a sociologia marxista

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A Sociologia Marxista Prof. Dr. Richard Romancini (ECA/USP)

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Page 1: A sociologia marxista

A Sociologia Marxista

Prof. Dr. Richard Romancini(ECA/USP)

Page 2: A sociologia marxista

Marx: introdução

https://www.youtube.com/watch?v=2DmlHFtTplA

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Marx nas Ciências Sociais e no mundo social

- Diferentemente de Durkheim e Weber, na vasta obra do alemão Karl Marx (1818-1883) não há uma preocupação explícita com a elaboração de uma disciplina sociológica, já que o pensamento de Marx tende ao holístico;

- No entanto, suas ideias tiveram enorme impacto nas Ciências Sociais – constituindo-se numa das fontes mais importantes da Sociologia – assim como na política e em vários outros âmbitos intelectuais e sociais;

Karl Marx (1818-1883)Fonte: Wikipédia

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Marx nas Ciências Sociais e no mundo social

- O pendor menor de Marx pela disciplinarização do saber acadêmico e maior preocupação com a transformação social refletem-se na sua biografia.

- Marx não chegou a ocupar posições de mando nas universidades e sua militância política (evidente em muitas de suas obras – como o célebre Manifesto do Partido Comunista [1848]) causaram-lhe uma série de dificuldades pessoais, como perseguições, exílio e penúria econômica.

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A dialética de Hegel- Talvez a influência mais significativa no pensamento Marx seja a do filósofo Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) que postulava a dialética como um movimento histórico e um método de apreensão do conhecimento;

- Na dialética hegeliana a compreensão dos fenômenos ocorre pela captura intelectual de uma unidade dialética, que só pode ser vislumbrada em algo (por exemplo, o “finito”) se o seu oposto (o “infinito”) também for articulado à reflexão;

Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831)Fonte: Wikipédia

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A dialética de Hegel

- O pensamento dialético operaria a partir da “tese” e da “antítese”, em busca de uma “síntese”, que seria um raciocínio superior, mas ainda passível de superação nesse movimento contínuo da reflexão entre o particular e a totalidade;

- Marx funda seu método de análise, o chamado materialismo histórico (ou materialismo dialético histórico) na crítica (e potencial superação) ao “idealismo” da posição de Hegel. Isso porque enquanto para Hegel haveria uma Ideia Absoluta que regeria a marcha rumo à sua própria realização, entre teses/antíteses e contínuas sínteses provisórias, para Marx são os homens historicamente situados que fazem esse movimento.

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O materialismo histórico dialético- Em termos sintéticos, para Marx (e para seu amigo e colaborador Engels), o “ideal” nasce do material, da realidade que os homens vivem (daí o “materialismo”), situado na história (o “histórico”), realizando-se em lutas (contradições) sociais que – em sua trajetória histórica – possuem um caráter “dialético”;

Friedrich Engels (1820-1895)Fonte: Wikipédia

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O materialismo histórico dialético

- Desse modo: “Aplicada aos fenômenos historicamente produzidos, a ótica dialética cuida de apontar as contradições constitutivas da vida social que resultam na negação e superação de determinada ordem” (Oliveira e Quintaneiro, 2002: 29);

- É por isso que se nota que na essência do método marxista de análise está a contradição.

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Superestrutura e infraestrutura social

- De acordo com o ponto de vista materialista de Marx, o elemento primordial da realidade social é o modo como os homens produzem suas condições de existência, ou seja, a base econômica da sociedade.

- E esta base é o fundamento das instituições políticas e sociais do Estado, bem como das diferentes estruturas ideológicas de uma sociedade (arte, política, filosofia, religião, direito etc.);

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Superestrutura e infraestrutura social

- Assim, segundo o conhecido esquema marxista, as ideias (superestrutura) derivam, em última análise, da base material de uma sociedade (infraestrutura); e as idéias dominantes em qualquer época são as da classe dominante, procurando manter sua dominação.

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Superestrutura e infraestrutura social

- Entretanto, superestrutura e infraestrutura desenvolvem-se de maneira dialética, e algumas vertentes do marxismo (como prática política) enfatizaram a importância de promover mudanças no plano das ideias e valores da sociedade

Cartas de Agit-propFonte: Communist University (http://domza.blogspot.com.br/2014/01/agitprop.html)

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Superestrutura e infraestrutura social

- Isso pode se dar tanto para a feitura da revolução (por exemplo, o agit-prop russo) quanto durante o desenvolvimento da sociedade socialista (p. ex., estética do “realismo socialista” e Revolução Cultural Chinesa)

Ilustração de livro didático chinês da época da Revolução CulturalFonte: Wikipédia

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Conhecimento científico e objetividade

- Para Marx, o ponto de vista de classe e o conhecimento científico não são contraditórios;

- Ao contrário, o desmascaramento da ideologia só é possível pelos grupos que se colocam em oposição ao sistema existente (o proletariado);

- As ideologias dominantes, pelo contrário, são um obstáculo ao conhecimento.

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Modos de produção e mudança social- Para compreender como Marx vê o desenvolvimento histórico, é importante detalhar mais a noção de “base econômica”. Esta é constituída de determinadas relações sociais de produção e forças produtivas, que possuem determinado estágio de desenvolvimento conforme a época.

- A ideia de “forças produtivas” resume os elementos essenciais à produção (tecnologia, instrumentos, matéria-prima etc.) e as “relações sociais de produção” dizem respeito ao modo como os meios de produção são distribuídos e o produto é apropriado;

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Modos de produção e mudança social

- Da conjunção entre certa organização de forças produtivas e relações sociais de produção resulta determinado modo de produção (por exemplo, o capitalismo) e é a partir da sucessão entre modos de produção que se dá a mudança histórica, segundo Marx.

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A “luta de classes” como motor (e lei) da história

- Se é a sucessão entre os modos de produção que gera a mudança histórica e social, o que faz com que um modo de produção supere outro? Segundo Marx, isso ocorre devido à luta de classes;

- A luta de classes seria, então, o motor da história, sendo um conceito que permitiria compreender o passado e o futuro da humanidade (até a síntese final que seria o “comunismo”);

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A “luta de classes” como motor (e lei) da história

- A luta de classes pode ser definida como as relações de antagonismo existentes entre classes sociais (a dominante e a explorada), que levam a uma superação dialética no plano da história, em outro estágio;

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=EaVbYyky-Bw

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A “luta de classes” como motor (e lei) da história

- São exemplos de situações de lutas de classe (e correspondentes modos de produção): escravos e patrícios na Antiguidade (escravismo), servos e senhores feudais (feudalismo), trabalhadores e capitalistas (capitalismo). Grosso modo, no esquema dicotômico apresentado, a classe dominante é a proprietária dos meios de produção, ao contrário da classe explorada;

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A “luta de classes” como motor (e lei) da história

- É no sentido exposto que Marx afirma no Manifesto Comunista que toda história humana tinha sido a história da luta de classes, na qual a classe explorada era a agente de mudança.

Manifesto Comunista (1848)Fonte: Wikipédia

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A crítica do capitalismo em Marx

- Marx dedicou grande parte de sua obra – principalmente seu trabalho mais elaborado, O Capital (Livro 1 – 1867) – à análise do capitalismo;

- De um lado, Marx reconhecia o caráter revolucionário, dentro da história humana, desse modo de produção e o papel da burguesia no mesmo;

- De outro lado, criticava os aspectos alienantes e antiemancipação humana que observara, afirmando que o estágio de superação do capitalismo e consequentes relações sociais – via luta de classe – seria a posterior sociedade sem classes do “comunismo” (após a “ditadura do proletariado” e o socialismo que a vitória dos explorados pelo capitalismo produziria);

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A crítica do capitalismo em Marx- Um dos pontos criticados por Marx no capitalismo era a alienação que o sistema produzia no trabalhador, já que este: :: Não se reconhecia nos produtos que elaborava, :: Perdia o domínio em relação às condições do trabalho (que poderia sequer ser compreendido pelo ele), sendo sua energia mental e física sugada por atividades que não lhe diziam respeito e, :: Por fim, o capitalismo fazia com que o trabalho humano – o que distingue os homens dos animais – não fosse livre, passando a ser algo apenas ligado à sobrevivência.

- Assim, Marx acreditava que a existência humana degradava-se, em função do capitalista só reconhecer o homem enquanto um ser a explorar. O desempregado, o miserável e o doente eram vistos como “fantasmas” inúteis para o capitalista;

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A crítica do capitalismo em Marx

- Ao não reconhecer a humanidade de todos os homens, o próprio burguês estaria desumanizando-se. Por isso, a transformação no modo de produção (rumo ao socialismo) também emanciparia o capitalista.

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A “mais-valia” e o “fetichismo da mercadoria”

- O capitalismo, para Marx, era o reino da mercadoria, sendo esta uma categoria central desse sistema, e toda mercadoria possuiria dois tipos de valor: :: Valor de uso, correspondente ao tipo de necessidade a que ela responde (comer, vestir etc.) e :: Valor de troca, que é derivado do tempo de trabalho socialmente necessário para produzir a mercadoria;

- Assim, no mercado do capitalismo, as trocas são regidas por essa abstração do trabalho humano (“valor de troca”) e, mesmo, do valor de uso;

- Como para Marx o trabalho é a única fonte de geração do valor, e o trabalhador vende sua força de trabalho (uma mercadoria) por um valor menor do que aquele que cria, essa diferença gera a “mais valia” que é apropriada pelo capitalista, tornando-se parte da riqueza do mesmo. Essa taxa de exploração do trabalhador é mascarada pela ideologia igualitária do capitalismo;

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A “mais-valia” e o “fetichismo da mercadoria”

- Ao mesmo tempo, a ideologia capitalista, segundo Marx, obscurece a relação (homens/trabalho) que existe na troca de mercadorias, alienando os homens de suas reais relações (humanas) no mercado;

- Desse modo, parece a muitas pessoas que as mercadorias possuem vida própria, uma relação mágica entre si. Isso é o que Marx chamou de o “fetichismo da mercadoria”, que faz com que os valores pareçam uma propriedade natural das coisas;

- “Através da forma fixa em valor-dinheiro, o caráter social dos trabalhos privados e as relações entre os produtores se obscurecem. É como se um véu nublasse a percepção da vida social materializada na forma dos objetos, dos produtos do trabalho e de seu valor” (Oliveira e Quintaneiro, 2002, 55).

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O marxismo como teoria crítica revolucionária

- Ao dedicar-se à crítica do capitalismo a obra marxista buscou afirmou-se como um meio para a tomada de consciência necessária para o fim da exploração capitalista, ou seja, uma teoria voltada à praxis;

- O fim do capitalismo, que traria em si seus elementos de superação, seria inevitável, segundo o modelo histórico marxista, e o grupo social que mudaria a realidade seria aquele em situação de antagonismo com a burguesia dominante: o proletariado;

- É famosa, como uma síntese do que imaginava ser a tarefa de sua filosofia, a frase de Marx: “os filósofos até agora apenas interpretaram o mundo, de vários modos; agora é preciso transformá-lo”.

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Críticas ao marxismo- O pensamento de Marx recebeu muitas críticas e ainda recebe (sobretudo com o fim do chamado “socialismo real”), porém sua obra não deixa de ocupar um lugar de referência no pensamento social;

- Entre as restrições à reflexão de Marx, destacam-se a posição do filósofo Karl Popper (1902-1994), que critica o “historicismo” de Marx, que prejudicaria sua compreensão científica da realidade;

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Críticas ao marxismo

- Outra crítica (senão ao marxismo, pelo menos a suas implicações na realidade) é o fato, destacado por filósofos da Escola de Frankfurt, que o proletariado dos países desenvolvidos, graças às políticas de distribuição de renda e bem-estar social, deixara de ser um agente interessado na revolução. Esse grupo estaria, desde meados do século XX, na verdade, bem integrado ao sistema capitalista (embora numa posição subalterna e alienada, para os frankfurtianos);

- Também importante, em termos das críticas recebidas pelo marxismo, é a questão do determinismo econômico que estaria embutido no esquema explicativo de Marx.

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Referências

LÖWY, Michel. Marxismo. In: ____. Ideologia e Ciência Social: elementos para uma análise marxista. São Paulo: Cortez, 1991. p. 93-112.

OLIVEIRA, Márcia Gardênia Monteiro e QUINTANEIRO, Tania. Karl Marx. In: QUINTANEIRO, Tânia et al. Um toque de clássicos, Belo Horizonte, Ed. UFMG. p. 27-66, 2002.