resenha - da pedra ao pÓ: o itinerÁrio da lousa na escola paulista do sÉculo xix

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BARRA, Valdeniza Maria da. Da pedra ao pó: o itinerário da lousa na escola paulista do século XIX. Dissertação (Mestrado em Educação: História e Filosofia da Educação) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2001. p. 265.

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RESENHADA PEDRA AO P: O ITINERRIO DA LOUSANA ESCOLA PAULISTA DO SCULO XIX

BARRA, Valdeniza Maria da.Da pedra ao p: o itinerrio da lousa na escola paulista do sculo XIX. Dissertao (Mestrado em Educao: Histria e Filosofia da Educao) Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, So Paulo, 2001. p. 265.

A dissertao, intitulada Da pedra ao p: o itinerrio da lousa na escola paulista do sculo XIX, foi defendida em 2001, pela PUC de So Paulo e escrita por Valdeniza Maria da Barra, sob a orientao da professora Dr. Kazumi Manakata. Atualmente, a autora professora da Universidade Federal de Gois. A tese consiste em um trabalho de flego, composto por seis captulos que pretende verificar o itinerrio da lousa no sculo XIX e [...] a constituio do dispositivo escolar da transmisso simultnea com base na anlise dos materiais escolares empregados nas prticas de ensino [...]. (BARRA, 2011. p. 3). Como fonte documental desse estudo, Valdeniza utiliza relatrios de professores e inspetores de Instruo Pblica, tais como listas de materiais escolares, mapas de alunos e provas. Outras fontes com as quais se trabalha so as provas realizadas por alunos normalistas (p. 4). A autora nos esclarece que esses documentos analisados foram encontrados (MIP) Manuscritos de Instruo Pblica do arquivo pblico (AE) de So Paulo. Ela parte do campo da histria da educao, em particular, das primeiras escolas de Primeiras letras de So Paulo.O estudo em questo reconhece, entre as primeiras influncias para a escrita da sua dissertao, a tese de doutorado intitulada Infncia e poder: a conformao da pedagogia produzida por Mariano Naradowski (p. 9). Um dos preciosismos estruturais dessa pesquisa aponta que a autora, ao referenciar um autor estrangeiro, coloca no corpus do texto a citao traduzida e, na nota de rodap, a citao primria da obra (Francs ou Ingls). [...] uma traduo mais literal e se apresentasse algumas das transcries no original. ( VALDENIZA, 2001, p. 11). No primeiro captulo, Fazer com- fazer como: Ensaios de escola, Valdeniza relaciona o mtodo escolar aos utenslios escolares, como a lousa. Isso mostra que o mtodo escolar, para ser coerente e efetivo, depende de alguns materiais escolares dispostos sala, [...] o emprego de determinados matrias escolares correlato prtica de um mtodo de ensino (BARRA, 2001. p. 49). Ela menciona o mtodo Lacansteriano que influenciou muitas escolas aqui no Brasil, mais propriamente, as escolas de Primeiras Letras, por ser um mtodo mtuo/monitorial e ao mesmo tempo simultneo. O mtodo de ensino simultneo adentrou as escolas para uniformizar o ensino e, consequentemente, para que o professor tivesse em suas mos o controle da sala, o que antes era muito precrio (mtodo individual). Porm, nem todos os educadores dispunham ou tinham acesso aos devidos matrias para que esses mtodos de ensino se efetivassem, tais como a ardsia, a lousa, a caneta de ardsia, os manuais, entre outros. Dessa forma, segundo Barra (2001), por conta da precarizao referente aos materiais especficos do mtodo de ensino mtuo reconhecida pelos professores e inspetores como a no aplicao do mtodo. (p. 9). Vale ressaltar tambm que Valdeniza afirma neste captulo que nas escolas paulistas de Primeiras Letras dos anos 30, existia a prtica da sano moral e fsica, chancelada pelo ensino mtuo. (2001. p. 59). Deste modo, a suspeno da palmatria nas escolas de Primeiras Letras, considerada pelos professores como dispositivo material, era algo horrvel e tenebroso, pois o professor Brisola, da Escola Santa Efignia, relatou que considerava que [...] o governo de sua escola estava comprometido pela suspeno de um dispositivo material. (BARRA, 2001. p. 60)No segundo captulo, intitulado Proviso escolar: Relaes de modo e mtodo, a autora expe a relatividade ao mtodo de ensino que deveria ser empregado e os materiais utilizados nas escolas de Primeiras Letras (XIX). A legislao no deixa claro o mtodo de ensino que os professores paulistas deveriam utilizar. De acordo com Valdeniza (2001), a falta de especificao do mtodo e a determinao dos mveis e utenslios utilizados nas escolas foi uma tentativa de dissociar a relao entre mtodo e material escolar. ( p. 9). O modo de organizao das escolas nessa poca era definido pela composio dos alunos em decrias, ou seja, em grupos ou classes de dez indivduos. No terceiro captulo, A proviso material da escola primria do sculo XIX, Valdeniza (2001) exibe que em meados de 1854 a 1872, a falta de materiais estocados e variados nas escolas paulistas eram exorbitantes e nesse perodo revelam-se as preocupaes mdico-higienistas em voga pela Europa e Estados Unidos (VALDENIZA, 2001.p.9). Pela falta de materiais, a organizao das salas se assemelha a forma simultnea de ensino. No quarto captulo, intitulado Da relao entre material escolar e matrias de ensino, a autora associa o material escolar matria de ensino. Mostra que, para ensinar aritmtica, o professor que dispusesse de materiais utilizava a ardsia (lousa individual) em conjunto com a lousa coletiva, simultaneamente. Deste modo, A lio unificava-se ao exerccio; saber e saber fazer, fundiam-se. (VALDENIZA, 2001. p. 10).No quinto captulo, Mtodo de ensino: Em tese, Valdeniza (2001) trata da formao oferecida e, consequentemente, obtida pela escola Normal Paulista. Segundo Valdeniza, foi com a criao da escola Normal Paulista que as discusses em torno do mtodo de ensino mais eficaz se iniciaram. Onde havia os maiores intelectuais paulista, [...] a escola normal redefiniria paulatinamente a discusso do mtodo e darias s questes educacionais o estatuto da cincia: a escola vai se tornando assunto para especialistas. (2001. p. 10). Comea-se a pensar sobre a formao especfica para o magistrio.No sexto e ltimo captulo, Escola de Classes, particularmente o mais denso e meticuloso, Valdeniza (2001) exibe o modelo escolar norte-americano e o quo influenciou o modelo brasileiro. A autora esclarece tambm que a ideia de sala-classe estava intimamente relacionada com a ideia de homogeneizar os alunos para ensinar simultaneamente (2001. p. 10). Assim, o quadro negro, as cartilhas e ardsias serviam para a eficcia do ensino simultneo. Logo, [...] o emprego do quadro negro institua nova relao com a escrita e, ao mesmo tempo, nova relao de ensino com o aluno (Valdeniza, 2001. p.194). Ela tambm afirma que o modo de organizar a escola antecede o mtodo escolar. Valdeniza (2001) utilizou os relatos de dois professores, que residiam na cidade Canania, para demostrar o quo os mtodos utilizados eram designados de vrias formas mtuo, misto ou simultneo (2001. p. 204). A confuso entre o mtodo de ensino e o modo eram visveis. Eles atribuam ao mtodo o modo de organizar a escola. Ressalto importante essa citao, para demostrar a confuso existente na poca, entre mtodo de ensino e mtodo de organizao escolar, [...] a escola de primeiro grau projetada por Martim estava muito mais prxima do mtodo que diz respeito ao ensino do que do mtodo que diz respeito ao modo de organizao escolar. (VALDENIZA, 2001. p. 2011). Tambm, na lei n 81, de 6 de abril de 1887 previa a distribuio do ensino primrio em trs graus apropriados a edade e desenvolvimento intelectual dos alunos (p. 2014). Os alunos, naquele momento, eram divididos em classes e, consequentemente, o quadro negro, material disciplinador que d forma escola, era parietal prestar-se-ia ao ensino de uma classe classificada, integrante de uma hierarquia da seriao escolar de uma sala de aula pertencente a uma escola graduada (p. 240). Logo, a verso parietal do quadro negro era a lousa que devia ser cimentada na parede e o material escolar que racionaliza a organizao da escola graduada. (p. 242). Porm, nas escolas isoladas ou do interior, que no tinham acesso aos mateiras escolares ou eram precrios, achavam que esses mtodos pedaggicos modernos eram inaplicveis (p. 246).Valdeniza (2001) conclu que O emprego do quadro-negro implicava a separao das diferenas dos alunos para o uso coletivo sobre a classe homognea de alunos(p. 249). Por fim, o sexto captulo tem como proposta reconstruir algumas tentativas de graduao e uniformizao da escola elementar XIX: a frequncia, a proviso material, o programa de ensino entre outras. O emprego nico e polivalente do quadro-negro implica a definio de sala-classe. Por sua vez, a sala-classe a unidade-bsica da escola graduada (VALDENIZA, 2001.p.10).Com o intuito de finalizar minha incurso e abordagem acerca da obra, como prope toda resenha, reforo a sua importante contribuio para a Histria da Educao. Valdeniza pretendeu mostrar o modo como os professores se viram no dia-a-dia e a apropriao que faziam das normas ou das teorias pedaggicas experimentadas e transformadas (2001 p.253) e, alm do mais, que a [...] fixao do quadro negro na escola Paulista do sculo XIX ocorreu em um momento em que a instituio escolar passava a ser empregada pelas possibilidades que lhe creditavam na formao do homem republicano (p. 250) . Ou seja, percebe-se que havia uma ideologia por trs das mudanas e, consequentemente, por trs das lousas, o ideal de homem republicano perpassava pelos mbitos educacionais no final do sculo XIX. A autora (2001) sinaliza os pormenores de sua obra como pouco espao reservado para a oralizao do ensino, para a transio dos mtodos sintticos para os analticos, para a consolidao de categorias como aluno, professor, escola, aula, para a destituio da pedagogia e a eleio da psicologia na estratgia de homogeneizao dos alunos. ( p. 250),

KARINA CSSIA OLIVEIRA REISMestranda em Educao pela Universidade Estadual Jlio Mesquita Filho, campus de Marlia, e bolsista CAPES. Graduanda em Pedagogia-UNESP e licenciada em Letras/Ingl na Universidade e Marlia- Unimar.