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A SOBERANIA

DE DEUS

A. W. Pink

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Iglesia Bautista de la Gracia ARINDEPENDIENTE Y PARTICULAR

Calle Álamos Nº 351Colonia Ampliación Vicente Villada CD.

Netzahualcóyotl, Estado de México

Para receber mais informação escreva a:Apartado 88-080 01402 D.F. MéxicoTelefone: 643-7667

1 Corintios 1:23: Mas nós pregamos a Cristo crucificado...

Este livro foi traduzido de uma versão abreviada em inglês intitulada "Quem está no controle?",publicado por Grace Publications Trust, e em sua versão original em inglês por Baker Book House.

O título da versão original em inglês é: "A soberania de Deus".Agradecemos a permissão e a ajuda brindada por Grace Baptist Mission (139 Grosvenor Ave.

London N52NH England) para traducir e imprimir este livro ao español.

Tradução ao español realizada por Omar Ibáñez Negrete y Thomas R. Montgomery.IMPRESSO EM MÉXICO, 1995.

Tradução do espanhol para o português realizada por Daniela Raffo, 2007.

Obtido na Internet em: esnipsSábado, 11 de agosto de 2007, 10:52:30

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INTRODUÇÃOQUEM TEM O CONTROLE?

Quero fazê-lhe uma pergunta: Quem está no controle de tudo quanto se passa no mundo? Deusou Satanás? Muita gente pensa que Deus é somente rei no céu, porém não pensa que Ele é ocriador do mundo e também não acreditam que o controle todas as coisas que acontecem nele.Algumas pessoas acham que o mundo funciona como uma máquina, obedecendo as leis danatureza. Outros consideram que o homem pode controlar o que lhe acontece usando seu própriolivre arbítrio.

Mas me deixe fazê-lhe novamente a pergunta: Quem está no controle de tudo quanto se passano mundo? É Deus ou Satanás? Quando olhamos para o que se passa no mundo, facilmentepoderíamos concluir que Satanás está no controle, isso devido a que existe tanta confusão epecado. Vemos que as coisas vão de mal em pior; continuamente ouvimos falar em guerras erevoluções; sabemos que há uma grande inquietude e temor no mundo. A maioria das pessoaspermanecem na ignorância a respeito da verdade de Jesus Cristo, e muitos pensam quecristianismo é um fracasso. Ainda alguns que se identificam como crentes, têm sugerido que,embora Deus queira salvar às pessoas, não pode fazê-lo, porque essas mesmas pessoas não Odeixam! Todo pareceria indicar que Satanás tem mais controle do que Deus tem.

Os crentes, mais do que ninguém, não deveriam pensar desta maneira.Os crentes não devem interpretar o que acontece só pelo que seus olhos vêm, senão que devem

interpretar as coisas através da fé. ("Porque andamos por fé, e não por vista", 2 Co 5:7). Oscrentes acreditam o que Deus tem falado na Bíblia, e a Bíblia sempre tem advertido que o que estáacontecendo no mundo é o que devia suceder (porque assim foi determinado por Deus desde oprincípio). A Bíblia diz que a gente inconversa sempre estará em rebelião contra a autoridade e alei de Deus. Assim sendo, não deveria surpreender-nos quando a gente despreza a Deus mesmo,porque Ele é a autoridade suprema e o doador da lei. A Bíblia anuncia que é Deus e não Satanásquem está controlando o que ocorre no mundo. A Bíblia nos ensina que Deus criou todas as coisas,e que Ele exerce um controle completo e soberano sobre tudo o que fez. A vontade de Deus nãopode ser mudada. Ele é o Rei soberano sobre todas as coisas e nunca pode ser surpreendido pornada do que acontece. Ele reina sobre tudo, fazendo com que todas as coisas operem juntas parao bem de todos aqueles que O amam e que têm sido chamados por Ele para ser Seu povo.

Embora estas coisas sejam verdadeiras, somente podemos entendê-las e desfrutá-las se somoscrentes em Deus. Temos que encher as nossas mentes com conceitos verdadeiros acerca de Deus,a Sua natureza e o Seu caráter. Só então poderemos aceitar com submissão e confiança todo

quanto nos aconteça, sejam decepções, dificuldades ou tristezas, porque sabemos que todas ascoisas, incluso estas, são controladas por um Deus tão sábio que não pode errar, edemasiadamente amoroso para ser cruel.

A gente precisa ouvir estas verdades acerca de Deus; a predicação superficial e vaga não basta.Então, permita-me observar novamente: Deus ainda vive; Ele vê tudo o que acontece e está emcompleto controle.

Quando pensamos acerca do que está acontecendo no mundo, não deveríamos começar aexplicá-lo desde uma perspectiva meramente humana, porque se assim o fazemos, jamaiscompreenderemos esta vida. Existem muitas coisas na vida que achamos estranhas e difíceis deentender, porém através da Bíblia Deus nos dá entendimento. A Bíblia é a Palavra de Deus, arevelação divina para nós. Então, se queremos entender o que acontece no mundo, devemoscomeçar aprendendo o que a Bíblia diz acerca de Deus. Este é o lugar correto para começar.

Se tentamos explicar as coisas partindo do estado atual do mundo e depois tentamos conectá-locom Deus, concluiremos que Deus tem muito pouco a fazer com o mundo tal e como nós oconhecemos hoje.

Porém se começamos com Deus e depois O relacionamos com o mundo, começaremos acompreender o motivo pelo qual as coisas estão assim agora. Deus é santo e julga aqueles quepecam contra Ele. Deus cumpre a sua Palavra e castiga a maldade, assim como tem prometidofazer na Bíblia. Deus pode fazer tudo, e nada pode resisti-Lhe ou vencê-Lo. Deus conhece tudo eninguém sabe mais do que Ele. Nada é impossível para Deus. Assim então, quando olhamos para oque está acontecendo no mundo, podemos concluir que Deus tem iniciado seu juízo contra amaldade e o pecado em nosso mundo moderno, tal e como o fez no passado.

Existem duas maneiras de responder a minha pergunta acerca de quem está no controle. Apessoa que não acredita em Deus considera tudo desde o seu próprio ponto de vista humano,

começa com o homem e é por isso que não pode entender como Deus pode estar no controle.Doutro lado, a Bíblia nos diz que os pensamentos de Deus não são os nossos, e que os caminhosde Deus não são como os nossos. A pessoa que não crê em Deus sempre pensará que é idiotadizer que Deus controla tudo. Porém, o crente sabe que Deus está no controle porque assim o tem

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falado Deus na Bíblia. O cristão começa com Deus. Embora haja muito pecado e sofrimento nomundo, o que causa tristeza no crente, ainda assim ele não diz "Se eu fosse Deus, não opermitiria". O cristão acredita que os caminhos de Deus são inescrutáveis e incompreensíveis.Deus tem ocultado muitas coisas de nós com o propósito de provar a nossa fé, para fortalecer anossa confiança em Sua sabedoria e para ajudar-nos e aceitar a sua vontade. O cristão confia emDeus e tenta interpretar todas as coisas desde o ponto de vista de Deus. O crente confia em Deuse aceita o que acontece, porque sabe que provém dEle. E porque confia em Deus, seu coraçãopode ficar tranqüilo em meio da tempestade. Confiando em Deus, regozija-se porque sabe que nofim de tudo verá a glória de Deus.

No seguinte capítulo aprenderemos mais do que a Bíblia quer dizer, quando afirma que Deusestá no controle de todas as coisas.

CAPÍTULO 1DEUS TEM O CONTROLE DE TUDO!

"Tua é, SENHOR, a magnificência, e o poder, e a honra, e a vitória, e a majestade; porque teu étudo quanto há nos céus e na terra; teu é, SENHOR, o reino, e tu te exaltaste por cabeça sobre

todos." 1 Crônicas 29:11 

Você compreende o que implicam as palavras "Soberania de Deus"? Na introdução vimos que,embora exista muita maldade no mundo, a bíblica afirma que Deus está em completo controle detudo. Isto é o que implicam as palavras "Soberania de Deus". Quando dizemos que ES é soberano,queremos dizer que Deus tem poder absoluto sobre tudo. Ele é o Supremo, o Grande Rei; Ele éDeus. Ele faz a sua vontade no céu e na terra, e não existe mas ninguém que possa deter a suamão e Lhe dizer: "O que fazes?". Quando dizemos que Deus é soberano, queremos dizer que Ele éo Deus Todo Poderoso, que possui todo poder no céu e na terra e que ninguém pode resistir a suavontade. Este é o Deus da Bíblia.

Freqüentemente, o ensino moderno nos dá um conceito muito diferente acerca de Deus. amiúdo apresenta um "deus" impotente e ineficaz, um "deus" de aflição mais do que um Deus dignode ser temido. A maioria do ensino moderno diz que Deus "o Pai" quer salvar a todo mundo, e que"o Filho" morreu para salvar a "todos", e que Deus o Espírito Santo está tentando agora ganhar atodos os homens no mundo. Mas, não resulta obvio que muitas pessoas estão morrendo sem ter

sido salvas por Cristo, e sem esperança alguma? Então, se muitos morrem sendo perdidos e seacreditamos que Deus queria salvá-los a todos, com certeza o Pai deve estar desapontado, o Filhodeve sentir-se insatisfeito e o Espírito Santo tem sido derrotado.

Não podemos dizer que Deus tenha sido surpreendido pelo pecado humano, porque isto deixariaa Deus no nível dos seres humanos que são falíveis e cheios de erros. Também não podemos dizerque Deus fique impotente diante do sofrimento e do pecado no mundo, porque então estaríamospassando por alto o que a Bíblia diz: que Deus controla até os maus atos que os homens cometem.Em verdade, se negamos a soberania de Deus, pronto já não teremos espaço para Deus em nossospensamentos.

Deus é completamente soberano. Ele possui o direito de governar tudo tal como Ele quer. Deusé como o oleiro que tem o controle completo sobre o barro. Deus é soberano na forma em que usao seu poder. Ele o usa como, quando e onde deseja. Todo o testemunho da Bíblia afirma esta

verdade. Quando o Faraó, rei do Egito, tentou deter os israelitas para que não fossem adorar aDeus no deserto, Deus usou o seu poder e os israelitas foram salvos, enquanto que os egípciosforam vencidos.

Depois, quando os israelitas entraram na terra de Canaã e acharam que a cidade de Jericó eraum obstáculo, Deus usou seu poder e os muros da cidade forram derrubados. O poder de Deussalvou Davi de Golias.

Deus fechou as bocas dos leões para que não ferissem Daniel. Ainda assim, em ocasiões Deusnão mostra o seu poder por um longo tempo, e então repentinamente o manifesta e todos podemvê-lo.

O poder de Deus nem sempre resgata seu povo dos perigos. Em Hebreus 11:36-37, nos dizcomo alguns que creram em Deus foram apedrejados e ainda mortos, e outros andaram errantescobertos com peles de animais e suportando muito sofrimento. Por que não foram resgatadas

estas pessoas pelo poder de Deus como as outras? A única resposta é que Deus é soberano namaneira em que usa o seu poder. Ele faz o que sabe que é melhor.Deus é soberano também na maneira em que outorga o seu poder a outros. Concedeu poder a

Matusalém para que vivesse muito mais tempo que ninguém. Deus concede a alguns a capacidade

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de ganhar muito dinheiro, porém não faz a todos ricos. Isto se deve a que Deus exerce suasoberania ao conceder o seu poder às pessoas. Ele não dá o mesmo poder a todos.

Deus é soberano também no outorgamento de sua misericórdia. Quando Jesus foi ao tanque deBetesda em Jerusalém, havia muitos doentes ali e entre eles estava um homem que tinha estadoenfermo por trinta e oito anos. João capítulo 5 nos fala que Jesus disse a este homem: "Levanta-te, toma o teu leito, e anda" (versículo 8). Imediatamente o homem foi sarado; levantou seu leitoe se foi. Então, por que foi curado este homem em particular?

Não nos diz que fosse devido a que merecesse ser sarado. Ou seja, a misericórdia de Deusmanifestou-se nele de uma maneira soberana, porque Jesus poderia ter sarado a toda a multidão

tão facilmente como o fez com este homem. Porém Jesus usou seu poder divino para curar umúnico homem.Deus é soberano na maneira em que outorga a sua misericórdia. Ele mostra sua misericórdia

como a Ele apraz.Deus é soberano na forma em que mostra a sua graça. A graça é o favor divino mostrado

àqueles que não a merecem (senão que, ao contrário, merecem ser enviados para o inferno). Agraça é o oposto à justiça, já que a justiça nos dá só o que merecemos. A graça é a bondade deDeus para as pessoas que não a merecem, uma vez que ela tem odiado e desobedecido a Deus eSua lei. A graça é um dom (um presente) de Deus, de maneira tal que ninguém pode exigi-la comose fosse um direito, pois então deixaria de ser graça. Deus não deve graça a ninguém, senão que aconcede aos que Ele quer pela sua própria soberana vontade. Podemos regozijar-nos nisso, porqueos pecadores são salvos pela graça.

Isto significa que a pessoa mais pecaminosa pode ser alcançada por esta graça. A graça excluitoda arrogância humana e dá a Deus toda a glória da salvação.

Quase cd página da Bíblia nos lembra que Deus é soberano no outorgamento de sua graça.Quando Jesus nasceu, as boas novas não foram anunciadas a todo mundo, senão que foram dadasaos pastores de Belém e aos homens sábios do Oriente. Deus poderia tê-lo dito a todos, porémnão o fez, porque Ele é soberano na forma em que exerce a sua graça.

Percebe você que Deus tem outorgado a sua graça a pessoas com poucas probabilidades deserem alcançadas? Ele a mostrou aos pastores e a homens que nem sequer eram judeus.Freqüentemente, desde aquele momento até o dia de hoje, Deus tem feito exatamente o mesmo,mostrando a sua graça às pessoas mais desprezíveis e indignas. Tem Ele mostrado a sua graçapara você?

Temos visto que tudo na Bíblia nos diz que Deus é soberano. No próximo capítulo veremos quetodas as coisas que Deus tem criado também nos mostram que Ele é o Deus soberano.

TEXTOS BÍBLICOS:Daniel 11:32: "E aos violadores da aliança ele com lisonjas perverterá, mas o povo que conhece

ao seu Deus se tornará forte e fará proezas." Isaias 55:8-9: "Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos

caminhos os meus caminhos, diz o SENHOR. Porque assim como os céus são mais altos do que aterra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentosmais altos do que os vossos pensamentos."  

Romanos 11:33: "O profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus!Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!".

Efésios 1:1: "Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus, aos santos que estão emÉfeso, e fiéis em Cristo Jesus."  

Romanos 11:36: "Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele

eternamente. Amém."  1 Crônicas 29:10-11: "Por isso Davi louvou ao SENHOR na presença de toda a congregação; edisse Davi: Bendito és tu, SENHOR Deus de Israel, nosso pai, de eternidade em eternidade. Tua é,SENHOR, a magnificência, e o poder, e a honra, e a vitória, e a majestade; porque teu é tudoquanto há nos céus e na terra; teu é, SENHOR, o reino, e tu te exaltaste por cabeça sobre todos."  

1 Tm 6:15: "A qual a seu tempo mostrará o bem-aventurado, e único poderoso Senhor, Rei dosreis e Senhor dos senhores."  

CAPÍTULO 2DEUS CONTROLA A NATUREZA

"Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder; porque tu criaste todas as coisas, e por 

tua vontade são e foram criadas." Apocalipse 4:11 No Capítulo 1 vimos que a Bíblia ensina que Deus é soberano.

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Ele é soberano no uso de seu poder e na doação de sua graça e misericórdia. Neste capítulovamos descobrir mais evidências de Sua soberania.

Todo quanto Deus tem feito mostra que Ele é soberano e que tem o controle completo sobre aSua criação. Trate de pensar acerca do tempo antes de que Deus criasse o mundo. Desde entãoEle era soberano, e foi inteiramente uma decisão de Sua vontade criar alguma coisa ou não criarnada.

Também foi completamente coisa dEle, o fato de como o fez. Poderia ter feito um mundo tãopequeno que ninguém pudesse vê-lo. Quando Deus criou o universo, não pediu a ajuda nem oconselho de ninguém.

Então, pense acerca do mundo que Deus fez. Por que deveria haver mais água que terra seca?Por que deveria existir tanta terra inútil para uso humano e outros lugares tão úteis? Por queexistem lugares bons para se viver e outros ruins? Por que alguns países estão sujeitos a tantosdesastres naturais (terremotos, furacões, tornados, secas, etc.), e outros não? A resposta a tantasperguntas é porque assim o tem decidido Deus, porque assim se cumprem os seus propósitos.

Pense agora nas diferenças que existem entre os animais: cordeiros e ursos, elefantes e ratos.Alguns animais, como por exemplo os cães, parecem inteligentes, enquanto outros parecemtontos. As mulas e os burros suportam pesadas cargas, porém os leões e os tigres estão soltospara correrem livremente. Considere as aves no céu, os animais na terra e os peixes no mar. Porque existem tantas diferenças entre eles? A resposta é: porque Deus se agradou em fazê-losassim.

Considere também as plantas. Algumas dão um bonito aroma, mas outras não. Algumas árvoresproduzem um fruto saboroso, porém outras dão fruto venenoso. Por que é assim? Porque Deus fezo que Lhe apraz no céu, na terra e no mar.

Agora pense nos anjos. Eles não são todos iguais, alguns são mais importantes que outros, unssão mais poderosos que outros, alguns estão mais perto de Deus que outros. Por que existemestas diferenças entre os anjos? Todo o que podemos dizer é que o Deus soberano, que habita nocéu, tem realizado tudo quanto quis.

Todo o que Deus tem feito nos mostra a sua soberania, porque Ele faz tudo como melhor lheparece. Então, não deveríamos estar surpreendidos de que também existam diferenças entre osseres humanos. Algumas pessoas são muito inteligentes e outras não. Algumas desfrutam desaúde, enquanto outras vivem muito doentes. Todas as pessoas têm um temperamento diferente:umas são aptas para dirigir e governar, e outras o são para serem seguidoras e servos. Nãodeveriam surpreender-nos estas diferenças entre as pessoas, porque Deus faz a cada pessoadistinta das outras. Por que?

Porque assim lê parece melhor ao Deus soberano.Deus, quem fez todas as coisas, é absolutamente soberano. Ele faz o que Lhe apraz e efetua a

Sua própria vontade. Ele fez todas as coisas para Si mesmo, e possui também o direito de fazê-loassim, porque Ele é o Deus Todo Poderoso.

Porém Deus não só fez todas as coisas pelo seu próprio poder soberano, senão que tambémgoverna tudo. Imagine somente, o que aconteceria se Deus não controlasse o que Ele criou?Suponha que Deus tenha feito o mundo, e depois o abandonasse para que fosse governado pelasassim chamadas "leis da natureza".

Se Deus agisse assim, então não teríamos certeza de que o mundo não poderia ser destruído.Se tão somente as leis da natureza controlassem o mundo, então um poderoso tornado poderiaestragar tudo, ou um grande furacão poderia inundar tudo, ou um grande terremoto poderiaacabar com tudo.

Então, como poderíamos estar seguros de que essas são as coisas e não poderiam acontecer?Se ousarmos dizer que Deus não está controlando o mundo, então perderíamos toda a certeza deestabilidade. Se Deus não está controlando tudo, então todo acontece por pura casualidade.

Imagine o que aconteceria se Deus não colocasse limites às coisas más que realizam oshomens. Imagine como seria o mundo se a gente fosse completamente livre para fazer o quequisesse. Então toda a bondade no mundo desapareceria e a maldade e a confusão reinariam. Istodeixa manifesto a necessidade de que Deus governe o mundo, e Ele Tm o faz a fim de quenenhuma coisa se saia de controle e não aconteça o caos.

Deus está controlando ainda aquelas coisas que não têm vida como o clima, o vento e o mar.Quando Deus disse "Seja feita a luz", a luz foi feita. Quando Deus disse que enviaria um dilúviosobre o mundo antigo devido à depravação dos seus habitantes, então o dilúvio veio. Quando Deustrouxe as pragas sobre o Egito, a luz tornou-se obscuridade, as águas converteram-se em sangue

e grandes pedras de saraiva caíram. Deus estava controlando todos esses eventos. Existem muitosexemplos na Bíblia de como Deus tem controlado todas aquelas coisas que não têm vida. O fornodo rei Nabucodonosor foi esquentado sete vezes a mais do costume, e três dos filhos de Deusforam arrojados dentro dele, e o fogo nem sequer queimou as suas vestes, embora sim tivesse

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matado os homens que os lançaram no forno. Quando os discípulos iam com o Senhor JesusCristo numa pequena barca e a tormenta atemorizou-os, Jesus disse à tempestade: "Seja a paz", eentão o vento cessou e o mar acalmou-se. Deus controla o clima, porque Ele envia o gelo, a neve eo vento. Tm Ele envia e detém a chuva. Todas estas coisas inanimadas obedecem a voz de Deus eassim executam a Sua soberana vontade. Quando nos queixamos do clima, em verdade estamosqueixando-nos da vontade de Deus!

Deus fez o mundo e continua controlando-o. Ele é também soberano sobre os animais, oshomens e os anjos, como veremos no próximo capítulo.

CAPÍTULO 3DEUS CONTROLA O HOMEM

"O SENHOR tem estabelecido o seu trono nos céus, e o seu reino domina sobre tudo." Salmo 103:19

No Capítulo 2 vimos que Deus governa todas as coisas inanimadas no mundo, tais como a terra,o ar, o fogo e a água. Ele também governa os animais, os homens e os anjos.

Em primeiro lugar, Deus controla os animais. Isto é claramente ensinado na Bíblia. Em Gênesis6:20 lemos que antes que Deus enviasse o dilúvio sobre a terra, Ele fez que dois animais de cadaespécie entrassem na arca de Noé. Estes animais foram controlados por Deus. Em Êxodo capítulo 8temos uma descrição das pragas que Deus enviou sobre a terra de Egito. Lemos acerca de como asrãs saíram do rio Nilo e entraram no palácio do rei e nas casas dos seus servos. Deus inclusive fezcom que as rãs entrassem nos leitos dos egípcios, e ainda dentro de seus fornos (lugares ondecomumente as rãs não entram). Muitas moscas invadiram também a terra de Egito, porém não seaproximaram de nenhum dos lugares onde o povo de Deus se achava. Seguidamente, Deus fezcom que o gado dos egípcios adoecesse, mas nada do gado pertencente ao povo de Deusenfermou. Vemos que Deus teve o controle destes animais o tempo todo. Em 1 Reis 17:2-4 lemosque Deus disse ao seu profeta Elias que fosse viver perto de um ribeiro, onde uns corvos oalimentariam. Há muitas outras histórias como estas na Bíblia, que demonstram que Deus controlaos animais. Por exemplo, Deus fechou a boca dos leões quando seu servo Daniel foi colocado nofosso dos leões; Deus fez com que o grande peixe engolisse seu servo Jonas, e depois, quandoDeus quis, este peixe o vomitou em terra seca. Assim, sem lugar a dúvidas, é verdade que Deuscontrola os animais. Eles fazem exatamente o que Ele lhes manda fazer.

Em segundo lugar, Deus controla não só os animais, senão também os homens. Ainda que istoseja muito difícil de aceitar, desejo que compreendam que essa é a verdade. Porque só existemduas alternativas, ou Deus tem o controle o alguém mais o controla a Ele. Do mesmo modo, é avontade de Deus a que sempre se cumpre, ou é a vontade dos homens.

Agora, qual destas alternativas é a certa? É verdade que muitas pessoas odeiam a Deus, masisto não significa que Ele não possa usá-los como seus instrumentos quando Ele assim o deseje.Não é suficiente dizer que Deus pode deter os efeitos maus do que as pessoas más fazem.Também não basta simplesmente dizer que algum dia Deus castigará os maus pelos seus pecados.Deus é tão grande que cada coisa que as pessoas mais malvadas realizam está inteiramente sob oSeu controle. De fato, as pessoas más em realidade fazem o que Deus tem dito de antemão queeles fariam, ainda que a pessoa má não perceba isso. Isto é exatamente o que aconteceu comJudas, o homem que entregou a Jesus Cristo nas mãos de aqueles que o adiavam. Poderia alguém

ser mais malvado do que foi Judas? Assim sendo, se Judas estava fazendo aquilo que Deus tinhadecidido que fizesse, então não é difícil crer que todas as pessoas más estão igualmente realizandoo que Deus falou que haveria de acontecer.

Não queremos argumentar sobre este assunto, só desejamos ver o que a Bíblia diz. Em Atos17:28 lemos que em Deus vivemos e nos movemos e somos. Isto foi expresso pelos poetas gregosque não eram crentes e cujos discípulos zoaram da idéia de que Jesus ressuscitasse da morte. Masparece a ainda o realizado por estas pessoas estava sob o controle de Deus. De Provérbios 16:9aprendemos que a gente faz seus próprios planos para a sua vida, mas são os planos de Deus osque em realidade se cumprem: "O coração do homem planeja o seu caminho, mas o SENHOR lhedirige os passos". A história do rico insensato no Novo Testamento (Lucas 12:16-21) mostra quãocerta é esta afirmação. Nos fala de como um homem planejava construir grandes celeiros ondeguardaria toda a colheita que levantara. Ele planejava desfrutar de sua vida, porém Deus tinha

determinado algo diferente, e foi o plano de Deus o que se cumpriu. Deus declarou que aquelehomem néscio morreria essa mesma noite, e assim aconteceu.Nunca é correto dizer que as pessoas podem atuar em contra da vontade de Deus. Tão somente

pense nas seguintes passagens da Bíblia: Jó 23:13 diz: "Mas, se ele resolveu alguma coisa, quem

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então o desviará? O que a sua alma quiser, isso fará." Provérbios 21:30 diz: "Não há sabedoria,nem inteligência, nem conselho contra o SENHOR." Isaias 14:27 ensina que aquilo que Deus temdeterminado, não pode ser alterado por ninguém: "Porque o SENHOR dos Exércitos o determinou;quem o invalidará? E a sua mão está estendida; quem pois a fará voltar atrás?"  

A Bíblia ensina claramente que as ações de cada pessoa, sejam boas ou más, são controladaspelo Deus soberano. Os homens podem pensar que eles são mais fortes que Deus, rebelando-setalvez contra Ele, porém Deus ri de sua debilidade e do néscio que resultam. Ele é tão poderosoque pode destruí-los no momento em que assim o deseje.

Terceiro, Deus controla também os anjos. Eles são mensageiros de Deus. Escutam o que Deus

diz e fazem o que Ele lhes ordena. Ainda os anjos maus obedecem a Deus. Satanás mesmo estácompletamente sob o controle de Deus. Até que Deus lhe permitiu agir, Satanás foi incapaz detocar em Jó. Em Mateus 4:11 lemos que Jesus disse a Satanás que fosse embora e esteimediatamente o deixou. No fim do mundo, Satanás será lançado no lago de fogo que tem sidopreparado para ele e seus anjos.

Deus reina. Ele controla tudo, as coisas inanimadas, os animais, as pessoas e os anjos, incluindoSatanás mesmo. Não pode suceder nada em todo o universo a menos que Deus tenha determinadoque aconteça.

Aqueles que confiam num Deus tão grande têm paz em seus corações.Confiar num Deus soberano dá um sentido de segurança que fortalece a fé. Não é a

casualidade, nem o "azar", nem um homem, nem Satanás quem governam o mundo. É o DeusTodo Poderoso quem governa pela Sua boa vontade e para a Sua própria e eterna glória.

TEXTOS BÍBLICOS:Salmo 135:5-6: "Porque eu conheço que o SENHOR é grande e que o nosso Senhor está acima

de todos os deuses. Tudo o que o SENHOR quis, fez, nos céus e na terra, nos mares e em todos osabismos". 

Apocalipse 4:11: "Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder; porque tu criaste todasas coisas, e por tua vontade são e foram criadas".

João 1:3: "Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez".Salmo 115:3,15: " Mas o nosso Deus está nos céus; fez tudo o que lhe agradou. (...)Sois

benditos do SENHOR, que fez os céus e a terra".Hebreus 1:10: "E: Tu, Senhor, no princípio fundaste a terra, E os céus são obra de tuas mãos".Romanos 11:36: "Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele

eternamente. Amém".

CAPÍTULO 4DEUS FAZ COM QUE AS PESSOAS ACREDITEM

"Do SENHOR vem a salvação." Jonas 2:9

Talvez esteja você maravilhado de que, se Deus é soberano, por que não salva todo mundo deseus pecados? Sabemos que Deus salva algumas pessoas, mas por que não salva também aoutras? Não podemos dizer que algumas pessoas sejam demasiadamente más como para queDeus as salve, porque Paulo, o servo do Senhor, escreveu em 1 Timóteo 5:15 que ele foi o maiordos pecadores. Pelo que, se Deus pode salvar o primeiro dos pecadores, então ninguém é

demasiadamente mau como para não poder ser salvo. É então Deus incapaz de salvar algunssimplesmente porque eles não desejam serem salvos?Antes de responder esta pergunta, pensemos acerca da experiência de pessoas que têm

chegado a ser cristãs. Antes de chegar a serem crentes, elas não desejavam conhecer a Deus. Elascaminhavam pelos seus próprios caminhos e não pelos de Deus. Então, qual foi a mudança nelesque as fez acreditar e se converter nas pessoas que são hoje? Um crente responderia nas palavrasde 1 Coríntios 15:10: "pela graça de Deus sou o que sou". Contudo, todos os verdadeiros crentesdirão que, embora fossem responsáveis pelas suas próprias ações, pela Sua graça Deus foi capazde controlar e dirigir as suas vontades. Isto significa que eles estiveram dispostos a receber aCristo como Salvador, mas foi Deus quem primeiro lhes deu a disposição de crer. É só uma parteda verdade dizer que a gente não é convertida porque não quer acreditar. Não é toda a verdade.Por que então a gente não crê? A resposta é porque não têm fé. A fé é o dom de Deus, e Deus a

concede às pessoas que Ele tem escolhido. Lemos em Atos 13:48 que todos aqueles que estavamordenados para vida eterna acreditaram.Assim sendo, a razão do por que Deus não salvou todo mundo é que Deus o Pai é soberano na

salvação. Ele outorga o dom da fé salvadora só a quem Lhe apraz. Existem muitos textos na Bíblia

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que mostram que desde o Pai é soberano na salvação dos homens. Vamos a mencionar algunsexemplos. Em primeiro lugar, em Romanos 9:21-23 nos diz que Deus é como um oleiro e nós,como o barro. As pessoas a quem Deus tem escolhido e as que não tem escolhido são inteiramenteiguais em si mesmas. Se Deus não salvara aqueles que tem escolhido, então todo mundo seperderia; ou seja, todos iriam pro inferno. Mas Deus faz uma diferença entre as pessoas, assimcomo o oleiro faz da mesma massa diferentes classes de objetos, alguns para enfeitar e outrospara usos ordinários.

Deus pode fazer o que quer com o que é dEle, ou seja, com a gente que Ele criou. O Juiz detoda a terra fará o que é justo. A Bíblia, como já temos visto em Atos 13:48, diz que todos os que

foram escolhidos para a vida eterna acreditarão. Este versículo mostra claramente que o crer é oresultado da eleição de Deus. Também mostra que só certas pessoas têm sido escolhidas para avida eterna, o qual significa que eles serão salvos de seus pecados. Este versículo ensina que todosaqueles que são escolhidos por Deus, sem lugar a dúvidas chegarão a acreditar no Senhor JesusCristo.

Em segundo lugar, Romanos 11:5 nos diz que existem pessoas no mundo que têm sidoescolhidas pela graça de Deus. Também nos diz por que estas pessoas têm sido escolhidas parasalvação. Não foram eleitas porque Deus visse de antemão que eram boas pessoas. Foram eleitassimplesmente pela bondade de Deus para com aqueles que não a merecem.

Em terceiro lugar, 1 Coríntios 1:26-29 nos diz que Deus não tem escolhido a muitos sábios,nem poderosos, nem muitos nobres para que acreditem nEle. Ao contrário, tem elegido a algunsdos mais vis e fracos para que sejam Seu povo. Isto nos mostra que é Deus definitivamente quemescolhe às pessoas para que sejam salvas, porque a eleição de gente débil e simples é prova deque a salvação não tem nada a ver com as qualidades das pessoas mesmas. A eleição éinteiramente pela bondade de Deus e não devido a nenhuma outra razão.

Em quarto lugar, em Efésios 1:3-5 lemos que Deus escolheu seu povo antes da fundação domundo. Em amor os escolheu, para que viessem a serem santos e sem mácula, seus filhos e suasfilhas. Isto mostra que o povo de Deus foi eleito antes da queda de Adão, e nos ensina também omotivo pelo que Deus os escolheu. Como o texto o indica, os indicou para serem adotados comofilhos Seus, para louvor de Sua glória e de Sua graça (veja os versículos 5, 6 e 12). Também nosdiz que foram escolhidos conforme a Seu propósito soberano e Seu beneplácito (veja os versículos9-11). Em quinto lugar, em 2 Tessalonicenses 2:13, o apóstolo Paulo agradece a Deus que tenhaescolhido os Tessalonicenses para salvação, mediante a santificação pelo Espírito e a fé naverdade. Isto ensina que todo o povo de Deus é eleito para ser salvo e que é o Espírito Santoquem assegura que creiam a verdade.

Em sexto lugar, 2 Timóteo 1:9 declara que Deus chama e salva seu povo, não pelo que tenhamfeito, senão pela sua bondade e amor e Ele quis demonstrar aos Seus. Também ensina que isto foideterminado pelo conselho eterno da Trindade, antes que o mundo existisse.

Finalmente, a Bíblia nos diz claramente, em muitos outros textos, que Deus tem escolhido umpovo para que seja salvo (veja os textos na nota no final deste capítulo). E já que foram eleitos porDeus, eles buscam a Deus. assim sendo, não há necessidade de temer que Deus não tenhaescolhido você; se você O está procurando sinceramente, com certeza é porque Deus escolheuvocê. Por natureza ninguém busca a salvação de Deus, porque todos estão espiritualmente mortose separados de Deus. então, se tu desejas a salvação que Deus dá, esse desejo é evidência de queDeus te ama e está operando em você. Esta é uma das verdades mais alentadoras que seencontram na Bíblia; não duvide, a fé é o dom de Deus. Assim que, se você acredita, Deus tem lhedado essa fé, porque é o Seu desejo que você a tenha. Esta é uma verdade maravilhosa, não é?

TEXTOS BÍBLICOS: Os seguintes textos afirmam que Deus tem escolhido um povo para salvação:Efésios 1:4-5: "Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos

santos e irrepreensíveis diante dele em amor; e nos predestinou para filhos de adoção por JesusCristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade". 

Efésios 1:11: "Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados,conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade".

Atos 13:48: "E os gentios, ouvindo isto, alegraram-se, e glorificavam a palavra do Senhor; ecreram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna".

Marcos 13:20: "E, se o Senhor não abreviasse aqueles dias, nenhuma carne se salvaria; mas, por causa dos eleitos que escolheu, abreviou aqueles dias". 

Romanos 9:11-26: "Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para

que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor. Como está escrito: Amei a Jacó, eodiei a Esaú. Que diremos, pois? que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma. Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver 

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misericórdia. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que secompadece. Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra. Logo, pois, compadece-se dequem quer, e endurece a quem quer. Dir-me-ás então: Por que se queixa ele ainda? Porquanto,quem tem resistido à sua vontade? Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura acoisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre obarro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? E que direis seDeus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência osvasos da ira, preparados para a perdição; para que também desse a conhecer as riquezas da sua

glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou, os quais somos nós, a quemtambém chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios? Como também diz emOséias: Chamarei meu povo ao que não era meu povo; E amada à que não era amada. E sucederáque no lugar em que lhes foi dito: Vós não sois meu povo; Aí serão chamados filhos do Deus vivo".

Romanos 11:5-7: "Assim, pois, também agora neste tempo ficou um remanescente, segundo aeleição da graça. Mas se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não égraça. Se, porém, é pelas obras, já não é mais graça; de outra maneira a obra já não é obra. Poisquê? O que Israel buscava não o alcançou; mas os eleitos o alcançaram, e os outros foramendurecidos".

João 15:16: "Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para quevades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdesao Pai ele vo-lo conceda".

Mateus 20:16: "Assim os derradeiros serão primeiros, e os primeiros derradeiros; porquemuitos são chamados, mas poucos escolhidos".

Mateus 22:14: "Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos".2 Timóteo 1:9: "Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas

obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dostempos dos séculos".

2 Timóteo 2:10: "Portanto, tudo sofro por amor dos escolhidos, para que também eles alcancema salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna".

1 Tessalonicenses 1:4-5: "Sabendo, amados irmãos, que a vossa eleição é de Deus; porque onosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo,e em muita certeza, como bem sabeis quais fomos entre vós, por amor de vós". 

1 Pedro 1:1-2: "Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia,Capadócia, Ásia e Bitínia; eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito,

 para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas".Romanos 8:28-30: "E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem

daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porque os quedantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim deque ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; eaos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou".

CAPÍTULO 5POR QUEM MORREU CRISTO?

"Conhecidas são a Deus, desde o princípio do mundo, todas as suas obras." Atos 15:18

No Capítulo 4 vimos que Deus o Pai é soberano na salvação.Ele concede o dom da fé para que as pessoas possam crer. Deus dá esta fé só àqueles que Ele

tem escolhido e sem dúvidas tem o direito de atuar como e quando quer neste assunto.Agora, neste capítulo mostraremos que Deus o Filho é também soberano na salvação. Há quem

predicam que Cristo morreu para fazer que a salvação do pecado fora possível para todo mundo.Porém, isto não pode ser verdade porque Jesus mesmo disse que Ele daria vida eterna só àquelesque lhe foram "dados" pelo Pai. Atente para as palavras de Jesus em João 17:2: "Assim como lhedeste poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste".

Muitas passagens na Bíblia ensinam que Cristo morreu somente por aqueles que Deus escolheu.Vejamos algumas destas passagens. Temos visto que antes da fundação do mundo Deus escolheuum povo para ser salvo. A Bíblia ensina que Cristo veio ao mundo para fazer a vontade do Pai. Em

João 6:38 lemos as seguintes palavras de Jesus: "Porque eu desci do céu, não para fazer a minhavontade, mas a vontade daquele que me enviou". Também Jesus falou do povo que Deus lhe haviadado em João 17:6, dizendo: "Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste; eram

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teus, e tu mos deste...". Fica claro então que Deus tem escolhido certas pessoas para seremsalvas, e que Jesus, realizando a vontade de Deus, morreu para executar a salvação deles.

Outro ponto que devemos considerar é o seguinte: quando Jesus morreu, ele tomou o lugar dospecadores culpados e sofreu em lugar deles, a fim de que eles não tivessem que sofrer o castigopelos seus pecados. Se Jesus tivesse sofrido e morrido em lugar de todos, então ninguém teria quesofrer pelos seus pecados. Ou seja, Deus, sendo justo, não poderia exigir dois pagamentos pelosmesmos pecados, vendo-Se obrigado a deixar livres a todos.

No entanto a Bíblia fala de pessoas que morrem em seus pecados e a eles Jesus diz: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno..." ( Mateus 25:41). Resulta claro então que Jesus não

morreu por todos, porque existem algumas pessoas que receberão a maldição de Deus e terão desofrer pelos seus pecados.(NOTA: também devemos ter em conta o fato de que muitas pessoas já estavam no inferno

antes que Cristo viesse e morresse. Resulta evidente que Cristo não fez nada para salvar àquelesque já estavam perdidos antes de sua vinda).

Vemos em Hebreus 9:24 que Cristo Jesus "entrou (...) no mesmo céu, para agora comparecer  por nós perante a face de Deus". Também em Hebreus 7:25 diz: "Portanto, pode também salvar   perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles". Perceba que Jesus não está intercedendo a favor de todos (como também nos fala Romanos 8:34:"Quem é que condena? Pois é Cristo quem morreu, ou, antes, quem ressuscitou dentre os mortos,o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós." ), que Cristo intercede só a favor doseleitos. Cristo afirma isto mesmo quando diz em João 17:9: "Eu rogo por eles; não rogo pelomundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus". No Antigo Testamento, o sumosacerdote intercedia diante de Deus em favor deste mesmo povo. Numa forma semelhante, Cristotem realizado o sacrifício de si mesmo pelos pecados de todos aqueles que o Pai tem escolhido, eagora, como sumo sacerdote, ele intercede por eles no céu. Assim sendo, já que cristão sóintercede a favor do povo eleito de Deus, isto quer dizer que morreu só por eles.

Em João 6:44 Cristo diz: "Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e euo ressuscitarei no último dia". Também diz o mesmo em 6:65: "E dizia: Por isso eu vos disse queninguém pode vir a mim, se por meu Pai não lhe for concedido". Isto ensina que é o poder divino oque faz com que o pecador esteja disposto a acudir a Cristo e que, por natureza, todos estãoindispostos para vir. Sabemos que algumas pessoas nunca virão a Jesus. Por que não vêm? Algunsrespondem que Jesus nunca constrange ninguém para recebê-Lo como Salvador. Em certo sentido,isto é verdade, mas em outro sentido está completamente errado. Cristo tem o poder para fazercom que a gente venha a Ele, porque Ele é Deus mesmo, o Todo Poderoso. Uma razão pela qual

muitas pessoas não vêm a Jesus é porque Cristo não teve o propósito de salvá-las. Cristo teve aintenção de salvar só àqueles que Deus tinha eleito. Ele usa seu divino poder para fazer que estaspessoas em particular estejam dispostas a recebê-Lo como Senhor e Salvador.

Cristo afirmava este ensino em muitos textos. Por exemplo, ele diz em João 6:37: "Todo o queo Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora". Em João 10:26diz: "Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito".

Em João 5:21 diz que "...assim como o Pai ressuscita os mortos, e os vivifica, assim também oFilho vivifica aqueles que quer." Em Mateus 11:27 Cristo diz que "...ninguém conhece o Pai, senãoo Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar."  

Em Mateus 1:21 diz: "...e chamarás o seu nome JESUS; porque ele salvará o seu povo dosseus pecados". Jesus mesmo disse em Mateus 20:28 que veio dar sua vida em resgate por"muitos". Perceba que não diz que veio dar sua vida em resgate por "todos". Mateus 26:28

declara: "...isto é o meu sangue; o sangue do novo testamento, que é derramado por muitos, pararemissão dos pecados". Em João 10:11, Cristo afirma que dará sua vida "pelas ovelhas". Efésios 5:25 afirma que Cristo

entregou-se a si mesmo pela "Sua Igreja". Hebreus 9:28 declara que "...Cristo, oferecendo-se umavez para tirar os pecados de muitos...". Também vemos o mesmo no Antigo Testamento, naprofecia de Isaias 53:12: "...ele levou sobre si o pecado de muitos...", e "pela transgressão do meu povo ele foi atingido" (versículo 8), e "...com o seu conhecimento o meu servo, o justo, justificaráa muitos; porque as iniqüidades deles levará sobre si" (versículo 11).

Finalmente, vamos prestar atenção em alguns textos da Bíblia que parecem ensinar que Jesusmorreu por todos os homens sem exceção. Ao ler cuidadosamente estes textos perceberemos querealmente não ensinam tal coisa. Em 2 Coríntios 5:14 diz que Jesus morreu "por todos". Noentanto, se lemos o versículo 15, podemos apreciar que "todos" refere-se a "todos os crentes".

Ao dizer "um morreu por todos" indica que Cristo morreu por todos os Seus. Em 1 Timóteo 2:6diz que Cristo "se deu a si mesmo em preço de redenção por todos". mas a Bíblia usa esta palavra"todos" em várias maneiras: às vezes significa "alguns de cada classe", outras vezes a palavra"todos" pode significar "cada um de uma espécie em particular" ou "toda classe de pessoas".

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Nesta passagem significa que Jesus morreu por toda classe de pessoas, ricos e pobres,poderosos e fracos. Já temos visto outras passagens que ensinam claramente que Cristo morreupor todos os eleitos de Deus. Outro versículo em Hebreus 2:9 nos diz que "pela graça de Deus, provasse a morte por todos". Mas em seguida declara que "todos" são somente os filhos de Deus.(O versículo 10 refere-se a muitos filhos, o versículo 11 os chama de "irmãos", o versículo 13 falade "os filhos que Deus me deu" , o versículo 16 os chama "a semente" de Abraão e o versículo 17diz que Ele morreu "para expiar os pecados do povo"). 

Então, já vimos que a Bíblia mostra claramente que o Senhor Jesus morreu por aqueles que oPai escolheu para salvação. Não há limite nem no valor nem no poder da salvação de Deus, porém

em sua soberania Cristo tem assegurado que esta redenção seja aplicada somente ao povo queDeus escolheu. Portanto, posso fazê-lhe uma pergunta muito importante?É você uma das pessoas eleitas por Deus? Você foi salvo por Jesus?NOTA DO TRADUTOR: alguns opõem-se à idéia de que Cristo morreu só pelos crentes, se

baseando nos textos que usam a palavra "mundo" ou a frase "todo mundo". Um estudo profundodo uso da palavra "mundo" no Novo Testamento revela que essa palavra (grego= "kosmos"), éusada nas seguintes formas:

1. Para se referir ao universo inteiro, veja Atos 17:24, Efésios 1:4, etc.2. Para se referir à terra, veja João 13.13. Para se referir à maioria dos homens, veja Romanos 1:8.4. Para se referir ao Império Romano, veja Lucas 2:1.5. Para se referir aos homens maus (os descrentes), ou seja, o "mundo" dos incrédulos, veja

João 14:17, 1 João 5:19, etc.6. Para se referir aos crentes (o "mundo" dos crentes), veja João 6:33, 2 Coríntios 5:19, etc.7. Para se referir ao mundo como um sistema corrupto, veja 1 João 2:15-17.8. Para se referir aos gentis em contraste com os judeus, veja Romanos 11:11-12.Então, não devemos cair no erro de pensar que o mero uso da palavra "mundo" signifique que

Cristo morreu por todos e cada um dos homens do mundo.

CAPÍTULO 6O ESPÍRITO SANTO CHAMA OS ESCOLHIDOS DE DEUS

"Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveissão os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!" 

Romanos 11:33

Já temos visto que Deus o Pai é soberano em escolher certas pessoas para que sejam salvas dopecado, e também temos visto que Deus o Filho é soberano em morrer para salvar os escolhidos.Neste capítulo veremos que Deus o Espírito Santo é soberano na salvação. Ele chama eficazmenteàqueles que Deus tem escolhido e aplica-lhes os benefícios da morte de Cristo.

Do que já temos aprendido, era de se esperar que fosse assim. Se Deus o Pai escolheu certaspessoas e Deus o Filho morreu por elas, o Espírito Santo deveria aplicá-lhes os benefícios da mortede Cristo. E isto é exatamente o que a Bíblia ensina.

Em João 3:8 lemos que o vento "assopra onde quer". Nós ouvimos seu som, mas não podemosdizer de onde vem e aonde vai.

Assim é com todo aquele nascido do Espírito. Neste versículo a ação do Espírito Santo é

comparada com o vento. Tal como o vento assopra "onde quer", assim o Espírito Santo obra ondelhe apraz. Assim como nós não podemos dizer de onde vem o vento e aonde vai, assim tambémnão podemos ver como e onde operará o Espírito Santo. O vento assopra quando, onde e como aele lhe apraz, ou pelo menos assim nos parece a nós.

Desde a nossa perspectiva humana, o vento é soberano no que faz. Assim também o EspíritoSanto é soberano no que faz. Em ocasiões, o vento assopra suavemente e em outras,barulhentamente. Também o Espírito Santo às vezes opera suavemente, de maneiras que nãopodemos discernir, e em outras, opera poderosamente, de formas que todos podem ver. O EspíritoSanto faz o que lhe apraz. Neste capítulo queremos mostrar que o Espírito Santo é soberano emtrazer os escolhidos ao novo nascimento.

Primeiro, sabemos que as pessoas mortas em pecado não podem vivificar-se a si mesmasespiritualmente. Nós não fizemos nada a respeito de nosso nascimento físico, e do mesmo modo

não podemos fazer nada em relação com o nosso nascimento espiritual. Segundo João 5:24, estenascimento novo significa "passar de morte para a vida". Uma pessoa espiritualmente morta nãopode vivificar-se a si mesma, tal como uma pessoa fisicamente morta também não poderessuscitar-se. João 6:63 diz: "O Espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita". (Outros

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textos que afirmam o mesmo ponto são: João 1:13; 5:21; 3:5-6; Tiago 1:18; 1 Pedro 1:23;Efésios 2:5, etc.). porém, fica claro que o Espírito Santo não dá a nova vida a todos.

Por que não? A resposta comum a esta pergunta é que nem todos confiam em Cristo. Muitosdirão que o Espírito Santo só dá a vida espiritual às pessoas que acreditam primeiro em Cristo. Masesta resposta coloca as coisas numa ordem errada. Não é a fé a que conduz à vida espiritual, masa nova vida espiritual que nos é concedida traz com ela a fé. A fé salvadora não é algo que temospor natureza. 2 Tessalonicenses 3:2 diz que nem todos os homens têm fé. Efésios 2:1 diz que pornatureza estamos mortos em nossos delitos e pecados. Então, se estamos espiritualmente mortos,não podemos ter fé, porque a gente morta não pode crer em nada.

Segundo, a Bíblia ensina claramente que a obra do Espírito Santo de dar vida espiritual aconteceantes que tenhamos fé em Cristo. (Ou seja, que a regeneração precede à fé ou, em outraspalavras, a fé vem como resultado do novo nascimento). Em 2 Tessalonicenses 2:13 diz: "...por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé daverdade". Aqui nos fala que os Tessalonicenses tinham sido eleitos e foram "apartados" ou"separados" pelo Espírito Santo antes que cressem na verdade. A palavra santificação nesteversículo tem o significado de "separar" ou "pôr aparte para os usos de Deus". então, que significaaqui ser "apartado" pelo Espírito Santo? Imagine que 100 pessoas escutam o evangelho dasalvação pela fé em Cristo; mas só uma pessoa crê. Esta pessoa tem nascido de novoespiritualmente e agora tem nova vida. Tem sido "apartada" ou "separada" das outras 99 que nãoacreditaram. Assim, 2 Tessalonicenses 2:13 nos explica que as pessoas que Deus tem escolhidosão afastadas pelo Espírito Santo a fim de que creiam a verdade.

(NOTA DO TRADUTOR: Esta obra do Espírito Santo de colocar aparte é comumente denominada"o chamamento eficaz", porque é um chamamento especial que o Espírito Santo realiza nosescolhidos, assegurando que se arrependam e acreditem em Cristo). A ordem das coisas é muitoimportante. primeiro, Deus escolhe; segundo, ocorre o chamamento do Espírito Santo ao "chamar"ou "separar" (santificar) os escolhidos; e por último, vem a fé na verdade. Esta é a mesma ordemassinalada em 1 Pedro 1:2, que diz assim: "Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, emsantificação do Espírito, para a obediência..." (Ou seja, para a obediência do evangelho). Antes quecheguemos a crer em Cristo, tem que suceder primeiro a obra do Espírito afastando-nos, e aindaantes disso é a eleição de Deus.

Assim sendo, podemos ver que a obra do Espírito Santo é uma parte necessária do plano deDeus para o seu povo. Se Deus somente tivesse dado a Cristo para morrer pelos pecadores,nenhum pecador teria sido salvo. A obra do Espírito Santo é vital. O Espírito tem que obrarprimeiro no coração antes que qualquer pecador possa ver a sua necessidade de ser salvo do

pecado. Os pecados necessitam ser renascidos e capacitados com uma disposição nova para poderreceber a Cristo. Ou seja, sem esta obra do Espírito Santo ninguém acreditaria. Embora oevangelho da salvação fosse predicado repetidas vezes, ninguém acreditaria em Cristo sem a obrado Espírito Santo em seus corações. Por que é assim? Devido a que por natureza toda pessoaodeia a Deus e não está disposta a se arrepender nem a acreditar em Cristo.

Portanto, é devido a que o Espírito Santo opera no coração dos escolhidos que estes crêem.Tem começado Deus o Espírito Santo a trabalhar em seu coração? É você um crente em Cristo

Jesus? Deseja ser um crente? Ouça! Se você deseja crer em Jesus Cristo, algo o tem feito diferentede todos aqueles que rejeitam vir a Cristo. O fato de que você procura a salvação em Cristo Jesusé uma evidência de que o Espírito Santo está chamando você.

Não significa isto então que você é uma das pessoas pelas quais Cristo morreu?Pense nisso!

TEXTOS BÍBLICOS:Filipenses 2:12-13: "De sorte que, meus amados, assim como sempre obedecestes, não só naminha presença, mas muito mais agora na minha ausência, assim também operai a vossa salvaçãocom temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo asua boa vontade".

2 Tessalonicenses 2:13: "Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados doSenhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, efé da verdade" 

Lucas 10:21-22: "Naquela mesma hora se alegrou Jesus no Espírito Santo, e disse: Graças tedou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes, e asrevelaste às criancinhas; assim é, ó Pai, porque assim te aprouve. Tudo por meu Pai me foientregue; e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho, e

aquele a quem o Filho o quiser revelar".João 6:37: "Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma olançarei fora".

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2 Timóteo 1:9: "Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossasobras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dostempos dos séculos".

CAPÍTULO 7DEUS CONTROLA A HISTÓRIA

"Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém." 

Romanos 11:36Até agora temos visto que Deus controla tudo, incluindo a salvação das pessoas que Ele tem

escolhido. Deus o Pai escolheu certas pessoas para serem salvas; Deus o Filho morreu para salvá-las, e Deus o Espírito Santo lhes outorga a vida espiritual. Mas, está Deus controlando tudoconforme um plano determinado ou está continuamente mudando este plano? Neste capítuloveremos que Deus está controlando tudo de acordo a um plano fixo e predeterminado.

Muita gente ficaria de acordo com que Deus sabe de antemão o que acontecerá no futuro. Assimsendo, se Deus sabe o que sucederá, isto só pode significar que no passado Ele decidiu o que deviaacontecer; já que se Deus não tivesse decidido o que sucederia, não poderia ter conhecido complena certeza o que haveria de acontecer. A presciência (pré-conhecimento) de Deus não faz queas coisas aconteçam,; elas acontecem devido a que Ele já tinha decidido que sucedessem. Em Atos15:18 diz que Deus conhecia o que ia acontecer desde antes que o mundo começasse:"Conhecidas são a Deus, desde o princípio do mundo, todas as suas obras". Isto significa que Deustem um plano fixo e que não o muda.

(NOTA DO TRADUTOR: quando a Bíblia fala de que Deus se arrepende, por exemplo, emGênesis 6:6, não devemos entender a palavra "arrependimento" como se tivesse acontecido umamudança em Deus. Também não devemos concluir que isso signifique o surgimento de algo nãoprevisto por Deus em seu pano eterno. Temos que interpretar o arrependimento de Deus à luz deoutras escrituras e à luz da natureza e dos atributos do próprio Deus. Por exemplo, temos quelevar em conta os seguintes versículos para poder entender o que significa o arrependimento deDeus: 1 Samuel 15:29 declara o seguinte: "E também aquele que é a Força de Israel não mentenem se arrepende; porquanto não é um homem para que se arrependa". Tiago 1:17 afirma que"Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem nãohá mudança nem sombra de variação." ["variação" significa "mudança"]. O salmista disse: "Mas o

nosso Deus está nos céus; fez tudo o que lhe agradou" (Salmo 115:3). Isaias proclamou: "Porqueo SENHOR dos Exércitos o determinou; quem o invalidará? E a sua mão está estendida; quem,  pois, a fará voltar atrás?" (Isaias 14:27). Nabucodonosor, ao voltar a si, afirmou: "E todos osmoradores da terra são reputados em nada, e segundo a sua vontade ele opera com o exército docéu e os moradores da terra; não há quem possa estorvar a sua mão, e lhe diga: Que fazes?"  (Daniel 4:35). Jeová diz por boca de Isaias: "Lembrai-vos das coisas passadas desde aantiguidade; que eu sou Deus, e não há outro Deus, não há outro semelhante a mim. Que anuncioo fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: Omeu conselho será firme, e farei toda a minha vontade"  (Isaias 46:9-10). Outra vez o salmistaescreve: "O conselho do SENHOR permanece para sempre; os intentos do seu coração de geraçãoem geração" (Salmo 33:11). Por fim, o apóstolo Paulo no Novo Testamento: "Porque dele e porele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém" (Romanos 11:36).

Estes versículos nos conduzem a afirmar que a única interpretação correta do arrependimento deDeus é que se trata do uso de um antropomorfismo. Ou seja, que Deus digna-se falar-nos como sefosse um homem, utilizando uma linguajem humana, como se Deus experimentasse umamudança. Mas em realidade a mudança está nos homens e na maneira como Ele trata com eles, enão na natureza de Deus.)

Vejamos qual foi o plano de Deus quando fez o mundo e todas as pessoas que o habitam. ABíblia nos diz em Provérbios 16:4 que Deus fez todas as coisas para Si mesmo. Em Apocalipse4:11 diz que Deus criou todas as coisas para Seu próprio prazer. Quando criou o mundo eespecialmente quando criou o homem, tinha a intenção de manifestar sua própria glória. Noobstante, Deus sabia perfeitamente, antes de criar o homem, que ele cairia. Portanto, antes que omundo fosse feito, Deus decidiu salvar a muitas pessoas por meio do Senhor Jesus Cristo. Assimsendo, a salvação de muitos pecadores através de Cristo Jesus fez parte do plano de Deus antes

que o mundo fosse feito. Deus planejou manifestar a sua bondade através da salvação de muitaspessoas pecadoras. E sendo que Deus sempre tem controlado o mundo desde a criação, Ele éperfeitamente capaz de executar seu plano de salvar a muitos pecadores dos seus pecados.

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Num capítulo anterior vimos que Deus controla as coisas inanimadas e os animais. Tambémvimos que Deus tem usado tanto as coisas inanimadas como os animais para proteger, cuidar eainda advertir o seu povo escolhido. Assim sendo, tanto as coisas inanimadas como os animais sãoutilizados por Deus em seu plano. Mas, como controla Deus os homens para efetuar seu plano desalvar seu povo de seus pecados? Primeiro consideraremos como Deus opera na vida dos seus,aqueles que têm sido escolhidos para serem salvos.

Em primeiro lugar, Deus vivifica espiritualmente seu povo escolhido.Em si mesmas, estas pessoas não são diferentes das outras; ou seja, não desejam obedecer a

Deus, assim como os outros também não o desejam. Porém Deus muda a natureza das pessoas

que Ele tem escolhido a fim de que eles desejem realmente ser santos e obedecê-Lo. Estamudança é tão grande que a Bíblia a define como "um novo nascimento". Ser vivificadosespiritualmente não é meramente uma mudança temporal de opinião, senão um câmbio completo,o qual alcança a pessoa completa (sua mente, suas emoções e sua vontade). Esta mudança durapara sempre e é operada em conformidade com o plano de Deus.

Em segundo lugar, Deus dá fortaleza e poder a seu povo. Mediante este poder os crentes sãocapacitados para realizar o que Ele lhes ordena. Eles são capacitados para mostrar em suas vidasos frutos do Espírito: o amor, o gozo, a paz, a paciência, a fé, a mansidão e a temperança.

Em terceiro lugar, Deus guia as pessoas escolhidas a fim de que voluntariamente realizem ascoisas que Lhe agradam.

Em quarto lugar, Deus cuida de seu povo para que nesta vida possam continuar amando-O eservindo-O, cumprindo assim o Seu plano.

Em todas estas formas Deus efetua seu propósito de salvar a muitas pessoas de seus pecados.Mas também Deus efetua seus propósitos controlando a muitas pessoas malvadas. Vejamos comoé Seu controle sobre este tipo de pessoas.

Em primeiro lugar, às vezes Deus evita que a gente má realize coisas malvadas. Em Números23 a Bíblia nos fala de um homem chamado Balaão, quem tinha sido contratado para amaldiçoar opovo de Deus (os israelitas). Balaão mesmo queria amaldiçoá-los, porém Deus o deteve. Em vezde amaldiçoá-los, Deus fez com que ele os abençoasse. Assim, pois, Deus às vezes detém aspessoas malvadas de realizarem coisas perversas.

Em segundo lugar, às vezes Deus muda o pensamento das pessoas más a fim de que façam aSua vontade. Por exemplo, quando os israelitas, o povo de Deus, foi cativo dos persas, Deus fezque o rei da Pérsia (Ciro) emitisse um decreto para a reconstrução do templo em Jerusalém.

O rei Ciro era um homem muito malvado, mas a sua mente foi mudada de modo que elefizesse a vontade de Deus.

Em terceiro lugar, às vezes Deus faz com que surja o bem das más ações das pessoasperversas. Isto se manifesta especialmente na crucifixão do Senhor Jesus Cristo. Apesar de que oshomens maus simplesmente queriam matá-lo, foi por meio de Sua morte na cruz que Cristo salvoude seus pecados a todo seu povo escolhido.

Em quarto lugar, às vezes Deus faz que as pessoas más se tornem piores. (Assim o dizRomanos 9:18: "…e endurece a quem quer"). Deus faz com que sejam incapazes de ver o bom e overdadeiro. Assim aconteceu com Faraó, o rei dos egípcios, de tal maneira que ele chegou a sercada vez mais cruel com os israelitas. Para nós é difícil compreender por que Deus realiza taiscoisas, mas podemos estar seguros de que o Juiz Justo de toda a terra não pode cometer injustiça,e que Ele manifesta a Sua grandeza e Sua soberania quando age assim.

Então, Deus tem um propósito definido ao controlar o mundo e os seus habitantes. (Istosignifica que Deus controla a história e seus acontecimentos). O plano de Deus é salvar a uma

grande multidão de pessoas dos seus pecados. Ele dá ao seu povo eleito vida espiritual, poder,guia e proteção. Ele também impede, debilita, dirige ou incomoda o que a gente má faz. Assimsendo, todas as coisas são controladas por Deus e Ele efetua perfeitamente seu plano de salvarseu povo dos seus pecados. Que maravilhosa sabedoria e glória pertencem a Deus! não devemaravilhar-nos que os crentes O louvem pelo que Ele é e pelo que Ele tem feito.

TEXTOS BÍBLICOS: Salmo 147:15-18: "O que envia o seu mandamento à terra; a sua palavra corre velozmente. O

que dá a neve como lã; esparge a geada como cinza; o que lança o seu gelo em pedaços; quem pode resistir ao seu frio? Manda a sua palavra, e os faz derreter; faz soprar o vento, e correm aságuas".

Isaias 14:27: "Porque o SENHOR dos Exércitos o determinou; quem o invalidará? E a sua mãoestá estendida; quem, pois, a fará voltar atrás?" 

Isaias 46:9-10: "Lembrai-vos das coisas passadas desde a antiguidade; que eu sou Deus, e nãohá outro Deus, não há outro semelhante a mim. Que anuncio o fim desde o princípio, e desde aantiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho será firme, e farei todaa minha vontade".

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Provérbios 21:1: "Como ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do SENHOR, que oinclina a todo o seu querer".

Provérbios 19:21: "Muitos propósitos há no coração do homem, porém o conselho do SENHOR permanecerá".

CAPÍTULO 8A NOSSA VONTADE NÃO É REALMENTE LIVRE

"Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade." Filipenses 2:13

Muitas pessoas dizem que o homem tem "livre arbítrio". Elas dizem que podemos escolher pornós mesmos acreditar ou não no Senhor Jesus. Nos dizem que temos em nós mesmos acapacidade para aceitar ou rejeitar a Cristo.

Porém a Bíblia não ensina isso. Rm 3:11 diz que ninguém deseja buscar a Deus. é verdade quea Bíblia diz que quem quiser pode vir a Cristo, mas isto não significa que os homens possuam acapacidade de vir.

De fato, a Bíblia diz claramente que ninguém tem a capacidade de vir a Cristo. (Veja, porexemplo, João 6:44, 65). Romanos 8:7 nos diz que a nossa natureza caída está em inimizadecontra Deus. João 15:18 diz que o mundo odeia em forma natural a Deus. leia estes versículos porsi mesmo e veja que isto é bíblico.

Fica claro então que a Bíblia diz que as nossas vontades não são realmente livres. Não somoslivres para escolher se vamos receber a Cristo como nosso Salvador ou não. Em realidade, longede sermos livres ou neutrais, a nossa vontade é escrava de outras coisas.

Mas, o que é a nossa vontade? A vontade é a capacidade de escolher entre uma coisa e outra,ou entre mais alternativas. Mas algo sempre influi na eleição, que nos faz decidir em prol de umaou em contra de outra alternativa. Isto significa que a nossa vontade é como uma serva daquelascoisas que influem em sua decisão. Portanto, a nossa vontade não pode ser livre.

Quais são as coisas que influem em nossa vontade para que escolha entre uma coisa ou outra?Isso depende de que tipo de pessoas sejamos; ou seja, depende de nossa natureza e caráter. Emalgumas pessoas esta influência pode ser a razão, e em outras poderia ser a consciência ou asemoções, ou poderia ser Satanás ou o Espírito Santo. Qualquer destas coisas que tenha maisinfluência sobre a pessoa é o que em verdade controla a sua vontade. Então, enquanto muitos

dizem que é a vontade do homem o que o governa, a Bíblia ensina que é a sua natureza interna aque o controla. A Bíblia chama esta natureza interior "o coração". É o nosso coração (nossanatureza interior) o que influencia a nossa vontade.

Portanto, quando alguém realiza uma eleição, fará o que agrada a seu coração. Se um pecadortem que escolher entre uma vida de bondade e de santidade e uma vida de pecado e egoísmo,escolherá a vida de pecado. Por que? Porque isso é o que agrada a seu coração. Seu coração (seu"eu" interior) é pecaminoso. Lembre-se, a vontade do homem (sua capacidade de escolha) estácontrolada pelo seu coração pecaminoso.

A Bíblia ensina que os nossos corações são por natureza pecaminosos e que por naturezaodiamos a Deus. Devido a isso, as nossas vontades inclinam-se naturalmente para a maldade, jáque as nossas vontades são controladas pelos nossos corações pecaminosos. E já que nuncasomos forçados a pecar em contra de nossa vontade, existe um sentido em que podemos dizer que

as nossas vontades são "livres". Como pessoas somos livres de fazer o que nos dá prazer, masporque somos pecadores, gostamos sempre é de pecar. Isto é semelhante a um homem quesustém um livro em sua mão e depois o deixa cair. O livro é agora livre, mas naturalmente cai nochão. O homem que o soltou não o tem forçado a cair no chão: aí caiu. Do mesmo modo, ninguémforça o pecador a pecar; ele peca naturalmente porque a sua natureza pecaminosa controla a suavontade.

Ele escolhe pecar livre e deliberadamente, mas sempre escolhe pecar porque a sua natureza épecaminosa.

O pecado tem afetado cada parte da natureza do homem, ou seja: a sua mente, suas emoçõese sua vontade. O homem é totalmente depravado e isso não é difícil de provar. Não temos quediscutir acerca da natureza pecaminosa do homem, já que nenhuma pessoa pode guardar asnormas que ela impõe a si mesma. Também não pode fazer as coisas boas que deseja realizar,

nem muito menos as coisas que agradam a Deus (é por isso que a Escritura declara: "Não há um justo, nem um sequer" (Romanos 3:10). Isto mostra claramente que o homem não é livre, senãoque está controlado pelo pecado e por Satanás. O pecado tem penetrado em cada parte de nossanatureza humana. Por natureza não queremos realizar a vontade de Deus, e também não

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desejamos amá-Lo. O pecado tem entrada em cada parte de nós, incluindo as nossas vontades.Nossas vontades não são livres.

De igual maneira como as outras partes de nosso ser, a vontade é governada pelo pecado eestá em oposição a Deus. Sendo assim, não é correto dizer que o homem é capaz de escolheramar e obedecer a Deus, porque em realidade a vontade não deseja obedecer a Deus em absoluto.Também não é correto dizer que os homens têm que fazer "a sua parte" na salvação de simesmos. Um homem morto não pode fazer nada para salvar a si mesmo, e a Bíblia nos diz que oshomens estão mortos a causa de sua desobediência e pecado. Somente Deus pode mudar a nossanatureza pecaminosa de modo que cheguemos a amá-Lo e obedecê-Lo.

(Veja os seguintes versículos para confirmar esta verdade: Romanos 8:7-8; 1 Coríntios 2:14;João 6:44, 65; João 3:1-9; Efésios 4:17-19; Efésios 2:1-10; João 8:34, 44; Gênesis 6:5;Eclesiastes 9:3; Jeremias 17:9; Marcos 7:21-23; Isaias 53:6 y 64:6; Jó 14:4; Jeremias 13:23,etc.).

Temos aprendido que Deus tem o controle de todas as coisas. Deus o Pai escolheu salvar acertas pessoas de seus pecados. Jesus Cristo morreu para salvá-los e o Espírito Santo lhes dá vidaespiritual. Na salvação de seu povo e em seu controle de todas as coisas, Deus opera de acordocom Seu propósito determinado. Nenhuma pessoa pode escolher se será salva ou não, porque asua vontade é por natureza má e não deseja o que é bom. Ou seja, se Deus deixara liberados atodos nós aos desejos de nossa própria natureza, então nenhum seria salvo, mas todos perdidos.Só Deus pode realizar que uma pessoa deseje ser salva de seus pecados.

Muitas pessoas desejam escapar das conseqüências de seus pecados, mas ninguém pornatureza quer deixar o pecado, nem ser salvo de seu controle e domínio. É por isso que a Bíbliaensina que o arrependimento e a fé são dons que Deus concede só aos seus escolhidos. (Veja porexemplo: 2 Timóteo 2:24-26; Atos 5:31 y Atos 13:48; Filipenses 1:29 y 2:13-14; Tiago 1:18; 1Coríntios 3:5; Romanos 12:3; Atos 16:14).

CAPÍTULO 9A SOBERANIA DE Deus E A RESPONSABILIDADE HUMANA

"Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade." Filipenses 2:13

No capítulo anterior consideramos a questão da vontade humana.

Temos visto que a vontade do homem natural não é soberana nem também não livre, senãoantes bem serva de sua natureza caída e do pecado.

Não é possível sustentar a doutrina bíblica da depravação humana a menos que sustentemostambém o conceito bíblico da escravatura da vontade humana. Até que seja ensinado por Deus, ohomem natural negará que o pecado tem escravizado tanto a sua mente como as suas emoções ea sua vontade. O homem caído vangloria-se de seu "livre arbítrio", quando em realidade está emservidão ao pecado e é levado cativo à vontade de Satanás. (Veja 2 Timóteo 2:26). Mas se avontade do homem natural não é livre, significa então que não é responsável pelos seus atos?Acaso Deus não pode inculpá-lo pelo seu orgulho, rebelião e incredulidade?

As Escrituras falam continuamente da corrupção moral e da ruína espiritual do homem. Tambémdeclaram que o homem é incapaz de fazer o bem espiritual, mas isto não significa que asEscrituras neguem que seja responsável. Antes bem, falam continuamente dos seus deveres para

Deus e para o seu próximo, e exigem uma obediência perfeita aos mandamentos de Deus. Então, oassunto mais difícil é definir a relação entre a soberania de Deus e a responsabilidade humana.Muitos, em seu empenho por manter a verdade da responsabilidade humana, acabam negando

de uma ou outra forma a soberania de Deus. Estas pessoas dizem que se Deus fosse a exercer umcontrole direto sobre a vontade humana, o homem ficaria reduzido a um fantoche. Portanto,afirmam que Deus não pode fazer mais do que advertir e exortar o h.; pois se Deus fizesse algomais direto, isto acabaria com a liberdade humana. Outros têm caído no erro do fatalismo; ou seja,tratam de usar a soberania de Deus para justificar a sua desobediência e pecado, como se Deustivesse a culpa.

Podemos resumir o ensino bíblico sobre este assunto com o seguinte:1. Deus é inteiramente soberano, em todo sentido, sobre todas as coisas, incluso sobre a

vontade humana. Mas a soberania de Deus não tira nem diminui em forma alguma a

responsabilidade humana.2. Os homens são completamente responsáveis; são responsáveis pelos seus atos, sãoresponsáveis de obedecer, de crer, de fazer a vontade de Deus, responsáveis por tudo quantofazem. Mas em sentido nenhum a responsabilidade humana tira ou diminui a soberania de Deus.

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3. Não existe contradição alguma entre estas duas verdades. Paulo em Romanos 9:11-24 dáuma exposição das duas coisas. O leitor deveria realizar um cuidadoso estudo dos argumentosapresentados pelo apóstolo em Romanos 9 em defesa desta verdade. Também muitos outrosversículos declaram juntamente estas duas verdades. Veja por exemplo Atos 2:23, Lucas 22:22,Atos 4:24-28, Atos 13:45-48 y 2 Tessalonicenses 2:8-14.

Neste capítulo trataremos com as seguintes perguntas:1. Como pode Deus deter a alguns homens de realizarem o que eles desejam e impulsionar a

outros a fazer o que não querem, e ao mesmo tempo preservar a sua responsabilidade? (Ou seja,considerá-los responsáveis).

2. Como pode o pecador ser responsável de fazer o que por natureza é incapaz de fazer? Comopode ser condenado por não fazer o que é incapaz de fazer?3. Como pode Deus decretar que os homens façam certos pecados e depois responsabilizá-los

por cometê-los?4. Como pode o pecador ser responsável de receber a Cristo e ser responsável por rejeitá-lo,

quando Deus não o tem escolhido para ser salvo?Primeiro: Como pode Deus deter a alguns homens de realizarem o que eles desejam e

impulsionar a outros a fazer o que não querem, e ao mesmo tempo preservar a suaresponsabilidade?

Em Gênesis 20:6 lemos: "E disse-lhe Deus em sonhos: Bem sei eu que na sinceridade do teucoração fizeste isto; e também eu te tenho impedido de pecar contra mim; por isso não te permititocá-la". Aqui temos um caso claro onde Deus deteve Abimeleque de pecar, impedindo que fizesseo que por si mesmo teria feito. (Veja também os caps 22 al 24 de Números e 2 Crônicas 17:10,como exemplos de vezes em que Deus deteve o pecado).

Se Deus pode fazer isso, muita gente pergunta, por que então não impediu Adão de pecar? Porque não deteve a Satanás? Ou, como o expressam muitos na atualidade, por que permite queocorra tanto sofrimento e maldade no mundo? Alguns respondem dizendo que Deus quer detê-lo,mas não pode porque não pode violar o "livre arbítrio" humano sem reduzir o homem a um robô.Tal resposta é absurda e indigna de Deus. Quem é o homem para dizer que o Todo Poderoso Deusquer mas não pode fazer?  A resposta bíblica apropriada é que tanto o pecado como a queda de Adão são usados para manifestar melhor a sabedoria e os bons propósitos de Deus. Entre outrascoisas, o pecado provê ocasião para que o amor e a superabundante graça de Deus sejammanifestados.

Como é possível que Deus impeça os homens de pecar sem interferir com a sua liberdade e coma sua responsabilidade? A resposta encontra-se numa compreensão da seguinte pergunta: Em que

consiste a verdadeira liberdade moral? A resposta é que a liberdade moral consiste na liberação daescravatura do pecado. Isto é o que Cristo expressou em João 8:36: "Se, pois, o Filho vos libertar,verdadeiramente sereis livres". Quer dizer, quanto mais seja a pessoa liberada do controle dopecado, mais livre será. Os homens têm uma definição falsa da liberdade, porque acreditam que aliberdade consista em serem livres para pecar. A Bíblia afirma que o pecado não é liberdade, masescravidão. Isto é o que Cristo disse em João 8:34: "Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, emverdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado".

O homem natural supõe que a única liberdade encontra-se no fato de não estar sob nenhumaautoridade, nem sob o controle de ninguém salvo ele mesmo, cumprindo os desejos de seu própriocoração. No obstante, este tipo de "liberdade" em realidade resulta ser a pior escravidão e misériapossíveis.

A Escritura nos diz que Deus não pode ser tentado pelos maus (Tiago 1:14), que Deus não pode

mentir, nem cometer injustiça. Acaso significa que Deus não é livre porque não pode fazer o que émau? Certamente não. Portanto, quando Deus intervém e impede os pecadores, isto também nãodiminui a sua verdadeira liberdade. O homem já estava em escravidão e então Deus não temtirado nada do homem, senão que tem aumentado a sua verdadeira liberdade. Entre mais ohomem seja impedido de pecar e liberado da escravatura do pecado, mais liberdade tem.

Segundo: Como pode o pecador ser responsável de fazer o que por natureza é incapazde fazer? Como pode ser condenado por não fazer o que é incapaz de fazer?

Alguns têm concluído erroneamente que a queda do homem e sua incapacidade espiritual têmterminado com sua responsabilidade moral. Dizem que não é possível que o homem seja tantoincapaz como responsável; dizem que isto é uma contradição. A Bíblia responde que a pesar dadepravação e a pesar de sua incapacidade, o homem é inteiramente responsável: responsável debuscar a Deus, responsável de obedecer ao evangelho, responsável de arrepender-se e confiar em

Cristo, responsável de deixar seus ídolos e submeter-se a Deus.O fato de que Deus exija ao homem coisas que ele é incapaz de fazer é uma realidade; porexemplo, lemos na Bíblia: "amarás a Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda atua mente", "sede vós perfeitos como vosso Pai nos céus é perfeito", "arrependei-vos e crede no

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evangelho". O homem não regenerado é incapaz de fazer todas estas coisas, mas isto não mudasua responsabilidade e dever de fazê-las. Deus não pode exigir menos que a santidade e a justiça.Embora o homem tenha perdido a sua capacidade, isto não tem anulado nem acabado com suaobrigação.

(As seguintes ilustrações [tomadas de várias fontes pelo tradutor] servirão para confirmar esteponto: a) um bêbado que atropela e mata uma pessoa ao estar dirigindo seu carro não éconsiderado inocente [ou não responsável], ainda que não fosse capaz de controlar seu veiculo; b)o ladrão que é controlado pela concupiscência e a avareza, não pode deixar de roubar. Mas o fatode que não possa deixar de fazê-lo não o inocenta [não tira a sua responsabilidade]; c) a segunda

carta de Pedro nos fala de aqueles que "Tendo os olhos cheios de adultério, e não cessando depecar". Mas isto não diminui em maneira alguma sua culpa e sua responsabilidade; d) oargumento proposto pelos homossexuais na atualidade é que são pervertidos por natureza enasceram assim. Portanto dizem que não é possível que deixem seu pecado. Contudo, Romanos1:26-28 diz que recebem em si mesmos a retribuição devida a seu extravio; e) a escusa daquelesque dizem: "Sou assim e não posso mudar" não serve senão para condená-los; f) a pessoa quetem uma dívida que não pode pagar. A lei não a escusa, por este fato, de sua responsabilidade depagar. Em forma semelhante, Deus não tem perdido seu direito de exigir o pagamento, embora oshomens tenham perdido sua capacidade de pagar. A impotência humana não cancela a obrigaçãonem a responsabilidade; g) o fato de que o coração humano é depravado, o fato de que ame opecado e não possa deixá-lo, não faz de modo algum que alguém seja menos responsável dos seuspecados. Se não fosse assim, então entre mais depravado e mais endurecido que alguém chegassea ser, menos responsabilidade teria. Nesse caso, Deus não poderia julgar ninguém).

É simplesmente um argumento filosófico o que diz que a responsabilidade humana é limitadapela incapacidade. Este argumento conduz a uma absurda conclusão de que, quanto maispecaminoso seja alguém, menos responsabilidade teria. O diabo é um bom exemplo disto.Ninguém duvida da depravação total do diabo. Não há dúvida alguma de que aborrece a Deus, deque é incapaz de fazer o bem e ainda incapaz de arrepender-se. Mas nenhuma destas coisas odesculpa em nada; ao contrario, aumentam sua culpabilidade e sua condenação.

Agora é necessário fazer alguns comentários sobre a natureza da incapacidade humana:a) O homem caído não só é incapaz de fazer o bem espiritual, senão também é culpável de sua

própria incapacidade.b) O homem é culpável porque tem continuado na mesma rebelião de Adão. Este caiu

voluntariamente e nós nele (Veja Romanos 5:12). Mas, como uma raça, temos continuado emrebelião até o dia de hoje. Cada ser humano tem participado voluntariamente da mesma rebelião

de Adão. O fato de que nenhuma pessoa liberada a si mesma queira arrepender-se e voltar-se aDeus é a prova de sua rebelião.

c) É necessário entender a distinção entre a incapacidade física (natural) e a incapacidade moral(espiritual). Por exemplo, existe uma diferença entre a cegueira de Bartimeu e a cegueira daquelesque fecham seus olhos para não ver. Existe uma diferença entre os que são surdos de nascimentoe aqueles que cobrem seus ouvidos para não ouvir a verdade. A capacidade natural (física) tem aver com as faculdades que recebemos como seres humanos, por exemplo: a capacidade de pensar,de falar, de ver, de ouvir e sobre tudo, de escolher. Os homens têm mente e vontade e acapacidade de escolher o que desejam. Qual é, então, o problema? O problema radica em seus"desejos". Por natureza os homens não têm o desejo de serem salvos; não querem vir a Cristo.

Isto é o que Cristo assinalava quando dizia: "Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou onão trouxer (...) Por isso eu vos disse que ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não lhe for 

concedido"  (João 6:44,65). Quando a Bíblia diz que os homens não pode vir, significa que aincapacidade é espiritual e moral. Não podem porque não querem. Assim o disse Cristo em João5:40: "E não quereis vir a mim para terdes vida". Os homens não podem porque aborrecem aDeus e amam seus pecados (veja João 3:19-20 e Romanos 8:5-8). Esta incapacidade é moral eespiritual e nela encontra-se a raiz da depravação humana.

Terceiro: Como pode Deus decretar que os homens façam certos pecados e depoisresponsabilizá-los por cometê-los?

Para responder esta pergunta vamos considerar a traição e a crucifixão de Cristo. O AntigoTestamento profetizou que Cristo seria traído (Zacarias 11:12) e morto (Isaias 53). Em Atos 2:23se declara: "A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos". Note que os homens são inculpadospor aquilo que foi predeterminado por Deus. Também Atos 4:27-28 diz: "Porque verdadeiramente

contra o teu santo Filho Jesus, que tu ungiste, se ajuntaram não só Herodes, mas Pôncio Pilatos,com os gentios e os povos de Israel; para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho tinhamanteriormente determinado que se havia de fazer." 

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Foi o propósito de Deus que Cristo morre-se crucificado. Ainda assim, o propósito dos homensde trair e crucificar a Cristo não foi para obedecer a Deus, senão antes bem uma manifestação deseu ódio e rebelião contra Ele. Judas mesmo confessou suas malvadas intenções em Mateus 27:4:"Pequei, traindo o sangue inocente". Por este motivo Judas foi condenado por Deus. A traição deJudas formou uma parte do plano eterno de Deus, mas isto não o livrou de sua responsabilidade.Cristo mesmo afirmou este ponto em Lucas 22:22, dizendo: "E, na verdade, o Filho do homem vaisegundo o que está determinado; mas ai daquele homem por quem é traído!"  

Deus não colocou no coração de Judas, nem também não dos judeus, o desejo de trair a Cristo.Deus não aprova o pecado nem também não é o seu autor.

Os motivos e os propósitos malvados dos homens nascem de seu próprio coração (veja Tiago1:13-14), e portanto são responsáveis perante Deus. o coração perverso dos homens produz asmás obras, mas Deus refreia e dirige esta maldade para cumprir através dela seus propósitos. Osseguintes textos afirmam esta verdade: "O coração do homem planeja o seu caminho, mas oSENHOR lhe dirige os passos." (Provérbios 16:9); "Certamente a cólera do homem redundará emteu louvor; o restante da cólera tu o restringirás." (Salmo 76:10).

Portanto os decretos de Deus não são a causa dos pecados humanos, antes bem seus decretoslimitam e dirigem os atos malvados dos homens para cumprir seu plano eterno. Deus não forçouJudas a realizar a maldade que ele fez, senão que Deus usou a maldade de Judas para cumprir oplano da redenção.

Quarto: Como pode o pecador ser responsável de receber a Cristo e ser responsávelpor rejeitá-lo, quando Deus não o tem escolhido para ser salvo?

Em primeiro lugar, temos que compreender que ninguém pode saber com plena certeza que nãoé um dos escolhidos de Deus. Este conhecimento pertence ao conselho secreto de Deus, ao qualnenhum ser humano tem acesso (Deuteronômio 29:29). A vontade revelada de Deus é a norma daresponsabilidade humana. Deus tem revelado em sua Palavra que todas as pessoas devemarrepender-se a crer no evangelho (Atos 17:30 e 1 João 3:23). As mesmas Escrituras dizem quetodos aqueles que se arrependam e acreditem serão salvos. Todos os homens são responsáveis deesquadrinhar as Escrituras, "que podem fazer-te sábio para a salvação" (2 Timóteo 3:15). Já que afé vem pelo ouvir a Palavra de Deus (Romanos 10:17), então é o dever de cada pecadoresquadrinhar as Escrituras, rogando a Deus que lhe conceda entendimento para a salvação de suaalma. Façamos o que Deus tem nos ordenado e deixemos o resto em suas mãos.

Como já mostramos, é um fato que o homem não quer se voltar a Deus, nem obedecê-Lo, nemamá-Lo, o que é a fonte de sua incapacidade.

Isto é o que origina a necessidade da graça eletiva de Deus. Se não fosse por esta graça,

ninguém seria salvo (Isaias 1:9). Já que o homem é incapaz de cumprir com as exigências deDeus, então, que deveria fazer? Primeiro, deveria humilhar-se e reconhecer a sua incapacidade.Segundo, deveria clamar a Deus e pedi-Lhe a graça para superar sua incapacidade. Cada crenteverdadeiro reconhece sua incapacidade e depravação, e roga a Deus fervorosamente porsabedoria, graça e poder para conseguir realizar o que é agradável perante Ele.

Da mesma maneira, cada pecador é responsável de invocar o Senhor reconhecendo que aPalavra de Deus diz a verdade quando descreve sua condição depravada, e reconhecendo que o juízo de Deus é justo. Seu dever então é clamar a Deus e Lhe pedir o poder de Seu Espírito Santopara conduzir seu coração à obediência e submissão a Cristo. Se o pecador faz isto sinceramente,então Deus responderá a seu clamor, porque a Escritura diz: "Todo aquele que invocar o nome doSenhor será salvo" (Romanos 10:13). Tal como um homem que esteja morrendo sem forças nemhabilidade para salvar a si mesmo deveria clamar por ajuda, assim também o pecador incapaz de

salvar a si mesmo deve clamar a Deus a fim de que Ele faça o que ele é incapaz de realizar.Porém, se o pecador está decidido a perecer e recusa vir a Cristo, então não pode inculpar aninguém, salvo a si mesmo.

Se o pecador pode ou não entender como harmonizar a soberania de Deus e a responsabilidadehumana, de todas maneiras permanece como responsável de invocar a Cristo para salvação dopecado e da ira de Deus.

Talvez enquanto leia estes caps, tenham surgido algumas perguntas.Quiçá tenha se perguntado: por que os crentes incomodam-se em predicar o evangelho aos

inconversos se em verdade os homens não têm a capacidade de receber a Cristo como seuSalvador? Ou a pergunta seja: por que os crentes devem preocupar-se por orar se Deus já temdecidido o que vai acontecer? Ou, então: por que devem realizar um esforço os crentes parachegar a ser melhores pessoas, se Deus mesmo está controlando as suas vidas? Talvez esteja

pensando que é uma injustiça e um agravo de Deus escolher só certas pessoas para serem salvas.No próximo capítulo tentaremos responder estas perguntas.

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CAPÍTULO 10A SOBERANIA DE Deus E AS NOSSAS ORAÇÕES

"E esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade,ele nos ouve." 

1 João 5:14

Existem algumas perguntas que surgem na mente das pessoas quando pensam acerca dasoberania de Deus.

Já dissemos que as pessoas são incapazes de escolher ser salvos de seus pecados a menos queDeus mesmo mude sua natureza pecaminosa.Então, a primeira pergunta que responderemos é esta: sem Deus realiza o câmbio na natureza

das pessoas, por que devem esforçar-se os crentes em predicar o evangelho a todos? temosaprendido que por natureza os homens são pecaminosos, que por si mesmos não podem escolhercrer em Cristo. Por que, então, os crentes devem urgir às pessoas a acreditar? A resposta é esta:aos crentes lhes é ordenado por Deus predicar o evangelho a todos.

Não predicamos o evangelho pensando que os ouvintes inconversos tenham em si mesmos acapacidade para receber a Cristo como seu Senhor. Predicamos porque sabemos que isto é o queDeus tem nos comissionado fazer.

Sabemos que quando o evangelho é predicado, Deus mesmo fala eficazmente a alguns daquelesque escutam. Àquelas pessoas que Deus tem escolhido, lhes é dada a disposição para acreditar.Crer que Deus está no controle de tudo é de grande ajuda e estímulo para a predicação evangélica.Os crentes sabem que as pessoas escolhidas por Deus se arrependerão dos seus pecados quandoescutem acerca de Jesus Cristo o Salvador.

De fato, esta convicção de que Deus está realizando seus propósitos mediante a predicação, é abase da verdadeira predicação evangélica. Veja Isaias 55:10-11, 2 Coríntios 2:14-17, Romanos10:14-15 e 1 Pedro 1:23.

Em segundo lugar, outra pergunta que pode surgir é esta: se Deus tem determinado o que vaiacontecer, e se também tem o controle sobre tudo o que acontece, então, existe alguma razãopara orar? Se Deus já tem tomado todas as decisões, seguramente a oração não tem valor algum.Nós não podemos mudar a vontade de Deus. A nossa resposta é a seguinte: devemos entender osignificado verdadeiro da oração. Alguns dizem que a oração é a forma em que Deus permite queas nossas vontades tenham influência no que acontece. Mas a Bíblia ensina claramente que é Deusquem faz com que as coisas sucedam. Portanto, a idéia de que as nossas orações fazem que as

coisas aconteçam é errada. Outras pessoas dizem que a oração é uma forma de conseguir queDeus mude a Sua vontade. Mas, como já vimos, Deus já tem decidido exatamente o que vaiacontecer. A oração não é algo que possamos usar para mudar as coisas; a nossa oração nãomuda a vontade de Deus.

A oração é a maneira assinalada por Deus para honrá-Lo. A oração é um meio de adoração aDeus. a oração é o reconhecimento de que dependemos totalmente de Deus, por todo o que somose o que temos. A oração é o método divino para pedir a bênção de Deus.

A oração faz com que percebamos quão pequenos e fracos somos, e quão grande é Deus. aoração é um dom de Deus para seu povo, a fim de que eles Lhe peçam as coisas que Deus temdeterminado. As orações dos crentes formam parte do plano de Deus para efetuar os Seuspropósitos eternos. (Veja os seguintes textos que afirmam esta verdade: Mateus 5:10; 1 João5:14; Romanos 8:26-27).

Alem disso, Deus tem determinado que a oração seja um meio para efetuar sua vontade, talcomo a predicação do evangelho é o meio utilizado por Deus para salvar os pecadores. As oraçõesdos crentes formam parte do plano de Deus para executar Sus propósitos eternos.

Assim sendo, quando os crentes oram não o fazem para mudar o plano de Deus, senão paraque o pano de Deus seja executado. Os crentes podem orar por certas coisas com confiançaporque sabem que estão incluídas no plano de Deus. quando dizemos a Deus as nossasnecessidades, estamos encomendando-nos ao Seu cuidado, e Lhe suplicamos que trate com elasde conformidade com Seu plano. Então, pode perceber-se que a oração é basicamente umaatitude, uma atitude de dependência total de Deus. A oração é o oposto de dizer a Deus o que Eletem que fazer, porque a oração pede para que a vontade de Deus seja feita. Assim, isto respondea nossa pergunta acerca da razão para orar. Os crentes oram por coisas que concordam com oplano que Deus tem pré-determinado, ou seja, coisas que são parte do mesmo plano de Deus. Os

crentes oram, não para mudar o plano de Deus, senão para aceitá-lo e achar a bênção de Deusatravés desse plano.Em terceiro lugar, talvez a seguinte pergunta tenha chegado a inquietar você: Se Deus tem

decidido todo o que sucede, então por que devem preocupar-se os crentes em serem bons? Se

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Deus tem planejado que os crentes serão bons, então, por que devem preocupar-se de sê-lo elesmesmos?

Mais uma vez, a resposta básica é que os crentes fazem bem, porque Deus tem lhes mandadofazer o que é bom. Em realidade, o conhecimento de que Deus controla todas as coisas ajuda oscrentes a realizar o que é bom.

Os crentes confiam em que Deus pode lhes dar a capacidade de realizar coisas boas. Osverdadeiros crentes sabem que em si mesmos não têm o poder de fazer o que Deus tem lhesordenado. É portanto que confiam em que Deus pode lhes dar a fortaleza que necessitam paraobedecer a Sua vontade.

Por último, quiçá você tenha pensado que é injusto e cruel de parte de Deus escolher só certaspessoas para serem salvas. Porém, lembre-se do seguinte: se Deus não tivesse escolhido e salvoalguns, então ninguém teria sido salvo do pecado. Se Deus não tivesse escolhido ninguém, entãotodos nós teríamos morrido em nossos pecados. Deus não é injusto ao escolher salvar alguns eoutros não, porque ninguém tem o direito de ser salvo, quer dizer, Deus não "deve" a salvaçãopara ninguém. A salvação é inteiramente um assunto da bondade de Deus para as pessoas quenão a merecem. Deus tem mostrado sua bondade a certas pessoas, segundo melhor Lhe pareceu aEle (veja Mateus 11:25-27).

Nós poderíamos pensar que teria sido melhor que Deus salvasse todos, mas não estamoscapacitados para decidir isto. Não somos capazes de ver e compreender todo o que Deus vê ecompreende. Os caminhos de Deus não são como os nossos caminhos, e nós não podemoscompreendê-los integramente (Veja Isaias 55:8-9 e Romanos 11:33-36). Todo quanto podemosdizer é que Deus tem demonstrado seu amor na eleição e salvação de gente que não merece suabondade. Então, permita-me fazê-lhe uma última pergunta: É você uma das pessoas que Deustem escolhido para salvação? Existe algum desejo em seu coração de ser uma das pessoas quepertencem a Deus?

TEXTOS BÍBLICOS: João 17:6, 9: "Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste; eram teus, e tu mos

deste, e guardaram a tua palavra. (...) Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aquelesque me deste, porque são teus".

2 Pedro 1:3: "Visto como o seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento daquele que nos chamou pela sua glória e virtude".

Efésios 2:10: "Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quaisDeus preparou para que andássemos nelas".

1 Pedro 1:5: "Que mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação, já

 prestes para se revelar no último tempo". 1 Samuel 3:18: "Então Samuel lhe contou todas aquelas palavras, e nada lhe encobriu. E disse

ele: Ele é o SENHOR; faça o que bem parecer aos seus olhos".Jó 1:20-21: "Então Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em

terra, e adorou. E disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o SENHOR o deu, eo SENHOR o tomou: bendito seja o nome do SENHOR".

CAPÍTULO 11OS BENEFÍCIOS DA SOBERANIA DE Deus

"Sim, ó Pai, porque assim te aprouve." 

Mateus 11:26

Permita-me lembrar você do que temos aprendido até agora. Deus tem o controle de tudo e emforma soberana controla todas as coisas no mundo. Deus controla tanto as coisas inanimadascomo as coisas vivas: os animais, os homens e os anjos. Deus o Pai escolhe seu povo de cadaépoca da história e de cada nação e de toda raça. Jesus Cristo morreu para salvar este povo deseus pecados e o Espírito Santo lhes da a nova vida espiritual.

Na salvação de Seu povo e em tudo o que Ele faz, Deus opera de acordo ao Seu planopredestinado. Também temos aprendido que a vontade humana é por natureza má e não escolhe oque é bom. Somente Deus pode fazer que uma pessoa deseje a salvação do pecado. Deus ésoberano, Ele é o grande rei, Ele é o único Deus.

Mas talvez você se pergunte por que nós pensamos que estas doutrinas são tão importantes.

Em que forma nos afetam? Que diferença há na prática se Deus está ou não no controle de todasas coisas?Primeiro que nada, se acreditamos que Deus é soberano, então temos uma melhor idéia do que

Deus é, quer dizer, de sua verdadeira natureza e caráter. Percebemos que o Deus que fez todas as

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coisas tem um poder completo sobre sua criação. Também compreendemos que sempre devemosobedecê-Lhe e submeter-nos a Ele. Ainda que não possamos compreender todo o que Deus faz,sabemos que ninguém pode resistir sua vontade.

Sabemos também que Deus tem demonstrado sua bondade a uma grande multidão de pessoasque não o mereciam. Então, quando pensamos no plano divino da salvação percebemos quãogrande e poderoso é Deus.

Em segundo lugar, acreditando que Deus tem o controle completo de tudo, entendemos que anossa religião é viva e prática. Não podemos ter uma fé verdadeiramente viva até que nãopercebamos quão grande e poderoso é Deus. Quando compreendemos o poder de Deus vemos a

nossa necessidade de obedecê-Lo o submeter-nos a Ele em cada aspecto de nossas vidas.Somente percebendo a grandeza de Deus surge o desejo de aprender mais acerca dEle. Somenteaqueles que têm visto a grandeza de Deus desejam orar conforme a Sua vontade e fazer tudo paraa Sua glória.

Em terceiro lugar, a crença de que Deus é soberano sobre todas as coisas nos ensina que nãopodemos realizar nada para salvar-nos a nós mesmos. A salvação não é como alguns falam, queDeus tem feito o que Ele podia e agora está esperando que nós façamos o que devemos.

A verdade é que não podemos fazer nada para salvar-nos a nós mesmos.A nossa vontade humana deseja por natureza fazer o que é mau.Não desejamos completamente voltar-nos a Deus. Somente Deus, quem tem o controle

completo sobre tudo, pode dar-nos a disposição de voltar-nos para Ele.O fato de que não podemos salvar-nos a nós mesmos deveria nos fazer sentir temor do perigo

de nunca chegar a sermos salvos. Este temor pode ser algo bom, se nos conduz a entender que sóDeus pode nos salvar. Então, pode nos levar à disposição de pedi-Lhe que nos salve.

Em quarto lugar, a crença de que Deus tem o controle de tudo nos mostra quanto dependemosde Ele para todo. Também percebemos quão fracos, vãos e pequenos somos; e por outra parte,percebemos quão forte, sábio e grande é Deus. Vivemos num mundo onde a gente sempre estálouvando e engrandecendo os logros humanos. As pessoas se orgulham das coisas que os homenstem melhorado. Mas quando cremos na soberania de Deus, começamos a ver todo desde outraperspectiva. Vemos que só Deus é capaz de salvar seu povo dos seus pecados. Vemos que oshomens não podem fazer nada para ajudar a Deus a salvá-los.

Como resultado, louvamos a Deus por tudo o que tem feito para salvar seu povo escolhido.Em quinto lugar, crer na soberania de Deus nos dá um sentimento de plena segurança. Porque

ao confiar num Deus que controla tudo, já não temos nada a temer. Ainda em tempos de tristezasabemos que Deus está aí, e que está cheio de poder, sabedoria e bondade. Deus é demasiado

sábio como para cometer um erro. Deus é demasiado bondoso para causar-nos alguma dor quenão seja, no fim, para o nosso bem. Ainda em meio a dor, estamos completamente seguros seestamos confiando num Deus soberano.

Em sexto lugar, se cremos que Deus é soberano estaremos contentes com qualquer coisa queDeus nos envie. Isto não significa que aceitemos as coisas difíceis com um espírito estóico oufatalista. Se confiamos em Deus, perceberemos que o que Ele nos envia é para o nosso bem (aindaquando não compreendamos como é que tudo redundará para o nosso bem-estar).

A sétima coisa é que, crendo na soberania de Deus, somos conduzidos a louvá-Lo. Se Deus temnos escolhido, tem nos salvado e guardado em cada momento de nossa vida pela sua bondade,então desejaremos louvá-Lo por tudo o que Ele é e por tudo o que Ele tem feito por nós.

Em oitavo lugar, crer na soberania de Deus nos dá a segurança de que, num dia futuro, o bemtriunfará sobre o mal. Agora sentimos que a maldade é mais forte do que o bem. Porém, se

acreditamos que Deus é soberano, sabemos que um dia Satanás será derrotado. Num dia futuro,será completamente claro que Deus é maior que todos os poderes da maldade. Num dia futuro,todos verão com clareza que Deus é soberano.

Finalmente, a crença de que Deus controla tudo no dá paz em nossos corações. Todos oscrentes verdadeiros sabem que o Deus soberano controla toda a criação, é o mesmo Deus quegoverna em seus corações; como resultado disso, têm perfeita paz. Devido a Sua soberania, Deusé digno de toda confiança. Ele é demasiado sábio para errar, demasiado poderoso para ser vencidoe demasiado bondoso para fazer algo mau. Se este Deus é o seu Deus, então você pode estarcompletamente seguro.

CAPÍTULO 12COMO DEVEMOS PROCEDER AGORA

"E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." João 8:32

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 Deus é soberano e opera de acordo com seu plano eterno na salvação do seu povo. A vontade

dos homens não escolhe naturalmente a Deus porque está inclinada para o mal. Somente Deuspode fazer que uma pessoa deseje ser salva dos seus pecados. Ele é o Deus soberano, Ele é ogrande Rei. Se acreditamos nisso, como devemos então reagir?

Primeiro, já que Deus é soberano, devemos temê-Lo. Temer a Deus significa lembrar quãogrande, santo e poderoso é Deus. Significa também lembrar quão pequenos, pecaminosos e fracossomos nós. Significa fazer a Sua vontade e crer tudo o que Ele nos diz em Sua Palavra.

Significa obedecer a Deus porque dependemos totalmente dEle. Deus nos dá tudo o que

precisamos e por isso, o menos que podemos fazer é obedecê-Lo no que Ele diz na Bíblia e Lhe daro primeiro lugar em tudo.Segundo, como Deus é soberano devemos aceitar com gosto todo o que nos acontece. Podemos

queixar-nos quando não temos o que desejamos, o podemos sentir que merecemos algumabênção em particular.

Talvez sintamos que merecemos o êxito ou a felicidade. Mas se somos crentes verdadeiros,sabemos que Deus não nos dá o castigo que os nossos pecados merecem. Os crentes verdadeirospercebem que, em vez de punir-nos, Deus tem sido muito bondoso para conosco em todos osaspectos, quando merecíamos o contrário. E se realmente acreditamos que Deus é soberano emtudo, então devemos reconhecer que Ele tem o direito de fazer o que Lhe apraz com o que é dEle,inclusive conosco.

Portanto, se Deus faz com que nos aconteçam coisas de que não gostamos, devemos aceitá-lassabendo que provêm de sua mão, e que Ele procura somente o nosso bem.

Terceiro, já que Deus é soberano, sempre devemos estar agradecidos a Ele. Nos sentimosagradecidos quais as coisas vão de acordo ao que desejamos, mas também deveríamos louvá-Lo eLhe dar graças quando nos parece que tudo vai mal. Deveríamos ser gratos ainda em temposdifíceis, porque se somos crentes verdadeiros, acreditamos que Deus nos tem escolhido, que nosama e que está controlando todo o que nos acontece.

Se realmente somos crentes, devemos seguir o exemplo de nosso Senhor Jesus Cristo. Vocêpercebeu quão temeroso era Jesus de desde o Pai, aceitando Sua vontade e dando-Lhe graças emtodo momento? No Novo Testamento vemos que quando Satanás o tentou, Jesus lhe disse quesomente Deus devia ser adorado. Ao longo do Novo Testamento vemos a obediência de Cristo, atéque sua obediência culminou em sua morte em favor do povo escolhido de Deus. Jesus aceitou avontade do Pai ainda e quando pediu que, se possível, o Pai eliminasse os seus sofrimentos.

Ele também disse: "Não seja feita a minha vontade, senão a Tua". Também vemos como Cristo

dava graças ao Pai. Ainda quando a gente que tinha visto os seus milagres não se arrependeu nemacreditou nEle, Jesus todavia dava graças a Deus. como Lucas disse: "Naquela mesma hora sealegrou Jesus no Espírito Santo, e disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, queescondeste estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste às criancinhas; assim é, ó Pai, porque assim te aprouve" (Lucas 10:21).

Seguramente, se nós somos crentes verdadeiros em Cristo Jesus faremos o mesmo.Finalmente, já que Deus é soberano, devemos adorá-Lo. Ele usa seu poder sabiamente e para

benefício de seu povo. Devido a que Deus é completamente sábio, não pode cometer nenhumerro; porque Ele é santo, também não fará mal nenhum. Se não conhecêssemos mais sobre Deus,exceto que a Sua vontade é soberana, então somente teríamos medo dEle. Porém, podemosregozijar-nos porque sabemos que a poderosa e imutável vontade de Deus é também inteiramenteboa.

O propósito divino de controlar tudo é mostrar a Sua própria santidade, bondade e verdade. Apesar de quanto vejamos no mundo, Deus ainda está executando os seus propósitos. E pararealizar isso, em algumas ocasiões usa até os homens malvados e a Satanás. Ninguém podealterar o propósito de Deus. Para Sua própria glória, Deus controla todo porque quer mostrar-nosSua bondade, santidade e verdade. Para Sua própria glória, Deus o Pai escolheu uma grandenúmero de pessoas para serem salvos de seus pecados.

Jesus Cristo morreu por estas pessoas e o Espírito Santo lhes dá a vida espiritual.Para mostrar Sua glória, Deus muda a natureza malvada das pessoas escolhidas para salvação,

a fim de que se voltem para Ele e aprendam a amá-Lo.Esta obra maravilhosa de Deus está acontecendo atualmente em todas partes do mundo. Muitos

dos que lerão estas palavras são aqueles que Deus têm chamado para que sejam Seu povo. Ele osmudou, e tem lhes dado vida espiritual a fim de que chegassem a ser Seu povo. Se você deseja

que este Deus seja o seu Deus, então busque-O em oração. Ele tem prometido e não lançará foraa ninguém que venha até Ele. Naturalmente que não os lançará fora, porque é a mesma obra dEleem seus corações a que lhes faz desejar acudir a Ele.

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Todas as coisas foram feitas por Deus, todas as coisas são controladas por Ele. Todas as coisasoperam de acordo ao seu plano. Todas as coisas servem para a glória de Deus, e quando todas ascoisas cheguem ao seu fim, este Deus soberano permanecerá por sempre sendo adorado e louvadoem toda a Sua bondade, santidade e glória. Vamos então a louvar e adorar o nosso soberano eTodo Poderoso Deus, aqui e agora.

Grande Deus! Quão infinito és Tu,Quão débeis e indignos vermes somos nós!Prostre-se toda criatura e busque a salvação de ti.

A eternidade com todos seus anosPermanece sempre presente a Tua vista,Para Ti não existe nada velho, Grande Deus!Não pode haver nada novo para Ti.As nossas vidas são movidas de um lado a outro,E angustiadas por coisas que não têm importância;Enquanto Teu eterno pensamento segue adiante,Segundo o Teu imutável e inalterável plano.

Isaac Watts (1674-1748)

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  E-book digitalizado e doado por: Temente

Com exclusividade para:

 http://ebooksgospel.blogspot.com 

www.ebooksgospel.com.br 

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 ANTES DE LER

Estes e-books são disponibilizados gratuitamente, com a única finalidade de oferecer leitura edificante à aqueles que não tem condições econômicas para 

comprar.Se você é financeiramente privilegiado, então utilize nosso acervo apenas para 

avaliação, e, se gostar, abençoe autores, editoras e livrarias, adquirindo os livros.

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 Título Original: The Attributes of God

Editora: 

Bible Truth Depot

Tradução do Inglês:Odayr Olivetti

Primeira Edição em Português:1985

Reimpressão: 1990 

Capa: Ailton Oliveira Lopes

Composição: Intertexto Linotipadora S/C Ltda.

 Impressão:Imprensa da Fé

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ÍNDICE

PREFÁCIO

1. A SOLIDÃO DE DEUS

2. OS DECRETOS DE DEUS3. A ONISCIÊNCIA DE DEUS

4. A PRESCIÊNCIA DE DEUS

5. A SUPREMACIA DE DEUS

6. A SOBERANIA DE DEUS

7.

A IMUTABILIDADE DE DEUS8. A SANTIDADE DE DEUS

9. O PODER DE DEUS

10. A FIDELIDADE DE DEUS

11 . A BONDADE DE DEUS

12. A PACIÊNCIA DE DEUS13. A GRAÇA DE DEUS

14. A MISERICÓRDIA DE DEUS

15. O AMOR DE DEUS

16. A IRA DE DEUS

17. CONTEMPLANDO A DEUS

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PREFÁCIO

"Une-te pois a ele, e tem paz, e assim te sobrevirá o bem” (Jó 22:21)."Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie oforte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas. Mas o que se gloriar

glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o Senhor..." (Jeremias 9:23-24). Um conhecimento salvador e espiritual de Deus é a maior de todas asnecessidades de cada criatura humana.

O fundamento de todo conhecimento verdadeiro de Deus só pode ser a clara compreensão mental de Suas perfeições, segundo revelam as EscriturasSagradas. Não nos é possível servir nem adorar a um Deus desconhecido, nemdepositar nEle a nossa confiança. Neste breve livro fez-se um esforço para apresentar algumas das principais perfeições do caráter, divino. Para que oleitor se beneficie realmente com a leitura das páginas que se seguem, eleprecisa suplicar a Deus com seriedade e determinação que as abençoe para seuproveito, que aplique  Sua verdade à consciência e ao coração, a fim de que a sua vida seja transformada.

Necessitamos algo mais que um conhecimento teórico de Deus. Sóconhecemos verdadeiramente a Deus em nossa alma, quando nos rendemos a Ele, quando nos submetemos à Sua autoridade e quando os Seus preceitos emandamentos regulam todos os pormenores da nossa vida. "Conheçamos, eprossigamos em conhecer ao Senhor..." (Oséias 6:3), "Se alguém quiser   fazer a vontade dele... conhecerá" (João 7:17). "... o povo que conhece ao seu Deus seesforçará e fará proezas" (Daniel 11:32).

Os capítulos que se seguem apareceram pela primeira vez na revista mensal "Studies in the Scriptures" (Estudos nas Escrituras), publicada peloautor e totalmente dedicada à exposição da Palavra de Deus e à provisão dealimento espiritual para almas famintas. Estes artigos foram reeditados em sua presente forma graças à generosidade de um amigo cristão que financiou ocusto total de sua publicação. Se Deus o permitir, o produto da venda destelivro será empregado na publicação de outros, de natureza similar. Seja sobreele a bênção de Deus.

ARTHUR W. PINK

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A SOLIDÃO DE DEUS

O título deste capítulo talvez não seja suficientemente claro para indicar oseu tema. Isto se deve, em parte, ao fato de que hoje em dia bem poucaspessoas estão acostumadas a meditar nas perfeições pessoais de Deus. Dos quelêem ocasionalmente a Bíblia, bem poucos sabem da grandeza do caráterdivino, que inspira temor e concita à adoração. Que Deus é grande em sabedo-ria, maravilhoso em poder, não obstante, cheio de misericórdia, muitos achamque pertence ao conhecimento comum; contudo, chegar-se a um conhecimentoadequado do Seu Ser, Sua natureza, Seus atributos, como estão revelados nasEscrituras Sagradas, é coisa que pouquíssimas pessoas têm alcançado nestestempos degenerados. Deus é único na excelência do Seu Ser. "Ó Senhor, quemé como Tu entre os deuses? Quem é como Tu glorificado em santidade, terrívelem louvores, operando maravilhas?" (Êxodo 15:11).

"No princípio... Deus..." (Gênesis 1:1). Houve tempo, se é que se lhe podechamar "tempo", em que Deus, na unidade de Sua natureza, habitava só(embora subsistindo igualmente em três pessoas divinas). "No princípio...Deus...". Não existia o céu, onde agora se manifesta particularmente a Sua glória. Não existia a terra, que Lhe ocupasse a atenção, Não existiam os anjos,que Lhe entoassem louvores, nem o universo, para ser sustentado pela palavra do Seu poder. Não havia nada, nem ninguém, senão Deus; e isso, não durante

um dia, um ano ou uma época, mas "desde sempre". Durante uma eternidadepassada, Deus esteve só: completo, suficiente, satisfeito em Si mesmo, de nada necessitando.

Se um universo, ou anjos, ou seres humanos Lhe fossem necessários dealgum modo, teriam sido chamados à existência desde toda a eternidade. Aoserem criados, nada acrescentaram a Deus essencialmente. Ele não muda (Malaquias 3:6), pelo que, essencialmente, a Sua glória não pode seraumentada nem diminuída.

Deus não estava sob coação, nem obrigação, nem necessidade alguma decriar. Resolver fazê-lo foi um ato puramente soberano de Sua parte, não

produzido por nada alheio a Si próprio; não determinado por nada, senão o Seupróprio beneplácito, já que Ele "faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade" (Efésios 1:11). O fato de criar foi simplesmente para a manifestação da Sua glória. Será que algum dos nossos leitores imagina que fomos além do quenos autorizam as Escrituras? Então, o nosso apelo será para a Lei e oTestemunho: "... levantai-vos, bendizei ao Senhor vosso Deus de eternidade emeternidade; ora bendigam o nome da tua glória, que está levantado sobre toda a bênção e louvor" (Neemias 9:5). Deus não ganha nada, nem sequer com a nossa adoração. Ele não precisava dessa glória externa de Sua graça, procedente deSeus redimidos, porquanto é suficientemente glorioso em Si mesmo sem ela.

Que foi que O moveu a predestinar Seus eleitos para o louvor da glória de Sua graça? Foi, como nos diz Efésios 1:5, ".... o beneplácito de sua vontade".

Sabemos que o elevado terreno que estamos pisando é novo e estranhopara quase todos os nossos leitores; por esta razão faremos bem em andarmos

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aventurado, o único poderoso Senhor, Rei dos reis e Senhor dos senhores;aquele que tem, ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível; a quemnenhum dos homens viu nem pode ver: ao qual seja honra e poder sempiterno.Amém" (1 Timóteo 6:15-16). O Ser que aí é descrito deve ser reverenciado,cultuado, adorado. Ele é solitário em Sua majestade, único em Sua excelência,incomparável em Suas perfeições. Ele tudo sustenta, mas Ele mesmo é

independente de tudo e de todos. Ele dá bens a todos, mas não é enriquecidopor ninguém.Um Deus tal não pode ser encontrado mediante investigação; só pode ser

conhecido como e quando revelado  ao coração Espírito Santo, por meio da Palavra. É  verdade que a criação manifesta um Criador, e isso com tanta clareza, que os homens ficam "inescusáveis" (Romanos 1:20); contudo, ainda temos que dizer com Jó: "Eis que isto são apenas as orlas dos seus caminhos; equão pouco é o que temos ouvido dele! Quem pois entenderia o trovão do seupoder?" (Jó 26:14). Cremos que o argumento baseado no desígnio, assimchamado, argumento apresentado por "apologetas" bem intencionados, tem

causado mais dano que benefício, pois tenta baixar o grande Deus ao nível doentendimento finito e, com isso, perde de vista a Sua singular excelência.Tem-se feito uma analogia com o selvagem que achou um relógio e que.

depois de um detido exame, inferiu a existência de um relojoeiro. Até aqui,tudo bem. Tentemos ir mais longe, porém. Suponhamos que o selvagemprocure formar uma concepção pessoal desse relojoeiro, de seus afetospessoais, de suas maneira, de sua disposição, conhecimentos e carátermoral — de tudo aquilo que se junta para compor uma personalidade. Poderia ele chegar a imaginar ou pensar num homem real ___ o homem que fabricou orelógio — de modo que pudesse dizer: "Eu o conheço"? Fazer perguntas como

esta parece fútil, mas estará o eterno e infinito Deus tanto mais ao alcance da razão humana? Realmente, não. O Deus das Escrituras só pode ser conhecidopor aqueles a quem Ele próprio Se dá a conhecer. 

Tampouco o intelecto pode conhecer a Deus. "Deus é espírito..." (João4:24) e, portanto, só pode ser conhecido espiritualmente. Mas o homem decaídonão é espiritual; é carnal, Está morto para tudo que é espiritual. A menos quenasça de novo, que seja trazido sobrenaturalmente da morte para a vida,miraculosamente transferido das trevas para a luz, não pode sequer ver ascoisas de Deus (João 3:3), e muito menos entendê-las (1 Coríntios 2:14. Emister que o Espírito Santo brilhe em nossos corações (não no intelecto) para dar-nos o "... conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo" (2Coríntios 4:6). E até mesmo esse conhecimento espiritual é apenasfragmentário. A alma regenerada terá de crescer na graça e no conhecimento doSenhor Jesus (2 Pedro 3:18).

A nossa principal oração e finalidade como cristãos deve ser quepossamos "... andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo,frutificando em toda a boa obra, e crescendo  no conhecimento de Deus"(Colossenses 1:10).

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 2

OS DECRETOS DE DEUS

O decreto de Deus é Seu propósito ou determinação com respeito àscoisas futuras. Usamos o singular, como o fazem as Escrituras (Romanos 8:28;Efésios 3:11), porque houve somente um ato de Sua mente infinita acerca dascoisas futuras. Entretanto, nós  falamos como se houvesse muitos, porque asnossas mentes só conseguem pensar em ciclos sucessivos, conforme surgem ospensamentos e as ocasiões, ou com referência a vários objetos do Seu decreto,os quais, sendo muitos, parecem-nos requerer um propósito diferente para cada um deles. O entendimento infinito de Deus não avança passo a passo, ou deetapa a etapa. "Conhecidas por Deus são todas as Suas obras desde a eternidade" (Atos 15:18 versão autorizada KJ, 1611).

As Escrituras fazem menção dos decretos de Deus em muitas passagens,empregando vários termos. A palavra "decreto" acha-se no Salmo 2:7, etc. EmEfésios 3:11 lemos a respeito do Seu "eterno propósito". Em Atos 2:23, do "...determinado conselho e presciência de Deus... ". Em Efésios 1:9, do "... mistérioda sua vontade... ". Em Romanos 8:29 lemos que Ele também "predestinou".Em Efésios 1:9, sobre "o seu beneplácito". Os decretos de Deus sãodenominados Seu "conselho" para significar que são consumadamente sábios.São chamados Sua "vontade" para mostrar que Ele não estava sob nenhumoutro domínio, mas agiu de acordo com o Seu beneplácito. Quando a norma de

conduta de uma pessoa é a sua vontade, geralmente é caprichosa e irrazoável.Mas nos procedimentos divinos a  sabedoria  está sempre associada com a "vontade" e, por conseguinte, os decretos de Deus são descritos comosendo "o conselho da sua vontade" (Efésios 1:11).

Os decretos de Deus se relacionam com todas as coisas futuras, semexceção: o que quer que seja feito no tempo, foi pré-ordenado antes de iniciar-seo tempo. O propósito de Deus dizia respeito a todas as coisas, grandes epequenas, boas e más, conquanto, com referência a estas, devemos ter ocuidado de afirmar que, se bem que Deus é o Ordenador e Controlador dopecado, não é o seu Autor do mesmo modo como é o Autor do bem. O pecado

não poderia proceder de um Deus santo por criação direta e positiva, massomente por permissão decretatória e ação negativa. O decreto de Deus é tãoabrangente como o Seu governo, estendendo-se a todas as criaturas e a todosos eventos.

Relaciona-se com a nossa vida e com a nossa morte, com o nosso estadono tempo, bem como na eternidade. Como Deus faz todas as coisas segundo oconselho da Sua vontade, ficamos sabendo por Suas obras em que consiste (ouconsistiu) o Seu conselho, assim como julgamos a planta de um arquitetoinspecionando o edifício que foi construído sob sua direção.

Deus não decretou meramente criar o homem, colocá-lo na terra, e depois

deixá-lo entregue à sua própria direção descontrolada; antes, fixou todas ascircunstâncias do destino dos indivíduos, e todas as particularidades que a história da raça humana compreende, desde o seu início até o seu fim. Ele nãodecretou simplesmente o estabelecimento de leis gerais para o governo do

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mundo, mas dispôs a  aplicação dessas leis a todos os casos particulares. Osnossos dias estão contados, como contados estão os cabelos das nossascabeças. Podemos entender a extensão dos decretos divinos pelas distribuiçõesprovidenciais, mediante as quais eles são executados. Os cuidados de Deusalcançam as criaturas, mais insignificantes e os mais diminutos eventos, comoa morte de um pardal e a queda de um fio de cabelo.

Consideremos agora algumas das  propriedades dos decretos divinos. Emprimeiro lugar, são eternos. Supor que sequer um deles foi ditado dentro dotempo, é supor que ocorreu algum novo acontecimento, surgiu algum eventoimprevisto ou alguma combinação imprevista de circunstâncias, que induziu oAltíssimo a   idealizar uma nova resolução. Isto favoreceria a idéia de que oconhecimento de Deus é limitado e que Ele vai ficando mais sábio conforme otempo avança — o que seria uma horrível blasfêmia. Ninguém que creia que oentendimento divino, é infinito, abrangendo o passado, o presente e o futuro, jamais admitirá a errônea doutrina de decretos temporais. Deus não ignora oseventos futuros que serão executados por volições humanos; Ele os predisse em

inúmeros casos, e a profecia não é nada menos do que a manifestação da Sua presciência eterna. As Escrituras afirmam que os crentes foram escolhidos emCristo antes da fundação do mundo (Efésios 1:4), sim, que foi então que a “graça” lhes foi dada (2 Timóteo 1:9).

Em segundo lugar, os decretos de Deus são sábios? A sabedoria éevidenciada na seleção dos melhores fins possíveis e dos meios maisapropriados para cumpri-los. Pelo que conhecemos dos decretos de Deus, éevidente que lhes pertence esta característica. Eles se nos revelam   por sua execução, e toda evidência de sabedoria nas obras de Deus é prova da sabedoria do  plano  segundo o qual eles são realizados. Como declara o salmista, "O

Senhor, quão variadas são as tuas obras! Todas as cousas fizeste comsabedoria..." (Salmo 104:24), Na verdade, só podemos observar uma pequeníssima parte delas, mas devemos proceder aqui como fazemos noutroscasos, e julgar o todo pela amostra, o desconhecido pelo conhecido. Aquele quepercebe o funcionamento admiravelmente engenhoso das partes de uma máquina que teve oportunidade de examinar, será naturalmente levado a crerque as outras partes são de igual modo admiráveis. Da mesma maneira,devemos persuadir nossas mentes quanto às obras de Deus quando nosinvadem dúvidas, e repelir as objeções acaso sugeridas por alguma coisa quenão podemos conciliar com as nossas noções do que é bom e sábio. Quandoalcançarmos os limites do finito e contemplarmos os misteriosos domínios doinfinito, exclamemos: "Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, comoda ciência de Deus..." (Romanos 11:33).

Em terceiro lugar, são livres. "Quem guiou o Espírito do Senhor? E queconselheiro o ensinou? Com quem tomou conselho, para que lhe desseentendimento, e lhe mostrasse as veredas do juízo e lhe ensinasse sabedoria, elhe fizesse notório o caminho — da ciência?" (Isaías 40:13-14). Deus estava sozinho quando elaborou os Seus decretos, e as Suas determinações não foraminfluenciadas por nenhuma causa externa. Ele era livre para decretar ou não, e

para decretar uma coisa e não outra. É preciso atribuir esta liberdade Àqueleque é supremo, independente e soberano em tudo que faz.Em quarto lugar, são absolutos e incondicionais. Sua execução não

depende de qualquer condição que se pode ou não cumprir. Em cada caso em

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que Deus tenha decretado um fim, decretou também todos os meios para essefim. Aquele que decretou a salvação dos Seus eleitos, também decretouproduzir fé neles, (2 Tessalonicenses 2:13). "...O meu conselho será firme, efarei toda a minha vontade" (Isaías 46:10); mas não poderia ser assim, se o Seuconselho dependesse de uma condição que não pudesse ser cumprida. Noentanto Deus "...faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade"

(Efésios 1:11).Lado a lado com a imutabilidade e invencibilidade dos decretos de Deus,as Escrituras ensinam claramente que o homem é uma criatura responsável eque tem que responder por suas ações E se as nossas idéias se formam combase na Palavra de Deus a defesa de um daqueles ensinos não levará à negação do r outro (Reconhecemos sem reserva que há real dificuldadeem definir onde um termina e o outro começa) Sempre acontece isto quando há uma conjunção do divino e do humano. A verdadeira-, oração é ditada peloEspírito e, não obstante, é também o clamor do coração humano. As Escriturassão a Palavra de Deus inspirada mas foram escritas por homens que eram

algo mais que máquinas nas mãos do Espírito. Cristo é Deus e homem. Ele eonisciente, mas crescia em sabedoria (Lucas 2:52). É todo-poderoso porém "...foi crucificado por fraqueza..." (2 Coríntios 13:4). É o Príncipe da vida e,contudo, morreu. Mistérios profundos são estes, mas a fé os recebe semcontestação.

Tem-se assinalado muitas vezes no passado que toda objeção contra osdecretos eternos de Deus aplica-se com igual intensidade contra a Sua eterna presciência. "Se Deus decretou ou não todas as coisas que acontecem, aquelesque admitem a existência de Deus reconhecem que Ele sabe de antemão todasas coisas. Pois bem é evidente que se Ele conhece de antemão todas as coisas,

Ele as aprova ou não as aprova, isto é, ou quer que se realizem, ou não quer.Mas querer que se realizem é decretá-las (Jonathan Edwards).

Finalmente, procure-se supor e depois contemplar o oposto. Negar  osdecretos divinos seria proclamar um mundo, e tudo que se relaciona com ele,regulado somente por acaso ou por destino cego. Então, que paz, quesegurança, que consolo haveria para os nossos pobres corações e mentes? Querefúgio haveria para onde fugir na hora da necessidade e da provação? Nada disso haveria. Não haveria nada menos que as densas trevas e o abjeto horrordo ateísmo. Oh meu leitor, quão agradecidos devemos estar porque tudo está determinado pela infinita sabedoria e bondade de Deus! Quanto louvor egratidão devemos a Ele por Seus decretos! Graças a estes "... sabemos  quetodas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto" (Romanos 8.28). Podemosmuito bem exclamar: "...glória pois a ele  eternamente. Amém" (Romanos11:36).

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A ONISCIÊNCIA DE DEUS

Deus é onisciente. Ele sabe todas as coisas — todas as coisas possíveis,todas as coisas reais, todos os eventos, conhece todas as criaturas, todo opassado, presente e futuro. Conhece perfeitamente todos os pormenores da vida de todos os seres que há no céu, na terra e no inferno. "... conhece o que está em trevas..." (Daniel 2:22). Nada escapa à Sua atenção, nada pode serescondido dEle, não há nada que Ele esqueça! Bem podemos dizer com osalmista: "Tal ciência é para mim maravilhosíssima; tão alta que não a possoatingir" (Salmo 139:6). Seu conhecimento é perfeito. Ele jamais erra, nemmuda, nem passa por alto coisa alguma. "E não há criatura alguma encoberta diante dele: antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele comquem temos de tratar" (Hebreus 4:13). Sim, tal é o Deus a quem temos deprestar contas!

"Tu conheces o meu assentar e o meu levantar: de longe entendes o meupensamento. Cercas o meu andar, e o meu deitar; e conheces todos os meuscaminhos. Sem que haja uma palavra na minha língua, eis que, ó Senhor, tudoconheces" (Salmo 139:2-4), Que maravilhoso Ser é o Deus das Escrituras! Cada um dos Seus gloriosos atributos deveria torná-lo honorável à nossa apreciação.A compreensão da Sua onisciência deveria inclinai-nos diante dEle emadoração. Contudo, quão pouco meditamos nesta perfeição divina! Será por que

o só pensar nela nos enche de inquietação?Quão solene é este fato: nada se pode esconder de Deus! :... quanto àscousas que vos sobem ao espírito, eu as conheço" (Ezequiel 11:5). Embora sendo Ele invisível para nós, não o somos para Ele. Nem as trevas da noite,nem as mais espessas cortinas, nem o calabouço mais profundo podem ocultaro pecador dos olhos do Onisciente. As árvores do jardim não puderam ocultaros nossos primeiros pais. Nenhum olho humano viu Caim assassinar seuirmão, mas o seu Criador testemunhou o crime. Sara pôde rir zombeteira,oculta em sua tenda, mas foi ouvida por Jeová. Acã roubou uma cunha de ouroe a escondeu cuidadosamente no solo, mas Deus a trouxe à luz. Davi escondeu

a sua iniqüidade a duras penas, mas pouco depois o Deus que tudo vê enviou-lhe um dos Seus servos para dizer-lhe: "Tu és o homem!" E tanto ao escritorcomo ao leitor se diz: "... sabei que o vosso pecado vos há de achar" (Números32:23).

Os homens despojariam a Deidade da Sua onisciência, se pudessem —prova de que "... a inclinação da carne é inimizade contra Deus... " (Romanos8:7). Os ímpios odeiam esta perfeição divina com a mesma naturalidade comque são compelidos a reconhecê-la. Gostariam que não houvesse nenhuma Testemunha dos seus pecados, nenhum Examinador dos seus corações,nenhum Juiz dos seus feitos. Procuram banir tal Deus dos seus pensamentos:

"E não dizem no seu coração que eu me lembro de toda a sua maldade..."(Oséias 7:2). Como é solene o Salmo 90:8! Boa razão tem todo o que rejeita a Cristo para tremer diante destas palavras: "Diante de ti puseste as nossasiniqüidades: os nossos pecados ocultos à luz do teu rosto".

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Mas a onisciência de Deus é uma verdade cheia de consolação para ocrente. Em tempos de aflição, ele diz com Jó: "Mas ele sabe o meu caminho..."(23:10). Pode ser profundamente misterioso para mim, inteiramenteincompreensível para os meus amigos, mas "Ele sabe"! Em tempos de fadiga efraqueza, os crentes podem assegurar-se de que Deus  " ... conhece  a nossa estrutura; lembra-se de que somos pó" (Salmo 103:14). Em tempos de dúvida e

vacilação, eles apelam para este atributo, dizendo: "Sonda-me, ó Deus, econhece o meu coração: prova-me, e conhece os meus pensamentos. E vê se ha em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno" (Salmo 139:23-24). Em tempos de triste fracasso, quando os nossos corações foram traídos pornossos atos; quando os nossos feitos repudiaram a nossa devoção, e nos é feita a penetrante pergunta, "Amas-me?", dizemos, como o fez Pedro: "... Senhor, tusabes tudo; tu sabes que eu te amo..." (João 21:17).

Aí temos estímulo para orar. Não há motivo para temer que as petições do justo não serão ouvidas, ou que os seus suspiros e lágrimas não serão notadospor Deus, visto que Ele conhece os pensamentos e as intenções do coração. Não

há perigo de que um santo seja passado por alto no meio da multidão desuplicantes que todo dia e toda hora apresentam as suas variadas petições,pois a Mente infinita é capaz de prestar a mesma atenção a multidões como seapenas um indivíduo estivesse procurando obter a Sua atenção. Assim tambéma falta de linguagem apropriada, a incapacidade de dar expressão ao anseiomais profundo da nossa alma, não comprometerá as nossas orações, pois, "...será que antes que clamem, eu responderei: estando eles ainda falando, eu osouvirei" (Isaías 65:24).

"Grande é o nosso Senhor, e de grande poder; o seu entendimento éinfinito" (Salmo 147:5). Deus não somente sabe tudo que aconteceu no passado

em todos os rincões dos Seus vastos domínios, e não apenas conhece porcompleto tudo o que agora está ocorrendo no universo inteiro, mas também éperfeito conhecedor de todos os acontecimentos, do menor ao maior deles, quehaverão de suceder nas eras vindouras. O conhecimento que Deus tem dofuturo é tão completo como o Seu conhecimento do passado e do presente, eisso porque o futuro depende totalmente dEle próprio. Se fosse possível ocorreralguma coisa sem a ação direta de Deus ou sem a Sua permissão, então aquiloseria independente dEle, e Ele deixaria, de pronto, de ser Supremo.

Ora, o conhecimento divino do futuro não é mera abstração, mas é algointeiramente ligado ao Seu propósito, o qual o acompanha. Deus mesmoplanejou tudo que há de ser, e o que Ele planejou terá que ser efetuado. Como a Sua Palavra infalível afirma, "... segundo a sua vontade ele opera com o exércitodo céu e os moradores da terra: não há quem possa estorvar a sua mão e lhediga: Que fazes?" (Daniel 4:35). E de novo: "Muitos propósitos há no coração dohomem, mas o conselho do Senhor  permanecerá"  (Provérbios 19:21). Como a sabedoria e o poder de Deus são igualmente infinitos, tudo que Deus projetouestá absolutamente garantido. (Que os conselhos divinos deixem de cumprir-se,é tão impossível como seria para Deus, três vezes santo, mentir.

Quanto à realização dos conselhos de Deus relativos ao futuro, nada é

incerto. Nenhum dos Seus decretos é deixado na dependência das criaturas,nem das causas secundárias. Não há evento futuro que seja apenas uma possibilidade, isto é, coisa que pode ou não vir a acontecer. "Conhecidas  porDeus são todas as suas obras desde a eternidade" (Atos 15:18). O que quer que

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A PRESCIÊNCIA DE DEUS

Que controvérsias têm sido engendradas por este assunto no passado!Mas que verdade das Escrituras Sagradas existe que não se tenha tornado emocasião para batalhas teológicas e eclesiásticas? A deidade de Cristo, Seunascimento virginal, Sua morte expiatória, Seu segundo advento; a justificaçãodo crente, sua santificação, sua segurança; a Igreja, sua organização, oficiais edisciplina; o batismo, a ceia do Senhor, e uma porção doutras preciosasverdades que poderiam ser mencionadas. Contudo, as controvérsiassustentadas não fecharam a boca dos fiéis servos de Deus; então, por quedeveríamos evitar a disputada questão da presciência de Deus porque, comefeito, há alguns que nos acusarão de fomentar contendas? Que outros seenvolvam em contendas, se quiserem; nosso dever é dar testemunho segundo a luz a nós concedida.

Há duas coisas referentes à presciência de Deus que muitos ignoram: osignificado  do termo e o seu escopo  bíblico. Visto que esta ignorância é tãoamplamente generalizada, é fácil aos prega dores e mestres impingir perversõesdeste assunto, até mesmo ao povo de Deus. Só há uma salvaguarda contra oerro: estar firme na fé. Para isso, é preciso fazer devoto e diligente estudo, ereceber com singeleza a Palavra de Deus infundida. Só então ficamosfortalecidos contra as investidas dos que nos atacam. Hoje em dia existem os

que fazem mau uso desta verdade, com o fim de desacreditar e negar a absoluta soberania de Deus na salvação dos pecadores. Assim como os seguidores da alta crítica repudiam a divina inspiração das Escrituras e os evolucionistas a obra de Deus na criação, alguns mestres pseudo-bíblicos andam pervertendoa presciência de Deus com o fim de pôr de lado a Sua incondicional eleição para a vida eterna.

Quando se expõe o solene e bendito tema da pré-ordenação divina, e o da eterna escolha feita por Deus de algumas pessoas para serem amoldadas à imagem do Seu Filho, o diabo envia alguém para argumentar que a eleição sebaseia na presciência de Deus, e esta "presciência" é interpretada no sentido de

que Deus previu que alguns seriam mais dóceis que outros, que responderiammais prontamente aos esforços do Espírito e que, visto que Deus sabia que elescreriam, por conseguinte, predestinou-os para a salvação. Mas tal declaração éradicalmente errônea. Repudia a verdade da depravação total, pois defende quehá algo bom em alguns homens. Tira a independência de Deus, pois faz comque seus decretos se apóiem naquilo que Ele descobre na criatura. Vira completamente ao avesso as coisas, porquanto ao dizer que Deus previu quecertos pecadores creriam em Cristo e, por isso, predestinou-os para a salvação,é o inverso da verdade. As Escrituras afirmam que Deus, em Sua soberania,escolheu alguns para serem recipientes de Seus distinguidos favores ( Atos

13:48) e portanto, determinou conferir-lhes o dom da fé. A falsa teologia faz doconhecimento prévio que Deus tem da nossa fé a  causa da eleição  para a salvação, ao passo que a eleição de Deus é a causa, e a nossa fé em Cristo, oefeito.

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Antes de continuar discorrendo sobre este tema, tão errôneamenteinterpretado, façamos uma pausa para definir os nossos termos. Que se querdizer por "presciência"? "Conhecer de antemão”, é a pronta resposta de muitos.Mas não devemos tirar conclusões precipitadas, nem tampouco apelar para odicionário do vernáculo como o supremo tribunal de recursos, pois não se trata de uma questão de etimologia do termo empregado. O que é preciso é descobrir

como a palavra é empregada nas Escrituras. O emprego que o Espírito Santofaz de uma expressão sempre define. " seu significado e escopo. Deixar deaplicar esta regra simples tem causado muita confusão e erro. Muitíssimaspessoas presumem que já sabem o sentido de certa palavra empregada nasEscrituras, pelo que negligenciam  provar  as suas pressuposições por meio deuma concordância. Ampliemos este ponto.

Tomemos a palavra “carne”. Seu significado parece tão óbvio, que muitosachariam perda de tempo examinar as suas várias significações nas Escrituras.Depressa se presume que a palavra é sinônima de corpo físico e, assim, não sefaz pesquisa nenhuma. Mas, de fato, nas Escrituras "carne" muitas vezes inclui

muito mais que a idéia de corpo. Tudo que o termo abrange, só pode serverificado por uma diligente comparação de cada  passagem em que ocorre epelo estudo de cada contexto, separadamente.

Tomemos a palavra “mundo”. O leitor comum da Bíblia imagina que esta palavra equivale a "raça humana" e, conseqüentemente, muitas passagens quecontêm o termo são interpretadas erroneamente. Tomemos a palavra “imortalidade”. Certamente esta não requer estudo! É óbvio que se refere à indestrutibilidade da alma. Ah, meu leitor, é uma tolice e um erro fazerqualquer suposição, quando se trata da Palavra de Deus. Se o leitor se der aotrabalho de examinar cuidadosamente cada passagem em que se acham

“mortal” e “imortal”, verá que estas palavras nunca são aplicadas à alma, porémsempre ao corpo.

Pois bem, o que acabamos de dizer sobre "carne", "mundo", e"imortalidade", aplicasse com igual força aos termos "conhecer" e "pré-conhecer". Em vez de imaginar que estas palavras não significam mais quesimples cognição, é preciso ver que as diferentes passagens em que elasocorrem exigem ponderado e cuidadoso exame. A palavra "presciência" (pré-conhecimento) não se acha no Velho Testamento. Mas "conhecer" (ou "saber")ocorre ali muitas vezes. Quando esse termo é empregado com referência a Deus, com freqüência significa  considerar com  favor, denotando não mera cognição, mas sim afeição pelo objeto em vista. "... te conheço por nome" (Êxodo33:17). "Rebeldes fostes contra o Senhor desde o dia em que vos conheci" (Deuteronômio 9:24). "Antes que te formasse no ventre te conheci..."  (Jeremias1:5). "... constituíram príncipes, mas eu não o soube..." (Oséias 8:4). "De todasas famílias da terra a vós somente conheci..."  (Amós 3:2). Nestas passagens,"conheci" significa amei ou designei. 

Assim também a palavra "conhecer" é empregada muitas vezes no NovoTestamento no mesmo sentido do Velho Testamento. "E então lhes direiabertamente: Nunca vos conheci..."  (Mateus 7:23). "Eu sou o bom Pastor, e

conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido" (João 10:14). "Mas, sealguém ama a Deus, esse é conhecido  dele" (1 Coríntios 8:3). "... o Senhorconhece os que são seus..." (2 Timóteo 2:19).

Pois bem, a palavra "presciência", como é empregada no Novo Testamento,

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é menos ambígua que a sua forma simples, "conhecer". Se cada passagem emque ela ocorre for estudada cuidadosamente, ver-se-á que é discutível sealguma vez se refere apenas à percepção de eventos que ainda estão poracontecer. O fato é que "presciência" nunca é  empregada nas Escrituras emrelação a eventos ou ações; em lugar disso, sempre se refere a  pessoas. Pessoasé que Deus declara que "de antemão conheceu" (pré-conheceu), não as ações

dessas pessoas. Para provar isto, citaremos agora cada uma das passagens emque se acha esta expressão ou sua equivalente.A primeira é Atos 2:23. Lemos ali: "A este que vos foi entregue pelo

determinado conselho e presciência de Deus, tomando-o vós, o crucificastes ematastes pelas mãos de injustos". Se se der cuidadosa atenção à terminologia deste versículo, ver-se-á que o apóstolo não estava falando do conhecimento..antecipado que Deus tinha do ato da crucificação, mas sim da Pessoa crucificada: "A este (Cristo) que vos foi entregue", etc.

A segunda é Romanos 8:29-30. "Porque os que dantes conheceu tambémos predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho; a fim de que ele

seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes tambémchamou", etc. Considere-se bem o pronome aqui empregado. Não se refere a algo, mas a  pessoas, que ele conheceu de antemão. O que se tem em vista não éa submissão da vontade, nem a fé .do coração, mas as pessoas mesmas. 

"Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu..." (Romanos 11:2).Uma vez mais a clara referência é a pessoas, e somente a pessoas.

A última citação é de 1 Pedro 1:2: "Eleitos segundo a presciência de DeusPai..." Quem  são "eleitos segundo a presciência de Deus Pai"? O versículoanterior nô-lo diz: a referência é aos "estrangeiros dispersos", isto é, a Diáspora,a  Dispersão, os judeus crentes. Portanto, aqui também a referência é a 

pessoas, e não aos seus atos previstos.Ora, em vista destas passagens (e não há outras mais), que base bíblica 

há para alguém dizer que Deus "pré-conheceu” os a tos  de certas pessoas, a saber, o seu "arrependimento e fé” e que devido a esses atos Ele as elegeu para a salvação? A resposta é: absolutamente nenhuma. As Escrituras nunca falam de arrependimento e fé como tendo sido previsto ou pré-conhecido porDeus. Na verdade, Ele sabia  desde toda a eternidade que certas pessoas se arrependeriam e creriam; entretanto, não é a isto que as Escrituras se referemcomo objeto da "presciência” de Deus. Esta palavra se refere uniformemente aopré-conhecimento de pessoas; portanto, conservemos "...o modelo das sãspalavras.. ." (2 Timóteo 1:13).

Outra coisa para a qual desejamos chamar particularmente a atenção éque as duas primeiras passagens acima citadas mostram com clareza eensinam implicitamente que a "presciência” de Deus não é causativa, pelocontrário, alguma outra realidade está por trás dela e a precede, e essa realidade é o Seu decreto soberano  Cristo "... foi entregue pelo (1)determinado conselho e (2) presciência de Deus" (Atos 2:23). Seu "conselho" oudecreto foi a base da Sua presciência. Assim também em Romanos 8-29.Esse versículo começa com a palavra "porque", conjunção que nos leva a 

examinar o que o precede Imediatamente. E o que diz o versículo anterior? "...todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles... que sãochamados por seu decreto". Assim é que a "presciência" de Deus baseia-se em seu decreto (ver Salmo 2:7).

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Deus conhece de antemão o que será porque Ele decretou o que há deser. Portanto, afirmar que Deus elege pessoas porque as pré-conhece é invertera ordem das Escrituras, é pôr o carro na frente dos bois. A verdade é esta: Eleas “pré-conhece” porque as elegeu. Isto retira da criatura a base ou causa da eleição, e a coloca na soberana vontade de Deus. Deus Se propôs eleger certaspessoas, não por haver nelas ou por proceder delas alguma coisa boa, quer

concretizada quer prevista, mas unicamente por Seu beneplácito. Quanto aopor que Ele escolheu os que escolheu, não sabemos, e só podemos dizer: “Sim,ó Pai, porque assim te aprouve” (Mateus 11:26). A verdade patente em Romanos8:29 é que Deus, antes da fundação do mundo, elegeu certos pecadores e osdestinou para a salvação (2 Tessalonicenses 2:13). Isto se vê com clareza naspalavras finais do versículo: “... os predestinou para serem conformes à imagemde seu Filho”, etc. Deus não predestinou aqueles que “dantes conheceu”sabendo que eram “conformes”, mas. Ao contrário, aqueles que Ele “dantesconheceu” (isto é, que Ele amou e elegeu), “predestinou para serem conformes”.Sua conformidade a Cristo não é a causa, mas o efeito da presciência e

predestinação divina.Deus não elegeu nenhum pecador porque previu que creria, pela razãosimples, mas suficiente, de que nenhum pecador jamais crê enquanto Deus nãolhe dá fé; exatamente como nenhum homem pode ver antes que Deus lhe dê a vista. A vista é dom de Deus, e ver é a conseqüência do uso do Seu dom. Assimtambém a fé é dom de Deus (Efésios 2:8-9), e crer é a conseqüência do usodeste Seu dom. Se fosse verdade que Deus elegeu alguns para serem salvosporque no devido tempo eles creriam, isso tornaria o ato de crer num atomeritório e, nesse caso, o pecador salvo teria motivo para gloriar-se, o que asEscrituras negam enfaticamente: Efésios 2:9.

Certamente a Palavra de Deus é bastante clara ao ensinar que crer não éum ato meritório. Afirma ela que os cristãos vieram a crer “pela graça” (Atos18:27). Se, pois, eles vieram a crer “pela graça”, absolutamente não há nada demeritório em “crer”, e, se não há nada de meritório nisso, não poderia ser omotivo ou causa que levou Deus a escolhê-los. Não; a escolha feita por Deusnão procede de coisa nenhuma existente em nós, ou que de nós provenha, masunicamente da Sua soberana boa vontade. Mais uma vez, em Romanos 11:5lemos sobre “... um resto, segundo a eleição”. Eis aí, suficientemente claro; a eleição mesma é “da graça”, e da graça é favor imerecido, coisa a que nãotínhamos direito nenhum diante de Deus.

Vê-se, pois, como é importante para nós, termos idéias claras e bíblicassobre a “presciência” de Deus. Os conceitos errôneos sobre ela, inevitavelmentelevam a idéias que desonram em extremo a Deus. A noção popular da presciência divina é inteiramente inadequada. Deus não somente conheceu ofim desde o princípio, mas planejou, fixou, predestinou tudo desde o princípio.E, como a causa está ligada ao efeito, assim o propósito de Deus é ofundamento da Sua presciência. Se, pois, o leitor é um cristão verdadeiro, éporque Deus o escolheu em Cristo antes da fundação do mundo (Efésios 1:4), eo fez não porque previu que você creria, mas simplesmente porque Lhe agradou

fazê-lo; você foi escolhido apesar da tua incredulidade natural. Sendo assim,toda a glória e louvor pertence a Deus somente. Você não tem base nenhuma para arrogar-se crédito algum. Você creu “pela graça” (Atos 18:27), e issoporque a tua própria eleição foi “da graça” (Romanos 11:5)

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A SUPREMACIA DE DEUS

Numa de suas cartas a Erasmo, disse Lutero: "As tuas idéias sobre Deussão demasiado humanas". Provavelmente o renomado erudito se ofendeu comaquela censura, ainda mais que vinha do filho de um mineiro; não obstante, foimais que merecida.

Nós também, embora não ocupando nenhuma posição entre os líderesreligiosos desta era degenerada, proferimos a mesma acusação contra a maioria dos pregadores dos nossos dias, e contra aqueles que, em vez de examinarempessoalmente as Escrituras, preguiçosamente aceitam o ensino de outros.Atualmente se sustentam, em quase toda parte, os mais desonrosos e degra-dantes conceitos do governo e do reino do Todo-poderoso. Para incontáveismilhares, mesmo entre cristãos professos, o Deus das Escrituras écompletamente desconhecido.

Na antigüidade, Deus queixou-se a um Israel apóstata: "... pensavas que(eu) era como tu..." (Salmo 50:21). Semelhante a essa terá que ser a Sua acusação contra uma cristandade apóstata. Os homens imaginam que o quemove a Deus são os sentimentos, e não os princípios. Supõe que a Sua onipotência é uma ociosa ficção, a tal ponto que Satanás desbarata os Seusdesígnios por todos os lados. Acham que, se Ele formulou algum plano oupropósito, deve ser como o deles, constantemente sujeito a mudança. Declaram

abertamente que, seja qual for o poder que Ele possui, terá que ser restringido,para que não invada a cidadela do "lívre-arbítrio" humano, e o reduza a uma "máquina”. Rebaixam a toda eficaz expiação, a qual de fato redimiu a todosaqueles pelos quais foi feita, fazendo dela um mero "remédio" que as almasenfermas pelo pecado podem usar se se sentem dispostas a fazê-lo; eenfraquecem a invencível obra do Espírito Santos, reduzindo-a a um"oferecimento" do evangelho que os pecadores podem aceitar ou rejeitar a seubel-prazer.

O Deus deste século vinte não se assemelha mais ao Soberano Supremodas Escrituras Sagradas do que a bruxuleante e fosca chama de uma vela se

assemelha à glória do sol do meio-dia. O Deus  de que se fala atualmente nopúlpito comum, comentado na escola dominical em geral, mencionado na maiorparte da literatura religiosa da atualidade e pregado em muitas das conferên-cias bíblicas, assim chamadas, é uma ficção engendrada pelo homem, uma invenção do sentimentalismo piegas. Os idolatras do lado de fora da cristandade fazem "deuses" de madeira e de pedra, enquanto que os milhões deidolatras que existem dentro da cristandade fabricam um Deus extraído de suasmentes carnais. Na realidade, não passam de ateus, pois não existe alternativa possível senão a de um Deus  absolutamente supremo, ou nenhum deus. UmDeus cuja vontade é impedida, cujos desígnios são frustrados, cujo propósito é

derrotado, nada tem que se lhe permita chamar Deidade, e, longe de ser dignoobjeto de culto, só merece desprezo.

A distância infinita que separa do todo-poderoso Criador as maispoderosas criaturas é um argumento em favor da supremacia do Deus vivo e

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verdadeiro. Ele é o Oleiro, elas são em Suas mãos apenas o barro que pode sermodelado para formar vasos de honra, ou pode ser esmiuçado (Salmo 2:9),como Lhe apraz. Se todos os habitantes do céu e todos os moradores da terra se  juntassem numa rebelião contra Ele, não Lhe causariam perturbação e issoteria ainda menor efeito sobre o Seu trono eterno e inexpugnável do que o efeitoda espuma das ondas do Mediterrâneo sobre o alto rochedo de Gibraltar. Tão

pueril e impotente .é a criatura para afetar o Altíssimo, que as própriasEscrituras nos dizem que quando os príncipes gentílicos se unirem com Israelapóstata para desafiar a Jeová e Seu Ungido, "aquele que habita nos céus serirá; o Senhor zombará deles" (Salmo 2:4).

Muitas passagens das Escrituras afirmam clara e positivamente a absoluta e universal supremacia de Deus. "Tua é, Senhor, a magnificência, e opoder, e a honra, e a vitória, e a majestade; porque teu é tudo quanto há noscéus e na terra; teu é Senhor, o reino, e tu te exaltaste sobre todos corno chefe... e tu dominas sobre tudo..." (1 Crônicas 29:11-12). Observe-se, diz "dominas"agora, e não diz "dominarás no milênio". "Ah! Senhor, Deus de nossos pais,

porventura não és tu Deus nos céus? Pois tu és Dominador sobre todos osreinos das gentes, e na tua mão há força e poder, e não há quem te possa resistir" (nem o próprio diabo) (2 Crônicas 20:6). Perante Ele, presidentes epapas, reis e imperadores, são menos que gafanhotos. "Mas, se ele está contra alguém, quem então o desviará? O que a sua alma quiser isso fará" (Jó 23:13).Ah, meu leitor, o Deus das Escrituras não é um falso monarca, nem um merosoberano imaginário, mas Rei dos reis e Senhor dos senhores. "Sei que tudopodes, e nenhum  dos teus pensamentos pode ser impedido (Jó 42:2, ou,segundo outro tradutor, "nenhum dos teus propósitos pode ser frustrado". Tudoque designou fazer, Ele o faz. Realiza tudo quanto decretou. "Mas o nosso Deus

está nos céus: faz tudo o que lhe apraz" (Salmo 115:3). Por que? Porque "não há sabedoria nem inteligência, nem conselho contra o Senhor” (Provérbios 21:30).

As Escrituras retratam vividamente a supremacia de Deus sobre as obrasde Suas mãos. Toda matéria inanimada e todas as criaturas irracionaisexecutam as ordens do seu Criador. Por Sua vontade dividiu-se o Mar Vermelhoe suas águas se levantaram e ficaram eretas como paredes (Êxodo 14); e a terra abriu suas fauces e os rebeldes carregados de culpa foram tragados vivos peloabismo (Números 14). À Sua ordem o sol se deteve (Josué 10), e, noutra ocasião, voltou atrás  dez graus do relógio de Acaz (Isaías 38:8). Para exemplificar Sua supremacia, mandou corvos levarem alimento a Elias (1 Reis17), fez o ferro flutuar (2 Reis 6:5), manteve mansos os leões quando Daniel foilançado na cova dessas feras, fez que o fogo não queimasse os três hebreus queforam arrojados às chamas da fornalha. Assim, "Tudo o que o Senhor quis, eleo fez nos céus e na terra, nos mares e em todos os abismos" (Salmo 135:6).

O perfeito domínio de Deus sobre a  vontade  dos homens tambémdemonstra a Sua supremacia, Pondere o leitor cuidadosamente sobre Êxodo34:24, Exigia-se que todos os varões de Israel saíssem de casa e fossem a Jerusalém, três vezes por ano. Viviam entre gente hostil, que os odiava por seterem apropriado das suas terras. Então, o que é que impedia aos cananeus

aproveitarem a oportunidade e, durante a ausência dos homens, matarem asmulheres e as crianças e se apossarem de suas fazendas? Se a mão doOnipotente não estivesse até mesmo sobre a vontade dos ímpios, como poderia Ele ter feito esta promessa, de que ninguém sequer cobiçaria suas terras? Ah,

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"Como ribeiros de águas, assim é o coração do rei na mão do Senhor; a tudoquanto quer o inclina" (Provérbios 21:1). Mas, poder-se-ia objetar, não lemosuma e outra vez nas Escrituras sobre como os homens desafiavam a Deus, re-sistiam à Sua vontade, transgrediam os Seus mandamentos, menosprezavamas Suas advertências e faziam ouvidos moucos a todas as Suas exortações?Certamente que sim; B isto anula tudo que dissemos acima? Se anula, então é

evidente que a Bíblia se contradiz, Mas isso não pode ser. A objeção se referesimplesmente à iniqüidade do homem em rebelião contra a Palavra de Deus,escrita ao passo que mencionamos acima o que Deus se propôs em Si mesmo. A regra de conduta que Ele nos dá para seguirmos não é cumprida perfeitamentepor nenhum de nós; os Seus "conselhos" eternos são realizados nos mínimosdetalhes.

O Novo Testamento afirma com igual clareza e firmeza a absoluta euniversal supremacia de Deus. Ali se nos diz que Deus "... faz todas ascoisas, segundo o conselho da sua vontade" (Efésios 1:11). A palavra grega traduzida por "faz" significa "fazer eficazmente". Por esta razão, lemos:

"Porque dele por ele, e para ele, são todas as coisas; glória pois a  eleeternamente. Amém" (Romanos 11:56). Os homens podem jactar-se: de que sãoagentes livres, com vontade própria, e de que têm liberdade de fazer o quequerem, mas as Escrituras dizem aos que se jactam: ".... vós que dizeis: hoje,ou amanhã, iremos a tal cidade, e lá passaremos um ano, e contrataremos, eganharemos... em lugar do que devíeis dizer: Se o Senhor quiser (Tiago,5:13-15),

Há aqui, pois, um lugar de repouso para o coração. A nossa vida não é,nem produto do destino cego, nem resultado do acaso caprichoso, mas todas assuas minudências foram prescritas desde toda a eternidade e agora são

ordenadas por Deus que vive e reina. Nem um fio de cabelo de nossa cabeça pode ser tocado, sem a Sua permissão. "O coração do homem considera o seucaminho, mas o Senhor lhe dirige os passos" (Provérbios 16:9). Que segurança,que poder, que consolo isso deveria dar ao cristão real! "Os meus tempos estãonas tuas  mãos..." (Salmo 31:15). Portanto digo a mim mesmo: "Descansa no Senhor, e espera nele..." (Salmo 37:7).

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A SOBERANIA DE DEUS

Pode-se definir a soberania de Deus como o exercício de Sua supremacia,estudada no capítulo anterior. Sendo infinitamente elevado acima da maiselevada criatura, Ele é o Altíssimo, o Senhor dos céus e da terra. Não sujeito a ninguém, não influenciado por nada, absolutamente independente: Deus agecomo Lhe apraz, somente como Lhe apraz, sempre como Lhe apraz. Ninguémconsegue frustrá-lo nem impedi-Lo. Assim, Sua Palavra declara expressamente:"... o meu conselho será firme, e  farei  toda a minha vontade (Isaías 46:10). "...segundo a sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores da terra:não há quem possa estorvar a sua mão..." (Daniel 4:35). O sentido da soberania divina é que Deus é Deus de fato, bem como o é de nome, que Ele ocupa o tronodo universo dirigindo todas as coisas, fazendo todas as coisas "... segundo oconselho da sua vontade" (Efésios 1:11).

Acertadamente disse o senhor Spurgeon em seu sermão sobre Mateus20:15; "Não há atributo mais consolador para os Seus filhos do que o da soberania de Deus, Sob as circunstâncias mais adversas, em meio às maisduras provações, eles crêem que Deus na Sua soberania ordenou as suasaflições, que Ele as dirige soberanamente, e que na Sua soberania santificará todas elas? Para os filhos de Deus não deveria haver nada por que lutar maiszelosamente do que a doutrina de que o seu Senhor domina toda a criação —

do reinado de Deus sobre todas as obras de Suas mãos — do trono de Deus eSeu direito de ocupar esse trono. Por outro lado, não há doutrina mais odiada pelos mundanos, nenhuma verdade de que tenham feito joguete a tal pontocomo a grandiosa, estupenda, porém certíssima doutrina da soberania doinfinito Jeová. Os homens se dispõem a permitir que Deus esteja em toda parte,menos no Seu trono. Dispõem-se a deixá-lo em Sua oficina formando mundos ecriando estrelas. Deixarão que esteja em Seu dispensário a distribuir esmolas ea conceder benefícios. Permitirão que fique sustentando a terra e mantendofirmes as suas colunas, que acenda os luzeiros do céu e governe as irrequietasondas do oceano; mas quando Deus sobe ao Seu trono. Suas criaturas rangem

os dentes, e quando nós proclamamos um Deus entronizado, e Seu direito defazer o que quiser com o que lhe  pertence, como também de dispor de Suascriaturas como Ele achar melhor, sem consultá-las sobre a questão, então oshomens nos vaiam, nos amaldiçoam e se fazem de surdos para não nos ouvir,porquanto Deus no Seu trono não é o Deus que eles amam. Mas é Deus no Seutrono que muito nos agrada pregar. É em Deus no Seu trono que confiamos".

“Tudo que o Senhor quis, ele o fez, nos céus e na terra, nos mares e emtodos os abismos' (Salmo 135:6). Sim, dileto leitor, tal é o imperial Potentadorevelado nas Escrituras Sagradas. Sem rival em majestade, ilimitado em poder,imune de tudo quanto Lhe é alheio. Mas estamos vivendo dias em que até

mesmo os mais "ortodoxos" parecem ter medo de admitir em termos próprios a deidade de Deus. Dizem que acentuar a soberania de Deus exclui a responsabilidade humana quando, na verdade, a responsabilidade humana 

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baseia-se na soberania divina e desta é resultado."Mas o nosso Deus está nos céus: faz tudo o que lhe apraz" (Salmo 115:3).

Ele escolheu soberanamente colocar cada uma de Suas criaturas na condiçãoque pareceu bem aos seus olhos. Deus criou anjos: a alguns, colocou numestado condicional; a outros, deu uma posição imutável diante dEle (I Timóteo5:21), estabelecendo Cristo como sua cabeça (Colossenses 2:10). Não passemos

por alto o fato de que tanto os anjos que pecaram (2 Pedro 2:5) 

como os que nãopecaram, eram Suas criaturas. Contudo, Deus previu que aqueles cairiam; nãoobstante, colocou-os num estado condicional, próprio das criaturas mutáveis, epermitiu que caíssem, embora não sendo o Autor do pecado deles.

Assim também Deus colocou soberanamente  Adão no jardim do Édennum estado condicional, Se Lhe aprouvesse, tê-lo-ia colocado num estadoincondicional; poderia tê-lo colocado numa posição tão firme como a dos anjosque não caíram, posição tão segura e imutável como a dos santos em Cristo.Em vez disso, porém, preferiu colocá-lo no Éden sobre a base da responsabili-dade como criatura, de modo que permanecesse ou caísse conforme

correspondesse ou não à sua responsabilidade — de obediência ao seu Criador.Adão foi feito responsável a Deus pela lei que o Criador lhe deu.Responsabilidade existia aí no jardim, responsabilidade intacta, submetida à prova sob as mais favoráveis condições.

Ora, Deus não colocou Adão num estado condicional e de criatura responsável porque fazê-lo era justo. Não, era justo porque Deus o fez.Tampouco Deus deu existência às criaturas porque era justo que o fizesse, istoé, porque estava obrigado a criar; mas sim era justo porque Ele o fez. Deus ésoberano. Sua vontade é suprema. Longe de estar sujeito a qualquer lei sobre"direito", Deus é lei para Si próprio, de modo que tudo quanto Ele faz é justo. E

ai do rebelde que levante questão sobre a Sua soberania! — "Ai daquele quecontende com o seu Criador! O  caco entre outros cacos de barro! Porventura dirá o barro ao que o formou: Que fazes?...” (Isaías 45:9).

Ainda mais, o Senhor Deus colocou soberanamente  Israel numa posiçãocondicional. Os capítulos 19, 20 e 24 de Êxodo dão provas abundantes e clarasdisto. Israel estava sob um pacto de obras. Deus lhe deu certas leis e fez que asbênçãos para a nação dependessem da sua observância dos estatutos divinos.Mas Israel era duro de cerviz e incircunciso de coração. Rebelou-se contra Jeová, abandonou Sua Lei, voltou-se para os falsos deuses, apostatou. Emconseqüência, o juízo divino caiu sobre Israel e este foi entregue às mãos dosseus inimigos, foi disperso por toda a terra, e até hoje permanece sob a pesada severidade do desfavor de Deus.

Foi Deus que, no exercício de Sua sublime soberania, colocou Satanás eseus anjos, Adão e Israel em suas respectivas posições de responsabilidade.Entretanto, longe de acontecer que a Sua soberania retirasse das criaturas a sua responsabilidade, foi pelo exercício da mesma que Ele as colocou em estadocondicional j sob as responsabilidades que julgou apropriadas; em virtude decuja soberania, vê-se que Ele é Deus sobre todos. Assim, há perfeita harmonia entre a soberania de Deus e a responsabilidade da criatura. Muitos têm dito

tolamente que é de todo impossível mostrar onde termina a soberania divina ecomeça a responsabilidade da criatura. A responsabilidade da criatura começa aqui: na ordenação soberana do Criador. Quanto à Sua soberania, não há enunca haverá nenhum "fim" para ela!

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Vamos dar algumas provas de que a responsabilidade da criatura baseia-se na soberania de Deus. Quantas coisas estão registradas nas Escrituras e queeram justas porque Deus as ordenou, e não seriam justas se Ele não as tivesseordenado! Que direito tinha Adão de "comer" das árvores do jardim? Sem a permissão do seu Criador (Gênesis 2:16), Adão teria sido um ladrão! Que direitoIsrael tinha de pedir prata, ouro e vestes aos egípcios (Êxodo 12:35)? Nenhum,

se Jeová não o tivesse autorizado (Êxodo 3:22). Que direito possuía Israel dematar tantos cordeiros para sacrifício? Nenhum, a não ser pelo fato de que Deus ordenou isso. Que direito Israel tinha de eliminar todos os cananeus?Nenhum, salvo porque Jeová mandou. Que direito tem o marido de exigirsubmissão da esposa? Nenhum, se Deus não o tivesse estipulado. Epoderíamos prosseguir nisso mais e mais. A responsabilidade humana  está baseada na soberania divina.

Mais um exemplo do exercício da absoluta soberania de Deus. Deuscolocou os Seus eleitos num estado diferente do de Adão ou Israel. Colocou-osnum estado incondicional. No pacto eterno Cristo foi designado a Cabeça deles,

levou sobre Si as suas responsabilidades e cumpriu por eles uma justiça perfeita, irrevogável e eterna. Cristo foi colocado num estado condicional, poisEle estava "debaixo da lei, para ganhar os que estavam debaixo da lei", só quecom esta diferença infinita: os outros falharam: Ele não falhou e não podia falhar. E quem  foi que colocou Cristo naquele estado condicional? O TrinoDeus. A vontade soberana O designou, o amor soberano O enviou, e a autoridade soberana determinou a Sua obra.

Certas condições foram postas diante do Mediador. Ele teria que ser feitoem semelhança da carne do pecado; teria que engrandecer, e dignificar a lei;teria que levar em Seu corpo no madeiro todos os pecados do povo de Deus;

teria que fazer plena expiação por eles; teria que suportar o derramamento da ira de Deus; e teria que morrer e ser sepultado. Pelo cumprimento dessascondições, era-Lhe oferecida uma recompensa: Isaías 53:10-12. Ele haveria deser o Primogênito entre muitos irmãos; haveria de ter um povo que participaria de Sua glória. Bendito seja o Seu nome para sempre, pois Ele cumpriu essascondições e, uma vez que as cumpriu, o Pai está comprometido, com juramentosolene, a preservar sempre e abençoar por toda a eternidade cada um daquelespelos quais o Seu Filho encarnado fez mediação. Desde que Ele tomou o lugardeles» agora eles participam do dEle. Sua justiça é deles, Sua posição diante deDeus é deles. Sua vida é deles. Não lhes resta sequer uma condição para cumprir, nem uma só responsabilidade da qual desincumbir-se para alcançarem a bem-aventurança eterna. “... com uma só oblação aperfeiçooupara sempre os que são santificados" (Hebreus 10:14).

Eis aí, pois, a soberania de Deus exposta abertamente diante de todos nasdiferentes  formas pelas quais Ele se relaciona com as Suas criaturas. Algunsdos anjos, Adão e Israel foram colocados numa posição condicional, na qual a continuidade da bênção dependia da sua obediência e fidelidade a Deus. Porém,em marcante contraste com eles, o "pequeno rebanho" (Lucas 12:32)recebeu uma posição incondicional e imutável no pacto de Deus. nos Seus

conselhos e em Seu Filho; a bênção dele depende do que Cristo fez por ele, "... ofundamento de Deus fica firme, tendo este selo: o Senhor conhece os que sãoseus..." (2 Timóteo 2:19), O fundamento sobre o qual estão os eleitos de Deus éperfeito; nada se lhe pode acrescentar, e nada se lhe pode tirar (Eclesiastes

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3:14). Eis aqui, pois, a maior e mais elevada demonstração da absoluta soberania de Deus. Verdadeiramente, Ele "... compadece-se de quem quer, eendurece a quem quer" (Romanos 9:18).

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A IMUTABILÍDADE DE DEUS

Esta é uma das perfeições divinas não suficientemente examinadas. Éuma das excelências do Criador que O distinguem de todas as Suas criaturas.Deus é perpetuamente o mesmo: não sujeito a mudança nenhuma em Seu ser,em Seus atributos e em Suas determinações. Daí, Deus é comparado a uma rocha  (Deuteronômio 32:4, etc.) que permanece inamovível quando todo ooceano circundante está numa condição de contínua oscilação, exatamenteassim, conquanto sendo sujeitas a mudança todas as  criaturas, Deus éimutável. Visto que Deus não tem princípio nem fim, não pode experimentarmudança. Ele é eternamente o "... Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação" (Tiago 1:17).

Primeiro, Deus é imutável em Sua essência. Sua natureza e Seu ser sãoinfinitos e, assim, são sujeitos a mutação alguma, jamais houve tempoquando Ele não era; jamais virá tempo quando Ele deixará de ser. Deus nãoevoluiu, nem cresceu, nem melhorou. Tudo que Ele é hoje, sempre foi e sempreserá. "...eu, o Senhor, não mudo...” (Malaquias 3:6) é a Sua afirmaçãocategórica. Ele não pode mudar para melhor, pois já é perfeito; e, sendoperfeito, não pode mudar para pior. Completamente imune de tudo quanto Lheé alheio, é impossível melhoramento ou deterioração. Ele é perpetuamente omesmo. Somente Ele pode dizei "...EU SOU O QUE SOU..." (Êxodo 3:14). Ele é

absolutamente livre da influência do curso do tempo. Não há um vinco sequernos sobrolhos da eternidade. Portanto, o Seu poder jamais pode diminuir, nemSua glória desvanecer-se.

Segundo, Deus é imutável em Seus atributos. Tudo que atributos de Deuseram antes do universo ser chamado à existência, são precisamente o mesmoagora, e permanecerão assim  para  sempre. E isto necessariamente, pois elessão as próprias perfeições, as qualidades essenciais do Seu ser, Semper idem (sempre o mesmo) está escrito em cada um deles. Seu poder é imbatível, Sua sabedoria não sofre diminuição. Sua santidade é imaculada. Os atributos deDeus não podem sofrer mudança mais do que a Deidade pode deixar de existir.

Sua veracidade é imutável, pois a Sua Palavra "...permanece no céu” (Salmo119:89). Seu amor é eterno: "...com amor eterno te amei...” (Jeremias 31:3)e "...como havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim"(João 13:1). Sua misericórdia não cessa, pois, é "eterna" (Salmo 100:5).

Terceiro, Deus é imutável em Seu conselho. Sua vontade nunca muda.Talvez alguns estejam prestes a objetar que lemos, "Então arrependeu-se  oSenhor de haver feito o homem.. . " (Gênesis 6;6). Nossa primeira resposta é:então as Escrituras se contradizem? Não, isso não pode ser. Números 23:19. ésuficientemente claro; "Deus não é homem, para que minta: nem filho dohomem, para que se arrependa. .." (Números 23:19). Assim também em 1

Samuel 15:29: "... a Força de Israel não mente nem se arrepende: porquantonão é um homem para que se arrependa". A explicação é deveras simples.Quando fala de si mesmo, Deus freqüentemente acomoda a Sua linguagem às

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nossas capacidades limitadas. Ele Se descreve a Si mesmo como revestido demembros corporais como olhos, ouvidos, mãos, etc. Fala de Si como tendodespertado (Salmo 78:65) e como "madrugando" (Jeremias 7:13), apesar de queEle não cochila nem dorme. Quando Ele estabelece uma  mudança em Seu  procedimento para com os homens, descreve a Sua linha de conduta em termosde arrepender-se. 

Sim, Deus é imutável em Seu conselho. "Os dons e a vocação de Deus sãosem arrependimento" (Romanos 11:29). Só pode ser assim, pois, "... se ele está contra alguém, quem então o desviará? Q que a sua alma quiser isso fará" (To23:13). "Mudança e declínio vemos em tudo ao redor; 6 Aquele que não muda,permaneça contigo onde quer que for". O propósito de Deus nunca se altera.Uma destas duas coisas faz com que um homem mude de opinião e inverta osseus planos: falta de previsão para antecipar tudo, ou ausência de poder para executar o que planeja. Mas visto que Deus é onisciente assim como éonipotente, nunca Lhe é necessário rever Seus decretos. Não, "O conselho doSenhor permanece para sempre: os intentos do seu coração de geração em

geração" (Salmo 33:11). Portanto, podemos ler sobre "... a imutabilidade do seuconselho..." (Hebreus 6:17).Aqui podemos perceber a distância infinita que separa do Criador a 

criatura mais elevada. Mutabilidade e criatura são termos correlatos, Se a criatura não fosse mutável por natureza, não seria criatura; seria Deus. Pornatureza tendemos para o nada, como do nada viemos. Nada detém a nossa aniquilação, exceto a vontade e o poder sustentador de Deus. Ninguém podemanter-se nem por um momento. Dependemos do Criador para cada sorvo dear que aspiramos. Alegremente concordamos com o salmista em que o Senhorsustenta ".. . com vida a nossa alma..." (Salmo 66:9). A compreensão disto

deveria fazer com que nos prostrássemos sob o senso da nossa nulidade na presença dAquele em quem “...vivemos, e nos movemos, e existimos...'' (Atos17:28).

Como criaturas decaídas, não somente somos mutáveis, mas tudo em nósé oposto a Deus. Como tais, somos “... estrelas errantes. . , " (Judas 15), fora da nossa órbita. "... os ímpios são como o mar agitado que não se pode aquietar" (Isaías 57:20). O homem decaído é inconstante. As palavras de Jacó referentesa Rubem aplicam-se com força total a todos os descendentes de Adão;"Inconstante como a água..." (Gênesis 49:4), Desta maneira, não é apenas sinalde vida piedosa, mas também elemento de sabedoria, dar ouvido à injunção:"Deixai-vos pois do homem..."' (Isaías 2:22), Não se deve ficar na dependência denenhum ser humano. "Não confieis em príncipes nem em filhos de homens, emquem não há salvação" (Salmo 146:5). Se desobedeço a Deus, mereço serenganado por meus companheiros de i existência e decepcionar-me com eles.Pessoas que gostam de você hoje, poderão odiá-lo amanhã. A multidão queclamou "Hosana: bendito o rei de Israel que vem em nome do Senhor", depressa passou a bradar: "... tira, tira, crucifica-o (João 12:13; 19:15).

Aqui há firme consolação. Não se pode confiar na natureza humana, masem Deus sim! Por mais inconstante que eu seja7 por mais volúveis que os meus

amigos se mostrem, Deus não muda. Se Ele mudasse como nós, se quisesseuma coisa hoje e outra amanhã, e se fosse controlado por capricho, quempoderia confiar nEle? Mas, todo o louvor ao Seu glorioso nome, Ele é_ sempre omesmo. Seu propósito é firme, Sua vontade estável, Sua palavra segura. Aqui,

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pois, está uma  Rocha  em que podemos firmar os nossos pés, enquanto a poderosa torrente leva tudo de arrasto ao nosso redor. A permanência docaráter de Deus garante o cumprimento de Suas promessas; "Porque asmontanhas se desviarão e os outeiros tremerão; mas a minha benignidade nãose desviará de ti, e o concerto da minha paz não mudará, diz o Senhor, que secompadece de ti" (Isaías 54:10).

Aqui há incentivo para a oração, "Que consolo haveria em orar a um deusque, como o camaleão, mudasse de cor a cada momento? Quem elevaria uma petição a um príncipe terreno que fosse tão mutável que atenderia a um pedidoum dia e o negaria no dia seguinte?" (S. Charnock, 1670), Se alguém perguntar:"Mas que utilidade hã em orar a um Ser. cuja vontade já foi fixada?Respondemos: Porque Ele o exige. Que bênçãos Deus prometeu sem que nós asbusquemos? ".., se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nosouve" (1 João 5:14), e Ele sempre quis tudo que é para o bem dos Seus filhos.

Aqui há terror para os ímpios. Os que O desafiam, transgridem Suas leis,não têm interesse em Sua glória, mas vivem como se Ele não existisse, não

devem imaginar que, quando no dia final clamarem a Ele por misericórdia, Elemudará a Sua vontade, revogará a Sua Palavra e rescindirá as suas ameaçasterríveis. Não. Ele declarou: "Pelo que também eu procederei com furor; o meuolho não poupará, nem terei piedade: ainda que me gritem aos ouvidos comgrande voz, eu não os ouvirei" (Ezequiel 8:18). Deus não Se negará a Si própriopara gratificar a luxúria deles. Deus é santo, imutavelmente santo. Portanto,Deus odeia o pecado; eternamente odeia o pecado. Daí a eternidade do castigode todos quantos morrem em seus pecados.

"A imutabilidade divina, como a nuvem que se interpunha entre osisraelitas e o exército egípcio, tem um lado escuro, bem como um lado claro. Ela 

assegura a execução das Suas ameaças, como também a concretização dasSuas promessas; e destrói a esperança, carinhosamente acalentada pelosculpados, de que Deus será todo brandura para as Suas frágeis e errantescriaturas, e de que serão tratados de modo muito mais leve do que as declara-ções da Sua Palavra nos levam a esperar. Contrapomos a estas especulaçõesenganosas e presunçosas a solene verdade de que Deus é imutável em Sua veracidade e propósito, em Sua fidelidade e justiça" (J, Dick, 1850).

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A SANTIDADE DE DEUS

"Quem te não temerá, ó Senhor e não magnificará o teu nome? Porque sótu és santo..." (Apocalipse 15:4). Somente Ele é independente, infinita eimutavelmente santo. Muitas vezes Ele é intitulado "O Santo* nas Escrituras.Sim, porque se acha nEle a   soma total de todas as excelências morais, Ele épureza absoluta, que nem mesmo a sombra do pecado mancha. "...Deus éluz...” (1 João 1:5). A santidade é a excelência propriamente dita da natureza divina: o grande Deus é "... glorificado em santidade...” (Êxodo 15:11). Daílermos: “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal, e a vexação nãopodes contemplar..." (Habacuque 1:15). Como o poder de Deus é o oposto da fraqueza inata da criatura, como a Sua sabedoria está em contraste com omenor defeito de entendimento ou com a menor insensatez, assim a Sua santidade é a própria antítese de toda mancha ou corrupção moral. No passadoDeus designou cantores em Israel para "que louvassem a Majestade santa", ou,na versão utilizada pelo autor, "que louvassem a beleza da santidade" (2Crônicas 20:21). "O poder á a mão ou o braço de, Jesus, a onisciência os Seusolhos, a misericórdia as Suas entranhas, a eternidade a Sua duração, mas a santidade é a Sua beleza" (S. Charnock). É isto Que, acima de tudo. torna-Oamorável aos que foram libertos do domínio do pecador.

Grande ênfase é dada a esta perfeição de Deus. "Deus é com mais

freqüência intitulado Santo do que Onipotente, e é mais exposto por esta parteda Sua dignidade do que por qualquer outra. É fixada ao Seu nome como um(epitéto) mais do que qualquer outra, Você jamais o vê expresso,"Seu poderosonome" ou "Seu sábio nome", mas Seu grande nome e, acima de tudo, Seu santo nome. Este é o maior título de honrar neste último transparecem a majestade ea venerabilidade do Seu nome?; (S. Charnock). Como nenhuma outra, esta perfeição é celebrada diante do trono do céu, bradando os serafins: "... Santo,Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos..." (Isaías 6:3), Deus mesmo coloca emdistinção esta perfeição: "Uma vez jurei por minha santidade que não mentirei a Davi" (Salmo 89:35). Deus jura por Sua "santidade porque esta é uma 

expressão do Seu ser, expressão mais completa que qualquer outra coisa. Eisporque somos exortados: "Cantai ao Senhor, vós que sois seus santos, ecelebrai a memória da sua santidade" (Salmo 30:4). "Pode-se dizer que esteatributo é transcendental e que, por assim dizer, permeia os demais e lhes dá brilho, É o atributo dos atributos" (J. Howe, 1670). Assim, lemos sobre "... a formosura do Senhor. ,." (Salmo 27:4), que não é outra que "... a beleza  da santidade.. ." (Salmo 110:3),

"Visto que esta excelência parece se colocar acima dê todas as outrasperfeições de Deus, assim ela constitui a glória destas; como é a glória da Deidade, assim é a glória de cada uma das perfeições da Deidade; como o poder

de Deus é a energia das Suas perfeições, a Sua santidade é a beleza delas:como todas seriam fracas sem a onipotência divina para sustentá-las, seriamtodas desgraciosas sem a santidade para adorná-las. Se esta se maculasse,

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todas as demais perderiam a sua honra; seria como se o sol perdesse a sua luz  — no mesmo instante perderia seu calor» seu poder, sua virtude geradora evivificante. Como no cristão a sinceridade é o brilho de todas as graças, emDeus a pureza é o esplendor de todos os Seus atributos, Sua justiça é santa.Sua sabedoria é santa. Seu braço poderoso é um "braço santo" (Salmo 98:1),Sua verdade ou palavra é uma "santa palavra" (Salmo 105:42). Seu nome, que

expressa todos os Seus atributos juntos, é "santo" (Salmo 103:1)" (S.Charnock).A santidade de Deus se manifesta em Suas obras. "Justo é o Senhor em

todos os seus caminhos, e santo em todas as suas obras" (Salmo 145:17), Nada senão o que é excelente pode proceder d Ele. A santidade é o padrão de todas asSuas ações. No princípio Ele declarou que tudo o que tinha feito '"era muitobom" (Gênesis 1:31), e não poderia ter feito o que fez se nisso houvesse algoimperfeito ou impuro. O homem foi feito "reto" (Eclesiastes 7:29), à imagem esemelhança do seu Criador. Os anjos que caíram foram criados santos, pois senos diz que "... não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria 

habitação..." (Judas 6). Sobre Satanás está escrito: "Perfeito eras nos teuscaminhos, desde o dia em, que foste criado, até que se achou iniqüidade em ti"(Ezequiel 28:15).

A santidade de Deus se manifesta em Sua lei. Essa lei proíbe o pecado emtodas as suas variantes -— nas suas modalidades mais refinadas, e nas maisgrosseiras, os intentos da mente, como a contaminação do corpo, o desejosecreto como o ato abertamente praticado. Pelo que lemos: "...a lei é santa, e omandamento santo, justo e bom" (Romanos 7:12). Sim, "... o mandamento doSenhor é puro, e alumia os olhos. O temor do Senhor é limpo e permaneceeternamente, os juízos do Senhor são verdadeiros e justos juntamente" (Salmo

19:8-9).A santidade de Deus se manifesta  na cruz. De maneira espantosa, e,

contudo, a mais solene, a expiação demonstra a santidade infinita de Deus eSeu ódio ao pecado. Quão odioso para Deus" há de ser o pecado, a ponto decastigá-lo até ao limite extremo do seu merecimento, quando o imputou ao SeuFilho! "Nem todos os vasos do juízo já derramados ou por derramar sobre omundo ímpio, nem a chama ardente da consciência do pecador, i nem a sentença irrevogável pronunciada contra os demônios rebeldes, nem o gemidodas criaturas condenadas demonstram o ódio de Deus ao pecado, como odemonstra a ira de Deus derramada sobre o Seu Filho. Nunca a santidadedivina parece mais bela e mais amorável do que na hora em que o semblante doSalvador ficou por demais desfigurado em meio aos estertores da Sua agonia mortal. Ele próprio o reconhece no Salmo 22. Quando o Senhor afastou dEle oSeu risonho rosto e Lhe fincou no coração aguda faca, provocando Seu terrívelbrado, "Deus meu, Deu meu, por que me abandonaste?" (vers. 1). Ele adora esta perfeição — "Tu és santo" (vers. 3) S. Charnock.

Desde que Deus é santo, Ele odeia todo e qualquer pecado. Ele ama tudoquanto está em conformidade com as Suas leis, e detesta tudo que lhes é contrário. Sua Palavra declara expressamente: "... o perverso é abominação

para o Senhor...” (Provérbios 3:32), E ainda: "Abomináveis são para o Senhor ospensamentos do mau., .." (Provérbios 15:26). Segue-se, pois, que Elenecessariamente tem que punir o pecado. Do mesmo modo como o pecadorequer a punição por Deus, exige também o Seu ódio. Deus perdoa muitas

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vezes o pecador; nunca, porém, perdoa o pecado; e o pecador só é perdoadocom base no fato de que Outro levou sobre Si o castigo que lhe era devido; sim,pois; “... sem derramamento de sangue não há remissão (Hebreus 9:22). Razãopela qual se nos diz: "...o Senhor toma vingança contra os seus adversários, eguarda a ira contra os seus inimigos" (Naum 1:2). Por um pecado Deusexpulsou do Éden os nossos primeiros pais. Por um pecado toda a posteridade

de Cão caiu sob maldição que permanece sobre ela até o dia de hoje. Por umpecado Moisés foi impedido de entrar em Canaã, o servo de Eliseu foi castigadocom lepra, Ananias e Safira foram eliminados da terra dos viventes.

Temos aqui prova da divina inspiração das Escrituras. Os nãoregenerados não crêem realmente na santidade de Deus. O conceito que elestêm do caráter de Deus é inteiramente unilateral. Eles esperam de coração quea Sua misericórdia sobrepuje tudo mais. "... pensavas que era como tu..."(Salmo 50:21) é a acusação que Deus lhes faz. Eles pensam somente num"deus" segundo o padrão dos seus corações maus. Daí permanecerem eles nocaminho de uma exacerbada insensatez. A santidade atribuída pelas Escrituras

à natureza e ao caráter de Deus é tal, que demonstra com clareza a sua origemsuper-humana. O caráter atribuído aos deuses dos antigos e do, paganismomoderno é justamente o inverso daquela imaculada pureza que pertence aoDeus verdadeiro. Um Deus inefavelmente santo, que tem a mais intensa aversão a todo pecado, jamais foi inventado por um dos decaídos descendentesde Adão. O fato é que nada torna mais manifesta a. terrível depravação docoração do homem e a sua inimizade contra o Deus vivo, do que expor diantedele Aquele Ser único que é infinita e imutavelmente santo. A idéia que ohomem faz de  pecado  limita-se praticamente ao que o mundo chama de"crime''. Tudo que fica aquém disso pode ser abrandado como "defeitos",

"'enganos", "'fraquezas” etc. E mesmo quando se admite a existência do pecado*apresentam-se escusas e atenuantes.

"O "deus" que a imensa maioria dos cristãos professos "ama 1' é visto comoalguém muito parecido com um ancião indulgente, que pessoalmente não temprazer nas loucuras, mas tolerantemente fecha os olhos para as "indiscrições"da mocidade. Mas a Palavra diz: “... aborreces a  iodos  os que praticam a maldade” (Salmo 5:5). E mais: "Deus é um juiz justo, um Deus que se ira todosos dias" (Salmo 7:11). Mas os homens se recusam a dar crédito a este Deus erangem os dentes quando o Seu ódio ao pecado lhes é  enfática e fielmenteapresentado. Não, como o homem preso ao pecado jamais teria criado o lago defogo no qual seria atormentado para todo o sempre, muito menos haveria a probabilidade dele inventar um Deus santo.

Sendo que Deus é santo, a aceitação da parte dEle, com base nas açõesdas criaturas, é completamente impossível. Uma criatura caída pode maisfacilmente criar um mundo, do que produzir algo capaz de receber aprovaçãodAquele que é pureza infinita. Podem as trevas morar com a luz? Pode o Serimaculado sentir prazer com o "trapo da imundícia"? (Isaías 64:6) O melhor queo homem pecador pode produzir vem manchado. Uma árvore contaminada nãopode dar bom fruto. Deus se negaria a Si próprio, envileceria as Suas

perfeições, se tivesse por justo e santo aquilo que não o é em si mesmo; e nada é santo, desde que tenha a mínima mancha do que seja contrário à natureza deDeus. Mas, bendito seja o Seu nome, pois, aquilo que a Sua santidade exigiu, a Sua graça supriu em Cristo Jesus,nosso Senhor! Todo pobre pecador que

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correu para Ele em busca de "refúgio, foi e permanece aceito "no Amado"(Efésios 1:6). Aleluia!

Posto que Deus é santo requer-se de nós que nos aproximemos dEle coma máxima reverência. "Deus deve ser em extremo tremendo na assembléia dossantos, e grandemente reverenciado por todos os que o cercam'" (Salmo 89:7),Portanto, "Exaltai ao Senhor nosso Deus, e prostrai-vos diante do escabelo de

seus pés, porque ele ê santo" (Salmo 99:5). Sim, “diante do escabelo dos seus  pés", na postura da mais profunda humildade, prostrai-vos. Quando Moisés ia aproximar-se da sarça ardente, disse Deus: "., . tira os teus sapatos deteus pés... " (Êxodo 3:5), É  preciso servi-lO "com temor" (Salmo 2:11). A exigência que Deus fez a Israel foi: "... serei santificado naqueles que secheguem a mim, e serei glorificado diante de todo o povo...” (Levítico 10:3),Quanto mais tomados de temor ficarmos por Sua inefável santidade, maisaceitável será o nosso acesso a Ele.

Visto que Deus é santo, devemos querer amoldar-nos a Ele. Seumandamento é: “...sede santos, porque eu sou santo" (1 Pedro 1:16). Não

somos obrigados a ser onipotentes ou oniscientes como Deus ê, mas temos queser santos, e isto em toda a nossa "... maneira de viver" (1 Pedro 1:15). "Esta é a maneira primordial de honrar a Deus. Glorificamos a Deus pelas atitudes deelevada admiração, pelas expressões eloqüentes, pelos pomposos serviços deadoração, mas não tanto como quando aspiramos a conversar com Ele comespírito livre de mácula, e a viver para Ele vivendo como Ele vive" (S. Charnock).Então, como só Deus é a origem e a  fonte da santidade, busquemos zelosamentedEIe a santidade; seja a nossa oração diária no sentido de que Ele nos "...santifique em tudo  ... "; e todo o nosso "espírito, e alma, e corpo, sejamplenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus

Cristo" (I Tessalonicenses 5:23),

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O PODER DE DEUS

Não poderemos ter correto conceito de Deus, se não pensarmos nEle comoonipotente, igualmente como Onisciente. Quem não pode fazer o que quer e nãopode realizar o que lhe agrada, não pode ser Deus. Como Deus tem uma vontade para decidir o que julga bom, assim tem poder para executar a Sua vontade. "O poder de Deus é aquela capacidade e força pela qual Ele poderealizar tudo que Lhe agrade, tudo que a Sua sabedoria dirija, e tudo que a infinita pureza da Sua vontade resolva. "... como a santidade é a beleza de todosos atributos de Deus, assim o poder é aquilo que dá vida e movimento a todasas perfeições da natureza divina. Como seriam vãos os conselhos eternos, se opoder não interviesse para executá-los! Sem o poder, a Sua misericórdia seria apenas uma débil piedade, as Suas promessas um som vazio, as Sua ameaçasmero espantalho. O poder de Deus é como Ele mesmo: infinito, eterno,incompreensível; não" pode ser refreado, nem restringido, nem frustrado pela criatura” (S. Charnock).

“Uma coisa disse Deus, duas vezes a ouvi: que o poder pertence a Deus"(Salmo 62:11). "Uma coisa disse Deus", ou segundo a versão autorizada, KJ,1611, "Uma vez falou Deus": nada mais é necessário! Passarão os céus e a terra, porém a Sua palavra permanece para sempre. "Uma vez falou Deus":como Lhe fica bem a Sua majestade divina! Nós, pobres mortais, podemos falar

muitas vezes e, contudo, sem sermos ouvidos. Ele fala somente uma vez, e otrovão do Seu poder é ouvido em mil montanhas. “E o Senhor trovejou nos

céus, o Altíssimo levantou a sua voz; e havia saraiva e brasas de fogo. Despediuas suas setas, e os espalhou: multiplicou ratos, e os perturbou, Então foramvistas as profundezas das águas, e foram descobertos os fundamentos domundo; pela tua repreensão, Senhor, ao soprar das tuas narinas" (Salmo18:13-15).

"Uma vez falou Deus": vede a Sua imutável autoridade. “Pois quem no céuse pode igualar ao Senhor? Quem é semelhante ao Senhor entre os filhos dospoderosos?" (Salmo 89:6). "E todos os moradores da terra são reputados em

nada; e segundo a sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradoresda terra: não há quem possa estorvar a sua mão, e lhe diga: Que fazes?" (Daniel4:35), Esta realidade foi amplamente descortinada quando Deus Se encarnou etabernaculou entre os homens. Ao leproso Ele disse: “...sê limpo. E logo ficoupurificado da lepra" (Mateus 8:3). A um que jazia no túmulo já fazia quatrodias, Ele bradou: "... Lázaro, sai para fora. E o defunto saiu..." (João 11:43-44).Os ventos tempestuosos e as ondas bravias se aquietaram a uma só palavra dEle, Uma legião de demônios não pôde resistir à Sua ordem repassada deautoridade.

"O poder  pertence  a Deus", e somente a Ele. Nem uma só criatura, no

universo inteiro, tem sequer um átomo de poder, salvo o que é delegado porDeus. Mas o poder de Deus não é adquirido, nem depende do reconhecimentode nenhuma outra autoridade. Pertence a Ele inerentemente. "O poder de Deusé como Ele mesmo, auto-existente, auto-sustentado. O mais poderoso dos

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homens não pode acrescentar sequer uma sombra de poder ao Onipotente. Elenão se firma sobre nenhum trono reforçado; nem se apóia em nenhum braçoajudador. Sua corte não é mantida por Seus cortesãos, nem toma Eleemprestado das Suas criaturas o Seu esplendor. Ele próprio é a grande fontecentral e o originador de toda energia" (C. H. Spurgeon). Toda a criação dá testemunho, não só do grande poder de Deus, mas também da Sua inteira 

independência de todas as coisas criadas. Ouça o Seu próprio desafio: "Ondeestavas tu, quando eu fundava a terra? Faze-mo saber, se tens inteligência,Quem lhe pôs as medidas, se tu o sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel?Sobre que estão fundadas as suas bases, ou quem assentou a sua pedra de es-quina?” (Jó 38:4-6). Quão completamente o orgulho do homem é lançado ao pô!

"Poder é usado também como um nome de Deus, "...o Filho do homemassentado à direita do poder de Deus, e vindo sobre as nuvens do céu*' (Marcos14:62), isto é, à destra de. Deus. Deus e poder são tão inseparáveis que sãorecíprocos. Como a Sua essência é imensa, não pode ser confinada a um lugar;como é eterna, não pode ser medida no tempo; assim a Sua essência é todo-

poderosa, não sofrendo limite para a ação" (S. Charnock). "Eis que isto sãoapenas as orlas dos seus caminhos; e quão pouco é o que temos ouvido dele!Quem pois entenderia o trovão do seu poder?" (Jó 26:14). Quem é capaz decontar todos os monumentos do Seu poder? Mesmo aquilo que é demonstradodo Seu poder na criação visível está inteiramente fora da nossa capacidade decompreensão, e menos ainda podemos conceber da onipotência propriamentedita. Há infinitamente mais poder abrigado na natureza de Deus do que oexpresso em todas as Suas obras.

"Partes dos Seus caminhos" contemplamos na criação, na providência, na redenção, mas apenas uma "pequena parte" do Seu poder se vê nessas obras.

Isto nos é exposto extraordinariamente em Habacuque 3:4: "... e ali  estava oesconderijo da sua força". Dificilmente se pode imaginar algo maisgrandiloqüente do que as figuras deste capítulo todo, no entanto nele nada supera a nobreza desta declaração. O profeta (numa visão) viu o poderoso Deusespalhando os outeiros e abatendo os montes, o que se julgaria espantosa demonstração de força. Nada disso, diz o nosso versículo; isso  é mais oocultamento do que a exibição do Seu  poder. Que se quer dizer? Isto: é tãoinconcebível» tão imenso, tão incontrolável o poder da Deidade, que as terríveisconvulsões que Ele opera na natureza escondem mais do que revelam do Seupoder infinito!

É coisa bela juntar as seguintes passagens: "O que só estende os céus, eanda sobre os altos do mar" (Jó 9:8), que expressa o indomável poder de Deus."...Ele passeia pelo circuito dos céus” (Jó 22:14), que fala da imensidade da Sua presença. "...anda sobre as asas do vento" (Salmo 104:3), que expressa a espantosa rapidez das Suas operações. Esta última expressão é deverasnotável, Não é que "Ele voa” ou'"corre", mas que Ele “anda", e isso, nas "asas dovento" — sobre o mais impetuoso dos elementos, impelido com o máximo furor,e varrendo tudo com quase inconcebível velocidade, todavia  sob  os Seus pés,debaixo do Seu controle perfeito!

Consideremos agora o poder de Deus na criação. "Teus são os céus, e tua é a terra; o mundo e a sua plenitude tu os fundaste. O norte e o sul tu oscriaste..." (Salmo 89:11-12). Antes de poder trabalhar, o homem precisa terferramentas e material, mas Deus começou com nada, e só por Sua palavra fez

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do nada todas as coisas. O intelecto não pode captar isto. Deus "... falou, e tudose fez, mandou, e logo tudo apareceu" (Salmo 33:9). A matéria primeva ouviu a Sua voz. "Disse Deus: Haja... e assim  foi" (Gênesis 1). Bem podemos exclamar:"Tu tens um braço poderoso; forte é a tua mão, e elevada a tua destra" (Salmo89:13).

Quem, que olha para cima, para o céu da meia-noite e, com os olhos da 

razão, contempla as suas maravilhas em movimento; quem pode abster-se deindagar: do que foram feitos estes poderosos astros? Ê espantoso dizê-lo, foramproduzidos sem material nenhum. Brotaram do vazio. A majestosa estrutura da natureza universal emergiu do nada. Que instrumentos foram usados pelosupremo Arquiteto para modelar as partes com tio refinada elegância e aplicartão belo polimento ao todo? Como terá sido feita a junção de tudo numa estrutura primorosamente proporcionada e com tão magnífico acabamento? Um   puro e simples fiat realizou tudo. Haja estas coisas, disse Deus. Nada acrescentou; e logo o edifício maravilhoso se ergueu, adornado com todo tipo debeleza, pondo à mostra inumeráveis perfeições, e proclamando em meio a 

extasiados serafins o louvor do seu grande Criador. "Pela palavra do Senhorforam feitos os céus, e todo o exército deles pelo espírito da sua boca" (Salmo33:6)" (James Hervey, 1789),

Considere-se o poder de Deus na  preservação. Nenhuma criatura tempoder para preservar-se a si mesma. "Porventura sobe o junco sem lodo? Oucresce a espadana sem água?" (Jo 8:11). Tanto o homem como o animalpereceriam, se não houvesse erva para alimento, e a erva murcharia e morreria,se o solo não fosse refrescado com chuvas frutíferas. Portanto, Deus édenominado o Preservador dos "homens e os animais" (Salmo 36:6), Ele sus-tenta "... todas as coisas, pela palavra do seu poder..." (Hebreus 1:3). Que

maravilha de poder divino é a vida pré-natal de todo ser humano! Que uma criança possa sequer viver, e por tantos meses, num alojamento apertado eestranho assim, é inexplicável sem o poder de Deus. Verdadeiramente, Ele "...sustenta com vida a nossa alma..." (Salmo 65:9).

A preservação da terra, guardando-a da violência dos mares é outro claroexemplo do poder de Deus. Como é que aqueles elementos em fúria ficaramencerrados dentro daqueles limites em que primeiro se alojaram, permanecendoem suas baías e canais sem inundar a terra e sem fazer em pedaços a partemais baixa da criação? A condição natural da água é ficar acima da terra, porser mais leve, e imediatamente abaixo do ar, por ser mais pesada. Quem põerestrições à qualidade natural da água? O homem certamente que não, e nãotem poderes para tanto. Ê unicamente o fiat do Criador da água que a refreia."E disse: Até aqui virás, e não mais adiante, e aqui se quebrarão as tuas ondasempoladas" (Jó 38:11). Que altaneiro monumento ao poder de Deus é a preservação do mundo!

Considere-se o poder de Deus no governo. Tome-se a restrição que Eleimpõe à ruindade de Satanás, " .., o diabo, vosso adversário, anda em derredor,bramando como leão, buscando a quem possa tragar" (1 Pedro 5:8). Satanásestá cheio de ódio a Deus, e de diabólica inimizade contra os homens,

particularmente contra os santos. Aquele que invejou a Adão no paraíso, nãoquer que sintamos o prazer de usufruirmos nenhuma das bênçãos de Deus. Seele pudesse fazer o que deseja, trataria todos os homens como tratou Jó:enviaria fogo do céu sobre os frutos da terra, destruindo o gado» faria vendavais

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derribarem nossas casas, e cobriria de chagas os nossos corpos. Mas, embora mal percebido pelos homens, Deus o refreia em grande medida, impede-o delevar a cabo os seus maus desígnios, e lhe impõe limites dentro das Suas ordenações.

Assim também Deus restringe a corrupção natural dos homens. Elesuporta suficientes erupções do pecado para mostrar que terríveis estragos têm

sido causados pela apostasia do homem, que rompeu com o seu Criador, masquem pode conceber a que medonho extremo os homens iriam se Deusretirasse a Sua mão repressora? A boca dos ímpios "... está cheia de maldição eamargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue" (Romanos 3:14-15).Esta é a natureza de cada um  dos descendentes de Adão. Então, quedesenfreada licenciosidade e obstinada loucura triunfariam no mundo, se opoder de Deus não se interpusesse para fechar as comportas do mal! Ver Salmo93:3-4.

Considere o poder de Deus no juízo. Quando Ele fere, ninguém Lhe poderesistir: ver Ezequiel 22:14, Quão terrivelmente isso foi exemplificado no

Dilúvio! Deus abriu as janelas do céu e rompeu as grandes fontes do abismo, e(excetuando-se os que estavam na arca) a raça humana inteira, impotentediante do furor da Sua ira, foi tragada. Uma chuva de fogo e enxofre caiu docéu, e as cidades da planície foram exterminadas. O Faraó e todos os seusexércitos nada puderam, quando Deus soprou sobre eles no Mar Vermelho. Quepalavra terrificante, a de Romanos 9:22: "E que direis se Deus, querendomostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição". Deus manifestará o Seu tremendopoder sobre os reprovados, não apenas encarcerando-os na Geena, maspreservando sobrenaturalmente os seus corpos como também as suas almas

em meio às chamas eternas do Lago de Fogo,Bem que deveriam tremer  todos, diante de um Deus tal! Tratar

desconsideradamente Aquele que pode esmagar-nos mais facilmente do que nósa uma traça, é suicídio. Desafiar abertamente Aquele que esta revestido deonipotência, que pode rasgar-nos em pedaços ou lançar-nos no inferno na hora que quiser, é o cúmulo da insanidade. Para reduzi-lo ao seu plano mínimo, ésimplesmente parte da sabedoria dar ouvidos à Sua ordem: "Beijai o Filho, para que se não ire, e pereçais no caminho, quando em breve se inflamar a sua ira..."(Salmo 2:12),

Bem que a alma iluminada deve adorar  um Deus tal! As estupendas einfinitas perfeições de um Ser como Deus requerem fervoroso culto. Se homensde poder e renome reclamam a admiração do mundo, quanto mais deve o poderdo Onipotente encher-nos de assombro e mover-nos a prestar-Lhe homenagem."O Senhor, quem é como tu entre os deuses? Quem é como tu glorificado emsantidade, terrível em louvores, obrando maravilhas?" (Êxodo 15:11).

Bem que o santo pode confiar  num Deus tal! Ele é digno de implícita confiança. Nada Lhe é demasiado difícil, Se Deus fosse limitado em poder eforça, aí sim, poderíamos ficar desesperados.

Mas, vendo que Ele Se reveste de onipotência, nenhuma oração ê tão

difícil que Ele não possa responder, nenhuma necessidade é tão grande que Ele não possa suprir, nenhuma cólera é tão forte que Ele  não possa subjugar,nenhuma tentação é tão poderosa que Ele não nos possa livrar dela, nenhuma miséria é tão profunda que Ele  não possa aliviar, “... o Senhor é a força da 

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minha vida; de quem me recearei?" (Salmo 27:1). "Ora, àquele que é poderosopara fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos oupensamos, segundo o poder que em nós opera, a esse glória na igreja, por JesusCristo, em todas as gerações, para todo o sempre. Amém" (Efésios 3:20-21),

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A FIDELIDADE DE DEUS

A infidelidade é um dos pecados mais proeminente nestes maus dias.Com raríssimas exceções, a palavra de um homem não é mais a sua fiança, nosnegócios deste mundo. No mundo social, a infidelidade conjugai ocorre por todolado, sendo que os laços matrimoniais são desfeitos com a mesma facilidadecom que uma roupa velha é rejeitada. Na esfera eclesiástica, milhares que secomprometeram solenemente a pregar a verdade, sem nenhum escrúpulo a negam e a atacam. Nem o autor, como tampouco o leitor, podem arrogar-secompleta imunidade deste pecado terrível: de quantas maneiras temos sidoinfiéis a Cristo, e à luz e aos privilégios que Deus nos confiou1. Como éanimador então, que indizível benção é erguer os olhos acima desta ruinosa cena e contemplar Aquele que, só Ele, é fiel, fiel em tudo, fiel o tempo todo.

"Saberás, pois, que o Senhor teu Deus é Deus, o Deus fiel..."{Deuteronômio 7:9). Esta qualidade é essencial ao Seu ser; sem ela Ele nãoseria Deus. Pois, ser Deus infiel seria agir contrariamente à Sua natureza, o queé impossível. "Se formos infiéis, ele permanece fiel: não pode negar-se a simesmo" (2 Timóteo 2:15). A fidelidade ê  uma das gloriosas perfeições do Seuser, É como se Ele estivesse vestido com esta perfeição; "0 Senhor, Deus dosExércitos, quem é forte como tu, Senhor, com a tua fidelidade ao redor de ri?!"(Salmo 89;8). Assim também, quando Deus Se encarnou, foi dito: "E a justiça 

será o cinto dos seus lombos, e a verdade o cinto dos seus rins" (Isaías 11:5).Que palavra, a do Salmo 36:5 — "A tua misericórdia, Senhor, está noscéus, e a tua fidelidade chega até às mais excelsas nuvens". Muito acima detoda compreensão finita está a imutável fidelidade de Deus. Tudo que há acerca de Deus é grande, vasto, incomparável. Ele nunca esquece, nunca falha, nunca vacila, nunca deixa de cumprir a Sua palavra, O Senhor Se mantém estrita-mente apegado a cada declaração de promessa ou profecia, faz valer cada compromisso de aliança ou de ameaça, pois "Deus não é homem, para queminta; nem filho do homem, para que se arrependa: porventura diria ele, e nãoo faria? Ou falaria, e não o confirmaria? (Números 23:19). Daí o crente exclama;

"...as suas misericórdias não têm fim, Novas são cada manhã; grande é a tua fidelidade" (Lamentações 3:22-23).

Há nas Escrituras numerosas ilustrações da fidelidade de Deus. Hã maisde quatro mil anos Ele disse: "Enquanto a terra durar, sementeira e sega, e frioe calor, e verão e inverno, e dia e noite, não cessarão" (Gênesis 8;22). Cada novoano dá-nos um novo testemunho de que Deus cumpre esta promessa. EmGênesis 15 vemos que Jeová declarou a Abraão; "...peregrina será a tua semente em terra que não será tua, e servi-los-ão ... E a quarta geração tornara para cá" (versículos 13-16). Os séculos percorreram o seu curso fatigante. Osdescendentes de Abraão gemiam entre os fornos de tijolos do Egito. Deus

esquecera a Sua promessa? Certamente que não. Leia Êxodo 12:41: "Eaconteceu que, passados os quatrocentos e trinta anos, naquele mesmo dia,todos os exércitos do Senhor saíram da terra do Egito". Por meio de Isaías oSenhor declarou: “...eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um filho, e será 

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o seu nome Emanuel" (7:14). De novo séculos se passaram, mas, "vindo a plenitude dos tempos,

Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei" (Gaiatas4:4).

Deus é verdadeiro. Sua Palavra de promessa ê certa. Em todas as Suasrelações com o Seu povo, Deus é fieL Pode-se confiar nEle, com segurança,

Nunca houve alguém que tivesse confiado nEle em vão. Vemos esta preciosa verdade expressa em quase toda parte nas Escrituras, pois o Seu povo precisa saber que a fidelidade é uma parte essencial do caráter divino. Esta é a base da nossa confiança nEle, Mas, uma coisa é aceitar a fidelidade de Deus como uma verdade divina, e outra coisa, muito diferente, é agir com base nisso. Deus "nostem dado grandíssimas e preciosas promessas", mas nós contamos realmentecom o seu cumprimento por Deus? Esperamos de fato que Ele vai fazer por nóstudo que disse que fará? Descansamos com implícita segurança nestaspalavras: " ... fiel é o que prometeu" (Hebreus 10:23)?

Há ocasiões na vida de todos em que não é fácil, nem mesmo para 05

cristãos, crer que Deus é fiel. Nossa fé é provada dolorosamente, nossos olhosficam toldados pelas lágrimas, e não conseguimos mais encontrar o rumo dosbaluartes do Seu amor. Os nossos ouvidos se distraem com os ruídos domundo, arruinados pelos sussurros ateísticos de Satanás e não conseguimosmais ouvir a doce entonação da voz mansa e delicada do Senhor. Sonhosalimentados foram frustrados, amigos em quem confiávamos falharam conosco,um falso irmão ou irmã em Cristo nos traiu. Vacilamos. Procuramos ser fiéis a Deus, e agora uma trevosa nuvem O esconde de nós. Achamos difícil,impossível mesmo, à razão carnal harmonizar a Sua sombria providência comas promessas da Sua graça, Ah, alma titubeante, companheiro de peregrinação

provado com tanto rigor, procure graça para ouvir Isaías 50:10; "Quem há entrevós que tema. a,Jeová, e ouça a voz do seu servo? Quando andar em trevas, enão tiver luz nenhuma, confie no nome do Senhor, e firme-se sobre o seu Deus". 

Quando você for tentado a duvidar da fidelidade de Deus, brade: "Para trás de mim, Satanás". Ainda que você não possa harmonizar os misteriososprocedimentos de Deus com as Suas declarações de amor, confie nEIe eaguarde mais luz, Na hora dEIe, certa e boa, Ele fará com que você o veja comclareza, “...o que eu faço não o sabes tu agora, mas tu o saberás depois" (João13:7). A seqüência dos fatos demonstrará que Deus não abandonou nemenganou Seu filho. "Por isso o Senhor esperará, para ter misericórdia de vós; epor isso será exalçado, para se compadecer de vós, porque o Senhor é um Deusde eqüidade: bem-aventurados todos os que nele esperam (Isaías 30:18).

"Não julgues o Senhor por tua mente,porém, confia nEIe por Sua graça.Por trás de uma severa providência Ele oculta um semblante sorridente.Animai-vos, ó santos temerosos!As nuvens que temíveis vos parecem,

ricas são de mercês, e irromperãoem bênçãos derramadas sobre vós."

"Os teus testemunhos que ordenaste são retos e muito fiéis" (Salmo

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119:138). Deus não nos falou apenas o melhor, mas também não retirou o pior.Ele descreveu fielmente a ruína efetuada pela Queda. Ele diagnosticoufielmente o terrível estado produzido pelo pecado. Fielmente fez conhecido o Seuinveterado ódio ao mal, e que ê preciso que Ele o puna. Advertiu-nos fielmentede que Ele é "fogo consumidor" (Hebreus 12:29). Sua Palavra não contémsomente numerosas ilustrações de Sua fidelidade no cumprimento de Suas

promessas, mas também registra numerosos exemplos de Sua fidelidade emfazer valer as Suas ameaças. Cada estágio da história de Israel exemplifica essefato solene. Foi assim com indivíduos: Faraó, Core, Acã e uma multidão deoutros mais, são outras tantas provas. E será assim com você, meu leitor, a menos que você tenha buscado ou busque refúgio em Cristo, as chamaseternas do Lago de Fogo serão a tua porção certa e segura. Deus é fiel.

Deus é fiel na  preservação  do Seu povo. "Fiel é  Deus, pelo qual fosteschamados para a comunhão de seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor'" (lCoríntios 1:9). No versículo anterior foi feita a promessa de que Deusconfirmará o Seu povo até o fim. A confiança do apóstolo na absoluta segurança 

dos crentes estava baseada não na força das resoluções deles ou em sua capacidade para perseverar, mas sim na veracidade dAquele que não podementir. Visto que Deus prometeu ao Seu Filho um certo povo como Sua herança, livrá-lo do pecado e da condenação e fazê-lo participante da vida eterna na glória, é certo que Ele não permitira que nenhum dos pertencentes a esse povo pereça.

Deus é fiel na  disciplina  ministrada ao Seu povo. Ele não é menos fielnaquilo que retira, do que naquilo que dá. É fiel quando envia tristeza comoquando outorga alegria. A fidelidade de Deus é uma verdade que devemosconfessar não somente quando a tranqüilidade nos bafeja, mas também quando

nos afligirmos sob o castigo mais áspero. Tampouco esta confissão deve serapenas de boca, mas também de coração, Quando Deus nos fere com a vara da punição, é a   fidelidade  que a maneja. Reconhecer isso significa que noshumilhamos diante dEle, confessamos que merecemos totalmente a Sua correção e, em vez de murmurar, damos-Lhe graças por isso. Deus nunca nosaflige sem algum motivo: "Por causa disto, há entre vós muitos fracos edoentes..." (1 Coríntios 11:30), ilustra este princípio. Quando a Sua vara cairsobre nós, digamos com Daniel; "A ti, ó Senhor, pertence a justiça, mas a nós a confusão de rosto..." (9:7).

"Bem sei eu, ó  Senhor, que os teus juízos são justos, e que em tua fidelidade me afligiste" (Salmo 119:75), Problemas e aflições não são apenascoerentes com o amor de Deus empenhado na aliança eterna, mas são partesda sua administração. Deus é fiel não só quando afasta as aflições, mastambém é fiel quando no-las envia. '"  Então visitarei com vara a sua transgressão, e a sua iniqüidade com açoites, Mas não retirarei totalmente delea minha benignidade, nem faltarei à minha fidelidade" (Salmo 89:32-33), Ocastigo não é apenas conciliável com a benignidade amorosa de Deus, mastambém é seu efeito e expressão. A mente dos servos de Deus se tranqüilizaria muito se eles se lembrassem de que a aliança de Deus O obriga a aplicar-lhes

correção oportuna. As aflições são-nos necessárias: "...estando elesangustiados, de madrugada me buscarão" (Oséias 5:15).Deus é fiel na glorificação  do Seu povo, "Fiel é o que vos chama, o qual

também o fará" (1 Tessalonicenses 5:24), A referência imediata aqui é aos

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santos serem "preservados inculpáveis para a vinda de nosso Senhor JesusCristo". Deus nos trata, não com base em nossos méritos (pois não temosnenhum), mas por amor do Seu grande nome. Deus é constante para consigomesmo e segundo o propósito da Sua graça, "... aos que chamou ... a estestambém glorificou" (Romanos 8:30). Deus dá plena demonstração da constância de Sua bondade eterna para com os Seus eleitos, chamando-os eficazmente das

trevas para a Sua maravilhosa luz, e isto deveria torná-los seguros da certeza da sua continuidade. "... o fundamento de Deus   fica firme ..." (2 Timóteo 2; 19),Paulo estava firmado na fidelidade de Deus quando disse: ". . , eu sei em quemtenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito atéàquele dia" (2 Timóteo 1:12).

A percepção desta bendita verdade nos protegera da preocupação. Estarcheio de preocupações, ver a nossa situação com prenúncios sombrios,antecipar o amanhã com ansiedade, é ofender a fidelidade de Deus. Aquele quevem cuidando do Seu filho através dos anos, não o abandonará quando o filhoenvelhecer. Aquele que ouviu as orações que você fez no passado, não se negará 

a suprir suas necessidades na presente emergência. Descanse em Jó 5:19: “Emseis angústias te livrará; e na sétima o mal te não tocará".A percepção desta bendita verdade catará as nossas murmurações. O

Senhor sabe o que é melhor para cada um de nós, e um efeito da confiança nesta verdade será o silenciar das nossas petulantes reclamações. Deus égrandemente honrado quando, sob provação e castigo, temos bonspensamentos sobre Ele, vindicamos a Sua sabedoria e justiça, e reconhecemoso Seu amor mesmo em Suas repreensões.

A percepção desta bendita verdade gera  crescente confiança em Deus."Portanto também os que padecem segundo a vontade de Deus encomendem-

lhe as suas almas como ao fiel Criador, fazendo o bem” (1 Pedro 4:19). Quandoconfiantemente nos resignarmos e deixarmos todos os nossos interesses nasmãos de Deus, plenamente persuadidos do Seu amor e fidelidade, tanto maisdepressa ficaremos satisfeitos com as Suas providências e compreenderemosque "ele tudo faz bem”.

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A BONDADE DE DEUS

"A bondade de Deus permanece continuamente" (Salmo 52:1). A "bondade" de Deus tem que ver com a perfeição da Sua natureza: "... Deus éluz, e não há nele trevas nenhumas” (1 João 1:5). Hã uma tão absoluta perfeição na natureza e no ser de Deus que nada Lhe falta, nada nEle édefeituoso, e nada se Lhe pode acrescentar para melhorá-lO. "Ele éessencialmente bom, bom em Si próprio, o que nada mais é; pois todas as cria-turas só são boas pela participação e comunicação da parte de Deus. Ele éessencialmente bom; não somente bom, mas é a própria bondade: na criatura,a bondade é uma qualidade acrescentada; em Deus, é Sua essência. Ele éinfinitamente bom; na criatura a bondade é uma gota apenas, mas em Deus há um oceano infinito ou um infinito ajuntamento de bondade. Ele é eterna eimutavelmente bom, porquanto Ele não pode ser menos bom do que é; comonão se pode fazer nenhum acréscimo a Ele, assim também não se Lhe podefazer nenhuma subtração" (Thomas Manton). Deus é summum bonum, o SumoBem.

O significado saxônico original do vocábulo inglês. "God" (Deus) é "TheGood" (O Bom ou O Bem). Deus não é somente o maior de todos os seres, maso melhor. Toda a bondade existente em qualquer criatura foi-lhe infundida peloCriador, mas a bondade de Deus não é derivada, pois é a essência da Sua natu-

reza eterna. Como Deus é infinito em poder desde toda a eternidade, desdeantes de ter havido alguma demonstração desse poder, ou antes de ter sidoexecutado algum ato de onipotência, assim Ele era eternamente bom, antes dehaver qualquer comunicação da Sua generosidade, ou antes de haver qualquercriatura à qual essa generosidade pudesse ser infundida ou exercida. Portanto,a primeira manifestação desta perfeição divina consistiu em dar existência a todas as coisas. "Tu és bom e abençoador...", ou, na versão utilizada pelo autor:"Tu és bom, e  fazes  o bem...” (Salmo 119:68). Deus tem em Si mesmo uminfinito e inexaurível tesouro de todas as bênçãos, capaz de encher todas ascoisas.

Tudo que provém de Deus — os Seus decretos, a Sua criação» as Suasleis» as Suas providências — só pode ser bom, como está escrito: "E viu Deustudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom..." (Gênesis 1:31). Assim, vê-sea bondade de Deus primeiro na criação. Quanto mais de perto se estuda a criatura, mais visível se torna a benignidade do seu Criador, Tome a maiselevada criatura da terra, o homem. Abundantes motivos tem ele para dizercom o salmista: "Eu te louvarei, porque de um modo terrível e tão maravilhosofui formado; maravilhosas são as tuas obras, e a minha alma o sabe muitobem" (Salmo 139:14). Tudo acerca da estrutura dos nossos corpos atesta a bondade do seu Criador. Que mãos apropriadas para realizar a obra a elas

confiada! Que bondade do Senhor, determinar o sono para restaurar o corpocansado! Que benévola a Sua provisão, dar aos olhos cílios e sobrancelhas para protegê-los! E assim poderíamos prosseguir indefinidamente.

E a bondade de Deus não se limita ao homem; é exercida em favor de

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todas as Suas criaturas. "Os olhos de todos esperam em ti, e tu lhes dás o seumantimento a seu tempo. Abres a tua mão, e satisfazes os desejos de todos osviventes" (Salmo 145:15-16). Volumes inteiros poderiam ser escritos, na verdade têm sido, para discorrer sobre este fato. Sejam as aves do espaço, osanimais das matas ou os peixes no mar, foi feita abundante provisão para suprir todas as suas necessidades. Deus "... dá mantimento a toda a carne;

porque a sua benignidade é para sempre" (Salmo 136:25). Verdadeiramente, "...a terra está cheia da bondade do Senhor" (Salmo 33:5).Vê-se a bondade de Deus na variedade de prazeres naturais que Ele

providenciou para as Suas criaturas. Deus poderia ter-Se satisfeito em saciar a nossa fome sem que os alimentos fossem agradáveis ao nosso paladar — comoSua benignidade transparece-nos diversos sabores de que Ele revestiu osdiferentes tipos de carne, vegetais e frutas! Deus não nos deu somente ossentidos, mas também nos deu aquilo que os agrada; e isso também revela a Sua bondade. A terra poderia ser tão fértil como é, sem a sua superfície ser tãodeleitavelmente variegada, A nossa vida física poderia ser mantida sem as

lindas flores para encantarem os nossos olhos e para exalarem suavesperfumes. Poderíamos andar pelos campos, sem que os nossos ouvidos fossemsaudados pela música dos pássaros. Donde, pois, esta beleza, este encanto, tãolivremente difundido pela face da natureza? Verdadeiramente, "O Senhor é bompara todos, e as suas ternas misericórdias são sobre todas as suas obras"(Salmo 145:9).

Vê-se a bondade de Deus em que, quando o homem transgrediu a lei doseu Criador, não começou de imediato uma dispensação de ira semcontemplação. Bem poderia Deus ter privado as Suas criaturas decaídas detodas as bênçãos, de todos os confortos e de todos os prazeres. Em vez disso,

Ele introduziu um regime de natureza mista, de misericórdia e juízo.Devidamente considerado, isso é por demais maravilhoso, e quanto mais com-pletamente se examine esse regime, mais transparecerá que " ... a misericórdia triunfa do juízo** (Tiago 2:13). Não obstante os males todos que acompanham onosso estado decaído, o prato do bem predomina grandemente na balança. Comrelativamente ratas exceções, os homens e as mulheres experimentam muitomaior numero de dias de boa saúde, do que de enfermidade e dor. Há nomundo muito mais felicidade própria das criaturas do que infelicidadeigualmente própria delas. Mesmo as nossas tristezas admitem considerávelalívio, e Deus conferiu à mente humana uma versatilidade que lhe possibilita adaptar-se às circunstâncias e tirar delas o melhor proveito possível.

Não se pode com justiça pôr em questão a benignidade de Deus pelo fatode haver sofrimento e tristeza no mundo. Se o homem  peca contra a bondadede Deus, se ele despreza "as riquezas da sua benignidade, e paciência elonganimidade" e, seguindo a dureza e a impenitência do seu coração entesoura para si mesmo ira para o dia da ira (Romanos 2:4-5), a quem deve culpar,senão a si próprio? Deus seria bom, se não punisse os que usam mal as Suasbênçãos, abusam da Sua benevolência e pisoteiam as Suas misericórdias? Nãohaverá a menor censura quanto à bondade de Deus, mas, ao contrário, a mais

brilhante e modelar demonstração dela, quando Deus eliminar da terra os quequebrantara as Suas leis, desafiam a Sua autoridade, zombam dos Seusmensageiros, escarnecem do Seu Filho e perseguem aqueles pelos quais Elemorreu.

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A bondade de Deus foi mais ilustremente visível quando Ele enviou o SeuFilho, "... nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavamdebaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos" (Gaiatas 4:4-5). Foientão que uma multidão dos exércitos celestiais louvou seu Criador e disse:"Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens"(Lucas 2:14). Sim, no evangelho “a graça (em grego, a benevolência ou bondade)

de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens” (Tito 2:11).Não se pode pôr em dúvida a benignidade de Deus pelo fato de não ter feito Elea todas as criaturas pecadoras objetos da Sua graça redentora. Não o fez comos anjos decaídos. Se Ele tivesse deixado que todos perecessem, não haveria censura à Sua bondade, A quem quer que desafiasse esta afirmação faríamoslembrar a soberana prerrogativa de nosso Senhor: "Ou não me é lícito fazer oque quiser do que é meu? Ou é mau o teu olho porque eu sou bom?" (Mateus20:15),

"Louvem ao Senhor pela sua bondade, e pelas suas maravilhas para comos filhos dos homens" (Salmo 107:8). Gratidão é o justo retorno exigido dos

objetos da Sua benignidade; contudo, muitas vezes é negada ao grandeBenfeitor, simplesmente porque a Sua bondade é tão constante e tãoabundante. A bondade de Deus é apreciada superficialmente porque é exercida para conosco no curso comum dos eventos. Não a percebemos bem porque a experimentamos diariamente. "Ou desprezas tu as riquezas da sua begnidade?..." (Romanos 2:4). A Sua bondade é “desprezada" quando não éutilizada como um meio para levar os homens ao arrependimento, mas, aocontrário, serve para endurecê-los a partir da suposição de que fecha os olhospara o pecado deles.

A bondade de Deus é o sustentáculo da confiança do crente, É esta 

excelência de Deus que exerce mais atração sobre os nossos corações. Visto quea Sua bondade dura para sempre, jamais deveríamos ficar desanimados-. "OSenhor é bom, uma fortaleza no dia da angústia, e conhece os que confiamnele" (Naum 1:7). "Quando outros nos maltratam, isso deveria somenteestimular-nos a dar graças mais calorosamente ao Senhor, porque Ele é bom; equando nós mesmos nos damos conta de que estamos longe de sermos bons,somente deveríamos bendizem com maior reverência Aquele que é bom jamaisdeveríamos tolerar um instante de descrença na bondade, do Senhor; seja o quefor que possa ser questionado, isto é absolutamente certo, que o Senhor é bom;as Suas dispensações podem variar, mas a Sua natureza é sempre a mesma”(C. H. Spurgeon).

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A PACIÊNCIA DE DEUS

Tem-se escrito muito menos sobre esta excelência do caráter divino doque sobre as demais. Não poucos dos que têm se estendido largamente sobre osatributos divinos, deixaram de lado, sem nenhum comentário, a paciência deDeus. Não é fácil opinar sobre a razão disto, pois certamente a paciência deDeus é igualmente uma das perfeições divinas, como a Sua sabedoria, poder ousantidade, e igualmente digna de ser admirada e reverenciada por nós. Éverdade que esse vocábulo não se acha numa concordância tantas vezes comoos outros, mas a glória desta graça refulge em quase todas as páginas dasEscrituras. O certo é que perdemos muito, se não meditamos com freqüência na paciência de Deus e se não oramos fervorosamente, rogando que os nossoscorações a ela se disponham mais completamente.

O mais provável é que a principal razão pela qual tantos escritoresdeixaram de dar-nos algo, separadamente, sobre a paciência de Deus, é  a dificuldade em distinguir este atributo da bondade e da misericórdia divinas,particularmente desta última A longaminidade de Deus é mencionada repetidamente era conjunto com a Sua graça e misericórdia, como se podeverificar consultando Êxodo 34:6; Números 14:18; Salmo 86:15 etc Não sepode negar que a paciência de Deus é realmente uma demonstração da Sua 

misericórdia, na verdade um modo pelo qual esta se manifesta freqüentemente;não se pode conceder, porém que ambas sejam urna só e a mesma excelência e que não se possa separar uma da outra. Embora não seja fácil distinguirentre elas as Escrituras nos autorizam plenamente a afirmar sobre uma delasalgumas coisas que não podemos afirmar sobre a outra.

Stephen Charnock, o puritano, define em parte a paciência de Deusassim: "É uma parte da bondade e da misericórdia divinas e, contudo, difere deambas. Sendo Deus a maior bondade tem a maior brandura; a brandura ésempre companheira da bondade e, quanto maior a bondade, maior a brandura. Quem houve tão santo como Cristo, e tão gentil? A lentidão de Deus

para a ira é um aspecto da Sua misericórdia: "... o Senhor (é) sofredor e degrande misericórdia" (Salmo 145:8; Atualizada, semelhante à versão da citação:"... o Senhor (é) tardio em irar-se e de grande clemência"). A paciência difere da misericórdia na consideração formal do objeto: a misericórdia considera a criatura como infeliz, a paciência considera a criatura como criminosa; a misericórdia tem pena do ser humano em sua infelicidade a paciência tolera opecado que gerou a infelicidade e deu nascimento a mais infelicidade ainda".

Pessoalmente, definimos a paciência divina como aquele poder de controleque Deus exerce sobre Si mesmo, levando-0 a tolerar os maus e a demorar-Sea castigá-los. Em Naum 1:3 lemos: “O Senhor e tardio em irar-se, mas grande

em força...", sobre o qual disse o senhor Charnock: "Os homens que sãograndes no mundo sofrem rápido impulso da paixão, e não se dispõem a perdoar logo, ou a tolerar um ofensor, como alguém de nível inferior. É a falta de poder sobre o próprio ego que os leva a fazer coisas impróprias sob

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provocação. Um príncipe capaz de sujeitar as suas paixões é um rei sobre simesmo, bem como sobre os seus súditos. Deus é tardio em irar-Se  porque  égrande em força, Ele não tem menos poder sobre Si mesmo do que sobre asSuas criaturas'.

É na questão acima, pensamos nós, que a paciência de Deus se distinguemais claramente da Sua misericórdia. Embora a criatura seja beneficiada por

ela, a paciência de Deus diz respeito principalmente a Si próprio, como uma restrição imposta por Sua vontade aos Seus atos, ao passo que a Sua misericórdia esgota-se totalmente na criatura. A paciência de Deus é aquela excelência que O leva a suportar grandes ofensas sem vingar-Se imediatamente.Ele tem um poder de paciência, como também um poder de justiça. Assim, a palavra hebraica para "longânimo" é traduzida por '"tardio em irar-se" emNeemias 9:17, Joel 2:13, etc. Não que haja quaisquer paixões na natureza divina, mas que à sabedoria e à vontade de Deus apraz agir com aquela dignidade e sobriedade que vem a ser a Sua exaltada majestade.

Em apoio de nossa definição acima, permita-me assinalar que foi para 

esta excelência do caráter divino que Moisés apelou, quando Israel pecou tãoafrontosamente era Cades-Barnéia, e ali provocou ao Senhor tãodolorosamente. Ao Seu servo disse o Senhor: "Com pestilência o ferirei, e orejeitarei..." (Números 14:12). Então foi que o mediador tipológico intercedeu:"Agora, pois, rogo-te que a força  do meu Senhor se engrandeça; como tensfalado, dizendo: O Senhor é Longânimo" (versículos 17 e 18). Portanto, a Sua "longanimidade"" ou paciência é a Sua "força" ou o Seu poder de auto-restrição.

Ainda em Romanos 9:22 lemos: "E que direis se Deus, querendo mostrara sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita  paciência os vasosda ira, preparados para perdição". Se Deus imediatamente fizesse em pedaços

estes vasos reprovados, o Seu poder de auto-controle não apareceria tãoeminentemente; tolerando a iniqüidade deles e lhes sobre-levandodemoradamente o castigo, o poder da Sua paciência fica demonstradogloriosamente. É verdade que os ímpios interpretam a paciência de Deus demaneira muito diferente -— "Visto como se não executa logo o juízo sobre a má obra, por isso o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para praticar o mal" (Eclesiastes 8:11) — mas o olhar ungido adora o que elesinsultam.

"O Deus de paciência" (Romanos 15:5) é um dos títulos divinos. A Deidadeé assim denominada, primeiro, porque Deus é tanto o Autor como o Objeto da graça da paciência na criatura. Segundo, porque é isto que Ele é em Si mesmo:a paciência é uma das Suas perfeições. Terceiro, como um padrão para nós:"Revesti-vos pois, como eleitos de Deus, santos, e amados, de entranhas demisericórdia, de benignidade, mansidão, longanimidade"  (Colossenses 3:12). Eainda: "Sede pois imitadores de Deus como filhos amados" (Efésios 5:1).Quando tentado a aborrecer-se com a lerdeza doutrem, ou a vingar-se dealguém que o ultrajou, lembre-se da infinita paciência e longanimidade de Deuspara com você.

A paciência de Deus se manifesta em Sua maneira de tratar os pecadores.

Quão surpreendentemente foi demonstrada para com os antediluvianos.Quando a humanidade estava universalmente degenerada, e toda a carne havia corrompido os seus caminhos, Deus não a destruiu sem antes adverti-la. "... a longanimidade de Deus esperava..." (1 Pedro 3:20), Deus esperou não menos de

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cento e vinte anos (Gênesis 6:3), tempo durante o qual Noé foi "... pregoeiro da   justiça... " (2 Pedro 2:5). Assim, mais tarde, quando os gentios não sócultuavam e serviam mais a criatura do que ao Criador, mas também cometiamas mais vis abominações contrárias até mesmo aos .ditames da natureza (Ro-manos 1:19-26), e com isso encheram a medida da sua iniqüidade; todavia, emvez de desembainhar a Sua espada para o extermínio desses rebeldes, Deus "...

deixou andar todas as gentes em seus próprios caminhos..." e lhes deu "...chuvas e tempos frutíferos..." (Atos 14:16-17).A paciência de Deus foi maravilhosamente exercida e manifestada para 

com Israel. Primeiro, Ele "...suportou os seus costumes no deserto porespaço de quase quarenta anos (Atos 13.18) Posteriormente, quando osisraelitas entraram em Canaã, mas seguiam os maus costumes das nações aoseu redor e pendiam para a idolatria, conquanto Deus os castigassedolorosamente não os destruiu por completo, mas sim em sua angustia, levantava libertadores para eles. Quando a sua iniqüidade subiu a talponto que ninguém, senão um Deus de infinita paciência, poderia suportá-los,

Ele, não obstante, poupou-os durante muitos anos antes de deixar quefossem levados para a Babilônia. Finalmente quando a sua rebelião contra Ele atingiu o clímax pela crucificação de Seu Filho, Deus esperou quarenta anos, antes de enviar os romanos contra eles, e isso, só depois deles Julgaremque não eram "...dignos da vida eterna... (Atos 13:46)

Quão maravilhosa é a paciência de Deus com o mundo hoje! Por toda parte as pessoas pecam a peito aberto. A lei divina e pisoteada e o próprio Deusé desprezado abertamente. É deveras espantoso que Ele não elimine de vezaqueles que tão descaradamente O desafiam. Por que Ele não corta da faceda terra o infiel insolente e o escarnecedor verboso, como fez com Ananias e

Safira? Por que não faz a terra abrir a boca e devorar os perseguidores doSeu povo para que, à semelhança de Data e Abirão fossem vivos para oAbismo? E que dizer da cristandade apóstata, em que todas as formas depecado possíveis são agora toleradas e praticadas sob a capa do santo nomede_ Cristo? Por que a justa ira do Céu não põe fim a tais abominações?Somente uma resposta é possível: porque Deus tolera com muita paciência osvasos da ira, preparados para perdição (Romanos 9:22).

E que dizer do autor e do leitor? Façamos uma revisão em nossas vidas.Não transcorreu muito tempo desde quando nós seguíamos  a multidão na prática do mal, não nos interessávamos nem um pouco pela glória de Deus e sóvivíamos para gratificar o nosso ego. Quão pacientemente Ele tolerou a nossa conduta vil! E agora que a graça nos tirou como tições do fogo, dando-nos umlugar na família de Deus, e nos gerou para uma herança eterna na glória, quãomiseravelmente Lhe retribuímos! Quão superficial a nossa gratidão, quão tardia a nossa obediência e quão freqüentes as nossas apostasias! Uma razão pela qual Deus tolera que o crente permaneça carnal é que Ele possa demonstrar a Sua longanimidade para conosco (2 Pedro 3:9). Desde que este atributo divinosó se manifesta neste mundo, Deus se empenha mais em mostrá-lo para com"os Seus".

Oxalá a nossa meditação nesta excelência divina abrande os nossoscorações, enterneça as nossas consciências, e possamos aprender na escola da santa experiência a "paciência dos santos'1, a saber, a submissão à vontadedivina e a perseverança na prática do bem. Busquemos fervorosamente a graça 

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que nos capacite a imitar esta excelência divina. "Sede vós pois perfeitos, comoé perfeito o vosso Pai que está nos céus'" (Mateus 5:48); no contexto imediatoCristo nos exorta a amar os nossos inimigos, a bendizer os que nos maldizem, a fazer o bem aos que nos odeiam. Deus tolera bastante os ímpios, apesar da multidão dos seus pecados; e nós, haveremos de querer vingar-nos por causa de uma única ofensa?

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A GRAÇA DE DEUS

Esta perfeição do caráter divino só é exercida em favor dos eleitos. Nem noVelho Testamento nem no Novo jamais se menciona a graça de Deus emconexão com a humanidade em geral, e muito menos com as ordens inferioresdas Suas criaturas. Nisto a graça se distingue da "misericórdia", pois a misericórdia é "... sobre todas as suas obras1' (Salmo 145:9). A graça é a única fonte da qual fluem a boa vontade, o amor e a salvação de Deus para o Seupovo escolhido. Este atributo do caráter divino foi definido por Abraham Boothem seu proveitoso livro, The Reign of Grace  — O Reino da Graça, assim: "É olivre, absoluto e eterno favor de Deus, manifesto na concessão de bênçãos

espirituais e eternas a culpados e indignos.A graça divina é o soberano e salvador favor de Deus exercido na dádiva 

de bênçãos a pessoas que não têm em si mérito nenhum, e pelas quais não seexige delas nenhuma compensação. Não apenas isso, é ainda mais; é o favor deDeus demonstrado a pessoas que, não só não possuem merecimentos próprios,mas são totalmente merecedoras do inferno. É completamente imerecida, não éprocurada de modo nenhum e não é atraída por nada que haja nos objetos aosquais é dada, por nada que deles provenha, e tampouco pelos próprios objetos.A graça não pode ser comprada, nem obtida, nem conquistada pela criatura. Sepudesse, deixaria de ser graça. Quando dizemos que uma coisa é "de graça",

queremos dizer que seu recebedor não tem direitos sobre ela, que de maneira nenhuma ela lhe era devida. Chega-lhe como pura caridade e, a princípio, nãosolicitada nem desejada.

A mais completa exposição da maravilhosa graça de Deus acha-se nasepístolas do apóstolo Paulo. Em seus escritos "graça" está em direta oposição a obras e merecimento, todas as obras e todo merecimento, de qualquer espécieou grau. Vê-se isto com muita clareza em Romanos 11:6, na versão utilizada pelo autor: "E se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça. Se é por obras, já não é pela graça; de outra maneira, as obras já não são obras". É tão impossível unir a graça e as obras, como o é unir umácido e um álcali. "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vemde vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie (Efésios2:8-9). O absoluto favor de Deus não pode harmonizar-se com o méritohumano, mais do que o óleo e a água fundir-se num só elemento. Ver tambémRomanos 4:4-5.

São três às principais características da graça divina: primeira, é eterna. A graça foi planejada antes de ser exercida, e fez parte do propósito divino antesde ser infundida: "Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; nãosegundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos

foi dada em Cristo Jesus antes  dos tempos dos séculos" (2 Timóteo 1:9).Segunda, é livre, ou gratuita, pois ninguém a pôde comprar jamais: “Sendo  justificados gratuitamente pela sua graça..." (Romanos 3:24. Terceira, ê soberana, porque Deus a exerce em favor daqueles a quem Lhe apraz, e a estes

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a concede: "Para que... também a graça reinasse..." (Romanos 5:21). Se a graça "reina", ocupa um trono, e o ocupante do trono é soberano. Daí o "... trono da graça..." (Hebreus 4:16).

Exatamente porque a graça é um favor imerecido, exerce-senecessariamente de maneira  soberana. Portanto, o Senhor declara: "Tereimisericórdia" (ou graça) "...de quem eu tiver misericórdia,..'" (Êxodo 33:19). Se

Deus mostrasse graça a todos os descendentes de Adão, os homens logoconcluiriam que Ele, sendo justo, estava compelido a levá-los para o céu comouma razoável compensação por ter deixado a raça humana cair em pecado. Maso grande Deus não está sob nenhuma obrigação para com nenhuma de Suascriaturas, menos ainda para com os que são rebeldes contra Ele.

A vida eterna é um dom e, portanto, não pode ser obtida pelas boas obras,nem reivindicada como um direito. Vendo que a salvação é um "dom", quemtem direito de dizer a Deus a quem Ele deve doá-lo? Não é que o Doador recusa este dom a qualquer que o busque de todo coração e de acordo com as regrasque Ele prescreveu. Não; Ele não o recusa a ninguém que O busca de mãos

vazias e da maneira determinada por Ele. Mas, se de um mundo impenitente eincrédulo Deus está resolvido a exercer o Seu direito soberano escolhendo umnúmero limitado de pessoas para serem salvas, quem sai prejudicado? Estará Deus obrigado  a impor o Seu dom aos que não lhe dão valor? Estará Deuscompelido a salvar os que estão determinados a seguir o seu próprio caminho!  

Nada, porém, enraivece mais o homem natural e mais contribui para trazer à tona a sua inata e inveterada inimizade contra Deus, do que insistircom ele sobre a eternidade, a gratuidade e a absoluta soberania da graça divina. Dizer que Deus formou Seu propósito desde a eternidade, sem nenhuma consulta à criatura, é demasiadamente humilhante para o coração não

quebrantado Dizer que a graça não pode ser adquirida ou conquistada pelosesforços do homem, esvazia demais o ego dos que confiam em sua justiça própria. E o fato de que a graça separa os que ela quer para serem os objetos doseu favor, provoca acalorados protestos dos rebeldes arrogantes. O barro selevanta contra o Oleiro e pergunta: "Por que Tu me fizeste assim?' Umrebelde infrator da lei atreve-se a questionar a justiça da soberania divina. Vê-se a distintiva graça de Deus no ato de salvar aqueles que Ele separousoberanamente para serem os Seus favoritos. Com "distintiva" queremosdizer que a graça discrimina, faz diferenças escolhe alguns e deixa de ladooutros. Foi a distintiva graça de Deus que separou Abraão dentre os seusvizinhos idolatras e fez dele "o amigo de Deus". Foi a distintiva graça que salvou"publicanos e pecadores", mas disse acerca dos fariseus: Deixai-os" (Mateus15:14). Em parte nenhuma a glória da livre e soberana graça de Deus fulgemais conspicuamente do que na indignidade e diversidade dos que a recebem.Esta verdade foi belamente ilustrada por James Hervey (1751):

"Onde o pecado abundou, diz a proclamação do tribunal do céusuperabundou a graça. Manasses  foi um monstro cruel, pois fez passar seuspróprios filhos pelo fogo, e encheu Jerusalém de sangue inocente. Manasses foi-perito em iniqüidade, pois, não só multiplicou, chegando a extremos

extravagantes, as suas impiedades sacrílegas, como também envenenou osprincípios e perverteu os costumes dos seus súditos, fazendo-os agir pior doque os pagãos idolatras mais detestáveis. Veja 2 Crônicas 33. Contudo, atravésdesta super abundante graça, ele se humilhou, mudou de vida, e se tornou um

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filho do amor que perdoa e um herdeiro da glória imortal."Vede Saulo, aquele perseguidor cruel e sanguinário, quando, respirando

ameaças e disposto à matança, atormentava as ovelhas de Jesus e levava à morte os Seus discípulos. A devastação que causara e as famílias inofensivasque arruinara, não eram suficientes para mitigar o seu espírito vingativo. Eramapenas uma amostra para o paladar que, em vez de saciar a sede de sangue,

fizeram-no seguir mais de perto a presa e ansiar mais ardentemente pela destruição. Continuava sedento de violência e morte. Tão ávida e insaciável era sua sede, que chegava a  respirar  ameaças e mortes (Atos 9:1). Suas palavraseram verdadeiras lanças e flechas, e a sua língua, uma espada afiada. Para ele,ameaçar os cristãos era tão natural como respirar. Nos propósitos do seucoração rancoroso, eles não paravam de sangrar. Só devido à falta de poder éque cada sílaba que proferia e cada sopro da sua respiração não espalhavammais mortes nem faziam cair mais discípulos inocentes. Quem, segundo osprincípios da justiça humana, não o teria pronunciado vaso da ira, destinado a inevitável condenação? E mais, quem não estaria pronto a concluir que, se

houvesse cadeias mais pesadas e masmorra mais triste no mundo das torturas,certamente se reservariam para tão implacável inimigo da verdadeira religiosidade? Entretanto, admirai e adorai os inexauríveis tesouros da graça —este  Saulo é admitido na santa comunhão dos profetas, é enumerado com onobre exército de mártires e faz distinguida figura no glorioso colégio dosapóstolos.

"Era proverbial a maldade dos coríntios. Alguns deles chafurdavam em tãoabomináveis libertinagens, e estavam habituados a tão ultrajantes atos deinjustiça que eram uma infâmia até para a natureza humana. Contudo, atémesmo esses filhos da violência e escravos do sensualismo foram lavados,

santificados, justificados (1 Coríntios 6:9-11). "Lavados" no sangue precioso doRedentor que deu Sua vida; "santificados" pelas poderosas operações dobendito Espírito; "justificados" através das misericórdias infinitamente ternasdo Deus da graça. Os que outrora foram um aflitivo fardo para a terra, vieram a ser o júbilo do céu, o encanto dos anjos".

Agora, a graça de Deus se manifesta no Senhor Jesus Cristo, por Ele eatravés dEle.-"Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram porJesus Cristo (João 1:17). Isto não significa que Deus nunca exercera a Sua graça em favor de alguém antes de encarnar-Se o Seu Filho, Gênesis 6:8; Êxodo33:19; etc; mostram que a verdade é outra. Mas a graça e a verdade foramplenamente reveladas e perfeitamente exemplificadas quando o Redentor veio a esta terra e morreu na cruz por Seu povo. Ê somente através de Cristo, oMediador, que a graça de Deus flui para os Seus eleitos. "Muito mais a graça deDeus e o dom pela graça, que é dum só homem (ou "por um SÔ homem"), JesusCristo... muito mais os que recebem a abundância da graça, e o dom da justiça,reinarão em vida  por  um só — Jesus Cristo ... para que ... também a graça reinasse pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor" (Roma-nos 5:15, 17, 21).

A graça de Deus é proclamada no evangelho (Atos 20:24), o qual é para o

 judeu confiante em sua justiça própria um "escândalo" (ou "pedra de tropeço"),e para o grego presunçoso e filósofo "loucura". Por quê? Porque não há nada no evangelho que se preste para gratificar o orgulho do homem. Ele anuncia que se não formos salvos pela graça, não seremos salvos de modo nenhum. Ele

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declara que, fora de Cristo - o Dom inefável da graça de Deus — o estado detodos os homens é desesperador, irremediável, sem esperança. O evangelhotrata os homens como criminosos culpados, condenados e mortos. Declara queo moralista mais puro está na mesma condição terrível em que se acha olibertino mais voluptuoso; que o religioso confesso e zeloso, com todas as suaspráticas religiosas, não é melhor do que o mais profano infiel.

O evangelho considera a todo descendente de Adão como pecador decaído,corrupto, merecedor do inferno e desvalido. A graça que o evangelho divulga é a sua única esperança. Todos permanecem diante de Deus como réussentenciados, transgressores da Sua santa lei, como criminosos culpados econdenados, não a espera de alguma sentença, mas esperando a execução da sentença já passada sobre eles (João 3:18; Romanos 3:19). Queixar-se da parcialidade da graça é suicídio. Se o pecador insiste em que se lhe faça a pura   justiça, então o "lago de fogo" terá que ser o seu quinhão eterno. Sua única esperança está em render-se a sentença que a justiça divina lhe passou,apropriar-se da retidão absoluta que a caracteriza, lançar-se à misericórdia de

Deus, e estender mãos vazias para servir-se da graça de Deus, que agora chegou a conhecer por meio do evangelho.A terceira pessoa da Deidade é o comunicador  da graça pelo que e

denominado "... o Espírito de graça... " (Zacarias 12-10) Deus, o Pai, é a fonte detoda graça, pois Ele em Si mesmo determinou a aliança eterna da redenção.Deus, o Filho, é o único canal da graça. O evangelho é o divulgador da graça. OEspírito é o doador. Ele aplica o evangelho com poder salvador à alma vivificando os eleitos enquanto ainda mortos, dominando as suas vontadesrebeldes, amolecendo os seus duros corações, abrindo-lhes os olhos da sua cegueira, limpando-os da lepra do pecado Podemos assim dizer com G. S.

Bishop (já falecido): «A graça é uma provisão para homens que se acham tãodecaídos que não podem erguer o machado da justiça, tão corruptos que nãopodem mudar as suas próprias naturezas, tão contrários a Deus que nãopodem voltar para Ele, tão cegos que não podem vê-10, tão surdos que nãopodem ouvi-1O, e tão mortos que Ele mesmo precisa abrir os seus túmulos elevantá-los para a ressurreição".

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A MISERICÓRDIA DE DEUS

"Louvai ao Senhor, porque ele é bom; porque a sua begnidade (oumisericórdia) dura para sempre" (Salmo 136-1) Deus deve ser grandementelouvado por esta perfeição do Seu caráter. Por três vezes, em três versículos, osalmista convida os santos a louvarem ao Senhor por este atributo adorável. Ecertamente é o mínimo que se pode pedir aos que tão copiosamente sebeneficiaram dele. Quando ponderamos as características desta excelência divina, não podemos senão bendizer a Deus por ela A Sua misericórdia (oubenignidade), é "grande" (1 Reis 3-6- 1 Pedro 1:3), "abundante" (Salmo 86:5),"terna" (Lucas 1-78 'na versão utilizada pelo autor); "... de eternidade a 

eternidade sobre aqueles que o temem..." (Salmo 103:17). Bem podemos dizercom o salmista: "... louvarei com alegria a tua misericórdia ... (Salmo 59:16)."... eu farei passar toda a minha bondade por diante de ti e apregoarei o

nome do Senhor diante de ti; e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia,e me compadecerei de quem me compadecer" (Êxodo 33:19). Em que a misericórdia de Deus difere da Sua "graça"? A misericórdia de Deus tem sua origem na bondade divina. O primeiro fruto da bondade de Deus é Sua benigni-dade ou generosidade, pela qual Ele dá liberalmente a Suas criaturas comocriaturas; assim deu Ele o ser e a vida a todas as coisas. O segundo fruto da bondade de Deus é Sua misericórdia, que denota a pronta inclinação de Deus

para aliviar a miséria das criaturas caídas. Assim, "misericórdia" pressupõe pecado. 

Embora não seja fácil, à primeira consideração, perceber uma realdiferença entre a graça e a misericórdia de Deus, podemos compreendê-la seponderarmos cuidadosamente os Seus procedimentos para com os anjos quenão caíram. Ele nunca exerceu misericórdia para com eles, pois jamais tiveramqualquer necessidade dela, pois não pecaram, nem ficaram debaixo dos efeitosda maldição. Todavia, eles são objetos da livre e soberana graça de Deus.Primeiro, porque Deus os elegeu  do seio de toda a raça angélica (1 Timóteo5:21), Segundo, e em conseqüência da sua eleição, porque foram  preservados da apostasia, quando Satanás se rebelou e arrastou consigo um terço dashostes celestiais (Apocalipse 12:4), Terceiro, tornando Cristo a Cabeça deles(Colossenses 2:10; 1 Pedro 3:22), meio pelo qual eles permanecem eternamenteseguros na santa condição em que foram criados. Quarto, devido à exaltada  posição que lhes foi atribuída: viver na presença imediata de Deus (Daniel 7:10),servi-1O constantemente em Seu templo celestial, receber dEle honrosasmissões (Hebreus 1:14). Isso é graça  abundante para com eles, mas"misericórdia" não é.

No empenho em estudar a misericórdia de Deus como exposta nas

Escrituras, é preciso fazer uma tríplice distinção, se é que a Palavra da Verdadehá de ser "bem manejada" nesse ponto. Primeiro, há uma misericórdia geral deDeus, que se estende não somente a todos os homens, crentes e descrentesigualmente, mas também à criação inteira: "...as suas misericórdias são sobre

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todas as suas obras" (Salmo 145:9); "... de mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas" (Atos 17:25). Deus tem compaixão da criaçãoanimal em suas necessidades, e a supre de provisão adequada. Segundo, há uma misericórdia especial de Deus, exercida para com os filhos dos homens,ajudando-os e socorrendo-os, apesar dos seus pecados. Também a estes Deussupre todas as necessidades da vida: "... porque faz que o seu sol se levante

sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos" (Mateus 5:45).Terceiro, há uma misericórdia  soberana, reservada para os herdeiros da salvação, comunicada a estes por meio de uma aliança, através do Mediador.

Acompanhando um pouco mais a diferença entre o segundo e o terceiropontos distintivos acima expostos, é importante notar que as misericórdias queDeus concede aos ímpios são exclusivamente de natureza temporal; quer dizer,limitam-se estritamente a presente vida. Não haverá misericórdia que seestenda a eles além-tumulo: "... este povo não é povo de entendimento- por issoaquele que o fez não se compadecera dele, e aquele que o formou não lhemostrará nenhum favor" (Isaías 27:11) Neste ponto, porém, pode oferecer-se

uma dificuldade a algum dos nossos leitores, a saber: não afirmam asEscrituras que a misericórdia de Deus, “...a sua benignidade dura para sempre"? (Salmo 13b: 1)7 E preciso assinalar duas coisas neste contexto.Deus nunca deixa de ser misericordioso, pois isto constitui uma qualidade da essência divina (Salmo 116:5); mas o exercício da Sua misericórdia e reguladopor Sua vontade soberana. Tem que ser assim, pois não ha fora dEle coisa nenhuma que O obrigue a agir; se houvesse, essa "coisa" seria suprema e Deusdeixaria de ser Deus. É somente a pura graça soberana que determina oexercício da misericórdia divina. Deus afirma expressamente este fato emRomanos 9:15: "Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem compadecer, e

terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. Não e a desgraça da criatura que O leva a mostrar misericórdia, pois Deus não é influenciado por coisasalheias a Si mesmo, como nós somos. Se Deus fosse influenciado pela miséria abjeta dos pecadores leprosos, Ele os limparia e os salvaria a todos. Mas não ofaz. Por quê? Simplesmente porque não é do Seu agrado e do Seu propósito agirassim. Menos ainda são os méritos da criatura que O levam a conceder-lhesmisericórdias, pois é uma contradição de termos falar em merecer  "miseri-córdia”. "Não petas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou..." (Tito 3:5) — aquelas estando em direta antítese a esta. Tampouco são os méritos de Cristo que movem Deus a concedermisericórdias aos Seus eleitos; isto seria tomar o efeito pela causa. É "através"ou por causa da misericórdia de Deus que Cristo foi enviado ao mundo, ao Seupovo (Lucas 1:78). Os méritos de Cristo tornaram possível a Deus conceder justamente  misericórdias espirituais aos Seus eleitos, tendo sido satisfeita plenamente a justiça pelo Fiador! Não, a misericórdia provém unicamente da vontade soberana de Deus.

Ademais, conquanto seja verdade, bendita e gloriosa verdade, que a misericórdia de Deus "dura para sempre", devemos observar cuidadosamente osobjetos a quem Deus mostra misericórdia. Até o lançamento dos reprovados no

"lago de fogo" é um ato de misericórdia. O  castigo dos ímpios deve serconsiderado de um tríplice ponto de vista. Do lado de Deus, é um ato de  justiça,vindicando a Sua honra, A misericórdia de Deus nunca se mostra cmdetrimento da Sua santidade e justiça. Do lado dos ímpios, é um ato de

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eqüidade, dado que são postos a sofrer a merecida recompensa das suasiniqüidades. Mas do ponto de vista dos redimidos, o castigo dos ímpios é umato de indescritível misericórdia. Quão terrível seria se a presente ordem decoisas continuasse para sempre, quando os filhos de Deus são forçados a viverno meio dos filhos do diabo! O céu logo deixaria de ser céu, se os ouvidos dossantos ainda ouvissem a Linguagem blasfema e corrompida dos reprovados.

Que misericórdia, o fato de que na Nova Jerusalém não entrará “ ...  coisa alguma que contamine, e cometa abominação... " (Apocalipse 21:27)!Para que o leitor não pense que no último parágrafo acima estivemos

laborando sobre a nossa imaginação, apelemos para as Escrituras Sagradas emapoio do que foi dito. No Salmo 143:12 vemos Davi orando: "E por tua misericórdia desarraiga os meus inimigos, e destrói a todos os que angustiam a minha alma: pois sou teu servo". Ainda, no Salmo 136:15 lemos que Deus"derribou a Faraó com o seu exército no Mar Vermelho; porque a sua benignidade (ou misericórdia) dura para sempre". Foi um ato de castigo a Faraóe aos seus exércitos, mas foi um ato de "misericórdia" para os israelitas. Mais

ainda, em Apocalipse 19:1-3 lemos: "... ouvi no céu como que uma grande vozde uma grande multidão, que dizia: Aleluia; Salvação, e glória, e honra, e poderpertencem ao Senhor nosso Deus;  porque  verdadeiros e justos são os seus juízos, pois julgou a grande prostituta, que havia corrompido a terra com a sua prostituição, e das mãos dela  vingou  o sangue dos seus servos. E outra vezdisseram: Aleluia. E o fumo dela sobe para todo o sempre".

Do que se acaba de ver diante de nós, notemos como é vã a presunçosa esperança dos ímpios que, apesar do seu continuado desafio a Deus, mesmoassim contam com uma atitude misericordiosa de Deus em favor deles.Quantos há que dizem: não acredito que Deus me lançará no inferno; Ele é

muito misericordioso. Essa esperança é uma víbora que, se for acalentada nocolo deles, irá feri-los com picada morta!. Deus é Deus de justiça, como demisericórdia, e Ele declarou expressamente que "... ao culpado não tem porinocente..." (Êxodo 34:7). Sim, Ele disse: "Os ímpios serão lançados no inferno etodas as gentes que se esquecem de Deus" (Salmo 9:17). Também poderiamraciocinar os homens: se se deixasse acumular o lixo, e os esgotos ficassemestagnados, e as pessoas ficassem privadas de ar renovado, não acredito queum Deus misericordioso as deixaria cair presas de uma febre mortal. O fato éque aqueles que negligenciam as leis da saúde são tomados pela doença, apesarda misericórdia de Deus. Igualmente verdade é que os que negligenciam as leisda saúde espiritual sofrerão para sempre a ''segunda morte".

É indizivelmente grave ver tantos abusando  desta perfeição divina.Continuam desprezando a autoridade de Deus, pisoteando Suas leis;continuam em pecado, e ainda se vangloriam apoiados na Sua misericórdia.Mas Deus não será injusto para Consigo mesmo. Deus mostra misericórdia para o penitente sincero, não porém para o impenitente (Lucas 13:3). Édiabólico continuar em pecado e ainda contar com a misericórdia de Deus para a proscrição do castigo. Equivale a dizer: "Façamos males, para que venhambens". Dos que falam assim, está escrito: "... A condenação desses é justa'

(Romanos 3:8). Com toda a certeza, essa presunção se verá frustrada; leia cuidadosamente Deuteronômio 29:18-20. Cristo é a propiciação espiritual, etodos quantos desprezarem e rejeitarem o Seu senhorio, perecerão "... nocaminho, quando em breve se inflamar a sua ira" (Salmo 2:12).

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O nosso pensamento final será sobre as misericórdias espirituais de Deuspara com o Seu povo. "... a tua misericórdia é grande até aos céus..." (Salmo57:10). As riquezas da misericórdia transcendem os nossos mais elevadospensamentos. "Pois quanto o céu está elevado acima da terra, assim é grande a sua misericórdia para com os que o temem" (Salmo 103:11). Ninguém podemedi-la. Os eleitos são designados "... vasos de misericórdia..." (Romanos 9:23).

Foi a misericórdia que os vivi-ficou quando estavam mortos em pecado (Efésios2:4-5). A misericórdia os salvou (Tito 3:5). Sua abundante misericórdia osregenerou para uma herança eterna (1 Pedro 1:3). E nos faltaria tempo para falar da misericórdia de Deus que preserva, sustenta, perdoa e supre os Seus.Para eles Deus é "... Pai das misericórdias..." (2 Coríntios 1:3).

Quando em elevação minha alma sonda as Tuas misericórdias, ó meu Deus,a visão me arrebata, e então me absorvo em encanto,em amor e em louvor.

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O AMOR DE DEUS

As Escrituras nos dizem três coisas a respeito da  natureza  de Deus.Primeira, "Deus é espírito" (João 4:24). No grego não há artigo indefinido. Dizer"Deus é um espírito" é sumamente repreensível, pois O coloca na mesma classificação de outros seres. Deus é "espírito" no sentido mais elevado. Como é"espírito", é incorpóreo, não tem substância visível. Tivesse Deus um corpotangível, não seria onipresente, estaria limitado a um lugar; sendo "espírito",enche os céus e a terra. Segunda, "Deus é luz" (1 João 1:5), o que é oposto àstrevas. Nas Escrituras as "trevas" representam o pecado, o mal, a morte; a "luz"representa a santidade, a bondade, a vida. "Deus é luz" significa que Ele é a soma  de todas as excelências. Terceira, "Deus é amor" (1 João 4:8). Não ésimplesmente que Deus ama, porém que ê  amor mesmo. O amor não émeramente um dos Seus atributos, mas sim Sua própria natureza,

Muitos hoje falam do amor de Deus, mas são completamente alheios aoDeus de amor. Comumente se considera o amor divino como uma espécie defraqueza amável, uma certa indulgência boazinha; fica reduzido a umsentimento enfermiço, modelado nas emoções humanas. Pois bem, a verdade éque nisto, como em tudo mais, os nossos pensamentos precisam serformulados e regulados por aquilo que é revelado nas Escrituras Sagradas. Quehá urgente necessidade disto transparece não só na ignorância que geralmente

prevalece, mas também no baixo nível de espiritualidade atual quelamentavelmente se evidencia entre os cristãos professos. Quão pouco amorgenuíno a Deus existe! Uma das principais razões disso é que os nossoscorações pouco se ocupam com o Seu maravilhoso amor por Seu povo. Quantomelhor conheçamos o Seu amor — sua natureza, sua plenitude, sua bem-aventurança — mais os nossos corações serão impelidos a amá-1O.

1. O amor de Deus é imune de influência alheia. Queremos dizer com issoque não há nada nos objetos do Seu amor que possa colocá-lo em ação, e nãohá- nada na criatura que possa atraí-lo ou impulsioná-lo. O amor que uma criatura tem por outra deve-se a algo existente nelas; mas o amor de Deus é

gratuito espontâneo e não causado por nada nem por ninguém. A única razãopela qual Deus ama alguém acha-se em Sua vontade soberana: "O Senhor nãotomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais doque a de todos os outros povos, pois vos éreis menos em número do que todosos povos: mas porque o Senhor vos amava" {Deuteronômio 7:7-8), Deus amou oSeu povo desde a eternidade e, portanto, a criatura nada tem que possa ser a causa daquilo que se acha em Deus desde a eternidade. Seu amor provém dElepróprio: "... segundo o seu próprio propósito..." (2 Timóteo 1:9).

"Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro" (1 João 4:19). Deusnão nos amou porque nós O amávamos, mas nos amou antes de nós termos

uma só partícula de amor por Ele. Se Deus nos tivesse amado em resposta aonosso amor, então o Seu amor não seria espontâneo; mas visto que Ele nosamou quando nós não O amávamos, é claro que o Seu amor não foiinfluenciado. Para que se honre a Deus, e se firme o coração do Seu Filho, é

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altamente importante que entendamos com absoluta clareza esta verdadepreciosa. O amor de Deus por mim e por todos e cada um dos que são "Seus"não foi movido nem motivado por coisa nenhuma em nós. Que havia em mimque atraiu o coração de Deus? Absolutamente nada. Ao contrário, porém, havia tudo para O repelir, tudo na medida para levá-lO a detestar-me — sendo eupecador, depravado, corrupto, sem "nenhum bem" em mim.

"O que existia em mim que merecesse estima ou desse algum prazer ao Criador?

Fosse assim mesmo, ó Pai, eu sempre cantaria por veres algo bom em mim, Senhor."

2. É eterno. Necessariamente, Deus é eterno, e Deus é amor; portanto,como Deus não teve princípio, Seu amor também não teve. Mesmo concedendoque esse conceito transcende o alcance das nossas frágeis mentes, contudo,quando não podemos compreender, podemos inclinar-nos em adoração. Como é

claro o testemunho de Jeremias 31:3: "... com amor eterno te amei, tambémcom amorável benignidade te atraí"! Que bem-aventurança saber que ograndioso e santo Deus amava o Seu povo antes do céu e a terra terem sidochamados à existência, que Ele pusera o Seu coração neles desde toda a eternidade! Esta é uma prova clara de que o Seu amor é espontâneo, pois Ele osamou eras sem fim, antes de sequer existirem!

A mesma verdade preciosa é exposta em Efésios 1:4-5: "Como tambémnos elegeu nele antes  da fundação do mundo, para que fôssemos santos eirrepreensíveis diante dele em caridade; e nos predestinou..." (ou, na versãoempregada pelo autor, "Havendo-nos predestinado em amor"). Que de louvores

isto deveria evocar de cada um dos Seus filhos! Que tranqüilidade para ocoração saber que, uma vez que o amor de Deus por mim não teve começo,certamente não terá fim! Se é certo que "de eternidade a eternidade" Ele é Deus,e é "amor", então é igualmente certo que "de eternidade a eternidade" Ele ama a Seu povo.

3. É soberano. Isso também é evidente em si mesmo. Deus é soberano,não deve obrigação a ninguém; Ele é Sua própria lei e age sempre de acordocom a Sua vontade dominadora. Assim, pois, se Deus é soberano e é amor,infere-se necessariamente que o Seu amor é soberano. Porque Deus é Deus, fazo que Lhe agrada; porque é amor, ama a quem Lhe apraz. Eis a Sua própria afirmação expressa: "... amei Jacó e aborreci Esaú" (Romanos 9:13). Em Jacónão havia mais razão do que em Esaú para ser objeto do amor divino. Ambostinham os mesmos pais e, gêmeos que eram, nasceram na mesma hora.Contudo, Deus amou um e aborreceu o outro. Por que? Porque assim Lheaprouve.

A soberania do amor de Deus infere-se necessariamente do fato de quenada do que há na criatura o influencia. Portanto, afirmar que a causa do Seuamor está em Deus é outro modo de dizer que Ele ama a quem Lhe apraz. Porum momento, suponha o oposto. Suponha que o amor de Deus fosse governado

por outra coisa que a Sua vontade, caso em que Ele amaria seguindo alguma norma e, amando por alguma norma, Ele estaria subordinado a uma lei doamor e, então, longe de ser livre, Deus seria governado por uma lei. "Em amornos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo,

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segundo" — o quê? Alguma virtude que previu neles? Não. O que, então? — "...segundo o beneplácito de sua vontade" (Efésios 1:4-5).

4. É infinito. Em Deus tudo é infinito. Sua  essência  enche os céus e a terra. Sua  sabedoria  não sofre nenhuma limitação, porquanto Ele conhecetodas as coisas, do passado, do presente e do futuro. Seu poder é ilimitado, poisnão há nada difícil demais para Ele. Assim, o Seu amor é sem limite. Há nele

uma profundidade que ninguém consegue sondar; há nele uma altitude queninguém consegue escalar; há nele uma largura e um comprimento quedesdenhosamente desafiam a medição feita por todo e qualquer padrãohumano. É declarado belamente em Efésios 2:4: "Mas Deus, que é riquíssimoem misericórdia, pelo seu muito  amor com que nos amou". A palavra "muito"aqui faz paralelo com a expressão "... Deus amou... de tal maneira..." (João3:16), Diz-nos que o amor de Deus é tão transcendental que não pode seravaliado.

"Nenhuma língua pode expressar plenamente a infinidade do amor deDeus, e nenhum intelecto pode compreendê-lo: "... excede todo o

entendimento..." (Efésios 5:19). As idéias mais amplas que nossa mente finita possa conceber acerca do amor divino, estão infinitamente abaixo da sua verdadeira natureza. O céu não se acha tão distante da terra como a bondadede Deus está além das mais elevadas concepções que somos capazes deformular dela. A bondade divina é um oceano que se avoluma e se torna maisalto do que todas as montanhas de oposição nos que são objetos dela. E uma  fonte da qual dimana todo o bem necessário aos que a ela estão ligados" (JohnBrine, 1743).

5. E imutável. Como em Deus "... não há mudança nem sombra devariação" (Tiago 1:17), assim o Seu amor não conhece mudança nem

diminuição. O verme Jacó dá-nos enfático exemplo disto: "Amei Jacó", declarouJeová, e, a despeito de toda a sua incredulidade e obstinação, Ele nunca deixoude amá-lo. João 13:1 oferece-nos outra bela ilustração. Precisamente naquelenoite um dos apóstolos diria "... mostra-nos o Pai. .."; outro O negaria soltandomaldições; todos se escandalizariam por causa dEle e O abandonariam.Todavia, "... como havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até ao fim". O amor divino não se rende às vicissitudes. O amor divino é "... fortecomo a morte ... as muitas águas não poderiam apagar este amor..." (Cantaresde Salomão 8:6-7). Nada nos pode separar dele: Romanos 8:35-39.

"Seu amor não se mede e não conhece fim,nada pode mudá-lo, nem seu curso.

Eternamente o mesmo, sem cessar dimana do manancial eterno."

6. É santo. O amor de Deus não é regulado por capricho, paixão ousentimento, mas por princípio. Exatamente como a Sua graça reina, não àssuas expensas, mas "pela justiça" (Romanos 5:21), assim o Seu amor nunca entra em conflito com a Sua santidade. Que "Deus é luz" (1 João 1:5) se

menciona antes de dizer-se que "Deus é amor" (1 João 4:8). O amor de Deusnão é mera fraqueza boazinha, nem brandura efeminada. As Escriturasdeclaram: "... o Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe porfilho" (Hebreus 12:6). Deus não tolerará o pecado, mesmo em Seu povo. O Seu

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amor é puro, e não se mistura com nenhum sentimentalismo piegas.7. É   pleno de graça. O amor e o favor de Deus são inseparáveis. Esta 

verdade é exposta claramente em Romanos 8:32-39. O que é esse amor, doqual,nada nos pode -separar, percebe-se facilmente pelo propósito e alcance docontexto imediato: é aquela boa vontade ou beneplácito e graça de Deus que Odeterminou a dar Seu Filho pelos pecadores. Esse amor foi o poder impulsivo

da encarnação de Cristo: "... Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seuFilho unigênito..." (João 3:16). Cristo morreu, não para fazer com que Deus nosamasse, mas porque Ele amava o Seu povo. O Calvário é a suprema demonstração do amor divino. Leitor cristão, sempre que você for tentado a duvidar do amor de Deus, volte ao Calvário.

Há aqui, pois, farta causa para confiança e paciência sob a aflição debaixoda mão de Deus. Cristo era amado pelo Pai, porém Ele não foi eximido depobreza, humilhação e perseguição. Cristo  teve fome e sede. Assim, quandoCristo permitiu que os homens cuspissem nEle e O golpeassem, isso não foiincompatível com o amor de Deus por Ele. Portanto, que nenhum cristão ques-

tione o amor de Deus quando passar por aflições e provações. Deus nãoenriqueceu a Cristo na terra com prosperidade temporal, pois Ele não tinha "...onde reclinar a cabeça" (Mateus 8:20). Mas Deus Lhe deu o Espírito semmedida {João 3:34). Aprenda o cristão, pois, que as bênçãos espirituais são osprincipais dons do amor divino. Que bênção saber que, ao passo que o mundonos odeia, Deus nos ama!

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A IRA DE DEUS

É triste ver tantos cristãos professos que parecem considerar a ira deDeus como uma coisa pela qual eles precisam pedir desculpas, ou, pelo menos,parece que gostariam que não existisse tal coisa. Conquanto alguns não fossemlonge o bastante para admitir abertamente que a consideram uma mancha nocaráter divino, contudo, estão longe de vê-la com bons olhos, não gostam depensar nisso e dificilmente a ouvem mencionada sem que surja em seuscorações um ressentimento contra essa idéia. Mesmo dentre os mais sóbrios emsua maneira de julgar, não poucos parecem imaginar que há na questão da ira de Deus uma severidade terrificante demais para propiciar um tema para consideração proveitosa. Outros dão abrigo ao erro de pensar que a ira de Deusnão é coerente com a Sua bondade, e assim procuram bani-la dos seuspensamentos.

Sim, muitos há que fogem de visualizar a ira de Deus, como se fossemintimados a ver alguma nódoa no caráter divino, ou algum defeito no governodivino. Mas, o que dizem as Escrituras? Quando a procuramos nelas, vemosque Deus não fez tentativa alguma para ocultar a realidade da Sua ira. Ele nãose envergonha de dar a conhecer que a vingança e a cólera Lhe pertencem. Eiso Seu desafio: "Vede agora que eu, eu o sou, e mais nenhum Deus comigo; eumato, e eu faço viver; eu firo, e eu saro; e ninguém há que escape da minha 

mão. Porque levantarei a minha mão aos céus, e direi: Eu vivo para sempre. Seeu afiar a minha espada reluzente, e travar do juízo a minha mão, farei tornar a vingança sobre os meus adversários, e recompensarei aos meus aborrecedores"(Deuteronômio 32:39-41). Um estudo na concordância mostrará que há  mais referências nas Escrituras à indignação, à cólera e à ira de Deus, do que ao Seuamor e ternura. Porque Deus é santo, Ele odeia todo pecado; e porque Ele odeia todo pecado, a Sua ira inflama-se contra o pecador Salmo 7:11.

Pois bem, a ira de Deus é uma perfeição divina tanto como a Sua fidelidade, o Seu poder ou a Sua misericórdia. Só pode ser assim, pois não há mácula alguma, nem o mais ligeiro defeito no caráter de Deus, porém, haveria,

se nEle não houvesse "ira"! A indiferença para com o pecado é uma nódoa moral, e aquele que não o odeia é um leproso moral. Como poderia Aquele que éa soma de todas as excelências olhar com igual satisfação para a virtude e ovício, para a sabedoria e a estultícia? Como poderia Aquele que é infinitamentesanto ficar indiferente ao pecado e negar-Se a manifestar a Sua "severidade"(Romanos 11:22) para com ele? Como poderia Aquele que só tem prazer no queé puro e nobre, deixar de detestar e de odiar o que é impuro e vil? A própria natureza de Deus faz do inferno uma necessidade tão real, um requisito tãoimperativo e eterno como o céu o é. Não somente não há imperfeição nenhuma em Deus, mas também não há nEle perfeição que seja menos perfeita do que

outra.A ira de Deus é a Sua eterna ojeriza por toda injustiça. É o desprazer e a 

indignação da divina eqüidade contra o mal. É a santidade de Deus posta emação contra o pecado. É a causa motora daquela sentença justa que Ele lavra 

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sobre os malfeitores. Deus está irado contra o pecado porque este é rebeliãocontra a Sua autoridade, um ultraje à Sua soberania inviolável. Os insurgentescontra o governo de Deus saberão um dia que Deus é o Senhor. Serão levados a sentir quão grandiosa é aquela Majestade que eles desprezaram, e como éterrível aquela ira de que foram ameaçados e a que não deram a mínima importância. Não que a ira de Deus seja uma retaliação maldosa e mal

intencionada, infligindo agravo só pelo prazer de infligi-lo, ou devolver a ofensa recebida. Não; embora seja verdade que Deus vindicará o domínio comoGovernador do universo, Ele não será revanchista.

Evidencia-se que a ira divina é uma das  perfeições de Deus, não somentepelas considerações acima apresentadas, mas também fica estabelecidoclaramente pelas declarações expressas da Sua Palavra. "Porque do céu semanifesta a ira de Deus..." (Romanos 1:18). "Manifestou-se quando foipronunciada a primeira sentença de morte, quando a terra foi amaldiçoada e ohomem foi expulso do paraíso terrestre; e depois, mediante castigos exemplarescomo o dilúvio e a destruição das cidades da planície com fogo do céu, mas,

especialmente pelo reinado da morte no mundo todo. Foi proclamada na maldição da lei para cada transgressão, e foi imposta na instituição dosacrifício. No capítulo 8 de Romanos, o apóstolo Paulo chama a atenção doscrentes para o fato de que a criação inteira ficou sujeita à vaidade, e geme e temdores de parto. A mesma criação que declara que existe um Deus, e publica a Sua glória, também proclama que Ele é o inimigo do pecado e o vingador doscrimes dos homens. Acima de tudo, porém, do céu se manifestou a ira de Deusquando o Filho de Deus veio a este mundo para revelar o caráter divino, equando essa ira foi demonstrada nos Seus sofrimentos é morte, de maneira mais terrível do que por todas as provas que Deus antes dera da Sua aversão

pelo pecado. Além disso, o castigo futuro e eterno dos ímpios agora é declaradoem termos mais solenes e explícitos do que antes. Sob a nova dispensação há duas revelações dadas do céu, uma da ira, a outra da graça" (Robert Haldane).

Mais: que a ira de Deus é uma perfeição divina está demonstradoclaramente pelo que lemos no Salmo 95:11: "Por isso jurei na minha ira quenão entrarão no meu repouso". Duas são as ocasiões em que Deus "jura":quando faz promessas (Gênesis 22:16), e quando faz ameaças (Deuteronômio1:34). Na primeira, jura com misericórdia dos Seus filhos; na segunda, jura para aterrorizar os ímpios. Um juramento é feito para confirmação: Hebreus6:16. Em Gênesis 22:16 disse Deus: "Por mim mesmo,   jurei", No Salmo 89:35Ele declara; "Uma vez jurei   por minha santidade". Enquanto que no Salmo95:11 Ele afirma: "Jurei na minha ira". Assim é que o grande Jeová pessoalmente recorre à Sua "ira" como a uma perfeição igual à Sua "santidade":tanto jura por uma como pela outra! Ainda: como em Cristo "... habita corporalmente toda a plenitude da divindade" (Colossenses 2:9), e como todasas perfeições divinas são notavelmente manifestadas por Ele (João 1:18), porisso lemos sobre "... a ira do Cordeiro" (Apocalipse 6:16).

A ira de Deus é uma perfeição do caráter divino sobre a qual precisamosmeditar com freqüência. Primeiro, para que os nossos corações fiquem

devidamente impressionados com a ojeriza de Deus pelo pecado, Estamossempre inclinados a uma consideração superficial do pecado, a encobrir a sua fealdade, a desculpá-lo com excusas várias, Mas, quanto mais estudarmos eponderarmos a aversão de Deus pelo pecado e a maneira terrível como se vinga 

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dele, mais probabilidade teremos de compreender quão horrível é o pecado.Segundo, para produzir em nossas almas um verdadeiro temor de Deus: "...retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente com reverência e piedade ("santo temor"); porque o nosso Deus é um fogo consumidor"(Hebreus 12:28-29). Não poderemos servi-1O "agradavelmente" sem a devida "reverência" ante a Sua tremenda Majestade e sem o devido "santo temor" de

Sua justa ira, e promoveremos melhor estas coisas trazendo freqüentemente à memória o fato de que "o nosso Deus é um fogo consumidor". Terceiro, para induzir nossas almas a fervoroso louvor a Deus por ter-nos livrado "... da ira futura" (1 Tessalonicenses 1:10).

A nossa prontidão ou a nossa relutância em meditar na ira de Deus é umteste seguro de até que ponto os nossos corações reagem à Sua influência. Senão nos regozijamos verdadeiramente em Deus, pelo que Ele é em Si mesmo, epor todas as perfeições que nEle há eternamente, como poderá permanecer emnós o amor de Deus? Cada um de nós precisa vigiar o mais possível em oraçãocontra o perigo de criar em nossa mente uma imagem de Deus segundo o

modelo das nossas inclinações pecaminosas. Desde há muito o Senhorlamentou: "...pensavas que (eu) era como tu" (Salmo 50:21). Se não nosalegramos "...em memória da sua santidade" (Salmo 97:12), se não nosalegramos por saber que num dia que logo vem, Deus fará uma demonstraçãosumamente gloriosa da Sua  ira, tomando vingança em todos os que agora seopõem a Ele, é prova positiva de que os nossos corações não  estão sujeitos a Ele, que ainda permanecemos em nossos pecados, rumo às chamas eternas.

"Jubilai, ó nações (gentios), com o seu povo, porque vingará o sangue dosseus servos, e sobre os seus adversários fará tornar a vingança..."(Deuteronômio 32:43). E ainda lemos: "E, depois destas coisas, ouvi no céu

como "que uma grande voz de uma grande multidão, que dizia: Aleluia;Salvação, e glória, e honra, e poder pertencem ao Senhor nosso Deus; Porque verdadeiros e justos são os seus juízos, pois julgou a grande prostituta, quehavia corrompido a terra com a sua prostituição, e das mãos dela vingou osangue dos seus servos. E outra vez disseram: Aleluia..." (Apocalipse 19:1 -3).Grande será o regozijo dos santos naquele dia em que o Senhor irá vindicar a Sua majestade, exercer o Seu domínio formidável, magnificar a Sua justiça, ederribar os orgulhosos rebeldes que ousaram desafiá-lO.

"Se tu, Senhor, observares (imputares) as iniqüidades, Senhor, quemsubsistirá?" (Salmo 130:3). Cada um de nós pode muito bem fazer esta pergunta, pois está escrito que "...os ímpios não subsistirão no juízo..." (Salmo1:5). Quão dolorosamente a alma de Cristo padeceu ao pensar na ação de Deusobservando as iniqüidades do Seu povo quando estas pesaram sobre

Ele! Ele "... começou a ter pavor, e a angustiar-se" (Marcos 14:33). Sua agonia terrível, Seu suor de sangue, Seu grande clamor e súplicas (Hebreus5:7), Suas reiteradas orações, "Se é possível, passe de mim este cálice", Seuúltimo e tremendo brado, "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" —tudo manifesta que pavorosas apreensões Ele teve quanto ao que era para Deus"observar iniqüidades1'. Bem que nós, pobres pecadores, podemos clamar:

Senhor, quem subsistirá, se o próprio Filho de Deus tremeu tanto sob o pesoda Tua ira? Se tu, meu leitor, ainda não correste em busca do refúgio emCristo, o único Salvador, "... que farás na enchente do Jordão?" (Jeremias 12:5)."Quando considero como a bondade de Deus sofre abusos da maior parte da 

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humanidade, não posso senão apoiar quem disse; "O maior milagre do mundo éa paciência e generosidade de Deus para com o mundo ingrato. Se um príncipetem inimigos metidos numa de suas cidades, não lhes envia provisões, masmantém sitiado o local e faz o que pode para vencê-los pela fome. Mas o grandeDeus, que poderia levar todos os Seus inimigos à destruição num piscar deolhos, tolera-os e se empenha diariamente para sustentá-los. Aquele que faz o

bem aos maus e ingratos, pode muito bem ordenar-nos que bendigamos os quenos maldizem. Não penseis, porém, que escapareis assim, pecadores; o moinhode Deus mói devagar, mas mói fino; quanto mais admirável é agora a Sua paciência e generosidade, mais terrível e insuportável será a fúria resultantedos abusos feitos à Sua bondade. Nada é mais brando do que o mar; contudo,quando se agita e forma temporal, nada se enfurece mais. Nada é tão suavecomo a paciência e bondade de Deus, e nada tão terrível como a Sua ira quandose inflama" (William Gurnall, 1660). "Fuja", pois, meu leitor, fuja para Cristo;fuja "...da ira futura" (Mateus 3:7), antes que seja tarde demais. Nós lherogamos com todo o empenho, não pense que esta mensagem tem em vista 

outra pessoa. É   para você 1

. Não fique satisfeito em  pensar que você já fugiupara Cristo. Obtenha certeza disso! Rogue ao Senhor que sonde o teu coração ete revele o que tu és.

Uma palavra aos pregadores. Irmãos, em nosso ministério temos pregadosobre este solene assunto tanto como devíamos? Os profetas do VelhoTestamento muitas vezes diziam aos seus ouvintes que as suas vidas ímpiasprovocavam o Santo de Israel, e que estavam entesourando para si mesmos irá para o dia da ira. E as condições do mundo hoje não são melhores do que eram

então! Nada se presta mais para despertar os indiferentes e fazer com que oscrentes carnais sondem os seus corações, do que alongar-nos sobre o fato deque Deus "...se ira todos os dias" com os ímpios (Salmo 7:11). O precursor deCristo exortava os seus ouvintes a fugirem "...da ira futura" (Mateus 3:7). O Sal-vador ordenava a quantos O ouviam: "Temei aquele que, depois de matar, tempoder para lançar no inferno, sim, vos digo, a esse temei" (Lucas 12:5). Oapóstolo Paulo dizia: "... sabendo o temor que se deve ao Senhor, persuadimosos homens..." (2 Coríntios 5: li). A fidelidade exige que falemos tão claramentedo inferno como do céu.

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CONTEMPLANDO A DEUS

Nos capítulos anteriores passamos em revista algumas das maravilhosase belas perfeições do caráter divino. Dessa débil e defeituosa contemplação dosSeus atributos, deve ter ficado evidente para nós que Deus é, primeiramente,um Ser incompreensível, e, encantados e absortos ante a Sua grandeza infinita,vemo-nos constrangidos a adotar as palavras de Sofar: "Porventura alcançarásos caminhos de Deus ou chegarás à perfeição do Todo-poderoso? Como asalturas dos céus é a sua sabedoria; que poderás tu fazer? Mais profunda é ela do que o inferno; que poderás tu saber? Mais comprida é a sua medida do que a terra, e mais larga do que o mar" (Jó 11:7-9). Quando volvemos os nossos

pensamentos para a eternidade de Deus,^ Sua imaterialidade, Sua onipresença, Sua onipotência, vemos que todas elas transcendem nossasmentes.

Mas a incompreensibilidade da natureza divina não é razão para desistirmos da pesquisa reverente e da luta em oração para apreender o que Elede Si mesmo revelou por Sua graça em Sua Palavra. Dado que somos incapazesde adquirir conhecimento perfeito, seria insensato dizer que, portanto, nãofaremos nenhum esforço para conseguir qualquer proporção dEle. Com acertose tem dito que "nada alargará tanto o intelecto, nada engrandecerá tanto a alma do homem, como uma investigação devota, zelosa e continuada do grande

tema da Deidade. O mais excelente estudo para a expansão da alma é a ciência de Cristo, e Este crucificado, e o conhecimento do Ser divino na Trindadegloriosa" (C. H. Spurgeon). Para citar um pouco mais o príncipe dos pregadores:

"O estudo próprio do cristão é o da Deidade. A mais alta ciência, a maiselevada especulação, a mais vigorosa filosofia, com o poder de empolgar a atenção de um filho de Deus, é o nome, a natureza, a pessoa, os feitos e a existência do grande Deus, a Quem ele chama seu Pai. Na contemplação da Deidade há algo capaz de comunicar sumo progresso à mente. É um assuntotão vasto que todos os nossos pensamentos se perdem em sua imensidade; tãoprofundo que o nosso orgulho se submerge em sua infinidade. Outros assuntospodemos compreender e tentar assimilar; neles sentimos uma espécie desatisfação própria, e seguimos nosso caminho pensando: "Vejam como sousábio!11 Mas quando chegamos a este assunto magistral, vendo que a nossa sonda não consegue sondar a sua profundidade e que o nosso olho de águia não consegue ver a sua altura, vamos embora pensando: "Eu sou de ontemapenas, e nada sei" (Sermão sobre Malaquias 3:6).

Sim, a incompreensibilidade da natureza divina deveria ensinar-noshumildade, cautela e reverência. Após todas as nossas pesquisas e meditações,temos que dizer com Jó: "Eis que isto são apenas as orlas dos seus caminhos; e

quão pouco é o que temos ouvido dele!..." (Jó 26:14). Quando Moisés implorouao Senhor por uma visão da Sua glória, Ele respondeu-lhe: ". . . apregoarei onome do Senhor diante de ti..." (Êxodo 33:19), e, como já se disse, "o nome é a coleção dos Seus atributos". Acertadamente o puritano John Howe declarou:

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"Portanto, a noção que podemos formar da Sua glória é apenas como a quepodemos ter de uma obra volumosa comparada com uma breve sinopse, ou deuma espaçosa região comparada com uma pequena vista panorâmica. Ele nosdá aqui um fiel relato de Si mesmo, mas não completo; o bastante para garantir — graças à orientação que por ele nos vem — que a nossa compreensão fiquelivre de erro, mas não de ignorância. Podemos aplicar as nossas mentes à 

contemplação das diversas perfeições pelas quais o Deus bendito nos revela oSeu ser, e em nossos pensamentos podemos atribuí-las todas a Ele, apesar desó termos ainda fraca e defeituosa concepção de cada uma delas. Todavia, na medida em que a nossa compreensão corresponda à revelação que Ele nos dá das Suas várias excelências, temos uma apropriada visão da Sua glória".

Como é realmente grande a diferença entre o conhecimento de Deus queos Seus santos têm nesta vida e aquele que eles terão no céu! Contudo, como oprimeiro não deve ser menosprezado por ser imperfeito, o último não deve serengrandecido acima da realidade. Certo, as Escrituras declaram que entãoveremos "face a face" e conheceremos como somos conhecidos (1 Coríntios

13:12), mas inferir disto que conheceremos então a Deus tão completamentecomo Ele nos conhece é deixar-nos iludir pelos simples sons das palavras e nãoatentar para a restrição delas, restrição que o assunto exige necessariamente.Há uma imensa diferença entre serem glorificados os santos e serem elesdivinizados. No seu estado glorificado, os cristãos continuarão sendo criaturasfinitas, e, portanto, nunca serão capazes de compreender plenamente o Deusinfinito.

"Os santos no céu verão a Deus com os olhos da mente, pois Ele sempreserá invisível aos olhos do corpo; e O verão mais claramente do que poderiamvendo-O pela razão e pela fé, e mais extensamente que tudo que as Suas obras

e dispensações dEle revelaram até então; mas as suas mentes não serãoaumentadas a ponto de poderem contemplar de uma vez, ou minuciosamente, a excelência completa da Sua natureza. Para compreenderem a perfeição infinita,eles próprios teriam que se tornar infinitos.

Mesmo no céu, o seu conhecimento será parcial, mas ao mesmo tempo a sua felicidade será completa, porque o seu conhecimento será perfeito nestesentido: será adequado à capacidade do sujeito, sem todavia exaurir a plenitudedo objeto. Cremos que será progressivo e que, à medida que se lhes amplie a visão, sua bem-aventurança aumentará; nunca, porém, chegará a umlimite além do qual não haja mais nada para ser descoberto; e depois de seterem passado eras e mais eras, Ele continuará sendo o Deus incompreensível"(John Dick, 1840).

Segundo, um exame das perfeições de Deus mostrará que Ele é um Serabsolutamente suficiente. É-o em Si e para Si mesmo. Como o primeiro dosseres, Ele não precisa receber nada de outrem, nem pode ser limitado pelopoder de ninguém. Sendo infinito, possui todas as perfeições possíveis. Quandoo Deus triúno existia totalmente só, Ele era tudo para Si próprio. Seuentendimento, Seu amor, Suas energias encontravam nEle mesmo um objetoadequado. Se tivesse necessidade de alguma coisa externa, não seria 

independente e, portanto, não seria Deus. Ele criou todas as coisas, e isso "para ele" (Colossenses 1:16); todavia, não para preencher alguma lacuna, mas para poder comunicar vida e felicidade a anjos e homens e permitir-lhes a visão da Sua glória. Ê certo que Ele exige a lealdade e os serviços de Suas criaturas

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dotadas de inteligência, mas não extrai benefício algum das suas funções; toda a vantagem redunda em favor delas mesmas: Jó 22:2-3. Ele faz uso de meios einstrumentos para realizar os Seus fins; não, porém, por deficiência de poder,mas muitas vezes para demonstrar mais extraordinariamente o Seu poder atra-vés da fragilidade dos instrumentos.

A absoluta suficiência de Deus faz dEle o objeto supremo, que sempre se

há de buscar. A verdadeira felicidade consiste unicamente em fruir a Deus. Seufavor é vida, e Sua amorável bondade é mais que a vida. "A minha porção é oSenhor, diz a minha alma; portanto esperarei nele" (Lamentações 3:24). Asnossas percepções do Seu amor, da Sua graça, da Sua glória, são os principaisobjetos do desejo dos santos e os mananciais da sua mais elevada satisfação."Muitos dizem: quem nos mostrará o bem? Senhor, exalta sobre nós a luz doteu rosto. Puseste alegria. no meu coração, mais do que no tempo em que semultiplicaram o seu trigo e o seu vinho" (Salmo 4:6-7). Sim, o cristão, quandoem são juízo, pode dizer: "Porquanto, ainda que a figueira não floresça, nemhaja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam

mantimento; as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja vacas: todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação"(Habacuque 3:17-18).

Terceiro, ao se fazer um exame das perfeições de Deus, vê-se que Ele é oSoberano Supremo do universo. Tem-se dito com acerto que, "Nenhum domínioé tão absoluto como o que se funda na criação. Aquele que bem podia não terfeito coisa alguma, tinha o direito de fazer todas as coisas de acordo com o Seubeneplácito. No exercício do Seu poder indomável, Ele fez algumas partes da criação simples matéria inanimada, de textura mais grosseira ou mais refinada,e distinguida por qualidades diferentes, mas sempre matéria inerte e

inconsciente. Ele deu organização a outras partes, e as fez suscetíveis decrescimento e expansão, mas ainda destituídas de vida no sentido próprio dotermo. A outras não só deu organização, mas também vida consciente, osórgãos dos sentidos, e energia para auto-motivação. A estas Ele acrescentou, nohomem, o dom da razão e um espírito imortal, pelos quais o homem se junta a uma ordem mais elevada de seres localizados nas regiões superiores. Sobre omundo que criou, Ele empunha o cetro da onipotência. "... eu bendisse oAltíssimo, e louvei, e glorifiquei ao que vive para sempre, cujo domínio é umdomínio sempiterno, e cujo reino é de geração em geração. E todos osmoradores da terra são reputados em nada; e segundo a sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores da terra: não há quem possa estorvar a sua mão e lhe diga: Que fazes? — Daniel 4:34-35" (John Dick).

Uma criatura, como tal considerada, não tem direitos. Nada pode exigir doseu Criador; e, seja qual for a maneira como é tratada, não lhe competequeixar-se. Contudo, quando pensamos no absoluto domínio de Deus sobretodas as coisas e sobre todos os seres, não devemos perder de vista as Suasperfeições morais. Deus é justo e bom, e sempre faz o que é reto. Não obstante,Ele exerce o Seu domínio de acordo com o beneplácito da Sua vontade soberana e justa. Atribui a cada criatura o lugar que aos Seus olhos parece bom. Ordena 

as diferentes circunstâncias relacionadas com cada criatura de acordo com osSeus conselhos.Modela cada vaso segundo a Sua determinação independente de toda e

qualquer influência. Tem misericórdia de quem Ele quer ter misericórdia, e

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endurece a quem Lhe apraz. Onde quer que estejamos, Seus olhos estão sobrenós. Quem quer que sejamos, nossa vida e tudo mais está à disposição dEle.Para o cristão, Ele é um Pai amoroso e gentil; para o pecador rebelde, Elecontinuará sendo fogo consumidor. "Ora ao Rei dos séculos, imortal, invisível,ao único Deus seja honra e glória para todo o sempre. Amém" (1 Timóteo 1:17).

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OS SETE

BRADOS DO

SALVADOR

SOBRE A CRUZ 

ARTHUR W PINK

MONERGISMO.COM

"Ao Senhor Pertence a Salvação" (Jonas 2:9)

www.monergismo.comTraduzido do original em inglês

The Seven Sayings of the Saviour on the Cross (1919)

Tradução: Vanderson Moura da Silva

Biografia de Arthur W. Pink: Vanderson Moura da Silva Edição, Revisão e Projeto Gráfico:

Felipe Sabino de Araújo Neto Primeira edição em português: 2006

As citações escriturísticas utilizadas neste livro são da Edição Revista e Corrigida de Almeida,da Imprensa Bíblica do Brasil, exceto quando uma outra versão é indicada.

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SUMÁRIO

NOTA DE AGRADECIMENTO ... .4INTRODUÇÃO... .51. A PALAVRA DE PERDÃO ... .82. A PALAVRA DE SALVAÇÃO ... ..18

3. A PALAVRA DE AFEIÇÃO... .324. A PALAVRA DE ANGÚSTIA ... .425. A PALAVRA DE SOFRIMENTO ... ..567. A PALAVRA DE CONTENTAMENTO ... ...78UMA BREVE BIOGRAFIA ... ...87

NOTA DE AGRADECIMENTO

A presente obra, disponível agora no portal Monergismo.com, é o terceiro fruto do "Projetode Tradução", lançado no ano passado. Diferentemente dos outros, traduzidos voluntariamente,esse livro foi traduzido com a generosa doação de um pastor brasileiro que mora em Portugal.Esperamos que a sua iniciativa em ajudar na divulgação da Palavra de Deus incentive a muitosoutros. Caso queira fazer uma doação ou colaborar como um tradutor voluntário, por favor,entre em contato pelo seguinte e-mail: [email protected].

Aproveitamos esta oportunidade para reiterar o convite a todos os irmãos que se sentemespecialmente capacitados a trabalhar com literatura cristã sadia a fim de que se unam a esteprojeto para a disponibilização gratuita em nossa língua, tão carente da sã teologia e da maisedificante doutrina, de outras obras de extremo valor.

Soli Deo gloria!

Felipe Sabino de Araújo Neto Cuiabá-MT, 21 de maio de 2006

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INTRODUÇÃO

A MORTE DO SENHOR JESUS CRISTO é um assunto de interesse inexaurível para todos osque estudam em oração a escritura da verdade. Tal é assim não somente porque tudo do crente— tanto no tempo como na eternidade — dela dependa, mas também devido à suasingularidade transcendente. Quatro palavras parecem resumir as características salientes dessemistério dos mistérios: a morte de Cristo foi natural, não-natural, preter-natural e sobrenatural.Uns poucos comentários parecem ser necessários à guisa de definição e amplificação.

Primeiro: a morte de Cristo foi natural. Com isso queremos dizer que ela foi uma morte real.É porque estamos tão familiarizados com o fato dela que a declaração acima parece simples,corriqueira; todavia, o que abordamos aqui é um dos principais elementos de admiração para amente espiritual. Aquele que foi "tomado, e pelas mãos de injustos" crucificado e assassinadonão era outro senão o "Companheiro" de Jeová. O sangue que foi derramado sobre o madeiromaldito era divino — "A igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue" (Atos 20:28).Como diz o apóstolo: "Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo" (2 Coríntios5:19).

Mas como o "Companheiro" de Jeová poderia sofrer? Como o eterno poderia morrer? Ah,aquele que no princípio era o Verbo, que estava com Deus, e que era Deus, "se fez carne".Aquele que era em forma de Deus tomou sobre si a forma de um servo e foi feito semelhanteaos homens; "e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até àmorte e morte de cruz" (Fp 2.8). Dessa forma, tendo se encarnado, o Senhor da glória foi capazde sofrer a morte, e assim foi que ele "provou" a própria morte. Em suas palavras, "Pai, nastuas mãos entrego o meu espírito", vemos quão natural foi sua morte, e a realidade dela setorna ainda mais aparente quando ele foi posto na sepultura, onde permaneceu por três dias.

Segundo: a morte de Cristo foi não-natural. Por isso queremos dizer que ela foi anormal.Acima dissemos que, ao se encarnar, o Filho de Deus tornou-se capaz de sofrer a morte,todavia, não deve ser inferido daí que a morte tinha, portanto, um direito a reclamar sobre ele;longe disso, o contrário mesmo era a verdade. A morte é o salário do pecado , e ele não tinhanenhum. Antes de seu nascimento foi dito a Maria: "[que] o ente santo que há de nascer seráchamado Filho de Deus" (Lucas 1:35, ARA). Não somente o Senhor Jesus entrou neste mundo

sem contrair a contaminação da natureza humana caída, mas ele "não cometeu pecado"(1Pedro 2:22), "não [tinha] pecado" (1João 3:5) e "não conheceu pecado" (2Coríntios 5:21).Em sua pessoa e em sua conduta ele foi o Santo de Deus "imaculado e incontaminado" (1Pedro1:19). Como tal, a morte não tinha nenhum direito a reclamar sobre ele. Até mesmo Pilatosteve que reconhecer que não pôde encontrar "nenhuma culpa" nele. Por conseguinte, dizemosque o Santo de Deus morrer foi não-natural.

Terceiro: a morte de Cristo foi preternatural. Por meio disso queremos dizer que ela foimarcada e determinada para ele de antemão. Ele era o Cordeiro morto antes dafundação do mundo (Apocalipse 13.8). Antes que Adão fosse criado, a Queda foiantecipada. Antes de o pecado entrar no mundo, a salvação dele havia sido planejadapor Deus. Nos eternos conselhos da Deidade, foi ordenado de antemão que haveria um

Salvador para os pecadores, um Salvador que sofreria, o justo pelos injustos , umSalvador que morreria para que pudéssemos viver. E "porque não havia nenhum outrosuficientemente bom para pagar o preço do pecado", o Unigênito do Pai se ofereceucomo o resgate.

O caráter preternatural da morte de Cristo leva o bom termo de o "sustentáculo daCruz". Foi em vista da aproximação dessa morte que Deus "justamente ignorou ospecados anteriormente cometidos" (Rm 3.25). Não tivesse sido Cristo, no conceito deDeus, o Cordeiro morto desde antes da fundação do mundo, toda pessoa pecadora nostempos do Antigo Testamento teria sido lançada no abismo no momento em que elapecasse!

Quarto: a morte de Cristo foi sobrenatural. Por isso queremos dizer que ela foi diferente dequalquer outra morte. Em todas as coisas ele tem a preeminência. Seu nascimento foi diferentede todos os outros nascimentos. Sua vida foi diferente de todas as outras vidas. E sua morte foidiferente de todas as outras mortes. Isso foi claramente anunciado em sua própria declaraçãosobre o assunto: "Por isso, o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la.

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Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar e poder paratornar a tomá-la. Esse mandamento recebi de meu Pai" (João 10:17, 18). Um estudo cuidadosodas narrativas evangélicas que descrevem sua morte fornece uma prova sétupla e a verificaçãode sua asseveração.

(1) Que nosso Senhor "deu a sua vida", que ele não estava impotente nas mãos de seusinimigos, revela-se claramente em João 18, onde temos o registro de sua prisão. Um bando deoficiais da parte dos principais sacerdotes e dos fariseus, guiados por Judas, o procuraram noGetsêmani. Adiantando-se para encontrá-los, o Senhor Jesus pergunta: "A quem buscais?". A

resposta foi: "Jesus de Nazaré"; e então nosso Senhor expressou o inefável título de deidade,aquele pelo qual Jeová se revelou nos tempos antigos a Moisés na sarça ardente: "Eu Sou". Oefeito foi impressionante. Esses oficiais ficaram apavorados. Eles estavam na presença dadeidade encarnada, e foram sobrepujados por uma breve consciência da majestade divina. Quãoclaro é então que, se assim o tivesse agradado, nosso bendito Salvador poderia ter se afastadocalmamente, deixando aqueles que vieram lhe prender prostrados no chão! Ao invés disso, elese entregou nas mãos deles e foi levado (não compelido) como um cordeiro ao matadouro.

(2) Voltemo-nos agora para Mateus 27:46 — o versículo mais solene em toda a Bíblia — "E,perto da hora nona, exclamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactâni, isto é, Deusmeu, Deus meu, por que me desamparaste?". As palavras que pedimos ao leitor que observecuidadosamente estão colocadas aqui em itálico. Por que é que o Espírito Santo nos conta que oSalvador pronunciou esse terrível clamor "em alta voz"? Com muita certeza que há uma razãopara tal. Isso se torna ainda mais aparente quando notamos que ele as repetiu quatro versículosabaixo no mesmo capítulo

— "E Jesus, clamando outra vez com grande voz, entregou o espírito" (Mateus 27.50) . O queentão essas palavras indicam? Não corroboram elas o que foi dito nos parágrafos acima? Nãonos dizem elas que o Salvador não estava exausto pelo que ele tinha passado? Não nos dão elasa entender que suas forças não o tinham deixado? Que ele ainda era senhor de si mesmo, queao invés de ser conquistado pela morte, ele estava apenas se entregando para ela? Elas não nosmostram que Deus tinha posto "ajuda sobre um poderoso" (Salmos 89.19, Tradução do NovoMundo)?

(3) Podemos chamar a atenção para a sua próxima expressão sobre a Cruz — "Tenho

sede". Essa palavra, à luz do seu contexto, fornece uma evidência maravilhosa doautocontrole completo do nosso Senhor. O versículo inteiro diz o seguinte: "Depois,sabendo Jesus que já todas as coisas estavam terminadas, para que a Escritura secumprisse, disse: Tenho sede" (João 19.28). Desde os tempos antigos tinha sido preditoque eles deveriam dar vinagre misturado com fel para o Salvador beber. E para que essaprofecia pudesse ser cumprida, ele exclamou: "Tenho sede". Como isso evidencia o fatode que ele estava em plena posse de suas faculdades mentais, que sua mente estavadesanuviada, que seus terríveis sofrimentos não a tinham transtornado nem perturbado!Enquanto permanecia pendurado na cruz, no final da hora sexta, sua mente reviveu oescopo inteiro da palavra profética, e verificou cada uma daquelas predições que faziamalusão à sua paixão. Excetuando as profecias que seriam cumpridas após sua morte, sórestava uma ainda não cumprida, a saber: "Deram-me fel por mantimento, e na minha

sede me deram a beber vinagre" (Salmo 69:21), e isso não foi negligenciado pelobendito sofredor. "Sabendo Jesus que já todas as coisas estavam terminadas, para que aEscritura (não ‘Escrituras’, sendo a referência ao Salmo 69.21) se cumprisse, disse:Tenho sede". Novamente, dizemos, que prova é fornecida aqui de que ele entregou suavida de si mesmo!

(4) A próxima verificação que o Espírito Santo fornece das palavras do nosso Senhorem João 10.18 é encontrada em João 19.30: "E, quando Jesus tomou o vinagre, disse:Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito". O que se pretende queaprendamos dessas palavras? O que é que se quer dizer aqui através desse ato doSalvador? Seguramente, a resposta não está longe. A implicação é clara. Antes disso acabeça do nosso Senhor tinha estado erigida. Não era um sofredor impotente que pendia

ali desmaiado. Tivesse esse sido o caso, sua cabeça teria se recostado sobre o peito, eseria impossível para ele "arqueá-la". E observe atentamente o verbo usado aqui: não foisua cabeça que "caiu", mas ele, conscientemente, calmamente, reverentemente, inclinousua cabeça. Quão sublime foi sua atitude mesmo sobre o madeiro! Que composturaesplêndida ele evidenciou. Não foi sua majestosa atitude sobre a cruz que, entre outras

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coisas, fez com que o centurião clamasse: "Verdadeiramente, este era o Filho de Deus"(Mateus 27.54)?

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1. A PALAVRA DE PERDÃO"E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem"

Lucas 23:34

O HOMEM HAVIA FEITO O SEU PIOR. Aquele por quem o mundo foi feito veio ao mundo, maso mundo não o conheceu. O Senhor da glória tinha tabernaculado entre os homens, mas não foidesejado. Os olhos que o pecado tinha cegado não viram nele nenhuma beleza alguma pela qual

ele pudesse ser desejado . Em seu nascimento não havia nenhum quarto na hospedaria, o queprenunciava o tratamento que receberia das mãos dos homens. Pouco tempo após seunascimento, Herodes procurou matá-lo, e isso sugeria a hostilidade que sua pessoa evocava epredizia a cruz como o clímax da inimizade do homem. Repetidas vezes seus inimigos tentaramsua destruição. E agora os vis desejos deles fora-lhes concedidos. O Filho de Deus tinha serendido nas mãos deles. Um arremedo de julgamento havia acontecido e, embora seus juízesnão tenham encontrado nenhuma falta nele, todavia, eles se rederam ao clamor insistentedaqueles que o odiavam à medida que eles repetidamente clamavam: "Crucifica-o".

Uma ação bárbara tinha sido feita. Nenhuma morte ordinária satisfaria seus inimigosimplacáveis. Foi decidida uma morte de sofrimento e vergonha intensas. Uma cruz tinha sidoassegurada: o Salvador seria pregado nela. E ali ele foi pendurado — em silêncio. Mas nesseinstante seus lábios pálidos são vistos se mexendo — ele está clamando por piedade? Não. Oque então? Ele está pronunciado maldição sobre aqueles que estão lhe crucificando? Não. Eleestá orando, orando pelos seus inimigos — "E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem oque fazem" (Lucas 23.34).

Essa primeira das sete palavras na cruz do nosso Senhor o apresenta em atitude de oração.Quão significante! Quão instrutivo! Seu ministério público tinha sido aberto com oração (Lucas3.21), e aqui vemos ele sendo fechado com oração. Certamente ele nos deixou um exemplo!Não mais aquelas mãos ministrariam ao doente, pois estavam pregadas no madeiro cruel; nãomais aqueles pés poderiam levá-lo nas tarefas de misericórdia, pois estavam presas no madeirocruel; não mais ele poderia se ocupar na instrução dos apóstolos, pois eles tinham-no esquecidoe fugido. Como então ele se ocupou? No ministério da oração! Que lição para nós.

Talvez essas linhas possam ser lidas por alguém que, por razão da idade e doença, não émais capaz de trabalhar ativamente na vinha do Senhor. Possivelmente nos dias de outroravocê era um professor, um pregador, um professor de escola dominical, um distribuidor depanfletos: mas agora você está de cama. Sim, mas você ainda está aqui na terra! Quem sabeDeus não está deixando você aqui mais uns poucos dias para te engajar no ministério da oração— e talvez realizar mais através disso que por todo seu ministério passado ativo. Se você fortentado a depreciar tal ministério, lembre-se do seu Salvador. Ele orou, orou por outros, oroupor pecadores, até mesmo em suas últimas horas.

Ao orar por seus inimigos, Cristo não somente colocou diante de nós um exemplo perfeito decomo devemos tratar aqueles que nos prejudicam e nos odeiam, mas ele também nos ensinou anunca considerar algo como além do alcance da oração. Se Cristo orou por seus assassinos,

então certamente temos encorajamento para orar agora pelo maior de todos os pecadores!Leitor cristão, nunca perca a esperança. Parece para você um desperdício de tempo continuarorando por aquele homem, por aquela mulher, por aquele seu filho obstinado? O caso delesparece se tornar mais sem esperança a cada dia? Parece como se eles estivem além do alcanceda misericórdia divina? Talvez alguém por quem você tem orado por tanto tempo foi enlaçadopor uma das seitas satânicas de hoje, ou ele pode ser agora um infiel declarado e desbragado;em resumo, um inimigo aberto de Cristo. Lembre-se então da cruz. Cristo orou por seusinimigos. Aprenda então a não olhar para nada como estando além do alcance da oração.

Um outro pensamento concernente a essa oração de Cristo. Devemos mostrar aqui aeficácia da oração. Essa intercessão de Cristo na cruz por seus inimigos recebeu umaresposta marcada e definida. A resposta é vista na conversão das três mil amas no dia de

Pentecoste. Eu baseio essa conclusão em Atos 3.17, onde o apostolo Pedro diz: "Eagora, irmãos, eu sei que o fizestes por ignorância, como também os vossos príncipes".Deve ser notado que Pedro usa a palavra "ignorância", que corresponde ao "não sabemo que fazem" do nosso Senhor. Eis aí a explicação divina dos 3.000 conversos com umsimples sermão. Não foi a eloqüência de Pedro a causa, mas a oração do Senhor. E,

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leitor cristão, o mesmo é verdadeiro para nós. Cristo orou por você e por mim antes decrermos nele. Volte-se para João 17.20 para conferir. "Eu não rogo somente por estes(os apóstolos), mas também por aqueles que, pela sua palavra, hão de crer em mim"(João 17.20). Uma vez mais beneficiemo-nos do exemplo perfeito. Façamos intercessãotambém pelos inimigos de Deus e, se orarmos com fé, também será eficaz para asalvação dos pecadores perdidos.

Para ir diretamente ao nosso texto agora:

"E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem".1. Aqui vemos o cumprimento da palavra profética.

Quanto Deus fez conhecido de antemão do que deveria suceder naquele dia dos dias! Queretrato completo o Espírito Santo fornece da Paixão do nosso Senhor com todas ascircunstâncias que a acompanharam! Entre outras coisas, foi predito que o Salvador deveria"interceder pelos transgressores" (Isaías 53:12, Tradução do Novo Mundo). Isso não temreferência com o ministério presente de Cristo à direita de Deus. É verdade que ele "podetambém salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para intercederpor eles" (Hebreus 7.25), mas isso fala do que ele está fazendo agora por aqueles que crêemnele, enquanto Isaías 53.12 faz referência ao seu ato gracioso no momento da sua crucificação.Observe que sua intercessão pelos transgressores está conectada com "e foi contado com ostransgressores; mas ele levou sobre si o pecado de muitos e fez intercessão pelostransgressores".

Que Cristo deveria fazer intercessão pelos seus inimigos era um dos itens da maravilhosaprofecia encontrada em Isaías 53. Esse capítulo nos diz pelo menos dez coisas sobre ahumilhação e o sofrimento do Redentor. Lá, é declarado que ele deveria ser desprezado erejeitado pelos homens; que deveria ser um homem de dores e que sabia o que era sofrer; queele deveria ser ferido, moído e castigado; que deveria ser levado, sem resistência, aomatadouro; que deveria permanecer mudo perante os seus tosquiadores; que deveria nãosomente sofrer nas mãos de homens, mas também ser moído pelo Senhor; que deveriaderramar sua alma na morte; que deveria ser enterrado na sepultura de um homem rico; eentão foi adicionado que deveria ser contado com os transgressores; e finalmente, que deveriafazer intercessão por esses. Aqui então estava a profecia - "e fez intercessão pelos

transgressores"; houve o cumprimento dela - "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o quefazem". Ele pensou nos seus assassinos. Ele implorou por aqueles que lhe crucificaram; ele fezintercessão pelo perdão deles.

"E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem".

2. Aqui vemos Cristo identificado com o seu povo.

"Pai, perdoa-lhes". Em nenhuma ocasião anterior Cristo fez tal pedido ao Pai. Nunca antes eletinha invocado o perdão dos outros ao Pai. Até aqui ele mesmo perdoou. Ao homem paralítico,ele disse: "Filho, tem bom ânimo; perdoados te são os teus pecados" (Mt 9.2). À mulher quelavou seus pés com suas lágrimas, na casa de Simão, ele disse: "Os teus pecados te são

perdoados" (Lc 7.48). Por que, então, ele agora pediu ao Pai para perdoar, ao invés dele mesmopronunciar diretamente o perdão?

Perdão de pecado é uma prerrogativa divina. Os escribas judeus estavam certos quandoarrazoaram: "Quem pode perdoar pecados, senão Deus?" (Mc 2.7). Mas dirá você: Cristo eraDeus. Com toda certeza; mas homem também - o Deus-homem. Ele era o Filho de Deus quetinha se tornado o Filho do Homem com o expresso propósito de oferecer a si mesmo comosacrifício pelo pecado. E quando o Senhor Jesus clamou "Pai, perdoa-lhes", ele estava sobre acruz, e ali ele não poderia exercer suas prerrogativas divinas. Repare cuidadosamente suaspalavras, e então contemple a exatidão maravilhosa da Escritura. Ele tinha dito: "O Filho doHomem tem na terra autoridade para perdoar pecados" (Mt 9.6). Mas ele não estava mais sobrea terra! Ele tinha sido "levantado da terra" (Jo 12.32)! Além do mais, na cruz ele estava agindo

como nosso substituto; o justo estava para morrer pelos injustos. Por conseguinte, ao sersuspenso como nosso representante, ele não estava mais no lugar de autoridade onde poderiaexercer suas prerrogativas divinas, e, portanto, toma a posição de um suplicante perante o Pai.Assim, dizemos que quando o bendito Senhor Jesus clamou, "Pai, perdoa-lhes", o vemosabsolutamente identificado com o seu povo. Não estava mais na posição de autoridade sobre a

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"terra", onde ele tinha o "poder" ou "direito" de perdoar pecados; ao invés disso, ele intercedepelos pecadores - como nós devemos fazer.

"E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem".

3. Aqui vemos a avaliação divina do pecado e sua culpa conseqüente.

Sob a economia levítica, Deus exigiu que a expiação devesse ser feita pelos pecados

praticados por ignorância."Quando alguma pessoa cometer uma transgressão e pecar por ignorância nas coisas

sagradas do SENHOR, então, trará ao SENHOR, por expiação, um carneiro semmancha do rebanho, conforme a tua estimação em siclos de prata, segundo o siclo dosantuário, para expiação da culpa. Assim, restituirá o que ele tirou das coisas sagradas, eainda de mais acrescentará o seu quinto, e o dará ao sacerdote; assim, o sacerdote, como carneiro da expiação, fará expiação por ela, e ser-lhe-á perdoado o pecado". (Lv 5.15,16).

E lemos novamente:

"Quando errardes e não cumprirdes todos estes mandamentos que o SENHOR falou a Moisés,sim, tudo quanto o SENHOR vos tem mandado por Moisés, desde o dia em que o SENHORordenou e daí em diante, nas vossas gerações, será que, quando se fizer alguma coisa porignorância e for encoberta aos olhos da congregação, toda a congregação oferecerá um novilho,para holocausto de aroma agradável ao SENHOR, com a sua oferta de manjares e libação,segundo o rito, e um bode, para oferta pelo pecado. O sacerdote fará expiação por toda acongregação dos filhos de Israel, e lhes será perdoado, porquanto foi erro, e trouxeram a suaoferta, oferta queimada ao SENHOR, e a sua oferta pelo pecado perante o SENHOR, por causado seu erro". (Nm 15. 22-25, ARA).

É em vista de passagens tais como essas que encontramos Davi orando: "Expurga-me tu dos[erros] que me são ocultos" (Sl 19.12).

O pecado é sempre pecado aos olhos divinos, quer estejamos consciente dele ou não.Pecados cometidos por ignorância precisam de expiação tanto quanto os conscientes. Deus ésanto, e ele não rebaixará seu padrão de justiça ao nível da nossa ignorância. Ignorância não éinocência. Na verdade, ignorância é mais culpada agora do que na época de Moisés. Nós nãotemos desculpas pela nossa ignorância. Deus tem revelado clara e plenamente sua vontade. ABíblia está em nossas mãos, e não podemos alegar ignorância de seu conteúdo, exceto paracondenar-nos por nossa preguiça. Ele tem falado, e por sua palavra seremos julgados.

E, todavia, permanece o fato de que somos ignorantes de muitas coisas, e o erro e aculpa são nossos. E isso não minimiza a enormidade do nosso delito. Pecados cometidospor ignorância precisam do perdão divino, assim como a oração do Senhor nos mostraclaramente aqui. Aprenda, então, quão alto é o padrão de Deus, quão grande é a nossa

necessidade, e louve-o por uma expiação de suficiência infinita, que limpa de todopecado.

"E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem".

4. Aqui vemos a cegueira do coração humano.

"Porque não sabem o que fazem". Isso não significa que os inimigos de Cristo eramignorantes do fato de sua crucificação. Eles sabiam perfeitamente que tinham clamado:"Crucifica-o". Eles sabiam perfeitamente que o seu vil pedido lhes tinha sido concedido porPilatos. Eles sabiam perfeitamente que ele tinha sido pregado na cruz, pois eram testemunhas

oculares do crime. O que, então, o Senhor quis dizer quando disse: "Porque não sabem o quefazem"? Ele quis dizer que eles eram ignorantes da grandeza do seu crime. Eles não sabiam queera o Senhor da glória que eles estavam crucificando. A ênfase não é sobre "porque nãosabem", mas sobre "porque não sabem o que fazem".

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E, todavia, eles deveriam ter sabido. A cegueira deles era inescusável. As profecias doAntigo Testamento que tinham recebido seu cumprimento nele eram suficientementeclaras para identificá-lo como o Santo de Deus. Seu ensino era singular, pois seuspróprios críticos foram forçados a admitir: "Nunca homem algum falou assim como estehomem" (Jo 7.46). E o que dizer da sua vida perfeita? Ele viveu diante dos homens umavida que nunca tinha sido vivida sobre a terra antes. Ele não agradava a si mesmo. Elese ocupava de fazer o bem. Ele estava sempre à disposição dos outros. Não haviaegoísmo nele. Sua vida foi de auto-sacrifício do princípio ao fim. Sua vida foi semprevivida para a glória de Deus. Sobre sua vida estava estampada a aprovação do céu, pois

a voz do Pai testificou audivelmente: "Este é o meu Filho amado, em quem mecomprazo". Não, não havia escusa alguma para a ignorância deles. Isso apenasdemonstrava a cegueira dos seus corações. A rejeição do Filho de Deus por parte delestrouxe pleno testemunho, de uma vez por todas, de que a mente carnal é "inimizadecontra Deus" (Rm 8.7).

Quão triste é pensar que essa terrível tragédia ainda está sendo repetida! Pecador, você fazpouca idéia do que está fazendo ao negligenciar a grande salvação de Deus. Você faz poucaidéia de quão terrível é o pecado de menosprezar o Cristo de Deus e repelir os convites de suamisericórdia. Você faz pouca idéia da profunda culpa que está unida ao seu ato de recusarreceber o único que pode te salvar dos seus pecados. Você faz pouca idéia de quão medonho éo crime de dizer: "Não queremos que este reine sobre nós". Você faz pouca idéia do que faz.Você considera essa questão vital com indiferença total. A questão se apresenta hoje da mesmaforma como dantes: "Que farei, então, de Jesus, chamado Cristo?". Pois você tem que fazeralgo com ele: ou o despreza e rejeita, ou o recebe como o Salvador de sua alma e o Senhor dasua vida. Mas, digo novamente, isso lhe parece um assunto de diminuta urgência, de pequenaimportância. Por anos você tem resistido aos esforços do seu Espírito. Por anos você tem postode lado essa importantíssima consideração. Por anos você tem endurecido seu coração contraele, tampado seus ouvidos aos seus apelos, e fechado seus olhos à sua excelsa beleza. Ah! vocênão sabe O QUE faz. Você está cego em sua loucura. Cego para o seu terrível pecado. Todavia,você não está sem escusa. Você pode ser salvo agora se quiser.

"Crê no Senhor Jesus Cristo e [tu] serás salvo". Ó, venha ao Salvador agora e diga comalguém de outrora, "Mestre, que eu tenha vista".

"E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem".

5. Aqui vemos uma exemplificação amorosa do seu próprio ensino.

No Sermão do Monte nosso Senhor ensinou aos seus discípulos: "Amai a vossos inimigos,bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam evos perseguem" (Mt 5.44). Acima de todos os outros, Cristo praticou o que ele pregou. A graçae a verdade vieram através de Jesus Cristo. Ele não somente ensinou a verdade, mas elemesmo era a verdade encarnada. Ele disse: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida" (Jo 14.6).Assim, aqui sobre a cruz ele exemplificou perfeitamente seu ensino do monte. Em todas ascoisas ele nos deixou um exemplo.

Observe que Cristo não perdoou pessoalmente seus inimigos. Assim, em Mt 5.44 ele nãoexortou seus discípulos a perdoarem seus inimigos, mas os exortou a "orar" por eles. Mas nósnão devemos perdoar aqueles que nos maltratam? Isso nos leva a um ponto com respeito aoqual é necessária muita instrução hoje em dia.

A escritura ensina que sob todas as circunstâncias devemos perdoar sempre? Eurespondo enfaticamente: não, ela não ensina. A palavra de Deus diz: "Se teu irmãopecar contra ti, repreende-o; e, se ele se arrepender, perdoa-lhe; e, se pecar contra ti setevezes no dia e sete vezes no dia vier ter contigo, dizendo: Arrependo-me, perdoa-lhe"(Lc 17.3,4). Aqui somos claramente ensinados que uma condição deve ser satisfeitapelo ofensor antes que possamos pronunciar o perdão. Aquele que nos ofendeu deve

primeiramente "se arrepender", isto é, julgar a si mesmo por seu erro e dar evidência desua tristeza por causa dele. Mas, suponha que o ofensor não se arrependa? Então eu nãopreciso perdoá-lo.

Mas que não haja má compreensão do que queremos dizer aqui. Mesmo que alguém que

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nos ofendeu não se arrependa, todavia, eu não devo abrigar sentimentos ruins contra ele.Não deve haver nenhum ódio ou malícia cultivada no coração. Todavia, por outro lado,eu não devo tratar o ofensor como se ele não tivesse cometido nenhum erro. Isso seriafechar os olhos à ofensa, e, portanto, eu estaria falhando em manter as exigências da  justiça, e isso é o que o crente deve fazer sempre. Deus alguma vez perdoa onde não háarrependimento? Não, pois a escritura declara: "Se confessarmos os nossos pecados, eleé fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça" (1Jo 1.9).Mais uma coisa. Se alguém me prejudicar e não se arrepender, embora eu não possa lheperdoar e tratá-lo como se ele não tivesse me ofendido, todavia, eu não apenas não devo

abrigar nenhuma malícia em meu coração contra ele, mas devo também orar por ele.Aqui está o valor do exemplo perfeito de Cristo. Se não podemos perdoar, podemos orara Deus para perdoá-lo.

"E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem".

6. Aqui vemos a grande e primária necessidade do homem.

A primeira lição importante que todos precisam aprender é que somos pecadores, ecomo tais, inaptos para a presença de um Deus Santo. É em vão que escolhemos nobresideais, adotamos boas resoluções, e aceitamos excelentes regras pelas quais viver, atéque a questão do pecado tenha sido resolvida. Não é de proveito algum tentardesenvolver um belo caráter e ter por objetivo obter a aprovação de Deus, enquanto hápecado entre ele e as nossas almas. Qual a utilidade dos sapatos, se os nossos pés estãoparalisados? De que utilidade são os óculos, se somos cegos? A questão do perdão dosmeus pecados é básica, fundamental e vital. Não importa se sou altamente respeitadopor um círculo amplo de amigos, se ainda estou em meus pecados. Não importa se eusou honesto em meu negócio, se ainda sou um transgressor não perdoado aos olhos deDeus. O que importará na hora da morte será: Os meus pecados foram expurgados pelosangue de Cristo?

A segunda lição importantíssima que precisamos aprender é como o perdão dos pecadospode ser obtido. Qual é fundamento sobre o qual um Deus santo perdoará pecados? Eaqui é importante observar que há uma diferença vital entre o perdão divino e muito do

perdão humano. Como regra geral, o perdão humano é uma questão de complacência,frequentemente de frouxidão. Queremos dizer que o perdão é mostrado à custa da  justiça e da retidão. Na corte humana da lei, o juiz tem que escolher entre duasalternativas: quando se prova que alguém no banco dos réus é culpado, o juiz deveaplicar a penalidade da lei, ou deve negligenciar os requerimentos da lei - uma é  justiça, a outra é misericórdia. A única forma possível na qual o juiz pode tanto aplicaros requerimentos da lei e ainda mostrar misericórdia ao ofensor, é uma terceira parteoferecer sofrer em sua própria pessoa a penalidade que o condenado merece. Assimaconteceu no conselho divino. Deus não exerceria misericórdia à custa da justiça. Ele,como o juiz de toda a terra, não colocaria de lado as demandas da sua santa lei. Todavia,Deus mostraria misericórdia. Como? Através de um que satisfaria plenamente sua leiviolada. Por intermédio de seu próprio Filho, tomando o lugar de todos aqueles que

crêem nele e carregando seus pecados em seu próprio corpo no madeiro. Deus poderiaser justo e ainda misericordioso, misericordioso e ainda justo. Foi assim para que a"graça reinasse pela justiça".

Um fundamento justo tinha sido fornecido sobre o qual Deus poderia ser justo e ainda o justificador de todo aquele que crê. Por conseguinte, somos informados:

"E disse-lhes: Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse e, ao terceiro dia,ressuscitasse dos mortos; e, em seu nome, se pregasse o arrependimento e a remissão(perdão) dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém" (Lc 24.46,47).

E novamente:

"Seja-vos, pois, notório, varões irmãos, que por este se vos anuncia a remissão dos pecados.E de tudo o que, pela lei de Moisés, não pudestes ser justificados, por ele é justificado todoaquele que crê" (At 13.38, 39).

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Foi em virtude do sangue que ele estava derramando que o Salvador clamou: "Pai, perdoa-lhes". Foi em virtude do sacrifício expiatório que ele estava oferecendo que pôde ser dito que"sem derramamento de sangue não há remissão".

Ao orar pelo perdão dos seus inimigos, Cristo foi diretamente na raiz da necessidade deles. Ea necessidade deles é a necessidade de todo filho de Adão. Leitor, você tem os seus pecadosperdoados, isto é, remidos ou levados embora? Você é, pela graça, um daqueles de quem édito: "Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados" (Cl 1.14)?

"Então disse Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem".

7. Aqui vemos o triunfo do amor redentor.

Note atentamente a palavra com a qual nosso texto começa. "Então". O versículo queimediatamente o precede é lido assim: "E, quando chegaram ao lugar chamado a Caveira, ali ocrucificaram e aos malfeitores, um, à direita, e outro, à esquerda". Então, disse Jesus, Pai,perdoa-lhes. "Então" - quando o homem tinha feito o seu pior. "Então" - quando a vileza docoração humano foi demonstrada em maldade diabólica e climatérica. "Então" - quando commãos ímpias a criatura ousou crucificar o Senhor da glória. Ele poderia ter expressado maldiçõesterríveis sobre eles. Ele poderia ter lançado os raios da justa ira e os matado. Ele poderia terfeito a terra abrir a sua boca, de forma que eles caíssem vivos no abismo. Mas não. Emborasujeito à vergonha indizível, embora sofrendo dor excruciante, embora desprezado, rejeitado,odiado; todavia, ele clamou: "Pai, perdoa-lhes". Esse era o triunfo do amor redentor. "O amor épaciente, é benigno... tudo sofre... tudo suporta" (1Co 13, ARA). Assim foi demonstrado nacruz.

Quando Sansão chegou na hora da sua morte, ele usou a grande força do seu corpo paraabarcar a destruição de seus antagonistas; mas aquele que era perfeito exibiu a força deseu amor orando pelo perdão dos seus inimigos. Graça inigualável! "Inigualável",dizemos, pois nem mesmo Estevão conseguiu seguir plenamente o exemplo benditodado pelo Salvador. Se o leitor se voltar para Atos 7, descobrirá que o primeiropensamento de Estevão foi sobre si mesmo, e depois foi que orou pelos seus inimigos -"E apedrejaram a Estêvão, que em invocação dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito.

E, pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: Senhor, não lhes imputes este pecado.E, tendo dito isto, adormeceu" (At 7.59,60). Mas com Cristo a ordem foi inversa: eleorou primeiro pelos seus adversários, e no final por si mesmo. Em todas as coisas eletem a preeminência.

E agora, concluindo com uma palavra de aplicação e exortação. Se esse capítulo estiversendo lido por uma pessoa não-salva, pedir-lhe-emos seriamente ponderar bem apróxima sentença - Quão terrível deve ser se opor a Cristo e à sua verdadeconscientemente! Aqueles que crucificaram o Salvador não sabiam o que estavamfazendo. Mas, meu leitor, há um sentido muito real e solene no qual isso é verdade comrespeito a você também. Você sabe que deve receber a Cristo como seu Salvador, que

deve coroá-lo como Senhor de sua vida, que deve tornar a sua primeira e últimapreocupação agradá-lo e glorificá-lo. Fique então avisado; seu perigo é grande. Se vocêdeliberadamente dá as costas a ele, dá as costas ao único que pode salvá-lo dos seuspecados, e está escrito: "Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termosrecebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, masuma certa expectação horrível de juízo e ardor de fogo, que há de devorar osadversários" (Hb 10.26,27).

Resta-nos apenas adicionar uma palavra sobre a bendita inteireza do perdão divino.Muitos dentre o povo de Deus ficam intranqüilos e perturbados sobre esse ponto. Elesentendem como é que todos os pecados que cometeram antes de receberem a Cristocomo seu Salvador foram perdoados, mas amiúde não estão livres de dúvidas com

respeito aos pecados que cometem após terem nascido de novo. Muitos supõem que épossível para eles pecar de uma forma que lhes coloque além do perdão que Deus lhesconcedeu. Supõem que o sangue de Cristo trata somente com o passado deles, e que atéonde diz respeito ao presente e ao futuro, eles tem que se cuidar por si mesmos. Mas deque valor seria um perdão que pode ser tirado de mim a qualquer momento? Certamente

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não pode haver nenhuma paz estabelecida quando minha aceitação para com Deus e aminha ida ao céu é feita dependente do meu agarrar-se a Cristo, ou da minha obediênciae fidelidade.

Bendito seja Deus, o perdão que ele concede cobre todos os pecados - passados,presentes e futuros. Amigo crente, Cristo não carregou os "seus" pecados em seupróprio corpo no madeiro? E os seus pecados não eram todos futuros, quando elemorreu? Certamente, pois naquele tempo você não tinha nascido, e não tinha cometidonenhum pecado sequer. Muito bem então: Cristo verdadeiramente levou os seus

pecados "futuros" tanto quanto os seus pecados passados. O que a palavra de Deusensina é que a alma incrédula é tirada do lugar sem perdão para onde esse está ligado.Os cristãos são um povo perdoado. Diz o Espírito Santo: "Bem-aventurado o homem aquem o Senhor não imputa o pecado" (Rm 4.8). O crente está em Cristo, e ali o pecadonunca nos será imputado novamente. Esse é o nosso lugar ou posição diante de Deus.Em Cristo é onde ele nos contempla. E porque estou em Cristo, estou completa eeternamente perdoado; tão perdoado que o pecado nunca será mais será posto sobremim como acusação no que toca à minha salvação, mesmo que eu permanecesse naterra por mais cem anos. Eu estou fora do alcance para sempre. Ouça o testemunho daescritura: "E, quando vós estáveis mortos nos pecados e na incircuncisão da vossacarne, (Deus) vos vivificou juntamente com ele (Cristo), perdoando-vos todas asofensas" (Cl 2.13). Observe as duas coisas que são aqui unidas (e o que Deus ajuntou,não o separe o homem!) - minha união com um Cristo ressurreto é conectada com omeu perdão! Se então minha vida está "oculta com Cristo em Deus" (Cl 3.3), então euestou fora para sempre do lugar onde a imputação do pecado é aplicada. Porconseguinte, está escrito: "Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estãoem Cristo Jesus" (Rm 8.1) - como poderia existir, se "todas as ofensas" foram perdoadas?Ninguém pode lançar nenhuma acusação contra os eleitos de Deus (Rm 8.33). Leitor cristão, junte-se ao escritor em louvor a Deus, pois nós somos eternamente perdoados de tudo. *

*Deveria ser adicionado, à guisa de explicação, que é o aspecto judicial que temos tratadoaqui. O perdão restaurador - que é o trazer de volta, novamente à comunhão, um crente quepecou - tratado em 1João 1.9 - é outra questão totalmente distinta.

2. A PALAVRA DE SALVAÇÃO

"E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu reino. E disse-lheJesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso."

Lucas 23. 42,43

A SEGUNDA DECLARAÇÃO DE CRISTO na cruz foi feita em resposta ao pedido do ladrão àbeira da morte. Antes de considerarmos as palavras do Salvador ponderaremos primeiro sobre oque as ocasionou.

Não foi acidente algum o fato de o Senhor da glória ter sido crucificado entre dois ladrões.

Nada ocorre por acidente em um mundo que é governado por Deus. Muito menos poderia terhavido qualquer acidente naquele dia dos dias, ou em conexão com aquele evento dos eventos— um dia e um evento que estão situados no próprio centro da história do mundo. Não, Deusestava presidindo sobre aquela cena. Desde a eternidade toda ele havia decretado quando eonde e como e com quem seu Filho deveria morrer. Nada foi deixado ao acaso ou ao caprichodo homem. Tudo que Deus tinha decretado veio a suceder exatamente como ele haviaordenado, e nada aconteceu que não tivesse ele eternamente intentado. Tudo quanto o homemfez foi simplesmente o que a mão e o conselho divinos "tinham anteriormente determinado" (At4.28).

Quando Pilatos deu ordens para que o Senhor Jesus fosse crucificado entre os doismalfeitores, estava pondo em execução o decreto eterno de Deus e cumprindo sua palavra

profética, coisas que lhe eram totalmente desconhecidas. Setecentos anos antes que essedignitário romano desse sua ordem, Deus tinha declarado mediante Isaías que seu Filho deveriaser "contado com os transgressores" (Is 53.12). Quão totalmente improvável parecia isso, que oSanto de Deus devesse ser contado com os ímpios; que aquele mesmo cujo dedo havia inscritonas tábuas de pedra da Lei do Sinai devesse ter um lugar designado entre os sem lei; que o

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Filho de Deus devesse ser executado com os criminosos — tal parecia completamenteinconcebível. Todavia, na realidade, foi o que veio a ocorrer. Nem uma só palavra divina pode-se deixar escapar. "Para sempre, ó Senhor, a tua palavra permanece no céu" (Sl 119.89). Assimcomo Deus havia ordenado, e assim como havia anunciado, assim aconteceu.

Porque ele ordenou que seu Filho devesse ser crucificado entre dois criminosos?Certamente que Deus tinha uma razão para tal; uma boa, uma múltipla razão, querpossamos discerni-la ou não. Ele nunca procede arbitrariamente. Ele tem um bompropósito para tudo o que faz, pois todas as suas obras estão ordenadas pela sabedoria

infinita. Nesse exemplo particular, várias respostas se insinuam à nossa inquirição. Nãofoi nosso bendito Senhor crucificado com os dois ladrões para demonstrar plenamenteas insondáveis profundezas da vergonha em que havia descido? Em seu nascimento eleestava rodeado pelas bestas do campo e, agora, em sua morte, é contado com a escóriada humanidade.

Outra vez, não foi o Salvador contado com os transgressores para nos mostrar a posição queele ocupou como nosso substituto? Ele havia ocupado o lugar que era nosso, e o que era senãoo lugar de vergonha, o lugar dos transgressores, o lugar dos criminosos condenados à morte!

Outra vez, não foi ele deliberadamente humilhado daquele modo por Pilatos para mostrar aavaliação pelo homem daquele inigualável — "desprezado" tanto quanto rejeitado!

Outra vez, não foi ele crucificado com os dois ladrões, de modo que naquelas três cruzes enos que nelas estavam dependurados, pudéssemos ter a representação vívida e concreta dodrama da salvação e da resposta do homem a isso — a redenção do Salvador; o pecador que searrepende e crê; e o que insulta e rejeita?

Uma outra importante lição que podemos aprender da crucificação de Cristo entre osdois ladrões, e o fato de que um o recebeu e o outro o rejeitou, é a da soberania divina.Os dois malfeitores foram crucificados juntos. Estavam à mesma proximidade de Cristo.Ambos viram e ouviram tudo o que se tornou conhecido durante aquelas seis fatídicashoras. Ambos eram notoriamente perversos; ambos estavam sofrendo agudamente;ambos estavam morrendo, e ambos necessitavam urgentemente de perdão. Todavia, ummorreu em seus pecados, morreu como tinha vivido — endurecido e impenitente; ao

passo que o outro se arrependeu de sua maldade, creu em Cristo, recorreu a ele paraobter misericórdia e entrou no Paraíso. Como explicar isso, senão pela soberania deDeus!

Vemos precisamente que a mesma coisa continua hoje. Sob exatamente as mesmascircunstâncias e condições, um é enternecido e outro permanece inalterado. Sob o mesmosermão, um homem ouvirá com indiferença, enquanto outro terá seus olhos abertos para versua necessidade e sua vontade movida para perto da oferta da misericórdia divina. Para um, oevangelho é revelado, para outro, "oculto". Por quê? Tudo o que podemos dizer é: "Sim, ó Pai,porque assim te aprouve". E, contudo, a soberania divina nunca quer dizer destruir aresponsabilidade humana. Ambas são claramente ensinadas na Bíblia, e é nosso dever crer epregar as duas, quer possamos harmonizá-las ou compreendê-las quer não. Ao pregarmos

ambas pode parecer a nossos ouvintes que nos contradizemos, mas que importa?

Disse o falecido C. H. Spurgeon, quando pregava em 1Timóteo 2.3,4: "Ali no texto seacha, e creio que é do desejo de meu Pai, que ‘todos os homens se salvem, e venham aoconhecimento da verdade’. Mas eu sei, também, que ele não o quer, de modo quesalvará a qualquer um daqueles, apenas se crerem em seu Filho; pois ele no-lo disserepetidas vezes. Ele não salvará homem algum, a menos que esse abandone seuspecados, e se volte para ele com pleno propósito de coração: isso eu também sei. E sei,ainda, que ele tem um povo a quem salvará, a quem, por seu eterno amor, elegeu e aquem, por seu eterno poder, ele libertará. Eu não sei como aquilo se ajusta com isso,que é mais uma das coisas que não sei." E disse esse príncipe dos pregadores: "Eupermanecerei exatamente no que sempre hei de pregar e sempre tenho pregado, e tomo

a palavra de Deus como está, possa eu reconciliá-la com uma outra parte da palavradivina ou não."

Dizemos novamente, a soberania de Deus nunca significa destruir a responsabilidade dohomem. Devemos fazer uso diligente de todos os meios que ele designou para a

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salvação das almas. Somos ordenados a pregar o evangelho a "toda criatura" . A graçaé livre: o convite é amplo o bastante para "quem crer" o aceitar. Cristo não despedeninguém que venha a ele. Todavia, após havermos feito tudo, após havermos plantadoe aguado, é Deus quem dá o crescimento, e o faz de modo a melhor satisfazer suasoberana vontade.

Na salvação do ladrão agonizante temos uma visão clara da graça vitoriosa, como nãoencontrada em nenhum outro lugar na Bíblia. Deus é o Deus de toda graça, e a salvação éinteiramente por meio dessa. "Pela graça sois salvos" (Ef 2.8), e é "pela graça" do começo ao

fim. A graça planejou a salvação, a graça proveu a salvação, e a graça assim opera sobre e emseus eleitos para sobrepujar a dureza de seus corações, a obstinação de suas vontades, e ainimizade de suas mentes, e assim os torna propensos a receber a salvação. A graça inicia, agraça continua, e a graça consuma a nossa salvação.

A salvação pela graça — soberana, irresistível, livre graça — é ilustrada no Novo Testamentotanto por exemplo quanto por preceito. Talvez os dois casos mais contundentes de todos sejamos de Saulo de Tarso e do Ladrão Agonizante. E esse último é até mais digno de nota que oprimeiro. No caso de Saulo, que posteriormente tornou-se Paulo, apóstolo dos gentios, havia umcaráter moral exemplar, para começo de conversa. Escrevendo anos depois sobre sua condiçãoantes da conversão, o apóstolo declarou que, no tocante à justiça da lei, ele era "irrepreensível"(Fp 3.6). Ele era um "fariseu dos fariseus": meticuloso em seus hábitos, correto em seuprocedimento. Moralmente, seu caráter era imaculado. Após a conversão, sua vida foi de justiçano padrão evangélico. Constrangido pelo amor de Cristo, consumiu-se na pregação doEvangelho aos pecadores e no labor da edificação dos santos. Sem dúvida, nossos leitoresconcordarão conosco quando dizemos que provavelmente Paulo estivesse mais perto de atingiros ideais da vida cristã, e que ele seguiu após seu Mestre mais perto do que qualquer outrosanto desde então.

Mas com o ladrão salvo foi, de longe, de outra forma. Ele não tinha vida moral alguma antesde sua conversão e nenhuma de serviço ativo depois. Antes dela ele não respeitava nem a lei deDeus nem a dos homens. Após sua conversão, ele morreu sem ter oportunidade de se ocuparno serviço de Cristo. Enfatizarei isso, porque essas são as duas coisas que são consideradas portantos como fatores que contribuem para nossa salvação. Supõe-se que devemos primeiro nosadequar, desenvolvendo um caráter nobre diante de Deus, que nos receberá como seus filhos, e

que depois dele haver nos recebido, para sermos experimentados, somos meramente postos àprova, e que, a menos que produzamos uma certa qualidade e quantidade de boas obras,"cairemos da graça e ficaremos perdidos". Mas o ladrão agonizante não teve boa obra alguma,seja antes ou depois da conversão. Em conseqüência, somos levados à conclusão que, se ele foisalvo em absoluto, certamente o foi pela soberana graça.

A salvação do ladrão agonizante também arranja um outro apoio para que o legalismo damente carnal se interponha para roubar de Deus a glória devida à sua graça. Em vez de atribuira salvação dos pecadores perdidos à inigualável graça divina, muitos cristãos professosprocuram explicá-las pelas influências humanas, instrumentalidades ecircunstâncias. Seja o pregador, sejam circunstâncias providenciais ou propícias, sejamas orações dos crentes, tudo isso é visto como a causa principal. Que não sejamos mal

entendidos aqui. É verdade que Deus com freqüência se agrada de usar meios para aconversão dos pecadores; que amiúde condescende em abençoar nossas orações eesforços para levar pecadores a Cristo; que, muitas vezes, ele faz com que suasprovidências despertem e sacudam os ímpios para a percepção de seus estados. MasDeus não está preso a essas coisas. Ele não está limitado às instrumentalidadeshumanas. Sua graça é toda poderosa e, quando lhe agrada, ela é capaz de salvar apesarda falta daquelas, e a despeito das circunstâncias desfavoráveis. Assim foi no caso doladrão salvo.

Considere:Sua conversão ocorreu numa época quando, exteriormente, parecia que Cristo havia

perdido todo o poder para salvar, seja a si mesmo ou a outros. Esse ladrão havia

marchado ao lado do Salvador através das ruas de Jerusalém e o tinha visto sucumbirsob o peso da cruz! É altamente provável que, como sua ocupação fosse a de ladrão eassaltante, esse fosse o primeiro dia que em que ele punha seus olhos no Senhor Jesus e,agora que o via, era sob toda a circunstância de fraqueza e desgraça. Seus inimigosestavam triunfando sobre ele. A maior parte de seus amigos o havia abandonado. A

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opinião pública estava unanimemente contra ele. Sua própria crucificação foiconsiderada como totalmente inconsistente com sua messianidade. Sua condiçãohumilde foi uma pedra de tropeço aos judeus desde mesmo o início, e as circunstânciasde sua morte devem ter intensificado isso, especialmente a alguém que nunca o haviavisto senão em tal condição. Mesmo aqueles que tinham crido nele foram levados àdúvida por causa de sua crucificação. Não havia ninguém na multidão que estivesse alicom o dedo apontando para ele e gritando: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecadodo mundo!". E, todavia, não obstante tais obstáculos e dificuldades no caminho desua fé, o ladrão apreendeu a condição de Salvador e o Senhorio de Cristo. Como

podemos explicar tal fé e tal compreensão espiritual em alguém em circunstâncias taiscomo a que se encontrava? Como podemos explicar o fato de que esse ladrãoagonizante tomou um homem em sofrimento, sangrando e crucificado por seu Deus!Não pode ser explicado senão por intervenção divina e operação sobrenatural. Sua fé emCristo foi um milagre da graça!

É para ser notado ainda que a conversão do ladrão ocorreu antes dos fenômenossobrenaturais daquele dia. Ele exclamou: "Senhor, lembra-te de mim" antes das horas detrevas, antes do brado triunfante, "Está consumado", antes do véu do templo se rasgar, antesdo tremor de terra e do despedaçar das rochas, antes da confissão do centurião: "Na verdade,este era Filho de Deus". Deus intencionalmente colocou sua conversão antes de tais coisas demodo que sua soberana graça pudesse ser engrandecida e seu soberano poder reconhecido. Elecalculadamente escolheu salvar esse ladrão sob as circunstâncias mais desfavoráveis para quenenhuma carne se glorie em sua presença. Ele deliberadamente dispôs essa combinação decondições e ambiente não propícios para nos ensinar que "a salvação é do Senhor"; para nosensinar a não engrandecer a instrumentalidade humana acima da ação divina; para nos ensinarque toda conversão genuína é o produto direto da operação sobrenatural do Espírito Santo.

Consideraremos agora o ladrão em si mesmo, suas várias declarações, seu pedido aoSalvador, e a resposta de nosso Senhor.

"E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino. E disselhe Jesus:Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso" (Lucas

23.42,43).

1. Vemos aqui um pecador representativo.

Nunca chegaremos ao centro desse incidente até considerarmos a conversão dessehomem como um caso representativo, e o próprio ladrão como um caráterrepresentativo. Há aqueles que procuram mostrar que o caráter original do ladrãopenitente era mais nobre e digno do que o do outro que não se arrependeu. Mas isso nãosomente não corresponde à verdade dos fatos nesse caso, como serve para apagar aglória peculiar dessa conversão e remover dele a maravilha da graça divina. É de grandeimportância reparar que, antes do tempo em que um se arrependeu e creu não haviadiferença essencial alguma entre os dois. Na natureza, na história, nas circunstânciaseram um. O Espírito Santo foi cuidadoso em nos contar que ambos insultaram opadecente Salvador:

"E da mesma maneira também os príncipes dos sacerdotes, com os escribas, e anciãos, efariseus, escarnecendo, diziam: Salvou os outros, e a si mesmo não pode salvar-se. Se é o Reide Israel, desça agora da cruz, e crê-lo-emos. Confiou em Deus; livre-o agora, se o ama;porque disse: Sou Filho de Deus. E o mesmo lhe lançaram também em rosto os salteadores quecom ele estavam crucificados" (Mateus 27.41-44).

Realmente terríveis eram a condição e a ação desse assaltante. À beira de adentrar aeternidade ele se une aos inimigos de Cristo no terrível pecado de escarnecer dele. Era de umatorpeza sem paralelo. Pense nisso — um homem na hora em que se aproximava sua morteridicularizando o Salvador padecente! Ó que demonstração de depravação humana e deinimizade natural da mente carnal contra Deus. E, leitor, por natureza há a mesma depravação

herdada dentro de você, e a menos que um milagre da divina graça seja operado dentro devocê, existe a mesma inimizade contra Deus e seu Cristo presente em seu coração. Você podenão pensar assim, pode não sentir assim, pode não crer assim. Mas isso não altera o fato. Apalavra dele que não pode mentir declara: "Enganoso é o coração, acima de todas as coisas, edesesperadamente perverso" (Jr 17.9). Essa é uma declaração de aplicação universal. Ela

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descreve o que todo coração humano é por nascimento natural. E outra vez a mesma escriturada verdade declara:

"...porque a mentalidade da carne significa inimizade com Deus, visto que não está emsujeição à lei de Deus; de fato, nem pode estar" (Romanos 8.7, Tradução do NovoMundo). Isso, também, diagnostica o estado de todo descendente de Adão. "Porque nãohá diferença. Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus" (Rm 3.22,23).

Inefavelmente solene é isso: todavia, necessita que nele se insista. Não é senão quando

percebemos nossa desesperadora condição que descobrimos a necessidade de um Salvadordivino. Não é senão quando somos levados a perceber nossa total corrupção e fraqueza que nosapressamos ao grande médico. Não é senão quando encontramos nesse ladrão agonizante umretrato de nós mesmos que o acompanharemos dizendo: "Senhor, lembra-te de mim".

Temos que ser humilhados antes de sermos exaltados. Temos de ser despidos dos traposimundos de nossa justiça própria antes que estejamos prontos para os trajes de salvação.Temos de vir a Deus como mendigos, de mãos vazias, antes que possamos receber odom da vida eterna. Temos de tomar o lugar de pecadores perdidos perante ele sequisermos ser salvos. Sim, temos que reconhecer a nós mesmos como ladrões antes quepossamos ter um lugar na família de Deus. "Mas", dirá você, "eu não sou nenhumladrão! Reconheço que não sou tudo que devo ser. Não sou perfeito. Na verdade, vou aoponto de admitir a mim mesmo como pecador. Mas não posso consentir que esse ladrãorepresente meu estado e condição." Ah, amigo, seu caso é, de longe, pior do que vocêsupõe. Você é um ladrão, e ladrão da pior espécie. Você rouba a Deus! Suponha queuma firma no Leste designasse um agente para representá-la no Oeste, e quemensalmente lhe enviasse seu salário. Mas suponha também que, no fim do ano, osempregadores descobrissem que, ainda que o agente estivesse descontando os cheques aele remetidos, ele tivesse servido uma outra firma durante o tempo todo. Não seriaaquele agente um ladrão? Todavia, tal é precisamente a situação e o estado de cadapecador. Ele foi enviado a esse mundo por Deus, que o dotou de talentos e dacapacidade de usá-los e valorizá-los. Deus o abençoa com saúde e vigor; supre cadanecessidade sua, e fornece inúmeras oportunidades para servi-lo e glorificá-lo. Mas comque resultado? As próprias coisas que Deus lhe dá são mal empregadas. O pecador servea um outro senhor, precisamente Satanás. Ele dissipa seu vigor e desperdiça seu tempo

nos prazeres pecaminosos. Ele rouba a Deus. Leitor não salvo, na perspectiva do Céu,sua condição é desesperadora e seu coração, mau como o daquele ladrão. Veja nele umafigura de si mesmo.

2. Aqui nós vemos que o homem tem que ir ao fim de si próprio antes que possa ser salvo.

Contemplamos acima esse ladrão agonizante como um pecador representativo, umespécime que é amostra do que todos os homens são por natureza e prática — pornatureza, em inimizade contra Deus e seu Cristo; por prática, ladrões de Deus,utilizando mal o que ele nos deu e não conseguindo retribuir-lhe o que é devido.Devemos ver agora que esse ladrão crucificado foi também um caso representativo emsua conversão. E nesse ponto deter-nos-emos unicamente em sua situação de

desamparo.

Ver a nós mesmos como pecadores perdidos não basta. Aprender que somos corruptos edepravados por natureza e transgressores pecaminosos pelas nossas práticas é a primeira liçãoimportante. A próxima é aprender que estamos totalmente arruinados, e que não podemosfazer nada que seja para ajudar a nós mesmos. Descobrir que nossa condição é tãodesesperadora que está inteiramente além da possibilidade de conserto humano, é o segundopasso rumo a salvação — olhando-a pelo lado humano. Porém, se o homem é lento paraaprender que é um pecador perdido e inapto para estar na presença de um Deus santo, ele o éainda mais para reconhecer que nada pode fazer para sua salvação, e que é incapaz de operarqualquer melhoria em si próprio para se adequar para Deus. Todavia, não é senão até que nosdemos conta de que estamos "fracos" (Rm 5.6), que somos "impotentes" (Jo 5.3), que não é

pelas obras de justiça que façamos, mas pela misericórdia divina que somos salvos (Tt 3.5), quenão é senão até que nos desesperemos de nós mesmos, e olhemos para fora de nós mesmospara um que pode nos salvar.

O grande tipo escriturístico do pecado é a lepra, e para a lepra o homem não pode inventar

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cura alguma. Somente Deus pode lidar com essa pavorosa doença. Assim o é com o pecado.Mas, como dissemos, o homem é lento para aprender essa lição. É como o filho pródigo, o qual,quando dissipara sua fazenda na terra longínqua, vivendo dissolutamente, e começou "apadecer necessidades", em vez de imediatamente retornar ao seu pai, "foi, e chegou-se a umdos cidadãos daquela terra", e foi para os campos a apascentar porcos; em outras palavras, elefoi ao trabalho . Igualmente, o pecador que é despertado para a sua necessidade, em vez de irimediatamente a Cristo, tenta trabalhar por si mesmo para obter o favor divino. Mas ele nãoconseguirá coisa melhor que o pródigo — as bolotas dos porcos serão sua única porção. Ouentão, como a mulher prostrada pela enfermidade por muitos anos. Ela tentou muitos médicos

antes de procurar o grande médico: assim o pecador despertado procura alívio e paz primeironuma coisa e depois em outra, até completar o fatigante ciclo das ações religiosas, e terminar"sem nenhum resultado, mas cada vez piorando mais" (Mc 5.26, Bíblia de Jerusalém). Não, nãoé senão quando já tinha "gasto tudo o que possuía" que ela procurou Cristo; e não é senãoquando o pecador chega ao fim de seus próprios recursos que recorrerá ao Salvador.

Antes que qualquer pecador possa ser salvo, deve ele ir ao lugar da fraqueza reconhecida.Isso é o que a conversão do ladrão agonizante nos mostra. O que ele podia fazer? Não podiacaminhar pelas sendas da justiça, pois havia um prego atravessando cada um dos seus pés. Nãopodia executar nenhuma boa obra, pois havia um prego atravessando cada uma das mãos. Nãopodia começar vida nova e viver melhor, pois =ue estava morrendo. E, meu leitor, aquelas suasmãos que tão prontamente agem para justiça própria, e aqueles seus pés que tão rapidamentecorrem no caminho da obediência legal, devem ser pregados na cruz. O pecador teve de serinterrompido em suas próprias obras e feito desejoso de ser salvo por Cristo. Uma percepção desua própria condição pecaminosa, de sua condição perdida, de sua condição de desamparo, nãoé nada mais, nada menos, do que o velho ensino da convicção de pecado, e tal é o único pré-requisito para vir a Cristo para salvação, pois Cristo Jesus veio ao mundo para salvar pecadores.

3. Aqui vemos o sentido do arrependimento e da fé

O arrependimento pode ser considerado sob vários aspectos. Ele inclui em seu significado eescopo uma mudança da mente acerca de, um desgosto por e um abandono do pecado.Todavia, há mais do que isso. Realmente, o arrependimento é a percepção de nossa condiçãoperdida, é a descoberta de nossa ruína, é o julgamento de nós mesmos, é a confissão de nossasituação perdida. Não é tanto um processo intelectual, mas a consciência ativa na presença de

Deus. E isso é exatamente o que achamos aqui no caso do ladrão. Primeiro ele diz ao seucompanheiro: "Tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenação?" (Lucas 23.40).Pouco tempo antes sua voz estivera confundida com a daqueles que estavam vilipendiando oSalvador. Mas o Espírito Santo estivera em ação sobre ele e, agora, sua consciência fica ativa napresença de Deus. Não disse ele: "Tu nem ainda temes o castigo", mas: "Tu nem ainda temes aDeus?" Ele compreende Deus como sendo juiz.

E então, em segundo lugar, ele acrescenta: "E nós, na verdade, com justiça, porquerecebemos o que os nossos feitos mereciam" (Lucas 23.41). Aqui vemo-lo reconhecendo suaculpa e a justiça de sua condenação. Ele pronuncia sentença contra si mesmo. Ele não sedesculpa e não tenta atenuar nada. Ele reconheceu que era um transgressor, e que, enquantotal, ele merecia plenamente a punição por seus pecados, sim, que a morte lhe era devida. Você

teve essa posição diante de Deus, meu leitor? Confessou abertamente a ele seus pecados? Jásentenciou a si mesmo e a seus caminhos? Está pronto para reconhecer que a morte é o quevocê merece? Suavize você o seu pecado ou prevarique acerca dele, estará impedindo a suaprópria entrada a Cristo. Ele veio ao mundo para salvar pecadores — pecadores confessos,pecadores que realmente tomaram o lugar de pecadores diante de Deus, pecadores que estãocônscios de que estão perdidos e arruinados.

O "arrependimento para com Deus" do ladrão foi acompanhado da "fé em nosso Senhor Jesus".Ao contemplar sua fé notamos primeiro que ela foi uma fé de cabeça inteligente. Nos

parágrafos iniciais do presente capítulo chamamos a atenção para a soberania de Deus e suagraça irresistível e vitoriosa que foram exibidas na conversão desse ladrão. Agora nosvoltaremos a um outro lado da verdade, igualmente necessário de nele se insistir, um lado que

não é contraditório com o que dissemos anteriormente, mas antes complementar esuplementar. A Escritura não ensina que, se Deus elegeu uma certa alma para ser salva, talpessoa será salva independente dela vir a crer ou não. Essa é uma conclusão falsa tirada poraqueles que rejeitam a verdade. Não, a escritura ensina que o mesmo Deus que predestinou ofim também predestinou os meios. O Deus que decretou a salvação do ladrão agonizante

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cumpriu seu decreto dando a ele fé com a qual crer. Isso é o claro ensinamento de 2Tessalonicenses 2.13 (e de outras escrituras): "Deus vos escolheu desde o princípio para asantificação do espírito e a fé na verdade".

É justamente isso que vemos aqui em conexão com esse ladrão. Ele teve "fé na verdade".Sua fé se apossou da palavra de Deus. Sobre a cruz estava a inscrição: "Este é Jesus, o Rei dosJudeus". Pilatos a havia colocado ali por mofa. Porém, ainda assim era a verdade, e após ele tê-la escrito, Deus não permitiria a ele que a alterasse. A tabuleta que portava essa inscrição haviasido carregada na frente de Cristo pelas ruas de Jerusalém e no lugar da crucificação, e o ladrão

a lera, e a graça e o poder divinos tinham abertos os olhos de seu entendimento para ver queela era verdadeira. Sua fé apanhou o sentido do reinado de Cristo, daí mencionar "quandoentrares no teu reino". A fé repousa sempre na palavra escrita de Deus.

Antes que um homem creia que Jesus é o Cristo, deve ter o testemunho diante dele de queele é o Cristo. A distinção é freqüentemente feita entre a fé da cabeça e a fé do coração, e issocom propriedade, pois a distinção é real, e vital. Algumas vezes a fé da cabeça é desvalorizada,mas isso é tolice. Deve haver essa antes que possa haver aquela. Temos de crerintelectualmente antes que possamos crer salvificamente no Senhor Jesus. Prova disso é vistaem conexão com os pagãos: eles não têm fé alguma de cabeça e, por conseguinte, não têm fénenhuma de coração. Prontamente admitimos que a fé de cabeça não salvará a menos que sejaacompanhada pela fé do coração, mas insistimos que não há nada da segunda a menos queantes tenha havido a primeira. Como podem crer naquele a respeito de quem não ouviram?Verdade, pode-se crer acerca dele sem crer nele, mas não se pode crer nele sem primeiro creracerca dele. Assim o foi com o ladrão agonizante. Com toda probabilidade ele nunca vira Cristoantes do dia da sua morte, mas vira a inscrição testificando o seu reinado e o Espírito Santousou isso como a base de sua fé. Dizemos então que essa foi uma fé inteligente: primeiro, umade tipo intelectual, o crer no testemunho escrito apresentado a ele; segundo, uma fé decoração, o descansar confiadamente em Cristo mesmo como o Salvador dos pecadores.

Sim, esse ladrão que agonizava exerceu uma fé de coração que descansou salvificamente emCristo. Tentaremos ser muito simples aqui. Um homem pode ter fé de cabeça no Senhor Jesus eestar perdido. Um homem pode crer acerca do Cristo histórico e não estar nada melhor porcausa disso, tal como não o está por crer acerca do Napoleão histórico. Leitor, você pode crertudo acerca do Salvador — sua vida perfeita, sua morte sacrifical, sua ressurreição vitoriosa,

sua ascensão gloriosa, seu retorno prometido — mas deve fazer mais do que isso. A féevangélica é uma fé confiante. A fé salvífica é mais que uma opinião correta ou uma linha deraciocínio. A fé salvífica transcende a toda razão. Veja o ladrão agonizante! Era razoável queCristo o notasse? Um assaltante crucificado, um criminoso confesso, alguém que há poucosminutos atrás o estivera insultando! Era razoável que o Salvador devesse reparar de qualquerforma nele? Era razoável esperar que ele fosse ser transportado da beira do inferno mesmo parao Paraíso? Ah, meu leitor, a cabeça raciocina, mas o coração não. E a petição desse homem veiodo coração. Ele não tinha como usar suas mãos e pés (e não eram eles necessários à salvação:antes, a impediam), mas tinha o uso de seu coração e língua. Esses estavam livres para crer econfessar: "Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para asalvação" (Rm 10.10).

Podemos reparar também que a sua fé era uma fé humilde. Ele orou com convenientemodéstia. Não foi "Senhor, honra-me", nem "Senhor, exalta-me", mas Senhor, se tuquiseres, pense em mim! Se tu somente contemplasses a mim — "Senhor, lembra-te demim". E, todavia, aquela palavra "lembra-te" era maravilhosamente perfeita eapropriada. Ele poderia ter dito: Perdoa-me, Salva-me, Abençoa-me; mas "lembra-te"incluía todas essas. Um interesse no coração de Cristo incluirá um interesse em todosos seus benefícios! Além disso, tal palavra era bem adequada à condição de quem aexpressou. Ele foi um proscrito da sociedade — quem se lembraria dele! O público nãopensaria mais nada a respeito dele. Seus amigos ficariam contentes por esquecer delepor haver desgraçado sua família. Mas há um a quem ele ousa confiar essa petição —"Senhor, lembra-te de mim".

Finalmente, podemos notar que a sua fé era uma fé corajosa. Talvez não pareça à primeiravista, mas uma pequena consideração tornará isso claro. Aquele que estava pendurado na cruzdo centro era um de quem todos viravam a cara para não olhar e para quem toda a vil zombariade uma turba vulgar era direcionada. Toda facção daquele povo se juntou para escarnecer doSalvador. Mateus nos diz que "os que passavam blasfemavam dele" e que "da mesma maneira

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também os príncipes dos sacerdotes, com os escribas, e anciãos". Enquanto Lucas nos informaque "também os soldados o escarneciam" (23.36). Portanto, é fácil entender por que os ladrõestambém se juntaram ao alarido de sarcasmos. Não há dúvidas de que os sacerdotes e escribassorrissem benignamente sobre eles enquanto assim agiam. Mas, subitamente, houve umamudança. O ladrão penitente, em vez de continuar a troçar e ridicularizar Cristo, voltase para oseu companheiro e abertamente o censura, nos ouvidos dos espectadores ajuntados em redordas cruzes, clamando: "este nenhum mal fez". Desse modo, ele condenou toda a nação judaica!Mais ainda; não somente testemunhou da inocência de Cristo, mas também confessou o reinadodele. E assim, de um só golpe, ele se retira do favor de seu companheiro e da multidão

também! Falamos hoje da coragem necessária para abertamente testemunhar de Cristo, mastal coragem nesses dias se desbota em expressa insignificância perante àquela mostradanaquele dia pelo ladrão agonizante.

4.Vemos aqui um maravilhoso caso de iluminação espiritual.

É perfeitamente maravilhoso o progresso feito por esse homem naquelas poucas horas deagonia. Seu crescimento na graça e no conhecimento de seu Senhor foi espetacular. Do breveregistro das palavras que saíram de seus lábios podemos descobrir sete coisas as quais elehavia aprendido sob a instrução do Espírito Santo.

Primeiro, ele expressa sua crença em uma vida futura onde a retribuição seria dada porum Deus justo e que vinga o pecado. Prova-o a frase "Tu nem ainda temes a Deus". Elepassa uma severa reprimenda em seu companheiro, como quem diz, Como ousa você tera temeridade de insultar a esse homem inocente? Lembre-se de que brevemente vocêterá de aparecer diante de Deus e encarar um tribunal infinitamente mais solene do queaquele que o sentenciou para ser crucificado. Deus é para ser temido, portanto, fiquequieto.

Segundo, como tenho visto, ele viu sua própria pecaminosidade — "Tu... [não estás] namesma condenação? E nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o que os nossos feitosmereciam" (Lc 23.40,41). Ele reconheceu que era um transgressor. Ele viu que o pecadomerecia punição, que a "condenação" era justa. Ele admitiu que a morte era o que ele merecia.Isso foi algo que seu companheiro não confessou nem reconheceu.

Terceiro, ele testemunhou da impecabilidade de Cristo — "este nenhum mal fez" (Lc 23.41).E aqui podemos observar que Deus se deu ao trabalho de preservar o caráter imaculado de seuFilho. Isso é especialmente visto perto do fim. Judas foi levado a dizer, "[Traí] o sangueinocente". Pilatos testificou, "nenhum crime acho nele". A esposa desse disse: "Não entres naquestão desse justo". E agora que ele pendia na cruz, Deus abre os olhos desse assaltante paraver a perfeição de seu Filho amado, e abre seus lábios para que ele testemunhe de suaexcelência.

Quarto, ele não apenas testemunhou da humanidade impecável de Cristo, mas tambémconfessou sua Divindade — "Senhor, lembra-te de mim", disse. Maravilhosa palavra, essa. OSalvador pregado ao madeiro, o objeto da aversão dos judeus e alvo de zombaria do populachoordinário. Esse ladrão ouvira o insolente desafio dos sacerdotes: "Se és Filho de Deus, desce da

cruz", e resposta alguma fora dada. Mas, movido por fé e não por vista, reconhece e confessa adeidade do sofredor que estava ao centro.

Quinto, ele creu na condição de salvador do Senhor Jesus. Tinha ouvido a oração de Cristopor seus inimigos, "Pai, perdoa-lhes..." e àquele cujo coração o Senhor tinha aberto, essa curtafrase tornou-se um sermão de salvação. Seu próprio clamor, "Senhor, lembra-te de mim", traziadentro de si seu escopo, "Senhor, salva-me", o que, por conseguinte, faz supor sua fé noSenhor Jesus como Salvador. Na verdade, ele deve ter crido que Jesus era um Salvador para oprincipal dos pecadores ou então, como poderia ter crido que Cristo lembrar-se-ia de alguém talcomo ele!

Sexto, ele demonstrou sua fé no reinado de Cristo — "quando entrares no teu reino". Isso

também foi uma palavra maravilhosa. As circunstâncias externas todas pareciam desmentir seureinado. Em vez de estar sentado num trono, ele estava pendurado numa cruz. Em vez de estarusando um diadema real, sua fronte estava rodeada de espinhos. Em vez de estaracompanhado por um séqüito de servos, ele estava contado com os transgressores. Entretanto,ele era rei — Rei dos Judeus (Mt 2.2).

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Finalmente, ele ansiou pela segunda vinda de Cristo — "quando entrares". Ele olhou paralonge do presente e para o futuro. Ele viu além dos "sofrimentos", a "glória". Sobre a cruz oolho da fé detectou a coroa. E nisso ele se antecipou aos apóstolos, pois a incredulidade fecharaos olhos deles. Sim, ele olhou para além do primeiro advento em vergonha para o segundo, empoder e majestade.

E como podemos explicar a inteligência espiritual desse ladrão agonizante? Onde ele recebeutal insight das coisas de Cristo? Como foi que esse bebê em Cristo fez tão estupendo progresso

na escola de Deus? Somente pode ser explicado pela influência divina. O Espírito Santo foi seuprofessor! A carne e o sangue não lhe haviam revelado tais coisas mas o Pai no céu. Queilustração de que as coisas divinas estão escondidas "dos sábios e entendidos" e reveladas aos"pequeninos"!

5.Aqui vemos a condição de Cristo como Salvador.

As cruzes estavam separadas por apenas uns poucos decímetros e não demorou a que oSalvador ouvisse o clamor do ladrão penitente. Qual foi sua resposta a isso? Ele poderia ter dito,Você merece esse destino: é um assaltante malvado e é digno de morte. Ou, poderia terreplicado, Você deixou isso tarde mais; você deveria ter me procurado antes. Ah! mas nãoprometera ele que "o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora"? Isso ele provouaqui.

Aos vitupérios que foram lançados sobre ele pela multidão, o Senhor Jesus não prestouatenção. Ao desafio insolente dos sacerdotes para que descesse da cruz, ele não deu respostaalguma. Mas à oração desse ladrão contrito e confiante atentou. Nessa hora ele estava em lutacontra os poderes das trevas e suportando a terrível carga da culpa de seu povo, e deveríamoster pensado que ele poderia se escusar a atender a petições individuais. Ah! mas um pecadornunca virá a Cristo em tempo não aceitável. Ele sem demora lhe dá uma resposta de paz.

A salvação do ladrão penitente e crente ilustra não somente a prontidão de Cristo, mastambém seu poder para salvar pecadores. O Senhor Jesus não é um Salvador débil. Benditoseja Deus que é capaz de "salvar perfeitamente" aqueles que vem a ele através daquele. Enunca isso foi tão destacadamente mostrado como na cruz. Essa foi a hora da "fraqueza" do

Redentor (2Co 13.4). Quando o ladrão clamou, "Senhor, lembrate de mim", o Salvador estavaem agonia no madeiro maldito. Todavia, mesmo então, mesmo ali, ele teve poder para redimiressa alma da morte e lhe abrir os portais do Paraíso! Nunca duvide, portanto, ou questione asuficiência infinita do Salvador. Se um Salvador agonizante pôde salvar, muito mais depois queressurgiu em triunfo da sepultura, para nunca mais morrer! Ao salvar esse ladrão, Cristo deuuma mostra de seu poder na hora mesma em que esse estava quase obscurecido.

A salvação do ladrão agonizante demonstra que o Senhor tem o desejo e é apto para salvartodos os que vêm até ele. Se Cristo recebeu esse ladrão penitente e crente, então ninguémprecisa se desesperar de não ser bem recebido se tão-somente vier a ele. Se esse assaltanteem agonia não estava além do alcance da misericórdia divina, então ninguém que solicite agraça divina ficará sem resposta. O Filho do Homem veio "buscar e salvar o que se havia

perdido" (Lc 19.10), e ninguém pode estar numa condição pior do que essa. O evangelho deCristo é o poder de Deus "para todo aquele que crê" (Rm 1.16). Ó, não limite a graça divina!Um Salvador é fornecido até para o "principal" dos pecadores (1Tm 1.15), se tão-somente elecrer. Mesmo aqueles que chegam à hora da morte ainda em seus pecados não ficam semesperança.

Pessoalmente creio que muito, muito poucos sejam salvos num leito de morte, e são as raiasda loucura qualquer homem postergar sua salvação até lá, pois não há garantia nenhuma deque terá ele um leito de morte. Muitos são cortados subitamente, sem qualquer oportunidade dedeitar e morrer. Todavia, mesmo alguém naquele lugar não está além do alcance damisericórdia divina. Como disse um puritano, "há um caso tal registrado para que ninguémprecise se desesperar, mas apenas um, na escritura, para que ninguém possa abusar".

Sim, aqui vemos a condição de Cristo como Salvador. Ele veio a este mundo para salvarpecadores, e o deixou e foi ao Paraíso acompanhado por um criminoso salvo — o primeiro troféude seu sangue redentor!

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6. Aqui vemos o destino dos salvos na morte.

Em seu esplêndido livro, The Seven Sayings of Christ on the Cross, Dr. Anderson-Berryassinala que a palavra "Hoje" não está corretamente colocada na tradução de nossas versõestradicionais, e que a designada correspondência entre o pedido do ladrão e a resposta de Cristorequer uma construção diferente no último. A forma da réplica de Cristo tem o evidente desígniode fazer a correspondência em sua ordem de pensamento à petição do assaltante. Tal será vistose dispormos as duas em quadros paralelos, como segue:

E disse a Jesus

E disse-lhe JesusSenhor

Em verdade te digoLembra-te de mimEstarás comigoQuando entraresHojeNo teu reinoNo Paraíso.

Ao ordenarmos assim as palavras, descobrimos a ênfase correta. "Hoje" é a palavra enfática.Na graciosa resposta de nosso Senhor ao pedido do ladrão temos uma ilustração contundentede como a graça divina excede as expectativas humanas. O ladrão rogou para que o Senhor selembrasse dele em seu reino vindouro, mas Cristo lhe assegura que antes que aquele diamesmo tivesse passado ele estaria com o Salvador. O ladrão pede para ser lembrado em umreino terreno, mas Cristo assegura a ele um lugar no Paraíso. O ladrão simplesmente pede paraser lembrado, mas o Salvador declarou que deveria estar com ele. Assim Deus fazabundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos.

Não somente a resposta de Cristo significa a sobrevivência da alma após a morte do corpo,mas nos diz que o crente está com ele durante o intervalo que faz a divisão entre a morte e aressurreição. Para tornar isso mais enfático, Cristo precedeu sua promessa com as solenes masseguras palavras "Em verdade te digo". Foi essa perspectiva de ir para Cristo depois da morte

que animou o mártir Estevão em sua última hora e, em conseqüência, ele de fato bradou,"Senhor Jesus, recebe o meu espírito" (At 7.59). Foi essa bendita expectativa que levou oapóstolo Paulo a dizer, tenho o "desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muitomelhor" (Fp 1.23). Não em um estado de ausência de consciência no túmulo, mas com Cristo noParaíso é o que aguarda todo crente após a morte. Digo, todo "crente", pois as almas dosincrédulos, ao invés de irem para lá, vão para o lugar de tormentos, como está claro no ensinode nosso Senhor em Lucas 16. Leitor, para onde irá a sua alma, se estiver morrendo nessemomento?

Quão arduamente Satanás luta para ocultar essa abençoada esperança dos santos de Deus!Por um lado ele propaga o infeliz dogma do sono da alma, o ensino de que os crentes ficam emum estado de inconsciência entre a morte e a ressurreição; e, por outro, ele inventa um horrível

purgatório, para aterrorizá-los com o pensamento de que, ao morrerem, passam pelo fogo,necessário para purificá-los e adequá-los para o céu. Quão inteiramente a palavra de Cristo aoladrão liquida essas ilusões que desonram a Deus! O ladrão foi da cruz direto para o Paraíso! Omomento em que um pecador crê, é o momento em que ele é tornado idôneo "para participarda herança dos santos na luz" (Cl 1.12). "Porque com uma só oblação aperfeiçoou para sempreos que são santificados" (Hb 10.14). Nossa aptidão para a presença de Cristo, tanto quantonosso título, repousa unicamente em seu sangue derramado.

7. Aqui vemos o anelo do Salvador por comunhão.

Na comunhão alcançamos o clímax da graça e a essência do privilégio cristão. Mais alto queessa comunhão não podemos chegar. Deus nos chamou "para a comunhão de seu Filho" (1Co

1.9). Freqüentemente se nos diz que somos "salvos para servir", e isso é verdade, mas ésomente parte dessa, e de modo nenhum a mais maravilhosa e abençoada. Somos salvos paraa comunhão. Deus tinha inumeráveis "servos" antes que Cristo viesse aqui para morrer — osanjos sempre cumpriram suas ordens. Ele veio primeiramente, não para se assegurar de servos,mas daqueles que deveriam entrar em comunhão com ele.

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O que torna o céu superlativamente atraente ao coração do santo não é o fato de ser umlugar onde seremos libertos de toda tristeza e sofrimento, de ser onde encontraremos outra vezaqueles que amamos no Senhor, nem por suas ruas de ouro, portas de pérolas e muros de jaspe — não, benditas coisas são essas, mas o céu sem Cristo não seria céu. É Cristo que ocoração do crente anseia e almeja — "Quem tenho eu no céu senão a ti? e na terra não háquem eu deseje além de ti" (Sl 73.25). E a mais surpreendente coisa é que o céu não será céupara Cristo no sentido mais elevado até que seus remidos estejam reunidos em torno dele. Épor seus santos que seu coração deseja ardentemente. Vir outra vez e "receber-nos para si

mesmo" é a jubilosa expectativa posta perante ele. Não até que veja o trabalho de sua alma efique totalmente satisfeito.

Esses são os pensamentos sugeridos e confirmados pelas palavras do Senhor Jesus ao ladrãoagonizante. "Senhor, lembra-te de mim" fora seu clamor. E qual foi a resposta? Reparecuidadosamente nela. Houvesse Cristo simplesmente dito, "Em verdade te digo que hoje estarásno Paraíso", isso teria cessado os temores do ladrão. Sim, mas isso não satisfez ao Salvador.Aquilo sobre o qual seu coração estava firmado era o fato de que naquele mesmo dia uma almasalva por seu precioso sangue deveria estar com ele no Paraíso! Dizemos outra vez, esse é oclímax da graça e a essência da bênção cristã. Disse o apóstolo que tinha o "desejo de partir, eestar com Cristo" (Fp 1.23). E novamente ele escreveu: "Ausentes deste corpo" — livres de todador e cuidado? Não. "Ausentes do corpo" — trasladados à glória? Não. "Ausentes deste corpo...presentes com o Senhor" (2Co 5.8, ARA). Assim também com Cristo. Disse ele: "Na casa demeu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos lugar";todavia, ao acrescentar "virei outra vez", não diz "E conduzir-vos-ei à casa do Pai", ou "levar-vos-ei ao lugar que tenho preparado a vós", mas "virei outra vez, e vos tomarei para mimmesmo" (Jo 14.2,3). Estar "para sempre com o Senhor" (1Ts 4.17) é a meta de todas as nossasesperanças; ter-nos para sempre consigo é o que ele anseia com ardente e alegre expectativa.Estarás comigo no Paraíso!

3. A PALAVRA DE AFEIÇÃO

E junto à cruz de Jesus estava sua mãe, e a irmã de sua mãe, Maria de Cleofas, e MariaMadalena. Ora Jesus, vendo ali sua mãe, e que o discípulo a quem ele amava estava presente,

disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho.

João 19. 25,26

"E JUNTO à cruz de Jesus estava sua mãe" (Jo 19.25). Como seu Filho, Maria estavafamiliarizada com o sofrimento. Desde o princípio somos informados: "E, entrando o anjo ondeela estava, disse: Salve, agraciada; o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres. E,vendo-o ela, turbou-se muito com aquelas palavras e considerava que saudação seria esta" (Lc1.28,29). Isso foi apenas o prenúncio de muitas perturbações: Gabriel tinha vindo lhe anunciaro fato da concepção milagrosa, e um momento de reflexão nos mostrará que não foi coisa fácilpara Maria o se tornar a mãe do nosso Senhor dessa forma misteriosa e sem precedentes. Semdúvida, isso trouxe, mais tarde, grande honra, mas também não pouco perigo no presente para

a reputação de Maria, e não pouca prova para a sua fé. É belo observar sua quieta submissão àvontade divina: "Disse, então, Maria: Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo atua palavra" (Lc 1.38), foi a sua resposta. Isso foi resignação amorosa. Todavia, ela ficou"perturbada" com a Anunciação e, como dissemos, foi apenas o precursor das muitas provas eaflições.

Que aflição deve ter lhe causado quando, por não haver nenhum quarto na pousada, ela teveque deitar o seu bebê recém-nascido numa manjedoura! Que angústia deve ter sido a suaquando soube do intento de Herodes de matar a vida do seu infante! Que transtorno lhe deu serforçada, por conta dele, a fugir para um país estrangeiro e residir por vários anos na terra doEgito! Que golpes penetrantes na sua alma devem ter sido ao ver seu Filho desprezado erejeitado pelos homens! Que aperto no coração causava a tristeza de contemplá-lo como odiado

e perseguido pela sua própria nação! E quem pode estimar o que ela experimentou enquantopermanecia ali ao pé da cruz? Se Cristo foi o homem de dores, não foi ela a mulher de dores?

"E junto à cruz de Jesus estava sua mãe" Jo 19.25

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1. Aqui vemos o cumprimento da profecia de Simeão.

De acordo com as exigências da lei de Moisés, os pais do menino Jesus trouxeram-no aotemplo para apresentá-lo ao Senhor. Então, aconteceu que o velho Simeão, que esperava pelaConsolação de Israel, o tomou em seus braços e bendisse a Deus. Depois de dizer:

Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra, pois já os meusolhos viram a tua salvação, a qual tu preparaste perante a face de todos os povos, luz paraalumiar as nações e para glória de teu povo Israel" (Lucas 2.29-32), ele se voltou para Maria e

disse:"Eis que este é posto para queda e elevação de muitos em Israel e para sinal que é

contraditado (e uma espada traspassará também a tua própria alma), para que se manifestemos pensamentos de muitos corações" (Lucas 2.34, 35).

Que estranha palavra, essa! Poderia ser que dela, o maior de todos os privilégios fosse trazera maior de todas as tristezas? Parecia a coisa mais improvável quando Simeão falou. Todavia,quão verdadeira e tragicamente veio a acontecer! Aqui na cruz essa profecia de Simeão foicumprida.

"E junto à cruz de Jesus estava sua mãe" (Jo 19.25). Após os dias de sua infância eadolescência, e durante todo o ministério público de Cristo, vemos e ouvimos muito pouco deMaria. Sua vida foi vivida na obscuridade, entre as sombras. Mas agora, quando a hora supremalhe golpeava com a agonia do seu Filho, quando o mundo rejeitava o filho do seu ventre, elapermaneceu ali, junto à cruz! Quem pode retratar adequadamente tal figura? Maria estava maisperto do madeiro cruel! Despojada de fé e esperança, frustrada e paralisada pela estranha cena,todavia, ligada com a corrente dourada de amor àquele que estava agonizando, ali elapermanece! Experimente e leia os pensamentos e as emoções do coração daquela mãe. Ó, queespada foi aquela que perfurou a sua alma então! Felicidade tal como nunca em um nascimentohumano, tristeza tal como nunca em uma morte desumana.

Aqui vemos demonstrado o coração de mãe. Ela é a mãe daquele homem moribundo.Aquele que agonizava ali sobre a cruz era o seu filho. Ela foi a primeira a beijar aquelatesta agora coroada de espinhos. Ela foi a primeira a guiar aquelas mãos e pés nos seus

movimentos quando bebê. Nenhuma mãe jamais sofreu como ela. Seus discípulospodem desertá-lo, seus amigos podem esquecê-lo, sua nação pode desprezá-lo, mas suamãe permanece ali ao pé da sua cruz. Oh, quem pode sondar ou analisar o coração daMãe?

Quem pode mensurar aquelas horas de tristeza e sofrimento à medida que a espadaatravessava lentamente a alma de Maria? Não houve nenhum pranto histérico ou efusivo. Nãohouve nenhuma demonstração de fraqueza feminina; nenhum clamor violento vindo de umaangústia incontrolável; nenhum desmaio. Palavra alguma de seus lábios ficou registrada pornenhum dos quatro evangelistas: ela aparentemente sofreu em vigoroso silêncio. Todavia, suatristeza não foi menos real e aguda. Águas silenciosas penetram fundo. Ela viu aquela testaperfurada com espinhos cruéis, mas não pôde alisá-la com seu terno toque. Ela viu suas mãos

perfuradas e seus pés ficarem dormentes e pálidos, mas ela não podia esfregá-los. Ela notousua necessidade de água, mas não lhe foi permitido saciar sua sede. Ela sofreu em profundadesolação de espírito.

"E junto à cruz de Jesus estava sua mãe" (Jo 19.25). A multidão estava zombando; osladrões, insultando; os sacerdotes, escarnecendo; os soldados, endurecidos e indiferentes; oSalvador, sangrando e morrendo - e ali está sua mãe contemplando a horrível zombaria. Quemficaria maravilhado se ela desmaiasse diante de uma tal visão! Quem ficaria maravilhado se elase afastasse de um tal espetáculo! Quem ficaria maravilhado se ela fugisse de uma tal cena!

Mas não! Ali estava ela: não se encolhe, não desmaia, e nem mesmo desaba ao chão em sua

dor - ela permaneceu de pé. Sua ação e atitude são singulares. Em todos os anais da história danossa raça não há nenhum paralelo. Que coragem transcendente! Ela permaneceu junto à cruzde Jesus - que vigor maravilhoso! Ela reprimiu sua dor, e permaneceu ali quieta. Não foi areverência pelo Senhor que a guardou de perturbá-lo em seus últimos momentos?

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"Ora, Jesus, vendo ali sua mãe e que o discípulo a quem ele amava estava presente, disse àsua mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Depois, disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquelahora o discípulo a recebeu em sua casa" Jo 19.26, 27

2. Aqui vemos o homem perfeito colocando um exemplo para os filhos honrarem os seuspais.

O Senhor Jesus evidenciou sua perfeição na maneira com que cumpriu plenamente asobrigações de toda relação que ele manteve, quer para com Deus, quer para com os homens.

Na cruz nós contemplamos seu terno cuidado e solicitude para com sua mãe, e nisto temos opadrão de Jesus Cristo apresentado a todos os filhos para que eles o imitem, ensinando-lhescomo se portarem para com os seus pais de acordo com as leis da natureza e da graça.

As palavras que o dedo divino gravou nas duas tábuas de pedra, e que foram dadas a Moisésno Monte Sinai, nunca foram anuladas. Elas ainda estão em vigor enquanto a terra perdurar.Cada uma delas está incorporada no ensino didático do Novo Testamento. As palavras de Êxodo20.2 são reiteradas em Efésios 6.1-3: "Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor,porque isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa,para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra".

O mandamento para os filhos honrarem os seus pais vai muito além de uma mera obediênciaa essa vontade expressa, embora, certamente, inclua essa. Ele envolve amor e afeição, gratidãoe respeito. Com freqüência se pensa que esse quinto mandamento é dirigido aos jovenssomente. Nada pode estar mais longe da verdade. Inquestionavelmente ele se dirige a eles emprimeiro lugar, pois na ordem da natureza os filhos são sempre primeiramente jovens. Masconcluir que tal mandamento perca força quando a infância é deixada para trás é não entenderpelo menos metade do seu significado profundo. Como sugerido, a palavra "honra" vai além deobediência, embora essa seja seu sentido principal. No curso do tempo os filhos crescem atéalcançar a virilidade, que é a idade de plena responsabilidade pessoal, a idade quando eles nãomais estão debaixo do controle dos seus pais, todavia, as suas obrigações não cessaram. Elesdevem aos seus pais um débito que eles nunca podem se desobrigar plenamente. O mínimo dosmínimos que podem fazer é manter os seus pais em alta estima, colocá-los no lugar desuperioridade e reverenciá-los. No Exemplo perfeito encontramos tanto obediência como estimamanifestadas.

O fato de que o último Adão não veio a este mundo como o primeiro Adão - em plena possedas glórias distintivas da humanidade: totalmente desenvolvido em corpo e mente - mas comoum bebê, tendo que passar por todo o período da infância, é um fato de tremenda importância evalor pela luz que ele lança sobre o quinto mandamento. Durante seus primeiros anos, o meninoJesus estava sob o controle de Maria, sua mãe, e de José, seu pai legal. Isso é belamentedemonstrado no segundo capítulo de Lucas.

Quando chegou aos doze anos, Jesus foi levado por eles até Jerusalém para a festa daPáscoa. O retrato apresentado é profundamente sugestivo se a devida atenção lhe for dada. Nofinal da festa, José e Maria partem para Nazaré, acompanhados pelos seus amigos e supondoque Jesus estivesse com eles. Mas, pelo contrário, ele tinha permanecido na cidade real. Após

um dia de jornada sua ausência foi descoberta. Imediatamente eles voltaram para Jerusalém, eali o encontraram no templo. Sua mãe o interroga assim: "Quando os pais viram o menino,também ficaram admirados. E a sua mãe lhe disse: —Meu filho, por que foi que você fez issoconosco? O seu pai e eu estávamos muito aflitos procurando você" (Lc 2.48, ARA). O fato deque ela o buscara "aflita" implica fortemente que ele quase nunca havia estado fora da esferaimediata da influência dela. Não encontrá-lo por perto foi para ela uma nova e estranhaexperiência, e o fato de que ela, assistida por José, o buscou "aflita" revela a bela relaçãoexistente entre eles no lar em Nazaré! A resposta que Jesus deu à sua pergunta, quandocorretamente entendida, também revela a honra que tinha por sua mãe. Estamos bem deacordo com o Dr. Campbell Morgan de que Cristo não a repreendeu aqui. Em grande medida,trata-se de uma questão de achar a ênfase correta: "Não sabeis?". Como o expositoranteriormente mencionado bem o diz: "É como se ele tivesse dito: ‘Mãe, certamente você me

conhece bem o suficiente para saber que nada pode me deter, senão os negócios do Pai". Aseqüência é igualmente bela, pois lemos "E desceu com eles, e foi para Nazaré, e era-lhessujeito" (Lc 2.51). E assim, por todo o tempo o Cristo de Deus deu o exemplo para os filhosobedecerem aos seus pais.

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Mas há mais. Aconteceu com Cristo o mesmo que nos sucede: os anos de obediência à Mariae José terminaram, mas não os anos de "honra". Nas últimas e terríveis horas de sua vidahumana, no meio dos sofrimentos infinitos da cruz, o Senhor Jesus pensou naquela que oamava e a quem ele amava; ele pensou na sua necessidade presente e proveu para a suanecessidade futura encomendando-a aos cuidados daquele discípulo que mais profundamenteentendeu o seu amor. Seu pensamento em Maria naquela hora e a honra que ele lhe deu foiuma das manifestações de sua vitória sobre a dor.

Talvez se requeira uma palavra com relação à forma com que nosso Senhor se dirige à

sua mãe - "Mulher". Até onde os registros dos quatro evangelhos vão, nunca ele achamou de sua "Mãe". Para nós que vivemos hoje, a razão para isso não é difícil de serdiscernida. Olhando para os séculos vindouros com previsão onisciente, e vendo ohorrível sistema de Mariolatria tão logo sendo erigido, ele se refreou de usar umapalavra que de alguma forma sustentasse essa idolatria - a idolatria de prestar à Maria aveneração que só a seu Filho é devida; a idolatria de adorá-la como sendo "A Mãe deDeus".

Por duas vezes nos registros dos evangelhos, encontramos sim nosso Senhor se dirigindo aMaria como "Mulher", e é mais digno de nota que ambas se encontram no de João, o qual, comobem sabido, apresenta a deidade de nosso Salvador. Os sinóticos o expõe em suas relaçõeshumanas; tal não se dá com o quarto evangelho. O de João apresenta Cristo como o Filho deDeus, e como tal, acima de todas as relações humanas, e daí a perfeita consonância de mostraro Senhor Jesus aqui se dirigindo a Maria como "Mulher".

O ato de nosso Senhor na cruz, encomendando-a aos cuidados de seu amado apóstolo, émais bem entendido à luz da viuvez de sua mãe. Ainda que os evangelhos não registremespecificamente a sua morte, há poucas dúvidas de que José morrera antes do tempo em que oSenhor Jesus começou seu ministério público. Nada é informado sobre o marido dela após oincidente relatado em Lucas 2, quando Jesus era um menino de doze anos. Em João 2 Maria évista nas bodas de Caná, mas não se fala nada sobre se José estava presente. Foi em vista daviuvez de Maria, portanto, e também do fato de que o tempo agora chegara, quando não maisseria um conforto para ela com sua presença corporal, que seu amoroso cuidado é manifestado.

Permita-me apenas uma breve palavra de exortação. Provavelmente tais linhas poderão

ser lidas por várias pessoas adultas que ainda têm pais e mães vivos. Como você estátratando deles? Está verdadeiramente "honrando-os"? Esse exemplo de Cristo na cruznão o deixa envergonhado? Pode ser que você seja jovem e vigoroso, e seus pais, decabelos grisalhos e doentes; mas diz o Espírito Santo: "não desprezes a tua mãe, quandovier a envelhecer" (Pv 23.22). Pode ser que você seja rico, e eles, pobres; então nãodeixe de prover por eles. Pode ser que eles vivam em um estado ou uma terra distante,então não seja negligente, deixando de escrever-lhes palavras de apreço e alegria quedarão brilho ao término de seus dias. São obrigações sagradas: "Honra a teu pai e a tuamãe".

3. Aqui vemos que João retornara ao lado do Salvador.

Com exceção, naturalmente, do sofrimento de Cristo na mão de Deus, talvez a escória maisamarga de todas no copo em que ele bebeu fosse o seu abandono por parte dos apóstolos. Foiruim o bastante e triste o bastante o fato de seu próprio povo, os judeus, desprezarem erejeitarem-no; porém, de longe pior foi os Onze, que o haviam acompanhado por tanto tempo,desertarem de seu Senhor na hora da crise. Alguém pensaria que sua fé e seu amor fossemiguais mesmo nos sobressaltos. Mas não foram. "Todos... deixando-o, fugiram" (Mt 26.56), é oque traz a narrativa sacra. Indizivelmente trágico isso. Seu fracasso em "vigiar" com ele poruma hora no Jardim bem que quase paralisa nossas mentes, mas o afastar-se dele na hora desua prisão quase desconcerta a nossa compreensão. Quase, dizemo-lo, pois se não tivermosaprendido por amarga experiência o engano que há em nossos corações, quão débil é a nossafé, quão lamentavelmente fracos nós somos na hora da provação e do teste! Mas, pela graçadivina, a menor das ninharias é suficiente para nos vencer. Tirado o poder retentor e

sustentador de Deus, por quanto tempo nós agüentaríamos?O Senhor Jesus havia solenemente avisado esses discípulos de sua covardia próxima: "Então

Jesus lhes disse: Todos vós esta noite vos escandalizareis em mim; porque está escrito: Ferireio pastor, e as ovelhas do rebanho se dispersarão" (Mt 26.31). E não apenas Pedro, mas todos

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os apóstolos afirmaram sua determinação de ficar ao lado dele:

"Disse-lhe Pedro: Ainda que me seja mister morrer contigo, não te negarei. E todos osdiscípulos disseram o mesmo" (Mt 26.35). Entretanto, sua palavra se provou verdadeira, e elestodos desertaram dele de modo desprezível. E como isso refletia sobre sua glória! Pela fugapecaminosa, eles expuseram o Senhor Jesus ao desprezo e troças dos seus inimigos. É porcausa disso que lemos: "O sumo-sacerdote interrogou Jesus acerca dos seus discípulos" (Jo18.19). Nem é preciso complementar a frase. Sem dúvida, Caifás o inquiriu sobre quantos

discípulos ele tivera, e o que era feito deles agora? E qual foi a razão por que abandonaram seuMestre, e o deixaram se arranjar sozinho quando surgiu o perigo? Mas observe que, para essaquestão, o Salvador não deu resposta alguma. Ele não os acusaria ao inimigo comum ainda queeles tivessem desertado dele.

Eles o abandonaram porque ficaram "ofendidos" por causa dele: "Todos vós ficareis ofendidospor causa de mim esta noite" (Mt 26.31, KJV): a palavra grega aqui traduzida por "ofendido"pode bem ser vertida "escandalizado". Ficaram com vergonha de serem achados em suacompanhia. Eles julgaram não ser mais seguro permanecer com ele. Como ele se entregou,consideraram aconselhável se prevenir o quanto pudessem, e em algum lugar ou outro serefugiarem da presente tempestade que se abatera sobre ele. Isso forma o lado humano.

Da parte divina, o abandono de Cristo por eles era devido à suspensão da graça preservadorae sustentadora de Deus. Eles não estavam acostumados a abandoná-lo. Nunca o fariam maistarde. Jamais teriam agido assim nesse momento se tivesse havido influências de poder, zelo eamor vindas do céu sobre eles. Mas então como poderia Cristo ter carregado o fardo e a cóleradaquele dia? Como deveria ele ter pisado o lagar sozinho? Como deveriam suas dores ter ficadosem lenitivo se eles houvessem aderido fielmente a ele? Não, não, não o deve ser. Cristo nãodeve ter o menor alívio ou conforto de qualquer criatura e, por essa razão, para que ele pudesseser deixado sozinho com a ira de Deus e do homem, o Senhor por um tempo retém suasinfluências revigorantes deles; e então, como Sansão, quando teve cortado os cachos de suacabeleira, ficaram tão fracos como os outros homens. "Fortalecei-vos no Senhor e na força doseu poder", diz o apóstolo — se tal é retido, nossos desígnios e resoluções se derretem dianteda tentação como a neve diante do sol.

Todavia, observe que a covardia e a infidelidade dos apóstolos foi apenas temporária. Maistarde, eles o buscaram no lugar assinalado na Galiléia (Mt 28.16). Mas não é motivo de regozijosaber que um dos onze procurou sim a ele antes de sua ressurreição triunfante do túmulo? Sim,foi procurado enquanto ainda pendia na cruz de vergonha! E quem se poderia supor que fosse?Qual do pequeno grupo dos apóstolos deve demonstrar a superioridade de seu amor? Mesmo sea narrativa sagrada houvesse ocultado sua identidade, não teria sido algo difícil fornecer seunome. O fato ora considerado na escritura mostra-nos João ao pé da cruz, e é uma testemunhasilenciosa porém suficiente da divina inspiração da Bíblia. É uma daquelas harmoniasnãointencionadas da palavra que atesta a origem sobre-humana das escrituras. Não há

indicação alguma que qualquer outro dos onze estivesse ao redor da cruz, mas o leitor atentoesperaria achar ali "o discípulo a quem Jesus amava". E lá estava ele. João retornara ao lado do

Salvador, e ali recebe dele uma bendita comissão. Quão natural e quão perfeita é a silenciosaharmonia da escritura!

E agora, mais uma vez, uma breve palavra de exortação. Há alguém que lê estas linhas queesteja se apartando do lado do Salvador, que não mais esteja desfrutando da doce comunhãocom ele; que, em uma palavra, esteja desviado? Talvez na hora da prova você o tenha negado.Talvez na hora do teste você falhou. Você pensa mais nos seus próprios interesses que nos dele.A honra do nome dele, que você porta, foi perdida de vista. Ó, que a flecha da convicção agoraentre em sua consciência. Possa a divina graça enternecer o seu coração. Possa o poder deDeus trazê-lo de volta a Cristo, onde somente sua alma pode encontrar satisfação e paz. Aquihá encorajamento para você. Cristo não repreendeu João por retornar; antes, sua maravilhosagraça concedeu-lhe um inefável privilégio. Cesse então de suas perambulações e volte

imediatamente a Cristo, e ele o saudará com uma palavra de boas-vindas e de alegria; e quemsabe se ele não tem uma honrosa comissão aguardando por você!

4. Aqui descobrimos uma ilustração da prudência de Cristo.

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Já vimos como o ato de Cristo em encomendar Maria às mãos de seu discípulo foi umaexpressão de seu terno amor e de sua presciência. Pois João se encarregar da mãe viúva doSalvador foi uma abençoada comissão e, contudo, um legado precioso. Quando Cristo lhe disse,"Eis aí tua mãe", foi como se tivesse dito, Seja ela para ti como tua própria mãe: Seja teu amorpor mim agora manifestado em teu terno cuidado por ela. Porém, havia muito mais do que issopor trás desse ato de Cristo.

Outrora já fora predito que o Senhor Jesus deveria agir sábia e discretamente. Por meiode Isaías, Deus dissera: "Eis que o meu servo operará com prudência" (52.13). Ao

encomendar sua mãe aos cuidados de seu amado apóstolo, o Salvador mostrou sábiadiscriminação em sua escolha daquele que a partir de então seria o guardião dela.Talvez não houvesse ninguém que compreendesse o Senhor Jesus tão bem quanto suamãe, e é quase certo que ninguém apreendera seu amor tão profundamente quanto João.Vemos portanto como seriam eles companhias apropriadas um para o outro, visto quehavia um laço íntimo de simpatia comum que os unia juntamente e os ligava a Cristo!Desse modo, não havia ninguém tão adequado para cuidar de Maria, ninguém cujacompanhia ele acharia tão afim e, por outro lado, não existia ninguém cuja companhiaJoão pudesse desfrutar mais.

Além disso, deve-se ter na mente que uma obra maravilhosa e honrosa estava esperando porJoão. Anos mais tarde, o Senhor Jesus foi revelar a si próprio ao apóstolo no gloriosoapocalipse. Como, então, ele melhor poderia se habilitar para tal senão estando constantementecom ela, que vivera em estreita intimidade e comunicação com o Salvador durante os trintaanos que ele tinha esperado para dar início ao seu trabalho! Podemos, portanto, ver como erade significativa propriedade que esses dois — Maria e João — fossem trazidos para junto um dooutro. Admire então a prudência da eleição por Cristo de um lar para Maria, e ao mesmo tempoprovendo uma companhia para o discípulo a quem ele amava, que poderia ter uma benditacompanhia espiritual.

Antes de passarmos para o nosso próximo ponto, podemos fazer uma observação de queesse recolhimento de Maria à casa de João traz luz a um incidente registrado no próximocapítulo do evangelho escrito por ele. Em João 20 se nos informa da visita de Pedro e João aosepulcro vazio. João ultrapassou seu companheiro e chegou primeiro ao túmulo, mas nãoentrou. Pedro, como era de sua característica, adentra o sepulcro, e nota a ordenada disposição

das roupas. Então entra João e vê e "crê", pois até esse tempo a fé deles não tinha apanhado osentido das promessas da ressurreição de Cristo. Conseqüente com a crença de João, lemos: "Eos discípulos voltaram assim para os seus lares" (Jo 20.10, Tradução do Novo Mundo). Não nosé dito o porquê deles assim agirem, mas, à vista de João 19.27, a explicação fica óbvia. Ali senos conta que "desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa", e agora que fica sabendoque o Salvador ressurgira dentre os mortos, e se apressa para "casa" para dizer a ela as boasnovas! Quem mais do que ela regozijar-se-ia ante essas notícias alvissareiras! Esse é um outroexemplo da harmonia silenciosa e escondida da escritura.

5. Aqui vemos que as relações espirituais não devem ignorar as responsabilidades naturais.

O Senhor Jesus estava morrendo como o Salvador para os pecadores. Ele estava

comprometido com a mais importante e estupenda incumbência que esta terra jamaistestemunhou ou testemunhará. Ele estava a ponto de oferecer satisfação à justiça divinaultrajada. Ele estava para fazer aquela obra pela qual o mundo fora feito, pela qual araça humana fora criada, pela qual todas as eras aguardaram, e pela qual ele, o Verboeterno, se encarnara. Entretanto, ele não passou por cima das responsabilidades doslaços naturais; ele não deixou de fazer provisão àquela que, de acordo com a carne, erasua mãe.

Há aqui uma lição a qual muitos precisam levar a sério nos dias correntes. Nenhumaobrigação, nenhuma obra, por importante que seja, pode nos servir de escusa para deixarmosas obrigações de natureza, de cuidar daqueles por quem temos deveres de sangue. Aqueles quepartem como missionários para labutar em terras pagãs, e que deixam para trás seus filhos, ou

que os enviam de volta à terra natal para serem cuidados por estranhos, não estão seguindo ospassos do Salvador. Aquelas mulheres que passam a maior parte de seu tempo em reuniõespúblicas, ainda que sejam de cunho religioso, ou que descem às favelas para ministrar aospobres e necessitados, negligenciando sua própria família em casa, só estão trazendo vitupérioao nome e à causa de Cristo. Tais homens, mesmo que estejam à frente da obra de Cristo, que

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estão tão ocupados pregando e ensinando que não têm tempo algum para cumprir asobrigações por ele devidas às suas próprias esposas e filhos, precisam estudar e praticar oprincípio exemplificado aqui por Cristo na cruz.

. Aqui vemos uma necessidade universal exemplificada.

Quão diferente é a Maria da escritura da Maria da superstição! Ela não era nenhuma Madonaaltiva, mas um membro da raça caída como cada um de nós, uma pecadora tanto por naturezaquanto por prática. Antes do nascimento de Cristo ela declarou: "A minha alma engrandece ao

Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador" (Lc 1.46,47). E agora, na morte doSenhor Jesus ela é encontrada perante a cruz. A palavra de Deus não apresenta a mãe de Jesuscomo a rainha dos anjos adornada com diadema, mas como alguém que se deleitava em umSalvador. É verdade que ela é "bendita entre (não ‘acima de’) as mulheres", e isso em virtudeda elevada honra de ser a mãe do Redentor; todavia, ela era humana, um membro real denossa raça caída, uma pecadora que precisava de um Salvador.

Ela permaneceu junto à cruz. E quando ali estava, o Salvador exclamou, "Mulher, eis aí o teufilho!" (Jo 19.26). Ali, resumida numa simples palavra, é expressa a necessidade de tododescendente de Adão — voltar os olhos do mundo, para fora do eu, e olhar por fé para oSalvador que morreu pelos pecadores. Ali está o divino epítome do Caminho da Salvação.Libertação da ira vindoura, perdão dos pecados, aceitação por parte de Deus, tudo isso é obtido,não por feito meritório, não por boas obras, não por ordenanças religiosas; não, a salvação vempor contemplar — "Eis o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". Assim como osisraelitas mordidos pelas serpentes no deserto foram curados por um olhar, por um olhar para oque Jeová designou que fosse o objeto da fé deles, também hoje a redenção da culpa e dopoder do pecado, a libertação da maldição da lei quebrada e do cativeiro de Satanás, deve serencontrada somente pela fé em Cristo. "E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assimimporta que o Filho do homem seja levantado; para que todo aquele que nele crê não pereça,mas tenha a vida eterna" (João 3.14,15). Há vida em um olhar. Leitor, você já contemploudesse modo aquele divino Sofredor? Você o viu morrendo na cruz, o justo pelo injusto, para quepudesse nos trazer para Deus? Maria, mãe de Cristo, precisava "contemplá-lo", e assim é comvocê. Olhe então, olhe para Cristo e serás salvo.

7. Aqui vemos a maravilhosa combinação das perfeições de Cristo.

Essa é uma das maiores maravilhas de sua pessoa — a combinação da mais perfeita afeiçãohumana com sua glória divina. O próprio evangelho que o mostra sobretudo como Deus é aquicuidadoso par provar que ele era homem — o Verbo que se fez carne. Comprometido queestava na divina transação, fazendo expiação por todos os pecados de seu povo, lutando contraos poderes das trevas, todavia, em meio a isso tudo, ele ainda tinha a mesma ternura humana,que mostra a perfeição do homem Jesus Cristo.

Esse cuidado por sua mãe na hora da morte era característico de toda a sua conduta. Tudoera natural e perfeito. A simplicidade não estudada dele é mais notada. Não havia nadapomposo ou faustoso. Muitas das suas mais poderosas obras foram feitas no caminho, nacabana ou entre um pequeno grupo de sofredores. Muitas de suas palavras,

que ainda hoje são insondáveis e inexauríveis em sua riqueza de significação, foramproferidas quase que casualmente enquanto caminhava com alguns amigos. Assim o foina cruz. Ele estava executando aquela mais poderosa obra de toda a história. Ele estavacomprometido em realizar aquela que faz com que, em comparação, a criação do mundose esmaeça em total insignificância, porém, não esquece de fazer provisão para sua mãe— provisão essa que ele pôde fazer bastante quando estiveram juntos na casa emNazaré. Corretamente foi dito outrora: "Seu nome será Maravilhoso" (Is 9.6).Maravilhoso o foi em tudo que fez. Maravilhoso o foi em todo relacionamento que elemanteve. Maravilhoso o foi em sua pessoa, e maravilhoso o foi em sua obra.Maravilhoso o foi em vida, e maravilhoso o era na morte. Que nos maravilhemos eadoremos.

4 A PALAVRA DE ANGÚSTIA

"E perto da hora nona exclamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lama sabactani;

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isto é, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?"

Mateus 27.46"Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?"

ESSAS SÃO PALAVRAS DE CHOCANTE IMPORTÂNCIA. A crucificação do Senhor da glória foi omais extraordinário evento que já aconteceu na terra, e esse brado do padecente foi a maisextraordinária expressão daquela aterradora cena. Que um inocente fosse condenado, que osem culpa fosse perseguido, que um benfeitor fosse cruelmente sentenciado à morte, não era

nenhum acontecimento novo na história. Do assassínio do justo Abel àquele de Zacarias houveuma longa lista de martírios. Mas aquele que pendurado estava na cruz do centro não eranenhum homem comum, era o Filho do Homem, aquele no qual todas as excelências seencontravam — o Perfeito. Seu caráter era como sua túnica, "tecida toda de alto a baixo, [e]não tinha costura".

No caso dos outros maltratados havia deméritos e manchas que poderiam proporcionar aosseus assassinos algo com que culpá-los. Mas desse o juiz falou: "Não acho nele crime algum".

E mais. Esse Sofredor não era apenas um homem perfeito, mas o Filho de Deus. Todavia,não era estranho que o homem quisesse destruir Deus. "Disse o néscio no seu coração: Não háDeus" (Sl 14.1), tal é o seu desejo. Mas é estranho que aquele que era Deus manifestado nacarne devesse permitir a si mesmo ser assim tratado por seus inimigos. É extremamenteestranho que o Pai que se deleitava nele, cuja própria voz declarara dos céus abertos, "Este é omeu Filho amado, em quem me comprazo", devesse entregá-lo a uma morte tão vexaminosa.

"Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?"

Essas são palavras de estarrecedora miséria. A própria palavra "desamparaste" é uma dasmais trágicas em todas as línguas humanas. O escritor jamais se esquecerá da sensação queteve ao passar uma vez por uma cidade deserta, sem habitante algum — uma cidadedesamparada. Que calamidades são conjuradas por tal palavra — um homem desamparado deseus amigos, uma esposa desamparada de seu marido, uma criança desamparada por seuspais! Mas uma criatura desamparada por seu Criador, um homem desamparado de Deus — Ó,isso é o mais horrendo de tudo. Esse é o mal dos males. Isso é a calamidade climatérica.

Verdade, os homens caídos, em sua condição não renovada, não o acham. Mas aquele que, pelomenos em certa medida, aprendeu que Deus é a essência de toda perfeição, a fonte e a metade toda excelência, cujo clamor é "Como o cervo brama pelas correntes das águas, assimsuspira a minha alma por ti, ó Deus!" (Sl 42.1), prontamente endossará o que acaba de serdito. O clamor dos santos em todas as eras tem sido, "Não nos desampare, ó Deus". Pois oSenhor esconder sua face de nós por um momento que seja é insuportável. Se isso é verdadequanto aos pecadores regenerados, quão infinitamente mais o é quanto ao Filho amadodo Pai!

Aquele que estava pendurado no madeiro maldito tinha sido desde toda eternidade oobjeto do amor do Pai. Empregando a linguagem de Provérbios 8, o Salvador padecenteera aquele que "estava com ele e era seu aluno", que estava "cada dia as suas delícias".

Seu próprio gozo fora contemplar a face do Pai. A presença do Pai fora seu lar, o seiodo Pai o lugar de sua habitação, a glória do Pai ele compartilhara antes que houvesse omundo. Durante os trinta e três anos que o Filho estivera na terra ele desfrutara decomunhão ininterrupta com o Pai. Nunca um pensamento que estivesse fora daharmonia com a mente do Pai, nunca uma volição que não fosse originária da vontadedo Pai, nunca um momento que fosse passado fora de sua presença consciente. O queentão deve ter significado estar por ora "desamparado" por Deus! Ah, o ocultamentoda face divina dele foi o mais amargo ingrediente daquele copo que o Pai tinha dado aoRedentor para beber:

"Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?"

Essas são palavras de inigualável sentimento. Elas marcam o clímax de seus sofrimentos. Ossoldados haviam cruelmente zombado dele: enfeitaram-no com a coroa de espinhos, tinham-noaçoitado e esbofeteado, tinham até chegado a ponto de cuspir nele e arrancar seus cabelos.Despojaram-no de seus vestidos e o expuseram a uma vergonha explícita. Todavia, sofreu tudoisso em silêncio. Perfuraram suas mãos e seus pés, porém suportou a cruz, a despeito da

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ignomínia. A multidão vulgar escarnecia dele, e os ladrões com ele crucificados lhe lançavam emrosto os mesmos insultos; todavia, não abriu sua boca. Em resposta a tudo que sofria das mãosdos homens, nenhum clamor escapou de seus lábios. Mas agora, quando a ira concentrada docéu desce sobre si, ele exclama: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?"Seguramente, esse era um clamor que deveria enternecer o mais duro coração!

"Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?"

Essas são palavras do mais profundo mistério. Outrora o Senhor Jeová não abandonava

seu povo. Repetidamente ele foi seu refúgio na tribulação. Quando Israel esteve emcruel servidão clamou a Deus, e ele o ouviu. Quando ficou impotente diante do MarVermelho, ele veio em seu auxílio e o livrou de seus inimigos. Quando os três hebreusforam lançados dentro da fornalha de fogo, o Senhor esteve com eles. Mas daqui, dacruz, sobe um clamor mais dorido e agonizante do que jamais subira da terra do Egito,entretanto, não ouve resposta alguma! Eis aí uma situação de longe mais alarmante doque a crise do Mar Vermelho: inimigos mais implacáveis cercaram esse, e no entantonão houve livramento algum! Eis aí um fogo que ardia infinitamente mais do que o dafornalha de Nabucodonosor, mas sem ninguém ao seu lado para confortar! Ele éabandonado por Deus!

Não obstante, esse clamor do Salvador padecente é profundamente misterioso. De inícioclamou, "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem", e isso podemos compreender, poisestá em boa conformidade com seu coração compassivo. Outra vez abrira ele sua boca, paradizer ao ladrão penitente, "Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso", e issotambém podemos entender bem, pois está totalmente de acordo com sua graça para com ospecadores. Uma vez mais seus lábios se moveram — para sua mãe, "Mulher, eis aí o teu filho";para o amado João, "Eis aí tua mãe" — e isso também podemos apreciar. Porém, na próximavez em que ele abre sua boca, um brado nos faz ficar sobressaltados e desconcertados. Outroradisse Davi, "Nunca vi desamparado o justo", mas aqui vemos o Justo desamparado.

"Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?"

Essas são palavras da mais profunda solenidade. Esse foi um clamor que fez a própriaterra estremecer, e que reverberou por todo o universo. Ah, que mente é suficiente para

contemplar essa maravilha das maravilhas! Que mente é capaz de analisar o sentidodesse estupendo clamor que rasgou as trevas medonhas! "Por que me desamparaste?"são palavras que nos conduzem para dentro do Santo dos Santos. Aqui, se é que não o éassim também em todo lugar, é supremamente conveniente que removamos os sapatosda curiosidade carnal. As especulações são profanas; podemos apenas nos maravilhar eadorar.

Mas, embora tais palavras sejam de importância chocante, de assustadora miséria, do maisprofundo mistério, de singular sentimento, e de profunda solenidade, entretanto, não somosdeixados em ignorância quanto ao significado. Verdade, tal clamor foi profundamentemisterioso, todavia, é capaz da mais abençoada solução. As Escrituras Sagradas não deixammargem para dúvidas de que tais palavras de inigualável tristeza foram tanto a mais completa

manifestação do amor divino e da mostra mais inspiradora de terror da inflexível justiça divina.Possa todo pensamento ser agora trazido cativo a Cristo e nossos corações ficarem devidamentegraves enquanto analisamos mais de perto esse quarto pronunciamento do Salvadoragonizante.

"Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?"

1. Aqui vemos a enormidade do pecado e o caráter de seu salário.

O Senhor Jesus foi crucificado ao meio-dia, e na luz do Calvário tudo foi revelado em seuverdadeiro caráter. Ali, a própria natureza das coisas foi plena e finalmente exibida. Adepravação do coração humano — seu ódio por Deus, sua ingratidão abjeta, seu amor às trevas

no lugar da luz, sua preferência por um assassino no lugar do Príncipe da vida — foihorrivelmente mostrada. O terrível caráter do diabo — sua hostilidade contra Deus, suainsaciável inimizade contra Cristo, seu poder de pôr no coração do homem a traição ao Salvador— foi plenamente exposta. Assim, também, as perfeições da natureza divina — a inefávelsantidade de Deus, sua justiça inflexível, sua ira terrível, sua graça sem par — foi de todo

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conhecida. E ali também foi que o pecado — sua vileza, sua torpeza, sua não sujeição a leis —foi claramente exibido. Aqui nós vemos a horrenda extensão a que o pecado chegará. Em suaprimeira manifestação ele tomou a forma de suicídio, pois Adão destruiu sua própria vidaespiritual; em seguida o vemos em forma de fratricídio — Caim matando seu próprio irmão;mas na cruz o clímax é atingido, com o deicídio — o homem crucificando o Filho de Deus.

Porém, não apenas vemos a hediondez do pecado na cruz, mas ali também descobrimos ocaráter de seu horrível pecado. "O salário do pecado é a morte" (Rm 6.23). A morte é a herançado pecado. "Por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também

a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram" (Rm 5.12). Não houvessepecado nenhum, não haveria morte alguma. Mas o que é "morte"? É aquele pavoroso silêncioque reina supremo após se dar o último fôlego e o corpo ficar sem movimentos? É aquelacadavérica palidez que vem sobre a face quando o sangue cessa de circular e os olhos ficamsem expressão? Sim, é isso, mas muito mais. Algo de longe mais patético e trágico do que adissolução física está contido no termo.

O salário do pecado é a morte espiritual. O pecado separa de Deus, que é a fonte de todavida. Isso foi manifestado no Éden. Antes da Queda, Adão desfrutava de benditacompanhia com seu Criador, mas na própria véspera daquele dia que marcou a entradado pecado em nosso mundo, enquanto o Senhor Deus entrava no Jardim e sua voz eraouvida por nossos primeiros pais, o par culpado escondeu-se entre as árvores do lugar.Não mais poderiam eles gozar de comunhão com ele que é sempre Luz, antes, ficaramalienados dele. Assim, também, se deu com Caim: quando interrogado pelo Senhor eledisse: "Da tua face me esconderei" (Gn 4.14). O pecado exclui da presença de Deus.Essa foi a grande lição ensinada a Israel. O trono de Jeová estava no meio deles, todavianão era mais acessível. Ele habitava entre os querubins no santo dos santos e a esseninguém poderia chegar, com exceção do sumo sacerdote, e ele, apenas um dia por ano,levando sangue consigo. O véu pendurado tanto no tabernáculo quanto no templo,vedando o acesso ao trono divino, testemunhava o solene fato de que o pecado separadele.

O salário do pecado é a morte, não somente física, mas espiritual; não meramente naturalmas, essencialmente, morte penal. O que é morte física? É a separação da alma e do espírito docorpo. Assim, a morte penal é a separação da alma e do espírito de Deus. A palavra da verdade

fala daquela que vive em prazer como "embora viva, está morta" (1Tm 5.6, ARA). Repare,ainda, como a maravilhosa parábola do filho pródigo ilustra a força do termo "morte". Após oretorno do pródigo o pai disse: "Este meu filho estava morto, e reviveu, tinha-se perdido, e foiachado" (Lc 15.24). Enquanto ele estava na "terra longínqua", não havia cessado de existir;não, ele não estava morto fisicamente, mas espiritualmente — estava alienado e separado deseu pai!

Agora, na cruz, o Senhor Jesus estava recebendo o salário que era devido por seu povo. Elenão tinha pecado algum que fosse seu, pois era o Santo de Deus. Mas estava levando nossospecados em seu próprio corpo no madeiro (1Pd 2.24). Ele tinha tomado o nosso lugar e estavapadecendo o Justo pelo injusto. Ele estava carregando o castigo que nos traz a paz; e o saláriode nossos pecados, o sofrimento e castigo que era devido a nós, era "morte". Não meramente

física, mas penal; e, como dissemos, isso significava separação de Deus, e daí o Salvador terclamado: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?"

Assim, também, será com aquele que for impenitente até o fim. O pavoroso destino queaguarda o perdido é, dessa forma, exposto: "os quais sofrerão, como castigo, a perdiçãoeterna, banidos da face do senhor e da glória do seu poder" (2Ts 1.9, ARA). Separaçãoeterna daquele que é a fonte de todo bem e a origem de toda bênção. Ao ímpio, Cristodirá: "Apartai-vos de mim, malditos" — banimento de sua presença, um eterno exíliode Deus, é o que espera o condenado eternamente. Essa é a razão por que o Lago deFogo — a eterna morada daqueles cujos nomes não estão escritos no livro da vida — édesignada "A Segunda Morte" (Ap 20.14). Não que haverá extinção do ser, masseparação eterna do Senhor da Vida, uma separação a qual Cristo sofreu por três horas

enquanto estava pendurado no lugar do pecador. Na cruz, então, Cristo recebeu o saláriodo pecado.

"Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?"

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2. Aqui vemos a absoluta santidade e a inflexível justiça de Deus.

A tragédia do Calvário deve ser vista de pelo menos quatro pontos de vista. Na cruz ohomem fez uma obra: ele mostrou sua depravação ao pegar o Perfeito e com "mãos iníquas"pregando-o no madeiro. Na cruz Satanás fez uma obra: ele manifestou sua insaciável inimizadecontra a semente da mulher ferindo o calcanhar dele. Na cruz o Senhor Jesus fez uma obra:morreu o Justo pelos injustos para pudesse nos trazer a Deus. Na cruz Deus fez uma obra: eleexibiu sua santidade e satisfez sua justiça derramando sua ira sobre aquele que foi feito pecadopor nós.

Que pena humana é capaz ou apropriada para escrever acerca da imaculada santidadedivina! Tão santo é Deus que o mortal não pode vê-lo em seu ser essencial, e viver. Tão santo éDeus que os próprios céus não são puros aos seus olhos. Tão santo é Deus que até os serafinscobriam suas faces com véus diante dele. Tão santo é Deus que, quando Abraão ficou de péperante ele, clamou, "Sou pó e cinza" (Gn 18.27). Tão santo é Deus que, quando Jó entrou emsua presença, disse: "Por isso me abomino" (Jó 42.6). Tão santo é Deus que, quando Isaíasteve uma visão de sua glória, exclamou: "Ai de mim, que vou perecendo porque... os meusolhos viram o rei, o Senhor dos Exércitos" (Is 6.5). Tão santo é Deus que, quando Daniel ocontemplou numa manifestação teofânica, declarou: "Não ficou força em mim; desfigurou-se afeição do meu rosto" (Dn 10.8). Tão santo é Deus que nos é dito: "Tu és tão puro de olhos quenão podes ver o mal, e que não podes contemplar a perversidade" (Hc 1.13). E foi porque oSalvador estava levando nossos pecados que o trinamente santo Deus não o contemplou, virousua face dele, abandonou-o. O Senhor fez que se encontrasse em Jesus as iniqüidades de nóstodos: e nossos pecados estando sobre ele como nosso substituto, a ira divina contra as nossasofensas devesse passar sobre nossa oferta de pecado.

"Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" Essa era uma questão que nenhumdaqueles ao redor da cruz podia ter respondido; era uma questão que, ao mesmo tempo,nenhum dos apóstolos podia ter respondido; sim, era uma questão que havia confundido

os anjos no céu, deixando-os sem resposta. Mas o Senhor Jesus havia respondido sua própriaquestão, e sua resposta é achada no Salmo 22. Esse salmo fornecia a mais maravilhosapredição profética de seus sofrimentos. Ele abre com as próprias palavras da quarta elocução denosso Salvador sobre a cruz, e é seguido por mais soluços de agonia no mesmo tom até que, no

versículo 3, achamo-lo dizendo — "Tu és Santo". Ele se queixa, não da injustiça, antesreconhece a retidão de Deus — tu és santo e justo em cobrar de minhas mãos toda a dívidapara a qual me fiz fiador; tenho de responder pela totalidade dos pecados de todo meu povo e,por conseguinte, ó Deus, és parte legítima em me golpear com tua espada desperta. Tu éssanto; tu és puro quando julgas.

Na cruz, então, como em nenhum outro lugar, vemos a infinita malignidade do pecado e da  justiça divina na punição desse. Não foi o mundo antigo coberto pelas águas? Não foramSodoma e Gomorra destruídas por uma tempestade de fogo e enxofre? Não foram as pragasenviadas sobre o Egito e Faraó e seus exércitos afogados no Mar Vermelho? Nesses casos, odemérito do pecado e o ódio de Deus por ele puderam ser vistos; mas muito mais o é aqui, emque Cristo é desamparado por ele. Vá ao Gólgota e veja o Homem que é Companheiro de Jeová

bebendo do copo da indignação do Pai, castigado pela espada da justiça divina, ferido pelopróprio Senhor, sofrendo até a morte, pois Deus "não poupou seu próprio Filho" quando opendurou no lugar do pecador.

Eis como a própria natureza antecipara a terrível tragédia — o próprio contorno do chão seassemelha a um crânio. Eis a terra tremendo sob a poderosa carga da ira despejada. Eis os céuse o sol fugirem de uma tal cena, e a terra ser coberta de trevas. Aqui podemos ver a pavorosacólera de um Deus que vinga o pecado. Nem todos os relâmpagos do julgamento divino queforam liberados nos tempos do Antigo Testamento, nem todas as taças da ira que serãodespejadas sobre uma Cristandade apóstata durante os tempos sem paralelos da GrandeTribulação, nem todo choro e lamento e ranger de dentes dos condenados para sempre no Lagode Fogo jamais deram ou mesmo darão uma tal demonstração da inflexível justiça de Deus e de

sua inefável santidade, de seu infinito ódio ao pecado, como o fez a ira divina que ardeu contraseu próprio Filho na cruz. Porque estava sofrendo o horripilante julgamento do pecado, foidesamparado por Deus. Aquele que era o Santo, cuja própria repulsa ao pecado era infinita, queera a pureza encarnada (1Jo 3.3), [Deus] "o fez pecado por nós" (2Co 5.21); portanto, ele securvou mesmo perante a tempestade de ira, na qual foi mostrado o desprazer divino contra os

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incontáveis pecados de uma grande multidão que homem algum pode numerar. Essa, então, é averdadeira explicação do Calvário. O santo caráter de Deus não podia fazer nada senão julgar opecado, mesmo que fosse achado no próprio Cristo. Na cruz, pois, a justiça divina foi satisfeita esua santidade reivindicada.

"Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?"

3. Vemos aqui a explicação do Getsêmane.

À medida que nosso bendito Senhor se aproximava da cruz o horizonte para ele se escureciamais e mais. Desde a mais tenra infância ele havia sofrido por causa do homem; desde oprincípio de seu ministério público ele havia sofrido por causa de Satanás; porém, na cruz eledevia sofrer na mão de Deus. O próprio Jeová devia ferir o Salvador, e era isso que obscureciatudo o mais. No Getsêmane ele adentrou na escuridão das três horas de trevas na cruz. Eis oporquê de ele deixar os três discípulos nas imediações do jardim, pois ele devia pisar o lagarsozinho. "A minha alma está profundamente triste", ele clamou. Isso não era recuar,horrorizado, antecipando uma morte cruel. Não era o pensamento da traição por seu próprioamigo com quem estava familiarizado, nem da deserção por seus estimados discípulos na horada crise, nem da expectativa das zombarias e ultrajes, dos açoites e dos pregos, que oprimiasua alma. Não, toda essa angústia da mais severa ao seu espírito sensível, nada era secomparada com a que ele teve de suportar como Portador do Pecado.

"Então chegou Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmane, e disse aos seus discípulos:Assentai-vos aqui, enquanto vou além orar. E levando consigo Pedro e os dois filhos deZebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se muito. Então lhes disse: A minha alma estácheia de tristeza até à morte; ficai aqui, e velai comigo. E, indo um pouco mais para diante,prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se é possível, passe de mim estecálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres." (Mt 26.36-39).

Aqui ele observa as negras nuvens surgindo, vê a terrível tempestade chegando, elepremeditava o inexprimível horror daquelas três horas de trevas e tudo o que elas continham."A minha alma está profundamente triste", ele clama. O grego é mais enfático. Ele estavacercado de tristeza. Ele estava completamente imerso na ira divina. Todas as faculdades e

poderes de sua alma estavam esmagados pela angústia. S. Marcos emprega uma outra formade expressão — "Ele começou a ficar extremamente atônito" (14.33, KJV). O original traz osignificado de a maior extremidade do pavor, como a que faz com que alguém ficar de cabeloem pé e o corpo arrepiado. E, acrescenta Marcos, "e a ficar muito triste", o que denota quehavia um total abatimento de espírito; seu coração estava derretido como cera à vista doterrível cálice.

Mas o evangelista Lucas, dentre todos, é o que usa os termos mais fortes: "E, posto emagonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue, quecorriam até o chão" (Lc 22.44). A palavra grega para "agonia" aqui, quer dizer estar envolvidoem um combate. Antes, ele combatera as oposições dos homens e as do diabo, mas agora eleencara o cálice que Deus lhe dá a beber. Era o que continha a ira não diluída do ódio divino para

com o pecado. Isso explica o porquê dele dizer: "Se queres, passa de mim este cálice". O"cálice" é o símbolo de comunhão, e não poderia haver comunhão alguma em sua ira, massomente em seu amor. Entretanto, ainda que isso significasse ser cortado daquela, ele adiciona:"Todavia, não se faça a minha vontade, mas a tua". Todavia, tão grande foi sua agonia que "seusuor tornou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até o chão".

Pensamos que não pode haver a menor dúvida de que o Salvador verteu gotas de sangue deverdade. Seria diminuir aí o significado dizer que seu suor parecia sangue, mas não o erarealmente. Parece-nos que a ênfase está posta na palavra "sangue". Ele verteu sangue —exatamente como grandes gotas de água comumente. E vemos aqui a adequação do lugarescolhido para ser a cena desse terrível mas preliminar sofrimento. Getsêmane — ah, teu nomete denuncia! Tem o sentido de prensa de azeite. Era o lugar onde o sangue vital das olivas era

extraído por pressão gota a gota! O lugar escolhido foi bem nomeado, pois. Era de fato umapropriado escabelo para a cruz, um escabelo de agonia inexprimível e sem paralelos. Na cruz,então, Cristo tomou todo o cálice que lhe foi apresentado no Getsêmane.

"Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?"

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4. Aqui vemos a inabalável fidelidade a Deus do Salvador.

O abandono do Redentor por Deus era um fato solene, e uma experiência que nada lhedeixava senão apoiar-se em sua fé. A posição de nosso Salvador na cruz foiabsolutamente singular. Isso pode ser prontamente visto ao se contrastar suas própriaspalavras faladas durante seu ministério público com aquelas proferidas na própria cruz.Antes dizia ele: "Eu bem sei que sempre me ouves" (Jo 11.42); agora ele clama, "Deusmeu, eu clamo de dia, e tu não me ouves" (Sl 22.2)! Antes dizia ele: "E aquele que me

enviou está comigo; o Pai não me tem deixado só" (Jo 8.29); agora ele clama, "Deusmeu, Deus meu, por que me DESAMPARASTE?" Ele não tinha absolutamente nadaagora em que descansar senão o pacto e a promessa de seu Pai; e em seu clamor deangústia, sua fé se torna manifesta. Foi um brado de aflição, mas não de desconfiança.Deus havia se retirado dele, mas note como sua alma ainda se apega a ele. Sua fétriunfou segurando-se em Deus mesmo em meio às trevas. "Deus meu", diz, "Deusmeu", tu com quem está a infinita e perpétua força; tu que apoiaste até aqui minhahumanidade e, conforme tua promessa, sustentaste teu servo — Ó, não fiques longe demim agora. Deus meu, eu me apóio em ti. Quando todos os confortos visíveis esensíveis haviam desaparecido, da invisível proteção e refúgio de sua fé o Salvador sevale.

No salmo de número vinte e dois a inabalável fidelidade do Salvador a Deus fica maisaparente. Nesse precioso texto fala-se das profundezas de seu coração. Ouça-o:

Em ti confiaram nossos pais; confiaram, e tu os livraste. A ti clamaram e escaparam; em ticonfiaram, e não foram confundidos. Mas eu sou verme, e não homem, opróbrio dos homens edesprezado do povo. Todos os que me vêem zombam de mim, estendem os beiços e meneiam acabeça, dizendo: Confiou no Senhor, que o livre; livre-o, pois nele tem prazer. Mas tu és o queme tiraste do ventre, o que me preservaste estando ainda aos seios de minha mãe. Sobre ti fuilançado desde a madre; tu és o meu Deus desde o ventre de minha mãe. (Sl 22.4-10).

O próprio ponto em que seus inimigos procuraram levantar contra ele foi a sua fé emDeus. Escarneceram dele por sua confiança em Jeová — se ele realmente confiava noSenhor, o Senhor livrá-lo-ia. Porém, o Salvador continuava confiando ainda que não

houvesse livramento algum, confiava ainda que desamparado por um período! Foilançado sobre Deus desde o ventre e ainda é lançado sobre ele na hora de sua morte. Eleprossegue:

Não te alongues de mim, pois a angústia está perto, e não há quem ajude. Muitos touros mecercaram; fortes touros de Basã me rodearam. Abriram contra mim suas bocas, como um leãoque despedaça e que ruge. Como água me derramei, e todos os meus ossos sedesconjuntaram; o meu coração é como cera, derreteu-se no meio das minhas entranhas. Aminha força se secou como um caco, e a língua se me pega ao paladar, e me puseste no pó damorte. Pois me rodearam cães; o ajuntamento dos malfeitores me cercou, transpassaram-se asminhas mãos e os pés. Poderia contar todos os meus ossos; eles vêem e me contemplam.Repartem entre si os meus vestidos, e lançam sortes sobre a minha túnica. Mas tu, Senhor, não

te alongues de mim; força minha, apressa-te em socorrer-me. Livra a minha alma da espada, ea minha predileta da força do cão (Sl 22.11-20).

Jó tinha dito de Deus "Ainda que ele me mate, nele esperarei" e, embora a ira divina contra opecado repousasse sobre Cristo, ele ainda confiava. Sim, sua fé fez mais do que confiar, elatriunfou — "Salva-me da boca do leão, sim, ouve-me, desde as pontas dos unicórnios" (Sl22.21).

Ó, que exemplo o Salvador deixou para o seu povo! É relativamente fácil confiar em Deusquando brilha o sol, o teste chega quando tudo está em escuridão. Mas uma fé que não confiaem Deus na adversidade tanto quanto na prosperidade não é a fé dos seus eleitos. Devemos terfé por que vivermos — fé de verdade — se a tivermos para por ela morrer. O Salvador fora

lançado sobre Deus desde a madre, fora lançado sobre Deus momento a momento durantetodos aqueles trinta e três anos, o que não é de se maravilhar, então, que na hora da morteseja encontrado ainda lançado sobre Deus. Seus companheiros cristãos podem estar tristescontigo, podes não mais contemplar a luz da face divina. A Providência parece olhar comdesdém para ti, entretanto, ainda dizes, Eli, Eli, Deus meu, Deus meu.

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"Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?"

5. Aqui podemos ver a base da nossa salvação.

Deus é santo e, por conseguinte, não aceita ver pecado. Ele é justo e, portanto, julga opecado em qualquer lugar onde seja encontrado. Mas Deus também é amor: Ele se deleita namisericórdia e, em conseqüência, a infinita sabedoria ideou um meio pelo qual a justiça pudesseser satisfeita e a misericórdia liberada para fluir aos culpados pecadores. Esse meio foi o da

substituição, o justo padecendo pelo injusto. O próprio Filho de Deus foi o selecionado para sero substituto, pois nenhum outro satisfaria. Através de Naum, a questão fora feita: "Quem podemanter-se diante do seu furor? e quem pode subsistir diante do ardor da sua ira?" (1.6, ARA).Essa questão recebeu sua resposta na adorável pessoa de nosso Senhor e Salvador JesusCristo. Só ele podia "manter-se". Somente um podia levar a maldição e ainda ressurgir comoum vitorioso sobre ela. Somente um podia suportar toda a ira vingativa e, todavia, glorificar alei e torná-la digna de honra. Somente um podia suportar que seu calcanhar fosse ferido porSatanás e contudo naquela ferida destruir a ele, que tinha o poder da morte. Deus sustentouum que era "poderoso" (Sl 89.19, ARA). Um que era ninguém menos que o Companheiro deJeová, o resplendor da sua glória, a expressa imagem de sua pessoa.

Desse modo, vemos que o amor ilimitado, a justiça inflexível e o poder onipotentecombinaram-se todos para tornar possível a salvação daqueles que crêem.

Na cruz, todas as nossas iniqüidades foram postas sobre Cristo e, portanto, o julgamentodivino recaiu sobre ele. Não havia nenhum meio de transferência de pecado sem tambémtransferir sua pena. Tanto o pecado quanto sua punição foram transferidos para o Senhor Jesus.Na cruz ele estava fazendo propiciação, e propiciação é apenas para com Deus. Era umaquestão de ir de encontro aos reclames divinos de santidade; era uma questão de satisfazer asexigências de sua justiça. Não só foi o sangue de Cristo vertido por nós, mas também vertidopara Deus: ele "se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheirosuave" (Ef 5.2). Dessa forma, isso foi prefigurado na memorável noite da Páscoa no Egito: osangue do cordeiro deve estar onde o olho de Deus o possa ver — "Vendo eu sangue, passareipor cima de vós".

A morte de Cristo na cruz foi uma morte maldita: "Cristo nos resgatou da maldição da lei,fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado nomadeiro" (Gl 3.13). A "maldição" é alienação de Deus. Isso fica evidente pelas palavras queCristo ainda dirá àqueles que estarão à sua esquerda no dia de seu poder — "Apartai-vos demim, malditos", ele dirá (Mt 25.41). A maldição é desterro da presença e glória divinas.

Isso explica o sentido de vários tipos do Antigo Testamento. O boi que era morto anualmenteno Dia da Expiação, após seu sangue ter sido espargido sobre e diante do propiciatório, eraremovido para um lugar "fora (exterior) do arraial" (Lv 16.27) e ali seu cadáver era queimadopor inteiro. Era no centro do acampamento que Deus tinha sua residência, e a exclusão doacampamento significava banimento de sua presença. Assim também com o leproso. "Todos osdias em que a praga estiver nele, será imundo; imundo está, habitará só; a sua habitação será

fora do arraial" (Lv 13.46) — isso porque aquele era o tipo encarnado do pecador. Aqui, ainda,está o antítipo da "serpente de bronze". Por que Deus instruiu Moisés a colocar uma "serpente"sobre uma haste, e ordenou aos israelitas mordidos para olhar para ela? Imagine uma serpentecomo tipo de Cristo, o Santo de Deus! Sim, mas ela representava-o como "[feito] maldição pornós", pois a serpente era a lembrança da maldição. Na cruz, então, Cristo estava cumprindoesses símbolos do Antigo Testamento. Ele estava "fora do arraial" (compare Hebreus 13.12) —separado da presença de Deus. Ele era o "leproso" — feito pecado por nós. Ele era como a"serpente de bronze" — feito maldição por nós. Daí, também, o profundo significado da coroa deespinhos — o símbolo da maldição! Levantado, coroado de espinhos, para mostrar que estavalevando a maldição em nosso lugar.

Aqui, também, está a significação das três horas de trevas que cobriram a terra como uma

mortalha de morte. Era uma escuridão sobrenatural. Não era noite, pois o sol estava em seuzênite. Como bem o disse o Sr. Spurgeon, "Fez-se meia-noite ao meio-dia". Não foi eclipsealgum. Os astrônomos competentes nos dizem que ao tempo da crucificação a lua estava à suamaior distância do sol. Mas esse brado de Cristo dá o sentido das trevas, enquanto que essasnos dão o significado daquele amargo brado. Somente uma coisa pode explicar tal escuridão,

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visto que uma coisa apenas pode interpretar tal clamor — que Cristo havia tomado o lugar dosculpados e perdidos, que ele se pôs no lugar para levar os pecados, que ele estava sofrendo o julgamento devido por seu povo, que ele que não conheceu pecado "[Deus] o fez pecado" pornós. Aquele brado foi proferido para que a nós fosse concedido saber do que se passava ali. Eraa manifestação da expiação, por assim dizer, pois três (três horas) é sempre o número demanifestação. Deus é luz e as "trevas" é o sinal natural de sua repulsa. O Redentor foi deixadosozinho com o pecado do pecador: tal era a explicação das três horas de escuridão. Assim comorepousará sobre o condenado eternamente uma dupla miséria no lago de fogo, a saber, a dor dosentido e a dor da perda; do mesmo modo, Cristo, em correspondência, sofreu a ira de Deus

derramada sobre si e também o afastamento de sua presença e comunhão.Para o crente a cruz é interpretada em Gálatas 2.20: "Estou crucificado com Cristo". Elefoi o meu substituto; Deus considera-me um com o Salvador. Sua morte foi a minha.Ele foi ferido por minhas transgressões e ferido por minhas iniqüidades. O pecado nãofoi afastado, mas descartado. Como disse alguém: "Porque Deus julgou o pecado sobreo Filho, ele agora aceita o pecador crente no Filho". Nossa vida está escondida comCristo em Deus (Cl 3.3). Eu estou encerrado em Cristo porque Cristo foi excluído deDeus.

Ele sofreu em nosso lugar, ele salvou seu povo assim; A maldição que caiu sobre sua cabeça,era por direito devida por nós. A tempestade que curvou sua bendita cabeça, é apaziguada parasempre agora E o descanso divino é meu no lugar, enquanto ele está coroado de glória.

Aqui então está a base da nossa salvação. Nossos pecados foram levados. As reivindicaçõesdivinas contra nós foram plenamente satisfeitas. Cristo foi desamparado por Deus por um tempopara que pudéssemos desfrutar da sua presença para sempre. "Deus meu, Deus meu, por queme desamparaste?" Que toda alma crente dê a resposta: ele adentrou as terríveis trevas paraque eu pudesse andar na luz; ele bebeu o cálice de angústia para que eu pudesse beber o cálicede gozo; ele foi abandonado para que eu pudesse ser perdoado!

"Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?"

6. Aqui vemos a suprema evidência do amor de Cristo por nós.

"Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a sua vida pelos seus amigos" (Jo15.13). Mas a grandeza do amor de Cristo pode ser estimada somente quando estamos

aptos a mensurar o que estava envolvido nesse "dar" a sua vida. Como vimos,significava muito mais do que a morte física, mesmo que essa fosse de indizívelvergonha, e indescritível sofrimento. Significava que ele tinha de tomar o nosso lugar eser feito "pecado" por nós, e o que isso envolvia só pode ser julgado à luz de suapessoa.

Imagine uma mulher perfeitamente honrada e virtuosa forçada a suportar, por algum tempo,a associação com o que há de mais vil e impuro. Imagine-a encerrada num antro de iniqüidade,rodeada pelos mais grosseiros dentre os homens e as mulheres, e sem nenhum meio de escape.Você pode avaliar sua repulsa às blasfêmias de suas bocas sujas, à farra de embriaguez, àobscenidade dos arredores? Você pode formar uma

opinião do que uma mulher pura sofreria em sua alma em meio a tal impureza? Mas ailustração é, de longe, falha, pois não há nenhuma mulher absolutamente pura. Honrada,virtuosa, moralmente pura, sim, porém, pura no sentido de ser sem pecado, espiritualmentepura, não. Mas Cristo era puro; absolutamente puro. Ele era o Santo. Ele tinha uma infinitaaversão ao pecado. Ele o aborrecia. Sua alma santa se esquivava dele. Mas, na cruz, nossasiniqüidades foram todas postas sobre ele, e o pecado — essa coisa vil — envolvia-se em tornodele como uma horrível serpente enrolada. E, contudo, ele de bom grado sofreu por nós! Porquê? Porque nos amou: "Como havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até aofim" (Jo 13.1).

Mas mais ainda: a grandeza do amor de Cristo por nós pode ser avaliada apenas quandosomos capazes de medir a ira divina que foi derramada sobre ele. Era disso que sua alma se

esquivava. O que isso significou para ele, o que custou a ele, pode se saber em parte por umminucioso exame dos salmos nos quais se nos permite ouvir algo de seus patéticos solilóquios epetições a Deus. Falando com antecipação, o próprio Senhor Jesus pelo Espírito clamou atravésde Davi:

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"Livra-me, ó Deus, pois as águas entraram até à minha alma. Atolei-me em profundolamaçal, onde se não pode estar em pé; entrei na profundeza das águas, onde a corrente meleva. Estou cansado de clamar; secou-se-me a garganta; os meus olhos desfalecem esperandoo meu Deus.

Tira-me do lamaçal, e não me deixes atolar; seja eu livre dos que me aborrecem, e dasprofundezas das águas. Não me leve a corrente das águas e não me sorva o abismo, nem opoço cerre a sua boca sobre mim.

E não escondas o teu rosto do teu servo, porque estou angustiado; ouve-me depressa.Aproxima-te da minha alma, e resgata-a; livra-me por causa dos meus inimigos. Bem conhecesa minha afronta, e a minha vergonha, e a minha confusão; diante de ti estão todos os meusadversários. Afrontas me quebrantaram o coração, e estou fraquíssimo. Esperei por alguém quetivesse compaixão, mas não houve nenhum; e por consoladores, mas não os achei." (Sl 69.1-3,14, 15, 17-20)

E outra vez: "Um abismo chama outro abismo, ao ruído das tuas catadupas; todas astuas ondas e vagas têm passado sobre mim" (Sl 42.7). A aversão divina ao pecadosobreveio impetuosa e rebentou sobre o Portador do Pecado. Aguardando de modoexpectante a terrível angústia da cruz, ele clamou através de Jeremias: "Não vos comoveisto a todos vós que passais pelo caminho? Atendei, e vede, se há dor como a minhador, que veio sobre mim, com que me entristeceu o Senhor, no dia do furor da sua ira"(Lm 1.12). Essas são algumas das passagens que nos sugerem e pelas quais podemos  julgar o indizível horror com que o Santo contemplava aquelas três horas na cruz, horasnas quais estava condensado o equivalente a uma eternidade no inferno. O amado do Paideve ter a luz da face de Deus ocultada dele; ele deve ser deixado sozinho nas trevasexteriores.

Aqui tinha amor incomparável e imensurável. "Se queres, passa de mim este cálice", eleclamou. Mas não era possível que seu povo fosse salvo a menos que ele bebesse até a últimagota daquele copo de desgraça e ira; e, porque não havia nenhum outro que podia bebê-lo, eleo fez. Bendito seja seu nome! Onde o pecado havia trazido o homem, o amor trouxe o Salvador.

"Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?"

7. Aqui vemos a destruição da "esperança maior".

Esse clamor do Salvador prenuncia a condição final de toda alma perdida — abandameaças de sua palavra. Exatamente como a antiga serpente argumentou com Eva. Deus tinhadito: "No dia em que dela comeres, certamente morrerás". A serpente disse: "Certamente nãomorrereis". Mas qual palavra evidenciou ser verdadeira? Não a do diabo, pois ele é mentirosodesde o princípio. A ameaça divina foi cumprida, e nossos primeiros pais morreramespiritualmente no dia em que desobedeceram à sua ordem. Isso se provará também num diavindouro.

Deus é misericordioso; o fato dele ter provido um Salvador, leitor, demonstra-o. O fato de

que ele convida você para receber a Cristo como seu Salvador evidencia sua misericórdia. O fatode que ele é tão longânime com você, que suporta a sua obstinada rebelião até agora, queprolongou o seu dia de graça até o presente momento, prova-o. Mas há um limite para a suamisericórdia. O dia da misericórdia em breve findará. A porta de esperança em breve serátrancada. A morte pode rapidamente ceifar a ti, e após essa vem "o juízo". E no Dia do JuízoDeus vai tratar com justiça e não com misericórdia. Ele vingará a misericórdia da qual vocêdesdenhou. Ele executará a sentença de condenação já passada sobre você: "Quem não crerserá condenado" (Mc 16.16).

Não repetiremos novamente o que já dissemos em detalhes; basta por ora lembrar o leitormais uma vez como esse brado de Cristo testemunha do ódio divino ao pecado. Porque é justo esanto, Deus deve julgar o pecado onde quer que ele seja encontrado. Se então ele não poupou

o Senhor Jesus quando o pecado foi achado sobre ele, que esperança pode haver, leitor nãosalvo, de que ele poupará a ti quando estiveres diante dele no grande trono branco com pecadosobre ti? Se Deus derramou sua ira em Cristo enquanto pendurado como fiador de seu povo,fique certo de que ele, com a mais absoluta certeza, derrama-la-á sobre você, se morrer emseus pecados. A palavra da verdade é explícita: "Aquele que não crê no Filho não verá a vida,

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mas a ira de Deus sobre ele permanece" (Jo 3.36). Deus "não poupou" seu próprio Filho quandotomou o lugar do pecador, e não poupará a quem rejeita o Salvador. Cristo ficou separado deDeus por três horas, e se você finalmente rejeitá-lo como seu Salvador, também o será, parasempre — "os quais sofrerão, como castigo, a perdição eterna, banidos da face do senhor" (2Ts1.9, ARA).

"Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?"

Eis aqui um Brado de Desolação —

Leitor, possa você nunca ecoá-lo.Eis aqui um Brado de Separação —Leitor, possa você jamais experimentá-lo.Eis aqui um Brado de Expiação —Leitor, possa você apropriar-se de suas virtudes salvíficas.

5. A PALAVRA DE SOFRIMENTO

"Sabendo Jesus que já todas as coisas estavam terminadas, para que a Escritura secumprisse, disse: Tenho sede"

João 19.28

"TENHO SEDE". Tais palavras foram faladas pelo Salvador padecente um pouco antes de elecurvar sua cabeça e render o espírito. Somente são registradas pelo evangelista João e, comopodemos ver, é conveniente que elas devam ter lugar em seu evangelho, pois não apenasdemonstram sua humanidade, mas também salientam sua glória divina.

"Tenho sede". Que texto para um sermão! Um sermão curto e verdadeiro, e contudo quãoabrangente, quão expressivo, e quão trágico! O Criador dos céus e da terra com os lábiosressecados! O Senhor da glória precisando de um gole de água! O Amado do Pai clamando,"Tenho sede!" Que cena! Que palavra, essa! Claramente, nenhuma pena não inspirada traçouum quadro desses.

Outrora o Espírito de Deus moveu Davi a dizer a respeito do Messias vindouro: "Deram-mefel por mantimento, e na minha sede me deram a beber vinagre" (Sl 69.21). Quãomaravilhosamente completa foi a previsão da profecia! Nenhum item essencial lhe estavafaltando. Todo detalhe importante da grande tragédia fora escrito de antemão. A traição por umamigo íntimo (Sl 41.9), a deserção dos discípulos por ficarem escandalizados com ele (Sl31.11), a acusação falsa (Sl 35.11), o silêncio perante seus juízes (Is 53.7), sua ausência deculpa provada (Is 53.9), o ser contado entre os transgressores (Is 53.12), o ser crucificado (Sl22.16), a zombaria dos espectadores (Sl 109.25), o escárnio pelo não-livramento (Sl 22.7, 8), osorteio de suas vestes (Sl 22.18), a oração por seus inimigos (Is 53.12), o ser desamparado porDeus (Sl 22.1), a sede (Sl 69.21), o render de seu espírito nas mãos do Pai (Sl 31.5), os ossosnão quebrados (Sl 34.20), o sepultamento na tumba de um rico (Is 53.9); tudo claramente

predito séculos antes de se suceder. Que evidência convincente da inspiração divina dasescrituras! Quão firme fundamento vós, santos do Senhor, está posto para sua fé, na suapalavra excelente!

"Tenho sede". O fato que está aqui registrado como uma das sete elocuções de nossoSenhor na cruz sugere que seja uma palavra de precioso significado, uma palavra paraser entesourada em nossos corações, uma palavra merecedora de prolongada meditação.Temos visto que cada um dos ditos anteriores do Salvador padecente tem muito a nosensinar e, certamente, esse não pode ser uma exceção. O que então podemos deduzirdele? Quais são as lições que essa quinta palavra da série nos ensina? Possa o Espíritoda verdade iluminar nosso entendimento à medida que nos esforçamos para fixar nelanossa atenção.

"Tenho sede"

1. Temos aqui uma prova da humanidade de Cristo.

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O Senhor Jesus era Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, mas também foi homem verdadeirovindo de homem verdadeiro. Isso é algo para ser crido e não para que a orgulhosa razão sobreele especule. A pessoa de nosso adorável Salvador não é um objeto adequado para a diagnoseintelectual; antes, devemos nos curvar diante dele em adoração. Ele mesmo nos avisou:"Ninguém conhece o Filho, senão o Pai" (Mt 11.27). E outra vez o Espírito de Deus, através doapóstolo Paulo, declara: "E evidentemente é grande o mistério da piedade com que Deus semanifestou em carne" (1Tm 3.16, Vulgata). Enquanto pois há muita coisa acerca da pessoa deCristo que nos é insondável ao próprio entendimento, todavia, tudo que há sobre ele é para seadmirar e prestar adoração: em primeiro lugar, sua deidade e humanidade, e a perfeita união

dessas duas em uma única pessoa. O Senhor Jesus não foi um homem divino, nem um Deushumanizado; foi o Deus-homem. Para sempre Deus, e agora para sempre homem.

Quando o Amado do Pai encarnou-se, não cessou de ser Deus, nem pôs de lado nenhum deseus atributos divinos, ainda que tenha se despojado da glória que tinha com o Pai antes dehaver o mundo. Mas na encarnação, o Verbo se fez carne e tabernaculou entre os homens. Elenão deixou de ser tudo o que era anteriormente, mas tomou para si o que não tinha antes —humanidade perfeita.

A deidade e a humanidade do Salvador foram, cada uma delas, contempladas na prediçãomessiânica. A profecia representava aquele que havia de vir, ora como divino, ora comohumano. Ele era o "Renovo do Senhor" (Is 4.2). Ele era o Maravilhoso, o Conselheiro, o Deusforte, o Pai dos séculos (Hebreus), o "Príncipe da paz" (Is 9.6). Aquele que haveria de sair deBelém e ser rei em Israel, era aquele cujas saídas são desde os dias da eternidade (Mq 5.2). Eleera ninguém menos do que o próprio Jeová que apareceria de repente no templo (Ml 3.1).Todavia, por outro lado, ele era a "semente" da mulher (Gn 3.15); um profeta como Moisés (Dt18.18); um descendente da linhagem de Davi (2Sm 7.12,13). Ele era o "servo" de Jeová (Is42.1). Ele era o "homem de dores" (Is 53.3). E é no Novo Testamento que nós vemos essesdois diferentes grupos de profecias harmonizados.

Aquele nascido em Belém era o Verbo divino. A Encarnação não significa que Deus semanifestou como um homem. O Verbo se fez carne; tornou-se o que não era antes,ainda que nunca cessasse de ser tudo o que fora anteriormente. Aquele que era emforma de Deus e que não teve por usurpação ser igual a Deus "aniquilou-se a si mesmo,tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens" (Fp 2.6,7). O bebê de

Belém era Emanuel — Deus conosco —, era mais do que uma manifestação de Deus,ele era Deus manifestado em carne. Era tanto Filho de Deus como Filho do Homem.Não duas personalidades separadas, mas uma pessoa possuindo as duas naturezas — adivina e a humana.

Enquanto aqui na terra, o Senhor Jesus deu provas completas de sua divindade. Ele falavacom sabedoria divina, ele agia em santidade divina, ele exibia poder divino, e ele mostravaamor divino. Ele lia as mentes dos homens, movia seus corações e compeliaos em suasvontades. Quando a ele agradava exercer seu poder, toda a natureza ficava sujeita ao seumando. Uma palavra dele e a enfermidade saía, uma tempestade era acalmada, o demôniopartia, o morto retornava à vida. Tão verdadeiramente era ele Deus manifesto em carne, quepodia dizer: "Quem vê a mim vê o Pai".

Assim, também, quando tabernaculava entre os homens, o Senhor Jesus dava total prova desua humanidade — humanidade sem pecado. Ele adentrou a esse mundo como bebê e estavaenvolto em panos (Lc 2.7). Quando criança, é-nos dito, ele "crescia... em sabedoria, e emestatura" (Lc 2.52). Quando menino, encontramo-lo "interrogando" os doutores (Lc 2.46).Quando homem, seu corpo esteve "cansado" (Jo 4.6). Ele "teve fome" (Mt 4.2). Ele dormiu (Mc4.38). Ele ficou "admirado" (Mc 6.6). Ele "chorou" (Jo 11.35). Ele "orava" (Mc 1.35). Ele "sealegrou" (Lc 10.21). Ele "gemeu internamente" (Jo 11.33, Vulgata). E aqui em nosso texto eleclamou: "Tenho sede". Isso demonstrava sua humanidade. Deus não tem sede. Os anjostambém não. Não a teremos na glória: "Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede" (Ap7.16). Mas temos sede agora, porque somos humanos e estamos vivendo num mundo de dor. ECristo ficou sedento porque era homem: "Pelo que convinha que em tudo fosse semelhante aos

irmãos" (Hb 2.17)."Tenho sede"

2. Vemos aqui a intensidade dos sofrimentos de Cristo.

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Vamos primeiro considerar esse brado do Salvador como uma expressão de seusofrimento corporal. Para perceber algo do que há por trás de tais palavras devemosrelembrar e rever o que as precede. Após instituir a Ceia no cenáculo, seguida pelolongo discurso pascal a seus apóstolos, o Redentor transferiu-se para o Getsêmane e ali,por uma hora, passou pela mais excruciante agonia. Sua alma estava extremamentetriste. Enquanto ele contemplava o terrível cálice dele escorria, não suor, mas grandesgotas de sangue.

Sua luta no Jardim foi finda com o aparecimento do traidor acompanhado pelo bando queviera prendê-lo. Ele foi trazido perante Caifás e, ainda que fosse metade da noite, foi examinadoe condenado. O Salvador foi retido até de manhã cedo, e após as fatigantes horas de esperahaverem terminado, foi levado para diante de Pilatos. Seguindo um longo julgamento, ordensforam dadas para que se o açoitassem. Em seguida, foi conduzido, talvez atravessando diretopela cidade, à corte de julgamento de Herodes e, depois de uma breve aparição perante esseprelado romano, foi entregue às mãos dos brutais soldados. Novamente foi ele escarnecido echicoteado, e outra vez foi levado através da cidade, de volta a Pilatos. Mais uma vez houve aenfadonha demora, as formalidades de um julgamento, se é que uma tal farsa seja merecedoradesse nome, seguida pela sentença de morte dada.

Então, com as costas sangrando, carregando sua cruz sob o calor do sol do já quase meio-dia, ele caminhou até às escarpadas alturas do Gólgota. Atingindo o lugar designado daexecução, suas mãos e pés foram pregados ao madeiro. Por três horas ele ficou ali penduradocom os inclementes raios solares incidindo sobre sua cabeça coroada de espinhos. Isso foiseguido pelas três horas de trevas que agora o cobria.

Aquela noite e aquele dia foram horas nas quais uma eternidade foi condensada. Todavia,durante toda ela, nem uma só palavra de murmuração passou em seus lábios. Não havia queixaalguma, nenhum rogo por misericórdia. Todos os seus sofrimentos foram suportados emaugusto silêncio. Como uma ovelha muda perante seus tosquiadores, ele não abriu a sua boca.Mas agora, no fim, seu corpo arruinado, dorido, sua boca ressecada, ele clama, "Tenho sede".Não foi um apelo por compaixão, nem um pedido pela mitigação de seus sofrimentos; eleexpressou a intensidade das agonias por que estava passando.

"Tenho sede". Isso era mais do que a sede comum. Era algo mais profundo do que ossofrimentos físicos por detrás dela. Uma comparação cuidadosa de nosso texto com o de Mateus27.48 mostra tais palavras "Tenho sede" seguidas imediatamente após a quarta elocução denosso Salvador na cruz — "Eli, Eli, lama sabactâni" — pois enquanto o soldado estavapressionando a esponja embebida em vinagre nos lábios do padecente, alguns dos espectadoresgritaram: "Deixa, vejamos se Elias vem livrá-lo". Todos sabemos que as provações internas daalma reagem no corpo, destruindo os nervos e afetando o vigor — "O espírito abatido virá asecar os ossos" (Pv 17.22); "Enquanto eu me calei, envelheceram os meus ossos pelo meubramido em todo o dia. Porque de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; o meu humor setornou em sequidão de estio" (Sl 32.3,4).

O corpo e a alma são solidários um com o outro. Lembremo-nos de que o Salvador havia

acabado de emergir das três horas de trevas, durante as quais a face de Deus havia se retiradodele enquanto sofria a fúria de sua ira derramada. Esse grito de sofrimento do corpo diz-nos,então, da severidade do conflito espiritual que ele tinha acabado de passar! Falando comantecedência pela boca de Jeremias dessa hora mesma, ele disse: "Não vos comove isto a todosvós que passais pelo caminho? atendei, e vede, se há dor como a minha dor, que veio sobremim, com que me entristeceu o Senhor, no dia do furor da sua ira. Desde o alto enviou fogo ameus ossos, o qual se assenhoreou deles; estendeu uma rede aos meus pés, fez-me voltar paratrás, fez-me assolada e enferma todo o dia" (Lm 1.12,13).

Sua "sede" foi o efeito da agonia de sua alma no feroz calor da ira divina. Falava da seca daterra onde o Deus vivo não está. Mais ainda: claramente expressava seu anelo por comunhãonovamente com ele, de quem ficara separado por três horas. Não foi o próprio Cristo quem

disse, pelo espírito de profecia, e o faz agora, assim que emergiu das trevas: "Como o cervobrama pelas correntes de águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus! A minha alma temsede de Deus, do Deus vivo: quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus?" Nãoidentificam as palavras seguintes quem fala e não revelam elas o tempo em que aquele anelo e"suspiro" foram expressos? "As minhas lágrimas servem-me de mantimento de dia e de noite,

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porquanto me dizem constantemente: Onde está o teu Deus?" (Sl 42.1-3).

"Tenho sede"

3. Aqui vemos a profunda reverência de nosso Senhor pelas escrituras.

Quão constantemente a mente do Salvador se voltava aos oráculos sagrados! Ele de fatovivia de toda a palavra que sai da boca de Deus. Era o "Bem-aventurado Homem" que meditavana lei de Deus "de dia e de noite" (Sl 1). A palavra escrita era o que formava seus

pensamentos, preenchia o seu coração, e regulava os seus caminhos. As escrituras são avontade do Pai transcrita, e essa foi sempre o seu deleite. Na tentação, aqueles escritos foramsua defesa. Em seu ensino os estatutos do Senhor foram sua autoridade. Em suas controvérsiascom os escribas e fariseus, sempre apelou à lei e ao testemunho. E agora, na hora da morte,sua mente permanecia na palavra da verdade.

A fim de alcançar a força principal dessa quinta elocução do Salvador na cruz, devemosreparar em seu contexto: "Sabendo Jesus que já todas as coisas estavam terminadas, para quea Escritura se cumprisse, disse: Tenho sede" (Jo 19.28). A referência é ao Salmo 69 — mais umdos salmos messiânicos que descrevem tão vividamente sua paixão. No espírito de profecia,havia declarado: "Deram-me fel por mantimento, e na minha sede me deram a beber vinagre"(v. 21). Isso ainda estava sem ser concluído. As predições dos versículos precedentes já tinhamrecebido seu cumprimento. Ele já havia atolado no "profundo lamaçal" (v. 2); ele havia sidoaborrecido "sem causa" (v. 4); ele havia "suportado afrontas" e confusão (v. 7); ele havia se"tornado como um estranho" para os seus irmãos (v. 8); ele havia se tornado "um provérbio"para os seus injuriadores, e "a canção dos bebedores de bebida forte" (vv. 11,12); ele havia"clamado a Deus" em sua angústia (vv. 17-20) — e agora nada mais faltava senão oferecer aele a bebida de vinagre e fel, e a fim de cumprir isso foi que ele bradou: "Tenho sede".

"Sabendo Jesus que já TODAS as coisas estavam terminadas, para que a Escritura secumprisse, disse: Tenho sede". Quão completamente calmo estava o Salvador! Ele estavapendurado naquela cruz por seis horas e havia passado por sofrimento sem paralelo, e contudosua mente está clara e sua memória intacta. Tinha diante de si, com perfeita distinção, toda apalavra divina. Ele revisava o escopo todo da predição messiânica. Ele lembra-se de que há umaprofecia escriturística que não foi levada a cabo. Ele não passou por cima de nada. Que prova

essa de que ele era divinamente superior a todas as circunstâncias!

Antes de prosseguirmos devemos brevemente indicar uma aplicação para nós mesmos.Temos observado como o Salvador se curvou à autoridade da escritura tanto na vida quanto namorte; leitor cristão, como isso se dá contigo? O livro divino é a corte final de apelação a você?Você descobre nela uma revelação da mente e da vontade de Deus concernente a você? Ela éuma lâmpada para os seus pés? Ou seja, você está andando em sua luz? Os seus mandamentossão obrigatórios para você?

Você está realmente obedecendo-a? Você pode dizer com Davi, "Escolhi o caminho daverdade; propus-me seguir os teus juízos. Apego-me aos teus testemunhos... Considerei osmeus caminhos, e voltei os meus pés para os teus testemunhos. Apressei-me, e não me detive,

a observar os teus mandamentos" (Sl 119.30,31,59,60)? Você, como o Salvador, está ansiosopor cumprir as escrituras? Ó, possam o escritor e o leitor buscar graça para orar de coração:"Faze-me andar na vereda dos teus mandamentos, porque nela tenho prazer. Inclina o meucoração a teus testemunhos... Ordena os meus passos na tua palavra, e não se apodere de miminiqüidade alguma" (Sl 119.35,36,133).

"Tenho sede"

4. Vemos aqui a submissão do Salvador à vontade do Pai.

O Salvador estava com sede, e aquele que tinha tal sede, lembremos, possuía todo o poderno céu e na terra. Houvesse ele escolhido exercitar sua onipotência, poderia prontamente ter

satisfeita a sua necessidade. Aquele que outrora fizera a água fluir da rocha ferida para saciarIsrael no deserto, tinha os mesmos recursos infinitos à sua disposição agora. Aquele que tornaraa água em vinho com uma palavra, poderia ter dito a palavra de poder aqui, e satisfazer a suanecessidade. Mas ele, em nenhuma vez, operou um milagre para seu próprio benefício ouconforto. Quando tentado por Satanás para assim agir, recusou. Por que agora ele declina de

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atender a sua premente necessidade? Por que pendia na cruz com os lábios ressecados? Porqueno princípio do livro que expressava a vontade divina, estava escrito que ele devia ter sede, eque, sedento, devia lhe ser "dado" vinagre para beber. E ele aqui veio para fazer aquelavontade e, por isso, se submete.

Na morte, como na vida, a escritura foi para o Senhor Jesus a palavra autorizada do Deusvivo. Na tentação, recusara-se a ministrar à sua necessidade à parte daquela palavra pela qualele vivia e assim, agora, ele faz conhecida sua necessidade, não para que se pudesse ministrara ela, mas para que a escritura pudesse ser cumprida. Note que ele mesmo não a cumpriu, a

Deus pode ser confiado que cuide disso; mas ele dá expressão à sua angústia de modo afornecer ocasião para o seu cumprimento. Como alguém disse: "A terrível sede da crucificaçãoestá sobre ele, mas que não é suficiente para forçar seus lábios ressecados para falar; mas estáescrito: Na minha sede me deram a beber vinagre — isso abre os seus lábios" (F. W. Grant).Aqui, então, como sempre, ele mostra a si mesmo em ativa obediência à vontade de Deus, aqual ele veio para executar. Ele simplesmente diz, "Tenho sede"; o vinagre é oferecido, e aprofecia é cumprida. Que perfeita absorção na vontade do Pai!

Novamente damos uma pausa para a aplicação a nós mesmos — uma aplicação dupla.Primeiro, o Senhor Jesus se deleitava na vontade do Pai mesmo quando envolvia o sofrimentoda sede. Nós fazemos esse tipo de renúncia para ele? Temos nós buscado graça para dizer:"Não se faça a minha vontade, mas a tua"? Podemos nós exclamar, "Sim, ó Pai, porque assim teaprouve"? Temos nós aprendido em qualquer estado que seja a "viver contente" (Fp 4.11)?

Mas agora, observe um contraste. Ao Filho de Deus foi negado um copo de água fria paraaliviar seu sofrimento — quão diferente conosco! Deus nos tem dado uma variedade de alíviospara nós, todavia, quão freqüentemente somos mal-agradecidos! Temos coisas melhores paranos deliciar do que um copo d’água quando estamos sedentos, entretanto, amiúde não somosgratos. Ó, se esse brado de Cristo fosse com mais credulamente considerado, levar-nos-ia abendizer a Deus pelo que nós agora quase desprezamos, e geraria contentamento em nós pelamais comum das misericórdias. O Senhor da glória clamou, "Tenho sede" e nada teve à suavolta para confortá-lo, e tu, que tens mil vezes perdido todo direito às misericórdias tantotemporais quanto espirituais, menosprezas as bondades comuns da providência! Quê!murmuras de um copo de água, tu que mereces senão um copo de ira. Ó, ponha isso nocoração e aprenda a se contentar com o que tens, ainda que seja mesmo as necessidades mais

simples da vida. Não se queixe se você mora apenas em uma humilde cabana, pois seuSalvador não tinha onde reclinar a cabeça! Não se queixe se você não tem nada senão pão paracomer, pois a seu Salvador faltou isso por quarenta dias! Não se queixe se você tem apenaságua para beber, pois a seu Salvador ela foi negada até na hora da morte!

"Tenho sede"

5. Vemos aqui como Cristo pode se solidarizar com seu povo sofredor.

O problema do sofrimento sempre foi um que causou perplexidade. Por que o sofrimentodeve ser necessário em um mundo que é governado por um Deus perfeito? Um Deus que nãoapenas tem poder para impedir o mal, mas que é amor. Por que deve haver dor e desgraça,

doença e morte? À medida que olhamos o mundo e tomamos conhecimento de suas incontáveispessoas que sofrem, ficamos desconcertados. Esse mundo não é senão um vale de lágrimas.Uma fina aparência de alegria raramente tem êxito em esconder os tristes fatos da vida.Filosofar sobre o problema do sofrimento traz arco alívio. Após todos os nossos raciocínios,perguntamos, Deus vê? Há conhecimento no Altíssimo? Ele realmente se importa? Como todasas questões, essas devem ser levadas à cruz. Enquanto não acham elas uma resposta completa,entretanto elas encontram sim aquela que satisfaz o coração ansioso. Enquanto o problema dosofrimento não é plenamente resolvido aqui, todavia a cruz lança sim luz suficiente sobre elepara aliviar a tensão. A cruz mostra-nos que Deus não ignora nossas dores, pois na pessoa deseu Filho ele mesmo "tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores" (Is 53.4,ARA)! A cruz nos mostra que Deus não está desatento às nossa tristeza e angústia, pois, ao seencarnar, ele próprio sofreu! A cruz diz-nos que Deus não é indiferente à dor, pois no Salvador

ele a experimentou!Qual então o valor de tais fatos? Este: "Porque não temos um sumo sacerdote que não pode

compadecer-se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sempecado" (Hb 4.15). Nosso Redentor não é alguém tão afastado de nós que seja incapaz de

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entrar, solidariamente, em nossas tristezas, pois ele mesmo foi o

"Homem de Dores". Aqui então está o conforto para o coração dorido. Não importa quãodesalentado possa estar você, não importa quão escarpada a sua senda e triste o seu quinhão,você é convidado a pô-lo todo diante do Senhor Jesus e lançar todo seu cuidado sobre ele,sabendo que "tem cuidado de vós" (1Pd 5.7). O seu corpo está arruinado pela dor? Assimestava o dele! Você é mal interpretado, julgado injustamente, deturpado? Assim era ele!Aqueles que lhe são mais próximos e mais queridos deram às costas a você? Fizeram isso comele! Você está em trevas? Ele esteve assim por três horas! "Pelo que convinha que em tudo

fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote" (Hb 2.17)."Tenho sede"

6. Vemos aqui a expressão de uma necessidade universal.

Quer o homem natural, o mundano, articule-o ou não, seu clamor é, "Tenho sede".Porque esse desejo consumidor para adquirir bens? Por que esse desejo ardente pelashonras e aplausos do mundo? Por que essa corrida louca por prazer, indo de uma formaa outra dele com diligência persistente e incansável? Por que essa busca ávida porsabedoria — essa investigação científica, esse empenho da filosofia, esse saque aosmanuscritos dos antigos, e essa experimentação incessante dos homens modernos? Porque essa loucura por aquilo que é novo? Por quê? Porque há uma voz de dor na alma.Porque há algo remanescente no homem natural que não está satisfeito. Isso éverdadeiro tanto para o milionário quanto para o camponês do interior que nunca estevefora dos limites de sua terra: viajando de um extremo a outro da terra e fazendo-o outravez, não consegue descobrir o segredo da paz. Sobre tudo o que as cisternas destemundo fornecem está escrito nas letras da verdade inefável: "Qualquer que beber destaágua tornará a ter sede" (Jo 4.13). Assim se dá com o homem ou a mulher religiosos:queremos dizer, os religiosos sem Cristo. Quantos há que vão pelo fatigante ciclo dasações religiosas, e nada encontram que satisfaça suas profundas necessidades! Eles sãomembros de uma denominação evangélica, freqüentam a igreja com regularidade,contribuem com seus recursos para o sustento do pastor, lêem suas Bíbliasocasionalmente, e algumas vezes oram, ou, se usam um "livro de orações", dizem-nastoda noite. E contudo, afinal de contas, se eles são honestos, seu clamor ainda é, "Tenho

sede".

A sede é uma sede espiritual; eis o porquê das coisas naturais não poder matá-la.Desconhecido deles mesmos, sua alma "tem sede de Deus" (Sl 42.2). Deus nos fez, e só elepode nos satisfazer. Disse o Senhor Jesus: "Aquele que beber da água que eu lhe der nuncaterá sede" (Jo 4.14). Apenas Cristo pode saciar a nossa sede. Apenas ele pode satisfazer aprofunda necessidade dos nossos corações. Apenas ele pode comunicar aquela paz de que omundo nada sabe e nem a pode conceder ou tirar. Ó leitor, uma vez mais eu me dirijo a tuaconsciência. Como está ela contigo? Descobriste que tudo debaixo do sol é somente vaidade eaflição de espírito? Descobriste que as coisas terrenas são incapazes de satisfazer a seucoração? É o brado de sua alma, "Tenho sede"? Então, não são boas notícias ouvir que háalguém que pode satisfazer a ti? Dissemos alguém, não um credo, não uma forma de religião,

mas uma pessoa — uma pessoa viva, divina. Ele é o que diz: "Vinde a mim, todos os que estaiscansados e oprimidos, e eu vos aliviarei" (Mt 11.28). Atente então a esse doce convite. Venha aele agora, assim como estás. Venha em fé, crendo que ele te receberá, e então cantarás:

Vim a Jesus como estava,Farto, cansado, e triste;Nele encontrei um lugar de descanso,E ele me tornou alegre.

Ó, venha a Cristo. Não se detenha. Você tem "sede"? Então você é aquele que estábuscando: "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos" (Mt5.6).

Leitor não salvo, não rejeite o Salvador, pois se você morrer em seus pecados seu clamorpara todo o sempre será, "Tenho sede". Esse é o lamento do condenado eternamente. No lagode fogo o perdido sofrerá entre as chamas da ira divina por toda a eternidade. Se Cristo clamou"Tenho sede" quando padecia da ira de Deus só por três horas, qual o estado daqueles que

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terão de suportá-la eternamente! Quando milhões de anos tiverem se passado, mais dezmilhões haverá à frente. Há uma sede perene no inferno, que não admite alívio algum. Lembre-se das pavorosas palavras do homem rico: "E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia demim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua,porque estou atormentado nesta chama" (Lc 16.24). Ó, meu leitor, pense. Se a sede físicaextrema é insuportável mesmo quando suportada por algumas poucas horas, como será aquelasede que está infinitamente além de qualquer sede do presente, e que nunca será saciada! Nãodiga que é cruel da parte de Deus lidar desse modo com suas criaturas que erram. Lembre aoque ele expôs seu querido Filho, quando o pecado lhe foi imputado — seguramente, aquele que

despreza a Cristo é merecedor do mais quente lugar no inferno! Dizemo-lo outra vez, Receba-oagora como seu. Receba-o como seu Salvador, e submeta-se a ele como seu Senhor.

"Tenho sede"

7. Aqui vemos a declaração de um princípio permanente.

Há um sentido, um sentido real, em que Cristo ainda tem sede. Ele está sedento pelo amor epela devoção dos seus. Ele anseia pela companhia do povo que comprou com seu sangue. Eisaqui uma das grandes maravilhas da graça — um pecador redimido pode oferecer aquilo quesatisfaz o coração de Cristo! Posso compreender como devo apreciar seu amor, mas quãomaravilhoso que ele — o todo-suficiente — deva apreciar o meu! Eu aprendi quão abençoada épara minha alma a comunhão com ele, mas quem suporia que minha comunhão fosse benditapara Cristo! Todavia o é. Por isso ele ainda "tem sede". A graça nos capacita a oferecer aquiloque o refrigera. Maravilhoso pensamento!

Você já reparou em João 4 que, embora Cristo dissesse à mulher que veio ao poço, "Dáme debeber" — pois ele assentou-se ali "cansado" da viagem e do calor — que ele nunca tomou umgole de água? Na salvação e na fé daquela mulher samaritana ele achou aquilo que refrescouseu coração! O amor nunca fica satisfeito até que haja uma resposta e amor em troca! Assim oé com Cristo. Aqui está a chave para Apocalipse 3.20: "Eis que estou à porta, e bato: se alguémouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo".

Isso é amiúde aplicado ao não salvo, mas sua referência principal é à Igreja. Descrevese Cristo buscando a companhia dos seus. Ele fala de "cear", e na escritura isso sempre

simboliza comunhão, da mesma forma que a Ceia do Senhor é uma oportunidadeespecial de comunhão entre o Salvador e o salvo. E observe nessa passagem que Cristofala de uma dupla ceia — "entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo". Nãosomente é nosso inefável privilégio cear e comungar com ele, deleitarmo-nos nele, masele "ceia" conosco. Ele encontra em nossa comunhão algo com que alimentar seucoração, algo que o alivia, e esse algo é a nossa devoção e o nosso amor. Sim, o Cristode Deus ainda "tem sede", sede pela afeição dos seus. Ó, não oferecerá você algo que aele satisfaça? Responda então ao apelo dele: "Põe-me como selo sobre o teu coração"(Ct 8.6).

6. A PALAVRA DE VITÓRIA

"E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado"João 19.30

NOSSOS DOIS ÚLTIMOS ESTUDOS se ocuparam com a tragédia da cruz; porém, voltamo-nosagora para o seu triunfo. Nestas palavras, "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?"ouvimos o brado de desolação do Salvador; em "Tenho sede", escutamos seu clamor delamentação; agora, chega aos nossos ouvidos seu brado de júbilo — "Está consumado". Daspalavras da vítima voltamo-nos agora às palavras do conquistador. Um provérbio diz que todanuvem tem seu interior prateado: deu-se assim com a mais escura de todas as nuvens. A cruzde Cristo tem dois grandes lados: ela mostrou a grande profundidade de sua humilhação, mastambém assinalou o objetivo da Encarnação, e mais, falou da consumação de sua missão, eforma ela a base de nossa salvação.

"Está consumado". Os antigos gregos orgulhavam-se de serem capazes de dizer muitacoisa falando pouco — "dar um mar de assunto em uma gota de linguagem" era tidocomo a perfeição em oratória. O que eles buscavam é encontrado aqui. "Estáconsumado", no original, é apenas uma palavra, todavia, nessa palavra está contido o

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evangelho de Deus; nessa palavra está contido o fundamento da segurança do crente;nessa palavra é descoberta a essência de todo gozo, bem como o próprio espírito de todaconsolação divina.

"Está consumado". Isso não foi o grito de desespero de um mártir desamparado; não foi umaexpressão de satisfação pelo término de seus sofrimentos haver então chegado; não foi o últimosuspiro de uma vida que se findava. Não, antes foi a declaração da parte do divino Redentor deque tudo pelo qual ele viera do céu à terra para fazer, estava agora feito; que tudo que eranecessário para revelar o completo caráter de Deus agora se tinha concluído; que tudo que era

requerido pela lei antes que os pecadores pudessem ser salvos tinha agora sido realizado: que opreço da nossa escravidão foi pago para a nossa redenção.

"Está consumado". O grande propósito divino na história do homem era agora efetuado —efetuado de jure tanto quanto ainda o será de facto. Desde o princípio, a intenção de Deus foisempre uma e indivisível. Foi declarada aos homens de várias maneiras: em símbolo e tipo, pormisteriosos sinais e por claras sugestões, mediante predição messiânica e mediante declaraçãodidática. Esse seu propósito pode ser assim resumido: mostrar sua graça e engrandecer seuFilho criando filhos a sua própria imagem e glória. E na cruz o fundamento que foi posto erapara que isso se tornasse possível e real.

"Está consumado". O que está consumado? A resposta a tal questão é uma resposta muiabundante de significado, ainda que vários excelentes expositores procurem limitar o escopo detais palavras e confiná-las estritamente a uma única aplicação. É-nos dito que foramconsumadas as profecias que diziam respeito aos sofrimentos do Salvador, e que ele se referiaapenas a isso. Admite-se de pronto que a referência imediata era às predições messiânicas,todavia, pensamos que há razões boas e suficientes para não confinar as palavras de nossoSenhor a elas. Sim, para nós parece certo que Cristo se referia especialmente à sua obrasacrificial, pois toda escritura acerca de seu sofrimento e vergonha não estava cumprida. Aindarestava entregar seu espírito nas mãos do Pai (Sl 31.5); ainda restava o "traspassar" com alança (Zc 12.10: e repare que a palavra utilizada para o traspassar de suas mãos e pés — o atode crucificação — no Sl 22.16 é diferente); ainda restava serem seus ossos preservados semquebra (Sl 34.20), e o enterro no sepulcro do homem rico (Is 53.9).

"Está consumado". O que estava consumado? Respondemos, sua obra sacrificial. É verdade

que havia ainda o ato da própria morte, que era necessária para fazer a expiação. Porém, comose dá freqüentemente no Evangelho de João — onde se encontra nosso texto — (cf. Jo12.23,31; 13.31; 16.5; 17.4), o Senhor fala aqui antecipadamente da conclusão de sua obra.Além disso, deve ser lembrado que as três horas de trevas já haviam passado, o terrível cálice já havia sido sorvido até à última gota, seu precioso sangue já tinha sido vertido, a ira divinaderramada já havia sido suportada; e esses são os principais elementos para se fazer apropiciação. A obra sacrificial do Salvador, então, estava completada, com exceção apenas doato de morte que se seguiu imediatamente. Mas, como veremos, a consumação daquela obrapôs fim a várias coisas, e a elas voltaremos a nossa atenção.

"Está consumado"

1. Aqui vemos efetuado o cumprimento de todas as profecias que foram escritas sobre eleantes que viesse a morrer.

Esse é o pensamento imediato do contexto: "Quando Jesus tomou o vinagre, disse: Estáconsumado" (Jo 19.30). Séculos antes, os profetas de Deus tinham descrito passo a passo ahumilhação e o sofrimento por que o Salvador vindouro deveria passar. Uma por uma dasprofecias haviam sido cumpridas, maravilhosamente cumpridas, cumpridas ao pé da letra. Haviaprofecia que declarava que ele deveria vir da "semente da mulher" (Gn 3.15): então, ele veio"nascido de mulher" (Gl 4.4). Havia profecia que anunciava que sua mãe seria uma "virgem" (Is7.14): então foi ela literalmente cumprida (Mt 1.18). Havia profecia que revelava que eledeveria ser da semente de Abraão (Gn 22.18): então, observe seu cumprimento (Mt 1.1). Haviaprofecia que fazia saber que ele deveria ser da linhagem de Davi (2Sm 7.12,13): então tal se

deu em realidade (Rm 1.3). Havia profecia que dizia que ele receberia seu nome antes denascer (Is 49.1): então assim se sucedeu (Lc 1.30,31).

Havia profecia que previa que ele deveria nascer em Belém de Judá (Mq 5.2): observe entãocomo essa aldeia mesma foi de fato sua terra natal. Havia profecia que alertava de antemão que

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seu nascimento acarretaria desgosto para outros (Jr 31.15): então, contemple seu trágicocumprimento (Mt 2.16-18). Havia profecia que mostrava com antecedência que o Messiasdeveria aparecer antes que o cetro da ascendência de Judá sobre as demais tribos tivesse delapartido (Gn 49.10); então assim foi, pois ainda que as dez tribos estivessem cativas, Judá aindaestava na terra na época de seu advento. Havia profecia que aludia à fuga para o Egito e aosubseqüente retorno para a Palestina (Os 11.1 e cf. Is 49.3,6): então, assim aconteceu (Mt2.14,15).

Havia profecia que fazia menção de um que viria antes de Cristo para aprontar seu caminho

(Ml 3.1): então, veja seu cumprimento na pessoa de João Batista. Havia profecia que dava aconhecer que no aparecimento do Messias "os olhos dos cegos serão abertos, e os ouvidos dossurdos se abrirão. Então os coxos saltarão como cervos, e a língua dos mudos cantará" (Is35.5,6): então, leia de uma ponta a outra os quatro evangelhos e veja de quão bendita maneiraisso se provou verdadeiro. Havia profecia que falava dele como "pobre e necessitado" (Sl 40.17— vide início do salmo): então, contemple-o não tendo onde reclinar a cabeça. Havia profeciaque sugeria que ele falaria em "parábolas" (Sl 78.2): então tal foi amiúde seu método deensino. Havia profecia que o representava acalmando a tempestade (Sl 107.29): então, isso foiexatamente o que ele fez. Havia profecia que proclamava sua "entrada triunfal" em Jerusalém(Zc 9.9): então assim se sucedeu.

Havia profecia que anunciava que sua pessoa deveria ser desprezada (Is 53.3); que eledeveria ser rejeitado pelos judeus (Is 8.14); que ele deveria ser aborrecido "sem causa" (Sl69.4): então, é triste dizê-lo, tal foi precisamente o caso. Havia profecia que pintava o quadrointeiro de sua degradação e crucificação — então, foi ele vividamente reproduzido. Houvera atraição por um amigo íntimo, a deserção por seus queridos discípulos, o ser levado aomatadouro, o ser levado a julgamento, o aparecimento de falsas testemunhas contra si, arecusa de sua parte de se defender, a demonstração de sua inocência, a condenação injusta, apena de morte sentenciada sobre si, o traspassamento literal de suas mãos e pés, o ser contadoentre os transgressores, a zombaria da multidão, o lançar sortes sobre suas vestes — tudopredito séculos antes, e tudo cumprido ao pé da letra. A última profecia de todas que aindarestava antes de encomendar seu espírito às mãos do Pai tinha agora sido cumprida. Eleclamou, "Tenho sede", e após o oferecimento de vinagre e fel tudo estava agora "concluído"; e,quando o Senhor Jesus reviu o inteiro escopo da palavra profética e viu sua completa realização,ele bradou, "Está consumado"!

Somente nos resta assinalar que, enquanto houve um grupo todo de profecias que tinha dese dar no primeiro advento do Salvador, assim também há um outro que tem de acontecer emseu segundo advento — o último, tão definido, pessoal e completo em seu escopo quanto oprimeiro. Assim como vemos o real cumprimento daquelas que tinham de ocorrer em suaprimeira vinda à terra, também podemos aguardar com absoluta confiança e segurança ocumprimento daquelas que terão lugar em sua segunda vinda. E, como vimos que o primeirogrupo de profecias foi cumprido literal, real e pessoalmente, também devemos esperar que oúltimo o seja. Admitir o cumprimento literal do primeiro, e então procurar espiritualizar esimbolizar o último, é não apenas grosseiramente inconsistente e ilógico, mas altamentepernicioso para nós e profundamente desonroso a Deus e à sua palavra.

"Está consumado"

2. Vemos aqui o término de seus sofrimentos.

E qual língua ou pena pode descrever os sofrimentos do Salvador? Ó, que angústiainexprimível, física, mental e espiritual que ele suportou! Apropriadamente foi ele designado "oHomem de Dores". Sofrimentos nas mãos dos homens, nas mãos de Satanás e nas mãos deDeus. Dor infligida tanto pelos inimigos quanto pelos amigos. Desde o início ele caminhou entreas sombras que a cruz lançava de través sobre seus passos. Ouça seu lamento: "Estou aflito eprestes a morrer desde a minha mocidade" (Sl 88.15). Que luz isso lança sobre seus primeirosanos! Quem pode dizer quanto está contido nessas palavras? Para nós, um véu impenetrávelestá lançado sobre o futuro; nenhum de nós sabe o que um dia pode causar. Mas o Salvador

conhecia o fim desde o começo!Alguém apenas precisa ler os evangelhos para saber como a terrível cruz esteve sempre

perante ele. Nas bodas de Cana, onde tudo era alegria e divertimento, ele faz solenereferência à sua "hora" que ainda não viera. Quando Nicodemos o entrevistou à

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noite, o Salvador aludiu ao levantamento do Filho do homem. Quando Tiago e Joãovieram lhe pedir dois lugares de honra em seu reino vindouro, ele fez menção ao"cálice" que ele tinha de tomar e ao "batismo" com que deveria ele ser batizado.Quando Pedro confessou que ele era o Cristo, o Filho do Deus vivo, ele voltou-se paraos seus discípulos e começou a lhes mostrar "que convinha ir a Jerusalém, e padecermuito dos anciãos, e dos principais dos sacerdotes, e dos escribas, e ser morto, eressuscitar ao terceiro dia" (Mt 16.21). Quando Moisés e Elias ficaram diante dele nomonte da transfiguração, foi para falar "da sua morte, a qual havia de cumprir-se emJerusalém".

Se é verdade que somos bem incapazes de avaliar os sofrimentos de Cristo devido àantecipação da cruz, menos ainda podemos sondar a pavorosa realidade da própria. Ossofrimentos físicos foram excruciantes, mas mesmo isso foi como nada se comparado com suaangústia de alma. Para uma consideração de tais sofrimentos já dedicamos vários parágrafosnos capítulos anteriores, todavia não nos desculpamos em nada em retornar a eles novamente.Não é demasiado de nossa parte poder contemplar com freqüência o que o Salvador suportou afim de assegurar a salvação para nós. Quanto mais estivermos familiarizados com seussofrimentos, e quanto mais amiúde meditarmos neles, mais caloroso será nosso amor e maisprofunda a nossa gratidão.

Finalmente as últimas horas chegaram. Tinha havido a terrível experiência no Getsêmaneseguida pelos comparecimentos perante Caifás, perante Pilatos, perante Herodes e novamenteperante Pilatos. Tinha havido o açoitamento e o escárnio por parte dos soldados brutais; a jornada ao Calvário; a fixação de suas mãos e pés por pregos ao cruel madeiro. Tinha havido ainjúria dos sacerdotes, do povo e dos dois ladrões com ele crucificados. Tinha havido a totalindiferença de uma turba vulgar, dentre a qual ninguém houve que "tivesse compaixão" e quedissesse uma palavra de consolo (Sl 69.20). Tinha havido a apavorante escuridão que lheocultou a face do Pai, que arrancou dele o amargo clamor, "Deus meu, Deus meu, por que medesamparaste?" Tinha havido os lábios ressecados que tiraram dele a exclamação, "Tenhosede". Tinha havido o horrendo conflito com o poder das trevas enquanto a serpente "feria" seucalcanhar. Bem podia o padecente perguntar, "Não vos comove isto a todos vós que passaispelo caminho? atendei, e vede, se há dor como a minha dor, que veio sobre mim, com que meentristeceu o Senhor, no dia do furor da sua ira" (Lm 1.12).

Mas agora o sofrimento está findo. Aquilo a que sua santa alma recuava está acabado. OSenhor o tinha ferido; o homem e o diabo tinham feito o pior que podiam fazer. O cálice foicompletamente bebido. A terrível tempestade da ira de Deus tinha acabado de passar. As trevasestão terminadas. A espada da justiça divina está embainhada. O salário do pecado tinha sidopago. As profecias acerca de seu sofrimento estavam todas cumpridas. A cruz tinha sido"suportada". A santidade divina tinha sido plenamente satisfeita. Com um brado de triunfo —um forte brado, um brado que reverberou de uma extremidade a outra do universo — oSalvador exclama, "Está consumado". A ignomínia e a vergonha, o sofrimento e a agonia sãopassado. Nunca mais ele experimentará dor. Nunca mais ele suportará a contradição depecadores contra si mesmo. Nunca mais estará ele nas mãos de Satanás. Nunca mais a luz dosemblante de Deus ficará ocultada dele. Bendito seja Deus, tudo está terminado!

A cabeça que antes estava coroada de espinhos, está agora coroada de glória;Um diadema real adorna a testa do poderoso Conquistador.O mais alto lugar do Céu é Seu, é Seu por direito,O Rei dos reis e Senhor dos senhores, e a eterna Luz do Céu.O gozo de todos os que habitam encima, o Gozo de todos embaixo,Àqueles a que ele manifesta seu amor, e concede que conheçam seu nome.

"Está consumado"

3. Vemos aqui que o objetivo da Encarnação é alcançado.

A Escritura indica que há uma obra especial peculiar a cada uma das pessoas divinas, ainda

que, como as pessoas mesmas, não é sempre fácil distinguir entre suas respectivas obras. DeusPai está especialmente envolvido no governo do mundo. Ele governa sobre todas as obras desuas mãos. Deus Filho está especialmente envolvido na obra redentora: ele foi quem veio aquipara morrer pelos pecadores. Deus Espírito está especialmente envolvido com as escrituras: elefoi quem moveu os santos homens de outrora para falarem as mensagens de Deus, assim como

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é quem agora dá iluminação espiritual e entendimento, e guia na verdade. Mas é com a obra deDeus Filho que estamos aqui particularmente interessados.

109 Nota do tradutor: No original: The Head that once was crowned with thorns/ Is crownedwith glory now;/ A royal diadem adorns/ The mighty Victor's brow./ The highest place thatheaven affords/ Is His, is His by right,/ The King of kings and Lord of lords,/ And heaven'seternal Light;/ The Joy of all who dwell above,/ The Joy of all below/ To whom He manifests Hislove/ And grants His name to know. Trecho de um hino de Thomas Kelly (1769-1854),composto em 1820 e parte integrante de The Handbook to the Lutheran Hymnal (hinário dos

luteranos de língua inglesa), # 219 ("The Head That Once was Crowned with Thorns").110Nota do tradutor: Cf. 2Pd 1.21.

111Nota do tradutor: Cf. Jo 14.26; 2Tm 3.16 ("divinamente inspirada": literalmente,"sopradas por Deus".

Em grego, o verbo "soprar" é da mesma raiz do substantivo "espírito").

112 Nota do tradutor: Cf. Jo 16.13.

Antes que o Senhor Jesus viesse a essa terra uma obra definida foi confiada a ele. Noprincípio do livro isso foi escrito por ele, e ele veio a fazer a vontade registrada de Deus.

Mesmo quando garoto de doze anos, os "negócios" do Pai estavam diante de seu coração eocupavam a sua atenção. Outra vez, em João 5.36, encontramo-lo dizendo: "Mas eu tenhomaior testemunho do que o de João; porque as obras que o Pai me deu para realizar, asmesmas obras que eu faço". E, na última noite antes de sua morte, naquela maravilhosa oraçãosacerdotal, descobrimo-lo falando: "Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que medeste a fazer" (Jo 17.4).

Em seu livro sobre os sete ditos de Cristo na cruz, o Dr. Anderson-Berry lança mão de umailustração da história a qual, por sua contundente antítese, revela o sentido e a glória da obracompleta de Cristo. Isabel, Rainha da Inglaterra, o ídolo da sociedade e a líder da alta sociedade

européia, quando em seu leito de morte, voltou-se para a sua dama de companhia e disse: "Ó,meu Deus! Está acabado. Chego ao fim disso — o fim, o fim. Ter somente uma vida e acabadocom ela! Ter vivido, e amado, e triunfado; e agora saber que está terminado. Pode-se desafiartudo o mais, menos isso". E, enquanto a ouvinte assistia a isso sentada, poucos momentosdepois, a face cujo sorriso mais leve trouxera seus cortesãos aos seus pés, tornava-se numamáscara de argila sem vida, e retribuía a ansiosa contemplação de sua serva com nada mais doque um fixo olhar vazio. Tal foi o fim de alguém cuja meteórica carreira fora invejada pormetade do mundo. Não podia ser dito que ela "consumara" alguma coisa, pois consigo tudo foi"vaidade e aflição de espírito". Quão diferente foi o fim do Salvador — "Eu glorifiqueite na terra,tendo consumado a obra que me deste a fazer".

A missão na qual Deus enviou seu Filho ao mundo estava agora acabada. Na realidade, não

foi terminada até que desse seu último suspiro, mas a morte viria em instantes e, antecipando-se a isso, ele brada, "Está consumado". A difícil obra está feita. A tarefa divinamente dada a eleestá executada. Uma obra mais digna de honra e mais importante do que qualquer outra jamaisconfiada ao homem ou aos anjos estava completada. Aquilo por que deixara a glória celeste,aquilo pelo qual ele tomara sobre si a forma de servo, aquilo pelo qual ele havia permanecido naterra por trinta e três anos para fazer, estava agora consumado. Nada mais tinha para seradicionado. A meta da Encarnação é atingida. Com que jubiloso triunfo ele aqui deve ter visto aárdua e custosa obra que lhe foi entregue agora aperfeiçoada!

"Está consumado". A missão na qual Deus enviara seu Filho ao mundo estava acabada.Aquilo que fora tencionado na eternidade viera a suceder. O plano de Deus fora plenamentelevado a cabo. É verdade que o Salvador fora morto e crucificado "por mãos de iníquos",

todavia, foi "entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus" (At 2.23, ARA). Éverdade que os reis da terra se levantaram, e os príncipes se ajuntaram contra o Senhor, econtra o seu Cristo; entretanto, não foi senão para fazer o que a mão e o conselho de Deus"tinham anteriormente determinado que se havia de fazer" (At 4.28). Por que ele é o Altíssimo,não se pode frustrar a secreta vontade de Deus. Por que ele é supremo, o conselho de Deus

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deve ficar de pé. Por que ele é o TodoPoderoso, o propósito de Deus não pode ser malogrado.Repetidas vezes as escrituras

insistem na irresistibilidade do desejo do Senhor Deus. Por que sua verdade é agora tãogeralmente posta em discussão, acrescentamos sete passagens que a afirmam:

Mas, se ele resolveu alguma cousa, quem o pode dissuadir? O que ele deseja, isso fará (Jó23.13, ARA).

Bem sei eu que tudo podes, e nenhum dos teus pensamentos pode ser impedido (Jó42.2).

Mas o nosso Deus está nos céus; faz tudo o que lhe apraz (Sl 115.3). Não há sabedoria, neminteligência, nem conselho contra o Senhor (Pv 21.30).

Porque o Senhor dos Exércitos o determinou; quem pois o invalidará? E a sua mão estendidaestá; quem pois a fará voltar atrás? (Is 14.27).

Lembrai-vos das coisas passadas desde a antigüidade; que eu sou Deus, e não há outroDeus, não há outro semelhante a mim; que anuncio o fim desde o princípio, e, desde aantigüidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho será firme, e fareitoda a minha vontade (Is 46. 9,10).

E todos os moradores da terra são reputados em nada; e segundo a sua vontade ele operacom o exército do céu e os moradores da terra; não há quem possa estorvar a sua mão, e lhediga: Que fazes? (Dn 4.35).

E, no brado triunfante do Salvador — "Está consumado" — temos uma profecia e um penhorda execução definitiva do plano de Deus de modo completo e irresistível. No fim dos tempos,quando tudo estiver terminado, e o propósito divino for plenamente consumado, quando tudoque ele predeterminou que devesse ser feito estiver cumprido, então será dito novamente:"Está consumado".

"Está consumado"

4. Vemos aqui a realização da expiação.

Falamos acima de Cristo alcançando a meta da Encarnação, e da consumação de sua missãona terra; o que foram tal meta e tal missão, a escritura claramente revela. O Filho do Homemveio aqui "para buscar e salvar o que se havia perdido" (Lc 19.10). Cristo Jesus entrou nomundo "para salvar os pecadores" (1Tm 1.15). Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, "pararemir os que estavam debaixo da lei" (Gl 4.4). Ele foi manifestado "para tirar os nossospecados" (1Jo 3.5). E tudo isso envolvia a cruz. O "perdido" que ele veio buscar só podia serencontrado lá — no lugar de morte e sob a condenação divina. Os pecadores podiam ser"salvos" somente por alguém tomando seu lugar e levando suas iniqüidades. Aqueles queestavam sob a lei apenas podiam ser "remidos" por um outro que cumprisse suas exigências e

sofresse sua maldição. Nossos pecados somente podiam ser "tirados" sendo apagados peloprecioso sangue de Cristo. As demandas da justiça têm que ser satisfeitas: as exigências dasantidade divina têm que ser atendidas: o terrível débito em que incorremos tem que ser pago.E na cruz isso foi feito; feito por ninguém menos que o Filho de Deus; feito com perfeição; feitode uma vez por todas.

"Está consumado". Aquilo para o qual tantos tipos apontavam, aquilo para o qual tanta coisado tabernáculo e de seu ritual prefigurava, aquilo do qual tantos dos profetas de Deus tinhamfalado, estava agora realizado. Uma cobertura para o pecado e sua vergonha — tipificada pelastúnicas de peles com as quais o Senhor Deus vestiu nossos primeiros pais — foi agora fornecida.O mais excelente sacrifício — tipificado pelo cordeiro de Abel — fora agora oferecido. Um abrigopara a tempestade do julgamento divino — tipificado pela arca de Noé — era agora

providenciado. O Filho unigênito e mui amado — tipificado pelo oferecimento de Isaque porAbraão — já havia sido posto sobre o altar. Uma proteção contra o anjo vingador — tipificadapelo sangue derramado do cordeiro pascal — era agora suprida. Uma cura para a mordida daserpente — tipificada pela serpente de bronze sobre a haste — era agora aprontada para ospecadores. A provisão de uma fonte que dá vida — tipificada pelo golpear de Moisés na rocha —

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era agora efetuada.

"Está consumado". A palavra grega aqui, teleo, é vertida de várias formas no NovoTestamento. Uma olhada em algumas das diferentes traduções em outras passagens noshabilitará a discernir a plenitude e a finalidade do termo usado pelo Salvador. Em Mateus 11.1,teleo é traduzida como segue: "E aconteceu que, acabando Jesus de dar instruções aos seusdoze discípulos, partiu dali". Em Mateus 17.24, é assim traduzida: "Aproximaram-se de Pedro osque cobravam as didracmas, e disseram: O vosso mestre não paga as didracmas?" Em Lucas2.39 é traduzida: ""E, quando acabaram de cumprir tudo segundo a lei do Senhor, voltaram à

Galiléia". Em Lucas 18.31, temos: "E se cumprirá no Filho do homem tudo o que pelos profetasfoi escrito". Ajuntando tudo, aprendemos o escopo da sexta elocução do Salvador na cruz, "Estáconsumado". Ele clamou: está "posto um fim a"; está "pago"; está "realizado"; está "acabado".A que se pôs um fim? Aos nossos pecados e sua culpa. O que foi pago? O preço de nossaredenção. O que foi realizado? Os mais extremos requerimentos da lei. O que foi acabado? Aobra que o Pai lhe dera a fazer. O que foi findado? O fazer expiações.

Deus fornece ao menos quatro provas de que Cristo terminou sim sua obra a qual lhe foidada para fazer. Primeiro, no rasgar do véu, que mostrava que o caminho para Deus estavaagora aberto. Segundo, no ressurgir de Cristo dentre os mortos, que provou que Deus aceitaraseu sacrifício. Terceiro, na exaltação de Cristo a sua própria destra, o que demonstrou o valorda sua obra e o deleite do Pai em sua pessoa. Quarto, no envio à terra do Espírito Santo paraaplicar as virtudes e benefícios da morte expiatória de Cristo.

"Está consumado". O que estava consumado? A obra da expiação. Qual o seu valor paranós? Este: ao pecador, é uma mensagem de boas novas. Tudo que um santo Deus requer foifeito. Nada é deixado para o pecador acrescentar. Obra nenhuma de nós é exigida como preçode nossa salvação. Tudo que é necessário ao pecador é descansar agora pela fé sobre o queCristo fez: "O dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor" (Rm 6.23).Para o crente, o conhecimento de que a obra expiatória de Cristo está acabada traz um docealívio contra todos os defeitos e imperfeições de seus serviços. Há muito de pecado e vaidadeno melhor mesmo de nossos esforços, mas o grande consolo é que estamos "perfeitos" emCristo (Cl 2.10)! Cristo e sua obra acabada é o fundamento de todas as nossas esperanças.

Sobre uma Vida que não vivi,

Sobre uma Morte que não morri,Sobre a morte de um outro, sobre a vida de um outroEu lanço minh’alma eternamenteCom ousadia ficarei de pé naquele grande dia, Pois quem pode lançar sobre mim algumaacusação?Completamente absolvido por Cristo estou,Da tremenda maldição do pecado e da culpa.

"Está consumado"

5. Vemos aqui o fim de nossos pecados.

Os pecados do crente — todos os seus — foram transferidos ao Salvador. Como diz aescritura: "O Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos" (Is 53.6). Se Deus pois lançouminhas iniqüidades sobre Cristo, não mais estão elas sobre mim. Há pecado em mim, pois avelha natureza adâmica permanece no crente até a morte ou até o retorno de Cristo, caso elevenha antes que eu morra, porém, não há mais pecado algum sobre mim. Tal distinção entrepecado EM e pecado SOBRE é uma distinção vital, e deve haver pouca dificuldade em suaapreensão. Se eu dissesse que o juiz deu a sentença sobre um criminoso, e que esse está agorasob sentença de morte, todos entenderiam o que eu quis dizer. Da mesma forma, todos fora deCristo tem a sentença da condenação divina que repousa sobre si. Porém, quando um pecadorcrê no Senhor, recebe-o como seu Senhor e Mestre, ele não mais está "sob condenação" — opecado não mais está sobre si, ou seja, a culpa, a condenação, a pena do pecado, não mais estásobre ele. E por quê? Porque Cristo levou nossos pecados em seu próprio corpo sobre o madeiro

(1Pd 2.24). A culpa, a condenação e a pena de nossos pecados foram transferidas ao nossosubstituto. Em conseqüência, porque meus pecados foram transferidos a Cristo, eles não maisestão sobre mim.

Essa preciosa verdade foi contundentemente ilustrada nos tempos do Antigo Testamento em

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conexão com o Dia Anual da Expiação em Israel. Naquele dia, Arão, o sumo-sacerdote (um tipode Cristo), dava satisfação a Deus pelos pecados que Israel cometera durante o ano anterior. Amaneira como isso era feito está descrita em

Levítico 16. Dois bodes eram tomados e apresentados diante de Deus à porta dotabernáculo: isso era antes que qualquer coisa fosse feita com eles: isso representavaCristo apresentando-se a Deus, oferecendo para entrar neste mundo, e ser o Salvadordos pecadores. Um dos bodes era então escolhido e morto, e seu sangue era levado paradentro do tabernáculo, no interior do véu, no Santo dos Santos e, ali, era espargido

perante e sobre o propiciatório — prefigurando a Cristo oferecendo-se como umsacrifício a Deus, para satisfazer às exigências de sua justiça e aos requerimentos de suasantidade.

Lemos então que Arão saía do tabernáculo e punha ambas as mãos sobre a cabeça dosegundo bode (vivo) — significando um ato de identificação pelo qual ele, o representante detoda a nação, identificava o povo com o animal, reconhecendo que seu destino era o que seuspecados mereciam, e que, hoje, corresponde às mãos da fé, segurando Cristo e identificando anós mesmos consigo em sua morte. Tendo posto suas mãos na cabeça do bode vivo, Arão agoraconfessava sobre ele "todas as iniqüidades dos filhos de Israel, e todas as suas transgressões,segundo todos os seus pecados, e os porá sobre a cabeça do bode" (Lv 16.21). Desse modo, ospecados de Israel eram transferidos ao seu substituto. Finalmente se nos diz: "Assim aquelebode levará sobre si todas as iniqüidades deles à terra solitária; e enviará o bode ao deserto"(Lv 16.22). O bode que carregava os pecados de Israel era introduzido num ermo inabitado, e opovo de Deus não mais via, nem ele nem seus pecados! Tipificando, isso era Cristo introduzindonossos pecados em uma terra desolada onde Deus não estava, e ali dando um fim a eles. A cruzde Cristo, pois, é o túmulo de nossos pecados!

"Está consumado"

6. Aqui vemos o cumprimento das exigências da lei.

"A lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom" (Rm 7.12). Como poderia ela ser menosque isso, já que o próprio Jeová a tinha ideado e dado! A culpa não estava na lei, mas nohomem que, sendo depravado e pecador, não a podia guardar. Todavia, aquela lei tem que ser

guardada, e guardada por um homem, de modo que a lei pudesse ser honrada e exaltada, e  justificado aquele que a deu. Por conseguinte, lemos: "Porquanto o que era impossível à lei,visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne dopecado, pelo pecado condenou o pecado na carne; para que a justiça da lei se cumprisse em(não "por") nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o espírito" (Rm 8.3,4). A"enfermidade" aqui é aquela do homem caído. O envio do Filho de Deus na semelhança da carnedo pecado (grego, corretamente traduzido pela versão Almeida Revista e Corrigida) refere-se àEncarnação: como lemos em uma outra escritura, "Deus enviou seu Filho, nascido de mulher,nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei" (Gl 4.4,5 ARA). Sim, o Salvadornasceu "sob a lei", nasceu sob ela para que pudesse guardá-la perfeitamente em pensamento,palavra e obras. "Não cuideis que vim destruir a lei, ou os profetas: não vim abrogar, mascumprir" (Mt 5.17); essa foi sua pretensão.

Mas não apenas o Salvador guardou os preceitos da lei, ele também sofreu sua pena esuportou sua maldição. Nós a tínhamos quebrado e, tomando nosso lugar, ele deve receber sua  justa sentença. Tendo recebido sua pena e sofrido sua maldição, as exigências da lei sãocompletamente atendidas e a justiça é satisfeita. Por conseguinte, está escrito a respeito doscrentes: "Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós" (Gl 3.13). Eoutra vez: "Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê" (Rm 10.4). E outravez ainda: "Pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça" (Rm 6.14).

"Livres da lei, Ó feliz condição! Jesus abençoa e há remissão.

Amaldiçoados pela lei e mortos pela queda, A graça nos redimiu de uma vez por todas.

"Está consumado"

7. Aqui vemos a destruição do poder de Satanás.

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Veja-o pela fé. A cruz foi o presságio de morte do poder do diabo. Às aparências humanasparecia o momento de seu maior triunfo, todavia, na realidade foi a hora de sua derrotadefinitiva. Em virtude da cruz (vide contexto) o Salvador declarou, "Agora é o juízo destemundo; agora será expulso o príncipe deste mundo" (Jo 12.31). É verdade que Satanás não foiainda acorrentado e lançado no abismo, entretanto, a sentença foi dada (ainda que nãoexecutada); seu fim é certo; e seu poder já está quebrado no que diz respeito aos crentes.

Para o cristão, o diabo é um inimigo vencido. Ele foi derrotado por Cristo na cruz — "para quepela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo" (Hb 2.14). Os crentes já

foram tirados "da potestade das trevas" e transportados para o reino do Filho do amor de Deus(Cl 1.13). Satanás, então, deve ser tratado como um inimigo derrotado. Ele não mais temqualquer reivindicação legítima sobre nós. Outrora éramos seus "cativos" por lei, mas Cristo noslivrou. Outrora andávamos "segundo o príncipe das potestades do ar"; mas agora temos deseguir o exemplo que Cristo nos deixou. Outrora Satanás "operava em nós"; mas agora Deus équem opera em nós tanto o querer quanto o efetuar, segundo sua boa vontade. Tudo o quetemos de fazer é "resistir ao diabo", e a promessa é que "ele fugirá de vós" (Tg 4.7).

"Está consumado". Aqui estava a resposta triunfante à cólera do homem e à inimizadede Satanás. Ela conta a perfeita obra que vai de encontro ao pecado no lugar do  julgamento. Tudo estava completado exatamente como Deus queria tê-lo, como osprofetas haviam predito, como o cerimonial do Antigo Testamento prefigurava, como asantidade divina requeria, e como os pecadores necessitavam. Quão contundentementeapropriado é que esse sexto brado do Salvador na cruz seja encontrado no evangelho deJoão — o evangelho que mostra a glória da deidade de Cristo! Ele aqui não encomendasua obra à aprovação divina, mas sela-a com o seu próprio imprimatur, atestando-acomo completa, e dando-lhe a todo-suficiente sanção de sua própria aprovação.Nenhum outro além do Filho de Deus diz "ESTÁ consumado" — quem pois ousaduvidar ou questionar?

"Está consumado". Leitor, você crê nisso? ou está tentando adicionar algo de si mesmoà obra completa de Cristo para assegurar o favor de Deus? Tudo o que você tem quefazer é aceitar o perdão que ele adquiriu. Deus está satisfeito com a obra de Cristo, porque você não está? Pecador, no momento em que você crer no testemunho de Deussobre seu Filho amado, nesse momento todo pecado que você cometeu é apagado, e

você fica em posição aceitável em Cristo! Ó, não gostaria você de possuir a certeza deque não há nada entre sua alma e Deus? Não gostaria você de saber que todo pecado foiexpiado e posto de lado? Então, creia no que a palavra de Deus acerca da morte deCristo. Não descanse em seus sentimentos e experiências, mas na palavra escrita. Háapenas um caminho para se encontrar paz, e isso é mediante a fé no sangue derramadodo Cordeiro de Deus.

"Está consumado". Você realmente crê nisso? Ou está se esforçando para acrescentar algoseu mesmo a ele e assim merecer o favor divino? Há alguns anos atrás, um fazendeiro cristãoestava profundamente preocupado com um carpinteiro não salvo. Ele procurou pôr diante deseu vizinho o evangelho da graça de Deus, e explicar como que a obra completa de Cristo foisuficiente para sua alma nela descansar. Porém, o carpinteiro persistia na crença de que ele

mesmo tem que fazer algo. Um dia, o fazendeiro pediu a esse para lhe fazer um portão, equando o portão estava pronto ele o transportou para a sua carroça. Ele ordenou ao carpinteiroque o visitasse no dia seguinte de manhã e visse o portão quando levantado no campo. Na horamarcada o carpinteiro chegou e ficou surpreso ao descobrir o fazendeiro lá perto com um afiadomachado em sua mão. "O que você vai fazer?", ele perguntou. "Vou fazer alguns cortes e daruns golpes em sua obra", foi a resposta. "Mas não há necessidade alguma disso", respondeu ocarpinteiro, "o portão está todo certo assim. Fiz tudo que era necessário". O fazendeiro nãoprestou atenção a isso mas, erguendo seu machado, deu talhos e cortes no portão até ficarcompletamente inutilizado. "Veja o que você fez!", gritou o carpinteiro. "Você arruinou meutrabalho!" "Sim", disse o fazendeiro, "e isso é exatamente o que você está tentando fazer. Vocêestá procurando anular a obra completa de Cristo com seus miseráveis acréscimos a ela!" Deusutilizou essa lição com o vigoroso objeto para mostrar ao carpinteiro seu engano, e esse foi

levado a se lançar em fé sobre o que Cristo tem feito pelos pecadores. Leitor, você quer fazer omesmo?

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7. A PALAVRA DE CONTENTAMENTO

"E, clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.E, havendo dito isto, expirou"

Lucas 23.46

"E, CLAMANDO JESUS com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E,havendo dito isto, expirou" (Lc 23.46). Essas palavras postas diante de nós foram o último ato

do Salvador antes de expirar. Foi um ato de contentamento, de fé, de confiança e amor. Apessoa a quem ele confiou o precioso tesouro de seu espírito foi seu próprio Pai. Pai é um títuloque traz encorajamento e segurança: um filho, desde que seja querido, bem pode confiarqualquer preocupação nas mãos de um pai, em especial um tal Filho nas mãos de um tal Pai.Aquilo que foi entregue nas mãos do Pai foi o seu "espírito", que estava preste a se separar docorpo.

A Escritura mostra o homem como sendo um ser tricotômico: "espírito, e alma, e corpo" (1Ts5.23). Há uma diferença entre a alma e o espírito, ainda que não seja fácil afirmar onde não sãoeles similares entre si. O espírito parece ser o mais elevado panorama de nosso ser complexo. Éisso que particularmente distingue o homem das bestas, e que o liga a Deus. O espírito é aquiloque Deus forma dentro de nós (Zc 12.1); portanto, é ele chamado o "Deus dos espíritos de todaa carne" (Nm 16.22). Na morte, o espírito volta a Deus, que o deu (Ec 12.7).

O ato pelo qual o Salvador pôs seu espírito nas mãos do Pai foi um ato de fé —"[eu]entrego". Foi um bendito ato com a intenção de ser um precedente para todo seu povo. Oúltimo ponto observável é a maneira na qual Cristo executou seu ato: ele expressou taispalavras "com grande voz". Ele falou para que todos pudessem ouvir, e para que seus inimigos,que o julgavam destituído e desamparado por Deus pudessem saber que ele não mais o estava,antes, que ainda era amado por seu Pai, e podia pôr seu espírito confiantemente em suas mãos.

"Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito". Foi a última coisa que o Salvador disse antes deexpirar. Enquanto pendurado na cruz, por sete vezes seus lábios moveram-se para falar. Sete éo número da inteireza ou perfeição. No Calvário, então, como em todo lugar, as perfeições doBem-Aventurado foram mostradas. Sete é também o número de descanso em uma obra

encerrada: em seis dias Deus fez céu e terra e, no sétimo, descansou, contemplando comsatisfação aquilo sobre o que pronunciara ser "muito bom". Assim também aqui com Cristo:uma obra fora-lhe dada para fazer, e tal obra estava agora feita. Exatamente como o sexto dialevou à conclusão a obra de criação e reconstrução, assim a sexta declaração do Salvador foi"Está consumado". E, exatamente como o sétimo dia foi o dia de repouso e satisfação, assim asétima elocução do Salvador trá-lo ao lugar de descanso — as mãos do Pai.

Por sete vezes o Salvador agonizante falou. Três dessas elocuções diziam respeito aoshomens: a um deu a promessa de que deveria estar com ele naquele dia no Paraíso; a um outroconfiou sua mãe; à massa de expectadores fez menção de estar com sede. Três

dessas elocuções foram dirigidas a Deus: ao Pai ele orou por seus assassinos; a Deus ele

expressou seu triste lamento; e agora, nas mãos do Pai, ele entrega seu espírito. Ao ouvido deDeus e dos homens, dos anjos e do diabo, ele bradara em triunfo: "Está consumado".

"Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito". É digno de nota que esse brado final doSalvador tenha sido pronunciado pelo espírito de profecia muitos séculos antes da Encarnação.No salmo de número trinta e um ouvimos o Filho de Davi e o Senhor dizendo, antecipadamente:

"Em ti, Senhor, confio; nunca me deixes confundido; livra-me pela tua justiça. Inclina paramim os teus ouvidos, livra-me depressa; sê a minha firme rocha, uma casa fortíssima que mesalve. Porque tu és a minha rocha e a minha fortaleza; pelo que, por amor do teu nome, guia-me e encaminha-me. Tira-me da rede que para mim esconderam, pois tu és a minha força. Nastuas mãos encomendo o meu espírito; tu me remiste, Senhor Deus da verdade" (vv. 1-5)!

Em conexão com cada uma das elocuções de nosso Salvador na cruz uma profecia foicumprida. Na primeira vez, ele clamou, "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem", eisso cumpriu Isaías 53.12 — "pelos transgressores intercedeu" [ARA]. Na segunda, eleprometeu ao ladrão: "Hoje estarás comigo no Paraíso", e isso foi um cumprimento da profecia

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do anjo a José — "chamarás o seu nome Jesus; porque ele salvará o seu povo dos seuspecados" (Mt 1.21). Na terceira, disse à sua mãe: "Mulher, eis aí o teu filho", e isso cumpriu aprofecia de Simeão — "uma espada traspassará também a tua própria alma" (Lc 2.35). Naquarta, ele havia perguntado: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" e taispalavras foram idênticas àquelas do Salmo 22.1. Na quinta, ele exclamou: "Tenho sede", e issofoi um cumprimento do Salmo 69.21 — "na minha sede me deram a beber vinagre". Na sexta,ele bradou triunfantemente: "Está consumado", e essas são quase as mesmas palavras queservem de conclusão àquele maravilhoso salmo vinte e dois: "ele o fez", ou, como se poderiamuito bem verter do hebraico: "ele consumou", com o contexto mostrando que ele tinha

feito, a saber, a obra de expiação. Por fim, ele orou: "Pai, nas tuas mãos entrego o meuespírito", e, como mostramos de antemão, ele tão-somente estava citando o que delefora escrito de antemão no Salmo 31. Ó, as maravilhas da cruz! Nunca chegaremos aofim delas.

"Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito"

1. Vemos aqui o Salvador outra vez de volta à comunhão com o Pai.

Isso é sobremaneira precioso. Por um instante aquela comunhão foi quebrada —quebrada exteriormente — quando a luz da santa face de Deus foi ocultada dAquele quelevava nossos pecados, mas agora as trevas haviam passado e eram findas para sempre.Até à cruz tinha havido comunhão perfeita e ininterrupta entre o Pai e o Filho. Éextraordinariamente belo observar como o terrível "Cálice" mesmo fora aceito das mãosdo Pai:

"Não beberei eu o cálice que o Pai me deu?" (Jo 18.11). Na cruz, no início, o Senhor Jesusainda é encontrado em comunhão com o Pai, pois senão não teria clamado, "Pai, perdoa-lhes"!A sua primeira declaração na cruz, então, foi "Pai, perdoa-lhes", e agora sua última palavra é:"Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito". Porém, entre aquelas elocuções ele tinha ficado alipendurado por seis horas: três delas passadas em sofrimento nas mãos do homem e deSatanás; as três outras, na mão de Deus, quando a espada da justiça divina foi "despertada"para ferir o Companheiro de Jeová. Durante aquelas três últimas horas, Deus se tinha retiradodo Salvador, o que evoca aquele terrível clamor: "Deus meu, Deus meu, por que medesamparaste?" Mas agora está tudo feito. O cálice é bebido até à última gota: a tempestade da

ira se tinha passado: as trevas são idas, e o Salvador é visto mais uma vez em comunhão como Pai — comunhão nunca mais quebrada.

"Pai". Quão amiúde essa palavra estava nos lábios do Salvador! A primeira vez em quefoi registrada: "Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?" No que foiprovavelmente seu primeiro discurso formal — o "sermão da montanha" — ele fala do"Pai" dezessete vezes. Quando em seu discurso final aos discípulos, o "discurso pascal"encontrado em João 14-16, a palavra "Pai" é achada não menos do que quarenta e cincovezes! No capítulo seguinte, João 17, que contém o que é conhecido como a grandeoração sacerdotal de Cristo, ele fala ao e do Pai por mais seis vezes. E agora, pela últimavez antes de renunciar à própria vida, diz novamente: "Pai, nas tuas mãos entrego o meuespírito".

E quão abençoado é que seu Pai seja nosso Pai! Nosso porque seu. Quão maravilhoso isso é!Quão inefavelmente precioso que eu possa erguer meus olhos ao grande Deus vivente e falar,"Pai", meu Pai! Que conforto está contido nesse título! Que segurança é comunicada! Deus émeu Pai, então ele me ama, ama-me como ao próprio Cristo (Jo 17.23)! Deus é meu Pai e meama, então ele se importa comigo. Deus é meu Pai e cuida de mim, então suprirá todas asminhas necessidades (Fp 4.19). Deus é meu Pai, então ele fará com que nenhum mal aconteçaa mim, sim, que todas as coisas serão feitas para trabalharem juntos para o meu bem. Ó, queseus filhos adentrem mais profunda e praticamente na bênção de tal relacionamento, e então,alegremente exclamem com o apóstolo: "Vede quão grande caridade nos tem concedido o Pai:que fôssemos chamados filhos de Deus" (1Jo 3.1)!

"Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito"2. Vemos aqui um calculado contraste.

Por mais de doze horas Cristo estivera nas mãos dos homens. Disso falara aos seus

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discípulos quando os avisou de antemão que "o Filho do homem será entregue nas mãos doshomens:e matá-lo-ão (Mt 17.22,23). Disso fizera menção no meio da terrível gravidade doGetsêmane: "Então chegou junto dos seus discípulos, e disse-lhes: Dormi agora, e repousai; eisque é chegada a hora, e o Filho do homem será entregue nas mãos dos pecadores" (Mt 26.45).A isso os anjos fizeram referência na manhã da ressurreição, dizendo às mulheres: "Não estáaqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos como vos falou, estando ainda na Galiléia, dizendo: Convémque o Filho do homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, e seja crucificado, e aoterceiro dia ressuscite" (Lc 24.6,7). Isso recebeu seu cumprimento quando o Senhor Jesus seentregou àqueles que vieram prendê-lo no Jardim. Como vimos em um capítulo anterior, Cristo

podia facilmente ter evitado a prisão. Tudo que tinha que fazer era deixar os oficiais dossacerdotes prostrados no chão, e ir embora tranqüilamente. Mas ele não agiu assim. A horamarcada havia chegado. O tempo em que ele submeter-se-ia para ser levado como um cordeiroao matadouro chegara. E ele entregou-se nas "mãos dos pecadores". Como eles o trataram ébem sabido; eles se aproveitaram completamente da oportunidade. Eles deram plena vazão aoódio do coração carnal por Deus. Com "mãos ímpias" (At 2.23, KJV) o crucificaram. Mas agoratudo está acabado. O homem fizera o seu pior. A cruz fora suportada; a obra designada éterminada.

Voluntariamente tinha o Salvador se entregado às mãos dos pecadores, e agora,voluntariamente, ele entrega seu espírito nas mãos do Pai. Que bendito contraste! Nunca maisele estará de novo nas "mãos dos homens". Nunca mais estará ele à mercê do ímpio. Nuncamais sofrerá vergonha. Nas mãos do Pai ele se entrega, e o Pai agora tomará conta de seusinteresses. Não precisamos nos deter em detalhes na bendita conseqüência. Três dias depois oPai o ressuscitava dos mortos. Quarenta dias depois disso, o Pai o exaltava acima de todo oprincipado, e poder, e de todo o nome que se nomeia, e o pôs à sua própria direita nos céus. Elá agora ele se assenta no trono do Pai (Ap 3.21), esperando até que seus inimigos sejam feitosescabelo de seus pés. Por um dia, ainda que demorado, as posições serão invertidas. O Paienviará aquele a quem o mundo rejeitou: ele o fará outra vez, mas em poder e glória: paragovernar e reinar sobre toda a terra com vara de ferro. Então a situação será inversa. Quandoaqui esteve anteriormente os homens se atreveram a acusá-lo publicamente, mas então eleassentar-se-á para julgá-los. Outrora esteve nas mãos deles, então eles estarão nas suas.Outrora gritaram: "Tira[-o]", então ele dirá: "Apartai-vos de mim". E, no meio tempo, ele estánas mãos do Pai, sentado em seu trono, esperando seu deleite!

"Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isto, expirou."

3. Vemos aqui a perfeita entrega de Cristo a Deus.

Quão abençoadamente ele provou isso em toda a sua caminhada! Quando sua mãe oprocurou em Jerusalém quando era um menino de doze anos, ele disse: "Não sabeis que meconvém tratar dos negócios de meu Pai?" Quando esteve faminto no deserto após um jejum dequarenta dias e o diabo o instou a fazer pão das pedras, ele respondeu dizendo que vivia detoda palavra de Deus. Quando as poderosas obras que ele tinha feito e a mensagem que tinhaentregado não conseguiram comover seus ouvintes, ele se submeteu àquele que o enviara,dizendo: "Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábiose entendidos, e as revelaste aos pequeninos" (Mt 11.25). Quando as irmãs de Lázaro mandaram

informar ao Salvador da enfermidade de seu irmão, em vez de apressadamente ir a Betânia, eleficou ainda dois dias no lugar onde estava, dizendo: "Esta enfermidade não é para morte, maspara glória de Deus".

Não era a afeição natural que o movia a agir, mas a glória de Deus! Sua comida erafazer a vontade daquele que o enviou. Em tudo ele se submetia ao Pai. Veja-o demanhã, "levantando-se de manhã muito cedo" (Mc 1.35), a fim de poder estar napresença do Pai. Veja-o antecipando-se a toda grande crise e se preparando para eladerramando seu coração em súplicas. Veja-o passando mesmo a última hora antes desua prisão com sua face perante Deus. Quão adequadamente podia ele dizer: "Tomaisobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração". Eda mesma forma que viveu, morreu — entregando-se nas mãos do Pai. Esse foi o último

ato do Salvador agonizante. E quão extraordinariamente belo. Quão totalmente deconformidade com toda a sua vida! Ela manifestava sua perfeita confiança no Pai. Elarevelava a bendita intimidade que havia entre eles. Ela mostrava sua absolutadependência de Deus.

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Verdadeiramente, em tudo ele nos deixou um exemplo. O Salvador entregou seu espírito nasmãos de seu Pai na morte, porque ele tinha estado nas mãos dele por toda a sua vida! Isso éverdade quanto a você, leitor meu? Como pecador, você entregou seu espírito nas mãosdivinas? Nesse caso, está salvaguardado. Você pode dizer com o apóstolo: "Eu sei em quemtenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia" (2Tm1.12)? E você, como cristão, rendeu-se plenamente a Deus? Você presta atenção àquelapalavra: "Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos emsacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional" (Rm 12.1)? Está vivendopara a glória dele que amou e se deu por você? Está caminhando em dependência diária dele,

sabendo que sem ele não pode fazer nada (Jo 15.5), mas aprendendo que pode fazer todas ascoisas por Cristo, que fortalece você (Fp 4.13)? Se sua vida inteira está entregue a Deus, e amorte o apanhar antes que o Salvador retorne para receber seu povo para si mesmo, entãoserá fácil e natural para você dizer: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito". Balaão disse:"A minha alma morra a morte dos justos" (Nm 23.10). Ah, mas para morrer a morte dos justos,você tem de viver a vida dos justos, e essa consiste em absoluta submissão e dependência deDeus.

"Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito"

4. Vemos aqui a absoluta singularidade do Salvador.

O Senhor Jesus morreu como nenhum outro jamais morreu. Essa foi a sua afirmação: "Poristo o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim,mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la" (Jo10.17,18). As várias provas de que a vida de Cristo não foi tirada dele foram expostas diante doleitor na Introdução deste livro. A mais convincente demonstração de todas foi vista na entregade seu espírito nas mãos do Pai. O Senhor Jesus mesmo disse: "Pai, nas tuas mãos entrego omeu espírito", mas o Espírito Santo, ao descrever a verdadeira renúncia da sua vida, empregatrês diferentes expressões que dão a conhecer mui convincentemente o fato que nós estamosora considerando, e as várias palavras empregadas pelo Espírito são mais apropriadas aosrespectivos evangelhos em que são encontradas.

Lemos em Mateus 27.50: "E Jesus, clamando outra vez com grande voz, rendeu o espírito".Mas tal tradução não consegue salientar a força própria do original: o sentido no grego é o de

que ele "despachou seu espírito". Essa expressão é a mais apropriada em Mateus, que é oevangelho do rei, apresentando nosso Senhor como "O Filho de Davi; o Rei dos judeus". Um taltermo é lindamente adequado ao evangelho real, pois o ato do Senhor tem conotação deautoridade, como de um rei mandando embora um servo. A palavra usada em Marcos — queapresenta nosso Senhor como o servo perfeito — é a mesma de nosso texto — tomada deLucas, o evangelho da perfeita humanidade de Cristo — e significa, ele "soprou para fora seuespírito". Foi sua passiva tolerância da morte. Em João, que é o evangelho da glória divina deCristo, uma outra palavra é empregada pelo Espírito Santo: "Inclinando a cabeça, entregou oespírito" (Jo 19.30), ou liberou, talvez fosse mais exato. Aqui, o Salvador não "encomenda" seuespírito ao Pai como no evangelho de sua humanidade, mas, de acordo com sua glória divina,como alguém que tem completo poder sobre ele, "libera" seu espírito!

Duas coisas eram necessárias para se fazer propiciação: primeiro, uma satisfação completadeve ser oferecida à santidade de Deus ultrajada e à sua justiça ofendida, e isso, no caso denosso substituto, somente podia ser por ele sofrendo a ira divina derramada. E isso tinha sidosuportado. Agora ali restava apenas a segunda coisa, e essa era para o Salvador provar o gostoda morte. "Aos homens está ordenado morrerem uma vez vindo depois disso o juízo" (Hb 9.27).Com o pecador é, primeiro, a morte, depois o julgamento; com o Salvador a ordem,naturalmente, foi invertida. Ele suportou o juízo de Deus contra os nossos pecados e depoismorreu.

O fim agora era chegado. Perfeito senhor de si mesmo, não subjugado pela morte, ele bradacom uma grande voz de vigor não exaurido, e entrega seu espírito nas mãos do Pai, e nisso suasingularidade foi manifestada. Ninguém mais jamais agiu ou morreu assim. Seu nascimento foi

singular. Sua vida foi singular. Sua morte foi singular. Ao "dar" a sua vida, sua morte foidiferenciada de todas as outras mortes. Ele morreu por um ato de sua própria volição! Quem, anão ser uma pessoa divina, poderia ter feito isso? A um mero homem teria sido suicídio; mas,para ele, era uma prova de sua perfeição e singularidade. Ele morreu como o Príncipe da Vida!

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"Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito"

5. Vemos aqui o lugar de segurança eterna.

Repetidas vezes o Salvador falou de um povo que lhe fora "dado" (Jo 6.37 etc.), e na hora desua prisão ele disse: "Dos que me deste nenhum deles perdi" (Jo 18.9). Então, não é deleitosover que na hora da morte o bendito Salvador entrega-os agora à salvaguarda do Pai? Na cruz,Cristo pendurado como o representante de seu povo e, por conseguinte, vemos seu último atocomo um ato representativo. Quando o Senhor Jesus entregou seu espírito nas mãos de seu Pai,

ele também apresentou nossos espíritos junto com o seu, para a aceitação do Pai. Jesus Cristonunca viveu nem morreu por si próprio, mas pelos crentes: o que ele fez em seu último atoreportava-se a eles tanto quanto a si mesmo. Devemos, pois, olhar Cristo aqui unindo  juntamente todas as almas dos eleitos, e fazendo uma oferta solene delas, com seu próprioespírito, a Deus.

A mão do Pai é o lugar da segurança eterna. Naquela mão o Salvador encomendou seu povo,e ali eles estão para sempre seguros. Disse Cristo, referindo-se aos eleitos: "Meu Pai, que masdeu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai" (Jo 10.29). Aquientão está o fundamento da confiança do crente. Aqui está a base de nossa segurança. Assimcomo nada podia prejudicar Noé quando a mão de Jeová havia trancado a porta da arca,também nada pode tocar o espírito do santo pego pela mão de onipotência. Ninguém podearrancá-los de lá. Fracos somos em nós mesmos, porém "guardados pelo poder de Deus", é adeclaração segura da escritura sagrada: "guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, parasalvação preparada para revelar-se no último tempo" (1Pd 1.5, ARA). Os adeptos formais queparecem correr bem por um tempo podem ficar fatigados e abandonar a corrida. Aqueles quesão movidos pela excitação carnal de um "encontro de reavivamento" agüentam somente porum tempo, pois "não têm raiz em si mesmos". Aqueles que confiam no poder de suas própriasvontades e resoluções, que abandonam maus hábitos e prometem agir melhor, amiúdefracassam, e seu último estado é pior que o primeiro. Muitos que são persuadidos pelos bemintencionados, mas ignorantes, aconselhadores para "juntar-se à igreja" e "viverem a vidacristã" com freqüência apostatam da verdade. Mas todo espírito que nasceu de novo estáeternamente a salvo na mão do Pai.

"Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito"

6. Vemos aqui a bênção da comunhão com Deus.

O que estamos aludindo particularmente aqui é ao fato de que a comunhão com Deuspode ser desfrutada independentemente do lugar ou das circunstâncias. O Salvadorestava na cruz, rodeado por uma multidão escarnecedora, seu corpo sofrendo intensaagonia, entretanto, ele estava em comunhão com o Pai! Essa é uma das mais docesverdades destacadas pelo nosso texto. É privilégio nosso gozar da comunhão com Deusem todo tempo, independente de circunstâncias ou condições externas. Tal comunhão épor fé, e a fé não é afetada pelas coisas da vista. Não importa quão desagradável seuquinhão possa ser, leitor meu, é seu inefável privilégio desfrutar de comunhão comDeus. Tal como os três hebreus a desfrutaram com o Senhor no meio do forno de fogo

ardente, como Daniel na cova dos leões, como Paulo e Silas no cárcere de Filipos, comoo Salvador na cruz, assim também você, seja em que lugar for! A cabeça de Cristoestava circundada com uma coroa de espinhos em cima, mas embaixo estavam as mãosdo Pai!

Não ensina nosso texto mui explicitamente a bendita verdade e o bendito fato da comunhãocom o Pai na hora da morte? Então por que se apavorar, companheiro cristão? Se Davi, sob adispensação do Antigo Testamento, podia dizer: "Ainda que eu andasse pelo vale da sombra damorte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo" (Sl 23.4), por que devem os crentesagora temer, depois de Cristo haver arrancado o aguilhão da morte! A morte pode ser a "Rainhados terrores" para o não salvo, mas para o cristão, ela é simplesmente a porta que dá acesso àpresença do Bem-Amado. As moções de nossas almas na morte, tanto quanto na vida, voltam-

se instintivamente para Deus. "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito" será nosso brado,caso estejamos conscientes. Enquanto tabernaculamos aqui não temos descanso algum senãono seio do Pai; e quando saímos daqui, nossa expectativa e nossos desejos ardentes são o deestar com ele. Lançamos muitos olhares desejosos em direção ao céu, mas quando a alma dosalvo se aproxima da bifurcação dos caminhos, então ela se atira nos braços de amor, da

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mesma forma que um rio após muitos volteios e curvas se derrama no oceano. Nada além deDeus pode satisfazer aos nossos espíritos neste mundo, e nada senão ele pode nos satisfazerquando formos embora daqui.

Contudo, leitor, apenas os crentes estão garantidos e são encorajados a assim encomendarseus espíritos nas mãos de Deus à hora da morte; quão triste é o estado de todos os incrédulosque estão à morte. Seus espíritos, ainda, cairão nas mãos dele, mas será isso a miséria deles,não o privilégio. Os tais acharão que é uma "horrenda coisa cair nas mãos do Deus vivo" (Hb10.31). Sim, porque, em vez de caírem nos braços de amor, cairão nas mãos de justiça.

"Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito"

7. Vemos aqui o verdadeiro refúgio do coração.

Se a elocução final do Salvador expressa a oração dos cristãos às portas da morte, elamostra que grande valor eles colocam em seus espíritos. O espírito interior é o tesouroprecioso, e nossa principal solicitude e nosso maior cuidado é vê-lo guardado em mãosseguras. "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito". Tais palavras então podem sertomadas para expressar a atenção dada pelo crente à sua alma, para que ela possa estarsegura, o que sempre acontece com o corpo. O santo de Deus que se aproxima da morteexercita poucos pensamentos acerca de seu corpo, onde ele será posto, ou como odisporão dele; ele confia-o às mãos de seus amigos. Porém, como seu cuidado desde ocomeço é com sua alma, assim ele pensa então nela, e com seu último suspiro a entregaà custódia divina. Não é: "Senhor Jesus, receba meu corpo, cuide do meu pó"; mas:"Senhor Jesus, receba meu espírito" — Senhor, proteja a jóia quando o cofre estiverquebrado.

E agora uma breve palavra de apelo para concluir. Meu amigo, você está em um mundo queé cheio de problemas. Você não é capaz de cuidar de si mesmo em vida, muito menos o será namorte. A vida tem muitas provações e tentações. Sua alma é ameaçada dos dois lados. Em todadireção há perigos e armadilhas. O mundo, a carne e o diabo entraram em combinação contravocê. Aqui está então o farol de luz em meio às trevas. Aqui está o porto de abrigo em todas astempestades. Aqui está o bendito pálio que protege de todos os dardos inflamados do maligno.Graças a Deus que há um refúgio para os vendavais da vida e para os terrores da morte — a

mão do Pai — o verdadeiro céu do coração.

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UMA BREVE BIOGRAFIA

Arthur Walkington Pink (1886-1952)

Evangelista e erudito bíblico nascido em Nottingham, Inglaterra, A. W. Pink foidedicado a Cristo por sua mãe antes de nascer. Porém, quando jovem, afastou-se da féde seus piedosos pais e aderiu à Teosofia (o movimento Nova Era de sua época).Entretanto, em 1908, passa por uma contundente experiência de conversão aoEvangelho e, simultaneamente, sente-se chamado para o ministério. Assim, em 1910,

aos vinte e quatro anos de idade, cruza o Atlântico para entrar no Instituto BíblicoMoody, em Chicago, mas sai de lá após dois meses, para assumir uma igreja, a primeirade uma série de esforços fracassados no ministério pastoral. Em 1916, casou-se comVera E. Russell.

Nos anos seguintes ao abandono do curso, veio a adotar uma posição teológica ardente eestritamente calvinista, após aplicar-se ao estudo do pensamento puritano. Logo estariamanejando uma prolífica pena, tornando-se professor itinerante da Bíblia em 1919, devotando,a partir de então, sua vida ao estudo e exposição do Livro Santo, que viria a ler mais decinqüenta vezes e num ritmo de até dez capítulos por dia (!). Em 1922, deu início a uma revistamensal com o título de Studies in Scriptures, voltada à exposição das Escrituras e cujos artigosviriam a ser a fonte da maioria de seus trabalhos, que circulou entre cristãos de língua inglesaespalhados pelo mundo e que nunca chegou a atingir uma tiragem de mil exemplares, e quecirculou até à época de sua morte; foi, sem dúvida, seu maior monumento. De 1925 a 1928,atuou na Austrália, pregando, escrevendo e pastoreando duas congregações entre 1926 e 1928,quando retornou à Inglaterra. No ano seguinte, retornava aos Estados Unidos para mais oitoanos de pastoreios mal-sucedidos no Colorado, em Kentucky e na Carolina do Sul. Para alguns,a razão da fraca acolhida de seu ministério nesse campo deveu-se à personalidade excêntrica(de fato, Pink não se encaixava em qualquer lugar).

Em 1934, retornou em definitivo à sua pátria natal, fazendo residência na Ilha de Lewis(Escócia) em 1940, onde permanece em isolamento praticamente até sua morte, sem nenhumaligação formal com qualquer denominação — posição que não deve ser defendida nem  justificada. A partir de então, seu serviço no Reino de Deus passou a ser escrever dúzias delivros e mais de dois mil artigos, todavia, sem sucesso editorial.

Em sua época, Arthur Pink era praticamente desconhecido e, certamente, não era apreciado.O estudo por conta própria da Bíblia firmou-lhe a convicção de que muito do modernoevangelismo era defeituoso. Fez frente à crescente aceitação do arminianismo mesmo emtradicionais redutos calvinistas, como as igrejas batistas, levando adiante, com zelo incansável,os princípios da então abandonada literatura reformada. Para ele, o declínio espiritual da Grã-Bretanha era resultante de um "evangelho" que nem feria (com convicção de pecado) nemcurava (pela regeneração).

Após o seu falecimento em 1952, porém, ele veio a ter significativa influência. Tendo suasobras republicadas por The Banner of Truth Trust, veio a alcançar um público muito maior comoconseqüência (quase 178 mil exemplares vendidos apenas de The Sovereignty of God, por

exemplo). Seu biógrafo Iain Murray observou: "A difundida circulação de seus escritos após suamorte tornou-o um dos mais influentes autores evangélicos da segunda metade do século XX".Familiarizado com toda a gama da verdade, Pink raramente se desviou dos grandes temas:graça, justificação e santificação. A nossa geração tem com ele uma grande dívida, pelapermanência da luz que ele lançou, pela divina graça, sobre a verdade da Bíblia Sagrada. Seusescritos lançaram a faísca que deu início ao reavivamento da pregação bíblica e levaram muitosleitores a focalizarem o coração na vida de acordo com a Palavra de Deus.

Algumas frases de A. W. Pink:

• "A tendência da moderna teologia — se se pode chamá-la de teologia — é sempre rumo àdeificação da criatura ao invés da glorificação do Criador".

• "Não perguntamos: ‘Cristo é seu Salvador’, mas: ‘É Ele, real e verdadeiramente, seuSenhor?’ Se Ele não for seu Senhor, então, com a mais absoluta certeza, Ele não é seuSalvador".

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• "O fundamento de todo verdadeiro conhecimento de Deus deve ser uma clara apreensãomental de Suas perfeições como reveladas nas Escrituras. Não se pode confiar, adorar ou servira um Deus desconhecido".

• "O Deus deste século vinte não se assemelha mais ao Soberano Supremo das EscriturasSagradas do que a bruxuleante e fosca chama de uma vela se assemelha à glória do sol domeio-dia. O Deus de que se fala atualmente no púlpito comum, comentado na escola dominicalem geral, mencionado na maior parte da literatura religiosa da atualidade e pregado em muitasdas conferências bíblicas, assim chamadas, é uma ficção engendrada pelo homem, uma

invenção do sentimentalismo piegas. Os idólatras do lado de fora da cristandade fazem "deuses"de madeira e de pedra, enquanto que os milhões de idólatras que existem dentro da cristandadefabricam um Deus extraído de suas mentes carnais. Na realidade, não passam de ateus, poisnão existe alternativa possível senão a de um Deus absolutamente supremo, ou nenhum deus.Um Deus cuja vontade é impedida, cujos desígnios são frustrados, cujo propósito é derrotado,nada tem que se lhe permita chamar Deidade, e, longe de ser digno objeto de culto, só merecedesprezo".

Livros traduzidos no Brasil:

Attributes of God (Os Atributos de Deus, Editora PES)

Profiting from the Word of God (Enriquecendo-se com a Bíblia, Editora Fiel)Studies on Saving Faith (Estudo sobre a Fé Salvífica, Site Monergismo.com)The Doctrine of Justification (A Doutrina da Justificação, Site Monergismo.com)

The Seven Sayings of the Saviour on the Cross (Os Sete Brados do Salvador sobre a Cruz,Site Monergismo.com)

The Sovereignty of God (Deus é Soberano, Editora Fiel)