potencialidades e limites pedagÓgicos na … · potencialidades e limites ... pois o recorte...

21
Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação - 1 - POTENCIALIDADES E LIMITES PEDAGÓGICOS NA UTILIZAÇÃO DOS DISPOSITIVOS MÓVEIS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Fabíola Anita Romêro Gomes 1 (CEFET-MG) Resumo: O presente artigo visa refletir sobre os limites e as possibilidades trazidas pelo contexto emergente de aprendizagem com mobilidade – mobile learning, considerando os recursos e ferramentas presentes nos aparelhos celulares. Os dados foram coletados em uma escola pública de Educação de Jovens e Adultos (EJA) na cidade de Contagem em Minas Gerais, através da pesquisa qualitativa, por meio do estudo de caso. Os resultados obtidos indicam que os estudantes e os professores participantes na investigação são favoráveis à utilização do celular enquanto recurso pedagógico, sendo viabilizado por meio dos projetos de trabalho. Palavras-chave: mobile learning; projetos de trabalho; EJA. Abstract: This article aims to reflect on the limits and possibilities brought by the emerging context of learning mobility - mobile learning, considering the resources and tools available in the mobile handsets. Data were collected in a public school in Education for Youth and Adults (EJA) Count the city of Minas Gerais, through qualitative research, through the case study. The results indicate that students and teachers participating in the study are favorable to the use of mobile as a pedagogical resource, being made possible through the work projects. Keywords: mobile learning; work projects; EJA. Introdução A sociedade atual é fortemente marcada pelas tecnologias, que fazem parte do cotidiano das pessoas, a exemplo dos dispositivos móveis e, em específico, os telefones celulares. Trazendo este pensamento para o âmbito escolar, há o desafio 1 Fabíola Anita Romêro GOMES, Mestranda Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG) Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Estudo de Linguagens [email protected]

Upload: truonghanh

Post on 05-Dec-2018

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: POTENCIALIDADES E LIMITES PEDAGÓGICOS NA … · POTENCIALIDADES E LIMITES ... pois o recorte delimitado visava responder ... 1º) Filmar ou tirar foto da visita ao Observatório

Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação

- 1 -

POTENCIALIDADES E LIMITES PEDAGÓGICOS NA UTILIZAÇÃO DOS DISPOSITIVOS MÓVEIS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E

ADULTOS

Fabíola Anita Romêro Gomes1 (CEFET-MG)

Resumo: O presente artigo visa refletir sobre os limites e as possibilidades trazidas

pelo contexto emergente de aprendizagem com mobilidade – mobile learning, considerando os recursos e ferramentas presentes nos aparelhos celulares. Os dados foram coletados em uma escola pública de Educação de Jovens e Adultos (EJA) na cidade de Contagem em Minas Gerais, através da pesquisa qualitativa, por meio do estudo de caso. Os resultados obtidos indicam que os estudantes e os professores participantes na investigação são favoráveis à utilização do celular enquanto recurso pedagógico, sendo viabilizado por meio dos projetos de trabalho. Palavras-chave: mobile learning; projetos de trabalho; EJA. Abstract: This article aims to reflect on the limits and possibilities brought by the emerging context of learning mobility - mobile learning, considering the resources and tools available in the mobile handsets. Data were collected in a public school in Education for Youth and Adults (EJA) Count the city of Minas Gerais, through qualitative research, through the case study. The results indicate that students and teachers participating in the study are

favorable to the use of mobile as a pedagogical resource, being made

possible through the work projects. Keywords: mobile learning; work projects; EJA.

Introdução

A sociedade atual é fortemente marcada pelas tecnologias, que fazem parte

do cotidiano das pessoas, a exemplo dos dispositivos móveis e, em específico, os

telefones celulares. Trazendo este pensamento para o âmbito escolar, há o desafio

1 Fabíola Anita Romêro GOMES, Mestranda

Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG) Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Estudo de Linguagens [email protected]

Page 2: POTENCIALIDADES E LIMITES PEDAGÓGICOS NA … · POTENCIALIDADES E LIMITES ... pois o recorte delimitado visava responder ... 1º) Filmar ou tirar foto da visita ao Observatório

Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação

- 2 -

de se desenvolver uma compreensão sobre os dispositivos móveis e as

potencialidades de seu uso pedagógico.

A escola ainda apresenta dificuldades e barreiras em relação à crescente

“invasão” dessas tecnologias através dos estudantes. Na EJA, este quadro fica

ainda mais visível, considerando que a tecnologia mais utilizada por estes jovens e

adultos são os celulares. (FUNDAÇÃO TELEFÔNICA, 2012; IBGE, 2011).

Tive a oportunidade de observar esta relação mais de perto quando conclui,

em 2009, o curso de Pedagogia e fui atuar como pedagoga na EJA, na rede

municipal de Contagem, Minas Gerais. Havia um embate entre professores e

estudantes em relação à utilização dos telefones celulares na escola. Os estudantes

usavam os celulares exclusivamente para fins pessoais, mas ultrapassavam os

limites impostos pela escola, ao ouvir músicas e atender ligações durante as aulas.

Em contrapartida, os professores optaram pela “tolerância zero” aos celulares na

escola, recorrendo a leis que proibiam sua utilização em sala de aula. Esta relação

conflituosa me incomodava porque penso que a escola deveria se aproximar da

realidade dos estudantes, através, também, dos recursos que os mesmos dispõem,

transformando vivência e recursos individuais em aprendizagem coletiva.

Este interesse foi ampliado quando entramos em contato com a literatura

específica da área, mais precisamente os estudos relacionados ao uso de

dispositivos móveis como ferramentas voltadas para o processo de ensino-

aprendizagem, de forma ubíqua, conduzidos recentemente no Brasil e na Europa

(BRITO GUERRA et al, 2012; BOTTENTUIT JÚNIOR, 2012; FERREIRA, 2009; MACEDO,

2008; MOURA, 2010).

Este artigo está baseado em estudos como os citados acima e na consideração

de que o uso da tecnologia computacional na educação não é um evento recente,

mas uma realidade cada vez mais presente nas salas de aula. No entanto, isso não

significa que o ensino mediado pelas novas tecnologias deve ser visto como algo

melhor ou pior do que o ensino tradicional. Entendemos, com o apoio de Moran

Page 3: POTENCIALIDADES E LIMITES PEDAGÓGICOS NA … · POTENCIALIDADES E LIMITES ... pois o recorte delimitado visava responder ... 1º) Filmar ou tirar foto da visita ao Observatório

Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação

- 3 -

(2013), Levy (1997), Prensky (2001), Leffa (2006) e Macedo (2008) que a tecnologia,

por si só, não é capaz de trazer contribuições para a área educacional se for

utilizada como o ingrediente mais importante do processo educativo, ou sem a

reflexão humana. Ela deve adequar-se às necessidades de determinado projeto

político-pedagógico, colocando-se a serviço de seus objetivos e nunca os

determinando.

Considerando o quadro apresentado, acreditamos que os dispositivos móveis

apresentam possibilidades pedagógicas pouco exploradas por estudantes e

professores. Desse modo, essas observações nos levaram a investigar as

potencialidades e limites pedagógicos dos dispositivos móveis na EJA, em

específico, dos telefones celulares, em uma escola pública do município de

Contagem, em Minas Gerais.

Para desenvolver o estudo buscamos contribuições nas teorias interpretativas,

considerando a interação entre os sujeitos intermediada pelas novas tecnologias,

bem como um enfoque qualitativo, pois o recorte delimitado visava responder

questões sobre uma situação específica e contextualizada. Além disso, os

instrumentos de coleta e análise de dados tiveram fundamentação metodológica

nos conceitos de estudo de caso (Ludke e Andre, 1986).

Para a coleta de dados, utilizamos questionários, entrevistas, diário de bordo

e arquivo contendo a troca de mensagens enviadas e recebidas (SMS) entre a

pesquisadora e os sujeitos participantes da pesquisa.

Contexto da investigação

A investigação foi realizada em uma escola pública de Educação de Jovens e

Adultos em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais. As

tarefas pedagógicas elaboradas foram construídas junto com os professores e

estudantes que se disponibilizaram a participar do estudo.

Page 4: POTENCIALIDADES E LIMITES PEDAGÓGICOS NA … · POTENCIALIDADES E LIMITES ... pois o recorte delimitado visava responder ... 1º) Filmar ou tirar foto da visita ao Observatório

Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação

- 4 -

Desta forma, vinculado ao tema que estava sendo trabalhado pelos mesmos –

sobre astronomia por meio do projeto “B. nas estrelas”, foram desenvolvidas

atividades que envolvessem a utilização pedagógica do telefone celular.

Os dados desta investigação foram coletados durante o final do primeiro e o

início do segundo semestre de 2012. Neste período os estudantes utilizaram os

próprios telefones celulares para desenvolver as tarefas propostas.

No desenvolvimento do questionário inicial, que tinha por objetivo levantar

o perfil do público da instituição e a afinidade com as tecnologias, obtivemos a

adesão de 51 estudantes e 3 professores. Posteriormente, na realização do grupo

focal, tivemos a adesão voluntária de 8 estudantes, sendo mais participativos 03

estudantes, identificados no estudo como E01, E02 e E03 e o envolvimento mais

ativo de 01 professor, de Geografia e História, identificado como PRM.

As tarefas que deveriam ser desenvolvidas pelo grupo focal, visavam a

utilização das funcionalidades presentes nos aparelhos celulares dos 8 estudantes

que fizeram parte do grupo focal, sendo: 1º) Filmar ou tirar foto da visita ao

Observatório da UFMG; 2º) Entrevistar uma pessoa – amigo, familiar, colega, sobre

o tema Astronomia. A resposta podia ser filmada ou gravada; 3º) Durante a visita ao

Observatório, entrevistar um estudante da escola que estava participando da visita,

registrando a sua opinião em relação à atividade. A resposta podia ser filmada ou

gravada; 4º) Elaborar uma pergunta para entrevista ao professor PRM e enviar a

pergunta por SMS à pesquisadora e 5º) Gravar ou filmar a entrevista ao professor

PRM sobre o projeto “B. nas Estrelas”, com a participação de todo grupo focal.

Jovens e adultos na era digital

Cada vez mais visualizamos os impactos tecnológicos sobre o homem,

principalmente em seu modo de viver e de se relacionar com o mundo. Convivemos

com diversos tipos de tecnologias que fazem parte de nosso cotidiano, e elas vêm

Page 5: POTENCIALIDADES E LIMITES PEDAGÓGICOS NA … · POTENCIALIDADES E LIMITES ... pois o recorte delimitado visava responder ... 1º) Filmar ou tirar foto da visita ao Observatório

Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação

- 5 -

ocorrendo em um menor intervalo de tempo, principalmente as tecnologias

relacionadas à informação e a comunicação.

Este avanço tecnológico é sentido por pessoas de todas as idades, sobretudo

aquelas nascidas na era digital – os nativos digitais (PRENSKY, 2001) e também

aqueles que são adultos, que são chamados de imigrantes digitais (PRENSKY, 2001).

De acordo com o PNAD/ IBGE (2011), de 2005 para 2011, os bens duráveis

com maior crescimento nos lares brasileiros foram o microcomputador com acesso

à internet, o microcomputador e o telefone celular.

Em relação ao telefone celular, chegou a 115,4 milhões o número de pessoas

com dez anos ou mais de idade que têm celular de uso pessoal, ou seja, a

população com celular cresceu 107,2%. Os mais velhos e os mais novos foram os

que mais fizeram crescer o contingente. A proporção de pessoas com 60 anos ou

mais com celular aumentou 161,3% e a proporção das jovens de dez a 14 anos com

celular cresceu 118,2%.

Jovens e adultos na escola: novas perspectivas

A educação de jovens e adultos (EJA), de acordo com a LDB (1996), é uma

oferta de educação regular, destinada às pessoas que não tiveram acesso à

escolarização na idade própria ou cujos estudos não tiveram continuidade nos

níveis fundamental e médio. Assim, estudantes a partir de 15 anos completos

podem cursar o ensino fundamental e estudantes a partir de 18 anos completos

podem cursar o ensino médio, ambos na modalidade de EJA.

Os estudantes que procuram as escolas de EJA são pessoas que por algum

motivo pessoal, social, econômico ou cultural, abandonaram a escola regular, no

tempo em que deveriam estar estudando. São indivíduos com idades entre 15 e 60

anos aproximadamente e normalmente de classes sociais mais baixas.

Page 6: POTENCIALIDADES E LIMITES PEDAGÓGICOS NA … · POTENCIALIDADES E LIMITES ... pois o recorte delimitado visava responder ... 1º) Filmar ou tirar foto da visita ao Observatório

Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação

- 6 -

De acordo com o IBGE (2011), o Brasil ainda possui 8,6% de analfabetismo

na população de 15 anos ou mais. Isto equivale a 12,9 milhões de brasileiros. Neste

sentido, de acordo com Di Pierro (2004, p. 16), “para aumentar, flexibilizar,

diversificar e qualificar as oportunidades educacionais, o lugar da Educação de

Jovens e Adultos na agenda da política educacional brasileira terá de ser revisto”.

Segundo Paulo Freire (2000), principal referência na EJA, a escola deve

primar pela participação ativa e dinâmica do estudante trabalhador na sala de

aula. Por meio de sua pedagogia dialógica e problematizadora, ele defende que a

experiência de vida dos estudantes é a base para a construção dos novos

conhecimentos dos mesmos. Freire (2000) acredita que o sujeito deve ser

autônomo, procurando construir o seu próprio conhecimento, através da

curiosidade e interesse pelo saber e que cabe a escola instigar este processo.

Desta forma, a EJA se apresenta como mais um espaço de construção da

autonomia, como tempo de aprendizagem, movimento de vida e possibilidade de

concretização de um direito (CUNHA & SILVA, 2004).

Pensar, portanto, o cidadão como sendo o principal agente de mudança da

realidade em que vive é pensar numa educação libertadora (FREIRE, 1997) em que

os conhecimentos construídos pelo sujeito aprendiz são a possibilidade de compor e

transformar a si próprio e o meio com o qual se relaciona.

Nesta perspectiva, os Projetos de Trabalho se apresentam como uma opção

para a EJA.

Projetos de Trabalho: uma opção para a EJA

Fernando Hernandez & Montserrat Ventura (1998) definem projeto como

uma forma de organizar a atividade de ensino e aprendizagem ou os conhecimentos

escolares, adotando como aspectos essenciais a aprendizagem significativa e o

conhecimento globalizado.

Page 7: POTENCIALIDADES E LIMITES PEDAGÓGICOS NA … · POTENCIALIDADES E LIMITES ... pois o recorte delimitado visava responder ... 1º) Filmar ou tirar foto da visita ao Observatório

Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação

- 7 -

De acordo com Almeida & Moran (2005), o trabalho com projetos questiona o

currículo engessado, ao propor atividades que partam das problemáticas que

permeiam o cotidiano dos estudantes. Desta forma, Hernandez & Ventura (1998)

pontuam que um projeto pode organizar-se seguindo determinado eixo: a definição

de um conceito, um problema geral ou particular, um conjunto de perguntas inter-

relacionadas, uma temática que valha a pensa ser tratada por si mesma.

Nesta perspectiva, conforme ressalta Espíndola (2005), os conteúdos não se

apresentam mais como “um fim em si mesmos”, mas ganham significados diversos a

partir das vivências sociais dos estudantes e passam a ser meios para a ampliação

de seu universo cognitivo, mediando seu contato com a realidade de forma crítica

e dinâmica.

Nesta prática, os estudantes são sujeitos ativos da aprendizagem, onde os

professores devem propor estratégias e reflexões que contemplem a autoria dos

estudantes e preservem, de acordo com Hernandez & Ventura (1998), a função

principal da escola: o desenvolvimento da autonomia do ser humano, a produção

de conhecimento e a construção da cidadania.

Para levar adiante a organização curricular a partir de Projetos de trabalho,

Hernandez & Ventura (1998) destacaram as seguintes bases teóricas, que os

fundamentam:

1. Aprendizagem significativa, partindo do que os estudantes já sabem a

respeito do tema abordado;

2. Aprendizagem conectada com os interesses dos estudantes, buscando uma

atitude favorável para o conhecimento e aprendizagem;

3. Previsão, por parte dos docentes, de uma estrutura lógica e sequencial dos

conteúdos, numa ordem que facilite sua compreensão;

Page 8: POTENCIALIDADES E LIMITES PEDAGÓGICOS NA … · POTENCIALIDADES E LIMITES ... pois o recorte delimitado visava responder ... 1º) Filmar ou tirar foto da visita ao Observatório

Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação

- 8 -

4. Sentido de funcionalidade do que se deve aprender, considerando os

procedimentos e as diferentes alternativas organizativas aos problemas

abordados;

5. Valorização da memorização compreensiva de aspectos da informação, que

constituem-se em base para novas aprendizagens e relações;

6. A avaliação, que se destina, sobretudo, a analisar o processo seguido ao

longo de toda sequencia e das inter-relações criadas na aprendizagem.

Assim, os projetos de trabalho são uma forma de fazer com que o estudante

seja participante ativo na construção de seu conhecimento, incluindo-o em todo o

processo de aprendizagem. A partir dessa ótica, de acordo com Freire et al. (1998),

o estudante, sujeito ativo da aprendizagem, aprende ao levantar, fazer e testar

ideias, experimentar, construir conhecimentos e representar o pensamento. Cabe

ao docente, como mediador da aprendizagem, possibilitar situações que promovam

a interação, o trabalho em grupo, a busca de informações e de novas

possibilidades, assim como a construção de novos conhecimentos, principalmente

nesta era da aprendizagem móvel, como apresentado a seguir.

Dispositivos móveis na EJA – m-learning

Para Ferreira (2009), ao testemunharmos as novas formas de viver e de

aprender fora da escola, baseadas em formas de interação mediadas por

tecnologias digitais, podemos questionar se a escola, tanto no que se refere ao que

ensina como a forma que ensina, está adequada aos tempos atuais, ou se está

defasada em relação ao mundo a sua volta.

Desta forma, a educação, as novas tecnologias e o conhecimento têm sido

alvo de atenção, se considerarmos que o uso das mesmas pode contribuir para

novas práticas pedagógicas desde que baseadas em novas concepções de

Page 9: POTENCIALIDADES E LIMITES PEDAGÓGICOS NA … · POTENCIALIDADES E LIMITES ... pois o recorte delimitado visava responder ... 1º) Filmar ou tirar foto da visita ao Observatório

Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação

- 9 -

conhecimento, de estudante e de professor, transformando uma série de elementos

que compõem o processo de ensino-aprendizagem.

A grande maioria dos jovens e adultos possui telefones celulares e o uso

pedagógico dos mesmos, de acordo com Ferreira (2009), promove o

desenvolvimento de competências na utilização de conteúdos digitais e na

realização de tarefas colaborativas essências na era digital, caracterizada pela

globalização, interação e mediação.

A utilização destes dispositivos pelos estudantes é incontornável, portanto a

escola precisa criar oportunidades para utilizar estes dispositivos a favor das suas

práticas pedagógicas. É neste contexto que surge o m-learning.

Mobile learning (m-learning), de acordo com Moura (2010), é um termo

didático-pedagógico, usado para designar um “novo” paradigma educacional,

definido como o processo de aprendizagem que ocorre apoiado pelo uso de

dispositivos móveis, tendo como característica fundamental a portabilidade dos

dispositivos e a mobilidade dos sujeitos. Resumidamente, de acordo com Ferreira

(2009), o termo m-learning, em português, pode ser traduzido por aprendizagem

móvel.

Uma das características do m-learning, de acordo com Moura (2010) é o

aproveitamento dos dispositivos que os estudantes, jovens e adultos, usam e levam

com eles para todo o lado, que consideram dispositivos pessoais e amigáveis, que

são fáceis de usar, que usam constantemente em todos os momentos da vida e

numa variedade de situações, exceto ainda na esfera educativa.

É, pois, urgente, enfrentar esta questão e ter em consideração, tanto

metodologias, como conteúdos (MOURA, 2010). Mudar as metodologias em primeiro

lugar e aprender a comunicar na linguagem e estilo dos estudantes, ou seja, se

letrar digitalmente (RIBEIRO, 2009), fatores que verificamos no estudo conforme

mostrado a seguir.

Page 10: POTENCIALIDADES E LIMITES PEDAGÓGICOS NA … · POTENCIALIDADES E LIMITES ... pois o recorte delimitado visava responder ... 1º) Filmar ou tirar foto da visita ao Observatório

Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação

- 10 -

Limites e possibilidades

Por se tratar de uma investigação qualitativa, optamos pela tematização dos

dados nas seguintes categorias: EJA; Projetos de Trabalho; Funcionalidade; Mobile

Learning e Letramento Digital, considerando os limites e as potencialidades em

cada um deles.

Dinâmicas da EJA

No decorrer da investigação enfrentamos algumas dificuldades relacionadas

ao fluxo dos estudantes e ao calendário escolar, ou seja, aos tempos da EJA.

Uma das características da EJA é a infrequência dos estudantes, e na escola

onde aconteceu esta pesquisa não era diferente. Por se tratarem de jovens e

adultos, esses sujeitos possuem diversas demandas extra-escolares. Como

ressaltado por Cunha & Silva (2004, p. 50), “olhamos para sujeitos que vivenciam

uma variedade de situações concretas, formadoras de subjetividades”.

Desta forma, os estudantes faltavam com freqüência e isso refletiu na coleta

de dados e no desenvolvimento do Grupo Focal.

Na EJA também existe uma rotatividade de professores, e no decorrer do

projeto alguns professores saíram e outros entraram. O professor de Ciências, que

estava envolvido no projeto “B. nas estrelas”, por diversos motivos, acabou não

acompanhando as fases finais do projeto, ficando mais ao cargo do professor de

Geo./História encaminhar as atividades.

No entanto, a escola, por meio da iniciativa de alguns professores, buscou

trabalhar com estas características da EJA a seu favor, por meio dos projetos de

trabalho.

Page 11: POTENCIALIDADES E LIMITES PEDAGÓGICOS NA … · POTENCIALIDADES E LIMITES ... pois o recorte delimitado visava responder ... 1º) Filmar ou tirar foto da visita ao Observatório

Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação

- 11 -

Projetos de Trabalho

A escola investigada já tinha a prática de desenvolver projetos. Na EJA eles

acontecem com mais freqüência, devido as possibilidades de flexibilidade e

(re)significação dos tempos e espaços.

Uma grande parte dos projetos e atividades desenvolvidos pelos professores

acontecia fora do espaço escolar, mas no horário das aulas. Os projetos que

aconteciam dentro da escola, demandavam reorganização dos tempos, não sendo

marcados por horários rígidos.

O projeto “B. nas estrelas” abarcou estes dois momentos: dentro e fora da

escola. A atividade fora da escola foi a visita ao Observatório da UFMG. O

professor responsável já tinha o costume de trabalhar com projetos e de acordo

com ele, os projetos de trabalho são

a sobrevivência da educação, no sentido que você consegue, através de projetos, desenvolver uma linguagem mais direta, uma proposta mais eficaz. Tem projetos que você fica ali nos duzentos dias letivos, talvez infinitos. Então a eficácia está nos projetos. (PRM)

O seu pensamento vem ao encontro de teóricos que defendem os projetos de

trabalho. De acordo com Almeida & Moran (2005), o trabalho com projetos

questiona o currículo engessado, ao propor atividades que partam das

problemáticas que permeiam o cotidiano dos estudantes, que considere a demanda

e a vivência dos sujeitos.

Podemos perceber então que este trabalho conjunto, entre pesquisa e

projeto, considerando o interesse dos estudantes, ajudou na aprendizagem

significativa dos mesmos, como demonstrado na fala de E02

Ajuda sim. É o conhecimento. Muitas coisas que pelo menos eu não sabia, coisas que eu nunca tinha ouvido falar, eu aprendi... São conhecimentos que a gente guarda para a vida toda...

Page 12: POTENCIALIDADES E LIMITES PEDAGÓGICOS NA … · POTENCIALIDADES E LIMITES ... pois o recorte delimitado visava responder ... 1º) Filmar ou tirar foto da visita ao Observatório

Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação

- 12 -

Verificamos então que os projetos de trabalho contribuem para a utilização

do telefone celular como ferramenta pedagógica, considerando a disponibilidade,

envolvimento e flexibilidade da comunidade escolar.

No entanto, quais funcionalidades do aparelho celular, voltadas para a

aprendizagem, os estudantes poderiam utilizar?

Funcionalidades do telefone celular

Em primeiro lugar, destacamos a familiaridade dos estudantes com este

dispositivo móvel, como também constataram Ferreira (2009), Macedo (2009) e

Moura (2010). Como apresentado pelos dados do questionário, a maioria dos

estudantes possuíam telefones celulares com recursos de câmera, jogos, internet,

Bluetooth, mp3 e utilizavam com freqüência a maioria destas funções, somando a

isso o envio de mensagens (SMS).

Desta forma, o telefone celular não é apenas um aparelho para se fazer

ligações. São verdadeiras centrais multimídias (ANTÔNIO, 2010). Na fala de PRM,

Eu acho que o celular é uma central de multimídia, ele atende plenamente todas as oportunidades: ouvir música, ouvir rádio, tirar foto, filmar, falar, ouvir, conectar internet.

Praticamente 100% dos estudantes participantes do grupo focal possuíam

celulares com os recursos de câmera, jogos, internet, Bluetooth e mp3 e sabiam

utilizar estas funções. O gravador de voz foi a função que eles menos utilizavam,

sendo que alguns estudantes não sabiam como ela funcionava, buscando instruções

de uso para pesquisadora e colegas da escola.

Assim, analisando as tarefas propostas ao grupo focal, observamos que os

estudantes que desenvolveram as atividades não apresentaram dificuldades para

utilizar a maioria dos recursos disponíveis em seus aparelhos celulares.

Page 13: POTENCIALIDADES E LIMITES PEDAGÓGICOS NA … · POTENCIALIDADES E LIMITES ... pois o recorte delimitado visava responder ... 1º) Filmar ou tirar foto da visita ao Observatório

Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação

- 13 -

Os limites para o desenvolvimento das tarefas se condicionaram aos recursos

dos aparelhos celulares, como baixa qualidade da câmera e vídeo e ao envio de

SMS, sendo esta uma das atividades de menor retorno, aproximadamente 50% dos

estudantes.

Ao avaliar as funções utilizadas, os estudantes gostaram de filmar, tirar foto

e gravar. Esta última foi a que eles mais gostaram.

Desta forma, considerando a utilização das funcionalidades do telefone

celular nas atividades propostas, questionamos os estudantes e o professor M. sobre

o potencial do telefone celular como ferramenta de aprendizagem e eles avaliaram

que a sua utilização é possível. Na fala de PRM

O celular é o vislumbre do momento. É o objeto de desejo de todo mundo. Menino de 10 anos já quer ter um celular... Eu acho que o celular tendo esta característica de multimídia e ele sendo portátil, eu acho que ele atende bastante, atende plenamente. Eu acho até que supre ai um custo maior de notebook, de netbook, tablet. O celular é uma conexão portátil e multimídia. Eu acho fantástico... e com um preço acessível.

Sobre as características que os telefones celulares devem ter para se

tornarem ferramentas de aprendizagem eles apresentaram em primeiro lugar a

internet, seguido da câmera, mensagem e calculadora.

No que se refere aos limites para a instauração desta tecnologia como

ferramenta útil de aprendizagem, eles apresentaram os altos custos da internet, a

conexão lenta, os recursos de alguns aparelhos celulares e a incompatibilidade

entre alguns destes dispositivos.

Mobile Learning

Neste tópico, os questionários apresentaram que no grupo focal, 87% dos

estudantes já haviam utilizado o telefone celular para atividades escolares e 100%

Page 14: POTENCIALIDADES E LIMITES PEDAGÓGICOS NA … · POTENCIALIDADES E LIMITES ... pois o recorte delimitado visava responder ... 1º) Filmar ou tirar foto da visita ao Observatório

Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação

- 14 -

considerava positiva a utilização deste aparato tecnológico para atividades

escolares, reconhecendo o seu potencial como ferramenta de aprendizagem.

Acreditamos, como apresentado por Moura (2010), que estes dados

favoreceram a aceitação às atividades propostas para este grupo relacionadas à

utilização do telefone celular. Na entrevista eles disseram que a possibilidade de

utilizar o próprio aparelho facilita o processo, demonstrando um favorecimento à

apropriação do telefone pessoal como ferramenta de aprendizagem.

No entanto, E01 e E02 pontuaram que tem que ser um celular que permita

tirar fotos, gravar, e ter acesso à internet, ou seja, que tenha recursos para

desenvolver as atividades, conforme apresentado no tópico anterior.

De acordo com Coscarelli (2011, p. 28), com a internet “o que era impossível

passa a ser alcançável. O que não era realidade dos alunos (e que muita gente

acredita que não deve ser) passa a poder fazer parte do dia a dia deles”.

Além das funcionalidades, E01 acrescentou que também depende da

matéria, de como o professor vai encaminhar e de quais atividades ele vai solicitar.

Para isto, PRM ressalta que é necessário promover formações aos professores para

lidar com esta ferramenta.

Desta forma, questionamos aos estudantes e ao professor, sobre o potencial

do telefone celular como ferramenta para aprender em qualquer lugar e a qualquer

hora, ou seja, a aprendizagem ubíqua, e eles avaliaram positivamente, ou, na fala

de E01, uma “mão na roda”.

Como constatado por Moura (2010), acreditamos que os estudantes

compreenderam que o telefone celular dilui as fronteiras da sala de aula e a

aprendizagem pode acontecer em qualquer momento, adotando esta prática no seu

dia-a-dia, conforme apresentado na fala de E02

O celular hoje para gente é uma aprendizagem. Muitas coisas que você não sabe, se você tem dúvida, você busca ali na internet que você acha. Alguma noticia que você quer saber, informação que você quer saber que

não tem. Hoje em dia eu acho que é importante. Eu uso direto, no meu trabalho, em casa.

Page 15: POTENCIALIDADES E LIMITES PEDAGÓGICOS NA … · POTENCIALIDADES E LIMITES ... pois o recorte delimitado visava responder ... 1º) Filmar ou tirar foto da visita ao Observatório

Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação

- 15 -

Nesta fala também percebemos a autonomia do estudante para construir o

seu próprio percurso de aprendizagem, outra característica do m-learning, de

acordo com Sharples et al. (2007).

Em relação à aprendizagem colaborativa, os estudantes consideraram

significativas as atividades de interação, entre estudante e estudante, e professor

e estudante. Eles reforçaram a importância da interação entre os sujeitos, bem

como um trabalho mais próximo e significativo, dados estes também levantados por

Moura (2010) e Sharples et al. (2007).

Letramento Digital

Ao analisar os dados do questionário, bem como as entrevistas, consideramos

relevante fazer uma reflexão sobre o letramento digital.

Os dados do questionário demonstraram que grande parte dos estudantes

que consideraram o telefone celular sem utilidade para atividades escolares, se

encontra na faixa dos 30 a 39 anos, e acreditamos estar ligado, dentre outros, a

não familiaridade com esta tecnologia, já que foi nesta faixa também que tivemos

menos estudantes que utilizavam variadas funções dos dispositivos móveis, mesmo

os aparelhos possuindo os recursos.

Logo associamos este quadro às características presentes nos imigrantes

digitais (PRENSKY, 2001), devido às dificuldades destes estudantes em

compreender e expressar-se digitalmente.

No entanto, esta não é só uma dificuldade apresentada pelos estudantes.

Mesmo apoiando a utilização do telefone celular como ferramenta de

aprendizagem, PRM confessa

A gente (considerando as pessoas e os professores da sua idade) ainda não sabe lidar com a tecnologia. Nós pegamos o final dos anos 90, e entramos nesta tecnologia de informática e celular. Ainda não domino.

Page 16: POTENCIALIDADES E LIMITES PEDAGÓGICOS NA … · POTENCIALIDADES E LIMITES ... pois o recorte delimitado visava responder ... 1º) Filmar ou tirar foto da visita ao Observatório

Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação

- 16 -

Mesmo assim, estas dificuldades não impedem que os estudantes e

professores possam aprender a utilizar estas tecnologias, buscando se letrar

digitalmente. De acordo com Lévy (1999), letramento digital pode ser entendido

como um

conjunto de técnicas materiais e intelectuais, de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço, como sendo um novo meio de comunicação. (LÉVY,1999, p. 17)

Desta forma, Ribeiro (2009) ressalta que as pessoas precisam aprender a

fazer uso da tecnologia para gerar um benefício ou comodidade para ela. Foi esta

postura que o professor e os estudantes entrevistados buscaram desenvolver,

frente as suas dificuldades com a tecnologia.

Mas não são somente os imigrantes digitais que precisam se letrar

digitalmente. De acordo com a análise dos dados do questionário e das entrevistas,

os nativos digitais também precisam aprimorar o seu grau de letramento digital, já

que, como apresentado por Buzato (2001), letramento digital não quer dizer

apenas saber como utilizar as tecnologias digitais, mas também entrar em contato

com elas de maneira significativa, entendendo seu uso e possibilidades em nossa

vida em sociedade, de maneira crítica e com responsabilidade.

Na escola pesquisada, conforme apresentado, a proibição do aparelho

celular estava muito associada a forma do estudante não saber lidar com a

tecnologia no espaço escolar, ouvindo música alta, utilizando o aparelho celular

dentro da sala de aula, durante a aula, para ouvir música, ligar e enviar mensagem.

Ou seja, o estudante precisa saber como utilizar esta tecnologia nos

diferentes espaços, buscando, como apresentado por Coscarelli (2013), uma

educação digital, que discuta suas implicações éticas e morais, para além da

utilização instrumental. Este termo também apareceu na fala de PRM

Page 17: POTENCIALIDADES E LIMITES PEDAGÓGICOS NA … · POTENCIALIDADES E LIMITES ... pois o recorte delimitado visava responder ... 1º) Filmar ou tirar foto da visita ao Observatório

Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação

- 17 -

O estudante não tem educação digital. Não é culpa dele. É uma coisa recente, que nos ainda estamos caminhando. E hoje estourou mais de um aparelho por habitante no Brasil, em muito pouco tempo, realmente não sabemos lidar com isso.

Desta forma, cabe à comunidade escolar, por meio do trabalho conjunto

entre os nativos e imigrantes digitais, buscarem o letramento e a educação digital.

O que não deve acontecer, como apresentado por PRM, é a escola fechar os olhos

para a tecnologia, no caso o telefone celular, que se apresenta como uma “super

ferramenta... e uma grande oportunidade” (PRM).

Considerações finais

Este estudo buscou analisar o uso da tecnologia móvel de comunicação

voltada para a aprendizagem com mobilidade e o ensino na Educação de Jovens e

Adultos (EJA), considerando as suas potencialidades e limites pedagógicos. Neste

contexto, consideramos o mobile learning como um novo paradigma educacional,

sendo possível a sua inserção por meio dos projetos de trabalho.

Os dados do estudo também caminharam neste sentido. Por meio de uma

coleta de dados qualitativa, através do desenvolvimento de atividades que visavam

à utilização do aparelho celular no projeto “B. nas Estrelas”, os estudantes e

professor demonstraram ser possível a utilização do celular enquanto ferramenta

pedagógica.

As principais limitações encontradas foram: a infrequência dos estudantes;

alteração do calendário escolar; dificuldades em lidar com algumas

funcionalidades; incompatibilidade entre aparelhos diferentes.

As principais possibilidades para a utilização pedagógica do aparelho celular

na Educação de Jovens e Adultos são: a flexibilização dos tempos e espaços; os

projetos de trabalho; as funcionalidades - internet, vídeo e câmera; a familiaridade

Page 18: POTENCIALIDADES E LIMITES PEDAGÓGICOS NA … · POTENCIALIDADES E LIMITES ... pois o recorte delimitado visava responder ... 1º) Filmar ou tirar foto da visita ao Observatório

Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação

- 18 -

com a tecnologia; a autonomia e a interação entre os sujeitos e a disponibilidade

para se letrarem digitalmente, tanto o professor, quanto os estudantes.

Assim como apresentado por Moura (2010), um dos aspectos mais relevantes

da utilização do telefone celular como ferramenta pedagógica está relacionada ao

fato de ser utilizado, no contexto escolar, um aparato tecnológico que é

propriedade dos estudantes.

A utilização das novas tecnologias da informação e da comunicação na

educação tem consequências, tanto para a prática docente como para os processos

de aprendizagem. O futuro sucesso do m-learning em ambiente escolar dependerá

da predisposição dos professores em adotar as tecnologias móveis na sala de aula.

Para tanto, é necessário mudar a forma do ensino baseado na transmissão ou

exposição, em que o professor transmite informação para alunos passivos e sem

conhecimento.

Os professores devem se transformar em mediadores do conhecimento. Eles

precisam acreditar que a integração de uma ou outra tecnologia é positiva para as

experiências de aprendizagem. Para tanto, precisam buscar se letrar digitalmente,

(re)significando sua prática docente.

Como apresentado por Moura (2010), os dispositivos móveis, ferramentas

ubíquas, multimídias e portáteis, mudam a natureza do conhecimento e discurso e

consequentemente, a natureza da aprendizagem e a forma como se aprende.

Mesmo não sendo o objetivo da investigação, verificamos que os estudantes

E01, E02 e E03, a partir das tarefas desenvolvidas com seus telefones celulares,

bem como o professor PRM, considerando a proposta do estudo e as conversas

informais com a pesquisadora, (re)significaram o papel das tecnologias na sua vida,

estendendo as possibilidades de sua utilização para atividades extra-escolares,

como trabalho, vida pessoal, passeios, dentre outros.

Como possibilidades futuras, avaliamos que seria significativa uma parceria

entre empresas de telefonia e escola, visando uma redução de custos; formação

Page 19: POTENCIALIDADES E LIMITES PEDAGÓGICOS NA … · POTENCIALIDADES E LIMITES ... pois o recorte delimitado visava responder ... 1º) Filmar ou tirar foto da visita ao Observatório

Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação

- 19 -

continuada para os professores sobre as possibilidades pedagógicas do uso de

dispositivos móveis e o estreitamento das relações entre universidade e escola.

Referências

ANTONIO, José Carlos. Uso pedagógico do telefone móvel (Celular). Professor Digital, SBO, 13 jan. 2010. Disponível em: <http://professordigital.wordpress.com/2010/01/13/uso-pedagogico-do-telefone-movel-celular/&gt>. Acesso em: 10/05/2013. ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcin; MORAN, José Manoel (Org.) Integração das tecnologias na educação: salto para o futuro. Brasília, DF: MEC, 2005. BOTTENTUIT JUNIOR, J.B. Do Computador ao Tablet: Vantagens Pedagógicas na Utilização de Dispositivos Móveis na Educação. Revista EducaOnline, ISSN 1983-2664, Vol. 6, N° 1, Jan/Abril 2012. BRASIL. Lei n. 9.394/96. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. BRITO GUERRA, L. N. et al. Mobile Learning: O caso de uma Universidade privada de uma capital do Nordeste. Revista Gestão e Planejamento, Salvador, v. 13, n. 2, p. 425-443, maio/ago. 2012. Disponível em: <http://www.revistas.unifacs.br/index.php/rgb>. Acesso em: 08/05/2013.

BUZATO, M. E. K. O letramento eletrônico e o uso do computador no ensino de língua estrangeira: contribuições para a formação de professores. Dissertação (Mestrado) - Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2001. Disponível em: <http://libdigi.unicamp.br/document/?down=vtls000219553>. Acesso em: 10/05/2013. COSCARELLI, Carla Viana. Alfabetização e Letramento digital. In: Coscarelli, Carla Viana & Ribeiro, Ana Elisa (Orgs.). Letramento digital: aspectos e possibilidades pedagógicas. 3ª Ed. Belo Horizonte: CEALE; Autêntica, 2011.

_______________. Ler é mais que ler: a leitura em tempos digitais. Palestra proferida na Faculdade de Educação da UFMG em 16/04/2013.

Page 20: POTENCIALIDADES E LIMITES PEDAGÓGICOS NA … · POTENCIALIDADES E LIMITES ... pois o recorte delimitado visava responder ... 1º) Filmar ou tirar foto da visita ao Observatório

Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação

- 20 -

CUNHA, Charles Moreira; SILVA, Maria Clemência de Fátima. A Educação de Jovens e Adultos: a diversidade de sujeitos, práticas de exclusão e inclusão das identidades em sala de aula. IN: DINIZ, Margareth. VASCONCELOS. Renata Nunes. (orgs.). Pluralidade cultural e inclusão na formação de professores e professoras: gênero, sexualidade, raça, educação especial, educação indígena, Educação de Jovens e Adultos. Belo Horizonte: Formato Editorial, 2004. DI PIERRO, Maria Clara. Um balanço da evolução recente da educação de jovens e adultos no Brasil. Alfabetização & cidadania, São Paulo, v. 17, p.11-23, 2004.

ESPÍNDOLA, Karen. A pedagogia de projetos como estratégia de ensino para alunos da educação de jovens e adultos: em busca de uma aprendizagem significativa em Física. Dissertação de Mestrado, Instituto de Física, UFRGS, Porto Alegre, 2005.

FERREIRA, E. Jovens, Telemóveis e Escola. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, Portugal, 2009. Disponível em: <http://mobilelearner.blogspot.com.br/>. Acesso em: 10/05/2013. FREIRE, F. M. P; PRADO, M. E. B. B.; MARTINS, M. C. & SIDERICOUDES, o. A implantação da informática no espaço escolar; questões emergentes ao longo do processo. Revista Brasileira de Informática na Educação, Santa Catarina,. n. 3, set, 1998.

FREIRE, Paulo. A educação como prática de liberdade. Rio de Janeiro: 1997.

_____________. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2000. FUNDAÇÃO TELEFONICA VIVO. Gerações Interativas Brasil – Crianças e Jovens diante das Telas. 2012. Disponível em: <http://www.fundacaotelefonica.org.br/home/>. Acesso em: 10/05/2013. HERNANDEZ, Fernando; VENTURA, Montserrrat. A organização do currículo por projetos de trabalho. Tradução por Jussara Haubert Rodrigues, 5ª Ed. Porto Alegre, Artes Médicas, 1998.

IBGE. Acesso à internet e posse de telefone móvel celular para uso pessoal. In: PNAD, 2011. Disponível em: <ftp://ftp.ibge.gov.br/Acesso_a_internet_e_posse_celular/2011/PNAD_Inter_2011.pdf>. Acesso em: 10/05/2013.

Page 21: POTENCIALIDADES E LIMITES PEDAGÓGICOS NA … · POTENCIALIDADES E LIMITES ... pois o recorte delimitado visava responder ... 1º) Filmar ou tirar foto da visita ao Observatório

Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação

- 21 -

LEFFA, V. J. A aprendizagem de línguas mediada por computador. In: LEFFA, V. J. (Org.) Pesquisa em Linguistica Aplicada: temas e métodos. Pelotas: Educat, 2006. LÉVY, Pierre. CIBERCULTURA. São Paulo: Editora 34 Ltda,1999.

LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E.D.A. Pesquisa em educação: abordagens

qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.

MACEDO, Rita de Cássia Cunha Gomes, O uso de SMS em sala de aula de língua inglesa: limites e possibilidades. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Uberlândia, MG, 2008. Disponível em: <http://hdl.handle.net/123456789/2318>. Acesso em: 07/10/2012. MORAN, José Manuel. Ensino e Aprendizagem Inovadores com o apoio das tecnologias. In: MORAN, José Manuel; MASETTO, Marcos T.; BEHRENS, Marilda Aparecida. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas : Papirus, 2013. 21ª Edição. MOURA, Adelina Maria Carreiro. Apropriação do Telemóvel como Ferramenta de Mediação em Mobile Learning: Estudos de Caso em Contexto Educativo. Tese de Doutoramento em Ciências da Educação, na Especialidade de Tecnologia Educativa Braga: Universidade do Minho. Instituto de Educação. 2010.

PRENSKY, M. Digital Natives, Digital Immigrants. On the Horizon, Vol.9, No. 5, Outubro, 2001. Disponível em: <http://www.marcprensky.com/writing/Prensky%20%20Digital%20Natives,%20Digital%20Immigrants%20-%20Part1.pdf>. Acesso em: 10/05/2013. RIBEIRO, Ana Elisa. Navegar lendo, ler navegando. Notas sobre a leitura de jornais impressos e digitais. Belo Horizonte: InterDitado, 2009. SHARPLES et al. Mobile Learning: small devices big issues. In: Balacheff, S. L.; T. de Jong, A. Lazonder, S. Barnes; L. Montandon (Eds.) Technology enhanced learning: principles and products. V. 14. Democracy and Education. New York, Free Press, 2007.