teologias com sabor de mangostão

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Isabel Aparecida Felix (org.) Autores/as: Aloysius Pieris, Arianne van Andel, Diego Irarrazaval, Elisabeth Schüssler Fiorenza, Felipe Fanuel Xavier Rodrigues, Gemma Tulud Cruz, Ivone Gebara, Jen-Wen Wang, José María Vigil, Jude Lal Fernando, Jung Mo Sung, Lucia Weiler, Maaike de Haardt, Maria José Rosado, Maria Sandra dos Santos, Mercedes de Budallés Diez, Monja Coen, Tissa Balasuriya Teologias com sabor de mangostão Ensaios em homenagem a Lieve Troch São Bernardo do Campo 2009 NHANDUTIEDITORA

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Page 1: Teologias com sabor de mangostão

Isabel Aparecida Felix (org.)

Autores/as:

Aloysius Pieris, Arianne van Andel, Diego Irarrazaval, Elisabeth Schüssler Fiorenza, Felipe Fanuel Xavier

Rodrigues, Gemma Tulud Cruz, Ivone Gebara, Jen-Wen Wang, José María Vigil, Jude Lal Fernando, Jung

Mo Sung, Lucia Weiler, Maaike de Haardt, Maria José Rosado, Maria Sandra dos Santos,

Mercedes de Budallés Diez, Monja Coen, Tissa Balasuriya

Teologias com sabor de mangostão

Ensaios em homenagem a Lieve Troch

São Bernardo do Campo2009

NHANDUTIEDITORA

Page 2: Teologias com sabor de mangostão

Artigos originais: © dos/das autores/asConjunto deste livro: © Nhanduti Editora 2009

Revisão: Monika OttermannDiagramação e arte: Leszek Lech AntoniCapa: Leszek Lech Antoni, sobre arte de Jen-Wen Wang

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Felix, Isabel Aparecida (org.)Teologias com sabor de mangostão. Ensaios em homenagem a Lieve Troch / Isabel Aparecida Felix (org.). – São Bernardo do Campo : Nhanduti Editora, 2009, 224p.

Bibliografia.ISBN 978-85-60990-07-8

1. Teologia Feminista. 2. Diálogo entre religiões. 3. Relações interculturais.4. Teologia da Libertação. 5. Lieve Troch. I. Felix, Isabel Aparecida II. Troch, Lieve III. Título.

CDD-230.82; 201.5; 200.9

Índices para catálogo sistemático:

1. Teologia Feminista : Teologia feminista cristã 230.822. Relações interculturais e interreligiosas : Relações interreligiosas 201.53. Lieve Troch (Festschrift) : Religião: Pessoas 200.9

Direção geral: Leszek Lech Antoni e Monika OttermannCoordenação editorial: Leszek Lech Antoni, Monika Ottermann, Lieve Troch

Nhanduti EditoraRua Planalto 44 – Bairro Rudge Ramos

09640-060 São Bernardo do Campo – SP 11-4368.2035 [email protected] www.nhanduti.com

Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer for-ma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora.

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Agradecemos ao Instituto de Missiologia de Missio Aachen (MWI), à Congregação das Irmãs da Divina Providência e a muitíssimas pessoas particulares pela contribuição financeira com a produção deste livro.

E agradecemos às pessoas que partilharam generosamente seu tempo e seus dons na revisão dos textos:Antônio Carlos de Góis Cajueiro, Felipe Fanuel Xavier Rodrigues, Lilian Laurência Leite, Lilia Veras, Magda Brasileiro, Milene Chaves, Pedro Julián Jiménez Celorrio.

NhandutiEditora

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Sumário

Dançando em torno do mangostão Jen-Wen Wang ......................................................................... 7

Convite para saborear teologias “com sabor de mangostão” Monika Ottermann ......................................................................... 9

Apresentação Isabel Aparecida Felix ...................................................................... 11

Conversas com Lieve Troch Isabel Aparecida Felix ...................................................................... 15

O diálogo intercultural como mediação hermenêutica: uma homenagem à Lieve Troch Ivone Gebara ...................................................................... 21

Para uma teologia do dia-a-dia: ouvindo vozes que ainda não foram ouvidas Felipe Fanuel Xavier Rodrigues ...................................................................... 33

Resistência, paixão e sabedoria impertinente Maria José Rosado ...................................................................... 45

Profetisas: onde estão elas? Um exercício de releitura bíblica com suspeita Lucia Weiler ...................................................................... 53

Corpos marcados por fronteiras transgredidas Jung Mo Sung ...................................................................... 63

Ouvir vozes é lembrar a resistência Maria Sandra dos Santos ...................................................................... 73

Raab, mulher “zonah”, mulher de fronteira Mercedes de Budallés Diez ...................................................................... 81

Budismo – releitura dos textos sob a ótica da inclusão Monja Coen ...................................................................... 91

Da raiva à resistência Arianne van Andel .................................................................. 103

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Interculturalidade e Teologia. Interrogações latino-americanas Diego Irarrazaval .................................................................. 115

Espiritualidade da militância pluralista José María Vigil .................................................................. 127

A Igreja que aprende ou: O que o mundo ensina à Igreja Tissa Balasuriya .................................................................. 135

Uma Cristologia da Libertação do Pluralismo Religioso Aloysius Pieris .................................................................. 151

A crise de identidade e de unidade. Rumo a uma ética ecumênica Jude Lal Fernando .................................................................. 161

Viver em meio à morte: uma releitura de transcritos escondidos de mulheres asiáticas Gemma Tulud Cruz .................................................................. 179

Rumo a uma Espiritualidade Sapiencial Feminista de Justiça e Bem-estar Elisabeth Schüssler Fiorenza .................................................................. 191

O paradoxo mariano: práticas marianas como um caminho para uma nova mariologia? Maaike de Haardt .................................................................. 209

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Dançando em torno do mangostão**

Jen-Wen Wang*

Fiz este desenho numa das oficinas assessoradas por Lieve na Malásia. Lieve gosta muito dessa fruta e partilhou com as participantes que, para ela, o mangostão é uma metáfora de Deus.

Para muitas mulheres, encontrar Deus é como comer essa fruta tropi-cal, o mangostão.

Encontramos primeiro uma casca grossa, dura e escura. Pode ser a casca de doutrinas e ensinamentos patriarcais. Pode ser a casca da hie-rarquia eclesiástica. Pode ser a casca de mil anos de tradições. Tudo isso pode nos assustar.

Mas quando ousamos quebrar a casca grossa, vemos a bela cor rubi ou púrpura que abraça a polpa branca e macia. Quando tomamos a polpa branca e a colocamos na boca, saboreamos a doçura humilde e singela da fruta. Ela alimenta nosso corpo e nossa alma com alegria serena.

Portanto, essa fruta nos lembra que devemos lutar para furar a imagem de um Deus forte (todo-poderoso) e severo, para chegar até o cerne de Deus.

Assim poderemos finalmente saborear o perfume e o sabor de Deus e nos alimentar.

Assim poderemos nos levantar e, com passos confiantes, começar a dançar em torno do mangostão.

* JEN-WEN WANg, teóloga feminista de Taiwan, é ministra ordenada da Igreja Presbiteri-ana de Taiwan. Estudou muitos anos na Alemanha e pesquisou o trabalho social cristão no séc. 19. Ensina História do Cristianismo no Taiwan Theological College and Seminary e é autora de livros sobre a vida cristã em Taiwan. Ela faz sua teologia através de poesia e arte, e é membro do AWRC (Asian Women Resource Centre, Centro de Recursos de Mulheres Asiáticas).

** Tradução: Monika Ottermann N. da Ta.: O mangostão (a fruta do mangostanzeiro, garcinia mangostana, também

chamada de mangostin), de origem asiática e da mesma família do bacuri, é cultivado principalmente no norte e nordeste do Brasil.

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Convite para saborear teologias “com sabor de mangostão”

Colaborar, no sentido mais amplo da palavra, com a produção deste livro foi o maior desafio que a Nhanduti Editora assumiu em sua breve existência, mas foi sobretudo uma enorme alegria e satisfação.

Desde que Isabel Felix nos fez a proposta, empenhamo-nos em de-senvolver e realizar algo que celebrasse muito mais que “apenas” a vida e obra da homenageada: um festschrift que celebrasse a própria vida, por meio de teologias e valores que estão presentes no mundo inteiro e com-prometidos com sua transformação.

Teologias com sabor de mangostão. Mas, afinal, que teologias são estas?

Acontece com elas como com as coisas mais belas da vida: as tenta-tivas de explicar ficam muito aquém dos prazeres de saborear. Podem ser balbuciadas em metáforas e esboçadas em desenhos, mas precisam ser experimentadas e vividas. Isso acontece também com as coisas divinas, até mesmo quando passam a ser teologias, quando se tornam palavras sobre o divino.

Entretanto, isso não nos dispensa da tentativa de verbalizar, da respon-sabilidade de partilhar o que já saboreamos ou pelo menos vislumbramos. Poderíamos dizer assim: teologias com sabor de mangostão são paixões e compromissos que se tornaram reflexões e conceituações, escondidas dentro das cascas secas de termos como “teologia feminista”, “leitura li-bertadora da Bíblia”, “teologia intercultural”, “teologia interreligiosa”.

Frutos concretos destas teologias, que nasceram no Brasil, na América Latina e em outras partes do mundo, chegaram até nós graças à generosa partilha de teólogas/os, filósofas/os e sociólogas/os que comprometem sua vida (não só a acadêmica) com a vida – com uma vida cheia de bons sabo-res, uma vida em abundância. Faremos o possível para ampliar esta parti-lha, ao disponibilizar, algum dia e de alguma maneira alternativa, também os artigos originais escritos em espanhol e inglês. E agradecemos, de todo coração, essa generosidade que é muito mais que uma homenagem à vida

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de uma pessoa individual – é uma homenagem à própria vida. Por isso devemos também lembrar que frutos e frutas servem para ins-

pirar e alimentar – e quando se tornam livro, servem para inspirar as pesso-as que o abrem e que se abrem para ele. Por isso, reiteramos aqui o convite que fazemos aos leitores e às leitoras em cada livro da Nhanduti: o convite de servir-se deste livro para criar

redes em vez de centrospontes em vez de murosdiálogos em vez de ataquespartilha em vez de indoutrinaçãointercâmbio em vez de inimizaderelações de parceria em vez de dominação.

Fazer isso é a homenagem mais bela à vida, inclusive à vida de Lieve Troch.

Pela Nhanduti Editora

Monika Ottermann

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Apresentação

A idéia da homenagem em livro pela celebração da vida e obra de Lieve Troch nasceu durante minha participação em suas aulas e orienta-ção recebida em minha tese de doutorado em Ciências da Religião na Universidade Metodista de São Paulo.

Tanto nas aulas quanto na orientação, Lieve nos convida – sempre de maneira desafiadora – a entrar em um processo de suspeita e descons-trução através da análise sistêmica de nossas experiências, localizações pessoais e coletivas, de nossas histórias e realidades vividas e construídas dentro das relações sócio-religiosas.

Esse mesmo processo de desconstrução e esse olhar de suspeita (não de obediência!) são estendidos para as normas, doutrinas, conceitos e ide-ologias teológicas das religiões.

O desenho da capa deste livro, elaborado pela teóloga feminista asiáti-ca Jen-Wen Wang e enviado especialmente para esta homenagem, expres-sa muitíssimo bem o pensamento, a prática e a paixão teológica de Lieve, tanto dentro quanto fora da academia: fazer da teologia um espaço de luta, tendo em vista a transformação social e religiosa.

Ao utilizar a metáfora do mangostão para tentar definir a divindade, Lieve subverte a ordem das religiões institucionalizadas que não autori-zam as mulheres a definir a divindade, o sagrado, o mundo e nem a si mesmas. Afinal, o papel de definição, de nomear dentro das igrejas, é exclusivo dos homens.

Ao mesmo tempo em que nos desafia a exercer a autoridade da defini-ção, Lieve desconstrói e rompe com o paradigma da teologia clássica que pretende explicar e adaptar, de maneira indutiva, conceitos teológicos (o divino, a graça, a revelação, a autoridade...) à vida das pessoas.

Lieve não quer adaptar, nem repetir, nem, muito menos, conservar os conceitos teológicos para serem aplicados aos grupos, às comunidades. Ela propõe a desconstrução das ideologias, das doutrinas, dos textos sagra-dos e das normas para, então, avaliar se é possível construir e reconstruir relações mais igualitárias. Com isso, Lieve propõe um fazer teológico crí-tico e político, em prol da transformação.

Efetivamente, novos conceitos já estão sendo construídos principal-mente por mulheres e homens marginalizados, através de suas lutas e re-sistências em diversas partes do mundo. Esse é o lugar onde Lieve articula

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sua teologia. Como teóloga, ela se propõe a analisar e avaliar se esses con-ceitos são realmente libertadores ou não e, assim, articula esses conceitos com as práticas de resistência do cotidiano de grupos que buscam viver sua fé e lutam por justiça e bem-estar.

É na vida e nas experiências do dia-a-dia, de mulheres e homens que vivem à margem das sociedades e das religiões, mas que ao mesmo tem-po resistem e encontram alternativas para buscar saídas para uma vida melhor, como as mulheres que trabalham nas plantações de chás�, e/ou as mulheres e homens pertencentes a religiões diferentes que trabalham juntas e juntos para os preparativos para a festa de São Sebastião em uma favela de Colombo (Sri Lanka)2, que Lieve encontra sua paixão para fazer da teologia um lugar de transformação das relações de exclusão, de injus-tiça e dominação.

A partir de uma perspectiva feminista crítica, o pensamento e prática teológicas de Lieve (tanto no mundo acadêmico como fora dele) nos apontam para a possibilidade da construção de um terceiro magistério3, em que mulheres, homens, jovens, pessoas de todas as classes, raças, et-nias, opções sexuais, de todos os espaços geográficos, possuem o poder e a autoridade de definir e re-definir a si mesmas, seus mundos, o sagra-do, a divindade. Eis um espaço de autonomia, de mulheres e homens que são atrizes e atores, sujeitas e sujeitos da transformação!

Em suas aulas e escritos, Lieve mantém um diálogo aberto e crítico com as teologias da libertação e feministas de diversas partes do mun-do, como a teologia latino-americana, a teologia asiática e as diversas teologias feministas (da libertação, asiática, pós-colonialista, womanist, mujerista...).

Além do diálogo acadêmico, Lieve também desenvolve um trabalho com diversos grupos de mulheres e homens de diferentes religiões no Bra-sil, em outros países da América Latina, na Europa, nos Estados Unidos e em alguns países da Ásia, pessoas de diferentes religiões e culturas. Sendo assim, para que a homenagem representasse esse aspecto do trabalho de Lieve, fiz questão de que as “Teologias com sabor de Mangostão” também fossem interculturais e interreligiosas! Daí convidar amigas e amigos seus do Brasil e outros países da América Latina, da Europa, dos Estados Unidos e da Ásia. Mulheres e homens que escrevem a partir do cristianismo, do zen-budismo e do candomblé.

A construção deste livro é fruto do trabalho de diversas pessoas que

1 TROCH, Lieve (org.). Passos com Paixão. Uma teologia do dia-a-dia. São Bernardo do Campo: Nhanduti Editora, 2007, 85.

2 Ibidem, 91.

3 PIERIS, Aloysius. Liberación, inculturación, diálogo religioso. Un nuevo paradigma desde Ásia. Estella: Verbo Divino, 2001, 261.

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se dispuseram – com muita alegria, generosidade e muito carinho por Lieve – a colaborar. No Brasil, chamaríamos esse livro de um verdadeiro trabalho em mutirão! Assim, não poderia deixar de agradecer, primei-ramente, a Monika Ottermann e Leszek Lech da Nhanduti Editora pelo apoio incondicional. Também devo agradecer às pessoas que fizeram as traduções e revisões dos textos e a cada autora e autor, provenientes dos quatro cantos do mundo, que desde o primeiro momento se dispuseram a escrever com muita alegria e admiração, em homenagem coletiva à sua amiga Lieve.

Quero lembrar aqui da fala de um monge budista coreano que, após ouvir uma palestra de Lieve, aproximou-se dela e disse: “Você me ilumi-nou!” Lieve, creio que ele tinha razão. Seu pensamento, sua prática, sua articulação teológica com grupos diversos dos quatro cantos do mundo, ilumina e inspira não somente a mim, mas a muitas mulheres e homens com quem você compartilha suas experiências de vida e de teologias.

Também quero recordar as palavras daquela senhora – moradora de uma favela carioca – que você visitou anos atrás. Em seu barraco sem porta nem janelas, a senhora disse, entre abraços e risos: “Lieve, volte sempre. As portas estarão sempre abertas para você!”

Convido a você leitora e você leitor a adentrar nesta casa com Lieve e saborear e sentir o perfume do mangostão que está presente de diversas maneiras e formas em cada texto deste livro!

Isabel Aparecida Felix

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Conversas com Lieve Troch

Em uma de suas vindas ao Brasil, em dezembro de 2008, convidei Lieve Troch para uma conversa mais detalhada sobre sua vida. Nesta en-trevista, a teóloga feminista fala sobre sua família, seus primeiros anos de estudos, sua militância estudantil, sua vida acadêmica e teológica e ainda seus trabalhos e convivências com pessoas de várias partes do mundo.

Isabel: Lieve, você nasceu na Bélgica e vive há 32 anos na Holanda. Fale um pouco de sua infância na Bélgica e sobre sua família.

Lieve: Nasci e cresci em um vilarejo na parte flamenga da Bélgica. Te-nho uma irmã e um irmão, sendo que sou a filha mais velha. A Bélgica é um país católico, mas apesar de meus pais serem católicos praticantes, a fé não tinha um lugar especial na minha família. Por outro lado, tanto meu pai como minha mãe sempre me apoiaram muito para os estudos. Tive oportunidade de ter uma educação clássica, ao estudar latim, grego e matemática. Adorava especialmente a matemática devido à sua lógica e clareza de pensamento. Foi muito difícil decidir o que estudar no curso de graduação, pois a Matemática, a Psicologia e as Ciências Políticas me atraíam muito. Após esse período de escolha profissional, para a grande surpresa de meus pais, decidi ir – aos 17 anos de idade – para a Universi-dade de Leuven estudar Ciências da Religião e Teologia.

Isabel: O que levou você a fazer teologia e se tornar uma teóloga fe-minista?

Lieve: Decidi fazer teologia por duas razões. Primeiramente, entre meus 14 e 17 anos fiz parte de um grupo de meninas engajadas em trabalhos com meninas deficientes e com problemas sociais nos vilarejos. Ali, tí-nhamos muitas discussões sobre coisas da vida, de modo que participar desse grupo contribuiu muitíssimo para eu pensar sobre minha posição e responsabilidades na vida. A segunda razão está relacionada às aulas de religião na escola, ministradas por um padre de maneira horrível e chata.

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Pensava: eu poderia fazer isto melhor, de uma maneira diferente.....Essas situações me ajudaram na decisão de estudar Teologia e Ciên-

cias da Religião. Estudei entre 1966 e 1971, um tempo repleto de espe-ranças no pós-Vaticano II. Também um período de revoluções nas univer-sidades: 1968! Tempo em que nós, jovens universitários, protestávamos, por exemplo, contra as fábricas de armas na Bélgica que apoiavam os portugueses na luta contra a independência de Moçambique e guiné-Bis-sau. De maneira política, a situação de pobreza do Terceiro Mundo era analisada e, como alunos, apoiávamos os movimentos que lutavam para a transformação, formávamos grupos que optavam por viver uma vida mais simples etc...

Apesar deste clima político revolucionário em Leuven e da teologia pós-Vaticano II, a teologia católica me parecia ainda muito fechada. Neste contexto é que decidi fazer minha dissertação de mestrado na área do Ecumenismo, visando abrir meus horizontes para o cristianismo mundial. Em eventos do Conselho Mundial de Igrejas, dos quais participei, pude tomar conhecimento da Teologia da Libertação e da luta teológica contra o apartheid. Além disso, como mulher leiga na igreja católica, refleti bas-tante sobre minha própria posição de teóloga às margens da igreja.

Comecei a dar aulas numa escola e ao mesmo tempo estudei crimi-nologia para poder entender melhor a violência e a marginalidade. Um dia, em 1976, recebi o convite de um bispo da Holanda para trabalhar em sua diocese como responsável pela catequese de adultos e pelo trei-namento de padres para os trabalhos nas paróquias. Uma surpresa, mas também um desafio! O bispo Ernst foi amigo do Cardeal Paulo Evaristo Arns e era conhecido como o bispo mais progressista, humilde e simpá-tico do país. Trabalhei nessa diocese durante 12 anos com muita alegria. Então, relacionada com o movimento feminista secular, comecei a apoiar especialmente as mulheres que se davam conta da marginalização estrutu-ral na igreja. A teologia feminista se desenvolveu neste tempo e, desde os seus primórdios, fiz parte de seu desenvolvimento na Holanda juntamente com outras mulheres teólogas. Desde 1988 leciono em universidades nas áreas da Teologia Feminista, das Ciências Feministas e Teologia Sistemáti-ca. Além disso, nunca deixei de trabalhar com grupos sociais de base, de movimentos sociais, com mulheres de congregações religiosas como, por exemplo, as Irmãs da Divina Providência, e, especialmente, com grupos ecumênicos e interreligiosos.

Isabel: “A Resistência é o Segredo da Felicidade” é o tema de sua tese de doutorado. Fale um pouco sobre alguma experiência junto aos movimentos emancipatórios que tenha marcado a sua vida e inspirado sua produção teológica.

Isabel Felix

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Lieve: A relação com movimentos sociais e feministas, bem como a refle-xão sobre esta relação, me levaram a começar uma tese de doutorado nos últimos anos do trabalho na diocese.

Na Holanda, fiz parte da primeira geração de teólogas feministas. Fo-mos desafiadas pelas mulheres teólogas dos Estados Unidos e, com isso, começamos a desenvolver nossa própria teologia feminista na Europa.

Encontros com mulheres negras dos Estados Unidos e, mais tarde, com mulheres da Ásia, me levaram a um discurso intrafeminista que visava, na tese de doutoramento, uma metodologia que questionasse a centralidade de sujeitos brancos e ocidentais nos discursos teológicos. Essa continua sendo minha paixão ainda hoje! Nesse sentido, há dez anos trabalhando no Brasil, fico às vezes surpresa com os discursos ocidentais e poucos con-textuais ou planetários que encontro dentro das universidades brasileiras.

Em minha vida, uma frase de Adrienne Rich, uma poetisa judia, me desafia muito. Ela diz: “Meu coração é tocado por tudo o que eu não pos-so salvar. Tanta coisa tem sido destruída. Tenho que ligar minha sorte com aquelas que, geração após geração, teimosamente, sem nenhum poder extraordinário, reconstituem o mundo.”

Penso sempre nestas frases. Elas me dão força. Tenho o privilégio de conhecer muitas pessoas no mundo que tentam transformar situações de violência, de desgraça, de pobreza. Para mim, a Teologia na academia e no dia-a-dia tem que se relacionar com as resistências para reconstruir a imagem da Divindade.

Isabel: Seu fazer teológico parece estar marcado pela experiência de pessoas que vivem na fronteira. Fale um pouco sobre as impli-cações de teologias realizadas na fronteira.

Lieve: Fronteiras fazem parte da vida, no nível pessoal e estrutural. Fron-teiras constroem identidades de sujeitos, de povos, de instituições, de re-ligiões e de pensamentos. Parece necessário viver com fronteiras para conservar a identidade pessoal e estrutural. A violação das fronteiras cor-porais, espirituais e culturais de mulheres e homens, de povos indígenas... destruiu sua integridade e sobrevivência. Fronteiras podem ser sagradas.

Mas sabemos também que fronteiras aprisionam pessoas: sexismo, racismo, religionismo, nacionalismo, culturalismo etc… aumentam a marginalização e a hierarquização no mundo. Cruzar essas fronteiras de exclusão é uma tarefa contínua, e a teologia pode dar uma importante contribuição nesta busca.

A luta de escapar da morte para a vida está acontecendo nas frontei-ras. Eu quero situar a teologia nesse lugar, nesta ambigüidade! A Teologia acadêmica, bem como outras disciplinas e as religiões, poderiam se situar nas fronteiras para desafiar as realidades de violência e de pobreza. A Bíblia conta também histórias preciosas desta luta nas fronteiras em que

Conversas com Lieve Troch

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a religião dominante e a subversiva se encontram, em que a intercultura-lidade e a interreligiosidade são vistas como enriquecimento e não como ameaça. Nesta linha, muita pesquisa teria ainda que ser realizada.

Isabel: Você se descreveria como uma mulher de fronteira?

Lieve: Agora você usa a palavra num nível diferente. Eu tive a oportunida-de de abrir meus horizontes em níveis diferentes até este momento de mi-nha vida: sou da Bélgica e há 32 anos moro na Holanda. Trabalho regular-mente com grupos interreligiosos e interculturais de base em alguns países da Ásia onde tenho amigas e amigos preciosas e preciosos de religiões e etnias diferentes, engajadas e engajados em lutas pela justiça e paz. Cons-truímos juntas e juntos uma rede de solidariedade, de discussões, de apoio individual e estrutural numa amizade além das fronteiras de exclusão.

As religiões são cúmplices desta exclusão. Mas não precisam sê-lo necessariamente. As religiões também possuem o potencial de reunir, li-gar e incluir as pessoas. Às vezes é difícil enfrentar as diferenças, uma vez que a pobreza, a violência, a tortura, a desumanização e a exclusão são muito destrutivas. Mas cruzar fronteiras na vida também é uma alegria, uma graça. Creio que precisamos construir uma rede teológica e de vida alternativa de mulheres e de homens marginalizadas e marginalizados.

A teóloga Nelle Morton escreveu um pequeno livro com o título: A viagem é o lar. Com isto ela não se referia a uma viagem ao redor do mundo, mas a uma viagem de audácia em que deixamo-nos desafiar por situações novas, sem medo. Nesse sentido, não há retorno para um lar já conhecido. O lar é exatamente esse viajar com olhos abertos e sempre novos. Espero poder viver assim!

Isabel: Há dez anos você trabalha como professora da cátedra de Te-ologia Feminista na Universidade Metodista de São Paulo e faz parte da coordenação do Grupo de Pesquisa Netmal. Fale um pouco sobre essa experiência e o que ela lhe trouxe.

Lieve: No passado, minhas leituras me ensinaram muito sobre a América Latina e sua Teologia da Libertação. Não se esqueçam que gustavo gutiér-rez e Camilo Torres foram também alunos em Leuven, onde estudei. O con-vite que recebi de igrejas protestantes para ensinar no Brasil, em uma Uni-versidade Metodista, foi um novo desafio, não só, mas também por conta da língua portuguesa (que para mim às vezes ainda é uma feira de abacaxi). Hoje, partilho meu tempo entre a Universidade Metodista de São Paulo, a Universidade Católica Radboud em Nijmegen na Holanda e em alguns países da Ásia como: Sri Lanka, Índia, Indonésia, Myanmar, Malásia...

gosto muito do Brasil, deste país cheio de contradições. gosto de partilhar a teologia e de fazer teologia acadêmica nova em conjunto com

Isabel Felix

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alunas e alunos. gosto de novos caminhos numa realidade diferente! A cátedra feminista me encaminha para uma possibilidade de pesquisar pistas novas no ritmo do desenvolvimento da teologia e das ciências da religião em países do sul. A academia – alunas e alunos juntas, juntos, com os professores – me dá possibilidades de construir teologia, um novo pensamento, e não apenas reproduzir a ciência já existente. Fazer parte deste processo de aprendizagem de pessoas jovens vivendo na realidade do dia-a-dia é uma graça.

Isabel Aparecida Felix

Conversas com Lieve Troch

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O diálogo intercultural como mediação hermenêutica:

uma homenagem à Lieve Troch**

Ivone Gebara*

Breve introdução

Este texto sobre o trabalho de Lieve Troch é uma singela homenagem a uma incansável lutadora em favor da dignidade das mulheres e dos gru-pos oprimidos. Uma homenagem é o reconhecimento da importância da vida e da contribuição de alguém em favor do bem comum em alguma área da atividade humana. Lieve é teóloga, isto é, é artesã de sentidos que sustentam a vida. E esse artesanato foi aprendido em primeiro lugar na Bélgica e Holanda, aliás, lugares onde as rendeiras se desenvolveram de maneira extraordinária, alcançando não só uma excelência na arte manu-al, mas uma autonomia digna de nota. Lieve tem no sangue a luta de suas antepassadas empreendedoras e corajosas. Mas, sua luta não se limitou a Flandres, visto que saiu pelo vasto mundo interpelada pelo silêncio e dominação de mulheres de diferentes lugares especialmente da Ásia e da América Latina (Brasil). Lieve se dispôs a ajudar muitos grupos de mulhe-res a redescobrir a trama original de suas rendas, de suas redes, de suas danças, de suas poesias. Ajuda-as a perceber que aí reside uma sabedoria própria que não pode ser dominada ou manipulada por poderes políticos e religiosos. Essa sabedoria é sua própria rede de sentido, rede tecida e bordada por elas mesmas a partir de suas diferentes culturas, rede capaz

* IVONE gEBARA é filósofa e teóloga feminista. Nascida em São Paulo, vive em Cama-ragibe, Pernambuco. Assessora de diferentes movimentos sociais, é também professora convidada por universidades nacionais e internacionais. É colaboradora de diferentes revistas latino-americanas, européias e brasileiras. Seus últimos livros estão publicados pela Editora Brasiliense.

** Palavras-chave: Hermenêutica – Diálogo intercultural – Feminismo – Teologia – Política.

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Páginas 22-30 indisponíveis na versão digital

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que sirva para alegrar o coração na linha da justiça e do direito sem, no entanto, retê-lo ou desenvolver a tentação de guardá-lo em odres indes-trutíveis ou em tendas estáveis. É como a teologia que aprendemos. Ela não é a última palavra em bom vinho porque a última palavra não existe. Afinal não estamos sempre a caminho? E, a festa não é hoje e amanhã? E o vinho bom, fabricado pelas mulheres, não é igualmente o de hoje e o de amanhã?

Lieve, obrigada pelo bom vinho que você tem nos oferecido durante todos estes anos. Feliz aniversário!

Bibliografia

ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 2005, 352p

TROCH, Lieve. Swimming like salmons against the stream. In: Journal of the Eu-ropean Society of Women in Theological Research, 6. Leuven: Peeters, 1998, 99-110

TROCH, Lieve. À imagem de Deus – teologia na articulação dos direitos da mu-lher. In: Concilium, 298,5. Petrópolis: Vozes, 2002, 105-114

TROCH, Lieve. Espaços de sabedoria e graça – educação teológica para a trans-formação. In: Revista Estudos da Religião, 19. São Paulo: Universidade Meto-dista, 2005, 132-146

TROCH, Lieve (org.). Passos com Paixão. Uma teologia do dia-a-dia. São Bernar-do do Campo: Nhanduti, 2007, 95p

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Para uma teologia do dia-a-dia: ouvindo vozes

que ainda não foram ouvidas**

Felipe Fanuel Xavier Rodrigues*

Você pode diminuir o meu valor na História Com cruéis e entrelaçadas mentiras a contar,Pode ter me pisoteado na pior sujeiraMas ainda assim, como a poeira, eu vou me levantar.1 (Maya Angelou)

Alguém já disse que “a fé vem pelo ouvir” (Rm 10,17; NT Almeida Século 21), e eu, como qualquer jovem teólogo/a, não posso deixar de ouvir aquilo que as teologias têm a nos dizer. Muito ainda preciso ouvir depois que conheci uma teóloga, a quem trato por “Professora Lieve”. Com ela, tenho ouvido vozes até então inaudíveis depois de quatro anos de seminário.

A disciplina Teologia Feminista, cursada no primeiro semestre do meu mestrado em Ciências da Religião, contribuiu muito para isso. Era a ma-nhã de oito de março, Dia Internacional da Mulher, de 2007. Não haveria data melhor para a primeira aula de um curso sobre tal tema. Após falar um pouco do significado histórico da data na luta das mulheres pela igual

* FELIPE FANUEL XAVIER RODRIgUES é discente do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião (área de Teologia e História) da Universidade Metodista de São Paulo, onde foi aluno de Lieve Troch nas disciplinas Teologia Feminista e Ecumenismo.

** Palavras-chave: Teologia – Dia-a-dia – Pessoas – Sagrados Espaços – Lieve Troch.1 Primeira estrofe do poema Still I Rise, em cujo original se lê o seguinte:

You may write me down in history With your bitter, twisted lies, You may trod me in the very dirt But still, like dust, I’ll rise.

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vozes silenciadas nos textos sagrados.1 Seu objetivo é descobrir “as raízes de comunidades de resistência e solidariedade” (Troch 1993, 356).

Muitas vozes ainda não foram ouvidas, mas para deixarmos a surdez de lado, precisamos atentar para as pessoas e seu dia-a-dia, refletir sobre o papel da teologia diante das injustiças diárias, e perceber a possibilidade de construir espaços sagrados em áreas marginais da religião. Esta talvez seja, creio piamente eu, a lição que estou começando a decorar e espero um dia aprender.

Bibliografia

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TROCH, Lieve. Swimming like salmons against the stream. Some reflections on interreligious communication from a feminist perspective. In: MEYER-WILMES,

4 Sugiro conferir a leitura que ela faz de Lc 10,38-42; Ex 1; Mc 5,33s e Jz 11,39s (Troch 1993, 359-363).

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TROCH, Lieve. Passos com paixão. Uma teologia do dia-a-dia. São Bernardo do Campo: Nhanduti, 2007, 95p

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Resistência, paixão e sabedoria impertinente�**

Maria José Rosado*

Querida Lieve,

depois daquelas primeiras vezes em que nos encontra-mos, há 10 anos, quando o português ainda era uma língua difícil para você e tínhamos que nos comunicar em inglês, foram menos do que dese-jaríamos as oportunidades de nos sentar e tranqüilamente discutir e con-frontar nossas maneiras de entender o que seja uma visão feminista da vida, incluindo aí nosso gosto pela elaboração e partilha crítica do conhe-cimento sobre a vida mesma. Uma pena! E aí, como não quero lamentar isso no futuro –

Devia ter amado mais Ter chorado mais Ter visto o sol nascer Devia ter arriscado mais E até errado mais Ter feito o que eu queria fazer... (Epitáfio, Titãs)

– resolvi tornar este texto uma parte desse diálogo com você.

* MARIA JOSÉ ROSADO é socióloga, doutora pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, Paris (1991). Trabalhou em CEBs nas regiões mais pobres do Brasil. Fundou e coordena a ONg Católicas pelo Direito de Decidir. É professora da PUC de São Paulo, pesquisadora do CNPq e membro dos Conselhos do NEMgE/USP e da Revista Estudos Feministas, entre outros. Foi professora convidada na Harvard University, EUA (2003). Em 2005 foi indicada pela Associação Mil Mulheres pela Paz para o prêmio Nobel da Paz.

** Palavras-chave: Religião – Violência – Resistência – Teologia Feminista.1 Dedico este texto a Lieve, muito especialmente e com enorme carinho. Mas também às

teólogas brasileiras, em particular às teólogas católicas, com quem tive contatos próxi-mos e ocasião de partilhas, e das quais hoje me sinto distante.

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Páginas 46-50 indisponíveis na versão digital

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Catarina, italiana, de Sena, também declarada santa, durante os anos de crise do pontificado em curso, atuou junto ao Papa e aos Bispos, ad-moestando-os a buscarem a paz na Igreja. No Brasil, entre tantas outras, recordo Isabel, a do Fanado, em Minas gerais, que no século 18 consti-tuiu a casa de oração “do Vale das Lágrimas”, sem pedir licença ao Bispo. Advertida por ele, respondeu-lhe, em carta de próprio punho, que não considerava necessária qualquer licença para viver em jejum e orações sua dedicação ao Evangelho, junto com suas companheiras (Azzi / Rezen-de, 24-60).

A lista seria longa se a quiséssemos inteira. Interminável, se a ela acrescentássemos as incontáveis anônimas – leigas e freiras – que susten-tam cotidianamente, com seu incansável trabalho, essa Igreja que não as reconhece. Como a vida dessas mulheres, Lieve, a Teologia que brota de seus textos oferece a possibilidade de que a fé religiosa seja um espaço de realização criativa da própria vida e de transformação da sociedade em um lugar bom pra se viver, com dignidade, justiça e liberdade.

Suas proposições teóricas e metodológicas radicais, distantes da orto-doxia do discurso teológico tradicional, romano ou da Teologia da Liber-tação, rompem paradigmas estabelecidos e se abrem à esperança. Lem-bram-me Donna Haraway, quando desentranha as esperanças enraizadas na elaboração científica:

As ciências naturais, sociais e humanas sempre estiveram implicadas em esperanças como essas. De que esperanças ela fala? [...] Precisamos de uma rede de conexões para a Terra, incluída a capacidade parcial de traduzir conhecimentos entre comunidades muito diferentes – e dife-renciadas em termos de poder. Precisamos do poder das teorias críticas modernas sobre como significados e corpos são construídos, não para negar significados e corpos, mas para viver em significados e corpos que tenham a possibilidade de um futuro. (Azzi / Rezende, 24-60)

Há alguns anos, um livro de Sociologia da Religião trazia como título a interrogação: Um Futuro para a Religião? (Swatos, 1993). Talvez a pergunta a que você responde, sem tê-la colocado, Lieve, seja a de que há um futuro para a religião. Talvez haja uma resposta para a perplexidade incômoda e paradoxal de ser feminista e partilhar uma fé religiosa. Em sua elaboração teológica sopram ventos de liberdade e uma enorme força de criação, essa resistência impertinente dos saberes apaixonados. Obrigada!

Bibliografia

ALI, Ayaan Hirsi. Infiel: A história da mulher que desafiou o Islã. São Paulo: Cia. das Letras, 2007, 504p

AQUINO, María Pilar; ROSADO-NUNES, Maria José (org.). Teología Feminista

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Intercultural. Exploraciones latinas para um mundo justo. México: Ediciones Dabar, 2008, 365p

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gAARDER, Jostein. Vita Brevis: La carta de Floria Emilia a Aurelio Augustín. Madri: Ediciones Siruela, 1997, 130p

HARAWAY, Donna. Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial. In: Cadernos Pagu, 5. Campinas: Núcleo de Estudos de gênero – Pagu / Unicamp,1995, 7-41

JUANA INÉS DE LA CRUZ, Sor. Obras completas, I: Lírica Personal. Edicion Prolo-go y Notas de Alfonso Mendez Plancarte. México: Fondo de Cultura Económi-ca, 1988, 626p (Serie de Literatura Colonial)

JUANA INÉS DE LA CRUZ, Sor. Obras completas, IV: Comedias, sainetes y prosa. Edicion Prólogo y Notas de Alberto G. Salceda. México: Instituto Mexiquense de Cultura, 1994, 715p (Serie de Literatura Colonial)

LLOSA, Mario Vargas. Uma mulher contra o mundo. In: O Estado de São Paulo, 10/02/2008. São Paulo: O Estadão, Caderno de Cultura, 11

PAZ, Octavio. Sor Juana Inés de La Cruz o las trampas de la fe. Barcelona: Editorial Seix Barral, 1982, 656p

SWATOS, William H. A future for religion? New paradigms for social analysis. Newbury: Sage, 1993, 210p

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VALERIO, Adriana. La questione femminile nei secoli X-XII. Una rilettura storica di alcune esperienze in campânia. Napoli: M. D’Auria Aditore, 1983, 94p

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Profetisas: onde estão elas?Um exercício de releitura bíblica

com suspeita **

Lucia Weiler *

Introdução

A escolha do título desta reflexão é motivada pela própria pessoa que quero e queremos homenagear. Lieve Troch, mulher profetisa do e no nos-so tempo. Onde está ela? No Sri Lanka, em Münster, em São Paulo, na Bahia, em Porto Alegre, em Curitiba, na Indonésia, na Holanda. Nos co-rações, nas memórias e nas agendas de muitas e muitos. Escrever algo em sua homenagem é ordem do coração. Não posso deixar de fazê-lo. Mas a ordem afetiva é uma. Na prática, porém, escrever em homenagem a esta mulher profetisa é desafio. Vou assumi-lo com aquela consciência que dela aprendi. Quando um texto está pronto para ser editado é que ele de-veria ser novamente desconstruído e reconstruído. Deixo essa tarefa para ela própria e para todas e todos os que tiverem a curiosidade e o interesse de ler esta breve reflexão.

Voltando ao título, a pergunta já de início nos confronta com um desa-fio: a busca de relações igualitárias, num discipulado de iguais, não é tão fácil no âmbito teológico-bíblico. Temos muitas reflexões sobre a profecia na perspectiva bíblica. O que constatamos é que a maioria delas traz uma perspectiva apenas masculina. E não poderia ser diferente, porque os profe-tas que a Bíblia ressalta são em sua maioria, e por que não dizer em sua to-talidade, homens. Daí porque o que segue só pode ser compreendido den-tro de um exercício de releitura bíblica com a hermenêutica da suspeita.

E, entrando por essa aventura criativa e inventiva, reconhecemos que todo escrito passa por um processo de escolha de palavras, de conceitos,

* LUCIA WEILER é doutora em Teologia Bíblica pela PUC-RJ e membro da Congrega-ção das Irmãs da Divina Providência que está sendo assessorada desde 1999 por Lieve Troch. Nesse espaço assumiu várias assessorias conjuntas com Lieve Troch. É professora de Sagrada Escritura e Teologia Feminista na ESTEF – Porto Alegre/RS. Integra o Conselho Nacional do CEBI, prestando o serviço de intercâmbio com países de idioma alemão. Integra a Equipe Teológica da CLAR desde 2003.

** Palavras-chave: Movimento profético – Mulheres Profetisas – Hermenêutica da Suspeita – Dança da Libertação e da Transformação – Reino de Deus.

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Páginas 54-61 indisponíveis na versão digital

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Desde aí, todo o povo de Deus é chamado para cumprir um desejo muito antigo, que o livro dos Números já colocava na boca de Moisés: “Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta, e que o Senhor lhe concedesse o Espírito” (Nm 11,29b).

In-con-clusão

E para não concluir voltamos à pergunta inicial. Mulheres profetisas: onde estão? A espiritualidade feminista profética articulada com a prática cotidiana faz-nos reconhecer sua presença a serviço da vida e da reconsti-tuição da vida, principalmente lá onde ela se encontra ameaçada.

As mulheres que se sobressaíram em Israel, na história do Povo de Deus e na Palestina, no Movimento de Jesus, encarnaram em suas vidas o desejo de viver a energia de todo o povo, o seu passado e as razões de sua esperança. Seu profetismo na prática cotidiana foi uma espiritualidade encarnada, um ministério de vida. Onde havia morte e esterilidade, mos-travam os “atalhos” e as “brechas” por onde se reencontram a força e a co-ragem de viver. Por isso, nos quatro Evangelhos, nós as encontramos como testemunhadas e anunciadoras da Vida Nova que brota da Ressurreição.

Acreditamos que hoje essa mesma espiritualidade renasce como fogo sob as cinzas, de forma surpreendente em nossos meios populares e em nossos espaços teológicos, muitas vezes liderados por mulheres profetisas, numa luta incansável, permeada de fé a serviço da vida que necessita do ar novo do Espírito da Sabedoria para sinalizar a realidade do Reino de Deus acontecendo já aqui e agora entre nós.

À Lieve, profetisa sábia e amiga, com quem muito aprendi e aprendo, obrigada!

Bibliografia

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WEILER, Lucia. RISPÁ simplesmente RISPÁ. In: Estudos Teológicos, 46,1. São Leo-poldo: EST, 2006

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Corpos marcados por fronteiras transgredidas**

Jung Mo Sung*

Na apresentação do livro Passos com paixão, organizado por Lieve Troch, Ivone gebara diz que esse é um livro “incomum em teologia” não porque foi escrito por três mulheres, mas porque não reproduz o modo clássico de fazer teologia e também não apresenta “uma definição de Deus nem mesmo uma pré-definição” (Troch, 7). É uma teologia que não se cen-tra nos conceitos teológicos tradicionais (Deus, Igreja etc.), mas reflete teo-logicamente sobre as experiências do cotidiano. gebara chega a afirmar:

Não há outra base de revelação do humano para o humano a não ser as experiências múltiplas de bem e de mal, de criatividade e de monotonia, de horror e medo, de esperança e solidariedade que fazemos para nós mesmos. (Idem, 8)

Neste pequeno artigo em homenagem à professora Lieve Troch, eu quero seguir esse caminho. As reflexões que vou apresentar não são teo-lógicas no sentido estrito ou clássico, mas reflexões “humanas” a partir da minha experiência de “fronteira” entre dois mundos diferentes. “Fronteiras e transgressões de fronteiras” que, como diz Troch, “representa um desa-fio para as diversas teologias feministas [e também para outras teologias, JMS] orientadas por contexto” (Troch, 44). É uma reflexão sobre a minha memória1 – a minha experiência guardada, revisitada e reelaborada – de

* JUNg MO SUNg é professor no Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo. É autor de inúmeros artigos e livros, entre eles: Cristianismo de libertação: espiritualidade e luta social; Sementes de esperança: a fé em um mundo em crise e Sujeito e sociedades complexas: para repensar os horizontes utópicos.

** Palavras-chave: Memória – Imigração – Fronteira – Reconstrução da Identidade.1 Essa “memória” foi apresentada no Seminário Imigração Coreana, Psicologia e Cultura,

ocorrido no dia 07/06/2003, na Universidade de São Paulo (texto inédito).

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Páginas 64-71 indisponíveis na versão digital

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Ouvir vozes é lembrar a resistência**

Maria Sandra dos Santos*

Mo Ki gbogbo in! Eu saúdo a todas e todos!

Mulheres de todos os jeitos, trejeitos. Mulheres faceiras, feiticeiras mexendo a gamela da vida.Mulheres que cantam, que encantam. Mulheres que dançam na ciranda da vida. Feitiço se fez, tornou-se partido alto a língua da sabedoria. Vozes de mulheres sofridasSacerdotisas – transgressoras em nome da justiça.

Introdução

Dentre as muitas coisas que nos desafiam na elaboração de um artigo, uma delas é contar como chegamos à escolha do tema, por que privile-giamos tal assunto, quais os motivos, ao lado de tantos outros questio-namentos e paixões que acompanham a nossa vida, frutos de vivências, guardadas ao longo do tempo e expressas em nossas respostas, dúvidas, incertezas, certezas e decisões. Este artigo, portanto, faz parte de tudo isso, além de uma profunda inquietação em documentar a história das mulhe-res negras comprometidas com o cotidiano religioso da religião afro-bra-sileira, o candomblé.

Foi com grande prazer que aceitei o desafio de em poucas palavras fazer memória subversiva de tantas mulheres que marcaram época, as fa-teiras, as quituteiras, as ganhadeiras, as famosas mulheres do partido alto,

* MARIA SANDRA DOS SANTOS nasceu em Salvador - Bahia em 1962. É Omo Orisá do Ilê Asé Iyá Nassô Oká, historiadora pela Universidade Católica do Salvador (UCSAL) e Mestra em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), e docente do Instituto de Educação Teológica da Bahia (ITEBA).

** Palavras-chave: Mulheres – Resistência – Irmandades – Religião – Conhecimento.

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Páginas 74-79 indisponíveis na versão digital

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espiritualidade dos orixás. Petrópolis: Vozes, 1996, 7-12

SERRA, Ordep. Árvores, casas e pedras se multiplicam. In: Tempo e presença, 21. Rio de Janeiro: Koinonia, 1999, 12-14

SERRA, Ordep. Tribo de Iguais. In: Correio da Bahia, 14/01/2001, 1-3

SILVEIRA, Renato da. Jejê-nagô, Ioruba-Tapá, Aon Efan, Ijexá. Processo de consti-tuição do Candomblé da Barroquinha, 1764-1851. In: Revista Cultura Vozes, 6. Petrópolis: Vozes, 2000, 80-100

SILVEIRA, Renato. Iyá Adetá, Iyá Akalá, Iyá Nassô, Babá Assiká e Bamboxê Obi-tikô. História do Candomblé da Barroquinha, o ancestral da Casa Branca. Salvador: arquivo eletrônico do autor, 2001, 1-177

SILVEIRA, Renato. Candomblé da Barroquinha. Processo de constituição do pri-meiro terreiro baiano de Keto. São Paulo: Maianga, 2006, 645p

SIQUEIRA, Maria de Lourdes. Ago, Ago Lonan. Mitos, ritos e organização em terreiros de candomblé na Bahia. Belo Horizonte: Mazza, 1998, 471p

SOUSA JÚNIOR, Vilson Caetano de. Evangelização e diálogo junto às comuni-dades afro-americanas e caribenhas. In: Revista Mandrágora, 3. São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 1996, 6-29

VIDAL, Mara Regina. Ilê Leuwyiato – uma experiência em muitas vidas. In: Revis-ta Mandrágora, 3. São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 1996, 42-54

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Raab, mulher “zonah”, mulher de fronteira**

Mercedes de Budallés Diez*

Minha vida foi marcada pela presença de muitas mulheres de fron-

teira. Minha mãe, mulher inteligente, forte e decidida. Viúva aos 30 anos, educou os seus quatro filhos no diálogo e na fronteira da liberdade na-queles tempos de ditadura militar depois da guerra civil espanhola. Em momentos de tomar decisões, um dos seus conselhos, ainda ressoa em mim: “Você já tem o ‘não’, vá procurar o ‘sim’”. Este dito me ajudou em muitas situações importantes da minha vida e ajuda até hoje, quando, por exemplo, quero desistir de escrever este artigo por falta de tempo, por trabalho acumulado.

Sempre encontrei, no meu viver, muitas mulheres de “fronteira-passa-gem”. Amigas com quem partilhei as descobertas da juventude, o engaja-mento na luta por um mundo melhor, e que ainda são amigas. E, de forma muito significativa, as mulheres do interior do Brasil com quem compar-tilhei vivências e paixões durante mais de 20 anos, já que foram elas que mudaram minha forma de olhar e entender a vida.

Depois, conheci a Lieve em um momento importante do meu cami-nho. Eu saía de uma missão na Amazônia e voltava para a universidade

* MERCEDES DE BUDALLÉS DIEZ nasceu em girona (Espanha) em 1944. Estudou Ciên-cias Biológicas em Madri e Teologia em Sevilha. Trabalhou como missionária na Amazô-nia onde aprendeu a ler a Bíblia para a vida com o povo pobre. Assim, optou por fazer uma especialização Bíblica em Jerusalém. Voltou ao Brasil, onde mora. Fez Mestrado em Ciências da Religião em São Paulo e hoje é professora de Antigo Testamento em goiânia. É assessora nacional no Centro de Estudos Bíblicos. Publica artigos na área de hermenêutica feminista e subsídios populares.

** Palavras-chave: Mulher – Prostituta – Autônoma – Fronteira – Passagem.

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Páginas 82-89 indisponíveis na versão digital

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SANMARTÍN, Joaquín. Las guerras de Josué. Estudio de semiótica narrativa. Valên-cia: Institución San Jerónimo, 1982, 229p

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TAMEZ, Elsa; PEREIRA, Nancy Cardoso; SAMPAIO, Tânia Mara (org.). Las mujeres toman la palabra. San José: DEI, 1989, 111p

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Budismo – releitura dos textos sob a ótica da inclusão**

Monja Coen*

Há mais de vinte e cinco anos, um incidente, durante uma palestra na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, deu origem a uma série de estudos e pesquisas sobre as várias formas de discriminações e preconceitos no Japão, e sobre as relações dessas exclusões com as reli-giões. Todos os grupos religiosos, a partir desse incidente, desenvolveram estudos especializados e abriram departamentos de Direitos Humanos nas diversas ordens religiosas.

A tradição a que pertenço, Soto Shu, em decorrência desses aconte-cimentos, atualmente baseia seus ensinamentos no seguinte círculo inter-dependente:

Direitos Humanos, Paz e Meio Ambiente.

Para que haja paz, é necessário que sejam respeitados os direitos hu-manos e preservado o meio ambiente. Preservar o meio ambiente é con-tribuir para a construção de uma cultura de paz, respeito à vida e à diver-sidade. Respeitar os direitos humanos inclui a integração com a natureza e o cultivo da paz.

* MONJA COEN é Monja Zen Budista, missionária oficial da tradição Soto Shu. Teve sua formação no Mosteiro Feminino de Nagóia, no Japão, onde residiu por doze anos. Voltou ao Brasil em 1995, onde trabalhou no templo Busshinji, sede da América do Sul e iniciou sua participação no Diálogo Interreligioso na cidade de São Paulo. Em 2001 abriu um novo grupo de estudos, que recebeu o nome de Comunidade Zen Budista Zendo Brasil, e hoje é a responsável pelo Templo Tenzui Zenji, em São Paulo.

** Palavras-chave: Budismo no Japão – Releitura de textos sagrados – Direitos Humanos – Não-discriminação – Mulheres no Budismo.

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Páginas 92-101 indisponíveis na versão digital

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Da raiva à resistência**

Arianne van Andel*

A resistência é o segredo da alegria. Esta frase, que Lieve Troch usou como título da sua tese de doutorado, sempre me tem convidado à refle-xão.� Em sua tese, Troch promove o valor da resistência como um processo libertador: “A resistência não é um caminho para a libertação, mas um movimento espiral que nos conduz a um espaço livre e novo com novas relações e formação de comunidade, no sentido teológico, uma ruptura em direção ao Reino” (Troch, 4.5).2 Ela pesquisa como a teologia feminista no Ocidente pode contribuir para processos de resistência de mulheres de outros continentes, sem cair numa posição idealista harmonizadora que perde de vista as múltiplas formas de dominação e as diferenças nas situ-ações de poder e de sofrimento entre as mulheres em contextos diferentes do mundo. Troch é inspirada pela visão de que a força da resistência pode aproximar um mundo onde acabe o sofrimento de tantos homens e mu-lheres e onde haja justiça, consolo e alegria.

A partir da minha própria experiência em movimentos sociais, nos Países Baixos e no Chile, percebo que há muita repercussão do título da

* ARIANNE VAN ANDEL (1975) é teóloga holandesa de tradição protestante, mestra em teologia sistemática e teologia feminista. Desde 2005 trabalha, com apoio de CMC (Paí-ses Baixos), como pesquisadora no Centro Ecuménico Diego de Medellín, em Santiago, Chile. Colabora também com a equipe pedagógica Tremonhue (antigo Capacitar Chile), em capacitação e terapias complementares de autocuidado e de combate ao estresse.

** Palavras-chave: Resistência – Raiva – Transformação – Hermenêutica da Raiva. Tradução do espanhol - Leszek Lech.1 Troch tomou o título do livro: WALKER, Alice. Possessing the Secret of Joy. Nova Iorque,

1992.

2 Tradução do original holandês conforme a tradução espanhola da autora.

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Páginas 104-113 indisponíveis na versão digital

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Interculturalidade e TeologiaInterrogações latino-americanas **

Diego Irarrazaval *

Em um contexto globalizado, muitas pessoas reivindicam a cultura própria. Este direito à identidade e ao projeto de vida implica em interagir com realidades distintas da própria e, desse modo, em sentir e agir inter-culturalmente. Isso afeta o trabalho científico e a reflexão da fé.

Infelizmente, isso geralmente é abordado com ingenuidade. Realiza-se uma leitura crente das culturas como se estas fossem setores da realida-de (com um padrão estrutural). Outra maneira é compreender as culturas como se estas fossem essências e dialogar teologicamente com elas (es-sencialismo). Outra atitude é reduzir o cultural às subjetividades de pesso-as e de grupos. Estas três aproximações (estrutural, essencialista, intimista) não permitem o entendimento de processos e intersecções.

Por isso, é válido reprojetar a abordagem teológica no que se refere ao cultural, visto que ela é interativa. É válido prestar atenção a processos globais e locais entre culturas; o trabalho científico retoma a complexida

* DIEgO IRARRAZAVAL é chileno, professor de teologia, assessor de cursos de lideranças de base e profissionais. Foi presidente da Associação Ecumênica de Teólogos e Teólogas do Terceiro Mundo (ASETT/EATWOT). É autor de vários livros e inúmeros artigos. Dois de seus livros podem ser encontrados em português: Um Jesus jovial e De baixo e de dentro.

** Palavras-chave: Povos Indígenas e Mestiços – Metodologia Intercultural – Cristologia Policêntrica – Culturas. Tradução do espanhol - Fernando Cândido da Silva.

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Páginas 116-124 indisponíveis na versão digital

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Podemos dizer que o Verbo de Deus encarnado se manifesta na polifo-nia humana através da humanidade pobre. Podemos adicionar os sinais do Pneuma de Deus que suscita carismas renovados: o diá(polí)logo genuíno, a cura integral, a profecia dentro e para além das religiões, a liderança serviçal e as redes solidárias que permitem reformular ministérios.

A transformação intercultural e inter-religiosa da cristologia e da pneu-matologia certamente merece bons debates. Oxalá se abra a porta, não a uma Ilustração rejuvenescida, mas ao projeto de partilhar o dom de Viver entre seres humanos diferentes. A esse respeito, é desejável que as elucu-brações teológicas possam ser sensíveis ao Mistério e que dêem as costas à pretensão de definir manifestações de Deus.

Muitas pessoas no mundo aderem à polifonia da fé. Para isso é re-querida uma práxis intercultural e inter-religiosa. Assim, a humanidade continuará reconhecendo o presente do amor divino, do qual nem uma cultura nem uma religião podem se apropriar. Ao dialogar entre formas de fé (e com formas de não-crença) é possível aproximar-se, em silêncio, ao incondicional dom de Viver.

Bibliografia

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Espiritualidade da militância pluralista**

José María Vigil*

Lieve Troch tem sido e continua sendo, com uma energia incrível, uma mulher lutadora, verdadeiramente “militante”, no campo do pluralismo cultural e religioso... Neste texto, o autor tem a inten-ção de colocar palavras à experiência espiritual dos que se sentem movidos e comovidos por esta paixão pluralista militante.

Pluralismo, sinal dos tempos

A experiência – ao mesmo tempo feliz e conflitiva – do pluralismo é um dos “sinais dos tempos” mais marcantes e atuais. A melhora dos meios de transporte, de comunicações e telecomunicações fez com que as sociedades humanas tenham multiplicado os seus contactos exponencial-mente. A comunicação, o conhecimento mútuo e a experiência da alteri-dade caracterizam, como nunca antes, as sociedades atuais. Semelhante ampliação quantitativa do conhecimento sempre causa a reestruturação qualitativa deste mesmo conhecimento a partir de novas perspectivas, com novos horizontes, sob novos paradigmas, assumidos com novas va-lorações. Não somente se adicionam novos dados de conhecimento, mas também são organizados de outra maneira e adquirem um significado e uma valoração diferentes.

A experiência nova que, nos últimos tempos, a Humanidade está fa

* JOSÉ MARÍA VIgIL é espanhol de origem, naturalizado nicaragüense e atualmente vive no Panamá. É padre claretiano e teólogo da libertação. Com Pedro Casaldáliga é edi-tor da Agenda Latino-americana Mundial. Já foi responsável pela Comissão Teológica Latino-americana e pela World Theological Commission da Associação de Teólogos do Terceiro Mundo, além de ter publicado diversos livros e artigos.

** Palavras-chave: Espiritualidade – Militância Pluralista – Transformação. Tradução do espanhol - Antônio Carlos de góis Cajueiro.

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Páginas 128-134 indisponíveis na versão digital

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A Igreja que aprende ou

O que o mundo ensina à Igreja**

Tissa Balasuriya*

Introdução

Estou muito feliz de unir-me às felicitações à Prof. Lieve Troch da Ho-landa em seu 60º aniversário. Há mais de duas décadas ela tem contribu-ído no desenvolvimento teológico na Ásia, principalmente no Sri Lanka, e tem promovido novas perspectivas para a teologia feminista. Dessa forma, ela tem ajudado muitas pessoas a encontrarem satisfação também em suas vidas particulares. Ela tem proporcionado uma interação entre pessoas da Europa, da América Latina, da Ásia e da África. Suas cátedras de profes-sora no Brasil e em Nijmegen (Países Baixos) têm sido muito importantes para reunir pesquisadores e estudantes de teologia destes continentes. Sua abordagem é cordial, estudiosa e desafiadora para os que procuram ir mais longe em suas buscas. Ela está na vanguarda da teologia feminista e também está aberta para o diálogo interreligioso, meditação e ação em conjunto para o bem comum.

* TISSA BALASURIYA é teólogo da libertação asiático, natural do Sri Lanka, onde vive como padre da Congregação Oblatos de Maria Imaculada (OMI). É especialista em economia política e agricultura. Juntamente com gustavo gutierrez fundou nos anos 60 a EATWOT (Ecumenical Association of Third World Theologians = ASETT, Associa-ção Ecumênica de Teólogos do Terceiro Mundo). Foi reitor da Universidade Aquinas em Colombo (Sri Lanka), por muitos anos. Em 1971 fundou a ONg Center for Society and Religion (Centro para Sociedade e Religião), onde agrega colaboradores/as de diferentes religiões que são atuantes nas questões sociais, políticas econômicas e religiosas do país. É autor de diversos livros e artigos que abordam questões teológicas, da religião, das decisões políticas, econômicas e sociais.

** Palavras-chave: Igreja – História do Cristianismo – Democracia. Tradução do inglês - Leszek Lech.

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Páginas 136-149 indisponíveis na versão digital

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Uma Cristologia da Libertação do Pluralismo Religioso **

Aloysius Pieris*

Introdução Fidelidade e fidedignidade na sociedade inter-confessional Uma “teologia do pluralismo religioso” cristã tem que ser uma mistura

de dois imperativos: – fidelidade ao que é o único na fé cristã, e fidedigni-dade para com toda outreidade religiosa distintiva. Mas a tragédia é que até os teólogos asiáticos que promovem este ideal não são unânimes sobre o que constitui a unicidade cristã e sobre o que, muitas vezes, é também a propriedade não negociável de cada outra religião! É no contexto deste desacordo fundamental que estou escrevendo este artigo que, conseqüen-temente, assume um caráter apologético. Dessa forma, alguns outros pon-tos de vista, que não estão em consonância com o meu, formaram o pano de fundo desta breve apresentação, enquanto eu me esforço para esclare-cer e confirmar a “cristologia da libertação das religiões” que propus aos teólogos asiáticos ao longo da última década (Pieris 1999, 2000, 2006). O fio argumentativo que atravessa a nossa tese é o seguinte:

(a) O que é comum a todas as religiões (mostrado abaixo em ‘c’) é um absoluto soteriológico (isto é, uma condição universalmente necessária para a salvação) e tudo que for ‘único’ para uma religião é a característi-

* ALOYSIUS PIERIS SJ é fundador e diretor do Tulana Research Centre for Encounter and Dialogue em Kelaniya, Sri Lanka, um centro de pesquisa, encontro e diálogo interre-ligioso e intercultural. Pieris lecionou em muitas universidades do Ocidente e obteve doutorados honoris causa. É um teólogo da libertação asiático e o primeiro cristão que obteve doutorado em Estudos Budistas na Universidade Budista do Sri Lanka. É autor de diversos livros e artigos.

** Palavras-chave: Cristologia – Cristologia da Aliança – Diálogo Interreligioso – Espiritu- alidade.

Tradução do inglês - Leszek Lech.

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Páginas 152-159 indisponíveis na versão digital

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A crise de identidade e de unidade. Rumo a uma ética ecumênica**

Jude Lal Fernando*

Introdução

Na introdução ao The Ecumenical Movement: An Anthology of Key Texts and Voices (O Movimento Ecumênico: uma antologia de textos-cha-ve e vozes), os organizadores Michael Kinnamon e Brian E. Cope descre-vem três etapas no desenvolvimento do movimento ecumênico, indicando temas centrais de cada período, como uma resposta às circunstâncias his-tóricas da época. As etapas são as seguintes:

1. A redescoberta da Igreja, de toda a igreja, como um componente essencial do Evangelho;

2. A redescoberta da Igreja como no mundo e para o mundo; 3. A redescoberta, por meio da criação, das relações da Igreja com a

obra de criação e de redenção de Deus (Kinnamon / Cope, 3-4). Apesar de ter começado com a preocupação de superar as divisões

* JUDE LAL FERNANDO nasceu num vilarejo de pescadores no Sri Lanka. Seu mestrado em teologia foi publicado em 2007 sob o título A Paradigm for a Peace Movement: Thich Nhat Hanh and Martin Luther King Jr. (Um paradigma para um movimento de paz: Thich Nhat Hanh and Martin Luther King Jr.). Fernando engajou-se em várias entidades que procuram estabelecer o diálogo e contatos entre cingaleses e tâmeis, e defende uma posição crítica ao papel do reavivamento budista na emancipação da sociedade srilan-quesa, já que falhou no reconhecimento político dos direitos das comunidades tâmeis. Acaba de obter seu PhD em Estudos de Paz pela Irish School of Ecumenics, Trinity Col-lege, em Dublin.

** Palavras-chave: Ética Ecumênica – Ecumenismo – Hermenêutica – Solidariedade. Este artigo foi apresentado pelo autor durante o VI Encontro sobre Teologia Sistemática,

Believing in Community: Ecumenical Reflections on the Church (7-10/11/2007), na Uni-versidade de Lovânia (Bélgica), e agora dedicado a Lieve Troch.

Tradução do inglês - Leszek Lech.

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Páginas 162-176 indisponíveis na versão digital

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bres, as mulheres, as diferentes origens étnicas, tribais e grupos de casta, entre as vidas que foram feitas fragmentárias e episódicas e no eco-sistema que está ameaçado – que é a memória do eterno Outro que está existindo em todos e em cada um de nós – que poderia promover o processo de diálogo. A Igreja descobre-se no rosto do outro dentro das Igrejas, entre as Igrejas e no mundo em geral. O outro foi a vítima da interpretação ideoló-gica mesquinha da doutrina da fé. De fato, são as vozes dessas vítimas que evocam a responsabilidade moral da Igreja. Como Tracy afirma: “Suas vo-zes podem soar estridentes e incivis – numa palavra, outras... Mas somente ao começar a ouvir essas outras vozes, podemos começar também a ouvir a outreidade dentro do nosso próprio discurso e dentro de nós mesmos” (Tracy 1987, 79). Aloysius Pieris nota o mesmo num contexto diferente: “Somente os oprimidos conhecem e falam a língua da libertação, a língua do espírito, a língua da religião verdadeira” (Pieris 2002, 129).

Isso leva a dizer que a unidade é possível somente quando a Igreja assume a responsabilidade moral pela vítima. Aqui, o princípio da unida-de é a unidade com aqueles que são diferentes, esquecidos, reprimidos: é precisa a solidariedade concreta e o compromisso com situações concre-tas da vida, tanto local como globalmente. Hoje, o movimento ecumênico terá algum significado só à medida que entra no processo de identificação com o outro vitimado.

A conclusão adequada para tudo isso é uma reafirmação da teologia crucis (Moltmann) no estilo de Moltmann, que lida tanto com relevância como com identidade. É a memória de Deus no outro vitimado que motiva cristãos a se envolverem e a fazerem um compromisso com o outro, co-nhecendo a realidade da cruz – a dor e o conflito; é a fé no mesmo Deus, que, embora não possa nos salvar da dor, pode responder a um compro-misso desinteressado no Cristo Ressuscitado, que torna os cristãos capazes de redescobrir a unicidade da fé.

Bibliografia

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Viver em meio à morte: uma releitura de transcritos escondidos

de mulheres asiáticas**

Gemma Tulud Cruz*

Desembrulhando os transcritos escondidos de mulheres asiáticas

A Ásia é um continente vasto e diversificado que chegou a encarnar a tradição e a mudança, o antigo e o novo, em face aos padrões globais de integração. Um dos grupos atingidos por essa dinâmica paradoxal são as mulheres. Na Ásia, a pobreza e a discriminação sempre tiveram um rosto de mulher. Enquanto a globalização trouxe mudanças positivas em geral, para as mulheres asiáticas, o aumento da competição econômica, que se soma aos seus múltiplos papéis na produção, reprodução e administração comunitária, significa que elas têm que lidar com o modo global de viver, trabalhando mais, arriscando mais e sofrendo mais. Ora, como mulheres asiáticas resistem a essa opressão? Este artigo dedica-se a essa pergunta, ao verificar os modos pelos quais mulheres asiáticas se negam a capitular diante da opressão que estão sofrendo. Mais especificamente discute cer-tas estratégias que, à primeira vista, poderiam parecer como negativas ou como fraquezas, mas que na verdade são poderosas.

James Scott chama essas estratégias de “transcritos escondidos.” Com essa expressão, ele se refere a uma política de disfarce e anonimato, prati-cada em grupos subordinados, que é em parte aliviadora, ambígua e codi-ficada. Ele afirma que esses transcritos são freqüentemente expressados

* Dr. phil. gEMMA TULUD CRUZ é professora assistente de Teologia na Saint Ambrose University em Davenport, Iowa, EUA. Na ocasião da redação deste artigo, foi também professora assistente visitante na DePaul University em Chicago, Illinois, EUA.

** Palavras-chave: Ásia – Mulheres – Resistência – Libertação. Tradução do inglês - Monika Ottermann.

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Páginas 180-188 indisponíveis na versão digital

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culturais aparentemente frágeis. E o mais importante é: uma teologia que leva isso a sério concede com toda justiça um lugar muito merecido às pessoas “teologicamente oprimidas”, às e aos teólogas/as do cotidiano, às pessoas nas trincheiras que estão lutando para viver vidas reais em meio às incongruências e injustiças.

Realmente, há voz no silêncio, há ira no humor e no riso, há resistên-cia nas histórias, nas canções e na dança. O silêncio fala, o humor e o riso desestabilizam, e canções, histórias e dança narram, lamentam e celebram as vitórias e as tragédias da vida. São maneiras de questionar, de encontrar e de insistir no sagrado presente nas nossas experiências de vida. Esquecer de incluí-las é como ter uma estiagem teológica. Negá-las é arrogância, e ridicularizá-las é ignorância.

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Rumo a uma Espiritualidade Sapiencial Feminista de Justiça e Bem-estar**

Elisabeth Schüssler Fiorenza*

Nas últimas décadas, a espiritualidade tornou-se um tema-chave não só na te*logia1, mas também em formas comercializadas de grupos de auto-ajuda e nos movimentos de New Age. A espiritualidade virou um grande negócio. Empresas de ponta em todas as partes buscam estar em sintonia com o poder da espiritualidade, com objetivos comerciais con-vincentes e procurando inspirar seus funcionários a darem o melhor de si na praça da feira global. Nesse processo, a espiritualidade tornou-se um termo popular, mas também enigmático e oscilante, que tem significados diferentes para pessoas diferentes. Ao enfocar na sabedoria/Sabedoria, hu

* ELISABETH SCHÜSSLER FIORENZA é teóloga feminista, professora de Novo Testa-mento na Universidade de Harvard (EUA), Harvard Divinity School. É co-editora do Journal of Feminist Studies in Religion e da revista Concilium. Publicou vários livros traduzidos para doze idiomas, sendo três deles para o português: As Origens Cristãs a partir da Mulher: Uma nova hermenêutica; Discipulado de Iguais: Uma ekklesia-logia feminista crítica da libertação; Jesus e a política da interpretação.

** Palavras-chave: Feminismo – Sabedoria – Justiça – Luta – Espiritualidade. Tradução do inglês - Monika Ottermann.1 Para indicar o caráter quebrantado e inadequado da linguagem humana quando se

trata de nomear o Divino, no meu livro Jesus: Miriam’s Child, Sophia’s Prophet. (Jesus: Filho de Miriam, Profeta de Sofia) passei da grafia judaica ortodoxa G-d [em vez de God = Deus], a qual eu tinha adotado nos meus livros But She Said (Ela, porém, disse) e Discipleship of Equals (Discipulado de Iguais) para a grafia G*d que procura evitar a associação com a corrente dominante masculina que a grafia g-d tem para feministas judias. Sendo que “te*logia” significa literalmente “falar sobre D**s” ou “conversa sobre D**s” [G*d-talk], escrevo essa palavra da mesma maneira.

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Páginas 192-206 indisponíveis na versão digital

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ekklesia de mulh*res reunida ao redor da mesa da Divina Sabedoria. Resumindo: uma espiritualidade sapiencial/Sapiencial feminista de

justiça desafia-nos a criar e participar em um movimento de amigas/os da Sabedoria e pede nosso envolvimento em movimentos Sapienciais por mudança e transformação. Isso significa sair de relações interiorizadas de dominação e entrar no espaço radicalmente democrático da Divina Sabedoria, a ekklesia de mulh*res; significa visionar um movimento de-mocrático multicultural e multirreligioso em prol do bem-estar de todas as pessoas; significa iniciar e envolver-se em grupos de conscientização Sapienciais. Significa engajar-se na ekklesia de mulh*res, que no mundo inteiro visiona, discute e põe em prática esse futuro radicalmente demo-crático de bem-estar para todas as pessoas sem exceção.

Lieve Troch, cuja vida e trabalho este livro celebra e homenageia, tem trabalhado incansavelmente para ensinar essa espiritualidade sapiencial/Sapiencial de justiça e para tornar o etos radicalmente democrático da ekklesia de mulh*res uma realidade vivida ao redor do mundo. É uma alegria ter colaborado com ela nesse trabalho durante muitos anos. Espe-ro que continuemos nos próximos anos a nos encontrar sempre de novo como amigas da sabedoria/Sabedoria no trabalho da justiça. Ad multos annos, Lieve!

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O paradoxo mariano: práticas marianas como um caminho

para uma nova mariologia?**

Maaike de Haardt*

Costuma-se dizer que Maria inspirou mais pessoas do que qual-quer outra mulher (Pelikan). Na medida em que feministas estão envol-vidas, uma observação desse tipo desperta certa suspeita e confere certa urgência à questão do significado de Maria. Maria, inspiradora para quem e para que fim?

Para muitas pessoas, Maria pode ser um exemplo inspirador ou um objeto de devoção, mas ela também é uma fonte de debate, controvérsia, evangelização, admiração e difamação. Tudo isso vale tanto para a per-gunta pelo significado teológico e dogmático de Maria no cristianismo, como também para a controvérsia sobre práticas de devoção, especial-mente sobre as aparições de Maria. Tem a ver também – especialmente para mulheres – com os elementos opressivos, libertadores, nacionalistas e políticos vinculados a Maria. Ao mesmo tempo, Maria é considerada por estudiosos/as, teólogos/as e antropólogos/as “o exemplo” por excelência de uma figura multi-religiosa, e ela poderia ter sua importância em encon-tros interreligiosos (Smith / Haddad). Interpretações concorrentes

* MAAIKE DE HAARDT é doutora em teologia sistemática. Desde 1998 ocupa a Cátedra Catharina Halkes na Radboud Universiteit em Nijmegen (Países Baixos) e atualmente trabalha também na universidade de Tilburg (Países Baixos) na área da teologia femini-sta. Suas publicações priorizam temas da cristologia, de uma nova linguagem acerca de deus e da teologia do cotidiano.

** Palavras-chave: Maria – Mariologia – Religiosidade Popular – Teologia Feminista. O original holandês foi traduzido para o inglês por Dra. Magda Misset-van de Weg, e o

texto inglês foi traduzido para o português brasileiro por Monika Ottermann.

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Páginas 210-220 indisponíveis na versão digital

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valer também para figuras femininas em outras tradições religiosas. Já não podemos negar a patriarcalização da cultura (cristã), e o mesmo vale para traços de contradição que ressoam com maior ou menor força nesta cultu-ra. Penso que não é uma coincidência que mulheres em geral tiveram uma maior sensibilidade para esse tipo de espiritualidade e, até certo ponto, possivelmente ainda a tenham. Contudo, penso também que, na cultura europeu-ocidental que aos poucos está ficando menos explicitamente pa-triarcal, a religiosidade de homens também se sensibiliza nessa direção.

É claro que continua a pergunta sobre se o tipo de espiritualida-de mariana e de mariologia aqui descrito de modo bastante provisório é suficientemente capaz de oferecer “algo” a mulheres e homens ocidentais de hoje, e se é suficientemente crítico e autoconfiante. Ou será que esses significados altamente simbólicos que estão inevitavelmente vinculados a Maria devem ser considerados antiquados nesta era pós-moderna, como argumenta Elizabeth Johnson? Diante do crescente interesse e necessidade de todos os tipos de espiritualidade, não tenho tanta certeza disso, antes o contrário. Se Maria tiver algo a oferecer ou não, nesse sentido, permanece em parte uma pergunta aberta. Justamente no nível de devoções e espiri-tualidade vejo, em princípio, muitas possibilidades – embora arriscadas. No imenso leque dos atuais rituais e devoções, o “ranking” de Maria é, em todo caso, muito alto. Aparentemente, as pessoas encontram junto a Maria um vislumbre do “sagrado” (Erinkveld), seja ao acender velas, seja ao visitar lugares marianos. A meu ver, a teologia feminista poderia de-senvolver um olhar mais atento para esse tipo de sensibilidade. Eu não espero, porém, que tudo isto conduza a uma transformação na mariologia teológica e eclesiástica oficial. Tampouco serão abolidas ou esquecidas a ambigüidade, a complexidade, a luta e o poder que encerram Maria e devoções marianas. Como Lieve sempre me lembra: reflexão crítica, dis-cussão e vigilância são necessárias, também e especialmente com respeito às práticas devocionais marianas. Se Maria for alguma fonte de inspiração, ela permanece, em muitos aspectos e sob muitas formas, extremamente paradoxal – e, nesse sentido, perigosa.

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