o rosacruz - 258

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**< CONSTRUINDO PONTES, LIGANDO MUNDOS ** O QUE É A FILOSOFIA PARA O ROSACRUZ »* ÁGUA, ELEMENTO PRIMORDIAL DA VIDA ** O PERDÃO E A ALMA INTERIOR » A ROSA E A CRUZ Chateau d'Omonville Sede da Jurisdição de Língua Francesa da AMORC

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Page 1: O Rosacruz - 258

**< CONSTRUINDO PONTES, LIGANDO MUNDOS

** O QUE É A FILOSOFIA PARA O ROSACRUZ

»* ÁGUA, ELEMENTO PRIMORDIAL DA VIDA

** O PERDÃO E A ALMA INTERIOR

» A ROSA E A CRUZ

Chateau d'Omonville Sede da Jurisdição de Língua Francesa da AMORC

Lucio
Sello
Page 2: O Rosacruz - 258

Feliz Natal

Bem antes de o Natal chegar

comecemos a vibrar

h a r m o n i o s a m e n t e .

Q u a n d o a festa chegar,

vamos sorrir e cantar

com a Alma.

O mais que p u d e r m o s

vamos prolongar

esta Festa Interior.

U m dia p o d e r e m o s unir,

sem começo n e m fim,

u m Natal a outro.

Então, todos os dias,

serão dias de sentir

u m F E L I Z NATAL.

A todos os seres de todos os continentes e recantos da Terra, aos Fratres e Sorores, aos

familiares, amigos e colaboradores, os votos de Boas Festas e um Ano Novo de muita

esperança, com muita PAZ.

Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa

Page 3: O Rosacruz - 258

A AMORC-GLP -Segundo Cinqüentenário A presente edição de n° 258 de O Rosacruz é muito especial. A variedade rica dos temas é significativa e todos eles são de interesse direto dos Rosacruzes. Tenho a Convicção que entre os assuntos tratados o que causará maior impressão em nossas mentes é o intitulado "Construindo pontes, ligando mundos", extraído do Rosicrucian Forum, que põe em destaque o misticismo como instrumento que interliga o mundo material com o mundo imaterial, grande objetivo dos estudos Rosacruzes. "Só existe um canal pelo qual os reinos físico e psíquico podem ser ligados e esse

canal é o misticismo". Diz o texto, que através do misticismo, o Rosacruz atinge o seu clímax, abrindo a compreensão individual para interligação dos nossos mundos físico e psíquico. Recomendo sua leitura atenta e minuciosamente.

Ainda nas atividades do primeiro cinqüentenário incluímos mais um grupo de estudantes Rosacruzes para uma viagem místico-iniciática ao Egito em novembro deste ano. Todas as visitas aos monumentos templários são enriquecidas com cerimônias místicas de valor, de conformidade com instruções de nosso Imperator, Frater Christian Bernard que transformou as viagens ao Egito em cerimônias iniciáticas culminando com a iniciação na Câmara do Rei, na Pirâmide de Queóps.

Nós próximos dias, ainda no mês de dezembro de 2006, estaremos iniciando a campanha promocional para a construção da Morada do Silêncio II a ser erguida no município de Piraí, Estado do Rio de Janeiro. Aquela Morada será menor que a do Paraná e mais adequada para os rosacruzes da região, sobretudo do Rio de Janeiro e circunvizinhanças. E mais uma promoção da AMORC-GLP para benefício dos nossos estudantes, proporcionando-lhes mais um Lar Espiritual. A Grande Loja já dispõe de parte dos recursos necessários e manterá a todos informados do êxito e das contribuições recebidas. Estamos aguardando a aprovação do projeto pela Prefeitura de Piraí, para darmos seguimento.

Ainda no início do segundo cinqüentenário em 2006 há muitos outros trabalhos novos para o crescimento da Ordem Rosacruz na Língua Portuguesa. Estamos sempre ao dispor dos voluntários que queiram ajudar. Aqueles que se propõem, estejam à vontade para juntar suas mãos e mentes às nossas em novas realizações e experiências, na expansão local e adquirindo nossos suprimentos e livros, oferecendo-os àqueles que ainda não se afiliaram ou não conhecem a nossa Ordem. Há muitos amigos que apreciam a imagem da AMORC e tenho certeza que lhes falta o convite de um Rosacruz exemplar para promover sua afiliação.

Aproveito para desejar-lhes um Feliz Natal e Venturoso Ano Novo com seus amigos e familiares. Que a Paz esteja com todos e que as bênçãos Cósmicas nos inspirem eternamente.

Até o próximo trimestre com votos de um 2007 de muito crescimento. Sejamos todos construtores de pontes.

Fraternalmente . Grande Mestre

M E N S A G E M

Page 4: O Rosacruz - 258

* nesta edição 04 Chateau d'Omonville

GRANDE LOJA DA JURISDIÇÃO DE L ÍNGUA FRANCESA DA A M O R C

15 Esoterismo - A Tríade Mística O PANTACULO" XI, n 1 1 . 2 0 0 3 - GLP

16 Água: o elemento primordial da vida Por RUY R O C H A J Ú N I O R . FRC

20 O Exilado Por ÁLVARO W A N D E R L I FILHO. FRC

22 O perdão e a Alma Interior Por LONNlE C. E D W A R D S . FRC

2 8 O que é a Filosofia para o Rosacruz Por SERGE TOUSSAINT. FRC

3 3 A Rosa e a Cruz de Robert Fludd Por PETER B I N D O N . FRC

36 A Teoria do Big Bang e a criação do Universo Por ADÍL IO JORGE M A R Q U E S . FRC

42 Constantino e o culto do Sol Invictus Por OCÍVIO S A N T ' A N N A . FRC

4 6 Construindo pontes, ligando mundos ROSICRUCIAN F O R U M

51 A busca Por MERCEDES P A L M A PARUCKER. SRC

52 Opinião C O M E N T Á R I O S DOS LEITORES

Í N D I C E

Page 5: O Rosacruz - 258

O Rosacruz é uma publicação tr imestral da Juris­d i ção d e L íngua P o r t u g u e s a da An t iga e Mística Ordem Rosae Crucis. As demais juris­

dições da Ordem Rosacruz edi tam uma revista do mesmo gênero: El Rosacruz, em espanhol; Rosicrucian Digest e Rosicrucian Beacon, em inglês; Rose + Croix, em francês; Crux Rosae, em alemão; De Rooz, em holandês; Ricerca Rosacroce, em italiano; Barajuji, em japonês e Rosenkorset, em línguas nórdicas.

Seus textos não representam a palavra oficial da AMORC, salvo quando indicado explicitamente neste sentido.

O conteúdo dos artigos representa a palavra e o pensa­mento dos próprios autores, e são de sua inteira respon­sabilidade os aspectos legais e jurídicos que possam estar inter-relacionados com sua publicação.

Esta publicação foi compilada, redigida, composta e impressa na Ordem Rosacruz, AMORC - Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa.

Todos os direitos de publicação e reprodução reservados à Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis, AMORC -Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa. Proibida a reprodução parcial ou total por qualquer meio.

• Coordenação e Supervisão Charles Vega Parucker, FRC

• Editor Mercedes Palma Parucker, MTb-580.

• Colaboração Estudantes Rosacruzes e Amigos da AMORC

• Ass ina turas Ligue para (0xx41) 3351-3060. 1 ano: R$ 25,00 - 2 anos: RS 48,00

Capa Chateau d 'Omonvi l le ,

Grande Loja da

Jurisdição de Língua

Francesa da Antiga e

Mística O r d e m Rosae

Crucis, AMORC,

localizada na

Normand ia , França.

Colaborações • Todas as colaborações devem estar acompanhadas pela

declaração do autor cedendo os direitos ou autori­zando a publicação.

• A GLP se reserva o direito de não publicar artigos que não se encaixem nas normas estabelecidas ou que não esti­verem em concordância com a pauta da revista.

• Envie apenas cópias digitadas, por e-mail, CD ou disquete. Originais não serão devolvidos.

• No caso de fotografias ou ilustrações, o autor do artigo deverá providenciar a autorização necessária para publicação perante as autor idades per t inentes ou autores respectivos.

• Os temas dos artigos devem estar relacionados com os estudos e práticas rosacruzes, misticismo, arte e ciências, e de cultura geral.

Propósito da Ordem Rosacruz A Ordem Rosacruz, AMORC é uma organização internacional de caráter cultural, místico e fraternal, de homens e mulheres dedicados ao estudo e aplicação prática das leis naturais que regem o universo e a vida.

Seu objetivo é promover a evolução da humanidade através do desenvolvimento das potencialidades de cada indivíduo e propiciar uma vida harmoniosa para alcançar saúde, felicidade e paz.

Para esse objetivo, a Ordem Rosacruz oferece um sistema eficaz e comprovado de instrução c orientação para um profundo autoconhecimento e a compreensão dos processos que determinam a mais alta realização humana. Essa profunda e prática sabedoria, cuidadosamente preservada e desenvolvida pelas Escolas de Mistérios Esotéricos, está à disposição de toda pessoa sincera, de mente aberta e motivação positiva e construtiva.

Ordem Rosacruz, AMORC - Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa Rua Nicarágua, 2620 - Bacacheri - 82515-260 - Curitiba - PR - www.amorc.org.br Caixa Postal 4450 - 82501-970 - Fone: (0xx41) 3351-3000 - Fax: 3351-3065 e 3351-3020

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Chateau d'Omonville

Grade Loja da Jurisdição de

Língua Francesa da AMORC

A M O R C N O M U N D O

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Se a Europa é o berço do Rosacru­cianismo, a França ocupa um lugar privilegiado na história de nossa

I Ordem, pois foi numa cidade francesa - Toulouse - que Harvey Spencer Lewis foi iniciado e investido em sua missão. São muitos os filósofos e místicos franceses e, como membros da Fraternidade Rosacruz, não importa qual seja nossa nacionalidade, somos simbolicamente seus herdeiros.

Embora os Rosacruzes tenham estado presentes e ativos na França desde o século XVII, foi no início da segunda guerra mun­dial que, sob a égide da AMORC, eles pude­ram exercer plenamente suas atividades. Desde 1993, é Serge Toussaint que exerce a função de Grande Mestre com muito compro­metimento e dedicação, pois as atividades dessa Jurisdição são muito importantes e se estendem a muitos países. Apresentaremos neste artigo, de forma resumida e ilustrada, um panorama do conjunto da Grande Loja, cuja sede está localizada no coração da Normandia, no Chateau d'Omonville. Para aqueles - e não são poucos - que se interes­sam por História, eis aqui a história deste patrimônio.

1750. Era uma vez, no reino da França, no coração do verdejante ducado da Normandia, um belo palacete com o nome de "Osmonville"...

Nos nossos dias, existe, na França, na próspera e sempre verde Normandia, um belo palacete chamado "Omonville"...

Localizado na vila de Tremblay-Omonville, no departamento do Eure, a vinte quilômetros da comuna de Evreux, desde dezembro de 1969 o Chateau d'Omonville pertence à Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis, AMORC. Antes daquela data, a sede da AMORC para os países de língua francesa se localizava na antiga propriedade da falecida Grande Mestre Jeanne Guesdon, em Villeneuve-Saint-Georges. Embora nos dias que se seguiram à segunda guerra mundial essa propriedade tenha testemunhado o renascimento das

atividades rosacruzes na França, ela logo Ficou pequena e a aquisição de um novo imóvel, maior e mais apropriado, se tornou imprescindível. Como não existem coinci­dências, é difícil dizer se foi nossa Ordem que escolheu essa construção maravilhosa repleta de história ou se foi o local que atraiu para si a Egrégora Rosacruz. Mas uma coisa é certa, as relações estabelecidas no dia-a-dia se fortalecem a cada ano que passa. A harmonia e a beleza que reinam aqui só se comparam à ordem, à adequação e à organização que causam admiração não só a visitantes rosa­cruzes, mas também a não-membros, espe­cialistas em patrimônios históricos, escolas,

O1 V i são p a n o r â m i c a d o C h a t e a u 0 2 . V i s ã o n o r d e s t e d o C h a t e a u

T a n q u e p r ó x i m o a o C h a t e a u

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associações e clubes diversos a quem regu­larmente abrimos nossas portas.

A história do Chateau d'Omonville apresenta inúmeros pontos de interrogação que as pesqui­sas históricas talvez nunca consigam resolver. Mas,

é interessante notar que a tradição local -assim como certos arquivos - menciona que palacetes de madeira foram construídos sucessivamente neste local numa época bem remota, de uma forma bem semelhante ao que acontecia na época dos primeiros castelos fortificados que, antes de serem construídos em pedra, eram construídos em madeira. Arquivos existentes relatam que, em 1225, um certo Galeran d'Osmonville fez a doação de uma área de floresta aos Templários da Comanderia de Saint-Etienne-de-Tenneville, atual vila de Sainte-Colombe-la-Comanderie, localizada a um quilômetro do Chateau d'Omonville. Essa Comanderia Templária foi, na época, uma das mais importantes da Normandia, e sua história é das mais inte­ressantes. Grandes nomes da Cavalaria moravam e realizavam ali reuniões de con­selho, e ligações estreitas acabaram se esta­belecendo entre os Templários e os habitantes de Osmonville.

Passaram-se os séculos e, em 1750, o proprietário das terras, Robert-Philibert Le Carpentier Deslongvaux, mestre ferreiro, senhor e barão de Combon-du-Tremblay, mandou construir o palacete segundo projeto

do arquiteto Le Chartier. Este arquiteto foi também o mestre-de-obras de uma parte da tão famosa e impressionante Abadia do Bec Hellouin, situada a aproximadamente quinze quilômetros de Omonville, donde a seme­lhança entre as chaves esculpidas nas janelas e na escadaria interna do Chateau d'Omonville e as daquela Abadia. Robert-Philibert e sua esposa Jeanne-Margarite Leblond tiveram quatro filhos, dos quais Pierre-Jacques Le Carpentier - que se casou com Elisabeth du Cotton de Berbois - foi quem herdou o palacete. O filho de Pierre-Jacques, Hilaire le Carpentier de Sainte-Opportune, o sucedeu e teve sete filhos com sua esposa Adelaide de Planterose. A propriedade permaneceu na família até 1860, data em que o palacete foi vendido ao comerciante Le Sage-Maille, a quem sucedeu sua filha Dannet.

Tendo passado pelas perturbações e pelos abusos da Revolução, assim como, bem mais tarde, pelos da ocupação alemã, o palacete, entretanto, resistiu e se tornou - há algu­mas décadas - propriedade de um senhor chamado Manceaux, tabelião e cunhado do famoso pianista e compositor Francis Poulenc, que soube buscar nesse local aprazível sua inspiração artística. Manceaux realizou uma ampla e minuciosa restauração, devolvendo vida e brilho a essa jóia da arquitetura que, abandonada por muito tempo, foi grave­mente danificada, inclusive por um incêndio. Infelizmente, com sua morte, o palacete ficou novamente abandonado por muitos anos e, quando a AMORC o adquiriu, no inverno de 1969, trabalhos importantes precisaram ser realizados.

Localizado numa área de sete hectares, o palacete é construído em pedra talhada e chega-se ao andar térreo por uma escadaria de poucos degraus. E uma construção de dois andares coberta por telhas de ardósia. Cada uma das alas tem, como anexo, um pequeno pátio fechado por muros encimados por um parapeito de pequenas colunas,

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pátios estes que rodeiam as dependências de uso comum e a capela, respectivamente. A primeira vista, não se percebe que durante três quartos de século, este palacete permaneceu inacabado, pois, em 1750, apenas a parte central e a ala direita foram construídas. A estrutura esquerda sem a chaminé foi erguida no reino de Luis-Felipe. Toda a parte construída no século XVIII conserva o madeiramento da época. As armas da família Carpentier eram "um escudo azul com duas carpas prateadas uma de costas para a outra e, na parte superior do escudo, uma faixa vermelha decorada com três rosetas de esporas douradas". É interessante notar que os brasões das fachadas norte e sul não correspondem a essas armas.

Dentro do palacete, a antiga sala de música mostra um belo revestimento de madeira envernizada, que lhe dá uma

atmosfera bem aconchegante. Exibe também uma tapeçaria Aubusson reproduzindo uma cena galante da pintura de Lancret, intitulada Velhice, que atualmente está exposta na National Gallery em Londres. A lareira em mármore é totalmente revestida com chapas de ferro como era costume fazer antigamente. A maior parte das chapas de ferro das lareiras do palacete são decoradas com cenas, em baixo-relevo, inspiradas no simbolismo do fogo. O pequeno toucador contíguo à sala de música é revestido com madeira proveniente do Palacete real de Saint-Hubert, propriedade de Madame de Pompadour, cuja graça permeia o local.

Escultura de anjo com aquário nos jardins... Brasão da fachada sul Sala de musica, atual gabinete do Imperator Lareira da Sala Principal

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O hall de entrada, em seguida, tem a forma octogonal que caracteriza a parte central do palacete. Dois enormes armários embutidos de canto sugerem que, no passado, esta sala era usada como sala-de-jantar de inverno. Percebe-se também ali espelhos ou painéis de época incrustados no revestimento de madeira, posicionados acima das lareiras ou das portas.

Num nível mais baixo, a cozinha "azul" - assim chamada pelo fato de suas paredes serem totalmente revestidas com azulejos de Delft (Holanda) - tinha, antigamente, uma enorme lareira. Ainda guardando os utensílios de cobre deixados por Jeanne Guesdon, esta cozinha se mantém como testemunho da história do Chateau.

A biblioteca do primeiro andar também tem suas paredes revestidas de carvalho. Nas quatro paredes estão esculpidos os

emblemas de Mercúrio e de Minerva, certamente obra de Companheiros, simbolizando o comércio e as artes. O piso trabalhado de um dos escritórios do primeiro andar provém de um antigo palacete de Touraine. É um parquê do século XVIII, feito de uma curiosa combinação de carvalho e mogno. No centro do piso vê-se uma cruz de Malta confeccionada com quatro tipos diferentes de madeira.

Esses comentários iniciais privilegiaram a vida passada deste palacete, que está agora registrada como patrimônio histórico, e cuja aura leva para sempre gravada a marca da Rosacruz.

Outras dependências antigas completam esse conjunto arquitetônico basicamente do século XVIII. Uma delas abriga as atividades da Difusão Rosacruz, cuja finalidade primeira é tornar conhecido o pensamento

A M O R C N O M U N D O

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Rosacruz através de suas publicações. Até o momento, cerca de cinqüenta livros já foram publicados, e essa coleção - que esperamos continue crescendo - oferece não apenas as grandes obras clássicas rosacruzes, mas também muitos outros livros mais recentes, frutos do trabalho de membros da Universidade Rosacruz Internacional.

Um edifício idêntico e paralelo à Difusão Rosacruz abriga um acervo impressionante: a biblioteca. Esta contém cerca de dez mil livros dedicados basicamente ao esoterismo e à espiritualidade. Essas obras foram divididas em um acervo antigo (1540-1849) e num acervo moderno (1850 aos nossos

dias). Essa biblioteca contém também uma coleção de revistas esotéricas e, como não poderia deixar de ser, de inúmeros arquivos rosacruzes. Apesar de não estar aberta ao público, ela pode receber pesquisadores, mediante solicitação. Dois arquivistas trabalham nela permanentemente.

08. Toucador Pompadour Hall de entrada

10. Cozinha azul Dependências da Difusão Rosacruz e Departamento de Informática Antiga biblioteca do 1 ° andar Visão externa da nova biblioteca Visão interna da nova biblioteca

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Em 1978, foi construído no mesmo terreno um edifício perfeitamente integrado ao local histórico. Contém vários escritórios e um amplo espaço de armazenamento. É nesse local que estão centralizados os traba­lhos de informática e de arquivamento da correspondência. Um pouco mais afastado, num local escondido por árvores centenárias, se encontra a imprensa de onde saem todos os dias monografias, boletins, revistas e documentos diversos. Bem ao lado, está um outro edifício: o da expedição das monogra­fias. Um outro edifício, menor, é destinado à fabricação do incenso rosacruz: cerca de trinta mil caixas de incenso são produzidas todos os anos.

Entre as demais dependências, existe um belo salão de confraternização e cozinhas que permitem receber grupos de visitantes. A esse conjunto se agrega o prédio da recepção geral

ao qual se dirigem os visitantes quando chegam ao Chateau. É exatamente deste local que são atendidas as chamadas telefônicas e onde os correios entregam a correspondência diariamente.

Um dos pontos focais da Grande Loja é certamente o Grande Templo onde o ritual do Conselho de Auxílio Espiritual é realizado todos os dias, e que se localiza no primeiro andar de uma antiga construção chamada de "Estufa". O térreo dessa antiga estufa serviu em outras épocas de jardim de inverno ou de salão de verão. Os espelhos de época, ao norte, refletem a luz das várias janelas do sul.

Os revestimentos de cerâmica do piso e de madeira das paredes são maravilhosos, e uma mesa oval de dimensões impressionantes preenche essa peça que atualmente é usada como sala de reuniões. Na entrada, o "Cavaleiro da Rosa" guarda o

A M O R C N O M U N D O

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local e representa o guardião do Grande Templo. Este último, de que o profano não adivinha nem a existência e nem a entrada, foi criado no sótão do pavilhão. Pode-se chegar a ele subindo uma estreita escadaria de madeira em caracol.

Saindo da Estufa, pode-se contemplar os jardins à francesa do lado norte do palacete, uma versão reduzida da criação de LeNôtre para o Palácio de Versalhes. Cercado de roseiras e ladeado por dois bosques de tílias e abrigando - uma de frente para a outra - as estátuas em terracota, consideradas patrimônios históricos, de Flora e de Diana, encarnando as duas polaridades da natureza.

Olhando para trás, vemos o palacete através do gradil azul que leva à Capela. Esta, localizada dentro de um pequeno pátio, só foi construída no século XIX. Missas foram celebradas nela por muito tempo e alguns habitantes da vila ainda se lembram de terem participado delas cantando no coro quando crianças. Ainda permanece decorada como naquela época e nos lados do coro central se encontram duas pequenas salas laterais, uma das quais é o Sanctum do Imperator e a outra o do Grande Mestre.

Saindo da capela e subindo alguns degraus, entramos no palacete. No andar térreo, voltamos à Sala de Música, que atualmente é o escritório do Imperator. Algumas outras belas salas são usadas como secretarias, mas uma parte desse nível

V isão e x t e r n a da e x p e d i ç ã o V i s ã o i n t e r n a da e x p e d i ç ã o Fáb r i ca d e i n c e n s o I m p r e n s a Salão de C o n f r a t e r n i z a ç ã o R e c e p ç ã o gera l A a n t i g a e s t u f a O Cava le i ro da Rosa Sala de reun iões Os j a r d i n s à f r a n c e s a

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também pode ser usada pelo Grande Mestre para receber seus convidados, como o Salão Principal ou a sala de jantar. Pode-se chegar ao primeiro andar por uma bela escada de pedra talhada e é lá que fica o escritório do Grande Mestre e onde se concentram

diversos outros serviços, como a Revista Rosacruz, o Fórum, os Amigos da AMORC, as viagens rosacruzes, assim como a seção de Ensino, a secretaria da Tradicional Ordem Martinista, a seção de revisão de documentos, o departamento de compras e o

A M O R C N O M U N D O

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departamento pessoal. O segundo andar está reservado para os serviços da tesouraria e de afiliações, além de comportar alguns aposentos magnificamente decorados. Na Grande Loja, são, no total, cinqüenta e três pessoas que realizam todo o serviço. A esse número se acrescentam outras vinte que trabalham em Paris.

Quando tiver ocasião de vir à França, não hesite em vir à Normandia. Fica geograficamente próxima a Paris e pode-se chegar aqui de trem. Mas é melhor avisar sobre sua chegada, pois na França há muitos feriados, e a Grande Loja fecha nos finais de semana. Além disso, a estação fica a vinte quilômetros do Chateau. O endereço eletrônico da Grande Loja de Língua Francesa é: [email protected] e o número de telefone é 02.32.35.41.28, ligando da França, ou +33.2.32.35.41.28, ligando de outros países.

Se for a Paris, lembre-se de visitar o Espaço Saint-Martin. Ali encontrará uma livraria muito interessante onde estão dispo­níveis inúmeros artigos rosacruzes, além de objetos e livros variados. Ao lado da livraria, existe uma galeria de exposições: os Salões da Rosacruz. Esses salões - perpetuando uma atividade que a Ordem inaugurou no século XIX e retomou em 1980 - constituem-se de exposições sempre renovadas de pinturas e esculturas escolhidas por seu simbolismo. No andar térreo desse amplo espaço cultural encontram-se as dependências das Lojas Rosacruzes de Paris, inclusive com um belo Templo em estilo egípcio, localizado no subsolo. Nos andares superiores desse grande edifício se descobre um auditório muito agradável e, principalmente, o maior e mais belo Templo da jurisdição. Este Templo é utilizado para grandes ocasiões e pode receber até seiscentas pessoas.

Acabamos de nos referir à sede da Juris­dição de Língua Francesa e, portanto à França. Mas esta Grande Loja estende suas

Escadar ia d e ped ra t a l h a d a G a b i n e t e d o G r a n d e M e s t r e Sala d e j a n t a r Sa lão p r i n c i p a l C o r r e d o r " e g í p c i o " d o 1 o a n d a r A p o s e n t o " N a p o l e ã o " A p o s e n t o d o s a n j o s A p o s e n t o " P o m p a d o u r "

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atividades para muito além das fronteiras francesas, alcançando uma grande parte do continente africano. Durante os últimos decê­nios, Templos magníficos foram lá construídos graças ao trabalho e ao desenvolvimento dos rosacruzes daqueles países. Atividades rosa­cruzes são mantidas em todo o mundo onde a língua francesa é falada pela maioria da popu­lação, como nas Antilhas francesas, na Guiana, na ilha da Reunião, nas ilhas Maurício, em Madagascar, no Haiti, na Bélgica e na Suíça. Da mesma forma, na província de Quebec, no Canadá, vários Organismos Afiliados estão em atividade há muito tempo. A propósito, é próximo a Montreal que se encontra o Domínio Rosacruz de Lachute, que muitos de vocês já conhecem, já que retiros místicos são realizados ali, tanto em francês quanto em inglês. É exatamente nesse Domínio da jurisdição de língua francesa, situado em continente ameri­cano, que se realiza anualmente a reunião dos Grandes Mestres da AMORC.

Para concluir, é preciso destacar que a Universidade Rosecroix Internacional tem presença muito ativa na jurisdição de língua francesa através do trabalho de cerca de cinqüenta palestrantes que desenvolvem trabalhos sobre aproximadamente 250 temas diferentes. Essa Grande Loja supervisiona a atividade de 61 Lojas, 29 Capítulos e 139 Pronaoi. A esse número se acrescentam 78 Pronaoi de Lojas e de Capítulos.

O panorama geral que apresentamos neste artigo vale como um convite para todos os Rosacruzes e seus amigos virem visitar esses diversos espaços da jurisdição de língua francesa que são, como todos os edifícios da AMORC e segundo a fórmula tradicional, "consagrados à Verdade e dedicados a todos os Rosacruzes". •

I n te r i o r da L iv rar ia da D i f u s ã o Rosac ruz Salões da Rosac ruz Espaço Z o d í a c o A u d i t ó r i o d o Espaço S a i n t - M a r t i n Por ta l d o T e m p l o C h r i s t i a n R o s e n k r e u t z

A M O R C N O M U N D O

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Esoterismo A Tríade Mística

"Onde quer que estejas, não te detenhas. E preciso que vás incessantemente de Luz em Luz." - s.i.*

O esoterismo se caracteriza igual­mente por três manifestações: o Sigilo, a transmissão de uma Tradição Primordial e a Iniciação.

O Sigilo pode ser abordado de muitas manei­ras diferentes. Em primeiro lugar, o Sigilo mostra-se necessário para garantir a proteção dos ensinamentos e rituais. Pode-se falar, então, mais exatamente, de confidencialidade. Ele visa preservar a integridade e a eficácia dos ensinamentos, a fim de reservar seu acesso não só aos que o procuram, mas também aos que o merecem. O Sigilo se refere também aos textos e rituais que exigem interpretações simbólicas e medita­ções no oratório. Assim, todo esoterismo verdadeiro remete a um mito original que o Iniciado deve decodificar, para dar um sentido à sua vida. Para o Iniciado Martinista, esse mito denomina-se Gênese, cujo sentido hierático ele deve penetrar à luz do Evangelho de João, que ele tem ao seu lado no altar, da Cabala e dos escritos de nossos Mestres Jacob Boehme, Martinès de Pasqually e Louis-Claude de Saint-Martin. O sigilo é, em suma, o interior oculto das coisas, que o ser huma­no, em sua busca de unidade, deve buscar e descobrir por si mesmo.

Segunda manifestação do esoterismo: a transmissão da Tradição Primordial. Desde sua primeira Iniciação, o candidato se vê ligado à Tradição, à Luz original, fonte de todas as outras luzes.

A essa Tradição imemorial, única e trans­cendente, transmitida de Mestre a discípulo, através das eras, o Martinismo chama de "Luz Eterna da Sabedoria Divina".Trata-se de um conhecimento não-racional, intuitivo, pre­sente em todo ser humano, mas que deve ser despertado pela filiação espiritual e pela iniciação. E uma herança cósmica que as ordens Iniciáticas autênticas receberam e têm a missão de transmitir. Essas ordens autên­ticas estão em seu centro invisível, fora do tempo e unidas ao princípio original que lhes dá força, vida e perenidade.

Ultima manifestação de todo esoterismo: a INICIAÇÃO. Na verdade, é a Iniciação que assegura a transmissão da Tradição.

O verdadeiro buscador saberá então reco­nhecer onde encontrar a fonte, estará de mãos vazias, e o coração aberto. "Se eu desejo falar a DEUS, devo então aceitar a Paz".

A nossa busca pelos conhecimentos supe­riores está pautada em três atitudes básicas: a ética, a científica e a místico-filosófica.

Portanto, amado buscador, seja prudente em sua busca. O seu primeiro compromisso é consigo mesmo.

Amados Irmãos, somos guardiães da Fé, da Esperança e do Amor. Obreiros da Tradi­ção, Arautos da Boa Nova: "Divino Mestre, o Teu sacrifício não foi em vão". •

*0 Pantáculo, XI, n° 11. 2003 - Publicação da Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa.

M A R T I N I S M O

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Água: o elemento primordial da vida

• Por RUY ROCHA JÚNIOR. FRC

"Pelo batismo, o homem recupera a semelhança com Deus". - TERTULIANO, D E BAPTISMO, V

V A R I E D A D E S

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A água desempenha um papel de grande relevância nas formulações teológicas das diversas religiões. No cristianismo sua função

simbólica é muito profunda, porque o compo­nente demonstra alegoricamente a regenera­ção mítica do velho homem transmutado em novo pelo batismo. Creio que seja desneces­sário avançar os aforismos que esse elemento suscita na cosmovisão cristã, contudo, um ponto relevante deve ser sublinhado. É pela imersão (Batismo) que o fiel adentra alegori­camente ao mistério da morte e ressurreição cristã e, evidentemente, torna-se membro de seu corpo místico: a Igreja do Cristo. O líquido primordial representa exatamente a fonte da vida, e o belíssimo relato da criação, no Gênesis, privilegia de forma realçada a substancia vital.

"No principio, Deus criou o céu e a terra. Ora, a terra estava vazia e vaga, as trevas cobriam o abismo, e um vento de Deus pairava sobre as águas" (Gênesis 1:1).

Mas não é só no cristianismo que ela encontra seu esplendor, já que todas as idiossincrasias religiosas do globo não cansam de cantar em versos os prodígios miraculosos dos mitos aquáticos.

"Uma das imagens exemplares da Criação é a Ilha que subitamente se 'manifesta' no meio das vagas. Em contrapartida, a imersão na água simboliza a regressão ao pré-formal, a reintegração no modo indiferenciado da preexistência. A emersão repete o gesto cosmogônico da manifestação formal; a imersão eqüivale a uma dissolução das formas. É por isso que o simbolismo das Águas implica tanto a morte como o renascimento".'

Isso dito de chofre pode causar estranhe­za, entretanto, é nítido que tal arquétipo sobrevive, como diria Jung, no inconsciente coletivo da civilização, graças à enorme

dimensão e envergadura dos seus possíveis desdobramentos.

Quando nascemos, a manifestação física se faz presente pela adesão de vários elemen­tos que resultam na existência do Ser e, quando ultrapassamos a transição, o material deixa de existir, cedendo seu espaço para o Não-Ser temporário. O efeito dos intervalos é provisório porque tudo que existe é energia, fato que implica mudança e reciclagem para cada força ou potência desta ou de outras dimensões. Do ponto de vista espiritualista ou religioso, a união do corpo físico com sua contrapartida metafísica é a soma dos opos­tos, imprescindíveis nas leis cósmicas im­pressas no Universo. Coincidências à parte, três quartas partes da Terra são cobertas de água, bem como três quartos de cada planta ou animal também se compõem do mesmo líquido. Talvez seja essa a razão para as noções que povoam o imaginário de muitas culturas, que acreditam que toda criança no ventre de sua mãe deve, antes de nascer, beber uma parte do liquido da cavidade amniótica em que se encontra. Do mesmo modo, Lao Tse já versava o comportamento humano por meio de metáforas:

"Nada mais mole, mais flexível no mundo que a água. Nada mais poderoso para dobrar até o forte e o rígido: invencível, porque a tudo adaptável. Assim também todo mundo sabe que o fraco vence o forte, o mole vence o duro, mas ninguém age de acordo com isso".2

Foi também por ela que os homens empre­enderam mudanças decisivas na sua escala evolutiva. Desenvolvendo-se inicialmente como caçador nômade e coletor, o ser humano viu-se obrigado, devido à escassez da caça e outros fatores, a fixar-se em povoamentos sedentários (aldeias), que deram origem às primeiras civilizações urbanas da história.

Após a consolidação dessa nova forma de vida cotidiana, os povos da antigüidade

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fizeram uso do cultivo agrícola como forma de abastecer de mantimentos as novas sociedades que despontavam no alvorecer dos tempos. Foi então que elas acabaram por se estabelecer ao redor das bacias hidrográficas do Crescente Fértil, região que engloba a Mesopotâmia, uma faixa do mar Mediterrâneo e o nordeste da África. Como a água é o recurso primordial da agricultura, seria natural que as sociedades desenvolvidas ao longo dos rios obtivessem vantagens ao administrá-la.

Não é por mera coincidência que o nome Mesopotâmia significa "entre os rios", já que o termo é derivado da junção da palavra meso (meio) com pótamos (rio). Para ter noção do mérito que essas culturas deram a sua subs­tância essencial, cito a celebre definição egípcia da sua fertilidade: "O Egito é dádiva do Nilo" (Heródoto 450 a.C.).Já naquele tempo a frase determinava a envergadura da importância dada a relação humana com as águas fluviais.

A economia do Egito só se tornou efi­ciente graças ao alcance dos desdobramentos que o rio proporcionou a esse povo. Até seu calendário, erigido após longos anos de observação, foi inteiramente baseado no ciclo das cheias anuais, que determinavam toda a fartura de sua produção lavradia. O Nilo servia também de transporte para o escoa­mento dos excedentes, que ocorria nos arredores de suas margens, tendo como conseqüência direta o abastecimento simul­tâneo dos diversos nomos (vilarejos) espa­lhados em sua trajetória. Três estações3

marcavam as atividades, sendo a primeira (Akhet) de julho a novembro, quando ocor­riam as inundações. De novembro a março (Peret), iniciava-se a semeadura, findando o ciclo com o tempo da colheita (Shemu), que ia de março até julho. Terminado o preâmbulo inicial, e encerrando os rodeios abstrativos, desvio a atenção dos leitores para um pro­blema gravíssimo da atualidade, que pode alterar crucialmente o destino da raça huma­na. A falta de água causará, num futuro não

muito distante, um colapso em todo o sistema mundial. Entretanto, a obsessão imprudente do homem pela estabilidade econômica pode levá-lo a cegueira momen­tânea, ou definitiva, da questão, acentuando radicalmente os danos ambientais que estão se irrompendo mundo afora.

Recentemente a revista Planeta (Novembro 2005, pp. 34-37) denunciou tal descaso apresentando números preocupantes. Segun­do estatísticas da ONU, 1,1 bilhão de pessoas não têm acesso a água potável e, como se não bastasse, o dobro dessa multidão também se encontra privada de saneamento básico. Quando nos debruçamos sobre tais índices, não é difícil imaginar ou concluir porque tantas doenças se alastram pelo mundo em tempo recorde.

Muitas mentes já estão refletindo e propondo alternativas para esse terrível e eminente fado. Desde 2001, 1350 espe­cialistas de 95 países (Folha de São Paulo: 30.03.2005. Caderno Folha Ciência, p. A 12) estão realizando uma diagnose incisiva da situação dos ecossistemas mundiais. O resultado não parece animador, pois conclui que avançamos o sinal amarelo e corremos o risco de ultrapassar da mesma forma o vermelho. Se quisermos reverter o quadro, é preciso empreender todos os esforços pos­síveis no sentido de conscientizar as pessoas, e a nós mesmos, que necessitamos reeducar os hábitos que adquirimos ao longo das eras. Se cada habitante da terra economizar água sob diversos aspectos, talvez adiemos uma sina que se mostra inevitável.

Conclusões "A água foi a primeira bebida a direcionar o curso da história humana. Agora, depois de dez mil anos, parece estar de volta ao comando. Falar em colonizar outros planetas parece estranho, mas a idéia é certamente mais fácil de ser compreendida por nós do que seria o mundo moderno para uma

V A R I E D A D E S

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pessoa transportada através do tempo a partir de uma aldeia neolítica do ano 500 a.C. Ela não reconheceria nenhuma língua moderna e sem dúvida teria dificuldade de compreender aspectos da vida atual, como a escrita, os plásticos, os aviões e os computadores. Mas, embora muito tenha mudado nos milênios que nos separam, algumas coisas permaneceram iguais". 4

Achei adequado encerrar as preocupantes considerações sobre a água com a citação da monumental obra "História do mundo em 6 copos", de Tom Standage. O autor realiza um agradável passeio pela história humana através de suas bebidas principais, que são obtidas graças à fonte primordial da vida.

Standage apresenta cada bebida e sua ligação com determinadas civilizações e períodos históricos, destacando e relacionando cada uma com seu nível de evolução sócio-cultural. O início da narrativa remete as sociedades do Crescente Fértil, que mencionei anteriormente, e sua forte interdependência das regiões fluviais. Das culturas da antigüidade, Standage associa a cerveja ao Egito e a Mesopotâmia, devido a sua agricultura essencialmente composta de cereais.

Já os Gregos e Romanos brindaram suas glórias com o vinho, característico da geogra­fia do Mediterrâneo. Depois o cristianismo e outras religiões incorporaram essa bebida, de forma positiva ou negativa, as suas pres­crições litúrgicas e dogmáticas. Os destilados serviram de edificação das bases da nação norte-americana, graças à extração de maté­rias-primas naturais - como o melaço - que asseguravam a produção de rum, uísque e outros similares.

O café, proveniente do Oriente Médio, foi considerado uma bebida refinada, sendo consumido principalmente por filósofos, cientistas e pensadores da época do Ilumi¬ nismo, fato que diretamente conciliou sua apreciação com a idade da razão. E o chá, seu

concorrente mais próximo, representava o charme e a sedução da realeza britânica. A sexta bebida que o best-seller aborda não poderia ser outra que não a controversa Coca-Cola, bebida que projeta a globalização como nenhuma outra. Por fim, Tom Standage retoma e reitera a importância da água nos dias atuais, alertando para algo que parece passar desapercebido aos olhos da maioria dos habitantes do globo. O bom uso da água nos libertou da ignorância e alçou o homem ao progresso, mas seu abuso indiscriminado pode mergulhar, sem sombra de dúvida, o homem em seu maior deserto.

"Seis bebidas definiram o passado da humanidade, mas qual será a que personifica o futuro? Uma já surgiu como candidata mais provável. Como muitas das bebidas definitivas da história, é altamente elegante, está sujeita a alegações médicas conflitantes e tem significância geopo¬ lítica ainda não percebida, mas de longo alcance. Sua disponibilidade irá determinar o caminho futuro da raça humana na terra, e potencialmente até mais além. Ironicamente, é também a bebida em que primeiro lugar direcionou o curso do homem: a água. A história das bebidas retorna à sua fonte original".5 •

* Frater Buy Rocha Junior é graduado em História com especialização em Globalização e Cultura. E-mail: [email protected]

Para saber mais: BECKER, Udo. Dicionário de Símbolos, trad. São Paulo: Paulus. 1999. ELIADE. Mircea. O sagrado e o profano: A essência das religiões, trad. 5 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. SCHNEIDER, Maurício Elvis. O Egito Antigo. São Paulo: Editora Saraiva. 2001. STANDAGE, Tom. História do mundo em 6 copos. trad. São Paulo: Jorge Zahar Editor. 2005.

Notas: 1. Mircea ELIADE, O sagrado e o profano: A essência das religiões, p.110; 2. Udo BECKER. Dicionário de Símbolos, verbete Água, pp. 10-14; 3. Maurício Elvis Schneider, O Egito Antigo, p.13; 4. Tom STANDAGE, História do mundo em 6 copos, p.214; 5. Tom STANDAGE. História do mundo em 6 copos, p.209.

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R E F L E X Ã O

O Exilado • Por ÁLVARO WAN D ER L I FILHO. FRC

E m razão de sua autoconsciência, o ser humano sempre dispôs da faculdade de pensar e agir por conta própria, com autonomia.

Isso até mesmo quando operando contraria­mente à sua natureza divina. Tendo a respon­sabilidade como contraparte, Deus outorgou o livre-arbítrio ao homem para instrumen­talizar sua evolução e auto-realização.

Sucede, porém, consoante o mistério que integra a literatura das principais correntes religiosas do passado e do presente, que o homem, vencido pela sedução da arrogância, desobedeceu e, portanto, desafiou a Inteligência Divina. Por isso, afastou-se do

contexto espiritual que lhe era próprio e foi, assim, esquecendo pouco a pouco sua condição divina.

Pitágoras, com sua filosofia, resgatou esse mistério. Relacionou-o com a trajetória da psique humana, a alma, tão luminosa quanto a Alma Universal, mas que, ao encarnar na esfera psíquica e mortal, perde a maior parte de sua consciência.

Como conseqüência, a partir de sua queda na atual condição em que vive, o ser humano teve que se submeter aos efeitos da materialidade, respectivas ilusões e sofrimentos. Teve de se sujeitar ao lento processo de reaprendizagem das verdades

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sublimes que presidem e regulam as funções e ação do micro e do macrocosmo de que ele e a natureza constituem expressão. Deixou ele, repita-se, que tais verdades se perdessem, ao usar mal seu livre-arbítrio quando ainda no estado primordial de existência no plano superior. E o referido poder e conhecimento perdidos só muito gradualmente poderá reconquistar.

Desde então luta incansavelmente para ultrapassar as fronteiras metafísicas que dividem os reinos do visível e do invisível, abrir novos caminhos de evolução no rumo da penosa e paulatina reintegração àquele estado inicial. É que o homem tornou-se, como aludido no texto da epístola são-paulina, apenas "um bronze que soa ou um címbalo que tine", destituído que foi da dignidade e compreensão espiritual que lhe permitiria conhecer e sentir facilmente a harmonia total das coisas ao seu redor, tal como expressado no Livro da Natureza.

Afora o espírito de luta que depois se revelou e fortaleceu, de buscador dos princípios eternos da sabedoria cósmica e do verdadeiro amor, só lhe resta agora a esperança do distante retorno. E aqui na esfera terrena ele se sente, pois, um exilado, expulso daquela dimensão espiritual; assim como que expatriado por indigno que se tornou à inspiradora companhia de seu verdadeiro Mestre. Viu-se, então, obrigado a conviver com as tribulações e realidades materiais, objetos e situações espiritualmente sem sentido e beleza, estranhos ao ritmo e vibração correspondentes à harmonia manifesta; essa mesma harmonia que diz respeito à perfeição do arcabouço universal.

Instintivamente porém, ele pressente o tão elevado estado a que teria direito de conservar, não fora o advento de sua decaída.

Daí, seu sentimento de angustiosa saudade, que procuro retratar no poema "O Exilado", a seguir:

O Exilado Cercado de verde,

aspiro o aroma da Terra.

Diante de mim, as águas e os tesouros que encerra.

Chego despojado, com os altos ventos e a fluidas nuvens.

Atrás dessa janela estreita, que surpreso olhar,

dissimulando, espreita?

Nenhum deus aqui venero. Noutro universo, perdido,

arde a chama que mais quero.

Minha origem, meu destino, no sagrado altar do Tempo serão, um dia, resolvidos.

Quantas imagens, Eleusis, Eleusis, quantas miragens

de teus territórios e deuses!

Incógnita e fugitiva estrela a comandar meus sonhos

conseguisse eu, ao menos, vê-la...

Se perguntarem por meu nome, só a saudade responde,

saudade não sei de onde.

Sigo isento e abstrato solto assim como a brisa

que não deixa rastro.

Porém, renove-se e cante a eternidade do amor

a cada dia, a cada instante.

O estranho não descansa, mas um repentino zênite

abra, talvez, uma esperança...

Cercado de verde, aspiro o aroma da Terra. •

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C O M P O R T A M E N T O

O perdão e a Alma Interior

• Por LONNIE C. E D W A R D S . FRC*

perdão é um potencial humano e divino que existe dentro de todo ser humano. É uma arte divina que todos possuímos e temos a

responsabilidade de desenvolver e usar. Por que, então, perdoar nos parece tão difícil? O que nos faz sentir que, não perdoando, nos fortalecemos e nos resguardamos, e, deste modo, mantemos o poder sobre a pessoa ou situação envolvida? Achamos que, quando perdoamos, de algum modo perdemos nosso poder? Imaginamos que temos de ter o poder a fim de manter a capacidade de contra-atacar os ofensores e fazer com que se sintam culpados ou devedores? O que nos incentiva a nos sentirmos justificados em não perdoar? O perdão não é atraente para nós? Precisamos entender que não poderemos realmente ir em frente enquanto não tivermos aprendido o processo e o poder do perdão.

Se de fato entendêssemos o poder do per­dão e o efeito positivo que ele tem sobre nós, não lhe resistiríamos assim tão fortemente. Experiências de todo tipo nos são dadas como ferramentas para podermos evoluir em sabedo­ria e compreensão. Pela evolução, tornamo-nos cada vez mais conscientes do propósito da nossa alma e das leis universais que regem a existência humana. As experiências que vive­mos são lições cósmicas arquitetadas pela alma e pela Personalidade-Alma. Essas lições

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nos dão oportunidades de entender o propó­sito da vida e progredir para a felicidade.

Não podemos aprender e evoluir sem experiências. Pessoas e situações servem como agentes cósmicos ou, se preferirem, como catalisadores que ajudam a criar e suprir experiências instrutivas para nós. Faz sentido ficar com raiva ou mágoa dos mensageiros e situações que nos fornecem experiências destinadas a nos beneficiar? Pelo contrário, eles devem ser encarados como nossos profes­sores. Nossa consciência humana pode até não entender nem se sentir à vontade, e muito menos gostar das experiências oferecidas. Apesar disso, somos presenteados com opor­tunidades de aprender, expandir e crescer. A consciência humana pode não perceber que nós mesmos ajudamos a formular as experiências.

A voz do eu inferior - o pequeno eu, o eu intelectual não-iluminado, o ego - nos insti­ga a não perdoar. O raciocínio do ego protesta e nos convence de que é muito difícil perdoar e que temos toda razão de não perdoar. Deve­mos lembrar que a Mente Divina dentro de nós é onisciente e compreensiva, em seu conhecimento do passado, do presente e do futuro. Ela não pensa do mesmo modo que nosso intelecto. Por conseguinte, se as deci­sões de uma pessoa são tomadas exclusiva­mente com base na crença em sua lógica humana, e não segundo a lógica da Mente Divina interior, esta pessoa está provocando decisões limitadas, que, por sua vez, provo­cam uma mudança em seu programa de li­ções, com experiências inesperadas.

Seu conhecimento, sua fé, sua crença e sua confiança devem estar em nossa alma e em nossa Mente Divina interior. Quando deixa­mos nossa lógica humana formular respostas definitivas para nós, saímos da harmonização com o propósito da alma, com o Eu Verdadei­ro, com o fluxo das energias inteligentes do universo, com a harmonia universal e com a vida universal. Não devemos deixar de usar e respeitar a Mente Onisciente do Mestre Inte­

rior. Ignorar a Mente Divina gera uma situação desarmoniosa atrás da outra. Quando se vive num mundo de "efeitos", ao invés de num mundo de "causas", a paz interior diminui e a ansiedade aumenta.

Devemos ter sempre em mente que somos seres espirituais, fazendo uma viagem que tem um propósito. O buscador honesto na senda pergunta: "Qual é o caminho para o perdão e a consciência da alma? Qual é o caminho para a liberdade, a liberação e a iluminação?" Deve­mos trazer esta verdade para a nossa consciên­cia: Deus deu a todo ser humano os recursos necessários para fazer com que esta jornada tenha significado e propósito, um propósito condizente com a lei de Deus e o plano cós­mico. A jornada está cheia de oportunidades de crescimento e evolução espiritual.

Sua natureza interior e a sabedoria da alma regem sua caminhada mística para a liberação e a liberdade. E uma senda de iluminação, reve­lando sua verdadeira identidade e o propósito desta reencarnação. Você é incitado a desenvol­ver um relacionamento com a alma interior. Ela vai inspirar sua mente e expandir sua cons­ciência, trazendo-lhe assim cada vez mais consciência de que você é um ser espiritual. Compreendendo e aceitando essa verdade, e mantendo-a em primeiro plano na mente em todos os relacionamentos humanos, você se harmonizará com a inteligência e a orientação da alma. Suas interpretações das experiências serão mais alentadoras. Essa harmonização ajuda a desenvolver um relacionamento com Deus e com a sua verdadeira identidade. Esse relacionamento ajuda a viver uma vida em maior harmonia com a natureza e os seus semelhantes. E sua meta torná-lo o mais impor­tante de todos os relacionamentos de sua vida.

A inteligência da alma interior ajuda a iluminar o intelecto. Então, compreendemos que nossas experiências humanas são respos­tas às nossas escolhas, aos nossos pensa­mentos, às nossas intenções e aos nossos atos. Nosso eu inferior, nossa mente mundana,

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C O M P O R T A M E N T O

dana, com sua análise intelectual e estímulos do ego, não estabelece nenhuma ligação entre a jornada humana e o nosso ser espiritual. Um certo grau de iluminação é necessário antes que essa ligação possa ser reconhecida. Até que a luz se reflita na consciência, o cérebro inte­lectual não consegue estabelecer uma ligação consciente com o eu verdadeiro, o eu espiri­tual, e com o seu propósito e meta. O ego nos incita a desconsiderar qualquer sinal ou suges­tão sutil que possa ser enviado pela alma.

Somos todos estudantes, matriculados na Universidade da Vida de Deus. Alguns dentre nós são calouros, outros estão no segundo ano, outros no terceiro e outros já estão no último ano. Alguns estão fazendo mestrado ou doutorado através de experiências especiais. Há, porém, um fator comum a todos os currí­culos. Deus deu a cada um de nós um profes­sor especial, um professor que mantém ligação com todos os grandes mestres. Esse professor especial está dentro de nós o tempo todo. Entre na sala de aula interior, particular e especial, que foi providenciada para você. Uma vez dentro dela, faça perguntas sinceras e honestas. Pergunte com o coração e através do coração. Você receberá orientação; siga as instruções. Procure se tornar consciente das lições apresentadas e se comprometa a con­templá-las e aprendê-las.

"Relacionamentos Corretos" é uma impor­tante lição que é ensinada na Universidade da Vida. As experiências encontradas nos relacio­namentos freqüentemente requerem a prática da arte de perdoar. O professor espiritual inte­rior nos ajuda a aprender a arte de perdoar. As lições cósmicas são planejadas de tal modo que as experiências são repetidas muitas e muitas vezes, ao longo de toda a vida, até que a prática do perdão seja aprendida. Excelentes oportu­nidades nos são oferecidas para adquirirmos a habilidade e praticarmos a arte, e, com isto, crescermos e evoluirmos espiritualmente.

Há seis passos essenciais para adquirir a arte de perdoar. Cada passo requer contem­

plação, meditação, oração, estudo e aplicação contínuos. Lembre-se de seu professor interior especial, cujo prazer é guiá-lo e instruí-lo ao longo do caminho:

01) TENHA UM DESEJO E UM COMPROMISSO SINCERO DE PERDOAR Você deve criar dentro de sua consciência um autêntico e franco desejo de perdoar. Isso requer que você se livre de todo sentimento de poder ou de satisfação que possa ser sentido num estado de rancor. Aceite e compreenda que, na realidade, ao perdoar, você é um dos beneficiários. Fique sabendo que seu corpo produz neuroquímicos destrutivos que o prejudicam física, psicológica, emocional e espiritualmente, toda vez que você mantém pensamentos rancorosos. Nutrir pensamentos de ressentimento, ira ou mágoa, ou ficar remoendo a idéia de que abusaram de você, é uma ação autodestrutiva. Isso já não é mais apenas uma afirmação mística da verdade. Pesquisas científicas chegaram a essa mesma conclusão. Os cientistas começaram a usar a metodologia de pesquisa básica para investigar e demonstrar essas leis lógicas, psicológicas, místicas e espirituais. Mantendo pensamentos de ressentimento, mágoa ou ódio, você produz neuroquímicos destrutivos que atacam o seu sistema imunológico. Comprometa-se a per­doar e inunde seu sistema de neuroquímicos construtivos!

02) IMAGINE A LUZ E O AMOR DIVINO DENTRO DA PESSOA OU DA SITUAÇÃO QUE VOCÊ ESTÁ PROCURANDO PERDOAR Essa luz é a Luz de Deus, que é incondicional, e não a sua luz, que pode conter elementos ou condições. Isso é um reconhecimento de que Deus está em toda parte e dentro de toda pessoa, dentro de você como dentro da pessoa ou da situação que você está procurando perdoar. Usar a mais bela e perfeita luz que você é capaz de imaginar para ser um símbolo

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de Deus é uma técnica muito útil para praticar a presença de Deus.

É importante que você desenvolva uma compreensão do significado espiritual de luz. A Luz de Deus é plena de amor, vida, compre­ensão, compaixão, sabedoria, saúde, harmonia e uma infinidade de outros atributos. Neste estágio do processo do perdão, imagine a Luz Cósmica, que contém todos os atributos de Deus - a mais brilhante, pura e amorosa luz imaginável - dentro e em torno da pessoa ou situação. Igualmente importante é que você veja e sinta a mesma luz dentro e em torno de você. Deus é luz e a Luz de Deus contém todo o amor e o poder criativo de Deus. Praticando a presença iluminada, evoluímos para uma compreensão mais profunda não apenas de nossa própria alma e verdadeira identidade, como também a dos outros. Com essa compre­ensão, começamos a viver como seres espiri­tuais e a usar nossas faculdades espirituais.

03) BUSQUE A COMPREENSÃO CÓSMICA DA PESSOA OU SITUAÇÃO Você deve buscar a compreensão cósmica de si mesmo. Vá para dentro e, na presença de seu professor especial, deseje que lhe seja dada uma compreensão da questão. Em silêncio, na presença do Mestre-Professor, abandone toda idéia ou todo sentimento preconcebido. Seus motivos mais puros e honestos ficarão cheios de compreensão universal. Você ganhará uma visão mais profunda das experiências da vida, da pessoa, da situação e de si mesmo. Você bem pode estar se perguntando o que é que seria ne­cessário para entender a si mesmo e o que precisaria mudar em você. Continue indo até a sala de aula para examinar qualquer ques­tão específica, até ser orientado, inspirado ou iluminado. O professor especial está esperan­do por você. A compreensão pode vir através de uma série de idéias, leituras ou senti­mentos edificantes. Com freqüência, surge um senso de gratidão e de autodisciplina,

além do impulso de usar esses sentimentos ou idéias edificantes em prol dos outros.

04) ACEITE A TOTAL RESPONSABILIDADE DE TER DESENCADEADO A SITUAÇÃO Tome consciência do fato de que a lei de causa e efeito está sempre em ação. As leis criativas que regem nossos pensamentos, intenções, motivos, sentimentos e ações estão sempre ativas. Tenha respeito por essas leis, que são partes de sua essência. Todos nós participamos nessas leis enquanto carma/amor, consciente ou inconscientemente. Na realidade, nossos pensamentos, desejos, motivos, intenções e sentimentos não são nem um pouco priva­tivos, mas uma parte do universo. Eles se irradiam por intermédio da lei cósmica e pro­curam se manifestar como coisas construtivas ou destrutivas, "boas" ou "más".

O pensamento, motivo, crença ou ação original tem efeito vibratório sobre a cons­ciência das células do nosso corpo. Essas vibrações crescem, magnetizam e polarizam nossa aura, e estas, por sua vez, afetam a natureza e a realidade do nosso corpo, da nossa mente e do nosso espírito. Essas irradiações exercem uma atração magnética que nos arras­tam para as experiências de que necessitamos para evoluir. Lembre-se também de que a origem de todas as experiências que vivemos não é inteiramente desta vida ou desta fonte.

Não julgue ou analise as experiências dos outros quanto a causa e efeito. Adquirindo a arte do perdão, aceitamos as lições e os desafios que nossas experiências nos trazem e o papel que temos a desempenhar em nossa reação a elas. A compreensão universal ou cósmica de que falamos ajuda a esclarecer esse ponto.

A culpa não desempenha nenhum papel positivo na evolução da consciência cósmica. Sentimentos de culpa precisam ser eliminados. Na realidade, a lei de causa e efeito é também uma lei de amor e não de punição. Ela se destina sempre a nos dar compreensão e

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C O M P O R T A M E N T O

sabedoria. O conhecimento que extraímos de cada lição nos tornará aptos a inspirar e elevar a nós mesmos e a outras pessoas. A motivação primordial da lei é nos aperfeiçoar, nos con­duzir para a maestria. Do ponto de vista da alma, nenhuma experiência é "má" em si. Mas você pode percebê-la desse modo e criar uma realidade negativa a partir daí; isto, porém, é uma ação sua. Lembre-se da sala de aula inte­rior e vá até ela para receber orientação, com­preensão verdadeira e tranqüilidade.

05) PERDOE-SE A luz do que foi dito, vemos que efeito o ambiente externo pode ter sobre nossas percepções; na verdade, como ele pode afetar nosso julgamento e influenciar nossa auto-percepção. Devemos iniciar o processo de limpeza ou purificação de nossa consciência, a fim de que não haja nenhum obstáculo ao trabalho da alma de desenvolver a arte de perdoar. Fazemos isso perdoando a nós mes­mos em primeiro lugar.

Quando se livra de todas as formas de culpa e autodepreciação, você se torna cons­ciente de quem você é: um filho do Criador do Universo. A medida que continua a desejar perdoar aos outros e a si mesmo e se dedica a entrar no silêncio da sala de aula interior, você se torna consciente dos cantinhos escuros em sua mente. Alguns desses cantinhos muitas vezes abrigam sentimentos ocultos de ressen­timento, angústia ou mágoa. Pratique perdoar a si mesmo e aos outros por todas as ações, conhecidas e desconhecidas, bem como por pensamentos ou fatos do passado, do presente e até mesmo do futuro.

Lembre-se: o verdadeiro perdão é um processo que ocorre no nível mental, emo­cional, psicológico e espiritual. O perdão transmutará e corrigirá sentimentos e ações do passado, do presente e do futuro. Compre­enda que o poder de perdoar está sempre presente dentro de você. Tudo que ele requer é o seu desejo, a sua honestidade, a sua

sinceridade e a sua oração. Então, você estará livre para avançar em direção ao seu bem maior, e poderá ajudar os outros enquanto avançam em direção ao deles. Não se con­centre naquilo que você percebe como suas impurezas; ao invés disto, concentre-se na Presença: o bem dentro de você, o Deus Interior, o Mestre Interior. Isso sempre atrairá a luz que dissipa as trevas. Então, o júbilo da alma se fará sentir.

06) DESPRENDA-SE Desprenda-se completamente. Sua persona­lidade humana precisa abrir mão de sua soberania. Deixe a alma interior e o eu espiri­tual emergirem. Toda a força do amor inteli­gente, do universo e do Deus Interior irá automaticamente guiá-lo e inspirar seus pensamentos e ações. A alma, Deus e os Mestres Cósmicos darão confirmação de seu progresso e do trabalho a ser feito. O ego não obstruirá mais o seu progresso espiritual. À medida que você se acostumar a esse des­prendimento, seu conhecimento, suas facul­dades, seus desejos, bem como seus pensa­mentos, intenções e ações se tornarão gra­dualmente mais positivos, construtivos, pacientes e amorosos. Sua vontade mental procurará expressar a vontade da alma inte­rior, a vontade de Deus. A inspiração e o auxílio interior crescerão. Você perceberá um significado superior para o propósito e as experiências da vida.

No silêncio da sala de aula interior, você será inspirado, e poderá visualizar e criar realidades com esta inspiração. Repita esse processo tão freqüentemente quanto neces­sário. Sua consciência e as repetidas expe­riências irão lhe dizer se o trabalho está incompleto. Esses lembretes não devem ser interpretados como uma falta de progresso; em vez disto, se você persistir, a recompensa do crescimento espiritual será grande. Man­tenha seu compromisso de perdoar.

Vamos aplicar o que aprendemos...

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Exercício para praticar o perdão

(Leia este exercício três vezes antes de executá-lo)

Escolha um local calmo e sente-se confortavelmente. De olhos abertos, relaxe enquanto faz sete respirações profundas, lentamente. Faça uma pequena pausa após cada inalação e, em seguida, exale. Enquanto isso volte sua atenção para dentro e sinta a Presença de Deus. Mantendo os olhos abertos, repita o som AUM três vezes, pronunciando cada fonema (A - U - M) clara e distintamente.

Agora feche os olhos e imagine-se entrando em sua sala de aula interior. Seu professor especial está lá, pronto a ajudá-lo e orientá-lo. Entre nesse Sanctum interior, o santuário dos santuários, e sente-se. Você se sente seguro, confiante e protegido. Sente a presença do seu professor e sabe que você tem a intenção e a capacidade de perdoar.

Com essa convicção, você começa a falar silenciosamente com a iluminada presença interior. Abra os olhos e leia o seguinte texto:

Quero perdoar.

Perdôo todos os que me ofenderam;

Consciente e inconscientemente, eu os perdôo;

Em meu coração e minha mente, eu os perdôo;

Dentro e fora de meu ser, eu os perdôo;

Honesta e sinceramente, perdôo tudo em meu passado,

em meu presente e em meu futuro.

De modo verdadeiro, sincero, profundo, e com grande humildade, perdôo cada pessoa, cada situação e cada coisa do passado, do presente e do futuro que necessite de perdão.

Todas as pessoas a quem preciso perdoar estão agora perdoadas;

E, acima de tudo, perdôo a mim mesmo, completamente e com toda sinceridade.

Estou livre agora e todos os que perdoei estão livres. Estamos todos caminhando para o nosso bem maior. Tudo é harmonioso para nós, agora e sempre.

Minha mente, meu corpo e meu espírito, incluindo meu sistema imunológico, estão em harmonia e em Divina Ordem.

Tendo dito essas palavras para a mente de Deus, feche os olhos e fique quieto, silente e receptivo. Após alguns instantes, faça uma respiração profunda e, sentindo-se revigorado e iluminado, retire-se serenamente de seu Sanctum interior, sua sala de aula especial. Abra os olhos e continue sentado por mais alguns instantes, antes de voltar às suas atividades regulares.

* Extraído do Livro "Leis Espirituais que regem a Humanidade e o Universo", de Lonnie C. Edwards, publicado pela AMORC, novo lançamento/2006.

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T R A D I Ç Ã O

O que é a Filosofia para o Rosacruz

• Por SERGE TOUSSAINT, FRC

P retendo fazer uma reflexão sobre um tema que me é muito caro, a saber: a Filosofia. Com efeito,

como Rosacruzes que somos, gostamos de nos definir como filósofos e nossa Ordem é de natureza filosófica. É por isto que pretendo participar-lhes meu ponto de vista sobre o tema e confiar-lhes fraternalmente o que me inspira.

Em primeiro lugar, é útil recordar que a palavra filosofia pode ser definida de duas maneiras. Literalmente quer dizer amor à sabedoria, porém por extensão também significa ciência da vida. Ainda que estas duas definições sejam complementares, sem dúvida expressam noções, conceitos e ideais diferentes. Vamos examiná-los e ver no que implicam em nossa busca espiritual. Desta maneira, podemos pôr em evidência o ideal de comportamento que deve nos animar, não só quando estamos entre Rosacruzes, mas também em nossa vida cotidiana, em contato com nossos irmãos e irmãs do mundo na sociedade em que vivemos.

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O Amor à Sabedoria Se considerarmos a primeira definição da palavra filosofia, ou seja amor à Sabedoria, deduzimos que um filósofo, no sentido nobre deste termo, é alguém que ama a sabedoria. Dizem que foi Pitágoras quem deu origem à palavra filosofia. Antes dele, os filósofos da Grécia Antiga eram chamados de sábios. O Conselho dos Sábios, era uma instituição em Atenas. Este Conselho reunia os maiores pensadores da época, os quais eram encar­regados de refletir e legislar acerca dos problemas sociais que se apresentavam, fossem eles no campo da moral, da economia, da política, da religião etc. Foi assim que o próprio Pitágoras foi qualificado de sábio. Porém, como ele era particularmente modesto, considerava ser ainda demasiado imperfeito para merecer tal qualificação, por isso exigiu que não se refe­rissem a ele como sábio, mas sim como alguém que amava a sabedoria, o que já considerava ser muito louvável. Assim nasce a palavra filosofia.

Como sugerem as explicações precedentes, não se pode ser verdadeiramente um filósofo se não se tem humildade, isso todos nós sabemos. Porém, quem entre nós pode dizer do fundo da alma e consciência que é verdadeiramente humilde em pensamentos, palavras e atos? Quem entre nós, nunca sentiu a necessidade de chamar a atenção, de ocupar o centro de uma conversa, de dar sua opinião quando não foi solicitada, de fazer um inventário de seus méritos, de mostrar sua superioridade em tal ou qual campo etc? Mesmo assim, não nos devemos culpar ao saber que não somos tão humildes quanto gostaríamos, posto que

necessariamente somos imperfeitos e evoluímos precisamente com o objetivo de nos aperfeiçoarmos. Se temos o sentimento de falta de humildade, devemos antes de tudo, aceitar esta condição e trabalhar sem descanso sobre nós mesmos para adquirir esta virtude. Paralelamente, e me parece uma prioridade, devemos fazer o possível para que os outros não sofram os efeitos negativos de nossos ataques de orgulho. Agindo assim, não só demonstramos o respeito e afeto que os outros merecem, mas também manifestamos o desejo de melhorar

o nosso comportamento. Neste sentido, recordemos sempre que não é o fato de sermos imperfeitos que gera dívida cármica, mas a falta de esforço para nos aperfeiçoarmos.

É evidente que ser sábio não se limita a dar prova de humildade. Ser sábio reside em reunir todas as virtudes inerentes a alma humana que cada um de nós deve adquirir no transcurso de sua evolução espiritual, de encarnação em encarnação. É pois ser pa­ciente, confiante, tolerante, altruísta, íntegro, pacífico etc. Então, ser filósofo no primeiro

sentido, não consiste em ser necessariamente sábio, mas ter a sabedoria como um ideal a alcançar, é amar a sabedoria. Dito de outra maneira, é primeiro e antes de tudo estar animado pelo amor daquilo que é bom no comportamento humano. Isto supõe que podemos ser filósofos sendo imperfeitos com a condição de nos esforçamos em ser per­feitos. À medida que somos Rosacruzes, somos também filósofos posto que podemos não ser ainda sábios, mas efetivamente aspiramos a chegar a ser melhores e expressar a Sabedoria Divina em nossa maneira de viver.

"Ser sábio reside em reunir todas

as virtudes inerentes a alma

humana que cada um de nós deve adquirir no

transcurso de sua evolução espiritual..."

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T R A D I Ç Ã O

Porém, o filósofo que somos não deve limitar-se a amar o que há de bom no comportamento humano e fazer todo o possível para conformar-se com a vida cotidiana. Devemos com a mesma energia transmitir esse amor aos outros e dar-lhes o desejo de interessar-se pela filosofia. Isto é, devemos atuar de maneira tal que eles mesmos cheguem a amar e a buscar a sabedoria, fim último da conquista humana.

Disto deduzimos que a filosofia no sentido de amor à sabedoria implica, igualmente, o amor pelos outros, a ponto de desejar que cheguem a ser mais virtuosos que nós mesmos em seus comportamentos e assim conheçam as mais belas bênçãos de Deus, com tudo o que resulta em termos e felicidade e Paz Profunda. Ser filósofo, é pois, amar a sabedoria por si mesmo, porém de igual maneira para os demais. É querer que os outros a amem e a possuam. Também é orar para que a adquiram, posto que cada um que a obtenha é um instrumento do Bem entre os homens e faz um mundo melhor. Nunca esqueçamos que a humanidade inteira se eleva cada vez que um só ser humano faz uso da sabedoria. O que finalmente nos leva a dizer que a filosofia, na expressão mais pura do termo em seu sentido literal, é o amor de Deus, tal como se manifesta por meio do Homem, seja ele quem for.

A Ciência da Vida Vamos agora ao segundo sentido da palavra filosofia, ou seja, o sentido de ciência da vida. A vida, como sabemos, serve de suporte à evolução da Alma Humana. Com efeito, é

porque ela possui um corpo físico que é capaz de evoluir no plano terrestre. Sem ele, não pode adquirir as lições graças as quais deve aperfeiçoar-se e tomar consciência gradual­

mente de sua perfeição latente, em benefício de sua reintegração final e definitiva na Onisciência Divina. Para nós, tal coisa é evidente, mas a maioria das pessoas ignora essa evidência. Para a maior parte delas, a vida é um interlúdio consciente que todo ser humano conhece entre o nascimento e a morte, com suas alegrias, suas dores e suas provas. Não sabendo porque vivem não podem dar à sua exis­tência a dimensão espiritual

que deveria ter. Com certeza, muitas dessas pessoas têm uma busca religiosa, porém esta busca está baseada essencialmente na crença e não no conhecimento. Então a ciência da vida não é outra coisa que o conhecimento.

Mas o que é o conhecimento no sentido filosófico do termo? Em primeiro lugar é saber em que consiste a meta ontológica1 da vida tal como a definimos. Dito de outra maneira, é saber que vivemos para evoluir até a perfeição de nossa própria natureza divina. Em segundo lugar, é conhecer as leis espiri­tuais que regem esta evolução, ou seja, a ciência e a consciência do porquê e do como da existência humana. Mas com certeza, tal conhecimento por si só não basta para fazer o homem melhor no seu comportamento. Ele deve pô-lo em prática, não só para seu próprio bem-estar, mas também para o dos outros. Visto deste ângulo, só se pode ser filósofo aplicando na vida cotidiana o que se sabe e conhece em matéria de misticismo. Se não o fazemos, a filosofia que cremos possuir se reduz a preceitos teóricos que só satisfazem intelectualmente, porém que não respondem

"É fato que não se pode ser filósofo se não se ama a vida,,, ela serve de suporte à evolução da alma

humana e lhe permite elevar-se até a perfeição../'

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em caso algum às aspirações da alma. Limita-se a dar-nos a ilusão de sermos filósofos.

Dissemos que ser filósofo é aplicar o conhecimento das leis que regem a evolução espiritual do homem. Entre estas leis, há uma que todos conhecem e que é de extrema importância: o carma. Como é conhecido, esta lei também chamada de Lei da Com­pensação, opera de tal maneira que cada um colhe, cedo ou tarde, o que plantou, seja negativo, seja positivo. Estamos de acordo que o fato de ter consciência não basta para nos incitarmos sempre a bem pensar, bem falar e bem agir, seja entre Rosacruzes ou não. Isto não nos impede a ter, às vezes, pensamentos negativos, propósitos malévolos ou exasperados e a cometer atos reprováveis. Se isto acontece, é precisamente porque ainda não temos a vontade de aplicar o que sabe­mos, não só com relação à lei do carma, mas também com respeito às outras leis que se relacionam com nossa evolução interna. Devemos cultivar esta vontade e transformá-la em suporte de nossa existência objetivando viver conforme nossa filosofia.

As observações anteriores me conduzem a evocar outro ponto indissociável da filosofia. Conhecemos o adágio "Ciência sem consciência é a ruína da alma", que é atribuído a Rabelais. Aplicado à ciência materialista, significa que ela é uma fonte de mal e de destruição se não é utilizada com um fim humanista, isto é, a serviço do homem, tanto no plano material como no espiritual. Porém isto esclarece o que dissemos anteriormente. Com efeito, ilustra o fato de que possuir a ciência da vida é útil ao Bem somente se a empregamos realmente para a evolução da consciência, seja em sua expressão individual ou coletiva. Caso contrário, não beneficia o florescimento da alma. Parafraseando um pouco em sua aplicação estritamente filosófica, este adágio em sentido positivo, diria por oposição que ciência com consciência fazem a felicidade da alma.

O Amor da Vida Dado que a Filosofia é ao mesmo temo amor à Sabedoria e ciência da vida, podemos combinar estas duas definições para encontrar uma terceira. Aparece imediatamente o amor pela vida. É fato que não se pode ser filósofo se não se ama a vida, pois como dissemos antes, ela serve de suporte à evolução da alma humana e lhe permite elevar-se até a perfei­ção, bastando para tanto alcançar o estado de pureza absoluta. Esta é uma das mais belas leis divinas; é o Alento graças ao qual Deus vive e Se contempla através de nós. Por todas estas razões, devemos amar a vida e fazer tudo o que está ao nosso alcance para que seja bela, feliz e útil, apesar das dificuldades e provas com que às vezes nos defrontamos. Em poucas palavras, devemos fazê-la o fundamento de nossa filosofia e lembrar-nos constantemente que a grandeza do homem se situa no fato de que ele é não somente um ser vivo, mas também uma alma vivente.

Porém a vida não se manifesta unicamente por meio do homem. Também se expressa através de todos os seres viventes que povoam nosso planeta. Isso significa que um verdadeiro filósofo ama e respeita todos os reinos da Natureza, posto que cada um deles serve de veículo para a Alma Universal e participa plenamente em sua evolução. Nesta ordem de idéias, devemos considerar todos os animais como nossos irmãos inferiores. Para mim, é evidente ainda que os mais evoluídos deles são futuros seres humanos. Neste aspecto, todos os sofrimentos que lhes impomos por razões injustificadas são uma ofensa a Deus e geram carmas negativos para toda a humanidade, especialmente com relação às enfermidades. Assim será enquanto fizermos sofrer inutilmente aos animais, pois devemos aprender a amá-los e a considerá-los como uma extensão de nós mesmos, com o mesmo valor de nossos irmãos humanos. Em sua aplicação mais nobre, a filosofia inclui o

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razão de nossa existência na Terra e a chave da felicidade que aspiramos. Além disso, nossos ensinamentos nos mostram como atuar no plano espiritual para contribuir com o Bem. Neste sentido, todos temos o dever de ajudar a todos os que sofrem, seja física ou moralmente. Esse dever é a base da obra

humanitária que os Rosacruzes se consagram desde há séculos, na

aplicação da sua filosofia. Absolutamente nenhum dia deveria passar sem que atuemos espiritualmente a serviço da Humanidade sofredora.

Se desejei falar do sentido que um Rosacruz deve dar a palavra

filosofia, é simplesmente porque desejo que cada um entre nós se

converta verdadeiramente em filósofo. Estou convencido que é na Filosofia que reside a base da busca que temos

empreendido sob os auspícios da Rosacruz. Compreendo que a maior importância dos nossos estudos não se encontra na aquisição de poderes psíquicos em estado latente ou em tais ou quais faculdades que é possível desenvolver. Este desenvolvimento é secundário em relação ao despertar de nossas faculdades espirituais, as quais correspondem precisamente às virtudes da alma. Numerosos Grandes Iniciados do passado, penso em Sócrates, Plotino, Milarepa,

Rumi, Spinoza, Louis-Claude de Saint-Martin, Gandhi e tantos outros, não outorgavam nenhum interesse a estes poderes. É claro que eles formam parte das mais belas almas conhecidas pela humanidade e são testemunhas eternas da Sabedoria Divina. Eles foram Filósofos! •

Nota: 1. [De ont(o)- + -logia.J - Parte da filosofia que trata do ser enquanto ser. i. e., do ser concebido como tendo uma natureza comum que é inerente a todos e a cada um dos seres.

Sócrates

amor a todos os seres que a vida trouxe ao mundo, o que dá à palavra Fraternidade uma dimensão universal, senão divina.

Quero insistir num ponto muito importante. Sabemos que a Filosofia Rosacruz é profundamente espiritualista. Afirma a existência de Deus e a possibilidade do homem estudar as Leis divinas. Estou convencido que é neste estudo que reside a

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A Rosa e a Cruz de Robert Fludd

• Por PETER B INDON. FRC

Muito se tem debatido acerca da conexão entre Robert Fludd e os Irmãos da Cruz Rosada, nome pelo qual eram conhecidos os Rosacruzes há trezentos e cinqüenta

I anos. Porém o que está muito claro, tanto por seus escritos quanto pelo que I outros escreveram sobre ele, é que Fludd foi um grande conhecedor da Filosofia

Rosacruz. O diagrama A Rosa e a Cruz é pleno de simbolismo próprio do pensamento rosacruz. Fludd nasceu em 1574 e morreu em 1637. Viveu e trabalhou como médico na Inglaterra,

mas também viajou pela Europa, onde conheceu pessoas com inclinações parecidas com as suas durante os seis anos que permaneceu ali. Graduou-se como bacharel e mais tarde como doutor em Medicina pela Universidade de Oxford. Sem dúvida, seus contemporâneos pensavam que seus métodos não eram muito ortodoxos pois consultava o horóscopo dos pacientes para fazer o diagnóstico e utilizava o que parecia ser remédio homeopático. Fludd foi o que hoje denominamos de terapeuta holístico. Para ele, primeiro deviam ser curados a mente e o espírito do paciente e depois a enfermidade.

S Í M B O L O S M Í S T I C O S

A Rosa e a Cruz.

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S Í M B O L O S M Í S T I C O S

As idéias radicais mantidas por Fludd sobre medicina e cura lhe causaram grandes dificuldades para ser aceito na comunidade médica. Mesmo assim, foi admitido como membro do Real Colégio de Médicos. Seu livro Breve Apologia da Fraternidade da Cruz Rosada, publicado em 1617, demonstra que era um entusiasta defensor desta frater­nidade, mesmo que nunca tenha afirmado pertencer a ela. Isto não é surpreendente já que, naquele tempo, sair da ortodoxia era perigoso para a segurança pessoal.

O símbolo A Rosa e a Cruz de Robert Fludd, apareceu primeiramente como ilus­tração da quarta parte do seu Summum Bonum, publicado em 1629, e que era uma defesa da Fraternidade Rosacruz. A inscrição latina Dat Rosa Mel Apibus significa: A Rosa dá o Mel às Abelhas. Trata-se de uma observação perfeitamente inocente. Porém, por que diria Fludd algo tão óbvio? É evidente que este texto encerra um pensamento mais profundo. Examinemos, então, o simbolismo do dese­nho mostrado na ilustração (página anterior).

Universidade de Oxford .

O simbolismo da Rosa poderia encher livros inteiros e é demasiado extenso para ser dis­cutido aqui. Poderíamos dizer, com certeza que a rosa está associada ao amor e que esta virtude é o ponto central da simbologia Rosa­cruz. Primeiramente, o Amor, junto com a Luz e a Vida, ocupa um dos pontos do Triângulo de Manifestação mencionado em alguns de nossos rituais. Em segundo lugar, Cristo aconselhou que nos amássemos uns aos outros pois, desta maneira, pode-se desenvol­ver a Personalidade-Alma como o fazem as pétalas da rosa enquanto avançam rumo à maturidade. Em terceiro lugar, a Rosa Mística representa a Personalidade-Alma que se abre na cruz do serviço, formando assim nosso símbolo mais potente e mais fácil de reconhecer, o da Rosa-Cruz, considerada no contexto de quem trabalha para seu crescimento pessoal.

A rosa cresce no jardim da alma. As abelhas são o símbolo do trabalho. Imagi­nável o esforço combinado que é necessário por parte dos indivíduos-inseto para conse­guir um litro de mel condensando o néctar de milhares de flores. O labor dos alquimistas e dos terapeutas não era menos intenso. Este símbolo indica que o progresso no desenvolvimento

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Robert Fludd.

vimento místico só pode ser conseguido ao preço de um esforço pessoal considerável. A Luz do Rosacrucianismo, de que são porta­dores nossos Organismos Afiliados, é tam­bém a combinação de muitas pequenas luzes.

Vejamos outra consideração relativa ao simbolismo das abelhas em sua colméia. As abelhas estão necessariamente em um jardim para assegurar que a fertilidade potencial das plantas se manifeste em seus frutos. A não ser que as flores recebam o impulso de algum mecanismo polinizador, murcham e morrem sem cumprir sua missão. As abelhas são o símbolo eterno da progressão natural da vida. Utilizando uma linguagem menos poética, com freqüência se compara a reprodução como a atividade "dos pássaros e das abelhas".

As grades e as parreiras da ilustração de Fludd nos recordam que estamos em um Jardim. E o "Vinho da Uva" têm sido por

muito tempo o símbolo das ricas recom­pensas que podem ser alcançadas com um espírito empreendedor. Este exemplo recorda igualmente uma função de transformação, porque são necessários muitos processos separados para transformar a uva da vida em vinho que sustenta a alma. De novo devemos recordar que o trabalho é necessário para fazer o jardim produtivo. O aspecto ondu¬ lante da superfície do jardim pode ser consi­derado como uma representação do que chamamos de "altos e baixos" da vida. Enten­demos que nem todos os momentos de nossa existência podem ser vividos como algo prazeroso, porém, apesar das adversidades que encontramos, a evolução da nossa Personalidade-Alma avança rapidamente devido a nossa resolução e fortaleza.

A aranha é o símbolo das armadilhas que devemos evitar na vida. Do mesmo modo que a teia da aranha apanha a incauta abelha, a distração, a falta de foco, a indolência e outros vícios apanham o imprudente jardi­neiro da alma. Robert Fludd nos deixou muitos símbolos entrelaçados nessa ilustra­ção. Camuflou artisticamente o fato de que a rosa está dentro de uma cruz. Os braços da cruz estão formados por alguns ramos estra­nhos que não existem em plantas reais. Para evitar qualquer erro de interpretação, a cruz de Fludd é intencionalmente distinta da cruz da Crucificação adotada pela Igreja Cristã. Não devemos portanto, confundir esta cruz com qualquer outra de simbolismo religioso. Mesmo que possam haver paralelismos entre os dois tipos de cruzes, a de Fludd nos leva diretamente a contemplar a idéia da cruz do serviço, sobre a qual se revela a rosa da Personalidade-Alma em crescimento.

A contemplação da ilustração de Fludd é um magnífico ponto focai para meditar sobre este pensamento. •

* Frater Peter Bindon é Grande Mestre da Grande Loja de Língua Inglesa para a Austrália.

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P E S Q U I S A

do Big Bang e a criação do Universo

• Por ADÍL IO JORGE M A R Q U E S . FRC

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"Daqui em diante não existe uma harmonia feita somente para o benefício de nosso planeta, mas a canção que o Cosmo canta a seu senhor e centro, o Logos Solar".

- JOHANNES KEPLER

0Gênese ou a Criação refere-se ao ato (ou atos) em que o mundo e o Universo tomam forma e come­çam a existir. Desde tempos

remotos, todos os grupos sociais humanos têm concebido uma ou mais "teorias" para a Criação. Estas narrativas, orais ou escritas, constituem o maior tema mitológico criado pelo homem na tentativa de esclarecer ques­tões tão remotas quanto o raciocínio huma­no: "De onde viemos?", "Para onde vamos?", "Como tudo começou?", "Deus existe ou tudo é obra do acaso?", "Por que existe alguma coisa ao invés de nada?", "O que é o real?', entre tantas outras.

A Criação, conforme o cristianismo e todas as culturas antigas, descreve o começo do mundo e sua ordem (cosmos, no sentido literal), e serve como arquétipo para todos os mitos seguintes dentro daquela cultura. No sentido filosófico, o mito da Criação expressa os fundamentos ontológicos de uma cultura (ou sua Metafísica). Por outro lado, o desenvolvimento das idéias científicas concernentes à origem do cosmos é a Cosmologia. Desde o pré-socrático Tales de Mileto tenta-se explicar o início de tudo. Tales marcou a transição, no Ocidente, do pensamento místico para um considerado mais científico, em termos modernos, ao dizer que o começo de tudo foi com a água. Porém, uma água não apenas mística, etérea, mas uma entidade ou substância de todo o começo, sendo também o Logos - o princípio ou lei de todas as coisas. Isso é importante, pois nos fornece um sentido cosmológico mais amplo, dando também à natureza a condição de ser a causa e, também, a

manifestação. Ele tem o mérito maior de ser o primeiro filósofo ou pensador da Antigüidade Ocidental a tentar propor uma explicação para a Criação a partir de leis iniciais.

De Aristóteles, passando por Johannes Kepler e Isaac Newton, até hoje, questões con­cernentes ao começo do Universo têm atraído a atenção de cientistas, principalmente astrôno­mos. A ênfase nas teorias algumas vezes causa conflitos entre cientistas e religiosos.

Atualmente, a Teoria do Big Bang sobre a origem do Universo é o modelo cosmológico mais aceito. Esta teoria nos diz que o Universo teria começado com a explosão de um ponto, ou singularidade, de matéria extremamente condensada, passando por um período de crescimento acelerado (Teoria Inflacionária) e continuando sua expansão até os dias de hoje. E questões surgem, onde os cientistas e filósofos modernos tentam descobrir fatos novos que ajudem a entender o cosmos: o Universo poderá se expandir para sempre, devagar ou cada vez mais rápido? Ou expandir até se contrair novamente, a partir de um único Big Bang? Ou mesmo oscilar entre expansão e contração com vários inícios subseqüentes?

A Cosmologia é o estudo, em larga escala, da estrutura e da evolução do Universo. O estudo da origem das estruturas visíveis do Universo, desde os imensos aglomerados de galáxias até o sistema solar, se situa nos domínios da Cosmogonia, apesar de que muitos cientistas hoje em dia tendem a aceitar tudo como Cosmologia. Apenas no século XX as questões fundamentais da Criação puderam ter respostas mais precisas. Com as últimas descobertas observacionais, as questões básicas da cosmologia estão sendo exploradas dentro dos parâmetros da mais aceita das Teorias: a do Big Bang (ou Grande Explosão).

Em 1543, Copérnico levantou a hipótese de que a Terra poderia não ser o centro do Universo. Uma conseqüência lógica da teoria de Copérnico é destituir a nossa galáxia de

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P E S Q U I S A

qualquer localização preferencial no espaço. Dessa forma, somos levados ao componente-chave da cosmologia moderna, o princípio cosmológico de Copérnico, que estabelece que o nosso ponto de localização no Universo não difere em nada de qualquer outro ponto do espaço. Ele seria localmente isotrópico -parece o mesmo em diferentes direções, visto a partir da Terra.

Podemos citar, além de Copérnico, como pioneiros da cosmologia moderna, os seguintes nomes, por terem dado contribuições científicas relevantes que acabaram por culminar na teoria do Big Bang (ver tabela abaixo).

A teoria de Einstein de um Universo estático só perdurou até que em 1922 Ale¬ xander Friedmann, matemático e meteoro­logista russo, e Georges Lemaître, clérigo belga, em 1927, trabalhando de forma inde­pendente, descobrissem um conjunto de soluções mais simples para as equações da gravitação de Einstein e que descrevem um Universo em expansão. Pode-se considerar que ambos foram os criadores da cosmologia moderna e do Big Bang.

A teoria do Big Bang, ou da Grande Explosão, descortina um imenso panorama da evolução cósmica. Há cerca de 14,5 bilhões de anos iniciou-se a expansão cósmica. As condições existentes neste instante inicial e antes dele são matéria para especulações que a teoria convencional não contempla.

Por esta teoria, o Universo primitivo era muito quente, muito denso, e talvez também muito irregular. A irregularidade e a anisotropia decresceram gradualmente. Alguns minutos após o Big Bang, ocorreram algumas reações nucleares; basicamente, todo o hélio existente no Universo foi sintetizado nessa ocasião.

A medida que o Universo se expandia, ele esfriava, parecido com o ar quente se expande e se esfria. A radiação cósmica de fundo observada atualmente nos radiotelescópios é um vestígio residual dessa era primitiva; ela tem sido apropriadamente chamada de radiação remanescente da bola de fogo primordial (aproxi­madamente um minuto após a explosão). A proporção que a matéria do Universo esfriava, ela ia se transformando em galáxias, segundo uma determinada interpretação da evolução do Universo. As galáxias se fragmentaram em estrelas e se mantiveram agrupadas, para formar imensos agregados em vastas regiões do espaço. Com o nascimento e a morte das primeiras gerações de estrelas, os elementos pesados, tais como o carbono, oxigênio, silício e o ferro, foram sendo gradualmente sinteti­zados. Ao se transformarem em gigantes vermelhas, as estrelas liberavam matéria que se condensava em grãos de poeira.

Novas estrelas se formavam a partir das nuvens de gás e poeira. Em pelo menos uma dessas nebulosas a poeira fria se aglomerou

NOME DATAS CONTRIBUIÇÃO

Nicolau Copérnico 1473-1543 Cosmologia heliocêntrica

Tycho Brahe 1 546 - 1601 Observações astronômicas precisas

Johannes Kepler 1571-1630 Leis dos movimentos planetários

... ... _ ... . «r-^„ -,,-„-, Descoberta dos satélites de Júpiter, das manchas Galileu Galilei 1564-1642 . , \ ...

solares e das fases de Vênus Isaac Newton 1643 - 1 726 Lei da gravitação universal - Livro PRINCIPIA

William Herschel 1 738 - 1822 Observação das nebulosas, descoberta de Urano

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em torno da estrela, formando um fino disco. Os grãos de poeira aglutinaram-se uns aos outros, dando origem a corpos maiores que aumentaram de tamanho em razão de sua atração gravitacional, formando uma grande variedade de corpos, desde os minúsculos asteróides até os planetas gigantes, que constituem o nosso sistema solar.

A teoria do Big Bang nos conduz através da evolução de todo o Universo, desde os primei­ros microssegundos de tempo até a formação da Terra e o desenvolvimento da vida, alongan¬ do-se até um futuro que talvez seja infinito.

Os modelos alternativos viáveis do Big Bang são: os modelos aberto e fechado de Friedmann-Lemaître; o modelo marginalmente aberto de Einstein-de Sitter; e o Universo de Lemaître.

Se o Universo estiver sempre se expandin­do na velocidade atual, ele terá agora cerca de 14,5 bilhões de anos de existência. Conside­rando-se a hipótese de que a expansão estará em algum tempo decrescendo, como mostram os modelos aberto e fechado, o Universo teria então menos de 14,5 bilhões de anos.

O modelo aberto de Friedmann-Lemaître tem aproximadamente 20 bilhões de anos. O modelo fechado tem a idade mais baixa, uma vez que a desaceleração deve ter o valor máximo neste modelo para fazer reverter à expansão. Depende da taxa considerada de desaceleração.

O Universo de Lemaître tem muito mais de 14,5 bilhões de anos, porque há um longo período de calmaria, durante o qual a expansão quase estaciona.

Tanto o modelo aberto de Fredmann-Lemaître como o Universo de Lemaître, continuam a se expandir eternamente.

Como referência à idade do Universo, ou o lapso de tempo transcorrido desde o Big Bang até hoje, estima-se em 14,5 bilhões de anos através das seguintes proposições: velocidade de afastamento das galáxias; pela geologia (em relação à idade da Terra, por exemplo); pela medição radioativa; através dos modelos de evolução estelar. O mapeamento das

fontes de rádio do Universo também é importante neste cálculo.

Provavelmente a evidência mais persuasiva aceita em favor do Big Bang seja a existência de um fundo cósmico de radiação de micro­ondas, o resíduo arrefecido da bola de fogo primordial, e que constituía o Universo primitivo. Microonda é o termo usado pelos radioastrônomos para designar as ondas de rádio de pequeno comprimento de onda (inferior a alguns centímetros), no qual o Universo é bem rico. Seu valor é em geral de 10-5 Watts de potência, ou seja: 0,00001 Watts, equivalente a uma temperatura de 2,7 graus Kelvin. Essa energia de fundo é conside­rada um resquício da explosão inicial.

Outra evidência interessante se refere ao argumento de que certos elementos e isótopos (elementos químicos de mesmo número de prótons) podem ter sido sintetizados no Big Bang, devido às altas temperaturas e densida­des do momento. Também existe o fato de que não há outras fontes plausíveis de explicação para pelo menos um elemento leve, o hélio, e um isótopo do hidrogênio, o deutério, exis­tentes no Universo.

Aceita-se que o Universo primordial era quase que uniformemente preenchido com radiação e neutrinos, no qual se intercalavam, em número relativamente pequeno, elétrons, prótons e nêutrons, partículas constituintes dos átomos. No decurso da expansão, a radiação esfriou, até transformar-se na radia­ção de fundo residual e que tem sido medida hoje pelos radioastrônomos. A atual tempe­ratura de radiação é de 2,7 K (Kelvin), ou -270,45 °C, e que eqüivale à energia de menos de um milésimo de elétron-volt por átomo (0,001 e-V/átomo). Esta é uma unidade de medida para energia.

Ao fazermos a extrapolação para os tempos mais primitivos, voltando no tempo, considera-se que a temperatura do Universo aumenta na proporção da potência 1/4 da densidade de energia. Durante os primeiros

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momentos do Universo, havia aproximadamente o mesmo número de elétrons, pósitrons (antipartícula do elétron) e fótons (constituintes da luz) compondo a massa inicial. Após alguns segundos, a temperatura caiu até o ponto em que os fótons não tinham mais energia suficiente para criar nenhum novo par partícula-antipartícula. Nesse ponto, pares de elétron-pósitron eram aniquilados e não podiam ser recriados. Tínhamos um Universo quase que constituído só de fótons. Não houve um aniquilamento total porque havia mais partículas do que antipartículas, para nossa sorte, pois normalmente estas se aniquilam mutuamente.

Vamos tentar considerar agora o que aconteceu antes do primeiro segundo. A temperatura era tão alta que as partículas mais pesadas não podiam ser criadas. Essas incluíam prótons e antiprótons, e talvez uma variedade muito mais exótica de partículas nucleares. Podiam se aniquilar e serem criadas pelo intenso campo de radiação. Existiam partículas em quantidades comparáveis à dos fótons.

A medida que fazemos a nossa inves­tigação recuar, em direção à singularidade inicial (como chamamos o ponto inicial do Big Bang), somos levados a fazer outra especulação. Não poderia o próprio campo gravitacional intenso ter dado origem à criação da matéria e da radiação, a partir do vácuo? O universo teria então sido vazio nos seus instantes iniciais, como algumas tradi­ções antigas nos dizem.

As investigações sobre essa possibilidade levaram à conclusão de que, se o Universo permanece isotrópico, é porque relativamente pouca criação ainda ocorre. Entretanto, a criação de partículas e de fótons poderia ocorrer se a expansão inicial fosse caótica, ou anisotrópica - isto é, se o Universo se expandisse em velocidades muito diferentes, em direções diferentes, a partir de qualquer ponto dado. Podemos imaginar que as

imensas forças de maré resultantes do Big Bang romperam o contínuo do espaço-tempo, no processo de Criação. Poder-se-ia considerar o vácuo como contendo pares virtuais de partículas e antipartículas. Um campo gravitacional suficientemente intenso poderia romper esses pares virtuais, fazendo as partículas ingressarem no "mundo real".

Um quadro se mostra para o começo do Universo: o processo de Criação foi altamente estabilizador. A anisotropia inicial foi dissi­pada rapidamente, dando como resultado um Universo isotrópico, mais homogêneo, repleto de radiação. Os pares de partículas também eram aniquilados, e o fluxo de radiação resultante se dissipava dessa forma fazendo com que a anisotropia se atenuasse. Logo, podemos especular que esses processos "exóticos" precederam o tempo abrangido pelo modelo convencional do Big Bang.

Neste ponto, poucos minutos após o Big Bang, as "explosões nucleares" mais fortes cessaram. A expansão do Universo continuou sem maiores novidades pelo terço de milhão de anos que se seguiu. É a Era de Radiação, que marca o aparecimento da bola de fogo primordial. Poderíamos identificá-lo como um denso e quente caldo de matéria primor­dial e de radiação, que teria evoluído segundo os padrões já descritos acima, não "obser­vável", pois o Universo só se tornou "visível" 300 mil anos após a Criação.

O instante inicial, o tempo zero, é cha­mado de era de singularidade. A menos de 10-43

segundos (o tempo de Planck) a ciência nada pode explicar com certeza. O que teria dado partida à Criação do Universo? Porque o Universo é do jeito que é? Sabemos que qualquer modificação inicial, ou nas cons­tantes universais da Física, teria ocasionado um Universo totalmente diferente do que é hoje, provavelmente não capaz de suportar qualquer espécie de vida.

Qual é a probabilidade estatística de que o Universo, a partir de uma explosão original,

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viesse a ser como é hoje? Sabemos matemati­camente que tal probabilidade é extrema­mente pequena, ínfima. Os cálculos estatís­ticos são somente um resultado aproximado, talvez uma amostragem apenas, disso sabe­mos. Porém, a utilizamos sempre que neces­sitamos precisar algo que não é possível ser totalmente explicado pela matemática usual do problema ou quando queremos saber a margem de erro dos mesmos.

Logo, nada podemos dizer com exatidão desse momento da Criação. "Tudo o que conhecemos encontra sua origem num oceano infinito de energia que tem a aparência do nada", disse o Físico John Wheeler (Guitton,).; Deus e a Ciência; 1991; Ed. Nova Fronteira).

Afirmar que este instante inicial e tudo o mais que veio após tem como ponto de partida uma Consciência Superior, que estaria por detrás de tudo, é para muitos uma hipótese mística. Porém, para muitos cientis­tas é chamada de Hipótese Deus, que assume a probabilidade de uma Inteligência organi­zadora estar por trás da singularidade. Não seria uma Inteligência como comumente é tratada, de um ser antropomórfico, mas uma espécie de ENERGIA primordial, que a tudo permeia, como em um oceano infinito de energia com pequenas flutuações, e que tem na organização universal, na ordem - Cosmos - um atributo inerente a si próprio.

Eventos da Criação Podemos separá-los, de forma simples, em:

Primeiro: O Big Bang, até o tempo de Planck.

Segundo: As Eras: criação das partículas, Eras Hadrônicae Leptônica1 (até 1 segundo após a explosão), passando pelas Eras da Radiação, da Matéria, e do Desacoplamento (a maior e mais importante, a partir de 300 mil anos após o início de tudo, pois é neste período que as estrelas, galáxias, e tc , se formam). Ocorre a expansão do Universo.

"Nossa exploração não deve nunca cessar, e o fim de toda nossa exploração será voltar ao lugar de onde partimos e conhecê-lo pela primeira vez".

- T. S. ELIOT

O Universo mostra-se como uma obra magní­fica que para muitos é obra do acaso e para outros fruto de uma ordenação que não conseguimos atingir. A Mecânica Quântica, importantíssima contribuição da Física ao entendimento, mostra-nos microscopicamente que onde pensamos haver o vácuo ocorre a formação e aniquilamento constante de partículas. O vácuo absoluto parece não existir, talvez corroborando o horror que Aristóteles tinha ao vazio. Muitos objetos cósmicos estranhos mostram-se macroscopi¬ camente ao olhar dos pesquisadores; outros já foram, a princípio, revelados.

Porém, o que é importante ressaltar é que, tanto no micro, quanto no macro, o Universo e toda a Criação revelam a nós, humanos, tantas verdades que poderiam fazer deste mundo um lugar melhor, se estivessem no coração de cada um: nossa pequena posição individual; nosso papel na preservação na natureza; a grandeza de um conhecimento que nos espera para ser revelado, e que certamente nos foi legado para a maior evolução daqueles que compreendem a Criação. •

"Frater Adílio Marques é Mestre em Astrofísica e pesquisador da URCI, Seção F - Ciência Exatas: Física, Química e Astronomia.

Nota: 1. Sobre hádrons e léptons ver matéria "O modelo padrão de partículas elementares", revista O Rosacruz. n° 252, 2o trimestre de 2005.

Referências e leitura recomendada: Guitton, Jean; Bogdanov, Grichka; Bogdanov, Igor; Deus e a Ciência: Ed. Nova Fronteira; 1991; Weisskopf, Victor F.; The Origin of the Universe - An introduction to recent theoretical developments that are linking cosmology and particle physics; American Scientist; Vol. 71 ; 1983; Silk, J.; O Big Bang: Ed. UNB; 1988; Hawking, Stephen; O Universo numa Casca de Noz; Ed.ARX;2001.

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C U L T U R A

Constantino e o culto do Invictus • Por OCÍVIO SANT'ANNA. FRC

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o ano de 312, Constantino vence, na batalha da Ponte Mílvia, seu rival Maxêncio, e com esta vitória adquire, indiscutivelmente, o

direito ao trono imperial. O senado romano, registrando este feito, manda construir um arco triunfal, no Coliseu, relatando a vitória de Constantino e que este fora alcançado "graças ao estímulo de Deus." Só que, diferentemente do que muitos acreditam, o deus ao qual eles se referem é o Sol Invictus da religião romana, da qual Constantino era o Sumo Sacerdote.

Antes da batalha decisiva contra Maxêncio, Constantino teria tido uma visão ou sonho em que ele vê uma cruz luminosa suspensa no espaço e a frase: "In Hoc Signo Vinces" (Por este sinal vencerás). Ordena às suas tropas que usem o mono¬ grama cristão em seus escudos e bandeiras e o adorno das letras gregas qui e rô, que são as duas primeiras da palavra Khristos.

As interpretações que têm sido dadas aos fatos são por demais simplistas e não suportam uma análise histórica mais profunda. Nestas, inclui-se a de que Constantino, ao ter uma visão divina se converteu ao cristianismo, tendo ele o reconhecimento divino, e que as suas vitórias militares eram uma demonstração da apro­vação de Deus. Sem dúvida Constantino foi um salvador do cristianismo quando, em 313, ele "proíbe a perseguição a todas as formas de monoteísmo no Império Romano".

O cristianismo até então sobrevivia dolorosamente, sem sequer ter, até o começo do IV século, uma direção centralizada, dividindo-se entre Roma, Alexandria e Antióquia. Com Constantino consolida-se a autoridade cristã estabelecida em Roma. Ele

também permite a dignitários cristãos par­ticiparem da administração civil, iniciando-se desta forma o poder secular da Igreja. Fez doação do Palácio de Latrão ao Bispo de Roma, fazendo com que a capital do império fosse também o centro do cristianismo. Com o Concilio de Nicéia, em 325, são avaliadas e confrontadas as várias correntes cristãs, eliminando-se os pontos divergentes, e a partir desta seleção, passa a ser considerada como heresia qualquer diferença quanto à interpretação da doutrina.

Na verdade, o cristianismo como o conhecemos em nossa atualidade se deriva

fundamentalmente do Concilio de Nicéia. Como o Concilio ocorreu pela permissão e presidência de Constantino, o cristianismo deve muito a ele. Porém aceitarmos a afirmação de que ele havia se convertido, é irmos longe demais.

A visão que Constan­tino havia tido antes da batalha da Ponte Mílvia foi, segundo testemunhas que acompanhavam seu exér­cito, a do deus Sol. Cons­tantino havia sido iniciado

no culto do Sol Invictus pouco antes desta batalha, e a sua experiência teria ocorrido em um templo pagão. Ele não tornou o cristianismo a religião oficial do Império Romano. Em 313, com o Edito de Milão ele proíbe toda perseguição a qualquer culto monoteísta, mas proibição da perseguição aos cultos monoteístas e a permissão destes cultos deu-se por conveniência, visto que os cristãos haviam se tornado numerosos e Constantino necessitava de todo apoio - a princípio contra Maxêncio e após a morte deste para a consolidação e a condução do Império Romano. Constantino procurou conviver harmoniosamente com as

O objetivo básico de constantino, e mesmo obsessivo, era a unidade do impéiro - na política, na religião e no domínio territorial...

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C U L T U R A

três principais correntes religiosas da sua época: o culto do Sol Invictus, o cristianismo e o mitraísmo.

O culto do Sol Invictus, que é de origem Síria, havia sido introduzido em Roma um século antes de Constantino e embora tivesse elementos dos cultos de Baal e Astartéia, era essencialmente monoteísta. Não nos esqueçamos que a primeira mensagem monoteísta na história foi a de Aknathon em 1.350 a.C, cerca de 1.660 anos antes de Constantino ter proibido a perseguição às religiões monoteístas. E que o monoteísmo de Aknathon tinha por símbolo o Sol, ao qual ele denominou de Athon.

O deus solar romano englobava todos os atributos dos demais deuses sem erradicá-los. Essa absorção ocorria pacificamente, acomodando-se sem atritos. Desta maneira o culto do Sol Invictus precedeu e a princípio conviveu pacificamente com o cristianismo. Todavia tanto no mitraísmo quanto no culto do Sol Invictus é enfatizada a supremacia do Sol sobre os demais deuses.

O objetivo básico de Constantino, e mesmo obsessivo, era a unidade do império -na política, na religião e no domínio territorial. Então uma unidade religiosa englobando todas as demais era do seu interesse. Como um iniciado no culto solar, ele optou por este, visto também atender ao seu propósito de unidade, porém o crescimento do cristianismo obrigou-o a proibir a sua perseguição e a conviver com ele. Foi uma atitude política coerente e acertada à luz dos fatos da sua época. A repressão ao cristianismo já não podia continuar em virtude da expansão da nova doutrina e da aceitação por uma grande parcela da população do império.

O culto monoteísta do Sol Invictus abriu o caminho para que o cristianismo fosse implantado. E nos reportando a realidade do século IV, o cristianismo tinha muito em comum com o culto solar, e desta forma foi

A r c o d e C o n s t a n t i n o : c o n s t r u í d o e m c o m e m o r a ç ã o a v i t ó r i a d e C o n s t a n t i n o s o b r e

M a x ê n c i o na Ba ta l ha da P o n t e M í l v i a .

tolerado e pode florescer sem ser perturbado. Modificações dos credos e dogmas cristãos ocorreram para ajustar-se ao culto solar e ao mitraísmo - culto persa derivado da antiga religião zoroástrica.

Antes de Constantino, o nascimento de Jesus era comemorado no dia 6 de janeiro, mas como o dia mais importante do culto solar e do mitraísmo ocorria a 25 de dezem­bro, com o Natalis Solis Invictus (nascimento do Sol Invencível), a data do nascimento passou a ser comemorada neste dia.

Em um edito promulgado em 321, Constantino decretou que os tribunais deveriam ser fechados no "venerável dia do Sol" e que este seria o dia de repouso. O dia do Sol era conhecido como Dies Domenicos (dia do senhor) que deu origem ao "Domingo". Os cristãos que até então observavam o Sabá Judaico (sábado) passaram também a adotar o domingo.

O mitraísmo enfatiza a imortalidade da alma, um julgamento futuro e a ressurreição dos mortos. Também o nascimento imaculado de Zoroastro e que uma estrela o anunciou. O cristianismo, como o conhecemos hoje,

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existentes nos primeiros séculos do que de suas próprias raízes judaicas.

Constantino, deliberadamente, atenuou e minimizou as diferenças existentes nos três grandes cultos religiosos da sua época. A fé para Constantino era de interesse político e, portanto se ela contribuía para a unidade gozava da aprovação imperial. Mesmo tendo que conduzir de acordo com os interesses políticos, Constantino demonstrou sinceramente um senso do sagrado. Embora intimamente identificado com o culto do Sol Invictus ele teve uma deferência especial para com o Deus cristão. Porém este não era Jesus, mas o Deus Pai que até então não era identificado ao Filho. O Deus Pai era, para Constantino, nada mais do que uma outra denominação do Sol Invictus, culto com o qual ele teve sua formação, tinha especial devoção e era o Sumo Sacerdote;

Alistair Kee, em seu livro, Constantine Versus Christ, publicado em 1982, demonstra, de forma convincente, que Jesus não desempenhou nenhum papel na religião de Constantino. Embora ele reconhecesse o messianato, o fazia no verdadeiro significado da sua origem judaica: um líder guerreiro como Davi e Salomão que com sabedoria e com a sanção divina governaram seu povo, dando unidade e consolidando sua nação.

Ainda as palavras de Alistair Kee enfatizam bem este aspecto: "A religião de Constantino nos leva de volta ao contexto do Antigo Testamento. É como se a religião de Abraão (...) fosse finalmente realizado, não em Jesus, mas em Constantino". E: "Constantino representou no seu tempo o cumprimento da promessa de Deus de enviar um rei como Davi para salvar o seu povo. É esse modelo, tão forte e tão pré-cristão, que melhor descreve o papel de Constantino". Constantino se considerou o verdadeiro e bem sucedido messias, e a Igreja endossou o papel que ele se arrogou.

Eusébio, bispo de Cesaréia e um dos

grandes expoentes teológicos do seu tempo, assim se refere a Constantino: "Ele se fortalece em seu modelo de poder monárquico, que o soberano de Todos concedeu apenas à raça do homem entre as da Terra". Reportando-se ao Imperador ele assim se pronuncia: "... soberano mui temente a Deus, o único, entre todos que por aqui já passaram desde o início dos tempos, a quem o Deus Universal que tudo rege deu o poder de purificar a vida humana".

Kee comentando as palavras de Eusébio, assim se pronuncia: "Desde o início do mundo é apenas a Constantino que o poder de salvação foi dado. Cristo é posto de lado, Cristo é excluído e agora Cristo é formalmente negado". E "Constantino passa a figurar sozinho como o salvador do mundo. O cenário é o século IV, não o século I. O mundo, espiritual e material, não havia sido salvo antes de Constantino". Ainda Kee: "...é claro que a vida e a morte de Cristo não tem eficácia alguma nesse esquema de coisas (...) a salvação do mundo é agora forjada pelos eventos da vida de Constantino, simbolizada pelo seu sinal de salvação".

Desta forma a tolerância que Constantino demonstrou para com o cristianismo fazia parte do seu interesse da unidade. Assim ele em uma parte da cidade construía uma igreja cristã e em outra parte um templo ao Sol Invictus ou estátuas à deusa-mãe Cibele. Seu ecumenismo e atitudes ecléticas são demonstrações claras do seu profundo interesse pela unidade. Estátuas do Sol Invictus eram representadas com os traços de Constantino. O cristianismo não foi reconhecido como a religião oficial do Império Romano durante o seu governo.

Constantino morreu em 22 de maio de 337 quando partia para uma campanha contra os persas. Ele havia mudado a capital do império, de Roma para as margens do Bós¬ foro, onde hoje se ergue Constantinopla.

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Construindo pontes, ligando

mundos

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T odos sabemos o que significa construir pontes. Fisicamente uma ponte é uma estrutura de madeira, de concreto, metal ou

mista que se estende sobre um precipício ou um curso d'água entre dois pontos fixos. Mas também usamos a palavra ponte para nos referirmos a uma ligação entre dois conceitos ou idéias. Os conceitos se relacionam através do conhecimento e, nesse aspecto, o conhe­cimento é a ponte. Vamos tomar, por exem­plo, um dicionário. Ele faz a ponte entre os sons das palavras e seu significado. Dando uma definição, um dicionário se torna uma ponte entre a falta de conhecimento que uma pessoa tem do signifi­cado de uma palavra e a definição formal dessa palavra.

Um problema enorme que todos nós, místicos, temos que enfrentar é como ligar e relacionar claramente o mundo material com o mundo imaterial, como fazer a ponte entre esses dois reinos apa­rentemente incompatíveis. Todos nós já aprendemos com os místicos do passado e do presente que esse tipo de ponte existe, e é possível que alguns de nós já passaram por ela atravessando-a várias vezes. Desde bem cedo na vida, percebemos de forma subcons­ciente que existem dois mundos ou reinos de existência, ou o que se poderia chamar de duas ordens de seres. Uma criança pequena brincando sozinha, conversando com seus amigos imaginários, descobre inadvertida e subconscientemente a existência de um reino imaterial, o reino do pensamento e, além dele, o reino psíquico. Imaginando a presença de outros companheiros de brincadeira, muitas crianças fazem a ponte sobre essa brecha de forma simples e inquestionável e,

com total abandono, atravessam a ponte normalmente e com toda a espontaneidade, até o momento em que ensinam a ela que apenas um dos lados, o lado material, dessa ponte, é real. A medida que as crianças passam para a idade adulta, seu conheci­mento e experiência do mundo material crescem ao mesmo tempo em que a memória do mundo imaterial diminui rapidamente. Cada vez menos elas se aventuram a ir até o outro lado e, finalmente, a perda cada vez maior de familiaridade com o mundo ima­terial as força a concluir que a diferença entre

esses dois mundos é tão desalentadoramente vasta que normalmente não há alterna­tiva a não ser fazer uma separação conceitual com­pleta. Quando isso acontece, poucas são as pessoas que, pelo resto de suas vidas, vão sequer tentar fazer a ponte entre esses dois mundos. A vida continua sua marcha inexorável até um momento próximo da transição, quando os dois reinos começam novamente a se aproximar.

As práticas supersticiosas do homem primitivo foram uma tentativa inicial de se construir algum tipo de

ponte, durante a vida adulta, para ligar esse abismo do desconhecido. Foi a partir desses conceitos primitivos que nasceram as primei­ras religiões. Infelizmente, nem as práticas supersticiosas, nem os dogmas religiosos tiveram sucesso na construção de pontes sobre essas brechas. A grande maioria das pessoas com educação religiosa padrão nunca, durante sua vida, será capaz de construir a ponte entre as duas esferas da existência. Em vez disso, elas têm a tendên­cia conveniente de classificar o mundo físico como uma área e o mundo psíquico como

"Apenas sabendo, apenas obtendo o

conhecimento específico, é que

chegamos a perceber que a ponte entre os mundos físico

e psíquico pode ser construída../'

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outra e nem imaginam que os dois podem se misturar e que podem ser vividos simultaneamente. Podem afirmar que seguem uma doutrina religiosa, ou certas crenças no mundo psíquico, mas no seu dia-a-dia de fato ignoram a maioria desses princípios e simplesmente vivem como se apenas o mundo físico importasse, como se este

reino material fosse a única área de existência a que se pode atribuir algum valor.

Existe um grande interesse da parte dos seres humanos inteligentes em procurar desvendar a relação e a coordenação entre os mundos físico e psíquico. Infelizmente, as atitudes mentais inflexíveis, tão freqüente­mente adotadas pelos proponentes de ambos os lados da ponte, tornam extremamente difícil chegar a uma explicação lógica da relação que existe entre eles. Os que são materialistas e recusam reconhecer o mundo psíquico ignoram qualquer situação ou condição que possa produzir um relaciona­mento melhor entre o psíquico e o material. Da mesma forma, os extremamente idealistas negam o valor e muitas vezes a existência do mundo material, apesar de sua óbvia solidez.

Apenas sabendo, apenas obtendo o conhe­cimento específico, é que chegamos a perceber que a ponte entre os mundos físico e psíquico pode ser construída e se tornar uma realidade diária. A forma como aprendemos, ou a forma como obtemos o conhecimento é obviamente através dos sentidos. Quando lemos, usamos o sentido da visão. Percebemos páginas que estão cobertas de palavras que conhecemos e percebemos um ambiente físico e um ambien­te psíquico ao nosso redor, como oceanos, florestas, cidades, pessoas, animais e outras partes do nosso reino físico. Essas condições nos ajudam a manter um conhecimento

confiável e crucialmente importante do nosso ambiente. Sem esse conhecimento funda­mental e permanente do nosso mundo físico, não conseguimos existir. Praticamente não há dúvida, então, de que realmente percebemos o mundo físico e que ele realmente existe.

No entanto, quando começamos a pes­quisar a análise da percepção, descobrimos que existem e existiram filósofos eminentes que questionaram a confiabilidade de nossas percepções físicas. Também nos lembramos de exemplos bem conhecidos do fato de que nem sempre podemos depender dos nossos senti­dos físicos. Mas não levamos essas questões muito a sério e, através da experiência, acaba­mos confiando na forma de conhecimento que é produzida através dos sentidos físicos. Perceber o mundo físico geralmente funciona e, já que todos confiam nele, apesar das fortes objeções filosóficas, decidimos que também vamos confiar em nossas faculdades senso¬ riais. Contudo, temos que encarar o fato de que se podemos atingir um grau de familia¬ ridade com o mundo físico através do uso de nossos sentidos físicos, nossas faculdades sensoriais físicas não podem nos dar o conhe­cimento do propósito final do universo, da natureza do Absoluto ou da natureza de nosso próprio Eu Interior e da vida que o torna uma entidade pulsante e existente. Não podemos conhecer a natureza do reino psíquico apenas através dos nossos sentidos físicos.

Só existe um canal pelo qual os reinos físico e psíquico podem ser ligados e esse canal é o misticismo. O misticismo oferece a ponte entre o físico e o psíquico. De fato, a experiência mística é a única ponte que propicia uma ligação de compreensão por cima do abismo do desconhecido. A experiência mística é uma função ou um atributo do ser humano, tão certa quanto as faculdades sensoriais que oferecem os meios pelos quais o homem percebe o mundo físico. A experiên­cia mística também é o sentido mais amplo do mundo, um processo sensorial, aquele que faz

"Só existe um canal pelo qual

os reinos físico e psíquico podem

ser ligados e esse canal é o misticismo."

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com que o homem perceba uma área que os sentidos físicos não conseguem alcançar e finalmente perceba esse vasto domínio simul­tâneo com a percepção monótona normal do mundo físico. É isso que os místicos rosacru­zes objetivam alcançar. Durante anos de aplicação dedicada e intensa dos nossos princípios reconhecidos pelo tempo, construí­mos uma ponte entre os mundos físico e psíquico, ponte essa que fortalecemos diaria­mente e que acabamos usando cada segundo de nossas vidas. Os ensinamentos rosacruzes funcionam, não há qualquer dúvida em relação a isso. Mas, infelizmente, muitos de nós não aplicam esses estudos como deveriam.

A experiência mística nos dá uma base para o conhecimento intuitivo, que é de igual valor - na verdade, de valor superior - ao que é percebido através dos sentidos físicos. Apenas uma pequena minoria de pessoas no mundo já experienciou qualquer coisa de natureza mística, mesmo em sua fase mais elementar. Para ser capaz de funcionar efetivamente, o ser exterior deve estar conectado com a presença da Personalidade-Alma, que tem a capacidade de perceber além das limita­ções dos sentidos físicos. Com treinamento, a ligação entre o eu exterior e o eu interior é fortalecida a ponto de nossas percepções assu­mirem uma nova qualidade transcendental. Com percep­ções mais evoluídas, somos capazes de perguntar o significado do mundo físico e de sondar o significado do Cósmico. Mestres e adeptos de épocas passadas conse­guiram ter sucesso em atingir exatamente isso e, acreditemos, sem a ajuda da ciência moderna.

É nesses indivíduos que vemos exemplos da capacidade de construir uma ponte que relaciona o ser humano a algo que é diferente

da própria percepção sensorial física. Quando vemos uma cena de grande beleza, como um pôr-do-sol, ou captamos um instante de inocente maravilha nos olhos de uma criança ou observamos algum ato de grande auto-sacrifício, descobrimos que, além da percep­ção física desses acontecimentos, também somos internamente tocados pelas experiên­cias que acompanham essa percepção. Depois disso, na tentativa de expressar por que tivemos esses sentimentos, todos podemos dizer que percebemos um lampejo de algo que está ao mesmo tempo além e junto com a própria sensação física. Era como se uma força Cósmica externa a nós e ao aconte­cimento físico gravasse uma impressão em nossa consciência. Em outras palavras, percebemos intuitivamente. Obtivemos o conhecimento através de nosso próprio canal interno de percepção através da ligação que

nossa própria vida tem com a vida como um todo. O nível intuitivo de nossa própria percepção penetrou além da aparência externa da ordem física do universo.

No entanto, esses lampejos em si não são experiências incomuns. Eles se encontram totalmente entre as habilidades de cada um de nós, basta que desenvolvamos as técnicas necessárias e permitamos que elas funcionem. Mesmo os momentos de experiência mística mais profunda são

limitados em comparação ao vasto alcance do Cósmico. Esta idéia está registrada nas palavras de Jó: "Essas são apenas as margens dos Seus Caminhos. Que murmúrio fraco ouvimos dEle!". Enquanto não percebermos o próprio Absoluto, não seremos capazes de perceber a vastidão da existência que transcende o mundo físico.

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Um outro modo da experiência mística funcionar como uma ponte é a de reco­nhecer a existência de duas ordens de coisas. O homem funciona não como uma entidade física independente ou como uma alma independente. Por existir na matéria, o homem funciona necessariamente como um corpo ligado a uma alma e deve coor­denar as duas ordens do ser num equilíbrio harmonioso para otimizar sua existência. O fato de existir tanto um mundo físico quanto um mundo psíquico já foi mencio­nado. O alcance que nossa percepção tem do mundo é, no entanto, apenas uma pequeníssima fração do todo. Vamos tomar como exemplo o mundo místico. Somos capazes de perceber apenas umas poucas faixas isoladas de vibrações. Nossa facul­dade da visão, por exemplo, é sensível apenas a freqüências eletromagnéticas da ordem de 15 quadrilhões de vibrações por segundo. A realidade do som apenas existe para nós na faixa de 20 a 20.000 vibrações por segundo. O olfato, o tato e o gosto representam ainda outras faixas de freqüên­cia. Mas, apesar do fato de que só somos capazes de perceber essa pequeníssima porção do universo físico, nossa realidade material é tão sólida, tão real, tão eston¬ teantemente complexa e bela. Será que isso não nos dá uma dica da vastidão do restan­te da realidade física que não percebemos, dos 99,99% que nunca percebemos?

O exemplo acima também tem sua analogia no mundo psíquico, apesar, é claro, de esse mundo ser muito maior do que o mundo físico. É claro que somos grandemente limitados em nossas habilidades de perceber e compreender o Cósmico; limitados pelos nossos sentidos e pelo curto período de tempo que temos na Terra, na qual aprendemos sobre o Cósmico. Também é verdade que das habilidades limitadas que temos em dormência dentro de nós apenas uma fração mínima está sendo plenamente

utilizada. Mas, se estamos tão ocupados vivendo nossas vidas físicas presentes, como podemos esperar desenvolver uma percepção do nosso mundo psíquico? Como podemos de fato algum dia esperar unir os dois mundos numa realidade harmoniosa e permanente?

Isso é o que a Ordem Rosacruz divulga em muitos anos de estudo e de aplicação prática a todos aqueles que buscam sin­ceramente. É isso que conseguimos quando reservamos uma noite por semana para nos dedicarmos com toda a lealdade e reverência ao capítulo seguinte dos ensinamentos. Muitos rosacruzes novos perguntam por que simplesmente não publicamos os ensinamentos em livros e deixamos que os membros avancem cada um no seu passo. A resposta é bem simples. Nada se ganha apenas lendo os ensinamentos, e não se pode garantir que o indivíduo vai fazer mais do que apenas ler sobre eles, especialmente nesta era de sobrecarga de meios de comu­nicação em que nos desdobramos para dar conta da informação que chega à nossa porta. O que o sistema de monografias faz é orientar o místico aspirante a colocar em prática os ensinamentos e, isso só pode ser feito em pequenas porções, uma pequena fatia de cada vez.

A parte específica dos ensinamentos que você está estudando atualmente pode ser elementar, mas não se engane, pois pode ser exatamente a área do seu Ser maior na qual você precisa aplicar mais esforço. O Cósmico se revela apenas ao humilde. E o faz silencio­samente e sem ostentação. A verdadeira compreensão não exige esforço; ela entra em nossa consciência como uma brisa suave, e silenciosamente ilumina o caminho. As emoções profundas de felicidade e de gratidão que todos experimentamos de vez em quando, sempre chegam bem depois que a verdadeira compreensão se fixou em nossos seres. •

* Rosicrucian Forum

R O S A C R U C I A N I S M O

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P E Q U E N A M E N S A G E M

Nós, caminhantes, seremos os Iluminados

quando, pacíficos e serenos, chegarmos à Montanha Sagrada

Chegar até ao altar do Santo Graal é trazer mais Luz para a própria Alma, penetrando em sua sublime Essência,

a Divina Chama que está em nós.

Porque os seres já despertos têm o coração puro e bom,

a mente limpa e calma, a alma translúcida.

Estarão na Luz os puros e limpos;

servem e abençoam, venceram a si mesmos.

Nós, enquanto buscadores, faremos parte dos "Illuminati"

quando, sincera e humildemente, formos arautos da Luz, Vida e Amor...

• Por MERCEDES P A L M A PARUCKER. SRC

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O P I N I Ã O

Esta seção é aberta aos leitores para opiniões, observações ou críticas. Mande

sua contribuição e colabore para o aprimoramento do nosso trabalho. Nosso

objetivo é oferecer textos místico-culturais construtivos e agradáveis.

Totalmente esclarecedor o artigo "Quem são realmente os Rosacruzes?" de Peter Bindon, FRC. A maior prova da legitimidade da AMORC como herdeira da Tradição Rosacruz está na verdade deste axioma: "A oração nos permite falar com Deus; a meditação nos prepara para ouvi-Lo. Assim Seja!". Luiz Cláudio Pedreira da Silva, FRC

Gostaria de sugerir para colocarem novamente na revista O Rosacruz, um excelente artigo já publicado em nov/dez de 1990, intitulado "O Imperator exotérico e esotérico" de Mark Moulton, FRC, que esclarece sobre o importante papel do Imperator em nossa Ordem. Ana Maria Alves de Almeida, SRC

Parabéns pela pesquisa "Misticismo Quântico", da edição 255. Realmente somos parte de um todo, porém o todo não é perfeito, segundo minha opinião, devido à eterna necessidade de estar em constante evolução. Excelente também a parte que se refere ao comportamento, "A liberdade do indivíduo" do nosso Frater Charles Vega Parucker, publicado em março de 1995, edição 211, e repetido agora. Mareio de Castro Falcão, FRC

A revista O Rosacruz do 1o trimestre de 2006, sob o número 255, está especial com uma série de artigos interessantes, publicados com primor em sua excelência e qualidade. Não poderia deixar de citar o artigo "Misticismo Quântico" assinado por Dini Jacobs, SRC. Numas dessas coincidências da vida (como dizia Jung), hoje debatia em um grupo de discussão, formado por pesquisadores, o assunto sobre a origem da ciência primitiva e o misticismo até o Renascimento e a formação da ciência moderna

pela Física e Química Quântica. Esse artigo chegou premiando a nossa discussão. Marcelo Silva, FRC

[...] Peço que continuem elaborando artigos de conteúdo científico, fundamentados, pois a revista é uma forma de provarmos o que verbal­mente tentamos passar aos nossos conhecidos quanto os benefícios pessoais que a Ordem Rosacruz traz em nossa senda.

Como exemplo, fui numa palestra no SESC da Esquina (promovida pelo Café com Ciência) que falava de Física Quântica. Puxa, saí com muitas dúvidas e não é que a revista trouxe justamente esse artigo (Misticismo Quântico) que esclareceu vários pontos. Notei que o assunto estava fundamentado cientificamente e desper­tou outros conceitos antes inertes em mim.

Agradeço a essa equipe, vocês talvez não façam idéia da importância do conteúdo da revista para o despertar da sociedade!

Sandra Regina Cardinale, SRC

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Entre as muitas recordações que tenho da infância, uma delas refere-se especificamente a minha filiação Rosacruz. Lembro que, criança ainda, deitado em uma rede no quarto dos meninos em nossa casa, em Belém do Pará, folheava a revista "0 Cruzeiro", quando deparei com a publicidade da Ordem Rosacruz, AMORC. Até hoje, mais de 50 anos depois, não sei o que me atraiu no anúncio, mas lembro de ter pensado no momento - "Quando for adulto, vou fazer parte desta organização". - Recortei o anúncio e guardei-o em um dos livros de meu pai, na estante.

Muitas vezes, nos anos seguintes, folhei vários livros da estante a procura do anúncio, todas sem êxito. Em 1964, já acadêmico de medicina, ao arrumara estante para acomodar meus livros, um dos livros de direito de meu pai caiu, abriu e mostrou-me o anúncio que ali tinha sido colocado anos antes, indicando o endereço para solicitar o

^^^^Ê livreto "O Domínio da Vida". Preenchi o folheto e o enviei. Vários meses depois recebi o livreto, que tocava em algumas dúvidas que tinha

desde quando estudante em colégio religioso católico. Por uma feliz coincidência, o acontecido encontrou-me já universitário, maior de idade,

trabalhando como professor de Biologia e pela primeira vez na vida, com numerário disponível. Resolvi inscrever-me na Ordem, comecei a receber as monografias e descobri que não poderia realizar os exercícios em casa, pois como éramos nove irmãos (cinco meninos e quatro meninas), nunca havia a possibilidade de isolamento. A situação mudou em 1970, pois ao formar-me médico no final de 1969, também me casei e em minha própria casa tinha todo isolamento e reserva necessários. Além

o, minha esposa sempre apoiou meus estudos Rosacruzes e com isso foi possível realizar as diversas iniciações que tinham sido deixadas para "quando houvesse possibilidade". Durante muito tempo, um de meus irmãos argüia-me com freqüência sobre o porquê de ser

Rosacruz e eu, particularmente, também me perguntava com freqüência, do ou dos motivos porque ingressei e principalmente porque continuava na Ordem. Muitas vezes, a única resposta para os inquiridores, eu e meu irmão, era porque gostava e queria. Atualmente, aquele meu irmão, já não me faz este questionamento. Acredito que, se esta pergunta ainda lhe persiste na mente, está dirigida para a única pessoa que pode responder-lhe, ou seja, ele mesmo, pois é ex-Mestre do Pronaos Ananindeua, no Pará, ex-Monitor Regional, e está trabalhando ativa e entusiasticamente para transformar o Pronaos em Capítulo. Quanto a mim, há já bastante tempo que não tenho mais este tipo de questionamento. Como muitos outros membros antes de mim, já encontrei a resposta.

Como o estudo da filosofia Rosacruz mudou a minha vida? Não sei, pois como sempre estive unido à Ordem (à nossa querida) Rosacruz, AMORC, não conheci outro caminho, e atualmente, olhando ao redor, completo: "felizmente". Entretanto, reconheço que os estudos beneficiaram minha vida, que pautada pelo Código de Ética Rosacruz, jamais precisei apresentar justificativas, principalmente quando me apresentava no Sanctum Celestial.

Continuo a estudar e a trabalhar para ajudar no combate aos tradicionais inimigos da Ordem: o fanatismo, a ignorância e a superstição. Para isso estou utilizando um dos predicados que o Criador concedeu-me, junto com todos os seres humanos, o livre-arbítrio, não só para ter alegria no viver, mas também para, voluntariamente, acelerar minha auto-evolução e, assim, poder ser útil no progresso da humanidade.

Em suma, sou e espero continuar a merecer o privilégio de permanecer como um fiel soldado da Ordem Rosacruz, AMORC.

-Ulemá* : urso A AMORC em Minha Vida 'em

Portug <-esa.

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Que Regem a Humanidade e o Universo

Deus criou leis pelas quais o universo é regido. A humanidade continuou a colocar essas leis em ação criativa através de pensamentos, orações, motivos, intenções, opiniões e crenças. Essas são as ferramentas certas. Neste livro de Lonnie C. Edwards, o estudante aprenderá como usá-las sempre para o bem.

Os seres humanos são responsáveis por criar o bem, o belo e o verdadeiro, isto é, tudo que desejamos experimentar. Mas também são responsáveis por criar aquilo que não desejamos experimentar. Por sermos co-criadores com Deus, a qualidade de nossos pensamentos, crenças e intenções determina e manifesta nosso mundo. Há muito trabalho a ser feito e os que estão na senda, com conhecimento dos atributos e Leis de Deus e com amor e boa vontade no coração, farão esse trabalho. Este é o seu guia para pôr essas idéias em prática neste atribulado mundo de hoje!

Leis Espirituais