sistemÁtica de burdachia adr. juss. e glandonia griseb...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS - UFAMINSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA � INPA
PROGRAMA INTEGRADO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA TROPICAL ERECURSOS NATURAIS
DEPARTAMENTO DE BOTÂNICA
ISABEL REIS E SILVA
Manaus � AMJunho, 2007
SISTEMÁTICA DE Burdachia Adr. Juss. E Glandonia Griseb.(MALPIGHIACEAE):
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS - UFAMINSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA � INPA
PROGRAMA INTEGRADO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA TROPICAL ERECURSOS NATURAIS
DEPARTAMENTO DE BOTÂNICA
ISABEL REIS E SILVA
Orientador: Dr. Eduardo Lleras PérezCo-orientador: Dr. André Márcio Araújo Amorim
Projeto de Pesquisa apresentado ao ProgramaIntegrado de Pós-Graduação em BiologiaTropical e Recursos Naturais do convênioINPA/UFAM, como parte dos requisitos paraobtenção do Título de Mestre em CiênciasBiológicas, área de concentração emBotânica.
Manaus � AMJunho, 2007
SISTEMÁTICA DE Burdachia Adr. Juss. E Glandonia Griseb.(MALPIGHIACEAE):
Silva, Isabel Reis e
Sistemática de Burdachia e Glandonia: / Isabel Reis e Silva � Manaus: UFAM/INPA, 2007. 100 p. ilust. Dissertação de Mestrado - Área de concentração Botânica. 1. Morfo-anatomia 2. Análise Cladística 3. Cariótipo
CDD 19º ed. 595.735
Sinopse:
Estudou-se os gêneros amazônicos Burdachia e Glandonia, sobre o olhar taxonômico, biogeográfico e
cladístico. Atualizou-se a descrição taxonômica, propondo uma nova categoria. Comparou-se caracteres
morfológicos e anatômicos dos grupos junto aos grupos externos e à espécie irmã Mcvaughia bahiana,
endêmica de Caatingas do estado da Bahia.
Palavras-chave: Botânica, Sistemática, Taxonomia, Malpighiaceae.
RESUMO
Os gêneros Burdachia e Glandonia (Malpighiaceae) são exclusivos das áreas alagadas
amazônicas, principalmente igapós. O gênero Burdachia, segundo tratamento de 1981, é
composto por quatro espécies, em 2001 a Flora da Venezuela-Guayana reduz para três este
número e ainda questiona a redução para apenas duas espécies. Glandonia, gênero composto
por três espécies, aparentemente não apresenta problemas taxonômicos. A família apresenta
notória diversidade cromossômica. No entanto, ainda não foi documentada contagem
cariotípica para os gêneros em questão. O presente trabalho objetivou-se em avaliar as
delimitações taxonômicas das espécies, principalmente em Burdachia, registrar a contagem
de cromossomos de pelo menos uma espécie de cada gênero, investigar a filogenia das
espécies e, diante dos dados obtidos, analisar a possível evolução de caracteres macro e
micromorfológicos.
SUMÁRIO
Resumo........................................................................................................................ iAbstract....................................................................................................................... iiLista de Figuras........................................................................................................... iiiLista de Tabelas.......................................................................................................... iv1 INTRODUÇÃO...................................................................................................... 12 OBJETIVOS...........................................................................................................
2.1 Geral...................................................................................................................
2.2 Específicos.........................................................................................................
3
3
34 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..............................................................................
4.1 Características gerais.........................................................................................
4.2 Biogeografia.......................................................................................................
4.3 Sistemas de classificação...................................................................................
4.4 Sistemática de Malpighiaceae e dados moleculares..........................................
4.5 O complexo �Mcvaughioide�............................................................................
4
4
5
5
6
74.6 Sistemática e estudos cromossômicos em Malpighiaceae................................. 8
5 MATERIAL E MÉTODOS...................................................................................
5.1 Consulta a herbários...........................................................................................
10
105.2 Coletas e conservação do material..................................................................... 115.3 Dados macro e micromorfológico..................................................................... 115.4 Dados moleculares............................................................................................. 13
6 CAPÍTULO I: Burdachia Adr. Juss. e Glandonia Griseb. (Malpighiaceae):
gêneros endêmicos das áreas alagadas amazônicas............................................... 14Resumo/Abstract................................................................................................. 1Introdução........................................................................................................... 2Material e Métodos............................................................................................. 3Resultados e Discussão....................................................................................... 4
Conclusões.......................................................................................................... 6Referências Bibliográficas.................................................................................. 15
7 CAPÍTULO II: Morfoanatomia em Burdachia Adr. Juss. E Glandonia
Griseb. (Malpighiaceae): implicações taxonômicas............................................... 15Resumo/Abstract................................................................................................. 1
Introdução........................................................................................................... 2
Material e Métodos............................................................................................. 3
Resultados e Discussão....................................................................................... 4
Conclusões.......................................................................................................... 15
Referências Bibliográficas.................................................................................. 168 CAPÍTULO II: Morfoanatomia em Burdachia Adr. Juss. E Glandonia
Griseb. (Malpighiaceae): implicações taxonômicas............................................... 20Resumo/Abstract................................................................................................. 1
v
Introdução........................................................................................................... 2
Material e Métodos............................................................................................. 3
Resultados e Discussão....................................................................................... 4
Conclusões.......................................................................................................... 15
Referências Bibliográficas.................................................................................. 169 CAPÍTULO II: Morfoanatomia em Burdachia Adr. Juss. E Glandonia
Griseb. (Malpighiaceae): implicações taxonômicas............................................... 25Resumo/Abstract................................................................................................. 1
Introdução........................................................................................................... 2
Material e Métodos............................................................................................. 3
Resultados e Discussão....................................................................................... 4
Conclusões.......................................................................................................... 15
Referências Bibliográficas.................................................................................. 1610 CONCLUSÃO GERAL....................................................................................... 3611 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................
12 ANEXOS...............................................................................................................
60
70
vi
1 INTRODUÇÃO
A Sistemática e a Taxonomia são áreas da Biologia de notória importância. Contudo,
o número de taxonomistas é insuficiente para descrever a grande diversidade da Flora
Neotropical em forma de Monografias e Floras (Mori, 1992). Estratégias para estimular a
formação e o aperfeiçoamento destes profissionais crescem claramente.
As evidências taxonômicas abrangem dados da morfologia, anatomia e embriologia
das estruturas, biologia de polinização e dispersão, palinologia, compostos secundários e
proteínas, além de aspectos citogenéticos e moleculares (Judd et al., 2002).
A sistemática molecular baseia-se em dados de macromoléculas, ou seja, usando
seqüência de DNA. Dentre os três DNA�s vegetal (cloroplastídeo, mitocondrial e nuclear) os
mais usados na sistemática são os genes cloroplastídeos e nucleares. Assim, os dados
moleculares têm revolucionado nossa visão a respeito das relações filogenéticas e
classificação das Angiospermas em geral (id., ibid.).
No entanto, o avanço da sistemática molecular ainda não fornece todas as relações de
forma sólida (Judd et al., 2002). De acordo com Chase (2000), as relações filogenéticas,
atingem maior confiabilidade quando dados moleculares são combinados aos morfológicos.
Informações a respeito dos cromossomos, como a simples contagem, são relevantes
nos estudos Sistemáticos e Evolutivos, visto que, muitas vezes o processo evolutivo afeta
também o cariótipo das espécies. Assim, a evolução cariológica vegetal revela complexos
mecanismos, o que resulta em uma alta diversidade cromossômica em número, forma,
tamanho, etc (Guerra & Souza, 2002).
Hoje é proposto um novo paradigma em morfologia que, aprofunda e engloba quatro
níveis morfológicos; macromorfologia (caracteres externos), micromorfologia (Citologia,
Anatomia), morfologia metabólica (Proteoma) e nanomorfologia (Genoma) (Stuessy, 2003).
Assim, todos estes setores da Sistemática interagem sinergisticamente,
proporcionando uma completa e unificada análise. A Taxonomia focada na classificação e
nomenclatura; a Filogenia, na dimensão evolutiva; e os Processos Evolutivos, envolvendo a
diferenciação, especiação e extinção (id., ibid.).
A família Malpighiaceae apresenta ampla distribuição na região tropical e subtropical,
especialmente no continente americano. São plantas arbustivas, arbóreas ou mais
frequentemente trepadeiras e raramente herbáceas. Folhas muitas vezes glanduladas, simples,
estipuladas, opostas e frequentemente pilosas. As flores são vistosas de coloração em geral
1
amarela ou rósea, reunidas em inflorescências. Apresentam frutos alados ou drupáceos
(Anderson, 1981, 2001; Davis et al., 2002b; Anderson, 2004).
Dados morfológicos e moleculares sustentam o monofiletismo em Malpighiaceae
(Chase et al., 1993 apud Judd 2002; Anderson, 2004). No entanto, o reconhecimento de
relações intrafamiliar ainda não é bem sustentado (Anderson, 1997 apud Judd et al., 2002).
A família mostra alta diversidade quanto ao número de cromossomos documentados,
envolvendo processos como a poliploidia, que assume clara importância nas contagens
registradas para Malpighiaceae. Davis et al (2001) registram a importância em conhecer o
número de cromossomos em Burdachia e Glandonia, podendo confirmar a derivação do
número básico x=10 juntamente com a derivação dos frutos alados.
Os gêneros Burdachia Adr. Juss. e Glandonia Griseb são endêmicos das áreas
alagáveis amazônicas e mostram frutos não alados, especializados à dispersão aquática.
Somados à espécie Mcvaughia bahiana W. R. Anderson, endêmica de Caatingas do estado da
Bahia, formam um clado com 100% de suporte a partir de dados moleculares cloroplastídicos.
Desta forma, este trabalho destina-se a avaliar as delimitações taxonômicas em nível
específico, principalmente em Burdachia; contribuir ao estudo da evolução cariotípica na
família Malpighiaceae, buscando confirmar o número cromossômico básico para os gêneros;
propor a relação filogenética para as espécies de Burdachia e Glandonia, investigando a
possível evolução de caracteres macro e micromorfológicos.
2
2 OBJETIVOS
2.1 Geral
� Realizar estudo morfológico, cariotípico e molecular dos gêneros amazônicos
Burdachia Adr. Juss. e Glandonia Griseb. (Malpighiaceae).
2.2 Específicos
� Selecionar e descrever caracteres macro e micromorfológicos de potencial importância
filogenética;
� Registrar a contagem de cromossomos de cada gênero;
� Investigar a relação filogenética entre as espécies dos gêneros;
� Indicar uma provável evolução de caracteres macro e micromorfológicos;
� Avaliar as delimitações taxonômicas problemáticas de Burdachia, diante dos dados;
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5 MATERIAL E MÉTODOS
5.1 Consulta aos herbários
Foram examinadas exsicatas depositadas nos herbários do Instituto Nacional de
Pesquisa da Amazônia (INPA), Museu Paraense Emílio Goeldi (MG), Embrapa Amazônia
Oriental (IAN), Jardim Botânico do Rio de Janeiro (RB), Centro de Pesquisa do Cacau
(CEPEC), Herbário Nacional de Venezuela (VEN), GUYN, PORT, COL e SINCHI.
5.2 Coletas e conservação do material
Foram realizadas coletas específicas para os gêneros, verificando ocorrências
registradas, buscando obter dados representativos de ocorrência em diferentes habitats.
Registros de ocorrências nos herbários e em estudos de composição florística de áreas
alagáveis amazônicas, proporcionaram a delimitação dos locais de coleta: Município de
Manaus (AM)- Reserva Adolpho Ducke, Praia do Tupé e Praia da Lua, Município de Novo
Airão (AM)- Igarapé Freguesia, Parque Nacional do Jaú, Estação Ecológica de Anavilhanas,
Município de Humaitá (AM)- entorno da Reserva do Ipixuna.
O material coletado foi destinado ao estudo morfológico e anatômico bem como para
análise molecular e contagem de cromossomos.
Para estudo morfológico, o material foi prensado no campo, recebendo uma ficha de
campo com dados pertinentes do espécime, sempre que possível reportando também dados
ecológicos. A secagem foi realizada em estufa a 70� C. O material botânico foi incorporado
às coleções do herbário INPA prevendo doações para os herbários CEPEC e SP. Botões
florais, flores e frutos foram armazenados em álcool 70% e glicerina 5%.
Para análise molecular folhas foram armazenadas em sacos plásticos com sílica gel,
cuidadosamente fechados.
Para contagem de cromossomos meióticos os botões florais foram fixados no campo
em solução Carnoy 3:1 (três partes de álcool etílico P. A. para uma de ácido acético glacial,
devendo ser preparada imediatamente antes de sua utilização) por 24 horas e transferidos para
etanol 70% e armazenado em geladeira.
Com intuito de subsidiar futuras análises moleculares, fragmentos foliares foram
coletados em sílica gel e armazenados em freezer logo que possível.
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5.3 Estudo macro e micromorfológico
5.3.1 Estudo macromorfológico:
O estudo morfológico das espécies foi realizado no herbário e no Laboratório de
Taxonomia / INPA, utilizando estereomicroscópio. A caracterização foi feita através de
observação detalhada do material herborizado e estruturas conservadas em álcool 70% e
glicerina 5%. Verificou-se a ocorrência e constância dos caracteres, indicando potenciais
caracteres para análise filogenética. A morfometria vegetativa e reprodutiva foi realizada com
auxílio de paquímetro, a fim de complementar a última descrição.
5.3.2 Estudo micromorfológico:
Estudo anatômico foliar:
Para caracterização do padrão anatômicos da epiderme foliar, foram retiradas
pequenas porções foliares do material, sendo este imerso em solução de peróxido de
hidrogênio e ácido acético (1:1) e submetidos a 55� C em estufa por no mínimo 24 horas.
Após a dissolução do mesofilo, obteve-se as faces adaxial e abaxial da epiderme dissociadas.
Após limpeza dos restos celulares do mesofilo, utilizando um pincel delicadamente, os
fragmentos de epiderme seguiu-se procedimentos para a montagem do laminário.
Para a coloração utilizou-se fucsina básica, passando por séria alcoólica 30%, 50%,
70% e 100% intercalados por lavagem em água destilada. Os cortes foram então estendidos na
lâmina e após distribuir glicerina pela superfície do fragmento com auxílio da lamínula, esta
foi selada. Os cortes transversais foram realizados em micrótomo de mesa e corados em Azul
de Astra e Fucsina. As lâminas foram então observadas ao microscópio óptico objetivando a
descrição anatômica e subseqüente documentação fotográfica.
5.3.3 Contagem de cromossomos
Os botões florais foram fixados em campos e armazenados apropriadamente. As
contagens cromossômicas foram realizadas no Laboratório de Botânica Agroflorestal-
LABAF/UFAM. As lâminas foram preparadas esmagando anteras em carmim acético 2%.
Após observação das lâminas, seleção das células e visualização dos cromossomos seguida da
sua contagem e registro fotográfico.
5.4 Análise Cladística
A análise cladística foi realizada utilizando software PAUP 4.0b 2 (Swofford, 1998),
gerando árvores para os dados morfológicos, incluindo dados anatômicos.A matriz de dados
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somou 41 caracteres. De acordo com o método de parcimônia (Fitch, 1971), foi eleita a árvore
mais parcimoniosa e por meio do software Mesquite foram mapeados caracteres na topologia
indicando prováveis caminhos evolutivos. Foi estimado o �Bootstrap support� (Felsenstein,
1985) de cada clado e para avaliar a congruência, feito o teste �incongruence length
difference� (ILD) (Farris et al., 1994).
Como grupos externos foram utilizadas a espécie irmã Mcvaughia bahiana W. R.
Anderson (gênero monotípico), endêmica de Caatingas do estado da Bahia; Barnebya dispar
(Griseb. in Mart.) W. R. Anderson e B. Gates ocorrente na Mata Atlântica, a qual em algumas
análises filogenéticas utilizando as regiões trnl-F e PHY-C, aparece como grupo irmão do
clado �mcvaughioide� (Davis et al., 2001), por fim também utilizou-se a espécie Lophanthera
longiflora, ocorrente em áreas alagadas amazônicas.
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4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
4.1 Características gerais
A taxonomia clássica divide Malpighiaceae nas subfamílias Malpighioideae, de frutos
samaróides alados dispersos pelo vento e Byrsonimoideae, de frutos esquizocárpicos,
drupáceos dispersos por animais ou pela água. (Anderson, 1978; 1993; Vogel, 1990).
Seus representantes mostram folhas simples e opostas, estipuladas, possuindo pêlos
em forma de T, V ou Y, presentes pelo menos nos pecíolos ou partes jovens. Podem possuir
glândulas foliares e peciolares (Anderson, 1981; 2001; 2004).
Caracteres florais sofrem variações, no entanto, a maioria das espécies exibe
arquitetura floral bilateral, cinco sépalas fundidas na base, em geral biglandulosas; cinco
pétalas ungüiculadas, fimbriadas na margem, de coloração alva, amarela ou rósea. Androceu
composto por dez estames conados, anteras glabras ou pilosas, de deiscência rimosa e
conectivos bem desenvolvidos. Gineceu de ovário súpero, tricarpelar, trilocular e unilocular,
três estiletes. Esta estrutura floral é fortemente influenciada pela pressão dos polinizadores
himenópteros que, nos Neotrópicos, coletam óleo (Mamede, 1987; Vogel, 1990; Cameron et
al, 2001, Anderson, 2001; 2004).
Os frutos nos arbustos e árvores variam, a maioria é não alado, seco ou carnoso. Nas
lianas são alados, compostos por três sâmaras, onde os gêneros podem ser diferenciados pela
estrutura e posição da asa das sâmaras. Poucos gêneros são indeiscentes, grande parte dos
representantes são esquizocárpicos, dividindo-se em mericarpos. Desta forma, o fruto é muito
informativo para a taxonomia (Barroso, 1984; Mamede, 1987; Anderson, 1981; 2001; 2004).
O pólen, nas espécies Neotropicais são ectoaperturados radialmente ou globalmente
simétrico, os Paleotropicais são globalmente simétricos não ectoaperturado (Cameron et al.,
2001; Anderson, 2004). Logo, a família mostra variabilidade em caracteres morfológicos,
especialmente a estrutura do fruto, já a morfologia floral é um tanto conservada (Anderson,
1979 apud Cameron et al., 2001).
4.2 Biogeografia e Origem
A família apresenta aproximadamente 1250 espécies em 65 gêneros, distribuídas no
Neo e Paleotrópico (Fig. 1A). As espécies do Neotrópico em geral possuem glândulas
sepalares, polinizadas por abelhas óleo-coletoras Anthophorine da tribo Centridini, exibindo
uma morfologia floral bem conservada. No Paleotrópico estas abelhas são ausentes, onde não
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encontramos glândulas sepalares nem a típica morfologia floral, bem como são registrados
casos de androdioicia (Davis, 2002; Castro et al., 2001, Anderson, 2004).
A distribuição das Malpighiaceae sugere duas teorias para a origem e diversificação. A
hipótese �Gondwanian aborigenes�(Vogel, 1990) propõe a origem do grupo antes da
separação da Gondwana (105 milhões de anos); já a hipótese da �Colonização Americana�
(Anderson,), sugere a origem pós-Gondwana, na América do Sul seguida de dispersão (Vogel,
1990; Davis et al., 2002; 2004; Anderson, 2004).
Registros fósseis de frutos alados de Tetrapterys no hemisfério Norte Ocidental e
Oriental (Tennessee, Hungria e Slovenia), indicam que existiu a dispersão para o hemisfério
Norte e Oriente. O cenário paleogeográfico do Eoceno revela uma possível rota de migração
da América do Norte para o Paleotrópico, via conexões de terra do Atlântico norte com o
Oriente. Tal registro corrobora com a hipótese da �Colonização Americana�, explicando
padrões de outras famílias com distribuição parecida, sendo possível a rota de dispersão
oposta para alguns grupos (Fig. 1B) (Hably & Manchester, 2000; Davis et al., 2002).
A calibração do relógio molecular estima a origem da família em 64 milhões de anos,
no Paleoceno. Análises moleculares corroboram com a hipótese de Anderson, mostrando seis
eventos de disjunção de linhagens para o Paleotrópico, dividindo dois clados; um
exclusivamente Neotropical e outro Neo e Paleotropicais (Anexo 1) (id. ibid.).
4.3 Sistemas de classificação
Comparando os sistemas de classificação (Tabela 1), Niedenzu (1928) divide a família
nas subfamílias Pyramidotorae e Planitorae, baseado principalmente nos frutos alados ou não.
Logo, características do fruto embasaram a delimitação de cinco tribos: Hiraeeae com gêneros
de asas laterais, Banisterieae de asas dorsais, Tricomarieae de fruto cerdado, Malpighieae com
frutos drupáceos e Galphimieae com outros tipos não alados. Estas tribos se subdividem nas
subtribos Malpighiinae e Byrsonimiinae (Byrsonima, Alcoceratothrix, Diacidia, Burdachia e
Glandonia). Os demais sistemas modificam a classificação de Niendenzu.
Hutchinson (1967) não considera subfamílias mas cinco tribos: Malpighieae de frutos
não alados a suavemente alados; em Tricomarieae são cerdados e não alados; em Hiraeeae são
Fig.1: A- Distribuição global de Malpighiaceae. = registro fóssil de Tetrapterys. B- Paleogeografia do Eoceno, mostrando a hipótese de migração para o Paleotrópico e uma possível migração oposta. Fonte:Davis et al. (2002a).
A B
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sincárpicos de asas laterais, em Banisterieae são sincárpicos de asas dorsais e Gaudichaudieae
(Jussieu) são apocárpicos e diversamente alados (Niendenzu, 1966; Cameron et al., 2001).
Morton (1968) pontuou que o Código de Nomenclatura Botânica requer que
subfamílias se baseiem em gêneros incluídos, propondo a substituição de Pyramidotorae
(1928) para Gaudichaudioideae e de Planitorae para Malpighioideae (Anderson, 1978).
Para Anderson (1978), Malpighioideae sensu Morton é na maior parte um grupo
natural. No entanto, Malpighia incluído por Niendenzu foi excluído entre outros gêneros
(Bunchosia, Dicella, Thryallis, Clonodia, Heladena). Já a subfamília Byrsonimoideae, é
dividida em três tribos Byrsonimeae (Byrsonima, Diacidia, Blepharandra, Burdachia e
Glandonia), Galphimieae (Galphimia, Verrucularia, Lophanthera e Spachea) e
Acmanthereae (Acmanthera, Pterandra e Coleostachys) de maneira geral, Byrsonimoideae
corresponde à classificação sensu Niedenzu (1928) (Cameron et al., 2001).
Takhtajan (1997) sugere três subfamílias: Malpighioideae de frutos não alados e
inconspicuamente alados; Gaudichaudioideae de frutos apocárpicos usualmente alados e
Hiraeoideae com frutos sincárpicos e alados. Esta última é subdividida em quatro tribos.
Tabela 1: Comparação dos sistemas de classificação para Malpighiaceae
Niedenzu, 1928 (Morton, 1968) Hutchinson, 1967 Anderson, 1978 Taktajan,
1997
- Subfamilia Planitorae
(Malpighioideae)
Tribo Malpighieae Subtribo Malpighiinae
Subtribo Byrsonimiinae
Tribo Galphimiae
Subtribo Thryallidinae Subtribo Galphimiinae
- Subfamilia
Pyramidotorae(Gaudichaudioideae)
Tribo Hiraeeae
(Hiptageae)
SubtriboAspidopteryginae
Subtribo Mascagniinae
Tribo Banisterieae
Subtr iboSphedamnocarpina
e
Subtr ibo Banisteriinae
Tribo Tricomarieae
- Tribo Malpighieae
- Tribo
Gaudichaudieae*
- Tribo Hiraeeae
- Tribo Banisterieae
- Tribo Tricomarieae
- Subfamilia
Byrsonimoideae
Tribo Byrsonimeae
Tribo Galphimeae*
Tribo
Acmanthereae*
- Subfamilia
Malpighioideae
- Subfamilia
Gaudichaudioideae- Subfamilia Hiraeoideae
Tribo Hiraeeae
Tribo Banisterieae
Tribo Rhyncophoreae
Tribo Tricomarieae
* grupos monofiléticos Fonte: Cameron et al., 2001
4.4 Sistemática de Malpighiaceae e dados moleculares
Cronquist, baseado em similaridade morfológica, classificou a família na Divisão
Magnoliophyta, Classe Magnoliopsida, Subclasse Rosidae, Ordem Polygalales juntamente
com as famílias Vochysiaceae, Polygalaceae, Trigoniaceae e outras. O Angiosperm
9
Phylogeny Group-APG II mostra Malpighiaceae dentre as Malpighiales (ordem
morfologicamente diversa), no clado Rosids, eurosids I. Dentre as Malpighiales estão
incluídas as famílias Clusiaceae, Euphorbiaceae, Ochnaceae, Passifloraceae, Trigoniaceae e
Violaceae entre outras (Anderson, 2004; Chase, 2003).
Davis & Chase (2004) indicam Malpighiaceae e Elatinaceae como irmãs. A presença
de estípulas, glândulas foliares e pêlos malpighiáceos sugere tal aproximação. O registro de
látex na tribo Galphimieae, pode indicar uma simplesiomorfia compartilhada com
Euphorbiaceae, bem como a morfologia do pólen (Cameron et al., 2001; Vega et al., 2002).
Dados moleculares revelam o monofiletismo da tribo Gaudichaudieae sensu
Hutchinson (1967) e das tribos da subfamília Byrsonimoideae sensu Anderson (1978):
Acmanthereae (Acmanthera, Pterandra e Coleostachys) e Galphimieae (Galphimia,
Verrucularia, Lophanthera e Spachea). Byrsonimeae (Byrsonima, Diacidia, Blepharandra,
Burdachia, Glandonia e Mcvaughia) não mostrou monofiletismo e foi dividida nos clados
byrsonimoide (Byrsonima, Diacidia e Blepharandra) sem glândulas foliares e mcvaughioide
(Burdachia, Glandonia e Mcvaughia) com glândulas foliares. Logo, o monofiletismo de
Byrsonimoideae é fortemente rejeitado (Davis, 2001; Cameron et al., 2001).
4.5 O complexo �Mcvaughioide�
Seqüências cloroplastídicas de ndhF e trnL-F sustentam o agrupamento de
Mcvaughia, Burdachia e Glandonia, de frutos indeiscentes e não alados (Davis, 2001).
Mcvaughia bahiana pertence a um gênero monotípico muito próximo à Burdachia,
ocorrente em Caatingas do estado da Bahia. Difere em algumas características do fruto e não
apresenta uma adaptação óbvia à dispersão. As duas pétalas anteriores da flor, mais externas
no botão floral, permanecem acopladas uma à outra, dando à flor aparência tetrâmera. A
pétala mediana possui duas diminutas glândulas na base. Em Mcvaughia ocorre a redução do
androceu, de três anteras e filamentos em estaminódeos (Anderson, 1979).
Burdachia A. Juss. in Endl. e Glandonia Griseb. habitam áreas alagáveis e mostram
glândulas foliares na face abaxial e estípulas intrapeciolares conspícuas. Apresentam uma das
pétalas glândulada (Anderson, 1978; Barroso, 1984; Gentry, 1993). Glandonia se diferencia
basicamente por apresentar estípulas caducas, botão floral piramidal, devido à forma de
capacete da pétala externa, as pétalas são brancas e amarelas. O conectivo das anteras é
apicalmente estreitado e o filamento é densamente hirsuto. Em Burdachia, as estípulas são
persistentes, o botão floral é esférico e as pétalas rosas. O conectivo é apicalmente
arredondado e o filamento glabro (Anderson, 1978; 1981; 2001).
10
Em Burdachia, três espécies são descritas por Niedenzu (1966): B. atractoides, B.
prismatocarpa e B. sphaerocarpa, das quais B. atractoides foi sinonimizada com B.
sphaerocarpa. Após descrições de B. williansii e Burdachia duckei por Steymark, considera
quatro espécies para o gênero: B. prismatocarpa, B. sphaerocarpa, B. duckei e B.
williansii(Anderson, 1981). Anderson (2001) sinonimiza B. williansii com B. prismatocarpa e
em mesmo trabalho, B. sphaerocarpa var glandifera perde seu estatus de variedade. Anderson
(2001) questiona a existência de três ou duas espécies em Burdachia. Três espécies disjuntas
muito semelhantes compõem Glandonia: G. williamsii, G. prancei e G. macrocarpa.
Distribuem-se respectivamente no alto Rio Negro e Orinoco, no alto Rio Purus e Madeira e no
entorno do município de Manaus no estado do Amazonas (Anderson, 1981).
Tabela 2: Classificações em Burdachia e Glandonia
Autor (Data) Classificação
Jussieu (1840)
1. Burdachia sphaerocarpa Adr. Juss.2. Burdachia prismatocarpa Adr. Juss.
Niedenzu (1966)
1. Burdachia atractoides Nied.2. B. prismatocarpa Adr. Juss
B. prismatocarpa var pyramidata Nied.B. prismatocarpa spruceana � Griseb.B. prismatocarpa var sphaerocarpa Nied.
3. B. sphaerocarpa Adr. Juss.
1. Glandonia macrocarpa Griseb.
Anderson (1981)
1. B. sphaerocarpa A. Juss.B. sphaerocarpa var sphaerocarpa Adr. Juss.
(sin: Burdachia atractoides Nied.)B. sphaerocarpa var glandifera W. R. Anderson
2. B. prismatocarpa Adr. Juss.B. prismatocarpa var prismatocarpa Adr. Juss.
(sin: B. prismatocarpa var pyramidata Nied.,B. prismatocarpa var argutivenosa Cuatrec)
B. prismatocarpa var loretoensis W. R. Anderson3. B. williamsii Steyerm.(sin: B. prismatocarpa var sphaerocarpa Nied.4. B. duckei Steyerm.(sin: B. prismatocarpa � spruceana Griseb.)
1. Glandonia williamsii Steyerm.2. Glandonia macrocarpa Griseb.3. Glandonia prancei W. R.Anderson
Anderson (2001)
1. B. sphaerocarpa Adr. Juss.(sin.: B. sphaerocarpa var glandifera W. R. Anderson)2. B. prismatocarpa Adr. Juss(sin.: B. williamsii Steyerm.)
B. prismatocarpa var loretoensis W. R. Anderson? 3. B. duckei Steyerm
1. Glandonia wiliiamsii Steyerm.2. Glandonia macrocarpa Griseb.3. Glandonia prancei W. R.Anderson
4.7 Sistemática e estudos cromossômicos em Malpighiaceae
A escassez de dados cariológicos de plantas no Brasil resulta na pouca utilização desta
ferramenta no subsídio aos estudos taxonômicos e evolutivos (Guerra, 1990). No entanto,
dados cariológicos são um importante instrumento à taxonomia e à compreensão das relações
de parentesco e dos mecanismos de evolução (Guerra 1990). O número cromossômico é a
informação mais utilizada sendo a base dos estudos citotaxonômicos (Pedrosa et al. 1999).
11
A ocorrência de poliploidia é um dos tipos de variação cromossômica mais freqüente
na evolução vegetal (Bowers et al. 2003; Freeman & Herron 2004). Em Malpighiaceae a
poliploidia é registrada em 75% das contagens. A cariomorfologia também revela variações
no tamanho dos cromossomos (Singhal, 1985; Lombello & Forni-Martins, 2002; 2003).
Anderson resumiu todas as contagens de número de cromossomos para gêneros de
Byrsonimoideae, para o complexo �galphimioide� foi encontrado n=6, 12 ou 24. Assim, x=6
aparece como consistente caracter da subfamília Byrsonimoideae senso stricto, no entanto,
não se sabe se esta condição é ancestral ou derivada. Assim, seria especialmente interessante
conhecer o número de cromossomos em Burdachia e Glandonia, sendo esperado x =10.
Mcvaughia apresenta n=10, consistente com a inclusão desse gêneros em Malpighioideae e
não Byrsonimoideae. (Anderson, 1993; Cameron et al., 2001; Davis et al., 2001).
Davis et al. (2001) coloca o complexo �Mcvaughioide� proximamente relacionado à
gêneros Paleotropicais como Acridocarpus (x=9), facilmente derivado de n=10 por meio de
aneuploidia. O gênero Neotropical Barnebya, próximo de Mcvaughioide, apresenta contagem
n=30 (derivado de n=6 ou de n=10). Assim, é sugerido que o número cromossômico básico
x=10 é ancestral na subfamília Malpighioideae acima do complexo �galphimioide�.
A família provavelmente se originou com número básico de cromossomos x=6, e após
a derivação dos frutos alados podem ter sido substituídos para x=10. Possivelmente através de
aneuploidia a partir de um ancestral n=12 (Anderson, 2004).
A taxonomia tradicional sugere para a subfamília Byrsonimoideae o número
cromossômico básico x=6, a predominância do hábito arbóreo e arbustivo e frutos não-alados.
O número cromossômico na subfamília Malpighioideae na maioria das espécies é baseado em
x =10 (exceções: Acridocarpus: n=9, Peixotoa: n=15 e Heteropterys: 2n=30) e predomina o
hábito trepador e frutos alados (Anderson, 1993; Lombello & Forni-Martins, 2002).
Esta forte correlação sugere a derivação do número cromossômico básico (x=5 e 10)
como estreitamente relacionada com a evolução do hábito trepador e os frutos alados,
podendo existir uma relação entre evolução de caracteres morfológicos e variação no número
de cromossomos (id. ibid.). No entanto, filogeneticamente esta correlação não é simples,
sugerindo a ocorrência de eventos de convergência (Anderson, 2004).
12
CAPÍTULO I
BURDACHIA ADR. JUSS. E GLANDONIA GRISEB.
(MALPIGHIACEAE):
GÊNEROS ENDÊMICOS DAS ÁREAS ALAGADAS AMAZÔNICAS
13
TAXONOMIA DE BURDACHIA ADR. JUSS. E GLANDONIA GRISEB.
(MALPIGHIACEAE): GÊNEROS ENDÊMICOS DE ÁREAS ALAGADAS
AMAZÔNICAS
RESUMO
(Taxonomia de Burdachia Adr. Juss. e Glandonia Griseb. (Malpighiaceae):gêneros
endêmicos das áreas alagadas amazônicas) A família Malpighiaceae é composta por
aproximadamente 1260 espécies em 65 gêneros Neo e Paleotropicais. Seu centro de
diversidade é a América do Sul, onde o Brasil abriga grande número de espécies. Os gêneros
Burdachia e Glandonia são endêmicos de áreas alagadas amazônicas. O presente trabalho
objetivou-se em ampliar coleções, reavaliar a classificação, bem como inserir novos
parâmetros ao enfoque taxonômico. O presente estudo propõe o reconhecimento de duas
espécies no gênero Burdachia, B. sphaerocarpa e B. duckei, que perde sua categoria de
espécie, assumindo categoria de variedade componente da espécie B. prismatocarpa. Uma
vez que as variações observadas até o momento, não a delimitam de maneira clara para
manter o status de espécie. Para o gênero Glandonia, são reconhecidas três espécies: G.
williamsii, G. macrocarpa e G. prancei, esta última é tratada como duvidosa diante de sua
pequena coleção, sua extrema semelhança com G. macrocarpa e quanto ao seu status de
conservação e freqüência, uma vez que não foi coletada após sua descrição. Como subsídio à
taxonomia foram utilizados além de dados morfológicos e biogeográficos, dados anatômicos
foliares e do fruto.
Palavras-chave: Taxonomia, Malpighiaceae, Amazônia, Burdachia, Glandonia.
ABSTRACT
(Taxonomy of Burdachia Adr. Juss. e Glandonia Griseb. (Malpighiaceae): endemics generas
of the Amazonian flood plain) A família Malpighiaceae é composta por aproximadamente
1260 espécies em 65 gêneros Neo e Paleotropicais. Seu centro de diversidade é a América do
Sul, onde o Brasil abriga grande número de espécies. Os gêneros Burdachia e Glandonia são
endêmicos de áreas alagadas amazônicas. O presente trabalho objetivou-se em ampliar
coleções, reavaliar a classificação, bem como inserir novos parâmetros ao enfoque
taxonômico. O presente estudo propõe o reconhecimento de duas espécies no gênero
Burdachia, B. sphaerocarpa e B. duckei, que perde sua categoria de espécie, assumindo
categoria de variedade componente da espécie B. prismatocarpa. Uma vez que as variações
1
observadas até o momento, não a delimitam de maneira clara para manter o status de espécie.
Para o gênero Glandonia, são reconhecidas três espécies: G. williamsii, G. macrocarpa e G.
prancei, esta última é tratada como duvidosa diante de sua pequena coleção, sua extrema
semelhança com G. macrocarpa e quanto ao seu status de conservação e freqüência, uma vez
que não foi coletada após sua descrição. Como subsídio à taxonomia foram utilizados além de
dados morfológicos e biogeográficos, dados anatômicos foliares e do fruto.
Keywords: Taxonomy, Malpighiaceae, Amazônia, Burdachia, Glandonia.
INTRODUÇÃO
A família Malpighiaceae está representada por 65 gêneros e aproximadamente 1.260
espécies, de distribuição Neo e Paleotropical (Anderson, 2004). Os gêneros Burdachia Adr.
Juss. e Glandonia Griseb. são endêmicos de áreas alagadas amazônicas como Igapós e
igarapés de Terra Firme. Seus frutos mostram adaptações à dispersão aquática, como tecidos
preenchidos por ar e fibras que garantem a flutuação. Caracterizam-se por apresentarem duas
glândulas na base da nervura central na face abaxial foliar e uma das pétalas portando
glândulas na margem do limbo. Em Burdachia os botões florais são esféricos e em Glandonia
são piramidais (..........).
Três espécies de Burdachia são descritas por Niendenzu (1966): B. atractoides, B.
prismatocarpa e B. sphaerocarpa. Anderson (1981), após descrições de B. williansii e B.
duckei por Steyermak, considera quatro espécies para o gênero: B. prismatocarpa, B.
sphaerocarpa, B. duckei e B. williansii sinonimizando B. atractoides com B. sphaerocarpa e
denominando a variedade B. sphaerocarpa var glandifera. Anderson (2001) sinonimiza B.
williansii com B. prismatocarpa e em mesmo trabalho, B. sphaerocarpa var glandifera perde
seu estatus de variedade. Por fim, é lançada a seguinte questão: O gênero Burdachia é
composto por três ou duas espécies?
Três espécies disjuntas compõem o gênero Glandonia: G. williamsii, G. prancei e G.
macrocarpa, sendo as duas últimas extremamente semelhantes. Distribuem-se
respectivamente no Rio Orinoco e alto Rio Negro - Venezuela e Brasil, no alto Rio Purus e
Madeira - Brasil e no entorno do município de Manaus - Brasil (Anderson, 1981).
Objetivou-se, neste trabalho, ampliar as coletas para os grupos, localizar populações,
bem como obter material de subsídio para novos parâmetros taxonômicos (anatomia,
citogenética e biologia molecular). Desta forma, reavaliar classificação atual. Analisou-se o
material depositado nos principais herbários representativos para os grupos. Desta forma,
2
buscou-se aprofundar o detalhamento dos caracteres, de forma a atualizá-los, acrescentando
parâmetros para circunscrições mais suportadas e menos subjetivas.
MATERIAL E MÉTODOS
Consulta aos herbários - Foram examinadas exsicatas depositadas nos herbários do Instituto
Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA), Museu Paraense Emílio Goeldi (MG), Embrapa
Amazônia Oriental (IAN), Jardim Botânico do Rio de Janeiro (RB), Herbário Nacional de
Venezuela (VEN), GUYN, PORT, COL e SINCHI, herbários citados de acordo com as siglas
estabelecidas no Index Herbariorum (Holmgren et al. 1990).
Coletas e conservação do material - Foram realizadas coletas específicas para os gêneros,
verificando ocorrências registradas nos herbários e estudos sobre composição florística de
áreas alagáveis amazônicas. Desta forma, as coletas se realizaram nas seguintes localidades:
Município de Manaus (AM): Reserva Adolpho Ducke, Praia do Tupé e Praia da Lua;
Município de Novo Airão (AM): Igarapé Freguesia, Parque Nacional do Jaú e Estação
Ecológica de Anavilhanas e Município de Humaitá (AM): entorno da Reserva do Ipixuna. O
material obtido foi depositado no Herbário INPA.
Dados macromorfológico - As espécies foram manuseadas e analisadas no herbário e no
Laboratório de Taxonomia / INPA, utilizando estereomicroscópio. A caracterização foi feita
através de observação detalhada do material herborizado e estruturas conservadas em álcool
70% e glicerina 5%. Verificando a ocorrência e constância dos caracteres, indicando
potenciais caracteres para análise filogenética.
Dados micromorfológico - Foram verificados caracteres anatômicos relacionados à epiderme
foliar a fim de esclarecer dados macromorfológicos bem como buscar novos caracteres
capazes de sustentar circunscrições de forma eficaz. Assim, folhas frescas e herborizadas,
após reidratação, foram submetidas à dissociação utilizando solução de ácido acético glacial e
peróxido de hidrogênio P.A. (1:1) (Kraus & Arduin 1997). Após coloração com fucsina
básica e azul de astra foram montadas lâminas semi-permanentes. Cortes transversais também
foram realizados em micrótomo de mesa, no intuito de alcançar maiores detalhes da epiderme,
aparelho estomático e pêlos. As lâminas obtidas foram observadas em microscópio óptico.
As descrições foram baseadas nas terminologias relatadas por Anderson (2001). As
etiquetas técnicas das exsicatas forneceram dados complementares de distribuição geográfica,
fenologia, ecologia e nomes populares. As ilustrações foram realizadas pela autora do
trabalho.
3
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Autor (Data) Classificação
Adr. Jussieu (1840)
Burdachia sphaerocarpa Adr. Juss.Burdachia prismatocarpa Adr. Juss.
Niendenzu (1966)
Burdachia atractoides Niend.B. prismatocarpa Adr. Juss B. prismatocarpa var pyramidata Niend. B. prismatocarpa spruceana � Griseb. B. prismatocarpa var sphaerocarpa Niend.B. sphaerocarpa Adr. Juss.
Glandonia macrocarpa Griseb.
W. R.Anderson
(1981)
B. sphaerocarpa Adr. Juss.B. sphaerocarpa var sphaerocarpa Adr. Juss.
(sin: Burdachia atractoides Niend.)B. sphaerocarpa var glandifera Anderson
B. prismatocarpa Adr. Juss.B. prismatocarpa var prismatocarpa Adr. Juss.
(sin: B. prismatocarpa var pyramidata Niend.,B. prismatocarpa var spruceana Cuatrecasas)
B. prismatocarpa var loretoensis AndersonB. williamsii Steyerm.(sin: B. prismatocarpa var sphaerocarpa Niend.B. duckei Steyerm.(sin: B. prismatocarpa � spruceana Griseb.)
Glandonia williamsii Steyerm.Glandonia macrocarpa Griseb.Glandonia prancei Anderson
W. R.Anderson
(2001)
B. sphaerocarpa Adr. Juss.B. prismatocarpa Adr. JussB. duckei Steyerm ?
Glandonia wiliiamsii Steyerm.Glandonia macrocarpa Griseb.Glandonia prancei Anderson
Neste trabalho(2007)
B. sphaerocarpa Adr. Juss.B. prismatocarpa Adr. Juss
Glandonia wiliiamsii Steyerm.Glandonia macrocarpa Griseb.Glandonia prancei Anderson
Aspectos Morfológicos
Burdachia
Burdachia A. Juss. in Endl., Gen. PI. 1064. April 1840.
Tetrapodenia Gleason, Bull. Torrey Bot. Club 53: 289. 1926.
Tipo: Burdachia prismatocarpa Adr. Jussieu.
4
Arbustos ou árvores, folhas coriáceas, glândulas na face abaxial; estípulas
persistentes intra e epipeciolar, completamente conadas, coriácea. Inflorescência
terminal, simples, dupla ou tripla, cada usualmente dividida próximo à base em 3 (5)
eixos, cada eixo medindo 4-20 cm de comprimento, racemo de cincínos curtos, brácteas e
bractéolas persistentes, a bractéola proximal e a bractéola alterna subsequente, com uma
grande glândula excêntrica abaxial. Botões florais circular, esférico, a pétala mais externa
envolve completamente as demais. Sépalas fechadas na antese, todas biglandulares, as
glandulas são obovadas, achatadas. Pétalas glabras, rosa ou brancas, dimórficas, 4 pétalas
laterais de limbo eglandular sustentado por uma unha recurvada, pétala posterior de
limbo ao menos basalmente glandular sendo sustentado por uma unha espessada e ereta.
Filamentos internos opostos as sépalas e os externos opostos às pétalas, glabros, conados
na base; 10 estames férteis, subsimilar, glabros, lóculos lineares e distintos, arredondados
no ápice, frequentemente excedendo o ápice, conectivo carnoso. Ovário com 3 carpelos
conados, 1 ± anterior e 2 ± posteriores, trilocular, porém um dos lóculos posteriores é
pequeno e vazio; 3 estiletes, apicais, encurvado no botão endireitando-se na antese,
delgado e subulado, o que parte do carpelo estéril é um pouco mais curto que os demais,
estigma ligeiramente interno e decorrente. Fruto indeiscente, fibroso ou aerenquimatoso,
seco na maturidade, geralmente com apenas um lóculo completamente preenchido por
uma semente (devido ao aborto de um óvulo e colapso deste junto ao lóculo estéril);
semente esférica, cotilédones densos tegumento???.
Chave taxonômica para as espécies de Burdachia:
1. Lâmina glabra, venação quaternária não visualizada abaxialmente;
Face abaxial da epiderme não papilosa;
Pétala posterior portando de 4-6 glândulas na base do limbo, ovário glabro;
Frutos cônicos lisos.............................................................. 1. Burdachia sphaerocarpa
2. Lâmina pilosa, venação quaternária visível;
Face abaxial da epiderme papilosa;
Pétala posterior portando de ..... glândulas na base do limbo, ovário piloso;
Frutos piramidais, possuindo nervuras que formam estruturas de
ancoragem................................................................................. 2. Burdachia
prismatocarpa
1. Burdachia sphaerocarpa Adr. Juss., Ann. Sci. Nat. 2° Ser. Bot. 13: 330. 1840.
5
Tipo: Martius, Barra do Rio Negro [Manaus], Amazonas, Brazil (P, M).
Burdachia prismatocarpa Adr. Juss. var. sphaerocarpa (A. Juss.) Nied., Arbeiten Bot.
Inst. Königl. Lyceum Hosianum Braunsberg 5: 60. 1914, Mem. New York Bot. Gard.
32:139. 1981.
Burdachia atractoides Niedenzu, Arb. Bot. Inst. Ak. Braunsberg 5: 59. 1914.
Syntypes. Amazonas, Brazil, Glaziou 13592; Manaus, Schwacke III 266 (RB!).
Tetrapodenia glandifera Gleason, Bull. Torrey Bot. Club 53: 289. 1926.
-Burdachia sphaerocarpa var glandifera (Gleason) W. R. Anderson, Mem. New York
Bot. Gard. 32:139. 1981.
Tipo. De La Cruz 3515, Amakura River, Northwest District, 8°1O'N, 60oW, British Guiana
[Guyana] (holotype NY! isotypes F! MO!).
Fig.
Árvores 3-15(20) m, ramos jovens fortemente achatados e glabros, tornando-se
cilíndrico e engrossado. Lâmina foliar (8-) 10-24,6 x 4-11(-12,13) cm, ovada, elíptica, ou
obovada, base cuneada, arredondada, ou fracamente cordada, margem achatada e
revoluta, ápice agudo ou curto acuminado a arredondado e frequentemente apiculado,
glabra, 2 grandes glândulas na base da nervura central inferior e várias pequenas
glândulas distalmente dispersas na lâmina, venação quaternária não evidente
abaxialmente; pecíolo (5,7-) 8-25 mm compr., achatado, glabro, par de estípulas
5-10(-11) mm compr., ovada, auriculada na base, acuminada no ápice, coriácea,
abaxialmente glabra, adaxialmente densamente pilosa, pêlos de cor laranja. Inflorescência
tomentosa-serícea a glabra, ereta, pendente quando com frutos, simples ou dupla, simples
ou dividida na base 3(-5) eixos, cada cincínio 1-2(-6) flores, brácteas e bractéolas 1-2.5
mm compr., amplamente ovada ou triangular, côncava, abaxialmente glabra, base
adaxialmente pilosa; pedúnculo do cincínio glabro ou com poucos pêlos em uma linha.
Pedicelo 5-11(-13) mm compr., glabro, achatado quando com frutos. Sépalas 1.5-2 mm
de compr. além do elaióforo, 1.7-2.5 mm larg., amplamente obtusa ou arredondada,
margem membranosa, glabra, elaióforo 2-3 mm de compr.. Pétalas rosa. Pétalas laterais:
unha 4-6 mm compr., limbo 6.5-9.5 x 7-11 mm, profundamente côncava (a mais externa
no botão) ou proximamente achatada, orbicular, profundamente cordada na base, inteira
ou fracamente irregular; pétala posteriror: unha 4 mm de compr., limbo 4-5 x 3 mm,
acahatada ou distalmente reflexa, ovada ou oblonga, 2-4 grandes glândulas estipitadas
pendentes em cada lado da base e várias glândulas sésseis distalmente distribuídas até o
ápice ou não. Filamentos 1.5-2.2 mm de compr.; anteras 2-4 mm de compr., variável na
6
mesma flor, conectivo se projeta além dos lóculos, nas anteras opostas à pétala,
arredondados e pouco expandidos, nas opostas à sépala com expansão obtusa e reflexa.
Ovário depresso-globoso, 1-1 mm altura, glabro; estilete 4-6 mm compr., glabros. Frutos
18-28 mm compr., 13-18 mm diâm., esferoidais a conoidais, base arredondada, smooth-
sided redondo em secção transversal, ápice geralmente ± rostrado, verde e quando seco
marrom, glabro, engrossamento fibroso da casca a thick fibrous husk
Anderson (1981) faz referência à varição na coloração das pétalas em populações
de duas áreas disjuntas na Guyana. Baseado nesta diferença, em mesmo trabalho, propõe
a variedade B. sphaerocarpa var. glandifera. No entanto, Anderson (2001) desconsidera
o status de variedade à tal variação, uma vez que foram documentadas cores de pétalas de
forma independente à possível barreira de disjunção.
Coleção Froes 21413 !!!!!! olhar 2-6 flores por cincínio!
Sua distribuição abrange a Venezuela e o Brasil, onde ocorre nos estados de
Roraima, Amazonas e Pará. São encontradas em áreas inundadas periodicamente, de
maneira que parte de seu tronco fica debaixo d�água no período de cheia. Perguntar Fê
onde estava.
B. sphaerocarpa floresce de Maio a Junho e frutifica de Setembro a Fevereiro.
O epíteto específico referencia a forma esférica dos frutos.
Material examinado: BRASIL. AMAZONAS: São Sebastião, Urucará, lago
Castanhalzinho, 07.IX.1968, fr., M. Silva 1858 (MG); Rio Negro, Rio Jauapari, 13. II.1977,
fr., M. R. Santos 19 (MG); Maués, Rio Maués, 17.XI.1977, fr., N. T. da Silva (61532 MG);
Rio Acará lower igarapé do Madichí, 13.IX.1988, fl., K. Kubtzki (135552 MG); Rio Negro,
betweem mouth of Rio Caurés and Barcelos, 12.X.1971, fr., G. T. Prance et al. (44129 MG);
Borba, Rio Canumã, 29.VI.1983, fr.,C. A. Cid 3954 (MG); Acima do Rio Brancinho,
11.IX.1973, fr., G. T. Prance et al. (47328 MG); Manaus, igarapé Cachoeira Grande,
14.IX.1941, fr., A. Ducke 793 (MG); Presidente Figueredo, Rio Uatumã, 15.IX.1986, fr., C.
A. Cid 8136 et al. (MG); Rio Brancinho, 14.IX.1973, fr., G. T. Prance et al. (48180 MG);
Manaus, Igarapé São Raimundo, 14.XII.1955, fr., J. Chagas (92224 IAN); Barreirinhas, Rio
Urubú, 24.VIII.1949, fr., R. L. Fróes 25132 (IAN); Maués, Rio Maués, 17.XI.1977, fr., N. T.
da Silva (155987 IAN); Rio Urubú, Cachoeira Lindóia, 05.XII.1956, fr., W. Rodrigues 308
(IAN); Maués, 30.XI.1946, fr., J. M. Pires 37 (IAN); Manaus, Igarapé da Cachoeira Grande,
14.IX.1941, fr., A. Ducke 793 (IAN); Manaus, Cachoeira Grande, 01.VIII.1941, fl. e fr., A.
Ducke 780 (IAN); Padauiry, Rio Negro, Igarapé Marará, 06.X.1947, fl. e fr., R. L. Fróes
22514 (IAN); Rio Tefé, Paxiubinha, 13.VI.1950, fl., R. L. Fróes 26255 (IAN); Lago do
7
Janauacá, Pataua Grande, 8.VII.1969, bo., Byron 190 (INPA); Tarumã-Açú, 30.V.1982, fl., B.
W. Nelson 1270 (INPA); Presidente Figueredo, 21.III.1986, fr., C. A. C. Ferreira et al. 6915
(INPA); Presidente Figueredo, 19.III.1986, fr., C. A. C. Ferreira et al. 6861 (INPA); Rio
Negro, 12.X.1986, fr., G. T. Prance et al. (138495 INPA); Rio Acará, Igarapé Savadava,
26.VII.1985, fr., G. T. Prance et al. (147580 INPA); Presidente Figueredo, 15.IX.1986, fr., C.
A. C. Ferreira et al. 8136 (INPA); Itapiranga, Rio Uatumã, 25.VIII.1979, bo. e fl., C. A. C.
Ferreira et al. 768 (INPA); Rio Abacaxis-Igarapé Guajará, Axinim, 6.VII.1983, bo. e fl., S.
R. Hill et al. 12971 (INPA); Rio Negro, 26.XI.1974, fr., A. Gentry & J. Ramos 12891 (INPA);
Manaus, Igarapé Cachoeira Grande, 14.IX.1941, fr., A. Ducke 780 (INPA); Manus, Igarapé
São Raimundo, 14.XII.1955, fr., J. C. Almeida (3103 INPA); Above mouth of Rio Brancinho,
11.IX.1973, fr., G. T. Prance et al. (41032 INPA); Manus, Ponta Negra, 22.VI.1961, fl., W.
Rodrigues & D. Coelho 2087 (INPA); Barcelos, Rio Domani, 11.IX.1962, bo. e fl., A. P.
Duarte 7159 (INPA); Maués, Rio Apoquitaua, 27.VII.1983, fl., C. A. C. Ferreira 4260
(INPA); Rio Purus, próximo à Cachoeira Lindóia, 5.XII.1956, fr., W. Rodrigues 308 (INPA);
Rio Cuieiras, just below mouth of Rio Brancinho, 28.IX.1971, fr., G. T. Prance et al. (33212
INPA); Cacau Pirêra, Rio Negro, 10.VI.1970, bo., W. Rodrigues & S. R. Jaccoud 8886
(INPA); Near junction of Rio Cuieiras and Rio Brancinho, 7.IV.1974, fr., D. G. Campbell et
al (45864 INPA); Borba, 29.VI.1983, fr., C. A. C. Ferreira 3954 (INPA); Borba, 28.VI.1983,
fr., C. A. C. Ferreira 3944 (INPA); Estrada Manaus-Caracaraí, IV.1959, fr., W. Rodrigues
984 (INPA); Manaus, Porto Mauá, 26.V.1972, bo., M. Silva et al. 125 (INPA); Parintins,
Lago Uaicurapá, 07.IX.1932, fr., A. Ducke (24157 RB); Borba, Rio Madeira, 23.IV.1937, bot.
e fl., A. Ducke (34636 RB); Rio Negro, 24.IV.1982, fr., s/coletor (63017 RB)
PARÁ: Rio Nhamundá, Lago de Faro, 02.X.1984, fr., K. Kubitzki (107695 MG); Lago do
Faro, 15.XII.1904, fr., A. Ducke (...MG); Lago do Faro, 15.VII.1907, fl., A. Ducke (...MG);
? Rio Axinim, Rio Abacaxis, Igarapé Guajará, 06.VII.1983, fl. fr., S. R. Hill 12971 et al.
(MG); Praia do Lago do Faro, 15.XII.1904, fr., A. Ducke6914 (RB);
RORAIMA: Rio Xeriuini, 15.IV.1974, fl., J. M. Pires et al. (143573 IAN);
VENEZUELA. AMAZONAS: 5 Km de San Carlos de Rio Negro, 19.XI.1977, fr., R. Liesner
3685 (VEN);
2. Burdachia prismatocarpa A. Juss., Ann. Sci. Nat. 2° Sér. Bot. 13:330. 1840
8
Apesar de Anderson (1981) apontar diferenças na estrutura do pêlo, estudo
anatômico não confirmou este caráter. A espécie apresenta pêlos foliares unicelulares
estipitados de pedúnculo curto distribuídos na lâmina e ao longo da nervura central, o
pedúnculo é maior. Estudos anatômicos também sugerem que a variação no grau de
pilosidade foliar é resultado da queda dos pêlos, o mesmo se aplica ao indumento do
fruto.
Esta espécie apresenta um intrigante complexo de variações, revelando grande
amplitude de valores métricos foliares, além da variação no grau de desenvolvimento das
nervuras dos frutos. A variedade loretoensis é duvidosa. Podendo existir apenas duas
variedades uma distribuída no Perú, no Brasil nos estados do Acre, Rondônia e
Amazonas, ao longo da grande bacia do Rio Solimões e ao longo da bacia do Rio Negro,
abrangendo os estados brasileiros do Amazonas, Roraima e parte da Venezuela; e a var.
duckei, distribuída apenas na bacia do Rio Negro.
É proposto um aprofundamento no estudo deste complexo de varições, incluindo
parâmetros fenológicos, ainda não muito claros, polínicos e citotaxonômicos.
Frutos mostram impressionante adaptação para dispersão aquática,. A parede produz
um número de nervuras (cristas) ou pequenas asas compostas na maior parte por aerênquima,
já que os frutos maduros são secos, leves e muito flutuantes. Tais nervuras se desenvolvem
em posições correspondentes às asas laterais e dorsais nos gêneros mascagnioid. Se estas
estruturas são homólogas????, Burdachia pode constituir um intrigante link entre gêneros
byrsonimoid e gêneros de frutos alados.
B. prismatocarpa exibe um acentuado polimorfismo foliar, muitas vezes no
mesmo indivíduo. Os frutos também mostram polimorfismo quanto ao desenvolvimento
das nervuras. A distribuição geográfica e constância das variações foliares e do fruto,
permite considerar 3 variedades para a espécie: B. prismatocarpa var. loretoenses,
apresentando folhas grandes, frutos com cristas muito desenvolvidas e de ocorrência
restrita ao Perú, B. prismatocarpa var. prismatocarpa, mostrando folhas grandes, frutos
de nervuras desenvolvidas e ocorrente nas bacias do Rio Solimões e Rio Negro e B.
prismatocarpa var. duckei, possuindo folhas menores, frutos de nervuras pouco
desenvolvidas e ocorrente apenas na Bacia do Rio Negro.
B. williamsii foi recentemente sinonimizada por combinar características de B. duckei,
como folhas pequenas, tamanho da estípulas e frutos, o ovário glabro; e B.
prismatocarpa var prismatocarpa. Ocorre entre San Fernando de Atabapo e Cucui uma
area de que B. prismatocarpa não é conhecida embora ocorra no Norte e Sul. Próximo a San
9
Fernando duas populações sugerem que B. williamsii e B. prismatocarpa podem hibridizar
(Gentry 10967 and Level L-lOO). B. williamsii is a rather fracamente segregada e é melhor
tratado como variedade de B. prismatocarpa.
Chave taxonômica para as variedades de Burdachia prismatocarpa
1.
...............................................................................................2a. var. prismatocarpa
...............................................................................................2b. var. duckei
...............................................................................................2c. var. loretoënsis
2a. Burdachia prismatocarpa A. Juss. var. prismatocarpa
Burdachia williansii Steyerm., Fieldiana, Bot. 28:285. 1952
Burdachia prismatocarpa var pyramidata Niendenzu, Arb. Bot. Inst. Ak. Braunsberg
5: 60. 1914
Burdachia prismatocarpa var argutivenosa Cuatrecasas, Webbia 13: 636. 1958. Tipo
Cuatrecasas 7248, Mitü, Rio Vaupés, Colômbia (holótipo US! Isótipos COL, F! NY!)
Arbustos ou árvores 2-15 m, ramos vegetativos seríceos a glabros. Lamina foliar 11-21 x
6-12(-14) cm, ovadas ou elipticas, base geralmente arredondada ou cordada, ápice
geralmente obtuso ou arredondada, emarginada e por vezes apiculada, margem revoluta,
algumas vezes achatada, pilosa em ambas as faces, pêlos curtos estipitados, epiderme
abaxial papilosa, 2 grandes glândulas na face inferior na base da nervura central, várias
minúsculas glândulas distalmente dispersas, ou apenas algumas concentradas ao longo da
nervura central, nervuras laterais fortemente paralelas umas as outras e proeminentes na
face abaxial, incluindo as quaternárias; pecíolo 10-25 mm compr., grosso, seríceo a
glabro; estípulas 6-10 mm compr., ovada ou triangular, ápice acuminada a amplamente
arredondada, côncavas a achatadas ou fracamente revolutas, margem frequentemente
delgada, abaxialmente serícea a glabra, adaxialmente densamente pilosa (pêlos de cor
laranja) no meio proximal, pilosa ou distalmente glabra. Inflorescência tomentosa-
sericea, cincínio 1-2.(-3) flores, brácteas e bracteolas 1-3 mm compr., ovadas, margem
membranosas, glabras ou esparsadamente sericeas, bracteolas usualmente nascem
próximas à base do pedúnculo; pedúnculo do cincínio frequentemente seríceo. Pedicelo
6-10(-12) mm compr., glabro, alongado e engrossado no fruto. Sépalas 1.5-2 mm de
compr. além do elaióforo, 1.5-2 mm larg., amplamente obtusa, margem membranosa,
glabra, elaióforo rosa, 2.5-3 mm compr.. Pétalas rosa. Pétalas laterais: unha 3-4 mm
10
compr., limbo 5-7.5 x 5-8 mm, orbicular, profundamente ou fracamente côncava,
cordada, erose; pétala posterior: unha 2.5-3.5 mm de compr., limbo 3-4 x 3-4 mm,
achatado ou distalmente reflexo, ovado, grandes glândulas sésseis distalmente,
geralmente estipitadas e menores na base do limbo, geralmente ocorrem até o ápice.
Algumas vezes uma das pétalas laterais também apresentam glândulas apenas na porção do
limbo lateral à pétala posterior. Filamentos 1.3-2 mm compr.; anteras 2-3 mm compr.,
variável na mesma flor; conectivo se projeta além dos lóculos, nas anteras opostas à pétala,
arredondados e pouco expandidos, nas opostas à sépala com expansão obtusa e reflexa.
Ovário conóide, com nervuras, 1.5 mm altura, densamente seríceo ou tomentoso; estilete
3-4.5 mm compr., base serícea. Fruto 14-20 mm compr., 10-18 mm diâm., piramidal, 8-9
nervuras longitudinais aerenquimatosas ou pequenas asas (3 por carpelo), geralmente
prolongadas como esporas e frequentemente interconectadas na base, ápice rostrado, verde,
marrom quando seco, tomentoso a glabro, paredes compostas por aerênquima bastante
reforçado por fibras, semente (raramente 2).
Popularmente conhecidada como Brinco de tracajá, pau vidro, murici branco ou
Tatajuba.
Sua distribuição abrange ...
B. prismatocarpa var. prismatocarpa floresce de Agosto a Março (especialmente de
Outubro a Dezembro) com frutos de Novembro a Junho (especialmente de Fevereiro a Maio)
O epíteto específico referencia a forma prismática dos frutos.
Material examinado:
2b. Burdachia prismatocarpa var loretoensis Anderson, var nov Type.
Woytkowski 5146, banks of Rio Nanay, elev 100 m, Dept. Loreto, Peru, 8 Dec 1958
flr/imm frt (holotype US, isotypes F, MO).
Differt a Burdachia prismatocarpa var prismatocarpa limbo petali postici in
dimidio proximali utrinque ca 9 glandulis parvis instructo, distaliter eglanduloso,
connectivis antherarum loculos apice aequantibus vel paulo superantibus, ovario
fructuque glabro vel sparsim sericeo, et fructu cristis longitudinalibus humilibus
rotundatisque et umbonibus basalibus brevioribus.
The collections cited by Cuatrecasas (1958, p 636) as Burdachia sphaerocarpa are treated
here as B. prismatocarpa var loretoensis.
Nomes populares-
11
Distribuição-
Fenologia-
Etimologia- Homenagem à localidade de Loreto (Peru).
Material examinado:
This is the plant that Cuatrecasas called Burdachia sphaerocarpa in his Prima Flora
Colombiana.
4. Burdachia duckei Steyermark, Fieldiana Bot. 28: 283. 1952.
Burdachia prismatocarpa (B. spruceana Grisebach in Martius, FI. Bras. 12(1): 23.
1858. Type. Spruce 1659, prope Barra [Manaus], Rio Negro, Amazonas, Brazil, Jul 1851
(ho1otype GOET? isotypes GH! NY!).
Lâmina das folhas 6-13 x 3-6 cm, revoluta na margem, pouco serícea ou tomentosa a
glabrescente, pêlos curto estipitados, ± serpentine?, 2 grandes glândulas na face inferior na
base da nervura central, várias minúsculas glândulas distalmente dispersas, ou apenas
algumas concentradas ao longo da nervura central; estípulas com 3-5 mm compr.,
fortemente côncavas. Inflorescência frequentemente pendente. Pedicelo pouco seríceo
glabrescente. Pétalas rosa. Ovário densamente tomentoso. Frutos 9-11 mm compr., 8-9 mm
diâm., as nervuras (cristas) são moderadamente desenvolvidas (não excedendo no corky
pequenas asas), tomentoso a glabrate.
Esta espécie apresenta as menores medidas foliares e de frutos em Burdachia. São
proximamente relacionadas com B. prismatocarpa, as duas espécies aparentemente ocorrem
juntas próximo a Manaus sem hibridização. Talvez estas populações sejam simpátricas e de
floração alocronica. B. duckei parece crescer mais em igapós que ao longo de canais.
Type. Ducke 522, Igarapé da Cachoeira Grande, Manaus, Amazonas, Brazil, 14 Jul1937
(holotype F! isotypes MO! NY!).
Nomes populares-
Sua distribuição abrange...
B. prismatocarpa var. duckei floresce de Janeiro e fevereiro? Maio a Setembro
Frutifica de Setembro a Abril.
Epíteto específico em homenagem a Adolpho Ducke.
Material examinado:
12
Glandonia Grisebach in Martius, FI. Bras. 12(1): 23. 1858.
Type. Glandonia macrocarpa Grisebach.
Arbustos ou árvores; folhas com glândulas abaxiais; estípula interpeciolar, linear,
conadas em par opostamente, caducas, se partem longitudinalmente antes de cair, onde uma
das metades seca primeiramente. Inflorescência terminal, geralmente simples, racemo de
cincínios curtos, brácteas e bractéolas persistentes, bractéola proximal e bractéola seguinte
portando grande glândula ecêntrica abaxialmente. Botão piramidal, pétala mais externa cobre
completamente as outras. Sépalas biglandulares, elaióforos obovados, achatados. Pétalas
trimórficas, a mais externa de limbo cônico em forma de capuz, unha das pétalas laterais
reflexas após a antese, pétalas laterais: achatadas ou dobradas, reflexas, pétala posterior:
limbo achatado ou reflexo, unha forte e ereta. Filamentos muito curtos, conados na base,
densamente pilosos; 10 anteras férteis, similares, subuladas, lóculos lineares, completamente
distintos, estreitando no ápice em estruturas como 2 extenções estéreis, ca 0,5 mm compr.
excedendo o conectivo. Ovário: 3 carpelos conados, 1 anterior e 2 posteriores, 3 lóculos
férteis; 3 estiletes apicais, encurvado apicalmente no botão e após a antese, subulado, estigma
muito pequeno e terminal. Fruto indeiscente fibroso, cilíndrico ou cônico-truncado, seco na
maturidade, somente um lóculo completamente preenchido por uma grande semente (devido
ao aborto dos outros dois óvulos e colapso dos lóculos); semente esférica ou cilíndrica,
cotilédones grandes, carnosos, em linha reta e não dobrado, iguais ou um maior e ligeiramente
abraçando o outro.
Glandonia compreende tres espécies geograficamente disjuntas, G. williamsii, G.
macrocarpa e G. prancei, uma do alto do Rio Negro e Orinoco, uma das proximidades de
Manaus e outra do alto Rio Purus e Madeira. As espécies são bastante similares,
especialmente as duas últimas (Anderson, 1981).
O fruto de Glandonia é fibroso e confere flutuação, uma adaptação a dispersão
aquática. Todas as três espécies são encontradas próximas a rios e áreas periodicamente
inundadas ou ao longo de igarapés em Baixios de Terra Firme.
Kubtzk.....
Chave taxonômica para as espécies de Glandonia
14
1. Folhas elípticas, coriáceas, lâmina pilosa (pêlos caducos ou não)
Face abaxial da epiderme papilosa
Flor..
Frutos portando .... nervuras arredondadas.................................... 1. Glandonia
williamsii
1. Folhas papiráceas, lâmina glabrescente (pêlos restritos à nervação)
Face abaxial da epiderme não papilosa
2. Folhas fortemente obovadas
Pétala posterior portando grandes glândulas no 1/3-1/2 proximal do limbo
Frutos ................................................................................. 2. Glandonia macrocarpa
3. Folhas elípticas à fracamente obovadas
Pétala poterior portando pequenas glândulas....
Frutos .........................................................................................3. Glandonia prancei
1. Glandonia williamsii Steyermark, Fieldiana Bot. 28(2): 288. 1952.
Árvores ou arvoretas 2-8 m, o ramo jovem achatado tomentoso ou seríceo, tornando-se
cilíndrico e engrossado e glabro. Lâmina foliar (7,8,9-) 10-22 (-27) x (2,5-) 3-10.8 cm,
elíptica ou fracamente ovada ou obovada, base cuneada ou arredondada, margem revoluta,
ápice obtuso, acuminado ou emarginado, coriácea, epiderme abaxial papilosa, appressed-
tomentose a glabra, (0-)2(-4) grandes glândulas abaxiais na base da nervura central,
2(-4)demais glândulas distalmente no ¼ proximal; venação evidente abaxialmente, incluindo
a quaternária; pecíolo (9)11-24 mm compr., tomentoso a glabro; estípulas 9-21 mm compr.,
abaxialmente tomentosa. Inflorescência 5-18 compr., appressed-tomentose ou serícea,
cincínios geralmente a menos de 1 cm de distância, 3-5 flores; brácteas e bractéolas ovadas,
abaxialmente seríceas, brácteas 3-5 mm compr., bractéolas 2-3 mm compr.; pedúnculo
florífero (1-)2-4 mm compr.. Pedicelo 8-10 mm compr., densamente tomentoso ou seríceo.
Sépalas 1.5-2 mm compr. além do elaióforo, 2-2.5 mm larg., arredondadas, abaxialmente
serícea, adaxialmente glabra, elaióforo 2-3 mm compr.. Pétalas brancas e amarelas, glabras ou
abaxialmente pilosa na base da unha, pétala mais externa em forma de �capuz�: 5-6 mm
compr., 4-4.5 mm diam., erose ondulada?, unha 3-4 mm compr., pétalas laterais: limbo 4-6 x
4-5.5 mm, obtusamente sagitada, achatada a proeminente, eglandular e denticulada ou erose,
unha 3.5-4.5 mm compr., pétala posterior: limbo 4-5.5 x 3-4 mm, arredondada-sagitada, 10
glandulas em cada lado do limbo na metade proximal e distalmente eglandular, ereta ou
reflexa, unha 3.5 mm compr.. Filamentos 1.3 mm compr., densamente piloso; anteras 3.5-5
15
mm compr., topete de pêlos retos no conectivo apenas acima da insersão do filamento. Ovário
1.3 mm altura, piramidal, glabro; estiletes 4.5-5.5 mm compr., subiguais, glabros, dobrados
no ápice. Frutos 14-22 mm compr., 12-14 mm diam., cilíndrico tornando-se cônico, 7-9
nervuras longitudinais arredondadas.
Type. Ll. Williams 14154, Yavita, 128 m, Alto Orinoco, en sabanetas periodicamente
anegadas, Amazonas, Venezuela, 2 Feb 1942 (holotype F! isotypes F! VEN!).
Nomes populares-
Distribuição-
Fenologia- Floresce de Outubro a Maio e frutifica de Fevereiro a Junho.
Etimologia-
Material examinado: BRASIL. AMAZONAS: Taraguá, Igarapé da Chuva, Uaupés,
07.VI.1962, fr., O. C. Nascimento 575 (IAN); São Gabriel da Cachoeira, Rio Negro, 1947, fr.,
R. E. Schultes 9565 (IAN); Rio Negro, Rio Canaburi, 16.VI.1976, fr., L. F. Coelho 984 (MG);
São Gabriel da Cachoeira ?, Rio Curicuriari, 12.VII.1979, fr., J. M. Pires & N. T. Silva 7970
(MG); Içana, Rio Negro, 05.V.1947, fl., R. L. Fróes 22280 (MG); Rio Urubaxi, 04.VI.1976,
fr., L. R. Marinho 420 (IAN); Içana, Cachoeira Maçarico, 26.IV.1947, fr., R. L. Fróes 22233
(IAN); Rio Uneiuxi, 22. X. 1971, bot., G. T. Prance et al. (33733 INPA); Rio Cauaburi,
afluente do Rio Negro, 16. VI. 1976, fr., L. F. Coelho 484 (INPA);
? BRASIL. AMAZONAS: Rio Negro, Igarapé Toury, 18.III.1952, bo. e fl., R. L. Fróes
27909 (IAN);
COLÔMBIA: Mitú, Rio Vaupés, 19. XI. 1976, bot., J. L. Zarucchi (76785 INPA);
VENEZUELA. AMAZONAS: Rio Sipapo, entre Cano Veneno y Pendare, margen izquerda,
19.II.2001, bo. e fl., A. Castilho & B. Camaripano. 8242 (VEN); Rio Sipapo, cerca de Cerro
Pelota, 22.II.2001, fl., A. Castilho & B. Camaripano. 8995 (VEN); Rio Baria, entre la boca de
la Laguna Yuruvi y Bajáiö, 07.XI.1994, bo., B. Stergios et al. (288.790 VEN); Autana, Rio
Cuao, entre Raudal del Danto e Islã Picurela, 29.I.1997, fl., A. Castilho 4488 (VEN); Autana,
Rio Cuao, entre Piedra Picure y Santa Elena, 14.VIII.1997, fr., A. Castilho 5079 (VEN);
Along Yapacana, 20.III.1953, fr., B. Maguire & J. J. Wurdack (178462 VEN); Rio Negro,
cerca Rio Pasimoni, 09.II.1981, bo., fl. E fr., O. Huber & E. Medina (107371 MG);
1. Glandonia macrocarpa Grisebach in Martius, Fl. Bras. 12(1): 24. 1858.
Type. Spruce 1090, in vicinibus Barra [Manaus], Provo Rio Negro, Amazonas, Brazil,
Dec-Mar 1850-51 (holotype GOET? isotypes GH! M, NY!).
Fig.
16
Árvores de até 25 m; ramos vegetativos glabros (? Ou bastante glabrescentes),
achatados, tornando-se cilíndricos e engrossados. Lâmina foliar (10, 11-)14-26 x (3-) 4-10
cm, fortemente obovada, base cuneada ou raramente abruptamente arredondado, ápice
acuminado, margem achatada, raras vezes fracamente revoluta, papirácea, glabra, 2(-6)
grandes glândulas abaxiais na base da lâmina, próximas à nervura central, nervuras pouco
proeminentes abaxialmente; pecíolo (7-) 8-26 mm compr., glabro; estípulas 0,8-1,8 cm
compr.. Inflorescência (13-)17-28 cm compr., appressed-tomentose, cincínios a 1-2.5 cm de
distância, 2-5 flores; brácteas e bracteolas ovadas ou elípticas, côncavas, abaxialmente
serícea, brácteas 3.5-6 mm compr., bractéolas 1.5-4 mm compr.; pedúnculo florífero 0-1(-2)
mm compr., proximamente ou completamente incluída na bractéola subsequente. Pedicelo
10-12 mm compr., appressed-tomentose. Sépalas 1.5-2 mm compr. além do elaióforo, 2-2.5
mm larg., arredondadas, abaxialmente seríceas, adaxialmente glabras, elaióforo 2-3 mm
compr.. Pétalas glabras, a mais externa no botão em forma de �capuz�: 5-5.5 x 5.5 mm, erose,
unha 5 mm compr., pétalas laterais: limbo 5.5-6.5 x 6 mm, orbicular, cordado, ± achatado,
eglandular e inteiro ou denticulado, unha 4 mm compr., pétala posterior: limbo 5 x 5 mm,
orbicular, 5-7 grandes glândulas em cada lado no 1/3-1/2 proximal, distalmente eglandular e
± inteira, reflexa na porção eglandular, unha 3.5 mm compr.. Filamentos 1.3 mm compr.,
densamente piloso; anteras 4.5-5.5 mm compr., topete de pêlos retos no conectivo somente
acima da inserção do filamento. Ovário 1.3 mm altura, piramidal, glabro; estiletes 5.5 mm
compr., subiguais, glabros, 0.5-1 mm encurvados. Fruto 20-28 mm compr., 15-18 mm diâm.,
cilíndrico tornando-se cônico-truncado, várias (15-20) nervuras desiguais, arredondadas,
longitudinais, formando rounded spurs at base.
Simplesmente atualizo as informações ou preciso dizer o que n foi dito antes, o que é novo???
É conhecida popularmente como Riteira.
Sua distribuição se restringe às proximidades de Manaus (AM-Brasil), em
ambientes...
G. macrocarpa floresce do mês de Novembro a Fevereiro, frutifica de Fevereiro a
Maio.
Material examinado: BRASIL. AMAZONAS: Manaus, XII.1901, fr., Ule? 5956(MG); São
Gabriel da Cachoeira ?, Rio Curicuriari, 13.VII.1979, fr., J. M. Poole 1982(MG); Manaus,
estrada do Aleixo, 02.XII.1942, fl., A. Ducke 63 (MG); Manaus, BR 17 - Km 21, 28.XII.1955,
fl., Luis e Francisco (110940 IAN); Manaus, Reserva Ducke, Igarapé do Acará, 27.XI.1997,
fl., P. A. C. I. Assunção 725 (IAN); Manaus, Igarapé de Santa Maria, 24.II.1956, fr., Chagas
& Dionísio (110956 IAN); Manaus, Estrada do Aleixo, 2.XII.1942, fl., A. Ducke 63 (IAN);
17
Cachoeira Baixa do Tarumã, 06.XII.1955, fl., Dionísio (92214 IAN); Manaus, Igarapé do
Crespo, 13. II.1943, fr., A. Ducke 1182 (IAN); Manaus, Igarapé do Goiabinha, 19. III. 1958,
fr., s/coletor (622 INPA); Manaus, Ponta Negra, 11. II. 1977, fr., M. F. Silva et al. 2065
(INPA); Manaus, Reserva Adolpho Ducke, Igarapé do Acará, 07. IV. 1994, fr., Ribeiro, J. E.
L. S. 1262 et al. (INPA); Manaus, BR 17 Km 17, 14. XII. 1955, fl. E bot., D. Coelho (3118
INPA); Manaus, Cachoeira baixa do Tarumã, 07. XI. 1958, fl. e bot., s/coletor (6047 INPA);
Manaus, Igarapé Santa Maria, 24. II. 1956, fr., J. Chagas & D. Coelho (3505 INPA); Manaus,
BR 17 Km 21, 28. XII. 1955, fl. e bot., L. Coelho & F. Mello (3230 INPA); Manaus, Estrada
dos Franceses, 28. XI. 1955, bot., W. Rodrigues (2979 INPA); Manaus, Cachoeira baixa do
Tarumã, 18. XI. 1955, bot., W. Rodrigues (2934 INPA); Manaus, Cachoeira baixa do Tarumã,
06. XII. 1955, fl. e bot., D. Coelho (3041 INPA); Manaus, Reserva Adolpho Ducke, Igarapé
do Acará, 27. XI. 1997, fl. e bot., P. A. C. L. Assunção 725 et al. (INPA); Manaus, Estrada
Torquato Tapajós, 01. IV. 1975, fr., A. Loureiro et al. (48328 INPA); Manaus, Rio Cuieiras,
19. XII. 1961, fl. e bot., W. Rodrigues & B. Willson 3986 (INPA); Manaus, Igapó dos riachos,
02. XI. 1929, bot., A. Ducke (16283 INPA); Manaus, Cachoeira baixa do Tarumã, 26. XII.
1962, bot. e fl.,W. Rodrigues et al. 4945 (INPA); Manaus, Rio Preto, 30. I. 1962, fr., W.
Rodrigues & J. Chagas 4168 (INPA); Manaus, Rio Negro, Rio Curicuriari, 12. VII. 1979, fr.,
L. A. Maia et al 571 (INPA);
? VENEZUELA. AMAZONAS: São José Cassiquiare, 12.XII.1945, fl., R. L. Fróes 21509
(IAN);
? Manaus, Igarapé do Goiabinha, 15.III.1958, fr., (98780 IAN);
FALTA INPA!!!!
2. Glandonia prancei Anderson, Mem. New York Bot. Gard. 32: 139. 1981
Type. Glandonia macrocarpa Grisebach.
Fig.
Lâmina foliar elípticas a obovadas, estípulas 18-24 mm compr.. Inflorescência 5-11
cm compr., cincínios a 1 cm de distância; brácteas 2-4 mm compr., bractéolas 1-3 mm
compr.; pedúnculo florífero 2-3 mm compr., pedicelo 6-8 mm compr.. et petalo postico basi
limbi perpaucis glandulis instructo. Anteras 3-3.5 mm compr..
Glandonia prancei aparentemente é uma espécie rara, já que nenhuma coleta foi
registrada desde sua descrição em 1981. A tentativa de coletá-la nas proximidades de Humaitá
não obteve sucesso. É necessário considerar o baixo esforço de coleta na Amazônia fora do
18
entorno de Manaus, devido a várias dificuldades, sobretudo logísticas. A posição taxonômica
de Glandonia prancei é delicada, diante de sua alta similaridade com G. macrocarpa
(sobreposição da grande parte dos caracteres)e a falta de informções sobre sua distribuição.
Observou-se a sobreposição de caracteres delimitantes das duas espécies como: ........
No entanto, apesar da dificuladade de se estabelecer endemismos na Amazônia, a distribuição
geográfica é a característica de maior suporte para separar tais espécies. Assim, realizar novas
tentativas de coleta é de grande importância taxonômico e para determinação de seu status de
conservação e catergoria de frequência.
Tipo. Prance, Pena & Ramos 3363, banks of Rio Ipixuna, Mun. Humaitá, Rio Madeira,
Amazonas, Brazil, 26 Nov 1966 flr. (holótipo INPA, isotipos MICH, NY):
Nomes populares-
Distribuição-
Fenologia-
Etimologia- Homenagem a Ghillean Tolmie Pranc
Material examinado: BRASIL. AMAZONAS: Igapó-Açú, BR 319, 15.III.1974, fr., G. T.
Prance et al. (18891 MG); Humaitá, Banks of Rio Ipixuna, 26.XI.1966, fl., G. T. Prance et
al. (34004 MG);
FALTA TIPOS!!!!!INPA
19
CONCLUSÕES
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem aos curadores dos herbários INPA, MG, IAN e RB, no Brasil;
pelo empréstimo de exsicatas e ao GUYN, VEN e PORT na Venezuela, COL e SINCHI na
Colômbia, pelo recebimento às visitas; ao Dr. William R. Anderson, pela valiosa contribuição
com sugestões e bibliografia. Ao IBAMA pelo apoio nas coletas, à Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de Mestrado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Appezzato-da-Glória, B.; Carmello-Guerreiro, S. M. (editoras) 2003. Anatomia Vegetal.
Viçosa, Editora UFV, Universidade Federal de Viçosa.
Judd, W.S.; Campbell, C.S.; Kellog, E.A. & Stevens, P.F. 1999. Plant systematics. A
phylogenetic approach. Massachussets, Sunderland, Sinauer Associates.
Kraus, J.E. & Arduin, M. 1997. Manual básico de métodos em morfologia vegetal. Rio de
Janeiro, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Johansen, D.A. 1940. Plant microtechnique. New York, Mc. Graw Hill Book.
Metcalfe, C.R. & Chalk, L. 1979. Anatomy of the Dicotyledons: Systematic Anatomy of
the Leaf and Stem. v.1. New York, Oxford University Press.
Metcalfe, C.R. & Chalk, L. 1983. Anatomy of the Dicotyledons: Wood Struture and
Conclusion of the General Introduction. v.2. New York, Oxford University Press.
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Anderson, W. R. 2001. Malpighiaceae. Pp. 6: 82-139. In: Missouri Botanical Garden Press
(ed.). Flora of the Venezuelan Guayana. St. Louis Missouri.
Anderson, W. R. 2004. Malpighiaceae. Pp. 229 � 232. In: The New York Botanical Garden &
Princeton University Press (ed.). Flowering Plants. Princeton, New Jersey.
Davis, C. C.; Anderson, W. R. e Donoghue, M. J. 2001. Phylogeny of Malpighiaceae:
evidence from chloroplast NDHF and TRNL-F nucleotide sequences. American Journal of
Botany. 88(10): 1830-1846.
21
CAPÍTULO II
MORFO-ANATOMIA FOLIAR EM BURDACHIA ADR. JUSS. E
GLANDONIA GRISEB. (MALPIGHIACEAE): IMPLICAÇÕES
TAXONÔMICAS
15
MORFO-ANATOMIA FOLIAR EM BURDACHIA ADR. JUSS. - GLANDONIA
GRISEB. (MALPIGHIACEAE): IMPLICAÇÕES TAXONÔMICAS
RESUMO - (Morfo-anatomia foliar em Burdachia Adr. Juss.. E Glandonia Griseb.
(Malpighiaceae): implicações taxonômicas). Burdachia A. Juss. e Glandonia Griseb. são
gêneros de árvores e arvoretas endêmicos das áreas alagáveis amazônicas. Com o intuito de
auxiliar a taxonomia destes gêneros e suas espécies, foi investigada a anatomia foliar a fim de
reunir caracteres anatômicos diagnósticos. Foram analisadas todas as espécies atualmente
reconhecidas para os grupos: B. duckei, B. prismatocarpa, B. sphaerocarpa, G. macrocarpa,
G. prancei e G. williansii. A partir da descrição anatômica dos padrões da epiderme, do
mesofilo e pecíolo foram selecionados os seguintes caracteres: presença de pêlos, sinuosidade
das paredes epidérmicas, profundidade do estômato em relação às células ordinárias, imersão
das glândulas foliares na nervura central, arranjo do mesofilo e a presença de cristais e tipo de
feixe no pecíolo.
Palabras clave: anatomia foliar, caracter diagnóstico, taxonomia, Malpighiaceae.
ABSTRACT � (Leaf morpho-anatomy of Burdachia Adr. Juss. and Glandonia Griseb.
(Malpighiaceae): taxonomyc implications Burdachia A. Juss. and Glandonia Griseb. are
endemic genera of trees and shrubs of the Amazonian flood plain. To assist the taxonomy of
these genera and their species, the leaf anatomy was investigated in order to gather characters
for anatomical diagnoses. All the recognized species, B. duckei, B. prismatocarpa, B.
sphaerocarpa, G. macrocarpa, G. prancei and G. williansii, were sudied. Based on the
anatomical descriptions of the epidermal patterns, the following characters were selected:
presence of hair, sinuosity of the epidermal walls, depth of the stomata in relation to the
ordinary cells, immersion of the leaf glands in the midrib, and the presence of crystals.
Key words: leaf anatomy, anatomical characters, taxonomy, Malpighiaceae.
1
Introdução
A família Malpighiaceae apresenta aproximadamente 1260 espécies distribuídas em
65 gêneros. Seus representantes se distribuem no Paleo, mas principalmente, no Neotrópico
(Anderson, 2004). A família é caracterizada por apresentar tricomas unicelulares, geralmente
com dois braços em forma de T, V ou Y. Suas folhas são geralmente simples opostas e
estipuladas possuindo glândulas no pecíolo ou na face abaxial do limbo (Judd 2002; Anderson
2001; 2004). A morfologia floral, em linhas gerais é bastante conservativa, por outro lado a
exibem impressionante diversidade vegetativa e na morfologia dos frutos. (...).
Burdachia A. Juss. e Glandonia Griseb. são gêneros endêmicos das áreas alagáveis
amazônicas. São árvores ou arbustos distribuídos principalmente em florestas de igapós, com
notável adaptação à dispersão aquática (Anderson, 1981). Pertenciam à subfamília
Byrsonimoideae, na tribo Byrsonimeae (Anderson, 1978). No entanto, dados moleculares e
filogenéticos desmembraram a tribo nos clados �byrsonimoide� (Byrsonima, Diacidia e
Blepharandra) sem glândulas foliares e �mcvaughioide� (Burdachia, Glandonia e Mcvaughia)
que possuem glândulas foliares (Anderson, 1981; Davis; Anderson e Donoghue, 2001).
Burdachia é composto por quatro espécies: B. williamsii, B. duckei, B. prismatocarpa
e B. sphaerocarpa (Anderson, 1981). No entanto, B. williansii foi sinonimizada devido a
sobreposição de caracteres com B. prismatocarpa (Anderson, 2001). É questionada a
existência de apenas duas ou três espécies em Burdachia (Anderson, 2001). Três espécies
disjuntas bastante similares compõem o gênero Glandonia: G. macrocarpa, G. prancei e G.
williamsii, revelando delimitações baseadas principalmente em suas distribuições geográficas
(Anderson, 1981).
Metcalf & Chalk (1950) descrevem anatomicamente a família, Soares; Servin e
Appezzato-da-Glória (1997) descrevem a anatomia foliar de Malpighia glabra, Machado
(2002) descreve anatomicamente as folhas de Banisteriopsis variabilis e as folhas de
Byrsonima sericea são descritas por Silva (1996). Contudo, em linhas gerais, estudos morfo-
anatômicos foliares como subsídio à taxonomia são escassos.
Os caracteres anatômicos são importantes evidências taxonômicas, que somadas às
demais evidências como a morfologia, palinologia, biologia reprodutiva, citogenética e dados
moleculares, resultam em delimitações menos subjetivas. Assim, o presente trabalho, busca
indicar caracteres morfo-anatômicos que auxiliem na delimitação, bem como na elucidação de
relações filogenéticas das espécies.
2
Material e Métodos
Coletas e conservação do material - Foram realizadas coletas em áreas alagáveis amazônicas
no entorno de Manaus bem como em Unidades de Conservação como o Parque Nacional do
Jaú, Estação Ecológica de Anavilhanas e Reserva Biológica Adolpho Ducke. Material foliar,
em diferentes estágios, foi fixado em FAA. Material herborizado também foi usado, após
devida reidratação.
Dados macromorfológico - As espécies foram manuseadas no herbário e no Laboratório de
Taxonomia/INPA, utilizando estereomicroscópio. A caracterização foi feita através de
observação detalhada do material herborizado e estruturas conservadas em álcool 70% e
glicerina 5%. Verificando a ocorrência e constância dos caracteres, indicando potenciais
caracteres para análise filogenética.
Dados micromorfológico � As folhas foram submetidas à dissociação das epidermes
utilizando solução de ácido acético glacial e peróxido de hidrogênio P.A. (1:1) (Kraus &
Arduin 1997). Após coloração com fucsina básica e azul de astra foram montadas as lâminas.
Também foram realizados cortes transversais em micrótomo de mesa, para caracterização do
mesofilo, detalhes da epiderme, aparelho estomático e pêlos. As lâminas obtidas foram
observadas em microscópio óptico e foram realizados registros fotográficos.
Resultados e Discussão
Morfologia foliar:
Forma e biometria da lâmina- A forma das folhas em B. prismatocarpa e B. duckei mostra
grande variação. No entanto, estas variação não são claras para delimitar duas espécies.
Variam na forma (figura 1), de .... a ...., no tamanho, de .... x ....cm e a margem pode ser
fortemente revoluta, fracamente revoluta e em raros casos é achatada. Em Glandonia,
claramente a forma da folha separa G. williamsii das demais duas espécies, se mostrando
elíptica. G. macrocarpa mostra folhas fortemente obovadas e G. prancei revela folhas
fracamente oboadas à elípticas.
Quanto a posição do par de glândulas, nas espécies de Burdachia, as glândulas se
localizam quase que inteiramente na nervura central. Em G. macrocarpa e G. prancei são
encontradas inteiramente na lâmina e em G. williamsii podem ser encontradas nas duas
condições.
Venação- Apenas em Burdachia sphaerocarpa as nervuras quaternárias não são bem
evidenciadas.
3
Anatomia foliar:
Pecíolo- De acordo com Metcalfe e Chalk (1950), o corte transversal do pecíolo de espécies
da família Malpighiaceae, revela um feixe central arqueado, podendo estar acompanhado por
pequenos feixes acessórios em posição latero-superior. Mcvaughia bahiana apresenta feixe
central arqueado acompanhado de dois feixes acessórios circulares. As espécies de Burdachia
apresentam feixe central de conformação arqueada e extremidades convolutas, aliado à feixes
acessórios circulares (1 a 3 feixes em cada lado). Glandonia macrocarpa e G. prancei
revelam feixe central circular, em anel, com dois feixes acessórios achatados. No entanto, G.
williamsii mostra feixe aberto, como em Burdachia, acompanhado por três feixes acessórios
circulares. O esquema da conformação vascular do pecíolo e sua ocorrência nas espécies é
apresentado na Figura 1.
Cristais do tipo drusas estão distribuídos por todo parênquima em B. duckei, B.
prismatocarpa ....
Lâmina foliar:
Epiderme- As espécies de Burdachia são anfiestomáticas, revelando a face adaxial da
epiderme composta por células isodiamétricas e de paredes anticlinais retas (Fig.). A cutícula
em B. prismatocarpa e B. duckei é ornamentada (Fig.) e os pêlos malpighiáceos unicelulares
são observados em ambas as faces, mais abundantemente na face abaxial (Fig.). Já B.
sphaerocarpa não apresenta ornamentação cuticular, bem como se mostra totalmente glabra
(Fig.).
Quanto à face abaxial B. prismatocarpa e B. duckei exibem células isodiamétricas de
paredes anticlinais retas, além de células epidérmicas papilosas no entorno do estômato,
incluindo as subsidiárias, impedindo a visualização do estômato (Fig.). A visualização do
aparelho estomático em corte transversal mostra que este se encontra em depressão em
relação à altura das células ordinárias (Fig.). Os pêlos estão distribuídos por toda a lâmina
(Fig.). Os estômatos paracíticos são bem visualizados na face abaxial da epiderme de B.
sphaerocarpa, de células poligonais de paredes anticlinais retas (Fig.).
Em Glandonia, G. macrocarpa e G. prancei mostram a face adaxial da epiderme
composta por células poligonais a isodiamétricas e paredes anticlinais sinuosas (Fig.). G.
williansii apresenta células poligonais de parede anticlinais retas e pêlos distribuídos por toda
lâmina. A face abaxial de G. williansii exibe epiderme papilosa, exceto na venação, os
estômatos paracíticos são visíveis, uma vez que as células subsidiárias não são papilosas
como em Burdachia (Fig.). Os tricomas se distribuem por toda lâmina, nas duas superfícies
em G. williansii, assim como em Burdachia. Em G. macrocarpa e G. prancei são
4
visualizados estômatos paracíticos e células de parede anticlinal sinuosa, os tricomas são raros
e encontrados próximos à venação.
Anderson (1981) considera alguns aspectos anatômicos, como o tipo de tricoma, em B.
prismatocarpa e B. duckei, que poderia sustentar sua separação. No entanto, foi observado
que os referidos táxons apresentam o mesmo tipo de tricoma tector, simples, malpighiáceo
curto-estipitado, apresentando variações no tamanho dos braços e pedúnculo.
Segundo Appezzato-da-Glória & Carmello-Guerreiro (2003) papilas são projeções da
parede periclinal externa de função controversa, de notável valor taxonômico, podendo estar
relacionada à reflexão de luz.
Mcvaughia bahiana possui células isodiamétricas de parede anticlinal reta na face
adaxial da epiderme. Os tricomas unicelulares se distribuem ... e apresentam pedúnculo bem
desenvolvido. Não são observados estômatos nesta face. A face abaxial da epiderme revela
células poligonais de paredes anticlinais sinuosas. Os pêlos se distribuem ... e os estômatos
são paracíticos.
A face inferior foliar de Glandonia williamsii, mostra de forma evidente suas papilas
ao estereomicroscópio, bem como Anderson (1981) documentou. No entanto, Anderson
(1981) não referencia às papilas em Burdachia como faz MetCalfe e Chalk (1950).
Segundo Metcalfe e Chalk (1950), a sinuosidade das paredes anticlinais na epiderme, é
um caráter bastante influenciado pelo ambiente. No entanto, este caracter não variou
intraespecificamente em amostras de diferentes localidades e hábitats (beira de rio, lago,
igarapé e clareira) e diferentes estágios de crescimento.
Anderson (2001) questiona a existência de três ou duas espécies em Burdachia. Como
foi verificado, B. prismatocarpa e B. duckei não mostram diferenças na anatomia foliar.
Indicando que poucos caracteres sustentam esta separação, podendo se tratar de um complexo
de variações prismatocarpa. Metcalfe & Chalk (1950) afirmam que ornamentações cuticulares
podem servir como excelentes características diagnósticas, mas seu significado sistemático
acima do nível de espécie é limitado.
Figura 1: Tipos de feixes peciolar em Burdachia-Glandonia. A- Feixe...., encontrado em ....; B- Feixe...,encontrado em:
5
Figura .: Face abaxial da epiderme em Burdachia
sphaerocarpa. São evidenciadas as células não papilosas a ausência de tricomas e cicatrizes. É observado o aparelho estomático do tipo paracítico. Barra = 4 µm.
6
C
Figura . : Face abaxial da epiderme em G. williamsii. São observadas papilas por toda a lâmina. C = cicatriz do tricoma; seta = aparelho estomático paracítico. Barra= 10 µm.
Figura..: Face abaxial da epiderme em G.
macrocarpa. São observadas células não papilosas, de parede anticlinal sinuosa. Observa-se também os estômatos paracítico. Barra = 10 µm.
7
Tabela 1: Caracteres anatômicos variáveis nas espécies de Burdachia - Glandonia.
1 2 3 4 5 6
Cutícula ornamentada na face adaxial da epiderme + + + - - -Células epidérmicas abaxial de paredes anticlinais retas + + + + - -Células epidérmicas abaxial de paredes anticlinais sinuosas - - - - + +Tricomas na epiderme + + - + + +Tricomas por toda a lâmina + + - + - -Tricomas restritos às nervuras - - - - + +Células papilosas na face abaxial da epiderme + + - + - -Aparelho estomático com células subsidiárias papilosas + + - - - -Aparelho estomático em depressão + + - + - -Feixe peciolar principal aberto + + + + - -Feixe peciolar principal fechado (em anel) - - - - + +Glândula foliar na área estomática - - - - + +Glândula foliar na área da nervura central + + + + - -Textura foliar papirácea - - - - + +Textura foliar coreácea + + + + - -
1. Burdachia duckei Steyerm., 2. Burdachia prismatocarpa A. Juss., 3. Burdachia sphaerocarpa A. Juss., 4.Glandonia williamsii Steyerm., 5. Glandonia macrocarpa Griseb. e 6. Glandonia prancei Anderson. 0 =ausente; 1 = presente.
Conclusões
Os resultados mostram que caracteres anatômicos podem ser usados de maneira eficaz
no auxílio à delimitação em nível genérico e específico de Burdachia e Glandonia. Os
caracteres que se destacam em seu valor taxonômico são: cutícula ornamentada, presença de
tricomas, sinuosidade das paredes epidérmicas, profundidade do aparelho estomático em
relação às células ordinárias, presença de células papilosas, localização das glândulas foliares
na lâmina, tipo de mesofilo, tipo de feixe do pecíolo e a presença de cristais no pecíolo.
No entanto, os caracteres anatômicos não elucidaram a delimitação de espécies muito
próximas como B. prismatocarpa e B. duckei bem como G. macrocarpa e G. prancei. Desta
forma, a delimitação de tais espécies é delicada, uma vez que morfologicamente poucos
caracteres sutentam o estatus de espécie. O dado de maior relevância para circunscrição destes
grupos é a distribuição geográfica.
São identificados caracteres de potencial utilização em análises cladísticas do grupo.
Referências bibliográficas
Appezzato-da-Glória, B.; Carmello-Guerreiro, S. M. (editoras) 2003. Anatomia Vegetal.
Viçosa, Editora UFV, Universidade Federal de Viçosa.
EspéciesCaracteres
8
Judd, W.S.; Campbell, C.S.; Kellog, E.A. & Stevens, P.F. 1999. Plant systematics. A
phylogenetic approach. Massachussets, Sunderland, Sinauer Associates.
Kraus, J.E. & Arduin, M. 1997. Manual básico de métodos em morfologia vegetal. Rio de
Janeiro, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Johansen, D.A. 1940. Plant microtechnique. New York, Mc. Graw Hill Book.
Metcalfe, C.R. & Chalk, L. 1979. Anatomy of the Dicotyledons: Systematic Anatomy of
the Leaf and Stem. v.1. New York, Oxford University Press.
Metcalfe, C.R. & Chalk, L. 1983. Anatomy of the Dicotyledons: Wood Struture and
Conclusion of the General Introduction. v.2. New York, Oxford University Press.
Anderson, W. R. 1978 [�1977�]. Byrsonimoideae, a new subfamily of the Malpighiaceae.
Leandra. 7: 5-18.
Anderson, W. R. 1981. Malpighiaceae. In The Botany of the Guayana Highland-Part XI.
Memorirs of the New York Botanical Garden. 32: 137-147
Anderson, W. R. 2001. Malpighiaceae. Pp. 6: 82-139. In: Missouri Botanical Garden Press
(ed.). Flora of the Venezuelan Guayana. St. Louis Missouri.
Anderson, W. R. 2004. Malpighiaceae. Pp. 229 � 232. In: The New York Botanical Garden &
Princeton University Press (ed.). Flowering Plants. Princeton, New Jersey.
Davis, C. C.; Anderson, W. R. e Donoghue, M. J. 2001. Phylogeny of Malpighiaceae:
evidence from chloroplast NDHF and TRNL-F nucleotide sequences. American Journal
of Botany. 88(10): 1830-1846.
9
CAPÍTULO III
DISPERSÃO AQUÁTICA EM MALPIGHIACEAE: ASPECTOS
MORFO-ANATÔMICOS DOS FRUTOS NOS GÊNEROS
AMAZÔNICOS BURDACHIA ADR. JUSS. E GLANDONIA GRISEB.
10
DISPERSÃO AQUÁTICA EM MALPIGHIACEAE: DESCRIÇÃO MORFO-
ANATÔMICA DOS FRUTOS NOS GÊNEROS AMAZÔNICOS
BURDACHIA ADR. JUSS. E GLANDONIA GRISEB.
RESUMO
ABSTRACT
1
Introdução
A família Malpighiaceae abrange aproximadamente 65 gêneros com cerca de 1.260
espécies, Paleoptropicais e principalmente Neotropicais. O Brasil detém o maior número de
espécies, ocorrentes sobretudo nos cerrados. Compreende espécies de distribuição bastante
ampla à espécies endêmicas, restritas à pequenas regiões. Estas espécies habitam os mais
diversos hábitats, incluindo ambientes úmidos como a Amazônia (Anderson, 2004).
As espécies de Malpighiaceae mostram uma extensa variedade morfológica dos frutos
e diante do alto conservatismo floral, devido à pressão seletiva do polinizador, contemplam a
base da classificação (Anderson, 2004). Assim, a interpretação dos caracteres frutíferos em
Malpighiaceae é de suma importância, já que esta unidade reprodutiva em grande parte dos
táxons suporta claramente as delimitações. Podem variar entre esquizocarpáceos (samarídios e
cocas), nucóides (núculas) e drupóides (nuculânio) (Barroso et al., 2004).
A dispersão aquática ocorre quando sementes ou frutos são levados pela água da
chuva ou carregados em corpos d�água. Estas estruturas são frequentemente pequenas, secas e
duras, e podem apresentar espinhos ou projeções como estruturas de ancoragem, apresentando
camada impermeável ou de densidade baixa, conferindo a habilidade de flutuar (Judd, 2002).
Áreas alagadas amazônicas como Igapós e igarapés de Terra Firme, abrigam dois
gêneros endêmicos de Malpighiaceae: Burdachia Adr. Juss. e Glandonia Griseb. Logo, seus
frutos revelam evidentes adaptações à dispersão aquática, como acessórios de dispersão e
tecidos aeríferos que garantem a flutuação (Anderson, 1981).
No entanto, a unidade de dispersão em Malpighiaceae é foco de raros trabalhos
referentes à anatomia (Paoli, 1977), para os referidos táxons estes dados são inexistentes.
Assim, este trabalho destina-se a documentar os padrões morfo-anatômicos observados nos
frutos das espécies dos gêneros Burdachia e Glandonia, a fim de relacioná-los à síndrome de
dispersão bem como diferenciá-los taxonomicamente.
Material e métodos
Coleta dos frutos - Foram realizadas coletas de frutos em áreas alagadas próximas à Manaus e
fixados em álcool 70% glicerinado. Material herborizado, após tratamento com
polietilenoglicol por 48 horas, também foi utilizado.
Estudo morfológico � Foram realizadas observações em estereomicroscópio a partir do
material disponível, fixados em FAA e conservados em etanol 70%, frescos ou herborizado.
2
A partir de coleções dos herbários INPA, MG, IAN, RB, VEN, GUYN, PORT, COL e
SINCHI, de acordo com as siglas estabelecidas no Index Herbariorum (Holmgren et al. 1990),
foram realizadas medidas de dimensões dos frutos, para então calcular a média aritmética, o
desvio-padrão e a amplitude de variação. A descrição dos frutos foi baseado na terminologia
adotada pela literatura botânica pertinente. Com o intuito didático foram realizados desenhos
esquemáticos em nanquim.
Estudo anatômico � Os procedimentos anatômicos foram realizados no Laboratório de
Botânica Agroflorestal-LABAF/UFAM. Os frutos foram submetidos à desidratação através de
série etanol-butanol, para então serem emblocados em parafina (Kraus & Arduin, 1997 ). Os
cortes foram confeccionados em micrótomo automáticorotativo, a uma espessura de 9 �m. Os
cortes foram então previamente tratados em xilol, para serem corados em Astrablau e Fucsina
básica (Patino, 1986) e, por fim, foram montados em bálsamo do Canadá. Cortes
paradérmicos à mão livre também foram realizados. O laminário foi observado e
fotomicrografados ao microscópio óptico Axioskop.
Resultados e discussão
Segundo Barroso et al. (2004), a núcula é um tipo de fruto nucóide, os quais
apresentam o maior número de acessórios que qualquer outro tipo de fruto. Tais acessórios,
relacionados à adaptações e síndrome de dispersão, podem se originar da parede do ovário, do
receptáculo, do cálice e brácteas ou ainda os estiletes persistem em forma de gancho. A forma
dos frutos nucóides é variada, e a superfície pode ser lisa, pilosa, cerdosa ou equinada.
Desta maneira, observou-se apêndices de dispersão nos frutos de B. prismatocarpa, B.
duckei, que mostram nervuras desenvolvidas como cristas longitudinais, unidas na base do
fruto formando um cinturão. Tais cristas se desenvolvem como extensão da parede do ovário.
As espécies de Glandonia apresentam extensões arredondadas do ovário, delimitadas por
sulcos longitudinais.
Todas estas características muito provavelmente estão relacionadas à hidrodinâmica de
dispersão destas unidades. Os frutos indeiscentes e secos, comumente apresentam asas,
uncinos, pêlos e outros apêndices desenvolvidos, formando um aparelho facilitador da
dispersão. Plantas aquáticas ou de beiras de corpos d�água, podem apresentar tecidos de
futuação em seus frutos (Barroso et al., 2004). É cogiatada a possível homologia de tais
estruturas com os apêndices de dispersão das sâmaras nos frutos alados, condição mais
derivada entre as Malpighiaceae (Anderson, 1981).
3
A núcula é o fruto de espaço central amplo, não dividido em lóculos, apresentando ou
não cálice acrescente, raramente com cálice ou hipanto caduco, apresentando única semente
(Barroso et al., 2004). A núcula em Burdachia e Glandonia possui apenas uma semente e os
lóculos dos carpelos são diferencialmente desenvolvidos. A semente única preenche o lóculo
mais desenvolvido, sendo este acompanhado por dois outros lóculos, ambos colapsados, um
deles um pouco mais desenvolvido.
Barroso et. al. (2004), descreve as núculas de Burdachia e Glandonia, o que vai de
encontro com o observado neste estudo. Em Burdachia a núcula é piramidal angulosa, ou
ovóide, terminando em um rostro levemente encurvado ou não. A núcula em Glandonia é
oblonga, sulcada longitudinalmente revelando ápice umbonado.
O fruto maduro de Lophanthera lactescens Ducke, é esquizocarpáceo e constituído por
três cocas. O epicarpo é constituído por epiderme uniestratificada e mostra cutícula espessa,
estriada e impregnada por substâncias graxas. O mesocarpo é formado por células
parenquimáticas relativamente grandes, revelando idioblastos com drusas de oxalato de cálcio
e canais laticíferos. A última camada de células do mesocarpo contém cristais prismáticos de
oxalato de cálcio solitários. O endocarpo se separa do mesocarpo por uma cutícula e é
constituído por esclereides e fibras de paredes espessas, pontuadas e lignificadas. Tais fibras
se dispõem paralela ou transversalmente em relação ao lóculo (Paoli, 1977).
Burdachia duckei
Burdachia prismatocarpa
Burdachia sphaerocarpa
Glandonia macrocarpa
Glandonia prancei
Glandonia williansii
M= Média aritmética; D.P.= Desvio padrão e A.V.= Amplitude de variação.
Referências bibliográficas
DimensõesComprimento (mm) Diâmetro (mm)
M MD.P. D.P.A.V. A.V.
Espécies
4
Appezzato-da-Glória, B.; Carmello-Guerreiro, S. M. (editoras) 2003. Anatomia Vegetal.
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5
CAPÍTULO IV
ANÁLISE CLADÍSTICA DOS GÊNEROS
MCVAUGHIA W. R. ANDERSON + BURDACHIA ADR. JUSS. -
GLANDONIA GRISEB.: BASEADA EM DADOS MORFOLÓGICOS
48
ANÁLISE CLADÍSTICA DOS GÊNEROS
MCVAUGHIA W. R. ANDERSON + BURDACHIA ADR. JUSS. - GLANDONIA
GRISEB.: BASEADA EM DADOS MORFOLÓGICOS
RESUMO
A família Malpighiaceae, possui aproximadamente 1260 espécies em 65 gêneros, distribuídas
no Paleo e sobretudo no Neotrópico. A família tem seu centro de diversidade na América do
Sul. Áreas alagadas da Amazônia abrigam dois pequenos gêneros endêmicos: Burdachia e
Glandonia de frutos não alados, compreendendo 3 espécies cada. A espécie irmã destes
grupos é Mcvaughia bahiana, endêmica de Caatingas do estado da Bahia. Análises
filogenéticas com base em dados moleculares de seqüências de DNA confirmam que M.
bahiana + Burdachia e Glandonia formam um clado monofilético com forte suporte (100% de
bootstrap). O presente trabalho tem como objetivo analisar cladisticamente as espécies do
grupo M. bahiana + Burdachia e Glandonia. Para tanto, foram examinados 9 táxons e 45
caracteres morfológicos. As análises foram sob o critério de parcimonia. Os resultados
mostram o monofiletismo dos gêneros Burdachia e Glandonia, com bons suportes. As
sinapomorfias ...... (paralelismo com...).
ABSTRACT
48
Introdução
A família Malpighiaceae contém aproximadamente 1260 espécies em 65 gêneros
ocorrentes no Novo e Velho Mundo. O Brasil é um importante centro de diversidade para a
Família. Os gêneros Burdachia e Glandonia ocorrem em áreas alagadas da Amazônia
Brasileira, Venezuelana, Colombiana e Peruana.
O gênero Burdachia foi descrito por Adr. Jussieu (1940). Niendenzu (1966) classifica
três espécies: B. atractoides, B. prismatocarpa e B. sphaerocarpa. Anderson (1981), após
descrições de B. williansii e B. duckei por Steyermak, considera quatro espécies para o
gênero: B. prismatocarpa, B. sphaerocarpa, B. duckei e B. williansii sinonimizando B.
atractoides com B. sphaerocarpa e denominando a variedade B. sphaerocarpa var glandifera.
Anderson (2001) sinonimiza B. williansii com B. prismatocarpa e em mesmo trabalho, B.
sphaerocarpa var glandifera perde seu estatus de variedade. Por fim, é lançada a seguinte
questão: O gênero Burdachia é composto por três ou duas espécies?
Glandonia foi descrito por Grisebach (1858). Anderson (1981) classifica três espécies
disjuntas compõem o gênero Glandonia: G. williamsii, G. prancei e G. macrocarpa, sendo as
duas últimas extremamente semelhantes. Distribuem-se respectivamente no Rio Orinoco e
alto Rio Negro - Venezuela e Brasil, no alto Rio Purus e Madeira - Brasil e no entorno do
município de Manaus - Brasil (Anderson, 1981).
Mcvaughia é um gênero monotípico, composto pela espécie M. bahiana. Foi descrita
por Anderson (1979). Esta espécie apresenta características exclusivas na família e mostra
similaridade morfológica com as espécies de Burdachia. É encontrada em Caatingas do
estado da Bahia (Brasil).
Anderson (1978) classifica os gêneros na subfamília Byrsonimoideae. A subfamília é
dividida em três tribos Byrsonimeae (Byrsonima, Diacidia, Blepharandra, Burdachia e
Glandonia), Galphimieae (Galphimia, Verrucularia, Lophanthera e Spachea) e
Acmanthereae (Acmanthera, Pterandra e Coleostachys) de maneira geral, Byrsonimoideae
corresponde à classificação sensu Niedenzu (1928) (Anderson, 1979; Cameron et al., 2001).
Dados moleculares revelam o monofiletismo da tribo Gaudichaudieae sensu
Hutchinson (1967) e das tribos da subfamília Byrsonimoideae sensu Anderson (1978):
Acmanthereae e Galphimieae. No entanto a tribo Byrsonimeae não mostrou monofiletismo e
foi dividida nos clados byrsonimoide (Byrsonima, Diacidia e Blepharandra) sem glândulas
foliares e mcvaughioide (Burdachia, Glandonia e Mcvaughia) com glândulas foliares. Logo,
1
o monofiletismo de Byrsonimoideae é fortemente rejeitado (Davis, 2001; Cameron et al.,
2001).
Estudos filogenéticos baseados em dados de seqüência de DNA utilizam apenas três
espécies: M. bahiana, B. sphaerocarpa e G. macrocarpa. Estes dados apontam M. bahiana +
Burdachia - Glandonia como um grupo monofilético com forte suporte (100% de bootstrap).
Logo, o objetivo principal traçado neste trabalho é investigar as relações filogenéticas
entre as espécies de Mcvaughia bahiana + Burdachia � Glandonia, baseada em dados
morfológicos.
Material e Métodos
Caracteres: Foram levantados 46 caracteres morfológicos, dentre estes oito são anatômicos,
levantados à partir de análise do material herborizado e coletado. Seguiu-se a terminologias
de Anderson (2001; 2004) e para dados anatômicos Fahn. Dados anatômicos foliares foram
obtidos à partir de laminário confeccionado através da dissociação das epidermes em solução
de Ácido Acético e Peróxido de Hidrogênio (1:1). Os frutos foram emblocados em parafina e
secccionados em micrótomo automáticorotativo à espessura de 9 �m. Ambas técnicas foram
coradas em Astrablau e Fucsina Básica.
Grupos externos: Os grupos externos foram escolhidos de acordo com a proximidade das
espécies e o número de características em comum, de acordo com Cameron et al. 2001. Desta
forma elegeu-se Lophanthera longifolia e Barnebya dispar como os grupos externos.
Análise de dados: O cladograma foi obtido após determinação dos estados de caráter através
da comparação com os grupos externos. A análise filogenática utilizou critério de parcimônia
(Fitch 1971), utilizando o software PAUP versão 4.0b. 10 (Swofford, 2002). Foram geradas
ávores à partir de busca heurística, realizada com 1000 replicações aleatórias (random
stepwise addition) usando o algoritmo TBR (tree bissection-reconnection). À partir das
árvores mais parcimoniosas foi calculada a árvore de estrito consenso. Os índices de
consistência (CI) e de retenção (RI) foram calculados. Os suportes dos clados foram
adquiridos a partir do valor de bootstrap (Felsenstein, 1985), com 1000 replicações. Na
matrix de dados (Apêndice 1) foram considerados caracteres não ordenados e de mesmo peso
e condições de caráter não conhecido ou não aplicáveis foram indicadas por �?�.
2
Resultados e Discussão
Caracteres: A matrix morfológica, foi elaborada de acordo com os caracteres listados e
descritos a seguir.
1. Cutícula ornamentada adaxialmente: (0) ausente; (1) presente. A cutícula ornamentada é
evidenciada em todas as espécies de Burdachia e G. williamsii.
2. Parede anticlinal das células epidérmicas da face adaxiais: (0) retas; (1) sinuosas. Apenas
espécies de Glandonia mostraram paredes anticlinais sinuosas nas células da face adaxial da
epiderme, as demais espécies se mostram retas.
3. Parede anticlinal das células epidérmicas da face abaxiais: (0) sinuosas; (1) retas. As
espécies de Burdachia juntamente à G. williamsii, revelam paredes anticlinais retas nas
células da face abaxial da epiderme, as demais espécies se mostram sinuosas.
4. Distribuição dos tricomas adaxiais: (0) restrito à nervação; (1) por toda a lâmina.
5. Distribuição dos tricomas abaxiais: (0) restrito à nervação; (1) por toda a lâmina
6. Epiderme abaxial papilosa: (0) ausente; (1) presente. São observadas células papilosas na
face abaxial das espécies B. prismatocarpa, B. duckei e G. williamsii. O que resulta em
estômatos localizados abaixo da altura das células ordinárias.
7. 1 par de glândulas na base da lâmina foliar: (0) ausente; (1) presente. As espécies de
Mcvaughia, Burdachia e Glandonia apresentam 1 par de glândulas na base foliar. Em
Mcvaughia bahiana, uma das glândulas é ligeiramente menor. Nas espécies de Burdachia e
G. williamsii, as glândulas se localizam quase que inteiramente na nervura central. Em G.
macrocarpa e G. prancei são encontradas inteiramente na lâmina.
8. Glândulas dispersas distalmente na lâmina: (0) ausente; (1) presente. Espécies de
Burdachia somadas à G. williamsii, revelam ao longo da lâmina, pequenas glândulas
impressas, na maioria das vezes concentrada nas proximidades da nervura central.
9. Textura foliar: (0) papirácea; (1) coriácea. Com exceção das espécies de Burdachia e G.
williamsii, todas as demais espécies apresentam consistência foliar papiráceae.
10. Venação secundária: (0) curva; (1) reta. Todas as espécies apresentam a venação
secundária curva entre si. As espécies de Burdachia juntamente com G. williamsii, possuem
nervuras secundárias fortemente paralelas entre si.
11. Margem foliar: (0) achatada; (1) revoluta. As margens achatadas são encontradas nas
folhas dos grupos externos, L. longipholia, B. dispar, bem como em G. macrocarpa e G.
prancei. As demais espécies possuiem margem foliar revoluta.
3
12. Feixe principal do pecíolo: (0) aberto; (1) fechado em anel. Apenas em G. macrocarpa e
G. prancei o feixe peciolar principal é circular, fechado em anel. O tipo de feixe aberto é
encontrado nas demais espécies.
13. Número de feixes acessórios no pecíolo (de cada lado): (0) 1; (1) 2; (2) 3. A forma do
feixe acessório achatada só é encontrada em G. macrocarpa e G. prancei. Em todas as outras
espécies são encontrados feixes acessórios de forma circular.
14. Indumento na face adaxial da estípula: (0) ausente; (1) presente.
15. Indumento na face abaxial da estípula: (0)presente; (1) ausente
16. Estípulas: (0) persistentes; (1) caducas. Grande parte das espécies apresentam estípulas
persistentes, apenas as espécies de Glandonia possuem estípulas caducas. Elas se partem
longitudinalmente antes da queda. Importante pontuar que B. díspar não é estipulada.
17. Estípulas: (0) intrapeciolar; (1) interpeciolar. A estípula também pode variar como
intrapeciolar, em L. longifólia, B. díspar, M. bahiana e nas espécies de Burdachia. Nas
espécies de Glandonia as estípulas são interpeciolares.
18. Estípulas: (0) livres; (1) conadas. Ainda quanto às estípulas, estas podem ser livres em L.
longifólia, M. bahiana e nas espécies de Glandonia. As espécies de Burdachia revelam
estípulas conadas. r
19. Forma da estípula: (0) orbicular à triangular; (1) linear. Apenas as espécies de Glandonia
possuem estípulas lineares.
20. Indumento no ramo: (0) piloso; (1) glabro.
21. Forma da base foliar: (0) cuneada; (1) arredondada.
22. Inflorescência: (0) terminal; (1) axilar. A inflorescência termianla é encontrada em todas
as espécies estudadas, exceto nas espécies de Burdachia, que apresentam inflorescências
axilar.
23. Inflorescência: (0) simples; (1) ramificada. A inflorescência pode ser simples como nas
espécies de Glandonia, L. longifolia, b. dispar e M. bahiana, já em Burdachia é ramificada
em vários eixos, ou ainda em B. sphaerocarpa pode ser simples ou ramificada.
24. Estigma: (0) apical; (1) interno. Uma característica marcante em Malpighiaceae é o tipo
de estigma, em grupos menos derivados são apicais como em L. longifolia, b. dispar e as
espécies de Glandonia, ou são fracamente internos como em M. bahiana e as espécies de
Burdachia.
25. Estilete: (0) reto; (1) curvo no ápice. O estilete das flores, após a antese, são retos em
todas as espécies, exceto em Glandonia onde as espécies, motram estiletes dobrados no ápice.
26. Pétala mais externa recobrindo as demais no botão floral: (0)ausente (1) presente.
4
27. Pétala em forma de capacete: (0) ausente; (1) presente. A pétala mais externa no botão
floral exibe forma de capacete apenas nas espécies de Glandonia, o que dá o aspecto
piramidal ao botão.
28. Pétala glandulada: (0) ausente; (1) presente. Em M. bahiana e nas espécies de Burdachia e
Glandonia uma das pétalas apresenta glândulas no limbo. Estas podem ser rudimentares,
estipitadas, ou sésseis, podendo estar em todo limbo ou restritas à base.
29. Base das pétalas laterais: (0) arredondada; (1) sagitada. Em todas as espécies aqui
apresentadas, as pétalas laterais mostram base arredondada, já nas espécies de Glandonia, a
base é sagitada.
30. Cor das pétalas laterais: (0) amarela; (1) rosa; (2) brancas. As pétalas laterais possuem
coloração amarela nos grupos externos e em M. bahiana, em Burdachia mostram coloração
rosa e em Glandonia são brancas.
31. Cor da pétala posterior (estandarte): (0) amarela; (1) branca-esverdeada. Em todas as
espécies a cor da pétala posterior (estandarte) é amarela, exceto nas espécies de Burdachia,
onde são branca-esverdeadas.
32. Indumento no ovário: (0) ausente; (1) presente. O ovário é glabro em L. longifolia em B.
sphaerocarpa e nas espécies de Glandonia, as demais espécies mostram ovário piloso.
33. Filamentos: (0) iguais; (1) distintos. Em L. longifolia e nas espécies de Glandonia, os
filamentos possuem o mesmo tamanho, nas demais podem variar sendo os maiores opostos às
sépalas e os menores opostos às pétalas, como em Burdachia, ou completamente distintos em
m. bahiana.
34. Indumento no filamento: (0) ausente; (1) presente. É observada a presença de pêlos no
filamento apenas nas espécies de Glandonia.
35. Conectivo expandido: (0) ausente; (1) presente. É observado um conectivo expandido de
forma carnosa, apenas nas espécies de Burdachia. Esta expanção pode ser arredondada nas
anteras opostas às pétalas e obovadas nas opostas às sépalas.
36. Expansão do lóculo em duas estruturas filamentosas: (0) ausente; (1) presente. Nas
espécies de Glandonia, o lóculo expande de forma à exibir duas estruturas filamentosas além
do conectivo.
37. Fruto: (0) tricoca; (1) samarídeo; (2) núcula. Os frutos do tipo tricoca são observados em
L. longifolia, as sâmaras são a unidade de dispersão em B. dispar. A núcula é encontrada em
todas as espécies de Burdachia, Glandonia e em M. bahiana.
38. Lóculos no fruto não colapsados: (0) 3; (1) 2; (2) 1. Nos grupos externos todos os lóculos
do fruto não são colapsados, em M. bahiana dois lóculos não se colapsam, apenas um deles.
5
Em Burdachia e Glandonia dois lóculos se colapsam e apenas um permanece não colapsado.
O colapso do lóculo ocorre devido ao aborto do óvulo.
39. Mericarpos dispersos separadamente: (0) presente; (1) ausente. Apenas nos grupos
externos, os mericarpos são dispersos separadamente.
40. Fibras no fruto: (0) ausente; (1) presente. Análises anatômicas do fruto revelam fibras
apenas nas espécies de Burdachia e Glandonia.
41. Glândula impressa na bractéola: (0) ausente; (1) presente. As bractéolas em M. bahiana e
nas espécies de Burdachia e Glandonia mostram uma grande glândula impressa
abaxialmente.
42. Número de sementes no fruto: (0) 3; (1) 1. Nos grupos externos os frutos possuem 3
sementes, já em M. bahiana, Burdachia e Glandonia os frutos são preenchidos por apenas 1
semente.
Caracteres excluídos:
Alguns caracteres não se mostraram informativos na análise cladística, uma vez que
são caracteres autapomórficos, o que impossibilita comparação com os grupos externos, e/ou
demais taxas.
Quanto ao hábito, o grupo �macvoid� neotropical da tribo Dorstenieae é composto
apenas por plantas de hábito lenhoso, são observadas árvores de grande porte como B.
parinarioides e arvoretas como B. gaudichaudii e H. sprucei. Apenas o gênero Dorstenia
apresenta hábito herbáceo.
A forma da folha por apresentar grande plasticidade intraespecífica não foi incluída na
análise, no entanto em L. longifolia as folhas são ....., em B. dispar são ..., M. bahiana
mostram ...
As nervuras quaternária não são evidentes apenas em B. sphaerocarpa, nas demais
espécies são completamente evidentes. Bem como somente B. sphaerocarpa não apresenta
indumento.
A epiderme abaxial papilosa também exibe vairações quanto à sua distribuição em
toda lâmina como em G. williamsii, ou restritas às proximidades do aparelho estomático em
B. prismatocarpa e duckei. Apenas B. prismatocarpa e duckei mostra as células subsidiárias
também levemente papilosas, impedindo a visualização das células guarda e ostíolo.
Apenas L. longifolia mostra um par de glândulas no pecíolo, de coloração amarelada.
Esta espécie ainda revela glândulas longo-estipitadas na bractéola.
6
B. dispar é uma das exceções quanto à filotaxia foliar em Malpighiaceae, suas folhas
são alternas ou sub-opostas. Outro caracter excluivo é a posição dos elaióforos do cálice que
se extendem no pedúnculo floral.
Quanto ao par de glândulas na face abaxial foliar, em M. bahiana, bem como nas
espécies de Burdachia estão localizadas quase inteiramente na área da nervura central. Já em
G. macrocarpa e G. prancei, as glândulas ocupam inteiramente a lâmina, na área de maior
densidade estomática. Em G. williamsii, é observada ambas condições.
M. bahiana, apresenta importantes autapomorfias como a peculiar aparência tetrâmera
floral, uma vez que as duas pétalas laterias (anteriores?) permanecem acopladas uma à outra
após a antese. O androceu é composto por estames distintos, onde os filamentos possuem
tamanhos diferentes. A deiscência da antera é incomum, em forma de ferradura. Os frutos são
extremamente característicos possuindo tecido oleífero.
A pétala posterior (estandarte), em M. bahiana, possui poucas glândulas rudimentares,
na base do limbo. Nas espécies de Burdachia, B. spahaerocarpa mostra grandes glândulas
estipitadas na base do limbo e pequenas glândulas sésseis distalmente, seguindo até o ápice ou
não. Em B. prismatocarpa e duckei, as glândulas são bem desenvolvidas até o ápice ou não.
Também foram observado indivíduos onde uma das pétalas laterais também desenvolveu
glândulas no limbo. Nas espécies de Glandonia as glândulas não estipitadas se distribuem no
1/3 proximal do limbo, distalmente são egladulares.
A morfologia do fruto entre os grupos é bastante distinta, o que impossibilitou a
delimitação segura de estruturas homólogas. Burdachia prismatocarpa e duckei possuem
frutos de impressionante adaptação à dispersão aquática, uma vez que desenvolvem nervuras
longitudinais como cristas que se extendem até à base, formando estruturas de ancoragem. B.
sphaerocarpa não mostra apêndices, a parede dos frutos é completamente lisa, contudo, são
adaptadas anatomicamente à dispersão aquática. As espécies de Glandonia também estão
adaptadas à dispersão aquática. No entanto, os apêndices são menos desenvolvidos e mostram
forma arredondada, delimitando sulcos longitudinais. G. williamsii mostra poucos sulcos e G.
macrocarpa possui vários sulcos.
O número de flores no cincínio
Análise cladística: A análise cladística utilizou 45 dados morfológicos gerando 8.126 árvores
igualmente parcimoniosas, com 139 passos, Índice de Consistência (IC) = 0,38 e Índice de
Retenção (IR) = 0,49. A árvore de consenso estrito mostra provável relacionamento entre as
espécies (Fig.).
7
Mapeamento dos caracteres morfológicos na árvore: Todos os caracteres morfológicos se
apresentaram homoplásicos quando traçados sobre a topologia da árvore mais parcimoniosa
de estrito consenso gerada a partir de dados moleculares, devido a mudanças dentro e fora dos
clados formados e à baixa resolução apresentada entre as espécies.
Os caracteres que se distribuem no clado A, formado pelas espécies M. bahiana e as
espécies dos gêneros Burdachia e Glandonia são: estípula unida (caráter 1), totalmente
amplexicaule (caráter 2), presença de escamas no pecíolo (caráter 3) com exceção de B.
longifolium e látex branco (caráter 6), o qual também é observado no grupo externo Dorstenia
brasiliensis e em B. costaricanum, B. gaudichaudii e B. alicastrum, pertencentes ao clado B.
As espécies de Brosimum do clado B, B. guianensis e B. acutifolium e a espécie B.
lactescens apresentam látex amarelo e estípula livre não amplexicaule.
Há ocorrência de látex castanho-claro nas espécies Trymatococcus amazonicus e
Helianthostylis sprucei e no grupo externo Sorocea muriculata.
Todas as espécies do clado A e as espécies B. guianensis e B. alicastrum do clado B
apresentam a face adaxial e a nervura central da lâmina foliar glabras (carateres 7 e 8), estes
caracteres podem ser uma sinapomorfia para o grupo.
Já as espécies B. acutifolium, B. costaricanum e B. gaudichaudii do clado B, apresentam
indumento puberulento na face adaxial da lâmina foliar e na nervura central.
Além dos caracteres já mencionados, os caracteres morfológicos vegetativos que
suportam o agrupamento das espécies irmãs B. parinaroides e B. potabile dentro do clado A,
é a formação de aréolas na face adaxial da lâmina foliar (caráter 13), o qual também é
observado em B. lactescens e B. gaudichaudii. Nestas, as nervuras secundárias são reticuladas
(caráter 14), contudo, a maior parte das espécies que não possuem aréolas também apresentam
nervuras secundárias reticuladas. Assim, este caráter evoluiu independentemente duas vezes
dentro do gênero Brosimum e pode ser considerado uma sinapomorfia para as espécies irmãs.
Nervuras secundárias e terciárias impressas na face abaxial da folha (caráter 15) são
observados em três espécies do clado A, B. rubescens, B. utile e B. potabile e em B.
guianensis do clado B.
Entre os caracteres anatômicos, o formato das células epidérmicas da face abaxial da
lâmina foliar é poligonal (caráter 16) para as todas espécies de Brosimum do clado A, com
exceção de B. potabile, B. guianensis e B. alicastrum do clado B, os quais apresentam células
epidérmicas isodiamétricas, sendo este um caráter plesiomórfico para o grupo.
8
As paredes das células epidérmicas apresentam-se levemente sinuosas (caráter 17) em
B. melanopotamicum e B. lactescens, enquanto todas as outras espécies de Brosimum
pertencentes aos dois clados apresentam-se retas. As paredes das células epidérmicas da
lâmina adaxial das espécies de Helianthostylis e Trymatococcus são isodiamétricas e
apresentam-se profundamente sinuosas a ponto das células serem separadas uma das outras, o
qual pode ser considerado uma sinapomorfia para os dois gêneros. (figura 1).
Segundo Appezzato da Glória & Carmello-Guerreiro (2003), a sinuosidade da parede,
deve-se, provavelmente, às tensões ocorridas na folha e ao endurecimento da cutícula durante
a diferenciação das células. E, apesar da sinuosidade das paredes anticlinais das células
epidérmicas ser um caráter possivelmente influenciado pelo ambiente (Metcalf & Chalk
1979), a presença deste tipo de sinuosidade nas células dos dois gêneros estudados corrobora
com a hipótese de que, plantas que recebem uma menor incidência solar por estarem à sombra
apresentam paredes sinuosas quando relacionadas à plantas que recebem maior incidência
solar e apresentam paredes retas. As espécies de Helianthotylis e Trymatococcus são, em
geral, arvoretas mais frequentes em baixio e vertente, enquanto que as espécies de Brosimum
são grandes árvores localizadas principalmente no platô da floresta (Ribeiro et al. 1999).
Tricomas simples e capitados em Moraceae estão registrados nos trabalhos de Metcalf
& Chalk (1950) presentes em vários gêneros de todas as tribos da família, tais como Ficus,
Maclura, os quais são chamados de tricomas glandulares, contudo, segundo Rohwer (1993)
essa característica ainda precisa ser comprovada nos tricomas capitados.
No presente estudo, os tricomas capitados nas espécies do clado A são todos formados
por 4 células e possuem a forma oblonga (caracteres 19 e 20), com exceção de B.
parinaroides que possue a forma do tricoma ovóide-capitado, todas apresentam tricomas
captados localizados próximos ou sobre as nervuras (caráter 21).
No clado B, as espécies B. guianensis, B. alicastrum e B. gaudichaudii apresentam
tricomas ovóide-capitados de 2 células, bem como a espécie do grupo externo Dorstenia
brasiliensis, estes também apresentam-se distribuídos por toda a lâmina foliar abaxial,
Tais variações no número de células não foram evidenciadas por Berg (1972) em sua
monografia sobre o grupo, mas melhor reforçam a delimitação da subgêneros Brosimum e
Ferolia.
A diferença observada em relação à forma e número de células dos tricomas capitados
em Moraceae foi registrada no trabalho de Sha & Kachroo (1975), o qual descreve
ontogeneticamente a formação destas estruturas. O tricoma bicelular é mais alongado e ovóide
9
devido sua única divisão ser determinada em sentido vertical, logo após a formação da haste
ou pé do tricoma.
A orientação das próximas divisões, se vertical ou transversal, determinarão a forma
posterior do tricoma. No caso dos tricomas capitados compostos por 4 células e de forma
oblonga, paredes transversais são formadas entre as duas primeiras divisões verticais. Dessa
forma, é possível assumir que tricomas capitados de 4 células são uma sinapomorfia para o
clado A.
A presença de epiderme papilosa é encontrada estritamente na face abaxial das
lâminas foliares de espécies de outros gêneros neotropicais da família Moraceae, como Ficus
e Helicostylis (Metcalf & Chalk, 1950).
Berg (1972), em sua monografia sobre o grupo, registrou a presença de epiderme
papilosa nas espécies de Brosimum subgênero Brosimum, seção Piratinera, da qual B.
guianensis e B. gaudichaudii fazem parte. A presença de epiderme papilosa na espécie B.
alicastrum também já havia sido observada, contudo, a relação entre as espécies não foi
evidenciada em seu estudo, onde B. alicastrum é colocada em outra seção dentro do
subgênero Brosimum. Além deste caráter, a presença de tricomas capitados bicelulares é
compartilhado entre essas espécies.
Em B. potabile, a presença de epiderme papilar nas criptas estomáticas não se mostrou
constante como nas espécies acima descritas, variando entre indivíduos analisados. De acordo
com Metcalf & Chalk (1979) e Barthlott (1981), esse caráter pode ser considerado
controverso por estar associado à plasticidade fenotípica foliar, relacionado com fatores
ambientais como excesso de luz, entretanto, variações estruturais encontradas nas papilas
podem ser consideradas apropriadas como caracteres diagnósticos ao nível infragenérico.
As diferenças relacionadas ao agrupamento, tamanho e distribuição das papilas
epidérmicas são descritas pela primeira vez. Em B.guianensis e B. alicastrum (Fig 3) as
papilas se distribuem homogeneamente pela lâmina foliar abaxial e apresentam forma cônica.
Em B.gaudichaudii as papilas são alongadas, quase filiformes e restritas à criptas estomáticas
(figura mev).
A presença de receptáculo foveado (caráter 27) está restrito às espécies B.
parinaroides, B. potabile, B. longifolium e B. utile presentes no clado A, este caráter é
apontado por Berg (1972) como uma das características diagnósticas para o agrupamento
taxonômico do subgênero Ferolia.
Segundo Berg (1989), a redução ou perda do perianto das flores estaminadas
aparentemente requer estruturas acessórias de proteção funcionais antes da antese, a presença
10
dessas fossas no receptáculo da inflorescência de algumas espécies de Brosimum seriam as
adaptações para proteção dos estames.
A presença de brácteas como perianto (caráter 26) em B. acutifolium e B.
gaudichaudii, presentes no clado B, desempenham função similar àquela das fossas no
receptáculo, uma vez que essas espécies também possuem flores estaminadas aperiantadas, o
que pode ser considerado uma sinapomorfia para estas espécies.
A espécie B. rubescens apresenta o receptáculo da inflorescência variavelmente
lobado, mas não foveado, possivelmente relacionado à presença de perianto na flor
estaminada e à quantidade variável de flores pistiladas, o que ocasiona a formação de mais de
uma semente. A mesma condição é observada na espécie dióica B. lactescens, onde a
inflorescência pistilada usualmente apresenta mais uma flor e a formação de mais de uma
semente.
Quanto aos caracteres reprodutivos, o sistema reprodutivo monóico foi encontrado na
maior parte das espécies de Brosimum do clado A, componentes do subgênero Ferolia,
exceção para B. melanopotamicum e B. lactescens que são dióicas. No clado B, composto
pelas espécies do subgênero Brosimum, B. acutifolium, B. alicastrum e B. costaricanum são
dióicas, enquanto B. gaudichaudii e B. guianensis são monóicas. A monoicia é evidencia em
Trymatococcus e a androdioicia em Helianthostylis.
Evolução dos caracteres:
Biogeografia:
Conclusões
Referências Bibliográficas
11
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52
Anexo 1
Árvore obtida pelo método Maximum likelihood a partir de dados combinados de ndhF e PHYC indicandovalor de Bootstrap nos ramos. As linhagens do Paleotrópico são indicadas em vermelho. As estrelasrepresentam registros fósseis. A origem do grupo, no ponto 0, foi estimada pelo programa DIVA em 63.6 -5.8 ma. Os pontos numerados de 1-6 correspondem às disjunções do Neotrópico para o Paleotrópico.Fonte: Davis et al, 2002.
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Stricto Consenso de 1000 árvores igualmente parcimoniosas, baseado nas sequências trnL-F e ndhF usando79 espécies. Valores de Bootstrap são mostrados nos ramos. CI = 0.6911; RI = 0.7936. Fonte:Modificado de Davis et al., 2001
Anexo 2
Legenda: Fruto alado Fruto não-alado
55
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