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94 Uipirangi Franklin da Silva Câmara, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 94 - 127 | Via Teológica O CANTO QUE ENCANTA: O IDEAL BATISTA DE IDENTIDADE DOUTRINÁRIA. 1 The Singing that Delights: Baptist Identity Doctrinal Ideal Uipirangi Franklin da Silva Câmara. 2 Resumo Os Batistas Brasileiros construíram, ao longo de sua história de inserção no Brasil, um ideal de identidade, procurando marcar suas características não apenas em meio à diversidade religiosa, mas, sobretudo, na Sociedade Brasileira. Entretanto, pensar em identidade possível não é o mesmo que efetivá-la. Como é possível identificar traços da identidade batista no Brasil? Como observar fora de discursos oficiais em que se constitui tal identidade, mesmo se ela existe de forma unívoca? Dentre as possibilidades de se rastrear marcas distintivas dos batistas no Brasil, o presente artigo tentará seguir uma trilha de pesquisadores do Protestantismo no Brasil: o meio mais seguro para se conhecer o perfil do protestantismo no Brasil é observar o que esse protestantismo canta. Os hinos, não por serem produção nacional, mas por refletirem pelo uso a visão do mundo, do sofrimento, da família, do compromisso com a sociedade, podem fornecer uma visão mais aproximada possível da identidade dos protestantes e dos batistas, por conseguinte. O presente artigo, portanto, pretende 1 O presente artigo reconstrói parte de um dos capítulos de minha dissertação de mestrado: Palco Música e Ilusão, defendida na Universidade Metodista de São Paulo em 2003. 2 Doutor em Ciências da Religião, professor da Faculdade Teológica Batista do Paraná. E-mail: [email protected].

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94 Uipirangi Franklin da Silva Câmara, Vol. 13, n.26, dez.2012, p. 94 - 127 | Via Teológica

O CANTO QUE ENCANTA: O IDEAL BATISTA DE

IDENTIDADE DOUTRINÁRIA.1

The Singing that Delights: Baptist Identity Doctrinal Ideal

Uipirangi Franklin da Silva Câmara.2

Resumo

Os Batistas Brasileiros construíram, ao longo de sua história

de inserção no Brasil, um ideal de identidade, procurando marcar

suas características não apenas em meio à diversidade religiosa,

mas, sobretudo, na Sociedade Brasileira. Entretanto, pensar em

identidade possível não é o mesmo que efetivá-la. Como é possível

identificar traços da identidade batista no Brasil? Como observar

fora de discursos oficiais em que se constitui tal identidade, mesmo

se ela existe de forma unívoca? Dentre as possibilidades de se

rastrear marcas distintivas dos batistas no Brasil, o presente artigo

tentará seguir uma trilha de pesquisadores do Protestantismo

no Brasil: o meio mais seguro para se conhecer o perfil do

protestantismo no Brasil é observar o que esse protestantismo

canta. Os hinos, não por serem produção nacional, mas por

refletirem pelo uso a visão do mundo, do sofrimento, da família,

do compromisso com a sociedade, podem fornecer uma visão

mais aproximada possível da identidade dos protestantes e dos

batistas, por conseguinte. O presente artigo, portanto, pretende

1 O presente artigo reconstrói parte de um dos capítulos de minha dissertação de mestrado: Palco Música e Ilusão, defendida na Universidade Metodista de São Paulo em 2003.2 Doutor em Ciências da Religião, professor da Faculdade Teológica Batista do Paraná. E-mail: [email protected].

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verificar a possibilidade de identificar traços da Teologia dos

Batistas filiados à Convenção Batista Brasileira através do que

estes cantam em seu Hinário Oficial.

Palavras Chave: Batistas; Identidade; Hinos; Protestantismo.

Abstract

Brazilian Baptists built over its history of participation in

Brazil, an ideal identity, searching to mark its features not only

in the midst of religious diversity, but mainly in Brazilian Society.

However, think about possible identity is not the same as effevtive

it. How is possible to identify traits of Baptist identity in Brazil?

How to observe outside official discourse that constitutes this

identity, even if it exists in a single view? Among the possibilities

to track hallmarks of Baptists in Brazil, this article will attempt to

follow a trail of researchers of Protestantism in Brazil: the surest

way to know the profile of Protestantism in Brazil is to observe

what this Protestantism sings. The hymns, not because they are

domestic production, but as they reflect the use of the worldview,

suffering, family, commitment to society, can provide insight as

closely as possible of the identity of Protestants and Baptists,

consequently. This article therefore intends to investigate the

possibility of identifying the Baptist´s Theology traits affiliated

to the Brazilian Baptist Convention through what they sing in his

Official Hymnal.

Keywords: Baptists; Identity; Hymns; Protestantism.

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Um olhar para a história do Protestantismo Brasileiro3

deixa à mostra a compreensão de que o cântico congregacional

é um instrumento por excelência para definição, realce ou

formação de seu perfil identitário:“a verdadeira adoração impõe um

compromisso ético”.4 Quando se trata de cânticos congregacionais,

para o Protestantismo, duas coisas estão em jogo: a identidade 5 e

os valores que ele considera como fundamentais.

Em geral, na prática litúrgica protestante espera-se que

no momento de culto o membro de sua comunidade faça,

constantemente, a ligação das verdades de fé ao seu cotidiano. Ele

estaria num exercício contínuo de inserção do conteúdo de fé

à sua memória individual6 e, por conseguinte, reatualizando a

memória coletiva de seu grupo: “O louvor faz parte da adoração e

pode ser expresso pelo canto, leitura bíblica, orações, testemunhos e de

outras maneiras pelas quais possa o adorador reconhecer o que o Senhor

fez e continua fazendo em sua vida”.7

No cântico não há apenas o exercício de envolvimento

melódico, o fiel é exortado a refletir o que canta, como é possível

observar já na primeira edição de um livro com hinos sacros no

Brasil denominado de Música Sacra arranjada para quatro vozes no

Brasil, a Sra. Sara Kalley, autora, acrescenta o seguinte conselho

para a comunidade que dele faria uso:

3 Ver: CRABTREE (1937), PEREIRA (1982), MENDONÇA (1984), REILY (1984), MARSCHIN (1985).4 BRAGA, Henriqueta Rosa Fernandes. Música sacra evangélica no Brasil - contribuição à sua história. Porto Alegre: Livraria Kosmos Editora, s/d. p.102.5 Ibid., p.99.6 Para entender o conceito de Memória Coletiva e Identidade usada no presente artigo, ver: HALBWACHS (1990), LE GOFF (1994).7 Filosofia da Convenção Batista Brasileira (www.batistasbrasil.org.br).

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A principal coisa, porém, é tributar a Deus o verdadeiro louvor do coração; e bem triste será se, pelo uso deste livrinho, alguém for induzido a prestar maior atenção à música do que às palavras que se expressam por meio dela.8

O exercício racional deve levar o fiel à compreensão de

que ao cantar está fazendo uma declaração de fé doutrinária. Os

cânticos congregacionais cumprem, além de uma função litúrgica

centrada na perpetuação da instituição, uma função ética. Vale

lembrar um episódio de um pregador que, diante do sofrimento

de escravos, aconselha-os, dando como referência o hino 436 de

Salmos e Hinos,9 a uma vida de resignação:

Vós os que seguro Correi, vinde todosAlívio buscais Ao manso JesusNas duras desgraças Que, qual um cordeiroQue aflitos passais, Se imolou na cruz.

Entretanto, essa compreensão doutrinário/ética não é

muito rígida, dependendo da ótica, se do pregador/colonizador

ou do evangelizando/ colonizando/ escravizado, a orientação do

valor ético do hino poderia mudar. É o caso, por exemplo, de

uma referência feita por Henriqueta Rosa Fernandes Braga10 em

relação à influência dos hinos conhecidos como spirituals:

Os cânticos de plantação conhecidos como spirituals são a espontânea manifestação de imenso fervor religioso e, tiveram sua origem principalmente nas reuniões de acampamento (camp-meeting), e de reavivamento (revival) e outros exercícios religiosos. Traduzem uma fé singela num Pai pessoal e ardem na esperança de que os filhos de cativeiro passem, finalmente, da selvagem condição de escravos ao País da Liberdade.

8 Op. Cit., p.126.9 Id.10 Op.cit, p. 189.

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O contato as verdades de fé altera, instantânea e

definitivamente11, a vida do ser humano, independentemente,

inclusive, da cultura em que esteja inserido. Numa referência

ao trabalho entre os índios, a então Associação Evangélica

de Catequese dos Índios (Missão Evangélica Cauá) em

comemoração ao dia do índio em 1956, numa circular aos

evangélicos dizia o seguinte:

As autoridades entram em contato com os índios convertidos e percebem que são novas personalidades com novos ideais para a vida, alfabetizados e procurando melhorar de vida. São coisas objetivas, coisas que falam bem alto e que nós, evangélicos, bem conhecemos, porque sabemos do poder do Espírito Santo, regenerador das nossas almas.12

A compreensão de que os hinos possuem esse caráter

de transmissão pode ser percebida, também, em relatórios de

missionários itinerantes ou viajantes sobre sua impressão ao

visitar algumas tribos indígenas:

De um lado, uma conformação suicida com a miséria, uma incapacidade absoluta de reação, o corpo e a família entregues à fome e à doença, sem qualquer esforço para fugir à morte que vem chegando e à autodestruição. De outro, a mesma gente trabalhando com brio, um vivo otimismo nos olhos, um elevado nível de moralidade, a ambição nascendo, revelada na atitude, traje, nas palavras, no trabalho (...) Mas eu começo a notar um surpreendente denominador comum nesses ravelos onde o ser humano já não mais aparece na mais extrema degradação física ou social: ...em todos eles encontrei exemplares da Bíblia, hinários e revistas.13

11 Sobre o caráter da conversão entre os batistas brasileiros vale a pena ler: MACIEL, Elter Dias. O drama da conversão-análise da ficção batista. Rio de Janeiro: Cedi, 1988.12 Op.cit, p. 242.13 Ibid., p.243.

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Na história do Protestantismo no Brasil sempre foi clara a

noção de que a música não era usada de maneira não intencional,

como apenas uma complementação de mensagem, ou prática

incorporada ao rito de culto, havia uma clara consciência de

que esta possuía uma funcionalidade bastante abrangente, usada,

inclusive até como fator terapêutico:

Conhecendo o valor terapêutico da música, pressentido desde a Antiguidade como no-lo demonstra o episódio de Davi, o pastorzinho, chamado a acalmar com a sua harpa os acessos de fúria do Rei Saul (1º. Samuel 16.14 a 23); amplamente tratado pelos gregos em sua famosa doutrina do Ethos, que procurou determinar os efeitos da atuação musical sobre as paixões humanas; e cientificamente estudado em nossos dias, não se esquece o rev. Laudelino de Oliveira Lima Filho de recorrer à música sacra como preciosa auxiliar em seu apostolado junto aos doentes mentais.14

A compreensão desse caráter instrumental de mão dupla

(Instituição – fiéis) viabilizado pelos hinos, desenvolveu-se ao

longo da história protestante no Brasil. Messias Valverde, num

programa de orientações para o que chamava de celebrações mais

vivas, dizia o seguinte: “O culto deve ‘ser amplamente participativo,

onde a comunidade tenha vez e voz’; e venha ‘expressar as angústias,

lutas, alegrias do povo, onde a Igreja está inserida”.15 Através dos hinos,

portanto, Instituição propagava seus valores, fiéis retornavam com

sua compreensão sobre seu valor em suas vidas.

14 Ibid., p.241.15 VALVERDE, Messias. Liturgia e pregação- reflexões sobre o culto cristão. Orientações para celebrações mais vivas e sermões envolventes. São Paulo: Exodus Editora, p.196.

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1. Música e Identidade

Uma análise superficial sobre o uso de hinos sacros

(hinos tradicionais) e novos cânticos nas igrejas batistas permite

a suspeição de que tanto a Instituição16 como a comunidade

batista se apropriam da música para manter a tradição fundante17

ou modificá-la a partir de determinados códigos teológicos-

éticos. Inicialmente essa suspeita pode ser observada no próprio

ambiente litúrgico em que a música ocupa o lugar de reforçadora

do rito.

No ambiente de culto da igreja batista, há uma música

específica para cada ocasião, seja para reforçar a tradição, seja,

para fundamentar determinadas opiniões, doutrinas ou costumes.

A Filosofia da Convenção Batista Brasileira deixa alguns desses

aspectos à mostra:

Os batistas reconhecem a importância, inclusive bíblica, do louvor na adoração, que se expressa através do cântico congregacional, individual, de conjuntos ou coral, por isso crêem: a) Que o cântico deve cumprir os objetivos do culto a Deus, sendo, portanto, teocêntrico e não antropocêntrico; b) Que sua letra deve ser de conteúdo teologicamente correto, e conter ensinamentos que proporcionem o crescimento espiritual e a dedicação ao serviço de Deus e à proclamação da Sua salvação (60); c) Que a música deve contribuir para adoração que se quer prestar a Deus, a quem é dirigida; para exaltar a Sua

16 Nesse sentido, Instituição é a organização formal na qual os batistas se associam e, que, por sua permissão, divulga suas compreensões, valores e doutrinas. A referência será sempre a Convenção Batista Brasileira.17 Por exemplo, num congresso realizado para repensar a denominação batista, na tese defendida pela profa. Jane Borges de Oliveira Santos: Repensando a Liturgia Batista à Luz do Desenvolvimento Eclesiológico e Teológico, pode-se observar como esse conceito de que há uma identidade e que ela deve ser buscada é muito forte: “Se temos uma identidade ela é nos dada através de quê?”. FERREIRA, Ebenezer Soares (org.) Repensando a denominação batista brasileira. Teses da XII Conferência Teológica Batista realizada em Guarapari (ES). Rio de Janeiro: ABIBET, 1998.

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glória; e para oferta de gratidão pelas grandes coisas que Ele fez e faz (61); d) Que, basicamente, o hino é uma oportunidade para a congregação declarar a sua experiência cristã, à luz das Sagradas

Escrituras, e se regozijar coletivamente na doutrina cristã (62).18

Entender que tanto a instituição como também a própria

comunidade consideram os hinos uma fonte de identidade é de

grande valor para o pesquisador da identidade batista:

As demais igrejas protestantes históricas, como a Metodista, Batista e Presbiteriana, com poucas exceções, estão tornando contemporânea sua linguagem musical, mas de forma diferente. Na verdade, estão apenas contextualizando os “gestos” do fazer musical, quando copiam os trejeitos das bandas estrangeiras e traduzem, mesmo que sofrivelmente, as canções que a mídia vem propagando “aos quatro ventos”. Essas igrejas imitam as neopentecostais, adotam seus cantos, compram seus cancioneiros. Mais que isso, abandonam seus hinários oficiais e passam a projetar nas paredes as canções dos carismáticos. Estão, com isso, perdendo a identidade denominacional. Fragilizam sua teologia, pois os textos desses cantos dão prioridade à doxologia e, embora falem também sobre comunhão entre irmãos, não dão relevo a assuntos tão vitais para o protestantismo histórico, como salvação pela graça de Deus, a cruz, morte e ressurreição do senhor Jesus. (...) A tendência atual de algumas igrejas protestantes históricas em abandonarem seus hinários oficiais enfraquece sua identidade, como denominação distinta e não valoriza suas raízes históricas, muitas vezes arduamente conquistadas, como ocorreu diante das dificuldades encontradas para a implantação do protestantismo no Brasil.19

Os hinos expressam uma base comum de valores

fundamentais para os batistas? Israel Belo de Azevedo, numa

investigação20 sobre os princípios batistas, defende a ideia de que é

18 Livro do Mensageiro-77a. Assembléia da Convenção Batista Brasileira, 1996, p.68,69. In: http://www.batistasbrasil.org.br.19 FREDERICO, Denise Cordeiro de Souza. Cantos para o culto cristão. São Leopoldo: Sinodal, 2001. p. 304, 305.20 A Celebração do indivíduo, p. 290,291.

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possível perceber alguns valores considerados como fundamentais

para os batistas, que, segundo ele, estão atrelados a dois eixos

principais: o transcendentalismo e o individualismo, e, a partir

desses dois eixos os demais valores se ordenam:

Cada um dos valores fundamentais dos batistas se subordina a estes eixos principais, como ordenadas e coordenadas de uma reta. Um exemplo desta confluência está no ensino acerca da salvação: o homem para salvar-se deve reduzir a questão de salvação ao ponto em que ele se veja como se fora o único ser humano em todo o mundo. Então, face a face com Cristo, estabelece-se a comunhão e resolve-se o problema. É a direta interação de duas vontades, a do Criador e da criatura. De um lado, é Deus em Cristo, de outro é o homem só. E a salvação ocorre num secreto encontro entre os dois.21

Quadro 1 Tipologia da teologia expressada nos hinários oficiais batistas

CATEGORIAS SÍNTESE DAS IDÉIAS

TEÍSMO

• Os batistas, trinitarianos segundo a fórmula nicena, creem que Deus é pessoal e interage pessoalmente com suas criações. A vontade de Deus é relacionar-se com suas criaturas, que possuindo vontades individuais, precisam permitir esse relacionamento.

BIBLICISMO

• Os batistas concebem Deus como tendo uma vontade especial para cada ação humana e o conteúdo dessa vontade está expressa na Bíblia. A partir do conceito de que a Bíblia é a palavra revelada de Deus, os batistas derivam da Bíblia os fundamentos para sua teologia, devoção pessoal e para as decisões que tomam no campo da moral e da ética.

21 Ibid., p. 290.

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CONVERSIONISMO

• Os batistas creem que Deus veio ao encontro do homem, pelo método da encarnação, para restaurá-lo e resgatá-lo para si do domínio do pecado. O homem totalmente corrompido carece da manifestação da graça de Deus em sua vida para que seja salvo. Essa salvação é individual, intransferível e incorporizável, portanto insistem na responsabilidade pessoal para aceitação ou recusa dessa salvação.

CONTRACULTURALISMO

• Os batistas creem que os valores de Deus são superiores e opostos aos valores humanos. Decorrente desse conceito, creem que precisam abandonar os costumes anteriores à experiência da conversão, vivendo como peregrinos na terra e seguindo os padrões de uma nova cultura que, como superior, precisa ser oferecida a todos os homens.

SALVACIONISMO

• Deus sempre desejou salvar os homens; a partir dessa compreensão, os batistas consideram-se responsáveis por cumprir esse desejo chamando todos os homens para um encontro pessoal e de reconciliação com Deus, através do método da evangelização.

Fonte: AZEVEDO, Israel Belo. A celebração do indivíduo: a formação do pensamento batista brasileiro. Piracicaba: Editora Unimep; São Paulo: Exodus, 1996.Obs.: O quadro foi elaborado por este autor com base na lista dos valores defendidos por Israel Belo de Azevedo.

Embora a instituição insista em criar um “fiel” de identidade

numa articulação teológica, a partir de um texto oficial, de uma

linguagem comum, a comunidade batista22 vai reatualizar e

tentar fundir sua crença cotidiana na “crença” denominacional.

22 Entendida aqui como comunidade de fiéis que formam as Igrejas Batistas.

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Demonstrando assim que sua identidade é formada a partir da

síntese de suas várias memórias23.

A análise dos hinos possibilita perceber que a identidade

batista será decorrente de um entendimento e reajuste do passado,

da tradição, da história da comunidade de fé em função (diálogo?)

das demandas da realidade presente.

2. A opção dos Hinários Oficiais

Oficialmente os batistas usam dois hinários em seus cultos

e programações gerais: O Cantor Cristão e o Hinário para o culto

cristão. Embora não seja uma publicação musical estritamente

composta por músicos batistas brasileiros, na prática é tida como

tal, o seu uso dá-lhe essa legitimação. Numa possível estratégia

de marketing, tais hinários foram juntados à Bíblia num único

conjunto. Embora a ideia difundida fosse a de possibilitar que,

num único volume, estivessem presentes, para fácil acesso, o texto

sagrado e a música de culto, na mente de muitos fiéis, por este (o

hinário) estar agregado à Bíblia, assume um valor sagrado, se não

semelhante, muito próximo ao atribuído à própria Bíblia.

2.1. O Cantor Cristão

O Cantor Cristão24 foi publicado em 1891, numa primeira

edição com 16 hinos, por iniciativa de Salomão Ginsburg,

missionário congregacional filiado a uma igreja batista brasileira

em novembro de 1891. Hoje, com várias edições, o referido hinário

23 Em razão dos limites estruturais que assumimos, não será possível aprofundamento dessa hipótese no presente artigo.24 MEIN, David (coord.). O que Deus tem feito. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações da Convenção Batista Brasileira: 1982. p. 338.

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conta com 581 hinos dos mais diversos matizes protestantes.

Os dois principais autores que contribuíram com hinos

para o cantor cristão foram Salomão Ginsburg e William Edwin

Entzminger. Salomão Ginsburg tem 104 hinos dos 581 do cantor

cristão, sendo que 81 são traduções e 9 são adaptações de letras

de outros autores. William Entzminger contribuiu com 72 hinos,

sendo que16 são originais e 56 são traduções ou adaptações de

outros hinos.

2.2 O Hinário para o Culto Cristão

A primeira tentativa de reforma mais profunda quanto à

hinologia batista25 deu-se através de um hinário conhecido como

Hinário para o culto cristão. A ideia de substituir o antigo hinário

por esse, contextualizando a visão de fé batista para novos tempos,

chocou-se com a tradição e deixou em relevo uma possível

desconfiança da comunidade de fé quanto à sua consistência

doutrinária.

Fruto de um trabalho de quase cinco anos de pesquisa,

adequações e várias reuniões, o Hinário para o culto cristão foi

lançado como sendo um tributo pelos quase 100 anos do Cantor

Cristão no Brasil:

Animados... os membros da equipe de trabalho... dedicaram milhares de horas de trabalho, individual e coletivo, nos quatro cantos da Pátria, para que pudéssemos ter este CÂNTICO NOVO! Novo porque, tomando como base os hinos mais tradicionais, conhecidos e cantados do hinário que nos serviu por cem anos, deu-lhe nova roupagem musical, estilística, melhora

25 É difícil falar de produção musical tipicamente batista, pois grande parte dos hinos cantados pelos batistas são produções de autores não batistas. O mais propício seria falar de uso batista.

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gramatical e estética, além de aduzir à obra quase duas centenas de hinos e cânticos de autores e compositores evangélicos nacionais e internacionais de tempos contemporâneos.26

O pastor e músico Marcílio de Oliveira Filho,27 membro

da comissão para a constituição desse hinário, e por ocasião do

início de todo o trabalho, também presidente da Associação dos

Músicos Batistas do Brasil (1987-1988), esclareceu sinteticamente

os principais critérios que foram observados na constituição

desse hinário:

Em relação ao critério da comissão, o trabalho principal foi verificar textos, teologia, fidelidade bíblica, conteúdo poético e atualidade temática. Na parte musical, o critério principal foi melodia fácil, notas médias para não tornar muito sacrifício congregacional (nem muito agudo nem muito grave), harmonia simples e rica. Os arranjos deveriam ser simples, mas não vulgares. A grande crise inicial foi vencida quando decidimos que não seria um hinário somente brasileiro, como era a tendência de muita gente. Entendemos naquela época que não poderíamos fazer um hinário nacionalista e ignorar a história e a riqueza mundial. Quanto à pesquisa feita, foram consultadas mais de 5.000 pessoas em todas as regiões do Brasil. Perguntávamos quais os hinos mais cantados nas igrejas, quais os cânticos não inseridos em hinários que eram cantados, quais os grandes hinos da história que eram cantados e não estavam no Cantor Cristão. Descobrimos nessa pesquisa que o hino mais querido dos batistas brasileiros era “Se Paz a Mais Doce Me Deres Gozar, Sou Feliz com Jesus”.28

A coordenadora geral da comissão do Hinário para o

culto cristão, Joan Larie Sutton o apresentou, inicialmente, da

seguinte maneira:

26 Hinário para o culto cristão. Rio de Janeiro: JUERP, 1991. Apresentação, vii.27 Falecido em 6 de setembro de 2005, ocupou durante muitos anos a função de Ministro de Música da Primeira Igreja Batista de Curitiba.28 Resposta a uma consulta que fiz por e-mail em 31 de março de 2003.

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O cântico reflete a fé, as tradições, os valores, as preferências, as doutrinas, os rumos e a espiritualidade de cada um de nós. Nosso cântico reflete quem somos e onde estamos, na peregrinação cristã. Um hinário é uma coletânea de cânticos que, além de refletir quem somos, indica o estágio em que nos encontramos nessa trajetória cristã. Além disso, prevê quem seremos e medirá, no percurso, nossa estatura espiritual. O formato, o estilo e a disposição do conteúdo de um hinário definem os dias e a época de seu uso.29

Numa comparação com o Cantor Cristão quanto às

mudanças introduzidas nos hinos ali recolhidas e incorporadas

ao Hinário para o culto cristão, a comissão prestou o

seguinte esclarecimento:

As mudanças em letras de hinos já conhecidos foram feitas seguindo critérios lingüísticos, gramaticais, poéticos, hinológicos e teológicos. Essas mudanças podem ser analisadas, comparando-se o antigo texto com o novo.30

Embora tal esclarecimento tenha sido dado a fim de

que a comunidade conhecesse a forma da nova proposta de

Hinário, sua simples menção, sugere a possibilidade de que

tenha havido, também, alguma reforma na teologia dos hinos.

O Hinário para o culto cristão foi dividido em 10 seções,

nas quais os diversos hinos foram agrupados. As seções, na

ordem apresentada pelo Hinário, foram as seguintes: a) Deus

Triúno; b) Deus-Pai; c) Deus-Filho; d) Deus-Espírito Santo;

e) A Palavra de Deus; f) Culto; g)Vida Cristã; h) Igreja; i)

Vida Futura; j) Assuntos Especiais (ano novo, dedicação de

templos, lar, pátria, apresentação de crianças, aniversário):31

29 Hinário para o culto cristão, ix.30 Id.Ibidem.31O fato de os hinos estarem agrupados sob essas categorias pode oferecer uma pista sobre a direção teológica assumida pela referida comissão, já que era representativa

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O grande valor deste índice será encontrarmos com facilidade os hinos para os assuntos que desejamos abordar nos cultos que oferecemos a Deus. Com muito cuidado, este índice foi elaborado para que os temas teológicos fossem considerados.32

O Hinário para o culto cristão (HCC) é formado por um

total de 441 hinos e 172 leituras bíblicas para serem usadas nos

cultos. Do total de 441 hinos, 166 foram incorporados do Cantor

Cristão (CC). Desses constam as contribuições de Salomão

Ginsburg e William Edwin Entzminger. Se considerados os

hinos da coordenadora da comissão como produção brasileira33

e as traduções feitas por brasileiros de algumas letras de autores

estrangeiros, tem-se apenas um universo de aproximadamente 82

hinos que poderiam ser considerados como nacionais. Observação

essa que pode indicar o tipo de característica que irá nortear o

referido hinário.

As seções, já mencionadas, sob as quais os hinos foram

agrupados, são gerais e, portanto, não dão pistas claras sobre

qualquer revisão mais profunda da teologia dos hinos e, a

princípio, não sugerem também nenhuma modificação ou

reatualização da teologia não nacional a aspectos de uma possível

teologia batista brasileira. Uma análise preliminar e comparativa

dos hinos do Hinário para o culto cristão e do Cantor Cristão parece

indicar que a teologia é a mesma. O que corrobora a ideia de que

não há qualquer indício que identifique os batistas brasileiros dos

outros protestantes no Brasil quanto a aspectos gerais da teologia,

concepção de mundo e imaginário religioso.

denominacionalmente.32 Ibid., xvi.33 Isso pelo fato de a Coordenadora Geral da Comissão do Hinário Joan Larie Sutton ser missionária americana no Brasil.

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3. A Teologia dos Hinários Oficiais

É importante realçar que uma comissão constituída por

uma instituição eclesiástica (Convenção Batista Brasileira) com

poderes para tratar algumas incorreções ou incompreensões, mesmo

em letras musicais, que por si só já possuem alguns limites,

assume a tarefa de voz institucional, tendo como princípio geral

e norteador a tarefa de manter viva a tradição ou história da

denominação (instituição) que representa. Sendo assim, a escolha

de critérios, os hinos escolhidos, seções em que serão agregados,

além de outros aspectos, vão refletir um trabalho da comissão

que pode ser compreendido, resguardados alguns limites, como

reescrita34 de uma história musical.

A título de experiência, como possibilidade de entender

através dos hinos a Teologia Batista e seu anseio por identidade

doutrinária e prática, proponho uma comparação de alguns hinos

do Cantor Cristão e do Hinário para o culto cristão tendo como

base o quadro de tipologias apresentado anteriormente.

3.1 Teísmo

Na concepção batista, Deus é pessoal e está presente,

relacionando-se com suas criaturas. A base desse relacionamento

tem a ver com o caráter desse Deus, com seus atributos. Esse é um

bom exemplo de como se fundem o transcendente e o cotidiano

na mentalidade do autor. Embora Deus se preocupe com suas

criaturas, no caso do ser humano essa preocupação é expressa de

34 Sobre a possibilidade de ler a história sob novos olhares, ver: BURKE, Peter. A escrita da história-novas perspectivas. São Paulo: Unesp, 1992.

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forma platônica, geral, não específica. Deus sustenta e guarda,

perdoa, dá segurança e garante uma vida feliz no porvir:

Tu és fiel, Senhor, meu Pai celeste;pleno poder a teus filhos darás.Nunca mudaste, tu nunca faltaste:Tal como eras, tu sempre serás.

Tu és fiel, Senhor, tu és fiel, Senhor,dia após dia, com bênçãos sem fim.Tua mercê me sustenta e me guarda;tu és fiel, Senhor, fiel a mim.

Flores e frutos, montanhas e mares,sol, lua, estrelas no céu a brilhar:tudo criaste na terra e nos ares.Todo o universo vem, pois, te louvar!

Pleno perdão tu dás, paz, segurança;cada momento me guias, Senhor.E, no porvir oh que doce esperança!desfrutarei do teu rico favor!35

No Cantor Cristão é possível observar as mesmas características

a partir de um hino36 de autoria de Salomão Ginsburg:

Aflito e triste coração, Deus cuidará de ti; Por ti opera a sua mão, Que cuidará de ti.

Deus cuidará de ti, Zelar-te-á, guardar-te-á, Sim, cuidará de ti, Deus cuidará de ti.

Na dor cruel, na provação, Deus cuidará de ti; Dará socorro e salvação,

35 Hino 25 do Hinário para o culto cristão.36 Hino 344 do Cantor Cristão.

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Pois cuidará de ti.

A tua fé Deus quer provar, Mas cuidará de ti; O teu amor quer aumentar, E cuidará de ti.

O que é mister te pode dar Quem cuidará de ti; Nos braços seus te sustentar, Pois cuidará de ti.

Embora haja um realce numa manifestação do divino

em prol do fiel que nEle é exortado a colocar sua confiança,

transparecem no hino algumas condições ou algumas situações

em que esse socorro (cuidado) aparece. É possível verificar-se

que o sofrimento é prova para o fiel. Sua caminhada como servo

é dura e cruel, no entanto o socorro que vem do alto lhe será

suficiente para suportar as provações.

3.2 Biblicismo

Conquanto na concepção batista se incluam diversas

possibilidades de manifestação de Deus, é na Bíblia que se

encontra sua revelação total para o ser humano. A Bíblia passa

a ser uma espécie de manual de conduta e prática para o fiel. De

maneira geral, a Bíblia contém todos os desejos de Deus para o

ser humano; para isso, em cada decisão a ser tomada é mister

consultá-la. A Bíblia apresenta um caráter sagrado, chegando

mesmo a ser considerada como mensagem celestial.

O hino 214 do Hinário para o culto cristão, cujo autor das

primeiras duas estrofes se desconhece, mas se sabe que a terceira é

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de autoria de um brasileiro37, expressa assim esse conceito:

É divina, sábia e puraa Palavra do Senhor;e corrige a vida impurado perdido pecador.Do Senhor a majestadenesse livro posso achar.Fonte viva da verdade,os meus passos vem guiar.

São prudentes os conselhosdo meu Mestre e Salvadore me mostram, como espelhos,que sou mau, sou pecador.Mais que o sol resplandecente,os preceitos de Jesusiluminam nossas mentescom radiante e clara luz.

Livro santo, verdadeiro,que me ensina o amor de Deus!É precioso companheirona jornada para os céus.Nele sempre meditando,quero a Cristo obedecer;os pecados evitando,seus ensinos vou viver.

O Cantor Cristão38 também apresenta a Bíblia como um

manual cuja observância além de garantir êxito no viver, é

também instrumento de graça especial. A Bíblia é entendida como

uma espécie de estatuto, de lei de Deus:

Em Jesus confiar, sua lei observar,Oh, que gozo, que bênção, que paz!Satisfeitos guardar tudo quanto ordenarAlegria perene nos traz.

37 O autor desse hino é João Soares da Fonseca, batista, autor de algumas letras.38 O Hino 301 é um dos mais cantados pelos batistas.

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Crer e observarTudo quanto ordenar;O fiel obedeceAo que Cristo mandar!

O inimigo falaz e a calúnia mordazCristo pode desprestigiar;Nem tristeza, nem dor, nem a intriga maiorPoderão ao fiel abalar.

Que delícia de amor, comunhão com o SenhorTem o crente zeloso e leal;O seu rosto mirar, seus segredos privar,Seu consolo constante e real.

Resolutos, Senhor, e com fé, zelo e ardor,Os teus passos queremos seguir;Teus preceitos guardar, o teu nome exaltar,Sempre a tua vontade cumprir.

3.3 Conversionismo

Os batistas creem que o relacionamento entre eles e

Deus só é possível porque Deus resolveu tomar a iniciativa. A

impossibilidade de um relacionamento pleno entre o homem e

Deus é devido ao que os batistas chamam de pecado. Apenas com

a encarnação o homem passa a conhecer Deus de forma mais

próxima e tem a oportunidade de deixar o pecado, salvando-se

enfim de uma impossibilidade eterna de ter um relacionamento

com Deus. A encarnação, para o batista, não resolve toda a

questão da salvação. Ao convite de Deus, cada ser humano tem

a necessidade de responder individualmente de maneira positiva

ou negativa. Ou seja, o ser humano tem vontade própria que o

habilita a aceitar ou não esse convite:

Ao findar o labor desta vida,Quando a morte a teu lado chegar,Que destino há de ter a tua alma?

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Qual será no futuro o teu lar?

Meu amigo, hoje tu tens a escolha:Vida ou morte, qual vais aceitar?Amanhã pode ser muito tarde,Hoje Cristo te quer libertar.

Tu procuras a paz neste mundo,Em prazeres que passam em vão,Mas na última hora da vidaEles já não te satisfarão.

Por acaso tu riste, ó amigo,Quando ouviste falar em Jesus?Mas é só ele o único meioDe salvar pela morte na cruz.

Tens manchada tua alma e não podes,Nunca, ver o semblante de Deus;Só os crentes com corações limposPoderão ter o gozo nos céus.

Se decides deixar teus pecados,E entregar tua vida a Jesus,Trilharás, sim, na última hora,Um caminho brilhante de luz.39

No Hinário para o culto cristão40 é possível observar a

mesma ênfase:

Jesus quer entrar hoje em teu coraçãoe para sempre ficar,pois nada o impede de dar-te perdãoquando o deixares entrar.

Já muitas vezes à porta esperou,e agora ele volta a bater,querendo te dar salvação, paz e amor.Queres a Cristo atender?

Se abrires a porta do teu coração

39 Hino 259 do Cantor Cristão.40 Hino 256.

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e o convidares a entrar,Jesus te dará seu divino perdãopara contigo habitar.

Essa mentalidade está tão presente entre os batistas que é

possível até verificá-la em conversas entre os fiéis ou mesmo em

sermões. Não é incomum se ouvir expressões do tipo: “fulano é tão

bom que só falta se converter”. Ou mesmo em relação àqueles que

transgridem alguma regra estabelecida pela comunidade de fé,

como por exemplo: “ele fez isso porque não é convertido ainda”. Enfim,

conversão não é apenas o passo fundamental para aproximar-se

relacionalmente do Criador, mas mudança de condição de vida -

de simples humano - para filho de Deus.

3.4 Contraculturalismo

A conversão inaugura para o batista o que ele chama de nova

vida. A salvação traz duas implicações: o fiel deixa a antiga vida,

ou seja, abandona os valores culturais nativos simbolizados como

valores de uma sociedade sem Deus, consequentemente diabólica,

e assume os valores do reino de Deus, aqui simbolizados pelos

valores culturais do evangelizador. A antiga vida, sem a conversão,

é uma vida má, triste, sem esperança. Deve ser deixada para trás,

porque a nova vida será completamente melhor:

Que mudança admirável na vida provei,pois Cristo minha alma salvou!Tenho a luz lá do céu que eu tanto busquei,pois Cristo minha alma salvou.

Oh, Cristo minha alma salvou!Sim, Cristo minha alma salvou!

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Mesmo ali sobre a cruz,foi que Cristo Jesusda morte minha alma salvou.

Já deixei de trilhar as veredas do mal,pois Cristo minha alma salvou!E feliz eu desfruto o favor divinal,pois Cristo minha alma salvou.

Sobre o vale da morte já brilha uma luz, pois Cristo minha alma salvou.E eu avisto meu lar, no porvir, com Jesus,pois Cristo minha alma salvou.41

Os hinos batistas são ricos em simbolismo. A vida sem

Cristo pode ser velha vida, vida má, vida sem alegria ou vida na

escuridão. Todo esse simbolismo passa a ter outro significado

quando os opostos são inseridos na letra. Luz, alegria, esperança

são sinônimos de nova vida, novos valores. O hino 403 do

Cantor Cristão, outro dos hinos mais cantados pelos batistas, é

rico em simbolismo:

Perdido andei, na escuridão,Mas Cristo me encontrou,E com a luz do seu amorAs trevas dissipou.

Eu alegre vou na sua luz,Pois Jesus agora me conduz.Desde que me achouDa morte me livrou;Ando sempre alegre,Cristo me salvou!

No caso de se escurecerDe nuvens todo céu,Jesus, bendito Salvador,É luz que rasga o véu!

41 Hino 448 do Hinário para o culto cristão.

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Andando estou na luz de Deus,Que doce comunhão!Prossigo sempre com vigor,Deixando o mundo vão.

Lá, face a face, então vereiJesus, o Salvador,O qual a sua vida deuPor mim, vil pecador.

Comumente se refere à vida cristã como uma peregrinação

na comunidade batista: cidadãos de dois mundos para ser mais

exato. A falta de identidade com a antiga vida, agora abandonada,

é recompensada pela nova identidade que se consumará no porvir.

3.5 Salvacionismo

Os batistas entendem como desejo de Deus a salvação de

todo o mundo. Substitutos do pacto feito no Antigo Testamento

com Israel, na presente era, os batistas entendem como sua

a tarefa de evangelização do mundo. Toda sua estrutura

denominacional e eclesiástica é montada tendo como missão

principal a conversão de todos os povos ao cristianismo pelo

método da evangelização. Da educação religiosa nas igrejas à

escolha de hinos nos cultos, o objetivo maior é sempre o mesmo:

trazer o mundo a Jesus.

O hino 439 do Cantor Cristão, apontado por muitos como

um dos hinos que mais caracterizam os batistas, é um dos bons

exemplos dessa mentalidade:

Minha Pátria para Cristo!Eis a minha petição;Minha Pátria tão querida,Eu te dei meu coração;Lar prezado, lar formoso,

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É por ti o meu amor;Que o meu Deus de excelsa graçaTe dispense seu favor.

Salve Deus a minha Pátria,Minha Pátria varonil!Salve Deus a minha terra,Esta terra do Brasil.

Quero, pois, com alegria,Ver feliz a mãe gentil,Por vencer o evangelhoNesta terra do Brasil.Brava gente brasileira,Longe vá temor servil;Ou ficar a Pátria salva,Ou morrer pelo Brasil.

O desafio de levar a salvação a todos os povos não é apenas

um desafio à comunidade batista como um todo institucional,

mas é um desafio também individual. Cada fiel batista é

desafiado a refletir sobre a decisão de se envolver totalmente

nessa empreitada:

Dá-me tua visão, Senhor,olhos que possam veralmas perdidas sem teu amor,sem fé, sem graça e poder.

Abre meus olhos,dá-me visão, Senhor,que eu possa aos outros demonstrarteu maravilhoso amor:

Quantos vivem sem conhecera tua compaixão!Que eu mostre, pelo meu proceder,o teu amor e perdão.

Minha vida consagro aqui,perante a tua cruz;

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tudo o que sou pertence a ti.

Oh, vive em mim, meu Jesus!42

O quadro geral em que algumas características do modo

batista de pensar são apresentadas tipologicamente nos hinos

usados pelos batistas, tanto no Hinário para o culto cristão quanto

no Cantor Cristão, não deixam dúvidas de que essas características

são identitárias dos batistas, embora se suspeite de que qualquer

classificação possa ser apresentada como parcial e de uma certa

maneira arbitrária, subjetiva. A questão que se apresenta nesse

momento não é se essas características sublinhadas são distintivas

dos batistas, mas se elas são distintivas em relação a que grupo.

Antes de atestar se são apenas distintivas dos batistas, ou se, de

alguma forma, são distintivas do protestantismo, é importante

que se verifique a perspectiva da comunidade de fé em relação

aos hinos e aos princípios identitários batistas.43

Considerações Finais

O perfil religioso brasileiro é altamente complexo e pluralista.

Convivendo com as demandas cotidianas, os fiéis das mais diversas

pertenças religiosas precisam articular sua fé em relação aos seus

desafios individuais e no entremeio de suas relações sociais, sejam

elas religiosas ou não. Ao mesmo tempo precisam responder ao

anseio institucional à fidelidade e identidade religiosa.

42 Hino 546 do Hinário para o culto cristão.43 Na dissertação que defendi na UMESP em 2003 (Palco, Música e Ilusão) apresento uma proposição de que fiéis atualizam os conteúdos presentes nos hinários combinando sua interpretação das questões do cotidiano com diversas visões doutrinárias, nem todas, defendidas pelos batistas enquanto Instituição.

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No contexto de pluralismo religioso do Brasil, as diversas

confissões de fé precisam articular sua identidade, criando um fiel

identitário, seja ele expresso numa tradição, num princípio, seja

numa visão, que esconda ou camufle as mudanças que ocorrem

em seu interior motivadas ou inspiradas pelas próprias mudanças

na sociedade.

A insistência numa identidade é própria de qualquer

Instituição que teime em sobreviver sob máscaras de imutabilidade

numa sociedade que muda velozmente. No caso dos batistas,

além das constatações anteriores, transparece uma terceira, que

pode ser entendida como uma busca desesperada para encontrar

o que os caracteriza perante os outros grupos religiosos e de que

maneira isso pode ser interiorizado pelos fiéis que compõem

sua comunidade no Brasil. Entretanto, forjar-se uma identidade

desconsiderando a teia de relações sociais é uma viagem sem

destino. Não existe uma memória individual que prescinda das

relações sociais. O fiel batista tem sua memória confessional,

mas também tem sua memória familiar, social, etc. Ele não se vê

fazendo opção de uma em detrimento a outra como se exige nos

púlpitos. Sua identidade de fé precisa ser encarada no total de sua

vida, não há fragmentação.

A percepção, a partir do recorte histórico e teológico, dos

batistas enquanto denominação, permite entender que aos temas

clássicos defendidos no caso do Brasil associam-se as demandas

da sociedade contemporânea como proteção, saúde, livramento

e por uma vida melhor (se possível aqui e agora). Embora esses

aspectos não se evidenciem, pelo menos institucionalmente, é

possível verificá-los presentes nas articulações que o fiel faz entre

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seu cotidiano e o modelo denominacional.

O apelo nos hinos clássicos a uma nova vida precisa ser

entendido não sob o prisma do exclusivismo e da negação, mas

pelo prisma da ética, do caráter, da moral, do respeito à alteridade,

às diferenças.

A insistência em manter uma identidade entendida como

um compromisso intelectual pode forjar no fiel um sentimento

de dubiedade e forçá-lo a desenvolver mecanismos em que

consiga sintetizar as demandas do seu cotidiano com as exigências

institucionais. Mecanismos evidenciados nas pesquisas que

apresentamos em que o fiel, através dos hinários oficiais, canta

os desafios institucionais, camuflando, em seu entendimento, o

desejo por saúde, dinheiro, segurança e paz, incorporando em sua

cosmovisão e imaginário expressões dos outros grupos religiosos

que compõem o cenário brasileiro.

Na argumentação de que os hinos fornecem identidade aos

batistas no Brasil evidenciou-se, na verdade, desde as melodias até

a composição dos hinários oficiais, uma visão de mundo, de ideias

e ideais protestantes. Os hinos não dão identidade aos batistas

como um grupo em detrimento dos demais no protestantismo,

nem no conteúdo e muito menos na voz dos fiéis.

Ao pretender exclusividade ou identidade no fazer religioso,

aos batistas juntam-se todos os outros atores num palco que

precisa contemplar a pluralidade religiosa e dividir o imaginário

religioso. Os hinos, esperança de outrora por uma identidade

única, deixam transparecer, bem no fundo, na cadência melódica,

que isso é uma grande ilusão.

Por fim, parece-nos um grande desafio articular uma

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pesquisa no sentido de entender a relação simbólica que há entre

as diversas pertenças religiosas no campo brasileiro. Suspeita-se

que os diversos grupos religiosos, no Brasil, têm muito mais em

comum do que normalmente se crê.

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