o elogia da narrativa como recurso analítico
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7/25/2019 O elogia da narrativa como recurso analtico
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Universidade de Braslia
Instituto de Cincias Humanas
Departamento de Sociologia PPG-SOL
Disciplina !"picos especiais de Sociologia #
C"digo $$%&'&
Pro(essor Lus de Gusm)o
Perodo *+,+*#'
luno Daniel Lui. de Carval/o 0ota
tividade rtigo de conclus)o da disciplina
O elogio da narrativa como recurso analtico
1Os /omens est)o sempre prontos para distorcer a2uilo 2ue di.em seus sentidos3
simplesmente para 4usti(icar sua l"gica56
7i"dor Dostoi8vs9i
voca:)o da sociologia para recon/ecer as regularidades da a:)o sempre dei;ou
os soci"logos pouco < vontade com lidar com a contingncia e o acidental5 =)o 8 < toa o
con/ecido despre.o sociol"gico pela narrativa dos (atos5 Os interpretamos de acordo
com suas regularidades3 mas nos recusamos a relatar-l/es a cronologia > so?retudo
na2ueles instantes em 2ue (atos aleat"rios despontam para (ora do en2uadramentote"rico5 @ dessa (orma3 poucas ve.es o acidental compAe a re(le;)o sociol"gica so?re
causa:)o3 como se apenas variveis gerais3 estruturadas3 o?servveis e es2uemati.veis
(ossem responsveis por gerar movimento social5 sociologia tem se tornado assim a
cincia das institui:Aes3 dos costumes e das prticas durveis e mesmo 2uando tenta
tratar de mudan:a social3 encontra tendncias nos padrAes anteriores 2ue
condicionariam o movimento dentro de tra4et"rias dadas5 Se nesse momento alguma
met(ora ocorresse < min/a pouca acuidade literria3 compararia a evolu:)o da
sociologia 2uanto int8rprete dos acontecimentos sociais com o movimento de ocupa:)o
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do Oeste =orte mericano3 mas n)o o eventual e irregular singrado pelos co?os em
suas mulas3 e sim a2uele percorrido pelos (uncionrios de @stado so?re as 4
demarcadas (errovias5
(onte do despre.o sociol"gico pelo contingencial remonta aos primeiroses(or:os dos soci"logos clssicos em esta?elecer a sociologia 2uanto disciplina
cient(ica5 Lem?remos 2ue o s8culo EIE (oi talve. o momento da /ist"ria cultural do
Ocidente em 2ue mais reas do con/ecimento come:aram a reivindicar para si o status
de cincias3 dentre elas a Sociologia5 eu(oria tecnol"gica propagada pela Fevolu:)o
Industrial avan:ava so?re seu v8rtice na cultura do Ocidente e as tentativas de se
sistemati.ar as diversas reas do sa?er tornam-se not"rias5 eu(oria do sa?er t8cnico
(ormigava em escolas polit8cnicas3 museus3 e em sociedades cient(icas3 en2uantoestudiosos desenvolviam < grandes passos as cincias 2ue revolucionavam o mundo
moderno3 como a 7sica3 a umica e a 0etalurgia5 O cnone cient(ico era assim
(ortemente marcado pelas caractersticas dessas cincias modelares3 determinando toda
a eu(oria sistemati.adora 2ue originava as nascentes cincias /umanas5
Para pensarmos com u/n JUH=3 +**'K3 a unidade metodol"gica3 ou o
paradigma 2ue determinava os pro?lemas a serem resolvidos no s8culo EIE3 delimitava
o nascimento das novas cincias dentro de um conte;to de desco?erta (irmado pelo
padr)o de racionalidade praticado nas cincias naturais3 o 2ue limitava so?re medida o
2ue poderia ser considerado um discurso cient(ico5 nesse conte;to 2ue disciplinas
como a Psicologia e a Sociologia tentam a(irmar-se 2uanto cincias3 assumindo o
cnone das cincias naturais e as (ormas de racionalidade e de arran4os metodol"gicos
2ue as de(inem5 cincia 8 ent)o (eita de con/ecimento construdo por leis 2ue podem
ser redutveis aos (atos5 trav8s do raciocnio e da o?serva:)o3 8 possvel esta?elecer as
leis 2ue regem 2uais2uer (atos3 inclusive os sociais5 Como a 7sica pode esta?elecer asleis 2ue regem os (enMmenos (sicos3 a Sociologia3 ou a 17sica Social6 pode encontrar
as regularidades 2ue de(inem as leis do movimento e da esttica social > como Comte
dividia a sua rec8m criada Sociologia5
=esse particular conte;to de valida:)o em 2ue a Sociologia tenta se a(irmar
2uanto cincia3 o cienti(icismo > a2ui empregado como (orma de a(irma:)o de um sa?er
2ue lutava para se erguer ao senso comum > assume a (orma de e;press)o da nascente
disciplina e n)o se contenta com isso5 @mprestando aos pes2uisadores uma urea 2ue
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desde ent)o eles se recusam a dissipar3 o cienti(icismo avan:a so?re o pr"prio conteNdo
do sa?er sociol"gico3 4 compreendido como uma (orma de con/ecimento geral3
reivindicando para si um local 2ue ent)o se torna sagrado no processo de constru:)o do
sa?er sociol"gico3 parte integrante das opera:Aes l"gico (ormais pelas 2uais esse sa?er
se constitui como uma linguagem recon/ecidamente cient(ica,sociol"gica a
1(undamenta:)o da teoria65
@ssa parte integrante o?rigat"ria de 2ual2uer re(le;)o acadmica 2ue ?us2ue o
recon/ecimento 2uanto sociol"gica > sem a 2ual 2ual2uer pes2uisa di(icilmente
so?reviver uma ?anca e;aminadora > a teoria e sua 1(undamenta:)o6 n)o se constitui
uma alternativa vivel para uma possvel concatena:)o mais geral de uma o?serva:)o
arguta de (atos sociais3 mas um contexto de configurao obrigatria(ora do 2ual todaa re(le;)o social perde sua validade sociol"gica5 ual2uer re(le;)o so?re a e;istncia
social3 por mais sensata e empiricamente o?servvel 2ue se4a n)o se constituiria uma
verdade a n)o ser 2ue pud8ssemos concatena-la a alguma tradi:)o e;plicativa mais geral
Jgeralmente propalada por grande soci"logoK 2ue emprestaria
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operada pela nascente cincia social (oi com o senso comum5 Disputando os o?4etos de
suas re(le;Aes com um sa?er natural articulado de (orma espontnea por 2ual2uer
racionalidade vulgar3 os soci"logos tiveram 2ue precisar na linguagem sua (orma de
e;press)o 2ue se reivindicava cient(ica5 O rigor terminol"gico e suas tediosas
de(ini:Aes testemun/am a apreens)o do soci"logo diante do (ato de 2ue ele n)o possui o
monop"lio so?re a re(le;)o de seu o?4eto5 Diante disso3 8 compreensvel a compuls)o
de alguns soci"logos por criar palavras para nomear novos conceitos3 2ue acreditam
capa.es de evitas as armadil/as do vernculo5 de(ini:)o precisa e sem am?iguidade
deriva naturalmente do en2uadramento te"rico e do rigor metodol"gico3 ainda um
es(or:o da Sociologia para a(irmar-se como cincia5 esse respeito3 Peter Berger
comentou
1tam?8m diramos 2ue 2uase tudo em Sociologia pode ser dito em linguagem inteligvel3
mediante pe2ueno es(or:o e 2ue grande parte do 4arg)o sociol"gico contemporneo pode ser
visto como uma constrangida misti(ica:)o56 JB@FG@F3 +**'3 p5 +K5
@m?ora a?solutamente correta so? 2ual2uer ponto de vista ra.ovel3 esta
constata:)o n)o parece amea:ar o privilegiado local ocupado pelo cienti(icismo
Jorientado pela teoria3 modelado pelo m8todo e travestido pela linguagemK dentro docnone da Sociologia5 Se / algo 2ue os soci"logos n)o est)o dispostos a a?rir m)o 8 de
seu status como cientistas5 @ ainda 2ue a re(le;)o epistemol"gica contempornea ten/a
se es(or:ado em 2uestionar o modelo cienti(icista de valida:)o racional3 ele ainda 8 (orte
na Sociologia3 e se reprodu. como em lin/as de montagem nos programas de p"s-
gradua:)o 2ue teimam em (ormatar as pes2uisas dentro dessa trade !@OFI
0!ODO LI=GUG@0 > so? pena da pes2uisa n)o se 2uali(icar em ?anca alguma5
=esse conte;to3 a2ueles 2ue pretendem escrever um artigo cient(ico3 como uma
disserta:)o de mestrado3 por e;emplo3 encontram-se impreterivelmente com uma
es(inge Ja ?anca de 2uali(ica:)oK 2ue s" o dei;ar avan:ar para o campo de estudo caso
responda as trs perguntas com 2ual teoria3 por 2ual m8todo3 so? 2ual linguagem
Fespondidas geralmente de (orma (or:ada > pois 2uestiono a capacidade de um
pes2uisador JmestrandoK de escol/er uma teoria ade2uada antes mesmo de entrar em
contato com seu o?4eto3 atrav8s da pes2uisa emprica > essas 2uestAes 2ue3 deveriam
(a.er parte de uma re(le;)o posterior 4 esclarecida pelo contato com a pes2uisa de
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campo3 e 2ue corresponderiam a uma e;plica:)o mais geral relacionada as ade2ua:Aes
te"ricas o?servadas no campo de estudo3 passam a limitar a pr"pria o?serva:)o3 como
a2uela trave nos ol/os 2ue Brs Cu?as denunciava em seu Humanitismo5 =)o raro o
pes2uisador se (lagra procurando na realidade estudada algo 2ue pode 4usti(icar o
emprego dos conceitos 4 escol/idos ao repert"rio te"rico3 um (ato 2ue apareceria
revelado pelo m8todo adotado e novas palavras para e;press-lo3 da (orma mais
cienti(icamente distante da maneira comum de se (alar a respeito5 ssim o soci"logo vai
ao campo de estudo procurando encontrar nele os elementos (ormais 2ue ilustrariam seu
es(or:o cient(ico3 ou desconstr"i a sociali.a:)o 2ue o cienti(icismo l/e inculcou ao
?uscar a verdadeira realidade5
inegvel o carter de coisa dos (atos sociais3 isto 83 de 2ue certas (ormas deagir3 pensar e sentir durveis possuem uma e;ternalidade e generalidade anteriores e
posteriores aos indivduos3 2ue c/egam a constrang-los de (orma coercitiva > como 4
/avia apontado Dur9/eim5 @ssas sempre (oram as coisas sociais 2ue c/amaram a
aten:)o dos soci"logos5 =)o o?stante3 8 tam?8m inegvel o (ato de 2ue nem todas as
coisas sociais se constituem no tempo de (orma a serem consideradas durveis3 em?ora
algumas tam?8m se4am e;teriores3 gerais e possuam um poder de coer:)o capa.
constranger os indivduos5 S)o os acontecimentos (ortuitos3 os casos isolados3 ospe2uenos desli.es3 as palavras deslocadas3 o es?arr)o com repercussAes3 o mal
entendido (ora de lugar e um universo imprevisvel de acontecimentos acidentais 2ue
podem modi(icar a dire:)o do movimento social3 inici-lo3 interromp-lo3 2ue podem3
em (im3 constituir-se como o?4etos sociol"gicos de modo a conceder-l/es um status de
causa:)o5
Pouco < vontade com esses (enMmenos epis"dicos3 os soci"logos tendem a
desconsider-los em suas anlises em (avor de um carter durvel 2ue sempre 4usti(icoua escol/a do o?4eto sociol"gico5 Q tutelado pelo cienti(icismo3 nosso em?otado
o?servador 4unta mais uma camada couro < trave 2ue limita sua vis)o agora s" poder
o?servar o 2ue (oi dado pela teoria3 o 2ue cou?er na metodologia e (oi e;presso de
maneira original3 mas somente se reprodu.ir-se ao longo do tempo5 =)o diria 2ue tal
estrat8gia de valida:)o n)o possa dar certo3 so?retudo do ponto de vista (ormal3 2uando
o o?4eto a?ordado se mostre redutvel ao en2uadramento cienti(icista5 O soci"logo 2ue
2ueira estudar uma institui:)o social (ormal3 a (amlia3 por e;emplo3 provavelmenteconseguir en2uadrar sua pes2uisa em alguma das muitas tradi:Aes te"ricas 2ue tratam
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desse (enMmeno5 uanto aos m8todos3 tam?8m seriam muitos 2ue poderiam conceder-
l/e rigor cient(ico dentro dessa tradi:)o5 a tenta:)o de se criar uma terminologia
pr"pria3 a?solutamente t8cnica e a(astada do senso comum3 para a e;press)o dos
resultados da pes2uisa so?re essa institui:)o secular 2ue atravessa o tempo poderia3
(inalmente3 ser satis(eita5
0as nem todos os o?4etos sociol"gicos se prestam a esse en2uadramento5 Como
(icou dito acima3 / certos (atos sociais 2ue possuem valor causal dentro de uma
e;plica:)o sociol"gica e 2ue podem n)o ser durveis5 Outro sim3 sua nature.a epis"dica
e acidental3 ao inv8s de des2uali(ica-los 2uanto seu poder de determinar as
circunstncias sociais3 re(or:am esse poder a despeito da incapacidade sociol"gica de
en2uadr-los na teoria social5 Desco?ri isso 2uando comecei min/a pes2uisa de campopara o mestrado5
Q sociali.ado por um ano de p"s-gradu:)o no programa do departamento de
sociologia da UnB3 e autori.ado pela a es(inge para (a.er a pes2uisa de campo3 comecei
a procurar na realidade 2ue estudava os elementos 2ue constituam min/a teoria5 O
pro?lema 8 2ue demorei a perce?er 2ue meu o?4eto de pes2uisa 8 um da2ueles (atos
pouco redutveis ao en2uadramento te"rico as situaes de violncia em uma escola5
0in/a ideia era estudar as situa:Aes 2ue resultavam em violncia na escola3
descrevendo a maneira como os indivduos nela envolvidos desenvolviam sua
socia?ilidade nos momentos em 2ue interagiam na2uelas situa:Aes5 =o entanto3 nos seis
meses 2ue (i. min/as o?serva:Aes etnogr(icas presenciei apenas duas dessas situa:Aes5
@u acessava a maioria dos dados a elas relacionados atrav8s de relatos dos su4eitos da
pes2uisa3 o 2ue evidenciava min/a di(iculdade em esta?elecer padrAes o?servveis para
concatenar o 2ue eu estava ouvindo com a teoria 2ue 4usti(icava min/a pes2uisa5 @
ainda 2ue estas situa:Aes possuam uma dimens)o estruturada Jpor e;emplo3 osmomentos de troca de /orrio3 2uando mais ocorrem alterca:AesK3 elas n)o derivam
necessariamente dessa dimens)o3 impedindo 2ue eu ensaiasse uma possvel
generali.a:)o sempre 2ue / troca de /orrio acontecem situa:Aes de violncia na
escola estudada3 ainda no e;emplo5
Por outro lado3 o aspecto (ugidio das situa:Aes de violncia n)o diminua sua
in(luncia so?re a socia?ilidade dos su4eitos e;postos < mera possi?ilidade de sua
mani(esta:)o3 condicionando as intera:Aes 2uando n)o pela presen:a3 pela mera
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possi?ilidade de ocorrncia5 2ui o carter (ugidio do o?4eto3 antes de en(ra2uec-lo
como elemento causal3 l/e atri?ui uma unidade a mais de energia social3 ao n)o se
prestar < previs)o5 uando as situa:Aes de violncia n)o estavam condicionando as
intera:Aes pela crua mani(esta:)o3 (a.iam-no como uma presen:a ausente3 uma
possi?ilidade3 um verdadeiro espectro rondando o campo de estudos sussurrando
alternativas de intera:)o5
Feceio n)o conseguir me (a.er mais claro5 Fecorrendo < a4uda do iconoclasta
Lui. de Gusm)o JGUS0RO3 +*#'K3 o 2ue est em 2uest)o 8 se / realmente a
possi?ilidade Jou mesmo o interesseK de uma rgida distin:)o entre causalidade /ist"rica
e causalidade sociol"gica3 2uando o 2ue se est em 4ogo 8 o acesso aos dados empricos
da pes2uisa social5 utores como Dur9/eim e 0ar; acreditavam 2ue ca?eria aopes2uisador social lidar com causa:Aes estruturais3 cu4o acesso seria assegurado por
uma ?ase te"rica irredutvel ao con/ecimento do senso comum3 e n)o causa:Aes
aleat"rias e circunstanciais3 /istoricamente datadas > o despre.o sociol"gico pela
narrativa /istoriogr(ica nascia com o surgimento da Sociologia5 Com as senten:as de
2ue eles dispun/am3 consideradas gerais e trans-/ist"ricas3 dentro das condi:Aes sociais
por eles tipi(icadas3 puderam redu.ir a intencionalidade /umana a uma mera 1varivel
dependente a ser dedu.ida3 tam?8m ela3 de um con4unto tipi(icado de condi:Aesestruturais6 JGUS0RO3 +*#'3 p5 '$&K5 Por outro lado3 Gusm)o argumenta 2ue3 mesmo
2ue e;istam padrAes de vida durveis no mundo social3 eles n)o 4usti(icariam um
con/ecimento geral3 distintivo e irredutvel ao sa?er comum5 0ais ainda3 o pressuposto
de tal con/ecimento 8 a e;istncia de um corpo geral de senten:as gerais e de validade
trans-/ist"rica3 2ue assegure os resultados de (enMmenos sociais relacionados a
condi:Aes tipi(icadas e 2ue go.em de consenso na comunidade cient(ica5 Isso por2ue o
conceito Jou a senten:a geralK n)o pensa5 Para 2ue transmita um sentido3 ele deve estar
inscrito em uma senten:a3 constituda por ideais gerais e trans-/ist"ricas Jo nosso corpo
geral de senten:asK3 somente onde 8 possvel esta?elecer rela:Aes de dependncia
uni(orme e invariveis entre (enMmenos tipi(icados5 O pro?lema 8 2ue cincia social
alguma possui esse tal corpo geral de senten:as gerais e de validade trans-/ist"rica < sua
disposi:)o3 2ue 4usti(icaria a re4ei:)o da e;plica:)o intencional e de 2ual2uer outra
varivel aleat"ria ao sistema5
Gusm)o ainda propAe uma 1sociologia conteudstica63 n)o dependente deteorias3 cu4as e;plica:Aes n)o di(eririam muito das e;plica:Aes /istoriogr(icas5 @m tal
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sociologia3 n)o /averia uma sele:)o /ierar2ui.ada de elementos causais3 onde os de
cun/o estrutural estariam sempre no topo5 Como a sociologia (eita por le;is de
!oc2ueville J!OCU@TILL@3 +*##K demonstrou3 uma ?oa e;plica:)o social n)o
precisa estar so? tutela de uma teoria sociol"gica5 =em t)o pouco eleger uma ou outra
causa como a determinante in(le;vel do movimento social5 =esse sentido3 !oc2ueville
introdu. uma narrativa s"cio-/ist"rica de um (ato singular > as 4ornadas revolucionrias
de Paris em # > introdu.indo em sua e;plica:)o para os (atos variveis n)o somente
estruturais5 =essa e;plica:)o3 (atores /ist"ricos3 (atores psicol"gicos3 (atores sociais e
at8 mesmo (atores acidentais se com?inam para compor a e;plica:)o de causa:)o
social3 compondo um 2uadro de anlise altamente comple;o3 c/eio de o?serva:Aes de
validade geral > inclusive so?re a nature.a /umana5 Como pensador livre de 2ual2uer
en2uadramento te"rico3 !oc2ueville compreende 2ue o movimento social n)o pode ser
automaticamente dedu.ido de 2ual2uer modelo nomol"gico e 2ue eleger uma ou outra
causa como a predominante n)o contri?ui com o recon/ecimento da comple;idade 2ue
compAe a realidade social5 !estemun/a dos acontecimentos de #3 !oc2ueville se
coloca como um agente em sua descri:)o /istoriogr(ica3 nos dando uma vis)o por
dentro da revolu:)o 2ue3 ainda 2ue traga os preconceitos do lugar de (ala do autor3
consegue penetrar nos arran4os societais e meandros psicol"gicos com su(iciente
o?4etividade5 s condi:Aes s"cio-/ist"ricas da 7ran:a s)o consideradas como pano de
(undo de todo um 4ogo social em 2ue pai;Aes3 interesses3 ideias e acontecimentos
acidentais v)o determinando o curso dos acontecimentos como variveis causais t)o
(ortes 2uanto as estruturas sociais 2ue os cont8m5 dinmica social 8 descrita como
resultado da intera:)o entre mNltiplas causas 2ue se arran4am num movimento irregular
e imprevisvel3 a?solutamente suscetvel a 2ual2uer uma dessas causas5 @m tal
e;plica:)o3 as condi:Aes estruturais do @stado (rancs possui valor causal e2uivalente a
um mero atraso para a assem?leiaV e a pusilanimidade3 tra:o psicol"gico altamentemo?ili.ado em tempos de mudan:a social3 (inalmente aparece na e;plica:)o sociol"gica
revestida do poder causal so?re as situa:Aes 2ue todo o?servador mais arguto l/e
atri?ui5
o incluir em sua e;plica:)o causal elementos conte;tuais3 !oc2ueville constr"i
seu te;to da Nnica maneira 2ue acredito possvel captar o verdadeiro valor dos
elementos acidentais como determinantes /ist"ricos narrando os (atos5 narrativa3
como a esta altura espero ter demonstrado3 nunca (oi uma modalidade e;plicativa muito
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utili.ada pelos soci"logos5 Outro sim3 sempre cultivamos in(le;vel despre.o por essa
(orma de compreens)o da Hist"ria3 considerando-a menor e relegada aos /istoriadores3
nossos primos po?res5 Portadores das senten:as gerais trans-/ist"ricas3 nunca nos
ocupamos com o 2ue escapa < teoria3 considerando o acidente irrelevante na e;plica:)o
causal5 =o entanto3 (atos acidentais n)o somente possuem poder causal so?re situa:Aes
estruturadas > como !oc2ueville demonstrou > como sua mera possi?ilidade de
mani(esta:)o pode determinar condi:Aes de intera:)o capa.es de inter(erir nas pr"prias
situa:Aes estruturadas > como a(irmei acima5 preciso rea?ilitar os acontecimentos
acidentais em seu status causal dentro da e;plica:)o sociol"gica e a narrativa se
constitui como uma (orma e(iciente de (a.-lo5
Dado 2ue causa alguma pode ser re4eitada na e;plica:)o sociol"gica3 o desa(iose constitui em esta?elecermos um m8todo capa. de alcan:ar as mNltiplas causalidades
de (orma n)o /ierar2ui.ada3 livre de 2ual2uer tutela te"rica5 Diante do cienti(icismo3
nosso modelo sociali.ador3 soa estran/o pensar em um m8todo 2ue n)o este4a veiculado
a uma teoria5 08todo3 contudo3 ainda 8 apenas um meio 2ue usamos para reali.ar
determinado (im5 O m8todo em si n)o precisa da teoria para desenvolver-se como
recurso l"gico e;plicativo5 Pelo contrrio3 8 o rigor metodol"gico 2ue reveste a teoria de
valor cient(ico5 ele tam?8m 2ue (or:a o avan:o da teoria3 atrav8s das opera:Aes 2ueprecisa reali.ar diante dos desa(ios da pes2uisa emprica5 Portanto3 antes de
2uestionarmos se 8 vivel uma metodologia sem teoria 8 mel/or recon/ecermos 2ue
mais atrapal/a a pes2uisa emprica uma teoria 2ue limita o m8todo5
Como articular uma maneira de con/ecer a realidade social desprovida de
conceitos e senten:as gerais 2ue os (a:am 1pensar6 Como esta?elecer rela:Aes de
dependncia entre elementos causais de valores cronol"gicos di(erentes Como
concatenar elementos constitutivos de uma e;plica:)o cu4a nature.a de mani(esta:)odivir4a no tempo Ou ainda3 como esta?elecer correspondncias de validade geral em
uma e;plica:)o sociol"gica irredutvel a en2uadramentos te"ricos S)o 2uestAes 2ue a
sociologia conteudstica deve responder ao se deparar com o desa(io de romper com o
preconceito causal e assumir uma e;plica:)o causal 2ue realmente leve em conta as
mNltiplas (ontes do movimento social5 !ais 2uestAes podem determinar o conteNdo
dessa nova e;plica:)o sociol"gica3 mas acredito 2ue sua (orma 4 esta proposta na
sociologia de !oc2ueville5
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a (orma narrativa5 @ nisto consiste o elogio da narrativa como recurso
analtico em habilitar a narrativa como forma de quebrar a hierarquia na explicao
causal e reconhecer o valor dos acontecimentos episdicos como fonte de movimento
histrico5 O acontecimento isolado n)o teria outra maneira de compor uma e;plica:)o
causal a n)o ser 2ue ela distri?ua as especi(icidades desse acontecimento num perodo
de tempo3 relacionando-as
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REFERNCIAS
B@FG@F3 Peter Perspectivas sociolgicas: uma viso humanstica @ditora To.es3
Petr"polis3 +%W @di:)o3 +**'5
GUS0RO3 Lui. de Sociologia histria e conhecimento de senso comum Fevista
Sociedade e @stado- Tolume $*3 nNmero + 0aio,gosto +*#'5
UH=3 !/omas! estrutura das revolues cientficas @ditora Perspectiva3 S)o Paulo-
SP3 +**'5
!OCU@TILL@3 le;is "embranas de #$%$: &ornadas revolucion'rias em Paris(
Compan/ia das Letras3 S)o Paulo-SP3 +*##5