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A REDE INTERNET COMO CANAL DE COMUNICAÇÃO, NA PERSPECTIVA DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO Vânia M. R. Hennes de Araújo Isa Maria Freire RESUMO Inserindo o objeto do estudo da Ciência da Informação no contexto da comuni- cação humana como algo capaz de mudar estruturas, os autores definem sistemas de recuperação da informação e perguntam se a Internet pode ser considerada um canal formal de comunicação informal. A Intemet como sistema de comunicação para recu- peração de informação formal e informal coloca novos problemas de pesquisa para a Ciência da Informação. Palavras-chave: Intemet; Padrões de comunicação na Intemet; Ciência da Informação; Sistemas de recuperação da informação. ... Atualmente o problema da transmissão do co- nhecimento para aqueles que dele necessitam é uma responsabilidade social, e essa responsabilidade social pode ser vista como o real background da "ciência da informação". Wersig & Neveling (1975) Em artigo clássico na Ciência da Informação, Wersig & Neveling (1975)propõemque o problemade interesse para esta área da ciência deveser estabelecidocomo a transmissão de conhecimento para aquelesquedele necessitam." Isso significa que a informação que seria objeto de estudo da Ciênciada Informação é especificamente pertinente "no contexto da comunicaçãohumana" (Belkin & Robertson, 1979). Para propor um conceito de informação para a Ciência da Informaçãonesse contexto, Belkin & Robertson (1979)tomam como pontode partida o conceito de imagem proposto por Boulding (1956) comoa concepção mental que temos do meio ambiente e de nós mesmosnessemeio ambiente; as próprias estruturas da imagem, que podemou não estar representando de estruturas do mundo real1 (Wersig& Neveling, 1975)fazem parte desse construto. 1 Wersig & Neveling, no artigo op. cit., consideram as imagens individuais ou sociais um "reflexo. das estruturas do mundo real, ou meio ambiente. Transinformação v. 8; n° 2, p. 45-55, maio/agosto, 1996 45

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A REDE INTERNET COMO CANAL DECOMUNICAÇÃO, NA PERSPECTIVA

DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO~r)fyeg

Vânia M.R. Hennes de AraújoIsa Maria Freire

RESUMO

s; Inserindo o objeto do estudo da Ciência da Informação no contexto da comuni-cação humana como algo capaz de mudar estruturas, os autores definem sistemas derecuperação da informação e perguntam se a Internet pode ser considerada um canalformal de comunicação informal. A Intemet como sistema de comunicação para recu-peração de informação formal e informal coloca novos problemas de pesquisa para aCiência da Informação.

Palavras-chave: Intemet; Padrões de comunicação na Intemet; Ciência daInformação;Sistemas de recuperação da informação.

... Atualmente o problema da transmissão do co-nhecimento para aqueles que dele necessitam é umaresponsabilidadesocial, e essa responsabilidade socialpode ser vista como o real background da "ciência dainformação".

Wersig & Neveling (1975)

Emartigoclássico na Ciência da Informação,Wersig & Neveling(1975)propõemque o problema de interesse para esta área da ciênciadeveser estabelecido como a transmissão de conhecimento paraaquelesque dele necessitam."

Isso significa que a informação que seria objeto de estudo daCiênciada Informação é especificamente pertinente "no contexto dacomunicaçãohumana" (Belkin & Robertson, 1979).

Para propor um conceito de informação para a Ciência daInformaçãonesse contexto, Belkin & Robertson (1979) tomam comopontode partida o conceito de imagem proposto por Boulding (1956)comoa concepção mental que temos do meio ambiente e de nósmesmosnesse meio ambiente; as próprias estruturas da imagem, quepodemou não estar representando de estruturas do mundo real1(Wersig& Neveling, 1975) fazem parte desse construto.

1Wersig &Neveling, no artigo op. cit., consideram as imagens individuais ou sociaisum "reflexo. das estruturas do mundo real, ou meio ambiente.

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46Belkin & Robertson (1979) entendem o termo estrutura como

uma categoria (nesse sentido, tudo tem estrutura), e identificam umanoção básica comum à maioria dos usos do termo de "informação": aidéia de "estruturas sendomudadas". Issoos levou a propora seguintedefinição de informação: "Informaçãoé o que é capaz de transformarestruturas".

Como essa definição ainda é ampla, para o fim a que sepropõem, os autores abandonam "informação" em seu sentido geral ediscutem os vários usos do termo a partir da idéia de transformaçãode estruturas na mente. Nesse sentido, elaboram uma Tabela com oque consideram "espectro da informação":

Tabela 1 -O espectro da Informação

Infracognitivo { hereditariedade; incerteza; percepção

Cognitivo indivual { formação de conceitos em nível individual{ comunicação inter-humana

Cognitivo-social { estruturas conceituais sociais

Metacognitivo { conhecimento formalizado

Belkin & Robertson apud ARAUJO, Vânia M.R.H. de (1994)

Para Belkin & Robertson,são especialmente interessantes paraum conceito de "informação" no contexto da comunicação humana,nesse espectro, os níveis "comunicação inter-humana" e "estruturasconceituais sociais". O primeiro se refere às estruturas semióticaspropriamente ditas, ou seja, aquelas construídas por um ser humano(um emissor) com o objetivo de mudar a imagem (conforme Boulding)de outro ser humano (um receptor); o segundo, às estruturas deconhecimento coletivo, compartilhadas por membros de um gruposocial.

Neste ponto de sua argumentação, Belkin & Robertson modifi-cam o problema da Ciência da Informação, tal como formulado porWersig & Neveling, propondo que: "[o)propósito [da Ciência da Infor-mação) é facilitar a comunicação da informação entre seres humanos"(Freire, 1995).

Então, se permitem postular que, na escala da tabela 1,"informação" para Ciência da Informação se inicia pelas estruturassemióticas, na interface entre formação individual de conceitos ecomunicação inter-humana, e tem continuidade na interface entreestruturas conceituais sociais e conhecimento formalizado. Nessa

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47perspectiva, seriam de interesse para a Ciência da Informação aquelesproblemas relacionados com a"... estruturação intencional [de uma]mensagem por um emissor no sentido de afetar a estrutura da imagemdo receptor. Isto implica que o emissor tem conhecimento da estruturado receptor" (Freire, 1995).

No modelo proposto por Belkin & Robertson, no nível da "for-maçãode conceitos individuais", todos os componentes de sua de-finiçãode informação para Ciência da Informação aparecem juntospelaprimeiravez: um texto deliberadamente estruturado (A) por umemissore um receptor para quem a estrutura é significante (8), porqueo propósito de (A) implica que o emissor conhece a estrutura doreceptore tem a intenção de mudá-Ia (C).

Assim, considerando as características necessárias a um con-ceitode"informação"de interessepara a Ciência da Informação,Belkin&Robertsonpuderam identificarum domínio muito particulardo espec-tro estruturalda informação, que combina intenção, conhecimento eefeito.E compreendendo estrutura de forma geral como ordem, osautorespropõem como fenômeno básico para a Ciência da Infor-mação:"o texto e sua informação associada, e a relação entre emissore receptor"(Freire, 1995).

Nessa perspectiva, não é possível estudar o fenômeno do textoe a informação a ele associada a não ser em associação com ofenômeno que relaciona o texto com um emissor e um receptor - e issodiz respeito diretamente a uma situação comunicacional num dadocontextosocial. Por fim, Belkin & Robertsoncolocam comofenômenosbásicosda Ciência da Informação

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Tabela 2 -Os fenômenos básicos da Ciência da Informação

o texto e sua estrutura (a informação)

11 A estrutura-da-imagem do receptor e asmudanças nessa estrutura

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11I A estrutura-da-imagem do emissor e aestruturação do texto

Belkin & Robertson apud FREIRE, Isa M. (1995)

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Desses três fenômenos, os autores colocam que a Ciência daInformaçãotem considerado o primeiro como aquele que mais lhe dizrespeito;algum interessetem sido mostrado com relação ao segundo,mas seu estudo tem se concentrado no contexto da psicologia oueducação;o terceiro fenômeno seria um território virtualmente inex-

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piorado. Belkin & Robertson observam que a área que mais teminteressado aos cientistas da informação foi omitida nessa lista defenômenos básicos. Esse problema, denominado canal, é por elesdefinido, em termos de conceito básico como: "... o texto e suaestrutura, e as atividades e mecanismos que alteram essas estruturasentre emissor e receptor' (Freire, 1995).

Para os autores, um canal, na Ciência da Informação, quasesempre apresenta vários estágios e componentes, que têm sido tradi-cionalmente definidos como área de interesse da Ciência da Infor-mação. Porém,em especial,canais contêm mecanismos:dispositivosque operam textos, física ou intelectualmente, ou ambos, seja paracolocá-Ios em formato adequado para transmissão, seja para extrairdeles novos textos subsidiários (como resumos, por exemplo), quepodem ajudar um usuário (um receptor) a recuperar uma informaçãoda qual necessite.

É nesse quadro teórico que se pode definir "sistema de infor-mação" no contexto da comunicação, como proposto por Araujo(1994):

Sistemas de informação são aqueles que, demaneira genérica, objetivam a realização de processosde comunicação. Alguns autores contextualizam siste-mas de informação mais amplamente para incluir siste-mas de comunicação de massa, redes de comunicaçãode dados e mensagens etc., independente da forma,natureza ou conteúdo desses dados e mensagens.

Nesses sistemas, documentos contêm informação potencial esão formalmente organizados, processados e recuperados com afinalidade de maximizar o uso da informação.Os sistemas, noentanto,não incluema comunicação informal,apesar de seu reconhecidovalor,entre outros, na inovação,como agente catalisador de novas idéias napesquisa, bem como seu caráter estratégico no setor produtivo e nasociedade como um todo.

Estruturas semióticas como textos (livros, periódicos) mapas,partituras, programas de computador etc. são conjuntos de men-sagens que só se transformam em informação ao alterar a estruturacognitivade um organismo(cf. Belkin& Robertson). Essas mensagenspodem conter dados, notícias etc., e serem expressas em diversaslinguagens imagens, notas musicais, caracteres numéricos ou alfa-numéricos e impulsos eletrônicos, entre outros -, que ao seremcomunicadas, i.é, transmitidas em um processo comunicacional,podem ou não gerar informação. De modo geral, nos sistemas derecuperação da informação essas mensagens são "descritas" através

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de palavras-chaveque "representam" seu conteúdo e podem maisesconderdoque revelar ao usuário a informação de que ele necessita.

Nesse ponto, Araujo (1994) questiona se a Ciência da Infor-maçãose ocupa realmente de "informação":

Qual seu real objeto de estudo? Se informação éaquilo que altera estruturas no interior de organismos e,se a ciência da informação vem lidando fundamental-mente com o reempacotamento e a reembalagem demensagens e com a disseminação "desse produto", nãoserá esse nomenomínimoinadequado para a praxis e ateoria dessa área? ... É fundamental que a Ciência daInformação aproxime-se do fenômeno que pretende es-tudar o encontro da mensagem com o receptor, ou seja,a informação, seu uso, implicações e conseqüências.

Pois, se informação é tudo aquilo que transforma estruturas,então... a informação é a mais poderosa força de transformação dohomem. O poder da informação, aliado aos modernos meios decomunicaçãode massa tem capacidade ilimitada de transformar cul-turalmenteo homem, a sociedade e a própria humanidade como umtodo(Araujo, 1989).

Embora a informação sempre tenha sido uma poderosa forçadetransformação, a máquina, o poder de reprodução, a capacidadedesocializaçãoderam uma novadimensão a esse potencial.Poroutrolado,a transmissão da informação pressupõe um processo de comu-nicação.Cherry (1974) destaca que a comunicação é uma questãoessencialmentesocial. Comunicação significa organização. Foramascomunicaçõesque possibilitaram a unidade social desenvolver-sedevilaàcidadeaté chegar à moderna cidade-estado e, hoje, há sistemasorganizadosde dependência mútua que cresceram até abarcar todoumhemisfério.O que equivale a dizer que "os engenheiros de comu-nicaçõesalteraram o tamanho e o feitio do mundo" (Araujo, 1994).

Em resumo, informação e comunicação constituem entidadescomplexas,dinâmicas, que extrapolam os limites de uma teoria ou ummodelodeterminado. A informação científica e tecnológica é produtodapráticahistórica e social da sociedade moderna, usa os códigos delinguagem,símbolos e signos, reconhecidos nessa sociedade e oscanaisde circulação de mensagens disponíveis no sistema de comu-nicação.

Nesse contexto, a transferência de informação se coloca comoumprocessode troca de mensagensque têm um valoreconômicomasquenão podem ser vistas como isentas de ideologia (Freire, 1984). Acomunicaçãoda informação representa não somente a circulação de

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mensagens que contêm conhecimento com determinado valor para aprodução de bens e serviços mas, também, a objetivação das idéiasde racionalização e eficiência dominantes na sociedade moderna.Essas idéias sobre a organização dos recursos e sua utilização daforma mais produtiva, bem como sobre o papel do saber técnico-cien-tífico no desenvolvimento do conjunto das forças produtivas, fazemparte do metadiscurso vigente na sociedade industrial. Esse discursose caracteriza pelavisão da história do pensamento como "iluminaçãoprogressiva",que se desenvolvecom basenuma apropriaçãoe reapro-priaçãocadavez mais ampladas "origens",de modoque as revoluçõesse apresentam e legitimam como "recuperações"; ou com base naespeculação sobre a realização de uma idéia, o projeto que se propõeà sociedade moderna renovar (Lyotard, 1987 e Vattimo, 1987).

Posto isso, sistemas de informação são aqueles que objetivama realização de processos de comunicação. Sistemas humanos deprocessamento da informação, sistemas eletrônicos de proces-samento de dados e sistemas de recuperação da informação consti-tuem exemplos de mecanismos "especificamente planejados parapossibilitar a recuperação da informação" (Pao, 1989). Dessa forma,sistemas de recuperação da informação são tipos de sistemas decomunicação que, entre outras funções, visam dar acesso às infor-mações neles registradas. Tais informações constituem a memóriahumana registrada, o que Belkin & Robertson (1979) categorizamcomo informação "cognitivo-social": as estruturas conceituais sociaisreferentes ao conhecimento coletivo, ou seja, as estruturas de conhe-cimento partilhadas pelos membros de um grupo social (manuscritos,livros, periódicos, mapas, filmes, videos, quadros, partituras etc).

Ao se apropriarem do computador e das novas tecnologias deinformação e telecomunicações, os sistemas de recuperação da infor-mação tiveram por objetivo basicamente dar conta da quantidade, e énesse sentido que esses recursos vêm sendo utilizados. O empregodas tecnologias da informação nos subsistemas de um sistema deinformação, por exemplo, na maioria dos casos é apenas uma réplicaampliadae aceleradados processosmanuais usadostradicionalmentepara organizare tornar disponível a informação. Parece não ter havidoestudos sobre as necessidadesde mudanças nesses subsistemas, demodo a aproximar a informação daqueles que dela necessitam nasociedade.

Uma solução para lidar com o crescimento dos sistemas deinformação, decorrência natural da explosão da informação, seria,como aponta Araujo, ... uma reversão a tamanhos compatíveis com acapacidadedeabsorção dossegmentos sociais aos quais visaatendere que é seu objetivomaior (maximizaçãodo uso da informação)(Belkin& Robertson, 1979).

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Porém,essa reversão não significa apenas reduçãoquantitativados sistemas de informação, uma vez que a mera diminuição detamanhonão atenderia às demandas de uma sociedade que é infor-mação-intensiva,que caminha rumo ao conhecimento, com o risco dequetal redução poderia levar à perda de informações básicas, funda-mentais,afetando a qualidade do sistema.

A reversão proposta significa uma reconstrução mental, não deumsistema original no sentido de seu estágio temporal primitivo,massim de um sistema capaz de se repensar para uma nova visão demundo.Isso implica um repensar conceitual sobre a entidade comosistemasocial, seus subsistemas, processos, componentes, para queosistemade informaçãoseja especialmenteum canal decomunicaçãoparaa recuperação da informação necessária a um dado usuário, noprocessode produção social.

E, por ser o sistema de informação um tipo de sistema decomunicação,destaca-se a possibilidadedo uso inteligentedatecnolo-gia da informação, para maximizar não somente o acesso e uso dedocumentos,mas também para encontrar novas formas de satisfazere,até antecipar,as demandas da sociedade pós-moderna, pós-indus-trial.

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Internet: canal formal de comunicação informal?

É aqui que se insere a problemática da Internet, uma ampla redede comunicação constituída por outras redes que, por sua vez, sãofOm1adasa partir de locais de informação, seja de armazenamento oude distribuição. Essa "rede de redes" criou um novo "espaço" decirculação da informação, o ciberespaço, um termo inventado pelonovelista William F. Gibson para descrever um meio ambiente ele-trônicono qual dados e programas de acesso à informação podem sermanipulados (Miller, 1996). A rede iniciou suas atividades há quasetrinta anos, nos Estados Unidos, com o nome de Arpanet, tendo sidocriada para permitir que instituições envolvidas em projetos militarescompartilhassem recursos computacionais, e também para garantir aintegridade dos canais de transmissão de dados em caso de catástro-fes. Logo foi criado o correio eletrônico, e com ele um canal decomunicação entre pesquisadores. Um "colégio invisível" começava atomar forma no quadro emergente do ciberespaço. Nos anos 80, essarede inicial foi ampliada e dela surgiu a Internet, usando o mesmoprotocolo de comunicação de dados e oferecendo o acesso a centrosde computadores e serviços como troca de mensagens, transferênciade arquivos, uso de fontes remotas e compartilhamento de arquivos.

Atualmente, a Internet é vista como o canal de comunicação deinformações que obteve o maior sucesso dos últimos tempos, trans-

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formando-se num problema relevante para a pesquisa na área daCiência da Informação.Como canal de comunicação, uma questãosecoloca em discussão: A "rede de redes" pode ser definida como umcanal formal de comunicação informan

Tradicionalmente, considera-se que o sistema global de infor-maçãotécnico-científicautilizafundamentalmente dois canais básicosde comunicação: os canais formais ou de literatura e os canais infor-mais oupessoais. Apesar de ambosterem importânciaequivalente nocontexto geral, os canais informais de comunicação sempre foramrelegados a um segundo plano, devido ao volume assustadoramentecrescente de publicações técnico-científicas.2

Há um fator extremamente relevante quando se observa acomunicação técnico-científica veiculada pelos canais informais: otempo de disseminaçãoda informação, que se inicia antes mesmo deiniciar-se qualquer projeto de pesquisa. Essa disseminação é feitaatravés de uma rede de comunicação informal na qual os pesquisa-dores de um dado projeto estiverem inseridos; na área científica, sãoos colégios invisíveis, na área tecnológica as redes de gatekeepers.Nos canais formais, a informação sobre um dado projeto de pesquisasomente estará disponível alguns meses depois do início do projeto.

Os canais informais são altamente eficientes na perspectiva dainteraçãodireta entre a fonte e o usuário da informação, diminuindoasbarreirasna transferênciada informação por utilizarem a comunicaçãointerpessoal. Envolvem, basicamente, conversas, discussões técni-cas, discursos, conferências, telefonemas, e mesmo a comunicaçãoescrita, como carta, mensagens via fax, pré-impressos e outros.

Garvey & Griffith (1967) observaram que, devido a diferençasterminológicase às diferentesáreas de interesseem umadadaciência,os canais informais têm a vantagem de permitir aos cientistas desco-brirem rapidamente se estão falando dos mesmos problemas e se ostemas abordados são de mútuo interesse. Por outro lado, interagindoinformalmente, os cientistas se sentem livres para especular sobresuas pesquisas, seus sucessos e, especialmente, seus fracassos,quais os caminhos mais produtivos e quais os improdutivos. Anali-sando o papel dos colégios invisíveis, Price (1976) observou que osproblemas relativos aos cientistas e à literatura científica seriam basi-camente de comunicação, desde a necessidade de criação de opor-tunidades de interação até a manutenção das publicações maisrelevantes nas diversas áreas da ciência.

2 Este já era o quadro delineado na dissertação de Mestrado de Vânia M.R. Hermes deAraújo, com o título "Estudo dos canais informais de comunicação técnica. Seu papel emlaboratórios de pesquisa e desenvolvimento, na transferência de tecnologia e na ino-vação tecnológica", apresentada ao CNPq/IBICT - UFRJ, em 1978.

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Na Ciência da Informação, embora estudos apontassem a im-portânciados canais informais de comunicação, especialmente naáreadetecnologia,em que são extremamente relevantesno processode inovação tecnológica, pouco se fez no sentido de aprofundarestudossobre seu uso. Os canais formais, principalmente periódicos,monografiase bases de dados, foram sempre privilegiados, induzindoaaçãodo profissionalda informação basicamente para a organizaçãoe tratamentoda informação publicada. Os poucos canais informaisconsiderados eram aqueles representados por congressos,semináriose eventos similares, a partir dos quais são publicados"anais".

É certo que a Internet, sendo uma rede de redes com serviçosdecorreioeletrônico e discussão temática em grupo, facilita a comu-nicaçãoinformalentre os pesquisadores nasdiversas áreasdaCiência&Tecnologia.E quando se pensa que os canais informais são funda-mentaispara se trabalhar em níveis de maior valor agregado à infor-mação,porquesão úteis natomada de decisão e possibilitama criaçãodeestratégiasa partir de informações ainda não publicadas, pode-seter idéia do valor comunicacional da rede. Por outro lado, bases dedadose documentos publicadosestão disponíveis através de serviçosdecompartilhamentoou de transferência de arquivos, caracterizando-secomocanais formais de comunicação da informação.

Mas o ciberespaço criado pela Internet ultrapassa os limites dacomunidadede pesquisadores e se estende a todos os níveis deproduçãoda sociedade, inclusive os setores de entretenimento. Talcomonumsistema de recuperação da informação, usuários interessa-dosque tenham desenvolvido um "sistema de navegação" (Wersig,19~3)podem vir a encontrar "ilhas de tesouros" no mar do conhe-cimentovirtual. O processo de comunicação torna-se extremamentedinâmicoe não está mais restrito ao local de trabalho, está distribuídoporuma rede de "emissores/receptores" que pode ser acessada pelopesquisadorem sua própria casa. O tempo é o tempo real de trabalhoeoespaçoperdeseus limites habituais:em dado momento, pesquisa-doresdistantes uns dos outros, geograficamente, podem estar secomunicandosimultaneamente, através de um grupo de interesse.

Assim, na perspectiva dos canais de comunicação da infor-mação,a Internet tem dupla função: permite a ligação entre pessoas,deforma livre ou em relação a temas de interesse, ao mesmo tempoemqueofereceacesso a documentos,como um serviço de informaçãoouumabibliotecafariam. .

A soma dos computadores com as tecnologias de telecomuni-caçãopromoveuesse encontro e a oportunidade, para os profissionaisda informação, de um novo pensar, uma nova forma de abordar ainformaçãoe aqueles que dela se utilizam para produzir a riqueza

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material e espiritual da sociedade contemporânea. A rede das redesoferece um espaço de trabalho como aquele sugerido por Wersig(1993) para a Ciência da Informação:

Desde que todas as coisas estão conectadas entresi (...) a Ciênciada Informaçãodeveria desenvolveralgumtipo de sistema conceitual de navegação Esta é adiferença entre o cientista da informação e um pássaroem vôo: este últimojá tem seus planos de vôo determi-nados pela evolução. No nosso caso, o passo seguinteda evoluçãona ciência esperapara ser dado,por alguém.

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No que diz respeito à Internet, reflexões sobre seu papel comosistema de comunicação para recuperação, no quadro teórico daCiência da Informação, aguardam nossa criatividade e desafiam nos-sos temas de pesquisa. Nesse sentido, a presente discussão sobre arede como canal de comunicação, com sua característica dualidadeformal/informal, é apenas um tímido começo para uma linha de tra-balho que esperamos se tome produtiva.

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ABSTRACT

Information of interest to Information Science must be considered in the contextof human communication as something that changes structures. May Internet beconsidered a formal channel of informal communication? As communication system forretrievallnternet arises new research problems to Information Science.

Key words: Internet; Communication patterns at Internet; Information Science:Information retrieval systems.

Transinformaçãov. 8, n°2, p. 45-55,maio/agosto, 1996