espiral do tempo 29

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A revista de quase todos os relógios

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Page 1: Espiral do Tempo 29
Page 2: Espiral do Tempo 29
Page 3: Espiral do Tempo 29

03Espiral do Tempo 29 Verão 2008

[ Editorial ]Director• Hubert de Haro • [email protected]

Editor • Paulo Costa Dias • [email protected]

Editor técnico • Miguel Seabra • [email protected]

Design gráfico • Paulo Pires • [email protected]

Jornalista • Marta S. Ferreira • [email protected]

Fotografia • Kenton Thatcher • Nuno Correia

Colaboraram nesta edição• Fernando Campos Ferreira• Fernando Correia de Oliveira• Miguel Esteves Cardoso• Maria Vieira• Rui Cardoso Martins

Traduções • Maria Vieira • [email protected]

Contabilidade • Elsa Filipe • [email protected]

Coordenação de publicidade e assinaturas • Patrícia Simas • [email protected]

Revisão • Letrário - Serviços de Consultoria e Revisão de Textos [email protected] • www.letrario.com

ParceirosAir France • Ass. Jog. Praia d’El Rey • Belas Clube de Campo

• Beloura Golfe • Casa da Calçada • Casa Velha do Palheiro

• Clube de Golf Pinta/Gramacho • Clube de Golfe Miramar

• Clube VII • Clube de Golfe de Vilamoura • Estalagem Melo

Alvim • Golfe Aroeira • Golfe Paço do Lumiar • Golfe Ponte de

Lima • Golfe Quinta da Barca • Hotel Convento de São Paulo

• Hotel Fortaleza do Guincho • Hotel Golfe Quinta da Marinha

• Hotel Melia – Gaia • Hotel Méridien Lisboa • Hotel Méridien

Porto • Hotel Palácio Estoril • Hotel Quinta das Lágrimas

• Hotéis Tivoli • Lisbon Sports Club • Morgado do Reguengo

Golfe • Museu do Relógio de Serpa • Palácio Belmonte

• Penha Longa Golf Club • Pestana Hotels & Resorts

• Portugália Airlines • Quinta do Brinçal, Clube de Golfe

• TAP Portugal • Tróia Golf • Vidago Palace Hotel, Conference

& Golf Resort • Vila Monte Resort • Vintage House

Ficha técnicaCorrespondência: Espiral do Tempo, Av. Almirante Reis, 391169-039 Lisboa • Fax: 21 811 08 [email protected]: todos os artigos, desenhos e fotografias estão sobre a protecção do código de direitos de autor e não podem ser total ou parcialmente reproduzidos sem a permissão prévia por escrito da empresa editora da revista: Company One, Lda sito na Av. Almirante Reis, 39 – 1169-039 Lisboa. A revista não assume, necessariamente, as opiniões expressas pelos colabo radores.

• Digitalização: ZL - Zonelab • Distribuição: VASP • Impressão: Soctip Periodicidade: trimestral• Tiragem: 52.000 exemplares • Registo pessoa colectiva: 502964332• Registo no ICS: 123890• Depósito legal Nº 167784/01

Fundador: Pedro Torres

Confrontado com a legítima pergunta sobre as novidades dos salões de 2008, a nossa colega italiana Doddy

Giussani, directora da revista L’Orologio, responde: “Não houve uma peça que tenha eclipsado as outras...

porque todas as marcas apresentaram vários modelos, alguns muito comerciais e outros tecnicamente arroja-

dos”. O certo é que a pletora e a qualidade da colheita 2008 demonstram a vitalidade de um sector que conta

já com vários séculos de actividade. Hoje, a indústria relojoeira parece ter encontrado o antídoto para a crise

financeira. Duas décadas de investimentos maciços em marketing consolidaram uma forte imagem mundial

assente em valores por vezes antagónicos. A alta relojoaria transmite ao comprador: artesanato e trabalho

manual, capacidade de inovação tecnológica, extrema preocupação pelo controle de qualidade, tradição cen-

tenária, capacidade de assistência técnica mundial...

Num mercado mundial, onde países “emergentes” consolidam um peso crescente nas vendas das manufac-

turas, continua a ser sinal de bom gosto usar, mostrar e trocar um “grande” relógio. Não só em Milão, Paris,

Nova Iorque ou Munique mas também em Moscovo, Xangai ou no Rio de Janeiro. Para além do hedonismo

como factor de compra, o aspecto investimento não deixa de pesar no sucesso do sector. Dado o aumento

anual dos preços “aconselhados” para o público (na ordem dos 3 a 10%), continua a ser um excelente inves-

timento, ainda mais nestes tempos incertos para a finança mundial.

Neste contexto, as vozes discordantes de algumas Cassandras dificilmente chegam a ser ouvidos. Ainda bem!

Aparecem sempre analistas especializados que pensam impor os seus nomes com uma dramatização excessi-

va, antecipando uma nova crise*.

A nossa leitura é outra: o único inimigo da alta relojoaria é ... ela própria! As marcas centenárias, com a an-

siedade de serem ultrapassadas pelos novos criadores (François-Paul Journe, Richard Mille, Uhrwerk, Greubey-

-Forsey, MB & Friends...), sentem-se na obrigação de antecipar a apresentação de novos modelos. Multiplicam

as operações de charme em lugares paradisíacos, onde se convida a imprensa especializada mundial, ou de-

senvolvem comunicação multimédia, com sites espantosos. Infelizmente, uma capacidade de produção limita-

da pela escassez de mão de obra qualificada e os necessários testes de qualidade, não permitem acompanhar

o ritmo. Neste contexto, quem procura incansavelmente o “último” modelo arrisca-se a gerar mais frustração

do que alegria! Os prazos de entrega podem atingir, em alguns casos, vários anos.

Contrariando um tendência editorial mundial que só se concentra nas últimas novidades, a responsabilidade

da redacção da Espiral do Tempo será de continuar a dedicar espaço aos “grandes relógios”, hoje disponíveis

no mercado nacional. Esses modelos também foram novidades espantosas aquando dos seus lançamentos,

muitas vezes chegando a conquistar prémios internacionais. Porque afinal, modelos disponíveis nas relojoa-

rias e novidades dos salões são todos filhos da mesma mãe!

Boa leitura e os nossos agradecimentos pela vossa fidelidade.

Hubert de HaroDirector

* Nos anos 1970, o aparecimento do quartzo obrigou a indústria relojoeira suíça a redimensionar a sua capacidade industrial: o sector passou

de 400’000 empregados a 40’000 em 10 anos, deixando um traumatismo forte ainda hoje na cabeça dos gestores que viveram esta crise.

Num mercado mundial, onde países “emergentes” consolidam um peso crescente

nas vendas das manufacturas, continua a ser um sinal de bom gosto usar,

mostrar e trocar um “grande” relógio.

Page 4: Espiral do Tempo 29
Page 5: Espiral do Tempo 29
Page 6: Espiral do Tempo 29

Onde fomos Edição 29 | Verão 2008

Cheia de símbologia, esta edição faz capa com o mítico relojoeiro suíço Franck Muller. Admirador de Portugal, do saber viver português e da nossa rica

história, conta-nos porque decidiu celebrar o seu quinquagésimo aniversário junto de nós e apresentar, lui même, a sua homenagem ao país.

Desse tributo, faz parte uma preciosa caixa produzida, em exclusivo, pela Fundação Ricardo Espirito Santo Silva, de que lhe damos a devida conta.

A propósito de preciosidades ouvimos Rui Galopim de Carvalho, especialista mundial em gemologia, que nos revela algumas curiosidades sobre a influência

portuguesa no comércio e lapidação de pedras preciosas. Na perspectiva de um Verão cheio de mar, a rúbrica Em Foco sugere relógios em ambiente

maritimo e, ainda, acabamos por Saborear o Tempo na zona de Coimbra, terra de mitos, lendas, gente com os olhos postos no futuro e... leitão.

Coimbra

Saborear o TempoBamboo Garden Spa

86

Lisboa

Entrevista Rui Galopim de Carvalho

40

Coimbra

PerfilCarlos Góis

80

Mafra

ReportagemTapada Nacional de Mafra

50

Lisboa

Produção de ModaPedra Preciosa

92

Anadia

Saborear o TempoLuís Pato

88

Curia

Saborear o TempoCuria Golf

90

Page 7: Espiral do Tempo 29

Sumário

Grande Plano 8

Grande Entrevista - Franck Muller 12

Crónica Miguel Esteves Cardoso 18

Crónica Rui Cardoso Martins 20

Crónica Fernando Correia de Oliveira 22

Correio do leitor 24

Reportagens

Salões 2008 28

Entrevista - Rui Galopim de Carvalho 40

Reportagem - Pride of Portugal 44

Reportagem - Tapada Nacional de Mafra 50

Reportagem - Jaeger-LeCoultre 56

Técnica

Mare Nostrum

RolexSea Dweller 64

Audemars PiguetRoyal Oak Offshore Chronograph 66

GrahamChronofighter Oversize Diver Tech Seal 68

Patek Philippe Aquanaut XL 70

Jaeger-LeCoultre Master Compressor Diving GMT 72

TAG Heuer Aquaracer Calibre S Regatta 74

Laboratório Raymond Weil - Nabucco GMT 76

Perfil Carlos Góis 80

Saborear o Tempo

Bamboo Garden Spa 86

Vinhos Luís Pato 88

Curia Golf 90

Produção de Moda - Pedra Preciosa 92

Acontecimentos 102

Livros 110

Internet 112

Assinaturas 113

Crónica Fernando Campos Ferreira 114

Prazeres

07Espiral do Tempo 29 Verão 2008

Genthod

Grande EntrevistaFranck Muller

14Genthod

Reportagem Franck MullerPride of Portugal

56

Le Sentier

Reportagem Jaeger-LeCoultreMaster Compressor Extreme

56

Salões 2008

Salões Internacionais de RelojoariaBasel 2008, SIHH e WPHH

28

Page 8: Espiral do Tempo 29
Page 9: Espiral do Tempo 29

09Espiral do Tempo 29 Verão 2008

Reverso GyrotourbillonOs elogios a quem de direitoNa redação da Espiral do Tempo, o Reverso Gyro-

toubillon é uma daquelas peças que faz com que se

pare de trabalhar por uns momentos para se poder

sonhar. Extraordinária criação da Jaeger-LeCoultre, o

Reverso é um ícone desta casa relojoeira. Aquando

da apresentação do Gyrotourbillon, muitos foram

os que previam desde logo uma aplicação do con-

ceito ao mítico Reverso. Vários questões se coloca-

ram à partida; A espessura da caixa do reverso, de

si já generosa, teria agora que possuir uma dimen-

são suficientemente grande para albergar um tur-

bilhão esférico que funciona a uma cota superior à

do plano do mostrador. O que para muitos seriam

encarado como um problema, para a Manufac-

tura é um desafio a ser ultrapassado. O resultado

aí está: o Reverso Gyrotoubillon em todo o seu

esplendor, lutando contra as forças da gravidade

em busca da precisão. Esteticamente é de cortar

a respiração, como obra de relojoaria mecânica...

basta ter a assinatura Jaeger-LeCoultre.

Page 10: Espiral do Tempo 29
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11Espiral do Tempo 29 Verão 2008

ChopardPela estrada foraMuitos lhe chamam a corrida mais bela do mundo.

Nós acrescentamos que é também a corrida mais

charmosa do mundo. A Chopard já está a organizar

a edição 2008 da famosa Mille Miglia. Carros exclu-

sivos, público entusiasta, cenários históricos e claro

está, novas interpretações do mítico relógio Mille

Miglia da Chopard são os habituais ingredientes

para que a Mille Miglia seja um sucesso à seme-

lhança de anos anteriores. Cada piloto participante

tem como oferta da casa suíça um relógio Mille

Miglia mas, para além desta oferta, têm também

como adversário o co-presidente da marca Karl-

-Friedrich Scheufele, ele próprio um amante de car-

ros antigos e o grande responsável pela recupera-

ção desta histórica corrida automóvel. Será então

altura de dizer: meus senhores, preparem os vos-

sos cronógrafos que a corrida vai começar!

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Page 13: Espiral do Tempo 29

13Grande Entrevista Franck Muller

[ Grande Entrevista ]

entrevista Hubert de Haro | fotos Kenton Thatcher | Franck Muller Watchland, Genebra

Quando o quartzo apareceu nos anos 70, um vento de paraíso perdido começou a soprar

no ‘planeta’ relojoeiro. Trincando a maçã do desacordo, o consumidor levou a maior parte

das marcas tradicionais a fechar as suas portas: a indústria relojoeira suíça perde 400.000

empregos numa década. A sua sobrevivência deve-se à invenção de um novo conceito de

relógio: plástico, lúdico, sem serviço, sobretudo… de quartzo! Vendendo a sua alma ao diabo,

é um saber-fazer centenário que gradualmente apagar-se-á no início dos anos 80: a relojoaria

mecânica fina deixa de seduzir.

Franck Muller, nascido em La Chaux-de-Fonds, em 1958, de pais suíços e italianos, integra a

escola relojoeira de Genebra com 15 anos. Sai cinco anos mais tarde, em plena crise do quartzo,

para dedicar-se ao restauro de peças mecânicas de alta complicação. Em 1984, e apesar de

um ambiente económico desastroso, cria um relógio de pulso com turbilhão com o seu próprio

nome. Perto de vinte anos mais tarde, em 2006, um estudo efectuado pelo American Luxury

Institute, intitulado «Ultra Luxury Watches» (relógios luxuosos) junto de um painel com os

mais elevados rendimentos dos Estados Unidos, confirma a Franck Muller como a marca mais

exclusiva do mercado americano.

Entre o mito e a realidade, assim nos encontrámos com a personagem mais mediática da

relojoaria mundial.

Page 14: Espiral do Tempo 29

14 Espiral do Tempo 29 Verão 2008

Page 15: Espiral do Tempo 29

Espiral do Tempo: Aos 50 anos, acaba de ser pai pela

terceira vez. O enfant terrible ter-se-á acalmado?

Franck Muller: Um pouco, como qualquer pessoa que tem um primeiro filho com 22 anos e um se gundo com seis. No entanto, o nascimento da minha terceira criança, uma rapariga, deu-me uma força enorme, bem como novos desejos de con quista. As mulheres foram sempre uma ex-plicação para grande parte do meu sucesso. Diz- -se, frequentemente, que por trás de cada grande homem, há uma ou várias grandes mulheres. Isto é uma realidade para mim.

ET: São raras as marcas relojoeiras que se podem orgu-

lhar de criar relógios que se reconhecem imediatamen-

te, condição sine qua non para o sucesso comercial. É

indiscutivelmente o caso da caixa Curvex. Existem duas

versões opostas que explicam a origem desta caixa.

De acordo com uma delas, a esposa de um importante

coleccionador italiano ter-vos-ia pedido um relógio de

forma, apresentado seguidamente em Vicenza, em Se-

tembro de 1986. De acordo com a outra, o restauro de

um Patek Philippe Gondolo, encomendado pelo museu

Patek, ter-vos-ia permitido apreciar esta forma.

FM: A primeira versão é justa. Contudo, esta mu- lher não me pediu um relógio, antes lançou-me um desafio, afirmando que eu era incapaz de criar para as mulheres. O marido dela era a referên-

cia industrial da Itália e o maior coleccionador do país. Comprava todas as minhas peças únicas. Neste dia, enquanto lhe entregava um turbilhão com repetições de minutos, a esposa do senhor diz-me: «o Franck é um grande relojoeiro e o meu marido admira-o muito. Mas o Franck não tem um traço característico! Integra as suas proezas técnicas em caixas com desenhos muito clássicos (caixa Empire, que alguns chamavam Breguet)». Pouco tempo depois, criava uma caixa com forma curvex, inspirada dos anos 20. Tem um ponto de referência acima de uma esfera que o torna muito difícil de produzir. Anos mais tarde, aprendi a de sen volver a minha vertente de designer, cola-boran do com cinco marcas automóveis.

ET: Outro mito que perdura: os números Franck Muller,

outro sinal distintivo dos vossos relógios, foram imagi-

nados por um tatuador de Genebra.

FM: [Risos] Nem quero imaginar o que se dirá depois da minha morte, se já existe este tipo de histórias enquanto estou vivo… Não, estes números são inspirados directamente nos anos 20, respeitando as regras da arte da ar-quitectura que conhecemos desde os gregos. Com uma especificidade comum a todas as construções da Franck Muller: desenhar falso para o olho ver correcto! Se dividirmos cada número de um

mostrador meu pelas doze linhas tradicionais, obser var-se-á que o desenho não bate certo. Este ‘erro’ flagrante nas divisões geométricas torna o resultado correcto, quando se olha para os meus números em perspectiva.

ET: No início dos anos 80, decide lançar a primeira aca-

demia dos criadores independentes. O então conselhei-

ro federal suíço Pierre Aubert «teve a amabilidade de

vos visitar» no vosso stand de Basileia. Que memória

tem das primeiras horas da vossa carreira?

FM: Para mim, os grandes de hoje continuam a ser os mesmos. A seguir à escola relojoeira, criámos, alguns, a Academia dos Cabinnotiers Genevois cuja primeira proeza, encomendada pelo Museu de Relojoaria de Genebra para celebrar o décimo aniversário, foi um calendário perpétuo, revolu-cionário para a época. Encontravam-se, nesta associação, grandes relojoeiros como Philippe Dufour e Michel Parmigiani (presidente de hon-ra), Sven Andersen ou Roger Dubuis (membros fundadores) e François-Paul Journe, que chega no segundo ano. São pessoas capazes de sentar-se numa bancada de relojoeiro e de fabricar com as próprias mãos. Contamos, hoje, com muitos en-genheiros que trabalham em computadores, mas que são incapazes de pegar nas suas ferramentas e dar forma à matéria.

“A Suíça conta hoje com demasiados engenheirosque trabalham em computadores, mas que são incapazes de pegar

nas suas ferramentas e dar forma à matéria.”

Franck Muller

Page 16: Espiral do Tempo 29

16 Espiral do Tempo 29 Verão 2008

“As novas tecnologias são um artifício que permiteproduzir relógios com um menor controlo sobre o modo tradicional de saber fazer.

Contudo, abrem novos panos criativos. A minha mensagem para as novas gerações

que utilizam hoje estas tecnologias é a seguinte: aprendam primeiro

a dominar a relojoaria.”

Franck Muller

Franck Muller ficará para a história da relojoaria como um criador ím-

par. Relojoeiro de talento como o prova o extraordinário Turbilhão

Revolution 2, onde a gaiola do turbilhão atinge uma cota superior ao

plano do mostrador que ostenta os famosos números Franck Muller.

Watchland, propriedade do Grupo Franck Muller, é o

local de onde saem, finalizadas, as criações da mar-

ca. Um refúgio relojoeiro no país dos relógios.

Page 17: Espiral do Tempo 29

ET: Em Dezembro de 2004, o Antiquorum vendia uma

das vossas peças: o Turbilhão, rattrapante, Calendário

Perpétuo, Equação do Tempo, n.º4, produzido no início

da vossa carreira. De todas as estreias, qual é que lhe

deu mais prazer a elaborar?

FM: A primeira: um turbilhão com horas saltantes que me ocupou durante dois anos. Nessa época, todos me consideravam louco por querer pôr o meu nome sobre um mostrador. Só assim conse- gui demonstrar que um relojoeiro podia fazer um relógio com o seu nome e ganhar fama, sem ser uma marca centenária. Este relógio foi vendido bem antes de ter sido terminado.

ET: Qual é a sua análise sobre a ‘emancipação’ da alta-

-relojoaria, através da utilização crescente de novas ligas

ou através do aparecimento de marcas novas, com con-

ceito relojoeiro inovador (Richard Mille, Uhrwerk...)?

FM: Magnífico! Muita felicidade, uma grande alegria! Quando entrei na escola relojoeira, a falta de alunos provocou o encerramento de várias es-colas. Da dúzia que existia, restam, hoje, apenas algumas. Nesta altura, um relojoeiro ganhava menos que um empregado de limpeza. Nesta altura, Patek Philippe e outras marcas estavam a beira da falência. Nesta altura, ia-se comprar reló-gios Breitling ou Zenith ao quilo!É, por conseguinte, hoje, uma felicidade ver novos inventores, novas marcas e um novo tecido re- lojoeiro. Estimula-me e tranquiliza-me relativa-mente ao caminho percorrido.No que diz respeito aos novos materiais, não acre dito que revolucionem drasticamente a nossa actividade. Agilizam o trabalho, dando mais faci-lidades. As novas tecnologias são um artifício que permite produzir relógios com um menor con-trolo sobre o modo tradicional de fazer. Contudo, abrem novos panos criativos. A minha mensagem para as novas gerações que utilizam hoje estas tecnologias é a seguinte: aprendam primeiro a dominar a relojoaria. Picasso e Dalí, para pode-

rem inventar, tiveram de adquirir, primeiro, um enorme conhecimento académico.

ET: Como analisa o contributo de Pierre-Michel Golay

(inventor do Aeternitas)?

FM: Quando estava na escola relojoeira, a marca Gerald Genta crescia e demonstrava dominar as complicações, graças a Pierre Michel. Conseguiu criar as suas peças no período mais difícil de re-lojoaria, reinventando repetições de minutos au-tomáticos com carrilhão e Westminster. Mostrou que tudo é possível quando existe vontade. Para mim, continua a ser, de longe, um dos maiores in-ventores. É um ícone que continua a ser modesto, na maneira antiga da relojoaria.

ET: Foram poucos os anos, desde a criação da empresa,

em que não fez uma viagem a Portugal. Porquê ?

FM: Já conhecia Portugal antes de começar a viajar. A comunidade portuguesa é a terceira ou quarta maior comunidade da Suíça. Na nossa empresa, temos quase uma centena de empregados por-tugueses, e o embaixador de Portugal tem uma pro priedade ao lado do Château (NDLR: sede da marca em Genthod). Nos anos 60, os portu-gueses ocuparam os empregos desempenhados pelos italianos e pelos espanhóis, integrando-se, pouco a pouco. Ensinaram-nos a gostar deles, a reconhecer as suas qualidades, e suscitaram em nós o desejo de visitar Portugal. As pedras da Watchland foram cortadas em Portugal, en-quanto eu próprio escolhi, em Portugal, todas as fontes e obras de ferro forjado da fábrica. Tenho uma relação forte com Portugal. Fala-se hoje do crescimento económico de Macau ou do futuro de África: pois devemo-lo a Portugal. Por último, sinto-me próximo deste país pela grande sensi-bilidade artística que demonstra ter. Em relação aos relógios, já existiam grandes coleccionadores no século XIX que encomendavam as peças mais complicadas que a Suíça produzia naquela época.

ET: Vai estar em Lisboa, no dia 30, para prestar mais

uma homenagem a Portugal. Retomando a ideia da

vossa série limitada «Universo Português» (ano 2000),

apresenta, este ano, um relógio declinado em três ver-

sões, juntamente com um estojo exclusivo elaborado

pela Fundação Ricardo Espírito Santo Silva: «Pride of

Portugal, Orgulho Português». Como considera que

deve ser hoje o lugar de Portugal, e da Língua Portu-

guesa, falada por 250 milhões de pessoas em todo o

mundo?

FM: Os Portugueses devem sentir-se orgulhosos do passado do seu país. Desde que entrou na Comu-nidade Europeia, Portugal mostrou que tem um lugar importante na Europa. É um país onde as pessoas sabem viver bem, onde a história está presente por toda a parte, apesar de não ser va- lorizada. Em Portugal, existem ofícios e arte- sões que já não existem em mais nenhum lugar da Europa. Estou muito confiante no futuro de Portugal.

ET: O grupo Franck Muller Watchland procura cotar-se

na bolsa. Seria o sinal de uma retirada definitiva do

criador Franck Muller ou antes o desejo de poder con-

tinuar a crescer?

FM: O dinheiro foi sempre uma consequência e não um objectivo. Os objectivos financeiros vão sempre contra o estabelecimento de uma marca. Começámos a marca, o Vartan e eu, com 70.000 CHF cada um. O grupo cresceu muito; no papel, talvez sejamos ricos. Só que, até hoje, nunca re-tirei um franco à empresa. Hoje, qualquer um de nós pode vir a ter proble-mas de saúde, o que motiva esta vontade de abrir o capital. É necessário disponibilizar os meios e as condições para salvaguardar a perenidade de um nome, de uma empresa, de um estado de espírito. Se a sociedade deve ou não cotar-se na bolsa um dia… não direi desta água não beberei. Só que, por enquanto, não é um plano que faça parte da actualidade.

17Grande Entrevista Franck Muller

BibliografiaREVOLUTION, Volume 9: «State of the Watchmaking World according to the original independent watchmaker, Franck Muller», propos recuillis par Wei Koh

ESPIRAL DO TEMPO, Volume 7, «Franck Muller, o iconoclasta», por Miguel Seabra

LE JOURNAL DE LA HAUTE HORLOGERIE, Edition 15: «Nous ne ressentons aucune urgence à entrer en bourse», entretien de Miguel Payro, Directeur financier de Franck Muller Watchland, propos

recueillis par Christophe Rouillet • http://journal.hautehorlogerie.org/fr/echos/economie/nous-ne-ressentons-aucune-urgence-entrer-bourse.html

LEXPRESS.ch: «Franck Muller content d’en être là aujourd’hui», propos recuillis par Daniel Droz • www.lexpress.ch/journal/horlogerie/archives/art_329768.php

BUSINESS MONTRES: «3 mars 2006 - La vraie cote des marques de l’ultra-luxe horloger» • www.businessmontres.com/breve_64.htm

Page 18: Espiral do Tempo 29

Nós estávamos lá fora a ler e a minha mulher lembrou-se de que tinha comprado cerejas, a um

euro e meio o quilo. Era aquela segunda semana

de Junho em que há tanta e tão boa cereja que

só cobrando preços ridículos é que convencem

alguém a comprá-las. As pessoas sabem que es-

tão no auge da gostosura mas estão fartas de

cere jas, porque compraram-nas à ganância nos

últimos dias de Abril, a preços mirabolantes, só

para fugirem das pinças geladas do Inverno e po-

derem morder de fugida o rabo à Primavera.

A minha mulher pôs as cerejas todas numa

tigela enorme cheia de cubos de gelo e trouxe-

-as para o terraço. Estávamos a tremer de frio

e de fome, mas não queríamos sair dali porque

estávamos em partes cruciais dos nossos livros,

ideais para serem lidas debaixo das estrelas.

Eram cerejas de Arruda dos Vinhos e, quando

furámos a pele esticada com os dentes e nos en-

trou o açúcar pela boca, dissemos de boca cheia

de carnucha sumarenta que era a primeira vez

que comíamos cerejas que tinham crescido tão

per to de casa. Tinham sido apanhadas há muito

pouco tempo. Os pés ainda se agarravam muito

às cerejas, como se ainda tivessem esperança de

voltar para a árvore. E eram rijas, rijas e doces,

doces – como dizem os vendedores de fruta, sa-

bendo que a repetição é mais convincente do que

a hipérbole.

O frio é importante para as cerejas porque é no

frio que começam a nascer. O calor amolece-as e

escurece-as; maça-as e adoça-as excessivamente.

Até dizem que só crescem de noite e de manhã-

zinha e que o resto do dia é um inferno para elas,

ali penduradas à mercê das bicadas dos pardais.

Foi por isso que souberam tão bem, no frio e na

noite, na véspera de desaparecerem.

Ontem fui comprar mais e, linguareiro como saí

e estando o dia invulgarmente fino, não resis ti a

partilhar a minha observação. Resposta do se nhor

da fruta: «O pior é o resto.» Sempre a mes ma frase.

Deve ser o lema secreto da nação portuguesa.

Passada uma hora e falando num táxi de outro

assunto comezinho – o jeito de Cristiano Ronaldo

para jogar à bola – lá apareceram outra vez as

palavras de ordem: «O pior é o resto.»

Já vão, pelo menos, quarenta anos a ouvir

esta frase. Poupam-nos quando somos miúdos,

não sei porquê. Se calhar para que depois nos

morda mais, como deve ser. E, à medida que não

vou andando para mais novo, cada vez insistem

mais em relembrar-ma. Chegam a ter a lata de

olhar para mim enquanto o dizem: «O pior é o

resto, Senhor Doutor», mordendo-se de raiva

para acrescentar «A começar por si e pela sua

pobre figura. Quem o viu e quem o vê! Ataca-nos

a todos; que é que se há-de fazer?»

«O pior é o resto» não é apenas uma forma

airosa de dizer que, em geral, a vida e o mundo

não prestam para nada. Isso é banal. Por alguma

razão o acrónimo de «pior é o resto» é a antiga

ortografia de «pior»: PEOR.

O que o PEOR faz é muito mais destrutivo: é

contextualizar qualquer alegria inapropriada. Se

nos nasceu um filho ou saiu um automóvel, o

PEOR lembra que há experiências miseráveis que

18 Espiral do Tempo 29 Verão 2008

[ Crónica ]

Anteontem comi as cerejas perfeitas. Já era meia-noite e estava frio – aquele frio

de alívio e reafirmação da personalidade que têm os dias de Junho quando já se

cansaram de estar quentes todo o dia e já não aguentam ouvir outro génio opinar que

agora é que chegou mesmo o Verão.

Page 19: Espiral do Tempo 29

são específicas dessas sortes. Não é só o mundo

que é uma merda: há merdas especiais que estão

guardadas para quem tem de tomar conta de um

filho ou de um carro.

Há nações mais pessimistas do que a portu-

gue sa e outras ainda mais estraga-prazeres. Mas

nenhuma é tão empiricamente específica no

bota-abaixo. Quando nos atiram com um PEOR,

os portugueses não estão pendurados no plano

das generalidades. Não: fazem questão de nos

cos turar uma desgraça à medida. À medida da

nossa pessoa, mas também à medida das nossas

ocorrências. Subentendem-se sempre aquelas

palavrinhas sinistras: «Esta…é só para si.»

Volto às cerejas para dar o exemplo. Chateado

com o PEOR do vendedor de cerejas – afinal eu es-

ta va a elogiar-lhe a mercadoria –, decidi inves tigar.

«Desculpe, Senhor Vítor – não percebo. O pior

é o resto o quê?»

Desenganou-me logo de abstracções. Pousou

o saquinho de plástico onde estava a tentar

aninhar nove pêssegos onde só cabiam oito e

es clareceu-me: «As cerejas rijas fazem muitos

gases, Senhor Doutor. O açúcar das cerejas é o

que mais dá cabo dos dentes. E desidratam que

é um disparate.»

O Senhor Vítor deixou-me recuperar o fôlego

antes de continuar. As outras senhoras do lugar de

fruta reagiam com o enfado de quem ouve dizer

a tabuada dos três, olhando-me com desprezo

por ser tão ignorante dos malefícios das cerejas.

Algumas tinham as alcofas cheias delas, claro.

«Mas isso ainda vá que não vá», prosseguiu

o sábio fruteiro. «O pior é que já não vêm mais

cerejas destas – nem a este preço nem a nenhum.

Depois os clientes queixam-se de não haver e a

culpa não é nossa. Mas o que é se há-de fazer?

Eu já disse à minha mulher que não vale a pena

trazer desta cereja. Porque, está a ver, os clientes

já aqui compraram cereja a três e a quatro vezes

o preço, de qualidade muito inferior, porque o

tempo ainda não é o ideal para elas… E depois

vêm cá, comprar dois quilos desta, que é uma

maravilha, a um euro e meio e depois já não há e

estão sempre a perguntar por ela e às vezes até

são malcriados, como se nós não gostássemos de

vender a cereja tão barata e de estar a carregar

com ela para não ganhar quase nada…»

(Estas respostas compridas são a razão pela

qual é raro, numa frutaria portuguesa, fazerem-se

perguntas mais complexas do que «A quanto está

o feijão verde?» E mesmo essa está prenhe de

possibilidades de dar para o torto.)

O PEOR do nosso país é, quando o objectivo

é deprimir, dar-se ao trabalho de ir ao pormenor.

Quando estamos bem dispostos com alguma coi-

sa, um PEOR geral, como «Não há sol que não

seja de pouca dura» ou «A única certeza é que

vamos todos parar à cova», não nos desanima

quase nada. Pelo contrário, espevita-nos a gozar

o momento transitório de alegria com que tivemos

a sorte de nos cruzar.

Não. Para um PEOR ser eficaz – como só o

povo português insiste que seja – é necessário ir

refocilar nos aspectos práticos que minam e atra-

palham determinada felicidade. Compra-se um

Mer cedes e é o preço das peças. Explica-se que

as peças duram muito tempo e fica-se a saber que

isso era dantes.

Passam-se os dedos pelo carro e pergunta-se

ao agente do PEOR se não é bonito. O agente

indaga se o carro é novo. De ontem, elucida-se.

«Bem me parecia», replica o destruidor das nossas

ilusões: «É bonito é… O pior é o resto.»

O preço da gasolina? As estradas cheias?

A probabilidade de se levar um toque? Tudo

isso é re le vante mas não é a esse PEOR que o

agente se refere. Qual é então? Ele não quer di zer

concretamente. Porque, perversamente, os por-

tugueses têm um certo pudor em deprimir des-

caradamente. O motivo clássico e insofismável:

«Que é para não virem depois dizer que fui eu que

o desconvenci; que eu cá sou muito das minhas

coisas e também gosto que os outros sejam…»

E finalmente diz, como se fora um modelo

de tacto e diplomacia: «A chapa antiga é que

era boa.» Zangados e, sim, já deprimidos, provo-

camo-lo: «Estás a dizer que esta chapa não pres-

ta?» «Não!», esclarece logo o agente, quase ofen-

dido com a imputação, «Ouve lá, eu sei lá se e

sta é boa ou má… Eu só estou a dizer o que

sei, por experiência própria, que a antiga é que

era boa…»

É por isso que o PEOR é tão eficaz. É sempre

prático e dirigido à situação de contentamento

entre mãos. O bom PEOR, aliás, não deprime.

Pelo menos de uma só assentada. Deprime por

acumulação, ao longo da vida, que é para durar

mais tempo. O que o bom PEOR faz é desalegrar.

Desalegrar é muito mais português – e logo difícil

– do que deprimir.

É que as pessoas deprimidas não se alegram.

E, se ninguém se alegrar ao ponto de exprimir

uma atitude positiva ou uma satisfação com

algum aspecto da existência, como é que hão-de

surgir as benditas oportunidades de desenganá-

las com um bem colocado «O pior é o resto…»

Qual resto, qual carapuça. Quando se está

com uma cereja na boca, numa noite fria de Junho,

falando de cerejas e de Junho com o nosso amor,

o resto é muito mais pequeno e muito menos

importante do que se pensa.

M.E.C.

19Espiral do Tempo 29 Crónica

“Qual resto qual carapuça. Quando se está com uma cereja na boca, numa noite fria de Junho, falando de cerejas

com o nosso amor, o resto é muito mais pequeno e muito

menos importante do que se pensa.”

Page 20: Espiral do Tempo 29

Nove horas. Das 12h 00m às 21h 00m, dá nove horas de carris. Até para um facto normal naquele

tempo foi exagero. Uma vez, levei nove horas dentro

duma automotora a diesel entre Sines e Évora. Romper

os caminhos-de-ferro do Alentejo foi como fazer um

túnel de fuga da prisão com uma colher de chá: cada

quilómetro de linha, uma colherada na rocha dura.

Era uma tarde de Agosto e eu seguia viagem com

uma amiga norte-americana, Sandra Bieniek. A Sandra

nascera e vivia em Manhattan, a parte mais animada

da cidade que não dorme. A Sandra era amiga pessoal

dos Beastie Boys, especialmente do vocalista, um rapaz

que ainda hoje, sem a juventude a seu lado, debita 500

palavras num minuto de rock e rap, se lho pedirem.

Além disso, o pai da Sandra, o engenheiro Bieniek, ca-

te drático da Universidade de Columbia, fora o técnico

responsável pela obra de melhoramento da ponte de

Brooklyn, que aumentou a segurança do tráfico auto-

móvel e pedestre na histórica ponte de Nova Iorque. Em

resumo, a Sandra estava habituada à velocidade.

Que engraçada a cara da Sandra quando a automotora

parou meia hora em Santiago do Cacém e... «é só mais

um minuto, senhores passageiros». A primeira pausa da

aventura mais lenta da sua vida (também da minha).

E quando o maquinista saiu aparentemente para fa-

zer chichi, algures a meio da tarde de Agosto, molhando

ervas secas, entre girassóis e cigarras, deixando os cinco

passageiros no forno da carruagem. E quando tivemos de

esperar que alguém chamasse um tractor para desviar um

animal morto em cima da linha, uma vaca, salvo erro.

Nove horas dentro duma automotora entre Sines e

Évora, em Agosto. Uma não: acho que acabaram por ser

três ou quatro máquinas. Primeiro foi preciso mudar de

automotora, por questões logísticas e de rota que nin-

guém explicou, depois porque o motor se avariou mesmo.

Morreu de sede como um animal no meio do Alentejo.

Então, os senhores foram buscar outra automotora lá

no sítio onde elas estavam a pastar, mas só devem ter

agarrado a mais lenta, que mugia como no matadouro

nas passagens de nível sem guarda.

A cara de fome da Sandra ao descobrir que os outros

passageiros levavam um farnel preparado para atravessar

o deserto do Sinai, não fosse a viagem demorar... nove

horas, mais coisa, menos coisa.

Que cómicos os olhos da Sandra quando chegámos

à noite a Évora, património da Humanidade, que face

humana ela mostrou ao consultar o mapa de Portugal,

engelhado e carcomido pelo sol, molhado de sal e suor

nas pontas. Quando mediu as distâncias com a escala da

falangeta do indicador e disse (foi ao lado do Templo de

Diana, no cenário das colunas romanas do templo, altas

como pernas) «só andámos isto?».

— Just that? Fuck.

— You know... here in Portugal, very difficult,

disse eu. E quem nunca disse isto, afinal, a uma bela

estrangeira?

Agora diz-se menos. Por vezes, na questão dos

transportes, até sinto o problema contrário. Na estação

do Oriente, em Lisboa, chega a ser arrepiante a chegada

a horas dos comboios que vão para o Porto. Chegam

de Santa Apolónia às horas certas, com os segundos

a bater nos tracinhos, como nos filmes com bombas-

relógio, e saem da plataforma, rumo ao Norte, sem es-

perar por ninguém! Quando isso acontece, não posso

deixar de me lembrar que Mussolini alcançou o poder

com a promessa de colocar todos os comboios de Itália

a chegar à estação «al minuto».

Mas também lembro o simpático carteiro de Há Festa

na Aldeia, de Jacques Tati, um Sr. Hulot de bicicleta a quem

convencem a fazer a entrega das cartas ‘à americana’,

em duas rodas, sem nunca pôr os pés no chão, e o

trapalhão assim faz, gritando ‘rapidité, rapidité!’.

A portugalidade dos horários, felizmente, não de sa-

pareceu toda: numa ocasião recente, fui buscar uma pessoa

à estação e o comboio chegou com uns inacreditáveis 20

minutos de atraso. Melhor ainda, primeiro disseram no

altifalante que seria uma espera de dez minutos, mas o

atraso atrasou-se e as coisas acabaram por correr bem,

sem correrias nem nervos. No fundo, como era dantes.

Tenho um amigo que quando se atrasa, isto é, sem-

pre que tem um compromisso na vida, porque nunca,

mas nunca, chega à hora marcada, manda a mensagem

SMS:

— Estou no Marquês.

Mesmo que esteja a lavar os dentes, ele está no

Marquês. E se estivesse em Inglaterra a enervar ingleses

com a pontualidade, diria que já estava no Marquês de

Pombal. Podemos então prever que ele chegará nove

minutos, noventa minutos, nove horas depois, mas che-

gará ao seu destino, como as antigas automotoras do

Alentejo. É só mais um minuto... vai fazendo qualquer

coisa entretanto, nem que seja nada.

Rui Cardoso Martins

Rui Cardoso Martins

Chegar a horas

A cara de fome da Sandra ao descobrir que os outros passageiros levavamum farnel preparado para atravessar o deserto do Sinai, não fosse a viagem demorar... nove horas, mais coisa, menos coisa.

20 Espiral do Tempo 29 Verão 2008

[ Crónica ]

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Page 22: Espiral do Tempo 29

Fernando Correia de Oliveira*

Utopia mecânica

Piotr Kropotkin, o «Príncipe Anarquista» I

22 Espiral do Tempo 29 Verão 2008

[ Crónica ]

Prosseguimos a viagem pela Utopia Mecânica – o fascínio que a relojoaria e os relojoeiros exerceram

desde sempre sobre pensadores, políticos, filósofos, so-

ció logos, como metáfora ou como comunidade perfeita

que pode servir de exemplo para uma organização social

mais justa.

Falemos agora de Piotr Kropotkin, um nobre russo

nas cido em 1842, em Moscovo. Foi como topógrafo e

geógrafo que percorreu a Sibéria e a Manchúria, toman-

do contacto com as condições de vida miseráveis do

seu povo. Movendo-se nos meios anarquistas, de les

bebeu as ideias da justiça e igualdade social, co me-

çando a militar por elas. Em 1872, Kropotkin reali za

uma viagem à Bélgica e à Suíça, onde mantém con-

tac tos com o movimento anarquista da Federação do

Jura, tendo-se filiado na Associação Internacional dos

Trabalhadores (AIT), vulgarmente conhecida como Pri-

mei ra Internacional.

De volta à Rússia, milita em grupos clandestinos e é

pre so pelo regime czarista. Consegue fugir e exila-se no

Ocidente, retomando os contactos com os anarquistas

suíços, onde os relojoeiros tinham grande peso, fun dan-

do e editando em Genebra, em 1879, o jornal Le Révolté.

É de novo preso em França, em 1882.

Libertado em 1885, depois de um movimento de opinião

pública a seu favor, liderado por Herbert Spencer, Eernest

Renan ou Victor Hugo, refugia-se na Inglaterra, onde con-

tinua a conviver com os grandes vultos do seu tempo

e colabora na célebre Sociedade de Geografia. Nas suas

obras, Kropotkin tenta construir uma base científica

para o pensamento anarquista. Usa uma linguagem sim-

ples, clara, tornando-se no mais lido e traduzido autor

libertário de todos os tempos. Os seus livros chegaram às

mais baixas camadas da população e, no final do século

XIX e início do século XX faziam parte da biblioteca de

camponeses e operários, nomeadamente em Portugal.

A sua obra mais conhecida é A Conquista do Pão. O

pensamento de Kropotkin é classificado por ele próprio

como «comunismo libertário».

Na base deste edifício ideológico está a ideia de que o

critério para o consumo de bens e serviços não assente

no trabalho, mas na necessidade de cada indivíduo. Na

sua utopia, para além da colectivização dos meios de

produção, defende a livre distribuição da produção, a

extinção de qualquer sistema de salários, a orientação

da produção para as necessidades de consumo e não

para o lucro. Tudo isto, tendo em vista um sistema que

consiga conciliar e satisfazer as necessidades de todos.

O Estado, no ideário deste anarquista russo, basear-se-

ia num sistema administrativo em rede, formado por

comunas. Cada uma reuniria os interesses sociais repre-

sentados por grupos de indivíduos directamente ligados

a eles. A união dessas comunas produziria a tal rede, em

substituição do Estado central.

Onde foi Kropotkin buscar as suas ideias? Muito espe-

cialmente a uma pequena comunidade relojoeira que ele

estudou em Sonvillier, aldeia encravada nas montanhas

do Jura suíço.

A Suíça, pela sua histórica neutralidade, e até devido à

sua constituição altamente descentralizada e à tradição

de democracia directa, através de referendo, tinha-se tor-

nado, na segunda metade do século XIX, no porto de

abrigo de milhares de refugiados políticos dos impérios

austro-húngaro, alemão e russo e dos perseguidos da

re pres são da Comuna de Paris, em 1871.

Depois de analisar o trabalho político de grupos mar xis-

tas, em Zurique e Genebra, e tendo ficado mal impressio-

nado com o que viu, foi aconselhado a visitar a pequena

comunidade anarquista de relojoeiros de Sonvillier. Estes

artesãos operavam a sua pequena indústria na base de

um autogoverno operário, dentro do contexto de uma

fe de ração de comunas de aldeia. Esta federação do Jura

tinha sido fortemente influenciada por outra grande figu-

ra do anarquismo: Bakunin.

Segundo Martin Miller, o principal biógrafo de Kropotkin,

«as reuniões que ele manteve com os operários relojoei-

ros revelaram a liberdade espontânea sem autoridade

ou direcção vindas de cima com que ele sempre tinha

sonhado».

Isolados e auto-suficientes, os relojoeiros do Jura impres-

sio naram Kropotkin como um exemplo que podia trans-

formar a sociedade, se tal comunidade se pudesse de-

sen volver numa escala mais larga, a nível regional, na cio-

nal, depois internacional.

(Continua)

Fernando Correia de Oliveira

* Investigador do Tempo, da Relojoaria e das Mentalidades

Page 23: Espiral do Tempo 29
Page 24: Espiral do Tempo 29

24 Espiral do Tempo 29 Verão 2008

[ Correio do Leitor ]

Uma questão de usoTenho um relógio de marca TAG Heuer que estava a adiantar-se sis-

tematicamente e, por isso, levei-o ao representante para uma revisão.

Quando o fui entregar, fizeram-me várias perguntas, as normais nas

circunstâncias, mas uma acabou por suscitar a abordagem que vos

faço. Perguntaram-me se eu fazia algum tipo de actividade física e que

tipo de comportamento adoptava no trabalho em relação ao relógio.

Na altura lá respondi, não me tendo ocorrido questionar a razão das

perguntas. Mas fiquei a remoer na coisa e, por isso, tomo a liberdade

de vos perguntar qual a razão pela qual me terão colocado esse tipo

de pergunta. Será que ela faz algum sentido neste contexto?

JOÃO VILELA MARTINS - VIA E-MAIL

Caro leitor, não só faz sentido como é um tipo de questionário que

devia ser sempre seguido em relação a quem usa relógios mecânicos

de corda automática, como julgo será o caso. Um relógio mecânico,

que é composto por algumas centenas de peças minúsculas concentra-

das num espaço mínimo, está sujeito a factores tão prosaicos como a

gravidade, por exemplo, que influenciam o funcionamento do relógio.

Assim, se há uma posição predominante do braço ao longo do dia,

ela poderá ser influente. Como se o cliente tiver o hábito de deixar o

relógio em cima da mesa enquanto trabalha, é natural que ele tenha

tendência para atrasar. Por outro lado, a energia que um relógio precisa

para trabalhar provém da corda, que pode estar em maior ou menor

tensão consoante o tipo de movimentos que se faz com o braço. Se o

indivíduo tem uma actividade física intensa, ou esbraceja muito, isso

poderá significar que a corda está sempre enrolada o que pode provo-

car alguma tendência para o relógio se adiantar. Nunca atingindo um

grau de precisão semelhante ao dos relógios de quartzo, um relojoeiro

competente pode, no entanto, fazer a regulação de acordo com o estilo

de vida e uso que o cliente dá ao seu relógio. O tipo de actividade

profissional ou a prática de uma actividade desportiva podem, em

múltiplos aspectos, influenciar o regulamento do relógio. Esse é, aliás,

parte do seu charme. Parece-me por isso que o serviço de assistência

da TAG Heuer estará a esforçar-se para lhe prestar um bom serviço.

Lubrificação é essencialSei que um relógio mecânico leva óleo e até compreendo porquê.

Qual quer mecanismo mecânico tem que considerar o atrito e os óleos

são uma excelente solução para a redução desse factor e, consequen-

temente, para diminuir o desperdício de energia que provoca. Só não

compreendo é como é que se consegue, num universo liliputiano,

manter o óleo no sitio onde ele faz falta, evitando que se espalhe

RUI COSTA DA SILVEIRA - PÓVOA DE VARZIM - VIA E-MAIL

Estimado leitor, primeiro, um relógio mecânico não leva um óleo, leva

4, 5, 6 tipos de óleos, todos diferentes, consoante o tipo de mecan-

ismo, nomeadamente se é mais ou menos complicado. No entanto, a

mais importante forma de reduzir o atrito num mecanismo relojoeiro,

é através dos rubis. Junto a estes, são então depositados porções

minúsculas de óleo que não fogem do local que lhes é destinado,

devido a um fenómeno a que as leis da Física chamam de ‘capi-

laridade’, e que poderá ser descrito da seguinte forma: Fenómeno de

atracção dos líquidos para os intervalos mais estreitos (interstícios)

entre as paredes dos sólidos. Justamente, este fenómeno é muito im-

portante para a retenção dos lubrificantes nos locais apertados onde

são necessários, sem derrame ou alastramento.

Sistema anti-choqueTenho um relógio mecânico de uma marca de prestígio, e cara, mas

dei xei-o cair e ele parou. Mandei-o arranjar e disseram-me que tinha

par tido uma peça e o arranjo custou mais um dinheirão. Os relógios

de gama mais elevada não são anti-choque, ou coisa que o valha?

Então custam tanto, são tão bons e depois partem-se todos por cair

ao chão?

MARCO FILIPE - ALCOCHETE

A queda de um relógio de pulso ao chão corresponde, na sua relação

‘peso-potência’, ao trambolhão de um automóvel da altura de um

edifício com várias dezenas de andares! Considerando um Rolls-Royce

ou um calhambeque, o resultado final não seria muito diferente, como

concordará. Mas, perguntará, se os outros caem ao chão e não se par-

tem, porque é que o meu se partiu? Só o relojoeiro que o abriu saberá,

mas pode muito simplesmente ter a ver com uma coisa tão prosaica

como o ângulo de queda. Muito provavelmente partiu apenas um

pivot de espessura ínfima, pertencente ao eixo do conjunto balanço-

espiral – o órgão mais frágil e sensível do relógio mecânico e onde é

aplicado o sistema anti-choque. Esse pivot, para lhe dar uma ideia,

varia entre um diâmetro de seis centésimos e um décimo de milímetro

sendo a carga que o eixo do balanço suporta enorme, em relação aos

outros eixos, mais robustos. A forma encontrada para amortecer os

choques, foi através de uma chumaceira flexível que permite desviar a

incidência dos choques para uma parte mais robusta do eixo.

Page 25: Espiral do Tempo 29
Page 26: Espiral do Tempo 29

Agradeço, uma vez mais, a vossa disponibilidade para responder sempre

às minhas questões. Envio um relatório COSC de um mecanismo ETA e

gostaria de saber, além da evidente precisão desde movimento, que como

leigo consigo discernir, que outras características se podem ‘ler’ nestes

dados. Saberemos se tem algum defeito de concepção ou outra caracte-

rística particular? No relatório respeitante à imagem 003, que indica como

se chegou aos valores finais, ainda consigo obter o primeiro parâmetro,

mas depois... nunca fui bom a matemática.

MÁRCIO ALBUQUERQUE, PORTO

Para responder à sua questão, é imperativo definir o que é um certificado

COSC e, antes de mais, o que é um cronómetro.

Um cronómetro – não confundir com cronógrafo – é qualquer medidor de

tempo de alta precisão. Para a lei suíça, um fabricante só pode afixar a

designação ‘cronómetro’ a um modelo próprio depois de cada exemplar

ter superado uma série de testes e obtido o certificado do COSC – sigla de

Contrôle Officiel Suisse des Chronomètres, a mais famosa das entidades

suíças de controlo de marcha e precisão. Os movimentos mecânicos são

muito sensíveis a variações de temperatura e posição, daí o COSC testar

cada mecanismo durante 15 dias consecutivos, submetendo-o a cinco

diferentes posições e diferentes temperaturas. Todas as alterações na pre-

cisão são anotadas e comparadas com uma norma-padrão. Pela análise

das imagens que nos enviou, podemos concluir que os resultados dos

testes a que o movimento do seu relógio foi submetido estão dentro dos

valores exigidos pelo certificado COSC, porque:

1) a variação diária média em cada posição não pode representar um atra-

so superior a quatro segundos ou um adiantamento maior do que seis – o

seu relógio registou um atraso médio de 2,2 segundos;

2) a média de todas as variações observadas durante dez dias de testes

não deve ser superior a dois segundos – o seu relógio registou uma varia-

ção de 1,1 segundos;

3) a maior variação entre as diversas posições testadas não pode ser

superior a cinco segundos – a maior variação registada pelo seu relógio

foi de 1,4 segundos;

4) a diferença entre as médias das posições horizontais e verticais não

pode significar um atraso de seis ou um adiantamento de oito segun-

dos – a diferença entre as médias registadas pelo seu relógio foi de 0,0

segundos;

5) a diferença entre a maior variação num dia e a variação diária média

não pode ser superior a dez segundos – a diferença registada pelo seu

relógio foi de 3,9 segundos;

6) não pode ocorrer um atraso ou adiantamento superior a 0,6 segundos

por cada grau centígrado de variação na temperatura dos testes – a maior

alteração por cada grau centígrado de variação na temperatura registada

pelo seu relógio foi de 0,06 segundos;

7) em cada ciclo de cinco dias de testes, não pode ocorrer uma variação

média superior a cinco segundos de atraso ou adiantamento – a variação

média registada pelo seu relógio a cada ciclo de cinco dias de testes foi

um atraso de 1,1 segundos.

Assim, e tendo em conta que os testes do COSC simulam as condições

aproximadas a que o relógio será submetido em uso normal e que o cer-

tificado de cronómetro atribuído pelo COSC indica o extremo cuidado da

manufactura no ajuste e na construção do movimento, poderá esperar do

seu mecanismo uma garantia de excelente precisão.

Certificação COSC

26 Espiral do Tempo 29 Verão 2008

[ Correio do Leitor ]

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Page 29: Espiral do Tempo 29

29Reportagem Salões 2008

[ Salões 2008 ]

Abril voltou a ser o mês das apresentações das grandes

novidades relojoeiras internacionais através das principais

feiras da indústria – mas tal deverá ter acontecido pela

última vez nos próximos tempos, uma vez que as duas

principais manifestações vão deixar de se realizar coladas

no calendário: o selecto Salon International de l’Haute

Horlogerie de Genebra passa a ter lugar em Janeiro, des co-

lando do universalista Baselworld. Mas este ano, no espa ço

de duas semanas, ainda tiveram lugar de modo contíguo,

juntamente com o World Presentation of Haute Horlogerie

do Grupo Franck Muller e a par de outros grupos que

apresentaram os seus produtos de modo independente.

Novidades? Muitas, como habitualmente – mas também

a confirmação de tendências. Manteve-se a atracção de

muitas marcas pelo upgrade dos seus próprios produtos,

os tons escurecidos são cada vez mais populares, o fascínio

pelos turbilhões prossegue com a proliferação de turbilhões

em eixos múltiplos, os mostradores desportivos estão a

conjugar mais o preto dominante com toques de laranja

ou azul (substituindo gradualmente os habituais vermelho

ou amarelo), há cada vez mais mostradores castanhos, os

modelos de espírito contemporâneo adoptam claramente

a sofisticação das matérias escurecidas, os mostradores

estruturados e tridimensionais confirmam a moda da

‘tecnolojoaria’, as correias são cada vez mais declinadas

em materiais diferentes e devidamente integradas nas

caixas dos relógios, a onda do retro-modernismo continua

em força com a disseminação de novas interpretações ou

reedições de modelos históricos, a insistência nos formatos

sobredimensionados confirma a mudança estrutural mas

há marcas a investir em modelos ultra-planos, o ouro

rosa continua a eclipsar o ouro amarelo, há interessantes

ensaios de modelos mecânicos com mostradores digitais,

multiplicam-se as parcerias de relojoeiros construtores

de mecanismos para modelos exclusivos e começa a ser

possível personalizar um relógio com a escolha entre

várias peças à disposição.

Page 30: Espiral do Tempo 29

“Que utilidade têm as munições numa batalha? Prefiro andar carregado com barras de chocolate.”

George Bernard Shaw

1 Vacheron Constantin Quai de l’Ile Date

2 Jaeger-LeCoultre Master Minute Repeater

3 Jaeger-LeCoultre Master Grand Tourbillon

4 Jaeger-LeCoultre Master ED QP Squelette

5 Chopard MM GTXL GMT

6 Graham Trigger Pink Gold

7 TAG Heuer Grand Carrera Chrono

8 Vacheron Constantin Quai de l’Ile Day

Há alguns anos proclamava-se o regresso do ouro

amarelo mas, efectivamente, esse regresso não

se está a confirmar porque o ouro rosa continua a

prevalecer… Os tons quentes do ouro rosa e das

correias em pele castanha é uma combinação

de sucesso e imediatamente reconhe cível como

transmitindo prestígio e classe, albergan do cora-

ções “com pli cados”, alguns mesmo obras úni cas

da alta-relojoaria.

30 Espiral do Tempo 29 Verão 2008

Page 31: Espiral do Tempo 29

“Força, é a capacidade de partir uma barra de chocolate com as nossas próprias

mãos em quatro bocados, e depois,

comer apenas um.”

Judith Viorst

Page 32: Espiral do Tempo 29

1 TAG Heuer Grand Carrera Chrono

2 Porsche Design Dashboard

3 Panerai Ferrari Monopulsant GMT

4 Porsche Design PAC Portugal

5 Chopard Monaco Historique

A já histórica associação da relojoaria ao auto-

mobilismo permanece muito popular junto das

marcas e dos seus clientes, mantendo-se a pro-

liferação de parcerias. O fascínio da mecânica é

comum a ambos os consumidores e a vertigem da

velocidade é inspiradora, como o demonstra a TAG

Heuer, que tinha à fren te do seu stand na Feira de

Basileia um concept car do designer japonês Kei

Nishikori. Este apresentava um tablier com reló-

gios Grand Carrera incorporados, que se podem

retirar para serem colocados no pulso.

“Afirmamos que a magnificência do mundo enriqueceu-se

de uma beleza nova:

a beleza da velocidade.”

Marinetti

Page 33: Espiral do Tempo 29
Page 34: Espiral do Tempo 29

1 Urwerk UR202

2 Franck Muller Aeternitas Mega

3 Zenith Mega Tourbillon

4 Porsche Design Dashboard

5 Jaeger-LeCoultre AMVOX3 Tourbillon GMT

6 de Grisogono Meccanico

7 Audemars Piguet Royal Oak Concept

8 TAG Heuer Grand Carrera Calibre RS 2

9 Chopard MM GTXL Chrono Speed Black V2

O negro permite as mais incríveis abordagens

técnicas e estéticas. É a cor da sedução e do mis-

té rio. Aço com tratamento em PVD preto, carbo-

no, titânio escurecido, pele de crocodilo, cauchu

ou borracha articulada. Tudo é permitido neste

exercício relojoeiro onde os desportivos convi-

vem com os modelos mais clássicos e com as

criações independentes, numa busca de novas

soluções para “clássicas” complicações.

34 Espiral do Tempo 29 Verão 2008

Page 35: Espiral do Tempo 29

“Cede, desiste e entrega o teu espírito ao Lado Negro da Força,

tornar-te-às mais forte.”

Darth Vader

Page 36: Espiral do Tempo 29

1 Rolex Daytona

2 Ferrari by Panerai Cronógrafo

3 Raymond Weil Nabucco Cuore Caldo

4 Franck Muller Double Mistery

5 Franck Muller Curvex Pride of Portugal

6 Hautlence HLS 06

7 Porsche Design Worldtimer

8 Porsche Design Indicator

Peças formais partilham com modelos mais des-

portivos a mesma tendência pelas caixas em

ouro rosa, combinadas com correias em cauchu

ou pele preta. Sempre o negro a dar a nota de

fundo numa combinação poderosa e cada vez

mais procurada pelos consumidores de alta-relo-

joaria. Nota especial para a exclusiva série limi-

tada da Casa Franck Muller em tributo a Portugal

(Pride of Portugal), em que pela primeira vez a

marca usou uma caixa em ouro rosa e botões

em PVD preto.

36 Espiral do Tempo 29 Verão 2008

“Por melhor quedigam de nós, não nos dão

nenhuma novidade.”

Page 37: Espiral do Tempo 29

“As coisas não são elogiadas porque são desejáveis,

mas desejadas porque

são elogiadas.”

Séneca

“Por melhor quedigam de nós, não nos dão

nenhuma novidade.”

La Rochefoucauld

Page 38: Espiral do Tempo 29

1 Urwerk UR202

2 Lange & Söhne Cabaret Tourbillon

3 Jaeger-LeCoultre Reverso Gyrotourbillon 2

4 Jaeger-LeCoultre Reverso Gyrotourbillon 2

5 Franck Muller Tourbillon Grande Date

6 Greubel Forsey Quadruple Tourbillon

7 Cartier Ballon Bleu Tourbillon

8 Chopard L.U.C Tourbillon Tech Steel Wings

O turbilhão continua a ser a mais popular de to-

das as complicações relojoeiras. Pela sua beleza

estética, pelo virtuosismo técnico necessário à

sua concepção e realização o turbilhão declina-

-se em várias interpretações. Das mais clássicas

às mais arrojadas, continua a fornecer inspiração

aos criadores e a despertar paixões entre os aman -

tes da bela relojoaria.

38 Espiral do Tempo 29 Verão 2008

Page 39: Espiral do Tempo 29

“Desde o nascimento que o homem carrega o peso da gravidade. Está preso à terra,

mas basta mergulhar na água

para ficar livre dela.”

Jacques Cousteau

Page 40: Espiral do Tempo 29
Page 41: Espiral do Tempo 29

41Reportagem Tapada Nacional de Mafra

[ Reportagem ]

Em Setembro de 2003, as chamas pareciam ditar o fim da Tapada Nacional de

Mafra: mais de 570 dos 833 hectares da propriedade ficaram reduzidos a cinza. Mas a luz da

esperança não demorou a surgir: pouco tempo depois da catástrofe, a Tapada recebeu um telefonema

da Torres Distribuição a comunicar a oferta de apoio da Fundação Audemars Piguet para ajudar

na recuperação dos estragos. Em Novembro, começaram os trabalhos de reflorestação. Hoje em

dia, quatro anos depois, são já visíveis os resultados desta acção conjunta e a Tapada renasceu das

cinzas, qual Fénix.

texto Marta S. Ferreira | fotos Nuno Correia

Page 42: Espiral do Tempo 29

42 Espiral do Tempo 29 Verão 2008

Page 43: Espiral do Tempo 29

43Reportagem Tapada Nacional de Mafra

Tapada Nacional de Mafra

Criada no século XVIII na sequência da construção do Convento de Mafra e da sua Basílica, a Tapada

Real de Mafra foi, até à implantação da República, um local de lazer e caça reservado à corte

portuguesa. Com a implantação da República, deu-se a mudança de nome para Tapada Nacional

de Mafra, a qual passou a ser utilizada para actos protocolares. Em 1975, a Tapada foi aberta ao

público, tendo sido reencerrada em 1981 devido ao grande incêndio que ocorreu nesse ano. Só

dez anos depois voltou a ser aberta ao público, embora com acesso muito restrito. Nos últimos

anos, passou-se a encarar a floresta como um recurso natural renovável, que deve de ser gerido

com vista ao desenvolvimento e à produção sustentável de bens e serviços. A Tapada Nacional de

Mafra estende-se por 833 hectares, nos quais coexiste uma grande diversidade de fauna e flora,

sendo várias as espécies protegidas. Com o incêndio de Setembro de 2003, cerca de 576 hectares

foram destruídos.

http://www.tapadademafra.pt/

«A fundadora tinha visto na televisão, na Suíça, os incêndios em Portugal, ficou impres-sionada e disse estar disponível para apoiar a Tapa-da», conta Ricardo Paiva, presidente da Tapada, ao relembrar a chamada que recebeu a oferecer ajuda. «Foi um dos primeiros apoios que tivemos depois do terrível incêndio.»

Com o apoio que recebeu da Fundação, a Ta-pada desenvolveu diversas acções: «Fizemos um circuito Audemars Piguet, que tem 7,5 km, onde as principais árvores estão assinaladas e, ao longo do circuito pedestre, os visitantes vão tendo infor-mações sobre a Audemars Piguet e sobre o apoio que deu à Tapada através de placards informativos, além de terem também acesso a informação peda-gógica através de placas pedagógicas.»

Contudo, a principal acção a ser realizada foi a reflorestação da Tapada. «As principais plantações foram feitas ao longo dos caminhos da Tapada e junto aos cercados dos animais», explica o enge- nheiro Ricardo Paiva.

«O apoio da Audemars Piguet serviu também como um incentivo, deu-nos a força de ver logo a Tapada a começar a trabalhar, não do lado do drama, mas do lado da esperança», diz o respon-sável pela Tapada.

As árvores plantadas foram, principalmente, carvalhos, sobreiros e freixos. A opção de plantar ao longo das estradas – e, principalmente, freixos – tem já o futuro em mente: «Os freixos funcionam como barreiras à propagação de incêndios. A ideia era começar logo a criar redes de compartimen-tação, para precaver futuros incêndios». Hoje, os freixos plantados já ultrapassam os cinco metros de altura e os carvalhos e sobreiros já exibem uns orgulhosos 30 centímetros.

Um plano de gestão florestalComo ‘gato escaldado de água fria tem medo’, desde o incêndio «passámos a ter uma gestão mui-to mais cuidada. Antes de 2003, fazíamos pouco, mas fazíamos alguma coisa, numa altura em que

ninguém fazia nada. Mas foi manifestamente pouco, e, hoje, reconheço que o que fazíamos foi ineficaz. Hoje, acho que fazemos bastante», diz Ricardo Paiva.

«Mas não posso garantir que a Tapada não volta a arder. Porque a floresta arde, o mato arde. O que nós criámos foi um plano de gestão florestal que nos permite ter áreas minimamente controla-das. No caso de haver um incêndio, podem arder 50 hectares, mas acabou. Temos condições para que ele seja controlado naquela área», acrescenta.

A Tapada tem um plano de gestão de com-bustíveis, que são eliminados quer por fogos con-trolados no Inverno, quer através da limpeza: «To-dos os anos limpamos cerca de 30 hectares com esta técnica de fogo controlado. E também temos zonas com intervenção mecânica: quando chega Maio ou Junho, limpamos essas áreas com máqui-nas, removemos os combustíveis».

Outra das precauções tomadas no plano de reflorestação foi a opção por espécies folhosas:

“O apoio da Audemars Piguet serviu também como um incentivo, deu-nos a força de ver logo a Tapada a começar a trabalhar,

não do lado do drama, mas o lado da esperança.”

Ricardo Paiva

Page 44: Espiral do Tempo 29

44 Espiral do Tempo 29 Verão 2008

Page 45: Espiral do Tempo 29

«Tentámos reduzir a área de resinosas, que arde mais facilmente. Mesmo nas áreas de resinosas, apostámos mais no pinheiro manso do que no bravo, porque é mais resistente».

O objectivo foi «criar um mosaico vegetal que, em caso de incêndio, fizesse com que as chamas se propagassem lentamente e tivesse áreas de descon-tinuidade».

O apoio da Audemars Piguet resultou em mais do que uma acção de reflorestação: «A acção da Audemars Piguet consistiu numa acção de investigação também: usámos vários tipos de materiais para ver quais eram os melhores, quais permitiam melhores rendimentos. A acção da Audemars Piguet foi pioneira naquilo que depois viemos a fazer no resto das plantações. Foi o nosso balão de ensaio para sabermos que modelo é que tínhamos de implementar na Tapada», explica o responsável.

Um exemplo de um resultado dessa investiga-ção foi a decisão de «recolher sementes dos nossos sobreiros e carvalhos e propagá-los pelos viveiros da aliança florestal, o que significa que as árvores que plantámos aqui na Tapada são geneticamente provenientes da mesma área, o que lhes dá uma capacidade de adaptação muito maior do que se tivéssemos ido comprar sobreiros ao Alentejo. Te-mos uma taxa de vingamento das árvores acima de 90 %, o que é inédito. Normalmente é de 70 %».

De olhos postos no futuroSó daqui a 20 ou 25 anos é que vai ser possível «ver o verdadeiro resultado desta acção de reflorestação, porque são árvores que crescem muito lentamente, uns cinco ou seis centímetros por ano, o que até faz pena, porque já as queríamos ver lá em cima. Mas temos de respeitar a Natureza. Isto é para preparar o futuro da Tapada».

Agora que todos os planos de requalificação da Tapada estão concluídos, é hora de pensar no futuro: «Está totalmente recuperada e está tanto ou mais bonita do que antes do incêndio. Está preparada para ser ainda mais. Temos um plano estratégico para os próximos dez anos, no âmbito do qual pretendemos desenvolver acções junto das escolas e promover mais o turismo ambien-tal, um turismo de natureza, com mais produtos e uma maior capacidade de visitação da Tapada. Isto exige um grande investimento de cerca de três milhões de euros. Estamos à espera de resposta do ministro da Agricultura».

A ambição de Ricardo Paiva é «conferir à Tapada, nos próximos dez anos, uma nova dimen-são, respeitando sempre os valores da preservação e conservação da natureza. Podemos ir mais além, podemos ter mais visitantes, mais activi-dades, mais dinâmicas».

“O objectivo foi criar um mosaico vegetalque, em caso de incêndio, fizesse com que as chamas se propagassem

lentamente e tivesse áreas de descontinuidade.”

Ricardo Paiva

45Reportagem Tapada Nacional de Mafra

Fundação Audemars Piguet

Criada pela Manufactura Audemars Piguet em 1992 como meio de marcar o vigésimo aniversário da colecção de relógios

Royal Oak, a Fundação Audemars Piguet tem o objectivo de contribuir para a preservação florestal em todo o mundo.

É presidida por Jasmine Audemars, bisneta de Louis Audemars, co-fundador da Manufactura em 1875. Formada em

Ciência Sociais e História Económica pela Universidade de Genebra, Jasmine Audemars iniciou-se no mundo profissional

como jornalista no Journal de Genève, do qual veio a ser redactora-chefe. Em 1992, abandonou esse cargo para suceder

a seu pai à frente do Conselho de Administração da Manufactura. Ela é, também, membro do Comité de Surveillance do

Comité Internacional de Alta-Relojoaria (CIHH), em Genebra. A reflorestação da Tête de Chien, uma área florestal situada

nos contrafortes dos Alpes Marítimos junto ao Mónaco, foi o primeiro projecto apoiado pela Fundação. Desde então,

cerca de 30 projectos de reflorestação por todo o mundo foram já financiados. Todos eles reflectem os três valores

fundamentais da Manufactura: tradição, excelência e inovação. No entanto, a Fundação, consciente de que o futuro

florestal implica educar as crianças, apoia, ainda, projectos destinados a despertar as crianças para a necessidade de

preservar os recursos naturais. Em 2004, apenas duas acções de recuperação florestal foram aprovadas pela Fundação: a

reconstituição da Salle Triangulaire do Parc du Grand Trianon em Versalhes, França, e a reflorestação da Tapada Nacional

de Mafra, Portugal.

http://www.audemarspiguet.com/www08/en/fondation/fondation.html

Ricardo Paiva, director da Tapada Na-

cional de Mafra e um exemplo da si-

nalética criada ao longo do “Caminho

Audemars Piguet”.

A Tapada Nacional de Mafra é um im-

portante santuário para espécies ani-

mais e vegetais que a todo o custo se

tenta preservar e modernizar.

Page 46: Espiral do Tempo 29

56 Espiral do Tempo 29 Verão 2008

Page 47: Espiral do Tempo 29

[ Reportagem ]

A relação afectiva entre a Franck Muller e Portugal vai ser traduzida em mais uma

edição limitada especialmente concebida para o mercado lusitano: o cronógrafo Pride of Portugal.

E, para uma peça tão especial, era precisa uma caixa de excepção. Esse desafio coube à Fundação

Ricardo Espírito Santo Silva.

47Reportagem Pride of Portugal

texto Miguel Seabra | fotos Nuno Correia | Genthod, Suíça

Há dez anos, o celebrado mestre genebrino Franck Muller esteve em Lisboa para anunciar com pompa e circunstância uma edição elaborada especialmente para os aficionados portugueses; denominada «Universo Português», assentava no seu famoso modelo Master Banker e ostentava três fusos horários – uma homenagem à extensão global da lusofonia com os diferentes fusos ‘pro-gramados’ para Lisboa, Rio de Janeiro e Macau.

Uma década depois, a Franck Muller – nova-mente em parceria com a Torres Distribuição – edita mais uma série exclusiva para Portugal: um cronógrafo personalizado com detalhes únicos, que incluem simbologia e opções cromáticas de ci-

sivamente lusitanas. Para trás ficam também algu-mas edições de luxo associadas aos três principais clubes de futebol nacionais, na sequência da bem sucedida participação de Benfica, FC Porto e Sporting no reputado torneio de futebol indoor de Genebra, patrocinado pela Franck Muller.

Estreitar laçosFranck Muller e o seu administrador Vartan Sir makès têm construído, ao longo das últimas duas décadas, um fascinante universo relojoeiro denominado Watchland e localizado nos arredores de Genebra, em Genthod – onde se podem en-contrar vários trabalhadores portugueses, desde

imigrantes a luso-descendentes, e até os jardins são embelezados com fontes de água adquiridas em Portugal. Para além da estreita cumplicidade com os representantes da marca no nosso país, o próprio Franck Muller é um confesso admirador do espírito lusitano.

«Quando estou em Portugal sinto-me em fa-mília, como se estivesse em casa. Sou latino por parte da minha mãe e Portugal é um país la-tino, caloroso, acolhedor, cultural. Pena é que a sua história não seja suficientemente conhecida noutros países – quando nos damos conta, cons-tatamos a grandeza que Portugal teve noutras épocas. E trata-se de um lindo país: gosto de

Page 48: Espiral do Tempo 29

48 Espiral do Tempo 29 Verão 2008

Versão em ouro rosa com botões

e coroa negras, da edição limitada

tributo a Portugal - Curvex Chrono-

graph Pride of Portugal.

A observação minuciosa de todos os

aspectos que compõem uma peça de

alta-relojoaria é fundamental e, por

maioria de razões, quando se trata de

uma edição limitada.

Page 49: Espiral do Tempo 29

49Reportagem Pride of Portugal

“O coleccionador português de relógios Franck Muller não é muito diferente dos outros – é um líder,

tem abertura de ideias.”

Franck Muller

Curvex Chronograph Pride of Portugal

Cronógrafo mecânico de corda automática

que contém algumas características únicas

dentro da vasta colecção Franck Muller.

René-Pierre Ricci

Figura carismática da casa Franck Muller

é o responsável pelo gabinete de design

da marca suíça e apaixonado confesso

por este projecto dedicado a Portugal.

“O relógio evoca o espírito português, um espírito de navegadores habituados ao mar.

Um povo conquistador.”

René-Pierre Ricci

Lis boa, gosto do Porto; aprecio a arquitectura e o perfume de passado que ainda se sente. O co-leccionador português de relógios Franck Muller não é muito diferente dos outros – é um líder, tem abertura de ideias».

A edição ‘Pride of Portugal’ será oficialmente apresentada num local marcante da história nacional (a Torre de Belém) e numa data coin-cidente com o campeonato europeu de futebol (30 de Junho). Será que, nessa altura, a selecção das quinas terá exacerbado o orgulho de todo um país através da sua prestação em estádios suíços e austríacos?

Iconografia lusaAs quinas do emblema nacional e o vermelho- -velho das camisolas da selecção de 1966 são ele mentos preponderantes no mostrador da edi-ção limitada – que, fazendo jus à tradição Franck Muller, é declinada num modelo cro no gráfico em formato cintrée curvex sobre dimen sionado. A es co lha da complicação é evidente: o cronógrafo é uma função masculina e desportiva por excelência que sempre foi acarinhada, ao passo que a caixa

cintrée curvex – uma complexa elaboração da clás-sica forma tonneau (caixa alo ngada em forma de barril) tão em voga no período art déco – é in-dissociável da assinatura Franck Muller.

A edição limitada está declinada em 40 exem -plares em aço polido, 30 exemplares em ouro rosa e 20 exemplares aço revestido com pvd pre to (sendo que os primeiros 20 de cada série serão comercializados em conjunto), mantendo sempre o mesmo mostrador negro idealizado por René-Pierre Ricci. O designer, grande res-pon sável pelo look Franck Muller assente em grandes algarismos árabes estilizados, baseou-se num briefing e na sua sensibilidade para calcular as aberturas relativamente à posição dos eixos dos ponteiros ou à janela da data e desenvolver so luções e efeitos ópticos que transmitissem o desejado toque lusitano. «Era necessário dar um espírito português ao mostrador e utilizámos mui-to o vermelho sangue a contrastar com o fundo preto e os indicadores a branco, para além dos cinco escudos em cruz», confessou Ricci.

Outros pormenores exclusivos: a opção por uma coroa negra condizente com o mostrador e a

utilização, pela primeira vez na história da marca, de um fecho de báscula para as braceletes do ‘Pride of Portugal’.

A caixa do tesouroPara acolher peças tão especiais como as da edição limitada ‘Pride of Portugal’, da Franck Muller, era preciso uma caixa tão especial como o seu recheio. Assim, a Fundação Ricardo Espírito San-to Silva (FRESS) foi desde logo encarada como a escolha ideal para levar a cabo tal tarefa. Sendo a maior especialista em Portugal no que toca a artes decorativas, adoptando sempre o fabri-co artesanal, a FRESS criou uma caixa sóbria, elegante e requintada, o receptáculo indicado para os três modelos da edição especial para Portugal. São 20 as caixas que a Fundação vai criar – a idade que Franck Muller tinha quando saiu da escola de relojoaria de Genebra.

O caminho que cada caixa percorre até poder receber os relógios é longo, passando por grande parte das 18 oficinas da Fundação. Mas, no méto-do artesanal, a pressa é inimiga da perfeição. A madeira escolhida foi o ébano – espécie de origem

Page 50: Espiral do Tempo 29

50 Espiral do Tempo 29 Verão 2008

A alta-relojoaria é feita de pormeno-

res, muitas vezes ínfimos. Olhos e

mãos experimentadas analisam e tes-

tam cada peça que sai dos ateliers.

Reconhecida pela sua competência

artesanal, a Fundação Ricardo Espírito

Santo Silva associou-se a este projec-

to através da elaboração de uma cai-

xa exclusiva.

Page 51: Espiral do Tempo 29

51Reportagem Pride of Portugal

“Para mim, emocionalmente, Portugal não éum país distante nem tão pouco os portugueses são estrangeiros, convivo com

eles diariamente na casa Franck Muller, fazem parte de todos os

projectos desta marca, fazem parte do nosso sucesso.”

Franck Muller

O estojo manufacturado pela Fundação

Ricardo Espírito Santo alberga esta edi-

ção limitada composta por três modelos:

Ouro rosa, aço e aço com tratamento

em PVD preto. Cada estojo é numerado e

estão disponíveis 20 exemplares.

africana, rara, escura, densa. Depois da escolha, a madeira passou, em primeiro lugar, pela serração, onde foi cortada nas medidas exactas.

Seguiu depois para a oficina de marcenaria, onde os malhetes foram encaixados, com extrema precisão, uma vez que nestas peças de fabrico artesanal não são utilizados pregos ou cola. O passo seguinte decorreu na oficina de embutidos. Para gravar o nome ‘Franck Muller’ na tampa da caixa em ouro, o mestre César precisa de recortar letra a letra, com o ébano a sobrepor a folha de ouro, numa máquina de recorte que faz os leigos lembrarem-se de uma máquina de costura, para que depois as letras encaixem na perfeição. De-pois, ainda na mesma oficina, é preciso definir os veios do exterior da caixa e embutir-lhes os fios de ouro decorativos.

Entretanto, na oficina de encadernação, o mes tre Mourão e as suas oficiais tratam de chifrar a pele de chagrin para que fique fina e suave para encadernar o certificado que acompanha os re-lógios dentro da caixa.

Nesse momento, a caixa já passou pelas mãos do mestre estofador, que tratou de estofar os rebordos e as almofadinhas que vão acolher os re ló gios, e chegou até à oficina de decoração de livros, que possui uma das maiores colecções da Europa de ferros de gravar, desde o século XVI até ao período romântico. Aí, Teresa, oficial de primeira, encosta o queixo ao ferro para gravar no interior com folhas de ouro de 23 kt o nome de Franck Muller nos certificados e o mesmo logótipo na pele do interior da caixa. Entretanto, a chave que abre esta caixa de tesouros passou pela

fundição e acabou a ser aperfeiçoada na oficina de cinzelagem.

A caixa, essa, esperava pela sua chave na oficina de acabamentos, onde passou quatro horas a levar duas camadas de cera de abelha, depois de levar a patine (aguada com base de vieux-chêne) e depois de ver todos as suas minúsculas imperfeições be-tu madas com a mesma cera, a ser esticada com um cardo (uma espécie de escova), a ser esfregada com um pano de feltro e, por fim, a ver o seu brilho realçado depois de ser lustrada com uns collants de vidro de senhora. São muitas oficinas por onde passa e muitas horas na mão de cada mestre e dos seus oficiais. Cada caixa demora em média 15 dias até estar pronta. Mas a perfeição vê-se nos detalhes. E, como já dissemos, a pressa, neste caso, é considerada inimiga.

Page 52: Espiral do Tempo 29
Page 53: Espiral do Tempo 29

[ Reportagem ]

53Reportagem Master Compressor Extreme World Chronograph

texto |fotos |

Quando a «Grande Maison» Jaeger-LeCoultre apresenta, no SIHH 2005, o último modelo Master,

o jovem CEO Jérôme Lambert consegue surpreender a concorrência e os profissionais. O muito

arrojado Master Compressor Extreme World Chronograph marca uma ruptura histórica com

uma tradição muito marcada pelo Reverso. A comercialização deste novo modelo impulsiona

definitivamente os novos valores da maior manufactura do Vale do Joux: inovação técnica

combinada com um desenho pujante. A mensagem é clara: Jaeger-LeCoultre será também

sinónimo de desporto.

Page 54: Espiral do Tempo 29

DicasComo ler instantaneamente a hora nas 24 cidades mencionadas no dis co gi-

ratório?

É indispensável realizar um acerto prévio que consiste em: rodar o disco 24 horas

utilizando a coroa posicionada às dez horas. Uma vez que a indicação da cidade

«London» (GMT, hora igual à de Portugal) se encontra sob o número seis do

mostrador, as horas do relógio e os fusos horários ficam sincronizados.

Como saber se o relógio está estanque?

Duas setas, uma branca e outra vermelha estão dispostas na coroa. Quando a

seta visível é a branca, o relógio é perfeitamente estanque a 100 metros. Ro-

dando a coroa 180 graus, aparece uma outra seta vermelha que significa que o

relógio deixa de ser estanque. Os dois poussoirs do cronógrafo indicam apenas

a seta vermelha quando o relógio não é estanque.

54 Espiral do Tempo 29 Verão 2008

Page 55: Espiral do Tempo 29

55Reportagem Master Compressor Extreme World Chronograph

O projecto Extreme modificou profundamente o sá -

bio equilíbrio entre design, desenvolvimento, mo -

vimento e fabricação da caixa/do mostrador. «É

o primeiro relógio técnico que exigiu um conceito

global. Procurámos aliar um movimento de gran de

precisão a uma excelente leitura», afirma Magalie

Métraillier, responsável pelo design do pro jecto Ex-

treme World Chronograph.

Até então, qualquer projecto de relógio da Jaeger-

-LeCoultre começava invariavelmente pela criação

de um novo calibre. Jean-Claude Meylan e a res-

pec tiva equipa do departamento de pesquisa e

de senvolvimento assumiam esta responsabilidade.

Durante, por vezes, cinco anos, os melhores en-

genheiros da Manufactura procuravam soluções

téc nicas para conseguirem respeitar os ambiciosos

objectivos do caderno de encargos. Esta estratégia

foi utilizada durante quase 175 anos, permitindo

que a Manufactura de Le Sentier ganhasse uma

reputação mundial de fabricante de movimentos

de prestígio. Durante todo o século XX, tornou-se

um dos primeiros fornecedores de movimento

das mais destacadas marcas de alta-relojoaria.

Fruto des te património são mais de 300 calibres

dife rentes, hoje expostos no primeiro atelier do

fun dador An toine LeCoultre, situado mesmo na

entrada da actual manufactura.

Um necessário triumvirat criou-se, juntando

Jean-Claude Meylan, director do departamento de

pes quisa e desenvolvimento, Stéphane Belmont,

director do departamento de produto, e Magalie

Métraillier, do departamento de desenho.

A primeira missão imposta no caderno de en-

car gos consistiu na criação de uma caixa capaz de

absorver 50 % de uma aceleração que vai de 300

G (choques frequentes) até 700 G (mais raros).

Estes choques verticais provocam, com efeito, um

desajustamento de vários minutos por dia. En con-

tramos Laurent Morel, do departamento de pro-

duto, que se encarregou do estudo de uma nova

caixa, que originou o depósito de não menos de

quatro patentes. A fim de proteger o movimento

752, Laurent Morel parece ter encontrado o ovo de

Colombo: que haverá de mais resistente do que

inte grar a caixa de titânio do relógio em outra caixa?

Esta ideia constituiu, assim, a base da primeira pa-

tente deste modelo (N.º CH-00283/05). Magalie

explica: «seguimos a regra da linha Compressor:

a técnica deve ser vista. Assim escolhemos maté-

rias diferentes para poder distinguir as duas caixas

do relógio.»

“O disco de 24 horasassenta sobre um rolamento de rubis,

que apresenta um coeficiente

de atrito excelente.”

Departamento de Produto

Laurent Morel

Page 56: Espiral do Tempo 29

56 Espiral do Tempo 29 Verão 2008

Page 57: Espiral do Tempo 29

57Reportagem Master Compressor Extreme World Chronograph

Como não há bela sem senão, os engenheiros

ti veram, contudo, de transigir sobre o diâmetro fi-

nal do relógio. Passou de uns já generosos 45 mi -

límetros para um imponente 46.3 milímetros, o

maior relógio Jaeger-LeCoultre alguma vez apre-

sentado!

«Criámos um espaço de ar comprimido sob

a gaiola interna, que serve de amortecedor»,

explica-nos Laurent Morel. «Quando a pressão

so bre o eixo Z (pressão vertical) cessa, a caixa

re to ma a sua posição.» Vinte e quatro meses de

testes foram indispensáveis à criação desta caixa

perfeitamente estanque a 100 metros. Os quatro

parafusos imaginados inicialmente foram retirados

rapidamente: o ar comprimido único é suficiente

para «empurrar» a gaiola interna, permitindo um

alinhamento perfeito entre o vidro do relógio e a

caixa externa.

O design e o desenvolvimento da caixa não fi-

caram parados depois desta primeira vitória. Volta-

ram a utilizar duas patentes que marcaram a

identidade visual de toda a linha Compressor: as

chaves de compressão. Trata-se de um en ge nho-

so sistema que permite, através de quatro jun-

tas dispostas na coroa, garantir uma perfeita im-

permeabilidade. No «Extreme», esta ideia apli-

cou-se igualmente aos poussoirs do cronógrafo.

«Para seduzir o público, um relógio deve sur-

preender», explica Magalie.

A quarta e última patente desenvolvida pelo

departamento de produto está relacionada com a

mudança rápida de bracelete. Prática, de simples

utilização e inteligente na construção, esta patente

torna o Extreme um relógio versátil. Ao propor

duas braceletes (croco e cauchu), a manufactura

ofe rece a possibilidade de mudar o aspecto visual

do relógio.

Last but not not least, Jean-Claude Meylan teve

a pesada responsabilidade de apresentar o primeiro

cronógrafo automático da sua longa história! O

cronógrafo de mergulho Shark, lançado em 1969,

mostrou o caminho certo. As soluções encontradas

passaram por dois pequenos tambores e uma tra -

dicional roda de coluna. «Aquilo permitia-nos ter

uma reserva de corda de 65 horas», explica Jean-

-Claude Meylan.

Números28.800: alternâncias/hora do calibre mecânico de corda automática JLC 742.

65: horas de reserva de corda

1000: horas do teste de qualidade JLC, comprovado com selo em ouro de 18 quilates

no fundo da caixa.

279: número total de peças do movimento.

41: número total de rubis utilizados neste calibre

46,3: diâmetro em milímetros do relógio

10: estanque a dez atmosferas, ou seja, a uma pressão equivalente a 100 metros.

10.000: preço de venda ao público aconselhado, em euros.

“Optámos por um cronógrafo de roda de coluna,em adequação com a tradição relojoeira dos grandes cronógrafos.”

Director do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

Jean-Claude Meylan

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59Entrevista Rui Galopim de Carvalho

Rui Galopim de Carvalho é embaixador executivo da ICA – International Colored Gem-stone Association, a mais importante organização mundial do sector das pedras preciosas. Tem já uma longa carreira na área da avaliação de gemas em bruto, trabalhadas ou em jóias, e dá regular-mente cursos de formação profissional a ourives e joalheiros nacionais. É ainda avaliador oficial, ao serviço de instituições e particulares.

Espiral do Tempo – É verdade que Portugal (continente,

Açores e Madeira) não teve nunca nenhum tipo de ex-

ploração de pedras preciosas?

Rui Galopim de Carvalho – A geologia de Portugal não é, infelizmente, consentânea com a formação de jazigos minerais de pedras preciosas. Não te-mos nem basaltos ricos em safiras e rubis, como os do Cambodja, nem pegmatitos (uma espécie de granito onde os cristais são grandes), ricos em turmalinas e águas-marinhas, como os de Mo çambique e do Brasil, nem micaxistos ricos em esmeraldas, como os dos Urais, nem tão pou-co alu viões ricos em safiras, rubis e outras gemas,

como os de Madagáscar ou do Sri Lanka. Temos, outros sim, ocorrências pontuais de algumas ge-mas que foram exploradas no passado, mas sem grande importância económica, até porque, na esmagadora maioria dos casos, os achados eram meramente ocasionais. Falo, a título de exemplo, de algumas águas-marinhas de Mangualde, de quartzos e topázios do Gerês e de calaítes (uma de signação arqueológica de uma variedade de tur quesa) de Vila Viçosa. Há, no entanto, uma excepção. Aliás, se quiser, há duas. Uma diz res-peito às granadas vermelhas de Monte Suímo, em Belas, que foram amplamente exploradas pelos romanos e, mais tarde, no tempo de D. Dinis, de que ainda há exemplares, designadamente, no Museu Nacional de História Natural, em Lisboa. A outra excepção, com alguma dose de criativi-dade no conceito, são alguns basaltos negros da ilha de S. Miguel. Estes basaltos são utilizados por um conhecido artista joalheiro local, Paulo do Vale, na feitura das suas jóias, que já foram galar-doadas com vários prémios, nomeadamente no concurso VIP Jóias, e estão presentes no Museu

[ Entrevista ]

Sabe que há diamantes com talhe ‘Lisboa’ e outros com talhe ‘Português’?

Ou que há (houve?) granadas vermelhas em Belas? Portugal foi o introdutor de muitas gemas da América,

de África e do Oriente na Europa. Mas, como habitualmente, «tudo o vento levou», e essa riqueza passou

ao largo do País para outros centros, onde a lapidação se radicou até hoje. Ninguém melhor do que o

gemólogo Rui Galopim de Carvalho para nos explicar como tudo se passou.

“Portugal teve, de facto,um papel marcante na maior diversidade

e quantidade de matérias-primas para

a joalharia europeia de quinhentos, para não

falar do riquíssimo intercâmbio a nível

estético e até de técnicas artesanais

com o Oriente.”

Rui Galopim de Carvalho

entrevista Fernando Correia de Oliveira | fotos Nuno Correia

da Presidência da República. Não se tratará aqui de uma pedra preciosa, mas é certamente interes-sante a utilização de um pedaço de solo português em joalharia.

ET: Isto ao contrário da exploração de ouro, que vem

desde a pré-história?

RGC: Quanto a esse minério a história é outra. Portugal é um modesto produtor de ouro e, ainda

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60 Espiral do Tempo 29 Verão 2008

Há um talhe «Lisboa» ou «Portugal»?Existe, de facto, um talhe «Lisboa» e um talhe «Português», faltando, no entanto, ainda, as necessárias

investigações documentais para averiguar a verdadeira história e razão de ser destes nomes. Se, por um

lado, o talhe «Lisboa» corresponde a uma variação do talhe brilhante antigo, em voga no século XVIII, com

o acrescento de dezasseis facetas às cinquenta e oito tradicionais, oito na coroa (parte superior da pedra)

e oito do pavilhão (parte inferior), sendo fundamentalmente utilizado para diamantes, já o chamado talhe

português parece ser do século XX, ou seja, bem mais recente. Este talhe tem um contorno redondo, com um

desafiante total de 161 facetas, estando presente, fundamentalmente, em pedras de cor de grandes dimen-

sões, como, por exemplo, quartzos, turmalinas e topázios azuis. Se do primeiro talhe não haverá grandes

provas concretas da sua existência, ou seja, não haverá pedras para sustentar a hipótese da sua existência,

apesar das inúmeras referências na literatura técnica; do segundo, são muito correntes os exemplos actuais

nos mercados de gemas coloridas. Como referi, e repito, ainda estarão por investigar as origens tanto das

designações como da concepção e dos criadores, apesar de, relativamente ao primeiro caso, o talhe «Lis-

boa», se poder especular que se trataria de um estilo de lapidação desenvolvido pelo Atelier Real do Campo

Pequeno, uma oficina de lapidação de curta existência, criada no século XVIII.

A Chopard é um dos exemplos de sucesso, quer na relojoaria,

quer na joalharia. As suas criações contemplam também

uma combinação das duas vertentes. Como exemplo de arte

joalheira apresentamos o colar Pampille.

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61Entrevista Rui Galopim de Carvalho

hoje, se regista a exploração de ouro em vários lo-cais do continente. Embora uns tenham mais im-portância do que outros, registaram-se ocorrên-cias de ouro no Alentejo, Trás-os-Montes, Beiras, nas aluviões do Zêzere, Tejo, Douro e Guadiana, por exemplo. No passado, as explorações de ouro na região de Lisboa foram amplamente descri-tas, havendo relatos interessantes do naturalista Plínio, o Velho, que salienta o carácter aurífero das areias do Tejo. Aliás, na toponímia é bem evi-dente esta actividade: os nomes Almada (do árabe almadán, que quer dizer «A Mina») e Costa da Caparica (como em Capa Rica, evidenciando, se-gundo alguns autores, a riqueza aurífera de certas camadas dos sedimentos da região). Em finais do século XVIII e princípios do XIX, sob a super- -intendência do luso-brasileiro José Bonifácio de Andrada e Silva, insigne mineralogista que dá o nome ao Museu de Mineralogia da Universi-dade de Coimbra e que também ficou conhecido como o pai da independência do Brasil, ainda se foi registando a exploração lucrativa dos ouros da margem sul, designadamente na chamada Mina do Príncipe Regente ou Mina da Adiça. Não me posso esquecer, para rematar, do grande interes-se histórico das ocorrências de ouro na região de Gondomar, que estão na origem da grande tra-dição ancestral do trabalho deste metal, o que ain-da hoje faz desta cidade da região metropolitana do Porto a capital do ouro em Portugal.

ET: Nas especiarias, na culinária, Portugal foi responsá-

vel pela introdução de novas espécies na Europa, mas

fala-se pouco do papel que teve quanto às pedras pre-

ciosas (só do Brasil?). Tal como com outras matérias-

primas, também a exportação era em bruto e a mais-

valia obtida por terceiros?

RGC: Portugal teve, de facto, um papel marcante na maior diversidade e quantidade de matérias-primas para a joalharia europeia de quinhentos, para não falar do riquíssimo intercâmbio a nível estético e até de técnicas artesanais com o Ori-ente. A abertura da rota do Cabo, ou, se quiser, da Carreira das Índias, veio trazer a Portugal e à Europa as matérias-primas que até então chega-vam por rota terrestre e eram distribuídas, desig-nadamente, a partir de Veneza. Era, de facto, de regiões orientais, tais como o Golfo Pérsico e o Golfo de Mannar (pérolas), a Índia e o Bornéu

(diamantes), o Sri Lanka (rubis, safiras, granadas, cristal-de-rocha etc.), o actual Myanmar (rubis e safiras), entre outras regiões, que procedia a es-magadora maioria dos materiais gemológicos de maior valia. Muitos deles vinham trabalhados à maneira «nativa», mas o gosto europeu muitas vezes recomendava a lapidação de acordo com os talhes mais na moda. Os diamantes, por exemplo, já eram trabalhados pelos indianos e indonésios, mas estes talhes não eram apelativos para o utili-zador europeu, o que já havia promovido o esta-belecimento de oficinas de lapidários um pouco por toda a Europa, designadamente em Veneza.

Com o grande afluxo diamantário de quinhen-tos, a par dos desenvolvimentos da tecnologia de lapidação, estabeleceram-se ainda mais oficinas desta natureza, tendo Portugal tido, a dada altura, algum protagonismo que, não fora a infame perse-guição aos judeus, ainda faria hoje de Lisboa uma capital do diamante, como o é iniludivelmente a Antuérpia, na Bélgica. Respondendo em con-creto, houve sim um grande desenvolvimento do «mester» de lapidário em Lisboa durante o século XVI, acrescentando valor à matéria-prima, tanto à que era exportada quanto à que se destinava ao consumo interno (não nos esqueçamos de que Por tugal era uma rica e poderosa potência mun-dial, onde se ganharam hábitos de luxo, design-adamente na joalharia). Muitos destes lapidários até eram estrangeiros que aqui comercializavam e talhavam as gemas. É curioso o facto de, no que diz respeito aos diamantes, o grosso do comércio ser feito com pedras brutas.

A história como que se repete dois séculos mais tarde com o descobrimento dos diamantes no Brasil, no segundo quartel do século XVIII. Isto não só veio revitalizar levemente uma quase inexistente actividade de lapidador de diaman-tes, como também, pelas intensas campanhas de prospecção que se lhe seguiram, deu início à uti-lização de outras gemas coloridas entretanto en-contradas em solo brasileiro, o que constituiu um marco significativo na história da nossa joalharia.

ET: Actualmente, o gosto dos portugueses por jóias se-

gue a tendência internacional – mais importância dada

à marca do que propriamente ao produto em si?

RGC: Os gostos de consumo numa sociedade cada vez mais massificada e indiferenciada tendem a

seguir, como diz, as tendências internacionais, que vão sendo delineadas e sustentadas por estu dos intersectoriais, designadamente na moda. Com efeito, e seguindo a tendência internacional de há alguns anos a esta parte, regista-se uma pro-cura cada vez maior de produtos de joalharia de marca ou, por outras palavras, de jóias oriundas de criadores/fabricantes que souberam construir um conceito de imagem em torno de um produto de qualidade. Esta tendência é tão mais evidente quanto percebemos que fabricantes portugueses também têm abraçado este tipo de abordagem, proliferando um número crescente de marcas na-cionais, ainda que, muitas vezes, com imaginativas designações estrangeiras. Não obstante, porém, ao conceito de marca estar associada a qualidade do produto, tanto nos materiais como na concepção, no design e nos acabamentos, o consumidor nacio-nal está habituado a uma produção nacional que ainda é herdeira de uma longa tradição artesanal neste sector, dando grande relevo à qualidade do trabalho. E se, por um lado, ainda hoje se veri-fica um apreço pela qualidade do ouro, isto é, pela liga dita tradicional portuguesa de 800 milésimas (ou de 19,2 quilates), por outro, no que respeita às gemas, não há grande exigência na qualidade das mesmas. Esta despreocupação tem, todavia, registado alguma evolução, pois já se vai notando um maior conhecimento gemológico tanto por parte do público como por parte dos agentes do sector, o que tem dado oportunidades ora a gemas menos utilizadas e conhecidas, ora a gemas tradi-cionais em segmentos de qualidade mais ambi-ciosos, como é o caso dos diamantes.

A maior presença de marcas tem tido nesta matéria um papel relevante, pois a sua maior visi-bilidade, ora nas montras ora na publicidade, acaba por conquistar mais depressa a aceitação de novos materiais por parte dos públicos, o que contribui para alargar o espectro de escolha, com impactes trans versais em todos os níveis do sector.

Arriscaria dizer que se vai notando o cresci-mento de um nicho de públicos sensíveis aos no- vos conceitos de joalharia de autor, em especial aos que optam pelo uso de metais nobres e pedra-rias, pois constituem uma alternativa inovadora, e por vezes provocadora, à joalharia dita tradicio-nal, adap tando-se aos novos estilos de vida e aos novos conceitos de jóia.

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RolexSea Dweller [64]

Audemars PiguetRoyal Oak Offshore Chrono [66]

GrahamChronofighter Tech Seal [68]

Patek PhilippeAquanaut XL [70]

Jaeger-LeCoultreMaster Comp. Diving GMT [72]

TAG HeuerAquaracer Calibre S [74]

LaboratórioRaymond Weil Nabucco GMT [76]

PerfilCarlos Góis [80]

63Espiral do Tempo 29 Mare Nostrum

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65Espiral do Tempo 29 Em Foco

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65Espiral do Tempo 29 Em Foco

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67Espiral do Tempo 29 Em Foco

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67Espiral do Tempo 29 Em Foco

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68 Espiral do Tempo 29 Em Foco

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68 Espiral do Tempo 29 Em Foco

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70 Espiral do Tempo 29 Em Foco

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70 Espiral do Tempo 29 Em Foco

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73Espiral do Tempo 29 Em Foco

Page 73: Espiral do Tempo 29

73Espiral do Tempo 29 Em Foco

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74 Espiral do Tempo 29 Em Foco

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74 Espiral do Tempo 29 Em Foco

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84 Espiral do Tempo 28 Primavera 2008

Nabucco GMT

Referência: 3800-STF-05207

Movimento: Mecânico de corda automática.

Funções: Duplo fuso horário, horas, minutos, segundos e data.

Caixa: Aço, vidro e fundo em safira, estanque a 200 metros.

Bracelete: Aço e fibra de carbono com fecho de báscula.

Preço: € 3.190,00

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Nabucco é a designação escolhida para a nova colecção mecânica exclusivamente mascu-lina da Raymond Weil – uma designação que, como é tradicional na marca genebrina, foi in-spirada no universo musical, no caso, numa fa-mosa ópera de Verdi que exalta a mensagem de libertação e independência do povo hebreu.

Um simples nome pode ser decisivo para o carisma de uma pessoa ou de um objecto, e nessa perspectiva a nova linha relojoeira da Raymond Weil teve um baptismo de sucesso. Há muito que os nomes das colecções da marca têm uma inspiração melómana porque a filha do fundador da marca é uma pianista de renome; é também casada com Olivier Bernheim, actual director-geral, e mãe dos jovens Elie e Pierre, que já ocu-pam cargos directivos na empresa familiar. E se Nabucco é o nome da grandiosa ópera de Verdi

estreada no Scala de Milão, em 1844, é igualmen-te a abreviação do nome de um rei assírio famoso pela sua personalidade: Nabucodonosor, é tam-bém o nome da maior garrafa de champanhe dis-ponível no mercado e que, com os seus 15 litros, é equivalente a 20 garrafas normais. Tudo referên-cias que remetem para o imponente tamanho do novo relógio.

De facto, a linha Nabucco da Raymond Weil evoca grandeza e vigor. A sua força advém de uma pujante caixa em aço declinada em três modelos; o cronógrafo é o mais imponente, com um diâmetro de 46 milímetros, sendo que os res-tantes (um relógio de três ponteiros e uma versão GMT) apresentam um diâmetro de 44 milíme- tros. Foi precisamente o Nabucco GMT o mo- delo escolhido para observação mais detalhada no estúdio de relojoaria da Torres Distribuição.

[ Laboratório ]

77Laboratório Raymon Weil Nabucco GMT

texto Miguel Seabra | fotos Nuno Correia

A Raymond Weil optou por uma simplescomplicação relojoeira que não altera a estética do mostrador nem

confunde o utilizador: consiste na possibilidade de visualização imediata

de dois fusos horários através de dois ponteiros das horas

a partir do centro.

Um relógio prático e robusto, dotado de uma estética contemporânea

que realça a sua funcionalidade: forte e simples, o Nabucco GMT dispõe ainda de um

segundo fuso horário.

Nabucco GMT

Referência: 3800-STC-05207

Movimento: Mecânico de corda automática.

Funções: Duplo fuso horário, horas, minutos, segundos e data.

Caixa: Aço, vidro e fundo em safira, estanque a 200 metros.

Bracelete: Cauchu com fecho de báscula. Preço: € 2.190,00

Page 78: Espiral do Tempo 29

78 Espiral do Tempo 29 Verão 2008

Page 79: Espiral do Tempo 29

Geração em trânsitoA proliferação dos instrumentos do tempo com múltiplos fusos horários é uma consequência na tural de um mundo transformado numa pequena aldeia global delimitada por 24 meridianos – que podem ser cruzados fisicamente em menos de um dia ou atravessados com um simples clique. Hoje em dia, cada vez mais pes soas vivem e trabalham globalmente; o indivíduo contemporâneo neces-sita de instrumentos que o ajudem a controlar o espaço temporal de um planeta mais exíguo, pelo que se torna evidente a razão pela qual as mais prestigiadas marcas de relógios têm procurado corresponder à globalização.

A Raymond Weil optou por uma simples com plicação relojoeira que não altera a estética do mostrador nem confunde o utilizador: con-siste na possibilidade de visualização imediata de dois fusos horários através de dois ponteiros das horas a partir do centro – o ponteiro principal e um suplementar, diferenciado por ser mais fino e dotado de um triângulo na ponta com leitura sobre uma escala de 24 horas situada na luneta.

«A base mecânica do Nabucco GMT assen ta no calibre automático 2893/2, de função GMT integrada», revela o relojoeiro Luís Simão – que procedeu aos testes nos ateliers da Torres Distribuição. «É um calibre robusto, fiável, dotado de um rotor personalizado com a assi-natura Raymond Weil. A coroa de rosca tem

quatro po sições: uma enroscada para garantir a estanqui cidade; uma para a corda manual; out-ra para a correcção rápida da data, rodando a coroa em sen tido anti-horário, e do ponteiro das 24 horas no sentido inverso; e outra para o acerto dos ponteiros principais das horas e dos minutos».

Estrutura poderosaAberto o relógio, torna-se ainda mais fácil cons-tatar a robustez dos seus vários componentes. Assen te numa estrutura de 53,20 por 47,50 milí-metros, o Nabucco GMT apresenta um diâmetro de caixa de 44 milímetros para uma espessura de 12,40 milímetros. A coroa está protegida por bra-ços laterais e a luneta, gravada e pintada, ostenta uma escala de 24 horas.

«É uma caixa muito bem esculpida em aço, estanque às infiltrações até 200 metros e embele-zada pela adição de fibra de carbono», refere Luís Simão. É essa uma das características identifica-doras da linha Nabucco: a injecção de fibra de carbono ultra-ligeira para o contraste material e de cor com a estrutura em aço; os efeitos ópticos da fibra de carbono, que é superleve e ultra-resis- tente, também dão um visual hi-tech ao conjunto – reforçado por parafusos ornamentais na parte lateral e na placa do mostrador.

A fibra de carbono também surge conjugada com o aço numa original bracelete com fecho

duplo de segurança (existem em alternativa uma bracelete apenas em aço ou uma correia em couro perfurado).

Um vidro de safira com tratamento anti-re-fle xo em ambos os lados cobre o mostrador ne-gro dominado por dois algarismos árabes lumi-nescentes (12 e seis) de grandes dimensões e com uma janela para a data entre as quatro e as cinco horas. O fundo de rosca, em aço maciço, ostenta o monograma Raymond Weil.

Complicação descomplicadaO sistema relojoeiro de complicação mais sim-ples vocacionado para o viajante é apelidado GMT (Greenwich Mean Time) e consiste na possibilidade de visualização imediata de dois fusos horários através de dois ponteiros das horas a partir do centro – o ponteiro principal e um su-plementar, diferenciado através da cor ou do for-mato, geralmente com leitura sobre uma escala de 24 horas situada na luneta ou no mostrador. É uma tipologia que não suscita confusão e que está presente nas colecções da maior parte das casas relojoeiras, como é o caso do Nabucco GMT da Raymond Weil. O procedimento é simples: o ponteiro principal das horas pode ser alterado para o tempo local no destino, manten-do-se o ponteiro secundário com o tempo de ori-gem numa escala de 24 horas que permite avaliar se é noite ou dia.

79Laboratório Raymon Weil Nabucco GMT

Mais do que um objecto de culto, um relógio deve

ser um objecto funcional – pode ter um visual ca-

ris mático, mas o essencial é que seja preciso nas

mais diversas condições de utilização. Os testes

de estanquicidade ao Nabucco GMT permitiram

con firmar uma resistência à água até 200 metros,

enquanto a análise ao funcionamento também re-

ve lou a fiabilidade do mecanismo numa avaliação

em cinco posições (VB, coroa para baixo; VG, coroa

à esquerda; VH, coroa para cima; HB, horizontal com

mostrador para baixo; HH, horizontal com mostrador

para cima).

Os testes

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Page 81: Espiral do Tempo 29

Uma vida cheia é o que tem tido Carlos Góis, joalheiro e relojoeiro em Coimbra. Como não pode deixar de ter sido a vida

de um emigrante que, aos 14 anos, cumpre o seu desejo de aventura e parte sozinho, Atlântico fora.

Tornou-se, antes dos 18 anos, dono da primeira das oito lavandarias que viria a possuir.

Inovador e rigoroso, mantém os olhos permanentemente no futuro,

que parece desde já assegurado.

[ Perfil ]

81Perfil Carlos Góis

As raízesAs raízes de Carlos Góis, sendo natural de Fe-bres, Cantanhede, não podiam ser outras que não as ligadas ao comércio de ouro. Mas aquelas só viriam a revelar-se determinantes na sua vida muito mais tarde. Antes disso, a sedução que sen-tia pela aventura levou-o a abandonar o 3.º ano do Liceu D. João III, em Coimbra, e a atraves-sar o Atlântico. Foram 16 dias no paquete Santa Maria, em 1964, “falava-se pouco do Henrique Galvão, mas ainda lá vi uns buracos de bala”, a caminho da ‘terra prometida’ que era, ao tempo, a Venezuela.

A chegada foi inesquecível pois esteve, sózi-nho, intermináveis horas à espera do pai, retido por uma avaria do autocarro, em pleno cais vene-zuelano. Três dias depois já estava a trabalhar numa lavandaria onde, conta, “comecei de baixo, a varrer, e ainda hoje sei fazer tudo”. Aos 17 anos, “fui com o meu pai a um cartório para ele me dar a maioria de idade. De lá, seguimos para outro

texto Paulo Costa Dias | fotos Nuno Correia

Page 82: Espiral do Tempo 29

82 Espiral do Tempo 29 Verão 2008

Page 83: Espiral do Tempo 29

Góis Joalheiro

Rua Jorge Anjinho 130 - CoimbraT: [email protected]

“O que é nacional é bom mas eu quero estar um pouco mais acima…”

83Perfil Carlos Góis

cartório onde me tornei sócio, com 33%, de uma lavandaria”. Antes dos 18 anos já tinha 100% do capital e mais de 30 empregados, mas não pa-rou até que “cheguei às 8. Cada uma tratava 4500 pares de calças por semana, há mais de 20 anos”. Foi um período dourado e de progresso na Vene-zuela onde o rigor, a visão e a capacidade de ino-var foram determinantes para o sucesso. “Sempre investi muito na publicidade. Cheguei a ter em todas as salas de cinema de Caracas a minha pu- blicidade, mesmo antes do gongo de entrada. Isso ficava na cabeça das pessoas”. Depois de 1977 a crise social complica-se progressivamente e, quan do as condições de segurança se agravaram, numa decisão difícil, decide regressar a Portugal.

O regressoAos 47 anos não foi fácil “passar de uma cidade de 5 a 6 milhões de pessoas para uma aldeia de 1000 habitantes e onde não se passava nada. Era outro mundo. Tive muito a tentação de voltar para a Vene zuela mas a família estava primeiro. Lá, sabiamos quando saíamos de casa mas não sa bíamos se regressávamos, nem quando”.

O avô tinha sido pioneiro a andar de bicicleta, de mala verde, a vender ouro nas feiras, e os tios fizeram o mesmo. Decide então dedicar-se a uma pequena ourivesaria tradicional porque “sabe, le-vamos estas coisas no sangue” mas “ou se ganha dinheiro ou se anda a passar o tempo e eu nunca gostei muito de deixar passar o tempo”.

Carlos Góis tem os seus lemas que o vão ajudando a enquadrar as suas decisões, e para si “quando chove, o telhado pinga. Mas se puser-mos uma caleira a água é canalizada toda para o mesmo sítio. Não quero que as gotas venham to-das para cá, mas canalizo o mais possível. Gosto de me antecipar, de estar à frente dos aconteci-mentos, de não ficar de braços cruzados”. Aliou a combatividade nata às suas regras de sucesso e investiu de forma inovadora: “Publicidade arro-jada e muito forte. Sortei automóveis. Uma coisa impensável. Até a família implicava comigo que sorteava carros novos e conduzia um carro velho. Tenho que semear para poder colher, respondia- -lhes. A verdade é que abriram-se portas e jane-las. Tive que adquirir uma segunda loja“. O re-sultado destes 20 anos e deste espírito está nas 7 lojas que detém, sendo a mais recente “o sonho de todos os joalheiros ou relojoeiros que querem ter uma loja, num sítio de topo, com 20 metros de

montra e onde só se vendem marcas de prestígio.” confessa orgulhoso. A sua lucidez permite-lhe estar sempre um passo à frente: “veja o caso da Baixa. As pessoas queixam-se mas nós acabámos de adquirir em leilão uma joalharia histórica lá, a Padrão, que por acaso está fechada por causa do IPPAR – um dos grandes problemas deste país é a burocracia. Mas eu acredito na Baixa! As pes-soas dizem que está arrumada mas isso é porque o que lá está é igual ao que havia há 50 anos! Se eu pusesse lá Rolex, Franck Muller, Cartier ou Jaeger-LeCoultre, os clientes não iam à Baixa? As pessoas é que dão tiros nos próprios pés”.

O futuroO paradigma do negócio mudou e, à medida que o tempo corre, “as ourivesarias tradicionais desa-parecem. Uma ou outra fica mas, repare, dantes havia as festas tradicionais, as religiosas, vinham os padrinhos e davam isto e aquilo. Agora já não há nada disso. Hoje só sobrevive quem trabalha com gama média-alta, onde o cliente não tem problemas económicos, embora tenha outros há-bi tos de consumo e novas exigências. Retrai-se um pouco por causa das notícias, pode andar mal disposto durante uma semana, mas depois per-mite-se um mimo, para si ou para alguém mais chegado. E quando o cliente quer uma coisa e sabe que a consegue encontrar aqui, então demos um passo importante”.

Para o sucesso de hoje e na antecipação do fu turo, é fundamental a formação e o empenho dos dois filhos que, juntamente com a mulher, formam uma verdadeira democracia empresa rial: “As decisões são tomadas a quatro. Por vezes há empates, votamos, discutimos, adiamos, e de ca-beça mais fresca voltamos a encará-los. Estamos a reformular a nossa organização. Vamos reorgani-zar-nos a pensar no futuro. A minha mulher diz que eu não vou para a cama para dormir mas para pensar no que vou fazer no dia seguinte…”. En-tretanto, vai juntando o útil ao agradável emitindo um programa de rádio a partir de uma das suas lojas, convidando figuras destacadas da comuni-dade para Dois Dedos de Conversa, uma tertúlia bem coimbrã reproduzida, no dia seguinte, nos principais jornais da região. “Ouve um Presidente de Câmara que me disse que pensava que era uma brincadeira e então mandou cá o motorista ver se a loja existia mesmo” sorri, deliciado pela sua própria irreverência.

Quando partiu para a Venezuela, Carlos Góis

tinha um enorme anseio por aventura, sede de

descoberta, vontade de rasgar horizontes. Foi o

que encontrou, e foi onde viveu muitas alegrias

e algumas tritezas. Por lá casou, duas vezes,

teve os filhos e passou “anos fabulosos. Foram

fantásticos aqueles anos sessenta na Venezuela,

havia uma grande liberdade e uma vontade de

viver incrível. Se havia uma festa a duzentos

quilómetros, lá iamos. A gasolina ainda é barata

mas naquela altura, não era nada; comiamos

onde calhasse porque havia sempre, nas gran-des casas coloniais, alguém que nos dava de

comer; dormiamos num jardim porque não

ha via nenhuma insegurança; divertiamo-nos;

ganhávamos dinheiro; era fantástico”.

O oásis venezuelano

Page 84: Espiral do Tempo 29
Page 85: Espiral do Tempo 29

107Espiral do Tempo 24 Primavera 2007 85Espiral do Tempo 29 Prazeres

Saborear o TempoCuria Golf [90]

LivrosSugestões de leitura [110]

Saborear o TempoLuís Pato [88]

AcontecimentosSociais e relojoeiros [102]

Saborear o TempoBamboo Garden Spa [86]

Produção de ModaPedra Preciosa [92]

Page 86: Espiral do Tempo 29

“O Bamboo Garden Spaé um sítio privilegiado para se

desfrutar do tempo.”

Teresa LopesDIRECTORA HOTEL QUINTA DAS LáGRIMAS

86 Espiral do Tempo 29 Verão 2008

Page 87: Espiral do Tempo 29

Bamboo Garden Spa - Quinta das Lágrimas

Rua António Augusto Gonçalves • 3041-901 Coimbra

www.quintadaslagrimas.pt

[email protected]

T: 351 239 802 380

Quando foi idealizado representou um desafio

para Gonçalo Byrne, encarregue de conciliar um Palácio

com traça de finais de novecentos e jardins prenhes de

história, com um spa…of all things. Inédito na zona e

pioneiro neste tipo de oferta hoteleira a nível nacional

é, passados 4 anos, um evidente sucesso. Para isso con-

tribuem o conceito inspirado nos princípios do Feng Shui;

o traço do arquitecto e a forma como ‘puxou’ o jardim

para dentro do edificio; a sapiência das profissionais e

a energia de Teresa Lopes. “Tenho dois despertadores.

Uma hora a menos no meu dia seria um caos” confessa

sem sombra de pudor. Compreende-se o gozo que é ser

directora do Hotel Quinta das Lágrimas, onde “o tempo

passa de uma forma particular, sensível. Parece que pas-

samos por diversos tempos, e de forma muito intensa,

ao longo do dia”. Como se compreende a crescente

afluên cia porque, afinal, “cada vez mais, as pessovas or-

ganizam as suas vidas para ter estes momentos de lazer.

A vida profissional é mais exigente e necessitamos de

luxos, destes mimos, precisamos de compensações. O

negro nas paredes faz a pessoa deixar tudo lá fora e per-

mite que ela se abra para o verde, para a luz ou para os

pássaros”. Por sinal, a mesma natureza que presenciou

dramas históricos, cantados por Camões, e onde ainda

se podem ver as sequóias plantadas por Wellington, há

190 anos.

[ Saborear o tempo ]

Raymond Weil

Shine • € 3.125

87Saborear o Tempo Bamboo Garden Spa

Page 88: Espiral do Tempo 29

[ Saborear o tempo ]

Filho único de abastada família rural, casou o garboso mancebo com a bela donzela, a mais prenda-

da das cercanias, também ela filha única de abastada...

Parece uma história de encantar mas o mancebo existe,

chama-se Luís Pato, é engenheiro quimico “não foi coi-

sa lá muito bem vista na familia”, e é um dos nomes

de referência, a nível mundial, dos vinhos portugueses.

A elegância está lá, mas o que o distingue de um qual-

quer principezinho é, assume, a irreverência e a inovação

que “é uma ginástica dificil, mas essencial”. É o que

faz com um sucesso que já arrasta a geração seguinte.

Por isso deixa o aviso “o que foi inovar há 20 anos, hoje

é passado”. Justamente, com a filha Filipa aprendeu

que “posso ser avant-garde mas sou o produto do meu

tempo” o que não o inibe de produzir, já, vinhos para

a próxima geração de consumidores. Tem fama de re-

vo lucionário nas coisas do vinho: “sabe, é que eu tenho

um trunfo, sou da geração de 68”, diz com um sorriso

provocador. E tem uma grande consciência do Tempo,

na forma de recordar o passado com os olhos postos

no futuro, no seu, no dos outros e no dos vinhos. Revo-

lucionário sim, porque é um homem que “Nunca quis

ven der o mesmo que os franceses mas aquilo que identi-

fica o meu pais, que me identifica a mim.” Entre beber os

seus vinhos ou conversar com o homem, venha o diabo

e escolha.

Adega Luís Pato

Ribeiro da Gândara

3780-017 Amoreira da Gândara - Anadia

www.luispato.com • [email protected]

T: +351 231 569 432

88 Espiral do Tempo 29 Verão 2008

Jaeger-LeCoultre

Reverso Squadra Chrono GMT • € 6.750

Page 89: Espiral do Tempo 29

89Saborear o Tempo Luís Pato

“As qualidades elevadas, refinadas, são sempre de criador, têm alma,

e são fruto do tempo.”

Luís PatoVITIVINICULTOR

Page 90: Espiral do Tempo 29

90 Espiral do Tempo 29 Verão 2008

Teixeira Pires

“As pessoas estão cadavez mais preocupadas com o seu

tempo de lazer.”

DIRECTOR CURIA GOLF

Page 91: Espiral do Tempo 29

91Saborear o Tempo Curia Golf

TAG Heuer

Mercedes-Benz SLR • € 3.850

[ Saborear o tempo ]

Nesta zona do país não abundam campos

de golfe e é pena. A opinião é de Teixeira Pires, direc-

tor do Curia Golf, para quem “quanto mais golfe, me-

lhor golfe”. Para a zona ser considerada um destino para

a prática da modalidade, deveriam haver mais cinco

ou seis campos já que “o único risco que corremos é o

sucesso” acrescenta. Este, de 9 buracos, abriu há 4 anos

aproveitando o balanço do Euro 2004 e a quantidade de

praticantes estrangeiros que arrastou embora os clientes,

hoje, sejam sobretudo nacionais. Há muita gente amiga

“que se encontra aqui, vindos do norte, uns, e do sul,

outros, para uma partido de golfe e um leitãozito…”. Sito

no renascido complexo hoteleiro e termal da Curia, e em

plena zona da Bairrada, este campo insere-se numa ofer-

ta turística e cultural mais vasta que a da mera prática

desportiva. Aqui, até as desconsoladas “viúvas do golfe

gostam de vir” confidencía. Podem fazer um tratamento

termal, degustar um leitão e visitar umas caves ou os

múltiplos pontos de interesse turístico da região. É que o

tempo, nas suas diversas dimensões, é uma coordenada

fundamental para qualquer golfista – e família. Mas para

um director de um campo de golfe é “tanto um amigo

como um inimigo. Somos dependentes do tempo, desde

as condições climáticas até ao controle dos tempos de

saída. E não se esqueça que trabalhamos de sol-a-sol”.

Por isso “tenho esta dependência absoluta do relógio”

remata sem amargura.

Curia Golf Club

Largo da Estação • 3780-541 Curia

www.curiagolfe.com • [email protected]

Tel. + 351 231 516 891

Page 92: Espiral do Tempo 29

TAG Heuer • F1 Glamour Diamonds Chrono • € 2.750

Page 93: Espiral do Tempo 29

93Produção de moda Pedra preciosa

[ Produção de moda ]

Dos mais de 850 anos de nacionalidade, os últimos 500 anos foram marcados pela presença de Portugal

no mundo, afirmada, por exemplo, na arquitectura ímpar de múltiplos monumentos,

e na mestiçagem afectiva que propagámos. Numa mistura de tons e texturas

sentimos essa dimensão global no rasto do tempo na pedra antiga,

no cheiro a sal que acompanha a brisa e num modelar corpo mestiço,

algures entre o de Dinamene e Bárbara, musas camonianas

de além-mar, que com graciosidade emoldurou

algumas peças intemporais.

Fotógrafo Kenton Thatcher | Produção Maria Vieira | Make up & hair Presençamarquês

Page 94: Espiral do Tempo 29

Jaeger-LeCoultre • Master Tourbillon • € 35.000

Page 95: Espiral do Tempo 29

Porsche Design • Flat Six Chrono • € 3.000

“É bom seguirmos as nossas inclinações, desde que seja a subir.”

André Gide

Page 96: Espiral do Tempo 29
Page 97: Espiral do Tempo 29

Audemars Piguet • Millenary • € 19.870

“A moda é aquilo que eu uso. O que usam os outros é demodé.”

Oscar Wilde

Page 98: Espiral do Tempo 29

Franck Muller • Color Dreams • € 9.600

“O futuro do homem

Page 99: Espiral do Tempo 29

Graham • Swordfish Big 12-6 • € 5.550

“O futuro do homem é a mulher.”

Louis Aragon

Page 100: Espiral do Tempo 29

“Consideramos a mulher um belo animal sem pêlo e cuja pele é muito procurado.”

Jules Renard

Page 101: Espiral do Tempo 29

TAG Heuer • Monaco White • € 2.900

Page 102: Espiral do Tempo 29

[ Acontecimentos ]

As feiras de relojoaria que anualmente se registam em Genebra e Basileia, em Abril de cada ano,marcam o ano helvético mais do que qualquer campeonato da Europa de futebol. Registámos alguns desses bons momentos mas, também, o altruismo

da vedeta do basquetebol norte-americano Kobe Bryant, a constelação de estrelas Chopard em Cannes ou o lançamento da primeira pedra da expansão

da Jaeger-LeCoultre. Uma série de acontecimentos à escala planetária de que o aniversário da tenista Maria Sharapova terá sido uma autêntica cereja

no topo do mais belo dos bolos.

102 Espiral do Tempo 29 Verão 2008

TAG Heuer com uma das suasestrelas mais brilhantesNova Iorque, 2008, 9:50 am: Tudo está a postos, no set todos estão

concentrados. Dentro de 10 minutos uma das maiores estrelas de

Hollywood marcará presença para uma sessão fotográfica enquanto

embaixadora da TAG Heuer. A norte-americana é uma mulher pontual

e, à hora exacta, chega ao local acompanhada pelo seu cabeleirei-

ro pessoal, David Babal e pela sua maquilhadora, Jeanine Lobell.

Com uma agenda permanentemente cheia de compromissos, a ines-

gotável energia desta admirável mulher, permite-lhe mergulhar de

alma e coração em cada desafio que lhe é colocado. Vários visuais

são discutidos; casual, formal, desportivo... a todos eles se ade-

qua Uma Thurman e para todos eles existe uma criação TAG Heuer.

Apenas uma exigência, nada de saltos altos! No set, Marco Grob, o

fotógrafo e os seus assistentes vão preparando todos os detalhes.

Às 11:30h Uma Thurman está pronta e a sessão tem início. O diálogo

com a câmera começa. Mais lento, mais intenso, mas sempre em

harmonia, a belíssima actriz exibe a sua beleza e desafia a câmara

usando as criações da casa relojoeira suíça.

Page 103: Espiral do Tempo 29

Estrela da NBA oferece relógios Jaeger-LeCoultre aos colegasO jogador de basquete Kobe Bryant, recentemente eleito o mais valioso

jogador da NBA, decidiu agradecer aos colegas da equipa Los Angeles

Lakers, sem quem, segundo as suas palavras, não teria recebido este

prémio, oferecendo a cada um um Jaeger-LeCoultre Master Compressor

Chronograph. Os relógios têm uma gravação personalizada com o ano e

o nome de cada jogador. Bryant entregou os relógios aos colegas num

jantar de convívio da equipa. A estrela da NBA travou conhecimento

com a marca de alta-relojoaria suíça numa recente produção fotográ-

fica, onde usou uma das peças Jaeger-LeCoultre no pulso, o imponente

Reverso Squadra.

Audemars Piguet: um relógio para um piloto extraordinário A Audemars Piguet apresentou pela primeira vez o cronógrafo Royal Oak

Offshore Rubens Barrichello em 2006, em Istambul. O modelo foi anunciado

como um tributo ao internacionalmente conhecido piloto brasileiro. A cidade

turca foi também palco do último grande feito de Barrichello, que em 2008

bateu o recorde de mais participações no Grande Prémio de F1. A Audemars

Piguet decidiu então desenhar um novo modelo para celebrar a carreira de

sucesso do piloto, que é um dos embaixadores da marca. O piloto brasileiro

Rubens Barrichello tem somado vitórias na F1, desde que entrou nas pis-

tas pela primeira vez em 1993. Já esteve por cinco vezes entre o top 5 do

campeonato mundial e tem no currículo 510 pontos, nove vitórias e 13 pole

positions. O seu mais recente feito foi ter ultrapassado o recorde de mais

participações do Grande Prémio de F1, um título que durante 14 anos foi de

Riccardo Patrese, com 256 corridas. No dia 11 de Maio, no Grande Prémio

de Istambul, Barrichello fez a 257.ª corrida da sua carreira. «A generosi-

dade, a disponibilidade e a bondade deste piloto são conhecidas interna-

cionalmente. Queríamos expressar a nossa admiração por Rubens à nossa

maneira, quer no que diz respeito à sua carreira, quer no que toca às suas

qualidades humanas. Estamos muito satisfeitos por podermos apoiá-lo e

por o termos como um dos nossos embaixadores desde 2005», diz Georges-

-Henri Meylan, CEO da marca.

Page 104: Espiral do Tempo 29

104 Espiral do Tempo 29 Verão 2008v

[ Acontecimentos ]

A relojoaria suíça em Março de 2008

As exportações da relojoaria suíça atingiram um valor

de 1.2 biliões de francos em Março deste ano. Esta

soma é praticamente idêntica ao valor atingido em

Março de 2007, tendo sido registado um crescimento

de apenas 0,5%.

As duas principais razões apresentadas para este fraco

crescimento estão relacionadas com os feriados de

Março de 2008, que conta com menos três dias úteis

do que o período homólogo, e com o facto de a base de

comparação não ser justa, uma vez que em Março de

2007 se registou um crescimento de mais de 20% nas

exportações em relação a Março de 2006.

Assim, o fraco crescimento registado neste mês não

está a assustar o sector, uma vez que a média de

crescimento para os doze meses de 2008 mantinha-se

num aumento de 15%, no final de Março.

No que respeita a categorias, os modelos que melhores

resultados apresentaram nas exportações foram os de

custo acima dos 300 francos – mantendo o desempenho

que têm vindo a apresentar, registaram um aumento

de 17% em volume de exportações e 11,4% no que

toca a valor de exportações.

Richemont: vendas em alta

A Richemont teve um ano em grande – o volume de

vendas cresceu cerca de 10% no ano financeiro de

2007 e 2008. O sector do grupo que registou maior

crescimento foi o da relojoaria. As casas joalheiras

do grupo apresentaram um crescimento de 9%, o

que correspondeu a um volume de negócios de 2657

milhões de euros. As sete marcas relojoeiras do grupo

registaram um crescimento global, registando um

aumento de 15% – 1378 milhões de euros. Os dois

nomes da relojoaria do grupo que maior crescimento

registaram foram a Jaeger-LeCoultre e a IWC.

Múltiplas edições em 2009

Dando continuidade a uma tradição já com 11 anos,

o grupo Franck Muller vai organizar, em 2009, a sua

própria exposição de alta-relojoaria – o WPHH – em

Watchland, Genthod, na Suíça. Mas há novidades:

no próximo ano, o grupo vai organizar três eventos –

a primeira edição do WPHH decorrerá de 18 a 25 de

Janeiro; um segundo evento estritamente comercial

decorrerá de 24 de Março a 4 de Abril e a segunda

edição 2009 do WPHH realizar-se-à de entre os dias

18 e 23 de Agosto.

TAG Heuer festeja aniversário de SharapovaA elite da moda e do entretenimento juntou-se para celebrar o 21.º aniversário de Maria

Sharapova, numa festa organizada pela marca relojoeira de luxo TAG Heuer. As comemorações

decorreram na badalada discoteca nova-iorquina Tenjune, onde o célebre DJ Cassidy – que acabara

de chegar do casamento de Jay-Z e Beyoncé, onde esteve a fazer a animação – foi responsável

por passar as músicas preferidas da tenista para dançar.

Fondation Cartier:Antologia por Jean NouvelDe 6 de Julho a 26 de Outubro, a Fondation Cartier

vai apresentar a maior exposição dedicada ao

artista César. Jean Nouvel – arquitecto da Fon-

dation Cartier e grande amigo do artista – foi

convidado a seleccionar os trabalhos e a desenhar

a apresentação dos mesmos, dando uma pers-

pectiva mais fresca aos trabalhos de um dos

mais importantes escultores da segunda metade

do século XX. Com esta exposição, a Fondation

Cartier presta homenagem a um artista com quem

trabalhou de perto por mais de 15 anos, de 1984

até á data da sua morte, em 1998.

Page 105: Espiral do Tempo 29

105Acontecimentos

de Grisogono no Sexo e a Cidade

A marca joalheira internacional de Grisogono marca

presença no filme Sexo e a Cidade, actualmente em

exibição nos cinemas de todo o mundo. Na mítica

e principal cena do filme, o casamento de Carrie

Bradshaw (Sarah Jessica Parker), Miranda (Cynthia

Nixon) usa brincos de safiras violetas e diamantes da

de Grisogono. Fawaz Gruosi, criador destas jóias, está

muito contente por a «Miranda» ter escolhido a marca

joalheira para este filme cheio de glamour feminino.

Chopard abrilhanta CannesO Festival de Cinema de Cannes celebrou os 61 anos do evento no ano em que a Chopard completa 11

anos como patrocinador oficial do festival. Mais uma vez, as estrelas da sétima arte e de todo o mundo do

espectáculo desfilaram na passadeira vermelha adornadas com as jóias da Chopard. Desde as actrizes Cate

Blanchett, Julianne Moore, Mischa Barton, Gillian Anderson, Catherine Deneuve, Gwyneth Paltrow, Mila

Jovovich, Juliette Lewis e Penelope Cruz, às modelos Bar Refaeli e Eva Herzigova, passando pela rainha

da pop Madonna, muitas foram as estrelas do showbiz a exibirem jóias da marca, de anéis a brincos, de

colares a pulseiras. Mais um festival de cinema que a Chopard abrilhantou.

Sempre seguindo o lema da marca – a Indepen dên-

cia é um estado de espírito –, o RW Club pretende

descobrir novos talentos e apoiar as artes. As com-

petições organizadas pelo RW Club permitem à

Raymond Weil oferecer apoio aos jovens talentos

para expressarem criatividade. Um dos meios

utilizados pelo RW Club é o Prémio Internacional de

Fotografia. Os resultados da competição de 2007

confirmam e reforçam os da edição inaugural. O

nú mero de escolas e fotógrafos individuais que

participam no evento e o leque de nacionalidades

representadas mostram o quanto esta competição

já se tornou importante. A próxima edição do Pré-

mio Internacional de Fotografia vai decorrer a partir

de 29 de Setembro deste ano, quando abrem as

inscrições para os jovens talentos que queiram

mostrar o seu trabalho. De 28 de Setembro a 28 de

Novembro, as inscrições estão abertas em www.

raymondweil.com/club e a votação online tem iní-

cio a 19 de Dezembro.

Raymond Weil incentiva jovens talentos

La Rose entre as melhores

O relógio-pulseira La Rose, da Jaeger-LeCoultre, foi

considerado uma das jóias mais espectaculares de

2007. Na votação levada a cabo pela revista Dreams,

uma publicação francesa dedicada a jóias e relógios, a

peça da manufactura suíça ficou entre as 20 melhores

criações do ano passado e arrecadou mesmo o primeiro

lugar na categoria de melhor pulseira.

Page 106: Espiral do Tempo 29

[ Acontecimentos ]

106 Espiral do Tempo 29 Verão 2008

Millenary: Audemars Piguet em festaPor ocasião do Salão Internacional de Alta-Relojoaria (SIHH) 2008, a Audemars Piguet expôs a colecção Millenary, caracterizada pela caixa oval. A

manufactura de Brassus convidou amigos, embaixadores e parceiros para uma noite única, sob o tema «Tempo Oval: um tempo de afinidade e

felicidade». No dia 8 de Abril, Jasmine Audemars, presidente do conselho de directores, e Georges-Henri Meylan, CEO da manufactura, receberam os

convidados em Halle dês Sablières, para um grande jantar de gala. Cada convidado foi fotografado e as imagens foram expostas numa grande parede,

criando um imenso fresco que capturou o momento no tempo. Outra interpretação do tempo suspenso foi apresentada pela companhia de dança Motus

Modules. Os artistas fizeram uma actuação extraordinária, onde combinaram dança, coreografia e teatro. No acto final de uma noite de sonho, o mítico

grupo Earth, Wind & Fire encantou os convidados com os seus maiores êxitos de 40 anos de uma carreira musical de sucesso. Depois de uma verdadeira

fusão de diferentes géneros musicais, incluindo jazz, blues e gospel, os músicos terminaram a sua actuação ao ritmo disco. A cantora Anggun e a actriz

Michelle Yeoh, embaixadores da marca, abrilhantaram a noite com a sua presença. Entre os embaixadores do mundo do desporto, estiveram presentes

as estrelas do esqui Manfred Moelgg e Giorgio Rocca, e os golfistas Nora Angehrn, Gonzalo Fernandez-Castaño e Julien Clément.

Cartier: primeiro movimento com Selo de GenebraAo lado dos tradicionais relógios-jóia apresentados, a Cartier surpreendeu no SIHH com o lançamento do

primeiro movimento com o Selo de Genebra, o Calibre 9452 MC, um movimento de corda manual com

um turbilhão ‘voador’, abrigado numa caixa Ballon Bleu em ouro rosa, com 46 mm de diâmetro. Outra

especialidade mecânica da manufactura Cartier é o Santos Triple 100, um modelo em que pequenos

prismas em ouro branco, accionados simultaneamente pela coroa, se movem para compor três mostradores

diferentes. O movimento esqueletizado tem 72 horas de reserva de marcha. A colecção Ballon Bleu recebeu

também novos modelos com pulseira de couro, em versões femininas com diamantes, nos tamanhos

pequeno, médio e grande, com movimentos automáticos e a quartzo. A versão masculina tem 42 mm de

diâmetro, com caixa em ouro rosa abrigando movimento automático.

Page 107: Espiral do Tempo 29

107Acontecimentos

Chopard: 20 anos com Mille MigliaEm 1988, a Chopard patrocinou pela primeira vez a famosa corrida Mille Miglia e apresentou o primeiro

Chopard Mille Miglia Chronograph. Desde então, a família Scheufele encara esta parceria como algo mais

do que um compromisso passivo e todos os anos participa na corrida de 1000 milhas que vai de Brescia

a Roma, ida e volta. E este ano não foi excepção: no 20.º aniversário da colecção Mille Miglia da Chopard,

Karl-Friedricj Scheufele participou na competição de automóveis clássicos. E, como não podia deixar de

ser, um novo modelo foi acrescentado à colecção: o Mille Miglia 2008 GT XL Chrono. Com 46 viaturas a

competir, a Alfa Romeo foi a marca vencedora e a mais representada nesta edição evocativa que contou

com um total de 375 concorrentes.

Rolex renova parceria

com associação de golfe

A Rolex Watch USA renovou a parceria com a American

Junior Golf Association (AJGA), uma relação que data

de 1983. A AJGA é a principal organização de golfe

júnior norte-americana, com mais de 70 torneios

locais, onde os peritos da modalidade vão encontrar

as futuras estrelas do golfe, tal como aconteceu com

alguns jogadores que são, hoje em dia, lendas da PGA

e da LPGA – Charles Howell III, Phil Mickelson e Lorena

Ochoa. A Rolex é a principal patrocinadora de dois dos

maiores eventos de golfe júnior: o Rolex Tournament

of Champions e o Rolex Girls Junior Championship. A

marca relojoeira patrocina ainda a AJGA Rolex Players

of the Year, a Rolex Junior All-America Teams e os

prémios Rolex Junior All-America Awards.

Jaeger-LeCoultre: a primeira pedra

de uma nova manufactura

A Jaeger-LeCoultre celebrou o início da construção

de um novo edifício que representa a expansão da

manufactura a partir da oficina original de Antoine

LeCoultre. Mais de uma centena de convidados

assistiram à cerimónia da colocação da primeira pedra

da nova manufactura, que ocorreu às 16 horas exactas.

Este novo edifício vai representar um alargamento de

9.000 m2 em áreas para oficinas da Jaeger-LeCoultre. Os

convidados puderam também assistir a uma exposição

dedicada às raízes da manufactura, que decorreu na

Galeria do Património. A aventura da manufactura suíça

começou em 1833, quando o relojoeiro autodidacta

Antoine LeCoultre montou a sua oficina depois de

inventar uma máquina de cortar pinhões. Esta invenção

foi seguida por dezenas de outras, bem como por

centenas de patentes, todas elas contribuindo para

forjar a reputação internacional da relojoaria suíça. A

pequena oficina cresceu tão rapidamente que passou

rapidamente a ser conhecida como a ‘Grande Maison’.

Em 1888, a manufactura empregava já cerca de 500

relojoeiros, técnicos e artistas. Ao longo dos últimos

175 anos, a Jaeger-LeCoultre criou e produziu mais de

mil diferentes calibres e registou mais de 300 patentes.

Hoje em dia, masi de um milhar de pessoas trabalham

na ‘Gran de Maison’, de onde saem relógios lendários

como o Reverso, o Duoplan, o Memovox, o Polaris, o

Gyrotourbillon I, bem como o perpétuo Atmos.

Page 108: Espiral do Tempo 29

[ Acontecimentos ]

108 Espiral do Tempo 29 Verão 2008

Golden Balance 2008:

Fortis arrecada dois prémios

A edição deste ano do The best watches in the world

– Golden Balance 2008 resultou em dois prémios para

modelos da Fortis. Enquanto o B-42 Flieger Chronograph

Alarm venceu o segundo lugar na categoria «C – relógios

com preço até 10 mil euros» (com 14,9% dos votos),

o B-42 Flieger Alarm Chronometer foi o vencedor da

segunda posição na categoria «D – relógios com preço

até 25 mil euros». Os prémios foram decididos pelos

votos dos leitores do jornal de relojoaria Uhre-Magazin

e da revista semanal FOCUS e os visitantes da FOCUS-

Online. Os votantes podiam escolher entre 452 modelos

vindos das mais conhecidas manufacturas do mundo.

Adolfo Cambiaso vs Eduardo AstradaNa final do mais importante torneio desta época do pólo norte-americano – o US Open –, dois

embaixadores da Jaeger-LeCoultre enfrentaram-se: Adolfo Cambiaso e Eduardo Novillo Astrada,

parceiros na representação da marca relojoeira, competiram pelo primeiro lugar. A equipa Crab

Orchard, da qual Cambiaso é o capitão, enfrentou a equipa Las Monjitas, e acabou por conseguir

manter o título que já tinha arrecadado em 2007, ao derrotar a equipa de Astrada por 15-12. O

capitão da equipa Crab Orchard e embaixador da Jaeger-LeCoultre, Adolfo Cambiaso, marcou os

primeiros pontos do jogo logo nos primeiros segundos da disputa. Logo de seguida, o também

embaixador da marca relojoeira, Eduardo Novillo Astrada, revidou e empatou a partida. Mas a

equipa de Cambiaso logo voltou a marcar e conseguiu manter a liderança até ao final do jogo.

Rolex abre primeira lojaeuropeia em Milão A Rolex abriu a sua primeira loja na Europa, em

Milão na Via Montenapoleone. O novo espaço foi

inaugurado no dia 20 de Maio e exibiu, na altura,

o relógio mais caro da marca, o GMT Ice, cujo preço

ultrapassa 400 mil euros. A inauguração da loja

foi uma iniciativa da família Pisa, formada por

tradicionais relojoeiros milaneses. A relojoaria Pisa

é comandada exclusivamente por mulheres: Ileana

e Maristela Pisa trabalham ao lado das suas filhas,

Stefania e Chiara, que se ocupam, respectivamente,

das relações externas e da imagem da empresa,

bem como da parte administrativa.

WPHH: vendas-recorde

para a Franck Muller

As nove marcas do grupo Franck Muller: Franck Muller

Genève, Pierre Kunz, ECW, Rodolphe, Barthelay, Backes

& Strauss, Martin Braun, Pierre Michel Golay e Christian

Huygens revelaram as respectivas novas colecções

numa superfície com mais de 4500 m2, construída

em Watchland especialmente para a edição deste ano

do WPHH (World Presentation of Haute Horlogerie).

Durante sete dias, o evento recebeu mais de 6800

visitantes, o que representa um aumento de 15% em

relação ao número de visitantes registados em 2007, e

cerca de 600 jornalistas de todo o mundo. De lembrar

que o WPHH é o único evento de alta-relojoaria a

decorrer em Genebra que está aberto ao público em

geral. As vendas da marca Franck Muller aumentaram

em dois dígitos; a marca Rodolphe duplicou as vendas,

batendo todos os recordes. Pierre Michel Golay e

Christian Huygens, as duas marcas que recentemente

se juntaram ao grupo e participaram pela primeira vez

no WPHH, foram muito bem recebidas. As vendas da

Pierre Kunz também cresceram e tanto a ECW como a

Barthelay continuam o desenvolvimento.

Page 109: Espiral do Tempo 29
Page 110: Espiral do Tempo 29

[ Livros ]

Montres SportivesO livro convida o leitor a viajar ao longo dos anos

com que se faz a história da relojoaria de precisão. As

técnicas, os homens que as concretizam e as marcas

que ousam criá-las são o tema central deste livro que

se organiza em oito capítulos que vão desde o fun-

cionamento dos relógios desportivos, dos cronógrafos

e cronómetros até à apresentação dos modelos que

contam a evolução das peças de precisão.

• Por Constantin Parvulesco • Edições ETAI

• Texto em Francês • Formato 30 x 25 cm

• 178 páginas • Capa dura • € 65

A arte de medição do tempo, em geral, e a tradicional arte relojoeira, em particular, constituem um mundo fascinante e mesmo viciante. Como tal, a história da relojoaria, a complexidade das complicações micromecânicas,

a evolução do ‘design’, a respectiva inserção na conjuntura socioeconómica e as lendas da indústria relojoeira surgem bem documentadas em vários

livros que prometem ser uma leitura extremamente agradável para os aficionados. Alguns desses livros são mais técnicos, outros mais históricos,

outros são mais uma espécie de catálogo de marcas. Alguns são para principiantes, outros para coleccionadores experimentados. Mas todos eles

despertam o interesse de quem aprecia tudo sobre a relojoaria: factos históricos, curiosidades, anedotas, mitos.

110 Espiral do Tempo 29 Verão 2008

MontresO inventário do especialista

Organizada por décadas, esta obra propõe-nos uma

viagem de descoberta dos modelos e dos nomes da

indústria relojoeira que fizeram história ao longo de

todo o século XX. As fotografias dos relógios mais em-

blemáticos de cada época estão em destaque, bem

como os pormenores técnicos de cada peça e a fechar,

um glossário com termos técnicos.

• Por René Pannier • Edições Vilo Paris • 219 páginas

• Texto em francês • Formato 18 x 24 cm

• Capa semi-dura • € 45

A. Lange & SöhnePouco conhecida fora da Alemanha ou dos circuitos de conhecedores, quer a marca quer a sua

história, a A. Lange & Sohne é, no entanto, um dos grandes nomes da relojoaria mundial e das

raras marcas capazes de ombrear com a qualidade e a tradição do portento que é a indústria

relojoeira suíça. É da história riquíssima e atribulada desta marca que trata este livro de elevado

prestígio e qualidade.

• Por Reinhard Meis

• Edição Callwey Georg D.W. • Texto em inglês

• Formato 25,5 x 30 cm

• 383 páginas • Capa dura

• € 105

Jaeger-LeCoultre - La Grande MaisonEste é o livro referência sobre a Jaeger-LeCoultre, a

‘Gran de Casa’ relojoeira fundada por Antoine LeCoul-

tre. Ao longo das quase 400 páginas são apresentas

dezenas de criações antigas e alguns dos relógios com

que a marca tem surpreendido o universo relojoeiro.

As mais de 600 ilustrações, as fotografias e os textos

tornam esta obra indispensável para um apaixonado

da bela relojoaria.

• Por Franco Cologni • Edições Flammarion

• Texto em Francês • Formato 25 x 29 cm

• 381 páginas • Capa dura • € 165

Page 111: Espiral do Tempo 29

La folie des montres

Um pequeno livro quadrangular de leitura simples e rápida, com vários capítulos referentes a

diversos tipos de abordagem relojoeira e com a ilustração de um relógio por página. Apresenta

fotografias dos relógios de pulso mais marcantes do século XX e de alguns modelos de excepção

verdadeiramente raros.

• Por G.-A. Berner

• Edições Société du Journal La Suisse Horlogère SA.

• Formato 15 x 21 cm • 1150 páginas • Capa dura • € 30

Vrais & Fausses MontresUm dos grandes temas da actualidade em relação à

indústria do luxo é o fenó me no da contrafacção, sendo

um dos sec tores mais vulneráveis a este flagelo econó-

mico, justamente, o sector relojoeiro, nomeadamente

no ‘ataque’ que é feito às marcas mais prestigiadas. Daí

a pertinência deste livro que nos ajuda a destrinçar o

‘trigo do joio’ mostrando as diferenças, bem mais ób-

vias do que se pensa, entre o original e as cópias.

• Por Fabrice Guêroux • Edição ArgusValentines

• Texto em Francês • Formato 15 x 21,5 cm

• 320 páginas • Capa dura • € 65

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E-mail: Tel.: Tm.: Profissão:

Pretendo encomendar os livros n.º Cheque n.º Banco:

Dictionnaire professionel ilustré de l’horlogerie

Conhecido como Dicionário Berner, é uma verdadei-

ra enciclopédia consagrada à medição do tempo com

4800 termos técnicos em francês, alemão, inglês e es-

panhol. Um documento de referência único no mundo,

indispensável tanto para os entendidos como para os

amantes da melhor relojoaria.

• Por G.-A. Berner

• Edições Société du Journal La Suisse Horlogère SA.

• Formato 15 x 21 cm • 1150 páginas

• Capa dura • € 235

A aventura do ferro forjadoA indústria do ferro forjado teve o seu período áureo

no século XIX. Esta matéria-prima foi utilizada em todo

o género de obras monumentais e, também, na indús-

tria relojoeira. Este livro apresenta mais de 220 reló-

gios pertencentes a uma colecção que é hoje pertença

do genial relojoeiro marselhês F.P. Journe.

• Texto em inglês • Edições Collection F.P. Journe

• Formato 21,5 x 33 cm • 312 páginas • Capa dura

• Preço sob consulta

Page 112: Espiral do Tempo 29

[ Internet ]

www.jaeger-lecoultre.com

www.torresdistrib.com

www.fpjourne.com

www.raymond-weil.com

www.chopard.com

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112 Espiral do Tempo 29 Verão 2008

www.relogioserelogios.com.br

Relógios & RelógiosO portal Relógios & Relógios pretende ser um ponto de encontro de entusiastas portugueses e brasileiros, apreciadores das

fascinantes máquinas que são os relógios actuais, sobretudo os mecânicos. O crescimento do interesse pela informação sobre

os mecanismos e tudo o que compõe um relógio transformou a indústria e o mercado. Por isso, o objectivo do Relógios &

Relógios é o de contribuir e acompanhar o aumento da cultura relojoeira no público de língua portuguesa. Neste portal, agora

com um novo look, divulgam-se notícias (lançamentos, eventos etc.) e disponibiliza-se um glossário (ilustrado e interactivo),

bem como existirá um fórum de discussões, um guia de marcas (história e colecções) e links relacionados com relojoaria (fa-

bricantes, entidades, revistas, casas de leilões, indústrias relacionadas). Os aficionados terão também acesso a artigos, dicas e

curiosidades, escritos por colaboradores e consultores. Além disto, foi criada uma newsletter para levar ao público as últimas

notícias e as novidades do site. O portal apresenta um interface gráfico sofisticado, mas, ao mesmo tempo, leve e rápido,

proporcionando uma fácil navegação e interactividade.

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Fernando Campos Ferreira

Quotidianos

114 Espiral do Tempo 29 Verão 2008

[ Crónica ]

Janeiro, 10h 20mSerá que, se lhe fosse perguntado e ele pudesse falar,

anuiria fazê-lo?... Abdicaria voluntariamente do conforto

do dolce fare niente refastelado ao sol, nas manhãs de

Sábado em que o há, em favor do incómodo do esforço

físico, língua de fora, banhas aos solavancos, corren-

do ao longo do passeio marítimo de Alcântara, junto

ao Tejo, tantas distracções gostosas a chamar por ele,

coitado do bulldog arrastado pela trela do seu dono

fanático do “jogging”?!

O dito passeio marítimo é um ponto privilegiado de

observação. A terceira idade esfalfada a correr contra o

tempo que passou; a madame em fato de treino haute-

couture banhado em perfume intenso e com maquilha-

gem irrepreensível de quem sai para uma festa e por

acaso terminou a fazer footing entre suores alheios e

cheiro a “merdesia” do rio que de vez em quando ofe-

rece um peixe-gato (que nem o gato come) ao pescador

desportivo que manuseia duas ou três canas ao mesmo

tempo, potenciando as suas probabilidades como se vê

fazer nos casinos aos jogadores inveterados das slot-

machines, visivelmente como se fossem pratos chine-

ses dos circos, agitados freneticamente os varapaus fle-

xíveis de suporte por meninas-criança chinesas... entre

corpos e garrafas dos despojos da noite de sexta-feira

dos bares ribeirinhos.

Junho, 15h 40mO “reality show” da nossa selecção voltou a entrar no

nosso quotidiano, queiramo-lo ou não, em vésperas de

mais um Europeu. Ele são especiais e directos televi-

sivos “just-in-time” do retiro Viseense, da partida para

e da chegada à Suíça... o que comeram, a que horas

fo ram fazer “ó-ó”, “flashbacks”, “mata-mata”, o futebol

que deixou de ser o “ópio do povo” da esquerda de

Abril, agora convertido numa espécie de tabaco sem

fumo, em vício socialmente tolerado, coisa “in”.

Se bem jogado, gosto de futebol, mas confrange-me o

endeusamento de craques que na hora “h” nem sempre

estão à altura dos pedestais em que os colocam.

Aguardemos, pois, os folhetins do torneio. Na parte

que me toca, espero que dêem “show” e que não te-

nha de assistir a outra humilhação como a que sofre-

mos recentemente aos pés de uma Itália, num jogo

de treino, entretanto convenientemente esquecido pela

maioria. Eles, os da squadra azzurra, dando mostras

de um inusitado rigor latino. Talvez por isso equipavam

todos de igual enquanto os maiores entre os nossos

hiper-craques se destacavam pela cor berrantemente

diferenciada das suas chuteiras lollipop amarelo caná-

rio e alaranjadas, mas infelizmente não pela eficácia

dos golos que ficaram por marcar.

Junho, 17h 15mAo lado da estação fluvial de Belém, no enfiamento do

palácio e do jardim da Praça do Império, existe uma

pra ça outrora monumental, flanqueada por mastros

que ostentaram bandeiras da exposição do Mundo Por-

tuguês e de nações amigas por altura de visitas ilus tres

com paradas militares, o Tejo logo ali. A praça está hoje

abandonada, as ervas daninhas tomaram conta dos in-

terstícios da calçada Portuguesa que aqui e ali mostra

o desleixo esburacado a que foi votada, os mastros

sem bandeiras, a monumentalidade do império esque-

cida..., excepto pela empresa de telecomunicações que

patrocinou a instalação temporária de uma roda que

nem gigante era, daquelas que se vêem nos parques de

diversão, agora que a feira popular já era.

Espero que um dos assessores do Senhor PR tenha

o bom gosto de ser leitor da Espiral e que um dia,

ten do lido este quotidiano, entre os seus muitos afa-

zeres, sugira ao Senhor PR que mande o recado à Câ-

mara de Lisboa, à APL ou a quem de direito. É que as

Presidências abertas começam à porta de casa.

Junho, 14h 45mFiquei a saber do convite da Torres para o evento (mais

um!) que a mesma está a organizar para o dia 30. Desta

feita o motivo é a comemoração do 50º aniversário do

Senhor Franck Muller. Não pude deixar de recordar que

há pouco tempo tinha igualmente estado presente no

evento que a Torres organizou para festejar os 40 anos

do Senhor... Franck Muller. Ó tempo volta para trás!

A praça está hoje abandonada, as ervas daninhas tomaram conta dosinterstícios da calçada Portuguesa que aqui e ali mostra o desleixo esburacado a que foi votada, os mastros sem bandeiras,

a monumentalidade do império esquecida...

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