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    PARQUE ESTADUAL DO JURUPAR

    Resumo Executivo

    PLANO DE MANEJO

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    Imagens da Capa:

    Paisagem de represa no permetro do Parque Estadual do Jurupar Fausto Pires de Campos

    Esquerda: Residncia rural de pau-a-pique no Bairro dos Paulo - Erika Marion Robrahn Gonzalez

    Centro: Epidendrumsp. Renato Lima

    Direita: Phasmahyla cochranae- Juan Camilo Arredondo

    Este Plano de Manejo foi elaborado como parte integrante do Termo de Compensao Ambiental (TCCA), no mbito do

    licenciamento ambiental objetivando a ampliao de Unidade Agroindustrial da Aucareira Virgolino de Oliveira S/A, no Municpio

    de Jos Bonifcio, conforme Processo SMA 13.521/2006.

    Permitida a reproduo total ou parcial desta publicao, desde que citada a fonte.

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    GOVERNO DO ESTADO DE SO PAULOJos Serra

    SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTEFrancisco Graziano Neto

    FUNDAO FLORESTAL

    PRESIDENTEPaulo Nogueira Neto

    DIRETORIA EXECUTIVAJos Amaral Wagner Neto

    DIRETORIA DE OPERAESBris Alexandre Cesar

    DIRETORIA DE ASSISTNCIA TCNICAWanda Terezinha P. V. Maldonado

    DIRETORIA ADMINISTRATIVA E FINANCEIRAJos Carlos Geraci

    NCLEO PLANOS DE MANEJOCristiane Leonel

    GERNCIA VALE DO RIBEIRA E LITORAL SULDonizetti Borges Barbosa

    PARQUE ESTADUAL DO JURUPARRinaldo Aparecido da Cruz Campanh

    So Paulo, 28 de dezembro de 2009

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    CRDITOS TCNICOS E INSTITUCIONAIS

    FUNDAO FLORESTAL DO ESTADO DE SO PAULONcleo Planos de Manejo

    EQUIPE DE ELABORAO DO PLANO DE MANEJODO PARQUE ESTADUAL DO JURUPAR

    Coordenao GeralCristiane Leonel Ncleo Planos de Manejo

    Coordenao Tcnica-ExecutivaAnna Julia Passold Instituto Ekos BrasilBruna Bianca Pasquini Ncleo Planos de Manejo

    Grupo Tcnico de Coordenao

    Fundao FlorestalBruna Bianca Pasquini Ncleo Planos de ManejoRinaldo Aparecido da Cruz Campanh Gestor do Parque Estadual do Jurupar

    Instituto FlorestalCristina de Marco Santiago Diviso de Reservas e Parques EstaduaisSueli Herculiani Diviso de Reservas e Parques Estaduais

    Instituto Ekos BrasilAnna Julia Passold Coordenadora de Projetos

    SecretariaMaria Luci de Toledo Ncleo Planos de Manejo

    Equipe do Parque Estadual do JuruparMaria Helena Braga Reis SecretriaSabrina Soares DAlmeida MonitoraAline Taminato Estagiria

    Carlos Ribeiro da Silva Assistente de apoio pesquisaAntnio de Lima Assistente de manutenoIsaas Anselmo Domingues Assistente de manutenoLeonil Anselmo Domingues Assistente de manutenoAdemir da Silva Rocha Assistente de manutenoDcio Paulo Domingues Assistente de manutenoIgncio Soares Assistente de manutenoLivir Vieira Machado Assistente de manuteno

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    Equipe Tcnica das reas Temticas

    Meio Fsico

    CoordenaoIsabel Cristina Moroz Consultor

    ClimaSrgio Serafini Jnior Consultor

    Recursos HdricosIsabel Cristina Moroz ConsultorFbio da Cunha Brito Colaborador

    Geologia, Geomorfologia e PedologiaJos Mariano Caccia Gouveia ConsultorFbio da Cunha Brito Colaborador

    Biodiversidade

    CoordenaoRenato Augusto Ferreira de Lima Consultor

    Vegetao e FloraRenato Augusto Ferreira de Lima Consultor

    Andra Garafulic Aguirre Colaboradora

    AvifaunaDennis Driesmans Beyer ConsultorLgia Maria de Avellar ColaboradoraCarolina Lima Neves Colaboradora

    MastofaunaErika Hingst-Zaher ConsultoraFabio de Andrade Machado ColaboradorMarcus Vincius Brando de Oliveira Colaborador

    HerpetofaunaHussam El Dine Zaher ConsultorMaurcio da Cruz Forlani Colaborador

    IctiofaunaAlec Krse Zeinad ConsultorMauro Cornacchioni Lopes Colaborador - Engenheiro de Pesca

    Participao especial

    Isaas Anselmo Domingues Fundao Florestal

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    Meio Antrpico

    Ocupao Antrpica, Socioeconomia e Vetores de PressoMarcos Antnio de Melo Consultor

    Daniel Takagi de Aquino EstagirioMichelle Odete dos Santos Estagiria

    Patrimnio Cultural e Aspectos HistricosErika Marion Robrahn Gonzalez ConsultoraWagner Gomes Bornal ColaboradorRodrigo Silva ColaboradorRodolfo Luz ColaboradorSandra Regina Martins Sanchez ColaboradoraCarlos Frana Colaborador

    Caracterizao Fundiria e Legislao IncidenteAna Carolina de Campos Honora Fundao FlorestalMaria Aparecida Sales Rezende Fundao FlorestalErasmo Henrique Belmar Arrivabene Colaborador

    Planejamento Integrado

    Avaliao Estratgica da UC e ZoneamentoAnna Julia Passold Instituto Ekos BrasilJos Vicente Vieira Consultor

    Oficinas de PlanejamentoAnna Julia Passold Instituto Ekos BrasilDiego Gonzales Instituto Ekos BrasilJos Vicente Vieira Consultor

    Programas de Gesto

    Regularizao FundiriaAna Carolina de Campos Honora Fundao FlorestalMaria Aparecida Sales Rezende Fundao Florestal

    Pesquisa e Manejo do Patrimnio Natural e CulturalCristina de Marco Santiago Instituto FlorestalHumberto Gallo Jnior Instituto FlorestalFernanda de Campos Bardelli Estagiria FundapJoceli Alves Domingues Estagiria

    Uso PblicoFernanda Machado da Costa ConsultoraSueli Herculiani Instituto Florestal

    Waldir Joel Instituto FlorestalElaine Alves Raimundo Estagiria

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    Gabriela Mascarenhas da Silva Estagiria FundapTadeu Gaspareto Estagirio

    Gesto Organizacional e Proteo Ambiental

    Rose Pereira Muniz de Souza Consultora

    Interao SocioambientalMarcos Antnio de Melo Consultor

    Projetos Especficos

    Projeto de Demolio de Benfeitorias e Remoo de Resduos, em reas Abandonadas ouReintegradas Fazenda do Estado de So Paulo, localizadas no Parque Estadual do Jurupar.Lorenz Meili Consultor

    Termo de Referncia para Elaborao do Projeto de Recuperao das reas Degradadas eExecuo de um Projeto Piloto de Restaurao Florestal no Parque Estadual do Jurupar.Renato Augusto Ferreira de Lima Consultor

    Termo de Referncia Preliminar para Elaborao Levantamento Complementar daPopulao Tradicional do Parque Estadual do Jurupar: acervo histrico cultural e uso dosolo.Cristina de Marco Santiago Instituto FlorestalSueli Herculiani Instituto Florestal

    GeoprocessamentoGiorgia Limnios Consultora

    Reviso e EdioAnna Julia Passold Instituto Ekos BrasilBruna Bianca Pasquini Ncleo Planos de ManejoCristiane Leonel Ncleo Planos de ManejoDiego Gonzales Instituto Ekos Brasil

    EstagirioMarco Aurlio Lessa Villela Ncleo Planos de Manejo

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    O PATRIMNIO NATURAL DO ESTADO DE SO PAULO E A GESTO DASUNIDADES DE CONSERVAO

    A Secretaria do Meio Ambiente o rgo do Governo do Estado responsvel pelo

    estabelecimento e implementao da poltica de conservao do Estado de So Paulo,considerando, dentre outras aes, a implantao e a administrao dos espaos territoriais

    especialmente protegidos, compreendendo unidades de conservao de proteo integral e

    de uso sustentvel.

    A Fundao Florestal tem a misso de contribuir para a melhoria da qualidade ambiental do

    Estado de So Paulo, visando conservao e a ampliao de florestas. Tais atribuies so

    implementadas por meio de aes integradas e da prestao de servios tcnico-

    administrativos, da difuso de tecnologias e do desenvolvimento de metodologias de

    planejamento e gesto. Sua ao sustenta-se em quatro vertentes: conservao, manejo

    florestal sustentvel, educao ambiental e ao integrada e regionalizada.

    Criada pela Lei n 5.208/86, no final do governo estadual de Andr Franco Montoro, a

    Fundao para a Conservao e a Produo Florestal do Estado de So Paulo - Fundao

    Florestal, como passou a ser conhecida, surgiu na forma de um rgo de duplo perfil, ou

    seja, uma instituio que implantasse a poltica ambiental e florestal do Estado com a

    eficincia e a agilidade de uma empresa privada.

    Vinculada Secretaria do Meio Ambiente, a Fundao Florestal vinha implantando uma viso

    moderna de gesto ambiental, procurando mostrar que a atividade econmica, desde que

    praticada na perspectiva do desenvolvimento sustentvel, pode gerar bons negcios,

    empregos e capacitao profissional, ao mesmo tempo em que protege o patrimnio natural

    e utiliza de maneira racional e sustentvel os recursos naturais.

    Foi com este esprito que grandes mudanas ocorreram na Fundao Florestal a partir do

    final de 2006. Inicialmente as Reservas Particulares do Patrimnio Natural - RPPN, at ento

    atreladas ao Governo Federal, por meio do Decreto Estadual n 51.150, de 03/10/06,

    passaram a ser reconhecidas no mbito do Governo Estadual, delegando Fundao

    Florestal a responsabilidade de coordenar o Programa de Apoio s RPPN. Um ms depois, o

    Decreto Estadual n 51.246, de 06/11/06, atribuiu Fundao Florestal a responsabilidade do

    gerenciamento das reas de Relevante Interesse Ecolgico - ARIE, nas reas de domnio

    pblico.

    Ainda no final de 2006 foi institudo, atravs do Decreto Estadual n 51.453, de 29/12/06, oSistema Estadual de Florestas - Sieflor, com o objetivo de aperfeioar a gesto e a pesquisa

    na maior parte das unidades de conservao do Estado de So Paulo. Os gestores desse

    Sistema so a Fundao Florestal e o Instituto Florestal, contemplando, dentre as unidades

    de conservao de proteo integral os Parques Estaduais, Estaes Ecolgicas e Reservas de

    Vida Silvestre e, dentre as unidades de conservao de uso sustentvel, as Florestas

    Estaduais, Reservas de Desenvolvimento Sustentvel e as Reservas Extrativistas. A Fundao

    Florestal desenvolve, implementa e gerencia os programas de gesto nestas unidades

    enquanto, o Instituto Florestal, realiza e monitora atividades de pesquisa.

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    Em maio de 2008, novo Decreto Estadual n 53.027/08, atribui Fundao Florestal o

    gerenciamento das 27 reas de Proteo Ambiental do Estado de So Paulo, at ento sob

    responsabilidade da Coordenadoria de Planejamento Ambiental Estratgico e Educao

    Ambiental - CPLEA, como resultado de um processo de reestruturao interna da Secretaria

    do Meio Ambiente do Estado de So Paulo.

    Aps mais de dois anos da edio do Decreto que institui o Sieflor, um novo Decreto, o de

    n 54.079 de 05/03/09 aperfeioa o primeiro. Aps um perodo de maturao, as instituies

    envolvidas - Instituto e Fundao Florestal, reavaliaram e reformularam algumas funes e a

    distribuio das unidades de conservao de tal forma que todas as Estaes Experimentais e

    as Estaes Ecolgicas contguas a estas encontram-se sob responsabilidade do Instituto

    Florestal, bem como o Plano de Produo Sustentada - PPS; Fundao Florestal coube a

    responsabilidade da administrao e gesto das demais unidades de conservao do Estado,

    bem como propor o estabelecimento de novas reas protegidas.

    Considerando-se as RPPN e ARIE, acrescidas das unidades, gerenciadas pelo Sieflor e, maisrecentemente, as APA, a Fundao Florestal, passou, em menos de dois anos, a administrar

    mais de uma centena de unidades de conservao abrangendo aproximadamente 3.420.000

    hectares ou aproximadamente 14% do territrio paulista.

    Trata-se, portanto, de um perodo marcado por mudanas e adaptaes que esto se

    concretizando a medida em que as instituies envolvidas adequam-se s suas novas

    atribuies e responsabilidades. A Fundao Florestal est se estruturando tecnicamente e

    administrativamente para o gerenciamento destas unidades, sem perder de vista sua misso e

    o esprito que norteou em assumir a responsabilidade de promover a gesto, ou o termo

    cotidiano que representa o anseio da sociedade - zelar pela conservao do patrimnio

    natural, histrico-arquelgico e cultural da quase totalidade das reas protegidas do Estado,

    gerando bons negcios, emprego, renda e capacitao profissional s comunidades locais.

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    AGRADECIMENTOS

    A elaborao deste Plano de Manejo o resultado do trabalho de muitas pessoas

    colaborando de diferentes formas e em diferentes etapas do processo, sendo impossvel

    relacionar aqui cada uma delas. Contudo, algumas instituies e grupos de pessoas sedestacam no processo.

    Primeiramente a todos os funcionrios e prestadores de servios do Parque Estadual do

    Jurupar por sua dedicao, prestatividade e compreenso da importncia do processo de

    elaborao do Plano de Manejo.

    Os dirigentes da Fundao Florestal e do Instituto Florestal pela priorizao do Plano de

    Manejo do Parque Estadual do Jurupar frente a tantos compromissos em suas agendas

    institucionais.

    Os funcionrios do Instituto Florestal e da Fundao Florestal que, em um exerccio de

    dedicao, negociao e ponderao, conduziram a elaborao deste Plano de Manejo,apesar das dificuldades que se apresentaram at a sua concluso.

    As prefeituras municipais de Ibina, Piedade e Juquitiba, pela cesso de espaos e,

    principalmente, de seus tcnicos para participarem das oficinas e, a estes, pelo empenho e

    dedicao nas discusses do Plano de Manejo.

    A Polcia Militar Ambiental pelo seu interesse, presena nas oficinas e, acima de tudo,

    crescente engajamento presencial nas aes de fiscalizao junto equipe do PEJU.

    Aos funcionrios da Capital, pelo esforo em contribuir cada vez mais como parte dos que

    zelam pelo PEJU.

    Aos ocupantes do PEJU e Associaes de bairro, pela superao de distncias para participar

    das oficinas, participao ativa e dedicao, apesar das incertezas e revoltas.

    A Companhia Brasileira de Alumnio, pela cesso de espaos, prestatividade dos funcionrios

    e crescente dedicao questo indissocivel que lhe o Parque Estadual do Jurupar.

    As ONGs pela sua histrica dedicao regio e a APA Itupararanga pelo seu interesse em

    ampliar territorialmente as discusses.

    A Aucareira Virgolino de Oliveira S/A Acar e lcool que, com recursos financeiros de

    Compensao Ambiental, possibilitou a contratao de equipe tcnica e conduo do

    processo.Agradecemos, por fim, dedicao de toda a equipe tcnica envolvida na elaborao deste

    Plano de Manejo, pelas vrias discusses, extensas e minuciosas revises, pelas reunies e

    esforo em campo, contribuindo para um rico processo e consistente produto, com o

    desejo que tragam bons desdobramentos para o nosso Parque Estadual do Jurupar.

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    APRESENTAO

    Em setembro de 2010 o Parque Estadual do Jurupar completr 18 anos, contudo traz em

    sua histria outros 14 anos como Reserva Estadual Florestal do 2 Permetro de So Roque,

    totalizando 32 anos como rea protegida, aguardando a realizao de estudos tcnicos maisaprofundados, com um olhar analtico voltado tomada de deciso e, portanto, ao

    planejamento da unidade de conservao.

    Aos 18 anos de idade, o Parque Estadual do Jurupar vai ganhar um presente que expressa

    sua maioridade - o Plano de Manejo, instrumento que dever nortear todas as aes de

    gesto do Parque e de sua Zona de Amortecimento, compatibilizando suas necessidades de

    conservao, com o atendimento ao pblico e integrao com o ambiente externo e

    sociedade.

    O PE do Jurupar totalmente constitudo por terras pblicas, algo raro na realidade da

    grande maioria das unidades de conservao de proteo integral do estado de So Paulo etambm do Brasil. Entretanto, o Cadastro Fundirio realizado pelo ITESP constatou que o

    Parque possui grande quantidade de reas ocupadas - algumas por populaes tradicionais

    que chegaram ao local antes da proteo legal incutida ao territrio, e outras tantas por

    ocupaes irregulares advindas de especulao imobiliria.

    Em meio a tantos desafios e incertezas, mas tambm desejo de encaminhar, com o devido

    cuidado, o processo de regularizao fundiria e as ocupaes do Parque, a elaborao do

    Plano de Manejo teve o mrito de mapear a situao fundiria, assim como a matriz

    institucional do PE do Jurupar e reun-la nas oficinas, culminando com a instituio do

    Conselho Consultivo.

    O PE do Jurupar encontra-se estrategicamente localizado entre o Contnuo Ecolgico de

    Paranapiacaba, o Parque Estadual da Serra do Mar, a APA Itupararanga e a Reserva Estadual

    do Morro Grande, apresentando funo conectora e contribuindo com um extenso

    corredor voltado manuteno da Mata Atlntica do Estado de So Paulo, apesar de parte

    dos remanescentes florestais apresentar-se em estgio secundrio de conservao.

    Sua localizao tambm contribui para proteo da bacia hidrogrfica do Alto Juqui,

    abrangendo uma densa rede hdrica composta por formadores do rio Juqui, rio Juqui-

    Guau e rio do Peixe. No por menos o PEJU rene em seu permetro, quatro usinas

    hidreltricas, sendo ntidos os servios ambientais prestados, de manuteno da qualidade e

    quantidade de gua.

    Dentre outras caractersticas que se destacam no PEJU esto a biodiversidade e o

    patrimnio histrico-cultural, inerente populao tradicional caipira ali presente h cerca

    de 300 anos, testemunho de um perodo histrico da sociedade e da economia tradicional

    rural paulista.

    Os estudos contidos no Plano de Manejo trazem significativas contribuies para o

    conhecimento do territrio, como tambm marcam presena nas questes referentes aos

    desafios que se apresentam em sua implantao como reduzir a extrao de palmito,

    encaminhar as aes de regularizao fundiria, conciliar a subsistncia e necessidades dos

    ocupantes com a conservao do patrimnio natural, adequar o atendimento ao pblicovisitante, demolir os vestgios daquelas ocupaes abandonadas, recuperar reas degradadas,

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    conter os avanos de espcies exticas introduzidas, particularmente peixes, garantir os

    direitos e o modus vivendi da populao tradicional existente no seu interior, alm de atuar

    na Zona de Amortecimento.

    Nosso papel era exatamente esse - a partir dos diagnsticos tcnicos, caracterizar a reaprotegida e a partir das oficinas de planejamento identificar como este patrimnio natural

    percebido pela comunidade e juntos - Fundao Florestal, equipe tcnica e comunidade

    estabelecer o Zoneamento do territrio e as aes a serem tomadas.

    Portanto com muito orgulho que a Fundao Florestal vem apresentar sociedade o Plano

    de Manejo do Parque Estadual do Jurupar, ou PEJU, como se costuma dizer, e para que a

    festa de aniversrio seja completa, temos tambm imensa satisfao em dizer que o

    Conselho Consultivo do PEJU, passado o primeiro momento de entendimento do papel do

    Conselho e de administrar com facilidade o estatuto que o rege, encontra-se preparado para

    contribuir na gesto do PE do Jurupar.

    Fica, ento, de imediato, o convite leitura deste Plano de Manejo, e em seguida de juntos,

    Poder Pblico, Conselho Consultivo e sociedade implantarmos o Plano de Manejo do PEJU.

    So Paulo, Dezembro de 2009

    Jos Amaral Wagner Neto

    Diretor ExecutivoFundao Florestal

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    SUMRIO

    1. Introduo............................................................................................................1

    1.1 A Mata Atlntica.................... ....................... ....................... ....................... .................. ................... 1

    1.2 O Parque Estadual do Jurupar ..................... ...................... ..................... ...................... ............. 1

    1.3 Histrico de Criao do PEJU ................... ...................... ...................... ...................... ................ 4

    2. Metodologia....................................................................................................... 15

    2.1 Princpios e Diretrizes Metodolgicas................... ..................... ...................... ..................... .. 15

    2.1.1 Base Tcnico-Cientfica....... ...................... ..................... ...................... ..................... ........ 15

    2.1.2 Planejamento Integrado .................... ...................... ..................... ...................... ............... 15

    2.1.3 Planejamento Participativo .................... ..................... ...................... ..................... ........... 16

    2.1.4 Orientao Estratgica... ...................... ...................... ...................... ...................... ........... 16

    2.2 Interao entre os Atores do Planejamento..................... ...................... ...................... ......... 16

    2.2.1 Grupo Tcnico de Coordenao .................... ...................... ..................... .................... 17

    2.2.2 Pesquisadores e Consultores .................... ...................... ...................... ...................... .... 17

    2.2.3 Sociedade e Comunidades ...................... ...................... ..................... ...................... ........ 18

    3. Caracterizaes Temticas do Parque Estadual do Jurupar e Regio..... 19

    3.1 Avaliao do Meio Fsico...................... ..................... ...................... ..................... ................ ....... 19

    3.1.1 Clima......................................................................................................................................19

    3.1.2 Recursos Hdricos ..................... ...................... ...................... ....................... ................ ...... 19

    3.1.3 Geologia, Geomorfologia e Pedologia............... ...................... ..................... ................. 25

    3.2 Avaliao da Biodiversidade ............................................................................26

    3.2.1 Vegetao e Flora ..................... ....................... ....................... ...................... ............... ....... 26

    3.2.2 Fauna......................................................................................................................................28

    3.3 Avaliao do Meio Antrpico.......................................................................... 37

    3.3.1 Ocupao Antrpica, Scio-economia e Vetores de Presso ................. ............... 37

    3.3.2 Patrimnio Histrico-Cultural Material e Imaterial ................... ..................... ........... 39

    4. Zoneamento ......................................................................................................41

    4.1 Critrios de Zoneamento........... ...................... ...................... ...................... ...................... ........ 41

    4.2 Normas Gerais ..................... ....................... ....................... ....................... .................... ................ 42

    4.3 Sntese das Informaes sobre as Zonas .................... ..................... ...................... ................. 44

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    5. Programas de Gesto.......................................................................................53

    5.1 Programa de Gesto Organizacional.............. ...................... ...................... ...................... ........ 53

    5.2 Programa de Proteo Ambiental............. ..................... ...................... ..................... ................ 55

    5.3 Programa de Regularizao Fundiria .................... ...................... ..................... ...................... . 565.4 Programa de Uso Pblico......................... ..................... ...................... ..................... ............... .... 58

    5.5 Programa de Pesquisa e Manejo do Patrimnio Natural e Cultural .................. .............. 59

    5.6 Programa de Interao Socioambiental .................... ...................... ..................... .................... 60

    6. Projetos Especficos.................................................................................................61

    6.1 Projeto de Demolio de Benfeitorias e Remoo de Resduos, em reas Abandonadas

    ou Reintegradas Fazenda do Estado de So Paulo, localizadas no Parque Estadual do

    Jurupar........................... ....................... ...................... ...................... ...................... ............ ................... .. 616.2 Termo de Referncia para Elaborao do Projeto de Recuperao das reas

    Degradadas e Execuo de um Projeto Piloto de Restaurao Florestal no Parque Estadual

    do Jurupar ................... ...................... ....................... ...................... ...................... ............. .................... . 62

    6.3 Termo de Referncia Preliminar para Levantamento Complementar da Populao

    Tradicional do Parque Estadual do Jurupar: acervo histrico cultural e uso do solo.........63

    7. Referncias Bibliogrficas....................................................................................... 64

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    Listas de Tabelas, Figuras e Mapas iii

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1. rea dos municpios abrangidos pelo PEJU. ...................... ...................... ....................... .. 1

    Tabela 2. Quadro sntese das oficinas realizadas durante o Plano de Manejo.........................18Tabela 3. Disponibilidade hdrica das principais sub-bacias do PEJU e entorno. ................... .. 20

    Tabela 4. Resultados de anlises de qualidade da gua e pesticidas............................................22

    Tabela 5. Anlises de potabilidade dos pontos de captao de gua das BAO do PEJU.......23

    Tabela 6. Contribuio em rea (valores estimados) de cada fitofisionomia, em seus

    diferentes estgios sucessionais, no PEJU e rea de abrangncia...................................................26

    Tabela 7. Resumo dos principais resultados da avaliao da biodiversidade referentes aos

    dados disponveis para o PEJU e sua rea de abrangncia. ................... ...................... ..................... 35

    Tabela 8. rea total de cada zona no PEJU, expressos em hectares e porcentagem. ........... 41Tabela 9.Sntese das diretrizes e linhas de ao do Programa de Gesto Organizacional. . 54

    Tabela 10.Sntese das diretrizes e linhas de ao do Programa de Proteo Ambiental.....55

    Tabela 11.Sntese das diretrizes e linhas de ao do Programa de Regularizao Fundiria

    ........................................................................................................................................................................57

    Tabela 12.Sntese das diretrizes e linhas de ao do Programa de Uso Pblico....................58

    Tabela 13.Sntese das diretrizes e linhas de ao do Programa de Pesquisa e Manejo........59

    Tabela 14.Sntese das diretrizes e linhas de ao do Programa de Interao Socioambiental

    ........................................................................................................................................................................60

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1. Enfoque da contribuio dos atores no planejamento..................................................16

    Figura 2- Aproveitamento hidrulicos do rio Juqui. ................... ...................... ..................... ...... 21

    LISTA DE MAPAS

    Mapa 1. Acessos. .................... ....................... ....................... ...................... ....................... ............ ............. 2

    Mapa 2. Uso da Terra e Cobertura Vegetal......................................................................................26

    Mapa 3. Zoneamento do PEJU..............................................................................................................41

    Mapa 4. Zoneamento e Zona de Amortecimento...........................................................................41

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    iv Lista de Siglas

    LISTA DE SIGLAS

    AER Avaliao Ecolgica Rpida

    AESFA Associao Ecolgica So Francisco de Assis

    AMPAARC Associao dos Moradores e Proprietrios e Amigos das Adjacncias do Ribeiro e CampestreANVISA Agencia Nacional de Vigilncia Sanitria

    ASSIMORABOA Associao dos Moradores e Sitiantes do Rio Bonito e Adjacentes

    BAO Base Operacional

    CBA Companhia Brasileira de Alumnio

    CEO Centro de Estudos Ornitolgicos

    CETEC Centro Tecnolgico da Fundao Paulista de Tecnologia e Educao

    CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental

    CLOFFSCA Check List of the Freshwaters Fishes of South and Central America

    CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente

    CONDEMA Conselho Municipal do Meio Ambiente

    CONDEPHAAT Conselho de Defesa do Patrimnio Histrico, Arqueolgico, Artstico e Turstico do Estado de SP

    COTEC Conselho Tcnico e Cientfico do Instituto Florestal

    DAEE Departamento de guas e Energia Eltrica

    Dm Floresta Ombrfila Densa Montana

    Ds Floresta Ombrfila Densa Submontana

    EX Presumivelmente extinta na natureza

    FF Fundao Florestal

    IBAMA Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renovveis

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IF Instituto Florestal

    ITESP Fundao Instituto de Terras do Estado de So PauloIUCN Unio Internacional de Conservao da Natureza

    LIF Laudo de Identificao Fundiria

    MMA Ministrio do Meio Ambiente

    MP Ministrio Pblico

    MZUSP Museu de Zoologia da Universidade de So Paulo

    ONG Organizao No Governamental

    PECB Parque Estadual Carlos Botelho

    PEJU Parque Estadual do Jurupar

    PESM Parque Estadual da Serra do Mar

    PGE Procuradoria Geral do Estado

    PPMA Projeto de Preservao da Mata Atlntica

    RAS Regio Administrativa de Sorocaba

    RMSP Regio Metropolitana de So Paulo (Grande So Paulo)

    SinBiota Sistema de Informao do Programa Biota - FAPESP

    SIRGH Sistema de Informaes para o Gerenciamento de Recursos Hdricos do Estado de So Paulo

    SMA Secretaria do Meio Ambiente do Estado de So Paulo

    SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza

    TAC Termo de Ajustamento de Conduta

    UC Unidade (s) de Conservao

    UGRHI Unidade de Gerenciamento de Recursos Hdricos

    UHE Usina HidreltricaUNESCO Organizao das Naes Unidas para a Educao, Cincia e Cultura

  • 5/20/2018 Plano Manejo Pe Jurupara

    17/88

    Ficha Tcnica da UC v

    Ficha Tcnica do Parque Estadual do Jurupar

    Responsvel pelo Expediente Executivo Rinaldo Aparecido da Cruz Campanh

    Endereo Fundao FlorestalRua do Horto, 931CEP: 02377-000

    Telefones (11) 2997-5061- Fundao Florestal(15) 3494-5570 - BAO Juqui-Bonito

    E-mail [email protected]

    rea do Parque 26.250,47 haPermetro do Parque114,24 kmrea de Propriedade do Estado26.250,47 haNumero de VisitantesNo h dados de visitaoMunicpios Ibina (24.799,22 ha) Piedade (1.450,51 ha)Coordenadas Geogrficas23: 256011/7364432, 277332/736470823: 270196/7341897, 356445/7342468Data de Criao do Conselho Consultivo 29/07/2009

    Legislao Especfica de Proteo

    Decreto n 35.703, de 22/09/92 que dispe sobre a criao do

    Parque, com rea de 23.900,47 ha, correspondente antiga

    Reserva Estadual do 2 Permetro de So Roque (Decreto n

    12.185, de 30/08/78).

    Decreto n 35.704, de 22/09/92, que incorpora aos limites do

    PEJU uma rea adicional de 2.350 ha doada pela CBA.

    Zona Ncleo da Reserva da Biosfera do Cinturo Verde da

    Cidade de So Paulo, reconhecida pela Unesco em 09/06/94.

    Acessos ao Parque

    Parte Norte

    BAO Itaguapeva: Rodovia Raposo Tavares (SP-270), pela Rodovia Bunjiro Nakao (SP-250), segue-se pela Estrada

    Municipal Itaguapeva ou Estrada Municipal Bairro Murundu.

    Parte Sul

    BAO Juqui-Bonito: Rodovia BR-116 (Rgis Bittencourt), na altura do km 332 no sentido Paran, localizado aps a

    entrada principal para a cidade de Juquitiba. Percorre-se cerca de 10 km de trecho de terra pela Estrada do Frana e

    Estrada do Verava, at a BAO Juqui-Bonito.

    Fauna

    Estima-se que um total de 587 espcies de vertebrados esteja presente no Parque, dos quais 94 pertencem ao grupo

    da mastofauna, 258 da avifauna, 161 da hepertofauna e 74 da icitiofauna. Do nmero total de espcies registradas, 31

    esto ameaadas de extino, 41 so consideradas endmicas e 38 so exticas.

    Vegetao

    Mata Atlntica, com as seguintes formaes vegetacionais: Floresta Ombrfila Densa Montana, Floresta Ombrfila

    Densa Montana Secundria, Floresta Ombrfila Densa Submontana, Floresta Ombrfila Densa Submontana

    Secundria, Floresta Ombrfila Densa Alto-Montana, Vegetao sobre afloramento rochoso, campo antrpico e

    reflorestamento (pinus e eucalipto).

    Ao reunir as diversas fontes de informao, foram selecionados registros referentes a 557 espcies da flora no PEJU.

    Essas espcies esto distribudas em 103 famlias e 303 gneros. Dessas, 31 espcies foram classificadas como

    ameaadas de extino, 41 endmicas e 38 exticas.

    Atrativos

    BAO Juqui-Bonito: Cachoeira do Rio Juqui-Bonito, Cachoeira do Rio Bonito, Cachoeira do Paredo e suas

    respectivas trilhas de acesso. BAO Juqui-Gua:, Poo e seu respectivo acesso.

    Pico do Descalvado e Trilha Interpretativa do Pico do Descalvado.

    Estrada Parque Jurupar e Estrada Parque Juqui-Guau: percurso de bicicleta

    Infraestrutura

    Bases Operacionais

    Sede e Escritrio

    Residncias

    Viveiro de mudas

    Galpo

    Veculos

    Trs veculos tracionados (fiscalizao)

    Um veculo tipo passeio

    4 motos 200cc

    1 barco de 15Hp

  • 5/20/2018 Plano Manejo Pe Jurupara

    18/88

    vi Ficha Tcnica da UC

    Atividades Desenvolvidas

    Proteo: o Parque conta com atividades de fiscalizao desenvolvidas por seus funcionrios e vigilantes terceirizados,

    com as aes de segurana patrimonial de agentes da CBA e mantm operaes de fiscalizao conjuntas com a

    Polcia Ambiental.

    Uso Pblico: at o momento no h atividade regular de Uso Pblico. O Plano de Manejo contemplou o diagnstico eabertura de alguns atrativos da UC e, em conjunto com o Zoneamento, foram determinadas as regras de uso para

    estes atrativos, com a finalidade de implementao futura.

    Pesquisa: o Parque possui pesquisas de flora e fauna em andamento e apresenta grande potencial para este tipo de

    atividade, frente ao seu fcil acesso, proximidade capital do Estado e representatividade do bioma Mata Atlntica.

    Participao em Fruns e Grupos de Trabalho Locais e Regionais

    No h.

    Relaes Institucionais mais Importantes

    Prefeituras de Ibina, Piedade e Juquitiba.

    Companhia Brasileira de Alumnio: responsvel pelas usinas hidreltricas localizadas no permetro do Parque.

    Rodovia Rgis Bittencourt (BR-116) prxima ao Parque e com possibilidade de duplicao.

    Atividades Conflitantes Populao residente no interior do Parque, atividades de subsistncia, caa, pesca e extrao de produtos no

    madeireiros (palmito), presena de animais domsticos e de criao, criao de peixes exticos e translocados e

    presena de estruturas relacionadas gerao e transmisso de energia: da CBA so quatro usinas hidreltricas no

    permetro da UC, e uma linha de transmisso e estruturas no interior da UC, enquanto, da Faixa Azul Indstria de

    Mveis para Escritrio Ltda. h uma usina hidreltrica e estruturas associadas no interior da UC.

    Equipe do Parque

    Funo Principal Gesto: 01

    Administrao: 01

    Manuteno, proteo e fiscalizao: 08

    Proteo e fiscalizao: 32 (empresa terceirizada Capital)

    Limpeza e manuteno patrimonial: 03 (empresa terceirizada CCS)

    Estagirio: 01

    Vinculo Empregatcio Fundao Florestal: 02

    Instituto Florestal: 08

    Empresa terceirizadas: 35

    Nvel de Escolaridade

    (funcionrios da FF e IF, semconsiderar terceirizados eestagirios)

    Superior completo: 01

    Superior incompleto: -

    Mdio completo: 02

    Mdio incompleto: -

    Bsico completo: 03 Bsico incompleto: 03

    Sem escolaridade: 01

    Total 46 pessoas

  • 5/20/2018 Plano Manejo Pe Jurupara

    19/88

    Introduo 1

    1. Introduo

    1.1 A Mata Atlntica

    O que se conhece como Mata Atlntica lato sensu, bioma no qual o Parque Estadual do

    Jurupar - PEJU se insere, inclui uma grande variedade de formaes florestais, ou

    fitofisionomias, como a Floresta Ombrfila Densa, Floresta Ombrfila Mista, Floresta

    Estacional Semidecidual, Florestas de Restinga, entre outras formaes florestais.

    A degradao ambiental deste bioma se iniciou h mais de 500 anos e continua at os dias

    atuais. Estima-se hoje que exista menos de 8% de sua extenso original (Galindo-Leal &

    Cmara, 2003), sendo que a maior parte dela encontra-se em fragmentos florestais

    pequenos, alterados e isolados (Morellato & Haddad, 2000).

    Neste triste contexto de degradao, a criao e gesto de unidades de conservao da

    natureza de extrema importncia para a conservao do que restou da Mata Atlntica. O

    PEJU encontra-se em um dos maiores contnuos de Mata Atlntica ainda existente no pas,

    assumindo importncia estratgica na conservao da diversidade biolgica e cultural

    brasileira, juntamente com outras importantes unidades de conservao de proteo integral

    como por exemplo, os Parques Estaduais da Serra do Mar, Carlos Botelho, Intervales e

    Turstico do Alto Ribeira.

    O desenvolvimento e a implantao de Planos de Manejo para essas UC ferramenta

    fundamental para garantir um dos importantes objetivos dos Parques Estaduais: a

    conservao da biodiversidade. Para tanto, essencial conhecer a diversidade biolgica

    dentro da UC e saber como ela est distribuda no espao.

    Este conhecimento, integrado aos outros temas estudados, permite o estabelecimento de

    zonas que sero uma das principais ferramentas do gestor da UC para potencializar a

    conservao das espcies e a utilizao dos recursos financeiros disponveis.

    1.2 O Parque Estadual do Jurupar

    O Parque Estadual do Jurupar est localizado na regio Sudeste do Estado de So Paulo, sob

    as coordenadas UTM 23:256011/7364432, 277332/7364708; 23:270196/7341897,

    356445/7342468, entre os municpios de Ibina e Piedade, que por sua vez fazem divisas comos municpios de Miracatu, Juquitiba e Tapira, j na regio do Vale do Ribeira. De seus

    26.250,47 hectares, a maior parte abrangida pelo municpio de Ibina (Tabela 1).

    Tabela 1. rea dos municpios abrangidos pelo PEJU.

    PEJU inserido no municpio Municpio inserido no PEJUMunicpio rea total (ha)

    hectares % hectares %

    Ibina 105.890,49 81.091,27 23,42 24.799,22 94,47

    Piedade 74.674,99 73.224,48 1,94 1.450,51 5,53

    Fonte: BDG do Plano de Manejo (Limites municipais IBGE corrigidos na escala 1:50.000 e limites do PEJU).

  • 5/20/2018 Plano Manejo Pe Jurupara

    20/88

    2 Introduo

    Ao todo, o PEJU conta com dez servidores pblicos, sendo que somente dois deles atuam

    nas funes administrativas e de secretaria, e os outros oito na fiscalizao e proteo do

    territrio, controle de acessos ao Parque, bem como manuteno dos equipamentos e das

    Bases Operacionais - BAO: guas Claras, Roda dgua e Fumaa. Alm disso, 32

    funcionrios terceirizados da empresa Capital atuam na segurana patrimonial das BAOItaguapeva, Descalvado, Juqui-Bonito e Juqui-Guau, e trs funcionrios terceirizados da

    empresa CCS prestam servios gerais de limpeza e conservao predial em todas as BAO.

    Um aspecto marcante no cenrio do Parque Estadual do Jurupar so as represas e usinas

    hidreltricas da CBA, presentes nos limites do Parque. Ao todo, so quatro usinas

    hidreltricas no permetro da UC construdas nas dcadas de 40, 50 e 60, o que confere ao

    PEJU a particularidade de manter a maioria de seus limites, constituda por represas, rios e

    crregos, de tal forma que aproximadamente 70% das divisas so formadas por cursos

    dgua naturais e corpos dgua artificiais, e apenas 30% por linhas de divisas secas. A CBA

    mantm ainda uma linha de transmisso (LT Fumaa-Frana) que atravessa o PEJU.Reconhecendo-se as funes imprescindveis, muitas vezes imensurveis, oferecidas pelos

    ecossistemas naturais para a manuteno, recuperao e melhoria das condies adequadas

    vida, s quais denominam-se servios ambientais, h que se considerar futuramente os

    mecanismos de pagamento por tais servios oferecidos pelo PEJU.

    A situao fundiria do PEJU complexa, considerando-se que na data de sua criao as

    reas limtrofes ao Parque j haviam sido arrecadadas como devolutas pelo Estado, na ao

    discriminatria do 2 Permetro de So Roque. Hoje, a ocupao humana no Parque um

    dos grandes desafios, e h que considerar sobretudo o contexto dos moradores tradicionais

    no planejamento.A ocupao humana na regio remonta aos sculos XVII e XVIII, com o estabelecimento de

    pequenos povoados que serviam como local de pouso para descanso dos tropeiros, que

    seguiam do sul do pas para a regio de Sorocaba. No territrio do PEJU, a ocupao

    humana permanece, sendo parte dela remanescente dos sculos XVII e XVIII, e outra parte

    composta por reas ocupadas desde a dcada de 50 at os dias de hoje. A presena destas

    populaes conflitante frente aos objetivos do PEJU e pode ser considerada como o maior

    vetor de presso unidade de conservao.

    Como conseqncia desta ocupao e da condio scio-econmica da regio em que est

    inserido - ao sul a regio do Vale do Ribeira e ao norte a regio de Ibina (reas de baixo

    IDHM), inmeros vetores de presso so impingidos UC, corroborando ameaas

    biodiversidade atravs de atividades predatrias como a caa, a pesca, a extrao de palmito,

    a presena de animais domsticos, a criao de peixes exticos e translocados, a presena

    de estruturas relacionadas gerao e transmisso de energia, e outras atividades que

    ameaam a conservao do patrimnio natural do PEJU.

    Outro importante vetor de presso que afeta negativamente o Parque a grande quantidade

    de acessos externos e internos ao PEJU. As grandes vias de acesso ao Parque Estadual do

    Jurupar so as Rodovias Regis Bittencourt - BR 116 e Raposo Tavares - SP 270, contudo, o

    acesso, de fato, se d por meio de estradas viscinais de terra batida, algumas em estado de

    conservao bastante precrio (Mapa 1. Acessos).

  • 5/20/2018 Plano Manejo Pe Jurupara

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    SP079

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    EstradadosCamirangas

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    Rod. RaposoTavares

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    RepresaCachoeirado Frana

    RepresaCachoeirada Fumaa

    RepresaSerraria

    RepresaJurupar

    Represada Barra

    RepresaAlecrim

    RepresaPorto Raso

    LagodoTamandu

    Base Jurupar

    Base Descalvado

    BaseItaguapeva

    Base guasClaras

    Base Fumaa/Vila CBA

    Base Rodad' gua

    Base Juqui-Guau

    BaseJuqui-Bonito

    PortariaPorto Raso

    PortoPCHJurupar

    Portaria Fumaa

    Portaria EstradaParqueJurupar

    Capela SantaCatarina

    Capela SoSebastio

    Bairro Barnabs

    Fazenda Sama

    Bairro Murundu

    Vilalvio

    Bairro do LajeadoBairro do Salto

    Bairro daFazendinha

    Bairro do Mono

    Bairro Pedrado Largo

    Bairro do Cafezal

    Bairro daPedra Lisa

    Bairro doRibeiroGrande

    Bairro doRibeiroGrande

    Bairro doBrao Grande

    Bairro doBrao Grande

    Bairro do Engano

    Bairro Santa Rita

    Bairro dos Farias

    Bairro dos Justos

    Bairro dos Pratas

    Bairro dasSenhorinhas

    Bairro BarraMansa

    Bairro dos CarmosBairro Godinho

    Bairro dosAlexandres

    Bairro dos Juqui

    Bairro doRioBonito Bairro dos

    VitalinosBairro dosVitalino

    Bairro dosFerreiras

    Bairro do Juqui

    Bairro das Ritas

    Bairro dos Soares

    Bairro dosPadeiros

    Bairro dosPalmeiras

    Bairro dos RosasBairro dos Rosas

    Bairro dos Carmos

    Bairro dos Garcias

    Bairro dos Alves

    Bairro dos Alves

    Bairro dos Grilos

    Bairro dos GrilosBairro dos Ribeira

    Bairro do PiresBairro dosRodrigues

    Bairro Verava

    Bairro Boava

    Bairro Tibrcio

    Bairro PaiolGrande

    Bairro do Pial

    So PauloSo Paulo

    DiademaDiadema

    OsascoOsasco

    ItapeviItapeviMairinqueMairinque

    Taboo da SerraTaboo da Serra

    EmbuEmbu

    ItapecericaItapecericada Serrada Serra

    CotiaCotia

    Embu-Embu-GuauGuau

    VargemVargemGrandeGrandePaulistaPaulista

    So LourenoSo Lourenoda Serrada Serra

    JuquitibaJuquitiba

    AlumnioAlumnio

    VotorantimVotorantim

    IbinaIbina

    PiedadePiedade

    Salto deSalto dePiraporaPirapora

    TapiraTapira

    MongaguMongagu

    255000

    255000

    300000

    300000

    7330000

    7330000

    7365000

    7365000

    Projeto:

    Ttulo:

    Plano de Manejo Parque Estadual do Jurupar

    Acess os ao PEJU

    Projeo: UTMDatum:SAD/69

    Fuso:23 S

    2 0 2 41

    km

    1:180.000

    Fonte:Bases CartogrficasDigitaisIBGE eInstituto Florestal.Organizao:EquipeUso Pblico,2009.

    Cartografia:GiorgiaLimnios

    Legenda

    BasesOp eracionais

    Portarias

    Localidades

    Sedes municipais

    Acessos

    Rodovia Federal

    Rodovia Estadual

    AcessoPr incipal

    AcessoSec undrio

    Trilha

    Corposd'gua

    rea urbana

    Limitemunicipal

    PEdo Jurupar

    BR

    SP

  • 5/20/2018 Plano Manejo Pe Jurupara

    22/88

    Introduo 3

    Os acessos oficiais ao PEJU so realizados a partir das BAO Juqui-Bonito (Parte Sul) e

    Itaguapeva (Parte Norte), localizadas no permetro do Parque e que controlam a entrada de

    pessoas ou veculos. O controle efetivo de entrada e permanncia no PEJU bastante

    fragilizado pela existncia de diversos acessos ao PEJU e vias de circulao internas, sendo

    que estas ltimas atendem CBA, ocupantes residentes e no residentes, motoqueiros e

    mesmo jipeiros, alm de inmeras trilhas, algumas das quais interligam ocupaes rurais

    internas ao Parque.

    Inserido na bacia hidrogrfica do Ribeira de Iguape, sub-bacia do Alto Rio Juqui, o Parque

    protege uma rea de Mata Atlntica representativa do Planalto Atlntico Paulista, mais

    exatamente, de uma superfcie embutida deste planalto com cotas altimtricas

    predominantes de 600-800 m, tendo compartimentos mais altos ao norte (onde os topos

    ultrapassam os 1.000 m de altitude) e mais baixos ao sul, onde, j fora dos limites do Parque,

    as cotas altimtricas diminuem progressivamente ao longo da Serra de Miracatu, at atingir

    os baixos nveis da Baixada do Ribeira.O relevo do PEJU bastante dissecado, com alta densidade de drenagem e domnio de

    declividades que variam de 5 a 20%. O clima da regio caracterizado como Cfb, quente de

    inverno seco, com temperatura mdia anual de 22C.

    Dados recentes, levantados por ocasio da elaborao deste Plano de Manejo, registraram

    77 espcies da fauna e flora ameaadas de extino e 182 endmicas, segundo levantamento

    de dados primrios e secundrios. Foram ainda inventariados mais de 300 novos registros de

    ocorrncia de espcies para o Parque. A vegetao composta por duas principais

    formaes: Floresta Ombrfila Densa Montana (Dm) e Floresta Ombrfila Densa

    Submontana (Ds), esta ltima, com ocorrncia mais restrita a Parte Sul do Parque.

    Contexto do PEJU no Bioma Mata Atlntica

    O PEJU no se encerra em si mesmo, quando se pensa em conservao da natureza da

    regio, pois juntamente com outras unidades de conservao existentes ao longo da Serra

    do Mar, complementa o ContinuumEcolgico de Paranapiacaba

    A importncia ambiental deste continuumde matas vai alm de seus aspectos fsico-naturais.

    Ele possui tambm uma importncia cultural reconhecida pelo Condephaat da Secretaria de

    Estado da Cultura, atravs da Resoluo n 40 de 06/06/85, que tomba a Serra do Mar e de

    Paranapiacaba devido ao seu grande valor paisagstico, incluindo o tombamento no Livro doTombo Arqueolgico, Etnogrfico e Paisagstico, reconhecendo, assim, estreita relao

    entre paisagem, arqueologia e etnografia.

    O Tombamento consolidou a legislao ambiental de defesa ao patrimnio dessas unidades

    de conservao, abrindo espao para o reconhecimento internacional, com a Declarao

    pela Unesco, a partir de 1991, da Reserva da Biosfera da Mata Atlntica no Estado de So

    Paulo e, posteriormente, reconhecido como Stio do Patrimnio Natural Mundial da

    Humanidade.

    Em 1994, a Unesco reconheceu a Reserva da Biosfera do Cinturo Verde de So Paulo,

    como parte integrante da Reserva da Biosfera da Mata Atlntica, mas com identidade prpriadadas as peculiaridades do entorno de uma das maiores metrpoles do mundo.

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    4 Introduo

    Alm de So Paulo, a Reserva da Biosfera do Cinturo Verde envolve outros 71 municpios

    onde se concentram 10% de toda a populao brasileira.

    O PEJU constitui zona ncleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlntica. Encontra-se em

    posio geogrfica estratgica, que poder unir por meio de corredores ecolgicos a Serrade Paranapiacaba Serra do Mar, formando um imenso corredor que engloba tanto unidades

    de conservao de uso sustentvel como de proteo integral, como os Parques Estaduais

    Intervales, Turstico do Alto Ribeira, Estao Ecolgica de Xitu, Reserva Estadual do Morro

    Grande, APA de Itupararanga e o Parque Estadual da Serra do Mar, sendo algumas dessas

    reas vizinhas, outras sobrepostas, algumas muito prximas e outras interagem por meio das

    Zonas de Amortecimento.

    Esta faixa, alm de extensa, apresenta um elevado grau de conservao e grande variedade

    climtica e de formaes vegetais, sendo seu estudo essencial para o entendimento da

    evoluo da diversidade biolgica. Este corredor integra reas de Mata Atlntica do sul at o

    norte do Estado de So Paulo, conectando tambm UC dos Estados adjacentes.

    Entende-se que o valor ambiental e paisagstico do PEJU vai alm de seus limites territoriais,

    sendo que esta UC compe juntamente com outras, uma expressiva rea contnua, onde a

    conservao da Mata Atlntica remanescente e o uso responsvel do patrimnio natural

    associados possuem papel central nas polticas conservacionistas implementadas pelo Estado.

    1.3 Histrico de Criao do PEJU

    A Situao Fundiria da RegioO processo que culminou com a criao do PEJU, oficialmente instalado a 22 de setembro

    de 1992 pelo Governo do Estado de So Paulo, teve incio dcadas antes, com o

    levantamento de terras devolutas presentes no territrio do Estado.

    J nos anos de 1930, mas com mais intensidade nas trs dcadas seguintes, o governo do

    Estado desencadeou uma varredura nos processos envolvendo terras em seu territrio,

    posto que a suspeita da existncia de uma quantidade no desprezvel, e desconhecida, de

    terras devolutas era bastante difundida na administrao estadual.

    Tais levantamentos acabaram por confirmar a suspeita, sobretudo, nas regies de Sorocaba e

    do vale do Paraba, justamente onde se encontrava o 2 Permetro de So Roque, a rea quese tornou o tronco principal de formao do atual PEJU.

    As chamadas Terras Devolutas compem um desdobramento tardio, e inicialmente

    regulamentado a partir da Lei de Terras do Imprio Brasileiro, de 18 de setembro de 1850,

    que transformava a posse em propriedade e institua o retorno ao Estado de terras que no

    fossem regularizadas a partir de ento, com a conseqente normalizao e revalidao dos

    registros anteriores data.

    Muitas terras, contudo, cedidas como posse antes de 1850, haviam sido abandonadas por

    seus antigos proprietrios (muitos deles oriundos ainda do regime de sesmarias) ou no

    foram regularizadas aps a promulgao da Lei n 601, de 1850.

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    Introduo 5

    At a promulgao da chamada Lei de Terras, a terra compunha um elemento de posse

    e no de propriedade, sendo todas elas pertencentes ao Reino (depois Imprio).

    Com isso, a capacidade de disposio das terras era muito mais limitada por parte de seus

    possuidores, posto que a venda, cesso, emprstimo, arrendamento ou qualquer outramodalidade de repasse da mesma - permanente ou temporrio - estava condicionada s

    autorizaes do Imprio.

    Uma vez que o possuidor das terras passava a ter a oportunidade de se transformar em

    proprietrio tambm, mediante regularizao legal, sua relao passava a ser

    profundamente diversa, incluindo, vale dizer, obrigaes fiscais para com o bem e sua

    manuteno, fato que levou muitos proprietrios a no regularizarem e, conseqentemente,

    perderem os direitos s terras j ocupadas.

    Tal lei foi ratificada com a nova Constituio da Repblica, em 1891 e novamente em 1937,

    com a Instaurao do Estado Novo de Getlio Vargas. O essencial que a regularizao da

    legislao fundiria brasileira, a partir de 1850, aparelhava o Estado com ferramentas capazes

    de recuperar terras que no houvessem sido reivindicadas ou regularizadas desde ento.

    O 2 Permetro de So Roque foi, segundo Maria Aparecida Candido Salles Resende,

    advogada, uma das reas de mais rpida definio e declarao como devoluta, visto que

    outras na mesma regio permanecem em litgio at hoje.

    J em 1959, cerca de vinte anos antes de ser declarada Reserva Estadual Florestal, as terras

    do 2 Permetro de So Roque foram consideradas devolutas por sentena do M.M. Juiz de

    Direito da Comarca de So Roque, e registradas em 04/07/60.

    Quando do desencadeamento das chamadas aes discriminatrias, os ocupantes dasreas em questo foram convocados a apresentar documentao que demonstrasse a

    regularidade da propriedade, diante do que nenhuma das 212 glebas existentes conseguiu

    provar sua efetiva posse.

    Tambm, diferentemente da situao das terras particulares, as terras pblicas no so

    passveis de serem consideradas abandonadas, permitindo aes de usucapio pelos

    ocupantes, o que no permitia aos ocupantes das glebas localizadas no 2 Permetro de So

    Roque reivindicar sua ocupao centenria na rea, como plataforma para uma ao de

    regularizao das propriedades.

    Ainda assim, desde 1957 um instrumento legal permitia que o ocupante de terras devolutas

    pudesse solicitar o reconhecimento do Estado de sua propriedade sobre a terra, desde que

    atendidas algumas exigncias, tais como a moradia permanente, a exclusividade desse bem,

    limitao de tamanho e relao de subsistncia com a terra. Uma vez atendidas as exigncias

    o Estado poderia, se considerasse cabvel, efetuar a doao da terra para o ocupante.

    Um processo de legitimao chegou a ser aberto contra a procuradoria do Estado de So

    Paulo, a fim de permitir a regularizao das terras no 2 Permetro de So Roque com a

    permanncia das famlias nas 212 glebas.

    Entretanto, no comeo dos anos de 1970 o Servio Florestal (pertencente ainda Secretaria

    de Agricultura e matriz do Instituto Florestal) entendeu que a rea possua atributos naturais

    dignos de serem preservados. Em 1973 o IF instituiu um Grupo de Trabalho a fim de realizaros levantamentos na rea do 2 Permetro de So Roque.

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    6 Introduo

    Segundo o Boletim Tcnico do IF n 20, 18.296,74 ha (77%) do 2 Permetro de So Roque

    poderiam ser considerados como bem preservado, contra 5.465,26 ha (23%), de mata

    derrubada.

    Os recursos hdricos tambm eram significativamente positivos (o que chegou a propor olevantamento da possibilidade de utilizao desses recursos como aporte suplementar de

    gua para o abastecimento da regio metropolitana de So Paulo), alm da riqueza da fauna e

    flora regionais.

    Instaurou-se, ento, um protocolo determinando o levantamento sistemtico dos recursos

    da rea. O Grupo de Trabalho, composto por engenheiros agrnomos servio do IF,

    identificou e ratificou as informaes a respeito da importncia da rea, bem como

    desaconselhou a permanncia dos ocupantes na mesma, alegando a inadequao das terras

    para a presena humana.

    O resultado do trabalho foi publicado no Boletim Tcnico/IF n 20/76, e a criao de um

    parque foi proposta como medida cabvel para tal situao (Alencar, 1976).

    A base para tal demanda foi o artigo 5 do Cdigo Florestal (Lei n 4.771/65), e o Decreto

    Lei Estadual de 1945, os quais definiam que o poder pblico poderia criar parques e outras

    unidades de conservao a partir da arrecadao de terras devolutas, e excetuando-se as

    atividades administrativas (como a cobrana de ingressos) nenhuma atividade de explorao

    dos recursos naturais seria permitida em seus interiores.

    Com esses instrumentos legais, abria-se caminho para a criao de um Parque Estadual e a

    subseqente desocupao do 2 Permetro de So Roque, interrompendo seu processo de

    degradao ambiental.

    O trabalho se alongou de 1973 a 1976, contando, alm da equipe do IF, com membros de

    organizaes civis, do Zoolgico de So Paulo e de rgos estaduais ligados ao uso das

    guas. O processo foi concludo em 1978 por meio do Decreto n 12.185/78, o qual criou a

    Reserva Estadual Florestal do 2 Permetro de So Roque, na antiga rea do 2 Permetro de

    So Roque, primeiro passo para a criao do futuro Parque Estadual.

    No claro o motivo pelo qual a unidade de conservao foi criada como Reserva Estadual

    Florestal e no Parque Estadual logo no primeiro momento, mas, talvez, a carncia de

    informaes mais aprofundadas tenha pesado na deciso final.

    Outra possibilidade a de que se estivesse aguardando uma melhor definio macro-regional

    para, assim como no caso do Parque Estadual da Serra do Mar (criado em 1977 a partir de

    vrias reservas independentes, porm limtrofes), criar uma unidade de conservao maior

    com a anexao de outros lotes de terreno.

    Tambm era comum, desde a dcada de 40, o governo do Estado de So Paulo criar

    Reservas Florestais como uma forma emergencial de se proteger reas de interesse, para

    futura disposio conservacionista de carter mais amplo, de modo que, por fim, a idia de

    Parque Estadual ainda tivesse de aguardar algum tempo, como no caso do Jurupar.

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    Introduo 7

    A Reserva Estadual Florestal do 2 Permetro de So Roque, alocada ento na Seo Carlos

    Botelho do IF, no recebeu os investimentos necessrios sua implantao, de modo que

    cerca de dez anos aps a promulgao do Decreto, sua situao permanecia incerta, quadro

    esse que era decorrente, em grande medida, da ausncia de polticas pblicas que

    privilegiassem a rea.

    Exemplo disso, ocorreu em novembro de 1987, quando o Secretrio Adjunto do Meio

    Ambiente apresentou uma proposta para a liberao de recursos para a Reserva Estadual

    Florestal do 2 Permetro de So Roque, no Projeto de Preservao da Mata Atlntica -

    PPMA. Os recursos no foram liberados pelo governo do Estado, pois a rea no estava no

    rol daquelas consideradas prioritrias.

    Em 1978 foi criada a DRPE, a Diviso de Reservas e Parques Estaduais, qual a Seo Carlos

    Botelho e, consequentemente, a Reserva Estadual Florestal do 2 Permetro de So Roque

    ficaram alocadas.

    Neste meio tempo, a estrutura administrativa do Estado de So Paulo foi reformulada e o IF

    desligado da Secretaria de Agricultura e Abastecimento e alocado na Secretaria de Meio

    Ambiente, criada em 1986. Com as mudanas ocorridas, a DRPE permaneceu no IF.

    Por volta de 1988, tornara-se pblico que a comunidade regional intentava responsabilizar,

    junto ao Ministrio Pblico, a Secretaria do Meio Ambiente pelo abandono em que se

    encontrava a Reserva Estadual Florestal do 2 Permetro de So Roque.

    Por conseguinte, a partir de uma ao da Mobilizao Social da SMA, o processo se

    reverteu e transformou-se em prioridade para o Escritrio Regional de Planejamento de

    Sorocaba, sendo referendado pelas prefeituras e pela sociedade civil organizada.

    Na ocasio, foram aprovados, para o oramento da Secretaria do Meio Ambiente, recursos

    para que a Reserva Estadual Florestal do 2 Permetro de So Roque utilizasse na

    demarcao de suas terras, fiscalizao, ecoturismo, hospedaria, lazer, documentao em

    geral e na orientao da comunidade.

    Em seguida, o Condema de Piedade efetuou um levantamento da rea do 2 Permetro de

    So Roque e encontrou diversas irregularidades no local, dentre elas o desmatamento de

    rea natural, a atividade de fornos de carvo, a extrao de palmito e a presena da caa

    predatria.

    Constatou-se, tambm, que aproximadamente 1/3 da rea da Reserva estava ocupada

    regular ou irregularmente. Em vista disso, o Condema sugeriu a implantao urgente de

    uma Reserva Florestal, na forma de Parque Estadual, criando-se, assim, uma infraestrutura

    pertinente para a preservao da fauna e flora do local.

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    8 Introduo

    O Processo de Criao do PEJU

    A alterao da categoria de manejo para Parque Estadual foi alavancada pelos resultados

    atingidos com os estudos que demonstravam a riqueza da fauna e flora e abundncia de

    recursos hdricos, bem como os vetores de presso incidentes na rea.Alm disso, as dificuldades na gesto da Reserva Estadual Florestal do 2 Permetro de So

    Roque mostraram a importncia de se reforar a salvaguarda do patrimnio em questo, de

    modo que a categoria Parque Estadual - com aspectos de manejo melhores definidos,

    notadamente pelo fato de possuir legislao especfica - se tornasse uma alternativa mais

    pertinente.

    O Decreto de Regulamentao dos Parques Estaduais n 2.541/86 - era aperfeioado e mais

    especfico do que a que regia as Reservas (reas reservadas para algum fim, no

    necessariamente para a proteo ambiental).

    A proposta de transformao da Reserva em Parque Estadual do Jurupar foi elaborada peloGrupo de Trabalho criado junto Diretoria Geral do IF, em 1992.

    Como resultado dos trabalhos, e empregando um conjunto de fotos areas da regio,

    concluiu-se por uma proporo de 70% de reas conservadas e 30% em condio de

    recuperao, dados estes que se mantiveram por aproximadamente duas dcadas.

    Concomitantemente elaborao e envio da proposta de transformao da Reserva Estadual

    Florestal do 2 Permetro de So Roque em Parque Estadual, o mesmo Grupo de Trabalho

    remeteu a DRPE um projeto para a incorporao de outras duas glebas, alm da chamada

    Gleba C - no includa na referida Reserva Estadual, - no futuro Parque Estadual do Jurupar.

    Com cerca de 2.350 ha de extenso, a Gleba C foi considerada pelo Grupo de Trabalho comouma rea representativa quanto existncia de remanescentes da mata primitiva e da

    importncia dos recursos hdricos ali presentes. A DRPE autuou a proposta e encaminhou-a

    Diretoria Geral em setembro de 1992, e na seqncia o Diretor Geral Jos Luiz Timoni

    redirecionou a proposta SMA para prosseguimento.

    Em 22 de setembro de 1992, por meio do Decreto n 35.703, o Governador do Estado de

    So Paulo, Luiz Antonio Fleury Filho, transformou em Parque Estadual do Jurupar a rea

    correspondente Reserva Estadual Florestal do 2 Permetro de So Roque, com 23.900,47

    ha, com a finalidade de proteger e conservar todo o complexo ecolgico ali existente.

    Na mesma data da criao do PEJU, a CBA cedeu 2.350 ha situados em rea contgua a UC(parte dessas terras ainda aguardando regulamentao final), no Municpio de Piedade. A rea

    foi agregada aos limites do PEJU mediante o Decreto n 35.704/92, ampliando o territrio

    do PEJU para 26.250,47 ha.

    As reas pertencentes a CBA foram incorporadas mediante negociao proposta e

    encaminhada pelo IF, que se valeu do fato de que as reas preservadas pertencentes

    empresa eram intocveis devido a prpria legislao e, alm do mais, fundamentais para a

    manuteno das represas utilizadas na operao do alumnio. Logo aps a promulgao do

    Decreto pelo Governador, o Secretrio do Meio Ambiente recebeu uma correspondncia

    do presidente da CBA ratificando a doao dos 2.350 ha pleiteados para a composio do

    PEJU, contudo, esta rea nunca foi incorporada, de fato pelo Parque Estadual do Jurupar.

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    Introduo 9

    Cabe destacar que o termo Jurupar tem origem nos estudos realizados pela Associao

    Ecolgica So Francisco de Assis - AESFA, criada no incio dos anos 90 e sediada em Piedade.

    Tais estudos foram realizados com o interesse de subsidiar a criao do Parque Estadual,

    tendo sido encaminhados ao IF j com a proposta do nome Parque Estadual do Jurupar.

    Segundo Ruth Rodrigues Ayres de Arajo, membro da AESFA, o nome foi indicado por dois

    motivos: i) ocorrncia na regio do mamfero Jupar Potos flavus, da famlia dos prociondeos,

    arborcola, de hbito noturno e que se alimenta basicamente de insetos e frutos, hoje uma

    espcie raramente avistada; e, ii) termo indgena Jurupar, do tupi-guarani garganta

    dgua, utilizado para denominar a localidade conhecida como Cachoeira da Fumaa,

    localizada no rio do Peixe, a montante da represa da PCH Jurupar.

    Populaes Tradicionais: Transformaes e Desocupao

    As mudanas ocorridas com a populao que habitava o territrio do PEJU no forammotivadas apenas e to somente pelas medidas tomadas visando a implantao desta UC.

    Quando as primeiras equipes chegaram na rea do PEJU, ainda na dcada de 1970, o perfil

    regional da populao ainda era majoritariamente caipira, com uma ocupao contnua de

    pelo menos duzentos anos.

    Nas 212 glebas que compunham o 2 Permetro de So Roque habitavam famlias que viviam,

    em grande medida, do uso dos recursos naturais da regio e de agricultura de pequena

    escala, quase que somente para subsistncia. Era esse perfil que permitia, ainda, naquela

    poca, a definio dessa populao como tradicional.

    At meados do sculo XX, a produo agrcola dessas famlias respondia pela parte maior de

    sua alimentao e, a partir de um pequeno excedente, algum dinheiro obtido atravs da

    venda desses produtos em praas maiores, as quais chegavam a ser as de Pinheiros e Santo

    Amaro, j na Grande So Paulo.

    Contudo, com o desenvolvimento da agricultura, a partir dos anos 50 e 60, a possibilidade

    de venda desses excedentes diminuiu sensivelmente, fazendo com que os moradores das

    antigas glebas do 2 Permetro de So Roque abandonassem essa modalidade de comrcio e

    buscassem outras alternativas para a subsistncia.

    A produo de carvo vegetal, a partir da extrao de madeira tornou-se uma das atividades

    substitutas, o que acentuou significativamente a degradao da rea do 2 Permetro de So

    Roque.

    Tambm nessa poca, algumas famlias comearam a subdividir suas glebas originais para

    vend-las a oriundos de outras regies, desejosos de estabelecer casas de veraneio. Parte

    desse processo de diviso e venda ocorreu em decorrncia de um aumento progressivo da

    fiscalizao pela Polcia Florestal, o qual tornou cada vez mais difcil a extrao da madeira

    para carvo.

    Apesar da ocupao pontual, a implantao dessas casas de veraneio acentuou tambm o

    processo de degradao, alm de multiplicar os problemas jurdicos para a desocupao e

    reintegrao das terras do Estado.

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    10 Introduo

    Os membros das famlias passaram a se dividir entre as tarefas da agricultura familiar, da

    produo de carvo, dos servios aos proprietrios de casas de veraneio e da CBA

    estabelecida nas usinas hidreltricas existentes no permetro do PEJU.

    Com a criao da Reserva Estadual Florestal e, depois, do Parque Estadual, as atividadesextrativistas - a produo de carvo, sobretudo - foram paulatinamente sendo bloqueadas,

    com o agravamento da situao econmica das famlias, o que acelerou o processo de

    abandono das terras.

    Mesmo com a autorizao para a extrao controlada de certa quantidade de madeira, a

    situao de penria cresceu continuamente entre os moradores da rea.

    Como suas demandas pela regularizao foram indeferidas pela justia e diante do avano

    das estruturas de proteo da UC, ficou claro para muitas das famlias que a desocupao

    era apenas uma questo de tempo. Contudo, durante um breve perodo de tempo, logo

    aps a criao da UC, houve um aumento significativo de moradores na rea do PEJU.

    Parte desse aumento foi promovida pelo casamento de jovens, o que trouxe um excedente

    populacional e estranho s populaes tradicionais. Este processo, entretanto, foi bloqueado

    diante do agravamento das condies de manuteno financeira das famlias.

    A Constituio Federal de 1988 e a Constituio Estadual de 1989 criaram, por outro lado,

    um dispositivo legal para a proteo e permanncia de populaes tradicionais em suas reas

    de ocupao ancestral, elemento este que foi definitivo para a criao dos quilombos

    contemporneos ou para o reconhecimento da posse em outros quilombos histricos.

    Entretanto, e infelizmente, para as populaes que ainda insistiam em permanecer na rea do

    2 Permetro de So Roque, a exceo que se estabelece a esse princpio de posse aplica-sejustamente s reas consideradas de interesse ambiental.

    Assim, o interesse ambiental do Estado prevalece sobre o direito tradicional terra, de

    modo que, para os moradores da Reserva Estadual Florestal oriunda do 2 Permetro de So

    Roque, os dispositivos das terras tradicionais constantes nas Constituies no foram teis

    para sua permanncia na rea.

    Segundo Sueli Herculiani, no comeo dos anos 90, quando da criao do Grupo de Trabalho

    para reviso dos trabalhos desenvolvidos entre 1973 e 1976, a constatao da presena de

    populaes locais com perfil diferenciado das demais foi uma absoluta surpresa. Esta

    novidade exigiu a busca de apoio cientfico especfico, inclusive, pelo fato de que o conceito

    de populao tradicional aplicado s unidades de conservao encontrava-se em fase

    embrionria.

    Reconhecer parte da populao moradora da UC como populao tradicional foi um

    processo que partiu da constatao das peculiaridades culturais para a posterior

    conceituao da situao. Mesmo considerando que esses tradicionais comportavam prticas

    culturais sustentveis, elas foram enquadradas como simplesmente populao, posto que a

    legislao no observa estas peculiaridades histricas e culturais.

    De certa forma, a impossibilidade de oferecer tratamento diferenciado populao

    tradicional residente na rea h mais de 200 anos, gerou uma frustrao significativa na

    equipe do PEJU. Ainda assim, e em parte como decorrncia da diminuio dos tradicionaisna rea, a presena humana um problema fundamental para o Parque Estadual do Jurupar.

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    Introduo 11

    A Implantao do PEJU

    O primeiro gestor do PEJU foi Cristina de Marco Santiago, uma das responsveis pela

    transformao da Reserva em Parque Estadual. No entanto, foi apenas com a Portaria do

    Diretor Geral do IF, de 04/08/94, que o expediente do PEJU foi oficialmente entregue smos da engenheira florestal.

    Sua gesto foi marcada pela criao da Base Alojamento na Vila Operria da CBA, localizada

    na UHE Cachoeira da Fumaa (1992), pela reintegrao das Fazendas Tucano, km 8,5 e km

    40 (1993) e pela implantao da Base de Fiscalizao do km 8,5 (1994).

    Essas trs reas reintegradas em 1993 foram adquiridas por Dona Sylvia Jutha Labdsberger,

    aproveitando-se do movimento de xodo regional das famlias tradicionais, e visando a

    implantao de um plo de ecoturismo. Desde meados da dcada de 1980 a proprietria era

    alvo de aes, por conta de danos ambientais, e de seguidas autuaes.

    Aproveitando da ausncia de fiscalizao efetiva na UC, a proprietria chegou a empregaraproximadamente oitenta trabalhadores, ocupados em vrias atividades, entre elas a

    agricultura de larga escala de kiwi e limo.

    Com o incio da fiscalizao no PEJU, e de um congelamento das reas j empregadas pelas

    famlias tradicionais, os embates com a proprietria das trs fazendas se tornaram mais

    freqentes, at a culminncia na denncia ao Ministrio Pblico, com processo de

    reintegrao de posse.

    Aps a peritagem realizada na rea e encaminhamento ao MP, o processo resultou no

    embargo das reas e no posterior Termo de Ajustamento de Conduta - TAC (referente s

    compensaes e procedimentos de recuperao das reas degradadas pela ao humana nastrs fazendas, bem como a definitiva retirada de seus moradores).

    No processo de reintegrao das reas e de compensao da degradao, o PEJU obteve -

    aps a falncia da empresa e do falecimento da proprietria - um veculo, um trator, a

    construo de um viveiro de mudas e o custeio de insumos durante alguns anos, o que ficou

    muito aqum dos prejuzos ambientais causados a UC. As benfeitorias existentes (casas e

    dependncias gerais) foram em grande medida destrudas por ordem da proprietria, a fim

    de impossibilitar a utilizao pelo poder pblico.

    A primeira base operacional de apoio s atividades de campo do PEJU foi instaurada em

    1993, mediante contrato de comodato com a CBA, permanecendo em funcionamento at1995, quando foi transferida para a Fazenda Sete Lagoas, localizada no km 8,5 da Estrada da

    Cachoeira da Fumaa.

    Hoje em dia a BAO Fumaa utilizada para alojar tcnicos e pesquisadores da FF e IF,

    consultores da equipe de elaborao do Plano de Manejo, bem como pesquisadores de

    universidades que realizam estudos na UC.

    O movimento de implantao do PEJU foi gradual e, em certa medida, dificultoso. Em virtude

    do pequeno quadro de funcionrios, a maior parte dos trabalhos iniciais esteve restrita

    execuo de atividades de reconhecimento do territrio, oferecendo continuidade aos

    levantamentos preliminares que resultaram na criao do Parque Estadual.

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    12 Introduo

    Ao mesmo tempo, ampliou-se o trabalho com as comunidades locais no sentido de orientar

    os ocupantes sobre a criao e implantao da UC - bem como de suas implicaes legais e

    cotidianas na vida dos moradores.

    No incio de 1993, moravam em terras do PEJU cerca de 80 famlias, com as quais foramdesenvolvidos trabalhos no sentido de resgatar a cultura local e estabelecer uma convivncia

    no-predatria com o meio-ambiente (A Vanguarda de Ibina, 11/02/93). Nesse sentido, um

    dos problemas recorrentes enfrentados pela administrao foi o da extrao ilegal de

    palmito na rea sob domnio da UC.

    Sobre este ltimo ponto, buscou-se valorizar o perfil sociocultural das famlias residentes nas

    cercanias do PEJU ou dentro dele, atentado para as formas de manejo dos recursos naturais

    utilizadas por essas pessoas, de modo a coorden-las com polticas de conservao da UC.

    Entre 1993 e 1994 foram contratados, via concurso pblico, 21 funcionrios entre vigias,

    trabalhadores braais e auxiliares de apoio pesquisa, alocados no PEJU. Neste processo de

    aparelhamento do PEJU, sobretudo, nos termos dos recursos humanos, buscou-se oferecer

    as vagas preferencialmente aos moradores da regio, mas isso no foi plenamente possvel,

    entre outros motivos, pela resistncia dos locais administrao pblica, a qual, direta ou

    indiretamente, havia promovido a desarticulao da estrutura original regional. Mesmo assim,

    no incio dos anos 90, alguns moradores locais foram admitidos pelo concurso como

    funcionrios do Parque.

    Todavia, o plano de demisso voluntria institudo pelo Governo Estadual em meados dos

    anos noventa ocasionou uma reduo sensvel no quadro funcional do PEJU, o que

    inevitavelmente desacelerou o movimento de implantao da UC (SMA, 2004: 57-58).

    Em meio a esses desdobramentos, novas ferramentas administrativas foram sendo criadaspara as atividades de fiscalizao, tais como termos de apreenso de materiais/equipamentos

    e operaes conjuntas com a Polcia Militar Ambiental.

    Em 1996, a administrao do Parque assumida por Alexandre de Carvalho, que por sua

    vez, deixou o cargo meses depois, sendo nomeada a pedagoga Sueli Herculiani.

    Nesta gesto, os trabalhos referentes implantao da infra-estrutura do Parque foram

    privilegiados, bem como foram estreitados os vnculos com o Ministrio Publico, garantindo

    sensvel avano no cumprimento da lei com relao populao residente no Parque, e os

    investimentos oriundos dos TAC.

    Em decorrncia dos benefcios advindos da celebrao dos TAC, foi possvel dar

    tangibilidade a determinadas aes estratgicas na consolidao do PEJU, dentre elas:

    reparao ambiental de reas degradadas por ocupantes irregulares; ampliao do

    conhecimento das normas e das restries de uso incidentes sobre o PEJU, auxiliando na

    diminuio das atividades antrpicas praticadas por infratores e ocupantes; e a

    implementao/complexificao da infra-estrutura do Parque, visando aprimorar os

    programas de proteo e gesto da UC (SMA, 2004: 58-59).

    O PEJU foi anuente-beneficirio de outro TAC, assinado em 2000, com a CBA e mediao

    do Ministrio Pblico, tendo como objetivo atenuar as intervenes praticadas pela CBA em

    reas localizadas nas bordas da Estrada Frana-Fumaa (hoje denominada Estrada ParqueJurupar), no Municpio de Ibina.

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    Introduo 13

    Entretanto, pelo fato de no ter sido possvel recuperar o local em questo, decidiu-se por

    um projeto de revitalizao para outra rea, tambm degradada, situada na antiga Fazenda

    Tucano. Elaborado, o projeto acabou no sendo implantado por empecilhos de ordem

    logstica e operacional, embora, continue pendente a execuo do projeto de compensao

    ao dano causado.

    O mesmo TAC culminou na definio de orientaes e critrios para a realizao de

    manuteno em estradas situadas dentro do PEJU e doao de veculo adequado s

    atividades de fiscalizao.

    Em 2002, foi designado o pesquisador Paulo Emlio de Menezes Pimenta para assumir o

    expediente do PEJU. Neste ano foi firmado mais um TAC que contemplou as reas

    adjacentes e internas ao Parque que haviam sofrido interveno da CBA, em 1996. A

    empresa deveria recompor as reas por ela degradadas, alm de outras de interesse

    ambiental, processo esse que se encontra sob monitoramento at os dias de hoje.

    Esta gesto ainda marcada pela construo de quatro novas bases operacionais no PEJU -

    Descalvado, Itaguapeva, Juqui-Bonito e Juqui-Guau, atreladas ao Projeto de Preservao

    da Mata Atlntica - PPMA em cooperao com o governo alemo. Dois anos depois houve a

    reintegrao da Pousada guas Claras (hoje BAO guas Claras).

    A Fundao Florestal

    Em 29 de dezembro de 2006, o Decreto n 51.453 instituiu em seu artigo primeiro o

    Sistema Estadual de Florestas - Sieflor, o qual tambm determinou a transferncia da gesto

    das unidades de conservao, entre elas o PEJU, para a Fundao Florestal.Em 5 de dezembro de 2007, o Diretor Executivo da FF Jos Amaral Wagner Neto designou

    o eclogo Rinaldo Aparecido da Cruz Campanh para responder pela gesto do PEJU no

    perodo de 31/10/07 e 29/12/07, substituindo Paulo Pimenta, que se aposentara.

    Contudo, a permanncia de Campanh frente do PEJU se estendeu para alm do perodo

    inicialmente designado, sendo este at hoje responsvel pela gesto da UC.

    Ao assumir a Pasta de Meio Ambiente, em janeiro de 2007, o Secretrio Xico Graziano

    definiu os projetos prioritrios que norteariam sua gesto. Entre eles destaca-se a Gesto

    das Unidades de Conservao, sendo o primeiro passo em direo gesto efetiva das UC a

    elaborao dos Planos de Manejo.A fim de cumprir a poltica estabelecida e, dado que a grande maioria das reas legalmente

    protegidas no dispunha de Plano de Manejo elaborado, a FF, rgo gestor da maior parte

    das UC do Estado de So Paulo, se estruturou, criando, em maro de 2007, o Ncleo Planos

    de Manejo - NPM com o objetivo de gerenciar a elaborao de Planos de Manejo.

    Sob a coordenao da biloga Cristiane Leonel, neste mesmo ano, o NPM pleiteou e obteve

    recursos financeiros da Cmara de Compensao Ambiental da Secretaria do Meio

    Ambiente de So Paulo, para a elaborao do Plano de Manejo do Parque Estadual do

    Jurupar.

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    14 Introduo

    Com os recursos financeiros liberados poucos meses depois, iniciaram-se os procedimentos

    tcnico-administrativos para a contrao de empresa que coordenasse os trabalhos, tendo

    sido iniciados em agosto de 2008, com uma equipe composta por 38 consultores externos,

    quatro tcnicos do IF e sete da FF.

    Em setembro de 2008, foi firmado o contrato entre a Fundao Instituto de Terras do

    Estado de So Paulo - ITESP e a FF para aplicao de Laudo de Identificao Fundiria, com o

    objetivo de diagnosticar a situao fundiria atual do PEJU, o que no desenvolvimento do

    Plano de Manejo se mostrou fundamental para o encaminhamento da questo fundiria.

    A gesto de Campanh tem sido conhecida, pela elaborao do Plano de Manejo,

    transferncia da Sede Administrativa para o PEJU, com maior presena do rgo gestor no

    local, contato com os ocupantes e prefeituras, promoo da visitao pblica, intensificao

    das aes de fiscalizao, inclusive, em conjunto com a Polcia Militar Ambiental e

    implantao do Conselho Consultivo.

    Passado o primeiro momento de entendimento do papel do Conselho, este j se aproxima

    da gesto e reconhece a importncia da UC, resultado de um esforo conjunto e contnuo

    de todas as gestes at aqui retratadas.

    Novas medidas vm sendo tomadas com o objetivo de estabelecer uma relao mais

    prxima entre a gesto do PEJU, seus ocupantes e as populaes que residem no seu

    entorno.

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    Metodologia 15

    2. Metodologia

    2.1 Princpios e Diretrizes Metodolgicas

    O Plano de Manejo do Parque Estadual do Jurupar, instrumento de gesto e manejo para os

    administradores e instrumento de envolvimento, acompanhamento e controle para a

    sociedade como um todo, formaliza o zoneamento do Parque e prope estratgias de

    planejamento e gesto integradas aos processos de planejamento e desenvolvimento

    regional, bem como atende s requisies legais da Lei no 9.985 de 2000 (SNUC) e seu

    instrumento regulamentador, o Decreto Federal no4.340 de 2002.

    Em consonncia com a proposta do Roteiro Metodolgico para Elaborao de Planos de

    Manejo de Unidades de Proteo Integral (Ibama, 2002), os seguintes princpios nortearam a

    elaborao do Plano de Manejo: Base Tcnico-Cientfica, Planejamento Integrado,Planejamento Participativo e Organizao Estratgica, sendo que no escopo deste ltimo

    princpio, foram desenvolvidos os Programas de Gesto e Projetos Especficos.

    2.1.1 Base Tcnico-Cientfica

    A primeira etapa da elaborao deste Plano de Manejo foi a construo de uma base

    tcnico-cientfica que reuniu os dados secundrios disponveis e, posteriormente, a

    elaborao de um panorama da situao atual do PEJU e seu contexto regional. Os trabalhos

    de levantamentos secundrios, levantamentos primrios e as respectivas anlises, foram

    realizados por equipe formada por consultores, funcionrios do IF, FF e do ITESP, sob acoordenao conjunta do Grupo Tcnico de Coordenao - GTC. Esta etapa foi

    desenvolvida em duas frentes: o diagnstico e a avaliao do meio, que incluiu anlises sobre

    o contexto regional e local.

    2.1.2 Planejamento Integrado

    Procurou-se facilitar ao mximo a aproximao entre a equipe do Ncleo Planos de Manejo,

    o Gestor e funcionrios do Parque, os profissionais da FF, IF e ITESP e os consultores. Desta

    forma buscou-se garantir a maior efetividade na futura implantao do Plano, atravs da

    participao ativa, em sua elaborao, de quem trabalha no dia-a-dia do Parque.

    O planejamento integrado tambm possibilitou a integrao de todas as abordagens

    temticas, ponderando-as para o melhor desenho do Zoneamento e dos Programas de

    Gesto.

    Nesta fase do planejamento foi desenvolvida a avaliao estratgica do PEJU, incluindo os

    fatores, tanto internos quanto externos, que impulsionam ou dificultam o alcance dos

    objetivos para os quais ele foi criado. Os fatores que constituem o cenrio interno do

    Parque so caracterizados como pontos fortes e pontos fracos e condicionam seu manejo, e

    os fatores do cenrio externo so caracterizados como oportunidades e ameaas.

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    16 Metodologia

    2.1.3 Planejamento Participativo

    A discusso com a sociedade e os parceiros institucionais, sobre as propostas de

    zoneamento e os programas de gesto, foram fundamentais no sentido de possibilitar que o

    Plano de Manejo do PEJU se tornasse mais ajustado realidade, atravs da incorporao dasdemandas s estratgias e aes previstas e recomendadas.

    O planejamento participativo possibilitou a incorporao das vrias responsabilidades das

    partes envolvidas, e o papel fundamental do Conselho Consultivo, recm formado, nas

    relaes entre o Parque e as comunidades locais, para que os canais de comunicao e

    integrao continuem abertos.

    2.1.4 Orientao Estratgica

    O Plano de Manejo do PEJU foi