no cárcere hospitalar

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No cárcere hospitalar 1 Neste livro compartilho a experiência que tive quando internado no período de 16 de maio a 14 de julho de 2015 no Hospital Municipal Salgado Filho, por conta do tratamento de um infarto do miocárdio. A par de todo o sofrimento e debilidade física que estava sentindo fui fortalecido em espírito por Deus, o qual me deu a visão que aqui compartilho, e que fui movido e capacitado a redigir ainda quando me encontrava no Centro de Tratamento Intensivo daquele hospital. Acrescentamos ao relato original algumas notas explicativas adicionais por ocasião da transformação do texto em livro, as quais encontram-se entre parêntesis. Sem mais delongas, passo à visão e revelações que recebi da parte do Senhor, e que escrevi naquela ocasião sob o título Memórias e Visões do Cárcere Hospitalar: Tudo que ocorreria estava escrito diante de Deus, mas os acontecimentos na Terra começaram a ter lugar na primeira quinzena de maio de 2015, quando em meu escritório, de manhã, abria o coração com minha esposa e compartilhava com ela o quanto me doía verificar depois de anos a fio de orações e aplicações, as mais exatas possíveis da Palavra de Deus, o quanto havia ainda no povo certo envolvimento com as coisas do mundo, e uma grande frieza para com as coisas de Deus. Pedimos misericórdia ao Senhor, e que de uma forma miraculosa, que somente Ele poderia fazer pelo Seu Espírito, fizesse uma reversão naquele quadro tão triste. Tão logo nos levantamos da oração, me veio ao pensamento a ideia de pedir a cada membro da congregação que

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Page 1: No cárcere hospitalar

No cárcere hospitalar

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Neste livro compartilho a experiência que tive quando

internado no período de 16 de maio a 14 de julho de 2015

no Hospital Municipal Salgado Filho, por conta do

tratamento de um infarto do miocárdio.

A par de todo o sofrimento e debilidade física que estava

sentindo fui fortalecido em espírito por Deus, o qual me deu

a visão que aqui compartilho, e que fui movido e capacitado

a redigir ainda quando me encontrava no Centro de

Tratamento Intensivo daquele hospital.

Acrescentamos ao relato original algumas notas explicativas

adicionais por ocasião da transformação do texto em livro,

as quais encontram-se entre parêntesis.

Sem mais delongas, passo à visão e revelações que recebi da

parte do Senhor, e que escrevi naquela ocasião sob o título

Memórias e Visões do Cárcere Hospitalar:

Tudo que ocorreria estava escrito diante de Deus, mas os

acontecimentos na Terra começaram a ter lugar na primeira

quinzena de maio de 2015, quando em meu escritório, de

manhã, abria o coração com minha esposa e compartilhava

com ela o quanto me doía verificar depois de anos a fio de

orações e aplicações, as mais exatas possíveis da Palavra de

Deus, o quanto havia ainda no povo certo envolvimento com

as coisas do mundo, e uma grande frieza para com as coisas

de Deus.

Pedimos misericórdia ao Senhor, e que de uma forma

miraculosa, que somente Ele poderia fazer pelo Seu Espírito,

fizesse uma reversão naquele quadro tão triste.

Tão logo nos levantamos da oração, me veio ao pensamento

a ideia de pedir a cada membro da congregação que

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escrevesse em poucas linhas qual era a visão que eles tinham

do relacionamento do crente com as coisas do mundo, e que

cada um relatasse qual era a sua posição a respeito.

Uma das minhas ovelhinhas queridas não fez por esperar, e

nas próximas duas horas seguintes me enviou um E-mail no

qual rasgara seu coração perante Deus em completa

sinceridade, confirmando o quanto vinha Lhe negligenciando

nos últimos meses e que a qualidade se sua vida espiritual

havia caído muito, apesar do grande sucesso que vinha

obtendo em sua vida secular.

Ao ser visitado por minha esposa a mesma encontrava-se

quebrantada, clamando pela misericórdia de Deus. Sua irmã

que a visitava e se encontra desviada juntou-se a ambas,

também em lágrimas e grande quebrantamento.

Poucos dias depois, ainda na mesma semana, comecei a

sentir dores no peito e um grande desconforto, vindo a

enfartar na noite de sábado (16/05). Levado às pressas para

a emergência do Hospital Salgado Filho apresentei duas

paradas cardíacas, das quais fui restaurado pelo braço do

Senhor, pois os procedimentos de reanimação não haviam

sido iniciados, fato que causou grande admiração na equipe

médica presente.

Desde então pude perceber algumas mudanças importantes

que haviam ocorrido em meu espírito.

1º - Percebi que o medo da morte, ou seja, o apego à minha

vida, havia sido extirpado por conta da operação poderosa da

consolação e da graça que me estavam sendo concedidas.

2º - Ganhei uma ousadia até então desconhecida, para

confrontar a impiedade dos homens – grandes ou pequenos

– sem temer a face do homem, ou para me prevenir de

qualquer retaliação da parte deles.

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Descobri em mim o mesmo espírito que estava no Senhor

Jesus, nos apóstolos e nos profetas quando confrontaram as

autoridades religiosas de Israel. E, nada disso por motivo de

imoderação ou desaforo, mas simplesmente por amor à

Palavra do Senhor.

(Falo isto porque tive que enfrentar grandes oposições

espirituais da parte de muitas pessoas no hospital, que a par

de toda a minha fragilidade física, atentaram contra a minha

alma com o intuito de afligir-me ainda mais, e recebi forças

para resistir a tudo aquilo sem me deixar abater.)

Há um túnel secreto no qual o espírito do homem pode e deve

se encontrar com o de Deus. Quando oramos e louvamos,

mas se permanecermos na entrada do túnel e não

encontrarmos a Deus, então nossas orações e louvores são

vazios, nós permanecemos vazios e nada especial acontece.

Mas, se buscarmos encontrá-Lo, e Ele vem ao nosso encontro

no túnel secreto da comunhão, então tudo se torna diferente;

nossos louvores e orações ficam cheios de vida, a presença do

Senhor nos reveste da Sua plenitude, e tudo passa a ter

significado em nosso viver.

Esta seria uma melhor forma de dizermos que você deve orar

e louvar a Deus todos os dias, pois isto soa muito mecânico e

dogmático, e não raro pode nos desestimular da tarefa antes

mesmo de começá-la. Porém, quando pensamos na doçura,

na paz e alegria em nosso espírito com Deus, nossa alma e

espírito se elevam na busca dAquele que preenche todas as

coisas, e é o bem mais precioso que teremos nesta vida e no

porvir.

É no encontro do túnel que novas canções de louvor, novas

formas de oração, novas revelações espirituais e celestiais

acontecem. E, nada disto é feito por obrigação, porque o

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próprio Senhor nos atrai como um ímã para junto do Seu

coração; e ali somos inspirados e sequer conseguimos parar

de exaltar o Seu grande nome.

(Escrevi estas palavras quando fui visitado com alegria pelo

Espírito do Senhor, e me senti movido e inspirado a colocar

por escrito tudo o que estava em minha alma. Lembro-me

que preocupado em não incomodar os companheiros de

enfermaria, me dirigi a passos lentos para o corredor onde

fica a sala de supervisão da enfermagem, e fui repreendido

por uma enfermeira que ali se encontrava que me disse que

deveria ir dormir, mas quando lhe disse o que estava em

minha alma e que deveria escrevê-lo, ela mudou

completamente de atitude e permitiu que eu o fizesse.)

Multidões caminham diariamente pelo vale da indecisão,

muitos que até pensam estar muito envolvidos com o servir

a Deus.

Mas qual a garantia que podemos ter de estarmos

caminhando efetivamente com Ele, em serviço e em

comunhão amorosa?

Sabedor que em sua grande maioria o Seu povo não é

capacitado para lhe prestar, por si mesmo, grandes serviços,

o Senhor pouco mais exige do que culto de adoração e louvor.

E mesmo nisto, muitos falham porque pensando nada mais

terem a oferecer a Deus, ocupam-se apenas com seus

assuntos mundanos.

Com isto perdem o rumo da presença de Deus, e com ele

aquela doce sensação de paz, alegria e louvor de espírito.

E isto pode ser vivenciado num hospital em que os interesses

dos assuntos sobre o corpo sobrepujam em muito os

relacionados à alma e ao espírito.

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Para a grande maioria da equipe do hospital não passamos

apenas de um corpo, sendo esquecido que espírito, alma e

corpo estão inter-relacionados, que um não pode viver sem o

outro, enquanto estivermos aqui nesse mundo.

No afã de curarmos o corpo podemos negligenciar o espírito

e a alma, ou seja, literalmente todas as faculdades das quais

são dotados, por exemplo na alma, a vontade, a razão, a

emoção, a imaginação etc; no espírito a consciência, a

intuição, a direção própria etc.

Jesus foi inteiramente direto e sincero quanto a tudo que se

refere à nossa real constituição, a tudo que somos, sendo

consideráveis responsáveis perante Deus em razão de termos

sidos criados à sua imagem e semelhança.

Imagem e semelhança esta da qual muitos duvidam, quando

olhamos ao nosso redor e verificamos ali muito mais o

espelho das atitudes que são pertinentes ao diabo, do que

aquelas que são propriamente inerentes à divindade.

Sem o conhecimento da causa e efeito destas coisas e em

razão de um juízo precipitado do que afinal o mundo de Deus

deve ser, ficamos acomodados numa falsa teologia de que

Deus provê afinal tanto o bem quanto mal.

Todavia, para que este tipo de juízo não ficasse à mercê de

homens sem esclarecimento e de mentalidade corrompida,

temos no Senhor Jesus uma revelação real de seus atributos

e caráter e tudo que ordenou na Bíblia para testemunho das

diversas gerações que o bem é algo que lhe pertence

inerentemente, e o mal foi o resultado do afastamento da sua

presença e de seus atributos morais. Lembremos que o

gênero humano foi criado no início por Deus na terra sem

qualquer pecado.

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Por que o Deus que é todo poderoso permitiu a entrada do

mal na sua criação perfeita, bondosa e amorosa? Onde o

desejo e felicidade inicial de cada um se encontrava

justamente em fazer o bem ao seu próximo?

Sabemos inclusive que desde então este fazer o bem ocorrerá

no meio de grandes lutas espirituais para subjugar os poderes

do mal - sem o que não será possível praticar o bem em face

de tal interposição maligna.

A Bíblia está repleta de exemplos destas resistências de

satanás que tiveram que ser removidas para que finalmente

triunfasse a causa do bem.

Vimos, portanto, quão preponderante é o enfrentamento e

subjugação destas forças malignas para que se cumpra a obra

de Deus.

E muito disto é atingido quando por amarmos ao Senhor e ao

evangelho já não temos mais a nossa vida como preciosa aos

nossos olhos, e somos tomados da coragem que habitou nos

apóstolos e em todos os mártires da Igreja, porque para eles

era mais importante dar testemunho da verdade contra o

erro satânico, do que preservarem a própria integridade

física.

Aqui repousa o brilho e o triunfo do evangelho, que por amor

a Deus, aos irmãos, ao evangelho, que se pregue e que se faça

tudo o que seja relativo à verdade sem importar o que

ganharemos ou perderemos com isto, desde que o grande

nome do Senhor seja glorificado.

(Tudo isto estava sendo redigido de forma manuscrita, com a

letra tremida, por conta da fraqueza e tontura que sentia.

Como o número de folhas aumentava e a inspiração não

parava de fluir, pedi à minha esposa e nora que fizessem a

gentileza de digitar todo este material, o que fizeram com

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prontidão de ânimo, para que eu pudesse compartilhar o que

estava recebendo com a equipe do hospital e com os

companheiros de enfermaria, que iam se revezando,

enquanto eu lá permanecia, pois fiquei internado 62 dias,

enquanto o tempo médio de internação de cada pessoa

naquela enfermaria com sete leitos, era aproximadamente

de uma semana.)

Tive uma visão na qual o Senhor me mostrava um enorme

cone de bronze brilhante, multifacetado, e formado por elos,

o qual se elevava muito acima da Terra, e uma voz poderosa

me dizia:

“Esta é a minha Lei que por fim hei de estabelecer em toda a

Terra!”

Imediatamente compreendi em espírito o significado daquela

visão que será cumprida no tempo do fim.

A Lei santa e perfeita do Senhor foi dada por Ele para que os

homes se amassem e se respeitassem pelo devido temor a

Deus e por conseguinte por receberem graça da Sua parte

para o cumprimento de todos os testemunhos fiéis dados

através de Moisés e dos profetas até a revelação completa

em Jesus Cristo.

Mas sabemos o quanto esta Lei celestial foi pisada,

desprezada e transgredida pelos homens. O que deveria ser

o elo da sua unidade foi transformado em um meio de

disputas e maquinações políticas. Acrescente-se a isto que os

judeus corromperam totalmente o propósito e o significado

da Lei do Senhor.

Daí então a visão nos falar de uma restauração futura não da

Lei, que é perfeita mas dos corações de todo um povo que

seja digno de recebê-la e vivê-la, a saber, os que teriam a Lei

inscrita em suas mentes e corações por causa de terem sido

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lavados no sangue de Jesus; pois aqueles que não são dignos

dela voltariam a calcá-la sob seus pés, e por isso, por não

viverem segundo a Lei, serão destruídos pela maldição da Lei

contra aqueles que a transgridem.

(A visão se aplica, portanto, a muitas pessoas em todas as

épocas da humanidade, quanto a Lei ser inscrita nas mentes

e corações, mas em nenhum deles ela é cumprida de modo

integral e perfeito, pois o cumprimento em sua plenitude

ocorrerá no tempo do fim, quando o ímpio for desarraigado

da Terra, e os que amam da Deus serão completamente

aperfeiçoados, não pela Lei, mas pela Graça que lhes

capacitará a viverem eternamente segundo as demandas da

Lei.)

É de suma importância entender, que logo ao pronunciar

aquele que tinha sido o Seu primeiro discurso público diante

das multidões de Israel, que nosso Senhor Jesus Cristo não se

apresentou a eles como alguém cujo propósito e missão

principal seria curar enfermos físicos, expulsar demônios ou

efetuar muitos milagres e maravilhas no mundo físico para

que ficassem extasiados com a bondade e misericórdia de

Deus para com eles, em lhes ter enviado um rei tão poderoso,

que certamente, segundo eles, poria um fim à longa

dominação dos romanos.

Entrementes, para a perplexidade de muitos, não foi isso que

Ele fez a princípio; ao contrário, tratou de restabelecer o lugar

de honra da Palavra de Deus entre eles. De dar o devido valor

aos mandamentos que por séculos eles vinham adulterando.

Principalmente os líderes religiosos, a quem cabia a guarda

sagrada da Lei por Israel, e que foram os primeiros a misturá-

la, inclusive com os ensinos ocultistas de Zoroastro, enquanto

estiveram no cativeiro em Babilônia, para a formação da

Cabala, que muito judeus tinham em tanta estima.

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Acrescente-se a isto, os interesses comerciais que por

influência deles passou a dominar em Israel, sob o disfarce de

um templo majestoso edificado por Herodes, por mais de 40

anos, que de fins piedosos e cultuais nada tinha, senão

aumentar o séquito anual de peregrinos para visitar as

majestosas edificações do templo, e assim, tanto o reino dos

judeus quanto dos romanos lucrava exorbitantemente com

os impostos cobrados e serviços que eram realizados no

templo e suas imediações.

Séculos de rapinagem se passaram até que se manifestou o

Filho de Deus para a restauração da honra e do culto de Israel,

que haviam sido instituídos desde os dias de Moisés, cerca de

1500 anos antes.

Então, multidões seguiram Jesus ao monte, porque haviam

visto as muitas curas e milagres que Ele havia realizado.

Talvez, com muitos tendo a expectativa de receberem a sua

parte de milagres e curas, aproximaram-se dEle, e deve ter

sido com não muito pouco desgosto o que ouviram.

Primeiro, nas bem-aventuranças Ele destacou que as bênçãos

eternas do Reino de Deus não eram para todos que as

desejassem, mas para aqueles cujas qualificações espirituais

Ele tratou de enumerar em seguida.

- Humildade de espírito;

- Os que choram por causa de seus pecados e natureza

terrena pecaminosa;

- Os mansos de espírito, ou seja, os que se submetem à

vontade de Deus;

- Os que são famintos e sedentos pela justiça de Deus;

- Os que usam de misericórdia para com o seu próximo;

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- Os que são limpos de coração;

- Os pacificadores que lutam e oram para que a paz de Deus

prevaleça na Terra;

- E, finalmente aqueles que dentre estes comprovam que

foram tais pessoas, porque foram duramente perseguidos

pelos ímpios.

É bem possível que nesta altura do discurso, muitos

estivessem se retirando ou se queixando contra Ele.

Eles esperavam grandezas, benesses e teriam que ouvir este

tipo de coisas?

Todavia, nosso Senhor nada lhes falou de novo, porque tudo

isto estava contido na Lei e nos profetas, ou seja, nas

Escrituras do Velho Testamento.

Mas tal era o desprezo deles pela Lei, que não poderiam

então reagir de outra forma senão desprezar o que lhes

estava sendo dito.

Jesus continuou arrazoando com eles nos seguintes termos:

Ora, se os guardiões da Lei de Deus eram o sal da Terra,

porque é pela aplicação e amor à Lei que se evita a corrupção

pecaminosa, de que lhes adiantaria carregarem o nome de

povo de Deus, se faltava em seus corações o sal e a ousadia

da Lei para enfrentarem a putrefação espiritual e moral do

mundo?

Israel havia sido acendido como o luzeiro de Deus para

iluminar e ensinar o caminho do amor, da verdade e da

justiça, especialmente às nações pagãs, mas como eles se

envergonharam desta missão, e em vez de elevar bem alto os

preceitos da Lei para iluminar o entendimento da Lei,

acharam conveniente esconder a luz debaixo do alqueire, de

modo que ninguém, nem eles próprios fossem iluminados.

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Assim, antes de destacar os pontos importantes da Lei, o

Senhor repreendeu Israel pela prevaricação e covardia deles,

de modo a que pudessem entender melhor no que e porque

haviam falhado tão horrivelmente no compromisso que

tinham para com Ele.

Cansados dos preceitos legais e rituais da Lei, sonhavam que

alguém viesse e lhes dissesse finalmente:

-“Vocês estão livres de todas estas obrigações legais.”

-“Vim da parte de Deus para lhes dizer que são livres para

estabelecer o seu próprio modo de vida feliz.”, ou ainda:

-“Eu vim para satisfazer todos os seus desejos.”

(A propósito foi isto que fez o falso Messias Shabatai ZWI, que

assim se proclamou a Israel no século XVII, e por isso talvez

tenha sido seguido por muitos.)

Todavia, foi algo bem diferente o que ouviram dos lábios de

Jesus:

“Parem de pensar que Eu vim com o propósito de destruir a

Lei, ou então para profetizar que algum dia Deus lhes dará um

líder para realizar este propósito. Muito ao contrário, vim

para restabelecer a Lei e restaurá-la à sua antiga honra. Vim

para que cada preceito ou mandamento, por menor que seja,

venha a ser ensinado e cumprido por vocês. Sem isto, o que

vocês terão é uma justiça aparente, falsa, enganosa, com a

maldade da que possuem os escribas e fariseus.”

Deus não quer religiosos espiritualistas interesseiros, mas

pessoas que O amem e sejam verdadeiramente convertidas a

Ele. Há um sentido espiritual, um significado interior na Lei

que os corações não santos jamais conseguirão enxergar.

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Como Jesus disse que não veio revogar a Lei e os Profetas,

incorrem, portanto, em grande erro aqueles que passaram a

ter a Lei em pouca conta sob o falso argumento que ela foi

anulada pela graça.

Paulo afirma expressamente que não se anulam as obras da

Lei por causa da fé; pelo contrário, antes são confirmadas

pela fé, pois somente uma fé genuína pode testificar acerca

da perfeição da Lei de Deus.

Até mesmo os mandamentos civis e cerimoniais da Lei

continuam atestando de forma perfeita acerca do caráter e

da obra de Cristo.

Assim, ao cumprir a Lei e morrer em nosso lugar em

cumprimento à exigência perfeita da Lei, Cristo não revogou

ou anulou a Lei, mas se interpôs por um ato de infinita

misericórdia, recebendo em Si mesmo tudo o que a Lei exigia

que fosse feito em relação à punição do pecador.

Ora, Cristo não é, portanto, contra a Lei, mas contra a ideia

de que alguém possa ser salvo por ela, uma vez que somos

fracos e imperfeitos e jamais poderíamos atender

integralmente às santas exigências da Lei, enquanto aqui

estivermos.

Então há de permanecer a Lei em sua santidade, majestade,

perfeição, lembrando-nos a nossa completa miséria diante de

Deus. Mas do nosso lado, temos a Cristo, perfeito, mais

elevado que os céus e que a própria Lei, como nosso

advogado e guardador. Compadecido de nossas misérias e

imperfeições, e ele mesmo pela sua graça vai completando

em nós aquilo que nos falta, até que venhamos a atingir a

perfeição da santidade de Deus.

E assim a Lei estará satisfeita, Cristo estará satisfeito, Deus

estará satisfeito, e nós juntamente com eles.

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Bendito seja o Pai de sabedoria e misericórdia que sabe tirar

de coisas imperfeitas a completa perfeição.

O Deus que fez a vara morta de Arão florescer é o mesmo

Deus que ressuscita novas vidas onde ocorreu a morte.

(Ao escrever esta parte lembrei-me da minha própria

condição a poucos dias quando o hálito da morte me

alcançou quando dei entrada no hospital e tive duas paradas

cardíacas sucessivas, que teriam me levado a óbito, não fosse

a vontade e a intervenção do Senhor Jesus. Poder este que

viria a se manifestar na sequência da minha estada no

hospital pois estive tão fraco a ponto de ter que pausar cada

palavra que falava para poder tomar fôlego e respirar, e ainda

assim estava sendo capacitado a escrever todas estas

palavras, embora, como já disse, com a letra muito tremida,

que fazia com que por várias vezes tivesse que interpretá-la

para minha esposa e nora para que pudessem digitá-las. )

Lázaro ressuscitou certamente um novo homem para uma

nova vida. Não mais para os mesmos objetivos de vida. Tendo

morrido perdeu o medo da morte e o encontramos dando

testemunho com Jesus junto daqueles que procuravam de

novo tirar-lhe a vida.

Qual foi o segredo do poder dos puritanos em viverem o

genuíno evangelho? Eles haviam sido rejeitados pela Igreja

Estatal Inglesa que serviam aos milhares bem como suas

famílias. Tinham uma convicção que nada há de firme e de

valor permanente neste mundo, e assim se sacrificaram por

uma Pátria imensamente superior.

Daniel jamais temeria qualquer inimigo depois de ter passado

pela cova dos leões.

Quando aprendemos quão frágil é a nossa vida já não ficamos

tão apegados a ela. Deus quer nos ensinar isto para que

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sejamos verdadeiramente livres, ousados no testemunho da

verdade e não mais tementes de homens ou demônios.

Ninguém estaria disposto a oferecer a vida em martírio, salvo

por uma firme convicção de fé da importância de lutar o bom

combate da fé numa sociedade corrompida, em defesa dos

princípios evangélicos.

(Não para tentar mudar toda a sociedade, o que seria uma

tarefa impossível, mas para agir como e sal e luz na mesma,

de modo a impedir uma completa corrupção moral e

espiritual.)

Eles não estavam o mínimo ocupados pela luta de liberdade

de igualdade civis; não queriam os mesmos direitos para

todas as categorias de trabalhadores etc, pois sabiam que não

era em nada disso que residia a verdadeira justiça social, mas

em respeitarem a todos como iguais, do rei ao jardineiro e

todos procuravam dar o melhor no que faziam em prol uns

dos outros, e era nisto que eram estimados.

Os puritanos costumavam dizer que tanto o rei em seu trono

e o copeiro na cozinha eram igualmente importantes para

Deus.

Agora, quando se funda uma sociedade com valores

baseados em cultura, posses de bens terrenos, poder etc, que

tipo de fraternidade amiga pode ser esperada entre os

homens?

Nada adiantará promulgar leis de direitos de igualdade,

porque o veneno do racismo e discriminação social estarão

com suas raízes bem fincadas nos corações pecadores. A lei

não poderá acabar com o que está no coração, senão apenas

minimizar os malefícios pelo temor da punição.

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E uma vez exteriorizado o desprezo e o ódio de classes, como

se vê em todo o mundo, quem se moverá de coração a dar

amor e um lar a um menino de rua?

Nenhuma medida governamental poderá modificar este

quadro, porque é bem notório que nos próprios quadros da

sociedade tem faltado especialmente as virtudes de

humildade, gentileza, generosidade e amor.

Aí sofremos! Aí gememos! Como uma sociedade enferma

sem qualquer possibilidade de cura.

O nome de Deus é usado por denominações e igrejas para o

fim de cumulação de gigantescas fortunas e poder; ações

comunitárias globais são realizadas com o mero fim de

investimento pela exploração da pobreza e da miséria, com

fins de enriquecimento futuro; Ong’s, instituições

beneficentes e tantos outros organismos financiados por

sociedades ocultistas, e tantos outros alegam o mesmo fim

de estarem promovendo o bem-estar da sociedade mundial.

Quais têm sido os resultados?

Desenvolvimento no mundo moderno se tornou sinônimo de

desenvolvimento econômico e financeiro. E isto tem sido

tocado a todo vapor.

Não admira que nosso Senhor tenha afirmado

categoricamente que à medida que o tempo passasse haveria

um grande aumento da iniquidade.

Cabe lembrar que a palavra iniquidade significa literalmente

”sem lei”, ou seja, não tem tanto a ver com o seu sentido

comumente entendido como falta de moralidade, de

frouxidão moral, pois ainda que este esteja incluso, o seu

significado mais amplo diz respeito a um mundo que é

governado sem se levar em conta as Leis de Deus.

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Tanto isto é verdadeiro que chega a causar espanto ouvir o

próprio Papa afirmando dogmas que contrariam

frontalmente a Lei divina, e o pior de tudo - falando em nome

do próprio Deus.

Não ficando atrás, famosos líderes protestantes fazem

ousadas asseverações contrariando os princípios básicos da

Palavra de Deus.

E qua é a razão disso tudo?

Eles querem agradar as massas.

A sociedade em geral considera ultrapassados os

mandamentos do Senhor afirmando que são incompatíveis

com um mundo de mentalidade pós-moderna.

Então, estes líderes arrumam o seu “jeitinho” dando uma

interpretação relativa e contextualizada a mandamentos que

são absolutos.

“Ai daqueles que ao mal chamam bem, e que ao bem

chamam mal.”

Assim, dentro e fora das igrejas multidões se formam

caminhando na direção do Vale da destruição, pois lhes falta

não apenas o entendimento da verdade e o conhecimento do

poder real da graça de Jesus.

E sem Deus, sem Cristo, sem o Espírito Santo, sem a Palavra

de Deus em seus corações, marcham ininterruptamente para

a boca do inferno, sem que ninguém possa lhes despertar, tal

a obstinação de seus corações.

Deus simplesmente lhes pede que considerem o seu

caminho, que se arrependam, que se voltem para Ele, mas

eles não lhe dão ouvido.

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Olham para toda a iniquidade que opera em redor e em seus

próprios corações e logo concluem: “Deus não existe; Deus

não se importa.” “Quem manda de fato é o diabo e o

dinheiro.” E assim, ficam incapazes de conhecer em seu

rancor e endurecimento, que foi o próprio pecado de

desprezarem as leis de Deus; de amarem o pecado e não

estarem dispostos a renunciar a ele, que lhes conduziu a tal

estado de endurecimento e miséria espiritual.

Incapazes em sua cegueira de enxergar as chagas de Cristo,

por cujo sangue seriam curados, seguirão no mundo sem um

Salvador até o dia da sua morte física, quando será

inapelavelmente pronunciada a sua condenação eterna ao

inferno.

Por isso são ditos bem-aventurados todos aqueles cujos

ouvidos espirituais foram abertos para aprender de Deus, e

seus olhos abertos para poderem contemplar a Cristo.

Esta é a razão de não serem tantos na humanidade que

viveram para cumprir os elevados propósitos de Deus para

suas vidas.

Quanto ao mais, a par de terem sido criados à imagem do

elevado e sublime Criador, ocupam-se com coisas de nenhum

valor, com conversação e hábitos fúteis e profanos, e tudo o

mais que não reflete o mínimo a glória da Majestade das

alturas, senão a do verme que rasteja no pó. Eis em resumo a

condição do que serve e do que não serve a Deus. Um almeja

atingir as alturas – o outro resvala o seu pé na direção dos

abismos negros e lodosos.

Por isso o salmista exalta a excelência da Lei de Deus e a sua

determinação de jamais abandonar os caminhos do Senhor.

Ele sabia que era somente andando no caminho da Lei que o

seu semblante refulgia. E tão logo permitiu se afastar de

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algum dos preceitos do Senhor, tornava-se como as bestas-

feras da Terra.

Não é sem motivo que a própria Bíblia, de capa a capa,

coloque em realce a excelência e importância da Lei de Deus.

Ela é luz para os pés.

Alimento para a alma.

Estrada segura na qual não se desviarão os nossos pés.

É o meio de santificação dos salvos.

É a arma pela qual vencemos as tentações e Satanás.

É a fortaleza do nosso coração no dia da angústia.

É a âncora firme que nos manterá aportados ao céu.

Enfim, tal é a sua excelência e importância que Jesus definiu

seus verdadeiros seguidores como sendo somente aqueles

que guardam a Sua Palavra; e seus amigos, aqueles que

guardam os Seus mandamentos.

Por isso, ao se manifestar ao mundo, Jesus foi designado por

LOGOS, a saber, A PALAVRA.

Quem ama o Senhor, ama todos os mandamentos de Deus,

inclusive os do Velho Testamento, mesmo os cerimoniais que

foram abolidos desde que Jesus se manifestou, pois se

tratavam de figuras da Sua pessoa, e continuamos prezando,

honrando e amando a figura que Deus nos deu para que

pudéssemos conhecer melhor o Seu Filho Amado e a obra que

Ele faria em nosso favor.

Jesus é o Supremo Rei, Juiz, Legislador, Sacerdote e Profeta.

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19

Por isso somos proibidos de julgar contra os Seus juízos

divinos, uma vez que com isto cometeríamos a grande

afronta de rejeitar o Legislador e Juiz de todos os homens.

Mesmo os que conhecem a Bíblia podem incorrer neste erro,

enganados por seus próprios sentimentos e imaginação.

E quão dura coisa é cair nas mãos do Deus vivo!

Por uma obstinada resistência aos seus preceitos e juízos por

não renunciarmos aos nossos com vistas a honrarmos os

Seus.

De quantos males nos pouparíamos por darmos mais ouvido

à Palavra e ao Espírito Santo do que às nossas próprias

convicções com aparência de justiça, mas que não passam de

abominação e trapo de imundícia diante de Deus.

Esta é a razão de vermos o extremo vigor das repreensões e

juízos dos profetas e dos apóstolos de Jesus, e os do próprio

Senhor contra a impiedade dos homens. Especialmente

contra aqueles que conhecendo a Sua vontade vieram a

transgredi-la com dolo.

Os escribas e fariseus representam um grupo destacado entre

estes, tantas foram as adulterações que haviam feito da

Palavra de Deus; por exemplo, quando você pensa que não

matou alguém você cumpriu o mandamento “não matarás”,

mas eu lhe digo que quando o Pai deu esta Lei a Moisés, Ele

visava ao princípio nobre do amor ao próximo e de tudo se

fazer para preservar a sua vida; ou seja, a motivação aqui

nesta Lei é o respeito e o amor devido a cada pessoa.

Por isso, é dito que toda ira injustificada, toda ofensa e

insulto desprezador sujeita o seu praticante ao juízo de Deus.

Daí ser tão importante na condição de pecadores falhos,

imperfeitos, sujeitos a estas coisas, que tratem logo de entrar

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em acordo com os que têm ofendido, e se retratarem com

eles, porque além de todo o serviço religioso de vocês não

possuir qualquer valor para Deus, vocês serão entregues nas

mãos de demônios opressores até que venham a se

arrepender.

Os mandamentos morais eram considerados um verdadeiro

fardo insuportável pelos judeus, porque eles jamais haviam

atinado com o caráter santo, bom, justo e compassivo do seu

Criador.

Nada havia de inflexível e arrogante no caráter do Deus de

Israel, mas eles assim interpretavam tanto a Ele, quanto aos

Seus mandamentos, em razão da dureza obstinada de seus

próprios corações.

Regulamentos humanos são inflexíveis, sejam emanados de

quaisquer instituições, sejam públicas ou privadas; não pode

isso, não pode aquilo, e quem desobedece é punido. Todavia,

nada disto há nos mandamentos do nosso Deus.

Quantas aberturas havia na Lei, de modo que não fosse

aplicada inflexivelmente. Para isto foram constituídos juízes

para julgarem as demandas do povo, não segundo a letra fria

da Lei, mas para que a justiça fosse verdadeiramente

cumprida, de modo que o culpado não fosse inocentado, nem

o inocente condenado.

E quando vemos o próprio Deus tratando com as

infidelidades de Israel em relação à Lei; quem jamais deixaria

de punir um rei perverso como Acabe, como havia

determinado fazê-lo, mas que retrocedeu na execução da

pena simplesmente por tê-lo visto chorando e arrependido

diante da promulgação da sentença que havia ouvido através

do profeta Elias?

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21

Qual juiz terreno cumpriu com a perfeição de Deus, a de ser

pai dos órfãos e juiz das viúvas?

Quem teria dado como réu expiatório o próprio Filho Amado

para morrer no lugar de vis pecadores, para que muitos deles

pudessem ser livrados da condenação eterna?

Como podemos entender então, este ódio mundial contra os

mandamentos do Senhor?

Só podemos achar uma resposta para isto, a saber, na própria

natureza corrompida pelo pecado dos homens, e por

instigação de espíritos demoníacos, cujo propósito é trazer

descrédito e ridículo a tudo que procede do Senhor.

Para quem quer viver de modo infiel e profano, sem levar em

conta os sentimentos daqueles aos quais trai, certamente é

muito importuna uma Lei como “Não adulterarás. ”

Como haveria um mínimo de estabilidade na sociedade, e que

caráter seria formado em gerações sucessivas de pais

adúlteros e profanos?

Onde a relação de um homem com mulheres e vice-versa não

ultrapasse os interesses de se dar liberdade a todas as formas

de paixões e práticas pervertidas e abomináveis.

Qual seria a atmosfera existente para o ensino das coisas que

são boas e que devem fazer parte de uma boa educação?

Então Deus interpôs a Lei e Jesus foi além ao definir o caráter

interior daquela Lei de Adultério antiga dizendo que o

simples olhar lascivo constitui o próprio adultério em si.

E revelou a profunda gravidade deste fato ao ensinar que

quem fosse dado à uma vida sexual impura, melhor seria para

tal pessoa, caso fosse a única forma de se livrar do mau

hábito, sofrer a perda e dor de cortar o próprio braço direito

Page 22: No cárcere hospitalar

22

e arrancar o olho direito, mas por fim, conseguir com isso,

salvar a sua alma do fogo eterno do inferno.

Veja que é a boca de Deus que o tem proferido, do Juiz dos

juízes, do Grande Legislador do universo, e não a boca de

meros juristas e filósofos humanos. Negligenciar tal alerta

por parecer duro demais e ir para o inferno por tal

negligência, valeria o risco?

Como Deus justificaria o meu mau olhar, quando poderia ser

curado deste mal pelo sangue e pela graça de Jesus, e todavia,

o tenho recusado?

Que Juiz e Legislador inigualável nós temos, pois não é apenas

misericordioso para com multidões de nossas transgressões

como também fez a provisão necessária no sangue de Cristo

para que fôssemos curados.

E assim, pedra sobre pedra espiritual, nosso Senhor

continuou reerguendo o edifício espiritual da Lei que os

próprios judeus haviam derrubado com suas próprias mãos.

Há evidentemente, particularidades no texto do Sermão do

Monte, cujo sentido interior, hoje nos escapa, por se tratar

de assuntos eminentemente judaicos, como por exemplo no

caso apresentado por Jesus quanto à proibição dos

juramentos.

É possível que isto tenha se tornado uma prática comum e

vazia entre eles, em que se evidenciava o pouco valor à

palavra de compromisso dada. E então o Senhor se apressa

em ensinar que deve haver verdade e confiabilidade em tudo

que fizermos em nossos relacionamentos.

Numa época de grande endurecimento como a dos dias de

Moisés, nada mais natural que a Lei permitisse atos de

vingança para reparação de danos e perdas sofridos

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23

injustamente. Daí o “olho por olho, dente por dente”, de

forma que a medida de reparação não fosse além, nem

ficasse aquém, da ofensa sofrida. Era, portanto, uma medida

justa para aqueles tempos, mas já inadequada para a

dispensação da graça, na qual o Senhor tem transferido todos

os juízos retributivos por Ele mesmo, para o dia do grande

ajuste de contas do juízo final.

Então aqui a vingança de todo tipo é proibida porque Deus

tem prometido ser o nosso vingador e retribuidor.

E mais do que não se vingar deve ser achada no crente aquela

total confiança no exercício do juízo divino, de modo que

além de sofrer o dano, deve estar armado em seu espírito a

suportar muito mais com paciência e fé no Senhor.

E de tal forma é o caráter do mandamento de promover a paz

e o amor entre os homens, que é ordenado aos crentes que

amem inclusive os seus inimigos e que façam o bem aos que

lhes perseguem.

O povo de Deus deve ser manso e não deve tentar prevalecer

pela força como costumam fazer aqueles que não conhecem

ao Senhor.

É para gente pacífica, mansa e amorosa que a Terra será dada

como herança eterna, pois não foi criada por Ele para ser o

palco de sucessivas conflagrações e guerras mundiais.

Este foi o seu intento desde o início da criação, até que o

pecado entrou no mundo, efetuando um divisor de águas

entre aqueles que amam a Deus e os que O odeiam.

Uma das grandes razões desta aversão do coração humano

em guardar sinceramente os mandamentos de Deus é

resumida pelo Senhor no texto de Marcos 7.6,7:

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24

“Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está

longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que

são preceitos de homens.”

Sabemos que muitas dessas doutrinas que são preceitos de

homens são forjadas por inspiração de demônios. E assim por

maior que seja a aparência piedosa e religiosa delas, qual

parte podem ter de fato com os verdadeiros mandamentos

de Deus?

Todos falam de Deus. De adorar a Deus. De amar e temer a

Deus, mas a maioria serve a deuses falsos ou criados pela

própria imaginação, pois o que tem a ver o deus deles com o

único Deus verdadeiro criador dos céus e da terra, e que se

revelou a nós em seus perfeitos e santos mandamentos na

Bíblia?

Fora dessa Palavra verdadeira não há salvação, porque a

alma, o corpo e o espírito estarão servindo a coisas vãs e não

obedecendo e servindo efetivamente o Único Senhor da

Glória que se revelou a nós nas Escrituras do Velho e do Novo

Testamento.

Uma objeção muito comum e que é levantada para tentar

negar que a Bíblia seja realmente de inspiração divina, parte

sempre daqueles que buscam um argumento para não se

renderem a um viver justo e santo, pois todos os que têm

acolhido a Bíblia como sendo a Palavra da verdade têm

experimentado que suas doutrinas são fiéis e verdadeiras,

poderosas para transformar-lhes em novas criaturas com

uma nova natureza celestial.

Tal foi o esforço de nosso Senhor Jesus Cristo em seu

ministério terreno junto aos judeus, de reconduzi-los à

verdadeira adoração baseada na guarda dos mandamentos,

que quase todas as páginas dos Evangelhos apresentam-no

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25

em grandes debates com os judeus, especialmente com os

religiosos hipócritas (sacerdotes, escribas, fariseus e

saduceus).

Jesus não falhou de modo algum em sua missão de nos

reconduzir à Lei de Deus, isto pode ser visto principalmente

na maior parte do mundo ocidental cuja formação é judaico-

cristã graças ao trabalho de nosso Senhor.

Mas como sempre há um esforço satânico de adulterar a

genuína Palavra de Deus, o grande fato é que a maior parte

dos pecadores pouco ou nada aprendeu com o Seu grande

Legislador e Benfeitor, pois o Reino de Deus só pode ser

tomado por esforço e disciplina, e o de Satanás nenhum

esforço exige de nós pois está plenamente ajustado com

nossa natureza decaída no pecado.

Em grande dilema se encontra, portanto, a alma humana

neste mundo. Não pode de si mesma colocar o modelo de

Deus em prática, e por outro lado, viver segundo os homens

em geral, é pecar contra o amor e a bondade devidas a Deus

e ao próximo.

Todavia, Deus não isenta qualquer pessoa de um viver justo,

digno e bondoso, mesmo deste outro lado do céu, pois é

justamente nisto que a nossa fidelidade a Ele é provada.

Muitos navegaram nestas águas turbulentas e não

naufragaram. Estamos cheios de exemplos nas páginas da

Bíblia e na história da Igreja, de uma miríade que negociou

com este mundo sem arredar pé nos princípios divinos.

Seu caráter foi marcado pela falta de egoísmo e de amor ao

dinheiro, que é a raiz de todos os males.

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26

Não foram indolentes buscando prazeres e folguedos que

tornassem suas almas desatentas ou imprestáveis para com

a sua obrigação para com Deus e com o próximo.

Gastaram-se ao máximo no atingimento do foco que haviam

determinado: tudo fazer para a exclusiva glória de Deus e por

amor não a si mesmos, mas ao próximo.

Por isso figuram como vencedores na galeria dos heróis da fé,

pelo testemunho de vida que tiveram.

Agora, dos que amam o mundo e que vivem segundo o

mundo, nada podemos dizer a respeito deles senão que são

grandes perdedores, por maior que seja sua fama, riqueza ou

poder, uma vez que vivem não segundo o que é aprovado por

Deus, não O temem, não se aplicam em cumprir os Seus

mandamentos. E que tipo de vitoriosos poderiam ser senão

para si mesmos naquelas coisas que são abomináveis e

passageiras e que logo serão desfeitas pelo fogo eterno do

juízo divino?

Gente verdadeiramente pobre e infeliz é esta cujo deus é

fama, dinheiro e poder. Quando menos esperam são daqui

arrancados sem levar consigo sequer a roupa do corpo, e são

apresentados diretamente a um juízo tormentoso e horrível

de fogo.

Por isso se diz que bem-aventurados são os que se dispõem

em dar e servir ao próximo, por amor, sem esperar nada

receberem em troca, porque será Deus e não o homem o seu

Fiador.

Deus não ficará satisfeito com ofertas e meros ritos

cerimoniais e religiosos, porque não são capazes de

transformar o coração do ofertante por inteiro, pois não são

apropriados para gerar uma nova criatura no lugar de um

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27

velho homem subjugado pela natureza terrena pecaminosa

de Adão.

Deus criou o homem para se prover na humanidade de filhos

santos e amados, semelhantes ao caráter de Jesus Cristo, e

filhos que jamais negociariam com o mal ou apoiariam as

obras das trevas. Conhecendo-lhes a fraqueza moral e

decaída interpôs a confissão baseada no sangue derramado

pelo Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, ao tê-lo

derramado em nosso favor na cruz.

Se foi dada a confissão, com ela veio a falta de perdão por

insistirmos em viver endurecidos no pecado, sem os

confessá-los e nos arrependermos diante de Deus. Além

disso, as obras infrutíferas das trevas devem ser repreendidas

e confrontadas em todas as circunstâncias mesmo quando

carreguem o nome de boas obras ou obras de justiça, e de

fato não são.

Os homens são meros mordomos, sacerdotes e serviçais de

Deus nas coisas que têm sido encarregados por Ele para

serem realizadas neste mundo.

No ensino da parábola dos Talentos e dos Servos Infiéis (Lucas

12, e em tantas outras fontes de ensino claro e direto de

Jesus) está bastante claro o horrível castigo eterno que

aguarda por todos aqueles que fizeram um mau uso ou

negligente dos bens e vocações que haviam recebido de Deus

para servir ao próximo.

Um emprego de mordomia muito cômodo, de pouco ou real

serviço para o próximo pode ser chamado de Bênção Real de

Deus?

Médicos que vivem à custa das enfermidades de seus

pacientes sem se esforçarem por curá-los têm algum motivo

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real para se gloriarem na sua esperteza mundana e

malandra?

O Olho que tudo vê e julga o terá como despercebido?

Pastores que lotam suas igrejas com apelativos carnais e não

ensinam o povo a andar na verdade terão algum motivo para

se gloriarem no dia do juízo final?

E dos que exercem profissões ou atividades que em vez de

amar e edificar o próximo, mas antes visa corrompê-los,

torná-los indolentes e imprestáveis deve senão esperar o

terrível juízo que lhes aguarda.

Mais uma vez repetimos:

O homem foi criado para ser responsável a fim de manifestar

amor ao seu próximo na área de eficácia em que foi colocado

por Deus.

Pobre, miserável, cego e infeliz será se permitir ao diabo que

seu entendimento seja fechado e possa fazer de uma

atividade, uma mera condição de ganho pessoal.

O homem que juntou em celeiros, mas sem fazê-lo senão

preocupado apenas com a própria riqueza, e não com o

próximo e menos com a glória de Deus, perdeu a sua alma e

resvalou seus pés para um lugar de sofrimento eterno.

A batalha para ganhar a nossa alma é de fato renhida. A essa

altura alguém poderá indagar como sendo um fator de maior

impedimento para praticarmos o bem que se deseja de nós,

o de ser satanás o príncipe deste mundo que opera em todas

as áreas de atividade humana gerando as mais terríveis

complicações e obstáculos para que possam proceder de

modo digno, honrado e honesto. Entretanto, isto jamais

servirá para justificar a nossa indolência diante de Deus, uma

vez que na prática do bem e no exercício da nossa fé todos os

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demônios são subjugados aos nossos pés pelo nome

poderoso de Jesus.

E estes avanços sobre o reino das trevas são contados

também em nosso favor porque para o exercício deste bem,

também fomos comissionados por Deus. Evidentemente,

muitos destes principados foram instalados de forma sob a

base de sistemas corruptos, de troca de favores ignóbeis, etc.,

que a luta direta contra os mesmos se revelará infrutífera,

uma vez que por certo tempo o Senhor lhes permitirá a

ocupação indevida do lugar de “autoridade” em que se

encontram, para o atingimento de certos fins específicos

somente por Ele conhecidos. Mas podemos sossegar o

coração por sabermos que Ele não permitirá que um Herodes,

um Pilatos, um Nero, um Calígula e tantos outros da mesma

estirpe corrupta permaneçam tanto tempo no poder.

Por quanto tempo Jesus ficou debaixo dos perversos Herodes

e Pilatos?

Quanto tempo Paulo ficou sob Porcio Festus?

E Pedro e João sob o Sinédrio?

Esteja certo de que se você Lhe for fiel, não ficará à mercê dos

poderes profanos senão pelo tempo exato determinado pelo

Senhor para bons testemunhos. Mas, se somos achados

pecadores naquelas coisas que ofendem tremendamente a

vontade de Deus, que boa esperança poderíamos guardar?

Houve uma época em que era muito mais fácil defender a

causa do amor e da bondade. Na verdade, pelo menos para o

povo em geral era esta regra que prevaleceu por muitos anos;

todavia, nestes anos de globalização, apostasia e iniquidade,

em que as atividades produtivas são conduzidas pelos

homens de Wall Street, e por um sistema amplamente

corruptor para a geração de dinheiro; como podemos ter para

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nós mesmos, a certeza de estarmos trabalhando em algo que

seja efetivamente útil, bom e honesto para a sociedade?

Veja o sucateamento de hospitais e escolas públicas tidos

antes como referência de ensino e prática para o povo.

Quantos desvios para beneficiar os tubarões públicos!

O sistema em si, se público ou privado, não é onde reside o

“X” da questão, mas nas intenções daqueles que capitaneiam

o sistema.

Muitos objetam a existência de Deus porque alegam que Ele

não se apresenta de modo visível e palpável. Então, como se

pode crer no que não se vê?

Bem, em primeiro lugar, não é comum que se veja a rainha da

Inglaterra longe do palácio, que é o centro do domínio se sua

majestade; todavia, para Deus este argumento não vale, pois

está em todos os lugares operando milagres, salvação,

livramentos e manifestando de forma real a Sua santa

presença, que é percebida em espírito por aqueles que O

adoram em espírito e em verdade.

Este é senão apenas mais um dos ângulos sobrenaturais da

Pessoa Amada de Jesus, que a propósito, é tanto O que cura,

quanto O que enferma; que exalta e que abate; que faz

morrer ou viver. Enfim, é nEle que tudo subsiste e que todo

este universo visível e invisível é sustentado.

Ainda ontem estava muito abatido pelo diagnóstico que o

cardiologista me dera pela manhã, dizendo da possível

extensão da lesão de minha artéria coronária, que poderia

inclusive, impossibilitar a execução de uma angioplastia.

Deitado ao meu lado o evangelista Luiz, do alto da sabedoria

de seus cabelos brancos procurava confortar-me dizendo:

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“Não fique abatido, porque o poder e o domínio não

pertencem ao homem, mas ao Senhor.” Estas simples

palavras, com a sinceridade que foram expressadas me

reanimaram e encheram meu coração de fé. Com a sua

natural humildade e simplicidade ainda me dirigiu as

seguintes palavras: “Olha pastor, ainda esta noite vou orar

pelo senhor pedindo a Jesus por sua vida.”

Minha esperança na provisão de Deus estava plenamente

restaurada. Lembrei-me de Paulo sendo visitado por Ananias

a mando do Senhor, para que recobrasse a visão e

confirmação da sua vocação para o apostolado.

Aquela oração simples do Sr. Luiz encheu o quarto do hospital

com a presença da glória e unção de Jesus. Então, o que é

isso? Crendices tolas? Atos religiosos?

Não. Chamo a isto, de o poder vivo de Jesus, que já vi

operando de forma miraculosa, tanto na minha vida quanto

na de muitos outros. Eu creio que aquela oração que o Senhor

tinha marcado tinha também o propósito de abençoá-lo.

Não podemos desprezar a unção de Jesus, porque podemos

ficar apenas cheios com a letra do evangelho, o que será de

pouco valor para nós e para o avanço do Seu reino. Mas,

quando a Palavra se mistura ao poder, cumpre-se o papel de

Deus aqui na Terra; por isso, Jesus não se limitou a ensinar a

Lei, mas a operar muitos sinais e prodígios para demonstrar

potentemente que Sua vinda a este mundo foi para glorificar

o nome do Pai, como também para o benefício de muitos.

Corremos o perigo de tomarmos apenas um destes

multifacetados ângulos da Pessoa de Jesus e formarmos com

ele toda uma nova teologia, pois correremos o risco de vê-Lo

apenas como um curandeiro, um professor, ou qualquer

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outro; quando na verdade, todas as coisas são possíveis nEle,

e para cada caso Ele possui um propósito específico.

Muitos são os ofícios e funções de nosso Senhor Jesus Cristo,

e ai de nós se eles não existissem. Antes de tudo Ele é o Rei

da Verdade. É Rei desde que chegou a este mundo e recebeu

a adoração dos reis magos, que passaram a tê-lo como seu

Senhor.

Desde então, em cada pessoa que a Ele se converte,

estabelece o Seu reino de justiça, poder, paz e amor em seus

corações. E estes serão Seus súditos por toda a eternidade.

Nunca houve e jamais haverá sobre a Terra um rei como Este,

que governa diretamente sobre o coração.

Outro ofício de grande importância para nós é o de sacerdote,

porque estes são constituídos como mediadores entre Deus

e os homens, para que sirvam aos homens, especialmente

naquelas coisas concernentes a Deus.

Sem este ofício de Jesus nenhuma oração, nenhuma oferta,

nenhum serviço nosso a Deus poderia ser aceito por Ele.

Ele somente nos aceita no Amado. E é em nosso favor que Ele

oferece dons e intercessões para o nosso benefício,

intercedendo sempre à direita do Pai.

Lembremos, contudo que como sinais da Sua grande

bondade e misericórdia para com todos os homens, efetua

curas físicas e lhes dá das Suas provisões materiais, todavia,

Suas bênçãos espirituais e a melhor e maior delas que é a

salvação da alma, dependem do nosso arrependimento e

conversão a Jesus Cristo.

Pr Silvio Dutra

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