estudo de interação bioquímica da metaloproteases de

60
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE FARMÁCIA NILTON JOSÉ DA SILVA JÚNIOR Estudo de interação bioquímica da metaloproteases de Leishmania spp. e Trypanosoma cruzi com substratos proteicos NATAL/RN FEVEREIRO, 2021

Upload: others

Post on 20-Oct-2021

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE FARMÁCIA

NILTON JOSÉ DA SILVA JÚNIOR

Estudo de interação bioquímica da metaloproteases de

Leishmania spp. e Trypanosoma cruzi com substratos proteicos

NATAL/RN

FEVEREIRO, 2021

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE FARMÁCIA

NILTON JOSÉ DA SILVA JÚNIOR

Estudo de interação bioquímica da metaloproteases de

Leishmania spp. e Trypanosoma cruzi com substratos proteicos

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de

Graduação em Farmácia da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte como requisito parcial à obtenção do título

de Bacharel em Farmácia.

Orientador: Prof. Doutor Marcelo Sousa Silva

Co-orientadora: Dra. Cláudia Gonçalves Moreno

NATAL/RN

FEVEREIRO, 2021

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS

Silva Júnior, Nilton Jose da.

Estudo de interação bioquímica da metaloproteases de Leishmania spp. e Trypanosoma cruzi com substratos proteicos /

Nilton Jose da Silva Júnior. - 2021. 59f.: il.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de

Ciências da Saúde, Departamento de Farmácia. Orientador: Marcelo Sousa Silva.

Coorientador: Cláudia Gonçalves Moreno.

1. Tripanossomose - TCC. 2. Metaloproteases - TCC. 3. Gp63 -

TCC. 4. Trypanosoma cruzi - TCC. 5. Leishmania spp. - TCC. 6.

Albumina - TCC. I. Silva, Marcelo Sousa. II. Moreno, Cláudia

Gonçalves. III. Título.

RN/UF/BS-CCS CDU 616.937

Elaborado por ANA CRISTINA DA SILVA LOPES - CRB-15/263

NILTON JOSÉ DA SILVA JÚNIOR

Estudo de interação bioquímica da metaloproteases de

Leishmania spp. e Trypanosoma cruzi com substratos proteicos

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de

Graduação em Farmácia da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte como requisito parcial à obtenção do título

de Bacharel em Farmácia.

BANCA EXAMINADORA:

Prof. Dr. Marcelo Sousa Silva – Orientador

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Prof. – Membro da banca

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Prof. – Membro da banca

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Conceito:

APROVADO EM: / /

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço à Deus pela proteção e força nos momentos difíceis e firmes, e

por me proporcionar a experiência de estudar na Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

local onde tive grande aprendizado como pessoa e futuro profissional.

Obrigado aos meus pais e familiares pelo constante carinho, apoio e estimulo ao estudo,

em especial às minhas tias, irmãos e primos.

Obrigado aos meus amigos que me proporcionaram momentos de descontração e conselhos

no decorrer da construção desse trabalho, em especial Mathews pela ajuda durante a criação desse

projeto.

Obrigado para minha namorada Janaína pela preciosa ajuda na organização desse trabalho,

além de forças, afeto e conselhos no decorrer da construção desse trabalho.

Obrigado a todos os colegas do Laboratório de Imunoparasitologia que de alguma forma

contribuíram para conclusão desse trabalho.

Minha eterna gratidão a minha co-orientadora Cláudia pelas preciosas correções, sugestões

de escrita, amizade e companhia agradável. Agradeço por cada palavra que me serviram de

estimulo e inspiração.

Agradeço ao professor Marcelo, pela amizade e ensinamentos que foram essenciais para

minha formação. Obrigado a professora doutora Silvia e doutorando Johny que são exemplos de

profissionais e aceitaram participar da banca examinadora.

RESUMO

Os parasitas do grupo dos Tripanosomatídeos são responsáveis por importantes doenças

negligenciadas de importância humana e animal. Apesar de inúmeros estudos, a Leishmaniose e a

Doença de Chagas representam um importante problema de saúde pública, principalmente no

Brasil. Atualmente, não existe vacinas para o controle das doenças parasitárias humanas e ainda

existe uma grande necessidade de novos fármacos ou novas formulações dos fármacos, seguros,

com maior eficácia e menos tóxicos. As metaloproteases são moléculas de superfície, presente nos

tripanossomatídeos sendo fundamentais para interação parasita-hospedeiro, alterando a

homeostasia da matriz extracelular. Diante disso, o objetivo deste estudo é a caracterização da

atividade proteolítica de metaloproteases de Tripanosomatídeos de importância médica,

causadoras de doenças, tais como a Doença de Chagas e as leishmanioses frente a substratos. A

partir do cultivo axênico foram obtidos os extratos totais dos parasitas, do qual foi feito a

quantificação, selecionando extratos com as melhores concentrações. Foram avaliados os perfis

proteicos, bem como a atividade enzimática e atividade enzimática in vitro de diferentes extratos

brutos dos Tripanosomatídeos. Através de ensaios por SDS-PAGE foi observado clara distinção

entre os perfis dos parasitas. Através de ensaios de zimografia foi confirmado o perfil proteolítico

das proteínas do extrato bruto de Leishmania spp. sobre o substrato gelatina e albumina. Em

relação ao Trypanosoma cruzi, um padrão proteolítico semelhante com o descrito na literatura foi

encontrado para a cruzipaína. Essas proteases foram submetidas a ensaios de degradação frente a

substratos de albumina sérica, em diferentes intervalos de tempo, usando o método de SDS-PAGE,

onde foi possível verificar a afinidade o perfil de atividade proteolítica das espécies selecionadas

para esse estudo.

Palavras-chaves: Tripanossomatídeos; Metaloproteases; gp63; Gelatina; Albumina;

Zimografia.

ABSTRACT

Trypanosomatids parasites are responsible for neglected diseases in humans and with animal

importance. Despite numerous studies, Leishmaniasis and Chagas' disease represent an important

public health problem, especially in Brazil. Currently, there are no vaccines for the control of

human parasitic diseases of these diseases and there is still a great need for new drugs or new drug

formulations, which are safe, more effective, and less toxic. Metalloproteinases are surface

molecules, present in trypanosomatids and are fundamental for parasite-host interaction, changing

the homeostasis of the extracellular matrix. Therefore, the aim of this study is to characterize the

proteolytic activity of metalloproteases of trypanosomatids of medical importance, causing

diseases, such as Chagas' disease and leishmaniasis against substrates. From the axenic cultivation,

the total extracts of the parasites were chosen, from which the quantification was made, extracts

with the best ones were selected. Protein profiles, as well as enzymatic activity and enzymatic

activity in vitro of different crude extracts of the Trypanosomatids, were evaluated. In all assays

performed by SDS-PAGE, a clear distinction was observed between the parasite profiles. Through

zymography tests, the proteolytic profile of the proteins in the crude extract of Leishmania spp. on

the gelatin and albumin substrate. Regarding Trypanosoma cruzi, a proteolytic pattern similar to

that described in the literature was found for cruzipain. These proteases were subjected to

degradation tests against serum albumin substrates, at different time intervals, using the SDS-

PAGE method, where it was possible to verify the affinity of the proteolytic activity profile of the

species selected for this study.

Keywords: Trypanosomatids; Metalloproteinase; gp63; Albumin, Gelatin; Zymography;

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

cDNA - DNA complementar

CR1- Recetor do complemento 1

CR3 - Recetor do complemento 3

C3b - Componente 3b do sistema

complemento

DC – Doença de Chagas

DNA - Ácido desoxirribonucleico

DTN - Doenças Tropicais

Negligenciadas

DTU - Unidade discreta de tipagem

EDTA - Ácido etilenodiamino tetra-

acético

ELISA - Enzyme-Linked

Immunosorbent Assay

SFB – Soro fetal bovino

GPI - Glicosilfosfatidilinositol

gp63 - Glicoproteína de 63kDa

His – Histidina

iC3b - C3b inativado

IFI - Imunofluorescência indireta

IFN-𝛾 - Interferão gama

IgM - Imunoglobulina M

IL-12 - Interleucina-12

IL-4 – Interleucina-4

JAK- Cinase janus

LIT - Liver Infusion Tryptose

LPG – Lipofosfoglicano

LV – Leishmaniose visceral

MAPK - Cinase ativada por

mitogénios

MARCKS – Substrato de proteinase

C rico em alanina miristoilada

MMP – Metaloprotease de matriz de

mamífero

MHC - Complexo Principal de

Histocompatibilidade

MRP – Proteínas relacionadas com

MARCKS

MSP – Pincipal protease de

superfície

NK - Natural Killer

NO – Óxido nítrico

OMS - Organização Mundial de

Saúde

PBS – Tampão fosfato salino

PCR - Proteína c-reativa

PDB – Protein Data Bank

PKC – Substrato da proteína cinase

C

RNA - Ácido ribonucleico

RPMI - Roswell Park Memorial

Institute

SDS - Dodecil sulfato de sódio

Sh – Soro humano

STAT-1 - Transdutor de sinal e

ativador de transcrição-1

TEMED - tetrametiletilenodiamina

Th - T helper

TNF-α - Fator de necrose tumoral

alfa

12

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.Prevalência das Doenças Tropicais Negligenciadas por país. Adaptado de MAWSON,

2017. .............................................................................................................................................. 13

Figura 2.Ciclo Biológico Leishmania spp. (Autoria própria). ..................................................... 16

Figura 3.Ciclo Biológico de Trypanosoma cruzi (Autoria própria). ............................................ 17

Figura 4.Estrutura tridimensional da gp63. .................................................................................. 25

Figura 5. Eletroforese em gel de Poliacrilamida (SDS-PAGE) ................................................... 38

Figura 6.Curva padrão, utilizando a proteína Albumina sérica bovina (BSA) ............................ 41

Figura 7.Perfil proteico total dos extratos de Leishmania e as respectivas concentrações por poço,

em géis corados com azul de Coomassie.) .................................................................................... 42

Figura 8.Perfil proteico total dos extratos das cepas de Trypanosoma cruzi e as respectivas

concentrações por poço, em géis corados com azul de Coomassie.) ............................................ 43

Figura 9.Perfil enzimático, em gel de poliacrilamida acoplado com o susbstrato gelatina, na

presença de extratos de Leishmania spp e T. cruzi........................................................................ 44

Figura 10.Perfil enzimático, em gel de albumina, de extratos de Leishmania spp e T. cruzi ...... 46

Figura 11.Perfil de proteico, em gel de poliacrilamida (10%), de substrato Albumina sérica

(BSA) ............................................................................................................................................ 47

Figura 12.Perfil de degradação in vitro da albumina na presença do extrato bruto de Leishmania

spp. e T. cruzi, em gel de poliacrilamida durante 24 horas (A), 48 horas (B) e 72 horas (C). ...... 48

Figura 13.Perfil de degradação in vitro da albumina na presença do extrato bruto de Leishmania

spp. e T. cruzi, em gel de poliacrilamida durante 24 horas (D), 48 horas (E) e 72 horas (F)........ 49

Sumário

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 12

1.1. Doenças tropicais negligenciadas .................................................................... 12

1.2. Aspectos biológicos da Leishmanioses e Doença de Chagas .......................... 14

1.2.1. Leishmania spp. - morfologia do parasita, ciclo biológico......................... 14

1.2.2. Trypanosoma cruzi - morfologia do parasita, ciclo biológico .................... 16

1.3. Aspectos e aspectos clínicos da Leishmaniose e da Doença de Chagas ....... 19

1.4. Diagnóstico de Leishmaniose e da Doença de Chagas .................................... 20

1.5. Terapêutica atual da Leishmaniose e da Doença de Chagas ............................ 22

1.6. Metaloprotease de superfície de Leishmania spp. e Trypanosoma cruzi.........24

1.5.1. gp63 de Leishmania spp ............................................................................. 27

1.5.2. gp63 de Trypanosoma cruzi ....................................................................... 28

1.6. Principais metodologias utilizadas para a identificação de metaloprotease ..... 29

1.6.1. Zimografia para estudos biológicos ............................................................ 29

2. Justificativa .......................................................................................................... 32

3. OBJETIVOS ........................................................................................................ 33

3.1. Objetivo geral ................................................................................................... 33

3.2. Objetivos específicos ....................................................................................... 33

4. Materiais e Métodos ............................................................................................ 34

4.1. Substratos ......................................................................................................... 34

4.2. Leishmania spp. e Trypanosoma cruzi ............................................................. 34

4.3. Cultura axênico dos parasitas ........................................................................... 36

4.3.1. Cultura de Leishmania spp. ........................................................................ 36

4.3.2. Cultura de Trypanosoma cruzi ................................................................... 36

4.4. Preparação dos extratos .................................................................................... 36

4.5. Determinação da concentração proteica dos extratos brutos ........................... 37

4.6. Identificação das metaloproteinases dos extratos de Leishmania spp. e

Trypanosoma cruzi...................................................................................................................... 37

4.6.1. Caracterização do perfil proteico por SDS-PAGE ..................................... 37

4.6.2. Determinação da atividade enzimática por zimograma .............................. 39

4.7. Otimização e determinação da atividade proteolítica in vitro de extrato bruto de

Leishmania spp e T. cruzi................................................................................................ 39

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 41

5.1. Perfil proteico de Leishmania e T. cruzi .......................................................... 41

5.2. Atividade proteolítica de extratos Leishmania spp. e T. cruzi ......................... 44

5.3. Atividade proteolítica in vitro de extrato bruto de Leishmania spp. T. cruzi e

sobre o substrato de Albumina .................................................................................................... 47

6. CONCLUSÃO E PERSPECTIVAS .................................................................... 51

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 53

12

1. INTRODUÇÃO

1.1. Doenças tropicais negligenciadas

A Organização Mundial da Saúde (OMS) fundada, no século XX, mantém a atenção e o

compromisso diante da problemática causada pelas Doenças Tropicais Negligenciadas (DTN).

Solenizou-se, em 30 de janeiro de 2020, o Dia Mundial das Doenças Tropicais Negligenciadas,

onde foi relembrado as conquistas e reafirmado o compromisso de combate à essa problemática

(HOTEZ et al., 2020; MITRA; MAWSON, 2017).

As DTN são o conjunto de doenças causadas por agentes infecto-parasitários que

produzem importante dano físico, cognitivo e socioeconômico em homens, mulheres e crianças.

Estas doenças afetam principalmente, mas não exclusivamente, populações pobres de países

tropicais e subtropicais (Dias et al., 2013), com renda de US$ 1,90 por dia, segundo o Banco

Mundial (HOTEZ et al., 2020; MITRA; MAWSON, 2017).

Atualmente, a OMS identifica 20 condições como DTN distribuídas em 148 países, onde

muito desses países são endêmicos para mais de uma doença negligenciada, como por exemplo, o

Brasil (Fig.1). As mais prevalentes são as infecções por helmintos transmitidos pelo solo

(ascaridíase, infecção por ancilostomíase, tricuríase e estrongiloidíase), seguidas de filariose,

esquistossomose, sarna, leishmaniose, Doença de Chagas e dengue (Aguiar-Santos et al., 2013;

Hotez et al., 2020).

As DTN podem ser classificadas em três categorias, baseado na emergência, controle e

disponibilidade de medicamentos: (1) não está sob controle como a Dengue, Doença do Sono e

Leishmaniose; (2) estratégia de controle disponível como Esquistossomose e Tuberculose; (3) tem

estratégia de combate eficaz como a Hanseníase, Doença de Chagas e Filariose (MALAFAIA,

2009).

A figura 1 mostra a prevalência das DTN nos países, tendo grande impacto em locais

tropicais e subtropicais. O combate as DTN, embora urgente, revela-se uma tarefa difícil pela falta

de investimentos em projetos de desenvolvimento e pesquisa de novos fármacos. Dos 756

fármacos aprovados entre 2000 e 2011, apenas 29 foram destinados exclusivamente para as DTN,

correspondendo em 3,8% (DIAS et al., 2013). Isso mostra o grande desinteresse da indústria

farmacêutica diante dessa problemática.

13

As opções terapêuticas para as DTN, enfrentam outras limitações devido à baixa eficácia,

elevada toxicidade e surgimento de cepas resistentes, além do impacto no perfil de morbidade,

configurando o desafio a saúde pública dos países afetados (Aguiar-Santos et al., 2013; Dias et al.,

2013).

Figura 1.Prevalência das Doenças Tropicais Negligenciadas por país. Adaptado de MAWSON, 2017.

A ordem Kinetoplastida possui protozoários pertencentes à família Trypanosomatidae.

Essa família tem em comum protozoários que possuem junto ao corpo basal do flagelo, o ácido

desoxirribonucleico (DNA, DeoxyriboNucleic Acid) mitocondrial altamente condensado,

designado por cinetoplasto (LISBOA; AVEIRO, 2008; MA et al., 2011). Outro ponto em comum

é o fato de alguns gêneros pertencentes a esta família, Trypanosoma, Leishmania, terem um ciclo

heteroxênico, intercalando seu ciclo de vida entre hospedeiros invertebrados e vertebrados

(LISBOA; AVEIRO, 2008).

14

1.2. Aspectos biológicos da leishmanioses e Doença de Chagas

1.2.1. Leishmania spp. - morfologia do parasita e ciclo biológico

As leishmanioses agrupam um complexo infeccioso de doenças tropicais e subtropicais

causadas por diferentes espécies do parasito intracelular do gênero Leishmania, sendo transmitidas

ara humanos pela picada da fêmea do mosquito do gênero Phlebotomus e Lutzomyia, com

prevalência em países da Europa, Norte da África, Oriente Médio, Ásia e parte da América do Sul

(ARENAS et al., 2017). Leishmania são protozoários da ordem Kinetoplastida, pertencente à

família Tripanosomidae, do gênero Leishmania e subgênero Leishmania ou Viannia, sendo o

agente causador da leishmaniose (PINHEIRO; LUZ; FRANCO, 2008).

É uma doença endêmica em 98 países, sendo que 68 países endêmicos para leishmaniose

visceral e leishmaniose tegumentar, ocorrendo 700.000 a 1 milhão de novos casos anuais

(REBELLO et al., 2019). Ocorre de 50 a 90.000 novos casos anuais de leishmaniose visceral e

600.000 a 1 milhão de novos casos anuais de leishmaniose tegumentar, causando cerca de 70.000

mortes anuais (BURZA; CROFT; BOELAERT, 2018).

A OMS, caracteriza as leishmanioses ( tegumentar e visceral) como uma das sete doença

tropicais mais importantes, com ampla distribuição geográfica e espectro de manifestações clinicas

com desfecho geralmente fatal (ARENAS et al., 2017). As infecções por Leishmania spp têm

distribuição mundial e se limita às áreas de distribuição natural do mosquito flebotomíneo – inseto

vetor (SUNDAR S, 2002). As consequências da globalização como desmatamentos, urbanização

e as constantes migrações por diversos motivos, ajudaram a disseminar a doença e criar novos

reservatórios de Leishmania, incluindo os imunossuprimidos infectados com HIV (DA SILVA-

LÓPEZ, 2010; SUNDAR S, 2002).

Devido a diversidade de espécies de Leishmania, as manifestações clinicas são variadas

e vão desde lesões cutâneas auto curativas até doença visceral, dependendo das características do

parasita, vetor biológico e resposta imune do hospedeiro (CHAGAS et al., 2016). A leishmaniose

pode apresentar duas formas clinicas, a forma tegumentar e visceral. A leishmaniose tegumentar

pode se subdividir em cutânea, mucocutânea e cutânea difusa, sendo causada por pelo menos 13

espécies do protozoário Leishmania, abrangendo manifestações clinicas diferentes (GOTO;

LINDOSO, 2010). A leishmaniose tegumentar cutânea é a mais frequente, e é classicamente

dividida nas formas do Novo e do Velho Mundo.

15

No Brasil, as principais espécies que causam a leishmaniose tegumentar são

Leishmania amazonensis e Leishmania guyanensis. No Velho Mundo a leishmaniose cutânea é

causada pela Leishmania major. A leishmaniose cutânea pode evoluir para cutânea difusa

começando com pápulas localizadas não ulceradas até nódulos cutâneos na face e extremidade,

causada pela L. amazonensis (DA SILVA- LÓPEZ, 2010). A leishmaniose visceral (LV)

antroponótica é uma doença crônica fatal, com letalidade de 10% se não tratada, é prevalente no

Oriente Médio e causada pela Leishmania donavani, podendo afetar todas as faixas etárias de

ambos os gêneros, não tendo reservatório animal conhecido (BURZA; CROFT; BOELAERT,

2018). A LV zoonótica é causada por Leishmania chagasi (infantum) e acomete o homem (na

maior parte das áreas endêmicas 80% dos casos registrados ocorrem em crianças com menos de

10 anos), imunocompetentes e imunossuprimidos. Afeta canídeos sendo o cão o reservatório

doméstico e a raposa como reservatório silvestre (BURZA; CROFT; BOELAERT, 2018;

GONTIJO; MELO, 2004). Frequente na Índia, Sudão, Quênia e Nepal, a leishmaniose dérmica

Pós-Kalazar afeta crianças e adultos jovens, pode ocorrer 6 meses após o tratamento de LV em

até 20% dos indivíduos tratados (BURZA; CROFT; BOELAERT, 2018).

O ciclo biológico de Leishmania spp. é heteroxênico e, morfologicamente, o protozoário

apresenta a forma amastigota, sendo imóvel e intracelular (Figura 2). A amastigota de

Leishmania spp. sobrevive dentro do fagolisossomo do macrófago apesar do meio ácido. A forma

promastigota é móvel, infectante, com cinetoplasto anterior ao núcleo, encontra-se presente

dentro do tubo digestivo do flebotomíneo (CHAGAS et al., 2016).

Como demostra na figura 2, no decorrer do ciclo biológico,as formas promastigotas

metacíclicas, que se localizam nas vulvas faríngeas do vetor, são transmitidas pela picada do

mosquito fêmea flebotomíneo infectado (CHAGAS et al., 2016). Em resposta a inflamação no

local da picada, são recrutados neutrófilos e estes sinalizam para células dendriticas e

macrófagos periféricos iniciarem a fagocitose. Dentro do macrófago as formas promastigotas se

transformam em amastigotas e essas se dividem por fissão binaria até o rompimento do

macrófago, novos macrófagos são recrutados e são infectados (BURZA; CROFT; BOELAERT,

2018). Quando a fêmea do mosquito realizar o repasto sanguíneo no indivíduo infectado, ingere

os macrófagos infectados. Ainda na figura 2, no vetor invertebrado, as formas amastigotas são

liberados no intestino médio ou posterior, onde se transformam em promastigota procíclica e

depois metacíclica por divisão binaria, que migram para as vulvas faringeas do mosquito

(LISBOA; AVEIRO, 2008).

16

Figura 2.Ciclo Biológico Leishmania spp. (Autoria própria). A imagem foi criada no Biorender.com.

1.2.2. Trypanosoma cruzi - morfologia do parasita, ciclo biológico

Em 2009, foi comemorado 100 anos de descoberta da Doença de Chagas. Este fato é um

importante marco na história, quando em 1909, Carlos Justiniano Ribeiro Chagas, através de

estudos minuciosos anunciou a comunidade cientifica a detecção em humanos, do protozoário

Trypanosoma cruzi (T. cruzi), agente causador da doença, assim como o ciclo biológico e a

patologia (MALAFAIA; DE LIMA RODRIGUES, 2010). A doença é considerada uma zoonose

e apresenta uma larga distribuição no continente americano (JANSEN; XAVIER; ROQUE, 2018;

MARTINEZ; ROMANO; ENGMAN, 2020). Atualmente, a doença de Chagas (DC) é classificada

como enfermidade negligenciada e estima-se que aproximadamente 8 milhões de pessoas estejam

infectadas e contabiliza 300.000 casos a cada ano (SIMÕES et al., 2018).

A via clássica da transmissão é a vetorial pelo vetor triatomíneo (Figura 3). Outras

formas de transmissão são, transfusão de sangue de doadores infectados e transmissão vertical de

mães infectadas para seus recém-nascidos (POULOSE, 2016). Contudo, a epidemiologia do T.

cruzi vem mudando, pois atualmente a maioria dos casos ou surtos da doença ocorre, em

cenários

17

regionais, via transmissão oral pela ingestão de alimentos contaminados com as formas

metacíclicas (POULOSE, 2016; YAO, 2010). Presentemente, devido à urbanização e globalização

pelo processo migratório das pessoas infectadas, a DC emerge, tanto nos países endêmicos quanto

não endêmicos, contribuindo assim, para aumentar a complexidade dos cenários epidemiológicos

e patogênese. Adicionalmente, eventos de reativação da doença de Chagas associados a

imunodeficiências têm se tornado desafios emergentes para os sistemas de saúde (DIAS et al.,

2016a; JANSEN; XAVIER; ROQUE, 2018).

O ciclo biológico do T. cruzi também é heteroxênico, se inicia com as formas

tripomastigotas metacíclicas do parasita liberadas nas fezes do inseto triatomíneo após o repasto

sanguíneo e são inoculados no local da picada, no momento de prurido (DIAS et al., 2016a). As

formas tripomastigotas metacíclicas vencem a imunidade inata e infectam as células vizinhas se

transformando em amastigotas intracelulares, que multiplicam por fissão binaria e diferenciam-se

em tripomastigotas (Figura 3).

Figura 3.Ciclo Biológico de Trypanosoma cruzi (Autoria própria). A imagem foi criada no Biorender.com.

A célula infectada se rompe (lise) e ocorre a liberação na corrente sanguínea das formas

tripomastigotas sanguíneas que infectam novas células, tendo tropismo pelo musculo liso e

18

cardíaco (Figura 3). O inseto vetor ao realizar o repasto sanguíneo no indivíduo infectado,

ingerem as formas tripomastigota metacíclico que vão para o intestino médio do inseto,

transformando-se em epimastigota. Como demostrado na figura 3, epimastigotas migram para o

intestino anterior do inseto onde se transformam em tripomastigotas metacíclico que serão

eliminados nas fezes, reiniciando o ciclo, durante um novo repasto sanguíneo (LISBOA;

AVEIRO, 2008; PÉREZ- MOLINA; MOLINA, 2018).

T. cruzi pertence a ordem Kinetoplastida, da família Tripanosomatidae (Protozoa,

Sarcomastigophora, Kinetoplastida, Tripanosomatidae). É um protozoário unicelular, largamente

distribuído na natureza, durante o ciclo biológico T. cruzi apresenta três formas morfológicas

distintas, a forma amastigotas com cinetoplasto e flagelo interiorizado; epimastigotas com

cinetoplasto justaposto ao núcleo e tripomastigota em que o cinetoplasto está posterior ao núcleo

(LISBOA; AVEIRO, 2008). As variações morfológicas é resultado das diferentes condições em

que o protozoário é exposto durante seu ciclo (MESSENGER; MILES; BERN, 2015).

T. cruzi tem alta diversidade fenotípica sendo subdivido em conjunto das

superpopulações de sete unidades taxonômicas ou Unidades de Tipagem Distintas (DTUs), TcI-

TcVI e Tcbat. É uma classificação de linhagem pura e hibridas, diferenciando pelo reservatório

natural, ciclo biológico, habitat, parasitemia e manifestações clinicas (ZINGALES, 2018;

ZINGALES et al., 2012). Sua circulação ocorre entre 100 espécies de insetos vetores

exclusivamente hematófago (Triatominae, Hemíptera, Reduviidae), albergando mais de 70

gêneros de mamíferos e se proliferando em diferentes biomas do continente americano (DIAS,

2006).

19

1.3. Aspectos e aspectos clínicos da Leishmaniose e da Doença de Chagas

Em relação a leishmaniose, os indivíduos com leishmaniose tegumentar americana

apresentam lesões únicas, profundas e ulceradas que se localizam no local da picada do mosquito,

sendo a leishmaniose cutânea a manifestação clinica mais comum. Geralmente, ocorre aumento

da temperatura no local da picada, formação de pápula eritematosa, pústula e por fim uma lesão

ulcerada, acometendo regiões como orelha, nariz, boca, mãos, antebraço ou pernas (ARENAS et

al., 2017; DE MAGALHÃES et al., 1986). Essas lesões, podem se disseminar através das vias

linfáticas, teciduais e sanguíneas para maior parte da pele do corpo formando nódulos eritematosos

e placas verrucosas, caracterizando a manifestação clinica mais comum, leishmaniose cutânea

difusa (ARENAS et al., 2017). Em áreas endêmicas, pacientes com leishmaniose cutânea podem

desenvolver, após 4-5 anos de cura, a leishmaniose mucocutânea. Essa patologia é caracterizada

por lesões muco-cutânea que afetam, de forma lenta, a região orofaríngea com aspecto necrótico,

rasgadas e descoladas (ARENAS et al., 2017; JENNINGS et al., 2014).

A leishmaniose visceral é a manifestação clinica mais grave e frequentemente letal. Tem

um período de incubação de 3 a 8 meses e afeta principalmente crianças, imunodeprimidos e

desnutridos. Indivíduos acometidos por leishmaniose visceral apresentam febre, anorexia,

fraqueza, sudorese noturna, hepatomegalia, esplenomegalia, palidez, anemia (BURZA; CROFT;

BOELAERT, 2018; GONTIJO; MELO, 2004).

A infecção da Doença de Chagas é complexa devido à alta variabilidade de virulência do

parasita e da susceptibilidade humana à infecção, onde a prevalência das manifestações variam

geograficamente (MARTINEZ; ROMANO; ENGMAN, 2020; ZINGALES, 2018). A

competência para infectar todas as células nucleadas de mamíferos representa um forte mecanismo

de manutenção de T. cruzi (JANSEN; XAVIER; ROQUE, 2018). As variáveis conhecidas que

determinam a duração da parasitemia no indivíduo incluem estado nutricional, a via de infecção e

a infecção concomitante, além do genótipo do parasita (ZINGALES, 2011, 2018; ZINGALES et

al., 2012).

Doença de Chagas apresenta duas fases, a aguda e a crônica. A fase aguda, geralmente é

assintomática devido a intensa atividade de anticorpos e da resposta imune inata mediada por

citocinas TH1, quando sintomático, ocorre sintomas adversos como febre e náuseas e alguns casos

graves com miocardite aguda e meningoencefalite (POULOSE, 2016). A fase crônica é

caracterizada pela forma indeterminada também designada de assintomática, sem anormalidades

na radiografia de tórax e eletrocardiograma(RIBEIRO; ROCHA, 1998; MOLINA; MOLINA

2018). Alguns indivíduos passam da fase aguda para a fase crônica da doença devido à infiltração

20

de amastigotas do T. cruzi nos órgãos). Quando sintomática, a fase crônica apresenta baixa

parasitemia, ocorrendo a destruição progressiva das células musculares do coração, do sistema

nervoso autônomo e afetando o trato digestivo (PÉREZ-MOLINA; MOLINA, 2018). Essa lesões

ocorrem de 10 a 30 anos após a infecção inicial (30 a 40% dos pacientes), sendo caracterizada por

cardiomiopatia (bradicardia, taquicardia) e complicações gastrointestinais, tais como, perda de

peso, disfagia, refluxo esofágico, tosse (SIMÕES et al., 2018).

1.4. Diagnóstico de Leishmaniose e da Doença de Chagas

O diagnóstico da Leishmania spp. é baseado em critérios que consideram dados

epidemiológicos, características clínicas e resultados de exames laboratoriais (GOTO; LINDOSO,

2010).

O diagnóstico para leishmaniose tegumentar se faz inicialmente por critérios

epidemiológicos, onde procura-se relacionar o indivíduo a área endêmica ou não, sendo

informação importante para o diagnóstico de viajantes residentes em áreas não endêmicas, visto

que leishmaniose tegumentar é uma das síndromes dermatológicas diagnosticadas em viajantes

(DE MAGALHÃES et al., 1986; GOTO; LINDOSO, 2010). O diagnóstico parasitológico direto

se faz por meio de amostras biológicas como sangue periférico, coleta de gânglios linfáticos ou

biopsia aspirativa, sendo relativamente rápido, apesar de necessitar de técnicos treinados e ter

baixa sensibilidade (DE MAGALHÃES et al., 1986). O teste cutâneo de Montenegro é utilizado

em estudos epidemiológicos para determinar a prevalência da infecção por Leishmania, no entanto,

o teste não distingue entre infecção presente e passada (GOTO; LINDOSO, 2010). O diagnóstico

sorológico se faz por ensaios de detecção e titulação de anticorpos circulantes como testes rápidos,

aglutinação direta, imunoblotting e ELISA (KARUNAWEERA; FERREIRA, 2018).

O diagnóstico para LV é complexo porque suas características clínicas são

compartilhadas por uma série de outras doenças comuns, como malária, febre tifoide e tuberculose

(SUNDAR S, 2002). Indivíduos infectados com LV apresentam febre prolongada,

esplenomegalia, hepatomegalia, leucopenia, anemia, hipergamaglobulinemia, tosse, dor

abdominal, diarreia, perda de peso e caquexia (GONTIJO; MELO, 2004). Para o diagnóstico

laboratorial, o parasita pode ser visualizado através da punção aspirativa do baço, medula óssea e

fígado para confecção de lâminas. Devido às limitações, diferentes técnicas são usadas para o

diagnóstico sorológico, a detecção de DNA do parasita em amostras de tecido, imunodiagnóstico

21

por detecção de antígeno de parasita em amostras de tecido, além do ensaio de imunidade mediada

por células específicas de Leishmania (GONTIJO; MELO, 2004).

O método padrão ouro usado para o diagnóstico de LV tem sido por aspirado esplênico

ou de medula óssea para demonstração do parasita, com sensibilidade de 95%. É preferível, por

parte do paciente, o aspirado esplênico devido a ser menos doloroso (BOELAERT et al., 1999;

SUNDAR S, 2002). O diagnóstico para pacientes com co-infecção HIV-Leishmania é

essencialmente o mesmo de pacientes não infectados com HIV, onde a análise de PCR mostra-se

útil (ARONSON et al., 2017).

O diagnóstico clínico da Doença de Chagas consiste na análise da história epidemiológica

do paciente, com dados sobre visitas ou transfusão de sangue em áreas endêmicas (DIAS, 2006).

A presença de sinais de porta de entrada como sinal de Romaña, um edema unilateral e indolor

próximo ao olho ocasionado pela resposta inflamatória à saliva do inseto ou o sinal chagoma de

inoculação, uma manifestação cutânea, avermelhada e endurecida que ocorre em qualquer parte

do corpo onde o inseto fez o repasto sanguíneo (PERSOON et al., 2018).

O diagnóstico laboratorial está diretamente relacionado com a fase da doença. Na fase

aguda o exame parasitológico direto é o mais indicado devido a intensa parasitemia, sendo possível

verificar a presença de tripomastigotas no sangue periférico (PÉREZ-MOLINA; MOLINA, 2018).

Outros testes parasitológicos diretos devem ser realizados simultaneamente como o método de

concentração e o de lâmina corada de gota espessa ou delgada (RIBEIRO; ROCHA, 1998). O

diagnóstico sorológico na fase aguda enfrenta dificuldades pela falta de testes comerciais, no

entanto, a verificação de anticorpo anti- T. cruzi da classe IgM é sugestiva, recomendando-se a

metodologia de imunofluorescência indireta (IFI), sendo usada quando os exames parasitológicos

diretos são negativos, porém, as suspeitas clinicas persistem (SIMÕES et al., 2018).

Na fase crônica da doença, o diagnóstico parasitológico direto da doença se faz por meio

de técnicas de isolamento e identificação de T. cruzi, muitas vezes controversas, como o

Xenodiagnóstico de Hemocultura (DIAS et al., 2016a). A técnica de PCR, apesar da falta de

protocolos padronizados, se torna uma sugestão diante de resultados indeterminados ou para

controle de cura (SIMÕES et al., 2018). O diagnóstico sorológico na fase crônica se faz por meio

de dois testes sorológicos com princípios/métodos distintos ou que possuam diferentes preparações

antigênicas, como o caso dos testes de ELISA e IFI, de elevada sensibilidade, e Hemoaglutinação

indireta, de elevada especificidade (PÉREZ-MOLINA; MOLINA, 2018; RIBEIRO; ROCHA,

1998).

Para diagnóstico de gestantes, recomenda-se a triagem sorológica de T. cruzi, para

aquelas vindas de áreas endêmicas, além da triagem sorológica de mulheres receptoras de sangue

22

em áreas endêmicas (MALAFAIA; DE LIMA RODRIGUES, 2010). Recomenda-se a testagem

sorológica anti-HIV nas avaliações do pré-natal, pois a co-infecção T. cruzi e HIV aumenta o risco

de transmissão congênita, morbidade de mortalidade (DIAS et al., 2016b).

1.5. Terapêutica atual da Leishmaniose e da Doença de Chagas

O tratamento medicamentoso para leishmaniose existe desde início do século 20 e embora

a OMS tenha fornecido recomendações para o tratamento, existem diferentes protocolos

terapêuticos devido a diversidade de espécies de Leishmania, diferença de susceptibilidade

medicamentosa e de manifestações clinicas das espécies do Velho e Novo mundo (GONTIJO;

MELO, 2004). Os antimoniais pentavalentes são os medicamentos de primeira linha para o

tratamento da leishmaniose, disponíveis em duas formulações: antimoniato de metaglutamina e

estibogluconato de sódio. Os principais efeitos adversos desse medicamento são cardiotoxicidade,

insuficiência renal e mialgia, não indicado para gestantes (BURZA; CROFT; BOELAERT, 2018).

Em algumas partes do mundo o tratamento de escolha é a Anfotericina B nas diferentes

formulações: anfotericina B desoxicolato, anfotericina lipossomal, anfotericina de dispersão de

colesterol e anfotericina de complexo lipídico. A lesão renal é o principal efeito adverso dessa

terapia (GOTO; LINDOSO, 2010; SILVA et al., 2019).

Tendo em vista a importância das leishmanioses e as dificuldades envolvidas em seus

tratamentos, tais como resistência aos antimoniais, a Miltefosina surgiu como um medicamento

promissor para o tratamento da leishmaniose, sendo administrado por via oral (GONTIJO;

MELO, 2004). Tal medicamento foi originalmente desenvolvido como antineoplásico e tendo

como efeito adverso a teratogenicidade, tem sido testado com bons resultados em formas

amastigotas e promastigotas, interferindo na membrana celular do parasita (DA COSTA FILHO;

LUCAS; SAMPAIO, 2008). Ainda não se tem vacinas para doenças parasitarias humanas

provocadas por protozoários como Trypanosoma cruzi e Leishmania spp., os fármacos presentes

são caros e causam muitos efeitos adversos, sendo ineficazes devido ao surgimento de resistência

(LISBOA; AVEIRO, 2008).

Segundo a OMS, a doença de Chagas e leishmaniose podem ocasionar perdas sociais

importantes nas áreas endêmicas, em termos de mortalidade, incapacidade laboral e custos

médicos os quais são ignorados pelos governos, muito ao fato do desconhecimento da população

exposta ou afetada pelas doenças (MALAFAIA; DE LIMA RODRIGUES, 2010).

23

Desde os anos 1990, o Ministério da Saúde de vários países de Organização Pan-

Americana e a OMS coordenaram iniciativas para controlar a Doença de Chagas, reduzindo a

transmissão por vetores e transfusão de sangue, onde esses esforços levaram a uma redução

substancial da carga da doença na América Latina (DIAS et al., 2016a).

Apenas dois medicamentos são licenciados e disponíveis com ação anti-tripanosomais

para Doença de Chagas e ambos estão longe de serem os ideais, pois requerem tratamento

prolongado, tem ampla gama de efeitos colaterais e são eficazes apenas na fase aguda da doença

(PÉREZ-MOLINA; MOLINA, 2018).

O Benzonidazol é o único medicamento aprovado pela Food and Drug Administration

(FDA) e atualmente usado para a terapêutica da Doença de Chagas no Brasil. É administrado por

via oral em dois ou três doses geralmente por 60 dias, alcançando uma boa efetividade na fase

aguda em crianças e adultos jovens. Contudo, o Benzonidazol apresenta alguns efeitos adversos

como anorexia, distúrbios do sono e digestivo, cefaleia e erupções na pele (PÉREZ-MOLINA;

MOLINA, 2018).O tratamento medicamentoso especifico para T. cruzi em mulheres gestantes ou

em períodos de amamentação é desaconselhado devido a dados de teratogenicidade demostrados

em animais (DIAS et al., 2016a).

Nifurtimox, não licenciado no Brasil devido aos efeitos adversos, foi o primeiro

medicamento usado e é administrado por via oral, em três a quatro doses, durante 60–90 dias. É

um fármaco pouco tolerável, apresenta muitas interações medicamentosas, além de uma gama de

efeitos adversos como anorexia, distúrbios neurológicos, febre, erupções da pele e distúrbios

digestivos incluindo náuseas e vômitos (DIAS et al., 2016a; PÉREZ-MOLINA; MOLINA, 2018).

Às medidas de prevenção, se faz necessário uma otimização e revisão de condutas de

tratamento e acompanhamento nas diferentes formas clinicas dessas patologias, além de uma rede

desenvolvida e hierarquizada no Sistema Único de Saúde (SUS), onde os serviços são distribuídos

de acordo com a endemicidade das doenças (DIAS et al., 2016b).

.

24

1.6. Metaloprotease de superfície de Leishmania spp. e Trypanosoma cruzi.

1.6.1 Metaloprotease de mamífero (MMPs)

As metaloproteases são uma família de endopeptídases proteolíticas, são estrutural e

funcionalmente relacionadas com as endopeptídases dependente de cálcio e contendo zinco, sendo

chamadas de metaloproteases de matriz (MMP). Estão principalmente associadas à degradação da

matriz extracelular (CUI; HU; KHALIL, 2017; NAPOLI et al., 2020). Em humanos, esta família

é composta por 24 proteínas codificadas por diferentes genes, sendo separadas em seis grupos com

base na organização de seus diferentes domínios, sequência de aminoácidos e especificidade de

substrato: colagenases, gelatinases, tipo de membrana, estromelisinas, matrilisinas e outros

(NAPOLI et al., 2020; TAJHYA; PATEL; BEETON, 2017).

Essas proteases são secretadas na forma latente ou inativas chamadas de zimogênios,

requerendo ativação. Em condições fisiológicas, as MMP desempenham importante papel na

proliferação celular, invasão celular, migração (adesão/dispersão), degradação da cartilagem,

remodelação do tecido, cicatrização de feridas, e embriogênese (CUI; HU; KHALIL, 2017;

TAJHYA; PATEL; BEETON, 2017). As MMP podem interagir com algumas moléculas

bioativas e receptores de superfície da proteína G, influenciando o microambiente celular e

possíveis sinalizações, além disso, podem estar envolvidas na apoptose celular, resposta

inflamatória e imunológica (BUNNEY et al., 2017; NAPOLI et al., 2020).

A atividade das MMP é regulada, principalmente, pelos inibidores de metaloprotease

endógenos, nos quais possuem alta heterogeneidade de sequência e consequentemente

propriedades funcionais diferentes. Atualmente, são conhecidos quatro tipos de inibidores de

MMP, com o tamanho aproximado de 23 kDa. Os inibidores se ligam às MMPs, bloqueando o

sitio ativo e impedindo o acesso da protease a seu substrato (DE MEDEIROS; GOMES; FARES,

2012). Em condições normais, o equilíbrio entre MMP e seus inibidores endógenos garante uma

eficaz remodelação tecidual, além de outros aspectos da fisiologia normal. Algumas dessas

proteinases, quando desreguladas, podem ser precursoras de numerosas condições patológicas

onde a síntese desregulada causa uma destruição tecidual ou aumento/diminuição desordenado de

MMP (DE MEDEIROS; GOMES; FARES, 2012; SNOEK-VAN BEURDEN; VON DEN HOFF,

2005).

25

1.6.2. Metaloprotease dos Tripanosomatídeos

Os tripanosomatídeos têm em comum um tipo particular de endopeptidases, as

metaloproteases de superfície presentes no parasita e que desempenham um papel importante em

várias etapas da infecção do hospedeiro, incluindo: adsorção, penetração, sobrevivência

intracelular, replicação, diferenciação, infectividade, evasão imunológica e nutrição (ISNARD;

SHIO; OLIVIER, 2012; SANTOS; BRANQUINHA; D’AVILA-LEVY, 2006).

Uma dessas moléculas é a Major surface protease (MSP) ou glicoproteína gp63, uma

metaloprotease de zinco dependente (Figura 4). Descoberta em 1980, pode estar associada à

membrana do parasita através de lipofosfoglicanos que contém uma âncora de

glicosilfosfatidilinositol (GPI) ou se apresentar na forma secretada, sem sinal de adição de âncora

GPI (CALIXTO; FAGUNDES; OLIVEIRA, 2014). Ambas são consideradas moléculas cruciais

para sobrevivência do parasita nos diferentes ambientes durante seu ciclo de vida (SÁDLOVÁ et

al., 2006). Inicialmente, a gp63 kDa foi descrita como tendo atividade de protease, sendo chamada

de protease de superfície e depois foi especificada como metaloprotease de zinco (ISNARD;

SHIO; OLIVIER, 2012).

Figura 4.Estrutura tridimensional da gp63.À esquerda, a estrutura tridimensional do esqueleto proteico da

gp63. Em azul localiza-se o domínio C-terminal, em verde o domínio central e em vermelho o domínio N-terminal.

O centro catalítico de zinco encontra-se se identificado por um círculo preto e amplificado na imagem à direita. A

molécula foi construída no programa UCSF 1.13, por meio do código de acesso 1LML no PDB.

As metaloproteínas são agrupadas em 3 principais famílias: a Gluzincina, Aspzincina e

as Metzincinas. Esta última agrupando as astacinas, serralisinas, adamalisinas, metaloprotease de

matriz, snapalisina e as leishmanolisinas (CALIXTO; FAGUNDES; OLIVEIRA, 2014).

26

As metaloproteases zinco-dependentes possuem um sítio catalítico composto por uma

sequência de aminoácidos HEXXH coordenada ao átomo de zinco (Figura 4). Membros da

família Metzincina possuem sequencias catalíticas estendidas HEXXHXXGXXX (SÁDLOVÁ et

al., 2006). Os genes da gp63 são altamente polimórficos, porém, a sequência de genes que

codificam os peptídeos funcionais envolvidos na atividade da protease é conservada. O

polimorfismo é mais abundante em segmentos de proteínas que servem como epítopo para

células T e B, e que não participam da interação parasita-hospedeiro (HASSANI et al., 2014).

Como observado na figura 4, a estrutura tridimensional da gp63 é uma estrutura

compacta, predominantemente presente na forma secundaria de folha β, dividida em três

domínios principais, tendo o domínio catalítico formado por duas Alfa-hélices, contra uma folha-

composta por cinco fitas- entrelaçadas, além da afinidade com vários tipos de substratos

proteicos (LISBOA; AVEIRO, 2008). A estrutura da gp63 indica que provavelmente existe um

hemodímero e as formas anfifílicas e hidrofílicas também são encontradas na célula (SANTOS;

BRANQUINHA; D’AVILA-LEVY, 2006).

No domínio N-terminal é o subdomínio que corresponde aos resíduos de aminoácidos de

Valina e Leucina e possui um padrão de enovelamento similar a outros zincos dependentes, além

de uma sequência conservada que contém um resíduo de cisteína ligado ao zinco. Esse domínio

alberga resíduos que compõe o sitio catalítico HGXXHXXGXH, sequência de aminoácidos

característica de metaloprotease zinco-dependentes(CALIXTO; FAGUNDES; OLIVEIRA, 2014;

ISNARD; SHIO; OLIVIER, 2012). O domínio central é constituído por -hélices e folhas-

antiparalelas, ligados ao domínio C-terminal por uma ponte dissulfeto (CALIXTO;

FAGUNDES; OLIVEIRA, 2014). O domínio C-terminal possui seis pontes dissulfeto, sendo um

domínio rígido. A âncora de glicosilfosfatidilinositol (GPI) é adicionada aos últimos resíduos deste

domínio (SÁDLOVÁ et al., 2006).

A síntese da proteína é realizada no réticulo endoplasmático em uma forma inativa ou

zimogênio, onde a sequência de sinal é clivada pós-tradução ou secretada. Um carboidrato é

adicionado ao domínio N e o C-terminal é substituído pela âncora GPI. Ocorre a clivagem de pró-

peptídeo quem tem cisteína para regular a atividade da gp63 (SANTOS; BRANQUINHA;

D’AVILA-LEVY, 2006). A gp63 secretada tem diferentes pesos moleculares devido aos seus

estados glicosilados (ISNARD; SHIO; OLIVIER, 2012). A estrutura tridimensional da gp63 tem

sido alvo de extensos estudos devido a sua importância como fator de virulência, abrindo novas

possibilidades para descoberta de novos alvos terapêuticos, tratamento com agentes

antiparasitários e diagnóstico (ISNARD; SHIO; OLIVIER, 2012).

27

1.6.1. gp63 de Leishmania spp.

A complexidade gênica no género Leishmania é distinta entre os diferentes subgéneros.

As espécies integradas no Subgênero Viannia dispõem de maior variedade de genes MSP, que

poderá ser até quatro vezes superior, relativamente ao subgénero Leishmania (LISBOA; AVEIRO,

2008). Tal gênero é capaz de elaborar uma grande variedade de proteases que são

intra/extracelulares com diferentes especificidades (SANTOS; BRANQUINHA; D’AVILA-

LEVY, 2006).

A protease principal de superfície (PSP) ou gp63 é distribuída, em toda superfície da

forma evolutiva promastigota incluindo o flagelo, tendo seu ápice em promastigotas

metacíclicas. Nas formas amastigotas intracelulares, sua expressão é reduzida (SANTOS;

BRANQUINHA; D’AVILA-LEVY, 2006; YAO, 2010). Estima-se que cada Leishmania na fase

estacionária possui 500.000 copias de gp63, cerca de 1% de todo o conteúdo proteico do

organismo, a maioria presente na superfície, é o restante localizando-se intracelularmente

(SANTOS; BRANQUINHA; D’AVILA-LEVY, 2006).

O elevado número de moléculas de gp63 presente na superfície de promastigotas

metacíclicas, tal como a sua presença nas formas amastigotas, embora de modo menos

representativo, é um requisito obrigatório para a eficaz manipulação do sistema imunitário e

consequente bem-sucedido estabelecimento da infeção, enquanto da sua inoculação no

hospedeiro (LISBOA; AVEIRO, 2008). Patógenos intracelulares geralmente alteram a

organização do citoesqueleto e o maquinário de sinalização celular da célula hospedeira,

contribuindo para sua internalização (ISNARD; SHIO; OLIVIER, 2012).

A gp63 fornece resistência a lise mediada por complemento e facilita o englobamento de

promastigota pelo macrófago. Após a internalização por fagocitose no hospedeiro, as formas

promastigotas do protozoário desativam funções imunológicas e antimicróbicas, através da

inibição da biogênese do fagolisossomo (MATTE et al., 2016). A gp63 permite a sobrevivência

de amastigotas dentro dos macrófagos devido a inibição de fatores pró-inflamatórios (MATTE et

al., 2016). A resolução da doença é necessária a resposta pró-inflamatória, e a progressão da

doença se dá através de atividades anti-inflamatórias (LISBOA; AVEIRO, 2008). Embora os

macrófagos sejam as células hospedeiras primárias de que abrigam as amastigotas após a infecção

inicial, outras células do sistema imune inato são conhecidas por estarem envolvidas na infecção

do parasita, e suas funções comprometidas pela gp63 (CARVALHO et al., 2013).

A gp63 tem ampla especificidade de substrato, hidrolisando diversas proteínas séricas

como: componentes do sistema complemento, fibrinogênio, fibronectina, hemoglobina, colágeno,

28

albumina, gelatina, caseína, além de afetar as vias de sinalização , facilitando a migração do

parasita nos tecidos (SANTOS; BRANQUINHA; D’AVILA-LEVY, 2006). Esta protease afeta

várias proteínas de sinalização do hospedeiro envolvidos no rearranjo do citoesqueleto, além das

funções antimicróbianas e inflamatórias dos macrófagos, mostrando seu papel central como fator

de virulência que contribui para a sobrevivência no início da infecção (ISNARD; SHIO;

OLIVIER, 2012).

O papel da gp63 no inseto vetor carece de mais estudos, mais acredita-se que essa

glicoproteína possibilita o parasita a obtenção de nutrientes através da hidrólise de componentes

proteicos (SANTOS; BRANQUINHA; D’AVILA-LEVY, 2006).

1.6.2. gp63 de Trypanosoma cruzi.

T. cruzi tem uma diversidade que pode estar associada a adaptação e sobrevivência

dentro de vários hospedeiros. Os diferentes genótipos a variabilidade em diferentes

características do parasitismo, como virulência, sintomas e susceptibilidade as drogas

antiparasitárias (GALVAN et al., 2016). T. cruzi é o parasita com maior repertório de genes, que

codificam as metaloproteases de superfície, destes. O protozoário contém mais de 700 genes e

pseudogenes para gp63 (BERNÁ et al., 2017).

Os genes que codificam as metaloprotease de superfície de T. cruzi são agrupados em três

grupos: Tcgp63-I, Tcgp63-II e Tcgp63-III. O grupo I está envolvido no processo infeccioso, onde

a enzima produzida tem local de ancoragem da GPI, ligando-a a membrana do parasita onde é

ativada. Tcgp63-II tem nível de transcritos pouco expressivo e não contém local de adição da

âncora GPI, não sendo expressa na membrana do parasita e Tcgp63-III é constituído de

pseudogenes (LISBOA; AVEIRO, 2008).

T. cruzi contém um grupo de genes de superfície que promove a ativação de linfócitos

policlonais e resposta humoral retardada na fase aguda. A ativação policlonal difunde a resposta

imunológica, impedindo uma resposta específica que neutralize e elimine o parasita

(WATANABE COSTA; DA SILVEIRA; BAHIA, 2016). A função da gp63 em T. cruzi

continua incerto.

De uma forma resumida, as metaloproteases de tripanosomatídeos participam de

importantes vias de sinalização, manutenção do parasita e viabilidade intracelular e extracelular.

Assim, manipulam a resposta imune do hospedeiro e dificulta o desenho de uma vacina eficaz.

29

1.7. Principais metodologias utilizadas para a identificação de metaloprotease

1.7.1. Zimografia para estudos biológicos

Vários métodos têm sido desenvolvidos para avaliação das formas ativas e latentes de

enzimas proteolíticas, entretanto, a zimografia é o método mais usado por ser o mais completo na

biologia molecular (DE MEDEIROS; GOMES; FARES, 2012). Descrita pela primeira vez em

1980 por Heussen e Dowdle, é uma técnica semi-quantitativa e muito sensível, amplamente usada

na identificação e caracterização de protease em células, tecidos ou fluidos biológicos

(WILKESMAN, 2017a).

Por eletroforese em gel sob desnaturação e condições não redutoras, esta técnica fornece

uma análise sensível, quantificável e funcional da atividade de protease por meio da degradação

em diferentes substratos e por seu peso molecular (WILKESMAN, 2017b).

A técnica consiste em uma eletroforese em gel desnaturante de poliacrilamida,

copolimerizado com um detergente aniônico, dodecil sulfato de sódio (SDS) e com o substrato

preferencial da enzima em análise. A aplicação de uma corrente elétrica possibilita a migração das

proteases no gel e sua separação pela diferença do tamanho molecular (DE MEDEIROS; GOMES;

FARES, 2012). As proteases separadas dentro do gel são renaturadas por lavagem com um

detergente não iônico, como Triton X100, devolvendo sua estrutura terciária que irá realizar a

digestão do substrato. O gel é então incubado em um tampão adequado, permitindo que a protease

renaturada realize a digestão do substrato na região circundante de sua eletroforese

(WILKESMAN, 2017a). As metaloproteinases são então identificadas comparando as bandas

claras no gel com padrões de peso molecular e / ou por testes de inibição com inibidores específicos

de certas classes de metaloproteinases.

A zimografia tem a vantagem sobre outras técnicas da biologia molecular por não

requerer anticorpos, tornando-a barata, a migração em condições não redutoras possibilita a

visualização da protease, possibilita a distinção de enzimas latentes e ativas como base no seu peso

molecular, bem como a atividade pode ser quantificada por densitometria (WILKESMAN, 2017a).

A zimografia é usada como o único ensaio para se observar a atividade das MMP ou MSP, bem

como seus inibidores, porém, outras técnicas podem ser usadas para complementar os resultados

obtidos como o ensaio imunoenzimático (ELISA), o Western Blot, a imunohistoquímica e a

imunofluorescência (DE MEDEIROS; GOMES; FARES, 2012).

A zimografia é frequentemente usada pois é um ensaio sensível e quantificável para

analisar a atividade de metaloprotease, porém, alguns problemas precisam ser considerados ao

30

aplicar essa metodologia como a natureza, origem e preparação das amostras, o substrato no gel,

podem comprometer a validade da técnica e complicar a interpretação de resultados (BUNNEY et

al., 2017).

A técnica indica a presença de metaloprotease e seus inibidores e não sua atividade real

dentro do corpo. Amostras com altas concentrações geram bandas distorcidas na matriz do gel.

Existem alguns marcadores de pesos moleculares disponíveis comercialmente em condições com

agente redutor. Quando usados em condições não redutoras, podem indicar pesos moleculares

diferentes. A densitometria é usada para quantificar a atividade das proteases, porém, pode ocorrer

a formação de complexos de metaloprotease (protease mais proteína) ou várias metaloprotease

podem formar complexos que na análise por Western blot configura-se como um anticorpo.

Agentes redutores como B-mercaptoetanol não devem ser adicionados, pois esses agentes

quebram as pontes dissulfeto e evitam algumas formas de dobramentos de proteínas terciarias. A

zimografia in situ não difere metaloproteases, pois os substratos são degradados por mais de uma

protease, sendo necessário o uso de técnicas complementares (HU; BEETON, 2010; SNOEK-

VAN BEURDEN et al., 2005).

Originalmente, a zimografia foi desenvolvida usando gelatina como substrato, sendo

chamada de zimografia de substrato. Todas as outras zimografias de substrato se originaram da

zimografia da gelatina, diferindo apenas do substrato usado, que vai depender do tipo de

metaloprotease e inibidores a serem analisados (SNOEK-VAN BEURDEN et al., 2005).

Algumas MMP não têm afinidade com substrato de gelatina, sendo feitas modificações

na técnica para melhorar a detecção. Incorpora-se substrato de caseína, colágeno, albumina com

aprimoramento com heparina. A zimografia com caseína é ideal para analisar estromelisina,

porém, é menos sensível que de gelatina, além do substrato de caseína correr no gel durante a

eletroforese devido ao seu baixo peso molecular (23kDa), resultando em duas zonas no gel com

caseína e sem caseína (SNOEK-VAN BEURDEN et al., 2005; WILKESMAN, 2017a).

A zimografia reversa é uma modificação da zimografia de substrato, sendo usada para

identificar e analisar inibidores endógenos ou sintéticos (TAJHYA; PATEL; BEETON, 2017). No

gel de poliacrilamida é incorporado um substrato com sua MMP especifica, e os inibidores

aplicados no gel. Após a eletroforese, a MMP é ativada e digere todo o substrato do gel, exceto na

área onde o inibidor se faz presente, e após a coloração, o gel se mostra incolor exceto nos locais

dos inibidores, indicando a não degradação do substrato. Atualmente, para aumentar a

sensibilidade e usar menores quantidades de substrato, usa-se substratos com marcadores

isotiocianato de fluoresceína (SNOEK-VAN BEURDEN et al., 2005).

31

Zimografia in situ permite localizar as metaloproteases em tecidos, sendo uma otimização

ou modificação da zimografia de substrato. Essa metodologia consiste no depósito de um substrato

sobre ou sob um tecido congelado não fixado. Durante a incubação, o substrato é digerido pelas

proteases, e a degradação é detectada por microscopia de luz ou fluorescência (WILKESMAN,

2017b).

Os tripanossomatídeos elaboram uma grande variedade de proteases de superfície, que

são intracelulares e/ou extracelulares, com diferentes especificidades (SANTOS;

BRANQUINHA; D’AVILA-LEVY, 2006). A zimografia é usada em múltiplos estudos que

relacionam as metaloproteases de superfície com enfermidades causadas em vertebrados (DE

MEDEIROS; GOMES; FARES, 2012).

32

2. Justificativa

O estudo, das proteases de microorganismos, particularmente os intracelulares, tem

demonstrado que estas enzimas desempenham importantes funções durante a patogênese. Estas

proteínas participam no processo de invasão ao hospedeiro, podem assimilar os aminoácidos como

fonte nutricional ou para síntese de substâncias orgânicas, na diferenciação e escape ao sistema

imune do hospedeiro (CALIXTO; FAGUNDES; OLIVEIRA, 2014; MATTE et al., 2016).

A metaloproteinase (gp63), possui a capacidade de degradar diferentes peptídeos e

substratos proteicos tais como caseína, azo caseína, gelatina, colágeno, albumina, fibrinogênio e

hemoglobina. Deste modo, a matriz extracelular do macrófago é susceptível à hidrólise pela

enzima em questão, o que favorece a migração do parasita no seu interior. Acredita-se que o

mesmo se verifica em formas recém-inoculadas no tecido subcutâneo, em que no início da

infeção, podem aceder aos fibroblastos, inclusive os dos nódulos linfáticos (ISNARD; SHIO;

OLIVIER, 2012; LISBOA; AVEIRO, 2008; YAO, 2010). Neste contexto, a caracterização

bioquímica das metaloproteinases de T. cruzi (TcMSPs), e Leishmania spp. (LeishMSPs) mostra-

se como uma ferramenta de investigação, através da otimização de técnica da zimografia e suas

diferentes variações. Deste modo, podem ser usadas para avaliar com mais detalhes as

metaloproteases e ajudar o desenvolvimento de possíveis inibidores sintéticos potentes e seletivos

para o controlo da doença de Chagas e Leishmanioses.

33

3. OBJETIVOS

3.1. Objetivo geral

Realizar a otimização da técnica de zimografia e ensaio de degradação in vitro como

metodologia para caracterização bioquímica de metaloproteinases de Trypanosoma cruzi e

Leishmania spp..

3.2. Objetivos específicos

Este trabalho tem como objetivos específicos:

Otimizar substratos para o desenvolvimento da metodologia de zimografia;

Identificar atividade proteolítica do extrato bruto de Leishmania spp. e

Trypanosoma cruzi utilizando protocolo caseiro de zimografia;

Avaliar atividade proteolítica de Leishmania spp. e Trypanosoma cruzi in vitro

utilizando gelatina e albumina como substrato.

34

4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1. Substratos

A Gelatin From Bovine Skin (Sigma aldrich) é uma proteína de origem animal obtida a

partir da hidrólise parcial do colágeno bovino, suíno, frango e de peixes. Apresenta uma cadeia

proteica simples, resultante da degradação química e física das fibras proteicas insolúveis do

colágeno. É formada por 18 diferentes aminoácidos sendo amplamente utilizada em indústrias

farmacêuticas por possuir diversas características funcionais (FERREIRA, 2013).

A Bovine Serum Albumin - BSA (Sigma-aldrich) é uma proteína abundante no sangue

bovino e possui estrutura similar a estrutura HSA (Human Serum Albumin), apresentando

porcentagem de sequência de aminoácidos de 76%. O BSA é uma proteina constituida por uma

cadeia polipeptídica simples de 583 resíduos de aminoácidos com alto número de cisteína, lisina,

arginina, ácido glutâmico e aspártico, além de 3 domínios, podendo formar dímeros,

principalmente em altas concentrações (FERREIRA, 2009).

4.2. Leishmania spp. e Trypanosoma cruzi

Leishmania amazonensis

A espécie, Leishmania amazonensis (L. amazonensis) foi isolada em 1973 de um

paciente com leishmaniose cutânea difusa, no Estado do Pará, no Norte do Brasil, através de

ensaios utilizando anticorpos monoclonais e eletroforese isoenzima no Instituto Evandro Chagas

(Jennings et al., 2014).

Leishmania infantum

Leishmania infantum (L. infantum) foi obtida por citologia aspirativa do gânglio

linfático de um canídeo do canil municipal da região metropolitana de Lisboa, Portugal e mantida

no Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) por passagens sucessivas em camundongos

BALB/c.

35

Leishmania guyanensis

Leishmania guyanensis (L. guyanensis) foi isolado em 2001 de um paciente com

leishmaniose cutânea na microrregião de Santarém, na mesorregião do Baixo Amazonas no

Estado de Pará, Brasil.

Leishmania major -

A espécie é o agente etiológico da leishmaniose cutânea do Velho Mundo. A espécie

foi descrita em 1914 por Vasili Larionovich Yakimoff e Schokhor como Leishmania tropica

major.

Leishmania donovani

A espécie é o agente etiológico da leishmaniose visceral do Velho Mundo. A espécie

foi descrita em 1903 por Alphonse Laveran e Félix Mesnil como Piroplasma donovani.

Trypanosoma cruzi

Cepa Y

A cepa Y foi isolada de um caso agudo humano de doença de Chagas por meio de

xenodiagnóstico por Silva e Nussenzweig, em 1953. Formas tripomastigotas foram mantidas em

camundongos Swiss e formas epimastigotas em meio de cultura LIT.

Cepa Dm28c

Dm28 foi originalmente isolado de opsum, Didelphis marsupialis. O clone Dm28c foi

obtido a partir da infeção de camundongos recém-nascidos com as formas tripomastigotas do

parasito.

Cepa Bolívia

A cepa Bolívia foi isolada de fezes de Triatoma infestans, proveniente de Vitichi-

Bolívia por Funayama e Prado Júnior, 1974.

Cepa CL Brener

Cepa CL Brener que foi isolada de fezes de triatomíneos Triatoma infestans, vetor

estritamente domiciliar (Brener & Chiari, 1963).

36

4.3. Cultura axênica dos parasitas

O estabelecimento de um protocolo de manutenção dos parasitos em meios de cultivo tem

por objetivo promover crescimento in vitro, para obtenção dos extratos proteicos totais, para

posterior análise em ensaios enzimáticos.

4.3.1. Cultura de Leishmania spp.

As formas promastigotas de Leishmania spp. em estudo foram mantidas em meio

desenvolvido por Moore et al. no Roswell Park Memorial Institute - RPMI-1640 (Sigma Aldrish)

contendo L-glutamina (Sigma-Aldrich, Alemanha) suplementado com 0,4 g de bicarbonato de

sódio (NaHCO3, Sigma-Aldrich), 10% de (FBS-Fetal bovine serum inativado, Sigma-Aldrich)

(v/v) ,1,2% (m/v) de cloreto de cálcio (CaCl2, Sigma-Aldrich), 5mM de HEPES (Sigma-Aldrich)

e 0,5% de penicilina/etreptomicina (Sigma-Aldrich) (combinação de 10.000 U.ml-1 de penicilina

com 10.000 g.ml-1 de etreptomicina) a pH 7,2 e a 28 ℃.

4.3.2. Cultura de Trypanosoma cruzi.

A partir da cultura pré-estabelecida (3x105 parasitas/mL), as formas epimastigotas das

cepas de T. cruzi foram transferidas para um tubo falcon ao qual acrescentou-se previamente 5 ml

de meio Liver Infusion Tryptose (LIT). Este meio é constituído por 68 mM de cloreto de sódio

(NaCl, Sigma-Aldrich), 5 mM de cloreto de potássio (KCl2, Sigma-Aldrich), 49mM de fosfato de

sódio (Na2HPO4, Sigma-Aldrich), 11 mM de dextrose (C6H12O6, Sigma-Aldrich), 0,5% de

triptose (Sigma-Aldrich), 0,3% de caldo LB (LB broth, Sigma-Aldrich) e 0,013% de Haemin

(Sigma-Aldrich), cujo pH é ajustado para 7,2. O meio LIT também é suplementado com 10% de

FBS (v/v) e antibióticos (0,5% de estreptomicina/penicilina).

4.4. Preparação dos extratos

Após atingirem a fase estacionária de crescimento, as culturas de Trypanosoma e

Leishmania spp. contendo as formas epimastigotas e promastigotas respectivamente, foram

organizadas para a obtenção dos extratos proteicos totais. Para tal, inicialmente as culturas foram

centrifugadas 3000 x g a 4°C por 10 minutos, desprezado o sobrenadante e seguidamente foram

lavadas 3 vezes com PBS 1x (Phosphate Buffer Saline).

37

Após as lavagens, o pellet foi ressuspendido em tampão de lise sem inibidor de protease

(120mM NaCl, [Sigma-Aldrich], 50mM de tris-HCL [Trizma, Sigma-Aldrich] e 0,5% de NP-

40 [Biochemika, EU], pH 7,8), para a obtenção dos extratos brutos. Por fim, procedeu-se ao

processo de ruptura celular mecânica, através de seis cíclos de congelação e descongelação a -

20°C. Seguidamente, o extrato foi armazenado a -20°C até a sua utilização nos ensaios.

4.5. Determinação da concentração proteica dos extratos brutos

Para a caracterização do perfil eletroforético por SDS-PAGE e determinação da

atividade proteica pelo método de zimografia, os extratos proteicos totais dos parasitas T. cruzi

e Leishmania spp. foram previamente quantificados utilizando a metodologia proposta por

Bradford (Bradford, 1976). A proteína albumina sérica bovina (bovine serum albumin - BSA,

Sigma-Aldrich) foi utilizada como proteína padrão, possibilitando assim a obtenção da equação

da reta para determinação proteica de cada extrato.

Foi utilizado o reagente de Bradford (composto por ácido fosfórico, Comassie blue e

etanol), onde ocorre a ligação da proteína ao complexo ácido fosfórico/Comassie blue e a

mudança de cor ocorre, sendo esse reagente o ideal para determinação da concentração de

proteínas. Para o ensaio de quantificação, foi utilizado uma microplaca de 96 poços

(BrandPlate, Alemanha), sendo adicionado em duplicata, 5µl de extrato proteico dos

tripanosoamtídeos de T. cruzi e espécies de Leishmania. Posteriormente, foi adicionado 250

µl do reagente de Bradford e no controle (branco) foi adicionado 250µl do reagente de

Bradford e 5µl de PBS a 1%. Seguidamente, a placa foi incubada ao abrigo da luz durante 20

minutos a temperatura ambiente e foi realizada a leitura das absorbâncias no comprimento de

onda 570nm, utilizando o leitor de microplaca (BioTek, USA).

4.6. Identificação das metaloproteinases dos extratos de Leishmania spp. e

Trypanosoma cruzi

4.6.1. Caracterização do perfil proteico por SDS-PAGE

Para a visualização do perfil proteico dos extratos, foi realizada uma eletroforese em gel

de poliacrilamida a 10% (SDS-PAGE) de acordo com o método de LAEMMLI (1970). A

preparação do gel consiste na polimerização da acrilamida e da N-metilenobisacrilamida, sendo o

38

gel, quando polimerizado, quimicamente inerte, eletricamente estável e transparente para a

detecção ótica.

Na elaboração do gel foi usado um sistema de eletroforese vertical (Bio-Rad, EUA) sendo

preparado 8 mL solução de gel de corrida (migração de acordo com a massa) em um tubo de

Falcon: 4,1 ml de água destilada; 3,3 ml de acrilamida (30% acrilamiada (m/v) (Sigma-Aldrich) e

0,8% Bis-Acrilamida (v/v) (Sigma-Aldrich); 2,5ml de 1,5M Tris-HCl (Trizma - Sigma-Aldrich);

100μl de dodecil sulfato de sódio (SDS, Sodium dodecyl sulfate) (Sigma-Aldrich) a 10% (m/v);

50 μl Persulfato de amónia a 30% (p/v) (Sigma-Aldrich) e 5 μl de tetrametiletilenodiamina

(TEMED, Sigma-Aldrich), em que é colocado ao conjunto de moldes de vidro, onde depois da

sua polimerização foi preparado o gel de empacotamento 4% constituído por: 2,5 ml de água

destilada, 450μL de acrilamida (30% acrilamiada (m/v); Sigma-Aldrich) e 0,8% bis-Acrilamida

(v/v) (Sigma-Aldrich); 333μL de Tris-HCl 0,6M (Trizma - Sigma-Aldrich); 100 μL de SDS

(Sigma- Aldrich) a 10% (m/v); 50μl de solução saturada de persulfato de amónia e 5μl de TEMED

(Sigma- Aldrich).

Antes da polimerização do gel de empacotamento, é colocado um pente na parte superior

do gel para formar poços, onde foram colocados de 5 a 20 microlitros de amostra, além de 5μl do

padrão de massa molecular (Thermo Fisher scientific) como observado na figura 5.

Figura 5. Eletroforese em gel de Poliacrilamida (SDS-PAGE).

Os extratos quantificados foram solubilizados, na proporção de 1:1, em tampão de

amostra para SDS-PAGE: 3,55mL de água destilada, 1,25 ml de 0,5M Tris-HCl a pH 6.8, 2,5ml

de glicerol (Sigma-Aldrich), 2 ml de SDS 10% (m/v) (Sigma-Aldrich), 200μl de azul de

bromofenol 0,5% (m/v) (Sigma-Aldrich) e 50μl de beta-mercaptoetanol (Sigma-Aldrich). Sendo

este último adicionado no momento de preparação da diluição final da amostra, onde é responsável

pela redução das ligações dissulfeto. Por fim, após diluição, as amostras foram incubadas à

temperatura de 100ºC durante cinco minutos para desnaturação. Na cuba do sistema

eletroforético, os géis polimerizados foram submersos em tampão de corrida constituído por:

25M de Tris, 0,19M de

39

glicina (Sigma-Aldrich) e 0,1% de SDS. Um campo elétrico de 80 a 120 volts foi estabelecido,

promovendo a separação das proteínas com base no tamanho, carga e forma. Após a eletroforese,

os géis foram imersos na solução corante azul de Coomassie (Coomassie Brilliant Blue R-250,

Bio-Rad, EUA) constituído por: metanol 30%; ácido acético 10%; Comassie blue G-250 0,5% e

água destilada até a total coloração. Após a coloração, o corante foi retirado e os géis imersos na

solução Descorante constituída por: metanol 30%; ácido acético 10% e água destilada até a

visualização total das bandas proteicas.

4.6.2. Determinação da atividade enzimática por zimograma

Procedeu-se a avaliação qualitativa da atividade de gelatinase e albuminase dos parasitas

Leishmania e T. cruzi, através de ensaios feitos por zimografia frente a substratos de albumina e

gelatina. Em géis de poliacrilamida a 10% preparados conforme descrito anteriormente (3.6.1), foi

copolimerizado com 0,41% de gelatina e albumina (gelatin from bovine skin; bovine Serum

Albumin – BSA - Sigma-Aldrich).

As amostras foram preparadas de acordo com a concentração proteica presente, os

extratos solubilizados em tampão de amostra não redutor para SDS-PAGE (0,2 M Tris-HCl; 20%

glicerol; 6% SDS; 0,05% de azul de bromo fenol; pH 6,7) foram adicionados nos poços e os géis

submetidos à eletroforese com corrente elétrica constante de 80V a 4°C, evitando a desnaturação

das proteínas. Após concluída a separação proteica, os géis foram transferidos para 50ml de

solução de Renaturação (2,5% Triton X-100) durante uma hora a 37°C. Depois da incubação, os

géis foram lavados três vezes com agua destilada e transferidos para 50ml de solução de

Desenvolvimento (0,5 M Tris-HCl, pH 7,5, 200 mM NaCl, 5 mM CaCl2, 0.02 % (p/v) Brij-35)

overnight a 37°C. Depois do perído da incubação, realizou-se a coloração com Comassie blue (G-

250) e seguidamente a descoloração, como descrito anteriormente (3.6.1).

4.7. Otimização e determinação da atividade proteolítica in vitro de extrato

bruto de Leishmania spp. e Trypanosoma cruzi.

Inicialmente, foi obtido o perfil proteico do substrato de Bovine Serum Albumin – BSA

(Sigma-aldrich). Para tal foi pesado 1 miligrama de substrato e dissolvido em um eppendorf com

0,5ml de PBS (1x). As amostras de substratos nas concentrações decrescentes 20,15,10 e 5ug,

40

respectivamente, foram solubilizadas, na proporção de 1:1, em tampão de amostra. Seguidamente

submetidas a separação em gel de poliacrilamida a 10% em 10 poços foi preparado conforme

descrito anteriormente (4.6.1).

Para determinação da atividade proteolítica in vitro de extrato bruto de Leishmania spp. e

T. cruzi foi necessário realizar a quantificação por meio do método de Bradford (Bradford, 1976),

conforme descrito anteriormente (4.5). Quatro extratos de T. cruzi e cinco de Leishmania que

apresentaram as melhores concentrações foram escolhidos para iniciar-se o ensaio de

degradação. Num tubo de eppendorf foram preparadas amostras contendo 40ul de extrato bruto e

10ul de substrato (BSA) e incubados a 37°C durante 24, 48 e 72 horas. Como controle, foi

utilizado um tubo contendo apenas o substrato sendo incubado nos mesmos intervalos de tempo.

Após as etapas de incubação, as amostras foram solubilizadas em tampão de amostras

na proporção de 1:1, sendo submetidas posteriormente a desnaturação por 5 minutos a 100°C.

Para verificar uma possível degradação do substrato devido a presença do extrato bruto de

tripanosomatídeos, foi preparado um gel de poliacrilamida a 10%, em que no gel de empilhamento

onde contém os poços, foram adicionadas as amostras e o marcador de peso molecular, assim foi

iniciada a eletroforese SDS-PAGE, promovendo a separação proteica. No fim da eletroforese, os

géis foram retirados da cubeta, lavados por 20 segundos com água destilada e imersos na solução

corante azul de Coomassie (Coomassie Brilliant Blue R-250, Bio-Rad, EUA) até a coloração total

do gel. Após a coloração, o corante foi retirado e os géis imersos na solução Descorante até a

visualização das bandas.

41

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. Perfil proteico de Leishmania spp. e Trypanosoma cruzi

A família tripanosomidae é um grupo cosmopolita de flagelados contendo parasitas que

afetam todos os principais grupos de organismos eucariontes. Eles são distinguíveis de outros

protozoários por características organizacionais distintas, como presença de DNA mitocondrial

cinetoplasto, isolamento de enzimas glicoliticas na organela glicossomo e uso de bolsa flagelar

para tráfego de moléculas (SANTOS; BRANQUINHA; D’AVILA-LEVY, 2006). Os

tripanosomatideos são capazes de adaptar seu metabolismo energético à disponibilidade de

substrato e oxigênio, possibilitando instituir novos ciclos de vida (SÁDLOVÁ et al., 2006)

Os protozoários Leishmania spp. e T. cruzi integram a mesma família taxonômica,

tripanosomatidae, sendo por isso esperado que apresentem proteínas em comum. Após a obtenção

do extrato, realizou-se a quantificação proteica do extrato bruto total pelo método de Bradford.

Para tal foi utilizado como curva padrão, a proteína Albumina sérica bovina – BSA, como

demostrado na figura 6.

Figura 6.Curva padrão, utilizando a proteína Albumina sérica bovina (BSA). A partir da curva foi possível

determinar a concentração proteica do extrato bruto de Leishmania spp e T. cruzi.

42

A eletroforese é uma técnica de separação baseada na migração de moléculas

carregadas, numa solução, em função da aplicação de um campo elétrico. Na eletroforese em gel,

o deslocamento das partículas é retardado pelas interações com o gel da matriz, que constitui um

meio de migração e comporta-se como uma rede molecular. Sendo uma técnica amplamente usada

em vários segmentos da pesquisa como bioquímica clínica, biologia molecular, biotecnologia,

além da análise de DNA (HU; BEETON, 2010).

Os perfis dos extratos de Leishmania spp. e T. cruzi foram analisados pelo método de

eletroforese SDS-PAGE, usando géis de poliacrilamida a 10% corados com Comassie, (Figura

7).

Figura 7.Perfil proteico total dos extratos de Leishmania e as respectivas concentrações por poço, em

géis corados com azul de Coomassie. M – Marcador de pesos moleculares; 1 – L. amazonensis (3,60 µg); 2 – L.

donavani (1,35 µg); 3 – L. guyanensis (1,08 µg); 4 – L. infantum (1,5 µg) e 5 – L. major (3.6 µg).

A coloração por Comassie mostrou-se eficaz devido à grande especificidade por

proteínas, apesar da pouca sensibilidade quando comparada com a coloração por nitrato de prata

(LISBOA; AVEIRO, 2008). Os perfis proteicos dos parasitas estudados são claramente distintos

entre si, contudo, não é possível distinguir entre as diferentes espécies de Leishmania e as

estirpes de T. cruzi (figura 8). Os resultados obtidos demostram a presença de um maior número

de bandas nos extratos brutos de Leishmania, cujo pesos moleculares das bandas variam entre 40

a 80kDa, este resultado foi semelhante com estudos feitos por MONTEIRO (2015) e MORENO

(2019) em que usaram o gel de poliacrilamida na mesma concentração,a mesma coloração e

parasitos.

43

As espécies de L. amazonensis e L. guyanensis apresentaram, além do perfil citado,

bandas proteicas em torno de 100 a 120 kDa, permitindo uma visão mais detalhada. Este fato pode

se dar porque parasita contém uma maior quantidade de glicoproteína 63 em toda sua superfície

que pode expressar diferentes pesos moleculares próximos a 63kDa (figura 7).

As estirpes de T. cruzi apresentaram um perfil menos detalhado com bandas proteicas

mais discretas (Figura 8). Embora este parasita tenha um maior repertório gênico de

metaloprotease, a expressão e a função proteolítica são menores comparativamente às espécies

de Leishmania. O perfil das estirpes de T. cruzi apresentam bandas que giram em torno de 20 -32

kDa e 35 - 60kDa, além de proteínas entre 60 - 120kDa. A principal cisteína-protease de

superfície, a cruzipaína (glicoproteína de 57 kDa) está presente em T. cruzi.

Figura 8.Perfil proteico total dos extratos das cepas de Trypanosoma cruzi e as respectivas concentrações

por poço, em géis corados com azul de Coomassie. M – Marcador de pesos moleculares; 1 – D m28c (0.58 µg); 2 –

QMM9 (3,9 µg); 3 – Cl Brener (2,5 µg); 4 – Bolívia (05,9 µg) e 5 – Y (3,2 µg).

As transformações morfológicas do parasita estão associadas a alterações específicas nos perfis

de glicopeptídeos e polipeptídeos. Os resultados indicam a presença de mucinas, moléculas

abundantes, presentes na superfície dos diferentes estágios do T. cruzi, com peso molecular

44

aparente de 40kDa, além de uma proteína com peso molecular aparente de 54 kDa (MEJÍA;

PALÁU; ZÚÑIGA, 2004).

A cruzipaína, principal cisteína-protease de T. cruzi, é uma proteína altamente homóloga

com outros membros da família de protease da papaína (SIQUEIRA-NETO et al., 2018). Formas

homólogas são encontradas em diferentes cepas do parasita, apesar das diferentes isoformas que

são encontradas no genoma do parasita (SCHNAPP et al., 2002). A virulência e a morfogênese do

parasita dependem da atividade endógena da cruzipaína lisossomal, sendo essencial para

replicação de amastigotas e tem papel crucial nas interações parasita-hospedeiro (CERNY et al.,

2020).

5.2. Atividade proteolítica de extratos Leishmania spp. e Trypanosoma cruzi.

A partir dos resultados dos perfis proteicos, foram feitos ensaios proteolíticos dos extratos

brutos através de protocolo caseiro de zimografia, adaptado aos substratos de gelatina e albumina,

proporcionando uma comparação qualitativa entre as espécies.

Os substratos encontram-se copolimerizados nos géis de poliacrilamida e a atividade dos

extratos está relacionada com a sua especificidade ao substrato.

Os resultados obtidos usando o protocolo caseiro de zimografia, demostra atividade

gelatinolitica e albuminolitica dos extratos brutos do parasita Leishmania. As cinco espécies de

Leishmania escolhidas para esse trabalho apresentaram atividade sobre o substrato de gelatina,

atividade essa mediada por enzimas de pesos moleculares que vão de 50 a 80 kDa, além de bandas

de atividade proteolítica de aproximadamente 100 a 120 kDa (figura 9).

Figura 9.Perfil enzimático, em gel de poliacrilamida acoplado com o susbstrato gelatina, na presença de

extratos de Leishmania spp e T. cruzi. 1 - L. amazonensis; 2- L. donavani; 3 - L. guyanensis; 4 - L. infantum; 5 - L.

major; 6- Cl Brener; 7 – Dm28c; 8 – Y e 9– Bolívia.

45

A observação da atividade frente ao substrato de gelatina por extratos de Leishmania

sugere papel importante das enzimas do parasita frente ao substrato de colágeno e fibronectina do

hospedeiro vertebrado, além de crucial durante os diferentes ciclos de vida do parasita,

concretizando a presença abundante de enzimas nas formas promastigotas metacíclica (Figura 9).

Em extratos de Leishmania, a gp63 é a principal proteína de superfície, tornando provável

que a atividade gelatinolitica observada entre 50 a 80 KDa seja correspondente a proteína. As

espécies de L. donavani L. guyanensis, L. infantum e L. major apresentaram uma proteína com

atividade de peso molecular de 40 kDa, além da glicoproteína gp63. Este resultado foi de acordo

com observado por MONTEIRO (2015) e MORENO (2019). Foi observada a presença de bandas

na parte superior do gel em todas as espécies de Leishmania, podendo ser a forma inativada da

gp63, apresentando maior peso molecular devido ao pró-peptídeo (LISBOA; AVEIRO, 2008).

Em relação aos extratos brutos de T. cruzi, verificou-se atividade proteolítica para as

estirpes de Cl Brener e Dm28c em gel de gelatina que vão de 50 a 60kDa. Em relação as estirpes

de Bolívia e cepas Y foi possível observar atividade semelhante, mesmo que de forma menos

evidente quando comparada com outros extratos da mesma espécie (Figura 9). A proteína

observada pode ser, além da gp63, a principal cisteína-protease de T. cruzi, a cruzipaína que

apresenta peso molecular de 57kDa. A atividade entre 50-60 kDa detectada aqui pode ser

idêntica a enzima cisteína-peptidase que foi amplamente caracterizada por Cazzulo e seus

colegas. Assim como a glicoproteína 82, que parece ter relação entre a interação do protozoário

com hospedeiro vertebrado (SIQUEIRA-NETO et al., 2018).

Na atividade enzimática de T. cruzi, conclui-se que não há diferença na expressão

enzimática entre os estágios de vida do parasita (CERNY et al., 2020). A cruzipaína está presente

em todas as etapas do ciclo de vida e é identificada como antígeno principal do parasita, além de

mucinas e transialidases. Estes glicopeptídeos e polipeptídeo desempenham funções importantes

na diferenciação, metabolismo, evasão da resposta imune e invasão das células hospedeiras

(SIQUEIRA-NETO et al., 2018). T. cruzi apresenta pelo menos duas famílias de genes

amplamente descritas, a transialidase e semelhante à mucina. Essas famílias são compostas por

cerca de 150 e 700 genes, respectivamente, e provavelmente são as proteínas mais abundantes na

superfície do parasita (CUEVAS; CAZZULO; SÁNCHEZ, 2003).

46

A menor a atividade gelatinolítica por parte do extrato de T. cruzi, quando comparado a

Leishmania, pode se dever a menor expressão de gp63 funcional, menor afinidade com o

substrato, além do fato de o protocolo usado seja de origem caseira, onde ainda encontra-se em

processo de otimização para a revelação de atividade enzimática (Figura 10).

Figura 10.Perfil enzimático, em gel de albumina, de extratos de Leishmania spp e T. cruzi; 1 -

L.amazonensis; 2 – L. donavani; 3 – L. guyanensis; 4 – L. infantum; 5 – L. major; 6 –Cl Brener; 7 – Dm28c; 8 – Y e

9 – Bolívia.

No gel de poliacrilamida copolimerizado com albumina foi possível observar uma grande

atividade proteolítica das espécies de Leishmania sobre o substrato (Figura 10). Não foi possível

verificar no gel as bandas de degradação de forma distinta, porém, é possível confirmar afinidade

dos extratos sobre o substrato de albumina. O BSA é uma cadeia polipeptídica simples de 583

resíduos aminoácidos. Possui estrutura muito similar a HSA (Human Serum Albumin),

apresentando sequencia idêntica de aminoácidos de 76% (FERREIRA, 2009). Essa similaridade

confirma a importância dessa endopeptidase nos diferentes estágios de vida do parasita e na

parasitemia no hospedeiro vertebrado.

Assim como na gelatina, no zimograma de albumina foi observado a presença de

degradação na parte superior do gel nas espécies de Leishmania donavani, L. guyanensis, L.

infantum e L. major, podendo ser a forma inativada da gp63, apresentando maior peso molecular

devido ao pró-peptídeo (LISBOA; AVEIRO, 2008). O extrato da espécie de Leishmania

amazonensis não apresentou atividade proteolítica frente à albumina, provavelmente ao fato dessa

espécie ter mais afinidade com substratos de colágeno e fibronectina. Isso pode ser correlacionado

pelo fato dessa espécie ser a principal causadora da leishmaniose cutânea, e reafirmado a atividade

proteolítica frente a substrato de gelatina e colágeno.

47

No que concerne a atividade enzimática de extratos de T. cruzi, conclui-se que não há

diferenças na expressão enzimática em função da forma morfológica do parasita, não ocorrendo

atividade proteolítica sobre a albumina. De fato, há muito poucos estudos sobre a detecção de

peptidases de T. cruzi usando gel de substrato albumina na literatura. Porém, alguns estudos

mostraram padrões de peptidase muito semelhantes entre diferentes cepas, sugerindo que muitas

dessas enzimas são conservadas entre as cepas (MEJÍA; PALÁU; ZÚÑIGA, 2004).

5.3. Atividade proteolítica in vitro de extrato bruto de Leishmania spp.

Trypanosoma cruzi sobre o substrato de Albumina.

Para iniciar o ensaio de atividade proteolitica in vitro, foi necessario otimizar o perfil

proteico do susbtrato de albumina. As amostras de até 20ug foram preparadas em tampão de

amostras, na proporção de 1:1, e realizado a eletroforese por SDS-PAGE, obtendo o perfil proteico

conforme mostra a figura 11.

Figura 11.Perfil de proteico, em gel de poliacrilamida (10%), de substrato Albumina sérica (BSA).

Marcador de pesos moleculares (M). Nos poços foram aplicadas diferentes concentrações de BSA: 1 – 5µg; 2 – 10µg;

3 – 15µg e 4 – 20µg.

A concentração de 10ug de BSA se mostrou nítida e suficiente para visualizar uma

possivel degradação, seja por parte da temperatura durante a incubação ou por ação direta com as

enzimas dos extratos brutos (Figura 11). Assim, foi a concentração escolhida para o estudo de

degradação in vitro.

48

No gel de poliacrilamida, foram aplicadas nos poços, os extratos de L. infantum,

L.guyanensis, L. donavani e estirpes de T. cruzi Cl Brener e Dm28c solubilizados em substrato e

submetidos a incubação por 24 horas. O mesmo procedimento foi feito nos intervalos de 48 e 72

horas. O substrato de albumina, sem extrato bruto de parasita, tambem foi submetido a incubação

e aplicado no gel (Figura. 12).

Figura 12.Perfil de degradação in vitro da albumina na presença do extrato bruto de Leishmania spp. e T.

cruzi, em gel de poliacrilamida durante 24 horas (A), 48 horas (B) e 72 horas (C). Foi utilizado a concentração fixa

de 10 µg da albumina sérica (BSA). M – Marcador de pesos moleculares;1 – L. infantum; 2 - L. guyanensis; 3 –L.

donavani; 4 – Cl Brener; 5 – Dm28c.

As especies Leishmania e T. crzui solubilizadas em substrato, quando incubadas durante

24 horas, apresentaram atividade proteolítica sobre as bandas de peso molecular acima de 70 kDa

da BSA e abaixo de de 55 KDa em 24 horas (Figura. 12A). Por outro lado, evidencia-se a

diminuição do tamanho da banda principal da proteína, cujo peso molecular varia entre os 70-75

kDa

Após a incubação por 48 horas, todos os extratos das espécies de Leishmania

solubilizadas em substratos e aplicadas no gel apresentaram uma ligeira atividade proteolítica, isso

pode ser evidenciado pela diminuição da banda principal da BSA (figura 12B). Ao contrário das

espécies de Leishmania, as estirpes de T. cruzi (CL Brener e Dm28C) mantiveram padrão

semelhante à de 24 horas. Em 72 horas de incubação (figura 12C), a L. guyanensis apresentou

maior atividade proteolítica. Ainda na mesma figura, é possível observar que os extratos das

espécies de L. infantum e L. donavani, assim como as estirpes de T. cruzi Cl Brener e Dm28c

apresentaram atividade proteolítica semelhantes as observadas em 24 horas de incubação.

49

Na segunda etapa do ensaio, foram analisadas as espécies de L. major, L. amazonensis,

além das estirpes Bolívia e cepas Y de T. cruzi. Após 24 horas de incubação, a espécie de L. major

apresentou atividade proteolítica, ao contrário da espécie de L. amazonensis e estirpes Bolívia e

cepas Y frente ao substrato BSA (Figura. 13D).

Figura 13.Perfil de degradação in vitro da albumina na presença do extrato bruto de Leishmania spp. e T.

cruzi, em gel de poliacrilamida durante 24 horas (D), 48 horas (E) e 72 horas (F). Foi utilizado a concentração fixa de

10 µg da albumina sérica (BSA). M – Marcador de pesos moleculares. BSA; 1 Cepas Y; 2- Bolívia; 3- L.

amazonensis e 4- L. major.

Em 48 horas de incubação, a L. major apresentou um perfil de degradação semelhando

ao ensaio de incubação de 24 horas. Sendo nítida um aumento da degradação do substrato

dependente do tempo da incubação (Figura 13E). O extrato de L. amazonensis e L. major

apresentou um aumento da atividade proteolítica quando comparada ao perfil de degradação por

24 horas (Fig. 13D-E). As cepas Bolívia e Y apresentaram perfil de degradação.

A preparação e aplicação no gel do substrato de albumina solubilizando em tampão de

amostra sem os extratos de parasitas, foi uma alternativa encontrada para verificar se a degradação

do substrato seria causada pela ação da temperatura durante a incubação ou por ação direta das

enzimas parasitarias. Ainda conforme a figura 12 e 13, o substrato mostrou-se com uma banda

nítida, entre 60 a 66kDa, como observado por FERREIRA e colaboradores (2009). Além disso, a

evidência dessa banda elimina a hipótese de degradação do substrato por parte da temperatura.

50

A leishmaniose tegumentar pode se manifestar em três formas de expressão clínica:

cutânea, mucocutânea e cutânea difusa. A leishmaniose cutânea é a mais frequente e é

classicamente dividida nas formas do Novo e do Velho Mundo. No Brasil, as principais espécies

que causam a leishmaniose tegumentar são L. guyanensis e L. amazonensis, e no Velho Mundo é

causada por L. major (ARENAS et al., 2017).

A leishmaniose cutânea pode evoluir para cutânea difusa começando com pápulas

localizadas e não ulceradas, as amastigotas se disseminam pela pele e produzem nódulos cutâneos

na face e extremidades, sendo associada e L. amazonensis.

Essa grande variedade de espécies que podem causar a forma clinica cutânea da doença

mostra a intensa afinidade do parasita Leishmania com substratos de colágeno, gelatina e

fibronectina, em especial a L. amazonensis. Isso é confirmado pelos ensaios de zimografia com

substratos de gelatina e albumina presentes neste estudo, mostrando intensa atividade proteolítica

de todas as espécies de Leishmania frente a gelatina enquanto que frente ao substrato de albumina,

esses parasitas apresentaram atividade, mesmo que de forma menor ou nenhuma, como a L.

amazonensis.

Além da preferência por substrato de gelatina, a L. amazonensis infecta células no

tegumento, onde a temperatura é de aproximadamente 28°C, e durante o ensaio in vitro, a

temperatura foi de aproximadamente 37°C. Portanto, para além da afinidade pelo substrato, a

temperatura também se mostrou um fator determinante para que enzima apresentasse atividade

máxima (DA SILVA-LOPEZ; GIOVANNI-DE-SIMONE, 2004). Os extratos brutos das estirpes

de T. cruzi apresentaram pouca atividade proteolítica frente a substratos de gelatina e nenhuma

atividade proteolítica visível frente a substrato de albumina, no gel de Zimografia. Este resultado

não está em concordância com os resultados dos ensaios de degradação in vitro, que mostra que

estirpes de Y, Bolivia, Cl Brener e Dm28c apresentaram atividade sobre albumina. A zimografia

e SDS-PAGE são técnicas diferentes, onde a zimografia oferece condições para a renaturação da

proteína com diferentes alterações, no pH. Sendo assim, ensaios futuros com alterações no

protocolo, podem esclarecer a capacidade proteolítica frente a albumina, utilizando a zimografia.

Por outro lado, característica marcante do T. cruzi é a alta diversidade genética e fenotípica

inespecífica. Tal diversidade nos permite hipotetizar a causa da não atividade proteolitica frente

a substrato de albumina (ZINGALES, 2018).A diferença nos perfis proteicos e na atividade

enzimática frente aos substratos entre T. cruzi e Leishmania encontrados neste trabalho, sugere a

existência de múltiplos fatores como proteínas específicas da espécie, estágio morfofisiológico

das populações e sua origem geográfica, indicando uma complexidade no gene de expressão

desses parasitas (MEJÍA; PALÁU; ZÚÑIGA, 2004).

51

6. CONCLUSÃO E PESPERCTIVAS

O presente trabalho permitiu, por meio de ensaios de SDS-PAGE e zimografia, a obtenção

do perfil proteico e atividade proteolítica mediada por proteases presentes nos extratos brutos dos

tripanosomatídeos sobre o substrato gelatina e albumina, respectivamente.

Os perfis proteicos dos parasitas estudados são claramente distintos entre si, não sendo

possível identificar diferença entre as diferentes espécies de T. cruzi e Leishmania. O perfil de

Leishmania se mostrou mais detalhado, tendo uma maior existência de bandas entre 40-80 kDa,

isso é devido a alta capacidade do parasita de expressar a gp63. T. cruzi, porém, tem uma menor

capacidade de expressar glicoproteína com capacidade proteolítica.

A zimografia permitiu a observação da atividade proteolítica mediada por proteases

presentes nos extratos brutos dos tripanosomatídeos. Os resultados apresentam perfis diferentes, o

que aponta para a especificidade e afinidade da atividade enzimática sobre cada substrato. Em

substrato de gelatina, os extratos de Leishmania spp. demostraram a presença de enzimas

localizadas entre 50 - 80 kDa, sendo indicativo da glicoproteína mais abundante de superfície do

parasita, gp63, além de atividade entre 100 – 120kDa. Em relação T. cruzi observou-se atividade

proteolítica das cepas Cl Brener e Dm28c entre 50-60 kDa, enquanto as cepas Y e Bolivia

apresentaram atividade menos evidente. Essa atividade em gel de gelatina das cepas, muito

provavelmente refere-se a cisteína-protease cruzipaína, abundante na superfície das estirpes de

T.cruzi, além de outras glicoproteinas de superficie como trans- sialidase e mucinas.

Verificou-se atividade proteolítica para todas as espécies de Leishmania spp. em gel

de albumina, não sendo possível verificar as bandas de degradação de forma distinta. A

exceção ocorreu na espécie de L. amazonensis que não apresentou atividade. Em relação as

estirpes de T. cruzi, essas não apresentaram atividade frente albumina, em gel de zimografia,

provavelmente devido a diversidade fenotípica e afinidade com substrato, assim como as

condições do protocolo. O ensaio de degradação in vitro permitiu observar, por meio da

incubação a 37°C em diferentes intervalos de tempo, a atividade proteolítica dos extratos

brutos de Leishmania e T. cruzi. Das espécies estudadas nesse ensaio, todas as espécies de

Leishmania e T. cruzi apresentaram atividade, sendo a degradação do substrato mais perceptivel

nos extratos de Leishmania.

Devido a importância das funções bioquímicas e biológicas dessas proteases de superfície

frente ao hospedeiro, a caracterização dos mecanismos biológicos de infecção pode constituir

uma oportunidade para a identificação de novos alvos terapêuticos e novos fármacos.

52

Poranto, é necessário continuar os estudos utilizando uma ampla gama de isolados de

parasitas, além de outros substratos proteicos que nos permita identificar a afinidade de cada

parasita. Além de uma análise de bioinformática, por meio do docking molecular, que nos

permita identificar a atração dos diferentes aminoácidos envolvidos na interação parasita-

hospedeiro ou parasita-substrato.

53

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. ARENAS, R. et al. Leishmaniasis: A review. F1000Research, v. 6, n. May, p. 1–15, 2017.

2. BOELAERT, M. et al. Cost-effectiveness of competing diagnostic-therapeutic strategies for

visceral leishmaniasis. Bulletin of the World Health Organization, v. 77, n. 8, p. 667–674, 1999.

3. BUNNEY, P. E. et al. Orexin activation counteracts decreases in nonexercise activity

thermogenesis (NEAT) caused by high-fat diet. Physiology & Behavior, v. 176, n. 3, p. 139–148,

jul. 2017.

4. BURZA, S.; CROFT, S. L.; BOELAERT, M. Leishmaniasis. The Lancet, v. 392, n. 10151, p.

951–970, 2018.

5. CALIXTO, P. H. M.; FAGUNDES, D. S.; OLIVEIRA, J. C. S. Estrutura Tridimensional da Major

Surface Protease de Leishmania guyanensis Resolvida por Modelagem Comparativa. Biota

Amazônia, v. 4, n. 1, p. 74–80, 2014.

6. CARVALHO, A. M. et al. Immunologic response and memory T cells in subjects cured of

tegumentary leishmaniasis. BMC Infectious Diseases, v. 13, n. 1, 2013.

7. CECÍLIO, P. et al. Deception and manipulation: The arms of Leishmania, a successful parasite.

Frontiers in Immunology, v. 5, n. OCT, p. 1–16, 2014.

8. CERNY, N. et al. Cruzipain and Its Physiological Inhibitor, Chagasin, as a DNA-Based

Therapeutic Vaccine against Trypanosoma cruzi. Frontiers in Immunology, v. 11, n. October,

p. 1–15, 2020.

9. CHAGAS, A. P. et al. Aspectos ecológicos da fauna de flebotomíneos em focos de leishmaniose

na Amazônia Oriental, Estado do Pará, Brasil. Revista Pan-Amazônica de Saúde, v. 7, n. esp, p.

123–132, 2016.

54

10. CUEVAS, I. C.; CAZZULO, J. J.; SÁNCHEZ, D. O. gp63 homologues in Trypanosoma cruzi:

Surface antigens with metalloprotease activity and a possible role in host cell infection. Infection

and Immunity, v. 71, n. 10, p. 5739–5749, 2003.

11. CUI, N.; HU, M.; KHALIL, R. A. Biochemical and Biological Attributes of Matrix

Metalloproteinases. Progress in Molecular Biology and Translational Science, v. 147, n. 617,

p. 1–73, 2017.

12. DA COSTA FILHO, A. V.; LUCAS, Í. C.; SAMPAIO, R. N. R. Estudo comparativo entre

miltefosina oral e antimoniato de N-metil glucamina parenteral no tratamento da leishmaniose

experimental causada por Leishmania (Leishmania) amazonensis. Revista da Sociedade

Brasileira de Medicina Tropical, v. 41, n. 4, p. 424–427, 2008.

13. DA SILVA-LÓPEZ, R. E. Proteases de leishmania: Novos alvos para o desenvolvimento racional

de fármacos. Quimica Nova, v. 33, n. 7, p. 1541–1548, 2010.

14. DE MAGALHÃES, A. V et al. Histopathology of cutaneous leishmaniasis caused by Leishmania

braziliensis. Padroes histológicos e estudo evolutivo das lesoes. Revista do Instituto de Medicina

Tropical de São Paulo, v. 28, n. 6, p. 421–30, 1986.

15. DE MEDEIROS, N. INGRID; GOMES, J. DE A. S.; FARES, R. C. G. Detecção E Quantificação

Da Atividade Enzimática Das Metaloproteinases E De Seus Inibidores Através Da Técnica De

Zimografia. Pós em Revista do Centro Universitário Newton Paiva, v. 2, n. 6, p. 1–4, 2012.

16. DIAS, J. C. P. et al. Aspectos Gerais da Epidemiologia da Doença de Chagas com Especial

Atenção ao Brasil. Epidemiologia e servicos de saude : revista do Sistema Unico de Saude do

Brasil, v. 25, n. spe, p. 7–86, 2016a.

17. DIAS, J. C. P. et al. Mudanças no paradigma da conduta clínica e terapêutica da doença de Chagas:

avanços e perspectivas na busca da integralidade da saúde. Epidemiologia e servicos de saude :

revista do Sistema Unico de Saude do Brasil, v. 25, n. spe, p. 87–90, 2016b.

18. DIAS, J. C. P. Notas sobre o Trypanosoma cruzi e suas características bio-ecológicas, como agente

de enfermidades transmitidas por alimentos. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina

55

Tropical, v. 39, n. 4, p. 370–375, 2006.

19. DIAS, L. C. et al. Doenças tropicais negligenciadas: uma nova era de desafios e oportunidades.

Quimica Nova, v. 36, n. 10, p. 1552–1556, 2013.

20. FERREIRA, E. S. Interação da albumina do soro bovino (BSA) com substratos sintéticos. p. 137,

2009.

21. FERREIRA, M. F. Extração E Caracterização De Gelatina Proveniente De Subprodutos Do

Frango : Pés. p. 40, 2013.

22. GALVAN et al. We are IntechOpen , the world ’ s leading publisher of Open Access books Built

by scientists , for scientists TOP 1 %. In: Intech. [s.l: s.n.]. v. ip. 13.

23. GONTIJO, C. M. F.; MELO, M. N. Leishmaniose visceral no Brasil: quadro atual, desafios e

perspectivas. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 7, n. 3, p. 338–349, 2004.

24. GOTO, H.; LINDOSO, J. A. L. Current diagnosis and treatment of cutaneous and mucocutaneous

leishmaniasis. Expert Review of Anti-Infective Therapy, v. 8, n. 4, p. 419–433, 2010.

25. HASSANI, K. et al. Absence of metalloprotease GP63 alters the protein content of leishmania

exosomes. PLoS ONE, v. 9, n. 4, 2014.

26. HOTEZ, P. J. et al. World neglected tropical diseases day. PLoS neglected tropical diseases, v.

14, n. 1, p. e0007999, 2020.

27. HU, X.; BEETON, C. Detection of functional matrix metalloproteinases by zymography. Journal

of Visualized Experiments, n. 45, p. 1–5, 2010.

28. ISNARD, A.; SHIO, M. T.; OLIVIER, M. Impact of Leishmania metalloprotease GP63 on

macrophage signaling. Frontiers in cellular and infection microbiology, v. 2, n. May, p. 72,

2012.

29. JANSEN, A. M.; XAVIER, S. C. D. C.; ROQUE, A. L. R. Trypanosoma cruzi transmission in the

56

Wild and its most important reservoir hosts in Brazil. Parasites and Vectors, v. 11, n. 1, p. 1–

25, 2018.

30. JENNINGS, Y. L. et al. Phenotypic characterization of Leishmania spp. causing cutaneous

leishmaniasis in the lower Amazon region, western Pará state, Brazil, reveals a putative hybrid

parasite, Leishmania (Viannia) guyanensis × Leishmania (Viannia) shawi shawi. Parasite, v. 21,

2014.

31. KARUNAWEERA, N. D.; FERREIRA, M. U. Leishmaniasis: Current challenges and prospects

for elimination with special focus on the South Asian region. Parasitology, v. 145, n. 4, p. 425–

429, 2018.

32. LAMBERTZ, U. et al. Secreted virulence factors and immune evasion in visceral leishmaniasis.

Journal of Leukocyte Biology, v. 91, n. 6, p. 887–899, 2012.

33. LIEKE, T. et al. Leishmania surface protein gp63 binds directly to human natural killer cells and

inhibits proliferation. Clinical and Experimental Immunology, v. 153, n. 2, p. 221–230, 2008a.

34. LIEKE, T. et al. Leishmania surface protein gp63 binds directly to human natural killer cells and

inhibits proliferation. Clinical and Experimental Immunology, v. 153, n. 2, p. 221–230, 2008b.

35. LISBOA, U. N. D. E.; AVEIRO, U. D. E. UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA Instituto de

Higiene e Medicina Tropical. p. 0–4, 2008.

36. MA, L. et al. An evolutionary analysis of trypanosomatid GP63 proteases. Parasitology

Research, v. 109, n. 4, p. 1075–1084, 2011.

37. MALAFAIA, G. A importância do encorajamento de estudos sobre as doenças tropicais

negligenciadas. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 42, n. 5, p. 609–610,

2009.

38. MALAFAIA, G.; DE LIMA RODRIGUES, A. S. Centenário do descobrimento da doença de

chagas: Desafios e perspectives. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 43,

n. 5, p. 483–485, 2010.

57

39. MARTINEZ, S. J.; ROMANO, P. S.; ENGMAN, D. M. Precision Health for Chagas Disease:

Integrating Parasite and Host Factors to Predict Outcome of Infection and Response to Therapy.

Frontiers in Cellular and Infection Microbiology, v. 10, n. May, p. 1–11, 2020.

40. MATTE, C. et al. Leishmania major Promastigotes Evade LC3-Associated Phagocytosis through

the Action of GP63. PLoS Pathogens, v. 12, n. 6, p. 1–17, 2016.

41. MESSENGER, L. A.; MILES, M. A.; BERN, C. Between a bug and a hard place: Trypanosoma

cruzi genetic diversity and the clinical outcomes of Chagas disease. Expert Review of Anti-

Infective Therapy, v. 13, n. 8, p. 995–1029, 2015.

42. MITRA, A. K.; MAWSON, A. R. Neglected tropical diseases: Epidemiology and global burden.

Tropical Medicine and Infectious Disease, v. 2, n. 3, 2017.

43. NAPOLI, S. et al. Functional Roles of Matrix Metalloproteinases and Their Inhibitors in

Melanoma. Cells, v. 9, n. 5, p. 1–23, 2020.

44. PÉREZ-MOLINA, J. A.; MOLINA, I. Chagas disease. The Lancet, v. 391, n. 10115, p. 82–94,

2018.

45. PERSOON, M. C. et al. An unusual case of congestive heart failure in the Netherlands. JMM

Case Reports, v. 5, n. 4, p. 1–6, 2018.

46. PINHEIRO, F. G.; LUZ, S. L. B.; FRANCO, A. M. R. Infecção natural por tripanosomatídeos

(Kinetoplastida: Trypanosomatidae) em Lutzomyia umbratilis (Diptera: Psychodidae) em áreas de

leishmaniose tegumentar americana no Amazonas, Brasil. Acta Amazonica, v. 38, n. 1, p. 165–

172, 2008.

47. POULOSE. 乳鼠心肌提取 HHS Public Access. Physiology & behavior, v. 176, n. 1, p. 139–

148, 2016.

48. REBELLO, K. M. et al. Participation of Trypanosoma cruzi gp63 molecules on the interaction

with Rhodnius prolixus. Parasitology, v. 146, n. 8, p. 1075–1082, 2019.

58

49. RIBEIRO, A. L.; ROCHA, M. O. Indeterminate form of Chagas disease: considerations about

diagnosis and prognosis. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 31, n. 3, p.

301–314, 1998.

50. SÁDLOVÁ, J. et al. Virulent and attenuated lines of Leishmania major: DNA karyotypes and

differences in metalloproteinase GP63. Folia Parasitologica, v. 53, n. 2, p. 81–90, 2006.

51. SANTOS, A. L. S.; BRANQUINHA, M. H.; D’AVILA-LEVY, C. M. The ubiquitous gp63-like

metalloprotease from lower trypanosomatids: In the search for a function. Anais da Academia

Brasileira de Ciencias, v. 78, n. 4, p. 687–714, 2006.

52. SCHNAPP, A. R. et al. Cruzipain induces both mucosal and systemic protection against

Trypanosoma cruzi in mice. Infection and Immunity, v. 70, n. 9, p. 5065–5074, 2002.

53. SILVA, J. A. O. et al. Sandflies in an endemic area for visceral Leishmaniasis in Northeastern

Brazil. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinaria, v. 28, n. 4, p. 569–573, 2019.

54. SIMÕES, M. V. et al. Cardiomiopatia da Doença de Chagas. International Journal of

Cardiovascular Sciences, v. 31, n. 2, p. 173–189, 2018.

55. SIQUEIRA-NETO, J. L. et al. Cysteine proteases in protozoan parasites. PLoS Neglected

Tropical Diseases, v. 12, n. 8, p. 1–20, 2018.

56. SNOEK-VAN BEURDEN, P. A M. et al. Técnicas de zimografía para el análisis de

metaloproteasas de matriz y sus inhibidores. BioTechniques, v. 38, n. 1, p. 73–83, 2005.

57. SUNDAR S, R. M. Laboratory diagnosis of visceral leishmaniasis. Clin Diagn Lab Immunol.

Clinacal and Diagnostic Laboratory Immunology, v. 9, n. 9, p. 951–8, 2002.

58. TAFURI, W. L. Pathogenia Da Doenca De ChagasRevista do Instituto de Medicina Tropical

de Sao Paulo, 1987.

59. TAJHYA, R. B.; PATEL, R. S.; BEETON, C. Detection of matrix metalloproteinases by

zymography. Methods in Molecular Biology, v. 1579, p. 231–244, 2017.

59

60. WATANABE COSTA, R.; DA SILVEIRA, J. F.; BAHIA, D. Interactions between Trypanosoma

cruzi secreted proteins and host cell signaling pathways. Frontiers in Microbiology, v. 7, n. MAR,

p. 1–9, 2016.

61. WILKESMAN, J. Zymography. Methods in Molecular Biology, v. 1626, n. 617, p. 25–31, 2017a.

62. WILKESMAN, J. Zymography. Methods in Molecular Biology, v. 1626, p. 25–31, 2017b.

63. YAO, C. Major surface protease of trypanosomatids: One size fits all. Infection and Immunity,

v. 78, n. 1, p. 22–31, 2010.

64. YOSHIDA, N. Molecular mechanisms of Trypanosoma cruzi infection by oral route. Memorias

do Instituto Oswaldo Cruz, v. 104, n. SUPPL. 1, p. 101–107, 2009.

65. ZINGALES, B. et al. The revised Trypanosoma cruzi subspecific nomenclature: Rationale,

epidemiological relevance and research applications. Infection, Genetics and Evolution, v. 12,

n. 2, p. 240–253, 2012.

66. ZINGALES, B. Trypanosoma cruzi genetic diversity: Something new for something known about

Chagas disease manifestations, serodiagnosis and drug sensitivity. Acta Tropica, v. 184, p. 38–

52, 2018.

67. ZINGALES, B. Trypanosoma cruzi: um parasita, dois parasitas ou vários parasitas da doença de

chagas? Revista da Biologia, v. 6b, p. 44–48, 2011.