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Revista de Administraçªo, Sªo Paulo v.36, n.3, p.15-27, julho/setembro 2001 15 Neste artigo sªo sintetizados as anÆlises e os resultados da pesquisa Voluntariado Empresarial, EstratØgias de Empresas no Brasil, desen- volvida pelo Centro de Estudos em Administraçªo do Terceiro Setor (CEATS) (1) a pedido do Programa VoluntÆrios do Conselho da Comuni- dade SolidÆria, em parceria com o Centro de Integraçªo Empresa-Escola (CIEE), o Grupo de Institutos, Fundaçıes e Empresas (GIFE) e o Centro de Educaçªo ComunitÆria para o Trabalho do Serviço Nacional do ComØrcio (SENAC) de Sªo Paulo. A pesquisa teve como propósito levantar infor- maçıes sobre as atividades empresariais de estímulo ao voluntariado com a finalidade de disseminar tais prÆticas, como uma das formas de operar estratØgias de Responsabilidade Social. Por que as empresas voltadas para o mercado, criadas com a finalida- de de produzir e comercializar produtos e serviços e, sobretudo, de gerar lucro, investem em projetos sociais e desenvolvem programas de volun- tariado? Essa Ø a questªo central do estudo e as conclusıes apresentadas a seguir reafirmam: o voluntariado empresarial traz, efetivamente, bons resultados para as empresas que assumem iniciativas desse tipo, assim como para as Organizaçıes da Sociedade Civil com as quais sªo estabele- cidas essas alianças. As iniciativas estudadas sªo programas de voluntariado de empresas, que se destacam por diferentes razıes: alguns sªo programas estruturados, outros informais, porØm funcionais; alguns programas existem hÆ anos, enquanto outros sªo muito novos; hÆ programas que envolvem grande nœmero de funcionÆrios, outros que mobilizam pequeno, mas comprome- tido e eficiente grupo de gestores; alguns surgiram por iniciativa de funcio- nÆrios, enquanto outros foram concebidos pela direçªo da empresa. Diversidade Ø, portanto, a tônica do estudo. Ele nªo foi realizado com o objetivo de avaliar os programas estudados segundo uma rØgua œnica, procurando eleger o melhor, ou de propor um tipo ideal para as empre- sas que desejam iniciar esse tipo de atuaçªo. Ao contrÆrio, procura-se mostrar que hÆ inœmeras fórmulas que tŒm sido aplicadas por empresas diferentes para enfrentar desafios semelhantes. O grau de sucesso dessas proposiçıes só pode ser avaliado em relaçªo à especificidade de cada organizaçªo, em funçªo dos motivos que levaram a empresa a adotar Voluntariado empresarial estratØgias de empresas no Brasil Rosa Maria Fischer Andres Pablo Falconer Rosa Maria Fischer, Socióloga, Ø Diretora do Centro de Estudos em Administraçªo do Terceiro Setor da Universidade de Sªo Paulo (CEATS/FIA/USP) e Professora Livre-Docente da Faculdade de Economia, Administraçªo e Contabilidade da Universidade de Sªo Paulo. E-mail: [email protected] Andres Pablo Falconer Ø Coordenador de Projetos do Centro de Estudos em Administraçªo do Terceiro Setor da Universidade de Sªo Paulo (CEATS/FIA/USP). E-mail: [email protected] Recebido em março/2001

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Revista de Administração, São Paulo v.36, n.3, p.15-27, julho/setembro 2001 15

Neste artigo são sintetizados as análises e os resultados da pesquisa�Voluntariado Empresarial, Estratégias de Empresas no Brasil�, desen-volvida pelo Centro de Estudos em Administração do Terceiro Setor(CEATS)(1) a pedido do Programa Voluntários do Conselho da Comuni-dade Solidária, em parceria com o Centro de Integração Empresa-Escola(CIEE), o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) e o Centro deEducação Comunitária para o Trabalho do Serviço Nacional do Comércio(SENAC) de São Paulo. A pesquisa teve como propósito levantar infor-mações sobre as atividades empresariais de estímulo ao voluntariado coma finalidade de disseminar tais práticas, como uma das formas de operarestratégias de Responsabilidade Social.

Por que as empresas voltadas para o mercado, criadas com a finalida-de de produzir e comercializar produtos e serviços e, sobretudo, de gerarlucro, investem em projetos sociais e desenvolvem programas de volun-tariado? Essa é a questão central do estudo e as conclusões apresentadasa seguir reafirmam: o voluntariado empresarial traz, efetivamente, bonsresultados para as empresas que assumem iniciativas desse tipo, assimcomo para as Organizações da Sociedade Civil com as quais são estabele-cidas essas alianças.

As iniciativas estudadas são programas de voluntariado de empresas,que se destacam por diferentes razões: alguns são programas estruturados,outros informais, porém funcionais; alguns programas existem há anos,enquanto outros são muito novos; há programas que envolvem grandenúmero de funcionários, outros que mobilizam pequeno, mas comprome-tido e eficiente grupo de gestores; alguns surgiram por iniciativa de funcio-nários, enquanto outros foram concebidos pela direção da empresa.

Diversidade é, portanto, a tônica do estudo. Ele não foi realizado como objetivo de avaliar os programas estudados segundo uma régua única,procurando eleger o melhor, ou de propor um tipo ideal para as empre-sas que desejam iniciar esse tipo de atuação. Ao contrário, procura-semostrar que há inúmeras fórmulas que têm sido aplicadas por empresasdiferentes para enfrentar desafios semelhantes. O grau de sucesso dessasproposições só pode ser avaliado em relação à especificidade de cadaorganização, em função dos motivos que levaram a empresa a adotar

Voluntariado empresarial � estratégias de

empresas no Brasil

Rosa Maria FischerAndres Pablo Falconer

Rosa Maria Fischer, Socióloga, é Diretora do Centrode Estudos em Administração do Terceiro Setor daUniversidade de São Paulo (CEATS/FIA/USP) eProfessora Livre-Docente da Faculdade deEconomia, Administração e Contabilidade daUniversidade de São Paulo.E-mail: [email protected]

Andres Pablo Falconer é Coordenador de Projetosdo Centro de Estudos em Administração doTerceiro Setor da Universidade de São Paulo(CEATS/FIA/USP).E-mail: [email protected]

Recebido em março/2001

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uma linha de atuação social e dos resultados que ela espe-ra atingir com o estímulo ao voluntariado.

Por causa de seu pioneirismo(2), o desenho da pesquisalimitou-se aos parâmetros descritivo-exploratórios, assimcomo às restrições da escassez de dados secundários so-bre seu objeto de estudo. Contudo, essas limitações meto-dológicas funcionaram também como alavancadores daexpansão do conhecimento sobre o assunto. Em 2000, oInstituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) iniciouum estudo de abrangência nacional sobre o tema, comcortes regionais, contando com o apoio das federações em-presariais, do qual já estão concluídos os relatórios as regi-ões Sudeste (Peliano & Beghin, 2000) e Nordeste do País.O SENAC-SP, por sua vez, desenvolveu um estudo deabrangência estadual realizado pela equipe de EducaçãoComunitária. Na virada do milênio, o tema atraiu o inte-resse da mídia e tornou-se um dos assuntos mais veicula-dos nas revistas de negócios e no jornalismo econômico.Há a expectativa de que a eleição de 2001 como o AnoInternacional do Voluntário, pela Organização das NaçõesUnidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), esti-mule esse interesse das pessoas e reforce as possibilidadesde estabelecimento de alianças intersetoriais(3), voltadas aoincremento do desenvolvimento social sustentado.

Neste estudo sobre as estratégias empresariais foramadotados conceitos já definidos de voluntariado:

� �O voluntário é o cidadão que, motivado pelos valoresde participação e solidariedade, doa seu tempo, traba-lho e talento, de maneira espontânea e não remunera-da, para causas de interesse social e comunitário� (Pro-grama Voluntários [www.programavoluntarios.org.br] �Folder de divulgação, 1999).

� �Um programa de voluntariado empresarial é qual-quer forma de apoio formal ou organizado de uma em-presa a empregados ou aposentados que desejam servir,voluntariamente, uma comunidade, como seu tempo ehabilidades� (Points of Light Foundation � Wild, 1998).

Essas definições oferecem alguns parâmetros impor-tantes para delimitar a investigação, destacando-se:� O programa constitui uma iniciativa formal da empresa.

Essa característica é importante, pois, ao contrário doque se divulga popularmente, o trabalho voluntário éfreqüente no comportamento brasileiro. Procura-se aquidestacar, desse comportamento individual e espontâneo,aquele que é provocado, estimulado e apoiado pela açãoda empresa junto de seus funcionários.

� Em princípio, o programa empresarial deve preservarduas características do voluntariado: a participação deveser facultativa, isto é, o engajamento dos funcionáriosnão pode ser imposto; e o trabalho não deve ser recom-

pensado, de forma direta ou indireta, por qualquer tipode remuneração financeira.

A pesquisa foi realizada com duas abordagens: a quan-titativa e a qualitativa. O estudo qualitativo foi responsávelpela análise mais profunda de 22 programas desenvolvi-dos por empresas. Nesse nível, foram estudadas as açõesempresariais de promoção do voluntariado e suas rela-ções com as políticas e práticas de atuação social estabele-cidas por essas empresas.

O estudo quantitativo correspondeu às análises extraí-das dos questionários aplicados em uma amostra nacio-nal de 273 empresas de grande, médio e pequeno portes.Essa amostra foi constituída pelos questionários checadosprovenientes do retorno espontâneo (mais de 300 ques-tionários) de formulários enviados a 1.200 empresassorteadas, aleatoriamente, a partir do cadastro nacionalde empresas do CIEE.

Para estruturar o levantamento, primeiramente foi rea-lizado um workshop de modelagem da pesquisa reunindoempresários, executivos e pesquisadores. Essa atividadepropiciou: levantar os depoimentos de profissionais cujasempresas vêm realizando programas de estímulo ao volun-tariado; elencar informações sobre empresas que pode-riam participar do estudo; e gerar roteiros para entrevistase visitas técnicas. Com esse material foi possível modelaros eixos temáticos em torno dos quais se procederia aolevantamento e à análise dos dados.

Para o levantamento de informações da abordagemqualitativa foram entrevistadas de duas a quatro pessoasde cada empresa, alocadas em posição de direção e ge-rência e que tivessem condições de fornecer dados sobrea empresa (o negócio) e sobre a origem, a motivação e odesenvolvimento dos programas de voluntariado. Em umdos casos a análise do programa estendeu-se ao acompa-nhamento de sua operação.

Ao ampliar o leque de entrevistados para além doscoordenadores responsáveis pelos programas e estenderas questões do roteiro também para os aspectos organi-zacionais mais amplos, procurou-se lidar com o foco doestudo em três níveis: a estratégia de negócios da empre-sa; sua estratégia de atuação social; e as características doprograma de voluntários. Evitou-se a miopia de compre-ender a lógica de cada programa apenas no âmbito deseus próprios limites.

Ressalte-se, porém, que nem todas as característicasde cada empresa participante ou de sua atuação social eseu programa de voluntariado estão descritas no relatóriopublicado. Como é comum acontecer nos estudos qualita-tivos, a profundidade com que foi possível examinar cadaorganização variou muito, em virtude de fatores não con-troláveis pelo pesquisador. Da mesma forma, a seleção dealguns aspectos de certos programas e/ou empresas para

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VOLUNTARIADO EMPRESARIAL � ESTRATÉGIAS DE EMPRESAS NO BRASIL

ilustrar as análises visa, tão-somente, esclarecer os argu-mentos com situações concretas. Em nenhum momentose procura eleger casos paradigmáticos ou avaliar as orga-nizações participantes e sua atuação social.

As organizações cujos programas de voluntariado fo-ram estudados na abordagem qualitativa da pesquisa são:� Abril� Acesita� Andersen Consulting� Avon� Bosch� Bosch Freios� C&A� Caixa Econômica Federal� Credicard� Dixtal� DPaschoal� Fundação FEAC� General Eletric� Informare� Intermédica� Iochpe-Maxion� McKinsey� Mercedes-Benz� Natura� Schering-Plough� Xerox� 3M

VOLUNTARIADO COMO ESTRATÉGIAEMPRESARIAL

Reflexões iniciais

Algumas reflexões genéricas ressaltam em um estudodesse tipo. A primeira reflexão é de caráter histórico: otrabalho voluntário não é uma novidade no Brasil. Ao con-trário, com motivações altruísticas estimuladas principal-mente pelas diversas crenças religiosas, muitas pessoas,ao longo de gerações, têm dedicado seu tempo a ativida-des de beneficência social; ou ainda, movidas por aspira-ções de justiça social, têm atuado em movimentos sociaise organizações não-governamentais em busca de ampliare assegurar direitos civis ou apoiar grupos que não têmrecursos para resolver seus problemas específicos de vá-rios tipos, como saúde, educação, moradia etc.

Essa primeira constatação é importante porque ajudaa desmistificar uma afirmação, constante e equivocada,sobre o comportamento de solidariedade do brasileiro, queconsiste em admitir que, de forma diferente do que ocorrena sociedade norte-americana em que estudos do gênerosão mais freqüentes, as pessoas não se dedicam esponta-neamente ao trabalho voluntário.

A diferença que se pode destacar é que, ao contráriodo registrado nos Estados Unidos, a dedicação aqui não éfacilitada pela existência de organizações e de canais deacesso bem-estruturados, nem é estimulada pelo reconhe-cimento social e pelo apoio constante que reforcem a auto-estima e o sentimento de gratificação do voluntário.

Tanto é verídico o desejo espontâneo e genuíno detornar-se voluntário que foram detectados, na pesquisa,vários casos de empresas que já adotaram um programaou estão pensando em criá-lo, porque observaram que seusfuncionários se dedicam � pessoal e isoladamente � aatividades voluntárias e gostariam de contar com o apoiode seus empregadores para prosseguir ou ampliar essaatuação.

A expectativa das pessoas pode emergir naturalmentee ser detectada de forma casual pela direção da empresaou pode expressar-se formalmente com a solicitação deapoio a determinados projetos ou ações. Um depoimentorecorrente nas empresas que estruturaram um programade voluntariado é que a resposta inicial � sob a forma deinscrições e pedidos de informações � tem sido sempremuito maior do que a expectativa, por ocasião do lança-mento da iniciativa na comunidade interna.

Há que se reconhecer, porém, que as característicasmais predominantes das relações de trabalho e do climaorganizacional no Brasil não estabelecem condições favo-ráveis para que os empregados manifestem esse tipo deexpectativa, tampouco para que os gestores estejam aten-tos para esses aspectos das pessoas e do seu relaciona-mento no interior da empresa. Principalmente em anosmais recentes, nos quais a maioria das empresas tem sidoobjeto de mudanças radicais que afetam diretamente oquadro de colaboradores, com demissões maciças e dimi-nuição das perspectivas de crescimento profissional, pode-se esperar que recrudesçam tanto a inibição de proporcomo a falta de percepção para identificar que a aspira-ção por realizar atividades de apoio social é um compo-nente bastante presente no comportamento organizacional.

A segunda reflexão diz respeito à multivariedade deformas que o voluntariado pode apresentar, visto que elenão é uma atividade específica, mas um meio de realizardiversas atividades. A ampla diversidade é elemento quefacilita a decisão empresarial e a própria implementaçãodo programa. Por não estar sujeito, a priori, a regras e nor-mas, o voluntariado é uma proposta flexível que se adaptaàs características dos projetos e ações escolhidos pelasempresas e não conflita com parâmetros, critérios e polí-ticas organizacionais.

Este estudo vem reafirmar o valor dessa diversidade,que assegura liberdade de atuação para a empresa e efeti-vo engajamento dos funcionários, ressaltando que quais-quer propostas de padronização poderão acarretar perdada vitalidade das iniciativas.

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É na flexibilidade da atuação que as empresas têm po-dido desenvolver, de um lado, a sensibilidade para perce-ber as expectativas e potencialidades de seus colaborado-res para participar desse tipo de iniciativa e, de outro lado,a percepção de que já não é possível manter-se no pró-prio ambiente dos negócios se a imagem institucional daorganização não mostrar sua dimensão voltada para odesenvolvimento da sociedade civil.

Para superar um estranhamento inicial para lidar comprojetos de ação social, muitas empresas estão apoiando-se em organizações do Terceiro Setor, reconhecidas porsua seriedade e legitimidade, que podem assessorá-las ourealizar atividades operacionais, para as quais elas nãodetêm competência organizacional. Em alguns casos sãoessas organizações que, ao se aproximarem das empre-sas, suscitam a oportunidade destas se dedicarem a ativi-dades sociais e envolverem seus funcionários. Na pesqui-sa, houve referências freqüentes a entidades como o GIFE,a Fundação Abrinq, a Fundação Federação de EntidadesAssistênciais de Campinas (FEAC), os programas do Conse-lho da Comunidade Solidária, que são procuradas paraintermediar ou apoiar a estruturação das ações de empresasque estão iniciando, ou reformulando, sua atuação social.

PERFIL DA ATUAÇÃO SOCIAL DAS EMPRESAS

Dentre as questões mais freqüentes colocadas sobre otema, na pesquisa procurou-se responder: O que fazem asempresas que afirmam investir em atividades sociais e aquem beneficiam com sua ação? Interessa também explo-rar como as características das empresas socialmenteresponsáveis as distinguem das demais: São predomi-nantemente pequenas ou grandes? São nacionais oumultinacionais? Estão situadas apenas em capitais e re-giões desenvolvidas ou estão dispersas pelo País?

Um primeiro dado, apresentado no gráfico 1, revelaque 56% das empresas da amostra estudada investem emprogramas ou atividades de cunho social ou comunitário(4).Esse dado, altamente favorável à primeira vista, refere-seà atuação social de maneira ampla e genérica, em grandeou pequena escala, realizada de forma continuada ou ape-nas pontual, o que relativiza bastante esse alto percentual.Surpreende, isso sim, o fato de 43% das empresas decla-rarem nada fazer na área social. Embora os dados indi-quem que as empresas já estão consideravelmente sensi-bilizadas com a gravidade dos problemas sociais, parecehaver ainda muito espaço para ampliar a atuação empre-sarial em benefício do desenvolvimento social brasileiro.

Como se diferenciam as empresas brasileiras que in-vestem na área social? Nos gráficos 2, 3, 4 e 5 são apre-sentados os principais recortes utilizados neste estudo:número de funcionários, origem do capital, setor de atua-ção e região geográfica.

Gráfico 1: A empresa Apoia Programas Sociais?

Gráfico 2: A empresa Apoia Programas Sociais? �Por Número de Funcionários

Gráfico 3: A empresa Apoia Programas Sociais? �Por Origem do Capital

Gráfico 4: A empresa Apoia Programas Sociais? �Por Setor de Atuação

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VOLUNTARIADO EMPRESARIAL � ESTRATÉGIAS DE EMPRESAS NO BRASIL

Gráfico 5: A empresa Apoia Programas Sociais? �Por Região Geográfica

Os dados indicam que o porte da empresa (expressadopelo número de funcionários) está fortemente relacionadocom a atuação social, como revela o gráfico 2. Das em-presas grandes (com mais de 1.000 funcionários), 70%desenvolvem projetos sociais, contra apenas 46% das pe-quenas (consideradas aquelas com menos de 100 empre-gados). O porte está positivamente relacionado a quasetodos os aspectos de investimento social e à promoção dovoluntariado levantados na pesquisa: quanto maior a em-presa, maior a probabilidade de ela ter atuação social estru-turada de forma mais consistente.

As empresas privadas (nacionais e multinacionais) dife-renciam-se das organizações públicas no aspecto da atua-ção social: 61% das multinacionais e 56% das nacionaisafirmam atuar na área social, contra 42% das públicas. Oprimeiro dado não significa, evidentemente, que as em-presas multinacionais têm maior preocupação com o so-cial do que as empresas estatais. A atuação das organiza-ções públicas mereceria um estudo à parte e com maiorprofundidade, já que o seu caráter estatal introduz inúme-ras peculiaridades e as leva a desempenhar, por princípio,funções propriamente públicas e, freqüentemente, de fi-nalidade social.

VOLUNTARIADO E ATUAÇÃO SOCIAL

Propostas consistentes para estimular a participaçãode seus colaboradores em atividades sociais, sob a formade voluntariado, emergem em empresas que já têm umatradição ou pelo menos se demonstram sensibilizadas paraa atuação social, de tal maneira que empresas sensibili-zadas ou já engajadas em quaisquer formas de atuaçãosocial propiciam melhores condições de estímulo ao tra-balho voluntário entre seus colaboradores.

Em alguns dos casos estudados, essa concepção já estáconsolidada por práticas contínuas de investimento emprojetos sociais. A C&A tem uma política de atuação so-

cial em qualquer região do mundo em que instale seusestabelecimentos. A Mercedes-Benz procura ser reconhe-cida como empresa que resguarda o meio ambiente e acomunidade social. A Acesita herdou de sua fase de em-presa estatal a responsabilidade de zelar pelo bem-estar epelo desenvolvimento da comunidade em seu entorno.Casos desse tipo configuram um tipo de atuação social quenão é marginal ou secundária para a visão empresarial, masé parte constituinte, ou pelo menos coerente, do própriodirecionamento estratégico do empreendimento negocial.

Em outros casos, a implementação de programas deatuação social é relativamente recente ou encontra-se ain-da em estruturação. Reforça, contudo, essa precedênciade que a proposta do voluntariado decorre do clima favo-rável que se estabelece para o seu florescimento, sempreque a organização assume o compromisso de transformar-se em empresa-cidadã.

A maioria das empresas que consolidaram sua atuaçãosocial constituiu um instituto ou uma fundação, como for-ma jurídica e organizacional mais adequada para gerir asatividades. Estão nesse caso, na amostra estudada, o Insti-tuto C&A, o Instituto Credicard, a Fundação Iochpe, aFundação Victor Civita, a Fundação Educar e a FundaçãoAcesita. Enquanto Natura, Xerox, Avon, Informare, Dixtal,Bosch, McKinsey, Caixa Econômica Federal, Intermédica,3M, Andersen Consulting e Schering-Plough são empre-sas que mantêm as atividades sociais no próprio âmbitoda organização.

Não parece, à primeira vista, que a alocação das ativi-dades sociais no interior da própria empresa ou em umaentidade com personalidade jurídica própria implique di-ferenças significativas nas características de sua atuação.

A decisão de constituir uma personalidade jurídica pró-pria, que se responsabilize pela atuação social, pode pro-vir de uma orientação corporativa, principalmente no casodas multinacionais, ou pode atender a uma necessidadede racionalização administrativa, especialmente nos aspec-tos tributário-legais. No entanto, qualquer que seja a forma-tação organizacional adquirida, o que ressalta para a co-munidade de funcionários é a existência dessa função naempresa, a qual passa a ser vista como motivo de orgulhoe, muitas vezes, como canal de participação.

Exemplos como esses indicam que, seja por orienta-ção corporativa ou estratégica, seja para se resguardar deeventual indefinição jurídica, as empresas de grande portee, principalmente, as de origem multinacional ou trans-nacional procuram ter na fundação ou no instituto o seubraço de atuação social. Ele é articulado à organiza-ção, mas mantém-se com autonomias administrativa, le-gal e financeira. Esse foi o caminho seguido pela Acesitalogo após a sua privatização, quando erradicou o antigoDepartamento de Relações com a Comunidade da em-presa estatal, substituindo-o por uma fundação que pode

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formular sua missão e escolher suas estratégias de atua-ção de forma autônoma, ainda que vinculada à empresa.

Uma das questões que se coloca para reflexão é quan-to a dicotomia entre a atividade empresarial e a atuaçãosocial pode refletir-se em distanciamento do funcionário,ou mesmo seu completo desconhecimento, das atividadespara as quais se poderia tornar voluntário.

Algumas empresas explicitaram que não desejam criaroutra personalidade jurídica para abrigar sua atuação so-cial. Nesse sentido, o relato mais enfático foi o da Natura,que procura promover a integração entre a filosofia em-presarial, baseada em fortes valores explicitados, e a ori-entação dada às atividades sociais. Essa integração é con-siderada essencial pela empresa, porque ambos os tiposde atividade devem refletir os padrões da cultura organiza-cional da Natura.

VOLUNTARIADO E ESTRATÉGIA DE NEGÓCIO

Nos depoimentos obtidos na pesquisa observa-se quea maioria das empresas não tem, a priori, preocupaçãode estabelecer uma relação entre sua atuação social e suasestratégias negociais. Algumas empresas chegam a ressal-tar que as ações sociais são totalmente desvinculadas donegócio, tanto nos aspectos administrativos quanto nosobjetivos estratégicos. Enfatizam que a expectativa de qual-quer tipo de retorno advindo das atividades de responsa-bilidade social descaracterizaria essa atuação e levaria àperda de credibilidade. No entanto, mesmo quando des-vinculam suas estratégias negociais das estratégias de atua-ção social, as empresas observam resultados positivos paraseus negócios, derivados do exercício das atividades decaráter social.

Observa-se que há empresas que procuram ressaltar asinergia entre o negócio e a atuação social, o que parececonduzir a uma otimização do emprego dos recursos pró-prios em seus projetos sociais. E isso é ainda mais impor-tante quando esses recursos são o talento, a disponibilida-de, a expertise profissional e o conjunto de competênciasdesenvolvido pelas pessoas. É na situação de trabalho queas pessoas encontram o espaço e o desafio para desenvol-ver-se. Quando o convite para o voluntariado indica quenão será empregado apenas o tempo da pessoa, mas tam-bém seus diferenciais de competência profissional, pareceque ele se torna mais atraente e resulta em profundo engaja-mento.

Alguns casos mapeados na pesquisa são paradigmáticospara ilustrar a importância dessa sinergia, ao mesmo tem-po em que indicam que ela pode ocorrer independente-mente do setor econômico a que a empresa pertence oude quaisquer outras características organizacionais, poisfoi identificada em empresas de prestação de serviços tan-to quanto em organizações industriais e comerciais.

A iniciativa da empresa de dedicar-se a projetos sociaispode apresentar diversas origens. Empresas multinacionaise transnacionais podem receber orientação corporativanesse sentido, configurando a situação mais clara, na quala atividade de responsabilidade social é definida comoum dos componentes de seu direcionamento estratégico.Outras são sensibilizadas pela percepção de problemas so-ciais no entorno comunitário em que estão inseridas suasinstalações ou de onde provêm seus colaboradores.

É interessante ressaltar, porém, que existe sempre ummomento em que um dirigente da organização propõe aidéia e se responsabiliza por assegurar sua consolidação.O papel dessa liderança é fundamental para concretizarum desejo, uma idéia que pode estar sendo compartilhadapelo inconsciente coletivo da empresa, mas que aindanão encontrou um canal de expressão.

GESTÃO DO PROGRAMA DE VOLUNTARIADO

Origem dos programas

Os programas foram concebidos, em geral, após al-gum tipo de experiência de atuação social mais dispersa ereativa. Das empresas contactadas, algumas ainda nãopossuem um programa formal, mas consideram-no umaprioridade. A Acesita identificou ações espontâneas defuncionários aposentados. A Avon vem fazendo um le-vantamento das iniciativas dos funcionários. A GeneralEletric, por meio da Elfun, é receptiva a indicações deprojetos feitas pelos funcionários. A Dixtal está iniciandoum processo de sensibilização. O grupo de funcionáriosda Abril engajados no apoio ao município de Batalha, noNordeste brasileiro, começa a formalizar-se. A Natura éespontaneamente procurada por funcionários interessa-dos, mas ainda não estruturou um programa específicopara eles atuarem como voluntários.

Empresas de pequeno porte, em termos de número defuncionários, como a Informare, não indicam a necessida-de de formalização. As empresas de consultoria � no casoa Andersen Consulting e a McKinsey � têm programasbastante recentes e procuram formas flexíveis que facili-tem a disponibilidade individual do voluntário.

Algumas empresas, como a Bosch e a Mercedes-Benz,não pretendem criar um programa específico, mas mos-traram-se sensíveis à proposta dos Voluntários Gestoresda FEAC e, cada uma à sua maneira, facilitaram o envol-vimento dos seus executivos com a proposição da entida-de.

Algumas iniciativas de voluntariado foram provocadaspor situações mobilizadoras da solidariedade coletiva. É ocaso dos voluntários da Abril, sensibilizados com o dramada seca nordestina, ou o caso dos funcionários da CaixaEconômica Federal que iniciaram seu voluntariado aten-

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VOLUNTARIADO EMPRESARIAL � ESTRATÉGIAS DE EMPRESAS NO BRASIL

dendo ao chamamento de Betinho na �Campanha contraa Fome e pela Cidadania� em 1993.

As empresas da amostra pesquisada que apresentamprogramas mais estruturados em seus aspectos técnicos eadministrativos são de grande porte:� Iochpe-Maxion, com cerca de 5.000 funcionários, em

torno de 150 voluntários e projetos desenvolvidos hácinco anos;

� 3M, com 2.800 funcionários e mais de 500 voluntáriosque trabalham desde 1994;

� C&A, com 7.000 funcionários e cerca de 900 voluntá-rios em programas com mais de três anos de instalação;

� DPaschoal, com mais de 2.000 funcionários e cerca de200 voluntários;

� Schering-Plough, com 1.300 funcionários, sendo 130no escritório de São Paulo, dos quais 70 participam doprograma de voluntariado da empresa.

Área de atuação

A análise do gráfico 6 revela que a maioria dos progra-mas está voltada ao atendimento da criança e do adolescen-te e enfoca, principalmente, os problemas de qualidade deensino e de capacitação profissional. Essa acentuada prefe-rência está atrelada, provavelmente, a uma visão das em-presas e dos próprios voluntários engajados de que o inves-timento no futuro se faz pela formação do cidadão desde ainfância. Embora louvável em suas escolhas, essa tendênciaestá marginalizando outras questões sociais importantes, masque talvez não sejam tão atraentes, como os problemas en-frentados pelos deficientes físicos e mentais, pelos idosos debaixa renda, pelos portadores de síndromes e doenças incu-ráveis e de tratamento dispendioso.

Excetuando-se a questão ambiental e a defesa do Esta-tuto da Criança e do Adolescente, os programas de volunta-riado empresarial não estão voltados para atividades dosdireitos civis.

Uma tendência nova que vem sendo muito bem rece-bida é a atuação na área de gestão, no sentido de ampliara capacitação técnica e gerencial das pessoas que lidamcom a administração de entidades sociais. De um lado,esse tipo de aperfeiçoamento é considerado fundamentalpara melhorar o desempenho dessas organizações e, deoutro, as empresas percebem que esse é um recurso queelas detêm em abundância. Os voluntários envolvidos nes-se tipo de trabalho, em que repassam seu know-how, indi-cam alto nível de gratificação pessoal porque consideramque com esse suporte as organizações se tornam mais efi-cientes.

Essa tendência reforça o acerto das empresas que utili-zam seus produtos e, principalmente, suas competên-cias organizacionais ao conceberem formas de atua-ção social. A Schering-Plough, indústria farmacêutica, de-senvolve projetos de prevenção e manutenção da saúdejunto de famílias de baixa renda, nos quais utiliza suaexpertise técnica e a vantagem logística de uma rede, bem-estruturada, de divulgadores comerciais. A Informare, aAndersen Consulting e a McKinsey fazem assessorias econsultorias em seus campos de especialidade. A Iochpe-Maxion emprega a inteligência e a experiência de seustécnicos e gestores na capacitação profissional de jovense no desenvolvimento organizacional de entidades sociais.

As empresas com redes descentralizadas, como as lo-jas da C&A e da DPaschoal e as agências da Caixa Econô-mica Federal, criam programas flexíveis para serem adap-tados à localidade.

Gráfico 6: População-Alvo da Atuação Social

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Rosa Maria Fischer e Andres Pablo Falconer

A maioria das empresas referiu que o funcionário temalguma autonomia para selecionar ou indicar projetos eentidades a serem apoiados. É importante ressaltar essascaracterísticas, porque elas asseguram uma participaçãoresponsável do colaborador, permitem obter eficácia naseleção dos projetos e oferecem oportunidades para umarelação mais direta da empresa com a comunidade socialem que está inserida.

Dedicação e formalização do trabalho voluntário

É muito variável a forma como as empresas regula-mentam o tempo despendido no voluntariado. Na CaixaEconômica Federal, na Schering-Plough, na Bosch e naDPaschoal o trabalho é exercido fora do horário da jorna-da regular. A Informare cede 3% da jornada de trabalho; a3M, uma hora por semana; e a Iochpe-Maxion, o tempode duração das aulas ministradas pelos funcionários vo-luntários.

Nas empresas de consultoria, o tempo despendido édo profissional e não da empresa. A Andersen Consultingrecomenda não empregar mais do que quatro horas se-manais. A Bosch é maleável em relação ao tempo gastopor seus Voluntários Gestores, desde que as prioridadesda empresa sejam atendidas. A C&A não delimita o nú-mero de horas, mas exerce uma liberdade vigiada e vetaas saídas em períodos de maior movimento comercial.

Em suma, observa-se que, embora variável, a forma degerir o tempo de dedicação do funcionário ao voluntariadosempre preserva, rigorosamente, as rotinas e os procedi-mentos do trabalho, as responsabilidades do cargo ocupa-do e o atendimento aos clientes da empresa. Dois depoi-mentos surgiram com freqüência. Primeiro, a dificuldadedo voluntário de manter seus compromissos quando a de-manda de trabalho na empresa é muito alta, gerando con-flitos pessoais e algumas dificuldades no relacionamentocom colegas e chefes. E, segundo, a tendência do volun-tário de envolver-se cada vez mais com o trabalho social,passando a doar mais tempo do que havia, inicialmente,se proposto. No primeiro caso, em geral, as ações sociaisficam prejudicadas com o absenteísmo ou a impontualidadedo voluntário. No segundo, as opiniões são geralmente po-sitivas, considerando que o aumento do envolvimento re-presenta que o voluntariado é uma atividade gratificante.

Os gráficos 7, 8 e 9 permitem diferenciar o nível de for-malização do voluntariado empresarial em organizações dedistintas origens de capital. As multinacionais destacam-senesse aspecto, pois 57% delas afirmaram conhecer o tra-balho voluntário executado por seus funcionários, enquantona amostra total a média foi de 48% das empresas afir-mando ter esse conhecimento. Em 25% das multinacionaisidentificou-se uma área, ou uma pessoa, formalmente res-ponsável pelo programa de voluntariado, enquanto essepercentual foi de 16% para o total de empresas estuda-das. As empresas estatais apresentam perfil muito distin-to. O trabalho voluntário ocorre de maneira maciça, signi-ficativamente maior do que nas empresas privadas de ca-pital nacional (54% versus 46%). O voluntariado duranteo horário de trabalho ocorre com freqüência semelhante àdas demais empresas (17%), mas é menos comum a exis-tência de uma área responsável por essa atuação na em-presa (13%). No setor público, ao que parece, o trabalhovoluntário é uma atividade impulsionada pelos própriosfuncionários e não pelas instituições e seus dirigentes. Osdados sugerem, também, que se as organizações dessesetor adotarem diretrizes explícitas de promoção do volun-tariado, os resultados dessa prática poderão ser intensa-mente alavancados, visto que o empregado do setor estásensibilizado e é fortemente aderente a esse tipo de pro-posição.

Gráfico 7: Há Funcionários Voluntários? � PorOrigem do Capital

Gráfico 8: Há Voluntariado Durante o Horário deTrabalho? � Por Origem do Capital

Embora o voluntariado ainda não estejasendo pensado pela maioria das empresas

como uma das áreas de atuaçãoestratégica, a percepção de benefíciospara a empresa, para o desempenho

profissional e a motivação do funcionárioe para a comunidade é altamente positiva.

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VOLUNTARIADO EMPRESARIAL � ESTRATÉGIAS DE EMPRESAS NO BRASIL

Gráfico 9: Existe uma Área ou Pessoa Responsávelna Empresa pelo Voluntariado? � Por Origem do

Capital

Promoção do voluntariado

Um dos pontos mais suscetíveis dos programas é oque diz respeito ao reconhecimento do trabalho voluntá-rio no âmbito da empresa. Há forte expectativa das pes-soas que se engajam de ter sua participação valorizada. Eisso precisa estar bem-definido na estratégia de atuaçãosocial da empresa e nas práticas de gestão do trabalhovoluntário.

A DPaschoal concede bolsas de estudo somente paraos colaboradores que atuam em trabalhos comunitários.Tal prática é recente e tem como objetivo despertar aspessoas para a consciência social. A Intermédica dá umcertificado, emitido pela presidência da empresa, paraaqueles que desenvolvem ações na comunidade por 12meses consecutivos, além de um acréscimo de 10% dotempo dedicado anualmente às atividades voluntárias noperíodo de férias, na forma de licença remunerada. Váriasoutras empresas reconhecem a participação com a entre-ga de certificados, pin ou button, como a Iochpe-Maxion,a 3M e a Schering-Plough. A C&A tem como política nãopremiar o colaborador individualmente; uma vez por ano,a equipe de voluntários que realizar o melhor trabalho éagraciada com a conquista do troféu Semente.

A Iochpe-Maxion, a Schering-Plough e a C&A inves-tem na capacitação de voluntários. Esse tipo de atividadeparece agregar uma série de vantagens. As empresas ge-ralmente estão bem capacitadas para realizar treinamen-tos, que repercutem muito favoravelmente entre os fun-cionários. Eles sentem que estão agregando novas com-petências, que trazem retorno à própria empresa, à medi-da que desenvolvem habilidades � como negociação, co-municação e coordenação de equipes � e melhoram tam-bém o desenvolvimento profissional.

Para desenvolverem esses programas de capacita-ção e sensibilização, as empresas fazem parcerias impor-tantes, como a da Iochpe-Maxion com o Centro Federal

de Educação Tecnológica (CEFET) do Paraná. Poucas ve-zes, entretanto, envolvem as áreas internas da própria em-presa, principalmente a de Recursos Humanos, nem seintegram às práticas de gestão das pessoas, em sintoniacom as funções de Desenvolvimento, Carreira e Remune-ração. Esse é um ponto que merece análise, visto que afalta de sinergia entre essas práticas educacionais podesignificar razoável desperdício para a empresa e os funcio-nários envolvidos.

Quanto às ações para promover o voluntariado, caberessaltar a percepção de dois enfoques diferentes. Inicial-mente, o de que a ação social deve fundamentar-se no de-senvolvimento de uma consciência social voltada para acidadania, sem vínculo com as relações de trabalho. Nocontraponto, a visão de que a empresa tem seu papel nacomunidade e o investimento e a promoção de ações so-ciais voluntárias trarão benefícios tanto para as organiza-ções da sociedade civil quanto para a própria empresa eos seus funcionários.

AVALIAÇÃO

A avaliação dos resultados da ação social revela-se ain-da pouco desenvolvida na grande maioria das empresas econstitui um dos aspectos a serem aperfeiçoados nos pro-gramas de voluntariado empresarial.

Há referências sobre uma auditoria da Fundação Edu-car, da DPaschoal, que avalia o trabalho voluntário segundoos critérios de visibilidade, mensagem e conexão. Os audi-tores são funcionários da Fundação e gerentes regionais daslojas. O Instituto C&A também realiza uma avaliação para aconquista do �Prêmio Semente�, considerando os resulta-dos do projeto e o seu impacto na comunidade.

Algumas empresas analisam os resultados das enti-dades beneficiadas pela comparação de relatórios técni-co-financeiros, no início e no término do projeto, como aCredicard, ou somente pelo resultado financeiro da enti-dade, como no caso do PISP da Iochpe-Maxion.

A maior evidência é a de que ainda não há uma ava-liação fidedigna dos resultados da ação social dos voluntá-rios nas organizações e também, em menor grau, umaavaliação dos resultados desse trabalho para a empresa.Em todos os levantamentos em campo os entrevistadoseram entusiastas sobre os resultados positivos do volun-tariado empresarial. As opiniões tendem, porém, a ex-pressar sentimentos mais do que informações objetivas.

Longe de constituir um ponto fraco da proposta, osdepoimentos devem ser analisados como indicativos dasnecessidades das pessoas e da tendência das organizações.Parece evidente que as pessoas vêm buscando um ambi-ente de trabalho que lhes traga maior satisfação, e que asempresas vêm percebendo que criar esse ambiente agre-ga valor ao que fazem em seu próprio negócio.

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Este estudo evidencia grande diversidade de iniciativasna área de trabalho social voluntário, com resultados e infor-mações de enorme valia. É fundamental poder contar comvoluntários de qualidade, pois muitas vezes pequeno nú-mero deles cria um diferencial significativo na atuação so-cial da empresa. O profissionalismo e a responsabilidadepor compromissos são essenciais para o desenvolvimentoe a continuidade de projetos sociais. Essas característicassão determinantes do bom desempenho no trabalho regu-lar dos colaboradores.

Outro aspecto de extrema importância é que os com-ponentes de conscientização e cidadania devem estar sem-pre presentes, para que a ação não seja apenas algo quese faz para a satisfação pessoal. As políticas de atuaçãosocial devem ser claras e transparentes para que não cri-em expectativas inexeqüíveis nas pessoas que se dedicamao trabalho voluntário, na própria empresa e nas entida-des receptoras das atividades de voluntariado empresarial.

BENEFÍCIOS DO VOLUNTARIADO EMPRESARIAL� OPINIÕES E PERCEPÇÕES

Neste tópico são apresentadas as opiniões e percep-ções dos profissionais que participaram do estudo � sem-pre que possível, do próprio responsável pelo voluntariadona empresa. As perguntas referem-se aos potenciais be-nefícios de um programa de voluntariado para a empresa,

a comunidade e os funcionários. A ênfase dada ao benefí-cio do voluntariado para as empresas visa fornecer argu-mentos aos empresários e gestores sensibilizados para aatuação social, mas que ainda não sabem por onde iniciare têm dúvidas sobre qual deve ser o papel social da empre-sa. No gráfico 10 constam as respostas desses profissio-nais.

Note-se que, embora só 15% acreditem que o volunta-riado aumenta a lucratividade da empresa, a percepçãode benefícios empresariais prevalece: 79% afirmam que ovoluntariado empresarial melhora a imagem institucionalda empresa. Esse dado supera até a percepção de benefí-cios do voluntariado à comunidade (78%). Confirmandoisso, a maioria dos respondentes discorda da afirmação deque um programa de voluntariado custa mais à empresado que ela recebe em troca (42% contra 8%). Na visão dasempresas, o voluntariado é um poderoso recurso paramelhorar a relação da empresa com a comunidade (74%concordam).

Como instrumento de gestão de recursos humanos, ovoluntariado também é apontado como benéfico. Poucosatribuem a ele o poder de reduzir a rotatividade dos funcio-nários (15%), mas muitos confirmam (e poucos refutam) asua capacidade de desenvolver conhecimentos, técnicas ehabilidades entre os funcionários (52%), melhorar o envolvi-mento do funcionário com a empresa (49%), aumentar amotivação e a produtividade (34%).

Gráfico 10: Opiniões sobre os Benefícios do Voluntariado

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VOLUNTARIADO EMPRESARIAL � ESTRATÉGIAS DE EMPRESAS NO BRASIL

Em suma, embora o voluntariado ainda não esteja sen-do pensado pela maioria das empresas como uma das áreasde atuação estratégica, a percepção de benefícios para aempresa, para o desempenho profissional e a motivaçãodo funcionário e para a comunidade é altamente positiva.

CONCLUSÕES

A pesquisa permitiu identificar alguns padrões do com-portamento das empresas em relação ao emprego do vo-luntariado de seus colaboradores na atuação social em-presarial. Embora os dados levantados tenham de ser refi-nados e confirmados por levantamentos futuros, estudosmais abrangentes e, também, pesquisas de caráter especí-fico, acredita-se que eles retratam com significativa fideli-dade a realidade organizacional brasileira. Mais importan-te do que conferir status de verdade científica, o estudo pro-curou fazer uma incursão exploratória, identificando práti-cas, prioridades, percepções e lacunas na atuação socialempresarial, de modo a subsidiar as decisões empresariais edar instrumentos a empresários, dirigentes de empresas eempregados que desejam investir na atuação social.

A título de conclusão e de resumo, merecem destaqueas seguintes constatações da pesquisa sobre o perfil dasempresas brasileiras no campo da atuação social e da pro-moção do voluntariado.

� As empresas fazem mais do que se imaginaA pesquisa permitiu constatar que, das 273 empresasque responderam o questionário, 56% afirmam desen-volver algum tipo de atuação social. Para quem conside-ra o voluntariado empresarial uma idéia nova, 48% dasempresas garantem que seus funcionários atuam comovoluntários em projetos sociais (com ou sem o apoio daempresa), 17% que o voluntariado ocorre também du-rante o horário de trabalho na empresa e 16% dizemque há uma pessoa ou uma área responsável pela pro-moção do voluntariado.

� Tamanho é documento � as empresas maioresestão mais envolvidasNão causa muita surpresa constatar que as empresas demaior porte, quanto ao número de funcionários e aoseu faturamento, estejam mais envolvidas em atividadessociais e em programas de voluntariado. Observa-se, tam-bém, a tendência de maior formalização desses progra-mas nas empresas de maior porte, enquanto nas meno-res a ação tende a ser menos formal. A formação de gru-pos de voluntários ocorre com freqüência 2,6 vezes maiorem empresas grandes (com mais de 1.000 funcionários)em relação às empresas pequenas (com menos de 100empregados). Quanto ao envolvimento de voluntáriosem projetos sociais promovidos por empresas, ele é 4,9

vezes mais freqüente nas empresas grandes em compa-ração com as pequenas.

� Entidades públicas e empresas privadas, nacio-nais ou multinacionais, têm maneira própria deatuaçãoTanto as empresas privadas, de origens nacional e multi-nacional, quanto as organizações públicas desenvolvempráticas de atuação social, embora se percebam diferen-ças na forma como definem e operam essas atividades.As multinacionais têm presença maior nas áreas de saú-de e educação. O setor público tem atuação mais desta-cada em áreas menos atendidas pelo investimento pri-vado: arte e cultura, ciência e tecnologia e defesa dedireitos.No referente ao voluntariado empresarial, destaca-se aatuação das multinacionais: tendem a ter os programasmais formalizados e utilizam com maior freqüência umleque de instrumentos de promoção do voluntariado. Asmultinacionais dispensam seus funcionários durante ohorário de trabalho para atuar como voluntários comfreqüência duas vezes superior às entidades públicas eàs empresas privadas nacionais. No setor público, o in-tenso envolvimento no voluntariado, que supera o dosetor privado nacional, parece dever-se mais à iniciativade indivíduos e grupos do que às práticas de gestão dasorganizações.

� Indústria e comércio � perfis distintos de inves-timento socialTanto o setor secundário quanto o terciário investem nosocial: 56% da indústria e 54% do comércio/serviços.O perfil desse investimento difere significativamente nosdois setores. Enquanto a indústria concentra sua atua-ção nos campos de educação e saúde, o comércio distri-bui sua atuação também em outros campos, como artee cultura, e áreas em que a presença da indústria é pratica-mente inexistente, como a da defesa de direitos. Como sepoderia esperar, o tipo de investimento social do comér-cio assemelha-se mais ao patrocínio de atividades queaproximam a empresa do consumidor, como esporte,cultura e direitos.O perfil da atuação voluntária no comércio e na indús-tria não apresenta distinção significativa, havendo pe-quena preponderância do primeiro sobre o segundo.

� Criança e adolescente são prioridades absolutasO atendimento às necessidades de educação e saúde decrianças e adolescentes é, de longe, a principal priorida-de social das empresas brasileiras. Isso reflete um con-senso no Brasil de que é necessário investir na criança eno jovem para saldar a dívida social do País e para cons-truir uma nova geração de cidadãos plenos.

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Resta apenas indagar se, com o crescente peso do setorprivado no atendimento às necessidades sociais no País,não estaria havendo negligência com outros públicos,cujas necessidades não são adequadamente atendidas.

� Há muitas formas de estimular o voluntariado,além de dispensar o funcionário no horário detrabalhoA pesquisa mostra que, ao contrário do que se pensa, aliberação dos funcionários durante o horário de traba-lho para a realização de atividades sociais não é a únicae nem a principal forma de apoio das empresas ao volun-tariado. A prática mais observada é a doação de recur-sos da empresa para projetos em que os funcionáriosatuam como voluntários. Na seqüência estão o estímuloao envolvimento de funcionários em projetos sociais daempresa e a coordenação da criação de grupos de volun-tários.Algumas práticas são ainda pouco freqüentes nas em-presas brasileiras, como o envolvimento de aposenta-dos no voluntariado. Outras ainda são consideradas ina-dequadas, como a valorização do trabalho voluntário natomada de decisões na empresa sobre promoções e au-mentos salariais.

� Opiniões positivas dos gestores quanto aos be-nefícios do voluntariadoA imensa maioria dos participantes da pesquisa admiteque o voluntariado melhora a imagem institucional daempresa (79%) e melhora a relação da empresa com acomunidade (74%). Número comparável (78%) acreditaque também melhora as condições de vida na comuni-dade. Além disso, 62% afirmam que o voluntariado de-senvolve conhecimentos, técnicas e habilidades que po-derão ser utilizados no trabalho regular. Apenas 9% dis-cordam de que o voluntariado aumenta a motivação e a

produtividade. Finalmente, somente 8% dizem que oprograma de voluntariado custa mais à empresa do queela recebe em troca.Embora só 15% dos respondentes tenham convicção deque o voluntariado aumenta a lucratividade da empresa,é fácil perceber que os benefícios superam o investimentorealizado nesse campo. Todos ganham na relação em-presa-voluntário-comunidade.

� Voluntariado é um instrumento inovador de ges-tão de recursos humanosO trabalho social realizado voluntariamente por funcio-nários não é utilizado pela empresa como um instru-mento de venda de produtos. Quando a empresa divul-ga seu programa de voluntariado, o faz para dentro daempresa e se o faz para fora limita-se, geralmente, àcomunidade imediata onde está localizada. Dessa for-ma, o voluntariado está mais em linha com as políticasde recursos humanos da empresa do que com o seumarketing, como instrumento de desenvolvimento de habi-lidades interpessoais, liderança e trabalho em equipe,como forma de canalização da motivação do funcioná-rio para a criação de um clima organizacional positivo.O importante é que, ao fazer isso, a empresa contribuicom a sociedade e cria condições para que os seus fun-cionários também contribuam e se realizem, pessoal eprofissionalmente.

� Voluntariado empresarial faz bemPor todos os motivos apresentados, percebe-se que ovoluntariado empresarial é uma boa idéia que está sen-do abraçada por número cada vez maior de empresas.Um programa pode ser desenvolvido para as necessi-dades e condições de cada empresa, não importandoseu tamanho ou seu setor de atuação, e os resultados �para todos os envolvidos � podem vir em curto prazo.u

(1) O CEATS é um programa de ensino, pesquisae extensão apoiado pela Fundação Instituto deAdministração (FIA), entidade sem fins lucrati-vos conveniada com a Faculdade de Economia,Administração e Contabilidade da Universidadede São Paulo (FEA/USP).

(2) A pesquisa foi realizada e seu relatório publica-do em julho de 1999, constituindo o primeiroestudo realizado no Brasil sobre esse tema.

(3) O conceito de alianças estratégicas intersetoriaisfoi cunhado à partir de pesquisa realizada pelo

CEATS/FIA/USP (1998/1999) em parceria como IDR/Boston, com o apoio da Ford Foundation.Seu escopo foi o estudo das formas de parce-rias entre organizações de diferentes setores (Es-tado, Mercado, Terceiro Setor) na viabilizaçãode programas e projetos voltados para a redu-ção de problemas sociais.

(4) É importante ressaltar que neste estudo não seconsiderou como ações de atuação social dasempresas as atividades que tivessem como po-pulação-alvo, exclusiva e/ou majoritária, seuspróprios empregados e respectivos familiares.

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Neste artigo são relatadas as principais conclusões obtidas na Pesquisa �Voluntariado Empresarial, Estratégiasde Empresas no Brasil�. É ressaltado o uso do estímulo ao voluntariado como prática gerencial, a qual é vistacomo positiva pelos empregados e para a imagem da organização.

Palavras-chave: responsabilidade social, atuação social de empresas, trabalho voluntário.

This article presents the mainly conclusions of the research �Enterprises strategies for social action�. The datastand out how the incentive for volunteer work could be a best management practice. The employees opinionis positive and the organizational image is strengthening.

Uniterms: social responsibility, volunteerism, social enterprise, corporate citizenship.

El artículo describe las conclusiones más importantes de la investigación "Las estrategias de acción social delas empresas en Brasil". Los datos resaltan que el estímulo al trabajo voluntario es una práctica gerencial queresulta positiva en la opinión de los empleados y para la imagen de la empresa.

Palabras-clave: responsabilidad social, acción social empresarial, trabajo voluntario.

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CADERNO DE PESQUISAS EM ADMINISTRAÇÃOPROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO DA

FEA/USP

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