eualidadeda Ácut consumo como rndrcador dn conntqóns …

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eUALIDADEDA Ácut on coNSUMo HUMANO coMo rNDrcADoR Dn conntqóns on slúnr E SANEAMENTo No PARQUE FLUMINENSE Mart€b a6sa de Frei.as* * PeVuisa¿or ¿o Nú.leo de Es¡,|'¿.'s de Saúde Colet u de Uníersi.l¡l¿¿ Fe¿erul ¿o Rb ¿e lonein. E ndit: hesst@ u..l.4frj.hl RESUMO Para avaliar a qualidade da água consumida no Parque Fluminense, a vulnerabilidade e os mecanismos de contaminagáo do sistema de distribuiqáo e de água subterránea, utilizou-se "coli- formes totais e fecais" como indicado¡ da presenga de patógenos de veiculaqáo hídrica. Colifor- mes foram detectados durante a maior parte das epidemias causadas por bactérias, vfrus, e agentes etiológicos náo identificados, indicando satisfatoriamente a presenga de microrganismos patogé- nicos em água do sistema de distribuiqáo e água subtenenea. Foram também analisados os níveis de cloro residual livre para atestar a capacidade de desinfecgáo que a água mantCm ao longo da rede distribuidora. Amostras da água de rede de distribuigáo (antes e após a reservagáo domicili- ar) e poQo foram analisadas. De acordo com os padróes de potabilidade preconizados na Portaria GM 36/90, os resultados demonstraram uma contaminaqáo por coliformes totais e./ou fecais de 6,57¿ na tomeira de entrada do usuário e 36% na safda da caixa-d'água ou cisterna. Em água de torneira,827¿ das amost¡as ap¡esentaram cloro livre maior ou igual a 0,2 mg/L. Em água subtef- tánea,56Vo das amostras apresentaram contaminaqáo por colilormes totais e/ou fecais. Palavras chaves: coliformes, cloro livre, sistema de distribuigáo, água subtenanea. ABSTRACT This study evaluated the quality ofthe drinking water consumed by the inhabitants oi Parque Fluminense and the vulnerability and the mechanisms of contamination of the water supply sys- tem and well water. Total and f'ecal coliforms were used as indicator of waterborne disease. Coli- forms have been detected during several outb¡eaks caused by viruses, bacteria and unidentified agents. They may indicate satisfacto¡ily the presence ofpathogens microrganisms in water supply system and well water Was Also analyzed free chlorine to certificate the desinfection that water must maintain along the public supply system. Water samples of supply system ( before and after the household water tank) and well water were selected foÍ analyses. As far as the drinkability standards established in Directive CM 36/90 are concerned. total and/or fecal colifo¡ms were detected in 6.57. of the consumer's tap samples and 36 7o of the household water tank). In consumer's tap, 827o of the samples have shown contents higher than or equal to 0,2 mg/L residual chlorine. In well watet 56 7o of the samples showed total and/or fecal coliforms. Key words: Coliforms, free chlorine, water supply system, well water. 23 Cad. Saúde Colet.6(Supl. 1), 1998

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eUALIDADEDA Ácut on coNSUMo HUMANO coMorNDrcADoR Dn conntqóns on slúnr E SANEAMENTo No

PARQUE FLUMINENSE

Mart€b a6sa de Frei.as** PeVuisa¿or ¿o Nú.leo de Es¡,|'¿.'s de Saúde Colet u de Uníersi.l¡l¿¿ Fe¿erul ¿o Rb ¿e lonein.E ndit: hesst@ u..l.4frj.hl

RESUMO

Para avaliar a qualidade da água consumida no Parque Fluminense, a vulnerabilidade e os

mecanismos de contaminagáo do sistema de distribuiqáo e de água subterránea, utilizou-se "coli-formes totais e fecais" como indicado¡ da presenga de patógenos de veiculaqáo hídrica. Colifor-mes foram detectados durante a maior parte das epidemias causadas por bactérias, vfrus, e agentesetiológicos náo identificados, indicando satisfatoriamente a presenga de microrganismos patogé-

nicos em água do sistema de distribuiqáo e água subtenenea. Foram também analisados os níveisde cloro residual livre para atestar a capacidade de desinfecgáo que a água mantCm ao longo darede distribuidora. Amostras da água de rede de distribuigáo (antes e após a reservagáo domicili-ar) e poQo foram analisadas. De acordo com os padróes de potabilidade preconizados na PortariaGM 36/90, os resultados demonstraram uma contaminaqáo por coliformes totais e./ou fecais de6,57¿ na tomeira de entrada do usuário e 36% na safda da caixa-d'água ou cisterna. Em água detorneira,827¿ das amost¡as ap¡esentaram cloro livre maior ou igual a 0,2 mg/L. Em água subtef-tánea,56Vo das amostras apresentaram contaminaqáo por colilormes totais e/ou fecais.

Palavras chaves: coliformes, cloro livre, sistema de distribuigáo, água subtenanea.

ABSTRACT

This study evaluated the quality ofthe drinking water consumed by the inhabitants oi ParqueFluminense and the vulnerability and the mechanisms of contamination of the water supply sys-tem and well water. Total and f'ecal coliforms were used as indicator of waterborne disease. Coli-forms have been detected during several outb¡eaks caused by viruses, bacteria and unidentifiedagents. They may indicate satisfacto¡ily the presence ofpathogens microrganisms in water supplysystem and well water Was Also analyzed free chlorine to certificate the desinfection that watermust maintain along the public supply system. Water samples of supply system ( before and afterthe household water tank) and well water were selected foÍ analyses. As far as the drinkabilitystandards established in Directive CM 36/90 are concerned. total and/or fecal colifo¡ms were detectedin 6.57. of the consumer's tap samples and 36 7o of the household water tank). In consumer's tap,827o of the samples have shown contents higher than or equal to 0,2 mg/L residual chlorine. Inwell watet 56 7o of the samples showed total and/or fecal coliforms.

Key words: Coliforms, free chlorine, water supply system, well water.

23 Cad. Saúde Colet.6(Supl. 1), 1998

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INTRODUQÁO

A associa$áo da água como um imponante fator na veiculagáo de diversas doengas dohomem, tais como parasitoses, hepatite A, leptospirose, dengue, etc. em árcas scm saneamentobásico tem sido estudada por vários autores no mundo todo. Lippy & Waltrip (1984), a partir deestudos de epidemias veiculadas pela água ent¡e 1946 e i980, categorizaram as principais delici-éncias que causamm ou contribuíram para essas epidemias: (l ) uso de água superñcial tratada ounáo tratada; (2) uso de água subtenanea náo tratadat (3) tratamento interrompido ou inadequado;(4) problemas na rede de distribuigáo e (5) outros. Nesse estudo concluiu-se que mais de 80q¿ dasepidemias foram associadas com deficiéncias no tratamento ou distribuigáo de água.

A relagáo da qualidade da água com epidemias causadas por vírus entéricos humanos foievidenciada no estudo de Bosch et al. (199l), quando uma epidemia causada pelo vírus da hepa-tite A (HAV) foi notilicada em um acampamento militar no nordeste da Espanha, onde 2l pessoascont¡aíram o vfrus. Atribuiu-se a epidemia á água que abastecia o acampamento, o qual possuíaum tratamenlo de água próprio (floculaEáo, filtragáo e cloragáo) e captava água de um rio querecebia conribuigó€s de esgoto doméstico e industrial. Análises virológicas demonstraram a pr€-senga positiva do vírus da hepatite A em amostras de água de torneira, com residual de cloro liv¡ede 0,2 ÍtglL e sem a presenga de bactérias fecais, indicando a resisté¡cia desse lipo de ví¡us aoambiente desinfetante do cloro residual livre na água potável.

A partir de estudos relacionando a água como um principal veiculador de várias doengas,Cairncross & Feachem (1990) agruparam em quatro catego.ias as fbrmas de transmissáo das do-enEas de veiculaQáo hídrica segundo as condiqóes ambientais em que ocorrem: a) transmissáohídrica: ocone quando o agente etiológico encontra-se na água que é ingerida; b) transmissáorelacionada com a higiene: oco.re devido a falta de práticas de higiene pessoal e doméstica; c)transmissáo baseada na água: ocorre quando o agente etiológico desenvolve partg do seu ciclovital em um animal aquático e d) transmissáo por um inseto vetor: ocofre quando insetos vetoresque desenvolvem parte de seu ciclo vital na água, transmifem o agente efiológico através da pica-qa.

Pafindo desses princlpios, as alteragóes promovidas no ambientg veiculador hídrico ouum aumento da oferta e da qualidade da água, sáo capazes de ocasionar impactos positivos na

saúde, na redu9áo de doenqas e no bem estar geral da populagáo. Gross et al. (1989), estudaramos impactos do aumento da ofefa de abastecimento de água e coleta de esgoto sobre diarréia eparasitoses intestinais em 254 crianqas maiorcs de 6 anos em duas favelas de Belo Horizonte, everificou que a prevaléncia de diarréia diminuiu significativamente com o aumento da oferta deágua I coleta de esgoto. No entanto náo foi observado o mesmo impacto significativo nos caso deparasitose.

Os impactos positivos promovidos pela melhora da qualidade da água sobre a reduqáo dedoenEas de veiculagáo hídrica, segundo Vanderslice & Briscoe (1995), sáo maiores em famíliascom condiqóes adequadas de esgotamento sanitário, quando comparados com a mesma inlerven-gAo em famílias com inadequada solueáo para a disposiqáo de esgotos. Em locais onde eram en-contradas condigóes muito precárias de esgotamento sa¡itário, a melhora da qualidade da águanáo apresentou qualquer efeito sobre a redugao da diaréia. enquanto que nos loca¡s com adequa-da disposigáo de esgotos a redugAo da concentragáo de colitbrmes fecais na água - de 100 orga-nismos por 100 ml para I organismo por 100 ml - conduziu a 40 7¿ de reduqáo de diar¡éias. Di-ante deste fato, pode-se considerar que os componentes de maior importáncia na rcduqáo de do-engas de veiculaqáo hídrica sáo melho¡ias do sistema de esgotamento sanitário e de drenagemurbana, uma vez que sáo responsáveis pela eliminagáo do meio propício á propagaqáo dos vetorese agentes etiológicos de caráter patogénico. Náo obstante, a melhora na qualidade e quantidade da

Cud. Saúde Colet. ó(Supl. l), 1998

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água acanetará impactos positivos na saúde e no bem-estar da populaEáo. A qualidade da águadistribuída a uma cidade deve estar sempre de acordo com os padróes de potabilidade propostospelas normas da Organizagao Mundial de Saúde (WHO, t98-5). Os padróes normativos de quali-dade, sáo obtidos desde a proteqáo do corpo hídrico utilizado para a captagáo até o tipo do trata-mento empregado, passando pela ampliagáo e manutengáo periódica do sistema da rede de distri-buiqáo de água. A aqáo dos impactos da melhora da qualidade da água de consumo humano (men-su¡ados pelos parámet¡os de potabilidade) em conjunto com obras de esgotamento e drenagem, emudangas nos hábitos higienicos e socioculturais atuarao em conjunto na redugAo de doengasveiculadas pela água.

Segundo Cvjelanovic (1986), os componentes de abastecimento de água (estagáo de trata-mento de água, sistema de distribuiqáo, etc.) sáo bem definidos e facilmente quantificados, en-qüanto que os latores sociais (educaqáo sanitária. desenvolvimento institucional, desenvolvimen-to de rccursos humanos, etc.), que desempenham um import¿nte papel sobre os efeitos na saúde,sáo muito mais difíceis de se mensurar. Para o autor, embora medidas de qualidade € quantidadede água liberada para o consumidor sejam essenciais, sáo ainda insuficientes paÉ a avaliaQáoprópria dos seus impactos na saúde.

Mas o que de fato é capaz de alterar a qualidade da água liberada po¡ uma estagáo de

tratamento? Sabe-se que a água no sistema de distribuigáo pode sofrer uma série de mudangas,fazendo com que a qualidade na torneira do usuário se diferencie da qualidade da água que deixaa estaqáo. Segundo Deininger et al, (1992), tais mudaneas podem ser causadas por variaqóes qul-micas e biológicas ou por uma perda de integridade do sistema.

A qualidade da água liberada após o tratamento para o consumidor pode sofre. uma vari-aqáo espacial e tempo¡al dentro do sistema de distribuiqáo. Segundo Clark e Coyle (1990), osprincipais fatores que contribuem para esta variaqáo sáo: (l) a qualidade química e biológica dafonte hídrica; (2) a eficácia e eficiéncia do processo de tratamento. reservató¡io (armazenagem) esistema de distribuiqáo; (4) a idade, tipo, projeto e manutenEáo da redel (5) a qualidade da águatratada e (6) a mistura de diferentes fontes.

Em se tratando de águas naturais ou águas subterraneas, alteragóes na potabilidade podemocorrer devido a influCncia da ocupagáo desordenada do solo por atividades agrfcolas, i¡dustriaise de assentamento residencial sem saneamento básico. Nas úl¡imas décadas. o aumento da urba-nizaqáo, do cultivo e da industrializagáo ocasionou a poluiqáo de águas supefficiais e subterráne-as. Um exemplo é a contaminaqáo de ma¡anciais subterráneos por microrganismos, compostosnitrogenados, e metais pesados, devido principalmente a despejos de esgotos domésticos, indus-triais e agícolas, responsáveis por uma variedade de doengas de veiculaQáo hídrica (Pathak et al.t994).

A água subtenanea, além de ser um bem económico, é conside¡ada mundialmente uma fonteimp¡escindível de abastecimento pam consumo humano, para as populaqóes que náo tém acesso árede pública de abastecimento. Apesar da auséncia de dados completos sobre as dimensóes de suaufilizaeáo, estima-se que 5170 da água potável do Brasil provCm dos aqüíferos subtenáneos.

No Estado de Sáo Paulo existem rggistros de que 60 a 617¡ dos núcleos urbanos se utili-zam de águas subterraneas para o abastecimento total ou parcial (CETESB, 1996; Foster e Hirata,1993). Os aqüífbros subterraneos representam um grande pofencial de abastecimento para consu-mo humano e animal. e de utilizagAo agrfcola, principalmente nas áreas rurais de alguns países,como Brasil, Estados Unidos, ltália, Espanha, Nicarágua (Amaral et al., 1984) e Dinamarca (Laursenet al., 1994). No Brasil, o aqüífero subterreneo abastece 6.549.363 domicílios (197¿ do total) edestes 68,78% estáo localizados na área rural, abrangendo 11,94% de toda populagáo nacional,segundo o IBCE (1994).

,,. Cad. Saúde Colet. 6(SupI. I), 1998

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As fbntes de contaminaqáo antropogénica em águas subtenaneas sáo em geral diretamenteassociadas a despejos de efluentes domésticos, industriais e chorume oriundo de aterros de lixo,que contaminam os lenqóis freáticos com microrganismos patogenicos (Freitas e Almeida, 1998;

Freitas et al., 1997). Além de promoverem a mobilizaqáo de metais naturalmente contidos no solo,como alumínio, ferro e manganés (Freitas, 1997; Nordberg, 1985), também sáo potenciais fbme-cedores de nitrato e substáncias orgenicas extremamente tóxicas ao homem e ao meio ambiente,como por exemplo o hexaciclohexano, que comprometeu o solo de uma extensa área do municí-pio de Duque de Caxias, a Cidade dos M€ninos (Olivei¡a, 1994).

Para Silva Filho ( 1993), os constituintes químicos das águas subtenaneas podem ser in-fluenciados por tres tátores: deposigáo atmosférica, processos químicos de dissolugáo e/ou hidró-lise no aqüífero, e mistura com esgoto e/ou águas salinas por intrusáo, que modificam as caracte-

rísticas qualitativas e quantitativas dos mananciais subterraneos utilizados para o consumo huma-no, agrícola e industrial.

As características bacteriológicas das águas subterráneas sáo variáveis, de acordo com a

presenga de microrganismos aquáticos autóctones ou de tránsito, provenientes dos efluentes in-dustriais, do deflúvio superticial agrícola ou mesmo do ar (CETESB,1995). Nos países em desen-volvimento, devido ¡s precá.ias condiqóes de saneamento e má qualidade das águas, as doenqas

diaÍeicas de veiculaqao hídrica, tais como febre tifóide, cólera, salmonelose, shigelose, gastroen-

terites, poliomielite, hepatite A, verminoses, amebíase e giardíase, tém sido responsáveis por vá-rios surtos epidémicos e pelas elevadas taxas de mortalidade infantil, relacionadas ¿ água d€ con-sumo humano (Leser, et al., 1985).

O surgimento de uma série de doengas de veiculagáo hfdrica, e a lenta e progressiva con-taminaQáo dos aqüífcros subterráneos tém sido atribuídos ¡s falhas na construqáo e inadequadaprotegáo sanitária dos pogos (Celdreich .1990). Esses fatores sao agravados pela má qualidadedas técnicas de perfuragáo, pela falta de legislagáo adequada de proteqáo e controle do lanqamen-

to de poluentes no solo e aqüíferos subterráneos, pelas características hidrológicas dos aqüíferos,pela falta de planejamento por parte do Poder Público e auséncia de informagóes e educagáo sa-

nitária dos usuários, o que pode colocar em risco a saúde da populagáo (Cast¡o et al., 1992; Cle-ary, 1989).

O conrole da contaminaqáo das águas subterÍeneas envolve uma série de medidas preven-

tivas, de aspectos legais, institucionais e particulares. Quanto aos aspectos legais, mundialmentesáo elaboradas políticas e normas que orientam a utilizaEño e as formas de proteqáo de pogos. Aprotegáo dos poqos e dos aqüíferos subtenáneos, nos aspectos i¡stitucionais, pode ser definida atra-

vés da atuaQáo de órgáos públicos competentes que exercem a vigiláncia no cumprimento dos dis-positivos legais através de programas e campanhas sanitárias e educativas (Silva, 1987).

Em Natal, no Rio Crande do Norte, num estudo rcalizado por Mello (1998), a água sub-terránea que é consumida por grande parte da capital potiguar apresentou um estado de degrada-qáo devido sobretudo ao sistema de saneamento adotado com disposiqáo local de efluentes do-mésticos (fossas e sumidouros) e pela alta vulnerabilidade do sistema hídrico afetado por cargascontaminantes dispostas no terreno. Isto resultou na contaminaqáo das águas subteftaneas por nitrato,em conseqüéncia da biodegradaqáo dos excrementos humanos.

Em outro estudo, realizado por Manf-redini (1998), em Sáo Roque, município do interiorde Sao Paulo, dos 45 poqos rasos selecio¡ados e analisados, situados na área rural do município,apenas 3 (6,677ú) apresentaram amostras de água de acordo com os padróes bacteriológicos de

potabilidade, para coliformes totais. E para coliformes fecais, apenas 2070 das amostras encontra-ram-se adequadas para consumo humano, indicando as condiEóes inadequadas de proteEáo higi-énico-sanitária dos poqos estudados.

Cad. Saú¿e Colet. ó(Sup¿ I ), 1998 26

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A AREA DE ESTUDO

O Parque Fluminense apresenta grandes problemas no abastecimento de água potável, ondea regularidade do fornecimento é intermitente, levando as comunidades da área a optarem porabastecimentos alternativos, como a construgáo de ligaeóes nAo oficiais ou clandestinas, conecta-das á rede de distribuigáo da companhia fornecedora do Estado e a perfuraqáo e escavagáo depogos. Em algumas ¡ocalidades, o percentual de domicllios que utilizam esse tipo de água está nafaixa de 23,18 7o (IBGE, l99l) e 39,39 9,: (Almeida, 19971.

Segundo informagóes obtidas junto á Companhia de Abastecimento de Agua e Esgoto doEstado do Rio de Janeiro (Programa de Saneamento Básico, 1993), a área é abastecida com águaoriunda de dois sistemas principais: o Sistema Cuandu e o Sistema Aca¡i. No primeiro, a água é

conduzida do reservatório do Marapicu (abastecido com água da estaqáo de t¡atamento do Guan-du) através de uma adutora de 2000 mm de diámetro que, além do Parque Fluminense, é respon-sável pelo suprimento de água de toda a Baixada Fluminense. O segundo, constitui-se no maisantigo sistema de suprimento de água da cidade do Rio de Janeiro. Capta água dos mananciais deSáo Pedro, Rio do Ouro, Tinguá, Xerém e Mantiquira, situados nas vertentes das Serras da Ban-dei¡a, do Couto e da Estrela, nos municípios de Nova lguaqu e Duque de Caxias. Neste sistema,a água captada recebe somente dois tipos de tratamento: pré-decantaqao e desinfecqáo com cloro.

METODOLOGIA

As áreas de amostragem foram delimitadas por setores censitários. O Parque Fluminensese divide em 4l setores, e desse total, 14 setores foram escolhidos como área de amoslragem e

coleta: 75,92, ll0, lll, 112, 119, 121,128, ll8, 139, 125, 133, 134, 135.

Na orientaeáo dos pontos de água da rede e pogo, foram selecionadas as áreas com maiorvulnerabilidade e risco de contaminaeáo, seguindo critérios ambientais e sanitários, a partir daplanta do sistema de distribuigio de água fornecido pela Companhia de Abastecimento de Aguae Esgoto do Estado do Rio de Janeiro (CEDAE) para o Parque Fluminense. de dados obtidos doCENSO de 1991, e do Inquérito Epidemiológico do Projeto de AvaliaEáo dos lmpactos do Pro-grama de Despoluigáo da Baía de Guanabara sobre as CondiEóes de Saúde e Qualidade de Vida(PAISQUA). Quatro áreas de influéncia foram delimitadas:

I ) Áreas com cotas altimét¡icas attas. Sáo áreas onde a pressAo da linha de abastecimento,geralmente náo é suficiente para sup¡ir a populaeAo residente nesses locais, podendo a água ficarestagnada nas partes mais baixas da tubulaqáo. Segundo Prévost et al. (1997), a água estagnadapor longos peíodos nas linhas distribuidoras sofrem importantes transfo¡magóes, como o aumen-to da densidade bacteriológica, acompanhado de um aumento de temperatura e de uma diminui-gáo signilicativa de cloro livre.

2) Áreas próximas a esgotamento in natura como canais e valóes. Foram consideradasestratégicas na escolha dos setores censitários, uma vez que em peaíodos chuvosos, inundaqóesocorrem com freqüéncia na regiáo. Enchentes podem comprometer a qualidade da água da redede distribuiqáo através da ent¡ada de água contaminada para o interior da tubulaqáo em zonas depressáo negativa, além de permitirem também a entrada de água para o interior de cisternas epoQos.

3) Áreas mais distantes da adutora principal (que está localizada na avenida PresidenteKennedy). A distAncia da influencia foi estipulada com base na expectativa de sobrevivéncia deagentes patogénicos na água, mesmo com a presenqa de cloro livre, uma vez que a reduqáo dosnfveis de cloro é propo.cional ao tamanho da linha distribuidora. Para resolver este p¡oblema, as

companhias de abastecimento costumam instalar estagóes de ¡ecloragáo em pontos estratégicos da

Cal. Saúde Colet. 6(Supl. I ), 1998

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rede. O Parqug Fluminense náo possui estaqáo de recloraqáo. Dessa forma os setores mais próxi-mos á adutora principal sao beneficiados com níveis maiores de cloro livre.

4) Áreas com maior número de poqos e que apresentam também maiores nscos para acontaminagáo de água subtenánea. Foram selecionadoli e cadastrados os poEos situados nos seto-

res censitários que apresentavam maio¡ número de valas negras, sumidou¡os, e domicílios despro-vidos de redg coletora de esgotos. PoQos construídos em árcas onde há existéncia de fossas esumidouros apresentam um risco potencial para o comprometimento do lengol freático devido ¡percolaeáo do esgoto pelo terreno, que atinge a camada de água.

Para avaliar a freqüéncia e a oferta de água do sistema de distribuigáo, foram tomadasprimeiramente as amostras da tomeira de entrada do usuário. Caso náo houvesse água saindo desfeponto primário de entrada de água da rede, a amostra era coletada na saída da caixa d'água oucistema. Dessa forma, os domicílios que mais olereceram água da torneira de entrada apresenta-ram também uma maior regular¡dade no fbrnecimento de água. A irregularidade do abastecimentode água de uma determinada área urbana pode permitir a introdu!áo de agentes patogénicos na

rede de distribuiQáo (Barcellos et al., 1998).

No Parque Fluminense lbram selecionados ao fodo,10 pontos fixos ou domicílios distri-buídos pelos setores censitários citados acima, para coleta de amostras, sendo que 20 pontos para

coleta de água da rede e 20 pontos para coleta de água de poqo. As amostras foram analisadas

entre outubro de 1996 e setembro de 1998. Foram coletadas e analisadas 355 amostras de águaoriu¡da da rede de distribuigáo (241 na torneira de entrada e 114 após a saída da caixa d'água ouciste¡na) e 225 amostras de água de pogo.

Para avaliar a qualidade bacteriológica da água consumida no Parque Fluminense e avulnerabilidade de contaminaqáo do sisfema de distribuiQáo, utilizou-se coliformes totais e fecais

como indicador de doengas de veiculagáo hídrica. Coliformes foram detectados durante a maiorparte das epidemias causadas por bactérias, vírus, e agentes etiológicos náo identificados, estuda-das por Craun et al. (1997). Entretanto. poucos foram detectados em epidemias causadas por pro-tozoários como Cld|dia e Cnptos¡toridiun¡. Embora coliformes possam indicar satisfatoÍiamentea presenqa de bactérias e vírus patogenicos em água do sistema de distribuigao e água subterrá-nea, eles sáo inadequados para indicar a presenga de protozoários. Estudos tém demonstrado que

alguns ví¡us patogénicos de veiculagáo hídrica sáo mais resistentes ao cloro livre que coliformes.Porém, estudos atuais sugerem que colitbrmes sáo indicadores adequados para ví¡us de veicula-gáo hídrica. Coliformes sáo menos resistentes do que Ciardia e Cryptosporid¡um aos desinfefan-tes residuais. Em razáo disso, amostras de água analisadas no período de uma epidemia causadapor estes protozoários podem resulta¡ em laudos satisfatórios do exame colimétrico (Craun et al.,t99't).

As amostras para análises bacteriológicas e de cloro residual livre foram coletadas e pre-

servadas de acordo com a metodologia proposta no Standard Methods (APHA, 1992). As anál¡sesde cloro residual livre foram realizadas utilizando-se t¡, de camDo Hach@ modelo CN-6ó. Esse

kit utiliza reagentes específicos e o método é baseado em comparaeáo colorimétrica, com a utili-zagáo de um disco de cor para a análise do cloro livre. As análises de coliformes totais e fecaisforam realizadas pelo Laboratório de Saúde Ptiblica Noel Nutels (LACEN). Os resultados dasanálises microbiológicas e de cloro residual livre foram comparados com as normas de potabili-dade preconizadas pela Portaria 36/90 do Ministério da Saúde (Brasil ,1990) ou seja, a ausCnciade coliformes totais e fecais por 100 ml em água de consumo humano e o mínimo de 0,2 mg/L de

cloro residual livre em qualquer ponto da linha de distribuieáo.

Cad. Saúde Coleí6(5 pl. 1), 1998 28

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RESULTADOS E DTSCUSSÁO

Em água de pogo, 5ó % das amostras analisadas apresentaram contaminagáo por colifor-mes totais €/ou fecais (gráfico I ). Este quadro reflete a situagáo de risco em que estáo localizadosa maioria dos mananciais subterrAneos do Parque Fluminense, uma vez que a área apresenta umagrande densidade urbana e demográfica, náo possuindo uma rede coletora de esgotos capaz devefer todo o efluente produzido para o tratamento adequado. Em vez disso, muitos domicílios se

utilizam de fossas, sumidouros e valas negras como destino final para seus dejetos (gráfico 2),que eventualmente podem percolar pelo solo. atingindo os lenQóis freáticos.

Gnáfico I

R*ult do tot¡l das amostraa do água de pogo paracollfofmes totais e fec€¡srloo mL

g % satbfatório I % insatisfatório

Grálico 2

De*lno dos D,B¡etos no Parque Flumlnense por Sotor Censllárlo

l5{t

92 99 l0Ofollmll0'll3 ll¡lll5 116117 11811512O 1251n 12813914O

fl ¡¡om¡cllloa com aumldouro

E Dombnba qua Lñefin aagoto.m vd.ncota

E Doñllclllor com ..golo c.n.llzrdo

1005{t

0

29 Ca¿. Saúde Colet. ó(SupL 1), l99a

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Os resultados da contaminaqáo por coliformes totais e/ou t'ecais por setor censitário, sioapresentados no gráfico 3. Os poqos localizados nos setores 112, ll9, 121, 128 e | 39 alcanearam

uma contaminaeáo maior que 60 7¿ das amostras analisadas no período de amostragem. Este alto

percentual dc contaminagáo dos pogos reflete as precárias condiqóes de saneamento básico do

Parque Flu minense, conforme observamos no gráfico 2, onde os setores | 19, | 28 e I 39, possuem

vários domicílios que se utilizam de sumidouros e valas negras como destino dos seus dcjetos.

Estas medidas náo sanitárias contribuem em muito para o aumento da contaminagAo da água de

poqo e para dissem¡nagáo de doengas de veiculaEáo hídrica.

Grálico J

Resultado das amostras d€ água de pogo por setor cens¡láriopara coliformes tota¡s e feca¡s por 100 mL

g %-r.üst tórlo

I %in¡.tbt lór¡o

Em ¡elagao ¿l água do sistema de distribuigáo, o gfáfico 4 apresenta a freqüéricia das amostras

coletadas entre outubro de 1996 e setembro de | 998 no Parque Flumincnse. Observando o gráficoabaixo, os setores com um maior número de amost¡as coletadas na saída da caixa d'água ou cis-terna sáo os seto¡es que mais apresentaram problemas de fornecimento de água, uma vez, que no

momento da coleta, náo havia água na torneira de entrada do usuário. Os setores 139, l2l e ll I

sáo os que mais apresentara¡n problemas quanto ¡ intermiténcia no fomecimento de água. Os pontos

de coleta dos setores l2le 139 se situam numa área de cota altimétrica elevada. Talvez oor isso se

cxplique a falta de pressáo na rede para que a água chegue gm quantidade sutlciente ao domicílio.O ponto de coleta do setor I l4 foi o que apresentou a melhor regularidade de abastecimento. onde100 o/o das amostras foram coletadas na torneira de entrada do usuário. lsto pode scr explicadopelo fato desse setor se situar ao Iongo da adutora principal do Parque Fluminense. localizada na

avenida Presidente Kennedy. Todos os pontos de coleta situados na margem desta adutora recebe-

ram água com nrais regularidade, caso também dos pontos localizados nos setores 75, 92, 100,ll0, l19e 125. O ponto localizado no setor ll8 apesar de estar mais distanteda aduiora princi-pal, apresentou uma regularidade de mais de 90 7¡. Entretanto é um ponto localizado em cotaaltimétrica baixa, o que pode ter favorecido a maior ot-erta de água na torneira de entrada do do-micílio.

%

Cad. Sr!ú¿e Colet. ó(Supl. l), 1998 30

Page 9: eUALIDADEDA Ácut coNSUMo coMo rNDrcADoR Dn conntqóns …

Gráfico 4

O gráfico 5 apresenta os resultados totais para água de rede. em relaEáo a coliformes totaise fecais. entre outubro de 1996 e setembro de 1998. O percentual de amostras contaminadas noParque Fluminense ficou na faixa de 6.5 %, de acordo com o padráo de potabilidade preconizadona Pofaria 36/90 do Ministério da Saúde.

GráIico 5

Resultado das amostras de água de rede no Parque Flumlnensepára collfomes totab e focab/100 mL

100

80

60

4

20

0lnsatlsfatórlo3atisfatóÍo

Frequéncla de amolras colstadas entre outubro de 1996 esetembro de 1998

s I res€rvatórlo

El ¡ed9

aetor conBltárlo

100

90

80

70

60

flI30

R$898S:P9FFRgT

ll C¿J. S¿tide C"l¿L6tsupl l). 1998

Page 10: eUALIDADEDA Ácut coNSUMo coMo rNDrcADoR Dn conntqóns …

O grático 6 apresenta os resultados qualitativos de água da redc por setor c€nsitário, a

partir do total de amostras analisadas. Ohserva-se que o setot 139 apresentou o maior número de

amostras contaminadas por coliformes totais e fecais por 100 mL: mais de 40 70. Conparando

este resultado com o gráfico 4, verifica-se que este mesmo setor também apfesenta uma grande

irregularidade no tbrnecimenlo de água. Este percentual alto de contaminagáo pode ser atribuído

¡ intermiténcia do sistema, que f'avorece a entrada de água contaminada no interior da tubulagáo

vazia, em áreas de pressáo negativa. lsto também pode indicar uma contaminagáo eventual e pon-

tual, uma vez que a rede de distribuiqáo encontra-se, em diversos locais com perluraEóes clandes-

tinas. Portanto, uma contaminagáo por esgoto pode ocorrer em pontos onde a tubulaqáo náo se

encontra em um bom estado de integridade.

Gráfico 6

Resultado das amostras de água de rcde para col¡formes totais e fecais porsetor censitário

ü % saüsfttórlo

! % ¡nsatisfatorio

1009t)607060olo 50403020t0

0CrNrloOte.F????N

sglor cens¡tár¡o

coNotro¡\ rO @ r¡O gt

Em relaeao ar água coletada na saída da caixa ou cisterna do domicílio, verifica-se no grá-

fico 7 um aumento bastante significativo de amostras contaminadas, ou seja, 3ó7o das amostras

apresentaram contaminagáo por colitbrmes totais e/ou fecais. Isto evidencia que a contaminagáo

da água pode ocorrer no próprio do icíl¡o, por falta de manutengao do reservatório, pela ausencia

de cuidados com o manuscio c higiene, e também pelo tipo de material que é empregado na cons-

trueáo da cisterna ou caixa d'água. A localizagáo do reservalório também é importante, uma vez

que instalados em áreas onde há risco de enchente ou infiltraEáo, a contanlinaqáo pode ocorrer.

Náo obstante, o sistema de abastecimento que alimenta esses reservatórios domiciliares pode tam-

bém contribuir para a presengade amostras com ¡esultados bacteriológicos insatisfatórios. As amostras

de água oriunda da rede de distribuiEáo. tomadas após a rescrvagáo domiciliar foram analisadaspor setor censitário e sáo apresentadas no gráfico 8. De fato, a contaminaeáo por setor também

aumenta muito quando a água é reservada no domicfio. Nos setores l2l e 92 o percentual de

laudos insatisfatórios fbi maior que 80'/.. Esta é u¡na contaminagáo que pode estar f'undamental-mente associada com as condiEóes sócio-económjcas da famflia.

Cad. Saú¿e Colet.6(Supl. 1), 1998 32

Page 11: eUALIDADEDA Ácut coNSUMo coMo rNDrcADoR Dn conntqóns …

R*ultado das amostras de água da resérvagáo domlclllar noParque Flumlnensé para coliformes totais e fecals/í00 mL

Gráfico 7

Gráfico 8

Resultado das amostras de água de ca¡xa e cisterna para col¡formes

tr % sat¡sfatório

¡ % ¡nsatisfatório

u¡NFO¡

A variagao do nível médio mensal de cloro residual livre, analisado na torneira de entradado usuário (gráfico 9). se manteve, ao longo do período de amos¡ragem. de acordo com a Portaria36/90 do Ministério da Saúde que preconiza um .esidual mínimo de 0,2 mg/L a ser mantido pelascompanhias de abastecimento em todos os pontos do sistema de distribuig¡o. Os meses dejaneirode 97 e fevereiro de 1998 apresentaram as menores médias mensais de cloro residual livre. o quereflete uma situaEáo de maior vulnerabilidade ¡ contaminagáo microbiológica neste período, quandoa demanda de água é tamMm maior. Os gráficos l0 e I l, ¡epresentam a divisao em quatro cate-

sorias dos níveis de cloro residual livre encont¡ados no total de amostras analisadas na tomeira de

o/o

ooCF

totais e fecais por setor cens¡tár¡o

FN!toqtF|oArO!FNNNlt

setor cenaitário

33 A . Saú¿e Colet. 6(Supl. 1), 1998

Page 12: eUALIDADEDA Ácut coNSUMo coMo rNDrcADoR Dn conntqóns …

entrada do usuário e na saída da caixa d'água ou cisterna, no mesmo período. No primeiro, 877o

das amostras analisadas apresentaram um residual maior ou igual a 0,2 mg/L, e somente 4,7 %náo apresentaram ngnhum teor de cloro livre. Deste mesmo total,70 % apresentaram uma con-centraQAo maior que 1,0 mg/L, ou seja, 5 vezes o valor mfnimo a ser mantido no sistema de dis-tribuiqáo.

Gráfico 9

Varlagáo mód¡a de cloro rcsidual livre em mg/L na água de rede doParque Flumlnense

. nfvel médio de CRL

Fl\

}E<5F..¡aó..¡}¡EEi- i-3E?ó

mar/ano

Grálico l0

Percontual de amostras de água da rede com clofo rssldualliwe d¡v¡d¡do por ¡l categorais de concentragáo em mg/L

s

>=o,2

e<=1,0

C't¿ Súüde C,'l¿r. ótsurl. lt. l9oR 34

Page 13: eUALIDADEDA Ácut coNSUMo coMo rNDrcADoR Dn conntqóns …

Na salda da caixa d'água ou cisterna (gráfico I l), o fator de protegáo mínimo de 0,2 mg/L diminuiu significativamente para menos que 50 %, uma vez que, dado o tempo de residencia daágua reservada, ocorre um decaimento natural do cloro livre na água. No entanto, com este de-créscimo aumentam também as chances de contaminaqáo no reservatório, ainda mais estando elenuma situagáo de manuseio, manipulaqáo e localizagáo de risco. E esta possibilidade de contami-nagáo é potencialmente grande se observarmos que, do número de amostras analisadas, mais de20 70 apresentaram uma água com concentragáo de cloro residual livre igual a zero.

Gráfico ltr

Psrcentual ds amostras da s¡fda da calxa ou cbtema com cloro resldual llvredlvldldo por 4 categofias de conctntragáo em mgrL

s

50

¡10

30

20

l0

>=O,2

e<=1,0

CONSIDERAQOES FINAIS

Os resultados mostraram um índica de contaminagáo bacte.iológica muito elevado (5ó 7o)para água de poeo no Parque Fluminense. Este quadro evidencia um alto comprometimento daqualidade da água subte.¡enea consumida na regiáo. A detedoragáo desses mananciais deve-sesobretudo b ocupagáo desordenada do solo, onde a maior parte dos domicílios náo conta com umarede coletofa de esgotos capaz de verter os dejetos produzidos para uma estaqáo de tratamento.Com o destino náo sanitário dos dejetos, a construgáo de fossas. sumidouros e a formaqáo deval¡s negras contribuem em muito na contaminagáo da água de pogo através da percolagáo doefluente no solo, que atinge o lengol freático. De acordo com a observagáo de campo, a perfura-gáo e escavagáo dos poqos quase sempre é feita sem as devidas recomendaqóes técnicas de cons-trugáo de pogos. A localizagáo, com mais de I5 m em cota acima de um ponto de contaminagáoou de um sumidouro, é quase sempre ignorada. até porque, a densidade de casas na regiáo torna-ria a localizaqáo ideal praticamente impossível. A proteqáo de alvenaria e tampas bem vedadaspara poQos escavados náo fo¡ constatada em vários dos poqos visitados no processo de seleqáo ecadastro dos domicítos.

O estudo também mostra a importAncia da manu¡engáo, operagáo e localizagáo do reser-vatór¡o domiciliar. Resgrvatórios com tampas inadequadas, que náo vedam totalmente, permitema entrada de insetos e outros animais. Rachaduras e fissuras na pa¡ede de cisternas podem permi-

Cad. Suúde Colet.6(Sapl. l), 1998

Page 14: eUALIDADEDA Ácut coNSUMo coMo rNDrcADoR Dn conntqóns …

tir a infiltraQáo de esgoto oriundo de fossas e sumidouros. A construgáo de cisternas em áreasonde freqüentemente ocorrem inundaqóes também representa uma oportunidade a mais de conta-minaEAo da água, assim como a f'alta de cuidados e a falta de limpeza periódica contribuem para

a sua deterioragáo, como fbi visto nos resultados apresentados no gráfico 7, onde mais de 3070 de

todas as amostras coletadas após a reservagáo apresentaram contaminagAo por coliformes totais e/ou fbcais. Em alguns setores cansitários como o 92 e l2l esta contaminagáo foi maior que 807o(ver gráfico 8). Além disso, ocorre uma redugáo natural do residual de cloro livre quando a águaestá armazenada na caixa d'água ou cisterna, diminuindo assim o fator de prorcqAo da água contraoutras contaminaqóes microbiológicas (ver gráfico l1).

Quanto á esp€cificidade dos indicadores utilizados no monitoramento da qualidade da água,para predizer possíveis impactos na saúde da populagáo, promovidos por melhorias na qualidadee oferta de água, coliformes totais e/ou fecais mostraram se¡ indicadores sensíveis em água derede antes da reservagáo domiciliar e em água de poqo, uma vez que demonstram de fato a ocor-rencia de contaminagáo de origem fecal. Entretanto, em água coletada após a reservaqáo a espe-cificidade diminui consideravelmente, uma vez que contaminaqóes intra-domiciliares p<xlem (rcorrer

nesses reservatórios, e esse processo simplesmente independe da melhoria da qualidade da água,mas sim de práticas educacionais e de manutengáo adequada dos equipamentos hidráulicos domi-ciliares.

A regularidade do fomecimento de água, representada pela f¡eqüé¡cia de amostras de tomeirade entrada do usuário e reservagáo domiciliar é importante para manter a potabilidade da água,uma vez que: evita a estagnaEáo da água no cano, náo permitindo o crescimento de microrganis-mos; mantém os residuais de cloro livre dentro dos padróes estabelecidos pela legislaqáo; evita a

diminuigáo da vazáo de projeto e a falta de água nas fubulagóes, náo permitindo assim, a entradade água contaminada em trechos onde há ocorréncia de zonas de pressáo negativa.

AGRADECIMENTOS

A populagáo. que colaborou permitindo a coleta das amostras de água nos seus domicíli-os, ao Laboratório Central de Saúde Pública Noel Nutels que realizou (odas as análises microbi-ológicas. A equipe de trabalho de campo: a Bióloga Ana Maria F Lopes, o Pesquisador de Cam-po Francisco de Albuquerque Moura e a Técnica Química Michelle Catarina Goulan, sem eles a

realizaqáo desse trabalho náo seria possível.

Este estudo insere-se no "Projeto de Avaliaqáo dos lmpactos do Programa de DespoluiEaoda Baía de Guanabara sob as CondiQóes de Saúde e Qualidade de Vida - PAISQUA" financiadopela Funda!áo de Amparo á Pesquisa do Estado do R¡o de Janeiro (FAPERJ).

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