bioética aula 4

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  • 8/15/2019 Bioética AULA 4

    1/45

    Unidade

    4

    OBJETIVO DESTA UNIDADE:

    Analisar questões losócas que fazem interfaces

    com as questões bioeticistas.

    BIOÉTICA: problemas e reflexões

    A questão do especismo nas ciências

    A questão do especismo é, em suma, a questão

    da disposição dos outros animais por parte dos

    humanos. Ela pode ser enfrentada sob diversos

    aspectos (lazer, vestuário, alimentação e

    experimentação cientíca são alguns desses).

    De fato, todas podem se encaixar na análise

    radical da questão sobre a autorizaçãohumana para tal. As práticas cientícas

    envolvendo experimentações com animais,

    portanto, também estão submetidas a

    essa lógica. Assim como toda uma gama de

    práticas ditas “culturais” que promovem o

    uso irrestrito ou até a espetacularização do

    sofrimento animal para mero divertimento

    humano.

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    Experimentação animal é denida como toda e qualquer prática

    que utiliza animais para ns didáticos ou de pesquisa. Decorre

    de uma metodologia que considera como meio para se obter

    conhecimento cientíco. Abrange a vivissecção,  que é um

    procedimento cirúrgico, invasivo ou não, realizado em animal vivo.

    Ela ocorre com frequncia no ensino didático e nas pesquisas de

    base realizadas nas faculdades de medicina, biologia, veterinária,

    zootecnia, educação física, odontologia, farmácia etc, (o mesmo

    ocorrendo) em indústrias de alimentos, de cosméticos e de

    outros produtos industrializados. Gonçalves (2006), mostra que

    também há registros de experincias com animais praticadas

    nos centros de pesquisa, nos laboratórios, nas salas de aula, nas

    fazendas industriais ou mesmo na clandestinidade. Para a cincia,

    uma passível forma de salvaguardar suas pesquisas. Para os

    defensores de animais, uma injustiça e imoralidade inaceitável.Mas em características e elementaridades mais especícas, como

    se desenrola esse debate na atualidade?

    COMPLEMENTANDO

    Enfrentei a questão do especismo em trs textos, que já foram ao

    público em momentos distintos.

    Primeiro, publiquei o texto Pink e cérebro em auschwitz-birkenau:

    Tópicos losócos sobre o vegetarianismo e o especismo à luz da

    bioética, no periódico Revista do Hospital Universitário/UFMA, (v.1,

    n.1/2), em 2003.

    Em seguida, orientei a monograa de conclusão de graduação

    em Filosoa de Arnaldo S, Menezes Filho, intitulada Ética e

    experimentação animal: exposição dos argumentos losócos

    para o uso de animais em experimentos cientícos, em 2010.

    Mais recentemente, publiquei o artigo Ética, Método e

    Experimentação Animal: a questão do especismo nas cincias

    experimentais, em parceria com Arnaldo de Souza Menezes Filho,

    publicado no periódico Cadernos de Pesquisa (v.18, n.3), em 2011.

    O texto que segue nessa unidade é um extrato desses textos.

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    No Brasil, o debate se manifesta em função de fatores culturais,

    históricos e sociais do momento, através de organizações brasileiras de

    proteção animal discutindo e buscando a regulamentação das formas de

    uso dos animais, especialmente na experimentação cientíca. Contudo,

    a questão do especismo passa pela nossa forma de lidarmos com as

    questões éticas, mas é, sobretudo, um debate com a nossa própriatradição religiosa e losóca.

     Argumentos a favor da experimentação com animais

    São vários os argumentos que tentam justicar o direito de os humanos

    dispor dos animais não humanos para ns cientícos. Apontaremos alguns:

    • A pesquisa com animais não humanos beneficia a ambos

    A posição que prevalece no meio cientíco para a questão destacada

    refere-se ao critério “necessidade” de se utilizar os animais em ns

    experimentais. Os argumentos destacados nesse critério convergem

    para o seguinte enunciado: Existem vários benefícios obtidos a partir

    da utilização de animais e, esses benefícios, não se restringem à saúde

    humana, estendem-se à saúde dos próprios animais.

    Trajano e Silveira (2008, p.31) destacam que nem sempre esse

    argumento é sucientemente lembrado no debate losóco acerca

    dos direitos dos animais:

    A experimentação animal resulta em benefícios emtermos de diminuição do sofrimento a longo prazo,beneciando um incontável número de indivíduos,não apenas humanos como também outros animais,

    já que a medicina veterinária precisa e se benecia daexperimentação (obviamente) animal.

    Esse argumento tem ampla aceitação perante o meio cientíco, o

    meio político e, claro, perante a sociedade civil, pois está alicerçado no

    paradigma do benefício, que é compreendido como condição suciente

    para tolerar os efeitos do sacrifício animal e, consequentemente,

    garantir a saúde de humanos e animais. Segundo Smith e Boyd (apud 

    PAIXÃO, 2001, p.23) mesmo quando não há um avanço signicativo para

    Markus (2008, p.24), porexemplo, nos diz que aexperimentação animal teveinegável importância para o

    desenvolvimento da biologia.Basta lembrar os princípios

    de anatomia lançados porWilliam Harvey no século XVII

    e as conquistas siológicasproclamadas por ClaudeBernard. Correspondem

    à “fatos inquestionáveis”para nossa compreensão

    sobre os aspectos orgânicosdos animais humanos e não

    humanos.

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    a cincia, ainda assim, o uso dos animais para ns teraputicos e práticos

    é justicado, pois qualquer avanço é considerado um bem em si mesmo.

    • a não utilização de animais não humanos põe em cheque o futuro

    da ciência

    Diante desses “fatos”, que a cincia julga como “inquestionáveis”,

    outro argumento, também de ampla aceitação, emerge dos enunciados

    anteriores: Se os avanços biomédicos estão estritamente relacionados

    à experimentação animal, a não utilização desses privaria humanos e

    animais dos atuais e futuros benefícios das pesquisas. Assim, a pesquisa

    que envolve animais apoia-se na esperança de um futuro em que doenças

    terminais, caso não estejam eliminadas, possam estar sob controle.Os argumentos que sustentam essa ideia rearmam a não existncia de

    técnicas e alternativas de substituição dos animais nas pesquisas, visto

    que entre humanos e animais, prevalecem as similaridades biológicas.

    Lima (2008, p.26), por exemplo, relaciona as conquistas advindas dessas

    práticas ao aumento de 23,5 anos na expectativa de vida da população

    no século XX. Para o autor, os animais são utilizados como “mapas de

    territórios não explorados” ou simplesmente, modelos. Sem esses

    mapas, torna-se mais difícil chegar ao destino esperado. O entendimento

    acerca da origem de uma doença, nessa ótica, passa pelos “modelos

    experimentais” desenvolvidos nos animais de laboratório – em sua

    maioria, ratos e camundongos. Dessa compreensão, surgem hipóteses

    sobre os mecanismos de doenças que, uma vez conrmadas, podem ser

    revertidas em benefício da sociedade na forma de novos medicamentos,

    tratamentos mais adequados de doenças, aperfeiçoamento de técnicas

    cirúrgicas, programas de vacinação etc.

    Sendo assim, estaria correto o que disse a Sociedade de Pesquisa

    Cientíca Sigmaxi em documento intitulado Sigmaxi Statement on theUse of Animals in Research(apudPAIXÃO 2001, p.24): “[...] a pesquisa bem

    conduzida em animais forneceu e continua fornecendo informações,

    ideias e aplicações que não podem ser obtidas de outra forma”. O

    discurso que prevalece, nessa ótica, torna-se algo inquestionável e

    inexível. Além disso, o debate ético e cientíco ainda não estabeleceu

    o que seria essa “pesquisa bem conduzida”, permanecendo ainda

    muitas dúvidas e práticas inspiradas no emotivismo.

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    • a não utilização de animais não humanos pode interferir em

    condutas éticas

    A AMA ( American Medical Association) considera que a não utilização

    dos animais pelos humanos afetaria o caráter ético de nossas condutas.

    Pois, como diz o documento, “[...] a pesquisa animal detém a solução

    para a Aids, o câncer, doenças cardíacas, envelhecimento e defeitos

    congnitos” (AMA apud PAIXÃO, 2001, p.23). Não dá para abrir mão

    dos animais não humanos e fazer esses experimentos diretamente

    em humanos. Para nós humanos, trata-se de uma conduta eticamente

    inadequada fazer tais experimentos em humanos e não utilizar os

    animais em experimentações prévias.

    Isso implica em posicionamentos extremos e, como exemplo, aquele

    defendido por Marcuse e Pear (apud  PAIXÃO, 2001, p.25): “[...] Ainvestigação animal é obrigatória do ponto de vista ético”. Algo que

    Levai (2010, p.4) critica ao colocar que tal conduta funciona “[...]

    como instrumento de reiteração da ordem cultural vigente”, onde

    prevalece a chamada “[...] postura dominante, na qual o capitalismo, o

    cienticismo e o tecnicismo constituem o tripé ideológico que sustenta

    as bases do sistema social vigente” (idem, p.3).

    Apesar de não negligenciar os critérios éticos das pesquisas e evocar

    a necessidade de priorizar o bem-estar animal, Lima (2008, p.26),reconhece que “[...] no universo da cincia experimental, o uso

    de animais gerando um conhecimento é um dos elos da corrente

    formadora do saber cientíco”.

    Desse modo, as práticas vivisseccionistas são geralmente

    compreendidas e disseminadas como “algo natural”, “necessário” ou

    como “fato consumado”. Além disso, tais práticas estão assentadas

    em dados que apregoam o avanço da cincia e as práticas alternativas

    passam a ser compreendidas e divulgadas na comunidade cientíca – epara os demais públicos, apenas como técnicas complementares.

     Argumentos contrários à experimentação com animais

    A posição de que a experimentação animal, enquanto método cientíco,

    não é uma prática adequada aos ns humanos advém da ideia de que ela

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    se baseia em preceitos antropocntricos e seu uso poderá trazer, em

    vez de benefícios, malefícios à ambas espécies. Isso por que, segundo

    os anti-vivisseccionistas, o uso de um método errôneo nas pesquisas

    causará aos humanos danos siológicos, neurológicos, psicológicos,

    dentre outros. Para os animais, restaria o sacrifício de milhões de vidas

    em benefício de poucos.

    Segundo Paixão (2001, p.26), as críticas em nível cientíco, direcionadas

    à tal prática, encontram-se divididas em duas categorias:

    A primeira evidencia que os animais são consideravelmente diferentes

    dos seres humanos. E, sendo assim, torna-se impossível extrapolar

    qualquer resultado entre as espécies. Trata-se, portanto, de uma

    “crítica absoluta” à experimentação animal.

    A segunda crítica, por sua vez, proclama que podem ser falhas

    determinadas características dos experimentos e dos procedimentos

    que o acompanham. Por exemplo, citamos a conabilidade e a

    validade dessas práticas, de onde emerge a necessidade, segundo

    Levai (2010, p.2) “[...] de uma mudança na mentalidade dos mestres

    e dos pesquisadores, uma pequena revolução interior que lhe permita

    conciliar a ética à atividade didático-cientíca”. Desse modo, segundo

    o autor, deve-se romper o silncio predominante no campo das

    cincias biomédicas, em busca de retirar determinados tabus e, claro,

    questionar a noção de justiça apenas ao restrito universo dos humanos.

    • Crítica absoluta: animais humanos e não humanos são radicalmente

    diferentes

    Essa postura diz que a utilização de animais não humanos é um

    procedimento inadequado, com resultados inúteis, que ocasionam

    graves equívocos e, pior, desestimulam a elaboração de outros

    métodos mais ecazes.

    Nessa acepção, os animais não podem ser compreendidos como

    “modelos” para os humanos, como citou Lima (2008, p.26), devido

    o seguinte argumento, exposto por Paixão (2001, p.27): existe uma

    Por estarem distantes daalmejada “similaridadebiológica” defendidapelos cientistas, os anti-vivisseccionistas advogamque os animais são “modelosruins” ou “modelosinexistentes”.

    Com base nessa assertiva,segundo Croce (apud PAIXÃO, 2001, p.27) temos

    o seguinte argumento:Nenhuma experimentaçãoconduzida em uma espéciepode ser extrapolada paraoutra espécie. Caso seja feitaa extrapolação, as pesquisaspodem produzir diversosresultados enganosos.

    Isso ocorre, especialmente,devido as diculdades deauferir consideravelmente osresultados da pesquisa comanimais, pois essa se mostralimitada às condições e ànatureza do próprio animal.

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    grande variação entre as espécies e, sendo assim, os animais respondem

    de forma diferente às drogas e às doenças.

    Um dos aspectos apontados nesse sentido é que a pesquisa realizada

    em animais é perigosa quando se trata de avaliar a segurança de drogas.

    Muitas das reações adversas que ocorrem nos pacientes não podem

    ser demonstradas nos experimentos. Parte disso deve-se ao fato de

    que os animais não são capazes de relatar vários sintomas, tais como

    náuseas, dores de cabeça, depressão, distúrbios psicológicos, dentre

    outros, que indicam o potencial de ameaça da droga. E mesmo quando

    esses efeitos colaterais são excluídos, o potencial de predição ainda é

    baixo, isto é, os testes em animais não podem predizer o que realmente

    acontecerá quando a droga for administrada ao ser humano.

    • Mito dos benefícios advindos da experimentação animal

    Outra abordagem que merece destaque e que é amplamente utilizada

    pelos opositores da experimentação animal, corresponde àquela

    citada por Singer (2002, p.79-81), quando enfatiza o exagero no papel

    atribuído aos estudos que utilizam animais.

    Para Singer (2002, p.79), “[...] os defensores da experimentação

    com animais gostam de nos informar que esse tipo de experincia

    fez aumentar imensamente nossa expectativa de vida [...] [todavia]

    essas alegações são completamente falsas”, pois aquilo que é

    veiculado enquanto discurso, geralmente em comerciais de fármacos,

    em propagandas médicas e na imprensa em geral, ilustram erros

    estatísticos ou mecanismos de controle das ideias de diversos setores

    da sociedade.

    Por isso, Singer (2002, p.80) retoma o posicionamento do médico

    especialista em medicina comunitária, Dr. David St. George (apud

    SINGER, 2002, p.80):

    Esse debate foi resolvido, e agora trata-se de um fatoamplamente aceito que as intervenções médicassomente exerceram um efeito marginal sobre amortalidade da população, e sobretudo num estágiomuito tardio, depois de os índices de mortes já teremdiminuídos acentuadamente.

    Voc sabe por quais testes omedicamento que voc tomapassou? Quais animais foram

    utilizados para testar a água quevoc bebe, o shampoo que usa

    ou o seu protetor solar?

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    Ademais, Singer (2002) também utiliza a opinião de outros dois

    especialistas, que estudaram as dez principais doenças infecciosas

    dos Estados Unidos. A queda drástica nos índices de mortalidade

    expressos naquele território entre 1900 e 1948 ocorreu, com base

    nos estudos desses autores, sem qualquer intervenção nova de

    medicamentos ou procedimentos, de onde pode-se supor que asmelhorias de condições sanitárias e de alimentação seriam os fatores

    preponderantes na redução dos índices de mortalidade.

    Talvez nos índices de mortalidade, 3,5% da queda ocorrida possa ser

    explicada por meio da intervenção médica, no caso das principais

    doenças infecciosas. Na verdade, já que são precisamente essas

    doenças em cuja redução de índices de mortalidade a Medicina alega

    ter sido bem mais sucedida, a taxa de 3,5 provavelmente representa,

    para o declínio da mortalidade por doenças infecciosas nos Estados

    Unidos, uma estimativa razoável do limite da contribuição total das

    medidas médicas (MCKINLAY; BEAGLEHOLE apud SINGER, 2002,

    p.80).

    Desse modo, Singer (2002, p.81) nos diz que é equivocado qualquer

    argumento que eleja os benefícios que a experimentação animal

    trouxe, ou que poderiam trazer, à melhoria e expectativa de vida

    da população. Quando essa contribuição existe, ocorre de formairrelevante ou insuciente e o debate sobre as conquistas médicas

    advindas da experimentação animal torna-se algo impossível de

    se chegar à um consenso. Nas palavras de Singer (2002, p.81) isso

    signica que

    [...] ainda que valiosas descobertas tenham sido feitascom o uso dos animais, não podemos armar até queponto a pesquisa médica teria sido bem sucedida se,desde o começo, tivesse sido obrigada a desenvolver

    métodos alternativos de investigação.

    Sendo assim, as conclusões retiradas de testes toxicológicos e de

    práticas que envolvem animais, na ótica de Paixão (2001, p.31),

    podem não possuir uma base conável para a saúde humana, uma

    vez que os resultados são insustentáveis e, sobretudo, manipulados

    comercialmente.

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    • Ocultamento de dados para fins comerciais

    Felipe (1999) diz que diversas pesquisas são mantidas por empresas

    que lucram com a venda de fármacos, por indústrias de aparelhos e o

    segmento da cosmética. Em função disso, muitos dados são maquiados

    ou negligenciados.

    Nesse cenário, em que as futuras gerações de prossionais são

    formadas, atesta Felipe (1999, p.4):

    [...] jovens estudantes recebem treinamento intensivono domínio de técnicas aplicadas ao corpo de animaisnão humanos. Seu treinamento, no entanto, [...] não sedigna a contemplar os interesses de nenhuma espéciesacricada. São interesses humanos os que contam.

     Há solução para a questão ética da experimentação animal? 

    Segundo Hossne (2008, p.38) a questão da ética em experimentação

    animal já possui “substrato concreto em recomendações” como

    aqueles advindos da Declaração Universal de Direitos Animais (UNESCO

    1978), da Declaração do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal

    (COBEA) e de alguns projetos em tramitação no Congresso Nacional.Dentre tais recomendações, se destaca aquela de amplo conhecimento

    e aceitação no meio cientíco: a adoção dos “3Rs”.

    • Replacement (substituição)

    O primeiro “R” refere-se à “replacement” (substituição).

    Deveria prevalecer na experimentação animal a substituição devertebrados por seres não sencientes, como plantas e microrganismos.

    • Reduction (redução)

    O segundo “R” corresponde à “reducion” (redução) do número de

    animais utilizados em experimentos, pois a escolha de diferentes

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    estratégias pode incidir na descoberta e no aperfeiçoamento dos

    campos biomédicos e estatísticos.

    • Refinement (refinamento)

    O terceiro “R” refere-se a “refinement” (renamento) que indica que se

    deve buscar minimizar ao máximo o desconforto e sofrimento animal

    com uso de drogas anestésicas, caso seja necessário.

    A adoção dos “3Rs”, à primeira vista, parece ser uma alternativa

    importante para nortear as condutas éticas dos humanos perante

    os animais. Mas, como um dos nossos objetivos está em promover

    o debate losóco a partir dos argumentos que circunscrevem ofenômeno, vale destacar as críticas direcionadas a tal prática.

    Em primeiro lugar, citamos o posicionamento de um defensor da

    experimentação animal. Na ótica de Goodwin (apud PAIXÃO, 2001, p.24)

    não é adequado o uso de recursos alternativos e a adoção dos “3Rs”

    signica “[...] uma percepção de que nós concordamos que o uso de

    animais é moralmente errado, e que está se tentando afastar esse uso

    o mais rápido possível”. Adotar tal prática contradiz a premissa de que

    os modelos fornecidos pelos animais são modelos apropriados aos ns

    humanos. Além disso, esse argumento nos leva a crer que os animais

    estão fora do campo da moral dos seres humanos.

    De outra forma, os “3Rs” também são criticados pelos opositores da

    experimentação animal, pois é originário da convicção que existem

    métodos seguros e mais ecientes para a experimentação animal.

    Assim, para Paixão (2001, p.29):

    [...] os ‘3Rs’ também são criticados, já que a ideia de se’reduzir’ ou ‘renar’ mantém a utilização de animais,e até mesmo a ideia de ‘substituir’ é criticada porquesupõe-se que experimentos animais ‘válidos’ possamser substituídos por outros experimentos, igualmenteválidos, logo ‘validando’, pelo menos cienticamente,o atual sistema’.

    Esse tipo de abordagem, que traz à tona o uso dos animais para ns

    experimentais a partir de critérios cientícos, é mais recente do que o

    De acordo com Hossne (2008,p.38) um quarto “R” nemsempre é sucientementelembrado. Trata-se da adoçãodo “R” de respeito comoalicerce da pesquisa cientícaque envolva animais. Esse nãodeveria estar ausente, mesmoque as melhorias da condiçãodos animais de laboratório sejamapenas para a melhoria dosresultados das pesquisas.

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    questionamento sobre ações morais acerca do uso de animais. Desse

    modo, é evidente que a crítica ao método a partir de critérios cientícos

    objetiva indicar outros caminhos para impedir o sofrimento desses

    seres passíveis de sensibilidade.

    Levai (2010, p.4-5) exemplica alguns dos mais conhecidos recursosalternativos, que em seu entendimento, poderiam “[...] inspirar uma

    metodologia cientíca verdadeiramente ética”:

    Sistemas biológicos ‘in vitro’ (cultura de células,de tecidos e de órgãos passíveis de utilização emgenética, microbiologia, bioquímica, imunologia,farmacologia, radiação, toxicologia, produção devacinas, pesquisas sobre vírus e sobre câncer);Cromatografia e espectrometria de massa (técnicaque permite a identicação de compostos químicos

    e sua possível atuação no organismo, de modo não-invasivo); Farmacologia e mecânica quânticas (avaliamo metabolismo das drogas no corpo); Estudosepidemiológicos (permitem desenvolver a medicinapreventiva com base em dados comparativos e naprópria observação do processo das doenças);Estudosclínicos  (análise estatística da incidncia de moléstiasem populações diversas); Necrópsias e biópsias (métodos que permitem mostrar a ação das doençasno organismo humano); Simulações computadorizadas (sistemas virtuais que podem ser usados no ensinodas cincias biomédicas, substituindo o animal);Modelos matemáticos  (traduzem analiticamenteos processos que ocorrem nos organismos vivos);Culturas de bactérias e protozoários  (alternativas paratestes cancerígenos e preparo de antibióticos); Uso daplacenta e do cordão umbilical  (para treinamento detécnica cirúrgica e testes toxicológicos); Membranacorialantoide (teste CAME, que utiliza a membranados ovos de galinha para avaliar a toxicidade dedeterminada substância); etc.

    É inegável também dizer que por trás do desenvolvimento desses

    “recursos alternativos” encontra-se uma importante crítica aoantropocentrismo, paradigma que ainda impera nas relações sociais

    e que enaltece o que Levai (2010, p.3) chama de “altar cienticista”,

    ao longo da história. Pois, como diz Lima (2009, p.1), “[...] Estamos

    todos habituados, infelizmente, ao jargão antropocntrico que arma

    a superioridade humana sobre os outros membros da natureza”.

    E aqui cabe o questionamento que Felipe (1999, p.3) diz ser comum

    a todo prossional e cidadão: “[...] Incluir ou não seres não racionais

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    no âmbito das considerações morais?” Existe uma razão para que

    isso ocorra, segundo diz a autora. Trata-se de ampliar cada vez mais

    o campo da moralidade. Caso não sejamos capazes de incluir os

    animais no âmbito da moralidade, corre-se o risco de diminuir nossa

    sensibilidade perante práticas bárbaras e cruéis até com seres de nossa

    própria espécie.

    A questão da morte digna

    Morrer, hoje em dia, se tornou muito complicado. Não morremos

    mais como antigamente: acompanhados de nossos entes queridos em

    nosso leito ou defendendo nossas honras nos campos de batalha. Erasimples demais. Morríamos pela espada, pela peste, por uma doença

    letal ou pelo consumir dos anos. Hoje, como relata Ariès (2003), morrer

    não é mais um evento social, vivenciado no âmbito domiciliar e cercada

    por rituais e emoções públicas. Morrer tornou-se um evento privado

    e proibido de ser trazido publicamente à fala, principalmente nas

    cincias da saúde, que, ironicamente, são as cincias que na sua prática

    prossional mais se deparam com essa questão.

    Esses interditos acerca do morrer não nos afastam da questão, mas aocontrário, a exigem. E, seu enfrentamento passa pelo que se conhece

    genericamente como “morte digna” ou “morrer com dignidade”.

    Enfrentei a questão da morte digna, sozinho ou em parceria com

    outros autores, em vários textos, sob os mais diferentes aspectos:

    O primeiro deles foi a eutanásia, publicado em 2005, na Revista

    do Hospital Universitário. Depois, em 2006, a medicalização da

    morte, na Ciências Humanas em Revista. E, no mesmo ano, propus

    um método de investigação tanatológico, chamado Silogismo da

    Morte, publicado naquele mesmo periódico;

    A morte como questão social, foi publicado em 2007, na Barbaroi;

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    Em 2008, defendi uma tese de doutorado sobre o assunto que

    depois foi premiada pela CAPES e virou livro, sob o título Direitos

    Sociais dos Moribundos, publicado pela EDUFMA;

    A formação que os prossionais de saúde recebem para lidar com

    a morte, em 2010, na Cadernos de Pesquisa; e na Investigación yEducación em Enfermaría, em 2011;

    Os rituais de luto no universo virtual, na cadernos de Pesquisa, em

    2011.

    O que vai ser apresentado aqui é mais um convite para a discussão

    sobre o tema.

     A medicalização do morrer 

    A questão da “morte digna” está localizada dentro do paradigma da

    medicalização da vida (CLOTET, 2003, p.27-48) , uma vez que com essa

    medicalização, as concepções de morte e morrer mudaram. Dentre as

    formas de medicalização da vida associadas à morte e ao morrer estão

    a descoberta dos antibióticos e a criação das UTIs.

    O sucesso intervencionista das UTIs é tão forte sobre o imaginário daspessoas que algumas chegam a pensar que a morte nos ambientes de

    UTIs é opcional (SOUZA; ZAKABI, 2005, p.93-94). Ou seja, que alguém

    possa ser hibernado para sempre ou até que se descubra uma cura. Isso

    criou no ambiente das cincias da saúde uma ilusão de amortalidade.

    É essa ilusão que ajuda as pessoas, em muitos casos, a enfrentar o

    sofrimento em torno do morrer. Pois, muitas vezes a família sabe que

    não irá salvar a vida do doente, mas quer viver essa ilusão. O prossional

    de saúde, também, ou vivencia ou ajuda a alimentar nos usuários essa

    mesma ilusão (LUNA, 2005, p.18-19; DA SILVA, 2005, p.364-365).

    Como esse imaginário perpassa todas as classes e prossões, dá-

    nos a entender que atualmente existe uma conspiração contra

    o morrer. As pessoas são até capazes de aceitar a morte, mas

    dicilmente aceitam o morrer. Elas são até capazes de fazer planos

    Amortalidade diz respeito àsformas de suspensão da morte

    ou ao que ela representa.Por exemplo, a criogenia é

    entendida como uma forma deamortalidade porque suspende

    o processo de decomposição– que é associado à morte.

    Muitos tratamentos estéticos

    e plásticos são formas deamortalidade (de ocultamento

    dos sinais da morte emnossos corpos). Perceba que

    a amortalidade não tira amortalidade, a esconde ou

    prolonga o máximo de vidapossível (longevidade).

  • 8/15/2019 Bioética AULA 4

    14/45Curso de Bioética00

    para a sua morte, ou sobre a sua forma, o dia ou o que virá depois,

    mas pouquíssimas fazem planos para morrer.

    As religiões ocidentais, as cincias da saúde e a nossa cultura em

    geral compreendem a morte como finitude, como um m da vida,

    uma passagem ou uma punição. Com isso elas não preparam

    as pessoas para o morrer. Mesmo as pessoas religiosas, cujas

    crenças atribuem à morte um papel importante como um ritual de

    passagem, normalmente são temerárias quanto a esse momento.

    Note bem, elas normalmente veem a morte como um momento, o

    que signica que desprezam o morrer. E, as fronteiras do morrer

    se confundem com as fronteiras do viver, como nos lembra

    Montaigne (1972). Desse modo, o bem viver  e o bem morrer  são

    duas faces da mesma realidade.

    O que mais temos observado na realidade é que domina entre os

    prossionais da saúde uma obstinação terapêutica e um afastamento

    acadêmico com a questão da morte e do morrer.

    • Obstinação terapêutica

    Obstinação terapêutica  no que diz respeito a uma “inexorável

    tecnologização dos cuidados médicos” (LUNA, 2005, p.18), ou mais

    precisamente, uma futile medical therapy, conhecida também como

    distanásia.

    Essa obstinação terapêutica,  que se revela em casos como o da

    americana Terry Schiavo, deve-se, de acordo com Luna (2005), mais àsconcepções losócas (sic) e religiosas do que às decisões éticas, legais

    e econômicas. No entanto, a insistncia pelo tratamento intensivo

    deveria ser limitada “[...] às condições que permitam uma sobrevida

    qualicada e digna” (LUNA, 2005, p.18), e não como uma prática de

    distanásia, gerando dispndios públicos e comprometendo a qualidade

    de vida e morte dos usuários do sistema público de saúde.

    Distanásia é o prolongamentodo processo de morte pormeios articiais, geralmenteaumentando o sofrimento detodos os envolvidos, na tentativade evitar, a todo custo que amorte aconteça. Sua ideologia épautada fortemente no desejo deamortalidade.

    Distanásia é ainda conhecida,além dos sinônimos aquiapresentados, comoencarniçamento terapêutico.

  • 8/15/2019 Bioética AULA 4

    15/45Unidade 4 |  Bioética: problemas e reflexões 101

    • Afastamento acadêmico

     Afastamento acadêmico no que diz respeito à ausncia de preparação

    acadmica dos prossionais da área da saúde para lidar com a

    questão da morte e do morrer, justamente os que mais se deparamcotidianamente com essa questão (DA SILVA, 2005, p.364-365).

    Os poucos conteúdos que abordam essa questão são insucientes

    [...] eles apenas falam de questões éticas ou causamortis  da população, mas ao se compreender amorte como um fenômeno ao qual se está expostodiariamente (presenciando, ou tentando lutar contra)e com o qual deveria saber lidar, não há referncias(DA SILVA, 2005, p.364).

    Essa pouca ou nenhuma preparação acadmica para lidar com a

    questão da morte e do morrer é evidenciada pela ausncia da disciplina

    tanatologia  ou outra que faça o papel dos cursos da área da saúde.

    Assim, resta ao prossional o sentimento de que a morte representa

    um inefável e um insondável mistério contra o qual as suas forças são

    insucientes. O que ocasiona na obstinação terapêutica, afastando

    outras possibilidades mais humanizadas.

    A discussão chega à Filosoa e já dividiu a Ética aplicada à saúde em

    utilitaristas e consequencialistas. O primeiro grupo, mais ligado às ideias

    de Bentham (1979), subjuga o tratamento ao conceito de dor e prazer;

    o segundo grupo, mais ligado às ideias de Singer (2002), associa a

    questão da vida e da morte não ao tratamento, mas à experimentação,

    o que levou a denunciar a distanásia, e a defender a eutanásia  e o

    suicídio assistido.

    Eutanásia é um termo que já passou por inúmeras modicações,

    desde o de boa morte a sinônimo de homicídio. A denição mais

    em voga é a de que eutanásia é a ação ou omissão por parte do

    médico com intenção de, por compaixão, provocar a morte do

    paciente em sofrimento e a pedido desse.

    Alguns autores costumam falar em eutanásia voluntária (a pedido

    do paciente) e eutanásia involuntária (realizada por compaixão do

  • 8/15/2019 Bioética AULA 4

    16/45Curso de Bioética02

    prossional, mas sem cincia do paciente – geralmente o paciente

    não está em condições de decisão).

    Falam também em eutanásia ativa (aquela produzida por uma ação

    concreta) e eutanásia passiva (aquela decorrente de uma omissão

    de cuidados ou de tratamentos, bem como da retirada de suporte,para deixar o paciente, intencionalmente, morrer).

    No entanto, essas denições sofreram revisões e não é mais comum

    falar em eutanásia passiva  nem involuntária, pois, a legalização e

    politização da prática, dene que é próprio da eutanásia ela ser uma

    solicitação voluntária (não pode ser representada), devidamente

    analisada e sob a oferta de opções de cuidados. A eutanásia passiva 

    passaria a ser considerada negligncia e a eutanásia involuntária,

    homicídio.

    Note também que eutanásia passa a ser um protocolo clínico

    realizado por um prossional habilitado e designado para essa

    tarefa.

    Suicídio assistido é a assistncia clínica ao moribundo que deseja

    e ainda tem condições de tirar a própria vida, geralmente pela

    administração de fármacos que conduzam ao óbito sem causar

    dor e sofrimento. Nesses casos, o prossional auxilia o moribundo

    em diversos aspectos, mas não tenta demov-lo de sua ação ou

    impedir que o fármaco ingerido faça o seu efeito letal.

    Esses debates produziram inúmeras questões, das quais algumas já

    vieram à tona no Brasil. A mais recente foi a tentativa de criar normas

    para a internação dos usuários nas UTIs. Ventilada pelo então Ministro

    da Saúde Humberto Costa (em abril de 2005), a ideia terminou

    engavetada, após manifestações contrárias.

    Essa proposta pretendia oferecer critérios para o acesso ao tratamento

    intensivo, o que deixaria de fora, por exemplo, uma pessoa com morte

    cerebral, caso outra precisasse do leito. Isto é, o Ministério da Saúde

    trabalhava com o objetivo de criar normas para dar acesso aos leitos de

    UTI só para usuários graves com chances reais de recuperação.

  • 8/15/2019 Bioética AULA 4

    17/45Unidade 4 |  Bioética: problemas e reflexões 103

    Nem os setores médicos, nem os setores políticos aceitaram essa

    iniciativa, ao menos na forma como fora ventilada. No entanto, a

    discussão não foi encerrada, como o próprio Ministro declarou à Folha

    de São Paulo: “Queremos fazer a discussão de forma correta, situá-la

    em nível técnico e impedir que haja má compreensão ou insegurança

    pela população” (SCOLESE 2005, p.1).

    A reação contrária tem duas bases.

    • Reação médica da AMIB

    A reação médica argumenta que a proposta retira o poder de decisão

    do médico sobre quem precisa ou não ir à UTI, e que o real problema é

    a falta de leitos não a sua seleção.

    Para a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), a proposta

    de discutir a Cultura da UTI é importante, uma vez que ela existe. Mas,

    o governo não pode discutir a seleção dos leitos sem antes sanar a

    carncia de leitos atual, que também existe.

    Justamente devido à falta de leitos, e da pressão familiar, o médico

    acaba escolhendo aquele usuário em situação mais grave, que não é

    necessariamente o que mais se beneciará da UTI. No entanto, devido

    a essa escolha, o usuário em estado menos grave, que poderia tirar

    melhor proveito do tratamento, acaba retardando a sua entrada, o

    que pode agravar o seu quadro e transformar o problema num círculo

    vicioso.

    • Reação política do Congresso

    Por sua vez, a reação política do Congresso argumenta que haveria

    discriminação na seleção dos leitos, o que poderia prejudicar os

    usuários menos favorecidos economicamente, anal, as UTIs públicas

    são usadas pela rede privada, e não o contrário.

  • 8/15/2019 Bioética AULA 4

    18/45Curso de Bioética04

    Aqui nós temos uma questão crucial. A discussão da otimização dos

    leitos é uma discussão meramente técnico-cientíca ou é uma questão

    de infra-estrutura? Um dos problemas, enquanto não se resolve esse

    impasse, é que se continua a praticar a distanásia e a gerar uma cultura

    excludente do doente terminal. As próprias câmaras de Bioética dos

    Conselhos Regionais de Medicina (CRMs) já discutem a elaboração de

    uma medida que salvaguarde o médico em condutas adotadas com o

    doente terminal, como a eutanásia, por exemplo. Esses prossionais

    admitem que é preciso a criação de um protocolo de orientação

    médica, de forma a impedir que o critério balizador das decisões sobre

    quem ca e quem sai da UTI continue sendo o econômico ou a pressão

    da família do doente.

     A qualidade de vida terminal 

    O tema da qualidade de vida terminal está ligado à forma de assistncia

    que é dispensada aos moribundos.

    Uma das alternativas para o tratamento do doente terminal longe da

    UTI, do ponto de vista da ética, é o cuidado paliativo. Esse cuidado pode

    ser realizado em casa, hospices ou em enfermarias dentro de hospitais

    nas quais os usuários recebem oxignio, soro e remédios para evitar e

    controlar a dor. Não são feitos procedimentos intrusivos e eles podem

    contar com uma equipe de prossionais da saúde para apoio (SOUZA;

    ZAKABI, 2005 p.97-98). Exemplos de instituições onde já há o cuidado

    paliativo: Hospital do Servidor Público Estadual, do Estado de São Paulo

    e o Instituto Nacional de Câncer, no Estado do Rio de Janeiro, ambos

    são da rede pública, mas há outros na rede privada.

    No entanto, devido àquela ilusão de amortalidade  e à autoprojeção

    que as famílias tm, normalmente se recorre ao tratamento intrusivo

    e condenam a possibilidade de sequer pensar no contrário. Associem

    a essa crença a ideia de que a benevolncia é um princípio de ação

    superior, mesmo que isso signique passar por cima da autonomia e da

    não-malecncia. Desse modo, a prática é que familiares pressionem

    os médicos para que eles façam de tudo o que for possível para manter

    o doente vivo, desenvolvendo a prática da distanásia e acarretando

    muito sofrimento a todos os envolvidos.

    Moribundo é uma refernciaao termo clássico “doenteterminal”, que é aplicado àquela pessoa com alguma doençaincurável ou com quadro clínicoirrecuperável com estimativade vida de trs a seis meses(SOUZA; ZAKABI, 2005, p.94).Em 2008 discuti a questão danomenclatura moribundo para

    substituir doente terminal,paciente terminal etc, nosseguintes termos:

    “Apesar dos protestos,utilizarei o termo moribundo,mais comum na sociologia eantropologia, para signicaraquilo que nas Ars moriendi édescrito como morituri, quesignica tanto o morrente,no sentido daquele que estácondenado à morte – pordoença grave ou por sentençajudicial real ou eclesiástica,

    bem como jacente, no sentidodaquele que está em seu leito demorte. Prero assim às formasmédicas contemporâneas deinterdição linguística da morte,que propõem termos tais comopaciente terminal, paciente forade possibilidade teraputica decura ou paciente em processoterminal, cujo conteúdoproposicional está associadoà terminalidade da vida ou àimpossibilidade de cura e nãotm como foco a individualidadeda morte, da pessoa que está amorrer.” (GURGEL, 2008, p.16).

  • 8/15/2019 Bioética AULA 4

    19/45Unidade 4 |  Bioética: problemas e reflexões 105

    Quando se trata de moribundo, o que ele ganha com esses dias

    extras? Não seria mais ético acrescentar vida aos dias que ainda

    restam do que dias, de qualquer jeito, à vida? Qual a relação

    custo benefício? O principio de não-malecncia nos obriga a

    ponderar essa relação. Saber se o adiamento do m da vida é maisbenecente, à custa de tanto sofrimento físico e psicológico. Na

    minha opinião não vale a pena, nem do ponto de vista social nem

    do ponto individual submeter um doente terminal ao tratamento

    intrusivo.

    Eu não sou um moribundo e alguém pode alegar que eu mudaria de

    opinião se estivesse no lugar de um. Pois bem, é verdade que alguns

    moribundos não aceitam o cuidado paliativo e não se preparam parao morrer, mesmo após a conscincia do diagnóstico. Alguns até

    acreditam que uma morte dolorosa seja uma forma de expiação. No

    entanto, mesmo convivendo com a crença de que um milagre possa

    reverter o seu diagnóstico, quando perguntados sobre seu estado

    terminal a maioria se recusa a morrer na UTI. A revista Veja (9/11/05)

    trouxe a seguinte informação:

    Pesquisas feitas no Brasil e nos Estados Unidos

    mostram que, já na fase de aceitação da doença e daproximidade da morte, acima de 70% dos pacientesterminais fazem aos médicos e à família dois pedidos.Primeiro, não querem sofrer. Segundo, querem morrerem casa (CORREA, 2005, p.100).

    Essa já não é mais a minha opinião, é a opinião da maioria das pessoas

    submetidas à distanásia às quais agora dei voz. Entre uma coisa e

    outra, elas preferem a boa morte, na qual prevalece o princípio de não-

    malecncia.

    Se isso for verdade, a quem a família quer agradar quando pratica a

    distanásia? A quem o prossional de saúde quer servir quando faz o

    mesmo? A quem a justiça quer defender quando retira o seu direito

    civil de escolher como quer morrer? Perdeu-se o foco no bem-estar do

    usuário. O único bem-estar que faz parte do jogo é o bem-estar próprio?

    O da família, que posa de boazinha, mas não quer esse incômodo em

    casa? O do prossional de saúde que posa de competente e ético, mas

  • 8/15/2019 Bioética AULA 4

    20/45Curso de Bioética06

    não quer dispensar os cuidados paliativos, preferindo uma prática

    imoral e frustrante para o usuário? A do juiz, que posa de justo, quando

    na verdade está aquém do rábula?

    A questão está em aberto.

    Considerações sobre o conteúdo da unidade

    Até que ponto podemos dispor dos animais? Quem tem o poder de

    decisão desse uso? O que signica discutir essas questões? Esses

    questionamentos são decorrentes de um modo losóco de tratar o

    tema “experimentação animal”: o da discussão sobre especismo e anti-especismo.

    Observamos que não se deve perder de vista que esse uso específico 

    ocorre como segmentação de uma discussão acerca dos diferentes

    usos dos animais pelo homem. Anal, práticas culturais da humanidade

    exemplicam a presença dos diversos usos de animais pelos humanos,

    usos que vão desde a adoração e alimentação, até o desdém, sacrifício

    e entretenimento. Ou seja, torna-se difícil romper com a lógica

    antropocntrica que impera as relações sociais.

    Esse antropocentrismo, segundo Lima (2009, p.1), apesar de não ser

    louvável, é até compreensível, devido estarmos “imersos em nossa

    própria humanidade”, que condiciona nossa existncia à nossa “auto-

    reverncia” e estende à tudo aquilo que não é “humanamente nosso”

    um olhar distorcido de superioridade. Assim, podemos inferir que

    trazer à tona essas questões, em pleno século XXI, signica reconhecer

    que existe um jogo de poderes entre visões, na qual cada grupo expõe

    argumentos que visam legitimar ou abolir, respectivamente, o uso dos

    animais pelos humanos.

    Enquanto os defensores da experimentação argumentam que abolir

    esse uso privaria os humanos dos benefícios da cincia, os anti-

    vivisseccionistas, em sua grande maioria, apregoam que tal prática além

    de se constituir em um método equivocado, trata-se de uma violação

    dos direitos animais. Nessa ótica os animais são compreendidos como

    seres dotados de sensibilidade e passíveis de sofrimentos, o que é

  • 8/15/2019 Bioética AULA 4

    21/45Unidade 4 |  Bioética: problemas e reflexões 107

    uma pré-condição para possuírem interesses para serem defendidos.

    Por outro lado, ca a questão: o benefício de uns é legítimo perante o

    sacrifício de outros tantos?

    Cada grupo busca legitimar seus argumentos com critérios cientícos,

    louvando ou criticando o método em questão. Algo que exige de nós

    uma postura que nos leva a questionar desde os fundamentos dessas

    práticas até o modo de se conceber o problema entre aqueles que

    estão sob determinado paradigma cientíco. Leva-nos a questionar

    também como as ideias são traduzidas em discursos sociais que visam

    a reprodução de um dado sistema social vigente, em nome de uma

    “verdade” cientíca.

    Observa-se que o debate sobre o uso dos animais em nossa atualidade

    ainda é uma realidade em construção, pois assim como existe o

    reconhecimento dos chamados benefícios  que a prática traz aos

    humanos, não sabemos ao certo o quanto essa é um realidade distorcida

    e promovida perante o não desenvolvimento de recursos alternativos,

    congurando-se, portanto, como práticas desrespeitosas para com

    os animais. E, sendo uma realidade em construção, demanda uma

    postura que priorize uma abordagem multidisciplinar, onde possam

    ser contemplados os aspectos, biológicos, sociais, jurídicos, discursivos

    e losócos da questão, a m de que novos estudos sejam trazidos a

    tona para subsidiar as políticas públicas sobre o uso dos animais nãohumanos em ns cientícos. Além disso, que as dúvidas lançadas sobre

    essa prática especíca, lance questionamentos mais amplos acerca dos

    diferentes usos (e abusos) que os animais sofrem em nome de práticas

    ditas culturais ou tradicionais, sob a luz da ética.

    No outro tópico, enfrentamos a questão da qualidade de vida terminal,

    ou seja, de como é bom morrer, desde que já tenha-se decidido que há

    algo de bom em morrer.

    Evocamos Montaigne (1972) que já tinha demonstrado não ser fácil

    lidar com a experincia da morte, uma vez que “[...] as pessoas se

    apavoram simplesmente com lhe ouvir o nome: morte!” (MONTAIGNE,

    1972, p.49). Daí a postura do homem vulgar que toma como remédio

    o não pensar na morte. E, se for pensar, será quando “os condenou o

    médico” (MONTAIGNE, 1972, p.49), cuja maior obra sobre o assunto

    é, na maioria das vezes, o testamento. Daí que, desde os romanos,

    as palavras morte e morrer foram sempre tratadas pelo emprego de

  • 8/15/2019 Bioética AULA 4

    22/45Curso de Bioética08

    perífrases, como parou de viver , viveu, se foi, faleceu etc. Logo, o temor

    à morte está inversamente proporcional à vida virtuosa.

    Aquele que leva uma vida virtuosa não tem porque temer ou prezar a

    morte (MONTAIGNE, 1972, p.49). No entanto, a maioria esmagadora

    das pessoas não pensa a morte de forma racional. Poucas pessoas

    costumam pensar no que querem ser quando morrerem. Isso porque

    simplesmente não pensam no que são enquanto vivem. E, não dá

    para pensar na forma como morrer somente quando o dia fatídico se

    aproximar. Isso por duas razões: primeira, não sabemos qual é esse

    dia; segunda, na maioria dos casos, quando esse dia está próximo, não

    estamos em condições de escolher como queremos morrer. Por isso,

    planejar o morrer é, antes de tudo, planejar o viver: o como realizar os

    sonhos, o falar abertamente sobre os desejos e temores relacionados

    à morte, positivar ideias e vontades.

    Mesmo que a questão da qualidade de vida dos doentes terminais

    tenha mobilizado sociedades médicas no Brasil e no exterior, faltam

    estudos mais aprofundados sobre a questão da morte e do morrer

    associada ao uso ético e político das UTIs. Há mesmo, nas pesquisas

    e debates sobre a questão tanatológica, uma perspectiva de mudança

    com relação ao tratamento que se deve dedicar aos moribundos. Essas

    mudanças passam pelo deslocamento da nfase do manter a vida a

    qualquer custo para um alívio da dor , do controle dos sintomas e doscuidados emocionais do paciente. Essa nfase não pode ser deslocada

    dentro do atual modelo das UTIs, ou poderá ser, com muito esforço e

    resistncia. Em geral, as UTIs praticam a distanásia e não a boa morte.

    É bastante comum encontrarmos quem veja as UTIs como o último

    estágio, o lugar onde se morre, o que, em certa parte, é verdade. Mas

    essa verdade se dá justamente porque ela não discute mais os seus

    critérios de seleção de leitos e porque lhe falta uma alternativa.

    A alternativa de uma boa morte pode signicar trocar o tratamento

    intensivo pelo cuidado paliativo. Ou seja, trocar mais alguns dias ou

    semanas de convivncia nas UTIs com estranhos e máquinas, por

    momentos mais breves, porém mais calorosos e recompensadores

    com os entes queridos em casa. Qual seria a escolha de quem tivesse

    essa alternativa? Normalmente as pessoas não pensam nesse tipo

    de alternativa, mas a realidade das UTIs brasileiras exige que ela seja

    pensada. E, não se trata apenas de uma questão seletiva, é mesmo

  • 8/15/2019 Bioética AULA 4

    23/45Unidade 4 |  Bioética: problemas e reflexões 109

    um modelo de sociedade que está em jogo, de uma sociedade que

    não exclui a pessoa nos seus últimos momentos, fazendo dele um ato

    solitário, frio e tenebroso. Se há uma qualidade de vida, igualmente

    há uma qualidade de morte, que se realiza justamente na forma de

    morrer. E, se já temos tantas políticas voltadas para o nascer, para o

    viver, por que não as temos igualmente para o morrer?

    RESUMO

    Nessa unidade examinamos duas questões, ambas polmicas e que

    permanecem em aberto, como forma ilustrativa das questões em Bioética:

    a questão da disposição dos animais não-humanos por parte dos humanos

    e a questão da disposição da forma de morte. O primeiro é o tema losócodo especismo, o segundo, o da qualidade de vida terminal.

    O especismo defende que o homem pode dispor dos animais, até

    porque sempre tem feito isso, principalmente quando isso trouxer

    benefícios para ambas as espécies, senão, para a espécie humana.

    Em termos de experimentação animal, o especismo tenta se justicar

    assegurando que:

    a) a pesquisa com animais não humanos benecia a ambos;

    b) a não utilização de animais não humanos põe em cheque o futuro

    da cincia; e,

    c) a não utilização de animais não humanos pode interferir em

    condutas éticas.

    Os não-especistas e anti-especistas tentam se justicar assegurando

    que:

    a) os animais humanos e não humanos são radicalmente diferentes,não é possível usar os experimentos realizados em um para

    benefício dos outros;

    b) é um mito acreditar nos benefícios advindos da experimentação

    animal;

    c) o que existe é um ocultamento de dados em pesquisas com animais

    para ns comerciais.

  • 8/15/2019 Bioética AULA 4

    24/45Curso de Bioética10

    Há solução para esse conito? Algumas declarações propõem formas

    éticas de tratar os animais, como aquela baseada nos 3Rs: Replacement

    (substituição); Reduction (redução); e Renement (renamento),

    seguido de Respect (Respeito) – na ótica de Hossne (2008). No entanto,

    o que essa alternativa faz é apenas declarar que há erros éticos no trato

    com os animais e que o discurso permanece em aberto.

    No tocante à questão da qualidade de vida terminal viu-se que, com a

    medicalização do morrer, a morte se tornou algo muito mais complicado

    e se envolveu em uma teia de relações éticas e tecnológicas que a cada

    dia se torna mais complexa.

    A morte nas UTIs, que pode ser uma aspiração, pode ser também um

    local de muito sofrimento e prolongamento articial do processo de

    morrer, graças a um desejo e ilusão de amortalidade.

    Essa prática faz nos deparar com novas formas de morte a cada dia,

    tais como distanásia, eutanásia, suicídio assistido etc. Bem como com

    novas formas de assistncia, como a dos cuidados paliativos.

    Em que sentido a AMA diz que não utilização de animais não

    humanos pode interferir na conduta ética das pesquisas

    cientícas?

    Pesquisas cientícas na área médica podem abrir mão da

    experimentação animal, segundo Peter Singer? Por qual

    razão?

    Há solução ética para a questão da experimentação animal?

    Quais são os posicionamentos?

    O que é a medicalização do morrer? E qual a base losóca

    dessa ideologia?

    4

  • 8/15/2019 Bioética AULA 4

    25/45Unidade 4 |  Bioética: problemas e reflexões 111

    Qual a diferença entre aprender a morrer e se preparar

    para a morte, segundo Montaigne?

    Qual a diferença entre eutanásia, distanásia, mistanásia e

    ortotanásia?

    O que são cuidados paliativos? Eles são uma alternativa a

    qu?

    ARIÈS, P. História da morte no ocidente: da idade média aos nossos

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    29/45Considerações Finais 115

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Estamos chegando ao m deste curso, o que não signica que

    esgotamos as questões aqui levantadas. Longe disso. Elas apenas

    vieram à fala. É hora de voltarmos ao início e nos perguntarmos, anal

    de contas, o que é mesmo Bioética?

    Não temos uma resposta, mas várias. E, por termos várias, podemos

    escolher qualquer uma, desde que saibamos fundamentar a nossa

    escolha.

    Vou apresentar aqui uma opção para direcionar sua escolha: pense

    Bioética como uma nova forma de controle social.

    Anal, que Bioética é, fundamentalmente, uma forma de controle

    social  sobre as práticas cientícas, ou o estudo desse controle, já é

    uma hipótese corrente, cujo argumento mais importante é o de que

    ela captura o sentimento geral desenvolvido desde épocas anteriores

    acerca do temor das possibilidades cientícas e suas consequncias.

    Vejamos.

    Há muito o limite das práticas cientícas vem sendo tema dos

    mais diferentes discursos. Em alguns deles, essa prática deveria

    ser permitida somente a iniciados: homens e mulheres que foram

    amplamente treinados nos princípios de respeito à pessoa humana.

    Em outros, deveria ser escrava da vigilância constante de sacerdotes

    ou de instituições morais. Ou ainda, não deveria reconhecer limites ou

    car apenas à merc da conscincia e responsabilidade daqueles que

    a praticam. Assim, essa investigação deve também trazer à fala o que

    tem sido Bioética antes mesmo da sua formulação verbal, quando há

    algo que faz o papel de, mas não se nomeia como tal.

    Essa tarefa já encontra, de antemão, um caminho que antecede a

    questão e se prolonga como inacabado, percorrido por aqueles que

    operam com o termo protobioética, como o faz Pellegrino (1999). Pois,

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    30/45Curso de Bioética6

    o que se pretende dizer com um conceito pode ser anterior à criação

    do termo que o expressa.

    Nessa direção, existem séries inacabadas de acontecimentos históricos

    que concorrem para a formação de um repertório de críticas,

    princípios, fundamentos, normas e até mesmo leis que antecedem e

    se prolongam durante a fundição do termo. Essas séries, que podem

    até ser enumeradas como eventos singulares, estão conectadas entre

    si por um mesmo sentimento geral que se manterá presente durante a

    elaboração do termo e a ele dará sentido conceitual.

    Com base nisso, postula-se que a elaboração conceitual é um momento

    de apreensão e síntese desse sentimento presente na geração para a

    qual o termo se torna usual. Dizer, portanto, que há algo que faz o

    papel de, mas não se nomeia como tal, é o mesmo que atribuir aos

    fenômenos antecedentes a germinação, mesmo marcada por inúmeras

    contradições, do que se prosseguiu.

    • Bioética e o sentimento geral de controle social sobre as práticas

    científicas

    Como se sabe, não é recente a crítica das losoas, das religiões, dossistemas jurídicos e dos livres-pensadores sobre as práticas cientícas.

    Ao contrário, é lugar-comum na história do pensamento euro-americano

    cristão a preocupação com as possibilidades e os limites das práticas

    cientícas, especialmente as experimentais, o que tem resultado nas

    mais diferentes e ambíguas posturas. Por um lado, nota-se a presença

    de uma postura permissiva ao extremo que identica o progresso das

    cincias com o sucesso da humanidade, como a postura de Comte

    (2006). Por outro lado, nota-se também a postura, de uma grande

    maioria, que desconsidera a estreiteza da relação entre progresso

    cientíco e progresso humano.

    Dentre os que desconsideram a equação progresso cientíco igual a

    progresso humano, gostaria de apresentar dois tipos-ideais: Rousseau

    e a Santa Inquisição. Os dois partem do mesmo princípio: a livre-prática

    cientíca não é sinônima de crescimento moral. No entanto, há algumas

    diferenças a considerar.

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    31/45Considerações Finais 117

    • Bioética e o controle social das pesquisas pela inquisição

    Os inquisidores, principalmente os inquisidores modernos, não

    condenavam a prática cientíca porque pura e simplesmente lhe

    fossem contra. Ao contrário, eles atribuíam aos seus métodos deinvestigação caráter cientíco.

    Suas queixas não eram contra a cincia em si, mas contra o modo

    operacional de alguns cientistas que, segundo os inquisidores,

    conduziam-na para longe de Deus. E, ao afastar-se de Deus, afastava

    também o homem do plano salvíco, aproximando-o do Diabo, já que

    não havia alternativa neutra.

    Daí as opções: ou a prática cientíca deve se submeter ao controlesocial eclesiástico ou ser proibida.

    • Bioética e o controle social das pesquisa pelo romantismo

    Rousseau (1989), como representante do romantismo, de todo,

    não é indiferente ao espírito da Santa Inquisição. Ele também não é

    contrário à cincia por essa ser cincia. Anal, algumas de suas teses

    foram apresentadas como monograas cientícas, das quais uma

    delas ganhou premiação literário-cientíca da Academia de Dijon. No

    entanto, ele não é contra o modo de se fazer cincia porque esse afasta

    o homem de Deus. Ou, pelo menos, não diretamente.

    Digamos que ele fala desse afastamento de forma velada quando

    postula que a prática cientíca de sua época afastava o homem comum

    dos mandamentos divinos, como guias de crescimento moral-espiritual.

    Sua razão explícita é a de que essa prática tem afastado o homem de

    si mesmo, indo de encontro à sua natureza, à sua liberdade e grandeza

    de espírito, cuja solução é uma espécie de controle social moral sobre

    as práticas cientícas.

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    32/45Curso de Bioética8

    • Bioética e o controle social sobre o que pode e o que se deve fazer

    em ciência

    Em ambos os casos, Inquisição e Rousseau, trata-se da proposta de se

    exercer controle social  sobre as práticas cientícas, cujo dilema estápautado, como já apresentei na análise que z do Frankenstein  de

    Shelley (Gurgel, 2004), pela disputa entre o que é possível e o que se

    deve fazer. Não se trata mais de uma simples equação metodológica

    ou técnica para saber se determinada teoria ou método funciona ou

    não. É mais que isso, como já falamos anteriormente, é saber quais

    as prováveis implicações presentes e futuras para os envolvidos no

    processo, tanto para os indivíduos, quanto para a espécie e o planeta.

    Isso não desconhece a importância das práticas cientícas para o

    desenvolvimento social, apenas argumenta que tais práticas precisam

    responder à sociedade. Algumas dessas argumentações são bastante

    severas, mas a maioria é bastante aberta ao diálogo. Assim, a discussão

    levantada por Stevenson (1996) ou Shelley (2001) são mais do que

    modelos literários, são desejos sociais diante de um pesadelo coletivo.

    • Bioética e o controle social sobre a ciência desencantada

    Some-se a isso, o fato de que as cincias se apresentavam como

    desencantadas, conforme denunciou Weber (1993), as questões metafísicas

    estavam relegadas ao âmbito da mediocridade, como propusera o Círculo

    de Viena, a moral solapada em seus fundamentos, conforme as críticas de

    Nietzsche (2006), e a possibilidade de que tudo isso fosse real conforme

    o testemunho de acontecimentos envolvendo cobaias humanas e não

    humanas, para termos uma dimensão desse pesadelo.

    Por isso, quando Fritz Jahr propusera, em 1927, o termo alemão Bio

    Ethik, estava correspondendo a esse sentimento geral presente na sua

    época e nas gerações circundantes, principalmente nos espíritos mais

    religiosos. Disse ele:

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    33/45Considerações Finais 119

    Objetivamente a Bioética não é, de modo algum,uma descoberta do presente. Como um exemplointeressante do passado, podemos lembrar a gurade São Francisco de Assis (1182-1226) com seu grandeamor também pelos animais, que em sua acolhedorasimpatia para com todos os seres vivos foi um precursorda exaltação de Rousseau de toda a natureza séculos

    depois (JAHR, 1927, p.1).

    Sua intenção, ao forjar esse termo, é a de propor uma abordagem

    diferenciada do fazer cientíco, conforme aparece no subtítulo do

    artigo: um panorama sobre as relações éticas do ser humano com os

    animais e as plantas.

    Nessa ótica, de clara inspiração kantiana, Bioética seria fundamentada

    em uma necessidade emergente de obrigações éticas não apenas com

    o homem, mas com todos os seres vivos, como aparece no ImperativoBioético: “Respeita cada ser vivo em princípio como uma nalidade em

    si e trata-o como tal na medida do possível” (JAHR, 1927, p.3). Mas, era,

    sobretudo, a necessidade de impor limites às pesquisas que vinham sendo

    desenvolvidas, principalmente no âmbito da Psicologia, com os animais:

    A partir da Biopsicologia é necessário apenas um passoaté a Bioética, isto é, até a aceitação de obrigaçõesmorais não apenas perante os homens, mas perantetodos os seres vivos (id ibid, p.2).

    Potter (1970) também procura se manter no horizonte da ideia de que

    as cincias precisam de controle social, ao que ele chamou de uma

    nova sabedoria, cuja tarefa é manter-se preocupada com as prioridades

    prossionais e ambientais para uma sobrevivência aceitável. O mesmo

    se repete em 1971, quando ele fala que Bioética deve estabelecer “(...)

    um sistema de prioridades médicas e ambientais para a sobrevivncia

    aceitável” (POTTER, 1971, p.2).

    • Bioética e o controle social sobre os fatos biológicos

    A tese de Potter nessa obra, reforçada em 1988, é a de que é impossível

    separar os valores éticos  dos fatos biológicos, sendo que o segundo

    deve se submeter ao primeiro. Assim, Potter (1971) propõe um ponto

    de encontro entre as cincias experimentais e as cincias humanas, do

    qual surge a necessidade de uma ética da vida. Essa ética nos ajudaria

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    34/45Curso de Bioética20

    a enfrentar, principalmente, trs graves problemas, agora em âmbito

    global (POTTER, 1988):

    a) a questão demográfica,

    b) a tecnologia do DNA recombinante, e

    c) o advento da bomba biológica.

    Ou, como ele escreveu, permitiria um “[...] entendimento realista do

    conhecimento biológico e seus limites, a m de fazer recomendações

    no campo das políticas públicas” (POTTER, 1970, p.127-131). Em uma

    palavra, nos permitiria manter controle social  sobre as prioridades

    (nanciamento), as práticas (metodologias) e a aplicação (uso social)

    das cincias.

    • Bioética e o controle social sobre os benefícios das ciências

    O mesmo conteúdo proposicional  de que Bioética é uma forma de

    controle social  sobre as práticas cientícas será reapresentado em

    quase todas as compilações. Nas duas versões da Enciclopédia deBioética, organizadas por Reich (1978), o termo aparece como o estudo

    sistemático da conduta humana no âmbito das cincias examinada à

    luz de valores e princípios morais. O mesmo sentimento está presente

    na Declaração de Gijón, (art. 15), que delimita como tarefa da Bioética

    proteger o ser humano pela harmonização entre cincia e direitos

    humanos. Por harmonizar , essa Declaração entende submeter os usos

    das produções cientícas às Declarações e Convenções mundiais de

    Bioética e de Direitos Humanos:

    Uma importante tarefa da Bioética, que constituiuma atividade pluridisciplinar, é harmonizar o uso dascincias biomédicas e suas tecnologias com os direitoshumanos, em relação com os valores e princípioséticos proclamados nas Declarações e Convençãoantes mencionadas, enquanto que constituem umimportante primeiro passo para a proteção do serhumano (DECLARAÇÃO DE GIJÓN, art.15).

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    35/45Considerações Finais 121

    Não é por acaso que em muitos países despontaram comits de ética

    e Bioética disponíveis para o exercício desse controle sob a égide da

    defesa dos princípios democráticos. No Brasil, a criação desses comits

    está ligada justamente a um órgão de controle social, o Conselho

    Nacional de Saúde, e se apresenta como movimento social em prol da

    democratização e universalização do acesso aos benefícios produzidospelas pesquisas cientícas.

    • Bioética e o controle social sobre a ruptura entre Filosofia e Ciência

    Jonas (1990) defende que a necessidade dessa harmonia  é porque

    houve uma ruptura entre Filosoa e Cincia, dado que Bioética deve

    procurar, na verdade, o controle que estava perdido, de modo que a

    reexão losóca sobre a ética passe urgentemente a fazer parte da

    mentalidade do homem tecnológico.

    Sem tal reexão esse homem poderá muito bem não só desorganizar a

    vida deste planeta, como também mudar radicalmente os fundamentos

    da vida, de criar e destruir a si mesmo, fazendo com que todos os

    avanços políticos, toda a tradição democrática, toda a luta por justiça

    e isonomia entre os povos e as pessoas estaria prontamente decidida

    como uma hipótese falida.

    • Bioética e o controle social sobre o terror

    Essa vontade de demonstrar a necessidade de controle sobre as

    práticas cientícas, faz com que Jonas (1990) e muitos outros, graças à

    essa pedagogia do medo, transformem Bioética em mais um produto

    da Sociedade do espetáculo, em algo que vale a pena ser consumido. O

    slogan mercadológico é: consuma Bioética ou o mundo será destruído.

    Isso é tão forte que às vezes me pergunto: não seria o combate ao

    terror o sentido oculto  de Bioética? Fico tentado a pensar assim, no

    entanto, percebo que mesmo autores como Ramsey e Farley (1970),

    que não concordam com essa visão catastróca da realidade, são

    adeptos assumidos da noção de controle sobre as práticas cientícas.

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    36/45Curso de Bioética22

    Minha conclusão não poderia ser outra. Não é o combate ao terror que

    faz de Bioética ser o que é. Diria até que esse é o seu sentido aparente,

    o que é de mais evidente. O sentido oculto vem de mais longe, vem da

    disputa pelo poder, pois, onde há poder, há tentativa de controle.

    Graças a isso, os discursos que se apresentam como bioeticistas estãopautados pelas contradições inerentes à nossa época. Contradições que

    envolvem tanto a defesa incondicional do papel do sujeito individual

    como centro das decisões morais – tal como o percebemos no modelo

    de Bioética euro-americano – quanto o daqueles que centram o sujeito

    coletivo e o lugar social dos que tomam as decisões – como acontece

    com uma facção de Bioética latino-americana. O fato é que, diante de

    tantas disparidades e disputas conceituais, torne-se mais prudente

    falar de Bioética como um movimento que compreende diversas

    facções e modos de apresentação, dentre os quais, a que apresento

    aqui é apenas uma delas, como uma provocação para debate.

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