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Curso de roteiro Autor: Emilio Carlos  1 mailxmail - Cursos para compartir lo que sabes

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Curso de roteiroAutor: Emilio Carlos 

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Presentación del curso

Con este curso puedes conocer todo el proceso necesario para orientarte al escribirun guión destinado, especialmente, al cine o a la televisión. Prueba este curso yverás como tu expresión lingüística en lengua portuguesa mejora mucho.

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1. Introdução

Muita gente sonha em escreve um roteiro para Cinema e/ou TV.

As dificuldades começam ao se buscar informação a respeito. Poucos são os livrosdisponíveis. Cursos geralmente só acontecem em grandes cidades e normalmentesão pagos. Mesmo na internet não se encontra muito.

Foi por isso que eu resolvi escrever esse Curso de Roteiro e disponibiliza-logratuitamente no site Banco de Roteiros. É uma forma de democratizar mais ainformação, de dividir a experiência que eu tenho com você. É também uma formade agradecer a todos aqueles que colocam informação na internet em várias áreas,da música à informática, e que já me ajudaram tanto em minhas pesquisas.

Objetivo - durante as aulas você vai acompanhar como eu escrevo um roteiro passoa passo, etapa por etapa. No final, seguindo essas mesmas etapas, espero que vocêpossa também escrever o seu roteiro.

Faremos o roteiro de um Curta metragem. Os elementos da trama estão todos aícomo num longa, mas numa escala menor. Aconselho a escrever alguns curtas antesde tentar escrever um longa-metragem.

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2. Tudo que você puder

Ser roteirista é mais do que apenas escrever. Ser roteirista é também um estado deespírito.

Muita gente acha que é roteirista quando senta ao computador e digita as primeiraslinhas de uma cena. Mas o verdadeiro roteirista é roteirista em tempo integra.

Digamos quase 24 horas por dia.Ao seu lado ou na sua frente pode estar acontecendo algo que será o tema do seupróximo roteiro. Ou até o próprio roteiro.

Afinal qual é a matéria-prima do roteiro? A vida, a imaginação, a observação e aformatação artística de tudo isso temperada com o seu talento.

Talento: apenas uma palavra com tantos significados. Muitos tem talento, poucos ousam. Muitos tem talento, poucos o desenvolvem.

Então você precisa ter e usar o seu talento. Sempre.

Estar sempre atento a realidade, às pessoas e situações a sua volta, a si mesmo. Umroteirista, para ser original, precisa ter uma maneira original de ver a vida, deentender pessoas, fatos e situações.

Veja, leia, analise tudo que você puder. Esteja atento. Suas observações vãoenriquecer suas personagens, histórias e ações.

Aquela pessoa que você tanto odeia pode ser a vilão do seu próximo roteiro. (Piorpra ela: teve o que merecia... rss). Aquela situação vexatória que você acabou devivenciar pode ser a cena cômica de um roteiro.

Seja roteirista o tempo todo. Especialmente quando estiver trabalhando num novoroteiro. Daí você precisa ser roteirista 36 horas por dia.

Eu costumo ficar vidrado no que estou escrevendo. Enquanto escrevo um roteironormalmente não penso em mais nenhuma história: toda a minha energia epensamento estão voltados para aquele roteiro.

Vá ao cinema, alugue todos os DVDs que puder. Assista todos os making offs dosDVDs (eu disse todos).

Analise todos os filmes que você ver. Por que você gostou ou não gostou? O que fezcom que você odiasse tal personagem ou se importasse com tal?

Como a história flui? É lenta? Rápida? Acontece numa velocidade vertiginosa desde ocomeço ou demora para acontecer? Tem barrigas (aquelas partes que o filme parece

parar e nos dá sono)?Os filmes ruins podem nos ensinar tanto quanto os filmes bons. Com os bons vocêaprende o que fazer; com os ruins você aprende o que não deve fazer nunca.

Assista, veja tudo que puder, mais de uma vez. E analise. Esse tipo de análise éainda mais produtivo quando você encontra uma pessoa ou um grupo deinteressados em debater o filme com você. Se você conhece outros roteiristas - ouaspirantes a roteiristas - aproveite e faça um grupo de estudos de roteiros com eles.

 

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Juntem-se, assistam ao filme e depois debatam. Você vai ver que será muito útil.

Sabe aqueles filmes que você adora? Os seus preferidos? Assista muitas vezes.Muitas. Até que você consiga não mais se envolver com o filme, não ver mais ahistória em si mas sim a técnica, o que o levou a escolher aquele filme como seupreferido.

No fim muitos roteiristas escrevem (e até se especializam) no gênero de filmes quegostam de ver. Por isso defina: quais são seus gêneros preferidos? Comédia? Drama?

Aventura? Suspense?Quanto mais você conhecer do mundo, das pessoas, da sétima arte e de vocêmesmo mais material terá para seus roteiros.

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3. Formatando o roteiro

Mal o sujeito decide escrever um roteiro e lá vem a dúvida cruel: em que formato sedeve escrever um roteiro?

Existe uma tentativa de estabelecer normas para o formato de um roteiro. Livros,manuais e alguns sites abordam isso.

Existem até alguns programas que prometem facilitar essa formatação.

Há um tempo atrás eu também fiquei na dúvida. Queria formatar corretamente meusroteiros conforme mandavam os manuais. Daí comecei a ler roteiros de descobri quea grande verdade é uma só: cada roteirista acaba escrevendo da maneira comoachar mais cômodo. É isso que pouca gente diz pra você.

Pessoalmente achei mais fácil desenvolver uma forma do que aprender a operaresses programas. E depois que eu li o roteiro do longa Cidade de Deus fiquei maistranqüilo em relação a formato.

Então o meu conselho é o seguinte: na dúvida escreva do seu jeito, do jeito que você

achar melhor. Se você ficar se preocupando com isso agora sua idéia de roteiro vaipor água abaixo e você ficará preso nas teias das teorias e normas.

Depois que você acabar de escrever e revisar seu roteiro aí se preocupe com aformatação. Baixe alguns roteiros na internet, dê uma boa lida e analise que tipo deestilo combina mais com você.

No meu ofício de roteirista tenho desenvolvido não uma mas várias formas deescrever um roteiro, desde o tipo mais próximo do tradicional até os mais ousados.

Pra você ter uma idéia: o roteiro do Curta O MEDO mais parece um Plano de Câmerado que vai ser filmado. O roteiro do Curta O TELEFONEMA parece um Plano deEdição. NAMORO NA INTERNET já tem um formato mais tradicional.

Tudo depende muito do que eu estou querendo/precisando escrever. No caso doMEDO e do TELEFONEMA eu (roteirista) quis fazer um roteiro detalhado do que tinhaimaginado para que eu (diretor) pudesse filmar depois com mais facilidade. É avantagem de você filmar seus próprios roteiros.

Via de regra, porém, você não precisa se dar a esse trabalho. Pode apenas indicar olugar onde se passa a cena, o momento, se é interna ou externa. São informaçõesque ajudam o diretor a compreender melhor o roteiro.

Outra coisa que você vai observar nos meus roteiros: dificilmente uso palavras eminglês. Procuro sempre o equivalente em português. Isso faz parte da busca de uma

identidade tupiniquim para o cinema nacional. Sei que o assunto é polêmico mas éassim que eu trabalho. Busco criar uma nova linguagem dentro de uma nova estéticaaté mesmo na formatação do roteiro. Mentes novas, idéias novas.

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4. A idéia

O fantasma da folha em branco vem assolar todos nós, escritores e roteiristas. Aabertura do filme JOGUE A MAMÃE DO TREM tem uma seqüência primorosa de umescritor com a síndrome da folha em branco. Sentado à frente de sua máquina deescrever o pobre homem sofre um bocado sem conseguir uma frase que preste paracomeçar seu novo romance. Folhas e mais folhas são tiradas da maquina,violentamente amassadas e jogadas ao lixo.

Como o filme é um pouco antigo hoje em dia o escritor estaria na frente da tela embranco do Word...

De onde vem a idéia? Como e quando um roteiro realmente começa?

Eu tenho 2 processos de criação. Estando sempre atento a observar o mundo etentar entende-lo nesse processo aparecem boas idéias. Uma notícia num jornal,uma observação feita acerca de determinada situação, um tema que me pareceupouco (ou erroneamente) explorado pela mídia, tudo isso me fornecem idéias.

Esse primeiro processo é muito mais cerebral, fruto de usar a observação aliada aotalento. Depende de você estar conscientemente atento e fazer um trabalho queparte muitas vezes do racional para o emocional.

Mas existe um segundo processo que é mais, digamos assim, mágico, um tantoquanto incontrolável e imprevisível: a inspiração. Você não pode prever quando elavem nem força-la a vir. Mas quando ela vem ela vem com tudo.

De estalo, aparentemente do nada, tenho uma idéia. Ao invés de deixa-la passar, deespanta-la como se espanta uma mariposa que voa em volta da nossa cabeça eu adeixo voar. Deixo a idéia evoluir na frente dos meus olhos pra ver até onde vai dar.

Daí o roteiro me aparece quase pronto. Seqüências inteiras estão ali, diante dos

meus olhos, numa velocidade vertiginosa. E é preciso anotar tudo nessa hora -porque depois vai ser tarde demais. Porque isso é um processo emocional e a parteracional agora estragaria tudo.

Nessas horas o negócio é anotar com o máximo de detalhes possíveis a idéia e selançar ao roteiro o quanto antes. Porque depois o tempo vai passando, as cores daidéia vão se desbotando, e o que poderia ser o roteiro do ano pode acabar com maisum pedaço de papel amassado no fundo da gaveta.

Para esses momentos mágicos recomendo estar sempre com caneta e um bloco deanotações à mão. Afinal você nunca sabe onde vai ter uma idéia: pode ser noserviço, no ônibus, no carro enquanto você dirige (esse é o pior dos momentos),enfim em qualquer lugar.

Muitas vezes um pensamento se encadeia com outro, que não tinha nada a ver como primeiro nem com onde eu estava, e de repente se abre a janela da mente e voa aidéia fazendo suas evoluções magníficas. Outras vezes um fato acontecido ali naminha frente liberta a idéia - que no fim não vai ter nada ou pouco a ver com o fatoque a originou.

Muita gente fica esperando a vida toda por esses momentos mágicos que ou nãovem ou quando vêm não podem ser aproveitados. Então meu conselho como

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roteirista é: trabalhe. Não espere a idéia pintada de dourado na sua frente. Porqueno fim as idéias nascem mesmo das nossas observações. E observar ajuda muito ainspiração.

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5. Personagem principal, Gênero e Tema

Como eu disse antes a idéia é escrever um Curta. Todos os elementos do drama ouda comédia condensados em poucos minutos de filme. E como é difícil dizer tantacoisa quando se tem pouco tempo pra dizer.

Eu gosto de escrever: crônicas, roteiros, textos de teatro, histórias. São vários

formatos, várias técnicas diferentes. Mas isso me abre um leque maior de escolha. Oroteiro O TELEFONEMA, por exemplo, foi feito em cima de uma crônica minha.

Então isso significa que você leu uma crônica em um jornal, gostou e daí vai e adaptapara o cinema? Não, não é bem assim.

Existe o problema dos direitos autorais. Você não pode adaptar uma crônica dealguém a não ser que esse alguém lhe dê autorização expressa e por escrito pra quedepois você não tenha problemas.

Como todo mundo começa no cinema independente, sem dinheiro nem patrocínioalgum, a maioria dos mortais não terá dinheiro para pagar os direitos autorais deum escritor de nome. Se bem que às vezes, dependendo da seriedade do projeto edo autor que você aborda, ele pode até topar a parada, liberar você de lhe pagar,tudo em nome do cinema nacional.

Mas não vamos esperar pela sorte. Isso é quase como esperar pela borboletinhadourada da inspiração. Vamos arregaçar as mangas e trabalhar.

Há vários jeitos de começar. Você pode decidir, por exemplo, o gênero que pretendeescrever. "Ah, agora quero escrever uma comédia". Ou: "Quero um drama". Sãomuitas possibilidades. No gênero Comédia, por exemplo, há comédias românticas,comédias escrachadas, besteirol, e um sem número de definições que tentam definirum filme na maioria das vezes sem sucesso.

Então se você define um gênero o seu roteiro já começou. É um jeito de começar.Ou você viu/passou por alguma situação que valia a pena ser transformada emroteiro. É uma outra possibilidade.

Digamos que resolvemos escrever uma comédia. Vamos definir personagens?

Via de regra um curta é curto (sem querer fazer trocadilho...). Ao contrário da noveladas 8, que vai durar por 7-8 meses e tem um sem-número de personagens, aquivocê precisa se concentrar num núcleo mais conciso.

Regras são regras e existem para serem quebradas. O que eu vou fazer é darsugestões, apontar caminhos para que você os siga ou não. Depende de você.

Depende do roteiro.Mas aconselho um núcleo pequeno. Uma personagem principal e alguns outros quecirculam em volta desse núcleo como forma de mostrar mais a personagemprincipal, interagir com dela para deixa-la mais a nu para o espectador.

Quem é sua personagem? Adulto, criança ou idoso? Homem ou mulher? Qual a suaorientação sexual? Sua religião? Onde ele mora? O que faz da vida? Do que ele gostae do que não gosta? Qual sua situação financeira? O que ele já conquistou e o queele quer da vida?

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6. Sucesso ou não? eis a questão

Eu disse na aula 4 que você precisa andar com lápis e papel na mão o tempo todo.Outra boa opção são esses mini-gravadores que cabem tranqüilamente numa bolsaou num bolso. Com um desses você não vai precisar nem anotar nada e ainda podegravar a emoção e a idéia no impacto do momento.

É uma coisa de testar o que dá mais certo pra você: se rascunhar a idéia ou segravar esse rascunho. Cada roteirista precisa achar as suas soluções, o que dá certopra ele. É uma coisa muito pessoal.

Alguém disse - e depois copiaram bastante - que o sucesso é 10% de talento e 90%de suor. Bom, eu ainda acho que é meio a meio. Mas de qualquer forma você precisatrabalhar. E muito.

E já que falamos de sucesso, o que é sucesso?

Muita gente busca o sucesso em várias carreiras. Essa é uma palavra que escapoudo domínio dos artistas para cair nas mãos de todos.

Mas o que é sucesso? É preciso pensar nisso.Porque tem gente que já começa querendo escrever um roteiro de sucesso mesmosem saber direito o que isso significa.

Porque o conceito de sucesso é uma coisa muito pessoal. O que é sucesso pra mimpode não ser pra você, e assim por diante.

Se você quer fazer um roteiro de sucesso, por onde começa?

Basicamente definindo: o que você quer dizer com isso? Fama, glória, poder,dinheiro, lindas mulheres (ou lindos rapazes, já que temos cada vez mais mulheresna profissão). O que é sucesso pra você?

Muitos dirão que é tudo isso, outros dirão que é um pouco de cada, outros aindadirão que não é nada disso.

Eu democraticamente respeito opiniões e aspirações. Mas depois de 20 anos decarreira artística eu lhe digo: para mim o sucesso mesmo é você fazer o que vocêgosta. Pra mim não adiantaria ganhar rios de dinheiro com um trabalho que eu nãoia querer ver nem morto.

Então sucesso é:eu ser eu mesmo na hora de escrever, ter a liberdade de criar o queeu quiser sem interferência de mercados, emissoras ou coisa parecida, escrever oque eu quiser e gostar de escrever.

O ponto alto de tudo isso é quando, mesmo com você escrevendo o que você quer,o que lhe dá prazer, o público vai ver o seu trabalho e... gosta! Isso sim é umsucesso estrondoso.

Na tentativa de escrever O roteiro do ano, O roteiro de sucesso, muita gente escrevefragorosos fracassos. Deixam o melhor deles engavetado e só põe pra fora o queeles acham que as pessoas vão gostar, que o público vai querer, que vai ser sucesso.

O público é muito fragmentado. Cite o nome de um filme que todo mundo viu (eu 

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disse todo mundo) ou de um cantor/banda que todos adoram (todos mesmo).complicado. Nada é unanimidade - e já dizia Nelson Rodrigues que todaunanimidade é burra.

Daí é preciso levar em conta que às vezes o roteiro da sua vida não é aquele que vaiestourar nas bilheterias - mas é o que vai marcar muita gente que foi assistir. E issotambém é sucesso.

Cada roteiro tem um público. Às vezes amplo, às vezes restrito.

De mais a mais ainda tem outra coisa que é preciso levar em conta: o tempo.Quantos desses filmes que vemos hoje no circuito comercial resistirão ao tempo?Quantos serão vistos daqui a 20 anos? Daqui a 50?

O nosso Zé do Caixão ousou, fez um cinema à sua moda quando o que ele fazia nãoera moda. Viu narizes torcidos de muitos intelectuais e setores do público na suaépoca. Hoje seus filmes viraram clássicos em DVD.

Então, o que é sucesso?

O Cinema americano tentou responder a essa pergunta. Diretores e roteiristas semconta perderam os cabelos tentando buscar a fórmula mágica do sucesso. Como

fazer sucesso sempre?Depois de décadas de cinema muita gente chegou a seguinte conclusão: não hácomo saber. Os diretores que estão rodando hoje os filmes que você vai ver no anoque vem simplesmente não sabem se vão estourar ou não. Eles acham que, osprodutores acham que, mas no final ninguém tem certeza.

Daí diretores e atores mais experientes resolveram deixar essa neurose de sucesso ese divertirem com o que estão fazendo agora, se envolverem e se realizarem com oatual filme que estão rodando. Porque na satisfação pessoal, na realizaçãoprofissional, reside o verdadeiro sucesso.

Se você tentar escrever o roteiro que vai estar em Cannes daqui a 2 anos pode não

conseguir nem começar.Então o conselho é: simplesmente escreva. Seja roteirista na hora em que estiverescrevendo - não um empresário.

Escrever um roteiro requer trabalho, dedicação, arte. Você precisa dar o melhor devocê.

Vivencie essa experiência: a emoção de trazer do nada uma obra de arte. Não deixenada estragar esse momento.

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7. Começando a escrever

Como eu já disse às vezes você tem aquela inspiração e o filme parece rodar nafrente dos seus olhos, na tela interna da imaginação. Outras vezes você tem quetrabalhar duro pra chegar lá.

Começar do nada é sempre mais difícil. Há mais perguntas a responder do que

quando você tem a bendita inspiração.Mas às vezes podemos dar uma ajudinha ao processo criativo se estivermos atentos.

Resolvi dar um exemplo desses primeiro. Porque do seu lado todo dia acontecemmilhares de coisas. Com você, com as pessoas que o cercam. Tudo é material paraum bom roteiro.

Você é um bom material para um roteiro. As coisas que você vê, vivencia, pensa.

Desde os tempos de cronista que eu me uso como material de trabalho.

Tem muitos escritores e roteiristas que fazem isso: vão escrevendo a suas biografias

aos pedaços. Mas esse não é o meu caso.Muitas vezes eu parto de algo que aconteceu comigo, ou de um pensamento, deuma emoção, e extrapolo. Às vezes crio toda uma situação em cima de umfragmento, de um detalhe, de uma sensação. Outras vezes escracho o que estáacontecendo comigo mesmo, crio personagens, dou-lhes vida - e no final o que éescrito nem tem mais a ver com a situação que originou todo o processo.

Quis dar esse exemplo primeiro porque você passa por situações assim no cotidianoe nem presta a atenção. Coisas interessantes estão acontecendo agora e poderiamser seu próximo roteiro, se você estivesse ligado, pronto para ver a oportunidade.

Então vou contar primeiro o que aconteceu comigo no começo do ano.

Era uma noite dessas mornas. Tudo parecia calmo e eu me sentia bem comigomesmo. Nada tinha acontecido de especial, nada de anormal. Eu só estava mesentido bem.

Daí jantei e fui escovar os dentes. Abri o armário com espelho do banheiro, peguei aescova e já ia pegar a pasta dental quando a porta do armário resolveu fechar naminha mão. Calmamente abri novamente a porta só pra ela se fechar de novoinexplicavelmente.

A porta do armário nunca tinha feito isso, e eu tentei abrir de novo. Mas ela insistiaem fechar. Aquilo se repetiu por mais algumas vezes.

Eu confesso que isso estragou o meu humor. Você pode pensar que é pouco pra seperder o humor - mas tente ficar abrindo uma porta de armário com ela insistindoem fechar umas 20 vezes no seu dedo.

Eu percebi que tinha me irritado. E aquela prometia ser uma noite perfeita. Então,agora com a boca cheia de espuma de pasta de dente, e escovando os dentes commeu dedo doendo, pensei nas variações de humor que assolam o ser humano. Emcomo a sensação de felicidade pode ser fugaz, pode se evaporar de um momentopara o outro. Em como o que parecia um dia perfeito se transforma num péssimo

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dia - e quantas vezes a gente passa por esse tipo de situação.

E pensando assim pensei que tudo isso daria um roteiro de um curta. Até pra levaras pessoas a refletirem sobre tudo isso e não se deixarem levar - como eu - portropeços tão pequenos. E foi assim que surgiu a idéia do roteiro HOJE VAI SER UMDIA PERFEITO.

Claro que eu podia só ter me chateado, saído do banheiro e procurado uma chavede fendas pra consertar o maldito armário. Mas uma idéia levou a outra e eu saí

com mais uma idéia.Quis mostrar aqui o encadeamento de idéias, de pensamentos, de colocações queme levaram até esse roteiro. O que importa mais pra você não é o roteiro em si, maso processo de criação.

Você precisará abstrair do gênero que você gosta ou não para perceber o processode criação que eu vou descrever nas próximas aulas. Se conseguir perceber omecanismo pode usar esse processo pra escrever um filme de suspense - bemdiferente dessa comédinha que eu escrevi.

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8. Registre seu roteiro

Antes de continuarmos é interessante falar sobre o registro de roteiros.

Para garantir os direitos autorais sobre o seu roteiro (e sobre músicas, letras demúsicas, livros, poesias, crônicas, etc) você deve registra-lo.

A maneira correta é registrar na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.A BN tem várias sub-sedes espalhadas Brasil afora, nas capitais. Você pode ir aalguma delas ou fazer o registro pelo correio.

O custo é de 20 reais por roteiro (isso agora em 2005).

Pra mais informações entre no site www.bn.br 

Clique em EDA - Escritório de Direitos Autorais.

Ali vão aparecer informações sobre os procedimentos a adotar para registrar seutrabalho.

Quando eles fizerem o registro - leva de 1 a 2 meses, conforme a carga de trabalhodeles - você vai receber um documento provando que o roteiro é seu. Daí estarátranqüilo para mostrar seu roteiro pra todo mundo, pôr na internet, mostrar praempresários, produtores, diretores, atores, etc

É o que eu faço com tudo que eu escrevo: antes de mostrar eu registro tudo. Daí ficosossegado.

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9. Nome do Personagem e Cenário

Todo roteiro meu tem um motivo pelo qual eu o escrevi, uma espécie de históriaantes da história, o que o originou e o que eu estou querendo dizer.

Assim escrevi O MEDO para abordar o medo que as crianças tem as vezes de coisasque para os adultos parecem insignificantes. E fui também motivado pelo desejo de

fazer um filme totalmente doméstico, caseiro e em VHS, experimental - idéia que eu já tinha e que foi muito alimentada depois que eu vi o making off dos PequenosEspiões 3, com o talentoso diretor Robert Rodrigues.

NAMORO NA INTERNET é uma comédia que aborda a solidão das pessoas e a buscaconstante de um relacionamento ainda que pela internet - e a falsidade dos perfiseletrônicos que costumamos ler por aí. É também um alerta de que no mundovirtual muita coisa/gente não é o que parece.

O SEQUESTRO DE VICTOR LIMA é um retrato do preconceito racial presente em nossasociedade, e as desgraças que isso ocasiona. Escrevi em homenagem ao dentistanegro assassinado pela Polícia em São Paulo.

E o mesmo se repetiria com HOJE VAI SER UM DIA PERFEITO.

De posse da minha idéia fui para o computador pensando como transformar issotudo em roteiro: banheiro, humores perdidos, porta de armário chata, filosofia nobanheiro. Como?

Associação de idéias de novo: o que eu queria dizer? O que eu queria mostrar? Comoé frágil o estado de espírito humano e como é preciso sabedoria para preserva-lo.Como um dia que começa perfeito pode terminar péssimo, e às vezes por uma coisaboba e sem tanto sentido. Como algo que é grande pra mim pode ser pequeno pravocê - e do exagero de uma emoção muitas vezes vem a graça - embora eu nãoestivesse perseguindo o objetivo de ser engraçado no roteiro.

Como um dia que era perfeito pra você pode se transformar num dia péssimo eainda assim ser perfeito pra outra pessoa.

Foram as idéias que eu fui tendo.

Mas pra contar tudo isso não queria contar o que você leu na lição 7. Ia escreveruma coisa daquelas? Um roteirista no banheiro com problemas com a porta doarmário? Não, eu já estava muito além disso, como mostrei acima.

Bem, precisa de um personagem. 

Quem era ele? O que fazia? De onde vinha e para onde ia?

Quanto mais detalhes você der dos personagens para si, e para o diretor e atoresque irão filmar o seu roteiro, melhor pra tudo mundo. Em cada lacuna que vocêdeixar eles serão obrigados a criar, pra preencher os vazios deixados pelo roteirista.

Então quem seria meu personagem? Um homem de seus 25-30 anos.

Quando chega na hora do nome é fogo. Pra mim o nome tem que ter a cara dopersonagem que eu estou imaginando. Eu preciso sentir que o nome combinou como personagem.

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Pra isso preciso de mais dados: onde ele mora? Na cidade. Numa cidade média ougrande. Tanto faz nesse caso, mas tem que ser num prédio. Você vai ler depoisporque (não quero estragar a surpresa).

Trabalha onde? Num escritório. Num escritório de um banco, onde tem mais contatocom papéis e chefia, nada de clientes (eu gosto desse tipo de personagem). Entãoele tem cara de que?

Tenho um dicionário de nomes aqui em casa, mas fica na biblioteca a uns 5 passosdo computador - o que na hora em que você está digitando é o mesmo que dizerque fica a 5 milhões de anos-luz. Já pensou parar de escrever pra ir pegar odicionário e daí procurar um nome?

Então, sentindo o personagem aqui na minha frente pedindo pelamordedeus umnome, eu fito os olhos dele e arrisco: Astrogildo?

Pela cara que ele fez claro que não. Emiliano? Vão falar que eu pus o nome deEmiliano só por causa do meu nome. Apesar de eu nunca ter usado esse nome antes.

Francisco? Daí vira Chico, sei lá. Não tem cara disso. Apelido? Não, nome mesmo. Éum nome pro roteiro, eu sei. Já visualizei o curta e sei que ninguém vai falar o nome

dele. Mas eu preciso saber o nome dele. O diretor precisa saber. O ator nem se fala.Um nome é um nome, coisa importante.

Estou descrevendo tudo isso pra você ver o dilema que é colocar um nome em umpersonagem. E como um nome é importante. Tem gente que não se preocupa comisso - e o nome fica falso depois.

Vou vasculhando meu arquivo mental de nomes: Tonho? Não, ele não é da roça. Éum cara da cidade (mais uma descrição, dessa vez ajudada pelo nome). Valério?Depois das CPIs melhor não. Cindi? Nem sei porque pensei nisso, mas tenho certezaque não - ele é hetero e jamais seria Cindi.

Miltinho. Parece nome de pessoa mais velha. Sobretudo porque eu conheço um

Miltinho que tem uma auto-elétrica e uns 50 anos, daí...Opa, cuidado pra não se perder nas idéias e nas associações delas. Senão logo vocêvai levar seu carro pra consertar e o roteiro fica ali pra nunca mais ser feito.

De tudo que eu pensei gostei mais de Marcos. É um nome comum mas nem tanto.Curto, nada muito chamativo (como Xenofonte, por exemplo), bem o nome de umcara comum numa vida comum (que me desculpem aqueles Marcos especiais...).Gostei: ele tem cara de Marcos.

Mas e quanto ao Tempo? Onde ele está? Quando se passa a trama?

A trama se passa nos dias de hoje. Pode estar acontecendo agora.

Onde? E o cenário? Já sabemos que ele mora num apartamento. Preciso que seja alipelo 5o. ou 6o. andar. Pode ser um pouco mais pra cima.

Preciso do quarto dele e do banheiro - e que os 2 sejam conjugados, como numasuíte. Depois vou precisar de uma externa da janela dele.

Como é o quarto dele? Quarto de rapaz, um tanto bagunçado. Decidi não colocar ostradicionais pôsteres de mulheres sem roupa. Ele recebe visitas ali e não combinacom o perfil que ele quer mostrar às visitas.

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Ele mora sozinho nesse apartamento. O quarto é de tamanho médio, assim como obanheiro. Ele tem um rádio-relógio que o desperta todo dia. Ele odeia acordar cedopara trabalhar. Até coloca o relógio pra despertar bem antes pra não ter que saircorrendo. Porque ele não pega no tranco - acorda aos poucos.

É o tipo do cara metódico que já cronometrou quanto tempo leva pra acordar e deuquase 2 horas. É metódico mas não o esteriótipo a que a palavra remetenormalmente as pessoas. Metódico no sentido de ter método, ser organizado, não

chato, cafona e ultrapassado.Já disse que um curta é pra ser curto. Nada de ficar enfiando personagensdesnecessários que não acrescentam nada - mas que distraem pra burro - nemcenários ou efeitos mirabolantes.

O truque é: coloque somente o que precisa. Nem mais e nem menos. Só onecessário.

Se você exagerar inviabiliza inclusive a produção do filme. O que será muito chato.Pior ainda é você ver depois que colocou um monte de coisas que simplesmente nãoacrescentam à história, que não levam a história para frente.

Então abaixo ao supérfluo! Nada de exageros.Eu vou precisar disso por enquanto:

Personagens:

- Marcos

- Narrador do rádio-relógio (que acorda Marcos)

Cenários:

- Quarto

- BanheiroPor agora é só.

É legal você visualizar um pouco do cenário e até dos figurinos pra ir dando pistaspro pessoal da produção. A recomendação é sempre a mesma: só dê o necessário.Se você começar a descreve a cor e o modelo da cueca do Marcos que nem vaiaparecer no filme, o diretor vai ficar maluco.

Vamos para o resumo do roteiro.

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10. Resumo do Roteiro

De posse de todas aquelas definições e idéias me pus a escrever o resumo doroteiro.

Aqui cabe tudo que eu imaginei. E escrevi em forma de narrativa mesmo, descritiva,sem me preocupar praticamente nada com o formato do roteiro, ângulos de câmera,

divisão de cenas, etcNada. Não tem nem muito diálogo. O que interessa é a seqüência de acontecimentos- pra que depois eu me lembre do que criei hoje.

Depois a gente revê tudo, corta isso e mais aquilo, acrescenta outro tanto. Masagora tem que registrar a idéia, ali fresquinha na minha frente, dando piruetas ecambalhotas.

Então lá vai o resumo:

HOJE VAI SER UM DIA PERFEITO!

6:30. O rádio-relógio liga. Um programa de notícias qualquer desfila suascatástrofes matutinas.

Ele acorda. Incomodado com o barulho tenta desligar o rádio-relógio com gestosdesconexos, descoordenados. Depois desiste e decide acordar. Quando vai desligaro rádio uma voz diz:

- Não desligue agora porque aí vem o Dr. Positivo e seu otimismo diário!

Ele decide deixar o rádio ligado, se levanta e vai ao banheiro. Está mal, não acordoudireito ainda. E o Dr. Diz:

- Hoje vai ser um dia perfeito!

E prossegue assim, com sua dose de otimismo diário.

Ele olha no espelho, ouve o doutor e procura se animar. Tenta dar um sorriso.Parece meio falso, mas ele tenta. E tenta. E tenta. Daí desiste de achar umaexpressão ideal e resolve escovar os dentes.

Primeiro o armário abre normalmente. Mas ele aperta demais o tubo e a pasta saiaos montes (ou será que ela está mais aguada e por isso saiu tanto?).

Ele limpa a sujeira e repete a operação. No rádio o Dr. Positivo diz:

- Nada pequeno vai lhe atrapalhar hoje! Porque hoje vai ser um dia perfeito!

Ele começa a escovar os dentes. E a porta do armário resolve fechar sozinha. Eleabre, ela fecha. Podia escovar os dentes com a porta fechada. Mas é um hábitoantigo: escovar os dentes com a porta do armário aberta. E é bom pra não ver suacara logo de cara.

Ele abre a porta do armário de novo. E ela... fecha de novo. 2, 3, 4 vezes. Ele se irritae fecha a porta com força.

- Não se irrite com nada. Respire fundo. - diz o doutor.

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Ele respira fundo mas engasga com a pasta e tosse. Retoma a escovação tentandoacompanhar os movimentos que faz com a escova de dentes para relaxar.

Daí a porta do armário abre vagarosamente, sozinha. E ele, instintivamente,acompanha o espelho com a cabeça. Quando se dá conta fecha a porta do armáriode novo. E ela se abre sozinha novamente. Ele fecha, e a cena se repete mais uma,duas vezes. Ele se irrita, pega um esparadrapo e fecha o armário.

Termina a escovação. Cospe, enche o copo com água e põe na boca - mas antes

olha bem pra ver se não tem nada no copo.- Você não tem nada a temer hoje, diz o doutor.

Tenta abrir o armário para guardar a escova, mas ele não abre. Aí ele se lembra doesparadrapo, tenta dar um meio sorriso e tira o esparadrapo. Mas mesmo assim oarmário não abre.

Faz força (¨Sim, faça força meu amigo.¨) mas o armário não abre. Bate no armáriocom uma escova, com o desentupidor, mas nem assim ele consegue.

- Acredite amigo: hoje vai ser um dia perfeito - diz o doutor.

Ele se irrita ainda mais, tem um acesso de raiva, grita, bate em tudo que vê, joga aescova de dente no vaso sanitário.

- Nada pode lhe perturbar. Hoje vai ser um dia perfeito.

Aí ele percebe esse fator de irritação. Do banheiro olha para o rádio e marcha comoum vulcão em sua direção.

- Você! - diz o doutor como se sentisse a vinda dele. Eu sei que o seu dia nãocomeçou tão bem mas...

- Cale a boca!!!

- ... esse vai ser um dia perfeito.

- Aaahhhhhh!

Ele tira o rádio da tomada, mas o rádio continua falando.

- Se acalme!

- Nãããooooo!

Ele enrola o rádio com o fio como se tentasse amordaçar o doutor (que vai falandocom uma voz cada vez mais abafada como se estivesse sendo amordaçado).

- Respire fundo. Conte até 10. Não, até 1000. Se acalme. Eu garanto: hoje vai

ser um dia perfeito.O homem dá um grito e joga o rádio pela janela do 6o. andar. E o doutor grita:

- Socooooorroooooo!

Ele vai até a janela para ver o rádio se esborrachar no chão e grita:

- Rá!

Daí volta pra dentro e retoma sua vida.

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O rádio está perto do seu fim. Vai se esborrachar no chão, se quebrar em pedaços eser atropelado pelo trânsito.

- Oh, acho que vou ficar irreconhecível - diz a voz do doutor. Isso vai doer. Oh!

No último segundo aparece uma pessoa, um catador de lixo com sua carrocinha. E orádio cai na carroça, em cima de papéis e garrafas PET que o catador já pegou.

- Hum, que macio - diz a voz do doutor.

O catador olha para trás e vê o rádio. Vai até o rádio e ouve o doutor dizer:

- Hoje vai ser um grande dia!

O catador dá um grande sorriso e diz:

- Pode apostar.

E vai todo contente com o rádio-relógio que acabou de ganhar.

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11. A diferença entre o meu banheiro e o do Marcos

A diferença entre os nossos banheiros?

A diferença, na verdade as diferenças, são muitas.

Releia as últimas aulas e compare.

Compare o que aconteceu comigo no banheiro - aula 7 - com o resumo do roteirona aula 10.

Está tudo ali: os mesmos elementos, as mesmas idéias. Está e não está. Ou está deuma forma completamente diferente, mais artística agora.

Só que o Marcos não sou eu. A situação é diferente: pra mim a noite parecia ótima,pra ele o dia já começou péssimo porque ele teve que acordar. Eu não moro numapartamento, e sim numa casa - isso foi só um recurso dramático de cena - para acena final.

O Marcos é mais novo que eu, que nunca trabalhei em banco. Moro com minha

família e seria impossível levantar de manhã sem ouvir "bom-dia" de todo mundo dacasa.

Também não uso rádio-relógio: eu simplesmente acordo bem antes pra não perdera hora. Ou me acordam.

Se você ler a situação da pag 7 e perceber pra onde um acontecimento banal nobanheiro nos levou, talvez possa começar a fazer o mesmo com os acontecimentosda sua própria vida.

Mais uma vez repito: eu não escrevo somente sobre o que acontece comigo. Aocontrário. Mas o próprio roteirista é também um bom material para um roteiro.

Na próxima começaremos a transformar o resumo num roteiro.Não perca.

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12. Recapitulando

Até aqui vimos o seguinte:

- seja roteirista 24 horas por dia e esteja sempre atento. Tudo que você ver eobservar da vida, das pessoas, do cotidiano poderá ser material para o seu próximoroteiro

- veja todos os filmes que puder ver e analise um por um, cena por cena.Defina seus gêneros preferidos e invista neles

- existem programas que formatam roteiros e existem roteiros a disposiçãopara que você veja mais sobre a formatação. Mas no momento da criação não vamosnos preocupar com isso - apenas com a criação

- se você teve uma idéia sente e escreva. Ou grave. Ande com uma caneta eum bloco de notas - ou um mini-gravador - no bolso e registre suas idéias

- se, por outro lado, você não teve ainda a idéia defina: sobre o que gostaria deescrever? Que gênero? Sobre o que é sua história? E parta disso para criar seu roteiro

- quando você começa a criar personagens e histórias podem ser tudo quevocê quiser. Mas quanto mais você escrever menos opções vai tendo. Pode ser quetermine um roteiro de um jeito totalmente diferente do que imaginou quandocomeçou. Pode ser que aquela seqüência que lhe pareceu brilhante no início sejaagora dispensável. O importante é: não force! Crie bem as personagens e depois asdeixe seguir o seu caminho

- defina o gênero do seu roteiro, o tema (sobre o que é) e o personagemprincipal. Defina também o núcleo que circula em volta desse personagem - mas sóo que for realmente essencial ao roteiro e levar o filme pra frente. Porque há variasformas de você dizer as mesmas coisas - e se você ficar parando toda hora para

explicar tudo pode estar perdendo o ritmo do filme- não fique se importando com o sucesso. Simplesmente escreva o que está afim de escrever. Você ficaria surpreso em saber quantos filmes já foram feitos quenem desconfiavam se seriam ou não sucesso e foram. AMADEUS, de 1984, é umdesses exemplos que só se teve idéia real do sucesso do filme depois das primeirasexibições. (Uma grande dica pra você ver. Na Versão do Diretor tem um making offprimoroso).

- Você pode ser seu próprio personagem. O ator e dramaturgo Juca de Oliveiradisse certa vez que os personagens que ele escreve na verdade estão dentro dele,fazem parte dele. Tem gente que trabalha assim mesmo. Afinal quantas facetastemos dentro de cada um de nós, e deixamos transparecer somente as quequeremos?

- Outra técnica é colocar parentes e amigos no seu filme. Ou ainda partir depessoas que você conhece para formar personagens totalmente diferentes. A umacerta altura você vai estar criando personagens sem usar esses artifícios. Sua técnicaterá evoluído para você montar personagens que são sínteses, súmulas do que você

 já observou e pensou ao longo da vida. Serão personagens Franksteins, que terãoum traço de personalidade de um amigo, outro traço de sua observação, outro aindado que você está querendo mostrar/criticar

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- Ficção ou não-ficção? Na ficção você está livre para criar, falar o que quiser.Na não-ficção você está mais preso a realidade, vai ter que pesquisar mais sobre a(s)pessoa(s) biografada(s) e tentar dar forma artística a uma pessoa/vida real. São doistrabalhos distintos e interessantes, duas formas diferentes, dois desafios que valema pena.

- Registre seu roteiro pra não ter surpresas depois.

- Se você teve uma idéia a ponto de sentir o personagem como se estivessevendo-o na frente, isso é muito bom: escreva febrilmente tudo que lhe vier a mente.Mas caso esse milagre não aconteça - e não acontece todo dia - comecedesenvolvendo uma idéia. Dê um nome ao personagem, comece a descreve-lo,descrever o cenário em que ele vive..

- Quem é ele? O que ele quer? Por que ele está aqui? Onde ele quer chegar? Deonde veio? Que tipo de pessoa ele é? Que tipo de pessoa ele aparenta ser? Quem serelaciona com ele e quem ele prefere evitar? Tudo isso são subsídios para vocêcomeçar a compor o personagem

- Em que tempo ele está? Agora, no futuro ou no passado? E ele é uma pessoado seu tempo? Ou muito avançado em relação a sua época? Ou talvez muito

atrasado?- Faça o resumo do seu roteiro, sem a preocupação agora de formatar nada - anão ser que você já visualize roteiros assim. Não se preocupe com diálogos agora,mas anote tudo que você pensar como referencia posterior.

- Escreva um resumo com começo-meio-fim. Nem que seja pra mudar tudo ouparte depois. Mostre para alguns amigos, tente contar a história pra alguém, vejacomo lhe parece. "Estou escrevendo uma história sobre um noivo que na manhã doseu casamento acha o cadáver da noiva na sala dele. Detalhe: não era o cadáver danoiva dele - mas uma mulher desconhecida vestida de noiva". Ou então: "É a históriade uma mulher que descobre que está sendo traída pelo namorado e resolve

revidar". Veja a reação das pessoas. Se familiarize com sua história.- Pense sua história 24 horas por dia: na mesa, no banheiro, na condução,comendo, bebendo, dormindo. Inspire suas idéias e expire seu roteiro.

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13. Antes, durante e depois

Todo mundo tem isso o tempo todo: o antes, o durante e o depois.

Veja você agora: tem um antes de chegar no curso, o durante o curso e o depois docurso.

Antes de chegar aqui tem uma longa história, certo? Você nasceu, e é assim quegeralmente tudo começa. Quem é você? Que tipo de infância teve? E a adolescência?Que tipos de filmes via? A partir de quando decidiu/quis ser roteirista? Já escreveualguma coisa antes? Foi filmada? Você ficou contente com o que escreveu antes docurso?

Daí tem o durante. Durante o curso você vai ter grandes idéias ou não. Vai acharque o curso lhe abriu caminhos ou vai se aborrecer porque o professor fala pracaramba e não chega nunca no roteiro... rsss

Vai achar que aqui tem grandes idéias para serem aproveitadas - ou que isso tudovocê já sabia. Vai deixar sua namorada (ou namorado) pra fazer o curso ou vaideixar o curso pra namorar. Vai ficar esperando pelas aulas ou só vai lembrarquando receber um e-mail. Vai começar um roteiro junto comigo ou vai esperar euterminar esse pra daí você começar o seu.

Depois do curso você vai sentir que agora pode mais que antes ou que deu namesma. Pode escrever um roteiro inspirado ou achar que não era isso que vocêqueria e no final seu negócio é ser ator. Não sei. Tudo pode acontecer.

O personagem é assim também. Tem o antes, o durante e o depois. Ou seja: tem ode onde ele veio, onde ele está e para onde ele vai.

Quem estabelece tudo isso é você, o roteirista, o criador de tudo isso. É você, e sóvocê, quem sabe de tudo isso a respeito de seus personagens. E se não sabe...

deveria saber. Porque se você não sabe quem é que vai saber, não é?Então pegue o Marcos, de HOJE VAI SER UM DIA PERFEITO. Eu o descrevi lá na aula 9,enquanto estava procurando seu nome e descrevendo o cenário onde tudo se passa.

Tudo num filme tem que falar sobre o personagem: suas roupas, seu modo defalar/andar, o lugar onde mora/trabalha, as pessoas com quem prefere ou nãoconviver, manias, etc

Tudo que você descreve vai para o roteiro, seja nas primeiras páginas (como voumostrar na próxima lição), seja nas entrelinhas do próprio roteiro. E quanto maisvocê souber de seus personagens melhor. Agora é a hora: não dá pra ficarescrevendo um roteiro pra lá no meio parar pra tentar descrever o personagem

principal.Então descreva-o agora. Claro: faça mil rascunhos se precisar - o que hoje é fácilcom os programas de texto. Mas deixe o personagem completo. Nada pior queaqueles personagens vazios que se der um vento leva o coitado voando.

Esse cuidado é pra todos os personagens, do principal até o menor deles. Do galãaté o porteiro que só aparece por 1 minuto e meio. Não importa: todos os papéissão importantes. Todos! Roteiristas e diretores que sabem disso e põe em prática

 

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são os que fazem os grandes filmes, sem barrigas, sem paradas, filmes que fluemaos nossos olhos e que quando acaba você olha no relógio e não acredita que já sepassaram 2 horas.

Então seu personagem está vindo de algum lugar, está aqui agora e vai para outrolugar. Antes-durante-depois da cena.

Há uma mudança? A situação pela qual que ele passa o transforma de algumaforma? É uma abordagem de roteiro.

Por outro lado ele pode passar por tudo e não mudar nada, o que faz com que oroteirista critique o marasmo de certos seres humanos que insistem em nãoaprender.

Tudo vai depender da sua filosofia de vida, da forma como você enxerga as coisas edo que quer colocar no seu filme.

O ator Bill Murray gosta de fazer filmes onde o seu personagem começa meioranzinza e vai sofrendo uma transformação no decorrer do filme até ficar simpático.No início a gente não dá muita bola para o personagem dele. Depois vai vendo amudança, começa a se importar com o personagem e a torcer por ele. Veja porexemplo O Feitiço do Tempo.

Quando o público se importa com o personagem então você ganhou o dia. Ou ofilme. Esse é o segredo. Em Um Monge à Prova de Balas o dono do cinema onde oherói trabalha aparece em poucas cenas. Mas ele é tão marcante (e a interpretaçãodo ator tão densa) que quando ele é assassinado a platéia leva um choque. Porquese importava com ele, mesmo sendo um papel secundário.

Esse é o segredo: personagens densos. Aliás muito além de meros personagens:pessoas que a gente pode conhecer no dia a dia e que estão ali sofrendo, rindo,aproveitando a vida ou sendo aprisionado por ela.

O público se importa com personagens que sejam reais, como se existissem

mesmo, fossem de carne e osso. E isso só acontece quando você tem oantes-durante-depois do personagem.

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14. As primeiras páginas

Considero as primeiras páginas como as mais importantes do roteiro.

Quando um diretor, produtor ou ator/atriz pegar o seu roteiro pra ler, pra ver seinteressa, são as primeiras páginas que eles vão ler primeiro.

Por isso as primeiras páginas devem conter informação suficiente para despertar ointeresse do leitor pelo roteiro.

A primeira página do roteiro deve conter:

- Título

- Nome do roteirista

- Gênero do roteiro (comédia, drama, suspense, ação, etc)

- Sinopse do roteiro

Muitos roteiristas não fazem isso. O resultado é que se o leitor quiser saber do que

se trata o roteiro terá que ler pelo menos a metade dele para se inteirar do assunto.Isso se ele não se cansar antes...

Por isso a sinopse é totalmente necessária. Com poucas linhas.

Agora vamos para a segunda página do texto. Ela deve conter:

- Descrição dos personagens: nome de cada personagem com um resumo dequem ele é

- Cenários: resumo dos cenários onde se passa a sua história

- Observações: tudo que é pertinente ao roteiro e não coube nos 2 tópicos

acimaDescrever os personagens é essencial para que o leitor perceba desde o início quemé quem na trama, e como cada personagem é.

Muitos roteiristas iniciantes não fazem essa descrição inicial. E o resultado é quecomeçamos a ler o roteiro sem ter uma idéia sobre quem é o personagem.Resultado: o leitor é obrigado a tentar entender os personagens em meio à leiturado roteiro.

Daí ao invés de ler a história e ver como o roteiro flui, o leitor fica tentando achar ospersonagens no meio das descrições de cenas e dos diálogos. Pode ser que ele secanse, jogue o seu roteiro do lado e leia outro que tenha as descrições dos

personagens logo no início...

Listar e descrever os cenários onde tudo acontece é excelente também para o leitor.De cara ele vai ter uma noção da viabilidade da produção - ao invés de ter que ficarprocurando essa informação enquanto lê o roteiro.

E nas observações você esclarece pontos que não couberam nos itens anteriores.Pontos que são necessários para entender o roteiro e clarear a produção do mesmo.

A idéia é simples: o leitor tem uma visão geral do roteiro antes de entrar nele. Fica

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sabendo sobre a história, sobre os personagens e cenários antes de ler o roteiro. Equando entrar no roteiro está livre para se concentrar no que interessa: a história.

Você não pode esquecer que: você sabe sobre o que o roteiro trata, conhece ospersonagens e tem a idéia dos cenários. Mas o leitor não.

É muito importante ser resumido nas informações. E escrever com linguagem clara.Isso não é um tratado ou uma tese de doutorado. É o seu roteiro.

Não cometa o erro de a introdução ser mais longa que o roteiro: 30 páginas deintrodução e 15 páginas de roteiro. Informação demais acaba confundindo o leitor eisso cansa.

Então escreva como se você estivesse conversando com o leitor. Como aliás eutenho feito durante todo esse curso.

Não se esqueça de numerar as páginas do roteiro. Normalmente se usa a letraTimes New Roman tamanho 12.

Não abuse dos negritos - só use quando realmente for necessário.

Por último vamos falar sobre o título do roteiro.

O título é a primeira coisa que o leitor do seu roteiro - e depois o público - vai ver.

O papel do título é altamente importante. Ele pode ser chamativo e atrair o público -ou ser inexpressivo e não despertar a atenção.

Não de vê ser muito longo nem muito curto. O tamanho deve ser o suficiente parachamar a atenção. De preferência se destacar no meio de um monte de outrosroteiros e filmes.

O título precisa dar uma idéia do seu roteiro, dizer alguma coisa sobre ele. Sugiroque você vá até uma locadora e faça uma análise apurada dos títulos. Tanto dosfilmes que você gosta como daqueles que você nunca viu. Você vai ver que alguns

títulos são muito felizes e outros totalmente infelizes.Ao escrever a continuação do NAMORO NA INTERNET eu pensei em dar um outrotítulo. É a história de Cacilda, uma jovem solteira que procura um namorado nainternet. Ela, que é desleixada com sua aparência, coloca uma foto de uma modelolindíssima no seu perfil. E acaba atraindo um homem lindo também.

Quando ele quer se encontrar com ela, depois de semanas de namoro virtual, elaestá numa grande encrenca. Afinal ela não é a moça da foto - como vai se encontrarcom aquele homem maravilhoso?

Pensei no título O PAR IDEAL. Até podia ser. Mas não tinha totalmente a ver com ahistória. E pra piorar não gostei do título. Não achei chamativo.

Acabei colocando NAMORO NA INTERNET 2 - que tem muito mais a ver com o filme, já que eles namoram boa parte do tempo pela internet, e esse inclusive é o tema dos2 filmes.

Pensando assim mudei o nome desse curta também. HOJE VAI SER UM DIA PERFEITOé bem interessante. Mas achei longo demais e resolvi mudar para UM DIA PERFEITO.

O primeiro tem jeito de nome de crônica - o segundo tem jeito de nome de filme.

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que não mudou a sua realidade.

Apesar da vida dura, puxando seu carrinho pelas ruas (que com o passar do dia ficamais pesado) ele não perdeu o bom-humor. Sabe que pra viver no meio do transitoe das pessoas - do engravatado ao mais humilde - ele precisa ter jogo de cintura. Éum sujeito simpático que sabe que o lixo de uns é luxo pra outros.

CENÁRIOS

Quarto de Marcos: (Interno) quarto típico de rapaz solteiro, meio desarrumado,conjugado com um banheiro. Como ele recebe visitas ali tentar dar uma aparênciade quem ao menos tentou arrumar o ambiente. E como as visitas incluem moçasnada de pôsteres de mulheres sem roupa.

Prédio de Marcos: visão externa do 5o. andar e rua da frente da

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15. O idioma dos termos técnicos do roteiro

Há alguns anos acompanhei uma discussão sobre qual deveria ser o idioma dostermos técnicos a ser usado no roteiro.

De um lado um grupo argumentava que já há algum tempo se usam termos eminglês - e que por isso mesmo não se deveria mudar nada.

De outro lado outro grupo argumentava que:

- estamos no Brasil e falamos o português. Por isso o idioma tem que ser oportuguês (ou o "brasileiro", como querem alguns movimentos lingüísticos).

- Que jamais um norte-americano colocaria termos técnicos em português emseu roteiro - o que é mais uma razão para usarmos o nosso idioma.

Como roteirista eu sempre preferi usar termos em português. Acho que facilita maisa comunicação entre o roteirista, o diretor e a equipe. Afinal todos nós crescemos econvivemos com nossa língua pátria.

Como professor do curso de roteiro deixo à sua escolha o idioma que vai usar paraos termos técnicos.

Muita gente tem dificuldade em traduzir os termos do inglês para o nossoportuguês (ou brasileiro). Por isso nessa lição publico uma lista de termosequivalentes garimpada na internet na época dessa discussão sobre idiomas.

DICIONÁRIO DE TERMOS TÉCNICOS EM PORTUGUÊS 

CLOSE UP: Primeiro planoCLOSE SHOT: Plano próximoEXTREME CLOSE UP: Primeiríssimo planoDISSOLVE TO: FusãoFIRST DRAFT: Primeiro TratamentoFINAL DRAFT: Tratamento FinalFADE OUT: Tela escureceFADE IN: Tela clareiaGIMMICK: Reversão de expectativaINSERT: InserçãoINTERCUT: Montagem paralelaOFF ou O.S: Fora do Quadro (F.Q) ou Fora do Plano (F.P)SHOOTING SCRIPT: Roteiro Técnico ou Roteiro de FilmagemSTORY LINE: SínteseSTORYBOARD: Desenho dos planos ou Esboço das seqüências

VOICE OVER ou V.O: Narração (NAR)CUT TO: Corta paraSERIES OF SHOTS: Série de PlanosMASTER SHOT: Plano mestreESTABLISHING SHOT: Plano de ambientaçãoCLOSE SHOT: PLANO PRÓXIMOCLOSE UP: PRIMEIRO PLANOCUT TO: CORTA PARACUT UP: PLANO DETALHE

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DISSOLVE TO: FUS ODOLLY IN: CÂMARA SE APROXIMADOLLY OUT: CÂMARA SE AFASTAESTABLISHING SHOT: PLANO DE AMBIENTAÇÃOEXTREME CLOSE UP: PRIMEIRÍSSIMO PLANOFADE IN: TELA CLAREIAFADE OUT: TELA ESCURECEFINAL DRAFT: TRATAMENTO FINALFIRST DRAFT: PRIMEIRO TRATAMENTOFLASHBACK: LEMBRANÇA ou PASSADOFREEZE: CONGELAGIMMICK: REVERSÃO DE EXPECTATIVAINSERT: INSERÇÃOINTERCUT: MONTAGEM PARALELALONG SHOT: PLANO GERALMASTER SHOT: PLANO MESTREOFF SCEREEN ou O.S: FORA DO QUADRO (F.Q) ou FORA DO PLANO (F.P)PLOT: TRAMAQUICK MOTION: CÂMARA RÁPIDASERIES OF SHOTS: SÉRIE DE PLANOS

SHOOTING SCRIPT: ROTEIRO TÉCNICO ou ROTEIRO DE FILMAGEMSLOW MOTION: CÂMARA LENTASPLIT SCREEN: TELA REPARTIDASTORY LINE: SÍNTESE DA HISTÓRIASTORYBOARD: DESENHO DOS PLANOS ou ESBOÇO DAS SEQUÊNCIASSUBPLOT: TRAMA SECUNDÁRIATAKE: TOMADATRAVELLING: CARRINHOVOICE OVER ou V.O: NARRAÇÃO (NAR)PLONGÉE: CÂMARA ALTACONTREPLONGÉE: CÂMARA BAIXA

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16. Termos Técnicos parte 2

Para que o roteirista possa melhor se expressar no roteiro é bom que ele conheça ostermos técnicos que são usados no Cinema e no Vídeo, do roteiro à edição.

Abaixo listo vários desses termos com uma breve explicação de cada um deles:

AAÇÃO - Termo usado para descrever a função do movimento que acontece frente àcâmara.AÇÃO DIRETA - Roteiro que obedece à ordem cronológica.AÇÃO DRAMÁTICA - Somatório da vontade do personagem, da decisão e damudança.ADAPTAÇÃO - Passagem de uma história de uma linguagem para outra. Assim, umconto pode ser adaptado para ser filmado como um longa metragem ou um seriadopara televisão.ÂNGULO ALTO - Enquadramento da imagem com a câmara focalizando a pessoa ouo objeto de cima para baixo.ÂNGULO BAIXO - Enquadramento da imagem com a câmara focalizando a pessoa ou

o objeto de baixo para cima.ÂNGULO PLANO - Ângulo que apresenta as pessoas ou objetos filmados num planohorizontal em relação à posição da câmara.ANTECIPAÇÃO - A capacidade que tem a platéia de antecipar uma situação. Criaçãode uma expectativa.ANTIPATIA - Reação ao personagem.ARGUMENTO - Percurso da ação, resumo contendo as principais indicações dahistória, localização, personagens. Defesa do desenrolar da história. Tratando-se detelenovela, chama-se sinopse. Não confundir com story-line que é o resumoresumido.ÁUDIO - A porção sonora de um filme ou programa de tv.

CCÂMARA OBJETIVA - Posicionamento da câmara quando ela permite a filmagem deuma cena do ponto de vista de um público imaginário.CÂMARA SUBJETIVA - Câmara que funciona como se fosse o olhar do ator. A câmaraé tratada como "participante da ação", ou seja, a pessoa que está sendo filmada olhadiretamente para a lente e a câmara representa o ponto de vista de uma outrapersonagem participando dessa mesma cena.CAPA - Folha do roteiro que contém o título, nome do autor, etc.CENA - Unidade dramática do roteiro, seção contínua de ação, dentro de umamesma localização. Seqüência dramática com unidade de lugar e tempo, que podeser "coberta" de vários ângulos no momento da filmagem. Cada um desses ângulos

pode ser chamado de plano ou tomada.CENA MASTER - É a filmagem em um único plano de toda a ação contínua dentro docenário. A cena master dá ao Diretor a garantia dele ter "coberto" toda a ação numasó tomada.CENAS DO PRÓXIMO CAPÍTULO - Pistas, indícios do que está para acontecer,pequenas revelações do encaminhamento da ação. Essas pequenas insinuaçõesconstituem verdadeiro trunfo das emissoras de TV, pois servem para prender otelespectador à narrativa. O recurso foi ignorado na década de 60: o seuaproveitamento iniciou-se na década de 70, sendo novamente abandonado nos

 

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anos 90. Os antigos folhetins costumavam, também, insinuar o que estava paraacontecer, ao suspenderem a narração escrita.CENOGRAFIA - Arte e técnica de criar, desenhar e supervisionar a construção doscenários de um filme.CHICOTE - Câmara corre lateralmente durante a filmagem de uma determinadacena, deslocando rapidamente a imagem.CLAQUETE - Quadro usado para marcar cenas e tomadas e cujo som, na montagem,serve como ponto para sincronização de som e imagem.CLICHÊ - Cacoetes verbais. Uso repetitivo e enfadonho de diálogos e soluçõescênicas em qualquer tipo de produção artística.CLÍMAX - Ponto culminante da ação dramática."CLOSE-UP" - Plano que enfatiza um detalhe. Primeiro plano ou plano de pormenor.Tomando a figura humana como base, este plano enquadra apenas os ombros e acabeça de um ator, tornando bastante nítidas suas expressões faciais.COMPILAÇÃO - Tipo de montagem onde a imagem do filme passa a ser uma"ilustração" da narração.COMPOSIÇÃO - Características psicológicas, físicas e sociais que formam umpersonagem (composição da imagem/tipologia).CONFLITO - Embate de forças e personagens, através do qual a ação se desenvolve.CONSTRUÇÃO DRAMÁTICA - Realização de uma estrutura dramática.

CONTINUIDADE - Seqüência lógica que deve haver entre as diversas cenas, sem aqual o filme torna-se apenas uma série de imagens, com pulos de eixo, ação etempo. Há diversos tipos de continuidade: de tempo, de espaço, direcionaldinâmica, direcional estática, etc.CONTRACAMPO - Tomada efetuada com a câmara na direção oposta à posição datomada anterior.CONTRASTE - Criação de diferenças explícitas na iluminação de objetos ou áreas.CORTE - Passagem direta de uma cena para outra dentro do filme.CORTE DE CONTINUIDADE - Corte no meio de uma cena, retomando logo a seguir amesma cena em outro tempo.CRÉDITOS - Qualquer título ou reconhecimento à contribuição de pessoas ao filme.Relação de pessoas físicas e jurídicas que participam da - ou contribuem para a -

realização de um produto audiovisual. Geralmente, é mostrada no final da produção.CRISE DRAMÁTICA - Ponto de grande intensidade e mudanças da ação dramática.CURVA DRAMÁTICA - Variação da intensidade dramática em relação ao tempo.CUT-AWAY CLOSE-UP - Este conceito só tem significado dentro do contexto damontagem. É uma tomada em close-up de uma ação secundária que estádesenvolvendo-se simultaneamente em outro lugar, mas que tem uma relaçãodireta com a ação principal. O cut-away close-up deve ser montado entre duastomadas da ação principal.CUT-IN CLOSE-UP - Como o item acima, este conceito só tem significado nocontexto da montagem. É uma tomada em close-up de uma parte importante daação principal, e que deve ser montada entre duas tomadas normais dessa ação.

DDECUPAGEM - Planificação do filme definida pelo diretor, incluindo todas as cenas,posições de câmara, lentes a serem usadas, movimentação de atores, diálogos eduração de cada cena.DESFOCAR - Câmara muda o foco de um objeto para outro.DIÁLOGO - Corpo de comunicação do roteiro. Discurso entre personagens.DISSOLVE - Imagem se dissolve até o branco ou se funde com a outra.DIVISÃO DO QUADRO - Registro fotográfico de duas ou mais imagens distintas emum mesmo fotograma.

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DOLLY - Veículo que transporta a câmara e o operador, para facilitar amovimentação durante as tomadas."DOLLY BACK" - Câmara se afasta do objeto. Travelling ou grua de afastamento."DOLLY IN" - Câmara se aproxima do objeto. Travelling ou grua de aproximação."DOLLY OUT" - Câmara recua, abandona a cena."DOLLY SHOT" - Movimento de câmara que se caracteriza por se aproximar e seafastar do objetivo, e também por movimentos verticais.DUBLAGEM - Inclusão de diálogo, narração, canto, etc. sobre a imagem filmadaanteriormente.

EEIXO DE AÇÃO - Linha imaginária traçada exatamente no mesmo itinerário de umator, de um veículo ou de um animal em movimento. É também a linha imagináriaque interliga os olhares de duas ou mais pessoas paradas em cena.ELENCO - Conjunto de pessoas (atores, atrizes, figurantes) selecionados para umaprodução, que representam as personagens e fazem a figuração de um filme.ELIPSE - Passagem muito rápida de tempo.EMISSOR - Quem transmite a mensagem no processo de comunicação.EMPATIA - Identificação do público com o personagem.ENCADEADO - Fusão de duas imagens, uma sobrepondo-se à outra.

ENQUADRAMENTO - Limites laterais, superior e inferior da cena filmada. É a imagemque aparece no visor da câmara.ENTRECORTES - Tomadas da ação principal ou de uma ação secundária (ligadadireta ou indiretamente à ação principal), que permitem uma montagem maisflexível em termos de continuidade.EPÍLOGO - Cenas de resolução.EPÍSTOLA - Técnica narrativa (narrativa epistolar), que consiste em abrir uma obracom uma carta em que o autor se dirige a um amigo seu, a fim de relatar umahistória pretensamente verídica. Este recurso foi largamente utilizado pelos autoresromânticos (José de Alencar, por exemplo, entre nós) e, por sua vez, foi inspiradoem narradores do século XVIII (Richardson, Goethe, Rousseau), que abusavam doestratagema, fazendo com que seus romances se constituíssem inteiramente em

troca de cartas entre as diversas personagens.ESFUMAR - A imagem dissolve-se na cor branca ou funde-se com outra.ESPELHO - Página de roteiro, geralmente de abertura, contendo informações comopersonagens, cenários, locações, etc.ESTRUTURA - Fragmentação do argumento em cenas, arcabouço da seqüência decenas."ETHOS" - Ética, moral da história.EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS - Cenas de informações, explicativas.EXTERNAS - Cenas filmadas nas praças, ruas, parques, campos, estádios, rodovias,enfim, ao ar livre.EXTRAS - São os figurantes de um filme: pessoas contratadas para desempenharpapéis secundários, como os componentes de uma multidão.

F"FADE IN" - O surgir da imagem a partir de uma tela escura ou clara, quegradualmente atinge a sua intensidade normal de luz.."FADE OUT" - Escurecimento ou clareamento gradual da imagem partindo da suaintensidade normal de luz.FICÇÃO - Inventar, compor e imaginar. Recriação do real."FLASH-BACK" - Cena que revela algo do passado, para lembrá-lo, situar ou revelarenigmas.

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"FLASH-FORWARD" - Cena que revela parcialmente algo que acontecerá após otempo presente. O mesmo que flash para frente.FOLHA DE ROSTO - Página de roteiro contendo informações de título, nome doautor, etc.FOLHETIM - Longa história parcelada, desenrolando-se segundo váriostrançamentos dramáticos, apresentados aos poucos. É a origem histórica dastelenovelas. O vocábulo vem do termo francês feuilleton e designava uma seçãoespecífica dos jornais franceses da década de 1830 - o rodapé -, introduzida pelo

 jornalista Émile de Girardin, que aproveitou o gosto do público pelo romance comochamariz para vendas maiores. A peculiaridade do folhetim residia na exploração dehistórias repletas de peripécias, com um sem-número de personagens, às voltascom temas que iam desde a orfandade, casamentos desfeitos por tramas diabólicas,raptos, até vinganças altamente elaboradas, testamentos perdidos e recuperados,falsas identidades, etc. O mais famoso folhetim - e mais aproveitado posteriormentepelo cinema e pela televisão - foi O conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas. Omais extraordinário e mais bem elaborado foi a obra-prima Os mistérios de Paris deEugène Sue.FOLHETIM EXÓTICO - Diz-se do folhetim que, via de regra, tem sua ação situada emlugares distantes, exóticos, suscitando uma atmosfera misteriosa. Caso, porexemplo de narrativas localizadas no Oriente, como a novela O sheik de Agadir.

FOLHETIM MELODRAMÁTICO - Narrativa excessivamente maniqueísta, em que ospersonagens encarnam o Bem, ou o Mal, não havendo meios-termos: característica,enfim do melodrama, gênero teatral do início do século XIX. O Mal, no melodrama,tem sempre forma concreta, personificando-se num indivíduo propositadamentemau, o vilão. Do outro lado, encarnando o Bem, estão outros indivíduos, semprevirtuosos, procurando provar, a qualquer custo, a verdade.FOTONOVELA - Ver Novela."FREEZE" - Manter uma mesma imagem por repetição de quadro. Congelar.FULL SHOT - Ver long shot.FUSÃO - Fusão de duas imagens, a 1ª sobrepondo-se à 2ª. Serve para mudar decena ou enfatizar a relação entre elas

GGANCHO - Momento de grande interesse que precede a um comercial. Pequenos ougrandes clímax, arranjados de modo tal que não permitam que o telespectadorabandone a história. Na exibição diária de telenovelas, há três ganchos de menorgrau - pausas para comerciais -, e um de maior grau, para o dia seguinte. Aossábados, ocorre o "gancho do diálogo" ou "grande break", pois haverá a pausa dedomingo, quando não se exibe as histórias. O "grande break" sempre será ummomento de alto suspense e pensado calculadamente para o retorno dasegunda-feira."GIMMICK" - Recurso usado para resolver uma situação problemática. Reversão deexpectativa.GUERRA DO PAPEL - Momento de discussão e análise, depois da escrita do primeiro

roteiro.

HHALO DESFOCADO - Câmara desfoca as coisas em torno do objeto, mantendo-o emfoco.

IIDÉIA - Semente da história, idéia primeira.INDICAÇÕES - Anotações sobre a cena, o estado de ânimo, etc.

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"INSERT" - Imagem breve, rápida e quase sempre inesperada que lembramomentaneamente o passado ou antecipa algum acontecimento. Os inserts podemser variados ou repetidos, estes servindo, às vezes, de plot, o núcleo dramático oualgo que o simbolize.INTENÇÃO - Vontade implícita ou explícita do personagem.

LLOCALIZAÇÃO - Localização de uma história no espaço.LOCUÇÃO EM OFF - Texto que acompanha a ação do filme, pronunciado por umlocutor ou locutora que não aparecem em cena. O mesmo que off."LOGOS" - Palavra, discurso, estrutura verbal de um roteiro."LONG SHOT" - "Full shot", plano geral; plano que inclui todo o cenário. É usadopara mostrar um grande ambiente."LOOP" - Segmento de filme, cortado e separado para montagem. Fita ou aro depelícula

MMACROESTRUTURA - Estrutura geral do roteiro.MANIQUEÍSMO - Princípio filosófico segundo o qual o universo foi criado e édominado por dois princípios antagônicos: Deus ou o Bem absoluto, e o Mal

absoluto, ou o Diabo. A partir desse princípio, aplica-se o termo à cosmovisão queenxerga o mundo à luz dessa dualidade.MEIO - Instrumento de transmissão da mensagem.MENSAGEM - Sentido político, social, filosófico ou qualquer outro que uma históriapode conter. Quase a moral da história, das fábulas.MICROESTRUTURA - Estrutura de cada cena.MINISSÉRIE - Obra fechada, com vários plots que se desenrola durante um númerode episódios, geralmente não superior a dez.MOVIOLA - Máquina usada para a edição e montagem de filmes ou vídeo.MUDANÇAS DE EXPECTATIVAS - Quando o curso da história muda de repente."MULTIPLOT" - Várias linhas de ação, igualmente importantes, dentro de umamesma história.

NNOITE AMERICANA - Técnica de iluminação e filtragem utilizada utilizada parasimular um efeito noturno numa imagem filmada durante o dia.NOVELA - Obra aberta, com multiplot.NOVELA DENTRO DA NOVELA - Simultaneidade narrativa superpondo tempos. Oexemplo mais bem-acabado desta técnica foi a telenovela O casarão, de Lauro CésarMuniz, enfocando cinco gerações de uma família estabelecida ao norte de São Paulo,na fase áurea do café. Um casarão de fazenda colonial foi o centro gerador dahistória, desde que foi construído, em 1900, até a modernidade, em 1976. Outroexemplo é Espelho mágico, do mesmo autor, onde, além da história propriamentedita (a vida dos astros e estrelas no cotidiano), há ainda a gravação de uma novela,

Coquetel de amor, encenada pelos astros da primeira história, e a montagem dapeça teatral Cyrano de Bergerac, de Edmond Rostand.NOVELÃO - Nome pejorativo, análogo a dramalhão, que conota a telenovela repletade conflitos sentimentais, com muita recorrência à emoção fácil. O mesmo quetelelágrima.NÚCLEO DRAMÁTICO - Reunião de personagens ligados entre si pela mesma açãodramática, organizados num "plot".

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OBJETIVO DRAM TICO - A razão da existência de uma cena.OBJETOS DE CENA - São todos os itens utilizados para decoração do cenário:cinzeiros, vasos, telefones, objetos de arte, etc."OFF" - Vozes ou sons presentes sem se mostrar a fonte emissora.OLIMPIANO - Adjetivo usado por Edgar Morin (Cultura de massas no século XX) paradesignar a categoria sagrada dos campeões, príncipes, reis, astros de cinema,playboys, artistas célebres. Diz Morin: "o olimpismo de uns nasce do imaginário,isto é, dos papéis encarnados nos filmes (astros); o de outros nasce de sua funçãosagrada (realeza, presidência), de seus trabalhos heróicos (campeões, exploradores)ou eráticos (playboys).

PPANORÂMICA - (pan) Câmara que se move de um lado para outro, dando uma visãogeral do ambiente, mostrando-o ou sondando-o.PASSAGEM DE TEMPO - Artifício usado para mostrar que o tempo passou."PATHOS" - Drama, conflito.PERCURSO DA AÇÃO - Conjunto de acontecimentos ligados entre si por conflitosque vão sendo solucionados através de uma história.PERIPÉCIA - O mesmo que incidente, aventura. Excesso de ação, recursomarcadamente usado em telenovelas, em folhetins, no melodrama, na radionovela.

O romance romântico abusou da peripécia: aí alguns críticos apontam a causa maiorde seu sucesso junto ao público feminino, no século XIX.PERSONAGEM - Quem vive a ação dramática.PING-PONG - Tipo específico de montagem onde duas imagens semelhantes, emtermos de ângulo, tamanho e posicionamento dentro do quadro, se alternamregularmente; mantendo a unidade da cena.PLANO AMERICANO - Plano que enquadra a figura humana da altura dos joelhospara cima.PLANO DE CONJUNTO - Plano um pouco mais fechado do que o plano geral.PLANO DE DETALHE - Mostra apenas um detalhe, como, por exemplo, os olhos doator, dominando praticamente todo o quadro.PLANO GERAL - Plano que mostra uma área de ação relativamente ampla.

PLANO MÉDIO - Plano que mostra uma pessoa enquadrada da cintura para cima.PLANO PRÓXIMO - Enquadramento da figura humana da metade do tórax para cima."PLOT" - Dorso dramático do roteiro, núcleo central da ação dramática e seugerador. Segundo os teóricos literários, uma narrativa de acontecimentos, com aênfase incidindo sobre a causalidade. Em linguagem televisual, todavia, o termo éusado como sinônimo do enredo, trama ou fábula: uma cadeia de acontecimentos,organizada segundo um modo dramático escolhido pelo autor. Em uma históriamultiplot, o plot principal será aquele que, num dado momento, se mostrarpreferido pelo público telespectador.PONTES - Tomadas escolhidas para interligar duas cenas que não poderiam sermontadas seguidamente. As pontes ajudam a resolver problemas de continuidadedo filme.

PONTO DE IDENTIFICAÇÃO - Relação convergente entre platéia e ação dramática.PONTO DE PARTIDA - Conjunto de cenas iniciais que abre um espetáculo.PONTO DE VISTA - Câmara situada na mesma altura do olho do ator, vendo oambiente como este. No geral, intensifica a dramaticidade do roteiro. Durante oataque de uma assassino o ponto de vista da vítima pode ver mãos enluvadasavançando em sua direção. Isso é mostrado com as mãos avançando em direção àlente da câmara.PREPARAÇÃO - Cenas que antecipam uma complicação (e/ou clímax).PRIMEIRO PLANO - Posição ocupada pelas pessoas ou objetos mais próximos à

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movimentos) do elenco com a própria gravação."SLOW MOTION" - Câmara lenta. Movimento retardado."SPLIT SCREEN" - Imagem partida na tela, mostrando dois acontecimentos separadosao mesmo tempo. Recurso muito usado em telefonemas."STORY-BOARD" - Série de desenhos em seqüência das principais cenas ou tomadas."STORY-LINE" - Síntese de uma história."SUBPLOT" - Linha secundária de ação.SUBTEXTO - Sentido implícito nas entrelinhas.SUPERCLOSE - Plano muito próximo que mostra, por exemplo, somente a cabeça deum ator, dominando praticamente toda a tela.SUSPENSE - Antecipação urgente. Diálogo ou ação que faz prever algo chocante,temível, emocionante ou decisivo.

T"TAKE" - Tomada; começa no momento em que se liga a câmara até que édesligada. É o parágrafo de uma cena.TELEGRAFAR - Breve informação que se dá sobre alguma coisa que vai acontecer."TELEVISIONPLAY" - Roteiro para televisão.TEMPO DRAMÁTICO - Tempo estético, cadência.TEMPORALIDADE - Localização de uma história no tempo.

TILT - Movimentação da câmara no sentido vertical, sobre o seu eixo horizontal.TOMADA - Filmagem contínua de cada segmento específico da ação do filme.TOTALIDADE - Princípio básico da unidade."TRAVELLING" - Câmara em movimento na dolly acompanhando, por exemplo, oandar dos atores, na mesma velocidade. Também, qualquer deslocamentohorizontal da câmara.

VVALORES DRAMÁTICOS - Pontos-chave de um roteiro.VARRIDO - A câmara corre, mudando a imagem de lugar rapidamente. O mesmoque chicote.

Z"ZOOM" - Efeito óptico de aproximação ou distanciamento repentino depersonagens e detalhes. Serve para dramatizar ou esclarecer lances do roteiro.ZOOM-IN - Aumento na distância focal da lente da câmara durante uma tomada, oque dá ao espectador a impressão de aproximação do elemento que está sendofilmado.ZOOM-OUT - Diminuição da distância focal da lente durante uma tomada, o que dáao espectador a impressão de que está se afastando do elemento que está sendofi lmado

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- Quanto tempo leva (em dias, meses e anos)? Uma história pode acontecerem minutos e pode acontecer em anos.

Outro ponto a se considerar é a duração do seu filme na tela. O que você estáescrevendo? Um curta ou um longa?

Curtas tem até 15-20 minutos e longas de 70 até 120 minutos (longas normais.Sagas duram mais de 3 horas, mas sejamos modestos no começo).

Daí vem a pergunta: como saber quanto tempo dura um roteiro?

Um amigo engraçadinho disse que era fácil saber: era só filmar tudo e depois depronto o filme a gente olharia no contador de tempo do DVD...

Na prática podemos nos orientar pelo seguinte: uma página dá cerca de 1 minuto defilmagem. Pronto! Se você vai escrever um curta tem até 15 páginas para contar todaa trama.

Isso inclui descrições de cenários, de sonoplastia, tudo. 15 páginas no máximo.

Um aviso: capture a atenção do público logo de cara.

O público não tem muita paciência com cenas lentas, e aquele tipo de filme que sóacontece nos últimos 2 minutos. Se estiverem num festival de curtas vendo seu filmevão se desconcentrar e começar a conversar. Se estiverem vendo um DVD do seulonga em casa vão acabar trocando de DVD. Se for na TV mudam de canal.

Quanto tempo você agüenta até um filme esquentar? Viu? É pouco.

Syd Field - autor de diversos livros sobre roteiro - estima em 10 minutos numlonga. Esse é o tempo para o espectador decidir se vai ver o seu filme ou o de outro.Por isso chame a atenção desde o primeiro minuto, desde a primeira página. Se oespectador já teve que esperar por todos os créditos dê-lhe história logo noprimeiro minuto de filme.

Tem quem diga que um filme não pode ter narrador. Bobagem. Um filme precisa tero que ele precisa ter. Nem mais e nem menos. Por isso ponha o que ele precisa ter.Sem pressão de ninguém.

E isso é outro detalhe importante: se você começar a se deixar pressionar por todotipo de influências vai começar a fazer o mesmo que todos fazem - quando deviaestar desenvolvendo seu próprio estilo.

Não ponha uma mulher tomando banho nua só porque você acha que o espectadorvai ver um filme parado só pra ver a mocinha pelada no penúltimo minuto. Ele nãovai ter essa paciência toda e a cena gratuita vai ficar com cara de apelação.

Cuidado com a linguagem. Não coloque um bandido falando como num livro deMachado de Assis - mas não ponha todo mundo falando como bandido. Observe aspessoas e como elas falam. Nem todas falam aquele amontoado de gírias que sãoum tremendo clichê para humoristas.

Escreva um roteiro que você vai gostar de ver depois de filmado. Não vá fazer maisdo mesmo - porque já fizeram isso e você não terá chance. No seu dia-a-diaexistem pessoas, fatos e acontecimentos que dão uma bela história. Já disse issomas nunca é demais repetir.

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Seja original. Não vá fazer Carandiru de novo só porque o primeiro fez sucesso. Sejahonesto com você e conte a sua história.

Por falar nisso: sua história pessoal acaba sendo um grande material para escreve

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18. História principal e histórias secundárias

Roteiros são compostos de várias histórias que se somam, se juntam e finalmentenos dão o filme.

Mesmo em curtas essas histórias existem - ainda que não tenhamos consciênciadisso.

No roteiro UM DIA PERFEITO temos a história do personagem principal - que acordade mal grado pela manhã e se depara com um irritante programa motivacional euma porta rebelde de armário de banheiro. São o pano de fundo para mostrar que aforma como se vê a realidade depende do estado de espírito da pessoa. Um diaperfeito pra um pode estar sendo uma droga para o vizinho, e muito disso dependede como encaramos a vida, as coisas, e como reagimos a elas.

Em paralelo tenho a história do Dr. Positivo, um homem fruto do neo-liberalismoque tenta motivar logo cedo as pessoas que vão para o trabalho - e com issogarantir o seu próprio trabalho. Quem é ele, o que pensa, quais seus objetivos, oque ele quer. É isso que precisamos saber e passar através de seu programa.

Temos ainda a história do reciclador, à margem da problemática competitivaorganizacional, que vive a vida num ritmo mais lento e consegue observa-la de outroângulo.

No nosso caso o curta vai se passar numa linha contínua de tempo: desde a horaque o personagem acorda até quando ele joga o rádio-relógio pela janela. Mas hácasos de saltos de tempo, onde a história pode se desenrolar por alguns dias,meses ou até anos. Não se esqueça de dar essa informação ao diretor e ao seupúblico.

Finalmente na próxima pretendo postar o roteiro pronto para que você possa ler.Espero que esteja aproveitando esse curso e escrevendo muito.

Abraços.

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