cardoso, fernando henrique. o inimigo de papel (1974)

Upload: marcos-beal

Post on 03-Apr-2018

221 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/28/2019 CARDOSO, Fernando Henrique. O Inimigo de Papel (1974)

    1/10

    Our ViewsI. I ntroduction

    LAT/II AMER/CAIII'ERSI'ECT/VES

    Spring 1974Volume I, Number 1

    DEPENDENCY THEORY: A REASSESSMENT

    Contents

    A CriticaI Synthesis of the Dependency LiteratureRonald H. Chilcote

    11. Debate

    2

    4

    The Latin American Revolution: A Theory of Imperialism, Not DependenteRal A. Fernndez and los F. Ocampo 30Maoism: An Altemative to Dependency Theory?Timothy F. HardingO Inimigo de Papel (The Paper Enemy)Fernando Henrique CardosoDependency, Imperialism, and the Relations of ProductionMarvin Stemberg

    62

    66

    75Dependence is Dead, Long Live Dependence and the Class Struggle: A Replyto CriticsAndr Gunder Frank 87Socialism and DependencyGuy I. Gilbert

    m. Prospect and Retrospect

    - 107

    The Future of Latin America: Betwccn Underdevelopment and RevolutionRodolfo Stavenhagen . 124

    IV. ReviewsStructures of DependencyTerry DietzFeeThe InternaI Colony ModelGilbert G. Gonzlez

    - 149

    . 154

  • 7/28/2019 CARDOSO, Fernando Henrique. O Inimigo de Papel (1974)

    2/10

    o INIMIGO DE PAPEL(The Paper Enemy)

    byFernando Henrique Cardoso

    (There are two polemics: that which clarifies, refines, and ad\'ances understanding and that5uch as the Femndez-Ocampo article which is dogmatic and reaffinns positions which politicalpractice has made obsolete. The authors unjustly lump alI the dependentistas together and donot [efer to the vast Latin American literature 00 the subect. \Veffort (1970) made aDopposite (and equaIJy erroneous) critique to that of Femndez-Ocampo, accusing the dependeotistas of ignoring the internaI enemies and concentratiug anIy 00 imperialismo The mistake inboth cases artificial1y separates imperialism from its internaI allies in the dominated country.The authors also ignore the context in which Frank sct his positioa 011 the capitalist characterof Latin America since the conquest, and they do r.ot make a3y contrihution by characterizingLatiu Arnerica as semi-feudal ar with strong feudal remnallts. lb e main contribution of dependency theory has becn to get beyond the generality of imperialism and describe specific mechanisms and ties between the local ar.d intemational structures. Dependentistas do not substitutefor or invalidate the theory oi imperialismo Nor do they clairn that dependency produces onlyunderdeveloprnent, for indeed there can be dependent development. Dependency rnust be analyzed historically to see how colonial slave dependency is different from feudal dependency. Somecountries were never underdeveloped or depeadent since both processes began only with thedevelopment of a world rnarket and the exploitation of some states by others. Most LatinAmerican agrarian cconomies are cot capitalist or feudal but rather are colonial-Iatifundist. Thusthe authors create paper enemies in the feudal loreIs and their imperialist alIies. Further, theyinvent a growing gap between city and country while in fact industrialization. urbanization, anddependent capitalism follow developrnental lines with great unevenness and regional diflerentiation. The principal enerny is not imperialism seen as something separate from local dominatioo. The struggle against imperialism implies identifying its internai face which is the localmonopoly industrialfinancial sector and the local bourgeoisie to which it is allied in both cityand countryside) .

    Theirdoematiam

    They. ignorethe LRtinAmericanliteratureon dependenc)'

    Na tradiao polmica existem dois tipos de crtica: a que, embora nemsempre equilibrada em seus termos, leva o debate para a frente, e a que, mes-mo quando justa em alguns pontos, d uma volta para trs na discusso. Oprimeiro estilo de crtica destri os enganos, incorpora os avanos e superaa posio anterior; o segundo, s v "erros lgicos", dogmtico e, em vezde retificar e propor uma reformulao, consolida "anlises", que a prticapoltica j desfez no passado. Infelizmente, o trabalho de Ral Fernndeze Jos F. Ocampo se situa nesta ltima modalidade de crtica.Para comear enderea o fogo do ataque terico a uma entidade ab-

    strata criada por divulga dores norteamericanos: os "dependentistas". Edifcil ser preciso criticando em bloco autores e interpretaes que discordamentre si em pontos significativos. Na verdade, a parte central da critica sedirige a A. G. Frank, expressamente, mas, por extenso (e que eu saiba estenao um critrio vlido ... entram no mesmo saco todos os "dependentistas". Por outro lado, no fosse pelos nomes prprios hispnicos dos autores,eu pensaria que eles no leem castelhano e portugus, tal a pobreza dabibliografia usada, quase sempre (com a exceo do livro que escrevi comFaletto, que mencionado na bibliografia, mas na verdade no foi analisad.o)baseada em publicaes em ingles. Assim, o debate amplo existente na

    66

  • 7/28/2019 CARDOSO, Fernando Henrique. O Inimigo de Papel (1974)

    3/10

    CARDOSO, INIMIGO DE PAPEl 67Amrica Latina sobre a questo da dependncia no aparece na resenhacritica. Contudo, O texto apresenta (fora a leiturn dogmtica da AmricaLatina em bloco como se essa fosse . . . a China! e as consideraesrepetitivas sobre como Marx ou Engels viam o capitalismo e o imperialismo)quatro ou cinco questes de interesse parn o tema em discusso.

    A primeirn diz respeito s genernlizaes de Frnnk sobre o carter capitalista das economias latinoamericanos desde a descoberta. Malhando emferro frio, parn fazer, com mene.; acuidade e conhecimento hist6rico, crticaj feita por alguns outros', os comentaristas, em vez de progredir, retroagirnmno debate. Esqueceram-se, para comear, de situar a anlise de Frnnk nocontexto hist6rico-poltico em que fornm escritas visando combater, especificamente, uma viso igualmente simplificada de alguns partidos de esquerdaque postulavam a necessidade da aliana com a burguesia nacional parnfazer a revoluo anti-feudal e que, de igual modo que os crticos atuais,tinham uma viso esquemtica e simplista das "grandes fases hist6ricas",

    They overlooktbe historical-politicBlcontext of"feudalismo" e "capitalismo". Mas, se fosse apeuas uma questo de "injust- F , a ~ " "po8ltionia" parn com Frnnk, no valeria uma resposta. Alm disso, e sem eu partilhetodos os pontos de vista de Frnnk a esse respeito', no vejo que grande avanona carncterizao hist6rica existe em voltar a afirmar que "as naes daAmrica Latina so carncterizadas pelo semi-feudalismo ou pela existnciade fortes sobrevivncias feudais que determinam seu atrnso."

    Com efeito, como falar com propriedade, em conjunto, das "naeslatinamericanas"? O que as une o condicionamento externo, o imperialismo. Mas, como este opera concretamente e como em termos hist6ricos,a trajet6ria destas naes e a estruturn social e econ6mica delas diversa, acombinao especfica entre o imperialismo e as modalidades diferentes dedominao interna de classes, produziu formas diferentes de articulaosocial e poltica. Conseqentemente, as carncterizaes abstratas sobre oconjunto da Amrica Latina podem, no melhor dos casos, ser um ponto de'Vo

  • 7/28/2019 CARDOSO, Fernando Henrique. O Inimigo de Papel (1974)

    4/10

    68

    Theirlinear viewof historicalstages

    Not beingcapitalistdoes notimply thatsociety isfeudal

    The basicissue thefunctioningof colonialsystem inworld capitalism

    Dependistasdo Dotsubstitutetheirtheory forimperialism

    LATlN AMERICAN PERSPECTIVESpartida, mas no um patamar seguro de anlise para chegar a conclusespolticas especficas, como fizeram os comentaristas.4

    Alm disso, dado sua aparente pouco familiaridade com a bibliografiahistrica, os comentaristas parecem manter, mesmo depois de tantas guaspassadas, uma viso esquemtica c linear das fomlas de transio de umagrande etapa histrica outra. No leram, com certeza, os comentrios deEric Hobsbawn s Formen de Marx, nem as j citadas resenhas crticas aFrank, especialmente a de Romano, nem conhecem os historiadores latinoamericanos que se dedicaram ao tema. Vou r e f e r i r ~ m e apenas a algunsbrasileiros: Caio Prado, Fernando Antnio Novais e Cyro Cardoso. Comvises diferentes, todos, ao ocupar-se dos sculos XVI ao sculo XIX noBrasil e mesmo na Amrica Latina, insistem em que O fato histrico bsicoera o sistema colonial. O mesmo ponto de "ista partilhado por historiadores, no marxistas, como Srgio Buarque de Hollanda. Que eu saiba,nem Marx, nem qualquer historiador srio, caracterizou o modo de produofeudal em termos do sistema colonial .. . No ardor ortodoxo, os c o m e n ~taristas so capazes de responder a isso dizendo que "a consequncia lgica"a tirar que das anlises de Marx (00 Engels, que se ocupou mais do tema)sobre a passagem do feudalismo para o capitalismo, deduz-se que se no eracapitalista a economia latinoamericana, tinha que ser feudal. Esta lgicaleva apenas ao formalismo e dissolve em generalidades o complexo tecido derelaes e oposies sociais que se dao na histrica. Assim, esquecendo-se(graas "lgica" da generalidade abstrata e banal) de que o problemabsico para entender a formaao das economias latinoamericanas o dafuno do sistema colonial no capitalismo mundial", a imaginao e a IDgicade nossos comentaristas no encontraram outro recurso seno o de imaginarque existiu aqui um feudalismo.

    O formalismo abstrato vai to longe na perspectiva dos criticos quedistorcem o pensamento dos "dependentistas" para afirmar que estes pensamque o subdesenvolvimento produzido pela dependncia, quando, pelo4Se alguma c o n t r i b u i ~ o houve nas anlises de depend@ncia, como repetidamente escrevi,foi justamente o esforco para caracterizar modalidades de d e p e n d ~ n c i a . No se tratade afinnar em geral que existe imperialisno, mas de ver de que maneira o imperialismo articula as relaes entre a estrutura local e a internacional, produzindo re-laces especficas de dominao. t:ssa a contribuio que se pretendeu dar no livroque escrevi com Faletto (1969). Jamais qualquer "dependentista" pensou em subs-

    tituir, criticar como improcedente etc. a teoria do imperialismo em seus teonostericos e em sua anlise geral. Veja-se a polmica com \Veffort e especia1imente otrabalho que escrevi (1972).5Essa minha discord!tncia com Frank. Tambm eu penso que dizer que as economiaslatinoamcricanas sempre foram capitalistas equi"ale a ser formalista. O problemareside em saber como o foram e com que funco no processo mundial de acumularo.O capitalismo colonial - e o escravismo que lhe foi complementar- dao a estruturahistica das sociedades criadas pela expanso do capitalismo ocidental caracteristicasestruturais distintas, por ex .. do que ocorreu com a sia. onde o capitalismo seacomoda aos modos de produ,o j extentes numa escala muito maior do que nasAmricas. Nestas, este proc:esso foi marginal e a p r o d l l ~ o exportadora (que era adecisiva) baseou-se na escravidao, de ndios e negros, dentro da plantaton ou dasencomiendas.

  • 7/28/2019 CARDOSO, Fernando Henrique. O Inimigo de Papel (1974)

    5/10

    CARDOSO, INIMIGO DE PAPEL 69menos eu, vanas vezes J escrevi que no se trata disso6 e que pode haverdesenvolvimento dependente, como no caso da Argentina, do Brasil, doMxico e . . . da Nova Zelndia, da Australia etc. Por outro lado, tambm certo que alguns pases europeus tornaram-se dependentes, e que em muitosdeles havia, a sim, uma economia feudal (como na parte do Imprio AustroHngaro que formou os pases da Europa Oriental). Mas, desde quandoum fenmeno histriw-estrutural pode ser confundido com uma regiogeo-poltica, como a Amrica Latina? H, portanto, dependncia em outrasregies. A natureza desta dependencia no pode ser "deduzida", sem aanlise histrico-estrutural que vai mostar (depois de feita e no a priori)no que consiste a diferena entre uma evoluo tipicamente feudal-dependente, para com outra colonial-escravista-dependente. E tambm bvio(apesar do espanto dos comentaristas) que, strictu sensu, historicamente,certos pases jamais foram subdesenvolvidos ou dependentes. Estes conceitoss se aplicam quando existe em articulao um mercado mundial e a explorao poltico-econmica de uns estados e umas economias por outros.Se no se entende estes princpios elementares de metodo dialtico aplicado histrica, melhor desistir e fazer logo, a la Rostow, anlises de seqnciaslineares de evoluo, comparando-se as diferenas entre contnuos histricoshomogneos ...Voltando ao feudalismo: a caracterizao das economias latinoamericanas como feudiais nao apenas imprecisa mas incorreta. O fato histricobsico do qual elas partem o colonialismo e o escravismo organizados nosistema de plantation, visando ao mercado externo. Nem eram capitalistastpicas (pois as relaes sociais de produo no se baseavan no trabalholivre e assalariado), nem feudais (pois no havia a apropriao dos instrumentos de trabalho pelos produtores diretos e havia centralizao estatal).mas sim escravistas e coloniais e estavam inseridas desde seus incios naeconomia capitalista mundial. Analisar as "sobrevivncias" feudais extremamente perigoso. Para comear, algumas das prticas de explorao a que seatribui o carter feudal, como a meao da terra, o barraco, a aviamentoetc., foram muitas vezes generalizadas depois da decadncia da ewnomiacolonial-escravista de plantation. Caio Prado demonstrou que, pelo menosno caf, essas prticas se generalizam nos sculos XIX e XX, quando evatamente a cama da agrrio-senhorial escravista deslocada pela nova burguesia agro-exportadora. Por outro lado, pela "lgica da sobrevivncia", at acidade de Londres, hoje, seria "feudal", na medida em que a enfiteusis e oaforamento regulam partes importantes da propriedade urbana ... E nosei como os comentaristas classificariam a agricultura chilena, argentina ouuruguia (pases dependentes) como "feudal", dado que as relaes salariaise a explorao capitalista da terra e do trabalho so predominantes nessespases.---:-:-:-6Vease Cardoso and Faletto (196Q capo I). Quando se mostra que a utilizaco da DOCSO

    de dependencia no feita para substituir as categorias bsicas de acumulaco, mais-varia etc., nem pala eliminar a necessidade de ver que existem economias desenvolvidas e subdesenvolvidas, Usase a perspectiva da pependencia como um esfonioterico para sintetizar os espectos politico-econmicos de todo este processo,mostrando que o imperialismo gera relaes de assimetria entre Estados Nacionais eque a explorao imperialista articula politicamente a d o m i n a ~ o local de classe COUladominao mternacional das empresas mult i nacionais, utilizando para isso OS estadosnacionais.

    Dependentdevelopmentexists

    Society wascolonial,organizcdaround theplantation,not feudalor typicallycapitalist

  • 7/28/2019 CARDOSO, Fernando Henrique. O Inimigo de Papel (1974)

    6/10

    70 LATlN AMERICAN PERSPECTlVESEnfim, o desconhecimento da natureza do sistema de produo capitalista-colonial, levou-os a enganos pueris. E deriva tambm do desconhecimento de processos histrico-econnicos bsicos a perplexidade sobre anatureza histrico-estrutl1ral distinta das economias dos Estados Unidos e

    pases desenvolvidos C()lIl respeito aos pases dependentes e subdesenvolvidos.Developm.. al De fato, a diferena entre o colonialismo ibrico e a expanso inglesa nas: ~ k ~ e d b ; . ~ m r i c ~ s . c, . p r i n c i p a ] m e n t ~ (mas e n ~ relao com '0 ponto .anterior), athe imperialist mdustnahzaao norte-amencana segUida da guerra de secessao (quando,

    ~ ~ ; ~ t ~ l ~ ~ ento sim, uma burguesia industrializante completa a independncia nacionalem terolOs de modo algum comparveis com a ao poltico-econmica dasburguesias agro-mercantis latinoamericanas que fizeram a guerra da Independcncia), asseguraram a possibilidade do desenvolvimento capitalista nosEstados Unidos. Isso se deu antes, bem antes, da fase imperialista do capitalismo, enquanto a industrializao de alguns pases latinoamericanos sedesenrola em pleno perodo imperialista. Alm do mais, e neste caso valemas consideraes (corretas) da segunda seco do trabalho (Backwardness inAgriculture), a propriedade da terra no Leste e no Meio Oeste americanono esteve sujeita s limitaes impostas pelo lati fundismo colonial-exportador, nem pelos regulamentos da Coroa portuguesa e hispnica que dificulturam a apropriao e a valorizao da terra pela explorao do trabalho.

    Por certo, seria um equvoco afirmar que na maioria dos pases latinoaMod LatinAmerican merieanos a renda da terra e a economia agrcola slio capitalistas. O colonial-agrarianeeonoml e ismo-latifundista (e no o feudalismo), a existncia de modos de produonot cn.:r.italistor fpu ai but no capitalistas anteriores conquista, um ou outro trao patrimonialista,are colonial- Il.tund' enfim, uma srie de relaes sociais de produo no tipicamente capitalistas,permaneceram como entraves generalizao do capitalismo. Embora noconjunto das economias os setores capitalistas-monoplicos prevaleam, elesse articu1am simbioticamente com a economia agrria no puramente capi

    talista. Este processo d um perfil de sociedade que s por abuso semnticopode ser chamada de burguesa-monoplica no seu conjunto. Mas O setoreconomicamente dinmico e politicamente dominante este ltimo O noo anterior. E por isso que ao transformar os senhores feudais (e seus aliados~ r C ~ n a e t ~ i e s (?) imperialistas) em inimigos principais das transformaes sociais, Fer-; : r J s h ~ n ! i U : : h nndez e Ocampo criam inimigos de papel. Nem correto qualificar a este:n:rinlist setor das classes dominantes como "feudal", nem so eles os que controlamde forma principal o bloco de poder, nem, muito menos, neles que oimperialismo se apoia preferentemente. Este "engano" dispensa c()lIlentrias sobre as concluses polticas a que chegam, pois (ainda quandoapresentem isoladamente um ou outro ponto vlido), partem de uma anliseequivocada],

    Na mesma linha de generalizaes apressadas e pouco documentados,They lnvent nossos autores incentam um gap crescente entre o campo e a cidade quea growinggap between estariam sendo submetidos a antteses mais pronunciadas. Ainda uma vez,city nndcountry preciso dispor de dados que indiquem isso e preciso no deixar-se levarwhen in factdependent pelo engano que consiste em desconhecer a natureza da industrializao, da

    : ; ~ ~ : ; i s i ! ! urbanizao c do capitalismo dependentes que, embora acentuem de fatouneven and d' d d' - .regionally em pontos etcrl11ll1a os as contra loes entre atraso e creSCImento, no

    ~ : ~ : ~ ; ~ ~ ~ t d conjunto (sem eliminar os j referidos pontos de concentrao do atraso eportanto sem gcncralizar de fato, as relaes capitalistas) seguem de mododistorcido as pautas capitalistas. E especialmente, preciso no generalizar

  • 7/28/2019 CARDOSO, Fernando Henrique. O Inimigo de Papel (1974)

    7/10

    CARDOSO, INIMIGO DE PAPEl 71para toda a Amrica Latina o que pode ser vlido para alguns pases que emsi mesmos constituem, nessa forma de desenvolvimento desigual e nemsempre combinado prpria da dependncia, bolses de atraso.Pelo que escrevi neste comentrio. vse que no so opostas s dos DependistRII"dependentistas" concluses que reconhecem o carter n'o tipicamente ~ h a t ~ ~ r ~ ~ l r u r ecapitalista da agricultura latinoamericana, ou pelo menos, de setores impor. ~ p ~ c o a t l l ytantes dela. Um ou outro "dependentista" pode ter chegado a concluso b ~ ~ i t t ~ ! S :diferente, mas no tedos. Onde h unanimidade (e no s entre os "depen- ...Iu,e tod . " . , h h' t" ) accept aeotIstas pOIS a tese e comum aos que CDO eeem 15 onca na recusa ao s i m p l i ~ t i c .evolucionismo simplista e "anlise" analgica que insiste no carter feudal b : ~ ! d h ~ ~ l s mda economia latinoamericana. Essa "perspectiva" no trs discusso a feudalism"categoria marxista adequada" (pg. 38) para a anlise do atraso, mas refleteapenas um pobre "marxismo" livresco e preguioso, incapaz de fazer ou tentaro que Marx fazia: capter no conceito o movimento do real.Por fim, a questo do imperialismo.

    I t is senseless, discutir dependncia como se essa noo visasse a sub Any c\aimstituir o conceito (e a situao) de imperialismo. A problemtica da qual ~ . : ; . : ; o n f l l c tse partiu foi precisamente a do imperialismo. Com os estudos de depeno Imd""nd'all,mdn epen encydncia quis-se fazar o que nossos comentaristas pedem que se faa: ligar os b elth"processos internos de dominao aos extenos. O imperialismo para mim no ~ ~ ~ i s t i c uma entelquia, mas o resultado da ao de classes exploradoras sobreclasses exploradas que, para efetuar-se, passa pela dominao estatal. Qual-quer oposio que se pretenda fazer entre dependncia e imperialismo falsa e formal. Ou ento trata-se de recurso oportunstico de retrica paraentrar pela porta dos fundos num debate srio.Eu no procurei negar o que quer que fosse caracterizao feita porLenin, h mais de meio sculo, sobre a natureza e o conceito do imperialismoe repilo com veemncia a insinuao sobre qualquer "new form Neither Frankof imperialist apologetic". No creio to pouco que este tipo de insinuao ~ ~ I ~ , " e g a t ~boba . . , F k E . 'b charactenzahonsela correto para cntlcar a ran. mngu m, que eu sal a. entre os of imperialismchamados "dependentistas" considerou "the struggle against imperialism assecondary to the class struggle and the battle against capitalism". S quem Clu , , d"",l",dlonsepara metafisicamente o que na vida est unido, imperialismo e dominao ::t ' : : : : ~ l ~ mde classe e portanto, tambm isola o Estado das classes, poderia fazer talafirmao. E fcil criar um inimigo de papel e destru-lo. Mais difcil discutir argumentos no nvel em que eles so apresentados. Mas s estesegundo procedimento intelectualmente ntegro.7Eu nao Quero estender demasiado este comentrio. Mas os erros de fato na caracterizao da s i t u a ~ o agrria da Amrica Latina so escandalosos. Assim, no existe,como afinnam os autores, "a chronic deficiency in agricultural production," nem naArgentina, nem no Brasil, no Umguai ou no Mxico. Nem nestes pases e emmuitos outros existe predominancia de uma s i t u a ~ o de natuteza feudal Que prende

    os trabalhadores a terra (pag. 34), Que estaria "thoroughly documented." Os comentaristas extrapolam infonnaes de um pas para outro e generalizam pricasque no so necessariamente predominantes, sem qualquer cuidado analtico. Acaracterizao do "colonato" como "the most backward of feudal forms" da agricultura, para Marx, no especfica que no caso latinnoamericano tratasc de um "colonato"post-escravista, Quando a economia de plantation precisamente avanava um passona direo capitalista, importando mao de-ohr imigrante e livre, que adota\'a a fonnade colonato, como mostrou Caio Prado, e que, portanto, pouco tem a ver com ocolonato a que se referia Marx. E assim segue a caracterizao deste "feudalism"de papel, urdido na imagina o e na falta de ligar analtico.

  • 7/28/2019 CARDOSO, Fernando Henrique. O Inimigo de Papel (1974)

    8/10

    72 LATlN AMERICAN PERSPECTIVESEssa mesma integridade intelectual deveria guiar os comentrios sobrea caracterizao leninista do imperialismo feitos por mim. Eu no fiz, notexto que foi usado pelos comentar;stas qualquer exegese extensiva de Lenin,nem discuti a polmica deste com Kautsk)'. Usei apenas as idias centrais

    (livremente ordenadas por mim) de Lenin em seu livro bsico sobre a questo: O Imperialismo, fase superior do capitalismo. Portanto, gratuita aafirmao de que o procedimento usado por mim teria sido o de rejeitaruma tese caracterizando-a pelo que ela no , basendo-me no exame de"every word written by an author until one finds a suitable quotation whichis then picked apart out of context ... and the argument is won'" Notexto analisado pelos comentaristas (que um S, repito) no existe qualquercitao de Lenin . .Entretanto, em outro artigo procurei resumir os pontos centrais da teseleninista, baseando-me obviamente no livro fundamental de Lenin sobre oimperialismo. E as referncias que fao s idias leninistas sobre o imperialismo no texto criticado tm como pano de fundo aquele resumo. Portanto,se se tratasse de uma critica cuidadosa e responsvel era quele texto anterior que os comentaristas deveriam reportar-se.. Mais importante do que a anlise cuidadosa de textos sobre a caracter-

    ; 8 ~ ~ i ~ o g m a b C - izao geral do imperialismo que, neste particular no inovam nada masLenm' 'd " ed ' d . escription af apenas resumen, como os meus, e Iscutir a pIOC nela a mterpretaclo

    = : : I ~ ~ ~ das novas formas de relao imperialista. E aqui que o dogmatismo denossas crticos os impede de avanar um milmetro na anlise. Eles queremque os aspectos descritivos do trabalho de Lenin, escritos h mais de meiosculo, descrevam o que ocorre hoje. Francamente, teologismo igual rarode ver-se. No se trata de por em dvida, repito, a caracterizao doimperialismo feita por Lenin, nem de negar que exista base factual parasuas anlises. Porm, precisamente a caracterizao da economia mundialde hoje feita por Jale, procurando mostrar que existe explorao imperialista (e quem pensa que no?) deixa de lado o fundamental desta exploraono que se refere aos pases da periferia que se esto industrializando. Foi aanlise deste fenmeno (nos quadros da economia capitalista e imperialista)que ocupou a ateno de alguns "dependentistas" como T. dos Santos e euprprio. ridculo vir ensinar-nos que existe o Fundo Monetrio Inter:nacional, o Banco Mundial, o Banco Interamericano etc. Esse tipo de"argumento" Ho coloca a discusso nos termos adequados. bvio queexiste um fluxo de capitais nos dois sentidos, tambm. E a ningum em si!conscincia passaria pela cabea refutar o conceito de capital financeiro(pg.48).-Todo o problema reside em ver que a industrializao de alguns pasesperifricos (processo posterior segunda guerra mundial que Lenin spoderia ter descrito se falasse do alm ... muda a forma da relao im-&Refirome polAnica j citada na nota 1.9 Alm disso, como os crticos veriam se a"alisassem um pouco melhor as r e f e r ~ n c i a s quefiz. eu estava apenas alinhando-me ao lado de Sweezy na discusso sobre as fonnas

    de acumula!)o e ao lado de Sweezy na discusso sobre as formas de acumulaAo efinanciamento, que implicam na simbiose dentro da Big Corporation, das f u n ~ ' b e sfinancerias e industriais. Por outro lado, procurava especular sobre os efeitos daexporta

  • 7/28/2019 CARDOSO, Fernando Henrique. O Inimigo de Papel (1974)

    9/10

    CARDOSO, INIMIGO DE PAPEL 73perialista, em um sentido preciso. Ou seja, que alm do controle de matrias- L e n l n ' ~ .primas, da monopolizao da economia, da poltica colonialista de repartio : ~ I Y ~ ~ ~ t r l ! d i c t e ddo mundo (que continuam a existir), existe uma forma de diviso do ~ : ; o n n e ;trabalho controlada pelas empresas multinacionais que leva industrializao ;mperi,,"mparcial da periferia. Essa industrializao parcial porque na periferia nose desenvolve plenamente o setor I (produao de bens de produo), omonoplio tecnolgico fica assegurado s economias centrais e a depen-dncia financeira continua a existir. No obstante, a produo de bens deconsumo final (durveis e no durveis), de alguns bens intermedirios e aincorporao de partes do setor produtivo (industrial e de servios) localde alguns pases perifricos economia mundial (processo que eu chamo deinternacionalizao do mercado interno) o trao novo das economiasindustriais-dependentes. E apenas este aspecto que alguns "dependentistas"ressaltam, sem querer negar os fundamentos da anlise leninista, mas tambmsem manter a atitude ingnua, de pensar que no h nada de novo nahistria c o n t e m p o r ~ n e a que ja no tivesse sido previsto, catalogado esolucionado pelos clssicos.' oA i m p o r t ~ n c i a do reconhecimento da forma atual da relao imperial- The prindpalenemy cannotista reside em que ela demonstra inequivocamente que no se pode racio- be Id.n,H; .d. I' . ., l'd as mperiahsmemar po ltlcamente como nossos comentanstas: nem e va 1 o pensar que o seen as apartImmigo principal o imperialismo visto como algo externo dominao ~ ~ ~ n ~ l l i , ~local, nem que s a luta interna de classes e a burguesia local constituem oalvo privilegiado. Lutar contra o imperialismo significa ao mesmo tempo,identificar a cara interna dele. Essa nao outra coisa que o setor monop61ico T h ~ r createindustrial financeiro local e a burguesia local que a ele se alia, tanto no tlg,,P."':::.h'd dA' 'd d d . . . . d , . the ml, ' , ' .ncampo como na CI a e. lflcapaCI a e e ver ISSO, a mSlst nCla ogmabca emphasis onem dar maior peso ao "feudalismo agrrio", e em pensar que nada mudou ~ ~ d d ~ ~ ~ m V i e wna relao imperialista em termos de quais so as classes locais que o tomam ~ ' : t D : ~ ~ : ~ ; : drealidade imediata, leva aos equvocos, j assil'l:alados, de criar inimigos de : h i ~ e h n n ~ l a ~ ! e spapel e de fazer crticas sobre argumentos que s existem no papel dos 1 ~ 1 ; l iprprios crticos e no na prtica e no pensamento de quem est sendocriticado.IOQuanto a c a r a c t e r i z a ~ o da fase imperialista por Lenin, convm lembrar que no textofundamental sobre o assunto, O Imperialismo,. fase superior do capitalismo, aoresumir no capo X os quatro aspectos do capitalismo monoplico (ou imperialismo) oautor, alm de consider-lo como um "capitalismo parasitrio" ou "em estado dedecomposio," que foi sublinhado por nossos crticos, caracterizou-o de forma positiva dizendo:1) o monoplio resulta da coneen traSo da produ)o2) "os monoplios detemlinaram uma tend'ncia acentuada a apoderar-sedas mais importantes fontes de matrias-primas" (grifos meus)3) os monoplios surgiram dos bancos, que de modestas empresas intermedi

    rias se converteram em monopolistas do capital financeiro. Por isso, uma oligarquiafinanceira, composta por 3 ou 5 bancos mais importantes de cada nao capitalistamais avancada fizeram a "uniao pessoal" do capital bancrio e do capital industrial.4) O monoplio nasceu da poltica colonial a qual o capital financeiro juntoua luta pelas fontes de matrias-primas, exportaSo de capitais, esferas de inHuenciaetc., enfim, a luta pela r e p a r t i ~ o nova do mundo.Ve-se, pois, que usando o livro principal e nao "uma outra palavra" fora decontexto. parece claro que Lenin se referia a uma realidade (ainda existente) queno cobre os aspectos particulares que chamaram a aten)o dos "depend.entistas." tpeuril e no faz avanar politicamente, esqrimir argumentos. como o dos comentaristas, em termos de guerra de c i t a ~ e s .

  • 7/28/2019 CARDOSO, Fernando Henrique. O Inimigo de Papel (1974)

    10/10

    74 LATIN AMERICAN PERSPECTIVESREFERENCES

    Cardoso, Fernando Henrique1970 "Teoria da dependencia ou anlises concretas de situao de dependncia, Estudos, 1,So Paulo: Centro Brasileiro de Anlise e Plar:ejamento1972 "Notas sobre o estado atual dos estudos de depend&1cia," Rcvta Latinoamericcnu.de Ciencias Sociales, 4 (December)

    Cardoso. F e m a ~ d o Henrique and Enzo Faletto1969 Depcndencia y desdrrollo en Amrica Latina, Mexico: Sigla Vientiuno EditoresFrank, Andr Gunder1973 "La dependenca ha muerto, viva la dependcncia y la Incha de clases," DesarrolloEconmico, XIII (Apri1 /une), 199219LacIau, Ernesto1971 "Feudalism and Capitalism in Latin America," New Left Review, 67 (May-June),1938Romano, Ruggiero

    1971 "Sobre las 'teisis' de A. G. Frank," Marcha (Montevideo), (March 12 and 19)Weffort, Francisco C.1970 "Nota sobre a 'teoria da depcndfncia' ou ideologia nacio:laI," Estudos, 1, So Paulo.Centro Brasileiro de Anlise e Planejamento