doces portugueses curiosos
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8/16/2019 Doces Portugueses Curiosos
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Doces portugueses curiosos
Você se interessa por culinária? Por doces deliciosos?
Se você respondeu “sim”, então precisa ler o artigo que segue.
Transcrevemos aqui um texto da Câmara Municipal de Vila do Conde, contendo receitas
de alguns doces portugueses com curiosos nomes “religiosos” (Beijos de Freira, Pastéis
de Santa Clara (meias luas), Bolo da Abadessa, Pescoço de Freira, Sopa Dourada das
Freiras de Santa Clara, Barriga de Freira, Pudim à Abade de Priscos…), além da origem
de tais doces.
As receitas datam, mais ou menos do início do séc. XII ao final do século XVII.
DICAS PARA COMPREENDER MELHOR O PORTUGUÊS DE PORTUGAL:
LUME = FOGO
DEITAR = COLOCAR
BOCADINHOS = POUQUINHOS
PISADA = AMASSADA
DEMOLHAR = EMBEBER
CÔDEAS = PEDAÇOS
LATA POLVILHADA = FORMA POLVILHADA
ARREFECER = ESFRIAR
“Doçaria Conventual:
Precioso legado das freiras clarissas a Vila do Conde, insere-se na tradicional transmissão
pela oralidade, com raros casos manuscritos, de um saber culinário acumulado desde os
séculos XV e XVI, no qual se destacam os ancestrais ingredientes como o açúcar, os
ovos, a manteiga e as amêndoas e o perfeito domínio da Ars Coquinarae patente na
subtileza da utilização do açúcar e na mistura dos variados temperos e adoçantes.
Receitas do Convento de Santa Clara:
a) Beijos de Freira
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Ingredientes:
10 gemas de ovos de galinha
250 gr. de açúcar
100 gr. de amêndoa
Fazem-se com estes produtos uma massa idêntica às das Rosquinhas e depois, com as
mãos, procede-se á confecção de pequenas esferas que são polvilhadas com açúcar pilé ou
areado.
b) Pastéis de Santa Clara (meias luas)
Recheio
10 gemas de ovos de galinha
100 gr. de amêndoas
250 gr. de açúcar
Massa
300 gr. de farinha de trigo
2 colheres de sopa de açúcar
2 colheres de sopa de manteiga
1 pitada de sal
Feita a massa estende-se e di vide-se em várias partes. Em cada uma destas partes deita-se
um pouco de recheio. Depois fritam-se em azeite muito fino onde se deve ter deitado umacasca de limão. Finalmente, polvilham-se os pasteis com açúcar pilé ou areado.
Receitas do Mosteiro de Vairão:
a) Bolo da Abadessa
Ingredientes:
½ l de mel
½ l de azeite16 gemas
400 gr. de nozes moídas
1 colher de chá de canela
1 colher de chá de erva-doce
Com o mel, o azeite, as gemas de ovos, as nozes moídas, a canela e a erva-doce, faça uma
massa que deve ser muito bem batida. Leve a farinha necessária para se fazer um
envolvimento de todos os produtos. Despeje para uma lata untada de manteiga e leve ao
forno a cozer.
b) Pescoço de Freira
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Ingredientes:
500 gr. de açúcar
500 gr. de amêndoa ralada
50 gr. de manteiga
14 gemas de ovos
folhas de obreia
manteiga q.b.
300 gr. de açúcar (para a calda)
Leve o açúcar a ponto de pérola e depois misture a amêndoa ralada, a manteiga e as
gemas de ovos. Leve novamente ao lume para as gemas cozerem e depois deixe arrefecer
a massa. Humedeça folhas de obreia com clara de ovo, recheie e enrole. Faça uma calda
com açúcar e água até atingir o ponto de pasta. Passe os pescoços de freira por esta calda
e deixe secar em cima de uma tábua de madeira untada com manteiga.
Outras receitas que chegaram até nós:
a) Sopa Dourada das Freiras de Santa Clara
Receita manuscrita por uma freira de Santa Clara de Vila do Conde, tal como está
redigida:
“Para Kilo e meio de assucar 24 gemmas de ovos, com um quarto de amendoa doce, meiokilo de chila, 50 grammas de cidrão e 300 grammas de pão de ló, que deve ser partido ás
fatias finas. Vai o assucar ao alume para o por em ponto de espadana, deitando-se-lhr
algumas gottas de água de flor de laranjeira.
Achando-se o assucar n’esse meio ponto retira-se do lume e molham-se nelle as fatais de
pão de ló, que se põem a escorrer nem peneira ou n’um prato. O assucar volta ao lume
para chegar ao ponto de espadana, deitando-se o cidrão muito cortado aos bocadinhos e
bem assim a chila. Deixa-se ferver um pouco. Tira-se então do lume para arrefecer um
quasi nada. Depois vai-se deitando deta calda aos poucos nas gemmas de ovos, que devem
estar bem batidas. Tem de se mexer sempre, sem parar, porque se o não fizerem, coalha.
Deixa-se engrossar até fazer rugas e deita-se depois no prato ou travessa que tem as
fatias, que devem ficar bem cobertas. Compõem-se com um ferro e deita-se-lhe canela.”
no fina l de st e art igo você encon tra rá mais rec ei tas de doces
ORIGEM DOS DOCES PORTUGUESES:
Na década de 70 do século passado, os Serviços de Cultura e Turismo da Câmara
Municipal de Vila do Conde reeditaram um pequeno livro no qual são compiladas
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algumas das preciosas receitas e mencionados alguns dos vilacondenses que até nós
fizeram chegar os gestos, cores, cheiros e sabores da cozinha do Mosteiro de Santa Clara,
o qual, pela sua raridade, passamos a citar:
“Em Portugal existe uma honrosa tradição em matéria de doçaria que se filia na variedade
e boa qualidade dos produtos existentes nas nossas províncias e nos remotos costumes
culinários dos principais povos que formaram o “substratum” histórico do País. Sabe-se
que já no tempo dos Lusitanos existia o costume de confeccionar com farinha, leite e mel,
alimentos de sabor muito agradável e que os Romanos, nas suas tão célebres refeições,
usavam largamente bolos constituídos pelas mesmas substâncias. Em vários documentos
medievais não faltam referências a muitos produtos da nossa agricultura - azeite
finíssimo, nozes, amêndoas, passas, pinhões, leite magnífico, mel saborosíssimo,
variadíssimas frutas, ervas aromáticas, vinhos preciosos, branco e do Porto, etc., - que
entravam na composição de diversas receitas de doçaria. Após os descobrimentosportugueses intensifica-se a comercialização dos produtos exóticos e outras substâncias,
como o açúcar, a canela, a baunilha, etc., e que foram aproveitados para o mesmo fim.
Com uma variedade de tantos e tão excepcionais produtos para a doçaria, não é de
estranhar o estabelecimento de uma verdadeira Arte que, com as exigências da vida
social, se desenvolveu e se fixou.
A partir do século XVI, a arte de doçaria passa a ser cultivada, com esmero requintado,
por quase todos os Mosteiros e Conventos existentes no País, criando-se especialidades
saborosíssimas e de grande valor culinário. Os doces das casas religiosas, inicialmente
destinados para consoadas aos seus protectores civis e eclesiásticos, passaram a ter
grande procura, dando origem a uma verdadeira indústria conventual que se tornou
afamada de norte a sul de Portugal e que constituiu, ao longo de vários séculos, o espanto
e a admiração dos estrangeiros.
O Real Mosteiro de Santa Clara de Vila do Conde, um dos mais belos e grandiosos do
País, foi das casas religiosas onde a arte de doçaria atingiu o maior esmero e perfeição.
O infeliz decreto de 28 de Maio de 1834, - que apesar de ter sido rejeitado pelo Conselho
de Estado, depois de o ter apreciado devidamente, foi referendado pelo Ministro Joaquim
António de Aguiar - extinguindo as instituições monásticas, expulsando os frades dos
conventos e reconhecendo apenas às freiras o direito de acabarem em paz nas suas celas,
trouxe à comunidade religiosa do Mosteiro de Vila do Conde a sua humilhação, o seu
empobrecimento, a ruína do seu velho edifício monacal, e contribuiu para que a arte de
doçaria existente nesta casa perdesse o esplendor que, durante tantos e tantos anos, a
celebrizou no Norte do País.
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Felizmente, esta iníqua lei, determinada por motivos de ordem política de um partido e
não por razões de interesse nacional, não conseguiu eliminar nem esmorecer a vida
espiritual da comunidade das Clarissas de Vila do Conde que, cristãmente, aguardaram a
sua última hora. Foi graças a perseverante atitude de permanecerem fiéis à vida espiritual
determinada pela Regra da Ordem que estas religiosas, voluntária ou involuntariamente,
transmitiram algumas das receitas dos seus tão afamados doces.
Com a morte de muitas das freiras existentes em 1834 no nosso velho Mosteiro, viram-se
as poucas ainda vivas na necessidade de admitirem j ovens para as auxiliarem a cantar os
Ofícios Divinos. Estas “Meninas do Coro” aprendiam com as religiosas vários lavores,
sendo a algumas delas ensinado, com carinho e especial interesse, a execução dos
seculares e afamados doces desta comunidade de Clarissas. As “Meninas do Coro” foram
crescendo. Umas casaram, outras abandonaram o Mosteiro e foram para casa de seus
parentes. Para ajudar as últimas freiras ficaram a residir com elas três Senhoras, D. Maria Cristina Soares Carneiro, D. Deolinda da Conceição Soares Carneiro e D. Carolina Rosa
dos Santos, que para o Mosteiro tinham entrado como “Meninas do Coro”.
Quando, em 21 de Maio de 1892, faleceu a última freira e Abadessa desta secular
comunidade todas essas Senhoras foram residir com os seus familiares.
D. Carolina Rosa dos Santos foi viver para a casa de uma sua irmã e, após o falecimento
desta, ficou a tomar conta dos seus sobrinhos. Uma das suas sobrinhas, D. Maria Campos,
em religião Irmã Maria do Divino Coração, aprendeu com a tia algumas das receitas dos
doces do Mosteiro de Santa Clara. Mais tarde, esta Senhora, ajudou a fundar uma
Congregação de Religiosas - o Instituto da Divina Providência e Sagrada Família - cujas
Irmãs, a quem devemos algumas dessas receitas, estão, actualmente, encarregadas dos
serviços domésticos do Asilo de Nossa Senhora da Encarnação, onde têm exercido uma
acção a todos os títulos notáveis e a quem não é descabido prestarmos aqui a nossa
homenagem e expressarmos a nossa sincera gratidão”.”
(fonte: http://cmviladoconde.wiremaze.com)
Mais receitas de doces portugueses
Barriga de freira
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Prepare uma calda em ponto de fio com o açúcar e 2,5 dl de água. Corte o pão de ló às
fatias e torre-o dos 2 lados. Junte-o à calda até se desfazer. Deixe amornar. Escalde as
amêndoas, pele-as enquanto quentes e passe pela máquina. Adicione à mistura de pão de
ló e calda. Acrescente também as gemas, bem batidas. Leve novamente ao lume, mexendo
constantemente, para cozer a gemada e apurar sem ferver demasiado. Divida por pequenas
taças e enfeite à volta com doce de gila. Polvilhe o doce com canela moída.
Pudim à Abade de Priscos
Misture 500 g de açúcar e a água, na qual introduziu o presunto, a casca de limão e a
canela. Leve ao lume e, quando estiver em ponto de espadana, passe a calda por um
passador de rede, vazando-a numa tigela larga onde já deitou as gemas e o vinho do
Porto, misturando ligeiramente. Com o restante açúcar faça uma calda em ponto de
caramelo. Barre muito bem com essa calda a forma e leve ao lume a cozer em banho
Maria.
http://www.cantodapaz.com.br/blog/12-doces-portugueses/