mod. 6 vitaminas, minerais e aditivos

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1 AGROCURSO CONFINAMENTO DE GADO DE CORTE AULA 6 – VITAMINAS, MINERAIS E ADITIVOS Juliano Ricardo Resende – Zootecnista, professor de nutrição de ruminantes nas Faculdades Associadas de Uberaba

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1

AGROCURSO CONFINAMENTO DE GADO

DE CORTE

AULA 6 – VITAMINAS, MINERAIS E

ADITIVOS

Juliano Ricardo Resende – Zootecnista, professor de nutrição de

ruminantes nas Faculdades Associadas de Uberaba

2

SUMÁRIO

1 - VITAMINAS PARA BOVINOS.......................................................................3

1.1 – Vitamina A................................................................................................4

1.2 – Vitamina D................................................................................................6

1.3 – Vitamina E................................................................................................7

1.4 – Niacina......................................................................................................8

2 - SUPLEMENTAÇÃO MINERAL PARA BOVINOS....................................11

2.1 - Importância dos nutrientes minerais....................................................11

2.2 - Sintomas da deficiência mineral ..........................................................12

2.3 - Adição de vermífugos e outros suplementos.....................................14

2.4 - Fornecimento de minerais ao gado......................................................14

3 – ADITIVOS.................................................................................................15

3.1 - Ionóforos.................................................................................................16

3.2 - Monensina sódica..................................................................................19

3.3 – Lasalocida sódica..................................................................................23

3.4 – Antibióticos não ionóforos...................................................................29

3.4.1 – Virginiamicina.....................................................................................31

3.5 - Promotores de Eficiência Alimentar Biológicos..................................35

3.5.1 - As leveduras ativas...........................................................................35

3.5.2 - Os probióticos bacterianos...............................................................37

4 – REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................41

3

1 - VITAMINAS PARA BOVINOS

As vitaminas são compostos orgânicos sintetizados por plantas

superiores e microrganismos, e fundamentais ao metabolismo celular. Os

animais requerem a presença das vitaminas para a síntese de muitas

coenzimas, que por sua vez são indispensáveis à ação das enzimas, sem as

quais não existiria a vida. Uma reação química não se processa a contento

sem a ação destes catalisadores biológicos. Os avanços em genética e

nutrição nos últimos anos têm permitido melhorias significativas na

performance e na saúde dos bovinos, e isto tem levado os nutricionistas a

reconsiderar a função de algumas vitaminas, tendo como princípio básico sua

função coenzimática.

As vitaminas são classificadas em dois grandes grupos a saber:

a - Lipossolúveis (A, D, E e K);

b - Hidrossolúveis (B1, B2, B6, B12, ácido pantotenico, fólico, biotina, colina e

niacina).

O Quadro Q apresenta as vitaminas de interesse zootécnico e seus sintomas

carênciais.

QUADRO 1 - Vitaminas, suas coenzimas, metabolismo e sintomas carenciais.

Vitaminas Coenzimas Metabolismo Sintomas carenciais

A Retinol Visão Epitélio

Cegueira, queratinização epitelial, reprodução e

saúde.

D Ergocalciferol(D2) Colecalciferol(D3)

Calcificação da matriz óssea

Raquitismo e osteomalácia.

E Tocoferol Antioxidante celular Reprodução, saúde.

Niacina NAD, NADP

Oxireduções biológicas

e transporte de hidrogênio.

Metabolismo protéico e energético.

NAD- Flavina adenina dinucleotídeo e NADP- Nicotinamida-adenina

dinucleotídeo fosfato

Fonte: BACILA (1980)

4

Ao iniciar uma discussão sobre vitaminas, deve-se considerar a

existência de muitos fatores que interferem em seu requerimento e seus

sintomas de deficiência a saber:

- doenças respiratórias e infecciosas, estresse;

- transtornos metabólicos que diminuem síntese microbiana;

- processamento dos alimentos (calor, fermentação);

- fertilização das pastagens (excesso de nitrogênio, oxálico,nitratos);

- estado fisiológico dos animais.

1.1 - Vitamina A

Esta vitamina é denominada de "vitamina do epitélio", tendo em vista

sua função primordial para a formação e manutenção da integridade da

mucosa.

A vitamina A é, desta forma, essencial para a maior resistência às

doenças e fertilidade dos ruminantes. A vitamina A não ocorre em sua forma

natural e sim em seus precursores, os carotenos. Durante muito tempo,

acreditou-se que todo pigmento carotenóide do alimento era transformado em

vitamina A. Na verdade, reconhece-se o valor do B-caroteno como potencial

transformador principal, e que o bovino tem a capacidade de sua conversão de

24% (1mg de beta-caroteno equivale a 400 UI de vitamina A). Estes compostos

com atividade vitamínica A são muito sensíveis a oxidação, onde a presença

da luz, temperatura, unidade e íons metálicos aceleram sua decomposição.

Nas forrageiras, as maiores perdas ocorrem durante o processo de

conservação (ensilagem e fenação). No período da seca, as forragens são

bastante deficientes em vitamina A.

Os sintomas carenciais da vitamina A podem incluir a redução do

apetite, menor ritmo de crescimento, pelagem áspera, lacrimejação, baixa taxa

de concepção, natimortos, abortos, retenção de placenta, cistos ovarianos,

anormalidades do sêmen, a libido reduzida e diarréia.

A maior necessidade de vitamina A ocorre durante a época da cobertura

e do parto. Bezerros nascidos de vacas deficientes (final de gestação

coincidente com longo período de forragem seca), estão sujeitos à infeções

5

diversas (quando não natimortos), sendo comum a diarréia com

lacrimejamento, descarga nasal e algumas vezes incoordenação motora. A

causa é a deficiência da mãe, bem como a baixa ingestão de colostro e de

leite. Outro fator condicionante é a deficiência de zinco e de proteínas, onde

são necessários para a mobilização da vitamina A do fígado (órgão de

armazenamento), de acordo com Mc. Dowell (1989). Os Quadros 2 e 3 ilustram

o efeito da suplementação da vitamina A em bovinos.

QUADRO 2 - Efeito da administração de vitamina A sobre a taxa de

natalidade (%) de bovinos.

Categoria 1- Controle 2- Suplementado

Vacas 70,10 84,50

Primíparas 64,50 79,30

Fonte: BRADFIELD e BEHRENS (1968)

Os mesmos autores relataram melhoria na taxa de natalidade, com

suplementações do complexo ADE, entre 14 e 30 dias anteriores, à estação de

monta de vacas, cujos dados são apresentados no quadro 3.

QUADRO 3 - Efeito da suplementação de ADE sobre a taxa de natalidade

(%).

Ano Controle ADE

1964 77,40 88,00

1965 80,00 92,20

1966 54,80 74,40

1967 71,20 82,20

Média 70,80 84,20

Fonte: BRADFIELD e BEHRENS (1968)

Outro trabalho de Mechan et al. (1970), ilustra o efeito da vitamina A

sobre a taxa de mortalidade de bezerros, apresentado no Quadro 4

.

6

QUADRO 4 - Efeito da suplementação de vitamina A sobre a taxa de

mortalidade em bezerros.

Tratamento Natimortos(%) Mortalidade pós-natal(%)

Controle 8,80 16,50

Vitamina A 6,60 8,10

Alguns trabalhos demonstram o efeito da própria suplementação do

betacaroteno sobre parâmetros reprodutivos em vacas leiteiras (incidência de

cios silenciosos, atraso na ovulação, cistos ovarianos). Ainda que o

requerimento não esteja definido, os dados sugerem suplementação de 150 a

300 mg/dia de betacaroteno, no período compreendido entre 15 dias antes do

parto e a confirmação da gestação, para rebanhos leiteiros de alta produção,

onde o volumoso seja baseado em silagens.

De acordo com os estudos sobre a vitamina A, pode-se sugerir a sua

suplementação para ruminantes em algumas situações:

a - Gado de corte ao iniciar o período da seca (maio-junho), principalmente

para animais jovens, novilhas a serem entouradas (outono ou primavera),

novilhas e vacas em gestação e touros.

b - Gado de corte em confinamento.

c - Rebanho leiteiro, para qual o volumoso é constituído por silagens.

1.2 - Vitamina D

Esta vitamina é denominada "anti-raquítica", tendo em vista que sua

função principal seja ligada ao metabolismo do cálcio (Ca) e do fósforo (P) -

transporte e mobilização - e quando em deficiência causa redução drástica no

ritmo de crescimento dos animais novos. O requerimento em vitamina D

depende de uma boa relação Ca/P, na qual relações estreitas ou muito largas

irão interferir na sua exigência. Talvez este seja o motivo pelo efeito positivo do

uso de altas dosagens de vitamina D na prevenção da febre do leite. Trabalhos

mostram a vantagem de sua utilização cerca de cinco dias antes do parto e um

dia após o mesmo, em vacas predisponentes a este distúrbio metabólico

(HIBBS e CONRAD, 1966; VINET et al, 1985), no qual a dosagem é de

500.000 UI diariamente. Honett et al (1992) mostram redução de incidência da

7

febre do leite (38 x 8%) em vacas secas (15 dias antes do parto), em dietas de

silagens de alfafa, feno e concentrado.A vitamina D é encontrada na forma de

ergocalciferol (D2) de origem vegetal e na forma de colecalciferol (D3) de

origem animal. A ação da luz solar (raios ultravioleta) sobre a vitamina D (7-

dehidrocolesterol) encontrado na pele dos animais, produz a vitamina D3.

Diante deste efeito, normalmente os técnicos não recomendam a

suplementação desta vitamina para animais em pastejo, em regiões tropicais.

No entanto, algumas considerações são necessárias:

- o efeito da irradiação deve acontecer nas partes do corpo desprovidas, ou

com pouco pêlo;

- os ruminantes dotados de pelame espesso recebem pouca irradiação através

da pele;

- uma irradiação muito intensa resulta em substâncias sem atividade vitamínica

(supra-esteróis) e substâncias tóxicas ao organismo;

- a vitamina D2 somente é encontrada em fenos curados ao sol, desde que o

tempo de cura seja relativamente curto (inferior a 36 horas);

- forragens verdes e silagens possuem pouca quantidade de vitamina D;

- o organismo animal tem baixa capacidade de armazenamento.

Independentes destas considerações, os conhecimentos atuais mostram

ser incomum a deficiência de vitamina D em bovinos em pastejo.

1.3 - Vitamina E

Essa vitamina tem diferentes funções no organismo celular, ou seja, atua

na prevenção da oxidação dos ácidos graxos insaturados dentro da célula,

protegendo assim a ruptura da membrana. Se ocorre a oxidação dos lipídios

(formação de peróxidos) há destruição da integridade da membrana celular,

com sérios danos metabólicos. A distrofia nutricional que acomete bezerros e

cordeiros é um exemplo deste dano causado pela deficiência do selênio, mas

influenciada pelo status vitamínico E. Assim, em dietas deficientes em selênio,

a distrofia não é prevenida pela vitamina E, ou é prevenida pelo selênio, se

houver vitamina E, mostrando a interação dos dois nutrientes (ISLABÃO.

1978).

8

O papel da vitamina E na reprodução não está perfeitamente elucidado.

No entanto, sabe-se que as glândulas endócrinas possuem alto nível desta

vitamina, particularmente a hipófise. Trabalhos mostram que a vitamina E

promove a liberação do FSH (hormônio folículo estimulante), do ACTH

(hormônio adrenocorcotrófico) e do LH (hormônio luteinizante). Problema muito

comum em rebanhos leiteiros, a retenção de placenta, está relacionado à

deficiência de vitamina E. No entanto, deve-se considerar sua relação também

com deficiência de selênio, do fósforo da vitamina A, bem como de agentes

infecciosos. Jullien et al (1976), relatam a redução da retenção de placenta em

gado leiteiro com a suplementação de 680 mg/dia de vitamina E e de 60 mg/dia

de selenito de sódio, durante 21 dias antes do parto. Outro problema verificado

em rebanhos leiteiros, a mastite, mostra-se ser auxiliada em seu controle pela

suplementação em vitamina E. No entanto, os trabalhos científicos sobre o

assunto não são conclusivos.

Quanto aos bovinos de corte, principalmente em regime de

confinamento, a vitamina E está relacionada à qualidade da carne, mas

lamentavelmente o aspecto econômico ainda é um entrave, não compensando

a suplementação. Pesquisas da Universidade de Wisconsin (WILLIANS, 1993),

ilustram efeito positivo da suplementação sobre a qualidade da carne, onde o

grupo tratado recebeu, diariamente, 350 UI, durante um período de 30 dias. O

trabalho demonstrou que após 12 dias da exposição da carne ao varejo, esta

conservou sua cor "vermelho vivo". Além disto, houve retardamento na

formação da metamioglobina (cor escura), em relação ao grupo não

suplementado.

Como conclusão, ainda não é vantajosa economicamente sua

suplementação como melhoradora da qualidade da carne.

1.4 – Niacina

Esta é uma vitamina do complexo B, bastante pesquisada nos últimos

anos. Considerava-se que a síntese de niacina no rúmen era adequada para o

requerimento do ruminante. No entanto, face aos progressos obtidos na

genética animal e sua correspondente melhoria na performance, estudos

recentes tem mostrado resposta positiva com a suplementação, para animais

9

de alta produção, como é o caso de vacas leiteiras estabuladas e garrotes

precoces, quer seja oriundos de cruzamentos industriais ou mesmo de

zebuinos puros, mas de alta performance.

A niacina participa como componente da coenzima (NAD e NADP), de

vários sistemas enzimáticos, de grande importância no metabolismo do

ruminante, entre os quais pode-se citar:

- metabolismo dos carboidratos;

- metabolismo dos lipídeos;

- metabolismo dos aminoácidos.

O efeito da niacina no metabolismo está no aumento da síntese da

proteína microbiana, na digestibilidade da celulose e dos ácidos graxos

voláteis, principalmente o ácido propiônico. No caso dos bovinos de corte em

confinamento, sugere-se a suplementação quando a taxa de ganho for superior

a 1,50 Kg/dia, principalmente na fase de adaptação do gado particularmente

nos primeiros 21 dias do encerramento desses animais.

QUADRO 5 - Efeitos da niacina sobre a performance de bovinos de corte

em confinamento (adaptação) , em dietas com uréia.

ITENS CONTROLE NIACINA (70 mg/dia)

Peso inicial (Kg) 198,60 193,30

Peso final (Kg) 216,00 219,00

Ganho diário (g/dia) 600 690

Conversão (Kg MS/Kg ganho) 8.98 6,41

Fonte: BIERS (1981)

Concluindo, sugere-se os seguintes níveis de suplementação de

vitaminas para os bovinos de corte:

10

TABELA 1 - Níveis vitamínicos sugeridos para ruminantes.

Animal Vit A Vit D

UI/Kg MS Vit E

Niacina mg/Kg MS

1-Bovinos de corte

a-Bezerros 2200 275 30 -

b-Novilhas/vacas gestação 2800 275 30 -

c-Lactação e touros 3900 275 60 -

d-Confinamento 2200 275 60 60

Fonte: N.R.C ( 1996)

11

2 - SUPLEMENTAÇÃO MINERAL PARA BOVINOS

2.1 - Importância dos nutrientes minerais

Uma das mais importantes limitações nutricionais do gado bovino nas

regiões tropicais é a deficiência de minerais, uma vez que as forrageiras,

geralmente, não atendem as exigências dos animais. O conteúdo de mineral da

forragem depende de vários fatores, como solo, clima e espécie forrageira e

sua maturidade.

A maioria dos solos brasileiros é de média a baixa fertilidade, com

elevada quantidade de alumínio (Al) e de ferro (Fe), favorecendo a formação de

compostos insolúveis para a planta e exacerbando a deficiência do P. A

reposição dos nutrientes exportados pelos produtos animais ao solo, por

intermédio da adubação é pouco comum na maioria das regiões, o que

ocasiona um decréscimo gradativo do conteúdo de minerais na pastagem.

A suplementação mineral na pequena e média produção é

extremamente precária, principalmente por falta de informação (VEIGA et al.,

1996). A correção das deficiências minerais, pela suplementação no cocho, à

vontade, é bastante eficiente.

Constatou-se em estudos que o custo da mistura mineral no mercado

influencia a escolha do produto a ser utilizado. Além disso, a maioria dos

criadores desconhece os fundamentos básicos da nutrição mineral,

especialmente relacionados à suplementação do cálcio, elemento crítico na

alimentação de vacas leiteiras (MANESCHY, 2002).

Embora compondo apenas cerca de 5% do corpo de um animal, os

nutrientes minerais contribuem com grande parte do esqueleto (80% a 85%) e

compõem a estrutura dos músculos, sendo indispensáveis ao bom

funcionamento do organismo (MCDOWELL, 1992). Os desequilíbrios dos

minerais na dieta animal podem ocorrer tanto pela deficiência como pelo

excesso.

12

2.2 - Sintomas da deficiência mineral

Como se trata de um grande número de elementos que desempenham

as mais variadas e complexas funções no organismo, os sintomas causados

pelos desequilíbrios minerais da dieta não são específicos. Esses sintomas

podem ser confundidos com aqueles causados por deficiência de energia e

proteína (alimentação deficiente qualitativa e quantitativamente) ou por

problemas de saúde (parasitismo, doenças infecciosas ou ingestão de plantas

tóxicas).

Os principais sintomas gerais que indicam a ocorrência de deficiências

minerais no rebanho são, conforme Veiga et al. (1996) e Veiga e Lau (1998):

Apetite depravado - Os animais comem terra, pano e plástico; roem e ingerem

ossos, madeira e casca de árvores; lambem uns aos outros; apresentam

avidez por sal de cozinha.

Redução do apetite - Mesmo em pastagens com plena disponibilidade de

forragem e de boa qualidade, os animais apresentam baixo consumo,

mostrando o ventre sempre vazio (afundado).

Aspecto fraco ou doentio - Os animais ficam magros, com dorso arqueado,

pêlos arrepiados e sem brilho, lesões na pele e dificuldade de locomoção.

Anomalias dos ossos - Os ossos longos se tornam curvos e as extremidades

dilatadas.

Fraturas espontâneas - Freqüentemente, ocorrem quebraduras ósseas,

sobretudo quando os animais são manejados, evidenciando fraqueza do

esqueleto.

Anomalias da pele - Despigmentação e perda de pêlo, e desordem da pele,

como ressecamento e descamação.

13

Baixo crescimento e produtividade - O crescimento dos animais jovens é

retardado, o ganho de peso é baixo ou negativo (perda de peso) e a produção

leiteira é prejudicada.

Baixa fertilidade - Rebanhos com carência mineral apresentam uma reduzida

fertilidade das vacas, em face da ocorrência de cios irregulares ou ausentes,

abortamento e retenção placentária, resultando em baixa produção de

bezerros.

Baixa resistência a doenças - Animais deficientes em minerais são menos

resistentes (mais susceptíveis) a doenças e se ressentem mais dos ataques de

parasitas internos (vermes).

QUADRO 6 - Macro e microelementos essenciais para as espécies

domésticas e suas funções (McDowell, 1999).

Minerais Funções principais MACROELEMENTOS

Cálcio (Ca) Formação de ossos e dentes; excitação muscular, sobretudo cardíaca; coagulação sangüínea; integridade da membrana; transmissão nervosa;

produção de leite

Cloro (Cl)

Manutenção da pressão osmótica e do equilíbrio ácido- básico; transmissão de impulsos nervosos; transporte ativo dos aminoácidos e da glicose em

nível celular; principal ânion do suco gástrico como parte do ácido clorídrico, ativação da amilase intestinal

Magnésio (Mg) Atividade neuromuscular e nervosa; transferência de energia; participação

no crescimento ósseo; participação no metabolismo dos carboidratos; participação no metabolismo dos lipídeos.

Fósforo (P)

Formação óssea e dentária; constituição da molécula de DNA e RNA, formação de fosfolipídios; formação da coluna; participando, assim, na

transmissão dos impulsos nervosos; atividade enzimática, sobretudo como coenzima de vários complexos da vitamina B; fosforilação para a formação

de ATP.

Potássio (K) Balanço osmótico e hídrico corporal; participação no

metabolismo protéico e dos carboidratos; integridade da atividade muscular e nervosa.

Enxofre (S) Metabolismo e síntese protéica; metabolismo das gorduras e dos carboidratos; síntese de vitaminas do complexo B.

MICROELEMENTOS

Cobalto (Co) Função anti-anêmica, por ser componente da vitamina 612 e do ácido fólico;

metabolismo da glicose; síntese da metionina.

Cobre (Cu) Ativador enzimático envolvendo o transporte e a transferência de oxigênio,

metabolismo dos aminoácidos e do tecido conectivo. lodo (l) Componente dos hormônios tireoidianos.

Ferro (Fe) Transporte de oxigênio e respiração celular. Flúor (F) Proteção óssea e dentária.

Manganês (Mn) Integridade da matriz orgânica óssea; ativador enzimático, sobretudo no

metabolismo dos aminoácidos e dos ácidos graxos. Selênio (Se) Junto com a vitamina E, promove a proteção dos tecidos contra danos

14

oxidativos; componente da enzima glutationa peroxidase; metabolismo dos aminoácidos sulfurados.

Zinco (Zn)

Ativador enzimático, principalmente nos processos de formação óssea, do metabolismo dos ácidos nucléicos, do processo da visão, do sistema imunológico e do sistema

reprodutivo.

Fonte: MCDOWELL, 1999

2.3 - Adição de vermífugos e outros suplementos

De modo geral, não é aconselhável utilizar a mistura mineral como

veículo para administração de remédios e aditivos alimentares, por várias

razões. Por exemplo, os vermífugos necessitam ser aplicados em épocas

definidas (início e fim da estação chuvosa e terço final da estação seca),

enquanto a mistura mineral é fornecida de maneira contínua. Além disso, os

vermes são combatidos com doses específicas, conforme o peso dos animais e

não em dose qualquer.

A adição de uréia ao sal mineral poderia ser admitida em condições

bastante restritas, onde fosse possível um cuidadoso controle do consumo,

para evitar risco de intoxicação do gado, inclusive obedecendo a um período

bastante rígido de adaptação. Em face desses problemas, não se aconselha

adicionar uréia ao sal mineral.

No mercado, existem alguns concentrados minerais enriquecidos com as

vitaminas A, D e E, vendidos a preços bastante elevados. Do ponto de vista

nutricional, o complemento dessas vitaminas, nas condições regionais de

forragem verde e luz solar, disponíveis durante o ano inteiro, não parece se

justificar na prática.

2.4 - Fornecimento de minerais ao gado

As formulações minerais são calculadas visando ao suprimento diário

das exigências minerais, geralmente por meio de uma mistura única e

completa. Por isso, há necessidade dos animais terem acesso diário, à

vontade, à mistura.

15

3. ADITIVOS

Serão abordados neste capítulo todos os aspectos relacionados à

utilização de aditivos alimentares na nutrição de ruminantes, tanto de natureza

química, quanto biológica. Também serão discutidos seus possíveis efeitos

nocivos e benéficos nos sistemas produtivos, assim como suas conseqüências

futuras para a criação e o ser humano.

Um aditivo alimentar é toda substância química ou não, que somada à

dieta dos animais, é capaz de causar efeitos benéficos aos diversos aspectos

que envolvem o sistema produtivo. Em ruminantes, estes compostos

geralmente provocam interferências nos padrões de fermentação do rúmen-

retículo, melhorando a eficiência de utilização das dietas. Além disso, podem

participar na manutenção da saúde intestinal, ajudando na absorção dos

nutrientes ingeridos e/ou produzidos do rúmen.

Os aditivos são normalmente utilizados na nutrição de ruminantes

quando se desejam melhorar os índices de desempenho de sistemas

produtivos de caráter intensivo, porém, bons resultados são observados

quando os mesmos são acrescidos em suplementos para animais em pastejo.

Isto ocorre, pois o aditivo muita das vezes aumenta a digestibilidade da

forragem ingerida, tornando este efeito mais expressivo quando a qualidade da

mesma estiver comprometida (época da seca).

Todavia, segundo Compêndio Brasileiro de Alimentação Animal, citado

por Medeiros e Lanna (1999) observa-se falta de definição adequada ao termo

“aditivo”. Neste caso, é proposto um termo mais abrangente, chamado pró-

nutriente, com a seguinte definição: microingrediente de alimentação utilizados

oralmente em pequenas doses que promovem os valores intrínsecos de uma

mistura de nutrientes em uma dieta animal.

Segundo de Goes (2004) os pró-nutrientes são divididos em: ionóforos,

antibióticos, leveduras ativas, probióticos e prebióticos. Os hormônios também

são considerados aditivos, porém não serão abordados neste capítulo.

16

3.1 – Ionóforos

Nota: Apesar do curso ser específico para confinamento, faremos uma revisão

envolvendo animais em pasto e vacas leiteiras acreditando melhor embasar o

tema e transmitir conhecimentos sobre o assunto ao publico.

Os ionóforos são classificados como antibióticos poliéteres carboxílicos

que transportam íons através da membrana e parede celular de bactérias do

grupo Gram-positivas, diminuindo ou inibindo seu crescimento. São produzidos

por espécies de estreptomicetos, constituindo um conjunto de mais de 70

compostos diferentes, sendo os mais comuns a monensina sódica (produzida

pelo Streptomyces cinnamonensis) e a lasalocida sódica (Streptomyces

lasaliensis). Como dito, existem outros ionóforos que também são utilizados na

alimentação de ruminantes, porém alguns destes são menos utilizados no

Brasil: Salinomicina, Laidlomicina, Lisocelina, Narasina e Tetronasina

(NAGARAJA, et al., 1997; MEDEIROS e LANNA, 1999; ONOFRI e GRAÇA,

2005).

A Tab. 2 apresenta uma relação destes ionóforos, os microorganismos

que as produzem, peso molecular e sua seletividade de cátions por ordem de

afinidade.

17

Tabela 2 - Ionóforos já utilizados ou sob investigação para uso em dietas de

ruminantes

Neste capítulo serão apresentadas características e aplicações dos três

ionóforos mais utilizados na alimentação de ruminantes no Brasil: monensina

sódica, lasalocida sódica e salinomicina. Entretanto, os modos de ação destas

moléculas são bastante semelhantes entre si.

Segundo De Goes (2004) os ionóforos são capazes de modificar a

fermentação ruminal, alterando a produção e proporção de AGV’s (Ácidos

Graxos Voláteis) e o metabolismo de proteínas no rúmen.

Essa alteração ocorre, pois estes aditivos são capazes de interferir, em

nível celular, a atividade de bactérias Gram-positivas presentes no rúmen,

modificando os padrões ruminais.

Segundo Peres e Simas (2006) a estrutura dos ionóforos determina sua

ação, porque ela torna possível o transporte de certos cátions pelas

membranas lipídicas da células bacterianas. O termo “polieter” refere-se a uma

estrutura molecular capaz de complexar substâncias lipo-solúveis com cátions

e mediar seu transporte pela barreira lipídica da célula bacteriana (NAGARAJA,

et al., 1997).

18

Esta afinidade por cátions é específica de cada tipo de ionóforo (TAB. 5).

A monensina sódica possui cerca de 31 vezes mais atração por sódio (Na+)

que a lasalocida, enquanto que esta apresenta 10 mil vezes mais afinidade por

cálcio (Ca2+) que a monensina (PERES e SIMAS, 2006).

Em trabalho realizado por Russell (1987) utilizando cepas da bactéria

Streptococcus bovis foi possível observar essa diferença de passagem de íons

entre um sistema sem monensina sódica e outro com este ionóforo. Os

resultados estão apresentados na Tab. 3.

Tabela 3 - Efeitos da monensina sódica na passagem de íons da

membrana plasmática de células da bactéria Streptococcus bovis

Segundo Peres e Simas (2006) como o cátion mais abundante dentro da

célula é o K+ que excede muito ao Na

+, a exposição da monensina provoca um

aumento de H+ intracelular reduzindo o pH. Na tentativa de equilibrar o

processo, o K+ é expulso da célula. Esse desequilíbrio osmoelétrio (pH)

provoca uma série de reações de homeostase celular que gastam muito ATP

(energia), reduzindo consideravelmente o crescimento das bactérias Gram-

positivas.

Como conseqüência desta seleção microbiológica provocada pelos

ionóforos tem-se uma mudança nos padrões ruminais com maior eficiência no

aproveitamento energético. Segundo Oscar et al. (1987) ocorre diminuição na

relação acetato:propionato com incrementos na produção de ácido propiônico e

redução do ácido acético. Além disso, as proporções de metano no rúmen são

19

reduzidas, caracterizando menores perdas de energia, que segundo Nagaraja

et al. (1997) podem chegar a 10% em um sistema normal de alimentação, sem

uso de aditivos melhoradores de eficiência nutricional. O conjunto destas

mudanças resulta em melhor retenção de energia pelo ruminante com reflexos

positivos à sua performance produtiva.

Os ionóforos também provocam uma diminuição na catálise de

peptídeos no rúmen, aumentando o escape destes para o intestino delgado

(DE GOES, 2004) com redução do N amoniacal (OSCAR et al., 1987). Esta

resultante implica em vantagens no aporte de aminoácidos pelo animal

hospedeiro, podendo contribuir para o desempenho animal.

Outro benefício causado pelo uso de estes aditivos, principalmente em

sistemas intensivos de produção, esta relacionado ao aparecimento de

distúrbios alimentares. Segundo De Goes (2004) ocorre redução na incidência

de acidose ruminal e timpanismo, devido a menor concentração de ácido lático

e produção de mucopolissacarídeos, que dão estabilidade à espuma do líquido

ruminal. Estes mucopolissacarídeos são produzidos por bactérias

metanogênicas, seres altamente afetados pela suplementação de ionóforos.

Portanto, o uso destes aditivos auxilia muito no aumento da eficiência alimentar

refletindo então no desempenho animal. A seguir serão discutidos os efeitos

práticos da utilização de cada ionóforo sobre os índices produtivos.

3.2 - Monensina sódica

Segundo Peres e Simas (2006) de maneira geral, há uma similaridade

entre o modo de ação dos ionóforos. Todavia, a monensina foi utilizada na

grande maioria dos trabalhos que encontraram efeitos destes aditivos na

fermentação ruminal. É possível gerar hipóteses sobre a atividade dos outros

ionóforos, mas é necessário considerar que as diferenças químicas, físicas e

biológicas, bem como a especificidade por íons, pKa e propriedades

farmacocinéticas, conferem diferentes efeitos e magnitudes dos efeitos das

diferentes moléculas. Por isso, ao se comparar a ação de diferentes ionóforos

deve-se atentar não só ao efeito produzido pela molécula, mas também a

situação de uso da mesma que pode proporcionar bons resultados em graus

diferentes.

20

Porém, analisando isoladamente o efeito da monensina sódica em dietas

de bovinos de corte em confinamento é possível observar uma redução

característica no consumo de matéria seca (CMS), ligeiro aumento do ganho

de peso (quase sempre insignificante) e melhora na conversão alimentar.

Goodrich et al. (1984) realizaram uma revisão comparando o uso ou não de

monensina sódica em dietas de confinamento de bovinos de corte em 228

experimentos utilizando 11274 animais. Um resumo destes resultados está

apresentado na Tab. 4.

Tabela 4. Desempenho de bovinos de corte em confinamento recebendo

ou não monensina sódica

É possível observar claramente na Tab. 4 que o uso médio de 246

mg/dia (189-303 mg/dia) de monensina sódica em dietas de bovinos em

confinamento provocou redução característica do CMS e Conversão Alimentar

(melhora) e quase nenhuma variação no ganho de peso, confirmando as

afirmativas que o efeito destes ionóforos em dietas de bovinos em

confinamento é a melhora na conversão alimentar e nem tanto o aumento no

ganho diário.

Lana e Fox (2001) também observaram redução no CMS (9,78 – 8,27

kgMS) quando utilizaram 22 mg/kg (MS ingerida) de monensina em dietas para

bovinos de corte, recebendo concentrado a base de milho e farelo de soja. Sob

as mesmas condições foi observado melhora na conversão alimentar quando o

21

ionóforo foi adicionado à dieta. Ambos os resultados estão de acordo com os

obtidos nos experimentos revisados por Goodrich et al. (1984).

Todavia, neste mesmo experimento realizado por Lana e Fox (2001)

pôde-se observar uma piora na conversão alimentar quando a monensina foi

utilizada juntamente com dietas contendo 4% de gorduras insaturadas.

Segundo os autores isto ocorreu porque a microbiota ruminal foi altamente

afetada pela associação de dois depressores do crescimento bacteriano.

É importante verificar que esta redução no consumo de matéria seca

provocada pela monensina deve ser minuciosamente acompanhada durante a

alimentação dos bovinos, pois existe um limite que se ultrapassado, pode

depreciar o ganho de peso dos animais, piorando a conversão alimentar.

Resumidamente isso pode acontecer de duas formas: se ocorrer ingestão

excessiva de monensina pelos animais (>300 mg/animal/dia); ou se estes

aditivo ionóforo for utilizado juntamente com outros depressores de consumo

(gorduras insaturadas livres).

Segundo ALPHARMA (2002) há aprovação de uso da monensina sódica

em doses que variam de 50 a 360 mg/animal/dia, sendo que na prática

normalmente se utiliza 200-300 mg/animal/dia para bovinos em confinamento;

e 100 a 200 mg para bovinos suplementados a pasto.

Segundo De Goes (2004) a utilização 200 mg de monensina sódica por

dia para bovinos criados a pasto resulta em ótima resposta sobre o

desempenho dos animais, pois melhora o aproveitamento energético de dietas

ricas em fibras. A ingestão de monensina sódica via suplemento geralmente

não influencia o consumo de matéria e eleva o ganho de peso dos animais. Isto

ocorre porque, neste caso, o suplemento participa em uma pequena parcela do

alimento ingerido, e portanto, interfere pouco na matéria seca total ingerida. O

principal efeito deste ionóforo esta no aumento da energia metabolizável

fornecida pelo capim.

Na revisão realizada por Goodrich et al. (1984) verificou-se efeito

positivo no ganho de peso quando se utilizou 154 mg de monensina/cab./dia

em suplementos para animais a pasto. Em média, os ganhos aumentaram de

609 para 690g (P<0,01). Nesta avaliação foram utilizados 914 novilhos de 24

experimentos. Neste caso os autores citam que as dosagens mais

22

recomendadas nos trabalhos revisados, variam de 150 a 200 mg de

monensina/animal/dia.

Em experimentos realizados por Fieser et al. (2007) utilizando 253

novilhos mestiços em um primeiro ano (Peso Inicial - 255 kg PV) e 116 animais

no segundo ano (287 kg PVinicial), pastejando em áreas de forragem de

inverno (trigo), observou-se elevação nos ganhos de peso para ambos os anos,

quando se incluiu monensina nos suplementos dos animais.

Em três séries de 47 experimentos, realizados em diferentes localidades,

com mais 2000 animais, Potter et al. (1986) observaram maiores ganhos de

peso sempre que a monensina (média de 200 mg/dia) foi adicionada ao

suplemento de novilhos de corte. Os resultados estão apresentados na Tab. 5.

Tabela 5 - Médias ajustadas dos tratamentos para ganho médio diário:

resumo de 47 experimentos a pasto

Em média houve acréscimo de 16% no ganho de peso dos animais

quando se utilizou monensina nos suplementos. Este índice representa em

média 90g a mais de ganho por dia, ou 1@ por ano.

Todavia, é importante sempre estar atento ao fornecimento deste tipo de

suplemento em propriedades rurais, principalmente aquelas com médio a baixo

nível tecnológico. São estratégias altamente dependentes de um eficiente

manejo que pode determinar o lucro ou o prejuízo da atividade.

Segundo Nagaraja et al. (1997), como os ionóforos reduzem o consumo

e aumentam a produção de propionato no rúmen, os quais, por sua vez, levam

a deprimir a % de gordura no leite, há bastante relutância na sua aplicabilidade

para dietas de vacas em lactação. Porém, estes aditivos além de produzir estes

efeitos, podem também auxiliar na redução de problemas metabólicos, redução

na eliminação de metano produzido na fermentação ruminal, no aumento da

passagem de aminoácidos para o intestino e melhoras nos aspectos

23

reprodutivos. A principal conseqüência final deste balanço entre aspectos

positivos e negativos provoca um saldo que normalmente resultado em

incrementos na produção diária de leite.

Em uma reunião de experimentos feita por McGuffey et al. (2001) é

possível verificar claramente este efeito positivo na atividade produtiva dos

animais (Tab. 6).

Tabela 6 - Efeitos da monensina sódica no desempenho de vacas em

lactação

Pode-se verificar na Tab. 6 um aumento significativo na produção leiteira

(PL em kg/dia) de 27,5 para 28,8 (+1,3). Todavia houve decréscimo na % de

gordura no leite de 3,98 para 3,78, porém sem prejudicar a produção deste

nutriente diariamente. A pequena redução na % de proteína foi compensada

pela PL resultando em efeito inverso sobre a quantidade diária produzida

(0,846 – 0,872, respectivamente para Controle e Monensina). O CMS também

não foi prejudicado, mostrando o efeito positivo que a monensina causa sobre

a fermentação ruminal e conseqüentemente sobre o desempenho.

Mutsvangwa, et al. (2002) realizaram um experimento avaliando a

utilização da monensina sódica (22 mg/kg de MS ingerida) em situação

induzida de acidose sub-clínica por 10 dias (22-32 dias de lactação) e período

de recuperação posterior (32-42 dias). O trabalho foi conduzido em “crossover”

utilizando-se 6 vacas holandesas multíparas com média 667kg PV. Os

resultados estão apresentados nas Tab. 7 e 8.

24

Tabela 7 - Consumo de matéria seca (CMS), produção de leite (PL) e sua

composição em vacas holandesas lactantes recebendo dietas com

monensina sódica em acidose subclínica induzida.

Pode-se observar na Tab. 7 houve aumento do CMS, PL, produção de

proteína e lactose e redução na % de gordura no leite. Estes resultados

comprovam a eficácia da monensina sódica em situações mais desafiantes de

acidose ruminal, como as induzidas neste trabalho. As respostas no CMS e PL

tenderam a aumentar no período de recuperação como apresentado na Tab. 8.

25

Tabela 8 - Consumo de matéria seca (CMS), produção de leite (PL) e sua

composição em vacas holandesas lactantes recebendo dietas com

monensina sódica no período de recuperação após indução de acidose

subclínica

No período de recuperação da acidose anteriormente induzida aos

animais houve um elevado contraste entre o CMS, PL, uréia no leite, produção

de proteína e lactose (Tab. 8). Segundo Mutsvangwa, et al. (2002) este

aumento nos índices de desempenho são respostas do maior CMS que

proporciona maior quantidade de Energia Líquida disponível para elevar a

produção de leite dos animais.

Portanto o uso de monensina sódica para vacas em lactação pode trazer

mais benefícios que malefícios ao sistema de produção, justificando seu uso

para estes animais, principalmente para aqueles de maior padrão genético.

Porém, quando a monensina foi utilizada com vacas mestiças de menor

produção (EIFERT et al., 2005) não houve resposta na PL com ligeira redução

no CMS.

Na prática recomenda-se utilizar quantidades menores de monensina

para vacas de média a baixa produção (100 a 200 mg/dia) e quantidades

26

maiores para alta lactação (200 a 300 mg/dia). Em geral, no Brasil, não se

recomendam quantidades superiores a 300 mg/dia de monensina por evitar

interferências no CMS que possam deprimir a PL.

3.3 - Lasalocida sódica

A lasalocida sódica é um ionóforo que assim como a monensina, age

reduzindo o crescimento de bactérias Gram-positivas através de um gasto

energético (ATP) excessivo provocado pela troca constante de íons na

membrana celular. Todavia, a monensina possui grande afinidade com o Na+,

K+ e H

+, enquanto que a lasalocida apresenta mais afinidade com Ca

++ e Mg

++

(ONOFRI e GRAÇA, 2005).

Existem várias evidências que a lasalocida apresenta melhor

aceitabilidade aos animais comparada com a monensina (ZINN, 1987;

ERICKSON, et al. 2004).

ALPHARMA (2002) apresenta uma reunião de estudos mostrando os

níveis de toxicidade da monensina sódica e lasalocida para três espécies

animais. Os resultados estão na Tab. 9.

Tabela 9. Níveis de toxicidade de monensina sódica e lasalocida em três

diferentes espécies animais

Pode-se observar na Tab. 9 que em geral os níveis máximos de

fornecimento da monensina são mais estreitos que os da lasalocida. Merece

destaque a quantidade potencialmente tóxica da monensina para eqüinos,

indicando que este ionóforo, mesmo em pequenas quantidades é

extremamente tóxico para esta espécie animal, fato que não ocorre com a

lasalocida.

27

Outro fator que diferencia a lasalocida da monensina é o tempo

necessário para adaptação. ALPHARMA (2002) cita que a monensina

necessita de adapatação enquanto que a lasalocida não necessita.

Esta característica ficou evidenciada no trabalho realizado por Delfino et

al. (1988), onde foram utilizados 20 animais para cada um dos 5 tratamentos:

Controle – sem ionóforo; Monensina – 33 mg/kg MS; Lasalocida em 3 níveis

(24,36,54 mg/kg MS, respectivamente para Las1, Las2 e Las 3). Os resultados

para Ganho de Peso Diário (GPD) estão apresentados no Gráf. 1.

Pode-se observar no Gráf. 1 que o Las 3 (54 mg/kg MS) apresentou uma

acentuada elevação nos ganhos de peso logo nos primeiro 28 dias de

avaliação, caracterizando um aditivo que possui ação rápida no desempenho

sem necessidade de adaptação. Enquanto isso, a monensina apresentou uma

elevação nos ganhos (1,32kg/dia) em relação ao tratamento controle, mas

ainda menor que Las 3 (1,46kg/dia).

No experimento de Delfino et al. (1988) a conversão alimentar para

lasalocida (6,4; 6,2 e 6,2; respectivamente para Las1, 2 e 3) foi semelhante em

relação à monensina sódica (6,5 kgMS/kgPV), porém menor que o controle (6,9

kgMS/kgPV).

28

A melhor adaptação dos animais à lasalocida pode influenciar no

sistema produtivo como um todo, acelerando o crescimento dos mesmos com o

intuito de reduzir a idade ao abate.

Os resultados para animais em confinamento são inconstantes, existindo

experimentos que demonstram menores ganhos de peso para lasalocida em

relação a monensina (Clary, et al., 1993). Estes experimentos devem ser

analisados com cuidado, pois as situações em que foram realizados podem

explicar, quase sempre, as variações dos resultados. No caso de Clary, et al.

(1993), o maior ganho para monensina pode ser explicado pela composição do

concentrado e sua proporção na dieta total (90%).

29

Tabela 10 - Desempenho de animais cruzados Zebu X Chianina, em

Brachiaria decumbens, durante 112 dias, com ou sem adição de

lasalocida

Observa-se na Tab. 10 que houve maior GPD para o suplemento que

utilizou lasalocida como aditivo, mostrando que mesmo em condições de

pastejo a lasalocida possui efeito benéfico ao desempenho dos animais.

Para bovinos leiteiros em lactação, McGuffey et al. (2001) encontrou menor

resposta da lasalocida em relação ao tratamento controle, sobre o desempenho

dos animais. Uma reunião de 6 experimentos analisados por estes autores

mostraram produções de leite inalteradas (28,7 e 28,3 kg/dia, respectivamente

para Controle e Lasalocida) e consumos de matéria seca semelhantes (19,4 e

18,6 kg/dia).

Na prática a lasalocida sódica é recomendada em níveis semelhantes as

da monensina sódica, variando de 100-300mg/cab./dia.

3.4 - Antibióticos não ionóforos

Os antibióticos que não apresentam característica ionófora também

podem ser utilizados como promotores de eficiência alimentar. Entretanto, seus

princípios de ação podem variar de acordo com suas características

bioquímicas. A Tab. 11 apresenta uma relação de vários antibióticos

comumente utilizados na alimentação animal e suas respectivas características

intrínsecas.

30

Observa-se (Tab. 11) a existência de alguns antibióticos que agem tanto

em bactérias Gram-positivas quanto negativas. Participam desta listagem os

aditivos do grupo das tetraciclinas (Clorotetraciclina e Oxitetraciclina) que por

não apresentarem seletividade de ação apresentam menor efeito na

diferenciação da resposta ruminal. Por isso estes antibióticos geralmente não

são utilizados como melhoradores da eficiência energético-ruminal.

Tabela 11. Características de antibióticos não ionóforos utilizados na

alimentação de ruminantes

Dentre os antibióticos utilizados como aditivos alimentares para

ruminantes, os menos problemáticos geralmente são aqueles com baixa

absorção pelo epitélio intestinal, devido à menor concentração de resíduos nos

31

alimentos (carne e leite) e ao menor período de carência para o abate

(MANTOVANI, et al., 2006).

Todavia, apesar de apresentar absorção intestinal, atualmente no Brasil,

a Virginiamicina é o antibiótico não ionóforo mais utilizado como promotor de

eficiência alimentar para ruminantes devido a sua eficácia no controle dos

padrões ruminais.

3.4.1 - Virginiamicina

A Virginiamicina, um produto da fermentação da Streptomyces virginiae,

é formada pela mistura de dois subfatores (M e S) que possuem ação anti-

microbiana sinérgica. É um antibiótico que age seletivamente em bactérias

Gram-positivas, penetra na parede celular da célula, alcança as regiões onde

os ribossomos estão realizando a síntese protéica, liga-se à sub-unidade 50S

desta organela e bloqueia a formação das proteínas, inibindo a ligação dos

peptídeos. O fator S potencializa a atividade do fator M e a junção dos dois

desfaz o processo metabólico dentro da célula, resultando no efeito bactericida

(ROGERS et al., 1995; NAGARAJA, 1997).

Segundo Rogers et al. (1995) a Virginiamicina é um aditivo alimentar que

ajuda a estabilizar a fermentação ruminal diminuindo as variações de ingestão

de MS. Portanto, este antibiótico auxilia muito na adaptação dos animais às

dietas de alto grão, não permitindo que estes desacelerem o ganho de peso

durante o período inicial do confinamento.

O efeito sobre o padrão ruminal é semelhante aos ionóforos reduzindo a

produção de metano e ácido lático, elevando o propionato e diminuindo a

degradação protéica. Sendo assim, auxilia na prevenção de acidoses, ruminites

e formação de abscessos hepáticos. Este último ocorre por possuir ação sobre

a Fusobacterium necrophorum, agente causador desta doença (Coe et al.,

1999).

Rogers et al. (1995) realizaram um estudo de 7 experimentos com

aproximadamente 3100 novilhos e novilhas, em confinamento, avaliando a

inclusão de diferentes doses de Virginiamicina. O CMS não sofreu alteração

entre Controle e os demais tratamentos. O GMD está apresentado no Gráf. 2.

32

Pode-se observar no Gráf. 2 que o GMD se elevou de forma linear até

27,6 mg/kg MS. Isto ocorreu sem alterar o consumo de matéria seca, refletindo

portanto na conversão alimentar (CA). O Gráf. 3 apresenta os dados de CA.

33

O Gráf. 3. demonstra que a CA declinou até níveis próximos de 19,3

mg/kgMS de Virginiamicina, se mantendo até a dosagem seguinte.

Os experimentos estudados por Rogers et al. (1995) revelam que os

níveis mais adequados para se utilizar a Virginiamicina estão entre 19,3 e 27,6

mg/kgMS, doses estas que apresentaram redução acentuada no aparecimento

de abscessos hepáticos (Gráf. 4).

Considerando bovinos de corte a pasto, Nicodemo (2001) relatou dois

experimentos realizados por Lucas e Sobrinho (1989) e Lucas (1989) onde

foram utilizados suplementos que forneceram 113 e 105 mg de

Virginiamicina/animal/dia, respectivamente. Estes trabalhos encontraram

elevação nos ganhos de 10 a 30% quando este ionóforo foi utilizado no

suplemento dos animais em pastejo (P. maximum CV Tobiatã e B. decumbens,

respectivamente). No primeiro experimento o ganho se elevou de 727 para

805g/animal/dia, para novilhos mestiços castrados e o segundo o GMD

aumentou de 497 para 646g/cab/dia. Estes experimentos mostram que mesmo

utilizando a Virginiamicina para animais recebendo dietas ricas em volumosos

(pastagem), ocorre aumento da eficiência alimentar com reflexo no ganho de

peso dos animais.

34

Atualmente no Brasil a Virginiamicina não é muito utilizado como aditivo

para bovinos leiteiros em lactação, porém Clayton et al. (1999) estudaram sua

utilização (30 mg/kgMS) para 71 vacas lactantes em pastejo. Estes autores não

encontraram diferenças na produção de gordura, proteína, lactose e consumo

de matéria seca. Todavia, houve tendência de aumento na produção (P=0,089)

em relação ao tratamento controle. Estas variações podem ser observadas no

Gráf. 6. que apresenta a lactação das vacas estudadas.

É possível observar que o uso da Virginiamicina aparentemente afetou a

lactação da vacas estudadas em certos momentos das lactações. Houve maior

produção para os tratamentos com este ionóforo, principalmente no ápice da

curva de lactação, onde essas vacas receberam maiores quantidades de

concentrado. Porém, quando as médias de produções decaíram com o passar

do tempo, este efeito diferencial não ficou tão evidenciado.

Na prática recomenda-se o uso de 150 a 300 mg/cab./dia de Virginiamicina

para bovinos de corte em confinamento, 100 mg para gado de corte a pasto e

35

250 a 400 mg para bovinos de leite em lactação, dependendo da produção de

leite.

3.5 - Promotores de Eficiência Alimentar Biológicos

A fim de aumentar a eficiência no aproveitamento energético das dietas

para ruminantes, técnicos têm recomendado a utilização dos ionóforos

supracitados que funcionam como “selecionadores” de microorganismos

ruminais tornando o meio mais eficiente em produzir energia. Porém, tais

aditivos vêem sendo abolidos das rações de animais que servem ao mercado

internacional, segundo exigências impostas pelos mesmos, apesar do Brasil e

outros países (EUA) ainda não atenderem tal exigência em sua legislação

corrente. A justificativa dos países compradores (UE) de carne são que o

mercado consumidor destas localidades tendem a rejeitar a carne que possa

conter resíduos de aditivos químicos, fazendo valer a chamada segurança

alimentar.

Para contornar estas limitações cresce o interesse científico mundial em

pesquisar alternativas que produzam os mesmos resultados sem deixar

resíduos químicos. As formas naturais de provocar estes efeitos nos padrões

ruminais incluem adições de cepas de leveduras ativas (vivas) e bactérias

benéficas ao ecossistema do rúmen.

Quanto às leveduras (Saccharomyces cerevisae) utilizam-se atualmente

cepas especialmente selecionadas, desidratadas que apresentem o maior

efeito ruminal possível. Um grande exemplo é a cepa 1026 que efetivamente

reduzem as perdas energéticas no rúmen e, conseqüentemente, melhoram o

ganho de peso dos animais.

3.5.1 - As leveduras ativas

As Saccharomyces cerevisae cepa 1026 são leveduras viáveis as quais

compõe o produto Yea-Sacc®1026

. Estes microorganismos não são

normalmente encontrados no ambiente ruminal, mas estudos mostram que eles

podem proporcionar efeito altamente benéfico a tal ecossistema se

36

suplementados junto à dieta diariamente. Segundo Ingledew e Jones (1982)

esta espécie de levedura é metabolicamente ativa no fluido ruminal por mais de

6 horas.

Enquanto ativas, elas favorecem indiretamente o crescimento das

bactérias que digerem fibras (bactérias celulolíticas). Um aumento na

população destas bactérias poderia provocar melhoria no aproveitamento de

alimentos fibrosos (volumoso) e conseqüentemente, um aumento nos índices

produtivos (NAGARAJA et. al., 1997). Isto ocorre principalmente devido ao

efeito que estas leveduras causam no pH ruminal, fazendo com que este se

mantenha em padrões adequados ao crescimento das bactérias celulolíticas (≥

6,0), mesmo quando alimentos altamente energéticos são adicionados à dieta.

A Saccharomyces cerevisae é capaz de estimular o crescimento de bactérias

(Selenomonas ruminantium) que consomem o ácido lático produzido pelas

bactérias amilolíticas (que utilizam o amido) convertendo-o em AGV´s, fontes

de energia (MARTIN e STREETER, 1995).

Um aumento no crescimento das bactérias celulolíticas proporcionaria não

só elevação no aproveitamento da fibra, mas como também, maximização das

taxas de produção de ácidos graxos voláteis no rúmen, disponibilizando mais

energia ao ruminante hospedeiro (NAGARAJA et. al., 1997).

Outra conseqüência do crescimento das bactérias celulolíticas seria no

consumo de amônia livre no rúmen, utilizando-a no processo de síntese

microbiana, considerando que essas bactérias são altamente dependentes

desta molécula à sua multiplicação (GÜRTLER, 1987).

Smink e Fitie (2007) realizaram um experimento in-vitro onde avaliaram a

inclusão ou não de leveduras ativas em substratos de líquido ruminal + dieta

(50% Volumoso – 50% Concentrado). Foi obtida redução significativa do

metano, além de elevação nas quantidades de AGV’s como um todo. Estes

resultados mostram a capacidade destas leveduras em modificar os padrões

ruminais em benefício do ganho energético obtido no meio.

Outro efeito causado pelas leveduras seria o consumo de oxigênio

eventualmente presente no rúmen. As bactérias ruminais são, em sua maioria,

anaeróbicas estritas e portanto não toleram a presença de oxigênio. Newbold

et al. (1993) mediram a ingestão de oxigênio e obtiveram índice entre 60 e 100

nmol/min/mL, indicando existência permanente, mas não constante, de

37

oxigênio dissolvido no conteúdo ruminal. Segundo Arcuri et al. (2006) leveduras

também são anaeróbicas facultativas, com elevada capacidade respiratória

(200 a 300 nmol/min/g). No experimento de Newbold et al. (1993) foi

encontrado redução de 46 a 89% do oxigênio ruminal quando havia adição de

levedura. Este aspecto leva crer num aumento das populações de bactérias

anaeróbicas estritas, beneficiando o ambiente ruminal.

Gurita (2007) desenvolveu um trabalho utilizando bovinos de corte

alimentados com dois tipos de dietas (52% Volumoso/48% Concentrado – P1;

e posteriormente, 25% Volumoso/75% Concentrado – P2) com ou sem

leveduras. Em ambos os experimentos foram encontrados maiores ganhos de

peso para o tratamento com levedura ativa, sendo que em P1 o ganho se

elevou de 1,195 para 1,380 e em P2 de 1,100 para 1,448 kg/animal/dia.

Segundo o autor essas expressivas diferenças de ganho ocorreram devido às

maiores produções de AGV’s obtidas, assim como melhorias nos padrões

ruminais que definem a funcionalidade dos microorganismos, aumentando o

consumo de MS e conseqüentemente o ganho de peso.

Em bovinos leiteiros Steingass et al. (2007) também observaram

melhorias na produção quando utilizaram leveduras vivas nas dietas de 45

vacas Holstein Friesian. Os índices se elevaram de 34,6 para 36 kg/vaca/dia.

Portanto, os mesmos efeitos causados em bovinos de corte podem afetar

bovinos de leite melhorando o desempenho.

A recomendação de inclusão da levedura irá depender da concentração

da mesma assim como da cepa utilizada. É importante salientar que este último

fator é de grande importância e é ele que determina a funcionalidade da

levedura. A cepa 1026 é a mais utilizada em todo o mundo para este fim e por

isso imprime confiança em quem a usa. Atualmente existem muitas empresas

que comercializam leveduras, porém nem todas apresentam a idoneidade

necessária para garantir resultados.

3.5.2 - Os probióticos bacterianos

Os probióticos (do grego ‘pró-vida’) são culturas vivas de

microorganismos (geralmente bactérias láticas) que favorecem o equilíbrio

ecológico da microbiota ruminal e intestinal, promovendo efeitos benéficos à

38

saúde e crescimento animal (MANTOVANI, 2006). Segundo Arcuri et al. (2006)

a definição mais aceita descreve o probiótico como “um suplemento alimentar à

base de micróbios vivos que beneficia o animal hospedeiro pela melhoria do

seu balanço microbiano do meio em questão”.

Os benefícios diretos e indiretos obtidos pela adição de probióticos nas

dietas dos bovinos podem apresentar-se como: promoção do crescimento

animal; melhoria na conversão alimentar; maior absorção de nutrientes pelo

controle da diferenciação e proliferação das células epiteliais; neutralização de

fatores antinutricionais; melhoria no metabolismo de carboidratos, cálcio e

síntese de vitaminas; produção de enzimas microbianas para compensar

atividades deficientes de enzimas do hospedeiro; eliminação ou controle de

microorganismos patogênicos causadores de doenças subclínicas ou clínicas;

e estímulo de imunidade específica ou não-específica no intestino (ACURI et

al., 2006).

De um modo geral o princípio de ação de um probiótico bacteriano está

relacionado ao princípio da competição por alimentos em um determinado

meio. É possível portanto controlar o meio ruminal por adição de populações

específicas de bactérias que são benéficas aos padrões ruminais.

Bactérias como a Lactobacillus acidophilus reduzem a proteólise no

rúmen e produzem ácido lático no intestino, diminuindo populações de

bactérias patogênicas. A Megasphaera elsdenii é um microorganismo

consumidor de ácido lático e, portanto, sua adição ajuda a reduzir o acúmulo

de composto no rúmen, controlando o pH do meio. (NAGARAJA, 1997; IMEVE,

2003).

IMEVE (2003) relaciona 6 espécies bacterianas essências tanto à saúde

do rúmen quanto intestinos e que possuem grande funcionalidade quando

adicionadas aos alimentos. Suas características estão apresentadas na Tab.

16.

Observa-se na Tab. 12 que todas as bactérias destinadas ao rúmen são

Gram-, pois estas melhoram o aproveitamento energético do meio, como

descrito anteriormente. Quando ocorre aumento da população destas

bactérias, elas tendem a dominar sobre as outras, restringindo o crescimento

de bactérias Gram+ (menor aproveitamento energético). Com o aumento da

população de bactérias Gram-, o meio ruminal produz maiores quantidades de

39

AGV’s, disponibilizando mais energia ao bovino, o que reflete positivamente no

desempenho animal.

IMEVE (2003) recomenda fornecer 600 milhões de Unidades Formadoras

de Colônias (UFC) por animal por dia de Ruminobacter amylophilum e

Ruminobacter succinogenes; 880 milhões UFC/animal/dia de Succinovibrio

dextrinosolvens; e 700 milhões UFC de Bacillus cereus, Lactobacillus

acidophilus e Streptococcus faecium, totalizando 4,18 trilhões UFC/animal/dia.

Para bezerros rejeitados pelas fêmeas durante o aleitamento (guachos)

recomenda-se dobrar a dosagem.

Tabela 12 - Relação de bactérias utilizadas como probióticos e suas

características funcionais

Alberti, et al. (1985) trabalhando com novilhas nelore a pasto (B.

decumbens), recebendo suplementos minerais sem ou com probiótico em três

40

níveis, registrou aumento significativo no ganho de peso (0,303-0,692

kg/animal/dia).

Almeida, et al. (1985) avaliando misturas minerais com ou sem

probiótico fornecidas a novilhos cruzados observaram aumento nos ganhos de

peso diários de 0,429 para 0,552 kg/animal/dia.

Portanto, o uso de probióticos melhora os ganhos de peso em animais

de corte, por aumentar o aproveitamento dos alimentos ingeridos e digeridos

no rúmen.

Na prática pode-se observar que a associação de aditivos como

probióticos e leveduras ativas causa maiores benefícios ao sistema, pois além

de melhorar a saúde do sistema gastrointestinal, potencializa ainda mais o

aproveitamento dos alimentos ingeridos.

41

4 – REFERENCIAS

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