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 1 O PAPEL DO ENFERMEIR O EMERGENCISTA: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA THE ROLE OF THE NURSE EMERGENCY: A LITERATURE REVIEW EL PAPEL DE LA ENFERMERA SAL A DE EME RGENCIAS: A REVISIÓN DE LA LITERATURA Bárbara Fabrícia Silva¹ RESUMO Introdução: A atuação do enfermeiro na área de urgência e emergência pressupõe a aquisição de competências específicas, além da exposição a riscos prejudiciais à saúde física e psíquica desses profisisonais. Objetivos:  análise do papel do profissional de enfermagem de nível superior nos serviços médicos de emergência. Método:  O presente estudo consiste numa pesquisa bibliográfica que tem como objetivo principal caracterizar o papel do enfermeiro emergencista atualmente, visando aprofundar a reflexão sobre o tema. Para tanto, as autoras utilizaram artigos publicados nos últimos cinco anos, encontrados através de busca eletrônica. Posteriormente foi realizada uma leitura dos artigos selecionados e a categorização em áreas temáticas para a análise. Resultados: o cuidado de enfermagem no setor de emergência, na maioria das vezes, não é humanizado; a liderança de enfermagem depende não só do conhecimento do profissional responsável, mas também do apoio de toda a equipe de enfermagem e da instituição; a capacitação dos enfermeiros para o atendimento pré hospitalar é indispensável; o trabalho em equipe na emergência é muito importante devido à dinâmica do serviço, mas é um desafio para o responsável; os enfermeiros emergencistas estão sujeitos a sentimentos díspares; e, por fim, os profissionais de enfermagem emergencistas estão expostos a diversos riscos que podem ser evitados tanto pela instituição, como pelo próprio profissional. Palavras-chave: Enfermagem; Serviços Médicos de Emergência; Papel do profissional de enfermagem. ¹ Enfermeira graduada pela Universidade Federal de Juiz de Fora - MG, pós graduada em Enfermagem Intra e Pré Hospitalar pelas Faculdades Integradas de Jacarepaguá; Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Endereço eletrônico: barbara fabricia85@hotma il.com

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    O PAPEL DO ENFERMEIRO EMERGENCISTA: UMA REVISO BIBLIOGRFICA THE ROLE OF THE NURSE EMERGENCY: A LITERATURE REVIEW

    EL PAPEL DE LA ENFERMERA SALA DE EMERGENCIAS: A REVISIN DE LA LITERATURA

    Brbara Fabrcia Silva

    RESUMO

    Introduo: A atuao do enfermeiro na rea de urgncia e emergncia pressupe a aquisio de competncias especficas, alm da exposio a riscos prejudiciais sade fsica e psquica desses profisisonais. Objetivos: anlise do papel do profissional de enfermagem de nvel superior nos servios mdicos de emergncia. Mtodo: O presente estudo consiste numa pesquisa bibliogrfica que tem como objetivo principal caracterizar o papel do enfermeiro emergencista atualmente, visando aprofundar a reflexo sobre o tema. Para tanto, as autoras utilizaram artigos publicados nos ltimos cinco anos, encontrados atravs de busca eletrnica. Posteriormente foi realizada uma leitura dos artigos selecionados e a categorizao em reas temticas para a anlise. Resultados: o cuidado de enfermagem no setor de emergncia, na maioria das vezes, no humanizado; a liderana de enfermagem depende no s do conhecimento do profissional responsvel, mas tambm do apoio de toda a equipe de enfermagem e da instituio; a capacitao dos enfermeiros para o atendimento pr hospitalar indispensvel; o trabalho em equipe na emergncia muito importante devido dinmica do servio, mas um desafio para o responsvel; os enfermeiros emergencistas esto sujeitos a sentimentos dspares; e, por fim, os profissionais de enfermagem emergencistas esto expostos a diversos riscos que podem ser evitados tanto pela instituio, como pelo prprio profissional. Palavras-chave: Enfermagem; Servios Mdicos de Emergncia; Papel do profissional de enfermagem.

    Enfermeira graduada pela Universidade Federal de Juiz de Fora - MG, ps graduada em Enfermagem Intra e Pr Hospitalar pelas Faculdades Integradas de Jacarepagu; Mestre em Sade Coletiva pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Endereo eletrnico: [email protected]

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    INTRODUO

    O atendimento pr-hospitalar (APH) uma organizao recente como um servio

    de sade no Brasil, com incio na dcada de 90. Com as normalizaes do Ministrio da

    Sade, ganha fora a caracterizao do atendimento pr-hospitalar como um servio de

    responsabilidade da rea da sade, sob coordenao do profissional mdico, seguindo o

    modelo clnico de ateno sade, evidenciado pela implantao de protocolos

    assistenciais (Pereira et al, 2009).

    O reconhecimento da efetividade da assistncia precoce s pessoas em situao

    de emergncia resultou no surgimento de vrios servios de sade, pblicos e privados,

    de atendimento pr-hospitalar e de remoo inter-hospitalar (Gentil et al, 2008). A oferta

    restrita de servios faz com que o pblico excedente procure atendimento em locais que

    concentrem maior possibilidade de portas de entrada, sendo que os pronto atendimentos

    e as emergncias hospitalares correspondem ao perfil de atender s demandas de forma

    mais gil e concentrada (Marques et al, 2007).

    Esses locais renem um somatrio de recursos, quais sejam consultas, remdios,

    procedimentos de enfermagem, exames laboratoriais e internaes. As principais

    demandas aos servios de pronto atendimento correspondem a situaes graves e de

    risco para os pacientes, a queixas agudas que envolvem desconforto fsico e emocional, a

    necessidades pontuais caracterizadas como no urgentes, a busca de atendimento

    complementar ao recebido em outros servios de sade e ao vnculo com o pronto

    atendimento (Marques et al, 2007).

    O atendimento pr-hospitalar pode ser definido como a assistncia prestada em um

    primeiro nvel de ateno, aos portadores de quadros agudos, de natureza clnica,

    traumtica ou psiquitrica, quando ocorrem fora do ambiente hospitalar, podendo

    acarretar sequelas ou at mesmo a morte.

    Atualmente, no Brasil, o atendimento pr-hospitalar est estruturado em duas

    modalidades: o Suporte Bsico Vida (SBV) e o Suporte Avanado Vida (SAV). O SBV

    consiste na preservao da vida, sem manobras invasivas, em que o atendimento

    realizado por pessoas treinadas em primeiros socorros e atuam sob superviso mdica.

    J o SAV tem como caractersticas manobras invasivas, de maior complexidade e, por

    este motivo, esse atendimento realizado exclusivamente por mdico e enfermeiro

    (Wehbe et al, 2005).

    Assim, a atuao do enfermeiro est relacionada assistncia direta ao paciente

    grave sob risco de morte, mas no se restringe a esta. O enfermeiro, neste sistema, alm

    de executar o socorro s vtimas em situao de emergncia, tambm desenvolve

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    atividades educativas como instrutor, participa da reviso dos protocolos de atendimentos,

    da elaborao do material didtico, alm de atuar junto equipe multiprofissional na

    ocorrncia de calamidades e acidentes de grandes propores e ser o responsvel pela

    liderana e coordenao da equipe envolvida (Wehbe et al, 2005).

    Desde a insero da enfermeira no atendimento pr-hospitalar do Brasil, podem-se

    identificar mudanas e ampliao de sua atuao, na maior parte, ainda vinculadas

    estritamente aos aspectos assistenciais. A partir da dcada de 90, o profissional de

    enfermagem passa a ser um participante ativo da equipe, assumindo a responsabilidade

    pela assistncia prestada s vtimas, assim como os outros membros. A literatura indica

    que a prtica da enfermagem de emergncia est inteiramente ligada competncia

    clnica, desempenho, cuidado holstico e metodologia cientfica (Wehbe et al, 2005).

    Assim, entre as competncias importantes para o exerccio da prtica de enfermagem no

    atendimento pr-hospitalar esto o raciocnio clnico para a tomada de deciso e a

    habilidade para executar as intervenes prontamente2.

    O desenvolvimento desses servios culmina com a necessidade de profissional

    qualificado que atenda s especificidades do cuidado de enfermagem a ser realizado,

    durante o atendimento pr-hospitalar ou a remoo inter-hospitalar, com vistas

    preveno, proteo e recuperao da sade (Gentil et al, 2008).

    O atendimento pr-hospitalar tem sido objeto de ateno da sociedade como um

    todo, como se pode perceber atravs da mdia e, particularmente junto aos profissionais

    envolvidos nesse tipo de atendimento. Tambm os rgos governamentais tm se

    preocupado em organizar melhor esse tipo de ateno sade, tornando este modelo um

    debate constante em todos os meios (Ramos et al, 2005).

    Diante deste cenrio, a finalidade deste estudo contribuir para a compreenso do

    papel do enfermeiro no campo da urgncia e emergncia e das conseqncias e riscos a

    que esto expostos os enfermeiros emergencistas devido realizao de seu trabalho.

    Com isso, estaremos sugerindo atividades para aprimorar o servio de enfermagem na

    emergncia.

    O objeto de investigao deste trabalho a atuao do enfermeiro de nvel

    superior em urgncia e emergncia atualmente.

    METODOLOGIA

    Trata-se de uma reviso bibliogrfica de abordagem qualitativa. Neste estudo o

    caminho metodolgico escolhido partiu da definio do tema que O papel do

    enfermeiro emergencista: uma reviso bibliogrfica. Assim iniciou-se o levantamento das

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    fontes de dados. Numa primeira apreciao em busca eletrnica deu-se nfase s

    revistas especficas de enfermagem encontradas no portal peridicos CAPES. Foram

    priorizados artigos publicados nos ltimos cinco anos. A coleta de dados foi concluda em

    aproximadamente trs meses.

    Para compor o estudo, foram utilizados como descritores a enfermagem,

    atendimento pr-hospitalar, urgncia e emergncia pela Biblioteca Virtual em Sade.

    Os textos foram selecionados por sua pertinncia ao assunto, foram levados em

    considerao os que continham informaes sobre a enfermagem e o atendimento pr-

    hospitalar no Brasil. Para tanto, foram lidos e analisados os resumos de todas as obras

    encontradas e excludos aqueles que continham informaes consideradas no

    relevantes para o estudo em questo. No total foram utilizadas vinte e duas referncia

    bibliogrficas, sendo dezessete especficas para a composio dos resultados e

    discusso.

    Com o material selecionado seguiram-se as seguintes etapas: leitura,

    categorizao em reas temticas, redao, anlise e concluso da pesquisa

    bibliogrfica.

    Vale lembrar que o rigor cientfico foi respeitado em todas as fases da pesquisa.

    Alm disso, por ter como fonte primria referncias bibliogrficas, preocupou-se em todas

    as fases da pesquisa, com os direitos autorais.

    RESULTADOS E DISCUSSO

    Neste estudo analisamos vinte e um trabalhos cientficos que continham o objeto

    de pesquisa e, aps o devido tratamento, os mesmos foram categorizados em reas

    temticas, a saber: cuidado de enfermagem no atendimento pr-hospitalar, liderana de

    enfermagem no setor de emergncia, capacitao dos profissionais de sade em

    atendimento pr-hospitalar, trabalho em equipe no setor de emergncia, sentimentos dos

    enfermeiros emergencistas relacionados ao trabalho e riscos a que esto expostos os

    enfermeiros emergencistas.

    Na temtica cuidado de enfermagem no atendimento pr-hospitalar,

    demonstra-se que nas unidades de emergncia h uma ausncia de envolvimento

    emocional por parte dos profissionais de sade, gerando impessoalidade do cuidado e

    falta de humanizao no atendimento. Foi constatado que essa situao ocorre,

    principalmente, porque os profissionais de sade emergencistas, priorizam o atendimento

    centrado no modelo biomdico, em que a manuteno das condies vitais do paciente

    deve ser mantida e as demandas psicossociais dos pacientes e familiares so

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    desconsideradas. Assim, h um distanciamento do vnculo, do acolhimento e do

    relacionamento teraputico no somente com o prprio paciente, como tambm com sua

    famlia, desestabilizada com a situao.

    A comunicao exclusivamente verbal, utilizada somente para comunicar ao

    paciente os procedimentos que lhe sero realizados ou para tirar dvidas. No se sabe se

    a comunicao no verbal desconhecida ou se foi abolida da emergncia com o intuito

    de agilizar o atendimento, ou ainda, se foi ignorada, para evitar um maior contato com o

    sofrimento do cliente. Assim, a falta de uma comunicao mais adequada implica na

    inadequao do cuidado, em que h simplesmente uma rotina de procedimentos onde os

    funcionrios no conseguem atingir todo seu potencial.

    importante resgatar uma prtica de cuidado mais humanizado e acolhedor a

    pacientes e familiares nas unidades de emergncia e, para isso, qualquer gesto realizado

    pelo profissional de sade, por mais breve que seja, constitui alternativa para diminuir a

    aflio tanto do doente como dos membros de sua famlia. O vnculo, o acolhimento, o

    dilogo e o relacionamento teraputico so tecnologias que devem fazer parte da rotina

    de atendimento de tais profissionais.

    Como cada ser humano nico em sua forma de pensar, agir e reagir, cada um

    tambm apresenta suas necessidades prprias, sendo indispensvel compreender cada

    paciente na sua integralidade. Alm disso, imprescindvel reconhecer a presena dos

    familiares como clientes que necessitam de conforto, informao, respeito e, ainda,

    promov-los como auxiliares na recuperao do paciente.

    As relaes de cuidado nas unidades de emergncia so facilitadas atravs de

    atitudes e caractersticas exclusivamente humanas, por condies e aes tcnicas como

    a medicao e a realizao de exames diagnsticos e atravs dos momentos de dilogo

    entre o ser cuidado e o ser cuidador e a empatia, que viabilizam as trocas entre os seres

    de relao e de cuidado.

    A enfermagem considerada principal responsvel pela implantao e

    manuteno do suporte interpessoal embasado nos princpios do relacionamento

    teraputico durante o tratamento de seus pacientes. Vale lembrar que atravs da

    manuteno emptica, ntima, sistematizada e humanizada do prazer de viver das

    pessoas que poderemos garantir perspectivas de mudana de comportamentos, alvio do

    sofrimento imediato e reorientaes de condutas.

    Para desenvolver um cuidado inovador e humanizado nas unidades de emergncia

    no necessrio desconsiderar a suma importncia dos procedimentos tcnicos nas

    atividades da enfermagem para a qualidade do servio e para desenvolver o cuidado.

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    Pelo contrrio, necessrio aliar a competncia humanstica tcnico-cientfica, pois esta

    acompanha as atividades da enfermagem enquanto princpio da assistncia emergencial.

    Para tanto, interessante a elaborao de uma filosofia organizacional que venha a

    nortear e alinhar os inmeros aspectos que envolvem a humanizao e os princpios de

    viabilidade de sua concretizao prtica.

    Tambm vlida a busca pelos enfermeiros emergencistas da compreenso sobre

    o processo de cuidado em enfermagem, a partir da percepo dos que recebem os

    cuidados, inclusive para repensar a prpria prtica.

    importante ressaltar que, muitas vezes, devido realidade cotidiana em que se

    constroem as prticas de enfermagem, como sobrecarga de atendimento, escassez de

    recursos materiais, humanos e financeiros, o investimento na humanizao do preparo

    profissional torna-se uma alternativa vlida, porm insuficiente. Para concretizar um

    atendimento humanizado no basta centraliz-lo unicamente no paciente, mas os

    profissionais de sade tambm devem dispor das condies necessrias para

    desenvolver suas atividades.

    Finalmente, conclui-se que o pronto socorro , ainda, uma unidade na qual os

    funcionrios no demonstram valorizar a necessidade que o paciente tem de estabelecer

    um vnculo e receber ateno individualizada durante o seu tratamento.

    Enfocando a liderana de enfermagem no setor de emergncia dizemos que o

    lder/administrador da unidade de emergncia que determina a melhor maneira de

    planejar as atividades para que as metas organizacionais sejam alcanadas efetiva e

    eficientemente. Isso envolve o uso sensato de recursos e a coordenao das atividades

    com outros departamentos.

    Por isso, a escolha do modo organizacional mais adequado de oferecimento de

    cuidados ao paciente em cada unidade ou organizao depende de habilidades e dos

    conhecimentos do corpo funcional, da disponibilidade de enfermeiros, dos recursos

    econmicos da organizao, da acuidade dos pacientes e da complexidade das tarefas a

    serem realizadas.

    Para que as funes sejam organizadas de maneira produtiva e facilitadora da

    satisfao das necessidades da instituio, o chefe de enfermagem precisa conhecer bem

    a organizao e seus membros. As atividades tero sucesso se o planejamento buscar a

    satisfao das necessidades dos grupos e, portanto, exercer influncia na equipe de

    enfermagem, mdica e outros membros integrantes do servio.

    Para que um lder tenha sucesso, ele precisa diagnosticar a situao e selecionar

    as estratgias apropriadas a partir de um repertrio de habilidades. O desempenho e a

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    produtividade de uma pessoa so influenciados por sua capacidade, experincia,

    motivao e pela natureza da tarefa.

    Apesar de no existir uma estratgia de liderana que seja aplicada em todas as

    situaes, a eficcia da liderana sempre exige: capacidade de solucionar problemas,

    manuteno da eficincia grupal, boa comunicao, demonstrao de imparcialidade,

    competncia, segurana e criatividade do lder e desenvolvimento da identificao grupal.

    Para que o profissional enfermeiro possa desenvolver sua prtica profissional,

    principalmente, em setores onde o trabalho dinmico, como por exemplo, o setor de

    urgncia e emergncia, se faz necessrio que a equipe de enfermagem atue de forma

    sincronizada. Isso porque, na maioria das situaes, o atendimento deve ser rpido,

    devido ao fato de o paciente encontrar-se em estado crtico envolvendo risco vida.

    Neste contexto, tal profissional deve desenvolver a liderana com base em seus

    conhecimentos acerca da mesma, determinando qual a melhor forma de liderar em

    diferentes situaes visando melhoria da qualidade do cuidado.

    Na temtica capacitao dos profissionais de sade em atendimento pr hospitalar, percebemos que o enfermeiro emergencista deve ter, em sua formao, alm

    de conhecimento cientfico, prontido, destreza, deciso e habilidade tcnica para atuar

    em situaes que envolvem estresse e gravidade do paciente. Para tanto, necessrio

    que ele vivencie situaes semelhantes repetidas vezes.

    A capacitao prvia considerada indispensvel para garantir a segurana do

    profissional para prestar o socorro e diminuir a impercia dos seus atos, evitando, assim, o

    prejuzo no restabelecimento e a potencializao dos agravos s vitimas.

    O programa de capacitao em APH deve buscar orientar os profissionais para o

    desenvolvimento no somente em relao ao aprendizado de habilidades para a

    eficincia nas tarefas que realizam, mas, sobretudo, incentiv-los reflexo para que

    modifiquem seus hbitos e comportamentos e desenvolvam um trabalho com conscincia

    crtica, competncia e dignidade.

    A parte prtica da capacitao considerada imprescindvel, pois habilita o

    trabalhador para enfrentar com coerncia, rapidez e segurana a diversidade de situaes

    de trauma, colocando em prtica o que aprendeu com a teoria. Esses conhecimentos

    requerem estudo, prtica e repetio. Por isso primordial prosseguir com a educao

    permanente e atualizaes, uma vez que a falta de formao profissional dos

    trabalhadores das urgncias resultam no comprometimento da qualidade na assistncia e

    na gesto do setor.

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    O coordenador do servio e o enfermeiro responsvel tcnico so encarregados de

    ministrar as capacitaes e conduzir a educao permanente, as quais ocorrem

    espontaneamente conforme a necessidade e disponibilidade dos responsveis.

    importante lembrar que, no Brasil, os cursos de especializao em emergncia

    ou em APH ainda so recentes e, sendo assim, ainda existe escassez de docentes

    capazes de desenvolver um enfoque efetivo na formao profissional desse tipo de

    trabalhador, havendo necessidade de preparar instrutores e multiplicadores com

    certificao e capacitao pedaggica para atender demanda existente.

    Na temtica trabalho em equipe no setor de emergncia, este pode ser

    entendido como uma estratgia do homem para melhorar a efetividade do trabalho e

    elevar o grau de satisfao do trabalhador.

    O trabalho em equipe no uma tarefa muito simples por envolver troca de idias,

    aprovao de opinies diversas e convivncia com as diferenas. A dificuldade aumenta

    principalmente se tratando da rea da enfermagem em emergncia, onde o objeto de toda

    ateno dever ser a sade humana. Como o servio neste setor extremamente

    dinmico, o trabalho em equipe se torna fundamental para a qualidade da assistncia

    prestada.

    No entanto, fazer de um grupo de enfermeiros emergencistas uma equipe de

    trabalho um grande desafio para o profissional de enfermagem responsvel. Tal desafio

    passa pelo aprendizado coletivo da necessidade de uma comunicao aberta, de uma

    prtica democrtica que permita o exerccio pleno das capacidades individuais e uma

    atuao criativa e saudvel de cada membro, evitando assim, a cristalizao de posies,

    a rotulao e a deteriorizao das relaes interpessoais. Assim, a equipe poder buscar

    seus objetivos responsabilizando-se pelo sucesso ou fracasso.

    Neste cenrio, imprescindvel que o enfermeiro possa contar com todos os outros

    profissionais que constituem a equipe prestadora de assistncia sade do paciente,

    alm de ter senso crtico para tomar a deciso correta, uma vez que o custo de um erro

    pode ir desde uma pequena confuso administrativa at o bito do paciente.

    Analisando os sentimentos dos enfermeiros emergencistas relacionados ao trabalho podemos dizer que a estrutura organizacional da instituio hospitalar contribui

    para a ocorrncia de estresse para o enfermeiro de unidade de emergncia, interferindo

    na vida pessoal e profissional do indivduo. O trabalho, quando realizado em condies

    insalubres e inseguras, tambm tem influncia direta sobre o bem-estar fsico e psquico

    do indivduo. Assim, percebemos que os problemas existentes nas unidades de

    emergncia so mais comportamentais do que tcnicos.

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    A deficincia de recursos humanos e materiais na unidade tm como consequncia

    o ritmo acelerado de trabalho para a finalizao de atividades pr determinadas,

    contribuindo para o surgimento de problemas psicolgicos e at mesmo fsicos no

    profissional de enfermagem, alm de refletir na qualidade do cuidado e no relacionamento

    entre enfermeiros, paciente e familiar.

    A carga horria de trabalho apresentou associao significativa com o estresse do

    enfermeiro emergencista, visto que h necessidade de o profissional trabalhar em mais de

    um local e em diferente tipo de atividade.

    As tarefas burocrticas e administrativas so estressoras ao profissional, devido a

    uma formao acadmica voltada para a assistncia, alm de despenderem tempo na

    sua realizao, sendo que este poderia ser direcionado assistncia direta ao paciente.

    A rea de administrao de pessoal foi uma das reas consideradas de maior

    estresse para os enfermeiros de unidade de emergncia. A superviso exercida nessa

    unidade determina-se como ineficiente na melhoria do ambiente de trabalho, devido a

    fatores como: falta de comunicao, inexperincia e falta de respaldo institucional.

    Por outro lado, a insegurana profissional foi a fonte de presso que apresentou o

    menor nvel de correlao ao estresse, pois os profissionais da enfermagem geralmente

    trabalham na emergncia por opo e h necessidade de habilidade especfica para atuar

    nesse setor. Estudos revelam que grande parte dos enfermeiros emergencistas afirma

    que no APH que encontram maior satisfao, realizao pessoal e profissional, alm da

    valorizao e reconhecimento pelos pacientes/vtimas, famlia, populao e pelo prprio

    servio.

    Os enfermeiros do APH experimentam diversos sentimentos como compaixo,

    gratido, raiva, pena, tristeza, ansiedade, cansao, revolta pela sobrecarga e limitaes

    dos recursos frente s situaes que envolvem risco de morte e consideram como

    motivador o reconhecimento e a possibilidade de restaurar vidas.

    Tais sentimentos se compreendem pelo fato de serem pessoas, ou seja, humanos,

    que tambm expressam emoes e tm suas limitaes. Dessa maneira, podemos dizer

    que o profissional de enfermagem no est preparado para lidar com tais situaes, pois

    assume um compromisso pela preservao da vida desde o incio de sua formao.

    Para os enfermeiros que atuam no APH, as experincias positivas servem de

    estmulo para a adequada prestao do servio, enquanto as experincias negativas,

    apesar de desestabilizar as equipes, servem de base para entender a realidade de

    algumas populaes e motivam o trabalho de conscientizao e educao das pessoas

    na preveno de acidentes e agravos sade.

  • 10

    Em relao s dificuldades encontradas no setor de emergncia so destaque o

    ingresso no servio, o preparo acadmico insuficiente, as adversidades do cenrio, a

    exposio aos riscos das cenas e pblico e a falta de apoio psicolgico. Neste contexto

    possvel concluir que o nvel de estresse da equipe de enfermagem emergencista

    bastante elevado.

    Para a amenizao e/ou resoluo dos problemas apresentados na unidade de

    emergncia, foi sugerido o oferecimento de condies mnimas de material e pessoal de

    enfermagem, a garantia de uma maior autonomia e reconhecimento do enfermeiro, o

    incentivo jornada de trabalho nica, o oferecimento de oficinas de terapia laboral e apoio

    profissional, a formao de equipes multidisciplinares para discutir sobre os fatores de

    riscos que os profissionais esto vivendo no seu cotidiano de trabalho e tambm realizar

    planos de medidas e intervenes contra o estresse, ou seja, dedicar uma maior ateno

    para a sade dos profissionais que atuam em setores crticos.

    Finalmente, considerando os riscos a que esto expostos os enfermeiros

    emergencistas, podemos dizer que o trabalho de enfermagem, desenvolvido

    principalmente no mbito hospitalar em urgncia e emergncia , em muitas situaes,

    insalubre, uma vez que expe esses profissionais de sade a uma diversidade e

    multiplicidade de riscos que podem ocasionar acidentes de trabalho com importantes

    repercusses ao trabalhador, bem como sua famlia e entidade a que pertencem.

    Em geral, o trabalhador de enfermagem emergencista atua num ambiente de

    trabalho com condies/situaes que determinam vulnerabilidade em seu estado de

    sade, como vivncias com tenses e estressores, formas de organizao, diviso de

    tarefas, trabalho em turnos, mais de um vnculo empregatcio, falta de aprimoramento

    tcnico-cientfico, escassez de recursos materiais, entre outros, que propiciam e

    acentuam o risco desses trabalhadores sofrerem algum acidente de trabalho.

    Dentre os riscos mais relevantes a que esto expostos os profissionais de

    enfermagem no setor de urgncia/emergncia esto: exposio a sangue, fluidos

    corpreos e excretas/ secrees; exposio a prfuro cortantes; esforo fsico; exposio

    a infeces e doenas de diagnstico no confirmado; equipamentos inadequados;

    exposio a produtos qumicos; radiao ionizante; quedas por piso liso/molhado; arranjo

    fsico inadequado; estresse; desconforto trmico; iluminao inadequada; agressividade

    dos pacientes; e rudos.

    A fim de preservar os profissionais expostos aos riscos existem os equipamentos

    de proteo individual (EPIs) e equipamentos de proteo coletiva (EPCs). A funo

    principal desses equipamentos impedir a contaminao do profissional em funo do

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    contato com os pacientes, evitar que o profissional contamine pacientes debilitados

    imunologicamente e evitar a contaminao cruzada de pacientes.

    O fornecimento de tais equipamentos de responsabilidade da instituio e o uso

    dos mesmos de responsabilidade, principalmente, do profissional de enfermagem. de

    suma importncia que os equipamentos de proteo sejam utilizados e que sejam

    tomados os cuidados necessrios na realizao de procedimentos para que seja

    atenuada a exposio aos riscos pelos profissionais.

    Um bom trabalho em equipe juntamente com a correta orientao aos profissionais

    influi em bons resultados na assistncia prestada nos setores de urgncia e emergncia.

    CONSIDERAES FINAIS

    Ao trmino deste estudo pode-se afirmar que esta reviso bibliogrfica no esgotou

    o tema em questo, o qual vasto e repleto de ramificaes tericas. Uma abordagem

    tem um enfoque ampliado e, assim, no possibilita que o autor se aprofunde muito em

    cada questo levantada, deixando, portanto, uma possibilidade de se retornar ao tema.

    Entretanto, conseguimos alcanar os objetivos propostos, uma vez que

    categorizamos e analisamos temas relacionados ao papel do enfermeiro emergencista

    atualmente, descritos nos artigos, identificando as dificuldades e facilidades de ao e

    sugerindo atividades para o aprimoramento desse tipo de servio.

    O tema O papel do enfermeiro emergencista: uma reviso bibliogrfica nos possibilita enxergar propostas, solues, estratgias efetivas e, principalmente, convida

    os profissionais de enfermagem a serem agentes de mudanas na questo. Para tanto

    podemos nos basear nas dificuldades, sugestes e experincias apresentadas por

    diversos enfermeiros empregados em diferentes locais.

    Conclumos que apesar da praticidade inevitvel que existe na rea de urgncia e

    emergncia, a humanizao do atendimento de enfermagem imprescindvel para

    alcanar um resultado satisfatrio tanto para o cliente como para os familiares. A

    capacitao dos profissionais de enfermagem, compreendendo teoria, prtica e bastante

    treinamento tambm torna-se indispensvel para atuar na emergncia de forma mais

    segura, aumentado as chances de sobrevivncia do paciente e diminuindo os riscos

    ocupacionais.

    Finalmente, podemos concluir que no h um modo nico e pronto de trabalhar com

    as pessoas se tratando do setor de enfermagem em emergncia. As experincias,

  • 12

    possibilidades e necessidades locais que devem dar direo, forma e contedo ao

    processo, definindo assim, o perfil do profissional de enfermagem.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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