(loganiaceae) do nordeste do brasil

10
356 ISSN 0326-2383 Acta Farm. Bonaerense 24 (3): 356-65 (2005) Recibido el 4 de diciembre de 2004 Aceptado el 3 de abril de 2005 Trabajos originales PALAVRAS-CHAVE. Farmacobotânica, Loganiaceae, Nordeste do Brasil, Plantas medicinais, Strychnos. KEY WORDS: Loganiaceae, Medicinal Plants, Northeast of Brazil, Pharmacobotany, Strychnos. * Autor para correspondência: E-mail: [email protected] Estudo Farmacobotânico das Folhas de três Espécies do Gênero Strychnos L. (Loganiaceae) do Nordeste do Brasil Ionaldo José Lima Diniz BASÍLIO, Kiriaki NURIT & Maria de Fátima AGRA* Laboratório de Tecnologia Farmacêutica, Setor de Botânica, Universidade Federal da Paraíba, Caixa Postal 5009, 58015-970, João Pessoa, PB, Brasil RESUMO. Realizou-se um estudo farmacobotânico de Strychnos atlantica Krukoff & Barneby, S. parvifo- lia A. DC. e S. trinervis (Vell.) Mart., espécies de importância na medicina popular do Nordeste do Brasil, com o objetivo de elaborar morfodiagnoses que possibilitem seu reconhecimento. Coletas e estudos morfo- lógicos foram realizados para as identificações e morfodiagnoses macroscópicas, e cortes paradérmicos e transversais da folha (pecíolo e lâmina) para as morfodiagnoses microscópicas. Observou-se que as três es- pécies apresentam folhas hipoestomáticas, além de compartilhar os seguintes caracteres: estômatos parací- ticos; mesofilo dorsiventral com o parênquima paliçádico 3-seriado. A vascularização do pecíolo apresen- tou-se com cinco feixes em S. trinervis e sete em S. atlantica e S. parvifolia. O conjunto dos caracteres ma- croscópicos e microscópicos das folhas permitiu um diagnóstico para a separação das espécies estudadas. SUMMARY. “Pharmacobotanical Study of the Leaves of Three Species of the Genus Strychnos L. (Loganiaceae) from Northeastern Brazil”. A pharmacobotanical study was realized with Strychnos atlantica Krukoff & Barne- by, S. parvifolia A. DC. and S. trinervis (Vell.) Mart., species used in folk medicine in Northeast of Brazil with the objective of elaborating macroscopic and microscopic morphodiagnosis for its identification. Morphological studies and field observations were carried out for botanical identification and macroscopic morphodiagnosis. Paradermic and transversal cuts of the leaves (blades and petiole) were made for microscopic morphodiagnosis. All species share common anatomic characters, such as hipostomatic leaves, paracitic stomata, and palisade 3-se- riate. S. trinervis has five vascular traces in petiole differing from S. atlantica and S. parvifolia, which have sev- en. The midrib of S. atlantica has only one vascular trace along the blade leaf, and S. parvifolia and S. trinervis have one trace on the apex and three on the median and basal part of the leaf. The combined macroscopic and microscopic characteristics of the leaves have permitted a diagnostic to compare the studied species. INTRODUÇÃO A família Loganiaceae Mart., pertencente às Gentianales, possui cerca de 13 gêneros e 420 espécies com ampla distribuição 1 , ocorrendo principalmente nas regiões tropicais e subtropi- cais 2 . No Brasil, a família está representada principalmente pelo gênero Strychnos, que pos- sui cerca de 50% do total das espécies registra- das para o grupo 3 . O interesse pelas Loganiaceae intensificou-se em 1947, após o isolamento da estricnina 4 , al- calóide terciário, cujas sementes de Strychnos nux-vomica L. eram empregadas como rodenti- cida na Alemanha, no século XVI 5 . Atualmente a estricnina tem sido usada em ensaios farmaco- lógicos e fisiológicos por sua atividade convulsi- vante 5,6 . Além disso, cerca de 17 espécies de Strychnos foram reconhecidas como componen- tes do curare 3 , usado pelos índios da América do Sul, que é uma mistura de alcalóides quater- nários. Estas substâncias, atualmente, têm sido empregadas contra convulsões epilépticas, téta- no e distúrbios na contração muscular 4,7 , e atuam farmacologicamente provocando o rela- xamento da musculatura 4 , através da inibição competitiva da acetilcolina pela D-tubocurarina 6 . Informações sobre os constituintes químicos e atividades farmacológicas já foram registradas para cerca de 50 espécies de Strychnos, na maioria das vezes sem o material botânico e os alcalóides isolados devidamente identificados 3 . Embora vários estudos químicos e farmaco- lógicos já tenham sido realizados com algumas espécies de Strychnos do Nordeste do Brasil 8-19 , estudos farmacobotânicos são inexistentes. Nes- te trabalho realizou-se um estudo farmacobotâ- nico comparativo das folhas de Strychnos atlan- tica Krukoff & Barneby, S. parvifolia A. DC. e S.

Upload: vanhanh

Post on 07-Jan-2017

228 views

Category:

Documents


5 download

TRANSCRIPT

Page 1: (Loganiaceae) do Nordeste do Brasil

356 ISSN 0326-2383

Acta Farm. Bonaerense 24 (3): 356-65 (2005)Recibido el 4 de diciembre de 2004Aceptado el 3 de abril de 2005

Trabajos originales

PALAVRAS-CHAVE. Farmacobotânica, Loganiaceae, Nordeste do Brasil, Plantas medicinais, Strychnos.KEY WORDS: Loganiaceae, Medicinal Plants, Northeast of Brazil, Pharmacobotany, Strychnos.

* Autor para correspondência: E-mail: [email protected]

Estudo Farmacobotânico das Folhas de três Espéciesdo Gênero Strychnos L. (Loganiaceae) do Nordeste do Brasil

Ionaldo José Lima Diniz BASÍLIO, Kiriaki NURIT & Maria de Fátima AGRA*

Laboratório de Tecnologia Farmacêutica, Setor de Botânica,Universidade Federal da Paraíba, Caixa Postal 5009, 58015-970, João Pessoa, PB, Brasil

RESUMO. Realizou-se um estudo farmacobotânico de Strychnos atlantica Krukoff & Barneby, S. parvifo-lia A. DC. e S. trinervis (Vell.) Mart., espécies de importância na medicina popular do Nordeste do Brasil,com o objetivo de elaborar morfodiagnoses que possibilitem seu reconhecimento. Coletas e estudos morfo-lógicos foram realizados para as identificações e morfodiagnoses macroscópicas, e cortes paradérmicos etransversais da folha (pecíolo e lâmina) para as morfodiagnoses microscópicas. Observou-se que as três es-pécies apresentam folhas hipoestomáticas, além de compartilhar os seguintes caracteres: estômatos parací-ticos; mesofilo dorsiventral com o parênquima paliçádico 3-seriado. A vascularização do pecíolo apresen-tou-se com cinco feixes em S. trinervis e sete em S. atlantica e S. parvifolia. O conjunto dos caracteres ma-croscópicos e microscópicos das folhas permitiu um diagnóstico para a separação das espécies estudadas. SUMMARY. “Pharmacobotanical Study of the Leaves of Three Species of the Genus Strychnos L. (Loganiaceae)from Northeastern Brazil”. A pharmacobotanical study was realized with Strychnos atlantica Krukoff & Barne-by, S. parvifolia A. DC. and S. trinervis (Vell.) Mart., species used in folk medicine in Northeast of Brazil withthe objective of elaborating macroscopic and microscopic morphodiagnosis for its identification. Morphologicalstudies and field observations were carried out for botanical identification and macroscopic morphodiagnosis.Paradermic and transversal cuts of the leaves (blades and petiole) were made for microscopic morphodiagnosis.All species share common anatomic characters, such as hipostomatic leaves, paracitic stomata, and palisade 3-se-riate. S. trinervis has five vascular traces in petiole differing from S. atlantica and S. parvifolia, which have sev-en. The midrib of S. atlantica has only one vascular trace along the blade leaf, and S. parvifolia and S. trinervishave one trace on the apex and three on the median and basal part of the leaf. The combined macroscopic andmicroscopic characteristics of the leaves have permitted a diagnostic to compare the studied species.

INTRODUÇÃOA família Loganiaceae Mart., pertencente às

Gentianales, possui cerca de 13 gêneros e 420espécies com ampla distribuição 1, ocorrendoprincipalmente nas regiões tropicais e subtropi-cais 2. No Brasil, a família está representadaprincipalmente pelo gênero Strychnos, que pos-sui cerca de 50% do total das espécies registra-das para o grupo 3.

O interesse pelas Loganiaceae intensificou-seem 1947, após o isolamento da estricnina 4, al-calóide terciário, cujas sementes de Strychnosnux-vomica L. eram empregadas como rodenti-cida na Alemanha, no século XVI 5. Atualmentea estricnina tem sido usada em ensaios farmaco-lógicos e fisiológicos por sua atividade convulsi-vante 5,6. Além disso, cerca de 17 espécies deStrychnos foram reconhecidas como componen-tes do curare 3, usado pelos índios da América

do Sul, que é uma mistura de alcalóides quater-nários. Estas substâncias, atualmente, têm sidoempregadas contra convulsões epilépticas, téta-no e distúrbios na contração muscular 4,7, eatuam farmacologicamente provocando o rela-xamento da musculatura 4, através da inibiçãocompetitiva da acetilcolina pela D-tubocurarina 6.Informações sobre os constituintes químicos eatividades farmacológicas já foram registradaspara cerca de 50 espécies de Strychnos, namaioria das vezes sem o material botânico e osalcalóides isolados devidamente identificados 3.

Embora vários estudos químicos e farmaco-lógicos já tenham sido realizados com algumasespécies de Strychnos do Nordeste do Brasil 8-19,estudos farmacobotânicos são inexistentes. Nes-te trabalho realizou-se um estudo farmacobotâ-nico comparativo das folhas de Strychnos atlan-tica Krukoff & Barneby, S. parvifolia A. DC. e S.

Page 2: (Loganiaceae) do Nordeste do Brasil

357

acta farmacéutica bonaerense - vol. 24 n° 3 - año 2005

trinervis (Vell.) Mart., conhecidas popularmentecomo “capitãozinho” e empregadas na medicinapopular do Nordeste do Brasil, tendo como ob-jetivo a elaboração de morfodiagnoses macros-cópicas e microscópicas, além de registrar as in-formações sobre seus usos, constituintes quími-cos e atividades biológicas.

MATERIAL E MÉTODOSColetas e Identificações Botânicas

Coletas botânicas e observações de campoforam realizadas para os estudos morfológicos eanatômicos. Parte das amostras foi herborizadaseguindo-se a metodologia descrita em Forman& Bridson 20, e depositadas no Herbário LauroPires Xavier (JPB), com duplicatas na coleção dereferência do Laboratório de Tecnologia Far-macêutica (LTF). Outra parte das amostras foi fi-xada em álcool a 70°.

As identificações foram realizadas com análi-se de amostras frescas, fixadas, e das exsicatasdos herbários JPB e IPA, com auxílio de chavesanalíticas, diagnoses e descrições encontradasna bibliografia especializada 3,21-24, complemen-tados pelas análises das fotos dos tipos do Her-bário do Jardim Botânico de New York (NY). Asmorfodiagnoses macroscópicas e as ilustraçõesforam realizadas com auxílio de estereomicros-cópio binocular com câmara-clara, Zeiss. Asabreviaturas dos autores dos táxons estão deacordo com Brummitt & Powell 25.

Estudos AnatômicosCortes paradérmicos (adaxial e abaxial) e

transversais da lâmina foliar e do pecíolo, à mãolivre, foram realizados com auxílio de lâminacortante, em amostras frescas, fixadas e amos-tras secas, submetidas ao amolecimento apósfervura. Os cortes transversais foram realizadosno pecíolo (partes distal, mediana e proximal) eno terço médio da lâmina foliar, incluídos namedula do pecíolo de Cecropia sp. (imbaúba),corados com Safranina ou Safrablue. Os trico-mas foram retirados por meio de raspagem. To-dos os cortes foram montados entre lâmina e lâ-mínula, com glicerina a 50%. As descrições, ilus-

trações e fotomicrografias foram realizadas aomicroscópio óptico, Zeiss, com câmara fotográfi-ca Olympus. Para a classificação dos estômatosseguiu-se Metcalfe & Chalk 26. A caracterizaçãodas paredes celulares, mesofilo e dos tricomasbaseou-se em Fahn 27.

Etnomedicina, Constituíntes Químicos& Atividades Biológicas

Os dados etnomedicinais foram obtidos atra-vés de duas fontes: questionário aplicado a ma-teiros, raizeiros e vendedores de plantas medici-nais da Usina São João, Município de Santa Rita,Paraíba, dados etnobotânicos encontrados na li-teratura. As informações dos constituintes quími-cos e atividades biológicas foram obtidas atravésda pesquisa bibliográfica e do banco de dadosNatural Products Alert (NAPRALERT).

RESULTADOSStrychnos atlantica Krukoff & Barneby, S.

parvifolia A.DC. e S. trinervis (Vell.) Mart. sãoconhecidas popularmente como “capitãozinho”e empregadas na medicina popular do Nordestedo Brasil com as mesmas indicações terapêuti-cas, para vários fins. Usa-se o infuso, decoctoou alcoolato das folhas e cascas do caule destasespécies como depurativo, no tratamento da sí-filis, segundo informações obtidas junto aosvendedores e raizeiros de plantas medicinais doMunicípio de Santa Rita, PB. Além das indi-cações mencionadas, suas raízes e cascas docaule também são empregadas no combate àsfebres intermitentes, diarréias e doenças ligadasao sistema nervoso central 28,29.

Apesar de apresentarem vários caracteres co-muns, que dificultam seu reconhecimento, prin-cipalmente relacionado aos caracteres vegetati-vos, S. atlantica, S. parvifolia e S. trinervis po-dem ser separadas por um conjunto de caracte-res morfológicos e anatômicos, que incluem apresença ou ausência de espinhos, a forma epersistência das estípulas, o comprimento dasgavinhas, o contorno das paredes celulares daepiderme e o número de feixes vasculares dopecíolo, entre outros caracteres.

Chave morfo-anatômica para separação das espécies de Strychnos1. Planta inerme ou armada, espinhos até 1,0 cm, quando presentes; gavinhas acima de 2,0 cm; in-

florescências com pedúnculo acima de 1,0 cm; baga acima de 3,0 cm; epiderme com paredes an-ticlinais de contorno reto e tricomas simples, na face abaxial da lâmina foliar.2. Lianas armadas; estípulas elípticas persistentes; folhas glabrescentes, pecíolo plano-convexo,

lâmina oval a oval-elíptica; epiderme com paredes periclinais externas de contorno reto, naface adaxial; parênquima esponjoso 5-6 seriado, células isodiamétricas; estômatos impressos;nervura mediana com único feixe vascular; pecíolo com sete feixes vasculares.

1. Strychnos atlantica

Page 3: (Loganiaceae) do Nordeste do Brasil

358

BASÍLIO I.J.L.D., NURIT K. & AGRA M. de F.

2. Arbustos escandentes, inermes; estípulas decíduas; folhas pilosas, pecíolo cilíndrico, lâminalanceolada, elíptica ou lanceolado-elíptica; epiderme com paredes periclinais de contornoirregular; parênquima esponjoso 3-4 seriado, células de contorno irregular; estômatos no níveldas células epidérmicas; nervura mediana com 1-3 feixes vasculares; pecíolo com cinco feixesvasculares.

3. Strychnos trinervis1. Planta armada; espinhos acima de 1,5 cm; gavinhas até 1,5 cm; inflorescências com pedúnculo

até 0,5 cm; baga até 2,0 cm de diâmetro; epiderme com paredes anticlinais de contorno sinuosoa ondeado, na face abaxial da lâmina foliar; tricomas simples e glandulares na face abaxial

2. Strychnos parvifolia

1. Strychnos atlantica Krukoff & Barneby,Mem. N. Y. Bot. Gard. 20 (1): 61-62.1969 (Fig. 1).Descrição morfológica

Liana, 2,0-10,0 m de altura; ramos cilíndricos,rugosos, armados, espinhos aciculares, rígidos,0,6-1,0 cm; estípulas 0,15-0,2 cm, elípticas; ga-vinhas interfoliares, 3,0-4,0 cm, espiraladas noápice. Folhas opostas glabrescentes; pecíolo 0,8-1,2 cm, plano-convexo; lâmina oval a oval-elíp-tica, 2,5-15,5 x 2,0-7,5 cm, coriácea, trinérvea,inteira na margem, base cuneada a arredonda-da, ápice agudo ou emarginado. Inflorescênciasem cimeiras terminais, densas; pedúnculo 1,0-3,0 cm. Flores subsésseis, pedicelo turbinado,1,5-2,0 mm; cálice campanulado, 1,4-1,5 mm,sépalas soldadas no 1/4 basal, lobos triangula-res, pilosos externamente; corola não vista. Ba-ga globosa com cálice persistente, 3,0-4,0 cm,epicarpo liso, brilhante; sementes 2, ovóides,comprimidas, 1,5 x 1,0 cm, testa crustácea.

Descrição anatômicaEm vista frontal (Fig. 2A), a epiderme de S.

atlantica, na face adaxial, apresenta-se com asparedes celulares anticlinais poligonais, retas,bastante espessadas, com quatro a seis vértices.Na face abaxial (Fig. 2B), a epiderme possui pa-redes celulares similares as da face adaxial, daqual se diferencia pela presença de estômatosdo tipo paracítico e tricomas simples, unicelula-res, unisseriados, esparsos, circundados por 5-6células.

Figura 1. Strychnos atlantica Krukoff & Barneby(Agra et al. 1538). A. Ramo com gavinha; B. Sementeisolada; C. Fruto.

Figura 2. Strychnos atlantica Krukoff & Barneby(Agra et al. 1538). Secção paradérmica da lâmina fo-liar (400x). A. face adaxial; B. face abaxial. Legendas:epiderme com as paredes poligonais, retas, espessa-das (ppr); epiderme com paredes poligonais, retas,espessadas (ppr); estômatos (est); tricomas simples,unicelulares (tri).

Page 4: (Loganiaceae) do Nordeste do Brasil

359

acta farmacéutica bonaerense - vol. 24 n° 3 - año 2005

Em secção transversal, a epiderme apresenta-se unisseriada, com paredes periclinais bastanteespessas, de contorno reto e paredes anticlinaisirregulares e delgadas, na face adaxial. Sobre aepiderme evidencia-se uma cutícula lisa e espes-sa (Fig. 3), que se acentua na nervura mediana(Fig. 4A). Na face abaxial, a epiderme apresen-ta-se unisseriada, com as paredes de contornoreto, revestida por cutícula lisa e espessada (Fig.3), que se acentua na nervura principal (Fig.4A). Os estômatos estão levemente abaixo donível das células epidérmicas (Fig. 3).

O mesofilo, em secção transversal (Fig. 3),apresenta-se do tipo dorsiventral, heterogêneo eassimétrico. O parênquima paliçádico é 2-3-se-riado, com células de paredes espessas, sendo aprimeira série, próxima à epiderme, formada decélulas mais longas que as demais. O parênqui-ma esponjoso é 5-6-seriado, com células isodia-métricas de poucos espaços intercelulares eidioblastos cristalíferos esparsos, contendo dru-sas. A presença de fibras esclerenquimáticas, en-tre as células dos parênquimas paliçádico e es-ponjoso, foi observada ao longo do mesofilo.

Figura 3. Strychnos atlantica Krukoff & Barneby(Agra et al. 1538). Secção transversal da lâmina foliarevidenciando mesofilo heterogêneo e assimétrico(400x). Legendas: cutícula (cut); epiderme, face ada-xial (ead); parênquima paliçádico 2-3-seriado (pp); fi-bras esclerenquimáticas (fe); parênquima esponjoso5-6-seriado (pe); idioblasto cristalífero com drusa(icd); epiderme, face abaxial (eab); estômatos (est).

Figura 4. Strychnos atlantica Krukoff & Barneby(Agra et al. 1538). Secção transversal (400x). A. lâmi-na no nível da nervura mediana, porção mediana,evidenciando um único feixe; B. pecíolo, porção me-diana, sete feixes. Legendas: cutícula (cut); epiderme,face adaxial (ead); parênquima (par); fibras escleren-quimáticas (fe); bainha perivascular (bp); floema ex-terno (fle); xilema (xil); floema interno (fli); epidermena face abaxial (eab); estômatos (est).

A nervura principal, em secção transversal(Fig. 4A), exibe contorno plano-convexo, comparênquima fundamental formado por célulasarredondadas ou elípticas, com paredes delga-das, deixando entre si espaços intercelulares. Avascularização é do tipo bicolateral, com umúnico feixe vascular, em forma de arco, guarne-cido por cordões de fibras esclerenquimáticas,que formam uma bainha perivascular de pare-des lignificadas ao longo de toda a lâmina.

O pecíolo, em secção transversal (Fig. 4B),exibe contorno côncavo-convexo apresentandoa epiderme unisseriada, com células menoresque as da epiderme da lâmina. As paredes peri-clinais externas exibem contorno convexo, re-vestidas por uma cutícula delgada. O córtex épreenchido pelo parênquima fundamental, comfibras esclerenquimáticas perivasculares, semel-hantes às da nervura principal, mas distribuídasaleatoriamente, principalmente próximo à epi-derme. A vascularização é do tipo bicolateral,formada por sete feixes vasculares, em forma dearco, sendo os laterais mais acentuados que oscentrais.

Page 5: (Loganiaceae) do Nordeste do Brasil

360

BASÍLIO I.J.L.D., NURIT K. & AGRA M. de F.

Materiais examinadosBRASIL: Paraíba: Cabedelo, Mata de Álvaro Jorge,

12 de Jul. 1952, L. P. Xavier s/n (JPB 1777); Santa Ri-ta, aceiro da mata, 11 de Fev. 1992, M.F. Agra et al.1538 (JPB 19.509); id., Aceiro da mata, 07 de Dez.1992, M. F. Agra et al. 1501 (JPB 19.235); Santa Rita,Lagoa do Paturi, 16 de Jun. 2001, M. F. Agra et al. s/n(JPB 5604). Pernambuco: Rio Formoso, Praia de MuroAlto, 06/II/1970, fl. fr., Andrade-Lima 70-5718 (IPA).

Constituintes químicosAlcalóides indólicos: normacusina-B 15, longi-

caudatina e bisnordihydrotoxiferina 12, isoladosda raiz.

Atividades biológicasNormacusina-B apresentou atividades hipo-

tensiva e espasmolítica 15.

2. Strychnos parvifolia A. DC., Prodr. 9: 16.1845 (Fig. 5).

Sinônimos: S. brasiliensis var. minor Benth.,J. Linn. Soc., Bot. 1: 107. 1856; S. brasiliensis var.rigida Benth., J. Linn. Soc., Bot. 1: 107. 1856; S.concinna Gilg, Bot. Jahrb., Syst 25 (Beibl. 60):39. 1898; S. martii Progel, Fl. Bras 6(1): 279, t.77, f. 2. 1868; S. martii var. obtusa Progel, Fl.Bras. 6(1): 279. 1868; S. parvifolia var. acutifoliaHassl., Add. Pl. Hassler 8. 1917; S. parvifolia var.rupestris Hassl., Add. Pl. Hassler 8. 1917; S. ur-baniana Gilg, Bot. Jahrb. Syst 25 (60): 38. 1898.

Descrição morfológicaArbusto escandente; ramos cilíndricos, divari-

cados, estriados, armados com espinhos axila-res, aciculares, 1,5-2,5 cm; estípulas nos ramosjovens, lineares, 0,2-0,3 cm, decíduas nos ramosadultos; gavinhas com cerca de 1,5 cm, espirala-das no ápice. Folhas opostas; pecíolo 0,5-1,0cm, côncavo-convexo; lâmina lanceolada a elíp-tica, 4,0-14,0 x 2,7-4,0 cm, cartácea a coriácea,cuneada na base, aguda no ápice, trinérvea, pi-losa ao longo da venação, tricomas simples,pluricelulares. Inflorescências em cimeiras termi-nais, laxas; pedúnculos 0,2-0,4 cm. Flores-20-40;pedicelos 0,9-1,0 mm; cálice tubuloso, 1,9-2,5mm, sépalas soldadas até 1/2, lobos triangula-res, pubescentes internamente; corola campanu-lada, 2,5-3,0 mm, soldada no 1/4 basal, amarelo-pálida, vilosa na parte mediana interna, lacínioslanceolados. Estames-5 exsertos; filetes cilíndri-cos, cerca de 1,0 mm; anteras elípticas, 0,5-0,6mm. Ovário globoso, cerca de 1,0 mm; estiletefiliforme, 0,9-1,0 mm; estigma capitado. Bagaglobosa, 2,0 cm, epicarpo liso, brilhante; semen-tes 1-3, sub-orbiculares, 1,5 x 1,2 cm, testa crus-tácea.

Descrição anatômicaEm vista frontal (Fig. 6A), a epiderme de S.

parvifolia, na face adaxial, apresenta as paredescelulares anticlinais poligonais, retas e sinuosas,moderadamente espessas, com pontoações, comquatro a seis vértices, e tricomas simples, unice-lulares e pluricelulares, unisseriados, circunda-dos por oito células epidérmicas. Na face aba-xial (Fig. 6B), apresenta células com paredes an-ticlinais sinuosas a ondeadas, moderadamenteespessas, com pontoações mais acentuadas quena face adaxial; estômatos do tipo paracítico; etricomas simples, unicelulares, e glandulares,circundados por sete células epidérmicas.

Em secção transversal, a epiderme apresenta-se unisseriada, na face adaxial, com as paredespericlinais externas espessadas e com contornolevemente convexo; as paredes anticlinais sãoirregulares e espessas; as paredes periclinais in-ternas são côncavas e espessas. Sobre a epider-me deposita-se uma cutícula lisa e espessa, quese acentua na nervura principal (Fig. 7A). A faceabaxial apresenta-se unisseriada, com estômatossituados no nível das demais células epidérmi-cas, e revestida por cutícula lisa e espessa, quese apresenta mais delgada na nervura principal.

O mesofilo é do tipo dorsiventral, em secçãotransversal, heterogêneo e assimétrico: o parên-quima paliçádico é 3-seriado, com células de

Figura 5. Strychnos parvifolia A. DC. (Agra, M.F.425). A. Ramo com espinhos; B. Detalhe do lobo dacorola e estames; C. Detalhe da estípula; D. Tricomasimples, bicelular.

Page 6: (Loganiaceae) do Nordeste do Brasil

361

acta farmacéutica bonaerense - vol. 24 n° 3 - año 2005

paredes espessas; o parênquima esponjoso é 3-4-seriado, com células de formatos irregulares,que condiciona a formação de espaços interce-lulares de dimensões variadas (Fig. 7A).

A nervura principal, em secção transversal(Fig. 7A), exibe contorno côncavo-convexo,com o parênquima fundamental constituído porcélulas arredondadas ou elípticas, com paredesespessadas, e espaços intercelulares regulares.Idioblastos cristalíferos contendo drusas ocor-rem esparsamente (Fig. 7). A vascularização édo tipo bicolateral, com três feixes na base (Fig.7B), que se fundem desde o 1/3 médio até a re-gião apical em um feixe único maior (Fig. 7A).Estes feixes são em forma de arcos e encon-tram-se guarnecidos por cordões de fibras escle-renquimáticas, formando uma bainha perivascu-lar de paredes lignificadas (Fig. 7).

O pecíolo, em secção transversal (Fig. 7C),exibe contorno côncavo-convexo, irregularmen-te ondeado. A epiderme é unisseriada, seme-lhante a da lâmina foliar; as paredes periclinaisexternas exibem contorno convexo, acentuado,

Figura 6. Strychnos parvifolia A. DC. (Agra, M.F.425). Secção paradérmica da lâmina foliar (400x). A.epiderme, face adaxial; B. face abaxial. Legendas:epiderme com as paredes poligonais sinuosas (pps) eretas (ppr), moderadamente espessas; tricomas sim-ples, unicelulares (tri); epiderme com paredes poli-gonais sinuosas (pps) e paredes ondeadas (po), mo-deradamente espessas; estômatos (est); tricomas sim-ples, unicelulares (tri).

Figura 7. Strychnos parvifolia A. DC. (Agra, M.F.425). Secção transversal (400x). A. lâmina no nível danervura principal, porção mediana, evidenciando umúnico feixe; B. porção basal da nervura, três feixes;C. pecíolo, porção mediana, sete feixes. Legendas:cutícula (cut); parênquima (par); idioblasto cristalífe-ro com drusa (icd); bainha perivascular (bp); floemaexterno (fle); xilema (xil); floema interno (fli); trico-mas simples, unicelulares (tri).

revestidas por cutícula espessa. O córtex é pre-enchido pelo parênquima fundamental, comidioblastos cristalíferos, esparsos, e fibras escle-renquimáticas perivasculares, seme-lhante às danervura mediana. A vascularização é do tipo bi-colateral, formada por sete feixes, sendo os cen-trais em forma de arco e os laterais circulares.

Materiais examinadosBRASIL. Paraíba: Santa Rita, 3 de out. 1984, M.F.

Agra 425 (JPB 6047); id. Tibirizinho. Usina São João,março 1992, M. F. Agra et al. 1807 (JPB 19.433); San-ta Rita, Mata dos Reis, 16 de Jun. 2001, M.F. Agra etal. s/n (JPB 5603). Pernambuco: Recife, Brejo de Ma-cacos, Sítio dos Soares, 4/X/1949, fl.fr., Lima 49-332(IPA); Camaragibe, Engenho Tinguí, 12/IV/1949, fl.fr.,Andrade-Lima 49-183 (IPA); Tapera, São Bento,IV/1927, fl., Pickel s/n (IPA).

Constituintes químicosAlcalóide indólico: akagerina, isolado da cas-

ca da raiz 30.

Page 7: (Loganiaceae) do Nordeste do Brasil

362

BASÍLIO I.J.L.D., NURIT K. & AGRA M. de F.

Atividades biológicasOs extratos etanólico e aquoso apresentaram

fraca atividade moluscicida 31.

3. Strychnos trinervis (Vell.) Mart., Syst. Mat.Med. Bras. 121. 1843 (Fig. 8)

Sinônimos: Gardenia trinervis Vell., Fl. Flu-min. 102. 1825; S. blumenaviensis Gilg., Bot.Jahrb. Syst. 25(60): 36. 1898; S. gomesiana Ca-sar., Nov. Stirp. Bras. 14. 1842; S. triplinerviaMart., Flora 24( 2): 83. 1841.

Descrição morfológicaArbusto escandente, até 4,0 m altura; ramos

cilíndricos, estriados, inermes; gavinhas 2,0-3,0cm, espiraladas no ápice. Folhas opostas; pecío-lo plano-convexo, 0,4-0,6 cm; lâmina elíptica aoval-elíptica, 3,0-12,0 x 1,2-5,0 cm, subcoriácea,trinérvea, base cuneada a atenuada, ápice agu-do, pilosa ao longo da venação, tricomas sim-ples, unicelulares e pluricelulares. Inflorescên-cias em cimeiras terminais, congestas; pedúncu-lo 1,0-1,5 cm. Flores 12-40; pedicelo com cercade 3,0 mm; cálice tubuloso, 3,0-3,5 mm, sépalassoldadas até o 1/2, lobos linear-lanceolados, pi-losos; corola tubulosa, amarela a esbranquiçada,14-16 mm, externamente serícea a hirsuta, trico-mas na fauce da corola, pétalas soldadas atépróximo do 1/4 apical, lacínios agudos a trian-gulares. Estames 5, exsertos; filetes cilíndricos,cerca de 0,4 mm; anteras elípticas, com cerca de1,0 mm; ovário ovóide, cerca de 1,0 mm; estilete

Figura 8. Strychnos trinervis (Vell) Mart. (Moura, O. T.s/n, JPB 17.729). A. Ramo frutificado; B. Cálice isola-do; C. Estípula isolada; D. Corola; E. Tricoma sim-ples, pluricelular.

Figura 9. Strychnos trinervis (Vell.) Mart. (Moura, O.T.s/n, JPB 17.729). Secção paradérmica da lâmina foliar(400x). A. face adaxial; B. face abaxial. Legendas: epi-derme com as paredes poligonais sinuosas, pouco es-pessadas (ppr); estômatos (est); tricoma simples (tri).

filiforme, 15-17 mm; estigma capitado. Baga glo-bosa, 3,5-4,5 cm, epicarpo liso, brilhante; se-mentes discóides, 2,0 x 1,8 cm, testa crustácea.

Descrição anatômicaEm vista frontal (Fig. 9A), a epiderme de S.

trinervis apresenta-se com células de paredesanticlinais poligonais, retas, pouco espessas,com pontoações evidentes, na face adaxial. Naface abaxial (Fig. 9B), apresenta células com pa-redes anticlinais poligonais, retas, pouco espes-sas, com cinco a sete vértices, com pontoaçõesmenos acentuadas que as da face adaxial; estô-matos do tipo paracítico; tricomas simples, uni-celulares, circundados por 7 a 8 células epidér-micas.

Em secção transversal, a epiderme apresenta-se unisseriada, com paredes periclinais e anticli-nais pouco espessas, de contornos irregulares,na face adaxial. Sobre a epiderme deposita-seuma cutícula espessa ligeiramente sinuosa, quepenetra radialmente nas paredes anticlinais (Fig.10), caráter menos acentuado na nervura princi-pal (Fig. 11A). Na face abaxial, a epiderme apre-senta-se unisseriada com as paredes de contor-nos irregulares, porém menos espessadas quena face adaxial, revestida por cutícula lisa, maisespessa que na face adaxial, e os estômatos lo-

Page 8: (Loganiaceae) do Nordeste do Brasil

363

acta farmacéutica bonaerense - vol. 24 n° 3 - año 2005

calizados no mesmo nível das células epidérmi-cas (Fig. 10).

O mesofilo, em secção transversal (Fig. 10),apresenta-se do tipo dorsiventral, heterogêneo eassimétrico, com o parênquima paliçádico 2-3-seriado, dependendo da secção observada, comcélulas menores onde há três estratos; o parên-quima esponjoso é 3-4-seriado, formado de cé-lulas de formatos irregulares, o que condicionaa formação de espaços intercelulares de tama-nhos variados.

A nervura principal, em secção transversal(Fig. 11), exibe contorno que varia de plano-convexo na porção apical e mediana (Fig. 11A)ao côncavo-convexo na porção basal (Fig. 11B).O parênquima fundamental é constituído porcélulas arredondadas ou elípticas, com paredesespessas, deixando entre si espaços intercelula-res de dimensões pouco variadas, com grandequantidade de idioblastos cristalíferos contendodrusas. A vascularização é do tipo bicolateral,com três feixes vasculares em forma de arco,observados desde a base até a porção medianada lâmina foliar (Fig. 11B), e um feixe único no1/4 apical (Fig. 11A). Estes feixes encontram-seguarnecidos por cordões de fibras esclerenqui-máticas, formando uma bainha perivascular deparedes lignificadas.

O pecíolo, em secção transversal (Fig. 11C),

exibe contorno plano-convexo, com a epidermesimilar à da lâmina foliar, tendo as paredes peri-clinais externas com contornos acentuadamenteconvexos, revestidos por cutícula espessa, quese estende radialmente às paredes anticlinais. Ocórtex é preenchido pelo parênquima funda-mental, com grande quantidade de idioblastoscristalíferos, e fibras esclerenquimáticas perivas-culares, semelhante às da nervura mediana. Avascularização é do tipo bicolateral, formadapor cinco feixes, sendo os centrais em forma dearco e os laterais circulares.

Materiais examinadosBRASIL. Paraíba: João Pessoa, 21 de Maio 1991,

O. T. de Moura s/n (JPB 17.729). Pernambuco: Recife,Brejo de Macacos, 25/I/1952, fl., Ducke 2308 (IPA);Quipapá, Usina Água Branca, 12/VII/1950, fr., Andra-de-Lima 50-583 (IPA); ibid., Engenho Brejinho,15/IX/1972, fl. fr., Andrade-Lima 72-7006 (IPA); Pau-lista, chã-de-cruz, 07/XI/1983, fl., Alda Chiappeta 432(IPA); Abreu e Lima, chã-de-cruz, 25/X/1983, fl.,Chiappeta s/n (IPA).

Figura 10. Strychnos trinervis (Vell.) Mart. (Moura,O.T. s/n, JPB 17.729). Secção transversal da lâminafoliar evidenciando mesofilo heterogêneo e assimétri-co (400x). Legendas: cutícula (cut); epiderme adaxial(ead); parênquima paliçádico 3-seriado (pp); drusa(d); fibras esclerenquimáticas (fe); parênquima espon-joso (pe); epiderme abaxial (eab).

Figura 11. Strychnos trinervis (Vell.) Mart. (Moura,O.T. s/n, JPB 17.729). Secção transversal (400x). A. lâ-mina no nível da nervura principal, porção mediana,evidenciando um único feixe; B. porção basal da ner-vura, três feixes; C. pecíolo, porção mediana, sete fei-xes. Legendas: cutícula (cut); parênquima (par); idio-blasto cristalífero com drusa (icd); bainha perivascular(bp); floema externo (fle); xilema (xil); floema interno(fli); tricomas simples, unicelulares (tri).

Page 9: (Loganiaceae) do Nordeste do Brasil

364

BASÍLIO I.J.L.D., NURIT K. & AGRA M. de F.

Constituíntes químicosAlcalóides indólicos: lingicaudatina, norma-

cusina B e trinervina, isolados da raiz 11; bisnor-dihidrotoxiferina 8, dihidroindol, ervadiana 19 elongicaudatina, isolados da casca da raiz 13. Al-calóide monoterpênico: cantleyina, isolado dacasca da raiz 17.

Atividades biológicasNormacusina-B apresentou atividade hipo-

tensora 15. Cantleyina apresentou-se espasmolíti-ca 15,17. Quatro atividades foram registradas parabisnordihydrotoxiferina: antidiarréica 10, antimi-crobiana, antitumoral 8 e antipirética 19. O extra-to bruto total e a fração alcaloidal apresentaramatividade antipirética, e apenas a fração alcaloi-dal atividade analgésica e sedativa 19. A ativida-de citotóxica também foi observada em célulascultivadas 18.

DISCUSSÃO E CONCLUSÕESCom relação à morfologia, Strychnos atlanti-

ca, S. parvifolia e S. trinervis podem ser distintaspelo conjunto dos caracteres vegetativos, comoa forma e persistência das estípulas, gavinhas eespinhos, e reprodutivos, como inflorescênciase frutos, quando presentes.

Com relação à anatomia, as três espéciespossuem grande similaridade e compartilham osseguintes caracteres: folhas hipoestomáticas;estômatos do tipo paracítico; e o mesofilo dorsi-ventral, com parênquima paliçádico variável de2-3-seriado. Entretanto, o conjunto de caracteresformados pela epiderme, posição dos estômatosna epiderme, vascularização da nervura media-na e do pecíolo, são distintivos para as espéciesestudadas.

As epidermes de S. atlantica, S. parvifolia eS. trinervis apresentam graus de diferenciaçãoque são bastante significativos para o diagnósti-co destas espécies. S. atlantica e S. trinervisapresentam a epiderme com as paredes celula-res retas, sendo bastante espessadas em S.atlantica, e moderadamente espessadas em S.trinervis. Por outro lado, em S. parvifolia as cé-lulas da epiderme apresentam suas paredes va-riáveis, sendo retas a sinuosas na face adaxial,sinuosas a ondeadas na abaxial, e moderada-mente espessadas em ambas. A vascularizaçãoda folha foi um dos caracteres relevantes para aseparação das espécies estudadas, tanto na ner-vura da lâmina quanto no pecíolo. S. atlanticacaracterizou-se por ser a única a apresentar ape-nas um feixe vascular na nervura principal,compartilhando com S. parvifolia o mesmo nú-mero de feixes do pecíolo, um total de sete fei-

xes. A vascularização do pecíolo com cinco fei-xes foi característica de S. trinervis que apresen-tou três feixes da nervura principal, o mesmonúmero também presente em S. parvifolia.

Os dados obtidos, quando comparadosàqueles encontrados para Spigelia anthelmia 32,outra espécie da família Loganiaceae, tambémusada como medicinal, evidenciam essas dife-renças anatômicas, principalmente em relação àmorfologia da epiderme, com estômatos do tipoanisocítico, e do mesofilo, com o parênquimapaliçádico unisseriado.

A atividade antidiarréica registrada para abisnordihydrotoxiferina 10, substância isoladadas raízes de S. atlantica e S. trinervis, e as ati-vidades antipirética, analgésica e sedativa en-contradas em experimentos com extratos brutose frações alcaloidais de S. trinervis, provavel-mente estão relacionadas ao uso popular destasespécies.

Embora vários usos terapêuticos sejam referi-dos para as espécies estudadas, as informaçõessobre suas atividades biológicas e constituintesquímicos ainda são escassas, principalmente pa-ra S. atlantica e S. parvifolia, evidenciando anecessidade de estudos adicionais para estas es-pécies, especialmente para S. parvifolia, comapenas uma substância isolada 30 e uma ativida-de biológica registrada 31.

Agradecimentos. Ao CNPq e CAPES pelas bolsasconcedidas; Dr. Marcelo Sobral, Diretor do Laborató-rio de Tecnologia Farmacêutica, e Dr. José Maria Bar-bosa-Filho pelo apoio pessoal e institucional; Dra.E.O. Lima pelo livre acesso ao laboratório para a fo-tomicroscopia; George Sidney Baracho pelas ilus-trações; e Dulce G. Oliveira pelo apoio técnico. Estetrabalho teve o apoio financeiro do PRONEX/CNPq.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Stevens, P.F. (2001 onwards) Angiosperm phy-logeny website. Version 2 August 2001.http://www.mobot.org./MOBOT/research/Ap-web/.

2. Heywood, V. H. (1996) “Flowering - Plants ofthe World”. Batsford. London, pág. 335.

3. Krukoff, B.A. & R.C. Barneby (1969) Mem.New York Bot. Gard. 20(1): 1-93.

4. Goodman, L.S. & A.G. Gilman (1997) “As BasesFarmacológicas da Terapêutica”. 9° ed., Edito-ra Mc Graw Hill. Rio de Janeiro, pág. 1436.

5. Korolkovas, A. & J.H. Burckhalter (1998) “Quí-mica Farmacêutica”. Editora Guanabara Koo-gan. Rio de Janeiro, pág. 783.

6. Guyton, M.D.A.C. (1992) “Tratado de Fisiolo-gia Médica”. 8° ed., Editora Guanabara Koo-gan. Rio de Janeiro, pág. 863.

Page 10: (Loganiaceae) do Nordeste do Brasil

365

acta farmacéutica bonaerense - vol. 24 n° 3 - año 2005

7. Novelli, A. (1959) “Química Orgânica (Homo-cíclica - Aromática Heterocítica) Medicamen-tos Orgânicos”. 2ª ed. Buenos Aires, Arg. pág.659.

8. Melo, M.F.F., C.A.M. Santos, A.A. Chiappeta,J.F. Mello & R. Mukherjee (1987) J. Ethnophar-macol. 19: 319-25.

9. Melo, M. F. F., B.A. Silva, B. A. & R. Mukherjee(1994) Phytomedicine 1: 206.

10. Melo, M.F.F., G. Thomas & R. Mukherjee(1988) J. Pharm. Pharmacol. 40: 79-82.

11. Mukherjee, R., M.D.F.F. Melo, C.A.D.M. Santos,E. Guittet. & B.C. Das (1990) Heterocycles 31:1819-22.

12. Mukherjee, R., T.M.S. Silva, J.B.L. Guimaraes,E.D.J. Oliveira, P.A. Keifer & J. N. Shoolery(1997) Phytochem. Anal 8: 115-9.

13. Medeiros, C.L.C., G. Thomas & R. Mukherjee(1991) Phytother. Res. 5: 24-8.

14. Diniz, M., B.A. Silva & R. Mukherjee (1994)Phytomedicine 1: 205-7.

15. Oliveira, E.J., I.A. Medeiros & Mukherjee, R.(1996) Phytomedicine 3: 45-9.

16. Silva, B.A., A.P.F. Araújo, R. Mukherjee & A.A.Chiappeta (1993) Phytother. Res. 7: 419.

17. Silva, T.M.S., B.A. Silva & R. Mukherjee (1999)Phytomedicine 6: 169-76.

18. Nascimento, S.C., J. F. Mello & A.D.A. Chiap-peta (1985) Rev. Inst. Antibiot. Univ. Fed. Per-nambuco Recife 1: 19-26.

19. Santos, A.M.C. (1985) “Estudos Químicos dosAlcalóides Terciários de Strychnos trinervis(Vell.) Mart.”. Tese de Mestrado. LTF, UFPB,João Pessoa.

20. Forman, L. & D. Bridson (1989) “The Herba-rium Handbook”. Royal Botanic Gardens,Kew. Great Britanic, pág. 214.

21. Progel, A. (1860-1868) Loganiaceae, Fl. Bras.Vol. 6 (1): págs. 250-99.

22. Krukoff, B.A. & R.C. Barneby (1969) Mem.New York Bot. Gard. 20: 94-9.

23. Krukoff, B.A. (1972) Lloydia 35: 193-271.24. Krukoff, B.A. (1976) Phytologia 33: 305-22.25. Brummitt, R.K. & C.E. Powel (1992) “Authors

of Plant Names”. Royal Botanic Gardens, Kew,Great Britain, pág. 731.

26. Metcalfe, C.R. & L. Chalk (1979) “Anatomy ofthe Dicotyledons”. 2ª ed. Oxford UniversityPress. Vol. 1, pág. 275.

27. Fahn, A. (1974) “Plant Anatomy”. 2ª ed. Perga-mon Press. Great Britain, pág.180.

28. Peckolt, W. (1916) “Contribuição ao estudodas falsas quinas medicinais da América doSul”. Faculdade de Medicina do Rio de Janei-ro, IBDF, Ministério da Agricultura, Rio de Ja-neiro.

29. Corrêa, M.P. (1931) “Dicionários das PlantasÚteis do Brasil”. Ministério da Agricultura. Riode Janeiro. Imprensa Nacional. Vol. 5, pág.707.

30. Marini-Bettolo, G.B., I. Messana, M. Nicoletti,M. Patamia & C. Galeffi (1980) J. Nat. Prod. 43:717-20.

31. Pinheiro, M. S. & M. Z. Rouquayrol (1974) Rev.Brasil Pesq. Med. Biol. 7: 389-94.

32. Basílio, I.J.L.D., K. Nurit, G.S. Baracho & M. F.Agra (2003) Rev. Nordest. Biol. 17: 11-22.