experimentos com o fator de mobilidade · 2019. 10. 31. · experimentos com o fator de mobilidade...

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EXPERIMENTOS COM O FATOR DE MOBILIDADE Anderson L. Pimentel, Adelson S. de Oliveira Adelino A. da Silva Junior e Daniel T. de Paula, PETROBRAS S/A, Brazil Copyright 2013, SBGf - Sociedade Brasileira de Geof´ ısica. This paper was prepared for presentation at the 13 th International Congress of the Brazilian Geophysical Society, held in Rio de Janeiro, Brazil, August 26-29, 2013. Contents of this paper were reviewed by the Technical Committee of the 13 th International Congress of The Brazilian Geophysical Society and do not necessarily represent any position of the SBGf, its officers or members. Electronic reproduction or storage of any part of this paper for commercial purposes without the written consent of The Brazilian Geophysical Society is prohibited. Abstract Low frequency phenomena associated with the presence of hydrocarbons have attracted the attention of researchers for at least a decade. Based on Biot’s theory, a description of these phenomena uses the so-called mobility factor directly related to rock matrix properties and interstitial fluid to accommodate laboratory observations to the seismic data. This paper presents initial results with the application of these concepts on a well known set of seismic data. It also brings a discussion of the opportunity and validity of their predictions based on the prior knowledge of the geological sites under study. This aims at understanding its importance as an auxiliary tool in the exploration and production management. Introduc ¸˜ ao Dentre a grande variedade de atributos s´ ısmicos com base te´ orica mais s´ olida, virtualmente todos baseiam-se na teoria elastodin ˆ amica el ´ astica. A presenc ¸a de fenˆ omenos ao el´ asticos ´ e tratada de modo a reduzir a distˆ ancia entre os dados observados e a teoria el´ astica, via de regra, de modo limitado. As relac ¸˜ oes entre deformac ¸˜ ao e tens˜ oes em um meio multif´ asico (rocha + fluidos) s ˜ ao melhor descritas atrav ´ es das equac ¸˜ oes de Biot(1962). Fen ˆ omenos como a presenc ¸a de convers˜ oes de ondas P para as chamadas ondas P lentas e coeficientes de reflex ˜ ao complexos s˜ ao naturalmente previstos e est˜ ao associados a propagac ¸˜ ao inel´ astica de energia no meio em estudo. Diversos autores tˆ em estudado manifestac ¸˜ oes de baixa frequ ˆ encia em ´ areas produtoras de hidrocarbonetos sob diferentes pontos de vista e modelos. Korneev et al. (2004) deduziram express˜ oes que descrevem as observac ¸˜ oes experimentais com base no coeficiente de reflex ˜ ao complexo, R = R 0 + iR 1 , e da relac ¸˜ ao/interfer ˆ encia entre topo e base de um reservat ´ orio, chegando a uma express˜ ao da forma, κρ η = f a 2 ( f ) f . Mais recentemente, Silin et al. (2010) derivou express˜ oes para os coeficientes de reflex ˜ ao e transmiss ˜ ao em afastamento nulo, considerando convers˜ oes do tipo ondas P ondas P lentas, que permitiram expressar a amplitude axima e a frequ ˆ encia correspondente para interferˆ encias de topo e base de onde se pode obter o fator de mobilidade como, κρ η = a 2 ( f ) f . onde, f = f max METODOLOGIA Este etodo permite a detecc ¸˜ ao de hidrocarbonetos baseada na caracter´ ıstica e morfologia do espectro de frequ ˆ encia do dado s´ ısmico. ´ E baseado na equac ¸˜ ao difusa e viscosa da onda e leva em considerac ¸˜ ao os efeitos da atenuac ¸˜ ao e da dispers ˜ ao das velocidades em meios poro- el´ asticos contendo flu´ ıdos m ´ oveis. Este atributo s´ ısmico (fator de mobilidade) ´ e proporcional a mobilidade dos fluidos em um reservat ´ orio. A mobilidade dos fluidos determina a distribuic ¸˜ ao de press ˜ ao de poros quando uma rocha saturada se deforma durante a passagem de uma onda. As propriedades s´ ısmicas s ˜ ao influenciadas n ˜ ao somente pelo tipo de poro mas tamb ´ em pela sua habilidade de se mover pela rocha. Como este tipo de atributo consiste na raz˜ ao da Amplitude da frequencia de pico e a frequencias de pico necessita-se, portanto, obter o espectro de freq ¨ encia do trac ¸o s´ ısmico, que ´ e feito utilizando a Transformada S (Stockwell et al. (1996)). O fluxo de computac ¸˜ ao do fator de mobilidade consiste no uso de duas func ¸˜ oes da Tecnologia Geof´ ısica: a Transformada S e o Fator de Mobilidade ambas presentes no pacote Websintesi. No computo da Transformada S, que ´ e aplicada trac ¸o a trac ¸o, deve-se limitar uma regi ˜ ao de interesse tanto no espac ¸o como no tempo. Dentro dos par ˆ ametros da func ¸˜ ao escolhe-se a freq ¨ encia m´ ınima e axima em Hz de sa´ ıda, o intervalo de amostragem na freq ¨ encia, a largura das janelas gaussianas. O Fator de mobilidade ´ e calculado a partir do espectro de amplitude da decomposic ¸˜ ao tempo-freq ¨ encia de sec ¸˜ oes ısmicas, sendo poss´ ıvel o fator estimar a derivada parcial na express˜ ao 1 ou calcular o atributo pela raz˜ ao entre a Amplitude e freq ¨ encia de pico express˜ ao 3 e efetuar o alculo do Fator de Mobilidade. APLICAC ¸ ˜ OES Esta metodologia de c ´ alculo do Fator de Mobilidade foi empregada em duas bacias brasileiras. O m´ etodo de estudo consiste em calcular o Fator de Mobilidade e comparar com os resultados de trˆ es poc ¸os Thirteenth International Congress of The Brazilian Geophysical Society

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  • EXPERIMENTOS COM O FATOR DE MOBILIDADEAnderson L. Pimentel, Adelson S. de Oliveira Adelino A. da Silva Junior e Daniel T. de Paula, PETROBRAS S/A, Brazil

    Copyright 2013, SBGf - Sociedade Brasileira de Geofı́sica.

    This paper was prepared for presentation at the 13th International Congress of theBrazilian Geophysical Society, held in Rio de Janeiro, Brazil, August 26-29, 2013.

    Contents of this paper were reviewed by the Technical Committee of the 13th

    International Congress of The Brazilian Geophysical Society and do not necessarilyrepresent any position of the SBGf, its officers or members. Electronic reproductionor storage of any part of this paper for commercial purposes without the written consentof The Brazilian Geophysical Society is prohibited.

    Abstract

    Low frequency phenomena associated with thepresence of hydrocarbons have attracted the attentionof researchers for at least a decade. Based onBiot’s theory, a description of these phenomena usesthe so-called mobility factor directly related to rockmatrix properties and interstitial fluid to accommodatelaboratory observations to the seismic data. Thispaper presents initial results with the application ofthese concepts on a well known set of seismic data. Italso brings a discussion of the opportunity and validityof their predictions based on the prior knowledgeof the geological sites under study. This aims atunderstanding its importance as an auxiliary tool in theexploration and production management.

    Introdução

    Dentre a grande variedade de atributos sı́smicos com baseteórica mais sólida, virtualmente todos baseiam-se nateoria elastodinâmica elástica. A presença de fenômenosnão elásticos é tratada de modo a reduzir a distânciaentre os dados observados e a teoria elástica, via deregra, de modo limitado. As relações entre deformaçãoe tensões em um meio multifásico (rocha + fluidos) sãomelhor descritas através das equações de Biot(1962).Fenômenos como a presença de conversões de ondasP para as chamadas ondas P lentas e coeficientes dereflexão complexos são naturalmente previstos e estãoassociados a propagação inelástica de energia no meioem estudo.

    Diversos autores têm estudado manifestações de baixafrequência em áreas produtoras de hidrocarbonetos sobdiferentes pontos de vista e modelos. Korneev etal. (2004) deduziram expressões que descrevem asobservações experimentais com base no coeficiente dereflexão complexo,

    R = R0 + i R1 ,

    e da relação/interferência entre topo e base de umreservatório, chegando a uma expressão da forma,

    κρη

    = f∂a2( f )

    ∂ f.

    Mais recentemente, Silin et al. (2010) derivou expressões

    para os coeficientes de reflexão e transmissão emafastamento nulo, considerando conversões do tipo ondasP ⇒ ondas P lentas, que permitiram expressar a amplitudemáxima e a frequência correspondente para interferênciasde topo e base de onde se pode obter o fator de mobilidadecomo,

    κρη

    =a2( f )

    f.

    onde, f = fmax

    METODOLOGIA

    Este método permite a detecção de hidrocarbonetosbaseada na caracterı́stica e morfologia do espectro defrequência do dado sı́smico. É baseado na equação difusae viscosa da onda e leva em consideração os efeitos daatenuação e da dispersão das velocidades em meios poro-elásticos contendo fluı́dos móveis.

    Este atributo sı́smico (fator de mobilidade) é proporcionala mobilidade dos fluidos em um reservatório. A mobilidadedos fluidos determina a distribuição de pressão deporos quando uma rocha saturada se deforma durante apassagem de uma onda. As propriedades sı́smicas sãoinfluenciadas não somente pelo tipo de poro mas tambémpela sua habilidade de se mover pela rocha.

    Como este tipo de atributo consiste na razão da Amplitudeda frequencia de pico e a frequencias de pico necessita-se,portanto, obter o espectro de freqüência do traço sı́smico,que é feito utilizando a Transformada S (Stockwell et al.(1996)).

    O fluxo de computação do fator de mobilidade consisteno uso de duas funções da Tecnologia Geofı́sica: aTransformada S e o Fator de Mobilidade ambas presentesno pacote Websintesi. No computo da Transformada S,que é aplicada traço a traço, deve-se limitar uma regiãode interesse tanto no espaço como no tempo. Dentro dosparâmetros da função escolhe-se a freqüência mı́nima emáxima em Hz de saı́da, o intervalo de amostragem nafreqüência, a largura das janelas gaussianas.

    O Fator de mobilidade é calculado a partir do espectro deamplitude da decomposição tempo-freqüência de seçõessı́smicas, sendo possı́vel o fator estimar a derivada parcialna expressão 1 ou calcular o atributo pela razão entre aAmplitude e freqüência de pico expressão 3 e efetuar ocálculo do Fator de Mobilidade.

    APLICAÇÕES

    Esta metodologia de cálculo do Fator de Mobilidade foiempregada em duas bacias brasileiras. O método

    de estudo consiste em calcular o Fator de Mobilidadee comparar com os resultados de três poços

    Thirteenth International Congress of The Brazilian Geophysical Society

  • FATOR DE MOBILIDADE 2

    (permeabilidade), através de visualizações em seções,mapas e fatias em tempo.

    Figure 1: Mostra o resultado do Fator de Mobilidade(esquerda) para seção que passa pelo primeiro dos trêspoços e pode-se comparar com a seção sı́smica normal(direita). O perfil de litologia e o de permeabilidade estãoplotados para comparação.

    Na primeira das áreas estudadas foram reportadas váriasdescobertas de óleo e gás. Estas descobertas ficam emcorpos de arenitos do Paleoceno até o Santoniano. Afigura 1 mostra o resultado do Fator de Mobilidade parauma seção de fator de mobilidade que passa por um poçocom óleo (esquerda) e a seção sı́smica normal (direita).O perfil de litologia e o de permeabilidade estão plotadospara comparação. Nota-se que as cores quentes (fator deMobilidade maior) coincidem com altos valores no perfil depermeabilidade e com os principais corpos de arenitos

    A figura 2 mostra uma fatia em tempo (oligo-mioceno) doFator de Mobilidade (esquerda) e mesma fatia sı́smicanormal (direita). As cores quentes identificam maioresvalores de permeabilidade (mobilidade de fluı́dos) e nota-se claramente as feições de canal arenoso sinuoso,tı́pico de sistemas turbidı́ticos de água profunda. Secomparmos com a mesma fatia em tempo da sı́smica,o Fator de Mobilidade realça esta feições estratigráficasdestes canais arenosos permeáveis aos fluı́dos.

    Figure 2: Mostra uma fatia em tempo (oligo-mioceno) doFator de Mobilidade (esquerda) e mesma fatia da sı́smicanormal (direita).

    Na segunda área estudada existem 2 campos produtoresde gás. Estas acumulações de gás estão em corposde arenitos turbidı́ticos do Maastrichiano ao Campaniano,imaturos, pouco selecionados e de permeabilidade baixade idade Paleoceno até o Santoniano.

    A figura 3 mostra o resultado do Fator de Mobilidade paraseção que passa pelo poço descobridor deste campo degás à esquerda, e pode-se comparar com a seção sı́smicanormal à direita. O perfil de litologia e o de permeabilidadeestão plotados para comparação. Nota-se que as coresquentes (fator de Mobilidade maior) coincidem com altosvalores no perfil de permeabilidade e também com ascamadas de arenitos perméaveis aos fluidos).

    Figure 3: Resultado do Fator de Mobilidade para seçãoque passa pelo poço descobridor. Para comparação, aseção sı́smica normal fica à direita. O perfil de litologiae o de permeabilidade estão plotados.

    A figura 4 mostra uma fatia extraı́da em um janela de100ms ao longo do horizonte Maastrichiano-Campanianodo Fator de Mobilidade (esquerda) e mesma fatia sı́smicanormal (direita). As cores quentes identificam maioresvalores de permeabilidade (mobilidade de fluı́dos). Ocampo de gás torna-se mais ressaltado no mapa de Fatorde Mobilidade. Algumas feições de canal mostram-sevisı́veis tanto no mapa de Fator de Mobilidade como nomapa de amplitude normal.

    A figura 5 mostra o resultado do Fator de Mobilidade paraa seção que passa pelo poço (à esquerda) que mostra aseção carbonática albiana e a seção sı́smica normal (àdireita). O perfil de litologia e o de permeabilidade estãoplotados para comparação. Nota-se que as cores quentes(fator de Mobilidade maior) coincidem com altos valoresno perfil de permeabilidade dentro da rochas carbonáticasdesta seção albiana.

    A figura 6 mostra uma fatia extraı́da em um janela de100ms abaixo do horizonte Albiano do Fator de Mobilidade(esquerda) e da sı́smica normal (direita). As cores quentesidentificam maiores valores de permeabilidade (mobilidadede fluı́dos). As feições tı́picas de plataforma carbonáticasde tornam mais evidentes no mapa de Fator de Mobilidade.

    CONCLUSÕES

    Os resultados são promissores na identificação dasoportunidades de uso desta metodologia. De umamaneira geral, identificaram-se as principais camadaspermoporosas em diversos ambientes sedimentares(siliciclásticos e carbonáticos), em diferentes idades e

    Thirteenth International Congress of The Brazilian Geophysical Society

  • PIMENTEL ET AL. 3

    Figure 4: Mostra uma fatia extraı́da em uma janela de100ms abaixo do horizonte Maastrichiano-Campanianodo Fator de Mobilidade (esquerda) e da sı́smica normal(direita).

    Figure 5: Mostra o resultado do Fator de Mobilidade paraseção que passa pelo poço que mostra seção albiana epode-se comparar com a seção sı́smica normal à direita.O perfil de litologia e o de permeabilidade estão plotadospara comparação.

    compactações e bacias diferentes.

    A teoria não está fechada. Restringe-se a afastamentonulo e traz diversas hipóteses sobre o comportamentohidrodinâmico do fluı́do no meio poroso. Se possı́velcorrelacionar o atributo com medidas de vazão,permeabilidade e etc.

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

    Biot, M. A., 1956a, Theory of propagation of elastic wavesin a fluid saturated porous solid. I. Low-frequency range:Journal of the Acoustical Society of America, 28, 168–178.

    Biot, M. A., 1962. Mechanics of deformation and acousticpropagation in porous media. Journal of Applied Physics33, no 4, 1482-1498.

    Korneev, V., Goloshubin, G., Daley, T. and Silin, D.,2004, Seismic low-frequency effects in monitoring of fluid-saturated reservoirs: Geophysics, Vol. 69, No 2, p. 522-532.

    Figure 6: Mostra uma fatia rms extraı́da em um janelade 100ms ao longo do horizonte Albiano do Fator deMobilidade (esquerda) e mesma fatia sı́smica normal(direita).

    Silin, D. and Goloshubin, G., 2010, An asymptotic modelof seismic reflection from a permeable layer, Transport inPorous Media, Springerlink, p. 233-256.

    Stockwell, R.G. .Mansinha, L.; Lowe, R.P., 1996.Localization of the Complex Spectrum: The S Transform,IEEE Trans. On Sig. Pro., vol.44, No.4, 998-1001.

    Goloshubin, G., Schuyver, C., Korneev, V., Silin,D., Vingalov, V., 2006, Reservoir imaging using lowfrequencies of seismic reflections, The Leading Edge, 25,527.

    Goloshubin, G., Silin, D., Vingalov, V., Takkand, G., Latfulin,M., 2008, Reservoir permeability from seismic attributeanalyses, The Leading Edge, 27, 376.

    AGRADECIMENTOS

    Os autores agradecem aos Geofı́sicos Mauren PaolaRuthner, Fernando Barbosa da Silva e Ricardo Tarabinipela sugestões dadas ao projeto.

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