relatÓrio final - crisp.ufmg.br...césar romero machado santos (corregedor da polícia militar) dr....

45
Belo Horizonte, Maio de 2010 RELATÓRIO FINAL LETALIDADE NO SISTEMA DE DEFESA SOCIAL DE MINAS GERAIS 2009 RELATÓRIO FINAL

Upload: others

Post on 23-Jul-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

Belo Horizonte, Maio de 2010

RELATÓRIO FINAL

LETALIDADE NO SISTEMA DE DEFESA SOCIAL DE MINAS GERAIS

2009

REL

ATÓ

RIO

FIN

AL

Page 2: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

1

GOVERNADOR DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Aécio Neves da Cunha VICE-GOVERNADOR/ PRESIDENTE DO COMITÊ DE DEFESA SOCIAL Antônio Augusto Junho Anastasia SECRETÁRIO DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL

Maurício Campos de Oliveira Júnior COMANDANTE-GERAL DA POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS Coronel Renato Vieira de Souza CHEFE DE POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Delegado Geral Marco Antônio Monteiro de Castro COMANDANTE-GERAL DO CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE MINAS GERAIS

Coronel BM Gilvan de Almeida Sá SECRETÁRIA-ADJUNTA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL Luzia Soraia Silva Ghader SUPERINTENDENTE DE AVALIAÇÃO E QUALIDADE DA ATUAÇÃO DO SISTEMA DE DEFESA SOCIAL José Francisco da Silva EMPREENDEDORA PÚBLICA/ GERENTE DO PROJETO ESTRUTURADOR

Silvia Caroline Listgarten DIRETORA DE ANÁLISE E AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO OPERACIONAL

Juliana Maron GERENTE DE ANÁLISE E AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO OPERACIONAL Edmilson Antonio Pereira Junior CORREGEDORES

Cel. César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos Rosa Pereira (Corregedor do Corpo de Bombeiros Militar) Dra. Luciana Nobre de Moura (Corregedora da SEDS)

Page 3: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

2

COLABORADORES

Ten Marco Túlio Machado – Corregedoria CBMG Ten Alex Lamy de Gouvea – Corregedoria PMMG Maj. Carlos Gonçalves Silva Júnior - PMMG Ana Flávia Alves Moreira - ACADEPOL Antônio Gama Júnior – Corregedoria PCMG Luciana Nobre de Moura – Corregedoria SEDS Aroldo Júnior Vilela Paes – Corregedoria SEDS Vivian Gonçalves Sant'Ana – Corregedoria SEDS Ten. Cel. Carlos Putini Neto - Ouvidoria Geral MG Gustavo Gorgosinho Alves de Meira - Defensoria Pública - Corregedoria Geral Letícia D' Ercoli Rodrigues - Ordem dos Advogados do Brasil

COORDENADORA DA AÇÃO Viviane Ferreira Batista DIRETORIA DE ANÁLISE E AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO OPERACIONAL Aline Soares Gonzaga Márcia Cássia Pinto Sales Nilo Vianna Teixeira Rhona Maria Correa Kayello Vanessa Viana de Carvalho

Page 4: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

3

COORDENADOR DA PESQUISA

Ignacio Cano (LAV-UERJ) EQUIPE DE PESQUISA:

Alberto Alvadia Thais Lemos Duarte Andreia Cidade Marinho Sandra Regina Cabral Rodrigo Alisson Fernandes Luís Felipe Zilli

Page 5: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

4

S U M A R I O

PAG.

1. Introdução.................................................................................................. 5

2. Casos Registrados..................................................................................... 9

3. Vitimização................................................................................................ 16

4. Características dos Episódios................................................................. 27

5. Conclusões e Recomendações. ............................................................... 40

Page 6: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

5

1. Introdução.

Em 2004, a Ouvidoria de Polícia de Minas Gerais criou um Núcleo de

Ensino, Pesquisa e Extensão, com o objetivo, entre outros, de desenvolver

monitoramentos e pesquisas na área de controle externo da atividade policial.

Uma das áreas prioritárias de monitoramento foi o uso da força policial e a

vitimização de policiais e civis durante as ações policiais. Trata-se de um tema

cujo estudo é tradicionalmente limitado no Brasil pela restrição de acesso às

informações e pela ausência de registros sistematizados.

Para disponibilizar um acesso completo aos dados, o Colegiado de

Corregedorias dos Órgãos de Defesa Social determinou, através da Resolução

01/ 2004, o envio regular das seguintes informações para as Ouvidorias de

Polícia.

RESOLUÇÃO Nº 01/2004 Estabelece obrigatoriedade de fornecimento de dados advindos de registro sobre homicídios e lesões, envolvendo policiais, à Ouvidoria de Polícia. O Presidente do Colegiado de Corregedorias dos Órgãos de Defesa Social, no uso de suas atribuições que lhe confere o Decreto nº 43.695 de 11/12/2003, determina: Art. 1º As Polícias Civil, Militar e Corpo de Bombeiros Militar, através de suas Corregedorias e/ou do Centro Integrado de Atendimento e Despachos – CIAD, deverão encaminhar à Ouvidoria da Polícia uma cópia no modelo de formulário anexo, quando do registro no boletim de Ocorrência que conste algum dos seguintes eventos: I – homicídio doloso ou culposo, cometido contra profissional da segurança pública, em qualquer circunstância, seja durante o serviço ou na folga; II – homicídio doloso ou culposo cometido por profissionais da segurança pública, em qualquer circunstância, seja durante o serviço ou na folga e independentemente de circunstâncias excludentes de ilicitude; III – lesões dolosas, culposas ou acidentais sofridas por pessoas em decorrência da ação de profissionais da segurança pública, em qualquer circunstância, seja durante o serviço ou na folga e independentemente de circunstâncias excludentes de ilicitude; IV – suicídios e tentativas de suicídios cometidas por profissionais de segurança pública. Art. 2º A remessa do formulário deverá ocorrer, até o dia 15 do mês subseqüente após ser exarada a ocorrência pelo agente competente; Parágrafo único – O ―caput‖ deste artigo não exclui a obrigação das Corregedorias de Polícias e/ou do Centro Integrado de Atendimento e Despachos, de encaminharem à Ouvidoria da Polícia, as cópias no

Page 7: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

6

modelo do formulário anexo de ocorrências lavradas nos cinco anos anteriores à vigência desta resolução que versarem sobre registros referenciados no Art. 1º, incisos I a IV. Art. 3º Esta resolução entra em vigor na data de 1º de janeiro de 2005.

A partir de janeiro de 2005, a Ouvidoria começou a receber estas

informações. Nos primeiros anos, a própria Ouvidoria analisava os dados e

produzia relatórios, mas em anos sucessivos a Secretaria de Defesa Social foi

encarregada desta tarefa. A criação de uma Comissão da Pesquisa de

Letalidade Policial, composta por membros das instituições do Sistema de

Defesa Social e de outras instituições relevantes, representou um avanço

significativo na tentativa de que as informações e as análises tivessem uma

repercussão nas políticas públicas, com o objetivo último de reduzir a

letalidade. Num primeiro momento, o monitoramento foi realizado

exclusivamente sobre as polícias, mas posteriormente foi expandido a outras

instituições que fazem parte da Secretaria de Defesa Social, como os

bombeiros. Entretanto, em função das características da função policial, a

prática totalidade dos episódios de letalidade acaba correspondendo às

corporações policiais.

O processo de fornecimento das informações estabelecidas na

Resolução 01 de 2004 não foi simples e, em diversos momentos, houve

indícios de que a cobertura não era completa. Apesar disso, este processo

permitiu iniciar um monitoramento sistemático a partir do ano de 2005, refletido

em relatórios de letalidade policial nos anos de 2005, 2006, 2007 e 2008. Este

conjunto de dados ao longo do tempo permite criar uma série temporal e

avaliar melhor a incidência e a evolução do fenômeno.

O presente relatório continua a série dos relatórios anteriores e

corresponde aos dados de 2009. A cada ano, o relatório sofreu algumas

modificações, várias delas produto de sugestões da Comissão de

Acompanhamento da Letalidade1, visando uma análise mais detalhada e uma

interpretação mais fácil dos resultados. O relatório atual segue o mesmo

padrão do ano anterior.

1 A Comissão de Acompanhamento da Letalidade é o novo nome que adotou a antiga Comissão da Pesquisa de Letalidade Policial.

Page 8: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

7

Uma equipe de pesquisadores leu os documentos e resumos fornecidos

pelas corporações, ou obtidos de outras fontes, e preencheu um formulário

para cada caso. Os formulários foram digitados para compor o banco de dados

utilizado na análise.

Para que um caso fosse incluído na análise, ele devia cumprir,

simultaneamente, os três critérios de inclusão:

1. Episódios com relato de disparo de arma de fogo que provocou morte

ou ferimento em alguns dos participantes.

2. Incidentes que contaram com a participação de agentes de

segurança pública, seja na qualidade de autores ou na qualidade de

vítimas (ou ambos simultaneamente). Casos em que os agentes de

segurança eram apenas testemunhas ou registraram os fatos

acontecidos sem a sua participação direta não foram considerados.

3. Fatos acontecidos entre os dias 1 de janeiro e 31 de dezembro de

2009.

Vale notar que tanto homicídios quanto suicídios e acidentes podem

satisfazer esses três critérios.

Na medida em que surgiram dúvidas e casos limite, novos critérios

complementares foram adotados, entre eles:

a. O ferimento ou a morte devem ser provocados diretamente pelos

disparos de arma de fogo. Casos em que houve disparos que não

provocaram vítimas, mas houve ferimentos por outras causas não

foram incluídos. Nos incidentes em que houve feridos por arma de

fogo e por outras armas ou objetos, apenas os feridos por arma de

fogo foram levados em consideração. Especificamente, se o disparo

provocou, por exemplo, a queda de um objeto que, por sua vez,

causou dano na vítima, o fato também não foi contemplado,

considerando que o ferimento não foi causado diretamente pela

arma.

b. Réplicas de armas e balas de borracha não foram incluídas, apenas

disparos efetuados com arma de fogo e munição metálica.

c. Casos de ferimentos produzidos por arma de fogo foram aceitos

mesmo quando não provocaram perfuração (por exemplo, pelo efeito

Page 9: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

8

do colete anti-balas), desde que houvesse ferimento. Assim,

ferimentos de raspão ou por estilhaços provocados por arma de fogo

foram contemplados.

d. Embora o monitoramento esteja dirigido fundamentalmente ao

Sistema de Defesa Social do estado de MG, são considerados

também os casos protagonizados por agentes federais (como a

Polícia Federal) acontecidos no território do estado.

e. Na determinação do uso o não de arma de fogo por parte de cada

envolvido, entende-se ―uso de arma de fogo‖ como a realização de

pelo menos um disparo. Quando a arma falhava ou não tinha balas,

interpretava-se que o envolvido não fez uso dela, a despeito da sua

intenção. Da mesma forma, coronhadas ou utilização de armas como

objetos contundentes não eram considerados como ―uso da arma‖.

De uma forma geral, os critérios de inclusão adotados são equivalentes

aos usados em anos anteriores, com o objetivo de poder acompanhar a

evolução da série temporal ao longo do tempo.

Em 2008, surgiu um caso de uso da arma por parte de um agente de

segurança pública de MG acontecido fora do estado. Prevaleceu na época a

interpretação de que o foco do estudo são as instituições do estado,

independentemente de onde atuem os seus agentes e, portanto, o caso foi

incluído. Em 2009, entretanto, não foi informado nenhum caso desse tipo.

Por outro lado, agentes de segurança pública reformados foram também

considerados, mas a intenção era analisá-los de forma separada. De qualquer

forma, em 2009 não foi registrado nenhum caso relevante protagonizado por

agente público aposentado.

Ao longo dos últimos anos, pretendeu-se analisar, embora de forma

separada, episódios de ferimentos ou mortes por meios diferentes da arma de

fogo, entre eles por uso de equipamento de menor potencial ofensivo (não

letal), o que está parcialmente implícito na Resolução 01/2004 (que inclui

lesões sofridas por pessoas em decorrência da intervenção de profissionais da

segurança pública). Porém, a escassez de informações recebidas neste

sentido inviabilizou até o momento atual o monitoramento destes casos.

Page 10: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

9

2. Casos Registrados.

Em total, 144 casos foram registrados dentro dos critérios de

admissibilidade. O número de episódios é inferior ao dos últimos anos,

confirmando uma tendência descendente que vem desde 2005.

TABELA 1

NÚMERO DE EPISÓDIOS QUE RESULTARAM EM MORTES OU FERIMENTOS POR DISPAROS DE ARMA DE FOGO EFETUADOS POR OU CONTRA AGENTES DE SEGURANÇA PÚBLICA, POR ANO

ANO

2002 2003 2005 2006 2007 2008 2009

NÚMERO DE EPISÓDIOS 208 282 300 241 200 164 144

A grande maioria dos casos foi enviada pelas polícias, particularmente

pela Polícia Militar, conforme a resolução mencionada. Diferentemente de anos

anteriores, o Corpo de Bombeiros não encaminhou nenhuma ocorrência.

Outras instituições que tinham sido relevantes no passado, como a Ouvidoria

ou a Assembléia Legislativa, também não forneceram casos neste último ano.

A busca de matérias na imprensa é uma estratégia para melhorar a

cobertura dos dados e, em última instância, para monitorar o grau de cobertura

das informações fornecidas pelas corporações. O procedimento seguiu critérios

parecidos aos adotados em 2007 e 2008, permitindo assim uma comparação

dos resultados ao longo do tempo.

A equipe de pesquisa efetuou uma busca no site da agência que realiza

o ‗clipping‘ para o Governo de Minas (http://www.ideiafixa.com.br/), procurando

as matérias jornalísticas que descrevessem incidentes armados com a

participação de agentes de segurança pública. Esta busca foi efetuada através

de ‗palavras chaves‘.

Assim, foram procuradas matérias que contivessem ao menos uma das

seguintes palavras chaves:

a) ferida b) ferido c) morto d) morte

e) disparo f) conflito

g) arma

Page 11: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

10

h) bala perdida i) policiais j) polícia

Os seguintes jornais foram contemplados nessa busca, os mesmos que

foram considerados em 2007 e 2008:

a) Estado de Minas

b) Jornal Hoje em Dia

c) O Tempo

d) Jornal Super

e) Jornal Aqui

Cada matéria publicada nesses jornais durante o ano de 2009 que

incluía alguma das palavras mencionadas acima (e foi selecionada pelo

mecanismo de busca eletrônico) foi lida pela equipe de pesquisa para verificar

se continha um caso relevante. Entretanto, cumpre registrar que alguns

problemas enfrentados com o mecanismo automatizado de busca no

mencionado site não nos permitem oferecer garantia plena de que a

confiabilidade desse processo seja perfeita.

De qualquer forma, este procedimento de busca na imprensa obteve um

total de 8 casos relevantes, mas apenas 3 deles não tinham sido

encaminhados pelas polícias. O resultado é favorável se comparado a 2008 (11

casos detectados, dos quais 6 sem correspondência nos dados policiais) e

ainda mais se contrastado com 2007 (13 casos que não tinham sido

encaminhados pelas polícias). A diminuição progressiva dos episódios que

possuem como fonte exclusiva órgãos da imprensa parece confirmar que o

grau de cobertura das informações das instituições de segurança pública está

melhorando. A outra explicação possível, muito menos plausível, é uma menor

atenção por parte dos jornais aos episódios de letalidade policial.

A próxima tabela mostra o número de casos para cada fonte. Um

mesmo episódio pode ser registrado por mais de uma fonte, razão pela qual o

somatório dessas freqüências é superior ao número total de casos. Um total de

12 episódios foram obtidos de mais de uma fonte.

Page 12: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

11

TABELA 2

Número de Casos por Fonte

Freqüência %

Polícia Militar 119 82,6

Polícia Civil 29 20,1

Imprensa 8 5,6

Para evitar a possibilidade de duplicidade dos casos, foram realizadas

revisões detalhadas de acordo com diversas variáveis: número de Boletim de

Ocorrência, data, local, nome dos envolvidos e unidades policiais. Mais de dez

repetições foram detectadas através destes procedimentos. Quando era

identificado um caso com mais de uma fonte, todas as informações das

distintas fontes eram integradas para constituir um episódio único.

A distribuição dos casos por mês varia de um mês a outro, mas também

não revela tendência clara numa direção. O único ponto a ser resenhado é que

o número de casos é claramente inferior em dezembro, como acontecia em

2007, o que pode estar revelando que os casos do último mês podem não ter

tido tempo suficiente para serem encaminhados na mesma proporção que os

outros, considerando que o envio foi feito nos primeiros meses de 2010.

Page 13: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

12

GRÁFICO 1

NÚMERO DE CASOS POR MÊS

Mês do Fato

DezNovOutSetAgoJulJunMaiAbrMarFevJan

mero

de E

pis

ód

ios

20

15

10

5

0

A grande maioria dos episódios, mais de 90%, são protagonizados por

policiais militares. Os policiais civis são partícipes de apenas 8 casos,

exatamente igual do que no ano anterior.

Além dos casos referentes a policiais civis e militares, foram registrados

ainda um suicídio de bombeiro, um suicídio de um policial federal e um

incidente em que presos feriram a tiros um agente penitenciário.

Page 14: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

13

TABELA 3

Número de Casos por Tipo de Agente Envolvido

Freqüência % do total

Polícia Militar 133 92,4

Polícia Civil 8 5,6

Corpo de Bombeiros 1 0,7

Agentes Penitenciários 1 0,7

Polícia Federal 1 0,7

Em suma, a participação de bombeiros e agentes penitenciários é muito

reduzida. Dessa forma, a análise global diz respeito basicamente a policiais e,

entre eles, sobretudo a policiais militares.

Entre os civis envolvidos2, 96% são homens e 4% mulheres. Apenas

30% dos envolvidos contavam com informação sobre o ano de nascimento.

Entre os que registravam esse dado, a maioria são jovens, com uma média de

27 anos, sendo que a metade das pessoas não superava os 23 anos. Esse é

basicamente o perfil das vítimas da violência letal no Brasil. Esse é também o

mesmo perfil encontrado em anos anteriores.

Cada episódio foi classificado dentro de uma tipologia de acordo com a

sua natureza, elaborada para facilitar a compreensão da dinâmica dos fatos. O

conjunto das categorias segue os critérios de anos anteriores para facilitar a

comparação.

Aproximadamente sete em cada dez casos são ―conflitos entre agentes

públicos e suspeitos‖, isto é, episódios em que os funcionários públicos

intervêm, a princípio, na sua qualidade de agentes de segurança pública para

preservar a lei, a ordem ou a integridade das pessoas. Isso pode acontecer

tanto no serviço quanto durante a folga, desde que o servidor aja no fato na

qualidade de agente de segurança pública. A proporção dessa categoria no

total de ocorrências é parecida à de anos anteriores.

2 Trata-se aqui dos envolvidos que foram registrados no banco, pois havia alguma informação

individual sobre eles. Outros envolvidos sobre os que não se sabia nada não fazem parte de banco nem desta análise.

Page 15: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

14

Por outro lado, quando o servidor público participa de uma disputa

privada, como qualquer outro cidadão, o caso é classificado como ―conflito

inter-individual‖, ou seja, uma disputa que inclui alguns indivíduos cuja

profissão é a de agente de segurança pública. Nestes casos, o agente público

não atua na qualidade de tal, mas age como uma pessoa comum. Um total de

8 episódios foram tipificados desta forma, um número inferior ao encontrado

em 2008 (14).

Em função desse decréscimo, a segunda categoria mais freqüente

passa a ser agora a de agentes que reagem a um assalto, provocando

ferimentos nos assaltantes ou neles mesmos. Há 18 episódios deste tipo

registrados, cinco a mais do que no ano anterior, um crescimento preocupante.

O registro de suicídios de agentes de segurança pública continua no

mesmo patamar de 2008, também com 8 casos. Este é um sinal positivo em

termos de cobertura, pois contrasta com períodos no passado (particularmente

o primeiro semestre de 2007) em que não houve nenhum caso encaminhado.

O saldo final das tentativas de suicídio é de 5 policiais militares3, 1

policial civil, 1 bombeiro e 1 policial federal mortos, além de um policial militar

ferido. As cifras são muito parecidas às de anos anteriores, o que revelaria uma

estabilidade relativa nos risco de suicídio dos membros das corporações.

Houve apenas 2 registros de disparos acidentais, embora eles na

verdade acontecessem em episódios de luta corporal. Particularmente num

dois casos, o relato abre espaço para dúvidas sobre se os tiros teriam sido

realmente acidentais, considerando que houve três disparos. Esse número

supõe um forte decréscimo em relação ao registrado em 2008 (8 casos), o que

questiona a medida em que disparos acidentais acontecidos durante o

manuseio das armas, comuns alguns anos atrás, tenham de fato desaparecido

ou não estejam sendo comunicados.

A execução sumária é uma ação deliberada para matar uma pessoa.

Isto pode acontecer quando agentes públicos tratam de executar um suspeito,

à margem da lei, e também no caso contrário: quando civis tentam assassinar

um policial. Em 2009 apenas há um episódio de tentativa de execução contra

um civil e nenhum contra agentes de segurança pública. Esta cifra contrasta 3 Incluindo nesse número uma ocorrência de homicídio-suicídio.

Page 16: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

15

com a obtida em anos anteriores (6 tentativas de execução contra agentes

públicos em 2008 , por exemplo).

O resumo do número de casos de acordo com a natureza dos fatos

pode ser observado na tabela seguinte:

TABELA 4

Número de Ocorrências de acordo com a Natureza

TIPOLOGIA DO FATO

Número de

Episódios

% Civis Feridos

Civis Mortos

Agentes Públicos Feridos

Agentes Públicos Mortos

Conflito entre Agente e Suspeito 103 71,5 74 37 14 2

Agente Vítima de Assalto 18 12,5 5 8 9 2

Suicídio ou tentativa 8 5,6 - - 1 7

Conflito Inter-Individual 7 4,9 4 3 3 1

Disparo Acidental 2 1,4 1 0 0 1

Execução sumária contra civil ou tentativa 1 0,7 1 0 0 0

Homicídio-Suicídio 1 0,7 0 1 0 1

Vítima de bala perdida durante um assalto 1 0,7 0 0 1 0

Não se sabe (informação insuficiente) 3 2,1 1 1 1 1

TOTAL 144 100% 86 50 29 15

A tabela contém, além da natureza, o número de feridos e de mortos

acontecidos nestes episódios, separando os agentes públicos dos civis.

Embora a análise detalhada da vitimização será realizada no epígrafe seguinte,

estas cifras podem ajudar a entender melhor as características e os resultados

desses confrontos. A grande maioria das vítimas civis acontece em confrontos

entre agentes e suspeitos. Já o risco maior para os agentes de segurança

pública não são os confrontos com suspeitos, mas os assaltos e os suicídios.

De fato, 8 dos 15 agentes públicos falecidos foram vítimas de suicídio e 9 dos

29 agentes feridos foram vitimados resistindo a assaltos.

Page 17: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

16

3. Vitimização.

Como em anos anteriores, este relatório não pretende determinar a

legalidade ou a adequação técnica da atuação dos agentes da lei em cada um

dos episódios coletados. Isto se deve a vários motivos. Um deles é que a

documentação disponibilizada é limitada e não permite uma conclusão

definitiva sobre a legalidade ou a adequação de cada intervenção individual.

Não estão disponíveis para a pesquisa, entre outros elementos importantes, os

laudos cadavéricos nem as perícias do local do crime. Com efeito, o material

disponível corresponde a uma versão inicial dos fatos, seja das instituições ou

seja da imprensa. Portanto, é possível que em ocasiões a versão apresentada

não coincida exatamente com a realidade.

De toda forma, a intenção central deste monitoramento não é mesmo

estabelecer conclusões finais sobre fatos individuais, mas analisar o conjunto

da vitimização que envolve agentes de segurança pública do estado, como

uma ferramenta para pensar possíveis medidas de prevenção. Assim, qualquer

ferimento ou morte, seja dos civis ou dos agentes públicos, é sempre um

resultado negativo que deverá ser minimizado independentemente da sua

legalidade. Em suma, o foco do trabalho é a vitimização e não os crimes

cometidos contra ou por agentes públicos. Dentro da vitimização, a letalidade é

uma dimensão mais específica que também deve ser minimizada. Isto é,

mesmo quando o uso da força seja inevitável, é importante tentar reduzir, na

medida do possível, os danos produzidos4.

Nesse sentido, o conceito de letalidade —que está mantido no título do

relatório em função do histórico das pesquisas, do monitoramento e das

comissões formadas nesta área— deve ser entendido de forma ampla. Se as

pesquisas dos primeiros anos eram intituladas ―Letalidade da Ação Policial‖,

hoje o título é mais abrangente por vários motivos. Em primeiro lugar, inclui

outras instituições do Sistema de Defesa Social e não apenas as polícias,

mesmo que as outras organizações, como os bombeiros e os agentes

penitenciários, apresentem um risco muito menor de se envolver em incidentes

armados. Em segundo lugar, são considerados fatos que não poderiam ser

4 Conforme consagra o princípio 5b contido nos ‘Princípios Básicos sobre o Uso da Força e

Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei’ das Nações Unidas.

Page 18: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

17

descritos, estritamente, de ação policial, mas que resultam em vitimização,

como os suicídios e os conflitos inter-individuais.

O conceito de letalidade empregado neste relatório contempla também

episódios em que o desenlace não é fatal, desde que haja feridos por arma de

fogo. Estes casos de ferimentos também não se enquadrariam, a princípio, no

conceito literal de ‗letalidade‘, mas são imprescindíveis para poder avaliá-la.

Em suma, a noção de ‗letalidade‘ deve ser entendida aqui de forma

abrangente.

Em cada incidente, foram contabilizados, além das vítimas, o número de

envolvidos (autores e vítimas das agressões), separando os civis e os

membros das diversas agências de segurança pública.

Quando não havia certeza do número exato de envolvidos, registrou-se

o número aproximado, utilizando as seguintes categorias:

a) Indefinido, menos de 5

b) Indefinido, de 5 a 10

c) Indefinido, mais de 10

d) Totalmente Indefinido

Na hora de estimar o número total de envolvidos, optou-se por um

número intermediário de cada intervalo, utilizando um viés conservador para

não superestimar o número total5.

O número de envolvidos, de feridos e de mortos em 2009, por categoria,

pode ser observado na tabela seguinte.

5 A categoria ‘a’ (mencionada acima) foi substituída pelo valor 2; a categoria ‘b’ pelo valor 7; a

categoria ‘c’ pelo valor 11; e para a categoria ‘d’ escolhemos o mínimo valor possível: 1.

Page 19: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

18

TABELA 5

VITIMIZAÇÃO POR ARMA DE FOGO NO SISTEMA DE DEFESA SOCIAL DO ESTADO DE MINAS GERAIS, POR ANO

ANO

2002 2003 2005 2006 2007 2008 2009

ENVOLVIDOS

Civis 336 554 616 377 421 317 232

Policiais Militares 374 479 498 342 374 316 264

Policiais Civis 6 48 34 28 39 15 8

Bombeiros Militares 0 0 2 7 4 2 1

Agentes Penitenciários 8 1

FERIDOS

Civis 121 149 198 135 127 108 86

Policiais Militares 52 49 56 29 48 22 28

Policiais Civis 1 9 10 3 2 0 0

Bombeiros Militares 0 0 1 1 1 1 0

Agentes Penitenciários 1 1

MORTOS

Civis 55 96 71 50 74 51 50

Policiais Militares 12 22 18 18 11 16 12

Policiais Civis 2 12 5 3 5 3 1

Bombeiros Militares 0 0 0 2 0 1 1

Agentes Penitenciários 0 0

O número de envolvidos em todas as categorias decresce em 2009 em

comparação com o ano anterior, continuando uma tendência que começou em

20076. Este resultado é esperado também em função da diminuição do número

de episódios.

Os feridos civis também caem em relação ao ano anterior, mas os

policiais militares feridos aumentam levemente. Os casos relativos a policiais

civis e bombeiros são tão poucos que é impossível estabelecer uma tendência.

Em qualquer caso, a baixa vitimização provocada e sofrida por policiais civis é

sempre uma boa notícia, considerando que a natureza do seu trabalho,

6 A comparação relativa ao número de envolvidos não pode ser feita de forma automática com

anos anteriores a 2007, pois o procedimento de estimação dos envolvidos não era o mesmo.

Page 20: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

19

diferentemente da dos bombeiros, os expõe em alguma medida a confrontos

armados.

Para avaliar melhor a letalidade, apresentam-se, como já foi feito no

relatório de 2008, as cifras de vitimização fatal ponderadas por outras variáveis.

As dimensões usadas na ponderação são: a) população; b) número de agentes

de segurança pública; c) número de prisões efetuadas; d) número de

homicídios registrados; e) número de armas apreendidas pelas polícias. A

princípio, é esperável que o número de mortes se incremente na medida em

que a população, os efetivos policiais, as prisões, as apreensões de armas e a

violência em geral —representada pelos homicídios— aumente. Em particular,

as prisões de suspeitos e as apreensões de armas são ocorrências em que há

maior chance de um confronto armado.

A necessidade de ponderar é maior quando a série temporal se prolonga

(no momento atual há dados desde 2002 a 2009), pois podem existir diferenças

significativas ao longo do tempo relativas ao tamanho da população ou das

corporações. Assim, num contexto de crescimento demográfico ou de aumento

do contingente policial caberia esperar também um aumento dos casos de

letalidade sem que isso signifique necessariamente um incremento da

incidência real do fenômeno.

No entanto, não estão disponíveis todas as informações para os

primeiros anos da série. Por isso, algumas das ponderações aparecem apenas

desde 2007.

Page 21: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

20

TABELA 6

Vitimização Fatal por Arma de Fogo no Sistema de Defesa Social de MG, de acordo com população, número de agentes, homicídios e prisões

ANO

2002 2003 2005 2006 2007 2008 2009

Civis Mortos 55 96 71 50 74 51 50

Agentes de Segurança Pública Mortos 14 34 23 23 16 20 15

Civis mortos para cada 100.000 hab. 0,40 0,26 0,25

Agentes mortos para cada 100.000 hab. 0,09 0,10 0,07

Civis mortos para cada 1.000 agentes7 1,58 0,858

Agentes mortos para cada 1.000 agentes 0,62 0,26

Civis mortos para cada 1.000 homicídios 19,65 14,23 14,52

Agentes mortos para cada 1.000 homicídios 4,25 5,58 4,36

Civis mortos para cada 1.000 prisões 0,24 0,15 0,13

Agentes mortos para cada 1.000 prisões 0,05 0,06 0,04

Civis mortos para cada 1.000 armas apreendidas 3,29 2,48

Agentes mortos para cada 1.000 armas apreendidas 1,29 0,74

A conclusão mais importante é que a maioria das ponderações

confirmam que a letalidade contra civis está estabilizada em 2009 em relação

ao ano anterior, depois de uma trajetória de aumento em 2007 que foi revertido

em 2008.

Dessa forma, o número de civis mortos em confrontos armados com

policiais é praticamente o mesmo do ano anterior, mesmo quando levamos em

consideração a população, o nível geral de violência letal na sociedade

(representado pelos homicídios) ou as prisões. Entretanto, quando a

ponderação é realizada em relação ao número de agentes, a incidência baixa

em função do aumento do contingente. Da mesma forma, a ponderação em

relação às armas de fogo apreendidas também diminuiu porque cresceu

significativamente o número de armas apreendidas enquanto o número de

vítimas fatais continua no mesmo patamar.

Se os indicadores relativos a mortes de civis sublinham a conclusão de

estabilidade, os referidos a mortes de servidores públicos experimentam um

descenso moderado. As ponderações efetuadas com a população, com os

homicídios, com as prisões e, sobretudo, aquelas que tomam em consideração

7 O indicador considerou o número de policiais militares, policiais civis e bombeiros.

8 O número total de agentes considerou, tanto para 2008 quanto para 2009, apenas os policiais

militares, os policiais civis e os bombeiros, as informações que foram fornecidas.

Page 22: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

21

armas apreendidas e o tamanho do contingente revelam uma tendência de

redução.

A seguir, apresentamos quatro de indicadores específicos de letalidade

da intervenção dos agentes de segurança pública, a saber:

a) O número médio de mortos por ocorrência, que revela a letalidade

desses episódios, tanto para os agentes públicos quanto para os

civis;

b) A razão entre agentes mortos e civis mortos. Espera-se que este

quociente seja sempre superior a 1, visto que os agentes são

teoricamente melhor treinados e, quando de serviço, em geral

operam em grupo. Assim, a expectativa é que haja mais vítimas

fatais entre os civis do que entre os policiais. Porém, quando a razão

é muito superior a 1, isso pode estar revelando uso excessivo da

força por parte da polícia. O professor Chevigny9 sustenta que

quando o valor é superior a 10, isto é, quando os civis mortos

superam em mais de dez vezes os policiais mortos, isto pode ser

interpretado como sintoma de uso excessivo da força e da provável

existência de execuções sumárias. Contudo, essa razão está

pensada originalmente para confrontos entre policiais e suspeitos de

cometer crimes, tal que, por exemplo, a ocorrência de execuções

sumárias contra policiais, como aconteceu no Rio e em São Paulo

nos últimos anos, e a inclusão de vítimas em conflitos inter-

individuais pode modificar o valor esperado.

c) A proporção de homicídios (de civis) provocados pelos agentes de

segurança. A missão mais importante das corporações policiais é

preservar a vida dos cidadãos, de forma que o uso da força letal só é

autorizado, de acordo com os princípios internacionais, justamente

para preservar vidas. Portanto, quando uma proporção significativa

dos homicídios é produto da intervenção dos próprios agentes, há

indícios de uso excessivo da força. Em pesquisas internacionais, o

9 Chevigny, Pau (1991) "Police Deadly Force as Social Control: Jamaica, Brazil and Argentina",

Série Dossiê NEV, n.2, 1991, p. 10. Núcleo de Estudos da Violência, USP, São Paulo.

Page 23: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

22

esperado é que a proporção de homicídios decorrente da intervenção

dos agentes públicos não ultrapasse, aproximadamente, 5% do total.

Quando ela é superior a 10 ou 20%, torna-se um claro indício de uso

excessivo da força.

d) O índice de letalidade, que é a razão entre o número de mortos e o

número de feridos acontecidos nos incidentes armados. Em

confrontos legítimos, o número médio de feridos deve ser superior ao

de mortos, o que se traduz num valor do indicador inferior a 1.

Pesquisas em várias cidades10 dos EUA mostraram valores em torno

de 0.5, enquanto que em São Paulo e no Rio de Janeiro os valores

chegavam a ultrapassar 2 e 3. De fato, um indicador superior a 1, isto

é, com mais mortos do que feridos, é uma forte evidência de uso

excessivo da força e de execuções sumárias. Como já foi comentado

em relação ao indicador prévio, tentativas de execuções de policiais

poderão enviesar o valor do indicador. De qualquer forma, espera-se

um valor inferior a 1, particularmente nos episódios classificados

como ―conflito entre agente e suspeito‖.

O valor dos quatro indicadores ao longo dos últimos anos pode ser

observado na próxima tabela.

TABELA 7

INDICADORES DE LETALIDADE NO SISTEMA DE DEFESA SOCIAL DO ESTADO DE MINAS GERAIS, POR ANO

ANO

2002 2003 2005 2006 2007 2008 2009

Número Médio de Civis Mortos por Episódio 0.26 0.34 0.24 0.21 0.38 0.31 0.35

Número Médio de Agentes Mortos por Episódio 0.07 0.12 0.08 0.09 0.08 0.12 0.10

Razão entre civis mortos e agentes mortos 3.9 2.8 3.1 2.4 4,6 2.5 3.3

Proporção de Homicídios dolosos (de civis) provocados por agentes públicos

1.42% 1.45%

10

Cano, I. (1997) Letalidade da Ação Policial no Rio de Janeiro. ISER

Page 24: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

23

Índice de Letalidade (razão entre mortos e feridos) para...

Civis 0.45 0.64 0.36 0.37 0.58 0.47 0.58

Policiais Militares 0.23 0.45 0.32 0.62 0.23 0.73 0.43

Policiais Civis 2.00 1.33 0.50 1.00 2.50 --11 --

O número de civis mortos por episódio aumentou levemente em 2009,

mas mantém o padrão dos últimos anos. O número médio de agentes mortos

por incidente caiu um pouco, mas também dentro do patamar dos últimos anos.

A razão entre civis e agentes mortos se deteriorou, pois o número de

servidores falecidos é menor, enquanto que os civis se mantiveram. Contudo, o

nível ainda é inferior ao de 2007, ano de grande aumento. Embora o número

absoluto não seja ainda preocupante, ele representa o segundo maior valor da

série desde 2003.

A proporção de homicídios dolosos de civis produto da intervenção dos

agentes públicos é bastante reduzida e continua no mesmo nível do ano

anterior.

O índice de letalidade dos civis experimentou um aumento em 2009 que

o fez retornar ao patamar de 2007, um ano, como acabamos de ver, com

resultados relativamente negativos. Por sua vez, o índice de letalidade dos

policiais militares caiu, o que é positivo em si mesmo, mas aumenta a

preocupação em relação ao valor dos civis. Pois se a letalidade dos policiais

diminui, esperar-se-ia que a dos civis seguisse o mesmo caminho. Conforme já

foi assinalado em relação a outros indicadores, o valor absoluto continua sendo

razoável em termos de comparação internacional, mas o seu aumento não

deixa de ser preocupante.

Em suma, os principais indicadores de letalidade contra civis (razão

entre civis e agentes mortos e índice de letalidade) se agravaram em 2009 em

relação ao ano anterior, embora o seu valor absoluto não possa ser definido

ainda como negativo.

Obviamente, estas comparações longitudinais estão baseadas no

suposto de que a comunicação dos casos segue um processo confiável e

homogêneo ao longo do tempo. Dessa forma, qualquer mudança ou omissão

11

O indicador dos dois últimos anos não pode ser calculado porque o denominador, o número de feridos, é igual a 0.

Page 25: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

24

nos procedimentos de registro e comunicação dos casos poderia enviesar os

resultados.

Curiosamente, a análise paralela da letalidade de civis e policiais

militares (Gráfico 2) revela que ambos seguem a mesma tendência entre 2002

e 2005, mas manifestam um comportamento inverso a partir de 2006. Ou seja,

desde 2006 o ano em que um indicador sobe o outro cai, e vice-versa. Esta

constatação não deixa de ser problemática, pois espera-se que a letalidade de

uns e outros evolua, a princípio, da mesma forma.

GRÁFICO 2

Índice de Letalidade contra Civis e contra Policiais Militares, por ano

ANO

2009200820072006200520032002

Índ

ice d

e L

eta

lid

ad

e

1,00

0,80

0,60

0,40

0,20

0,00

Policiais Militares

Civis

Contudo, a interpretação dos dados não é simples, pois eles incluem

não apenas confrontos relativos ao combate à criminalidade, mas outro tipo de

episódios como brigas, reações a assaltos e inclusive suicídios de policiais.

Page 26: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

25

Dessa forma, com a intenção de analisar a letalidade específica dos

confrontos armados entre policiais e supostos criminais, os indicadores foram

recalculados para os episódios classificados de ‗conflito entre agente e

suspeito‘, isto é, deixando de fora acidentes, suicídios, execuções sumárias,

agentes vítimas de assalto e conflitos inter-individuais. Os casos de conflito

entre agente e suspeito são os que respondem propriamente à dinâmica de

confrontos de agentes da lei e se prestam melhor a uma comparação

internacional. O novo total de casos passa a ser de 103.

Os novos valores dos indicadores de letalidade apenas para este tipo de

confrontos são os seguintes:

TABELA 8

INDICADORES DE LETALIDADE NO SISTEMA DE DEFESA SOCIAL DO ESTADO DE MG, PARA OS EPISÓDIOS DE CONFLITO ENTRE AGENTES PÚBLICOS E SUSPEITOS

ANO

2007 2008 2009

Número Médio de Civis Mortos por Episódio 0.41 0.36 0.36

Número Médio de Agentes Mortos por Episódio 0.04 0.02 0.02

Razão entre civis mortos e agentes mortos 11.6 20.5 18

Índice de Letalidade (razão entre mortos e feridos) para...

Civis 0.62 0.51 0.50

Policiais Militares 0.10 0.17 0.15

Policias Civis 2.0 --12 --

Em alguns casos, os valores são semelhantes aos registrados para o

total dos casos, mas em outros há diferenças importantes. Assim, o número

médio de civis mortos por episódio e o índice de letalidade para civis

permanecem quase inalterados. Já o número de agentes mortos por episódio e

a letalidade contra policiais militares registram um descenso significativo,

confirmando que o risco de vida para os policiais é muito menor durante o

trabalho policial do que em outro tipo de situações. Afinal, apenas 2 dos 15

agentes mortos falecem em confronto com suspeitos, comparado com 37 das

50 mortes de civis. Não acontece o mesmo com o risco de sofrer ferimentos

12

O indicador não pode ser calculado para os dois últimos anos porque não há casos de feridos nem de mortos nesta categoria.

Page 27: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

26

não letais, pois aproximadamente a metade dos agentes feridos é vitimizada

em confrontos com suspeitos e a outra metade em circunstâncias diversas.

Como conseqüência da estabilidade da letalidade contra os civis e da

queda da letalidade dos policiais, a razão entre civis e policiais mortos dispara

até um valor de 18. Este valor é elevado e preocupante, embora seja

levemente inferior ao do ano passado.

Em suma, o alto valor da razão entre civis e agentes mortos levanta a

suspeita da possibilidade de uso excessivo da força nos confrontos, mesmo

considerando que o reduzido valor do numerador (2) provoca uma provável

instabilidade do valor do quociente, que sofreria grandes mudanças com um

caso a mais ou a menos.

Quase todos estes confrontos com suspeitos acontecem durante o

serviço dos agentes (92%), mas há alguns casos também na folga, quando, por

exemplo, eles intervêm num crime em flagrante.

Uma análise ainda mais específica é a que corresponde aos casos de

conflito com suspeitos durante o serviço funcional. Estes são os casos que

podem ser classificados, mais propriamente, como intervenções policiais, e que

são mais susceptíveis de serem afetados pelas políticas públicas e pelas

medidas de prevenção das instituições.

Os indicadores de letalidade para esses episódios de conflito com

suspeitos durante o serviço podem ser observados na próxima tabela.

TABELA 9

INDICADORES DE LETALIDADE NO SISTEMA DE DEFESA SOCIAL DO ESTADO DE MG, PARA OS EPISÓDIOS DE

CONFLITO ENTRE AGENTES PÚBLICOS DE SERVIÇO E SUSPEITOS

ANO

2007 2008 2009

Número Médio de Civis Mortos por Episódio 0.44 0.37 0.37

Número Médio de Agentes Mortos por Episódio 0.02 0.02 0.02

Razão entre civis mortos e agentes mortos 27.5 19 17.5

Índice de Letalidade (razão entre mortos e feridos) para...

Civis 0.68 0.51 0.51

Policiais Militares 0.07 0.20 0.20

Page 28: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

27

Policias Civis -- --13 --

As cifras são muito semelhantes às obtidas na tabela anterior (quando

foram considerados todos os episódios de confronto com suspeitos), com a

única exceção de um pequeno aumento do índice de letalidade contra policiais

militares.

A razão entre civis mortos e agentes mortos continua sendo muito alta

(17,5), mesmo considerando que o valor é inferior ao dos dois últimos anos:

2009 (35 civis e 2 policiais); 2008 (38 civis e 2 policiais); e (55 civis e 2

policiais). Como já foi mencionado, o indicador é muito instável por causa do

pequeno tamanho do denominador, mas o seu resultado não deixa de causar

preocupação.

13

O indicador não pode ser calculado nos últimos dois anos porque não há casos de feridos nem de mortos nesta categoria.

Page 29: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

28

4. Características dos Episódios.

Esta seção tenta descrever o contexto e o perfil dos incidentes armados

a partir das informações registradas nos documentos.

Do ponto de vista da distribuição geográfica, quase 30% das ocorrências

aconteceram em Belo Horizonte, o que representa uma proporção ainda maior

do que a encontrada no ano passado (24%). Em segundo lugar, aparece

Contagem, com 14 incidentes, os mesmos que em 2008. Nesse sentido, a

Região Metropolitana de Belo Horizonte parece concentrar ainda mais os casos

do que em anos anteriores. Uberlândia, Betim e Sete Lagoas são outros

municípios que experimentaram vários episódios, mas a muita distância dos

anteriores.

Alguns dos centros regionais, como Governador Valadares, apresentam

ainda mais de um caso, mas muitos dos episódios estão espalhados por um

grande número de municípios do interior.

TABELA 10

NÚMERO DE CASOS POR MUNICÍPIO

Freqüência %

Belo Horizonte 42 29,2

Contagem 14 9,7

Uberlândia 5 3,5

Betim 4 2,8

Sete Lagoas 4 2,8

Governador Valadares 3 2,1

Paracatu 3 2,1

Ribeirão das Neves 3 2,1

Teófilo Otoni 3 2,1

Curvelo 2 1,4

Ipatinga 2 1,4

João Pinheiro 2 1,4

Manhuaçu 2 1,4

Nova Serrana 2 1,4

Varginha 2 1,4

Abadia de Dourados 1 ,7

Alpinópolis 1 ,7

Angelandia 1 ,7

Araguari 1 ,7

Brasilandia de Minas 1 ,7

Caraí 1 ,7

Cassia 1 ,7

Cataguazes 1 ,7

Conceição das Alagoas 1 ,7

Page 30: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

29

Divinópolis 1 ,7

Dores de Guanhães 1 ,7

Ferruginha 1 ,7

Fimonésia 1 ,7

Formiga 1 ,7

Frutal 1 ,7

Gov: Valadares 1 ,7

Guarda-Mor 1 ,7

Ibirité 1 ,7

Jaboticatubas 1 ,7

Jaiba 1 ,7

Jeciaba 1 ,7

Juatuba 1 ,7

Lagoa Santa 1 ,7

Luis Burgo 1 ,7

Manga 1 ,7

Mercês 1 ,7

Monte Carmelo 1 ,7

Montes Claros 1 ,7

Muriaé 1 ,7

Ouro Fino 1 ,7

Ouro Petro 1 ,7

Ouro Preto 1 ,7

Passos 1 ,7

Pirapora 1 ,7

Poço de Caldas 1 ,7

Poté 1 ,7

Rio Piracicaba 1 ,7

S.A Monte 1 ,7

Santa Luzia 1 ,7

São Domingues das Dores 1 ,7

São Sebastião do Anta 1 ,7

Serra do Cipo 1 ,7

Teofilo Otoni 1 ,7

Uberaba 1 ,7

Uberada 1 ,7

Uberlândia 1 ,7

DESCONHECIDO 5 3,5

Total 144 100,0

Um dado importante para a análise é o relativo às unidades de lotação

dos agentes de segurança envolvidos. Estudos em outros estados

comprovaram que a existência de sub-culturas policiais específicas em alguns

batalhões e delegacias pode elevar de forma drástica a letalidade das suas

ações. Por isso, é importante monitorar os dados sobre vitimização provocados

Page 31: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

30

pelas distintas unidades policiais para, se for o caso, tomar medidas

preventivas ou corretivas.

A próxima tabela apresenta o número de ocorrências registradas

envolvendo agentes de cada unidade, junto com a vitimização correspondente.

TABELA 11

NÚMERO DE OCORRÊNCIAS COM VÍTIMAS, DE ACORDO COM A UNIDADE POLICIAL À QUE PERTENCEM OS AGENTES

UNIDADE DE LOTAÇÃO Número de Ocorrências

Civis Feridos

Civis Mortos

Policiais Feridos

Policiais Mortos

22º BPM BELO HORIZONTE –SUL 10 3 7 0 1

45º BPM PARACATU 7 4 3 2 0

11º BPM MANHUAÇU 6 7 1 1 0

39º BPM CONTAGEM 6 3 6 3 0

16º BPM BELO HORIZONTE- LESTE 5 3 1 2 0

18º BPM CONTAGEM 5 2 2 2 0

19º BPM TEÓFILO OTONI 4 3 3 0 0

33º BPM BETIM 4 3 0 1 0

34º BPM BELO HORIZONTE-NOROESTE 4 2 1 2 0

4º BPM UBERABA 4 4 1 0 0

13º BPM BELO HORIZONTE-VENDA NOVA 3 1 0 3 0

21º BPM UBÁ 3 3 0 0 0

25º BPM SETE LAGOAS 3 2 1 0 0

6º BPM GOVERNADOR VALADARES 3 0 2 0 1

12º BPM PIUMHÍ 2 2 0 0 0

15º BPM PATOS DE MINAS 2 2 0 0 0

1º BPM BELO HORIZONTE-CENTRO 2 1 0 1 0

24º BPM VARGINHA 2 1 0 0 1

32º BPM UBERLÂNDIA 2 1 1 0 0

42º BPM CURVELO 2 2 0 0 0

46º BPM PATROCÍNIO 2 1 1 0 0

8º CIA IND OURO PRETO 2 1 1 0 0

BPE 2 0 0 2 0

BTL ROTAM 2 0 1 1 0

5º BPM 1 1 0 0 0

7º BPM 1 1 0 0 0

11ª CIA IND 1 3 1 0 0

122º CIA Jeciaba 1 0 1 0 0

125º Companhia 1 1 1 0 0

12ª CIA IND 1 1 0 0 0

14º BPM 1 0 1 0 0

17ª CIA IND 1 2 1 0 0

17º BPM 1 0 1 0 1

1ª CIA MEPS 1 0 1 0 0

20º BPM 1 0 1 0 2

Page 32: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

31

22º CIA IND 1 1 0 0 0

23º BPM 1 1 0 0 0

29º BPM 1 0 0 0 1

2ª CIA 1 1 0 0 0

2ª CIA MESP 1 0 0 1 0

2º Batalhão 1 0 0 0 1

2º DPC 1 0 1 0 0

30º BPM 1 1 0 0 0

35º BPM 1 0 0 0 1

36º BPM 1 1 1 1 0

3º BPM 1 0 0 0 1

40º BPM 1 1 0 0 0

41º BPM 1 1 0 0 0

43º BPM 1 1 0 0 0

47º BPM 1 1 0 0 0

4ª CIA IND 1 1 0 0 0

4º Depol 1 1 0 0 0

5ª CIA MESP 1 0 1 0 0

5º BPM 1 1 0 0 0

7ª CIA IND 1 0 1 0 0

7º BPM 1 1 0 0 0

8ª RPM 1 1 0 0 0

BP TRAN 1 0 0 1 0

BTM ROTAM 1 0 1 0 1

CICOP 1 1 1 0 0

DIA 1 1 1 0 0

Polícia Federal 1 0 0 0 1

DESCONHECIDA 19 10 3 6 3

TOTAL 144 86 50 29 15

O vigésimo segundo Batalhão da PM, com sede em Belo Horizonte

(Sul), é a unidade com maior número de ocorrências e de mortes. De fato, os

policiais desse batalhão estiveram envolvidos na morte de sete civis, um

registro muito elevado e superior ao obtido por qualquer outra unidade nos

últimos anos. No ano anterior, este mesmo batalhão já apresentava um alto

nível de letalidade, mas a situação se agravou significativamente em 2009.

Em segundo lugar, aparece o 45º Batalhão (Paracatu), também com um

alto número de incidentes. No ano anterior, esta unidade nem estava listada,

razão pela qual esta situação é ainda mais dramática e inesperada.

Page 33: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

32

Em terceiro lugar está o 11º BPM (Manhuaçu), que experimenta um

aumento significativo em relação ao ano anterior.

Chama a atenção a presença destes dois últimos batalhões do interior

nos primeiros lugares da lista.

Dois batalhões com sede em Contagem, o 39º BPM e o 18º BPM,

continuam registrando um elevando número de incidentes armados, com 6 e 5

episódios, respectivamente, exatamente o mesmo número do ano anterior.

O 16º BPM (Belo Horizonte- Leste) também sofre um agravamento em

relação a 2008 e escala até os primeiros lugares da lista.

O resto dos batalhões com um mínimo de 4 ocorrências são os

seguintes: 19º BPM (Teófilo Otoni), 33º BPM (Betim), 34º BPM (Belo Horizonte-

Noroeste) e 4º BPM (Uberaba). Entre eles, apenas o 33º e o 34º apareciam em

lugares destacados da lista em 2008.

Do lado positivo, o 14º BPM (Ipatinga) e o 15º BPM (Patos de Minas),

que ocupavam o primeiro lugar, respectivamente, em 2008 e 2007 parecem ter

conseguido sair daquela dramática situação.

A patente ou carreira dos membros das corporações policiais envolvidos,

seja como autores ou como vítimas, é apresentada na tabela seguinte.

TABELA 12

Patente ou Carreira dos Agentes Públicos Envolvidos

Freqüência

PM

Soldado 95

Cabo 77

Sargento 36

Tenente 6

PC

Agente 4

Delegado 1

Quase todos eles são praças e, maiormente, das patentes iniciais. Os

incidentes armados são protagonizados basicamente por soldados, cabos e

Page 34: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

33

sargentos. Este é o padrão encontrado sistematicamente nos últimos anos.

Apenas foram registrados seis tenentes.

Por sua vez, na Polícia Civil constam 4 agentes e apenas um delegado.

Em seguida, descrevemos as características dos episódios registrados.

Mais da metade dos episódios têm lugar na rua. De fato, a grande maioria dos

incidentes acontece em espaços públicos e são poucos os registrados em

espaços privados.

TABELA 13

TIPO DE LOCAL

Freqüência %

Via pública 84 58.3

Residência particular 16 11.1

Estabelecimento comercial 10 6.9

DP ou batalhão 2 1.4

Bar/ boate 1 .7

Instituição pública 1 .7

Outros 29 20.1

Não informado/Não identificado 1 .7

Total 144 100.0

Anteriormente, foi apresentada a natureza das ocorrências de acordo

com uma tipificação elaborada pela equipe de pesquisa. Uma análise

complementar é a observação da classificação dos fatos conforme consta nos

documentos e registros policiais. .Estas categorias policiais seguem, a

princípio, o REDS – Registro de Eventos de Defesa Social.

Embora um episódio possa ser registrado com mais de uma categoria,

isto só aconteceu em dois casos. Por isso, será analisada apenas a primeira

delas, conforme mostra a próxima tabela. Vale lembrar que é respeitado o

termo que aparece nos documentos oficiais. Assim, embora algumas das

categorias sejam próximas ou ainda equivalentes (como, por exemplo,

―homicídio doloso‖ e ―artigo 121 do código penal‖) elas serão apresentadas de

forma separada para manter a fidedignidade ao registro original.

Com algumas exceções, as categorias policiais dizem respeito ao dano

sofrido pela vítima: homicídio, lesão e suicídio. Apenas eventualmente, a

Page 35: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

34

tipologia faz referência ao suposto crime que deu lugar à vitimização, como

―roubo‖ ou ―formação de quadrilha‖.

Ao longo dos últimos anos, aumentaram os casos de ‗Lesão Corporal‘,

que passaram de 9% em 2007 a 16.5% em 2008 e 21,5% em 2009.

TABELA 14

CLASSIFICAÇÃO DOS FATOS PELA POLÍCIA

Natureza Freqüência % Homicídio tentado 60 41.7

Tentativa de Homicídio 2 1.4

Art. 121 c/c art. 14 II CPB 1 .7

Homicídio consumado 30 20.8

Homicídio 2 1.4

Art. 121 CPB 1 .7

Suicídio tentado 1 .7

Suicídio consumado 7 4.9

Suicídio 1 .7

Lesão corporal 31 21.5

Tentativa de roubo 1 .7

Roubo 1 .7

Roubo a mão armada 1 .7

Formação de quadrilha 1 .7

Não Informado 4 2.8

Total 144 100.0

Como vinha sendo constatado em todos os relatórios anteriores, as

polícias mineiras tipificam as mortes de civis em confronto como ―homicídios‖,

ao invés de usar categorias como ‗resistência seguida de morte‘ ou ‗auto de

resistência‘, comuns em outros estados brasileiros para evitar a prisão dos

agentes públicos e uma fiscalização mais rigorosa por parte do sistema de

justiça criminal.

Uma outra prática desenvolvida pelas polícias fluminense e paulista, por

exemplo, é registrar o episódio de acordo com o crime supostamente cometido

pela vítima fatal, omitindo a sua morte. Isto acontece em Minas Gerais muito

raramente e, mesmo assim, em casos de ferimentos e não de mortes.

Do total dos 144 episódios, 94 deles descreviam que os civis possuíam

armas de fogo e em um mínimo de 83 casos fizeram uso dessas armas.

Page 36: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

35

Levando em consideração que há 8 fatos sem civis envolvidos, isto significa

que em aproximadamente 42 episódios não há registro de armas em mãos dos

civis.

No conjunto total dos casos, há registro de apreensão de 38 armas de

civis. Nessas armas, foram documentados um total de 30 projéteis deflagrados

(uma média de 0.79 projéteis por arma arrecadada). Embora as armas possam

em alguns casos ter sido recarregadas, esta reduzida média de disparos indica

que os tiroteios em geral foram curtos, pelo menos por parte dos civis. A

maioria das armas apreendidas são revólveres (31). Há ainda 3 pistolas e 3

espingardas. O fato de que armas longas ou de repetição sejam muito raras

significa que a letalidade tenderá a ser menor do que nos estados em que

armas de caráter militar são freqüentes.

Por sua vez, os agentes de segurança pública estavam quase sempre

armados no momento dos fatos. Em apenas 8 episódios os servidores estavam

desarmados. Um total de 50 armas de agentes foram apreendidas nesses

incidentes armados: 39 pistolas e 10 revólveres. A partir dessas armas tinham

sido deflagrados um total de 29 projéteis (média de 0.58 projéteis por arma).

Este número de projéteis, inferior ao dos civis, também sugere tiroteios curtos.

A ausência de fuzis e outras armas de maior poder ofensivo entre os agentes

públicos, diferentemente do que acontece em alguns estados, é uma boa

notícia em termos de contenção da letalidade.

Em 113 incidentes (78,5% do total), os documentos descrevem que pelo

menos uma vítima foi socorrida ao hospital. Em quase todos os casos em que

há feridos, há registro de socorro médico. Vale lembrar que há também casos

de ferimentos leves, como tiros de raspão, que podem não precisar de atenção

médica hospitalar. Neste sentido, as informações disponíveis permitem concluir

que o socorro aos feridos, princípio 5c dentro dos Princípios Básicos sobre o

Uso da Força das Nações Unidas, é, a princípio, sistematicamente respeitado.

Page 37: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

36

Em mais de duas em cada três ocorrências, os agentes envolvidos

encontravam-se de serviço. Um em cada 4 casos aconteceu com funcionários

de folga. Esta proporção é a mesma que encontramos em 2007 e 2008.

TABELA 15

Os Agentes estavam de serviço durante a ocorrência?

Freqüência %

Todos 103 71,5

Nenhum 36 25,0

Não informado 5 3,5

Total 144 100,0

A letalidade dos agentes públicos é maior durante a folga: 7 dos 15

agentes mortos e 15 dos 29 agentes feridos aconteceram fora de serviço. Este

é um padrão consistente durante os últimos anos em Minas Gerais e em outros

estados do Brasil. O risco de homicídio para os policiais é maior fora do horário

de trabalho, seja por conta do trabalho em segurança privada, pelo

envolvimento em conflitos privados, ou pelos assaltos sofridos na rua. Durante

o policiamento, os servidores públicos estão relativamente mais protegidos. Por

sua vez, a vitimização dos civis é mais elevada durante o serviço dos agentes:

36 dos 50 civis mortos e 69 dos 86 civis feridos aconteceram durante

intervenções dos agentes em serviço.

Em seguida, com o objetivo de estudar especificamente as intervenções

dos operadores de segurança pública, foi estudada a vitimização apenas dos

casos classificados como ―conflito entre agentes e suspeitos‖. Para esta análise

foram excluídos, entre outros, os ―conflitos inter-individuais‖, as ―execuções

sumárias‖, os ―disparos acidentais‖, os ―suicídios‖ e os ―agentes vítimas de

assaltos‖. O novo total é de 103 casos.

Estas ocorrências podem ser classificadas, de acordo com o tipo de

intervenção, da seguinte forma:

Page 38: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

37

TABELA 16

Tipo de Intervenção

Freqüência %

Chamado 46 44,7

Patrulhamento rotineiro 30 29,1

Operação especial 14 13,6

Folga 5 4,9

Outros 1 1,0

Total 96 93,2

Sem informação 7 6,8

Total 103 100,0

As respostas a chamados abrangem quase a metade dos episódios,

seguidas dos incidentes acontecidos durante o patrulhamento rotineiro. Apenas

14 ocorrências mencionavam uma operação especial.

Com o objetivo de comparar a letalidade das diversas intervenções,

calculamos a média de mortos e feridos segundo o tipo de intervenção.

Entretanto, as médias são com freqüência instáveis, dado o pequeno número

de casos em muitas células.

O número de civis feridos por ocorrência é maior nos casos em que os

agentes estavam de folga, embora o número de casos é pequeno demais para

estabelecer conclusões confiáveis. Já a média de civis mortos tende a ser mais

alta nas operações especiais, mas as diferenças com outros tipos de

intervenção não são muito grandes.

Por outro lado, registram-se mais agentes feridos durante a folga, o que

é compatível com uma situação de surpresa e de ausência de apoio de outros

colegas, diferentemente do que costuma acontecer durante o serviço. Os dois

únicos agentes mortos em confronto são contabilizados em operações

especiais.

Estes resultados são semelhantes aos obtidos em 2007 e 2008.

Page 39: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

38

TABELA 17

Média de Feridos e Mortos por Episódio, segundo o Tipo de Intervenção

Tipo de Intervenção Civis

Feridos Civis Mortos Agentes Feridos

Agentes Mortos

Chamado Média de Vítimas ,76 ,28 ,13 ,00

Número de Casos 46 46 46 46

Patrulhamento rotineiro Média de Vítimas ,77 ,40 ,10 ,00

Número de Casos 30 30 30 30

Operação especial Média de Vítimas ,43 ,50 ,07 ,14

Número de Casos 14 14 14 14

Folga Média de Vítimas 1,20 ,20 ,20 ,00

Número de Casos 5 5 5 5

Outros Média de Vítimas 1,00 1,00 1,00 ,00

Número de Casos 1 1 1 1

Total Média de Vítimas ,74 ,35 ,13 ,02

Número de Casos 96 96 96 96

As intervenções dos agentes de segurança estiveram motivadas, na

grande maioria das ocasiões, por delitos flagrantes ou por abordagens de

suspeitos. Em 12 casos, os agentes relataram simplesmente que foram

―recebidos a tiros‖ quando entravam num local, um número inferior ao

registrado no ano anterior (23).

Por outro lado, o número de ocorrências que são conseqüência de

ordens de apreensão ou busca é muito pequeno, o que implica que os

incidentes armados acontecem de forma inesperada e sem planejamento.

TABELA 18

Motivo da Intervenção dos Agentes Públicos

Freqüência %

Delito Flagrante 40 38,8

Abordagem de suspeito 39 37,9

Recebidos a tiros 12 11,7

Não houve/ nenhum 4 3,9

Apreensão/ registro com ordem judicial 2 1,9

Participação/ envolvimento em brigas 1 1,0

Outros 3 2,9 Sem Informação 2 1,9

Total 103 100,0

Nos casos em que o confronto foi provocado por um crime cometido

anteriormente, o roubo é o crime mais comum. De fato, a importância do roubo

cresceu notavelmente em relação ao ano anterior (30% em 2009 versus 17%

em 2008).

Page 40: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

39

TABELA 19

Crime prévio que ocasionou o Incidente Armado

Freqüência %

Roubo 31 30,1

Tráfico 7 6,8

Homicídio 2 1,9

Furto 1 1,0

Outros 43 41,7 Nenhum 17 16,5

Sem informação 2 1,9

Total 103 100,0

O tráfico de drogas aparece em segundo lugar, mas com um número de

casos bastante reduzido. Assim, o tráfico de drogas não é, como em alguns

outros estados, o pivô dos confrontos armados entre agentes públicos e

suspeitos. Em apenas 9 ocorrências (8,7%) houve apreensão de drogas

posteriormente ao incidente. Esta proporção de casos com apreensão de

entorpecentes é semelhante à encontrada em 2007, após um aumento no ano

de 2008 (18%)14.

14

No Rio de Janeiro, uma pesquisa sobre intervenções policiais com vítimas civis revelou que 29% das ocorrências fatais relatavam apreensão de drogas (cf. Cano, I. (1997) Letalidade da Ação Policial no Rio de Janeiro. ISER.

Page 41: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

40

5. Conclusões e Recomendações.

As conclusões principais do estudo podem ser resumidas assim:

1. A cobertura das informações sobre incidentes armados fornecidas

pelas corporações está melhorando progressivamente nos últimos

anos, como revela o fato de que apenas 3 casos tiveram como

origem matérias de imprensa em 2009. O objetivo final, que continua

sendo uma cobertura completa do sistema oficial de informações que

torne desnecessária a utilização de outras fontes, encontra-se,

assim, mais próximo. Entretanto, o número de casos registrados no

mês de dezembro é muito pequeno, levantando a suspeita de que

talvez não tenha havido tempo suficiente para encaminhar em tempo

todos os casos do último período.

2. O número de incidentes armados envolvendo agentes do estado que

resultaram em vítimas é de apenas 144, continuando um descenso

que começou em 2005. De fato, 2009 apresenta o menor valor de

toda a série histórica. Em relação à natureza dos fatos, há uma

diminuição dos conflitos privados e um aumento dos assaltos contra

agentes de segurança, quando comparados ao ano anterior. Com

efeito, os assaltos contra servidores públicos da área de segurança

constituem um problema significativo, tanto pela sua maior freqüência

quanto pela sua alta letalidade. Por sua vez, o risco de suicídio

desses funcionários continua no mesmo patamar do ano anterior.

3. O número de civis mortos em intervenções de agentes de segurança

pública se mantém no mesmo nível de 2008 e o número de civis

feridos cai moderadamente no mesmo período. Por outro lado, o

número de agentes públicos feridos em incidentes armados cresce

um pouco, e o número de agentes mortos diminui. Avaliando o

número de mortes de acordo com diversas ponderações (o tamanho

da população, o número de homicídios e o número de prisões) as

conclusões básicas se mantêm: a letalidade dos civis está

estabilizada e a dos agentes decresce em alguma medida. Já

quando usamos como referência o número de apreensões de armas,

Page 42: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

41

todos os indicadores são suavizados devido ao incremento das

apreensões de armas no último ano.

4. Os indicadores específicos de letalidade contra civis (número de civis

mortos por episódio; razão entre civis e agentes mortos; proporção

de homicídios dolosos resultado de intervenções policiais; e índice de

letalidade) são, em 2009, algo piores do que em 2008, mas em geral

não atingem o mesmo nível de 2007, que foi um ano com valores

relativamente agravados. De qualquer forma, os valores absolutos

dos indicadores estão dentro de parâmetros internacionais e não

podem ser considerados como negativos. A proporção de homicídios

devidos à intervenção de agentes públicos, por exemplo, é bastante

reduzida.

5. A evolução temporal da letalidade de agentes públicos e de civis

segue tendências opostas entre 2006 e 2009: quando uma delas

sobe a outra tende a descer, o que constitui um resultado

inesperado, na medida em que as duas deveriam seguir padrões

paralelos.

6. Quando se consideram apenas os confrontos entre suspeitos e

agentes em serviço, que caracterizariam as intervenções policiais

propriamente ditas, os indicadores de letalidade mostram

estabilidade em 2009 em relação ao ano anterior. Os valores são

todos razoáveis com uma exceção marcante: há 17,5 civis mortos

para cada servidor de segurança morto. Esta cifra, embora

levemente inferior à dos anos recentes, ultrapassa o patamar

considerado aceitável e pode representar uso excessivo da força.

Embora o número seja instável por conta do tamanho reduzido do

denominador (apenas dois policiais mortos em confronto), o resultado

do indicador é preocupante e precisa ser monitorado no futuro.

7. Para os agentes públicos, o risco de ser vítima fatal é claramente

maior na folga —por conta de outros trabalhos, brigas, assaltos e

suicídios— do que durante o próprio serviço. Basta comprovar que

apenas 2 dos 15 agentes falecidos morreram em confronto com

suspeitos, comparados com 8 vítimas de suicídio, por exemplo.

Page 43: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

42

8. Os incidentes armados costumam ocorrer na rua, freqüentemente

como resultado de delitos flagrantes ou de abordagens de suspeitos.

Nesse sentido, o delito mais comum é o roubo, que ganha

importância em relação ao ano passado. Em conseqüência, a grande

maioria destes incidentes armados não acontece em operações

planejadas, o que dificulta a prevenção.

9. O registro policial dos confrontos armados é realizado em B.O.s que

costumam ser intitulados como ‗homicídio‘ ou ‗lesão corporal‘,

conforme a lei manda. São raros os casos em que os fatos são

classificados pela polícia de acordo com o suposto crime cometido

pela vítima civil. Em suma, não existe uma tentativa de encobrir os

fatos recorrendo a uma tipificação que omita as vítimas fatais. Por

outro lado, a obrigação de prestar socorro aos feridos parece ser

cumprida de forma sistemática.

10. A unidade policial com maior número de incidentes armados é o 22º

Batalhão da Polícia Militar (Belo Horizonte - Sul), que contabiliza 10

ocorrências e 8 vítimas mortais (7 civis e 1 policial), o valor mais

dramático registrado nos últimos anos para qualquer unidade policial.

Este batalhão já tinha um histórico de alta letalidade, que se

deteriorou no último ano. A seguir, aparecem dois batalhões do

interior: o 45º BPM (Paracatu), que nem figurava nas listas do ano

anterior, e o 11º BPM (Manhuaçu), que piorou seus indicadores.

Contagem continua tendo dois batalhões (o 39º BPM e o 18º BPM)

com altos níveis de letalidade. No lado positivo, o 14º BPM (Ipatinga)

e o 15º BPM (Patos de Minas), que encabeçavam o ranking nos

últimos anos, conseguiram abaixar seus índices em 2009.

Page 44: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

43

Em função das análises e conclusões precedentes, é possível formular

as seguintes recomendações:

1. Convocar reuniões entre os comandantes dos batalhões com maior

letalidade e a Comissão de Acompanhamento da Letalidade, além de

outras autoridades da Secretaria de Defesa Social, para tentar

entender as causas desse cenário em cada área e para formular

medidas preventivas.

2. Refletir sobre os procedimentos operacionais a serem adotados

quando os agentes de segurança pública são vítimas de assalto,

para diminuir o risco e a vitimização nestes eventos de alta letalidade

e freqüência crescente. Por exemplo, poderia ser criado um

Procedimento Operativo Padrão (POP) sobre a reação em caso de

assalto e este procedimento poderia ser usado no treinamento nas

academias.

3. Recomendar à Comissão de Acompanhamento da Letalidade uma

análise detalhada dos casos em que a arma de fogo é utilizada pelo

agente público contra pessoas que não possuíam arma de fogo no

momento dos fatos, para verificar se o uso foi justificável e para

pensar, de qualquer forma, em procedimentos e medidas que

possam diminuir a chance desse uso. Entre estas ocorrências

podemos destacar:

a. Disparos efetuados durante luta corporal, particularmente

quando os disparos são supostamente acidentais e quando há

mais de um disparo. Existe um caso, por exemplo, em que o

relato descreve nada menos do que três disparos acidentais

durante a luta.

b. Casos em que há mais civis mortos do que armas

apreendidas. Num determinado episódio, por exemplo, os

documentos relatam dois civis mortos e apenas uma arma

apreendida.

c. Disparos contra pessoas que a princípio não estavam

armadas, aparentemente para evitar a fuga. Vale lembrar que

este procedimento é frontalmente contrário aos princípios

internacionais, que só autorizam o uso da força letal contra

Page 45: RELATÓRIO FINAL - crisp.ufmg.br...César Romero Machado Santos (Corregedor da Polícia Militar) Dr. Geraldo de Moraes Júnior (Corregedor-Geral de Polícia Civil) Cel. Israel Marcos

44

quem representa uma ameaça iminente de morte ou grave

ferimento para terceiros.

d. Uso da arma de fogo contra civis armados com instrumentos

cortantes, como facas o garrafas, particularmente quando o

mencionado uso teve um resultado fatal.

e. Disparos de advertência para o alto que resultam em vítimas.

Idealmente, os disparos de advertência deveriam ser

eliminados em qualquer circunstância.

f. Disparos efetuados por um agente de segurança que alega

que confundiu um movimento da vítima, que estava

desarmada, com a tentativa de puxar uma arma. O

treinamento sobre o uso da força policial deve enfatizar a

capacidade de distinguir uma arma na não do opositor, para

não confundi-la com outros objetos ou com determinados

movimentos.

4. Incorporar de forma ampla armamento de menor potencial ofensivo

(não letal ou menos letal) dentro das opções disponíveis para todos

os policiais no seu trabalho cotidiano, e não apenas para

grupamentos especiais. Há diversos episódios em que os agentes

fazem uso da arma de fogo contra pessoas armadas de objetos

cortantes ou contundentes. Em muitas dessas ocorrências,

espargidores de pimenta ou diversas outras armas de menor

potencial ofensivo poderiam ter sido empregadas, minimizando assim

o risco e o dano para todos os envolvidos.