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Instituto Superior T´ ecnico Departamento de Matem´ atica Sec¸ ao de ´ Algebra e An´ alise Prof. Gabriel Pires CDI-II Resumo das Aulas Te´oricas (Semana 2) 1 Fun¸c˜ oes Cont´ ınuas.Classifica¸c˜ ao de Conjuntos Seja f : R n R um campo escalar cont´ ınuo, α R e consideremos o conjunto A α = {x R n : f (x) α}. Seja (x k ) uma sucess˜ ao de termos em A α e convergente para um ponto a. Dado que f ´ e uma fun¸ ao cont´ ınua, teremos lim k→∞ f (x k )= f (a) e, sendo f (x k ) α, necessariamente f (a) α, ou seja a A α . Portanto, o conjunto A α ´ e fechado. Do mesmo modo se mostra que os conjuntos da forma {x R n : f (x) α} ao tamb´ em fechados. Aos conjuntos da forma {x R n : f (x)= α} a-se o nome de conjuntos de n´ ıvel α da fun¸ ao escalar f. Assim, os conjuntos de n´ ıvel de uma fun¸ ao escalar cont´ ınua s˜ ao fechados. Sabendo que o complementar de um aberto ´ e um fechado, conclu´ ımos que os conjuntos da forma {x R n : f (x) } ou da forma {x R n : f (x) } ao abertos. 1.1 Exemplos de Conjuntos Fechados a) Um C´ ırculo em R 2 . i) C´ ırculo de raio um e centro na origem de R 2 . (ver fig. 1). ii) {(x, y ) R 2 : x 2 + y 2 1}. Trata-se, portanto, de um conjunto fechado.

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Aulas e coisos

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  • Instituto Superior Tecnico

    Departamento de Matematica

    Seccao de Algebra e Analise

    Prof. Gabriel Pires

    CDI-II

    Resumo das Aulas Teoricas (Semana 2)

    1 Funcoes Contnuas. Classificacao de Conjuntos

    Seja f : Rn R um campo escalar contnuo, R e consideremos o conjunto

    A = {x Rn : f(x) }.

    Seja (xk) uma sucessao de termos em A e convergente para um ponto a. Dado que f euma funcao contnua, teremos

    limk

    f(xk) = f(a)

    e, sendo f(xk) , necessariamente f(a) , ou seja a A.Portanto, o conjunto A e fechado.Do mesmo modo se mostra que os conjuntos da forma

    {x Rn : f(x) }

    sao tambem fechados.Aos conjuntos da forma {x Rn : f(x) = } da-se o nome de conjuntos de nvel da

    funcao escalar f.Assim, os conjuntos de nvel de uma funcao escalar contnua sao fechados.Sabendo que o complementar de um aberto e um fechado, conclumos que os conjuntos da

    forma{x Rn : f(x) > }

    ou da forma{x Rn : f(x) < }

    sao abertos.

    1.1 Exemplos de Conjuntos Fechados

    a) Um Crculo em R2.

    i) Crculo de raio um e centro na origem de R2. (ver fig. 1).

    ii) {(x, y) R2 : x2 + y2 1}. Trata-se, portanto, de um conjunto fechado.

  • xy

    0

    x2 + y2 1

    Figura 1: Crculo definido por {(x, y) R2 : x2 + y2 1}

    b) Uma Esfera em R3.

    i) Superfcie esferica de raio um e centro na origem de R3. (ver fig. 2).

    ii) {(x, y, z) R3 : x2 + y2 + z2 1 = 0}, ou seja, conjunto de nvel zero da funcaocontnua F : R3 R definida por F (x, y, z) = x2 + y2 + z2 1. Trata-se, portanto,de um conjunto fechado.

    iii) Pilha de circunferencias de raio1 z2 e centro em (0, 0, z) em que 0 z 1. De

    facto temos x2 + y2 = 1 z2.iv) Pode ser vista como o resultado de uma rotacao, em torno do eixo Oz, de uma semi-

    circunferencia tal como se ilustra na figura (2).

    De facto, definindo =x2 + y2, temos 2 + z2 = 1.

    Note-se que representa a distancia de um ponto de coordenadas (x, y, z) ao eixo Oz,ou seja, ao ponto de coordenadas (0, 0, z). Portanto, fazendo rodar a semi-circunferenciaem torno do eixo Oz obtemos a esfera.

    c) Um Cilindro em R3.

    i) Superfcie cilndrica de raio um em R3. (ver fig. 3).

    ii) {(x, y, z) R3 : x2 + y2 1 = 0}, ou seja, conjunto de nvel zero da funcao contnuaF : R3 R definida por F (x, y, z) = x2 + y2 1. Trata-se, portanto, de um conjuntofechado.

    iii) Pilha de circunferencias de raio um e centro em (0, 0, z) em que 1 < z < 1.iv) Pode ser visto como o resultado de uma rotacao, em torno do eixo Oz, de um segmento

    de recta vertical tal como se ilustra na figura (3).

    De facto, definindo =x2 + y2, temos = 1.

    2

  • xy

    z

    0

    z

    2 + z2 = 1

    Figura 2: Esfera definida por {(x, y, z) R3 : x2 + y2 + z2 = 1}

    d) Um Paraboloide em R3.

    i) {(x, y, z) R3 : z = x2 + y2}, ou seja, conjunto de nvel zero da funcao contnuaF : R3 R definida por F (x, y, z) = z x2 y2. Trata-se, portanto, de um conjuntofechado.

    ii) Pilha de circunferencias de raioz e centro em (0, 0, z).

    iii) Pode ser visto como o resultado de uma rotacao, em torno do eixo Oz, de uma parabolatal como se ilustra na figura (4).

    De facto, definindo =x2 + y2, temos z = 2.

    e) Um Cone em R3.

    i) {(x, y, z) R3 : z =x2 + y2}, ou seja, conjunto de nvel zero da funcao contnua

    F : R3 R definida por F (x, y, z) = z2 x2 y2, em que z 0. Trata-se, portanto,de um conjunto fechado.

    ii) Pilha de circunferencias de raio z e centro em (0, 0, z).

    iii) Pode ser visto como o resultado de uma rotacao, em torno do eixo Oz, de uma rectatal como se ilustra na figura (5).

    De facto, definindo =x2 + y2, temos z = .

    f) Um Toro em R3.

    3

  • xy

    z

    0

    z

    = 1

    Figura 3: Cilindro definido por {(x, y, z) R3 : x2 + y2 = 1 ; 1 < z < 1}

    i) {(x, y, z) R3 : (x2 + y2 3)2 + z2 = 1}, ou seja, conjunto de nvel zero da funcao

    contnua F : R3 R definida por F (x, y, z) = (x2 + y2 3)2 + z2 1. Trata-se,

    portanto, de um conjunto fechado.

    ii) Pode ser visto como o resultado de uma rotacao, em torno do eixo Oz, de uma circun-ferencia tal como se ilustra na figura (6).

    De facto, definindo =x2 + y2, temos ( 3)2 + z2 = 1.

    1.2 Conjuntos Compactos. Teorema de Weierstrass

    Um conjunto A Rn diz-se limitado se existir uma bola centrada na origem que o contenha,ou seja,

    R > 0 : A BR(0) R > 0 x A : x < RUm conjunto A Rn diz-se compacto se for limitado e fechado.

    Exemplo 1.1 i) E claro que uma bola em Rn e um conjunto limitado.

    ii) A superfcie cilndrica (3) e um conjunto limitado porque, sendo

    x2 + y2 = 1 ; 1 < z < 1,

    teremosx2 + y2 + z2 2,

    ou seja, esta contida na bola de raio2 e centro na origem.

    4

  • x y

    z

    0 x

    y

    z = 2

    Figura 4: Paraboloide definido por {(x, y, z) R3 : z = x2 + y2}

    iii) O toro (6) e um conjunto limitado. De facto, sendo

    (x2 + y2 3)2 + z2 = 1,

    e claro que2

    x2 + y2 4 ; z2 1,

    e, portanto,x2 + y2 + z2 < 17.

    iv) O paraboloide (4) e o cone (5) nao sao conjuntos limitados.

    E sabido que em R uma sucessao limitada tem pelo menos uma subsucessao convergente.Em Rn acontece o mesmo.

    Para vermos que assim e, consideremos apenas o caso de R2. Seja (xk, yk) uma sucessaolimitada, ou seja,

    R > 0 k (xk, yk) Re, sabendo que

    | xk | (xk, yk) ,a sucessao (xk) e limitada em R e, portanto, tem uma subsucessao convergente. Seja (xk)essa subsucessao.

    A sucessao (xk, yk) e uma subsucessao de (xk, yk) e note-se que (yk) e tambem limitadaem R e tem, portanto, pelo menos uma subsucessao (yk) convergente.

    Assim, a sucessao (xk , yk) e uma subsucessao convergente da sucessao (xk, yk).

    5

  • xy

    z

    0

    z

    z =

    Figura 5: Cone definido por {(x, y, z) R3 : z =

    x2 + y2}

    Recorde-se que uma sucessao convergente, com termos num conjunto fechado, tem limitenesse conjunto.

    Portanto, um conjunto A R e compacto se qualquer sucessao com termos em A tempelo menos uma subsucessao convergente com limite em A.

    Seja f : Rn Rm uma funcao contnua e D Rn um conjunto compacto e consideremoso respectivo conjunto imagem f(D).

    Seja (yk) uma sucessao em f(D) e consideremos a sucessao (xk) de termos em D tal queyk = f(xk).

    Sendo D um conjunto compacto, a sucessao (xk) tem uma subsucessao (xk) convergente

    x

    y

    z

    0

    z

    ( 3)2 + z2 = 1

    Figura 6: Toro definido por {(x, y, z) R3 : (

    x2 + y2 3)2 + z2 = 1}

    6

  • com limite a D e, dado que f e uma funcao contnua, teremos

    limx

    ka

    f(xk) = f(a)

    e, portanto,limk

    yk = f(a) f(D),ou seja, a sucessao (yk) tem uma subsucessao (yk) convergente com limite em f(D).

    No caso escalar, f(D) sera um conjunto compacto em R e, portanto, tera maximo e mnimo.

    Teorema 1.1 (Weierstrass) Seja D Rn um conjunto compacto e nao vazio. Entaoqualquer funcao escalar contnua em D tem maximo e mnimo nesse conjunto.

    7

  • 2 Funcoes Diferenciaveis

    Definicao 2.1 Uma funcao f : D Rn Rm diz-se diferenciavel num ponto a int(D)se existir uma aplicacao linear Df(a) : Rn Rm, denominada derivada de f em a, tal que

    f(a+ h) f(a)Df(a)h = o(h),

    ou seja,

    limh0

    o(h)

    h = limh0f(a+ h) f(a)Df(a)h

    h = 0

    Seja {e1, e2, , en} a base canonica de Rn. Fazendo h = tek com t R, teremos

    f(a+ tek) f(a) = Df(a)(tek) + o(tek)

    e, sabendo que Df(a) e uma aplicacao linear, entao

    f(a+ tek) f(a) = tDf(a)ek + o(tek),

    ou seja,f(a+ tek) f(a)

    t= Df(a)ek +

    o(tek)

    t.

    Portanto,

    limt0

    f(a+ tek) f(a)t

    = Df(a)ek.

    Note-se que

    a = (a1, a2, . . . , ak, . . . , , an) ; a+ tek = (a1, a2, . . . , ak + t, . . . , , an)

    e a razao incremental

    f(a+ tek) f(a)t

    =f(a1, a2, . . . , ak + t, . . . , , an) f(a1, a2, . . . , ak, . . . , , an)

    t

    obtem-se, fixando todas as coordenadas excepto a k-esima.Sendo f(x) = (f1(x), f2(x), . . . , fm(x)), temos

    limt0

    f(a+ tek) f(a)t

    =

    (limt0

    f1(a+ tek) f1(a)t

    , . . . , limt0

    fm(a+ tek) fm(a)t

    ).

    Note-se tambem que o conjunto de pontos definido por {a+tek : t R} e a recta que passapelo ponto a e com a direccao do vector ek. Assim, a razao incremental

    fj(a+ tek) fj(a)t

    e

    a taxa de variacao da funcao escalar fj na direccao ek.

    8

  • Definicao 2.2 Ao limite

    fj

    xk(a) = lim

    t0

    fj(a+ tek) fj(a)t

    chamamos derivada partial de fj , com j = 1, 2, . . . , m, no ponto a em ordem a` variavelxk, com k = 1, 2, . . . , n.

    Note-se que para calcular a derivada partialfj

    xk(a) devemos fixar todas as variaveis excepto

    xk. Portanto, trata-se de calcular a derivada de uma funcao de uma variavel real xk.Por outro lado, Df(a)ek e a k-esima coluna da matriz que representa a derivada Df(a).

    Portanto, a matriz que representa a derivada Df(a) sera

    Df(a) =

    f1x1

    (a) f1x2

    (a) f1xn

    (a)

    f2x1

    (a) f2x2

    (a) f2xn

    (a)

    . . . . . .

    . . . . . .

    . . . . . .

    fmx1

    (a) fmx2

    (a) fmxn

    (a)

    A` matriz Df(a) tambem se da o nome de matriz Jacobiana de f.No caso em que m = 1, ou seja, f : D Rn R, entao Df(a) tera apenas uma linha

    Df(a) =[f

    x1(a) f

    x2(a) f

    xn(a)

    ]

    e podemos representa-la na forma vectorial

    Df(a) =

    (f

    x1(a),

    f

    x2(a), , f

    xn(a)

    ),

    a que chamaremos gradiente de f em a.Passaremos a designar este vector pelo smbolo f(a), ou seja,

    f(a) =(f

    x1(a),

    f

    x2(a), , f

    xn(a)

    ).

    Exemplo 2.1 i) A funcao f(x, y) = x, definida em R2 e diferenciavel em qualquer pontode R2.

    Seja (a, b) um ponto qualquer de R2. Fixando y = b e derivando f como funcao apenasde x obtemos

    f

    x(a, b) = 1.

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  • Fixando x = a e derivando f como funcao apenas de y obtemos

    f

    y(a, b) = 0.

    Portanto,

    Df(a, b) =[f

    x(a, b) f

    y(a, b)

    ]=[1 0

    ]e

    Df(a, b)(h, k) =[1 0

    ] [hk

    ]= h.

    Assim,

    lim(h,k)(0,0)

    f(a+ h, b+ k) f(a, b)Df(a, b)(h, k) (h, k) = lim(h,k)(0,0)

    a + h a h (h, k) = 0

    e, portanto f e diferenciavel em (a, b), de acordo com a definicao (2.1).

    ii) O gradiente da funcao f(x, y) =x

    yno ponto (x, y) do respectivo domnio e o vector

    f(x, y) =(f

    x(x, y),

    f

    y(x, y)

    )=

    (1

    y, x

    y2

    )

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    Funes Contnuas. Classificao de ConjuntosExemplos de Conjuntos FechadosConjuntos Compactos. Teorema de Weierstrass

    Funes Diferenciveis