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Autores: Profa. Ivy Judensnaider Prof. Maurício Manzalli Colaboradores: Prof. Fabio Gomes da Silva Prof. Flávio Celso Müller Martin Prof. Livaldo dos Santos Economia e Negócios

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Page 1: Economia e Negocios Unid I

Autores: Profa. Ivy Judensnaider Prof. Maurício ManzalliColaboradores: Prof. Fabio Gomes da Silva

Prof. Flávio Celso Müller MartinProf. Livaldo dos Santos

Economia e Negócios

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Professores conteudistas: Ivy Judensnaider / Maurício Felippe Manzalli

Ivy Judensnaider: Economista pela Fundação Armando Álvares Penteado, mestra pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, no Programa de Estudos Pós-Graduados em História da Ciência. Atualmente é professora da Universidade Paulista – UNIP nos cursos de Ciências Econômicas e Administração, onde coordena o curso de Ciências Econômicas no Campus Marquês (SP). Também atua no setor de publicações, dirigindo a editora eletrônica arScientia, e é autora de inúmeros textos de divulgação científica publicados na web.

Maurício Felippe Manzalli: Economista pela Universidade Paulista – UNIP e mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Atualmente é professor da UNIP nos cursos de Ciências Econômicas e Administração e também é coordenador do curso de Ciências Econômicas na mesma universidade.

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

J95 Judensnaider, Ivy

Economia e Negócios. / Ivy Judensnaider; Maurício Felipe Manzalli - São Paulo: Editora Sol.

140 p. il.

Notas: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, n. 2-015/11, ISSN 1517-9230.

1.Economia 2.Negócios 3.Mercado I.Título

CDU 330.3

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Prof. Dr. João Carlos Di GenioReitor

Prof. Fábio Romeu de CarvalhoVice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças

Profa. Melânia Dalla TorreVice-Reitora de Unidades Universitárias

Prof. Dr. Yugo OkidaVice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa

Profa. Dra. Marília Ancona-LopezVice-Reitora de Graduação

Unip Interativa – EaD

Profa Elisabete Brihy

Prof. Marcelo Souza

Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar

Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Cid Santos Gesteira (UFBA) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio: Profa. Cláudia Regina Batista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão: Alessandro de Paula

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SumárioEconomia e Negócios

APRESENTAçãO ......................................................................................................................................................7INTRODUçãO ...........................................................................................................................................................8

Unidade I

1 O QUE é ECONOMIA, AFINAL? .....................................................................................................................111.1 Economia: conceito e contexto .......................................................................................................111.2. O desenvolvimento da economia enquanto área do saber ............................................... 22

2 FOI SEMPRE ASSIM? ...................................................................................................................................... 262.1 Nos dias de hoje .................................................................................................................................... 27

2.1.1 Os bens ........................................................................................................................................................ 272.1.2 O fluxo circular da renda e do produto ......................................................................................... 282.1.3 A organização da atividade econômica ......................................................................................... 31

2.2 Há muito tempo ................................................................................................................................... 343 A éTICA DO CAPITAL ....................................................................................................................................... 39

3.1 O empreendedorismo ......................................................................................................................... 393.2 A construção histórica do espírito empreendedor ................................................................. 42

4 O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAçãO ..................................................................................................... 47

Unidade II

5 O SISTEMA CAPITALISTA E OS MERCADOS ........................................................................................... 635.1 O que são estruturas de mercado?................................................................................................ 635.2 Como se formaram os grandes oligopólios? ............................................................................. 67

6 A CRISE DE 1929, O SISTEMA CAPITALISTA E A MãO VISíVEL DO ESTADO.............................. 746.1 A crise ........................................................................................................................................................ 746.2 A intervenção do Estado ................................................................................................................... 78

Unidade III

7 A ECONOMIA E OS NEGóCIOS NO SéCULO XX ................................................................................... 907.1 A inflação dos anos 1970 .................................................................................................................. 907.2 O discurso globalizador ...................................................................................................................... 96

8 O QUE AINDA HÁ PARA DISCUTIR? .......................................................................................................1058.1 As fronteiras de possibilidade de produção .............................................................................1058.2 A determinação do ponto de equilíbrio entre oferta e demanda .................................. 1108.3 Crescimento versus desenvolvimento ........................................................................................ 1128.4 Estado mínimo versus welfare state ........................................................................................... 117

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APrEsENtAção

Caro aluno,

O livro-texto que aqui apresentamos servirá de apoio ao estudo da disciplina Economia e Negócios.

Note que ele está dividido em três unidades. Em cada uma delas você encontrará:

a) Textos explicativos que elucidam a matéria.

b) Resumos do conteúdo estudado;

c) Exercícios comentados;

d) Tópicos para refletir, em que convidamos você a pensar sobre assuntos da atualidade;

e) A seção Saiba Mais, em que indicamos filmes e livros que, de alguma forma, complementam os temas investigados. Não deixe de explorar essas sugestões, garantimos que você irá ampliar seu conhecimento sobre os temas apresentados e que essa ampliação será extremamente útil, não apenas na questão específica da disciplina, mas na sua vida profissional.

f) Os Lembretes – anotações pontuais que o remetem a alguma informação já conhecida– e as Observações – apontamentos que chamam sua atenção para algum ponto que merecer ser destacado sobre o assunto em desenvolvimento – são recursos que reforçam algumas questões que quisemos salientar.

Cada unidade foi estruturada visando a objetivos específicos. Na Unidade I, você entrará em contato com conceitos introdutórios da economia. E, a partir desses conceitos, será convidado a refletir sobre a importância do conhecimento econômico e sobre a construção histórica do mundo em que vivemos.

O conteúdo dessa unidade é formado por: conceitos relacionados às ciências econômicas e à economia de mercado; a importância do estudo da economia; a questão dos recursos escassos versus necessidades ilimitadas; os recursos de produção; as perguntas fundamentais: o quê e quanto, como e para quem produzir; a categorização de bens; o fluxo circular da renda e de produto; a organização da atividade econômica; a transição do feudalismo para a economia de mercado.

Os objetivos dessa unidade também levarão você a entrar em contato com os aspectos históricos referentes à construção do mundo dos negócios tal qual o conhecemos hoje. Essa análise vai permitir-lhe refletir sobre a realidade atual e sobre o ambiente econômico em que vivemos.

O conteúdo dessa unidade, portanto, abrange também: o empreendedorismo; a transição do feudalismo para a economia de mercado; as transformações éticas exigidas por um novo tempo; os setores da economia; o processo de industrialização e a Revolução Industrial; os autores clássicos.

São objetivos da Unidade II: pô-lo em contato com a formação dos grandes oligopólios. A assimilação dessas informações vai permitir-lhe refletir sobre as atuais estruturas de mercado, tanto do ponto de

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vista do consumidor quanto da perspectiva do administrador. Você entenderá, ainda, as relações entre as crises do capital e as estruturas de mercado, bem como compreenderá o papel do Estado como regulador do mercado.

Compõem o conteúdo dessa unidade: as estruturas de mercado: concorrência perfeita, oligopólio, monopólio e concorrência monopolista; a crise do capital do final do século XIX; a formação dos grandes oligopólios; a teoria marxista e a oposição ao capitalismo; crise de 1929 e a intervenção do Estado na economia: a investigação das variáveis macroeconômicas.

Por fim, os objetivos da Unidade III complementam e aprofundam a matéria até aqui apresentada. Nessa unidade você poderá compreender o processo de inflação e as dificuldades pelas quais passaram todos os países (desenvolvidos e em desenvolvimento) na década de 1970. Você também tomará contato com alguns temas da atualidade de grande repercussão que, sabemos, têm influência direta no nosso cotidiano, nos nossos empregos e na nossa renda.

Nessa unidade você encontrará o seguinte conteúdo: as variáveis macroeconômicas e as causas da inflação; o discurso globalizador; as fronteiras de possibilidades de produção; a determinação do preço de equilíbrio; o crescimento versus o desenvolvimento; o Estado mínimo e o welfare state.

Nossa proposta, portanto, não é a de tão somente transferir-lhe um conjunto predeterminado de saberes. As escolhas metodológicas e didáticas a partir das quais o livro-texto foi confeccionado incluem o aperfeiçoamento do espírito crítico e o desenvolvimento das capacidades e habilidades de produção e geração de conhecimento. Dessa forma, você poderá notar que os conteúdos econômicos estão sempre entrelaçados aos contextos sócio-históricos que os geraram, bem como aos problemas do cotidiano e do ambiente dos negócios.

Esperamos que você aprecie o texto e que, a partir dele, possa conhecer o mundo econômico e seus impactos no ambiente de negócios.

Bom trabalho!

INtroDUção

As necessidades da vida cotidiana implicam o conhecimento de economia por todos, independentemente da área profissional ou da formação acadêmica. Assim, qualquer indivíduo tem noções de microeconomia e de macroeconomia, mesmo que não saiba exatamente do que tratam esses saberes. Em outras palavras, todos nós nos deparamos com aspectos relacionados à formação de preços, às estruturas de mercado, às questões de escassez de bens e serviços, à inflação, ao desempenho de determinados setores da economia e aos níveis de desenvolvimento e crescimento das nações.

As manchetes de jornais evidenciam esta nossa afirmação. Dê uma olhada nos seguintes títulos: “Faltam materiais de construção em razão do aquecimento do mercado”; “O setor terciário da economia é o que mais cresce”; “O monopólio no fornecimento de matéria-prima poderá

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ser quebrado”; “As mudanças na tabela progressiva do Imposto de Renda poderão impactar a demanda de alimentos”; “A inflação volta a preocupar o Banco Central”. Esses títulos abordam aspectos do mundo econômico capazes de provocar profundas influências na vida de todos. Não é à toa que cada vez mais os jornais não especializados façam a cobertura do mundo econômico, geralmente em cadernos especiais. Da mesma forma, não é à toa que ganhadores do Nobel de Economia costumem ter tanto destaque na mídia quanto personalidades do mundo das artes.

é claro que, para efeito desta disciplina, nossa expectativa vai além do conhecimento genérico que a população tem sobre o tema econômico. Por isso, vamos ao significado do termo economia, título dado ao capítulo inicial desta apostila.

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1 o qUE é EcoNoMIA, AFINAl?

Para entendermos do que trata a economia, partiremos do contexto em que se desenrolam as relações econômicas. Em especial, vamos nos reportar a um evento ocorrido em passado recente para, a partir dele, compreender de que forma o mundo econômico funciona.

1.1 Economia: conceito e contexto

Em outubro de 2008, o mundo foi atingido pela notícia de que uma nova crise econômica assolava o planeta, com consequências tão trágicas quanto as da quebra da bolsa americana em 1929. Segundo Judensnaider (2009), Delfim Netto, em palestra proferida na Universidade Paulista, opinou que estaríamos vivendo mais uma das tantas crises da história do capitalismo. ”O mundo não vai acabar”, nas palavras do economista. Do ponto de vista da economia de mercado, isso é absolutamente correto. Ainda de acordo com a autora:

Desde o século XVIII, o mundo vem caminhando lentamente para se organizar sobre estruturas básicas que são conhecidas como sendo de economias de mercado. De forma simplificada, e considerando o período dos setecentos até o século XXI, poderíamos identificar três grandes momentos de inflexão do capital, a saber, a primeira grande depressão do final do século XIX, a grande depressão dos anos 1930 e as crises do final da década de 1970.

Em cada uma delas, o sistema de mercado deu um jeito de resolver a situação: inicialmente, “avançou” em direção a novos mercados por meio de estratégias imperialistas, e que isso tenha acabado em guerra é assunto com o qual economistas do mainstream não costumam se preocupar. Na de 1930, entre as duas grandes guerras mundiais, o capital, reconhecendo a inabilidade das suas mãos invisíveis, atribuiu ao Estado o papel de tirar a economia de mercado do imenso buraco em que havia se metido. Depois, cansado da imobilidade à qual estava sujeito por força da mão visível do Estado, arquitetou o grande discurso da globalização, sedimentando, ao longo da trilha, os caminhos para a liberdade do capital através de incursões militares em países estrangeiros e da institucionalização de organismos financeiros internacionais.

Que mundo econômico é esse e como o instrumental teórico da economia nos permite conhecê-lo e nele operar? Vejamos, inicialmente, do que trata a economia.

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Economia é uma palavra derivada do grego oikosnomos (oikos = casa; nomos = lei) e representa a administração de uma casa, entendida como um patrimônio particular, uma empresa ou um Estado. Dessa forma, a ciência econômica estuda as relações entre famílias, empresas e governo para compreender os fenômenos que norteiam o funcionamento do mundo em que vivemos. A preocupação central dessa ciência social é a análise da produção de bens e da distribuição da renda, dado o problema da escassez de recursos e as necessidades ilimitadas dos indivíduos.

Entendido o que é economia, vejamos alguns exemplos de problemas econômicos básicos de nosso cotidiano. Por exemplo, a forma como distribuímos nossa renda, proveniente de nosso salário, diante da grande quantidade de mercadorias e serviços dos quais necessitamos para a manutenção da vida. Apresentado dessa forma, parece bastante simples, pois sabemos o quanto ganhamos, qual nosso salário e do que necessitamos durante uma semana, um mês, um ano etc. Vamos, porém, pensar com mais calma: para que tenhamos algum salário, torna-se necessária nossa participação em alguma atividade produtiva, seja trabalhando em alguma indústria, numa loja de comércio ou prestando algum serviço. Além disso, uma série de outras variáveis determinam os modos por meio dos quais distribuiremos nossa renda.

observação

Quer “visualizar” um exemplo sobre o tema? Então leia a rubrica Saiba Mais. Lá indicamos uma comédia muito interessante, que retrata os esforços de uma dona de casa para prover sua família e suas necessidades peculiares. O enredo proporciona, ainda, uma excelente oportunidade para a compreensão dos mecanismos de crédito no mundo moderno.

saiba mais

Sobre o assunto, sugerimos que veja o filme Rosalie vai às compras. Dir. Percy Adlon, 90 minutos, 1989.

Como ilustração, listamos a seguir alguns problemas econômicos que a ciência econômica está preocupada em explicar e que interferem no nosso cotidiano:

• como a fixação da taxa de câmbio impacta a vida das empresas e a do cidadão comum?

• o que ocorre com a renda da população diante de um anúncio do governo sobre uma elevação nas taxas de juros?

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• por que o preço da gasolina sobe quando um determinado país não tem capacidade suficiente para produzi-la?

• por que a renda da região Norte-Nordeste de nosso país tende a ser menos concentrada do que a renda da região Sul-Sudeste?

• por que o PIB de um país cresce conforme a sociedade consome maior quantidade de mercadorias?

• quais são os fatores explicativos da subida dos preços dos chocolates na proximidade da Páscoa?

• por que um governo que gasta mais do que arrecada tem dificuldades de financiar seus déficits?

• qual a importância para a vida de cada um dos brasileiros quando um país vende uma empresa estatal ao capital internacional?

• o que significa inflação?

• o que é desemprego?

Aparentemente, cada uma dessas questões em nada impacta nossa vida individual. No entanto, pensemos na seguinte situação: em um determinado período, em alguma manchete de jornal impresso ou pelos telejornais, é anunciada a seguinte informação: o balanço de pagamentos do ano de 2010 apresentou superávit de zilhões de reais, e esse superávit é proveniente dos saldos positivos da balança comercial, demonstrando que as exportações da economia do país em questão foram maiores que suas importações. Mas, por que as exportações foram maiores do que as importações? Podemos levantar algumas hipóteses:

1) As exportações desse país foram maiores em 2010, pois nesse ano as empresas nacionais produziram uma quantidade maior de mercadorias do que no ano anterior;

2) As exportações desse país foram maiores em 2010, pois nesse ano o consumo por parte dos seus habitantes foi menor; assim, uma forma de se desfazer dos estoques de mercadorias produzidas foi exportar;

3) As exportações desse país foram maiores em 2010, pois nesse ano o governo adotou medidas que favoreceram as exportações, desvalorizando a taxa de câmbio, por exemplo.

Observamos que, para apenas uma pergunta, elaboramos três possíveis respostas que somente poderão ser efetivamente consideradas como certas e verdadeiras depois de analisados os números da realidade concreta.

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Vejamos outro exemplo. A figura 1, a seguir, mostra-nos a pegada ecológica (área necessária para produzir o que consumimos em termos de recursos naturais e absorver as emissões de carbono) que deixamos na Terra.

Valor ideal

Região / País --

Pegadas em ha por pessoa 1,8

Se cada pessoa vivesse neste padrão, de quantos planetas precisaríamos

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América do Norte USA Canadá América Latina Brasil Argentina

9,4 9,6 7,6 2,0 2,1 2,3

5,22 5,33 4,22 1,11 1,16 1,27

África África do Sul Somália Europa (UE) Alemanha Suécia

1,1 2,3 0,4 4,8 4,5 6,1

0,61 1,27 0,22 2,66 2,56 3,38

Ásia Pacífica Japão China índia Austrália

1,3 4,4 1,6 0,8 6,6

0,72 2,44 0,88 0,44 3,66

Figura 1 - Pegada ecológica

O que a figura expressa? Ela revela que, quanto maior o crescimento do país, maior é a pegada ecológica. Indica que, no caso dos países em desenvolvimento, a pegada ecológica é menor. Para podermos concluir algo a respeito dos dados apresentados, podemos levantar algumas hipóteses:

saiba mais

Sobre a questão desenvolvimento/ecologia/globalização/aquecimento, sugerimos que veja o documentário Uma verdade inconveniente. Dir. Davis Guggenheim, 100 minutos, 2006.

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observação

No documentário indicado, o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore discute questões relativas ao aquecimento global e apresenta algumas ideias sobre sustentabilidade.

lembrete

Protocolo de Kyoto (1997) – acordo em que os 189 países signatários se comprometem a controlar a emissão de gases que agravam o aquecimento global por meio do aumento do efeito estufa. Você deve lembrar-se que os Estados Unidos não aceitaram assiná-lo.

1) O crescimento econômico degrada o ambiente;

2) O crescimento econômico não implica condições favoráveis de qualidade de vida;

3) O crescimento econômico é incompatível com a ideia de sustentabilidade a longo prazo.

Novamente, podemos ter várias possíveis respostas que, somente a partir da utilização do positivismo e não do lado normativo da economia, serão efetivamente consideradas como corretas se observada a realidade, ainda que esses dados devessem ser analisados a partir de determinadas percepções a respeito do que significam qualidade de vida e sustentabilidade. Mais: provavelmente teremos que diferenciar crescimento de desenvolvimento econômico. é sobre isso, também, que trata a economia. Utilizando a contribuição de um renomado economista, Paul Samuelson, chegamos ao seguinte conceito:

Economia é o estudo de como os homens e a sociedade decidem, com ou sem a utilização do dinheiro, empregar recursos produtivos escassos, que poderiam ter aplicações alternativas, para produzir diversas mercadorias ao longo do tempo e distribuí-las para consumo, agora e no futuro, entre diversas pessoas e grupos da sociedade. Ela analisa os custos e os benefícios da melhoria das configurações de alocação de recursos (SAMUELSON, 1979, p. 3).

Talvez, a partir desse conceito, seja difícil pensar em como os problemas econômicos afetam o nosso cotidiano. Vamos, então, partir para uma análise que nos tome, a nós, indivíduos, como base. Pense, primeiramente, em sua renda. Se você trabalha, ou seja, se participa de alguma atividade produtiva, recebe um salário que chamaremos de renda. Esse seu salário, seja ele qual for, será distribuído entre todas as suas necessidades de consumo. Salário é a sua renda, e suas categorias de consumo dizem respeito às suas despesas; portanto, estamos descrevendo seu orçamento particular.

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Vamos supor que sua renda seja destinada ao pagamento de contas de luz, água, telefone, alimentação, moradia, transporte, lazer, vestuário etc. Após alocar sua renda entre todas essas categorias de despesa, ainda pode ter sobrado uma parcela que você poupará para consumo futuro.

Mas, agora, você está cursando uma universidade e as mensalidades serão incorporadas a essa cesta de consumo, ou seja, o valor das mensalidades concorrerá por uma parcela de sua renda, assim como concorre o quanto você gasta com alimentos, moradia, transporte, lazer etc. Nesse caso, você introduziu mais uma categoria de gasto para uma mesma renda. Sem pensar muito, para que consiga dar conta de efetuar todos os seus pagamentos, você deverá distribuir cada parcela de sua renda para cada um de seus gastos. Esse simples exemplo já ilustra uma parte do conceito dado por Samuelson, ou seja, a economia estuda o emprego de recursos escassos entre usos alternativos, com o fim de obter os melhores resultados.

Nesse exemplo bastante simples – que vale também para a nossa realidade e a de mais uma grande quantidade de brasileiros –, o emprego de recursos escassos é ilustrado por nossa renda, e os usos alternativos, pela nossa cesta de consumo ou por tudo aquilo em que gastamos nossa renda.

Pensemos agora não mais do ponto de vista individual, mas sim do de uma família formada por pai, mãe e filhos, ou seja, uma unidade familial. Essa família precisa ser mantida: vestir-se, alimentar-se, morar, locomover-se. Ela tem, conjuntamente, uma cesta de consumo que deve ser atendida por meio de uma renda, a renda familiar, já que em nosso exemplo cada um dos membros da família participa de alguma atividade produtiva. Portanto, a renda familiar deve dar conta de responder a toda e qualquer categoria de gastos da família. Cada entrada de dinheiro será chamada de renda; cada saída de dinheiro – quer dizer, os pagamentos efetuados pela família – será denominada despesa. Eis aí então o orçamento familiar.

Vamos transferir o foco para as dimensões de uma empresa. Ela pode produzir mercadorias e vendê-las diretamente aos seus consumidores. Segundo Ferguson (1983), vários livros-texto conceituam produção como a criação de utilidades, em que utilidade significa a capacidade de um bem ou serviço satisfazer a uma necessidade humana. Partindo da noção de que as empresas são agentes maximizadores de resultados, a Teoria da Firma procura estudar e responder a como as empresas combinam a utilização dos fatores de produção necessários à criação de coisas úteis e o quanto gastam para produzir bens e serviços.

Diante disso, pode-se pensar apenas no caso de uma empresa comercial, comprando mercadorias produzidas por outras empresas e vendendo diretamente aos consumidores, ou ainda uma prestadora de algum serviço. Quando uma empresa produz certa mercadoria – mesas, por exemplo – ela necessita de meios de produção, dos bens necessários à execução de sua atividade produtiva. Para produzir determinada mercadoria, necessita comprar meios de produção e pagará por essa aquisição. Em nosso exemplo simples da produção de mesas, essa empresa hipotética precisa adquirir fórmica, madeira, ferro, parafusos, colante, além de dispor de uma grande quantidade de máquinas e ferramentas. Também precisa contratar pessoas para trabalhar.

Quando essa empresa adquire os meios de produção, ela tem um custo com a produção. Esse custo será dado pela multiplicação de duas variáveis: o preço de cada uma das mercadorias que adquire e as

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quantidades das mercadorias adquiridas. Portanto, ela tem um custo de produção, uma despesa com sua produção.

Imaginando que as empresas não produzem mercadorias para satisfazer suas próprias necessidades de consumo, essa empresa empreenderá todos os seus esforços para vender sua produção. Quando essa empresa vende o que produz, recebe uma quantidade de dinheiro proveniente da venda. A essa quantidade de dinheiro daremos o nome de receita de vendas, que nada mais será do que a multiplicação de duas variáveis: o preço da mercadoria e a quantidade de mercadorias vendidas. Então, quando mencionamos as receitas e as despesas empresariais, estamos falando do orçamento empresarial.

De forma nítida, estamos tratando de trocas. Empresas produzindo mercadorias para consumo da sociedade em troca de recursos – monetários, no caso – a serem aplicados novamente na produção de mais mercadorias, e assim por diante. Por outro lado, temos as pessoas trabalhando para empresas, indivíduos que, em troca de sua força de trabalho, recebem salário na forma de dinheiro e cujo destino é o consumo de mais mercadorias.

Para Jorge e Moreira (1990, p. 27), “qualquer que seja a forma de organização da atividade econômica de uma comunidade, (...) seus objetivos são muito semelhantes: busca-se otimizar a satisfação do indivíduo, de um lado, e, de outro, maximizar a eficiência produtiva”.

Estamos, portanto, em condições de entender o que é, afinal, economia de mercado.

Economia de mercado é, conforme Jorge e Moreira (1990, p. 29), aquele espaço em que

impera a propriedade privada dos bens de produção, ao lado de decisões sobre o que e quanto produzir, fundamentadas no mercado e nos preços. As atividades econômicas são, portanto, dirigidas e controladas unicamente por empresas privadas, que competem entre si. Daí a alcunha de ‘economia de mercado’, porque o mercado é o habitat natural das empresas.

Segundo Luxemburg (1970), as empresas, em regimes capitalistas de produção, existem não para satisfazer as necessidades de consumo da sociedade, mas, sim, para valorizar o capital investido; elas existem, portanto, para gerar lucros. Procurarão aumentar as quantidades vendidas de suas mercadorias via aumento da produção e, para tanto, procurarão utilizar a menor quantidade possível de recursos. Dessa forma, buscarão gastar cada vez menos com a quantidade de meios de produção que adquirem para, muitas vezes, aumentar a quantidade de lucros que obtêm. Portanto, as empresas também sofrem com a limitação de recursos à disposição diante de suas categorias de despesas.

Já ilustramos o cidadão individual, as famílias e as empresas. E com relação ao governo? Ele, de forma muito simplificada, tem algumas obrigações e também alguns direitos.

Por obrigações, deve prover bens públicos como energia, transporte e saneamento básico. Deve construir escolas, estradas, hospitais, pagar aposentadorias e pensões, além de uma série de obrigações sobre as quais não nos estenderemos neste momento. Ainda, o governo legisla a respeito de questões

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trabalhistas ou contratuais e também arrecada recursos da população na forma de impostos. Portanto, o governo, por meio de sua arrecadação, aufere uma receita. Para prover bens públicos à sociedade, esse governo também tem custos com tal provisão, ou seja, ele gasta e tem despesa com sua atividade. Tratamos, então, do orçamento do governo, orçamento do setor público, representado por suas receitas e despesas.

Da mesma forma que um indivíduo procura organizar da melhor maneira possível seu orçamento particular, as famílias também o fazem, assim como as empresas. Com o governo não será diferente: ele procurará alocar da melhor forma seus recursos disponíveis diante da grande quantidade de itens de gasto que tem à sua frente.

Salvo algumas exceções, não podemos afirmar que nossa família tradicional adquire tudo aquilo de que tem vontade. O mesmo ocorre com as empresas e com os governos. Por que não podemos afirmar isso? Pelo simples fato da escassez. Qual escassez? A escassez de recursos necessários para a aquisição de todas as mercadorias disponíveis ao consumo. Segundo Samuelson (1979), a ciência econômica existe para dar conta de responder a um grande problema: o da escassez de recursos frente a uma grande quantidade de mercadorias e diante da ilimitada necessidade de consumo dos indivíduos. Portanto, o conflito surge da seguinte forma:

Recursos limitados x necessidades ilimitadas

A quais recursos estamos nos referindo? Aos recursos produtivos, também denominados fatores de produção. Esses elementos, indispensáveis ao processo produtivo de bens materiais, serão chamados de terra, trabalho, capital, tecnologia e capacidade empresarial.

• por terra, entendem-se as terras destinadas à agricultura e pecuária, ou seja, terras cultiváveis, florestas, minas e outros produtos provenientes da utilização do solo.

• por trabalho, entende-se a mão de obra empregada na produção de mercadorias ou na prestação de serviços; portanto, o homem.

• por capital, entende-se o capital financeiro, ou seja, o dinheiro necessário para dar impulso a qualquer empreendimento industrial, comercial ou de qualquer outro tipo. Também consideramos como capital as máquinas, os equipamentos e as instalações. Assim, o capital assume duas formas: a monetária e a física.

• por tecnologia, entendem-se as máquinas e os equipamentos necessários à produção das mais diversas mercadorias. Também chamamos de tecnologia as técnicas de produção utilizadas pelas empresas, ou seja, o know-how relativo à técnica de produção e ao conhecimento científico.

• por capacidade empresarial, entendem-se as habilidades e as ações empresariais, quer dizer, os atos do empreendedorismo dos empresários ou daquelas pessoas dispostas a empreender um novo investimento ou que estão aptas a abrir uma empresa.

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observação

Repare que todos os fatores listados são utilizados na produção de bens e serviços. Portanto, todo e qualquer tipo de produção depende, em maior ou menor grau, de cada fator.

Cada fator de produção tem uma remuneração diferente em termos de denominação, conforme podemos ver na figura 2.

Terra

Aluguel

Trabalho

Salário

Capital

Juros

Tecnologia

Direito de propriedade

Capacidade empresarial

Lucros

Figura 2 – Fatores de produção e suas remunerações

Cada um desses fatores de produção – quando empregados na produção de qualquer mercadoria – deve receber alguma remuneração. Assim, para Nogami e Passos (2003):

• à remuneração do fator de produção terra damos o nome de aluguel.

• à remuneração do fator de produção trabalho chamaremos salário.

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• o capital recebe sua remuneração sob a forma de juros.

• a tecnologia utilizada na produção de mercadorias recebe a remuneração em forma de direito à propriedade (royalties).

• a capacidade empresarial recebe lucros na forma de remuneração.

Os fatores de produção utilizados na economia são remunerados e a essa remuneração, vista como um todo, damos o nome mais amplo de renda.

lembrete

Recorde-se de que a questão econômica fundamental reside no problema da produção e da distribuição da produção. Essa é uma investigação bastante importante na ciência econômica.

Já temos, então, condições de afirmar que a renda de uma sociedade é limitada diante da quantidade de categorias de consumo que ela enfrenta. Ademais, as empresas sempre procuram criar mercadorias novas que chamem a atenção de novos consumidores, criando novos hábitos de consumo ou produzindo, de forma diferente, antigas mercadorias.

Então, estamos diante de um dilema. Como, afinal, administrar os recursos escassos de forma a atender às necessidades ilimitadas? Quer dizer, estamos perguntando como responder às seguintes questões:

O que e quanto produzir?

Como produzir?

Para quem produzir?

Essas três perguntas básicas, que, à primeira vista, são bastante simples, nos remetem às noções de recursos escassos e necessidades ilimitadas. Então, podemos dizer que o problema econômico fundamental origina-se da escassez de recursos, objeto de investigação da ciência econômica.

Vejamos. Se as empresas precisam produzir mercadorias como uma forma de remunerar o capital que é investido – e isso passa pela venda das mercadorias produzidas –, e se os consumidores precisam, dada sua renda escassa ou limitada, alocar de forma eficiente as suas categorias de despesas, então resta às empresas produzir mercadorias que são procuradas. Todos os recursos necessários para a produção são escassos, assim como o são os recursos que as famílias têm para dar conta de todas as suas necessidades. Isso significa que a sociedade, como um todo, deve ser capaz de organizar um sistema que assegure a produção de bens e serviços suficientes para a sua sobrevivência. Mais: a sociedade deve ser capaz

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de ordenar os frutos de sua produção para permitir não só a continuidade da produção, mas também a distribuição do resultado da produção de forma equitativa entre todos os seus membros. Como a procura por recursos para a produção significa a distribuição dos próprios frutos da produção, a tarefa é monumental. Assim, a resolução dos problemas relacionados à produção e à distribuição da produção é traduzida no problema econômico fundamental, que gera as três questões anteriormente apresentadas: o que e quanto produzir? Como produzir? Para quem produzir?

O que e quanto produzir? Para Nogami e Passos (2003), a questão referente ao que e quanto produzir diz respeito a quais mercadorias devem ser produzidas pelas empresas de um país e em que quantidades. Responder a esse questionamento significa conhecer o tipo de mercadoria que é procurada por uma coletividade e as quantidades dessa mercadoria que são (ou serão) consumidas. é mais importante produzir alimentos ou investir em produção energética?

Como produzir? A questão referente ao como produzir diz respeito à mobilização de esforços, ou seja, a qual técnica de produção utilizar na produção de determinadas mercadorias. Responder a esse questionamento significa conhecer as tecnologias disponíveis: cada mercadoria possui uma técnica de produção diferenciada das demais. Umas necessitam de maior quantidade de matéria-prima; outras, de maior quantidade de máquinas e equipamentos; outras demandam grande quantidade de mão de obra em seu processo de produção. Imaginemos, por exemplo, a diferença entre os processos de produção de automóveis e daquele pão francês que compramos na padaria mais próxima de nossa casa. Devem ser diferentes. São diferentes. Uma utiliza grande quantidade de robô e tecnologia, enquanto a outra é mais intensiva na utilização de mão de obra, trabalho. Afinal, quanto usar de cada recurso disponível, de forma a obter o máximo, evitar desperdícios e ter garantida a sustentabilidade da produção? Deve-se preferir usar mão de obra intensiva ou é preferível usar máquinas para aumentar a produtividade? (BESANKO e BRAEUTIGAM, 2004).

Para quem produzir? A questão referente ao para quem produzir diz respeito às opções políticas que, necessariamente, devem ser feitas. A quem priorizar? A qual segmento da sociedade devemos atender? De todas as demandas feitas por uma sociedade, qual deve ser prioritária e qual deve ser postergada? Quem precisa de mais serviços de saúde: a população dos centros urbanos ou da periferia? Devemos construir escolas de Ensino Fundamental ou Ensino Médio? Quais são, afinal, as necessidades mais prioritárias e a quem devemos atender primeiro? Dessa forma, o como produzir diz respeito à alocação de esforços: não basta que homens e mulheres sejam postos a trabalhar; eles devem trabalhar nos lugares certos a fim de produzir os bens e serviços de que a sociedade necessite. Assim, além de assegurarem uma quantidade suficientemente grande de esforço social, as instituições econômicas da sociedade devem garantir uma alocação viável desse esforço social. Dessa forma, a pergunta referente ao para quem produzir diz respeito à distribuição do produto (NOGAMI e PASSOS, 2003).

Nem sempre a sociedade obtém êxito na alocação adequada de seus esforços. Ela pode produzir carros a mais ou a menos ou dedicar suas necessidades/energias à produção de artigos de luxo, enquanto uma grande quantidade de pessoas necessita de alimentos. Esses fracassos podem afetar o problema da produção de modo tão sério quanto o fracasso em mobilizar uma quantidade adequada de esforços, pois uma sociedade viável deve produzir não apenas bens, mas os bens certos. Não somente deve produzir, mas produzir da maneira correta. Não só atender às necessidades, mas atender àquelas

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mais urgentes e socialmente prioritárias. O ato de produzir, em si e por si mesmo, não responde aos requisitos para a sobrevivência. Além disso, a sociedade deve distribuir esses bens para que o processo de produção possa ter continuidade. Em outras palavras, se uma sociedade quiser assegurar seu constante reaproveitamento material, deverá distribuir sua produção de modo a manter não só a capacidade, mas também a disposição de se continuar trabalhando.

Assim, reencontramos o foco da investigação econômica dirigido ao estudo das instituições humanas dedicadas à produção e distribuição de riqueza. é disso que se ocupa a ciência econômica. Por meio de suas teorias, ela conjuga ideias e definições do objeto a ser investigado, estabelece as condições em que cada uma dessas teorias se sustenta para, a partir de argumentos, dar respostas sobre o comportamento dos objetos de investigação, ou seja, para construir hipóteses sobre o funcionamento da realidade concreta.

Agora, estamos mais habilitados a ilustrar o campo de observação dessa ciência. Ela:

• estuda as atividades econômicas que envolvem o emprego de moeda e a troca entre indivíduos, empresas e governo;

• observa o comportamento das empresas, que produzem de modo eficiente, reduzindo custos para obter lucros;

• observa o comportamento do consumidor, tendo em vista os preços, a renda de que dispõem e a oferta de bens e serviços.

lembrete

Retomemos, então, o teor do conceito de Samuelson (1979, p. 3): a economia, como ciência, estuda o emprego de recursos escassos entre usos alternativos, com o fim de obter os melhores resultados, seja na esfera da produção de bens ou na prestação de serviços.

Falta entendermos, finalmente, como essa disciplina se desenvolveu ao longo do tempo e como é confundida com o seu próprio objeto, a economia de mercado.

1.2. o desenvolvimento da economia enquanto área do saber

Quando as ciências econômicas passam a existir como área específica do conhecimento e do saber? é geralmente aceito pelos economistas que a economia ganha corpo e musculatura com o advento da Revolução Industrial e com o desenvolvimento dos mecanismos de mercado de formação de preço e alocação dos recursos de produção. Seu estatuto de ciência é estabelecido já no século XIX e, desde então, economistas debatem incansavelmente sobre seu objeto de estudo, sua metodologia, seu campo de atuação e seus limites, o que só demonstra a vitalidade e a energia desse corpus científico.

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Os atos econômicos precedem a existência da economia como ciência. Do ponto de vista antropológico, o ser humano vem estabelecendo relações de troca com seu grupo e com a natureza desde sempre, assim o fazendo, em parte, para garantir as condições materiais necessárias a sua sobrevivência. Havia, em período anterior ao século XVIII (data que marca o nascimento da economia), atividade econômica, e sobre ela foram escritas obras e realizados estudos. Por que, então, entender que a economia investiga uma determinada forma de organização econômica, qual seja, aquela que resulta das relações existentes no mercado?

saiba mais

Quer ver uma obra interessante sobre a evolução da humanidade? Então aceite nossa sugestão e assista ao filme A guerra do fogo. Dir. Jean-Jacques Annaud, 100 minutos, 1981.

Uma resposta possível é que apenas a partir do nascimento da economia de mercado tornou-se possível falar em atos econômicos com interesses e objetivos essencialmente econômicos; as relações sociais passaram a ser explicadas em razão de um sistema econômico organizado. Antes disso, seriam as relações sociais as variáveis explicativas das formas de produção material. Do ponto de vista histórico, Heilbroner (1987, p. 27) afirma que

a humanidade conseguiu resolver os problemas de produção e distribuição de três maneiras apenas. Ou seja, dentro da enorme diversidade das instituições sociais que guiam e dão forma ao processo econômico, o economista descortina apenas três tipos abrangentes de sistemas que, separadamente ou em combinação, habilitam a humanidade a resolver seu desafio econômico. Esses três grandes tipos sistêmicos podem ser designados como economias governadas pela tradição, pelo mando e pelo mercado.

observação

A belíssima obra do diretor francês, indicada no Saiba Mais, mostra os diferentes estágios do desenvolvimento social da espécie humana. Embora ele tenha tomado a liberdade de colocar todos os estágios como se tivessem ocorrido simultaneamente, você poderá perceber o valor e a importância de cada transformação e o quanto nossa sociedade e nosso modo de viver foram historicamente construídos ao longo do tempo.

Antes da economia de mercado, o chefe de família provê sua prole porque isso é o que a sociedade espera dele. As trocas se realizam não para o lucro, mas para a sobrevivência material. O governo distribui a riqueza para os cidadãos, por que esse é o seu papel. é apenas com o advento do capitalismo que os fatores de produção (mão de obra, terra, conhecimento técnico, capacidade empresarial e dinheiro, entre outros) não apenas se dirigem ao mercado, mas fazem mesmo parte dele.

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O que fazer, então, com os atos econômicos anteriores às sociedades capitalistas, ou que nelas não estejam inseridos? Normalmente são transferidos, como objeto de estudo, para os antropólogos econômicos, embora essa transição não ocorra de forma tranquila, nem para os economistas nem tampouco para os antropólogos. Digamos então que, para fins desta disciplina, basta não confundirmos a economia (ciência) com o próprio sistema de mercado. Não há relação de sinonímia entre as duas. Economia é (ou tem a pretensão de ser) a ciência que investiga como fatores escassos de produção são alocados para a produção de bens e serviços que se destinam a saciar necessidades ilimitadas. Economia de mercado, por outro lado, é a maneira pela qual – nas sociedades capitalistas – a reprodução material das sociedades passou a se processar, por meio de instituições orientadas exclusivamente para objetivos econômicos, como os mercados (CERQUEIRA, 2001). Nestes, o padrão implica a existência de trocas que produzam preços, ou seja, “trocas realizadas como resultado de barganha, de uma negociação, em que cada parte é livre para buscar sua vantagem e não tem que se submeter, por exemplo, a preços preestabelecidos por algum agente regulador externo” (idem, p. 400). Portanto, compreenderemos que, na economia de mercado,

toda a organização da produção é confiada aos mercados, que compõem um sistema autorregulado: indivíduos perseguindo apenas seu interesse pessoal ofertam e demandam mercadorias, fazendo com que estes bens alcancem um preço determinado. As decisões sobre o que e quanto produzir serão tomadas com base apenas nos preços informados pelos mercados, que sinalizam as expectativas de ganho em cada processo produtivo. Da mesma maneira, a distribuição do produto depende apenas de preços, já que eles formam os rendimentos de cada indivíduo: aluguel e salários são os preços do uso da terra e da força de trabalho; o lucro é a diferença entre o preço do produto e os preços dos insumos necessários para sua produção. Em resumo, a reprodução material da sociedade depende de que tudo alcance um preço, ou seja, se comporte como uma mercadoria, inclusive a terra e o trabalho (idem, p. 402).

Em nossa opinião, a economia surge como ciência não apenas porque a estrutura econômica passa a ser a de mercado (quer dizer, porque finalmente há o que se investigar), mas porque as condições do pensamento científico daquele momento permitem que ela, como um saber, se organize de forma sistemática e autônoma, e porque, àquele momento (e, de forma hegemônica, até os dias de hoje), o que há para se investigar são justamente as relações que se estabelecem no mercado. Quer dizer que, embora isso acrescente dificuldade à investigação econômica, há que se considerar, porém, que o sistema de mercado foi historicamente construído, não sendo “uma entidade acima do tempo e do espaço” (SILVEIRA, 2007, p. 8). Da mesma forma, os pressupostos comportamentais de racionalidade econômica (autointeresse e propensão para o lucro) não são “naturais”, mas socialmente construídos.

Finalmente, há economia sem mercado? Os economistas não são unânimes na resposta a essa pergunta, mas, a despeito de ser extremamente interessante, esse debate extrapola os limites da nossa disciplina. Assim, assumiremos que, segundo os parâmetros científicos da modernidade, a economia nasceu à época de Adam Smith, no século XVIII, sendo Riqueza das nações um texto fundador (e sobre o qual falaremos mais adiante), obra que marca “uma mudança na natureza da reflexão sobre os temas

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econômicos, não tanto pela criação de novos conceitos, mas pelo estabelecimento de um novo arranjo dos conceitos, de um novo ponto de vista” (CERQUEIRA, 2001, p. 397).

Fazemos aqui um aparte para citar um dado revelador sobre o crescimento econômico no país mais populoso do mundo, a China – nação que, segundo previsão da Comissão Nacional de População e Planejamento Familiar, principal agência demográfica chinesa, antes do final de 2015 estará com 1,390 bilhão de habitantes.

Pois bem, segundo a revista Veja (edição de 16 de agosto de 2010), “a China superou o Japão como a segunda maior economia do mundo no segundo trimestre desse ano – e tudo indica que os chineses vão se firmar no posto até o fim de 2010. Nos oito primeiros anos do século XXI, o crescimento econômico chinês atropelou o japonês. Segundo dados do Banco Mundial, a China cresceu 261% no período, enquanto o Japão, apenas 5%”.

saiba mais

Se você quiser se aprofundar no assunto, sugerimos a leitura da revista eletrônica ComCiência, nº 99, ano 2008. Nessa edição, a publicação discute com bastante propriedade as questões relativas à sustentabilidade e ao consumo. Disponível em: <http://www.comciencia.br/comciencia/?section=8&edicao=36>. Acesso em: 23 mar. 2011.

Você sabia que qualquer cidadão pode acompanhar o orçamento da União? Se você quiser conhecer como a União planeja e executa as políticas públicas e como os recursos financeiros que detém são distribuídos, consulte o site do Senado Federal: <http://www9.senado.gov.br/portal/page/portal/orcamento_senado>. Acesso em: 23 mar. 2011.

Para refletir

Vamos pensar um pouco mais?

Veja as seguintes situações e reflita conforme o sugerido.

Situação – Proposta a redução do ISS para transporte coletivo1.

Tramita na Câmara o Projeto de Lei Complementar (PLP) 24/7, que prevê a redução da alíquota máxima do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) incidente sobre serviços de transporte coletivo de passageiros.

1Disponível em: <http://www.direito2.com.br/acam/2007/jul/25/proposta-a-reducao-do-iss-para-transporte-coletivo>. Acesso em: 1º nov. 2010.

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Pela proposta, apresentada pelo deputado Sérgio Brito (PDT-BA), a alíquota será reduzida de 5% para 2% sobre o serviço referente ao transporte público municipal.

O autor lembra que a alta tributação contribui para a elevação do preço das passagens. “O valor das tarifas de transporte urbano no Brasil impede o acesso de muitos brasileiros ao serviço”, disse.

De acordo com estudo da Associação Nacional de Transportes Públicos e do Ministério das Cidades, cerca de 35% da população se desloca a pé, muitas vezes por não ter condições para pagar o transporte. Além disso, acrescenta o parlamentar, outro estudo mostra que as famílias com renda de até cinco salários mínimos chegam a comprometer até 22% de seus ganhos com transporte coletivo.

Proposta: como essa situação pode ser discutida em termos dos três problemas econômicos fundamentais (o que produzir, como produzir, para quem produzir)?

Situação – Lixo reciclável recuperado no país ainda é pouco, diz secretário2.

Enquanto cada brasileiro produz, em média, 920 gramas de lixo sólido por dia, a quantidade de lixo reciclável que é recuperada, seja na coleta seletiva seja por catadores, chega apenas a 2,8 kg por ano, por habitante.

“é um volume baixo em relação ao que é produzido, porque, na verdade, a coleta seletiva atinge um percentual só do volume produzido”, afirmou em entrevista o secretário nacional de Saneamento Ambiental, Leodegar Tiscoski.

Apesar do baixo índice de coleta seletiva, o secretário disse que a quantidade de lixo produzido pode ser considerada boa. “Só que nos países desenvolvidos, esses volumes tendem a diminuir, uma vez que já existe uma política de redução da produção de lixo, (...) porque há uma redução na produção e há uma seleção prévia desse lixo, do que não vai para o aterro, mas para a reciclagem.”

Proposta: como essa situação pode ser discutida em termos dos três problemas econômicos fundamentais (o que produzir, como produzir, para quem produzir)?

2 FoI sEMPrE AssIM?

No mundo em que vivemos, estamos acostumados a ter à nossa disposição vários produtos e serviços que atendem às nossas necessidades cada vez mais diversas. Faz parte do nosso cotidiano, portanto, a existência de várias alternativas e, mais importante, de várias alternativas para cada uma das espécies de produto ou serviço que consumimos. Temos escolhas, em suma. Ainda, entendemos essa situação como absolutamente normal, e de tal forma que nem sequer nos questionamos a respeito de como as empresas fazem para produzir, distribuir e vender tanta variedade.

2Disponível em: <http://www.empreendedor.com.br/content/quantidade-de-lixo-recicl%C3%A1vel-recuperado-no-brasil-ainda-%C3%A9-pequena-diz-secret%C3%A1rio>. Acesso em: 1º nov. 2010.

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2.1 Nos dias de hoje

As empresas usam o termo SKU para designar a unidade de manutenção de estoque, quer dizer, para identificar cada um dos diferentes itens do estoque que, do ponto de vista da logística, fica associado a um código de identificação. Só para que você tenha uma ideia: em artigo publicado em 6 de agosto de 2010, um site3 dedicado aos negócios de hipermercados afirmou que

a proliferação de itens em alguns mercados já apresenta desafios tanto para os supermercados quanto para a indústria, principalmente as que atuam em muitos segmentos. Um exemplo é a Unilever, que, globalmente, tomou a decisão de reduzir seu portfólio de marcas e versões. (...) Em 2008, a empresa tinha mil SKUs. Atualmente tem 850.

é impressionante como a sociedade é capaz de produzir e consumir tantos bens! Mas, afinal, o que são bens? E o que são serviços?

2.1.1 Os bens

De uma forma bastante simplificada, dizemos que os bens representam algo material, enquanto os serviços representam o intangível. Os bens são divididos entre livres e econômicos. Por bens livres, entendemos aqueles que são consumidos sem requerer qualquer contraprestação como pagamento por sua utilização. Vamos exemplificar: o ar que respiramos, o sol que nos aquece, a chuva que irriga nossas plantações, o vento que movimenta as nuvens. Enfim, há uma infinidade de bens que são livres e que, de alguma forma, nos auxiliam na produção de determinadas mercadorias, bem como na manutenção da vida das pessoas. Com esses bens não nos preocuparemos, justamente pelo motivo de não requererem a contraprestação por seu pagamento. Outro motivo para não nos preocuparmos diz respeito ao fato de que existem poucos bens ainda possíveis de serem considerados livres. Como afirma Schwarz (2009, p. 43), “a globalidade dos recursos naturais já há muito deixou de ser formada por bens livres ou gratuitos, dado terem vindo a assumir, ao longo do tempo, o estatuto de mercadorias”4.

Já os bens econômicos serão alvo de especial atenção, pois requerem contraprestação de pagamento por sua utilização e são divididos nas seguintes categorias: de consumo, intermediários e de capital.

Os bens de consumo podem ser classificados como duráveis e não duráveis. Um aparelho televisor, por exemplo, é categorizado como bem de consumo durável, assim como um automóvel ou um computador. Serão considerados bens de consumo não durável aqueles que se destroem enquanto são utilizados, ou seja, quando o consumo leva à sua destruição: é o caso de alimentos, roupas, calçados, canetas etc. Os bens de consumo duráveis ou não duráveis atendem diretamente as necessidades de consumo da sociedade, pois já estão prontos para isso.

3Disponível em: <http://www.elojas.com.pt/artigos/o-que-e-o-sku-de-um-produto>. Acesso em: 1º nov. 2010.4Disponível em: <http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/egg/v14n3/v14n3a04.pdf>. Acesso em: 1º nov. 2010.

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Os bens intermediários, por sua vez, serão transformados em bens de consumo por meio do processo de produção. São exemplos as matérias-primas utilizadas nas mais diferentes produções de mercadorias. Para fazer um pão francês, torna-se necessária a utilização de meios de produção, de matérias-primas e de bens intermediários. Por exemplo a farinha que, juntamente com outros ingredientes e bens intermediários, será transformada em pão. Dessa forma, os bens intermediários são utilizados para satisfazer indiretamente as necessidades de consumo da sociedade, pois passarão por um processo de transformação até chegarem à categoria de bens de consumo, duráveis ou não duráveis.

Finalmente, temos os bens de capital. São máquinas e equipamentos utilizados para produzir outros bens e que também atendem indiretamente às necessidades da sociedade.

lembrete

Não se esqueça: toda vez que empregarmos a palavra bens estaremos nos referindo a bens e serviços.

Conforme afirmamos anteriormente, a ciência econômica, por se preocupar com a escassez de recursos diante das necessidades ilimitadas, também é uma ciência voltada aos problemas de escolha, ou seja, procura explicar que tipos de mercadoria devem ser produzidos, portanto escolhidos, em atendimento às necessidades da sociedade. Não é por outro motivo que foi enunciado o problema econômico fundamental: o que e quanto produzir? Como produzir? Para quem produzir?

Agora, como decidir qual quantidade de aviões ou de sapatos deve ser produzida? Só de aviões e de sapatos vive uma sociedade? Sabemos que não. Então, como isso é resolvido? A resolução desse problema passa pela organização da atividade econômica. Antes de explicarmos como a atividade econômica é organizada, vamos investigar as relações entre a produção de mercadorias e o seu consumo.

2.1.2 O fluxo circular da renda e do produto

Afirmamos, em passagens anteriores, que as empresas produzem mercadorias com o objetivo de vendê-las e de, a partir da venda desses produtos, tirar algum proveito de lucro. Para que as empresas consigam vender os artigos produzidos, é necessária a existência de consumidores capazes de comprá-los; isso somente será possível se eles tiverem recursos suficientes, aos quais já denominamos como renda.

Vejamos então na figura 3 o modelo esquemático do fluxo circular da renda que representa o funcionamento de uma economia de mercado.

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Gastos ($) (=PIB) Receitas ($) (=PIB)

Mercado de produtos

Bens e serviços comprados

Bens e serviços vendidos

Fluxo de bens e serviços

Famílias Empresas

Fluxo de dinheiro

Terra, capital, trabalho e empreendedorismo

Insumos para a produção

Mercado de fatores de produção

Renda ($) (=PIB) Salários, aluguéis, juros e lucros ($) (PIB)

Modelo do fluxo circular da renda e do produto

Figura 3 – Fluxo circular de renda

Esse fluxo circular de renda, ainda que de maneira bastante simplificada, representa o funcionamento de uma economia de mercado. Para Hubbard e O’Brien (2009, p. 106), esse modelo:

(...) deixa de fora o importante papel do governo na compra de bens das empresas e na realização de pagamentos, como os de seguridade social ou seguro-desemprego, para as famílias. A figura também deixa de fora o papel exercido pelos bancos, pelos mercados de ações e de títulos de dívida e por outras partes do sistema financeiro, que é o de ajudar o fluxo de fundos dos credores para os mutuários. A figura também não mostra que alguns bens e serviços comprados são produzidos em países estrangeiros e que alguns bens e serviços produzidos por empresas domésticas são vendidos para famílias estrangeiras.

Outra questão de vital importância: o modelo pressupõe uma economia entre dois setores, ou seja, considerando somente o relacionamento de empresas e famílias. Essa é uma simplificação que deve ser levada em consideração, já que, conforme afirma Schwarz (2009, p. 41):

A economia deve ser vista como um sistema aberto, embutido na sociedade e no ambiente natural, que depende, para seu funcionamento e evolução, da existência não só de um quadro organizacional, como de fluxos permanentes de materiais, de energia e de informação: matérias-primas, combustíveis fósseis, água, ar etc. que são por ela capturados, depois

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transformados em bens e serviços aptos a satisfazerem as necessidades humanas e, por fim, devolvidos à origem na forma de resíduos sólidos, líquidos e gasosos.

Estudemos, portanto, nosso modelo simplificado. As empresas destinam bens e serviços às famílias. Dessa forma, as empresas são representadas por todos os produtores ou vendedores de mercadorias, e as famílias representam os consumidores de mercadorias.

Como consomem os bens e serviços que são destinados pelas empresas, as famílias também destinam algo a estas últimas. Nesse caso, elas geram as receitas das empresas. As receitas representam as formas de pagamento dos bens e serviços que são efetuados pelas famílias.

Para que as empresas produzam bens e serviços que serão destinados às famílias, necessitam empregar fatores de produção. Elas precisam, então, adquirir terra, trabalho, capital, tecnologia e capacidade empresarial, recursos esses que são providos pelas famílias. Estas destinam fatores de produção às empresas, e como estas precisam remunerar a utilização desses fatores de produção, também há a contrapartida: as empresas fazem a remuneração dos fatores de produção que foram destinados às famílias. O total dessa remuneração é denominado renda.

Ordenando então esses movimentos temos:

Empresas destinam bens e serviços para o consumo das famílias → Famílias geram receitas para as empresas, provenientes do consumo de bens e serviços → Famílias destinam fatores de produção às empresas → Empresas geram renda para as famílias, provenientes da utilização de fatores de produção.

observação

Se você conseguir entender o funcionamento do fluxo circular da renda, saberá como funciona, de forma genérica, a economia de qualquer país.

Voltemos ao fluxo circular da renda anteriormente apresentado: na linha interna dele há o destino de bens e serviços das empresas para as famílias, ao mesmo tempo em que existe também o destino de fatores de produção das famílias para as empresas. A essa linha interna chamaremos fluxo real ou fluxo de bens e serviços, conforme ali indicado. Na linha externa há a geração de receitas, por parte das famílias, para as empresas, ao mesmo tempo em que há a geração, por parte das empresas, de rendas para as famílias. Esses movimentos são chamados de fluxo monetário ou, simplificadamente, fluxo de dinheiro.

Percebemos, então, que o fluxo monetário complementa o fluxo real, sendo válido também o contrário. Nesse fluxo circular da renda apresentamos o relacionamento monetário e real entre empresas e famílias, considerando as empresas como produtoras e/ou vendedoras e as famílias como consumidoras. Mas temos que pensar também de outra forma.

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As empresas, para produzirem suas mercadorias, necessitam, muitas vezes, adquirir bens intermediários ou de capital de outras empresas. Portanto, as empresas, além de serem vendedoras, também são compradoras, empreendendo então um relacionamento entre os fluxos monetários e reais entre as próprias empresas. Para as famílias vale outro raciocínio, pois elas também destinam fatores de produção a outras famílias, empreendendo relação tanto monetária quanto real entre si. No fluxo circular da renda, portanto, temos relacionamento empresa-família, empresa-empresa, família-empresa e família-família.

No relacionamento empresa-família, as empresas utilizam os fatores de produção das famílias e as remuneram por isso. No relacionamento família-empresa, as famílias utilizam os bens e os serviços que são produzidos pelas empresas e as remuneram por isso. No relacionamento empresa-empresa, as empresas adquirem bens e serviços de outras empresas, gerando receitas de umas para as outras. Por fim, no relacionamento família-família, elas adquirem e destinam seus fatores de produção de umas para as outras, ensejando então fluxos real e monetário entre esses agentes econômicos. Passemos, então, a analisar as formas de organização da sociedade econômica, ou, então, a forma em que as sociedades se organizam para poder cumprir o fluxo circular da renda.

2.1.3 A organização da atividade econômica

Estabeleceremos aqui duas formas de organização da atividade econômica: uma descentralizada, predominante nas economias ocidentais, e uma centralizada, personificada no caso cubano (um dos últimos exemplos de economias centralizadas que temos à disposição).

A forma descentralizada, também chamada de economia de mercado, reúne três elementos principais: livre iniciativa, presença do Estado e elementos de uma economia capitalista. Vamos examinar detidamente cada um desses elementos.

No caso da livre iniciativa, nenhum agente econômico – empresas como produtoras ou vendedoras de mercadorias ou famílias como fornecedoras de fatores de produção e consumidores de mercadorias – se preocupa em desempenhar o papel de gerenciar o bom funcionamento do sistema de preços. Ocupam-se, isso sim, em resolver, isoladamente, seus próprios negócios e sobreviver apenas no ambiente concorrencial imposto pelos mercados, tanto na venda e compra de produtos finais como na dos fatores de produção.

é um jogo econômico, baseado em sinais dados por preços formados nos diversos mercados. Trata-se, no fundo, de um agir egoísta que, no conjunto, resolve inconscientemente os problemas básicos da coletividade. Há uma espécie de mão invisível agindo sobre os mercados, operando como um coordenador das atividades econômicas e sociais.

A ação conjunta dos indivíduos e das empresas permite que centenas de milhares de mercadorias sejam produzidas como um fluxo constante, mais ou menos voluntariamente, sem uma direção central. A livre iniciativa ajuda a responder ao problema econômico fundamental: o que e quanto produzir? Como produzir? Para quem produzir?

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O que e quanto produzir é decidido pela procura dos consumidores no mercado, ou seja, são os consumidores quem dão sinais de mercado às empresas do que elas precisam produzir. Assim, o agente principal nesse processo é o consumidor, pois sua atuação determinará quais produtos serão produzidos.

Já a questão de como produzir é determinada pela concorrência entre os produtores e pelo emprego do método de fabricação mais eficiente ou mais barato, e o produtor mais eficiente derrotará o produtor mais ineficiente.

Por fim, a questão para quem produzir será respondida pela oferta e demanda no mercado de fatores de produção, ou seja, pelo montante de renda individual.

Voltemos ao fluxo circular da renda anteriormente apresentado. A livre iniciativa opera conforme demonstrado pelo fluxo, ou seja, as famílias dão sinais de mercado às empresas do que elas necessitam consumir e, portanto, sinalizam o que elas devem produzir. Para tanto, as empresas também dão sinais de mercado de que é necessário empregar fatores de produção (terra, trabalho, capital, tecnologia e capacidade empresarial) e em quais quantidades.

Dos sinais de mercado, do que produzir e do quanto empregar de fatores de produção, temos a determinação dos preços das mercadorias e dos fatores de produção. Portanto, a livre iniciativa também pode ser chamada de sistema de preços, ou seja, o fluxo circular da renda (ou o sistema de preços) coordena as decisões de milhões de unidades econômicas.

Então, além de o fluxo circular da renda demonstrar os fluxos monetário e real, também evidencia a existência de um mercado de bens e de fatores. Sempre que as empresas destinam bens e serviços às famílias, estamos trabalhando com um mercado de bens, em que serão estabelecidos os preços das mercadorias transacionadas, bem como suas quantidades. E sempre que as famílias destinam fatores de produção às empresas, estamos trabalhando com um mercado de fatores de produção, no qual são estabelecidos os preços de tais fatores, bem como as quantidades utilizadas pelas empresas.

O sistema de preços determina preços e quantidade de equilíbrio, pois os consumidores estabelecem os preços máximos que desejam pagar pelo consumo das mercadorias, ao passo que os produtores estabelecem os preços mínimos que desejam remunerar pela utilização dos fatores de produção.

Qual o papel do Estado nesse modelo? No que diz respeito à presença, dadas as imperfeições apresentadas pelo sistema de preços da livre iniciativa, ele surge para regulamentar essas atividades.

Com relação aos elementos de uma economia capitalista, esse sistema caracteriza-se por uma organização econômica baseada na propriedade privada dos meios de produção, isto é, dos bens de produção ou de capital. Reunir elementos de uma economia capitalista significa aglutinar os elementos que compõem o capitalismo, sistema de capital que se valoriza, que são os seguintes:

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• capital;

• propriedade privada dos meios de produção, dada a existência do capitalista;

• divisão do trabalho por meio da especialização do trabalho e da mecanização da produção;

• existência da moeda.

Revisando o que foi apresentado anteriormente, podemos dizer que vivemos numa sociedade baseada nas trocas, as quais se dão por meio do mercado. Nessa sociedade, o agente busca individualmente solucionar o seu problema econômico por meio das trocas. Para isso, ele racionalmente dá em troca à sociedade – no mercado – o que detém, recebendo em troca – também no mercado – o que necessita e não detém. Ou seja, nessa sociedade, para Smith (1983, p. 50):

não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelo seu próprio interesse. Dirigimo-nos não a sua humanidade, mas a sua autoestima, e nunca lhes falamos das nossas próprias necessidades, mas das vantagens que advirão para eles.

Portanto, nessa sociedade, de forma anárquica – afinal, cada agente cuida de si –, emerge o bem-estar coletivo. Uma vez que cada um cuida de si, vemos que a competição é um fator inerente e determinante numa economia de mercado: todos os agentes se movimentam pelo interesse próprio, fazendo escolhas racionais no intuito de obter mais poder de mercado que os demais agentes e, com isso, minimizar as suas restrições na busca da maximização do seu benefício individual.

Quanto à segunda forma de organização da atividade econômica, ou seja, a forma centralizada, quem responde ao problema econômico fundamental é um órgão planejador central. Apenas para dar um exemplo: desde a revolução que destituiu Batista e levou Fidel Castro ao poder cubano, é o governo quem decide o que cada um deve produzir e o que cada agente deve consumir. O princípio que norteia essas decisões é o socialista, que prevê que cada um deve contribuir/consumir de acordo com sua capacidade e seu trabalho. Do ponto de vista prático, as vendas são realizadas através de libretas, criadas em 1962, as quais representam o conjunto de mercadorias que podem ser consumidas por pessoa. A esse respeito, comenta Piñeda (apud CARCANHOLO e NAKATANI, 2001, p. 142)5 que

a quantidade e os tipos de produtos foram os seguintes: em todo o território nacional, 2 libras de gordura comestível, óleo ou banha de porco, ao mês; 6 libras de arroz por pessoa ao mês; 13,5 libras de feijão de qualquer tipo, de grão-de-bico, de ervilhas ou de lentilhas, por pessoa, nos nove meses seguintes. Na cidade de Havana, (...) uma barra de sabão

5Disponível em: <http://www.ejournal.unam.mx/pde/pde128/PDE12807.pdf>. Acesso em: 1º nov. 2010.

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por pessoa ao mês; um pacote médio de detergente por pessoa ao mês; um sabonete por pessoa ao mês; um tubo grande de creme dental para cada duas pessoas ao mês. Na cidade de Havana, três quartos de libra de carne de gado por pessoa por semana; 2 libras de frango por pessoa ao mês; meia libra de peixe de escama, limpo e em posta, por pessoa ao mês; cinco ovos por pessoa ao mês; um litro de leite diário para cada criança de menos de sete anos e um litro diário para cada 5 pessoas maiores de 7 anos.

A pergunta a ser respondida agora é: qual o tipo de sistema da maior parte das economias nos dias de hoje? Dizemos que elas são mistas e que combinam características das economias de mercado e das centralizadas. Para Hubbard e O’Brien (2009, p. 66),”uma economia mista ainda é, primordialmente, uma economia de mercado, com a maioria das decisões econômicas sendo resultantes da interação entre compradores e vendedores em mercados, mas em uma economia mista, o governo desempenha um papel significativo na alocação dos recursos”.

lembrete

Na economia brasileira de nosso tempo prevalece a economia mista, ou economia de mercado, como organizadora das atividades econômicas.

2.2 Há muito tempo

Supermercados, bens de capital e de consumo, economias centralizadas e de mercado. Esse é o cenário que vemos nos dias de hoje, mas, é claro, nem sempre foi assim. Como chegamos à sociedade de mercado ou à economia de mercado? Se realizarmos uma viagem no tempo e nos percebermos em plena Idade Média (aproximadamente do século V ao XV), veremos outro mundo: reis, senhores feudais, cavaleiros, servos e clérigos.

Assim estava organizada a sociedade durante o feudalismo, uma estrutura que iria sofrer abalos contínuos até se degradar totalmente, num processo que levaria alguns séculos para se completar. Do período áureo do feudalismo, a imagem mais lembrada é a do feudo, grande propriedade trabalhada por camponeses que aram não apenas a terra arrendada, mas também a do senhor. Nesse sistema, o castelo ocupa um lugar de destaque: é nele que mora o senhor e sua família. O feudo, unidade autossuficiente, é o espaço em que ocorrem as relações de vassalagem entre o servo e o seu senhor.

No sistema feudal, o servo não é um escravo: não pode ser vendido ou ter sua família desmembrada; ele faz parte da propriedade e só se transfere se a terra for vendida. O servo muda de senhor, mas não de terra, portanto, não pode ser expulso nem dela escapar. A esse respeito, nos diz Huberman (1986, p. 10):

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O senhor do feudo, como o servo, não possuía a terra, mas era, ele próprio, arrendatário de outro senhor, mais acima na escala. O servo, aldeão ou cidadão “arrendava” sua terra do senhor do feudo que, por sua vez, “arrendava” a terra de um conde, que já a “arrendara” de um duque que, por seu lado, a “arrendara” do rei. E, às vezes, ia ainda mais além, e um rei “arrendava” a terra a outro rei! A relação de vassalagem, inclusive, é transferida hereditariamente, de pai para filho: o filho será servo daquele a quem seu pai e seu avô serviram, isto é, de quem também foram servos.

O feudo tem suas próprias regras e leis, que devem ser rigorosamente obedecidas. O senhor feudal é quem decide sobre casamentos, litígios e conflitos. Em algumas regiões da Europa, o senhor feudal tem o direito “da primeira noite”, ou seja, desvirginar a noiva que more em sua propriedade, ou que será esposa de alguém que more nas suas terras. Longe de ser mero capricho, esse direito consagra o seu papel de senhor absoluto e também a continuidade da vassalagem por meio da suspeita em relação à paternidade dos filhos do servo.

saiba mais

Sugerimos, sobre o assunto, o filme Coração valente. Dir. Mel Gibson, 177 minutos, 1995. O enredo, apesar de algumas imprecisões históricas, retrata bem a relação de vassalagem. Relata, ainda, as lutas e os conflitos na Escócia do século XIII.

O dinheiro, quando existente, é acumulado de forma improdutiva. Todo o necessário para a sobrevivência pode ser produzido dentro do próprio feudo. O comércio é incipiente e ocorre à base de escambo: trocam-se mercadorias, sem que o dinheiro necessariamente seja utilizado como meio de pagamento ou padrão de referência. Existem, inclusive, várias moedas, cada uma delas vigente numa determinada região e sem referência cambial com outras moedas.

observação

Repare que o feudalismo também é conhecido como uma forma de organização da atividade econômica.

A pergunta que ocorre naturalmente é: como, dessa organização econômica, poderia surgir posteriormente algo como o sistema de mercado? Foram vários os fatores que, com o tempo, criaram rachaduras e fissuras irreversíveis no sistema feudal. Um deles foi as Cruzadas, expedições cristãs armadas em direção ao Oriente cujo objetivo era a reconquista da Terra Santa. Os cruzados precisavam de provisões e, ao longo do seu percurso, foram organizados entrepostos comerciais e feiras. Aliás, aos poucos, as Cruzadas deixavam de ter apenas um significado religioso para se

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transformarem em verdadeiras expedições de saque e exploração das cidades comerciais orientais. Ao longo dos séculos, cada vez mais esse comércio iria resultar no estabelecimento de grandes feiras e, em torno delas, cidades surgiriam. Nesse sentido, acrescenta Huberman (idem, p. 32):

é importante observar a diferença entre os mercados locais semanais dos primeiros tempos da Idade Média e essas grandes feiras dos séculos XII ao XV. Os mercados eram pequenos, negociando os produtos locais, em sua maioria, agrícolas. As feiras, ao contrário, eram imensas e negociavam mercadorias por atacado, que provinham de todos os pontos do mundo conhecido. A feira era o centro distribuidor onde os grandes mercadores, que se diferenciavam dos pequenos revendedores errantes e artesãos locais, compravam e vendiam as mercadorias estrangeiras procedentes do Oriente e Ocidente, Norte e Sul.

Os senhores feudais, donos das terras onde se realizavam as feiras, recebiam comissões pelos negócios lá efetuados: as atividades comerciais eram bem-vindas, porque traziam lucro e prosperidade. O crescimento dessas atividades também faria surgir a figura dos trocadores de dinheiro, responsáveis pela troca e pelo câmbio entre as várias unidades monetárias. Aos poucos, a economia sem mercado transformava-se em economia de vários mercados, já se distanciando do sistema autossuficiente dos feudos. Devagar, cindia-se a estrutura feudal de imobilidade social: surgiam comerciantes e “banqueiros”, crescia a população urbana, livre das amarras da vassalagem e da relação visceral com a terra. Essa população exerceria pressão por leis menos arbitrárias do que as do senhor feudal, porque precisava de liberdade para se mover, comerciar, vender e comprar. Da mesma forma, o camponês se distanciava do senhor feudal, já que seu excedente agora podia ser negociado e transformado em dinheiro. O senhor feudal, que não compreendia essa nova realidade, era forçado a conviver com a revolta de trabalhadores nas suas terras. A riqueza agora não significava a propriedade possuída, mas o dinheiro amealhado. Aliás, a percepção de que a terra seria também mercadoria passível de ser vendida daria o golpe de morte no sistema feudal.

Os mercadores se reúnem em corporações, titulares de direitos monopolistas que tratarão de normatizar as atividades, comerciais (nas feiras) ou profissionais, e às suas leis os membros estarão sujeitos, sob pena de expulsão. Os artesãos e outros profissionais também se organizarão em corporações, chamadas de guildas. Estas funcionam como centros nos quais o aprendiz é treinado no ofício, segundo as normas e tradições da categoria. Esse treinamento, que chega a durar mais de uma década, assegura-lhe o conhecimento das artes secretas do seu ofício, além do direito de exercer sua profissão e ter proteção em caso de necessidade. Os meios de produção (ferramentas e utensílios necessários para a fabricação das mercadorias) pertencem aos artesãos, que não apenas produzem, mas também comercializam o fruto do seu trabalho. O espírito é de fraternidade, e não de concorrência: se um membro resolvesse introduzir alguma inovação, todos deveriam ter acesso a essa mudança. “Patentes” ou “diferenciais produtivos” são tidos como práticas desleais e passíveis de punição. Em guildas, reúnem-se padeiros, pintores, curtidores de couro, ferreiros, açougueiros, fruteiros, cirurgiões, jornaleiros, entalhadores, costureiros, sapateiros, e, ainda de acordo com Huberman (idem, p. 68):

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Supervisores das corporações faziam viagens regulares de inspeção, nas quais examinavam os pesos e as medidas usados pelos membros, os tipos de matérias-primas e o caráter do produto acabado. Todo artigo era cuidadosamente inspecionado e selado. Essa fiscalização rigorosa era considerada necessária para que a honra da corporação não fosse manchada, prejudicando com isso os negócios de todos os seus membros. As autoridades municipais, por sua vez, a exigiam como proteção ao público. Para maior proteção desse público, algumas corporações marcavam seus produtos com o “justo preço”.

As guildas acabariam por se desintegrar ao longo do tempo, e o justo preço seria substituído pelo preço de mercado, mas, àquele momento, a existência das corporações era o que permitia o exercício da atividade artesanal, a sobrevivência dos artesãos nos centros urbanos e a regulação de uma atividade que se distanciava, pouco a pouco, das tradições e dos costumes feudais.

Outro fator de fundamental peso no processo de deterioração do sistema feudal foi o surgimento das nações. Se o senhor feudal já não dava conta de proteger a população (seu poder havia diminuído com a perda de terras, servos e com os gastos de expedições ao Oriente), era necessário que alguém tomasse para si a tarefa de funcionar como poder central. Quem o fará será o rei, aliado das cidades na luta contra os senhores feudais. Será ele quem arregimentará um exército profissional e tratará de armá-lo e treiná-lo. Impostos são instituídos e passam a ser recolhidos, e esse montante servirá ao rei para o exercício do seu poder, mesmo que a partir de determinado momento esse seja um poder subtraído das próprias cidades e dos comerciantes. Com isso, de acordo com Huberman (idem, p. 86):

Os camponeses que desejavam cultivar seus campos, os artesãos que pretendiam praticar seu ofício e os mercadores que ambicionavam realizar seu comércio – pacificamente – saudaram essa formação de um governo central forte, bastante poderoso para substituir os numerosos regulamentos locais por um regulamento único, de transformar a desunião em unidade.

O rei serve de símbolo para a unidade nacional, e as nações passam a lutar por seus territórios e pela formação de sua identidade: língua, moeda e legislação nacionais, conquistas estas que passam a ser guiadas e conduzidas pela unidade central de poder. Será o rei também o responsável pelo empreendimento ultramarino, de descoberta, povoamento e exploração do Novo Mundo, que fornecerá a matéria-prima, depois, para as indústrias nascentes, e que consumirá as mercadorias produzidas nas metrópoles.

Falta agora uma nova ética, um conjunto de valores morais que possam nortear e conduzir os agentes em direção ao trabalho, à acumulação do capital, ao lucro. é o que discutiremos a seguir.

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Rembrandt, pintor holandês do século XVII, retratou alguns membros dessas corporações.

Na tela A ronda noturna, ele mostra a corporação dos oficiais bacamartes. Disponível em: <http://www.uncp.edu/home/rwb/rembrandt_nightwatch>. Acesso em: 29 dez. 2010.

Na obra Lição de anatomia do prof. Tulp, a corporação dos cirurgiões. Disponível em: <http://www.biol.unlp.edu.ar/images/anatomia/anatomia-rembrandt.jpg>. Acesso em: 29 dez. 2010.

No quadro Os membros da guilda dos alfaiates, como sugere o título, vemos os alfaiates reunidos em seu sindicato. Disponível em: <http://www.abcgallery.com/R/rembrandt/rembrandt121.html>. Acesso em: 29 dez. 2010.

O próprio Rembrandt foi membro de uma guilda, a dos pintores.

Para refletir

Veja as seguintes situações abaixo e reflita, conforme o sugerido.

Situação – Tradição da agricultura familiar se mantém em Nova Friburgo6.

Gilmar Cardinot e o irmão, Gilberto, formam a quinta geração dos Cardinot em Nova Friburgo. Quando o primeiro membro da família chegou da Suíça, no século XIX, trouxe com ele uma tradição: o amor pelo campo. O trabalho na lavoura é uma herança que vem da Europa. Tudo é feito em parceria entre os irmãos, que também recebem a ajuda de um primo. Para eles, a união no trabalho é sinal de prosperidade. O terreno de 14 hectares fica na localidade que leva o nome da família suíça, Cardinot, na zona rural de Nova Friburgo. Em torno de 10 produtos são cultivados no local, principalmente hortaliças. Nesse período, chegam a colher mais de 900 pés de brócolis por dia. E com tanto trabalho, a ajuda da família é essencial para contornar um problema: a dificuldade de encontrar mão de obra.

A agricultura familiar é tradição em Nova Friburgo. A maioria das propriedades é de pequeno e médio porte. E corresponde a 90% das lavouras do município, segundo a Secretaria de Agricultura. Uma tendência nacional, já que 60% dos alimentos que consumimos são produzidos por agricultores familiares.

Proposta: é possível afirmar que o sistema de tradição desaparecerá, um dia, por completo?

6Disponível em: <http://intertvonline.globo.com/rj/noticias.php?id=9644>. Acesso em: 1º nov. 2010.

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Situação – O que Cuba tem a ensinar7.

O governo cubano anunciou a demissão de 500 mil servidores públicos, o equivalente a 10% da força de trabalho total da ilha. Ao mesmo tempo, serão reduzidas as restrições à iniciativa privada, justamente para absorver toda essa turma de barnabés. Segundo Havana, o objetivo da medida é tornar a economia mais eficiente – uma semana depois de Fidel Castro ter declarado que o modelo cubano “não funciona mais nem para Cuba”.

Enquanto isso, a Venezuela de Hugo Chávez, discípulo mais fiel de Fidel, continua estatizando avidamente o país. E o Brasil de Lula e Dilma aposta cada vez mais no Estado como agente econômico. Como a revolucionária Cuba está mostrando, e a Venezuela chavista já sabe bem, esse modelo tem fôlego curto, porque os recursos que deveriam ser investidos em infraestrutura são drenados para custear a gigantesca máquina pública. Sem esses investimentos, não é possível sustentar o crescimento econômico no longo prazo.

Proposta: é possível afirmar que o sistema de mercado prevalecerá sobre outros modos de organização da atividade econômica?

3 A étIcA Do cAPItAl

3.1 o empreendedorismo

Um dos empresários mais icônicos do século XX, Bill Gates iniciou sua carreira praticamente na garagem de casa. Com um perfil que hoje chamamos de nerd (geniozinho), ele e seu colega Paul Allen programavam computadores aos 15 anos de idade, quando esse equipamento era utilizado apenas por grandes empresas. Depois de ter entrado e saído de Harvard sem conseguir se formar, Gates deu o grande passo na sua vida: convenceu a gigantesca IBM a adotar seu software, o MS-DOS, como programa operacional dos computadores pessoais que começavam a ser projetados e produzidos. O resto, como se sabe, é história: na última década do século XX, Bill Gates já era o homem mais rico do mundo. Apesar da crise de 2008, a Microsoft, empresa que ele criou, é uma das maiores do planeta. No quadro 1, podemos compará-la a outros grandes conglomerados.

saiba mais

Sugerimos, sobre o assunto, o filme Piratas do Vale do Silício. Dir. Martyn Burke, 95 minutos, 1999. Originalmente feito para a TV, narra a trajetória de Bill Gates e da Microsoft.

7Disponível em: <http://blogs.estadao.com.br/marcos-guterman/o-que-cuba-tem-a-ensinar/>. Acesso em: 1 de novembro de 2010.

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Maiores lucros entre empresas de capital abertodos Estados Unidos e da América Latina, em 2009

Empresa Setor Lucro líquido(em US$ bilhões) País

1º Exxon Mobil Petróleo e gás 19,280 EUA

2º Petrobras Petróleo e gás 16,645 Brasil

3º Microsoft Corp Software e dados 16,258 EUA

4º Wal Mart Stores Comércio 13,495 EUA

5º Intl Buses Machines Eletrônicos 13,425 EUA

6º Goldman Sachs Bancos 13,385 EUA

7º Procter & Gamble Química 13,050 EUA

8º A&T Telecomunicações 12,843 EUA

9º Wells Fargo Bancos 12,275 EUA

10º Johnson & Johnson Química 12,266 EUA

Quadro 1 – Lucros das empresas de capital aberto, em 2009

Afinal, o que é necessário para ser um grande empreendedor? Quais as características que alguém deve reunir para, iniciando a vida profissional em condições extremamente modestas, construir um verdadeiro império? Segundo a versão digital da revista Veja, a receita do sucesso de Bill Gates envolve:

a inovação e a visão, que transformaram a sua empresa numa gigante global com tentáculos que se estendem por todos os lados. Gates obteve a façanha de garantir que a companhia tivesse presença e relevância por toda parte dentro do mundo da tecnologia – o que rendeu processos e outras dores de cabeça ligadas à acusação de concorrência desleal com seus rivais. A fama de querer controlar o mundo digital e ganhar todas as disputas mudou Gates, que trocou de tática e tentou melhorar a imagem da companhia desde a série de processos. Mas o criador da Microsoft não se acomodou: continuou buscando chances de ampliar as atividades e os serviços da empresa8.

Na atualidade, dias de intensa concorrência e competitividade, ser empreendedor é uma necessidade. Se novos mercados não forem conquistados, se antigos mercados não forem preservados, se os clientes não estiverem satisfeitos, se o concorrente conseguir alguma vantagem, se qualquer uma dessas coisas ocorrer, o fracasso é certo e inevitável. Tanto é assim que, na maior parte das escolas de economia e administração, as qualidades e competências empreendedoras são estimuladas e treinadas. No caso específico da economia brasileira, o espírito empreendedor é vital para que possamos recuperar as grandes oportunidades perdidas quando do início da globalização: estamos falando da década inflacionária de 1980 e dos reajustes macroeconômicos de 1990.

Apesar das imensas dificuldades, ainda assim o Brasil vem obtendo resultados positivos no que diz respeito ao empreendedorismo, conforme pode ser visto na tabela 1 que se segue.

8Disponível em: <http://veja.abril.com.br/quem/buffett-gates.shtml>. Acesso em: 1º nov. 2010.

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Empreendedorismo

O Brasil é o quinto país em população adulta com empresas estabelecidas há mais de 3,5 anos e o décimo em empreendimentos novos.

Mais de 42 meses1º Filipinas2º Indonésia3º Tailândia4º Peru5º Brasil

19,7% 17,6% 15,2%12,4%12,1%

Iniciantes1º Peru2º Colômbia3º Filipinas4º Jamaica5º Indonésia6º China7º Tailândia8º Uruguai9º Austrália10º Brasil

40,1% 22,5% 20,4% 20,3% 19,3% 16,2% 15,2% 12,6% 12%11,6%

A maioria dos novos empreendedores opta por atividades já conhecidas e com grande concorrência:

Novidade ConcorrentesEmpresas estabelecidas Empresas novas Empresas estabelecidas Empresas novas

85,3%ninguém considera a

atividade nova

81,3%ninguém considera a

atividade nova

73,2%muitos concorrentes

65,1%muitos concorrentes

nova para alguns

7,1%nova para

todos

12,3%nova para todos

6,4%nova para

algunsnenhum concorrente

3,2%nenhum concorrente

3,2%poucos

concorrentes

23,6%poucos

concorrentes

30,5%7,6%

Fonte: Sebrae <http://www.sebraepr.com.br/gc/images/empreendedorismo.gif> Acesso em: 1 nov. 2010.

Tabela 1 – O mapa do empreendedorismo

Se é tão fundamental que sejamos empreendedores, como saber quais competências devemos desenvolver? Os vários estudos desenvolvidos por administradores, economistas e psicólogos sociais listam algumas características de extrema importância:

O que é um empreendedor? O empreendedor deve ter iniciativa, ser persistente, estar comprometido com o seu negócio, exigir qualidade e eficiência, correr riscos calculados, estabelecer metas e buscar informações, planejar e monitorar sistematicamente seu empreendimento, manter uma rede de contatos para que novas oportunidades possam ser aproveitadas, ser persuasivo, ter independência e autoconfiança.

Fácil, não é? No quadro 2 a seguir, cada uma dessas características é explicada em termos das atitudes que as compõem.

Iniciativa Age de maneira proativa. Busca novas oportunidades. Aproveita oportunidades fora do comum, com um comportamento de aceitação de riscos.

Persistência Não desiste diante de dificuldades. Reavalia seus planos. Foca energias na execução de seu plano de ação.

Comprometimento Chama para si a responsabilidade sobre sucessos e fracassos. é um facilitador para sua equipe. Tem visão de futuro.

Exigência de qualidade e eficiência

Procura minimizar custos e está atento ao mercado. Procura sempre surpreender seus clientes. Está atento a prazos e qualidade de entrega.

Riscos calculados Avalia alternativas e oportunidades. Tem uma boa gestão de resultados. Aceita desafios, mas avalia os riscos.

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Estabelecimento de metas Estabelece e acompanha indicadores de resultados para seu negócio. Tem visão de longo prazo.

Busca de informações Tem um bom acompanhamento de mercado e está próximo ao seu cliente. Conhece seu negócio e investiga novas oportunidades. Busca especialistas para orientá-lo em relação ao seu negócio.

Planejamento e monitoramento sistemático

Age por etapas para cumprir seu plano de negócio. Adéqua seu plano de negócio às variáveis externas do mercado. Busca informações financeiras do passado para orientar o futuro.

Persuasão e rede de contatos

Forma rede de contatos e procura utilizá-la no desenvolvimento de seu negócio. Mantém e alimenta sua rede de contatos.

Independência e autoconfiança

Desenvolve seu negócio de forma autônoma. é uma pessoa otimista e determinada. Sabe aonde quer chegar.

Quadro 2 – Características empreendedoras

observação

Repare que um empreendedor não nasce pronto. Embora tenha certa “inteligência” ou aplique de forma produtiva sua inteligência, algumas características devem ser reunidas para se tornar empreendedor.

Acreditamos que, a esta altura, você deverá estar se perguntando: foi sempre assim? Sempre, historicamente, agimos em busca do lucro? Fomos sempre empreendedores? Temos que responder a isso negativamente.

3.2 A construção histórica do espírito empreendedor

As ideias de lucro, competição e empreendedorismo foram historicamente construídas. Quer dizer, houve um tempo em que não era assim. Para Huberman (1986, p. 47):

A moderna noção de que qualquer transação comercial é lícita desde que seja possível realizá-la não fazia parte do pensamento medieval. O homem de negócios bem-sucedido de hoje, que compra pelo mínimo e vende pelo máximo, teria sido duas vezes excomungado na Idade Média. O comerciante, porque exercia um serviço público necessário, tinha direito a uma boa recompensa e a nada mais do que isso.

Portanto, se quisermos compreender como nos transformamos em seres sedentos por sucesso e lucro, devemos retroceder à transição de uma sociedade que se baseava na noção do justo preço para outra que perseguia o sucesso econômico. é possível supor que tal transição fosse requerer uma mudança drástica na maneira de pensar e agir: era necessária uma nova ética. “A suspeita e o constrangimento que cercavam as ideias de lucro, mudança e mobilidade social devem dar lugar a novas ideias que encorajem essas mesmas atitudes e atividades” (HEILBRONER, 1987, p. 64).

Apenas para que você tenha uma ideia, até o fim da Idade Média a Igreja Católica havia sido a responsável pela difusão e manutenção dos valores morais. Apoiada no texto sagrado, ela defendia a vida como passagem transitória pela Terra, passagem que apenas deveria servir de preparo para a vida na eternidade. Quase como encomenda para aqueles tempos de imobilidade social, ela defendia o conformismo às condições dadas. Claro que, embora denunciasse o ganho e a usura, a Igreja era depositária de muitas fortunas feudais, mas isso não a impedia de reprovar, e com muita convicção, os perigos das “atividades mundanas a que a carne, demasiado fraca, sucumbia” (idem, p. 78).

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Assim, conforme afirma Huberman (1986, p. 47):

A Igreja ensinava que, se o lucro do bolso representava a ruína da alma, o bem-estar espiritual é que estava em primeiro lugar. “Que lucro terá o homem, se ganhar todo o mundo e perder sua alma?” Se alguém obtivesse numa transação mais do que o devido, estaria prejudicando a outrem, e isso estava errado. São Tomás de Aquino, o maior pensador religioso da Idade Média, condenou a “ambição do ganho”. Embora se admitisse, com relutância, que o comércio era útil, os comerciantes não tinham o direito de obter numa transação mais do que o justo pelo seu trabalho.

Não apenas era pecado buscar o lucro ou o ganho pessoal, como também trabalhar além do necessário para satisfazer as necessidades mais básicas. Quem tivesse o suficiente para viver e, não obstante, continuasse a trabalhar incessantemente, “seja para conseguir uma posição social melhor, seja para viver mais tarde sem trabalhar, ou para que seus filhos se tornassem homens de riqueza e importância – todos esses estavam dominados por uma avareza, sensualidade ou orgulho condenáveis” (HUBERMAN, 1986, p. 47).

Mais: a ideia de obter uma vantagem em relação ao seu concorrente (se é que existia esse conceito) era simplesmente inimaginável. Como novamente afirma Huberman (idem, p. 67)

Assim como se precaviam da interferência estrangeira em seu monopólio, as corporações tinham também o cuidado de evitar, entre si, práticas desonestas que pudessem causar prejuízos a terceiros. Nada de competição mortal entre amigos, é o que realmente significa o item 3 dos estatutos dos curtidores. O membro da corporação não podia furtar um jornaleiro ou o aprendiz de seu mestre. Também era tabu a prática comercial, hoje muito difundida, de obsequiar o cliente ou suborná-lo para conseguir realizar um negócio. Em 1443, a corporação dos padeiros de Corbie, na França, determinou que ninguém daria bebidas ou faria qualquer outra gentileza a fim de vender seu pão, sob pena de pagar uma multa de 60 soldos.

Como se pode perceber, a mudança que introduziria uma nova forma de pensar deveria ser ampla e irreversível. Aqui, é importante um parêntese: muitos historiadores mencionam a Reforma Protestante como condição mais que necessária para a expansão da ética do capitalismo. Nossa posição é outra:

O que explica o desenvolvimento do capitalismo em dado momento histórico? Junto com outros fatores já mencionados (urbanização, formação dos Estados nacionais, intensificação do comércio, viagens ultramarinas, fortalecimento do poder monárquico, por exemplo), as transformações religiosas criariam a sinergia para as mudanças que já estavam ocorrendo e para as mudanças que ainda ocorreriam.

Ou seja, não se trata aqui de uma relação causal simples (Reforma/capitalismo), mas de uma relação em que as revoluções religiosas surgiriam no já intrincado mosaico histórico do período como parte integrante (e interdependente) de outras relações existentes.

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O que se sabe é que o calvinismo e a Reforma provocaram uma mudança na forma de ver o mundo, introduzindo uma nova ética e conclamando a todos para uma nova moral. Encontraremos em Heilbroner (1987, p. 79) que

em contraste com os teólogos católicos, propensos a considerar a atividade humana como coisa fútil e vã, os calvinistas santificavam e aprovavam o esforço humano como uma espécie de indicador de valor espiritual. De fato, cresceu entre os calvinistas a ideia de um homem dedicado ao seu trabalho: “vocacionado” para ele, por assim dizer. Daí, a fervorosa entrega de cada um a sua própria vocação, muito ao contrário de evidenciar um afastamento dos fins religiosos, passou a ser considerada uma evidência da dedicação à vida religiosa. O comerciante enérgico e empreendedor era, aos olhos calvinistas, um homem piedoso, não um ímpio; e desta identificação de trabalho e virtude não foi necessário mais que um passo para se desenvolver a noção de que, quanto mais bem-sucedido um homem fosse na vida, mais virtuoso e mais valor ele tinha.

Não apenas o trabalho era meritório, e a ele todos deveriam se dedicar. O que essa nova moral prega é que a piedade e a virtude podem ser reconhecidas nas formas como se usa a riqueza. Quer dizer: nada de luxo, jogos, hábitos faustosos. Se o trabalho é sagrado, sagrado também é o seu fruto, e os homens devem viver uma vida ascética, de simplicidade e parcimônia.

[o calvinismo] fez da poupança, da abstinência consciente do usufruto da renda, uma virtude. Fez do investimento, do uso da poupança para fins produtivos, um instrumento tanto de devoção como de lucro. Justificou até, com vários quids e quos, o pagamento de juros. De fato, o calvinismo estimulou uma nova concepção de vida econômica. Em lugar do antigo ideal de estabilidade social e econômica, de se conhecer e manter o “lugar” de cada um, conferiu respeitabilidade a um ideal de luta, de aperfeiçoamento e progresso material, de crescimento econômico (idem, p. 80).

Ou, nas palavras de Max Weber (1996, p. 21), que no século XIX estudou a fundo a relação entre a religião e o capitalismo (identificando algo que denominou de espírito do capitalismo):

De fato, o summum bonum dessa ética, o ganhar mais e mais dinheiro, combinado com o afastamento estrito de todo prazer espontâneo de viver é, acima de tudo, completamente isento de qualquer mistura eudemonista, para não dizer hedonista; é pensado tão puramente como um fim em si mesmo, que do ponto de vista da felicidade ou da utilidade para o indivíduo parece algo transcendental e completamente irracional. O homem é dominado pela geração de dinheiro, pela aquisição como propósito final da vida. A aquisição econômica não mais está subordinada ao homem como um meio para a satisfação de suas necessidades materiais. Essa inversão daquilo que chamamos de relação natural, tão irracional de um ponto de vista ingênuo, é evidentemente um princípio guia do capitalismo, tanto quanto soa estranha para todas as pessoas que não estão sob a influência capitalista.

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Estava aberto o caminho para a busca do lucro, para o progresso material, para o desenvolvimento capitalista.

lembrete

Lembre-se que o capitalismo, enquanto modo de organização da produção que se opõe ao feudalismo, é fruto de uma construção e evolução histórica.

O garoto empreendedor que criou o Facebook9

Quem poderia imaginar que um estudante de 19 anos pudesse tornar-se bilionário, em cinco anos, com um site de relacionamento criado sem maiores pretensões, que era quase um brinquedo? Para surpresa do mundo, esse é exatamente o caso de Mark Zuckerberg, o fundador do Facebook. “Tudo começou em 2004, quando eu era aluno da Universidade de Harvard. Eu não tinha a menor ideia de que o Facebook seria um sucesso mundial ao lançar o site de relacionamento, que era pouco mais do que um brinquedo, mas que hoje tem mais de 250 milhões de usuários, 70% deles fora dos Estados Unidos”, conta Zuckerberg, que, além de criador, é o executivo principal (CEO) da empresa.

saiba mais

Você pode encontrar informações importantes sobre empreendedorismo no site do Sebrae (<http://www.sebrae.com.br>. Acesso em: 23 mar. 2011). Lá estão disponíveis dados sobre os mais diversos setores, bem como sobre procedimentos para se abrir um negócio próprio. Também poderá localizar o Sebrae mais perto em sua cidade e contar, pessoalmente, com o auxílio de consultores treinados para a abertura de novos negócios ou para negócios já existentes.

Aceite nossa sugestão e veja o filme A rede social. Dir. David Fincher, 117 minutos, 2010. Ele narra a história da criação do Facebook, dando ênfase especial à capacidade de criação, de inventividade e de empreendedorismo dos jovens no século XXI.

Para refletir

Vamos pensar um pouco mais?

Importante tópico para discussão acerca dos novos empreendimentos, da busca de novos mercados e de lucros crescentes, é o caso das incubadoras de negócios. Para Medeiros (1995), os polos

9Disponível em: <http://www.ethevaldo.com.br/Generic.aspx?pid=1239>. Acesso em: 1º nov. 2010.

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científico-tecnológicos, ou polos tecnológicos, resultam de quatro componentes: universidades ou institutos de pesquisa especializados em pelo menos uma inovação tecnológica; aglomerado de empresas do mesmo ramo; projetos de inovação tecnológica apoiados pelo governo e estrutura organizacional facilitadora da troca de informações entre empresas, academia e governo.

As empresas que participam dos polos tecnológicos, as chamadas empresas de base tecnológica, aproveitam os recursos humanos, os laboratórios e os equipamentos que são pertencentes às instituições de ensino. Trata-se de creche ou incubadora de empresas, que abriga os inovadores até superarem as barreiras administrativas, técnicas e mercadológicas (Medeiros, 1995) na obtenção de produtividade e de competitividade que será medida não só via preço, mas também por um conjunto de fatores, como organização da produção, qualidade dos produtos, capacidade técnica e adaptabilidade às condições sociais de trabalho (CANO, 1995).

O papel central desses polos tecnológicos é o de aproximar as relações tecnológicas, tanto no âmbito nacional quanto no internacional. Não são criados por decreto, mas podem decorrer do estímulo do governo e da comunidade científica. Também resultam do interesse dos empreendedores pelo novo segmento, desejosos de aproveitar as facilidades das novas tecnologias de comunicação e do menor tamanho das empresas. Nesse sentido, ressalta Cano (1995),

representam novos espaços, onde as empresas de base tecnológica crescem e se consolidam. Trata-se de um grupo industrial novo, cujas necessidades locacionais tendem a ser diversas das existentes nas indústrias antigas.

Considere agora o proposto a seguir:

Situação – Uma incubadora de empresas busca oferecer às pequenas empresas apoio estratégico durante os primeiros anos de existência. As primeiras incubadoras de empresas surgiram no Brasil na década de 1980 e, desde então, o seu número vem crescendo sensivelmente. Segundo dados da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologia Avançada (Anprotec), existem hoje cerca de 150 incubadoras espalhadas pelo Brasil, número que mal chegava a 10 em 1991. Estima-se em cerca de 1.100 o número de empresas residentes nessas incubadoras, o que representa a geração de aproximadamente 6.100 novos empregos. Basicamente, o objetivo de uma incubadora é reduzir a taxa de mortalidade das pequenas empresas. Para isso, as incubadoras oferecem um ambiente flexível e encorajador, em que é disponibilizada uma série de facilidades para o surgimento e crescimento de novos empreendimentos, a um custo bem menor que o de mercado, na medida em que esses custos são rateados e, às vezes, subsidiados. Outra razão para a maior chance de sucesso de empresas instaladas em uma incubadora é que o processo de seleção capta os melhores projetos e seleciona os empreendedores mais aptos, o que naturalmente amplia as possibilidades de sucesso dessas empresas10.

Proposta: pelo descrito no texto da situação, bem como pelo apresentado anteriormente, quais seriam as formas ideais de apoio das incubadoras às pequenas e médias empresas?

10Adaptado de texto disponível em: <http://www.e-commerce.org.br/incubadoras.php>. Acesso em: 1º nov. 2010.

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Leia o texto a seguir.

Situação: concorrência entre celulares inteligentes aperta em 2010, dizem analistas11

A expansão na demanda por celulares inteligentes novos e mais baratos ajudou a alimentar uma recuperação no mercado de celulares, como um todo, no final do ano passado, mas a rivalidade por uma participação nesse lucrativo negócio será feroz em 2010, com a chegada de muitos fabricantes novos ao mercado.

“O mercado de celulares inteligentes [smartphones] será muito competitivo em 2010”, disse o analista Neil Mawston, do grupo de pesquisa Strategy Analytics (SA). “A guerra dos celulares inteligentes será boa notícia para os consumidores, mas a feroz competição inevitavelmente pressionará os preços e as margens de lucro dos produtores”, disse ele.

Os grupos sul-coreanos Samsung Electronics e LG Electronics, segundo e terceiro maiores fabricantes mundiais de celulares, planejam elevar fortemente suas vendas – muito baixas no segmento de celulares inteligentes – enquanto novos concorrentes, como Huawei e Dell, reforçam suas linhas.

Proposta: seria possível imaginar tal situação no ambiente da Europa pré-capitalista?

4 o ProcEsso DE INDUstrIAlIZAção

Observe o gráfico e a tabela a seguir. O gráfico 1 mostra, em termos mundiais, o comportamento dos setores agropecuário, industrial e de serviços. A tabela 2 indica a distribuição da população brasileira por setor da economia.

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80

60

40

20

0

1800 1900 2000

Primário

Terciário

Secundário

Gráfico 1 – Setores da economia

11Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u687574.shtml>. Acesso em: 1º nov. 2010.

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Distribuição dos trabalhadores brasileiros pelos setores da economia (em %)

AnoSetor 1950 1960 1970 1980 1991 2000

Primário 60,7 54,2 44,2 29,9 23,2 20,6

Secundário 13,1 12,7 17,8 24,4 23,8 20,0

Terciário 26,2 33,1 38,0 45,7 53,0 59,4

Fonte: IBGE. Anuário estatístico do Brasil: 2001. Rio de Janeiro: IBGE, 2003.Tabela 2 – População brasileira por setor da economia

Os setores são o resultado da divisão da economia. Para essa divisão, são utilizados os critérios de produtos produzidos e os modos de produção associados a essa produção.

O setor primário reúne a produção realizada por meio da exploração dos recursos da natureza. Assim, o setor primário envolve a agricultura, a mineração, o extrativismo vegetal e a pecuária. Como você pode perceber, é o setor responsável pela matéria-prima que será utilizada pela indústria. Ter uma economia baseada em grande parte no setor primário representa riscos porque, em primeiro lugar, é o setor que produz mercadorias que agregam menos valor; em segundo, é um setor que depende das condições naturais para que possa se desenvolver; em terceiro, é o setor mais vulnerável à flutuação de preços nos mercados internacionais, já que normalmente envolve commodities.

O setor secundário é o da indústria, setor de transformação, responsável pela produção de todos os produtos industrializados que consumimos. Geralmente, uma proporção elevada de participação do setor secundário em um país revela desenvolvimento econômico, já que a exportação dos produtos industrializados é favorecida pelo elevado valor agregado que esses produtos costumam apresentar.

O setor de serviços, que pertence ao setor terciário, corresponde à produção dos bens intangíveis sobre os quais já falamos anteriormente: serviços de educação, saúde, bancários, comerciais, entre outros. Costumamos distinguir, nesse setor, três subáreas: a) o terciário inferior, que representa o comércio varejista e o serviço doméstico; b) o terciário superior, que indica os serviços de bancos e seguros, ou seja, que envolvem maior nível técnico; e c) o terciário tecnológico, que abarca serviços tecnológicos e de ensino. é evidente que, quanto maior o setor de serviços de uma economia, mais desenvolvida e aparelhada ela é do ponto de vista tecnológico.

lembrete

Note que há elevada interdependência entre os setores. Cada um deles, para poder bem funcionar, depende do bom desempenho dos outros. Ademais, há transferência de produção de um para outro.

O que os quadros exibem? O gráfico 1 mostra que o setor primário vem caindo em termos de participação desde o século XIX. Também revela que o setor secundário cresceu até a década de 1960, perdendo importância a partir dessa data. Em contrapartida, percebe-se que o setor de serviços

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vem crescendo cada vez mais. A tabela 2 repete, com algumas poucas diferenças, a situação descrita anteriormente. Observa-se no Brasil a diminuição da participação do setor primário e a transferência do setor secundário, em termos de importância, para o setor terciário, que vem crescendo de forma consistente e sistemática.

Parece razoável, então, imaginarmos que em algum momento do nosso passado, o processo de industrialização foi ganhando o espaço antes reservado à agricultura e às outras atividades extrativas. O período em que esse processo efetivamente teve início, e a partir do qual se desenvolveu, é aquele que corresponde ao final do século XVIII até o século XIX. Nesse momento, embora as velhas estruturas fabris continuassem a conviver com modernas técnicas produtivas (e isso aconteceria por um bom tempo), grandes invenções revolucionavam a indústria: máquina de fiar, tear mecânico, máquina a vapor, lançadeira volante, patentes para técnicas diversas de fundição, bombeamento de minas e obras hidráulicas. Todas essas inovações transformariam as atividades das indústrias de lã e siderurgia, embora em algumas áreas o trabalho ainda ocorresse em pequenas firmas que empregavam poucos trabalhadores (nessas, o empregador não era o grande capitalista, mas o empreiteiro intermediário). A manutenção desses padrões de indústria domiciliar, inclusive, significaria demora na consagração de um caráter homogêneo da classe trabalhadora, ora envolvida nos processos produtivos das grandes indústrias, ora ainda vinculada aos sistemas dos ofícios e pequenas unidades produtoras.

A Revolução Industrial pode ser descrita como “uma série contínua de transformações que perdurou além mesmo do século XIX, em vez de ser descrita como uma modificação feita de uma só vez” (DOBB, 1987, p. 269).

observação

é importante salientar que não se deve cometer o erro de entender a Revolução Industrial como algo que tenha ocorrido de repente, em determinada data, a partir dali tudo se modificando.

é claro que, “uma vez vinda a transformação crucial, o sistema industrial embarcou em toda uma série de revoluções na técnica de produção, como traço notável de uma época do capitalismo amadurecido” (idem, p. 270). Afinal, as invenções acarretavam especialização do trabalho que, assim dividido, possibilitava inovações. Em resumo, podemos descrever a Revolução Industrial como um processo cumulativo e irreversível em termos de produtividade, concentração da produção, acumulação e propriedade do capital.

Por que ela ocorre inicialmente na Inglaterra? Muitos são os fatores: o país havia enriquecido enormemente com o comércio e a pirataria, e a riqueza encontrava-se distribuída entre a burguesia comercial. Além disso, o cercamento das terras transformara o que antes era feudo ancestral em fonte de retorno, em recurso de produção, e foi a forma como “a Inglaterra ‘racionalizou’ sua agricultura e finalmente escapou da ineficiência do sistema manorial tradicional” (HEILBRONER e MILBERG, 2008, p. 67). Ainda, com a expulsão dos arrendatários e camponeses, o cercamento acabaria por fornecer a mão de obra para as fábricas e manufaturas, bem como os consumidores para os produtos então fabricados

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e colocados à venda. De fato, além do extraordinário desenvolvimento na ciência e na engenharia que tem lugar na Inglaterra, outra série de fatores ainda pode explicar a origem da Revolução Industrial ali:

alguns são tão fortuitos quanto os imensos recursos das minas de carvão e ferro existentes em solo inglês; outros tão propositais quanto o desenvolvimento de um sistema nacional de patentes que, de forma deliberada, estimulou e protegeu o próprio ato de inventar. Iniciada a revolução, ela se autoalimentou. As novas técnicas (em especial na indústria têxtil) simplesmente acabaram com a concorrência do fabrico artesanal no mundo, aumentando assim de forma inimaginável os próprios mercados (idem, p. 83).

saiba mais

Os filmes Elizabeth, Dir. Shekhar Kapur, 125 minutos, 1998, e Elizabeth, a era de ouro, Dir. Shekhar Kapur, 114 minutos, 2007 são sugestões excelentes sobre o assunto. Em ambos é tratada a questão religiosa na Inglaterra, bem como são retratados os esforços para que o país alcançasse o crescimento e a riqueza por meio das ações de um poder central: a rainha.

Sobre esse período, há farta documentação: “o século da imprensa ao alcance de todos e da disseminação quase universal da alfabetização nos legou fontes documentárias de uma abundância até agora superior à de qualquer outro século anterior” (DOBB, 1987, p. 257), embora a complexidade da sociedade e do mundo resultantes da Revolução Industrial introduzam dificuldades imensas ao trabalho do historiador econômico. De forma resumida, aquele seria o século em que se organizariam estruturas sociais bastante específicas, a população aumentaria (principalmente em função da queda da mortalidade resultante das melhorias nas técnicas de saúde pública), o mercado se expandiria por meio da divisão do trabalho e dos acréscimos na produtividade, as invenções transformariam as cidades e a produção.

O desenvolvimento científico também era notável e as sociedades destinadas ao culto e transmissão do saber se espalhavam por toda a Europa. Embora, durante muito tempo, tenha prevalecido na história econômica geral certa “leitura” que manteve indústria e universidade em esferas distintas, algumas evidências apontam para a existência de uma estreita relação entre elas, em especial na Inglaterra, “local de um entusiasmo peculiar pela ciência e engenharia” (idem, p. 83): será lá, por exemplo, que surgirão a Royal Society (presidida por Isaac Newton) e a Philosophical Society of Edinburgh, inaugurada em 1737, e que tinha entre seus mantenedores e membros vários grandes proprietários de terra. Afinal, “não menos importante foi o entusiasmo da aristocracia inglesa da terra pela agricultura científica: os donos de terra ingleses deixaram claro um interesse em questões como rotatividade das colheitas e fertilizantes” (ibidem).

Quanto ao perfil das instituições bancárias naquele instante, temos duas interpretações distintas: uma, que privilegia o papel da atividade bancária comercial; outra, que reconhece a importância das

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operações financeiras dos bancos, especialmente no tocante às operações de crédito para industriais e empresários. De qualquer forma, deve-se reconhecer: não havia ainda o conceito dos bancos como agentes para captação de poupança e recursos com o objetivo explícito de agenciar fundos para investimentos. O capital era acumulado e as indústrias cresciam, mas isso ocorria porque os salários eram mantidos em patamares extremamente baixos e porque “agricultores donos de terra e fabricantes prósperos (apesar de toda sua ostentação) foram, sem dúvida, poupadores importantes, que abriram caminho para que quantias substanciais fossem colocadas em mais e novos investimentos de capital” (idem, p. 95).

Entre 1775 e 1875, o mundo experimentou um “vasto boom secular”, caracterizado por progresso econômico, embora desigual se comparados países ou mesmo diferentes setores industriais. Os trabalhadores passaram a se concentrar num só lugar, a fábrica; o processo de produção transformou-se em coletivo; o trabalho passou a ser meio mecânico, meio humano. Do operário não era mais esperada vontade própria ou aptidão especial (como nos velhos tempos, em que a ferramenta era passiva nas mãos do trabalhador), mas tão somente a destreza e obediência às exigências das máquinas. Também, segundo Dobb (1987, p. 262),

era agora necessário capital para financiar o equipamento complexo requerido pelo novo tipo de unidade de produção; e criara-se um papel para um tipo novo de capitalista, não mais apenas como usuário ou comerciante em sua loja ou armazém, mas como capitão de indústria, organizador e planejador das operações da unidade de produção, corporificação de uma disciplina autoritária sobre um exército de trabalhadores que, destituídos de sua cidadania econômica, tinham de ser coagidos ao cumprimento de seus deveres onerosos a serviço alheio pelo açoite alternado da fome e do supervisor do patrão.

saiba mais

Sobre o assunto, veja o filme Tempos modernos. Dir. Charles Chaplin, 87 minutos, 1936. Obra-prima de Chaplin, o filme mostra, com humor e elegância, a submissão do homem à máquina por causa do processo de industrialização. é um clássico imperdível!

As invenções se entrelaçavam com as necessidades prementes das indústrias e, impulsionadas pelo espírito prático e comercial dos capitalistas, mudavam a feição da economia e das estruturas sociais. O aumento populacional e a crescente proletarização tornariam a força de trabalho não apenas uma mercadoria, mas uma mercadoria disponível e disposta a se empregar em troca de salários que permitissem a sobrevivência, mesmo que em condições não exatamente favoráveis. Os cercamentos de terra e o êxodo da população rural também engrossariam as fileiras de trabalhadores dispostos a se empregar nas grandes indústrias e, posteriormente, as invenções que economizam tempo e trabalho já superavam a expansão do exército proletário. A acumulação do capital, portanto, excedia o crescimento da oferta de trabalho.

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O uso intensivo nas fábricas de maquinário – resultado de um incessante processo de inovação tecnológica – e a expansão de uma classe trabalhadora, explorada e assalariada, configuravam uma crescente atividade econômica já bem distante da economia comercial e mercantil dos séculos XVII e XVIII. Nada nesse novo mundo parecia justificar algo além de um profundo e imenso pessimismo em relação ao “progresso” da sociedade e à “evolução” da humanidade (pessimismo esse visível nas obras de Malthus e Ricardo), mas alguns viam no cenário oitocentista motivos para otimismo e esperança de dias melhores e de um futuro mais promissor.

saiba mais

Sugerimos a leitura das obras de Charles Dickens. O autor, de forma magnífica, soube mostrar a Inglaterra pobre e miserável do século XIX. Entre seus livros recomendamos Tempos difíceis e Oliver Twist. Este último, com o mesmo nome, foi transformado em filme. Dir. Roman Polanski, 130 minutos, 2005.

Ao mesmo tempo em que as degradadas e imundas cidades inglesas viam circular trabalhadores esfomeados e que viviam em condições totalmente insalubres, ao mesmo tempo em que pensadores e a elite empresarial discutiam o terrível futuro que aguardava a humanidade (em especial, a fome resultante da explosão populacional e da escassez de terras aráveis e produtivas), outros pensadores e capitalistas buscavam alternativas que confirmassem a possível existência de um sistema social justo dentro (e a partir do) contexto de industrialização e da economia de mercado.

Numa época em que se transpirava a crença na ideia do progresso, essas alternativas podiam tanto incluir sonhos extravagantes quanto projetos – às vezes mais, outras menos – mirabolantes. Saint-Simon e seus seguidores pregariam a construção de uma pirâmide social em que se ganharia em função do trabalho útil para a sociedade. Fourier escreveria sobre as falanges, locais parecidos com hotéis, onde todos viveriam e “todos teriam que trabalhar, é claro, porém poucas horas por dia. Mas ninguém tentaria escapar do trabalho, porque cada qual estaria fazendo o que mais gostava” (HEILBRONER, 1996, p. 118).

Exemplos de iniciativas mais “pragmáticas” incluiriam, por exemplo, a fábrica de Nova Lanark, localizada nas redondezas de Glasgow, de propriedade de Robert Owen (1771-1858). Capitalista, Owen mostrava ojeriza ao uso do dinheiro e à propriedade privada (e esse ódio à propriedade privada também seria visível entre os seguidores de Saint-Simon) e, posteriormente, também proporia a criação das aldeias de cooperação, comunidades de pobres onde estes poderiam se tornar “produtores de riqueza se tivessem chance de trabalhar e seus hábitos sociais deploráveis podiam se transformar com facilidade em hábitos virtuosos sob a influência de um ambiente decente” (ibidem).

Finalmente, o pensamento econômico (entendido como a maneira pela qual o homem tenta compreender as relações de produção dentro dos processos de geração, distribuição e circulação de riqueza) refletiria essas transformações. Ou melhor, procuraria compreender e analisar a renda da terra, os salários, os lucros, as taxas de juros, as melhores formas de administrar a riqueza de uma nação.

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Não à toa, nasce nesse instante a economia política. Formada a partir das elucubrações dos filósofos europeus imersos no ambiente do Iluminismo, essa área do saber ganha status de ciência com as obras de Cantillon (Ensaio sobre a natureza do comércio, 1763) e Adam Smith (A riqueza das nações, 1776).

Os primeiros modelos econômicos dignos de tal nome apareceram na França a partir de 1758, nas obras dos fisiocratas. O Quadro econômico, de Quesnay, é considerado o primeiro modelo de fluxo de renda da história do pensamento econômico. O autor, curiosamente, era médico: sua teoria sobre fluxo da moeda trazia para o campo da atividade econômica as regras da circulação do sangue no corpo humano. O que acontecia no macrocosmo repetia-se no microcosmo, e a mesma ordem natural responsável por manter os planetas no céu também cuidaria da harmonia econômica terrestre. Até mesmo por inspiração dessas obras, e para com elas dialogar e se opor, Adam Smith (1723-1790) buscou sistematizar o conhecimento até então desenvolvido a respeito da riqueza.

observação

Smith transformou A riqueza das nações no primeiro manual de economia política que reunia desde a teoria do valor até os mais sofisticados conceitos de política comercial externa à época.

saiba mais

Se você quiser se aprofundar no assunto, sugerimos a leitura do texto A mão invisível de Júpiter e o método newtoniano de Smith, de Hugo E. A. da Gama Cerqueira. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/ee/v36n4/a01v36n4.pdf>. Acesso em: 23 mar. 2011.

Ainda que valorizado pela capacidade de sintetizar conceitos de outros autores, faltou originalidade a Smith em conceitos como o da divisão do trabalho e o das vantagens absolutas do comércio exterior.

é importante salientar que essas primeiras obras, ou da fisiocracia ou dos clássicos, surgem em oposição ao pensamento mercantilista então vigente. O mercantilismo dizia respeito às doutrinas preconizadas pelos Estados nacionais em relação à origem da riqueza, bem como às melhores condutas para a expansão econômica e militar. Para os mercantilistas, a origem da riqueza estava no acúmulo de ouro e prata. Com as exportações, conseguia-se metal; as importações, ao contrário, significavam o envio de metal para outras nações. Como uma determinada nação poderia conseguir esse superávit? Quanto mais poderosa ela fosse, quanto mais rotas comerciais estivessem sob o seu domínio, quanto maior a dependência de suas colônias em relação à metrópole, tanto maiores seriam as possibilidades de acumular ouro e prata (BRUE, 2006).

é claro que essa política requeria um Estado forte. Também necessitava do espírito nacionalista e de um conjunto de instituições militares capazes de dar conta da ação expansionista. Segundo Brue (2006, p. 14),

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“armadas poderosas e frotas mercantes eram um requisito absoluto”. Um governo centralizado bastante forte era outra exigência: fazia-se necessário um controle governamental rigoroso para dar conta das políticas e das metas mercantilistas, esse controle tornando-se visível através da concessão de monopólios, da edição de leis protecionistas e da elaboração e fiscalização de normas que regulamentassem a produção e a distribuição de mercadorias. As importações eram rigorosamente controladas, quando não proibidas, e a fixação de preços dos produtos nacionais no mercado interno obedecia às exigências da política mercantilista. Pedágios, impostos e regulamentações eram instrumentos de ação do Estado, tendo em vista o acúmulo de metal. “Os mercantilistas não eram a favor do livre-comércio interno, no sentido de permitir às pessoas se envolverem em qualquer comércio que desejassem. Pelo contrário, preferiam concessões de monopólio e privilégios comerciais exclusivos, sempre que pudessem obtê-los” (idem, p. 15).

Em oposição ao mercantilismo, os fisiocratas combaterão as práticas mercantilistas. A oposição ocorre principalmente em relação ao excesso de regulamentação e de normatização representado pela ação governamental, tão necessário para pôr em prática a política expansionista e acumuladora de metal precioso. São os fisiocratas que introduzirão (ao menos no campo econômico) a ideia de ordem natural. Até por influência da mecânica newtoniana, acreditava-se numa ordem da natureza que se responsabilizaria por manter tudo em equilíbrio. A oposição ardorosa à regulamentação e intervenção do Estado na economia explica o lema fisiocrata: laissez-faire, laissez-passer (deixe fazer, deixe passar). Portanto,

os governos nunca deveriam estender sua interferência nos assuntos econômicos além do mínimo absolutamente essencial para proteger a vida e a propriedade e para manter a liberdade de adquirir. Assim, os fisiocratas se opunham a quase todas as restrições feudais, mercantilistas e governamentais, favorecendo a liberdade do comércio interno, bem como o livre-comércio exterior (idem, p. 35).

Finalmente, é importante salientar a importância que a agricultura tem no pensamento fisiocrático: é ela a responsável pela produção de riqueza através da geração de excedente, sendo o comércio e a indústrias estéreis, apesar de úteis.

São os pensadores clássicos que irão consagrar uma forma de “ler” economia diferente da de seus antecessores. As preocupações desses primeiros glosadores podem, de acordo com os historiadores do pensamento econômico, resumir-se a três categorias: produção, distribuição e circulação de riqueza. Consolidou-se, também a partir da escola clássica, a concepção de uma riqueza nacional como decorrência evidente da própria consolidação do Estado burguês na Europa oitocentista. O debate sobre a origem e a natureza do valor, por outro lado, fechou questão na tese ricardiana do valor-trabalho incorporado. Os principais pensadores dessa escola foram, além do já citado Ricardo, Jean-Baptiste Say e Thomas Malthus. Segundo Brue (idem, p. 49),

a doutrina clássica é geralmente chamada de liberalismo econômico. Suas bases são liberdade pessoal, propriedade privada, iniciativa individual, empresa privada e interferência mínima do governo. O termo liberalismo deve ser considerado em seu contexto histórico: as ideias clássicas eram

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liberais, em contraste com as restrições feudais e mercantilistas sobre a escolha de profissões, transferências de terra, comércio e assim por diante.

Entre os principais pressupostos clássicos, destacam-se a interferência mínima do Estado na economia, o comportamento econômico individual baseado no autointeresse (e as ideias de Smith contidas em Teoria dos sentimentos morais são modelares dessa forma de pensar) e a busca por leis explicativas que pudessem dar conta dos fatos econômicos. Também é importante ressaltar que, para os clássicos, não é apenas a agricultura que pode criar riqueza: a origem desta se encontra em todos os ramos da atividade econômica.

Adam Smith (1723-1790) é o precursor dos autores clássicos, inclusive por estabelecer um padrão de análise que seria reproduzido por seus sucessores (o sumário de A riqueza das nações, sua principal obra, é seguido quase à risca nos escritos de Malthus e Ricardo). Para ele, a riqueza de uma nação é medida pela produção total anual de um país que será consumida por um determinado número de pessoas. Portanto, a riqueza é dada pela relação entre a produção anual e a população. O que gera a riqueza é a divisão do trabalho, e o processo gerador da riqueza só encontra limites no tamanho do mercado; quer dizer, a divisão do trabalho continuará ocorrendo até o limite das possibilidades do tamanho do mercado. Para Smith, outra característica é fundamental para a compreensão do sistema econômico: a tendência ao equilíbrio natural, tal como pode ser observado na natureza física. Ele resulta do comportamento egoísta que, voltado para o bem-estar individual, acaba por gerar o bem-estar social. Como isso ocorre?

saiba mais

Sobre a questão do autointeresse, sugerimos a leitura do texto A fábula das abelhas: vícios privados, benefícios públicos, de Eduardo Gianetti da Fonseca, disponível em: <http://pt.braudel.org.br/publicacoes/braudel-papers/05.php>. Acesso em: 23 mar. 2011.

Para Smith, se cada agente buscar seu próprio interesse, terá que considerar o interesse do outro: seria o exemplo de um comerciante que acaba por diminuir o preço de sua mercadoria se os clientes optam por outro comerciante que venda mais barato. Ainda, a busca do progresso individual, motivada pelo autointeresse, traria o crescimento das cidades, o aumento da eficiência econômica e o acúmulo da riqueza material.

Smith seria, então, responsável pela tentativa de compreensão do sistema econômico como um todo, particularmente no que diz respeito à alocação de recursos para os fatores de produção, aos mecanismos de autorregulação do mercado e ao modelo de crescimento. Segundo Heilbroner e Milberg (2008, p. 75),

Smith mostrou que o sistema de mercado é um processo autorregulador. A bela consequência de um mercado competitivo é que ele é seu próprio

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guardião. Se preços ou lucros saírem de seus níveis “naturais”, determinados pelos custos, haverá forças que os reconduzirão à linha. Surge, então, um paradoxo curioso. O mercado competitivo, que tem em seu ápice a liberdade econômica individual, é ao mesmo tempo o mais rígido supervisor econômico.

Alguns anos mais tarde, Jean Baptiste Say (1767-1832) desenvolveria algumas dessas ideias precursoras, porém, agregando à fundadora teoria do valor a questão do valor de uso e da utilidade. Considerando-se discípulo de Smith, levaria o conceito de equilíbrio natural do mercado a um patamar superior.

lembrete

Para Say, jamais haveria superprodução ou depressão. A economia de mercado tinha como característica o fato de a oferta criar sempre uma demanda da mesma magnitude.

Se o produtor, tomado individualmente, apenas produzia o que pudesse ser trocado pela produção de outro, isso “teria de ser verdade para os agregados da oferta e da demanda, quer dizer, a oferta agregada teria de ser igual à demanda agregada” (HUNT, 2005, p. 130). O mercado se equilibraria automaticamente, e esse mecanismo passou a ser chamado Lei de Say; contra essa lei, manifestaram-se alguns economistas: Bentham, Marx, Keynes e, antes deles, Malthus.

O foco de Thomas Malthus (1766-1834) é outro: o que o preocupa é a fome e a imensa miséria dos trabalhadores. Como consequência dos desenvolvimentos da Revolução Industrial, a acumulação do capital e da renda da terra se fazem a partir da apropriação do salário dos trabalhadores; assim, Malthus escreve sobre o momento do confronto dentro da elite econômica entre os interesses do capital agrário e do capital industrial, ainda nascente. Os proprietários de terra querem impostos altos de importação para os cereais para que possam praticar elevados preços internos. Os capitães de indústrias querem os cereais vendidos a preços menores para que não tenham que recompor os salários. Os pobres e miseráveis perdem, aos poucos, a parca ajuda financeira das paróquias.

Malthus analisa o crescimento populacional e o aumento da produção de alimentos e chega à seguinte conclusão: “não há como essa conta ’bater’. A população cresce a taxas geométricas, enquanto a produção de alimentos cresce a uma taxa aritmética”.

observação

Ideias não nascem sós: evidência disso é a série de estudos que vem sendo feita para investigar a relação entre as ideias de Malthus e as de Charles Darwin. Ambos partiram de uma mesma realidade e suas obras apresentam aproximações interessantes. Afinal, ambos buscaram compreender os processos de seleção natural e de sobrevivência da espécie humana.

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saiba mais

Se você quiser ler mais sobre o assunto levantado na Observação, sugerimos O conceito da natureza em a origem das espécies, de Anna Carolina K. P. Regner. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-59702001000400010&script=sci_arttext&tlng=pt>. Acesso em: 23 mar. 2011.

Os estudos de Malthus indicavam: em pouco tempo haveria milhões de esfomeados, a não ser que se pudesse contar com o providencial auxílio das guerras, das pragas e das pestes. Para Malthus, essa era a tendência natural da humanidade: “independentemente do êxito conseguido pelos reformadores, em suas tentativas de modificar o capitalismo, a atual estrutura de proprietários ricos e trabalhadores pobres reapareceria inevitavelmente” (HUNT, 2005, p. 69). Essa divisão de classes era, segundo Malthus, uma consequência inevitável da lei natural. Hunt (ibidem) cita Malthus: “parecia que, pelas leis inevitáveis da natureza, alguns seres humanos teriam de passar necessidade. Essas eram as pessoas infelizes que, na grande loteria da vida, tinham tirado um bilhete em branco”.

David Ricardo (1772-1823) compartilhava com Malthus essa visão de mundo. Discordava, porém, no restante: embora houvesse uma enorme amizade pessoal entre os dois, eram inimigos intelectuais. Ricardo concordava com a ideia de o crescimento populacional ser responsável pela “corrosão” salarial do trabalhador, sempre levando esse salário ao nível de subsistência. No entanto, Ricardo complementou a teoria de renda da terra malthusiana.

Para Ricardo, “o preço dos cereais, em relação ao preço das mercadorias industrializadas, era regulado pela tendência do trabalho e do capital, quando empregados em terras cada vez menos férteis, a produzir cada vez menos cereais” (idem, p. 87). Quer dizer, eram as terras menos férteis que determinavam a renda das terras mais férteis.

As ideias desses fundadores das ciências econômicas são ainda debatidas e analisadas à exaustão: do tempo em que a economia política buscava por um estatuto de ciência que a diferenciasse da filosofia moral, as obras desses autores ainda trazem as marcas – indeléveis – de um período em que juízo moral e ciência podiam – e deviam – estar próximos.

Você sabia?

A seguir, citamos três trechos pinçados de obras de três estudiosos e escritores de peso.

Ao contrário do que se imagina, a Revolução Industrial não correspondeu a invenções técnicas que fossem fruto de desenvolvimentos científicos notáveis. Na verdade, segundo Hobsbawm, em A era das revoluções (p. 22),

suas invenções técnicas foram bastante modestas, e sob hipótese alguma estavam além dos limites de artesãos que trabalhavam em suas

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oficinas ou das capacidades construtivas de carpinteiros, moleiros e serralheiros: a lançadeira, o tear, a fiadeira automática. Nem mesmo sua máquina cientificamente mais sofisticada, a máquina a vapor rotativa de James Watt (1784), necessitava de mais conhecimentos de física do que os disponíveis então havia quase um século (...) e podia contar com várias gerações de utilização prática de máquinas a vapor, principalmente nas minas.

Já Adam Smith, usando o exemplo de uma fábrica de alfinetes, mostrou, em A riqueza das nações, como a divisão de trabalho gerava riqueza por meio do aumento da produtividade:

Um operário desenrola o arame, outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto faz as pontas, um quinto o afia nas pontas para a colocação da cabeça do alfinete; para fazer uma cabeça de alfinete requerem-se três ou quatro operações diferentes; montar a cabeça já é uma atividade diferente, e alvejar os alfinetes é outra; a própria embalagem dos alfinetes também constitui uma atividade independente. Assim, a importante atividade de fabricar um alfinete está dividida em aproximadamente 18 operações distintas, as quais, em algumas manufaturas, são executadas por pessoas diferentes, ao passo que, em outras, o mesmo operário às vezes executa duas ou três delas. (...) Se, porém, tivessem trabalhado independentemente um do outro, e sem que nenhum deles tivesse sido treinado para esse ramo de atividade, certamente cada um deles não teria conseguido fabricar 20 alfinetes por dia, e talvez nem mesmo 1.

A substituição crescente da mão de obra por maquinário gerava desemprego, e a revolta era de tal monta que, ao final do século XVIII e nos primeiros anos do século XIX era comum ocorrerem invasões de fábricas por hordas de trabalhadores. Conforme afirma Heilbroner (1996, p. 102-3), “fábricas destruídas espalhavam-se pelo campo, e a cada uma o comentário era ‘Ned Ludd passou por aqui’. O boato era que um rei Ludd ou um general Ludd estava dirigindo as atividades da turba. Não era verdade, claro. Os luddites, como eles eram chamados, inflamavam-se pelo puro e espontâneo ódio às fábricas, que viam como prisões, e ao trabalho assalariado, que desprezavam. (...) Para a maior parte dos observadores (...), as classes baixas estavam escapando do controle e era preciso agir severamente para acabar com a situação. E, para as classes altas, aqueles acontecimentos pareciam indicar que um violento e terrificante Armageddon se aproximava”.

Resumo

Antes que você faça os exercícios, vamos relembrar os pontos mais importantes já discutidos até agora.

Como área do conhecimento, a economia surge simultaneamente à formação da economia de mercado e à formação dos Estados nacionais.

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A economia estuda as formas por meio das quais a sociedade utiliza recursos escassos e finitos para atender às necessidades ilimitadas.

Chamamos de fatores de produção os recursos terra, trabalho, capital, tecnologia e capacidade empresarial. A terra é remunerada pelo aluguel, o trabalho pelo salário, o capital pelos juros, a tecnologia pelos direitos de propriedade e a capacidade empresarial pelos lucros.

Aos economistas são atribuídas as respostas às perguntas o quê e quanto, como e para quem produzir os bens e serviços necessitados pela sociedade.

Os serviços são intangíveis e os bens são tangíveis. Os bens (livres ou econômicos) podem ser classificados em bens de consumo (duráveis ou não duráveis), intermediários e de capital.

Bens e serviços são produzidos no fluxo circular do produto, que tem correspondente no fluxo circular de renda.

A atividade econômica se organiza sob a forma da livre iniciativa, sob a forma centralizada ou, o que é mais comum, sob a forma mista.

A economia de mercado surge como resultado da degradação do feudalismo; assim, são importantes os aspectos relacionados às Cruzadas, ao processo de urbanização, à formação dos Estados nacionais e às explorações marítimas.

No mundo em que vivemos, o empreendedorismo é vital para o sucesso no mundo dos negócios. No entanto, não nascemos empreendedores: essa competência se torna importante a partir de determinadas condições históricas.

A Reforma Protestante trouxe o código de ética necessário para o mundo surgido a partir da degradação do feudalismo. Assim, trouxe a ética que resultaria das transformações ocorridas com a Revolução Industrial.

A respeito desse novo mundo, Adam Smith, J. Baptiste Say, David Ricardo e Thomas Malthus escreveriam suas obras fundadoras: os textos clássicos da economia.

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Exercícios

Questão 1. “O que levou as panificadoras a funcionarem por 24 horas? O que levou postos de combustíveis a oferecerem serviços de conveniência? O que levou uma empresa a criar pizzas refrigeradas para serem aquecidas no aparelho de micro-ondas? O que será que levou uma empresa de chocolate a colocar um brinquedo dentro de um doce em formato de ovo?” (SANT’ANNA, s. d.).

As características empreendedoras imprescindíveis para a concretização dessas iniciativas inovadoras foram:

I - Habilidade em buscar informações e conhecimentos.

II - Propriedade de capital próprio, suficiente para o empreendimento.

III - Propensão à iniciativa.

IV - Sensibilidade para correr riscos calculados.

V - Ser jovem, forte e cheio de energia.

Assinale a alternativa que contém as afirmativas corretas:

A) I, III e IV.

B) III e V.

C) Todas as afirmativas estão corretas.

D) I e III.

E) I, II e III.

Resposta correta: alternativa A.

Análise das afirmativas:

Afirmativa I: correta.

Justificativa: as atitudes que estão relacionadas ao empreendedorismo e, mais especificamente, à habilidade em buscar informações, são aquelas que dizem respeito ao bom acompanhamento de mercado, à proximidade com o cliente, ao conhecimento do seu negócio e à prontidão para investigar novas oportunidades. Também é fundamental pedir, quando necessário, orientação junto aos especialistas sobre o seu negócio e o seu mercado.

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Afirmativa II: incorreta.

Justificativa: ter o dinheiro como o fator mais importante para montar uma empresa é um mito, pois, se as outras peças e o talento estão no lugar, o dinheiro virá. O dinheiro é como o pincel e a tinta para um pintor: nas mãos certas produzem maravilhas.

Afirmativa III: correta.

Justificativa: a propensão à iniciativa permite agir proativamente, buscar novas oportunidades e aproveitar outras que sejam fora do comum, com um comportamento de aceitação de riscos.

Afirmativa IV: correta.

Justificativa: sensibilidade para correr riscos calculados inclui avaliar alternativas e oportunidades. Também inclui uma boa gestão de resultados e a aceitação de desafios desde que, claro, sejam avaliados os riscos.

Afirmativa V: incorreta.

Justificativa: a afirmativa de que empreendedores devem ser jovens e cheios de energia é um grande mito. Essas qualidades podem ajudar, mas idade não é barreira. O que é essencial é possuir conhecimento relevante, experiência e contatos que facilitem reconhecer e agarrar uma oportunidade.

Questão 2. “Quase 44% da renda dos brasileiros da classe D são gastos com despesas básicas, como alimentação, transporte e contas de consumo. Os números são da pesquisa feita pela Quorum Brasil com 400 paulistanos com renda familiar de até R$ 1.020. A alimentação é o tipo de gasto que possui maior peso nas despesas dessas famílias, representando 15,5% da renda. Em segundo lugar, aparecem as contas de água, luz, telefone e gás, que consomem 14,7% do salário. Ainda no primeiro grupo de prioridades no direcionamento dos recursos da família estão as despesas com transporte, para onde vão 13,3% do dinheiro.

Outras prioridades, depois dos gastos de primeira necessidade, são os gastos com cartão de crédito, que consomem 12,4% de sua renda, seguidos por moradia, aluguel e financiamento (11,9%), prestações em lojas (11,6%) e despesas com saúde e remédios (11,3%). Ao todo, esses gastos secundários somam 47,2% da renda das famílias da classe D.

As despesas com lazer e passeio aparecem apenas no terceiro grau de prioridade, consumindo, segundo os entrevistados, 9,2% do orçamento mensal.

A pesquisa “A Classe D e seus Desejos e Despesas” foi feita na cidade de São Paulo, em setembro de 2010, com homens e mulheres entre 25 e 50 anos de idade que trabalham e têm renda de até dois salários mínimos” (adaptado de RIBEIRO, 2010).

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Ao analisar a situação apresentada, pode-se relacioná-la, diretamente, com as afirmativas:

I - As empresas, em regimes capitalistas de produção, existem para satisfazer as necessidades de consumo da sociedade e, em segundo plano, para valorizar o capital investido.

II - Os consumidores precisam, dada sua renda escassa ou limitada, alocar de forma eficiente as suas categorias de despesas.

III - A Teoria da Firma procura estudar e responder como as empresas combinam a utilização dos fatores de produção necessários à criação de coisas úteis e o quanto gastam para produzir bens e serviços.

IV - A sociedade nem sempre obtém êxito na alocação adequada de seus esforços. Pode produzir carros e artigos de luxo, enquanto uma grande quantidade de pessoas necessita de produtos mais urgentes e socialmente prioritários.

V - A tecnologia tem aumentado a independência do homem em relação à satisfação de suas necessidades.

Assinale a alternativa que contém as afirmativas corretas:

A) I, II e III.

B) II e IV.

C) III e V.

D) I, II, III e V.

E) I, II, IV e V.

Resolução desta questão na Plataforma.