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Morfologia Cadernos estudos da cidade portuguesa O Tempo e a Forma

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Morfologia

Cadernos

estudos da cidade portuguesa

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O diacronismo do Tecido

Os 100 anos do quarteirão do Monumental

“ (…) a história vista como a ‘vontade de fazer’ orientou a acção huma-na, no aqui e no agora. (…) ”|1|

Jean Castex

1. A evolução do tecido construído

É consensual o reconhecimento de que os ambientes mais ricos da cidade são também os mais antigos. Porém, a qualidade do tecido construí-do não reside necessariamente na sua longevidade, mas sobretudo no facto de incorporar informação sucessiva ao longo do tempo.

As manifestações de mudança na forma da cidade são muito va-riadas, algumas estruturais e facilmente identificáveis e outras menos radicais, apenas visíveis para olhos educados ou através de uma leitura mais minuciosa do tecido ao longo do tempo. A cidade de que falamos não é mais do que a condensação da sua história, das diferentes e sucessivas fases de crescimen-to do tecido num processo que é lento mas permanente. Basta pensarmos que a formação inicial da cidade decorre da evolução de uma estrutura rural para uma configuração urbana e que o seu crescimento surge de uma forma progressiva e segue uma tendência gradual de transformação.

Este processo dinâmico de produção urbana manifesta-se na per-manente evolução da forma e organização do tecido num claro esforço de adequação, com transformações e permanências, que caracteriza o espaço e a arquitectura que constrói a cidade. Significa que a explicação da forma construída parte do confronto entre a necessidade de acomodação de novos espaços e edificado e, ao mesmo tempo, de preservação da tradição urbana e arquitectónica existente, legível e compreensível pela sociedade que dela faz uso, cuja forma é sempre o momento mais recente da sua história.

|1| CASTEX (2010), p. 9.

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Rui JustoArquitecto; mestre em Arquitectura com especialização em Gestão urbanística pela Faculdade de Arquitectura da universidade Técnica de Lisboa; doutorando em urbanismo com o tema de dissertação “O quarteirão na cidade de Lisboa: da forma ao tipo”; bolseiro no grupo de investigação FORmA uRbIS Lab.

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a par das grandes praças viárias, a concordância dos diferentes traçados urba-nos. Apesar da sua já reconhecida importância histórica e compositiva, estas ruas acabaram por perder força no sistema viário de distribuição da cidade e na própria hierarquização dos espaços públicos destes novos tecidos.

Recuperando algumas das considerações com que iniciámos esta aproximação às Avenidas podemos agora, com maior clareza, considerar que os pressupostos de traçado que levaram à elaboração do Plano podem, na verdade, ser lidos na sua materialização urbana actual, tendo resistido na sua essência ao processo gradual de transformação da cidade. Ainda assim, e repondo alguma verdade ao que foi dito, é possível encontrar no traçado manifestações cirúrgicas de mudança que uma leitura mais apressada pode

|fig.3.1| A estrutura urbana das Avenidas, Lisboa. Escala 1:30.000.a. Nova malha ortogonal sobre as preexistências urbanas. b. Traçado urbano com a localização do quarteirão do Monumental.c. Tecido urbano.

a. b. c.

ocultar, mas que são determinantes na construção e desenvolvimento das vivências locais. Esta é, aliás, uma característica que vai ao encontro da excep-cionalidade do quarteirão do Monumental.

Contudo, se considerarmos os elementos essenciais de composição do tecido das Avenidas, facilmente percebemos que estamos perante uma so-lução com duas abordagens opostas, dado o grande cuidado e detalhe atribuí-do ao projecto de espaço público – traçado hierarquizado, infraestruturação, equipamentos urbanos e arborização – e alguma indefinição no que respeita à forma do espaço privado, situação que tem merecido algum debate|4|.

|4| Muitas das operações de expansão das cidades europeias do século XIX compreendiam princípios normativos para a edif icação, ao contrário das Avenidas.

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|fig.3.2| A evolução do quarteirão do Monumental, Lisboa. Escala 1:5.000.a. Meados do século XIX. Sobreposição da malha do plano das avenidas à estrutura preexistente.b. Final do século XIX/ príncipio do século XX.

c. Meados do século XX.d. Início do século XXI.

b. d.

a. c.