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\ \ ACERCA DE PARADIGMAS OU DA CIDADANIA' FRANCISCO DAS CHAGAS DE SOUZA** RESUMO A partir da questão da leitura, encaminha-se a análise referindo a preocupação atual com a discussão do conceito de alfabetização na Europa. Analisando a questão da leitura no Brasil, argumenta-se que há deficiência na formação dos educadores. É mostrado um quadro de dados referentes a 1988 dando conta da formação de mais de 90.000 licenciados e pedagogos naquele ano. Esse número de educandos formados em apenas um ano, sem preocupação com a questão da leitura, sugere um grave problema na escola de 3." grau no Brasil. Finaliza-se enfatizando a necessidade de maior envolvimento dos pesquisadores da educação com a temática. PALAVRAS-CHAVE: Leitura; Ensino Superior; licenciados - formação; pedagogos - formação; cidadania. Um dos problemas mais complexos que vem sendo discutido em alguns países da Europa, desde os anos 60, é a questão da leitura. Isso vem sendo suscitado a partir de constatações sobre o fato de que o ensino do domínio das nuances desse mecanismo de apropriação do conhecimento não constitui preocupação importante dos educadores que não estejam comprometidos profissionalmente com o ensino da língua vernácula. Assim, foi verificado que professores de outras disciplinas cujo conteúdo não é a língua vernácula não se preocupam com tal questão (Downing e Fijalkow, 1984). Acontece que os conhecimentos que constituem os conteúdos básicos dessas disciplinas são transmitidos fundamentalmente através da leitura. Estão aí os livros-textos, os estudos programados, as instruções '0 presente trabalho foi apresentado na 16.' Reunião Anual da ANPED - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação, realizada de 12 a 16 de setembro de 1993 em Caxambu, MG. **Professor Adjunto do Centro de Ciências da Educação, Departamento de Biblioteconomia e Documentação, UFSC; Doutorando em Educação, UNIMEP, Piracicaba, SP. BIBlQS, Rio Grande, 7:291-298, 1995. 291

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ACERCA DE PARADIGMAS OU DA CIDADANIA'

FRANCISCO DAS CHAGAS DE SOUZA**

RESUMOA partir da questão da leitura, encaminha-se a análise referindo a

preocupação atual com a discussão do conceito de alfabetização na Europa.Analisando a questão da leitura no Brasil, argumenta-se que há deficiênciana formação dos educadores. É mostrado um quadro de dados referentesa 1988 dando conta da formação de mais de 90.000 licenciados epedagogos naquele ano. Esse número de educandos formados em apenasum ano, sem preocupação com a questão da leitura, sugere um graveproblema na escola de 3." grau no Brasil. Finaliza-se enfatizando anecessidade de maior envolvimento dos pesquisadores da educação coma temática.

PALAVRAS-CHAVE: Leitura; Ensino Superior; licenciados - formação; pedagogos - formação;cidadania.

Um dos problemas mais complexos que vem sendo discutido emalguns países da Europa, desde os anos 60, é a questão da leitura. Isso vemsendo suscitado a partir de constatações sobre o fato de que o ensino dodomínio das nuances desse mecanismo de apropriação do conhecimento nãoconstitui preocupação importante dos educadores que não estejamcomprometidos profissionalmente com o ensino da língua vernácula. Assim,foi verificado que professores de outras disciplinas cujo conteúdo não é alíngua vernácula não se preocupam com tal questão (Downing e Fijalkow,1984).

Acontece que os conhecimentos que constituem os conteúdosbásicos dessas disciplinas são transmitidos fundamentalmente através daleitura. Estão aí os livros-textos, os estudos programados, as instruções

'0 presente trabalho foi apresentado na 16.' Reunião Anual da ANPED - AssociaçãoNacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação, realizada de 12 a 16 de setembro de1993 em Caxambu, MG.

**Professor Adjunto do Centro de Ciências da Educação, Departamento deBiblioteconomia e Documentação, UFSC; Doutorando em Educação, UNIMEP, Piracicaba, SP.

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operacionais nos manuais de experimentos, bem como textos e conceitoshistóricos, geográficos e toda a literatura plena' produzida no mundo todo.

Ademais, principalmente com a corrente filosófica denominadaNeopositivismo, ficou ressaltada a importância da compreensão da realidadecomo construção verbal, também admitida por analistas importantes comoJohn Brockman.

De outro lado, parece defensável, sob o ponto de vista daSociologia do Conhecimento e da Antropologia (ver Goody, 1987), que umdos principais fatores de civilização é o domínio da linguagem, a qualdemanda codificação necessária para o registro e acumulação dos dados econhecimento que o homem produz a partir de seu trabalho, ou melhor, apartir de sua intervenção concreta na realidade (ver Marx e Engels emIdeologia alemã; Berger e Luckmann, 1985).

Conjugado à questão da leitura, observa-se hoje na Europa osurgimento de outra discussão, e que é um fato até agora pouco investigadonaquele contexto. Trata-se do fenômeno da alfabetização. A questão,segundo Burstall, é sustentada pela percepção de uma nova realidade quese instala a partir da instauração das modernas tecnologias de comunicaçãode dados e informações, em que se juntam os meios televisivos einformáticos. A partir disso, é colocado como problema fundamental oconceito mesmo de alfabetização e de leitura em si (ver Burstall, 1991; soboutro ângulo, isto é, das possibilidades de realização atual, ver tambémGutiérrez Pérez, 1988 e ainda Babin e Kouloumdjian, 1989).

Olhando a partir da América Latina, o que se tem observado é acrescente manifestação de preocupações similares e muito pouca ação. Novolume organizado por Franco e Zibas (1990), o Secretário Executivo doConselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO), AlejandroPiscitelli, afirma que um novo paradigma deve ser observado. É o paradigmatecnológico, que permite a constatação de que as tecnologias fundamentaisno processo de mudança em curso são tecnologias centradas na geração etratamento da informação. O detalhe é que o volume e o comentário resultamdo IV Seminário da Comissão "Educação e Sociedade" do CLACSO,realizado em outubro de 1988 no Chile, cujo tema central foi "Políticaspúblicas e Educação" e no qual foram analisadas as dimensões:

- Política educacional, enquanto política pública: papel do Estado e oatendimento das demandas da sociedade;- A universalização do ensino fundamental: desafios da qualidade e daquantidade na América Latina;

'Literatura plena significa aqui os textos que tratam um tema sob suas várias facetaS,constituindo monografias. Pode ser um livro (não-didático), um artigo, uma tese de doutorado ete.

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- Políticas públicas frente à preparação para o trabalho e desenvolvimentotecnológico na América Latina.

No Brasil, de outro lado, a preocupação com a leitura tem ficado muitocentrada nas questões do ensino especializado da linguagem, e ospesquisadores envolvidos trabalham o tema como uma preocupação quaseexclusiva da área de língua vernaeuía Nesse sentido, o domínio da leitura comoinstrumental para uso em todas as disciplinas, e o domínio das técnicas de leiturapelos professores de todas as disciplinas não parece algo ainda bem cuidado.Essa situação, que perpetua a responsabilidade da formação do leitor apenasnas mãos dos professores de língua Portuguesa, transforma~se numa perigosaredução do domínio do instrumental de leitura pelos egressos da Escola (sobreuma Possibilidade da biblioteca como amplo instrumento de construção, verPatte, 1978). Face a isso, pode-se construir a dúvida da habilidade concreta dosegressos, de todos os níveis de ensino, de tirarem um bom proveito da produçãoescrita diariamente produzida em quantidade cada vez maior, cobrindo todos ossetores'. Assim, é possivelmente correto imaginar-se que a grande maioria dosegressos do sistema formal de ensino, do primário à universidade, temdificuldades importantes enquanto leitores··, comprometendo, portanto, a

'De acordo com Wurmann, "Nos últimos trinta anos, produziu-se um volume deinformações novas maior do que nos cinco mil anos precedentes. Cerca de 1.000 livros [isto é,títulos novos] são publicados no mundo por dia e o total do conhecimento impresso duplica acada oito anos" (1991, p. 39). Diz mais: "...nos Estados Unidos são publicados aproximadamente9.600 períódícos [isto é, ediçõesJ por ano" (id., p. 38). Com isso, segundo ainda Wurmann, épossível "estimar-se que as maiores bibliotecas do mundo dupliquem de tamanho a cada 14anos, a uma taxa de 14.000% a cada século. No início dos anos 1300, a Biblioteca da Sorbonne,em Paris, continha 1228 livros e era considerada a maior da Europa. Hoje [1989J existem váriasbibliotecas no mundo com um acervo bem superior a 8 milhões de livros cada" (id., p. 222).

"Em 1981, o Professor João Eduardo R. Vil/a lobos, ao prefaciar o livro de MariaThereza Fraga Rocco, resultante de uma Tese de Doutorado em Educação defendida na USP,intitulado Crise na linguagem, faz uma projeção de causar preocupação. Mesmo assim, o que sevê é uma tendência à manutenção ou até piora da situação. Ele afirmava: "O presente trabalho deMaria Thereza ... mostra que apenas 40 dos 1.500 textos examinados são parcialmente providosde linguagem criativa e que somente 4 deles, segundo os seguros critérios estabelecidos, serevelaram claramente criativos. Extrapolando esses dados, não sem certo risco, digamos que noBrasil todo tenhamos cerca de 400 ou 500 criaturas entre 19 e 22 anos de idade capazes de algumacriatividade. Somadas estas a umas tantas centenas que passaram pela Escola Superiorde Guerrae que se autoproclamam a elite pensante do país, e, vá lá, uma pouca de gente, em todas as faixasetárias acima dos 20 anos; que se salvaria, embora não pelos critérios da mencionada EscolaSUperior de Guerra, teríamos aí, no Brasil, coisa de duas ou três ou talvez até quatro mil pessoascapazes de pensar coisa com coisa, com autonomia intelectual e inteligência. É pouco,convenhamos, para uma nação que já está chegando aos 130 milhões de habitantes." (p.15-16).Diz também, ainda no mesmo texto, que "Não é possível deixar de reconhecer o valor da palavrade alcance universal, coerente, criativa, como integrante essencial da cultura, especialmente daPalavra escrita, sem a qual não teríamos sequer História ... " (p. 15).

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qualidade do trabalho de todos, notadamente daqueles que obtiveram formação

em nível superior.

CURSOSNúmero de Conclusões

1988

Matrículas nos cursos abril de1989

CíênciasFísicaMatemáticaQuímicaCiências BiológicasEducação FísicaEsquema I e 11Estudos SociaisFilosofiaProfessores para a partede formaçãoespecializada decurrículo de2.° GrauGeografiaHistóriaPedagogiaEducação ArtísticaLetras

11997494

2436781

25837144621

71011195

609748974

206107851

1989236301

103923050110 190

57436255547

269614090

16276

35352489635011

119 9621621596473

TOTAL91425

484713

Fonte: ANUÁRIO ESTATíSTICO DO BRASIL -1991. IBGE.

Diante disso, ao operar com leitura de literatura científica etecnológica, o profissinal universitário estará se saindo de que modo? O queo Brasil vem fazendo para transformar a leitura em informação, e ainformação em conhecimento, a fim de utilizá-Ia para o seu crescimentosócio-política-econômico? Como a informação obtida a partir da leitura étransformada em conhecimento e como isso é tratado na escola ou noprocesso de educação? Qual o comportamento do docente universitário nosentido de manter estimulados seus alunos ao reforço do hábito de ler etransformar leitura em informação? Como o docente universitário estimula oaluno a interessar-se em ler mais que o estritamente obrigatório para oacompanhamento de suas aulas? Qual a interação do próprio professoruniversitário que atua nos cursos superiores que formam professores para aeducação infantil e de primeiro e segundo graus com a biblioteca dauniversidade e/ou faculdade? Mais particularmente, o que os professores dasdisciplinas específicas dos cursosde Pedagogia indicam para os seus alunoS

e o que eles (professores) lêem?

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Essas e outras questões deveriam ser objeto de urgente discussão,necessitando, portanto, fazer parte de qualquer agenda onde se discuta ofuturo da educação brasileira.

Perguntemos então: e por que incluí-Ias numa agenda dessa. dimensão? Talvez porque todos costumamos dizer que é injustificável o queacontece hoje na formação do educador brasileiro.

Vendo-se apenas quantidade, em 1988 foram formados 91.425.profissionais para a Educação, em cursos que são dirigidos para apreparação dos docentes que atuarão no segundo grau, no primeiro grau, nomagistério de segundo grau, no pré-escolar, na administração, orientação esupervisão escolar, conforme o quadro, o qual também mostra que em abrilde 1989 havia 484.713 matrículas para esses mesmos cursos.

Qualitativamente, isto é, segundo a capacidade de se realizar umtrabalho que represente a possibilidade de superar as limitações e a misériada maior parte do povo brasileiro, qual o percentual desse contingente dedocentes que poderá realmente oferecer uma contribuição decorrente de suaformação, de sua capacidade intelectual, de criatividade? Pois é nisso queestá a questão principal. Dos 26.961 pedagogos formados em 1988, apenas8.139 formaram-se em universidades. Os outros, mais de 18.000, concluíramseus cursos em federações de escolas, faculdades integradas eestabelecimentos isolados. Nos outros cursos que aparecem no quadro, osnúmeros também não são, proporcionalmente, muito diferentes. Seconsiderarmos que a maioria das universidades (federais, estaduais,municipais e particulares), na qualidade e quantidade de seus acervosbibliográficos, estão geralmente abaixo da crítica, comparando-as aosestabelecimentos isolados, estes, salvo raríssimas exceções, nem têmqualificativo. Isso talvez explique por que a quase totalidade dos docentes,inclusive todos esses novéis docentes que saem a cada ano de todos essesestabelecimentos, não se sintam com condições de fazer além de silênciosobre a construção de acervos nas escolas de 1.0 e 2.0 graus, de cujo totalnão são mais que 10% as que possuem bibliotecas. É de se presumir que talpostura silenciosa ou passiva seja o mais evidente atestado de incompetênciadesses docentes e (por que não?) dos docentes do dito 30 grau, na medidaem que esse eventual pacto funcionaria de modo circular. Essa posturatambém evidencia incompetência por demonstrar a perpetuação secular dodiscurso limitado do docente, que resulta também da limitação de leitura(Bordenave e Pereira, 1988). Na medida em que o professor deixar desilenciar acerca da construção de acervos bibliográficos nas escolas, e taisacervos passarem a ser formados e colocados à disposição de todos osalunos, esse professor passará a ter competidores reais nos próprios livros,

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pois cada livro traz uma ou mais aulas, e representa a manifestação deoutro(s) indivíduo(s) sobre um dado conhecimento. E quanto mais livros (maisdiscursos que podem ser majoritariamente divergentes daquele discurso doprofessor) são lidos pelos alunos, mais elementos, mais informações, maisconhecimentos e melhores meios terão tais alunos para confrontar e atéafrontar o conteúdo do ilustre professor que está diante deles. Assim, parao professor, é mais fácil silenciar, como parece comum na nossa realidade,sobre a construção de bibliotecas realmente decentes nas escolas (de todosos graus de ensino), uma vez que romper esse silêncio é admitir apossibilidade de contestação. É buscar para a sala de aula discursoscompetidores.

De outro lado, se esse silêncio é uma autodefesa do professor ouuma afirmação de uma falsa autoridade de conhecimento, ele se afiguratambém como um excelente mecanismo de obscurantismo, ao inviabilizar acirculação plena do maior número possível de idéias sobre qualquer coisa.Pesquisas há que mostram maior eficácia do texto lido ou da experiênciapraticada, sobre a teteçêo, ou sobre o cuspe/giz do quadro verde/negro (verWurmann, 1991). Da fa/ação retém-se uma ínfima parte. Do cuspe/giz,geralmente, retêm-se fragmentos. Essas formas de "dar" aulas, tomadascomo únicas, produzem a alienação, o distanciamento em relação ao todo e,portanto, repete-se na escola (mesmo os professores ditos progressistas)tudo o que o discurso - inclusive o dito discurso progressista - insiste que se·deva evitar.

Mas há ainda um outro ponto, e é grave. É aquele em que oprofessor parece, consciente ou inconscientemente, situar o aluno emcondição muito próxima do débil mental de um certo tipo. Do tipo que éincapaz de utilizar a biblioteca e se descobrir um descobridor depossibilidades múltiplas de fazer suas descobertas, encontrando maravilhasalém daquelas professadas por seu ilustre mestre. E isso o professor constróide várias maneiras, inclusive quando, havendo bibliotecas, não faz o esforçosuficiente para sugerir novos títulos a serem adquiridos e não luta por esserecurso de ensino fundamental que são os livros, que tratam, de diversoSângulos, do assunto ou assuntos com que lida.

Quando nos deparamos com isso, temos realmente a certeza deque é difícil, a continuar desta maneira, que a sociedade brasileira consigasuperar com mais celeridade as limitações sociais para a conquista da plenacidadania. Essa tentativa de homogeneização do discurso do docente e atentativa de perpetuação de sua hegemonia, no interior da escola, a fu9~ àluta pela construção de bibliotecas escolares em todos os níveis de ensln~(pré, primeiro, segundo e terceiro graus e também nos mestrados e ate

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doutorados), e o conseqüente autoritarismo expresso na tentativa de excluiroutros comp~tidores (na forma de livros, artigos, filmes etc.) são formasconcretas de trabalho para o reforço dbpoder econômico-político externó quecerca a escola. . .

Esses poderes, seja o poder dito de direita, ou poder' dito deesquerda, por não serem de nenhum modo neutros, precisam ser postos emquestão permanentemente e, nas escolas, a forma de se estimular isso éatravés de bibliotecàs escolares, bem sortidas, com todos os autores quetratam dos temas sob quaisquer visões de mundo. Agir diferentemente dissoé trabalhar pelo embotamentodo indivíduo e, mais que isso, é não respeitara inteligência e a individualidade de cada um, produzindo resultadossurpreendentes que transformam em números, em estatísticas, a baixaqualidade da educação realizada no Brasil, como aconteceu em recentespesquisas sobre a qualidade do ensino básico no País,

Diante disso, imaginamos que urge conhecer concretamente essarealidade que se espraia nos discursos de alguns docentes e discentes e queaparece nas estatísticas brasileiras. Portanto, parece ser importarlte que sepesquise e se produzam informações a fim de que se possa construir oconhecimento o mais aproximado possível dessa realidade concreta.

Mas não são necessárias apenas informações quantitativas, emborasejam importantes também. Precisa-se, sobretudo, de análise do contextoescolar, do contexto docente, discente e do contexto das famílias dessesdiscentes. Precisa-se do conhecimento o mais denso POSSívelda miséria daeducação de nível superior em Pedagogia e nas diversas licenciaturas.Precisa-se desesperadamente saber como essa miséria derrota os esforçosdiscursados em prol da melhoria do ensino. Precisa-se de uma tomada deposição dos pesquisadores em Educação; dos cursos de pós-graduaçãostricto sensu. Precisa-se do envolvimento dos institutos de pesquisa emEducação, do INEP e da SENESU.

Sem uma primeira compreensão do tema, que é fUhdamentalmenteum problema de cidadania, da formação de cidadãos plenos de condições dese inserirem competitivamente no mundo do trabalho e das relações sociais,não é possível ainda construir as diretrizes que deverão ser produzidascoletivamente, a fim de que a pesquisa, uma vez delineada, possa trazerCOnseqüências práticas e resultados concretos.

Sem que se faça conscientemente essa primeira tomada deposição, a percepção de Alejandro Piscitelli, que mencionamos no iníciodeste documento, acerca da inserção dos povos latino-americanos nessenovo paradigma, o paradigma tecnológico, centrado na informação, será maisuma das tantas construções que os intelectuais e ideólogos do mundomOderno produzem e que para a maioria da população latino-americana(Brasil junto) tem apenas o efeito de uma miragem.

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