stress parental em mães de etnias africana e...

52
UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusa Quintinha João Dinis MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA (Secção de Psicologia Clínica e da Saúde/ Núcleo de Psicologia Clínica Dinâmica) 2012

Upload: others

Post on 30-Apr-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

Stress Parental em Mães de Etnias

Africana e Lusa

Quintinha João Dinis

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde/ Núcleo de Psicologia Clínica Dinâmica)

2012

Page 2: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

Stress Parental em Mães de Etnias

Africana e Lusa

Quintinha João Dinis

Dissertação orientada pela Prof.ª Doutora Salomé Vieira Santos

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde/ Núcleo de Psicologia Clínica Dinâmica)

2012

Page 3: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

i

Agradecimentos…

O presente trabalho é fruto de um percurso de caminhada de formação

académica e pessoal. Como tal, gostaria de expressar a minha profunda gratidão a todos

os que, de uma maneira ou outra, contribuíram para que este projecto fosse realizado.

Em primeiro lugar, agradeço à minha orientadora, Professora Doutora Salomé

Vieira Santos, pelo exemplo incansável de rigor científico, pela sua disponibilidade em

orientar-me, pela paciência com que lidou com os meus receios e ansiedade, pelo

incentivo que me deu, sempre que percebeu qualquer dificuldade relacionada com a

realização do trabalho assim como em situações de “dor emocional” a nível pessoal.

Agradeço, ainda, a todas as mães que se dispuseram a colaborar neste estudo,

partilhando um pouco das suas vidas e das vidas dos seus filhos; sem o seu contributo

teria sido impossível a realização deste trabalho.

A minha gratidão vai também para as Irmãs Missionárias Servas do Espírito

Santo da Região de Espanha/Portugal, particularmente as comunidades em Portugal,

pelo seu apoio e encorajamento, assim como para os Missionários do Verbo Divino e

todos os amigos que me ajudaram a encontrar respondentes para o estudo.

Agradeço, ainda, ao pessoal da biblioteca, que com disponibilidade prestou a sua

assistência na localização do material bibliográfico para a pesquisa.

Agradeço, de coração, à minha família que, mesmo à distância, me acompanhou

com o seu apoio.

Finalmente, a minha profunda gratidão ao Deus Uno e Trino, Criador de tudo o

que existe, pelas graças d’Ele recebidas e pela Sua constante presença ao longo deste

projecto.

A parentalidade pode ser considerada como uma "crise" na vida do indivíduo,

pois requer mudanças de atitudes, valores e papéis

(Hurlock, 1982)

Page 4: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

ii

Resumo

O presente estudo tem três objectivos principais: (1) analisar se ocorrem diferenças no

stress parental experimentado por mães de etnias africana e lusa com filhos de idades

compreendidas entre os 5 e 10 anos; (2) explorar, nos dois grupos de mães, a relação do

stress parental com a presença/ausência de problemas de comportamento na criança

(perspectiva materna); (3) analisar a relação do stress parental com variáveis

sociodemográficas referentes às mães (idade, número de filhos, escolaridade, estado

civil, tipo de família e situação profissional) e à criança (sexo, idade e escolaridade), em

ambos os grupos. Participaram no estudo 60 mães distribuídas por dois grupos: Grupo 1

(Africanas; N=30) e Grupo 2 (Lusas; N=30). O stress parental foi avaliado através do

Índice de Stress Parental (Abidin & Santos, 2003). Construiu-se ainda uma Ficha para

recolha de informação sociodemográfica e relativa à família e às crianças-alvo. Os

resultados mostraram que as mães de etnia africana, comparativamente com as de etnia

lusa, apresentam níveis mais elevados de stress parental associado com as

características da criança (Domínio da Criança e subescalas Distracção/Hiperactividade,

Reforço aos Pais e Aceitação), diferenciando-se ainda os grupos na Escala Stress de

Vida. No Grupo 2 ocorreu uma relação significativa entre a presença de problemas de

comportamento na criança e o stress parental (Domínio da Criança), associando-se este

ainda com a escolaridade da mãe. Por sua vez, no Grupo 1 verificou-se que as mães que

pertencem a famílias de tipo não-nuclear (e.g., monoparental, reconstruída) referem

níveis mais altos de stress associados às suas próprias características (Domínio dos

Pais). Neste grupo obtiveram-se ainda relações significativas e negativas da Idade e

Escolaridade da criança com o Domínio dos Pais e com subescalas específicas deste

Domínio.

Palavras-Chave: Parentalidade; Stress parental; Mães; Crianças; Etnia

Page 5: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

iii

Abstract

The present study has three main objectives: (1) to analyze whether differences occur in

parenting stress experienced by mothers of African and Lusitanian ethnicities of

children aged between 5 and 10 years; (2) to explore, in both groups of mothers, the

relationship of parenting stress with the presence/absence of behavioral problems in the

child (maternal perspective); (3) to analyze the relationship of parenting stress with

socio-demographic variables referring to the mothers (age, number of children,

educational level, marital status, family type and professional situation) and the child

(gender, age and schooling) in both groups. 60 mothers divided into two groups

participated in the study: Group 1 (African; N = 30) and Group 2 (Lusitanian; N = 30).

Parenting stress was assessed by the Parenting Stress Index (Abidin & Santos, 2003). A

Form was also constructed for collecting socio-demographic, family and target children

information. The results showed that mothers of African ethnicity, compared with those

of Lusitanian ethnicity, display higher levels of parenting stress associated with the

child’s characteristics (Child’s Domain and subscales Distraction/Hyperactivity,

Reinforcing Parent and Acceptance), and differ in the Life Stress Scale. In Group 2

there was a significant relationship between the presence of behavioral problems in the

child and parenting stress (Child’s Domain), the latter furthermore associated with the

mother’s educational level. In Group 1 mothers belonging to families of a non-nuclear

type (e.g., single parent, stepfamily) reported higher levels of stress associated with

their own characteristics (Parents’ Domain). In this group significant and negative

relations between the age and schooling of the child with the Parents’ Domain and

related specific subscales were also obtained.

Keywords: Parenting; Parenting Stress; Mothers; Children; Ethnicity

Page 6: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

iv

ÍNDICE

Introdução………………………………………………………………………….. 1

1. Enquadramento Teórico……………………………………………………….. 3

1.1 – Parentalidade…………………………………………………………. 3

1.2 – Stress Parental.……………………………………………………….. 4

1.3 – Etnia e Stress parental ……………………………………………….. 8

2. Objectivos e Hipóteses………………………….……………………………… 12

2.1 – Objectivos…………………...……………………………………….. 12

2.2 – Hipóteses……………………………………………………………... 12

3. Método……………………………………………………………….………….. 14

3.1 – Participantes…………………………….…………………………….. 14

3.1.1 – Caracterização do Grupo 1 (Mães de Etnia Africana)………........ 14

3.1.2 – Caracterização do Grupo 2 (Mães de Etnia Lusa)……..…………. 16

3.2 – Instrumentos………………………………………………………….. 19

3.2.1 – Índice de Stress Parental…………………….……………………. 19

3.2.2 – Ficha de Recolha de Informação…………….………………….... 20

3.3 – Procedimento…………………………………………………………. 21

4. Resultados………………………………………………………………………. 22

4.1 – Stress Parental: Comparação das Respostas das Mães dos

Grupos 1 e 2……………………………………………………...…... 22

4.2 – Relação do Stress Parental com os Problemas de Comportamento

da Criança - Grupos 1 e 2………..…………………………………… 24

4.3 – Relação do Stress Parental com Variáveis Sociodemográficas e

Familiares das Mães - Grupos 1 e 2………………………………….. 25

4.4 – Relação do Stress Parental com Variáveis Sociodemográficas das

Crianças - Grupos 1 e 2……………………………………………… 28

Page 7: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

v

5. Discussão………………………………………………………………………... 30

5.1 – Diferenças no Stress Parental Experimentado por Mães de Etnia

Africana e Lusa……………...……………………………………….. 30

5.2 – Relação do Stress Parental com Problemas de Comportamento

da Criança………………..……………………………………...…… 31

5.3 – Relação do Stress Parental com Variáveis Sociodemográficas e

Familiares ……………..……………………………………………... 32

6. Conclusão……………...………………………………………………………... 34

Referências Bibliográficas……………………………………………………….. 36

Anexo……………………………………………………………………………… 40

Page 8: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

vi

ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 – Escolaridade das Mães (Grupo 1) – Frequências e Percentagens (%)… 15

Quadro 2 – Escolaridade dos Pais (Grupo 1) – Frequências e Percentagens (%)... 15

Quadro 3 – Escolaridade das Crianças (Grupo 1) – Frequências e Percentagens (%).. 16

Quadro 4 – Escolaridade das Mães (Grupo 2) – Frequências e Percentagens (%)… 17

Quadro 5 – Escolaridade dos Pais (Grupo 2) – Frequências e Percentagens (%)….. 18

Quadro 6 – Escolaridade das Crianças (Grupo 2) – Frequências e Percentagens (%).. 18

Quadro 7 – ISP - Comparação das Respostas do Grupo 1 e do Grupo 2: Médias (M),

Desvios-Padrão (DP) e Valores de t………………………………………………...... 23

Quadro 8 – Correlação do Stress Parental (Domínios do ISP) com os Problemas de

Comportamento da Criança (Grupos 1 e 2)………………………………………… 24

Quadro 9 – Grupo 2 (Lusas): Correlação do Stress Parental (Subescalas do Domínio da

Criança do ISP) com os Problemas de Comportamento da Criança………………... 25

Quadro 10 – Correlação do Stress Parental (Domínios do ISP) com Variáveis

Sociodemográficas das Mães – Idade, Escolaridade e Número de Filhos (Grupos 1 e

2)…………………………………………………………………………………….. 25

Quadro 11 – Correlação do Stress Parental (Subescalas do Domínio da Criança do ISP)

com a Escolaridade da Mãe (Grupo 2)……………………………………………... 26

Quadro 12 – Correlação do Stress Parental (Domínios do ISP) com o Tipo de Família

(Grupos 1 e 2)……………………………………………………………………….. 27

Quadro 13 – Grupo 1 (Africanas): Correlação do Stress Parental (Subescalas Domínio

dos Pais do ISP) com o Tipo de Família……………………………………………. 27

Quadro 14 – Correlação do Stress Parental (Domínios do ISP) com Variáveis

Sociodemográficas das Crianças (Grupos 1 e 2)……………………………………. 28

Quadro 15 – Correlação do Stress Parental (Subescalas do Domínio dos Pais do ISP)

com a Idade e a Escolaridade da Criança (Grupo 1)………………………………... 29

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 – Modelo teórico subjacente ao PSI……………………………………….. 6

Page 9: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

vii

Page 10: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

1

Introdução

O presente trabalho centra-se na parentalidade, em particular no stress parental,

analisando-se o stress experimentado por dois grupos de mães, de etnia africana e lusa, com

crianças de idades compreendidas entre os 5 e 10 anos.

A eleição desta temática teve por base não só um interesse pessoal pelo “stress

parental e etnia”, como a constatação de que em Portugal é escassa a investigação neste

domínio, em particular no que se refere à etnia africana.

A literatura internacional na área de stress parental (e.g., Abidin, 1995; Crnic & Low,

2002; Putnick et al., 2010) evidencia que ele não só é extensível a todos os pais (em diversos

contextos e com diferentes características sociodemográficas) como é multideterminado,

sendo influentes factores associados à criança, aos pais, à relação estabelecida e ao stress de

vida. Níveis elevados de stress parental podem ter consequências para o desenvolvimento da

criança e para o funcionamento parental (e.g., Abidin, 1995), constatando-se mesmo que os

pais nestas circunstâncias têm uma maior probabilidade de recorrer a práticas negativas na

interacção com a criança (Guajardo, Snyder, & Petersen, 2009).

Em relação à etnia, Raphael, Zhang, Liu e Giardino (2009) destacam uma associação

entre a etnia africana e o stress parental. Adicionalmente, a literatura salienta que as mães de

etnia africana experimentam níveis mais elevados de stress, em comparação com as mães

euro-americanas (e.g., Grote, Bledsoe, Larkin, Lemay, & Brown, 2007; Taylor, Roberts &

Jacobson, 1997). Demonstra-se também que a monoparentalidade materna coloca desafios

acrescidos (e.g., Taylor, Larsen-Rife, Conger, Widaman, & Cutrona, 2010; Taylor,

Washington, Artinian & Lichtenberg, 2007) e que as dificuldades económicas nas mães desta

etnia (e.g., Cain & Combs, 2005; Taylor et al., 2007) e a vulnerabilidade psicológica (Cain &

Combs-Orme, 2005; Cairney, Boyce, Offord, & Racine, 2003) constituem factores

associados com os níveis de stress no desempenho do papel parental. No entanto, Cain e

Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia africana (afro-

americanas) têm nas redes sociais próximas (e.g., parentes, vizinhos e membros da igreja)

para a partilha dos cuidados à criança, pode ter consequências positivas em termos de stress

parental.

Apesar destes resultados, e como se referiu acima, continua a carecer-se de estudos

que abordem o stress parental em diferentes etnias, em particular no contexto português,

pretendendo este trabalho dar um contributo para a investigação neste domínio.

Page 11: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

2

Quanto à estrutura do trabalho, ele encontra-se dividido em seis pontos. No primeiro

apresenta-se o enquadramento teórico, com base na revisão de literatura efectuada acerca da

parentalidade, do stress parental, e da relação entre etnia e stress parental. No segundo ponto,

estão descritos os objectivos bem como as hipóteses colocadas. O terceiro ponto foca a

metodologia utilizada, subdividindo-se em três pontos - participantes, instrumentos e

procedimentos usados para a recolha dos dados. No quarto ponto são apresentados os

resultados obtidos (organizados segundo os objectivos do estudo) e no quinto ponto a sua

discussão. Por último, no sexto ponto figuram as conclusões gerais do trabalho, as limitações

e sugestões para futuros estudos.

Page 12: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

3

1. Enquadramento Teórico

1.1 Parentalidade

Stress e felicidade são conceitos distintos, mas que estão interligados nas experiências

dos pais em toda a parte do mundo (Deater-Deckard, 2004).

Tornar-se pai ou mãe é ser lançado num mundo de grandes responsabilidades e de

crescimento pessoal, com vários desafios, trazendo a parentalidade uma mistura de

recompensas e de dificuldades. Para alguns pais, a parentalidade corresponde, por vezes, a

um caminho difícil que pode envolver desafios e preocupações com os filhos, mudanças no

relacionamento com o cônjuge e, mesmo, declínio na saúde física e mental, com potenciais

consequências negativas para o funcionamento na família e no trabalho (Deater-Deckard,

2004; Guajardo, Snyder, & Petersen, 2009). Apesar disto, em geral a maioria dos pais

valoriza a parentalidade e está satisfeita com o seu papel parental (ver Putnick et al., 2010), e

as experiências quotidianas que decorrem de se ser mãe ou pai, e tudo aquilo que envolve a

prestação de cuidados aos filhos, podem ser vividas como experiências positivas e

gratificantes, que proporcionam aos pais um sentido de competência (Crnic & Low, 2002).

Como se referiu, a parentalidade constitui um processo desafiante, dadas as

dificuldades inerentes aos cuidados diários à criança, as características desta e o seu

desenvolvimento continuado (Abidin, 1992). Com efeito, trata-se de um processo complexo

que envolve adaptações e mudanças para os pais, e a percepção destes sobre as suas

capacidades para corresponderem às exigências colocadas pelo papel parental é um

importante factor de influência quer na relação pai/mãe-criança, quer no desenvolvimento

desta (Idem). As exigências que os pais enfrentam têm, pois, consequências para o

desempenho do papel parental, e o funcionamento da família é também fortemente

influenciado pela capacidade destes para atender a tais exigências (McCubbin & Patterson,

1983, cit. por Wheatley & Wille, 2009).

Como mencionam Solis-Ponton e Lebovici (2004), a parentalidade vai para além do

factor biológico, estando ligada à experiência de tornar-se mãe ou pai, o que inclui a

aceitação da herança parental e questões conscientes e inconscientes, devendo a criança ser e

sentir-se desejada pelos seus pais. Nesta lógica, os autores apresentam uma definição de

parentalidade como o produto do parentesco biológico e do processo de tornar-se pai e mãe.

Ao longo do tempo, tem sido alvo de estudo a percepção dos pais acerca do

comportamento e características dos filhos, e a sua influência no exercício do papel parental,

Page 13: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

4

reconhecendo-se que tal é importante para a percepção que os próprios pais têm da sua

capacidade para ser mãe ou pai (Crnic & Low, 2002). Deste modo, a investigação nesta área

tem tentado compreender a parentalidade e identificar os factores que a influenciam (Idem).

1.2 Stress parental

O stress parental constitui uma experiência universal para os pais de todos os grupos

sociodemográficos, e em todos contextos. Ele é multideterminado, podendo ser atribuído a

desafios específicos, entre eles, a dificuldade na gestão de tarefas parentais, o comportamento

da criança, as características dos próprios pais ou a interacção disfuncional entre pais e filhos

(ver Abidin, 1995; Putnick et al., 2010).

Ele pode ser definido como “uma reacção psicológica adversa, perante as exigências

de se ser mãe ou pai, que é experienciada com sentimentos negativos, acerca do próprio e da

criança, sentimentos estes que são directamente atribuídos às exigências da parentalidade”

(Deater-Deckard, 1998, p. 315).

Crnic e Low (2002) fazem a distinção entre a exposição intermitente dos pais a

factores de stress parental e a exposição a stress crónico, sendo que a última é mais

prejudicial, quer para a criança quer para a figura parental, e pode comprometer o

investimento no cuidado à criança. Salienta-se ainda que a interferência dos contextos de

interacção dos pais e dos filhos é susceptível de minorar ou aumentar os níveis de stress

experimentado (Idem).

A literatura indica também que o acumular dos acontecimentos do dia-a-dia que

causam aborrecimento, associados com a parentalidade, são passíveis de mudar a natureza da

relação pais-criança e o funcionamento familiar ao longo do tempo (ver Crnic & Low, 2002).

Na linha do acima sugerido, a competência parental pode tornar-se mais problemática

quando os pais experimentam factores de stress de forma mais frequente e com mais

intensidade (Idem), acentuando Wheatley e Wille (2009) que não é necessariamente um

evento único que provoca o stress dos pais, mas sim as variadas exigências que se acumulam

e ultrapassam os recursos disponíveis; o desequilíbrio de recursos pode resultar na disfunção

das respostas da família ao stress, dependendo da natureza da situação, de características

familiares e do bem-estar psicológico e físico dos membros da família.

Page 14: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

5

Por sua vez, Crnic e Low (2002) afirmam que nem todos os pais sentem a

parentalidade ou o comportamento da criança como geradores de stress, identificando

diversos factores que podem contribuir para a experiência de stress dos pais. São eles:

factores parentais (e.g., o nível de stress durante a gravidez, a história familiar e a

vulnerabilidade ao stress, os atributos de personalidade e as crenças em relação aos cuidados

e ao desenvolvimento da criança); factores da criança (e.g., as características individuais

como o temperamento e o comportamento); factores familiares (e.g., o relacionamento

marital e o processo da co-parentalidade). Os autores sublinham ainda que os pais podem

sentir-se em stress apenas com as tarefas do dia-a-dia associadas à parentalidade (e.g., lidar

com horários complicados e com os cuidados à criança), e que outros contextos, fora do

sistema familiar (e.g., contextos laborais), são susceptíveis de afectar o grau de stress parental

experimentado.

O stress parental pode ter consequências nefastas para o funcionamento parental e

para o desenvolvimento da criança (e.g., Abidin, 1995), constatando-se, por exemplo, que os

pais que experimentam níveis mais elevados de stress (em comparação com os que referem

níveis mais baixos) são menos sensíveis e afectuosos com os filhos, e são mais propensos a

usar técnicas disciplinares negativas, de poder-afirmação (Guajardo et al., 2009). Tal é

especialmente relevante uma vez que o uso excessivo de tais técnicas pode prejudicar o

desenvolvimento socio-emocional e cognitivo da criança (Idem). Acresce que tem sido

encontrada uma associação entre stress parental e problemas de comportamento na criança

(e.g., Baker et al., 2003; Deater-Deckard, 1998; Johnston & Mash, 2001).

É, no entanto, de ter em consideração que os factores geradores de stress parental

mudam com o crescimento da criança (ver Neece & Baker, 2008); por exemplo, enquanto na

infância o foco central é nas questões que exigem cuidados, na adolescência pode ser

especialmente gerador de stress a crescente exigência de independência por parte do

adolescente.

O stress parental tem sido conceptualizado de diferentes formas, e vários modelos

teóricos foram desenvolvidos (e.g., Abidin, 1995; Mash & Johnston, 1990; Östberg &

Hagekull, 2000; Webster-Stratton, 1990; ver também Belsky, 1984). Todos estes modelos

consideram o stress parental como multideterminado, para ele contribuindo diferentes tipos

de características (e.g., da criança, da figura parental, da interacção estabelecida, do contexto

familiar e externo à família). No âmbito destas características, pode ser dada saliência a

variáveis específicas e a relações particulares entre elas, consoante os modelos. Tendo em

Page 15: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

6

conta a relevância do modelo de R. Abidin para este trabalho, já que este modelo está

subjacente à construção do instrumento utilizado no presente estudo para avaliar o stress

parental (Parenting Stress Index – PSI), apresenta-se em seguida uma caracterização do

mesmo.

Como se referiu anteriormente, o modelo tem por base a perspectiva de que o stress é

multideterminado, sendo que, conforme se observa na Figura 1, o stress experimentado pelas

figuras parentais resulta do contributo de características específicas da criança, de

características da figura parental e de variáveis situacionais (Abidin, 1995; Abidin & Santos

2003).

As características da criança contempladas no modelo correspondem a quatro

variáveis relacionadas com o temperamento (Distracção/Hiperactividade, Maleabilidade de

Adaptação, Exigência e Humor) e duas outras variáveis, de tipo interactivo, relativas às

expectativas dos pais face à criança (Aceitação) e ao facto de eles se sentirem reforçados por

ela (Reforço aos Pais). Ao nível das características dos pais, são consideradas variáveis

relacionadas com a personalidade e patologia (Depressão, Sentido de Competência e

Vinculação; as duas primeiras têm um impacto na terceira), e variáveis situacionais

perspectivadas como importantes no nível de stress experimentado (Relação Marido/Mulher,

Isolamento Social, Saúde parental e Restrição do Papel).

Níveis muito elevados de stress parental aumentam a probabilidade de existir uma

parentalidade disfuncional, contudo, níveis muito baixos de stress parental também podem

Figura 1 – Modelo teórico subjacente ao PSI (Reproduzido de Abidin & Santos, 2003)

Page 16: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

7

denotar disfuncionalidade uma vez que são passíveis de indiciar desinvestimento na relação

com a criança (Abidin, 1995; Abidin & Santos, 2003).

Abidin (1995) dá ainda saliência à influência do stress de vida (acontecimentos de

vida), que pode moderar ou aumentar as dificuldades da parentalidade.

Após a referência à conceptualização do stress parental, é ainda de mencionar que ele

tem sido alvo de um grande volume de investigação, com amostras clínicas e não-clínicas. A

título ilustrativo refira-se que os estudos que comparam o stress parental em mães e pais

apontam para algumas diferenças entre eles (ver Crnic & Low, 2002), considerando-se que

quer factores biológicos, quer factores sociais referentes à parentalidade podem interferir

nestas diferenças. Por outro lado, constata-se que, tradicionalmente, são as mães que

despendem mais tempo com os filhos, nomeadamente nos cuidados à criança, sendo o tempo

que os pais passam com os filhos direccionado, geralmente, para actividades mais

práticas/lúdicas (Idem). É possível que esta diversidade tenha consequências para a

experiência de stress parental em mães e pais. Identifica-se ainda que a ajuda recebida por

parte do cônjuge pode minorar a experiência de stress parental, verificando-se que as mães

que recebem mais ajuda emocional do cônjuge e no cuidado dos filhos relatam menos stress

parental directamente relacionado com as responsabilidades parentais (ver Osborne, 1989).

Willinger, Diendorfer-Radner, Willnauer, Jörgl e Hager (2005) destacam a

importância do laço estabelecido com a criança na abordagem do stress parental, realizando

um estudo com mães de crianças com uma idade média de 7 anos e em que um dos

instrumentos utilizados foi o Parenting Stress Index (cuja adaptação portuguesa foi, como se

referiu, usada no presente trabalho). De acordo com os resultados, os laços afectivos parentais

óptimos (mãe e pai), que implicam uma combinação de mais comportamentos de cuidado e

afecto, menos controlo, e permissão de autonomia, estavam associados a níveis mais baixos

de stress parental resultante de características quer da criança, quer dos pais. Estes níveis

óptimos de cuidado à criança fornecem-lhe as bases necessárias para que ela se possa

desenvolver de acordo com o padrão de vinculação mais desejável, o estilo seguro,

permitindo-lhe ser capaz de enfrentar desafios e de reagir de forma mais adaptativa a

situações de stress. As experiências precoces de vinculação têm grande influência no

percurso de desenvolvimento dos sujeitos, porque é na infância, e no contexto das relações

que se estabelecem, que as expectativas básicas, incluindo sobre si próprio, se afirmam. O

mesmo também é valido, como referem os autores do estudo, para a relação que estes sujeitos

estabelecem com os seus filhos.

Page 17: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

8

O tipo de família e a situação económica são exemplos de outro tipo de factores que

podem ser relevantes para o stress parental. Verifica-se que as mães que pertencem a famílias

monoparentais revelam níveis mais elevados de stress, em comparação com as mães casadas

(e.g., Taylor et al., 2010; Mullins et al., 2011). Para este resultado pode contribuir a sua maior

exposição a factores de stress (Taylor et al., 2010), constituindo o baixo rendimento

económico um factor de risco igualmente importante para estas mães (Mullins et al., 2011).

Por sua vez, o estudo de Cairney, Boyle, Offord e Racine (2003) mostra que mães em

situação de monoparentalidade, em comparação com mães casadas, apresentam uma maior

probabilidade de terem sofrido um episódio de depressão e relatam níveis mais elevados de

stress de vida crónico e níveis mais baixos de suporte social percebido.

1.3 – Etnia e Stress parental

O termo etnia deriva do grego ethnos, cujo significado é povo. A etnia pode ser

definida como “um conjunto de indivíduos que, podendo pertencer a raças e a nações

diferentes, estão unidos por uma cultura e, particularmente, por uma língua comum” (ver

www.infopedia.pt/lingua-portuguesa-ao/etnia). A etnia representa a consciência de um grupo

de pessoas que se diferencia das outras e esta diferenciação ocorre em função de aspectos

culturais, históricos, linguísticos, raciais, artísticos e religiosos (Idem). Os cientistas sociais,

por sua vez, definem etnia como "uma identidade racial, linguística, nacional ou de um grupo

social compartilhado" (e.g., Hoffmeyer-Zlotnik & Warner, 2010, p. 107).

O stress parental tem sido apontado como elevado em famílias afro-americanas

(Raphael et al., 2009). Por sua vez, num estudo de Middlemiss (2003), realizado com mães de

dois grupos étnicos (negras/afro-americanas e brancas/euro-americanas) sobressai que os dois

grupos de mães relataram experimentar níveis elevados de stress, mas as mães negras/afro-

americanas experimentaram stress com mais frequência.

Vários autores afirmam que os pais afro-americanos são especialmente vulneráveis ao

stress psicológico associado a acontecimentos do dia-a-dia que afectam as suas vidas, por

exemplo, a diminuição do status atribuído, o rendimento mais baixo e as desigualdades

raciais (ver Taylor et al., 2007). A cultura é tida como uma fonte de stress na relação pais-

filhos e, embora muitos pais expressem opiniões positivas sobre os seus filhos, a

parentalidade é considerada stressante devido a exigências sociais e culturais, constatando-se

ainda que o baixo rendimento económico, o baixo nível de escolaridade e o reduzido apoio

Page 18: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

9

social contribuem para o aumento do stress nestes pais, e também nos avós (ver Taylor et al.,

2007). Acresce que as condições de vida geradoras de stress que pais com um baixo

rendimento enfrentam, enfraquecem seu estado emocional, para além de que a pobreza

diminui a capacidade dos pais para se constituírem como apoiantes e afecta a suas

competências de envolvimento e consistência, tornando-os também mais vulneráveis aos

efeitos dos acontecimentos de vida negativos (McLoyd, 1990).

Também Grote et al., (2007) realçam que as mulheres negras/afro-americanas

experimentam níveis mais elevados de stress e de stressores crónicos, comparativamente com

as mulheres brancas/euro-americanas. Sobressai ainda que o stress e a vulnerabilidade

psicológica influenciam negativamente a qualidade da parentalidade através de

comportamentos como a monitorização ineficaz das crianças, agressão e hostilidade parental,

e inconsistência no funcionamento parental (Cain & Combs-Orme, 2005; Cairney et al.,

2003), destacando-se que os processos familiares são um mediador crítico do efeito das

dificuldades económicas no ajustamento social das crianças (Mistry, Vandewater, Huston, &

McLoyd, 2002; ver também McLoyd, 1998). Mistry et al. (2002) apontam também que níveis

mais baixos de bem-estar económico, e a percepção de elevada pressão económica nos pais

das minorias étnicas do seu estudo (negros/afro-americanos e hispânicos) afectam

indirectamente o comportamento parental através do impacto no bem-estar psicológico dos

pais. Acresce que os pais com um comportamento parental desajustado referem sentir-se

menos eficazes nas interacções disciplinares com seus filhos e são menos afectuosos na

relação com a criança, o que tem consequências no comportamento social desta e em termos

de problemas de comportamento.

Na linha de outros autores, Taylor et al. (1997) referem que as experiências

stressantes ocorrem com maior frequência em muitas famílias negras/afro-americanas por

causa de sua frágil situação económica. No mesmo sentido, Cain e Combs-Orme (2005)

verificaram que o baixo nível socioeconómico e as percepções das mães afro-americanas

sobre a qualidade da parentalidade que elas próprias receberam, contribuíram mais para o

stress parental do que o estado civil ou a estrutura da família. Estes autores realçam que uma

das mais importantes tradições nesta etnia, no que diz respeito a valores e crenças, é a

confiança em redes sociais próximas (parentes, vizinhos e membros da igreja) para partilhar o

cuidado da criança, atenuando assim alguns efeitos negativos, designadamente da

monoparentalidade, um dos factores potencialmente geradores de stress parental.

Page 19: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

10

Também Kessler e Neighbors (1986) no seu estudo sobre etnia, nível socioeconómico

e perturbação emocional, concluíram que os afro-americanos com frágil situação económica

eram particularmente vulneráveis a factores de stress relacionados com a etnia, relatando

níveis mais elevados de stress comparativamente com os euro-americanos com idêntico nível

socioeconómico. Contudo, não surgem diferenças entre os dois grupos nos níveis de stress

quando está em causa um nível socioeconómico médio (em ambos os grupos), reforçando o

risco acrescido das famílias com baixo rendimento. Por sua vez, Pinderhughes e cols.

(Pinderhughes, Dodge, Bates, Pettit, & Zelli, 2000) mostram que os pais afro-americanos de

nível socioeconómico baixo reportam mais práticas disciplinares negativas em relação aos

filhos.

Na sequência do que foi anteriormente exposto, alguns autores (e.g., Beker & Liddle,

2001; McLoyd, 1990;), reforçam a perspectiva de que os efeitos de stressores crónicos de

carácter financeiro por que muitos pais em situação económica instável passam no seu

quotidiano, afectam fortemente o seu funcionamento psicológico e podem comprometer a sua

capacidade parental.

Por sua vez, o estudo realizado por Franco, Pottick e Huang (2010), baseado numa

amostra de mães de crianças pequenas, de várias etnias, a viver em grandes cidades nos EUA,

recorreu a um modelo ecológico para examinar o impacto, sobre o stress parental, do nível de

coesão e de perturbação social nos bairros habitacionais. Verificaram que o tipo de bairro é

relevante para o stress parental, de tal forma que a minoria estudada (negros/afro-americanos)

a viver em bairros com níveis elevados de perturbação social experimenta menos stress do

que os pais brancos/euro-americanos a viverem num bairro similar.

Sobressai igualmente que as famílias monoparentais maternas (negras/afro-

americanas) enfrentam uma série de desafios económicos e psicológicos acrescidos, sendo

mais propensas a experiências de vida stressantes (Murry, Bynum, Brody, Willert, &

Stephens, 2001; Taylor et. al. 2007). Estes desafios são prejudiciais não só para o bem-estar

individual, mas também pelo seu impacto na qualidade da parentalidade e no comportamento

da criança. Com efeito, a literatura indica que situações ou factores de stress como a

monoparentalidade, a ausência de apoio social ou a frágil situação económica da figura

parental (já antes referida), comprometem o seu estado emocional (McLoyd, 1990; ver

também Pinderhughes et al., 2000), o que tem consequências para a parentalidade e para o

stress experimentado no desempenho do papel parental.

Page 20: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

11

Refira-se ainda que no estudo de Taylor et al. (2007), com pais afro-americanos, a

idade das figuras parentais, o sexo e a escolaridade não predizem o stress parental, mas o

número de filhos em casa e o apoio social são preditores significativos.

Apesar de na literatura internacional existirem, como se ilustrou, pesquisas que

abordam o stress parental e a etnia, ainda que em alguns casos o foco seja sobretudo nas

consequências do stress de vida para a parentalidade, em Portugal as referências são muito

escassas. A este propósito mencione-se o estudo de Baião (2009) onde se verificou que, num

grupo de mães de bebés prematuros, as mães de etnia africana tendem a manifestar níveis

mais elevados de stress parental.

Nesta sequência, o presente estudo poderá dar um contributo para aumentar o

conhecimento sobre a temática em análise (stress parental e etnia), no contexto português.

Page 21: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

12

2. Objectivos e Hipóteses

Neste ponto, são explicitados os objectivos do presente trabalho e as hipóteses que

foram delineadas.

2.1 – Objectivos

Objectivo 1. Analisar se ocorrem diferenças no stress parental experimentado por mães de

etnia africana (Grupo 1) e mães de etnia lusa (Grupo 2) com filhos de idades compreendidas

entre os 5 e 10 anos.

Objectivo 2. Explorar a relação do stress parental com problemas de comportamento da

criança (perspectiva materna) em ambos os grupos.

Objectivo 3. Analisar, em ambos os grupos, a relação do stress parental com (a) variáveis

sociodemográficas e familiares referentes às mães, designadamente idade, número de filhos,

escolaridade, estado civil, situação profissional e tipo de família; (b) variáveis

sociodemográficas relativas à criança - sexo, idade e escolaridade.

2.2 – Hipóteses

Com base na revisão de literatura efectuada, colocam-se as seguintes hipóteses:

Hipótese 1: Espera-se que o grupo de mães de etnia africana, comparativamente com o grupo

de mães de etnia lusa, apresente um nível mais elevado de stress parental (Domínio da

Criança e/ou Domínio dos Pais).

Hipótese 2: Estima-se que as mães de crianças que apresentam problemas de comportamento

(perspectiva materna), experimentem níveis de stress parental mais elevados

(independentemente do grupo).

Hipótese 3: Prevê-se que haja uma relação do stress parental (Domínio da Criança e/ou dos

Pais) com pelo menos alguma das variáveis sociodemográficas maternas consideradas.

Hipótese 4: Estima-se que haja uma relação do stress parental (Domínio da Criança e/ou dos

Pais) com o tipo de família (níveis superiores de stress quando a família é não-nuclear,

prevendo-se que tal ocorra pelo menos para o Grupo 1 – mães de etnia africana).

Page 22: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

13

Hipótese 5: Espera-se que haja uma relação do stress parental (Domínio da Criança e/ou dos

Pais) com pelo menos alguma das variáveis sociodemográficas da criança consideradas.

Page 23: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

14

3. Método

3.1. Participantes

Para a elaboração deste ponto recorreu-se à informação obtida através da Ficha de

Recolha de Informação (ver Anexo), construída no âmbito do presente estudo e que será

descrita no ponto 3.2.2.

Participaram no estudo 60 mães distribuídas por dois grupos: Grupo 1 - mães de etnia

Africana (N=30) e Grupo 2 - mães de etnia Lusa (N=30). As mães do Grupo 1 têm idades

compreendidas entre os 23 e os 51 anos (M = 35.13; DP = 7.17) e as do Grupo 2 entre os 27 e

os 45 anos (M = 38.23; DP = 4.17). Os critérios de selecção das participantes foram os

seguintes:

a) ter pelo menos um/a filho/a com idades entre os 5 e os 10 anos e

b) co-habitar com a referida criança.

3.1.1. Caracterização do Grupo 1 (Mães de Etnia Africana)

Neste grupo, 30% das mães são de Angola, 30% de S. Tomé e Príncipe, 23.3% da

Guiné-Bissau e 16.7% de Cabo-Verde. O tempo de permanência em Portugal varia entre 1 e

39 anos (M = 11.07; DP = 8.56). Destaca-se que 40% residem em Portugal há menos de 10

anos, 26.5% residem há mais de 13 anos e cerca de1/3 (33.3%) entre 10 e 12 anos.

A maioria das mães é casada ou vive em união de facto (17 – 57%), 36.7% são

solteiras e apenas duas mães (7%) estão divorciadas ou separadas.

No Quadro 1 figuram as frequências e percentagens relativas ao nível de escolaridade

das mães. A maioria (56.7%) tem 9 a 12 anos de escolaridade.

A maior parte das mães está empregada (63.3%), sendo que em 43.3% dos casos é a

tempo inteiro (20% a tempo parcial). De destacar que 36.7% das mães estão desempregadas.

Em relação ao tipo de família, a maioria vive numa família alargada (40%) ou nuclear

30% no momento do estudo; cinco mães pertencem a uma família monoparental (16.7%),

duas a uma família reconstruída (6.7%) e em dois casos trata-se de uma família de adopção

(6.7%). O número de filhos varia entre 1 e 6 (M = 2.70; DP = 1.39). Um terço das mães tem

quatro filhos (33.3%), nove mães têm um filho (30%), seis têm três (20%), quatro mães dois

Page 24: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

15

(13.3%) e uma tem seis filhos (3.3%). O número de raparigas, varia entre 0 e 4 (M = 1.27; DP

= 1.29) e o número de rapazes também entre 0 e 4 (M = 1.47; DP = 1.04).

Quadro 1

Escolaridade das Mães (Grupo 1) – Frequências e Percentagens (%)

Frequências %

Menos de 4 anos 1 3.3%

4 anos 3 10%

6 anos 6 20%

9 anos 8 26.7%

12 anos 9 30%

Ensino Superior 3 10%

Relativamente ao pai da criança, as idades situam-se entre os 24 e os 55 anos (M =

40.53; DP = 7.62). Considerando a nacionalidade, 33.3% são de Angola, 30% de S. Tomé e

Príncipe, 23.3% da Guiné-Bissau e 17% são de Cabo-Verde. Do Quadro 2 constam as

frequências e percentagens referentes ao nível de escolaridade do pai. A maioria completou

nove ou mais anos de escolaridade, tendo 13.3% um Curso Profissional.

Quadro 2

Escolaridade dos Pais (Grupo 1) – Frequências e Percentagens (%)

Frequências %

4 anos 3 10%

6 anos 2 6.7%

9 anos 6 20%

12 anos 7 23.3%

Curso Profissional 4 13.3%

Ensino Superior 8 26.7%

Em relação às crianças-alvo (com idades entre os 5 e os 10 anos), 17 são do sexo

feminino (57%) e 13 do sexo masculino (43%) com uma idade média de 7.67 anos (DP =

Page 25: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

16

1.65). Quanto ao local de nascimento, 22 crianças nasceram em Portugal (73.3%) e 8 crianças

em África (26.7%) – Angola, S. Tomé e Príncipe, Guiné e Cabo-Verde.

Mais de metade das crianças (16 - 53.3%), esteve numa Ama e 60% numa Creche;

66.7% frequentaram o Jardim de Infância e 86.7% a Pré-Primária.

No Quadro 3 apresentam-se as frequências e percentagens respeitantes ao ano de

escolaridade da criança.

Quadro 3

Escolaridade das Crianças (Grupo 1) – Frequências e Percentagens (%)

Frequências %

Pré-Primária 5 16.7%

1º ano 5 16.7%

2º ano 6 20%

3º ano 7 23.3%

4º ano 4 13.3%

5º ano 3 10%

Mais de metade das crianças frequenta os três primeiros anos de escolaridade (60%) e

16.7% a Pré-Primária.

No que refere aos Problemas de Saúde, 66.7% não apresentam nenhum problema ao

passo que 33.3% apresentam os seguintes problemas: Asma (10%), Problemas de Coração

(6.7%), Raquitismo (6.7%), Alergias (3.3%), Encoprese (3.3%) e Malformação (3.3)%. Em

relação aos Problemas de Desenvolvimento, 93.3% das crianças não têm qualquer problema

deste tipo, enquanto 6.7% apresentam Problemas de Linguagem. Quanto aos Problemas de

Comportamento, 60% não manifestam nenhum problema ao passo que 40% apresentam este

tipo de problemas (Hiperactividade – 33.3%, Agressividade – 3.3% e Isolamento – 3.3%).

3.1.2. Caracterização do Grupo 2 (Mães de Etnia Lusa)

As mães do Grupo 2 são todas portuguesas e de etnia lusa. A maior parte das

respondentes é casada ou vive em união de facto (22 – 73.3%); apenas oito mães (26.7%)

estão divorciadas ou separadas.

Page 26: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

17

Quanto ao nível de escolaridade, como se pode observar no Quadro 4, a maioria

completou o ensino superior (46.7%) ou o secundário (30%) e apenas três têm nove ou menos

anos de escolaridade. Nesta variável há claramente uma distinção face ao Grupo 1, cujas

mães concluíram, maioritariamente, 9 a 12 anos de escolaridade e apenas 8% completou o

ensino superior.

Quadro 4

Escolaridade das Mães (Grupo 2) – Frequências e Percentagens (%)

Frequências %

4 anos 1 3.3%

9 anos 2 6.7%

12 anos 9 30%

Curso Profissional 4 13.3%

Ensino Superior 14 46.7%

A quase totalidade das mães está empregada (96.7%), exercendo na generalidade a

actividade a tempo inteiro (93.3%); apenas uma mãe a exerce a tempo parcial.

A maioria integrava uma família nuclear no momento do estudo (70%); em cinco

casos a família era monoparental (16.7 %) e em quatro reconstruída (13.3%). No que diz

respeito ao número de filhos, ele varia entre 1 e 9 (M = 2.23; DP = 1.41). A maior parte das

respondentes tem dois filhos (73.3%); quatro têm um filho (13.3%), duas têm três filhos

(6.7%), uma tem quatro filhos (3.3%) e outra nove (3.3%). O número de raparigas, varia

entre 0 e 3 (M = 1.03; DP = .77) e o número de rapazes entre 0 e 8 (M = 1.20; DP = 1.47).

No que diz respeito ao pai da criança, as idades variam entre 30 e 56 anos (M = 40.17;

DP = 4.87). Face à escolaridade, quase metade (46.7%) tem entre nove e doze anos de

escolaridade e 36.7% concluíram o ensino superior (ver Quadro 5).

Em relação às crianças-alvo (com idades entre os 5 e os 10 anos), 16 (53.3%) são do

sexo feminino e 14 (46.7%) do sexo masculino, com uma idade média de 7.10 anos (DP =

1.69).

Page 27: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

18

Quadro 5

Escolaridade dos Pais (Grupo 2) – Frequências e Percentagens (%)

Frequências %

4 anos 1 3.3%

6 anos 1 3.3%

9 anos 9 30%

12 anos 5 16.7%

Curso Profissional 3 10%

Ensino Superior 11 36.7%

A maioria das crianças não esteve numa Ama (73.3%) nem numa Creche (56.7%),

tendo a quase totalidade (96.7%) frequentado Jardim de Infância e 80% Pré-Primária.

Relativamente à escolaridade (Quadro 6), 30% das crianças encontram-se na Pré-

Primária, cerca de 1/3 frequentam o 1º e o 2º anos de escolaridade (33.4%) e

aproximadamente 1/4 (23.3%) frequentam o 4º e o 5º ano.

Quadro 6

Escolaridade das Crianças (Grupo 2) – Frequências e Percentagens (%)

Frequências %

Pré-Primária 9 30%

1º ano 5 16.7%

2º ano 5 16.7%

3º ano 4 13.3%

4º ano 4 13.3%

5º ano 3 10%

Quanto aos Problemas de Comportamento, 83.3% não manifestam qualquer problema

ao passo que 16.7% têm problemas deste tipo (Hiperactividade – 10%, Agressividade – 3.3%

e Insegurança – 3.3%). No que se refere aos Problemas de Saúde, 93.3% não apresentam

nenhum problema, tendo as restantes Asma e Problemas de Visão. Em relação aos Problemas

Page 28: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

19

de Desenvolvimento, 90% das crianças não têm qualquer problema, sendo referidos

Problemas de Linguagem face a 10%.

3.2. Instrumentos

Apresenta-se a seguir uma descrição breve do instrumento utilizado para avaliar o

stress parental (Índice de Stress Parental) e da Ficha de Recolha de Informação, construída no

âmbito deste trabalho com vista à obtenção de informação específica.

3.2.1. Índice de Stress Parental (ISP)

O Índice de Stress Parental constitui a adaptação portuguesa do Parenting Stress

Index (PSI) de R. Abidin (1995), desenvolvida por Santos (Abidin & Santos, 2003; Santos,

2008). Tem como objectivo a avaliação da magnitude do stress no sistema pai/mãe-filhos e

pode ser utilizado em vários contextos, designadamente clínico e de investigação (Abidin &

Santos, 2003). É de aplicação individual (que em geral demora 20 a 30 minutos), podendo ser

aplicado a figuras parentais de ambos os sexos.

A adaptação portuguesa inclui normas para crianças com idades compreendidas entre

os 5 e os 10 anos, ainda que a escala americana tenha sido utilizada até aos 12 anos de idade

(Idem).

A versão portuguesa é constituída por 132 itens dos quais 108 estão distribuídos por

várias subescalas agrupadas em dois domínios: Domínio da Criança e Domínio dos Pais. Os

itens são apresentados sob a forma de afirmações, e os pais devem posicionar-se face a cada

um com base em cinco possibilidades de escolha (desde “Concordo Completamente” até

“Discordo Completamente”), tendo em conta a relação que estabelecem com a/o filha/o. Os

restantes itens (24) estão integrados numa Escala Opcional de Stress de Vida, de resposta

dicotómica “Sim”/“Não”, a qual permite obter informação relativamente ao stress de vida

que é experimentado pelos pais (Abidin & Santos, 2003).

O Domínio da Criança integra sete subescalas que avaliam aspectos do temperamento

da criança e as percepções que os pais têm do impacto das características da criança neles

próprios; especificamente, Maleabilidade de Adaptação, Aceitação, Exigência, Humor,

Distracção/Hiperactividade, Reforço aos Pais e Autonomia (nova na adaptação portuguesa do

instrumento e que no presente trabalho não foi considerada devido à sua baixa consistência

Page 29: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

20

interna). O Domínio dos Pais é também composto por sete subescalas - Sentido de

Competência, Vinculação, Restrição do Papel, Depressão, Relação com Marido/Mulher,

Isolamento Social e Saúde –, as quais avaliam características pessoais dos pais e aspectos

relacionados com o meio familiar que poderão influenciar a capacidade de lidar com as

tarefas ligadas ao papel parental (ver Abidin & Santos, 2003).

O ISP permite a obtenção de quatro resultados diferentes: um resultado Total, um para

cada Domínio, um para cada Subescala e um para a escala de Stress de Vida (Idem).

Resultados mais elevados indicam níveis mais altos de stress parental experimentado pela

mãe ou pai. Santos (2008) refere que resultados elevados no Domínio da Criança remetem

para o facto de a criança apresentar qualidades que tornam difícil para os pais o desempenho

do papel parental. Neste caso, as características da criança são o factor principal que contribui

para o stress e potencial disfunção no sistema pais-crianças. A autora refere ainda que

resultados elevados no Domínio dos Pais sugerem que as fontes de stress e a potencial

disfunção no sistema mãe/pai-criança estarão relacionadas com características da figura

parental e contextuais. Acresce que, em geral, resultados elevados na escala de Stress de Vida

indiciam que a tarefa da parentalidade pode estar dificultada, aumentando também o

potencial para problemas nas interacções familiares.

O ISP apresenta uma estabilidade temporal satisfatória dos resultados num período de

três meses e bons níveis de consistência interna nos Domínios da Criança (.89) e dos Pais,

(.91) e para o Total (.94) (ver Abidin & Santos, 2003).

3.2.2. Ficha de Recolha de Informação

No âmbito do presente estudo foi elaborada uma Ficha de Recolha de Informação,

para ser preenchida pelas participantes, com vista à obtenção de informação específica (ver

Anexo), particularmente informação sociodemográfica e relativa à família, e à criança-alvo.

A informação referente à criança-alvo incide em aspectos como sexo, idade, situação

escolar, se a criança frequentou Ama, Creche, Jardim de Infância ou Pré-primária, e

informações no âmbito da saúde, desenvolvimento e comportamento. Em relação às

respondentes (mães) é solicitada informação sociodemográfica e familiar, designadamente

idade, nacionalidade, escolaridade (este tipo de informação é também pedido face ao pai da

criança), estado civil, grupo étnico, situação profissional, tipo de família e número de filhos

(e ainda sexo, idade e local de nascimento de cada um deles).

Page 30: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

21

3.3. Procedimento

As amostras foram recolhidas em diferentes contextos, designadamente no local de

trabalho das respondentes, Centros Paroquiais e Centros de Apoio Social que frequentavam, e

ainda na residência das participantes quando esta modalidade era da sua preferência.

Às mães foi explicado o objectivo da pesquisa (estudar as características do stress

parental em mães de etnias Africana e Lusa) e indicado que a sua participação era voluntária.

Em todos os casos foi assegurada a confidencialidade dos dados e das informações prestadas,

e explicado que as respostas eram anónimas uma vez que o nome da participante não seria

registado.

As mães que aceitaram participar (e que cumpriram os critérios de inclusão referidos

no ponto 3.1.) preencheram primeiro a Ficha de Recolha de Informação de âmbito

sociodemográfico (ver Anexo) e em seguida o Índice de Stress Parental (Abidin & Santos,

2003).

Em vários casos (sobretudo no Grupo 1 – mães de etnia Africana) foi necessário

auxiliar no preenchimento da Ficha de Recolha de Informação e do ISP devido à dificuldade

manifestada na compreensão de algumas questões e itens, bem como no registo na Folha de

Respostas do ISP.

No Grupo 2 (mães de etnia Lusa) a aplicação demorou, em média, 25 minutos, mas no

Grupo 1 a aplicação foi mais demorada dado o nível mais baixo de escolaridade destas mães.

Page 31: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

22

4. Resultados

Neste ponto apresentam-se os resultados relativos ao stress parental experimentado

pelos dois grupos em estudo (que, de forma abreviada, vão ser indicados com a designação

Mães Africanas e Mães Lusas), avaliado através do Índice de Stress Parental (ISP; Abidin &

Santos, 2003), adaptação portuguesa do Parenting Stress Index (PSI; Abidin, 1995). No

ponto 4.1 figuram os resultados decorrentes da comparação das mães dos dois grupos; do

ponto 4.2 constam os resultados referentes à relação do stress parental com problemas de

comportamento da criança, em ambos Grupos; no ponto 4.3 discriminam-se os resultados

referentes à relação do stress parental com variáveis sociodemográficas e familiares das mães

e no ponto 4.4 a relação com variáveis sociodemográficas das crianças. Os dados respeitantes

às variáveis sociodemográficas e familiares e aos problemas de comportamento da criança

foram obtidos através da Ficha de Recolha de Informação (ver Anexo), construída no âmbito

deste estudo.

4.1 Stress Parental: Comparação das Respostas das Mães dos Grupos 1 e 2

Para a análise e comparação das respostas das mães dos dois grupos, utilizou-se o

teste t de student (para amostras independentes). Do Quadro 7 constam as médias e os

desvios-padrão obtidos para cada uma das Subescalas, Domínios e Total, e os valores de t

resultantes da comparação das respostas das mães dos dois grupos.

Verifica-se que existem diferenças significativas entre os dois grupos ao nível do

Domínio da Criança (e em subescalas deste Domínio), com resultados mais elevados no

Grupo 1 (M = 113.17 versus M = 97.60). Ao nível das subescalas, o Grupo 1 obtém

resultados significativamente mais elevados na Distracção/Hiperactividade (Grupo 1: M =

25.10; Grupo 2: M =19.67); Reforço aos pais (Grupo 1: M = 11.63; Grupo 2: M = 9.00);

Aceitação (Grupo 1: M = 19.07 e Grupo 2: M = 15.47).

Page 32: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

23

Quadro 7

ISP - Comparação das Respostas do Grupo 1 (G1) e do Grupo 2 (G2): Médias (M), Desvios-

Padrão (DP) e Valores de t

SUBESCALAS/

DOMÍNIOS

G1

G2

M DP M DP t

Distracção/Hiperactividade 25.10 6.41 19.67 5.99 3.39**

Reforço aos Pais 11.63 4.09 9.00 3.22 2.77**

Humor 8.67 2.94 8.40 2.22 .40

Aceitação 19.07 6.17 15.47 4.31 2.62*

Maleabilidade Adaptação 29.70 8.16 27.53 5.32 1.22

Exigência 19.00 6.24 17.53 4.66 1.03

Sentido de Competência 28.97 7.68 27.13 4.42 1.13

Vinculação 12.10 3.81 11.30 2.42 .97

Restrição do Papel 16.50 6.43 17.43 4.40 -.66

Depressão 18.27 6.14 19.97 4.89 -1.19

Relação Marido/Mulher 18.07 5.99 18.63 6.06 -.36

Isolamento Social 12.00 4.32 12.60 2.94 -.63

Saúde Parental 13.87 3.77 12.97 3.05 1.02

Domínio da Criança 113.17 22.96 97.60 14.99 3.11**

Domínio dos Pais 119.77 24.03 120.03 20.11 -.05

Total 232.93 42.79 217.63 24.58 1.70

Escala Stress de Vida 38.73 16.03 18.20 15.85 4.99***

Nota. Grupo 1 – Africanas (N = 30); Grupo 2 – Lusas (N = 30)

df = 58

*p<.05, **p<.01, ***p<.001

Ocorrem também diferenças significativas face à Escala Stress de Vida, sendo mais

uma vez o valor médio para o Grupo 1 (M = 38.73) significativamente mais elevado do que o

do Grupo 2 (M = 18.20).

Page 33: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

24

4.2 Relação do Stress Parental com os Problemas de Comportamento da Criança -

Grupos 1 e 2

Para determinar a relação do stress parental (Domínios do ISP) com a perspectiva

materna sobre os Problemas de Comportamento da criança (ausência versus presença), nos

dois grupos, utilizou-se a correlação Bisserial por Pontos (relação entre variáveis métricas e

dicotómicas). No Quadro 8 indicam-se os resultados para os dois Grupos.

Quadro 8

Correlação do Stress Parental (Domínios do ISP) com os Problemas de Comportamento da

Criança (Grupos 1 e 2)

Problemas de

Comportamento

Grupo 1 Grupo 2

Domínio Criança .31 .78***

Domínio dos Pais .10 .05

***p<.001

Conforme se observa no Quadro 8, no Grupo 1 não se obtêm resultados significativos

para a relação dos Domínios (Criança e Pais) com os Problemas de Comportamento da

criança; no Grupo 2 obtém-se uma correlação significativa e positiva entre esta variável e o

Domínio da Criança.

Considerando os resultados significativos obtidos para o Grupo 2, explora-se em

seguida quais as subescalas do Domínio da Criança que poderão ser importantes para a

relação encontrada. Assim, no Quadro 9 apresentam-se os resultados relativos à correlação

das subescalas do Domínio da Criança com a variável Problemas de Comportamento da

criança.

Ocorrem correlações significativas e positivas dos Problemas de Comportamento com

as subescalas Exigência, Aceitação, Maleabilidade de Adaptação, Humor e

Distracção/Hiperactividade.

Page 34: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

25

Quadro 9

Grupo 2 (Lusas): Correlação do Stress Parental (Subescalas do Domínio da Criança do ISP)

com os Problemas de Comportamento da Criança

Subescalas Problemas de

Comportamento

Distracção/Hiperactividade .38*

Reforço aos pais -.03

Humor .41*

Aceitação .69***

Maleabilidade de Adaptação .45*

Exigência .71***

*p<.05, ***p<.001

4.3 Relação do Stress Parental com Variáveis Sociodemográficas e Familiares das Mães

- Grupos 1 e 2

Para averiguar a relação do stress parental (Domínios do ISP) com variáveis

sociodemográficas das mães de ambos os grupos, utilizaram-se os coeficientes de correlação

de Pearson, Spearman ou Bisserial por Pontos (consoante o tipo de variáveis em causa,

respectivamente, relação entre variáveis métricas, relação entre variáveis métricas e ordinais

ou relação entre variáveis métricas e dicotómicas). No Quadro 10 figuram os resultados da

correlação do stress parental com as variáveis sociodemográficas Idade, Escolaridade e

Número de Filhos.

Quadro 10

Correlação do Stress Parental (Domínios do ISP) com Variáveis Sociodemográficas das Mães

– Idade, Escolaridade e Número de Filhos (Grupos 1 e 2)

Idade Escolaridade Nº de Filhos

Grupo 1 Grupo 2 Grupo 1 Grupo 2 Grupo 1 Grupo 2

Domínio Criança -.30 .28 -.16 .39* -.04 .18

Domínio dos Pais -.17 -.07 -.13 .02 -.10 -.10

Nota. Grupo 1 – Africanas, Grupo 2 – Lusas; *p<.05

Page 35: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

26

Conforme se observa no Quadro 10 não se obtiveram correlações significativas com a

Idade e o Número de Filhos, sendo apenas significativa a relação do Domínio da Criança com

a Escolaridade das Mães no caso do Grupo 2.

Tendo em conta o resultado significativo obtido, foram objecto de análise,

exploratória, as subescalas que poderão ser importantes para a relação encontrada. Neste

sentido, no Quadro 11 apresentam-se os resultados relativos à correlação das subescalas do

Domínio da Criança com a Escolaridade da Mãe no Grupo 2.

Quadro 11

Correlação do Stress Parental (Subescalas do Domínio da Criança do ISP) com a

Escolaridade da Mãe (Grupo 2)

Subescalas Escolaridade da Mãe

Distracção/Hiperactividade -.01

Reforço aos pais .12

Humor .12

Aceitação .30

Maleabilidade de Adaptação .34†

Exigência .31

Nota. Grupo 2 – Lusas †p=.07

Constata-se que apenas se obtém uma correlação marginalmente significativa entre a

subescala Maleabilidade de Adaptação e a Escolaridade da mãe, tendo, portanto, maior

saliência o resultado para o Domínio da Criança do que os resultados parcelares.

No que se refere à Situação Profissional (empregadas versus desempregadas) a

relação do stress parental com esta variável foi explorada somente em relação ao Grupo 1

(Africanas) uma vez que no Grupo 2 (Lusas) apenas uma mãe se encontra na situação de

desemprego, estando as restantes empregadas (a tempo inteiro ou parcial). A correlação entre

as variáveis em causa não conduz a um resultado significativo quer para o Domínio da

Criança (-.11, p = .553), quer para o Domínio dos Pais (.15, p = 435).

Face ao Estado Civil (não-casadas versus casadas), verifica-se que no Grupo 1

(Africanas) não se obtêm correlações significativas com o stress parental (Domínio da

Page 36: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

27

Criança: .10, p = 592; Domínio dos Pais: -.27, p = 153), e que no Grupo 2 (Lusas) também

não é significativa a relação com o Domínio da Criança (.24, p = .203), não se chegando a

atingir significância estatística na relação com o Domínio dos Pais (-.33, p = .071).

No Quadro 12 figuram os resultados respeitantes à relação dos Domínios do ISP com

o Tipo de Família (nuclear versus não-nuclear), em ambos os grupos.

Quadro 12

Correlação do Stress Parental (Domínios do ISP) com o Tipo de Família (Grupos 1 e 2)

Tipo de Família

Grupo 1 Grupo 2

Domínio Criança .11 -.16

Domínio dos Pais .45* .25

*p<.05

Observa-se que só se obtém uma correlação significativa do Tipo de Família com o

Domínio dos Pais e apenas no Grupo 1. Considerando o resultado significativo obtido, fez-se

uma análise exploratória ao nível das subescalas do Domínio dos Pais para averiguar quais

poderão ser mais importantes para a relação encontrada. Estes resultados são apresentados no

Quadro 13.

Quadro 13

Grupo 1 (Africanas): Correlação do Stress Parental (Subescalas Domínio dos Pais do ISP)

com o Tipo de Família

Subescalas Tipo de Família

Sentido de Competência .15

Vinculação .31

Restrição do Papel -.07

Depressão .04

Relação Marido/Mulher .37*

Isolamento Social .37*

Saúde .13

Nota. Grupo 1 – Africanas; *p<.05

Page 37: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

28

Verifica-se que se obtêm correlações significativas do Tipo de Família com as

subescalas Isolamento Social e Relação Marido/Mulher.

4.4 Relação do Stress Parental com Variáveis Sociodemográficas das Crianças - Grupos

1 e 2

Para a análise da relação do stress parental (Domínios do ISP) com variáveis

sociodemográficas das crianças, nos dois grupos, utilizaram-se os coeficientes de correlação

de Pearson, Spearman ou Bisserial por Pontos (consoante o tipo de variáveis em causa). No

Quadro 14 figuram os resultados da correlação do stress parental com as variáveis

sociodemográficas das crianças consideradas - Sexo, Idade e Escolaridade.

Verifica-se que no Grupo 2 não ocorrem correlações significativas do Stress Parental

(Domínios) com qualquer uma das variáveis sociodemográficas da criança. Contudo, no

Grupo 1 é de salientar que se obtém correlações significativas e negativas da Idade e da

Escolaridade da Criança com o Domínio dos Pais.

Quadro 14

Correlação do Stress Parental (Domínios do ISP) com Variáveis Sociodemográficas das

Crianças (Grupos 1 e 2)

Sexo Idade Escolaridade

Grupo 1 Grupo 2 Grupo 1 Grupo 2 Grupo 1 Grupo 2

Domínio Criança -.07 .01 -.04 .03 -.08 -.04

Domínio dos Pais .11 .08 -.49** -.19 -.46** -.13

Nota. Grupo 1 – Africanas; Grupo 2 – Lusas

**p<.01

Tendo em conta os resultados significativos obtidos, procedeu-se mais uma vez a uma

análise exploratória de quais as subescalas que poderão ser importantes para as relações

encontradas. Do Quadro 15 constam os resultados referentes à correlação das subescalas do

Domínio dos Pais com as variáveis Idade e Escolaridade no Grupo 1.

Page 38: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

29

Quadro 15

Correlação do Stress Parental (Subescalas do Domínio dos Pais do ISP) com a Idade e a

Escolaridade da Criança (Grupo 1)

Subescalas Idade Escolaridade

Sentido de Competência -.21 -.27

Vinculação -.26 -.22

Restrição do Papel -.41* -.35†

Depressão -.19 -.21

Relação Marido/Mulher -.29 -.13

Isolamento Social -.46* -.50**

Saúde -.43* -.54**

Nota. Grupo 1 – Africanas

*p<.05, **p<.01, † p=.60

Verifica-se que se obtêm correlações significativas e negativas da Idade e

Escolaridade com as subescalas Saúde, Isolamento Social e Restrição do Papel, mas neste

último caso a relação com a Escolaridade é apenas marginalmente significativa.

Page 39: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

30

5. Discussão

Neste ponto procede-se à discussão dos resultados obtidos com base nos objectivos

traçados no presente estudo. Fazem parte deste ponto os seguintes tópicos: diferenças no

stress parental experimentado por mães Africanas (Grupo 1) e Lusas (Grupo 2); relação do

stress parental com problemas de comportamento da criança; relação do stress parental com

variáveis sociodemográficas e familiares.

5.1 – Diferenças no Stress Parental Experimentado por Mães Africanas e Lusas

A análise dos resultados obtidos neste estudo evidencia que existem diferenças no

stress parental experimentado pelas mães de etnia Africana (Grupo 1) e Lusa (Grupo 2),

salientando-se que as mães do Grupo 1 revelaram níveis mais elevados de stress parental

associado às características da criança (Domínio da Criança). Em termos de áreas de stress,

os dois grupos distinguiram-se nas subescalas Distracção/Hiperactividade, Reforço aos Pais e

Aceitação, obtendo as mães do Grupo 1 resultados significativamente mais elevados.

Especificamente, estas mães, comparativamente com as do Grupo 2, consideram que a

criança tem características de distracção, agitação e nível de actividade geradoras de mais

stress, tendo também características diferentes das que elas esperavam, o que poderá

dificultar a sua aceitação, e sentem-se menos reforçadas no desempenho do papel parental.

Estes resultados vão na linha dos referidos por outros autores (e.g., Raphael et al., 2009;

Middlemiss, 2003) que encontraram níveis mais elevados de stress parental na etnia africana.

A Hipótese colocada (Hipótese 1) é, assim, confirmada, a qual previa a ocorrência

deste tipo de diferenças entre os dois grupos ao nível de pelo menos um dos Domínios do ISP

(Criança/Pais).

As mães do Grupo 1 obtiveram ainda resultados significativamente mais elevados na

Escala Stress de Vida, denotando que elas experimentam mais stress associado com

acontecimentos de vida. Este tipo de stress pode contribuir para dificultar a tarefa de se ser

mãe, aumentando a probabilidade de ocorrência de problemas nas interacções dentro da

família e aumentando o stress parental (ver Abidin, 1995; Abidin & Santos, 2003). O

resultado é consonante com os de autores que identificam o stress de vida como tendo

consequências nefastas para o desempenho do papel parental (e.g., Taylor et. al. 2007;

Wheatley & Wille, 2009), designadamente as dificuldades económicas (e.g., Cain & Combs,

2005; Taylor et al., 2007). Nesta sequência, é possível que os níveis superiores de stress de

Page 40: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

31

vida das mães “africanas” contribuam para que tenham mais dificuldade em atender às

necessidades das crianças e sintam menos disponibilidade para ela, sendo também viável

considerar que elas sejam mais vulneráveis a factores geradores de stress (Kessler &

Neighbor, 1986), manifestando assim maior dificuldade no desempenho do papel parental

(ver Pinderhughes et al., 2000).

5.2 – Relação do Stress Parental com Problemas de Comportamento da Criança

No que diz respeito à relação do stress parental com problemas de comportamento na

criança (perspectiva materna), verificou-se que no Grupo 1 não ocorreu nenhuma associação

desta variável com o stress parental (Domínios da Criança e Domínio dos Pais), ao contrário

do que aconteceu no Grupo 2. De facto, neste grupo observou-se que as mães que

identificaram problemas de comportamento na criança referem níveis mais elevados de stress

decorrente de características da criança (Domínio da Criança). A exploração de quais as

subescalas que poderiam ser importantes para o resultado obtido conduziu a uma associação

daquele tipo de problemas com todas as subescalas do Domínio da Criança, à excepção da

subescala Reforço aos Pais. Tal indica que a presença de problemas de comportamento na

criança, segundo a perspectiva das mães, se relaciona com o facto de as mães considerarem

que a criança tem características de comportamento que se pautam por distracção, agitação e

excesso de actividade (Distracção/Hiperactividade), alterações de humor (Humor) e

dificuldades em lidar com mudanças e transições (Maleabilidade de Adaptação), colocando

ainda mais exigências do que as mães esperavam (Exigência), aspectos que podem contribuir

para a percepção de que a criança possui características diferentes das antecipadas pelas mães

(Aceitação). Assim, parece que no Grupo 2 as mães das crianças com problemas de

comportamento estarão em maior risco em termos de stress parental, estando este claramente

relacionado com características da criança. A associação entre stress parental e problemas de

comportamento na criança tem sido ressaltada na literatura (e.g., Baker et al., 2003; Deater-

Deckard, 1998). Curiosamente, este tipo de associação não é encontrado para o Grupo 1,

apesar das mães deste grupo indicarem que 40% das crianças têm problemas de

comportamento (percentagem claramente superior à do Grupo 2 – 16.7%). Poderá dar-se o

caso de as mães do Grupo 1 terem mais facilidade em lidar com os problemas de

comportamento da criança, ou desvalorizarem mais as suas manifestações, de tal forma que

eles não seriam geradores de níveis elevados de stress parental. Outra possibilidade é que

Page 41: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

32

neste grupo haja uma tendência para as mães serem mais permissivas, em termos de estilo

parental, o que se traduziria também numa maior aceitação do comportamento da criança.

A hipótese colocada (Hipótese 2), que previa a relação do stress parental com

problemas de comportamento da criança (independentemente do grupo), é confirmada apenas

em parte uma vez que tal foi verificado para o Grupo 2, mas não para o Grupo 1.

5.3 – Relação do Stress Parental com Variáveis Sociodemográficas e Familiares

No que se refere à relação do stress parental com variáveis sociodemográficas, e

começando pelas variáveis maternas (idade, escolaridade, situação profissional – apenas

Grupo 1 -, estado civil e número de filhos), sobressai que somente se obteve um resultado

significativo, para o Grupo 2 – as mães com um nível de instrução mais alto referem mais

stress parental associado com características da criança (Domínio da Criança), tendendo a ser

perspectivada como geradora de stress a maior dificuldade da criança em se adaptar a

transições e mudanças (Maleabilidade de Adaptação), ainda que este resultado não chegue a

alcançar significância estatística. É possível que as mães mais instruídas possam ter desafios

profissionais acrescidos e que tal contribua para dificultar a conjugação da vida profissional

com a parentalidade, com consequência nos níveis de stress experimentado, e que elas sejam

especialmente sensíveis à eventual dificuldade da criança em ser flexível na adaptação a

diferentes situações. Tal não acontece no Grupo 1, talvez por as crianças-alvo serem mais

“adaptáveis”, ou as mães menos exigentes. Para além disso, neste grupo é menor o número de

mães com um nível de instrução superior, o que poderá ter contribuído para não haver

significância estatística.

Na sequência do acima referido, confirma-se a Hipótese 3 que previa a existência de

uma relação entre o stress parental (Domínio da Criança e/ou dos Pais) e pelo menos uma das

variáveis sociodemográficas das mães.

Quando se consideram as variáveis sociodemográficas das crianças (sexo, idade e

escolaridade), obtêm-se resultados significativos apenas para o Grupo 1 – a criança ser mais

nova e ter menos anos de escolaridade associa-se com níveis mais elevados de stress parental

decorrente de características das mães (Domínio dos Pais). Relativamente às áreas de stress,

as mães destas crianças referem estar mais isoladas do ponto de vista social (Isolamento

Social), sentem-se mais frágeis em termos da sua saúde física (Saúde) e perspectivam o papel

Page 42: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

33

parental como colocando mais restrições nas suas vidas do que esperavam (Restrição do

Papel); no caso da associação com a “escolaridade” este último resultado é apenas

marginalmente significativo.

A Hipótese 5 é, assim, confirmada já que previa uma relação do stress parental

(Domínio da Criança e/ou dos Pais) com alguma(s) das variáveis sociodemográficas das

crianças.

Os resultados são consonantes com os de autores que identificam níveis mais altos de

stress parental em figuras parentais de crianças mais novas (ver Abidin, 1995).

Face à relação do stress parental com o tipo de família, verificou-se que, no Grupo 1,

as mães que pertencem a famílias de tipo não-nuclear (e.g., monoparental, reconstruída)

revelam níveis mais altos de stress associados com as suas próprias características (Domínio

dos Pais), sentindo-se menos apoiadas pelos companheiros/pais da criança (Relação

Marido/Mulher) e mais isoladas do ponto de vista social (Isolamento Social). Isto denota que

as mães de etnia Africana avaliam o apoio conjugal e social recebidos como insuficientes

para o desempenho do papel parental.

Confirma-se a Hipótese 4, a qual previa a ocorrência de níveis mais elevados de stress

parental quando a família é não-nuclear, pelo menos para o Grupo 1.

Os resultados vão na mesma linha dos de autores que defendem a existência de mais

stress em famílias não-nucleares, designadamente monoparentais, incluindo nas mães afro-

americanas (Taylor et al., 2007; Taylor et al., 2010; ver também Pinderhughes et al., 2000).

Contudo, os resultados parecem dissonantes do referido por Cain e Combs-Orme (2005) no

que respeita à etnia africana, a qual contaria com redes sociais próximas (parentes, vizinhos e

membros da igreja) para partilhar o cuidado da criança. Este poderá não ser o caso de um

número importante de mães da amostra o que se reflectirá, por hipótese, nos níveis de stress

parental experimentados.

Por último, mencione-se que, das cinco hipóteses colocadas neste estudo, todas foram

confirmadas, embora uma delas apenas em parte (Hipótese 2).

Page 43: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

34

6. Conclusão

O presente estudo incidiu no stress parental experimentado por mães de duas etnias

(Africana e Lusa) com crianças de idades compreendidas entre os 5 e os 10 anos. No que se

refere ao stress parental, verificou-se que, de acordo com o esperado, as mães de etnia

Africana, comparativamente com as de etnia Lusa, experimentam níveis mais elevados de

stress decorrentes de características da criança (Domínio da Criança e subescalas

Distracção/Hiperactividade, Reforço aos Pais e Aceitação), assim como de stress de vida

(Escala de Stress de Vida) o que é concordante com a literatura nesta área.

No Grupo 1 (Africanas) salientou-se ainda que as mães das crianças mais novas e das

que têm menos anos de escolaridade referem mais stress parental associado com as suas

próprias características (Domínio dos Pais), considerando que o papel parental coloca mais

restrições nas suas vidas do que esperavam (subescala Restrição do Papel) e sentindo-se mais

isoladas do ponto de vista social (subescala Isolamento Social) e com pior saúde física

(subescala Saúde). O tipo de família revelou ser também uma variável importante,

constatando-se que as mães que pertencem a famílias não-nucleares (e.g., monoparental,

reconstituída) sentem pouco apoio, quer por parte do cônjuge/pai da criança (subescala

Relação Conjugal) quer social (subescala Isolamento Social), o que, mais uma vez, se

enquadra na literatura, sobretudo na dirigida para a monoparentalidade.

Por sua vez, as mães do Grupo 2 (Lusas) que identificam problemas de

comportamento na criança referem níveis mais elevados de stress parental associado com as

características da criança (Domínio da Criança e subescalas deste Domínio, com excepção da

subescala Reforço aos Pais). Neste Grupo foi ainda observado que as mães com mais

escolaridade reportam também níveis mais altos de stress parental associado com as

características da criança (Domínio da Criança).

No que se refere às limitações do presente estudo, destaca-se, em primeiro lugar, a

reduzida dimensão da amostra, o que condiciona as conclusões a retirar, propondo-se que, em

investigações futuras, seja contemplado um maior número de participantes. Uma segunda

limitação diz respeito a não se ter controlado variáveis sociodemográficas específicas de

modo a haver maior homogeneidade entre os dois grupos. De referir ainda como limitação o

facto de, em alguns casos, ter sido a entrevistadora a auxiliar as mães no preenchimento do

instrumento utilizado, devido a dificuldades na compreensão e execução (sobretudo no Grupo

Page 44: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

35

1 devido ao maior número de mães com um nível baixo de escolaridade), o que não permitiu

um procedimento uniformizado na aplicação.

Para futuros estudos, na mesma temática, propõe-se a inclusão dos pais, para além das

mães, com vista à comparação do stress parental das mães e dos pais e entre etnias. Seria

também importante considerar variáveis relacionadas com outras dimensões do

funcionamento parental (por exemplo, práticas educativas). Teria pertinência a realização de

um estudo longitudinal de modo a acompanhar a evolução do stress parental até à

adolescência.

Espera-se que este estudo tenha dado um contributo para aumentar a compreensão

sobre o stress parental experimentado por mães de etnia africana e lusa (com filhos na faixa

etária considerada), reconhecendo-se, no entanto, a importância de se atender a outros

factores potencialmente influentes no maior ou menor grau de stress experimentado no

desempenho do papel parental como o nível socioeconómico ou o apoio conjugal, familiar e

social.

Page 45: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

36

Referências Bibliográficas

Abidin, R. R. (1992). The determinants of parenting behavior. Journal of Clinical Child

Psychology, 21(4), 407-412.

Abidin, R. R. (1995). Parenting Stress Index – Manual (3rd

ed.). Odessa: Psychological

Assessment Resources.

Abidin, R. R., & Santos, S. V. (2003). Índice de Stress Parental (PSI) – Manual (1ª ed.).

Lisboa: CEGOC-TEA.

Baião, R. M. (2009). Stress parental e prematuridade. Dissertação de Mestrado Integrado

não publicada. Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Universidade de

Lisboa, Lisboa.

Baker, B. L., McIntyre, L. L., Blacher, J., Crnic, K. A., Edelbrock, C., & Low, C. (2003).

Pre-school children with and without developmental delay: Behaviour problems and

parenting stress over time. Journal of Intellectual Disability Research, 47, 217-230.

Beker, D., & Liddle, H. A. (2001). Family therapy with unmarried african american mothers

and their adolescents. Family Process, 40, 413-427.

Belsky, J. (1984). The determinants of parenting: A process model. Child Development, 55,

83-96.

Cain, D. S., & Combs-Orme, T. (2005). Family structure effects on parenting stress and

practices in the African-American family. Journal of Sociology and Social Welfare,

XXXII,(2) 19-40.

Cairney, J., Boyle, M., Offord, D. R., & Racine, Y. (2003). Stress, social support and

depression in single and married mothers. Social Psychiatry & Psychiatric

Epidemiology, 38, 442-449.

Crnic, K. A., & Low, C. (2002). Everyday stresses and parenting. In M. H. Bornstein (Ed.),

Handbook of parenting (2nd ed.,Vol.5, pp. 243–267). Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum

Associates.

Deater-Deckard, K. (1998). Parenting stress and child adjustment: Some old hypotheses and

new questions. Clinical Psychology: Science and Practice, 5, 314-332.

Page 46: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

37

Deater-Deckard, K. (2004). Parenting stress. Michigan: Penguin Group (USA).

Franco, L. M., Pottick, K. J., & Huang, C. C. (2010). Early parenthood in a community

context: Neighborhood conditions, race–ethnicity, and parenting stress. Journal of

Community Psychology, 38, 574-590.

Grote, N. K., Bledsoe, S. E., Larkin, J., Lemay, E. P., Brown C. (2007). Stress exposure and

depression in disadvantage women: The protective effects of optimism and perceived

control. Social Work Research, 31(1) 19-33.

Guajardo, N. R., Snyder G., & Petersen, R. (2009). Relationships among parenting practices,

parental stress, child behaviour, and children’s social-cognitive development. Infant

and Child Development, 18, 37-60.

Hoffmeyer-Zlotnik, J. H. P. & Warner, U. (2010). The concept of ethnicity and its

operationalisation in cross-national social surveys. In Metodoloski zvezki. 7(2), 107-

132.

Johnston, C., & Mash, E. J. (2001). Families of children with attention-deficit/hyperactivity

disorder: Review and recommendations for future research. Clinical Child and Family

Psychology Review, 4(3), 183-207.

Kessler, R. C., & Neighbors, H. W. (1986). A new perspective on the relationships among

race, social class, and psychological distress. Journal of Health and Social Behavior,

27, 107-115.

McLoyd, V. C. (1990). The impact of economic hardship on Black families and children:

Psychological distress, parenting, and socioemotional development. Child

Development, 61, 311-346.

McLoyd, V. C. (1998). Socioeconomic disadvantage and child development. American

Psychologist, 53, 185-204.

Mash, E. J., & Johnston, C. (1990). Determinants of parenting stress: Illustrations from

families of hyperactive children and families of physically abused children. Journal of

Clinical Child Psychology, 19, 313-328.

Page 47: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

38

Mistry, R. S., Vandewater, E. A., Huston, A. C., & McLoyd, V. C. (2002). Economic well-

being and children’s social adjustment: The role of family process in an ethnically

diverse low-income sample. Child Development. 73, 935-951.

Middlemiss, W. (2003). Brief report: Poverty, stress, and support: Patterns of parenting

behaviour among lower income black and lower income white mothers. Infant and

Child Development. 12, 293-301.

Mullins, L. L., Wolfe-Christensen, C., Chaney, J. M., Elkin, T. D., Wiener, L., Hullmann, S.

E., Fedele, D. A., & Junghans, (2011). The relationship between single-parent status

and parenting capacities in mothers of youth with chronic health conditions: The

mediating role of income. Journal of Pediatric Psychology, 36, 249-257.

Murry, V. M., Bynum, M. S., Brody, G. H., Willert, A., & Stephens, D. (2001). African

American single mothers and children in context: A review of studies on risk and

resilience. Clinical Child and Family Psychology Review, 4, 133-155.

Neece, C. & Baker, B. (2008) Predicting maternal parenting stress. Journal of Intellectual

Disability Research, 52, 1114-1128.

Osborne, P. (1989). Parenting for de ‘90s. Pennsylvania: Good Books.

Östberg, M., & Hagekull, B. (2000). A structural modeling approach to the understanding of

parenting stress. Journal of Clinical Child Psychology, 29, 615-625.

Pinderhughes, E. E., Dodge, K. A., Bates, J. E., Pettit, G. S., & Zelli, A. (2000). Discipline

responses: Influences on parents’ socioeconomic status, ethnicity, beliefs about

parenting, stress, and cognitive–emotional processes. Journal of Family Psychology,

14, 380-400.

Putnick, D. L., Bornstein, M. H., Hendricks, C., Painter, K. M., Suwalsky, J. T. D., &

Collins, W. A. (2010). Stability, continuity, and similarity of parenting stress in

european american mothers and fathers across their child’s transition to adolescence.

Parenting: Science and Practice, 10(1), 60-77.

Raphael, J. L., Zhang, Y., Liu, H., Giardino, A. P. (2009). Parenting stress in US families:

Implications for paediatric healthcare utilization. Child: Care, Health and

Development, 36, 216-224.

Page 48: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

39

Santos, S. V. (2008). Santos, S. V. (2008). Índice de stress parental (PSI). In L. S. Almeida,

M. R. Simões, C. Machado, & M. M. Gonçalves (Coods.), Avaliação psicológica.

Instrumentos validados para a população portuguesa (2ª ed.,Vol. II, pp. 123-134,).

Coimbra: Quarteto.

Solis-Ponton, D., & Lebovici, S. (2004). Diálogo Leticia Solis-Ponton e Serge Levovici. In

D. Solis-Ponton (Ed.), Ser pai, ser mãe – Parentalidade: Um desafio para o terceiro

milénio (pp. 21-27). S. Paulo: Casa do Psicólogo.

Taylor, J. Y., Washington, O. G. M., Artinian, N. T., & Lichtenberg, P. (2007). Parental

stress among african american parents and grandparents. Issues in Mental Health

Nursing, 28, 373-387.

Taylor, R. D., Roberts D., & Jacobson, L. (1997). Stressful life events, psychological well-

being, and parenting in african american mothers. Journal of Family Psychology, 11,

436-446.

Taylor, Z. E. Larsen-Rife, D., Conger, R. D., Widaman, K. F., & Cutrona, C. E. (2010). Life

stress, maternal optimism, and adolescent competence in single mother, african

american families. Journal of Family Psychology, 24, 468-477.

Webster-Stratton, C. (1990). Stress: A potential disruptor of parent perceptions and family

interactions. Journal of Clinical Child Psychology, 19, 302-312.

Wheatley, M. K., & Wille, D. E. (2009). Changes in parents' stress as their children become

adolescents: A validation of the stress index for parents of adolescents. The

International Honor Society in Psychology, 14, 121-128.

Willinger, U., Diendorfer-Radner, G., Willnauer, R., Jörgl, G., & Hager, V. (2005). Parenting

stress and parental bonding. Behavioral Medicine, 31, 63-69.

www.infopedia.pt/lingua-portuguesa-ao/etnia.

Page 49: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

40

Anexo

Page 50: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

41

FICHA DE RECOLHA DE INFORMAÇÃO

Data de preenchimento: ___/___/_____

Antes de responder às questões que se seguem, por favor leia atentamente todas elas e

assinale o que se aplica.

INFORMAÇÃO SOBRE A CRIANÇA

Sexo: Feminino Masculino

Data de nascimento___/___/______ Local________________________ Idade____anos

ESCOLARIDADE

Pré-primária

1º ano

2º ano

3º ano

4º ano

5º ano

6º ano

A CRIANÇA FREQUENTOU:

Ama: Não Sim

Creche: Não Sim

Jardim Infantil: Não Sim

Pré-primária: Não Sim

INFORMAÇÃO SOBRE OS PAIS

Idade da mãe: ____anos Idade do pai: ____anos

Nacionalidade: ____________________ Nacionalidade: ____________________

Page 51: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

42

ESCOLARIDADE DOS PAIS:

Mãe: Pai:

Não alfabetizada Não alfabetizado

4 anos 4 anos

6 anos 6 anos

9 anos 9 anos

12 anos 12 anos

Curso Profissional Curso Profissional

Ensino superior Ensino superior

ESTADO CIVIL DA RESPONDENTE (MÃE): Solteira

Casada /União de facto

Divorciada /Separada

Viúva

GRUPO ÉTNICO: Luso

Africano

Se for Africano, há quanto tempo vive em Portugal?__________________________

SITUAÇÃO PROFISSIONAL:

No activo Se sim: Tempo inteiro Meio tempo

Desempregada

Reformada

Outra Qual? ____________________________

TIPO DE FAMÍLIA:

Nuclear

Monoparental

Reconstruída

Alargada

Outra Qual? __________________

Membros da família que vivem em casa:______________________________________

Número de filhos______

Page 52: Stress Parental em Mães de Etnias Africana e Lusarepositorio.ul.pt/bitstream/10451/6895/1/ulfpie040127_tm.pdf · Combs-Orme (2005) referem que a confiança que as famílias de etnia

43

PARA CADA UM DOS SEUS FILHOS INDIQUE (DO MAIS VELHO PARA O MAIS

NOVO):

- Sexo: Feminino Masculino

Data de Nascimento: ___/___/______Local______________________Idade____anos

- Sexo: Feminino Masculino

Data de Nascimento: ___/___/_______ Local____________________ Idade____anos

- Sexo: Feminino Masculino

Data de Nascimento: ___/___/_______ Local____________________ Idade____anos

- Sexo: Feminino Masculino

Data de Nascimento: ___/___/_______ Local____________________ Idade____anos

- Sexo: Feminino Masculino

Data de Nascimento: ___/___/_______ Local____________________ Idade____anos

A CRIANÇA TEM PROBLEMAS DE:

Saúde Não Sim Se sim, qual (ais)____________________

___________________________________________________________________________

Desenvolvimento Não Sim Se sim, qual (ais)_____________________

___________________________________________________________________________

Comportamento Não Sim Se sim, qual (ais)______________________

___________________________________________________________________________