo de

transferências dos atletas, que, a bem da verdade, são os protagonistas de

todo esse envolvimento. Se no início dessa brincadeira, um atleta trocava de

clube apenas pelo prazer de praticar o desporto um pouco mais perto de sua

casa ou porque determinada equipe oferecia alguma pequena vantagem, hoje

os mínimos detalhes são levados em consideração, há uma legislação vigente

e atualizada que permite conhecer os benefícios e as proibições referentes a

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uma transferência. Um jogador não pode mais se dar ao luxo de simplesmente

trocar de time porque sua situação contratual implica uma série de obrigações

que, na maioria dos casos, o atleta nem tem conhecimento.

Todo esse negócio no qual o futebol se transformou trouxe como

conseqüência a criação de diversos profissionais que precisaram se adequar à

realidade do desporto nos últimos anos. Hoje, uma outrora simples negociação

pelo ¨passe¨ do jogador X envolve uma lista de profissionais para estudar,

compreender e concretizar um negócio. A coisa ganhou proporções de negócio

de estado e uma negociação envolvendo um jogador de fama mundial alcança

cifras inimagináveis décadas atrás.

Inclusive o vocabulário precisou se adaptar. O antigo ¨passe¨ se

extinguiu e surgiram os direitos federativos ou os direitos econômicos. Os

valores também sofreram grandes alterações. Os clubes, antes verdadeiros

¨donos¨ dos jogadores, hoje vivem situações financeiras fragilizadas e acabam

sendo dominados pelos novos ricos do futebol, os empresários, que se

transformaram em peças poderosas neste novo jogo.

O objeto de estudo deste trabalho é a decadência dos clubes de futebol

em detrimento dos novos-ricos que atuam indiscriminadamente no futebol,

conseguindo um enriquecimento muitas vezes ilícito enquanto os clubes se

afundam em dívidas. Este estudo tem como universo o mundo do futebol em

geral, buscando apontar diferenças e semelhanças no futebol do Brasil, da

América, da Europa, da Ásia etc.

O futebol dos anos 2000 cresceu e amadureceu e hoje é tratado com o

máximo de profissionalismo. Por tudo isso, é absolutamente imprescindível

uma averiguação mais profunda dos negócios feitos dentro deste segmento.

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Capítulo I - FUTEBOL - O COMEÇO

Não é fácil abordar o tema futebol sem cair em algum lugar comum.

Dizer que se trata de um dos segmentos da sociedade que mais se expande

no mundo de hoje, que mais serviços prestam à sociedade, criando empregos

e oferecendo lazer é totalmente desnecessário. Todos sabem. Este é um tema

muito abrangente. A proposta aqui é a busca pela essência do desporto, pelas

suas origens na tentativa de impedir que ele se deteriore na ação de pessoas

que buscam apenas seus interesses pessoais em detrimento do valor maior.

O futebol que conhecemos hoje é um fenômeno social que remonta ao

século XIX. Esporte seguido e praticado por mais de 200 países filiados à

FIFA, número superior ao de países sob a tutela da ONU, há pelo menos três

versões diferentes que explicam seu surgimento. China, Itália e Inglaterra já

praticavam algo igual ou semelhante ao futebol que hoje conhecemos. Uma

versão conjunta do velho ¨Jogo de Calcio¨ italiano somado ao football

aprendido e praticado nas universidades e colégios ingleses parece ser a mais

viável das explicações para o começo do futebol.

Foi na segunda metade do século XIX, por volta de 1860, que a

sociedade começou a ter consciência da importância de se regulamentar

aquele esporte que crescia sem parar. Praticado cada vez com mais

assiduidade nos colégios britânicos, o futebol tinha maneiras distintas de ser

jogado, ora com as mãos, ora com os pés, ora com os dois. O interesse no

novo esporte era tão grande que extrapolou a esfera colegial. Amigos e

conhecidos não queriam esperar apenas pelo tempo das aulas para praticá-lo

e o futebol começou a ser jogado em qualquer espaço livre para preencher o

tempo ocioso dos estudantes.

Conseqüência natural, a criação de clubes que ofereciam o esporte

viveu um momento bastante efervescente. Confrontos entre diferentes escolas,

entre diferentes clubes preconizavam o surgimento de torneios e

campeonatos, mas para isso se fazia necessário estabelecer regras para a

prática de um mesmo esporte, já que inclusive as bolas utilizadas tinham

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formas diferentes, ovais em alguns casos, redondas em outros. Nesse

momento, futebol e rugby começavam a se separar. Alguns clubes viam na

utilização das mãos uma permissão à violência no futebol, outros achavam que

não havia motivos para impedir que se jogasse com as mãos ou que da cintura

para baixo, qualquer jogada seria válida. A argumentação de diminuir a

violência foi um divisor de águas para o futebol e os clubes e as universidades

que penderam para este lado acabaram protagonizando um marco definitivo

para o futebol de hoje. Apenas os pés seriam utilizados.

Estabelecidas as primeiras regras, o próximo passo foi a criação de uma

associação que se responsabilizaria pelo desenvolvimento do esporte, com a

organização de torneios e partidas internacionais e com a missão de solucionar

eventuais impasses surgidos no transcorrer dos jogos e das competições.

Estava aberta a porta para o surgimento da mais antiga associação da história

do futebol: a FA, Football Association, criada em 1863 na Inglaterra. Foi a FA

que desenvolveu as regras oficiais do esporte. Foi a FA que criou a mais antiga

competição de futebol do mundo, disputada até os dias de hoje, a Copa da

Inglaterra, competição que reúne equipes de todas as divisões de futebol do

país, profissionais ou amadoras.

A partir daí, o futebol não parou de crescer até fazer parte das

constituições de vários países. No Brasil, por exemplo, o artigo 217 declara o

fomento à prática desportiva como um dever do estado, além de declará-la um

direito individual. O desporto na Constituição resume-se apenas a um artigo

solitário, mas prevê normas importantes, desde a destinação prioritária das

verbas públicas até a competência da justiça desportiva. Declarando dever do

Estado incentivar a prática desportiva, a Constituição Federal demonstra sua

importância para a sociedade, seja como desporto educacional ou nos

esportes de alto rendimento.

Seguindo no campo legal, o desporto foi tomando corpo de tal maneira

que o Brasil se viu na necessidade de se adaptar com a promulgação de leis

específicas aos esportes. Foram os casos do Decreto Lei de 1941 na era

Getúlio Vargas, a lei 6251 de 1975 na era Geisel e as mais recentes, Lei Zico

de 1993, Lei Pelé de 1998 e o Estatuto do Torcedor de 2003.

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O mundo do futebol hoje em dia, porém, está virado de cabeça para

baixo. Os clubes não são mais os ¨senhores¨ da atividade e vivem envolvidos

com dívidas e dificuldades financeiras. Por outro lado, empresários

representam o lado rico do esporte e praticamente definem o futuro de seus

atletas/empregados. É necessário entender e definir o que está acontecendo

no mundo do futebol e que problemas os clubes, células mater do esporte,

enfrentam neste momento atual.

Há uma verdadeira inversão de valores no mundo do futebol no século

XXI. Os clubes precisam melhorar sua saúde financeira e deixar de lado uma

dependência criada nos últimos tempos com empresários ou empresas

interessadas em investir no futebol.

É de fundamental relevância entender quem está levando vantagem nas

negociações do futebol neste século. Checar se as modificações acontecidas

nas leis envolvendo as transferências beneficiam ou prejudicam clubes e

atletas é outra questão vital para que o desporto não seja desvinculado de

suas origens e perca o que há de mais puro, a paixão de seus seguidores.

Há uma verdadeira linha tênue que separa o futebol apaixonante e

amador do início do século passado com o grande negócio que ele se

transformou nos últimos anos. É preciso muito cuidado para que os interesses

surgidos com a transformação do futebol em negócio rentável não acabem

com o puro sentimento de amor que liga o torcedor a seu clube. No momento

que isso acontecer, poderemos viver o fim de uma era marcada pelo amor

inconteste ao clube, pelo culto ao ídolo, pela sensação democrática que

impera no futebol, onde cada cidadão é rigorosamente igual, independente de

sua conta bancária.

Toda essa questão da transformação do futebol passa por essa

discussão de apego ou fidelidade ao clube. Se esse relacionamento é

indiscutível quando ligamos o torcedor ao seu time de coração, o mesmo já

não pode ser afirmado na relação atleta/clube.

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Capítulo II - TRANSFERÊNCIAS NO FUTEBOL – UM

PARALELO DOS ÚLTIMOS 50 ANOS

Nesse mundo cheio de problemas, com preocupações constantes como

fome e desemprego, o futebol surge como uma benção, como um segmento

de enorme potencial para ajudar a resolver tais situações. Dentro de campo,

porém, isso é para poucos. Usando o Brasil como universo de estudo,

pesquisas apontam um número próximo de 11 mil jogadores federados em

cerca de 800 clubes profissionais. Deste montante, apenas 50%,

aproximadamente, sobrevivem de forma aceitável com os ganhos no mundo

da bola. Os demais recebem muito pouco, e em muitos casos, não têm

contratos com validades anuais, ou seja, tem no futebol apenas uma fonte de

renda por um prazo determinado de duração, 3, 4, 6 meses, de acordo com a

demanda de jogos que clubes de menos expressão e investimento têm ao

longo de uma temporada.

Uma das maiores mudanças ocorridas no mundo do futebol diz respeito

ao conceito de transferências. Nada mais básico que o direito de ir e vir. Nem

tanto quando se fala do universo futebolístico. Esta liberdade básica não

corresponde a realidade no futebol. Até os anos 90, o futebol brasileiro

praticamente tratava seus jogadores como escravos dos clubes. Cada jogador

tinha seu contrato registrado e somente teria a possibilidade de se transferir

em caso de um acordo entre clubes, aquele pelo qual o atleta atuava e um

outro eventualmente interessado na sua contratação.

No caso, o jogador vivia praticamente amarrado às vontades de seu

patrão. Seu clube era dono de seu passe e estipulava um valor aleatório na

hipótese de uma negociação com um outro clube. Esse valor não tinha relação

alguma com seus ganhos ou com a duração de seu contrato e era facilmente

manipulado pelos dirigentes que basicamente tinham em suas mãos o futuro

daquele jogador.

As negociações se arrastavam entre conversas do clube A com o clube

B, valores aleatórios eram discutidos, jogadores do clube interessado eram

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oferecidos como moeda de troca, procuradores dos atletas eram chamados

para participar das conversações e por fim, quando havia o interesse, o

jogador em questão era convocado para assinar sua rescisão e um novo

contrato com o clube que acabara de contratá-lo.

Basicamente esta era a mecânica envolvida para a transferência de um

atleta de um clube para outro. Curiosamente, muitas compras e vendas eram

concretizadas sem a anuência das partes realmente interessadas. O conceito

de escravidão era claro e o jogador pouco podia fazer já que não tinha a quem

recorrer em caso de insatisfação pessoal.

Dessa forma era feito o futebol no que diz respeito às negociações.

Para piorar ou dificultar ainda mais o lado dos jogadores, havia o pouco

conhecimento do atleta que praticamente não tinha noção alguma de seus

direitos ou sequer sabia a quem recorrer. O perfil do jogador brasileiro era o

pior possível e na maioria esmagadora dos casos, o atleta não tinha formação

alguma, originário de famílias muito humildes e sem possibilidade de oferecer

algum estudo. O futebol era a melhor alternativa para aquelas crianças que

logo se transformariam em jogadores e consequentemente em provedores

para suas famílias.

Raros eram os casos de jogadores com alguma formação ou com

algum esclarecimento. Um dos exemplos mais claros de jogador com

discernimento suficiente para questionar a situação veio de Afonsinho, meio-

campo do Botafogo no início dos anos 70.

Afonsinho tornou-se o primeiro atleta a obter na justiça o passe livre.

Estudante de medicina e pertencente à classe média, o jogador também foi

protagonista de uma inédita ação política de contestação baseada nos seus

interesses próprios e não do Estado ou de clubes. Afonsinho não teve somente

uma atitude visando seu bem estar, mas também foi responsável por convocar

a classe dos jogadores de futebol para discutir e questionar os termos da

profissionalização no país.

¨ (...) Afonsinho tornou-se um caso célebre por ser o primeiro futebolista

a desafiar o sistema. Afonsinho iniciou um processo legal em 1974 no

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Ministério do Trabalho pelo direito de negociar seu próprio contrato e de jogar

pelos clubes de sua própria escolha. ¨

Como era de se esperar após sua vitória na justiça, Afonsinho sofreu

diversas retaliações em sua carreira, mas nada que o impedisse de defender

clubes do porte de Flamengo, Vasco, Fluminense e Santos até que encerrasse

a carreira aos 35 anos por vontade própria e sensação do dever cumprido.

A atitude de Afonsinho serviu como um início da luta da classe

futebolística para a organização do trabalho do atleta de futebol, que era

considerado profissional desde meados da década de 30, mas que somente

40 anos depois começou a ter sua situação reconhecida e seus direitos

honrados. Em 1976 foi sancionada pelo então Presidente da República,

Ernesto Geisel, a Lei 6.354 sobre as relações de trabalho do atleta profissional.

Foi uma importante base para a Lei Pelé de 1998, sancionada pelo Presidente

Fernando Henrique Cardoso, que institui normas gerais sobre desporto.

Em âmbito mundial, o caso mais relevante ocorrido nesse paralelo com

o direito básico de ir e vir aconteceu no ano de 1990 e ficou mundialmente

conhecido como o Caso Bosman, que iria alterar toda a relação empregatícia

dos jogadores de futebol com seus clubes. Mais do que isso, iria mudar toda a

estrutura vigente até então no que diz respeito a negociações de jogadores.

Jean-Marc Bosman era um jogador belga de pouca expressão em seu

país ou no continente europeu. Bosman defendia a equipe do Royal Football

Club de Liège da primeira divisão da Bélgica e tinha contrato em vigor com o

clube entre 1988 e com data para expirar em junho de 1990. Dois meses antes

do fim de seu contrato, Bosman recebeu uma proposta de renovação por mais

uma temporada, porém com uma redução salarial. O jogador naturalmente

recusou a proposta e teve seu nome colocado em uma lista de atletas

dispensáveis em condições de serem negociados e teve ainda seu passe

fixado em uma quantia na federação belga para o caso de aparecerem clubes

interessados em sua aquisição.

Com a ausência de clubes interessados em comprar o passe de

Bosman, o jogador manteve contatos por conta própria com o clube da

segunda divisão francesa Dunquerque e acertou um contrato com vencimentos

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semelhantes ao que recebia na Bélgica, além de ¨luvas¨ a serem recebidas na

assinatura do novo contrato. O acerto estabelecia também o pagamento por

parte do clube francês de uma quantia combinada com o RCF Liège para a

liberação do passe do jogador belga que estaria então livre para defender o

Dunquerque pelo prazo de um ano com a opção de compra definitiva ao fim do

contrato de empréstimo.

O certificado de transferência, no entanto, não foi expedido já que houve

um questionamento da capacidade do clube francês de cumprir com o

combinado e consequentemente os contratos ficaram sem efeito. Isso posto, o

clube belga suspendeu o contrato do jogador que ficou dessa forma impedido

de exercer sua profissão naquela temporada.

Uma semana depois desta decisão, Bosman ingressou no tribunal de 1ª

instância da cidade de Liège com uma ação contra seu clube requerendo a

proibição deste impedimento com relação à seqüência de sua carreira em

outro clube. Simultaneamente, organizações como a FIFA (Federação

Internacional de Football Association) e a UEFA (União Europeia de Football

Association), que naturalmente seguem as mesmas linhas de procedimento

com relação as transferência de jogadores, se viram envolvidas e tiveram suas

autoridades questionadas.

Praticamente dois anos depois, em junho de 1992, o Tribunal de Liège

deu ganho de causa a Bosman em suas ações contra o RCF Liège, UEFA e

FIFA e o jogador estava livre para definir seu futuro. O futebol nunca mais seria

o mesmo. Basicamente um clube de futebol estava proibido de exigir o

pagamento de um montante em dinheiro pela contratação de um de seus

jogadores cujo contrato chegasse ao seu final. Em outras palavras, ao fim de

seu contrato, o jogador estava livre para decidir seu futuro, para definir que

clube defenderia independente da vontade de seu último clube.

Toda esta decisão que afetaria o mercado do futebol na Europa teve

seu reflexo no Brasil. Por aqui, a lei 9.615 de 1998, também conhecida como

Lei Pelé, foi um divisor de águas no direito do jogador de futebol de escolher

onde jogar. A partir da promulgação desta lei, a legislação brasileira passou a

reconhecer mudanças significativas no futebol, dentre as quais, se destaca o §

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2º do art. 28, que estabelece que "o vínculo desportivo do atleta com a

entidade contratante tem natureza acessória ao respectivo vínculo de emprego

...", ou seja é a extinção da lei do passe.

Dessa forma, assim como na Europa, as leis vigentes nas negociações

de transferências de jogadores também em território brasileiro, sofreram

mudanças consideráveis. A partir desse momento, um clube somente receberá

algum tipo de indenização pela saída de um atleta caso esta negociação seja

feita no período que o jogador está com contrato em vigor. Este contrato terá

inclusive um valor fixado para sua rescisão baseado nos ganhos do atleta.

Assim, quanto maior é o salário do jogador, maior será sua multa rescisória.

Esta nova situação de liberdade para o atleta, no entanto, acabou

gerando outras dificuldades na já desgastada relação do jogador com os

clubes. Os empresários do futebol acabaram por descobrir brechas nas leis e

se estabeleceram de vez no mercado aproveitando a inocência dos atletas e o

despreparo dos dirigentes de clubes de futebol. Cientes da ingenuidade de

seus novos clientes, os empresários passaram a dominar o mercado

futebolístico aquecendo as negociações, muitas delas prejudiciais aos

jogadores e aos clubes e benéficas apenas para eles.

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Capítulo III - TRANSFERÊNCIAS INTERNACIONAIS

– UM NEGÓCIO DA CHINA. PARA QUEM?

Desde essas mudanças recentes nas leis de transferências no futebol,

negociar jogadores com o exterior passou a ser um verdadeiro oásis para os

envolvidos, sejam eles dirigentes de clubes, empresários, representantes,

advogados e até mesmo para os jogadores de futebol, matéria prima,

principais interessados, mas nem sempre os maiores beneficiados. Com um

talento reconhecido em todo o mundo, o atleta brasileiro fez do país o maior

exportador mundial de jogadores. Nos últimos anos, a saída de jogadores

movimentou mais de 440 milhões de dólares, se tornando um dos principais

produtos de exportação do país. Desde que o Banco Central passou a registrar

a venda de atletas para o exterior, em 1993, as exportações ultrapassam 2

bilhões de doláres.

Apesar desses dados, os altos valores negociados não refletem uma

grande valorização do atleta brasileiro e muito menos represantam um negócio

certamente lucrativo para os clubes brasileiros. A alta quantia está diretamente

relacionada com a grande quantidade de jogadores negociados, já que

normalmente os clubes brasileiros não conseguem cifras significativas na

venda de um único jogador. Para os clubes, a responsabilidade deste êxodo é

da Lei Pelé, sancionada em 1998, que teve como maior consequência a

criação do passe livre e o fim do vínculo do jogador com o clube. O atleta

passou a ter um vínculo trabalhista e desportivo, permitindo que um jogador

sob contrato fosse contratado por outra equipe mediante o pagamento de uma

clausula rescisória, previamente estabelecida de acordo com os vencimentos

do atleta. Segundo os clubes, a Lei Pelé teria enfraquecido as entidades

desportivas, já que não há uma legislação específica para resguardar os

interesses das mesmas.

Esta saída em massa de jogadores, principalmente os mais jovens, gera

uma série de discussões no país, pois a cada ano os jovens valores deixam

seus clubes de forma mais prematura indo tentar a sorte em países

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desconhecidos. Essas negociações acabam sendo facilitadas pela legislação

em vigor no país que impede os clubes formadores de assinar um contrato de

trabalho com atletas menores de 16 anos. Dessa forma, o clube teme um alto

investimento em atletas de pouca idade, por não ter garantia alguma de suas

permanências no momento da assinatura dos primeiros contratos.

Essa situação cria uma nova possibilidade para investidores ou

empresários que se aproximam dos clubes com a tentadora promessa de

custear os jovens craques fazendo com que os clubes sirvam apenas de

prateleira ou vitrines para os jogadores. Assim, os clubes apenas hospedam os

atletas jovens sem preocupação de investir muio dinheiro em algo sem

garantia. Por outro lado, quando o atleta completa 16 anos e está apto para

assinar um contrato, não há segurança alguma que ele seguirá naquele clube,

pois o empresário/investidor pode concluir que a melhor opção é um rival de

cidade ou até um clube de outro país.

Essas questões geram uma série de situações. No futebol de hoje, por

exemplo, existem clubes que pertecem à empresários e são utlizados apenas

de fachada, sem nenhuma tradição ou ligação com torcedores. São times

utilizados pelos investidores para satisfazer á legislação que não permite

atletas vinculados à pessoas físicas. Esses clubes disputam competições

apenas com o intuito de apresentarem seus jogadores para eventuais

negócios, indo diretamento contra as raízes do futebol que são os clubes e sua

apaixonada massa de torcedores.

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Capítulo IV - EMPRESÁRIOS – UMA NOVA

REALIDADE NO FUTEBOL ATUAL

Fato é que todas essas mudanças nas leis do futebol estão aí e cabem

as diferentes partes envolvidas se adaptarem para que todos ganhem com

elas. Neste específico caso de negociações e transferências, há espaço para

todos, sejam clubes, sejam atletas, sejam empresários, o importante é ter

conhecimento dos direitos e dos deveres de cada um para que ninguém saia

prejudicado em um dos passos mais importantes dados na esfera desportiva, o

fim da ¨escravidão¨.

Um capítulo a parte deve ser reservado aos empresários, figuras que

povoam o cotidiano do futebol nos dia de hoje. De início, devemos buscar

diferenciar o conceito de empresário ou agente de futebol ou procurador.

O procurador, basicamente, tem a função de representar o atleta em

qualquer negociação e em muitos casos, a figura do procurador é

representada por uma pessoa de confiança do atleta, seja seu pai, tio, um

outro amigo ou familiar. Este falará em nome do atleta em uma negociação,

naturalmente, apoiado por uma documentação legal. São casos que

normalmente não caracterizam uma profissão, pois muitas vezes, sequer há

remuneração prevista.

Bem diferente é a ação dos agentes de jogadores, profissionais

encarregados de buscar um clube para seu atleta eventualmente sem contrato

ou mesmo para suprir as necessidades de um clube na busca por um jogador

para completar seu elenco em uma posição carente. Trata-se de um

profissional bem relacionado no mundo do futebol e com extenso

conhecimento para cumprir seu papel. O agente também está encarregado de

atuar como um verdadeiro ¨olheiro¨, apenas para utilizar uma definição

bastante usada em um passado recente, ou seja, o agente tem a função de

buscar novos atletas que se destaquem defendendo seus clubes em

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competições de categorias de base e apresentá-los ou oferecê-los à clubes de

mais expressão e com um poder financeiro mais elevado.

Este papel do agente ou do empresário tornou-se tão relevante para o

futebol atual que a FIFA, entidade máxima da categoria em todo o mundo,

passou a reconhecê-lo e criou regras específicas para sua ação dentro do

mercado mundial. O empresário hoje, é protegido por essas regras que lhe

garantem uma remuneração percentual entre 5 e 25% da negociação, cifras

que podem ser bastante rentáveis dependendo do jogador em questão. Outra

clara diferenciação nessas funções está na garantia do empresário de ter seu

contrato cumprido, ou a garantia de uma multa rescisória em caso de desejo

da outra parte de romper o vínculo, situação contrária ao procurador que pode

ter sua relação interrompida apenas com a vontade do atleta.

Outro ponto relevante nessas situações é a necessidade do agente de

jogador ser um profissional credenciado pela própria FIFA, após análise de

seus antecedentes, exames de conhecimento de normas e regulamentos, além

de um seguro no caso de eventual prejuízo ao atleta sob sua responsabilidade.

Todas essas exigências fazem do agente FIFA um profissional preparado para

atender as necessidades e carências de qualquer atleta, além de permitir ao

jogador uma maior possibilidade de segurança no momento de escolher seu

empresário.

Todas essas questões fizeram do empresário uma figura tão corriqueira

no mundo da bola do século XXI como um jogador. Hoje, desde o craque mais

valorizado do mercado ao mais desconhecido em início de carreira, atleta

algum dispensa a figura de um empresário para representá-lo. São os

conhecidos agentes de futebol, todos portadores de uma carteira FIFA, que

lhes possibilta representar jogadores ou técnicos ou intermediar negócios para

seus clubes representados. No mundo da bola de hoje, existem mais de cinco

mil empresários, todos credenciados pela entidade máxima do futebol

espalhados pelos quatro cantos do mundo e agindo intensamente no dia a dia

do desporto.

Um exemplo de sucesso nessa velha-nova carreira é o português Jorge

Mendes, dono da Gestifute, empresa criada pelo empresário para gerir e

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administrar profissionais do futebol. Mendes e seu staff adminstram uma

carteira com cerca de 80 atletas, avaliada em mais de 400 milhões de euros e

onde se destacam clientes do naipe de Cristiano Ronaldo e do técnico José

Mourinho, dois dis profissionais do futebol mais valorizados atualmente.

Basicamente, os agentes de futebol devem defender os interesses de

seus clientes, buscando os melhores contratos possíveis para os jogadores e

a partir desse ponto, passam a adminsitrar suas carreiras desportivas. Os mais

audaciosos e com dinheiro suficiente para investir fazem suas apostas como

se estivessem aplicando em uma bolsa de valores e apenas aguardam que

suas apostas se transformem em potenciais craques almejados pelos

principais clubes do mundo. O agente está sempre alerta para as diferentes

necessidades que os clubes tenham e possuem uma rede de contatos

internacionais que facilitem seu trânsito em todos os segmentos do futebol. Por

tudo isso, o agente ganhou uma dimensão gigantesca no panorama

futebolístico internacional. A FIFA licenciou a atividade e hoje o empresário é

parte integrante do futebol como dirigentes, jogadores e treinadores.

Toda esta teoria, no entanto, não é ratificada pela prática. Abordando o

caso brasileiro, a ignorância e o despreparo da maioria dos atletas fazem deles

vítimas em potencial para pseudo-empresários que militam abertamente no

mundo do futebol. Jovens atletas que sonham com uma oportunidade no

exterior são alvos de um sem número de agentes descredenciados que

utilizam da inocência de jovens e de seus pais para conseguirem um dinheiro

fácil em troca da promessa de uma chance em um clube fora do Brasil.

Muitos são os casos de jogadores menores de idade dando uma

elevada quantia a seus empresários através de seus pais e indo para o exterior

sem garantia alguma. Depois de colocá-los em clubes de pouca expressão,

esses ¨empresários¨ saem de cena deixando atletas ao Deus dará sem auxílio,

sem dinheiro e muitas vezes sem o respaldo necessário sequer para voltar ao

Brasil. Há inúmeros casos de jogadores que não são aprovados em seus

clubes no exterior e se dão conta que estão sozinhos em um país diferente,

sem dominar o idioma e sem lugar para dormir ou dinheiro para comer.

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Evidente que esses casos são a exceção no mundo dos empresários ou

agentes de futebol, mas ainda representam uma parcela considerável

colocando em risco famílias que vêem no futebol e no talento de suas crianças

uma oportunidade de ouro para uma vida melhor.

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Capítulo V - NOVA LEI PELÉ, MECANISMO DE

SOLIDARIEDADE – O FUTEBOL SE ADAPTA.

Com as constantes mudanças ocorridas no futebol, cada dia é uma

nova possibilidade de surgimento de leis que passem a valer no desporto.

Evidentemente, cada lei sancionada traz benefícios para uma parcela dos

interessados, porém, traz praticamente na mesma proporção, uma série de

críticas vinda daqueles que se consideram prejudicados. Como tudo na vida, o

que é bom para uns não é bom para outros.

O futebol do século XXI não ser resume mais ao que acontece dentro

de campo. Um jogo não é mais vencido em 90 minutos dentro de um estádio,

mas sim ao longo da semana, do mês, em episódios muitas vezes passados

dentro de uma sala ou em um escritório. Hoje, não basta ter um elenco

qualificado e uma comissão técnica capaz. É preciso também uma boa equipe

de advogados, agentes de futebol atualizados e competentes e uma boa dose

de conhecimento. O futebol é um negócio e como em qualquer negócio, o

dinheiro joga um papel preponderante.

Com o intuito de proteger clubes formadores de jogadores de futebol, a

FIFA criou o mecanismo de solidariedade, que nada mais é que a garantia que

um clube formador de atletas terá de receber uma importância em cada

transferência protagonizada por um jogador que tenha sido formado ou que

tenha uma passagem por seu clube até os 23 anos de idade, momento

considerado pela FIFA como o limite da formação de um atleta. Esta pequena

lei, que agora também será reconhecida para transferências nacionais,

significa uma injeção financeira para clubes que trabalham bem em suas

divisões de base e em alguns casos significa a independência financeira para

clubes de menor expressão que tiveram a sorte ou a competência de revelar

um jogador de muito talento para o mundo.

Artigo 21. Mecanismo de Solidariedade Se um Profissional for

transferido antes do termo do seu contrato, qualquer clube que tenha

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contribuído para a sua educação e formação receberá uma percentagem da

compensação paga ao clube anterior (contribuição de solidariedade). As

disposições relativas às contribuições de solidariedade constam no Anexo 5 do

Regulamento.

Apenas para citar um exemplo deste último caso, o São Cristóvão de

Futebol e Regatas colheu durante muitos anos os frutos pelo investimento feito

em Ronaldo Nazário. A cada mudança de clube de Ronaldo ao longo de sua

carreira, seja do Cruzeiro para o PSV Eindhoven da Holanda, deste para o

Barcelona e sucessivamente para a Internazionale de Milão, Real Madrid,

Milan e finalmente Corinthians. De acordo com esta lei do Mecanismo de

Solidariedade, o pequeno clube do subúrbio do Rio de Janeiro poderia esfregar

as mãos cada vez que o nome de Ronaldo era envolvido em uma possível

negociação.

O interessante desta lei é a oportunidade criada para que muitas

pessoas ganhem dinheiro apostando no desconhecimento da própria lei ou até

na pouca divulgação das transferências feitas no futebol envolvendo atletas de

menor expressão e relevância. Quando jogadores do porte de Ronaldo, Lionel

Messi, Neymar ou David Beckham mudam de clube, a notícia chega aos

quatro cantos do mundo com a mesma velocidade que um desses jogadores

deixa para traz um adversário. No entanto, quando se trata de um atleta pouco

conhecido que deixa o Dínamo de Bucaresti para defender o Partizan de

Belgrado, a notícia já não chama tanta atenção assim, e muitas vezes, com

exceção dos amigos e familiares do jogador em questão, mais ninguém fica

sabendo da negociação. Nesse caso, se o mesmo São Cristóvão de Ronaldo

também formou este jogador menos conhecido, ele deixa de receber uma

parcela da negociação por total desconhecimento.

É neste momento que advogados mais competentes e com uma boa

rede de informantes entram na jogada e garantem ao clube formador a parcela

referente à formação do atleta e naturalmente também ganham sua justa

remuneração, afinal trata-se de uma lei sancionada.

A cada transferência confirmada, portanto, o clube formador terá direito

a até 5% do valor da transferência, quantia que será dividida

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proporcionalmente entre os clubes por onde o atleta teve registro desde os 12

até os 23 anos de idade. Este pagamento do mecanismo de solidariedade

deve ser feito pelo clube contratante, mas o que ocorre na prática é que os

clubes formadores muitas vezes são obrigados a buscar seus direitos na

justiça.

Tão polêmica quanto a lei do impedimento, a Lei Pelé segue sofrendo

alterações e praticamente é uma nova lei se a comparamos a pouco mais de

10 anos, quando foi sancionada. No primeiro semestre deste ano de 2011,

uma nova versão da Lei Pelé foi aprovada e sancionada pele governo

brasileiro.

Segundo o relator da nova Lei Pelé, o deputado José Rocha, “Os

principais pontos são: o contrato de formação do atleta (a questão do clube

formador), a questão do direito de arena - onde o atleta passa a receber 5%

dos valores de transmissão negociados pelo clube - e o direito de imagem, que

é um direito do jogador e poderá ser negociado com quem ele bem entender.

Antes, os clubes usavam o direito de imagem para completar o salário do

atleta. Isso não vai mais acontecer.”

Naturalmente a insatisfação também surgiu com a Nova Lei Pelé, que

atinge diretamente a ação dos empresários, já que a partir desta lei, jogadores

de futebol estão proibidos de serem agenciados antes de completar 18 anos.

Apenas os que já forem profissionais podem usufruir tal assessoria. Segundo o

presidente da Associação Brasileira dos Agentes de Futebol, Jorge Moraes, a

entidade vai buscar uma revisão nesse aspecto da nova legislação. “A única

coisa que eu acho que não bateu muito bem foi essa restrição do jovem até os

18 anos não ter o direito de ter um assessoramento profissional. Esse é o

único ponto que a associação vai rever. Um garoto de 16, 15 anos, passa por

um momento muito importante na formação da carreira e, fatalmente, vai

precisar de um empresário qualificado nessa orientação.”

Esta seguramente é uma batalha sem fim e a cada nova medida,

surgirão os insatisfeitos que lutarão para restabelecerem seus direitos ou suas

vantagens. O fato é que o futebol atingiu um patamar de grandiosidade

tamanha que clubes, jogadores, empresários e qualquer profissional que atue

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dentro deste segmento, parecem não falar a mesma língua e tampouco ocupar

o mesmo espaço. Chegar a um consenso de quem tem razão sem destruir a

imagem do futebol passou a ser o maior desafio para aqueles que fazem o

desporto.

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Capítulo VI - CLUBES – QUAL O CAMINHO A

SEGUIR

Maior razão do futebol, ao lado do jogador, os clubes vivem um

momento de definição. Buscar caminhos para a manutenção dos clubes em

um estado financeiro satisfatório virou o X da questão no mundo do futebol de

hoje. Determinar o verdadeiro papel dos empresários na atividade esportiva é

outro tópico relevante, afinal não se sabe sequer se clubes e agentes estão

juntos ou separados em toda essa história. Em muitos casos, a rivalidade entre

esses dois parece ser tão grande que não se vislumbra uma harmonia na

relação.

É sempre interessante a comparação e o papel dos clubes quando se

fala de futebol e tudo o que ele representa. Do quase amadorismo ao

profissionalismo em excelência nos principais clubes do mundo hoje em dia, há

um verdadeiro abismo em um período de tempo nem tão grande assim.

Lembrar com nostalgia do profissionalismo amador que imperava no

futebol dos anos 60/70 quando o Brasil conquistou o tri-campeonato mundial

chega a provocar risos quando tomamos conhecimento dos métodos aplicados

nos dias de hoje.

Encontrar o caminho perfeito é uma dura tarefa para os clubes de

futebol. A melhor opção de gestão para os inúmeros clubes espalhados pelo

mundo é uma pergunta que segue sem resposta, até porque o futebol já

demonstrou não ser uma ciência exata, aquela onde exista apenas uma

verdade absoluta. Interessante é avaliar as diferentes formas que os clubes

vêm encontrando para inverter a atual situação financeira, invariavelmente

precária e com casos dramáticos de clubes praticamente fechando suas

portas.

Diferente de qualquer outra atividade empresarial, o mundo do futebol

está ligado ao resultado de dentro do campo. Isso significa que fechar o ano

com um balanço financeiro altamente positivo pode não representar

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praticamente nada se sua sala de troféus não foi enriquecida com uma nova

conquista.

Neste momento, o exemplo a ser seguido de gestão desportiva seria o

FC Barcelona, muito mais pelas suas inúmeras recentes conquistas que por

seus balanços anuais, muitas vezes apresentando dívidas enormes. O clube

espanhol teve recentemente de abrir mão de um de seus maiores orgulhos, o

de não ¨sujar¨ sua tradicional camisa com uma publicidade de alguma

empresa, em troca de contratos milionários que o permitam manter seus

principais jogadores e seguir tendo uma resposta vitoriosa dentro de campo.

Este, no entanto, não é a única saída ou o único caminho. Estudos

recentes apontam a união de clubes de futebol com empresas de marketing

visando uma melhor utilização da marca que o clube carrega aliada com o

conhecimento do mercado que profissionais da área oferecem. A necessidade

da profissionalização do futebol é uma realidade já percebida no Brasil. Clubes

de grande porte possuem em seu ativo uma expressiva torcida e precisam

saber explorar esse filão. Pesquisa feita pelo jornal Lance e o Ibope em 2010

ratificam números amplamente conhecidos, mas pouco explorados. Segundo

os resultados dessa pesquisa, o Flamengo do Rio de Janeiro possui cerca de

33 milhões de torcedores, representando uma fatia de mais de 17% da

população do país. Corinthians de São Paulo, com 25 milhões de torcedores

(13%) e São Paulo Futebol Clube com 17 milhões de torcedores (9%)

aparecem a seguir.

Esses números soltos impressionam, mas pouco representam até que

outras pesquisas relevantes sejam analisadas juntamente para que possamos

entender melhor a magnitude desse mercado. A consultoria financeira Crowe

Horwath RCS avaliou o quanto vale a marca dos grandes times do futebol

brasileiro e chegou as seguintes conclusões. Nos primeiros lugares do ranking

brasileiro aparecem as mesmas três equipes que possuem o maior número de

torcedores espalhados pelo país, ou seja, Flamengo, que vale R$ 568 milhões,

Corinthians, R$ 563 milhões e São Paulo, R$ 552 milhões. Embora

representem valores elevados, essas quantias estão longe das avaliações

feitas no mercado europeu, onde a Revista Forbes apresenta a seguinte lista

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dos times mais valiosos da Europa, continente mais rico em se tratando do

mundo do futebol. Em primeiro lugar vem o Manchester United da Inglaterra,

avaliado em 1.424 bilhões de euros, seguido pelo Real Madrid da Espanha,

com 1.030 bilhões de euros e Arsenal da Inglaterra, com 914 milhões de

euros.

Esses altos valores envolvidos no futebol ratificam a tese que hoje em

dia o esporte não é mais apenas um jogo, mas um negócio altamente lucrativo,

e que precisa ser tratado com tal para colher resultados satisfatórios dentro e

fora do campo de jogo. Baseados nessas afirmações, podemos notar o

surgimento de uma nova realidade na gestão do produto futebol e entender a

importância do marketing como uma solução para o enfraquecimento e o

empobrecimento dos clubes de futebol justamente em um momento que o

desporto está vivendo uma situação inversa com muito dinheiro sendo

investido. O marketing de relacionamento e o marketing esportivo podem ser

as soluções para inúmeros casos.

Aqui vale uma definição desses dois modelos de marketing. Segundo

Gordon, o Marketing de Relacionamento “é o processo contínuo de

identificação e criação de novos valores com clientes individuais e o

compartilhamento de seus benefícios durante uma vida toda de parceria. Isso

envolve compreensão, a concentração e a administração de uma contínua

colaboração entre fornecedores e clientes selecionados para a criação e o

compartilhamento de valores mútuos por meio de interdependência e

alinhamento organizacional ¨.

Já para marketing esportivo, vale uma definição mais abrangente do

marketing em geral: “O marketing esportivo consiste em todas as atividades

designadas a satisfazer as necessidades e desejos dos consumidores

esportivos através de processos de troca. Há marketing de produtos e serviços

esportivos diretamente para os consumidores esportivos e o marketing de

outros produtos e serviços através da utilização das promoções esportivas.”

O fato é que o marketing esportivo não é novidade alguma no que se

refere ao mundo dos esportes. Exemplos eficazes deste modelo são

encontrados aos montes em todas as modalidades desportivas. No futebol, a

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história do patrocínio começou na Itália, no início dos anos 50, quando uma

conhecida marca de conhaque investiu uma quantia próxima dos US$ 30 mil

em anúncios em cada um dos clubes da série A italiana. No Brasil, esse

exemplo de marketing no desporto remonta aos anos 70 e 80, quando o

esporte brasileiro, através do vôlei, do automobilismo, do basquete, mas,

sobretudo do futebol, desperta o interesse da juventude e a mídia ¨compra¨

essa idéia intensificando sua divulgação com campanhas em prol da saúde,

colocada sempre ao lado da prática do desporto. O marketing esportivo torna-

se nesse momento uma arma poderosa para ajudar os clubes a melhorarem

suas receitas. Nesse tempo, ainda se via muita publicidade de cigarros e

bebidas alcoólicas, mas marcas como Pirelli e Supergásbras, ambas ligadas

ao vôlei investem pesado na formação de equipes fortes bancadas pelo

marketing. Se hoje, o patrocínio nos uniformes dos clubes é mais que uma

realidade, é uma necessidade, vale lembrar que nem sempre foi assim, já que

até 1979 a FIFA impedia que os times utilizassem uma série de marcas nos

seus uniformes, proibições que pouco a pouco foram caindo. No Brasil, por

exemplo, apenas no início dos anos 80, os clubes receberam autorização para

venderem um espaço em suas camisas como um outdoor e hoje,

praticamente, não se concebe mais um orçamento de um clube de primeira

grandeza no mundo do futebol sem uma receita bastante considerável vinda

de um ou mais patrocinadores que pagam fortunas para terem suas

logomarcas estampadas nas camisas dos times de futebol.

Não faltam exemplos interessantes que ratificam essa relação do

marketing esportivo com o futebol. No Brasil, destaca-se o caso do Banco

Nacional que investiu em 1984, na final do Campeonato Brasileiro, U$700 mil

para te seu nome e as logomarca estampados nas camisas dos dois clubes

finalistas da competição, Fluminense e Vasco da Gama. Em 1987, no auge de

uma das maiores crises de organização do futebol brasileiro, mais uma vez o

marketing mostrou sua força e praticamente foi o responsável pela disputa do

Campeonato Nacional daquele ano, graças à participação de empresas como

a Coca-Cola que estampava sua marca em 13 dos 16 clubes que

protagonizaram a Copa União.

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Claro que os clubes de futebol não são os únicos a lucrarem com essa

atuação do marketing ou com essa junção. A partir da década de 70, o esporte

passou a ser explorado como um filão, uma grande oportunidade de fazer

dinheiro também por parte das empresas interessadas em investir no esporte e

o aumento da relação entre a entidade de prática desportiva e o patrocinador,

o investimento no licenciamento das marcas das instituições esportivas e

novas regulamentações para o mercado de venda de ingressos e direitos de

televisão passaram a ser assuntos corriqueiros neste mundo dos esportes,

tornando o que antes era apenas um jogo de bola ou uma diversão para a

família em um negócio extremamente lucrativo.

Por menor que seja, vale também uma busca de explicação para que se

possa entender a razão que leva as empresas a investirem no esporte. Cada

marca possui sua tradição no mercado consumidor, sua imagem. As empresas

sabem, no entanto, que este mercado é dinâmico e competitivo e por isso elas

precisam de mudanças, uma busca por novas tendências. É praticamente uma

reciclagem para as empresas e o esporte é uma ótima oportunidade de

divulgação e promoção.

Basicamente, o marketing esportivo busca aumentar o reconhecimento

público, reforçar a imagem corporativa, estabelecer identificação com

segmentos específicos do mercado, combater a concorrência, envolver a

empresa com a comunidade, conferir credibilidade ao produto etc.

Ainda na carona do marketing esportivo como saída para os clubes de

futebol arrecadarem uma receita suficiente para driblar as mazelas financeiras

vividas por eles está o aumento do relacionamento entre o torcedor e o clube.

Uma fonte de dinheiro está nos estádios-arenas, nova tendência que surge em

um momento de investimento em novos estádios. O futebol é um filão de ouro

para aqueles que possuam qualquer produto para ser comercializado. Explorar

os estádios é mais ideia com grande potencial.

Antes de seu fechamento para as obras visando o Mundial de 2014, o

Maracanã era uma atração. De acordo com dados da RIOTUR, o Maracanã

somente era superado em números de visitantes por dia pelo Corcovado. Era

tão grande o número de pessoas que chegavam ao Rio e logo perguntavam

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pelo estádio, que os hotéis passaram a oferecer serviços que permitiam ao

turista não só conhecer o estádio, mas principalmente ter a possibilidade de

desfrutar do ambiente único que se encontra em uma partida de futebol.

Pequenas agências de turismo começaram a oferecer um serviço que consistia

em levar o turista ao Maracanã para assistir a um clássico com o estádio

lotado.

A paixão pelos clubes também transformou o relacionamento do

torcedor com seu time de coração. Hoje, um torcedor está muito mais para

parceiro e até mesmo investidor. Dono da maior torcida do país, o Clube de

Regatas do Flamengo inaugurou recentemente uma mega loja visando à

venda de produtos oficiais do clube. Mais que isso, o Flamengo conseguiu

inserir no mapa oficial do turismo da cidade do Rio de Janeiro uma parada em

sua loja. Isso significa um número absurdo de turistas interessados em

conhecer, adquirir e consumir a marca Flamengo. Nos fins de semanas de

grandes jogos ou eventuais decisões com a participação do time, a sede do

clube fica repleta de ônibus de turismo com milhares de torcedores que

aproveitam a oportunidade de torcer por seu time do coração, conhecer a

cidade e gastar. O Flamengo promete ainda para este ano de 2012 a

inauguração do maior e mais moderno museu temático de futebol da América

Latina, o que já é considerado a ¨menina dos olhos¨ da administração do clube,

prevendo o número de turistas e mesmo habitantes do Rio de Janeiro que

passarão por lá.

Outros clubes pelo Brasil também descobriram recentemente a riqueza

dessa oportunidade de unir a paixão com o negócio. Praticamente todos os

principais clubes do futebol brasileiro já dispõem de serviços de agências de

turismo, que faturam muito comercializando viagens para acompanhar os jogos

do time.

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Capítulo VII - CATEGORIAS DE BASE – A

SOLUÇÃO DEFINITIVA.

A busca incessante por uma solução para os problemas financeiros dos

clubes de futebol tornou-se uma verdadeira obsessão e aqui encontramos

quase uma resposta unânime para a questão. Investir nas categorias de base

é a melhor opção. A história aponta nas categorias de base a grande fonte na

construção dos times que marcaram época no futebol. Desde o Santos de Pelé

ou o Botafogo de Garrincha nos anos 60, passando pelo Internacional dos

anos 70 ou o Flamengo dos anos, o fato é que todos esses times marcaram

uma época e fora formados com a imensa ajuda dos times de juvenis, garotos

formados nas escolas desses clubes.

A pergunta que salta aos olhos então é a seguinte. Se todos conhecem

a resposta e a consequente solução, por que não coloca-la em prática. Há

várias respostas para essa dúvida, mas seguramente é inevitável ignorar a

falta de interesse numa aposta teoricamente tão simples. Como já foi

amplamente comentado nesse estudo, o futebol de hoje atinge cifras

impensáveis, faz novos milionários a cada dia e precisa ser conduzido de uma

maneira que permita que essas gigantescas quantias sigam sendo parte

integrante do dia a dia do futebol.

A política do futebol envolve uma série de interesses nem sempre

interessantes para o desenvolvimento do mesmo. As categorias de base de

um clube não são exceções e negócios inacreditáveis se sucedem em sua

rotina, sempre protegendo ou fomentando negociatas que agradam apenas a

poucas pessoas, mas que seguramente não trazem benefício algum para o

clube envolvido. Uma simples ¨peneira¨, treinamento de um grupo de garotos

buscando uma chance em uma equipe, passou a ser o início de uma

engenhosa manipulação de novos eventuais craques.

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Crianças com enorme talento para o esporte muitas vezes são

dispensadas por diretores para que não tenham vínculo algum com o clube e

dessa forma possam negociar livremente com um empresário de plantão seu

futuro. Futuro esse que gerará uma boa quantia para o empresário e para

aquele diretor.

Ações como essas citadas acima acontecem quase que diariamente e

fazem das categorias de base um local propício para negócios ilícitos, até

porque não recebem um tratamento da mídia muito grande e passam

despercebidas do grande público.

Apesar de todas as falcatruas encontradas nos processos de seleção

para novos valores, apesar de todo o vício que se encontra enraizado na

maioria das categorias de base dos principais clubes de futebol, revelar

jogadores e investir na formação de novos atletas ainda aparece como a

solução mais viável tanto do ponto de vista financeiro quanto no fator técnico

dentro de campo.

Citando mais uma vez o exemplo do time de futebol mais vitorioso dos

últimos anos, o FC Barcelona ostenta uma estrutura invejável na formação de

novos valores. Um verdadeiro lar é oferecido às crianças que chegam ao clube

em busca do sonho de se tornar um jogado de futebol conhecido. O clube

espanhol faz questão de afirmar que o principal objetivo do complexo de La

Macia é a formação do cidadão e não de um ¨simples¨ jogador de futebol.

Nesse centro de treinamento, o Barcelona oferece aos seus moradores estudo,

saúde, acompanhamento de profissionais e tudo do bom e do melhor para que

a criança de hoje seja o homem de amanhã e se possível um homem com

talento para defender as cores do clube.

O resultado disso é facilmente identificado. Campeão de todos os

troféus que disputou nos últimos anos, o Barcelona tem praticamente todo seu

elenco feito e moldado em suas categorias de base, o que possibilita a

economia de milhões de euros na aquisição de novos jogadores.

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CONCLUSÃO

Há muito tempo o futebol é um dos fatores que mais movimentam o

mundo. Suas principais competições praticamente param o globo, seus

principais clubes são amados e seguidos por uma verdadeira legião de fãs,

ávidos para consumir o que for necessário para adquirir produtos de seus

clubes preferidos, seus melhores atletas são celebridades seguidas e

copiadas.

Assim como o mundo e todos os segmentos da sociedade, o futebol

vem sofrendo transformações com o passar do tempo e hoje é praticamente

no novo esporte se comparado ao futebol praticado e acompanhado há 20, há

50, há 100 anos atrás. Não adianta lamentar o que mudou, sentir falta do que

não é mais do mesmo jeito ou buscar uma improvável volta ao passado. O

futebol dos anos 2000 está aí oferecendo a mesma paixão de sempre, porém,

envolvido em uma roupagem diferente.

Para os clubes é preciso entender o funcionamento desse novo

futebol. Urge uma maior compreensão entre os novos protagonistas do

desporto. O futebol de hoje não é mais feito apenas com jogadores, técnicos e

dirigentes amadores. O dinheiro corre solto no mundo da bola e todos

envolvidos nesse novo negócio precisam entender como funciona a

¨brincadeira¨.

Para os torcedores / consumidores, o futebol também traz novidades,

nem melhores nem piores, apenas diferentes e eles também devem buscar

uma adaptação a esta realidade.

Este estudo busca ajudar na compreensão deste novo futebol, muito

mais profissional, mas nem um pouco menos apaixonante. Definitivamente há

uma nova tendência no mercado da bola. Vamos descobri-la.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ALEXAN DRINO, José de Melo. Direitos, Liberdades e Garantias na Relação Desportiva. Disponível em: http://www.estig.ipbeja.pt./direitoAlexandrino. Acesso em: 20 janeiro 2012.

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SITES CONSULTADOS

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I - Futebol – O Começo 10

CAPÍTULO II - Transferências no Futebol – Um Paralelo nos Últimos 50 anos o

13

CAPÍTULO III – Transferências Internacionais. Um Negócio da China. Para

quem? 18

CAPÍTULO IV – Empresários. Uma Nova Realidade no Futebol Atual

20

CAPÍTULO V – Nova Lei Pelé. Mecanismo de Solidariedade. O Futebol se

Adapta. 24

CAPÍTULO VI – Clubes. Qual o Caminho a Seguir 28

CAPÍTULO VII – Categorias de Base. A Solução Definitiva 34

CONCLUSÃO 36

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 37

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