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  • 8/9/2019 Homilia de D. Antnio Vitalino, na Missa da Viglia da Peregrinao internacional dos Migrantes a Ftima

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    HOMILIA DE D. ANTNIO VITALINO, NA MISSA DA VIGLIA DAPEREGRINAO INTERNACIONAL DOS MIGRANTES A FTIMA

    1. Amados peregrinos, estamos aqui neste lugar sagrado da Cova da Iria, vindos de muitos pontosda terra, formando uma assembleia orante, convocada pela f e pela devoo a Maria, a Senhorade Ftima, a Me de Jesus e nossa Me tambm. Somos um povo em mobilidade, peregrino, procura da felicidade, de melhores condies de vida para ns e a nossa famlia, um povo que no

    resigna perante as dificuldades e a aridez de muitos ambientes, o desemprego e a falta deperspectiva de insero no mundo do trabalho.

    Viemos aqui agradecer, louvar e tambm pedir com toda a confiana, por intercesso de Maria, aMe de Jesus e nossa Me, aquela mesma que h 93 anosaqui apareceu aos 3 pastorinhos, emtempos bem difceis e de maior pobreza que hoje. poca de grandes conflitos na Europa, grassavaprecisamente no seu centro aquela que viria a denominar-se primeira grande guerra mundial. NossaSenhora confiou s crianas a receita da paz e de um mundo melhor: rezai, rezai o rosrio pela paze pela converso dos pecadores, para que deixem de ofender a Deus, que sofre com o pecado dosseus filhos.Viemos aqui confiantes na palavra de Deus, que acabmos de escutar atravs das leituras da MissaVotiva do Esprito Santo. Acreditamos que Deus nos ama e por isso quer infundir em ns o seuEsprito, para que tenhamos a vida em abundncia, para que ressuscitemos duma vida segundo acarne, que nos leva ruina, nos transforma em esqueletos ressequidos, sem alma, sem amor, parauma vida segundo o Evangelho de Jesus Cristo, Boa Nova para um mundo novo. Estamosconscientes de que sem o Esprito de Deus, entregues a ns mesmos, s nossas ideologias, aoegosmo de grupos sem escrpulos e sem moral, no conseguiremos superar as crises do nossotempo, cujas causas profundas comeam a ser cada vez mais conhecidas: por um lado aingenuidade de nos fazerem acreditar num progresso material ilimitado, empurrando-nos para umconsumo desenfreado, e, por outro, a avidez do lucro sem tica por parte dos grandes gruposeconmicos. Precisamos de nos deixar curar pelo Esprito de Deus, elemento essencial da BoaNova de Jesus e bem presente na Mensagem de Ftima: converso, orao e penitncia. 2. Carssimos peregrinos, hoje o Esprito Santo fala-nos e actua na vida da Igreja na pessoadaqueles que so chamados a ser seus pastores. Nesta peregrinao dos migrantes e dosrefugiados fala-nos atravs do sucessor de Pedro, o Santo Padre, que escreveu uma mensagemmuito oportuna para a celebrao deste ano, na qual chama a ateno para os menores envolvidosno fenmeno das migraes e tantas vezes vtimas da explorao de pessoas sem escrpulos, sejaa nvel sexual, laboral, trfico de rgos, etc.Na sua mensagem o Santo Padre alerta para fenmenos contraditrios a este respeito: enquantoaumenta na opinio pblica a conscincia da necessidade de uma aco pontual e incisiva em prolda proteco dos menores, de facto, muitos so abandonados e, de vrios modos, encontram-se emperigo de explorao.

    Formulo votos de corao, diz o Papa, para que se reserve a justa ateno aos migrantes menores,necessitados de um ambiente social que permita e favorea o seu desenvolvimento fsico, cultural,espiritual e moral. Viver num pas estrangeiro, sem pontos de referncia efectivos, cria-lhes,especialmente queles que esto desprovidos do apoio da famlia, inmeros e por vezes gravesincmodos e dificuldades. Um aspecto tpico da migrao de menores constitudo pela situaodos jovens nascidos nos pases receptores, ou ento por aqueles que no vivem com os paisemigrados depois do seu nascimento, mas que se renem a eles apenas na altura das frias. Estesadolescentes fazem parte de duas culturas, com as vantagens e os constrangimentos ligados suadplice pertena, condio esta que todavia pode oferecer a oportunidade de experimentar ariqueza do encontro entre diferentes tradies culturais. importante que lhes seja oferecida apossibilidade da frequncia escolar com aprendizagem da lngua e da cultura do pas de origem edo pas de acolhimento, ao mesmo tempo que se vo inserindo progressivamente no mundo dotrabalho e integrando na co-responsabilizao pelo bem comum do pas em que residem. Nuncanos esqueamos que a infncia e adolescncia so etapas fundamentais para a formao do ser humano e para a construo de uma sociedade integrada e coesa. Se no tivermos isto em conta,poderemos ser surpreendidos pela exploso de conflitos a partir destes jovens marginalizados.

    3. Continuamos a ser um pas de emigrantes e, se no o fssemos, o nmero de desempregadosseria muito superior ao publicado nas estatsticas. Mas somos tambm um pas de imigrantes. AEuropa atrai os pobres do hemisfrio sul, mas tambm de alguns pases asiticos e da Amricacentral. Graas a eles muitos europeus conseguem manter o seu bem estar. Sem eles, maisprodues agrcolas seriam abandonadas e certos servios deixariam de funcionar. Connosco eles

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    querem contribuir para a transformao das terras desertas e secas em terras povoadas e frteis . Areduo da natalidade entre ns deixou muitas aldeias desertas e muitos sectores da vida social elaboral sem as foras activas necessrias. Sofremos com os fogos que devoram as nossas matas,mas pouco fazemos para as limpar e reordenar; h doentes espera de uma companhia amiga, quelhes d consolao e ajuda na sua debilidade; h herdades por cultivar e culturas a apodrecer noscampos por falta de mo-de-obra para esses trabalhos que os nossos jovens j no procuram.Sejamos acolhedores e hospitaleiros e no faamos aos outros aquilo que no gostamos que nosfizessem a ns, mesmo que isso tenha acontecido. Mas no s por motivos de ordem econmicaque devemos acolher os imigrantes, mas sim por que so pessoas humanas como ns, com direitose deveres, so o nosso prximo, a quem os mandamentos de Deus nos mandam amar, como aDeus e a ns mesmos.

    Manifestando a nossa solidariedade com todos os que sofrem, no devemos esquecer que adignidade da pessoa humana est acima de qualquer preo. No se vende nem se compra. emtempo de crise que se demonstra aquilo que somos, ou amigos e irmos, solidrios nas alegriase tristezas, na abundncia e na penria, ou ento inimigos e adversrios, carrascos e semhumanidade, pensando que o bem de todos impossibilita o nosso. 4. Amados peregrinos, a histria da humanidade mostra-nos muito sofrimento causado pelo prpriohomem, pelo pecado do homem, mas tambm nos aponta muitas tentativas de ajuda para mudanade rumo, para que no aceitemos o mal como uma fatalidade. Dentro da prpria Igreja, nas nossascomunidades crists, h desavenas, invejas e rupturas. Ao longo dos sculos muitas feridas foramficando abertas e esperam pela nossa medicina para cicatrizar.

    Olhando para Jesus Cristo e Maria, vemos neles a aurora da vitria do bem. Aqui em Ftimaestamos mais sensveis a esta mensagem, que Nossa Senhora repetiu de novo neste lugar h 93anos e nos transmitiu atravs da linguagem simples dos trs pastorinhos: convertei-vos, fazei

    penitncia, rezai pela converso dos pecadores, deixem de ofender a Nosso Senhor, rezai orosrio ento haver paz, acabar a guerra, a Rssia converter-se- Continua a ser urgente aescuta deste apelo. Muitos continuam a chafurdar no pecado e at exigem a proteco da lei paraas suas atitudes criminosas, egostas, para a sua cultura do pecado e da morte. As guerras e asameaas de novas guerras no so apenas do passado e do presente, mas continuaro a ser umarealidade no futuro, se no nos convencermos todos que o testemunho da vida de Jesus e apromessa do seu Esprito so os meios mais poderosos para encontrarmos o rumo da salvaopessoal e do mundo.

    5. Irmos peregrinos, Jesus Cristo chama-nos, interpela-nos, mas tambm nos acompanha e estconnosco aqui, agora e sempre. Nesta celebrao peamos-Lhe que fortalea a nossa esperana eo nosso empenho por um mundo melhor; que envie sobre ns o seu Esprito, para que dos nossoscoraes corram rios de gua viva, que limpem e purifiquem as guas chocas e conspurcadas domundo mergulhado no pecado. Com Cristo, radicados nEle e em unio uns com os outros, bispos,padres, consagrados, pais, filhos, jovens e adultos, seremos uma fora, que nenhuma dificuldadefar recuar no compromisso de seguir Jesus, como dir S. Paulo na continuao do trecho da cartaaos Romanos, que foi proclamado como segunda leitura desta Missa Votiva do Esprito Santo.

    Abramos o corao a Maria, para partirmos daqui com o desejo de viver em profunda comunho desolidariedade com as crianas, os migrantes. Alegremo-nos com os que vm de frias s nossasterras e partilhemos com eles um pouco do nosso tempo. Enriqueamo-nos mutuamente,informando-nos das situaes e condies de vida, c e l.

    Aqui estamos, Senhora de Ftima. Fazei de ns vossos mensageiros . De Vs queremosaprender a abertura e disponibilidade para acolher o Esprito Santo, que Vosso Filho nos prometeu e

    que fez de Vs a Me fecunda, a cheia de graa. Mais conscientes do Vosso papel de Me da Igrejae auxlio dos cristos, a Vs recorremos com as palavras da orao da Igreja e parte do rosrio, quepedistes para rezarmos todos os dias: Santa Maria, Me de Deus, rogai por ns, pecadores, agora ena hora da nossa morte. men!

    D. Antnio Vitalino, Bispo de Beja e Presidente da Comisso Episcopal da Mobilidade Humana(CEMH)