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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ-CAMPUS UNIÃO DA VITÓRIA COLEGIADO DE MATEMÁTICA PATRÍCIA DINEIA KOZLOWSKI CÁLCULO DE ÁREAS DE FIGURAS GEOMÉTRICAS PLANAS IRREGULARES: UMA PROPOSTA DE ENSINO UTILIZANDO A ETNOMATEMÁTICA UNIÃO DA VITÓRIA 2014

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ-CAMPUS UNIÃO DA VITÓRIA

COLEGIADO DE MATEMÁTICA

PATRÍCIA DINEIA KOZLOWSKI

CÁLCULO DE ÁREAS DE FIGURAS GEOMÉTRICAS PLANAS IRREGULARES:

UMA PROPOSTA DE ENSINO UTILIZANDO A ETNOMATEMÁTICA

UNIÃO DA VITÓRIA

2014

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PATRÍCIA DINEIA KOZLOWSKI

CÁLCULO DE ÁREAS DE FIGURAS GEOMÉTRICAS PLANAS IRREGULARES:

UMA PROPOSTA DE ENSINO UTILIZANDO A ETNOMATEMÁTICA

Trabalho de Conclusão do Curso apresentado

como requisito parcial para a conclusão do

curso de Licenciatura em Matemática da

Universidade Estadual do Paraná- Campus

União da Vitória, para a obtenção do Grau de

Licenciada em Matemática

Orientador: Dirceu Scaldelai

UNIÃO DA VITÓRIA

2014

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por te me dado força, coragem e fé para continuar

essa jornada.

Aos meus pais, Clara e Damiano pela sua compreensão e apoio nesta etapa de minha

vida.

Ao meu esposo Rafael, pelo seu carinho e atenção, sendo compreensivo em todos

estes anos de graduação.

Ao meu orientador, Prof. Dirceu, pela dedicação e paciência no decorrer deste

processo, contribuindo com seu conhecimento e sugestões.

As minhas amigas Suelen e Eliana, que durante todos estes anos de amizade sempre

estavam presentes, me incentivando para ir mais longe.

Aos professores do Colegiado, os quais contribuíram para a minha formação

profissional.

Aos colegas de sala e amigos que de alguma forma contribuíram para a realização

deste trabalho.

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Que os vossos esforços desafiem as

impossibilidades, lembrai-vos de que as grandes

coisas do homem foram conquistadas do que parecia

impossível.

(Charles Chaplin)

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RESUMO

O ensino da geometria nas escolas vem gerando muitas discussões, visto que esta é trabalhada como um conteúdo restrito, parecendo não ter ligação com os conteúdos abordados anteriormente, sendo deixado para o final do ano letivo, o qual às vezes por falta de tempo não é abordada. A geometria é uma área do conhecimento que pode propiciar ao aluno conhecer melhor o mundo a sua volta, permitindo fazer sistematizações com outras áreas do conhecimento, já que, diariamente lidamos com conceitos geométricos como congruência, semelhança, medições, área, volume e muitas outras. Com este trabalho pretende-se apresentar uma proposta de ensino para o cálculo de áreas de quadriláteros irregulares, utilizando a Etnomatemática como metodologia de ensino, aqui em especial para as escolas da Educação do Campo, buscando valorizar as tradições e conhecimentos da comunidade na qual a escola esta inserida. PALAVRAS-CHAVE: Geometria, Ensino, Etnomatemática.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 4.1 – Cálculo da área do quadrilátero realizado pelo agricultor....................... 21

Figura 4.2 – Cálculo da área do triângulo realizada pelo agricultor.......................... 21

Figura 4.3- Cálculo feito pelo agricultor, para determinar a área do terreno em

litros...............................................................................................................................

22

Figura 5.1 – Área do terreno medido em braças........................................................ 24

Figura 5.2 – Área do terreno medido em metros....................................................... 25

Figura 5.3 – Representação do terreno em metros no papel milimetrado.................. 28

Figura 5.4 –Representação da área do terreno, subdividida em figuras geométricas... 29

Figura 5.5 – Medida dos lados em metros das figuras geométricas, as quais foram

subdivididas a área do terreno.......................................................................................

30

Figuras 5.6- Valor da área em m² das figuras geométricas, as quais foram

subdivididas a área do terreno.................................................................................

31

Figuras 5.7- Representação do retângulo encontrado pelo Sr. Geraldo........................ 33

Figuras 5.8- Área do terreno, sobreposta à área do retângulo. ..................................... 34

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 7

2 GEOMETRIA ....................................................................................................................... 9

2.1 SURGIMENTO DA GEOMETRIA ...................................................................................................... 9

2.2 ENSINO DA GEOMETRIA NO BRASIL ........................................................................................... 10

2.3 O ENSINO DA GEOMETRIA .......................................................................................................... 12

3 ETNOMATEMÁTICA ....................................................................................................... 15

3.1 EDUCAÇÃO DO CAMPO .............................................................................................................. 17

4. ENTREVISTA REALIZADA COM AGRICULTOR, SOBRE O MÉTODO

UTILIZADO PARA O CÁLCULO DE ÁREAS DE TERRAS. ........................................ 19

5 . PROPOSTA DE ENSINO ................................................................................................ 24

5.1 CONTEXTUALIZAÇÃO ................................................................................................................... 24

5.2 ATIVIDADES PARA O ENSINO DO CÁLCULO DE ÁREAS DE QUADRILÁTEROS IRREGULARES. ...... 27

5.3 OBJETIVOS E ORIENTAÇÕES DAS ATIVIDADES ............................................................................ 28

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 36

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 37

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1 INTRODUÇÃO

Em nosso meio encontramos muitas aplicações e representações matemáticas,

observando algumas nas formas geométricas presentes na natureza e outras como produto das

ações humanas. Assim sendo, neste trabalho busca-se mostrar a importância do ensino da

Geometria nas escolas, mais diretamente o cálculo de áreas de figuras geométricas planas,

pois esta pode proporcionar ao aluno conhecer melhor o meio em que vive, podendo

matematizar à realidade, dando oportunidades para novas descobertas.

Para que o objetivo da Educação possa ser alcançado, considera ser importante tornar

o ensino mais dinâmico e atrativo, possibilitando ao aluno atribuir sentido, estabelecer

relações com seu cotidiano, justificando, analisando e criando novas estratégias de resolução.

No Ensino da Matemática atualmente depara-se com alunos desinteressados, tendo

eles uma visão da Matemática como uma matéria difícil, sendo apenas um aplicar de regras e

técnicas que geram as respostas esperadas pelo professor, não havendo uma real compreensão

sobre o significado da resposta e suas aplicações cotidianas.

A Geometria é uma área da Matemática que permite o aluno conhecer melhor o

mundo a sua volta, podendo fazer sistematizações com outras áreas do conhecimento,

possibilitando a construção do conhecimento de forma lógica, intuitiva e sistematizada.

Porém, esta vem sendo desvalorizada, deixada para o fim do ano letivo, trabalhada como um

conteúdo restrito, parecendo não ter ligação com os conteúdos abordados anteriormente.

Segundo as DCEs (Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná, 2008), os

conteúdos propostos devem ser abordados por meio de tendências metodológicas da Educação

Matemática que fundamentam a prática docente, algumas das tendências destacadas são:

Resolução de Problemas; Modelagem Matemática; Mídias Tecnológicas; Etnomatemática;

História da Matemática e a Investigação Matemática.

Para o desenvolvimento deste trabalho, escolheu-se a Etnomatemática como

metodologia para o ensino da Geometria, aqui em especial para o cálculo de áreas de

quadriláteros irregulares, destinado principalmente para os alunos da escola do Campo.

A Etnomatemática permite relacionar o conteúdo matemático com o ambiente do

indivíduo, suas manifestações culturais e relações de produção do trabalho, valorizando as

diferentes formas de pensar, inclusive matemático, proporcionando reflexões mais amplas

sobre a natureza do pensamento matemático do ponto de vista cognitivo, histórico, social e

pedagógico, procurando entender à aventura da espécie humana na busca de conhecimento e

na adoção de comportamentos.

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Cada escola possui sua própria identidade, caracterizado pelo seu espaço físico, seus

projetos, sua história e por sua cultura. Assim sendo, a Escola do Campo têm como objetivo

principal, a valorização do camponês, de sua cultura e tradições, valorizando seu trabalho,

mostrando o campo como uma possibilidade de vida social e de desenvolvimento sustentável.

Para que os alunos consigam construir o seu conhecimento, é preciso que estabeleçam

relações e significados com o seu cotidiano ou situações que possam ser aplicados

determinados saberes, por isto a partir do momento em que os alunos do Campo passam a

fazer associações com realidade cotidiana deles, é que a aprendizagem acontece e o objetivo

da educação é alcançado.

Pensando no objetivo da Escola do Campo, e correlacionando-a com a

Etnomatemática, buscamos por meio deste trabalho, conhecer a matemática utilizada pelos

agricultores da cidade de Mallet, para o cálculo de áreas de terrenos, para que por meio deste

pudéssemos estabelecer relações com conceitos geométricos. Esta busca deu-se através de

uma entrevista realizada com um agricultor da região, a qual esta transcrita no corpo deste

trabalho e posterior foi elaborada uma proposta de ensino utilizando a Etnomatemática como

metodologia de ensino.

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2. GEOMETRIA

2.1 SURGIMENTO DA GEOMETRIA

O termo “geometria” deriva do grego geometrein, (geo= terra, metrein = medir), que

significa medir terra. O seu estudo iniciou-se na antiguidade, por volta do século XX a.c

Segundo alguns autores a origem da geometria esta ligada a algumas práticas do

cotidiano. A história sobre o nascimento da geometria assumida por Braz(2009), conta que os

agricultores egípcios cultivavam as terras que ficavam nas margens do rio Nilo, as quais eram

divididas em lotes. Durante as chuvas, o rio Nilo transbordava alagando as terras. Quando as

águas baixavam percebiam que as marcações eram levadas pela enchente, e necessitavam

fazer novas demarcações para que os lotes fossem redistribuídos aos agricultores, pois esta

gerava conflitos entre indivíduos pelo uso de terras não delimitadas.

Sem os marcos que delimitavam as fronteiras, os agricultores e administradores de

templos e palácios, não possuíam referências claras quanto ao limite de suas terras para

poderem cultivá-las e pagar os impostos devidos. Para restabelecer as fronteiras e avaliar os

prejuízos que as cheias traziam, os antigos faraós resolveram nomear funcionários,

denominados agrimensores para fazerem as devidas medições, nascendo através destas

medições à geometria.

Para conseguirem fazer as medições os agrimensores acabaram por aprender a

determinar as áreas de lotes de terreno dividindo-os em retângulos e triângulos. Segundo Braz

(2009), provavelmente tenha nascido à fórmula da área do retângulo (base x altura) a partir da

observação de mosaicos quadrados e a descoberta da área do triângulo por meio da divisão em

duas partes, pela diagonal, de quadrados e retângulos. Quando se deparavam com superfícies

irregulares, acredita-se que utilizavam o método de triangulação (dividir um campo em

porções triangulares cujas áreas somadas davam a área total).

Desta forma, medindo e desenhando terrenos, os egípcios descobriram métodos e

adquiriram conhecimentos que, depois foram aprendidos pelos gregos. Segundo Kalleff

(1994, p.19, apud COLLARES).

Foi da necessidade do Homem em compreender e descrever o seu meio

ambiente (físico e mental), que as imagens, representadas através de desenhos,

foram lentamente conceitualizadas até adquirirem um significado matemático, na

Geometria e uma forma, nas Artes.

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Para a geometria um dos grandes Matemáticos foi Euclides, que viveu por volta de

300 a.C, o qual é atribuído por muitos autores o título de “pai da geometria”, devido às

contribuições ao estudo desse ramo da matemática. Segundo as DCEs, (Diretrizes

Curriculares da Educação Básica do Paraná, 2008) Euclides sistematizou o conhecimento

geométrico na obra Elementos, formalizando o conhecimento geométrico da época,

organizando o conhecimento com coesão lógica e concisão da forma, constituindo a

Geometria Euclidiana, englobando tanto a geometria plana como a espacial.

2.2 ENSINO DA GEOMETRIA NO BRASIL

O ensino da Matemática no Brasil durante a década de 60 passou por grandes

mudanças, principalmente no ensino ginasial e secundário, decorrentes de discussões

internacionais, sobre uma nova abordagem para o ensino da Matemática, que segundo Silva e

Oliveira(20__, p.4153), “se propunha a aproximar o ensino realizado na educação básica

àquele desenvolvido na Universidade, o que corresponde à linguagem e à estrutura empregada

pelos matemáticos da época”. Este movimento internacional ficou conhecido como

Movimento da Matemática Moderna (MMM).

Um dos propósitos desse movimento era a unificação dos três campos

fundamentais da Matemática: Álgebra, Aritmética e Geometria. Essa unificação

se daria por elementos tais como a teoria dos conjuntos, as estruturas algébricas

e as relações que constituiriam a base para a construção lógica matemática. As

idéias defendidas pelo MMM centravam-se no rigor e abstração, no formalismo e na

geometria não-euclidiana.(FILLOS,p.03).

No Brasil o estado de São Paulo é considerado o pioneiro do MMM, devido à criação

do GEEM – Grupo de Estudos do Ensino da Matemática, em 1961, na cidade de São Paulo,

liderado por Osvaldo Sangiorgi, que segundo Silva e Oliveira(20__, p.4154), tinha como

objetivo “coordenar e divulgar a introdução da Matemática Moderna na Escola

Secundária”. Foram então propostos cursos de aperfeiçoamento para professores com o

objetivo de introduzir a Matemática Moderna.

Miorim (1998, p.96) afirma que: “em nenhum outro momento o ensino da

Matemática foi tão discutido, divulgado e comentado como naquele período. Os jornais

noticiavam, os professores faziam cursos, os livros didáticos multiplicavam-se, os pais

assustavam-se e os alunos “aprendiam” a Matemática Moderna”.

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Na parte relativa à geometria, o movimento preocupou-se inicialmente em introduzir

os raciocínios lógicos que segundo Miorim (1998, p.97), foram introduzidos “após um

trabalho inicial que familiarize o aluno com as noções básicas presentes nas figuras

geométricas, quer em sua posição fixa, quer através de seus movimentos”.

Para Pavanello (1989, p.103), “a idéia central da Matemática Moderna consistia em

trabalhar a matemática do ponto de vista de estruturas algébricas com a utilização da

linguagem simbólica da teoria dos conjuntos. Sob esta orientação, não só se enfatizava

o ensino da álgebra, como se inviabilizava o da Geometria da forma como este era

feito tradicionalmente”.

Como a maioria dos professores não dominavam os novos métodos de se abordar a

Matemática, a autora comenta que a Geometria passou a ser ensinada intuitivamente, sem a

preocupação de uma sistematização, optando-se apenas em acentuar as noções de figuras

geométricas e de intersecção de figuras como conjunto de pontos no plano. Segundo

Fillos (p. 04)

A coerência da Matemática Moderna exigia que a Geometria fosse trabalhada sob o

enfoque das transformações e como os professores estavam despreparados, aos

poucos deixaram de ensinar os conteúdos geométricos, trabalhando

principalmente com a álgebra ou a aritmética e com a teoria dos conjuntos.

O Movimento da Matemática Moderna, no Brasil teve influencia por longo tempo,

perdendo suas forças a partir da inadequação de alguns de seus princípios básicos e das

distorções ocorridas. Porém notamos ainda hoje, a formalização de conceitos, as poucas

aplicações práticas da Matemática em sala de aula, bem como do predomínio da álgebra

no Ensino Fundamental e Médio.

Nos anos 70, o currículo de Matemática, estava voltado ao desenvolvimento de testes

e habilidades básicas e computacionais, onde os alunos eram capacitados para a resolução de

exercícios ou de problemas padrões. Segundo Fiorentini (1995, p.15) “A educação escolar

teria a finalidade de preparar e „integrar‟ o indivíduo à sociedade, tornando-o capaz e útil ao

sistema”.

Novas discussões curriculares surgiram a partir de 1980, com a compreensão dos

aspectos sociais, cognitivos e linguísticos na aprendizagem da Matemática, onde as resoluções

de problemas como práticas pedagógica emergiram ganhando espaço no mundo inteiro.

Após o Movimento da Matemática Moderna, os livros didáticos passaram por

mudanças, que segundo Fazza (2012, p.14) “passam a ser mais atraentes, com ilustrações e

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muitas cores, muitos conteúdos se restringem a algumas fórmulas deduzidas, sem

demonstrações de teoremas”.

Havendo assim um descaso com a geometria dedutiva, já que os professores utilizam

do livro como o principal e às vezes único referencial para a preparação de suas aulas.

Segundo Andrade (apud FAZZA,2008, p.07)“o ensino de Geometria vem sendo

pesquisado nos últimos anos e incorporado nos currículos de educação básica. E com a

dificuldade de retratar as mudanças muitos professores nem compreendem o alcance das

propostas”.

2.3 O ENSINO DA GEOMETRIA

Após apresentados algumas considerações sobre o ensino da Geometria, nos vem à

pergunta: Por que ensinar Geometria? E qual a importância de se aprender Geometria?.E

talvez a resposta mais imediata, que seria apresentada, é de que elas assim como os demais

campos da Matemática estão está em toda parte. Em nosso dia a dia, lidamos com idéias de

paralelismo, congruência, semelhança, medição, simetria, área, volume e muitas outras,

evidenciando seu ensino.

Olhando ao nosso redor, encontramos diversas formas geométricas, as quais, muitas

fazem parte da natureza, e outras são produtos das ações humanas, como por exemplo,

construções, esculturas, artesanato, pintura, obras de arte, dentre outras. O estudo destas

formas permite vincular a Matemática a outras áreas do conhecimento.

De forma mais abstrata, a Geometria também se constitui em um saber lógico,

intuitivo e sistematizado. Isso a coloca como necessidade primordial na construção

do conhecimento e do raciocínio. Em ambos os aspectos, a Geometria torna-se

intrínseca à preparação profissional do aluno e ao desenvolvimento de habilidades

que o conduzem a determinada carreira. (BARBOSA, 2011, p.19).

Estas segundo a autora são alguns dos principais motivos que a colocam como

conteúdo importante em toda a Educação Básica.

O conhecimento geométrico traz muitos benefícios na vida útil e acadêmica, mas

apesar disto o seu ensino vem sendo desvalorizado nas escolas de ensino básico, sendo

trabalhado como um conteúdo restrito, deixado para o final do ano letivo, o qual às vezes é

extinto das aulas por falta de tempo.

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Quando falamos no processo de ensino da Geometria Brenda, et al.(2011, p.13),

destacam que no ensino da geometria “ao confrontar os alunos com fenômenos geométricos

como as reflexões, e deixando-os resolver problemas geométricos simples, estes aprendem a

compreender melhor o mundo a sua volta”. Os autores comentam que de inicio haverá a

necessidade dos alunos realizarem experiências concretas para a manipulação e observação,

para progressivamente dar ênfase no raciocínio espacial e no desenvolvimento da capacidade

de visualização espacial.

A Geometria propicia um contexto favorável para o desenvolvimento do

conhecimento matemático, permitindo que os alunos se envolvam em atividades matemáticas,

nas quais podem estabelecer relações entre diferentes áreas da matemática. Segundo

Pavanello (1995 apud SOARES, 2009,p.50)

(...) a Geometria oferece um maior número de situações nas quais o aluno pode

exercitar sua criatividade ao interagir com as propriedades dos objetos,ao manipular

e construir figuras, ao observar suas características, compará-las, associá-las de

diferentes modos, ao conceber maneiras de representá-las.

Como falado acima que a Geometria esta presente no nosso dia a dia, o seu ensino

oportuniza o aluno a matematizar a realidade, dando oportunidades de fazer descobertas,

aprender a pensar através da realização de cálculos, abrindo espaço também para a

investigação.

O ensino da Geometria, oportuniza segundo Deguire (1994)“ensinar a resolver

problemas” e “ensinar para resolver problemas”

(...) ensinar a resolver problemas ultrapassa a mera resolução de problemas para

incluir a reflexão sobre processos de resolução, objetivando coligir

estratégias de resolução de problemas que poderão ser úteis posteriormente; ensinar

para resolver problemas envolve o ensino do conteúdo de uma maneira

significativa, de modo que passe a ser utilizado em outros problemas e

aprendizados. Uma maneira, pelo menos, de ensinar para resolver problemas

consiste em desenvolver o conteúdo a partir de episódios de resolução de problemas.

(DEGUIRE, 1994, p. 73).

Trabalhando com resolução de problemas o professor propicia uma motivação nos

alunos, extinguindo a passividade promovida pelos problemas do tipo “siga o modelo”.

A geometria dentro da Matemática escolar, desde que bem trabalhada segundo Toledo

(2009), oportuniza o desenvolvimento de outros tipos de raciocínio na resolução de

problemas, o desenvolvimento do senso estético e da criatividade, a valorização do aluno cujo

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raciocínio é mais voltado aos aspectos espaciais da realidade, melhorando assim seu

desempenho nas atividades de Geometria.

Ainda segundo os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais,1998), os conceitos

geométricos constituem parte importante do currículo de Matemática, pois através deles, o

aluno desenvolve um tipo especial de pensamento que lhe permite compreender, descrever e

representar, de forma organizada, o mundo em que vive.

A Geometria é um dos conteúdos estruturantes do currículo, o qual esta presente tanto

nas series iniciais e finais do ensino fundamental, como no ensino médio, estando sub-

dividido como: plana, espacial, analítica e não-euclidiana.

Segundo as diretrizes, os conteúdos propostos para cada nível de ensino devem ser

abordados por meio de tendências metodológicas da Educação Matemática que fundamentam

a prática docente, algumas das tendências destacadas são: Resolução de Problemas;

Modelagem Matemática; Mídias Tecnológicas; Etnomatemática; História da Matemática e a

Investigação Matemática.

Para este trabalho, escolheu-se a Etnomatemática como a metodologia para o ensino

do cálculo de áreas de quadriláteros irregulares. Este metodologia será descrita a seguir.

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3. ETNOMATEMÁTICA

Em meados da década de 70, iniciou-se os estudos sobre a Etnomatemática, quando

Ubiratan D‟ Ambrósio propôs que os programas educacionais enfatizassem as matemáticas

produzidas pelas diferentes culturas, sendo que seu papel é reconhecer e registrar questões

sociais que produzem conhecimento matemático. Segundo D‟ Ambrósio (2007, p. 17):

O grande motivador do Programa de Pesquisa que denomino Etnomatemática é

procurar entender o saber/fazer matemático ao longo da história da humanidade,

contextualizado em diferentes grupos de interesse, comunidades, povos e nações [...]

Considerada hoje como uma sub-área da História da Matemática e da Educação

Matemática, a Etnomatemática é denominada por D‟ Ambrósio (2007, p.09), como “a

matemática aplicada por grupos culturais, tais como grupos trabalhadores, classes

profissionais, comunidades urbanas e rurais, sociedades indígenas, entre outros”, que se

identificam por possuírem o mesmo objetivo e tradições.

O objetivo do programa Etnomatemática, segundo o autor, é o reconhecimento de

outras formas de pensar, inclusive matemático, proporcionando reflexões mais amplas sobre a

natureza do pensamento matemático, do ponto de vista cognitivo, histórico, social,

pedagógico, procurando entender à aventura da espécie humana na busca de conhecimento e

na adoção de comportamentos.

Além de possuir caráter antropológico, a Etnomatemática possui um foco político,

focalizando na dignidade cultural do ser humano, a qual é violada pela exclusão social, que

segundo D‟ Ambrósio (2007, p.09) se dá muitas vezes por “não passar por barreiras

discriminantes estabelecidas na sociedade dominante, inclusive e principalmente no sistema

escolar”. Mas também:

[...] por fazer, dos trajes tradicionais dos povos marginalizados, fantasias, por

considerar folclore seus mitos e religiões, por criminalizar suas práticas médicas. E

por fazer, de suas práticas tradicionais e de sua matemática, mera curiosidade,

quando não motivo de chacota.D‟ Ambrósio (2007, p. 09)

De acordo com as DCEs (Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná,

2008) a metodologia da Etnomatemática é uma importante fonte de investigação da Educação

Matemática, possibilitando um ensino que valorize a história dos estudantes através do

respeito e reconhecimento de suas raízes culturais, que segundo D‟ Ambrosio (2007, p.42),

quando é reconhecido e respeitado as raízes de um indivíduo, não significa que esta sendo

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ignorado e rejeitado as raízes do outro, mas num processo de síntese, busca reforçar suas

próprias raízes.

Segundo Fantinato (2006), a Etnomatemática proporciona algumas contribuições para

a educação, pois vê a Matemática como uma produção cultural, analisando sua presença no

contexto da vida cotidiana, assim o aluno possuidor de regras e técnicas adquiridas em seu dia

a dia, passa a ser visto como elaborador de conhecimento matemático, e esse reconhecimento

é uma ferramenta importante para a auto-estima do aluno, favorecendo a aprendizagem.

Ainda quando falamos das considerações da Etnomatemática na perspectiva de ensino

Holly L. Wenger (1998, apud SANTOS B. P. p. 204), afirma que:

Ensinar sobre uma perspectiva etnomatemática é um modo de promover reformas no

ensino, engajando os estudantes na descoberta de matemática de seu cotidiano, de

seus pais e amigos de muitas culturas. A perspectiva etnomatemática traz interesse,

excitação e relatividade para os estudantes, que serão mais motivados como

estudantes de matemática em geral.

Considerando o aspecto cognitivo no processo de ensino, revela-se que o aluno é

capaz de reunir situações novas com experiências anteriores, adaptando às novas situações,

ampliando seus fazeres e saberes, com isto, segundo as DCEs (2008), o trabalho pedagógico

deverá relacionar o conteúdo matemático com o ambiente do indivíduo e suas manifestações

culturais e relações de produção e trabalho.

É equivoco pensar que a Etnomatemática pode substituir a matemática acadêmica,

tendo ela uma utilidade limitada, mas temos também, segundo D‟ Ambrósio (2007, p.43) que

“muito da matemática acadêmica é absolutamente inútil nessa sociedade”

Ao utilizar a Etnomatemática como uma proposta pedagógica, se busca fazer da

Matemática algo vivo, permitindo lidar com situações reais no tempo e no espaço, e ao fazer

isso, “mergulhamos nas raízes culturais e praticamos a dinâmica cultural”(D‟ Ambrósio,

2007, p.46), onde através deste, reconhecendo na educação a importância das varias culturas e

tradições na formação de uma nova civilização, transcultural e transdiciplinar.

Para se trabalhar com a Etnomatemática em sala de aula é necessário que este se faça

de maneira a voltar o ensino da matemática para situações presentes no cotidiano dos alunos,

contribuindo para a compreensão do valor do conhecimento que o aluno traz consigo ao

chegar à escola. Buscando assim, a sistematização da matemática realizada por aquele

determinado grupo cultural, estudando-a e trabalhando esta em sala de aula.

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Os caminhos a serem percorridos para se trabalhar com esta metodologia em sala de

aula podem ocorrer de diferentes formas, podendo variar dependendo do encaminhamento

adotado pelo professor. Costa (2005), apresenta a Etnomatemática, através de um projeto

interdisciplinar, na qual buscou envolver atividades compartilhadas pela matemática

acadêmica e pela Etnomatemática, a qual seria vivenciada com toda a comunidade escolar

(discentes, docentes e pais) de uma turma da 6ª série de ensino fundamental.

Segundo Ferreira (1997, p.18 apud COSTA) a Etnomatemática pode ser vista como:

pesquisa de história da matemática, pesquisa antropológica ou como teoria de ensino, as

quais permitem trilhar caminhos condizentes com a meta que pretende-se alcançar, buscando

sempre propiciar aos alunos a oportunidade de valorizar sua realidade, podendo assim, através

da criatividade, criar estratégias para transformá-las, acreditando que possam construir sua

própria história.

Os estudos sobre a Etnomatemática propõem aos professores conhecer a realidade dos

seus alunos e o contexto sociocultural em que vivem, a qual pode ocorrer através da troca de

experiências, de forma com que os professores possam ganhar a confiança das pessoas que

fazem parte desse contexto.

Em sala de aula os alunos devem sentir-se motivados para o estudo, principalmente

por se abordar fatos da realidade deles, o que é fundamental para manter uma relação de

confiança entre professor e aluno, tornando o ensino-aprendizagem da matemática mais

dinâmico e criativo.

3.1 EDUCAÇÃO DO CAMPO

Ao nos aproximarmos de uma escola, observamos diversas determinações, como, sua

cultura, suas influências do ambiente e suas interferências no processo educacional. Todas as

escolas possuem suas regras, seus projetos e seus objetivos, e a partir destes é que se constrói

o processo educacional, buscando proporcionar aos alunos um ensino de qualidade e

significativo.

Fruto de demandas e organizações sociais, a Educação do Campo vêm ganhando mais

vez e voz, trazendo uma nova visão quanto ao campo, o camponês e o homem do campo. “A

concepção da Educação do Campo vem valorizar os conhecimentos e a prática social do

camponês, enfatizando o campo como lugar de trabalho, moradia, lazer, enfim como

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construção de novas possibilidades de reprodução social e desenvolvimento sustentável”

(SOUZA, 2008, p. 02).

Segundo o que diz no II Caderno Temático da Educação do Campo (2009, p.18), esta

Educação “busca conhecer os sujeitos, suas práticas, seus fazeres, para assim compreender

estes professores, educando, como sujeitos de cultura que possuem história, que podem

pensar o amanhã diferente do ontem e melhor do que hoje”.

Os movimentos sociais, expressivamente o MST, “demandam do Estado iniciativas no

âmbito da oferta de educação pública e da formação de profissionais para trabalhar em escolas

localizadas no campo” (SOUZA, 2008, p. 02). A Educação do Campo não é algo recente, mas

o processo para sua implantação é muito lenta, e o que se observa, é que em muitas escolas, a

única mudança que ocorreu, foi somente de nomenclatura, continuando o mesmo processo

educacional.

Buscando proporcionar aos alunos um ensino de qualidade, tanto os professores das

escolas que se localizam na cidade, quanto os professores da Escola do Campo, devem criar

artifícios que tornem o ensino prazeroso e significativo, para isto devem utilizar de diversas

metodologias, adaptando estas aos conteúdos a serem trabalhados.

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4. ENTREVISTA REALIZADA COM AGRICULTOR, SOBRE O MÉTODO

UTILIZADO PARA O CÁLCULO DE ÁREAS DE TERRAS.

Para se trabalhar com a Etnomatemática em sala de aula, necessita-se que seja feito

um estudo sobre a matemática utilizada pela comunidade na qual a escola esta inserida, por

isso, como o objetivo era trabalhar com o cálculo de áreas de quadriláteros irregulares em

uma escola do campo, foi realizado a entrevista com um agricultor da região, para que assim

pudéssemos conhecer e entender os cálculos utilizados por alguns dos agricultores da cidade

de Mallet- PR até os dias de hoje.

P: Patrícia A: Agricultor

P: Com quem o senhor aprendeu a calcular a área de terrenos?

A: Com o falecido pai.

P: Qual é o processo utilizado?.

Se o senhor quiser fazer o desenho, tem uma folha aqui!

A: Agora esse complico né! Como é que é?!

P: É..., o terreno...

A: Há faiz o quadro né?

P: Isso.

A: Hahã. Podemo faze então, meio quadrado mesmo né? (Veja figura 4.1)

Você vai quere que eu faça a conta ai né!

P: Sim.

A: Oh, então eu vo faze assim: cinqüenta e seis braça, e aqui sessenta né?! Aqui da pra faze

com quarenta e quarenta. (Veja figura 4.1)

Mas tem que i falando ou não?

P: Se o senhor puder, para eu ir entendendo!

A: Então, primero soma esse dois lado, quarenta mais quarenta, que da oitenta, e depois

divide por dois. Então oito por dois da quatro, dois quatro, oito, para oito, zero, baixa o zero.

Da quarenta.

Agora soma esses dois lados né?! Então, cinqüenta mais sessenta, que da cento e

dezesseis, daí divide por dois. Aqui.... da 5, dois vezes cinco: dez, para onze um. Baixa o

seis, dezesseis por dois da oito, oito vezes dois da dezesseis, não dá, não deu nada.

Agora faiz... vezes ai né?! Vezes quarenta. Da zero, quatro vezes oito: trinta e dois, vai

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treis. Quatro vezes cinco: vinte e treis, é é é treis... vinte e treis.

Agora faiz dividido por ....

Podia faze essa conta separado, mais não tem pobema, pode ser aqui mesmo!

Vamo dize essa aqui né! Divide por cento e vinte cinco, que é o litro né?! Da um, um

vezes cinco: cinco. Daí dois vezes dois: quatro, é... da um... um vezes cinco:cinco, para

doze... sete né?! vai um, um vezes dois :dois e um: treis, para treis: zero! Agora abaxa o zero,

da setenta, e coloca o zero aqui.

Então oh. Da 10 litro e setenta braça. (Veja figura 4.1)

P: A medida era feita por corda?

A: Corda.

P: As cordas eram de quantos metros?

A: Onze metros, que daí eram cinco braça!

A turma medi, por metro, mais essa por metro eu não sei faze. Por que essa... cento e vinte

cinco é que é o litro...., por metro é seiscentos e vinte e cinco, não tenho certeza...

P: Esse método vale para qualquer terreno?

A: Hahã. Pra qualquer terreno!

P: E se fosse o terreno no formato de um triângulo?

A: Triângulo, então... você diz desse jeito né? (Veja figura 4.2)

P: Isso! Hahã.

A: Daí faiz, faiz a mesma coisa, vamo dize, aqui vamo por... sessenta braça né?!

Aqui, que dê dez braça né!

Aqui vamo...,vamo faze com oitenta... dá a conta maior né?! E aqui vamo por setenta e

cinco braça. (Veja figura 4.2)

P: Esse dez, seria do que? (Veja figura 4.2)

A: Pois é, seria aqui, vamo dize... a medida pra soma junto com esse.Que aqui tem que ter

dez braça, ou cinco braça né?! Pra pode faze essa conta.

Quenem lá num terreno que nois tava roçando, dava bem nesse formato, daí nois fizemo

um corte aqui, e vimo quantas braça que dá!

Então, agora somo esse aqui. Oh, deu setenta. Agora aqui faiz, esse mais oitenta, que da....,

cento e cinquenta e cinco.

E agora divide por dois..., da sete, sete por dois quatorze, para quinze um, baixa o cinco,

que da sete denovo, e sobra um.

Agora setenta que divide por dois, que da treis, treis vezes dois: seis, para sete, um. Baixa

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o zero, que da cinco, cinco vezes dois: dez, para dez: zero.

Agora da pra faze essa conta separado...,não, da pra soma aqui! Sete mais cinco: doze, vai

um, sete mais treis:dez, mais um: onze.

Não..., essa ta errada agora! Claro que ta..., já errei filha da mãe!

Tinha que ser vezes primero. Faço aqui do lado, daí você vai sabe né? ( Veja figura 4.2)

P: Sem problema!

A: Setenta e sete, vezes trinta e cinco. Então, cinco vezes sete: trinta e cinco, e cinco vezes

sete: trinca e cinco. Trinta e oito, trinta e nove, quarenta.

Treis vezes sete:vinte e um, vai dois. Treis vezes sete: vinte e um, com dois vinte e treis.

Somando, da cinco, da um, aqui da sete e aqui da dois.

Agora divide por cento e vinte cinco, que é o litro..... Da dois, dois vezes cinco :dez, para

onze um, dois vezes dois: quatro, quatro e um cinco, para sete: dois. Dois vezes um: dois,

para dois zero. Abaixa o cinco: dá, dá dois denovo, dois vezes cinco: dez. Não, não... aqui dá

um...

Um vezes cinco: cinco, para cinco: zero. Agora dois vezes dois: dois para onze: nove. Dois

vezes um: dois, para dois zero. Não... não, da dois.Oh, por sobro mais de meio litro.

Dois vezes cinco: dez, para quinze: cinco. Dois vezes dois: quatro, quatro mais um: cinco,

para onze: seis. Dois vezes um: dois, para dois: zero.

Então deu: vinte e dois litro e sessenta braça. (Veja figura 4.3)

P: O senhor ainda utiliza esse método ainda?

A: Sim, ainda utilizo sim!

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Figura 4.1 – Cálculo da área da quadrilátero realizado pelo agricultor.

Fonte: O agricultor, 2014.

Figura 4.2 – Cálculo da área do triângulo realizada pelo agricultor.

Fonte: O agricultor,2014.

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Figura 4.3- Cálculo feito pelo agricultor, para determinar a área do terreno em litros.

Fonte: O agricultor, 2014.

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5 . PROPOSTA DE ENSINO

Esta proposta de ensino a seguir é direcionada para os alunos do sétimo ano do Ensino

Fundamental, tendo como objetivo ensinar o cálculo de áreas de figuras geométricas

irregulares mais propriamente quadriláteros irregulares. Esta proposta desenvolve-se mediante

o uso de recursos pedagógicos, como réguas, transferidor, papel milimetrado, e a utilização do

Google maps para a obtenção de quadriláteros que representam áreas rurais de plantio. As

atividades podem ser adaptadas conforme a necessidade apresentada pela turma, e conforme a

pretensão do professor. Para a sua realização os alunos devem conhecer o cálculo de área de

algumas figuras geométricas regulares, como: quadrado, retângulo, triângulo e trapézio.

Ao se utilizar a Etnomatemática, devemos valorizar e compreender a matemática

aplicada por determinado grupo cultural. Por isto, para esta proposta de ensino, utilizamos a

matemática aplicada pelos agricultores, a qual será apresentada através de uma história,

contada a seguir, utilizando para este nomes fictícios:

5.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

Sr. Fernando é um grande produtor de fumo da cidade de Mallet, e para aumentar

ainda mais sua plantação, arrendou o terreno de seu vizinho, possuindo este terreno o formato

de um quadrilátero, estando representado o terreno e as medidas de seus lados na figura 5.1.

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Figura 5.1 – Área do terreno medido em braças.

Fonte: Adaptado de: https://www.google.com.br/maps

Para pagar o arrendamento ao proprietário, Sr. Fernando precisava saber qual

aproximadamente é a área deste terreno, já que o combinado seria pagar R$ 500,00 por

hectare de terra. No entanto, como não sabia fazer estes cálculos, pediu para um vizinho, o Sr.

Geraldo, o qual aprendera calcular a área de terras com seu pai.

Fernando passou então as medidas dos lados do quadrilátero para Geraldo, que

tomando papel, caneta e calculadora em mãos foi explicando como fazer os cálculos, dizendo:

- Como os lados do terreno foram medidos em braças (medida esta utilizada por

muitos agricultores),devemos primeiramente transformar em metros.

- De que forma faço isso?. Instigou seu Fernando.

Com paciência Geraldo foi explicando, de que forma aprenderá transformar essas

unidades de medidas:

- Como cada braça é equivalente a 2,20 m, multiplicamos a medida de cada lado por

2,20 m, encontrando assim a medida do lado em metros.Observe que para o lado que mede

340 braças devemos multiplicar por 2,20m, assim a medida do lado em metros será de 748m.

Da mesma forma fazemos para os outros lados.

As medidas encontradas por Geraldo estão representadas na figura abaixo.

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Figura 5.2 – Área do terreno medido em metros.

Fonte: Adaptado de: https://www.google.com.br/maps

Após encontrar os lados do quadrilátero em metros, tomando novamente papel em

mãos, Geraldo explicou de que forma faz os cálculos, para encontrar a área do terreno,

dizendo:

- Agora para encontrar a área do terreno temos que somar os lados apostos e dividir

por dois.

539 m + 726 m = 1265 m 1265 ÷ 2 = 632,5 m

748 m + 725 m = 1473 m 1473 ÷ 2 = 736,5m .

- Tendo encontrado os valores 632,5 m e 759 m, temos que multiplicar os resultados

obtidos, encontrando assim a área do terreno.

A = 632,5 x 736,5

A= 465.836,25 m². Logo a área do terreno que o Sr. Arrendou é 465.836,25 m².

- Há, entendi. Como vou pagar R$ 500,00 por hectare, como faço para saber quanto

devo pagar para o proprietário?(disse Sr. Fernando)

- Pense comigo. Como 1 hectare = 10 000 m², pegamos a área total e dividimos por

10000, encontrando assim quantos hectares de terra tem neste terreno.

Tomando novamente o caderno em mãos, Geraldo fez os seguintes cálculos:

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465.836,25 m² ÷ 10000 m²=46,58hectares. E para concluir as contas explicou que:

- Encontrado a quantidade de hectares, multiplicamos este por R$ 500,00, encontrando

assim quanto você terá que pagar pelo arrendamento.

Fazendo a multiplicação na calculadora, Geraldo concluiu que:

- O valor a ser pago pelo arrendamento é de R$ 23.292,00 aproximadamente.

Sr. Fernando ficou muito agradecido ao Sr. Geraldo pela sua ajuda, e por ter lhe

ensinado como fazer os cálculos. Podendo agora pagar o arrendamento para o proprietário.

5.2 ATIVIDADES PARA O ENSINO DO CÁLCULO DE ÁREAS DE QUADRILÁTEROS

IRREGULARES.

Com base na história que você leu, realize as atividades a seguir

Atividade1- Desenhem em um papel milimetrado o terreno que Sr Fernando arrendou.

Atividade2- Após ter feito a representação do terreno em um papel milimetrado, divida este

desenho, em figuras geométricas já estudadas: quadrado, retângulo, triângulo.

Atividade3- Com o auxilio de uma régua, encontre a medida dos lados das figuras

geométricas determinadas na atividade 2.

Atividade4- Utilizando os conceitos de áreas de figuras planas encontre a área de cada uma

das figuras, que juntas representam a área do terreno.

Atividade5- Calcule a área do terreno arrendado pelo Sr Fernando somando as áreas das

figuras obtidas na atividade 4.

Atividade6- Utilizando a área encontrada na atividade 5, calcule quanto Sr. Fernando

deverá pagar pelo arrendamento, já que o combinado é de R$ 500,00 por hectare. (1

hectare= 10 000 m²)

Atividade 7- Compare a área obtida na atividade 5 com a área apresentada por Geraldo na

história contada acima. Esses valores são iguais, ou aproximados?

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5.3 OBJETIVOS E ORIENTAÇÕES DAS ATIVIDADES

Apresentaremos a seguir os objetivos, orientações e sugestões para os professores

durante a realização das atividades propostas.

Atividade 1

O objetivo desta atividade é fazer com que o aluno consiga representar a área do

terreno arrendada em um papel milimetrado, facilitando sua visualização para o

desenvolvimento das atividades posteriores.

Neste momento, o professor poderá encaminhar a atividade sugerindo o lado do

quadrilátero para ser a base do desenho a ser feito, o qual facilitará a visualização para o

desenvolvimento da atividade 2.

O professor deverá explicar que, devido as medidas serem grandes para representar no

papel, deve-se utilizar escala, neste caso sugere-se a escala 1:50 (ou seja, a cada 1 cm da

régua equivale a 50 m do terreno real). Caso os alunos apresentem dificuldades nesta

transformação de escala, o professor deve orientá-los e ajudá-los neste processo.

Os alunos poderão apresentar dificuldade no construir o quadrilátero utilizando apenas

a régua, neste momento, se o professor achar necessário poderá orientar os alunos para

utilizarem o transferidor, medindo os ângulos formados pelos lados do terreno, e utilizando-os

para o seu desenho no papel milimetrado.

Segue abaixo um exemplo do desenho no papel milimetrado, sendo tomado como base

o lado de medida 725m.

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Figura 5.3 – Representação do terreno em metros no papel quadriculado. Fonte: A

autora,2014.

Atividade 2.

Esta atividade busca proporcionar que os alunos percebam que, tomando uma figura

geométrica na forma irregular, podemos dividi-la em partes utilizando-se de figuras

geométricas planas conhecidas.

Agora, o professor deverá pedir para que utilizem as figuras que são de conhecimento

dos alunos, tendo talvez o professor, que lembrar as definições que cada figura geométrica

apresenta, como por exemplo, a medida de seus lados, e seus ângulos internos.

Damos como sugestão para que os professores orientem os alunos para repartirem o

desenho em duas figuras geométricas, sendo elas o retângulo e o triângulo, como mostra a

figura 5.4 a seguir.

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Figura 5.4 –Representação da área do terreno, subdividida em figuras geométricas.

Fonte: A autora,2014.

Atividade 3.

O objetivo desta atividade é fazer com que os alunos encontrem as medidas dos lados

das figuras encontradas na atividade anterior, para então conseguirem resolver a atividade 4.

Nesta atividade os alunos terão de encontrar as medidas em cm utilizando de réguas e

transformá-las em metros, utilizando a escala utilizada na atividade 1.

Neste momento os alunos deverão medir com a régua, encontrando assim de forma

mais precisa a medida dos lados das figuras em que eles repartiram o terreno, podendo anotar

as medidas encontradas no próprio desenho. Aqui o professor deve orientar os alunos que ao

medirem com a régua, estarão obtendo o valor em centímetros, devendo transformar em

metros conforme a escala usada. Segue o exemplo:

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Figura 5.5 – Medida dos lados em metros das figuras geométricas, as quais foram subdivididas a área do terreno.

Fonte: A autora,2014.

Atividade 4.

O objetivo desta atividade é de fazer com que os alunos utilizando as medidas

encontradas na atividade 3 e o seu conhecimento quanto as figuras geométricas planas,

encontrem a área de cada figura em m².

Os alunos poderão encontrar dificuldades no cálculo de área, talvez devido ao

esquecimento das fórmulas, devendo o professor retomar esses conceitos, e se caso não foi

trabalhado ainda, deverá explicar como encontrar a área de algumas figuras geométricas que

possam ter sido utilizados por eles, como o triângulo e o trapézio.Segue o exemplo:

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Figuras 5.6- Valor da área em m² das figuras geométricas, as quais foram subdivididas a área do terreno.

Fonte: A autora,2014.

Atividade 5.

O objetivo desta atividade é possibilitar que o aluno perceba que a área total pode ser

encontrada somando as áreas das figuras geométricas determinadas por eles.

Neste momento os alunos deverão somar as áreas das figuras, as quais juntas

representam a área do terreno arrendado por Sr Fernando.

No exemplo dado, devemos somar a área do retângulo com a área do triângulo, sendo

assim temos:

390.775+ 67.787,5 = 458.562,5 m²

Logo a área deste terreno é de 458.562,5 m²

Atividade 6.

Esta atividade possibilita que o aluno calcule o valor a ser pago pelo arrendamento,

tomando a área encontrada na atividade 5, podendo eles compararem com o valor calculado

por Sr. Geraldo.

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O professor nesta atividade poderá sugerir aos alunos que retomem a historia e

verifiquem de que forma Sr. Geraldo fez o calculo, podendo utilizar o mesmo processo, mas

agora utilizando a área encontrada na atividade 5.

Desta forma teremos: 458.562,5 ÷ 10.000 = 45,85625 hectares, e como será pago R$

500,00 por hectare, temos: 45,85625 x 500,00 = 22.928,125, ou seja o valor a ser pago

aproximadamente é de R$ 22.928,12.

Atividade 7.

Esta atividade tem como objetivo proporcionar nos alunos uma visão crítica quanto ao

cálculo utilizado pelos agricultores, do cálculo utilizado por eles, possibilitando um ambiente

propicio a debates levando a construção do conhecimento.

Ao comparar os resultados, espera-se que o aluno verifique a diferença entre as

medidas encontradas pelos dois métodos.

465.836,25 m²- área obtida por Sr. Geraldo.

458.562,5 m²- área encontrada através da atividade.

Assim temos que a diferença é de 7.273,75 m².

Nesta atividade julgamos ser importante justificar o porquê da diferença dos resultados

encontrados, não menosprezando o cálculo utilizado pelo agricultor.

Caso os alunos não observem esta diferença, ou não compreendam o porquê desta, o

professor poderá sugerir que os alunos representem através de desenho, o retângulo obtido das

medidas do terreno, pois ao somar e dividir por 2, o agricultor transforma um quadrilátero

qualquer em um retângulo, cuja medidas dos lados, é a média dos lados opostos(veja figura

5.7).Sugerimos que a escala a ser utilizada para o desenvolvimento dessa atividade seja a

mesma utilizada na atividade 1.

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Figura 5.7- Representação do retângulo encontrado pelo Sr. Geraldo.

Fonte: A autora,2014.

Após o desenho do quadrilátero o professor deverá pedir para que seus alunos

calculem a área deste retângulo, encontrando eles o mesmo resultado obtido por Sr. Geraldo

na história.

Uma sugestão para que os alunos consigam visualizar o porquê da diferença das áreas

encontradas, caso não tenham conseguido, seria sobrepor o retângulo encontrado, com o

desenho que representa o terreno estudado, podendo os alunos verificar a diferença das

medidas das áreas.(veja figura 5.8).

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Figuras 5.8- Área do terreno, superposta à área do retângulo.

Fonte: A autora,2014.

Se o professor achar necessário pode ser sugerido aos alunos que recortem a área do

retângulo que não esta superposta, e colar em cima da área do terreno que também não esta

superposta, observando assim que a área do retângulo é maior.

Como o objetivo é trabalhar com a Etnomatemática, se deve ressaltar que o método

utilizado pelo agricultor não esta errado, ele é apenas impreciso, sendo que essa precisão é

maior quando os lados opostos do quadrilátero possuírem medidas iguais.

Portanto, se deve ressaltar aos alunos que, o método utilizado pelo agricultor

possibilita uma maior praticidade, mas o uso deste não garante o valor exato da área.

As orientações acima são apenas sugestões, podendo professor e alunos, seguir outros

passos e percorrer caminhos diferentes.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho possibilitou conhecer mais sobre a Etnomatemática como uma

tendência metodológica da educação, a qual proporciona um ensino que valorize as tradições

e conhecimentos dos povos na qual a escola esta inserida.

Este foi desenvolvido pensando em alunos da Escola do Campo, localizado no

município de Mallet, na qual a maioria dos alunos são filhos de agricultores. Na busca de

valorizar o conhecimento e a cultura deste povo, pensou-se em utilizar a Etnomatemática

como uma metodologia de ensino para o ensino do cálculo de áreas de quadriláteros

irregulares, cálculo utilizado no dia a dia dos pequenos agricultores da região.

O cálculo de figuras geométricas planas faz parte do currículo escolar, por isto

consideramos ser importante trabalhar este, utilizando de estratégias que possibilitem ao aluno

atribuir sentido, e estabelecer relações com o meio em que vive, podendo aplicar este

conhecimento em seu cotidiano.

Assim, o presente trabalho buscou abordar o cálculo utilizado pelos agricultores,

possibilitando aos alunos construírem uma visão critica, mostrando que dependendo do

formato do terreno este método se torna impreciso, podendo então ser utilizado o método

abordado nas atividades apresentadas, interligando assim a teoria com a prática.

Abordamos neste trabalho apenas os conceitos do cálculo de área para figuras

geométricas planas irregulares, visto que é destinado a alunos de sétimo ano das séries finais

do ensino fundamental. Sendo assim, outros trabalhos podem dar continuidade ao mesmo e

aprofundar os estudos.

Ressaltamos que o professor poderá abordar e explorar a questão do erro gerado

através do método utilizado pelo agricultor em séries mais avançadas, podendo utilizar

diferentes recursos que possibilitem entender esta diferença, como por exemplo, utilizando-se

do software Geogebra, o qual permite testar várias figuras de forma mais dinâmica.

Para este trabalho, foi feito a pesquisa com agricultores da região de Mallet, porém,

pode ser adaptado e utilizado para qualquer região, bastando que o professor realize a

pesquisa das particularidades da sua região e adapte-as neste referido trabalho.

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