edafologia 12-3

46
EDAFOLOGÍA, Vol 12. (3), pp 199-244 2005 SUELOS DE MANGLAR: CARACTERÍSTICAS GÉNESIS E IMPACTOS ANTRÓPICOS. SOLOS DE MANGUE: CARACTERÍSTICAS, GÊNESE E IMPACTOS ANTRÓPICOS. MANGROVE SOILS: PROPERTIES, PEDOGENESIS AND ANTHROPIC IMPACTS. P. VIDAL-TORRADO 1 , X. L. OTERO 2 , T. FERREIRA 3 , V. SOUZA JR. 4 , M. BÍ- CEGO 5 & M. T. GARCÍA-GONZÁLEZ 6 , F. MACÍAS 2 . 1.- Dpt. de Ciência do Solo. Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Univ. Sao Paulo. 13.418- 900 Piracicaba. Brazil. 2.- Dp. Edafología y Química Agrícola. Fac. Biología. Univ. Santiago. Campus Sur. Santiago de Compos- tela. España. 3.- Departamento de Ciências do Solo, Centro de Ciências Agrárias Universidade Federal do Ceará, Forta- leza, Brazil. 4.- Departamento de Agronomia - Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Me- deiros. S/N. Dois Irmãos. Recife-PE-Brazil. 5.- Universidade de São Paulo, Instituto Oceanográfico, 05508-900 São Paulo-SP, Brazil. 6.- Instituto de Ciencias Medioambientales. CSIC. Madrid. Serrano 115-dpdo. Madrid. España. Abstract.The mangrove swamps are coastal ecosystems with a great environmental, economic and social importance. The grounds of these means little have been studied, not knowing many internal aspects of their components, properties, processes and their interaction with the polluting agents who arrive at them. Studies realised in mangrove swamps of the state of Sao Paulo (Brazil) have allowed to incorporate new data and to more suitably understand the difference between soils and the sediments of these environments. The observed pedogenetic processes in the mangrove swamps (additions, losses, transformations and transloca- ciones) strongly are influenced by the biogeochemical behavior of the Fe and the S and its relation with the microorganisms, plants and macrofauna of invertebrates, able to interfere strongly in the processes and to condition the properties physical chemistries of grounds (like pH and Eh) that, as well, they most of control the especiación and biogeochemical behavior of the present elements with high contents of organic matter soils there are inherited minerals, of marine or continental systems, and transformed and neoformed others. Finally, the anthropic impacts are discussed that they undergo these ecosystems by contamination with do- mestic residues, heavy metals, petroleum spills and the adverse effects of the carcinocultura. Resumen. Los manglares son ecosistemas litorales con una gran importancia ambiental, económica y social. Los suelos de estos medios han sido poco estudiados, desconociéndose muchos aspectos de sus com- ponentes, propiedades, procesos internos y su interacción con los agentes contaminantes que llegan a ellos. Estudios realizados en manglares del estado de Sao Paulo (Brasil) han permitido incorporar nuevos datos y comprender más adecuadamente la diferencia entre los suelos y los sedimentos de estos ambientes. Los pro- cesos edafogéneticos observados en los manglares (adiciones, pérdidas, transformaciones y translocaciones) están fuertemente influenciados por el comportamiento biogeoquímico del Fe y del S y su relación con los

Upload: dangkhue

Post on 08-Jan-2017

224 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Edafologia 12-3

EDAFOLOGÍA, Vol 12. (3), pp 199-244 2005

SUELOS DE MANGLAR: CARACTERÍSTICAS GÉNESIS E IMPACTOSANTRÓPICOS.

SOLOS DE MANGUE: CARACTERÍSTICAS, GÊNESE E IMPACTOSANTRÓPICOS.

MANGROVE SOILS: PROPERTIES, PEDOGENESIS AND ANTHROPICIMPACTS.P. VIDAL-TORRADO1 , X. L. OTERO2 , T. FERREIRA3 , V. SOUZA JR.4, M. BÍ-CEGO5 & M. T. GARCÍA-GONZÁLEZ6 , F. MACÍAS2.

1.- Dpt. de Ciência do Solo. Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Univ. Sao Paulo. 13.418-900 Piracicaba. Brazil.2.- Dp. Edafología y Química Agrícola. Fac. Biología. Univ. Santiago. Campus Sur. Santiago de Compos-tela. España.3.- Departamento de Ciências do Solo, Centro de Ciências Agrárias Universidade Federal do Ceará, Forta-leza, Brazil.4.- Departamento de Agronomia - Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Me-deiros. S/N. Dois Irmãos. Recife-PE-Brazil.5.- Universidade de São Paulo, Instituto Oceanográfico, 05508-900 São Paulo-SP, Brazil.6.- Instituto de Ciencias Medioambientales. CSIC. Madrid. Serrano 115-dpdo. Madrid. España.

Abstract.The mangrove swamps are coastal ecosystems with a great environmental, economic andsocial importance. The grounds of these means little have been studied, not knowing many internal aspectsof their components, properties, processes and their interaction with the polluting agents who arrive at them.Studies realised in mangrove swamps of the state of Sao Paulo (Brazil) have allowed to incorporate new dataand to more suitably understand the difference between soils and the sediments of these environments. Theobserved pedogenetic processes in the mangrove swamps (additions, losses, transformations and transloca-ciones) strongly are influenced by the biogeochemical behavior of the Fe and the S and its relation with themicroorganisms, plants and macrofauna of invertebrates, able to interfere strongly in the processes and tocondition the properties physical chemistries of grounds (like pH and Eh) that, as well, they most of controlthe especiación and biogeochemical behavior of the present elements with high contents of organic mattersoils there are inherited minerals, of marine or continental systems, and transformed and neoformed others.Finally, the anthropic impacts are discussed that they undergo these ecosystems by contamination with do-mestic residues, heavy metals, petroleum spills and the adverse effects of the carcinocultura.

Resumen. Los manglares son ecosistemas litorales con una gran importancia ambiental, económicay social. Los suelos de estos medios han sido poco estudiados, desconociéndose muchos aspectos de sus com-ponentes, propiedades, procesos internos y su interacción con los agentes contaminantes que llegan a ellos.Estudios realizados en manglares del estado de Sao Paulo (Brasil) han permitido incorporar nuevos datos ycomprender más adecuadamente la diferencia entre los suelos y los sedimentos de estos ambientes. Los pro-cesos edafogéneticos observados en los manglares (adiciones, pérdidas, transformaciones y translocaciones)están fuertemente influenciados por el comportamiento biogeoquímico del Fe y del S y su relación con los

Page 2: Edafologia 12-3

200 VIDAL-TORRADO et al.

INTRODUÇÃO

Este texto contém, além de revisão de li-teratura, parte dos resultados de 5 anos de pes-quisas nos manguezais do Estado de SãoPaulo, financiadas pela FAPESP, CNPq eCAPES. Estudantes de pós-graduação docurso de Solos e Nutrição de Plantas daESALQ-USP, professores do Instituto Oceano-gráfico da USP, da Universidade de Santiagode Compostela e do CSIC (Espanha), doCENA-USP e do Departamento de Solos daESALQ-USP, compõem a equipe que contacom o apoio especial do grupo de pesquisasobre manguezais da Dra. Yara Schaeffer-No-velli do IO-USP e do Dr. José Clemente CoelhoJr., oriundo desse grupo e hoje coordenador doPROMANG – Pesquisa e ensino sobre man-guezais em Recife (PE). Após estes 5 anos detrabalho, julgamos que ainda há muito queaprender sobre os manguezais para que os cien-tistas de solos, no Brasil situados principal-mente em escolas de Agronomia e eminstituições de pesquisa, possam dar uma con-

tribuição consistente ao entendimento do queaté recentemente, denominávamos “solos in-discriminados de mangue”.

ConceitosMcNae (1968) e Sugiyama (1995) suge-

rem que o termo “manguezal” está relacionadoà comunidade do ponto de vista ecológico-fi-sionômico, enquanto “mangue” refere-se ape-nas às espécies vegetais.

“Ambiente caracterizado pela associaçãode árvores e arbustos (Rhizophora mangle, Avi-cennia sp.), além de algumas gramíneas (Spar-tina sp.), todas as plantas halófitas, que sedesenvolvem em planícies de marés protegidasmargeando lagunas e estuários de regiões quen-tes úmidas. Os substratos desses ambientes são,em geral, lamosos e ricos em matéria orgânica”(Suguio, 1998, p.488).

Ecossistema costeiro, de transição entreos ambientes terrestre e marinho, característicode regiões tropicais e subtropicais, sujeito aoregime das marés. Constituído de espécies ve-getais lenhosas típicas (angiospermas) adapta

microorganismos, vegetales superiores y macrofauna de invertebrados, capaces de interferir fuertemente enlos procesos y condicionar las propiedades físico-químicas de los suelos (como pH y Eh) que, a su vez, con-trolan la especiación y comportamiento biogeoquímico de la mayor parte de los elementos presentes. En lossuelos se encuentran minerales heredados, de ambientes marinos o continentales, y otros transformados yneoformados, junto a concentraciones elevadas de materia orgánica. Finalmente, se discuten los impactosantrópicos que sufren estos ecosistemas por contaminación con residuos domésticos, metales pesados, de-rrames de petróleo y los efectos adversos de la carcinocultura.

Resumo.Manguezais são ecossistemas costeiros de transição entre ambientes marinhos e terrestres,cuja importância ambiental, econômica e social é reconhecida. Os solos de mangue ainda são pouco com-preendidos e caracterizados, bem como sua interação com substâncias e elementos potencialmente poluen-tes. A partir dessa problemática, expõe-se resultados de pesquisas realizadas nos manguezais do Estado deSão Paulo (Brasil) que põem em evidência os processos pedogenéticos que ocorrem no substrato dos man-guezais e sua designação como solo e não como sedimento. Os processos pedogenéticos observados (adi-ções, perdas, transformações e translocações) são fortemente influenciados pelo comportamentobiogeoquímico do Fe e do S e sua relação com os microrganismos, com vegetais superiores e com a ma-crofauna de invertebrados, capazes de interferir fortemente em tais processos e condicionar a característi-cas físico-químicas do solo (como pH e Eh) que variam de acordo com a atuação específica dos mesmos.Verifica-se ainda, a presença de minerais herdados, de ambientes ora marinhos ora continentais, transfor-mados e neoformados, precipitados como argilominerais 2:1, que evidenciam os limites entre pedogênesee diagênese atuando no material de origem. Por fim, são discutidos impactos antrópicos negativos, como acontaminação por esgotos domésticos, metais pesados, derrames de petróleo e os efeitos adversos da carci-nocultura, e sua relação com as características gerais desses solos.

Page 3: Edafologia 12-3

201SOLOS DE MANGUE DO BRASIL

das à flutuação de salinidade e caracterizadaspor colonizarem sedimentos predominante-mente lodosos, com baixos teores de oxigênio.Ocorre em regiões costeiras abrigadas e apre-senta condições propícias para alimentação,proteção e reprodução de muitas espécies ani-mais, sendo considerado importante transfor-mador de nutrientes em matéria orgânica

Distribuição e origemOs manguezais se encontram predomi-

nantemente, na região limitada pelos trópicosde Câncer e de Capricórnio tendo sua região dedesenvolvimento preferencial nas imediaçõesda linha do Equador (Figura 1). Em nosso país,este tipo de ecossistema é encontrado em quasetoda a extensão do litoral, desde o Amapá atéSanta Catarina (Yokoya, 1995).

Segundo Lacerda (1984), estima-se aexistência de cerca de 20 milhões de hectaresde manguezais em todo o mundo sendo que ospaíses onde as maiores florestas encontram-sesão: Malásia, Índia, Brasil, Venezuela, Nigériae Senegal. No litoral brasileiro, do CaboOrange (Amapá) até Araranguá (Santa Cata-rina), estas florestas ocupam uma área aproxi-

mada de 25.000 km2. As planícies costeirascomo as conhecemos hoje, são resultado de flu-tuações do nível do mar e alterações paleocli-máticas, assim como a origem e distribuiçãodos manguezais. Até cerca de 5.150 anos A.P.,a maior parte da costa brasileira se encontravasubmersa devido à Última Transgressão (Trans-gressão Santos) que foi seguida por uma re-gressão responsável pela formação de terraçosmarinhos e pela transformação de lagunas emlagoas e, posteriormente, as últimas em pânta-nos salobros (manguezais) (Suguio et al., 1985)(Figura 2).

Principais espécies de mangue

A vegetação das áreas de manguezal éessencialmente homogênea caracterizada porplantas lenhosas, arbustivas e subarbustivas, aqual difere ecológica e floristicamente da ve-getação de terra firme sendo composta, basica-mente, pelas árvores dos gêneros Rhizophora,Laguncularia e Avicennia, além do arbusto Hi-biscus e da erva terrestre Acrostichun, descritasa seguir (Lamberti, 1966):

FIGURA 1. Distribuição das florestas de manguezal no globo e número aproximado de espécies vegetaisnos hemisférios oriental e ocidental.

Page 4: Edafologia 12-3

202 VIDAL-TORRADO et al.

Rhizophora mangleEspécie de hábito arbóreo de 6 m ou mais

com inúmeras ramificações pertencente àClasse Dicotyledoneae, ordem Myrtiflorae e fa-mília Rhizophoraceae. As plântulas desta espé-cie se desprendem da planta mãe caindo nosolo e enraízam-se ao encontrarem condiçõesfavoráveis. Um dos aspectos de maior destaquedesta espécie está em seu sistema radicular emforma de arco. As chamadas raízes de escoraapresentam características bastante peculiarescomo, por exemplo, interior esponjoso e pre-sença de lenticelas3. Partindo diretamente dotronco e do caule da árvore estas raízes promo-vem a sustentação e a troca de oxigênio com aatmosfera.

Avicennea schauerianaEsta árvore conhecida vulgarmente como

mangue siriúba faz parte da Classe Dicotyle-doneae, ordem Tubiflorae e da família Verbe

naceae. Seus frutos em forma de cápsula ovalachatada e a presença de um sistema radiculardotado de pneumatóforos garantem a propaga-ção e a sobrevivência da espécie. Os pneuma-tóforos consistem em raízes aéreas quepermitem, através da ação de lenticelas, o ar-mazenamento de ar e a conseqüente aeração dosistema radicular.

Laguncularia racemosaTambém pertencente à classe Dicotyle-

doneae e à ordem Myrtiflorae, o mangue ras-teiro ou canapomba, como é conhecido, estáenquadrado na família Combretaceae. Esta es-pécie de árvore do manguezal difere das outraspor apresentar um menor porte podendo, ásvezes, aparentar um hábito arbustivo. Quantoao sistema radicular, a Laguncularia racemosatambém apresenta pneumatóforos, porém deformato menores e bifurcados ou trifurcados.

FIGURA 2. Estádios evolutivos de sedimentação costeira. Modificada de Suguio et al. (1985

Page 5: Edafologia 12-3

203SOLOS DE MANGUE DO BRASIL

Hibiscus tiliaceusO algodoeiro da praia é um arbusto de in-

úmeras ramificações e bastante comum na ar-borização de cidades litorâneas. A taxonomiada espécie a classifica como uma integrante daclasse Dicityledoneae, ordem Malvales e da fa-mília Mlyaceae. Suas folhas e flores são gran-des, suas raízes apresentam caráter adventíciobastante ramificado, fino e de pouca penetra-ção no solo.

Acrostichum aureumPteridófita da ordem Filicales e da famí-

lia Polypodiaceae, a samambaia do mangueconsiste em uma erva terrestre com caule ra-mificado e folhas compostas penadas. O sis-tema radicular desta espécie é superficial etambém constituído por raízes adventícias.

As espécies descritas anteriormente,assim como suas principais características, en-contram-se ilustradas na figura 3.

Relações solo – vegetaçãoA seguir são apresentadas algumas rela-

ções, apontadas de forma generalizada na bi-bliografia, entre a ocorrência das principaisespécies de mangue e as condições gerais dossolos.

Mangue Vermelho (Gênero Rhizo-phora)

Desenvolvem-se melhor em solos silto-sos rasos, inundados por água salobra e prote-gidos da ação direta das ondas e do oceano,mas que estejam em locais com abundância deágua natural e elevados índices pluviosidade.Os solos que sustentam este tipo de manguenormalmente apresentam valores de pH eleva-dos, relação C/N alta, e elevados teores de en-xofre oxidável, nitrogênio, fósforo e carbono.Ocupam geralmente as margens dos rios e suasplanícies de inundação onde o aporte de nu-trientes é elevado (Jimenez, 1985).

Mangue Branco (Gênero Laguncula-ria)

Consegue se desenvolver bem nos maisdiversos tipos de solos, desde de arenosos a ar-gilosos. Estes devem, porém, se encontrar emlocais com presença de água salobra e posiçãoelevada ou interna onde a freqüência e a inten-sidade das marés é menor. Por ser uma plantaque possui um sistema de excreção para sua re-gulação salina, o mangue branco é capaz de su-portar os mais diversos níveis de salinidade(Jimenez, 1988).

Mangue Negro (Gênero Avicennia)Assim como para os outros tipos de man-

gue, a presença de água salobra é necessáriapara seu desenvolvimento com a diferença dese adaptar melhor a ambientes mais secos e

FIGURA 3. Ilustração das principais espécies de mangue (Modificada pelos autores de Lamberti, 1966).

Page 6: Edafologia 12-3

204 VIDAL-TORRADO et al.

com menor freqüência de inundações. A exem-plo do mangue branco se desenvolve em solosde diversas texturas e salinidade. É bastante en-contrado em solos que apresentem elevadasconcentrações de pirita (Jimenez & Lugo,1988).

Samambaia do mangue (Acrostichum)e Agodoeiro da praia (Hybiscus)

Estes dois outros componentes da florado mangue costumam ser encontrados em am-bientes de transição entre o manguezal e a terrafirme, assim como em locais onde há algumtipo de impacto antrópico. Ambos têm oco-rrência comum em solos mais firmes que so-frem menor influência da água do mar(Sugiyama, 1995).

Importância dos manguezais De importância ecológica já conhecida,

são ecossistemas que desempenham papel eco-lógico chave à medida que abrigam, além desuas espécies características, aquelas que mi-gram para a costa durante a fase reprodutiva.Sua fauna e a flora ainda servem como fonte dealimento e meio de subsistência para as popu-lações humanas (CNIO, 1998; Schaeffer-No-velli, 1999). Inúmeras comunidades ribeirinhasvivem tradicionalmente da exploração dos vá-rios recursos existentes nas regiões costeiras doBrasil, sendo que algumas populações vivemquase que exclusivamente de recursos especí-ficos de áreas de mangue, como caranguejos,moluscos e outros crustáceos. Coelho Jr. &Schaeffer Novelli (2005) destacam as funçõese importância dos manguezais:

Substrato dos Manguezais: solo ou se-dimento?

Em função desse importante papel fun-cional e de sua posição de transição entre o am-biente marinho e terrestre, o manguezal vemsendo objeto de estudo das mais diversas áreasdo conhecimento (biologia, oceanografia, eco-logia, geologia), inclusive da pedologia. Entre-tanto, é comum no meio científico de modogeral e até mesmo entre pedólogos, a designa-ção do substrato, onde se desenvolve a vegeta-

ção de mangue, como sedimento e não comosolo.

Muitos são os autores que se referem aosubstrato de ambientes estuarinos, que supor-tam plantas superiores, como sedimentos eassim o estudam (Corredor & Morrel, 1994;Mackey & Mackay, 1996; Madureira et al.,1997; Clark, 1998; Clark et al., 1998; Tam &Wong, 1998; Kristensen et al., 2000). Emgrande parte, a pequena quantidade de trabal-hos realizados na área de pedologia, acerca dagênese e classificação de solos de ambientes es-

Page 7: Edafologia 12-3

205SOLOS DE MANGUE DO BRASIL

tuarinos no Brasil (Lima & Costa, 1975;Lepsch et al., 1983; Silva & Mattos, 1999;Prada-Gamero, 2001) e no mundo, favorece aausência de um consenso nesse sentido.

Apesar de parecer apenas uma questão decunho conceitual, um consenso na denomina-ção destes substratos como solo envolve o es-tudo detalhado de suas características e oentendimento de seus processos que, por suavez, se encontram diretamente relacionados àmanutenção e preservação destes ecossistemastão importantes sob o ponto de vista ecológico.

A atual definição de solo (Soil SurveyStaff, 1998) considera que este “consiste de se-ções aproximadamente paralelas (denominadashorizontes ou camadas) que se distinguem domaterial de origem, inicial, como resultado de

adições, perdas, translocações e transformaçõesde energia e matéria e tem a habilidade de su-portar o desenvolvimento do sistema radicularde espécies vegetais, em um ambiente natural”.

Sendo assim, para justificar a conceitua-ção destes substratos como solos, além do fatodesses possuírem a habilidade de suportar odesenvolvimento do sistema radicular de espé-cies vegetais, é necessário evidenciar a oco-rrência de processos pedogenéticos (adição,perdas, translocações e transformações) (Si-monson, 1959; Embrapa, 1999).

Os processos pedogenéticos de adiçãoenvolvem aportes de material mineral via trans-porte aluvial e coluvial e, ainda, o aporte dematerial de origem orgânica. Demas & Raben-horst (1999), estudando estes processos em

FIGURA 4. Conteúdos de Carbono orgânico (C-org) em função da profundidade em quatro perfis de solode mangue da Baixada Santista (Guarujá-SP).

FIGURA 5. Conteúdos de Carbono orgânico (C-org) em função da profundidade em um perfil de solo demangue do Litoral Sul do Estado de São Paulo (Ilha de Pai Matos).

Page 8: Edafologia 12-3

206 VIDAL-TORRADO et al.

solos de ambientes estuarinos, destacam,como processos de adição, a ocorrência deaportes de material orgânico, mineral e biogê-nico (carbonato de cálcio proveniente de con-chas).

Processos pedogenéticos: adiçõesNo caso dos substratos de mangue, o

principal processo de adição que se pode evi-denciar é o de material orgânico sendo este pro-veniente da vegetação (folhas, galhos etc) e dadecomposição de raízes mortas. Este processofica claramente evidenciado nesses substratospela distribuição dos valores de C orgânico noperfil, onde os maiores valores aparecem emsuperfície seguidos de uma diminuição com a

profundidade. Este comportamento dos valoresde C orgânico evidenciam ao papel da vegeta-ção no aporte de matéria orgânica para o solo,conforme mostram as Figuras 4 e 5.

Em um estudo realizado em três diferen-tes manguezais do Litoral Sul do Estado de SãoPaulo, todos colonizados pela espécie Rhizo-phora mangle, obteve-se uma massa média deraízes mortas de 10.01 t ha-1. Esta alta concen-tração de biomassa alocada no sistema radicu-lar é um dos principais fatores responsáveispelo grande acúmulo de matéria orgânica nossubstratos de manguezais e, portanto, pela gê-nese dos horizontes hísticos.

FIGURA 6. Emaranhado de raízes, concentrado normalmente na camada de 0-30 ou 0-40 cm de profundi-dade, constituindo um horizonte hístico e determinando a ocorrência de organossolos nos manguezais.

Processos pedogenéticos: transloca-ções

Um dos processos pedogenéticos detranslocação ativos nos solos de mangue con-siste na translocação e precipitação do ferrodissolvido (Fe2+) nas camadas superficiais.

Em um estudo realizado em solos demangue do Litoral Sul do Estado de São Paulo

foram encontradas maiores concentrações deferro associado aos óxidos e oxidróxidos nascamadas superficiais (249.29 ± 13.57 µm g-1)quando comparadas às encontradas em sub-su-perfície (122.69 ± 71.51 µm g-1) (Figura 7a),evidenciando a mobilização de ferro dissolvido(presente em elevadas concentrações na águaintersticial) no sentido da superfície devido aofluxo de água ascendente gerado pelas raízes

Page 9: Edafologia 12-3

207SOLOS DE MANGUE DO BRASIL

das plantas. Em superfície este ferro encontracondições mais oxidantes e acaba se precipi-tando na forma de óxidos e oxidróxidos de Fe.A correlação positiva e altamente significativaencontrada entre as formas de Fe amorfas ecristalinas e a densidade de raízes vivas no per-fil estudado comprovam este processo (Figura7b).

Processos pedogenéticos: transforma-ções.

Processos pedogenéticos de transforma-ção são aqueles que consistem em mudançastanto da fração orgânica como da fração mine-ral (Simonson,1959). Dentre a grande quanti-dade deste tipo de processo, dois são facilmenteencontrados em solos de ambientes estuarinos:a transformação do SO4-- nos chamados mate-riais sulfídricos (processo de piritização ou sul-fidização) e a transformação do Fe-férrico emFe-ferroso (processo de gleização)O processode formação de materiais sulfídricos pode levarà formação direta da pirita ou então à formaçãode sulfetos de ferro menos estáveis (precurso-

res da pirita), como a greigita e mackinawita,conhecidos por sulfetos ácidos voláteis (AVS)e posteriormente pirita (Otero, 2000; Otero &Macias, 2002).

A piritização é um processo intimamenteligado aos ciclos biogeoquímicos do enxofre edo ferro nestes ambientes e, de acordo comBreemen & Buurman (1998), envolve: a redu-ção do sulfato a sulfeto pela ação da bactériaredutora do sulfato (Desulfivibro sp.); a oxida-ção do sulfeto a dissulfeto e a reação deste comminerais de ferro. No substrato do mangue énatural a combinação de elevados conteúdos dematéria-orgânica, condições anaeróbicas, fon-tes de Fe reativo (óxidos de ferro) e fontes deSO4

2- (água do mar) prontamente disponíveis(Doner & Lynn, 1989; Rabenhorst & Fanning,1989; Breemen & Buurman, 1998; Demas &Rabenhorst, 1999) o que faz destes ecossiste-mas ambiente propício à ocorrência da reduçãobacteriana do sulfato a sulfeto e seu conse-qüente acúmulo sob a forma de pirita (FeS2),ou seja, à piritização.

FIGURA 7. Extração seqüencial de Fe e densidade de raízes vivas realizadas em amostras de diferentes pro-fundidades de um solo de mangue do Litoral Sul do Estado de São Paulo (A). Onde: Fe trocável (F1); Feassociado aos carbonatos (F2); Fe associado à ferridrita (F3); Fe associado à lepidocrocita (F4); Fe associadoà oxihidróxidos de Fe cristalinos (F5); Fe associado à pirita (F6). Correlação entre oxihidróxidos de Fe e den-sidade de raízes vivas no perfil (B).

Page 10: Edafologia 12-3

208 VIDAL-TORRADO et al.

A característica mais marcante de um substratoque contem materiais sulfídricos é que, ao serdrenado, a exposição dos sulfetos de ferro acondições aeróbicas promove o surgimento decondições extremamente ácidas (pH< 3,0)acompanhadas por fitotoxicidades por Al3+ edeficiências de fósforo. Estas conseqüênciasencontram-se ligadas ao caráter extremamenteácido do H2SO4 que é a forma mais estável doenxofre sob condições oxidantes (Fitzpatrick etal., 1999). É em função desta dinâmica, que aincubação desses solos sob condições aeróbi-cas (durante oito semanas) e o acompanha-mento dos valores de pH consiste em maneirasimples de se evidenciar a presença de mate-riais sulfídricos (Figura 8).

No caso da gleização, as cores encontra-das são a principal e a mais simples evidênciada ocorrência deste processo (Figura 10). Oalagamento a que estão submetidos os solos demangue promove uma queda na taxa de difu-são do oxigênio fazendo com que esta se tornemuito inferior àquela demandada pelos micror-ganismos para a oxidação aeróbica da matériaorgânica. A decomposição desta passa então aocorrer através de microrganismos anaeróbiose às custas de outros receptores de elétrons quenão o O2, seguindo-se a seguinte seqüência ter-modinâmica: NO3-, Mn4+, Fe3+, SO4

2-, CO2(metanogênese), N2 e H+. (Ponnamperuma,1972; Froelich et al. 1979; Schulz, 2000).

FIGURA 8. Valores de pH de campo e pH de incubação (pH após 8 semanas) em perfil de solo de mangueda Baixada Santista nas camadas superficiais e subsuperficiais (0-20 e 60-80 cm).

Figura 9. Imagem obtida em microscópio eletrônico de varredura (MEV) e seus respectivos espectros de mi-croanálise de espectrometria de energia dispersiva de raios-X (EDS) confirmando a presença da pirita e aocorrência do processo de piritização nos solos estudados

Page 11: Edafologia 12-3

209SOLOS DE MANGUE DO BRASIL

Figura 10. Perfil de solo de mangue com coloraçãoacinzentada característica de um ambiente com pre-sença do processo de gleização.

Outra forma de análise que permite a identifi-cação do processo de gleização é a presençacomum nesses solos de uma matriz com tons

everdeados/azulados, evidenciando a presençade formas reduzidas de Fe (Schwertmann,1992). Os compostos que dão lugar a esta cornão estão ainda bem caracterizados. Neste sen-tido, van Breemen (1988) faz referencia a ummaterial pobremente definido denominado“green rust”. Este material está constituído porhidróxidos mixtos de FeII y FeIII numa relaçãoFeII/FeIII variável que pode oscilar entre 0.8 e3.6, o que gera um excesso de carga positivaque é neutralizada por ânions como o Cl-,SO4

=, CO3= (Schwertmann, 1992; Cornell e

Schwertmann, 1996). Mais recentemente, Bou-rrié et al. (1999) estabeleceram que estes reco-brimentos obedecem à fórmula[FeII

1-x-FeIIIx(OH)2]+x [x/z Az-]-x; onde A- pode

ser Cl-, SO42-, CO3

=, o OH- e onde x oscilaentre 0 e 1. Em muitos casos, em função daação oxidante do sistema radicular das plantas,levando a rizosfera a condições subóxicas, écomum o domínio da forma de ferro dissolvidosobre as de sulfetos (exigem condições maisanóxicas para sua formação).

FIGURA 11. Conteúdo de Fe2+ e S= na água intersticial obtidos em solos de mangue de Avicennia. Observe-se a dominância do Fe (II) sobre o sulfeto (pontos deslocados no sentido do eixo y). Nota-se que nas cama-das sub-superficiais (�) o domínio geoquímico volta a ser das formas solúveis de sulfeto devido a presençade uma condição mais anóxica ou pela diminuição dos oxihidróxidos de Fe que foram transformados em pi-rita.

Page 12: Edafologia 12-3

210 VIDAL-TORRADO et al.

A constatação da atividade de processospedogenéticos em substratos de manguezal per-mite estabelecer um limite entre os campos dadiagênese e pedogênese nestes ambientes, es-tando ambos os processos ativos nos solos demangue. A diagênese diz respeito a todas as al-terações sofridas por sedimentos recém-depo-sitados desde sua deposição até sua litificaçãoou metamorfismo (Larsen & Chilingar, 1967;Singer & Müller, 1988). Normalmente são al-terações que levam à compactação e a homo-geneização do material. Os processospedogenéticos, por sua vez, atuam no sentidooposto. A ação da pedogênese leva à diferen-

ciação das camadas do material sedimento fa-zendo surgir diferentes horizontes e camadas.No caso dos solos de mangue devem se desta-car os horizontes hísticos (H) e glei (Cg). Poroutro lado, a diagênese pode ser responsávelpela neoformação de minerais de argila nossolos de mangue, especialmente em sub-super-fície onde a interação com a atmosfera é menore, portanto a pedogênese se encontra menosativa. A intensificação de picos de esmectitascom a profundidade em alguns solos de man-guezais da Baixada Santista parece sustentaresta hipótese (Figura 12).

FIGURA 12. Difratogramas de raios-X de amostras de solos de mangue de diferentes profundidades evi-denciando a intensificação dos picos de esmectita (SM) em sub-supefície.

Consideramos que as modificações sofri-das por estes substratos são devidas a uma açãosimultânea dos processos pedogenéticos e dia-genéticos sendo a pedogênese dominante nascamadas superficiais (interação com vegetaçãoe fauna) enquanto em sub-superfície ocorreuma dominância gradativa dos processos dia-genéticos sobre os pedogenéticos (Figura 13).Os solos devem ser entendidos como sistemas

mais complexos onde a interação do sedimento(material de origem) com a atividade biológica(vegetação e fauna) se encontra obrigatoria-mente presente influenciando os processosatuantes na interface com a atmosfera. Tratar osubstrato como sedimento e não como solopode supor uma abordagem simplificada dosprocessos atuantes e/ou a subestimação dasinterações possíveis.

Page 13: Edafologia 12-3

211SOLOS DE MANGUE DO BRASIL

CARACTERÍSTICAS DE SOLOS DEMANGUE

Material de Origem e Classificação dossolos de mangue

O material de partida dos solos de man-gue, sedimentos holocênicos em geral, podevariar largamente em sua granulometria e com-posição mineralógica. No litoral do Estado deSão Paulo há ocorrências de solos desde are-nosos até muito argilosos, sendo freqüente aocorrência de solos com elevados teores de siltecombinado com argila (Figura 14). Sedimentosfluviais, lagunares, marinho-fluviais e marin-hos constituem o material de origem dessessolos na transição continente-oceano. Mangue-zais podem também se desenvolver sobre sedi-mentos bioclásticos (areias coralinas) comodescrito por Alvarez-León (1993) para algu-mas ilhas do Caribe.

A composição mineralógica dos sedi-

mentos originais guarda relação com o mate-rial fonte. Sedimentos fluviais tendem a termaior influência da mineralogia dos solos queocorrem na bacia de captação enquanto que ossedimentos marinhos, embora originalmenteprovenientes também do continente, podem tersofrido diversas fases de retrabalhamento in-cluindo aí argilas marinhas neoformadas naplataforma costeira.

No Brasil os solos de mangue, tidos com“indiscriminados” são solos halomórficos des-envolvidos a partir de sedimentos marinhos efluviais com presença de matéria orgânica eque ocorrem em regiões de topografia plana nafaixa costeira sob a influência constante domar. As variações destes solos podem consistirnos Gleissolos Tiomórficos, Gleissolos Sáli-cos e Organossolos, todos afetados tambémpela sulfidização em diferentes graus. Algunsperfis de solos de mangue estudados no litoralde São Paulo não puderam ser enquadrados no

FIGURA 13. Modelo esquemático representando a interação pedogênese-diagênese e a transição gradualentre os campos de ação destes processos nos solos de mangue.

Page 14: Edafologia 12-3

212 VIDAL-TORRADO et al.

Sistema Brasileiro de Classificação de Solos ouSiBCS (ROSSI & MATTOS, 2002; PRADA-GAMERO et al. 2004) (EMBRAPA, 1999), o

que realça a importância de mais estudos paracontribuir com a evolução do SiBCS.

FIGURA 14. Diagrama de classes texturais com diferentes amostras de solos de manguezais do litoral doEstado de São Paulo. A distribuição granulométrica do solo depende da energia cinética do ambiente de se-dimentação.

De acordo com Sylla et al., (1996) ossolos tiomórficos sob a vegetação de manguesão potenciais solos ácidos sulfatados (PSAS),ou seja, solos hidromórficos, constituídos pormateriais sulfídricos (pirita- FeS2) que geramacidez depois de efetuada a drenagem.

Em geral, na bibliografia internacional,encontramos o que foi descrito por Alvarez-León (1993) para os manguezais continentaisda Colômbia: a maioria dos solos são classifi-cados como entisols e histosols, sendo que osmanguezais fluviais costumam se desenvolversobre solos mais imaturos (hidraquents) e sobrea planície de maré os manguezais mais desen-volvidos crescem sobre solos tiomórficos, por-

tanto mais afetados pela sulfidização (sulfa-quents e sulfahemists).

Mineralogia dos solos de mangueOs sedimentos depositados nos estuários

onde se desenvolvem os manguezais do litoralpaulista advêm principalmente dos processoserosivos das encostas da serra do mar (litoralnorte e baixada Santista) e das colinas do Valedo Ribeira do Iguape (litoral sul), durante o ho-loceno/pleistoceno. Como os solos dessa regiãoforam formados em condições tropicais úmidassob intenso intemperismo (Argissolos, Latos-solos, Cambissolos Tb) a assembléia mineraló-gica da fração argila destes é formadapredominantemente por caulinita e gibbsita e

Page 15: Edafologia 12-3

213SOLOS DE MANGUE DO BRASIL

secundariamente por micas, vermiculitas e ex-cepcionalmente esmectitas. Assim sendo, é dese esperar que a composição da fração argilados solos de mangue reflita essa herança domaterial de origem e que os solos sejam cauli-níticos com boa quantidade de gibbsita.

No entanto, segundo Prakasa & Swamy(1987), a composição mineralógica dos solosde mangue apresenta, com freqüência, seqüên-cias relativas de minerais de argila correspon-dentes, principalmente, à montmorilonita >caulinita > ilita > clorita. Marius & Lucas(1991), indicam minerais como o quartzo, ha-lita e até mesmo a jarosita, que necessita decondições mais oxidantes das que temos en-contrado em solos de mangue no Brasil, comooutros que também podem aparecer compondoa assembléia mineralógica dos solos de man-gue. Como veremos adiante, a pirita está sem-pre presente nesses solos e a goetita pode serencontrada em alguns solos de mangue (Figura17), particularmente naqueles originados de se-dimentos muito recentes. Cabe, portanto, ana-lisar as condições de formação e estabilidadedos argilominerais nesses ambientes.

A origem dos argilominerais em ambien-tes costeiros com influência constante dos apor-tes marinhos e fluviais pode ser, de acordo comHillier (1995), de dois tipos: detrital ou autóc-tone. Argilominerais de origem detrital compõea maior parte (cerca de 90%) dos depósitos se-dimentares costeiros e são trazidos de outrosambientes pela ação hídrica e/ou eólica. Já osargilominerais autóctones são formados in situ.A origem autóctone de argilominerais nessesambientes pode ter 02 caminhos de formação:precipitação direta a partir de íons presentes nasolução salina (halmirólise) e a transformaçãoa partir de um mineral precursor.

Hillier (1995) destaca que a identificaçãode esmectitas autóctones em ambientes marin-hos é muito difícil em função da capacidadedestes argilominerais se misturarem com ma-terial detrital alóctone de mesma estrutura (es-mectitas detritais). O autor considera, como

uma regra geral, que a formação de esmectitasnestes ambientes é reduzida e que, no casodesta ocorrer, geralmente o mineral formado éa nontronita.

O ambiente geoquímico no ambiente domanguezal pode ser classificado como halo-mórfico, ou seja, é caracterizado por ser ummeio concentrado e por apresentar valores depH ≥ 5,0. Sob estas condições o intemperismohidrolítico (perda de sílica e bases - predomi-nante em solos bem drenados) se torna inope-rante. Sendo assim, o ambiente é marcado pelointemperismo salinolítico.

Na salinólise, a presença de bases emabundância (meios concentrados) e a presençada sílica (H4SiO4) e do alumínio (Al(OH)3)priorizam o processo cristaloquímico da bis-sialitização gerando, portanto, somente argilo-minerais do tipo 2:1.

Em vista do ambiente geoquímico ca-racterizado acima e da, já destacada (Weaver,1989), predominância das formas detritaissobre as neoformadas, se descarta a formaçãoda caulinita neste ambiente sendo, portanto, aorigem alóctone, representada pelas partículasfinas trazidas em suspensão com as marés, aprincipal fonte deste argilomineral (Rabenhorst& Fanning, 1989).

No caso da esmectita, duas fontes seriampossíveis: (a) o aporte deste argilomineral pormeio dos sistemas hídricos atuantes (rio emaré) o que a definiria como esmectita detrital(Kelly & Webb, 1999; Harrris & Whiting,1999); (b) a alteração de micas a através da li-beração do K (facilitada em função da semel-hança existente entre as estruturas tetraédricasdestes argilominerais) (Fanning et al., 1989).

A alteração das micas a esmectitas pelaperda do K não parece ser possível em funçãonestes solos devido às elevadas concentraçõesde K presentes. A origem alóctone, por outrolado, apesar de considerada na bibliografiacomo fonte da maior parte dos argilomineraisem ambientes costeiros, normalmente está re-lacionada a montmorilonita e/ou beidelita de

Page 16: Edafologia 12-3

214 VIDAL-TORRADO et al.

acordo com Hillier (1995). No caso da forma-ção destes argilominerais 2:1, em função doambiente geoquímico presente, deve ser consi-derada como principal hipótese a da formaçãoda nontronita, em vista de sua origem prefe-rencial nestes ambientes conforme consideraHillier (1995).

A glauconita, uma ilita dioctaedral comFe2+ e Fe3+ nas posições octaedrais (Fanning etal., 1989) e K, Na ou Ca nas intercamadas(Köster, 1981), é um dos argilominerais quepoderia ser encontrado nos solos de mangue(Prada-Gamero, 2001), mais provavelmentecomo conseqüência de retrabalhamento e rede-posição do que por neogênese nos solos demangue, pois é normalmente formada normal-mente em sistemas marinhos de baixa taxa desedimentação (Amorosi, 1997). A presença defontes de Fe, K, Al e Si é essencial para a for-mação de argilominerais desta natureza alémde ambientes parcialmente redutores e situadosna interface sedimento-água do mar (Hillier,1995; Kelly & Webb, 1999).

Na composição das frações grosseiras(silte e areia) dos solos de mangue os mineraismais comuns são o quartzo as micas e os felds-patos, variando em proporção e tipo de acordocom a litologia regional. Minerais pesados con-tendo Fe e Ti também podem fazer parte e o

farão de forma mais significativa em regiõesonde ocorrem rochas máficas nas proximida-des dos estuários. Um componente freqüenteda fração silte desses solos é a pirita, que é deorigem pedogenética e sua formação decorredo processo de sulfidização anteriormente co-mentado. De acordo com Breemen & Buurman(1998) a formação da pirita pode ser extrema-mente rápida, podendo ocorrer em anos ou dé-cadas, sendo diretamente favorecida pelaintensidade de inundação das marés. Os autoresdestacam que a formação destes sulfetos émuito mais lenta em locais onde existe maiorestagnação de água e menor influência ma-rinha.

No Brasil, os estudos com a composiçãomineralógica da fração argila são escassos. NoEspírito Santo uma exceção aparece na litera-tura: os manguezais de Vitória estudados porMarius et al, (1987) apresentaram grande quan-tidade de gibbsita, classificada pelos autorescomo detrital e derivada dos sedimentos daFormação Barreiras. Nossos estudos ao longodo litoral do Estado de São Paulo, no entanto,têm mostrado que realmente a caulinita estápresente e domina a fração argila da maioriados solos de mangue mas há uma importantevariação na quantidade de esmectita, mica egibbsita, embora esta última seja escassa.

FIGURA 15. Morfologia das esmectitas observadas em amostras de subsuperfície em solos de mangue daBaixada Santista (SP).

Page 17: Edafologia 12-3

215SOLOS DE MANGUE DO BRASIL

FIGURA 16. Imagem de agregado framboidal de pirital em amostra subsuperficial de solo de mangue naBaixada Santista (SP).

FIGURA 17. Difratogramas da fração argila, tratados por NaOH para verificação de óxidos, de solos demangue do litoral do estado de São Paulo. Note-se as diferentes ocorrências de Gibbsita (Gb). Os mangue-zais menos gibsíticos são aqueles que se situam em ambientes de grandes estuários ou sistemas lagunares.Gt: Goetita.

Page 18: Edafologia 12-3

216 VIDAL-TORRADO et al.

Os sedimentos que deram origem aomanguezal estudado em Iguape são muito re-centes (100 anos) e decorrem da abertura docanal do valo grande (Rio Ribeira do Iguape).Já a ilha de Pai Matos está situada no meio docanal de Cananéia e a deposição dos sedimen-tos foi muito mais lenta (em torno de 5000anos). A diferença nas intensidades dos picosdas esmectitas (Es) em ambos os casos, sugereque a quantidade de esmectita é tempo-depen-dente e isso poderia estar associado à sua ori-gem pedogenética. Se confirmada essahipótese, que está de acordo com as condiçõesde formação e estabilidade desses minerais, ha-verá que reconsiderar a velocidade de neofor-mação ou autigênese de argilominerais

indicada na bibliografia. Na verdade, as es-mectitas poderiam se neoformar nesses solosna escala das centenas de anos e não nas deze-nas de milhares como sugerem alguns autorespara os sedimentos de fundo oceânico. Outrahipótese que se pode aventar é que a quanti-dade de esmectita no solo de mangue dependedo tempo de residência das argilas no ambientesedimentar, uma vez que os depósitos finospodem ser retrabalhados e redepositados conti-nuamente.

Finalmente, para se interpretar adequada-mente a origem e a dinâmica das transforma-ções que ocorrem na fração argila dos solos demangue no Brasil, é importante ter um enten-dimento do ambiente de sedimentação estu-

FIGURA 18. Difratogramas da fração argila de solos de mangue do sistema lagunar-estuarino Iguape-Ca-nanéia (SP). Es: esmectita; Mi: mica e K: caulinita. Pai Matos é uma ilha no extremo sul do sistema eIguape fica no extremo norte do mesmo.

Page 19: Edafologia 12-3

217SOLOS DE MANGUE DO BRASIL

dado, dos possíveis materiais fonte e considerara dinâmica costeira durante o pleistoceno/ho-loceno. Estudos isolados de perfis de solos semessa abordagem integrada podem não ir alémde uma caracterização mineralógica.

Química de Solos de Mangue

Condições físico-químicasA inundação a que são freqüentemente

submetidos os solos de mangue é responsávelpor importantes alterações físico-químicas.Estas alterações podem causar: a queda do po-tencial redox, o aumento dos valores de pHalém de mudanças drásticas no equilíbrio de

minerais e na dinâmica de elementos como oferro e o enxofre.

Segundo Ponnamperuma (1972), a difu-são de O2 em solos inundados diminui cerca de10.000 vezes nos primeiros centímetros onde ocontato com atmosfera ainda é facilitado.Porém em profundidade, os valores de O2 cos-tumam diminuir mais intensamente chegandoa concentrações nulas.

Este comportamento do O2 pôde ser ob-servado nos solos estudados através de seus va-lores de Eh, que se mostraram, de maneirageral, menores em subsuperfície do que em su-perfície conforme mostra a Figura 19.

FIGURA 19. Valores de Eh obtidos no campo em manguezais do sul do Estado de São Paulo: parcelas daIlha de Pai Matos (AV:Avicennia , R: Rhizophora, SED:Sedimento sem vegetação, TR:Transição, LA: La-guncularia) e Ilha do Cardoso (SG: rio Sítio Grande, RE: transição restinga-mangue)

Page 20: Edafologia 12-3

218 VIDAL-TORRADO et al.

Nas camadas superficiais, devido ao ca-ráter tiomórfico destes solos e à maior concen-tração do sistema radicular, é comum oestabelecimento de condições mais oxidantes.Assim que se torna comum nestas camadas aassociação de elevados valores de Eh com bai-xos valores de pH, gerados pela oxidação dossulfetos de Fe. Por outro lado, em sub-perfícieas condições anóxicas voltam a predominar eos valores de pH voltam a subir. Esta relaçãopH x Eh fica bem representada pela correlaçãopresente na Figura 21.

Biogeoquímica do Fe e S: sazonalidadeAs variações sazonais incessantes em função

da amplitude das marés e das diferentes esta-ções climáticas (influência sobre o aporte dematéria orgânica, sedimentos continentais pelaschuvas etc) submetem a biogeoquímica e ascondições físico-químicas dos solos de manguea constantes modificações fazendo delas oraoxidantes e ora redutoras (Hines, 1989 e Lu-ther, 1991 citados por Otero & Macias, 2002).Este fato age diretamente sobre a dinâmica doFe e do S.

Os compostos de enxofre são de impor-tância chave para os ciclos biogeoquímicos ati-vos em ambientes costeiros alagadosprincipalmente pelo fato de a redução bacte-riana do sulfato se constituir na forma de res-

FIGURA 20. Valores de pH obtidos no campo em manguezais do sul do Estado de São Paulo: nas parcelasda Ilha de Pai Matos (AV:Avicennia , R: Rhizophora, SED:Sedimento sem vegetação, TR:Transição, LA: La-guncularia) e Ilha do Cardoso (SG: rio Sítio Grande, RE: transição restinga-mangue)

Page 21: Edafologia 12-3

219SOLOS DE MANGUE DO BRASIL

piração preponderante nestes locais (Mackin &Swider, 1989). O sulfeto gerado pela reduçãodo sulfato pode apresentar inúmeros destinosnestes ambientes. Na presença de ferro livre amaior parte destas formas reduzidas de enxo-fre irão se precipitar de forma relativamente de-finitiva sob a forma de sulfetos de ferro (FeS eFeS2) (Moeslund et al., 1994). Na ausência deferro livre, entretanto, os sulfetos livres (HS-)gerados pela redução do sulfato podem se di-fundir para as camadas superiores mais oxida-das. Neste caso o sulfeto é reoxidado a sulfatoatravés de uma cadeia química e biológicacomplexa que envolve a existência de elemen-tos que atuem como receptores de elétrons (O2,Mn4=, NO3- e Fe3=).

A seguir são apresentados alguns resulta-dos que estamos obtendo sobre a variabilidadesazonal de atributos químicos dos solos demangue da Ilha de Pai Matos (Cananéia, SP).

FIGURA 21. Correlação negativa altamente significativa entre os valores de pH e Eh em amostras de solosde manguezais do sul do Estado de São Paulo em diferentes profundidades.

Page 22: Edafologia 12-3

220 VIDAL-TORRADO et al.

FIGURA 22. Valores médios de pH encontrados em diferentes compartimentos de vegetação da Ilha de PaiMatos em duas épocas distintas. No verão a atividade das plantas e macro-fauna do solo (caranguejos) é in-tensificada gerando condições mais oxidantes e promovendo a oxidação da pirita (especialmente nas ca-madas superficiais).

FIGURA 23. Valores (média ± desvio padrão) de grau de piritização (A) e Fe pirítico (B) encontrados emsolos de manguezais do sul do Estado de São Paulo: para as diferentes parcelas e profundidades em duas épo-cas distintas. Todas as médias encontradas para as duas épocas diferem significativamente entre si a 5% deprobabilidade pelo teste de Tukey.

Page 23: Edafologia 12-3

221SOLOS DE MANGUE DO BRASIL

A exemplo dos resultados obtidos para aespeciação do ferro, os valores de AVS tambémapresentaram diferenças sazonais claras com as

maiores concentrações desta fração ocorrendono inverno (Figura 24).

FIGURA 24. Valores médios de AVS (µmol/g) encontrados para as diferentes parcelas e profundidades nasduas épocas estudadas. SV: sem vegetação; SP:spartina, AV: Avicennia.

O papel da fauna e da vegetação sobrea biogeoquímica de solos de mangue

A atividade da fauna e da flora que habi-tam ambientes sedimentares exerce considerá-vel influência sobre as condiçõesbiogeoquímicas dos solos presentes nesses am-bientes.

A fauna afeta o equilíbrio físico-químicodos solos através do retrabalhamento de suaspartículas durante a busca por alimento ou pelaprópria ingestão deste material. Esta bioturba-ção e construção de canais biológicos têm umgrande efeito sobre a bigeoquímica dos solosdevido ao transporte de matéria orgânica não-decomposta para as camadas sub-superficiais eà transferência de compostos reduzidos para re-giões oxidantes (Hines & Jones, 1985). A bio-turbação afeta ainda a físico-química destessolos a partir do momento em que esta rompe azonação vertical dos processos biogeoquímicos(Aller & Yingst, 1985). Isto resulta em porçõesoxidadas e/ou micro-sítios oxidados dispostosem subsuperfície em função da disposição doscanais biológicos. Neste sentido, elementossensíveis a mudanças nas condições redox (por

exemplo, ferro e enxofre), ao serem oxidadosou reduzidos, têm sua dinâmica alterada comoresultado da atividade biológica podendo sofrerincrementos ou diminuições em suas concen-trações na água intersticial (Hines et al., 1984)e nas fases sólidas.

De fato em um estudo realizado em man-guezais do litoral Sul do Estado de São Pauloobtemos resultados que indicam que a ativi-dade de caranguejos promove a oxidação dosolo através da construção de canais (Figura25).

Na época de maior atividade de caran-guejos (verão) há uma maior taxa de difusão deO2 para o interior do solo fazendo com hajauma queda do grau de piritização e ainda umaoxidação da fração pirítica (F6, Figura 25).Deve-se destacar também que a maior ativi-dade de caranguejos no verão promove um au-mento das concentrações de FeII na águaintersticial fazendo com que este fique pro-penso ser perdido do sistema. Fato que explicaas maiores concentrações de espécies de ferrono inverno (140umol/g) quando comparadas asdo verão (62umol/g) (Figura 25).

Page 24: Edafologia 12-3

222 VIDAL-TORRADO et al.

FIGURA 25. Dados de extração seqüencial e grau de piritização em um perfil obtidos em épocas de alta ebaixa atividade de caranguejos (verão e inverno, respectivamente).

FIGURA 26. Foto ilustrando o efeito da estação do ano na atividade da fauna do solo (pedoturbação).

Page 25: Edafologia 12-3

223SOLOS DE MANGUE DO BRASIL

A exemplo da atividade da fauna, as plan-tas vasculares também podem afetar a físico-química destes solos à medida que promovemo transporte de solutos e gases para a região darizosfera (Mendelssohn et al.,1981).

Além disso, a atividade destas plantaspode resultar no fornecimento de matéria orgâ-

nica necessária à atividade microbiana nas ca-madas sub-superficiais. De fato em um estudosobre o efeito da vegetação em solos de man-gue obtivemos maiores valores de carbono bio-massa em parcelas com vegetação quandocomparadas àquelas não vegetadas (Figura 27).

FIGURA 27. Valores de C-biomassa determinados nas camadas superficiais e sub-superficiais das parcelassem vegetação e com vegetação.

Inúmeras evidências obtidas nas duas úl-timas décadas indicam que as espécies de man-gue são capazes de oxidar suas rizosferasatravés da translocação de oxigênio absorvidopelas lenticelas nas porções superficiais do soloaté as estruturas radiculares localizadas em sub-superfície permitindo sua difusão para o solodo entorno.

Em um estudo comparativo entre parce-las vegetadas e sem vegetação em solos de

mangue do litoral Sul do Estado de São Paulo,encontramos uma maior concentração das for-mas oxidadas de ferro (óxidos e oxidróxidos deferro) nas profundidades onde havia uma maiorconcentração de raízes vivas. Por outro lado, naparcela sem vegetação a distribuição das for-mas de ferro no perfil se apresenta homogêneaem todas as profundidades analisadas (Figura28).

FIGURA 28. Extração seqüencial das formas de ferro em solos de mangue e em sedimentos não-vegetados.

Page 26: Edafologia 12-3

224 VIDAL-TORRADO et al.

Variabilidade espacial das proprieda-des químicas dos solos de mangue

Vários autores têm demonstrado queexiste uma forte correlação entre o crescimentodas plantas de mangue e as propriedades dosolo onde estas se desenvolvem, apresentandoinclusive um certo zoneamento das espécies deacordo com as características físico-químicasdo solo (Saintilan, 1998; Sherman et al., 1998;Ukpong, 1994).

Entre os fatores que mais parecem in-fluenciar o crescimento dos mangues estão afreqüência e duração das marés (que determi-nam o tempo de inundação), salinidade daágua, potencial redox, entre outros.

Em um estudo que esta sendo realizadona Ilha de Pai Matos (Cananéia, São Paulo) ob-tivemos resultados que demonstram algumasdas interações entre a propriedades físico-quí-micas dos solos de mangue e a distribuição dasespécies.

FIGURA 28. Extração seqüencial das formas de ferro em solos de mangue e em sedimentos não-vegetados.

Variabilidade espacial das proprieda-des químicas dos solos de mangue

Vários autores têm demonstrado queexiste uma forte correlação entre o crescimentodas plantas de mangue e as propriedades dosolo onde estas se desenvolvem, apresentandoinclusive um certo zoneamento das espécies deacordo com as características físico-químicasdo solo (Saintilan, 1998; Sherman et al., 1998;Ukpong, 1994).

Entre os fatores que mais parecem in-fluenciar o crescimento dos mangues estão afreqüência e duração das marés (que determi-nam o tempo de inundação), salinidade daágua, potencial redox, entre outros.

Em um estudo que esta sendo realizadona Ilha de Pai Matos (Cananéia, São Paulo) ob-tivemos resultados que demonstram algumasdas interações entre a propriedades físico-quí-micas dos solos de mangue e a distribuição dasespécies.

Page 27: Edafologia 12-3

225SOLOS DE MANGUE DO BRASIL

Na Figura 29 observamos que a distri-buição dos valores de Eh nos diferentes com-partimentos da Ilha é regida pela posiçãotopográfica de cada parcela e pela freqüênciade inundação a que estão submetidas. Assim,as parcelas que sofrem uma menor ação damaré apresentam maiores valores e amplitudesde Eh enquanto as mais frequentemente inun-dadas apresentam os menores valores e ampli-tudes.

Os valores de pH, por sua vez, mostramcoerência com relação aos dados de Eh umavez que os menores valores são encontrados nointerior da Ilha (porção mais elevada e subme-tida a uma menor freqüência de inundação) eos maiores nas parcelas mais externas (sob in-fluência constante das marés) (Figura 30).

Também em concordância com os dadosde Eh e pH, os valores de Fe2+ e HS- na águaintersticial mostram que no interior da ilha (es-pecialmente nas camadas superficiais) predo-

minam as condições oxidantes enquanto naporção mais afetada pelas marés o ambiente émais anóxico permitindo o aparecimento demaiores valores de HS (Figura 31).

FIGURA 29. Comportamento dos valores de potencial redox em compartimentos de vegetação distintos naIlha de Pai Matos (Cananéia, SP).

Page 28: Edafologia 12-3

226 VIDAL-TORRADO et al.

Impactos Antrópicos em solos de man-gue

Em geral, a relação entre o Homem e osManguezais caracteriza-se por um preocupantedesconhecimento sobre a importância univer-sal destes ecossistemas. Nos últimos 500 anosesta floresta justamarina começou a ser siste-maticamente eliminada em função de sua loca-lização geográfica, altamente propícia àinstalação de portos e à expansão das cidadesnestas prolíferas áreas. Este quadro perdurou,em linhas gerais, até fins da década de 60quando os manguezais obtiveram científica eacademicamente, um definitivo reconheci-mento da importância de seu valor econômico-ambiental (Moscatelli, 1999).

Entretanto, atualmente os manguezaiscontinuam sendo um dos maiores alvos deagressão ambiental no Brasil, seja pela polui-ção, ou por sua eliminação, o que vem oco-

rrendo em larga escala, devido ao desenvolvi-mento da maricultura nessas áreas, sendo essaatividade um dos exemplos mais expressivosdo uso agrícola desses solos principalmente nonordeste brasileiro.

As regiões costeiras sempre atraíram aimplantação de empreendimentos econômicosdevido às vantagens e facilidades que oferecempara a instalação de portos e atividades turísti-cas. Localizada no centro do litoral paulista, aBaixada Santista, se encontra inserida em umdos maiores núcleos de crescimento industriale urbano do país, o que constitui grande ameaçaa suas áreas estuarinas (Silva et al., 1994).

O processo de desenvolvimento econô-mico nas cidades litorâneas avança juntamentecom a ocupação desgovernada de seus ecossis-temas e o uso incorreto do solo nessas regiões.Por englobarem ambientes de grande fragili-dade, as zonas costeiras acabam por muitasvezes, sendo parcial ou permanentemente de-

FIGURA 31. Diagrama com as concentrações de Fe2+ e sulfetos na água intersticial em compartimentos deposições distintas no manguezal estudado.

Page 29: Edafologia 12-3

227SOLOS DE MANGUE DO BRASIL

gradadas em função deste mecanismo de cres-cimento (Machado, 1994).

No caso específico dos manguezais, osimpactos antrópicos mais incidentes são: obrasde canalização, construção de barragens, ate-rros, salinas, derramamentos de petróleo, des-carga de efluentes, descarte de resíduos sólidose implantação de empreendimentos extrativis-tas (piscicultura, silvicultura). O despejo deefluentes líquidos promove perturbações estru-turais de valor ecológico além da perda de va-lores sociais e econômicos, porém com adoçãode medidas corretivas (remoção e tratamentodos resíduos) apresentam possibilidade de re-cuperação (Schaeffer-Novelli & Cintrón,1994).

Moscatelli (2000) ressalta que apesar datão evidente importância sócio-econômica eambiental dos manguezais e da legislação flo-restal que, desde 1965 oferece proteção a estesecossistemas, o processo de degradação destesambientes continua chegando a fazer parte dahistória de toda a zona costeira brasileira.

Na baía de Guaratiba (RJ), Menezes(2000) descreve um cenário bastante comumnas zonas costeiras do Brasil. De acordo com oautor, as áreas de mangue da região têm sidodegradadas desde a época da colonização de-vido à extração do tanino usado para tratar ocouro. Na atualidade, entretanto, a principal ati-vidade antrópica de impacto nos manguezais éa poluição química causada, principalmente,por metais pesados.

Tensores de origem antrópica, como acontaminação devida ao lançamento de efluen-tes domésticos sem tratamentos, geram impac-tos, principalmente, sobre a paisagem, colunad’água, hidrodinâmica estuarina, biota, produ-tores primários, solo e comunidade local.Como resultado, tem-se prejuízos à qualidadeda água e dos solos do estuário além de umcomprometimento da produtividade do sistemaestuarino, da biodiversidade, do ciclo de vidade espécies aquáticas, dos valores estéticos epaisagísticos, da recreação e turismo (Filde-

man, 1999).Disposição de esgoto em manguezais

De acordo com Cintrón & Schaeffer-No-velli (1983), o despejo de esgoto (tratado ounão) em manguezais é problema comum namaioria dos centros urbanos litorâneos. Poucosestudos têm sido feitos a cerca dos efeitos dadisposição destes efluentes nesses ecossiste-mas. Apesar de parecer não apresentar efeitosdeletérios quando bem diluído, os autores citamo exemplo em que o esgoto causou mortandadede árvores em uma floresta de manguezal loca-lizada a sudoeste de Porto Rico.

Na Baixada Santista, de acordo comAfonso (1999), a urbanização desenfreada e afalta de planejamento para a destinação de es-goto doméstico somada aos despejos indus-triais de Cubatão e às atividades do porto deSantos fazem desta região a mais poluída dazona costeira paulista. Este quadro se agravaainda mais pela presença de grande número defavelas, próximas a rios e estuários, que des-cartam seus resíduos diretamente nos corposd’água. O autor destaca que a questão do es-goto na região já chega a níveis alarmantes con-taminando a fauna, a flora e as águas além decausar:

•Contaminação por organismos patóge-nos, causadores de doenças;

•Desoxigenação das águas devido à de-composição da matéria orgânica;

•Eutrofização;•Contaminação das águas pela adição de

substâncias químicas tóxicas, cancerígenas ecausadoras de doenças;

•Contaminação física da água com con-seqüente depreciação de sua qualidade devidoao aumento da turbidez e a alterações de tem-peratura e cor.

Uma das questões mais problemáticas li-gada à disposição de esgoto doméstico emmanguezais é a da saúde pública. Com a des-carga desses efluentes sem tratamento, os ris-cos de contaminação por doenças parasitárias

Page 30: Edafologia 12-3

228 VIDAL-TORRADO et al.

e infecciosas e ainda por metais pesados se tor-nam muito grandes.

De acordo com Toze (1997), a maioriados microrganismos patogênicos presentes nosefluentes é de origem entérica, ou seja, chegamao ambiente através das fezes e contaminamvia ingestão. Podem ser bactérias, vírus, proto-zoários e helmintos, sendo as bactérias o grupomais comum encontrado nos esgotos.

McGregor (1975), em um trabalho sobrepoluição causada por esgoto em estuários, citaos principais patógenos bacterianos e descreveas doenças ocasionadas pelos mesmos, comosegue:

•Salmonella typhi: bactéria causadora dafebre tifóide; infecção que apresenta um índicede mortalidade de 10% se não tratada e de 2-3% se diagnosticada e tratada a tempo.

•Vibrio cholera: bactéria responsável pelacólera; doença severa com um percentual demortalidade de 50% sem tratamento.

•Salmonella typhimurium: provoca in-fecção gastrintestinal pouco severa sendo fatalapenas em crianças e idosos.

•Spirochaetal leptospira: doença endê-mica em ratos e outros animais, causadora defebre severa em pessoas com um percentual demortalidade de 20% em idosos.

Uma vez que não só a água, mas tambémos solos dos manguezais impactados por esgoto

doméstico podem estar contaminados com or-ganismos patógenos, e que devido ao fato domanguezal ser considerado por vezes como to-lerante à descarga de matéria orgânica, realiza-mos alguns estudos de rastreabilidade doesgoto doméstico nos solos do manguezal dorio Crumahu na Baixada Santista (SP). Estemanguezal recebe a descarga de esgoto domés-tico de 30.000 famílias de um bairro popular doGuarujá (SP) (Figura 32).

Três métodos foram utilizados: medidasde oxigênio dissolvido na água, determinaçãode δ 15 N e determinação de esteróis, estes doisúltimos utilizados como traçadores da presençade esgoto doméstico. O Método do δ 15 N, ba-seia-se na determinação da relação 15N/14Nque segundo, Coakley et al. (1992), obser-vando a relação entre estes dois isótopos é pos-sível verificar o enriquecimento em 15N,característico dos esgotos influenciados por ex-crementos animais. O método do coprostanol,baseia-se em que este esterol é produzido nointestino dos animais e sua configuração mole-cular depende da flora intestinal de cada espé-cie, como mostra a Figura 34. Como outrosesteróis são de ocorrência natural como o co-lesterol nos sedimentos marinhos, alguns auto-res recomendam a utilização da razãocoprostanol/colesterol (Firme, 2003).

FIGURA 32. Rio Crumahu (Guarujá SP). Os pontos em branco são os locais de amostragem de solos de man-gue que recebem a descarga de esgoto doméstico de mais de 30.000 famílias dos bairros Morrinhos e VilaZilda.

Page 31: Edafologia 12-3

229SOLOS DE MANGUE DO BRASIL

FIGURA 33: Oxigênio dissolvido (mg/L) e δ 15 N na água intersticial da camada superficial dos solos demangue do Rio Crumahú. Os dados da oximetria coincidem com o traçador δ 15 N, indicando que a maiorparte do manguezal está contaminado por esgoto doméstico.

FIGURA 34. Cromatogramas de esteróis produzidos no intestino de animais. Note-se que o pico caracte-rístico do coprostanol é diferente para cada espécie. Esta técnica de rastreamento tem sido muito utilizadapara verificar contaminação por esgotos urbanos em sedimentos do mar.

Page 32: Edafologia 12-3

230 VIDAL-TORRADO et al.

Os resultados da análise cromatográficapara determinação dos esteróis indicaram que acontaminação do solo até 20 cm de profundi-dade se deu em menor proporção a partir dametade do rio Crumahu e confirmaram a con-taminação severa visualizada nos outros doismétodos de avaliação, inclusive até 50 cm deprofundidade nos solos mais próximos à des-carga do esgoto (Firme, 2003). Os resultadosobtidos até aqui apontam para a aplicabilidade,em solos de manguezais, de duas técnicas atéagora utilizadas para sedimentos de fundo derio ou de mar, δ 15 N e determinação de este-róis, com o objetivo de verificar a contamina-ção por esgoto doméstico.

Contaminação de manguezais por me-tais pesados

Os manguezais têm sido utilizados, pormuito tempo e em muitos países, como uma al-ternativa de baixo custo para o descarte e o tra-tamento de esgotos, domésticos e industriais,devido sua capacidade de reter metais pesados(Clark et al., 1998; Clark, 1998) e de reapro-veitar nutrientes destes resíduos (Ye et al.,2001).

Nos países tropicais em desenvolvimentoa instalação de pólos industriais nas proximi-dades de estuários é uma constante pois hásempre um porto por onde escoar a produção.Essa proximidade, e as precárias condições dedestino do lixo industrial, levaram a uma sériede problemas de contaminação nos mangue-zais da Baixada Santista e da Bahia de Guana-bara. Lacerda et al. (2002) sintetizam diversostrabalhos feitos em manguezais próximos azonas industriais no Brasil e na Austrália mos-

trando que os solos de manguezais podem fun-cionar como importantes barreiras biogeoquí-micas para a contaminação por metais pesadose que essa é mais uma das vantagens de semanter o mangue preservado. Sobre man-guezais, a maior parte da concentração de me-tais pesados se acumula na rizosfera em formaspouco biodisponíveis, associadas principal-mente às formas piríticas (Machado et al.2000), minimizando o efeito da poluição. Zn,Hg e Cu são os metais que com maior freqüên-cia aparecem contaminando os solos dessesecosistemas.

Segundo Yim & Tam (1999), os metaispesados, por não serem biologicamente degra-dados, se acumulam no tecido vegetal prejudi-cando o crescimento das plantas, afetando afauna microbiana do solo e também a sua fer-tilidade. Os autores consideram que os efeitosdos metais pesados em plantas de mangue nãosão bem conhecidos e que sua capacidade detolerar metais pesados não esta clara ainda, daía necessidade de mais estudos antes do em-prego destes ecossistemas como destino finalde efluentes poluidores.

A concentração natural de metais pesadosno ambiente de manguezal também ocorre edepende do tipo, tempo de deposição e origemdos sedimentos (Lacerda et al., 1981). Entre-tanto, em áreas urbanizadas, a influência an-tropogênica tem favorecido o acúmulo dediferentes metais. Problemas sérios de poluiçãoambiental, devido à descarga de resíduos in-dustriais e o esgoto das cidades em áreas cos-teiras, têm sido amplamente relatados (Birch etal., 1996; Lacerda et al., 1993; Silva et al.,1990; Tam & Wong, 1994; Tam & Wong, 1995;

TABELA 2. Dados da relação coprostanol/colesterol das amostras ao longo do rio Crumahú (PC1 início dorio próximo à descarga de esgoto, PC15 ponto mais distante). Valores acima de 0,2 dessa relação indicam acontaminação por esgoto doméstico. (Firme, 2003).

Page 33: Edafologia 12-3

231SOLOS DE MANGUE DO BRASIL

Tam & Wong, 1996; Tam & Wong, 1997; Tam& Wong, 1998; Tam & Wong, 1999). Os po-luentes industriais e urbanos apresentam-se co-rrelacionados com o incremento no conteúdode metais pesados nas sementes, na morte deplantas e na redução da biodiversidade dosmanguezais.

Menezes (2000) destaca que estes ele-mentos, apesar do poder de retenção do man-gue, acabam atingindo a fauna e,conseqüentemente, a cadeia alimentar tor-nando-se um risco também para as populaçõeshumanas.

FIGURA 34: Manguezais da Baixada Santista (SP) estudados para verificação do teor de metais pesados nossolos. (Silva, 2005).

Os resultados obtidos em pesquisas re-centes desenvolvidas em manguezais da Bai-xada Santista e no litoral sul de ao Paulo (Ilhado Cardoso), indicam alguns aspectos degrande interesse quanto ao conteúdo total demetais traço nos solos, assim como em relaçãoao comportamento geoquímico destes elemen-tos neste tipo de ambientes.

Após estudar um total de 10 elementos

traço, é necessário realçar que, apesar do man-guezal ser considerado freqüentemente comoum espaço normalmente contaminado devidoà presença de pólos industriais em seu entorno,e de alguns relatórios da agencia ambiental deSão Paulo (CETESB) terem indicado que osmanguezais da Baixada Santista, e em particu-lar sua fauna e flora, possam apresentar níveiselevados de metais pesados, fato este que foi

Page 34: Edafologia 12-3

232 VIDAL-TORRADO et al.

um dos motivos de nossas pesquisas, nos solosde mangue estudados o conteúdo total de me-tais traço (incluido o Hg) esteve, em linhas ge-rais, dentro dos limites aceitáveis considerandoas diferentes normativas internacionais. So-mente a concentração de Hg na parte alta do ríoCasqueiro (Cubatão-SP) pôde ser consideradacomo muito elevada (Hg~ 5 mg Kg-1). Porém,um aspecto mais interesante do que conhecer oconteúdo total de um determinado elemento nosolo é identificar seu comportamento geoquí-mico, isto é, conhecer qual fração geoquímicado solo controla a mobilidade ou mesmo a bio-disponibilidade do referido elemento, o quepode ser visualizado a partir de extrações se-qüenciais (tabela 3 ). Os resultados obtidos nes-ses solos indicam um comportamento muitodiferente entre os metais considerados. En-quanto ferro e cobre aparecem predominante-mente associados à pirita, o Ni, Cr e Zn, estãoprincipalmente associados aos oxihidróxidosde Fe. O Hg parece estar associado às primei-ras frações (trocável e carbonatos, dados nãomostrados) e em menor proporção à fração pi-rítica. Para este elemento em particular é pos-sível que a extração seqüencial empregada nãotenha sido a mais indicada já que não com-templa a extração de formas como Hg elemen-tar, que, de acordo com as condições de Eh-pHpodem estar presentes neste tipo de solos(Silva, 2005). No entanto, como nas zonas con-taminadas por Hg, este elemento aparece fun-damentalmente nas frações geoquimicamentemais ativas, isto poderia favorecer sua incor-poração na cadeia trófica. Neste sentido, osnossos resultados evidenciam que, nos locaisafetados por Hg, na baixada santista, o soma-tório das 6 frações pode chegar a representaraté 90% do Hg total, oscilando na maior partedos casos entre 50 e 80%, enquanto que nas

zonas sem poluição aparente, como os man-guezais do Parque Estadual da Ilha do Cardoso,apenas representa o 30% do total.

No momento, para melhor entender estesfatos, um detalhamento sobre o comportamentogeoquímico do Hg está sendo realizado nossolos de mangue da Baixada Santista estuda-dos por Silva (2005).

Page 35: Edafologia 12-3

233SOLOS DE MANGUE DO BRASIL

TABELA 3.-Concentração do Fe(µmol g-1) e elementos traço (nmol g-1) nas diferentes frações conside-radas. LD= menor do que o limite de detecção. F1, fração trocável, F2: fração associada aos carbonatos, F3: fração associada aos oxihidróxidos de ferroamorfos, F4: fração de metal associada aos oxihidróxidos de Fe de baixa cristalinidade (tipo lepidocrocita),F5: oxihidróxidos de Fe cristalinos e F6: metais presentes como sulfeto ou associdados à pirita.

Page 36: Edafologia 12-3

234 VIDAL-TORRADO et al.

Derramamentos de petróleo em man-guezais

Devido à proximidade dos estuários agrandes portos e a conseqüente instalação depólos petroquímicos nessas regiões, acidentescom derramamento de petróleo atingindo osmanguezais são freqüentes, tendo como pri-meiro efeito a morte d e muitas espécies vege-tais e animais que habitam esse ecossistema.

Essa mortalidade de árvores em mangue-zais devida à contaminação por petróleo temsido freqüentemente atribuída ao efeito físicode bloqueio das superfícies de trocas de gasespor recobrimento pelo óleo. No entanto, devidoà natureza cerosa da superfície das folhas e pro-págulos de espécies de mangue, esse efeitopode ser minimizado. A mortalidade então pa-rece estar ligada à toxicidade dos compostos doóleo que afetam o metabolismo das plantas.Como o óleo pode permanecer no solo, im-pregnando raízes e pneumatóforos, a toxicidadepode perdurar e seus efeitos serem sentidos pordezenas de anos. (Burns et al. 1993; Lacerda etal. 2002). Desfoliação e posterior morte dasplantas é o primeiro efeito desses desastres, se-guido por uma regeneração lenta e alterada emcomparação à situação original.

O impacto pela contaminação por petró-leo em manguezais é potencialmente mais pre-judicial do que em outros ecossistemas. Oshidrocarbonetos derivados do petróleo podempermanecer no solo de mangue por várias dé-cadas. Da interação de vários fatores pode de-pender a velocidade e o grau de recuperação deum manguezal impactado por derrame de pe-tróleo (SOARES, 2003): a) tipo e quantidadede óleo derramado; b) características geomor-fológicas; c) freqüência de inundação pelasmarés; d) energia das marés; d) característicasdo sedimento; e) espécie vegetal; f) atividadeda macrofauna bentônica; g) atividade micro-biana.

A maior dificuldade para a degradação dopetróleo em manguezais é a condição de anoxía

a despeito das temperaturas quentes do am-biente tropical (BURNS et al, 1993). A incor-poração do petróleo derramado emprofundidade no sedimento de mangue é faci-litada pela ação escavadora de caranguejos queconstroem tocas efêmeras que podem atingir 60cm de profundidade. Após o abandono da tocaa ressedimentação conseqüente poderia apri-sionar o petróleo a essas profundidades (DUKEet al. 1999; SOARES, 2003).

Em outubro de 1983, uma explosão depedreira lançou um bloco de 20 toneladas en-cima de um oleoduto da PETROBRÁS cau-sando um derramamento de 2,5 milhões delitros de petróleo cru em um manguezal na Bai-xada Santista (Bertioga, SP) Após uma semanado derramamento, quando havia grande quan-tidade de óleo na água, a ocorrência de maré desizígia aliada a fortes ventos, levou o óleo paradentro dos estuários, praias, restingas e man-guezais elevando para cerca de 100 Km2 a ex-tensão da contaminação. As proporções depetróleo derramado e a extensão atingida ca-racterizaram esse evento como um dos maio-res já verificados no litoral do Brasil, e o maiorproblema resultante foi o de quantificar otempo necessário para recuperação da área(Schaeffer-Novelli, 1986).

Por ser um dos problemas freqüentes decontaminação de manguezais, iniciamos em2000 um trabalho de verificação da ocorrênciade petróleo, não só na superfície como em pro-fundidade nos solos daquele manguezal, tra-balhando numa transeção que iniciava no localde chegada do derramamento do petróleo, nocontato mangue-encosta, até o canal do riomais próximo (rio Irirí).

Após 22 anos, o petróleo ainda é evi-dente na área mais próxima à encosta, sendopercebido visual e olfativamente. Já no com-partimento do mangue mais distante da encostae próximo do rio, local intensamente lavadopelas marés, somente encontramos vestígios nasuperfície do solo, do petróleo derramado, oqual recobriu todo o manguezal do Rio Iriri.

Page 37: Edafologia 12-3

235SOLOS DE MANGUE DO BRASIL

Em todos os pontos de amostragem, em amos-tras até 80 cm de profundidade, procedeu-se àanálise cromatográfica dos hidrocarbonetos dopetróleo (Figura 38) que indicou a ausência depetróleo abaixo da profundidade de 30 cm emtodo o manguezal. A evidente atividade esca-vatória de caranguejos no manguezal com pos-terior abandono das tocas (que atingem 60 cmde profundidade) na área não foi capaz de in-corporar o petróleo além dos 30 cm de profun-didade mesmo nas áreas onde o óleo ainda estápresente e é visível na superfície. A dissoluçãocom posterior lavagem pela maré parece ter

sido o processo mais importante de retirada dopetróleo no manguezal. A posição topográficaem que o petróleo derramado se encontra nomanguezal foi o condicionante mais importantepara determinar sua permanência nos diferentescompartimentos.

Após este estes resultados e com umanova amostragem em maio de 2005, estudosmais detalhados de cromatografia, incluindo acomparação com uma amostra do petróleo ori-ginal para verificar o grau de degradação do pe-tróleo no solo de mangue, estão sendoconduzidos.

FIGURA 36. Cromatogramas de amostras de solo (coletadas em 2000) do manguezal do rio Irirí (Bertioga,SP) afetado por um derramamento de petróleo em 1983. A presença de uma elevação da linha de base docromatograma na figura inferior, indica a presença do envelope complexo mal resolvido (ECMR) caracte-rístico do petróleo e que não ocorre naturalmente em solos ou sedimentos. O ECMR é uma mistura de com-postos ramificados e cíclicos, presentes no petróleo e que não podem ser separados pela cromatografia

Impacto da carcinocultura nos man-guezais

Atividade econômica importante nas re-giões tropicais que possuem manguezais e por-tanto condições ambientais ideais para a vida ereprodução dos camarões, a carcinocultura oucultivo de camarões, expandiu-se de forma ace-lerada nos últimos 40 anos. Iniciou na Ásia ese propagou pela faixa intertropical do planeta,

com sérios problemas agregados a ela, sendo oprimeiro a substituição do bosque de manguepelos tanques de reprodução e engorda. Háquem estime que metade dos manguezais da re-gião tropical já foram substituídos por esta ati-vidade.

Page 38: Edafologia 12-3

236 VIDAL-TORRADO et al.

FIGURA 37. Canal aberto para início de exploração pela carcinocultura. A partir daqui os solos de manguesão drenados. Por serem solos tiomórficos, inicia-se a oxidação da pirita com conseqüente queda do pH.

FIGURA 38. Desmatamento e sistematização de manguezal e apicum no Estado do Ceará para instalaçãode fazenda camaroneira. Foto do Prof. Antonio Meireles (UFC).

Page 39: Edafologia 12-3

237SOLOS DE MANGUE DO BRASIL

A tabela 4 resume os impactos causadospela instalação de fazendas de carcinoculturaem antigos bosques de mangue.

A GAA (Global Aquaculture Aliance)preparou códigos de práticas para o cultivo res-ponsável de camarão. O código foi criado parafomentar maior conscientização ambiental daindústria de camaroneira para assegurar a pro-teção dos bosques de mangue e os impactos po-tencialmente adversos da aquicultura costeira.Prevê, dentre outros objetivos, o não desenvol-vimento de fazendas camaroneiras em áreas demanguezal, recuperação de bosques de manguedegradados por esta atividade, monitoramento

dos impactos e medidas mitigatórias para seevitar danos ao ecossistema com o lançamentode dejetos dos tanques aos estuários elimina-dos de forma irresponsável (Boyd, 1998). Asáreas de manguezal são apontadas por esta or-ganização como as piores para a construção detanques de engorda, devido ao pH ácido comalto grau de matéria orgânica e instáveis, poisestes terrenos são dificilmente drenados e se-cados adequadamente e porque os manguezaise outras áreas úmidas costeiras não deveriamser destruídos pelo seu valor ecológico e seupapel na proteção da zona costeira contra tor-mentas e ondas (Boyd, op. cit.).

TABELA 4. Impactos causados nos bosques de mangue pela instalação de tanques para criação de camarão(carcinocultura). Fonte: Coelho Jr. & Schaeffer-Novelli (2005).

Page 40: Edafologia 12-3

238 VIDAL-TORRADO et al.

Os efeitos da carcinocultura sobre a qua-lidade dos solos de antigos manguezais sãoainda pouco conhecidos no Brasil. Entendendoque os manguezais devem ser preservados enão utilizados para aqüicultura, estudos biogeo-

químicos e microbiológicos do fundo dos tan-ques são necessários para dimensionar o efeitodessa prática. Tais estudos servem tambémcomo base para a reabilitação ou refloresta-mento dessas áreas.

FIGURA 39. Fazenda camaroneira instalada sobre os sedimentos arenosos holocênicos (restinga) sem re-moção de manguezal, diminuindo sensivelmente o impacto ambiental desta atividade.

Considerações finais.

A importância ecológica e sócio-econô-mica (principalmente para as populações ribei-rinhas) dos manguezais têm sido manifesta pornumerosos cientistas, ecologistas, ONGs e atémesmo por pessoas comuns e políticos. Noâmbito nacional e internacional há grupos depesquisa, reuniões científicas e publicações,todos específicos sobre manguezais. Emborahaja iniciativas por parte dos pesquisadores daCiência do Solo no mundo científico em estu-dar os solos de mangue, no Brasil, escassos sãoos estudos de nossa comunidade, reunida nesteCongresso de Ciência do Solo, nesse sentido.

Nossos químicos, físicos e biólogos de solosjuntamente com nossos pedólogos, que predo-minantemente se dedicam a estudar o solo soba ótica das relações solo-planta em áreas agrí-colas, detêm formação e capacidade analíticade grande aplicação ao estudo dos solos demangue e assim poderão complementar os es-tudos intensivos que já existem de ecólogos,biólogos, biogeoquímicos, oceanógrafos, geó-logos e geógrafos, dentre outros, do ecossis-tema manguezal.

De fato, há muito ainda por conhecer emrelação ao funcionamento do manguezal e o en-tendimento do papel do solo nesse ecossistema.Neste sentido, o trabalho dos pesquisadores da

Page 41: Edafologia 12-3

239SOLOS DE MANGUE DO BRASIL

ciência do solo pode contribuir de forma signi-ficativa. No nosso entendimento, alguns dostemas que vem sendo pesquisados em solos demangue devem ser abordados com maior pre-cisão e intensidade:

•O papel e evolução da matéria orgânicanestes tipos de ambientes e sua relação com osprocessos pedogenéticos.

•Processos de neoformação e transforma-ção de minerais de argila.

•Comportamento, estabilidade e transfor-mações dos óxidos de Fe.

•Biogeoquímica de nutrientes (N, P) ecomponentes tóxicos (metais traço, xenobióti-cos...).

•Comportamento de contaminantes orgâ-nicos.

•Impactos da carcinocultura nos solos demangue.

REFERENCIAS

Afonso, C.M. 1999. Uso e ocupação do solo nazona costeira do estado de São Paulo:uma análise ambiental. São Paulo: Anna-blume; FAPESP,180p.

Aller, R.C. 1985. Yingst, J.Y. Effects of themarine deposit-feeders heteromastus fi-liformis (Polychaeta), Macoma balthica(Bivalvia), and Telling texana (Bivalvia)on averaged sedimentary solute trans-porte, reactions rates, and microbial dis-tribution. J. Mar. Res. v. 43, 615-645.

Alvarez-León, R.1993. Mangrove ecosystemsof Colombia. In: Conservation and sus-tainable utilization of mangrove forestsin latin America and Africa regions. In-ternational society of mangrove ecos-ystems, Okinawa, p.75-115.

Amorosi, A. 1997. Detecting compositional,spatial, and temporal attributes of glau-cony: a tool for provenance research. Se-dimentary Geology, 109, 135-153,

Birch, G.F.; Evenden, D. 1996. Teutsch, M.E.Dominance of point source in heavy

metal distributions in sediments of amajor Sydney estuary (Australia). Envi-ronmental Geology, 28, 169-174.

Boyd, C. 1998. Guiding principles for respon-sible aquaculture – codes of practice.GAA – Global Aquaculture Aliance. 1-36.

Breemen, N.V. 1998. Buurman, P. Soil forma-tion. Dordrecht: Kluwer, 376p.

Bourrié, G. et al. (1999): Iron control by equi-libria between hydroxy-green rusts andsolutions in hydromorfic soils. Geochim.Cosmochim. Acta 63: 3417-3427.

Caçador, I.; Vale, C. 2000. Catarino, F. Seaso-nal variation of Zn, Pb, Cu and Cd con-centrations in root-sediment system ofSpartina marítima and Halimione portu-lacoides from Tagus estuary salt marshes.Marine Environmental Research, 49,279-290,

Cintrón, G.; Schaeffer-Novelli, Y. 1983. Intro-duccion a la ecologia del manglar. Mon-tevideo: Oficina Regional de Ciencia yTecnología de la Unesco para AméricaLatina y el Caribe, 109p.

Clark, M.W., 1998. Management implicationsof metal transfer pathways from a refysetip to mangrove sediments. The Scienceof Total Environment 222, 17-34.

Clark M.W., McConchie D., Lewis, D.W.,Saenger, P. 1998. Redox stratificationand heavy metal partitioning in Avicen-nia-dominated mangrove sediments: ageochemical model. Chemical Geology149, 147-171.

Coakley J.P., Carey, J.H. 1992. Eadie B. J. Spe-cific organic compounds as tracers ofcontaminated fine sediments dispersal inLake Ontário near Toronto. Hydrobiolo-gia, 235, 85-96.

Coelho Junior, C. & Schaeffer-Novelli, Y..Considerações teóricas e práticas sobre oimpacto da carcinocultura nos ecossiste-mas costeiros brasileiros, com ênfase no

Page 42: Edafologia 12-3

240 VIDAL-TORRADO et al.

ecossistema manguezal. Monografia doLaboratório BIOMA – Mini-centro deensino e de informação sobre zonas úmi-das costeiras, com ênfase no ecossistemamanguezal – Instituto Oceanográfico daUniversidade de São Paulo. Maio de2005.

Comissao Nacional Independente Sobre OsOceanos. O Brasil e o mar: relatório dostomadores de decisão do país. Rio de Ja-neiro: CNIO, 1998. 408p.

Cornell, R.M. & Schwerttman, U. (1996): Theiron oxides. Structure, properties, reac-tions, ocurrences and uses. VCH, NewYork, 573 pp.

Corredor, J.E.; Morrell, J.M. 1994. Nitrate de-puration of secundary sewage effluentsin mangrove sediments. Estuaries, 17,295-300.

Costa, L. G. S. Adaptações. In: Schaeffer-No-velli, Y. (Ed.) Manguezal: ecossistemaentre a terra e o mar. São Paulo: Carib-bean Ecological Research, 1995. cap.7,p. 31-33.

Demas, G.P. & Rabenhorst, M.C. 1999. Sub-aqueous soils: pedogenesis in a submer-sed environment. Soil Sci. Soc. of Am. J.,63:1250-1257.

Doner, H.E.; Lynn, W.C. Carbonate, halide,sulfate, and sulfide minerals. In: Dixon,J.B.; Weed, S.B (Ed.) Minerals in soilsenvironments. 2.ed. Madison: SSSA,1989. p.279-330.

Empresa Brasileira De Pesquisa Agropecuária.Centro Nacional de Pesquisa de Solos.Levantamento de reconhecimento dossolos do Estado do Espírito Santo. Rio deJaneiro, 1978. p.370 – 379 (Boletim Téc-nico no. 45).

Empresa Brasileira De Pesquisa Agropecuá-ria.–EMBRAPA Sistema brasileiro declassificação de solos. Rio de Janeiro,Centro Nacional de Pesquisa de Solos,1999. 412p.

Fanning, D.S; Keramidas, V.Z.; El-Desoky,M.A. Micas. In: DIXON, J.B.; WEED,S.B. (Ed.). Minerals in soils environ-ments. 2.ed. Madison: SSSA 1989. p.551-634

Firme, L.P. Caracterização físico-química desolos de mangue e avaliação de sua con-taminação por esgoto doméstico via tra-çadores fecais. Piracicaba, Universidadede São Paulo, 2003. 70p. (DissertaçãoMestrado)

Fitzpatrick, R.W., Hicks, W.S., Bowman, G.M.,1999. East trinity acid sulfate soils part1: environmental hazards. Queensland,77pp.

Froelich, P.N.; Klinkhammer, G.P.; Bender,M.L.; Lurdtke, N.A.; Heath, G.R.; Cu-llen, D.; Dauphin, P.; Hammond, D.;Hartman, B. & Maynard, V. Early. 1979.oxidation of organic matter in pelagic se-diments of the eastern equatorial Atlan-tic: Suboxic diagenesis. Geoc. Cosmoc.Acta., 43:1075-1090,

Harris, L.C.; Whiting, B.M. Sequence-strati-graphic significance of Miocene to Plio-cene glauconite-rich layers, on-andoffshore of the US mid-atlantic margin.Sedimentary Geology, v. 134, p.129-147,2000.

Hillier, S. Erosion, sedimentation and sedi-mentary origin of clays. In: VELDE, B.(Ed.) Origin and mineralogy of clays:clays and de environment. Berlin: Sprin-ger, 1995. cap.4, p.162-214

Hines, M.E.; Lyons, W.B.; Armstrong, P.B.;Orem, W.H.; Spencer, M.J.; Gaudette,H.E. 1984. Seasonal metal remobiliza-tion in the sediments of Great Bay, NewHampshire. Mar. Chem. v. 15, p. 173-187.

Hines, M.E; Jones, G.E. 1985. Microbial bio-geochestry in the sediments of Great Bay,New Hampshire. Estuarine, Coastal andShelf Science. 20, 729-742.

Jimenez, J.A. 1988. Laguncularia racemosa:

Page 43: Edafologia 12-3

241SOLOS DE MANGUE DO BRASIL

white mangrove. Rio Piedras: Instituteof Tropical Forestry; UNESCO, 4p.

Jimenez, J.A. Rizophora mangle: red man-grove. Rio Piedras: Institute of TropicalForestry; UNESCO, 1985. 7p.

Jimenez, J.A.; Lugo, A.E. Avicennia germi-nans: black mangrove. Rio Piedras: Ins-titute of Tropical Forestry; UNESCO,1988. 6p.

Kelly, J.C.; Webb J.A. 1999. The genesis ofglaucony in the Oligo-Miocene Torquaygroup, southeastern Australia: petrogra-phic and geochemical evidence. Sedi-mentary Geology. v. 125, p. 99-11.

Koretsky, C.M., Moore, C.M., Lowe, K.L.,Meile, C., Dichristina, Y.J., Van Cappe-llen, P. 2003. Seasonal oscillation of mi-crobial iron and sulfate reduction insaltmarsh sediments (Sapelo Island, GA,USA). Biogeochemistry 64, 179–203.

Köster, H.M. The crystal structure of 2:1 layersilicates. In: Internacional Clay Confe-rence, 1., Bologna, 1981. Proceedings.Amsterdam: Elsevier, p.41-72.

Kristensen, E. M. H.; Bodenbender, J.; Jensen,M.H.; Rennenberg, H.; Jensen, K.M.Sulfur cycling of intertidal Wadden Seasediments (Konigshafen, Island of Sylt,Germany): sulfate reduction and sulfurgas emission. J. Sea Res. v.43, p.93-104,2000.

Lacerda, L.D. 1984. Manguezais: florestas debeira-mar. Ciência Hoje, v.3, n.13, p.63-70, jul./ago.

Lacerda, L.D. 1993. Carvalho, C.E.V.; Tana-zaki, K.F.; Ovalle, A.R.C.; Rezende, C.E.The biogeochemistry and trace-metalsdistribution of mangrove rhizospheres.Biotropica, 25, 252-257.

Lacerda, L.D.; Wolfgang, C.P.; Fisman, M.1981. Níveis naturais de metais pesadosem sedimentos marinhos das Baía da Ri-beira, Angra dos Reis. Ciência e Cultura,34, 921-924,

Lacerda, L.D.; Conde, J.E.; Kjerfve, B.; Álva-

rez-León, R.; Alarcón, C. & Polania, J.2002. American Mangroves. In: Man-grove Ecosystems: Function and manag-ment. Luiz D. Lacerda (editor); Springer,Berlin. 1-62.

Lamberti, A. Contribuição ao conhecimento daecologia das plantas do manguezal deItanhaém. São Paulo, 1966. 217p. Tese(Doutorado) – Faculdade de Filosofia,Ciências e Letras, Universidade de SãoPaulo.

Larsen, G., Chilingar, G.V., 1967. Introduction.In: Larsen, G., Chilingar, G.V. (Eds.),Diagenesis in sediments. Elsevier Scien-tific Publishing Company, Amsterdam,1-19.

Lepsch, I.F.; Sakai,E.; Amaral, A.Z. Levanta-mento pedológico de reconhecimento se-midetalhado da Região do Rio Ribeira doIguape no Estado de São Paulo. Campi-nas, SAA/IAC,1983. Folha SG.23-V-A-IV-2, Escala 1:100.000.

Lima, F.A.M.; 1975. Costa, R.S. Estudo preli-minar das áreas de manguezais no estadodo Ceará: áreas principais de ocorrênciana faixa costeira de 38º36’W – 41º15’W.O Solo, 67:10-12,

Machado, A.L. 1994. Análise da cobertura ve-getal de um manguezal impactado poróleo através de fotointerpretação. In:SIMPÓSIO DE ECOSSISTEMAS DACOSTA BRASILEIRA, 3., Serra Negra,1993. Anais. Serra Negra: ACIESP, 68-92.

Mackey, A.P.; 1996. Mackay S. Spatial distri-bution of acid-volatile sulphide concen-tration and metal biovailability inmangrove sediments from the Brisbaneriver, Austrália. Environmental Pollution.v.93, n.2, p.205-209.

Mackin, J.E.; Swider, K.T. 1989. Organic mat-ter decomposition pathway and oxygenconsumption in coastal marine sedi-ments. J. Mar. Res. v.47, p.681-716.

Macknae, W. 1968. A general account of the

Page 44: Edafologia 12-3

242 VIDAL-TORRADO et al.

fauna and flora of mangrove swamps andforest in the Indo West Pacific region.Advances in Marine Biology, n.63, 73270,

Madureira, M.J.; Vale, C. 1997. Simòes Gon-çalves, M.L. Effect of plants on sulphurgeochemistry in Tagus salt-marshes se-diments. Mar. Chem. 58, 27-37.

Marius, C.; Lucas, J 1991. Holocene mangroveswamps of West Africa: sedimentologyand soils. Journal African Earth Science,12, 41-54.

Marius, C; Archanjo, D. & Larque, P. 1987.Les sols de mangroves de la baie de Vi-toria (Brasil). Cah. ORSTOM, Sér. Pedol.23(3):211-216,

Mcgregor, A. 1975. Medical aspects of estua-rial pollution. In: CONFERENCE ONPOLLUTION CRITERIA FOR ESTUA-RIES, 1., New York, 1973. PollutionCriteria for Estuaries. New York: Hals-ted Press, 40-53.

Mendelssohn, I.A.; Mckee, K.L. 1981. Patrick,W.H. Oxygen deficiency in Spartina al-terniflora roots: metabolic adaptation toanoxia. Science 214, 439-441.

Menezes, L.F.T. 2000. A riqueza ameaçada dosmangues. Ciência Hoje, v.27, n.158,p.63-67, mar.

Moeslund, L.; Thamdrup, B.; Jorgensen, B.B.1994. Súlfur and iron cycling ina coastalsediment: rediotracer studies and seaso-nal dynamics. Biogeochem 27, 129-152.

Moscatelli, M. Mar. 2000. 500 anos de degra-dação. Ciência Hoje, 27, n.158, 42-45.

Otero, X.L., Macías- Vázquez, F., 2002. Varia-tion with depth and season in metal sul-fides in salt marsh soils.Biogeochemistry 61, 247-268.

Otero. X.L Biogeoquimica de metales pesadosem ambientes sedimentários marinos.Santiago de Compostela, 2000. 308p.Tesis (D.R.) – Universidad de Santiagode Compostela.

Ponnanperuma, F.N. 1972. The chemistry of

submerged soil. Adv. Agro., 24:29-96,1972.

Prada-Gamero, R.M. Mineralogia, físico-quí-mica e classificação dos solos de manguedo Rio Iriri no canal de Bertioga (Santos,SP). Piracicaba, Universidade de SãoPaulo, 2001. 76p. (Dissertação Mes-trado)

Prada-Gamero, R. M.; Vidal-Torrado, P., Fe-rreira, T. O. 2004. Mineralogia e físico-química dos solos de mangue do rio Iririno Canal de Bertioga (Santos, SP). Re-vista Brasileira de Ciência do Solo. Vi-çosa: , 28, n.2, 233 - 244,

Prakasa, R.M. 1987. Swamy, A.S.R. Clay mi-neral distribution in the mangrove of theGodavari delta. Clay Research, 6, n.2,81-86,

Rabenhorst, M.C; Fanning, D.S. 1989. Pyriteand trace metals in glauconitic parentmaterials of Maryland. Soil Science So-ciety of America Journal, 53, n.6, 1791-1797.

Rossi, M. & Mattos, I.F.A. 2002. Solos de man-gue do Estado de São Paulo: caracteriza-ção química e física. Rev. Depto deGeografia, São Paulo.15:101-113.

Saintilan, N. Relationships between height andgirth of mangroves and soil-water condi-tions in the Mary and Hawkesbury Riverestuaries, eastern Australia. Australian J.Ecology, 23, 322-328, 1998.

Schaeffer-Novelli, Y. Avaliação e ações priori-tárias para a conservação da biodiversi-dade da zona costeira e marinha. SãoPaulo: USP/IO, 1999. 56p.

Schaeffer-Novelli, Y. Manguezais Brasileiros.São Paulo, 1991. 42p. Tese (Livre-Do-cência) - Instituto Oceanográfico, Uni-versidade de São Paulo.

Schaeffer-Novelli, Y.; Cintrón, G. ManguezaisBrasileiros: uma síntese sobre aspectoshistóricos (séculos XVI a XIX) zonação,estrutura e impactos ambientais. In: Sim-posio de Ecossistemas da Costa Brasi-

Page 45: Edafologia 12-3

SOLOS DE MANGUE DO BRASIL 243

leira, 3., Serra Negra, 1993. Anais. SerraNegra: ACIESP, 1994. 333-341.

Shulz, H.D. 2000. Redox Measurements in Ma-rine Sediments. In: Scüring, J.; Shulz,H.D.; Fischer, W.R.; Böttcher, J.; Duij-nisveld, W.H.M. ed. Redox: Fundamen-tals Processes and Aplications. Berlin,Springer, 235-246.

Schwertmann, U. (1992): Relations betweeniron oxides, soil color, and soil forma-tion. In J.M. Bigham, E.J. Ciolkosz, SoilColor. Soil Sci. Soc. Am. Special Publi-cation nº 31. Madison-Wisconsin, USA,51-70.

Sherman, R.; Timothy, F.; Howarth, R. Soil-plant interactions in a neotropical forest:iron, phosphorus and sulfur dynamics.Oecologia, v.115, p.553-563, 1998.

Silva, M.L. S. 2005. Biogeoquímica de ele-mentos traço em solos de sistemas estua-rinos:manguezais do estado de São Paulo(Brasil) e marismas da Galícia (Es-panha). Tese de Doutoramento. ESALQ-USP, 162 páginas.

Silva, C.; Lacerda, L.D.; Rezende, 1990. C.E.Metals reservoir in a red mangrove fo-rest. Biotropica, v.22, p.339-345.

Silva, H.P.; Mattos, J.T. Utilização do senso-riamento remoto na análise do meio fí-sico visando a avaliação de áreasdegradadas. In: Congresso Brasileiro deCartografía,19., Pernambuco, 1999.Anais. Pernambuco, CFETP, 1999. p.1-7.

Silva, I.X.; Moraes, R.P.; Santos, R.P.; Martins,S.E.; Pompéia, S.L. A degradação dosecossistemas da Baixada Santista, SãoPaulo. In: Simpósio de Ecossistemas daCosta Brasileira, 3., Serra Negra, 1993.Anais. Serra Negra: ACIESP, 1994.p.30-38.

Simonson, R.W. 1959. Outline of a generalizedtheory of soil genesis. Soil Sci. Soc.Proc., 23:152-156.

Singer, A., Müller, G., 1988. Diagenesis in ar-

gillaceous sediments. In: Larsen, G.; Chi-lingar, G.V. (Eds.), Diagenesis in sedi-ments and sedimentary rocks 2. ElsevierScientific Publishing Company, Amster-dam, pp. 115-212.

SOIL SURVEY STAFF 1998. Keys to soil ta-xonomy. 8. ed. United States Departa-ment of Agriculture-Natural ResourcesConservation Service. U.S. Gov. Print.Office, Washington, DC.

Sugiyama, M.1995. A flora do manguezal. In:Schaeffer-Novelli, Y. (Ed.) Manguezal:ecossistema entre a terra e o mar. SãoPaulo: Caribbean Ecological Research,cap.4, p.17-21.

Suguio, K. 1998. Dicionário de geologia sedi-mentar e áreas afins. Rio de Janeiro:Bertrand Brasil, 1.222p.

Sugio, K.; Martin, L.; Bittencourt, A.C.S.P.;Dominguez, J.M.L.; Flexor, J.M.; Aze-vedo, A.E.G. 1985. Flutuações do níveldo mar durante o quaternário superior aolongo do litoral brasileiro e suas implica-ções na sedimentação costeira. RevistaBrasileira de Geociências, 15, n.4, 273-286, ago.

Sylla, M.; Stein, A.; Mensvoort, M.E.F. van;Breemen, 1996 N. van. Spatial variabi-lity of soil actual and potential acidity inthe mangrove agroecosystem of westAfrica. Soil Science Society of AmericaJournal, 60, 219-229..

Tam, N.F.Y.; Wong, Y.S. 1997. Accumulationand distribution of heavy metals in a si-mulated mangrove system treated withsewage. Hydrobiologia, v.352, 67- 75.

Tam, N.F.Y.; Wong, Y.S. Mangrove soils in re-moving pollutans from municipal waste-water of different salinities. Journal ofEnvironmental Quality, 28,556-564,1999.

Tam, N.F.Y.; 1995. Wong, Y.S. Mangrove soilsas sinks for waste-borne pollutants.Hydrobiologia, 295, 231-241,

Tam, N.F.Y.; Wong, Y.S. Normalization and

Page 46: Edafologia 12-3

244 VIDAL-TORRADO et al.

heavy contamination in mangrove sedi-ments. Science of Total Environment,v.216, p.33-39, 1998.

Tam, N.F.Y.; Wong, Y.S. Nutrient and heavymetal retention in mangrove sediment re-ceiving waste-water. Water Science Tech-nology, v.29, p.193-200, 1994.

Tam, N.F.Y.; Wong, Y.S. Retention and distri-bution of heavy metals in mangrove soilsreceiving wastewater. Environmental Po-llution, v.94, p.283-291, 1996.

Toze, S. Microbial pathogens in wastewater: li-terature review for urban water systems.Melbourne: CSIRO, 1997. 80p. (Multi-divisional Research Program TechnicalReport, no 1/97).

Ukpong, I.E. Soil-vegetation interrelationshipsof mangrove swamps as revealed bymultivariate analyses. Geoderma, v.64,p.167-181, 1994.

Van Breemen, N. (1982): Genesis, morphologyand classification of acid sulfate soils incoastal plains. En J.A. Kittrick et al.,Acid sulfate weathering, Spec. Pub. 10.Soil Sci. Soc. Am. Madison-Wisconsin,95-108.

Weaver, C.E. Clays, muds and shales: deve-lopments in sedimentology. Amsterdam:Elsevier, 1989. 819p.

Ye, Y.; Tam, N.F.Y.; Wong, Y.S. Livestockwastewater treatment by a mangrove pot-cultivation system and the effect of sali-nity on the nutrient removal efficiency.Marine Pollution Bulletin, v.42, n.6,p.513-521, June 2001.

Yim, M.W.; Tam, N.F.Y. Effects of wastewa-ter-borne heavy metals on mangroveplants and soil microbial activities. Ma-rine Pollution Bulletin, v.39, n.1-12,p.179-186, Jan./Dec. 1999.

Yokoya, N. S. Distribuição e origem. In:SchaefferR-Novelli, Y. (Ed.) Manguezal:ecossistema entre a terra e o mar. SãoPaulo. Caribbean Ecological Research,1995. cap.2, p.9-12.