paquete de portugal

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/ lo PAQUETE DE PORTUGAL. N°. XXXVii; T erçafeira 4 de MAto, 1830. V ol . III. CARTA XXXVII. Sereníssimo Senhor, è A maxima política do conde de Basto era—A gente ociosa e rica é a gente revolucionaria : o homem, que precisa trabalhar para subsistir, não tem tempo de tratar de revoluções. A do bispo de Viseu, que elle ennunciava, e ain da frequentemente ennuncia, era— Desde que se vulgarisou o musa musæ acabou a religião, e a paz das nações. Os corolarios que daqui tiram os dois mestres são obvio.s— O throno do rei Miguel deve ter por base a pobresa, e a ignorancia, V . A. não podia deixar de prestar ouvidos a estas maximas destruidoras ; nâd >só • porq'uë se conformavam com as suas natu'rá'es inclinaçíies, mas taobem por que lhe pareciarb ' faceiS de redu zir a pratica. ▼OL III. 2y ' V o' ' -, -'-tí. V if ,í' !,

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/ loPAQUETE DE PORTUGAL.

N °. X X X V ii ; T erçafeira 4 de M A to, 1830. V o l . I I I .

C A R T A X X X V II.

’S e r e n ís s im o S e n h o r ,

è

A maxima política do co n d e d e B a s to era— A

g e n te o c io sa e r i c a é a g e n te r e v o lu c io n a r ia : o

h o m e m , q u e p r e c is a t r a b a lh a r p a r a s u b s is t i r , n ã o

te m te m p o d e t r a t a r d e r e v o lu ç õ e s .

A do b isp o d e V ise u , que elle ennunciava, e ain­da frequentemente ennuncia, era— D e s d e qu e se

v u lg a r is o u o musa musæ a c a b o u a r e l ig iã o , e a p a z d a s n a çõ es .

Os corolarios que daqui tiram os dois mestres são obvio.s— O throno do rei Miguel deve ter por base a pobresa, e a ignorancia,

V . A . não podia deixar de prestar ouvidos a estas maximas destruidoras ; nâd >só • porq'uë se conformavam com as suas natu'rá'es inclinaçíies, mas taobem por que lhe pareciarb ' faceiS de redu­zir a pratica.

▼OL III. 2 y '

Vo' '

- , - ' - t í . V i f , í ' ! ,

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350 PAQUETE DK PORTUGAL.

Era pouco para V . A . perseguir e encarcerar os portuguezes, que tinha por fieis ao rei legitimo ; era pouco força-los a expatriar-se, entregar os que fossem colhidos ás mSos ao ferocissimo algoz T eles

J o r d ã o para os martyrisar ; era pouco levar ao patibulo victimas illustres de nobre lealdade e pa­triotismo, em cujo sangue V , A . desejava banhar- se, porque todas as virtudes detesta : para satis­fazer a suas barbaras vinganças ordenou V. A. o roubo e a destruição geral, que sem demora algu- nja se poz em obra sob a denominação de se-

^estros,Via-se no rosto de todos os executores destas

ordens cruéis nma alegria feroz precursora dos flagicios que táes monstros haviam de commetter. Os magistrados procediam a prisões sem formali­dade, ou antes todos os malvados tiveram authori- sação formal para prender quem muito se lhes antojasse. Ninguém foi preso, que não fosse pro­nunciado pela forma que fica dito na carta antece­dente ; e ainda antes de verificada a pronuncia, mandavam os juizes proceder a sequestro nos bens daquelles, que tinham tenção de pronunciar. Viu- se em todas as provincias do reino simultanea­mente o barbaro espectáculo de uma invasão de esljiíTOs,, escrivã,es, meirinhos, e outros ladrões, que escudados coto estes e similhantes nomes costu­mam roubar a,seu salvo. A s casas eram entra­das como de assalto; as infelices familias dos pre-

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sos lançadas fóra délias, ficando entregues aos hor­rores da fome e da miseria esposas, filhos, parentes, a quem nem se permittia a mesquinha reserva dos vestuarios do uso quotidiano.

Abertas assim as, portas das casas invadidas, e expulsas as familias, os bens que dentro se acha­vam, desde logo se tornavam propriedade dos exe­cutores, e sycophantas; e fazia-se auto ordinaria­mente do que não podia, ou não valia o incommo- do de roubar-se.

A canalha seduzida pelos chefes dos la d r õ e s

ju d ic iá e s acudia de ordinario em tumulto ás casas mais ricas, aonde se lhe permittia entrar, destruir, e taobem roubar alguma cousa do que lhe fora de proposito deixado. Desta sorte se seguravam os malvados de qualquer futura responsabilidade, mui certos de que em todo o caso poderiam ser attri- buidos ao povo indignado os excessos, e os escan­dalosos roubos, que elles haviam commettido.

Em algumas terras do reino a infima plebe frene- tica de cubiça e ambição,desde que viu o primeiro exemplo de impunidade de roubo perdeu todo o respeito e subordinação ás proprias authoridades, que lhe permittiam esses vergonhosos delictos, mas em tempo e logar opportuno. A provinda do Alen­tejo, aonde se acolhem malfeitores de todas as outras, effereceu horríveis scenas dest^ natureza, que V . A . contemplou gostoso, julgando chegado o tempo de ver, como V . A . dizia, a c a b a d a a

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c a s ta d o s p e d r e ir o s l i v r e s . Os malfeitores levan­taram-se, depuzeram magistrados, nomearam ou­tros da ultima ralé, atacaram, feriram, expulsaram authoridades e funccionarios públicos j desobede­ceram âs ordens do governo, que p r o J o r m a , lhes eram enviadas, recommendando-lhes co m p a te r n a l

d o ç u r a qu e n ã o c a m in h a sse m ta n to ; e chegaram a tal ponto de anarchia e guerra civil, que as secre­tarias d’estado interromperam a sua corresponden­cia com grande numero de magistrados desta pro­vincia, até sobre objectes de interesse judicial de pretendentes. A estes diziam ministros tão vis como C a s tr o do R io e L o u z ã a — E s p e r e q u e se

s a t is fa ç a o e n th u s ia sm o d o s p o v o s , q u e p o r o r a

n ã o q u e re m o b e d e c e r a o s m a g is tr a d o s , n e m ao

g o v e r n o .V . A . não expediu uma só ordem, não enviou

uma só providencia para evitar as horriveis calami­dades da revolução do Alentejo : e como o faria se o seu maior praser era que o paiz ficasse des­truido e pobre, apropriando-se V . A . o resto, que escapasse á voracidade d a su a j u s t i ç a , e da su a

a m a d a canalha ?D esta sorte premiava V . A . os acclamadores

do rei absoluto ; anniquilava os portuguezes fieis, cuja perda havia mil vezes e publicamente jurado ; e augmentava os meios de continuar a oppressão da patria, assenhoreando-se de imtnensos bens, de

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cujo producto, como os tyrannos de Roma, espe­rava pagar a seus servos.

A canalha destruiu muito mais do que comeu, o que sempre succédé em conjuncturas similhan- tes ; e brevemente lhe faltaram objectos a que re­correr de novo. Quando o tempo acalmou a furia dos sediciosos, acharam-se estes sem haver tirado proveito de seus crimes, e viram reduzidas á mise­ria a maior parte das familias, que dantes os ali­mentavam. Quasi todos os infames juizes, nome­ados e escolhidos pelos visires de V . A . de tal modo se houveram nas reclamações das mulheres e ñlhos dos presos sequestrados, que pediam ou as meações ou alimentos concedidos pelas leis, que, tornando o processo mais dispendioso do que os proveitos, que delle se seguiriam, ainda quando por fim al­guns se obtivessem, fizeram desalentar os miserá­veis pretendentes, os quáes tudo abandonaram.

Muitas vezes succedeu, e ainda succédé frequen- temente,que havendo alguns dos presos conseguido por avultadas sommas de dinheiro a sua liberdade, ao irem tomar posse dos seus bens, que acham destruidos e roubados, os destruidores, temendo por seus primeiros crimes, accusam de novo, e pe­los mesmos suppostos delictos, aquelles que foram sentenciados innocentes; tornam a prende-los ; subsiste o sequestro ; e os ministros, não havendo ja dinheiro porque vendam a liberdade aos inno­centes, ou os detêm nos cárceres, ou os condem-

PAQUETE DE PORTUGAL. 3 5 3

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nam a degredos por toda a vida, e a confisco de seus bens ! ! ! Quando falta quem promova estas atrocíssimas injustiças promove-as o governo de V . A. que manda de novo prender os que hão sido soltos, e condemna-los á pena, que lhe parece de­terminar. Ainda ha poucos dias praticou um des­tes actos da sua justiça.

M as nem em toda a parte do reino pôde tanto o ardor da rapacidade, que levasse a plebe insensa­ta e furiosa aos excessos que acabo de referir. Alguns exemplos houve de gratidão no povo: ex­emplos que rarissimamente oíFerece a historia dos crimes e miserias do genero humano.

Foi pronunciado por constitucional em uma pe­quena villa da Beira um cavalheiro de nobilíssima familia, respeitado por suas eminentes virtudes, e illimitada generosidade. Um salteador nomeado por V . A. corregedor de Arganil por nome D o­mingos Bernardino de M acedo, hoje provedor de Coimbra partiu com a escolta de seus vorazes companheiros para a feitura do suspirado se­questro, de que deviam tirar pingues provei­tos como de casa tão grossa e abastada.—Pu­seram á venda os moveis e gados pertencentes ao sequestrado para desde logo os reduzirem a dinheiro co m q u e se p a g a s s e a d ilig e n c ia , cujas despezas ja se sabe são talhadas largamente. O povo, que vira horrorisado a destruição dos bens de seu virtuoso bemfeitor, longe de acudir a esta

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almoeda de argelinos, retirou se cheio de confusão; nem uin só lançador appareceu. O juiz e seus alguasls, não achando modo de encher as algibei­ras, fizeram conduzir os gados aArganil, aonde os aquartellaram, como se fossem soldados, nas casas dos habitantes, impondo-lhes a obrigação de os sustentar, a fim de que não diminuissem de valor. Deste modo não só occorreram ao menospreço, que poderia resultar do mau trato, porem ainda facilitaram a venda; porque as pessoas obrigadas a dar alojamento e comida a estes hospedes, acha­ram que não perdiam tanto comprando-os como sustentando-os de graça. Tão engenhoso recurso teve pois felicíssimo resultado.

Assim conseguiu V . A . dentro de poucos dias reduzir Portugal a pobreza e a mizeria tâes que não tem exemplo em nossa historia, nem ainda no tempo das commoções civis, que por vezes hão de­vastado o reino. Esta calamidade não era, como tem sido sempre, resultado de combates entre di­versos partidos, armados uns contra outros, hos- tilisando-se por todos os modos, e destruindo-se mutuamente as searas e provoações para uns a outros se enfraquecerem, e subjugarem ; não era eífeito necessário de tranzitosde tropas, de saques de praçàs, de incendios de povoações e castellos, que se defendessem, e sustentassem por uma das partes combatentes: era sim a consequência de um systema horroroso, adoptado por V . A . e seus

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cruéis ministros, que haviam concebido o insensato e inaudito projecto de reduzir a nação á miseria para governa-la e mante-la na obediencia. Este systema tem o seu modelo no que a Porta O tto- mana adoptou com a Grecia conquistada ; e que reduziu a áridos desertos uma das mais bellas re­giões da Europa.

E com tudo senhor, quáes proveitos tem V . A . tirado deste systema de rapina ? Quasi nenhuns. Os bens sequestrados, que puderam reduzir-se a numerário, apenas chegaram para as horrorosas despesas das diligencias, que por elles se satisfíze- ram, e que os executores, como fica dito, carregam sem nenhuma objecção de consciencia. Os pre­dios urbanos ou rústicos, que se tem arrematado, hão sido vendidos por preços vilissimos; e a maior parte do producto fica por mãos dos oflficiáes públicos. A absoluta falta de numerario ; a ins­tabilidade do governo tyrannico de V . A .; o odio que recae sobre os compradores, os poucos que apparecem, tudo obsta a que desses immenses roubos judiciáes V . A . colha o menor resultado fevoravel. D e que lhe serve uma preciosa livraria, roubada ao marquez de Palmella, assim como as suas pinturas, e outros objectes de bellas artes? Pode haver maior disparate do que D . Miguel furtando livros ?— E comtudo V . A . o fez sem a menor ceremonia, mandando buscar carradas dél­iés para o seu palacio. Que pode V. A . haver

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ganhado dando ao medico Azevedo uma casa se­questrada ao mesmo marquez de Palmella ?

Perde, em logar de ganhar.— Os ávidos trai­dores, que lhe ajudaram a roubar a coroa, cada um dos quâes se crê o primeiro em méritos e em serviços, e tem por pequeno preço delles todos os sequestros de Portugal, offenderam-se da prefe­rencia ; clamaram contra V . A. ; e grande parte delles se achou disposta a tentar de novo a fortuna das revoluções quando o orate marquez de Chaves partiu para o norte do reino. Entre tanto as ter­ras productivas estão em charneca; os jornaleiros não tem que fazer ; as fabricas, apesar dos talen­tos de José Accurcio, estão ou fechadas ou deser­tas ; o pão falta para os proprios soldados ; e V . A . ja não pode pôr em pratica a maxima, que Alexandre Severo deixou a Caracalla, digno mo­delo das virtudes de V . A .— C o m p ra p o r to d o o

p re ç o a a ffe iç ã o d a s t r o p a s , e z o m b a d o p o v o . — Aonde está o dinheiro para comprar essa affeição do exercito, que os traidores generáes e mais chefes julgaram tornar fiel ao usurpador, deixando corromper a sua disciplina? Nem V . A . o tem, nem quando o tivesse, e o desse, seria feliz em tão vergonhoso expediente. Não admiro, senhor, que V . A. ignore, porque nada sabe, que um exercito indisciplinado é o mais terrivel inimigo do par­tido a quem serve ; que a obediencia das tropas não se compra com dinheiro ; o dinheiro só serve

2 zT O L . I I I .

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para corrompe-las ; e as que urna vez recebem salario por sua obediencia, e cuja relaxação é to­lerada, nunca mais poem fim a suas pretenções; nunca mais acham ouro que as satisfaça. Não me admira, repito, que isto ignore um idiota como V . A. ; mas acaso tem desculpa de o não saber um conde de Barbacena, um visconde da Varsea, e ainda esse boneco vestido de general, o visconde de Santa Martha, que na Figueira esteve a ponto de ser victima da infame relaxação de disciplina a que, por covarde, deixara chegar o regimento de infantaria N®. 24 ?

O estado de desventura a que V . A . levou a nação portugueza para reinar sobre ella, opprimi- la impunemente, e satisfazer a suas perversas in­clinações é tal, que dentro em pouco os tyrannisa- dos e os instrumentos da tyrannia farão pacto entre si, tendo por medeadora a fome, filha, e ini­miga fatal do regimen do usurpador. Quem póde ja duvidar em Portugal de que V. A. é tão grande flagelo do povo portuguez como foram Atila e Genserico do povo romano? A consequência desta justa persuasão, que a todos os instantes se fortifica por evidentes provas, é inevitavelmente aquelle estado desgraçadíssimo (para servir-me das palavras de um grande historiador) a que chegam as nações de te m e r e m m en o s a r e s is te n c ia d o qu e

a o p p r e s s ã o . O conhecimento desta funesta ver­dade inspira uma furia permanente e tenaz, que

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jamais se vê nas guerras civis, artificiosamente emprendidas a favor de um partido, ou da ambi­ção de um homem.

Em quanto o reino ardia no fogo de uma per­seguição, que só póde comparar-se com as guerras religiosas dos albigenses, com os assassinios da ce­lebre noute de S. Bartholomeu em França, e car- nagens de Irlanda, quães sentimentos viam os portuguezes no rosto daquelle principe, a quem frades fanáticos e immoráes tinham a impudencia de chamar o e n v ia d o d o S e n h o r ? Que provas de mansidão, doçura e generosidade dava o homem, que na frase do devasso frei João de S. Boaventura entrara no Tejo por um milagre, havendo saido de Inglaterra com vento norte ? Aquelle para celebrar cuja chegada tinha o facinoroso B r a g a

em suas visões bachanâes enxergado no céo de Setuhal um côro de Anjos agarrados a uma corôa, no centro da qual o veridico pregador pôde 1er — M i g u e l — em letras maiusculas?

Nunca tão alegre e prasenteiro V . A. se offere- ceu aos seus criminosos amigos. As noticias das perseguições e desgraças, que lhe chegavam a to­das as horas, eram celebradas com estrepitosa ale­gria. V . A . recebia em suas audiencias gracio­samente os Osculos servis e abjectos de sens in­fames escravos ; e os via prostrados a sens pés, louvando a ferocidade com que procedia contra m a lh a d o s ; e sentia dentro em si táes arrobos de

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praser, que os olhos lhe scintilavam. Desgraçada da esposa, ou filha de algum preso, que ajoelhava em sua presença, implorando piedade. O Ceo ne­gou ao coração de V . A. este terno sentimento ; e as feições de seu vulto, alterando-se rapida­mente, apresentavam ás infelizes o rosto de um tigre. V . A. é o único tyranno de quem se não sabe uma só acçao generosa.

N o meio de tantas desgraças da nação e de tantos prazeres de V . A . foram escolhidos os di­plomáticos, para em algumas cortes da Europa sol- licitar o reconhecimento de tão bom rei.

P h ilo p œ m e n .

Da influencia^ e poder da opinião publica em todos oscorpos sociaes.

Que é a opinão publica ? É a geral e unanime con­cordancia de pensamentos e juizos, que todo um povo ou uma nação fazem sobre os diversos objectos, que in­teressam a sua felicidade. Quando pois muitos milhares de homens concordam neste ou aquelle ponto, e o tem por verdadeiro e necessário, ja não póde haver alguma dúvida de que estes desejos são geráes, e que mais cedo ou mais tarde se hãode realisar, porque todo o poder, e toda a força, se derivam da unanimidade das von­tades. E então neste caso a publica opinião uma ver­dadeira potencia, que nunca se deve olhar com indife-

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rença ; e oa governos, que sempre são mais fracos do que ella, a devem respeitar, dirigindo-a com pruden­cia para que delia não venham mais cedo ou mais tarde a ser ¡victimas necessárias. Póde ella na verdade ser temporariamente supprimida ou suffocada; porem será sempre impossível destrui-la ; e antes ganhará novo vigor, criando escondida fortíssimas raizes, que não está no ]̂ oder de alguém o fazer mutilar ou secar.

Depois das trevas moráes com que se cubriu a meia idade, appareceu uma grande luz, que por séculos tinha estado escondida. Descobriram-se muitos dos archivos do genero humano, que a ignorancia, filha da barbaridade, tinha conservado occultos ; e por uma das mais raras invenções do espirito humano, a descoberta da imprensa, forão estes archivos communicados a todos os homens não só do velho mundo, porem de outro novo descoberto, e de outras novas terras apenas só de nome conhecidas. Destas duas grandes revoluções, uma que por meio da navegação fez de todo o globo, por assim dizer, uma única familia, e outra que por meio da imprensa derramou uma luz geral sobre todo o globo, tivemos nós portuguezes, e os allemães a gloria de ser os instrumentos e os authores. Não podiam ja por consequência os homens de todos os paizes conser- var-se na me>ma ignorancia em que tinham estado até á epocha destas grandes descobertas : as luzes, mutua­mente communicadas de povo a povo, os novos the- souros historíeos recentemente publicados, e o natural desejo de indagar e de saber, acostumaram os povos a reflectir e a julgar. E desta reflexão, e deste juizo se foi creando, particularmente na Europa, essa potencia prodigiosa, que andando o tempo, se denominou opi­nião publica.

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Como mais próximos ao centro das luzes foram os povos europeos os primeiros que viram o que tinham sido, o que eram, e o que podiam e deviam ser. Pas­saram por conseguinte a indagar a origem dos póderes com que até ali haviam sido governados ; reflectiram nas causas, que faziam com que o seu estado social não fosse tão proveitoso como devia ser ; e por ultimo, lan­çando os olhos para o futuro, entraram a formar com­binações para melhorar a sua sorte política e civil. Dois grandes poderes governavam então a Europa, o poder religioso e o poder regio ; e ambos, é preciso francamente confessa-lo, tinham tamhem grandemente abusado da sua authoridade. A reflexão dos povos voltou-se priraeiramente para indagação dos títulos com que o poder religioso pretendia governar absoluta­mente o genero humano ; e era muito natural que esta indagação fosse a primeira ; porque um jugo estrangeiro sempre é mais diflicil de sofrer do que um domestico, por duro que este seja e diflicil de supportar. Nesta primeira contenda tiveram os povos por auxiliares, e alliados os reis, porque o poder religioso tinha che­gado a tal ponto de ambição de governar, que pretendia ter por vassallos os monarchas e os subditos ; e por isso aquellos tomaram parte na causa dos segundos, não por interesse delles, porem pelo seu proprio, para deste modo augmentarem a sua authoridade, e a tornarem indivisivel. A causa do sacerdocio, tendo contra si òs thronos e os povos, perdeu a demanda, e assim era na­tural que succedesse; mas o resultado foi que o poder, anniquilado em uma parte passou para a outra ; e o que o sacerdocio perdeu o reinado o ganhou. Não at- tentaram os povos naquelle momento sobre o excesso

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de authoridade de que os seus monarchas se quizeram revestir depois que trium pharam ; mas como estes ú lti­mos não o pudessem, ou não soubessem occultar, fácil foi aos prim eiros conhecer a sua nova situação política. A opposição, que até ali se tinha manifestado contra os excessos do poder de Rom a, começou por conseguinte a manifestar-se contra o poder regio ; porque este, não se contentando ja de ser feitura hum ana, quiz que o acreditassem de origem divina, e nesta qualidade ser obedecido : como tal prom ulgou seus decretos. Mas os hom ens pensan do ja m uito, como temos dito, no que haviam sido, no que eram , e no que podiam e de­viam ser, formaram essa unanimidade de pensam ento, e criaram em alguns paizes uma verdadeira opinião publica á cerca do seu estado politico. Se os governos olhassem m aduram ente para os progressos e força dessa opinião, certam ente mui longe de se oppôrem a ella de frente, a haviam de respeitar e procurar d irig ir com proveito do povo e do throno ; porem não o fizeram geralm ente assim : contaram com a sua força actual ; ju lgaram irreflectidam ente que ella era indestructivel ; e nesta especie de em briaguez de um poder suprem o abalaram a base de seus Ihronos, e a paz, e a sincera obediencia dos povos. Q ue males não causa a illusão, principalm ente em negocios tão graves ? Estes males bem depressa se vieram a sen tir em uma das maiores, e mais poderosas nações da E uropa.

Tem -se dito e escrito, não por convicção, mas por espirito de partido, que a revolução franceza fôra obra dos filósofos ou das sociedades occultas; com tudo hoje, q u e ja estamos bastantem ente longe dessa epocha para se poderem avaliar im parcialm ente os successos, deve-

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se dar a cada um o que é seu ; e expor a verdade para que 08 erros passados se não tornem a produzir, e sejam causa de novas desgraças. A quella catastrophe foi exclusivam ente obra do abuso do poder, da tenacidade em o não querer corrigir, e do absoluto despreso que se teve pela,publica opinião, que por mil formas, e por seu constante progresso mostrava q u e ja não podia re ­trog radar. Começou a form ar-se essa opinião na per­seguição religiosa com que se quizeram violentam ente forçar as consciências de uma grande parte da nação; augm entou-se com as guerras civis entre o parlam ento e a córte na m inoridade de Louis X IV .; fortificou-se no reinado glorioso deste monarcha, sob cujo regim e a publica dissolução correu parelhas com a enorm idade das despesas ; consolidou-se en tre as monstruosidades m oráes da regencia ; e desenvolveu-se en fim nos dois últim os reinados, onde nem os costumes foram m e­lhores, nem a adm inistração e uso do poder furam mais racionáveis. Verdade é que nestes últimos tem pos se escreveu em F rança tudo o que se podia dizer de mais positivo sobre a politica, e tudo quanto também se po­dia d izer de mais forte sobre a adm inistração, e os abusos de authoridade. E não eram todos esses factos verdadeiros, e por isso lidos ou ouvidos com avidez e cora geral approvação ; Sim por ce rto ; e a rasão era porque a opinião publica sobre a sua veracidade ja não podia ser mais geral. E ntão porque despresou o governo essa opinião, e porque sc não apossou delia em tempo para a d irig ir e m oderar ? Os filósofos dessa epocba não foram mais que os mostradores, e indicadores do espirito do seu século ; e a elles deveria o governo, se meditasse bem nos seus interesses, d ar grandes ag ra-

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rA Q U K ïK Dt; PURTUGAL.

«lecimcntos, em vrz de injtiria-los e peisegiii-los ; pois que por sua iuterveação via revelados os pensamentos do povo. Se os filósofos mentissem, e não fossem os verdadeiros interpretes da opinião publica, seriam ir­rem ediavelm ente apedrejados como falsos profetas : ponjue o povo os apanharia em m entira, e jam ais consentiria qoe lhe dissessem que elle estava mal, quando era feliz. Os verdadeiros revolucionarios são portanto os rnàus governos, que por teima, e por uma estulta presump^'âo nunca se corrigem , porque assen­tam que isto lhes fica mal. N inguém m ostrará na his­toria o exemplo de um povo, que se revolucionasse con­tra a authoridade que o governava, vivendo elle na paz e na abundancia.

N aepoclia lia explosão política o governo não teve ja nem força para a em baraçar, nem prudencia para a d irig ir ; e a consequência tbi que a reacção da liberdade fui tão violenta como havia sido a longa acção do poder absoluto. Mas isto mesmo era conforme com as leis da natureza, leis, que o governo devia ter conhecido, e procurado regular quando e ra ainda tem po. A opi­nião publica, qiie havia derribado o grande colosso da antiga monarchia, que parecia inabalavel, veio ainda confundir a ousadia tem eraria do homem prodigioso do nosso século, N apoleão, que ousou luctar com ella. E ste homem, filho da revolução, desviando-se do ca­minho delia, perdeu-se, e morreu. Assim tanto o reinado como o imperio tiveram íguáes destinos, por­que despresaram a opininião, esta grande potencia, que deviam respeitar.

A opinião publica europea, que tão altam ente ja se tem declarado pelos governos representativos, e que

VOL. I I I . 3 A

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■ m PAQUKTk DE PORTUGAl..

repulsa o poder absoluto, quer este se cubra com a toga republicana, quer com o m anto dos reis, adqui­riu um a nova força, quando ja cançada de todas as illusões imperiáes ; e quando a ella recorreram todos 08 gabinetes para dissipar estas mesmas illusões.

Foram faFeadas as mais bellas promessas ; e esta falta, bem longe de am ortecer a opinião antes muito pelo contrario a tem fortificado, e lhe tem feito ver a necessidade em que está de ser constante era to ­dos os seus revezes. N a exacta proporção em que os gabinetes teim am para contraria-la, a fim de ver se a pódeni suffocar, cresce ella, vigora, e se propaga ; porque é maxima velha que a perseguição faz o m ar­ty r, e o raartyrio estabelece irrevogavelm ente a dou­trina , e a fortifica. P ara dem onstrar esta verdade escusado é recorrer-m os a exemplos estranhos : em casa 08 temos nós mui claros e recentes. Podem os d i­zer que era P o rtu g a l nunca appareceram em polilica indicios de opinião publica antes da prim eira invasão franceza no anno de 1807. E n tão , logo depois desta epocha, em 1808, na expulsão dos franceses, se m a­nifestaram elles no Porto pela creaçãodo novo governo; porque ja ali houve quem pedisse e requeresse a con­vocação das antigas cortes do reino. Foram comtudo suífocadas estas vozes leáes ; e os indicadores desta idea tão Util, e que bastantes desgraças nos teria poupado, eram os honrados patriotas L u is Candido e M a riz , que por um desterro violento poderam apenas escapar ao cadafalso. No meio do estrondo das arm as, e entre as diversas dominações estrangeiras não pôde esta opi­nião manifestar-se por alguns annos ; mas nem por isto deixou cila de ir crescendo, e vigorando-se com o

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t«nipo Os excessos do poder absoluto, e a miseria e oppressao dom esticas, que delies resultavam , a fize­ram em fim rom per em 1820. Então bem claram ente se viu que ella era ja unanim e e geral ; porque tudo o que então se fez foi um a especie de festa civica, em que teve parte a um tempo todo o reino. T inha a opinião adquirido entre nós todo este vigor não só pelo muito que então se escrevia dentro e fòra de Portugal, mas pelas duras e asperas lições, que tinham os aprendido na escolla da adversidade e da oppressão, lições que nunca esquecem , e que mais cedo ou mais tarde sem pre fructificam : que muito fructificarain ainda de­pois prova-se pelo que passamos a d izer.

Antes do governo passar para o Brasil todo o ho­m em, que houvesse tido a tem eridade de fallar em con­vocação de curtes, certam ente teria sido considerado como criminoso de estado, ou réo de a lta traição. A inda em 1808, co m o ja dissemos, esta idea parecia grandem ente crim inosa: e que acontece em 1820? ÜS maiores inimigos até ali d a representação nacional eram ja os proprios que pugnavam pela convocação das cortes, chamadas de Lam ego ; e as queixas que fa­ziam contr i o system a de 1820 era por não ser exacta­mente conforme com aquellas velhas tradicções. Nos acontecimentos de 1823 era ja ta l a força da m esm a opinião, que o governo absoluto ju lgou prudente capi­tu lar com ella, fazendo promessas, que é verdade se não cum priram ; porem que ao menos mostram cora toda a evidencia, que então se conhecia não só a ex ­istencia, porem a força desta opinião, que se havia to r­nado firme e universal. Assim no curto espaço de 16 annos o governo, que antes severam ente puniria

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todo o individuo, que Ihc tallasse na necessidade de urna representação nacional, foi o inesino que publi­cam ente declarou ser necessário dar aos portuj^uezes instituições políticas, que estivessem em harmonía coin os governos representativos da E uropa. E porque fez elle isto'? P o r desejo de nos dar a liberdade? Não : foi simplesmente por ver os progressos que a opinião publica Ja tinha feito en tré nós, e ao mesmo tem po tem er os seus efleitos, se declaradam ente se- quizesse oppor a ella .

Os fortes motivos que obrigaram o governo a pro- m etter-nos uma carta constitucional no anno de 18‘23, foram seguram ente os mesmos, que induziram el rei D. Pedro IV . a cum prir o que seu [lae não tinha feito ; e esses fortes m otivos não foram outros senão o saber qual era a opinião publica, que dominava em Portugal, a q u e ja não era possível resistir sein perigo ou proxi­mo ou rem oto. A carta constitucional de 30 de abril de 1826 é portanto um tributo, que foi necessário pa­gar á opinião publica em Portugal ; e tornou-se para elle um a propriedade irrevogável como cum prim ento não só de antipas e solemnissimas promessas, mas como herança rei vindicada de seus antepassados. E sta propriedade, em consequência da feroz e insensata usurpação, que está assollando a nossa infeliz patria, ja está confirm ada não só cora o sanguet de muitas victi­mas illustres, que o derram aram heroicam ente por e 'la ; mas cora as prisões, com os desterros, com a em igração, e outros trabalhos infinitos de muitas mil victimas, que pela mesma causa tudo tem perdido, menos a sua honra e a sua fidelidade. Q uem pois h a ­verá ahi que nos ouse espoliar do codigo em que esta

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PAQUETE DE PORTUGAI,.

»a{viu(]a propriedade se acha regiglada, codigo, <)uc tem por sellos pendentes tanto sangue, tantas lagrim as, tantas privações, e tantos intbrtunios ? Não podemos crer que tal usurpação se medite de veras contra nós ; porque nenhum a violencia, ja pode m atar nossos di­reitos, nem destru ir o sagrado archivo em que elles estão depositados, que é o centro dos nossos corações. Aiem disto, a opinião publica seiá sem pre constante em os prom ulgar ; e ( onio esta não pode auniquilur-se, tanibena elles não podem ser esquecidos. Em um a palavra : a publica opinião, que por sua constancia fez rom que elles nos fossem restituidos, fará tam bém agora com que nos sejam consenados. As gaiantías da sua duração estão no muito e muito que temos pa­decido pela carta constitucional ; c assim depois de tanto padecer, quem liaxerà que Itie queira dar de mão? Ninguém, porque ninguém quer ser escravo.

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JoRNAES.

U m a publicação hebdom adaria, a única d ’en tre todos 08 papeis públicos de Ing la terra , que tem a honra de escrever a favor do pcr/wro Mig^uel todos os domingos successivam ente, procura apresen tar um parallelo en- treC uba, como deposito de arm am entos hespanhóes con­tra o M exico, e a T erceira, como ponto donde parlem expedicções contra o usurpador de P o rtu g a l.—Fortes nervos tem a estupidez ¡—Pois que nós ileciarám os ser do dever de Ing la te rra oppor-se a todos os ataques de Cuba contra Vem C ruz, ou qnaesquer outros portos mexicanos, ergo (d iz o m issionário de L isboa) deve­mos ob^tar a todos os arm am entos da Terceira contra

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l‘A«ÜETK DK PORTUÜAI..

Portugal.— Nâo deixamos de estim ar que esta questão se tocasse.

O argum ento que se faz para se não perm ittir que se aprestem expedicções nas illias hespanhollas contra o M exico tem dois fundamentos.

1°.— Porque reconhecêmos o Mexico estado sobe­rano e independente, do qual recebemos um ministro acreditado, e em cuja séde de governo reside ha muitos annos um m inistro inglez.

2 °. — Porque professando o systema da rigorosa neu­tralidade entre os governos do M exico e de H espanha; e vendo que o governo mexicano, para frustar a ten ta­tiva de qU'ilquer invasão hespanholla, tinha preparado um arm am ento naval e m ilitar contra Cuha.— Unico ponto donde ta l invasão podia recear-se.— nós (a G rãa B retanha) prohibim os expressam ente a saida do arm a­mento mexicano, e iutim ám os aquello governo que lhe não perm ittiriam os conquistar a ilha de Cuba. Daqui se segue, em conformidade com todos os principios de senso commum, integridade, e ju stiça que não deviamos perm ittir á ilha de Cuba contra o Mexico aquellas mesmas hostilidades, que ao Mexico prohibiramos con­tra Cuba. D’outra sorte a nossa neutralidade seria um a evidente fraude.

Porem aonde está a similhança entre isto e o caso de In g la te rra , P ortugal, e T erceira? O advogado de M iguel pretende que é do nosso dever d izer ao governo da T erceira.— Vós não haveis de invadir P ortugal— assim como não nega a obrigação que tinham os de d i­zer a Cuba— Vos não haveis de ir asstnfiorear-vos do terreno, que deixo u de ser A m erica líespanholla .— A isto respondemos.

SU)

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PAQUKTfc: DE POKTUGAt.

1 '.—Q ue Ing la terra nunca reconheceu M iguel por Koberano legitimo e independente, como reconheceu o Mexico por uina repuitlica independente; e que longe de m andar um em baixador inglez a Lisboa, retirou o que ali residia, desde o momento que se conheceu a pretenção de M iguel á coroa de P ortugal.

— Q ue Inglaterra tem actualm ente reconhecido D. M a r í a d a G l o r i a como legitim a R ainha de P o r­tugal, e recebeu uní ministro desta Princeza como tal.

—Q ue longe de haver-nos com M iguel da mesma sorte que nos houvemos com o Mexico, prohibindo-lhe que fosse acom rnetter a ilha Terceira, nós lhe perm itti- mos, sem a mais leve opposição, invadir esta ilha, en­tão guarnecida por tropas, e governada em nom e da princeza, q u e ja tinhanios reconhecido legitima sobe­rana de todos os dominios portuguezes ; isto é tanto de P o rtu g a l, donde saiu o arnmmeLto, como da T erceira, contra a qual elle se dirigiu.

4®.—Q u e havendo perm ittido que M iguel, tratado sem pre claram ente por nós como usurpador, atacasse as possessões insulares daquella a quem reconhecêramos rainha, seria o cumulo da iniquidade e da abominação o dizer á SOBERANA L e g i t i m a que não Jizesse uso da ilha Terceira i omo meio de derribar o usurpador.

A baixeza e cega loucura de sim ilhante principio é bastante para vedar que nem sequer os ministros nelle sonhem ; e certos estamos que no ) arlam ento não com­portaria um instante de discussão. (T im es 26 de A bril.)

“ E isaqui como o Tintes, hoje defensor do ministerio, com bate os sonhos polit cos A eJo h n B u li Asteca. Os nossos leitores poderão ver neste enérgico artigo muito

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3 72 PAQLETP, DE P URTUGAL.

niais do que elle litteralm ente signilica, e que dentro em pouco ainda mais claro se m anifestará. Sabemos que a embaixada enciiberla se acha em desalentó ; e taobem nao ignoramos a rasao delle. E ntretanto compadre M ulhias ha seis correios que espera pela am nistia, que diz te r aconselhado a ü . M iguel, cujo ministerio abraçou tão sabio parecer. E tarde com­padre M athias. O expediente que poderia ser útil até certo tem po, seria agora o meio mais efhcaz e breve para derribar o tyranno de quem o com padre tem a honra de ser escravo.”

As nossas cartas particulares de Lisboa, de 10 do corrente representam a capital e em verdade todo o paiz n’um estado de perfeita tranquillidade. Os op- poslos a D. M iguel e ao sen governo diminuem d iaria­m en te ; e nos temns inteira satisfação em que o princi­pal estorvo a um prompto ajuste dos termos propostos como base de um arranjam ento entre I n g l a t e r r a e P o r t u g a l (que tanto é paia desejar) é o tom, que o nosso governo julgou proprio adoptar nas negociações pendentes. Se a nossa política nos veda o dictar a urna nação a maxima porque deve goveri.ar-se, porque motivo a dictamos nos a um rei legitimo e escolhido pela nação ? Se nós queremos abandonar as vantagens que os subditos brilannicos gosani em Poi tugal sobre todos os outros estrangeiros, digam o-lo assim com fir­meza ; e se ha motivo para não reconhecer-mos o seu soberano, deixemos de gosar o seu favor e protecçâo. Mas em quanto nós possuirmos as vantagens que nos dão os antigos tratados, não devemos prescrever term os ao governo que nos dá estas vantagens, a que elle não

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pode acceder sem pôr em risco a sua propria s ^ u ra n ç a . Jo h n B u ll 25 de A b r il .)

“ Se os maus advogados perdem as boas causas, que fará quando elles querem sustentar as que não tem a l­gum fundam ento ju s to ? Como é que este m astim , que nos está abocanhando todos os domingos, diz que a n a ­ção portugueza escolhêra D. M iguel para seu rei, de­clarando-nos ao mesmo tem po que ta l rei não póde, sem arriscar a sua propria segurança, adherir aos termos {am nistia) que o governo inglez lhe propõe ?”

Camara dos communs 2S de Abril.

Acontecimento da Terceira.

De novo se fallou neste desgraçado successo em conse­quência da moção de Mr. Grant, o qual propoz que se decla­rasse haverem os soberanos da Europa reconhecido D. M aria legitima rainha de'Portugal, e ter ella sido recebi­da neste p a is por sua magestadé com todas as honras devidas á sua alta jerarchia— o que todavia se não ven­ceu; sem embargo do que, ninguém duvida que todos os soberanos da Europa reconhecem a S e n h o r a D. M a r ia II. como legitima Rainha de Fortugal.

Não temos espaço bastante para trasladar tudo o que se disse pro e contra a proposição, nem julgamos a materia de grande interesse ; porque tanto da parte de Mr. Grant como dos seus adversarios nada se ennunciou de novo sobre o as­sumpto, e só houve a reproducção das ideas e rasões, que diversas vezes hão sido tocadas.

Comtudo a luminosa falla de Sir James Makintosh con­têm argumentos novos e expostos com a força e clareza, que destinguem tão sabio orador ; por isso a transcrevemos.

S ir James M akintosh—Disse que elle considerava no­tável a proposição do douto e nobre cavalheiro ; tinha espe­rado porem ver citadas algumas authoridades para justificar o que elle reputava—acto de illegitima violencia.—Parecia que o douto e nobre cavalheiro aflfirmava que esse acto

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3Î4 PAQUETE DE PORTUGAL.

fora necessário, e estava justificado pela fraude praticada com o governo de sua inagestade. Mas n’isto (disse elle) ha um sophisma ; pois que desta sorte seriam justificadas todas as medidas, que se adoptassem contra um partido, admittindo-se que a fraude deve entrar em contemplação.

Tal não é porem a doutrina dos escritores, nem a do di­reito das gentes, nem a que se deriva dos casos julgados. A maxima dos juristas é, que podemos fazer guerra em o nosso proprio territorio, no do inimigo, e no territorio rmlliua, isto é no alto mar. Tal declaração exclue o territorio de uma potencia amiga. E’ esta a doutrina de Bynkershoek. To­das as paginas do direito das gentes condemnam as pre­sas feitas debaixo da artilharia da costa pærtencente a uma potencia amiga. A estes principios se havia replica­do com raciocinios vagos e abstractos; mas a similhantes argumentos não respondia elle (Sir James Makintosh) e se contentava de citar uma authondade respeitável não só nes­te paiz, mas ainda em todo o mundo, a de Lord Stowell, no bem conhecido caso de Flaydoyen.—Daclarou elle que não bastava ser a justiça da condemnação fundada sobre principios geráes ; mas que alguma cousa mais era necessá­rio : pois devia mostrar-se que o acto era conforme ao uso e practica das nações. A maior parte das leis das nações não tem outros fundamentos : os principios geráes, governam só até certo ponto, donde não é permittido passar avante. A’ vista disto pedia Sir James á camara que lhe dissesse se este caso se devia sentenciar pelos principios geráes e abs­tractos ; e accrescentou que não trocava o solido fundamento da authoridade de lord Stowell, por subtis raciocinios, e va­gas especulações, e pela vaidade de g^anhar por meio de um paradoxo a victoria contra o nobre e douto membro de Wootton-Bassett (M r. Tw ias.) Os publicistas reconhecem dois pontos nestas questões: regulam-se pela rasão e pelo uao das nações, segundo Bynkershoek. E ’ necessário na applicação das leis attendee não só ao seu espirito, mas tao- bem âs suas fôrmas. Declarou o orador que antes de sen­tar-se faria uma breve reflexão sobre o nosso compiortamento a respeito de Portugal, em tempos anteriores, relativamente a um caso annalogo.—Havendo em 1688 uma revolução naquelle reino,o nosso Carlos II nem quiz recebero embaixa­dor do usurpador, nem quiz reconhece-lo. Em uma carta de sirLinvel Jenkins, em 1690, doze annos depois, o rei deu a rasão porque recusára reconhecer D. Pedro II. Elle (Sir J. Makintosh) muito folg^ava de ver o grande resfieito que

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tínhamos a este exemplo ; e tão grande, que o homem a quem qualquer sociedade de pessoas de bem regeitaria com todas as suas espheras negras, ainda não fora admittido ao club dos reis (risadas); esse homem (continuou)a quem ne­nhum cavalheiro daria entrada em sua casa.— Porem contra D. Pedro II. não havia a accusação de parricidio, nem de rebellião ; e a Grãa Bretanha não animâra os partidistas de D. Affbnso, para depois os deixar perdidos. A questão era mui differente agora.—NSo havia accusação contra o usurpador do século 17 por ter alcançado a confiança pessoal do soberano da Grãa Bretanha, e praticar com elle uma das mais vergo­nhosas fraudes; nãoemfrios procedimentosdiplomaticos, nos quâes algumas vezes se tolera o engano, mas na comunicação pessoal, e confidencial amisade. Aquelle não procurou a amisade do rei de Inglaterra a fim de obter que este o fizes­se conduzir ao seu proprio paiz com um embaixador para affiançar o seu carácter, e garantir o seu credito pecuniario. O orador não queria (disse) fundar parte do seu argumento so­bre o carácter pessoal de D. Miguel, ainda que este aggravava mais o caso. A circumstancia de ser o usurpador um monstro, ainda que em si não equivalia a uma rasão nova, era aggra­vante neste caso.—O nobre lord opposto (Gower) disse que nem os nossos sentimentos, nem a condição dos refugia­dos nos deveriam servir de guia para julgar-mos á cerça da justiça do comportamento do governo.—Era todavia antigo proverbio de um agudo escriptor inglez que só era inimigo daraêàoaquelle de quem ella prim eiro se declarara in im i­ga : e elle (Sir. J. Makintosh)acreditava que o nobre lord não queria a rasão neste caso, porque a rasão lhe era desfavorável. Um hábil publicista neste paiz, que obteve grande influencia pelo a poyo que deu aos principios independentes do gover­no, disse que o negocio da Terceira se não devia considerar pelos fundamentos da lei das nações ; porque estes eram tão varios e flexiveis que bem podiam adaptar-se a todos os casos. E’ obvio que este escritor abandonou aqui a lei das nações, porque viu que o comportamento do governo se não podia defender por tal fundamento. Elle (Sir J. Makintosh) asseveraria sempre que o proceder do gover­no de sua magestade, a respeito da Terceira, constituía urna violação flagrante do direito das gentes.— {T im es 29 de abril.)

No D rapeau Blanc de 2 2 de abril se lê o seguinte ar­tigo. — Portugal Lisboa, 7 de Abril. — (correspondencia particular.) Escrevem da Terceira que os habitantes desta

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cidade não se admiraram de não ver o general Saldanha entre os membros da Regencia, que acaba de ser estabele­cida neste único retiro da princeza do Grão Pará. Elles bem sabem, que em consequência da desintelligencia que ha entre Saldanha e Palmella, o primeiro preferiria reconhecer D. Miguel como rei de Portugal do que a Palmella, como re­gente da princeza. Também á vista das cartas dos liberáes daquella Ilha, sabemos que Saldanha continua a residir em Orleans, em França; e a actividade, que este homem mos­trou no tempo dos negocios do Porto não cooperará para livrar-nos dos embaraços em que nos achamos. As mesmas cartas accrescentam que muitos portuguezes emigrados em França e em Inglaterra tem a opinião de Saldanha a res­peito do marquez de Palmella. Parece também que os ha­bitantes da Ilha se limitam a desejar que D. Pedro recon­cilie estes dois homens, e os reúna na Terceira. Pelo que respeita a fornecer-lhes meios para fazer guerra a Portugal, elles não ignoram que S. M. 1. não tem dinheiro, nem in­tenção de armar-se contça Portugal. Assim os rebeldes da Terceira farão a guerra com seus proprios recursos.

Sua excellencia o conde de Basto acha-se restabelecido. H a presentemente o mais activo commercio entre Portugal e Brasil. Não ha um só dia em que não saia do Tejo para o Brasil, ou chegue do Brasil a Lisboa algum navio mercante.

Ü general D. Alvaro da Costa deve em breve deixar a nossa capital para ir ao novo posto de commandante em chefe das tropas da ilha da Madeira, &*.”

“ Em todo este artigo ha uma única verdade—a partida do malvado D. Alvaro da Costa, que foi substituir o barbaro ladrão José M aria Monteiro na ilha da Madeira.

E posto que os servilissimos redactores do D rapeau in- stitulem correspondencia de Lisboa esta entiada de despro­pósitos, muito nos inclinamos a crer que tal correspondencia não veio de fora de Paris, aonde ha quem tome similhantes tarefas por desinteressada devoção. Entretanto essas des- intelligencias, que tanto cuidado dão ao jornalista, quando as houvesse, não empeceriam nem ao progresso, nem á victo­ria da justa causa da Rainha. Se alguém com as reflexões, que deixamos transcritas, se deve dar por oflendido é sem duvida o general Saldanha. Os emigrados em geral todos reconhecem a legitimidade da Regencia estabelecida na Terceira; e temos justos motivos de esperar que breve tao- bem a reconheçam os governos da Europa. E ' provável que aquelle general declare que não são seus os sentimen­tos, que no artigo se lhe attribuem. Como quer que venha

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a succéder, não existe entre os emigrados o menor partido contra a Regencia, cuja authoridade e legalidade ainda não foi objecto de questão.

Pelo que respeita aos recursos necessários para debellar o usurpador, tão longe estão de fallecer-nos, que, segundo todas as noticias últimamente recebidas do Rio de Janeiro, podemsb contar com elles ba muito no poder de S. M o Im­perador, que teve a maior sollicitude em busca-los e obte-los.

Os inimigos claros e occultos da nossa causa pretendem pôr-lhe tropeços por tão ridiculos meios, os únicos q ueja lhes restam, depois de perdidos todos os de que ao principio dispuseram !

Oh curas hominum, oh quantum est in rebus inane !”

IL H A T E R C E IR A .

Recebemos noticias da Terceira, que chegam até 1 0 do mez antecedente. Um fortissimo temporal atlastára da vista daquellas praias as embarcações do bloqueio de D. Miguel ; porem os navios, que se achavam anchorados, não receberam damno algum. Tinha entrado o navio Falcão levando tro­pas.

Os annos de sua Magestade a R a i n h a foram festejados com toda a solemnidade e pompa, havendo T e D eum , lumi­narias, bailes,

£stabeleceram-se por ordem do governo aulas de Mathe- matica.

Ha na ilha tres theatres de curiosos, que nelles repre­sentam.

Toda a nação tem padecido com o flagelo da usurpação : a ilha Terceira é a única parte dos dominios portuguezes, que tira deste mal incalculável proveito, assim em riqueza como em civilisação.Repartição do A jutanle General em 29 de Março de 1830.

Ordem do dia.Sua Excellencia o sñr. marechal de campo. Conde de

Villa-Flor, comandante das forças nesta ilha determina que as mesmas forças tenhão a seguinte organisação—

1 °.—Os regimentos de infantaria N. 18. e o provisorio, os batalhões dos caçadores N. 2 , 5, e 12, e o batalhão de vo­luntarios da Senhora D. Maria II*. formarão duas brigadas— A primeira serâ composta do regimento N. 18., e batalhões N. 5 e de voluntarios da senhora D. Maria II., e a segunda brigada dos batalhões de caçadores N. 2 . e 12, e regimento provisorio de infantaria.

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378 PAQUt;TR DE PORTUGAL.

A brigada d’artilharia volante, guarnecida pelas compa­nhias de artilheiros académicos, e de conductores ficará in­dependente do batalhào d’artilharia de linha.

O batalhão d’artilharia de linha e companhias de sapa­dores, que lhe estão unidas, a companhia de cavallaria, os batalhões de milicias, as companhias de voluntários de Angra, e as companhias de artilheiros da Costa conservarão a sua presente organisação.

2*.—Em consequência da referida organisação, e em exe­cução do decreto de 19 do corrente mez, que desonera do commando da força armada o snr. coronel Antonio Pedro de Britto, sua Excellencia manda declarar o seguinte.

Commandante da primeira brigada o sHr. brigadeiro Conde d’Alva, e major desta brigada, o capitão de caçadores Florencio José da Silva.

Commandante da segunda brigada osñr. coronel Antonio Pedro de Britto, e major desta brigada o capitão de Caça­dores Manoel Alexandre Travassos.

Commandante da brigada d’artilharia volante o primeiro tenente do regimento d’artilharia N. 3, e commandante da companhia de artilheiros académicos, Jose Maria Baldy.

Commandante militar da cidade d’Angra, ficando dispen­sado do commando das companhias de voluntarios d’Angra, e de Portugal, o sKr. coronel Pedro de Sousa Canavarro.

Continúa no mesmo exercicio, que actualmente tem do major da Praça, o major de cavalaria Mattheus Caldeira.

Para ter o exercicio de ajudante da Praça o tenente aju­dante do regimento de infantaria N. 9. Joaquim Thomé.

Commandante das companhias de voluntarios d’Angra e de Portugal, o major de voluntarios de Vianna do Minho, Domingos Mendes Ribeiro.

Mendes, Major.

Repartição do A judante General em 2 de Abril de 1830.Ordem do dia.

Sua Excellencia o sKr. marechal de campo Conde Villa- Flor, commandante das forças n’esta ilha, manda declarar.

1°.—Por decreto do 1°. do corrente— Reformado na forma da lei, o 1*. tenente do batalhão d’artilharia d’Angra, José Joaquim Homem da Costa Noronha.

2°.—Que aos senhores commandantes das brigadas de In­fantaria, e aos majores das mesmas brigadas devem ser abo­nadas, ficando porem em divida, as gratificações, que por lei lhes competem.

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PAQUETE DE PORTUGAL. 379

3*.—Que no (lia 3 do corrente, se hade pagar o prêt ven­cido desde 16, até 28 do mez passado.

4".—O mesmo Exc”’". sñr. manda transcrever nesta ordem o seguinte decreto : (' V eja-se em o N. 36, pag. 346 o decreto que estabelece o Conselho de Guerra e de Justina .)

Mendes, Major.

Repartição do A judante General em 3 de abril de 1830.Ordem do dia.

Sua Excellencia o sñr marechal de campo Conde de Villa-Flor, commandante das forças n’esta ilha, manda publicar a seguinte.

Portaria.Ill""’, e Exc”°. sñr. Podendo tño somente circumstancias

extraordinarias, e o eminente perigo da causa publica, que felizmente não existem na actualidade, authorisar momen­taneamente medidas extraordinarias de precaução, não pres- scriptas na lei ; Ha por bem a Regencia em nome da Rai­nha, que V. Ex"'“. passe as necessarias ordens aos comman­dantes dos destrictos, destacamentos, e mais authoridades e individuos militares desta guarnição, para que não proce- dão a prisão de paisano algum, sem que preceda ordem da authoridade competente ; salvo daquelles que forem encon­trados em flagrante delicto. O que de ordem da mesma Re­gencia communico a V.Ex'“. para sua intelligenciae execu­ção. Deus guarde a V. Ex“'". Palacio do governo em Angra 3 de Abril de 1830.—111”". e Ex""*. Sñr. Conde de Villa- Flor—Luiz da Silva Mouzinho de Albuquerque.

Mendes, Major.

Decreto.A Regencia em nome da Rainha, desejando chamar ás

fileiras por meios de brandura alguns soldados, que a inex­periencia, ou a seducção possão ter arrastado ao crime de primeira deserção : Ha por bem perdoar toda a pena aos de­sertores de primeira deserção, que ainda se não acharem cum­prindo sentença, e a todos aquellos, que se appresentarem nos seus respectivos corpos no decurso de trinta dias conta­dos do dia quatro do corrente, anniversario do nascimento de Sua Magestade Fidelissima a Senhora D. Ma RIA II. ; e 06 que se não appresentarem n’este praso, serão processados, e punidos, com todo o rigor das leis militares. O Ministro e Secretario d’Estado assim o tenha entendido, e passe as

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ordens neœssarias para a sua execução. Palacio do Governo em Angra em tres de Abril de mil oito centos e trinta.

M arquez de Palmella— Conde de Villa-F lor—José Antonio Guerreiro.

L u iz da Silva Mouzinho de Albuquerque.

380 PAQUETE DE PORTUGAL.

Doença de Sua Magestade Jorge IV.O bulletim e a indefinida transferencia do Levee sSo as­

sustadores. Porque rasSo se nào communica ao publico al­guma noticia exacta da molestia do Rei ? Todos perguntam cheios de anxiedade qual é a doença do monarcha ? E o bulletim não responde.

Uma nação leal tem direito a melhores informações. A falta de noticias authenticas produz o geral receio (praza ao Ceo que se elle nSo verifique) de que o reinado de Jorge IV. caminha rapidamente ao seu fim. (T im e s 29 de A bril).

No Times de 3 do corrente vem o seguinte bulletim ;— Windsor Castle, 2 de maio.

Os symptomas da molestia de sua Magestade não tem feito mudança. E l Rei passou outra má noute.

H enry H alford— Matthew John Tierney.

N. B. No decreto de 27 de março pelo qual a Regencia do reino de Portugal e Algarves, &*. em nome de Sua Ma­gestade a Rainha, nomeou os membros, que deviam compor a jun ta de justiça, esqueceu mencionare bacharel Francisco de Magalhães Coutinho, que serve de auditor da guarnição da ilha— Veja-se o Paquete N . Zb— pag—316.

O N°. X X X IX . do Paquete de Portugal., que hade publicar-se no dia 18 do corrente m ez de maio, é o ultimo do terceiro trim estre deste sem anario. Os senhores subscriptores de fora de Londres, que quizerem continuar as suaS assinaturas, e não sofrer interrupção na rem essa dos num eros, terão a bondade de m andar em bolsar o redactor da im portancia da subscripção, que é como em a nota seguinte se declara.

N. B. Na imprensa se tomam os nomes das pessoas que quiserem subscrever para este Semanario—13 .sh. realisados em Londres por tri­mestre.Impresso por T hompson, na Offieina Portuguesa, 19, Great St. Helens.

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