o que É o budismo

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O QUE É O BUDISMO ENTREVISTA: 1ª verdade: Estar vivo é estar sujeito ao sofrimento. Implica em sofrer. A insatisfação e a frustração nos acompanham toda vida. À saúde segue-se a doença, à juventude segue-se a velhice, à vida segue-se a morte. Estar unido ao que se detesta é sofrimento. Separar-se do que se ama é sofrimento. Não se obter o que se deseja é sofrimento. Então o Buda vai diferenciar 3 tipos de sofrimento: 1 - o sofrimento físico, sofrimento do parto, de cair, de ficar doente, morrer 2 - sofrimento psicológico, que é causado pela impermanência associada a um apego. Isso vai desde nossas emoções mais sutis ao fato de quando vivenciamos algo bom e ficamos tentando repetir esse momento, mas não nos damos conta que cada momento é único, e assim nos frustramos. Quando nos apegamos a alguém e desejamos que esse alguém esteja sempre conosco, mas ao nos darmos conta que as coisas são impermanentes sofremos. 3 - o terceiro tipo de sofrimento é o mais difícil de explicar. Digamos que é um 'sofrimento da alma'. É um sofrimento decorrente de nossa condição de ignorância da realidade, da verdade última e de nossa própria natureza. Vemos nosso 'eu' como algo independente, auto-existente,

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Espiritualidade

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O QUE O BUDISMO

O QUE O BUDISMO

ENTREVISTA:

1 verdade:

Estar vivo estar sujeito ao sofrimento. Implica em sofrer.

A insatisfao e a frustrao nos acompanham toda vida. sade segue-se a doena, juventude segue-se a velhice, vida segue-se a morte. Estar unido ao que se detesta sofrimento. Separar-se do que se ama sofrimento. No se obter o que se deseja sofrimento.

Ento o Buda vai diferenciar 3 tipos de sofrimento:

1 - o sofrimento fsico, sofrimento do parto, de cair, de ficar doente, morrer

2 - sofrimento psicolgico, que causado pela impermanncia associada a um apego. Isso vai desde nossas emoes mais sutis ao fato de quando vivenciamos algo bom e ficamos tentando repetir esse momento, mas no nos damos conta que cada momento nico, e assim nos frustramos. Quando nos apegamos a algum e desejamos que esse algum esteja sempre conosco, mas ao nos darmos conta que as coisas so impermanentes sofremos.

3 - o terceiro tipo de sofrimento o mais difcil de explicar. Digamos que um 'sofrimento da alma'. um sofrimento decorrente de nossa condio de ignorncia da realidade, da verdade ltima e de nossa prpria natureza. Vemos nosso 'eu' como algo independente, auto-existente, inerente, separado... e dividimos as outras pessoas e as coisas do mundo e essa falta de percepo da unicidade entre todos os seres e todas as coisas, da interdependncia, de nos acharmos separados, gera um sofrimento residual no 'SER' da pessoa.

2 verdade:

H uma causa para todo esse sofrimento, h uma raiz

A causa para o sofrimento chamada de AVIDYA que literalmente traduzido do snscrito significa 'no viso'. Avidya o que comentei no 3 tipo de sofrimento. uma ignorncia quanto a realidade do eu e dos fenmenos que nos mantm apegados a uma personalidade que acreditamos ser independente e auto-existente e nos aparta da vivncia da realidade e faz com que desejemos as coisas e nutramos apegos e tambm tenhamos averso. E tambm faz com que no vivamos plenamente despertos, assim desenvolvemos vcios, defeitos, perturbaes (decorrentes dessa viso errada e apegada sobre nosso eu).

A insatisfao e o sofrimento so o resultado do desejo e da cobia, que no podem ser plenamente realizados. A maioria das pessoas incapaz de aceitar o mundo como porque levada a buscar sempre o agradvel e fugir do negativo e doloroso. O anseio e o desejo sempre criam uma estrutura mental instvel, no qual o presente, nunca satisfatrio. O desejo nunca se sacia, a sede nunca se apaga, a fome nunca se satisfaz. Quanto mais intenso for o desejo, mais intensa ser a insatisfao ao saber que tal realizao no ir durar.

3 verdade:

possvel cortar a raiz do sofrimento. Eliminar a causa da dor.

4 verdade:

H um caminho para essa cessao do sofrimento

Esse caminho chamado de caminho ctuplo

- reta compreenso

- reto entendimento

- reta palavra

- reta ao

- reto meio de vida

- reta energia/entusiasmo

- reta ateno

- reta contemplao.

no vou me aprofundar em cada um deles, mas d muito pano para manga. Por exemplo, reto entendimento, buscar conhecer as coisas, se informar, discernir. Reta compreenso dar vazo para nossa intuio, de modo que no sejamos guiados por concepes erradas. Reta palavra no agredir com a linguagem, falar apenas palavras verdadeiras e necessrias. Usar a linguagem de maneira reta. Reto meio de vida no buscar se sustentar com coisas que gerem sofrimento a outros seres, como por exemplo ser um poltico corrupto.

Como trabalhar para a industria armamentista. Trabalhar para empresas farmacuticas que abusam de seres humanos (como no filme o jardineiro fiel). Trabalhar num abatedouro matando animais e causando dor... buscar uma profisso que gere benefcios para a humanidade, e no fira ningum.

Reto entusiasmo saber direcionar nossa energia e us-la para aes corretas. Se entusiasmar com coisas boas, como um projeto social. Ao invs de futilidades reta contemplao buscar o mergulho interior, o silencio da meditao e buscar conhecer a si mesmo e despertar sua luz interior e no deixa dominar-se pela mente e seus pensamentos mundanos.

- 'O sofrimento para ser plenamente conhecido.

A fonte do sofrimento para ser eliminada.

A cessao do sofrimento para ser vivenciada diretamente.

A senda que conduz cessao do sofrimento para ser cultivada'.

(Lalitavistara Sutra) .

- A libertao do sofrimento e a iluminao no algo instantneo. algo a ser cultivado. Uma escada para subir, uma senda a ser trilhada. Uma evoluo.

- h grandes espritos de luz que esto nos ltimos degraus dessa escada que auxiliam a humanidade a encontrar o caminho. Esses grandes mestres so chamados de Arhats e Bodhisatvas, so os mais elevados discpulos do Buda e j possuem autodomnio e no so mais apegados ao mundo e no sofrem com coisas grosseiras.

- Tudo impermanente. O budismo vai dizer o mesmo que o filsofo pr-socrtico Herclito. Nunca colocamos o p no mesmo rio, pois nunca o mesmo rio, nem a mesma gua. Tudo muda, tudo passa.

O que a lei do Karma?

- A Lei do Karma algo fundamental no budismo. Talvez seja um pouco diferente da viso esprita, mas a mesma idia. Colhemos o que plantamos. Somos responsveis por nossas aes. Geramos karma meritrio/positivo e negativo,algumas passagens ilustrativas sobre a idia de karma no budismo:

"Tudo o que somos hoje resultado do que temos pensado. Se um homem fala ou age com uma mente impura, o sofrimento o acompanha to de perto como a roda segue a pata do boi que puxa o carro."

"O insensato, que age de modo errneo, sofre neste mundo e no seguinte. Em ambos ele se aflige e se lamenta ao recolher os maus resultados de suas aes impuras."

"No te amofines contra o karma, nem contra as imutveis Leis da Natureza. Ajuda a Natureza e coopera com ela e a Natureza ter-te- por um de seus criadores e se te tornar obediente."

"Semeia aes bondosas e colhers os seus frutos. A inao num ato de misericrdia se converte em ao num pecado mortal. Assim diz o Sbio: Querers abster-te da ao? No assim que tua alma obter sua libertao. Para alcanar o Nirvana mister alcanar o autoconhecimento, e o autoconhecimento filho de atos amorosos."

"Se queres colher doce paz e descanso, Discpulo, semeia com sementes de mrito os campos de futuras colheitas. Aceita as dores do nascimento. "

"Aprende que nenhum esforo, por mnimo que seja tanto na direo certa como na errada , pode desvanecer-se no mundo das causas.

... Uma palavra brusca proferida em vidas passadas no se perde, mas renasce sempre. A pimenteira no produz rosas, nem a argntea estrela do jasmim se torna espinho ou cardo.

Podes criar 'hoje' tuas oportunidades de 'amanh'.

Na 'Grande Jornada', as causas semeadas cada hora produzem, cada qual sua colheita de efeitos, porque uma rgida justia governa o mundo. Com o potente impulso de sua ao infalvel, ela traz aos mortais vidas de felicidades ou aflies, que so a prognie krmica de todos os seus anteriores pensamentos e atos".

Anima-te e contenta-te com a sorte. Tal o teu karma, o karma do ciclo de teus nascimentos, o destino daqueles que, em sua dor e tristeza, nascem simultaneamente contigo, regozijam-se e choram de vida em vida, encadeados a tuas aes anteriores.

Segue a roda da vida; segue a roda do dever para com a raa e a famlia, o amigo e o inimigo, e imuniza tua mente aos prazeres e dor. Esgota a lei da retribuio krmica. ."

"As tendncias que as pessoas apresentam desde a infncia so resultado do karma. Apesar de serem criados de uma mesma maneira, apresentam caractersticas diferentes devido natureza de seus karmas. "As vidas passadas produzem tendncias inatas." As aes anteriores influiro nas condies de nascimento e de vida da pessoa. Cada uma de nossas aes um elo na cadeia do 'samsara', que no tem comeo, entretanto pode ter fim.

"Para compreender esta cadeia, necessrio entender a relao entre mente e corpo. A mente como um rio que passa por pases diferentes (corpos). Um rio toma diferentes nomes (formas) conforme os diferentes pases. Desta maneira a mente segue, carregando o karma acumulado com ela. Quando morre um ser, o corpo deteriora-se e a mente continua em outra forma de corpo," tomando outro veculo de acordo com o tipo de karma que acumulou."

"mente" para os budistas no se limita a mente intelectual conceitual. um problema de traduo. Se refere mente pura, a mente inata a todos os seres, a mente que eles chamam de 'clara luz'. Podemos fazer um paralelo com "alma".

Os 5 agregados que constituem o eu?

para o budismo o eu como um "carro". O carro feito de rodas, motor, fuselagem etc... as rodas sozinhas no so o carro... o eu um composto de agregados que corretamente correlacionados nos do uma noo de sermos um eu, um individuo:

O "EU" e os agregados (skandhas).

Rupa (forma, imagem, corpo fsico, figura).

Vedana (sensaes, sentimentos, os sentidos).

Samja (discriminaes, percepo diferencial, conceituao mental).

Samskaras (tendncias, impulsos, memria, tendncias krmicas trazidas de outras vidas).

Vijana (conscincia particularizada, autopercepo, conscincia de ser um eu)

Bem, um tema muito complexo, apenas para dar uma idia a vocs os trs tipos de ao: Toda ao gera um karma, as aes podem ser fsicas, da linguagem (falada/escrita) ou do pensamento. Para o budismo pensar tambm uma forma de agir, ao desejar o mal a algum, forma-se uma conseqncia krmica negativa, pois os pensamentos tomam forma e alteram nosso ser.

o samsara, o renascimento e os elos da originao dependente segundo o budismo ns estamos presos no samsara.Isto , devido a nossos defeitos, vcios e contaminaes e nossa ignorncia raiz e principalmente o APEGO ns somos compelidos a nascer e renascer obrigatoriamente cada vez que morremos pois no temos domnio prprio. Somos arremessados no 'samsara'.

Samsara designa esse estado de estar preso ao nascimento compulsrio no mundo. Um Buda (ou um Jesus ou outro grande mestre) pode OPTAR por nascer para ajudar a humanidade, porm ns somos vitimas de nossas prprias circunstncias. O samsara feito de elos interdependentes que so os mecanismos que aqui nos prendem. esses elos (os 12 nidanas) so basicamente: a ignorncia que nos faz ter aes contaminadas que geram karmas, esses karmas nos prendem a um renascimento obrigatrio. esse renascer nos d um corpo, e o corpo entra em contato com o mundo atravs dos sentidos, gerando sensaes, dessas sensaes surgem o desejo e o apego e do apego contaminado pela ignorncia surge mais renascimento , envelhecimento e morte. basicamente isso.

O que BUDA?

Deve ficar claro que Buda no um nome prprio, um titulo, um estado de conscincia. Significa iluminao. Existe um estado de conscincia iluminada que todos ns podemos atingir. Uma energia "bdica". Sidharta no foi o primeiro Buda nem o ultimo.

Guru: no budismo a figura do mestre, do guru, bastante forte. No em um sentido de bengala ou idolatria, mas de algum que sabe mais e nos auxilia em nosso caminhar.em algumas prticas de meditao, visualizamos o guru como sendo uma emanao do prprio Buda, assim nos aproximamos mais da energia de um Buda e ao mesmo temo geramos energia positiva para que o guru se aproxime cada vez mais do estado de iluminao.

conceitos bsicos do budismo:

kleshas - as perturbaes mentais:

para o budismo existem seis venenos bsicos que nos fazem sofrer e que devem ser eliminados a raiz do sofrimento, a raiz de todos eles:

1 - a ignorncia que no percebe a realidade do eu e dos fenmenos

2 - o apego ou desejo

3 - a averso

4 - o orgulho

5 - a duvida vacilante

6 - as vises errneas

Paramitas - as 6 virtudes perfeitas:

1 - a generosidade (no doar apenas materialmente, mas doar energia, doar ensinamento, dedicar sua vida a algo para um bem maior)

2 - pacincia (paciente mas no passivo)

3 - harmonia nas aes, ser tico

4 - perseverana entusistica

5- contemplao, meditao

6 - sabedoria.

Ao desenvolver essas virtudes o caminhante sobe degraus na senda para a iluminao

Os trs principais aspectos da Senda para a iluminao para tornar-se um Buda e libertar-se do sofrimento 3 coisas so essenciais:

- Compaixo. Compaixo plena, profunda e verdadeira. Por todos os seres sencientes, por todo o planeta. Ver a todos no s como irmos, mas como parte de ns mesmos, pois compreendemos a independncia.

- Sabedoria. Sabedoria que compreende essa independncia, essa falta de separatividade das coisas, percebe a realidade tal como ela e assim naturalmente tambm faz surgir simultaneamente (e vice versa) a compaixo.

- Desapego. Desapego no abandonar nossos entes queridos nem nossos objetos pessoais, mas mudar o modo como nos relacionamos a eles. amando plenamente sem apegos, percebendo a impermanncia. O apego uma atitude mental, uma pessoa muito pobre pode ser muito apegada a algo, enquanto algum que tem muitos bens pode se relacionar de maneira mais saudvel com eles por exemplo.

Conceitos bsicos do budismo?

A realidade - paramarthasatya e samvritisatya

Para o budismo existe uma realidade ultima, suprema, em que nos libertamos de conceituaes e vemos todas as coisas tais quais so

e existe uma realidade relativa, uma realidade aparente, que necessria para que vivamos no mundo.

um dos temas mais complicados dentro do budismo, muito profundo filosoficamente. Lembra bastante as questes que tem sido colocadas pela fsica quntica e essas outras idias modernas que tem surgido. Varias idias do filme 'quem somos ns' se assemelham muito com a viso budista do mundo.

Meditao:

A meditao muito importante. O propsito dela no se isolar, mas nos tornar pessoas melhores. E sendo melhores, podemos ser melhores exemplos e melhorar o ambiente em que vivemos atravs de nossa vibrao positiva. A meditao tem vrios nveis

a principio um de seus propsitos cessar as ondas, o movimento agitado da mente conceitual, dar espao para a mente pura, a mente iluminada, o ser de luz que vibra dentro de ns, manifestar-se no silencio. Meditao autoconhecimento, e aprender a reconhecer nossas emoes, tomar as rdeas de nossa mente ao invs de deixar que ela e nossos impulsos dominem nosso dia a dia. Meditar fortalecer as virtudes, dar espao para a 'voz do silencio'.

quando o praticante finalmente atinge um estado de paz interior que cessam os movimentos do pensamento isso chamado 'shamata'

tendo atingido esse estado o praticante pode mergulhar mais profundamente em seu ser e buscar resposta para suas questes existenciais que estas viro da maneira de um profundo insight

Bem, esses so alguns dos conceitos bsicos do budismo Me desculpo se me alonguei demais, tentei ser breve, mas cada um desses temas d um livro inteiro. Esses conceitos aparecem nas mais diferentes linhas do budismo. Mas.devo ter esquecido de algum espero que sejam o suficiente para dar uma boa noo.

Haviam muitas profecias anteriores encarnao de Sidarta que lhe indicavam o nascimento e a vida. possvel saber qual a posio dele diante destas profecias?

No sei se haviam profecias anteriores a Sidharta. O que se sabe que quando um grande mestre da luz vai nascer, todos aqueles que esto em algum grau de evoluo trilhando o caminho da luz procuram nascer prximos para terem a oportunidade rara de aprender com um Buda.

(o que me lembra uma passagem de um evangelho apcrifo do cristianismo em que Jesus diz que ele combinou (antes de nascer) com todos os seus discpulos para que nascessem ali)

Quando Sidharta nasceu um grande vidente visitou seu pai, que era rei de uma regio, e disse que o menino seria um grande lder.

Sidarta se considerava O Iluminado ou este adjetivo lhe foi atribudo aps sua desencarnao?

O adjetivo s foi atribudo posteriormente, assim como com outros grandes mestres da humanidade. Ele mesmo dizia para as pessoas no acreditarem nas coisas s porque esta em uma escritura, porque alguma autoridade disse etc, mas para filtrarem o ensinamento em seus coraes. Ele no pedia para acreditarem nele.

Conta-se que durante a sua infncia/adolescncia, o Buda foi apresentado muitos prazeres, por seus prprios pais, para tentar desvi-lo do cumprimento das profecias que lhe anunciavam. possvel saber at onde tais tentaes encontraram ressonncia nos hbitos dele, e se influenciaram de alguma forma a formao de seu carter ou de sua doutrina?

Bem, como pude ver, voc conhece a historia da profecia. De fato conta-se que seu pai, sendo um poderoso rei local, desejava que seu filho fosse seu herdeiro, e no um religioso. Na ndia at hoje comum pessoas abandonarem suas casas para seguir a vida religiosa, e muitas vezes fazem isso por fuga. A lenda conta que sidharta foi cercado com os prazeres do mundo mas obviamente a lenda exagerada, dizendo q ele nunca saiu do palcio e tudo o mais. Sempre h um aspecto lendrio para toda essas coisas. At hoje comum na ndia os casamentos arranjados. Logo que sidharta nasceu seu pai arranjou-lhe uma esposa para casar mais tarde. Ele casou com 17 anos (se no me falha a memria) e teve um filho. Posteriormente sua famlia tornou-se seus discpulos tambm. Pesquisando historicamente as escolas de filosofia indiana (o hinduismo, os brmanes, a vedanta, a yoga, os upanishades) daquela poca e as influencias na regio e pesquisando as pessoas com que Sidharta teve contato, fica evidente que o jovem teve uma boa educao e passou pelos melhores mestres dessas linhas.

Mas o que torna mais fcil de entender que pelo que sabemos (atravs do budismo e do espiritismo) tudo um processo de evoluo, uma ser no torna-se Buda de uma vida para outra, uma alma em ascenso espiritual. Um ser elevado tem suas inquietaes interiores, suas reflexes e meditaes. H historias sobre a infncia de Sidharta em que ele contempla vrias de suas vidas anteriores e se questiona sobre a existncia.

claro que seu pai desejava um bom rei, e no mais um asceta como havia aos montes na ndia. E por isso a lenda tem seu fundo de verdade. Mas seria ingnuo pensar que uma alma to elevada no iria ter suas prprias experincias e reflexes desde cedo e se deixar levar to facilmente pelo mundo externo. ns sabemos que no assim e a pesquisa histrica sobre as influencias e contatos mostra um sidharta menos lendrio, e mais buscador.

O Budismo tem uma doutrina constituda? Ele tem dogmas (doutrinrios ou religiosos)?

a doutrina budista basicamente esses conceitos que coloquei anteriormente. H outras coisas, mas com esses conceitos bsicos j da para ter uma idia. No existem dogmas. Um ensinamento muito citado em meios budistas esse

"Tenhais confiana no no mestre, mas no ensinamento.

Tenhais confiana no nas palavras do ensinamento, mas no esprito das palavras.

Tenhais confiana no na teoria, mas na experincia.

No creiais em algo simplesmente porque vs ouvistes.

No creiais nas tradies simplesmente porque elas tm sido mantidas de gerao para gerao.

No creiais em algo simplesmente porque foi falado e comentado por muitos.

No creiais em algo simplesmente porque est escrito em livros sagrados; no creiais no que imaginais, pensando que um Deus vos inspirou.

No creiais em algo meramente baseado na autoridade de seus mestres e ancios.

Mas aps contemplao e reflexo, quando vs percebeis que algo conforme ao que razovel e leva ao que bom e benfico tanto para vs quanto para os outros, ento o aceiteis e faais disto a base de sua vida."

Kalama Sutra

Qual o papel dos rituais para o verdadeiro budismo?

Como toda religio, o budismo tem seu lado mais interno, mais profundo, mais filosfico, mais prtico e seu lado mais externo, popular, cultural, 'religioso'

alguns rituais so meramente externos e "religiosos" (no sentindo ruim do termo). j outros tem um propsito. Os mantras por exemplo so usados para gerar uma vibrao positiva na aura, pois sabemos que o som vibrao. Tambm so usados para proteger a mente de pensar coisas negativas, enquanto a pessoa esta cantando mantra, ela no esta pensando na novela, nas compras do mercado, no problema com o marido etc. e assim o tom vibratrio da mente melhora.

os altares e oferendas podem ser bastante vazios e exagerados, mas se feitos corretamente so um exerccio de humildade e generosidade.

Considerando q o budismo teria nascido na ndia, existem diferenas em sua prtica por l e nos confins da China?

Existem diferenas sim. O budismo foi sofrendo influncias No impresso sua, na ndia h muito poucos budistas Veja bem, a ndia sempre foi muito grande e teve uma populao muito numerosa. Quando o Budismo surgiu, surgiu no norte e teve bastante seguidores. Alguns desses seguidores espalharam o budismo no sul da ndia, no Laos, Camboja etc. outros para o Nepal, Buto.. Porm o numero de hindustas sempre foi muito maior. L pelo sculo 8 os mulumanos comearam a invadir a ndia pelo norte e a maioria dos budistas fugiu para o Tibet e china. O budismo praticamente sumiu da ndia. No Tibet ele sofreu influencias da tradio local, o Bn (xamanismo) e incorporou a cultura tibetana de ter coisas muito coloridas e tal.No Japo misturou-se com o xintosmo e assim por diante. O budismo tibetano mais focado em praticas que envolvem o trabalho com energias (chakras) visualizaes, cores, mantras...o budismo japons tem uma meditao mais focada apenas no silencio.(essa uma das diferenas). h diferenas de nfase nos ensinamentos, pois em cada regio chegou textos e mestres diferentes, mas nenhuma diferena muito gritante.

Os budistas acreditam em Deus?

Talvez essa sua pergunta seja a mais difcil de responder dentro do budismo. At hoje cria-se polemica em torno do tema.

Buda no afirmou nem negou nada sobre a existncia de Deus.

Porm meus amigos, antes de responder essa pergunta, pensemos no contexto histrico e cultural. Essa nossa viso sobre Deus baseada na cultura judaico-crist que por muitos sculos antropomorfizou deus, transformando-o em um ser, um algo que possui inteligncia que criou um mundo. Se nos aprofundarmos no estudo da cabala por exemplo, perceberemos que mesmo na cabala judaica, h uma idia mais 'filosfica' a respeito de deus, e menos 'personalista'. A idia do AIN SOPH Ain Soph (do hebraico: Sem Limites) o Todo Supremo da cabala, aquilo que podemos chamar de "Deus" em seu aspecto mais elevado, no sendo, no sentido estrito da palavra um "ser", j que, sendo auto-contido e auto-suficiente, no pode ser limitado pela prpria existncia, que limita a todos os seres que a possuem. De Ain Soph que emanam os Sephiroth para formar a rvore da vida, que uma representao abstrata da natureza divina (Pleroma). Ain Soph o No Ser, um princpio que permanece no manifestado e incompreensvel inteligncia humana.

O Ain Soph da cabala o mesmo Ser e No ser de Parmnides (um filosofo pr-socrtico). O mesmo OIW dos celtas, uma 'potencia divina que a tudo preenche' e no um ser na forma de 'deus criador'. O mesmo zero de Pitgoras. O zero que se manifesta em 1, e da surge a manifestao. muito mais uma idia metafsica sobre a realidade do todo do que um ser para quem oramos e pedimos Plotino, um filsofo neoplatnico, vai dizer o seguinte:

"O Uno todas as coisas e nenhuma delas.

A Unidade uma fonte sem origem.

Nos planos sutis cada ser constitui uma parte do Todo.

Retira-te em ti mesmo e contempla. A contemplao o fim da ao.

Jamais olho algum contemplar o Sol sem tornar-se semelhante ao Sol, nem alma alguma ver a Beleza sem ser bela. Que todo ser se torne divino e belo se quer contemplar o Uno e a Beleza."

E creio que para o budismo seja assim tambm. Se tivermos essa idia sobre o UNO, a VIDA UNA em seu sentido metafsico, talvez possamos nos aproximar de uma idia de Deus no Budismo.

O budismo nasceu na ndia e na ndia nunca existiu a idia de um deus como o nosso deus 'judico-cristo'. A Filosofia Vedanta vai tratar os deuses hindus como arqutipos, princpios do universo, smbolos das energias que regem o mundo, e no exatamente seres que possuem vontades prprias. So princpios arqutipicos.

No Brhamanismo tambm temos algo semelhante... h um criador 'Brahma', mas Brahma o 1, e no o 0 -- aquele que a tudo precede, o auto-existente, incriado, inefvel e incognoscvel.

No budismo, assim como na escola de filosofia indiana chamada Samkhya, h a idia de ciclos. Purusha - o esprito, e Prakriti - a matria, se intercalam em "inspiraes e expiraes" (dias e noites de Brahma). Assim no h um Deus que criou o mundo, h ciclos de criao regidos por leis universais. Assim como Einstein disse que E = mc2, que energia matria... Purusha tranforma-se em PRakriti e surgem os mundos e os planetas, esses passam por ciclos de evoluo e ento Prakriti se recolhe novamente a purusha, e isso se repete atravs das Eras, ento bem diferente da Idia de um Deus que cria o planeta terra.Como podem perceber, falar de Deus dentro do budismo algo extremamente complicado. No h um conceito dentro do budismo que se relacione ao nosso 'imaginrio' da figura de deus, os budistas no oram a um deus, no se reportam a uma imagem de um deus. Mas como no exemplo do AIN SOPH que citei ali em cima: "Ain Soph o No Ser, um princpio que permanece no manifestado e incompreensvel inteligncia humana."se ele incompreensvel inteligncia humana, se algo tremendamente abstrato, eles no se ocupam a tentar entender, pois compreendem sua incompreensibilidade. E assim se envolvem com questes mais praticas, possveis de compreender e vivenciar.

Ento, no h deus no budismo da forma que h para ns ocidentais

mas isso no quer dizer que sejam ateus, que no acreditem em princpios espirituais que regem a grande VIDA UNA.

No sculo 19 um grande mestre do budismo que viveu um tempo no ocidente e estava familiarizado com idias ocidentais (mas viveu a maior parte de sua vida no Tibet) escreveu uma carta a um ocidental tentando explicar a viso dele de deus.

Vou colocar alguns trechos aqui, pois considero muito interessante. Peo que vocs lembrem que ele se reporta ao conceito 'deus' que existia no sculo 19, que ainda era muito fortemente aquela coisa antropomrfica.

"Sabemos que h vidas planetrias e outras vidas espirituais e sabemos que em nosso sistema solar no existe coisa tal como Deus, seja pessoal ou impessoal. Parabrahm no um Deus, mas a lei absoluta e imutvel, e Ishwara (outro deus hindusta) o efeito de Avidya (a ignorncia) e Maya, ignorncia baseada na grande iluso. A palavra Deus foi inventada para designar a causa desconhecida daqueles efeitos que o homem tem adorado ou temido sem entender"

O que ele est dizendo que quando algum morria de causa misteriosa (para a poca) diziam 'foi deus' (mas na verdade podia ser um cncer ou outra coisa), quando algum 'mdium' produzia uma manifestao, as pessoas diziam 'foi deus que se manifestou'.mas na verdade foi a ao de um mdium. O budismo, assim como o espiritismo, busca ser cientifico, e no atribuir crenas aquilo que no se consegue explicar. ainda da carta: "A idia de um Deus no uma noo inata, mas adquirida" a idia de deus esta to arraigada em nossa cultura ocidental que no conseguimos aceitar que algum no pense como ns. Mas de fato os orientais vivem a espiritualidade sem essa idia de deus que ns temos. "ns s temos uma coisa em comum com as teologias ns revelamos o infinito. Mas enquanto atribumos causas naturais, sensveis e conhecidas (por ns pelo menos) a todos os fenmenos que procedem do espao, da durao e do movimento infinitos e ilimitados, os testas atribuem a eles causas sobrenaturais, inteligveis e desconhecidas.

O Deus dos telogos simplesmente um poder imaginrio, um bicho papo. Nossa principal meta libertar a humanidade deste pesadelo, ensinar ao homem a virtude pelo bem da virtude, e ensin-lo a caminhar pela vida confiando em si mesmo, ao invs de depender de uma muleta teolgica".

"... o vosso Deus nossa VIDA UNA, imutvel, inconsciente em sua eternidade... Quando ns falamos da nossa Vida UNA, tambm dizemos que ela no s penetra, mas a essncia de cada tomo de matria; e que, portanto, ela no apenas tem correspondncia com a matria, mas possui tambm todas as suas propriedades."

"Negamos a existncia de um Deus pensante, consciente, com base em que um tal Deus deveria ser condicionado, limitado, sujeito a mudana, e portanto, no infinito. Rejeitamos a proposio absurda de que pode haver, mesmo em universo ilimitado e eterno, duas existncias eternas e onipresentes. Se esse Deus for descrito para ns como um ser eterno, imutvel e independente, sem partcula alguma de matria em si, ento responderemos que ele no um ser, mas um princpio imutvel, uma Lei.... Deus, j que ningum jamais e em tempo algum o viu a menos que ele seja a prpria essncia da Natureza, sua energia e seu movimento,"

"um sentimento constante de dependncia a uma Divindade vista como a nica fonte de poder faz com que um homem perca toda autoconfiana e o impulso para a atividade e a iniciativa. um pecado atribuir a um Deus a tarefa de libertar as pessoas de si mesmas." talvez muitos de vocs sintam averso por esse posicionamento, sintam-se desconfortveis. Porm o que eu gostaria de deixar claro que o budismo ensina que no corao de cada ser h uma semente de luz 'divina' esperando para germinar, que essa mesma semente de luz habita todos os seres e portanto nos torna unidos. um mestre do budismo do sculo 2d.C , chamado Nagarjuna, vai dizer em uma de suas obras

"A natureza de todas as coisas

Aparece como um reflexo,

Puro e naturalmente brilhante,

Com a natureza no-dual, tal como ."

Ento o budismo busca o despertar desse principio espiritual presente em todos os seres, e busca essa transcendncia da dualidade... mas complicado fazer um paralelo com o nosso deus ocidental, pois paralelos entre culturas, termos e linguagens, nem sempre so corretos e precisos.

Como o Budismo v a mediunidade? Como ela usada pelos adeptos?

No budismo existem os chamados SIDDHIS. Sidhis so os poderes supra-humanos. Isto , clarividncia, clariaudincia, telepatia, mover objetos com a mente, essas coisas

Em algumas lendas chega-se a dizer que Buda levitava e conversava com os deuses (para ns seriam anjos etc.)

Por exemplo, Sidharta, o Buda, teve um grande discpulo, seu maior discpulo chamado Maitreya. os discpulos mais elevados do Buda so seres muito evoludos que j possuem autodomnio e podem nascer no mundo se quiserem ou no, ou podem habitar outros planos espirituais.

No sculo 4d.C., isso , uns 900 anos aps o desencarne do Buda, um grande mestre budista chamado Asanga fundou uma escola de budismo mahayana na ndia chamada Yogacara. Asanga escreveu muitos livros, mas trs de suas obras (as mais profundas) so atribudas ao prprio Maitreya. O que a tradio conta que Asanga em profunda meditao recebeu instrues de Maitreya

No sculo 14 d.C. outro mestre budista, Tsongkhapa (fundador da escola gelugpa, que a do dalai lama). Teve contato com o prprio Buda. Porm aqui um pouco diferente. dito que Tsongkhapa se conectou energia de Sabedoria de um Buda, ele no se conectou ao homem Sidharta, mas energia bdica acessvel apenas para os seres mais elevados. E assim, conectado sabedoria bdica ele escreveu belssimas obras.

H vrios exemplos desse tipo

Ento a mediunidade existe dentro do budismo, mas ela no considerada a coisa mais importante. Isso se d porque os budistas vem o plano astral como um plano inferior, inferior ao prprio plano mental (e os mestres s estariam acima deste). Eles tambm consideram que devemos deixar os mortos seguirem seu curso em paz e no ficar atraindo-os de volta ao apego vida terrena. No mais, ter siddhis (poderes medinicos) considerado menos importante do que a pratica das virtudes. Ento existe, mas no a nfase central.

Buda e Jesus semelhanas

Destacando brevemente: dito que Buda nasceu de uma virgem, e ao nascer ele caminhou e andou e por onde pisava nasciam flores de ltus. Tanto Buda quanto Jesus passaram por tentaes e procuraram divulgar um ensinamento baseado na compaixo.

Sobre o termo Cristo: como muitos aqui devem saber, Cristo no o sobrenome de Jesus, mas assim como Buda foi atribudo a Sidharta, o titulo Cristo foi atribudo a Jesus. Sou tradutora, e como estudante de traduo no pude deixar de notar que o termo Khristos em grego semelhante a Krishna, e ambos tem uma significao de algo relacionado luz.

Voltando Questo de Deus, enquanto o budismo fala sobre uma VIDA UNA que a tudo permeia, o cristianismo fala 'deus est dentro de vs e em todas as coisas' (no evangelho de Tom por exemplo)

enquanto o budismo fala "A semente bdica habita o corao de todos os seres e todos podem tornar-se budas" o cristianismo fala (nas cartas de so Paulo) "Cristo EM VS a esperana da glria... Que o discpulo torne-se como o mestre"

No cristianismo temos os 10 mandamentos, no budismo temos os 5 preceitos, que so bastante semelhantes:

# no matar

# no roubar

# no ter relaes sexuais ilcitas (isso , adultrio, estupro, orgias)

# no dar falso testemunho

# no uso de drogas e lcool (substncias entorpecentes em geral).

Breve analogia entre Buda e Jesus:

Buda:" mais fcil ver os erros dos outros que os prprios; muito difcil enxergar os prprios defeitos. Espalham-se os defeitos dos outros como palha ao vento, mas escondem-se os prprios erros como um jogador trapaceiro"

Jesus: "Por que olhas o cisco no olho de teu irmo e no vs a trave no teu? Como ousas dizer a teu irmo: 'Deixa-me tirar o cisco de teu olho, pois sei corrigir teu erro de viso'? Hipcrita, tira primeiro o engano de tua viso, e s ento poders tirar o cisco de teu companheiro".

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Buda: "No importa o que um homem faa, se seus atos servem virtude ou ao vcio, tudo importante. Toda ao acarreta frutos"

Jesus: "No pode a rvore boa dar maus frutos, nem a rvore m dar bons frutos. Porventura colhem-se figos de espinheiros ou ervas de urtigas? Toda rvore se conhece pelos frutos".

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Buda:"A pessoa m fala com falsidade, acorrentando os pensamentos s palavras. Aquele que fala mal e rejeita o que verdadeiramente justo no sbio".

Jesus: "O homem bom tira coisas boas do tesouro do corao, e o mau retira coisas ms, pois a boca fala do que est cheio o corao.

Como o Budismo v a continuidade da conscincia de uma vida para outra?

No budismo fala-se de um "continuum mental". No existe morte e reencarnao... existe apenas estados de conscincia.

Assim, no h uma alma fixa e imutvel que "pula" de um corpo a outro, mas um eterno e impermanente continuum que nasce morre renasce morre... num fluxo de experincias e karmas. No h exatamente um "ente" que nasceu e morreu e renasceu... mas esse eterno fluxo, que mutvel.

O budismo fala que nossa noo de sermos um 'eu' decorrente de 5 agregados que juntos nos do uma percepo de um ser individual.

esses agregados so:

- a forma fsica e as formas mentais (como a imaginao - tudo que possa relacionar-se a 'forma'), as sensaes, as percepes e discriminaes (conceituao, "isso isso, isso aquilo, eu sou eu"), as tendncias krmicas (aes que geraram karmas impressos em nosso continuum e que 'colorem' nosso ser com a 'tonalidade e cor especifica desse karma', e a conscincia (o velho 'penso logo existo).esse no-eu do budismo no negar que ns existamos. Mas o budismo afirma que existimos apenas de forma relativa, apenas quando em relao com o mundo.que nos sentimos seres inerentes, independentes, separados, mas na verdade somos vazios de existncia inerente... por isso difere do espiritismo, que d concretude individual para as almas...

Se no budismo h a forte noo dessa falta de independncia e separatividade do eu (pois fala-se de interdependncia e unio) e da impermanencia, o ser de ontem no o ser de hoje, muito menos o do sculo passado... eles so um fluxo continuo de existncia, mas no um ser (fixo de certa forma) que sai encarnando por ai colhendo experincias... apenas um fluxo, que entra em um corpo, sai do corpo, volta ao corpo, mas um fluxo linear.

Assim, a Alaya de hoje no a mesma Alaya de quando tinha eu tinha 17 anos e muito menos a mesma alaya de 10 anos de idade. Quando eu nasci eu recebi um rotulo "Alaya", e nessa existncia me identifico com esse corpo, mas mesmo meu corpo mudou atravs dos anos, assim como minha personalidade mudou, minhas opinies mudaram, ento eu no sou 'a alaya', mas sou um eterno processo de mudana e auto-descobrimento. Eu tenho conscincia de minha vida passada.

Levando em conta esse ponto de vista budista eu no poderia dizer "eu sou a reencarnao daquela mulher que viveu na Inglaterra no sculo 19". O meu fluxo de conscincia passou por aquela mulher naquele corpo e colheu aquelas experincias, mas eu no sou ela, eu sou o fluxo mutvel que passou por ela... eu poderia dizer que h tendncias dela se manifestando em mim, pois somos o mesmo 'continuum', mas no que eu fui ela, pois eu sou eu apenas agora, no presente, amanha serei outra pessoa.por isso muitos budistas afirmam no existir reencarnao, pois o eu de hoje no o de ontem... nesse sentido que falam, no no sentido de negar uma vida anterior. Assim, eu no posso dizer no sculo 21 "eu fui Joana Darc, porque Joana Darc foi aquela pessoa, que sofreu aquelas influencias culturais, que foi matizada por aquela poca.. eu sou 'conseqncia de Joana Darc, mas no ela em si (no estou dizendo que fui ela no heim gente).

No budismo, esse fluxo de conscincia, esse continuum sempre mutvel linear, mas as experincias no o so.

Lembram do ensinamento budista sobre os 5 agregados que nos do uma noo de sermos um eu (forma, sensao, percepo, tendncias krmicas e conscincia). Pois ento, quando morremos a nica coisa que segue para uma prxima vida so as tendncias krmicas. claro que em cada vida somos preenchidos pela "essncia espiritual" que permite nossa iluminao, mas aquilo que segue de uma vida para outra so os registros krmicas daquele fluxo.

Essas tendncias krmicas so as repetidas aes que vamos com entendo no decorrer das vidas e colorem nosso fluxo de conscincia de maneira particular, gerando karmas. Por exemplo, se em uma vida a pessoa foi um grande pianista, em uma prxima vida voc ter uma tendncia a se interessar por msica. Porm como se todas essas tendncias ficassem armazenadas numa 'caixinha no sto' e s viessem a superfcie se houvesse algo no mundo externo que as estimulassem a sair. Na prtica, isso significa que um grande pianista em uma vida pode em sua vida seguinte no se envolver Nada com musica, , pois na vida seguinte resolveu manifestar outras tendncias que estavam guardadas decorrentes de outras vidas e nessa vida no teve a oportunidade de ter contato com educao musical e nem sua famlia estimulou muito isso, ento a tendncia no aflora

Porm digamos que umas 3 vidas depois ele nasce numa casa que tem um piano. Essa criana vai ter a oportunidade de trazer tona aquela tendncia de pianista, e desde muito pequena vai querer brincar no piano e querer aprender a tocar. Ele pode ter um irmo que no se interessa nada pelo instrumento, e quer brincar de outras coisas, porque esse irmo no tem a 'tendncia krmica' em seu continuum que o atraia para aquilo.

Se em uma prxima vida aquele pianista virar msico novamente, ele vai reforar aquela tendncia krmica e ela vir novamente com mais fora ainda

De outra forma, essas 'tendncias krmicas' so o que vo dar cor nossa personalidade. Se a pessoa costuma agir com raiva, essa tendncia se manifestara nas vidas seguintes na forma de uma pessoa muito irritvel, raivosa, se essa raiva no for trabalhada, aquilo vai se reforando, e nas prximas vidas voltara a aparecer. Por isso as vezes nos identificamos com nossas personalidades nas vidas passadas. E essas tendncias so aes que geram karmas a serem retribudos.

Segundo o budismo esse karma fica impresso em ns, mas manifesta-se em momentos distintos... Na minha encarnao atual eu posso estar manifestando caractersticas (samksaras- tendencias krmicas) que gerei em minha vida no sculo 15... e deixando as minhas caractersticas da vida do sculo 19 adormecidas..., para depois se manifestarem daqui umas, 3,7, 10 vidas. Para o budismo, nem sempre nossa vida atual decorrncia direta da vida anterior. Mas claro que dependendo do caso a vida anterior fica mais marcada e se manifesta com mais facilidade O budismo tibetano fala claramente de renascimento, o atual 14 dalai lama reconhecido como o mesmo 13 dalai lama... h vrios relatos de tulkus seres de conscincia elevada que escolhem seu prximo renascimento e muitas vezes so reconhecidos por seus discpulos antigos que ainda vivem. comum ouvir historias de um grande mestre do budismo que estava bastante idoso e tinha uma discpulo razoavelmente mais jovem que ele. Esse mestre morre e renasce prximo aquele discpulo, se torna discpulo de seu discpulo, ate ficar mais velho e ultrapass-lo. E assim tenta recuperar aquilo que foi na vida anterior e seguir em frente.

No filme KUNDUM (sobre a vida do atual dalai lama, do Martin scorcese) retratado o processo de reconhecimento de um renascimento. Um lama morre e as vezes ele tem conscincia de onde vai renascer e fala a regio... seus discpulos esperam alguns anos e depois procuram naquela regio crianas que nasceram apos a morte dele. Em alguns casos ocorreu de os lamas estarem andando pela vila e um menino de 4 anos estar brincando, ver eles e correr em direo a eles e chamar um deles pelo nome e abra-lo.

Em outros casos o menino no reconhece de imediato, os lamas pegam vrios objetos semelhantes, (como os sinos budistas) e colocam alguns bem bonitos e no meio colocam aquele que pertenceu ao falecido. Depois de vrios testes e a criana reconhecendo o certo (ela pega o objeto do falecido e fala ' meu' as vezes, como o filme retrata) e de analise das tendncias daquela criana, eles comeam um processo de identificao de um tulku (um lama reconhecido)

Podemos ilustrar o renascimento budista com um smile, como se a chama de uma vela fosse empregada para acender uma outra vela e nesse processo a primeira vela fosse apagada. A chama da segunda vela surgiu na dependncia da primeira vela, ou seja, tem uma conexo com ela, mas a chama da segunda vela no idntica primeira. Ento, as duas chamas possuem uma ligao mas no so idnticas.

budismo prega a metempsicose?

Esse um tema muito complicado para os prprios budistas. Algumas escolas tradicionais acreditam sim ser possvel renascer como animais. Mas h mestres do budismo que dizem que isso no possvel.

antigamente o uso de fabulas era muito comum para ensinar a populao. Por exemplo, conta-se sobre um homem mau que maltratava seu bode e depois o matou para comer, ento esse homem renasceu como bode para sentir na pele o que fez.

Entendo isso como um ensinamento de 'moral da historia' no como algo que deva ser entendido literalmente.

recentemente fizeram uma enqute sobre essa questo na comunidade budista e 60 pessoas responderam ate agora. 37% acredita ser possvel renascer como animal. 33% acredita ser impossvel e o restante respondeu 'no sabe' ou 'talvez' eu pessoalmente acredito que algo impossvel.

No budismo h um ensinamento que diz que h vrios reinos de existncia. So seis reinos, mas todos esses seis so reinos de certa forma inferiores, pois ainda esto presos ao samsara (ao renascimento compulsrio decorrente de nossa ignorncia)

Os 6 reinos da existncia so: o reino dos deuses, semi-deuses, humanos, animais, fantasmas famintos e os infernos.

Os deuses sofrem por saber que seu mrito terminar um dia e voltaro a ter vidas de sofrimento. Um nascimento ocasionado no reino dos deuses atravs da prtica de aes meritrias. Porm, como podemos ver, a simples pratica do bem no liberta do samsara, se o ser que a pratica no tiver despertado a sabedoria (prajna) que compreende a real realidade do eu e dos fenmenos. Assim, no 'fazer o bem pelo bem', mas ainda h um 'EU' que pratica alguma coisa, dessa forma, o ser no se liberta pela simples prtica de aes meritrias pois essas aes ainda esto conectadas a um equivoco de cognio que percebe um eu que pratica alguma coisa e por isso deseja ser recompensado.

Contudo, a pratica de aes meritrias leva a nascimentos repletos de mais oportunidades de encontrar o dharma, e mais chances de se libertar do sofrimento.

O Sofrimento dos semideuses inveja dos deuses e serem feridos por estes, pois os atacam

O reino humano o reino equilibrado, onde se pode crescer e aprender, sofrer e regozijar-se.

Animais sofrem por serem usados para os propsitos dos outros e por no poderem falar

Fantasmas famintos em constante busca por comida e bebida, nunca se saciam

Infernos quentes e frios esgotam karma negativo

Devemos ter muito cuidado ao apresentar os 6 reinos. Enquanto alguns budistas crem que de fato nascemos em infernos, nascemos como animais ou deuses etc. Outros textos apontam para uma interpretao mais simblica desse ensinamento, em que esses reinos no representam lugares, mas condies de nascimento, estados de conscincia contaminados por este ou por aquele sofrimento.

Kamalashila foi um grande mestre do budismo mahayana indiano no sculo 8, ele foi, posteriormente, ao Tibet e participou do principio do budismo tibetano, e traduziu textos snscrito para a lngua tibetana. Ele autor da obra Bhavanakrama, cujo segundo capitulo comentado pelo dalai lama no livro 'os estgios da meditao"

Kamalashila diz que os sofrimento dos seis reinos da existncia devem ser vistos no como ocorrendo apenas naqueles tipos de renascimento, mas tambm nas vidas humanas. Humanos tambm experimentam os sofrimentos dos seres dos infernos e dos demais. Aqueles que aqui so afligidos por terem seus membros arrancados, serem enforcados etc. sofrem como seres dos infernos. Aqueles que so pobres e excludos e sentem dor por causa da fome e sede sofrem como fantasmas famintos. Aqueles em servido e situao semelhantes, cujos corpos so controlados por outros e so oprimidos e espancados, presos... sofrem como animais"

Assim, podemos considerar que algum que nasce numa condio de sofrimento no Alaska pode estar vivenciando um dos infernos, algum que nasce em um pais em guerra e tem seus membros mutilados por minas terrestres, perde sua famlia etc.esta em um inferno quente (os textos descrevem mutilaes e torturas nesse inferno). Algum que nasce na Somlia e passa fome e sede pode estar no reino dos fantasmas famintos. Ou talvez ate mesmo algum que no passa exatamente fome e sede, mas nasce com uma condio de eterna insaciedade, insatisfao, que compra compra , adquire, mas nunca se satisfaz, pode ser um fantasma faminto.

pessoas que vivem como escravas, que so presas, que so subjugadas a vontade de outros, apanham etc... podem estar em condies do reino animal, pois vivem como animais

pessoas que nascem em condies de luxo, riqueza, que vivem s do bom e do melhor e passam a vida a deleitar-se, podem estar no reino dos deuses

uma vida equilibrada entre coisas boas e ruins, possibilidades etc., pode ser uma vida de fato no reino humano.

Assim como Kamalashila

outros mestres do budismo tendem uma interpretao SIMBLICA desse renascer como animal.Como se fosse um 'estado de conscincia animalesco', e no um animal em si.

No budismo tambm se fala de graus de conscincia, um animal considerado mais elevado que uma planta. E a vida humana louvada como a mais difcil de se alcanar e a mais valiosa. Ento creio no fazer sentido renascer como animal mas enfim, uma questo polemica mesmo para os budistas e h muita controvrsia e discordncia.