estudo do entorno escolar · pedagógica (pip) no ano letivo de 2011. ... geografia. entre os temas...
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ESTUDO DO ENTORNO ESCOLAR: uma alternativa pedagógica para o ensino de
geografia
Cirineu Bobko1
Sonia Zanello2
Resumo
O presente estudo refere-se a temas geográficos de aulas teóricas e de Campo inseridas em uma prática Pedagógica, no entorno escolar do Colégio Estadual Pinheiro do Paraná, em Santa Felicidade - Curitiba, Paraná. Professor e alunos trabalharam juntos nos levantamentos sobre informações de dados físicos, geológicos, pedológicos, realizados durante a aplicação do Projeto de Intervenção Pedagógica (PIP) no ano letivo de 2011. Foi aplicado às turmas do segundo ano do Ensino Médio do período vespertino, em parceria com o Departamento de Química da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Após os resultados finais, os alunos relataram as suas experiências e elaborou-se o Caderno temático do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). Este ensaio teve como finalidade a pesquisa, a sensibilização do aluno sobre os problemas ambientais próximos de sua realidade, a melhoria da qualidade do ensino. Espera-se com os resultados apresentados que a construção e o avanço nos conhecimentos possibilitem aos educandos tornarem-se mais críticos e atuantes na valorização do espaço geográfico, no sentido da preservação ambiental como um elemento de sustentabilidade e agregador de benefícios no meio em que vivem.
Palavras-Chave: Geografia; Geografia Física, Pedologia; Ensino de Geografia;
Entorno escolar.
1 INTRODUÇÃO
Partindo da necessidade em criar um projeto que instigue e chame a
atenção do educando, e, ao mesmo tempo possibilite a apropriação e a melhoria do
conhecimento, foi desenvolvido este tema durante a participação no Programa de
1 Professor de Geografia da Rede Pública de Ensino do Estado do Paraná; Especialista em Análise Ambiental
pela UFPR; Aluno do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE 2010. ccirineu@oi.com.br 2 Química; Mestre em Ciência do Solo; Professora do Departamento de Química e Biologia da Universidade Tecnológica do Paraná UTFPR; zanello@utfpr.edu.br
2
Desenvolvimento Educacional – PDE, e a implementação do mesmo na Escola
Estadual Pinheiro do Paraná, da Rede Pública de Ensino do Estado do Paraná, com
uma turma de alunos do Ensino Médio.
Objetivando contextualizar o ensino com a realidade e favorecer a
aprendizagem, os novos conceitos e conteúdos científicos foram ancorados aos
significados trazidos pelos alunos que (re) elaboraram meios e alternativas de
entendimento, trabalhados em sala de aula e nas idas ao campo, na disciplina de
Geografia. Entre os temas abordados, destacam-se: Elementos que formam os
solos; Classificação dos solos; Agentes erosivos dos solos; Solos localizados no
Paraná, entre outros. O trabalho foi dividido em seis ações pedagógicas sendo elas:
Apresentação do tema à comunidade estudantil;
Elaboração do Projeto de Intervenção Pedagógica PIP;
Implementação do projeto com a turma em meados do terceiro bimestre do ano 2011;
Visitas técnicas ao pátio da escola e ao entorno escolar;
Exposição dos conteúdos in-loco;
Discussão e construção dos exercícios do caderno temático;
Exposição dos cartazes, banner, fotos no Colégio.
O projeto foi aplicado em uma turma do segundo ano do Ensino médio do
turno vespertino, um grupo de 24 alunos que foram escolhidos em setembro de
2010. A escolha do tema deve-se ao fato de aproveitar os conteúdos passados em
sala de aula, (solos e minerais) durante o ano letivo e aprimorar a forma como são
trabalhados, por meio da utilização de um importante local, “o próprio espaço
escolar”, utilizado apenas como o pátio escolar. Percebeu-se uma possibilidade de
agregá-lo como espaço de experiências e visualizar perfis de solo, como
cambissolo, por exemplo. Desse modo, o pátio transformou-se em um laboratório.
A escolha do tema pelo professor partiu de discussões com a orientadora,
visita técnica ao local, escolha e delimitação da área, pesquisa bibliográfica,
elaboração de pré-projeto e apresentação à comunidade escolar e à equipe
pedagógica. Além disso, levou-se em consideração o interesse que os alunos
demonstravam pelo tema.
Para a aplicação deste projeto foram convidadas várias turmas do ensino
médio em meados de 2010, e após várias análises do interesse dos alunos sobre o
tema, turma escolhida foi o Segundo Ano B, com (24) alunos na faixa etária entre 14
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a 19 anos. Esta turma mostrou-se bastante motivada para estudar, pois, “adoramos
aulas diferentes”, segundo eles.
2 APRESENTAÇÃO
Este projeto foi baseado em visitas técnicas ao local, consulta às bibliotecas
e departamentos de universidades, sites especializados em solos, pesquisas
bibliográficas, leituras, aplicação e tabulação de questionários, apresentação e
construção do projeto e do caderno temático, tutoria para o Grupo de Trabalho em
Rede - GTR com participação de professores do Estado do Paraná, entre outras
atividades, seguido da sua aplicação, como se demonstra a seguir.
Inicialmente, os alunos receberam um questionário sobre o tema “os solos”,
que foram levados para casa, para ser respondidos e entregues na aula seguinte.
Dos (24) questionários entregues, somente (16) retornaram os demais alunos,
alegaram que não sabiam responder, perderam ou esqueceram e não mais
trouxeram. Em seguida, trabalhou-se o tema de forma teórica na sala de aula com
os seguintes recursos: debates; TV-pen drive3, laboratório de informática e outras
mídias digitais e impressas.
No segundo momento foi realizada a leitura do caderno temático “Solos no
Entorno Escolar”, postado nos endereços eletrônicos desses alunos. Após a leitura
dos cadernos, durante seis aulas intercaladas o professor fez visitas técnicas ao
pátio escolar e ao entorno próximo para, junto com os participantes, mostrar nos
perfis pedológicos encontrados, os elementos que compõem os solos, bem como,
identificar as cores, matérias orgânicas e inorgânicas, seres vivos, textura, ações
físico-químicas ocorridas, erosões, entre outros.
Em seguida, os alunos resolveram questões do Caderno Temático, sobre o
assunto e apresentaram para a turma com uso das ferramentas disponíveis na
escola, como apresentação na TVpen drive, cartazes, etc. Dos (24) alunos, apenas
(12) fizeram, os demais alegaram não precisar de nota para ser aprovados. O
professor argumentou sobre a possibilidade em obter novos conhecimentos, as
3 TV-pen-drive é uma televisão laranja, de 29 polegadas, presente em todas as salas de aula que oferecem
recursos como o uso de um pen-drive ou cartão memória para projeção de filmes, slides, músicas, imagens, vídeos e usou-se chamá-la genericamente desse nome.
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novas experiências e trocas, entre outras razões para se fazer as atividades, não
somente as notas, mas não houve resposta e os alunos não foram forçados a fazer.
No final do ano letivo, os alunos apresentaram os resultados desses estudos
em exposição no salão da comunidade. Os trabalhos ficaram expostos durante uma
semana. Partindo da observação, foi possível perceber que a maioria dos jovens
visitantes gostou do tema. Muitos comentaram que gostariam de ter participado. Nas
avaliações finais do bimestre foram solicitadas algumas questões sobre o assunto.
2.2 Grupo em rede
Paralelamente ao encaminhamento do projeto com os alunos, o professor
PDE participou das atividades de tutoria em um Grupo de Trabalho em Rede (GTR)
– é um curso de atualização e trocas de experiências entre professores do Estado.
Esse curso tem a duração de dois meses, e, o professor deve realizar a tutoria de
(15) outros professores de Geografia de regiões diferentes do Paraná, onde o tema
da pesquisa é postado, juntamente com o projeto e o caderno temático.
Durante este tempo, os colegas realizam leitura dos materiais sobre tema,
participam de fóruns de discussão, fazem atividades diversas e reflexões escritas e
apresentam novas sugestões para enriquecer a proposta inicial. Os participantes
desse curso também aplicam as atividades em suas escolas de origem e mostram
os resultados em rede, auxiliando o professor PDE a melhorar o seu projeto inicial.
Nesse grupo em particular, a participação e apresentação de propostas, críticas
construtivas e elogios, foram efetivas.
2.3 Justificativa
A escolha deste tema deve-se à experiência, ao longo dos anos letivos
anteriores em perceber que ao abordar os assuntos referentes aos solos, alguns
alunos mostravam interesse em aprofundamento do assunto. Além disso, após tratar
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da matéria sobre a economia do Paraná, principalmente a agricultura, tema
estritamente ligado ao uso do solo, notava-se a importância desse aprofundamento.
Percebeu-se também, nos percursos entre a casa até a escola e, no entorno escolar
seria possível observar solos expostos e perfis, ainda presentes, mesmo com o
crescente avanço da urbanização do bairro.
Diante dessa necessidade, e, baseando-se nas novas propostas curriculares
das Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, SEED4-PR, que reconhece a
importância da pesquisa, realizada paralelamente a aulas de campo, numa
constante intervenção que promova a motivação dos estudantes e a possibilidade de
melhoria contínua da qualidade do aprendizado e das aulas, trabalhou-se na busca
de outros recursos pedagógicos que favorecessem tais demandas. Estas propostas
foram aplicadas com a parceria entre a SEED e a UTFPR.
3 OBJETIVOS
3.1 Objetivo Geral
Investigar, conhecer e apreender o conteúdo sobre solos e a necessidade de
sua conservação. Esse objetivo visa participar de forma concreta para a
melhoria da qualidade do ensino nas escolas públicas paranaenses.
3.2 Objetivos específicos
Trabalhar o conteúdo - o solo, rochas, minerais e águas, de forma a
enriquecer os conhecimentos;
Incentivar o trabalho de Campo como ferramenta metodológica a partir da
história de vida dos alunos, fontes vivas da ocupação do bairro;
Incentivar a leitura e a produção textual como forma de fixação dos conteúdos
pelos alunos;
4 Secretaria de Estado da Educação-Paraná
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Discutir e elaborar propostas para a conservação dos recursos naturais (o
solo), propiciando a reflexão crítica e a problematização de assuntos
importantes do seu cotidiano;
Incentivar a participação do trabalho em equipe, trocando experiências e
conhecimentos numa ação cooperativa.
4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
4.1 A Geografia escolar e o ensino
Atualmente notam-se diversos movimentos de renovação das correntes
geográficas, como a Geografia Cultural, a Geografia da Religião, a Geografia da
Saúde, entre outras, que vêm aos poucos, tomando corpo nas discussões e debates
sobre as suas bases e seus conceitos.
Essa renovação acontece na Geografia escolar, a passos mais lentos.
(CAVALCANTI, 2010). Metodologicamente, essa ciência precisa dar conta no
encaminhamento dos alunos em direção a uma formação baseada na autocrítica
para exercer influência positiva no meio em que vivem. Para isso eles carecem de
informações e da capacidade de agir e refletir para mudar sua realidade,
participando da construção do conhecimento e tornando-se co-responsáveis por
alterar seu espaço. (KAERCHER, 2003). Essas mudanças, na sociedade atual, têm
que ser convergentes com a sustentabilidade.
[…] O conteúdo de Geografia, neste contexto, é o material necessário para que o aluno construa o seu conhecimento, aprenda a pensar. Aprenda a pensar significa elaborar, a partir do senso comum, do conhecimento produzido pela humanidade e do confronto com outros saberes (do professor, de outros interlocutores, o seu conhecimento. Este conhecimento, partindo da Geografia, significa uma consciência espacial das coisas, dos fenômenos, das relações sociais que travam no mundo. (CALLAI, 2000. p. 93).
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As informações lecionadas em sala de aula e a troca de experiências são
vitais para essa formação. A obra de Lana de Souza Cavalcanti “Geografia e a
Construção do Conhecimento”, é uma das fontes que fornecem subsídios para a
fundamentação teórica e metodológica deste projeto. Para ela, o ensino é um
processo de conhecimento a ser adquirido pelo aluno, mediado pelo professor. Ou
seja, o professor articula sua prática de modo que os seus conhecimentos
cientificamente sistematizados e historicamente construídos sejam repassados aos
alunos de forma clara.
Neste fluxo, o aluno entra como participante, como agente atuante do
processo de construção do conhecimento e, cabe ao professor instigar a curiosidade
e a busca por resultados, por meio da pesquisa. (CAVALCANTI, 2010).
[...] a perspectiva do ensino da Geografia deixa o educando se libertar
das amarras da dependência intelectual do pensamento, encontrar a sua
criatividade e imaginação, aprender a pensar a partir do diálogo com o
real e com as obras culturais, se descobrir como cidadão, e
consequentemente agente de mudanças. (VESENTINI, 1992, p.131).
Para traduzir a Geografia acadêmica em Geografia escolar, inicialmente, é
indispensável refletir sobre a própria prática. Ao apresentar a opção do saber como
possibilidade, como direito, ao invés de adestrar alunos, possibilita-se que criem. A
criação só nasce da dúvida, da curiosidade. Forçar o aluno a expor sua ideia e não
repetir o que foi dito é um ato de criar. (KAERCHER, 2003).
Ao propor este projeto, acredita-se que fatores como a falta de visitas
técnicas, de estrutura física adequada e a falta de tempo levam a superficialidade do
tema. (OLIVEIRA & ARAUJO, 2009). Os livros didáticos atualmente procuram suprir
essa lacuna, mas só a teoria não é suficiente, o que favorece a uma interpretação
irrelevante por parte dos educandos. Além disso, é histórica a dicotomia da
Geografia em Física e Humana. Os estudos sobre os solos, tratado pela linha física,
de maneira geral seguem essa linha. Desse modo, é fundamental a compreensão da
formação do solo como algo dinâmico, resultante de vários fatores naturais como o
tipo da rocha matriz, as ações da natureza sobre essa rocha como o clima, as
águas, as ações biológicas de organismos vivos, entre outros.
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O solo, recurso natural não renovável é (ou deveria ser) considerado como um dos principais fatores para tomadas de decisões no âmbito político, social, econômico e ecológico. A compreensão do solo como entidade dinâmica, resultante da ação integrada do clima, do relevo, do material de origem, organismos e tempo, poderia evitar o surgimento de problemas decorrentes da ocupação desordenada do mesmo, principalmente nos
grandes centros urbanos. (OLIVEIRA & ARAUJO, 2009, p.471).
Ao compreender os fatores físicos, é mais fácil entender e refletir sobre as
relações sociais que ocorrem e que muitos problemas urbanos e rurais são
decorrentes da ocupação ou utilização irregular do solo, principalmente nas áreas de
vales, encostas de rios, córregos e outras de risco permanente, ligando o assunto à
parte humana da Geografia, como ensina Callai:
A Geografia é uma ciência social. [...] Não pode ser um amontoado de assuntos [...] onde os temas são soltos, sempre defasados ou de difícil (e muitas vezes inacessível) compreensão pelos alunos. [...] A Geografia que o aluno estuda deve permitir que ele se perceba como participante do espaço que estuda. (CALLAI, 2000, p. 58).
Aliado a isso, as diretrizes estaduais de Geografia também focalizam a
necessária formação voltada “para o enfrentamento com vistas à transformação da
realidade social, econômica e política de seu tempo”. Apóia a defesa de uma
educação na a escola, passe a ser um espaço voltado à “pesquisa e produção de
conhecimento em favor de uma formação”, a um só tempo, humanista e tecnológica.
(DCE: GEOGRAFIA, 2008).
4.2 Noções preliminares de Geografia Física: o solo
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O interesse em estudar o solo no Brasil remete-se à história da construção
do país. O Imperador D. Pedro ll cria a Estação Agronômica de Campinas em 1887,
que posteriormente passou a ser Instituto Agronômico de Campinas. Visava estudar
e identificar os tipos de solos por meio de analises da sua estrutura física, química e
mineralógica; caracterizando-os em grupos. (IBGE, acesso em 02/2011).
O solo é um dos elementos da paisagem mais afetados pela crescente
urbanização. Nele acontecem todas as interações entre homem e ambiente. É
entendido como um corpo natural, com peculiaridades consequentes da interação
dos processos naturais desde a sua origem. Essencial para a organização da vida e
consequentemente, do sistema urbano, ele é o sustentáculo do trabalho humano.
(PEDRON et al, 2004).
As atividades humanas aliadas ao processo de urbanização afetam o solo e
essa degradação do ambiente prejudica a qualidade de vida da população. Nas
atividades rurais, o uso do solo para o plantio e a criação de animais também podem
acarretar contaminações por agrotóxicos e fluidos animais, além de outros
problemas ambientais.
Mais da metade da população mundial vive em cidades, fato jamais ocorrido na historia da humanidade. Portanto, nada mais necessário que o solo seja estudado sob este tipo de uso, porém a maior dificuldade é distinguir entre as características pedogenéticas daquelas resultantes do uso urbano. (BLUME, 1989, apud PEDRON et al, 2004).
Este mesmo autor argumenta que o solo possuiu inúmeras propriedades que
determinam sua utilização. Sem os cuidados necessários com o uso do solo urbano,
é provável que aconteçam problemas. É comum, nos grandes aglomerados urbanos
a transformação de ambientes frágeis em áreas construídas que oferecem riscos
devido à sua instabilidade. As encostas de morros, os pântanos e margens de rios
são áreas de risco se não houver prudência na sua utilização. Alem desses fatores,
esses ambientes desempenham um papel significativo no equilíbrio natural.
Sendo assim, a cultura sobre o planejamento urbano, o uso deste recurso
natural, o mapeamento e a classificação dos solos, bem como o entendimento das
relações sócio-ambientais que ocorrem sobre a sua superfície, é significativo, tendo
valor fundamental para que a formação dos estudantes apresente a qualidade e a
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significativa aplicabilidade, como assinalam as diretrizes curriculares da disciplina de
Geografia. A partir da compreensão do significado de biosfera e solo, os alunos
analisam os outros termos de forma mais concreta e entendem essa relação.
Biosfera é a união de todos os espaços onde há vida na Terra. Nesse
espaço o ser humano habita juntamente com a diversidade de outras formas de vida
animal e vegetal. Em uma camada sólida, que recebeu o nome de crosta da Terra,
existe a possibilidade do homem se assentar e formar suas relações sócio-
espaciais. É na terra, no solo que isso se materializa.
Dentre as diversas definições de solo, a que melhor se adapta ao levantamento pedológico é a do Soil Taxonomy (1975) e do Soil Survey Manual - (1984): Solo é a coletividade de indivíduos naturais da terra, eventualmente modificado ou mesmo construído pelo homem, contendo matéria orgânica viva e servindo ou sendo capaz de servir à sustentação de plantas ao ar livre. Em sua parte superior, limita-se com o ar atmosférico ou águas rasas. Lateralmente, limita-se gradualmente com rocha consolidada ou parcialmente desintegrada, água profunda ou gelo. O limite inferior é talvez o mais difícil de definir. Mas, o que é reconhecido como solo deve excluir o material que mostre pouco efeito das interações de clima, organismos, material originário e relevo,através do tempo. (MANUAL TÉCNICO DE PEDOLOGIA - IBGE, p. 197).
Ainda de acordo com este instituto, o solo não é um “simples amontoado de
materiais não consolidados, em diferentes estágios de processos químicos e
alterações”, mas sim o resultado de uma “complexa interação de fatores genéticos:
clima, organismos, topografia, agindo durante certo período de tempo sobre o
material e que produziam o solo”. (IBGE, acesso em 03/2011). O próprio IBGE
define-o de forma extremamente didática e de fácil compreensão por parte de
alunos, utilizando uma linguagem clara, objetiva e simples ao apresentar o solo
como terra: [...] “tem grande importância na vida de todos os seres vivos do nosso
planeta, assim como o ar, a água, o fogo e o vento. É do solo que retiramos parte
dos nossos alimentos, ele atua como suporte à água e ao ar e sobre ele construímos
as nossas moradias”.
Inicialmente, o aluno poderá compreender que o “solo é formado a partir da
rocha (material duro que também conhecemos como pedra). Em seguida, ao
analisar o solo, o aluno verá “que a rocha é alterada e é formado o material mais ou
menos solto e macio” e que os seres vivos, animais e vegetais (como insetos,
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minhocas, plantas e muitos outros, assim como o próprio homem) passam a ajudar
no desenvolvimento do solo. Além desses fatores, pode entender que elementos do
clima (chuva, gelo, vento e temperatura) também ajudam a formar o solo.
A visualização desse material no entorno do colégio, possibilitará que os
alunos percebam in loco “os organismos vivos (fungos, liquens e outros)” que “vão
transformando as rochas, diminuindo o seu tamanho, até que viram um material
mais ou menos solto e macio, também chamado de parte mineral”. Vai encontrar
nessas amostras, “matéria orgânica (restos de vegetais e de animais mortos). Esta
mistura faz com que o material que veio do desgaste das rochas forneça alimentos a
todas as plantas que vivem no nosso planeta. Essa observação do solo é capaz de
despertar maior interesse por parte dos educandos, pois o aluno pode tocar,
perceber, sentir o material “solo” e tirar suas próprias conclusões, comparando-as
com a teoria. (IBGE, acesso em 03/2011). Nesse momento pode-se abordar o tema
ciclo das rochas e comentar que “além disso, os seres vivos quando morrem
também vão sendo misturados com o material macio e solto, formando o verdadeiro
solo.” (IBGE, acesso em 03/2011).
4.3 Análise dos exercícios feitos pelos alunos
As atividades para fixação de conteúdos deu-se a partir da leitura e
interpretação de textos e exercícios postados no caderno de atividades, feitos
individualmente e entregues ao professor.
De acordo com as análises, cerca de 70% dos alunos fizeram os exercícios
com bastante clareza e criatividade anexando inclusive algumas novas idéias.
Desses alunos, cerca de 50% argumentou que os exercícios estavam num grau de
dificuldade tolerável. Na opinião dos estudantes, quem leu o caderno temático foi
capaz de responder aos exercícios de forma satisfatória.
4.4 Questionário investigativo: uma avaliação diagnóstica
12
O questionário investigativo teve como objetivo fazer uma avaliação
diagnóstica dos conhecimentos prévios dos alunos a fim de subsidiar as práticas
pedagógicas que seriam aplicadas durante a intervenção. Esse questionário visava
identificar especificamente quais termos e conceitos eram mais conhecidos pelos
alunos, bem como identificar quais conhecimentos precisariam ser trabalhados e/ou
aprofundados. Deste modo, apresenta-se a seguir, o modelo do questionário
aplicado para a turma, uma análise e reflexão para cada pergunta, para que os
professores possam se basear e aproveitar o modelo para elaborar a sua própria
prática.
Número de alunos pesquisados: 24
Questionário investigativo
Prezado Leitor (a): Com o objetivo de relacionar o conteúdo teórico das aulas com as demais
atividades sobre o tema proposto e outros conteúdos que você já conhece, solicita-
se que responda as perguntas abaixo. Não há necessidade de se identificar.
1. Você já ouviu falar sobre Entorno Escolar? ( ) sim ( ) não
Resposta: sim 90% não 10%.
2. Do que trata este assunto? (mesmo que não saiba, dê uma opinião sobre o que poderá ser).
Resposta: temas da escola, aulas práticas, solos de diferente locais, estudo
ao redor da escola, fala sobre solos.
Responderam: 90%
Não sabiam: 10%
Não responderam: 10%
As respostas das questões (um e dois) demonstram falta do entendimento
do significado da palavra. A leitura de materiais diversos auxilia no conhecimento de
mais palavras, que às vezes comuns, não fazem parte do cotidiano do aluno, daí a
13
necessidade ofertar mais textos aos alunos a fim de incentivar a leitura, aumentando
seu vocabulário.
3. O que você sabe sobre o tema solo? Resposta: nas aulas de geografia, no colégio pátio escolar.
Responderam: 90%
Não responderam: 10%
Nota-se que o tema específico “os solos” não é tratado corretamente em
sala de aula ou, geralmente, tratado de modo superficial, fazendo-se necessário um
aprofundamento de estudos relacionados.
4. Quais são os nomes dos solos que você conhece ou já ouviu falar?
Resposta: arenoso, poroso, fértil, seco, úmido, branco, marrom, preto.
Responderam: 90%
Não responderam: 10%
Com essas respostas, nota-se que os alunos têm certo conhecimento sobre
os solos, mas os nomes são do senso comum, havendo necessidade de uma
discussão que leve o aluno a interligar o que ele já sabe com o saber científico, e
que são assuntos de sua vida cotidiana, ou seja, é um conhecimento que pode ser
aplicado para a sua vida diária.
5. Você sabe qual é a importância do solo para a humanidade? Justifique.
Resposta: 80% dos alunos responderam que os solos são necessários.
Não são necessários: 20%
Demonstra a falta de conhecimento de uma parcela significativa dos
educandos e por isso é importante destacar que esse tema pode ser tratado de
14
forma menos teórica, favorecendo o conhecimento e a importância desse elemento
para a vida humana.
6. Quais são os nomes dos solos que existem no Paraná?
Resposta: fértil, rochoso, úmido, vermelhos, seco, rochoso, não lembra.
Responderam: 90%
Não responderam: 10%
Novamente nota-se que eles confundem os nomes dos solos com suas
características, fazendo-se necessários mais esclarecimentos de diversos termos,
preparando e consultando glossários e dicionários geográficos ou não.
7. Quais são os nomes dos elementos formadores dos solos? Respostas: chuvas, ventos, Sol, raízes, resíduos, folhas, insetos, alumínio,
argila, água.
Responderam: 90%
Não responderam: 10%
Novamente a confusão com termos: agentes que ajudam na formação do
solo com elementos formadores do solo.
8. Você saberia responder quais são os nomes das Camadas Internas da Terra?
Resposta: raízes, sais, minérios, rochas, insetos. Responderam: 80%
Não responderam: 20%
A partir dessas respostas nota-se que os conhecimentos trabalhados em
séries anteriores ou foram esquecidos ou trabalhados superficialmente, de modo
15
que eles continuam confundindo os termos. Os exercícios de fixação, a avaliação e
análise de imagens certamente ajudam na fixação desses conteúdos.
9. O que você entende por perfil de um solo?
Resposta: raízes, sais, minérios, rochas, insetos.
Responderam: 80%
Não responderam: 20%
Novamente nota-se a falta ou a compreensão errada do termo “perfil”, o que
poderá prejudicar ou dificultar a ampliação dos conhecimentos.
10. Você já viu algum tipo de solo no trajeto entre sua casa até o Colégio? Seria capaz de descrevê-lo?
Resposta: sim 70% não 30%
Não há descrições, entretanto, 30% dos alunos não observam a paisagem o
que pode ser favorável para a promoção de um trabalho de campo para analisar e
desenhar a paisagem, sendo essa uma das mais antigas formas de se fazer
“Geografia”, e a sugestão sempre é bem vinda, como por exemplo, adequar o ensino
tradicional ao contemporâneo.
5 GRUPO DE TRABALHO EM REDE
Após a conclusão do referido curso de tutoria, foram selecionadas sugestões
de vários professores que podem aprimorar e enriquecer as aulas. Entre elas
destacam-se:
Lusicler V. Werneck: Buscar parcerias com a Embrapa Florestas, no
fornecimento de mudas nativas da região; buscar suporte técnico para análise
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do solo e das plantas, para que se adaptem ao solo do local de estudos;
incentivar a preparação dos solos pelos alunos conforme orientação técnica e
realizar a manutenção e acompanhamento do crescimento destas mudas.
Elisa Hiromi Komatsu: Confecção de blocos diagramas com argila,
utilizando-a para representar algumas formas do relevo terrestre conforme as
orientações: é necessário papel enrolado em um palito e dente para identificar
a formas ou figuras do relevo. A experiência é do livro Projeto Araribá da
Editora Ática.
Marize Terezinha de Lima: Produzir e montar caixas pedológicas de
cartolina com várias amostras de cores de solos aleatórios, representando o
perfil e com etiquetas para representar cores ou horizontes. Fotografar os
solos das amostras a fim de representar o relevo e as características da
região. Trabalhar a questão ambiental utilizando o exemplo dos cemitérios
que se localizam nas partes mais elevadas e o risco de contaminação.
Gisele Ilana Idalgo Regallo: Estudar o solo em nosso meio escolar, os mais
próximos nosso cotidiano para entender o local e o global. Conhecendo o solo
local podemos saber sua origem, composição, características, utilização
econômica e os impactos ambientais sobre sua utilização e relacionar esse
entendimento a outros lugares.
Essas contribuições foram de grande relevância, demonstrando as inúmeras
possibilidades das trocas de experiências já vivenciadas e também a interação entre
colegas de vários locais diferentes. Nesse grupo, os professores trocaram suas
angústias e anseios, mas principalmente, otimismo e vontade de fazer acontecer as
mudanças que somente são vistas ao longo do tempo.
6 CONCLUSÃO
Com o desenvolvimento deste projeto, desafios foram se tornando fatos
motivadores, as trocas passaram a ser primordiais para o enriquecimento das aulas
17
e as leituras e pesquisas em geral, favoreceram a atualização dos conhecimentos e
amadurecimento no uso de recursos inusitados e pouco explorados.
Pode-se perceber que os alunos necessitam de muita leitura para enriquecer
seu vocabulário e melhorar a compreensão de temas que lhes são familiares, mas
em virtude de pouco vocabulário, não compreendem questões simples. Um
comentário sobre a forma de ensinar e aprender: são necessárias ações para que o
aluno compreenda a importância de fazer tarefas de casa, separando um momento
de estudo para rever e estudar o que viu na sala de aula. Essa prática não foi um
exemplo para grande parte dos alunos envolvidos nesse estudo.
Um grupo de alunos alegou que não fez as tarefas por falta de tempo.
Aproximadamente 10% alegaram não fazer pelo fato da Internet não navegar
satisfatoriamente. Argumentaram também sobre dificuldades momentâneas e
acabaram deixando de realizar os exercícios em rede. Verificou-se pelos dados
analisados que os alunos já possuíam certo conhecimento sobre o assunto, porém,
faltando-lhes melhor direcionamento e informações complementares, para melhorar
a compreensão.
É notável a falta de conhecimento de termos comuns da língua portuguesa
pela falta de leitura a qual os brasileiros estão acometidos. Deste modo, sugere-se
que sejam incentivados a ler mais e isso pode ser feito com uso da Internet.
Por meio do projeto, concluiu-se que gradativamente, o uso das novas
tecnologias (tics), aumentou o interesse dos alunos, ao fazer as atividades
propostas. Muitos alunos relataram e também solicitaram ao professor mais tarefas
parecidas com as desse projeto e mais pesquisas no laboratório de informática.
Entre outras analises, nota-se que o programa PDE pode ser melhorado em
alguns aspectos favorecendo o envolvimento do professor PDE e dos alunos do
GTR nas seguintes questões:
Maior tempo para aplicar o projeto com os alunos em salas de aula;
Trabalhar em parceria com outras instituições que possam oferecer subsídios
em pesquisas, laboratórios, entre outras atividades tanto para o professor
PDE quanto para o aluno do Ensino Regular;
O programa pode auxiliar a motivar melhor a comunidade escolar;
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Preparar com mais antecedência e mais eficiência o Sistema GTR para não
desmotivar os alunos;
Incentivar a pesquisa e a participação dos alunos por meio de propagandas
direcionadas;
Favorecer a troca das experiências com os colegas;
Melhorar, fazer a manutenção e atualização dos laboratórios de informática
de muitas escolas.
Durante a efetivação do projeto, constatou-se que envolveu conteúdos de
Pedologia durante a exposição nas aulas de Geografia e correspondeu
perfeitamente ao trabalho realizado com a turma escolhida do Ensino médio.
Ressalta-se ainda que o trabalho desenvolvido juntamente com outros
professores de áreas correlatas no GTR foi fundamental como atividade de
propagação das produções do professor PDE, valorizando-o e ao mesmo tempo,
propiciando seu aperfeiçoamento e ao mesmo tempo a melhoria do aprendizado dos
seus alunos.
Finaliza-se este artigo agradecendo a todos os que se empenharam para
que fosse construído e aplicado com sucesso, pelas trocas de experiências,
conhecimento e aperfeiçoamento que proporcionou.
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