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Pe. PASCOAL LACROIX <0. F. M. BUENO DE SEQUEIRA O ESPIRITISMO À LUZ DA RAZÃO 1941 Ffli.l: Rua São Joié, 38 - Tel.fone 42-8787 RIO DE JANEIRO

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P e. PASCOAL LACROIX <0. F. M. BUENO DE SEQUEIRA

O ESPIRITISMO À LUZ DA RAZÃO

1 9 4 1Ffli.l: Rua São Jo ié , 38 - Tel.fone 42-8787

RIO DE JANEIRO

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N IH IL OBSXAT.T auba tö , ln festo C o rporis C h risti, 1940.

P. Ferd. Baumhoff S. C. J. lib r . censo r ad-hoc.

N IH IL O BSTAT.Rio, 17 de Ju lh o de 1940.

Padre ] . Bat. da Siqueira.

IM PR IM A T U RVig. G eral.

Mons. R. Costa Re go Rio, 23-7-1940.

IM PR IM I PO T E ST .TaubatO , in te sto A ssum ption is B. M. V,

a n n l 1940

P. P. Storms Praep . p rov. b rasll.

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Í N D I C E

Prefácio . . . 9

Introdução — Plano Geral — Cristianismo — M ateria­lismo — Espiritismo — Noções preliminares . . 18

P R IM E IR A P A R T E : FE N Ô M E N O S OU FA TO SA L E G A D O S .................................................................31

Cap. 1." — Relatório dos fenômenos supranormais . 33A ) — Fenômenos experimentais ou provocados 33

1.*) Telccinésia — Levitação — Transporte 332.°) T e le p a tia .................................................... 39

n) As pancadinhas ou tiptologia . . 61b) Toque com membros invisíveis . . 63c) Fenômenos telecinéticos . . . . 64d) Fenômenos lum inosos....................... 64

B) — Fenômenos espontâneos.............................76Série 1.* — Fatos cujos autores preternatu-

rais parecem bem definidos . . . .1.” — Cenas b a ru lh e n ta s ........................2.° — Telccinésia — transportes . . 813.° — Idem — em Paris, Berlim, na

Bélgica, em Java, etc.....................824." — Fenômenos ligados a pessoas . . 87

Série 2.* — Fatos cujos autores preternatu-rais parecem mal d e fin id o s .....................89

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C — O Espiritismo no B r a s i l ........................ ......

Cap. 2° — Realidade dos fenômenos supranormais . — Estado da q u e s t ã o ....................................A ) — Critérios g e r a i s ....................................

1) Confiança que merecem os observa­dores de fenômenos ocultos . . .

2) Confiança que merecem os médiunsB) — Verdadeiros fenômenos do último

te m p o ........................................................C) — A grande objeção contra a realidade .D ) — Resumo das deduções obtidas . .

Cap. 3.“ — Causalidade dos fenômenos supranormais — Estado da q u e s tã o ..............................

A ) 1.* Proposição — Os fenômenos supra­normais excedem as forças humanas . A rt. I — Fenômenos parapsíquicos do

telccinésia c de lelcplástica A rt. II — Fenômenos paraíísicos . .Art. I I I — Fenômenos espontâneos

B ) 2,a Proposição — Os fenômenos supra­normais uão são produzidos pelos des­encarnados ................................................

I : Pela doutrina Católica — Filosofia— T e o lo g ia ..........................................

I I : Pela doutrina dos Espiritas — Teo­ria do perispírito — Não-idcntifica- ção dos espíritos — Fatos — Con­fissão de sábios espiritas e de mé­diuns — Comunicação na teoria an- g lo sa x ô n ic a ...........................................

C) 3." Proposição — Os fenômenos supra­normais são produzidos por espíritos e estes só podem ser os maus espíritos ou demônios da concepção católica . ■. .Estado da q u e s tã o ....................................

I : Fenômenos e s p o n tâ n e o s ........................I I : Fenômenos e x p er im e n ta is ........................a ) Fenômenos psíquicos ou parapsíquicos .b) Fenômenos físicos ou parafísicos .

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C|P . 4.» — Em que sentido entendemos a interven­ção diabólica no Espiritismo . . . .

a) pelo ambiente das sessões . . .b) pelas circunstâncias de lugar e tem­

po que envolvem as sessões . .c) pela instituição do médium . . .

Conclusão . ........................Cap. 5.“ — A ) Sinais diabólicos que os fenômenos

trazem c o n s ig o .....................................B) Ação diabólica através dos tempos —

Relação do Espiritismo com a necro-inância c a m a g ia ...............................C o n c ln s ã o .............................................

SEG U N DA P A R T E : COM U N ICA ÇÕ ES OU M E N ­SA G EN S ..........................................................................

Cap. 1.° — Histórico do Espiritismo moderno . .Cap. 2.° — Mensagens de caratcr profano . . .Cap. 3.° — Mensagens de carater religioso — A re­

ligião e s p i r i t a Cap. 4.° — Ainda as mensagens — A rcencarnação

T E R C E IR A P A R T E : C O N SE Q U Ê N C IA S LÓ GI­CAS v í . . . .

Cap. 1.° — Superstição c cepticismo . . .Cap. 2° — I m o r a l id a d e ......................................Cap. 3.” — I.oucura e suicidio . .Cap. 4.” — Condenação . . . .

I : Pela autoridade religiosa . . . .I I : Pela autoridade c i v i l ...............................C o n c lu sõ e s.........................................................Exortação f i n a l .......................................................

198208

208 '208231

233

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P R E F Á C I O

O E spiritism o apresenta-se-nos como uma congérie de coisas misteriosas. Entre estas pa­rece haver fatos incontestáveis ao lado de fraudes inúm eras e inegáveis. Como distin ­guir uns dos outros? Como d iscernir a reali­dade da fraude?

O meio seguro que nos assiste para conhecermos a verdade c distinguirm o-la da fraude, da ilusão e do erro, é a nossa ra­zão. Pela razão iios distanciam os dos ani­mais. Nós não conhecemos a verdade inlul- tivaniente. In tu itivam ente apenas percebe­

m os os prim eiros princípios universais e. des­tes nos servim os para chegarmos ao alcance das verdades m ediatas.

Os nossos sentidos lam bem são meios que nos levam à posse da verdade, mas eles não nos proporcionam logo plena certeza da objetividade daquilo que percebem os por m eio deles. A preendem e transm item sim ­plesm ente as prim eiras im pressões do que acontece fora e den tro de nós, im pressões es­sas que devem os su jeitar ao exam e da razão para apurar-lhes o conteúdo d e verdade, de falsidade ou de ilusão.

Seria insuficiente e superficial estudar o E spiritism o som ente À LUZ DOS FATOS. O físico que procede cientificam ente não se

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contenta com os contornos e as aparências dos fatos. Procura descobrir a causa intim a e até as leis que dirigem a produção dos fe ­nômenos que se lhe oferecem ao exam e. Com esta análise chega a estabelecer a realidade dlos fatos físicos.

Sem elhantem ente, tem os de proceder com respeito ao E spiritism o. Para não ser­m os taxados de superficiais e incienlificos, in­cum be-nos indagar qual a natureza intim a dos fenôm enos espiritas, qual a causa que os pro­duz, e, consequentem ente, indagar se êles acreditam ou não as MENSAGENS que o Es­piritism o oferece a seus crentes. E’ só pelo raciocínio que conseguimos apurar a verda- (io a esse respeito.

E is ai o terreno firm e, porque neutro, em o qual só é possível aceitarem -se discus­sões sobre o E spiritism o; é o único terreno em que podem os terçar arm as com espiritas para apurarm os a natureza e a objetividade dos fenôm enos e m ensagens. Verificando o absoluto acordo dos fatos espiritas com essas prim eiras verdades, conseguiremos concluir para a realidade deles e afirm ar a sua ínti­m a natureza.

A própria ciência exige conhecim ento das coisas pelas causas. Onde não há conhecim en­to das causas íntim as, onde só se consideram os fenôm enos externos, não há ciência.

Querendo, pois, tratar do E spiritism o cientificam ente, escolhemos para este livro um titu lo que m ais correspondesse à nossa finalidade:"O ESPIRITISMO À LUZ DA RA­ZÃO," De-fato, pretendem os exam inar, den-

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tro desta oficina das ciências, os dados do ESPIRITISMO. Atirá-los-em os para dentro do cadinho da razão e os irem os distribuin­do em secções logicam ente concatenadas. Só assim esperamos restabelecer a verdade. Só assim esperamos ev itar a imensa confusão a que os espiritas arrastam os seus adver­sários.

Não será im odéstia nossa se afirm arm os que o nosso esforço representa um progres­so na literatura anti-espirita em lingua por­tuguesa. Geralmente, os autores que nos pre­cederam fizeram obra de polêm ica; e é sabi­do que as polêm icas nunca obedecem a um plano preestabelecido, -porque, em regra, um contendor atrai o outro para terreno im pre­visto.

Alem disso, os nossos predecessores tra­çaram -se um program a restrito: ou o estu­do cientifico de uma só parte do problem a espirita, ou um estudo geral, mas sem feição cientifica. E assim , no prim eiro caso, estu­dam apenas um lado da questão, — ou os fenôm enos, ou as mensagens, ou as causas, ou as consequências, ou a teoria. E, no segundo caso, escrevem livros despidos de aparato científico, sem notas, sem citações au toriza­das, e, não raro, recheados de anedotas inve- rídicas c de histórias insulsas.

Procurando ev itar todos os escolhos, to ­m am os ainda o ensejo de ensinar a doutrina católica nos pontos em que ela é negada ou controvertida pelos espiritas. Assim , não nos contentamos em refutar o erro espirita: fornecem os arm as para a defesa do catecis­

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mo e dem onstração do dogm a católico. De ver que a Sagrada Escritura, neste particular, é o nosso m aior arsenal de provas.

Sobretudo, estendem o-nos na refutação dos érros m ais dissem inados e, para serm os com pletos, nos valem os da Bíblia, assim co­mo da Filosofia. D este m odo, aí ficam três categorias de argumentos: teológicos, filosó­ficos e populares, estes tom ados de em présti­m o à lógica natural, ao bom senso. Isto, de acordo com as várias categorias de leitores que nos lerem a obra.

Sc tiverm os conseguido estabelecer a verdadeira origem dos fenôm enos; se tiver­m os reduzido a seus justos lim ites o valor das m ensagens; se tiverm os m ostrado os desas­trados efeitos do E spiritism o, julgam os ter al­cançado o nosso escopo: glória de Deus, ser­viço do Brasil, préstim o à sociedade. Tudo isso pelo êxito, m aior ou menor, com que ti­verm os afastado do perigo espirita tantos m i­lhões de alm as que se acham enredadas cm suas m alhas constritoras.

E algum êxito esperamos, fiados na pro­teção da Mãe da Graça, MARIA, a quem de­dicam os este trabalho. Tudo para m aior gló­ria de Deus!

Os Autores.

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INTRODUÇÃO

Plano Geral

Inegável é a existência de dois mundos bem distintos c separados, — isto é, dois tea­tros em que há cenas e personagens de or­dem completamente diferente: 0 Mundo VI­SÍVEL e o Mundo INVISÍVEL.

Inegável é também a relação existente entre esses dois mundos. Seus habitantes po­dem comunicar-se entre si.

Sobre o modo, porem, das com unicações, não estão de acordo os sistem as doutrinários conhecidos.

Reduzimos a três pontos a questão sobre as com unicações:

O Cristianismo, — admite com unicações razoaveis, restritas, espontâneas;

O M aterialismo, — não admite com uni­cações.

O E spiritism o, — admite com unicações amplas, contínuas e provocadas.

Exam inem os as afirm ações ou ensina­mentos de cada sistema.

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CRISTIANISMO

Deus, — espírito puro, ato puríssimo, en­te necessário e eterno, — criou:

a) Espíritos, ou substâncias incorpóreas intrinsecamente independentes da matéria, criados inocentes, dos quais uns perm anece­ram bons, são os anjos, — e outros se torna­ram maus, e são os demônios. São invisíveis uns e outros.

b) Corpos, ou substâncias corpóreas, — uns organizados, ou vivos; outros, inorgâni­cos ou inanim ados; os primeiros, sempre com­postos, e os segundos ou elem entares ou com­postos; todos são mudáveis, ponderáveis, es- tensos, e caem sob a ação de um ou mais dos cinco sentidos do homem.

c) O homem, que participa das duas substâncias precedentes, por ser composto de corpo, — ou substância corpórea, e alma, — ou substância incorpórea.

Pela morte, o corpo se resolve nos seus elementos m ateriais primitivos, e a alma, que é espirito, segue um destino definitivo, pas­sando a fazer parte do Mundo Invisível.

Tudo que Deus criou c contingente c re­lativo. Só Deus é Ente necessário e absoluto.

Existem relações ou comunicações entre o Mundo Visivel, — o homem, e o Mundo In­visível, — Deus c os anjos.

Mas essas relações, ordinariamente, são invisíveis. Só extraordinariamente, — c por modo de milagre, — c que poderão ser visí­veis. Deste modo se explica que os espíritos se tornam visiveis ao homem.

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Os ensinam entos do Cristianismo tem por base a Revelação Divina e a razão humana. A primeira é contida na Escritura Sagrada e na Tradição. A segunda, em uso no homem são, é dirigida pela Lógica, natural ou cien­tífica.

MATERIALISMO

“E’ o sistem a filosófico que considera a matéria como a única realidade no m undo.” (1) Nega com unicações entre o Mundo Visí­vel e o Invisível, porque só admite o Mundo Visivel.

Afirmando que tudo no Universo é resul­tado das condições ou da atividade da m até­ria, o Materialismo nega a existência de Deus e da alma.

Pode-se dizer que D em ócrito, o inventor do atom ism o e que viveu no V século antes de Cristo, foi o primeiro escritor materialista; pelo menos, foi o primeiro que negou a exis­tência da alma. Teve por continuadores: Epi- curo, na Grécia, Lucrécio, cm Roma. Para eles, tudo se resume nos átomos, c estes são eternos e cegos.

Nos tempos modernos, Jordano Bruno foi o pioneiro dos materialistas. “A matéria, — disse ele, — é a mãe de todos os viventes.”

Mas a idade clássica do Materialismo co­meça com La M eifric (1709-1751) e o barão Holbach (1723-17S9). Segundo eles, tudo o que

(1) CONSTANTJN OUTBEKLET, In The CntlioUc E n- «•yclopeilín, Xe«- York. ai t. Moterialliim. vol. X.

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se supõe existir fora da natureza visivel é criação da im aginação do homem. Foram se­guidos por Voltaire e pelos E nciclopedistas. Mais tarde, B uechner (1824-1895), M oleschott (1822) e Vogt (1817) tiraram as últimas con­sequências deste sistema. “ 0 pensamento, — afirma Vogt, — é mera secreção do cérebro, como a bilis o é do figado.”

0 positivism o, de Augusto Comte, que se abstem de afirm ações sobre o mundo invisi- vel, e o transform ism o ou darw inism o, de Darwin, que faz o homem vir do macaco, são apenas feições modernas do materialismo, porque, em últim a análise, negam a ação de Deus no mundo, e negam a espiritualidade da alma.

Notemos, por fim , que o Materialismo se opõe a toda doutrina filosófica espiritualista ou idealista.

ESPIRITISMO

“É um conjunto de doutrinas e de práti­cas encam inhadas a obter a com unicação do homem com os espíritos do outro m undo.” (2)

0 Espiritismo admite os dois mundos, o visivel, constituído dc homens, e o invisivel, constituído de espíritos. Admite tambem co­municações contínuas c sensíveis entre os ho­mens e os espíritos. Estes se manifestam por fatos ou fenôm enos estraordinários, quase sem­pre m ediante um rito especial com que o homem provoca a manifestação. E é justa-

(2) Revista ••Juvcnttid CnUWkn”, PB- 41.

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mente pela existência desses fenôm enos ex­traordinários ou transcendentais, supostos reais, que o Espiritismo entende demonstrar a realidade das com unicações dos espíritos com os homens, com unicações de toda ordem: pueris ou sérias, individuais ou gerais; sobre assuntos profanos: receitas médicas, literatu­ra, ciência; ou sobre assuntos religiosos; tal é, por exemplo, a revelação de uma religião toda nova.

Tais com unicações, que formam quase to­do o sistem a espirita, são provadas, assim afirmam, pelos fenôm enos transcendentais que se verificam nas sessões. Esquecem-se os es­piritas de p rovar que, de fato, as causas desses fenôm enos são os espíritos ou almas desen­carnadas, com quem pretendem comunicar- se. É o que iremos verificar. Antes, porem, de chegarmos lá, cumpre exam inem os os mesmos fenôm enos em si, cumpre indaguem os se, de tantos fenôm enos estupendos, ao menos al­guns são reais, autênticos, provados, inegá­veis. N

Daí a tríplice divisão desta obra:

I - FENÔMENOS OU FATOS ALEGA­DOS.

II - COMUNICAÇÕES OU MENSAGENSIII - CONSEQUÊNCIAS LÓGICAS

*

No Primeiro Ponts poremos os fenôm e­nos, exam inaremos a sua realidade, indaga­remos a causa, procurando saber se esta é

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Deus, os anjos, os demônios ou as almas dos defuntos.

No Segundo, verem os se as comunicações, como nova revelação sob o ponto de vista religioso, m erecem fé.

No Terceiro, verificada a realidade e pro­cedência dos fenôm enos, assim como a natu­reza das com unicações, discorreremos sobre as consequências do Espiritismo como reli­gião e como sistem a, isto é, veremos qual o resultado prático que ele oferece para o in­divíduo, para a fam ilia, para a sociedade, em relação a esta e à outra vida.

NOÇÕES PRELIMINARES

ESPIRITISMO E OCULTISMO. Os fenô­m enos espiritas, considerados em globo, são m ultíplices e sumamente com plexos. Muitos, é claro, não merecem a atenção do estudioso, porque estão ao alcance da habilidade huma­na ou explicam -se pelas leis conhecidas da psicologia. Quanto a outros, nem todos pre­cisam de exam e pormenorizado, visto como um exam e genérico explica os casos particu­lares. Estabelecidos alguns fatos de com uni­cação com os mortos, fatos certos e provados, está demonstrada a possibilidade de outras com unicações nas mesmas circunstâncias.

Os fenôm enos rasteiros, reais ou imagi­nários, devidos, muitas vezes, à fraude, per­tencem ao Baixo Espiritism o, — o chamado Espiritismo de Terreiro ou Macumba, — e já foram esm iuçados e até ridicularizados por escritores de toda classe.

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Dirigirem os nossa critica para os fenôm e­nos extraordinários, notórios, relatados por sábios e pessoas fidedignas.

O Espiritismo vulgar não passa de uma explicação pronta e côm oda de fenôm enos ocultos. Verdade é que tais fenôm enos são, às vezes, exam inados; como, porem, nas ses­sões de baixo espiritismo, falta, por com ple­to, o rigor da verificação científica, deles não nos ocuparemos.

Para termos noções claras acerca do Es­piritismo, — científico ou vulgar, — cumpre que digamos algo sobre o OCULTISMO que, através dos tempos, fo i o antecessor e prepara­dor do atual Espiritismo.

O Ocultismo pode ser:a) Prático, lambem denominado CABA­

LA ou MAGIA.b) Científico.O primeiro é péssimo, pernicioso. A m a­

gia negra sempre se caracterizou pela práti- tica de todos os m alefícios e pelo comércio com os defuntos, como se pode ver já em Ho­rário (3) e Apuleio (4).

O cientifico não trata de práticas religio­sas. Ocupa-se da in\estigação dos fatos, pro­cura determinar as causas dos fenôm enos, busca a verdade; não invade o terreno da re­ligião. Seus cultores, muito numerosos na Ale­manha, não admitem reencarnação e abs- teem-se de evocar os mortos. O Ocultismo científico assem elha-se muito ao Espiritism o

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(3) HORÁCIO, Sat. con tra CnutiUn. Epôdos, V.(4) M etam orfoses ou Aninus AnrenH, pnsslm.

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Experim ental. Ambcs fazem sessões, ditas ex­perim entais; os espiritas procuram, antes de tudo, satisfazer sua curiosidade, e os ocultis- tas se em penham em estabelecer a verdade objetiva do fatos.

SESSÕES ESPIRITAS, (4-a) — Seus agen­tes. Tratamos das sessões fam iliares, onde se pode supor haver alguma sinceridade e nas quais, por hipótese, falta a razão de fraude e o desejo de enganar. Sessões espiritas, pois, são reuniões fam iliares de crentes, que que­rem entrar em com unicação com os habitan­tes do Alem, — os espíritos, isto é, com os desencarnados, como afirm am eles. São as se­guintes as figuras principais de uma sessão:

a) M édium, que é o agente principal, é o elemento interm ediário entre os crentes e os espíritos. É o m eio de que se servem os es­píritos, para se porem cm com unicação com os vivos. Segundo a afirm ação dos espiritas, o m édium é a pessoa capaz de fornecer ao es­pírito parte de seu fluido, sem o que o espíri­to não pode manifestar-se. “ O espírito, sepa­rado, pela morte, da m atéria grosseira, não pode atuar mais sobre esta, nem m anifestar- se com o meio humano, sem o concurso de uma força ou energia que o organismo de um ser vivente lhe proporcione. Toda pes­soa susceptível de subministrar, exteriori­zando-a, esta força, é m édium ”. (5) A Cons-

(4-a) Lim itam o-nos a reproduzir o que escrevem os autores.

(5) AI.LAN KARDEC. Instrnetions prn«lqncn Hur le SpIrUIsmc. art. íncdium. E Livro dou médiuns, piiHxlui. — LÉOX DENIS, Dniw 1’inviaiblc, pg. G2-G3, donde tiram os a citação supra.

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tituição físico-psiquica ou organização espe­cial, — inata, natural, — pela qual uma pes­soa tem o privilégio de ser médium, chama- se m ediunidade. A m ediunidade, afirmam ainda, é susceptível de desenvolver-se, d im i­nuir-se e perder-se. Pode ser dom hereditário.

c) Guia ou operador. É o espírito do Alem, que se comunica com os presentes por m eio do médium. Este, dizem, trabalha sob o império ou inspiração do espirito guia. O' espirito é a causa principal; o médium, a cau­sa instrum ental. E’ uso empregar-se a pala­vra Inteligência, em vez de espírito guia ou operador. (6)

TRANSE. — Agindo, geralmente, sob o im pério do espírito operador, o m édium passa para um estado mental especial, chamado transe. De todos os fenôm enos espiríticos, é o mais importante, sem dúvida. E’ um estado de arrebatamento em o qual o médium pare­ce não pertencer mais a si; age como uma máquina, sob a direção do espirito comuni­cador. O transe resulta numa dupla m odifi­cação da pessoa do m édium :

a) Quanto ao corpo, este se torna insen­sível, ou quase insensível, devido ao estado de letargia em que caiu e, sob este aspecto, o transe é um estado que arremeda o êxtase dos santos. (Diabolus est Dei sim ius).

b) Quanto à mente, a im aginação do m é­dium é superexcitada, e a exaltação, afirm am

(6) O «splrltlam o lnglOs, segundo Malnage, adm ite um esp irito chamado controle, o qual servo de Interm e­d iário en tre os esp íritos e os m embros de um a sessáo. E ’ uma espécie de médium de lá pa ra cá, um pouco d iferen ­te do gnln dos e sp iritas continentais.

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os espiritas, transporta-a para um mundo su- pra-sensivel; ao mesmo tempo, a inteligên­cia do m édium não funciona e a vontade é tolhida ou mesmo com pletamente abolida. Para operar, o médium ordinário deve cair em transe, no qual ou entrará espontanea­mente, ou hipnotizado pelo experimentador ou por outro assistente; o médium forte, porem, pode funcionar mesmo sem estar em tran­se. O estado de transe muito se parece com o sonambulism o hipnótico e tem alguma coi­sa do sonambulismo natural. (7) Como o transe sonambúlico da hipnose, o transe me- diúnico pode ser passivo ou ativo: no pri­meiro caso, o médium está com pletamente im ovel; no segundo, movimenta-se, em obe­diência ao guia.

A razão fisiológica do transe explica-se, segundo Grasset, pela dissociação dos centros nervosos. O Psiquism o Superior ou Centro “O” dissocia-se do Psiquism o Inferior ou Polígo­no a que M yers chamou Sublim inal, c outros chamam Subconciente. Pela dissociação, o centro “ O” paralisa-se. Só o sub-liminal ou subconciente é que age. (8)

Os espiritas dão outra explicação da f i­siologia do transe. O médium cai ein transe, dizem, desde que seja obrigado a abandonar uma parte maior ou menor de seu fluido, a favor de um espirito livre no espaço. (9)

— 22 —

(7) BOIRAC, I,'a ven ir des .science* pHj-ehologl.nie«, pg. 261. Cf. tambem “O espiritism o, ucls conferencias", do Pc. dr. V alérlo A. Cordeiro, pg. 13.

(8) Dr. GRASSET, Idée* médicales, llbr. Pion. Paris, pg. 4 e 13.

(9) Dr. POODT. Lo* fenômeno* m isterioso* dcl psl- uulsmo, pg. 282.

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Algumas condições particulares. — Todo indivíduo, afirmam os espiritas, pode ter o dom da m ediunidade; umas pessoas, porem, são mais aptas do que outras, visto como a m e­diunidade depende da constituição individual. O m édium, em geral, é um indivíduo muito sen­sível, — anormal, nevrosado; pode-se dizer que a m ediunidade é sempre uma m odalida­de do histerism o. Se é certo que nem todo histérico é m édium , é certo que todo m édium é histérico. Os m édiuns mais célebres foram, desde crianças, sujeitos à auto-hipnose; de uma fantasia excessiva, próxima da haluci- nação, bem cedo produziram fenôm enos es­pontâneos de mediunidade. (10)

Ligada a uma disposição fisiológica e, ao mesmo tempo, psicológico-idiosincrásica, a m ediunidade é ainda segredo em psicolo­gia. (11) Pretende-se até que seja dote here­ditário, c, a-propósito, cilam -se casos de crian­ças de nove dias (Valentina Kirkup), de seis meses (Kalie Fox) e de dois anos (Essie Mott), as quais, sendo filhas de médiuns, m a­nifestaram fenôm enos de mediunidade pre­coce. (12)

Os médiuns distribuem -se em três gru­pos:

a) Físicos, — os que, de preferência, são instrumentos para a m anifestação de fenô­menos fisicos: levitação, transportes, etc.

b) Psíquicos, — os que o são de fenôme-

— 23 —

(10) MAN'S ARNOLD, SeNsOes E spirita», Pgr. 23-66, Editora “O Pensam ento”, S. Paulo.

(11) Id, Ibid.. Cap. Sonambulismo, pg. 34.(12) Id, Ibid.. SenfiüeH E sp irita s, pg\ 28-39 e p*\ 61.

E ditora "O Pensam ento". S. Paulo.

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nos m entais: vista dupla, telescopia, psico- mctria, epigaslria, etc.

c) Físico-psíquicos, — os que fazem os dois grupos de fenôm enos, ou os fenôm enos de natureza mista, como escrita automática, etc.

A uma destas três classes pertencem quaisquer dos m édiuns geralmente citados: videntes, sensitivos, pneum atógrafos ou es­creventes, psicógrafos, tiptológicos, audien- tes, ou ouvintes, psicômetras, xenoglóticos (xenoglossia), etc.

CONDIÇÕES PRÁTICAS D AS SESSÕES ES­PIRITAS. — Para a organização de um cír­culo. afirm am os espiritas, exigem-se condi­ções quanto a local, pessoas, te m p o ...

Pessoas, — que sejam simpáticas aos e s ­píritos. O fluido comum de todos os assisten­tes aumentará a força do médium. H á-de ha­ver a direção do pensamento de todos para iun mesmo fim . (13)

Núm ero de pessoas — Devem ser poucas. Segundo Gijcr (14), hão-de ser, no máximo, 10. Todavia, conforme a força do médium, pode-se aumentar o número dos assistentes da sessão. (15)

Local, — que seja reservado e silencioso. Haverá um gabinete à parte; é ai que o m é­dium se isola e se concentra antes das sessões.

— 24 —

(13) HANS HARNOLD, Senates E sp trlta s, pg. 105-108. R dltora “O PcnBamento". S. Paulo.

(11) Dr. E. GYEL, EapirltlHmo, pg. 42. L lv rarla G ar­nier. Rio.

(15) HANS HARNOLD, SessCes E aplrltas, pg. 97-98.

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T em peratura do ambiente: fresca. Nun­ca demasiado quente.

Luz, — fraca. Pode ser aumentada de acordo com a força do médium.

Fenôm enos à plena luz só se dão em ca­so de grande força mediúnica.

O Dr. Gatterer cita vários casos de escri­ta, a lapis, verificados com D. Silbert, sob luz elétrica intensa e até de dia. (16)

(Com o já dissem os, lim itam o-nos a q u i a r e la ta r o que escrevem os a u to re s , som e n tra rm o s em ap recla - ç5es h is tó ric as e f ilo só fic as).

D I V I S Ã O

Deixando de parte o que pode ser expli­cado pelo subconciente do médium e dos as­sistentes, assim como tudo o que poderia ser atribuído a truque ou fraude, conciente ou inconciente, irem os tratar apenas de fenô­m enos certos; e não de quaisquer fenôm enos, que talvez pudessem ler explicação natural, m as sim de fenôm enos “m aravilhosos”, — a que chamamos transcendentais ou supranor- mais, isto é, que parecem exceder todas as forças humanas, e devem ser atribuídos a in­teligências exíra-terrenas. Veremos:

(16) Pg. 83 do livro citado adiante.

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P R I M E I R A P A R T E

FENÔMENOS OU FATOS ALEGADOS

Tratando dos fenôm enos transcendentais,exam inarem os:

A - RELATÓRIO DOS FENÔMENOS SU- PRANORMAIS.

B - REALIDADE DOS FENÔMENOS SU- PRANORMAIS.

C - CAUSAS DOS FENÔMENOS SUPRA- NORMAIS.

NOTA:H ered ia (1 7 ) e o u tro s (1 8 ) p re te rem o nom e de

F enôm enos P s íq u ic o s p a ra os Fenôm enos Superio res ou su p ran o rm a ls . O term o psíqu ico nos pa rece Im pró ­p rio ; p rim e iro p o rque não deno ta , por si, o c a ra te r m arav ilhoso e de p re te rn a tu ra l ld a d e que rev e s te ta is fenôm enos, e, segundo , po rque pode re fe r ir -s e a qu a l­q u e r fa to re la tiv o & in te lig ê n cia h u m a n a e é, neste se n ­tido , que se e m prega g e ra lm e n te , da m esm a fo rm a que os o u tro s te rm o s da m esm a ra iz , como psiqu ism o, p s i­co log ia. Se d isse rm os força p síqu ica , n inguém e n te n ­d e rá que fa lam os de fo rç a o c u lta ou e x tra - te r ren a .

(17) O E spiritism o e o Bom Senso.(18) D. OTÁVIO CHAGAS DE MIRANDA, “ Os fenô­

menos pslquteos e o E sp iritism o”. E ' o titu lo do livro.

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A exp ressão Fenôm enos S up ra -n o rm a is d usada pelo d r. P o o d t e ou tro s. (1 9 ) G ra sse t e os o c u ltis ta s em g e ra l p re fe rem d izer F a to s ocu lto s . E sta expressão tam bem não é exata , po rque os fenôm enos não são ocu lto s; a c au sa de les é que é o cu lta . R ic h e t c riou a exp ressão F a to s M etapsíqu icos, — isto é, — fenOme- nos que e3tão a lem do a lcance d a in te lig ê n cia h u m a n a . E sta é qu e se ria a expressão p rec isa , m as ev itam os em pregá-la , não 6ó po rq u e é pouco conhecida, como tam bem p o rque se pode a p lica r fo ra do te rre n o do E sp iritism o . E ’ m u ito ge ra l.

R eferindo -nos, pois, a F enôm enos T ran sc en d e n ­ta is , F enôm enos S u p ra -n c rm a is ou F enôm enos U ltra- Ffsicos, que rem os fa la r dos F en ô m e n o s P s íqu icos dos o u tro s a u to re s , isto é, os fenôm enos que te m :

* a ) com o in s tru m e n to o m édium ,b) como causa p rin cip al, um e n te in te le c tu a l

ocu lto ,c) como forga de que se se rvo o a g en te in te le c tu a l,

a lg u m a e n e rg ia g e ra lm e n te desconhecida .

Os fenôm enos m e taps íqu icos se div idem em :a ) F enôm enos pa rapsíqu icos,b ) F enôm enos pa ra ffsicos.Os p r im e iro s são os de ordem p u ra m e n te p s íq u i­

ca, como a te lep a tia , e se dizem assim p a ra se d is t in ­g u irem dos fenôm enos psíqu icos com uns. Os segundos são os de o rdem fís ica , e se dizem assim p a ra se d is­tin g u ire m dos fenôm enos físicos n o rm ais ou n a tu ra is , como os da le i d a grav idado , etc.

P a r a nos o rien ta rm o s neste la b ir in to q ue é o E s­p iritism o , va lem o-nos de um a c en te n a de o b ras espe­c ia lizadas, ta n to a n tig a s como m odernas.

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(10) Dr. POODT, Loa fenOmenos m isteriosos de] Pal. qtilNmo, versilo espanhola de Joaquim F uster, pp. 222 e paeslm. Ed. Sucessores Juan GUI, Barcelona.

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P a ra a ve rif icação dos fenôm enos u ltra -fís ic o s, — que é a base d e todo tra b a lh o do fe itio do nosso , — segu im os p rin cip alm en te o liv ro a lem ão W lssenchaf- tlic h e r O ccultism us, — se in V erh ae ltn is z u r Ph ilo so - plile, do sáb io je s u i ta U r. G a tte re r , 1927.

No B rasil não estam os em condições de v e rif ic a r pessoalm en te o qu e se passa no E sp iritism o . A s nossas U n ive rsidades não se p reocupam com e stes a ssun to s. P e lo que , fom os ob rig ad o s a se rv ir-n o s de trab a lh o s e s tran g e iro s e te rem os de, rto decurso d este trab a lh o , m en cio n a r a lg u n s fa to s que o dr. G a tte re r teve oca­sião de v e rif ic a r pessoalm en te , em com panh ia de ou­tro s o bse rvado res f ided ignos e h a b ilita d o s c ien tifica ­m en te p a ra isso.

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F E N Ô M E N O S O U F A T O S A L E G A D O S

P R I M E I R A P A R T E

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CAPÍTULO I

I - RELATÓRIO DOS FENÔMENOS SU- PRANORMAIS:

Passarem os em revista dois GÊNEROS de fenôm enos: EXPERIMENTAIS e ESPON­TÂNEOS.

PRIMEIRO GÊNERO: FENÔMENOS EX­PERIMENTAIS ou PROVOCADOS.

Estes se dividem em duas espécies:'Objetivos, ou Parafisicos, e Subjetivos,

ou Parapsiquicos.

A — FENÔMENOS EXPERIMENTAIS:

1) - TELECINÉSIA, ou m ovimento à dis­tância, LEVITAÇÃO, ou suspensão -no ar, TRANSPORTE, ou adução de objetos.

Aos fenôm enos ordinários das sessões ex­perimentais pertencem os m ovimentos de objetos ponderáveis, sem contado do m édi­um ou de qualquer pessoa presente. É o cha­mado m ovim en to à distância, fenôm eno que

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Charles Richet denominou com o nome grego de T elednésia (20). Quando os objetos ou o próprio médium não só se levantam no ar, mas ate perm anecem algum tempo suspen­sos, como a pairar, sem apoio, e cm franca infração da lei da gravidade, o fenôm eno sc chama, propriamente, Levitação. Se os obje­tos não são do recinto, mas procedem de fo­ra, o fenôm eno se chama transporte, em francês "apport”.

Os movim entos não se desenvolvem con­form e as leis físicas ordinárias. Os objetos fazem percursos com plicados, às vezes vaga­rosam ente, às vezes rapidam ente, como trans­portados por uma força inteligente.

As nossas fontes dc informação, a respei­to desta espécie de fenôm enos, são os livros do D r. G atterer, jesuila, de Charles Richet, fisiólogo francês, e do barão Schrenk-Notzing, psiquiatra alemão. As obras deste último au­tor foram acremente criticadas por diversos sábios, mas os fatos por ele narrados foram, em grande parte, exam inados e autenticados pela S ociety for Psychical Research (S. F. P. R. ou S. P. R .), de Londres. Aceitamo-los com a reserva que deve fazer quem só quer a ver­dade.

Por agora, deixando dc parte o exam e desses fatos, apraz-nos citar os médiuns que

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(20) Telcelnéüla 6 composto de Tcle, de longe, I íi- neln, mover. Richet, Ignorando as leis da translltoracuo. escreveu Teleltlnesln, com k. Mas 0 sabido que o k grego se tran s llte ra pa ra c em latim , r o r exemplo, com, c lro . cfnemn. clulsmo, cético, etc. que em grego se escrevem kero, k lrlos, klnemn, klnlsniog, skcptlcox, etc.. Q uanto ít pronúncia, profer.m os dlzcr telccluéxia, em bora reconhe- ijainos que lambem telcclnexln ê certo.

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mais se notabilizaram nesta espécie de fenô­menos.

E stanislawa T om czyk, polaca, de Varsó­via. A sua mediunidndc se manifestou aos 20 anos de idade, estando ela fraca, doente, em estado de extrema nervosia. Quando o m édi­co lhe fazia uma receita, o tinteiro começou de mover-se com grande espanto dc todos. Desde então Estanislawa se deu ao espiritis­mo, operando sob a direção do Dr. J. Ochoro- loicz, em Varsóvia, e de Von Schrenk-Notzing, em Munique.

Durante a elevação dos objetos, veem-se form ações filam entosas no espaço, o que faz pensar em fraudes. As sessões são realizadas em ambiente claro, à luz branca. O m édium está sempre cm estado de sonambulismo, e diz-se dirigido pelo seu guia invisível Olga, espírito de uma menina que falecera aos dez anos de idade.

Ensúpia Palladino, italiana, 1854-1918, en­tregue ao espiritismo desde os 12 anos, atri­buía os seus fenôm enos telccincticos à m ísti­ca personalidade de “John K ing’’. De ne­nhuma instrução, quase analfabeta, Eusápia, entretanto, era de grande sagacidade natural. Muito viva, foi apanhada cm fraude duran­te as experiências de Gambridge, na Inglater­ra. Operou, por muito tempo, sob a direção dc vários cientistas, como Courtier, E. Bran- ly, P. Curie, 3. Perrin. G. V. Schiaparelli, Lom- broso e outros.

Do protocolo das investigações dos expe­rimentadores salientam os os seguintes fatos: Deslocamento e levitação de objetos pesados.

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Diferença de peso do m édium durante as experiências, diferença para mais e para m e­nos, registada automaticamente por uma ba­lança sobre a qual Eusápia se encontrava. Fenôm enos de natureza não definida. Toques e apalpadelas denunciados por alguns assis­tentes. (21)

Tendo sido descobertas algumas fraudes da parte de Eusápia, a S. P. R. suspendeu as experiências; mas tantos foram os testemu­nhos posteriores, que a Sociedade resolveu reassumir o serviço, chegando, enfim , segun­do afirmam, a estabelécer a realidade de m ui­tos fenôm enos ocultos.

Eusápia trabalhava quase sempre em transe, abrangendo a sua esfera de ação um raio de um metro apenas. Luz muito fraca. De uma feita, conseguiu levitar uma m áqui- na-de-escrever que pesava quinze kilos. Os ob­jetos em movim ento seguiam direção em zi- zue-zague, cam inhos tortuosos, como para evi­tar ferir os assistentes. (22)

Kathleen Coligher, americana, num am­biente fam iliar conhecido com o nome de Cir­culo Coligher, operou sob a direção do engen- lhciro W. J. Crawford. (23). Tendo-se este suicidado em .30 de julho de 1920, encarregou previamente, por carta, o seu amigo Fournier

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d ’Albc, dc continuar as experiências. Four- nier descobriu fraudes, devidas à cooperação da fam ília do m édium c, em vista disso, não só concluiu que as suas experiências pessoais não acharam fenôm enos supranormais, como lambem que Grawford tinha lido confiança demasiada nas pessoas do circulo. (24)

Crawford chama “operadores” aos espí­ritos serviçais. O fenôm eno principal foi sem ­pre a elevação da mesa, sem contacto. Varia­ção de peso do médium, com dim inuição até de vinte kilos. Crawford supôs que os opera­dores formavam um membro mediímico, — a “alavanca psíquica”, — com matéria tirada do corpo do médium, e era essa alavanca que m ovia a mesa. Pedindo ele, uma vez, aos ope­radores que dim inuíssem o m áxim o de peso do médium, sem prejudicar-lhe a vida, veri­ficou que Coligher perdeu, na experiência, 21 kilos, quase a metade do peso total de seu cor­po. A perda não foi uniforme. Até 13 kilos foi vagarosa c ritmada; daí por diante rápida e com contrações musculares.

W illi Schneider e R udi Schneider, irmãos, apresentaram as mais recentes experiências sobre movim ento à distância. Estes médiuns eram filhos de um tipógrafo, José Schneider, de Braunau, Alemanha. (25)

W illi, segundo dizem, manifestou faculda­des m ediúnicas desde 16 anos de idade. De de­zembro de 1921 até fevereiro de 1922 realizou

(24) PAUI-. HEUSI5, Oíi o» o.xt In M(-tnii.iycIil<iuc, PS- 128-137.

(25) SCHRENK-NOTZ1NÜ. E xperim ente der Fcrnlie- ívriniiie, Union D eutsche V erlnffsgesellschaft, S tu ttg íirt. U eilln, 1824. E: M aterlallsutiona phuenomene, pg. 548-601.

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104 sessões em Munique sob a direção de Von Schrenk. Vive ainda.

Interessantes são algum as observações de Von Schrcnk acerca das qualidades pessoais deste m édium : “W illi é inclinado à mentira, ao desperdício, à dissipação, à vida perdulá­ria, à basófia. Gosta de vestes elegantes, de lu­xo; frequenta cinem as e teatros. É imoderado no uso de charutos. Às vezes, mostra-se ama- vel e modesto. Bem que normal, revela dis­posições um tanto histéricas.” (26)

Quando em transe, W illi se diz dirigi­do pelo espírito chamado “Mina.” Em tran­se e na vigília, o médium denuncia duas per­sonalidades m uito diferentes, em flagrante contraste uma com a outra.

W illi deu sessões experim entais peran­te a Universidade de Munique (A lem anha), a Universidade de Viena (Áustria) e com is­sões da S. P. R., de Londres.

Rudi, irmão de W illi, e no qual se incor­porava o espírito chamado Olga, realizou tambem muitas sessões positivas, das quais relataremos algum as daqui a pouco.

Ainda sobre telecinésia e transporte m e­recem lem bradas as experiências de Zõllner com o médium Slade, e as sessões das Senho­ras Vollhart e Maria S ilbert. (27)

SiSÍ* Si

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A-niiutlc, a telecinésia é acom panhada de fenôm enos lum inosos e auditivos.

2) TELEPLASTIA, ou Materialização.

O fenôm eno mais surpreendente e, m es­mo, o mais discutido e posto cm dúvida, do hodierno ocultismo, c o chamado Teleplas- lia ou e c lo p la sm ia .. . (28). Surgem form as fantásticas, membros, mãos e até fantasm as inteiros, vivos e anim ados. Iiá, primeiro, um sim ples filam ento, uma form ação esponjosa e indistinta, que se avolum a e se condensa até formar o membro ou o fantasma. E’ o pe- riodo de MATERIALIZAÇÃO. Depois, a for­ma fantástica se dilui, se sutiliza, regride: é o período de D esm aterialização. Num caso e noutro, o espectro é ligado ao corpo do m é­dium, e parece estar em sim biose com ele, percebendo-se a ligação, entre o m édium e o fantasma, por m eio de um filam ento a que chamaram “cordão um bilical.” A 'desmate­rialização é, quase sem pre, rápida, e feita por obscurecimento dos contornos ou por reabsorção no corpo do médium.

N otabilizaram -se nesta espécie de fenô­m enos os médiuns seguintes:

Florence Coolc a qual, em 1873, durante quatro meses, trabalhou com o sábio Croo- kes, em Londres. Em presença do médium

pbysIkallRchen Phaeuom ene der r ro u e n Medlen, pg.J25-273.

(28) Tclei>liiN«ln, do grego, quer dizer formoçao no longe: _ te lc - longe, plmaso, . form ar. Ectoplnsm la. - for- maoáo dc dentro para fora: extes, — fora. Uxtoplnsiun, como term o de zoologia, já era usado an tes de IUchot. S ignifica: zona periférica do protoplasm a da ameba.

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aparecia um fantasm a fem inino, muito pa­recido com o médium, e que se dava o nome de Iialie King. Esse fantasm a-fêm ea ca­minhava no recinto, conversava com os as­sistentes, oferecia presentes. Oito anos mais tarde, Florence Cook, tendo trocado de nome e passando a chamar-se Comer, foi apanhada em fraude. Ela, e o fantasma que pretendia m aterializar, eram uma só pessoa. (29). Além disso, o médium Douglas Home, que, durante muitos anos, tinha trabalhado sob a direção de Crookes em sessões experim en­tais, afiançou a Camilo Flam m arion que a en­cantadora e gentil senhorita Florence Cook havia ludibriado o bom de Crookes no epi­sódio de Katie King. (30) Tudo isso fez crer que as cenas de Katie King não passavam de uma farça pregada a um velho, demasiado crédulo, por uma moça, bastante esperta. Não obstante, Crookes, que era míope c que nunca tocou no fantasma, eslava convencido da realidade deste. “Tenho absoluta certeza, — disse ele, — que K atie King e Florence

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Cock, são duas individualidades com pleta­mente diferentes.”

EVA CARR1ÈRE, francesa, nossa con­temporânea, e cujo nome verdadeiro é Marta Béraud, realizou m emoráveis sessões na Vi­la Carmen, em Argel (África), em presença do General Noel e sua esposa, em 1905. O cientista francês Charles Richet foi a princi­pal figura entre os assistentes. Durante as sessões apareceu o fantasm a de Bien Boa, antigo grão sacerdote de Golconda, c que era frequentemente acom panhado pelo fantas­ma de sua irmã Bergolia. Tais sessões foram em 1905, e já em 190G o c/r. Roubij, após in­quérito rigoroso, chegou à conclusão de que a jovem Marta Béraud havia representado, perante Richet, uma im pagavel com édia. Tu­do não passara de um grotesco conto-do-vi- gário. Rouby cita o testemunho dos árabes Aleski e Mary, criados do General Noel, e que haviam sido comparsas ou cúmplices da mistificação. Cita ainda o testemunho de Mme. Cochet, do sr. e da senhora Portal, todos eles presentes às sessões.

Aliás, o pai de Marta, e ela própria, de­clararam a Mme. M ersault que, tanto Bien Boa como Bergolia, tinham sido produto de uma brincadeira. Fora tudo uma m istifica­ção. Declararam isto a diversas pessoas, em ­bora a protagonista, Marta Béraud, para não desconcertar o sábio Richet, sempre lhe ga-, rantisse a realidade do fantasma. (31)

(31) PAUL HEUSÊ, Oú cn eat la M etnp.ychlqne, psr. 115 e seguinte«.

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Mais tarde, Marta Bérautl, já então Eva Carrière, tornou-se médium de Mme. Bisson e realizou sessões experimentais com Richcl, em Paris, com Schrenk-N olzing, em Muni­que, com G. Geley e perante com issões da S. P. R., de Londres (1920), e da Sorbona. G. Geley confessa ter visto membros m ateriali­zados, — dedos, m ãos e cabeças. Diz ele: “Vi um crâneo vivo cujos ossos toquei debaixo do cabelo denso. “ (32) E, com excessivas m i­núcias, descreve o resultado de todas as ses­sões, em que apareceram ectoplasm as ou fantasmas.

Observemos, porem, que o relatório da Sorbona sobre as experiências com Eva Car- riere foi “inteiram ente n egativo" e que o da S. P. R. ficou reservado, por só se terem da­do fenôm enos sem importância. (33)

Franek Kluski, polaco, de Varsóvia, poe­ta, entregou-se ao espiritismo e trabalhou junto à Sociedade Polaca para Pesquisas Psí­quicas. O fenôm eno m ais singular que dizem ter-se dado com Franek foi a m aterialização de um espírito, em forma de anim al. Trata- se de um monstro, — cara de macaco, corpo de cachorro, — que passeou no recinto, lam ­bendo e faTejando os assistentes. Chamaram- lhe an tropopiteco, nome criado pelos trans­form istas para designar o hipotético inter­m ediário entre o homem e o macaco.

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(32) RICHET, GrnndzueBC (H‘r PHrniiHycholojglc der PnrapcjoliophjM lk, pg. 315. G. GELEY, Dle sog. »uprnnor- mnle Physlologie tiud dle Phnciiomene der Idcoplnatle,1920.

(33) PAUL HEUSC. obra cilada, pag. 12G e seguintes. V eja-so no fira o re la tó rio da Sorbona, assinado por Louis Laplcque, Georges Dumas, H enrl P lóron e H enrl Lauglcr.

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Vindo para Paris, em 1920, Franek ta- balhou no Instituto M etapsiquico, sob a di­reção de Richet, A. de Gamont e Geleij. Aí, alem de provar as materializações fotografica­mente, Franek obteve dos espíritos que eles deixassem a impressão dos membros em de­pósitos de parafina colocados junto do m é­dium. Dessas m oldagens tiraram-se reprodu­ções positivas, em gesso, representando mãos e pés dos espíritos. (!) E’ de ver que a novi­dade fez época; é de ver tambem que a frau­de se insinuou facilm ente no novo processo de provas das materializações, e isto não só nas sessões científicas com o nos centros sus­peitos. (34)

Maria S ilbert trabalhou com o barão Von Schrenk, com Oesterreich, H arler e Auer, (1921-1922.) As sessões de D. Maria Silbert tem aspecio assombrador e deprimente, por­que são caracterizadas, sobretudo, pela fre­quente visita de fantasm as materializados.

Para com pletar a nossa exposição, e dis­tinguir o que pode ser real, do que é franca­mente produto da fantasia ou da fraude, tra­duzimos os relatórios de algumas sessões fis ­calizados pelo Dr. Gatterer, jesuita, e por ou­tros, reservando para ulterior capítulo o exa­m e crítico dos fenôm enos alegados.

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(34) O. GEL73Y, Mnlcrjnllxatloonphuenniiiciie m lt Frnuck K lunkl. LelpziK. 1022. G. GKLER, Hc-llcsehen-Te- Icpustlk, vs. 177. SCHRENK-NOTZING, M aterlnllxatlons Phucnomcne, vs. 030.

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EXPERIÊNCIAS PESSOAIS DO P. DR. GATTERER S. J.

As investigações sobre o ocultismo en­tram pela maior parte no cam po das ciências 'çxperimentais. Para estas, são indispensá­veis observações e experiências. Sendo pro­fissional em ciências naturais, o Dr. Galterer timbrava em aproveitai-se de toda ocasião para fazer indagações, ç estabelecer observa­ções cientificas acerca dos fenôm enos ocul­tos. A idéia de que a investigação católica es­tava, neste terreno, alc hoje, quase abando­nada às referências alheias, o estim ulava muito à experiência própria. Acolheu por isso, gratamente, os convites que recebeu de várias partes, para convencer-se de visa da realidade dos fenôm enos ocultos. Da bem ri­ca experiência que adquiriu, escolhem os ape­nas alguns trechos e resultados mais notá­veis; mas, para sermos exatos, referirem os nesta secção as próprias palavras do relator, devidam ente traduzidas.

FEN Ô M EN OS COM R C D I SO H N E ID E REm 17 (le ja n e iro de 1925 a n u í ao convile am a-

vel do D r. A. B arão (lo Sch rcnk -N o tzing , p a ra a ss is tir, no seu la b o ra tó rio , em M unique, a um a sessão com R iid i. A -fim -de d a r id é ia e x a ta do que se ja um a ses­são, vou re la tã -la m a is e s ten sam e n te , de m odo que, nas se gu in tes , possa res tr in g ir-m e ao essencia l.

N a ta rd e do d ia m arcado fu i á casa do Barão Sch renk , bem a n tes d a h o ra da sessão. D epois de breve conversação 110 e scritó rio , fom os ao la b o ra tó ­rio p a ra exam iná-lo m inuc io sam en te . E ’ local q u a d ra -

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do, de ta m an h o reg u la r . C onform e ind ica o desenho anexo, um can to da sa la é se parado com o ga b in ete p or c o rtin a p re ta , que se pode a b r ir e fechar. T am ­bém as p a re d es in te rn a s do g a b in e te são cobertas com pano pre to .

P o r exam e cu idadoso , convencí-m c de que não h a ­v ia nas p a re d es acesso secre to que pudesse p e rm itir a e n tra d a de cúm plices. U m a p a rede do ga b in e te é e x te r io r ; o fundo d a secgão pude v e rificárlo do c o r­red o r contíguo . Ao lado d ire i to da co rtina , jà fo ra do local escuro , en co n tra-se um a p o r ta fechada , se lada

G ráfico n.o 1

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com um a t i r a de papel, na qua l e s tá legível a in d a o nom e D ingw al, m em bro d a S. P . R ., le m b ran ç a de um a sessão a n te r io r . N a f re n te da c o rtin a , acham -se duas m esas com ob je to s , que devem se rv ir p a ra operações de te lec inésia , m ovim entações à d is tân c ia : violino, ta m b o ril, b a stõ es fosfo rescen tes , c am pa inha, a rgo las , m arim b a, c once rtina , etc. T odos são revestidos de m a­té r ia fo rtem e n te fo sfo rescen te , de m odo que possa se r no tado , com b a s ta n te se g u ra n ça , o s itio de les, m es­mo em com pleta escuTidão.

E m red o r das m esinhas, pa ra a fre n te , h á um a espécie de b iom bo, fo rrad o de véu p re to , m as trau s - p a re n te , o qual deve im ped ir , n ão a observação , m as sim , q u a lq u er in trom issão f ra u d u le n ta dos e spectado- dores. E sse biom bo é, de um lado , ligado com a pa­rede , de o u tro fica cerca de 50 c tm s. d is ta n te dela. Em red o r do biom bo, por* fo ra , estão os a ssen to s dos espec tado res. *

Às o ito da no ite , n a h o ra d e te rm in a d a , fu i à an ­te -sa la , onde vá rio s convidados já e stavam reun idos : o G enera l P e d ro , conhecido e sc r ito r e sp ir ita , vá rio s p ro fe sso res d a U n ive rsidade de M unique, enfim o ve­lho S chne ider com o filho R ud i, de 16 anos, que vai fu n c io n a r como m édium . R ud i dá a im pressão de ra ­paz sad io , v igoroso , e tem a p arên c ia s im pática , m o­d esta . D epois de c u m p rim en ta r a to d o s oã convidados, o B arão von S c h ren k cham a os que v ie ra m pe la p ri­m e ira vez, ju n ta m e n te com o m édium , p a ra seu ga ­b in e te d e trab a lh o , onde R ud i, sob con tro le m inuc io­so, v e s te o t r a j e de term in a d o p a ra a s sessões. Consis­te em calças la rg a s e pa le tó leve, im pregnado , nas a rticu la çõ e s dos pés o m ãos, de m a té r ia fosfo rescen te , p a rn que o co n tro le do m édium possa se r feito a té no escuro e p o r to d o s os e spec tado res. D epois de e starm os convencidos de que R u d i não tem consigo qu a lq u er m eio ou a p a re lh a m e n to m ecânico de f ra u d e , e n tra

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ele, acom panhado por uóa, n a aa la d a sessão , Inspec­c ionada pouco an tes .

Som os em n.° de 12; cada um to m a lu g a r: S ch renk- N otz ing no a ssen to n.° 1; no q u a d ra d o p re to , o m é­d iu m ; em S e 9 os c o n tro lad o res . A luz c la ra e b ra n ­ca é su b s ti tu íd a pe la v e rm elha , red u z id a po r um reós- ta to . D epois dc poucos m in u to s, cai o m édium em tra n s e com alg u n s estrem ecim en tos . Os c o n tro lad o res se g u ra m a s m ãos e os pés do m édium . Im ed ia ta m e n ­te a n u n c ia e ste, coch ichando , que chegou a “ in te li­g ê n c ia ”, da q u a l se crê possu ido e dom inado em tr a n ­se. " O lg a ” a n un cia -se , pe la voz do m édium , com “ D eus te s a lv e ” , o que é respond ido pelos presen tes .

S ch renk já m e tin h a explicado a n te s que, como os m éd iuns são e sp ir ita s , — consequência de su a e d u ­cação e rrad a , — devem os, bom ou m au g rado , con­d e scender com su a s idé ias , se qu ise rm os o b te r re su l­ta d o n a s sessões; qua n to a ele, e stav a convencido de que niso não se tr a ta v a de in te rvenção do v e rd a d e i­ros e sp írito s , m as de m a n ifestações m ú lt ip la s da p e r­so na lidade , pelo im pério da c h am ad a subconclência. P o r esse m otivo , o d ire to r d a s e x periênc ias d irige a “ O lg a” ve rdado iro d iscu rso de sa u d aç ão ; um a m i­go t in h a traz id o a té um ram a lh e te de v io le tas. E m segu ida, são ap re sen tad o s os a ss is te n te s , um po r um , p a ra que “ O lga” q u e ira m o s tra r os seus belos fe itos, se r g e n til p a ra com os novos hóspedes e não nos d e ix a r e sp e ra r m uito .

D epois de um a h o ra in te ir a , d u ra n te a qua l n ad a se deu de im p o rta n te , d e se ja “ O lga” q ne q u a tro s e n h o ­re s de ixem n snln, e n tre e les ta m b ém o g e n e ra l P e d ro e S c hne idcr pa i.

A ssen tam o-nos, um p e rto do o u tro e, a desejo do m édium , fo i-se a lte rn a n d o um a conversação a n i­m ada ao som do gram ofone . A dvertido pelo viz inho , percebo que o pano p re to que cobria os in s tru m e n to s

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da m esa e s tav a sendo tira d o ; no to a in d a o m ovim en­to d a c o rtin a do g a b inete , reconhecível pelo ba lança- m ento das tir a s fo sfo rescen tes a ta d a s a e la. D u ran te a m a rc h a a leg re , m a rc av a “ O lga" o com passo com o bastão fosfo rescen te . F in a lm e n te m ov im enta-se o vio­lino, à m in h a f re n te ; vai sub indo e descendo por ci­m a da m esa e tocando a m a rc h a com to q u e s r e tu m ­ban tes . Com tudo isso, não perco de v is ta o m éd ium ; os b a rb a n te s de m ãos e pés e stav am em seu lu g a r. Dos e spec tado res ouvem -se ac lam ações se m p re m ais a n im ad o ra s ; o e x p er im e n tad o r esfo rça -se por tem pe­r a r o e fe ito . D ebalde. S em pre m a is re tu m b an te s se to rn am as pa n ca d in h as. P e rcebe-se, pelo som , que o in s tru m e n to e s tã a c h a ta d o ; c o n tin u a , porem , a m a r­c a r o com passo e x ata m en te , em bora com ta n ta vio­lência que , em dado m om ento , cai em pedaços. Ou­tro s fenôm enos p roduzidos são ; fo rte m ov im entação da c o rtin a , toque fraco d a co n ce rtin a , toque do ta m ­boril, o e rg u e r e p a lra r no a r, da cam p a in h a, q u e é to cad a e, em segu ida , a t i r a d a p o r c im a do b iom bo, ao pé de um a a ss is te n te . F in a lm en te ouve-se g ran d e ba ­ru lh o a trá s do b iom bo, no rec in to de experiênc ia . To­dos os ob je to s de itad o s cm c im a das d uas m esinhas 6ão lançados uns po r cim a dos o u tro s ; a s p ró p ria s m e sin h a s f in a lm en te d e rru b ad a s , a c o rtin a e o b iom ­bo v io le n ta m en te puxados em sen tid o c o n trá r io . Em luz c la ra verificou-se o h o r ro r d a devastação .

D u ra n te um in te rv a lo , desen ro lou -se e n tre o Ba­rão S c h ren k c m im um a pequena conversa, ouv ida pe­lo m édium , que tin h a v o ltado ao estado n o rm al. Em segu ida , c o n tinuam os a sessão com luz v e rm e lh a ; m as, não a p arecendo m ais o u tro s fenóm enos, foi te rm in ad a a sessão.

S egue o p ro toco lo exato da sessão , o qu a l fo i d ita ­do d u ra n te a m esm a pelo B arão S ch renk a um a este- nó g ra fa , localizada no fundo da sa la.

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SESSÃO D E 17 D E JA N . D E 1025

Com R u d i Schnc idcr, 110 la b o ra tó r io do D r. B a rão Ton Sclirenk-N otz ing , em M unique.

PR E S E N T E S : D r. K aem m ere r, m edico, p rof. na U n ive rsidade de M unique; D r. K ar l G ruber, p ro f. de zoo logia n a P o lité cn ic a de M unique; D r. K u rt S lerp , p ro f. o rd . de b o tâ n ica n a U n ive rsidade de M unique; D r. em filo so fia A. G a tte re r , p rof. no I n s titu to d e fi­losofia , len te ag reg ad o n a U n ive rsidade de In n sb ru c k ; G enera l P e d ro ; D r. em m ed ic ina e f ilo so fia K rleg , le n ­te ag re g ad o ; S tu d ic n ra t L am b ert ( S tu t tg a r t ) ; p in to r E b ers ; e s c r ito r S c h u lte -S tra th au s ; condessa A .; Schnei- de r, p a i; d ire to r das experiências.

O sr . P ro f. G a tte re r , de In n sb ru c k , à s 3 e m ela h o ras , p rocedeu a exam e m inucioso do la b o ra tó r io , in ­c lusive das pa redes, e convenceu-se de que não hav ia accesso possível ao g a b inete , nem de fo ra , nem de d e n tro , nem p o r c im a do te lhado .

O CONTROLE PR É V IO DO MÉDIUM fo i e fe tu a ­do no ga b in ete de t ra b a lh o do d ire to r das experiências pe lo Sr. P ro r . S lerp ., P ro f. G a tte re r e D r. K rieg . O m éd ium foi m in u c io sam en te exam inado em todo o c o r­po, a té n a cav idade da boca, inc lusive n a riz e ouv i­dos. D a m esm a fo rm a os vestidos do m éd ium , n a s d ob ras e c o stu ras . R esu ltado negativo . R u d i calça bo­tin a s com a ta c a d o re s ; u sa m elas , cam isa, cueca, co la­r in h o e g rav a ta . P o r c im a d a p ró p ria calça, v e s te a in ­da ca lç a e c asaqu inho p e rte n ce n te s ao d ire to r das ex­p e riências , am bos gua rn e cid o s com b a rb a n te s fosfo­resc en tes em re d o r das a rticu la çõ e s das m ãos e pés.

CONDIÇOES DAS E X PE R IÊ N C IA S : O biom bo q u a d ra n g u la r se p a ra , como de costum e, o rec in to de experiênc ias do dos espec tado res. A a b e r tu ra , do lado do m édium , e n tre o b iom bo tr a n s p a re n te e a c o rtin a do gab in ete , é de cinco c en tím e tro s . D en tro do cam ­

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po de experiênc ia s enco n tram -se d uas m esinhas, colo­cadas nm a ao lado d a o u tra . Sobre a pequena m esa do fu m ar e s tá o ta m b o ril e um b a stão fo sfo rescen te . So­b re a m esa de 4 pés e ncon tram -se co n ce rtin a , violi­no, a rg o la s fo sfo rescen tes , c am pa inha, a lem de um ra ­m a lh e te de v io le ta s, traz id o pelo sr . S c h u lte -S tra th au s p a ra "O lga" , e to rn ad o visivel po r um b a rb a n te fosfo­re scen te em red o r das h a stes . Ao lado da m esinha h á um cesto de papéis.

A d is tân c ia do m édium (om bros) a té a a b e r tu ra (m eio) d a c o rtin a é de l,m .2 0 .

A s 8,40 h o ras , Inicio da sessão . A 6ala de expe­riên c ia s f ica fechada po r den tro , à chave. A paga-se a luz b ran c a .

O RDEM D E ASSENTO S:

CONTROLE DO M áD IU M : P ro f. G ruber, no can­to d ire ito , S c h u lte -S tra th au s , depois D r. K rieg , E bers, Condessa A., P ro f . G a tte re r , S tu d le n rn t L am bort, P ro f. Sierp , ex p erim e n tad o r.

2.* F IL E IR A — G enera l P e d ro , Schnoider, pai. O prof. K ae m m e re r, chegado com pequeno a tra so , às 8,44 h o ra s e n tra no circu lo .

8,45 : começo do tra n s e , p rim e iro com fraco , depois c&m fo rte estrem ecim en to .

S ,49: “ O lga” an u n c ia -se com “D eus vos s a lv e ! ”8 ,50 : “ O lga" d e se ja pausa de 16 m inu to s, a -fim -

de qué possa s e r ve n tila d a a sa la , d e m asiadam en te aq u en ta d a .

8,62 : o m éd ium acorda.P a u sa d e 16 m inu to s.9 ,05 : Os a ss is te n te s re tom am os seus lu g a re s nos

a ssen to s a n te s a ssin a lad o s. A luz b ran c a é ap ag a d a, a p o r ta fechada po r d e n tro .

9 .08 : O m édium cai em tra n s e com fo rte e strem e ­cim ento . E ’ a p ag a d a a luz ve rm elha . T odos os p rese n ­

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- 51 -te s con tro lam -se m u tu a m e n te , segu ra n d o -se pelas m ãos e fo rm ando c o rren tes . A lem d isso, e s tão a ssen tad o s tão pe rto u n s dos ou tro s , que n inguom de fora pode p a ssa r a c o rren te .

9 .09 : “ O lg a ” pede conversação v iva ,9 .40 : "O lg a ” d e se ja que o Sr. G enera l P ed ro ,

P ro f. S lerp ., U r. K rlcg e S chneider, pa i, abandonem , p o r en q u an to , a, sa la .

9 .42 : T ro ca de con tro le . P ro f. J a em m ere r subs- t ltu e o P ro f. G ruber. A c o rren te é .re d u z id a , de m o­do que o s a ssen to s dos a u sen te s fiquem ocupados pe­los p rese n te s .

9 .50 : A desejo de " O lg a ”, a 6 e c rc tá r la fnz o g ra ­m ofone to c a r v á ria s peças (m arc h as e danças) com r itm o m u ito d is tin to .

10 .05 : N ova tro ca de c on tro le .10 .22 : L eves m ov im en tos d a c o rtina . O pano p re ­

to , com q ue os ob je to s de cim a das m esas fo ram co­b e rto s , p a ra d im in u ir o seu e fe ito fosfo rescen te, foi t ira d o p o r m ão Invisível.

10 .26 : O sr . E b ers a n u n c ia s e n tir co rren te f r ia de a r .

10 .27 : O ba lanceio da co rtin a , m o rm e n te da m e tad e do lado do m édium , é m u lto v ivo ; m a io res excu rsões dos b a rb a n te s fo sfo rescen tes .

10 .28 : “O lg a ” m arca , com o b astão fosfo rescen ­te , o com passo p a ra a m a rc h a tocada pelo g ram o ­fone.

10 .30 : O v io lino com eça a m ov im en ta r-se . T o­que com passado , com c rescen te fo rça. O violino cal ao chão.

10 .31 : O P ro f . S ierp reocupa o lu g a r a n te r io r .1 0 .31 : N ova tro c a do con tro le . E m lu g a r do sr .

E bers , a ce ita de novo o con tro le o s r . K am m erer. “O lga” e s tabe lece nova o rd em d e a ssen to s. E n q u an to e sse d e se jo é com prido , o s r . S c h u lte -S tra th au s e n tra

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no rec in to de experiênc ias, p a ra reco loca r o vio lino so ­bre a m esa, de ta l fo rm a que o cabo do in s tru m e n to ficasse v irad o p a ra a a b e r tu ra d a c o rtin a .

11 .08 : A s o n d u la sõ es da c o rtin a recom egam .11 .10 : T oques com passados e c rescen tes do vio­

lino.11 .12 : M ovim entos co n tin u ad o s da c o rtin a . O

vio lino m arca com passo fo rtíss im o .1 1 .13 : V eem entes ba lanceios da c o rtina .1 1 .14 : O m édium sen te-se a n im ado a p e d ir m aio­

res fe ito s ; depois disso , o toque com passado do vio­lino vai sem p re crescendo a té d a r golpes v io len tos. C o n tín u as sugestões ao m édium , d a p a rte dos a ssis­te n tes , fazem cresce r a in d a de v io lência os feném enos. A força d esencadeada se desenvolve e despedaça o in s tru m e n to , a té que dele não re s ta senão o cabo, co­m o re su l ta da ve rificação po ste rio r.

1 1 .16 : T oque suave do ta m b o ril.1 1 .17 : Com eçam to q u es m a is su rd o s sob re a pele

do tam boril, como com um o b je to m eio du ro , que po­d e ria se r um m em bro hum ano . A a la d a po rtin h o la v irad a p a ra o m édium m ove-se p a ra t r á s ; os b a rb a n ­te s fo sfo rescen tes com pridos são puxados, fo rtem e n te , p a ra o in te r io r do gab inete .

11 .19 : F az -se e n tão o uv ir a cam p a in h a ; e levan ­do-se no a r, é lan ça d a po r cim a do b iom bo, e cai ao pé da condessa A.

11 .20 : A c once rtina m ove-se; ouvem -se a lg u n s sons, a ssim como um golpe de in s tru m e n to na m esa. O prof. S ierp e o d ire to r das experiênc ia s erguem -se p a ra m e lh o r o b se rva r os fenôm enos por c im a do biom bo.

11 .21 : O ta m b o ril, d e itado n a m esinha de pa lha , é tocado , de acô rdo com o ritm o da m úsica , e, depois, a tirad o ao chão.

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11.22 : O uve-se, depois, um b a ru lh o e x tra o rd in á - dio a trá s do b iom bo, no rec in to das experiências. T o­dos os o b je to s d e itad o s n as m esas sáo a tirad o s , con­fu sam en te , u n s em cim a dos o u tro s, e as m esas, f in a l­m ente, tom bam no chão.

11 .24 : E ’ lig a d a a luz b ran c a p a ra se v e rif ic a r o re su ltad o dessas fo rte s in fluências .

11 .25 : k luz c la ra , vem os as d uas m esas v irad a s no ch ão ; por a{, em todos os sen tidos, os pedaços do v io lino . Alem d isso, verif icam os q ue o b iom bo, do la ­do do m édium fo i puxado a té p e rto d a co rtin a . No e n ta n to , não pudem os a p u ra r se esse fecham en to se deu a n te s ou após do ú ltim o fenôm eno.

O d ire to r puxa a m esa m a io r p a ra tr á s da c o r ti­na, d e n tro do g a b inete , e, sob re a m esinha de fu m ar, coloca um a c aix inha de m úsica de criança , o tam boril, a cam p a in h a e um a a rg o la fosfo rescen te.

O e x p erim e n tad o r to rn a a fec h ar o cam po de ex­pe riências , de m odo que a b e ira do b iom bo 'se u n a à ti r a fo sfo rescen te d a c o rtina .

11 .30 : Segue p e quena pausa , à s e scu ras, d u ra n te a qu a l o m édium fica sob c o n tro le e pode descansar. Os a ss is te n te s ficam to d o s em seus lu g a res .

11 .42 : Os m ovim entos da c o rtin a recom eçam .1 1 .50 : “ O lga” pede u m a p a u sa d e 18 m inu to s.

C o n tin u aram depo is as e xperinclas nas m esm as con­dições.

11 .55 : R ud i a co rda .18 m in u to s de pausa.D u ra n te e s te rec re io , no local con tíguo , e n tre te m -

se os p rese n te s so b re o re su l ta d o ; e um espec tado r, que pe la p r im e ira vez em su a v ida a ss is tiu a um a ses­são , ex tern o u a possib ilidade de um dos p rese n te s te r- se in tro d u z id o no g a b inete , e te r , fra u d u le n tam e n te , p roduzido todos esses fenôm enos. Com essa f a l t a de com preensão do v a lo r c ien tífico do m é todo , e ra d e ro-

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c ca r que a conversa, n m ta n to Im p ru d en te , pudesse d e p rim ir o to lh e r a s disposições do m éd ium .

12 .12 :R ein fc io d a sessão , com o de costum e.12 .22 : T ran se . N ão se dando , porem , m a is fenô­

m eno a lgum , foi le v an ta d a a sessão à 1 h o ra .A cau sa do fracasso da ú ltim a p a n o deve sor

a tr ib u íd a à p e rd a d e d isposição do m éd ium , p rovoçada pe la obse rvação m en cio n ad a so b re a possivel frau d e. B aseado na sua experiênc ia de m u ito s anos, Schneider, pa i, pensa que o m éd ium e stav a h o je p a rticu la rm en te fo rte , e que te r ia dado re su l tad o tam bem a ú ltim a p a rte , se tiv e sse sid o o m it id a nqu e lq conversa.

1 .06 : R u d l a co rda .

O BSERVAÇÕES FIN A IS DO D IR E T O R DAS E X PE R IÊ N C IA S

O d e sen ro la r d e s ta sessão fo i sa tis fa tó rio , típ ico e análogo ao das p receden tes . A d e stru ição do vio lino , em ta n to s fragm en tos, provou que , p o r co n tin u as a n i­m ações, são p roduzidos e fe ito s v io len to s e a té b ru ­ta is ; e stes podem d e g en e ra r nu m a ta l c on fusão d ç fe ­nôm enos, q ue to rn a Ilu só ria a so lução c e r ta de fenô ­m enos p red e te rm in a d o s . N esse p a r tic u la r pode-se m e­lh o ra r a in d a a d isposição das experiências.

N ão s e rá prec iso s a lie n ta r que a d iscussão a ca ­d êm ica d a questão sob re se a lgum dos p rese n te s te n h a f ra u d u le n ta m e n te cooperado é sem fu n d am e n to ; p a ­rece a b so lu ta m en te excusado que um dos p rese n te s te n h a podido p a ssar, desperceb idam en te , do seu lu g a r a té a tr á s da c o rtin a . E xcusado , p rim e iro po rq u e os a ss is te n te s e ra m todos pessoas sé ria s , e , segundo , p o r­q ue to d a tra n s fe rê n c ia de lu g a r s e ria pe rceb ida .

A -final é de n o ta r que o c ircu lo de obse rvado res m u d a em cada sessão e em c ada lu g a r. Com Isso se liq u id a e ssa ob jeção teó rica .

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Depois de exam inado o protocolo, o Dr. Galterer enviou ao Barão von Sclirenk um su­plem ento em que fazia várias objeções con­tra os resultados obtidos, alegando certas pos­sibilidades de fraudes. Posteriorm ente, po­rem, em outras experiências, viu que suas objeções careciam de fundam ento, e aceitou como reais os fatos telecinéticos aqui nar­rados.

SESSÃO D E 5 D E OUTUBRO D E 1035

COM RU D I, NA CASA DOS PA IS, EM BRAUNAU

O sr . J . Schne lder, pa l do m édium , p a ra t ira r-m e as dúv idas, teve a bondade, de conv ldar-m e m a is vezes p a ra B ra u n au . D uas sessões d ls tln g u lram -se p a rticu ­la rm e n te pela rlquoza de fenôm enos de te lec inésia e m a teria liz aç ão . P o r isso passo a fazer o r e la tó r io delas.

A SS IST E N T E S: M e d lc ln alra t D r. E . R eh , C api­tã o K ogeln ik , S. R lbel, o sr . e s ra . R am sbacher, pa i e m ãe do m édium , a ssim como o irm ão m ais velho, C arlos, com su a m u lh e r R osa , e o r e la to r D r. G atto re r.

A n tes da sessão tive b a s ta n te ocasião p a ra exa ­m in a r tudo , m inuc io sam en te , no local, m o rm e n te no can to do q u a rtò que dev ia s e rv ir de g a b inete . De m o­do a lgum pude descob rir algo de su spe ito . E m m inha p resença , S chneider, pai, p re p a ra o gab inete . O soalho do c an to esquerdo do q u a rto é coberto com pano p re ­to , de K a té K va i um a c o rtin a p re ta p e n d u ra d a , que se a b re com co rdas, a p a r t i r do m eio. J a n e la I (d e n ­tro do g a b in e te ) e ja n e la I I fo ra dele, (am b a s dão pa ­ra a p raç a m u n ic ip a l) , são ig u a lm e n te co b ertas com pano p re to , a -fim -úe que a luz da p raça não penetre no local d a sessão . Cada pano é po r m im m inuciosa-

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m ente exam inado . A lim p a d a , em f re n te ao gab inete , e s tá sendo em bac iada com papel verm elho . De um la ­do da c o rtin a (K l) , to ra de la, o m édium R u d l; à f re n ­te dele, o M e d ic in alra t D r. E . R eh , que s e g u ra a s a r ­ticu lações das m ãos d e R ud i e a p o rta as p e rn as con­t r a as su a s ; seguem en tão o s dem ais a s s is te n te s ; qu an ­to a m im , floo no so fá (K ) ,e m fre n te a R ud l. A dls-

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— 57 —tã n c la d este à m e tad e da c o rtin a é de l ,m .5 0 . Depois de a cesa a luz v e rm e lha , R u d l cal, por sl só, em t r a n ­se. E m voz coch ichada, a n uncla -se a " in te lig ê n c ia " que é sa u d a d a p o r todos, em coro : “ D eus te sa lve, O lg a !” S ch n e ld er pa i, a exem plo do B arão von S chrenk , faz um d iscurso de boas v indas. “ O lg a” pcdo e n tão 12 m in u to s do p a u sa . L uz b ran c a . F aço q uestão de que n ln g u e m e n tre no gab inete .

R ecom eça a sessão ; tran s e . N ada sucede. P e rg u n ­ta d a pelo m otivo , re sp o n d e “ O lga” que o gab in ete não e s tá su f ic ien te m e n te escu rec ido . E n tro no gab in ete em com panh ia do sr . C arlos Schnelder.

Iso lam os a luz b ran c a e to rn am o s a s a ir ju n to s . O lga pede m úsica e conversação . C an tam -se d iv e rsas c an tig a s po p u la re s . A lguns dos p rese n te s decla ram pe r­ceber f ig u ra b ran c a ; qua n to a m im , n a d a enxergo . Carlos ca l em tra n s e , como m édium secundário . “ Ol­g a " d e se ja u m a p o ltro n a (ca d e ira sem e sp a ld a r) com cam p a in h a. Coloco am bos em fre n te da c o rtin a . D e-re- p en te , põe-se e s ta em m ov im en to vivaz, en q u an to a p o ltro n a e s tá sendo puxada p a ra todos os se n tid o s ; a cam p a in h a m a rc a o cam passo p a ra a canção qu e 6e va i en toando . Os m ovim entos, av ivados pelas a c la m a ­ções dos espec tado res, to rn am -se m u lto veem en tes e desenvolvem -se à m in h a f re n te . C on tinua a cam pa i­n h a a se r sacud ida , como po r m ão Invisível, c o rtin a a d e n tro . D e-repen te é jo g a d a por cim a dos m eus om ­bros, tocando-m o ao de leve. P o r ind icação do m édium , " O lg a ” en co n tra -a logo, a trá s de m im . “ O lga” d ese ja que eu a seg u re em cim a da pa lm a, p a ra tlr á - la da í. Seguro , pois, a cam p a in h a em c im a da p a lm a da m ão, debaixo da lâ m p ad a . N a posição em que m e achava não pod ia d e ixar de a v is ta r q u a lq u er dos p rese n te s que te n ­ta sse c hega r p a ra pe rto de m im . A proxim ando m inha m ão m ais um pouco (10 cm .) da c o rtin a , vejo a p a ­recendo , de-chofre, em d ireção à. flecha , um a pequena

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m ão. V ejo-a , pelo m anos, tão c la ram en te como a m i­n h a p ró p ria , à luz v e rm e lh a , m as m u ito pequena e de­licada . P e rcebo q u a tro dedos se parados, sem o po le­g a r. A m ão e ra v isível só a té a a rticu la çã o . Um ta n ­to tím id a e p recav ida , fo i a m ão apalpando , ao de leve, a m in h a , sen tindo eu algo de frio húm ido . D e-re- p e n te a p a n h a a m ãozinha a cam p a in h a e r e ti ra -a , jo ­gando -a com rap idez. F e ito isso, desapa rece . A m a te ­ria lização fo ra visivel pelo espaço de 3 a 4 segundos. O dr. R eh certif icou -m e de que co n tin u av a se g u rando R udi. Os dem ais espec tado res e ra m todos te s te m u n h as da ap a riçã o , e não podiam , nas condições d ádas, tô-la p roduzido po r f ra u d e ; a m ão sa iu p o r d e trá s d a cor­t in a e e ra a n o rm a lm e n te peq u en a ; a d is tân c ia dos a s ­s is te n te s e ra m in lm a.

E m segu ida , q u e r "O lg a ” to c a r o a lau d e . O in s ­tru m e n to e s tá p reso ao pescoço com a caixa de resso ­n â n cia . Com o a fiscalização se m e a fig u ra in su fic ien ­te , tom o eu e seg u ro o in s tru m e n to . A de se jo d a “ in te ­l igência" , a prox im o-m e da c o rtin a , e inc lino e n tão o in s tru m e n to p a ra m eu lado esquerdo , em se n tid o con­trá r io ao do c írcu lo dos a ssis te n te s , de modo qu e as co rdas f iquem bem ju n ta s à c o rtin a . Seguem -se en ­tã o puxões no in s tru m e n to , aos qua is resis to pa ra v e ­r if ic a r o g rau de in te n s id a d e . D epois, a rran h õ g s n as cordas, como se a lguem passasse a s u nhas sob re e las b ru ta lm e n te . A clam ações a “ O lga”.

N a ja n e la II, d e -repen te , toques veem en tes . De­se ja-se certo num ero de pancadas, e isso se faz e x a ta ­m en te . E u so lic ito : 2 go lpes ráp id o s e 3 vagarosos, o que , a pós p e quena dem ora , se execu ta p ro n tam en te . Ao m esm o m odo fu i correspond ido quando ped i que se b a tesse n a ja n e la I.

E m se g u id a assum o eu próp rio a fiscalização , m as, tendo-se v e rif icado só m ov im en tos d a c o rtina , e n ce r­ram o s a se ssão , à s 11 h o ra s da no ite .

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— 59 —S em elhan te m ão m a te r ia liz ad a a p arec eu m a is ta r ­

de, v á ria s vezes, em o u tra s ocasiões, como n a sessão de 12 de a b ril de 1926. Como e s ta a p re se n ta m ais ou ­tro s p o rm en o re s in te resa n tes , de la faço a se g u ir , um a descrição , de acordo com o pro toco lo .

SESSÃO D E 12 D E A B R IL D E 102«

COM RU D I SC H N E ID E R , em casa dos pais.

MEMBROS DA SESSÃO: P ro f . B e u le r (Z u er lch ) , Sr. K ., cap itão K ogeln lk e s ra . P o ld i O fenm ue lle r, F ra n z Cllli, R an sb a ch e r, R osa e C arlos S chneider, os pa is do m édium e o re la to r D r. G a tte re r.

P a ra o b te r com p leta c erteza , foi e x ecu tado pelo ú ltim o , a ux iliado pelo sr . K ., exam e m inucioso de to ­dos os ob je to s do local das sessões e dos q u a rto s con­tíg u o s ; n a d a foi om itido , n e n h u m a g aveta , ou caixa, ou cam a, ficando depois a s p o r ta s fechadas e la c ra ­das. A inda assim c on tinuam os a ex am in a r c u idadosa ­m en te , com a lâ m p ad a e lé tr ic a , todos os d em ais c an ­tinhos.

In ício da sessão às 8.26 h o ras . Seguem 12 m in u ­tos de p ausa . R ein ic io à s 8 .37. T ranse . C on tro le (pelo c áp itão K o g e ln ih ), como sem pre . "O lga"*pede a p o l­tro n a . Puxou -a em d ive rso s sen tidos, depois fê-la cair. Colocada novam en te em pé, foi co b erta com brinquedos p a ra "O lg a" ( tam b o ril , c am p a in h a ) . C arlo s S chne ider cai tam bem em tra n s e . “ O lg a” toca o ta m b o ril, con ti­n u a a to c a r o ta m b o r n a ja n e la I I e, a ped ido , tam bem n a ja n e la I. O uvem -se e n tão pa n ca d in h as no e sp a ld a r do so fá e n a p a rede , a tr á s do m éd ium . As c o rtin as são le v an ta d as p a ra o a r , a té f ica rem q u ase p a ra le la s ao chão. A c am pa inha é le v an ta d a e tocada . “ O lga” pede q u e o gram ofone se ja colocado em c im a d a p o ltrona . Como o m a is próx im o, que é o s r . K ., nã o consegue fazê-lo fu n c io n a r , d e c la ra g In te l ig ên c ia : “ Vou fazê-lo

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eu p ró p r ia ” . A parece o u tra vez, bem visível, ã luz ve r­m e lha, a m ão m a te r ia liz ad a ; je ito sa m e n te faz o ins­t ru m e n to tocar, pega do tam boril, e m arca com ele o com passo. M a n ifestam en te m al sa tis fe i ta com a m ú­sica, m a n d a " O lg a ” : “F o r a com a ve lha p e ça !”

O P ro f. B eu le r, o s r . K. e Dr. G a tte re r en treg am lenços. P egados com m u lto je ito pela m ão de “ O lga”, desapa recem a trá s d a c o rtin a , e de lá reap arecem cheios de nós, sendo re e n treg u e s a seus p ro p rie tá rio s . Ao s r . K ., possu ido r de be la b a rb a com prida, lh e pe­dem se ap rox im e um pouco da c o rtin a . A penas feito Isso, rea p arec e , de t r á s da c o rtin a , a mão m a te r ia li­zada , e puxa-lhe v io le n ta m en te a b a rb a . Com eça “ Ol­g a ” en tão a ocupar-se com o “a n jo fo s fo re sce n te ” ( fi­g u ra de c a r tã o ) . Como este é fixado com a lfin e te de se g u ra n ça em cim a d a c o rtin a p re ta , esta , de-chofre, se ra sg a poderosam en te , no m esm o fio, de baixo pa ra cim a, de m odo q ue o a n jo fica liv re , m ovendo-se a le ­g rem e n te no a r e caindo fin a lm en te no chão. O re la ­to r o reco lhe , m as “O lga” lh o t i r a d a m ão com e x tra ­o rd in á r ia v io lência.

E m to d a s e ssas m an ipu lações, a p e quena mão m a te r ia liz ad a e ra m u lta s vezes bem vlslvel. A lém d is­so, a p a rec eu um fa n ta sm a in te iro ; o r e la to r v iu a f i­g u ra n e b u lo sa , bem confusa , q ue o ra foi c rescendo, o ra d im inu indo , ta n to no ta m an h o , como n a clareza. As m ln u d ê n cias não se podiam d is t in g u ir .

No fim da sessão " O lg a ” e n saiava a in d a e fe tu a r um a lev itação do m éd ium . A fo rça, porem , lhe pa rec ia e sgo tada , de m odo que o r e la to r não pode d is t in g u ir o fenôm eno.

FEN Ô M EN OS COM M A RIA SELBERT (Do G raz — Á u stria )

A s m a n ifestações que se d e ram com e s ta s ra . e ra m de espécie essenc ia lm en te d ife re n te das q ue se

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— 61 —deram com R u d l S chneider. Mme. S llbert, a tu a lm e n te quase de 70 anos de idade, ó v iuva de fun cio n ário do M in istério da F a z enda , falecido em 1914. Como es­posa e m ãe de fam ília n u m erosa , tem a trá s de si um a v id a cheia de t ra b a lh o e cu idados. A im pressão que eu pessoalm en te tive de Mme. S llb ert, tão social, n a ­tu ra l e le a l em tudo , deve se r a p o n tad a como a b so lu ­ta m e n te favo rave l. O q ue n a s sessões com e la é con­s id e rad o com o e x tra o rd in á r io e p a rtic u la rm e n te ag rn - dnvel, é a c irc u n s tâ n c ia d e q u e o “ a p a ra to ” d e le i ( e t i ­q u e ta s ) u sa d o com os de m ais m éd iuns, d e sapa rece com pletam en te . S ob re tudo , n ão e x iste a q u i vestíg io de g a b in e te m is terio so , que , p a ra u m cép tico , c o n tin u a a se r sem pre p e d ra d e tropeço . A qui, a g e n te se a sse n ta s im p lesm en te & m esa , com lu z c la ra n a tu ra l , ou a r ­tif ic ia l, e a s m a n ifesta çõ e s com eçam .

A ntes, porem , de re fe r ir os p ro toco los das sessões m a is im p o rta n te s , dou, baseado n a p ró p ria experiên ­cia, um a breve descrição dos fenôm enos m a is com uns que se costum am p ro d u z ir com ela.

a ) AS PA N CA D INH A S (R a p s) ou TEPTOLOGIA (85 )

A s pancadas m ed lún lcas são , de certo , o fenôm e­no m a is fre q u en te com d. S ilb ert. Podem se r v e rif i­c adas em quase to d a v is ita , e a cada h o ra do d ia . As

i c o n tin u am en te , qua n to ao lu g a r, à e r itm o . As m ais das vezes, pa-

í o ouvido em c im a ra p s fo r te s ) , a v ib ra- . S ilb e rt se a ssen ta à js p a ra a fre n te , v isi-

, 'n£ ,0,s To M X , d£ er.rd:

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— 62 —de. O uvem -se no p lano e no e sp a ld a r da c ade ira , em que cada qual e s tá se n tad o . As vezes dão um som brando , como se g o ta s de a ze ite caissem de pouca a l tu r a ; ou ­t r a s vezes, som fo rte , oco e agudo , como de ob je to p o n tudo . N ão ra ro , a s pancadas são e s tro n d o sas e r e ­tu m b a n te s , como m a rte la d as . T am bem v a ria o com­passo. O ra é len to , cada segundo um a p a n ca d a ; o ra a v ivam -se a s pancadas, que chegam a um com passo fu rio so , com o de um rad io te le g ra m a expresso . P erce- be-se qu e os rnps rep rese n ta m o u tro s ta n to s s in a is ex­pressivos. A p e rg u n ta de " N e ll” (a In te lig ên c ia ) se que r d ita r , segue um a fo r te pnncada que sign ifica a firm a ­ção, ou d u a s que exprim em a n e gativa . Um d itado in ­te iro , (ex ige p ro lo n g ad a p rá tic a ) rea liza-so , ju n ta n - do-se a s le tra s , conform o o núm e ro de p a ncadas que lhes c o rresponde n a sequênc ia n a tu ra l do a lfa b e to : U m a s ign ifica a , 2 = b , 3 = c e tc. A recepção d e com u­nicações é, por isso, m u ito penosa e com prida, com p e­rigo de engano n a con ta , o que causa dúvidas. Mas “N e ll” co rrig e a d úv ida ex isten te , se lho ped irem es­pecia lm en te . Q uando h á incerteza se e ra ra ou n , p e r­g un ta -se pelo m . Segue en tão sim (u m a p a n ca d a) ou não (d u a s pa n ca d as) Às vezes, a b rev ia-se o penoso processo, pe la p resunção ou prevenção . C on je tu ra-se o que liá -de v ir , o que se q u e r, fo rm ando-se en tão s ílab a s ou palavTas c o rresponden tes , a s q ua is “ N ell" a ce ita ou recusa su m a riam e n te , por um a ou d u a s pa n ­cadas. A n tigam en te , refere d. S llb ert, u sava-se tam bem o u tro m odo m a is côm odo de com unicação , a c ham ada e sc r itu ra p o r “c h a p a s”, n a qual a resp o sta e sc r ita e ra dad a p ro n tln h a . M uito in te re ssa n te é o In stin to de im itação d as m is te rio sa s pancadas. Um r itm o m arca ­do no ta m b o r é logo im itad o ; à s vezes, um ritm o co­m eçado é con tinuado d lre ltin h o . Isso dá-se a té com m elod ias pouco conhecidas, como com m elod ias b ra s i­le iras , e tc. Os fenôm enos dos r a p s não dependem da

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b ) TOQUE COM M EM BRO S IN V ISÍV E IS

T cm ando-se lu g a r ju n to a um a m esa, e à luz de um a lâ m p ad a de 50 velas, um ou o u tro a ss is te n te de ­c lara-se logo su rp re so ou esp an ta d o : a lg u em m e to ­cou. O rd in a r ia m en te tem -se a Im pressão de um m em ­bro m ole, em botado . Âs vezes, sen te-se tam bem , bem d is t in ta m en te , um ab raço ou «aperto n a p a rte su p e ­r io r ou in fe r io r da coxa, ou dos joe lhos. A pedido, o toque m uda de c a ra te r . E stendendo -se , de -repen te , a m ào, por baixo da m esa, e ped indo-se a “N e ll” a p e r- tá -la , co stum a se r en tão sa cu d id a fo rto ou levem ente . D á-se tam bem f re q u en tem e n te a se g u in te e xperiênc ia : o m éd ium e a pessoa f ro n te ira unem um a das m ãos em cim a da m esa, e p ro cu ram Ju n ta r , igu a lm e n te , as o u tra s debaixo da m esa. No m om ento em que se to ­cam , ju n ta -se -lh e s , não ra ro , sob um v islum bre , o u tro m em bro m is terio so . E ’ In te re ssan te que a té d. S ilb e rt se se n te sem pre tocada , quando o u tro s o são.

N a tu ra lm e n te , com to d a s e ssas experiênc ias, su s­pe ita-se da e x istência de um secreto m ecanism o, do qu a l o m édium se se rv e hab ilm e n te . Um exam e m i­nucioso, porem , convence logo da com pleta inocência do rú stic o e pesado m ovei de carvalho . P resum e-se , em segu ida , que d. S ilb e rt ten lia podido, com seu pé, p ro d u z ir esses toques fra u d u le n tam e n te . T am bem esta objeção se desfaz por si m esm a. E m si, Já é im ­possível que um a sra ., idosa e doen tia , fizesse por ba i­xo, com os pés, se m elh an te s a rti fíc io s acrobático s, sem m o v e ria p a rte su p e rio r do corpo. A dem ais, liqu ida-se a ob jeção pelos to q u es de p a rte s su p e rio re s ; e o m é­dium p e rm ite q u a lq u e r ve rif icação dos pés com lâ m p a ­da e lé tr ic a ; su a s m ãos ficam , quase sem pre, por cim a

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e bem v isiveis. O re la to r , que faz ia m u lto uso da lâm - pnda e lé tr ic a , e receb ia m u ito s toques, nuuca pode pe rceber m otivo p a ra a m ín im a su spe ita .

c ) FEN Ô M EN OS T E L E C IN im C O »

São os se g u in te s que so obse rvam : le v an tam en to , p a rc ia l ou to ta l, da m esa pesada de sessão ; to q u e b re ­ve dos In s tru m en to s que se e n co n tta i$ 110 q u a rto o à boa d is tân c ia do m édium (a té 4 m e tro s ). F re q u e n te ­m en te são m ovidos, te lec in e tlc am e n te , ob je to s coloca­dos debaixo da m e sa de sessão . C aix inhas de c igarro s , relóg ios, tam pas e fo lhas , cam pa inhas , tudo isso é c a r­regado e a rra s ta d o pelo chão, eni c ircu ito s com pridos, pelo m is terio so “ a lg u é m ”. Não ra ro , esses o b je to s s a l­tam bem a lto e a té ac im a d a m esa. Às vezes, d esapa ­recem de-súbito , em bora observados com m aio r a te n ­ção, e vo ltam d e -rcp en te pelo a r, “ traz id o s" por in ­te rm éd io do m édium , a -pesar-do este sem pre conser­va r a s m ãos v isiveis, em cim a da m esa. A té ch lca ras cheias fazem essas v iagens m ed iún icas, sem d e ra m n r u m a g o ta 6equer do conteúdo . Em se m elh an te s “ tr a n s ­p o r te s” cai o m édium em tra n s e ; a luz é d im inu ída . A expressão e o gesto no tran se são m is terio sos e um ta n to te a tra is . O e n to a r do canções inclodiQ6as, e a de- clam ação de poesias que se re fe rem ao m undo dos es­p ír ito s ( tóp icos de F a u s to , e tc .) , favorecem m uito a p rodução de fenóm enos.

d ) FEN Ô M EN OS LUMINOSOS

Posto que e fe ito s lum inosos aq u i se re la te m (a n ­te rio re s a 1 9 22 ), re strin g e -se , a m inha experiênc ia pessoa], a fenôm enos m enos im p o rta n te s d e 3 t^ g ô n e ro . N a prox im idade do m édium aparecem , Içequen tem en- te, fa ixas c lariv e rd e s ou raio s que, como m eteo ro m i­núsculo, traçam um a linha de fogo. T am bem dos de-

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- 65 -dos do m édium irrom pem , à s vozes, no e s t i r o , ra lo s a u riv e rd es . * *

Pelo que m o in fo rm am ^ os com panhe iro s da se s ­são , tam bem d̂ o corpo do m édium sa S n nevoeiros f r a ­c am en te luzen tes , fo rm ando m a te ija liza çõ s s m à is den ­sas. O re la to r nu iicu chegou a v c rlf ia a r, com certeza , esse (pnôm eno. »

B epçis d e s ta «xplic lição , poderão os p ro toco los, em su a f e r ^ a b reve e e sca ssa , d a r um a idé ia c la ra e c om preensível -d o s fenôm enos. M ais o u tra s obse rva ­ções c rítica s sobre a fiscalização exercida se rão re la ­ta d a s n a II p a rte destar jsecção. D u ra n te a s sessões, ío ram ^se m p re tom ados A pontam entos, e, logo n a se­g u in te m anhã, red ig id o o pro toco lo . Só as se ssões me- lho r*succd idas é que sertio a q u i m encionadas .

S E SSâO D E 2 5 DIO G U TüB K O D E 1025 com D .*M nrla S ilbert, cm su a casa , em tira z .

A SSIST E N T E S: P ro f. D r. João U de e seu prim o. D. S i lb e r t o o re la to r . Começo da sessão às 8 h o ras da no ite . Com g local se rv e um q u a rto assaz eepaçoso, ro- ta u g u t . QyaOe no meio se ach a um a mêsa. pesada , de m a d eira , c u jo s q u a tro pés se U£am por trav e ssa s c ru z ad a s; em cim a, a lâ m p ad a e lé tr ic a (5 0 .* e la 6 ) ; m e­d ia n te certo didfeositivo pode se r reduz ida a luz. Cada qua l to m a assen to o ou tro lado efe m esa.

Im ed ia ta m e n te se fazem o u v ir p ancad inhas. Co­m eça um d itado . Sai, como p rim e ira p a lav ra : “ Coc- m c te i iu m ” . A dm iram o-uos do la tim . Segue o d itado : “ Si paccm d c d er ltis , lux o r . . . “ D cd e ritis” foi p a rc ia l­m en te decifrado por m im . O a b r ir da p o r ta in te rro m ­pe o d i ta d t . E m vez de c o n tin u a r o tex to , ba te-se “e jo n y ” e, à p e rg u n ta , so e stã exato , respoude-se: sim . Segue depois: T ul sem pre lux, oviotxm ” . P o r m im , o r lc t dcv la se r com pletado pela s ilaba “ u r ; dou, po-

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— 66 —rem , de-propóslto , as le tr a s e rra d a s “x ” e “ m ”. Fo- Tam a firm a d as am bas. Em se g u id a ba te ••NeU”, em alem ão : “ E u nãó engano , não engane is tam bem vós” . Depois se gue “e x tl t l t” . "O u v is te -n o s ,' a c re d ita s te na nossa e x is tê n c ia ”. O prim o do P ro f. Ude p e rg u n ta : "Q uem a c red ita? Meu t io ? ” “N ão ”. " P ro f. G a t te re r? ” “N ão ”. “ E u ? ” “ S im .".

A m esa com eça a m ovor-se e. a e rguê r-se de um lado. Com m u ita su rp re sa nossa , parece , à s vezes, m o­dificar-se o seu peso. D estes fenôm euos, porcin , não te n h o c erteza a b so lu ta . T oques por m em bros inv is í­veis. B ate-se na m esa, e recebe-se o m esm o núm ero do pancadas, como resposta.

R ecom eça o d ita d o : “ H o je não estou sozinho, in ­te rro m p e se m p re ”. L iguei, p rim e iro , sem sen tido . Fu i co rrig ido . O m édium queixa-se de que tudo vai ho je tão deso rd e n ad a m e n te ; pa rece que um a in te ligência esto rv a a o u tra . Às vezes, ressoa de todos os lados ve rd ad eiro concerto de pancadas. Vem en tão a com u­nicação: “ b tp tn ro som nin lo” , na qua l a lg u m as le tra s

S l lb e i t

G ráfico n .“ 3

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fo ram ta lvez po r nós m al en ten d id a s. A -final chega de novo um la tim m u ti lad o : “ Dco s i t le p oelom ln e ttc r - m im ” . T alvez a te n ta t iv a de p ro d u zir: D eo s l t lnu s ln coelo ln n e te rm u n ” .

F im da sessão às 11 ho ras.

SESSÃO D E 26 D E O UTUBRO D E 1025 com D. M aria S ilb e r t, cin su a casa .

PA R T IC IP A N T E S: Sr. E. J . D ingw all (S .P .R . de L o n d res) e sua esposa, C apitão S charl, P ro f. D. W al- te r , m éd ium e re la to r .

Comoço d a sessão à s 9.12 h o ras d a no ite . S a uda­da a “ In te l ig ên c ia " pelos o u tro s . Vem o se g u in te d i­ta d o : “ F i rm a i vossos se n tid o s, e r ra re i s se” — Es-» tro n d o , com unicação in te rro m p id a , tran s fe rê n c ia no ­tável da m esa.

9.30 lio ras. Fo rm ação da c o rren te , e scu recim ento d a luz. D. S ilb e rt parece e s ta r em tra n s e . D itado : “ O s in a l ap a rec e rá , quando a m issão for c u m p rid a ”. Os a ss is te n te s se n tem fo rtes toques.

N a çruz que e s tà sob a m esa, enco iitram -se os ob je to s em que ‘‘N ell" deve a tu a r : 1 ca ix inha (p a ra g ra v a r) , 2 a rg o la s de papel p a ra se c o m pene trarem , c a r ta bem fec h ad a (com lap isinho d e n tro p a ra e sc ri­tu r a d ire ta , am bos m e u s) , um a ta m p a em fo lha, um violino. ’

D. S ilb e rt descreve o aparec im e n to de um fa n ta s ­m a e sp ir itu a l . D entro da m esa, fo rte s e strondos. V á­rios puxões no v io lino ; tam pa, v á ria s vezes a b a tid a no chão. Às 10,45 ressoam trê s sé rie s d ife re n tes de p a n ­cad inhas. D itados: “ A cred itare is , quando fa la rd es ( ? ) s in a is e m ila g re s” (o rá c u lo ). M aior red u ç ão da luz. A m esa levan ta -se po r dois lados. O s r . D ingw all sen te fo rte toque no braço su p e rio r; P ro f. W a lte r e Mme. D ingw all tam bem recebem toques. A ta m p a é a t i r a d a

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ao a r. D ita d o : “A ce ita o s in a l, e te rn a é tu a a lm a ” . O re la to r se n te fo rte to q u e n a s p e rnas.

“ N e ll”, por m eio de trê s p a ncadas fo rtes , dá s i­n a l de q u e re r te rm in a r a sessão. M inlia c a r ta (abs- tra in d o -se de um s in a l de lap is no e nvelope ) ficou em branco . Mas, com s u rp re sa do todos, encon tram os, g ra ­vado n a ta m p a de fo lha, num tr iâ n g u lo : “ X e’.l" . Como c u não tivesse exam inado o ob je to a n tes , n a d a posso a flrm n r a ce rc a d a re a lid a d e do fenôm eno.

SESSÃO D E 3 D E A B R IL D E 1926Com a S ia . M. Silbevt, cm sn » casa , em G raz.

PA R T IC IP A N T E S: P ro f. D r. M lchelitscb , M inis- tc r ia lr a t , D r. M inibeck, D r. H o b en w a rte r, s r . R hoden , R . M achado, m édium e re la to r . (3 6 ) .

O B JETO S APONTADOS PA R A E X P E R IÊ N C IA :

I — Um relóg io “ O m ega", a lem da m arca d a fá­brica , leva: S. I., g u a rd a d o em envelope fecliádo.

I I — R elógio “ A ra m is”, sem gravação no tável, fechado com selos.

I II — D esp e rtad o r fo sfo rescen te , de aço.IV — C aix inha d e rapé , no v a ; d e n tro , papel qu a ­

d rado com ponto de a g u lh a em c ada can to . — L ap ise i­ra de m e ta l sem gravação . — E s to jo de c ig a rro s do re ­la to r , fechado com b a rb a n te cruzado e colado em p re ­sença dos srs . R hoden e M achado.

V — C a rta fechada e la c rad a com 3 p e rg u n ta s cm p o rtu g u ês , cu jo con teúdo só é conhecido dos 2 in ­te rro g a d o re s . Pape l p e rfu ra d o com H .R .; nos can tos, com M; inc luso , lap is inho .

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(36) Machado G o nome de um Ilustre jesu íta portu- guBs. Uhoden é o nosso patrício Padre H uberto Rhoden, que hoje reside no Rio de Janeiro e que então se achava na Alemanha aperfeiçoando os seus estudos eclesiásticos.

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S ílb e tt M íelUfckcft

Às 9.15, Inicio da sessão . E spe ram os a in d a o se ­n h o r M in iste rln lrn t. A m esa p esada de c arvalho pas­sou a se r, em segn ida , exam inada, sendo a gaveta tira d a . Colocam os os o b je to s p rep a ra d o s sob re as duas trav e ssa s c ruzadas em baixo d a m esa: os re lóg io s I - I I - III , - relóg io de ouro do sr. M ichelltsch , e sto jo s de c igarro s.

Às S.30, ch eg a d a do M in ls te r ia lr a t M lnibeck. S a u ­dação g e ra l d a In te l ig ên c ia por "D eus te 6 a lv e !” Se­guem v á ria s pan cad in h as. O r itm o de canções a ssob ia ­das (assob io de canções e b a tid a s de ta m b o r ) é im i­tado . O sr . R h oden sen te v á rio s toques. E ’ executado no ta m b o ril o R igo le tto , d e Y erd i. “N e ll” d ese ja d i­ta d o : T exto do m esm o: g o ta a lg u m a cai cm vão so b ra a te r r a se d en ta . Sr. R hoden e P ro f. M ichelitsch pe rce ­bem vário s fenóm enos lum inosos s toques. Segue o d ita d o : tem po o espaço são desfavo ráveis . À p e rg u n ta : ‘‘P o r q u e ? ” não se d á re sp o s ta c lara . A In te lig ên c ia “N ell" in fo rm a que o d itado se d irigo ao sr. R hoden. E rg u e-se a m esa de -repen te , do lado e s tre ito (de G at- te re r e H o h en w a rte r, conform e, esboço a n ex o ) .

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E ’ ve lad a a l&m pada (50 velas) com a v en ta l azul. M as a fo rça ilu m in a t iv a pe rm ite le r a in d a bem o es­c rito a lap is. P a ra se s a tis faz e r ao desejo de “ N e ll”, e stabe lece -se com pleta e scu rid ão . O sr. M in is teria l- va t re c ita a lg u n s trec h o s de F a u s to . Seguem f re q u en ­te s p a n cad inhas, so b re tu d o com tóp icos m ísticos, e en­tão de todos os lados.

D. S i lb e r t é c o n tro lad a em m ãos o pés pelo P rof. M ichelltsch e peio r e la to r .L evan ta -se e la v á ria s vezes, em tran se . S u s su rra p rim e iro , rá p id a e im percep tlve l- m en te , a p r im e ira p e rg u n ta da c a r ta em p o r tu g u ês : “ Q ual é o p rim e iro ve rso dos L u s ía d a s? ” Responde depois, bem p e rcep tive lm en te , vo ltando -se p a ra o sr. M achado: "A s a rm a s e os ba rões a ss in a la d o s”, rep e ­tindo v á ria s vezes a p r im e ira p a rte da ú ltim a p a lav ra e, não chegando a te rm in á - la bem , su s su r ra : “ Não co­nheço isso ” . O sr. R hoden não e n ten d e a c itação com ­p le tam en te . O re la to r ouve bem p e rcep tive lm en te o t i ­q u e -ta q u e do relóg io <le a lg ib e ira do lado d ire ito de d. S ilbert, pelo m enos d u ra n te 2 m inu to s. E la deixa, de -repen te , a m ão do prof. M lchelitsch e pega n a do sr. R hoden . E ’ restab e lec id a luz c la ra , como a n tes .

Ura lap is, que o r e la to r segurav po r baixo d a m e­sa , a -fim -de que “ N e ll” o pegue, foi v á ria s vezes to ­cado. O sr. R hoden t i r a o seu relóg io de baixo da m e­sa e o e xam ina a te n ta m e n te . D. S i lb e r t e s tá a in d a sen­ta d a , em tran se , com a s m ãos na m esa. O s r . R hoden reco loca seu relóg io debaixo da «nesa, e to m a a posi­ção a n te r io r . D. S i lb e r t le v an ta -se le n tam en te , no tran s e , e rg u e a s m ãos, com os dedos a b erto s , a té a a l­tu r a d a lâm pada , por c im a da m esa, como que p ro ­cu ran d o algo no a r. D e-repente, a p an h a com os dedos um relóg io . E s te fenóm eno é observado d is t in ta m e n ­te pelos srs . R hoden , M achado e D r. H o h en w a rte r em c ada um dos se u s m ovim entos. D. S ilb e rt e rg u e -se en ­tã o , como que p rocu rando o relóg io , de um lado pa ra

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o u tro , segu ra -o com a m ão esq u erd a e faz, com a d i­re ita , po r c im a dele, um sin a l. P a rec e g ra v a r no a r um tr iâ n g u lo . Sen ta -se, e n tão , e p rocu ra , m a n ifes ta ­m ente, o p ro p rie tá rio do relóg io , ace rta n d o com o sr. R ho d e n ; querondo d e ita r - lh o n a m ão a b e r ta , deixa-o, porem , ca ir . T odos os p o rm enores do acon tec im en to fo ram obse rvados p o r todos. D. S ilb e rt de cla ra te r receb ido g ran d e in flu ên cia do s r . F ho d e n . O s r. M iche- litsch faz a p ro p o sta de t ro c a r o lü g a r, f icando o P ro f. sen tado à d ire i ta e o sr. R hoden à e sq u erd a da s ra . S ilbert.

L uz fraca , sem tran se . A s ra . S i lb e r t faz um aexclam ação confusa , e sten d e a m ão le n ta m e n te p a raos om bros do sr. R hoden . E s te percebe , sob re o seu om bro d ire ito , um relóg io . E la o a p an h a e lho e n tre ­ga . E ’ o relóg io do P ro f. M ichelitsch . O esto jo de c i­g a rro s ap arec e en tão ao lado do m édium , sa ltando , como p o r si p róp rio , sob re a m esa. Um b a rb a n te de p apel desapa rece ; o segundo, com a m arca de selo,e s tá a in d a no lu g a r. G ravação , ne n h u m a. O sr . R ho ­den percebe , no can to da m esa, ra io fo rte ; o sr. Ma­chado n o ta a lg u n s toques fo rtes , repe tidos. O ú ltim o p e rg u n ta , em p o r tu g u ês e a lem ão , se pode fa la r em p o rtuguês . Seguem duas m ãos. P e rg u n ta -se , se pode h a v er d itado em la tim , a lem ão , g rego . V em , cada vez, a re sp o s ta ; não. Segue o d itado la tin o : “ D olorcs m ia in a te r ra ” . P e r tu rb aç ão no d itado . Faz-se escu ridão com ­p le ta . D. S i lb e r t pa re cç ob se rv a r fo rte s ra lo s e n tre su a s m ãos e a s do sr . R hoden . Seguem dois ra io s ex- tra - fo rte s , c la ram en te pe rceb idos p o r todos, p a recem p ro m an a r das p o n ta s dos dedos. D. S i lb e r t m ove as m ãos em c im a d a chapa, e sfregando . O bserva que se fo rm a nevoeiro lum inoso . O s r . R hoden se n te p o n ta d a fo r te num lado.

L iga-se a luz e lé tr ic a . E xam ina-se o relóg io e o e sto jo de c igarro s . A -pesar-de rep e tid a s p e rg u n ta s a

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“ N ell” , e r e p e tid a s a firm ações de la, não se descobre g ravação a lg u m a. “N e ll” p ro te s ta c o n tra o a b r ir do relógio do re la to r , d e n tro do envelopo. E le é aberto , não o b s ta n te . Segue-se um a lig e ira discussão a respe i­to d a in flu ê n cia dos e sp trito s so b re a m a té ria .

As 12 .15 , e n ce rram en to da sessão.

SESSÃO D E 4 D E A B R IL D E 1026.

Com D. M a ria S ilb e r t, em s u a casa , em G raz.

P A R T IC IP A N T E S: Os m esm os d a sessão prece ­den te.

O B JETO S APONTADOS: Relógio I, I I , III , e sto jo do c ig arro s con tendo : c igarro s, pedaço de papel e lá ­pis, a ssim como c a r ta com p e rg u n ta s , cam pa inha.

ORDEM DE A SSENTO S: como no esboço da ses­são preceden te .

* As 8,35 h o ras , com eço d a sessão . E xam e dos sa ­pa to s . C onversa-so so b re os fenôm enos de D. S ilbert em L ondres, e exam inam -se os re tr a to s de “ e sp ír ito s”, receb idos de lá.

As 9,00, “ D eus te s a lv e ” . P ro f . M iehelitsch fisca ­liza r ig o ro sam e n te os pés, e v e rif ic a vá rio s to q u es do lado c o n trá r io . D iv e rsa s ' p ancad inhas, bem fracas, in sig n ifica n tes . P a rec e fa l ta r e n e rg ia , porque D. Sll- b e rt se a cha um pouco ind isp o sta e a tac ad a . A ssobiam - se c c an ta m -se d iv e rsas m e lo d ia s; a s m esm as são exa­ta m en te tocadas no ta m b o ril e c o n tin u ad a s. T am bcm tim n canção b ras i le ira . C an ta -se em coro : “Z u M an- tu a in B a n d en ” , “ S te irc r- ld e d e r” , “ S a n ta L ucin” . F o r ­m ação de c o rren te . D. S ilb e rt cai em tran se . I lum inação red u z id a por a v en ta l azu l, em re d o r da l&m pada. Sr. M in ls te r ia lra t declam a “Dio K ra n ic h c d es Ib icu s” , e faz a lg u n s riscos m agnético s por cim a de D. S ilbert, pelos qua is e la se s e n te bem re frig e ra d a . A lguns lo-

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ques. R eca i em tra n s e , le v an ta -se , avança , a n d a como p a ra o p iano, e faz, n a d ireção da p o r ta fro n te ira , g esticu lações p ro ib itiv as , como se tivesse em sua f re n ­te um fan ta sm a pavoroso . O s r . M in is tc r ia lra t desliga a luz po r um m om en to , m as n e n h u m d e n ós pe rcebe a ap a riçã o . D. S i lb e r t tran q u iliz a -se e propõe-se te rm i­n a r de-p ressa a sessão , devido a g ran d e cansaço . R e s­soam e n tão , com o p ro tes to , fo rte s pa n ca d in h as, e o m éd ium recai em tran s e à s 10,30. L evan ta -se , e sten d e as m ãos, como p ro cu ran d o a lgo , e s freg a -as um a c o n tra a o u tra . Logo depois ap arec e cm su a s m ãos o relóg io do re la to r . A brim o-lo, sem e n c o n tra r g ravação . A c am pa inha, co locada nas trav e ssa s c ruzadas da m esa, r e tin e v á ria s vezes. V eem -se e rg u e r v á rio s re lóg io s e rec a ir , como se a fo rça não desse p a ra su stê -lo s. O re lóg io do P ro f. M ichelltch, colocado p e rto dos pés dele, fo i e n con trado do o u tro lado e n tre o m édium e o sr . R hoden , melo m e tro d is ta n te da m esa e com o v idro p a ra baixo. E stendem -se a s m ãos debaixo da m e­sa. Sen tem -se, por d u a s vezes, to q u es de um te rce iro m em bro .

E n ce rra m en to à s 11,16.

SESSÃO D E O D E A B R IL D E 102«Com D. M a ria S ilb ert, cm s u a casa , em G raz.

P A R T IC IP A N T E S: P ro f . D r. J . U de, P ro f . D r. A. M ichelitsch, D r. A uer, sr . M achado, s r . R hoden , r e ­la to r.

O BJETO S A PONTADOS: relóg io do s r . R hoden , ligado num fio de linho cu ja p o n ta g u a rd a se m p re na m ão; relóg io do P ro f. M ichelitsch ; duas chapas u ltr a - ráp id a s de H au ff, g u a rd a d as em papel p róp rio , do re ­la to r ; um a cam pa inha, dois v id r in h o s a tad o s um a o u tro , v á ria s c a r ta s do P io f. U de. E xam e dos calçados a bo to ad o s do m édliim , pelo sr. M achado.

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ORDEM D E ASSENTO S: conform e o esboco anexo.As 8 ,37 : L ev an tam en to su rp re en d e n te da m esa,

do lado do sr. R hoden . A luz fo rte f ica d im in u id a por a v en ta l azu l.

Às 9 ,00: C hegada do P ro f. Ude. P anc ad in h a s. D uas m e lod ias são bem im itad a s p o r “N e ll”. E s te d i­ta : Sem pre se p re fe re a h o ra «o d ia . "D eveis fazer isso?" P e rg u n ta s a Nell pela o rdem de assen to s. De­te rm in a que o P ro f. M lchelltscli tro q u e com o re la to r , o que so execu ta . O P ro f. M ichelitsch pede que o lap ls do Dr. G a tte re r s e ja tira d o de debaixo d a m esa. V eri- f icam -se v á rio s toques do lap is. A pedido do P ro f. M ichelitsch, a s pan cad in h as to rn am -se cada vez m ais fo rte s . D ão-se a s m ãos debaixo da m esa, ju n ta n d o -se à do m édium . O P ro f. Ude e o sr . M achado verifeam toques de um te rce iro . Segue d ita d o : “ A te n ta no sina l q tie te re v e la rá m u ita s cousas quo te são e scu ras a in ­d a ” . P e rg u n ta -se a quem isso se d irige . A respe ito d e R ho d e n o M achado a re sp o s ta 6 duv id o sa ; p a ra com o D r. A uer, ne g a tiv a .

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G oã leX ít Silbext

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— 75 —9,55. A cam p a in h a é d e rru b ad a debaixo da m esa

e la n ça d a ao chão. se n tem -se vã rio s toques.10,00. D. S i lb e r t cai em tran se , a cc rd a e recai. O

P ro f. Ude tom a a d ireção da sessão.10,35. T ran se p ro fundo . O m édium m u rm u ra , le ­

v an ta-se v á ria s vezes e faz d ive rso s m ovim entos. C an­tam os p a rtic ip a n te s “S a n ta L n c la ” , “ A m B ru n n e n v o r <lcm T o re” . “ A n don M ond". D. S ilb e r t a co rd a ; e la sd pe rcebe um a pequena m a teria liz aç ão no om bro do sr . R hoden . Como a lâ m p ad a da m esa vai se r ap ag a d a, o r e la to r serve-se de su a lâ m p ad a e lé tr ic a (d e bo lso ). O próp rio sr . R hoden não pe rcebe nada , m as sen te (após aviso do m éd ium ) um toq u e bem d is t in to no braço. O s r . R hoden se n te d is t in ta m en te a p ressão do fan ta sm a , que desaparece .

P o r cerca de 11,00, tro c a o sr . R hoden o lu g a r com o s r . M achado, que vem , pois, a ssen ta r-se ao lado esq u erd o do m édium . O sr. R hoden v ira o seu relóg io , a tad o no fio, v e rif icando o P ro f. U de a colocação ; o resto do fio e s tá envolto no braço do sr . R hoden . A vi­sa o m éd ium a fo rm ação de um a m a teria lização no braço do s r . R hoden . D. S i lb e r t a co rd a e rec ai em tran se , rep e tin d o 3 vezes: “ L u z ”. O s r . R hoden de i­xou a lâ m p ad a e lé tr ic a , acesa, v irad a sob re a m esa. D. S i lb e r t pede a todos os a ss is te n te s que o lhem p a ra o b raço do sr . M achado. No braço su p e rio r d ire ito a p a ­receu um ob je to b ranco , redondo , cu ja luz foi c re scen ­do. O D r. A uer o percebe , e n q u an to e s tá a in d a d ebai­xo do b raço . O P ro f. U de n o ta que sob re os om bros do sr . M achado passa um ob je to lum inoso , descendo do b raço ; de -repen te , D. S ilb e rt e sten d e a m ão e o pega: 6 o relóg io do sr . R hoden . M ãos e pés do m édium es­tavam , de-contfnuo , c o n tro lados d u ra n te esse p roces­so. O fio , com qu e o sr . R hoden e s tav a se g u ra n d o o relóg io , ro m p era p e rto do relóg io . R ecebe-se o relógio

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do m édium . C onform e a v iso d e N ell, d ev ia lia v e r g ra ­vação p o r d e n lro d a ta m p a , m as nã o se e n co n tra n ad a .

11 ,15. D eixa o sr . A uer a sessão . A m esa se le ­v a n ta , veem en te , de um lado e recai com estrondo . O ro la to r a ssen ta -se a lg u m tem po no chão, p a ra m e lh o r o b se rv a r o quo se p a ssa debaixo d a m esa. Os fenôm e­nos to rn am -se v is iv ilm e n tc m a is f racos. O bserva , po­rem , ju n ta m e n te com o P ro f. M ichelitsch , um fo rte fenôm eno lum inoso , u m a c laridade , debaixo d a m esa, p e las p e rn a s do m édium .

Novo tra n s e é sugerido ao m édium peio pro f. Ude. Diz a d. S i lb e r t: " P ro c u ro q m a te r ia liz aç ão " . O m é­dium levan ta -se , a -fina l, e va i p ro cu ran d o e a p a lp a n ­do no c írcu lo “ Recolhe força com os srs . M achado e R h o d e n ” . A -final, chega à, p o r ta que leva ao q u a rto de d o rm ir, cal a li, e span tado , como quem viu um espectro a m eaçado r, e s ten d e os braços como p a ra se d e fender: de -repen te , dá-se um fo rte e sto u ro de ra io lum inoso verde . A su g e stiv a in flu ê n c ia do m édium log ra efe ito m ais d u a s vezes, dando como resu l tad o o m esm o fenô ­m eno de an tes .

Aos poucos aco rd a o m édium . L uz fo rte . D. S il­b e rt, os srs . R hoden e M achado de itam as m ãos ju n - t in h a s sob re a m esa. D. S ilb e rt no tif ica que recebe energ ia . O s r . R hoden tem sensação de p a ra lis ia no b raço su p e rio r. D e-repen te, põe-se a m esa em m o­v im en to e segue todo m ovim ento d as m ãos. Os.' pés do m édium c o n tinuam v ig iados pelo re la to r .

E n ce rra m en to da sessão ã s 12,00 horas .

B. — FENÔMENOS ESPONTÂNEOS

A Sociedade Inglesa para Investigação Psíquica, ou S. P. R., possue rica coleção de relatos sobre fenôm enos ocultos espon­tâneos, cientificam ente garantidos e realmen­

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te acontecidos. A essa Sociedade pertence grande número de professores universitários ingleses. Depois de sua fundação, em 1882, foi designada uma com issão para examinar, criticamente, a realidade dos fenôm enos ocul­tos espontâneos, por ela narrados e acredi­tados.

Cerca de 10 anos após a sua fundação, pode escrever o sr. Podm ore, um dos seus fundadores, o seguinte: “Possuím os já uns duzentos relatórios sobre aparições de cha­mados espíritos, que foram vistos em diver­sos tempos, por diversas pessoas, no mesmo lugar, ou por diversas pessoas ao mesmo tem­po, ou por uma só pessoa, mas em circuns­tância tal que exclue a hipótese de haluci- nação.”

Essa primeira coleção de fenôm enos es­pontâneos, de que fala Podmore, só se refe­re a aparições de fantasm as, e não conside­ra os demais fenôm enos, sendo isso devido aos preconceitos iniciais da S. P. R. a qual li­nha sido fundada para manter indagações so­bre fenôm enos ocultos psíquicos, mas não f í­sicos; este programa se resume no próprio nome da Sociedade.

Bozzano, porem, em seu “Fenômenos de Assom bram ento", estabeleceu uma estatísti­ca ampla e completa de fenôm enos espon­tâneos, referindo somente aqueles em que via condições cientificas suficientes. Entre fenô­m enos supranormais espontâneos, psíquicos e físicos, que encontrou, contam-se 532, sen d o:

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374 psíqu icos, de n a tu re za im a te ria l, inc lusive os da 9. P . R .;

168 flslcos, de n a tu re z a m a te r ia l.

Entre os físicos, Bozzano distingue:

46 chuvas de cascalhos ou de ped ra s;39 casos de to q u es espon tâneos de s inos;7 de incêndios e spon tâneos;7 de voz d ire ta .

_ Os demais fenôm enos referem-se a mo­vimentos de objetos não tocados. Citaremos abaixo apenas alguns fatos, materiais e im a­teriais, — criteriosam ente escolhidos, que possam proporcionar um conhecimento exa­to do que se. entende por fenôm enos ocul­tos espontâneos.

Enfeixarem os o nosso elenco em duas sé­ries bem distintas: na primeira irão fatos que não podem ter por agentes almas do outro m undo, mas sim espíritos sabidamente maus e m alfeitores; na segunda entrarão fatos cujos autores preternaturais não estão bem defi­nidos.

Chamamos desde já a atenção do leitor para o ponto seguinte: Às vezes, os fe n ô m e ­nos estão ligados a lugares, e aí são presen­ciados ou verificados por qualquer classe dc pessoas, mas só nesses lugares; são fenôm e­nos locais. Outras vezes, os fenôm enos são li­gados a certas pessoas e acompanham essas pessoas se elas mudam de lugar: são fenô­m enos m ediais ou m ediúnicos.

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PRIMEIRA SÉRIE:

Fatos cujos autores preternaturais parecem bem definidos

Cenas barulhentas

O sr. Illig , e d ito r do d lúrio D er H o h cn s tau fen , de G oettingcn , A lem anha , c on ta o que lh e acon teceu a ele pessoalm en te . N otem os, a n te s de tudo , q ue o sr. I llig , sogundo su a p ró p ria confissão , fo ra rac lonalis.ta d u ra n te m u ito s anos. O seu p raz er, diz e le, e ra d es­p res t ig ia r , iron icam en te , tudo o que c h eirasse a dogm a.

Com essa d isposição e sp ir itu a l , fixou re s id ên c ia nu m a c ldadezinha d a F lo re s ta N egra, n a m e ia-ãgua de um a casa, cu jo senho rio o av isou logo de que, no q u a rto que se ria po r elo ocupado , se davam cenas e s ­tr a n h a s ; todos sab iam , a firm o u ele, que o cham ado “ L o tsc h e r” ro n d av a por ai.

I llig aco lheu esta no tic ia com h ila r id ad e , a f ir ­m ando que em b reve hav ia-de se e n te n d e r bem com esse e sp irito d a casa .

A p rincíp io a coisa pa re c ia ino fens iva; m as, aos poucos, a s Im portunações do L o tc h c r to rn a ra m -se in ­su p o rtáv eis . E ’ o próp rio I llig quem descreve os h o r ­ro re s de um a no ite ;

“N a no ite de 23 pa ra 24 de feve re iro de 1892, m eu v iz inho de q u a rto e s tav a de v iagem , e não h av ia o u tro m eio senão “ en ten d e r-m e sozinho com o L o ts­c h e r” . Isso não m e e ra ag ra d av e l. D e p revenção , só p ro cu re i o m eu qu a rto m ela h o ra depois de m eia no i­te . Fechei e a fe rro lh e i bem todas a s p o r ta s e ja n e la s . Não a p ague i, porem , a luz e de ixei a ve la so b re a ca ­de ira , ao lado da cam a. No e n tan to , a excitação da e spec ta tiva não m e pe rm itiu do rm ir.

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“D e-fato , com eçou L o tsc lic r de -p ressa o seu tr a b a ­lho. O ra fo i como se qu e b ra se c esmagas© botões, ben ­ga las , g u a rd a -c h u v as ; o ra a tir a v a um a bola c o n tra os paus, a q u a l chocava c o n tra a pa re d e e re ssa lta v a . M ui­ta s vezes, o “ desconhecido” p a re c ia d e rru b a r lenha e m p ilhada . D epois de um a h o ra de b a ra fu n d a in fe r­na l, que m e cansou a té ao desespe ro , d ir-se-ia q ue ia de ixar-m e em paz. P ro c u re i d o rm ir. A penas peguei no p rim e iro sono, a liá s m u ito leve, logo fu i despertado po r e s tran h o s son idos, ja m a is ouvidos por m im . E ra coino um re sp ira r, su sp ira r e gem er, p rov indo de gu e la p ro fu n d a . N âo se i descrevê-lo. O uvi-o c laro e te rr ív e l d e m a is . . . O uvi passos, c ada qua l acom pa­n h a d o de gom ldos e rang idos , v indos do profundezas. P e rce b i d is t in ta m en le que o fan ta sm a se ap rox im ava de m éu le ito . Que fazer? H avia eu de a b a lança r-m e a in d a g a r a causa? R e f le ti nisso um m om ento , m as n ão tiv e co ragem de executá-lo . E u m e a chava dei­tado do lado esquerdo , v irad a a cabeça p a ra a pa re ­de. O fan ta sm a se a p rox im ava p o r d e trá s de m inhas c ostas . C hegado que foi ao m eu le ito e bu fan d o por c im a de m im , se n ti n a nuca um vento ge lado . T al sensação não e ra , ab so lu ta m en te , consequência de ex­c itação e de su sto , porem efe ito da rea lid a d e . No m es­m o m om ento em que o fan ta sm a tin h a chegado , ge­m endo e bu fando , sacud iu vá ria s vezes o m eu le ito , como a s ig n ific a r q ue a v is ita e ra e spec ia lm en te pa ra m im . A s p an cad as e ra m sin g u la res , sono ras , secas e o c as. . . Da m esm a fo rm a que se tin h a aprox im ado do m eu le ito , a ssim tam bem se foi, a fa sta n d o -se , pas­so a passo, dando gem idos ho rrív e is . D irig iu-se pa ra a p o r ta e sa iu do q u a r to ” .

Aqui parece não ter havido fraude nem engano. Não foi só o sr. Illig que observou estes fatos, nem foi deles a única testemu­nha: outras pessoas garantem a realidade das

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aparições contadas pelo sr. Illig. Este con­seguiu mesmo demonstrar, m ediante docu­mentos seguros, que o fantasm a do Lotscher já se vinha manifestando na mesma casa ha­via m ais de cem anos. (Ewiges Schweigen, de Illig, Stuttgart, 1924. pg. 155).

— 2 —

Telecinésia — Transportes, etc. ♦

Ainda para o caso seguinte, lhnilar-nos- em os a resum ir o relatório do sr. Illig.

A casa com os c u rra is cm que se p a ssaram os a con tec im en tos , e s tá s itu a d a ao pé d a a ld e ia de G os-, se rlac li, — W u erttc n b c rg , A lem anha . E ssa casa p e r­te n c ia a R osine K le inknech t. Seu m arido e ra c a r te iro e m o rreu n a G rande G uerra , em 1-915.’■No tem po em que se de ram os p resen tes fenO menos, m o rav a n a ca§g da v iuva , em com panh ia de tr ê s f ilh a s m enores, — a m a is ve lha tin h a 11 anos, — e um so b rinho de 14 anos, quo a a ju d a v a nos trab a lh o s pesados.

Os fenO menos com eçaram em 31 de a b ril de 1916. N a m a n h á desse d ia , os a n im a is dos c u rra is m a n ife s ta ram esp an to sa inqu ie tação . Suavam como se tivessem d e rram ad o ág u a sob re eles. F o ra m d e satados v á ria s vezes por m ãos inv is íveis, podendo-se o b se rv a r p e rfe i ta m e n te o processo : as c o rren tes tin h a m sido a t i r a d a s ao chão. Os m esm os fenO m enos se rep e tiram nos d ia s 1 e 2 de m aio. No ú ltim o d ia com eçou tam bem o b a ru lh o d e n tro de casa.

A s c rianças d e c la ra ram ve r fan ta sm a s de an im ais . No d ia 13 de m aio houve o ponto c u lm in a n te : “ U ma a ch a de le n h a se pOs a d a n ça r em c im a do fogão" .

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— 82 —Um la v ra d o r d a a ld e ia v iz inha a tiro u a a ch a pe la ja ­n e la ; e la vo ltou , porem , rap id a m e n te , sem que n in ­guém pudesso ver como. Isso se rep e tiu v á ria s vezes. A ach a pa ssav a do c o rred o r p a ra o p rim e iro a n d a r e vo ltava . Logo depois, novo fenôm eno: Um toco voou pe la cozinha . À ta rd e , cinco boiõcs de le ite ca lram da p ra te le ira , qu e b ra ra m -se e d e rram aram o con teúdo . De 15 de m aio em d ia n te , os fenôm enos de d e n tro da casa a n d a ra m de -pa r com os dos c u rra is . Os a n im ais fo ram tam bem espancados. Os po tes de g o rd u ra , le ite e ^ ç id ra , a s f rig id e ira s , os p ra to s e baldes, sa lta ra m de seus lu g a re s , voando pelo q u a rto e a té pe la p o rta d a e n tra d a ; m u ito s desses ob je to s fo ram m esm o la n ­çados c o n tra v á ria s pessoas. Certo la v ra d o r , que p re ­te n d eu d o m in a r o fenôm eno a ch ico te , sa lu -se m ulio m al. A ba ixela que se a chava com com ida, sobro a m esa ou n a copa, le v an to u -se no a r e caiu no chão.

’ Um pesado toco, de ra c h a r le n h a , fo i d e rru b ad o . Os po tes cheios le v an ta ram -se no a r sçm d e rra m a r um a g o ta se q u er. Um dos p rese n te s tom ou um pote de ci­d r a e o fo i rep o r no seu lu g a r, sob re a m esa, m as re ­cebeu, a to con tínuo , um a fo rte p a ncada n a cabeça , p ro ­ve n ien te do po te de le ite . T udo o q ue h av ia nas ca­m as ío l a tira d o fo ra e dan ificad o . Os próp rio s le ito s se le v an ta ram , a a lg u m a a ltu ra , ac im a do chão. P a ra c o m p le ta r o caso, sa iram a -ftn a l as p o r ta s dos gonzos e c a lram po r c im a dos destroços. Alem disso tu d o , a l­g u m as p essoas fo ram fe rid a s pelos ob je to s vo lan tes .

A casa fa tíd ica foi, en tão , a b an d o n a d a e fechada em 15 de m aio.

TE L EC IN É S IA — T R A N SPO R T E , c tc.Chuvas d e cascalhos ou dc p e d ra s

Eis uma das m aravilhas cm matéria de fenôm enos supranormais espontâneos: As

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chuvas de pedras. Há chuvas de pedras ao ar livre, e há outras que penetram até em luga­res fechados, através das paredes. Estas se confundem, pois, com os “ transportes” de que falam os autores. Das 50 chuvas de pedras, — coleção Puis, — uns 25% são transportes. Alem das chuvas de pedras propriamente di­tas, são conhecidas tambem: 3 chuvas de ex­crementos, uma de água quente, uma de car­vão e uma de m oedas. Das chuvas de pedras só relataremos algumas.

EM PA R IS

N a "Gaascttc des T r ib u u au x ” , — o rgão o ficial da po líc ia fra n ce sa cm o n.o de 2 de feve re iro de 1846, lê-se:

“F a to e x tra o rd in á r io que n a s trê s ú ltim as sem a­n a s se rep e tiu to d a ta rd e e toda n o ite ,-sem que a s m a is a tiv as investigações, a m a is e s ten sa e c o n stan te v ig ilânc ia , fossem capazes de lh e descob rir a causa . Tc-m sido m u ito a g itad o o populoso b a irro d e L a M on- (ag n c -S aln te G cnevièvc, da Sorbona e da P lac e S a in t M icliel. O que, pois, acon teceu ê o s e g u in te : N a reg ião das dem olições, em p re en d id as p a ra a b r ir nova ru a , que deve lig a r a S o rbona com o P an téo n , encon tra-se um pá teo com m a d eira m en to e carvão , p e rte n ce n te a um a casa de um só an d a r . E ssa casa, que fica a p ou ­ca d isância da ru a , e é s e p a rad a das d em ais casas por la rg a s excavagões, todas a s ta rd e s e d u ra n te as no i­te s , tem sido a ta c a d a com chuva de p ro je te is , os quais, em consequência do núm e ro e d a veem ência com que são a tirad o s , p e rfu ra m as pa re d es em v á rio s luga res , e destrogam p o rta s e ja n e la s com suas gua rn ições , co­mo se a li tiv esse hav ido um cerco rea liz ad o com ba ­te ria s de p e d ra s e tiro s de g ran a d as.

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— 84 —E sse s p ro je te is consistem em pa ra le lep íp ed o s o

f ra g m e n to s d a s p a re d es d e rru b ad a s , e em p e d ra s In­te ir a s de c o n strução , que, a ju lg a r pelo peso e pela d is tân c ia donde são a tira d a s , só o podem se r à m ão. Do onde p rocederiam eles? A resp o sta fica a in d a à e sp e ra de so lução . D ebalde h o u v e v ig ilân c ia d ia e no i­te , sob a d ireção pessoal do com issá rio de po líc ia . Em vão ficou no local o c lièfe de serv iço d e seg u ra n ça . E ra vão fo ram so lto s cães po lic ia is nas v iz inhanças . N ada pode exp lica r os fenóm enos, a tr ib u íd o s pelo po­vo a a u to re s m is terio sos. Os p ro je te is choviam con ti­nu am en te , com g ran d e ru ido , so b re a c a s a .e o ram a tirados^ de a l tu r a considerável, sob re a cabeça d a ­q ue les que se tin h a m postado nos te to s das casas v i­z inhas m ais ba ixas. As p ed ras pa reciam v ir de g ran d e d is tân c ia . N ão o b s ta n te , a tin g ia m o alvo com precisão m a tem ática , sem se desv iarem de su a c u rv a p a ra b ó ­lica. N ão querem os e n tra r em todos os porm enores destes fa to s , que, sem dúv ida , receberão esc la rec im en­to ráp id o , g raç as à a tenção g e ra l que provocaram . No e n tan to , é de n o ta r que , cm c irc u n s tâ n c ia s a nálogas, que d e sp e r ta ra m em P a r is g ran d e a ten ç ão , se v iu um a chnvn de d in h e iro que a tra ía os vad io s de P a r is , todas a s ta rd e s , p a ra a R n a M o n tesqn ien ; ao m esm o tem po, a s cam p a in h as de um a casa d a r u a de M alte fo ram p uxadas por m ão inv is ível. E sabe-se que foi im pos­sível de sco b rir a lguem ou a lg u m a causa ta n g iv el p a ra exp lica r os fenóm enos. Q uerem os e sp e ra r que , dosta vez, cheguem os a um resu ltad o m e lh o r”.

D ois d ia s d e p o is escreveu o m esm o jo rn a l :

“ O fato s in g u la r não pode a té ho jo se r e lucidado , teudo-se rep e tid o a chuva de p e d ra s, a -p e sa r d a con­tín u a v ig ilân c ia sob que se ach a to d a a reg ião . P o r­ta s e ja n e la s da casa fo ra m su b s ti tu íd a s p o r táboas, p reg a d as de d e n tro , p a ra p ro teg e r os m o rad o re s con­tr a a s p e d ra s que d e s tro ça ra m todos os m ove is”.

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O sr. M lrv ille publicou em seu liv ro “ Des e sp rits e t le u rs m a n ifes ta tio n s” m a is o u tra s p a rticu la rid ad e s , que lh e fo ram com un icadas pelo p ro p rie tá rio da casa. C onform e re la ta , c o n tin u a ra m os fenôm enos d u ra n te um as t r ê s sem anas, após a s q u a is tu d o cessou e o p ú ­blico se fo i tran q u iliz an d o . N a v is i ta que fez, viu M lrv ille os destroços dos m a is d ife re n tes ob je to s de uso. O p ro p rie tá rio d a casa m ostro u -lh e um q u a rto cheio de p e d ra s e de f ra g m e n to s d e tijo lo s chato s e com pridos. P e rg u n tan d o M irv llle qua l a razâo da fo r­m a s in g u la r desses tijo lo s , decla rou o in te r ro g a d o : “P a ra p ro teg e r-n o s c o n tra a s p ed rad as, fecham os a j a ­ne la, de ixando ap en a s um a fenda , com prida e e s tr e i­ta . Fechado que o ra o b a te n te d a ja n e la , to d a s a s pe­d ras v ie ra m com e s ta fo rm a e a ssim pud e ra m p a ssar pe la fenda , do m esm o ta m an h o que e la s” .

As últim as esserções do proprietário tor­nam o caso particularm ente estranho, e o se­param das chuvas de cascalhos mais comuns. Notemos ainda que aqui fa lta qualquer liga­ção do acontecimento com a pessoa de algum m édium.

E M B E R LIM

M enos im p o rta n te é o caso re la ta d o por P u is , de acordo com os nú m e ro s 33-35 do Bci-linei- Lokulanz.ci- g c r, de 1887.

E m ja n e iro e feve re iro de 1887, n a casa n.° 55 da R o a E llsa b e th , B erlim , d u ra n te q u a tro sem anas, to ­das a s ta rd e s , a s v id raças das ja n ela s , que o lhavam pa ­ra o pá teo , e ram q u e b ra d as por ped ras a rrem essa d as . A -pesar-de todos os esforços d a políc ia , foi im pos3ivel d e scob rir os cu lpados. E s te caso, como ta n to s o u tro s , p a rece um a p ilh é r ia de vagabundos; m as, desde que fo ­ram in ú te is to d o s o s e sforços d a polic ia no se n tid o de

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se de sco b rir o c rim inoso , não devem os re c u sa r a pos­sib ilidade de um fa to p re te rn a lu ra l . O caso, a liás , é m u ito se m elh an te ao de P a r is , no qua l se chegou à conclusão de se t r a t a r de um fenôm eno su p ran o rm a l, d evido não a um a, m as a m u ita s c irc u n stâ n cia s .

NA BÉLG ICA(Ja n e iro e feve re iro de 1913)

O sr. V on Z an ten , m o rad o r de um a casa da ru a C esar d e F a iy e , decla rou , em 3 de feve re iro de 1913, ao re d a to r de um jo rn a l de A n tu é rp ia , a no tíc ia que hav ia colh ido n^ po líc ia local:

"O que nos causou m a io r adm iração foi q ue nem um a das tre z e n ta s p ed ras a tir a d a s fe riu um a só pes­soa. No p rim e iro d ia, m eu filho e stav a n a h o r ta , e m i­n h a filh ln h a d o rm ia em seu be rço ; nenhum foi m o­le stado . A penas a c ria d a recebeu um pedaço de tijo lo n a cabeça, m as sem f ic a r ferida . T endo m eu sogro sido a tin g id o por u m a pe d ra na cabeça, exclam ou: "E essa! N ão s e n ti n a d a ! ”

O e x tra o rd in á r io deste fa to é que a s p e d ra s , não tendo m agoado as pessoas, fize ram em pedaços todos os ob je to s queb ráveis . A liás, é e s te um c arac terís tico dos fen ô m e n o s o cu lto s: ev itam cu id ad o sa m e n te todo e q u a lq u er fe rim e n to h u m ano . C onfirm ando isso, d is­se o X a tlo n a lra t J o l l e r :

“ M uitas vezes fo ra m a tir a d a s p ed ras do a lto da cham iné sem n ad a d e s tru ir ou fe r ir . A té a s p e d ra s que cairo m sob re um a ou o u tr a d as p essoas p rese n te s , ri- coch e ta ram quase lm p e rce p tiv e lm e n te ”.

E M .TAVA

Se os c itados fenôm enos são m arav ilhosos , m ais exqu islto s a in d a 6 o u tra ca te g o ria d e chuvas de pe­

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dras , em que p a re ce te r hav ido p en etração d a m a té ­ria . U m dos m a is im p o r ta n te s casos d e s ta espécie deu- se no ano de 1S31, n a I lh a de Ja v a , na casa do sr . V an K ess inger, a ss is te n te n a s R egênc ias d e P ra n g e r . U m a v e rd a d e ira chuva de p e d ra s caiu a lí, d u ra n te 16 d ias, d as cinco d a m a n h ã às onze da no ite , d e n tro e fo ra d a residênc ia , a -pesar-de to d a s a s p recauções to ­m adas pelos 6oldados. D este a co n tec im en to m u ito s docum entos ex istem a in d a. O re la tó r io d e V an K ess in ­ger, d ir ig ido ao e n tão gov ern ad o r g e ra l e conservado no a rqu ivo do d e p ar tam en to co lon ial h o landês, foi t r a ­duzido , em 18S7, po r A. I. R lko dè H aag , e publicado em alem ão nos “ Psych ische S tn d ien ” .

N. B. — Antes de passarmos à segunda série de exem plos elucidativos, referirem os aqui um caso típico, em o qual os aconteci­mentos misteriosos parecem estar ligados a uma pessoa determinada. É o que poderíamos denominar fenôm eno oculto medial.

F e nôm enos ligados a pessoas

Jo a n a P ., n a tu ra l de G raz, na Á ustria , t in h a 19 an o s quando , em fin s de 1921, se em pregou num ho ­te l de S isregg , — K ae rn ten . Ai se d e ram com é la os p r im e iro s fenôm enos: m ov im en tos e spon tâneos d e ob­je to s , luzeiro s e m a teria lizações. A lguns abusos, des­o rd en s e p re ju ízos que com isso lh e adv ieram , o b r i­g a ra m -n a a em pregar-se em o u tra casa. E m m arço de 1922 e m pregou-se na casa do cap itão de nav io de lin h a , J . K ogeln ik , em B ra u n au . E ste , ju n ta m e n te com su a esposa, observou m u i a te n ta m e n te os fenôm enos e

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publicou o re su l tad o n a “ P sychic S c ience". (D ezem ­bro de 1922) (3 7 ) .

A princip io , a en tid ad e e s tra n h a m an ifestou -se m o d e ra d am en te ; m as, desde que e n tro u n a m esm a c asa um a c e r ta cozinhe ira , os fenôm enos to rn a ra m -se v io len to s, tpm ando a té um c a ra te r am eaçado r. M uitos o b je to s de uso fOTam que b ra d o s ou d an ificados; o u ­tro s desap a re ce ra m , de m odo inexplicável, e r e a p a re ­c eram do m esm o m odo. As m a n ifestações a tin g iram o ponto c u lm in a n te em S de m aio de 1922. “ Fom os aco rdados, — diz K ogeln ik , — por b a ru lh o s e s tro n d o ­sos que v ie ram da d ireção d a cozinha , e vim os qu e co­lh e re s , g a rfo s , ba ixela , tam pas , c h ica ra s , pás, — num a p a lav ra , — todos os ob je to s m oveis, voavam pela co­z inha c o n tin u am en te . J á m e e n erv av a esse e stado de coisas , m ais nen h u m esforço deu re su ltad o no sen tido de po r fim aos fenôm enos. M uito pelo con trá rio . D uas facas fo ra m a rrem essa d as n a m in h a d ireção , por te r eu , im p ru d e n tem en te , p ro fe rido p a lav ras de h o r ro r ”.

A cozinhe ira , nesse d ia , ficou tão fo ra de si que am ald içoou o inv is ível a u to r d essas tro p elias . Mas, a p en a s ta is m a ld ições tin h a m sa ido de se u s láb ios, com eçou a d a r g rito s la n cin a n te s , sen tindo fo rte a b a ­lo n a cabeça . A pareceu-lhe a í um inchaço e um a fe r id a de c o rte fresco , a v e r te r sangue.

H . M ac-K enzie, v indo a conhecer a Jo a n a P ., m é­d ium d e stas m a n ifesta çõ e s e sp o n tân eas , levou-a pa ra L ond res consigo, em fin s de 1922. C onform e re la to u a esposa de M ac-K enzie, n a P s iq u ic Science, ja n e iro de 1923, tam bera em L o n d res se d e ram fenôm enos pa ­rec idos, posto que m a is fracos.

(37) A. LUDWIG.L nngjnehrige B eunruhigung einen Hnnxen ilureh Spnkphnenomene, F estnchrift von Parup-■ycl». (1929). Pag. 23-89.

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SEGUNDA 6'JÉRIE:

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Fatos cujos autores preternaturais parecem mal definidos

Ruidos — Luzes — Fantasm as

0 caso de Oels, na Silésia

Fo i no ano de 1916 que se pa ssa ram coisas o stra- n h a s em Oels, n a Silésia, (3 8 ) . O sa rg e n to F enske , a d m in is tra d o r de um a o la ria , m orava com su a m u ­lh e r e d o h filh o s n u m a casa a lu g ad a , n a r u a K a ise r 1-b.

A in q u ie tação de q ue a f am ília fo i o b je to nessa casa a tin g iu ta l g ra u , q ue o chefe req u e re u ju d ic ia l­m en te a resc isão do c o n tra to de a lu g u el, e a r e s t i tu i­ção do pag am e n to fe ito a d ian ta d am en te . A se n h o ra F e n sk e con ta os a co n tec im en to d a m an eira se g u in te :

“ E m 20 de ja n e iro p rincip iou o b a ru lh o e n igm á­tico, o qu a l foi ouvido, ao m esm o tem po, em todos os qua rto s . N os p rim e iro s tem pos dava-se só de no ite , n a escu ridão , à h o ra de nos d e itarm os.

E m fin s de feve re iro hav ia-o tam bsm d e d ia ou de no ite , d. luz da lâm pada . Cada sem ana segu ia ou tro p rog ram a . O ra ouviam os pa n ca d in h as ou esta lidos, o ra um a espécie de c h ilre a r ou s ib ilar . O uvim os m as­tig a r , como de ru m in a n te g igan tesco . O u tra vez toca ­ram ta m b o r, e b a te ram n a p a rede com m aTtelo, como um p ed re iro que desm ancha o m u ro ; m a is o u tra vez, e ra o c an to do cuco ou o toque de v io lino q u e tivem os de ouvir. P e rcebem os, porem , um e sg ra v a ta r h o rrív e l, como se fos6e de u m a be sta de g a rra s enorm es. O u­vim os tam bem u m a espécie de m ia r ; um a vez o e stou-

(38) Dr. GRABINSKI.Spnk GeUterachelnuiigeii oder wna aonat? — Borgmelr, Hlldoshelm, 1922, pg. 178. Ou: Paych. Studlen, 191«. Cadarno 6.

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ro, como se a b rissem um a g a rra fa de cham pagne, o um tiq u e -taq u e , como se prov iesse de um relóg io na p a ­rede . O uvim os b a terem fo rtem e n te os nossos relóg ios de bolso. O b a te r das h o ras do nosso relóg io d e p a re ­de foi acom panhado de o u tra s ta n ta s pancadas. O m esm o se deu um a vez com o relóg io da to rre . B a te ­ram tam bem n a p o r ta , como pedindo e n tra d a . N as p an cad in h as se n tía m o s, d is t in ta m en te , c o rren te s frias.

E u e o caixa O patz, do la za re to d e cavalos de Oels, percebem os n a èscu ridão um a cen te lh a p a ira n ­do no q u a rto , a qua l desap a re ce u ; de -repen te , no m es­m o m om ento , b a te ram n a p o rta . A flam az ln h a e ra aau l- veTm elha. Meu m arido e nossos filh o s a v iram ig u a l­m en te . Às vezes, h a v ia v á ria s cen te lh as q u e seguiam a s m oças. Meu m arido de cla ra te r v isto c larões como de desca rgas e lé tr icas . Os b a ru lh o s nos persegu iam , obrigando -nos a fu g ir de um q u a rto p a ra ou tro . Não podendo f ica r de cam a, de itam o-nos no chão, e, não a g u en ta n d o m ais, ped im os resc isão do c o n tra to de in ­q u ilinos dessa c a sa ”.

P e ra n te o T r ib u n a l, 5 te s te m u n h as a firm a ra m , sob ju ra m e n to , te re m ouvido esses b a ru lh o s e visto a s faiscas. O próp rio se c re tá r io do tr ib u n a l, O erte r, te s te m u n h o u te r v is to v á ria s vezes a faisca pe rse g u i­d o ra das f ilhas.

O Q UE A CO N TECEU A UM V IGÁRIO

M uito s ign ifica tivos são os fen ô n e n o s obseTvados num a casa pa ro q u ia l w u o rttem b erg en se , qu e se dão desdo o inve rno de 1902 a té os ú ltim o s anos. C onfor­m e a in fo rm ação do p ro feso r A. L udw ig ( F re is ln g ) , o c u ra ca tó lico w u er te m b erg e n se que nos v a i re fe r ir o s acon tec im en tos é um a f ig u ra im ponen te , de 50 anos. A m ostra v iva de sa u d e e força. Ao vê-lo, disse de si p a ra s i o p róp rio L udw ig : " E s te hom em não so fre de h a luclnações p a to ló g ic a s !”

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“ As im portunações p rin c ip ia ram no inve rno de 1902, em cim a do m eu q u a rto d e do rm ir. Cena a ssu s­ta d o ra . De cim a p a ra baixo, da e sca d a ria do a n d a r su p e rio r ao té rre o , desencade iam um a b a ru lh a d a in ­fe rn a l , como se um caixão cheio de podaços de v id ro s fosse a tira d o p a ra baixo, com fo rç a inc rível, v irando 3 vezes. C o rrendo p a ra fo ra e exam inando , n ad a vim os. M ais fo rte se to rn a v a o b a ru lh o quando rezávam os em com um pela lib e rtaç ão dessa p ra g a ; b a tla-se na p o r ta to d a vez que rezávam os a lad ain h a de N. Sra ., como se houvesse d ia n te da casa um hom em fu rioso . M ui­ta s vezes foi a cam p a in h a puxada por m ãos inv is ivels, m a s e ra “ como se o som v iesse do o u tro m u n d o ”. A m ãe do v igá rio e a c ria d a v iam , em seu q u a rto de d o rm ir, um a bo lha v e rm elha , a rd e n te , que se m ovia d a p o r ta p a ra a ja n e la , onde desaparecia . H avia coi­sa s p iores . “ T en h o ”, d isse o v igá rio , "m u lto bom sono. M uitas vezes, porem , fu i aco rdado , como po r m ão in ­visível, e eu d iz ia: a g o ra e s tá e le no m eu q u a ito . D u­r a n te a lgum tem po, ouvia-se um b a ru lh o su rp re e n ­d en te , som pre no m esm o m om ento . E ra como e s tam ­pido de e sp ingarda . P o r 15 d ia s fu i a co rdado a lg u n s segundos a n te s do A ngelus, sem pre po r um e stouro dado no m esm o lu g a r. U ltim am en te , depois de a co r­dado , fu i su rp re en d id o p o r um la tid o abom inave l. E ra como se cacho rro eno rm e m e la d ra sse ao ro sto . Ao m esm o tem po se n tia , p e rtin h o do m onstro , um a co r­ren te de a r ge lado , dando -m e no ro sto . A coisa não e ra já n enhum b rinquedo . F e lizm en te , receb i de D eus ne rvos com o co rdas; não o b sta n te , se n tia que todos os m eus ne rvos estavam tensíssim os, como p a ra r e b e n ta r ”.

E ’ pa ra n o ta r qu e os fenôm enos a p arec iam es­p ecia lm en te quando o c u ra , pe la benção do r itu a l, t i ­n h a liv ra d o de se m elh an te s Inqu ietações a lg u m a casa dos seus p a roqu ianos.

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P o r um a a titu d e in tim o ra ta e enérg ica , e dando o rdens em nom e de D eus, conseguiu re s tab e lec e r a paz, pe lo -m enos pov a lgum tem po. O caso é tão ev i­d e n te q u e .u m a explicação p o r í r a u d e ou ilu são pa rece im possível.

O OASO D E UMA R E L IG IO SA

A os a con tec im en tos m a is in te re ssa n te s do cam po dos fenóm enos e spon tâneos p e rtencem os exem plos de s in a is de ixados im pressos num ob je to .

A lguns desses casos estão so lidam en te com prova­dos o não deixam p a lra r dúv id a razoave l so b re sua rea lid a d e . T ra ta -s e do fan ta sm a de um m orto que, p a ra p ro v ar a rea lid a d e da sua vo lta , im prim e a mão encandec ida em pano , m a d eira , papel & a té em m eta l.

Como exem plo s irv a a a parição d a f re ir a M arga ­r id a G esta. O acon tec im en to ve rificou-se, segundo se a firm a , em 16 de novem bro de 1869, no convento das I rm ãs te rc e ira s f ra n cisca n as em F o ligno . (39 )

D epois de v ida s a n ta , faleceu a m encionada irm ã a 4 de novem bro de 1859. T rés d ia s depois de sua m orte , ouv iram -se , n a p rox im idade do seu q u a rto , so­luços con tín u o s a que n inguém deu a tenção . A 16 do m ês, indo a irm ã A na F e llce M enghin i, d e -m anhã ce­do, à ro u p ar la , ouv iu váriaB vezes a m esm a voz, en­q u a n to a b ria os a rm á rio s . M ui d is t in ta m e n te percebeu , en tão , a s p a lav ras d a fa lec ida a b ad e ssa : “ O’ meu D eus, qua g ran d e d o r ! ” M esmo cheia de tem o res, re ­solveu p e rg u n ta r o m otivo . E n q u an to a fa lec ida dava in form ações, pa re c ia m over-se , em fo rm a de som bra , n a d ireção da p o rta . C hegada a li, d isse , em a lta voz: "Q ue eu te ap a reç a é u m a g ran d e g raça . N unca m ais

(39) GRABINSKI, Spnk G< sonstT Fg. 389-385.

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v o lta re i, e, como sin a l, deixo-te isao” — Um golpe fo r ­te n a p o r ta , e a so m b ra desapa receu . V iu-se en tão , p ro fu n d a m e n te im pressa d e n tro da p o r ta , a m ão da falecida, e m u ito m a is d is t in ta m en te do qu e se fosse a im pressão g rav a d a a ferro quen te .

E s te fa to , dizem , é com provado p o r docum entos.F a to s se m elh an te s são c itad o s como acon tecidos

em o u tro s lu g a re s . E n tre m u ito s, b a s ta le m brarm os os de P flogsbach , F u c h sm u e h l, P re ssb u rg , H all u n d T. M erl, V innenberg , T h a u r b. H all, etc.

C — O ESPIRITISMO NO BRASIL

O espiritismo é o mesmo em toda parte. Ao lado de investigadores sérios m ovim en­tam-se macumbeiros; mesmo as sessões diri­gidas por pessoas distintas se caracterizam pe­la incerteza, capricho e mistura de fenôm enos estupendos com fenôm enos naturalmente ex­plicáveis. Nem sempre é facil distinguir entre fraude e realidade.

O Brasil não faz exceção à regra. Há aqui muita pantomima, muita comédia e, sobretu­do, muita discursòira insulsa. Todavia, sessões há, principalmente em S. Paulo, que não dife­rem muito das sessões européias, relatadas por nós no corpo desta obra.

Vamos dar uma amostra. Pura isso, ser­vimo-nos de apontamentos concienciosam enle organizados por um cavalheiro distinto que, sem admitir o espiritismo como religião, o tem estudado sob o ponto de vista científico. Tra­ta-se do dr. Shalders.

O dr. Shalders é brasileiro, mas filho de pai inglês; estudou na Europa e formou-se

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em engenharia pela Politécnica do Rio. Con­ta atualmente 77 anos de idade e é engenhei­ro da Light desde 1899. E’ tambem diretor da Sociedade Mctapsiquica Brasileira.

Acostumado a redigir relatórios, — pois trabalha na Secção de Superintendência, — o dr. Shalders tem observado escrupulosa­mente o que se passa nas sessões a que assis­tiu, e essus passam de um milhar. Opina que há fenôm enos reais, de natureza preternatu- ral, mas abstem-se de se pronunciar sobre as causas dos mesmos, pois até hoje não chegou a formar um juizo definitivo sobre o espiri­tismo. Ademais, em sua opinião, é dificil in­dagar as causas dos fenôm enos, porque, nas sessões, os assistentes perdem toda liberdade de julgamento, alheiam-se do ambiente e tor­nam-se fanáticos.

Poucos homens, diz ele, conseguem guar­dar firm e e lúcido o juizo habitual. Todavia, espirita a seu modo, o dr. Shalders aceita pa­ra os fenôm enos uma interpretação que em nada difere da teoria espirita geral. Como, porem, esta discussão é tratada em outra parte do livro, lim itam o-nos a copiar, data vertia, alguns apontamentos dos cadernos do dr. Shalders.

SESSÃO D1D 11 D E MAIO D E 19S9

C asa (lo Cap. V alença — A ssis tênc ia : U m as doze pessoas — M édiuns: O rcem y e d. N enen; depois, E u- nice, f ilh a de d. N enen.

P re n d i o anel de d. N enen com uin cordão do m ais de 5 m e tro s de com prim en to . Com o cordão , do­

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— 95 —b rad o ao m oio, p ren d i a a lian ç a ao pu lso do m édium , dando nó cego. L evei o co rdão ao e sp a ld a r da cade ira o am arro i-o a li, tam bem com nó cego. F iq u e i com a o u tra e x trem idade p resa em m in h a m ão d ire i ta .

F o ito escuro no a m b ien te , o a n e l ca iu no chão em m enos de um m inu to , — o tem po e xato que b as­to u p a ra eu c o n ta r a té seis. N ão v e rif iq u e i se o co r­dão te r ia sido a rreb e n ta d o p a ra p e rm itir a sa ld a do a n e l. Mas, a in d a q ue o fosse, não o te r ia sido por d. N enen , po is e s ta não te r ia fo rça p a ra ta n to . Deixei c a ir o co rdão no pav im ento . '

Os e sp írito s que costum am m a n ife sta r-se , d e nun ­c iaram a sua p resença com os s in a is h a b itu a is . São os e sp ír ito s F ra n c is co B a rre to , F ra n c isco Sousa e Deo- lindo .

F rancisco a ssob iou , como de costum e.F in d a a sessão , que d u rou m u ito pouco, e stavam

c s m éd iuns a m arrad o s um ao o u tro , a b raçados.D eixou-se a um dos e sp irito s a ta re fa de d e sam a r­

r a r os m éd iuns, o quo e le fez em poucos segundos.V erificou-se e n tão que o cordão , tecido de a lgo ­

dão fo rte , não a ta v a m a is o m édium , nem a cade ira , m as e s tav a no chão, picado em pedacinhos de uns 10 cen tím e tro s cada .

D u ra n te a sessão , um e sp ir ito so fre d o r inco rpo ­rou -se no m édium M aria, m as foi d o u tr in a d o e a c a l­m ado pelo e sp ir ito F rancisco Sousa, inco rpo rado uo m édium O rcem y ( se n h o r ita ) . R e tiran d o -se de Orce- ray, F rancisco assob iou c a rac te r is t ica m e n te .

O utro esp irito , pessoa da fam ília do Cap. V alen- ça, inco rpo rou -se num dos m éd iuns e com eçou a con­v e rsa r com o cap itão , tendo tido , p rim e iro , o cu idado do p ro v ar sua Iden tidade .

F o i le v ita d a um a c o rren te lum inosa que estava ao longe e d lrlg iu-ae pa ra m im , trazendo n a pon ta um

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cadargo, tam isem lum inoso , que m e aca ric iou a s m ãos dem oradam en te .

E m segu ida , o e sp irito m e e n tre g o u a c o rren te , e eu, de pé, s e g u re i-a bem a lto . M as negou -se a lev ar a c o rren te a té o te to , con fo rm e pedido m eu . Deixei e n tão c a ir a co rren te na m esa, e ence rrou -se a sessão.

Os m éd iuns O rcem y e N enen estavam de itad o s no chão, a b raçados. P ed lu -se ao e sp irito que aco rd as­se as d uas s e n h o ra s e a s fizesse v o lta r a su a s cade i­ra s , — o q ue fo i fe ito . D ona E un ice , m elo aco rd ad a , m ostrava-se m u ito ne rv o sa e Inclinada a c h o ra r. O s r . G astão desp erto u -a e aca lm ou-a.

SESSÃO D E 24 D E M AIO D E 10S9

E m casa do s r . G astão — A ssis tênc ia : 35 pes­soas — ÍM édluns: D. N enen, d. Z ilda e s e n h o ri ta O r­cemy.

Os m éd iuns O rcem y e Z ilda fo ram a m arrad o s , como de costum e, á s su a s c ade ira s , O rcem y pelo d r. João D ias e d. N enen p o r m im . P re n d i a a lian ç a desta de ta l fo rm a que e la não pudesse t i r á - la de n enhum m odo.

Fez-se e scuro e, em m eio m in u to , caiu o a n e l de d. N enen . M an ifesta ram -se oa e sp írito s F rancisco B a rre to , F rag o so , Jo a q u im e D eolindo, cada qu a l pelo sen s in a l p róp rio . F rancisco a ssobiou d u ra n te a ses­são in te ir a ; a m eu pedido , e p a ra sa tis faz e r o dr. João D ias, a ssobiou L a D ona é m obile e o H ino N acional.

As c o rn e ta s lum inosas fo ra m le v ita d as s im u lta ­n eam en te e descreve ram no espaço m ovim entos in te ­ressa n te s , um a em to rno da o u tra .

No fim da sessão e stava d. N enen fo rtem e n te a m a r ra d a a su a c ad e ira , com c o rda nova quo fo ra le ­vada po r mim .

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O rcem y a chava-se a ssen tad a em cim a do g ram o ­fone, no chão, to d a en v o lta , inc lusive a cabeça, na to a lh a da m esa. A m a rrad a p o r de n tro da to a lh a . P o r fo ra desta', à a l tu r a do pescoço, e n ro la ra -se um a cor­da. O assobio, e ra ev iden te , não podia p a r t i r de la.

D u ra n te a sessão, o e sp ir ito acionou o g ram ofo ­n e ; a b riu 2 caixa , esco lheu o disco, fez fu n c io n a r de um lado e depois, e x perim en tando o o u tro lado e não gostando , esco lheu o u tro disco. F in a lm en te , d e sa r­ra n jo u o m ecanism o da p a ra d a a u to m ática .

D eixando-se aos e sp írito s a ta re fa de a c o rd a r os m éd iuns, e les tro u x era m O rcem y pa ra cim a da m esa, a sse n ta ra m -n a em c im a do gram ofone , sob re um a ca ­d e ira . A co rdaram -na , en fim , depois de ha v erem -lh e t ira d o a to a lh a d e sob re a cabeça.

D. N enen , depois d e d e sam a rra d a , fo i le v an ta d a do chão e co locada em su a c ad e ira . Z ilda foi encon­tra d a , ao fundo do sa lão , a m a r ra d a a um banco, ju n ­to & p o r ta d e sa ld a . F o i depois a co rd ad a como as ou ­tra s .

G rande p a r te da a ssis tê n c ia ficou em dúv ida so ­b re se a s m úsicas do gram ofone p a rtiam dêle m esm o ou de a lg u m a caixa f e c h a d a . . .

A no ta c a rac te r ís t ica da no ite foi a v a ria d a a p re ­se n taç ão de q u a d ro s v ivos com os dois m édiuns. P a r ­te desse tra b a lh o foi feito ã m e la-luz que o p róp rio esp irito se e n ca rreg o u de fo rnece r. A luz apagou -se p o r fim , con tin u an d o a e n tra r no rec in to a fra ca luz d a n o ite e s tre la d a .

J á quase ao fim dos trab a lh o s , um e sp irito se d iv e rt iu em faz e r cócegas a um a m oça que se a chava n a v iz inhança do s r . G astão . E ssa m oça, d u ra n te m i­nu to s, deu gosto sas g a rg a lh ad a s .

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Casa do sr . G astão — A ssis tênc ia : M ais de 120 pessoas — M édiuns: D. N enen, d. M aria, se n h o ri ta O rcem y.

F in d a a sessão, o sr . F a lcão deu pela fa lta de seu relóg io . C onsu ltado o esp irito F ran cisco , e s te decla­rou que o h a v ia levado p a ra a casa d e Orcem y.

O sr. Fa lcão ofereceu -se p a ra a co m p a n h ar Orce­my a té casa , e logo um g ran d e g rupo se reu n iu a am bos: fom òs, p o r tan to , a té a casa de O rcem y, eu, o cap. V alença, d. N enen , um a su a filha , sr . A rm an­do Sales, s e n h o ra e irm ão , e o s a rg e n to M esquita , a lém do sr . F a lcão .

A pagam os a luz, e im e d ia tam en te o e sp irito F r a n ­cisco com eçou a a sso b ia r a n te s m esm o que O rcem y e n tra sse em tran se .

S en te i-m e em um a cam a, ao lado de d. N enen. E s ta e n tro u logo em tran se , inc linando -se p a ra tr á s com a cabeça apo iad a na pa rede.

D al a pouco o e sp irito a b riu o m eu g üarda -chuva, que e s tav a sob re a cam a, e o deu a d. N enen, p a ra se­g u ra r ; ficam os am bos c oberto s pelo g u a rda -chuva.

O e sp ír ito F ran cisco , tocando-m e, colocou em m eus b raços um cac h o rrin h o da casa e o levou depois As o u tra s pessoas.

P e rg u n tan d o - lh e eu po r que não p u d e ra r e t i ra r o nuel do co fre, respondeu q ue e ra po r se r o cofre de m e tal.

D ai a pouco F rancisco se enco rpo rou em O rcem y e confessou s e r êle quem tro u x e ra o re lóg io p a ra de­baixo do travesse iro . P e rg u n te i-lh e po rque a b r ir a o m eu guard a -c h u v a e respondeu -m e:

— P a r a você não se m o lha r.O bservando eu q ue estávam os d e n tro d e casa , ele

SESSÃO D E 3 D E JU N H O D E 1080

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— 99 —disse que, se qu isesse , po d e ria d e ita r á g u a em cim a de m im .

E m segu ida , despediu-se com um boa-nolte e sa iu , assob iando .

O rcem y vo ltou a si.

SESSÃO D E 7 D E JU N H O D E 1039

C asa do s r . G astão — A ssis tênc ia : U m as s e te n ta pessoas — M édiuns: D. Nfenen, M aria, O rcem y.

S essão m u lto p a rec ida com a s o u tra s . O esp irito D eolindo m an ifestou -se , ba tendo» pa lm as fo rtíss im a s.

F rancisco e u tro u com o seu acostum ado assobio. Logo depois can tou com igo o h iuo a lem ã o : ' ‘H eilige N ac h t" .

SESSÃO D E 28 D E JU N H O D E 1939

E m casa do s r . G astão — A ssis tênc ia de 70 pes­soas — M édium : se n h o ri ta O rcem y F ra g a .

O esp irito , a pedido de a lguem , e sc rev e ^ seu no ­m e num c a r tão dado pelo s r . F ra g a , tendo tira d o ~àô b olso d este o lap is. E m segu ida , e n tre g o u o c a r tão ao a ss is te n te , q ue lbo h a v ia pedido.

V erificou-se , depois, h a v e r o e sp írito e scrito : ‘‘D eus o a ju d e , Jo sé P a s s a re lll”. E s te é o nom e c o rre ­to do a ss is te n te . N ote-se q ue e s te e ra desconhecido de to d o s os o u tro s a ssis te n te s .

N um a seg u n d a sessão, a m en ina L íg ia , n e ta do sr . G astão , fo i t r a n s p o rta d a p a ra cim a d a m esa. T i­n h a aB m ãos a m a r ra d a s a trá s das costas . Confessou que ha v ia sido le v ita d a a té p e rto do fo rro . O bservo que a m e n in a não fo ra a d o rm ecida nem a n tes nem de­pois do fenêm eno.

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E m casa do sr . João C aiaffa.D. E lv ira C a ia ffa e d. H ild a Bouclxer m a n ife s ta ­

vam ã táb o a p sicóg rafa , conservando os o lhos fecha ­dos d u ra n te todo o tem po. O ap a re lh o la à s le tra s eom p recisão e sem e rro de o r to g ra f ia .

SESSÃO D E 15 D E SE TEM B RO D E 193»

(D iálogo so b re a ssu n to s banais , do in te resse p a r­tic u la r de a lg u n s dos a s s is te n te s ).

Suspensa a sessão , foi Teaberta depois de um pe ­queno in te rvalo .

A s m esm as pessoas, de o lhos fechados, m a n e ja ­ram a táboa .

D isse o e sp írito :— ‘‘Boa n o ite ” .P e rg u n tad o pelo nom e, respondeu :— “ P e d ro ” .— " P e d ro , q u e m ? ” pe rg u n tam o s. R espondeu:— “P ed ro , chave iro do Céu. Vou d a r um a chave

p a ra o velho a b rir o p u rg a tó r io ” .V endo que nos hav íam os com um e sp ir ito zom ­

b e te iro , despedim o-lo.

SESSÃO D E 2 4 D E SE TEM B RO D E 1939

E m casa do sr . V ald em a r d a Silva.E m um a sessão de inco rpo ração , sendo m édium

o sr . M ichel, deu-se um “ tra n s p o r te ”. A pareceu um p equeno ta llsm an , um a espécie de m edalha dou rada , de fo rm a c irc u la r, tendo d e n tro do circu lo o n úm ero 13; p rend ia -se a um a pequena a rg o la , pelo lado de fo ra do c írcu lo . F o i p rese n te ad o a d. A lz ira , um a das pessoas p resen tes .

D. M ary A lvim e o sr . P a tro c ín io d isse ram que tin h a m v isto o ob je to ca ir . E u e a s dem ais pessoas p resen te , se is ao todo , não vim os, m as ouvim os cia-

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— 101 —ram e n te o son ido d a m e d a lh a quando caiu sobre a m esa.

I n te rro g ad o o esp irito a ce rca de seu nom e, r e s ­pondeu :

— “E d u ar lo C arlos P e r e ir a ”.P e rg u n te i como e ra possível e s ta rm o s a li como

esp ír ita s , e le, m in is tro p resb i te r ia n o o u tro ra , o s r . V aldem ar, tam bem p resb ite r ia n o e eu , m e to d is ta . R es­pondeu:

“ Os cam inhos são d ife re n tes , m as o destino é o m esm o. H oje , irm a n ad o s n a m esm a fé o v e rdade, se ­g u im os de cabeça e rg u id a e peito a b e r to . N ão tem os luz, m as vivem os de reflexo . N ão conduzim os; som os conduzidos em busca do m esm o id e a l”.

P e rg u n tan d o - lh e o sr. V aldem ar se o Novo T es­ta m en to não e n ce rra a s ín te se d a v e rd ad e relig io sa , r e sp o n d e u :

— “ M eus am igos, a ve rd a d e é u m a -só — D eus. Os e screv in h ad o res (s ic ) do Novo T es tam en to foram m é d iu n s e x tra o rd in á r io s , que tam bem :tra b a lh a ra m p a ra a t in g ir o m áxim o de pe rfe içã o ; m as h á coisas que não podem se r reve ladas. T udo ch eg a rá a seu te m ­po p a ra a hum a n id ad e , p a ra a su a evolução n a tu ra l" .

SESSÃO D E 17 D E JA N E IR O D E 1940

E m casa do sr . G astão — A ssis tênc ia : 50 pessoas — M édium : C aro lína.

A c ad e ira do m édium foi le v ita d a p a ra c im a da m esa, e C aro lina , sem sa b e r com o, achou -se se n tad u n a c ad e ira , com as m ãos am arad d a s .

V iu-se a c ad e ira su b ir no a r e, em se g u id a , des­cer va g a ro sam en te a té o chão, com um pequeno ru ido ao to c a r no pav im ento . O m éd ium esteve sem pre a s ­se n tad o sob re a c ad e ira d u ra n te todos esseg m ovi­m entos. Mãos sem pre p resas.

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— 102 —T rês vezes sub iu a c ade ira no a r, d is tingu indo -se

c la ram en te que e n tre e la e a m esa h a v er ia o espaço de m e tro e m eio. O m édium acom panhou a in d a a ca­d e ira no espaço, f icando se n tad o da p r im e ira vez, do pé n a se g u n d a e de joe lhos n a te rc e ira , — quando , en­fim , repousou a c ad e ira de fin itiv a m en te .

N um segundo tem po, a cad e ira foi de novo levi­ta d a a té o fo rro da sa la , onde ficou b a tendo por a l­guns in s tan te s , ouv indo-se o b a ru lh o .

D escendo depois, v a g aro sam en te , g irou em to r ­no do si m esm a, p rim e iro bem d is ta n te de m im e lo­go, em segu ida , ju n to a m im , n a m in h a f re n te . Seum ovim ento , vagaroso a p rincip io , foi-se to rn an d o cada vez m a is ráp ido , de so r te q ue a tin ta lu m in o sa dospés faz ia círcu lo lum inoso pelo chão.

JD u ra n te todo esse tem po, o m édium conservou- se de itad o sob re a m esa, de m ãos sem pre a m arrad a s .

C O N C L U S Ã O

De todo o imenso material que nos con­fiou o dr. Shalders. procuramos transcrever apenas, resumindo-o, o relato de algumas sessões em que houve fenôm enos objetivos.

Nessas sessões, como em todas, aliás, não houve o controle rigorosam ente cientifi­co que observamos nas sessões européias a que estiveram presentes o dr. Gatterer e o ba­rão Schrenk-Notzing.

E ’ natural. Foram reuniões de adeptos fervorosos, que dispensam provas. Por isso, torna-se dificil verificar, nas sessões paulis­tas relatadas, a dosagem de realidade ou a estensão de fraude que, por ventura, haveria nelas. Achamos, porem, que o dr. Shalders, criterioso como é, seria o primeiro a denun­

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ciar as fraudes das sessões a que assistiu, se houvesse notado alguma.

De-fato, em seu relatório, o dr. Shalders a-miude chama a atenção para a fraqueza de certos fenôm enos. Não raro, acha, para alguns, explicação natural.

De-propósito, transcrevemos dois peque­nos diálogos, — fenôm enos subjetivos, — em que a feição anti-católica e anti-religiosa do espiritismo c evidente: as palavras do espíri­to Eduardo Carlos Pereira e as do espírito P e­dro, pseudo-chaveiro do Céu.

Vimos tambem, numa sessão, a inconve­niência de um espírito, fazendo cócegas nu­ma moça. Fatos que tais não são raros em sessões espiritas.

Quanto às sessões do Baixo E spiritism o ou Espiritismo de Macumba, em que predo­minam ritos africanos, refertos de termos bárbaros, temos tambem copiosa documenta­ção relativa ao Brasil. Não relatamos, porem, neste livro, as sessões de macumba, pelo sim ­ples motivo de elas fugirem a todo controle cieniifico: com efeito, a fiscalização ou o exa­me conciencioso não tem lugar nessas ses­sões, não só por causa da finalidade delas, — despachos e conlra-despachos, — como tam­bem pela qualidade das pessoas que tomam parte nas mesmas.

Aliás, seria dificil verificar se, no baixo espiritismo, há fenôm enos extra-norm ais reais, — üuico escopo a que visam os nesta secção de nossa obra.

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CAPÍTULO II

REALIDADE DOS FENÔMENOS SUPRANORM AIS

Estado da questão

Na relação dos fenôm enos verificam os o grande interesse qu!e, anos atrás, se tinha pe­lo ocultismo. Encontramos numerosos nomes de importantes investigadores, como H. Driesch,’ K. Grubcr, K. Zimmer, M. Dessoir, J. Maxwell, R. Baerwald, E. Becher, H. Thir- ring, O. Kraus, A. Messer, O. Lodge, etc.

Nos últimos 20 anos, tambem entre os ca­tólicos, so começou a dar atenção sempre crescente a essas questões. Salta à vista a sua im portância, tanto para a teologia co­mo para a vida religiosa do povo. Convem mencionar, pelo menos, os seguintes nomes de escritores católicos: O. Gutberiet, A. Ludwig, N. Bruehl C. Ss. R.. Staudenmaier, A. MagerO. S. B., J. Udde, M. Ettlinger. W . Schneider, Fr. W alter, A. Seitz, W . Kaesen S. J., J. Bes- smer S. .T., G. Beyer S. J., H. Thurston S. J., W . Ellerhost, H. Mainage O. P., H. Malfatti.

Até hoje não se chegou a completo acordo na questão fundam ental: a da reali­dade de tantos fenôm enos apresentados como

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supranorm ais. Disto trataremos nesta secção. Cumpre-nos verificar, perante a razão, a rea­lidade desses fenôm enos, ou, por outra, se os chamados fenôm enos telecinéticos e teleplás- ticos, são fatos realmente acontecidos; se, rea­lizados em sem elhantes condições, podemos aceitá-los com plena confiança, ou, por outra, se são ou não produtos de fraude ou de ilusão.

Quanto aos fenôm enos ocultos da telepa­tia e televisão, como de vez em quando são produzidos em exibições públicas, quase não se duvida já da sua realidade. Não é preciso exam iná-la particularm ente aqní. O desacor­do continua, até hoje, só quanto à supranor- malidade dos fenôm enos de ordem física, co­mo os citados atrás. (Rudi Schneider e Mme. Silbert.)

Isso é aplicavcl não só aos circulos pro­fanos, onde grupos monistas-m aterialistas, como Baerwaldi, Klinchowstroem, H. Rosen- busch, W . Gulat-Wellenburg, M. Dessoir, A. Moll, etc., tomaram posição negativa, mas tam­bém aos meios católicos. Tambem entre os católicos alguns há que não querem admitir a realidade dos fenôm enos supranorm ais. Ou­tros há, todavia, que a reconhecem franca­mente. O motivo geral da atitude negativista é o juizo teórico que se faz, com a alegação de que os casos não foram verificados pra ti­cam ente. Na negativa encontramos nomes co­m o: J. Bessmer S. J., G. Beyer S. J., BruchlC. Ss. R., Hercdia, S. J., Patrick Gearon, Paul Heusé, Pe. Mainagc, Liljenkrantz S. J., D. Otá­vio Chagas de Miranda e outros. E na afirm a­tiva, outros autores salientes: A. W . Kaesen

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S. J., H. Thurston S. J., os teólogos Fcrrères, Tanquerey, Perrone, Sabatti, Aertnys, Ojetti, Noldin, Ballerini-Palm ieri, Garrigou-Lagran- ge, Thurston, S. J. Franco S. J., o médico Dr. José Lapponi e, entre nós, o dr. Felicio dos Santos, o dr. Lucio José dos Santos, D. Fer­nando Taddei, e outros.

No Brasil existem os dois pontos dc vis­ta europeus. Há quem afirme tudo. E há quem tudo negue. Os negativistas parecem ter m e­do de afirm ar a verdade toda, com todas as suas consequências. Quanto a nós, entende­mos que há exageros de parte a parte, c, por isso, procuramos apurar o que há de real.

De-fato, considerando a im ensidade de m aterial positivo, assim com o a qualidade científica de tantos investigadores, achamos que nem tudo pode ser fraude, e que, pelo menos certa porcentagem, deve ser realidade.

Antes, porem, de passarmos adiante, de­vem os estabelecer algumas diretrizes e nor­mas para nossa investigação.

A — CRITÉRIOS GERAISDois pontos a elucidar:1.® Que confiança merecem os relatores e

observadores no terreno oculto?2.® Que confiança merecem os médiuns

nas suas produções?

1.“ — CONFIANÇA QUE MERECEM OS OBSERVADORES DE FENÔME­NOS OCULTOS.

Em toda investigação desta natureza, de-

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ve-se ter em vista a qualidade ciêntifica, con- cienciosidade e experiência do observador c do relator. Por isso não tem nenhum valor os rclátorios de círculos vulgares espiritas. Tratando-se ainda de investigações sérias, é preciso, como é costume entre os cientistas, supor e adm itir a honestidade e a boa fé no investigador, o qual deve referir, fiel e con- cienciosainente, o que observou, ou que, pelo menos, acreditava observar. Semelhante su­posição seria inadm issível a respeito de qual­quer observador que, anteriormente, já hou­vesse dado motivo a desconfianças, ou con­tra o qual existissem m otivos atuais de sus­peita.

Os que negam a realidade dos fenôm enos costumam apontar a excessiva credulidade dos espiritas e ocultistas. D izem : “As afirm a­ções de espiritas convictos não tem valor.” Nesta afirmação há sem duvida muita verda­de. A convicção arraigada faz que não per­cebam pontos importantes e leva os espiri­tas a interpretar violentam ente os fenôm enos, no sentido dos próprios sentimentos. Con­forme a afirm ação de médiuns fraudulentos, pode-se fazer crer, aos iniciados, tudo quanto se quiser, sem encontrar contradição. Mas, a-pesar disso, é falsa a afirm ação supra, na form a em que é dada. Tais convicções podem fundar-se em sólidos m otivos. Desde que exis­tem bases suficientes, a convicção nada perde de seu valor.

Deste critério é que nos servim os na apreciação de fatos reputados miraculosos.

Entretanto, a confiança no investigador

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não depende apenas da sua capacidade cien­tífica ou da sua seriedade, mas tambem das condições sob que hão-dc se observar e fazer experiências. Rcalizam-sc, nas sessões espiri­tas, as condições, de modo que se possa falar de observação realm ente científica? Nesse particular, parece o problema muito mais di­fícil. A escuridão relativa, a luz fraca verm e­lha, que parecem ser condição para haver fe­nômenos, podem tornar-se ocasião de faltas graves. Quem trabalhou em gabinete escuro de fotografia, sabe dizer quão dificil é operar em ambiente pouco iluminado. Tambem as chapas fosforescentes e os preparados enga­nam mui facilm ente. Até de relatores conci- enciosos se podem esperar frequentes erros e enganos na própria observação. Faz-se m is­ter muita cautela e paciência da parte do ex ­perimentador, para se chegar a resultados se­guros.

Outro exagero seria negar a possibilida­de de se conseguir resultado cientifico. Tam ­bem à luz vermelha se pode distinguir, com se­gurança, o lado de um vidro e o das chapas fotográficas, verificar a exposição, a densida­de e a sombra do negativo revelado. Basta a prática antecedente e prolongada.

Havendo de ocupar-nos ainda com as condições da observação, passam os à outra questão.

2.° — CONFIANÇA QUE MERECEM OS MÉDIUNS

Tambem a este respeito há muitas diver-

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gcncias. Ocultislas entusiastas e, m ais ainda, espiritistas ferrenhos garantem que os m édi­uns merecem absoluta confiança. Irritam-se, quando se ventila a questão da possibilidade de engano. Os representantes da opinião con­trária com prazem -sç em enumerar então a série intérmina de desmascarações, e con­cluem: “ Isto e aquilo foi reconhecido como engano on fraude; o que ainda não foi desco­berto, sê-lo-á certamente m ais tarde. Logo, tudo é fraude e engano!”

Quem tem razão? A nosso ver, ambas as partes desconhecem o estado real das coisas. No que se segue, procuraremos discutir o pró e o contra da questão, e veremos o que se há- de concluir.

A primeira questão é, pois, a seguinte: Pode-se, na verificação cientifica dos fenôm e­nos, confiar na honestidade de qualquer m é­dium? A isto se responde com um "Não” ca­tegórico. Eis a linguagem inequívoca dos fa ­tos! Foram verificados m uitas vezes, nas cha­m adas desmascarações, fraude intencional com pleta, fraude não intencional, e até gros­seiros embustes.

Não se trata aqui de sim ples falhas pe- í^ante com issões de inquérito, mas de positi­vas fraudes. Enumerem os alguns casos mais notáveis.

E is a lg u n s casos de e ngano gro sse iro . O m éd ium H . B nstian tiro u cópias de m ãos célebres h a b sb u rg u e n - ses. A desm ascaração pelo K ro n p r in z Rodolfo é co­nhecida . F lo rc n ce Cook, cé lebre m édium d e experiên ­c ia de W . Crookes, ío i m a is ta rd e d e sm asca rada , qu an ­

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do U3ava o pseudônim o de Côm er. (4 0 ) T am bem o fa ­moso H . S lade e m p re g a ra a rti f íc io s bem e n genho ­sos. (4 1 ) . A panhado em fra u d es, foi condenado a t r a ­balho forgado . B u g n e t, o fo tóg rafo de e sp írito s , foi obrigado a co n fe ssar que su a s chapas tin h a m sido su b m e tid a s a d uas exposições, p a ra s im u la rem p re ­sença de esp írito s . ( 4 2 ) . O am ericano I. G odfrey R au - p e rt, a n te r io rm e n te m em bro da S. P .R ., t in h a ob tido , com um fo tó g rafo de L ondres, sob condições a p a ren ­te m en te severas , r e tr a to s de e sp írito s . R a u p er t faz ia t i r a r , em chapas p ró p rias , à luz do d ia , r e tr a to s seus, e ap a rec e ram en tão , p e rto dele, c laro s fan ta sm a s. P a ­r a exclu ir todo engano , dava, à s vezes, m in u to s a n tes , o rd en s in e sp era d as aos se res m a te r ia liz ad o s p o r ele. (4 3 ) . A -pesar-de todo cu idado , dois e sp írito s foram reconhec idos como pessoas v ivas, pelo que ficou c la ra ­m en te d e m o n s trad a a frau d e.

A céleb re E u sâ p ia P a lla d in o e n g anava sem pre que podia.

A sua f ra u d e foi descoberta , in d u b itav e lm e n te , em Cam bridge, por R. H odgson . E u sá p ia teve a m á so r­te de p e rd e r em P a r is um pedacinho de ferrocérlum , com que m a n ife s ta m e n te p roduzia fenóm enos luzen­te s . (4 4 ) . P o r fo to g ra f ia in s ta n tâ n e a foi v e rif ic ad a a f ra u d e de V on G uzik (4 5 ) . Is lo p roduzia “ E ctop las- m a ’ de a lgodão e g o rd u ra e tc. (4G ). Como conclusão g e ra l de Inúm eras experiênc ias, pode-se a f irm a r que todos os fe ito s de m é d iu n s p ro fiss iona is fo ram resu l­ta d o s de em buste . Ch. R ich e t (4 7 ) e screve o seg u in te ; “M iller B ailey , J lm c. W illiam s Snm bor, A na R o th e fo-

(10) R. FISCHNBR, Genchlel»«e der occultist. F or- ■chung. Pg. 16 e 167.

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— 111 -ram desm asca rados. E ld rcd escondia , no e sp a ld a r g ro s­so de um a p o ltrona , tudo q u a n to p recisavu p a ra suas a p resen tações. O fo tó g rafo de e sp ir ito s B o u rsn e ll foi condenado pelo T rib u n al. M m c. 'W illiam s fo i desm as­c a rad a em P a r is , e tin h a em seu poder dlversfssim os ob je to s que e m pregava , (com o E ld red ,) p a ra a p ro ­dução de fan ta sm a s. O caso de S a m bor é no tável. Um am igo , a p a ren to m en te m u ito honesto , o a ux iliava . A firm a G rassc t, que E b s tc ln r e p rese n to u um fa n ta s ­m a com um grupo de m em bros su p e rp in tad o s . B alley , que p re te n d ia p ro d u z ir tra n s p o rte s , foi su rp re en d id o , em G renoble, no a to de c o m p ra r os p a ssa r in h o s que , c on fo rm e a firm a v a a n te s , lh e v in h a m d ire ta m e n te da ín d ia , p o r Tia tran s ce n d en ta l. M eddok fo i condenado p o r frau d e. “ E u , ( fa la R ic k e t) , pude p ro v ar a frau d e de A na R o th e : é fa to que escondera a s f lo res debai­xo do seu vestido . A ntes d a experiênc ia pesou 58 K g. e, depois, 57; a s f lo res ap a rec id as pesavam e x atam en­te 1 K g .” M axw ell c ita o caso das dam as su spe ita s , W ood e F a ir la in b .

P a u l H cusé re la ta a in d a os se g u in te s casos de f ra u d es d escobertas:

Cruddock , S n r ia k , L ú cia S ord i, M U ler, Cnrnncin i, L in d a G nzzcrn, E lis a b c t T om son . C raddock tin h a co­m o cúm plice su a p ró p ria esposa, que , d u ra n te as ses­sões, lhe passava os ob je to s necessário s p a ra a “ c a ra ­c te r iz aç ão ”. D esm ascarado pelo co ronel M nrk M nyhew, foi condenado . L ú c ia S o rd i fo i d e sm asca rada pelo b a ­rão Schrcnck-X ot/.lng . C nrncini faz ia, como E u sá p ia , a “ s u b s ti tu iç ã o ’’ das m ãos. L in d a G azzern, idem . E li­s a b c t T om son se envolv ia em gaze de seda , p a ra s i­m u la r e spec tro s; um moço desm asca rou -a, dando v a ­len te d e n tad a no p re tenso ectop lasm a . (4 8 ) . T am bem H axby eng an a v a desvergonhadam en te .

(48) PAUL HEUSÉ, Ou cn eat Ia U etapsrclilqne. Pg.142-143.

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Alem dessas fraudes engenhosamente preparadas, deve-se contar ainda com a frau­de m ais ou menos inconcientc, que resulta do estado hipnótico do médium. No transe, que acarreta estado anormal da personalidade, desaparecem m uitos em pecilhos, próprios de pessoa acordada e conciente. O m édium é pre­so pela idéia fixa, de que deve produzir de qualquer modo. Se não bastam as forças su- pranormais, para produzirem os fenôm enos desejados, é então levado, instintivamente, a supri-las fraudulentamente, o que faz, m ui­tas vezes, até de modo muito grosseiro, desa­jeitado. Semelhantes fraudes podem esperar- se tambem de pessoas que, no estado normal de vigília, m erecem toda confiança. R. Fisch- ner, representante desapaixonado e sóbrio do ocultismo, diz isto mesmo, nas seguintes p alavras:

Um m édium honesto não existe e, falan­do paradoxalm ente, podem os afirm ar: não é suspeito o m édium que engana, m as o que não engana."

Queria dizer: se um médium nunca for apanhado em fraude, será, ou porque a sua força m edial é anormalmente desenvolvida, ou porque se tem na frente um embusteiro de alta marca, que sabe esconder os seus truques.

E com isso parece termos chegado, em a nossa análise, ao ponto morto, anulando toda tentativa de provar cientificam ente a não-realidade dos fenôm enos ocultos. De fa ­to, m uitos autores tiram esta conclusão, co­

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mo 7. B appert (49), A. Moll., M. Dessoir, A. Scilz, V. Bruehl, etc. Tal conclusão, porem, não nos parece logicam ente justificada. Sem dúvida, esse estado do coisas não c agradavel para o investigador e deve aconselhá-lo a to­mar grande cautela. Isso não tira a esperan­ça de êxito positivo. Procure-se que haja to­das as condições de observação e de experiên­cia, excluindo-se, com certeza científica, toda fraude, intencional ou não, mormente da par­te do m édium.

Certamente há, neste terreno, numerosos exemplos, em que, provadamente, ou pelo menos, com grande probabilidade, interveio fraude maldosa ou jocosa. Mas devem por isso todo os fenôm enos espontâneos ser con­siderados como simples embuste ou ilusão?- Não o afirmamos. Se há observações bem fe i­tas e concienciosas, devem ser aceitas sem res­trição. Se, por exemplo, ante num erosos e sé­rios expcctadores, como em Grosserlach (W ucrtem bcrg), uma acha de lenha por si própria desaparece pela janela, e isso se re­pete várias vezes; se pratos e boiões por si próprios saltam do seu lugar, caem no chão ou voam pela porta; se, finalm ente, diante de tantas testemunhas, as portas saem dos gon­zos e se atiram ao chão, sem causa visivel, tais fenôm enos devem ser aceitos com o fatos.

Ora, o juizo que vale sobre fenôm enos espontâneos, vale também, como norma ra- zoavel, para a experiência. Se m uitos enga-

(49) I. BAPPERT, K ri tik de» O kkultlsmmi. — P a t- mosverlaff. F ra n k fu r t a. U„ 1921.

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nani, nem por isso diremos que todos enga­nam. E’ muito razoavel pensar que. com o mesmo médium , andem, de-par, fenôm enos genuínos c fenôm enos fraudulentos. Mor­mente vale isso para a fraude, mais ou m e­nos concientc, no transe. Dirão talvez:

“ Onde está o critério certo, para distin­guir verdadeiros fenôm enos de fenôm enos fraudulentos?”

Responde-se: Tudo se reduz à habilida­de e sagacidade, não do m édium , mas do ex­perimentador; devem os fenôm enos ser produ- duzidos e observados, sob condições que sim ­plesm ente excluam a fraude.

Eis aqui, como resultado prático do que foi exposto, algumas diretrizes orientadoras, no terreno oculto, de alto valor, tanto para os ocultistas, quanto para os anli-ocultistas.

a) Se, a-pesar-de cuidadosa observação, não se verificar fenôm eno fraudulento algum, por isso só não fica cientificam ente provada a realidade. Resta ainda a possibilidade ou m es­m o a probabilidade de um truque desco­nhecido.

b) Se, cm caso particular, ficou provado, com certeza, engano ou fraude, ter-se-á, nis­so, o aviso de se tom ar todo cuidado na inves­tigação. Mas, nem por isso direm os que todos os dem ais fenôm enos do m édium sejam frau­des; nem isso anula o valor de verificações an­teriores bem evidentes.

c) Para se provocar a realidade de fenô­m enos ocultos, com sériedade científica, o úni­co caminho é dem onstrar ̂ que, debaixo de se­

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melhantes condições de experiência, se torna im possível a fraude.

Essas declarações e diretrizes estão de pleno acordo com as excelentes explanações de R. Lam bert (50) e Ch. R ichet (51)

B — VERDADEIROS FENÔMENOS DOS ÚLTIMOS TEMPOS

A investigação oculta dos últim os anos pa ­rece, de-fato, ter provado a realidade de fenô­menos supranormais. Quanto a fenôm enos es­pontâneos, conhecem -sc fatos do nosso tem­po, com provados com rigor e aceitos, mesmo por tribunais. (C/r. os relatados na parte pre­cedente).

Mas, os resultados de muitas sessões ex­perimentais modernas, não são menos garan­tidos. Esta opinião supõe a circunstância de que a maioria dos m édiuns que trabalham com êxito produziram, anteriormente, fenô­menos espontâneos, que trairam a sua capaci­dade m edial. Pode-se apelar aqui para as ob­servações mais antigas e exalas. Existem de Eusápia Paladino tantos fenôm enos tclcciné- ticos c telcplásticos, otimam ente acreditados, que só um crítico que se esquivar da leitura

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dos relatórios poderá chegar a um resultado totalm ente negativo, ou ao cômodo “non li- quet", não é claro. Tomo-se, p. ex., conheci­mento dos relatórios de M orselli, Vassalo, Venzano, B otazzi; exam inem -se os protoco­los da com issão inglesa de prestidigitadores, (Carrington, Feilding, B azzally), cuja conclu­são é absolutam ente positiva. Nas mãos de M orselli e B ottazzi, desfizeram -se, várias ve­zes, membros m aterializados. As condições de verificação desses fenôm enos excluem toda fraude, intencional ou não, às quais Eusápia era indubitavelm ente muito inclinada, em consequência de sua índole hisiérica. No que lhe diz respeito, encontram-se, portanto, ao lado de fenôm enos fraudulentos, outros cer­tamente reais.

Muito em particular, porem, devemos apontar as mais recentes e exatas indagações dos irmãos Rudi e W illi Schneider, de Brau- nau. Como já declaramos atrás, W illi Schnei­der, desde princípio de dezembro de 1922 ate fins de fevereiro de 1923, operou em 104 ses­sões, 16 delas no Instituto Psycológico da Uni­versidade de Munique. Após as experiências de movim entos à distancia, foram convoca­dos 27 intelectuais, na maioria professores de Munique, c 29 outros observadores cientifica­mente interessados. Com excepção de alguns céticos, atestam todas as testemunhas, clara e insofism avelm ente, a realidade da teleciné- sia, acom panhada muitas vezes de m ateriali­zações. Repetidas vezes afirm am que a fisca- lisação nada deixava a desejar. Assim se ex­terna o Prof. Dr. G ruber:

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— 117 —" F o i fe ita , d u ra n te a sessão , a verif icação decisi­

va , c o n tra a h ip ó te se de fra u d e , pelo f lsca llzado r p rin c ip al. C onsistiu em que um a ss is te n te so a ssen ­tou em fre n te ao m éd ium , a p e r tan d o - lh e as p e rn as com as p róp rias , e segu ra n d o -lh e , a lem disso, a s m ãos. O u tro a ss is te n te , — o su p e rc o n tro lad o r , a ssen tad o ao lado do m éd ium , fiscalizou , p o r co n tín u a observação , a p ró p ria fiscalização . F m n e n h u m a das n u m ero sas sessões foi observado o caso d e q u e o m éd iu m tivesse , um a só vez, p rocu rado ou podido lib e r ta r q u a lq u e r m ão ou pé.

“ A inda que e s ta s disposições de v ig ilânc ia to r ­nassem Im possível to d a f ra u d e , sem em bargo , fo i r e ­fo rç ad a a v ig ilânc ia , em sessões su b sequen tes . Coloca­ram o m éd ium n u m a g a io la de gaze, em c u ja fre n te hav ia , n a a l tu ra de um m e tro , um a e s tre ita a b e r tu ra po r onde o m éd ium passava a s m ãos, se g u ra s pelo fiscal. T am boin ne ste caso se d e ram fenôm enos te le- cinéticos, a ssim como no caso inverso de se colocarem os ob je to s d e n tro d a ga io la, e o m édium , fo ra .

E , f in a lm en te , houve a in d a fenôm enos te lec iné- ticos, quando m éd iu m é a ss is te n te s f icavam se p ara ­dos do cam po de ação m edial, p o r um b iom bo de g a ­ze de l.m .SO de a l tu ra . E ssa a lte ra çã o das condições m a is severas de fiscalização n u n c a p u deram Im ped ir a p rodução de fenôm enos te lec iné tico s. E is, pois, a p ro ­va c la ra em fav o r d a rea lid a d e dos fenôm enos. E l-la c ien tifica m en te p ro v a d a ”.

Costuma-se aludir à grande desmascara- ção de “W)7/í”, pelo sr. Seeger (52). K. Gru- ber, que não nega a fraude, salienta, porem, que nessa ocasião não havia sessão científica; pois essas só com eçaram um ano e meio mais

(52) W. VON GULAT — WELLENDURO. C. von KLINICOWSTRÔM. — H. ROSENBUSCH. — IJer pliyxlU. HedlnnlxmaH. U lsteln, Berlln, 1925, pg. 414,, etc.

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tarde, razão por que esse episódio não entra em questão.

Alem disso, contestam a garantia cientí­fica de Schrenk-Notzing, diretor das expe­riências. Dizem que, nas indagações com Eva Carrière, foi ele vítim a de uma embusteira e que, com a edição de "Fenômenos de m ate­ria lização”, perdeu a sua fam a científica.

Quem acompanhou a literatura dos últi­mos vinte anos. sabe suficientem ente que as experiências com Eva Carrière foram sujei­tas a ataques violentos.

M. von K em itz, W. von Gulat-W ellenburg e G. Kafka abriram o debate contra a realida­de. Mais extensam ente expõe G ulat os seus argumentos no “D reim aennerburch" (Livro dos Três), no qual dedica ao caso Eva Carriè­re oitenta e sete páginas.

Admitam os que todos esses fenôm enos sejam engano ou fraude. Daí, em absoluto, não se segue que o mesmo devamos conceder quanto aos fenôm enos de W illi Schneider. Sc os que negam a existência da telecinésia e da m aterialização não dão importância ao juizo de Schrenk-Notzing, todavia, não po­dem, no caso dos irmãos Schneider, ignorar os numerosos pareceres positivos de notáveis experimentadores e cientistas, os quais ates­tam que, nas experiências, processaram com científica exatidão e severidade, pelo que f i­cou afastada toda possibilidade de fraude.

Em mais de uma centena de sessões pro­duziu W illi, sob a melhor veiúficação e em diversíssim as condições exteriores, fenôm e­nos telecinéticos e teleplásticos, em Braunau,

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Munique, Viena e Londres. Seria possível que todos os cientistas, médicos c prestidigitadores

do a descobrir os seus truques e falcatruas?E ’ fato. confessamos, que certos observa-

s foram enganados m ui­tos impostores; mas quase t repetição prolongada das

impostores acaba- i por ser definitivam ente desmascarados.

E ’ o que se não dá no caso vertente.A convicção da realidade afirm a-se pelas

continuas investigações.O que dissem os sob re AVilli Sclm cldcr, va le qu an ­

to à m ed iu n id a d e de M aria S ilb crt, so b re tudo no que toca a fenôm enos te lec iné tico s, a te s tad o s com to d a e xatidão p o r nu m e ro sas e com peten tes te s te m u n h as , e n tre a s qua is se e n co n tra o conhecido p res t id ig ita d o r R . AV interri. (5 3 ) . E m com paração com o g ra n d e n ú ­m ero desses p a rece res , favo rave is , em palidece a a le ­gação da q u ela s poucas te s te m u n h as , ad u zid a s pelo p ro fesso r B c nndo rf, c o n tra a rea lid a d e dos fenôm enos de Mine. S ilbert. (5 4 ).

Quanto às investigações e experiências do Padre Dr. Gatterer, coloca a m inuciosa repro­dução dos protocolos que fizem os o leitor em condições de form ar jüizo sobre a realidade ou irrealidade dos referidos fenôm enos.'A n­tes de mais nada, avulta, com segurança, a in­

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consistência da teoria halucinatória. Se, em plena luz, um violino se despedaça, se mesas são derrubadas e cam painhas atiradas ou ar­rancadas da mão, e se esses efeitos são con­firm ados por todos os assistentes, é que aqui não há ilusão nenhuma.

Mas teria sido o Dr. G atterer, a-pesar-dc tudo, iludido ou enganado? Em vista dos refe­ridos relatórios, replica ele o seguinte:

“ N as sessões com R u d i S ch n e id er e M nrla S llbcrt n u n c a Be encon trou n a d a de su spe ito , não o b s ta n te a m a is r ig o ro sa investigação . V ária s vezes, e com su f i­c ien te ilum inação , rea liz a ram -se m ov im en tos te lec iné- ticos d ia n te dos m eus o lhos e à pequena d is tân c ia de m im , com o, p o r exem plo, o despedaça r do vio lino ju n ­to do S c lircnk-N otz lng . Do m esm o m odo pude v e rif ic a r em B ra u n n u , com to d a calm a, o aparec im e n to d e pe­q u ena m ão m a te r ia liz ad a , a qual a rra n c o u a cam pa i­n h a de m inha m ão. í.lostrou-se , a in d a , v á ria s vezes, n a s m a is d iv e rsas funções e com su f ic ien te c la rid a d e .

Isso acon teceu em c la r id a d e p e rfe i tam e n te su fi­c ien te , e posso g a ra n t ir qu e não e ra a m ão d e R u d i ou d c a lgum m em bro d a sessão . A s condições de obse r­vação e de fiscalização e ram ta is qu e devo qua lif icá - la s de Irrep reensíve is .

N as sessões com M a ria S ilbert, o m a is c laro fenô­m eno fo i a m ensagem d ita d a p o r pan ca d in h as, e isso fo i observado in ú m e ras vezes, com a m a is c la ra luz de lâ m pada , e m esm o de dln, e eu próp rio p u d e ve­r if ic a r esse fenôm eno, em c ada sessão . A3 c irc u n s tâ n ­c ias que ro d ea ra m o fenôm eno, excluem , a m eu ver, to d a fra u d e .

N os re la tó r io s fo ram , rep e tid a s vezes, m enciona ­dos tam bem tra n s p o rte s q u e pud e ra m se r ve rif icados p o r v á rio s o bse rvado res , em to d a s a s su a s fasea. Alem

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disso, rea liz aram -se em condições de ve rif icação ta is , que excluem produção m e d ian te p restid ig ita çã o ou fra u d e . T am bem pu d e v e rif ic a r fenôm enos luzen tes que se rea liz a ram n a s p rox im idades do m édium , sem u tilização dos seus m em bros .Não chegue i, porem , a pe rsu a d lr-m e d a rea lid a d e d a m a teria liz aç ão , ne ste ú ltim o caso.

N . B ru c h l e A. Seltz n o ta ra m fa lh a s n a redação do3 re la tó r io s . Mas e ssas fa lh a s , se ex istem , são m ais de cunho lite rá r io , e não d estro em o v a lo r das expe- r iéu c ia s pessoais m in h a s e de o u tro s o b se rvado res sa ­gazes.

Q uanto ao v a lo r do c on tro le , no próxim o cap itu lo ve n tila re m o s a questão .

N ão hesito em exp rim ir, n e s te lu g a r, a m in lia convlcçoã pessoal nos fenôm enos pa ra -flsico s. No e n ­ta n to , isso não d ispensa todo exam e p o s te r io r e toda con firm ação dos fatos . Pe lo c o n trá rio , um ju izo c ien­tif ico deve e s tr lb a r-se , em p rim e iro lu g a r, num rico m a te r ia l de fato s , o que mo fa lta a in d a qua n to à ex­pe riência p róp ria .

Crelo-m e, porem , a u to riza d o a p ree n ch e r ta l la ­cuna, com as já m encionadas indagações de o u tro s in vestigado res , ao m enos pela m a io r p a r te .

Q uem , liv re d e p reconce ito s, d e r ao m eu honesto te ste m u n h o a lg u m a im p o rtâ n cia , n a v eg a rá n a m esm a e s te i ra dos num erosos in v estigado res q ue já , por m u i­to s anos, se ocupam , c ien tifica m en te , com esses fe­nôm enos; e c o n c lu irá que, tam bem no nosso tem po, h á v e rd a d e iro s fenôm enos ocu ltos, — a ssim e sp o n tâ ­neos como e x p er im e n ta is”.

C — A GRANDE OBJEÇÃO CONTRA A REALIDADE

E’ pedida ao desastre de muitos médiuns, mormente perante com issões científicas, e à

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luz clara. Aos adversários da realidade, esse desastre parece fornecer a prova evidente, de que todos os fenôm enos ocultos são produtos da fraude.

O desastre de muitos m édiuns é um fato. Dc vez em quando se dá o mesmo a respeito de fenôm enos esponiáneos. Prim eiramente, havia um barulho, um grande barulho; de­pois, sobrevindo a invostigação funcionária ou policial, a paz se restabeleceu. Às vezes, nem c preciso tanto.

Num circulo simpático, realizam-se coi­sas maravilhosas. Chegando, porem, uma co­m issão científica ou um verdadeiro cético, quase sempre a glória se desvanece e, quanto m ais rigorosas e científicas forem as condi­ções de verificação, tanto m ais fracos ou nu­los se tornam, em regra, os fenôm enos.

Willi Sclmeider m anifestou, junto ao la­boratório psicológico da Universidade de Mu­nique, um gradual decréscimo de sua capaci­dade mediúnica. Os fenôm enos de ambos os irmãos Sclmeider dão o melhor resultado no círculo familiar de Braunau. Von GuziU, que trabalhou muito bem sob G. Geley, falhou com pletam ente na investigação da Sorbona. tendo sido apanhado em fraude pela Com is­são Investigadora.

Não será uma prova m anifesta dc que, em todas as suas produções, os médiuns em­pregam fraudes, se precisam ente em frente de observadores científicos, tantos, desastrosa­mente, falham ?

Do fato de nada conseguir o médium quando trabalha à luz clara, o observador su­

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perficial é levado a declarar que fenôm enos parafísicos não existem; que todos são frau­dulentos.

Sem dúvida, a maioria dos médiuns só produzem fenôm enos maiores, m ais certos e rápidos, ou em completa escuridão, ou em am­biente ilum inado por luz vermelha, que é a regra. À luz branca, e até .de dia, poucos há que produzem, c menos ainda que produzem fenôm enos notáveis.

Ao que parece, o único motivo disto é que a luz branca, intensa, im pede aos médiuns, mais ou menos astutos, empregarem truques para produzirem certos fenôm enos.

A favor da explicação pela fraude invo­cam ainda outro fato experimental: os maio­res médiuns foram surpreendidos cm fraude, para não falar dos m édiuns vulgares, cuja ar­te parece ser quase exclusivam ente baseada em engano propositado.

Tais os argumentos de que se servem os adversários da realidade. Pretendem negar até a m ínim a porcentagem de fenôm enos me- diúnicos reais. A fraude, auxiliada pela cre­dulidade dos assistentes, c quanto lhes basta para explicarem tudo, e tirarem ao ocultismo todo fundamento real. C. von Klinckoivstro- em, por exemplo, em sua citada obra, enume­ra prosaicamente todos os grandes e pequenos truques, como se pode ver no livro “Confes- sions of a médium." (55) E com o von Klin- ckowstroem pensam H. Rosenbusch e Gulat- Wcllenburg.

(55) D er pbyaicalUche Madlunlamnx, pg. 76-95.

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Para anular a grande objeção, basta evi­denciar que as provas em que ela se apoia são dois sofism as: Prim eiro, — concluir-se da pos­sibilidade da fraude para sua realidade; se­gundo, — indevida generalização, concluindo- se de muitos casos de fraude para todos sem excepção ou com excepção raríssima.

O que se deveria inferir da possibilida­de de fraude, é a suspeita de que ela possa ocorrer nos casos vertentes, e a prevenção contra ela, tendo-se os olhos abertos para' desmascará-la, tão pronto seja descoberta. Do fato da impotência de m uitos médiuns, evidenciada perante com issões c à luz clara, só concluirem os que eles fraudaram sempre, se provarmos que as precauções tomadas con­tra a fraude a im pediram . Mas isso só se pro­varia, demonstrando-se que a única explica­ção dos desastres é a im possibilidade de en­ganar em que se encontram os médiuns.

Ha várias explicações da falência even­tual do poder mediúnico. Entre outras, cita­mos duas, — uma da parte da causa instru­mental, outra da causa intelectual.

Para m elhor elucidar a questão, obser­vem os que a produção de uma série de efei­tos só se poderá exigir com rigor, quando se trata de causas e efeitos mecânicos, e is­so mesmo nem sempre com absoluta certeza, mas só na suposição de que a máquina esteja em perfeito estado de funcionam ento. Na sua crítica, os adversários da realidade se esque­cem de que a energia que produz os fenôm e­nos ocultos não é nem força mecânica, nem força natural, que sempre produz os mesmos

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efeitos com necessidade física. Nos fenômenos ocultos atuam energias vivas, espontâneas, sensitivo-espirituais, primeiro no próprio mé­dium, — o que já torna incerta a produção ou repetição do mesmo fenôm eno, — e segundo, fora do médium.

Com efeito, outro fator importantíssimo dos fenôm enos transcendentais, do qual tra­taremos adiante, c que, nesses casos, estão em cena não só o organismo e a psicologia do mé­dium, mas, probabilissimamente tambem, t muitas vezes, outro agente, i. é, alguma po­tência espiritual, que transcende a vontade do médium, e intervem arbitrariamente no cur­so dos acontecimentos.

Desta forma, torna-se com preensível que os fenôm enos ocultos experim entais apresen­tem, como os fenôm enos espontâneos, o ca­racterístico de capricho, travessura e m alda­de, porque os primeiros como os segundos são, frequentemente, o produto de sem elhan­tes poderes.

Nestas condições parece sumamente d ifí­cil, senão im possível, promover experiências regulares. Não é possível aumentar arbitra­riamente as condições de fiscalização e exigir, em todos os casos, resultado infalível. O po­der superior recusa-se simplesmente e aban­dona o médium à sua miséria.

Pelo mesmo motivo, fica explicado por­que é que tantos grandes prêm ios oferecidos para a produção de determinados fenôm enos ocultos, sob determinadas condições, não en­contraram pretendentes. Como notamos, o médium não pode confiar incoDdicionalmen-

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mente em sua capacidade supranormal, nem pode dispor dela à vontade e por capricho próprio ou alheio.

O segundo motivo apontado por nós, é a indevida generalização, que consiste em con­cluir da fraude de muitos casos, para a fraude em todos os fenôm enos ocultos, ou concluir para a nulidade dos fenôm enos por causa da falha de muitos médiuns, perante com issões cientificas, e à luz do dia.

Com efeito, se alguns fraudam, não é ló­gico afirmar que todos fraudem. Se muitos médiuns não podem produzir senão à luz ver­melha, não se segue que não haja outros que produzam, perfeitam ente, á luz clara do dia. Existe bom número de casos em que não há o mínimo sinal de impostura,

p a r a p ro v ar a ú ltim a a firm a çã o , b a s ta a p o n ta r ­m os a s experiênc ias de AVilli Schne ider. O m édium te ­ve m ãos e pés a m arrad o s por pessoas de confiança , de m odo qu e ficou segu ro como num to rno . N ão obs­ta n te , aparecem os fenôm enos: v á ria s vezes levan tou - se a c estln h a de papéis e, a m andado , soou a caixa de m úsica . Como o aux ílio f ra u d u le n to da p a rte dos a s­s is ten te s e s tá a fa s ta d o , por vá rio s m otivos, (sep a ra ­ção do cam po de ação por um biom bo de g a ze ), se ria prec iso que AVllU e fe tu asse e sses m ovim entos com b as­tão com prido , dob rave l, sa indo da boca por si p róprio , se se qu isesse sa lv a r a te o ria d a fra u d e. Im possível, is­so. Um p res t id ig ita d o r a quem se prendessem m ãos e pés te r ia e n ce rrad a a su a c a rre ira , a in d a que fosse um gênio.

Com razão diz K. Gruber:“ Q ueiram in d lc ar-m e um p res t id ig ita d o r , que, em

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tran s e , com a s m ãos e pés segu ros e a té ua escu ridão , visível por a lf in e te s fosfo rescen tes , o corpo In te iro em c on tínuos calftfrios, p roduza ca lm am en te fenôm enos com o pudem os ob se rv a r com W1UI m ilh a res de vezos. Q uem tiv e r com preendido com ju s tez a todo o com ple­xo do um a sessão positiva, vê, sem m ais, a ln su s ten ta - b llid ad e da h ipó tese de p res t id ig ita çã o " . (5 6 ).

Para quem, nesle assunto, m ais valem os pareceres de prestidigitadores, lembram os aqui (57) um tópico do discurso (13-7-1922) de E. J. D ingwalls, Secretário da S. P. R. (Londres), especialista neste terreno.

“ P o r f im ", — decla ra e ste in v e stig a d o r p e ra n te a S. P . R., — “ q u e ria le m brar-vos que e ste caso (W llll) é único n a h is tó ria do m ed iun ism o . Com EusA pla P a l- lnriino a fiscalização e ra m u lto d lfic ll, e os fenôm enos m a n lfesta ram -se , o rd in a r ia m en te , a m u ito pequena d is tân c ia de la. Com E va C a rrlè re a f iscalização a inda m a is dlfic ll. Com C n th le ln C oligher, em B e lfast, o D r. C ra iv fo rd ensaiou fiscuUzor, ao m esm o tem po, se te m éd iuns, e acabou por não te r f iscalizado nenhum . Com L in d a Guzzci-n a f iscalização e ra m ais com plicada do que com E va C nrrièrc , e com K usk l, tão d lfic ll co­mo com L in d a G azzera . D e-fato , não posso lem brar- m e de m éd iun i a lgum que se su b m e ta a se m elh an te fiscalização com o W llll Schnc lder. N ão é p rec iso le r conhecim ento do p res tid ig ita çã o , e n q u an to p ro d u z os se u s fenôm enos costum eiro s .

S eguro po r d uas pessoas e m arcado com a lfin e te s fosfo rescen tes , é-lhe im possível esqu ivar-se , e fo ra - lhe in u ti l , se fosse possíve l”.

(56) Die ph jeleallxchen Phaenoniene der g r o u e i Me­dien, pg. 219-220. .

(57) SCHRENK-NOTZING E xperim ente der Trul!- wcBung,, pg. 272.

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T ais fenôm enos genu ínos m a n ife s ta ram -se fre ­que n tem e n te , não só com AVilli S chneider, m as tam bém com o u tro s m éd iuns conhecidos m a is an tigos.

Alegam ainda que o simples uso dos sen­tidos da vista e do lacto não é suficiente para uma verificação cientifica.

A objeção vem de R. IV. Schulte que pro­vou. experim entalm ente, que enganos podem dar-se sob a influência de fadiga, espanto re­pentino, etc. (58).

Responder-se-á que ninguém contestará a possibilidade de uma ilusão. Nós mesm os já apontamos isso expressamente. Contra o que, porem, temos de protestar é o exagero, que consiste em querer negar todo valor científi­co das experiências feitas até hoje, com ob­servância de todos as boas e cuidadosas con­dições óticas e tácteis de verificação e exigir que se execute tudo à luz do Sol.

Uma última observação:Quando é que uma fiscalização é perfei­

ta? Não se trata de uma perfeição absoluta, mas relativa; quer dizer: de acordo com a es­pécie de fenôm enos que se devem verificar no médium. Se, por exem plo, numa sessão em que são seguras as mãos e os pés do médium por pessoas de confiança, um violino se mo­vim enta no ar com veem ência, marcando o compasso, de acordo com a música tocada, a distância de um metro e vinte centímetros do médium, e finalm ente se quebra na mesa em m il pedaços, não se podia exigir, para ve-

(58) A. SEITZ — Zum sogenannten w lssenachafllchen O kkultism us — St. Beilage z. Bayr. K urier (1927), n.° 19.

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rificar isso, um exam e ginecológico, ao qual dona Silbert se recusou terminantemente.

Apresentando-se bem ludo isso, chega-se facilm ente à conclusão de que essa senhora produziu, nas citadas sessões, não poucos fe­nôm enos sob fiscalização perfeitam ente su fi­ciente.

Efetivamente, comeiendo-se a falta de ignorar todos os casos onde boa luz e boas condições de experiência permitem excluir, com segurança, toda fraude, é facil para uma critica severa rejeitar a realidade de fenôm e­nos ocultos, com apelar para a onipotência da prestidigitação. É o que, infelizmente, foi fe i­to no já citado "Livro dos Três”, razão por que não pode ser considerado como obra sé­ria, a-pesar-do precioso material que ajuntou, inas sim como fautora de erro. Cfr. Psychol. Studien de Schrenk — Notzing e R. Lam- bert (1925, p. 625-649), Beuler "D ie physisch. Fhacnomene der grossen Medien”.

D. — RESUMO DAS DEDUÇÕES OB­TIDAS.

Da exposição supra resulta o seguinte: o problema dos fatos do m ediunism o fisico não é, de-certo, sim ples, mas, ao contrário, muito dificil e complicado. O aspecto jocoso dos fe ­nômenos ocultos tambein dificulta, c muito, uma verificação severamente cientifica. Gran­de parte dos referidos fenôm enos deixa de ter, conforme notamos, o carater da genuini­dade, c apoia-se na inexata observação, ou na concicnlc fraude da parle dos médiuns. —

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Outra parte subtrai-se, pelo menos hoje, a um jugamente científico definitivo e cai na cate­goria do “Non liquet", não é claro. — O resto, a nosso ver, engloba os fenôm enos que satis­fazem às justas exigências da crítica científi­ca e devem, portanto, ser considerados reais.

Católicos há, que rejeitam, sistematica­mente, a realidade de quaisquer fenôm enos ocultos.

Vem aqui a propósito a palavra de pro­fundo conhecedor do ocultism o físico, Her- bert Thurston, S. J., membro da S. P. R. de Londres. Esse guia de confiança dos católicos ingleses, neste terreno, escrevendo ao Pe. Dr. Gatterer, disse o seguinte sobre a atitude dos católicos acerca do ocultism o:

“A meu ver, a opinião segundo a qual Io­dos os fenômenos ocultos físicos devam atri­buir-se à impostura, não só é inveridica co­mo tambem perigosa para a sã apologética." E’ este o resultado a que nos levou tambem a nossa investigação cientifica.”

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CAPITULO III

CAUSALIDADE DOS FENÔMENOS SUPRANORMAIS

Estado da questão

Nas duas primeiras secções do nosso tra­balho vim os que existem realmente fenôm e­nos supranormais; que liá fatos inegáveis que ficam por explicar. Nesta terceira secção, in­cumbe-nos indagar da causalidade desses fe­nômenos; se são produzidos naturalmente pe­los homens, em torno dos quais se m anifes­tam; se são produzidos pelo médium só ou com auxilio de outra pessoa; ou se os fenô­menos excedem toda força humana c recla­mam a intervenção direta de uma causa pre- tcrnatural: Deus ou dc qualquer espírito, bom ou mau.

Os fenôm enos do espiritismo apresentam- se ao espírito hum ano investigador do mesmo modo como os fenôm enos do hipnotismo. Quanto a estes, a ciência já reconhece que são, m aterial ou instrumentalmente, produzi­dos pelo hipnotizado, mas provocados e diri­gidos, moralm ente, pelo hipnotizador. Assim

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também os fenôm enos do espiritismo expe­rimental parecem ser produzidos pelo m e­dium.

Incumbe-nos, pois, indagar se os fenôm e­nos ocultos excedem as forças naturais, e só podem ser produzidos com o auxilio de espí­ritos, e, caso se verifique esta últim a hipóte­se, se são esses espiritos as alm as dos mortos, ou são os puros espíritos, anjos ou demônios.

Para podermos melhor discutir estes pon­tos, convem separá-los uns dos outros e apre­sentar cada um por si só. Daí a divisão desta secção toda nas seguintes afirm ações:

A - Os fenôm enos supranormais exce­dem as forças humanas.

B - Os fenôm enos supranormais não são produzidos pelos desencarnados.

C - A verdadeira causa dos fenôm enos supranormais. Este ponto é tratado em três capítulos:

I - Os fenôm enos supranormais sãoproduzidos por espíritos, e estes só podem ser os maus espíritos da con­cepção católica.

II - Em que sentido entendem os a in­tervenção diabólica no espiritismo.

III - Sinais diabólicos que os fenôm enosespiritas trazem consigo, e a ação diabólica através dos tempos.

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A — PRIMEIRO PONTO

OS FENÓMENOS SUPRANORMAIS EXCEDEM AS FORÇAS

HUMANAS.

Art. I.

FENÔMENOS PARAPSÍQUICOS DE TELEVISÃO E DE TELEPATIA.

Criptestesia

Sendo o espiritismo, antes de tudo, cená­rio de manifestações supranormais, e queren­do nós indicar as causas profundas de tais m anifestações, claro está que os fatos físicos são mais importantes, a este respeito, do que os psíquicos, porque são sensíveis e exteriores. É mais facil verificar a preternaturalidade c o extraordinário de um fato físico, do que de fato psiquico. Por isso, o espiritismo, para sua propaganda entre o povo rude. mais se vale dos fenôm enos físicos, apresentados nas sessões.

Não obstante isto, os fenôm enos psíqui­cos são parte integrante e, até, essencial do espiritismo. E m édiuns há, — os que denom i­namos físico-psiquicos no princípio desta obra, — que se notabilizaram nas duas clas­ses de fenôm enos. Pela razão acima exposta, isto é, por serem exteriores os fenôm enos f í­sicos, estes foram sempre tratados, com m ui­ta m inúcia e desenvolvim ento, em todos os relatórios, ao passo que, para os fenôm enos

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psíquicos, só se mencionam os mais impor­tantes e estupendos, os que são indiscutivel­m ente de natureza transcendental.

Os fenôm enos do domínio puramente psi- quico são tratados debaixo do nome geral de Criptestesia, palavra grega form ada pelo prof. Richet e que significa sensibilidade oculta. (59)

A Criptestesia é uma sensação anormal, que leva ao conhecim ento de coisas secretas, ou que atua à distancia, nos espíritos alheios, provocando neles processos psíquicos análo­gos aos do agente.

A criptestesia é uma sensação anormal, primeiro porque é adquirida sem o auxilio dos m eios perceptores ordinários, — olhos, ouvidos e demais sentidos, — e, segundo, por­que é produzida à distancia. Compara-se com a telegrafia sem fio, onde há um aparelho transmissor, — o agente, — e um aparelho receptor, — o sujeito. A única diferença está em que, na telegrafia, o m eio transmissor é conhecido, a mensagem é feita por sinais convencionais, e os aparelhos obedecem à di­reção humana. Na criptestesia, porem, faltam tais elementos.

A criptestesia desdobra-se em Telepatia e Televisão, e a estas duas espécies se subor­dinam todas as m odalidades de sensibilidade oculta, com o: lucidez m etapsíquica, clari-vi-

(ff9) D« grege cryptoü, — oculto, — e neetixéM*. — sonslbllldade. No mesmo sentido se emprega o term o ME- TAGNOMIA, form ado de m eta. — alem. — e asiomela. — eonheelnpeBte.

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dência, monição, premonição.- cumberlandis- ino, psicom etria, rabdom ância, etc.

TELEPATIA

Telepatia c, propriamente falando, a atuação à distancia, de uma mente em ou­tra. (60) Para que se dê, o agente deve con­centrar suas faculdades nos elementos con- cientes que quer transmitir; transmissor e re­ceptor devem harmonizar-se, apresentando afinidade espiritual.

A influência telepática é favorecida pela hipnose do receptor.

Fenôm eno extraordinário, de dificil ex­plicação, a telepatia está hoje cientificam ente provada. E’ fato que não m ais se discute. Mes­mo aqueles que não admitem outros fenô­m enos ocultos, aceitam a realidade da tele­patia.

Experim entalm ente e em sessões públi­cas, às vezes a telepatia se apresenta sob duas modalidades: a) As duas pessoas não estão cm com unicação direta; b) As duas pessoas se tocam. No primeiro caso, temos transm is­são de pensam entos; no segundo, leitura m us­cular ou cum berlandism o. (61)

R ichet fez nove experiências telepáticas com uma sonâmbula, distante dele 500 me-

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(60) MYERS preferia dizer Tclestesla (tele acathesis), de sua criação. ..

(61) Cumberlandismo deriva-se do nome do sábio nor­te-am ericano S iuurt Cumberlnnd. Tambein se diz W il- llHR-Knme (jogo da vontade), em vez de cumberlandismo. O suje ito passivo, no cum berlandism o, cham a-se bnrnam , derivado também de um nome próprio. Cf. Grasset, Idées médicales, pg. 190.

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tros, tentando hipnotizá-la telepaticamente, através dessa distância. Duas vezes obteve êxito com pleto; quatro vezes, êxito m édio, — sim ples sonolência; três vezes, resultado nulo. (62)

Outros experim entadores conseguiram hipnotizar sujeitos a dez kilom etros de dis­tância.

Mais dificilm ente se transmitem ordens relativas à ação. Esta experiência, — que pou­cas vezes teve resultado pleno, — consiste em encerrar o paciente num quarto; estando aí, incomunicável, o paciente deverá executar um desenho determinado, uma casa, um ani­mal, segundo a ordem que o agente lhe trans­mitirá de longe, m entalm ente.

Até aqui estamos vendo fatos da telepa­tia dirigida. O que, porem, torna a telepatia fato notado por todos, não é a sua produção experimental, mas sim a sua espontaneidade. E’ fenôm eno espontâneo por excelência. Os memhros da Sociedade para Pesquisas Psí­quicas (S. R. P. R.) relatam número prodi­gioso de fenóm enos telepáticos, hoje cons­tantes das atas dessa sociedade, c que podem ser consultados por todos os interessados.

Aqui se agrupam todo3 os casos trágicos, os avisos dados por moribundos, ou pelas v i­timas de naufrágios e de desastres, a parentes ou amigos distantes.

Sendo os fenôm enos telepáticos fatos mais espontâneos do que experim entais, deles

(G2) I.OEVENFELD — Sonambulismo c E spiritism o. Wiesbaden, 1900, ps- 41.

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trataremos especialm ente na secção se­guinte.

Mas, conquanto sejam mais numerosos os fatos de natureza espontânea, existe todavia farto material de experiências cientificam en­te verificadas. Recordemos apenas as expe­riências feitas por R. Fischner e V. Wosie- leski com a senhorita B. (63 e 64), por A. Cho- win (65) com a sta. M. Merecem m enciona­das tambem as experiências de K. Krall (66) com o leitor de pensam ento N. Ninoff (67) e G. Geley com Ossowiecki. (68) Muitos ou­tros autores apresentaram trabalhos sobre es­te assunto. Deixam os de citá-los por amor à brevidade.

TELEVISÃO

É a percepção ou conhecimento supra- normal de coisas objetivas. Reporta-se, pois, a objetos reais, colocados fora do sujeito. A te­levisão é local, se o sujeito vê ao longe, sim ples­mente, através de objetos opacos, às escuras, sem auxílio dos olhos; é a esta televisão que se costuma dar o nome de clari-vidência. A televisão se diz temporal quando descobre acontecimentos futuros, sobretudo trágicos,

(C3) a (04) — U. FISCHNER — T elepathie and Helle- Hchen — Bergm ann, Munique, 1921 — V. von WOSIE- LEAVSKI — T elepath ie nnil HelledehCn. E. MARKOLD, Halle a <1. Saale, 1922.

(05) A. N. CHOWIN — E xperim entelle U ntersu­chungen au f dem G ebiete dev rncum llehen Hellcoehenu — Reinhard t, Munlque, 1919.

(06) K. KRALL — D enknebertragung bol Blenoeh u. T ier, Z eitschrift f. Farnpoyehologle, 152G.

(67) G. GELEY — Helleoehen und Tclopnthle. alemfto de R. L am bert, Union d. Verlags. S tu ttg a r t s 1926.

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e chama-se especialm ente vista dupla ou se­gunda vista.

Tambem a televisão é frequentemente es­pontânea. Os fatos abundam e são inegáveis, E existem mesmo, no globo, regiões geográ­ficas, nas quais é frequente esse dom entre pessoas do povo: tais são, na Europa, a W estfália, a Escócia e o Tirol. (68) Muitas previsões feitas por essas pessoas realizaram- se nas suas linhas gerais. Anunciadas que fo­ram com muita antecedência não se podiam deduzir de causas conhecidas. Os professores Ch. Richet, francês, e Sidgwick, inglês, fize­ram experiências em torno da televisão, e concluíram que ela existe realmente, posto que seja muito irregular. Experiência notável foi a de Richet com um sujeito que descreveu um instrumento complicado. — o podômetro, — escondido no bolso de Richet, e que o su­jeito nunca tinha visto.

Conhecida é tambem a seguinte expe­riência de Crookes:

U m a se n h o ra e stav a e screvendo com a p ran ch e­ta . C rookes, que tin h a a tr á s de si um n ú m e ro do T i­m es, p e rg u n to u à d ita s e n h o ra se e la e ra capaz de ler o jo rn a l , sem vê-lo. A um a resp o sta a firm a tiv a , C roo­k e s ped iu que lesse a p a lav ra q ue e le cob ria com o dedo. D e-vagar, e com g ran d e d ificu ldade , sa iu a pa­la v ra hovvever ( e n tr e ta n to ) , que e ra ju s ta m e n te a pa­la v ra c o b e r ta pelo dedo do p rofessor.

À televisão se reduzem os sonhos profé­ticos. A previsão, quer seja cm sonho quer na

(6S) Cf. ZURBKNSE>T:A Seguuda.Vlata. Baden, ColO-

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vigília, chama-se monição quando é sim ul­tânea com os acontecimeutos, e prem onição, quando precede os acontecimentos.

O nosso am igo M ngld B nruch , d e S. Gonçalo do Sapucaí, re fe re v á rio s fato s de m onição e de prem o­n ição suced idos em su a vida . U m a vez, no M onte Li- bano, escondera -se num a g ru ta , d u ra n te h o rro ro sa te m p es tad e : d e -repen te , sem sa b e r po rque, desconfiou do local e reso lveu c o n tin u a r a v iagem , a -p e sa r da c hu ­va e da v e n tan ia . Mas, o m esm o fo i p o r o pé fo ra da g ru ta e a fa s ta r-se um pouco, quo vê-la d e sab a r im e­d ia tam en te , como se houvesse um m ovim ento sism ico n a m o n ta n h a.

O se g u in te fa to lhe sucedeu em S. G onçalo, e vá ria s te s te m u n h a s são a in d a v ivas. F o i em 1923. O sr . M ngid tin h a negócio de fazendas em um a casa, à R u a R u i B arbosa, e m orava com a fam ília em o u tra casa , n a R u a R a im undo C orrêa . U ma no ite , sonhou quo v ia dois ind iv iduos ro u b an d o -lh e o negócio. V iu os la d rõ e s d is t in ta m en te , tendo no tado a e s ta tu ra , os s in a is de cada um e a s roupas. Um e ra branco , e ou ­tro , n eg ro . À cordando , so b ressa ltad o , d isse è. e sposa: “ F om os rou b ad o s: vi os la d rõ e s em s o n h o ”.

Logo de -n ian h â cedo, ao ir a te n d e r a um irm ão que lhe b a tia á p o rta , o sr. M agid d isse : “ J á se i o que vem faz e r: Você vem da r-m e n o tíc ia de que fom os roubados.

‘‘E ’ isto m e sm o ”, — con firm ou o irm ão.C ien tificada a políc ia , e s ta com unicou o fa to aos

de legados dos m unic íp ios v iz inhos e, depois de v á ria s b a tid as , fo ram descoberto s t p resos os dois lad rões, sendo a p re en d id a s a s m e rc ad o ria s . A p risão deu -se no d is tr ito de CareassA . Oito ou dez pessoas, convidadas pe la polic ia , fo ram e n ca rreg a d as d e e sco lta r os p re ­

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sos p a ra S. G onçalo. E ’ de n o ta r que , uesse tem po, co­mo não liav ia políc ia nos d is trito s , os de legados In ti­m avam pop u la re s p a ra se rv irem de so ldados em caso de necessidade. Sabendo d a p risão dos g a tu n o s , a po­lic ia de S. G ongalo fo i ao e n con tro deles, n a e s trad a de C arenssú . F o r cu rio s idade , o sr . M agid qu is acom ­p a n h a r os so ldados. U m a h o ra depois, como a e sco lta que conduzia os p resos j á e ra v is ta ao longe, o sr . M agid disse p a ra o co m an d a n te do d e s tac am en to :

“ Sou capaz de in d ic ar os dois la d rõ e s e n tre os hom ens da e sc o lta ”.

D e-fato , quando a po líc ia se a p roxim ou, os la ­drões e seus g u a rd a s , (e s te s à p a is a n a ) , e s tav am a s ­se n tad o s a m eio da e s tra d a .

“ O sr . M agid vai in d ic ar-n o s os la d rõ e s" , — d is­se o com andan te .

N ote-so que ta n to os la d rõ e s como os g u a rd a s eram desconhecidos de M agid.

E m v is ta da o rdem do co m an d an te , o sr . M agid aprox im ou-se e, o lhando pa ra o g rupo , d is tin g u e lo ­go um dos p resen te o d iz:

— “ E s te é o b ranco que eu v i no so n h o ”.Depois, apo n tan d o um p re to :

— “O negro qu e eu vi é a q u e le ”.D e-fato, o s dois ind icados e ram os ladrões.

O u tro curioso caso de m onigão contou-nos o sr. M agid :

U m a vez, chegando ao seu negócio, no tou fa lta de um a caixa de g ra v a ta s caras . O ra, n a p raç a f ro n ­te ira , e s tav a a rm a d o um circo de cava linhos, e velo logo a M agid a id é ia de que a lgum em pregado do c ir­co lh e houvesse roubado a m ercado ria .

E ram seis h o ras da ta rd e . Sem to m a r o chapéu , sem p e d ir licenga aos p resen tes , M agid sa iu apressado ,

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— 141 —sem i-inconcien te, como um sonâm bu lo , d irig iu -se p a ­ra o c irco, e n tro u po r ele a d e n tro , foi a té à b a rraq u i- n h a dos a rtis ta s , tom ou de um a escada, suspendeu -a , sub iu p o r e la e, e stendendo o b raço , e n co n tro u , a tr á s de u n s em b ru lh o s, a caixa de g rav a tas . D escendo com e la n a m âo, e só e n tão n o ta n d o a p rese n ça de e s tr a ­nhos, d isse :

— “A lguem tro u x e e s ta caixa, po r engano do m eu negócio. E ’ m in h a ”.

*

À criptestesia reportaremos os estranhos fenôm enos que se ligam à rabdomância ou radiestesia. Chamam-se eleclromotores ou radiestesistas os indivíduos dotados de sensi­bilidade extraordinária, que, sem auxílio dos sentidos, percebem a existência dc veios de água, fontes, jazidas de metais, espaços va­zios, galerias subterrâneas, etc.

Para suas pesquisas, os rabdomantes ser­vem-se ora de um pêndulo, ora de uma vari­nha flexivel, que pode ser m etálica ou de m a­deira. É a vara divinatória, baguette em fran­cês, e virga divinatória em latim.

P o i g raç as ao seu dom c rip testé slco que os rab ­do m a n tes Po . M a rm ct e P e . B a u llt p res ta ram ao go­verno fra n cê s in estim áv e l serv iço , localizando os obu ­ses q ue os a lem ães hav iam deixado ocultos, no te r r e ­no francês, após o a rm istíc io qu e pós fim â G rande G uerra . N otem os o u tro s serv iços p res tad o s po r elec to- m o to res cé leb res:

O pro f. Bcrit R eese descobriu os m ananc ia is de pe tró leo de R ookfcU cr. M. B o u len g cr, p ro fesso r belga, descobriu os m a n an c ia is de á g u a qu e se rvem o H os­p ita l B rug inan ii, de .Tolte-St. P íe r re . E m ilio Jan.só des­cobriu ja z id a s de pe tró leo n a s p ro p ried a d es da p rince ­

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sa R adziw l » ja z id a s de carvão n a s te r ra s do conde P o to ck i, n a Po lôn ia.

M o lneau descob riu m a n an c ia is de ág u a a b u n d an te com que a c idade de T oulon , n a F ra n g a, pode au m en ­ta r o a b astec im en to público. O conde B eauso lell, a p ri­s ionado n a B a s tilh a em 1641, pode, g ragas a su a v a ­r in h a m e tá lica , descob rir n a F ra n g a 172 ja z id a s de vá ­rio s m e ta is , a lg u m as das qua is são ex p lo rad as a in d a ho je . O utro rab d o m a n le do sec. X V II, Ja cq u e s A ym urd , fo i tido po r feitice iro po r causa das g ran d e s c o rren tes d e á g u a que descobriu . (69 )

À criptestesia referirem os ainda a psi- cometria. É a faculdade que tem certas pes­soas de, vendo um objeto, determinar-lhe a história bem como a de seus possuidores ou dons.

Exem plo clássico de psicom etria é o da Senho ra P lp c r , c u ja s d em onstrações constam de m u ito s vo lu ­m es d a S .P .R ., quo podem se r consu ltados em seus a rqu ivos .

O Pe. G eraldo B in n cn n d ljk , T eden lo ris ta re s id en ­te no B rasil, m andou p a ra su a fam ília , em A m ste rdão , um d e n te de onça que h a v ia ganho em M inas G erais, e tro u x e ra consigo d u ra n te m u ito tem po. U m a psicô- m e tra ho la n d esa , boa ca tó lica e am iga d a fam ília do Pe. G eraldo , pode descreve r o fisico do sace rdo te , d a r a lg u m as das su a s qu a lid ad e s m orais , e rec o n s titu ir m u ita s de su a s v ia g en s m issionária s , peio só rec u r­so de s e g u ra r n a m ão o d e n te d e onça e, de o lhos fe­chados, c o n ce n tra r o pensam en to n a pessoa q u e pos­su íra ta l ob je to .

N. B. — A te le p a tia tam bem se m a n ifes ta sob fo r­m a d a tran sm issã o de p e n sam en tos e de te lev isão .

(69) Dr. POÓDT. — Loh fcnOracno* m isteriosos dei psiquismo. Traduzido do holandês de Joaquim Fuster. B ar­celona. Sucessores de Juan Gili, 1930.

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Um exem plo d e s ta lê-se na o b ra de T hom son J a g H u- d lson , “ A le i dos fenC m euos psíqu icos” . O a u to r ou ­v iu , um d ia , de ura m édium , a descrição que fize ra da ocupação de um axam lnado r, no d e p a r tam en to de p a ­te n te s dos E stados-U nidos. M édium e exam inado r n u n ­ca se tin h a m v isto . F o i em sessão.

Os m em bros da reun ião , e n tre os qu a is o p ró ­prio H ud ison , in tro d u z ira m -se com noines suposto s , e f a la ram com o m éd ium sobre h ipno tism o a té que se es­ta b ele ce ram "condições h a rm ô n ic a s”. O m éd ium , en­tão , com eçou:

"V ejo um g ra n d e edifício , com m u ito s qua rto s . N um de les f ica um senho r, a ssen tad o ju n to a um a g ran d e c a r te ira , em q ue h á g ran d e papelada . V ejo d e ­senhos, ao que pa rece , de m áqu inas , es tend idos em c im a d a c a r te ira , o su spe ito que se t r a te d e p a te n ­te s" .

A um a observação dos a ss is te n te s sobre a e x ati­dão de suas in fo rm ações, o m éd iu m a c rescen tou :, "M as não é a ún ica ocupação do se n h o r que eu vejo. E i-lo a g o ra no seu e sc r itó r io , em casa, rodeado de m a n u scrito s e liv ro s. P a rec e e screve r. Sim , e screve um liv ro ”.

D epois disso, descreveu os m oveis, as e s ta n te s de liv ros e o s m oveis do e scritó rio .

Entende-se por transmissão de pensamen­to a faculdade de descrever o que se passa na mente de outra pessoa, sem auxilio dos or- gãos corpóreos conhecidos. Assaz notório é o caso de Ludovico de Angers, exposto por Mons. Albert Farge, em sua obra Phénomèncs Mystiques.

L udovico, f ilho do Dr. X ., t in h a a facu ld ad e de le r os pen sam e n to s do su a m ãe, e e sta pod ia su g e rir- lhe re sp o stas á3 m a is va ria d as p e rg u n ta s . L udovico,

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tin h a apenas se te anos. E respond ia e x a ta m en te a to ­das a s questões , desde que e stas fossem conhec idas de su a m ãe. A m ãe su g e ria a L udovico, com o pensa ­m en to e sem concurso da voz ou dos o u tro s sen tidos, a re sp o s ta que ele c icria d a r às p e rg u n ta s fe itas . E ra o filho q u e pa recia le r o pensam en to de sua m ãe e não e sta a do filhe . O u tras vezes a m ã e a b ria um liv ro , ta p av a coin o dedo um a p a lav ra ou ura a lg arism o , e a re sp o s ta e ra in v a riav e lm e n te c e rta . A la rm ado com o fenôm eno o tem endo que seu fiiho , devido a e ssa pas­siv id ad e n a tiv a , se 1 am asse im becil, o pai se a p ressou em se p a ra r o filho de su a m ãe. D esde e n tão o fenô­m eno cessou de produzir-se . (70 )

Diferente da transmissão de pensamento é a leitura muscular, feita pelos m úsculos, e exibida às vezes em sessões públicas. Uma pessoa diz os pensamentos de outra, seguran­do-lhe o pulso ou tocando-lhe em algum membro.

Para chegarmos a melhor discernir quais os fenôm enos da criptcstesia que excedem as forças humanas, reduzimos a questão a 4 per­guntas e respectivas respostas.

1.® PE RG U N TA : — Basta, para a aquisi­ção de sem elhantes conhecim entos, um au­mento anorm al das funções das faculdades cognoscitivas atuais, ou são necessárias ou­tras faculdades especificam ente novas?

E’ fato que a chamada clarividência en­contra sua próxim a explicação numa ativida­de sensória extraordinária, excitada, aguça­da e anormalmente desenvolvida.

(70) Apud Dl'. POODT, ibidimi, pg. 205-20G.

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E’ conhecido o aumento da percepção sensitiva, quer por dom natural, quer por exercício continuo, ou pela concorrência de vá­rias circunstâncias exteriores. O sentido da vista e o do olfato são naturalmente desenvol­vidos em muitos animais. Admiramos o tacto m aravilhoso de muitos cegos, o qual pode quase suprir a falta da vista. Por encurta­mento hipnótico do cam po da conciência, é possivel m ultiplicar esses resultados estupen­dos, desconhecidos no estado normal. Quan­do, pois, um médium vidente pretende ver fantasm as que, nos primeiros momentos, nin­guém pode ver ainda, m as que, logo depois, são distintam ente vistos por todos os assisten­tes, temos então, em sem elhante clarividência, apenas um caso de hiperestesia. Trata-se da promoção da linha percepliva, ou da divisa seusóría.

2." PERGUNTA: — Podem talvez todos, ou quase todos os casos de criptestesia, ser reduzidos a semelhante acuidade das facul­dades sensitivas comuns?

Alguns investigadores parecem sim pati­zar com este modo de explicar os fenômenos. Assim, por exem plo: A. N. Couvin (71) e Ch. Richet (72). O último pretende explicar to­da espécie de clarividência por uma extraor­dinária hiperestesia do tacto. No entanto, concede, francamente, que sua opinião apre-

(71) E rn e r lm c n ld le Unter*uchun,ruiiKen, pc;. 31.(73) RICHET — Grundrliui der ParnpMycliolOKic der

Parnpsyohophyfiik, pgr. 147. — G. G1CLEY — Hcllexehcn- TeleplnsMk, pg. 72.

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senta falhas. E’ uma hipótese provisória. 0 médium seria determinado para a clarividên­cia por finas vibrações. Esta hipótese encer­ra vários elementos:

a) Admite a existência de certas vibra­ções que partem das coisas anim adas ou ina­nim adas, e determinam o conhecimento ou a visão supranormal. Seria o caso dos raios vi­tais (Od), ou das vibrações cerebrais ou ner­vosas.

b) O orgão receptor dessas vibrações é o orgão do tacto comum, embora muito aper­feiçoado ou excitado.

A essa explicação da criptestesia opõem- se insuperáveis dificuldades. Alem das pou­cas matérias rádio-ativas, a ciência natural conhece ainda irradiações electromagnéticas e as de luz e calor, em itidas por coisas inani­madas. Não está demonstrada a existência de outras irradiações, espontâneas e sutis, ne­cessárias na hipótese dc Richet. Permanece, porem, uma certa possibilidade de virem a ser descobertas no futuro. Não demonstram os constantes resultados, já mencionados, com a bagueta mágica c o pêndulo, a proba- bilissima existência de emanações ou irradia­ções desconhecidas, seja no observador, seja nos objetos visados?

Mas, ainda supondo a existência de vibra­ções sutis, mesmo assim teremos adquirido o conhecimento apenas de uma pequena par­te dos próprios fenôm enos de clarividência. Quem poderá, com éfêito, aceitar essa expli­cação, no caso em que um clarividente consiga descobrir, com sua faculdade, o conteúdo de

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um grosso tubo de chumbo, fechado à solda, como o conseguiu, deTato, Ossoviecki? (73).

Mais im provável ainda é a hipótese de irradiações, quando provas, escritas à mão, são várias vezes dobradas ou enroladas e o resultado se obtem da mesma maneira. (74) E quanto à visão real do passado ou do futu­ro, de nenhum modo d possivel, por meio de raios em itidos pelas coisas vistas, a não ser que se arquitetem teorias inadm issíveis sobre a realidade do tempo.

Menos absurda parece a hipótese de “On­das cerebrais”.

Todas as operações psíquicas são acom­panhadas de especiais processos no cérebro e no sistema nervoso. E* bem possivel que es­tes processos sejam físico-quím icos e que, sob certas condições, possam ser irradiados num médium predisposto. Semelhante opi­nião parece ter encontrado recentemente a confirm ação experim ental direta. No 1.° e2.° cadernos (1926) da “Zeitschrift fuer Pa­rapsychologie”, F. Cassamalli, professor da Universidade de Milão, refere-se à ação de ondas cerebrais em fenôm enos lelepsíquicos. Suas experiências, porem, não encontraram aplauso, conforme se vê de uma exposição critica de R. Fischner (75) na m esm a revista (4 e 10). Contra a teoria de ondas telepáticas

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levantaram-se dificuldades muito sérias. H. Driesch (76), por exem plo, observa: se a co­municação telepática se fizesse pelo modo de em issor e receptor de ondas, o estado men­tal do receptor deveria ser idêntico ao do em issor, o que em absoluto não acon­tece. Um homem em perigo de morte, pensa

"ier. Esta, no mesm o momento, nte a imagem do marido, mas lecimento algum das idéias que

> o agitam.Seja como for, o que ficou exposto acon-

' i dar simples analogias como ex- üíficas de valor. Mas nem por is- icusar à teoria de ondas todo va­

lor explicativo.Que se liá-de entender do “ tacto” de que

faja Richet?A nosso ver nem o tacto comum, por de­

senvolvido e excitado que seja, dá explicação nceitavel. O próprio Richet tira-lhe o sentido geral. Diz ele:

“No m ais, devem os en ten d e r-n o s sob re a p a lav ra i é tão fu n d am e n ta lm e n te

ue pa rece m esm o se r um . 7 3 ) . T ra ta -s e , pois, aqu i stado no rm al, não existe, tão fa n tá s tic a é in ú t i l” .

m suma, se há quase só probabilidades í existem ondas em itidas por certos ob-

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jetos, e que possam impressionar alguns indi­víduos, é mais razoavel recorrer à hipereste- sia para explicar os casos de telepatia. Assim, teriam os mécliuns o sensório bastante sensí­vel para os casos mais simples de criptestesia, m as não para casos transcendentais.

3.» PERG U N TA: — Qual a relação da te­lepatia com a televisão? Poderá uma reduzir- se à outra?

De-fato, isso acontece muitas vezes. 0 di­retor das experiências ou outras pessoas ne­las participantes conhecem quase sempre o conteúdo de envoltórios fechados, ou de car­tas; conhecem também mais ou m enos a pre- história dos objetos apresentados fora ou den­tro de envoltórios. Clarividência e psicome- tria explicam-se, em sem elhante caso, por uma transmissão telepática de pensamentos. Ainda m ais: para que esta se realize, nem pa­rece absolutam ente necessário que o experi­mentador, ou os participantes, estejam real­mente cientes desses conhecimentos. O viden­te pode tambem “ler” no subconciente. Nes­tes casos temos apenas clarividência aparen­te ou psicometria aparente. O m édium entra com os seus consulèntes ou correligionários cm contacto aním ico, e participa, assim, de al­gum modo, de suas esperanças, apreensões e suspeitas acerca do futuro. Por isso a pergun­ta acima se reduz à seguinte:

4.* PE RG U N TA: — Serve a telepatia co­m o explicação universal pa ta todas as espé­cies de criptestesia?

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A grande m aioria dos investigadores res­ponde negativamente e com plena razão. Em todo caso. nunca diremos que há aqui verda­deira profecia. Ademais, os fatos psicométri- cos de Mrs. P iper e Ossonviecki são tão estu­pendos, que só hipóteses fantásticas podem querer explicá-los pela telepatia. Semelhante tentativa encontra-se, por exem plo, com Baernwald (78). Segundo esse autor, um te­lepata pode tirar, do subconciente alheio, con­teúdos que nunca foram concientes. Absurdo manifesto.

Esta hipótese tenta desvirtuar as tentati­vas, sobre clarividência, de W asileneski, Ri- chel e Geley. (79)

Semelhante subconciência é, a nosso ver, mera fantasia — Indemonstrada e indem ons- travel. Ao lado de uma hiperestesia larga, ex­tensa, serve, apenas, a quem pretende negar o “m aravilhoso” ou o preternatural dos fenô­menos. Sua base é fraquissima. Outros adm i­tem que o médium fique em relação telepáti­ca com todos os contemporâneos vivos, a-pe- sar da distância. F. K. Oesterreich parece sim ­patizar estranham ente com sem elhantes idéias extravagantes. Vai mais adiante. Fala de uma “ tradição telepática”, continua, desde a origem da hum anidade. As perspectivas se­riam então magníficas. “Um médium perfeito poderia referir-nos os acontecimentos de Rhamsés ou de Alexandre. Poderia ser teste-

(78) H. BAISRNWAJLD — Dlc Intellck tnellen PJineno- mene. Der Okknltlnmun In U rkm iden II. U istein, Berlin, 1925.

(79) Id., Ibidem. PB- 194.

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munha espiritual da construção das pirâm i­des e da querela dc Júpiter Amon, e a histó­ria teria contacto imediato com o passado, des­pertando, os grandes médiuns, nas almas dos homens, os traços dos tempos idos. Que pers­pectiva! Supor que uma pessoa abismada, em transe, possa descrever-nos a batalha de Ma­ratona, ou o julgamento de Sócrates!.. . E se um médium se mostrasse capaz de fazer mais ainda, descrever os acontecimentos ante­riores à história hum ana? Se nos revelasse todo o passado? 0 pensamento é fantástico, mas não sabemos onde fica o lim ite da^psi- com etria”. (80) Até aqui Oesterreich.

Dc-fato, sem elhantes pensamentos são ad­miráveis, mas não passam de romance, as­sim como romance e fantasia será sempre a telepatia universal.

Outra hipótese para explicar a psicome- tria: é a de “sopro v ita l”. Os objetos históri­cos ficam penetrados de influência e, por elas, a mente do médium se orienta, como o cão pelo faro. Há ainda a das “qualidades psíquicas” (Aura), invisíveis aos mortais comuns, mas que envolvem todos os objetos. Por último, a teoria das “Remanescências da memória", à qual se deve reduzir, conforme alguns, a continuação da existência de perso­nalidades psíquicas.

(80) T. K. OESTERREICH — Der OkkulílsmuB Im Modernen W eltbild, Slbyllen-V erlng. Dresda, 1028, p*. 81.

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Art. II.

FENÔMENOS PARAFÍSICOS

DE TELECINÉSIA E DE TELEPLASTICA.

Quais as hipóteses que se nos apresentam para explicar fenôm enos tão estupendos que se realizam a-pesar-de inúmeras dificul­dades?

Comecemos pelos “ transportes”, muitas vezes verificados cientificam ente, não por meio de prestidigitação, pois os m édiuns es­tavam imobilizados. Como se explica que de­sapareça, de-repente, por exemplo, o relógio do bolso e dai a poucos segundos desça do teto, pelo ar? Várias hipóteses explicativas foram excogiladas, que nos colocam no meio das questões mais dificeis da ciência natural. Mencionemos algumas.

1.° — A hipótese da 4.a dimensão local, segundo Zoelner;

2.° — Desm aterialização e imediata ma­terialização do objeto transportado;

3.° — Tudo isso com ou sem formação de orgãos m ediúnicos para efetuar o serviço.

Quanto à hipótese de Zoelner, pai-ece absurdo que, ao lado das três dim ensões lo­cais, acessíveis aos mortais comuns, possa existir uma quarta, na qual sejam introdu­zidos, por momentos, certos objetos, tirados até de recintos inteiram ente fechados. Com is­so seria explicada a compenetração que, não raro, anda de-par com fenôm enos de trans- porles. Mas nem toda possibilidade se pod#

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taxar de hipótese científica; esta exige tam­bém alguma confirm ação na experiência. Ima­ginada, porem, como essa foi, especialm ente para explicar transportes, não tem base al­guma na realidade, e não encontra, hoje-em- dia, senão poucos partidários.

A 2." explicação, peio processo de m ate­rialização, conta presentemente com mais adeptos; mas oferece maiores dificuldades ainda. O objeto deve ser desmaterializado, is­to é, reduzido aos seus elementos primários (átomos etéreos), ser levado neste estado, in ­visivelm ente, para certo lugar, c aí ser ins­tantaneamente rematerializado, isto é, re­constituído no primitivo estado químico-fisi- co. Quase nada destas ousadas afirm ações é com preensível ou aceitavel para um químico ou físico. Essas “profundas” análises e sínte­ses deveriam produzir, de acordo com as ho­diernas opiniões teóricas sobre átomos, pro­cessos m onstruosos de energia, em com para­ção com os quais até os estupendos processos rádio-ativos seriam brinquedos de crianças. Nada disso, entretanto, existe.

A única coisa que se sente no local on­de se efetuam esses fenôm enos é a im ponde­rável “Corrente fr ia”, conhecida pelos fre­quentadores de sessões experimentais, e, cm consequência desse frio, o abaixam ento da temperatura ambiente.

Mencionemos ainda um terceiro ponto. Quando o m édium realiza um transporte, fá- lo, quer pela energia espiritual da sua vonta­de,. sem instrumento algum, quer mediante orgão material. A primeira suposição é ex-

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tremamentc inverossím il e, presentemente, não a defende conhecedor algum desta m até­ria. A últim a exige materialização de orgãos do médium, seguida de imediata desmateria­lização dos mesmos, processo esse que, por inverossím il que pareça à primeira vista, é menos absurdo do que o primeiro, como ve­remos adiante, nas reflexões psicológicas que seguem. Entretanto, nem a últim a suposição traz, para o nosso caso, explicação satisfató­ria. Que adianta a formação de orgãos me- diúnicos, quando são trazidos os objetos de uma distância de cem metros e mais, ou até de m ilhares de quilômetros? Vê-se que um problema escuro acarreta outro ainda mais escuro. A questão das ações à distância ou te- lecinésia sugere quase as mesmas hipóteses ora ventiladas. De alguns destes fenôm enos, em particular, falarem os adiante. CONCLUÍ­MOS : Fenômenos parafísicos distinguem-se dos fisicos normais não porque a alma do médium opera diretamente em duas; maté­rias ( dentro e fora do organismo vivo), mas porque exerce diretamente, na mesma ma­téria, diversas influências. No médium efetua- se, sob a direção de qualquer principio inteli­gente, uma transformação carateristica de sua substância orgânica.

Eis ai realidades estupendas do ocultis­mo e do espiritismo que se apresentam ao nos­so exam e, para que lhes indaguemos e estabele­çamos a causa ou as causas. Trata-se, repeti­mos, de saber, se os fenf nenos parafísicos são produzidos só pelo médium, auxiliado ou não, por outras pessoas, ou se excedem todas

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as forças humanas, de modo que sua causa eficiente deva ser uma entidade inteligente colocada fora do mundo visivel.

E aqui chegamos aos dois sistem as ge­rais em matéria de interpretação dos fenôm e­nos: METAPSÍQU1CA e ESPIRITISMO.

A Metapsíquica quer explicar todos os fe­nômenos pelo ANIMISMO, isto é, pelo concur­so das forças naturais.

O Espiritismo, ao contrário, quer expli­cá-los todos pelas COMUNICAÇÕES, isto é, pela intervenção de espíritos do OUTRO MUNDO, os quais, devidam ente evocados, se com unicam com os homens.

Os espiritos seriam a causa única ou principal, e operariam ou sós, ou em conjun­to com o m édium , sendo eles, neste caso, os agentes principais, e o m édium a causa ins­trumental.

Assim sendo, poderia o Animismo ^er chamado “teoria imanente", e o espiritismo, “teoria transcendental”.

A diferença entre um e outro sistema é sim plesm ente a que há entre a explicação na­tural e a pretexmatural.

Para chegarmos a uma solução, faz-se mister sujeitem os as teorias, representadas ca­da uma por cientistas notáveis, a um exam e metódico. Neste capitulo falarem os da pri­meira, isto é, do animismo.

Segundo essa teoria, o médium efetua, so­zinho, em transe e subconcientemente, a m is­teriosa transformação da sua matéria corpo­ral, exterioriza-a, form a membros m om en­

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tâneos e até fantasm as, e os reabsorve final­mente no corpo.

O anim ism o pretende estribar-se nestes fatos:

1.° - O pequeno raio de ação da energia mediúnica.

2.° - O enorme esforço fisico do médium, durante as produções, m ovimento sincrônico dos m úsculos do médium durante os fenôm e­nos telecinéticos, desaparecim ento aparente ou real da matéria corporal, paralisação mus­cular.

3.° - Em conexão com isto, forte m odifi­cação do peso próprio, nos fenôm enos teleci­néticos e fantasmagóricos.

Eis aí os m otivos pelos quais os autores do anim ism o pretendem provar ser o médium a causa eficiente dos fenôm enos experim en­tais.

Espantosa pobreza de argumentos! Que c que demonstram os motivos enumerados? Apenas que, em muitos casos, os fenôm enos ocultos dependem do médium, no que esta­mos de acordo. Mas demonstram eles, com a mesma certeza, que a força natural do mé­dium é a causa única dos fenôm enos? Certa­mente que não.

Com sem elhantes argumentos, ambas as teorias, anim ism o e espiritismo, ficam longe de resolver o problema da causalidade. Sem dúvida, devemos encarar sempre, com sim­patia, uma explicação natural, moderada, que rejeita a intromissão de causas super-huma- nas, quando bastam as já conhecidas e apon­tadas.

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Para, enfim , chegarmos a um resulta­do bem fundado, devem os, antes de tudo, atender a duas coisas. Em primeiro lugar, não se liá-de separar uma parte pequena do mate­rial de fatos, para formar com eles uma teo­ria. E ’ preciso, na investigação, atender ao com plexo inteiro dos fatos. Quem fizesse o contrário , assem elhar-se-ia a um investiga­dor que se esforça por estabelecer a diferen­ça entre o anim ado e o inanimado, restringin­do, porem, a sua indagação às bactérias pri­mitivas, que só podem ser exam inadas por meio dos m ais perfeitos microscópios.

Em segundo lugar, deve-se com eçar com uma categoria de fenôm enos, cuja explicação não encontra dificuldade e está garantida de- antemão. Partindo desta base certa, pode-se subir, como por degraus, para os fenôm enos claros.

Art. III.

FENÔMENOS ESPONTÂNEOS

Como já vimos, na parte dos respectivos relatórios, existem duas categorias destes fe­nôm enos: Uma, a dos ligados a lugares; e outra, a dos que se ligam a pessoas. Esta è tratada com os demais casos m ediúnicos, por­que nela entra um m édium , embora inteira­mente passivo, ou mais passivo do que ativo.

Serve de transição entre os fenôm enos espontâneos c os experimentais.

Da categoria dos fenôm enos propriam en­te espontâneos é preciso dizer, desde já, que

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nela falha com pletamente a teoria do Ani­mismo, visto como aqui não existe m édium algum.

Mas de sua existência dão testemunho centenas de fatos bem averiguados e incon­testáveis, como provam os respectivos rela­tórios da S. P. R., as coleções de E. Bozzam o (81), Dr. Gvabinski (82) J. llleij, (83). R. L am bert (84), M. Kem m erich e outras, (85).

t Em determinados casos pode-se, incon­testavelmente, provar que os fenôm enos de objetos inanim ados, form ação de fantasm as, vozes misteriosas, foram verificados durante muitos decênios, no mesmo lugar, do mesmo modo característico, a-pesar das diversas pessoas que sc sucederam nesses lugares. Pa­rece, portanto, de-antemão, excluida toda coo­peração medial, a não ser que se arquitetem hipóteses fantásticas, como seria supor exis­tirem m édiuns que, durante 70 anos e mais. produzissem os mesmos fenôm enos, no mes­mo lugar, de uma distância de muitos quilô­metros. Hipótese até inutil, porque lugares houve onde os fenôm enos continuavam du­rante vários séculos.

Para explicação destes casos, apresen­tam-se algum as hipóteses muito interessan­tes, não porque nos levem à solução, mas uni-

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(Sl) E. BOZZANO — Le« phénomènes de H nntlse — Alcan., Pai ls, 1920.

(82) BR. BRABINSKI — Spuk-GclHterscbelnunK. H il­desheim, 1922.

(83) J. ILLE Y — E w iges Schwelgen? — Union D euts­che V erlagsges. S tu ttg a rt, 1924.

(84) R. LAMBERT — Spnk, Gepennter, Apportpliiieuo. mene. Pyrnm idenverl, Berllm, 1923.

(Su) M. KEMMERICH — Gepenuter. Spuk. Ludwlgs- tanfen, 1921.

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cam ente por sua originalidade. Dedicar-lhe- em os poucas palavras a modo de refutação.

Vem prim eiro a hipótese de Podmore, um dos chefes da S. P. R.

0 expectro de um morto seria projetado, telepaticamente, por um contemporâneo seu, ainda vivo, para o lugar onde aparece ou pa­ra o lugar em que viveu.

Semelhante fantasia é contra a regra fun­damental de telepatia, segundo a qual toda pessoa só pode projetar, telepaticamente, a sua própria imagem , e não a de outrem.

A segunda hipótese é a fonográfica.Os seculares acontecimentos ficariam im ­

pressos, como numa chapa fotográfica ou fo ­nográfica, nas paredes e m obílias das ca­sas onde se deram, reproduzindo, em dadas ocasiões, os barulhos e espantalhos, como se aí estivesse fuiicionando um fonó­grafo ou uma lanterna-mágica. que projetas­se fantasmas, visiveis ou invisíveis. Vivos ou inanimados, esses fan.tasmas causariam toda sorte de espantos, m aldadcs e desordens.

Mais absurdas são a hipótese psicométri- ca e a biom agnética. São fantásticas em de­masia. Não m erecem discussão.

Do que acima expusemos, resulta eviden- m ente: o princípio dirigente dos fenômenos espontâneos locais não é a mente de um mé­dium vivo.

l3 to m ais e v iden te se to rn a , quando as a parições m a n ifesta m te n d ên c ia pe rse g u id o ra ou d e s tru id o ra . P e lo s re la tó r io s c itados , conhecem os o caso de O els (S ilésia ) do ano de 1916. O a lvo da persegu ição e ra m

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duas f ilh a s do o le iro F e n sc k e ; e tã o p e rs is ten te se to r ­nou , que as pob res m en inas , de e span to , se r e fu g ia ­vam o ra num q u a rto , o ra em o u tro . O acon tecim en to se T epercu te no tr ib u n a l, onde F c n sc k e exigiu a devo­lução do a lu g u el pago a d ian ta d am en te , re tira n d o -se im e d ia tam en te da casa . Q uem ir ia su p o r que am bas essas c rian ças tivessem pe rsegu ido , c ru e lm e n te , a si p ró p rias , d u ra n te um m ês, pe la in fe liz " d e sc a rg a '’ de seu subconcien te?!

M ais fa n tá s tic a a in d a se to rn a a exp licação ani- m is ta , quando in im izades degeneram em d istú rb io s com oventes, como, p. ex:, em G rosscrlag CW uertem - b c rg ) , n a casa da s ra . K lc in k n cc h t, m aio de 191G. Sem que se p udesse v e rif ic a r q u a lq u er ligação com pessoa a li p rese n te , o d uende tran s fo rm o u e devastou tudo , deixando só ru in a s e deso lação . P o d e r ia o subconcien ­te de a lgum m édium desconhecido c au sa r ta n to s e s tr a ­gos, chegando a té a a r r a n c a r a s p o r ta s dos gonzos e a tir á - la s em cim a dos destroços? !

E para continuar nos absurdos, seria pos­sível ao subconciente incendiar objetos, dei­xar a impressão de mão incandescente, em pano, madeira e até metal? A teoria de sub­conciente tem, de-certo, direito na explicação dos fenôm enos anímicos. A-miude, porem , é um “Refugium ignorantiae”, que só serve pa­ra encobrir ignorância, cepticismo e m á von­tade de conhecer a verdade. Nada m ais ridí­culo do que explicar pelo subconciente sem e­lhantes fenôm enos. O próprio Schrenk-Not- zing, anim ista entusiasta, se vê forçado a con­fessar :

“ E m v is ta da a n á lis e com parattV ft do m a te r ia l a té lio je adq u irid o , deve-se conceder que o m étodo ex-

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Já podemos concluir, sem mais delongas, que a explicação razoavel. pelo m enos desta categoria de fenôm enos, não se pode deduzir da alma humana ou do seu subconciente. Por isso, somos forçados a concluir que semelhan­tes fenômenos excedem as forças humanas

Eis aí o eixo da nossa tese. Da compara­ção dos fenôm enos supranormais, pelo m e­nos físicos, com os espontâneos, é que have- mos-de concluir para a natureza íntim a de todos eles! Se os fenômenos supranormais es­pontâneos são preternaturais, e transcenden­tais, tambem o hão-de ser os fenômenos su­pranormais fisicos. Porque a analogia entre uns e outros é flagrante.

Num caso como no outro, há o apareci­m ento de diversos fenôm enos de sonidos, o espontâneo movim ento de objetos inanim a­dos, a característica correnteza de ar frio no inicio dos fenôm enos, a sensação de toque por membros invisíveis e certos fenôm enos luzentes.

Semelhantem ente, observa-se que a meia- escuridão ou a pouca luz favorece os fenôm e­nos de ambas as categorias. Tambem os fe­nômenos experim entais fantasmagóricos (por exemplo, os de Maria Silberl) oferecem com os fenôm enos espontâneos perfeita analogia.

Schrçnk-Notzing chega ao mesm o resul­tado quando escreve:

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“ Do to d a p a rte vem os os m esm os fenôm enos d© m ovim ento , como pud e ra m se r obse rvados em D ie tcrs he im , a in d a que em fo rm a p ro p o rc iona lm en te fraca . E ste s são fenôm enos d a m esm a n a tu re z a que os v e ri­ficados com os m encionados m é d iu n s: nu m caso, m a­n ifes tam -se quase sem pre em presença de pessoas m e­d ia is ; no o u tro , são provocados, a rti f ic ia lm e n te , nas experiênc ia s com essas pe sso as”. (8 6 ) .

Em vista de tão perfeita sem elhança de efeitos, não é çazoavel se conclua que as cau­sas são as mesm as? Pois bem:

E feitos iguais só podem provir de uma causa eficiente comum. Ora, vimos que só duas fontes de causas são apresentadas para a explicação dos fenôm enos:

O Animismo, que os atribue a forças na­turais, conhecidas umas, desconhecidas ou­tras:

O Espiritismo, que os atribue à inter­venção de espiritos. Ora, Os fenôm enos es­pontâneos não podem ser explicados pelo Ani­mism o. Mas os fenôm enos experimentais ou provocados tem a mesma natureza que aque­les. Logo os fenôm enos experim entais, quer parafísicos quer parapsiquicos, não podem ser explicados pelo anim ism o, isto é, pelas forças naturais.

Resta, pois, que o sejam pela intervenção de espiritos.

Estaremos, pois, de acordo com a teoria do espiritism o? Em parte, somente. Convi­m os em que ha fenôm enos produzidos por

(86) Cf. Paych. Studlen, 1921, pg. 257.

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espíritos, mas não admitimos que esses espí­ritos sejam as almas dos desencarnados. É o que provaremos em seguida.

B — SEGUNDO PONTO

OS FENÓMENOS SUPRANORMAISNÃO SÃO PRODUZIDOS PELOS

DESENCARNADOS

Estado da questão.

Como argumentamos com os espiritas, somos obrigados a servir-nos de termos de sua doutrina. Assim, deve o leitor saber que eles chamam desencarnados àqueles que já morreram. A alma, uma vez desencarnada, — ou se reencarna, indo habitar em outro corpo, na Terra ou em outros planetas, — ou fica em estado de erraticidade. Este estado de erraticidade é o a que outros escritores chamam de sobrevivência ou sobre-vida. A alma desencarnada tem o nome de espirito.

N a teoria espirita, os desencarnados é que são a causa dos fenôm enos ocultos. Daí o enunciado de nossa tese.

Para provarmos que OS FENÔMENOS NÃO SÃO PRODUZIDOS PELOS DESEN­CARNADOS, servim o-nos de duas espécies de provas: uma, ministrada pela Doutrina Ca­tólica; outra, pela Doutrina dos próprios es­piritas.

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I. — PELA DOUTRINA CATÓLICA.

a) PELA FILOSOFIA.

A alma e o corpo formam um só indiví­duo; assim como o corpo precisa da alma, — anima, — para ser m atéria viva ou animada, assim a alma precisa do corpo para adquirir conhecimentos das coisas. A ciência humana, pois, só tem duas origens naturais: sentidos orgânicos e raciocínio. Todo o conhecimento que a alma possa ter das coisas ou foi adqui­rido por meio dos sentidos naturais, ou foi deduzido de outros conhecimentos. Mas estes, cm últim a análise, tambem lhe vieram pelos sentidos do corpo. Não há outra fonte natu­ral de conhecimentos. É vendo uma áruore, é tocando uma pedra, mesmo sem vê-la, isto é, é pondo em função um dos cinco sentidos, que eu tenho idéia de áruore ou de pedra. A alma que habitasse um corpo privado dos cin­co sentidos, desde o nascimento, não saberia o que é coisa alguma, — cor, extensão, chei­ro, calor, dores, sons, g o sto s .. . Só poderia ter conciência de sua própria existência, porque, conforme, Santo Tomaz, o conhecimento de si mesma, para a alma, é intuitivo: seipsam cognoscit directe, suam essentiam intuendo. (81) O cego de nascença pode saber o nome das cores; nunca terá idéia de cor, nunca sa­berá o que é cor.

A razão disto é que “o conhecimento exi-

(87) SANTO TOMAZ — Soma TIicol. Q. DIspos. De Aulnia» Qa. unlca» a* 17» c.

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ge a união do objeto conhecido com a facul­dade que conhece. Mas o objeto não pode unir-sc à faculdade, por meio dc sua própria substância. Logo, precisa unir-se a ela por meio de uma imagem que o represente, e es­sa imagem só pode ser apreendida ou reco­lhida pelo orgão corpóreo.” (88) Essa im a­gem é que se chama idéia, noção, espécie in- Icligivel ou. conforme o caso, fantasma.

Ora, a alm a separada do corpo não m u­da de natureza. Portanto, só pode conhecer por m eio de espécies inteligíveis. E essas espé­cies, — ou são as que a alma adquiriu en­quanto estava unida ao corpo, — ou são ou­tras que Deus lhe infunde, necessárias então para o exercício do novo estado que passa a viver. Sendo assim, a alma separada só pos- sue duas espécies dc idéias: umas, antigas, ad­quiridas por si mesma enquanto era unida ao corpo; outras, novas, infundidas por Deus. Não possue, portanto, idéias novas adquiri­das por si mesma. Numa palavra:

A alma separada conhece os espíritos, as causas im ateriais do mundo corpóreo e os objetos materiais singulares, — parentes, amigos, pátria, — ou por meio das idéias an­tigas, adquiridas, ou por m eio das idéias no­vas, infusas.

Mas não conhece os acontecimentos hu­m anos, — porque estes se deram depois de sua separação do corpo, e não estão incluidos nas idéias infusas ultim amente. É o que diz

(88) SINIBALDI — Kleiuentoa dc Filoaoflu. A ntropo­logia, n.» 222.

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o Doutor Angélico: Ea quae apud nos agun- tur ignorant (anim ae separatae). (89).

Podem os agora fechar o nosso argu­mento:

A alma separada do corpo só tem ciên­cia das coisas, ou por m eio de idéias antigas, adquiridas em vida, ou por m eio de idéias novas, infusas por Deus; mas os aconteci­mentos humanos não se deduzem das idéias antigas, porque são posteriores a elas, nem se deduzem das idéias infusas, porque estas en­volvem coisas e não fatos. Logo, a alma hu­m ana separada não tem ciência do que se passa nas sessões espiritas, — preces, evoca­ções, perguntas e outros fatos. Mas os fenô­menos ou são fatos ou se relacionam com os fatos; logo a alma não tem com eles nenhuma ligação.

E s tá c laro que a q u i nos referim o s ao conheci­m ento n a tu ra l da a lm a se p a rad a , — à q u e le que com­pe te à a lm a segundo a ex igência da n a tu re za , e não ao conhecim ento so b re n a tu ra l, — à q u e le que os bem- av en tu rad o s tem de tu d o , In tu itiv am e n te , pe la Visào B eatífica da E ssência D ivina. (9 0 )

Quanto aos fenôm enos de levitação e de outros, com contacto do espírito, devemos acrescentar o seguinte:

A alma hum ana, sendo substância in­com pleta e destinada naturalmente a animar um corpo, que a com pleta, só pode m over os corpos enquanto ela vivifica ou anima o seu

(8!)) ST. TOMAZ — Sunimn Thcol. — Q uartus Scnt., .lispo.s. ([. 1.*. a. 1. q. 3. c.

CIO) SINIBAT.DI — Antroiiol.. n.° 222 o seguintes.

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próprio corpo; por outras palavras: a alma só move os corpos por m eio de seu próprio corpo. E’ o que ensina Santo Tomaz:

“A a lm a se p a rad a não po d e ria m over um corpo por su a p ró p ria v ir tu d e n a tu ra l. E ’ m an ifesto que, quando a a lm a e s tá u n id a ao corpo , não pode m over o u tro corpo, senão aq u e le q ue e la v iv ifica ; e se um m em bro do corpo m orre , e le não obedece m a is & a lm a segundo o m ov im en to local. O ra, é certo que a a lm a se p a rad a não v iv ifica n enhum co rpo ; p o r consegu in te, n e n h u m corpo lh e obedece se gundo o m ov im en to lo ­c a l” . (9 1 ) .

Os espiritas estão de acordo com esta doutrina. Admitem que a alma separada na­da pode, por si, no mundo físico. Foi p o r is­so que, para explicarem a intervenção da al­ma, inventaram a teoria do perispirito, que exam inarem os adiante; e puseram em cena a indefectível pessoa do m édium . (92).

b) PELA TEOLOGIA.

As Sagradas Escrituras nos dão inform a­ção exata do que se segue após a morte: pri­meiro, o juizo particular:

”E ’ facU p a ra D eus r e tr ib u ir a cada u m no d ia d a m o rte ” . (L iv ro do E clesiá stico , 1 1 :2 8 ) .

“ E s tá d ecre tado que os hom ens m o rram üm a só vez; depo is d a m o rte , porem , vem o ju lz o ” . (A os H e­breus, 9 :2 7 ) .

^ (91) SANTO TOMAZ — Sumnia Theologlcn — IA qu.

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F eilo ou processado o julgamento, a al­ma segue para um dos três destinos: INFER ­NO, PURGATÓRIO OU PARAÍSO. Mas re­pugna que a alma saia de um desses três lu­gares e venha, a chamado de um homem, — o médium, — intervir no mundo visivel.

1.° - Não sai do inferno. O inferno, com efeito, é com parado a um lago em que a al­ma está sepultada:

"Q uem não foi e scrito no liv ro da vida , foi m an­dado p a ra o lago do fogo". (A pocalipse , 2 0 :1 5 ) .

Alem disso, e este é o ponto principal pa­ra o nosso escopo, as almas dos réprobos estão em imobilidade absoluta:

“ L igadas a s m ãos o os pós, m audal-os p a ra as trev a s e x te r io re s” . (S. M ateus, 2 2 :1 3 ) .

O inferno é uma prisão:“S erão fechados no c á rc e re ” . (Isa la s , 2 4 :2 2 ) .

O rico avarento morreu e fo i sepultado no inferno. Não podendo vir a este mundo, pede a Abraão que mande Lázaro a casa do pai dele, rico, a-fim -de avisá-lo do que se passa com ele no inferno: Rogo te, pater ut mittas eum in domum patris mei.” (S. Luc., 16:28).

2.° - A alma não sai do purgatório. Este tambem é um cárcere:

“ R econc ilia -te de-p ressa com te u a d v e rsá r io en­q uan to e s tá s de v tagem com ele ; não suceda acaso que te u a d v e rsá rio te e n tre g u e ao Juiz e e ste ao m i­n is tro , e se ja s m a n d ad o p a ra o c á rc e re ; n a v e rdade te

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digo que não sa irá s da i e n q u an to não pa g ares o ú l t i ­mo c e iti l" . (S . M at., 5 :2 5 ) .

Ora, todo encarcerado, enquanto cumpre a pena, não pode sair da prisão, à sua vonta­de. Que o citado texto se refere ao purgató­rio é certo: primeiro, porque, no caso, não se trata de culpa grave, mas só venial, — uma sim ples inim izade, que, portanto, não pode­ria ser castigada com as penas do inferno; segundo, porque a pena a que alude o texto não é eterna, mas tem porária.

3.° - Enfim, as alm as dos bem -aventura­dos. Estas poderiam comunicar-se com os vi­vos; é o que pensa Santo Tomaz:

“ S ancti, cum v o lu c rin t, np p n rcre p o ssu n t viven- tlb u s , n on n u te m d n m n a ti” . (9 3 )

Mas, mesmo no caso de almas bem -aven­turadas. falta uma razão suficiente para que se deem comunicações constantes e provoca­das. Primeiro, da parte das mesmas almas: a felicidade delas é completa e não precisam do comércio hum ano:

‘‘E ia , servo bom , e n tra no gozo de teu S e n h o r”. (M ateus, 2 5 :21 . C onfira-se a in d a : S. P au lo aos Co- r in tio s , P r im e ira , 2 :2 9 ) .

Segundo, da parte dos que vivem neste mundo. Deus proporcionou aos homens meios ordinários e perm anentes de salvação e, as­sim, tornou desnecessário o comércio com as almas boas. É o que nos ensina ainda a pará­bola do rico avarento:

(93) SANTO TOMAZ — Seat., quartua, dist. 46,a.l. q. 3, c.

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" A braão respondeu (ao rico sepu ltado 110 In fe r­no e que ped ia m andasse L ázaro em m issão e special a e ste m u n d o ) : Os vivos tem a le l de M oisés e dos p ro ­fe ta s . Olgam a e stes . Se não ouv irem a M oisés e aos p ro fe ta s , nem a c r e d i ta r ã o 'em a lgum m orto que re ssu s­c ite .” (S. M ateus, 5 -29 ).

O católico, pois, com 0 livro dos Evan­gelhos em punho, não pode admitir a inter­venção dos mortos neste mundo. Diz o Pe. H ered ia:

"D eus pode, em casos especiais, p e rm itir que um a a lm a a p a reç a p o r su a d iv ina disposição . P o rem , ne­nhum c ris tão , que te n h a respe ito a D eus e a su a Di­v in a P ro v idência , a c re d ita rá q ue ele p e rm ita às a l­m as dos bem -a v en tu ra d o s ou à s a lm as do P u rg a tó r io p a lra rem so b re a T e rra , p ro n tas à s in tim ações dos di­ve rso s m é d iu n s de c a r a te r duvidoso , a ssoclarem -se à s tra v e s su ra s de um a sessão e sp ir ita , m overem m esas, tocarem tro m b e tas ou g u ita r ra s , a g ita re m pandeiro s , conversarem sob re a ssu n to s to los , com un ica rem m e ra s n in h a ria s e, às vezes, a té p ro fe rire m b lasfêm ias. E , ten d o em v is ta a id é ia ca tó lica do infeTno, pa rece im ­possível que D eus p e rm ita à s a lm as dos condenados a ss is tire m , a pedido, à s o rg ias de um a sessão o rd in á ­r i a ” . (9 4 ) .

II. — PELA DOUTRINA DOS ESPIRITAS

a) TEORIA DO PERISPÍRITODefinição.Os espiritas, indo na esteira dos ocultis-

tas, admitem uma com posição ternária do ho-

(91) Po. HEREDIA — O CHplrltlHmo e o. bom sen«», Trad. b rasileira, ps, 175.

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m em : corpo, alma e perispirito. O perispí- rito é o laço que prende o espírito ao corpo. Os próprios autores espiritas não estão de pleno acordo quanto à definição do perispi­rito. Copiamos D. Otávio, que nos fornece uma boa explicação:

“ O perispirito é um envoltório semi-ma- terial da alma. uma substância vaporosa, for­mada de fluido universal, participando, ao mesmo tempo, da eletricidade, do flúido magnético e, até certo ponto, da matéria iner­te. Poder-se-ia dizer que é a quintessência da m atéria. Desenvolve-se e progride com a al­ma, tornando-se tanto mais sutil e menos material, quanto mais elevado é o espirito.

“ O perispirito pode irradiar-se fora do corpo encarnado, formando a chamada au­ra. Pode mesmo separar-se m om entaneam en­te do corpo, ao qual fica unido por um laco fluídico, chamado por alguns cordão umbili­cal. Neste caso de desencarnação relativa, a pessoa pode tomar conhecimento de aconteci­mentos distantes e mostrar faculdades anor­mais. Se, neste êxodo, o perispirito levar con­sigo m oléculas materiais em grande número, poderá impressionar a vista e outros senti­dos das pessoas que encontrar. Em tais con­dições, formará ele o duplo de seu corpo.

“ As pessoas capazes deste desdobramen­to constituem os médiuns, que servem de in­termediários aos desencarnados, para que estes possam com unicar-se com os vivos.

“Nos casos de m aterialização, o espirito serve-se do perispirito do médium, para ti­

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rar do corpo carnal deste os elementos neces­sários à m aterialização.” (95).

O dr. E. Gyel, escritor espirita, pg. 19-22, não difere muito da exposição de Dom Otávio.

SINÔNIMOS

V im os, acim a , q ue o p e rlsp írito tam bem se cha­m a a u ra , quando ir rad ia d o fo ra do corpo , e duplo , quando condensado n a s m a teria lizações. A lem destes nom es, m u ito s o u tro s lh e dão os vá rio s a u to re s que consu ltam os. A ssim 6 que, como sinôn im os de perls- p ir lto , acham os a s s e g u in te s exp ressões : C orpo a s tr a l, f lu id o p e ris p iri tu a l , f lu id o hu m a n o , c orpo ódico, od, fo rç a e c tê n ica (9 6 ) , co rpo psfqn ico (9 7 ) , cc top lasm a .

Segundo G rasse t, os o c u ltis ta s fo ram os p rim e iro s q u e u sa ra m a expressão corpo a s tr a l . M ediador p lá s ­tico ô de C udtvorth . E c to p lasm a foi dado pelo p rof. R ich e t ao p e rlsp frlto m a teria liz ad o . T odas e stas deno­m inações do p e risp írl to se d iferenciam e n tre si co n fo r­m e a m e n te ou concepção dos v á rio s a u to re s . E m su b s­tâ n c ia , porem , vem a s ig n ific a r a m esm a coisa. (9 8 ) .

IMPORTÂNCIA.

“ O perispirito, — diz o dr. Poodt, — é a chave do espiritismo m oderno”. (99).

Mainage tambem escreve: “ O perispirito

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derantc no sistem a. Graças a ele, os fatos m ais prodigiosos perdem o seu segredo”. (100).

O corpo astral é uma espécie de “segun­do eu ”, que poderia ser despedido pelo ho­mem, voluntária ou involuntariamente. Em veementes abalos nervosos, em graves peri­gos de vida, na hipnose e, sobretudo, à noite, ficaria afrouxado o liam e do corpo astral com o corpo físico, e aquele poderia separar- se deste, indo aparecer em outros lugares, — como provam frequentes anúncios de mori­bundos ou sinistrados.

Marcinoivski pensou levantar, sobre a base do duplo, uma teoria de todos os fenô­menos ocultos. Tudo fantasia, posto que en­genhado com talento e poesia. (101).

HISTÓRICO.

A doutrina do perispirilo não constitue novidade. É apenas uma renovação da teoria do corpo astral dos Ocultistas. Mas nem es­tes inventaram essa teoria. Já Cudworth, teó­logo inglês (1617-1688), lembrara a hipótese do mediador plástico, hipótese que o francês Leclerc perfilhou mais tarde. (102) Mesmo alguns Padres da Igreja, como S. Basilio eS. Cirilo de Alexandria, haviam já pensado na existência de uma substância corpórea

(100) MAINAGE — La rcU rfon «pirite, pgr. 96.(101) R. MARCIXOWSKI — D er O kkultlrau*. P . von

rarap.sych., 1926 .caderno 11-12..(102) Cf. D ictionnaire LnroasRe, médio s. v. Cudworth,

e Slnlbaldl, A ntropofogln, n.° 46, no ta 1, D.

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inerente aos anjoá e às a Imas. (103) E vários filósofos, antigos e modernos, como Ahrens, Occam, Bacon, Gassendi, Guenther, B altzer e outros, admitiram no homem duas alm as, das quais uma é o princípio da vida intelectual e outra o é da vida vegetativo-sensitiva. (104) Assim, a alma superior ou imaterial chamar-se-ia espirito , e a alma inferior ou m aterial, perisp irito .

Mas a origem da teoria é mais antiga: “ C erto s p la tôn icos a firm a ra m que a a lm a in te ­

lec tu a l possue um corpo in c o rru tiv e l que lhe e stá unido p o r n a tu re za , — co rpo tle que c ia uiio se se p a ra n u n ­ca, — e pelo qua l e s tá un id a ao corpo hum ano co rru- tiv e l”. (1 0 6 ).

Enfim , diremos, com o Pe. Mainage, que o corpo astral é um produto da psicologia ru­dim entar de todos os tempos. E’ o Ka egípcio, o Manas do Veda, o Linga Charira pre-búdi- co, (10(j), o Koma dos leósofos (107).

üs ocultistas, depois dos já citados filó­sofos, entenderam provar a existência do cor­po astral pela existência das operações orgâ­nicas, que são distintas das operações inte- lcctivas e concientes. “O corpo astral, — diz Papus, — sendo a alma no ente humano, pre­side à elaboração de todas as forças orgâni­cas.” (108) Isto equivale a dizer que o homem

(lUZ) I. BERTRAND — Le» «norts revlenncnt-il»? — Citado por d. Otávio, Oh (cnCmcno* pxfqnlcoH, pg. G8.

(104) S1NIBALDI — A ntropologia, n.» 49, no ta 1.(105) SANTO TOMAZ — Sumnm Tlieologlcn, Qu. 7G,

art. 7.(106) MAINAGE — Ba rellglon «pirite, pg. 112.(107) Dr. POODT — Lo» fenómeno« mixtcrioHOH. no

dicionário Inicial, a rtig o “cuerpo a s tr a l”.(108) PAPUS — One é o ocultlxmo — E d itora “O

Pensam ento”, S. Paulo, pg. 13-14.

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tem duas almas, — uma im aterial e outra ma­terial.

DEMONSTRAÇÃO.

Postas estas noções prelim inares e neces­sárias, argumentamos:

NO DIZER DE TODOS OS AUTORES ES­PIRITISTAS, É POR MEIO DO PERISPÍRI- TO QUE OS DESENCARNADOS SE COMU­NICAM COM O MUNDO VISÍVEL. MAS O PE- RÍSP1R1TO NÃO EXISTE. LOGO OS DESEN­CARNADOS NÃO SE COMUNICAM COM OS VIVOS, e portanto, não são os autores dos fe ­nômenos supranormais.

Provemos as premissas.Quem afirm a que o perisp irito é o m eio de

comunicação entre os m ortos e os vivos são os próprios autores espiritas:

Diz AU an K ard ec : “P o r causa de su a n a tu re z a e té rea , o e sp irito n ão pode a tu a r sobre a m a té r ia p r i­m itiv a sem um in te rm ed iá r io , isto é, sem o laço que o liga & m a té r ia . E sse laço, fo rm ado pelo que se cha ­m a p e risp irito , d á a chave de to d o s o s fenôm enos espi- r ític o s m a te r ia is" . (1 0 9 ).

T h . F lo n m o y : “P a r a q ue a a lm a possa a g ir e im ­p ress io n a r os nossos sen tid o s fislcos, é n ecessário um in te rm ed iá r io se m l-m ate rla l. E sse in te rm ed iá r io é o p e risp iri to , nom e dado ao envo ltó rio flu id ico d a a lm a, o qua l é inv is ível e im ponderáve l. N a su a ação se ha- de b u scar o seg redo dos fenôm enos e sp ir ita s " . (1 1 0 ).

(109) ALLAN KARDEX — Livro ilon m édium , 2.* parte, c. IV.

CllO) FLOURNOY —De» Inde» à ln Plnnétc Mor», c i­tado por Poodt. Los fenómenos m isteriosos, pgr. 272.

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L éon D enis: " 0 m édium é o a g en te Ind ispensá ­vel e com a a ju d a do qua l se rea liz am a s m a n ife s ta ­ções do m undo In v is ív e l. . . P e lo seu e n vo ltó rio fln íd l- co p a rtic ip a da v id a do espaço, o po r seu corpo físi­co, dff v id a te r r e s tr e : assim , e le é o in te rm ed iá r io , ind ispensável e n tre os dois m undos. “ O esp írito , sepa­rado d a m a té r ia g ro sse ira pe la m orte , não pode a tu n r sobro a m a té r ia n e m m n n ifc star-se no m elo hum ano , sem o concurso de um a força ou e n e rg ia que o o rg a ­n ism o do m édium lhe p ro p o rc io n a ” . (1 1 1 ).

Assim, é por meio de seu próprio perispí- rito, combinado ou sincronizado com o perispí- to do m édium , que o espírito se m anifesta:

“ O corpo a s tr a l do e sp irito se in s ta la no corpo a s tr a l do m édium o serve-se d este como um o rg an is ta executa um a m elod ia no tec lado de seu in s tru m e n to . No caso da m a teria liz aç ão , o m orto se se rve do corpo a s tr a l vivo, p a ra to m a r , no corpo c arn al deste, os ele­m e n to s necessário s à m a te r ia liz aç ão " . (1 1 2 ).

MAS O PER1SP1R1T0 NÃO EXISTE, dis­semos nós. Com efeito, a Filosofia, a experiên­cia e a Sagrada Escritura provam que o peris- pírito não existe.

l.o) A FILOSOFIA.

a) Se o homem tivesse espirito e perispí- rito, — isto é, dois princípios de operações v i­tais. essas operações seriam com pletamente in­dependentes entre si; mas a biologia atesta que elas não são independentes. Logo proce-

(111) LÉON DENIS — DniiN 1’lnrim ble. Splrltl.m * et M édiniunlté. Pfif. 02.

(112) MA1NAGE — La rellglon «pirite. Pg. 97.

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d cm de um só princípio, — que é o espiritual. — a alm a única.

Com efeito, as funções vegetalivo-sensiti- vas dependem do psiquismo; o psiquismo de­pende daquelas funções, E’ sabido como as secreções, a digestão, a fagocitose, a função do coração, dos intestinos, dos músculos, dos or- gãos sexuais e outras funções dependentes do grande sim pático e do sistem a espinal, podem ser favorecidas, dificultadas e até impedidas pelo psiquismo. E, vice-versa, o psiquism o está intim amente ligado à fisiologia orgânica. Há síncopes cardíacas motivadas por em oções v io­lentas.

b) A conciência atesta que, em nós, o su­jeito que pensa é o mesmo que sente e vegeta', idem homo percip it se sen tire et intelligit se in- telligere. (113) Ora, se 110 homem existissem dois principios de vida, — espírito e peris- pírito, — o sujeito que pensa, sendo distinto do sujeito que sente e vegeta, — não poderia sen­tir nem vegetar, pois as operações vitais, por isso que são imanentes, tem o term o no mesmo sujeito em que tem o começo. Mas o sujeito que pensa é o mesmo que sente e vegeta. Logo o homem tem um só princípio de vida. E este princípio, ou c o perispírito ou o espírito; se é 0 perispírito,o espírito é uma ficção; se é o espírito, o perispírito é que é uma ficção. O homem não teria conciência da dor física na hipótese absurda de haver dois principios dis­tintos de vida.

c) Alem disso o perispírito c dado como

(113) SANTO TOMAZ — Sanimn, l . \ 76, Cf. GARRI- GOU-LA.GRANQE, T heo lo tla Fundam ental!*, v. II, p?. 9.

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interm ediário entre a alma e o corpo. “Mas a alma, — anima, — é, sem interm ediário, a for­ma substancial do corpo, pois, ao contrário, o corpo não se poderia dizer anim ado; logo, o principio radical da vida intelectiva e o da vi­da sensitiva e vegetativa é o m esm o.” (114).

Por conseguinte, os espiritas afirmam gra­tuitamente a existência do perispirito. O que gratuitam ente se afirma, gratuitam ente se ne­ga. O perispirito seria um amontoado de con­tradições, seria um absurdo crasso.

" A d m itir o p e risp iri to , d isse L uclcn R o u re , é im a­g in a r um a su b s tâ n c ia que se ja , ao m esm o tem po, ea- te n sa e ln e s te n sa , m a te r ia l e im a te ria l, com f ig u ra e sem f ig u ra . A h ipó tese im p lica desconhecim ento d a noção de e sp ir itu a l id a d e ”. (1 1 5 ) .

E sc reve T iago S in ibn ld i: “ Se ex is tisse um a subs­ta n c ia e n tre a a lm a e o corpo , deveria possu ir , ao m esm o tem po, todos os a tr ib u to s do corpo e todos os a tr ib u to s d a a lm a, e, po r isso, d ev eria se r sim p les e com posta , c o rpó rea e in c o rp ó re a , rac io n a l e irrac io ­na l, e isto rep u g n a " . (1 1 6 ).

2.°) A EXPERIÊNCIA.

A experiência é contra a existência do pe­rispirito. De-fato, a existência do corpo pro­va-se pelos sentidos; a da alma demonstra-se pelas suas operações e pela conciência. Mas a do perispirito não tem nenhuma prova. Ob­serva o dr. P o o d t:

(ll-l) GARRIGOU-LAGRANG1S — Theologln Fnm ln- mcntnlls, c. II, pg. 9.

(115) Apud Dr. POODT — Los fenómenos m isteriosos, pag. 276.

(116) SINIBALDI — Antropologia, -16, nota 1, D, b.

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— 179 —"A te o ria do flu ido v ita l não descansa em n e n h u ­

m a base c ien tifica , não se apo ia em ne n h u m a expe­r iên c ia d e m o n s tra tiv a , em n enhum feito rig o ro sam e n ­te com provado.

“ Sondo flu ido ou su b s tâ n c ia se m i-m aterla l, o pe- rlsp ír ito po d eria se r reg is tad o por ap a re lh o s sensib ilís- sim os. Po is bem. T en tou -se Isto . M as todas a s te n ta ­tiv a s f ra c a s sa ra m ”. (1 1 7 ).

Lembremos os principais aparelhos tenta­dos. O Pe. Fortin inventou o seu m agnetôm e- tro; Baraduc, o seu biôm etro; Paul Joire, o seu estenôm etro; Puifontaine, o seu galvanôm etro; Fayol, o seu cilindro. Grasset acrescenta ainda os biôm etros de Louis Lucas e de A ndollent. (118).

Nenhum aparelho, porem, por mais sensí­vel que fosse, conseguiu “iso lar” o perispíri- lo. De duas uma: ou o perispirito é imaterial, e então não é distin to da alm a; ou é, de algum modo, m aterial, e então deveria ser sentido de qualquer maneira. E isto nunca foi provado. Logo não existe.

Notemos que as experiências do barão de Reichenbach sobre os eflúvios ódicos, e as do coronel De Rochas sobre a “exteriorização da sensibilidade”, alem de infrutíferas, nada tem que ver com o perispirito. (119).

Enfim , posta de parte a natureza do ho­mem, consultemos a:

(117) Dr. POODT — I,on fenúmcnn» mister psiqnlMmo, pg. 274.

~ (US) GRASSET — Idée« inédlcnlex. pg. 15:(119) MAINAGE — La relig ion «pirite, pg. :

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3.“) SAGRADA ESCRITURA.

Onde, na Bíblia, uma alusão ao perispí­rito ou a qualquer coisa que se lhe pareça? 0 que se lê nos Santos Livros c que o homem é com posto de corpo e alma. O corpo foi for­mado da terra: F orm avit Deus hominem de lim o terrae; e a alm a lhe fo i infundida à sem e­lhança de um sopro: et inspiravit in faciem ejus spiraculum vitae. Observemos que a B í­blia fala spiraculum , — alma, no singular, e não spiracula, — almas, no plural. (Gênese, 2:7).

NOTAS sobre a doutrina do perispírito .

a ) A inda m esm o que o pe risp írito ex istisse, não fica r ia p rovado que os e sp írito s p rec isam dele p a ra se m a n ife s ta rem . Ma3, como o s e sp írito s a firm a m Isto, e acham que, sem o pe risp írito , não h á m anifestações, nós nos se rv im o s da p ró p ria d o u tr in a e sp ir ita pa ra de rru b á - la . Diz G rnssc t:

“ P u is , c e ttc de m o n stra tion sc raU -e llc fa lte , r len n e p ro u v e ra i t qu e c e tte nouvcllc fo rce p â jch iq u e constituo v ra iin e n t u n o g c n t d e com nuin icn tion d irec ­to e n tre deux psychlsm cs sé p n ré s" . (1 2 0 ).

O mesmo sente Lucien Roure. (124).b) O P e . M ainngc observa , m ui jud ic io sam en te ,

que, se ex istisse p e risp írito , todos os fenóm enos pode­r iam se r a tr ib u íd o s ao p e ris p íri to do m éd ium , e assim p oderiam exclu ir a h ip ó te se da in te rvenção do esp i­rito . T al in te rvenção se ria desnecessá ria , porque o p e risp íri to do m édium se ria b a s tan te p a ra exp lica r os

(120) GRA3SET, Op. Cltatum , pg. 159.(121) TAJCIEN ROURE — Le M ervelllcux «pirite,

.pa*- 92.

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fenôm enos, e te ríam o s e n tão um a explicação n a tu ­ra l. (1 2 2 ).

CONCLUSÃO.

“Segundo os espiritas, a revelação nova está estreitamente ligada à sorte do perispíri-lo. Mas este não existe.” Provem, portanto, antes de tudo. a existência deste estranho per­sonagem. (123).

b) NÃO IDENTIFICAÇÃO DOS ESPÍRITOS

1.) - FATOS.

A com unicação dos desencarnados esbar­ra numa dificuldaderirrem ovivel: a identifi­cação dos espíritos. Suponhamos que uin es­pirito se comunique, Suponhamos que afirme ser o espirito de Sócrates. Como saberemos que, de-falo, é Sócrates que se com unica? Os espiritas, em todos os tempos, tentaram resol­ver essa dificuldade. Tentaram, até, recorrer a experiências e verificações. O método é sim ­ples:

Basta que alguem, antes de morrer, nos prometa aparecer depois de morto e, uma vez morto, venha conversar conosco sobre assunto previam ente com binado.

H odgson te ria feito à Psycliica l Socioty um a p ro ­m essa d e s ta n a tu re za . E , tendo m orrido logo depois, te ria vindo c u m p rir n p rom essa: islo 6, v iera d a r as su a s im pressões sob re o Alem. E ste fa to ,q u e P oodt

(122) MAINAGE — I.n r e ll tlo n »plvitc. PnBs. 99 c so- ntes.

(123) MAINAGE — Ibltlem, pff. 118.

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supõe ve rdadeiro (1 2 4 ) , não o é. ' b a lela . O prof. H yslop des do. E . F u n k decla rou que " a no tíc ia <5 absol f a ls a ” . K odgson n u n c a apareceu . (1 2 5 ).

O utro caso.

P a r a P esq u isas P s íqu icas, de de seu e sp irito , depois veu um a com unicação, tó rio espesso e se lado , e qi p or in te rm éd io d e O livcr m em bro d a m esm a Soci<1891. D everia se r a b e r ta depois < e depois qu e a lgum m éd iu m decl m unicação com o esp írito

cação.m o rreu (12G ).

> e sp ir ita ad re - m édium senho-

i todas asprecauçõesdos m em bros d a S .P .R ., v e rif icou -se “ que não hav sem elhança a lg u m a e n tre o con teúdo da c a r ta e o < e sc r ita a u to m ática de V crra ll, que p re te n d ia e s ta r e com unicação com o d e sencarnado M yers em pe so a ”. (1 2 7 ).

ido, O liver E odge te v e de a leg a r qu s houvesse e squecido, no A lem , o que e

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c re v era n a c a r ta , quando vivo. E d o d d c ita um a c a r­ta de E veleen M yers, v iuva do filósofo, d ecla rando que o e sp írito de seu m arido n ão se c o m un ica ra nunca, nem com ela nem com seu filho . (1 2 8 ). M esmo a n tes da verif icação de fin itiv a , já S ir O liver D odge t in h a te n tad o , In u tilm en te , um a com unicação e n tre o e s­p ír ito do M yers e o m éd ium se n h o ri ta P lp e r . (1 2 9 ).

Nós católicos acreditamos que a prova não seria definitiva, ainda que a com unicação fo s­se verdadeira, porque o demônio poderia reve­lar ao m édium o mie se continha na carta, Mas Deus não permitiu que o espirito das trevas tivesse aqui a m ínim a intervenção, e assim o espiritismo ficou desmascarado por iniciativa de seus.próprios fautores.

2.) - CONFISSÃO DE SÁBIOS ESPIRI­TAS E DE MÉDIUNS.

Muitos m édiuns notáveis, assim como muitos cientistas que foram adeptos do espi­ritismo. confessam que a prova da identi­dade dos espíritos nunca foi dada. Mais. Em vista das com unicações frivolas e cretinas, atribuídas a espiritos de homens que foram verdadeiros sábios nesta vida, dizem que es­sas com unicações provam justamente o con­trário da identidade. Oiçamos algumas des­sas confissões:

C am ilo F la m m a rlo n : “ De que espécie são esses se res? N en h u m a id é ia podem os te r a ta l respe ito . Al-

(128) CI.ODD — The Onentlon, pp. 220, citado por Heredla.

(129) PATRICK .T. GEARON. — T.e Splriflsm ci Sn fn in itc . Pari». P. T.ollilellcnx. T .lbrnhc-Pdltcur. Pp. 88-84.

(180) IA.'CIEN ROURE — J,e mcrvcUlcnx »pirite, PP- 83:1-82-1.

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m as dos m orto s? E sta m o s m ulto longe de d a r a prova disso. M inhas observações de m ais de q u a re n ta anos provam o c o n trá r io . N enhum a ide n tific aç ão j á so foz s a tis fa to ria m e n te ” . (1 3 1 ).

li. P . J a c k s , p ro fe sso r de O xford, p res id en te da S. P. R .: “N a m inha op in láo , o p rob lem a d a id e n tid a ­de pessoal com p leta deve se r exam inado e pesado de­tid a m e n te , a n te s que com ecem os a p ro d u z ir provas em favo r dessa id e n tid a d e" . (1 3 2 ).

A rtu r Conan D oyle, conhecido ro m an c is ta : “Vós e s ta is nu m a e x tre m id a d e do te lefo n e , se se pode re ­co rre r a e s ta com paração ; m as não sabeis com c e r te ­za quem e stá na o u tra e x tre m id a d e" . (1 3 3 ).

A ksA kof, c ien tis ta russo , diz que a s p rovas da id e n tid a d e não se podem d eduzir com segu ro d as m a­n ifes taç õ es e sp iritas , pois o que um m orto diz, ou tro e sp irito pod ia sa b e r e im ita r o p rim e iro . E conclue:

“ A prova a b so lu ta da id en tif icação p a ra as p e rso ­n a lid ad e s que se m an ifestam é im possível” . (1 3 4 ).

D an iel D ung las H om e, o céleb re m édium do prof. C rookcs e que , p a ra C onan D oyle, fo i o m a io r hom em depois dos A póstolos, (1 3 5 ), d ecla rou ao dr. F e lip e D avid, pouco a n te s de m o rre r :

“ D epois de tudo , a ve rd a d e é que e ssa m u ltidão de e sp írito s , a n te os qu a is se a jo e lh a m as a lm as c ré ­du la s e su p e rstic io sas, nunca e x istiram . E u , pelo m e­nos, não os en co n tre i n u nca em m eu cam inho . Serv i- m e de les p a ra d a r a ra in h a s experiências e ss^ a p a ­rên c ia de m is tério , que sem pre a g ra d o u às m assas e, so b re tu d o , à s m u lh e res : nun c a a c red ite i n a in te rv en -

(131) CAMILO FLAMMARION — As Forcas Xnturnla Desconhecidas, 1906. pg. 563.

(132) Apud D. TADDEI — O Moilcrno E spiritism o, pag. 21.

0.33) CONAN DOYLE — The New R evelation. pg. 21.(134) AKSAKOF — A nlmlinic e t Spiritism e, Pg. 623.(135) Segundo refere Ilered ia — “O E spiritism o e o

Bom Senso” pg. 90, nota.

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çâo de les nos f e n ô m e n o s . . . N ão! Um m éd ium não pode c re r nos e sp irito s . E ’ o único que não pode c re r n e le s” . (1 3 6 ).

G astuo M cry: “ Será possivel que um esp irito evo­cado dê provas da sua idon tidade? Não o ju lg o pos­sív e l”. (1 3 7 ).

Cnm ilo F ln m m a rlo n : "E m vão p ro cu re i a té aqu i p rova c e r ta de id e n tid a d e n as com unicações m ed lún i­c a s”. (1 3 8 ).

3.) - A COMUNICAÇÃO NA TEORIA ANGLO-SAXÔNICA.

Oulro aspecto interessante da não-inter- venção dos desencarnados é o que se inclue, im plicitam ente, no espiritism o europeu em geral. A doutrina corrente entre os europeus, pelo menos ingleses e alemães, é que os desen­carnados não intervem diretamente neste mundo. Conforme esses espiritas, os desen­carnados, para se com unicarem conosco, se servem de um espírito interm ediário, cha­mado guia ou controle. E’ este que recolhe as m ensagens de lá, e as transmite ao m é­dium de cá. O médium hum ano é aparelho em geral. Cada médium tem um guia ordi­nário. De-fato, como vimos, o guia ou contro­le de Stainton Moses, era o espirito “Impera- tor” ; e de Eusápia Palladino, “John King” ; o de Piper, “Dr. P hinuit”; o de Rudi Schnei- der, “ Olga”, etc.

(136) PH1LIPPJC DAVID — Ln Mn <li. monde dea ca- p rlta, pg. 171. cllado por Malnage, opun cit., pg. 156.

(137) CONF. — ‘E rho du m ervelllcux”. 1906, pg. 63.(138) CAMILO FLAMMARION — Ah ForçHH Nntarola

Daaconhecldaa, pg. 588.

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Assim, o guia é um m édium no outro mundo; os vivos se servem de um médium- vivo, e os desencarnados de um médium-es- pirito. Portanto, as com unicações são feitas de m édium a m édium ; os assistentes de uma sessão e os desencarnados evocados ficam estranhos uns aos outros.

Nesta teoria, o espírito guia pode muito bem não ser um “ desencarnado.” E mesmo que o fosse, os outros desencarnados nunca se com unicariam conosco, já que a com uni­cação c priva tiva do guia. Oiçamos um pa­ladino do espiritismo europeu, O liver Lodge:

“ No e stado de tr a n s e , su rg e um a c a rac terização d ram á tic a , com o aparec im e n to d a e n tid ad e cham ada "C O N TR O LE ”, que, n a a p a ren te a u sênc ia de seu do­no, ocupa o corpo do m é d iu m ”. (1 3 9 ).

“ O tipo de m ed iu n id ad e a que n e s te liv ro rec o rr i, é o em que o m éd ium fa la ou escreve , sob a d ireção de um a in te lig ê n cia te cn ic am en te c ham ada “ con tro le ” ou “ g n la ” .

“ O g u ia ou a te rc e ira p e rso n a lid a d e q ue fa la du ­ra n te o tran s e , pn rece e s ta r m a is em c on tac to com o qne 6 v u lg a rm en te ch am ad o o “o u tro m n n d o ” e, p o r­ta n to , to m a -se capaz d e tr a n s m it ir m e n sag e n s d e PESSO A S MORTAS” . (1 4 0 ).

(139) OLIVER LODGE — “ Ilnjinonü". Trad. de Mon­teiro Lobato, pg. 5G e pcgulnles.

(140) Id. Il>„ pg. 56.

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TERCEIRO PONTO

OS FENÔMENOS SUPRANORMAIS SÃO PRODUZIDOS POR ESPÍRITOS, E ES­TES SÓ PODEM SER OS MAUS-ESPI-

RITOS OU DEMÔNIOS DA CON­CEPÇÃO CATÓLICA.

Estado da questão

No capítulo precedente demos as teorias do anim ism o e espiritismo como opostas e exclusivas. Assim, o primeiro significa que a personalidade do m édium é a única causa efi­ciente dos fenôm enos supranormais. O espi­ritismo, porem, afirma que energias inteligen­tes e invisiveis, diferentes do homem , quer so­zinhas nucr juntamente com as forcas inter­m ediárias mediais, produzem esses fenô­menos.

Essas duas denominações, porem, não se empregam sem pre em sentido tão absoluto e oposto. Entendem-se tambem em sentido lar­go e até com pletivo: o animismo, como sis­tema que atribue às forças psíquicas e fisio ­lógicas da alma a m aioria dos fenôm enos supranormais; o espiritismo, coni© sistem a que atribue aos espíritos do outro mundo a produção dos demais fenôm enos supranor­mais. Neste sentido, ambos os sistem as se com pletam mutuamente, e isso não é de cau­sar estranheza, já que os conhecimentos atuais, neste terreno escuro, não perm item demar­car uma linha divisória definitiva.

Tanto entre os partidários de um sistema

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como entre os sequazes de outro, há m anifes­to exagero. Admitindo que há fenôm enos reais, os partidários do anim ism o pretendem que quase todos eles são produzidos pela for­ça psíquica do m édium e dos seus auxiliares; os sequazes do espiritismo, ao contrário, acre­ditam que todos ou quase todos os fenôm e­nos ocultos são produzidos pelos espíritos do Além. Veremos ao depois, o que se apura de uma e outra opinião.

Posto isto, entremos a provar a afirm a­ção:

A) SAO PRODUZIDOS POR ESPÍRITOS.

A verdade desta primeira afirm ação re­sulta do que se expôs, atrás, na secção B. Com efeito, excedendo os fenôm enos supranormais as forças hum anas, forçoso é que sejam pro­duzidos por seres extra-mundanos. Alem di- so, sendo os fenôm enos experim entais da mes­ma natureza que os fenôm enos espontâneos e sendo estes, evidentem ente, produzidos por espíritos, tambem aqueles o devem ser. São consequências rigorosamente lógicas.

Estas provas indiretas poderiam bastar. Mas, dada a singular im portância da presen­te tese, para tantos céticos que se recusam a admitir a intervenção dos espíritos nos ne­gócios deste mundo, convem trazer, em apoio dela, algumas provas diretas c sólidas.

I — FENÔMENOS ESPONTÂNEOS

A prova, realmente convincente, de que são espíritos do outro mundo que produzem

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os fenôm enos espontâneos, c o fato de que es­ses fenôm enos, principalmente quando são lo­cais, se encontram longe de qualquer influên­cia humana.

Todos os casos que referimos na Primeira Série denunciam um autor com duas caracte­rísticas, que o colocam acima das contingên­cias humanas:

a) Força invulgar, capaz de atirar gran­des pedras de grandes distâncias, sem o em ­prego dos conhecidos m eios de propulsão;

b) Inteligência prim orosa, — que zombou de todas as pesquisas policiais, e só se manis- festou cm condições estranhas c desconcertan­tes. Essa inteligência revelou tambem muita astúcia c muita intenção preconcebida; é que o autor, ou autores dos fenôm enos, — que­rendo, naturalmente, ocultar-se ou despistar, — só apareceram em lugares onde, anterior­mente, tinha havido morte trágica ou violen­ta. Assim, julgando apenas pelos anteceden­tes, seriam os homens levados a atribuir tais fenôm enos aos espíritos das pessoas falecidas em tais lugares.

Os casos de Oels e Grosserling fornecem acertadas instruções. Em 'Oels foi verificado que, naquela casa mal-assombrada. vivera um homem perverso, que costum ava armar insí­dias a crianças. Temendo perseguição da po­lícia. suicidara-se e, desde então, começaram os fenôm enos espontâneos ali.

Do que até aqui expusemos, duas conclu­sões se tiram.

Prim eira: O princípio teleológico d iri­gente da grande m aioria dos fenôm enos es­

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pontâneos não é, pelo menos exclusivam ente, a m entalidade dum m édium vivo;

Segunda: O princípio teleológico dirigente da grande m aioria dos verdadeiros fenôm e­nos espontâneos, é exclusivam ente um espí­rito do outro mundo.

Mas será que esse principio espiritual, que se m anifesta tão visivel nos fenôm enos espontâneos, se manifesta tambem nos fenô­menos experimentais, quer sejam físicos, quer psíquicos? Respondamos.

II. - FENÔMENOS EXPERIMENTAIS

a) Fenômenos psíquicos ou parapsíquicos.

Serão tambem inteligências extra-m un- danas, de natureza superior à do m édium , a principal causa de certos fenôm enos psíqui­cos? Ou por outra: A interpretação preterna­tural, tambem neste terreno, será possivel e até necessária?

Muito importa à nossa questão a lingua­gem, a expressão e o comportamento do m é­dium “inspirado” ; nem havem os-de por de parte o conteúdo das m ensagens, que, sendo geralmente sem importância, não raro reve­lam um carater íntim o e pessoal.

Mas, uma das provas m ais valiosas para a explicação preternatural de certos atos de clarividência, c, sem dúvida, a visão do fu tu­ro, no caso de serem profetizadas ações livres, em circunstâncias im previsíveis pelo espírito humano.

A visão certa de decisões livres da vonta-

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dc só é possivel a Deus, razão por que, no ca­so de se realizar a profecia, a inspiração há- de ter vindo dele. (141) As atas referentes à realização de verdadeiras profecias, feitas por m édiuns e pessoas profanas, não são dignas d ^ fé . Muitas das conhecidas profecias não passam de conjeturas. Outras são atribuídas falsam ente a dadas personagens. Assim, por balela deve ser tida a conhecida profecia de Lenine; outra célebre m istificação é a “pro­fecia” de S. Malaquias sobre os papas até o fim do mundo (142); não merece, tampouco, ser citada a coleção de profecias do fam igera­do N ostradam us, cuja única força persuasiva é devida à interpretação elástica e capricho­sa dos discípulos daquele feiticeiro.

Mais atenção merecem, talvez, alguns ca­sos de segunda vista: a predição do dr. Gal- lat, a do m édium polaco Sra. Przybylska. Es­ta vidente fez conjeturas bastante exatas so­bre a guerra entre a Polônia e a Rússia; as suas previsões, exaradas em escritos e coloca­das antes da realização, nos arquivos da So­ciedade para Investigação Psíquica, de Varsó­via, despertaram verdadeira consternação.

(141) Cf. A. ZEITZ — OkknltlHmuN, WiHNCiiHchnft, Rellglon, pg. 117 e A. LUDWIG: Okkulti.imu», Splritl*- iuuh, per. 18.

(142) E. VACANDARD — ÉtiulcH de Critique llêllglcii- KC, 1923, pg. 43-63. Cf., eobre Lenine. A. ZEITZ: “DIe Lc- nlniHche KloHterwclMiinguiig”, 1919, 20, pg. 146-162, 182- 193, 227-233. Sobre S. M alaquias, o mesmo a u to r: “ IÍIe PnpgtwelnKagung nnch MnlnchinM”, 1920, 20, pg. 336-367. e 1921, pg. 137. O Pe. MENESTKIER. S. J. (1689), o Pe. PAPEBROECK, e, ultim am ente, DE BUTE (1SS5), ADOLF IIARNACK c o Pe. THURSTON, S. J., dem onstraram quo a fam osa profecia dc S. Malaquias foi fo rjada en tre 1686 e 1590. E ' seu au to r provável o beneditino Arnold Wlon, e a finalidade da profecia era favorecer a a lguns c a r­deais papavels, por ocasião do Conclave que se seguiu ã morte de U rbano VII. 1690.

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b) Fenômenos físicos ou parafísicos

Os fenôm enos físicos bem desenvolvidos, não raro são tais que excluem uma explica­ção natural para sua realização. Como é pos­sível existir uma causa, plausivelm ente natu­ral, que, em tempo brevíssimo, pudesse efe­tuar, no m édium , a enorme perda de peso de até vinte e cinco kilos? Por que leis fisioló­gicas ou biológicas poderá ser dim inuída, em poucos minutos, quase a metade da substân­cia viva do organismo e, em seguida, ser re­constituída, sem que o todo sofra prejuizo perceptível? Esta dim inuição atinge bilhões de células. Que são, junto dela, as inocentes ruborizações da epiderme e as borbulhas que, às vezes, podem ser produzidas em pessoas histéricas, após vivas sugestões? Estas últi­mas m odificações físicas nunca nascem es­pontaneamente, e nunca tkisapareccm im e­diatamente.

Como encontrar uma causa natural, quando se trata de materializações e de re­constituição anatômica de certas formas vi­vas, — membros ou fantasm as inteiros?

Qualquer investigador imparcial, sobretu­do quando puder ler em vista experiências pessoais, reconhecerá a total im potência da teoria do subconciente. Nem vale apelar para processos análogos, naturais e biológicos, co­mo o fato da geração. Analogias pouco pro­vam e, ademais, em nosso caso, a analogia é puramente exterior. Na verdade, ambos os processos tem de comum que, por eles, é for­mada uma espécie de figura viva. Mas o ser

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vivo natural e o fantasm a espirita são total­mente diferentes em todas as suas fases.

B) E ESTES SO’ PODEM SER OS MAUS- ESPÍRITOS OU DEMÔNIOS DA CONCE­PÇÃO CATÓLICA.

Quanto aos fenôm enos psíquicos.Aceitando, como certos, os casos de co­

municações sem m eios naturais e, sobretudo, os casos de previsões do futuro, ninguém es­tá obrigado a atribui-los à inspiração divina. Conquanto a razão humana não possa prever os acontecimentos futuros, podê-lo-á. com grande probabilidade, uma inteligência supe­rior, — criada, — que poderá tambem revelar o futuro próximo a qualquer pessoa de seu agrado.

A circunstância de se tratar, às vezes, de atos livres, não é de suma importância. Conforme nos ensina a experiência, m es­m o esses atos estão, a-miude, tão intim am en­te ligados à índole do individuo, e tão cone­xos com as condições externas, que podem ser previstos com certeza m oral e fundamentar uma certa estabilidade estatística. E’ pelo estu­do desta estabilidade e daquela certeza moral, que a História é considerada uma Ciência e não uma sim ples narração de fatos.

Ora, quem, acima de nós e abaixo de Deus, percebe incomparavelm ente a conexão das coisas, — causas e efeitos, — são os espí­ritos. bons ou maus, angélicos ou diabólicos. Uns como outros estão em condições de pre­ver esse futuro previsível, e de revelá-lo aos

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homens, havendo permissão divina. Portanto, conforme forem as circunstâncias, poder-se-á concluir, acerca de certas profecias profanas, que houve inspiração diabólica ou angélica. Da mesm a forma, a respeito de certos casos de segundo vista: se as revelações superam a inteligência hum ana, hão-de ser interpreta­das segundo este critério.

Aliás, alguns visionários parecem possuir pre-vidência puramente natural. Sonhos pro­féticos e casos extraordinários de psicometria devem ser julgados de acordo com as normas supra.

Nem se dirá que, para explicar tais fe ­nômenos, bastam as causas naturais. Porque as forças naturais tem um lim ite. E aqui, co­mo é evidente, esse lim ite já fo i ultrapassado pelos fatos, em que pese aos simpatizantes da teoria pan-telepática. (143)

E acerca de muitos fatos da vida dos san­tos, um estudo exato mostra que só poderão ter explicação razoavel se se admitir inspira­ção divina, m ediata ou imediata.

Quanto aos fenôm enos físicos.Os fatos verificados em sessões experi-

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capitulo antecedente, são tão estupendos que, por força, conduzem a esta conclusão: o prin­cipio inteligente, que for a causa eficiente deles, há-de superar, de muito, qualquer es­pirito humano, mediúnico ou não, e só pode ser um espírito.

Postas estas considerações preliminares, podem os argumentar da m aneira seguinte:

Os fenôm enos supranormais só podem re­conhecer dois gêneros de causas: uma, — natural, — outra, — cxtra-natural.

Mas vimos, 110 capítulo segundo, que tais fenôm enos excedem as forças naturais. Logo, só podem ser produzidos por forças extra-na- turais.

Ora, a causa cxtra-natural só pode ser uma das três seguintes: Deus, as alm as e ou­tros espíritos.

Ninguém, nem mesmo os espiritas, ousa atribuir os fenôm enos à intervenção divina. Não os católicos: a majestada de Deus é obs­táculo a que ele intervenha, direta ou indi­retamente, em reuniões inteiram ente profa­nas, de caratcr particular e, às vezes, m anifes­tamente suspeito. Nem os espiritas: o Deus deles ê um deus longinguo e indiferente; se­gundo eles, os espíritos agem com inteira in­dependência do chamado “Criador.”

Resta, portanto, que os fenôm enos são causados pelas almas ou por outros espíritos. Mas não o são pelas almas, como o vimos 110 capitulo anterior.

Logo, lião-de ser causados por outros es­píritos.

Mas os espíritos, — causa dos fenôm enos

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supranormais, — só podem ser os maus-es- pírilos da concepção católica ou biblia. Com efeito, os espiritas tambcm admitem a inter­venção de maus espíritos; mas o mau espírito da concepção cardecista não existe.

De-fato, nessa concepção, o espírito só pode ser mau "provisoriam ente." E’ que os espíritos, dizem os cardecistas, estão em evo­lução, e aqueles a que se dá o nome de maus são apenas inteligências grosseiras e imper­feitas; ora, ninguém vê nexo necessário en­tre esses dois conceitos: inteligência im perfei­ta e m aldade intrínseca ou conciente. Os es- píritos-maus, — ou são maus visceral e per­manentemente, conforme a concepção bíbli­ca, — ou não são maus de forma alguma. No mundo espiritual, não há grau interm ediário de maldade. Ou o espírito é bom, definitiva­mente. isto é, sem possibilidade de perder a bondade ou é mau definitivam ente, isto é, sem esperança de tornar-se bom.

Logo, se espiritos maus intervem na cau­salidade dos fenôm enos transcendentais, só podem ser os espíritos maus da concepção bí­blica. Eis como, por exclusão, chegam os a des­cobrir o demônio na base do sistema espirita.

Mas lemos tambem provas d ire ta s : é que a ação do demônio é conhecida. Devemos, pois, indicar os sinais que caracterizam a ação diabólica, quer sob influência física, quer sob influência moral. Dovemos ainda exam inar se a ação do demônio se limita a uma época histórica ou se exerce através dos tempos.

Antes, porem, de tocarmos esse derradei­

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ro assunto, temos obrigação de definir o nos­so diabolismo. Daí os dois capítulos se­guintes:

A. - Em que sentido entendem os a inter­venção diabólica no Espiritismo;

B. - Sinais diabólicos que os fenôm enos espiritas trazem consigo, c a ação diabólica através dos tempos.

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CAPÍTULO IVEM QUE SENTIDO ENTENDEMOS A IN­

TERVENÇÃO DIABÓLICA NO ÈSPIRITISMO

I

No tratarem do espiritismo, dividem-se os autores não-espiritas em duas grandes cor­rentes :

a) Uma que atribue os fenôm enos supra- normais a forças naturais, conhecidas ou des­conhecidas;

b) Outra, que os atribue a inteligências do outro mundo, que só podem ser os maus espíritos, — os demônios.

Quanto à realidade dos fenôm enos: To­dos os autores estão dc acordo nestes pontos:

a) A m aioria dos fenôm enos é produto da fraude, do em buste e do truque. Quer di­zer que não são fenôm enos reais, mas pseudo- fenôm enos.

b) A realidade de um pequeno número de fenôm enos supranormais é incontestável. Quer dizer que há fenôm enos supranormais reais.

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Praz-nos citar, em comprovação, os auto­res m ais céticos que trataram do assunto:

F a d r e H ercd la , S. J .:“N ão p re tendo que todos os fenôm enos s e jam f ra u ­

d u le n to s” (1 4 4 ).“H av e rá fenôm enos rea lm e n te su p ran o rm a is? Em

presença de todo o m a te r ia l a cum ulado d u ra n te s é ­culos, parece que se deve re sp o n d e r que s im ” . (1 4 5 ).

Padre Mainagc:“ Confesso, s im p lesm en te , e sem e sp e ra r o vere-

d ito de fin itivo d á ciôncia, confesso a c re d ita r n a ob­je tiv id a d e dos fenôm enos e sp ir ita s . H á m esas q ue g iram e q ue fa lam . A e sc r itu ra m ed iún ica não é inven ­ção de im aginações em d e lír io . N em to d a s a s a p a r i­ções são o r e su l tad o de h a lucinações fa lsas , nem todas a s m a te ria liz aç õ es o b tidas pelo D r. G eley são p u ras q u im e ras" . (1 4 6 ).

“ Sob a condição de não e n ca ra rm o s o exam e dos fenôm enos com a idé ia p reconcebida de n e g a r tudo , e sem serm os, de nen h u m m odo, ob rig ad o s a p a r ti lh a r o ponto de v is ta e sp ir ita , podem os conceder um lu ­g a r, no e studo filosófico d a sobrev ivênc ia d a a lm a, a e s te con ju n to de fa to s s in g u la res , a g ru p a d o s ho jo sob o te rm o de m e tap s lq u ic a ” . (1 4 7 ).

IiUclcn H o u re : “ J á se disse r e p e tid a m en te que. os fa to s e s tran h o s , desco n c erta n tes , do esp iritism o e do psiqu ism o, sob to d a s as su a s fo rm as, são tã o nu m e ­rosos e a te s ta d o s po r te s te m u n h a s tã o g raves que, não ad m ití- lo s , é re n u n c ia r a toda c erteza h is tó ric a . A tr i­b u ir todos esses fa to s a um a colossa l m is tif icação , de-

(144) Pe. HEREDIA — O .Euplridumo e o Bom Sen- bo. Trad. da L ivraria Católica, Rio dc Janeiro, 1926, pg. 98.

(145) Id., ibidein. pg. 136.(146) TH. MAINAGE — La Rellglon Splrlte — Edi-

tlon de la Revue des jeunes. Pg. 87.(147) TH. MAINAGE — L’Inunort«Uté — Passlm .

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se m b ara ça r-se deles, em bloco, com as p a lav ras de em buste ou ha lucinação , n&o é processo que a razão deva a p ro v a r. T al é o nosso se n tim e n to ”. (1 4 8 ).

Agora, se é fa lo que há tanla fraude no espiritismo, é fato tambem que nem tudo é fraude. Resta, pois, saber a percentagem que sc apura de fenôm enos reais. Antes de tudo, afirm amos que os fenôm enos reais são m uito poucos.

Lucio José dos Santos, repetindo quase as palavras de Lucien Roure, acima citadas, é da mesma opinião que nós:

"E x istem fenôm enos e sp ir ita s? A lgum as pessoas ace itam tu d o ; o u tra s T ejeitam tudo . Nem uns nem ou ­tro s tem razão . A tr ib u ir todos esses fenôm enos a um a colossa l m is tif icação , sob o fu n d am e n to de que a m a io r ia de les e s tá nesse caso, não é possivel" . (1 4 9 ).

Conforme notou Lucien Roure, o grande prestidigitador R em y adm itia um pequeno nú­mero de fenôm enos reais:

“ P a rec e im possível d izer que tudo , no e sp iritism o , se ja f ra u d u le n to ou im a g in a d o ” . (1 5 0 ).

Apenas Paul Heusé se recusa a admitir fenôm enos reais de m etapsiquica objetiva. E assim, coerentemente, aceita só os fenôm enos supranormais psíquicos (m etapsiquica subje­tiva) e rejeita os supranormais físicos. (151).

(148) LUCIEN ROUKE — Le Merveilleux SplrHe — Paris. G abriel Beauchesno, édlt., 1919, pp. 182.

(149) LUCIO JOSE' DOS SANTOS — Uma sOrle do artigos do DIArio, de Belo H orizonte, sobre O Espiritism o. O trecho c itado é do número de 18-10-1939, quarta-fe ira.

(150) LUCIEN ROURE — Le M erveilleux Splrlte. pg. 218.

(151) PAUL HEUS1Î — Où en cat Iq Métapsyclilqne. G auth ier-Vlllara. Parle, pg. 84.

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O já citado prestidigitador Rem y, “após 29 anos de estudos, de controvérsias, de ob­servações e de experimentos pessoais, afirma que não é possivel cepticismo absoluto ante os resultados.” Julga que se pode atribuir à frau­de, concientc ou inconciente, cincoenta por cento (50%) dos fenôm enos espiritas. Quan­to ao resto, refere quarenta por cento (40%) a causas fisicas naturais, e reserva apenas dez por cento (10%) ou mesmo uns cinco por cento a agentes preter-naturais. (152).

O Padre Heredia, com lodo o seu cepticis­mo, ainda supõe um ou outro fato que requer explicação pre lern a tura l:

“Por conseguinte, ficarão apenas poucos casos que não admitirão facilm ente a possibi­lidade de uma explicação natural.” (153).

Os próprios espiritas reduzem muito o âmbito dos fenôm enos reais. Geley diz que os bons m édiuns são raros. O mesmo sentem R ichet ç outros. (154).

Portanto, chegamos à conclusão de que uns poucos fenôm enos reais, uns dez por cen­to quando muito, não tem explicação natural.

Não tiveram, até aqui, explicação natu­ral satisfatória. Mas poderão tê-la um dia? Al­guns autores respondem afirm ativamente. Com efeito, os autores anim istas e anti-dia- bolistas afirm am, com visos de verdade, que ainda não conhecemos todas as forças da na­tureza e apelam para as m aravilhas da eletri-

(152) HOUIÍE — Le Mervelllenx Sulrlte. Pag. 218-21D.(153) Pe. C. M. DE HEREDIA — O EHpIrltlsino c o

n « n Senso, pg. 101.(154) Cf. CARLOS IMBASSAHY — “O Espiritism o à

lo* do« fato«”, L iv raria E dlt. da FedcraçUo, 1935, pe.

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cidade, — desconhecidas até há pouco tempo. E assim, — concluem. — o que se não explica hoje, explicar-se-á daqui a anos.

Quanto a nós, achamos que os poucos fe­nômenos reais, irredutíveis hoje, nunca po­derão ser explicados por forças naturais. E’ que as forças naturais tem um limite. E esse lim ite nos é conhecido. A força de atração, por exemplo, com preendida na lei de gravi­dade, só pode ser contrariada por uma força fisica maior. Ninguém poderá nunca fazer parar um pedra no ar só com um ato da von­tade, ou só com a força do olhar.

Alegam as m aravilhas do rádio. Mas, an­tes de ser conhecido, ninguém enviava mensa­gens pelo ar, empregando uma força então desconhecida, e atribuindo o efeito a fatores preternaturais. Se a força era desconhecida, tambem não havia fatos produzidos por essa força. O contrário se dá nos fenôm enos ocul­tos. Há fatos sem força.

O argumento: “Não conhecem os todas as forças naturais, e estas forças, uma vez co­nhecidas, explicarão muitos segredos,” é usa­do pelos racionalistas para rejeitarem os mi­lagres de Cristo. “Jesús andou sobre as on­das; entrou, a portas fechadas. 110 cenáculo; curou enfermos incuráveis” . . . Milagres. Mas não conhecemos todos os segredos da na­tureza, d izem eles. A ciência explicará tudo m ais tarde.

Quem não vê aqui, em jogo, o sofisma dos racionalistas?

Sim. Fatos há, irredutíveis, hoje e sem ­pre, às forças naturais, conhecidas ou desco-

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nhecidas. É a opinião dos mestres. Ouça­mo-los :

“ N ão é possível e sp e ra r que venham todos esses fa to s a e n c o n tra r explicação n a tu ra l, um a vez que m u ito s a tiv e ram já ; p o rq u an to , m esm o sem conhe­ce r to d a s as fo rç as n a tu ra is , é possivel conhecer o li­m ite , a lem do q u a l não podem ir . H á f ra u d es. H á fe­nôm enos n a tu ra lm e n te explicáveis. H á fa to s i r r e d u tí­veis à s le is n a tu ra is " . (1 5 5 ).

“ O esp iritism o age n a o b sc u rid ad e m a is ou m e­nos com pleta, no m eio de um a a ssis tê n cia in ic iada e favo rave l. ̂ H á , porem , fa to s rea is . Como in te rp re tá - lo? H á p ro p ried a d es In te re ssan tíss im a s do corpo h u ­m ano, que só fo ra m conhecidas u ltim am en te , e cada d ia se descobrem novas. O ra, poderem os e sp e ra r do fu tu ro a explicação? D uvidam os. C ertos fenôm enos aparecem de ta l m odo c o n trá r io s à s le is n a tu ra is , que a su a origem p re te rn a tu ra l é, pelo m enos, vcrossi- mU” . (1 6 6 ).

Portanto, uns poucos por cento de fenô­menos não podem ser causados por forças na­turais. Logo, a causa deles só pode ser um agente ex tra-terrestre:

“ A dm ito , pois, que, em a lg u n s fenôm enos, m u i poucos, se m an ifeste um a in te ligência , o u tra que não a do m éd iu m ou a dos a ss is te n te s”. (1 5 7 ).

/ Befo )Ho?lzoiUe"I<n ? ° “ u® ff.lM 9NTOS- Cm “° DÍárÍ°" ’

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II

QUEM É ESSE AGENTE EXTRA-TERRES­TRE OU ESSA INTELIGÊNCIA?

Não pode ser Deus, nem os anjos bons, nem as almas. Logo ó o demônio. A esta con­clusão, para os poucos fenôm enos, chegaram os próprios autores anti-diabolistas. Alguns d eles:

“ N esta q u estão do p re te rn a tu ra l , não se há-de a d m itir um a causa p re te rn a tu ra l senão n o s casos em que toda explicação n a tu ra l fo r im possível”. (1 5 S ) .

“ O u tro s a u to re s a firm a m que ap en a s um certo s u b s tra tu m , se rá devido à in te rv en ç ão d iabó lica” . ( 1 5 9 ).

“ Do que fica d ito não se segue que a explicação d iabó lica deva s e r s is tem a tic am en te re je i ta d a ” . (1 6 0 ).

“ N inguém duv id a que o esp iritism o se ja um te r ­reno propício à in te rv en ção dos e sp írito s . Os próp rio s e sp ir ita s se gabam de e s ta r em re lação com o m undo dos e sp ír ito s desencarnados, que, j á o vim os, só po­de rá se r o m undo dos e sp írito s m a u s . . . C ertos fa to s dos - m ais p e rtu rb a d o re s d a h is tó ria do e sp iritism o tendem a d e m o n s tra r que e s ta ação dos e sp írito s (m au s ) foi, a lg u m as vezes, r e a l”. (1 6 1 ).

“ U m a p a rte dos fenóm enos deve s e r a tr ib u íd a & in te rvenção de a g en te s sob re-lium anos, que, segundo o que foi d ito , só podem se r e sp írito s m aus. Concebe-se m esm o, da p a rte de les, um a in te rv en ção m ais la rg a ... q uando se t r a ta de e s tim u la r ce r ta s p rá tica s que

(158) Rev. PATRICK J. GEARON, O. C. C. -A Splrltlxraci Sn Fnllllte”. Paris, ed. L cthlellcux, pa

(159) Id„ Ibldcm.(160) D. OTÁVIO CHAGAS DE MIRANDA — «O»? 9

ndnw noi Pxlqulcon e o Explrltlxm o pernnte n I*cri 1926, pç. 40-41.

(161) LUCIEN ROURE — “ I.e M ervelllenx Splx PST. 336-337.

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de se r p a ra os hu m a n o s a fo n te de ta n ta s decepções, de deso rdens e de d is tú rb io s” . (1 6 2 ).

CONCLUSÃO. Os espíritos que aparecem nas sessões são os maus espíritos da con­cepção católica. São os dem ônios.

Aliás, os próprios espiritas admitem que, se algo há de real nos fenôm enos, deve ter por autor o demônio. Com efeito, confessam que maus espíritos se imiscuem com os bons na escuridão das sessões. Esta é a doutrina de Kardec. E o sr. Im bassahy, espirita brasileiro, vai mais longe ainda. Diz ele:

“ O s dem ôn ios, o s e sp ír ito s im p u ro s d a B íb lia , os á u g u re s do pa ganism o, os deuses (que fa lavam p e­la boca das e s tá tu a s ) , os gônios são s im p les nom es dados à s e n tid ad e s m a n ife s ta n te s”. (1 6 3 ).

“N ão im porta o nom e com que cada um batiza o fato su p r a n a tu r a l” . (1 6 4 ).

A divergência, pois, entre os espiritas e nós está no sentido ligado às palavras alm a e espirito.

Para nós, espírito é gênero e alm a é espé­cie. Assim, a alma é espírito num sentido, e o demônio o é em outro. Ou melhor: a alma e o demônio (ou os anjos) são espíritos, mas não no mesmo conceito ou em toda a extensão.

Explicam os tambem a diferença, dizen­do que os anjos e os demônios são puros es­píritos, e a alma, não. A alma é form a subs­tancial da matéria organizada, é pa rte do ho-

(152) LUCÍEN K O riíE — “ I.c Spirltixmc «Vnujour- (l'hul e t «1’hler", ed Uccichesnc, pp. 92 e pg. 121.

(103) CARLOS IMBASSAHY — ” 0 Explritlxino à luz üox futos», pg. 229.

(101) Id., Ibidcm, pg. 229-230.

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mem, ao passo que os espíritos puros não são formas substanciais nem são partes de ne­nhum todo.

Para os espiritas, ao contrário, alm a e dem ônio são espíritos no mesmo sentido.

Alem disso, na doutrina católica, o de­m ônio é um espírito decaido e irrem ediavel­m ente perdido. Na doutrina espirita, todos os espíritos estão em evolução, e serão salvos ou aperfeiçoados um dia. Mas os espiritas estão em erro. Para provar que a alma e o demô­nio são espiritos de natureza diversa, temos a fiiosofia. E para provar que o demônio é es­pirito decaido c irrem ediavelm ente perdido, temos a Bíblia.

Assim, é doutrina filosófica assente que, se o espírito puro pode naturalmente m anifes­tar-se, a alma não o pode. (165).

Baste-nos, p.orcm, a confissão dos espiri­tas: “As entidades manifestantes são os de­mônios, os espiritos impuros da B íb lia.”

Mas será que o demônio intervem siste­m aticamente nas sessões, pela força de um rito?

Não. Admitir isso seria admitii', em lar­ga escala, um grande sistem a de possessões diabólicas. A-propósito, diz muito bem o teó­logo P atrick Gearon:

“Julgamos que é impossivel adm itir a teoria dia- bólica cm geral, sem admitir, ao mesmo tempo, quo

1 ?vrs. i*«s

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Espírito enganador, de poder apenas re­la tivo dentro da criação, o demônio é capri­choso. Tendo .ambiente preparado, intervem quando lhe apraz e se Deus lh’o permite. É o que pensam os Padres do Segundo Concílio de Baltimore e os senhores Bispos do Nor­te do Brasil. Dizem os primeiros:

“Vix clubltandum tamen videtur qunedam saltem cx ©ls a Satanlco lnterventu repetenda esse, cuin vix alio modo satis explicarl possint; isto é: Dificilmente se poderá duvidar que ao menos alguns desses fenô­menos devam ser atribuídos à intervenção de Sata- áaz, já que dificilmente se poderão explicar de outro modo”. (166).

E os segundos confessam :“Não nos custa pensar que, de-fato, alguma vez,

nas sessões espiritas, se faça sentir a intervenção diabólica”. (167).

Mas repugna-nos admitir que o demônio esteja ligado a um rito, de modo que apareça, sem pre que seja invocado, com o nome de “evocação de tal espírito desencarnado.”

Custa-nos admitir isto. Prim eiro, porque, em tal hipótese, o demônio estaria sujeito aos homens, e, segundo, porque o demônio não precisa intervir fisicam ente para ter os ho­mens em sua sujeição. Admitimos, pois, um meio termo entre as teorias extremas.

Em resum o: O dem ônio in tervem m as os assistentes não sabem , previam ente, quando

(1GC) Apud. H EREDIA — O E spiritism o e o Dom Senão, pç. 195.

(167) Senhores Bispos do N orte do Brasil, «P asto ra l”,

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é que ele vai intervir. A intervenção só se tor­na conhecida post factum , depois do evento.

Todavia, m èsm o que a presença física de Satanaz não possa sem pre ser provada, o ESPIRITISMO É SEMPRE DIABÓLICO, por­que o demônio cxcogitou meios de estar pre­sente, — fisicam ente, algum as vezes, — mo- ralm enle, as outras vezes.

O ESPIRITISMO É DIABÓ LICO :

a) Pelo ambiente das sessões, — ambien­te de nervosismo, de hipnose coletiva, de te­mores;

b) Pelas circunslâncias de lugar e de tem­po que envolvem as sessões;

c) Pela instituição do médium.

Trataremos dos dois primeiros itens num só artigo, e do terceiro ein artigo separado.

Art. I.

a) Quanto ao am biente. Haja médium ou não, o fato de algumas pessoas se reunirem cm torno de uma mesa, e esperarem com uni­cações com o invisível, cria um estado nervo­so nos assistentes em geral, estado que pre­dispõe para a loucura, para o suicídio, para todas as aberrações, e, sobretudo, para o trans­torno da Lógica N atural c negação das doutri­nas religiosas puras e tradicionais. O espirita tem uma lógica diferente da dos outros ho­mens, e seu cérebro se torna imperm eável aos raciocínios faceis e sadios. É um homem

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evadido do senso comum. Daí, a dificuldade de um espirita vir a abandonar as suas prá­ticas supersticiosas.

b) Quanto às circunstâncias. É certo que a luz ou as trevas m ateriais não podem ter nenhuma influência no poder do espírito do outro mundo. Da luz m ais intensa às trevas mais opacas não há m ais do que uma ques­tão de graus. Mesmo entre os anim ais, o que é escuro para uns, é claro para os olhos de outro. Para o espírito, portanto, não há d ife­rença entre a luz e a treva deste mundo. Por conseguinte, o dem ônio iião precisa da treva para agir. Pode aparecer tanto de noite como de dia, tanto em meia claridade como à luz viva.

Entretanto, fez crer a seus adeptos que a escuridão ou a pouca claridade são condi­ções necessárias para a produção dos fenô­menos. Conseguiu convencê-los de que o m é­dium só pode emprestar o seu fluido ao es­pírito, se agir à noite e com pouca luz. E os imbecis acreditaram. Compararam mesmo os fenôm enos espiritas com certos fenôm enos químicos que só se realizam à noite, ou na au­sência da luz direta; por exem plo: o despren­dim ento do gás carbônico, das plantas.

Por que essa tática de Satanaz? Sim ples­mente porque a luz prejudica os seus inte­resses, e as trevas os favorecem .

As sessões noturnas, portanto, realizadas quase ao escuro, com promiscuidade de m a­chos degenerados e dc fêm eas histéricas, são dc criação nitidam ente diabólica. 0 diabo aí

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está sempre presente, embora nem sempre apareça.

Art. II.

QUANTO AO MÉDIUM

O demônio, teoricam ente falando, não precisa de intermediários. Provam -no as suas aparições espontâneas, a Cristo no deserto, e aos homens, várias vezes, como consta da his­tória.

Para a organização, porem , de uma Re­ligião ou Sistema de com unicações, a Insti­tuição do M édium foi necessária. O m édium :

Primeiro, serve para ocultar Satanaz; c, segundo, é o seu procurador bastante no ca­so da ausência do Chefe.

Assim, podem os definir o m édium :PESSOA EM PRESENÇA DA QUAL OU

POR MEIO DA QUAL O DEMÔNIO OPERA FENÔMENOS TRANSCENDENTAIS.

O m édium é:A — Pessoa em presença da qual o de­

mônio opera fenôm enos transcendentais.M axwell tambem entendia que o agente

dos fenôm enos era outro que o m édium , sen­do este apenas uma condição para os fenô­menos :

“M édium , — diz ele, — é a pessoa em pre­sença da qual podem ser observados os fenô­menos psíquicos.” (168)

(168) Citado por CARLOS IMBASSAHY — «O E spiri­tism o & lus do« Fato«”. PÇ. 165.

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Neste caso, o m édium não opera. Fica im ó­vel, como extático, no seu gabinete, ou no meio dos assistentes.

Quem realiza os fenôm enos é o demônio em pessoa, e os fenôm enos, então, excedem as forças naturais. É assim que a força da gravi­dade, a lei da inércia e o poder de percepção dos orgãos sensoriais do homem são im pedi­dos por forças contrárias, acionadas por agente invisível: é o caso de Eusápia Palla- dino, R udi Schneider, Maria S ilbert, etc.

O estado de inconciência e inibição men­tal em que cai o m édium , é efeito da união :oom o espírito do Alem. É o que se chama, geralmente, transe; o m édium é um quase possesso, senão um possesso total. Os pró­prios espiritas confessam que a possessão dia­bólica, cujos sinais são descritos no Ritual Ro­mano, está muito próxima do estado de tran­se. (Cf. Ritual Rom., Tit. XI, c. I, n.° 3.

Carlos Imbassahy escreve: "Por esse fenômeno o espírito so incorpora ao médium, por cujos sentidos se m anifesta”. (1G 9). E, à pagina 3S0, descreve a me- diunidade do médium MirnbclU como verdadeira pos­sessão diabólica, tanto assim que a aproximação do exquisito personagem causa a todos verdadeira re ­pulsa.

Todavia, somos levados a declarar que vem os alguma diferença entre o transe me- diúnico e a possessão diabólica do Ritual. 0 transe não traz, geralmente, o sofrim ento f í­sico que, às vezes, acompanha a possessão. O

(169) CARLOS IMBASSAHY, opus c ltatum , pg. 427.

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transe é fenôm eno passageiro da parte do es­pirito, e voluntário da parte do m édium , o que se não dá na possessão. Por isso, o tran­se deveria chamar-se antes uma usurpação e o sujeito usurpado, pois o espirito não está como quem julga ter direito de posse (pos- séssio). (170).

Do que ficou dito acima se conclue que, na presença do m édium , entregue a este esta­do de transe m ediúnico, o demônio realiza fenôm enos que, evidentem ente, excedem as forças naturais. Mas alem desses fenôm enos, ainda existe outro mais estupendo: o da m a­terialização. Sobre este devemos notar o se­guinte:

As aparições das alm as e dos espíritos podem explicar-se de dois modos:

a) O espirito age na im aginação do vi­sionário, e este julga ver externamente o que, na realidade, só existe na sua fantasia. É o que se chama Visão Im aginativa;

b) O espírito se m anifesta externamente por m eio de uma forma material que im ­pressiona os orgãos visuais do vidente. É o que se diz Visão Corpórca-Real.

Este segundo modo está m ais de acordo com as faculdades psíquicas do homem, so­bretudo quando a visão é prolongada, e quan­do são muitas as pessoas que veem o fanlas-

— 2)2 —

(170) Diz PATJIICK GEAIION: "Os esforços do m6- dium podem ftcarreUir esgotam ento nervoso: mas, g e ra l­mente. nilo lid. nenhum sinal de sofrim ento agudo, nenhum traço de tormento. Não se lhe veem essas ferozes con- torsões da face que, de o rdinário , acompanham a posses­são. “ I.e Splritl.sme: Su Fn lllite”, pg\ 1:)2.

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ma. Deve ser o caso da m aterialização espi­rita. (170, a).

Neste caso, como o espírito, naturalm en­te . não pode ser visto, deve servir-se de m até­ria criada, preexistente, para formar com ela o invólucro m aterializado, para form ar um corpo m om entâneo ou somente membros, mãos, cabeça, etc. É o que Lucien Roure diz com estas palavras:

“A visão dos mortos não-ressuscitados e a dos pures espíritos é um aparecimento que consiste em certo arranjo de raios luminosos”. (171) e 171-a).

E Santo Tomaz já havia dito o mésmo, nestes termos:

“Neste caso, os anjos tomam verdadeiramente as aparências humanas: o que pode dar-se por ceita con­densação da atmosfera, sob a ação divina". (172).

Portanto, nas m aterializações espiritas temos duas hipóteses a considerar:

a) O demônio toma m atéria orgânica do médium, desagrega-lhe, por uns instantes, al­guns m ilhões de células e com estas forma os membros da m aterialização. Toma células e não flu ido, — a existência deste não está pro­vada, — e isto explicaria a m odificação so-

— 213 —

(170-a) Na Bíblia temos muitos exemplos de a p a r i­ções corpflrens-reais, como: Aparlçilo do anjo a Tobias, dos anjos à s 660 pessoas logo apôs a A scensio de Cristo, S. Gabriel a M aria SS., etc.

(171) LUCIEN ROURE, In Cnthollc Encyclopedlo, New York, sub voce Vlalon.

(171-a) B a ltaza r viu t r í s dedos de um a mâo invisível, escrevendo na parede as palavras Mané. Tocel, Farés. Cf. Daniel, 5:20. ̂ (17£) SANTO TOMAZ DE AQUINO — »ummn Theol.

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m ática do médium, inclusive a dim inuição do peso.

b) 0 demônio toma matéria orgânica fo ­ra do m édium , o que Santo Tomaz exprimiu com a expressão “condensação atm osférica.” É a hipótese que está mais dç acordo com a natureza decaida do demônio e o respeito de­vido à pessoa hum ana do m édium . Neste ca­so, o m édium é com pletamente alheio à ma­terialização. O demônio não precisa do or­ganism o do m édium .

Não obstante isto, a presença do m édium continua necessária.

O demônio fez crer, a seu adeptos, que o espírito só pode agir, ajudado por um m édium . Convenceu-os de que o m édium empresta fluido ao espírito e é por isso que cai em transe.

É para fazer acreditar tudo isso, que o demônio teria, então, dim inuido o peso físi­co do m édium , durante as operações. O demô­nio, com efeito, para materializar-se, no caso da segunda hipótese por nós estabelecida, não precisa de matéria orgânica do m édium . Nem este poderia perder quase metade de seu peso, sem sofer desequilíbrio molecular. Uma pessoa que, num instante, perdesse vin­te ou m ais kilos de peso, morreria de inibi­ção. Logo, — conclusão forçada, — a perda de peso seria só aparente e não real, seria só na balança e não no corpo. É facil ao de­m ônio temperar as conchas ou os braços de uma balança, e fazer aparecer o peso, para m ais ou para menos, que bem lhe aprouver.

Neste caso, o transe ou êxtase m ediúnico

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seria consequência da presença ou da visão do demônio, e não condição prévia para ela. O m édium , ante a presença do Malvado, so­fre forte abalo no seu psiquism o e, em segui­da, cai em transe.

A presença do m édium , portanto, disse­mos atrás, continua necessária ainda nos ca­sos em que o demônio age por si. Porque es­tes casos, que são rarissimos, acreditam os outros casos, — cotidianos e costumeiros, — em que o m édium age sozinho, e em que o de­mônio não está presente fisicam ente, como veremos daqui a pouco.

Observações.

1.°) O demônio fez crer ainda, a seus adeptos, que, nas materializações, se alguem tocar nestas, pode prejudicar a saude do m é­dium , pode, até, causar-lhe a morte. (173).

“ . . .o neófito, para apanhar o embuste, co­meteria erros graves, que poderiam, até. acarretar a mortç do sensitivo.” (174).

O demônio não quer que alguem tente des­mascarar as fraudes, porque estas tambem fazem parte do plano diabólico. Daí a proi­bição de se tocar nas m aterializações. Puro engano. Seja o fantasm a m aterializado real, ou não, não tem nenhuma ligação fisica com o corpo do m édium . Não se cita nenhum caso de m édium que m orresse em sessão, em vir­tude da infração deste preceito, embora, al-

(173) IMBASSAHY, “O E rp lrillsm o à luz doa Fntoa”, pg. 180. (174) Id„ lbldem, pg. 109.

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gumas vezes, houvesse desabusados que ten­taram segurar as m aterializações. Quando muito, alguma dor de cabeça, efeito do desaponto.

2.°) Dizem tambem que a boa saude do m édium ajuda os fenôm enos, e a saude má os prejudica: Le m edium doit être en bonne santé, — é regra de Geleij. (175).

Tudo isso, embuste de Satanaz. Tais im ­posições rituais tem por fim , justamente, fa ­zer crer que os fenôm enos dependem do m é­dium . A instituição do m édium era util e ne­cessária à Nova Religião c, por isso, Sata­naz tudo fez para tornar indispensável, ao m enos no conceito de seus sequazes, a presen­ça do chamado sensitivo.

B — O m édium é, as mais das vezes, pes­soa por m eio da qual o demônio opera fenô­m enos transcendentais.

Queremos dizer que aqui o demônio não intervem pessoalm ente. Fica de longe, ou es­tá ausente, mas o m édium o representa, e o m édium que aqui opera é o mesmo que apa­receu, como condição sine qua non, nos casos verdadeiramente supranormais. Por conse­guinte, os fenôm enos praticados aqui pelo m édium , sem o deçmônio, são atribuídos à mesma causa que os fenôm enos praticados ali, pelo demônio, na presença do m édium .

(175) Apud CARLOS IMBASSAHY — “O E spiritism o à Inz dos Futoa”, pgs. 1S2 e 186.

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Por conseguinte, o m édium é pessoa que, devido à sua constituição fisiológica especial, produz fenôm enos sem recurso a um poder fora da natureza. Esses fenôm enos não são propriamente transcendentais. São, todavia, anorm ais. porque são atos da psicologia anormal. Esse ponto deve ser explicado:

Em casos psicológicos anormais, dá-se, no homem, a dissolução dos psiquismos. (176) O psiquism o superior, dissociado, anu­la-se, e o psiquism o inferior passa a dirigir sozinho os atos mentais. Então, o homem faz, inconcientem ente, coisas que nunca poderia fazer no estado de conciência, ou que só faria im perfeitam ente. R esolve problemas mate­máticos, compõe músicas inspiradas, faz poe­sias admiraveis.

Devido à dissociação dos psiquism os, em estado de sonambulismo natural, Fartini com pôs a sua sonata “Diabo", La Fontaine a sua poesia “Les denx P igeons” e Voltaire m o­dificou todo um canto da sua Henriade. (177) Em sonam bulism o mediúnico, A ndrew Jack- son D avis ditou o seu livro “The Principies of N ature” (1847), que é todo feito de remi­niscências de Swendenborg. (178)

Em consequência da dissociação dos psi­quismos, o homem age por instinto, e é sabi­do como o instinto é, muitas vezes, mais sábio do que a inteligência. É neste caso de psiquis-

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(176) Cf. GRASSET — Iiléea Médlcnlea, de pas. 1 a 27.(177) GRASSET, Ibidem, PS. 5.(178) Cnthollo Uncyclopedla — New Y ork — s. voe.

BpIrltUm.

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m o inferior dirigindo o homem , que as idéias e os sentimentos, até então em repouso no subconciente, vem para o plano da frente e passam a governar o homem. O subconcien- te, plano inferior da conciência. “ andar-ter- reo” da mentalidade, foi reconhecido pelos antigos neo-platônicos e, .ultimamente, reto­mado por Freud e seus discípulos. (179)

A dissociação dos psiquism os se dá em vários casos, sendo, umas vezes, parcial, e, ou­tras vezes, total. É parcial em estados men­tais de anorm alidade não aguda, como em certos delírios febris, e em mom entos em que o sujeito não se esforça por unir os dois psi­quismos, — por exemplo, na distração, na abs­tração, na atenção intensamente dirigida para um dado assunto. Foi assim que Napoleão, no fragor da batalha de W agran, desceu do ca­valo e, esquecido do mom ento, se pôs a co­lher flores distraidamente. (180) É total, so­bretudo, no SONAMBULISMO, quer natural, quer artificial. O Sonam bulism o artificial é o que se chama, em linguagem técnica, hipnose.

(17D) Foi P a trick Genron, cremos nós, quem prim ei­ro notou que a doutrina do subconciente Já tinha sido exposta por Santo A gostinho e outros. Disse Santo Agos-

“E n tro nos vastos domínios e nos vastos palácios de minha memória onde estão os tesouros de Infinitas Im­pressões traz idas por objetos sensíveis de toda espécie. AI dormem todas as reflexões feitas por nós: todo desen­volvim ento, toda redução, toda m odificação das coisas que os sentidos a ting iram e que o esquecim ento a inda não nhsorven nem sepultou”. Confissões, llv. 10, c. 8. S. Ber­nardo, em T ratado da Concléncla, c. I. diz a mesma coi­sa. Portan to , só o nome de subconciente ê que é novi­dade. E mesmo quanto ao nome não há completo acordo en tre os modernos. Myers p referia dizer enb-Umlnal. Cf. PATRICK J. GEARON — Le Sptrltlsm e. 9a r*IU K e, — pg. 97-98.

(180) Apud GRASSET, op. clt., pg. 7.

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Ora, ninguém ignora que o transe é uma hipnose. É, muitas vezes, hipnose espontânea, devida à constituição mórbida do sujeito, c, outras vezes, provocada. Quando o m édium custa a cair espontaneam ente em hipnose, es­ta lhe é imposta ou provocada; depois diso- so, cairá espontaneam ente nela, desde que concorram as mesm as circunstâncias que cer­caram o primeiro transe: expectativa dos pre­sentes, silêncio, luz apoucada ou luz verm e­lha, música, religiosa ou profana, etc. Então, ou quase sempre, o transe é uma AUTO-HIP- NOSE.

Um dos diretórios de sessões espiritas, que temos em mão, consagra capítulo inteiro ao Sonam bulism o. É daí que colhem os estas preciosas confissões:

“E' de máxima Importância, pois, que as faculda­des mediúnicas de qualquer pessoa se.jam elevadas sempre, constantemente, para a mais a lta esfera da força psíquica por meio do sonambulismo.

“Daqui resulta que é de grande vantagem para os círculos espiritas procurarem transportar para o estado sonâmbulico, não só o médium, como tantas pessoas, quantas seja possível’’. (181).

“O hipnotismo tambem oferece vantagem para o desenvolvimento da mediunidade, pois que, como no magnetismo, tambem pode o sonambulismo elevar-se, por meio dele, ao seu mais alto g rau”.

“Dal se çonclue que é de máxima importância a

(181) HANS HA RN OLD — SessSes E spirito» — T rad da E m presa Ed. "O Pensam ento”. S. Paulo, 1938. Pg. 30 e seguintes.

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existência de um magnetizador ou de um hipnotizador, nos cfrculos espiritas em formação”. (182).

O m ais erudito dos espiritas brasileiros, Carlos Im bassahy, tambem identifica transe com hipnose; diz ele:

"O transe vai do simples desprendimento ao so­no profundo. E ’ nos graus adiantados da hipnose, e com sujeitos especiais que se verificam, em via de re­gra, os bons fatos espiritas.” (183)

Portanto, conhecidas as m aravilhas da PSICOLOGIA ANORMAL, e sabendo-se que esta é que governa e domina as sessões espiri­tas, nada de admirar que se deem, nessas sessões, casos assombrosos de telepatia, de psicometria, de televisão, de memória regres­siva, etc. As idéias sub-concientes dominam todo o âmbito da vida mental. E disto temos exem plos fartos e comprobantes.

Heleno Smith, o médium do prof. Flomnoy, com­põe, em transe, toda uma curiosa linguagem, que atri- bue aos habitantes do planeta Marte. Essa linguagem, entretanto, nada mais é do que um francês transfor­mado.

Helena lera, em tempos idos, uma antiga histó­ria da índia, escrita por Marlès, em 1822. (184). Isto lhe inspirou, em transe, um complicado romance so­bre a princesa Simandlnl, que fora esposa de Sivronka Nayaka, príncipe de Kanara, em 1400 de nossa era. Como fizera a respeito dos marcianos, Helena atribue

(182) Idom, ibidem, p*. 38.(183) CARLOS IMBASSAHY — “O E aplrltlam o A lua

do» Fa toa” — Pa. 234.(184) MARLÉS — H U tolre de l'Inde Anelcnne — P a ­

ris, 1828.

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aos Indús uma linguagem difícil e incompreensível, o que bem prova a intrujice de um médium espirita, pois é sabido que todas as línguas da índia, ainda a3 mais remotas, são bastante conhecidas dos filólogos modernos.

Tendo na mente, em estado de vigília, à crença da reencarnação, vários m édiuns hip­notizados criaram rom ances relativos a suas “pretendidas” existências passadas.

Foi assim que Mndnnie J., hipnotizada pelo coro­nel Albert do Rochas, descreveu dez vidas anteriores “que ela teria vivido''. Helena Smitli, tambem, hipno­tizada por Flournoy, diz ter sido primeiro a princesa Simnndini, no século XV, e, depois, Maria Antonicla, no século XVIII, e, fantasiosa, refore coisas interes­santíssimas que se teriam dado nesses tempos idos.

Estes, como todos os casos de regressão da m em ória, observados pelos hipnotizadores Marata, Bouvier e tíertrand, nada m ais são do que criações que o sub-conciente arqui­teta com elementos confusos, armazenados no estado de vigília.

Queiram ou não os espiritas, o sub-con- eiente, posto em atividade durante o tempo dc dissociação dos psiquism os, dá a chave de quase todos os fenôm enos subjetivos. Explica muitos casos tidos por assombrosos pelos lei­gos em psicologia anormal. Esses casos, se fos­sem realizados por um Santo, não poderiam, hoje-em-dia, ser tidos como m ilagícs; se fos­sem, tambem, realizados por uma pessoa qualquer fora de uma sessão espirita, seriam anormais, mas não supranormais. Praticados, porem, numa sessão espirita, tem ligação m o­

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ral com os fenôm enos transcendentais que aí, por ventura, se praticaram em outras oca­siões.

0 m édium , portanto, não passa de uma pessoa de psicologia anormal, pessoa que, pe­lo hábito ou por estado mórbido congênito, fa­cilmente dissocia os seus dois psiquism os. Quando em transe, isto é, quando caido em auto-hipnose, o m édium é um cérebro per­meável aos pensamentos dos presentes. Lê nos pensamentos. O demônio não está pre­sente fisicam ente, nem isto lhe é necessário, porque ele tem o seu representante-capaz, — o m édium .

Os próprios autores espiritas notaram que a chamada m ediunidade pode ser, m ui­tas vezes, estado m ental natural. É de Léon D enis:

“Em certos casos, vê-se aparecer em nós um ser muito diferente do ser normal, possuindo não apenas conhecimentos e aptidões mais estensas que as da per­sonalidade comum, mas, alem disso, dotado de mo­dos de percepção mais poderosos e variados. . . ”

“Cumpre fazer bem a distinção entre esses casos e os fenômenos de “Incorporação de defuntos”. (1S6).

A literatura espirita está cheia de episó­dios interessantes, — maravilhosos para um espirita, porem naturais para um psicólogo moderno. Este caso, por exem plo:

Hodgson, australiano, tendo sido noivo de uma moça com quem não pudera casar-se, vai para a Ingla-

(185) LÊON DENIS — Le Problém e de 1’Ê tre e t de la D eatlnée, citado por Im bassahy, o Eaplrltlam o. pg. 388-389.

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— 223 —terra. Um dia, em sessão espirita, a senhora Piper, em transe, lê na mente de Hodgson toda a história de sou antigo noivado. O interessante é que, contan­do essa história, P iper se julga em comunicação com a própria noiva de Hodgson, e dos relatos não consta certo que essa noiva já houvesse falecido. Mesmo, po­rem, que esta últim a hipótese se houvesse realizado, a presença de Hodgson na sessão é suficiente para ex­plicar a leitura de seus sentimentos pelo médium hipnotizado. (186).

Observação.

É com um ouvir-se falar em m édium fo r­te, em bom m édium , ele. D e-fato, os m édiuns não são todos iguais. Quanto m ais facilm en­te puder um m édium dissociar os seus psi­quismos, e quanto mais profundam ente cair na hipnose, tanto m elhor m édium e mais for­te será, porque realizará fenôm enos mais es­tupendos e com m ais prontidão.

Tambem na hipótese da intervenção do demônio nos fenôm enos, ainda é exata a ex­pressão m édium forte ou fraco. O demôuio tem os seus m édiuns prediletos, — os m ais sensitivos, — os que se lhe entregam sem re­serva nenhuma, mesmo sem terem conciên- cia disso. Esses são os bons m édiuns.

Já que identificam os o transe com a hi­pnose, e dissemos que ele não passa de uma auto-hipnose, cumpre digamos algo sobre o HIPNOTISMO.

(ISO CARRINGTON — The llU to ry of Paychlc Scien­ce, citado por Im bassay.

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Por hipnotism o ou hipnose entendemos um “sono nervoso induzido por meios artifi- ficiais e externos.” (187)

Atribuem -se-lhe dois gêneros de efeitos: A ltos e com uns; os primeiros constituem o HIPNOTISMO TAUMATURGO e parecem re­querer um autor preternatural; entre eles es­taria a xisão à distância, a autoscopia e a lie- teroscopia (ver os orgãos internos próprios ou alheios), a visão através de corpos opacos, a epigaslria ou transposição dos sentidos, co­mo ver com o ventre, ouvir com as mãos. Os efeitos comuns constituem o HIPNOTISMO FISIOLÓGICO e parecem não exceder as for­ças naturais: obediência total, halucinação, so­no hipnótico, etc.

O hipnotism o foi estudado por dois gru­pos de sábios: a Escola de Paris ou de La Sal- pêtrière, chefiada por Charcot, e a Escola de Nancy, chefiada por Bernheim.

Não confundamos Magnetismo com Hi­pnotismo.

O primeiro adm ite que o sono é provoca­do por um flu ido humano, que sai do corpo do agente e penetra no cérebro do paciente. E’ tambem chamado m agnetism o animal, zoo- m agnetism o ou m esm erism o. (188)

O segundo ensina que o sono induzido por sugestão ou auto-sugestão. Leva tambem

(187) SURBLED, In Cntholic Encyclopedia, a rt. Hyp.(188) Zoomagnetlsnio, do gr. zoon, — .mimai. Mcxmc-

rlsrao 0 derivado do nome próprio Mcsmer. F ranz Mcs- mor, au to r dn teoria do magnetismo, nasceu em 1733, cm Viena, A ustria. Morreu em 1815.

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o nome de neuro-hipnotism o ou braidis- m o. (189)

Já os antigos conheceram os fenôm enos principais do hipnotismo. A cris talo m aneia nada mais era do que o hipnotismo praticado m ediante a visão atenta de um copo de cris­tal. 0 livro do Gênese se refere a uma taça de cristal que servia para augúrios (190)

O magnestism o ou mesm erism o parece destituído de base cientifica e está hoje aban­donado. A existência do flu ido anim al não foi ainda demonstrada.

O hipnotismo admite três fases:Letargia, — sono profundo, im obilidade;

Catálepsia, — inflexibilidade do corpo, rigi­dez muscular; e Sonam bulism o, — vigilia aparente.

O sonambulismo, a que reduzimos o tran­se, de acordo, aliás, com a própria confissão dos espiritas, é uma vigília aparente. O su­jeito anda, fala, opera, — tudo sob o im pé­rio do hignotizador. E’ um autôm ato. Um vi­sionário. Vê com os olhos fechados. Vê, entre m uitas pessoas, apenas aquela ou aquelas que o hipnotizador quiser.

O hipnotism o é um caldo de cultura apto para todos os fenôm enos da PSICOLOGIA

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ANORMAL. É. sobretudo, o clim a natural da TELEPATIA. Já vim os, com efeito, que a te­lepatia experim ental, ate aqui, só deu resul­tado quando praticada com hipnotizados, is­to é, com m édiuns em transe. Os casos de icom zação (francês: E nvoûtem ent), (191) de psicom etria, de exteriorização da sensibilida­de, — demonstrados pelo cel. De Rochas e por outros, só o foram em pacieutes hipnotiza­dos, e isto evidencia o poder estranho que há no hipnotismo.

Iuutil querermos compreender a natureza- za intim a do hipnotismo. P atrick tíearon con­fessa que, mesmo sem ter nada de diabólico, o hipnotismo constitue ainda hoje um m isté­rio. (192)

“O sono nervoso, com os ostranlios e múltiplos fenômenos que o acompanham, não é compreendido à luz de nossos atuais conhecimentos”.

Surblcd acrescenta: “E ’ prática perigosa, senão moralmente detestável. Todavia, a Igreja, sempre pru­dente nos seus julgamentos, só condena os abusos do hipnotismo, deixando caminho aberto para as pesqui­sas cientificas. (193).

O HIPNOTISMO FISIOLÓGICO, portan­to, conquanto seja fenôm eno natural e nada tenha de diabólico, c o maior e o mais eficaz auxiliar do espiritism o. Graças ao liipnotis-

(191) Envoûtem ent, cm francês, 6 a tran sfe rência da sensibilidade de uma pessoa para a sua Imngem, em cera, geralm ente pa ra Intuitos maléficos. Criamos, pa ra esta noção, o term o grego Iconlznçüo, de leon, — Imagem. E n­voûter, — Iconlzar.

(192) PATRICK GEARON, opus cltatum , pg. 10S.(193) SURBLED, ln Cotholic E ncyclopedla. — New

York, s. v. U vpnotlam.

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mo, — provocado coletivam ente nas sessões, — estas se enchem de fantasmas, de espíritos, de ectoplasm as, e se ambientam de nervosis- mos e “presenças” fantásticas.

Graças a ele, a telepatia aí reina. Graças a ele o DESDOBRAMENTO DA PERSONALI­DADE do m édium e dos assistentes faz pro­dígios.

Em todas as personificações que se di­zem aparecer nas sessões, já M axwell acredi­tava encontrar a m entalidade do m édium e da assem bléia, ou as suas conciências, amal­gamadas e intercompcnetradas, — graças à hipnose coletiva c frequente ” (194)

Até aqui temos estudado duas hipóteses relativas à instituição do m éd iu m : a) Uma em que o médium é pessoa c/n presença da qual o demônio opera fenôm enos supranor- m ais; b) outra em que o médium é pessoa por m eio da qual o demônio opera os mesmos fenôm enos.

Tanto numa hipótese como na outra, o médium-pessoa pode ser substituído por uma Mesa. Então, a mesa é que é o m édium .

Faraday (1853) e G arpenler foram os pri­meiros que se lembraram de explicar o fenô­meno das m esas girantes pelos movimentos musculares inconcientes (m uscular action), movimentos provindos do m édium e das pes­soas que tomam parte na operação. (195) Es­ta teoria conquistou terreno em meios cien-

(194) LUCIEN ROURE — Le Merveilleux Splrlte — pg. 193.

(195) Cnthollc Encyclopedlo» New-York, art. Splrltlam.

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tíficos. Mas hoje é tida como insuficiente pa­ra explicar os com plicados fenôm enos da me­sa. Observa Lucien Ronre:

“Enquanto os movimentos só eram obtidos me­diante contacto, tínhamos o direito de explicá-los pe­la teoria dos movimentos inconcientes. Hoje, tal teo­ria já não pode ser considerada como suficiente, e é claro que, no caso das mesas girantes, intervem fre­quentemente uma força ainda mal definida”. (196).

Para nós, que não temos medo de expres­sar alto o nosso pensamento, essa força está bem definida. Com efeito, é sabido que, m ui­tas vezes, a mesa dá oráculos, até em língua estrangeira, sem a presença do m édium -pes- soa, mas apenas suscitada pela “ corrente” das m ãos dos crentes. Portanto, ou diremos que todos os presentes são m édiuns ou que o m édium é a mesa. E’ verdade que quase to­dos os médiuns operam com mesa. mas há casos cm que dispensam a mesa, e, vice-ver­sa, a mesa pode operar sem a presença de um m édium .

Allan Iíardec tentou resolver uma dúvi­da que ocorre a muitos autores católicos: “Por que mesa e não outro m ovei qualquer, por exem plo, um banco, uma canastra? E por que mesa de m adeira e não de outra ma­téria, por exem plo, pedra, m etal?”

“E’ porque, — diz ele, — a mesa, e m e­sa de m adeira, é o movei mais comum, que nunca falta, nem mesmo numa casa de gente pobre. Assim, sempre haveria facilidade, pa-

(196) LUCIEN ROUHE — Le M erveilleux Splrlte — pg. 105.

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ra todos, dc se porem em com unicação com o Astral.”

Isto, porem, observou aquele corifeu, não obsta a que se possam obter fenôm enos com uma mesa de metal, ou com um banco de pe­dra, como aconteceu com ele mesmo no w so da cesta.

O seguinte episódio da vida de Eusápia Palladino é referido por escritores espiritas. Não lhe garantimos a autenticidade, mas, se tiver sido real, prova duas coisas: que não é só com mesas de madeira que se obtem fenô­menos, e que o autor destes é um espirito mau.

“Sucedeu, então, um fato extraordinário. Em pleno dia, viram todos, na sala, duas longas linhas de matéria branca sairem das mãos de Eusápia, e es­tenderem-se até alcançarem a mesa. Quando as linhas esbranquiçadas tocaram a mesa, esta começou a balan­çar. Era uma mesa grande, pesadíssima, formada a parte superior de uma só peça de mármore de Car- rara.

“A princípio, mexeu-se fracamente, depois rapi­damente; e, com espanto geral, parecia impelida, por força irresistível, na direção do major Davis.

“Palladino não se movera da posição que toma­ra, no centro da sala: estava ali como uma estátua, suas mãos estendidas na direção da mesa, porem com uma expressão vaga nos olhos, como se não a inte­ressasse o que se estava passando.

“A mesa aproximou-se rapidamente do major I)nvis. Este ainda estava soprando as fumaças de seu enorme charuto, com uma expressão de incredulidade estampada no rosto. A extremidade da mesa alcan- çou-o e começou a imprensá-lo de encontro a uma

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outra mesá de carvalho, que estava atrás dele. O ma­jor Davls não se deixava vencer facilmente. Lutou enquanto pode para livrar-se da pressão, a té que pediu socorro. Sir Fletcher Moulton, — o eminente advogado e eu, — diz Cheiro; — fomos em seu auxi­lio. Esforçamo-nos por afastar a mesa, foi tudo lnuttl. Chamamos, então, quatro criados, homens fortes, des­temidos; eles lançaram-se & tarefa, porem a pressão contra o m ajor se tornava cada vez mais forte.

"Não sabemos o que teria acontecido, — conclue o professor Cheiro, — se eu não tivesse agarrado En- sápla, e, arrastando a fragil figura, não a colocasse entre a mesa e o major. Ela parecia estar em transe, porem, desde que pfls as mãos no movei, começou a operar-se uma ação reversa: a mesa entrou a mover- se vagarosamente para trás, até que alcançou o pon- ío em que estava antes, e a l parou”. (197).

Quanto a nós, achamos que o demônio escolhe, d e preferência, mesa de m adeira, pe­la mesma razão por que escolheu o m édium - pessoa, a saber:

Pode ser que a mesa de madeira produ­za efeitos que não excedam as forças natu­rais. Pode ser que os raps seiam , portanto, provocados pelo fluido dos “correnteiros”, através das m oléculas da mesa, fluido esse que seria o hipotético flu ido hum ano, ainda não identificado. Nesse caso, ela reproduzirá o que está no sub-conciente dos ou de alguns dos presentes

Fenôm eno natural, portanto.Mas, para acreditar este fenôm eno na­

do? 1 Prof. CHEIRO — Mynterlea nnd Romnnpca nf the W orld’» Grcr.(e„t Occultists, L lghí, 21-2-36. Citado DOr Im bassahy, pg. 338-339.

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tural e dar-lhe as aparências de preter-na- tnralidade, para fazê-lo seu, o demônio inter­vem algumas vezes, e assim fica parecendo que a mesa é sempre um norta-voz do Alem. — tanto nos casos raríssimos de fenôm enos transcendentais, — como nos casos, corriquei­ros, que parece não excederem as forças na­turais.

Portanto, o pedir oráculos às mesas, con­quanto seja prática antiquíssim a, já do tem­po de Tertuliano, é um culto diabólico, mero capítulo da necromância.

&

CONCLUSÃO.

Há, no Espiritismo, fenôm enos anormais reais. Desses fenôm enos, alguns, — pouquís­simos. — são supranorm ais. Quer dizer que excedem as forças naturais conhecidas e as “possibilidades m esm as” dessas forças. A na­tureza fisica não os explica, nem os explicará iamais. Portanto, como repugna apelar para Deus e os Anjos, e como as almas não podem intervir, força é admitir a intervenção diabó­lica. Esta intervenção não é apenas uma hi­pótese, como querem alguns (198), mas, em nossa opinião, um fato positivo, demonstrá­vel e demonstrado.

Os outros fenôm enos anormais, — num e­rosíssimos e quase cotidianos, — não são su­pranormais. Pertencem ao terreno da Psico-

(108) Pc. H EREDIA « todos os do sua escola,

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logia Anorm al e explicam -se naturalmente. Mas, — realizados no E spiritism o, — tem co­nexão com os supranormais ou diabólicos e, por isso, são aproveitados pelo demônio e ser­vem a seus desígnios.

PORTANTO, O ESPIRITISMO É SEM­PRE DIABÓLICO, já que o DEMÔNIO IN­TERVEM NELE. — raras vezes, fisicam ente, e nas restantes vezes, m oralm ente.

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CAPÍTULO V

SINAIS DIABÓLICOS QUE OS FENÔMENOS ESPIRITAS APRESENTAM, E A AÇÃO DIABÓLICA ATRAVÉS DOS TEMPOS

A. - Sinais diabólicos dos fenôm enos es­p iritas.

Entre as manifestações divinas c as dia­bólicas vai tanta diferença como entre a luz e as trevas. Deus é o Criador, infinitam ente sábio, verdadeiro, justo, santo e poderoso. O contrário de tudo isso c o demônio, o anjo prevaricador, criatura rebelde e em pederni­da, astuto, mentiroso e hispócrita, alem de toda imaginação, inim igo im placavel de Deus e dos homens. É evidente que tudo o que faz, deve espelhar a origem, a perversidade c in ­capacidade diabólica.

Pelos frutos se conhece a árvore. Vale dizer que o fruto traz a marca de seu prin­cípio causal. Quem estudar os prpeessos e os resultados do espiritismo, não terá nenhuma dúvida quanto ao princípio causal dos fenô­menos reais, que por ventura se apurem em toda a feitiçaria moderna. Os processos: mentira, embuste, perfídia, astúcia, ação nas

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trevas. Resultados: loucura, nervosismo, ob- cecação, ódio contra a Igreja Católica. Tudo isso denuncia um autor m oral crue há-de ser o m esm o autor físico dos fenôm enos espi­ritas.

Alem disso, as obras do demônio trazem outras marcas que servem para identificar, sem receio de errar, o autor fisico dos fenô­menos. Citemos alguns sinais da ação dia­bólica.

1.° Prodígios e não m ilagres. Como é sabi­do, só Deus pode operar verdadeiros m ila­gres: mas esse poder, exclusivo da D ivinda­de, Deus costuma delegá-lo a seus hum ildes servidores; nunca, porem, a seus inimigos. O demônio bem o sabe, e consola-se de sua im ­potência. im itando os m ilagres com tal prodi­giosa habilidade que chega a enganar os pro­fanos. Mas os “prodígios” diabólicos não pas­sam de sim ples contrafacções dos milagres divinos, c, se nos causam admiração, é por ignorarmos as forças escondidas da natureza e a dos próprios anjos decaidos, — força do Mundo Invisivel.

Como distinguir o m ilagre divino do prodígio diabólico?

Pela causa instrumental, nelo processo e pela cstensão da força expendida.

A causa instrum ental do m ilagre é, em geral, pessoa de costumes puros. É um Santo, conform e o termo consagrado pelo . uso. A causa instrumental dos prodígios, — e tais são os m édiuns, no caso vertente, — pode ser um velhaco qualquer, ou qualquer indivíduo de maus costumes. Os próprios autores espiritas.

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— Kard.ec, Richet, F lam m arion, Imbassahij e outros. — confessam que os m édiuns, na im ­possibilidade de produzirem verdadeiros fe ­nômenos. lançam mão da fraude: são trapa- cpiros. pois. E, conforme disse Imbassahij, não raro são rivais uns dos outros. Injuriam- se. São ciumentos. (199).

O processo do milamre é sim nles: haven­do necessidade. — m anifestação do poder di­vino. glorificação do nome de Deus, prova da origem de uma m issão celeste, — o Santo invoca o nome de Deus, e faz o m ilagre em nome de Deus. Nunca em seu próprio nome. Tampouco procura as trevas. Nem ambiente sim pático. Nem circulo de ooucas pessoas. 0 Santo não alardeia poder. Muitas vezes, nem dá pelo milagre. S. João Bosco, conforme nos contou o Pe. João Scotti, de Itamonte, distri­buiu uma cesta de avelãs, — (umas vinte ave­lãs), a trezentos alunos, dando uma avelã a cada um. O Santo fez uma m ultiplicação de frutas e nem percebeu o milagre. Foi o Pe. João Scotti, então aluno,quem chamou a aten­ção ao fato.

Nada disso se verifica nos prodígios. Pri­meiro, o m édium não atribue o “ fato” a Deus; não opera “ em nom e” de Deus; evita a luz. Seja ou não praticado no espiritismo, o pro- digio diabólico é sempre espetaculoso. O “ins­trum ento” prepara o terreno. Chama a aten-

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rimentais de “prodígios”, — como fez Simão Mago e como fazem os m édiuns atuais.

Estensão da força. O poder do demônio é limitado. Deus, — criador das forças, — po­de suprim ir a força natural, pode suspendê- la. Pode criar forças novas e contrárias. Deus só não pode fazer o que é “contraditório” : um circulo quadrado, por exemplo. Quanto ao demônio, este só pode servir-se das forças naturais existentes. E assim, o “prodígio” nun­ca atingirá a estensão de um milagre: o de­mônio não poderá nunca ressuscitar um mor­to, nem fazer que o fogo não queime.

O demônio pode “ transformar”, mas não pode “ transsubslanciar”. Pode, por ex., trans­form ar uma estátua de Júpiter em estátua de Venus, mas não pode “m udar" uma está­tua de m adeira em estátua de pedra. Não po­de “m udar” água em vinho, como fez Cristo em Caná. Leiamos o texto sagrado:

“A arão , pegando na v a ra , e s tendeu a m ão e fe­r iu o pó da te rra , e os m osqu ito s ca iran i sob re os ho­m ens e sob re os a n im a is ; todo o pó d a t e r r a se con­v e rte u cm m o squ ito s p o r to d a a te n -a do E g ito . E os m agos fize ram se m elb an te m e n te com seus encan ­ta m en to s p a ra p ro d u zir m osquitos, e não p u d e ra m . . . E n tã o os m agos d isse ram a F a ra ó : O dedo d e D eus e s tá a q u i”, (ftxodo, 8 :1G -19). (2 0 0 ).

Vê-se, pois, que os magos, agentes do de­mônio, puderam imitar as duas primeiras pragas, mas não puderam imitar as outras,

(200) A tradução do João de Almeida traz “piolho”, em vez de “m osquito”.

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embora o tentassem. Isto prova que o poder do demônio é limitado.

2.° - A ação divina é marcada pelo ca- rater de seriedade e de sobriedade. “Não ten­tarás ao Senhor teu D eus.” Por isso, o m ila­gre é raríssimo. Deus só o faz quando há uti­lidade “ real”, c para ensino dos homens. E isto, quando não é mais possivel o recurso às forças naturais.

Dai, este outro característico da ação dia­bólica :

Quanto m ais insensato e, ao m esm o tem ­po, ridículo é o fenôm eno, tanto mais é cer­tam ente diabólico.

Nesta categoria devem entrar os inúm e­ros fenôm enos espiritas, que não tem motivo razoavcl dc se produzir, e que só servem para entreter curiosidades malsãs, como acontece com as mesas girantes, os raps, as m ateriali­zações.

3.° - llogism o e im oralidades. As ações di­vinas tem, entre si, uma ligação consequente. A sã razão e o respeito da ética presidem à sua realização. Deus é a suma verdade, digni­dade e santidade. O demônio é mentiroso, iló ­gico, indigno e imoral. Tudo o que vem de Deus ou do demônio deve trazer os caracte­rísticos de um e de outro.

Ora, o espiritismo é um amontoado de contradições e imoralidades. Se, pois, de se­melhante prática, nascem fenôm enos trans­cendentais, estes só podem ser produzidos pe­lo demônio.

4.® - A instantaneidade é um carater da ação divina. Exceto os casos em que Deus

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deixou a ação secundária ao encargo das cau­sas segundas, — geração, fecundação, frutifi­cação, evolução, etc., — sempre que Deus in­tervem na natureza visivel, é instantanea­mente.

As materializações angélicas são realiza­das sem perda de tempo. O anjo aparece a Maria e, em seguida, desaparece, suavemen­te, como se isso lhe fosse natural.

A ação do demônio, ao contrário, é, qua­se sempre, sujeita a condições embaraçosas, como vem os a cada passo. As m aterializações, obtidas pelo espiritismo produzem-se, fre­quentes vezes, gradativa, e tão lentamente, que Delaune cita um caso em que um homem não pode reconhecer a figura do espírito, da­do como de sua esposa, senão após a sessão quadragésim a terceira.

Bracket, de seu lado, refere ter visto, nu­ma sessão, um moço alto que se dizia irmão de uma dama presente. Tendo-lhe esta ob­servado: “ Como poderia eu reconhecê-lo, se só o conheci como criança?”, a figura dim i­nuiu logo paulatinam ente de talhe, até tor­nar-se o rapazito conhecido antigamente por essa dama.

Dir-se-ia que o demônio, para reconhe­cer a sua inferioridade, só tem o poder de se m anifestar gradativamente e como por saltos. Só assim se explicam as imprecisas m anifes­tações do Perverso.

5.° - A arma predileta do demônio é a mentira, o engano, o disfarce. Apresenta-se como anjo da luz e, o que apresenta, reveste-o com a aparência de verdade, de beneficência,

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de caridade, de consolo e até de ternura. Atrai, sobretudo, por m eio daquilo que lisonjeia os sentidos. Só assim consegue prender os ho­mens, firm á-los no seu serviço e arrastá-los, enfim , para o abismo. Escreve S. P a u lo :

“ Os seus falso s apósto lo s são o p e rá rio s e n g an a ­dores, que se t ra n s fig u ra m em apósto lo s de Cristo . O que não é de a m ira r : pois o p ró p rio S a tanaz se tr a n s ­f ig u ra em an jo de luz . P o r ta n to , não é g ran d e m a ra ­v ilh a se os seus m in istro s se tra n s fig u re m como m i­n is tro s da c a rid ad e ( ju s t iç a ) . O fim deles se rá con­form e a s su a s o b ras" . (2 0 1 ).

Usando de sua arma predileta, o demô­nio “substitue” a Deus a cada passo, e faz-se passar por ageute diviuo. Imita, grosseiramen­te, as obras divinas, o que fez a Santo Agosti­nho chamar-lhe o macaco de D eus: simius D ei. Para enganar, tenta im itar a Deus, tauto na ordem fisica, como na ordem espiritual; na ordem física, fazendo prodígios; na ordem espiritual, “inventando” os seus “santos.” E assim, trabalha por contrafazer as obras divi­nas, não só as externas, como os próprios dons internos e extraordinários. Quer ser um deus às avessas, a antítese de Cristo. Do m es­mo m odo que Deus tem os seus estigm atiza­dos e extáticos, Satanaz procura ter os seus, aos quais com unica dons perm anentes, e tão estupendos, que viriam a ser tidos como de

(201) “ Nam ejus pBeutlo-npoHtoll sunt opcrnrll Nubilo- II, tranHflKurantcs He In npoHtolOH ChrlKtl. Et non minimi Ipue cnim Sntnnnn triinHfigurnt He In nngelum InclH. Non out ergo magnum nl mlnlntrl ejaii trnnHflgnrentur velut mlnlHtrl JUHtltlnc: quorum flnl» erlt »eeundum opern Ipno- rum. (II aos Corlnttos, 11-14).

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Deus se, por fim , não acabassem sempre por denunciar a sua origem. É o que se verificou no exem plo seguinte:

Em m elados do século X V I falava-se , na E spa ­nha , quase só da v ida , das a u s te r ld a d es , revelações, êx tases o m ilag res de um a re lig io sa c larissa , c h am a­d a M adalena da C ruz. P rínc ipes, re is , b ispos a consu l­tavam sobro os negócios do seus e stados e de suas dioceBes.

R evelava -lhes segredos, a p a ren te m e n te im pene­tráv e is , descob ria -lhes a co n tec im en tos d is tan te s , e p red is se que F rancisco I e n tre g a r ia sua e spada a Pa- v la , e R om a se ria p ilh a d a pelos Im p eria is . Suas p re­dições e ra m aco m p a n h ad a s de prod íg io s q ue p rovoca­vam a d m iração , sem , todav ia , esc la recerem a s a lm as, nem fo rta le ce re m os corações. A m u ltidão , seduzida , não se c ansava de m a n lfe s ta r-lb e , de todos os m eios, a su a veneração .

N os d ias de gT andes fe stas , c a ia a f re ir a em êx ta ­se e e levava-se f re q u en tem e n te dois ou tr e s pés acim a do clião. Q uando la ii capela p a ra com ungar, a n te s de ap ro x im ar-se da s a n ta m esa, m o stra v a , tr iu n fa n te , nos láb ios, a h óstia , q ue a m ão de um a n jo , — diz ia ela, — h a v ia tira d o do sa ce rdo te p a ra traz e r-lh a .

T ais e ra m a s m a ra v ilh a s que ecoavam e n tão n a E sp a n h a e a lem . P a ssa ra m -se m u ito s anos sem que M adalena s e desm en tisse . Um sa n to relig ioso , pe rce ­bendo ne la, um d ia , um fundo de a m or p róp rio , pou­co com patível com a s a n tid a d e a p a ren te , a p e r to u -a com p e rg u n ta s . T ocada pe las exortações, lançou-se e la aos pés desse re lig ioso o, desfivelando a m ásca ra da h i­pocris ia, confessou , p a ra consternação ge ra l, que, por su a s a s tú c ia s sa c ríle g as & con ivôncias com o dem ônio, tin h a in d ig n a m e n te ilud ido a con fiança de todos os que se ap rox im avam dela.

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P re s ta ra -se , v o lu n ta r iam en te , à s seduções do es­p irito d a m e n tira . C riança a in d a , tin h a a ce itado , com d isc ern im e n to b a s ta n te , a s fa lsas v isões, a s a leg r ia s sensíveis que lhe p ropo rc io n a ra . M ocinha, tin h a a ss i­nado um pacto odioso, e e n tre g a ra corpo e a lm a a Satana(z, a -fim -de o b te r dele reve lações , o dom de p ro ­dígios , e a fo rça de ex ec u tar m acerações pavorosas.

E m c onsequência de su a s confissões, que fize ram es trem e ce r toda E sp a n h a , diz um h is to ria d o r , M ada­le n a foi conduzida p a ra fo ra d a c idade e, longe do convento que tin h a deshon rado , acabou os d ia s na pe­n itência . (2 0 2 ).

B - AÇÃO DIABÓLICA ATRAVÉS DOS TEMPOS. — RELAÇÃO DO ESPIRITIS­MO COM A NECROMÂNCIA E A MAGIA.

Como demonstramos, as almas dos mor­tos nada tem que ver com a fenom enologia es- pirítica, nem com as mensagens, nem eom as sessões. Se, pois, algo existir de real nos fenô­menos ou nas com unicações, isso se há-de atribuir ao espirito mau e não às almas. Ora, o comércio com as almas do outro mundo, antes do espiritismo moderno, chamava-se ne- crom ância; e o comércio com os espíritos, magia. Por isso, como o agente preterualural que aparece na necromância é o mesmo que aparece na m agia, vem o-nos na necessidade de identificar necrom ância e magia, — os dois sistemas de comércio com o outro mundo, que precederam o espiritismo.

A necrom ância pode reivindicar origens

(202) HistOrla dc Santa T eresa de Jesfis — Bolnndla- tns, 1285, PB. 145.

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antiquíssimas. 0 povo da Babilônia cria em espíritos que davam golpes. Os historiadores e filósofos, — Heródoto (484 antes de Cristo), Sócrates, Platão, A ristóteles e outros, — fa­lam de com unicações com as almas dos de­funtos. (203)

No cabo Tênaro, Calondas evocou a alma de Arquilau, que ele assassinara (204). Entre os romanos, Horácio alude à evocação das al­mas. (205)

Cicero afirm a que seu amigo Ápio prati­cava a necromància (206) e que Vatínio cha­m ava as almas do mundo inferior. O mesmo se diz de Druso (207), de Nero (208) e de Caracala; Sexto Pom peu consultou o má­gico Ericto, da Tessália, pará saber, dos mor­tos, o resultado da lula entre seu pai e Cesar. (209).

A Bíblia várias vezes m enciona a necro- mância, proibindo o seu uso, e censurando aqueles que a ela recorrem.

Os espíritos dos mortos, — pithones, na Vulgala, — eram consultados em ordem a predizerem o futuro, (210) e davam respos­tas por m eio de certas pessoas dentro das quais residiam (211), justamente como acon­tece no espiritismo moderno.

Nos primeiros séculos da era cristã, a pai-(203) POODT — Lon FenAmcno» Mlatcrloiioa dei PhI-

“(201) PLUTARCO — “ De ser» Nnmini» vlndle ín”, 17.(205) Q. FL. IIORÀCIO — SAtlrnis — I, 8. 25.(206) CÍCERO — T uhcuI. — quaest. I, 10.(207) TÁCITO — Annl* — II, 28.(208) SUETONIO, 24, e PLÍNIO SÊNIOR — IIlstArln

Nnt„ 30, 5.(209) DION CASSIO, 77, 15. LUCANO, FiimAUn, 6.(210) DenteronOmlo, 18:10 e I UelH, 28:8.(211) LEV1TICO, 20:27 e I Rela, 28:7.

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xão do m aravilhoso existia em todos os meios sociais. Apareceram seitas de iluminados que pretendiam com unicar-se com os mortos. Da m esma forma que nos antigos mistérios de Eleusis, tambem aqui a luxúria e a impudi- cícia se entremearam com as práticas evoca- doras dos espíritos. Os ginosofistas da índia, quase nus, entregavam-se à contemplação das belezas da natureza, realizando a evocação das almas por m eio de m esas falantes.

Tertuliano, século II, descreve cenas da magia de seu tempo, em termos tais, que bem lembram o espiritismo atual. Fala de fantas­m as (ou m aterializações), fala da evocação dos defuntos; fala do hipnotism o ou transe, isto é, sono provocado; fala da intervenção do dem ônio na adivinhação pelas mesas falan­tes: phanlasm ata e d a n t . . . defunctorum in- fam ant a n im a s ...; som nia im m ittu n t. . . ; m ensae (per daem ones) devinare consuerunt. (212).

A bruxaria subjuga o mundo durante a Idade-Média, até o século XVIII. N essas epi­demias de feitiçaria de salões, os maus espí­ritos desem penham o papel principal. No sé­culo XVIII, os maus espíritos encarnavam-se nos tremedores ou convulsivos de Cevennes, e inspiravam as penitentes do cemitério de |5. M edardo. (213) .

Se a necromância mascara todos os espí­ritos do outro mundo com o nome de almas dos mortos, o mesmo não sucede a respeito da m agia. O comércio desta é com os espíri-

(212) TERTULIANO — A pologctlcum. c. XIII.(213) Dr. POODT — Lo» Fenômenos, pg. 250.

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tos invisíveis, — bons ou maus, quaisquer que sejam; nunca diz que evoca almas dos mor­tos, mas sim espíritos independentes. É, a bem dizer, a religião de Satanaz, por antítese da Religião Divina. Os seus sacerdotes são os magos ou feiticeiros.

Já M axwell definiu a magia como sendo a sujeição da vontade a seres sobrenaturais(214)

Os filósofos de Alexandria admitiram duas espécies de magia: Goelia e Teurgia.(215).

Goetia é a magia malfeitora, cujos efei­tos são atribuídos aos demônios. Teurgia, a magia benfeitora, cujos efeitos se atribuem a gênios bons, amigos dos homens. A goetia era praticada, sobretudo, de noite, e por isso é ho­je conhecida com o nome de Magia Negra. A teurgia, em oposição a esla, é chamada Magia Branca.

A distinção entre espíritos bons e maus, na magia, é apenas teórica. Porque, mesmo os espiritos maus podem fazer um benefício atual, com vista a um mal remoto, mediato e real. Usando desta tática, os espiritos até revelam inteligência, como o fazem os ho­mens perversos neste mundo. O benefício é, apenas, um engodo, — isca para apanhar in­cautos. *

É dificil julgar da autenticidade de todos os documentos existentes sobre magia e ne-

(211) MAXWELL — Mngle, PB. 3.(215) Goetia. gr. eoete la, vem (lo gr. goí» (-éton) que

significa feiticeiro, — T eurg ia quer dizer nçfio divina, theoM, deus, e ergon, trabalho.

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cromância. Mais dificil ainda pronunciar-nos acerca da realidade de tantas aparições de almas do outro mundo, e de intervenções vi­síveis de demônio.

Na m cgia e na necromância há uma co­mo fam iliaridade entre este mundo c o ou­tro. Os magos tem o espiritual sob o seu poder.

Ninguém, de bom senso, acreditará nessa vizinhança dos dois mundos, e, muito menos, na facilidade com que os espíritos acodem ao chamado dos homens.

Todavia, algumas aparições de almas pa­recem inegáveis. Aparições há espontâneas e reais. A própria Escritura refere o caso da evocação da alma de Samuel, pela pitonisa de Endor.

Na vida dos santos da Igreja referem -se aparições de almas e de demônios. Muito co­nhecido é o caso que sucedeu a Santo Tomaz. Ele e seu amigo Reginaldo haviam combinado que o primeiro que morresse viria dar ao ou­tro inform ações sobre o mundo espiritual. Morto Reginaldo, este apareceu a Santo To­maz e entreteve com ele, em cumprimento do compromisso passado, uma rápida palestra so­bre o Céu.

Ainda mais. De tempos a tempos, há co­municações telepáticas, de natureza pouco de­finida, comuns entre um moribundo e seus amigos e parentes próximos. É ainda de nos­sos dias o que aconteceu com Monsenhor La- nyi, que tinha sido professor do Arquiduque da Áustria, assassinado em Serajevo, em 1913. Na manhã da tragédia, Mons. Lanyi viu, em

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sonho, todo o desenrolar dos acontecimentos e, ainda em sonho, recebeu uma carta em que D. Fernando, o príncipe assassinado, lhe co­m unicava os fatos lam entáveis. A carta era deste teor:

“ E m inência , eu vos anuncio que acabo d e ser, com m in h a m u lh e r, em C erajevo , v ítim a de um crlm o político.

“N ós nos recom endam os às vossas preces. Se ra je - vo, 23 de ju lh o de 1914, à s 4 h o ras da m a n h ã ” . (2 1 6 ).

EM CONCLUSÃO. — Admitimos que as almas se m anisfestam algum as vezes: espon- tâneam ente, porém , e só por m otivos que uni­cam ente Deus conhece.

E admitimos tambem a intromissão do demônio, neste mundo, através dos tempos. Não. porem, uma intromissão constante e vi- sivel.

O pretendido comércio ou fam iliaridade que alguns homens do passado teriam tido com o demônio, nasceu, em parte, da crendi­ce popular, e em parte, da esperteza e ambi­ção de alguns velhacos, que sem pre os houve. É im oossivel que o Doutor Fausto histórico do Médio-Evo. e Paracelso, e Nostradam us, c Cagliostro, e esse fantástico Hcinrich C om e­tia Agripa, de Nettesheim , e outros, tenham tido tantos colóquios com o demônio quan­tos lhes aprouve entreter.

Mas o que admitimos, à Juz da fé e da his­tória, é uma intromissão invisível permanen-

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(11*) niC U E T — “ T.’A v«i!r ei ln Prém onitlon". c ita ­do por Tmbassahy, pg. 491. O* jo rnais da época muito fa­laram do caso.

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te, de todos os instantes, e uma introm issão visivel, esporádica, uma vez que outra.

Quanto à introm issão invisível, isso é fa ­to incontroverso. As Sagradas Escrituras dão testemunho da guerra sem trégua que o de­mônio faz aos homens. Basta ler S. Pedro pa­ra se ter disto uma prova irrefragavel:

" Irm ã o s . Sedo sób rio s © e s ta i v ig ilan te s , po rque o (lcm ônio, vosso Inim igo, vos a ssed ia , à m a n e ira de leão fu rioso . A e le deveis re s is tir , fo rta le c id o s pe­la f é ”. ( I P e tr . 5 :8 ) .

A introm issão visivel, dissemos nós, é esporádica. É rara, mas existe. À luz da fé, ninguém duvidará do seguinte:

Que o demônio, servindo-se da serpente, apareceu visivelm ente a Adão e Eva no Pa­raíso. e mudou o curso da História da Huma­nidade. Assim, a serpente fo i o primeiro m é­dium que existiu no m undo; (217)

Que o demônio, intrometendo-se na scoi- sas humanas, foi o causador de toda a tra­gédia do Santo Jó: m atou-lhe os filhos, pér- deu-Ihe a fortuna, corrompeu-lhe a saude; (Jó, 1:6 e 12).

Que os m agos do Egito, por arte diabóli- lica. puderam imitar alguns milagres de Aarão, não todos: assim, po r encantamento, fizeram as águas do Nilo tornarem-se de san­gue e, logo depois, fizeram aparecer um gran­de numero de rãs que cobriram a terra. (218)

(217) A expressíio 6 do Pe. DUHAULT — Trnltó deH Démonn — na Introduqilo. Olisnrveinns que íi Btblla nflo fala, expressam ente. que a serpente 6 o demônio ou que este se serv ira da serpente. Mas todos os expositores, nnllrros r modernos, nsslm o entenderam .

(21S) Êxodo: 7:22 e 8:7.

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Que o diabo tentou apoderar-se do cor­po de Moisés (S. Judas, 1:9-10);

Que um espírito, vindo do Senhor, per­turbou a mente de Saul; (1. Rcg. 19:9);

Que a ação do demônio Asm odeu, do livro de Tobias (3:8), m atando os sete primeiros maridos de Sara, foi uma ação visiuel e ne­fasta. Asmodeu é, ao que parece, o mesmo de­mônio Abaddon, ou Destruidor, do Apoca­lipse, 9:11.

Que, no tempo de Cristo, sobretudo na Galiléa, eram frequentes os casos de posses­são. A ação do demônio era visivcl nos efei­tos físicos. As vítimas, muitas vezes, eram pri­vadas da vista e da fala (S. Mateus, 12:14) ou só da vista (Mat., 9:32 e Luc., 11:14); outras' vezes, horrivelm ente atormentadas: (Marcos, 9:17-21).

Essas pessessões, na m aioria, não podem ser confundidas com “doenças nervosas”, pois, não raro, o possesso ostenta força sobre-hu­mana, como no caso referido por S. Marcos, 5:2-4.

Algumas vezes, o possesso é séde de m ui­tos demônios (Mat., 12:43 e Marcos, 16:9) ou de m ilhares, (Marcos, 5:9 e Lucas, 8:30),

Ainda no caso das tentações de Cristo, a ação do demônio só pode ter sido “visive l e atual’’, como disse E. Gigot. (219) Comparem- sc entre si os textos dos Sinóticos: Mateus, 4:1-11 e Lucas, 4:1-13.

Nos Atos dos Apóstolos, lauto na Pales­tina como, sobretudo, no mundo pagão, en-

(219) E. GTGOT — Cnthollc E nojclopcdln, New-York, s. voc. T em ptatlon of Chrlvt.

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contramos os representantes do demônio fa­zendo prodígios estupendos. Na ilha de Chi­pre, S. Paulo encontrou o mago Elim as ou Barjesu, que procurou em baraçar-lhe a pre­gação. S. Paulo cham a-lhe pseuclo-profela c, para castigá-lo, pede a Deus que o torne cego usque ad tem pus. (Atos, 13:4-12).

Em Filipos, na Macedônia, S. Paulo hou­ve de expulsar o demônio do corpo de uma moça que o seguia, im portunando-o c procla­mando, alto, a missão divina de S. Paulo c seus companheiros. Diz o texto sagrado que essa moça, em a qual habitava o espírito pi- tão, era para seus senhores uma verdadeira fonte de renda, por causa de suas adivinha­ções. (Atos, 16:16-18).

Saindo do campo das Letras Divinas, en­contramos por toda a parte, na história dos povos, traços da ação visivel do demônio.

Si mão Mago, cuja história é iniciada nos Atos dos Apóstolos (8:9-29) .e completada pe­la tradição (220), teria deslumbrado Roma com seus prodigios estupendos, o último dos quais foi o fenôm eno de levitação. Junto ao Forum, na Via Sacra, foi erigida aos apósto­los uma igreja, no mesmo local em que se esborrachou o corpo de Simão, quando pre­tendia voar ao Céu. Claro é que, se algum fe­nôm eno foi real na vida de Simão Mago, o autor só pode ter sido o demônio.

Ainda no primeiro século de nossa era, o pitagórico A polônio de Tiana, segundo nar-

(220) S. JUSTINO — Prim . Apologl-tic-n, 26. Tambem nas Pseudo-Clem entinas e nos Atos de S. Pedro, apócri­fos.

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ram, aterrorizara o mundo pagão com sua vi­da de prodígios os m ais assombrosos. Expli­cam o-los pela ação diabólica. (221).

Nesse tempo, ao dizer de Tertuliano, o demônio dava oráculos, e falava pela boca das estátuas dos deuses:

"Q uando o possesso é levado aos tr ib u n a is , o m au e sp irito , in tim ado pe los segu ido res de C risto , confes­sa que é um dem ônio ; e é esse m esm o e sp ir ito que, h o ras a n te s , h a v ia d ecla rado que e le é um deus. A se­g u n d a confissão é qu e r e p re se n ta a v e rd ad e, Isto é, que e le é dem ô n io ” . (2 2 2 ).

Santo Agostinho, na C idade de Deus, ex­planando o texto da Escritura. — que todos os deuses das nações são dem ônios, — acha que muitas vezes os demônios falaram pela boca dos ídolos, ou pelos oráculos das pito­nisas.

Alem dos casos históricos de possessão, a intromissão do demônio no mundo visivel, através dos séculos, é atestada pela vida dos Santos do Cristianismo.

Tornaram -se célebres as aparições do de­m ônio a Santo Antão, no deserto. (223)

- O dem ônio ap a rec eu um d ia a S. M a rtln h o de T ou rs , n a f ig u ra de jovem form oso , vestido de p ú r­p u ra e coberto de p e d ra ria s f inas , e lh e d isse : “ E u sou o teu am igo e se n h o r. Reconhece que sou Jesús-C rls to em pe sso a ”. O sa n to re f le tiu um pouco e ,em segu ida, ob je to u : " J e sú s p rom eteu que v o lta r ia a este m undo sobraçado com su a c ruz . R econhece rei que és Je sú s-

(221) FTT.OSTRATO _ Opera Oninln. Lolpzlg, 170B.(222) t e r t u l i a n o — Apoio*., tr.-d. Inglesa. pg. 23.(223) SANTO ANASTACIO — Vltn Snuctl Antonll.

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C risto se m e a p a rec e res com a cruz às costas , e o s te n ­ta n d o nas m ãos e pés os e s tig m a s da p a ix ão ” . A estas p a la v ra s o dem ônio d esapareceu , de ixando a cela do sa n to lm pO gnada de odo r in to le ráv e l. (2 2 4 ).

Nos nossos dias, S. João B atista Vianney, cura d’Ars, teve de desmascarar o espírito das trevas, que ora se lhe manifestava sob formas horrendas, ora.sob anarências encan­tadoras. (225) O mesmo se lê na vida de S. Geraldo e de outros santos.

Mas não foi só aos bons que o Malvado se mostrou visivelm ente. Tambem a seus repre­sentantes e instrumentos.

No século XVI, Lutero feria lançado um tinteiro contra o demônio, um dia que este lhe apareceu visivelmente, como reclamando o que era seu.

M aspero, Lenorm ant, W ard, Roberts e D oolittle descrevem os casos de possessão dia­bólica, com m anifestações visiveis do demônio, não só entre os povos antigos, como entre os pagãos atuais, — Chineses, Indús, Persas, etc. (226).

Comuns, sobretudo, são as manifestações demoniacas nas regiões onde, ainda hoje, ha­bitam povos grosseiros que não receberam os benefícios da Revelação Divina.

(224) Vila Snncti M nrtlnl, na coWção r a t r e s Lntlnl,XX, 174.

(225) ALFRED MONNIN — Vida do Cura d ’Ar» — passim.

(226) MASPERO — H istoire Ancienne dc» Peuple» dc 1’O rlent, pg. 41 — LENNORMANT — L» Single cher le» ChnMôen». — WARD — H istory of the Hindoo», v. I, 2. — ROBERTS — Orlentnl Illnatrntlon» of the Scriptures. — DOOLITTLE — Social Life of the Chinese.

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No referente à Africa, pode-se consultar W ilson (227) e W affelaert (228).

Também entre algum as tribus selvagens da América, certas práticas denunciam, senão a presença visivel, pelo menos a influência de Satanaz. E’ o que está suficientem ente docu­mentado, quanto aos Bororos do Brasil, pelos m issionários Pe. Dr. Carlette e Pe. Antônio Colbacchini, salesianos. (229).

Entre os Bororos o bari é o homem temi­do. Acreditam os selvagens que ele tem con­tacto com o vciire (espirito mau, em geral) e com o búpe, que é um demônio particular. As relações entre o bari (feiticeiro) e o espírito m au tem algo que lembra o transe dos mé­diuns espiritas:

P a r a o p e ra r a s su a s curas, o baçi c h am a o seu v a ire em voz a lta e com g ran d e s g rito s p ro longados. Q uando diz que o e sp ir ito já. o ouviu e que já vem vindo , e n tra em m ov im en tos convulsivos do corpo, acom panhados d e trem o re s im p re ssio n a n tes: a rq u e ia o corpo p a ra trá s , e rg u e os b raços, b e rra , u r ra , e scu­m a pe la b o c a . . . E ’ um a cena h o rriv e l, a sq u ero sa! Parece um v e rd a d e iro possesso”. (2 3 0 ).

PORTANTO, a AÇÃO do DEMÔNIO, — invisível quase sempre, — VISIVEL às vezes, é m anifesta em toda parte e em todos os tem pos.

(227) WILSON — W enleni Afrlcn, pg. 217.(22S) W AFFELAERT. in U ictlonnlre A pologíU.me «lo

In Foi Cnthollqnc, sub voc. PosseNslon Dlnbol.(229) Pe. Dr. E. CARLETTE — IIcrtH« AntCntlcos —

Ed. Vozes de Potrópolls, 1939. — Pe. ANTONIO COLBAC- CHINI — A Inz do Crnzelro do Snl, Escolas Saleslanas, S. Paulo, 1939.

(230) Pe. A. COLBACCHINI — A Inz do Cruzeiro do Sul, pg. 27-31.

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CONCLUSÃO.

Da exposição rápida que fizem os ressal­ta a relação do ESPIRITISMO MODERNO com a MAGIA e a Necrom ância de todos os tem pos.

A identidade entre a magia e o espiritis­mo moderno evidencia-se pelos processos e ritos usados por um e outro.

Evidencia-se tambcm pelos resultados, que são sempre nefastos, tanto na magia co­m o no espiritismo. Aliás, os próprios autores espiritas confessam que m agia e espiritism o é uma só coisa. Diz Carlos Imbassahy, o che- fe m ental dos espiritas brasileiros contem po­râneos:

‘‘Os ch ineses conhecem a d ivisão de esp írito s , em su p e rio re s e in te r io re s , e não lhes é e s tr a n h a a n o ­ção do p e risp írito . OS SEUS F E IT IC E IR O S EQ UIV A ­LIAM E EQ UIV A LEM , — COMO EM TODA A PA R ­T E , — AOS NOSSOS M ÉD IU N S”. (2 3 1 ).

Portanto, o que se apura de real na ma­gia tem por autor o mesmo autor do que se apura de real no espiritismo.

APARIÇÕES DE ALMAS

Segundo observam D ubray e outros, a Igreja não nega a realidade de algumas apa­rições espontâneas das almas. Estas, por m is­são de Deus, podem, às vezes, vir a este mun­do, e até m anifestar aos vivos coisas desco-

(231) CARLOS IMBASSAHY — O Eifplrltlamo k lua doa Fato», pg. 223.

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nliecidas. Mas a necromância, entendida co­mo arte de evocar as almas dos mortos, é ti­da, por todos os teólogos, como prática dia­bólica.

Santo Tom az e os demais teólogos são explícitos. Declaram eles que os fatos reais de aparições de almas, quando se empregam ritos especiais evocativos, são devidos à in­tervenção diabólica. Quem aparece não são al­mas, m as dem ônios. (232)

Tertuliano, século U, é categórico:“ Os c ris tão s devem a ca u te la r-se c o n tra a s p rá ti­

cas n e crom ân ticas , n a s q u a is os dem ônios sc a p re sen ­ta m com o sendo a s a lm as dos m o rto s” . (2 3 3 ).

Não negamos, pois, que haja casos reais de aparições espontâneas. Casos há, supostos reais, referidos nas A tas de Sta. Perpétua, nos escritos de S. Cipriano, nos Diálogos de S. fíregório e outros. (234) S. Pedro de Alcân­tara, depois de morto, apareceu a Santa Te­resa, conform e ela mesma relata. (235)

Tais aparições, porem, são sempre es­pontâneas. Não se trata de evocações. E San­to Agostinho, que, como nós, não admite co­m unicações visiveis, diz que mesmo as apari­ções espontâneas são excepcionais e raríssi- mas. (236)

(232) SANTO TOMAZ — Sumnin Theologien, II-II, Qu. 95, a. II.

(233) TERTULIANO — De Anlmn, 57, na coleção P a ­troa L atinl, II, pp. 793.

(231) Cf. LUCIEN ROURE — I.c Splrltleme d ’nojor- tl'hitl e t d’h ier, pg. 119.

(235) SANTA TERESA — Autoblogrnfln, c. 27.(236) SANTO AGOSTINHO — Dc enrn pro m ortale ge-

rendR, c. 26, ln col. Patroa L atlni, t. 60, pg. 600.

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Quanto ao fam oso caso de Samuel, cuja alma foi evocada pela sibila de Endor (237), notem os:

T endo Saul consu ltado o S enhor, não ob teve re s ­p o s ta nem por sonhos nem po r p ro fe ta s . E n tã o , deses­p e rado , foi a E n d o r , a um a m u lh e r qu e “ tin h a o esp í­r ito a d iv in h a d o r”, e ped iu -lhe que cham asse a a lm a de Sam uol. E s te não ap a rec eu a S au l. Só a m u lh e r é . q u e viu o p ro fe ta , m as Saul, pe la descrição que a fe i­tic e ira fez da sò m b ra que v ia , reconheceu tr a ta r -s e da pessoa de S am uel. E S au l, m esm o sem ve r, d ir ig iu a p a lav ra ao “ in v is ív e l”, e ouviu dele a p ro fecia r e la ­tiv a a su a p ró p ria d e rro ta e m o rte p róx im a.

Tal narrativa tem tido muitas e diferen­tes explicações. S. Jerônimo e Teodoreto ju l­gam a aparição falsa. Saul fo i enganado e a profecia teria sido feita por algum anjo, pa­ra confusão do próprio Saul. S. Basílio, S. Gregário de Nissa (240) e Tertuliano atri­buem a aparição ao demônio, o qual tomou a aparência de Samuel e, com pelido por Deus, para castigo de Saul, fez a predição certa.

Porem a m aioria dos escritores supõem real o fato. Assim Josefo, S. Justino, 'Oríge- nes, Sanio A m brósio e outros. Nesse caso, en­tão, Deus teria perm itido a aparição da alma de Samuel, como faz crer o livro do Eclesiás­tico, 46:23. (cf. 1 Reg. 2 8 ,7 . . .) .

(237) I RcIh, 28:7.(238) S. HIER. — In Inalam, col P. L atlnl, 24, 108. (239 In Ianlnm, Padres Gregos, 30, 497.(240) S. GREG. NISSENO — P adres Gregos, 4G, 107.

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EM CONCLUSÃO:

Aparições de almas dos mortos, — pro­vocadas, — não existem.

Aparições espontâneas, raras, podem dar- se. Mas, mesmo estas continuam no rol da­queles casos de causalidade m al definida, a que aludimos no princípio do livro, pois, se­gundo Santo Tom az, ninguém terá certeza de que se trata de almas dos mortos: podem, conforme o caso, ser anjos bons, — e tais se­riam as vozes de Santa Joana d’Are., — ou demônios, como nos casos de infestações ou m alfeitorias. (241)

Razão teve, pois, Nosso Senhor Jesús- Cristo de, na única fórmula de oração que compôs, concitar-nos a que, cotidianam ente, peçam os a Deus-Pai nos livre do Demônio, pois a lula contra este há-de ser sem tréguas: sed libera nos a Maio.

NOTA — O Piulre-X osso não e s tá bem traduz ido na6 lín g u a s m odernas. A trad u ç ão leg itim a do la tim sed lib e ra nos a M aio deve s e r: M as liv ra i-n o s do M au e não “ liv ra i-nos do M nl” . Com e fe ito , em l ib e ra nos a M aio, e s ta ú ltim a p a lav ra é nb la tivo de M nlus, o m au, o pe rve rso , e não de M alu in , o m al, o c o n tra ­tem po.

H o rb c r t T h u rs to n e screve : “ Deve-se n o ta r que a op in ião g e ra lm e n te ace ita su s te n ta que a trad u ç ão da ú ltim a c láu su la deve se r “ liv ra i-n o s do m a u (de- Ilvcr u s f ro m tlic ev il o n o )“ , trad u ç ão que ju s t if ic a o

(241) SANTO TOMAZ — Suma Theolcg., I Pars, qu. 91, n. 3.

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uso de " s e d ”, (m as ) e c o nverte a s d u a s ú ltim a s c láu ­su la s n um a só $ m esm a pe tição . (2 4 2 ).

O o rig in a l g rego é m ais c laro do q ue a V u lga ta la tin a . N ele tem os o a d je tiv o ponóros, que, no caso, só podo se r a d ju n to de possoa. P a ra s ig n ific a r o m a l te ­ríam os po n e ría c não ponéros.

Os c ris tão s do O rien te são fié is ao tex to p r im it i­vo do Padre-N osso . A versão á ra b e tem c h a r r i r , — o fazedo r do m al, — p a lav ra a n tig a que, n a lin g u a a tu a l, só se ap lica ao dem ónio . C lia r r ir é o ad je tiv o com que o A lcorão sem pre d e signa o diabo.

N a lin g u a a ra m álca , a in d a h o je e m p re g ad a no r ito m a ro n ita o que e ra a lín g u a fa la d a por N. S. Je - sú s-C risto , tem os a p a lav ra b icho onde o la tim tem m aio . O ra, bicho é a d je tiv o e s ign ifica , p ro p riam e n te , m a u ; c o rren tem e n te , porem , é o te rm o com que se designa o dem ônio . T an to o á ra b e c h a r r i r com o o a ra - máioo biciio correspondem ao lieb rá ico ral>, do igual s ign ificação .

Não sabemos a razão por que as tradu­ções modernas do Padre-Nosso suprim iram o nome do PERVERSO e, em lugar dele, puse­ram uma palavra que indica o efeito da ten­tação e não o autor dela. (242, a).

Os primeiros cristãos, ao reduzirem a siinbolo a últim a petição do Padre-Nosso,

(242) Re. H EHEERT THURSTON, S. J. — Catkollc Kncyclopcdia, New-York, sub voce Lord’n prayer.

(212-a) Comentando esta c láusula, escreve Cornéllu a Lápide. (Mat. V i). - Sed libcrn nos n m aio: prlnielranicuto da tentação, do que se falou ; cm segundo luga r do dlnbo, artífice da tentação ; em terceiro lugar, do mal gcrul, que nos a tra i ao pecado., ou Impede a virtude o a perfeição. Sobre o mesmo assunto escreve FIL.LION — Scd l ib e ra .. . lis ta s 'p a lavras são geralm ente, e com razão, consideradas como uma petição d istin ta . ORIGINES. S. JOÃO CRISÓS­TOMO etc. as consideram como uma pa rte Integran te do que procede; por Isso, traduzem o substan tivo maio, como se estivera no masculino o designasse o dcmOnlo, mas muito melhor ê traduzf-lo pelo neutro — o m al em ge ra l:

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empregaram tambem o substantivo concreto e não o abstrato: Per signum crucis, de inim i- cis nostris, libera-nos, Deus nosler. Pelo si­nal da santa cruz, livra-nos, Deus, dos nossos INIMIGOS

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S E G U N D A P A R T E

COMUNICAÇÕES OU MENSAGENS

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COMUNICAÇÕES OU MENSAGENS

Como vimos, os fenôm enos metapsiqui- cos se dividem em dois grandes grupos: os objetivos, ou físicos, e os subjetivos, ou psí­quicos. Entre estes últim os, ocupam o prim ei­ro lugar as MENSAGENS do Alem. O Espi­ritismo apresenta-se como sendo uma m ensa­gem enviada, pelos desencarnados aos ho­mens deste planeta. As m ensagens, ora são sim ples revelações de ordem individual, — conselhos, consolações, receitas terapêuticas, etc., — ora revestem o carater de uma gran­de c nova Revelação Religiosa, e contem en­sinam entos éticos e dogmáticos que consti­tuem a R eligião Espirita.

Vamos, pois, exam inar a natureza e o va­lor dessas mensagens, tanto as de carater pro­fano como as de carater religioso. Como, po­rem, tais mensagens teriam sido feitas a pes­soas históricas conhecidas, devemos dizer al­go dos iniciadores do movimento.

Dai a tríplice divisão desta parte:1) História do Espiritismo Moderno;2) Mensagens de carater profano;3) Mensagens de carater religioso.

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CAPITULO I

H istórico do Espiritism o Moderno.

O Espiritismo data de 1847 e teve com e­ço no sitio de H ydesville , perto da cidade de Arcádia, Condado de W ayne, Estado de No- va-Yorque, nos Estados-Unidos. Ai morava a fam ília do dr. João Fox, constituida dos mem­bros seguintes: Margarida Fox, esposa do dr. João, e as filhas Margarida ou Margaretta. cujo apelido fam iliar era Maggie, e Catarina, apelidada K atie; Maggie devia ter 16 anos, quando, inconcientem cnte, iniciou a conversa­ção com os espíritos. Nascera em 1840.

O casal Fox tinha dois filhos que mora­vam fora da casa paterna: David e Ana Leah (ou L ia), esta mais velha do que Maggie 23 anos. Notemos ainda que os Fox eram protes­tantes (243) e deviam ser de origem alemã, visto como o nome primitivo da fam ília cra Voss (pronuncie fós).

Maggie e Katie Fox foram as iniciadoras da negregada superstição. Morava a fam ília Fox numa casa tida como assombrada. De tempos imem oriais notava-se ai algo de anor-

(243) Pro testan te» , m etodlatas. segundo Tanquery — Thto l. Dogmatlca.

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mal que obrigava os moradores a m udar de residência. 0 últim o inquilino anterior à fa ­m ília Fox fbra um tal W eekm an, o qual, em 1847, tendo várias vezes ouvido baterem à porta e não lendo descoberto quem fosse, re­solvera deixar a casa. (244).

Uma noite, estando as irmãs Fox pales­trando, descuidadas, num cios aposentos da casa, ouvem ruidos estranhos na parede ou na porta, os mesmos ruidos que haviam ater­rorizado o sr. W eekm an. Maggie, então, dan­do pancadas com uma das mãos, lembra-se de convidar o ruido a lhe dar reposta. O rui- do, de-fato, responde. Logo em seguida sobre­vem a mãe das duas meninas, e, sabedora do que se passa, inicia uma conversação median­te golpes combinados:

“ Se és espírito, dá duas pancadas.” Resposta afirm ativa, mediante dois gol­

pes na parede.“Morreste de morte violenta?”Duas pancadas, isto é, sim.De pergunta em pergunta, as Fox vieram

a saber que o espírito era a alma de Carlos Rayn, assassinado naquela casa em tempos idos e enterrado na dispensa. Brevemente chegaram, de acordo com o espirito, a combi­nar um sistem a de abreviaturas que permitia conversar mais de-pressa.

Avisada a polícia, esta promoveu rigoro­sa investigação em todos os côm odos da casa e não conseguiu descobrir os ossos do supos-

(244) ERNEST BERSOT, citado por Luclen Roure — Le Mervelllenx Splrlte, pg. 7.

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to Carlos Rayn, nem vestígio algum de crime cometido, donde se conclue que a história do assassinato era uma fábula. 0 espirito men­tira.

Não obstante, as relações entre esse su­posto espirito e as irmãs Fox continuaram. E tal fo i a intim idade estabelecida entre elas e ele que, quando a fam ília Fox transferiu residência para Rochester, o espírito houve por bem acompanhá-las. A elas veio juntar- se então a irmã mais velha, Lia, casada com um sr. Fish, e esta, espírito prático e interes­seiro, viu logo no espiritismo uma fonte de lucros. Foi Lia a primeira que se lembrou de atribuir as pancadas das mesas aos diversos espíritos do outro mundo. (Gearon, 23-24) (245) 0 espiritismo, assim, assum ia a sua fe i­ção definitiva.

Após quatro meses de residência em R o­chester, os Fox vão para Nova-Yorque e o espiritism o em breve se dissemina.

Margarida casou-se com o Dr. Kane, ca­tólico, explorador dos mares árticos, e Cata­rina com o sr. Jencken, protestante. Vemo-las assinar, respectivamente, Margaretta Fox Ka- nc (Maggie) e Catherine Fox Jencken (Ka­tie).

Em junho de 1853, o navio Washington leva a epidemia de Nova-Yorque para Bre- men, de onde ela invade a Alemanha e a Fran­ça. (246).

(245) PATRICK J. GEARON — De Splrltism ct Sn PntlUtc. pg. 23-24.

(246) CD REUBEN DAVENPORT — The D eath Blow to Spiritualism , pg. 89. — LUCTEN ROURE — I.c Mervcll-

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Entretanto, desde a sua origem, o espiri­tismo suscitou duvidas quanto à intervenção dos espíritos. Já no começo, os cientistas Agos­tinho Flint, Lee e Coventry, de Búfalo, que haviam exam inado a questão, declararam que as pancadas podiam provir facilm en­te dos m ovimentos das articulaçções de Katic c Maggie. (247).

Mas fo i só em setembro de 1888, — qua­renta anos depois do episódio de Hydesville, — fo i só então que Margarida, numa entre­vista ao jornal N ew-York H erald, se lembrou de declarar que, desde o princípio, ela e Ka- tie haviam sido vitim as da esperteza da ir­m ã mais velha e da idiotice da mãe. Imita­vam pancadas com estalidos dos dedos. De sua parte, Catarina confirmou, logo depois, esta confissão de sua irmã. (248).

Por fim , a 21 de outubro desse mesmo ano, 1888, Margarida apresentou-se na Aca­demia de Música de Nova-Yorque e, “peran­te um grande auditório, m anifestou o m éto­do que tinha usado para produzir os estra­nhos estalidos.” (249).

Todavia, as mesmas irmãs Fox, um ano depois, retrataram publicamente a confissão

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que haviam feito. Declararam que. atribuin­do os fenôm enos espiritas a uma fraude in­tencional, haviam agido a pedido de pessoas hostis ao movimento, e tinham sido bem pa­gas para isso. (250).

Margarida fo i mais longe ainda: disse que altas personalidades católicas queriam encerrá-la num convento.

De tais contradições das irmãs Fox, o Pe. Thurston, jesuita, conclue o seguinte:

1.°) Margarida Fox Kane, como todos os médiuns, empregou algumas vezes a fraude para produção das pancadas;

2.°) E ambas, Maggie e Katie, quando atribuiram tudo a uma fraude interessada e conciente, ainda mentiram, porquanto nem sempre haviam empregado fraude. Quer di­zer: Nas sessões das irmãs Fox, os espíritos umas vezes intervieram, outras não.

Catarina Fox Jencken morreu em março de 1893, vítim a de excessos do álcool. E is co­mo o jornal W ashington D ayly S tar descreve os últimos mom entos de Katie:

“ A casa n.o 456 O este da R ua 57, N ova-Y orque, se e n co n tra a tu a lm e n te q uase d e se r ta . A penas um de se u s q u a rto s e s tá ocupado ; hab ita-o um a m u lh e r que orça pelos seus 60 a n o s : v e rd a d e ira ru in a m e n ta l e física, e ssa m u lh e r vive da c aridade pública e só tem a p e tite p a ra os lico res In tox ican tes . O ro sto , em que se percebem os traç o s d a id a d e e d e um a v id a de pra- zeres, m o s tra que essa m u lh e r foi be la um d ia.

“E ’ a ru in a v iva de um a m u lh e r que f re q u en to u os pa lác ios e a s co rte s . As facu ld ad es desse e sp irito .

(250) PATRICK J. GEARON — opus c llatum , pg. 26.

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caído a g o ra n a im becilidade, fo ram a d m irad a s e es­tu d a d as pelos sáb io s d a A m érica e da E u ro p a. O n o ­m e dessa m u lh e r to rn o u -se a lte rn a tiv a m e n te cé leb re : can tado , r id ic u la riz ad o n u m a d úz ia d e lín g u a s. E sses láb io s que, ho je , só a rtic u la m ban alid a d es , p ro m u l­g a ra m o u tro ra a d o u tr in a de u m a “re lig ião nova" que c o n ta a in d a se u s a d e ren te s e se u s a d m ira d o re s p o r d e ­z enas de m ilh a re s”. (7 de m arco de 18 9 3 ).

Margarida, que se casara com o sr. Be- lisha, tornou-se católica, recebeu o batismo e abjurou o espiritismo durante a vida de seu marido. Mas, dez anos depois de enviuvar, voltou à prática da nova religião, c veio a fa ­lecer em junho de 1892. em condições tão de­ploráveis quanto as de sua irmã. Sobre sua morte, nada m ais eloquente do que o necroló­gio de seu correligionário James Burns, pu­blicado no jornal espirita M édium and D ay- b rea k :

“T em os a q u i debaixo de nossas v is ta s um e sp e tá ­culo dup la m en te su rp re en d e n te : um a m u lh e r quetra n s m ite aos o u tro s m an ifestações e sp ir itu a is e que, em si m esm a, e s tá , sob o a spec to e sp ir itu a l , p e rd id a e e x tra v ia d a . J á não tem nem senso m oral, nem do­m ín io sob re seus pensam en tos, nem desejos . E m t$tls c irc u n stâ n cia s , — sem fa la rm o s d a em briaguez , d a se n su alid ad e , d a degenerescência m oral sob to d a s a s suas fo rm as, — se rá de a d m ira r que e ssa espécie de co isa te n h a m u ltip licado os escândalo s e te n h a de i­xado, no decurso de seus 45 anos, um m on tão de Im und íc ies?" (28 de a b ril de 1893) (2 5 1 ).

Maggie, como r,ua irmã e como seu pai,(251) LUCIEN ROURE — De Spfrltlame d’onjord’hnl

et d’hier, pg. 88-89 e PATRICK J. GEARON — De Splrt- tlam ei 6a FalUlte, pg. 166-167.

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morreu vítima dos excessos do álcool. O al­coolismo, pois, foi o triste legado de um pai degenerado. Segundo Lucien Roure, o con­vento cm que quiseram encerrar Margarida nada m ais era do que um asilo para m ulhe­res alcoólicas, asilo que ela tomava por um convento. (252).

Mas o verdadeiro “Américo Vespucci” do Espiritismo, — aquele que codificou os ensinam entos religiosos transmitidos pelos espiritos cm diversos lugares, — é o francês Allan Kcirdec. Pode-se mesm o dizer que ele c o fundador do Espiritismo como religião.

Chamava-se Léon-H ippolyte-D enizart Ri- vail e nasceu em Lyon, cm 1804. Foi educado na Suiça, na Escola de Pestalozzi, em Yver­dum. Da mesma forma que todos os iniciado­res do espiritismo, tainbem ele se deixou in­fluenciar pelas idéias liberais, hauridas no pro­testantismo.

De 1835 a 1843 manteve em Paris um curso gratuito de ciências naturais e astrono­mia. Publicou, ao mesmo tempo, obras didá­ticas sobre aritm ética e gramática francesa.

Em 1855, Rivail ouve falar das mesas gi- rantes. E, em 1855 assiste, pela primeira vez, a uma sessão espirita. Desde então, achando- se médium, dedica-se ao espiritismo, sob a direção de um espírito-guia chamado Zéfiro, sucedido por um outro chamado Verdade.

Em abril de 1856, uma cesta (corbeille)

(2í>3) LUCIEN ROURE — Le SpIrKI.ime d ’nnjorrt’hnl «Uhler. pp. 8"J.

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revelou a Leão H ipólilo Rivail a grande m is­são que teria de cumprir. Acreditando no es­pírito que falava por meio da cesta, Rivail deixou-se consagrar Pontífice da nova reli­gião. Daí por diante, ajudado por mais de dez médiuns, recolhe os ensinam entos dos Es­píritos Superiores e, em 1857, publica a pri­meira edição do L ivro dos Espíritos. Entre­m entes, Rivail passou a chamar-se Allan K ardec; é que, instruído pelos espíritos, R i­vail soube que havia vivido oulrora na pes­soa de um velho poeta celta chamado Allan Kardec, poeta esse que, provavelmente, nun­ca existiu. (253)

Ao Livro dos Espíritos seguiram-se ou­tros, do mesmo gênero e estilo.

Kardec faleceu ein 14 de março dc 1869, vítim a da ruptura de um aneurisma. Confor­me revelações posteriores, o espírito de Kar­dec se reencarnou. no Havre, em 1897. Mas, não obstante estar reencarnado, apareceu cm 1898 numa sessão regida pelo médium Mine. Maia, e continuou a intervir em outras sessões, sempre como desencarnado.

Para terminar, observemos que Rivail era m au pagador. Em 1840, morando na casa n.° 35 da rua de Sèvres, de propriedade dos je­suítas, fôra obrigado a despejar o im ovel, por estar em atraso com os aluguéis; rnas, talvez por vingança, talvez por incúria, deixou o prédio em péssim o estado de conservação.

(253) Tambem PITAGOKAS, o in trodutor da m etem p­sicose na Europa, dizia que tinha sido, em tempos idos, um dos liorúls de Homero — Euforbion. — Moderna­mente, porem, ficou provado que esse herói nunca oxis-

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Tendo por auxiliares, na confecção dos Ensinamentos dos Eppiritos, a Flam m arion e outros, R ivail deu como com unicação dos Espíritos as idéias científicas m ais em moda nesse tempo: o evolucionism o de Darwin, a origem sim iesca do homem , etc. Os espíritos, neste particular, cederam a palavra aos sábios ainda vivos. Outro colaborador valioso de Ri­vail foi Victorien Sardou.

" E ra no m om en to daa p r im e ira s experiênc ia s de esp iritism o em P a r is ; S ardou devo rava os liv ros de filosofia e de m etafís ica , ocupava-se de a stro n o m ia , es tu d av a e p e rf ilh a v a a s te o ria s de João R eynaud . Fo i no sa lão da sra . J a fe t que e le encon trou A llan K ar- dec. O p róp rio S a rdou con fessou : “ Q uando, de com um acordo com A llan K ardcc , ped im os ao e sp ir ito p resen ­te de te rm in a sse a base do dogm a e sp ir ita , fu i eu que, gu iado p o r m in h a s le itu ra s , re s tab e lec i o sen tido das re sp o s tas m al In te rp re ta d a s ou obscu ras do e sp ir ito ; o assim , em trõ s sessões, pu d e d ita r o cená rio da dou­tr in a que A llan C ardec, ao depois, dev ia desenvolveT ”.(2 5 4 ).

O sucesso dos livros de Kardec há-de ser atribuído, cremos nós, à clareza de seu estilo c à convicção com que escreve. O seu siste­ma é de afirmar, simplesmente.

Allan Kardec fundara a Revue Spirite, em cuja direção lhe sucedeu Leym arie. Apar- ceirando-se com o fam igerado Buguet, fo­tógrafo de espíritos, Leymarie acabou sendo processado, como trapaceiro, pelos tribunais francesses. (255). Numa das sessões rcaliza-

(254) LUCIEN ROURE — Le M erveilleux Spirite, pg. 346, no ta 2.

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das para fotografar espíritos, Laym arie fo to ­grafou o espírito de Allan Kardec, e presen­teou a viuva do Patriarca com essa im pressio­nante fotografia. Viu-se, depois, pelo proces­so judicial, que tudo era truque. (256).

Depois de Allan Kardec, muito contribui- ram para a sistem atização do espiritism o: Léon Denis, Gabriel D elanne e Camilo Flam ­m arion, na França, O liver Lodge e o roman­cista Conan D oyle, na Inglaterra.

Todavia, a difusão do espiritismo, alto ou baixo, doutrinário ou experimental, não con­tou só cem o valor intelectual de seus funda­dores. Os seus principais fatores de êxito tem sido:

As pretensas curas dos m ales físicos, — terapêutica barata e facil, em confronto com a carestia dos remédios alopáticos e das re­ceitas médicas, em geral; a exploração da sensibilidade hum ana, fazendo crer aos re­centemente viuvos ou orfãos que eles estão conversando com os parentes falecidos; a in­sinceridade dos espiritas, os quais ocultam os intuitos do espiritismo c dizem, a princípio, que não é religião, mas apenas sistema filo ­sófico próprio para conciliar todos os crentes espiritualistas.

(25G) LUCIEN ROURE, Ibidem, pg. 51.

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CAPÍTULO II

MENSAGENS DE CARATER PROFANO.

As com unicações dadas como transm iti­das pelos defuntos podem considerar-se quan­to ao tempo, ao assunto, ao destinaiário, à causa eficiente.

Referem-se, em geral, ao tempo presen­te e ao passado. Quando, porem, se repor­tam a acontecimentos futuros, tem o incsmo valor das “profecias” das cartomantes e dos astrólogos: são vagas, imprecisas e comuns a toda classe de pessoas.

Qualquer que seja o agente transmissor dessas m ensagens, temos que elas nunca pas­sam de sim ples conjeturas, visto com o só Deus pode prever os futuros contingentes, co­mo são os que dependem do ato livre da von­tade humana. O próprio Allan Kardec, no L i­vro dos Médiuns, confessa que os espíritos não podem revelar o futuro, “porque, se o homem conhecesse o futuro, negligenciaria o presente.” (257). Em 1899, a senhorita Pieper fez aparecer o “espirito” de Moisés que pre­disse a Grande Guerra e profetizou que o dr.

(257) L.UCIEN ROUBE, Ibid«iu, Pg. 222.

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Hodgson viveria bastanle para ver as hostili­dades. A profecia de Moisés era um tanto in­teressante: predizia com efeito que, nesse con­flito, a Rússia e a França se aliariam contra a Inglaterra e a América, ao passo que a A le­m anha ficaria praticam ente neutra. (258). E são assim as outras profecias. Nada m ais fá­cil do que prever uma guerra. . . Há tantas guerras todos os a n o s ! ...

Quanto ao destinatário das mensagens c ao assunto, muito teríamos que dizer. Geral­mente, as mensagens são de ordem indivi­dual: assuntos relativos a alguem da sessão, uma receita médica, umas palavras de conso­l o . . . Às vezes, alguma intriga ou calúnia e, não raro, alguma im o ra lid a d e ...

De Irês fontes podem provir as mensa­gens: do embuste ou trapaça, do psiquism o dos presentes c de uma inteligência preterna­tural. Para evidenciarm os o alegado, bastan­te é que exam inem os as próprias m ensagens e, querendo julgá-las, não precisarem os lou­var-nos cm autores católicos: espiritas e sim ­patizantes do espiritismo dir-nos-ão do valor da m aioria das comunicações.

I

Antes de tudo, convem firm ar que a m aio­ria das mensagens são forjadas pela esperteza dos m édiuns e diretores dos círculos. Esses es­píritos vagabundos que aparecem, — um, o de

(25S) PATRICK J. GEAUON. l.e Spirltism c: Sn Fnll- liti-, pê:. S-l.

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um filho que vem consolar o pai ou a mãe, outro, o do marido, que vem consolar a espo­sa sobrevivente, — e outros, tudo isso não passa de uma com édia insossa e canalha. O m édium ou o seu dirigente agiu por vias tra- versas, tomou informações clandestinas, “pes­cou ” e, assim, chegou a conhecer os hábitos do falecido, e, habilmente, consegue im itar- lhe a voz, o sotaque, o estilo.

O sr. Franscisco Reed, m édium norteame- ricano, revelou os truques usados na Am éri­ca para a “pesca” de informações. Diz ele:

"Em cada cidade, pelo mundo Inteiro, há alguns médiuns praticando estas diferentes fases de medluni- dade, e, a-fim-de manterem o favor de que gozam, é muito essencial que tenham, à mão, um bom deposito dessas informações; assim, cada médium faz um “ca- nhenho” e conserva-o para servir-se dele a qualquer hora que p rec isa r.. . Um médium está sempre alerta, e faz memornnduus da conversação dos assistentes. Tambem corre os diários, procurando noticias de fa­lecimentos . . . e apanha boa parte de informações fa­zendo inquirições indiretas. Alguns desses médiuns, sob pretexto de Indagar acerca de amigo que partiu ou dasapareceu, visitarão o ofício de registos onde se conserva a nota de todos os que falecem”. (259).

No Brasil os processos podem variar, m as a “ pesca” sempre se faz. Os tais m édiuns curadores são sim plesm ente pessoas que en­tendem um pouco de hom eopatia, — m edi­cina inócua, — e que se põem a receitar em

(250) J. FRANCES REED — T ru th anil Foot* pe rta i­n ing to Siilrltiinlliim, pg. 27-28. Cf. Pc. HEREDIA — O Ea- plrltlwmo e o Bom Scnuo, pg. 120. a sagulnl.ee.

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nom e de grandes médicos falecidos. O exqui- sito é que os m édicos do espaço são quase sem pre homeopatas, mesmo que, quando vi­vos, fossem inim igos da homeopatia. Estra- nhavel é tambem que, a-m iude, os farm acêu­ticos se veem obrigados a corrigir a receita de um Miguel Couto ou de um Torres Homem... Depois de desencarnados, os grandes médicos esqueceram a arte de réceitar. . .

II

A segunda fonte das mensagens há-de ser buscada na sub-conciência do m édium ; este, quando em transe, ou diz o que os assis­tentes, sem o saberem, lhe transmitem por telepatia , ou reproduz o que ouviu ou leu an­teriormente, em estado de vigília.

Os próprios espiritas confessam isto. Diz Oliver Lodge:

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Só assim se explica a infantilidade das mensagens, os lugares comuns c, não raro, as tolices m ais grosseiras; é que as mensagens corresponcfem adm iravelm ente ao nivel in- tcctual do m édium e dos seus ouvintes. Ora é o espirito de um notável poéta que vem di­zer versos medíocres, ora é o espírito de um sábio legitim o que vem repetir coisas sabidas até pelos alunos primários de uma escola ru­ral. (261) Em todo caso, o que os espíritos “com unicam ”, quase nunca excede a inteli­gência comum de qualquer “encarnado”. Os próprios espiritas se veem embaraçados para explicar a degeneração mental que devasta a mente dos grandes homiens que se desencar­nam :

"Alem disso, o osplrito, em consequência do obs­curecimento relativo da conciência e da diminuição da vontade livre, sofrerá facilmente as sugestões, mais ou menos voluntárias, dos assistentes, cujos pensa­mentos muitas vezes reproduzirá". (262).

“Outras vezes há uma curiosa mistura de ele­mentos originais e de elementos evidentemente saidos do médium ou dos assistentes”.

“Em certos casos. . . as comunicações são um re­flexo do pensamento e dos conhecimentos dos evoca- dores”. (263).

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Espanta-nos a ginástica mental que faz Carlos Imbassahy, para explicar a pobreza de ideias de que sofrem os desencarnados:

“Quando o médium tem opiniões firmadas sobro determinado assunto, repele, conciente ou inconciente- mente, as opiniões espirituais contrárias. Repelido, o mensageiro afasta-so, e o médium fica falando ou es­crevendo por conta própria. Há mais os casos em que muitos são os seres que se querem comunicar; uns procuram tomar o lugar dos outros; as comunicações saem então truncadas, Ininteligíveis; há pontos ad­miráveis, que causam surpresa e estupefação, ao lado de trivialidades e até disparates”. (264).

Adiante, o espirita brasileiro vem a res­ponsabilizar os próprios espíritos:

"Em suma, a lucidez do espirito manifestante nem sempre é completa. . . A perfeição das respostas dep en d e ... da perfeição do e sp ír i to .. . (265).

Admiramos a boa vontade de Im bassahy que, mesmo sem ter procuração bastante, ten­ta defender a im becilidade dos desencar­nados.

A verdade é que, a-m iude, “os fatos, tes­temunhados até pelos próprios espiritas, pro­vam que as mensagens do espiritism o não passam do reflexo do m édium ou dos assis­tentes.” (266)

Em 7 de maio de 1S99, num artigo que foi am­plamente transcrito por toda a imprensa, Camilo F lam -

(264) CARLOS IMBASSAT — O E spiritism o & Ims «lo» Fa to s, PR. 179-180.

(2G5) Idem. Ibldem, pp. 259.(266) P . OTÁVIO CHAGAS DE MIRANDA — Os F c-

nOmcnos Fstçnleos e o Espiritismo perante a Icreja, pgr. .7.

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marlon exprimia a opinião de que o espirito que, em Jersey, se entretinha com Vlctor Hugo, sob o nome de Sombra do Sepulcro, era o próprio Vlctor Hugo, dan­do respostas a si mesmo”. (267).

Para estudar as mensagens, Flournoy rea­lizou um inquérito; obteve 42 respostas e 81 observações, de várias partes do mundo. “Es­tudou-as c publicou os resultados. Tudo ba­nal! Se tais m ensagens vem do outro mundo, concluiu ele, esse outro mundo pouco vale.” (2G8).

Richet, tido como espirita, escreve:“As manifestações dos desencarnados contem tan­

tos erros, infantilidades e deslembranças, que ó im­possível aceitar que se tra ta de almas que voltani a este mundo. Nada nos obriga a supor que os mortos tenham os mesmos sentimentos e juizos que tinham em vida. Os personagens do outro mundo gostam de pilhérias ridículas e de trocadilhos infantis. Os desen­carnados esquecem coisas essenciais, e se ocupam com ninharias de que, nesta vida, não se ocupariam sequer um minuto. Alguem disse: “Se a outra vida hà-de con­sistir em ter a mentalidade de um desses desencarna­dos, prefiro então continuar a viver aqui mesmo. "Com algumas excepções, o que os desencarnados apresen­tam são fragmentos de uma inteligência paupérrima. Voltar à Terra por causa de uma abotoadura é su­mamente improvável”. (269).

(2G7) “Annales politique* e t pnrlnmentnlreH”. Cf. a in ­da «L’An-Delà e t le« force« Inconnue*”, por Jules Bols, pg. 256, c ltados por Lucien Boure — Le Merveilleux Spl- rltc , pg-. 231.

(268) Dr. LÜCIO JOSE’ DOS SANTOS — “O D iário”, de Belo Horizonte, núm ero de outubro de 1339, a trá s citado.

(269) CHARLES RICHET — G rundrlss der Pa rapsy ­chologie, pg. 472.

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0 mesmo sentem Felipe D avis e Maurí­cio M aeterlinck :

"Posbo dizer de minha parte que, em vinte anos do estudos. . . nunca obtive, nem vi obter por outros, uma única comunicação que possa realmente merecer a atenção de um filósofo ou de um sãbio”. (270).

“A menor revelação astronômica ou biológica, o menor segredo de outros tempos, por exemplo, uma particularidade arqueológica, um poema, uma estátua, um remédio que se encontrasse, seria um argumento mais decisivo do que centenas de reminiscências mais ou menos literárias”. (271).

Conhecidas são as tolices que um m é­dium impingiu a Sir O liver Lodge, dando-as como com unicações de seu falecido filho Raim undo.

Enfim, para concluir, um autor católico:

“So as comunicações vem dos espíritos, como ad­m itir que almas bem educadas, incapazes de uma men­tira durante a vida, desçam a dizer mentiras e trapa­ças? Como é possível que um suposto comércio de oitenta anos com os espíritos do mundo Invisível, não tenha esclarecido nenhum fato novo da ciência, ou descoberto nenhuma verdade nova, para o bem e o consolo da humanidade?

“Não há sesssão espirita a que não compareçam Shakespeare ou Aristóteles, os quais parece até pos­suírem várias personalidades, pois são encontrados ao mesmo tempo em diversas reuniões.

“Como é possivel que sábios, homens de gênio

(270) LUCIEN ROURB — Le M ervclllenx Splrlte, pg. 230. — FE L IPE DAVIS — Ln (In dii monde de» Euprlt», pg. 166.

(271) MAURÍCIO MAETERLINCK — La m ort, pg. 13S, eitacR^pelo Dr. T. Poodt — Lo» FenOmeno» Mtaterloao»

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que, nesta Terra, tanto contribuíram para difundir a l u z . . . como é possivel que esses sábios, esses gênios, voltando a visitar-nos, se mostrem tão cretinos e lou­cos?”. (272).

E um autor nem espirita nem católico:“Porque é que não percebem que essas elucubra­

ções, mesmo quando apresentem combinações inteli­gentes, são, om essência, horrivelmente e s tú p id as ... Corneille, quando fala pela boca dos médiuns, só faz versos de calloiro, e Bossuet subscreve sermões de que se envergonharia qualquer vigário da roça. Wundt, de­pois de ter assistido a uma sessão de espiritismo, quei­xa-se amargamente da degenerescência que atingiu, depois da morte, o espirito das maiores personagens... Deia-so o depoimento de Jo b a rd .. . do príncipe Ou- ran, o ver-se-á que esses valentes espíritos não estão melhor informados do que nós, sobre qualquer assun­to. Realmente, deveríamos renunciar à vida futura se fosse preciso que a vivêssemos ao lado de individuos dessa espécie". (273).

O fato mais notável de reminiscência literária é o que aconteceu ao médium T. P. James. Dizem que terminou o romance Edwin Drood, de Charles Dickens, cm dezembro de 1872, romance que o autor deixara Inacabado. Sob ditado do espirito de Dickens, teria o médium escrito todo um volume de 4 00 páginas.

Posteriormente, porem, descobriu-se que esse sr. James passou dois anos estudando o estilo do escritor inglês, e só então conseguiu concluir “a seu modo” o romance começado. Bcrnhardt, amigo que fora de Charles Dickens, tendo sido consultado pelo dr. Surbled,

(272) 1'ATRICK J. GEARON — Lc SpIHGi.ni«-: Sn Fntlllte . pp. 124-5.

(273) PXERRE JANET, citado peio dr. Grassct, Idíea .Méillcnlex, pp. 45-40.

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declarou que não foi apenas o sr.Jamcs que tentou completar o romance; outros pasUclies apareceram, todos indignos do autor de Edivin Drood. E outro escritor, o sr. Fnirbnnkg, provou que, nos papéis de Dickcns, foi encontrada toda uma cena destinada a figurar no romance, cena essa que em vão se procura no romance do médium; isso prova que o espirito de Dickcns nenhuma intervenção teve no acabamento póstumo de seu romance. (274).

III

Enfim, dentre m ilhões de pretendidas m ensagens enviados do Alem, fraudulentas umas, naturalmente explicáveis outras, apa­rece, de quando em quando, uma ou outra co­municação que pode ter sido transmitida por um agente intelectual extra-terreno; uma que outra com unicação enexplicavel pelas forças naturais.

Entre elas, — se o fa to for adm itido co­m o real, — devem os colocar em primeiro lu­gar a chamada correspondência cruzada, — "Cross correspondence” dos ingleses, a que Flournoij chamou “Mensagens com plem enta­res.” (275).

“Trata-se de respostas dadas por diversos médiuns mediante escrita automática. São mensagens Incom­preensíveis quando tomadas isoladamente, mas, apro­ximadas umas das outras, se esclarecem e se comple­tam como fragmentos de um mosáico”. (276).

(274) LCCIEN ROURE — Le M crvclllcux Snlrlte, pgr. 186-138.

(275) FLOURNOY — E sp rlts e t Medlniu«, pg. 459.

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Os m édiuns podem estar em diversos paises, falar linguas diferentes e até desco­nhecidas de alguns deles e, alem disso, não ter nenhum entendimento entre si. Está visto que o caso não pode ser explicado pela telepatia, porque, se uma pessoa viva trans­mite a outra, telepaticamente, um pensamen­to, é razoavel que lho transmita completo e inteligível.

Portanto, se tais manifestações existem, só podem vir do outro mundo.

Mensagens há ainda que, pelo com plexo de sua contextura, não terão nunca uma ex­plicação natural; confessem os, porem, que se trata de casos raríssim os. São as Mensagens que sa em parelham com este modelo:

“Um médium, em transe, escreve automaticamen­te esta comunicação: Vejo um homem de uns sessen­ta anos, um tanto robusto, barbado e usando óculos de arco metálico. Acaba de morrer em um desastro do automovel, em Melbourne, Austrália. O seu nome, — diz ele, — é Thomas J. Queen, e estava antes em I,os Angeles. Quer que o snr. se comunique com seu filho João que está agora era S. Francisco”. O especta­dor investiga o caso. Acha que existe um tal João Queen em S. Francisco; que o pai dele, Thomas Queen, estava em Melbourne, Austrália, e que foi morto no mesmo dia em que o médium lhe fez a comunica­ção". J277).

O próprio Padre Heredia, que propõe a telepatia para solucionar todos os casos de

(27G) LUCIEN ROURE — I.e M ervcllleux Splrlte, pg. 254-266.

(277) Pe. H EREDIA — O Eoplrltlom o e o Bom Senão,pg. 139.

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com unicações, confessa que “neste caso hi­potético a telepatia não tem pronta explica­ção de como o médium conheceu a fisiono­mia do hom em ”, etc. (278) Em seguida, com uma tanta incoerência, dá explicações que não satisfazem nem mesmo a ele, mas conso­la-se com dizer que o futuro há-de esclare­cer muita coisa.

Nestes casos com plexos, assim como nou­tros, todos eles decorrentes do estado de tran­se, o mais razoavel é admitir, logo de inicio, a intervenção de um agente intelectual. Esta é, aliás, a opinião do próprio P adre Here- dia, e não sabemos a razão por que os auto­res que se estribam no jesuita m exicano, para verem em tudo fenôm enos naturais e te­lepáticos, não prestaram atenção nesta pas­sagem lum inosa de seu livro:

“Nesses casos (de transe), o médium muitas ve­zes tala ou escreve automaticamente, ou faz ambas as coisas, manifestando um conhecimento de que, em seu estado normal, nilo tem experiência. Conforme certas relações, ESTE CONHECIMENTO E ’ DE TÃO EXTRA­ORDINÁRIO CARATER QUE NÃO ADMITE EXPLI­CAÇÃO SATISFATÓRIA, A NÃO SER A DE UMA TER­CEIRA INTELIGÊNCIA". (273).

Enfim, há ainda certas com unicações que exigem, ua outra extrem idade da linha, um transmissor intelectual: são aquelas que se

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transmitem em lingua que o médium não co­nhece. Chama-se g lotolalia ou xenoglossia (280) a esta ordem de com unicações em lín­gua estrangeira.

Ouçamos a experiência pessoal do dr. Fe- licio dos Santos. Diz ele:

"Entre muitos fatos estupendos de mediunismos diversos, por mim observados, referl-lbe (a Carlos de Laet) as comunicações em latim, do falecido dr. L., que fora nosso amigo e professor, meu e dele.

“Contei-lhe que, exigindo eu como prova de iden­tidade uma comunicação em latim bom, e não ma- carrOnico, como me dera outro espírito; que, sendo assunto da atualidade a pastoral de Leão XIII aos bis­pos franceses, fora eu surpreendido por esta comuni­cação, em Ictrn própria do dr. L., que me era bem conhecida:

Com m ovlt Petrum gallu s, p loravit e t illc;Nunc P ctrus ga llu n i oorrigit, i llc negat.Isto é: um galo comoveu a Pedro e ele chorou;

agora, Pedro corrige o galo e este nega. Note-se o tro­cadilho de gallus, — o galo, e gallus, — o francês. Como se sabe. Leão XIII aconselhara aos católicos franceses aceitarem a república como governo de-fato, e cuidarem em cristianizá-la. Não foi ouvido pelo maior número.

“E contel-lhe mais que, estando presente minha esposa, depois de o pretenso espirito do dr. L. se ma­nifestar por sinais inequívocos e particularidades que, entre os assistentes, só eu e ela lhe havíamos conhe­cido, ofereceu tambem a ela um autógrafo, Indican­do onde devia colocá-lo. E foi este:

(280) Term os form ados do grego: G lotolalia, de glosaC ou glnttt, — lingua. — e Inlein, — fala r. Xenogloailn, do xenos, — estrangeiro, o glossê, — lingua.'

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“Heus! vintor: hlc vir e t uxor non Iitigant.(Olá, viandante! Aqui marido e mulher não disputam).

E agradecendo eu o madrigal, apareceu outra co­municação, — essa era português, a qual nos fez pas­sar do prazer ao despeito:

Isto é um dístico que copiei da pedra de um se­pulcro. '

“Realmente, dentro dele podiam estar marido o mulher sem brigas.

“Entre outras comunicações curiosas, citarei es­ta: Pedindo eu um pensamento em inglês, sobre Wa­shington, ao mesmo dr. L., que tambem ensinara essa lingua, apareceu este autógrafo:

Hc was a sworcl whoso blado has ncver bccn wet but in Iibevty’s foc. (Ele foi uma espada cuja lâmina jamais se molhou em outro sangue senão no dos inimigos da liberdade).

“Não se pode contestar a tal ciência do verdadei­ro Espírito do espiritismo; se é um serafim decaído é chefe de legiões angélicas. . . Perdendo a inocência, não perderam eles a inteligência; aplicam-na para su­gerir o mal, — a sujidade e a m entira principalmen­te ”. (281). (Casos Reais a Registar, empresa Editora A. B. C. limitada, 1937, pág. 185-7).

**

O dr. Felicio dos Santos não fora homem tido como demasiado crédulo; político notá­vel na monarquia e na república, homem de ciência, m édico notável, abandonara a reli­gião católica, que era a de sua fam ilia, e tor­nara-se, primeiro, m aterialista e, depois, es­pirita praticamente. Voltando ao grêmio da

(2S1) CnxoH ItcalH n ReglNtiir — E inprssa ed. A.B.C., 1927, PB. 185-187.

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Igreja, recuperando a fé, escreveu o seu Ca­sos Reais a Registar , e ninguém lhe contestou as declarações que fez sobre o que vira no es­piritismo.

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CAPITULO III

MENSAGENS DE CARATER RELIGIOSO. - A RELIGIÃO ESPIRITA.

A RELIGIÃO ESPIRITA

Os espiritas, quanto ao modo de encara­rem a religião cristã, dividem -se em dois grupos:

a) Os grandes teóricos, — Grupo A;b) Os praticantes, — Grupo B.

Os primeiros são negativistas. Negam tu­do. A julgá-los p ek s suas palavras, diremos que em nada diferem dos materialistas. Os segundos dizem-se cristãos. Citam os Evange­lhos. Admitem, pois, os Livros Santos como fonte uutorizada de ensinam entos religiosos. Admitem, portanto- de acordo com os Evan­gelhos, a existência humana de Jesús-Cristo. Pretendem que a doutrina espirita é emimen- temente cristã. (282).

Julgaremos os dois grupos num só capí­tulo. Já que o grupo B cita a Bíblia e se diz

(282) ALLAN KAKDEK — Lo Livre des EprI«*, pg.

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cristão, quer dizer que admite a Bíblia como palavra de Deus. Aceita os ensinos de Cristo.

Vamos provar, contra esse grupo, que to­da a doutrina “ dos espíritos” c contra a dou­trina da Biblia.

Como o grupo A nega as mesmas verda­des negadas pelo grupo B, refutado este, esta­rá refutado aquele. Mostraremos qufe^o Espi­ritismo nega todos os dogmas da Religião Ca­tólica, dogmas estes contidos, explicita ou im­plicitam ente, na Bíblia. Procederemos por partes.

DEUS.

a) Para a R eligião Católica, há um só Deus. (Deut., 6 :4). Mas esse Deus é pessoal, visto como se distingue das coisas que criou. (Gen., 14:19). E’ eterno, é ato puro, é ens a se, necessário, espirito puríssimo. O que fez, podia não fazer. Quer dizer que agiu livre­mente, criou livrem en te:

“Fez tudo o que quis fazer, no Céu, na Terra, no mar e cm todas as profundezas.” (283).

“E Deus criou no tempo c não na eterni­dade, visto como ele “criou no principio (Gen., 1 :1 )” e a eternidade não tem princi­pio.

b) Os espiritas, grupo A, afirm am que a m atéria é eterna e que Deus não se distingue da m atéria; a m atéria é deus. Panteism o, por conseguinte. Não existe um Deus pessoal. Mas um Deus, que não seja pessoal, não é

(233) “ Omni» qtiiicouniquc volult feclt ln coelo, ln te rrn , lu m arl ct ln ouinlbux iiIij-hhI*'’. Salmo 134:0.

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Deus. Logo, por ilação, negam a existência de Deus. São ateus:

“Para nós, a idéia de Deus não exprime a idéia de um ser qualquer, mas a idéia do ser, que contem todos os outros se res. . . O mundo renova-se incessan­temente em suas partes: o todo é eterno". (284).

“A ciência já destruiu as concepções ancestrais do universo, como: Divindade exterior ao universo, C é u .. . ” (28B).

“O Ser Supremo não existe fora do mundo, mas é parte integrante e essencial dele.” (286).

Outros espiritas, — grupo B, — admitem Deus, mas negam-lhe atributos essenciais: a justiça, a providência, a necessidade, a onipo­tência. Assim, o Deus desses espiritas ou é a matéria, o grande Todo, ou é um Deus mu­tilado, sem atributos essenciais. (287) Para eles, Deus não é criador no sentido de enle necessário, que tudo tirou do nada:

“A palavra criar, dizem, deve desaparecer dos di­cionários, porque é uma palavra sem sentido. Deus não criou; produziu. Não criou, porque tudo é maté­ria; mas condensou as matérias imponderáveis, que ti­nha eni seu poder, e animou-as pela sua força e von­tade. Estas moléculas em suspensão. . . são precisa­mente os materiais de que se serviu, e é esta conden­sação maravilhosa que constitue a sua obra.” (288).

Alem disso, afirm am que Deus criou ne­cessariamente, c assim negam a liberdade de

(284) LÉON DENIS — A prio In Mort, pg. 144-145.(2S5) Dr. E. GYEL — EHpIrKIxnio, passim.(28G) LÉON DENIS — Ln grande Ênlgmc, pg. 1G. (287) Dr. E. GYEL, opus clt., pg. 115.(2SS) CH, D'ORlNO — Ln geníxc de pg. 15.

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Deus. Por conseguinte, se Deus criou neces­sariamente, criou desde que é Deus; por isso, todo o criado é eterno, inclusive a matéria:

"A produção (de Deus) é eterna, porque Dous, por existir sempre, também sempre produziu. Deus n3o pode estar nunca sem ag ir”. (289).

“Forçoso é supor o universo co-eterno com a di­vindade”. (290).

Em conclusão: a doutrina espirita leva para o panleism o, para o ateísm o e para o m ais radical dos m aterialism os.

SANTÍSSIMA TRINDADE.a) Para a Religião Católica existe um

só Deus. Mas em Deus há três pessoas, Pai, Filho e Espírito-Santo. Isto é, Deus é uno em essência e trino em pessoas. E’ o grande dogma da Santíssima Trindade. (Mateus, 28:19).

“Três são que dão testemunho no Céu: o Pai, o Verbo e o Espírito-Santo; e estes três são um só .” (I Jo., 5:7).

b) Os espiritas, de ambos os grupos, ne­gam que em Deus haja três pessoas. Não ad­mitem, portanto, a Santíssima Trindade. Es­tão contra os Evangelhos de Nosso Senhor Jesús-Cristo.

“Quantas pessoas há em Deus? pergunta Xata- linl. E responde: Uma só. Deus criador, Deus salva­dor”. (291).

(289) CH. D'ORINO. op. clt„ ps. 15.(290) MARTINS VELHO — Aa potCnclaa ocultr.H iln nl-

mn, pk. 345. citado por Valérlo Cordeiro, O E spiritism o,Pg' (291) UMBERTO NATAL1NI — Glt Splrltl e II loro Mondo, PB. 82.

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JESÜS-CRISTO.

a) Para a Igreja Católica, Jcsús é o F i­lho de Deus feiio lioniem :

‘‘O Verbo fez-se carne” (S. João, 1:14).E ’ a segunda pessoa da Santíssima Trin­

dade:“Batizando-os em nome do Pai, e do Fi­

lho e do Espirito-Santo” (Mateus, 28:19).“Nasceu de Maria Virgem ” : (Evangelhos

Siuóticos).“Não teve pai, segundo a carne, mas foi

concebido por obra do Espirito-Santo.” (Lu­cas, 1 :35).

E’ Deus, como o Pai e o Espirito-Santo.Só Deus tem o poder de perdoar c pe­

cado, porque o pecado é ofensa de Deus e só o ofendido pode perdoar a ofensa; ain­da m ais: só Deus pode fazer milagres em seu próprio nom e, porque o m ilagre é uma suspensão particular da lei natural, e só o le­gislador pode suspender a sua lei. Orn, Je- sús perdoa pecados e, para provar que po­de fazê-lo, opera m ilagres em seu próprio no­me. (Mateus, 9 :6). Logo Jesús é Deus.

Alem disso, o Evangelho de S. João decla­ra explicitam ente que Jesús, o Verbo de Deus, é Deus e que, como Deus, já existia quando as coisas começaram a exislir; portanto, vindo para o mundo visivel, veio para o que era seu, porque por ele tudo se fez que foi feito.

“No princípio existia o Verbo. . . O Verbo era junto de Deus, o Verbo era Deus. Tudo por ele foi feito. Velo para o que era seu, e os seus não o quise­ram reconhecer”. (João, 1:1-15).

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Assim, Jcsús é Deus; mas d homem tam­bém, descendente de Adão, por Maria. (Ma­teus c Lucas, G enealogias).

Como Deus, os seus atos tem valor infi­nito; como homem, Jesús representa o ofen- sor na obra da Reparação do pecado. (292).

Veio a este mundo para salvar os homens, para dar-lhes a graça da salvação: João, 1 0 : 1 0 .

Foi assassinado, mas sua morte teve por fim salvar os hom ens: Isaias, 57:7 e II Cor., 5:15.

Ninguém pode salvar-se a não ser em nome de Jesús-Cristo — : “Non est in alio ali- quo salus, nec aliud nomen est sub caelo da­tum Iwminibus, in quo opporteat nos salvos fier i.” (Atos, 4:12).

b) O espiritismo nega toda esta doutrina relativa a Nosso Senhor Jesús-Cristo. Para os espiritas, Jcsús não é Deus; é, quando m ui­to. um deus da Terra, expressão que nada significa. (293) É um m édium , — um espí­rito superior que se encarnou para instru ir os homens; é um filósofo, um grande homem, mas sim ples homem.

" . . .espírito superior, colocado por suas virtudes, muito acima da humanidade terrestre, Jesús era o módium de Deus”. (194).

Sc Jesús-Cristo não c Deus, os seus mere­cimentos não são infinitos, não tem valor de resgate divino. Aliás, todos são unânim es em dizer que Jesús se encarnou, não para salvar

(202) r c . D r. VALÉRIO CORDEIRO — O E sp iritis­mo, pp. 61.

(203) CIT. D’ORINO — Lo pènese de 1’flme, pp. 3G5.(201) ALDAN KARDEC — Genesis, c. 15.

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os homens, mas para ajudá-los a progredir in- leciual e moralmente. (295) Logo, os homens podiam prescindir da vinda de Jesús. Assim, o espiritismo nega os dogmas da Incarnação e da Redenção, segundo o conceito biblico.

Depois, nada havia a resgatar, porque, conforme veremos, o espiritism o nega tam­bém o fato do pecado original.” O espiritis­mo, destruindo a divindade de Cristo, negan­do o pecado original, a Redenção e a Graça, leva os seus adeptos ao racionalism o.” (296)

Até aqui tínhamos visto já duas conse­quências perniciosas do espiritism o: panteís­m o e ateísm o. Junte-se mais esta: raciona­lismo.

O HOMEM.a) A Religião Católica ensina que o cor­

po do homem não foi criado imediatamente, mas form ado de matéria preexistente, signi­ficada pela palavra barro ou lim o:

“Formauit igitur Deus hominem de limo le r ra e — ” (Gen., 2:7).

Isto não quer dizer que o corpo humano seja o resultado da evolução lenta de corpos anim ais inferiores. A R eligião Católica, se não condena o evolucionism o aplicado aos anim ais, condena-o, quando aplicado ao ho­mem, porque este foi objeto de uma ação di­vina direta e especial; a respeito da produção dos anim ais a Bíblia diz que a terra se encar­regou de realizá-la:

“Produza a terra a alma vivente, — gado e repteis, e bestas-feras.“ (Gen., 1:2-1).

(295) LÉON DENIS — CaterhlM ue Spirlte, pg. 89.(296) Po. CORDEIRO, op. cit., pg. 64.

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Mas a respeito do homem, De. s aparece agindo por si: “Façam os o homem à nossa imagem e sem elhança.” (Gen., 1:26).

Isto a respeito do corpo. Quanto à alma, é certo que esta não foi formada de matéria preexistente, mas criada em primeira mão, im ediatam ente:

“Inspirou Deus na face dele um sopro de vida .” (Gen., 2:7).

Para a primeira mulher temos isso mes­mo, com diferença de que o seu corpo foi for­mado já de matéria viva, e não de elementos inanimados.

É pelo lado da alma e não pelo lado do corpo que o homem foi criado à imagem e sem elhança de Deus (Gen., 1:26), pois Deus não tem corpo. Por ai conhecemos algo da na­tureza da alma. Ela é sim ples, isto é: não tem parles integrantes; é im aterial, isto é. in ­corpórea; é espirito, isto é, intrinsecam ente independente da m atéria; é im ortal, porque, sendo sim ples e incorpórea, é incorrutivel, e, sendo espirito, não depende da matéria, para existir.

Do primeiro par, — Adão e Eva, — pro­cedem todos os homens. O corpo aparece por via de geração e as almas são criadas, direta­mente, por Deus, à medida que os corpos vão sendo concebidos:

“De u m só hom em f ize ra D eus descender todo o gônero h um ano que h a b ita so b re a T e r ra in te ir a ” . (2 9 7 ).

(297) “ F ecit e s uno oiunc jçenus komlnnm inhnbltnre m p e r unlversam fedem te rra e ”. (Atos dos Apóstolos, 17:26).

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0 primeiro casal fo i criado inocente e, não sendo isso exigido pelas condições da na­tureza pura, foi elevado à ordem sobrenatu­ral. por extremos da bondade de Deus; dai, duas ordens de dotes que devia transmitir a seus descendentes: os dotes naturais, — a vida e seus benefícios, e os dotes preter-natu- rais, que constituíam um privilégio da espé­cie hum ana: isenção de dores, saude perpé­tua, im ortalidade. Tendo, porem, pecado, Adão e Eva perderam os dotes preter-natu- rais. O seu pecado foi pessoal e representati­vo. Enquanto pessoal, foi-lhes perdoado; mas enquanto representativo da espécie, privou-os temporariamente do Céu e, alem disso, pas­sou para todos os seus descendentes. É o que se chama pecado orig inal:

“A ssim com o, pelo pecado de um eó hom em , fi­caram todos su je ito s à condenação , a ssim , pe la ju s t iç a de um só, Je sús-C ris to , veio p a ra todos a ju stificação que d á v id a “ (R om ., 5 :1 8 ) .

" P e lo que, como por um hom em e n tro u o pecado no m undo , e pelo pecado a m orte , assim tam bem a m o rte passou a todos os hom ens, por isso que todos p eca ram n e le ”. (R om ., 5 :1 2 ) .

b) Tudo isso é negado pelo ESPIRI­TISMO.

Quanto ao corpo, o espiritismo nega a. sua form ação im ediata por Deus; admite o transform ism o rigoroso, não só quanto ao corpo, mas ainda quanto à alma:

"A noção d a evolução a n ím ic a un id a à noção da E volução o rg â n ic a . . . exp lica tu d o ”. (2 9 8 ).

(298) Dr. E. GTEL, — E»pirltUmo, Dff. 10S.

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As formas teriam aparecido espontanea­mente; evolucionaram , em seguida, até o apa­recimento do homem. Isto é diametralmente oposto ao ensino de Cristo. A Bíblia diz, cla­ramente, que o homem foi feito por Deus já cm estado adulto, e dotado de sexo. 0 sexo foi dado para a transmissão de um ser especi­ficam ente igual ao pai, e em estado orgânico perfeito, sem necessidade de posterior evolu­ção. E isto desde o primeiro homem. Portan­to, nada de evolucionism o. Mas o espiritis­mo dogmatiza o contrário. Diz ele:

“ E ’ ve rdade que todos n ó s passam os pelos o rga ­nism os in te r io re s . . . e os a n im a is tam bem estão des­tin a d o s a ch eg a r à h u m a n id a d e ”. (2 9 9 ).

“A a lm a vai p rim e iro e n c a rn a r no m in e ra l, de­pois no v eg eta l, enfim no an im al p rec u rso r da h u m a ­n idade, p a ra , u ltim am en te , a fe ta r o corpo do ho­m e m ”. (3 0 0 ).

Logo, os homens descendem dos animais. (301) Dos espiritas, uns afirm am que Adão não foi o primeiro homem, outros lhe negam existência, e relegam-no para o terreno dos mitos. (302) Sendo assim, os homens não pro­cedem de um casal único.

Vimos que o corpo precede à alma; não só para o primeiro homem como para os seus descendentes, a alma foi criada diretamente por Deus, depois de o corpo estar form ado:

“ F o rm ou o h o m e m . . . e ln sp iro u -lh e um esp iri­to , — sp irneu lum v itn c ” . (G en., 2 :7 ) .

(299) Idem, Ibidcm. pg. 132.(300) CH. D’ORINO, op. cit., pg. 23.(301) Dr. E. GYEL,. op. clt.. pg. 88-87.(302) ALLiAN KARDEC — Lc» Livre» de» E«prl(», n.o»

43 a 50.

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Para o espiritismo, porem, a alma sem ­pre existe antes do co rp o :

“A a lm a su b s is te à de stru içã o do organ ism o , co­mo p reex iste à su a fo rm ação". (3 0 3 ).

“ Com a p reex istência da a lm a tu d o se exp lica ló ­gica e n a tu ra lm e n te ”. (3 0 4 ).

Na Bíblia, a alma é criada. No espiritis­mo, é produto de evolução da m atéria:

“ H á evolução pa ra o p rincip io psíquico. No co­meço d a evolução, a a lm a é s im ples e lem en to de v ida , um a in te lig ê n c ia p o te n c ia l”. (3 0 5 ). “A a lm a h u m a n a não foi c ria d a c om pleta, com to d a s a s facu ld ad es q ue ap ro u v e d a r- lh e o C riado r. F o rm a -se e desenvolve-se po r s i ”. (3 0 6 ).

Sobre a natureza da alma, o espiritismo confessa a sua ignorância. (307) Tudo, pois, que afirma sobre a alma é apenas hipótese. Numa coisa, porem, estão de acordo quase todos os teóricos espiritas: no negarem a im a­terialidade da alma. Para eles, a alma não é imaterial nem sim ples:

“ N ão sabem os se o p rinc íp io in te lig e n te tem a m esm a origem que a m a té r ia . . . ou se é um a em ana­ção da D iv indade" . (3 0 8 ). E m todo caso, “ é m enos e ia - to d izer que os e sp írito s são im a te r ia is . . . po rq u e o e sp irito , sendo um a c riação , deve se r a lg u m a coisa: é a q u in ta -essência da m a té r ia ”. (3 0 9 ).

(303) Dr. GYEL, op. clt., pg. 8.(301) ALLAN K AR DEC — Le Livre deH Eeprltn, n.»

130.(305) Dl'. GYEL, op. clt., pg. 13.(30G) Dr. GYEL, op clt., pg. 116.(307) Dr. GYEL, op. clt., pg. 28 e LÉON DENIS, Cn-

teehlNine Splrlte. passlm.(30S) ALLAN KARDEC — Le Livre deg Egprltg, pg.

12.(309) Idem, Ibldem, n.og 78 • 82.

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"A nosso ver, as duas expressões e sp ír ito e m a té ­r ia deveriam se r ba n id as. E m vez delas, e m p re g ar ía ­m os ap en a s a p a lav ra su b s tâ n c ia p a ra de sig n ar a es­sência das c o i s a s . . . D esta so r te aca b a ria to d a d iv e r­gência e n tre m a te r ia lis ta s e e sp ir itu a l is ta s , po rque a m a té r ia e o esp írito p a ssaria m a se r sim ples m oda li­d ades ou estados de su b s tâ n c ia ” . (3 1 0 ).

Portanto, alem de levar ao atéism o, ao panteísm o e racionalism o, o espiritismo leva tambem ao m aterialism o.

Errando sobre a origem da alma hum a­na, os espiritas erram ainda sobre o seu des­tino, pois, como veremos adiante, origem e destino são coisas conexas.

FRATERNIDADE HUMANA — PECADO ORIGINAL.

. Vimos que o espiritismo não admite a origem monogenética dos homens. Para ele, os homens foram aparecendo na Terra, em consequência de uma evolução lenta e pro­venientes de germes esparsos.

Por conseguinte, se os homens não proce­dem todos de Adão e Eva, o pecado original é uma fábula. É isto, de-fato, o que vocife­ram os autores espiritas:

"D esapareceu o dogm a do pecado o r ig in a l com su a s consequências In ju s ta s e b á rb a ra s " . (3 1 1 ).

Negaram, pois, o pecado original, mas, não podendo negar as suas consequências, — a existência do mal, os sofrim entos, as pena­lidades, — tentaram explicar estas de um

(310) Idcm, ibldem, pg. 35.(811) Dr. GTEL — Eaplrltlam o, pg. 114.

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modo grotesco: ressuscitando o velho absur­do da reencarnação.

Outra consequência do erro espirita: o desaparecimento da fraternidade humana. Com efeito: se os homens se dizem irmãos, não é por terem sido todos criados pelo m es­mo Deus, não; aliás, todas as criaturas se­riam irmãs umas das outras, porque todas foram feitas por um mesmo Deus. 0 burro seria irmão do homem. A pedra seria nossa irmã. Isto é erro.

Na doutrina da Bíblia, somos todos ir­mãos, porque somos todos filhos de um m es­mo pai remoto, segundo a carne: Adão. Se cha­mam os a Deus "Pm nosso que lestais no Céu”, é porque Deus é pai desse nosso pai. Adão procede diretamente de Deus e não de m a­cacos ou de causas materiais fortuitas— : “Jesús, conforme julgavam , era filho de Jo­sé, ie este veio de Heli, e este de Matat, e este de L e v i . . . e este de Set, e este de Adão, e es­te de Deus." (S. Lucas, 3:23-48).

Portanto, o conceito de fraternidade, hu­m ana não existe no espiritismo. Se ós espiri­tas se dizem irm ãos é com impropriedade de linguagem ; força do hábito somente, por estarem acostumados com os termos cristãos.

ANJOS.

a) De negação*em negação, toda a dou­trina dê Jesús se esboroa no ensino espiriti- tico.

A Bíblia admite três categorias de cria­turas:

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1.°) As criaturas materiais, com suas'energias c propriedades;

2.°) As criaturas imateriais, ou espíritos;3.°) As criaturas mixtas, — que são os

homens.Quanto às coisas materiais e às mixtas,

isto é, quanto à criaçãço do m undo visivel, bas­te consultar os dois primeiros capítulos do G ênese:

“No principio Deus criou o Céu c aHerra.”

Mas Deus não fez só o mundo visivel; fez tambem o invisível:

"N ele fo ram c ria d as to d a s a s coisas, nos C éus e n a T erra , — as co isas inv is íveis e a s visiveis, — queros tro n o s, q u e r as dom inações, q u e r os p rincipados,que r a s p o te s ta d e s” . (Colossenses, 1 :1 6 ) .

Nas Escrituras Sagradas, temos ainda dois ensinos importantes relativos ao anjos:

1.°) Os anjos não são as almas dos ho­mens;

2.°) Os anjos são bons, uns, e maus, ou­tros; mas, no princípio, todos foram bons.

A alma distingue-se do anjo, primeiro, porque a alma foi criada no corpo e em or­dem ao corpo, ao passo que o anjo não; este foi criado separado e independe dle corpo; se­gundo, porque o anjo exerce m isteres especi-: ais dcLerminados por Deus, — como ser en­viado embaixador junto aos homens, ser guarda de indivíduos, cidades, reinos. E is­

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so não se lê das almas. Cf.: Lucas; Atos, 12:11; Mat., 1:11.

Grande é o poder do anjo no mundo vi- sivel: (4.° li v. dos Reis, 9:35; 2.° dos Mac., 15:22); o da alma separada do corpo é nulo. Morrendo Lázaro, “a sua alma fo i levada p e­los anjos ao seio de Abraão”; isso prova que a natureza da alma é diferente da do anjo, e que a alma e anjo são seres diferentes e dc poderes diferentes; são espíritos, mas em sen­tido diverso. (Lucas, 16:22).

O anjo mau, a quem chamam os demônio, que quer dizer gênio, ou diabo, que significa caluniador, não se distinguie do anjo bom quanto à natureza, mas sim quanto ao esta­do. Os anjos maus foram criados bons c, de­pois, tornaram-se maus e foram condenados, sein remissão possivel:

“ Como cais te do Céu, ó L ú c ife r? ” (Isa ia s , 1 4 :1 2 ) .“ D eus não perdoou aos a n jo s que p e ca ra m ” . (2.*

de P e d ro , 2 :4 ) .“ E u v ia a S a ta n az c a ir do Céu como re lâ m p a g o ”.

(L uc., 1 0 :1 8 ) .“ Je sú s su b ju g o u n as cade ias e te rn as , sob as t r e ­

vas, o s a n jo s que não c o nservaram o seu principado , m as ab an d o n a ra m a su a liab ltagão" . (S. Ju d a s , 1 :5 -7 ) .

A Sagrada Escritura ensina a existência dc um agente real, pessoal e não metafórico, inim igo dc Deus, espírito imundo, cujo ofício é guerrear a Deus e perverter os corações dos homens. No Levitico Deus proibe oferecer sa­crifícios aos demônios:

“ E nunca m ais im o larão su a s v ítim as aos dem ó­n io s." (L ev. 1 7 :7 )

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Alhures, Deus se queixa de que seu povo oferece sacrifícios aos demónios: (Deutcronô- mio, 32:17).

“ Im o la ra m aos dem ônios os seus f ilhos e a s suas f i lh a s .” (Salm o 105, 3 7 ) .

b) O espiritismo batalha todas estas no­ções. Para ele, não há anjos bons nem dem ô­nios. Os anjos bons são almas boas desencar­nadas. Os diemônios são tambem almas de­sencarnadas, que ainda não atingiram a per­feição. E, como as almas desencarnadas se chamam espíritos, segue-se que anjo, dem ô­nio e alm a são a míesina coisa, porque tudo é espírito.

“ Segundo o d o u tr in a e sp ir ita , os a n jo s não são se re s à p a rte e de n a tu re z a espec ia l; são os esp írito s de p r im e ira o rdem , isto é, a queles q ue a tin g ira m o estado de p u ro s e sp ír ito s , dopois de te rem passado por todas as p rovações”. (3 1 2 ).

Contrariando a doutrina divina, exara­da nas Sagradas Letras, ensina Allan Kar- dec:

“ S a ta n az é ev id en te m e n te a pe rson ificação do m al, sob um a fo rm a a leg ó r ic a ; po rque não se pode adm i­t i r um se r m au que lu ta , p o tência c o n tra po tência , com a D iv indade, e c u ja ún ica ocupação é c o n tra r ia r os seus desígn ios. (3 1 3 ).

“ Os e sp ir ita s nos ensinam q ue D eus não pode c ria r s e re s vo tados ao m a l o in fe lizes e te rn am en te . Se­gundo* e les ,não h á dem ônios n a acepção a b so lu ta e r e s t r i ta deste te rm o ; o que h á são e sp ír ito s im perfe l-

(312) ALLAN KARDEC — Inetrnctloii P ra tique «nr les M aulfeutntlonn «pirites, s. v. nnge, pg. 8. Pa ris 1923.

(318) Idem — Lc Livre des E sprlta , pg. 39.

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to s q ue podem , todos, to rn a r - s e m e lho res pelos seus e sforços e p o r su a von ta d e" . (3 1 4 ).

A confusão cardecista é m anifesta. Há má fé da parte de Kardec. A Igreja nunca ensinou que Deus criou seres votados ao mal. Deus não criou ninguém destinado ao infer­no; não criou o demônio para o inferno, mas sim o inferno para o demônio, segundo o tex to :

"A fasta i-vos de m im , m a ld ito s , e Ide p a ra o fogo e te rn o que fo i p rep a ra d o p a ra o diabo e p a ra seus se­qu a ze s”. (M at., 2 5 :4 1 ) .

NOVÍSSIMOS.

a) A alm a humana, separada do corpo, segue para um dos três destinos: purgató­rio, que é temporal, Céu e inferno, que são eternos.

Nada há m ais certo, segundo o texto bí­blico. Quanto ao Céu e inferno, se conside­rarmos, no segundo, o tormento íniim o do condenado, — o remorso, a pena de dano, — e, no primeiro, a felicidade perfeita dos bem-aventurados, — podemos dizer que são dois estados, e, como tais, são independentes de lugares. Mas não há dúvida que, tanto o Céu como o inferno, são tambem dois luga­res determ inados, onde as almas gozam ou sofrem o seu estado definitivo.

Quanto ao Céu, consulle-se, por exem ­plo, S. Marcos, 16:19; aí se lê que Jesús su­biu para o Céu, onde está sentado à mão di-

(311) ALLiAN KARDEC — Instructlon pratique, s. v. demon, pg. 10.

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reita de Deus Pai. Veja-se ainda Gen.; 28:17. etc., etc.

Quanto ao inferno, a Escritura o descrie- ve como lugar d e torm entos (315) e dele fa­lam os Evangelhos 17 vezes. Aqui se diz que o rico, morrendo, foi sepultado no inferno; ali sentencia Jesús: “Ide, malditos, para o fo g o »

Em resum o: Os maus irão para o suplí­cio ieterno, os bons para a vida sem fim . (S. Mateus, 25:46).

Quanto ao Purgatório, dele há menção bastante clara nos Livros Santos. Alem do2.° livro dos Macabeus, 12:44, leia-se: Ma­teus, 5:26 e 12:32, Filip. 2:3, la. Petri, 3:19 je:

“ . . . o fogo provará qual seja a obra de cada um; se a obra de alguem se queimar, sofrerá detrimento; porem o tal será salvo, todavia como pelo fogo.” 1.“ aos Cor., 2:14-15.

b) Os espiritas põem por terra toda es­ta doutrina de Jesús; negam a Justiça D i­vina. Todas as religiões querem uma sanção condigna após a vida terrena. O espiritismo prescinde dessa sanção. Com efeito, exam i­nando o sistem a íespirita, encontramos nele esta série de afirm ações:

1 .') Céu e In fe ru o , nos E vange lhos, são nlcgo-r in s;

2.°) Céu c In te rn o são e s tad o s da a lm a, e não lu ­g a re s de p rêm io e castigo ;

3.°) Fogo e terno é um a m e tá fo ra e não um a r e a ­lid ad e;

4.o) A e te rn id a d e das penas não ex iste ;

(315) I.ociim tormentoriim, Lucan, 1G:23.

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5.u) O P u rg a tó r io é ne ste m undo, pa ra o qual a a lm a vo lta , reen ca rn an d o -se .

“N ão h á in fern o localizado no sen tido v u lg a r li­gado a e s te te rm o ; c ada qua l o tr a z em si m esm o pe­los so frim en to s que to le ra ”. (31G ).

“ Os e sp írito s re je ita m o dogm a da e te rn id a d e das p e n a s”. (3 1 7 ).

“A localização absoluta da região das penas e das recompensas só existe na imaginação do ho­mem”. (318).

“ O p u rg a tó r io ex iste nos m undos de exp iação co­mo a T e rra , onde os hom ens expiam o passado e o p resen te , em proveito do f u tu r o ”. (3 1 9 ).

"A d o u tr in a e sp ir ita nos m o s tra a h a b itaç ão do3 bons, não nu m lu g a r c irc u n sc rito , m as onde q u e r que h a ja bons e sp írito s , — r.o espaço p a ra a queles que são e rra n te s , nos m undos m enos p e rfe ito s p a ra os que estão e n ca rn a d o s" . (3 2 0 ) . Cf. a in d a D ’O rino, L a gcnc- so d e r â m e , p. 318, e D énis, C a téch ism e S p iritc , p. 31. e tc.

OUTRAS VERDADES.

Indo dc negação em negação, os espiri­tas destroem toda a doutrina de Nosso Se­nhor Jesús-Cristo:

Negam a economia da Graça, — porque a graça dc Deus c inu til;

Negam a ressurreição da carne, — por­que o corpo é apenas uma roupa que a al­ma veste e despe, à vontade; a alma não tem mais relação com o corpo de uma encarna-

(31G) ALLAN KARDEC — IiiHtruction P ra tique aur ManlfcHtatloiiu Splrltcn, |)g. 13.

(317) Idem, Ibldem, pg. 41, 31 e 36.(31S) e (310) ALLAN KARDEC — O Cíi i e o In ferna,

c. 3 c seguintes. E O Livro dos KsptrlloM, pa rte 4.*, c. 2.(320) Jdem. Instructlon pratique sn r Ich aian lfcstn-

tloiiN Spi-Ut-x. ps. 33 o 34.

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ção anlericv desde que se reencarnou num oulro;

N egam os Sacram entos. No espiritismo não há batism o, porque não existe pecado original; ,e este não existe, porque os ho­mens não procedem de Adão e Eva. Não há confirmação, nem m atrim ônio, nem ordem , nem penitência, nem extrem a-unção, porque a finalidade dos sacramientos c a infusão da graça, que o espiritismo não admite. Negam a SS. Eucaristia, porque o fundamento desta c a palavra infalível de Jesús-Cristo, — Deus ie H om em , — mas Jesús não é Deus no sis­tema espirita;

Negam a D ivina M aternidade de Maria e os dogmas relativos a Maria porque, se Je­sús não é Deus, Maria não é Mã;e de Deus.

Negam a ressurreição de Cristo.Como já dissemos, negam a ressurrei­

ção dos corpos. Ou im plicitam ente, ensinan­do que a alma não retorna nunca para seu próprio corpo, mas para outro. Ou explici­tamente:

“ Os corpos ficam to ia lm e n te de stru íd o s, nem h á p ossib ilidade a lg u m a de a lgum d ia re ssu sc ita rem " . (3 2 1 ).

Os Evangelhos, porem, afirmam, a cada passo, o falo “da ressurreição” dos corpos:

“ E eu o r e ssu sc ita re i no ú ltim o d ia ”. (Jo ão , 6 :5 3 ) .“ Bem sei que h a -d e re s su s c ita r na re ssu rre iç ão do

ú ltim o d ia ” . (Jo ão , 1 1 :2 1 ) . Cf. a in d a : João , 5 :23 -29 . A tos, 1 7 :2 3 :2 4 ) , Cor., 25 :51 e 42, etc.

(321) ALLAN KARDEC — O Livro do* EapfrMoa, n.o 1010.

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E no Sím bolo dos A póslolos: “ Creio na ressurreição da carne, na vida eterna. A m em .”

Negam a necessidade de oração e o valor do arrependimento:

"A prece se rv e som en te p a ra nos fortaleceT em nossos so frim e n to s” e a s fa ltas.pão rep a ra d as , não pe­lo a rrep e n d im e n to , mas " p e la p rá tica do bom”. (322).

MORAL.

Segundo o espiritismo, a lei divina con­siste apenas “na m áxim a do amor do pró­x im o.” (323) Fazer o bem c o único diever do homem. O homem deve abster-se som en­te do prazer que prejudica o próximo. (324) Assim, portanto, “não deverá rejeitar os pra- zeres da existência, nem considerá-los como pecados.”

Dentro desta moral ampla e imprecisa, cabem todas as patifarias, — o adultério, a prostituição, a avareza, os vícios solitários, o homo-sexualismo, .etc. É o hedonismo de Epicuro em ampla escala. Ademais, o espi­ritism o não aceita o decálogo como moral inspirada.

A moral espirita condena o celibato e as m ortificações do corpo. (325)

“Não enfraqueçais o corpo com privações inúteis e macerações desnecessárias”. (32G).

(322) LÜON DENIS — Cntechísmc Splrlte, pg. S e 9.(323) Idem — Cntcnul»«>c Splr., pg. 11.(324) Dr. E. GYEL — E spiritism o. pg. 128.(325) Dr. E. GYEL, Ibidom, pg. 128.(32G) ALLAN KARDEC — O E vungelho scgnndQ o E s­

piritism o, c. 6.

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Na indissolubilidade do matrimônio es­tá fundada a existência e santidade da fam í­lia cristã. Jesús-Crislo afirma que a indis­solubilidade do vinculo c lei d iv in a : “ O que D eus uniu, o homem não separe.” (S. Ma­teus, 19:6). O divórcio c condenado.

O espiritismo, porem, ensinando que a indissolubilidade é contrária à lei natural, justifica o divórcio onde existe, e autoriza um cônjuge a abandonar o outro, onde não há divórcio. (327).

Conforme observou Felicio dos Santos, — que foi espirita, — o espiritismo reprova o suicídio. Mas tal reprovação é apenas teó­rica; na prática, o suicídio é aprovado pe­lo espiritismo, não só porque o estado m en­tal, criado pelas sessões, leva ao suicídio, como porque a doutrina da reencarnação autoriza a desejar e procurar uma encarnação nova, m ais perfeita do que a atual, e isto se pode conseguir pelo suicídio.

Alem disso, qual o castigo que aguarda a alma do suicida? Nenhum.

“ Náo h á penas d e te rm in a d as p a ra o su ic ida . H á, porem , um a consequência a que o su ic ida não pode e scap ar: é o de sap o n to " . (3 2 S ).

Para resumir, diremos que a moral dos espiritas c uma doutrina fragmentária, im ­perfeita e infantil. Como muito bem notou o Pe. Cordeiro, o espiritismo conservou, da

(327) ALLAN KARDEC — I.e Livre <Ich EsprlÍM, 11.» G!>7, 1)5. 297. — FIGUIEK — H lntolre dn Mervelllcuv, pE.

‘ (32S) I.c Livre iIch E sprllx, n.-> 937, pE. 397.

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moral evangélica, apenas o que é suave c in­dulgente. (329)

Podemos, enfim, dizer que toda a dou­trina espirita, — dogma c moral, — se sin­tetiza nisto: plágio am plo e vergonhoso. Tu­do o que o espiritismo afirma ou nega, já foi afirm ado ou negado por algum sistema religioso antigo. É o que, inconcientem ente, confessa um escritor espirita, — o dr. E. Cyel; diz ele:

“ P re ten d em os e sp ir ita s que os p rin c ip a is e le ­m e n to s de su a d o u tr in a e s tão inc lu ídos em to d a s a s g ran d e s re lig iões da a n tig u id a d e , d issim u lados sob sím bolos e em m an ifestações ex te r io res do cu lto . Cons­t itu ír a m um ensino secre to , rese rvado aos in ic iados supe rio res . E n co n tra m -se e sses e lem en tos n a s re lig iões dos D ru idas, n a s d a ín d ia e, sob re tudo , n as do E g i­to ”. (3 3 0 ).

Uma coisa, é certo, avulta no sistema es­pirita, mas sem originalidade: o seu ódio im ­placável à Igreja Católica, fundada por N os­so Senhor Jesús-Cristo, e aos ministros dessa Igreja. Oiçamos a hipocrisia com que fala Kardec:

“ E s ta nova relig ião ó cham ada a exerce r um a g ran d e jn fluônc ia n a so c ied a d e. . . E ’ e la quem h i-d e r e s ta u r a r a re lig ião de C risto , ag o ra tã o reb a ix ad a pelos p ad res a um a especu lação c o m e r c ia l . . . E ’ e la a r e lig ião n a tu ra l, que b ro ta do coração e va i d ire ta ­m en te a D eus, sem te r p o r in te rm ed iá r io s a s b a tin as ou os d e g raus do a l t a r ”. (3 3 1 ).

(329) Pe. Dr. VALÊRIO CORDEIRO — O E spirltls- ino, pg. 73.

(330) Dr. E. GYEL — E spiritism o, pg. 109.(331) Stmlles, cltndo por V nlérlo Cordeiro — O E spi­

ritism o, pg. 66.

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Embora finjam não ser inimigos do Cris­tianismo, todos os espiritas se mostram hos­tis ao Catolicismo.

“ O espiritismo, — vocifera o sr. De Noy- es, — vai ser a morte de todas as superstições, que serão destruídas como fumo; o credo de Santo Atanásio será abolido.” (332)

Aprescnta-se, pois, o espiritismo como uma Nova Religião. Mas em que se baseia? Quais as credenciais dos seus fundadores? Afirmam que sua doutrina representa uma terceira revelação feita por Deus aos ho­mens:

“A le i do A ntigo T es tam e n to e s tá pe rson ificada em Moisés, a do Novo T es tam e n to no Cristo . O e sp ir i­tism o é a te rc e ira reve lação da le i de D eus; m as não a pe rson ifica ind iv íduo a lgum , por se r o p rodu to do e nsino dado em todos os pon to s da T o rra , não por um liom em , m as pelos esp írito s , que são a s vozes do Céu, e po r um a m u ltid ão in um eráve l de in te rm ed iá ­rios. (3 3 3 ).

Mas esta pretensa revelação é nula: fa l­ta-lhe base, visto como os espíritos evocados não podem provar se vem de Deus ou de Sutanaz. A revelação judeo-crislã foi feita em plena luz, e a missão dos interm ediários ou apresentadores foi provada por milagres autênticos, praticados em presença de teste­m unhas inúmeras e em pleno dia. Em con­traste com esta clareza meridiana, a chama­da “revelação dos espíritos” é dada como feita nas trevas, a uma meia dúzia de his-

(332) Apud Cordeiro, pg. 56.(333) ALLiAN KARDEC — O Evangelho negando o

EnpIrltUmo, c. 1.

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téricos e por espíritos desconhecidos, isto é, não identificados.

Depois, e este ponto m erece frisado, a pseudo-revelação ensina doutrina contrária à doutrina de Cristo: é, pois, como vimos, anti-cristã.

Não há espiritism o cristão. Quem o qui­sesse defender, defenderia uma tolice.

Diremos, enfim, que o Doutor das Gentes, — São Paulo, — prevendo que, no decurso dos tempos, herejes se apresentariam como novos interm ediários entre D eus e os ho­mens, antecipadamente condenou toda nova revelação que estivesse em contradição com a revelação primeira, embora se inculcasse como provinda de Deus.

“Ainda que nós ou um anjo do Céu vos anuncie outro evangelho, diferente do que vos tenho anunciado, seja anátema. (Aos Gá- latas, 1:8)

B. - O espiritism o científico-indigena.

Há um grupo de espiritas nacionais que se intitulam, modestamente, científicos, ra­cionais e cristãos. Constituem, entre nós, a ala esquerda do espiritismo. Referim o-nos aos sócios do “Centro E spirita Redentor."

D e cristãos nada tem. São tão científicos e cristãos como os mussulm anos e os bu­distas.

Afii’mam que Jesús-Cristo é simples hu­mano:

“ E ’ sab ido que e le fo i C rishm a n a fn d la , H erm es

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no E g ito , C onfúcio n a C hina, P la tã o n a G récia, e o quo e le pregou n essas enca rnações dev ia s e r con ti­nuado n a ú ltim a" . (3 3 4 ).

O que caracteriza a gente do “ Centro Re­dentor” é o ódio rubro que vota à Igreja Ca­tólica. Na pena de seus escribas, os papas são homens corrutos e venais (335), os car- diais uns- ignorantes. O Vaticano personifi­ca a vaidade e a .prepotência. (336).

Os im pagaveis dirigentes do “ Centro Re­dentor”, notando que a doutrina cristã, con­tida nos Evangelhos, está em franca contradi­ção com o espiritism o cristão, pregado pelo Centro, resolveram a dificuldade de maneira sim ples e sum ária: Condenam os Evan­gelhos.

Dizem que os Evangelhos estão cheios de falsidades; que foram organizados pelo con­cilio de Nicéia. Que esse Concílio rejeitou ou­tros 54 evangelhos autênticos, só porque os tais não falavam na divindade de Jesús. Que foi, portanto, esse Concílio quem “promul­gou” n divindade de Jesús. (337).

É isso. Porque os Evangelhos estão em desacordo com as patifarias espiritas, os Evangelhos são falsos. Mas. senhores do “ Cen­tro Redentor”, a vida de Cristo só nos é co­nhecida pelos textos dos Evangelhos. Sc, pois, os Evangelhos são falsos, Cristo não existiu. E’ uma lenda. Se Cristo não existiu, o epí-

(334) Confci-Onelaa nobre Ciencin o Rellglllo, ed. doCentro E sp irita Redentor, 1027, pg. 26 a 218,

(335) Idom, Ibldem. pe. 124.(336) Idem. pe. 127.(337) Idem, pe. 216.

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teto “ cristão”, usurpado, aliás, por muitos “Centros Redentor”, nada significa.

Uma consolação. Os membros do “Cen­tro R edentor” não constituem perigo para ne­nhuma religião a que se oponham: Porque a ignorância nunca fez medo a ninguém. E na literatura dos escritores do espiritism o cien­tífico cristão se depreende, sobre qualquer assunto, uma ignorância tão compacta, tão crassa, que causa piedade.

Esses “cicntistas-cristãos” seriam de todo ponto inofensivos se não fossem tão odien­tos e truculentos.

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CAPITULO IV

AINDA A S MENSAGENS

A REENCARNAÇÃO

O espiritism o tem dois ensinam entos centrais: a com unicação com os mortos e a reencarnação. E ’ por isso que, tratando da doutrina espirita, deixamos para um artigo especial a refutação deste erro.

a) TEORIA ESPIRITA DA REENCAR­NAÇÃO.

A reencarnação é a volta do espírito à vida corpórea. Separando-se do corpo, a al­ma passa a chamar-se espírito. Fica algum Tempo em estado de erraticidade, no espaço, e então, por sua livre vontade, procura um fe­to hum ano em formação, no qual se reencar- na para começar outra vida na Terra. Diz Iíardec:

"A reen ca rn ação pode da r-se im e d ia tam en te de ­pois d a m orte , ou depois de tem po m ais ou m onos longo , d u ra n te o qu a l o e sp irito é e rra n te . Pode re a ­lizar-se n e s ta T e rra ou em o u tro s p la n eta s , m as sem ­p re num corpo U um ano e nunca no de um a n im al. E ’

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p ro g re ssiv a ou e s tac io n á ria . N unca é r e tr ó g r a d a ”. (3 3 8 ).

F inalidade da reencarnação: progresso ou evolução do espírito, e expiação de faltas com etidas em existência anterior:

“ O fim o b je tivado com a ree n ca rn a çã o é a ex­p iação ou m e lho ram en to prog ressivo da h u m a n id a ­d e ”. (3 3 9 ).

" A tin g id a a perfeição , o e sp ir ito não se ree n ca rn a m a is: to rn a -se p u ro e sp ir ito " . (3 4 0 ).

"O s su ic idas expiam a fa lta num a nova e x is tên ­cia que se rá p io r do que a p r im e ira ”. (3 4 1 ).

b) NOMES DA REENCARNAÇÃO:

A ricencarnação foi admitida em outros sistem as filosóficos, sob diversos nom es:

PALINGENÉSIA ou nova existência, pa­ra os Pitagóricos,

METEMPSICOSE, ou transmigração das almas,

METASOMATOSE, ou mudança de corpo.O nome que, nos sistem as antigos, se dá

a cada uma das encarnações é AVATAR ou AVATARA. (342).

(338) ALLAN KARDEC — Inntrnctlon prntlqne «nr les BlnnlfeMntlon* Splrltes. pg. 42.

(339) Idem, I,e Livre deu E sprit» , n.° 167.(340) Idem, n.» 170.(341) Idem — Le Livre den E prlt» , n.» 957.(342) Dr. POODT — Lon Fenômeno» Misterioso» dei

Psiquismo, pg. 349.

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c) DIFERENÇAS.

Nos sistem as antigos, a alma humana desencarnada podia ir habitar no corpo de um anim al irracional. No espiritismo, não. Só se reencarna em corpo humano. (343).

d) HISTÓRICO.

Entendida neste sentido, a rccncarnação contitue o fundo de todas as crenças religio­sas não-reveladas por Deus. É o sistem a gros­seiro encontrado pelos povos primitivos co­mo o m elhor mieio dc explicar alguns fatos tidos como certos, mas de dificil explicação:1.°) Entidade da alma como ser distinto do corpo, 2.°) A sobre-vivência ou imortalidade da alma, 3.°) A necessidade de uma retribui­ção futura, de recompensas e castigos, de acordo com o bom ou m au procedim ento nesta vida e 4.°) Desejo de explicar, por qual­quer forma, os fenôm enos da hereditarieda­de, hoje esclarecidos pela em briologia, pelo atavismo, pelo mendelism o, etc.

Assim, por estes m otivos ou por outros, a metem psicose foi admitida pelos selvagens do Brasil, pelos aztecas do Mexico, pelos bárbaros da Germânia, pelas tribus célticas, pelos aborígines da Austrália, da Nova-Ze- lândia e das ilhas Sandwich, c por vários po-

(343) ALLAN KARDEC — Inslrnctlon pratique, otc. pg. 30-31, s. v. Réencnrnntlon.

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vos da África. (344) Os druidas, das Gálias. conforme observou Cesar, ensinavam “que as almas não perecem, mas passam dc uns para outros, depois da m orte.” (345).

Na índia, admitiram a metem psicose: primeiro, o Bramanismo e, depois, o Budis­mo. Para o budismo, porem, quem se rccn- carna não é a alma, mas o karm a ou a ação, isto 6, a soma das ações do homem, o resul­tado ético de sua vida anterior.

Para os egípcios, a metem psicose tinha uma feição própria: só os m alfeitores é que eram condenados a uma nova existência ler- nena, — feição que parece ler vindo do bra­manismo.

Na Grccia, foi Pitágoras quem propa­gou o sistem a, no sentido m ais largo; e. as­sim, como os anim ais eram sede de almas re- encarnadas, os Pilagóricos, à sem elhança dos Indús, abslinham -se de comer carne.

Antes, porem, de Pitágoras, já Museu e Orfeu haviam ensinado a metem psicose. E’ o que nos diz Píndaro, na II V. Ode. Empé- docles, Platão e os platônicos continuaram a mesma doutrina.

Entre os judeus, a seita dos Fariseus ad­mitia a metem psicose e é por isso que di­ziam ser Jesús algum dos antigos profetas, redivivo.

A metem psicose judáica, porem, admitia que só os bons podiam renascer. A recncar

IlUf (1(1 IlllUM".

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nação, portanto, não era para expiação do reencarnado, e sirn para edificação e exem ­plo dos não-reencarnados. Os bons, — os pro­fetas, sobretudo. — voltariam a este mundo para pregar e-d a r bons exemplos. Nisto, a reencarnação judáica era diferente de todas as outras. (346).

Já nos tempos cristãos, a metem psicose ainda encontrou defensores: Origines, os Ma- niqueus. os Albigenses, os Cálaros. Origines achava que a existência corporal é condição penal, extra-natural, — punição de pecados.

Modernamente, professaram a metem psi­cose Lessing, na Alemanha, Fournier, na França, Soam e Jcnnyns, na Inglaterra. (347).

Enfim , o erro multi-secular foi readm i­tido, nas suas linhas gerais, pela maior par­te dos espiritas. Notemos, todavia, que os es­piritas ingleses restringem o numero das existências, e alguns chegam mesmo a rejei­tar, por obsoleta .e absurda, toda a doutrina da reencarnação. (348).

e) REFUTAÇÃO.

I - PELA SAGRADA ESCRITURA.

Segundo a Doutrina Revelada, há, no fim

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(:t4C) Idem, lbidcm, a rt. MetcmpsychoHl».(347) Cf. a B lblografla c itada pela R evista “ Broté-

r ln ”. vol. 7.®, 1928, p rincipalm ente: R obcrt Falko, — Die Seelenw nndcrnng, Theodor D evaranne — Seelonvrnnde- rnng, Den Stcln, — U ntcr den NuturvocIUeru Z cntrnl- BrnNlllenM, Berlln, 1894, Herm ann, — Xordlschc M ytholo- glc, Joseph Huby, — CliriHtti», 192G, Frledorlcli Ueber- weg, — Gruiidrl»» der Gcwoliichte der Phll. de» Altertum», 1920.

(348) Pe. MAINAGI3 — Ln Rcllglon Splrlte, pg. 1G7-168.

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da carreira mortal do homem, duas coisas certas, indiscutíveis:

1.°) A morte é um fato definitivo, — que se dá uma só vez;

2.°) Após a morte, a alma segue um des­tino imediato, que é tambem definitivo, — e será ou alm a bendita (Purgatório, Céu) ou alma m aldita (Inferno).

Sendo assim, não há ocasião para uma nova existência corporal. E’ por isso que os textos sagrados salientam a im portância da presente vida, e nos advertem da necessida­de d,e morrermos bem, de estarmos prepara­dos para a morte e termos por certo que, da morte, depende o futuro eterno do homem. Tudo isso seria inutil se o homem devesse ou pudesse morrer mais de uma vez. Lembre­mos alguns textos:

1.") “E m to d a s a s tu a s o b ras le m b ra -te d e teu s novíssim os e nunca p e c a rá s”. (E clesiá stico , 7 :4 0 ) .

2.°) “ E s tá d ecre tado que os hom ens m o rram um a só vez; e depo is d isso segue-se o ju iz o ” . (H eb reus, 9 :2 7 ) .

3.o) “ V igiai, porque não sabeis o d ia nem a ho ­r a ” . (M at., 2 4 :4 2 e 2 5 :1 3 ; M arcos, 1 3 :3 5 ) .

4 .“) " E n q u an to tem os tem po, operem os o b e m ”. (G a ia tas , 6 :1 0 ) .

5.») “ F e lizes os m orto s q u e m orrem no Senhor. Sim , d iz o E sp ir ito ; p a ra que descansem dos seus t r a ­ba lhos e as su a s o b ras os s ig a m ”. (A pocalipse , 1 4 :1 3 ) .

6.°) “O m endigo m o rreu e fo i levado pelos a n jo s p a ra o selo de A braão . E m o rreu tam bem o rico, e fo i se p u lta d o no In fe rno . D isse A braão ; L em bra -te de que

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recebeste 03 teu s bens em tu a v ida e L ázaro som eu le m a les". (L ucas, 1 G:2 2 -2 õ ).

O mau rico, portanto, não voltou a re- encarnar-se para reparar a má vida anterior.

7.°) "No ú ltim o d ia he i-de re ssu s c ita r e, de novo, s e re i revestido com m in h a pele, e ve re i a D eus n e s ta c arn e , e o v e rão os m eus o lhos, c nã o o u tro s” . (Jó , 1 9 :2 5 ) .

Portanto, a ressurreição, no m esm o cor­po, exclue a existência em outros corpos.

3 .o) ‘- v ir á a n o ite em que n lnguem p oderá ope­r a r ”. (S. Jo ão , 9 :4 ) .

9.°) "H o je e s ta rá s com igo no P a ra ís o ”, disse J e ­su s ao bom la d rã o a rrep e n d id o . (L uc. 2 3 :4 3 ) . P o r ­ta n to , a q u i tem os um la d rã o e assass ino q ue não se ree n ca rn o u p a ra exp iar seus crim es.

NOTA: Os e sp ir ita s costum am c ita r , a fav o r da ree n ea rn a çâ o , a lg u m as passagens d a B íb lia . N otem os, porem , que eles fa lse iam e to rcem o se n tid o dos tex tos.

Uma dessas passagens é aq u ela em que Je sú s fa ­la a N icodem os: “ Se a lg u ém não n a sce r de novo, não podo ve r o re in o d e D eus” . (Jo ão , 3 :1 -G ). E ’ c laro , porem , é ev id en te que Nosso Senho r não fa la de um ren a sc im en to físico, no sen tido da ree n ea rn a çâ o , m as sim de um ren a sc im en to e sp ir itu a l , con ferido pelo sn- c rn m c n to do b a tism o . Q ueiram le r a passagem toda , e não tru n ca d a :

“ Se a lguom não ren a sce r pe la Agua e pe lo E sp í- rito -S nn to , não pode e n tra r no re ino de D eu s”.

O u tra passagem 6 aq u ela em que o E vange lho d iz que S. João B a tis ta " ir á d ia n te de lo ( J e sú s ) no esp ír ito e n a v ir tu d e de E lia s ” e que S. João “ E ’ E lia3, q ue há-de v i r ” . (L ucas. 1 :1 7 e M ateus, 1 1 :1 4 ) .

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Os tex to s não dizem resp e ito com a reenca rnação .S. João ir á no e sp ír ito cio E lin s , porquo a m issão de João tem algo da m issão de E lia s . A p a lav ra e sp írito e s tá em p re g ad a num dos seus se n tid o s m e tafó rico s .

A liás, E lia s não podia e s ta r rcc n ca rn » d o em João , pois a ree n ca rn a çã o supõe m o rte a n te r io r , e a E sc ri­tu ra a firm a que E lia s a in d a n ão m o rre u : 5.° liv ro dos R eis, 2 :1 1 . Je sú s m esm o se e n ca rreg a de d izer que Jo ã o n ã o é E lin s, po is João e ra seu c on tem porâneo e E lia s bá -d e v ir ; p o r ta n to , a in d a não veio.

Os ju d e u s esperavam , com o nós esperam os, a vo l­ta de E lia s , não com o rcc n cn rn ad o , m as como vivo que a in d a não m o rreu . João B a tis ta p a ssa ra a in fân c ia fo ra do convívio dos fa r ise u s . P o r isso , quando ap a rec eu no m eio de jes, ju lg a ra m que ta lvez fosse o p ro fe ta E lia s , que v ie ra c om p letar o ciclo d a v ida te rre n a . T endo e les, porem , p e rg u n ta d o a João se e le e ra E lia s , João resp o n d e u : “N ão s o u ” . (Jo ão , 1 :2 2 ) .

II - PELA FILOSOFIA.

a) N atureza da alm a.

1.°) A alma se singulariza por ter rela­ção para um corpo determinado, do qual é forma substancial. Sè a alm a não tivesse re­lação para um corpo determinado, não seria singular ou individual, e assim, em vez de ha­ver muitas almas, como há, haveria uma só alm a universal para todos os corpos, — o que seria absurdo. Ora, na teoria da reencarna- ção, a alma deixa de ter relação para um de­terminado corpo, e torna-se indiferente pa­ra anim ar este ou aquele corpo. Logo, nessa teoria, não haveria alma singular, isto é, não haveria alma. A reencarnação, portanto, des-

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trói a natureza da alma, pois a alma, ou é una ou não é alma. Logo a reenearnaçâo é ab­surda. Pondera Santo Tom az:

"A p roporção que ex is te e n tre a a lm a do hom em e o corpo do hom em , essa m esm a propo rção ex iste en­t r e a a lm a d e s te hom em e o corpo d e s te hom em . P o r­ta n to , não é possível que a a lm a d e s te hom em e n tre p a ra o u tro corpo qu e não se ja o corpo d e s te ho ­m em ". (3 4 9 ).

2.°) Na teoria da reenearnaçâo, a alma deveria ser anterior ao corpo. Mas se a alma fosse anterior ao corpo, seria substância com ­pleta, como o seria tambem o corpo. Mas se a alma e o corpo fossem substâncias completas, a união dos dois seria um agregado de sub­stâncias e não um com posto substancial e, assim, a alma e o corpo não formariam um só indivíduo ou um a só pessoa, mas dois in­divíduos acidentalmente unidos. O que é fa l­so. (350).

b) Psicologia experim ental.

Desde Aristóteles sabemos que há no ho­mem duas m em órias: uma, sensitiva, comum aos animais, e que reside no conjunto ani­mal; outra, intelectual, que é função da in­teligência, e que reside na alma, exclusiva­mente. Ora, se a alma tivesse tido outras existências antes da atual, poderia ler per­dido a lembrança das coisas m ateriais, por

(349) SANTO TOMAZ — Contra G en l, 1. II, c. 73. n. 3.(350) D. TIAGO SINIBALDI — FUoh., Antropologia,

n.» 190. no ta 1. a.

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ter perdido a memória sensitiva, m as nunca teria perdido a lembrança das coisas abstra­tas, porque estas estão gravadas na inteligên­cia, que tem sede na alma e não 110 corpo. Mas a alma não tem nenhum gênero de lem ­brança, nem de coisas materiais, nem de coi­sas abstratas relativam ente a uma existência anterior à atual. Logo a alma não teve ou­tras existências. Escreve o dr. Huddleston S later:

“ Se fosse rea lid a d e a ree n ca rn a çã o , o m enino em que se r ee n ca rn a sse a a lm a d e um m a tem ático , por exem plo a do E uclldes , ao v e r um triâ n g u lo , a in d a que fosse pe la p r im e ira vez, po d e ria logo com preender que a som a dos âng u lo s se ria lfO g rau s , e d is to se le m b ra r ia im e d ia tam en te , sem ensino , sem d e m o n stra ­ção. E assim das o u tra s c iências . Todo d ia e s ta r ía m o s vendo m en inos que, aos se is anos d e idade , e sp o n ta ­n e am e n te se rev e la ria m g ran d e s m édicos, g ran d e s m a­tem áticos , g ran d e s ju r isc o n su lto s , e tc .” (3 5 1 ).

N o argumento supra, concedemos, mas só para argumentar, que a alma poderia ter perdido a lembrança das coisas materiais. A verdade, porem, é que todos os conhecim en­tos, mesmo os das coisas materiais, se arma­zenam na alma, depois de sc tornarem abs­tratos ou im ateriais; e a prova disto é que nos lembramos de coisas passadas conosco há vinte ou trinta anos atrás, quando é cer­to, pelos dados científicos, que as células do cérebro se renovam continuam ente, de tal

(351) Dv. JACOB HUDLESTON SLATER — A C lin d a enndena u EMplridnmo, pg. G2, c Mons. MIGUEL MAR­TINS — ProtextanllMnio c Exoirltiamo, passim.

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modo que, oito ou dez anos depois, não só o cérebro, mas o corpo todo, está com pleta­mente outro. Um sexagenário, pois, nada tem, histologicam ente falando, do que tinha aos vinte anos dc idade. Portanto, o homem de­via ter lembrança de sua vida anterior, se sua alma tivesse vivido anteriormente.

III - PELA TEOLOGIA.

A tribu tos de Deus.

1.°) A reencarnação c contra a justiça di­vina. Ora, negar a justiça de Deus é negar o próprio Deus, porque em Deus os atributos não se distinguem realmente da essência di­vina. Logo a reencarnação é uma doutrina ímpia.

Provem os que a reencarnação é contra a justiça divina. Duas hipóteses se apre­sentam :

A) A alma reencarna-se para expiar cri­mes de uma existência passada;

B) A alma reencarna-se para seguir o processo da evolução e aperfciçoar-se.

a) Na primeira hipótese, temos que Deus nos im pôs a condição dc nos rccncarnarmos para expiar faltas com etidas numa existência anterior. Mas, pode Deus impor-nos castigos por faltas dc que não temos lembrança nem conciência? Não é isto indigno dc sua jus­tiça? Logo, é falso que estejam os expiando faltas passadas.

Todos os Códigos Penais admitem que

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a base da responsabilidade é o conhecimento do fato como coisã proibida em lei. E’ por isso que as circuntâncias que impedem esse conhecimento constituem d irim ente 'em Di­reito Penal. (Cf. Consol, das Leis Penais Bras., art. 27) Mas a responsabilidade não sc lim ita ao tempo da transgressão: deve estar presente à memória até o tempo do prêmio ou do castigo, c, por isso, se alguem, côn- cio da responsabilidade no alo da transgres­são, viesse a perder a memória dessa trans­gressão, perderia tambem a responsabilidade do ato perpetrado. Assim dispõem todas as jurisprudências a respeito dos desmemo­riados.

Deus, juiz justo, não podia, pois, disso­ciar a nossa memória de atos com etidos em outra vida, porque isso acarretaria a perda da responsabilidade. E se. não obstante, im ­pusesse penas por aqueles atos, seria juiz in ­justo. Mas isto é indigno de Deus. Logo, a existência atual não tem razão de castigo e não se relaciona a uma existência anterior.

b) Seria indigno die Deus caotigar-nos por faltas de que não nos lembramos. Com efeito:

A pena tem duas finalidades: é expiató­ria ou vindicativa, c m edicinal ou corretiva. No caso de pena vindicativa, o criminoso de­ve saber o motivo por que é castigado, por­que, ao contrário, acusará o Juiz de injusto, arbitrário e perverso; no caso de pena correti­va, o criminoso deve ainda saber o motivo de sua condenação, a-fim -de evitar recair nas

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mesmas faltas que m otivaram o castigo, pois, ao contrário, a pena torna-se inútil e má.

Portanto, se Deus nos castiga, sem saber­m os porque, Deus é juiz injusto, arbitrário, irracional e mau.

c) Outros espiritas, porem , dizem que “Deus criou todos os espíritos grosseiros e im perfeitos”, e que as reencarnações são ne­cessárias para o aperfeiçoam ento de cada es­pírito.

Nesta teoria, temos que Deus ainda é in ­justo, porquanto o homem não tem culpa de ter sido criado im perfeito e grosseiro.

Suponhamos, todavia, que, atualmente, o homem está sendo castigado por faltas co­m etidas numa existência anterior. Como, po­rem, o homem não é eterno, segue-se que ele começou a existir; portanto, uma de suas existências foi prim eira, tanto na hipótejse A) como na hipótese B ). Se houve, pois, uma prim eira existência, esta não fo i iniciada pa­ra castigo de faltas com etidas anteriormente. Logo, uma existência houve que não tem ra- zão-de-ser segundo a teoria da reencarnação. E se admitirmos que a existência é sempre um castigo de erros pessoais, temos que Deus foi injusto essa primeira vez, infligindo pe­nas a quem ainda não tinha existido c que, por isso, ainda não tinha praticado faltas.

E que o hom em começou a existir, ao menos neste planeta, isto se prova com as estatísticas. Nascem m ais homens do que mor­rem. Logo, ao menos no principio das eras, apareceram na Terra espíritos que aqui nun­ca tinham estado, — espíritos que se encar-

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nararn pela primeira vez. Logo, um dia se m a­nifestou uma prim eira existência que não te­ve razão-de-ser, a m enos que o ’espírito pri­m eiro escarnante viesse pagar na Terra fa l­tas que cometeu em outros planetas — supo­sição gratuita,

2.°) A personalidade hum ana é o com pos­to todo, e não só a alm a ou só o corpo, por­quanto pessoa “é substância com pleta, sub­sistente em si e racional.” (352).

“ 0 eu é um todo substancial, que nem é corpo nem é espírito, m as ambas as coisas ao mesmo tem po.” (353).

Alem disso, as operações atribuem-se à pessoa, e não só à alma ou só ao corpo, pois, conforme um axioma corrente, "operar é p ró ­prio do suposto ou pessoa.”

Portanto, se a alma tiver de receber cas­tigos ou p iêm ios unida a um corpo, este cor­po só poderá ser aquele com que ela mereceu ou desmereceu. Mas a reencarnação admite que a alma cometa faltas, unida a um corpo, numa existência, e pague essas faltas, unida a outro corpo, em outra existência. Logo, a reencarnação injuria a sabedoria divina, por­que esta faria uma personalidade pagar por outra.

0 mesmo diz d. Otávio, nestes termos: “Outro asp'ecto injusto da doutrina da

reencarnação está em que as provas expiató­rias das existências posteriores não atingi­riam mais a mesma personalidade: pagaria

(352) SINIBALDI — PrlIOH., O ntologia, 108. b.(353) Rnlon <le Sol. “Folhas populares de propaganda

católica1’, S. Paulo, 1931, Primeira Sórle, pg. 79.

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assim o holandês pelo mal que não f e z . . . ” (354).

Monsabrc tambem assim se exprime:“ Se o hom em deve p a ssa r d a p rova d e s ta v ida

à p rova do o u tra v ida , é p reciso q ue e s ta ú ltim a se rea ­lize no m esm o ind iv íduo , com to d a a su a n a tu re z a e to ­dos os se u s h á b ito s ad q u irid o s, po rque, ao c o n trá rio , u m a se g u n d a ex istência nã o s e rá e q u ita t iv a . Quem pecou ío l o hom em to d o ; p o r tan to , é o hom em todo que se deve a rre p e n d e r p to rn a r a D eus“ . (3 5 5 ).

"A o p a ssa r a a lm a p a ra o u tro corpo d is t in to do que In fo rm ava an tes , r e s u l ta r ia q ue fo rm ar ia o u tra pessoa d is t in ta da a n te r io r . P o r ta n to , se ria falso que, pe la ree n ca rn a çã o , e ra o m esm o hom em que se ir ia aperfe içoando . Seria, pois, in ju s to que e sse novo ho­m em , que se c h am a ria , por exem plo, N ero , re su l ta n ­te de um a nova ree n ca rn a çã o , sa tis fiz esse por fa lta s com etidas po r o u tro hom em , que se te r ia cham ado, por exem plo , S ó c ra te s”. (3 5 6 ).

"A a lm a é que é responsável pe los seus e rro s . Po rq u e não poderá , pois, sem un ir -se a o u tro corpo, r ep a rá -lo s s o z in h a ? ”. (3 5 7 ).

Na hipótese da reencarnação evolucionis- ta, o problema é o mesmo: um corpo iria so­frer para o progresso de um espírito que lhe seria inteiram ente estranho.

3.°) A reencarnação é contrária ao po­der infinito de Deus. Deus é o Supremo Se­nhor, e a ele se submetem todas as criaturas.

(354) D. OTÁVIO CHAGAS DE MIRANDA — O» F í - nOmeno.H PnlnulvoM, ps. 72.

(.755) MONSABRE’ — Conferenclna. conf. 94, A Vldn

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Ora, dizendo os espiritas que a alma se reen- carna livrem ente, sem termo fixo quanto ao número das rcencarnações, im plicitamente afirm am que a alma é independente de Deus. O que repugna. (358).

IV. - PELA MORAL.

1.°) A doutrina reencarnacionista admite que os bons c os maus, depois de uma série de­sigual de reencarnações, (os bons mais cedo, c os maus m ais tarde), terão a-final os m es­mos direitos. Ora, repugna à Moral que os bons e os maus tenham iguais direitos a uma felicidade futura.

"C o e re n te com su a d o u tr in a , o e sp ir ita pode d izer a si m esm o que, p o r m a io res crim es que com eta , che­g a rá cedo ou ta rd e à p lena felicidade, da m esm a fo r­m a que seu v iz inho honesto e v irtuoso , da m esm a fo rm a que a inocen te v itim a de seus v íc io s”. (3 5 9 ).

2.°) A esperança de reencarnações futu­ras para expiar os atos maus da presente vi­da, estim ula o homem a perseverar no peca­do. Mas toda doutrina que auxilia, direta ou indiretamente, a prática do mal, c uma dou­trina imoral. Tal é a teoria da reencarnação.

3.°) A reencarnação destrói os laços de fam ília, pois, segundo os espiritas, a pessoa pode mudar de sexo ao passar de uma encar­nação à outra. Assim, aquela que ontem,

(358) RnloM «lo Sol, 1.* s ír ie , 1931, pg. 63.(359) LUC1RN ROURE — I,e McrvelUeox SpirHc, pg.

r 4.

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quando viva, era tua avó, pode ser hoje, de­pois de reencarnada, o pa i de teu vizinho. Como irás, pois, cultuar a m emória de tua m ãe, que hoje é um m enino do sexo m asculi­no, ou a de teu pai, que hoje é, talvez, uma menina recem-nascida?

4.°) A reencarnação é contrária ao livre arbítrio, e destrói a responsabilidade de nos­sos atos.

Com efeito, se os m ales desta vida são in­fligidos para expiação dos pecados antigos, o m alfeitor não é m ais do que um executor das ordens divinas, e, portanto, não é responsá­vel pelos seus atos maus. Quem mata, aplica o merecido castigo a uin indivíduo que foi as­sassino em existência anterior. Se, quem m or­re matado, expia um crime antigo, quem m a­ta é apenas um instrumento de expiação. Lo­go não é responsável. Por conseguinte, quem matar e não pagar nesta vida, nem em outra deverá pagar, porque, na verdade, não deve nada. Matou em virtude de ordens superiores.

Assim, a doutrina da reencarnação leva para o FATALISMO. D e-fato, mesm o sem quererem tirar as últim as consequências de seus erros, os autores espiritas caminham diretam ente para a negação do livre arbítrio. Imbassahy é claro:

“ O q ue n o s parece , e n tre ta n to , é que os Inciden­te s da v ida já estão p rev ia m e n te e sc rito s ; e le s obede­cem a desígn io s que nem sem p re podem os p e rsc ru ­t a r ” . (3 6 0 ).

(360) CARLOS IMBASSAHY — O E aplritlaiue à In* doa Fatoa, Pff. 477.

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Puro FATALISMO! Eis o resultado hor­roroso da doutrina reencarnacionista.

5.°) A doutrina da reencarnação conde­na a prática da caridade.

Com efeito, “os m ales do corpo .são efei­tos dos males do espírito.” (361). 0 que o ho­mem sofre é merecido, é uma dívida sagra­da, contraída em outras existências. Portan­to, não devemos procurar aliviar os sofrim en­tos do próximo, porque, com isso, iremos im ­pedir que ele pague o que deve. Nós é que es­taremos sendo injustos perante a Justiça D i­vina. O nosso papel estará sendo igual ao da­quela pessoa que dá liberdade a um presi­diário que cumpre penas justas e merecidas. Portanto, na doutrina espirita, quem cura, quem dá esm olas, quem distribue caridade, está im pedindo o progresso do próximo, porque im pedindo o sofrim ento, necessário e merecido. O homem sofre, porque deve. Deixem os que sofra.

6.°) A reencarnação ó inutil, porque, ou o número das reencarnações é lim itado ou ilim itado. Se é lim itado, a alma poderá che­gar à última reencarnação tendo ainda cri­mes e im perfeições que, então, só poderá ex­piar em algum lugar de castigos, determina­do por Deus. Se é lim itado, a alma nunca poderia chegar ao termo da prova, porquan­to o número das reencarnações dependeria de seu esforço; mas, ignorando ela quais as faltas que com eteu anteriormente, recairá sempre nas mesmas faltas. E assim, a Jus-

(361) Idem, Ibidem, ps- 437.

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liça Divina seria im potente para impor uma sanção a suas leis. A alma viveria sempre, — sempre expiando e sempre pecando, sem nunca ser com pelida a deixar de pecar.

V. - A REENCARNAÇÃO E A IGREJA.

Alem de ser condenada indiretamente, visto que se opõe ao valor do arrependim en1 to, e ao dogma do pecado original, a doutri­na da reencarnação foi condenada, direta­mente, pela Igreja, no Concílio Particular de Braga (362).

O canon do Coreilio de Constantinopla assim reza:

"Se a lguém if i r m a ou c rê q ue a s a lm as dos ho ­mens p r e e x is t l r im . . . e q u e . . . fo ram p a ra castigos in tro d u z id as r.os corpos, se ja e x com ungado”.

S. Leão Magno tambem condenou a teo­ria da preexistência das almas, teoria a que ele chama de “fabula.” (Epist. 15. c. 10).

E Lactando, escritor do século IV, opina que tal teoria nasceu de cérebros delirantes e é tão ridícula que só merece cscárneo. (363)

Notas finais:

De nada vale dizer que a teoria da reen­carnação explica a existência dos monstros dos imbecis, dos tarados, ou que é uma res­posta aos sofrim entos da vida.

(362) DENZIGER. 236.(363) LACTANCIO — IimtKuHone» Dlvlnnc, Uv. VII,

c. 12.

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M onstruosidades, a le ijões, Im bec ilidade . . . são p ro d u to s de causas segundas, — n a tu ra is , — como sí­filis , alcoolism o, h e re d ita rie d a d e , consangu in idade , etc. E é sab ido que D eus não c o n tra r ia a ação das causas se g u u d as senão era casos excepcionais. O que se n o ta nos hom ens tam bem se vê nos a n im ais , onde liá tipos a n o rm a is ou degenerados. H á m o n stro s a té nos re i­nos ve g eta l e m in e ra l:

“ As ro sas m a is b on ita s de nossos ja rd in s são, se­gundo nossos bo tân icos , m o n stro s v eg eta is" .

“ E p a ra c o m p le ta r . . . reco rdem os que os geólo­gos, p rin c ip a lm en te B e au d a n t e H auy, descob riram certo s m o n s tro s m ine ra lóg icos, como os géodos, cu jo m odo de fo rm ação c o n tra r ia to d a s a s le is d a c ris ta li­zação". (3 6 4 ).

As causas segundas são o que cham a­mos Natureza. E Deus não contraria, ordi­nariamente, as leis naturais.

Na doutrina católica, o homem sofre pa­ra receber no futuro. Na metempsicose, so­fre para pagar um passado hipotético. Quão sábia e conforme à razão c a doutrina da Bí­blia, revelada por Deus!

A reencarnação não é aceita por todos os espiritas. “ Certas escolas espiritistas com ba­tem, ostensivamente e não sem êxito, a dou­trina oficial do espiritism o.” (3C5).

No Congresso Espirita Internacional, que se reuniu em Liège, em 1923, D roiw ille propôs a seguinte dúvida:

(3G4) Dr. POODT — Los Fenômenos Mlsjerloso.n dei Psiquism o, pg. 3G7.

(3G5) Dr. POODT, Ibldem, pg. 3G1.

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“ E m ge ra l, d iz-se q ue a R eencarnação ó um a le i g raç as à qu a l o e sp ir ito evo luciona e se e leva , ex­p iando a s fa lta s com etidas em ex istências p receden ­te s. O que eu q u e ria sa b e r 6 a raz ão p o r q u e o es­p ir ito tem necessidade de m a té r ia p a ra evo luciona r e e leva r-se , e, so b re tudo , como pode se r a d m itid o por algunB que, e s tando ap ag a d a a id é ia do passado , se­j a possível a exp iação” .

A. D ragon respondeu:"P o sso d izer: A R eencarnação , ta l como tem sido

exposta a té ho je , não passa de um a te o ria boa p a ra m eninos de esco la p r im á r ia ” . (36G ).

Richet também escreveu:“ S obre a R eencarnação só tem os dados tão f rá ­

geis e tão Incom pletos que, sob o ponto de v is ta c ien­tíf ico , podem os d izer que estão no v á cu o ” . (3 6 7 ).

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T E R C E I R A P A R T E

CONSEQUÊNCIAS LÓGICAS

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CAPÍTULO I

SUPERSTIÇÃO E CEPTICISMO

Há propriedades que dimanam da pró­pria essência das coisas. Assim, o Sol pro­jeta luz, mas um corpo opaco, interposto, in­tercepta-lhe essa luz: porque é da essência do Sol ser lum inoso e dos corpos opacos se­rem impenetráveis. As árvores tambem pro­duzem frutos conforme sua própria nature­za: as boas, bons frutos; as más, maus.

O espiritismo não é boa árvore. Como ciência, falta-lhe base cientifica: experim en­tação metódica e princípios certos, axiom áti­cos, para alicerce de demonstrações poste­riores. Como religião, falta-lhe origem divi­na. Seus fundadores visíveis foram umas moças alcoólatras, e os fundadores invisíveis são os demônios da Biblia ou uns espíritos vagabundos, segundo o conceito espirita.

Assim, de acordo com sua essência, o es­piritismo só produz efeitos desastrosos, para a alma e para o corpo, para o indivíduo c para a sociedade.

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0 espiritismo arruina a m ente do ho­mem. Todo aquele que se entrega às práti­cas da seita danada, torna-se um vizinho in­côm odo: só fala em espíritos, fantasmas, ectoplasm as. . . O espirita não raciocina. Não investiga. Não procura “soluções natu­rais” para as coisas.

Os princípios naturais, para ele, não existem. A Física, a Química, a Medicina são “ tapeações” . . . Se a pedra cai não é pela lei de Newton; se o fogo queima, não é por uma virtude inata: insila vis, como falou Vergí- lio; se a strienina convulsiona, se o cianeto de potássio inibe, se o bicloreto de mercúrio corrói, nada disso se realiza pela natureza das coisas; se alguem adoece, nem é por cau­sa da fabricação de toxinas por um germe infeccioso, nem por causa de um desequilí­brio m olecu lar .. .

N ada disso. Tudo são espíritos obsesso­res. Por conta desses velhacos correm as doenças dos homens e dos animais, a loucu­ra, o sofrim ento físico ou moral.

Tudo é castigo por faltas cometidas em outra existência. A im becilidade é um espí­rito; a pobreza, outro espírito; a aleijão, ain­da outro espirito. Se nascem monstros, não vá a ciência dizer que foi porque uma causa intercorrenle im pediu o desenvolvim ento normal do oviim ; os monstros explicam -se pela doutrina da reencarnação.

Os espíritos, bons ou maus, impregnam as coisas, e dão-lhes forças inatas, — Repugna aos espiritas a “ciência o ficia l”, (a que cha­mam de míope e retrógada), quando afirma

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que há causas proporcionais ç efeitos neces­sários.

Os espiritismo, matando a razão, mata a ciência. E aqui surgem duas consequências, — aparentemente contraditórias, — a que o espiritismo leva o hom em : SUPERSTIÇÃO E CEPTICISMO.

Superstição, em sentido largo, — o cul­to religioso sem m otivos intelectuais ponde­rosos, o respeito que se consagra a coisas e fa ­tos, que não tem nenhuma ligação com a Re­ligião Revelada, ou que a razão reprova. Cep­ticismo, — a dúvida a respeito de tudo, — no terreno da ciência e no campo da religião.

Coisas digna de notai O católico, quando instruido na sua religião, é um verdadeiro filósofo, que, se presta assentimento a uma verdade religiosa, é porque sua razão achou nisto m otivos de credibilidade. Rejeita o que a razão não aprova. A própria fé deve estri- bar-se, direta ou indiretamente, em argumen­tos racionais: O católico instruido, portanto, é o que se pode chamar um “homem supe­rior”, — realização desse herói intrépido de que fala Horácio numa de suas odes:

" J u s tu m ac tei>:.eem p ro p o siti v lrn m nou c iv ium a rd o r p ra v a ju b c n tlu m ,

iion v u ltu s lu s tn n tls ty rn n n i in e n te q u n tit so lid a . . .

n eque fu lm in a n tis Jov ig mauus:

SI FR A CT U S IliL A B A T U R O RBIS,IM PA V I DUM F E R IE X T U U IN A E. (368 )

(3GS) “O varão justo e tenaz em suas resoluções, nilo o sacudirá o Ímpeto dos cidadãos que ordenam lie-

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O espirita, — o mesmo diremos do ateu c do m aterialista, — ainda que seja homem instruído, não passsa, por vezes, de um su­persticioso tipo hotentote: acredita nas m aio­res tolices, crê em feiticeiros, em adivinhos, cm cartomantes.

A isto se reduz o incrédulo: não crô em Deus, m as crê em latidos de cães e em can­tos de aves agoireiras.

Vamos aos fatos. Faz pena ver, por exemplo, um homem do estofo de Carlos Im- bassahy defender a crença na bruxaria. Is­to está escrito no seu livro:

“ O hom em traz e scrito o seu lu tu ro ! E esse fu ­tu ro lê-se-lhe n as lln lins <lns m üos, nos c n ra c tc rcs d a c sc rlta , n a s m esas dns c a r to m a n tes , nos sonhos, no êx­ta se das v iden tes e a té nos la b o ra tó r io s c ien tífico s" . (Os g r ifo s são no sso s).

“ Se os fa to s d em o n stram a ex istê n cia desse fu­tu ro , certo , se g u ro , in ilud ível, g rav e s p rob lem as se levan tam ao e sp irito h u m ano . N ão se rã esse fu tu ro as consequências de um passado? N ão v irá a c iência de­m o n s tra r que o nosso t r is te fad á rio de a g o ra é o re­verso da fo rtu n a dos d ia s que já se fo ra m ? ” (3 6 9 ).

Alem disso, a Religião de Katie c Maggie Fox desnorteia o homem quanto às condi­ções da vida.

Dá ao homem um destino falso. Levanta um castelo de mensagens sem base, ridículas,

galldades, nilo o abalará , com sua fera catadura , o rosto do tirano presente, nem ainda o comoverão as m ios de Ju p lter (|uando despede os seus ralos: Se o mundo, dos- podnçando-se, vier abaixo, poderá esm agá-lo, mas há-de encontrá-lo de pá, Impávido”. Horáclo, Odes, III, 3.

(3GD) CARLOS IMBASSAHY — O E spiritism o à luz dos Fulos, pg. 522-523.

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fantasiosas, e coloca o homem no vazio desse castelo. Cria um mundo subjetivo, sem reali­dade, destituído das regras do bom senso, e situa o indivíduo 110 centro desse mundo.

A fé cristã, a crença cm Jesús-Cristo, os ensinos do Mestre Divino dessipam -se, tor­nam-se ilusões quando entregues à interpre­tação dos novos fariseus, chamem-se estes es­piritualistas ou espiritas, Allan Kardec ou Oliver Lodge.

0 Deus verdadeiro, tão próximo do ho­mem, amigo cotidiano e fam iliar, distancia-se deste mundo, na doutrina espirita. É um deus distante e indiferente. Os espíritos c que, bem ou mal, governam o mundo desses doutrina- dores ingênuos.

Deus evapora-se. Como que não existe.Que será feito do homem , — sem Deus,

sem luz, sem força? Torna-se um desgraçado, presa facil do desespero e do incontenta- mento.

Abandonado o culto esplêndido e os ri­tos eficazes que a Religião Cristã oferece ao homem, o espirita entrega-se às experim en­tações, às práticas ilusórias e imorais.

Daí a cair no cepticismo vai um só passo. Desde que as práticas religiosas a que se afez não lhe trazem uma gota sequer de felic ida­de, o espirita, no fim da carreira, c um cada- ver moral, que não crê em Deus nem nas coi­sas da Outra Vida.

O excesso de contacto com o invisível, criou-lhe na alma o desgosto do invisível.

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CAPÍTULO II

IMORALIDADE

O espiritismo, desligando o homem dos laços da Religião Cristã, libertou-o das peias da moral perfeita.

As leis da moral, dadas por Deus a Moi­sés primeiro, aos cristãos depois, ficam sujei­tas a uma nova homologação de uns espíritos desconhecidos. Estes, umas vezes, aprovam, outras censuram os preceitos divinos.

Dessa libertação é facil deduzir as conse­quências fatais: a porta aberta a toda im ora­lidade.

Imoralidade tomamos cm sentido objeti­vo: desrespeito aos ditames da Ética natural, confirm ados e tornados explícitos pelos orá­culos divinos. Pois a im oralidade è o alvo a que visam os espíritos do espiritismo.

Queremos supor bem de muitos espiri­tas bem intencionados, hom ens filantrópicos e cidadãos prestimosos. Mas não julgam os a religião pelos homens. Julgam o-la em si, nos seus ritos e na sua doutrina.

Os ritos ou as práticas do espiritismo fa­vorecem a imoralidade. A doutrina espirita justifica a imoralidade.

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PRÁTICAS. Círculos estreitos de pessoas que se reunem em plena escuridão. Misturas dc homens com mulheres. Não só m istura: ni- m ia aproximação e até contactos. O m édium , muitas vezes, é uma mulher, e, nem sempre, mulher normal, m entalm ente sadia. Não ra­ro, é uma histérica, atacada de ninfom ania. Essas pessoas que se reunem em tais cir­cunstâncias, podem estar bem intencionadas a principio, mas a ocasião faz o ladrão.

DOUTRINA. Os autores espiritas confes­sam que, de perm eio com espíritos bons, com ­parecem, nas sessões, espM tos depravados. Qual pode ser a finalidade dessa6 aparições macabras? Facilm ente se adivinha.

“ Persuadidos os homens de que não tem de temer castigo algum na outra vida, pelos crimes e más obras praticadas nesta vida, não haverá jam ais freio capaz de os conter e de os desviar de cometer toda classe de m alda- des.” (370).

Melhor, porem, do que argumentar, de­duzindo, é argumentar com os fatos concre­tos, e com as confissões dos doutrinadores es­piritas. É o que faremos.

Kardec ensina que “os espíritos levianos pululam em volta de nós, e se aproveitam de todas as ocasiões para se meterem nas com u­nicações. Estas não d iferem absolutam ente das que poderiam ser dadas por homens vi­ciosos e grosseiros.

São com unicações que repugnam a to­da pessoa de sentimentos delicados, porque

<370) “Ralos 4* S«l" — primeira Bêrle, pgf. 86.

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procedem de espíritos triviais, dcshoncstos, obscenos, insolentes, arrogantes, m aléficos e, até, ím pios. (371).

Eliphas Levy confessa:"N as a ssem b léias vu lg a re s , certo s e sp írito s dese­

n ham fre q u en tem e n te , n a s lousas e no papel, obsce­n idades im undas e vis, com que os m o leques viciosos su ja m a s p a re d es das c a sa s”. (3 7 2 ).

O m esm o Eliphas Levy, falando de ses­sões a que assistira como espirita fervoroso:

"M ãos v lsiveis e tang íveis saem ou parecem sa ir das m e s a s . . . M ostram -se p rin cip alm en te n a e scu r i­dão . . . Os c irc u n s ta n tes sen tem -se to c a r e a p e r ta r por m ãos inv is íveis. E s te s con tac to s pa recem d a r p re fe rê n ­c ia à s dam as, carecem de se ried a d e e m esm o de de­c ên c ia” . (3 7 3 ).

O professor Falcom er fala de um caso cm que, depois de piedosas m anifestações, se fez ouvir “uma linguagem im pia, ditada pe­los golpes do médium, dirigida a três senho­ras e a uma jovem. Essa linguagem, era a de um ser impudico e feio, que não se pode trans­crever.” (374).

Imbassahy confessa:“A m ã a m b lênc ia a tra i se res in ferio res , só poden­

do os r e su l ta d o s re d u n d a r em desm oralização e m a le ­fício p a ra o e sp ir itism o ”. (3 7 5 ).

(371) ALLAN KARDEC — O Livro dos Médiuns, 2.* parte , c. 10.

(372) ELIPHAS LEVY — La c lef des grnnds m ystè- re», Paris, 1861, pg. 248.

(373) Idem. ibldom, pg. 145.(374) FALCOMER — Phénoménologlc. apud Dr.

POODT, Los Fenômeno» Misteriosos, pg. 353. Na Rcvne Splrlte. 1902.

(375) CARLOS IMBASSAHY — O E spiritism o * loa dos Fntos, pg. 181.

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Falando, porem, de imoralidade, con­vem distingamos duas espccies:

a) Crimes contra a integridade fisica,b) Crimes contra a honra.

O ambiente das sessões espiritas, os dis­cursos inflam ados de m édiuns inescrupulo- sos, as com unicações vindas de espíritos maus ou de subconcientes deshonestos, tem, não ra­ro, levado certos “ irm ãos” à prática do cri­me. Ainda não houve, entre nós, trabalho es­tatístico, acerca de todos os fatos delituosos, oriundos das sessões espiritas. Entretanto, os jornais, a cada passo, dão notícia dos crimes espiritísticos levados a juizo e devidam ente apurados.

D. Otávio Chagas de Miranda, tratando do assunto, colheu vários casos ocorridos no curto espaço de três meses, só no Estado deS. Paulo. Citemos:

O a ssass in a to de d. M aria A délia B a tis ta por seu p róp rio m arido , em 1926. D. M aria A délia e ra e sp i­r i ta e, nu m a sessão , um e sp irito lhe com unicou que seu m arido A ntónio ha v ia com etido vá rio s c rim es an- tos de casar-se . A n tôn io L uiz provou su a inocência, m as, m esm o assim , M aria A délia desqu itou -se dele e, n a s rep e tid a s v is ita s que (az ia aos filhos, p ro cu rav a sem pre d e sp e r ta r n e les s e n tim e n to s de ódio c o n tra o pai. E m c onclusão : A ntonio Luiz, irado c o n tra a m u ­lh e r pe rve rsa , m a tou -a com se is tiro s de revo lve r. T u-

res. (3 7 6 ).

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— 346 —E m dezem bro de 1925, n a c idade de J a ú , Sebas­

tião G onçalves m a tou a cacetadas o seu p ró p rio tio , Jo sé Cam ilo. S ebastião fre q u en tav a o e sp iritism o e, a ssis tindo às sessões, v ie ra a convencer-se de que seu tio lhe p u n h a a g ou ros m aus, (3 7 7 ).

Célebre é o caso do indivíduo J. A. de L., relatado por Heitor Carrilho, do Manicômio Judiciário, do Rio:

E sse su je ito , ao re g re ss a r de um a sessão esp iri­ta , em S a n ta Cruz, m a tou a su a a m asla A. C., a faca­das, devendo-se n o ta r a ue am bos viv iam em g ran d e ha rm o n ia , e que não houve e n tre eles, a n tes do crim e, n e n h u m a desin te ligência . C onsum ado o a to de lituoso , o crim inoso põs-se a p ro fe rir p a lav ras de a rre p e n d i­m ento e a c h o ra r; em segu ida , tom ando de um a vela, colocou-a, acesa, à m ão d a m o ribunda , segundo o uso relig ioso . (3 7 8 ).

O dr. Xavier de Oliveira, no seu livro Es­piritism o e Loucura, refere ainda dois casos im pressionantes: um, acontecido em Campi­na Grande, Estado da Paraíba, outro no Rio.

O de C am pina G rande é r e la tiv o ao b á rb a ro a s ­sa ssin a to de um a se n h o ra , d. L id la , pelos com ponen­te s de um cnndoblé, os quais, na rc o tiz ad o s pelo espi­r i ta T enó rio , lhe obedeceram cegam en te , tru c id an d o a “ I rm ã ” d. L id la a socos, pon ta -pés, m u rro s, d e n ta ­das e p a u lad a s. (3 7 9 ).

O se gundo caso diz re sp e ito ao crim e de L uiz de O liveira, no R io de Ja n e iro . N u m a sessão e sp ir ita ,

(378) LEON1DIO RIBEIRO e MURILO CAMPOS — O EaplrltIn:..o no B rasil, Cia. Edit. N acional, S io Paulo, 1931, ps. 138-142.

(379) o (380) Dr. XAVIER DE OLIVEIRA — “ Eopl- ritlnnio e Loucura” , A. Coalho F rance , editor, 1931. ps. 264-266 s 267-273.

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- 347 -L uls consegu iu h ip n o tiza r C aro lina R ibeiro e Desdô- m ona G ranado , espancando -as em segu ida , b a rb a ra ­m en te . D enunciado , o réu foi condenado , em p rim e ira in s tân c ia , pelo ju iz F ru c tu o so Moniz B a rre to , e, em seg u n d a in s tân c ia , pelo t r ib u n a l de apelação da Capi­ta l d a R epública, em tnarço de 1927. (3 8 0 ).

Não precisam os ir longe. Os próprios fun­dadores do espiritismo confessam que “espí­ritos inferiores, às vezes, dominam e subju­gam as pessoas fr a c a s ... Em certos casos, o domínio desses espíritos assum e tais propor­ções que podem levar as suas vítim as até o crim e e a loucura.’’ (381).

O espiritismo baixo, nome moderno com que se mascara a feitiçaria antiga, só se tor­nou conhecido pelos seus processos de fazer mal ao próximo. “D espacho” é o termo em ­pregado para indicar o m alefício. Diz o dr. Xavier de Oliveira:

“ P edaços de velas, de c h aru to s, fo lh as de a lec rim o de o u tra s ervas, c on tas de ro sário , fa ró fia de fu b á com aze ite m a l c h e iro so . . . tu d o pode se r colocado nu m a e n c ru z ilh ad a qu a lq u er, a lta s h o ras da no ite . O u­tra s vezes, lançado ã casa da v itim a , só o m édium c u ra d o r pode in u ti liz a r os seus e fe ito s dan o so s” , pg. 241. (3 8 2 ).

A

O dr. B. Ilatch, marido de Cora Hatch, célebre m édium americano, declara que o es­piritismo nenhuma couta faz do que se cha-

(381 LÉON DENIS — Apre» la Mort, pg. 330.(382) XAVIER DE OLIVEIRA — E spiritism o e Lou­

eur«, pg. 241.

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ma "fidelidade conjugal.” Em poucas obser­vações, conseguiu identificar uns setenta m é­diuns que haviam abandonado com pletamen­te os seus deveres con ju ga is.. . Outros tinham mudado de “ Com panheiras” . . . (383).

A vida dos m édiuns e dos praticadores do espiritismo confirm a, a cada passo, a ob­servação do dr. Hatch, marido de uma sacer­dotisa espirita.

O m édium Slade, quando esteve no Rio de Janeiro, cometera inconveniências tais e tantas que, para não ser preso e processado, houve de deixar precipitadamente o nosso pais. (384).

“N ão h á m uito , — escreve d. O távio, — a polic ia c arioca v a re jo u o “ C en tro E sp ir ita S. J o r g e ”, e p re n ­deu o p res id en te do c en tro com todos os a ssis te n te s . E n tre e s te s encon travam -se q u a tro m oças m enores, que so diz iam d e sh o n estad a s pelo p res id en te do Cen­tro . A políc ia a p u ro u qu e o m esm o ind iv iduo ab u sav a rea lm e n te de m enores que fre q u en tav a m o c en tro " . ( 3 S 5 ) .

L eonid io R ibelro-M urilo de Cam pos a b rig a ram no seu liv ro “ O E sp iritism o no B ra s il” o caso de d e ­flo ram e n to , pub licado p o r A frãn io Peixo to , em 1909. Id a lin a , de 16 anos de idade , fo i levada pe la p ró p ria m ãe ao e sp ir ita Bom fim e este, descobrindo na m enor qu a lid ad e s de m éd inm , com eçou a in s tru i- la e p resen- te á-la a té que conseguisse p e rp e tra r o c rim e . . . Des- v irg inou -a .

A frãn io a c resc en ta :“ A lem d isso, pude v e rif ic a r que, no e s tad o de

C.-ÍS3) Cf. “Ralos de .Sol”, 1.* série, pg. 29.(3S4) JUSTINO MENDES — Médiuns e Fnklrea, Llvr.

Católtcn. A. Campos, S. Paulo, 192S, pg. 48. Slade velo ao Brasil n convite do proí. A lexandre, do Colégio Pedro II,

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passiv idade a u to m ática ao qu a l reduz su a s m éd iuns fem in in as, n a s sessões púb licas e p rivadas, é fac il a b u ­s a r d e las sem d ificu ldade , quando não h á te s te m u ­n h a ” . (3 8 6 ).

Falando do espiritismo, alto e baixo, es­creve Xavier de Oliveira:

"O com plexo sexual em polga a q u a se to ta lid a d e dos m éd iuns que tenho obse rvado . Conheci, a té , um de p u tad o fed e ra l, e sp ec ia lis ta n e s ta m a té r ia . D izia- se e s p i r i t a . . . . e cercava-se de s e n h o ra s c ré d u las , em g e ra l p ra tica n d o nos ho té is onde m orava . D epois de certo tem po, a lg u m as hóspedas, m a is d a d as à se ita de K ardec , já nã o podiam su s te n ta r o o lh a r de le, de­pu tado .

“ O processo fa lh a v a m u ito ; m as, à s vezes, dava certo .

“ U m a pobre in san a deu e n tra d a no P av ilhão , com in ú m e ras equim oses, tom ando-lhe m e tad e do corpo.

“ F o i a p e rv e rsid ad e d e um m éd ium que ju ro u v ingar-se dela, e v ingou-se , de -fato , por não te r ela q u e rido a c e ita r a s p roposta s de am o r qu e lhe fizera.

“ E la . , não teve m a is s o s s e g o . . . a té que, em f ra n ca e fo rte c rise nervosa , lhe foi c a ir aos p é s” e e le a c o n tund iu to d a p a ra ti r a r - lh e o e sp írito m au que se ap o ssa ra d e la ” . (3 8 7 ).

E m ais:“ As danças sensuais , q u a se sem pre , fecham essas

a ssem b lé ia s de exp lo rado res e exp lorados, a que nem fa lta a nódoa da la sc iv ia im u n d a , que é um a das suas c a rac te r ís t ica s p rinc ipais .

“N os tr e je ito s de seus passos sensuais , vê-se bem

(3S5) D. OTÁVIO CHAGAS DE MIRANDA, opus clt., PB. 89. . •

(386) LEONIDIO RIBEIRO-MURILO CAMPOS — O Esplrltlxni» uo Brnsll, pg. 136-138.

(3S7) Dr. XAVIER DE OLIVEIRA — E spiritism o e

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o in s tin to b ru ta l da b e s ta que te m d e n tro de s l cada conviva dessas o rg ias m acab ras .

“ Um eteiTO carnaval satânico, com todo o seu cortejo de m isérias e com todas as suas consequências lastim áveis.

“ E é a isto que cham am um a c iência, uns, e um a re lig ião , o u t r o s . . .

“ E sp iritism o , LOUCURA EPID Ê M IC A , q ue o ra devasta a hu m a n id ad e , d igo eu.

“N em o fundo Ín tim o da su a c ausa p rec ip u a d i­verge , h o je , da que se m p re foi in e re n te à c láss ica h is­te ria de Sydenham : o COM PLEXO SE X U A L ”. (3 8 8 ).

É de notar que as perversões do instinto sexual andam, muitas vezes, de-par com as sevícias praticadas contra a pessoa “que se deseja”. A necrofilia e o sauismo, em que se celebrizaram os Febrônios e, mesmo, certas pessoalidades de alto conturno, a-m iude se revelam na prática do baixo espiritismo. É no paroxismo de uma crise nervosa que “o pervertido” se sente com tendências necró- filas ou sádicas.

Aliás, o nivel de im oralidade a que che­gou, entre nós, o espiritismo, já foi denuncia­do pelos próprios espiritas.

L uiz de M atos, p res id en te do "C en tro R e d e n to r”, e n tid ad e e sp ir ita que se in su rg e co n tra a “m o d e ra ­ção” d a d o u tr in a de A llan K ardec , ed itou , em volu­me, as CARTAS OPO RTU N A S que o jo rn a l “ A P á t r ia ” p u b lic a ra em 1924.

N essas c a r ta s , o sr. Luiz de M atos a ta s s a lh a a fa­m a de seus “ irm ã o s” d ive rgen tes . N um a linguagem c ru a e v io len ta , la rd e ad a de te rm o s soezes, v e rg a s ta

(38S) XA VIElt DE OLIVEIRA, op iu cU., Pg. 241-242.

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aqueles que e le denom ina “p ra tica d o re s d a fe it iç a ria c a rd e c is ta ”. D enunc ia o que d e a b je to v a i pe las te n ­das e cen tro s . Põe a descoberto o lam açal de poi-néln, que c o n s titu e o su b s tra tu m e a p ró p ria razão -de-se r do E sp iritism o .

Do o u tro lado , — a g o ra um c a rdec is ta , — C ar­los Im b as sah y a ta c a tam bem os cen tro s "m a l a fa m a ­d o s” d<“ *iaixo esp iritism o .

E ’ v e rd a d e que esses a u to re s fazem ressa lv a a respe ito de seus respectivos grém ios: L uiz de M atos, defendendo o e sp iritism o a n ti- c a rc e d is ta ; Im bassahy , o esp iritism o c a rdec is ta . N a op in ião de um e de ou tro , e x is te um e sp iritism o pu ro e um e sp iritism o degene­rado .

O que vemos, na polêm ica, é que os pró­prios liomens de bem, — que ainda os há no espiritismo, — se assustam com o resultado da doutrina espirita, tenha ela origem em Kardec ou alhures.

Reproduzam os, porem, como pratinho delicioso oferecido ao leitor, alguns trechos da verrina de Luiz de Matos:

“D a fre q u ên c ia a ta is s e s s õ e s . . . r e su l ta o a la s ­tram en to desse veneno a s tr a l qu e produz su ic íd ios, a s ­sa ssin a to s, d e sh o n ra de donzelas, p reva ricação de m u­lh e re s casadas, ao s m ilh a res , que os jo rn a is m encio­nam no seu n o tic iá rio ”. (3 8 9 ).

Mais:“Se ta is m u lh e res que que rem pa ssa r por se nho ­

ra s v ir tu o sa s e r a in h a s do la r , como m u ita s ex istem por to d a p a rte , tivessem ve rgonha , não desce riam a ponto de se n ive larem com boçallssim os pais de m esa

(389) LUIS DE MATOS — Cnrtns Oportunns. Edlç&o do Centro E sp irita Redentor, 1924, pg. 34.

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e m éd iuns tovpíssim os dos a n tro s que fre q u en tam , de que são “ f re g u e sa s” e que p a g am ” . (3 9 0 ).

A dispula entre espiritas cardccistas e an- ti-cardccistas, ou entre os sequazes do alto espiritismo e os do espiritismo baixo, não tem razão-dc-ser. Parece mais uma briga de ofi­ciais do mesmo ofício. Rivalidade, e nada mais.

De-feito, as práticas religiosas decorrem, sempre e necessariamente, da doutrina teó­rica. Ora, a doutrina do chamado espiritismo racional-cristão, quanto aos pontos essenciais, cm nada difere da doutrina de Allan Kardec. Logo, as práticas de cardecistas c anticarde- cistas são iguais. São IMORAIS TODAS ELAS. Esta é que é a verdade. E os fatos aí estão, registados c documentados, nos autos policiais, nas colunas dos jornais e nos livros dos cientistas.

Para sermos justos, somos forçados a de­clarar o espiritismo “ racional-cristão,” do Centro Redentor, mais perigoso do que o espi­ritismo de qualquer outra feição. Já Leonidio Ribeiro c Murilo de Campo observaram que o espiritismo do fam igerado Centro R edentor é “fundam entalm ente anti-religioso.” Os fu­riosos membros desse Centro chegam até a insurgir-se contra a nomenclatura religiosa, e aconselham a substituição do nome de Deus pelo de Grande Foco e zombam da expressão “Nosso Senhor Jesús-Cristo”, tão cara aos ou­vidos dos católicos. (391).

(390) LUIS DE MATOS, Ibidem, pg. 40.(391) LEONIDIO RIBEIRO-MURILO CAMPOS, opu»

clt>, pg. 100.

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0 ódio desses homens contra a Igreja Ca­tólica parece antes dc energúmenos.

Passando, porem, da teoria à prática, os membros do Centro R edentor aconselham o castigo físico contra os seus inim igos (392) e, no terreno da terapêutica, lançam mão dos métodos m ais violentos:

“O Centro E spirita Redentor" faz o alie­nado voltar à situação de possu ido. . . pelo espírito mau, e, nessas condições, prescreve a “lim peza psíquica, as amarrações” c os casti­gos corporais.” (393).

O livro Espiritism o C ientífico e Cristão, m anual ritualistico desse Centro, não se en­vergonha de exibir fotografias de instrumen­tos de suplicio, usados na terapêutica espirita “i’acional-cristã.”

Assim, numa fúria de inconoclastas, os “espiritas racionais-cristãos e científicos”, ne­gam as m ais claras verdades do Evangelho, e tentam destruir os próprios Evangelhos.

Rancorosos e demolidores.Podemos, portanto, igualar todas as m o­

dalidades de espiritismo. As pequenas dife­renças, entre elas, são apenas acidentais. Não passam de necessárias evoluções do sistema, porque a prática de uma doutrina está sujeita a acom odações várias, dc acordo com o nivel m ental dos crentes, desde que a doutrina se preste a isso.

"M ú ltip las são a s va rie d ad e s de esp iritism o , pois vem desde o que dizem s e r a s u a feição c ien tifica , a té

(392) LUIZ DE MATOS — CnrtnH OpordmnH, pB. 140.(393) LEON1DIO RIBEIRO-MURILO CAMPOS, opus

cit., per. 100.

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a baixa fe it iça ria que a sse n ta as su a s bases ne le ta m ­bém , D E ACORDO COM O N IV E L M EN TAL E A CUL­T U RA IN T E L E C T U A L dos seus s e c tá r io s”. (3 9 4 ).

Toda doutrina espirita, qualquer que se­ja, leva a práticas imorais.

A im oralidade parece ser a finalidade do espiritismo neste mundo. Imoralidade e des­respeito ao corpo, porque o espiritismo reduz a zero o valor ou a importância do corpo no composto humano.

Na doutrina da Igreja, o corpo é cerca- cado de lodo respeito, e isto pelo papel impor­tante que o corpo representa no composto. A alma sem o corpo, vimos, é incapaz de adquirir conhecimentos, que são colhidos mediante os sentidos corpóreos. Alem disso, a união da al­ma com o corpo é uma união substancial. Pe­la morte, estabelece-se, entre a alma e o cor­po, uma separação de-fato, mas não uma se­paração de-jnre. A alma continua a ter direi­to à posse de seu corpo e este à posse de sua alma, de modo que esta não se unirá nunca com outro corpo que o seu. Assim doutrina Santo Tomaz.

E a união de-fato se restabelecerá um dia. A ressurreição dos corpos é dogma de fé. O corpo é a morada da alma, e se esta esti­ver em graça, o corpo c morada da graça. Por isso disse São Paulo que o corpo do cristão é templo do Divino Espírito Santo.

O corpo, portanto, — belo ou feio, fisi­camente, — tem uma importância enorme na

(394) XAVIER DE OLIVEIRA — E spirltU m o e Lou­cura , p s . 196-196.

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doutrina da Igreja. Os sacramentos santifi­cam a alma, mas se exercem no corpo e pelo corpo. Por isso é que são “sinais sensíveis.”

Mas o espiritismo reduz o corpo humano, vivo ou morto, a uin punhado de sais. O cor­po não passa de uma casca da alma. É apenas uma vestim enta temporária que, depois de gasta, será trocada por outra ou por outras.

Ruinoso para a alma, o espiritismo o é tambem para o corpo. Até as belas artes per­dem com a adoção dessa religião funesta.

O ESPIRITISMO É O INIMIGO DO HO­MEM, do homem todo.

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CAPÍTULO III

LOUCURA E SUICÍDIO

Ninguém desconhece o parentesco de grau próximo, que há entre a prática do espiritis­mo e a loucura. Os casos de espiritas que en­louqueceram são tão comuns, que chegaram a preocupar os próprias representantes da ciência oficial, e os responsáveis pela saude do povo. Já não somos nós, — os sacerdotes católicos, — que estudamos o problema sob este aspecto. Sobre nos faltar com petência, julgamos desnecessária toda investigação nos­sa, uma vez que o assunto já fo i tratado, pro­ficientem ente, pelos m aiores psiquiatras bra­sileiros. Lim itar-nos-emos, pois, a seguir as pegadas desses especialistas.

Antes de m ais nada, manda a sincerida­de confessem os que o espiritismo não é uma causa fa ta l de loucura. É, apenas, uma causa coadjuvante, uma concausa. Neste particular, equipara-se à sifilis e ao álcool. Mesmo por­que, assim dizem os especialistas, não ex is­te fator especifico de loucura: esta é uma nevrose, aguda ou não, e a etilogia da neuro­se é ainda ponto obscuro em medicina.

Isto, porem, pouco importa ao caso. 0

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certo e indiscutível c que o espiritismo leva para a loucura.

X avier de Oliveira reduz a loucura dos espiritas a um sindrôm io histeróide, e diz que ela se m anifesta, via de regra, nos indivíduos de constituição m itopática. A m itopatia , no caso, nada mais é do que a “facil sugestibili- dade” dc Bernheim. (395).

O espirita, diz o dr. Xavier, é um indiví­duo ainda não declaradamente enfermo, mas que tem a sua m eiopragia nervosa, sua tara, c é, assim, um receptivo mental, terreno pre­parado, que, dedicando-se ao espiritismo, aca­ba por adoecer, mentalm ente, dc uma psicose que se liga aos fenôm enos espiritas. (396).

Desta forma, o espiritismo d “um gênero de ocupação que concorre, não somente para a modelagem dos sintomas, como tambcin pa­ra a provocação da loucura.” (397).

Entre as perturbações mentais, produzi­das pelo espiritismo, umas, — os delírios epi­sódicos, — são curáveis, e outras são incurá­veis. Mas “em todas, ocorrem perturbações graves, inclusive o suicídio, porem sem gran­de repercussão no estado somático. (398).

Melhor, porem, do que todas as afirma­ções, falam as estatísticas.

O dr. X avier de Oliveira é professor de psiquiatria na Universidade do Rio de Janei­ro e, nessa qualidade, observou mais dc de­zo ito m il loucos no Parvilhão de Assistência a

(395) Idem. Ibidem, pg. 191.(39C) Idem, Ibidem, pg. 195.(397) I.EONiDIO RIBEIRO-MURILO Campos — O

plrltlnmo no Brnail, pg. G4.(398) Idem, Ibidem, pg. G7-C8.

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Psicopatas, da Faculdade de Medicina. Con- clue ele:

"N um a e sta t ís tic a de doze anos, por nós a lí le­v a n tad a , de 1917 a 1928, num to ta l de 18.281 e n tra ­das, e n co n tram o s 1.723 Insanos, po r tad o re s de psi­coses c ausadas, só c exclu sivam en te , pelo e sp iritism o , e que, a lí, se reg is tam sob a denom inação g e ra l de — D elírio ep isód ico” .

“ E ’ d izer que 9 ,4% das e n tra d a s a lí são dev idas à s p rá tic a s e sp ír ita s , de onde conclu ir que, após a s íf ilis e o alcool, é o esp iritism o o te rc e iro f a to r de a lien a çã o m en ta l no R io de J a n e ir o ”. (3 9 9 ).

Portanto, as três principais causas de loucura, na capital da República, foram, de 1917 a 1928:

1.*: A SÍFILIS.2.a: O ALCOOL.3.■: O ESPIRITISMO.

Segundo H enrique Roxo, estes três fato­res concorrem com 90% dos casos de aliena­ção mental, ficando apenas 10% para outras causas de loucura. (400).

E’ a eloquência dos fatos! E note-se que ai estão quase que só os loucos miseráveis. Os outros, em grande parte, hão-de ter ido para casas de saude particulares, ou foram tratados domiciliarmente.

E no interior do país? Pelas nossas obser­vações pessoais, podemos afirm ar que os es­tragos m entais do espiritismo não são nada

(399) XAVIER DE OLIVEIRA, lbldem, pg. 197-198.(400) IIENRIQUE ROXO — Modern.is «enrtOncin» de

pnlqnlntrln, cit. peloa dra. Leonldlo e Murilo, opus cit., pag. 61.

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inferiores aos do Rio de Janeiro. Serão, até, maiores.

“ O liv ro dos m édiuns, de A llan I ía rd e c , é a cocaí­n a d03 deb ilita d o s ne rvosos que se dão à p rá tica do esp iritism o .

“ E com um a a g ra v a n te a m a is: é b a ra to , e s tá ao a lcance de todos e, por Isso m esm o, leva m a is gen te , m u ito m ais, a o s bospicios, do que a "p o e ira do d ia b o ”.

Os seus efeitos funestos para a mentalir dade do homem , o Espiritism o os com eçou a produzir, desde que apareceu. Já em 1852, o jornal The Boston P ilot, cm seu número de 1.° de julho, notava o grande contingente de doidos fornecido pelo Espiritism o:

“A m aio r p a rte dos m é d iu n s acabam , com o (em ­po, po r to rn a r-se in tra tá v e is , loucos, id io tas , e o m es­mo sucede lam bem aos seus ouv in te s . N ão p assa se­m a n a em que não te n h am o s ocasião de v e r a lg u m desses desg raçados su lc lda r-se , ou e n tra r p a ra a lg u m a casa de saude. Os m é d iu n s dão s in a is inequívocos de um estado a n o rm a l de su a s fac u ld ad e s m e n ta is , e não poucos de les a p re sen tam s in to m as bem p ronunciados de v e rd a d e ira possessão d iab ó lica" . (4 0 1 ) .

Segundo Mirville, grande número de lou­cos foram internados em Bicêtre (França), em 1881, todos eles vitim as das práticas espi­ritas. (402).

Em 1877, o dr. L. S. W inslow escreveu:“ Dez m il pessoas e stão a tu a lm e n te e n c e rra d a s em

(101) FIG U IER — H istoire da M erveilleux, 1881, v. IV, pg. 343.

(402) MIRVILLE — ancx tlon de« E sp rits , 1885, pg. 65, clt. pelos “Ralos de Sol”, pg. 28.

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iuanlcO mios dos E sta d o s U nidos, p o r s e te rem im iscu í­do com o so b re n a tu ra l”. (4C3,.

Os próprios autores espiritas reconhecem a grande contribuição de dementes que sua religião fornece aos hospícios. É verdade que procuram explicar o fenôm eno a seu modo; mas, em todo caso, confessam o fato e isto nos basta. ,

Diz o sr. Carlos Imbassahy:“ A deb ilid ad e dos ne rv o s é, a lg u m as vezes, tão

so m e n te e fe ito , consequência do e sg o tam en to físico do pacien te, e sgo tam en to p roduzido pelo esforço em ­pregado , pe la p e rd a c o n s tan te de flu idos, pelo abuso das sessões e x p er im e n ta is”. (4 0 4 ).

Gibier, tambem espirita, observa:“E ’ n e cessário de sac o n se lh a r a s p rá tic a s do esp i­

ritism o e x p er im e n ta l a c e r to s I n d iv íd u o s . . . E ’ do nosso dever a s s in a la r o p e rigo in e re n te às e x p e riên ­c ias de p siqu lsm os, com a s quais, e n tre ta n to , se b r in ­ca, sem p e n sa r no g ra n d e risco que oferecem . (4 0 5 ).

De Léon Denis, já citamos o trecho em que ele confessa que o domínio dos espíritos pode levar as suas vitim as até aò crime e à loucura. (406).

Allan Kardec, em linguagem prolixa, ex­plica os pejggos do fenôm eno a que chama obsessão, fascinação e subjugação e que, na

(403) FORBES WINSLOW — Louenrn EKpIrltunlIatn» cit. pelos “Raios dc Sol”, pg. 29.

(104) CARLOS IMBASSAHY — O E splrltlsuio h Ia* ilos Falou, pg. 182.

(405) Dr. GIBIER — Le Splrltlnmc, pg. 3S5. citado por D. Otávio, «Os FenOmenos Psíquicos”, pg. 78.

(406) LÉON DENIS — A prís In inort, pg. 230.

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sua opinião, os espíritos exercem contra os ex­perimentadores c m édiuns :

“ E n tre os e sco lhos que a p re se n ta a p rá tica do e sp iritism o , cum p re p o r em p r im e ira lin lia a obsessão, isto é, a posse, que c erto s e sp írito s sabem to m a r de c e r ta s pessoas.

O e sp irito d irig e , como a um cego, a pessoa de que conseguiu a p o d erar-s e , e pode fazer-lh e a c e ita r d o u tr in a s e x tra v ag a n te s e a s m ais a b su rd a s. P o d e ta m ­bém in d u z ir a ações r id íc u las , que lh e com prom etam a h o n ra e a ca rre tem perigos.

"A obsessão a p re se n ta trê s g ra u s : obsessão sim ­p les, fnscinnção e su b ju g a çã o ” . (4 0 7 ).

Com estes termos, Kardec entende expri­mir os vários graus de loucura individual ou coletiva.

O dr. Seabra, espirita brasileiro, escre­veu:

“O aspec to relig io so que o e sp iritism o a ssu m e nas sessões c o rren tes p oderá te r se rv ido de consolo a m u l­ta g e n t e . . . m as expõe m u ito s de seus p ra tic a n te s a deso rdens m e n ta is o ne rvosas, e, com se m elh an te s de ­sag regações, d esapa rece a paz, a tran q u ilid a d e , o con­solo que ha v iam enco n trad o em o u tro s te m p o s”; (4 0 8 ).

No afan baldado de defender um siste­ma religioso prejudicial à sanidade m ental do indivíduo, os espiritas alegam que p rod uz ir loucura não é só próprio do espiritismo, mas também de todas as grandes preocupações hu­manas; e retrucam que, dentro mesmo do ca-

(407) ALLAN KAltDEC — Livro dos Médian*, c. 23.(408) Dr. SEABRA — “A nlmn c o nub-condente”,

pg. 94, citado por D. Otávio, Os FcnOmcno* Palqulcoi,

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tolicismo, existem as vítim as da misticom a- nia ou m ania religiosa. (409).

A evasiva é futil. Nunca a Medicina des­cobriu que o excesso de práticas religiosas do católico o levasse à loucura; excessos, quando os haja, já são efeito dc perturbação mental, causada por um motivo profano qualquer. No espiritismo, a loucura é consequência das prá­ticas religiosas, isto é, da assistência a sessões e leituras. Fora do espiritismo, o fervor religio­so vem depois da m anifestação de loucura. Não raro, uma pessoa que adquire mania religio­sa era um ateu ou incrédulo antes de enfra­quecer mentalm ente. Por outras palavras: no espiritismo, a sua prática faz loucos; fora do espiritismo, a loucura costuma fazer misticos.

A

Denunciada a confissão, explícita ou im­plícita dos próprios autores espiritas, citemos agora a opinião valiosa dos homens de ciên­cia. O problema da espiritopatia ou loucura espirita tem preocupado a todos. Na França, são notáveis os trabalhos de A. Vigouroux, de A. Marie et Viollct, de Duhen e de outros. (410).

Entre os primeiros que se preocuparam, em França, com os desastrosos efeitos do es­piritismo, salienta-se o dr. Mareei Viollet, mé­dico dos asilos de alienados de Paris. Sua

(409) ALLAN KARDEC — “O livro doa capfrltoa», e ou tros autoros.

(410) Veja bib liografia «m Leonfdlo Ribslro-M urllo Campos, opas cltntnm , pg. ST.

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opinião sobre o perigo 'espirita sintetiza-se nas palavras seguintes:

“ Os e lem en tos que e n tra m n a constitu ição e sp i­r i t is ta são a n álogos aos e lem en tos q ue e n tra m na constitu ição do de lír io : a o-rigem em fa to s m ira cu ­losos, a e s tr u tu ra p u ram e n te h ip o té tica . A d o u tr in a e sp ir itis ta a b re la rgo cam po a todas as h ip ó te se s; e s ­sa d o u tr in a não conhece lim ite s ; é o In fin ito que se p ro p õ e como p rob lem a ao f in ito ; sob e ste ponto de v is ta , O E SP IR IT ISM O CO N STITU E UM ÓTIMO CAL­DO D E CULTURA PA R A TODOS OS E RR O S, PA R A TODA E S P É C IE DE D E SE Q U IL ÍB R IO E PA R A TO ­DA E S P É C IE D E LOUCURA. A ssim , pois, não pode­mos de ixar de a d m itir v e rd a d e iro s casos de lo u c u ra e s p ir i ta ” . (4 1 1 ).

No Brasil, onde a doença espirita se vai tornando epidêmica, não há um só psiquiatra que se não tenha manifestado contra as prá­ticas necromânticas do espiritismo, pródomos da vesania. E aqui há unanimidade. Todos os m édicos alienistas condenam o culto espirita, e são acordes em o apontarem à sociedade como o perigo negro.

De notar é que os cientistas, espontanea­m ente uns, consultados outros, tem emitido a sua opinião de-público. Vários inquéritos já foram organizados, e neles depuseram os mais notáveis sociólogos. Desses inquéritos o mais antigo foi o promovido pelo dr. JOÃO TEI­XEIRA ALVARES, distinto m édico mineiro, residente em Uberaba. Isto em 1914.

O dr. João Teixeira form ulou os dois que­sitos seguintes:

(411) Dr. MARCEL VIOLLET — Le SplrltU m e dono •eu rappo rts nvec la Folie”, pg. 38.

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a) Que idéia fa z V. S. do espiritism o co­m o fa tor da loucura e outras perturbações nervosas?

b) O m édium , principalm ente o vidente, pode ser considerado um tipo normal?

Responderam os seguintes médicos, todos eles práticos no tratamento de loucos.

FRANCO DA ROCHA, diretor do Hos­pício de Juquerí, S. Paulo;

JULIANO MOREIRA, diretor do Hospí­cio Nacional, RIO;

JOAQUIM DUTRA, diretor do Hospício de Barbacena. Minas;

HOMEM de MELO, diretor de uma casa de saude, S. Paulo;

ANTONIO AUSTREGÉSILO, conhecido psiquiatra, e professor da Faculdade de Me­dicina, do Rio de Janeiro.

Eis as respostas:

D r. F rn n c o d a R o c h a:a ) Q uanto ao p rim e iro quesito , lê-se em liv ro s

do a u to r : “ A -propóslto das reun iões e sp irita s , num trab a lh o rec en te escreve ram Solier e B o lssie r: “ E m benefício da pro filax ia , se ria de conveniência d iv u l­g a r os a c id e n tes causados pe la fre q u ên c ia à s sessões e sp irita s . C harco t, F o re l, V igouroux , H en n e b erg e ou ­tro s p ub licaram exem plos de pessoas, sob re tudo m o­ças, A N TE R IO R M EN T E SANS, QUE SE TORNARAM H fS T E R O -E P IL É P T IC A S , em c onsequência da p rá tica do e sp iritism o . A qui a s sessões fazem exp lod ir ou a g ra ­vam a nevrose , aco lá d e spertam e s is tem atizam a ten -

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d ên cla & V esan la , que um a v ida re g u la r e bem d ir i­g id a te ria e v ita d o ”. (4 1 2 ).

b ) “ O m éd iu m v id en te , em m inha op in ião , não é um tipo n o rm al; é q u ase sem pre um desequ ilib rado . D evo-lhe d izer que eu, pelo m enos, n u n c a v i u m m é ­d iu m quo fo sse in d iv íduo n o rm al. P ode se r que ex ista ; eu , porem , não o vl a in d a . *

D r. Ju lin n o M oreira :a ) T enho visto m u ito s c asos d e p e rtu rb a çõ e s n e r ­

vosas e m e n ta is ev id en te m e n te d e sp e r ta d as p o r se s­sões e sp ir ita s . No H O SP IT A L NACIONAL, não raro , vem te r ta is casos".

b ) “A té h o je a in d a não tiv e a fo rtu n a de v e r um m édium , p r in c ip a lm en te dos cham ados v iden tes , que n ã o fosso n c v ro p a ta ” .

D r. Jo a q u im D u tra :“ As p rá lica s e sp ir ita s e stão inc lu ídas, e eom c e r­

ta p roem inênc ia , e n tre e ssas cau sa s e e fe ito s , in f lu in ­do d ire tam e n te , pe las p e rtu rb a çõ e s em o tivas, como um C O E FIC IE N T E AVOLUMADO p a ra a população dos m anicôm ios.

“ E x ag e rad a s, a tó se to rn a re m p reocupação d o m inan ­te , e la s p rep a ra m a lo ucu ra , quando não são m esm o um a d e núncia da su a ex istência .

“ P o r im pressionáveis, ta is p rá tica s concorrem pa­ra a h a lu c in a ç ã o . . . e tc .”.

D r. H om em d e M elo:a ) “ C onsidero o e sp iritism o , com o o p ra ticam ,

um g ran d e fa to r de p e rtu rb a çõ e s m e n ta is e n e rvosas; a tu a lm en te o esp iritism o conco rre com a he ra n ça , com a s íf ilis e com o álcool, no fornecim en to dos hos-

(412) FRANCO DA ROCHA — Esboço de PsIqulntrJo Forense, pg. 32, c itado pelo dr. Jotto Teixeira.

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pícios o casas de sa u d e ; acho tã o fo r te o sen c on tin ­ge n te , q ue a le i d ev ia to lh e r-lh e a m a rc h a ” .

b) “ O m éd in in 6 u m tip o de g en e ra d o ” .

O Dr. Austregésilo, em resposta ao dr. João Teixeira, exprim iu a sua opinião assim:

"O e sp iritism o é, no R io de Ja n e iro , u m a das causas p red lsp o n en te s m a is com uns da lo u c u ra ”. (4 1 3 ).

Depois do inquérito do Dr. João Teixei­ra, outro houve promovido pelo “O Jornal”, do Rio, em 1926, cm forma de entrevistas. Das opiniões então em itidas, duas merecem destacadas, porque emanam de dois cientis­tas de nom e: H enrique Roxo e Juliano Mo­reira.

Disse o dr. HENRIQUE ROXO:“ O esp iritism o é, pode-se d iz e r sem exagero , um a

v e rd a d e ira fá b r ic a d e loucos. E n tre os dem en tes que, d ia riam e n te , dão e n tra d a no H ospicio, g ra n d e p a rte , — a m a io ria m esm o, — vem de cen tro s e sp irita s .

“ Com preende-se, porem , que eu não digo que o esp iritism o possa, sozinho , p e r tu rb a r o cérebro d e um ind iv íduo n o rm al e são. A firm o, todav ia , g raç as à ex­pe riê n cia que possuo, que ele é um ag en te p rovoca­do r dè delír io s pe rigosíssim os, quando p ra tica d o , co­m o o é v u lg a rm en te , por pessoas de pouca c u ltu ra . E ’ fac il im a g in a r, de re s to , o efe ito que deve te r nu m es­p ir ito já n a tu ra lm e n te f ra c o . . . E ’ c laro que e sse e fe i­to só ó tão fo rte e decisivo nos ind iv íduos j á p red is­posto s; em todo caso, n ão m e pa re ce m enos c laro , ta m ­bém , que , se esse e s tim u la n te in d e sejáv e l não se íl-

(413) D r. JoAO TEIX EIRA ALVARES — O Espiri­tismo, artigos publicados na "L avoura e Comércio'’, da Uberaba, enfeixados em livro, tlp. Jardim , Uberaba, 1914.

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zesse E eutir, ta lvez a dem ência, em ta is ind iv íduos, ja ­m a is se m an ifesta sse , ou e n tão d e m o ra r ia a se m a n i­fe s ta r . O esp iritism o , p o r tan to , é um a fáb ric a de iou- cos, sendo , desse m odo, n e fa s to ”. (4 1 4 ).

O dr. JU LIA N O M O REIRA assim se exp ressou :

“ Tom razão o dr. H en riq u e Roxo quando d iz que o e sp iritism o p o r a i p ra tica d o é um a v e rd a d e ira fá ­b rica de loucos. R ealm en te , é g ra n d e o n úm ero de doen tes , p ro ceden tes de c en tro s e sp ir ita s , que vão b a ­te r à s p o rta s do H ospício N acional de A lienados.

“ E ’ c laro , e n tre ta n to , que o esp iritism o não é, po r s i só, capaz de p ro d u zir a desordem num esp irito são e e q u ilib ra d o . . . a p rá tic a do esp iritism o , po r con­se g u in te , e s tá m u ito longe d e s e r Ino fensiva , conform e se ap reg o a g e ra lm e n te ”. (4 1 5 ).

. Por fim , o mais recente e, ao mesmo tem ­po, o mais autorizado inquérito que houve entre nós acerca do espiritismo, fo i o que a Sociedade de Medicina e Cirurgia, do Rio de Janeiro, por iniciativa do dr. Leonídio Ri­beiro, promoveu entre especialistas brasilei­ros, depois de 1927.

Esse inquérito reduziu-se a quatro que­sitos, dois sobre a parte teórica do espiritis­mo, e dois sobre as suas consequências para o indivíduo e para a sociedade. Pelo visto, só os dois últimos quesitos interessam a esta par­te de nosso trabalho. Diziam :

(414) Cf. “O Jo rn a l”, do Rio, 12 da março da 1*26.(415) Cf. "O Jo rn a l”, 25 da da março de 1926.

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3.° - A prática do espiritism o pode trazer danos à saude m ental do indivíduo?

4.° - O exercício abusivo da arte de curar pelo espiritism o acarreta perigos para a sau­de pública?

R esponderam os seg u in te s e spec ia lis ta s:

ANTONIO A U STREG ÉSILO , c a te d rá tic o de c lin i­ca neu ro lóg ica , da F a c u ld ad e de M edicina, d a U n ive r­s id ad e do R io de Ja n e iro ;

H E N R IQ U E ROXO, c a te d rá tic o da c lín ica p siqu iá ­tr ic a da m esm a F a c u ld ad e ;

E SPO ZE L , su b s ti tu to de c lin ica p s iq u iá tr ic a e n eu ­ro lóg ica d a m esm a F a c u ld ad e ;

TA N N E R D E A BREU , c a te d rá tic o de m edicina le g a l da F ac u ld ad e de M edicina do R io de Ja n e iro ;

JU L IO PO RTO CA RR ERO , c a te d rá tic o de M edi­cina púb lica da F a c u ld a d e de D ireito da U n ive rsidade do R io de J a n e iro ;

JOÃO FR O IS , c a te d rá tic o de m edicina pública da F a c u ld ad e de D ireito da B aia ;

CARLOS SE ID L , c a te d rá tic o d e m ed icina p úb li­ca d a F a c u ld ad e de D ireito da U n ive rsidade do Rio de J a n e iro ;

RA U L LEITÃO DA CUNHA, c a te d rá tic o de a n a ­tom ia pa to lóg ica d a F a c u ld ad e de M edicina da U ni­v e rsidade do Rio de Ja n e iro ;

FRA NCO DA ROCHA, e x -d ire to r do H ospício do Ju q u e ri , S. P au lo ;

PACHECO E SILVA, d ire to r do H ospício de Ju q u e ­r i , S. P a u lo ;

PERNAM BUCO FIL H O , doc en te de p s iq u ia tr ia da F a c u ld ad e d e M edicina, do R io de Ja n e iro ;

EV ERA RD O B A CK EU SER , p ro í. d a E sco la P o li­técn ica e sociólogo;

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- 369 —M IG UEL OSÓRIO D E A LM EID A , p ro fesso r d a F a ­

cu ldade de M edicina, e ste n a sessão da Sociedade de M edicina, a 19-4-27.

*

P ro c u ra n d o , por a m o r à b rev idade , c ing ir-nos só ao que d ire ta m e n te se re fe re ao quesito , om itim os as d ivagações que p recedem ou seguem ce rta s respostas . R ep roduzim os o quesito .

3.« — A PR A TIC A DO E SPIR IT ISM O PO D E TR A ­Z E R DANOS A SAUDE M EN TAL DO IND IV ÍD U O ?

A u streg é s ilo : “ Sim . E s to u convencido que as p rá ­tic a s e sp ir ita s tem produzido , em pred isposto s, v e rd a ­d e ira s psicoses e a g ra v ad o m u ito s e s tad o s m e n ta is já In ic iados p o r pequenos d is tú rb io s p síq u ico s”.

H en r iq u e Roxo: “ O núm e ro de a lienados, em que a s p e rtu rb a çõ e s m e n ta is su rg ira m em c onsequência de freq u ên c ias de p rá tic a s e sp ir ita s não tem d im inu ído , e sim , pelo c o n trá r io , a u m e n ta d o ”.

E spozcl: “ A in flu ê n c ia d a p rá tic a do esp iritism o n a produção de d is tú rb io s m e n ta is é in c o n tes táv e l; b a s ta um a pequena v ida c lín ica n a e spec ia lidade p a ra se te r ocasião de o b se rv a r num erosos casos, em que a s p e rtu rb a çõ e s psíqu icas g iram em to rno de fa to s ocor­rid o s n a s sessões e sp ir ita s . A ssim sendo, rep ito , consi­de ro a p rá tica e sp ir ita possível de p ro d u z ir d e sa r ra n ­jo s m e n ta is , m axim é n as pessoas p red isp o stas , a s quais devem e v itá-la po r p e rigosa" .

T a n n e r do A b re u : “ Sim. B a s ta com pu lsa r os re ­g is to s d e nosso H o sp ita l N acional de P s icopa tas , pa ra te r a se g u ra n ça de q ue não ra ro f ig u ra como e lem en to e tio lóg lco das doenças m e n ta is a p rá tic a do e sp ir itis ­mo pe la c o m parênc ia à s respectivas se ssõ es”.

“ E sse conceito é, adem ais, firm ado po r m ostres da p s iq u ia tr ia . B a s ta rá c ita r o m a io r de les, o saudoso

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— 370 —p ro fesso r da U n ive rsidade de M unique, EM ILIO K R A E P E L IN , que , depois de a lu d ir aos casos do lou ­c u ra c o m un icada ou de con tág io p síqu ico , a ce n tu a que deles podem se r ap rox im ados o s d is tú rb io s m en ta is ... em consequência e sob a in flu ê n c ia de sessões h ip n ó ­ticas ou de E S P IR IT IS M O ”.

P o r to C a rrc ro : “ A ssim , esp iritism o e neu rose tem o m esm o cam inho e e ncon tram -se , é bem d e ve r, o ra no com eço, o ra no fim do tr a je to .

“ Os h o sp ita is de p slcopatas e stão rep le to s desses casos; e, em sem ió tica p s iq u iá tr ic a , é de reg ra , ho je , a pesqu isa de a n tec ed e n te s c sp ir itic o s”.

J o ã o F ro is : “ C e rtam e n te a p rá tica do e sp ir itis ­mo pode t r a z e r e tem produzido danos à, sa u d e m en­ta l dos a d ep to s e fre q u en tad o res de sessões cham adas e sp ir i t is ta s ”.

F ra n c o d a R o c h a : “No ind iv íduo n o rm al, e q u ili­b rado , ta is p rá tica s não produzem dano. Aos desequ i­lib rad o s, n a s c lasses de m e n ta lid ad e in fe rio r, pode fa ­zer dano, pois que não sabem I n te rp re ta r as co isas co­mo a s pessoas e q u ilib rad a s e a s de m e n ta l id ad e su ­pe rio r.

“Sob esse pon to de v is ta , a p rá tica do e sp iritism o , e n tre ge n te de baixa m e n ta lid ad e , é r e a lm e n te um g ran d e m a l”.

L eitão d a C u n h a : "Sim , e tão g randes, a m eu ver, que ju lg o Ind ispensável e u rg e n te que se e stabe leçam le is que reg u le m esse c asó ”.

P a ch eco e S ilv a : “Sim . A cred ito que o e sp ir itis ­mo exerça In fluênc ia sob re a s a u d e m e n ta l do ind i­v íduo. E s ta é tam bem a op in ião do m eu e m in en te m es­tr e e an tec esso r. F ra n co da R ocha, — que, a respe ito , e screveu vá rio s tr a b a lh o s ” .

P e rn am b u c o F ilh o : “E ’ ev id en te . T odos aqueles que se ded icam ao estu d o de doenças m e n ta is , tem

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observado im im eros casos de deso rdens p síqu icas p ro ­duz idas pela p rá tic a do e sp ir itism o ”.

E v era rd o B nckouscr de ixa de re sponder, po r não se r m édico.

Q uanto ao 4.o q uesito :O EX E R C ÍC IO ABUSIVO DA A R T E D E CURAR

PE L O E SP IR IT ISM O A CA RR ETA PE R IG O S PA R A A SAUDE PU B LICA ?

A ustrcgósilo : “ Sim . Os p re ju ízo s são re su l ta n te s dos e rro s ou com issão, não só a tin e n te s ao ind iv íduo como à co le tiv idade" .

"A p laudo , c a lo ro sam en te , a a titu d e da d igna So­ciedade de M edicina, n e s ta c am panha de sa neam en to psíquico, e envio a lg u m as liu h a s que escrev i so b re o a ssu n to : O esp iritism o é u rn a p sic o-ncurose, se m e lh an ­te ã h is te r ia , e tc .”.

H en riquo R oxo: “F in a lm en te , ao ú ltim o quesito resp o n d o : o exercício da a r te de c u ra r pelo e sp ir itis ­m o a c a rre ta p re ju izó s p a ra a S a ude P ú b lic a ”.

E spozcl: “ In co n te s ta v e lm en te ”.T an n e r d e A b re u : "S im . A esse respe ito convem

le m b ra r a om issão do tr a ta m e n to conven ien te, e não cum prim en to d a d isposição reg u la m e n ta r , que im põe o dever de no tif icação com pu lsó ria de d e te rm in a d as doenças tran s m iss ív e is”.

P o r to C n rre ro : “ Os p re ju izó s que o esp iritism o tr a z à Saude P ú b lica são ev iden tes . P r im e iro , m etem - se os e sp ir ita s a c u ra n d eiro s, c riando a m b u la tó rio s e ho sp ita is , onde tr a ta m os p sicopntas a p a ncadas ».ve­ja m -se a s pub licações do próp rio “ C entro R e d e n to r" ) , e onde m edicam pe la ho m e o p atia , — te ra p ê u tic a nem sem p re inócua.

“ Com isso , p re ju d ica m ao doente, ag indo sem conhecim ento de causa , com m edicação in su f ic ien te ou co n tra -in d ica d a , e cu ltiv an d o a te n d ên c ia pqsftlciosa p a ra o m a ra v ilh o so ”.

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Jo ã o F ro is : “ Não h á possivel dúv ida em a firm a r que o exercíc lp abusivo d a a r te de c u ra r pelo e sp ir i­tism o a c a rre ta p re ju ízo s & Saude P ú b lica " .

L e i tão d a C unha : “ In q u estio n av e lm e n te , pois o c a ra te r m is terio so , q ue te m esse exercíc io, d if ic u lta a ap licação d a s m ed idas p ro filá tica s , fac ilitan d o o en­tre ten im en to d as en d em ia s e a d ifu são das e p id em ias”.

F ra n c o d a R o c h a : “Acho que sim , como em ge ra l a p rá tica do c u ra n d elre sm o , q u e r se ja e sp ir ita q ue r não .

“VI m u ito s d o e n tes m en ta is , c u ja afecção explo­d iu logo depois das p rá tic a s do e sp iritism o . Mas não se deve a tr i b u ir exclu sivam en te ao esp iritism o o m al q u e se tem o b se rv a d o ”.

P e rn am b u c o F i lh o : “ Sim. Os p re ju ízo s vem não só da defic iência ou e rro de tr a ta m e n to , como tam bem pe la fa lta de no tif icação de doenças con tag io sas, o que, sob o ponto de v is ta p ro filá tico , é um g ran d e m a l” .

Pacheco e S ilva: “ No m eu e n ten d e r, é um a p r á t i ­ca pe rn ic io síssim a , qu e deverá se r com batida a todo tran s e , p o r isso que, so b re p re ju d ica r a Saude Púb lica , c o n trlb u e p a ra a ru ln a de m u ito s la re s e dá m argem a exp lo rações a s m ais ignóbe is" .

O D r. C arlo s SeidI deu um a bó resp o sta aos dois qu e sito s: “ F r iso e n tre ta n to , que opino se rem conde­náveis a s p rá tica s que se rea lizam nas sessões e sp ir i­ta s , com p re te n so s f in s te ra p êu tico s , e as c h am ad as evocações. A m in h a q u a lid ad e de ca tó lico não a d m ite e s ta s ; e os m eus e s tu d o s m édicos desaconselham a q u e la s”.

O D r. M igue l O sório de A lm eida assim se re fe re , re la tiv a m e n te ao m agno prob lem a:

“ A in te rv en ç ão do esp iritism o no tr a ta m e n to de q u a lq u e r nev rose é sem p re p re ju d ic ia l. . . O e sp ir itis ­m o é. nnde-so d izer sem exagero, um a v e rd a d e ira fá- bvica V ticos. E n tre os d e m en tes que d ia riam e n te

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dão e n tra d a no H ospício, a m a io ria v e ri dos cen tro s e sp ir i ta s ” . (4 1 6 ) .

Uma das m anifestações ordinárias da lou­cura c a m ania de suicídio ou desgosto da v i­da. É por isso que os casos de suicídio são tão comuns no espiritism o: são uma como consequência lógica da doutrina da reencar- nação e do nervosismo gerado nas sessões. Aliás, espiritas houve que chegaram mesmo a fazer a mais descarada apologia do suicídio. Haja vista o barão Du Potet, espirita de mar­ca, de quem são estas palavras:

"F e lizes a q u e le s que m orrem de um a m o rte r á ­p ida , de um a m o rte que a I g re ja C a tó lica rep rova! T odos os que são generosos 6e m a tam ou sen tem de ­se jo de m a ta r - s e !” (4 1 7 ).

* *

Para corroborar tudo o que até aqui le­mos exposto com respeito ao espiritismo — causa de loucura, devem os agora referir al­guns casos concretos. A dificuldade está em escolher, entre milhares, aqueles que mais im ­pressionem. Para sermos breves, vamos ci­tar alguns fatos, porem despidos das circuns­tâncias e incidentes. Mas, por isso mesmo, in ­dicamos as fontes em que os colhemos; se o leitor se interessar pelas circunstâncias, po-

(416) LEONÍDIO RIBEIRO c MURILO CAMPOS — O E spiritism o no Brnsll, con tribu irão no seu estudo Cllni- co-Legal, Cia. Ed. Nacional, 1931.

(417) BARAO DU POTET — Ensino do Mngnctlsmo. PS. 107.

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derá servir-se de nossos dados e ir às fontes, próxima ou remota, ambas aqui registadas.

EXEMPLOS DE LOUCURA ESPIRITA

Loucura coletiva num a sessão de espiri­tism o em Taubalé, em 1885.

É um dos m ais antigos e, ao mesmo tem­po, dos m ais deploráveis casos de demência causada pela seita de Kardec no Brasil. Um advogado e toda a sua fam ília, enlouquecen­do, procederam a uma ceremônia a que cha­maram “Construção da Arca de N oé.”

“ E s ta v a a ssen tad o que, n a q u e le d ia , h a v ia de se r im olado um dos c re n tes : seu sa n g u e d everia se r be ­bido por to d a a c o m u n id ad e ” .

C rianças e ram su b m e tid a s a to r tu ra s .F o i prec iso que a po lic ia In terv ie sse p a ra e v ita r

a con tinuação das desag rad a b llls s lm a s cenas.

Este caso é descrito minuciosam ente pelo Dr. Franco da Rocha, em seu livro “ O Espiri­tismo e a loucima”, pg. 22. Tambem o refere o dr. João Teixeira, louvando-se numa carta de testemunha ocular, carta reproduzida no seu livro.

Um a se n h o ra a m eric an a , d a m a is a l ta sociedade do Roston , cn lonquccendo , p ra tic a a to s rid ícu lo s, p o r ordem dos esp írito s .

“ Um d ia o s inv isiveis c o n v idaram -na a ir ao po ­rão da casa , sem lhe e xplica rem p o r quê.

E la acedeu , c o n tra a von tade . L á chegando , m an ­d a ra m -n a que v iras se um a tin a de fu ndo p a ra baixo e

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— 375 —se m e tesse d e n tro dela. Sem pre re lu tan d o , e la acabou p o r obedecer".

In te rn a d a num hosp íc io , sa ro u , abandonando , em segu ida , a s p rá tica s e sp ir ita s . (B rac k e t, n a R ev ista es­p ir ita I ilg h t, 1 8 8 6 ). (4 1 8 ).

U m a cp ldein la d e lo u c u ra , n a v ila de A lgezur ( P o r tu g a l) , p o r c nusa do esp iritism o .

E nlouquecem hom ens, m u lh e res e c rianças. Is to ob rig a a po lic ia a fechar os cen tro s. ( J o rn a l do B ra ­sil, 28-4-1929) (4 1 9 ).

O jo rn a l “ A N o ite", de 15-7-1929, d á no tic ia do en louquec im en to de to d a a la m llia F a rq u lm de A l­m e ida, de G u arapuava, P a ra n á . (4 2 0 ).

O u tra fam illa , com posta de onze pessoas, em Co­lôn ia , P a ra íb a , en louqueceu to d a , p o r causa do esp i­r itism o . Um d ia , e ssas onze pessoas, em e stado la s ti­m ável, e n tra ra m em G u arab ira , a m a r ra d a s e e n to an ­do cân tico s re lig iosos. V ide “A U n ião", o rgão oficial do G overno da P a ra íb a , 18-1-1930. (4 2 1 ).

O “ Correio da Manhã”, de 9-12-1924, na secção Declarações, traz uma noticia curiosa:

Um se n h o r F . R. T., a v isa a seus irm ãos e sp iri­ta s que , tendo sido esco lh ido p a ra re p re se n ta n te do S e r S uprem o n e s te p la n e ta , e tendo 6xercldo ta l en­cargo p o r 25 anos, não q u e r m a is c o n tin u a r a m issão.

(419) CARLOS IMBASSAHY, opiiH clt„ pg. 183.(419), (420), (421) o (422) NATHANIEL SCHWARTZ,

MnrnvIlhnN «lo EuplrltU mo, A Cruzada E ditora, Rio de Janeiro , 1931, de pgs. 12 a 15.

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“ P re firo a m orte , d iz ia, a se r rep rese n ta n te do Ser Suprem o um só m in u to " .

Os seguintes casos pertencem à coleção do dr. João Teixeira, páginas 1G5-117, do seu livro “ O Espiritism o” :

A fam ília do s r . João da S ilva L ucas, com posta de 12 p e ssoas e n louqueceu to d a , em consequência das p rá tica s e sp ir ita s . E ssa fam ília re s id ia no R io, à R u a A leg ria , n.° 171.

Pode-se le r, n a “ G azeta d e N o tíc ia s”, de 8 de N ovem bro de 1913, a n a rraç ão d as cenas m a is com o­v e n tes a q u e fica ram su je ita s e ssas doze m iseráve is pessoas.

Jo se fln a Rodes, m ãe de t:>4s f ilb o s m eno res , dada à p rá tic a do esp iritism o , e n louquece, e , em consequên ­cia, suc lda-se , a tea n d o fogo à s vestes . (C idade de C am pinas" , sem Ind icação de d a ta ) .

Um e s tu d a n te de M edicina, d a F a c . do R io, rapaz d is tin tíss im o , e n louquece, p o r te r a ssis tid o a um a ú n ic a sessão e sp ir itis ta . (N otícia, de p r im e ira m ão, do d r. F e lic lo dos S a n to s) .

U m a c a rin h o sa esposa, d e sv a ira d a pelo e sp ir itis ­m o, a ssass in a seu m a rid o a go lpes de m achado . ( " J o r ­n a l do C om ércio” ).

Um velho p ro fe sso r público , n a Idade de 60 anos, en fo rca -se , levado pelo e studo do esp iritism o . ( “A P a la v ra ”, de Belem do P a r á ) .

C ris tiano A lves F eo , de J u n d la í, sobe ao fo rro de um a casa e en fo rca -se, depois de se te r en tre g ad o

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a praticas espiritas. ("O Lábaro”, de 23-4-1914, e “A Cidade de Campinas", de 19-4-1914).

Distinto rapaz, no verdor dos anos, deixa a casa paterna e vai viver dentro de um lamaçal, por se ju l­gar um porco, idéia macabra que, lhe havia sido su­gerida por um espirito, em sessáo. (Cidade de Cam­pinas”, 3 de Agosto de 1908).

O chefe da estação ferro-viárla de Ribelrãozinho, Estado de S. Paulo, começando a frequentar as ses­sões espiritas, enlouquce. (Jornais do Matão, 1914).

Em S. José de Alem Paraíba, Minas, uma mulher, dada à prática do espiritismo, enlouquece, e, em conse­quência, vai à ig reja matriz em dia de domingo, e ten­ta, a toda força, celebrar missa em vez do vigário. Es­tava convencida da que era homem e sacerdote. (“O Movimento”, de 22-3-1914).

Mais dois casos lamentáveis, uin de suicídio e ou­tro de uxorlcídio, são relatados pelo “O Movimento”, 22-3-1914 e 19-3-1914).

Distinto professor, inteligente o cheio de espe­ranças, arrebenta os miolos com um tiro de carabi­na, levado pelas práticas do espiritismo. ( “Jornal do Comércio, 10 de Março de 1914).

O dr. Carvalho Ramos, juiz de direito da capital do Goiaz e notável jurisconsulto, enlouquece, e, logo depois, morre no Hospiclo Nacional, em consequência das pTáticas do espiritismo. (423).

Outro caso de loucura espirita e eonsequente

(123) Dr. JOAO TEIXEIR/V, opus elt., In fine.

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— 378 —suicídio vem narrado pelo "Estado de S. Paulo", de 28 de abril de 1914.

Como viu o leitor, os exem plos colecio­nados pelo dr. João Teixeira referem -se a acontecimentos que se agrupam nas im edia­ções de 1914. data em que ele escreveu o seu livro. Não quisemos tomar o trabalho que esse ilustre medico se deu, — o de anotar fa ­tos próximos de nós, — porque achamos isso desnecessário. O escopo de nosso livre é ou­tro. E a questão da loucura entra aqui apenas para sermos completos. Aliás, cada qual co­nhece exem plos sobejos e não seria dificil, como fez o dr. Carlos de Laet e, mais recen­te, o dr. Xavier de Oliveira, apontar cada um os casos de que tem ciência própria.

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CAPÍTULO IV

CONDENAÇÃO

I. - PELA AUTORIDADE RELIGIOSA

Tratando-se do espiritism o em face da autoridade religiosa, isto é, com respeito à B í­blia e à Igreja, somos obrigados a distinguir as duas feições do espiritismo através dõs tempos: A Necrom áncia Antiga e a Necro- mância Moderna ou E spiritism o.

1.° - E spiritism o antigo ou NECROMÃN- C1A.

Em vários tópicos do Antigo Testam en­to, encontramos a condenação form al da evocação das almas; vale dizer: condenação da Necrom áncia. Citemos alguns textos:

“Nem se ache entre vós quem pretenda purificar seu filho ou sua filha, fazendo-os passar pelo fogo, nem quem consulte adivinhos ou observe sonhos ou agouros, nem quem seja feiticeiro ou encantador, nem quem consulte pitonisas ou adivinhos, nem quem in­dague dos mortos a verdade: porque todas estas coisas abomina o Senhor”. (Deuteronômio, 18:10-11).

“A alma que se desvia p procurar mágicos e adi-

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vinlios. . . Porei a minha face contra ela e a destrui­rei do meu povo”. (Levlt., 20:6).

“ Feitice iro* nã o p e rm itirá s q u e v ivam ” . (Êxodo, 2 2 :1 8 ).

Depois da vinda de N osso Senhor Jc- sús-Cristo, a necromância ficou sendo su­perstição circunscrita a algumas zonas mais atrasadas. Nunca foi prática generalizada. Por isso, a condenação dessa forma de es­piritismo veio apenas prolatada em concílios particulares. Segundo o Pe. Heredia, o espiri­tismo antigo vem condenado pelos seguintes concílios:

Quarto de Cartago, Segundo de Tours; Sexto de Paris; Primeiro de Ancira; Quarto, Quinto, Duodécimo, D écim o-Sexto e Décimo- Sétimo. de Toledo.

2.° - E spiritism o m oderno.Sem entrar na discussão da teoria, e sem

se pronunciar sobre a realidade ou natureza dos fenôm enos, a Igreja tem condenado por diversas vezes as práticas espiritas.

Já em 23 de junho de 1840 e 28 de julho de 1847, o Santo Oficio, regulando o uso do hipnotismo, proscreveu o emprego de princí­pios e meios puramente físicos ultilizados pa­ra explicar “coisas e efeitos verdadeiram en­te sobrenaturais .”

Em 30 de julho de 1856, a Encíclica Sancti officii explicando as anteriores deter­minações acima citadas, reporta-se mais di­retamente ao espiritismo e estabelece:

“In lilsco omnlbus, quncumqtie de n n u n n ta n tu r nrfco vcl lllnsionc, ctim ordlnatur m edia plijslca ad ef-

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— 381 -fccius iicn nnturnleg, repcrltur dcccptio omnino illl- citn et contra honcstatem moruin” .

A sabor:

empregam moios físicos para se obterem efeitos na­turais, há um engodo inteiramente iliclto e dirigido contra a honestidade dos costumes”. (424).

Em 1898, a mesma Sagrada Congregação do Santo Ofício declarou novamente que “não c licito consultar as almas dos mortos ainda quando se exclua o pacto com o espírito m a­ligno.” (42ó).

Por último, em 1917, dando resposta a uma consulta que se lhe fez, o Santo Ofício foi muito mais explicito e declarou:

“Não é lícito, nem com a intervenção do médium nem sem essa intervenção, assistir a quaisquer falas ou manifestações espiritistas, nem mesmo às que tenham aparências de honestidade e piedade, quer pretenden­do interrogar almas ou espíritos, quer ouvindo res­postas, quer simplesmente assistindo, ainda que haja protesto tácito ou expresso contra a comunicação co:n os espíritos malignos”. (426).

Alem destas condenações em anadas di­retamente da Santa Sé, há as proibições par­ticulares, dadas como normas diretivas pa­ra os católicos. Vejam -se as atas do Segundo Concilio de Baltimore (Estados-Unidos), II, n.° 36, e as do Concílio Plenário Latino-Ame­ricano, sob o n.° 164. Entre nós: a Pastoral

íils; S sãs

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— 382 —

Coletiva dos Bispos do Sul do Brasil, sob os n.°s 6Í e 63. o Aviso n.° 89 da Cúria Metropo­litana do Bio de Janeiro e diversas cartas pastorais, como a do sr. Bispo de Uberaba, d. fr. Luiz de Sant’Ana, a de d. Fernando Taddci, bispo de Jacarezinho, etc.

***O que ai fica refere-se principalm ente às

práticas espiritas. Mas existe tambem a con­denação canônica relativa à parte doutriná­ria do espiritismo. De-fato, como vim os em outro lugar, a doutrina religiosa dos espiri­tas é a reafirmação de muitas heresias já con­denadas pela Igreja, antes de aparecer o es­piritismo moderno.

Os espiritas, por conseguinte, são equipa­rados aos herejes e, assim, estão incursos na pena de excomunhão, com inada pelo canon n.° 2314, § 1.°, n.° 1, do Código de Direito Canônico. Não podem receber os sacramen­tos da Igreja, a não ser que, primeiro, se re­conciliem com a Igreja, pela abjuração do erro, de acordo com o estatuído no art. 731, § 2.° do Código Canônico. Alem disso, há a pena de excomunhão reservada, speciali m o­do, à Santa Sé, contra todos os que lerem ou guardarem consigo livros espiritas, pena es­sa em que incorrem tambem os ediiores ou defensores de tais livros.

A-propósito, já o Concilio Plenário La­tino-Americano havia resolvido:

“Visto como os sequazes do esp iritism o ... fre­quentemente admitem e promovem operações diabó-

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— 383 —lieas o espalham multas h e re s ia s .. . não podem ser reconciliados, nem no foro interno nem no externo, apenas como pecadores ordinários, mas devem ser ju l­gados como herejes ou fautores de heresias; nem po­dem ser admitidos aos sacramentos, a não ser que re­parem o escândalo, façam abjuração do espiritismo e omitam a profissão de fé, segundo as normas pres- Gritas pela teologia”. (N.* 104).

2.“ - PELA AUTORIDADE CIVIL

O H ipnotism o, que é o principal auxiliar do espiritismo, tem sido proibido, ou restrin­gido quanto ao uso, em diversos paises. As­sim, a Áustria, a Itália e a Bélgica proibi­ram sessões públicas. Na Dinamarca e na Alemanha só pode praticar hipnotism o quem for m édico diplomado.

O mesmo se deu com o espiritismo, cu­ja prática foi proibida ou lim itada por di­versos Códigos Penais. No Brasil, conquanto as nossas Constituições tenham garantido a liberdade de culto, todavia o emprego largo do espiritismo em atividades alheias ao cul­to religioso foi tambem proibido. Assim estatue o art. 157 da Consolidação das Leis Penais brasileiras:

Al t. 167. — Praticar o espiritismo, a magia © os seus sortilégios, usar talismans e cartomâncias, para despertar sentimentos de ódio ou amor, incnlcar coras de moléstias curáveis ou incuraveisi enfim, para fasci­nar e subjugar a credulidade pública;

Penas: Prisão celular por um a seis meses e mul­ta de 1009000 a 6009000.

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§ l.o — Se, por Influência ou consequência de qualquer destes meios resultar ao paciente privação ou alteração temporária ou permanente das faculdades fisicas:

Penas: Prisão celular de um a seis anos e m ulta de 200$000 a SOOÍOOO.

§ 2.o — Em igual pena, e mais na privação do exercido da profissão por tempo igual ao da conde­nação, incorrerá o MÉDICO que diretam ente praticar qualquer dos atos acima referidos, ou assumir a res­ponsabilidade deles.

O sentido exato da lei foi esclarecido pelo co­mentário de Macedo Soares, e existe um acordão do Supremo Tribunal, 6ob o n.° 4.055, negando habens corpus, em grau de recurso, ao farmacêutico Francis­co Nery dos Santos, que ten tara infringir o dispositi­vo do Código Penal, em Santa Maria Madalena, Esta­do do Rio. (427).

É lam entavel que o praxism o da juris­prudência e a tolerância policial tenham con­corrido para que esta lei, como outras muitas, se tornasse letra morta entre nós. A propó­sito observa d. Otávio:

“Entretanto, a tolerância dos poderes públicos é geralmente muito grande nesta matéria, sendo raros ou quase mal sucedidos os processos instaurados con­tra os violadores deste artigo do Código.

“Em consequência, os charlatães e exploradores proliferam por toda a parte, enganando o pobre povo, a distribuírem garrafadas de água fluidificada, — le­gitima água de pote, — por esta forma atraindo os

(427) MACEDO SOARES — Coillgo Penal, cd. de 1910. PET. 31 C.

(42S) D. OTÁVIO CIIAGAS DE MIRANDA, opnM cl(.,

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simples e ignorantes para as suas baiucas de perdi- ç&o”.

RESUMINDO.

O ESPIRITISMO É CONDENADO, e suas práticas são proibidas, NÃO SÓ PELAS LEIS DIVINAS, MAS AINDA PELAS LEIS HU­MANAS.

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CONCLUSÕES

I

Objetivo é de nossa obra abrir os olhos aos católicos e a muitos que, sugestionados pelo maravilhoso, em boa fé se deixam ar­rastar por esta antiga superstição chamada, hoje, espiritism o.

Seguindo a ordem lógica, depois de ter­mos apresentado as noções indispensáveis sobre Cristianismo, Materialismo e Espiritis­mo, demos um relatório dos fenôm enos pro­vados ou espontâneos, considerados supra- normais.

Antes de entrarmos na questão filosófi­ca sobre a causa eficiente de tais fenôm enos, resolvemos, à luz de critérios gerais, a ques­tão histórica sobre a sua realidade.

Quanto à questão principal: “ Qual a causa eficiente de tais fenôm enos?”, cumpre- nos declarar que não ignoramos a tendência moderna de tudo explicar naturalmente, mas sabemos tambem que reputados católicos, fi­lósofos e escritores estão pela explicação pre-

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ternaltural. Alem dos autores citados atrás, outros ainda poderíamos alinhar aqui, co­mo Zacchi. Oldrá, etc. (429).

Chegando à ultim a conclusão, afirmam os citados autores que tais fenôm enos tem por causa o eterno inim igo do homem . Le­mos em H orácio M azella :

“Fenômenos há no magnetismo, no espiritismo e no hipnotismo só explicáveis por uma causa preterna­tural, que outra não é que o demônio”. (430).

Tanquerey, mais explicito escreve:"Os fenômenos do magnetismo, do hipnotismo e

do espiritismo que envolvem manifestações de coisas ocultas, remotas e futuras (futuros livres), são dia­bólicos. Os demais não parecem transcender as leis naturais”. (431).

A C iviltà Cattôlica, depois de ter lido e exam inado tudo que fora escrito, em sentido naturalístico, pelos autores modernos, vo l­ta a repetir e sustentar o que, com muito bom senso c ponderação, haviam escrito os seus predecessores. (432).

Os próprios autores que defendem o naturalism o admitem a intervenção diabóli­ca em alguns fatos espiríticos. (433).

Conclue Oldrá o seu livro, reproduzindo a gravíssima observação que o calmo e dou­

(429) ZACCHI — Lo Splritlumo, pref. V III - X, Roma, F e rra ri. 1922; C lvlltà CaUollcn, 1917, vol. II, pg. BC8.

• (430) HORACIO MAZELLA — Thcol. D opn ., vol. I, da 4.* edlç&o. pg. 42C.

(431) TANQUEREY — Thcol. Dogra., 13.* ed. 1911, PS. 49C.

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to Lepicier faz ao dr. Liljencrants sobre a vertente questão:

“Observe-se que o só fato de apresentar como possivel uma explicação diversa da que, quase unani­memente, dão os teólogos católicos, isto é, uma ex­plicação que vai de encontro aos princípios comumen- te recebidos pela Igreja, equivale a abandonar a tra ­dição e é uma aberta adesão às novidades de palavras e & oposição da ciência de falso nome, que S. Paulo fortemente condena. (I Tím., G:20). (434).

Seguimos, pois, a opinião tradicional.Em capítulo especial, explicam os o senti­

do em que entendem os a intervenção diabóli­ca no espiritismo. Não deve o critico católi­co separar os fenôm enos espiritas do conjun­to de circunstâncias que os acom panham: o ambiente das sessões, o lugar e o tempo em que se realizam, a intervenção de um mé­dium e, sobretudo, a doutrina que ensinam os agentes invisiveis.

Perfeitam ente confirm ada ficou a nossa proposição principal pelo estudo da ação dia­bólica através dos tempos e pelo cotejo que fizem os com a necromância e magia antiga. Depois de um breve estudo sobre o espiritis­m o moderno, analisam os as m ensagens de ca- rater profano e religioso, sobre as quais se apoia a religião espirita. Mereceu-nos espe­cial estudo a fam osa reencarnação que, so­bre ser um erro filosófico, é form alm ente oposta à doutrina católica.

(422) CivllOi Cnttollrn, fn«cl. 17, Dez., 1921, pg. 549- 561; fase. 21 de Jan. 1921, pg. 143-151).

(433) Cf. OLDRA, S. J. — Op. Clt.» pg. 396.(434) D E riC IK R — II mondo InvlHlblle Splrltc. VI-

conza. 1920, App., pg. 237.

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II

Ao claríssimo autor Th. Mainage, tão ze­loso pelo bom nome da Igreja, aqui damos a resposta sobre o ponto que atinge os defen­sores da sentença média. Escreve:

“Ah’ Quel soutire e t quel dédain sur les lèvreg des hommes attentifs A surprendre les faux coups de bnrro du nantonier qui dirige ici-bas la barque divi­ne, si un jour venait où les faits spirites seraient clas­sés sans appel dans la catégorie des effets naturels! Ils m épriseraient l’Église”. (435).

Estas palavras equivalem a uma congra­tulação com a Igreja pelo fato de não se ter ela pronunciado ainda sobre a causa eficien­te dos fenôm enos espiríticos.

Respondemos: Sc um dia ficar provado que todos os fenôm enos considerados supra- normais são naturalmente explicáveis, nem assim haverá lugar para o desdem dos ho- ftiens malévolos.

Próprio é de quem verdadeiramente ama a verdade im itar o grande Santo Agostinho que, para edificação dos homens superiores, escreveu o seu livro Das Retratações. Vem aqui a-propósito uma observação de Van d er E ls t:

"Il semble qu’on puisse avec Huysmans s’étonner, A bon droit, qu’ après avoir vu le diable partout, on ne le reconnaisse aujourd’hui nulle p a rt” . (436).

(433) TH. MAINAGE — Ln Religion Splrltc, cd. 3.» 1921, ps. 182. Modificou Malnago sua oplnlso?

(436) VAN DER ELST, In Dlct. Apol. do au to r d'A lès, a rt. occultisme, fase. XVI, pg. 1128.

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E’ esta, aliás, a artimanha do inim igo in­fernal. Ele opera nas sessões espiritas, mas, como sempre, habilmente se oculta. Vê-se que seu ideal é a destruição do Cristianismo.

Confiados em Deus, que é a Verdade, e na Virgem Imaculada, que esm agara a cabe­ça do pai da mentira, esperamos que estas pá­ginas abram os olhos a m uitos iludidos e, m ais uma vez, lhes mostrem, através dos fatos e da doutrina espirita, a influência do eterno inim igo de Cristo.

Quanto ao valor histórico dos fatos espi- ríticos, narrados por milhares de pessoas, sub­screvem os o que, a-respeito, escreve Oldrú,S. J.:

"Opor-se a todas ns testificações gravíssimas e numerosas é, pelo menos, inqualificável ousadia, ain­da que se apresente com o ar e o tom da mais severa crítica". (437).

III

Já não é mais possivel negar os progres­sos do espiritismo 110 Brasil. O erro procede dos grandes centros urbanos, cujos habitan­tes não se envergonham de ombrear com os tabaréus em m atéria de superstição. A capi­tal da Republica dá o exem plo. Os morros, os bairros longínquos e até algumas ruas cen­trais povoam -se de templos, de candoblés e de tendas. Ha livrarias iespecializadas em obras espiritas. Há mesmo casas com erciais que sc encarregam de vender objetos de cul­

(437 OLiDRA’, S. J. — Op. C lt, Pff. 103.

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to espirita, amuletos, artigos de emprego for­çado nos despachos e m alefícios.

Niterói rivaliza com o Rio.No interior do país, seja no norte seja

no sul, prospera esta praga social. S. Paulo tem m ais de trezentos centros ^espiritas. O Diário Oficial, desse Estado, é uma amostra disto. Basta ler a lista das sociedades espiri­tas que ali publicam seus estatutos para ob­tenção de personalidade jurídica. Contam-se por milhares.

Ultimam ente, na linda cidade bandei­rante, instalou-se também uma estação radio- emissora, — a Radio Piratininga. Ótimo pro­grama artístico. Mas francamente espirita. O ataque à Religião Cristã faz-se abertamente. A teoria cardecista é inculcada aos radio-es- culas, sob aparências sedutoras.

Os próprios publicistas estrangeiros já observaram que as publicações espiritas, no Brasil, são em muito m aior número do que em qualquer outro país da América ou da Eu­ropa.

Eis aí os fatos.

IV

Como explicar a disseminação rápida e ampla de uma religião tão nefasta?

Muitos são os fatores que respondem pe­lo progresso do espiritismo entre nós. Citemos os principais.

E’ na própria índole do brasileiro que va­m os encontrar o primeiro motivo de sua ade­são a um crcdo diam etralmente oposto à Re­

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ligião Cristã: o brasileiro é. por índole, sen­timental, e, por formação, supersticioso. As­sim, diante da promessa de poder falar com os queridos defuntos, e, na presença de prá­ticas impressionantes, o homem do povo não resiste à tentação: dá-se ao espiritismo.

Alem da receptividade própria do brasi­leiro, respeito à aceitação do espiritismo, de­vem os lembrar ainda, como fator de êxito, os métodos dos propagadores da doutrina. E, em primeiro lugar, citemos a hipocrisia dos falsos profetas, a m á-fé e o cálculo dos m é­diuns e experimentadores. Começam por apresentar a seita como um “passa-tem po” uma “curiosidade”, uma “inocente conversa com os m ortos”, uma “ciência” e não uma religião. Negam, sistem aticamente, o carater religioso do espiritismo. De inicio, chegam até a pedir m issas em sufrágio dos espíritos sofredores. Só com o tempo é que irão desfi- velando as máscaras, acabando, por fim , num ataque desleal c acre à Igreja Católica.

O espirita reçuma ódio aos sacerdotes ca­tólicos e a tudo quanto c caro ao coração dos católicos.

Outra fase do método de conquista con­siste no exercício ilegal da medicina. A vai­dade hum ana afasta a idéia da morte. O ho­m em não sc convence de que deve morrer um dia; se, pois, nas suas enfermidades, não consegue m elhoras, dentro da ciência verda­deira, recorre aos raizeiros, aos macumbeiros, aos exploradores.

O espiritismo vem, então, ao encontro dos que sofrem. Dá-lhes um consolo falso e m o­

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mentâneo, m as muito de acordo com a estul­tícia humana.

Aqui avultam duas vantagens da chama­da “m edicina” do espaço: a) Consultas e re­m édios gratis; b) Prom essa de curas inau­ditas.

Entre nós, com efeito, os m édicos são ca­ríssim os; os rem édios, custosos. E doenças que a medicina considera incuráveis, a incon- ciência dos m édiuns garante debelar graças ao receituário dos m édicos do Alem.

Ultimam ente, até, conforme observa d. Otávio c conforme nosso conhecimento pes­soal, os médicos do espaço deram para pra­ticar cirurgia. Em S. Paulo conhecemos ilustre senhora que se diz curada de uma calculose biliar depois de ter sido operada por um “ in­visível ”.

Outra, e esta é notável: Já houve quem consultasse “ advogados do espaço” a respei­to de litígios judiciais. Alem de clínicos e ci­rurgiões, o Alem possue ainda os seus rábu­las e causídicos.

V

Como remediar a tantos inales, a tanta perfídia?

Não é facil combater o espiritismo neste terreno, porque, aqui, nem sempre podemos opor método a método, já que não podemos praticar o charlatanismo e exercer a m edici­na com infração das leis. Todavia, tentemos apontar alguma terapêutica.

A primeira refere-se à educação. No lar,

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antes de tudo, e, depois, na escola, é que se há-de torcer a índole sentim entalista do bra­sileiro. E’ preciso form ar espíritos práticos e lógicos, gente acostum ada a viver no real e não no fantástico.

< A literatura infantil tem m uito que fazer neste terreno.

VI

As pretensas curas espiríticas explicam- se pelas forças curativas do espírito. Trata-se da influência do moral sobre o físico. São as chamadas forças psíquicas, a que ilud ia Grassett numa de suas conferências.

Até autores espiritas são unânim es em afirm ar que m uiios “m ilagres” se devem ao poder da “sugestão”.

Em todo caso, convem não esquecer que liá m uito charlatanismo de perm eio com algum conhecimento de homeopatia entre os m édiuns curadores.

As doenças que os médicos deste mundo não curam, tambem não conseguem curá-las os m édicos do “ espaço.” Quando foi que o es­piritism o sarou um tuberculoso, um morfé- tico, um canceroso? Isto prova que os desen­carnados nada progrediram; não merecem, pois, nenhuma preferência. O que é mais cer­to é que os diagnósticos e receitas de origem espirita são apenas produto da im aginação e da esperteza dos médiuns.

Ainda há pouco ficou evidenciado, pela justiça especial, que os m édicos desencarna­

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dos não sc imiscuem nas coisas deste mundo. O caso m erece lembrado.

CONDENADO TJM “MÉDIUM CURADOR”

"O Juiz do Tribunal de Segurança, alm irante Le­mos Bastos, julgou ontem o farmacêutico W istremun- do Alves Simões, desta capital, denunciado sob a acu­sação de explorar o público com anúncios em que afir­mava que o Centro Amor e Fé em Deus fornecia gra­tu itam ente diagnósticos de qualquer moléstia median­te a remessa do nome, profissão e residência.

“O fato foi denunciado pelo dr. José Segadas Viana, que, enviando oito cartas ao médium invisível, todas com nomes de pessoas supostas, como supostos eram os demais informes, recebera respostas acompa­nhadas de dirgnóstlcos e receitas.

“A defesa foi feita pelo advogado Frederico Muel- ler e a acusação pelo procurador adjunto Clovls Kruel de Morais.

“O juiz, findos os debates, lavrou a sentença, em que, depois de vários consideranda, condenou o acusado a seis meses de prisão e à m ulta de dois con­tos de ré is”. ( “Correio da Manhã”, 30 de Dezembro de 1939).

No processo, pois, ficou provado que os “médicos do espaço” receitam para doentes que não e x is te m ...

Quanto às intervenções cirúrgicas, pude­m os verificar que elas existem só na im agi­nação dos fa n tá stic o s ... Os pacientes, con­vencidos, mom entaneam ente, de que fo­ram “ operados invisivelm ente”, experim en­taram m elhoras passageiras. Depois, com o recrudescer da m oléstia, acabaram na sepul-

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tura, se, a tempo, não procuraram os cirur­giões em carne e osso.

***

Todavia, tanto no terreno da clínica co­m o no da cirurgia, não nos repugna admitir a possibilidade de algum as curas extraordi­nárias, devidas à intervenção de fatores pre- ternaturais. Aos espiritas, porem, incumbe provar, cientificamente, a realidade de tais curas. Deviam , em tais casos, adotar a pra­xe da Igreja no referente aos m ilagres admi­tidos para a canonização dos Santos, isto é, a produção de duas séries de próvas: 1.°) Atestados, firm ados por m édicos não-espiritas, comprovando o carater incurável das doen­ças; de m édicos que teriam exam inado os doentes antes da cura; 2.°) Atestados, da mes­ma natureza, provando a cura.

O fato histórico de uma doença incurá­vel e o de sua cura extraordinária não per­tencem ao domínio da religião: pertencem à História. Como tais, devem ser provados por pessoas não interessadas na crença religiosa.

De nada valem puras alegações. Tam­bém não valem afirm ações de m édicos espi­ritas, por m ais honestos que pareçam. Fora do espiritismo é que se hão-de analisar os fatos passados lá dentro.

Aqui, como alhures, opomos a clássica condicional: “ Se.” Se os fatos alegados fo ­rem reais, valem, para explicá-los, os prind- pios expostos neste livro.

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Sobre as consultas jurídicas, podem os in­form ar o seguinte:

O sr. Carlos Monteiro de Barros, herdeiro pre­suntivo do Barão de Paraopeba, resolveu reivindicar a fazenda do Xicão, município de S. Gonçalo do Sapa- cai, fazenda que pertencera a seu avô, mas que, fa­zia mais de cincoenta anos, já tinha sido vendida a diversos. Antes de propor a agão, o sr. Carlos consul­tou o jurisconsulto francês Cujas ou Cujácio, faleci­do em 1590. O espirito de Cujas, evocado, proferiu um parecer por escrito, opinando pela liquidez dos direitos de Carlos Monteiro. Aconselhou-o, mesmo, a demandar, garantindo-lhe que a vitória era certa.

Carlos Monteiro, louvando-se na ciência do es­pirito, demandou com a Companhia Xicão e com o coronel Manuel Alves de Lemos.

Resultado: O sr. Carlos perdeu a demanda em todas as instâncias.

O que prova que os desencarnados são tão maus juristas como maus m é d ico s.. .

VII

Um m eio prático para contrabalançar a propaganda espirita será opor método a m é­todo, dentro da perm issão de nossas leis.

As Ordens Terceiras, as Irmandades, as Conferências de S. Vicente de Paulo ç outras instituições de caridade, poderiam, neste in­tuito, organizar ambulatórios e serviços de assistência médica e farmacêutica dom ici­liária.

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Assistência sanitária gratuita, correndo as despesas com m édicos e farm acêuticos por conta das Instituições C ató licas...

Seria, até, preferível que as Ordens Ter­ceiras e Irmandades cortassem nas suas des­pesas com o esplendor do culto em beneficio da salvaguarda da fé e da propaganda da re­ligião de Cristo.

No interior, os vigários seguiriam o mes­mo programa. Poderiam, de acordo com os próprios médicos, estudar um pouco de m edi­cina prática c ser os melhores auxiliares da saudc pública, sem prejuizo da dignidade sa­cerdotal e sem prejuizo dos interesses dos médicos.

Meras sugestões, já se v ê . . .

VIII

A polícia deve saber que, em muitas so­ciedades espiritas, se está fazendo propagan­da com unista velada. No “Centro da Juven­tude Espirita”, de São Paulo, largo do Ria- chuelo, um de nossos colaboradores assistiu à defesa de uma tese francamente com unis­ta. Ilouve debates. Alguns espiritas rebate­ram a opinião do orador, mas outros acei­taram-na sem restrição alguma.

IX

Acautelem-se os católicos contra os esta­belecim entos de caridade mantidos pelos es­piritas. A caridade, é, apenas, um chamariz

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de necessitados, que serão, em breve, conta­minados pelo v im s doutrinário.

O demônio, para enganar, inspira a fa ­zer boas obras. Esse é o seu velho estrata­gema.

E’ um erro auxiliar, pecuniariamente, as instituições espiritas.

E’ pecado grave dar o dinheiro para o levantamento e o custeio de hospitais e asilos que servem de meios para a destruição da fé, a corrupção dos costumes e a perdição das almas.

X

Para cúmulo da hipocrisia, e em obedi­ência aos estratagemas de Satanaz, é vezo dos espiritas usurparem os nomes dos nos­sos santos para o batismo dos seus Institutos: “Abrigo Teresa de Jesús”, “H ospital Vicente de P au lo”, etc.

Por que é que não dizem “Asilo Camilo F lam m arion”, “Orfanato Conan D oyle”, etc.

Pensando bem, aí temos os espiritas con­fessando que a sua doutrina não produz San­tos. Os espiritas roubam os heróis da Reli­gião Católica. Apresentem-nos os seus Santos.

A doutrina é a moral dos santos católi­cos estiveram em oposição absoluta com as práticas espiríticas. Portanto, homenageando os nossos santos nas fachadas dos seus hospi­tais e asilos, os espíritas confessam que a dou­trina dos espíritos é falsa e que sua moral é im oral. Para alguém ser santo tem de prati­car a religião católica, receber os sacramen­

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tos, confessar-se, comungar, ouvir missas, morrer no seio da Igreja. Isto é que aceitam, sem o pensarem, os espiritas.

É o demônio, forçado pela evidência, clamando a Jesús: “Vós sois o filho de D avi.”

XI

Nos grandes centros, sobretudo em São Paulo e no Rio, há católicos demasiado in­dulgentes no que diz respeito à religião es­pirita.

Zeladoras do Apostolado da Oração as­sistem a sessões espiritas e se dizem, inocen­temente, espiritas católicas. Pode haver maior absurdo? É que não conhecem nem a doutri­na católica nem a espirita. Cúmulo da igno­rância !

XII

E’ nos escritores espiritas que encontramos as maiores acusáções contra a honra dos m é­diuns. São “feiticeiros”, “velhacos”, “rivais”, “invejosos”, “ trapaceiros”, (438).

Tomem nota os católicos á-fim -de não se meterem entre essa gente.

XIII

Cumpre evitar certos m odos de dizer to­mados da doutrina espirita. Católicos há que

(438) Cf. C. IMBASSAHT — Obra citada, pgs. 181, 228. 348. 187, «tc.

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dizem : “Em outra encarnação eu farei isso, evitarei aquilo.”

É fazer concessão tácita a respeito da m e­tempsicose. Está errado. Para o católico não há reencarnação; só haverá a ressurreição final, única e definitiva.

XIV

O espirita, em geral, não se converte. Tem o cérebro endurecido, a lógica transtor­nada. Por isso, o combate ao espiritismo há- de ser mais preventivo do que curativo. A campanha anti-espirita deve ser com o a cam­panha em preendida contra as doenças con­tagiosas consideradas incuráveis, — a tuber­culose, a morféia, etc. Deve ser antes profi­lática do que terapêutica.

Falc-sc, desde o púlpito, contra o perigo do contágio. Fale-se aos católicos, não aos es­piritas, aos sãos e não aos doentes.

Para que a campanha surta efeito have­mos mister conhecimento de causa. Não va­m os atribuir tudo a causas naturais, nem tu­do ao demônio. No primeiro caso, não se com­preenderia bem a razão do combate nem a razão por que a Igreja condenou repetida­mente a prática do espiritismo. A razão do estudo c de pesquisa científica justificaria a assistência a sessões espiritas. No segundo caso, teriamos contra nós a psicologia, que ex­plica quase todos os fenôm enos subjetivos.

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XV

Seria de todo conveniente que se instituis- se nos Seminários um pequeno Curso de Es­piritismo, onde se estudassem as teorias, os erros dogmáticos, os meios de combate.

Nós chegamos a esta situação aparente­mente contraditória: temos de combater o pa­ganism o nas regiões não-pagãs, temos de pre­gar Cristo aos cristãos. Podem os e devemos auxiliar a cristianização da África e da Ásia, m as não podem os afrouxar a re-cristianiza- ção do Brasil.

Não basta rezar. Não adianta lastimar. É preciso lutar.

Quem finge desconhecer a devastação operada pelo espiritismo é porque não saiu nunca de seus alcáçares, de suas casas, de seus lazeres. Não percorreu, como nós, os bairros pobres de S. Paulo e do Rio, nem perlustrou o interior do país. Não feriu o as­sunto no seio de certas fam ílias elegantes que, a-pesar-de tudo, ainda vão a m issas de sétim o dia e ainda toleram a existência dos sacerdotes católicos. (439).

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EXORTAÇÃO FINAL

Via o Apóstolo os prim itivos cristãos em ­penhados numa luta perene contra os pode­res que se m anifestam nos ares e não se can­sava de anim á-los a que perseverassem na lu ta :

“Mortos éreis em vossos crimes e peca­dos, quando cam inháveis segundo o espírito deste mundo, segundo o príncipe dos ares, que ainda não cessa de operar entre os filhos da desobediência.”

Não ha negar. Poder sombrio, horrível e devastador vagueia em torno de nós. Príncipe poderoso infesta os ares que respiram os e em que nos movemos. Não c de carne e osso, esse príncipe. N ão tem a forma que os poetas lhe em prestam e com que o vestem os pintores. Invisível, age assim mesmo por toda parle. Tem milhares de fauces e milhares de olhos. Servem-no ministros sem conta, ásseclas de todos os matizes; por m eio deles, espreita- nos, arma-nos insídias, procura perder-nos em todos os instantes.

Riem-se os homens deste nosso linguajar. Com ares de “ilum inados” asseveram que no “século das luzes” já não há lugar para o es­pirito das trevas.

Mas enganam-se. Descrendo do poder in-

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visivel, tornam-se as primeiras vítimas do Dragão Infernal. A mais retumbante vitória de Satanaz, nos tempos que correm, é esta: fazer crer aos homens que ele, — Satanaz, — não existe.

Como disse GOETHE, esse profundo co­nhecedor dos homens,

“Não percebe a gentinha ao diabo,Inda que a tenha toda no g a sn e te ...”

Os surtos do pensamento humano confir­mam as verdades em que, de pequeninos, fo­mos instruídos nas aulas de História Sagrada.

O cepticismo sistem ático não modifica o curso das coisas. Conforme disse Fenelon, no Telêm aco, as coisas são como são e não como queremos que sejam.

Queira ou não queira o MATERIALISMO moderno, as Sagradas Letras não deixam, por isso, de atestar a sinistra atividade da “ ser­pente”, do “homicida desde o in ic io”, do “ad­versário nosso que, leão fam into, nos anda farejando, buscando quem devore.”

E Crisio, o nosso amigo, nos está sempre alertando, não venhamos a cair nas m alhas do “inim icus hom o” que, pelas caladas da noite, sorrateiro e m anhoso, sói espalhar a erva daninha no campo das almas.

A História da Igreja atesta a ação oní- moda de Satanaz, esse Proteu real e perver­so. Uma das m anifestações de sua atividade foi e será sempre concretizada na forma c!c heresias. A heresia é o joio abafador da se­mente divina, plantada por Cristo no terreno das almas boas e generosas.

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O INIMIGO não dorme. Quando uma he­resia se desvanece, ele suscita outras.

Aí está a últim a em ordem cronológica: o ESPIRITISMO. Os seus fautores foram uns viciados. Os seus crentes são, via de regra, hom ens nevrosados, — almas doentias que re­negam os ensinam entos de Cristo e despre­zam as normas da SÃ RAZÃO.

Leitores! Estai alerta. Não vos deixeis co­lher nas redes do Grande Sofista, cujos argu­m entos capciosos tanto se traduzem na elo­quência de um médium como no hálito de uma serpente.

Nunca podereis prescindir daquele que c “ o Caminho, a Verdade e a Vida.” Não podeis passar sem Cristo, assim nas horas amargas como nos mom entos de alegria.

Quereis baralhar os ensinam entos dos Evangelhos com as mensagens do Inferno? E’ o que muitos estão fazendo. Contemplai, porem, vós-outros, o olhar tão m eigo de Jesús e ouví-lhe a queixa dorida e ansiosa:

“E vós? Quereis tambem deixar-m e?” Não! Como Pedro, como todas as almas

bem nascidas, como todos os predestinados, respondei do imo do peito:

“SENHOR! PARA ONDE IREMOS NÓS? Vós tendes palavras de VIDA ETERNA.”

O. A. M. D. G.