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UNIVERSIDADE PAULISTA ANA PAULA APOLONIO DA SILVA ESTUDO SOBRE A APLICABILIDADE DO TREINAMENTO DE HABILIDADES SOCIAIS NA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL DO DEPENDENTE QUÍMICO SÃO PAULO 2015

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Trabalho de Conclusão de Curso da aluna Ana Paula Apolônio da Silva para obtenção do título de especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental para Atuação em Múltiplas Necessidades Terapêuticas sob coordenação do Prof. Hewdy Lobo Ribeiro e orientação da Profa. Ana Carolina Schmidt de Oliveira.

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Page 1: Estudo sobre a Aplicabilidade do Treinamento de Habilidades Sociais na Terapia Cognitivo-Comportamental do Dependente Químico

UNIVERSIDADE PAULISTA

ANA PAULA APOLONIO DA SILVA

ESTUDO SOBRE A APLICABILIDADE DO TREINAMENTO DE

HABILIDADES SOCIAIS NA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

DO DEPENDENTE QUÍMICO

SÃO PAULO

2015

Page 2: Estudo sobre a Aplicabilidade do Treinamento de Habilidades Sociais na Terapia Cognitivo-Comportamental do Dependente Químico

ANA PAULA APOLONIO DA SILVA

ESTUDO SOBRE A APLICABILIDADE DO TREINAMENTO DE

HABILIDADES SOCIAIS NA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

DO DEPENDENTE QUÍMICO

Trabalho de conclusão de curso para obtenção do título de especialista em Terapia Cognitivo Comportamental para Múltiplas Necessidades Terapêuticas apresentado à Universidade Paulista - UNIP.

Orientadores:

Profa. Ana Carolina S. de Oliveira

Prof. Hewdy L. Ribeiro

SÃO PAULO

2015

Page 3: Estudo sobre a Aplicabilidade do Treinamento de Habilidades Sociais na Terapia Cognitivo-Comportamental do Dependente Químico

FICHA CATALOGRÁFICA

silva, Ana Paula Apolonio da Estudo sobre a aplicabilidade do treinamento de habilidades sociais na terapia cognitivo-comportamental do dependente químico /Ana Paula Apolonio da silva – São Paulo, 2015. 24 f.

Trabalho de conclusão de curso (especialização) – apresentado à pós-graduação lato sensu da Universidade Paulista, São Paulo, 2015.

Área de concentração: Terapia Cognitivo Comportamental.

“Orientador: Prof. Ana Carolina Schmidt de Oliveira”

“Coorientador: Prof Hewdy L. Ribeiro”

1. Treinamento de habilidades sociais. 2. Dependência química. 3. Terapia cognitvo-comportamental. Universidade Paulista - UNIP. II. Título. III. silva, Ana Paula Apolonio da.

Page 4: Estudo sobre a Aplicabilidade do Treinamento de Habilidades Sociais na Terapia Cognitivo-Comportamental do Dependente Químico

ANA PAULA APOLONIO DA SILVA

ESTUDO SOBRE A APLICABILIDADE DO TREINAMENTO DE

HABILIDADES SOCIAIS NA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

DO DEPENDENTE QUIMICO

Trabalho de conclusão de curso para obtenção do título de especialista em Terapia Cognitivo Comportamental para Múltiplas Necessidades Terapêuticas apresentado à Universidade Paulista - UNIP.

Orientadores:

Profa. Ana Carolina S. de Oliveira

Prof. Hewdy L. Ribeiro

Aprovado em:

BANCA EXAMINADORA

_______________________/__/___

Prof. Hewdy Lobo Ribeiro

Universidade Paulista – UNIP

_______________________/__/___

Profa. Ana Carolina S. Oliveira

Universidade Paulista – UNIP

Page 5: Estudo sobre a Aplicabilidade do Treinamento de Habilidades Sociais na Terapia Cognitivo-Comportamental do Dependente Químico

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por me proporcionar mais esta conquista.

Agradeço meus pais, pelo apoio, colaboração e o amor incondicional de

sempre.Obrigada pela formação recebida, pelos valores e todos os

ensinamentos.

Meu filho Lucas, por ter me dado mais alegria e sentido na vida.

E aos professores Ana Carolina S. de Oliveira e Hewdy L. Ribeiro, pela

dedicação, respeito e todas as orientações que foram dadas no período desta

formação.

Page 6: Estudo sobre a Aplicabilidade do Treinamento de Habilidades Sociais na Terapia Cognitivo-Comportamental do Dependente Químico

RESUMO

O treinamento de habilidades sociais, no modelo de tratamento da Terapia

Cognitivo-Comportamental, tem como objetivo fazer com que a pessoa lide, de

modo mais eficaz, com situações que geram grande desconforto e

estresse.Compreende-se que constantemente precisamos apreender e treinar

nossas habilidades, entretanto, pessoas que apresentam um baixo repertório

de habilidades sociais demonstram dificuldades de enfrentar situações e de

serem assertivas. Muitas vezes, essas pessoas buscam, no uso de substância

química, uma forma de se tornarem mais sociáveis e com um poder maior de

interação social. Assim, estes comportamentos, podem apresentar prejuízos

significativos na vida dessas pessoas. O presente estudo propõe uma revisão

bibliográfica sobrea aplicabilidade do Treinamento de Habilidades Sociais na

Terapia Cognitivo-Comportamental na dependência química, a partir da

compreensão das dificuldades das interações social, o caminho do tratamento

e a apresentação de algumas das técnicas mais utilizadas no THS.

.

Palavras Chaves: Treinamento de Habilidades Sociais, dependência química,

Terapia Cognitvo-Comportamental.

Page 7: Estudo sobre a Aplicabilidade do Treinamento de Habilidades Sociais na Terapia Cognitivo-Comportamental do Dependente Químico

ABSTRACT

The social skills training, on the model of treatment Cognitive Behavioral

Therapy, aims to make the person lide, more effectively, with situations that

generate great discomfort and stress. It is understood that constantly need

apprehend and train our abilities, however, people who have a low repertoire of

social skills demonstrate difficulties to face situations and to be assertive. Many

times, these people are looking for, the use of chemical substance, a way to

become more sociable and with a greater power of social interaction. Thus,

these behaviors, can present significant losses in the lives of these people. The

present study proposes a review of the literature on the applicability of the

social skills training in Therapy Cognitive Behavioral Therapy in chemical

dependence, from the understanding of the difficulties of social interactions, the

way of the treatment and the presentation of some of the techniques more used

in social skills training.

Key words: Social Skills training, chemical dependence, cognitive behavioral

therapy

Page 8: Estudo sobre a Aplicabilidade do Treinamento de Habilidades Sociais na Terapia Cognitivo-Comportamental do Dependente Químico

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...............................................................................................10

2. OBJETIVO.....................................................................................................12

3. METODOLOGIA........................................................................................... 13

4.RESULTADOSE DISCUSSÃO.......................................................................14

4.1 Compreendendo o Treinamento de Habilidades Sociais na TCC

...........................................................................................................................14

4.2 Treinamentos de Habilidades Sociais na TCC x Dependência

Química..............................................................................................................15

4.3 Treinamentos de Habilidades Sociais e o tratamento dos familiares do

dependente químico..........................................................................................18

4.4 Algumas das técnicas utilizadas no Treinamento de Habilidades

Sociais...............................................................................................................19

5. CONCLUSÃO................................................................................................22

6. REFERÊNCIAS.............................................................................................23

Page 9: Estudo sobre a Aplicabilidade do Treinamento de Habilidades Sociais na Terapia Cognitivo-Comportamental do Dependente Químico

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

TCC - Terapia Cognitivo-Comportamental

THS – Treinamento de Habilidades Sociais

Page 10: Estudo sobre a Aplicabilidade do Treinamento de Habilidades Sociais na Terapia Cognitivo-Comportamental do Dependente Químico

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1. INTRODUÇÃO

A terapia cognitiva, desenvolvida por Aaron T. Beck, teve como

premissa, realizar o tratamento de problemas atuais. Como uma psicoterapia

breve, estruturada e orientada ao presente, foi direcionada a modificar

pensamentos e comportamentos disfuncionais (BECK, 2007).

A Terapia Cognitivo-Comportamental, conhecida como TCC, é uma

abordagem padronizada, focada no aqui e agora. O tratamento é estruturado,

diretivo e com prazo definido.

O profissional da TCC tem como o principal objetivo ajudar o cliente a

modificar comportamentos inadequados e desenvolver estratégias para que se

tenha comportamentos sociais mais assertivos.

Dentro de um processo terapêutico, o treinamento de Habilidades

Sociais (THS), passa a ser uma ferramenta fundamental, com significativo

papel no tratamento.

O campo do Treinamento de Habilidades Sociais, originou-se na

Inglaterra, nos anos 60, tendo um grande aumento no número de publicações

nas décadas de 70 e 80, especialmente em países de língua inglesa como

Estudos Unidos e Canadá. Já no Brasil, o interesse de pesquisadores pela

área ocorreu a partir da década de 90 (DIAS, 2011).

O treino de habilidades consiste em compreender as dificuldades sociais

do indivíduo a fim de propor estratégias e intervenções do comportamento. É

uma ferramenta que o profissional da TCC utiliza para ajudar os clientes a

ampliar ou lapidar suas relações sociais.

Uma mudança de comportamento não ocorre de um momento para

outro, e o treino é de suma importância para o aprendizado.“A mudança

comportamental pode ser compreendida como um indicador de mudança

cognitiva” (ZANELATTO; LARANJEIRA, 2013, p. 99).

De acordo com Zanelatto e Laranjeira (2013), um processo interno e

oculto de cognição (nossos pensamentos), influencia nossas emoções e

comportamentos.

Estudos concluem que o THS apresenta resultados positivos no

processo de abstinências e é recomendado como importante componente do

tratamento de um dependente químico.

Page 11: Estudo sobre a Aplicabilidade do Treinamento de Habilidades Sociais na Terapia Cognitivo-Comportamental do Dependente Químico

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Beck (2007), abordou a terapia cognitiva no abuso de substância, como

um tratamento que enfatiza, identifica e testa, os pensamentos e as imagens

sobre a utilização das drogas, modifica as crenças que aumentam o uso

dessas substâncias, auxilia no enfretamento de abstinências e fornecem a

prevenção de recaídas.

Assim, o treinamento de Habilidades Sociais, tem como propósito ajudar

o paciente a desenvolver comportamentos mais assertivos e adaptativos, o

auxiliando a se sentir mais corajoso e a saber lidar com situações diversas,

como por exemplo, as crises de abstinência.

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2. OBJETIVO

Este trabalho teve como objetivo analisar a aplicabilidade do

Treinamento de Habilidades Sociais, na Terapia Cognitivo-Comportamental do

dependente químico.

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3. METODOLOGIA

A metodologia deste trabalho foi uma ampla revisão bibliográfica, que

consistiu na análise de 8 artigos selecionados, através de meios eletrônicos,

como Scielo, Lilacs e Google Acadêmico com as palavras: “Habilidades

Sociais”, “Treinamento de Habilidades Sociais, Dependência Química” e

“Terapia Cognitivo-Comportamental”, além de 4 livros, 2 relacionados ao tema

e 2 livros auxiliares.

.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Compreendendo o Treinamento de Habilidades Sociais na TCC

O modelo de aprendizagem social é desenvolvido por meio de

experiências vivenciadas pelo individuo.

“Essas experiências são mediadas por processos cognitivos, como

crenças, percepções e pensamentos, e o desenvolvimento dessas habilidades

são apreendidas de forma particular de cada individuo”(ZANELATTO;

LARANJEIRA, 2013, p.173).

Segundo Cunha et al. (2007), a construção de um repertório socialmente

habilidoso pode ocorrer, sem treinamento formal, nas relações entre pais e

filhos ou entre pares na escola, entretanto, nesse processo, podem ocorrer

falhas de aprendizagem, ocasionando déficits relevantes no desenvolvimento

de habilidades sociais.

Comumente falhas ocorrem neste processo de aprendizagem,

ocasionando déficits relevantes em habilidades sociais. Há evidencias

crescentes de que déficits nestas habilidades estão correlacionados

com fraco desempenho acadêmico, delinquência, abuso de drogas,

crises conjugais e desordensemocionais variadas, como transtornos

de ansiedade.(Del Prette& Del Prette, 2001a, 2002a, 2003b; Marlatt,

1993apud MURTA, 2005 p.283)

Para Del Prette e Del Prette (2001 apud FREITAS et al. 2011) dois

conceitos fundamentam o THS: os de habilidades sociais e competência social.

O primeiro, segundo os autores, tem um caráter mais descritivo. Este refere-se

às classes de comportamentos sociais presentes no repertório de vida do

indivíduo que, se emitidos, contribuem para um desempenho socialmente

competente. O segundo, a competência social, em seu caráter avaliativo,

consiste na capacidade do indivíduo articular sentimentos, pensamentos e

comportamentos, em função de objetivos pessoais e de demandas situacionais

e culturais, que podem trazer consequências favoráveis a ele próprio e para

sua relação com os outros.

Pinto e Barham (2014 p.528), explica e simplifica as habilidades:

Conceitualmente, as habilidades sociais são competências que

facilitam a iniciação e manutenção de relacionamentos sociais

positivos, contribuem para a aceitação pelos pares e resultam em

ajustamento social satisfatório no ambiente.

Page 15: Estudo sobre a Aplicabilidade do Treinamento de Habilidades Sociais na Terapia Cognitivo-Comportamental do Dependente Químico

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Estudos nos mostram que para se desenvolver relacionamentos bem

sucedidos, precisa-se saber como e quando usar as estratégias de um

repertório de habilidades sociais, não desconsiderando as particularidades de

cada indivíduo, como questões culturais, religiosas, regionais entre outras.

No que tange os aspectos culturais, os desempenhos socialmente

aprovados e valorizados podem variar bastante. Segundo Gaffney et al. (1998

apud CUNHA et al., 2007, p. 32), os comportamentos sociais estão situados

historicamente de acordo com as variações de cada cultura e suas subculturas.

Características sócio-demográficas específicas, como gênero e idade têm sido

consideradas, pois as diferenças de competência social de homens e mulheres

ocorrem desde a infância.

Zanelatto e Laranjeira (2013), reúnem três aspectos ao falar de

habilidades sociais: Comportamental (compreendida como característica do

comportamento, e não da pessoa), aspecto pessoal (relativa às variáveis

cognitivas) e o aspecto situacional ou ambiental (contexto cultural do indivíduo).

Assim, o THS, com o objetivo de ensinar novas habilidades intra e

interpessoais, reúne um conjunto de técnicas baseada na Teoria da

Aprendizagem Social (ZANELATTO; LARANJEIRA, 2013).

Pensando no tratamento do dependente químico, Silva e Serra (2004),

consideram que as principais dificuldades de habilidades identificadas são as

seguintes situações: 1)sentimentos negativos; 2) assertividade; 3) fazer

críticas; 4)receber críticas; 5) comunicação; 6) recusar droga; 7) dizer não; 8)

socialização; 9)frustrações; 10) adiar prazeres; 11) reconhecer eenfrentar

situações de risco; 12) fissura; 13) realizar um planejamento.

4.2 Treinamentos de Habilidades Sociais na TCC x Dependência Química

O presente trabalho analisou a literatura relacionada à importância e o

papel do THS no contexto do tratamento dos dependentes químicos.

Zanelatto e Laranjeira (2013, p.133), explica a dependência química, no

modelo cognitivo de Aron Beck:

“O problema central de um usuário de substâncias psicoativas é um

conjunto de crenças relacionadas ao uso, derivadas e diretamente

relacionadas com suas crenças centrais básicas a respeito de si

mesmo, do mundo e do outro. As crenças centrais, construídas por

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meio da historia de vida precoce e experiências passadas, tais como

“Sou desamparado, “Sou infeliz”, “Não sou querido” ou „Sou

vulnerável”, podem ser ativadas diante da exposição a substâncias

psicoativas, desenvolvendo um segundo grupo de crenças

relacionadas ao uso – “Só consigo lidar com o desconforto psíquico

se usar”. “Usando drogas, consigo me incluir”, “Se usar, vou ser

querido pelo amigos. De acordo com o modelo de Beck, o uso de

substâncias é uma estratégia compensatório que procura anular as

crenças centrais disfuncionais e as emoções ruins que as

acompanham.”

As crenças centrais se iniciam na infância, desde os primeiros estágios

de desenvolvimento do indivíduo, Beck (2007), explica que podemos ter

crenças centrais positivas e negativas e o terapeuta cognitivo, atua nas crenças

disfuncionais. Assim, identificada à crença central negativa, o terapeuta projeta

uma nova crença mais funcional.

As crenças disfuncionais e os pensamentos automáticos, podem

desencadear o craving, (também conhecido como “fissuras”), tendo como

consequência, comportamentos de busca e uso de substância. O craving é

entendido, pelo modelo cognitivo, como a consequência de crenças

antecipatórias relacionadas ao uso da substancia (ZANELATTO; LARANJEIRA,

2013).

De acordo Araújo et al. (2008), o modelo comportamental foi à primeira

fundamentação que explica o uso de drogas como decorrência da expectativa

do efeito de prazer, apreendido através de experiências anteriores, sendo que

o craving, pode ser entendido como respostas condicionadas pela

aprendizagem associado entre determinado estímulo e o prazer que

acompanha a resposta de se usar droga.

Algumas contribuições nessa área dos transtornos associados ao uso de

substâncias estão sendo desenvolvidas e pesquisas tem apresentado a relação

entre a dependência de substâncias psicoativas e a existência de déficits nas

habilidades sociais dos indivíduos usuários ou abusadores de drogas. Também

mostram que fatores sociais, associados ao uso de substâncias psicoativas

(como por exemplo, o álcool e a maconha), estão estreitamente relacionados

no caso de adolescentes que apresentam habilidades interpessoais

empobrecidas (WAGNER; OLIVEIRA, 2007).

Page 17: Estudo sobre a Aplicabilidade do Treinamento de Habilidades Sociais na Terapia Cognitivo-Comportamental do Dependente Químico

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Assim, Botvin, Malgady, Griffin, Scheier & Epstein (1998 apud

WAGNER; OLIVEIRA, 2007) conclui que “muitos indivíduos acabam buscando

no uso de drogas a forma de se tornarem mais sociáveis e com melhor

capacidade de interação com seus pares”. Cada vez mais se identifica

profissionais que apresentam interesse por estratégias de tratamento ao uso de

substâncias químicas, sendo que, pesquisas apontam que um dos recursos

mais atualizados aborda o desenvolvimento de habilidades sociais. Diversos

artigos encontrados mostram a influência positiva do desenvolvimento das

habilidades sociais como fator preventivo ao uso de substâncias.

Aumenta o número de estudos no Brasil e em outros países sobre as

intervenções baseadas no treino de habilidades, evidenciado que

esse modelo apresenta desfeches positivos para a manutenção da

abstinência e em indivíduos dependentes de álcool e outras

substâncias, servindo, ainda, como ferramenta para a prevenção do

uso de substâncias entre jovens. (ZANELATTO; LARANJEIRA, 2013,

p. 176)

Dentre alguns estudos encontrados, como por exemplo, os dos

dependentes de álcool, mostraram que esses consumidores tendem a

apresentar déficits nas habilidades sociais.

Cunha et al. (2007) apresentou os déficits em habilidades sociais em

uma amostra de dependentes de álcool, mostrando, com maior evidência,

déficits nos fatores de auto-afirmação, comunicação e de desenvoltura social,

sugerindo assim que o álcool atuaria como uma estratégia de enfrentamento

em situações ansiogênicas, visto que os participantes desse estudo

concordavam que o álcool facilitava suas interações sociais, deixava-os mais

confiantes, desinibidos e favoreciam suas relações interpessoais.

4.3 Treinamentos de Habilidades Sociais e o tratamento dos

familiares do dependente químico

Quando pensamos no tratamento de um dependente químico, na

Terapia Cognitivo-Comportamental, entende-se ser de extrema importância

atuar junto aos familiares, ou seja, que a família seja tratada paralelamente.

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Zanelatto e Laranjeira (2013 p. 555) abordam a importância da relação

parental na Terapia Cognitivo-Comportamental do depende químico, e explica:

Do ponto de vista cognitivo, a dependência de substâncias é

concebida como um comportamento apreendido passível possível de

modificação com a participação ativa do dependente e da família no

processo. A TCC visa o resgate de recursos pessoais para lidar com

o processo de mudança de padrões de comportamentos familiares

antigos, auxiliando a modificação de distorções cognitivas e crenças

disfuncionais e possibilitando lidar de maneira mais eficiente com o

dependente químico. A abordagem cognitiva não se fixa em questões

mais superficiais, mas tenta efetuar mudanças na família enfatizando

o momento presente e investigando o núcleo do problema.

Segundo Jungerman e Zanelatto (2007), vários trabalhos na literatura

abordam a dependência de drogas como um fenômeno que afeta não somente

o usuário, mas também seu sistema familiar, mostrando a importância do

estudo do funcionamento relacional dessas famílias.

Estudos apontam que muitos profissionais não acreditam na eficiência

do tratamento isoladamente. O principal objetivo do tratamento familiar na TCC

é explorar os comportamentos e crenças que estão afetando, direta ou

indiretamente o dependente químico.

De acordo com Jungerman e Zanelatto (2007, p. 253):

O que se observa é que, muitas vezes existe uma relação pouco

saudável entre o dependente que faz uso de determinada substância

– e por isto causa prejuízo a si e a outrem – e a família que, querendo

resgatá-lo, mantém e agrava o quadro em virtude da própria conduta.

É uma relação parasitária, em que um dos indivíduos se alimenta dos

esforços emocionais do outro. Muitas vezes, esta relação prolonga-se

por anos, a ponto de ser considerada normal por aqueles que dela

participam.

Pesquisas também mostram que os familiares dos dependentes

químicos apresentam poucas habilidades na interação com seus filhos,

principalmente no que diz respeito á comunicação. Existem muitas dificuldades

relacionadas à falta de assertividade e, portanto, é comum na família, não

saber o que eles pensam, quais seus desejos e sentimentos. Assim, esses

déficits nas habilidades de comunicação dos familiares podem inclusive criar

uma chance de aumento de consumo de drogas ou desencadear o uso.

(JUNGERMAN; ZANELATTO, 2007).

Page 19: Estudo sobre a Aplicabilidade do Treinamento de Habilidades Sociais na Terapia Cognitivo-Comportamental do Dependente Químico

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No tratamento da TCC com o familiar do dependente, algumas práticas

são essenciais no Treinamento de Habilidades Sociais, como a comunicação:

fazer e receber elogios, críticas e falar sobre sentimentos.

É importante que tanto familiares quanto dependentes (modelando

seu comportamento naquele evidenciando pela família) falem sobre

seus sentimentos de forma positiva e assertiva. Muitas vezes os

sentimentos positivos não são externados e os sentimentos negativos

o são de forma exacerbada, prejudicando a relação e agravando o

quadro da dependência. É fundamental, portanto, manter um canal

aberto para a troca de sentimentos (JUNGERMAN; ZANELATTO,

2007, p. 329).

No que diz respeito ás críticas, o THS é extremamente funcional no

tratamento feito com os familiares. Sabe-se que comumente os familiares

fazerem críticas ao comportamento destrutivo dos filhos e não apresentam

habilidades ao se comunicarem com eles. Entretanto, acabam por contribuírem

negativamente, e não os auxiliam a promover mudanças positivas.

“Quando criticamos sem objetivo claro, rotulamos as pessoas e estes

rótulos negativos, uma vez incorporados, influenciam negativamente a

avaliação que a pessoa faz de si mesma, rebaixando sua auto-estima”

(JUNGERMAN; ZANELATTO, 2007 p.334).

Assim, o objetivo principal do THS com a família do dependente químico

é, desenvolver habilidades mais construtivas, promovendo mais sensibilidade e

os auxiliando nas resoluções de problemas. Por fim, contribuir com uma

relação mais saudável no processo de tratamento do usuário.

4.4 Algumas das técnicas utilizadas no Treinamento de Habilidades Sociais

Murta (2005), refere em seu trabalho, as técnicas que segundo ela, são

mais comumente empregadas no THS, como o fornecimento de instruções,

ensaio comportamental, modelagem, feedback, tarefas de casa, reestruturação

cognitiva, solução de problemas e relaxamento.

No que tange o tratamento de dependente químico, Jungerman e

Zanelatto (2007), em sua obra voltada ao tratamento do usuário de maconha e

seus familiares, apontam as principais técnicas recomendas em seu manual

para terapeutas:

Page 20: Estudo sobre a Aplicabilidade do Treinamento de Habilidades Sociais na Terapia Cognitivo-Comportamental do Dependente Químico

20

Dar feedback -O objetivo do profissional é, a priori, Instruí-los,

mostrar ao paciente o grau de discrepância entre o comportamento

executado e aquele pretendido, apresentando qual seria a resposta

apropriada em situações especificas. O feedback pode ser dado por

meio de material escrito, gravações, anotações e discussões durante

as sessões.

Reforçamento – Pensando na teoria comportamental, compreende-

se que é uma das técnicas mais empiricamente estudada. O

terapeuta pode realizar reforçamento verbalmente, como por

exemplo, efetuando um elogio por gestos, mexendo a cabeça,

expressões faciais de aprovação, e podem também capacitar o

paciente a se auto-reforçarem, de modo que quando o

comportamento esperado aparecer, digam que façam algo

prazeroso para si mesmo.

Tarefa de Casa – Visto como um aspecto essencial na terapia, tem

como o principal objetivo criar oportunidades para mudanças

cognitiva e comportamental das questões que são trabalhadas

durante as sessões, melhorando aquilo que foi apreendido. Estudos

mostram que pacientes que fazem “lição de casa” tendem a ter um

progresso melhor na terapia.

Ensaio Comportamental – Entendida como uma das principais

estratégias do THS, o profissional pede para o paciente que

represente cenas, com o objetivo de dar ao paciente simulação da

vida real.

Fazer e Receber Elogios – O profissional utiliza o recurso como um

elemento importante no agir assertivamente. Funcional para o

dependente químico, mas de extrema importância no trabalho feito

com a família, pois comumente é percebido que não existe qualquer

reforço positivo para um comportamento que o dependente

apresente, tendendo sempre a predominar a visão negativa.

Falar e ouvir Sentimentos – O profissional discute a importância de

falar e ouvir sentimentos, objetivando melhorar as relações

interpessoais. Este exercício apresenta resultado tanto em grupo

como individualmente, podendo ser treinado durante a sessão e na

“lição de casa”.

Page 21: Estudo sobre a Aplicabilidade do Treinamento de Habilidades Sociais na Terapia Cognitivo-Comportamental do Dependente Químico

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Modelagem do Comportamento – entende-se que a aprendizagem

de um novo comportamento também pode ser feita a partir da

exposição do paciente a um modelo, no qual pratique ou demonstre

a habilidade que esta sendo treinada. Estudos mostram que os

pacientes apresentam melhoras quando o modelo tem alguma

semelhança com eles, seja na idade ou no sexo, e o comportamento

observado é passível de ser repetido pelo observador. Assim, a

técnica da modelação pode ser usada no momento em que o

paciente não sabe começar, de modo que o caminho é apresentado,

podendo assim ser “aprendido” por ele.

Page 22: Estudo sobre a Aplicabilidade do Treinamento de Habilidades Sociais na Terapia Cognitivo-Comportamental do Dependente Químico

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5. CONCLUSÃO

O presente trabalho abordou a aplicabilidade do Treinamento de

Habilidades Sociais na Terapia Cognitivo-Comportamental dos dependentes

químicos e sua eficácia. Estudos apresentaram fortes evidências de que

dependentes químicos podem apresentar déficits nas habilidades sociais.

Através das pesquisas, identificou-se que o THS busca identificar

situações reais e emocionais e, através de técnicas, explorar e ajudar cada

situação envolvida no comportamento do dependente.

Também se pode observar a importância da intervenção familiar do

dependente químico. Neste caso, a abordagem psicoeducacional tem como

objetivo ensinar a família lidar de forma mais efetiva ás dificuldades

relacionadas ao uso de substâncias psicoativas.

Obviamente que neste trabalho não foram esgotadas todas as técnicas

do THS que podem ser exploradas e exercitadas num tratamento da Terapia

Cognitivo-Comportamental, todavia, é importante ressaltar que cada indivíduo

possui suas particularidades e o trabalho não é uma regra para todos.

Entretanto, dentre as técnicas mais comumente utilizadas no THS, da

Psicoterapia Cognitivo-Comportamental de um dependente químico, pode-se

concluir que o principal objetivo do tratamento é auxiliar o paciente a

desenvolver habilidades sociais mais assertivas, encontrando a melhor

estratégia para si. Desenvolver formas de enfrentamento de situações, o

auxiliando na prevenção de recaídas, craving, crises de abstinência e nas suas

relações parentais, e por fim, ajudar o paciente a aprimorar suas habilidades

relacionadas ao manejo de raiva, a dar e receber elogios e críticas, e a

resolução de problemas.

Foram encontrados poucos estudos referentes este tema. Entretanto,

sugere-se o avanço das pesquisas das técnicas do Treinamento de

Habilidades Sociais para atestar a eficácia do tratamento deste modelo

terapêutico.

Page 23: Estudo sobre a Aplicabilidade do Treinamento de Habilidades Sociais na Terapia Cognitivo-Comportamental do Dependente Químico

23

6. REFERÊNCIAS

ARAUJO, R. B. et al. Craving e dependência química: conceito,

avaliação e tratamento. J Bras psiquiatria, v. 57, n. 1, p. 57-63, 2008.

Disponível em:http://www.scielo.br/pdf/jbpsiq/v57n1/v57n1a11.pdf. Acesso em

29/09/2015.

BECK, J. Terapia Cognitiva. Teoria e Prática. 1ª Edição. Rio Grande do

Sul, Artmed, 2013.

CUNHA et al. Habilidades Sociais em alcoolistas: um estudo

exploratório.Revista Brasileira de Terapias Cognitivas. Rio Grande do Sul, v.

3, n. 32, 2007. Disponível em:<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1808-

56872007000100004&script=sci_arttext>. Acesso em 29/09/2015.

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