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Ministério da Educação e do Desporto Universidade Federal de Uberlândia - MG Instituto de Economia Curso de Mestrado em Desenvolvimento Econômico Dissertação de Mestrado A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL: Transformações, determinantes e impactos ALUNO: LEVY REI DE FRANÇA ORIENTADOR: Prof. Dr. JOSÉ FLÔRES FERNANDES FILHO Uberlândia Minas Gerais 2000

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Ministério da Educação e do Desporto

Universidade Federal de Uberlândia - MG

Instituto de Economia

Curso de Mestrado em Desenvolvimento Econômico

Dissertação de Mestrado

A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA

AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL:

Transformações, determinantes e impactos

ALUNO: LEVY REI DE FRANÇA

ORIENTADOR: Prof. Dr. JOSÉ FLÔRES FERNANDES FILHO

Uberlândia – Minas Gerais

2000

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

Levy Rei de França

II

Universidade Federal de Uberlândia – UFU

Instituto de Economia - IE

Curso de Mestrado em Desenvolvimento Econômico – CMDE

Levy Rei de França

A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA

AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL:

Transformações, determinantes e impactos

Dissertação de Mestrado apresentada à

Universidade Federal de Uberlândia – MG,

como parte das exigências do Curso de Mestrado

em Desenvolvimento Econômico. Orientador:

Prof. Dr. José Flôres Fernandes Filho

Uberlândia – Minas Gerais

2000

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EVOLUÇÃO RECENTE DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

Levy Rei de França

III

Aos meus pais Otacílio (in memorian) e Balduína

Aos meus filhos Gustavo e Felipe

A minha esposa Estela

Dedico

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

Levy Rei de França

IV

Agradecimentos

A Deus, por mais essa oportunidade de continuar a minha formação profissional.

Ao Instituto de Economia da UFU, pela forma inovadora de oferecer instrução.

A FESURV, na pessoa do professor Sebastião Lázaro Pereira, pelo empenho na

implantação do mestrado institucional.

Ao Centro Educacional Quasar, pela concessão do tempo necessário para os meus estudos.

À equipe da empresa Rio Rações, por trilhar sozinha e com eficiência suas atividades,

durante o meu afastamento.

À Profa. Dra. Isabel Dias Carvalho, por ter assumido uma de minhas disciplinas durante o

mestrado.

Ao Prof. Dr. José Flôres Fernandes Filho, pela transferência de conhecimento e pela forma

objetiva com que orientou a construção desta dissertação de mestrado.

À minha irmã Vera, pelo auxílio na tradução do sumário para o inglês.

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EVOLUÇÃO RECENTE DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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V

SUMÁRIO DE ITENS

INTRODUÇÃO 3

CAPÍTULO I – A EVOLUÇÃO RECENTE DA AVICULTURA DE CORTE

NO BRASIL

I. 1 – Surgimento do Complexo Avícola Brasileiro 9

I. 2 – Evolução da Produção e do Consumo 11

I. 3 – Evolução das Exportações 17

I. 4 – Custos de Produção e Impactos Sociais 18

I. 5 – O Complexo Avícola Atual 21

I. 6 – Conclusão 23

CAPÍTULO II – AS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

II. 1 – Mudanças na Área da Genética 25

II. 2 – Mudanças na Nutrição 31

II. 3 – Mudanças dos Equipamentos de Alimentação 39

II. 4 – Mudanças na Indústria de Ração 42

II. 5 – Mudanças dos Equipamentos de Climatização 46

II. 6 – Mudanças nos Galpões 48

II. 7 – Mudanças no Processo Industrial de Abate 51

II. 8 – Mudanças na Área de Sanidade 53

II. 9 – Mudanças na Criação 57

II. 9. 1 – Criação com Lotes Sexados 57

II. 9. 2 – Criação em Alta Densidade 58

II. 10 – Mudanças no Padrão de Produção de Frangos de Corte 59

II. 10. 1 – Verticalização da Produção 60

II. 10. 2 – Mudanças no Modelo de Integração 62

II. 11 – Conclusão 65

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VI

CAPÍTULO III - DETERMINANTES DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE

TÉCNICA

III. 1 – Desagregação do Complexo Rural e Formação dos Complexos

Agroindustriais

68

III. 2 – Apropriacionismo e Substitucionismo Industrial 74

III. 3 – Questões ligadas à Terra e ao Trabalho 77

III. 4 – Políticas Públicas e Financiamento 81

III. 4. 1 – A Participação do Estado nos Complexos Agroindustriais 81

III. 4. 2 – Políticas Públicas que Beneficiaram a Avicultura 83

III. 4. 3 – Financiamentos Recentes para a Avicultura 86

III. 5 – Conclusão 88

CAPÍTULO IV - OS IMPACTOS DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE

TÉCNICA

IV. 1 – Relação Capital X Trabalho 90

IV. 1. 1 – Sistema de “Produção Independente” 90

IV. 1. 2 – Sistema de Produção “Cooperativo” 91

IV. 1. 3 – Sistema de Produção por “Integração” 92

IV. 2 – Pequena Propriedade e Mão-de-Obra Familiar 95

IV. 3 – Especialização da Produção 98

IV. 4 – Geração de Empregos 101

IV. 5 – Localização das Granjas 102

IV. 5. 1 – A Questão Locacional na Década de 70 102

IV. 5. 2 – A Questão Locacional Atual 104

IV. 6 – Impactos Previstos para Rio Verde 109

IV. 7 – Conclusão 110

CAPÍTULO V – CONSIDERAÇÕES FINAIS

V. 1 – Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia 112

V. 2 – Depreciação Tecnológica 114

V. 3 – Os Gargalos da Avicultura 116

V. 4 – A Emergência da Questão Ambiental 119

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EVOLUÇÃO RECENTE DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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VII

V. 5 – Conclusão Final 120

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 127

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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VIII

SUMÁRIO DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 – Evolução da Produção Brasileira de Carne de Frango, 1000t, 1970–

1999.

13

GRÁFICO 2 – Produção de Carne de Frango, 1.000t, 1994-1999, por País: os 6

Maiores.

14

GRÁFICO 3 – Consumo Per Capita de Carne de Frango, Kg/Ano, 1998 – 2000, por

País: os 10 Maiores.

16

GRÁFICO 4 – Consumo de Carne de Frango. 1000 t, 1994 – 1999.

por País: os 6 maiores.

17

GRÁFICO 5 – Exportações Brasileiras de Carne de Frango e seu Valor, 1975-1998. 18

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EVOLUÇÃO RECENTE DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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IX

SUMÁRIO DE TABELAS

TABELA 1 – Produção Mundial das Três Principais Carnes em 1997

(Milhões de Toneladas)

11

TABELA 2 – Mixing de Produção Mundial das Três Principais Carnes – 1973/1997

(em Milhões de Toneladas)

12

TABELA 3 – Consumo Per Capita de Ovos e Carne de Frango, de Bovino e de Suíno,

Brasil, 1970 – 1999

15

TABELA 4 – Comparação de Índices Zootécnicos de Custos dos Principais Países

Produtores de Frango de Corte

19

TABELA 5 – POF – Consumo das Carnes Bovina (de 1a) e de Frango 1989/1998 –

Kg Per Capita

20

TABELA 6 – Brasil – Evolução da População Urbana e Rural em Meio Século –

1940 e 1990 – em Milhões de Habitantes

21

TABELA 7 – Desempenho de Frangos de Corte Desde 1945 27

TABELA 8 – Peso Vivo de Frangos de Corte, Segundo a Idade e o Ano de Produção 28

TABELA 9 – O Frango como Resultado do Desenvolvimento Científico 28

TABELA 10 – Peso (g), Conversão (g/g), Rendimento de Carcaça (%), Rendimento

de peito (%) por Linhagem e Idade

29

TABELA 11 – Evolução do Uso de Alimentos para Aves 32

TABELA 12 – 40 Anos de Progresso na Nutrição de Frangos de Corte 32

TABELA 13 – Demonstração de Desperdício em Função da Forma de Abastecimento

da Ração no Comedouros

41

TABELA 14 – Estrutura e Evolução do CAI na Década de 70 72

TABELA 15 – Participação % dos Principais Clientes nos Financiamentos

Concedidos pela Política de Preços Mínimos no Brasil

83

TABELA 16 – Diferenciais de Preços do Milho e da Soja e Redução do Custo de

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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X

Produção do Frango em Comparação com Goiás – 1990/95 106

TABELA 17 – Variabilidade dos Rendimentos Físicos do Milho e da Soja por

Regiões e Estados do Centro-Sul – 1980/97

107

TABELA 18 – Balança Comercial da Avicultura Brasileira 1997 (Milhões de US$) 118

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RESUMO

Analisou-se a evolução recente da avicultura de corte no Brasil, as transformações

da base técnica, os seus determinantes assim como os seus principais impactos. A análise

foi feita através dos seguintes instrumentos: coleta de dados estatísticos para constatação da

evolução da avicultura brasileira acumulada nos últimos 30 anos; leitura de contribuições

de autores da economia para entendimento das mudanças tecnológicas que afetam a área

rural; e levantamento dos dados sobre os impactos da avicultura de corte recente bem como

os novos investimentos no Centro-oeste. Foram identificadas transformações de base

técnica nas áreas da genética, nutrição, mecânica e sanidade; os determinantes das

transformações de base técnica foram atribuídos: à transformação do complexo rural em

complexo agroindustrial, ao apropriacionismo e substitucionismo industrial, a questões

ligadas à terra e trabalho e ao Estado, através de políticas públicas e financiamento

intervindo na economia; foram observados impactos: na relação capital x trabalho com a

emergência das integrações, na verticalização da produção surgindo grandes capitais

industriais na avicultura, no aumento do tamanho das propriedades integradas, na

intensidade da utilização de tecnologias, na geração de empregos em função desemprego

tecnológico e na mudança recente da localização das unidades produtoras para o Centro-

oeste, bem com o os prováveis impactos específicos para Rio verde.

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SUMMARY

It was analyzed the recent evolution of poultry raising in Brazil, the transformation

of the technical basis, it determinants, as well as the main impacts that this economic

activity brought about through a series of actions. Among them, it was included gathering

statistic data in order to verify the evolution of the poultry-raising sector in Brazil for the

last 30 year. As well as extensive research on papers published on the economy of the rural

areas of Brazil, in order to understand the technological changes that have taken place. It

was also collected data on the impact caused hy new investments in the Center-West region

of the country on this economic sector. Several transformations were verified on both the

technical and genetic base, as well as in nutritional, mechanics and health-care procedures.

The determinant factors of the technical base were attributed to the transformation of the

rural complex into in agricultural and industrial complex, industrial appropriation and

substitution due to matters related to land issues and labor, as well as to the state through

the public and financing politics are established. Impacts were observed in the relationship

capital vs. Labor, the appearance of integrationist behaviors, in the verticalization and in the

production process itself. Large industrial capitals replaced the old economy, the size of

integrated properties increased and technology became more intensely used. Concerning to

jobs generations, the number of jobs has been steadily shrinring, whereas the advancement

in technology has been replacing them. And in recent changings of locations from units

productors to the Center-West region a well, as well as the likely impacts specific to Rio

Verde.

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INTRODUÇÃO

A década de 70 marcou a decolagem da avicultura industrial brasileira, Até então a

produção de frango para industrialização se constituia em uma atividade sem muita

tecnologia incorporada. As estatísticas apontam que nesta época cada brasileiro consumia,

na média 35,6 kg das três principais carnes (bovina, suína e de frango), nesse total a

participação do frango não era mais do que 6%, pois cada brasileiro consumia menos de 2,3

kg per capita. Em 1999 o consumo per capita total de carnes foi estimado em 76,7 kg

(115% de aumento em relação a 1970), nessa expansão, a participação da carne bovina

subiu de 25,7 kg para 36,9 kg (cerca de 41% de aumento), e a carne de frango subiu para

29,1 kg, ou seja bem mais de 1000% de aumento em apenas 30 anos (GODOY, 2000).

A esse respeito ORTEGA (2000: 39) cita que “esse aumento no consumo de frango,

nas últimas décadas, é decorrente de diversos fatores: de um lado, as estruturas produtivas e

de distribuição vêm possibilitando elevadas taxas de conversão de proteína vegetal em

animal, a custos cada vez mais baixos. De outro, do ponto de vista da demanda, há vários

fatores, como: a) mudanças nos hábitos alimentares, em virtude da preocupação com a

redução do consumo de carnes de elevados teores de gordura, o que favorece a avicultura;

b) motivos religiosos, dado o crescimento do número de adeptos de religiões e seitas que

restringem o consumo de proteína animal a poucos animais e; c) produto com baixo preço e

produzido em larga escala, capaz de atender mercados gigantescos.”

Os números existentes são suficientes para demonstrar a verdadeira explosão de

crescimento experimentada pela avicultura de corte no Brasil. Para GODOY (1999)

existem duas frases, de épocas distintas, que retratam fielmente o que foi essa “explosão”:

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

Levy Rei de França

4

PASSADO PRESENTE (E FUTURO)

“Pobre, quando come frango,

um dos dois está doente.”

“Barão” de Itararé

“O frango é a mais democrática das

proteínas.”

IBGE

A frase da esquerda foi dita pelo jornalista Aparício Torelly; o irreverente dito

refere-se a uma época que se estendeu até, praticamente, o fim dos anos sessenta, quando o

frango era realmente alimento escasso, prato típico de fim de semana ou, sobretudo, de

festas. Isso, além de ser considerado, também, “vitamínico” indicado para lactantes,

convalescentes ou panacéia para males corriqueiros como gripes e resfriados. Daí o dito, do

qual se apropriaram os laboratórios fabricantes de vitamina C, “caldo de galinha e cama”. A

afirmativa da direita provém do IBGE (1999), que constatou que o frango está presente,

com variações mínimas, tanto na mesa dos pobres quanto na mesa dos ricos.

Um setor que cresce com uma vitalidade tão grande, como a avicultura de corte, em

uma economia em recessão como a nossa, deve ser mais bem entendido, até por que

identificando seus contornos, podemos enxergar melhor a sua conformação e expectativas

para o futuro. Este tema é bastante estudado em termos produtivos, merecendo, portanto,

ser melhor explicado, enquanto seus determinantes, suas mudanças tecnológicas e seus

impactos, uma vez que conhecendo melhor suas caraterísticas é possível somá-la a outras

questões ligadas à indústria e à agricultura, resultando em uma contribuição na formulação

de um conjunto de políticas públicas que bem atendam à produção de proteína animal.

O problema para o qual procurei resposta nesta dissertação foi identificar quais

foram as transformações na base técnica da avicultura de corte no Brasil, assim como quais

foram seus determinantes e seus principais impactos. A partir dos dados pesquisados foi

possível perceber que a avicultura de corte brasileira, desde a sua constituição, vem

passando por transformações significativas em sua base técnica, tais como: a importação e

desenvolvimento de linhagens de aves com melhores qualidades zootécnicas (material

genético); a evolução das técnicas de determinação de exigências nutricionais das aves; a

utilização de modelos matemáticos informatizados na formulação de rações; a ampliação

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INTRODUÇÃO

Levy Rei de França

5

do conhecimento acerca das restrições e composição química das matérias primas utilizadas

nas rações; a automação do manejo dos equipamentos do galpão; o desenvolvimento de

equipamentos de climatização dos galpões e nutrição das aves; a ampliação do tamanho dos

galpões; o desenvolvimento de substâncias químicas que contribuem para a sanidade

(vacinas, antibióticos, quimioterápicos, desinfetantes) e desempenho (promotores do

crescimento e eficiência alimentar, probióticos, vitaminas), decorrentes do

desenvolvimento tecnológico, das principais indústrias de tecnologia relacionadas aos

setores biológicos, mecânicos e químicos.

Foram utilizados como fonte de informações para as transformações acumuladas

nestes 30 anos de avicultura de corte brasileira: dados estatísticos de instituições como a

FACTA (Fundação Apinco de Ciência e Tecnologias Avícolas), APA (Associação Paulista

de Avicultura), IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), UBA (União

Brasileira de Avicultura); livros de Zootecnia nas áreas de avicultura, melhoramento

genético, nutrição, construções rurais e ambiência; monografias, dissertações de mestrado e

teses de doutoramento em economia nas áreas de desenvolvimento tecnológico e economia

rural; e artigos de revista técnicas (avicultura industrial, aves & ovos, Agroanalysis) e

jornais (força ruralista). Para análise dos dados e informações, foram utilizados Gráficos e

Tabelas associadas a cálculos de taxa de crescimento geométrico e taxa de variação total.

O processo inicial de criação de frangos de corte no Brasil consistia em uma

constelação de produtores independentes que no momento mais recente foram

gradativamente substituídos pelas grandes empresas verticalizadas. Neste ambiente ocorreu

a emergência do sistema integração. Este mercado oligopolizado e dinâmico, representado

pelas grandes integradoras, adota tecnologia de ponta (nas áreas de nutrição, genética e

mecânica), induz os integrados a também adotarem novas tecnologias (galpões e

equipamentos) e a procurar regiões para instalar unidade de produção com incentivos

fiscais e matérias primas de menor custo. Estas transformações tiveram impactos

significativos em termos de exigência de capital mínimo para o produtor se tornar

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

Levy Rei de França

6

integrado, em termos de número de empregos gerados por galpões e/ou milhares de frangos

produzidos e em termos de renda regional.

O objetivo geral deste estudo é analisar a evolução da base técnica da avicultura de

corte no Brasil, assim como os fatores determinantes que contribuíram diretamente para

estas transformações, bem como seus principais impactos. Tendo como objetivos

específicos a constatação e análise da evolução recente da produção, da produtividade, do

consumo, dos preços relativos e das exportações; a análise das transformações tecnológicas

recentes, bem como o processo atual de substituição de tecnologias; identificação e análise

dos principais fatores que determinaram as transformações recentes na base técnica; e a

identificação e análise dos principais impactos produzidos nos sistemas de produção, em

termos de retorno do capital aplicado, nível de emprego, produtividade do trabalho,

tamanho e localização das granjas.

Busca-se aprofundar aqui, de forma objetiva, os pontos fundamentais que cercam o

tema: No capítulo 1, apresenta-se o nascimento do complexo avícola brasileiro e analisa-se

a evolução recente da avicultura de corte no Brasil, através de dados estatísticos sobre a

evolução da produção, do consumo e das exportações, custos de produção e caracterização

do complexo avícola atual. Aponta-se, nesta parte, o crescimento da avicultura industrial a

partir da década de 70, a sua posição a nível mundial, os custos de produção em relação a

outros países, as expectativas de crescimento, a sua participação no PIB brasileiro, sua

importância social na geração de empregos e a produção de proteína de alta qualidade a

baixo custo para a população.

O capítulo 2 identifica as mudanças que ocorreram na base técnica durante este

período de evolução da avicultura de corte. Foram constatadas mudanças nas áreas da

genética, nutrição, nos equipamentos de alimentação, na indústria de ração, na

climatização, nos galpões, no processamento industrial, na sanidade, no manejo de criação

e no padrão de produção de frangos. Em sua conclusão tal capítulo aponta os ganhos

genéticos conseguidos no aumento do peso vivo ao abate, na nutrição com diminuição do

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INTRODUÇÃO

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consumo de ração e da idade de abate, na automação dos equipamentos de alimentação, no

padrão de produção de ração, no aumento da utilização de equipamentos de climatização,

na mudança dos galpões, no aumento da eficiência e das técnicas que conferem sanidade,

no manejo de criação e no padrão de produção de frangos baseado em grandes empresas

verticalizadas integradas com produtores de médio e grande porte.

O capítulo 3 busca apresentar os determinantes das modificações da técnica que

foram atribuídos à desagregação do complexo rural e formação do complexo agroindustrial,

ou seja, uma estrutura com características auto-suficientes é substituída por outra ligada à

jusante e à montante a indústria; ao apropriacionismo e o substitucionismo industrial que

foram os responsáveis pelas modificações ocorridas no campo; defende a tese de que a

indústria se apropria das atividades do campo através do desenvolvimento tecnológico,

substituindo com eficiência atividades que no caso da avicultura se concentram na área da

genética, nutrição e mecânica; a questões ligadas à terra e ao trabalho, que baseia-se na tese

de que a economia de terra devido o seu custo, com a aplicação de tecnologia aumentando a

produtividade e à economia da mão-de-obra devido também ao custo e à baixa eficiência

humana que tem justificado as modificações poupadoras de terra e trabalho; e a políticas

públicas e financiamento, já que em vários momentos o Estado, também, foi um dos

elementos que contribuiu para o desenvolvimento da avicultura industrial, seja pela

regulamentação da importação de pintinhos avozeiros, seja por financiamento, pela

pesquisa através de instituições de pesquisa e universidades, subsídios, utilização do frango

como garoto propaganda em tempo recente e participação atual na montagem de novas

unidades produtivas no centro oeste

O capítulo 4 procura identificar os impactos das transformações da base técnica.

foram identificados impactos nos seguintes setores: na relação capital x trabalho, na

utilização de propriedades com mão-de-obra familiar, na utilização de tecnologias, na

geração de empregos e na localização das granjas. Apresenta também um item de impactos

previstos para Rio Verde, conforme Estudo de Impacto Ambiental e Relatório Impacto ao

Meio Ambiente (EIA-RIMA) aprovado pela FEMAGO.

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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8

Finalmente no capítulo 5 são elencados alguns elementos estudados no corpo do

trabalho acrescidos de algumas contribuições para um melhor entendimento da avicultura,

de maneira que são apresentados: as características do desenvolvimento da ciência e

tecnologia como um elemento de subordinação dos processos de produção; a depreciação

tecnológica, que tem sido um dos elementos de constrangimento para a participação de

integrados em integrações ou de investimentos em nova capacidade produtiva; o novo

modelo de produção de maneira verticalizada integrada a produtores de médio e grande

porte, a nova localização dos investimentos na avicultura de corte; a emergência da questão

ambiental sinalizando para a necessidade de produção com desenvolvimento sustentado; e

termina com a conclusão final, analisando o recorte estudado e as suas possíveis

contribuições ao melhor entendimento da avicultura.

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CAPÍTULO I

EVOLUÇÃO RECENTE DA AVICULTURA DE CORTE NO

BRASIL

Este capítulo apresenta o nascimento do complexo avícola brasileiro, analisa a

evolução recente da avicultura de corte no Brasil através de dados estatísticos sobre a

evolução da produção, do consumo e das exportações, custos de produção e caracteriza o

complexo avícola atual. Identifica o surgimento da avicultura industrial a partir da década

de 70, a sua posição a nível mundial, os custos de produção em relação a outros países, as

expectativas de crescimento, a sua participação no PIB brasileiro, sua importância social na

geração de empregos e proteína de alta qualidade a baixo custo para a população.

I. 1 - Surgimento do Complexo Avícola Brasileiro

Para GIANNONI & GIANNONI (1983), a avicultura nos moldes industriais teve

grande incentivo após 1940, em decorrência da fome provocada pela segunda guerra

mundial, aliado ao desenvolvimento de novas tecnologias1. MORENG & AVENS (1990)

também concorda que o desenvolvimento da indústria avícola comercial começou no início

de 1940, quando vários países do mundo começaram a se envolver com a II guerra

mundial. Cita ainda que nos EUA a avicultura cresceu independente de programas

governamentais e assim manteve um caráter competitivo que se caracterizava em procurar

uma produção eficiente em um mercado altamente disputado. Livre das medidas de

racionamento e outras restrições da II guerra mundial, a produção de carne e ovos

aumentou rapidamente. Os avanços tecnológicos que foram obtidos a partir dos resultados

das pesquisas científicas deram impulso para uma expansão industrial rápida. Estas

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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10

pesquisas aplicadas na tecnologia e no manejo de produção resultaram, finalmente, na

produção de carne para quase toda população, independente do rendimento econômico de

cada pessoa.

O complexo avícola brasileiro começou com a introdução de raças híbridas no país,

na década de 1940, mas que se intensificou somente no início da década de 1960, com o

programa dos galpões de mil frangos2 e a vinda de filiais de empresas norte-americanas e

canadenses, entre outras. Para a produção local de matrizes, essas empresas trouxeram suas

linhagens de avós, intensificando sua distribuição no país, que estava restrita a poucas

regiões e atendia à demanda de criação de “fundo de quintal” (ORTEGA,1988).

Interessante observar que estas empresas ofereciam também todo um pacote tecnológico

para viabilização da avicultura.

A partir dos anos 60, a avicultura de corte brasileira surge de maneira tímida3,

entendida como uma fonte de renda alternativa e subsistência familiar. No início de 70 se

verifica a consolidação da nova técnica, iniciando um processo contínuo e gradativo de

transformações que mudariam totalmente a concepção inicial da avicultura. A década de

setenta, portanto, entrou para a história como sendo a época da consolidação da avicultura

industrial no Brasil4, inclusive é a partir desta data que passamos a ter dados de

performance do setor.

1 Justificando o pensamento de SCHUMPETER (1943) já que nas crises é que aparecem novas tecnologias. 2 Resultado de convênio entre os Estados Unidos e o Ministério da Agricultura (SORJ et alli, 1982).

3 Na década de 1960 a avicultura de corte ganhou dinamismo, também entre outros fatores, graças a vinda

para o Brasil de um grupo de técnicos norte-americanos, e a criação de uma equipe brasileira para o

desenvolvimento do projeto do Escritório Técnico de Agricultura (ETA). É desta época a criação dos clubes 4

S que, trabalhando em nível de extensão rural, estimularam em jovens o interesse pela avicultura. O impulso

definitivo foi a visita de avicultores e técnicos brasileiros às granjas e indústrias avícolas dos Estados Unidos

(GIANNONI&GIANNONI, 1983). 4 Segundo MORENG & AVENS (1990), a base da indústria avícola começou a tomar forma em meados de

1930, com a agregação de pequenos produtores, nos EUA, para constituir grandes unidades comerciais

integradas de galinhas e perus. Estas unidades integradas (O sentido com que o autor emprega a palavra

integração não tem relação direta com o sistema de produção de frango atual chamado sistema integração)

produziam uma disponibilidade significante de alimentos e consumiam produtos industrializados e

ingredientes de rações, gerando empresas fornecedoras e vendedoras que propiciaram o surgimento de novas

fontes de renda para um segmento significante da população.

Cita ainda que durante os anos de 1929 a 1936, quando os EUA passaram por uma crise econômica, com

secas severas e tempestades de areia, muitas famílias da zona rural sobreviveram à custa da criação doméstica

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EVOLUÇÃO RECENTE DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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11

I. 2 - Evolução da Produção e do Consumo

Quando se considera a produção e o consumo mundial de carnes bovina, suína e de

frango, a produção mundial em 1997, dessas três carnes, aproximou-se de 166 milhões de

toneladas, das quais 48,8%, 29,10% e 22,42% foram de carne suína, bovina e de frango

respectivamente, conforme os dados da Tabela 1. Para SALLE et alli (1998: 227),

analisando essas participações por um período amplo, observaram o seguinte

comportamento:

- a produção e o consumo de carne bovina evoluem abaixo do crescimento

vegetativo da população mundial, registrando portanto uma evolução real

negativa;

- a produção e o consumo de carne suína evoluem ao nível aproximado do

crescimento vegetativo da população mundial, portanto registrando estabilidade

de evolução, mas com tendência de decréscimo;

- a produção e o consumo de carne de frango evoluem a taxas substancial e

significativamente maiores que o crescimento vegetativo da população mundial.

TABELA 1 – Produção Mundial das Três Principais Carnes em 1997 (Milhões de

Toneladas). Carne Volume Participação

Suína 80,435 48,48%

Bovina 48,290 29,10%

De Frango 37,194 22,42%

Total 165,919 100,00%

Fonte: SALLE et alli (1998).

de galinhas, consumindo ou vendendo-as. Mesmo após 1936, os aviários domésticos davam uma renda para a

família do sitiante, que oferecia uma estabilidade econômica principalmente durante os períodos de tensão

financeira. A capacidade das galinhas produzirem produtos alimentares de grande valor nutritivo, com um

mínimo de investimento, seja em termos de tempo e capital investido, colocou na época a produção de aves

entre uma das atividades mais importantes de todas as famílias rurais americanas. Estas vantagens de

produção deram às aves o papel de fontes de alimentos nutritivos para famílias com recursos limitados,

principalmente nos países em desenvolvimento. É importante observar que a avicultura nasce como atividade

doméstica familiar, é incorporada pela indústria, mas conserva a criação na origem onde iniciou (quem cria

tem o mesmo perfil daqueles da sua instituição). O que mudou foi a forma verticalizada por força da

industrialização, já que neste nicho (criação) a indústria capitalista não teve interesse em assumir, sinalizado,

provavelmente, pelo excesso de não trabalho e grande risco já que trabalha com vida.

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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12

Para SALLE et alli (1998: 227), a produção e o consumo de carne de frango devem

alcançar e até superar a carne bovina nos primeiros anos do próximo século, o mesmo deve

ocorrer em relação a produção e o consumo de carne suína por volta de 2020 a 2030. Essa

previsão foi feita baseado nos dados da Tabela 2, que mostra o mixing de produção das três

principais carnes durante o período 1973/1997. Os autores citam ainda que “a justificativa

mais simplista para a expansão do mercado de carne de frango é a de que é o produto de

origem animal que melhor responde aos desafios de alimentação do homem moderno

(qualidade nutricional e resposta eficiente aos problemas do sedentarismo, estresse, etc.)”.

Do ponto de vista técnico-científico, o frango é superior aos suínos e bovinos, por

apresentar um ciclo de vida bem mais curto, com características típicas de animal de

laboratório, sendo muito mais apto ao desenvolvimento de experimentos. Isso tem

proporcionado ganhos extraordinários ao setor, seja no ganho de peso, na redução do

período de criação, no mais eficiente controle de doenças e na melhor conversão alimentar.

Do ponto de vista econômico, o aumento na rapidez de resposta, aliado à alta

conversibilidade de matérias-primas vegetais, se traduz numa produção proporcionalmente

maior de carne ou de ovos, em menor espaço de tempo e a custos cada vez mais acessíveis.

TABELA 2 – Mixing de Produção Mundial das Três Principais Carnes – 1973/1997

(em Milhões de Toneladas). 1973 1997 Variação no

período Volume Participação Volume Participação

Carne suína 50,794 46,20% 80,435 48,48% 58,36%

Carne bovina 41,509 37,76% 48.290 29,10% 16,34%

Carne de frango 17,636 16,04% 37,194 22,42% 110,90%

TOTAL 109,939 100% 165,919 100,00% 50,92%

Fonte: SALLE et alli (1998).

Apesar das crises que freqüentemente assolam a economia brasileira, a avicultura de

corte, no que se refere à produção de carne de frango, vem evoluindo de maneira contínua,

com taxas de 11,39% ao ano. Isso resultou num crescimento acumulado de 2.446% de 1970

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EVOLUÇÃO RECENTE DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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13

até 1999, onde a produção passou de 217.000 para 5..526.000 toneladas anuais, conforme

apresentado no Gráfico 1.

GRÁFICO 1 – Evolução da Produção Brasileira de Carne de Frango, 1000t, 1970–

1999.

Fonte: Dados obtidos in APA (2000). Elaboração do Autor

No que se refere à produção mundial, o Brasil é um dos grandes produtores de

frangos de corte, ocupando a terceira posição a nível mundial, sendo superado apenas pela

China que é o segundo e os EUA, o líder do setor (Gráfico 2). Em uma análise desses

dados, GODOY (1999) argumenta que a produção de frangos dos chineses continua

irrisória frente à sua população (consumo de 5,1 Kg per capita/ano de carne de frango em

1998, praticamente 1/5 do consumo brasileiro). Na verdade esta constatação sinaliza para

um grande potencial de crescimento baseado na ampliação do mercado interno. Cita ainda

que o desempenho expressivo do México, ocupando a quarta posição, pode ser justificado

graças à indústria americana que passou a se servir das condições e da mão-de-obra

mexicana (mais barata) para aumentar sua produção e ampliar sua participação no mercado

externo.

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

1970

1972

1974

1976

1978

1980

1982

1984

1986

1988

1990

1992

1994

1996

1998

Produção (1000t)

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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14

Fazendo uma análise dos dados de produção de carne de frango, de 1994 a 1999, a

China foi o país campeão de crescimento com taxas anuais de 5,62%, contra 5,58% do

Brasil. Sendo que o crescimento acumulado do período foi de 46,66% para a China, e

46,29% para o Brasil. Para se ter uma idéia do crescimento da produção brasileira, os EUA

no mesmo período cresceu com taxas anuais de 3,18% e acumulou um crescimento de

24,5%.

GRÁFICO 2 – Produção de Carne de Frango, 1.000t, 1994-1999, por País: os 6

Maiores.

* Previsão

Fonte: Dados obtidos in APA (2000). Elaboração do Autor

A participação do frango de corte na mesa do consumidor cresce a taxas de 8,08%

ao ano a partir da década de 70, acumulando um crescimento no consumo per capita, no

período de 1970 a 1999, em 930,4%. Para se ter uma noção da dimensão desse crescimento,

o consumo acumulado per capita de ovos, de carne de bovino e de suíno para o mesmo

período foi de 45,9%, 52,2% e 11,1%, respectivamente, conforme apresentado na Tabela 3.

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

14.000

16.000

1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000*

Estados Unidos China Brasil

México França Reino Unido

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EVOLUÇÃO RECENTE DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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15

TABELA 3 – Consumo Per Capita de Ovos e Carne de Frango, de Bovino e de Suíno,

Brasil, 1970 – 1999. Ano Ovos (Unidades) Frangos (Kg) Bovinos (Kg) Suínos (Kg)

1970 61 2.3 22.8 8.1

1971 62 2.4 23.4 7.9

1972 63 3.0 24.1 6.6

1973 60 4.0 26.2 7.0

1974 58 4.7 27.7 7.0

1975 57 4.9 29.8 7.2

1976 57 5.4 35.6 7.2

1977 57 6.0 40.0 7.4

1978 58 7.1 40.0 7.5

1979 62 8.7 34.9 7.7

1980 77 8.9 32.4 8.2

1981 72 8.9 29.0 8.0

1982 92 8.5 30.2 7.7

1983 84 9.3 27.7 7.4

1984 79 8.1 23.0 7.1

1985 87 8.9 22.8 6.9

1986 94 10.0 22.6 7.3

1987 109 12.4 22.2 8.0

1988 103 11.8 24.5 7.0

1989 83 12.4 24.7 6.6

1990 89 13.4 23.6 7.0

1991 88 15.0 22.8 7.0

1992 88 16.0 25.8 7.3

1993 86 17.0 33.4 7.8

1994 92 18.3 33.7 7.9

1995 101 22.8 36.2 8.7

1996 101 22.0 35.6 9.4

1997 83 23.6 35.1 8.9

1998* 81 24.0 34.7 9.0

1999** 89 23.7 34.7 9.0

Variação

total %

45,9 930,4 52,2 11,1

Variação

anual %

1,26 8,08 1,40 0,35

*Estimativa

** Previsão

Fonte: IBGE/IEA/APA in Aves & Ovos (1999:4). Modificado pelo Autor.

O maior consumo per capita de carne de frango no Brasil deverá ser atingido em

2000, quando se espera que cada brasileiro consuma aproximadamente 25,7 quilos de carne

de frango por ano. Essa quantidade poderia ser entendida como o limite máximo de

consumo do nosso mercado interno, entretanto, quando comparado com dados de outros

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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países, como Hong Kong, é possível perceber grandes possibilidades de crescimento. O

Brasil atualmente ocupa a 10a posição em termos de consumo per capita a nível mundial

com 25,7 Kg /ano, isso representa 49,7% do consumo do lo colocado que é Hong Kong com

51,7 Kg/ano. Entretanto percebemos uma certa estabilidade no consumo de 1998 a 2000,

conforme apresentado no Gráfico 3.

GRÁFICO 3 – Consumo Per Capita de Carne de Frango, Kg/Ano, 1998 – 2000, por

País: os 10 Maiores.

(P) preliminar/(e) estimativa

Fonte: Dados obtidos in APA (2000). Elaboração do Autor

O consumo de carne de frango no Brasil cresceu a uma razão de 5% ao ano, de 1994

a 1999, acumulando neste mesmo período um crescimento 34%. Essa performance coloca o

Brasil que é o terceiro maior consumidor mundial em segundo lugar em nível de

crescimento, sendo superado apenas pela China que cresceu a taxas de 9,2% ao ano e

acumulando um consumo no mesmo período de 70%. Para se ter noção desse crescimento,

os EUA maior consumidor do mundo, têm para o mesmo período taxas anuais de

crescimento e total acumulado de 2,7% e 17,8, respectivamente (Gráfico 4), manifestando

característica de mercado maduro próximo ao seu limite máximo de consumo.

0

10

20

30

40

50

60

Hong K

ong

Kuw

ait

Estados U

nidos

Arábia

Sau

dita

Emira

dos Ára

bes

Taiw

an

Canad

a

Cingap

ura

Argen

tina

Brasil

1998 1999(p) 2000 (e)

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EVOLUÇÃO RECENTE DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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17

GRÁFICO 4 – Consumo de Carne de Frango. 1000 t, 1994 – 1999. por País: os 6 maiores.

(P) preliminar/(e) estimativa

Fonte: Dados obtidos in APA (2000). Elaboração do Autor

I. 3 - Evolução das Exportações

As primeiras exportações de carcaças de frangos foram realizadas em meados da

década de setenta, o que contribuiu para uma maior expansão desta atividade. A quantidade

e o valor das exportações podem ser apreciados no Gráfico 5. Observa-se um rápido

crescimento da quantidade exportada a taxas de 74,75% ao ano entre 75 e 82. Ficam

estagnados com tendência de queda até 87, quando então passam a apresentar um

crescimento significativo a taxa anuais de 10,33% até 99, contra taxa de 37,33% de 75 a 87.

Fazendo uma avaliação total de 75 a 99, observa-se um crescimento das exportações de

22.113,34% na quantidade (t) e 26.427,27% no valor FOB (US$ MILHÃO), com taxas

anuais de crescimento de 24,12% e 25,01%, respectivamente. Atualmente o Brasil é o

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

1994 1995 1996 1997 1998* 1999**

Estados Unidos China Brasil México japão Reino Unido

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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18

segundo maior exportador5 de carne de frango do mundo, sendo os EUA o líder em

exportações.

GRÁFICO 5 – Exportações Brasileiras de Carne de Frango e seu Valor, 1975-1998.

Fonte: Dados obtidos in APA (2000). Elaboração do Autor

I. 4 – Custos de Produção e Impactos Sociais

Comparativamente aos principais países produtores de frango, o Brasil tem se

destacado tanto pelos índices zootécnicos quanto pelos índices de custos, conforme

apresentado na Tabela 4. Verifica-se por meio dos índices zootécnicos que o Brasil. EUA,

Holanda e França, sob o ponto de vista de eficiência técnica, apresentaram os melhores

resultados, bem acima daqueles obtidos pela China e Tailândia.

5 Em 1985 a exportação de frango em partes representava 14% do total da carne de frango exportada,

enquanto em 1999 já alcançava 54,8%. Atualmente são exportados mais de 60 tipos de cortes (ORTEGA,

2000).

0

100200

300400

500

600700800

9001.000

1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999

Quantidade (1000t) Valor FOB (US$ milhão)

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TABELA 4 – Comparação de Índices Zootécnicos de Custos dos Principais Países

Produtores de Frango de Corte. Brasil Holanda China EUA Tailândia França

Índices

zootécnicos

Conversão 2,0 1,9 2,3 2,0 2,0 2,0

Idade (dias) 41,9 42,0 56,0 42,0 45,0 43,0

Eficiência 227 232 201 230 211 225

Peso limpo (Kg) 1,4 1,4 2,0 1,5 1,4 1,4

Custo

Ração 100 153,9 119,5 102,5 143,5 159,1

Pintinho 100 170,4 106,5 98,8 104,3 152,3

Abatedouro 100 188,7 118,3 112,8 136,8 179,4

Total 100 191,2 109,9 109,0 124,7 185,7

Fonte: GOMES & ROSADO (1998). Adaptado pelo Autor.

Onde:

(peso médio x viabilidade) x 100

__________________________

idade de abate Consumo de ração (Kg)

Eficiência= __________________________ Conversãor=__________________________

conversão alimentar Peso vivo da ave (Kg)

No tocante aos custos totais é visível a diferença existente entre o Brasil e demais

países. A Tailândia mesmo apresentando custos superiores ao brasileiro (24,7%), tem

ampliado a sua participação no mercado internacional. Segundo GOMES & ROSADO

(1998), isso ocorre em razão de sua proximidade com os mercados consumidores. Citam

ainda que, a França e a Holanda produzem a um custo quase que o dobro do brasileiro, só

se mantendo no mercado externo, devido aos subsídios dados aos produtores, que chegam,

às vezes, em 85% em função das barreiras alfandegárias no mercado internacional. Os

subsídios americanos às exportações, por outro lado, chegam a US$ 360 por tonelada.

O consumo do frango industrial produziu modificações nos hábitos de consumo

popular. Anteriormente, o frango caipira6 era o preferido pelo consumidor, que considerava

o frango industrial com sua pele muito branca, sem gorduras, um frango inferior. SORJ et

6 Devido aos elevados índices de produtividade que consegue a avicultura intensiva, a avicultura tradicional

fica marginalizada, sem condições de atender às necessidades de qualidade, controle sanitário e quantidade

regular, impostas pelos segmentos de processamento e comercialização do complexo agroindustrial (CAI)

avícola (Sorj et alli, 1982).

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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20

alli (1982) sublinha que o frango industrial impõe-se primeiro nos supermercados, e com

um público fundamentalmente de classe média. Com o tempo, seja por oferta sistemática na

maioria dos centros de vendas de carnes, seja pelo preço relativamente inferior à carne de

boi, terminou por ingressar inclusive no consumo popular.

Os resultados da última Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), feita IBGE,

concluiu que, a carne de frango está igualmente presente, com variações mínimas no

tocante à quantidade, tanto na mesa de pobres como na de ricos. Conforme pode ser

observado na Tabela 5 a classe de renda de até 2 SM consomem 18% da carne bovina e

75% da carne de frango consumida pela renda acima de 20 SM.

TABELA 5 – POF - Consumo das Carnes Bovina (de 1a) e de Frango 1989/1998, Kg

Per Capita

Classe de renda Carne bovina Carne de frango

1989 1998 1989 1998

Até 2 SM 2,3 3,4 10,9 14,4

15 a 20 SM 14,1 14,3 14,1 16,8

+ de 20 SM 21,2 18,8 16,3 19,2

Fonte: IBGE (1999).

O baixo valor do frango de corte, com reflexos positivos sobre o aumento de seu

consumo, tem efeitos positivos sobre o custo do valor da força de trabalho dos

trabalhadores. Se considerarmos, conforme comenta GRAZIANO DA SILVA (1988), que

o valor da força de trabalho equivale ao valor dos meios de subsistência que são

necessários, inclusive do ponto de vista moral e histórico, para manter o nível de vida

normal dos trabalhadores e garantir a sua procriação, a avicultura contribui para elevar a

taxa geral de mais-valia e, assim, a acumulação de capital.

Para GODOY (1999: 3) a atual indústria avícola brasileira é resultado direto do

processo de urbanização ocorrido no país nestes últimos 50 anos (Tabela 6), onde essa

urbanização atuou de duas maneiras distintas na criação de um novo e amplo mercado

consumidor:

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EVOLUÇÃO RECENTE DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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21

1. Ao transferir, do campo para as cidades, maciças levas da população, aqui inclusos os

que produziam frangos e poedeiras para a própria subsistência e/ou para o atendimento,

eventual ou contínuo, de terceiros;

2. Ao valorizar os espaços urbanos, eliminando não só os “cinturões verdes” que

cercavam os grandes centros urbanos mas, sobretudo, as criações domésticas (são

poucos os que, nascidos antes dos anos 50, não conviveram com o galinheiro no fundo

do quintal, de onde saíam os ovos para consumo diário e o “franguinho” do fim de

semana).

TABELA 6 – BRASIL, Evolução da População Urbana e Rural em Meio Século, 1940

e 1990. em Milhões de Habitantes.

Ano População urbana

(A)

População rural

(B)

% do total

A B

1940 12,8 28,4 31% 69%

1990 110,2 34,8 76% 24%

VAR. 40/90 760% 22% - -

Fonte: IBGE (1999).

I. 5 - O Complexo Avícola Atual

Essa evolução pode ser constatada, também, pela enorme rede de atividades

correlatas ligadas à avicultura e suas inovações tecnológicas7, incluindo atividades de

intermediação na comercialização, beneficiamento e prestação de serviços de seus

produtos. Neste escopo geral, devem ser incluídos: as indústrias de rações; de equipamentos

para granjas, incubatórios, matadouros e frigoríficos; de equipamentos de classificação,

beneficiamento e transformação dos produtos avícolas; de laboratórios na produção de

vacinas, drogas, antibióticos e desinfetantes; a produção de matérias primas para rações

como vitaminas, elementos minerais e subprodutos industriais; a rede de intermediários

entre o produtor e o consumidor responsáveis pela comercialização, beneficiamento,

prestação de serviços e industrialização de produtos avícolas; os agrônomos, veterinários e

zootecnistas; universidades e centros de pesquisas; e muitas outras atividades aqui não

7 SCHUMPETER (1943) cita que a inovação de um setor potencializa e dinamiza o aparecimento ou o

crescimento de outros setores com novas inovações.

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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relacionadas. Para COTTA (1997) este setor agro-industrial gerou mais de 2 milhões de

empregos diretos e indiretos em 1997 e dinamiza outros setores produtivos do país,

especialmente a produção de soja e de milho.

Para se ter uma noção da dimensão do setor avícola, o agronegócio representa US$

300 bilhões dos US$ 850 bilhões do PIB brasileiro (35% do total), o setor agropecuário

responde por cerca de US$ 60 bilhões (7% do PIB) e desse montante a avicultura de corte

participa com US$ 6 bilhões. As exportações do setor agropecuário somam US$ 16 bilhões

enquanto as da avicultura de corte chegam US$ 0,9 bilhões (SCHORR, 2000).

Caracterizando a avicultura em relação aos outros produtos agropecuários, SORJ et

alli (1982: 10) sublinham que:

1 - Apresenta um altíssimo grau de subordinação da produção rural à moderna

tecnologia produzida pelo complexo agroindustrial, fazendo com que o complexo avícola

seja um campo privilegiado para análise das transformações das relações sociais no campo

sob a liderança do capital industrial;

2 – Passa por um crescimento vertiginoso, no bojo da expansão do conjunto do setor

agroindustrial, baseado, em boa parte, em tecnologia estrangeira, possibilitando, desse

modo, esclarecer certos problemas de caráter do setor agroindustrial, suas perspectivas, e a

inserção do Brasil no mercado mundial de produtos alimentícios; e

3 – Permite análise dos problemas da representação política das novas camadas

sociais de produtores rurais ligados ao complexo agroindustrial e que se distinguem

claramente dos antigos produtores agrícolas.

No contexto da produção animal, a avicultura no Brasil tem se caracterizado como o

setor que mais se organizou em termos empresariais, pela formação de grandes empresas

verticalizadas e em termos associativos pela representação de interesses através de varias

associações8. Para ORTEGA (2000: 7) a especialização da avicultura nacional resultou na

8 Como por exemplo: UBA – União Brasileira de Avicultura, APA - Associação Paulista de Avicultura, AGA

– Associação Goiana de Avicultura, ABEF- Associação Brasileira de Exportadores de Frangos, APINCO –

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EVOLUÇÃO RECENTE DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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emergência de formas de representação de interesses mais especializadas. A UBA por

exemplo é uma interprofissão, que mais do que ser uma dentre muitas entidades

representativas congrega uma espécie de federações estaduais, essa representação tem

como característica uma dupla função: de um lado, encaminha politicamente as

reivindicações do coletivo que representa, e, de outro, acaba desempenhando importante

papel de difusor de tecnologias.

O nascimento do associativismo na avicultura, levantando a bandeira pelo setor,

permitiu ganhos consideráveis nos últimos anos, tanto no que se refere à produtividade

como no que tange a parte comercial. Atualmente o complexo avícola é um dos complexos

agroindustriais brasileiros de maior dinamismo, com atividade primária extremamente

intensiva e integrada entre os elos da cadeia produtiva. Em virtude das fortes relações a

montante e a jusante da produção agropecuária é considerado um complexo agroindustrial

completo (KAGEYAMA & GRAZIANO DA SILVA, 1987)

I. 6 - Conclusão

Portanto, a avicultura brasileira se consolida industrialmente a partir da década de

70. Atualmente a carne de frango é a terceira carne mais consumida no mundo e a terceira

carne mais produzida no mundo e também no Brasil. No mercado interno é a segunda carne

mais consumida, tendo o consumo per capita aumentado 930,4% de 1970 para 1999, sendo

atualmente consumida com variações mínimas no tocante à quantidade, por ricos e pobres.

A produção interna cresceu 2.446% de 1970 para 1999, sendo que parte dessa

produção é destinada a exportação, de maneira que o Brasil ocupa o 2o lugar nas

exportações, tendo acumulado no período de 1975 a 1999 um crescimento de 22.113,34%

na quantidade de carne exportada.

Associação dos Produtores de Pintos de Corte, FACTA - Fundação Apinco de Ciência e Tecnologia Avícolas,

e outros.

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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Na verdade, três fatores essenciais embasaram o desenvolvimento da avicultura

brasileira e sua consolidação como um dos mais modernamente constituídos: uma intensa

integração vertical, a expansão do mercado interno e o incentivo à busca do mercado

externo (MATOS, 1996b).

Este setor tão novo da economia é responsável pela circulação anual de cerca de 6

bilhões de dólares, gera mais de 2 milhões de empregos e é reconhecido por ser o mais

tecnificado e organizado da pecuária. Nos próximos capítulos, a minha tarefa será tentar

oferecer uma contribuição para o entendimento deste setor tão dinâmico da produção

animal.

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CAPÍTULO II

TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

Este Capítulo procura identificar as mudanças que ocorreram na base técnica da

avicultura de corte durante o seu processo evolutivo. Foram constatadas mudanças nas

áreas da genética, da nutrição, nos equipamentos de alimentação e climatização, nos

galpões, no processamento industrial, na sanidade, nas técnicas de criação e no padrão de

produção de frangos de corte. Em sua conclusão tal Capítulo aponta os ganhos conseguidos

em função dos avanços da genética, nutrição e sanidade aliados a novos equipamentos de

alimentação, produção de rações e climatização. São apresentados também o aumento do

tamanho dos galpões, o aumento da quantidade de aves criadas por metro quadrado, o

aumento da utilização de equipamentos de climatização e a mudança das técnicas e do

padrão de produção de frangos de maneira verticalizada e integrada a produtores de médio

e grande porte.

II. 1 - Mudanças na Área da Genética

As modificações na área genética resultaram no desenvolvimento do popular

frango9 de granja, que desde sua constituição encontra-se em um dinâmico processo de

melhoramento, superando-se em termos de índices zootécnicos a cada ano. Fazendo uma

9Provavelmente as aves atuais tiveram origem na Índia a partir do gênero Archaeopterix. A galinha doméstica,

segundo DARWIN, citado por GIANNONI& GIANNONI (1983), ter-se-ia originado do Gallus bankiva da

Ásia. Porém outros autores consideram que sua origem foi polifilética a partir de cruzamentos entre essa

espécie e as Gallus sonnerati (galinha parda da Ásia), Gallus lafayetti (galinha do Ceilão) e Gallus varius

(galinha de java). Os primeiros indícios de domesticação datam de 3200 a.C. a 1400 a.C., onde já se criavam

na China como animais de adorno e de briga. A introdução de galos de briga na Europa ocorreu no século

XVI. Esse esporte se popularizou rapidamente, atingindo tais proporções que em 1849 o Vaticano o proibiu.

GIANNONI & GIANNONI (1983) citam ainda que atualmente das 31 espécies de animais domésticos, 11

são aves e destas a mais importante economicamente é a Gallus gallus.

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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revisão sobre as inovações genéticas de 45 até 70, GIANNONI & GIANONNI (1983)

citam que as primeiras raças de aves de corte surgiram na Ásia e na Europa, porém a

produção industrial de frango de granja (broiler) teve início em New England nos Estados

Unidos da América do Norte. Desenvolveram-se as raças de dupla aptidão por volta de

1945 e uma delas, a New Hampshire, passou a ser gradualmente especializada para corte

como raça pura. Em seguida surgiram cruzamentos dessa raça com a Plymouth Rock

Barrada, cujos produtos se destinavam ao corte.

Em seguida surgiu a revolucionária raça Red Cornish, em 1948, desenvolvida por

Charles Vantress e pouco depois a White Cornish dominante. Ao mesmo tempo outra

mudança ocorria: o aparecimento do tipo corte White Rock melhorada por Henri Saglio,

tanto como raça pura, como paternal. A partir deste período praticamente todos os

“broilers” são produtos de cruzamentos entre Cornish e White Rock.

Na década de 50 as fêmeas “broiler” parentais eram formadas por cruza simples,

utilizando-se o vigor híbrido para as características reprodutivas. Surgiram então as marcas

de híbridos selecionadas pela capacidade combinante entre linhagens.

Em 1965 nova mudança ocorreu com a introdução do gene recessivo sexoligado

“dwarf” (dw) descrito por HUTT, citado por GIANNONI & GIANONNI (1983), na

linhagem paternal fêmea. A partir de 1970 linhagens parentais portadoras de “dw”

substituíram algumas linhagens comerciais e semi comerciais da Europa. Essas linhagens

apresentavam as seguintes vantagens: (a) 30% de redução no peso do corpo da linhagem

materna, em conseqüência requeriam em média 40 gramas a menos de alimentos por dia,

fato que reduziu o custo dos ovos de incubação e (b) a densidade populacional nos

galinheiros podia ser aumentada de 20 a 30%. Por outro lado condicionavam algumas

desvantagens como: (a) maior dificuldade de acasalamento, resultante da diferença de

tamanho entre fêmeas dw (pequenas) e machos (grandes), necessitando geralmente de

inseminação artificial, (b) diminuição da eclodibilidade total e (c) a maioria das linhagens

dw ainda não se encontra estabilizada geneticamente e adaptada para a comercialização.

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TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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Os ganhos decorrentes do melhoramento genético foram surpreendentes. Um

exemplo disto é o progresso conseguido nas aves de postura, que produziam 150 ovos por

ano e passaram as linhagens comerciais mais recentes para a produção média de 300 ovos

em 52 semanas. Esta tecnologia iniciou-se nos EUA e rapidamente se expandiu para outros

países.

A conversão alimentar também foi atingida pelo melhoramento genético. Uma

revisão a partir de 1945, feita por COTTA (1997), está apresentada na Tabela 7. Baseado

nestes dados, um frango de corte atingia o peso de 1,6 Kg com cerca de 98 dias, realizando

uma conversão em torno de 3. Atualmente os frangos atingem o mesmo peso com apenas

um mês de idade, com uma conversão alimentar em torno de 1,66.

TABELA 7 – Desempenho de Frangos de Corte Desde 1945. Ano Idade a 1,6 Kg de PV (dias) Conversão Alimentar

1945 98 3,00

1955 70 2,50

1965 56 2,25

1975 49 2,00

1990 30 1,66

Fonte: COTTA (1997)

Outro fato importante para a economia avícola foi a redução na idade de abate dos

frangos10

. Em 1912, eram necessários 112 dias para se produzir um frango com 1.500g de

peso vivo, e hoje se obtêm 2.160g em 42 dias apenas (TEIXEIRA, 1997a). A Tabela 8

mostra o peso vivo médio de frangos de corte, segundo a idade e o ano de sua produção.

Considerando o período de 1930 a 1999, conforme os dados da Tabela 9, o frango

aumenta em 73% o seu peso, passando de 1,5 Kg para 2,6 Kg na idade de abate, a

conversão alimentar passa de 3,5 para 1,8. Isso significa uma economia de 48% na

10

Além do melhoramento e sanidade, a nutrição constitui o sustentáculo mais importante da produção animal

e o principal responsável pelo sucesso desta exploração. Atualmente as pesquisas são dirigidas para

determinar requerimentos nutricionais a níveis mais econômicos e procurar alimentos alternativos, para

alimentar os animais e produzir a custos economicamente viáveis.

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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necessidade de ração. A idade de abate passa de 105 para 42 dias, portanto 60% a menos de

tempo necessário para a época de abate.

TABELA 8 – Peso Vivo de Frangos de Corte Segundo a Idade e o Ano de Produção. Ano Idade (dias) Peso Vivo

1912 44 520

1930 56 750

1938 56 850

1946 56 980

1954 56 1280

1958 44 1450

1972 56 1760

1980 56 1850

1988 49 2080

1997 42 2200

Fonte: TEIXEIRA (1997a)

TABELA 9 – O Frango como Resultado do Desenvolvimento Científico.

Fator produtivo 1930 1999 Variação

Peso vivo (kg) 1,5 2,6 73%

Conversão* 3,5 1,8 (48%)

Idade** 105 42 (60%)

* Kg de ração necessários à produção de 1 kg de frango (peso vivo);

** Número de dias necessários para alcançar o peso especificado.

Fonte: GODOY (1999).

Para se ter uma noção da intensidade das mudanças genéticas, até a década de

oitenta, os programas de melhoramento genético apresentam a seguinte performance

(GIANNONI & GIANNONI 1983):

Ganho de peso – obtinha-se melhoramento de 4 a 5% ao ano;

Conversão alimentar – diminuía a razão de 1% ao ano;

Gordura abdominal (na avaliação por ultra-som) – já fazia parte do melhoramento

genético a diminuição dos depósitos de gordura;

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TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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Porcentagem de cortes nobres (coxa e peito) – o melhoramento já era direcionado

para o aumento do rendimento dos cortes nobres; e a seleção já considerava a necessidade

de resistência ao estresse, em função da sua importância em face dos métodos mais

intensivos e industrializados de produção.

Apesar do melhoramento genético considerar a resistência ao estresse os resultados

conseguidos não são significativos, a redução da mortalidade observada nos últimos anos

deve ser atribuída em grande parte à melhoria do ambiente e das práticas de manejo.

Conforme apresentado na Tabela 10 observa-se uma diferença de mortalidade de 18,37%

no período de 42 a 56 dias quando se compara frango de corte de 1997 com frango de

menor evolução genética (diferença de 12 anos) em condições de desafio de alta

temperatura a partir de 50 dias de idade (TORRES, 1998).

TABELA 10 – Peso (g), Conversão (g/g), Rendimento de Carcaça (%), Rendimento de

Peito %) por Linhagem e Idade. Características* Frango de menor evolução Frango de corte 1997

42 dias 56 dias 42 dias 56 dias

Peso 1306 2044 2232 3293

Conversão 1,877 2,064 1,769 1,992

Mortalidade 0,92 1,38 2,77 21,60

Rend. Carcaça 68,07 68,39 70,86

Rend. Peito 17,75 18,88 20,85

* Experimento com 12 boxes de 54 aves por tipo de ave.

Fonte: TORRES (1998).

Atualmente para LANA (2000) os ganhos genéticos anuais esperados são os

seguintes: 2,5% no peso corporal; 0,02 unidades de diminuição na conversão alimentar;

0,25% no aumento do rendimento de carcaça; 0,1% de diminuição na gordura abdominal,

0,15% de aumento no rendimento de peito; e 0,4 dias de diminuição na idade de abate.

Espera-se que sejam mantidos nos níveis atuais à idade a maturidade sexual, o pico de

produção, a eclodibilidade, a qualidade do ovo e a viabilidade dos frangos.

Para GRAZIANO DA SILVA (1988: 35), a seleção genética é um método de se

obter em alguns anos aquilo que as forças da natureza levariam milênios para fazer e que

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jamais chegariam a um resultado tão perfeito, do ponto de vista do processo de produção

capitalista. Segundo o autor “algumas aves, como por exemplo, a galinha poedeira, a

codorna japonesa e o peru americano, após anos de seleção genética, encontram-se tão

distantes dos seus ancestrais nativos, que parecem novas espécies, e a reprodução não é

mais possível a não ser quando conduzida artificialmente, dado que essas raças já perderam

todos os instintos que não aqueles que se destinem à missão de fabricar ovos e carne”.

Para OTA citado por GOODMAN et alli(1990) existem as previsões de que em

tempo recente as atividades de melhoramento animal estarão bem de frente das

transformações qualitativas de curto prazo na agricultura, iniciadas pelas biotecnologias.

Um exemplo disto é utilização em fase experimental de hormônio do crescimento para

galinhas produzido por bactérias desenhadas por engenharia genética. Esse hormônio não

tem a finalidade de fazer as galinhas maiores, mas sim o de fazer galinhas normais

crescerem mais rápido.

Segundo SORJ et alli (1982: 31), “a avicultura moderna é filha das mais avançadas

técnicas de engenharia genética aplicadas à produção industrial de carnes animais. Pelo alto

grau de conversão de cereal em carne, é o frango o animal que melhor se adapta à produção

maciça de carnes a menores preços. A partir do controle genético, confinamento e

regulação alimentar, reduzem-se (quando não eliminam) os determinantes naturais do ciclo

de reprodução biológica do animal”.

A esse respeito GRAZIANO DA SILVA (1988: 16), em um breve resumo sobre o

progresso técnico na agricultura, cita o seguinte “na agricultura devido ao fato do período

produtivo estar condicionado por processos biológicos, dificilmente se consegue reduzi-los

significativamente através de inovações que não as biológicas; e ainda assim com

resultados bastante limitados.”

Dessa forma as mudanças na área da genética permitiram a substituição de raças

puras de aves por híbridos sintéticos de alta performance produzidos pela indústria da área

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TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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genética denominada no meio técnico por “avozeiro”. Os ganhos genéticos permitiram: a

diminuição da idade de abate de 105 dias para 42 dias; a melhora na conversão alimentar

passando de 3,5 para 1,8 ao abate e aumentar o peso vivo de 1,5 kg para 2,6 kg a idade de

abate.

II. 2 - Mudanças na Nutrição

A criação em ambiente confinado permitiu a diminuição dos riscos de mortalidade e

maior controle da criação. Isto foi possível graças ao fornecimento de todos os nutrientes

necessários à produção via rações balanceadas. Um dos fatores responsáveis pelo

melhoramento das rações das aves e, conseqüentemente, pela possibilidade de criar aves em

escala industrial, ou seja em grandes números e totalmente confinadas, foi a descoberta da

vitamina D311

sintética, em 1932, que permitiu a criação de aves na ausência de raios

solares (ENGLERT, 1978).

As mudanças na nutrição têm oferecido a sua contribuição ao progresso genético do

frango de corte. Para ENGLERT (1978), a nutrição é uma ciência deste século, pois foi por

volta de 1900 é que se começou a usar pela primeira vez rações à base de grãos cereais e

alguns subprodutos de origem vegetal e animal. Até então, as aves eram criadas à solta e

elas supriam suas deficiências alimentares ingerindo vegetais, insetos e minhocas, além dos

grãos de milho e outros que recebiam do criador. Naquela época ainda se acreditava que

para criar bem uma ave bastava mantê-la com o papo cheio.

A evolução do uso de alimentos para as aves pode ser vista na Tabela 11. Nesta

apresentação de valores de aproximadamente 30 em 30 anos, é possível observar as

mudanças no uso de alimentos para as aves, iniciando com pasto e milho até formulação de

rações balanceadas acrescidas de minerais, vitaminas e aditivos.

11

Essa vitamina em condições naturais é sintetizada na pele a partir de provitaminas presente em alguns

alimentos, a partir da radiação solar

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TABELA 11 – Evolução do Uso de Alimentos para Aves 1900 1930 1960 1997 Pasto + farinha de ossos + ração balanceada + minerais

Milho + aveia + vitaminas

+ aditivos Fonte: TEXEIRA (1997a), Adaptado pelo autor

Segundo TEIXEIRA (1997a), no campo da avicultura houve um progresso

marcante na área de nutrição, a Tabela 12 mostra 40 anos de progresso na nutrição de

frangos de corte, comparando as rações de 1929, 1956 e 1969. De 1929 para 1969 houve

um aumento de 138,4% no peso médio dos frangos aos 28 dias. O autor atribui parte desta

melhora à qualidade da ração que diminuiu o gasto com alimento por quilo de frango

produzido em 41%. Tal fato trouxe um grande benefício para o setor avícola, pois a ração é

o principal responsável pelo custo de produção, sendo que este custo teve uma grande

queda naquele período.

TABELA 12 – 40 Anos de Progresso na Nutrição de Frangos de Corte. Resultados Ração – ano

1929 1956 1969

Peso aos 28 dias (g) 255 590 608

Conversão alimentar 2,56 1,60 1,51

Custo relativo 215 112 100

Fonte: TEIXEIRA (1997a)

Dentre vários pontos fundamentais no progresso obtido nos últimos anos, destacam-

se três: 1 – identificação e determinação dos requerimentos de minerais, vitaminas e

aminoácidos essenciais; 2 – reconhecimento da importância de equilíbrio entre o nível de

energia e os demais nutrientes da dieta; 3 – relacionamento do custo da alimentação para a

produção de um quilo de carne. Embora a nutrição animal seja considerada uma das

ciências mais desenvolvidas no campo da zootecnia, ainda existem muitos fatores de

produção para serem pesquisados. Muitos nutrientes requeridos pelos frangos de corte que

já foram isolados e identificados, como os solúveis secos de destilarias, o soro em pó de

leite, a levedura seca de cerveja, a farinha de miscélias de antibiótico, outros solúveis de

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TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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fermentação e certos alimentos naturais; têm sido mencionados como boas fontes de fatores

de crescimento não identificados (TEIXEIRA,1997a).

O levantamento da evolução das exigências nutricionais das aves apresenta

componentes bastante diferenciados. Existe um processo dinâmico de inovações nas áreas

de determinação das exigências nutricionais. Um exemplo disto é a questão do nível de

proteína na ração das aves de corte. As primeiras rações apresentavam altos níveis de

proteína bruta (altos níveis de farelo de soja para suprir aminoácidos essenciais). Essas

foram sucedidas pela utilização de mistura de ingredientes protéicos, permitindo a

diminuição do nível total proteína bruta (já que a mistura de ingredientes diferentes permite

que um ingrediente supra a deficiência de aminoácidos do outro), sendo assim a mistura de

farelo de soja mais farinha de carne e farinha de sangue permite a diminuição de proteína

bruta em relação ao farelo de soja considerado isoladamente. Em seguida, a utilização de

aminoácidos essenciais sintéticos, somada aos critérios anteriores, resultou na utilização da

“proteína ideal”. Essa forma inovadora de formulação de rações é feita não mais a partir da

proteína bruta, mas pelo balanceamento em nível ideal dos aminoácidos necessários para as

aves.

Para ALBINO (1991), a utilização recente dos valores de aminoácidos digestíveis

resultou na formulação de rações de maior eficiência, atendendo de maneira adequada

exigências nutricionais, além de proporcionar resultados econômicos superiores aos obtidos

com rações formuladas para atender às exigências em aminoácidos totais.

Atualmente a crescente tendência mundial de elevação dos preços das fontes

protéicas tem direcionado os nutricionistas a formular rações que atendam adequadamente

às exigências nutricionais, mesmo quando se utiliza os mais variados tipos de ingredientes

em rações complexas, no intuito de reduzir o custo de produção sem alterar os resultados de

desempenho. Desta maneira, considerando que a utilização dos nutrientes dos alimentos é

substancialmente variável, o conhecimento da fração digestível dos aminoácidos é

particularmente importante na formulação de rações, uma vez que permite a utilização de

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uma grande gama de alimentos, entre eles os subprodutos industriais e os alimentos

alternativos ou não convencionais, dispensando a utilização de margens de segurança, que

muitas vezes não é suficiente para garantir máximo desempenho (SILVA & ROSTAGNO,

1998).

A solução para os déficits dos chamados aminoácidos essenciais, como a lisina e a

metionina que os animais precisam para formar as proteínas, tem atraído firmas de

pesquisas biotecnológicas a pesquisar técnicas de engenharia genética para melhorar o

balanceamento desses aminoácidos em proteínas de cereais. Outros projetos procuram

diminuir os custos desses aditivos nutricionais via incremento da eficiência dos métodos de

fermentação bacteriana usados para produzir aminoácidos. Dessa forma seria possível

diminuir o custo das rações, já que as necessidades metabólicas dos animais poderiam ser

atendidas por uma alimentação de baixa proteína, combinada a uma mistura bem

balanceada de aminoácidos (GOODMAN et alli, 1990).

No caso das necessidades de vitaminas para as aves, a quase totalidade foi definida

na década de 40 e desta época para cá não foi feita mais nenhuma modificação mais

profunda nos níveis recomendados, apenas uma aproximação teórica em 1994 pelo NRC12

(PENZ, 1995). Deve-se destacar que a produção de vitaminas está diretamente relacionada

à atividade de multinacionais13

, como as européias Roche e Basf, detentoras de maior

parcela do mercado.

12

National Research Council 13

Essas empresas adotam a estratégia de importação dos princípios ativos e dos fármacos utilizados pelas

filiais instaladas no Brasil. Na verdade essas empresas têm reduzida participação do capital nacional, e

dependem de importação da grande maioria dos produtos de que necessita. Segundo ORTEGA (1988), esse

setor de química fina tem sua filial aqui no Brasil e importa as matérias-primas da matriz. Essa estratégia

atende a dois objetivos. O primeiro é o de dificultar a concorrência de empresas nacionais que formulam e

embalam produtos farmacêuticos, através de pequena margem de lucro na venda de fármaco, mantendo

preços baixos, distribuição de amostras e supervalorização do preço de compra do fármaco à matriz. O

segundo é a questão da propriedade industrial. Como o Brasil não reconhece patente de produtos

farmacêuticos, as empresas que detêm a tecnologia preferem manter o desenvolvimento tecnológico a cargo

da matriz no exterior.

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O mercado brasileiro de vitaminas é o terceiro maior mercado mundial, controlado

fortemente por empresas multinacionais dos setores químico e farmacêutico. Existem,

entretanto, empresas nacionais de médio porte que controlam mais de 50% do mercado.

Dos microelementos que compõem as rações balanceadas, a grande maioria é importada,

como é o caso das vitaminas A, D3, E, K e B12, Riboflavina, Niacina, Ácido Pantotênico,

Piridoxina, Biotina, Ácido Fólico, etc., e mesmo os produtos nacionais são elaborados a

partir da importação de alguns substratos (AVICULTURA INDUSTRIAL citada por

ORTEGA, 2000).

Para BERTECHINI (1997: 5) quatro fases mostram a evolução da qualidade das

rações no Brasil: A primeira fase correspondeu ao período de predomínio de moinhos de

trigo, onde o subproduto desta indústria, o farelo de trigo, compunha mais de 50% das

rações, influindo de forma negativa na eficiência alimentar e no desempenho dos animais,

além dos problemas de excesso de fibra com este tipo de dieta.

A segunda fase data entre as décadas de 60 e 70, onde houve a entrada das grandes

indústrias de ração no Brasil, trazendo consigo novos conceitos de nutrição e alimentação

animal. A partir deste período, o termo ração balanceada14

se fixava e a idéia de equilíbrio

de nutrientes também foi introduzida nesta época. Pode-se considerar que esta foi uma fase

de grande evolução na produção de aves no Brasil.

A terceira fase desta evolução correspondeu à expansão da produção de milho e

soja, proporcionando maior estabilidade às rações balanceadas. A partir desta data as rações

tornaram-se cada vez mais eficientes e uniformes. O valor nutricional destes dois nutrientes

ficou bem conhecido, o que permitiu a suplementação de suas deficiências, para assim,

conseguir o desempenho máximo desejável das aves modernas. A expansão da produção do

farelo de soja, subproduto da extração do óleo de soja, também veio contribuir pela oferta

14

Ração balanceada é uma mistura de alimentos convenientemente equilibrada para fornecer todos os

nutrientes exigidos pelos animais (TEIXEIRA, 1997a)

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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de uma fonte de proteína de alta qualidade e relativamente barata, diminuindo o custo das

rações.

A quarta fase foi o uso da programação linear no cálculo de rações de mínimo custo.

O computador facilitou o cálculo de rações equilibradas com bastante eficiência e rapidez.

Este fato permitiu que houvesse mudanças pequenas nas fórmulas das rações, em função da

matéria prima disponível e os seus preços.

Para PERES & MARQUES (1988), a avicultura industrial se diferenciou das demais

no uso da programação linear para o cálculo de suas rações, de maneira que se considera

impossível balancear uma ração para aves sem utilização deste instrumento de pesquisa

operacional. Mesmo antes da disseminação do uso dos microcomputadores, já existiam

programas “fechados” de cálculo de rações, especialmente para aves. Estes programas eram

utilizados nas fábricas de rações, sendo de uso relativamente fácil, embora de alto custo.

Por serem fechados, a introdução de novos tipos de restrições ficava dificultada ou mesmo

impossibilitada em alguns casos.

Várias instituições brasileiras também contribuíram para a evolução da nutrição das

aves. A Universidade Federal de Viçosa15

foi a primeira na determinação das exigências

nutricionais de aves e suínos bem como na digestibilidade e disponibilidade dos nutrientes

de alguns alimentos. Em 1983 sob coordenação do professor ROSTAGNO, é lançada a

primeira publicação brasileira sobre composição de alimentos e exigências nutricionais de

aves e suínos. Nesta época a tecnologia de formulação de rações era baseada em

informações de composição de alimentos e de exigências nutricionais estabelecidas no

exterior, principalmente nos EUA e na Europa.

15

Desde o início da década de 70 que a Universidade Federal de Viçosa iniciou uma série de trabalhos de

experimentação e pesquisa, visando construir, com dados obtidos no país, uma tabela de composição de

alimentos e de exigências nutricionais de aves e suínos. A quase totalidade dos dados já tinha sido publicada,

principalmente para a comunidade técnica e científica nacional da época, através de artigos científicos,

dissertações de Mestrado, teses de Doutorado e de comunicações em encontros e congressos (ROSTAGNO et

alli, 1983).

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TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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37

As tabelas usadas até aquela época para cálculo de rações, tanto nas indústrias

quanto nas instituições de pesquisa, eram tabelas estrangeiras ou tabelas publicadas no país

com base em dados de tabelas provenientes do exterior. Neste aspecto ROSTAGNO et alli

(1983) argumentam que não há dúvida de que o uso destas tabelas representou a adoção de

tecnologia de alto nível, que permitiu ao país atingir o desenvolvimento observado.

Entretanto, para ele, estas tabelas sob certos aspectos, deixam a desejar quanto à sua

perfeita aplicabilidade nas condições brasileiras, de maneira que a grande evolução

brasileira nas décadas de 70 e 80 contribuiu para que se chegasse a resultados de

desempenho de aves, comparáveis aos dos países altamente desenvolvidos neste setor.

De 1983 até o ano 2000, as pesquisas continuaram e permitiram o acúmulo de uma

quantidade significativa de informações científicas sobre composição de alimentos e de

exigências nutricionais de aves e suínos que resultaram na publicação de uma nova tabela

brasileira de exigências nutricionais. Para confecção dessas tabelas foram realizados

milhares de análises de alimentos, produzidos no Brasil, conduzidas em dezenas de ensaios

com frangos de corte, poedeiras, reprodutores e suínos nas diversas fases da criação e sob

variadas condições de ambiente e de temperaturas em laboratórios de nutrição animal,

desenvolvidos em linhas de pesquisa de dissertações de mestrado e teses de doutorado

(ROSTAGNO, 2000).

A biotecnologia aplicada ao setor de rações desenvolveu à produção da PCU16

(proteína de célula única), um substituto industrial da fermentação para os grãos

forraginosos, que pode crescer em substratos de hidrocarbonos fósseis, dejetos industriais e

outros materiais não-agrícolas. Quando fermentado com o melaço o lêvedo-semente

original quintuplica em cerca de 12 horas, uma produção de proteína muitíssimo mais

rápida do que é possível através da alimentação de qualquer animal doméstico. Na

alimentação animal, a PCU pode ser usada no lugar do farelo de soja e de peixe como

suplemento protéico, e possui uma função semelhante na alimentação humana, embora

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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neste caso seja necessário um processo adicional para reduzir as concentrações

relativamente altas de ácidos nucléicos (OTA citado por GOODMAN et alli, 1990).

As perspectivas comerciais das rações animais de PCU dependem dos preços

relativos das tortas de soja e de peixe, e eles continuam a favorecer as fontes tradicionais de

proteína. Entretanto a utilização de dejetos orgânicos e dos efluentes que necessitam de

tratamento, por razões ambientais ou de recursos hidrocarbônicos subsidiados, podem criar

circunstâncias especiais que facilitem o seu desenvolvimento comercial. GOODMAN et

alli (1990), considera que uma ameaça adicional aos mercados exportadores mundiais de

soja vem das aplicações de engenharia genética aos processos de fermentação bacteriana

com o objetivo de reduzir os custos industriais de produção de aminoácidos estratégicos,

dessa forma, a lisina, a metionina, o triptofano, e a treonina podem ser combinados com o

farelo de milho para que este alcance o mesmo valor nutritivo da soja. Cita ainda que, a

produção desses aminoácidos a baixo custo faria as rações animais de baixo teor de

proteínas mais competitivas e intercambiáveis, minando a atual proeminência da proteína

de soja.

Dessa forma podemos ver a ameaça direta e imediata representada pela

biotecnologia às fontes convencionais de proteína animal. Para GOODMAN et alli (1990) o

“calcanhar-de-aquiles” do sistema convencional de produção de proteína animal é a sua

dependência da ineficiente conversão de proteína vegetal em proteína animal, pelos

animais. Da mesma forma os substitutos de proteína vegetal, especialmente análogos de

carne baseados em soja, representam uma ameaça inicial à indústria de proteína animal.

Com micoproteínas, no entanto, este setor enfrenta agora o desafio de um processo

exclusivamente industrial capaz de reproduzir as qualidades texturais, nutricionais e outras

características da carne fresca e desengordurada.

16

Células secas de microorganismos como algas, actinomicetos, bactérias, fermentos, mofos e fungos mais

elevados, cultivados em sistemas culturais de larga escala para uso como fontes de proteínas para alimentação

humana e animal (GOODMAN et alli, 1990).

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TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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39

Portanto, as mudanças na nutrição se iniciaram em 1900, quando se usou ração pela

primeira vez. Em 1932 foi possível a criação de aves em ambiente confinado, em função da

independência da vitamina D3, mas foi na década de 60 que realmente apareceram as

rações balanceadas no Brasil. O oferecimento de proteína para as aves iniciou com elevados

níveis de farelo de soja na ração, mas ao longo do tempo as pesquisas mostraram técnicas

mais eficientes.

Os avanços apareceram também nas misturas de ingredientes protéicos, na adição

de aminoácidos essenciais e mais recentemente a utilização de aminoácidos digestíveis,

aumentando a precisão dos cálculos de ração e diminuindo a necessidade de elevados níveis

de segurança. Aliado a esses aspectos o aumento da precisão no levantamento das

exigências nutricionais associados a programação linear permitiram o cálculo de rações de

mínimo custo, diminuindo o custo e aumentando a estabilidade do preço das rações.

Atualmente espera-se novidades no campo da biotecnologia e a possibilidade de sua

utilização no mercado da nutrição

II. 3 - Mudanças dos Equipamentos de Alimentação

São considerados equipamentos de alimentação os comedouros e bebedouros. Os

comedouros são usados para fornecer a ração e os bebedouros para fornecer água. Existem

vários tipos de comedouros, segundo a idade da ave e o tipo de funcionamento. Para

pintinhos, na década de 70, eram recomendados os comedouros de bandeja17

e comedouros

lineares18

. Para frangos, após as primeiras duas semanas, eram recomendados os

comedouros definitivos lineares19

, tubulares20

e automático21

.

17

São recipientes rasos, de madeira ou fibra prensada, nas dimensões de 50 cm x 54 cm e com uma borda de

1cm de altura. Uma bandeja é o suficiente para cada 100 pintos nos primeiros dias de vida (ENGLERT,1978). 18

São constituídos por um cocho com aproximadamente 100 cm de comprimento, cada um é o suficiente para

100 pintos, nas duas primeiras semanas (ENGLERT,1978). 19

Um comedouro linear de 1,50m de comprimento é o suficiente para 60 frangos, já que são usados os dois

lados. 20

Também são chamados de semi-automáticos, são constituídos por um prato e um depósito de ração na

forma de cone ou cilindro. Este depósito, normalmente, pode armazenar ração suficiente para três dias, já que

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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Atualmente, nas instalações avícolas os comedouros de bandeja e comedouros

lineares não são mais utilizados, porque ambos representam mão-de-obra excessiva e

desperdício de ração. Normalmente nos primeiros dias para estimular o consumo, o que se

faz é forrar o círculo de proteção com jornal e jogar um pouco de ração neste forro,

enquanto os pintinhos aprendem a comer no comedouro tubular automático.

Os comedouros lineares, desde a década de 70, já eram substituídos pelos tubulares,

por exigir muita mão-de-obra para abastecimento e permitir muito desperdício de ração. Na

época a automação já era sugerida, mas dependia de uma avaliação preliminar para

instalação de comedouros automáticos. Um exemplo disto é a sugestão de ENGLERT

(1978), que considerava uma vida útil de cinco anos, tanto para os comedouros automáticos

como para os tubulares. A decisão de comprar dependia do salário pago ao tratador. Como

regra prática o investimento num comedouro automático não poderia ser superior a 5 vezes

o valor da economia de mão-de-obra em um ano.

Atualmente os comedouros tubulares foram substituídos pelos comedouros

automáticos tubulares22

, devido a economia de mão-de-obra. Atualmente nem se cogita em

utilizar equipamentos manuais; deve-se considerar que: os galpões aumentaram de

tamanho, foram automatizados, os equipamentos são mais acessíveis pelos ganhos de

escala e oferecem um melhor controle do manejo das aves.

a ração desce sob pressão e mantém o prato do comedouro sempre cheio. Um comedouro com 1,20 m de

circunferência é o suficiente para 40 frangos desde 2 semanas de idade até o abate (AVEMARAU, S/D). 21

Os comedouros automáticos ou mecânicos existem em duas formas básicas, uma de corrente dentro de

comedouros lineares e outra de tubos que transportam a ração para comedouros tubulares. O comedouro

mecânico de corrente consta de um depósito de ração central e de um motor que aciona uma corrente com

elos transportadores que conduzem a ração através do comedouro linear em circuito fechado por dentro de

todo o galpão. Já o comedouro automático tubular conduz a ração por correntes transportadoras dentro de

tubos aéreos que desembocam diretamente no depósito dos comedouros tubulares, estrategicamente dispostos

dentro do galpão (ENGLERT,1978). 22

No caso de matrizes utiliza-se atualmente comedouro automático do tipo corrente, com proteção da parte

superior para que o galo não coma (cabeça do galo é maior que das galinhas) e comedouro tubulares manuais

mais altos para os galos, assim as galinhas não podem alcançar (as galinhas são menores que os galos), isto

permite uma alimentação nutricionalmente diferenciadas para machos e fêmeas.

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TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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41

A importância do controle do nível da ração pode ser apreciada na tabela 13, quando

se avalia o desperdício em função da forma de abastecimento da ração nos comedouros,

observa-se que o nível mais recomendável é aquele onde fornecemos rações até a altura de

1/4 do comedouro23

. Uma das grandes vantagens dos comedouros tubulares sobre os

lineares é permitir o controle do nível da ração.

TABELA 13 – Demonstração de Desperdício em Função da Forma de Abastecimento

da Ração nos Comedouros. Nível de alimento no comedouro % de perda

Até ¼ 2 a 3

Até ½ 4 a 5

Até ¾ 8 a 10

Completamente cheio 12 a 20

Fonte: ANDRIGUETO (1996)

Com relação aos bebedouros, na década de 70 ENGLERT (1978) distribuía esses

equipamentos em três tipos: o bebedouro de pintinhos24

, o de bóia25

e o de água corrente26

,

TEIXEIRA (1997b) acrescenta ainda o tipo pendular com válvula27

e o tipo nipple28

. Os

bebedouros de água corrente foram substituídos pelos bebedouros com bóia devido ao

excessivo consumo de água; os bebedouros do tipo calha por exigirem maior observação e

mão-de-obra para evitar trasbordamentos foram substituídos por bebedouros tipo pendular

com válvula; estes atualmente estão sendo substituídos pelos bebedouros do tipo nipple

devido à necessidade de higienização constante. Segundo AVEMARAU (S/D),

comparativamente, o bebedouro nipple é mais eficiente que o pendular porque:

23

O nível mais encontrado e recomendado na literatura é de 1/3, com um desperdício em torno de 1 a 2%. 24

O bebedouro de pintinhos ou tipo copo de pressão, são usados nas duas primeiras semanas, são do tipo

pressão com um copo invertido e prato, com capacidade de 3 a 4 litros e cada um é suficiente para 100

pintinhos (MALAVAZZI, 1990). 25

Os de bóia podem ser lineares de calha ou tipo fonte circular. O nível de água destes bebedouros é

controlado automaticamente por uma bóia que abre e fecha a válvula de entrada da água (MALAVAZZI,

1990). 26

Os bebedouros de água corrente constam apenas de uma calha que entra por um lado do galpão, no sentido

transversal, e sai pelo outro, indo desaguar na rede de esgotos (MALLAVAZI, 1990). 27

Apresentam a cúpula em forma de sino, são ligados a uma fonte de água fresca, dotados de válvulas,

enchem por si só, mantendo um nível de água constante a medida que a ave bebe, são utilizados na proporção

de um para cada 100 frangos (TEIXEIRA, 1997b). 28

Este tipo é automático, não requer manejo de higienização. Alguns modelos são indicados para todas as

idades das aves, com fácil regulagem. São utilizados na proporção de um bico para cada 12 a 15 frangos de

corte (ZIGGITY, S/D).

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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42

- Tem menor gasto de água, já que não é necessário lavar todos os dias;

- Tem maior higiene e controle de doenças, já que uma ave ingere pouca ou

nenhuma secreção salivar ou nasal deixada na água por outra ave,

eventualmente doente;

- Tem menor gasto com limpeza e desinfecção, por dois motivos: economia de

mão-de-obra e de desinfetantes; e

- Não há acúmulo de restos de ração, propiciando o desenvolvimento de

patógenos.

Segundo TEIXEIRA (1997b), os bebedouros tipo pendular com válvula são os mais

utilizados na atualidade, mas para ele existe a possibilidade do bebedouro tipo nipple tornar

o mais utilizado no Brasil. Esta projeção é o que está acontecendo na prática, pois todos os

galpões que foram construídos em Jataí e os que estão sendo construídos em Rio verde são

equipados com bebedouro do tipo nipple29

.

Dessa forma observa-se que as mudanças de base técnica atingiram os

equipamentos de alimentação de maneira intensa na área de automação. Hoje o

funcionamento dos comedouros e dos bebedouros não depende de mão-de-obra humana,

são mais eficientes em termos de limpeza e melhoram o ganho de peso e diminuem a

mortalidade em função da ausência de pessoas andando com freqüência dentro do galpão.

II. 4 - Mudanças na Indústria de Ração

A origem da indústria de rações está ligada ao aproveitamento de resíduos

industriais do trigo nos início da década de 40, nessa época atendia a demanda de um

mercado pequeno representado pelas criações de fundo de quintal das grandes cidades e

eventualmente uma ou outra produção intensiva.

29

O primeiro galpão equipado em Rio Verde já tem o nipple acrescido de uma concha abaixo do bico para

evitar molhar a cama (CASP, S/D).

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TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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43

O setor ganhou dinamismo com introdução em massa de raças híbridas, de frangos

de corte, aves de postura e suínos tipo corte na década de 60, ocasião em que ocorreu um

grande crescimento no setor e com a instalação de inúmeras plantas no país. O grande

dinamismo ocorreu mesmo no início da década de 70 com a introdução de modernas

plantas trazidas pelas multinacionais, atraídas pelo potencial do mercado em ascensão e

pelo desenvolvimento do complexo soja. A partir dessa época é que se passa a utilizar a

informática (com a programação linear) na formulação de rações e novas técnicas de

nutrição adequadas a atender aos requisitos das raças híbridas geneticamente aprimoradas.

Segundo ORTEGA (1988), as primeiras plantas utilizadas no Brasil foram

importadas dos EUA. Essas plantas eram representadas por grandes unidades de produção

(25.000 a 30.000t/mês) visando à economia de escala e instalaram-se no eixo São Paulo-

Campinas em função da logística de distribuição de rações aos consumidores. Essa

produção com base em uma tecnologia avançada em grandes plantas e com grande escala,

criou um certo grau de barreira a entrada de concorrentes no setor, dessa forma foi criado

um padrão centralizado de produção de rações.

No final da década de 70 esse padrão centralizado de produção entra em crise. Os

motivos são atribuídos a elevação dos custos de transporte, afetando a distribuição da

produção, já que a produção da pecuária intensiva começou a se interiorizar e afetando

também o transporte de matérias-primas como é o caso do milho, que passou a ser

produzido em locais cada vez mais distantes. Associado a isso em virtude da crise do

petróleo, ocorre elevados aumentos do preço dos combustíveis.

As barreiras à concorrência também foi diminuindo em função da implantação no

Brasil da indústria de bens de capital construiu fábricas de ração do tamanho que o cliente

desejasse. Também a miniaturização dos computadores tornou acessível a sua aquisição

para formulação de rações e a indústria químico-farmacêutica facilitou a produção em

pequena escala através da venda de premix. Para ORTEGA (1988) todos esses fatores,

aliados à queda no volume do crédito agrícola subsidiado, para a compra de rações e

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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aquisição de estoques de matérias-primas pelos grandes fabricantes de rações balanceadas,

propiciou a reorganização do padrão de produção desse setor.

Atualmente temos um novo padrão de produção de rações associado a diferentes

formas de produção de proteína animal. Existe desde a produção de rações por empresas

especializadas, só que com produtos mais diversificados e mais regionalizados, atendendo

produtores independentes de aves, suínos, bovinos e animais domésticos, até a produção em

alta escala por empresas verticalizadas de produção de aves e suínos, na forma de

cooperativas e integrações.

Paralelamente à evolução das plantas para industrialização das rações, observa-se

uma mudança na forma de sua forma de aquisição. Na década de 70 ENGLERT (1978)

recomendava para pequenos produtores com consumo abaixo de 100 toneladas mensais, a

compra das rações prontas30

, de indústrias idôneas ou participar das integrações avícolas

que produzissem estas rações. Essa sugestão era feita baseada no argumento de que a

ciência da nutrição, formulação e controle de qualidade na fabricação de rações, eram

complexos e deveria ter assessoria de técnicos especializados em nutrição, compra de

matérias-primas e análises químicas de laboratório.

O surgimento dos concentrados associados a plantas de fábrica de ração de menor

tamanho permitiu a mistura de parte do processo de produção de rações na granja. Neste

caso o produtor adquire o concentrado31

e acrescenta o milho. Depois dos concentrados foi

a vez do surgimento do premix, permitindo maior liberdade na formulação de ração na

granja. Neste caso o granjeiro acrescenta ao premix, além do milho (eventualmente uma

parte de sorgo) o farelo de soja e/ou outras fontes protéicas, uma fonte de cálcio e uma

fonte de fósforo.

30

Ração pronta é a quantidade total de alimento fornecido e consumido por um animal num período de 24

horas (TEIXEIRA,1997a). 31

Os concentrados são vendidos para o produtor que tenha uma fonte mais barata de cereais e que deseja

adicioná-los às fontes energéticas (milho e às vezes parte de sorgo).

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TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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45

Para GRAZIANO DA SILVA et alli (1973), a produção de rações em pequena

escala e regionalizada foi viabilizada com a utilização do premix, pois sem ele seria muito

difícil o ajuste na programação de pequenas quantidades de alguns produtos químicos,

como vitaminas, aminoácidos e antibióticos. Em uma abordagem a respeito da evolução do

premix ORTEGA (1988) cita que a indústria produtora de premix assume um papel

fundamental na dinâmica técnico-econômica do setor de rações, o seu desenvolvimento

calcou-se nos avanços das pesquisas em nutrição animal, especialmente no que diz respeito

à determinação das necessidades de micronutrientes, como vitaminas, minerais e

aminoácidos.

ORTEGA (1988: 70) sublinha ainda que “até o final da década de 1970, a produção

de premix era realizada por poucas empresas, grande parte das indústrias de rações

adquiriam as matérias-primas das indústrias químicas e químico-farmacêutica e formulava

o seu próprio premix. Com a crise das empresas especializadas do setor de rações, no início

dos anos 80, simultânea ao crescimento da produção própria de ração por parte de

integrações e criadores independentes, foi induzido o crescimento do ramo de premix,

surgindo novas indústrias para atender a uma demanda crescente de suplementos

vitamínicos e minerais”.

Portanto, com a evolução da produção de rações, observa-se a reorganização do

setor da indústria de rações, que fragilizado pelo aumento dos custos da ração, em função

da logística de transporte cede espaço para a regionalização e diversificação da produção

associada a tecnologia mais acessíveis de menores plantas, miniaturização da informática e

acesso ao premix em pequenas escalas. Por outro lado, com a emergência da verticalização

aparecem as grandes integrações que passam a produzir um volume de rações maior que a

própria produção do setor da indústria de rações.

Na verdade, em virtude do relacionamento monopólio/monopsônio para com os

integrados, a produção de ração por parte das firmas integradoras acaba colocando outras

vantagens que influem nos custos de matéria-prima. A primeira dessas vantagens, vis-à-vis

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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a produção pelas empresas especializadas, é o fato de que a produção por parte da

integração pode ser mais bem planejada em virtude de uma demanda previamente

estabelecida, o que torna desnecessária a manutenção de grandes estoques. Isso além de

significar enormes volumes de recursos em capital de giro ainda pode implicar em perdas,

já que a ração estocada por um longo período provoca queda na atividade vitamina e

rancificação de gorduras.

II. 5 - Mudanças dos Equipamentos de Climatização

A ambiência em uma instalação atual de frangos de corte é de grande importância.

Em um ambiente de conforto térmico podemos criar mais animais por metro quadrado de

galpão e com melhor desempenho. Essa condição de conforto térmico está sendo

conseguida pelo desenvolvimento e utilização dos equipamentos de climatização. Dois

tipos de equipamentos são utilizados neste sentido, as campânulas para aquecer na fase

inicial (até 20 dias aproximadamente), e os ventiladores, exaustores e nebulizadores para

refrigerar na fase final (a partir de 20 dias).

As campânulas podem ser a carvão, à eletricidade e a gás simples ou com

queimador infravermelho. As primeiras campânulas utilizadas foram as campânulas a

carvão, numa época de grande disponibilidade de madeira como na década de 70 elas de

difundiram, entretanto a dificuldade de controle da temperatura, a possibilidade de

intoxicação dos pintinhos pelo monóxido de carbono desprendido na combustão e o risco

de incêndio do galpão, justificam a diminuição de sua utilização (MALAVAZZI,1990). As

campânulas a eletricidade, que poderiam oferecer vantagens em relação ao modelo a

carvão, sempre foram de uso restrito. Os motivos estão ligados ao alto custo relativo da

energia elétrica e a possibilidade de falha no fornecimento de calor, devido a falta de

energia elétrica. Durante muito tempo as mais utilizadas foram as campânulas a gás tipo

chapéu mexicano (com capacidade de 500 pintinhos de 1 dia cada). Atualmente elas estão

sendo substituídas por campânulas a gás com aquecedores tipo infravermelho (mais usados

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TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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47

atualmente). Esse equipamento é mais eficiente, econômico e tem capacidade de aquecer

1000 pintinhos (LANA, 2000).

Os equipamentos para refrigeração dos galpões são de uso popularizado em época

recente; deve-se considerar também que os galpões eram menores (portanto mais fácil a

refrigeração) e a avicultura estava basicamente concentrada no Sul e Sudeste, cujo clima é

mais ameno. Os ventiladores, segundo MARQUEZ (1994), oferecem sua contribuição

dispersando altas concentrações de amônia, umidade e calor no nível das aves; como efeito

secundário o ventilador também move o ar diretamente abaixo do telhado, provocando

diminuição de sua temperatura e da radiação de calor sobre os frangos. Os modelos mais

atualizados de ventiladores apresentam menor nível de ruído e durabilidade, entretanto as

granjas montadas atualmente têm trocado os ventiladores (ventilação positiva) pelos

exautores (ventilação negativa32

). Isso está relacionado a maior uniformidade da velocidade

do ar e não formarem bolsões de ar quente na instalação. Na ventilação negativa o ar entra

por uma extremidade do galpão e em sistema de túnel percorre toda parte interna sendo

succionado pelos exaustores localizados na outra extremidade do galpão, (SANTINI, S/D).

Mais recentemente surgiram os nebulizadores para auxiliar na refrigeração dos

galpões, os nebulizadores são utilizados em regiões com altas temperatura e baixa umidade

relativa do ar, podendo também ser utilizados em regiões com alta umidade, porque nestas

regiões nos horários que ocorrem temperaturas elevadas, geralmente a umidade relativa é

baixa. Possibilitando seu uso, geralmente utilizados associados aos ventiladores

(TEIXEIRA, 1997b), atualmente são de uso generalizado. Os nebulizadores pulverizam

água fria na parte superior do galpão, o ar quente provoca a evaporação da água fria

espalhada e os ventiladores movimentam essa massa de ar aquecida para fora do galpão.

32

Define-se como ventilação negativa, quando ao invés de soprar ar, o mesmo é succionado através de

extratores ou exaustores de ar. Neste caso, a velocidade do ar é mais uniforme dentro do galpão. É

fundamental em casos de ventilação negativa o perfeito isolamento do galpão na cobertura, nas laterais e na

posição dos extratores de ar. Em sistemas de ventilação negativa podemos controlar melhor as condições

ambientais internas do galpão, com zonas mais “iguais” dentro do galpão (SANTINI, S/D).

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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48

A inovação na área de refrigeração que apresenta o maior nível de tecnificação é o

sistema de resfriamento adiabático evaporativo. Este sistema geralmente usa o princípio de

funcionamento da ventilação negativa, portanto com aberturas de um lado do galpão e

exaustores do outro lado, consiste em um painel de fibras diversas (como celulose ou argila

expandida), tipo colméia, na extremidade que entra o ar, sendo este umedecido com água

fria e resfriado e sai succionado pelos exautores na outra extremidade do galpão. Entretanto

em função do custo são de uso restrito.

Portanto, na climatização atual o aquecimento é feito por campânulas a gás com

queimador de infravermelho, que além de mais eficientes são de baixo custo e aquecem o

dobro de pintinhos (1000 pintinhos). Quanto a refrigeração o sistema mais utilizado é a

combinação de nebulizadores e exaustores movimentando o ar de um lado a outro do

galpão, este sistema é denominado de semi-climatizado. Quanto ao sistema adiabático

evaporativo, apesar de mais eficiente ainda tem uso bastante restrito devido ao custo

benefício e ser uma tecnologia nova e pouco difundida.

II. 6 - Mudanças nos Galpões

Os galpões sugeridos na década de 60 tinham uma área interna de aproximadamente

100m2, eram os chamados “galpões de mil frangos”; na década de setenta os galpões

recomendados tinham cerca de 1030 a 1050m2 de área

33, tinham a capacidade de abrigar

10.000 aves; atualmente o tamanho mais recomendado está em torno de 1600m2, isso

equivale a um galpão com 12,8m de largura por 125m de comprimento, com a capacidade

de abrigar 24.000 aves, conforme palestra dos técnicos da Perdigão.

A cobertura dos galpões apresenta uma característica interessante, as telhas de barro

sempre foram recomendadas, em função do menor aquecimento do galpão e por

apresentarem muitas frestas que atuam como pequenas bolsas de ar que permitem certa

33

Alguns exemplos de sugestão: 8 m, 10 m, 12 m de largura por 129 m, 104 m, 87,5 m de comprimento,

respectivamente (ENGLERT,1978).

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TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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ventilação, mas as telhas de amianto sempre foram as mais usadas, apesar de esquentarem

muito os galpões elas apresentam a seu favor o baixo custo e a facilidade da construção

com sua utilização. Atualmente com a mudança do sistema de ventilação positiva

(ventiladores) para ventilação negativa (exaustores) a cobertura mais recomendada e a de

alumínio34

, por permitir a formação de um túnel de movimento de ar, já que o exaustor é

colocado em uma extremidade do galpão, puxando o ar que entra pela outra extremidade.

Os larternins35

sempre foram recomendados para galpões com larguras iguais ou

superiores a 8 metros, sua utilização está relacionada a liberação do ar quente, contendo

amônia e gás carbônico, de dentro do galpão pela parte superior do telhado. Com os sistema

atuais de ventilação negativa a sua presença não é mais necessária.

Com relação aos materiais de construção do galpão deve ser destacado que: com

aumento do tamanho dos galpões as estruturas de madeira foram substituídas por estruturas

de cimento pré-moldado e metálicas. A alvenaria continua sendo utilizada para fazer a

mureta lateral do galpão e eventualmente paredes internas e oitões dependendo do modelo

do galpão. Com relação ao piso, permanece a recomendação de que seja feito de cimento,

apesar de que no início das atividades é comum a utilização de chão batido.

As cortinas36

são feitas de lona em ráfia revestida com fibra de polietileno. As

mudanças no cortinado estão relacionadas ao tamanho em função do aumento dos galpões e

à possibilidade de implantação de sistema de roda dentada que manejar em um só ponto até

120 m de cortinas, podendo ser de acionamento manual ou automático, com sistemas

34

LANA (2000) comenta que o alumínio é sensível a danos pelo granizo e ventos, é menos quente que o

amianto, porém mais caro, quando novos há referências de que são melhores que as telhas de barro, entretanto

oxidam com o tempo perdendo a vantagem inicial. Cita ainda que é muito barulhento, gerando assim, as

maiores controvérsias quanto a sua recomendação. Alguns avicultores relatam experiências de sucesso na

utilização desta telha, alegando que as aves se acostumam com elevado barulho quando chove. Logo sua

utilização ainda deve ser criteriosa, especialmente porque não existe praticamente nenhuma pesquisa

conclusiva. 35

É uma abertura na parte superior do telhado, tendo 10% da largura do galpão e ocupa todo o comprimento

do galpão (LANA, 2000). 36

As cortinas são os equipamentos de menor vida útil dentre todos os equipamentos do galpão, para efeito de

cálculos a sua depreciação é calculada em 3 anos.

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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eletromecânicos e termostato. Em ambiente de alta temperatura as cortinas abertas

(abaixadas) permitem resfriamento do galpão em sistemas com ventilação positiva e as

cortinas fechadas (levantadas) permitem uma melhor movimentação de ar também

resfriando os galpões com os atuais sistemas de ventilação negativa.

Quanto a iluminação, as lâmpadas incandescentes foram substituídas pelas

lâmpadas fluorescentes, que oferecem uma melhor claridade com um menor gasto de

energia elétrica. Atualmente os galpões apresentam dois tipos de lâmpadas: as fluorescentes

com a luz branca para viabilizar programas de luz no galpão e a luz negra para permitir o

apanhe das aves a noite (a ave não enxerga a luz azul e por serem brancas ficam destacadas

sob efeitos da luz negra, facilitando o apanhe).

Para melhorar o desempenho das aves existem os programas de iluminação37

noturna. Mesmo em condições de conforto térmico no passado era utilizada iluminação 24

horas (luz natural + luz artificial), atualmente existe o programa de luz intermitente (mais

eficiente), onde a luz fica apagada e a cada 3 horas o galpão é iluminado por 15 a 30

minutos, esse tempo está relacionado à necessidade da ave de 3 horas para digestão e 15 a

30 minutos para consumir ração e água, o controle é automático feito por um timer. Em

condições de estresse calórico a luz fica ligada a noite toda já que as aves vão ter que

consumir neste horário a ração que não foi consumida durante o dia.

Para forrar o piso do galpão é utilizada a cama de frango. Na década de 70 era

recomendada a utilização de 1 kg de cama por ave alojada, sendo os materiais mais usados

a maravalha e o sabugo de milho moído, cobrindo o piso com aproximadamente 10 cm de

espessura. Atualmente a recomendação da quantidade permanece a mesma, o que mudou

foi a possibilidade de reutilização38

da cama por até 4 a 5 vezes e a existência de mais

opções de materiais para serem utilizados com essa finalidade. A cama de frango sempre

37

A iluminação associada a cortinas e ventilação negativa permite atender a recomendação européia de as

aves devem recebem no máximo 16 horas de luz por dia. 38

A reutilização é possível desde que não tenha ocorrido problemas sanitários severos no lote anterior e no

local onde são alojados os pintinhos sempre se usa cama nova (LANA,2000).

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TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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foi considerada uma fonte de renda alternativa para o avicultor, entretanto atualmente esta

realidade está mudando, com o aumento da quantidade de aviários elevando o consumo de

materiais utilizados como cama de frango, portanto diminuído oferta de materiais que se

prestam para essa função e o excesso de cama ofertada no mercado saturando a oferta de

cama para o consumo bovino aliado a concorrência com resíduos amoniados de restos de

cultura, a cama de frango passa a enfrentar problemas de comercialização ficando sua

utilização em futuro próximo mais restrita a ao consumo da própria granja39

. Atualmente as

integrações recomendam que se faça feno de capim napier, já que com essa medida

aumentaria a qualidade do material e poderia ser consumido em maior quantidade pelos

bovinos, e não prejudicando em futuro próximo o desenvolvimento sustentado. Entretanto

essa recomendação ainda não está sendo executada na prática, aspectos relacionados à

escala, custo de produção, mão-de-obra e a técnica de fenação devem ser considerados para

consolidar essa sugestão.

Portanto, as mudanças nos galpões resultaram no aumento de sua capacidade

interna, passando de 100 m2 para 1.600 m

2, na troca das telhas de barro e amianto para a

telha de alumínio, na ausência da utilização de lanternins, na mudança da estrutura de

madeira para estrutura de cimento pré-moldado ou metálica, na automação das cortinas

(apesar de uso ainda restrito), na iluminação passando de lâmpadas incandescentes para

lâmpadas fluorescentes e na diversificação e reutilização da cama de frango.

II. 7 - Mudanças no Processo Industrial de Abate

As primeiras inovações no processo industrial de abate40

, ainda pouco

automatizado, ocorreram durante os anos 50, com a introdução de equipamentos de

escaldagem (os tanques de imersão e túneis de depenagem). A automação do transporte

39

A reutilização da cama de frango manifesta a situação de transição onde ela está deixando de ser uma fonte

de lucro para ser um elemento de constrangimento da produção sustentada. 40

O processo de abate das aves compreende as seguintes fases: recepção das aves, atordoamento através de

choque elétrico no animal já pendurado na correia transportadora (nória), sangria, escaldagem e depenagem,

escaldagem dos pés e evisceração, gotejamento das carcaças, embalagem, estocagem e distribuição (MATOS,

1996a).

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aéreo ocorre antes dos anos 70 com a introdução das nórias e nos anos 70 automatizou-se a

evisceração inicialmente o corte das pernas e posteriormente o rabo e o pescoço. Mais

tarde, começaram a surgir os extratores automáticos de vísceras e o separador de moelas. A

introdução do eviscerador totalmente automatizado permitiu a unificação dessas operações

em uma única atividade, o que certamente elevaria a produtividade dessa etapa do processo.

Nos anos 80, foram introduzidos o sistema de vácuo para o transporte de refugos, o coletor

de moelas, a automatização dos cortes, o sistema de empacotamento automático e a

pesagem eletrônica na própria linha de corte, o que possibilitaria uma melhor

uniformização dos produtos para o mercado. Atualmente verifica-se a introdução e

ampliação dos produtos industrializados de segundo processamento, ou seja, empanados,

marinados, nuggets e processados.

Neste sentido, MATOS (1996a: 103) cita que “a automação do processo de corte é

uma opção interessante para as empresas que operam com grandes volumes de aves, uma

vez que ela é muito compacta e exige reduzida quantidade de mão-de-obra. No entanto, os

resultados em termos de produto, exigem maior consciência da importância do contínuo

controle do produto e dos equipamentos e maior atenção à manutenção. Consequentemente,

o fator humano transforma-se no maior responsável pela qualidade e rendimentos dos

cortes”.

Para DOSI citado por MATOS (1996a), a introdução de um conjunto de inovações

na indústria de carnes de aves possibilitou sua transformação na mais moderna desse

segmento. Os diferenciais de oportunidade, cumulatividade e de apropriabililidade,

definiram uma estrutura industrial caracterizada por descontinuidades a assimetrias entre as

firmas. Consequentemente, as empresas líderes atuaram integrando todas as etapas do

processo, geralmente os grandes conglomerados. Essas empresas diferenciam seus

produtos, introduzindo frangos em partes, marinados, cozidos e empanados, visando

alcançar faixas de elevado poder aquisitivo, no mercado interno, e países de elevada renda

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TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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per capita, no exterior. Nos últimos anos, a concorrência dessas empresas líderes41

alterou

os padrões alimentares da população com o crescimento da alimentação-serviço, quanto em

decorrência de investimentos em importação de máquinas e equipamentos para a produção

de carnes mecanicamente separadas e outros embutidos.

Isso é uma resposta aos anseios crescentes dos consumidores por produtos mais

elaborados que o frango inteiro, como o frango em pedaços (coxas, sobrecoxas, peito, à

passarinho, etc.) e semiprontos (industrializados), pratos congelados e outros. O grande

mercado do frango nos próximos anos será a facilidade com sabor. Na Europa, os alimentos

processados já constituem um terço da oferta total, enquanto os produtos frescos são

responsáveis pela metade do consumo e ameaçam a liderança dos congelados. A indústria

alemã oferece peito de frango já empanado e resfriado, para ser consumido aquecido ou

frio. No mercado belga, o consumidor pode comprar asas temperadas, cozidas e

supercongeladas, prontas para ser aquecidas em fornos de microondas (PINAZZA &

LAUANDOS, 2000).

Dessa forma, identifica-se que as mudanças no processo industrial permitiram uma

intensa automação no abate das aves e a agregação de valor às carcaças com o segundo

processamento. Observa-se, também, uma diversificação de produtos industrializados em

momento mais recente com o surgimento dos empanados, marinados, nuggets e

processados.

II. 8 - Mudanças na Área de Sanidade

A preocupação com sanidade acompanha o desenvolvimento da avicultura desde a

sua concepção. As primeiras mudanças de base técnica nesta área ocorreram nos EUA por

ocasião da constituição do Plano Nacional de Melhoramento Avícola.

41

atualmente, na produção dessas empresas é crescente a participação dos produtos industrializados ao

mesmo tempo em que decai sensivelmente a das carnes resfriadas e congeladas (MATOS,1996b: 72)

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O Plano Nacional de Melhoramento Avícola foi um programa voluntário

cooperativo, federal e estadual, que efetuou o controle de algumas doenças aviárias

transmitidas pelo ovo ou disseminadas no incubatório. O plano começou a operar em 1935,

quando a indústria avícola começou sua expansão para o empreendimento agrícola

gigantesco que ela viria a ser. Naquela época, uma doença bacteriana das aves, conhecida

como pulorose42

era muito comum na indústria. Se a indústria pretendia expandir-se, a

doença tinha que ser dominada. Assim, o plano foi estabelecido, sob a coordenação do

Departamento de Agricultura dos EUA que teria uma agência em cada estado que seria

responsável pela execução das normas do programa dentro da indústria. Este procedimento,

associado com práticas sanitárias melhoradas aplicadas nos plantéis e nos incubatórios,

praticamente erradicou a pulorose dos planteis avícolas dos EUA. Aproximadamente 90%

de todo plantel avícola de reprodutoras dos EUA estava sob vigilância do Plano Nacional

de Melhoramento Avícola na década de 1970, inclusive incluindo várias outras doenças43

MORENG & AVENS (1990).

As antigas granjas no Brasil tinham instalações compostas de um galpão com 3

divisões: uma para o pinteiro, uma para recria e uma para o acabamento. Os pintos ficavam

de 25 a 30 dias no pinteiro, 30 dias na recria e no acabamento até a venda. Todos eram

cuidados pelo mesmo tratador e a transmissão de doenças se fazia de forma rápida e

intensa. O desconhecimento de procedimentos para controlá-las agravava ainda mais a

situação. Na verdade havia pouca ou quase nenhuma preocupação com a profilaxia. Em

1945 foram registradas 15 doenças diferentes e esse quadro quadruplicou atualmente. Se

essas doenças assustavam, a descoberta da doença de Marek44

caiu como uma bomba na

avicultura. O mal chegou ao Brasil após introdução de uma linhagem de aves de corte,

42

Esta doença é causada pela Salmonella pullorum e produzia uma mortalidade de 60 a 80% dos pintinhos

recém-nascidos que eclodiam de ovos produzidos por planteis de reprodutoras infectadas (MILLEN, 1985). 43

Como o tifo aviário e a D.C.R ou doença crônica respiratória (MILLEN, 1985). No Brasil o final da década

de 50 marca o surgimento de uma intensa atuação do Instituto Biológico de São Paulo, no sentido de melhorar

o combate às doenças e o controle sanitário em geral (SORJ et alli, 1982). 44

É uma doença tumoral causada um vírus da família herpesviridae, sendo o sorotipo 1 patogênico para as

aves, a infecção ocorre o por via aérea e causa a paralisia, geralmente assimétrica, dos membros e

emagrecimento. Na forma aguda ocorrem morte súbita, apatia e formação de tumores viscerais (LANA,

2000).

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TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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bastante produtiva mas extremamente vulnerável à doença. o desenvolvimento da vacina

contra Marek salvou a linhagem de frangos no mundo todo e a atividade pôde usufruir uma

linhagem genética altamente produtiva, apesar da sensibilidade (PINAZZA &

LAUANDOS, 2000).

As inovações tecnológicas recentes na área da sanidade podem ser percebidas pelo

desenvolvimento de técnicas de laboratório para diagnóstico e monitoramento de doenças,

medicamentos com efeito preventivo e curativo, promotores de crescimento e eficiência

alimentar, desinfetantes e vacinas. Essas inovações associadas a: isolamento sanitário,

mantendo pessoas estranhas, animais e veículos afastados dos galpões; cerca viva com

plantação de eucaliptos ao redor da granja; desinfecção de veículos e utensílios para

entrarem na granja; criação de frangos de mesma idade, sistema “tudo dentro, tudo fora”; e

controle de transmissores de doenças, como moscas, mosquitos, ratos, pássaros e aves

caipiras; oferecem as condições necessárias na área da sanidade para produção atual do

frango de corte (LANA, 2000).

Embora tenham ocorrido avanços na área da sanidade, SALLE et alli (1998: 234)

argumentam que a situação desta área ainda deixa a desejar. Excetuando-se as

enfermidades previstas no PNSA45

(Plano Nacional de Sanidade Avícola), não há uma

padronização oficial das técnicas laboratoriais nem o processamento das informações

geradas pelos diagnósticos com vistas à medidas epidemiológicas. Para os autores, os riscos

decorrentes das carências de controle sanitário se manifestam pela carência de um

adequado:

- serviço de diagnóstico avícola nacional incluindo, também, a caracterização

molecular dos agentes;

- controle de material genético avícola importado e/ou produzido no País;

- serviço de controle e certificação sanitária das granjas avícolas brasileiras e

igualmente, de trânsito avícola;

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- controle e padronização dos insumos biológicos avícolas (vacinas e antígenos);

- padrão de reagentes de diagnóstico; e

- programa político de sanidade avícola.

Atualmente, para oferecer maior qualidade sanitária ao produto avícola brasileiro,

foi criado o Grupo de Sanidade Avícola, composto por especialistas representantes de

universidades, de instituições de pesquisa, de instituições oficiais e da iniciativa privada. Os

projetos e parcerias apresentam como objetivo desenvolver:

- Controle sanitário sobre importação, trânsito e exportação de material genético;

- Formas de monitoração e critérios de interpretação para controle das principais

doenças das aves;

- Análise de risco e controle de pontos críticos de doenças e/ou produtos avícolas

para Salmonella enteritidis e Escherichia coli;

- Integração da rede de laboratórios, oficial e privada, treinamento de recursos

humanos, uniformidade de insumos e análises, estabilização de atribuições e

integração virtual dos mesmos;

- Terceirização da assistência técnica na avicultura;

- Marcadores epidemiológicos para Salmonella enteritidis e Escherichia coli;

- Marcadores epidemiológicos para Mycoplasmas de interesse para a avicultura;

- Marcadores epidemiológicos para o vírus da Doença de New Castle e Influenza

Aviária;

- Implantação da rotina diagnóstica para anemia infecciosa das galinhas;

- Controle das doenças transmissíveis que afetam a produtividade avícola;

- Caracterização epidemiológica e molecular dos vírus oncogênicos das aves; e

- Desenvolvimento e caracterização de reagentes, de imunógenos e Kits de

diagnósticos das doenças das aves

45

o PNSA criado pelo ministério da agricultura e abastecimento, propõe uma série de ações com objetivo de

erradicar ou controlar algumas das enfermidades avícolas. Desta forma, a erradicação e/ou o controle da

doença de Newcastle, das micoplasmoses aviárias e das salmoneloses foram normatizadas pelo programa.

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TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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Pode-se concluir que pela quantidade de sugestões, ainda temos muito que avançar

na área da sanidade. Do que foi feito destaca-se o controle da doença de marek, manejo

sanitário, incluindo isolamento, cerca viva, vacinas, diagnóstico e monitoramento de

doenças.

II. 9 - Mudanças na Criação

Este item apresenta duas técnicas atualmente bastante difundidas na criação de

frangos de corte, principalmente nas integrações. São as técnicas de criação de lotes com

sexos separados e a criação em alta densidade.

II. 9. 1 - Criação com Lotes Sexados

A partir de meados da década de 60, se popularizou as linhagens Sex-linked

primeiramente pela cor e posteriormente pelo mais rápido crescimento das penas primárias

das asas, notou-se haver um grande diferencial de peso vivo entre os frangos, sobretudo a

partir da metade final do ciclo criatório. O diferencial, de imediato foi identificado como

sendo correlacionado ao sexo da ave, os machos criados nas mesmas condições que as

fêmeas ficam mais pesados, enquanto as fêmeas acumulam mais gordura abdominal

prejudicando o rendimento de carcaça. Atualmente é bastante disseminado a criação de

aves sexadas.

A separação46

de machos e fêmeas (sexagem) é feita pela análise das penas da ave

no primeiro dia de vida. Pintinhos com empenamento rápido (precoce) são fêmeas e com

empenamento lento (tardio) são machos. Abrindo a asa do pintinho comparara-se o

tamanho das penas primárias em relação as penas de cobertura. Nos machos as penas

46

Existem 3 métodos para sexagem: o método de exame da cloaca do pinto no primeiro dia de via, a sexagem

é feita pelo exame da cloaca, é utilizado para matrizes e aves de postura comercial de ovos brancos; método

do exame dos caracteres sexoligados a cor, machos e fêmeas nascem de cores diferentes, utilizados para

sexagem de aves de postura comercial de ovos vermelhos e; método do caracteres sexoligados ao

empenhamento, onde a fêmeas tem empenamento rápido e os machos empenamento lento, utilizado para

sexagem em frangos de corte, conforme dados de estágio na granja Rezende.

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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primárias são do mesmo comprimento que as de cobertura e nas fêmeas as penas primárias

são maiores que as de cobertura.

Atualmente, o interesse pelas raças autossexáveis se estende à exploração de

frangos de corte em decorrência do abate mecanizado em larga escala. Isto porque nos

abatedouros automáticos, as depenadouras são reguladas para um determinado tamanho de

carcaça, o que exige lotes de aves uniformes e portanto, sendo as fêmeas mais leves que os

machos, surgem problemas relativos à limpeza das carcaças.

Com a separação de machos e fêmeas consegue-se ainda as seguintes vantagens:

possibilita diferenciar rações para machos e fêmeas, de maneira que são utilizadas rações de

alta energia para os machos e rações menos protéicas e energéticas (com até 3000 kcal/kg

de energia metabolizável) a partir dos 21 dias para as fêmeas, diminuindo a tendência a

acumulação de gorduras e melhorando a eficiência de utilização dos nutrientes reduzindo os

custos da criação; proporciona maior uniformidade e melhor ajuste da densidade dos lotes

e; propicia o aproveitamento mais racional das instalações e dos equipamentos, pela melhor

adequação de bebedouros e comedouros (LANA, 2000).

II. 9. 2 - Criação em Alta Densidade

Considera-se criação em alta densidade quando temos mais de 30 kg de aves/m2.

Hoje é muito comum, no inverno, encontrarmos criadores e empresas que passam suas

criações de uma densidade de 10 para 18 a 20 aves/m2, admitindo que as aves atinjam o

mesmo peso a determinada idade, por exemplo 2,250 kg aos 44 dias, serão cerca de 22,50

kg e 40,50 kg de carne para 10 aves e 18 aves/m2, respectivamente.

Com desenvolvimento tecnológico dos equipamentos foi possível estender o

aumento da quantidade de aves criadas/m2 para todo ano. A presença de equipamentos de

climatização e o tipo de equipamento utilizado é que vai determinar a quantidade de

frangos criados/m2 de galpão. No princípio quando não se utilizavam esses equipamentos

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TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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(galpão tradicional), a recomendação para criações era de 20 Kg/m2

de aves47

(ISA, S/D);

nos sistemas mais utilizados atualmente, com ventilador, nebulizador e resfriador de água

(galpão semiclimatizado), a densidade recomenda é de 30 Kg/m2; atualmente já existe

tecnologia para criação de 40 Kg de aves/m2 (galpão climatizado), sendo cara, pouco

difundida e utilizada. Para utilização desse sistema, SANTIN (S/D) recomenda a adequação

das necessidades de comedouro, bebedouros e aquecimento com relação à distribuição,

densidade e tipos de equipamentos. Isso é feito com comedouros automáticos, bebedouro

tipo nipple, campânulas termostáticas e um bom sistema adiabático evaporativo, para

refrigeração do galpão.

Para LUCHESI (1998), a análise desta técnica mostra que o lucro cresce com o

aumento da densidade, a passagem de 10 aves/m2 para 20 aves/m

2 permitiu um aumento

58,9% na lucratividade na época de inverno e 66,7% na época do verão.

Portanto as duas técnicas beneficiam a criação. A sexagem permite mais

uniformidade com reflexos positivos tanto no abate, como na criação e a alta densidade

permite a otimização da utilização dos galpões aumentando os lucros.

II. 10 - Mudanças no Padrão de Produção de Frangos de Corte

Será abordada, neste item, a mudança no padrão de produção de frangos,

apresentando a emergência das grandes empresas verticalizadas, integradas a médios e

grandes produtores, substituindo o padrão de produção baseado em uma constelação de

produtores independentes e empresas especializadas em incubação, abate e fabricação de

rações.

47

Se as aves forem abatidas com 2 Kg colocar-se-á 10 aves/m2, pois 20 Kg/aves/m

2 dividido por 2 é igual a

10.

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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II. 10. 1 - Verticalização da Produção

A verticalização da agroindústria pode ser justificada pela emergência gradativa de

grandes empresas, concentrando e verticalizando a produção, devido a:

- Absorção da tecnologia de ponta, aumento da escala de produção e diminuição dos

custos nas áreas de nutrição, genética, automação, abate e processamento;

- Transferência da criação do frango de corte para pequenos proprietários de terra,

em um processo gradativo de automação, utilizando principalmente mão de obra familiar;

- Grande capital de giro disponível para comercialização e suportar as épocas de

crise da economia;

- Eficiência na administração de recursos humanos, comercialização, marketing e

agregação de valor ao produto final; e

- Não ocorrência das características citadas acima nos sistemas de produção

independente e cooperativo.

Para MATOS (1996a), a integração vertical permitiu às firmas integradoras uma

sensível economia de custos nas áreas de atuação conjunta, como o controle, as compras, a

produção, as vendas e a distribuição. A coordenação das atividades também tem grande

redução de custo, pelo fato da proximidade, agilizando a tomada de decisão. Além disso,

ela permitiu uma maior certeza quanto ao fornecimento de insumos nos períodos de

escassez generalizada, mantendo a posição competitiva da empresa. De outro lado, garantiu

mercado, (escoamento) para os produtos finais nos momento de redução da demanda.

A integração vertical eleva, também, significativamente as barreiras à entrada em

uma indústria, uma vez que reduz os custos da empresa integrada engendrando vantagens

em termos de poder de negociação, por redução de margens e dando maior grau de certeza

a essas empresas, pela redução de riscos.

A redução efetiva no poder de negociação dos fornecedores ou clientes

preferenciais é outra grande vantagem da integração. Dessa forma, as atividades a montante

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TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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reduzem o poder de negociação dos fornecedores, possibilitando maior certeza quanto aos

custos do insumo básico. Já as atividades a jusante, reduzem o poder de compra do

distribuidor ou das grandes redes de distribuição.

Na indústria da fase do capitalismo concorrencial, o progresso técnico era uma arma

mortífera, pois possibilitava a uma determinada empresa eliminar suas concorrentes, à

medida que, aumentando sua eficiência, podia produzir a preços inferiores e aumentar seus

lucros. Na fase monopolista, entretanto, o progresso técnico permite às empresas líderes de

cada setor manterem uma renda diferencial pela sua eficiência em relação aos concorrentes,

sem interesse em eliminá-los, pois isso implicaria numa guerra de preços e perda do lucro

suplementar. Assim, por exemplo, se o mercado estiver crescendo, as unidades marginais

poderão permanecer, tendendo a serem excluídas apenas quando da retração da demanda

por aquele produto específico, daí a importância das crises de superprodução periódicas na

agricultura para configuração das estruturas de mercado (GRAZIANO DA SILVA,1988).

A avicultura se insere perfeitamente neste contexto, pois no momento atual e futuro

próximo, teremos unidades produtivas de variados tamanhos no Brasil, considerando as

regiões Sul e Centro-oeste; desta forma, se imaginarmos a possibilidade de retração da

demanda de frango, a estrutura fundiária do Centro-oeste apresentará grandes vantagens em

função dos custos de produção, devidos aos ganhos de escala.

Portanto, nesse novo modelo de produção que surge com o processo de

verticalização48

da produção, as grandes empresas avícolas se apropriaram da tecnologia da

genética, nutrição, abate e processamento e da comercialização dos produtos avícolas,

aumentaram intensamente suas produções, pelo aumento de suas plantas e de

consumidores, além de atenderem ao mercado nacional passaram a atender também o

mercado internacional. Esse padrão de crescimento, considerados os vários componentes do

custo de produção, acabou sinalizando para a aproximação das plantas produtoras (a partir

48

Em 1982 SORJ et alli assinalavam a existência de indícios de que os níveis de automação e os ganhos de

escala tornariam cada vez mais viável à granja avícola em moldes de grande empresa capitalista.

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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do final da década de 80) da região no Centro-oeste; um exemplo disso é a instalação da

Perdigão em Rio Verde.

II. 10. 2 - Mudanças no Modelo de Integração

Em 1982, o Cebrae-Ceag, citado por SORJ et alli, (1982: 41) fazia o seguinte

recorte: “...produtores integrados não são produtores comuns, são escolhidos, em função de

possuírem um número de hectares de terra acima da média dos produtores da região, de

terem condições de obter crédito e de se situarem a uma distância relativamente próxima à

indústria, diminuindo, assim, os custos de transporte. É fundamental que os produtores

possuam certas características para que o projeto global da integração seja viabilizado,

segundo a estratégia estabelecida pelo frigorífico”. Portanto a tendência na época já era a

diminuição do número de avicultores com pequenos plantéis e o aumento e concentração da

produção em maiores produtores.

Neste aspecto SORJ et alli citam que “ a tendência à diminuição de produtores de

pequenos plantéis e o aumento de produtores maiores são o resultado tanto do sucesso e

capitalização de alguns empreendimentos, como da real eliminação dos que não conseguem

fazer frente aos aspectos técnicos e econômicos da produção, de modo a suportar situações

de oscilações nos fatores de produção e comercialização”.

Para ORTEGA (1988: 112), a estrutura fundiária da região onde se constitui uma

integração é fundamental, por serem necessárias propriedades que permitam aos criadores a

produção de seu produto principal e ainda outro produto que complemente a sua renda.

Quando considerado esse modelo de pequenos agricultores integrados no Sul, é

reconhecido que contribuiu por um determinado tempo, no crescimento da produção e da

produtividade, mas agora está sendo visto como um obstáculo para a continuação do

crescimento e da redução de custos.

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TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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Analisando esse assunto observa-se que, nos últimos anos o padrão tradicional

começou a dar mostras de esgotamento. De um lado, os custos logísticos e de

gerenciamento de um grande número de integrados (a Perdigão por exemplo tem cerca de

7.000) vêm crescendo excessivamente. Levar ração, coletar frangos, prestar assistência

técnica e supervisionar os contratos de milhares de pequenos integrados, tudo isso é fonte

de custos pouco compatíveis com um negócio de margens reduzidas (FAVERET FILHO &

PAULA, 1998).

A estrutura fundiária em Rio Verde é um exemplo dessa mudança. O tamanho da

propriedade integrada será bem maior que as existentes no sul, isso está ocorrendo devido

às garantias bancárias necessárias ao financiamento49

e à viabilidade da produção de

frangos nas condições do projeto. GRAZIANO DA SILVA (1988: 29), atribui esse fato ao

caráter incrustado das inovações tecnológicas na concorrência intercapitalista, de maneira

que “as inovações funcionam como um tipo de barreira à entrada de concorrentes naquelas

condições específicas, ao nível de região e dos produtos, na medida em que configura um

dado padrão produtivo que define inclusive uma certa escala mínima para permanecer

naquele determinado ramo de atividade. Em outros termos, o próprio desenvolvimento

capitalista de um ramo da produção agropecuária impõe continuamente a elevação de um

patamar mínimo, definido em função das tecnologias disponíveis, para um produtor

determinado permanecer naquela atividade. É como uma corrida onde determinado

indivíduo para manter a sua posição relativa tem que mover-se no ritmo do conjunto”.

A estrutura agrária do Centro-Oeste, baseada na média e grande propriedades, pode

facilitar essas transformações técnicas, de outro impossibilita que as relações agricultura-

indústria se organizem nos mesmos moldes do Sul, onde predomina a propriedade familiar

(HELFAND & RESENDE, 1998).

49

A quantidade de terra disponível pelo pecuarista é fundamental para que ele seja aceito como integrado,

porque esse é um pré-requisito para obtenção de crédito agrícola e porque o integrado deve ter uma

quantidade de terra tal, que seja possível diversificar sua produção.

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64

O novo projeto50

da Perdigão em Rio Verde terá mais de 800 agricultores

integrados. Cada agricultor terá a capacidade de para alojar 24 mil frangos de corte por

galpão (sendo recomendado 4 galpões por propriedade), e não 6 a 15 mil, como é o caso

dos produtores em Santa Catarina. Os equipamentos que estão sendo implantado

apresentam tecnologia mais avançada, incluindo alimentação automática e controles

climáticos. O valor financiado, segundo técnico da Perdigão para construção dos quatro

galpões é de R$ 379.510,77, com taxa real de juros de 10,5% e redução de adimplência de

20%. A garantia necessária para acessar esse volume de financiamento limita a participação

do pequeno produtor. Mesmo os médios e grandes produtores tem mostrado um certo

constrangimento quando consideram o rendimento previsto de R$ 355,36/galpão/mês (R$

1.421,44 para os 4 galpões/mês).

Portanto, a produção atomizada de carne de aves por parte de muitos milhares de

pequenos produtores está sendo substituída nas últimas 3 décadas por grandes

empreendimentos, altamente capitalizados, que utilizam as mais sofisticadas técnicas

associadas aos sistemas de confinamento ambientalmente controlados, de maneira que o

mercado atual é formado por um mix de grandes grupos verticalizados e numerosas

unidades de produtores independentes, principalmente nas proximidades das grandes

metrópoles, configurando esse padrão monopolista de produção. Para GOODMAN (1990)

isto é o resultado direto da exploração das inovações nas áreas da genética e da nutrição das

aves por parte dos capitais apropriacionistas.

Dessa forma, a mudança do modelo de produção está aliada à adoção de uma nova

tecnologia, com novas formas de organizar a produção, no Centro-Oeste, que oferece a

oportunidade de diminuir custos da carne aos consumidores de várias formas:

- a construção de mega abatedouros que integrarão grandes criadores de animais

poderia proporcionar economias de escala na produção e no abate.

50

Os índices técnicos são: 6,87 lotes por ano, 3,4% de mortalidade, 2.350 g de peso médio do frango, idade

média ao abate de 45 dias e um consumo de 25 g de gás por pinto alojado.

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TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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- A integração com um número menor de produtores poderia contribuir para

redução dos custos de logística associados ao suprimento de insumos, à provisão

de ração e assistência técnica, e à coleta dos animais quando eles estiverem

prontos para abate.

II. 11 - Conclusão

Em resumo, a análise das modificações da base técnica mostra que a tecnologia

promoveu várias mudanças nas relações de produção de frango de corte. A área da genética

permitiu a substituição de raças puras de aves por híbridos sintéticos de alta performance

produzidos pelos “avozeiro”. Os ganhos genéticos, por exemplo, permitiram a diminuição

da idade de abate de 105 dias para 42 dias; a melhora na conversão alimentar, passando de

3,5 para 1,8 ao abate e aumento do peso vivo de 1,5 kg para 2,6 kg a idade de abate.

Os avanços na nutrição iniciaram em 1900, quando se usou ração pela primeira vez,

mas foi na década de 60 que realmente apareceram as rações balanceadas no Brasil. Os

avanços apareceram também nas misturas de ingredientes protéicos, na adição de

aminoácidos essenciais e mais recentemente a utilização de aminoácidos digestíveis,

aumentando a precisão dos cálculos de ração e diminuindo a necessidade de elevados níveis

de segurança. Aliado a esses aspectos, o aumento da precisão no levantamento das

exigências nutricionais, associados à programação linear, permitiram o cálculo de rações a

mínimo custo, diminuindo o custo e aumentando a estabilidade do preço das rações.

A área de equipamentos de alimentação foi atingida de maneira intensa pela

automação. Hoje, o funcionamento dos comedouros e dos bebedouros não depende de mão-

de-obra humana, são mais eficientes em termos de limpeza, melhoram o ganho de peso e

diminuem a mortalidade em função da ausência de pessoas andando com freqüência dentro

do galpão.

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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A indústria de rações, se reorganiza em função da logística de transporte se

regionaliza e diversifica sua produção associada a tecnologia mais acessíveis de menores

plantas, miniaturização da informática e acesso ao premix em pequenas escalas. Por outro

lado, com a emergência da verticalização aparecem as grandes integrações que passam a

produzir um volume de rações maior que a própria produção do setor da indústria de

rações.

A climatização passa ser um dos elementos mais importante na produção de

frangos, a tecnologia atual oferece o aquecimento por campânulas a gás com queimador de

infravermelho, que são mais eficientes, de baixo custo e aquecem o dobro de pintinhos

(1000 pintinhos). A refrigeração passa a fazer parte dos galpões, o sistema mais utilizado é

a combinação de nebulizadores e exaustores movimentando o ar de um lado a outro do

galpão (sistema e semi-climatizado). Quanto ao sistema adiabático evaporativo, apesar de

ser mais eficiente ainda tem uso bastante restrito, em função do custo benefício e ser uma

tecnologia nova e pouco difundida.

Os galpões aumentam a sua capacidade interna, passando de 100 m2 para 1600 m

2,

trocam cobertura de telhas de barro e amianto por telhas de alumínio, não utilizam mais

lanternis em função da ventilação negativa, mudam a estrutura de madeira para estrutura de

cimento pré-moldado ou metálica, as lâmpadas incandescentes são trocadas pelas lâmpadas

fluorescentes, diversificam o material utilizado como cama de frango passam a fazer a

reutilização desse material por até 4 a 5 vezes.

A área da sanidade se apresenta como o ponto frágil da cadeia produtiva da

avicultura de corte, isso pode ser percebido pelo volume de tecnologias existentes e ainda

não utilizadas. Do que foi feito destacam-se o controle da doença de marek, manejo

sanitário, incluindo isolamento, cerca viva, vacinas, diagnóstico e monitoramento de

doenças.

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TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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A eficiência na criação é aumentada pela sexagem que permite mais uniformidade

com reflexos positivos tanto no abate como na criação e pela alta densidade que permite a

otimização da utilização dos galpões aumentando os lucros.

E, um novo modelo de produção de frangos surge baseado no processo de

verticalização51

da produção. As grandes empresas avícolas se apropriaram da tecnologia

da genética, nutrição, abate e processamento e da comercialização dos produtos avícolas,

aumentaram intensamente suas produções, pelo aumento de suas plantas e de consumidores

e, além de atender ao mercado nacional, passaram a atender também o mercado

internacional. Associado a essa mudança observa-se que a produção atomizada de carne de

aves por parte de muitos milhares de pequenos produtores está sendo substituída nas

últimas 3 décadas por um pequeno número médios e grandes produtores integrados,

utilizando as mais sofisticadas técnicas apresentadas no corpo deste capítulo.

51

Em 1982 SORJ et alli assinalavam a existência de indícios de que os níveis de automação e os ganhos de

escala tornariam cada vez mais viável a granja avícola em moldes de grande empresa capitalista.

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CAPÍTULO III

DETERMINANTES DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE

TÉCNICA

As modificações da base técnica da avicultura apresentadas de maneira descritiva

têm a importância primordial de comprovar através de dados as alterações temporais

sofridas no processo tecnológico de produção. Entretanto, numa visão mais reflexiva, deve-

se procurar entender por que ocorrem essas mudanças, ou seja, quais são seus

determinantes. A avicultura não foi o único setor da agricultura a se modificar. Na verdade

está inserida em um contexto maior que atingiu a produção rural de maneira global.

Este capítulo apresenta os determinantes das modificações da técnica, que foram

atribuídos: a desagregação do complexo rural e formação do complexo agroindustrial; ao

apropriacionismo e o substitucionismo industrial; as questões ligadas à terra e ao trabalho; e

ao Estado através de políticas públicas e financiamento. Caracteriza cada um dos

determinantes, apresenta a forma de como eles atuam estimulando a utilização de

tecnologias e discute sobre as suas respectivas contribuições para o desenvolvimento

tecnológico.

III. 1 - Desagregação do Complexo Rural e Formação dos Complexos Agroindustriais

As transformações na base técnica passaram a ocorrer com maior ênfase a partir da

proletarização do camponês e da destruição de sua economia natural, quando se criaram as

bases para o desenvolvimento do modo capitalista de produção (GRAZIANO DA SILVA,

1996). MARX (1982), explica que o fundamental de toda divisão do trabalho desenvolvida

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DETERMINANTES DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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69

e processada através da troca de mercadorias é a separação entre a cidade e o campo. Pode-

se dizer que toda história econômica da sociedade se resume na dinâmica dessa antítese.

Cita ainda que o modo de produção capitalista completa a ruptura dos laços primitivos que

no começo uniam a agricultura e a manufatura. Mas, ao mesmo tempo, cria as condições

materiais para uma síntese nova, superior, para a união da agricultura e da indústria, na base

das estruturas que se desenvolvem em mútua oposição.

A separação da cidade/campo só se dá por inteiro quando a indústria se muda para a

cidade; a reunificação, quando o próprio campo se converte numa fábrica. Quando isso

ocorre, a agricultura entendida como um setor autônomo desaparece; ou melhor, converte-

se num ramo da própria indústria. Essa opinião de GRAZIANO DA SILVA (1996)

complementa a reflexão de 1982, quando cita que o longo processo de transformação da

base técnica – chamado de modernização – culmina, pois, na própria industrialização da

agricultura. Esse processo representa na verdade a subordinação da natureza ao capital que,

gradativamente, liberta o processo de produção agropecuária das condições naturais dadas,

passando a fabricá-las sempre que se fizerem necessárias. Assim, se faltar chuva, irriga-se;

se não houver solos suficientemente férteis, aduba-se; se ocorrerem pragas e doenças,

responde-se com defensivos químicos ou biológicos; e se houver ameaças de inundações,

estarão previstas formas de drenagem. Dessa forma cita ainda que “A produção

agropecuária deixa, assim, de ser uma esperança ao sabor das forças da Natureza para se

converter numa certeza sob o comando do capital” (GRAZIANO DA SILVA, 1996: 4).

Na verdade, a separação cidade/campo, segundo uma citação mais antiga de

GRAZIANO DA SILVA (1981: 44), é “a forma aparente que assume o próprio processo de

industrialização da produção no seu sentido amplo, incluindo aí a própria agricultura.

Usando uma imagem bíblica, pode-se dizer que no princípio tudo era agricultura, no

sentido que o artesanato doméstico não era senão um complemento das atividades da

família camponesa. A industrialização, em última instância, nada mais é do que a

destruição, num primeiro momento, dessa harmonia para recriá-la, posteriormente, não

mais com base nas condições naturais em que ela ocorria – habilidade do camponês em

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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utilizar as dádivas da natureza – mas sob condições artificiais, fabricadas pelo próprio

homem. Em suma, a industrialização é a própria reprodução da natureza pelo capital”.

Deve-se considerar que essas contribuições têm ao seu tempo a manifestação de

uma das faces do processo histórico de passagem da agricultura brasileira do chamado

complexo rural52

para dinâmica comandada pelos complexos agroindustriais (CAI), que

contribui como determinante das modificações na base técnica. Para PAIM, citado por

ORTEGA (1988), complexos rurais são propriedades rurais que se reproduzem de maneira

quase auto-suficiente, sendo que seu vínculo com o mercado é apenas o da venda de um ou

poucos produtos, às vezes até transformados dentro da fazenda. Enquanto que complexos

agroindustriais são propriedades que apresentam um alto nível de interdependência entre a

agricultura e indústria, devido ao alto nível de tecnificação, característico da avicultura de

corte atual.

A passagem da agricultura brasileira do chamado complexo rural para uma

dinâmica comanda pelos complexos agroindustriais – CAIs marcam o processo histórico da

substituição da economia natural por atividades agrícolas integradas à indústria, à

intensificação da divisão do trabalho e das trocas intersetoriais, à especialização da

produção agrícola e à substituição das exportações pelo consumo produtivo interno como

elemento central da alocação dos recursos produtivos no setor agropecuário.

A partir da crise dos complexos rurais e da mudança dos determinantes da

agricultura, GRAZIANO DA SILVA (1996: 5) cita que ocorre a passagem do mercado

externo para o mercado interno e não se pode falar mais em um único determinante, nem

numa única dinâmica geral, nem num único setor agrícola. A agricultura brasileira hoje é

uma estrutura complexa, heterogênea e multideterminada. Só se pode entendê-la a partir de

52

Nas palavras de GRAZIANO DA SILVA (1996) o que caracterizava o complexo rural era “a sua incipiente

divisão do trabalho”. As fazendas para produzir um determinado produto, tinham que produzir todos os bens

intermediários e os meios de produção necessários, e ainda assegurar a reprodução da própria força de

trabalho ocupada nessas atividades. O complexo rural internaliza nas fazendas um departamento de produção

de meios de produção (insumos, máquinas e equipamentos), mas “um D1 em bases artesanais” como o

ferreiro, o carpinteiro, o pedreiro, o mecânico, o domador de animais, o seleiro etc”.

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DETERMINANTES DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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seus variados segmentos (como os CAIs, por exemplo) com suas dinâmicas específicas e

interligadas aos setores industriais fornecedores de insumos e processadores de produtos

agrícolas.

Para GRAZIANO DA SILVA (1996: 87) a internalização do D1 com a implantação

no país de indústrias químicas e mecânicas, fabricantes de insumos e máquinas agrícolas,

são a base para o aprofundamento do processo de industrialização da agricultura e a

constituição dos vários complexos agroindustriais. pois somente se estabelecem relações

específicas para trás com a indústria de insumos e máquinas agrícolas quando se tem um

CAI completo. Definindo o tripé formado pela indústria para a agricultura, pela

agroindústria e pela agricultura moderna em torno de uma determinada cadeia produtiva

com vínculos específicos entre si. Esse ambiente com uma dinâmica particular determinado

internamente nesses complexos é que são responsáveis por formular demandas específicas

junto ao Estado.

Tais complexos surgem nos espaços nacionais e podem eventualmente se

internacionalizar, o que é sempre um momento de expansão conflitiva de aliança, de

modificações importantes nas relações de forças internas e, evidentemente, externas.

A estrutura e o crescimento do CAI na década de 70, coincidindo com a

consagração da avicultura industrial, ou seja, quando a avicultura passou a ser um

componente do CAI, pode ser apreciado pelos dados da Tabela 14, abaixo.

Algumas conclusões de GRAZIANO DA SILVA (1996: 25) servem para

comprovar que as indústrias de bens de capital e insumos determinaram modificações na

agricultura: 1- o período de arranque dos complexos pode ser localizado no início da

década de 70; em 75 as taxas de crescimento dos três grandes setores do CAI ultrapassaram

15% ao ano e, considerando toda a década, a indústria para a agricultura foi o setor que

mostrou o maior dinamismo; 2- a produção agropecuária propriamente dita teve uma

participação declinante no total do CAI, chegando a representar apenas 38% do valor total

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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produzido pelo CAI, em 1980, indicando a perda do peso da agricultura (em sentido estrito)

no total do sistema53

; e 3- por sua vez, a indústria para a agricultura (tratores, defensivos,

fertilizantes, produtos veterinários e rações) aumentou sua participação no CAI (de 9,3%

para 12,7% do total entre 1970 e 1980).

TABELA 14 – Estrutura e Evolução do CAI na Década de 70 Indústria para a

Agricultura (a)

Agricultura

(b)

Agroindústria

(c)

CAI

Anos Taxa (d) % (e) Taxa (d) % (e) Taxa (d) % (e) Taxa (d) % (e)

1970 - 9.3 - 40.4 - 50.2 - 100

1975 19.7 11.1 15.6 39.4 15.8 49.6 16.2 100

1980 7.2 12.7 3.7 38 4.3 49.4 4.4 100

1970/80 13.5 - 9.5 - 9.9 - 10.1 -

Notas: a) dois sub-setores do setor mecânico; 3 sub-setores da química; um sub-setor de produtos

alimentares (rações)

b) lavouras, horti-floricultura, silvicultura, produção animal e extração vegetal

c) nove setores agroindustriais (22 sub-setores).

d) taxa geométrica anual nos períodos, em porcentagem.

e) participação no total do CAI em cada ano, em valor.

Fonte: MULLER citado por GRAZIANO DA SILVA (1996)

Para DAVIS & GOLDBERG citado por GRAZIANO DA SILVA (1996) o

fazendeiro moderno é um especialista que teve suas operações reduzidas a cultivar plantas e

criar animais. As demais atividades têm sido transferidas, em larga medida, para fora da

porteira da fazenda, urbanizadas e industrializadas. Para esses autores, a economia do

agribusiness54

reúne hoje essencialmente as funções que eram devotadas ao termo

agricultura há 150 anos atrás. A verdade é que a agricultura foi gradativamente

subordinando-se à indústria e perdendo importância pela redução da sua contribuição ao

valor agregado.

Finalmente, quanto a dimensão política dos CAIs, BERTRAND citado por

GRAZIANO DA SILVA (1996: 102) faz uma longa síntese sublinhando que “O complexo

53

Hoje gira em torno de 10% do PIB do país. 54

DAVIS & GOLDBERG citados por GRAZIANO DA SILVA (1996: 65) o agribusiness é “a soma de todas

as operações envolvidas no processamento e distribuição dos insumos agropecuários, as operações de

produção na fazenda, e o armazenamento, processamento e a distribuição dos produtos agrícolas e seus

derivados”

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DETERMINANTES DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

Levy Rei de França

73

não é um dado a priori, um cômodo recorte estatístico ou um instrumento descritivo; ele é

o resultado de uma análise histórica, genética da constituição de uma (eventual)

organização. Essa organização nasce nas condições particulares (um jogo de contrários), na

busca convergente de um objeto dado, partilhado por um grupo de agentes cujos interesses

não são necessariamente convergentes em todos os pontos. A constituição do complexo

necessita de um consenso entre os participantes. O complexo pode desaparecer ou se

expandir se as condições mudam ou não são mais satisfeitas”.

O complexo, uma vez que se organiza, define um modelo de relações internas e com

o seu contexto (meio ambiente). Esse modelo é o resultado de decisões tomadas em comum

que tendem a definir regras de conduta, um ou mais produtos a valorizar, em função de uma

finalidade. Ele incorpora tanto uma maneira de produzir, como de consumir (ou de utilizar)

os produtos do trabalho de cada membro do complexo. Ele implica uma certa divisão de

tarefas entre os membros que o produzem; e entre esses últimos e seu meio ambiente.

Tarefas materiais – primeiro, de transformação dos produtos; mas igualmente um trabalho

informacional de seleção entre os possíveis interlocutores e de submissão à experiência das

diversas alternativas disponíveis, que são renovadas incessantemente pelo próprio

progresso do conhecimento.

Portanto, como resultado da industrialização, a agricultura se transforma em um elo

de uma cadeia, diferentemente do ambiente fechado do complexo rural, o resultado é a

constituição dos complexos agroindustriais. Aplicando o raciocínio de GRAZIANO DA

SILVA (1982) para o fato em questão, o que interessa realçar aqui é que a avicultura, assim

com a agricultura, industrializa-se nesse processo, isto é, torna-se um setor subordinado ao

capital, integrado à grande produção industrial. Dito de outra maneira, a avicultura se

transforma num ramo de aplicação do capital em geral e, de modo particular, do capital

industrial que lhe vende insumos e compra as mercadorias aí produzidas.

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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III. 2 - Apropriacionismo e Substitucionismo Industrial

Os determinantes das transformações de base técnica, para GOODMAN et alli

(1990), se encontram na apropriação e substituição industriais do processo de produção

rural. Quando o processo de desenvolvimento tecnológico vai para a indústria, é ele que

impõe o ritmo de incorporação de inovações, e a indústria por sua vez passa a ser uma

determinadora do ritmo e intensidade de inovações tecnológicas na agricultura. É a

indústria que fez o melhoramento genético do frango de corte55

, desenvolveu remédios,

vacinas, a nutrição e alimentação, e os equipamentos e sua progressiva automação.

Além de desenvolver a tecnologia, a indústria determina o frango que quer comprar

e a tecnologia que vai ser empregada no mesmo, de maneira que o criador de frango de

corte não desenvolve a tecnologia e nem tem autonomia de utilizar esta ou aquela

tecnologia. Isto ocorria antes do apropriacionismo ocorrer. O certo é que a tecnologia não

deixa margens de escolha sobre que parte utilizar ou não, pelo contrário, se deixa, diz

claramente onde está a autonomia, na verdade é um pacote fechado ou semifechado, mas

quem fecha, quem dá o “caminho” são as indústrias do setor.

Para SORJ et alli (1982: 32) esse processo apresenta dupla dinâmica “o capital

industrial passa a se apropriar de atividades que anteriormente eram realizadas no interior

da empresa rural, e, com base nessa apropriação, passa a impor aos produtores rurais os

padrões e ritmos de transformação do processo produtivo. Os produtores rurais, ou seja,

aqueles cuja atividade ainda dependem em boa medida dos determinantes naturais no

processo produtivo – em particular do uso extensivo da terra – ingressam, assim, num

processo em que suas condições de reprodução estão superditadas e subordinadas à

dinâmica do complexo avícola industrial”.

55

As inovações biológicas colocam a natureza a serviço do capital, possibilitando a transformação das

atividades agrícolas em verdadeiros ramos da indústria (GRAZIANO DA SILVA, 1981).

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DETERMINANTES DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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A tese central do trabalho de GOODMAN et alli (1990) é a incapacidade histórica

do capital industrial em transformar o sistema agroalimentício, da produção agrícola até o

consumo final do alimento, como um todo unificado. A indústria se apropriou de frações

parciais do processo produtivo rural, no caso do frango de corte, a parte que sobrou para o

campo foi a criação. Se a criação não fosse mais necessária na fazenda, a indústria teria

completado seu processo de apropriação. Desta forma ele cita que os capitais industriais

têm-se restringido a apropriações parciais da atividade rural, conduzindo em diferentes

conjunturas históricas à mecanização da agricultura e ao desenvolvimento de inovações

químicas e genéticas. SHIKI (1996: 34) também concorda que, apesar dos avanços

tecnológicos, o domínio sobre o trabalho pelo capital agroindustrial é ainda parcial e

discreto devido aos constrangimentos naturais da produção agroalimentar. Cita ainda que

“... no caso brasileiro, criou-se um espaço de reprodução da agricultura familiar e um

sistema de produção altamente competitivo. A agricultura familiar tem se mostrado como

estrutura organizativa da produção que melhor se adapta aos requerimentos tecnológicos e

às condições de risco de produção e de mercado. No caso da avicultura, o domínio das

técnicas de manejo é a chave do sucesso e é possível somente para aqueles que têm um

mínimo de capacidade de investimento e absorção do conhecimento”.

A apropriação industrial56

, por exemplo, pode ser percebida quando constatamos

que a produção de galinhas não ocorre mais na fazenda. No caso do frango de corte, ele vai

para a fazenda quando nasce e volta para a indústria cerca de um pouco mais de 40 dias

depois, quando então é abatido e processado. Para tornar-se parte de uma sofisticada

indústria de reprodução, no nível comercial, as galinhas foram as primeiras a serem

exploradas comercialmente pela aplicação de técnicas de hibridação, tal como se fez antes

com o milho, assim como pelos métodos de aperfeiçoamento seletivo usando os princípios

da genética quantitativa (NORDSKOG citado por GOODMAN et alli,1990).

56

Para se ter uma noção mais concreta da apropriação das atividades produtivas pelo complexo agroindustrial,

SORJ et alli (1982) cita que, no preço final do frango, em 1976, o custo da mão-de-obra numa granja de 12

mil frangos representava apenas 1,5% (3,85% se incluir a previdência social).

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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Para GOODMAN et alli (1990) dois tipos de capitais interferem na agricultura. Os

capitais apropriacionistas, associados principalmente com o processo de produção rural e

com a transformação primária das safras, e os capitais substitucionistas associados a etapas

de fabricação dos alimentos. Dessa forma percebemos um movimento competitivo dos

capitais industriais a fim de criar setores de acumulação através da restruturação do

processo recebido da produção pré-industrial. Um exemplo desse processo é instabilidade

provocada pelas biotecnologias criando uma ameaça à base rural da agricultura, colocando

em cheque a própria definição de agricultura e de indústria.

O caso da farinha de trigo ilustra como a substituição industrial pode transformar

um produto rural num insumo industrial, de tal modo que a qualidade ou o valor são dados

por critérios de processamento e manufatura antes que por considerações nutricionais. Esta

tendência de avaliar os produtos rurais principalmente como insumos para o processamento

industrial e para a comercialização está no âmago dos debates correntes sobre alimentos

processados e nutrição. Um outro exemplo foi a produção do leite evaporado e o leite em

pó que, embora produzidos por métodos de produção em massa, eles tinham as

características que os tornavam substitutos diretos do produto natural e dos meios

tradicionais de preservação do leite como, como a manteiga e o queijo.

No que se refere a perspectiva mais ampla e de longo prazo, GOODMAN et alli

(1990: 120) cita que “... a ação do substitucionismo via microbiologia industrial é

novamente a de reduzir a importância da agricultura, definida como a produção de culturas

nos campos, associada com sistemas específicos de alimentos e fibras para o processamento

e distribuição”. Sublinha ainda que “as novas biotecnologias exporão crescentemente a

redundância dessa concepção tradicional. Em essência, essas técnicas avançadas ameaçam

trivializar a agricultura, transformando-a em uma entre diversas fontes competitivas de

matéria orgânica para conversão e fracionamento da biomassa. Assim, a posição

privilegiada das culturas convencionais de campo, nos padrões atuais de uso da terra, serão

crescentemente desafiados”.

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DETERMINANTES DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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Para GOODMAN et alli (1990) o efeito cumulativo dessa tendência é obscurecer a

especificidade ou identidade dos bens produzidos no meio rural, reforçando o movimento

de longo prazo do substitucionismo para reduzir a parcela da agricultura e da terra no valor

agregado gerado pelo sistema alimentar. Finalmente, é provável que as fronteiras do

substitucionismo sejam definidas tanto pelos gostos e pela lealdade dos consumidores aos

alimentos orgânicos completos quanto pelas restrições técnicas e de engenharia.

Portanto, o apropriacionismo e o substitucionismo constituem um movimento de

interação combinado do capital no processo gradual e ininterrupto de troca das atividades

rurais por atividades industriais. Neste aspecto ainda que o apropriacionismo transforme as

atividades rurais em atividades industriais e, assim, afrouxe as limitações impostas pela

natureza, os capitais constituídos por esta dinâmica, entretanto, retêm laços simbióticos

com o processo de produção de base rural. Estes laços também caracterizam os setores de

processamento primário. A ação tendencial do substitucionismo, entretanto, é reduzir o

produto rural a um simples insumo industrial, abrindo caminho para a eliminação do

processo rural de produção, seja pela utilização de matérias primas não-agrícolas. Seja pela

criação de substitutos industriais dos alimentos e fibras.

Dessa forma, o setor rural fragilizado e subordinado ao apropriacionismo e

substitucionismo industrial passa a seguir a tecnologia de criação recomendada pela

indústria, isso é mais forte nas integrações devido a intensa modernização na procura de se

manter competitiva. A bem da verdade, as grandes empresas também recebem pressão

semelhante, só que o elemento subordinador é o desenvolvimento tecnológico que oferece

vantagens nas relações de produção, de maneira só permanece no mercado quem se

mantém atualizado, principalmente em um mercado globalizado.

III. 3 - Questões Ligadas à Terra e ao Trabalho

As explicações para a adoção de inovações tecnológicas, segundo ROMEIRO

(1998), era preocupação de muitos analistas na década de 60. Baseado no diagnóstico dos

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baixos níveis de tecnificação e uso de insumos modernos pela agricultura brasileira, duas

correntes de pensamento eram apresentadas para explicar o nosso atraso tecnológico. A

primeira, representada pelos analistas de corte marxista ou estruturalista, admitia a

existência de obstáculos de ordem estrutural, bloqueando o processo de modernização

capitalista da agricultura brasileira, sendo a reforma agrária considerada condição

necessária para o rompimento deste bloqueio representado pela polarização da estrutura

agrária brasileira entre o grande latifúndio arcaico (de caráter feudal) e o minifúndio

impossível de se modernizar. Diante da consumação do processo de modernização nos anos

70, a proposta de explicação dessa corrente de pensamento privilegia o processo de

modernização agrícola como fruto da lógica do processo de acumulação do capital urbano-

industrial. Sob essa ótica, modernização da agricultura passaria a ser uma necessidade

objetiva do capital a partir do momento em que o processo de diversificação e

complexificação do parque industrial brasileiro se completa, no final dos anos 50, através

do Plano de Metas. Para ROMEIRO esta abordagem privilegia a instância

macroeconômica, a lógica do processo de acumulação capitalista, mostrando o setor

agrícola como um setor subordinado e passivo no processo de modernização.

A segunda corrente de pensamento, representada pelos especialistas de corte

neoclássico, atribuia o baixo nível tecnológico da agricultura brasileira à ausência de

estímulos para a introdução de insumos e máquinas poupadoras de terra e trabalho, dado

que estes eram fatores até então abundantes. A ênfase deveria ser posta nos fatores de

estímulo endógenos, isto é, naqueles fatores que afetam a decisão de investir do empresário

agrícola. Quando ocorreu a modernização nos anos 70, a proposta explicativa foi que a

elevação do preço da terra, fruto do processo de desenvolvimento urbano-industrial e do

distanciamento da fronteira agrícola, estimulou a introdução de insumos que poupassem a

terra, como os fertilizantes químicos. No que concerne à mecanização poupadora de

trabalho, esta teria sido estimulada pela alta dos salários. Essa alta dos salários, por sua vez,

resultara ou da extensão da legislação de proteção social ao trabalhador rural (salário

mínimo, férias remuneradas, etc.) ou da escassez relativa de mão-de-obra provocada pelo

êxodo rural. Esta abordagem privilegia a instância microeconômica, os agentes produtivos

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DETERMINANTES DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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do setor agrícola tomam a iniciativa nesse processo em função de fatores adversos que

afetam as margens de lucro.

Para ROMEIRO (1998) os principais fatores que contribuíram para as mudanças

dos métodos de produção podem ser reunidos em duas hipóteses: A primeira é que os

agentes produtivos no setor agrícola não foram induzidos a se modernizar, mas agiram

principalmente em função de seus próprios interesses na busca de soluções para os

problemas concretos de cada unidade produtiva. A segunda hipótese é a de que os

aumentos dos preços dos fatores de produção não foram importantes como fator de

estímulo à mudança tecnológica; em especial, o aumento de custo do trabalho não decorreu

do aumento dos salários, mas principalmente da redução da qualidade da mão-de-obra.

Em pesquisa feita no Paraná, através de um questionário complementar anexo

àquele destinado a avaliar o rendimento médio das principais culturas do Estado,

promovido pela fundação IBGE, os motivos citados para inovar, segundo ROMEIRO

(1998: 220) foram:

- Em primeiro lugar, atribuídos ao aumento da produtividade da terra;

- Em segundo lugar, atribuídos ao aumento da produtividade da terra, somado

com o aconselhamento técnico de agentes extensionistas ou de vendedores de

insumos;

- Em terceiro lugar, atribuídos ao aumento da produtividade da terra mais os

problemas relacionados a mão-de-obra.

Considerando os estratos por área, a produtividade da terra aparece como principal

motivo da adoção de novas tecnologias. A diferença mais significativa entre

estabelecimentos pequenos e grandes é que, para os primeiros, os problemas relacionados

com a mão-de-obra são pouco importantes, visto que nestes predomina o trabalho familiar,

enquanto, para os últimos, estes representam o segundo motivo mais importante para adotar

novas tecnologias.

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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Com relação à mão-de-obra, se analisado por período, a maioria dos

estabelecimentos tem como força de trabalho principal a mão-de-obra familiar. A partir de

1965 ocorre um forte aumento do trabalho temporário e a queda do trabalho permanente,

bem como a inversão dessa tendência a partir de 1980. Sendo o principal motivo apontado

para substituição do trabalho temporário por máquinas foi a redução da qualidade da mão-

de-obra57

, entre 1965 e 1980, e somado à dificuldade de recrutamento divide o lugar de

principal estimulador da mecanização, a partir de 1980.

A criação ou destruição das condições de existência de múltiplas formas de

produção rural é determinada, segundo SHIKI (1996), pelo grau e forma através do qual os

capitais agroindustriais superam limitações da terra e outros fatores naturais que

caracterizam o processo de trabalho rural. Cita ainda que a barreira à acumulação

representada pela terra e natureza biológica do processo produtivo é removida através das

inovações tecnológicas.

O progresso técnico, na opinião de GRAZIANO DA SILVA (1988), tem seu efeito

determinante de transformações da base técnica a partir do momento em que interfere

diretamente sobre o uso da terra. As terras58

são bens naturais relativamente não-

reprodutíveis e limitados em sua disponibilidade física, tanto do ponto de vista quantitativo,

como qualitativo. Assim, um papel fundamental do progresso técnico (tecnologias) na

agricultura é o de “fabricar terras apropriadas” aos ramos de atividade. Para exemplificar

esse efeito, GRAZIANO DA SILVA (1988) cita que, quando adubamos uma certa gleba e

obtemos dela o dobro de produção esperada, é como se tivéssemos fabricado uma outra

parcela equivalente de terras. Cita ainda que, o mesmo ocorre quando damos ração ao gado

57

A problemática da mão-de-obra teve na especialização, segundo Taylor, a forma de ganhar eficiência

(departamentalização), entretanto o ritmo do trabalho, de maneira a integrar a equipe como se fosse uma

orquestra sinfônica, tem em Ford (Fordismo) a solução a partir do princípio da esteira. O momento atual

destrói paradigmas do passado, pois o intenso processo de automação recente permitindo a diminuição da

mão-de-obra, caracteriza a produção flexível (Toyotismo) se apresenta como novidade no presente

(COUTINHO, 1992). 58

Em certas produções industriais, como a de flores, cogumelos e aves, a terra funciona como mero suporte

físico, a semelhança de uma indústria. Nessas condições, a alimentação das plantas e animais são

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DETERMINANTES DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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e conseguimos obter uma produção que necessitaria de uma área de pastos muito maior,

caso não fosse suplementada a sua alimentação.

Portanto, quando se analisa a mudança tecnológica, entende-se que os incentivos

para aquisição de novas tecnologias são econômicos, dessa forma, deixa claro que a

tecnologia que foi desenvolvida e adotada é por que era mais rentável, contribuindo para a

resolução da questão do aumento do valor da terra e/ou eficiência do trabalho. Neste

aspecto SALTER citado por ROMEIRO (1998: 129), afirma claramente que “o empresário

tem interesse na redução global dos custos e não apenas do custo de um fator de produção

isoladamente. Quando o custo do trabalho aumenta, toda inovação que reduza o custo total

é bem-vinda, seja ela poupadora de trabalho ou de capital”.

III. 4 - Políticas Públicas e Financiamento

Neste item é apresentada a participação do Estado como agente integrador e

regulador nos complexos agroindustriais, a sua contribuição para o crescimento da

avicultura através de políticas públicas desde a década de 60 e os financiamentos recentes

com a participação pública no Centro-Oeste.

III. 4. 1 - A Participação do Estado nos Complexos Agroindustriais.

O sistema de crédito patrocinado pelo Estado é quem possibilita a integração, entre

a propriedade territorial, o capital industrial e o “grande capital” em um movimento de

integração de capitais no complexo agroindustrial. Na verdade o agente integrador por

excelência é o Estado quando assume o papel de “grande capitalista” financeiro.

Para DELGADO (1985), o CAI brasileiro opera como se estivesse totalmente

integrado verticalmente, com uma cabeça financeira que é o próprio Estado. A unidade

artificialmente fabricadas, bem como o próprio espaço físico, na medida em que é possível sucessivos andares

sobre o mesmo substrato (GRAZIANO DA SILVA, 1988)

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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analítica que deriva daí não é a dos ramos de atividade nem a das cadeias produtivas, mas

sim a dos próprios grupos econômicos de capitais integrados. O Estado aparece como o

regulador desses grupos de capitais, administrando os financiamentos, redirecionando esses

capitais para distintos ramos através de penalizações/incentivos, etc. O Estado59

fica acima

dos interesses dos capitais particulares, administrando a competição intercapitalista.

O espaço do mercado para a consolidação do complexo agroindustrial só foi

possível graças a uma política expansionista, que aumentou a demanda por insumos

modernos. O principal mecanismo de articulação do Estado para atender os interesses

agroindustriais foi a concessão de crédito a taxas de juros negativas, além de outras

condições, favoráveis de financiamento (prazos e carências elásticas). No ramo da pecuária,

as industrias frigoríficas, de laticínios e avicultura (ramos caracterizados por maior

concentração e integração de capitais) são, de longe, os grandes beneficiários do crédito de

comercialização rural.

Nas palavras de DELGADO (1985: 87) “a própria política de garantia de preços

mínimos, que isoladamente compreende mais de 40% do crédito de comercialização

agrícola, atingindo 65% em 1982, está também fortemente vinculado ao critério de

integração de capitais, para efeito de acesso aos seus benefícios”. Conforme apresentado na

Tabela 15, quase todo o crédito de comercialização rural, concedido no período de 1977 a

1980, foi direcionado aos setores capitalistas de alta integração de capitais, como, como as

cooperativas e principalmente as agroindústrias.

59

Um dos efeitos negativos do Estado que dificulta o progresso técnico na agricultura é o próprio capital, em

função da contradição entre a necessidade de garantir apropriação privada dos seus benefícios. Isso faz com

que as pesquisas biológicas nos países capitalistas sejam públicas ou de associações de empresas e raramente

dos capitalistas tomados individualmente. Para GRAZIANO DA SILVA (1988), isso ocorre pelo fato de

exigirem grandes investimentos e prazos relativamente longos para os retornos desejados, ou seja, porque é

muito difícil a apropriação privada desses resultados por capitais individuais. Constitui exemplo bem

sucedido de apropriação o milho híbrido que tem suas sementes adquiridas anualmente pelo agricultor, já que

a utilização de sementes produzidas na fazenda por gerações sucessivas leva à perda do vigor inicial. Um caso

semelhante ocorre na avicultura, onde as matrizes de alta linhagem necessitam de tal sofisticação para serem

reproduzidas, que esses métodos passam a constituir um segredo, ou a patente daquela raça. Alguns países

europeus e os Estados Unidos já possuem até mesmo uma legislação de proteção aos cultivares ou lei de

patentes vegetais, que estabelece que toda nova variedade obtida por meio de pesquisa somente pode ser

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DETERMINANTES DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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TABELA 15 – Participação % dos Principais Clientes nos Financiamentos

Concedidos pela Política de Preços Mínimos no Brasil. Safras Produtores individuais Cooperativas de

Produtores rurais

Agroindústrias comércio

e outros

1977-78 13,3 21,9 64,8

1978-79 4,8 22,5 72,7

1979-80 7,8 23,0 69,2

Fonte: DELGADO (1985).

Dessa forma a reunião do conjunto de mudanças e inovações sintetizadas pelo

desenvolvimento do sistema de crédito, a consolidação do complexo agroindustrial60

, o

surgimento das formas específicas de conglomeração de capitais na agricultura e,

finalmente, a transformação do mercado de terras num ramo especial do mercado

financeiro estão fortemente imbricadas com o desenvolvimento da regulação estatal da

economia rural.

Portanto, o Estado se apresenta como o grande integrador e regulador da economia,

um exemplo disso pode ser percebido pela concessão de créditos a taxas de juros negativas

e as políticas de garantia de preços mínimos que favoreceram o dinamismo dos complexos

agroindustriais.

III. 4. 2 - Políticas Públicas que Beneficiaram a Avicultura

A presença do setor público na atividade avícola pode ser constatada em várias

épocas e sobre vários aspectos, incluindo incentivos via pesquisa, financiamentos e

políticas públicas para o setor, desde a década de 60.

multiplicada ou comercializada pelo seu criador, entendido este como o que tenha registrado a sua patente

(GRAZIANO DA SILVA, 1981). 60

No seio do complexo não coexistem, portanto, apenas os agricultores, as firmas, os comerciantes, mas

também forças intelectuais: a pesquisa, as agencias de divulgação de técnicas ou a publicidade e o crédito.

Nessa concepção, o Estado não é apenas o lócus onde essas diferentes forças se confrontam e se aliam, mas

também um ator mais ou menos forte na configuração e na polarização dos interesses que se organizam.

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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Para SORJ et alli (1982), a avicultura industrial é um setor inexplicável se for

abstraída do componente Estado, já que ao recriar as condições sócio-econômicas para a

acumulação, o Estado cria também as condições para a associação ou a articulação com o

capital externo e para o avanço no sentido de centralização e dinamização do moderno

capital. Citam, ainda, que o complexo avícola brasileiro teve a sua expansão apoiada no

crédito público subsidiado que permitiu o ingresso, no setor, dos mais variados tipos de

produtores. Mais especificamente em dois grandes tipos de produtores rurais avícolas, as

unidades produtivas familiares de pequeno e médio porte e as grandes empresas, fundadas

no trabalho assalariado

Em 1965, o Governo Federal, inicia sua participação no complexo avícola,

publicando o decreto no 55.981 de 22 de abril, proibindo a importação de matrizes a partir

de 1968 e instalando o plano de melhoramento de aves de postura e corte, no Instituto de

Pesquisas Agropecuárias do Centro Sul61

, a partir de tal decreto deixou-se de importar

matrizes, que passaram a ser produzidas internamente, em conseqüência, o setor avícola

especializou-se em granjas de aves “avós” de matrizes e de produção final.

Para GODOY (1999), o efeito positivo desse decreto do governo foi a limitação da

entrada no país, somente de pintos e/ou ovos férteis das linhagens “avós”. Resultado ou não

de lobbies de multinacionais da avicultura, a medida não só ordenou o desenvolvimento da

atividade, mas também trouxe para cá a mais moderna tecnologia então disponível para

produção de matrizes (multinacionais aqui presentes precisavam assegurar-se de que seu

produto atingiria os melhores índices de produtividade; daí a transferência dessa

tecnologia).

Na década de 1970 o governo implanta a federalização nos abatedouros. Uma

medida que, embora abrangendo abatedouros de aves, bovinos ou suínos, levou a indústria

avícola a buscar novas tecnologias também para o processamento. Isso contribuiu para

61

Onde segundo GIANNONI&GIANNONI (1983), ocorreram os primeiros e únicos “testes de amostragem

ao acaso” para frangos de corte.

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colocar o setor de vez à frente dos demais segmentos produtores de carnes. É nessa mesma

década (1975) que o setor iniciou as exportações de carne de frango, e a necessidade de

atender às exigências dos países importadores impulsionou ainda mais o avanço

tecnológico da atividade.

Na década de 1980 sob a égide do congelamento geral de preços do Plano Cruzado

(1986, do presidente José Sarney), os governos (federal, estaduais e municipais) saem “à

caça do boi no pasto”. Mas a “caça” foi infrutífera e os meios de comunicação se

incumbiram de criar uma verdadeira aversão aos pecuaristas e ao seu produto, direcionando

o consumidor para o frango. Começou a firmar-se, então, a definitiva modificação de

hábitos dos brasileiros, da carne bovina para o frango62

.

Na década de 1990 o presidente Fernando Henrique Cardoso faz do frango o garoto-

propaganda (“âncora”) do Plano Real, lançado em 1994 por seu antecessor, Itamar Franco.

Posteriormente, a avicultura reconheceria que essa opção pelo frango foi negativa, pois

estigmatizou o produto como a “carne de 1 real”, impedindo que tivesse os necessários

ajustes de preço no decorrer do tempo. Ainda assim, é inegável que essa “eleição”

favoreceu a avicultura, na medida em que gerou, em toda a mídia brasileira, uma ampla

campanha de divulgação do frango, algo que até hoje o próprio setor foi incapaz de realizar.

Com ela, enraizou-se ainda mais o hábito de consumo do frango, a ponto de ser considerada

a proteína mais democrática do país, já que está presente sem muitas diferenças na mesa

dos ricos e pobres (IBGE, 1999).

Portanto a presença do Estado beneficiando a avicultura pôde ser percebida: através

da proibição da importação de matrizes, internalizando parte da produção genética do

frango na década de 60, federalizando o abate, levando os abatedouros a buscarem novas

62

É interessante observar que, naquela época, de certa forma desmoralizado com o desaparecimento do boi

que, assim, não se sujeitou ao congelamento de preços, o governo federal convocou a avicultura para

preencher a lacuna existente e assegurar o abastecimento de carnes do País. E a avicultura se ampliou. Só que,

quando a expansão da produção chegou ao “ponto de maturação”, o Plano Cruzado já havia acabado. Como

resultado, a avicultura amargou, em 1988, a perda de uma produção da ordem de 500 milhões de pintos de

corte (GODOY, 1999).

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tecnologias, permitindo inclusive a exportação a partir desta época, já que foram atendidas

as exigências dos países importadores e nas duas últimas décadas onde o frango recebeu

grande impulso do governo ora pela propaganda negativa contra os bovinos na década de

80 ou pelo rótulo de carne de 1 real na década de 90.

III. 4. 3 - Financiamentos Recentes para a Avicultura

Observa-se, em momento recente, a mudança da localização dos novos

investimentos na área da avicultura de corte. O Centro-Oeste tem sido a região que mais

tem recebido empresas nessa área. A respeito deste aspecto HELFAND & RESENDE

(1998) citam que as políticas públicas nesta região estão favorecendo os investimentos. O

FCO63

(Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste) beneficia investimentos

nesta região relativamente ao Sul (local onde tradicionalmente estão os grandes

investimentos avícolas). Incentivos ficais em nível estadual estão, também, induzindo as

empresas a se expandirem nesta direção. Além dos incentivos, a mudança para o Centro-

Oeste permite às grandes empresas começarem do zero no redesenho das instituições de

integração e tem a vantagem adicional de evitar custo de relocalização do que poderia ser

um processo penoso, e politicamente explosivo, de ajustamento no Sul.

ORTEGA (2000) cita que os governos dos Estados de Mato Grosso do Sul, Goiás e

o do Distrito Federal têm atuado mais agressivamente na atração de empresas, a partir de

incentivos fiscais. Mato Grosso do Sul por exemplo atualmente oferece 67% de isenção de

ICMS por até 15 anos, prorrogável por outros 15 anos e, para o período posterior, existe

uma previsão de financiamento de parte do ICMS, a partir de regulamentação a ser

elaborada. Mesmo com as isenções dessa política já houve um aumento da arrecadação de

ICMS de 40%, entre 1998 e 1999, devido principalmente ao combate da sonegação.

63

O FCO (Fundo Constitucional de Financiamento do Centro Oeste), foi o responsável pelo desenvolvimento

da avicultura de corte, com recursos subsidiados, na região de Dourados - MS (SHIKI,1996).

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DETERMINANTES DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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Em Goiás, o incentivo fica por conta do financiamento de 70% do ICMS por 15

anos, com prazo de 15 anos para pagamento, a juros de 2,4% a.a., sem atualização

monetária. O mesmo incentivo é concedido no Distrito Federal. No caso específico da

instalação do complexo agroindustrial da Perdigão em Rio Verde (Projeto Buriti), a

implantação teve a sua atratividade baseada na concessão, pelo Estado de Goiás, do

diferimento do ICMS para atrair o investimento, em detrimento do Estado de Minas Gerais.

Como têm acontecido, nos últimos anos, os Governos de Minas Gerais e Goiás

envolveram-se em uma acirrada guerra fiscal, para atrair este empreendimento. Embora não

fosse um fator imprescindível, pesou bastante na decisão final da Perdigão, o diferimento

do ICMS concedido por Goiás. Todavia o que realmente teve maior relevância foi a

possibilidade de utilização de financiamento com utilização de recursos do Fundo

Constitucional do Centro-Oeste (FCO) a taxas de juros reduzidas como incentivo de

desenvolvimento da região Centro-Oeste, fator inexistente no Estado de Minas.

O projeto Buriti da Perdigão em Rio Verde consiste na implantação de um sistema

completo de integração avícola e suinícola envolvendo um investimento de US$ 300

milhões. O empreendimento é constituído por:

- Um frigorífico de aves com capacidade para abater 281 mil cabeças/dia;

- Um frigorífico de suínos para 3.500 cabeças/dia;

- Uma fábrica de rações para 60.000 t/mês;

- Duas granjas de matrizes de aves (1.738.000 ovos/semana);

- Um incubatório de aves (1.460.000 pintos/semana); e

- 834 módulos de integração (aves e suínos). Cada galpão de frangos de corte terá a

capacidade de alojar 24 mil aves64

.

No estado do Tocantins, além da possibilidade de financiamento através dos

recursos da Sudam e do FCO, existe o Programa de Incentivo ao Desenvolvimento

Econômico do Estado do Tocantins (Prosperar), com recursos do ICMS, que é liberado em

64

Sendo recomendado no mínimo 4 galpões de por propriedade em função da viabilidade para o integrado.

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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70% do recolhimento mensal para implantação de novos projetos e 50% no caso de

expansão de projetos.

Os principais projetos em instalação no Estado são os seguintes: Da Brazialian

Chicken Alimentos, que em Porto Nacional está investindo US$ 45 milhões num

abatedouro para 140 mil frangos/dia a partir de 2001, com aves produzidas por 300

integrados. Toda a produção será dirigida à empresa italiana Gramilini SPA. Outro

empreendimento importante é o do Grupo Asa Alimentos, de Brasília, que está investindo

R$ 1 milhão para duplicar sua capacidade de 60 mil frangos/dia na planta de Paraíso de

Tocantins e instalando um abatedouro com capacidade para abater 150 mil frangos/dia no

município de Aguiarnópolis, na divisa com Maranhão, com a integração de 60 pequenos

produtores. Esses projetos contam, ainda, com a ampliação recente da produção de soja e

milho no estado, para utilização como matéria prima na produção de ração (ORTEGA,

2000: 15).

As mesmas forças econômicas (preços relativos) que induzem as mudanças técnicas

tendem a induzir também as mudanças institucionais necessárias para viabilizar a

introdução das novas técnicas. Do mesmo modo, as respectivas ofertas de inovações

técnicas e de inovações institucionais são geradas por forças similares: os avanços nos

conhecimentos científicos em geral

Portanto, os governos dos Estados de Mato Grasso do Sul, Goiás e do Distrito

Federal têm sido mais agressivos na atração de empresas a partir de incentivos fiscais e a

existência de recursos do FCO, a taxas de juros reduzidas para o desenvolvimento do

Centro-Oeste.

III. 5 - Conclusão

Em resumo, as transformações da base técnica podem ser explicadas sob a

inspiração de GRAZIANO DA SILVA pela desagregação do complexo rural e formação

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DETERMINANTES DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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dos complexos agroindustriais, ou seja, uma estrutura com características auto-suficientes é

substituída por outra ligada a jusante e a montante a indústria. Para GOODMAN o

apropriacionismo e substitucionismo industrial foram os responsáveis pelas modificações

ocorridas no campo; ele se baseia na tese de que a indústria se apropria das atividades do

campo através do desenvolvimento tecnológico, substituindo com eficiência atividades, que

no caso da avicultura, se concentram na área da genética, nutrição e mecânica. Esse

processo é tão intenso que sobrou para o campo apenas a criação do frango (por isso a

apropriação é dita parcial). Questões ligadas à terra e ao trabalho para ROMEIRO explicam

o que ocorreu no campo. Segundo o autor, a economia de terra, devido o seu custo, com a

aplicação de tecnologia aumentando a produtividade e à economia da mão-de-obra, devido

também ao custo e a baixa eficiência humana, tem justificado as modificações poupadoras

de terra e trabalho. Cita ainda que existe um ambiente de crise agrícola, não apenas pelo

desequilíbrio entre a oferta e procura, mas pela diminuição da flexibilidade de ajuste face às

pressões que tendem a comprimir a renda do agricultor, seja pelo lado da demanda

(tendência à queda dos preços), seja pelo lado da oferta (tendência à elevação dos custos

devido à degradação do ecossistema agrícola).

Em vários momentos o Estado, também, foi um dos elementos que contribuiu para o

desenvolvimento da avicultura industrial, seja pela regulamentação da importação de

pintinhos avozeiros, seja por financiamento, pela pesquisa através de instituições de

pesquisa e universidades, políticas públicas beneficiando o setor, utilização do frango como

garoto propaganda do plano real e participação atual no financiamento de novas unidades

produtivas de frangos de corte no Centro-Oeste

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CAPÍTULO IV

IMPACTOS DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

Este capítulo apresenta os impactos identificados pelas transformações da base

técnica. Foram identificados impactos: na relação capital X trabalho, na utilização de

propriedades com mão-de-obra familiar, na especialização da produção, na geração de

empregos e na localização das granjas. Apresenta também um item de impactos previstos

para Rio Verde conforme Estudo de Impacto Ambiental e Relatório Impacto ao Meio

Ambiente (EIA-RIMA) aprovado pela FEMAGO65

.

IV. 1 - Relação Capital x Trabalho

A relação capital x trabalho na avicultura de corte se estabelece na forma de três

sistemas de produção, são eles: a produção independente, o cooperativo e a integração

(parceria).

IV. 1. 1 - Sistema de “Produção Independente”

O sistema de produção independente é aquele onde o produtor é responsável por

todo o processo de produção do frango, toda e qualquer decisão tendo caráter pessoal. Os

riscos envolvidos na produção e comercialização são de inteira responsabilidade de tal

produtor. Devido às características próprias de tal sistema, ele é mais encontrado nas

proximidades de cidades pequenas e médias. Os criadores independentes produtores de

frango de corte nem sempre possuem abatedouros e frigoríficos, já que essa atividade

65

Fundação Estadual do Meio Ambiente de Goiás.

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IMPACTOS DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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significa um grande investimento, impondo dificuldades aos pecuaristas em integrar toda a

sua produção. Raros são os casos em que criadores independentes conseguem esse grau de

verticalização, desde a produção da ração até o abate (ORTEGA,1988).

São os criadores independentes produtores de ovos que mais comumente

conseguem integrar sua produção, mesmo porque os investimentos com separação e

embalagem dos ovos são bem menores que com instalação de abatedores. Para os criadores

que vendem sua produção, seja para abate, seja para selecionadores, embaladores e

distribuidores de ovos, sua independência está restrita ao não-controle de sua produção por

uma integração e estão menos subordinados à indústria a montante da agricultura caso

produzam sua própria ração. Entretanto, sua subordinação se faz junto às indústrias à

jusante, no caso os abatedouros ou comercializadores de ovos. Portanto estão apenas

parcialmente verticalizados.

Para GODOY (2000) este sistema de produção, apesar de ter diminuído bastante,

não desaparecerá. Para ele existe muito espaço disponível, principalmente em áreas não

exploradas pela grande indústria, sem mencionar outras potencialidades como a crescente

busca por alimentos naturalmente produzidos, atendendo demanda específica, que

poderiam ser direcionados a pequenos e médios produtores, sem o compromisso de manter

seu mercado mediante volume produzido.

IV. 1. 2 - Sistema de Produção “Cooperativo”

O sistema cooperativo é aquele onde o criador participa da organização e das

decisões, correndo os riscos de um eventual fracasso comercial das operações. A

cooperativa muitas vezes produz os seus insumos, como pintinhos e rações, consumidos

dentro do próprio sistema, estes são repassados aos cooperados pelo custo de produção. No

final do ciclo do lote, os frangos têm, agregado aos insumos, as demais despesas do lote

(aquecimento, cama, mão-de-obra do cooperado, etc.). As despesas administrativas,

técnicas e operacionais também são agregadas ao custo e rateadas entre o total de frangos

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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produzidos. Os lucros obtidos podem ser destinados a novos investimentos pela

cooperativa, com distribuição de quotas entre os cooperados; ou mantidos em reserva, para

aplicação no mercado financeiro; ou finalmente, distribuídos entre os cooperados, com

dividendos proporcionais às quotas de participação (COTTA, 1997).

A produção por parte das cooperativas, em função da necessidade de centralizar a

produção e competir com grupos privados, possibilidade de garantir escoamento da

produção, sobrevivência com atuação característica de grande empresa capitalista, atuação

distanciada do conjunto dos associados e encastelamento de um grupo dirigente no poder,

agindo de formas a garantir interesses próprios, para ORTEGA (1988), acaba justificando

sua inclusão no mesmo item da produção integrada. De maneira que apresentando um

comportamento semelhante ao de uma empresa privada, as vantagens apresentadas pelas

cooperativas são também semelhantes às apresentadas pela integração privada

A diferença básica entre o sistema cooperativo e o sistema privado de integração,

está na participação do produtor na construção do capital social da empresa e no processo

de decisão dos destinos da cooperativa. Quanto ao futuro deste sistema, COUTINHO

(1995) sublinha que haverá necessidade de uma grande transformação no cooperativismo

de produção, dessa forma o aumento da competitividade num ambiente econômico cada

vez mais liberal vai direcionar as cooperativas a reverem diversos pontos de sua doutrina.

Neste aspecto ORTEGA (2000) cita que essa forma de produção vem sendo muito

desacreditada nos últimos anos e sugere que devem ser procuradas novas formas de

associação66

para os pequenos e médios produtores ganharem competitividade.

IV. 1. 3 - Sistema de Produção por “Integração”

O sistema integração na avicultura, consiste em incorporar à atividade principal de

uma empresa, todas aquelas outras que a ela se ligam no ciclo de produção do frango

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IMPACTOS DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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abatido. O contrato de integração é feito principalmente entre empresas que se

complementam no processo produtivo. De um modo geral, a empresa maior (integradora)

fornece o material de base, ou seja os pintinhos de um dia, a ração, os medicamentos, as

vacinas e desinfetantes, a assistência técnica, além de se encarregar do transporte, do abate

e da comercialização. Enquanto o criador67

(integrado) aporta as suas instalações,

equipamentos, aquecimento, forração do galpão (cama) e o seu trabalho. No final do ciclo,

o lote é retirado pelo abatedouro (faz parte da integradora), o qual se encarrega da

comercialização do frango e o integrado recebe uma remuneração68

pela criação das aves

(COTTA, 1997).

Este sistema é regido por um contrato de integração feito entre as partes

interessadas, contendo os direitos e deveres recíprocos. Ele apresenta cláusulas gerais e

muitas vezes mal definidas, não se confundindo, entretanto com um simples contrato de

fornecimento, tendo por única cláusula um preço combinado (COTTA, 1997).

66

Uma alternativa sugerida por ORTEGA (2000) é a utilização, via associação em condomínios, de um selo

de garantia e marca, com o marketing destacando as qualidades do frango, por exemplo: frango sem

antibióticos, hormônios e alimentado com ração que não utiliza produtos transgênicos como matéria prima. 67

As integrações no Sul têm incentivado os seus integrados a cultivarem algum produto que seja matéria-

prima na composição da ração utilizada na criação. O milho é o produto preferencial, caso o integrado tenha

um misturador a integração lhe fornece o concentrado ao qual se adiciona o milho. Não possuindo o

equipamento, a firma integradora pode comprar sua produção de milho, resolvendo parte do seu problema na

aquisição de matéria-prima, fundamental na produção de rações balanceadas e que tem apresentado

problemas de oferta, mesmo porque sua produção não tem acompanhado o aumento da demanda. Essa

condição é imposta pela firma integradora, para que o produtor tenha uma renda adicional além da criação, o

que lhe permite pagar menos pela sua matéria-prima, sem com isso “não matar sua galinha dos de ovos de

ouro”. No Centro-Oeste as integrações pesquisadas oferecem a ração entregue pronta para o integrado não

existindo nenhuma relação entre ser integrado e produção de grãos, isso foi constatado na frango Gale em

Jataí e na Perdigão em Rio Verde.. 68

A remuneração é definida através do uso de um indicador de eficiência da produção, o Fator Europeu de

Produção, que assim se expressa:

(peso médio x viabilidade) x 100

__________________________

idade de abate

FEEP= __________________________

conversão alimentar

Existem outras formas de parceria em que o fornecimento dos insumos é computado como venda vinculada

cuja fatura é debitada numa conta sujeita a correção monetária e saldada no momento da venda ou entrega do

frango gordo ao abatedouro, ou da liquidação do lote (SHIKI, 1999).

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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Cita ainda que o criador de frangos encontra neste tipo de contrato com a indústria,

vantagens importantes. Entre elas se tem a garantia do escoamento da produção, facilidades

de crédito sem recorrer ao sistema bancário, uma indispensável assistência técnica, além da

certeza de uma renda no final da criação. Entretanto, ele apresenta o inconveniente de

tornar o produtor dependente da indústria integradora, economicamente mais forte.

Para GRAZIANO DA SILVA citado por SHIKI (1996), o contrato de integração na

avicultura surge como modelo de relacionamento entre a indústria e os pequenos

agricultores familiares, e teoricamente critica a idéia de subordinação69

do agricultor à

agroindústria que o transforma em um verdadeiro trabalhador a domicílio. O argumento

para essa crítica está na autonomia do agricultor familiar em organizar o processo de

trabalho, diferentemente dos assalariados, pois o ritmo do trabalho seria determinado não

pelo patrão ou pela máquina programada, mas pelas necessidades biológicas do próprio

processo produtivo. Neste sentido BERNSTEIN também citado por SHIKI (1996), sublinha

que não são uma classe de explorados desde que suas condições gerais de reprodução são

as mesmas que regulam as empresas capitalistas. Mesmo assim, em virtude de suas

debilidades, são sujeitos a todas as formas de extorsões e pressões por capitais diversos e

pelo Estado.

O contrato de integração é normalmente individual, podendo, ser celebrado

coletivamente, entre vários produtores interessados. Ele é um ato jurídico misto, ou seja

civil e comercial, devendo conter certas cláusulas que ofereçam maiores garantias ao

produtor, que deve ter pelo menos a certeza de uma renda mínima. A renovação do contrato

69

As formas para se definir o pecuarista variam conforme o autor considerado, entretanto todos concordam

que ele invariavelmente é um pequeno criador. Para MILLER é um trabalhador em domicílio; para

WANDERLEY é um trabalhador para o capital; para GRAZIANO DA SILVA é um produtor tecnificado

(autores citados por ORTEGA, 1988: 111) e na linguagem popular da avicultura, nas grandes empresas desse

setor, assim como em Rio Verde Goiás onde a Perdigão esta se instalando utiliza-se a expressão “integrado”.

Para PAULILO (1990), do produtor integrado fala-se apenas como “o explorado”, “o subordinado”, enfim

como o lado passivo, sem que haja uma preocupação maior com o que esses agricultores pensam de si

mesmos e das empresas, com opções que eles possam ter, mesmo que reduzidas, e com o lugar que a relação

de integração ocupa em seu mundo.

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IMPACTOS DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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pode ser feita tacitamente, o rompimento, mediante aviso prévio, não dá lugar a nenhuma

indenização.

A empresa integradora deve se responsabilizar pela boa qualidade dos serviços

prestados e dos insumos fornecidos, assim como pela retirada dos lotes combinados. O

integrado tem o dever de executar os trabalhos segundo as condições previstas, de se

abastecer de insumos junto à integradora, de aceitar a assistência técnica, etc.

No início do processo, para SORJ citado por SHIKI (1996), o sistema consistia

numa estrutura composta pela indústria de rações e uma constelação de produtores

“independentes” de frango. A partir de 1961 surge o sistema integração importado do

Estados Unidos, este sistema cresce bastante a ponto em 1980 representar 35% da produção

nacional e desta data até 2000 dobra a participação, sendo atualmente responsável por 70%

do frango produzido no Brasil70

.

Comparando os três sistemas de produção, a participação da produção independente

deverá ser menor e restrita a áreas não exploradas pela grande indústria, o sistema

cooperativo bastante desacreditado atualmente também deverá diminuir a sua participação

em função de não suportar a concorrência do sistema integração. Para GODOY (2000) a

produção na forma de integração deverá ser ainda maior por apresentar a competitividade

necessária pela avicultura em ambiente globalizado.

IV. 2 - Pequena Propriedade e Mão-de-Obra Familiar

Na avicultura nacional, as experiências consideradas mais bem sucedidas de

integração entre agroindústria e avicultura são aquelas em que os avicultores constituem-se

de pequenos produtores familiares. Através desse modelo de integração, os contratos de

parceria têm dado à cadeia produtiva da avicultura, a partir de uma base tecnológica

70

Na região Sul, mais de 80% da produção de frango é feita pelo sistema integração.

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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desenvolvida, grande competitividade para enfrentar a concorrência de multinacionais

americanas e européias, no cenário internacional (ORTEGA, 2000).

Com relação a este aspecto observa-se que é uma atividade explorada

principalmente pela pequena propriedade71

. Em Videira-SC, por exemplo, terra natal da

grande empresa integradora Perdigão, 94% das propriedades rurais tem áreas menores que

50 ha. A esse respeito, SOUZA (1997) cita que ocorreu uma crescente expansão do

capitalismo nas grandes propriedades, através de uma progressiva agroindustrialização e

uma reversão da penetração do capitalismo em terras com tamanho médio de cerca de 20

hectares. Foi o que ocorreu na Europa e nos EUA, essas propriedades são geridas por mão-

de-obra familiar. NAKANO citado por SOUZA (1997), explica que os baixos lucros,

inviabilizam a empresa capitalista. Contudo, tornam possível a produção familiar, em que

as receitas totais apenas cobrem os custos, incluindo a remuneração da família, a educação

e um fundo de capitalização da atividade.

Para MATOS (1996a), dentre as razões que explicam a decisão de terceirizar a

criação de frangos, estão, em primeiro lugar, uma demanda dos próprios produtores rurais

pela instalação de aviários na propriedade e a empresa aproveita essa necessidade para

impor seus requisitos e obter aves mais padronizadas e, em segundo lugar, a existência de

um grande contingente de pequenos produtores familiares na região com elevado

compromisso por esta atividade. Pelo lado da agroprocessadora, há uma economia de

recursos ao evitar os investimentos em infra-estrutura de criação e em áreas territoriais”,

ocorrendo ainda a diluição dos riscos de produção.

Dentre as estratégias desenvolvidas pelas empresas integradoras, MATOS (1996a)

cita que existe uma seleção72

disfarçada dos interessados na atividade, uma vez que elas

procuram priorizar o pequeno proprietário rural, cujo processo produtivo apoia-se na mão-

71

Entretanto os investimentos mais recentes têm privilegiado propriedades maiores que aquelas inicialmente

utilizadas, devido as garantias necessárias aos financiamentos de galpões de maior porte. 72

O critério das integradoras para escolherem seus integrados era um grande número de membros da família

no trabalho de criação, pois somente a atenção integral e dedicada do criador viabilizaria a atividade.

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IMPACTOS DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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de-obra familiar devido à maior atenção e dedicação aos lotes. Nesses módulos, é muito

mais fácil a aceitação da diversificação da produção segundo um padrão sistêmico em que

as atividades desenvolvidas estão articuladas entre si e produzem uma renda complementar

ao produtor.

Para ORTEGA (1988: 112) a preocupação da firma integradora quando selecionava

as pequenas e médias propriedades era que fossem capazes de sustentar uma família sem

ser necessária a utilização de mão-de-obra assalariada de maneira substancial. A

justificativa das integrações ao selecionar os criadores era de que os assalariados, sem

“tradição” na criação animal e sem interesse pelo bom desenvolvimento dos animais, “não

teriam a dedicação que a produção animal requer”. Entretanto a utilização de mão-de-obra

familiar reduz os custos produção ainda mais, colaborando dessa maneira para o êxito da

atividade criatória.

SHIKI (1999: 162) também concorda que as empresas do Sul do país selecionavam

as propriedades em que tinham abundante trabalho familiar. Cita ainda que, para o filho ou

filha que casa, o aviário representa uma parte da herança e um emprego mantido na mesma

exploração, dessa forma a avicultura representa uma alternativa a reprodução da agricultura

familiar de pequenos agricultores, criando uma outra exploração familiar sem ter que

comprar mais terra. Todavia, a explicação para a restrição ao assalariamento parece estar

relacionada ao fato da propriedade não atingir um tamanho mínimo para suportar a despesa

de funcionários e o fato do trabalho ser leve porém contínuo, com vigilância 24 horas por

dia, incluindo domingos e feriados. Segundo SHIKI é uma verdadeira prisão domiciliar

durante todo o ciclo do frango, os poucos momentos de folga ficam muito ao sabor da

natureza ou das condições climáticas. Uma outra questão a ser considerada é que, entre

explorações menores ocorre o assalariamento, mas, nas propriedades dos profissionais

liberais com emprego urbano, pequenos comerciantes, industriais e funcionários públicos

que se dedicam a avicultura como atividade complementar de renda.

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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Nesse sentido SORJ et alli (1982: 112) concluem que a questão básica não é sua

subordinação ao capital industrial, mas a possibilidade e ameaça presente de sua exclusão

definitiva das mínimas condições de produção representada fundamentalmente pela ameaça

da perda total da terra que se constitui no principal meio de produção numa agricultura

desse tipo. Por outro lado, citam que “...para os produtores em bases familiares, a

integração não se apresenta de imediato em seu aspecto de exploração, posto que esses

produtores sempre estiveram subordinados ao capital comercial tradicional, e por isso, sua

integração e subordinação ao moderno capital industrial-financeiro se apresenta de imediato

como a possibilidade de desenvolvimento da produção, através do desenvolvimento

tecnológico e da melhoria das condições de realização da produção. Em outras palavras, e a

grosso modo, a espoliação na compra da produção pelo capital industrial-financeiro é mais

sistemática e previsível e menos espoliativa que o capital comercial tradicional, pelo menos

em sua manifestação, além de estar mais estritamente vinculada à coordenação e mediação

do Estado”.

Os limites da integração são impactados por dois fatores segundo SORJ et alli

(1982: 112). Sublinham eles que a capacidade de resistência do produtor rural e os limites

objetivos que este apresenta a certos níveis de concentração da produção, tem no primeiro

caso a capacidade de resistência (organizada ou não) que o produtor familiar pode opor à

integradora, seja se retirando, seja exigindo maiores margens de ingresso, levando a

empresa a optar pela integração vertical. No segundo, a integração se imporia porque os

ganhos de escala que ela permitiria seriam superiores às vantagens do uso da integração de

produtores familiares. Contra para eles, existiriam, as imobilizações necessárias de terra e

capital fixo e as perdas de produtividade pelo uso de trabalho assalariado frente à

responsabilidade individual e ao autocontrole da produção familiar.

Este padrão de produção, baseado na utilização de pequena propriedade e mão-de-

obra familiar, está sendo substituído por outro padrão, baseado em médias e grandes

propriedades com mão-de-obra assalariada. Um exemplo disso é o modelo que vem se

consolidando no Brasil Central, baseado na constituição de grandes projetos de integração,

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IMPACTOS DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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com verticalização completa ou a participação de criadores, modificando a imagem que

antes prevalecia, sobre a participação dos pequenos agricultores. Esse novo modelo de

integração, com base nos grandes criadores, por um lado reduz o espaço para a atividade da

agricultura familiar, ou deixa-a ainda mais na “marginalidade” do mercado; por outro lado,

introduz a mão-de-obra assalariada, até então um tabu, particularmente no setor avícola.

Portanto, o impacto atual da mudança no padrão de produção de frango de corte

sobre a utilização da pequena propriedade com mão-de-obra familiar foi a sua exclusão do

processo de produção e a emergência da utilização de médias e grandes propriedades com a

utilização de mão-de-obra assalariada.

IV. 3 - Especialização da Produção

A integração na avicultura de corte promoveu uma absorção e subordinação da

pequena propriedade rural a empresa integradora, de forma que a relação entre integrado e

integradora, foi de um lado, responsável pela propagação da elevada especialização técnica

que passou a caracterizar a criação intensiva e, de outro lado restringiu a liberdade dos

criadores quanto ao fornecimento de matérias primas, como insumos ao comprador de sua

produção (ORTEGA, 1988).

O impacto do desenvolvimento tecnológico sobre a especialização, nas palavras de

LIMA (1984:176), está na subordinação total de granjas de engorda à indústria, permitindo

uma velocidade muito maior de difusão do progresso técnico, já que a penalização

(exclusão da integração) pela não adaptação a novos padrões de especialização da produção

passa a ser muito mais rápida e contundente do que o mercado o tem feito tradicionalmente.

Também os mecanismos de verificação e correção dos erros e indução de novos padrões

passam a ser muito mais eficazes.

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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100

Esse aspecto também é ressaltado por SHIKI (1999: 162). Para ele o domínio

tecnológico requer um constante aprendizado. Por isso é que entre os avicultores existe uma

intensa troca de informações sobre o manejo, principalmente considerando que “cada lote é

uma história”. A questão é levada tão a sério que, alguns avicultores chegam a manifestar

que o criador precisa “sentir” o frango, no que se refere a dificuldades de respirar, se estão

crescendo bem, momento de intervir estimulando o consumo de ração, etc.

Um exemplo de especialização nas relações de produção pode ser apreciado a partir

dos critérios preliminares apresentados pela Perdigão, para admitir integrados, que são os

seguintes:

- A propriedade deve estar na faixa de interesse da Perdigão, sendo em torno de 50

km de suas unidades processadoras;

- Ser produtor de milho, soja, sorgo, etc., critério utilizado no Sul mas ainda

ignorado no Centro-Oeste;

- Que assine o contrato de parceria, garantindo a formalidade do contrato;

- Tenha a sua ficha aprovada pela Perdigão, considerando os interesses da

integradora em função da vocação potencial do proponente;

- Que tenha patrimônio suficiente ou garantia para suportar o financiamento de 90%

do investimento;

- Que a propriedade ofereça condições de infra-estrutura, tais como, água potável

suficiente, energia elétrica, estradas de acesso em qualquer época do ano; e

- Que seja uma pessoa idônea e que tenha bom relacionamento em sua comunidade.

Para ROMEIRO (1998), a especialização do pequeno produtor, torna-o dependente

do capital industrial que lhe impõe a venda de produtos com preços acima de seus valores

(a indústria de insumos e equipamentos agrícolas) e compra a sua produção por preços

menores (a indústria agroalimentar). Na análise do autor tudo isso faz parte de um processo

pelo qual o mercado de produção capitalista, depois de ter feito nascer o sistema de

policultura associado à criação animal, o obriga a se transformar.

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IMPACTOS DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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Dessa forma, o sistema integração foi o responsável pela intensa especialização e

utilização de tecnologia na produção de frango de corte, isso ocorreu em função da

subordinação dos integrados aos critérios e a tecnologia dessa atividade, conforme a

necessidade da integradora.

IV. 4 - Geração de Empregos

O impacto sobre a geração de empregos podem ser vistos de duas maneiras:

Primeiro, porque o número de empregos aumenta em função do crescimento da avicultura e

segundo, porque o número de empregos diminui pela automação do processo produtivo. Os

reflexos provocando desemprego tecnológico73

podem ser acompanhados desde a década

de 70. A este respeito ENGLERT (1978), recomendava nesta época, no mínimo de 10.000

frangos por granja, sendo que o ideal seria que todas essas aves ficassem em um único

galpão. A partir da análise de uma proposta, do autor citado, para criação de 30.000 frangos

era sugerido três tratadores e um encarregado, todos morando na propriedade, e o

proprietário morando na cidade, portanto fica claro que era necessário quatro avicultores74

para cuidar de 30.000 aves (1 homem/7.500 aves) em um “sistema de produção

independente”, onde as rações eram feitas na granja, adquirindo os pintinhos de 1 dia e

todos os insumos no mercado e comercializadas as aves vivas com os abatedouros.

Atualmente, a Associação Paulista de Avicultura considera como referência para as

granjas de São Paulo 1 homem para cada 25.000 aves. A primeira instalação de frangos da

Perdigão em Rio verde apresenta numa mesma propriedade, quatro galpões de 24.000 aves

sendo considerado um avicultor o suficiente, isso significa 1 avicultor para cada 96.000

aves. Portanto, sinaliza para a característica marcante do capitalismo contemporâneo que é

o aumento do desemprego tecnológico

73

Observa-se uma progressiva diminuição de trabalhadores para cuidar de um progressivo aumento da

quantidade de frangos, devido a tecnologia da automação.

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O número de integrados também tende a diminuir em função do aumento dos custos

logísticos e do gerenciamento de um grande número de produtores, um exemplo deste

impacto pode ser percebido na Perdigão que tem cerca de 7.000 integrados no Sul, terá

menos de 900 agricultores integrados no projeto Buriti em Rio verde. O caráter excludente

da avicultura por sua própria seletividade estratégica já era observado por SORJ et alli em

1982, quando elegia um determinado grupo de produtores e impunha suas exigências

tecnológicas.

Portanto, a avicultura tem provocado um intenso desemprego tecnológico em

função da automação, já que com aumento da escala tem favorecido a aplicação de

tecnologias que substituem a mão-de-obra humana.

IV. 5 - Localização das Granjas

Para analisar os impactos sobre a localização devemos separar o antigo modelo de

produção utilizado principalmente no Sul na década de 70 do novo modelo que está sendo

implantado no Centro-Oeste atualmente. Na verdade, a questão locacional é mais bem

entendida quando consideramos a época em que foram feitos os investimentos e as

finalidades do sistema de produção.

IV. 5. 1 - A Questão Locacional na Década de 70

Na década 70 era recomendado que a instalação da granja deveria, na medida do

possível, estar próxima de abatedouros, sendo desejável que o abatedouro estivesse o mais

próximo possível da granja, mas distante pelo menos uns 5 Km, para evitar a contaminação

por aves doentes que chegassem ao abate, e num raio máximo de 60 Km, tendo em vista

que a maior distância aumenta a perda de peso e mortalidade das aves no transporte

(ENGLERT, 1978). Fica claro pela proposta que esse granjeiro deveria ser um produtor

74

Entendendo por avicultor o trabalhador que cuida das aves, portanto representa o trabalho, o capital é

representado pelo proprietário. No passado as grandes empresas integradoras tinham preferência pelas

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IMPACTOS DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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independente, pois não tinha abatedouro e comercializava as aves vivas, na época era

sugerido também que procurasse o setor de compras do abatedouro sobre a possibilidade de

efetuar um contrato de compra total ou parcial da produção da granja, para assim ter a

garantia de colocação do produto no mercado mesmo em época de crise (sendo este um dos

maiores estímulos atualmente a participação da integração).

A proximidade de incubatório75

idôneo era sugerida em função da qualidade dos

pintinhos e da idoneidade reconhecida do incubatório, com práticas de manejo, higiene e

desinfecção rigorosas e que executasse uma boa seleção nos pintinhos ao nascer. Quanto

menos viajassem os pintinhos, em melhores condições chegariam à granja, considerando

um tempo ideal de 24 horas e até no máximo de 48 horas após a eclosão, usando os mais

variados meios de transporte, tais como avião ou trem.

A proximidade de fábrica de ração ou distribuidor de rações e concentrados, era

sugerida tendo em vista a diminuição dos custos de frete, facilidade de aquisição,

adquirindo produtos de maneira mais freqüente e portanto mais frescos, já que não seria

necessário armazenamento, predispondo o produto a deterioração e intoxicação das aves. A

proximidade dos integrados das unidades de produção de ração significava, também, uma

assistência técnica mais eficiente, pois qualquer necessidade de modificação na formulação

da ração, após constatação da equipe de assistência técnica da necessidade da inclusão de

um outro componente, por exemplo, um medicamento poderia ser rapidamente elaborado e

distribuído. Em outras palavras, por conhecer perfeitamente seus consumidores e por estar

localizada próxima, a firma integradora poderia atender prontamente a requerimentos

nutricionais da criação, com maior eficiência.

A proximidade da zona produtora de milho ou sorgo (matérias-primas), era

justificada pelo fato de que o milho representa 60 a 70% do volume das rações e, por isso, é

um forte componente do custo das rações, principalmente se considerado o efeito do frete

propriedades onde o avicultor era o proprietário.

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sobre o custo do quilo de carne de frango. Considerando a variação do preço desses grãos,

era sugerido a aquisição na safra de tudo aquilo que seria utilizado na entressafra e

armazenados em silos ou depósitos na própria granja ou arredores.

Dos motivos elencados os grãos tem grande peso na localização das granjas, mas

nas décadas de 60 e 70 não encontrávamos com a proximidade e freqüência de hoje as

empresas que produzissem farelo de soja, farinha de carne e ossos e outras matérias-primas

limitando o espectro de ingredientes para fabricação de rações, e portanto a instalação de

fabricas de rações e granjas de frangos de corte em determinadas regiões.

Portanto, nesse padrão de produção existe uma grande quantidade de produtores

independentes e empresas especializadas para incubação, fabricação de rações, abate e

outras atividades necessárias para viabilizar o processo de produção. Observa-se que os

motivos locacionais estão ligados as relações que se estabelecem entre essas empresas e os

produtores cuja meta era o atendimento do mercado regional.

IV. 5. 2 - A Questão Locacional Atual

A partir de 1975, e até 1985, é percebido um processo de desconcentração espacial

da atividade econômica no país. Em princípio, esse processo de desconcentração foi

interpretado como parte integrante de uma reconcentração em uma área industrial maior, ou

seja, um polígono que vai do Sul de Minas passando pelo interior de São Paulo, abrangendo

áreas industriais do Paraná e de Santa Catarina até atingir a área metropolitana de Porto

Alegre. A expansão agrícola do Centro-Oeste foi um dos fatores apontados, como

responsáveis por essa expansão. Neste aspecto, atrativos como o preço da terra, a solução

tecnológica desenvolvida para expansão agrícola dos cerrados, a presença do Distrito

Federal e os efeitos de encadeamento para a frente e para trás desse desenvolvimento

75

A produção pintinhos de um dia que era considerada a atividade avícola mais lucrativa da época e o setor de

maior concorrência o de produção de frango e ovos (produtos de consumo popular).

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IMPACTOS DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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105

agrícola foram apontados como responsáveis pela intensificação dos investimentos

(HELFAND & REZENDE,1998).

Para MATOS (1996b), a necessidade de contar com fornecimento constante

e contínuo da matéria prima para o abate impõe, às empresas produtoras, estratégias de

ocupação espacial, voltadas para as regiões onde são mais fáceis e abundantes os insumos

agrícolas e pecuários. Nessas áreas elas instalam suas unidades de primeiro processamento.

De outro lado, instalações de segundo processamento, logicamente aquelas que geram

produtos finais mais sofisticados e de maior agregação de valor, são colocadas junto aos

grandes centros consumidores. Outros fatores, como as expectativas futuras sobre a

diminuição dos preços dos grãos no Centro-Oeste em função do maior potencial de

produção, e a diminuição dos preços dos transportes através de caminhões mais eficientes,

melhor infra-estrutura, melhor desregulamentação das ferrovias e melhor utilização dos

contêiners, a médio e longo prazo, poderiam estar contribuindo para esta mudança

locacional. Na verdade, ainda não se consegue estabelecer um modelo de integração da

agroindústria com o setor agrícola nos Cerrados, o que é mais um aspecto relevante para a

análise da questão locacional.

Neste aspecto, segundo HELFAND & RESENDE (1998), existe uma opinião

generalizada de que a região Centro-Oeste, por produzir grãos mais baratos que os estados

onde hoje se concentram as atividades de aves e suínos (especialmente Rio Grande do Sul e

Santa Catarina), poderia ter vantagem comparativa nessas atividades da agroindústria.

Assim, por exemplo, o projeto Buriti da Perdigão estaria acompanhando a marcha das

empresas avícolas e suinícolas para o cerrado, criando uma nova geografia para o setor,

baseada na proximidade com as áreas fornecedoras de matérias-primas a baixo custo,

principalmente do milho para ração. A localização geográfica do Estado de Goiás e sua

proximidade a grandes centros consumidores, também, conferem grande vantagem no

processamento e na produção de alimentos, aproveitando a produção de matéria-prima da

região.

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A preocupação com o custo do grão está relacionada aos dois mais importantes

ingredientes da ração, o milho (aproximadamente 67%) e a soja (aproximadamente 33%),

representando portanto a quase totalidade do conteúdo das rações76

. A redução do custo de

produção do frango em Goiás em comparação com outros estados é mostrada na Tabela 16.

Observa-se, por exemplo que no Paraná o preço do milho era 3,7% menor do que em Goiás

no período 1990 a 1995, enquanto que o preço da soja era 10,5% maior. HELFAND &

RESENDE (1998: 30) combinaram estes dados sobre participação do milho, farelo de soja

e ração no custo do frango abatido e chegaram à conclusão de que “uma empresa poderia

economizar menos de 1% do custo do frango abatido deslocando-se do Paraná para Goiás.

Como a distância dos mercados consumidores de São Paulo ou do Rio de Janeiro é maior

em Goiás do que no Paraná, diferença no custo do transporte mais do que contrabalançaria

a redução de custo devido à ração mais barata”. Os mesmos cálculos revelam uma redução

de custo de 2,4% para o Rio Grande do Sul, com relação a Santa Catarina a redução do

custo foi calculada em 4,5% no frango abatido, entretanto uma parte dessa vantagem seria

perdida devido aos maiores custos de transporte. Dessa forma os autores concluem que “os

ganhos devido a custos menores de ração no Centro-Oeste em comparação com o Sul

representam, quase sempre, uma pequena percentagem no custo de um animal abatido”. A

economia do custo da ração seria maior, mas aumentaria o custo do transporte do produto

final.

TABELA 16 – Diferenciais de Preços do Milho e da Soja e Redução do Custo de

Produção do Frango em Comparação com Goiás – 1990/95. Estados Diferenciais de preços do

milho

Diferenciais de preços da

soja

Redução do custo de

produção do frango abatido

Minas Gerais 28,0 10,8 12,3

São Paulo 19,8 8,7 8,9

Paraná -3,7 10,5 0,5

Santa Catarina 6,8 11,2 4,5

Rio Grande do Sul 5,0 3,3 2,4

Fonte: HELFAND & RESENDE (1998)

Analisando os custos de produção do suíno e do frango nos estados, TALAMINI et

alli (1998) verificaram que as vantagens de uma região sobre outra não são muito

76

Representa cerca de 67% do custo da produção do frango vivo e 55% do custo do frango abatido.

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evidentes, em razão das diferenças dos preços dos fatores de produção. Dessa forma

também concordam que as constantes especulações sobre as vantagens regionais na

produção de suínos e aves devem ser atribuídas a outros fatores.

Conforme apresentado na Tabela 17, a maior variabilidade de rendimentos físicos

na região Sul, com destaque para o Rio Grande do Sul, cria, evidentemente, um problema

de competitividade para a produção animal localizada nessa região, vis-à-vis as demais

regiões. A produção de grãos no Centro-Oeste se diferencia fortemente da região Sul, já

que naquela região o milho parece ser uma lavoura consolidada, enquanto no Centro-Oeste

é uma lavoura que tem crescido rapidamente, mas de forma totalmente dependente da soja.

Segundo HELFAND & RESENDE (1998), esta constatação explica por que o milho

continua sendo produzido mesmo com problemas crônicos de comercialização, refletindo

na contínua formação de estoques e redução do preço mínimo pelo Governo no Centro-

Oeste, como no ano agrícola de 1997/98.

TABELA 17 – Variabilidade dos Rendimentos Físicos do Milho e da Soja por Regiões

e Estados do Centro-Sul – 1980/97. Regiões Milho Soja

Sudeste 0,12 0,08

Centro-Oeste 0,08 0,09

Sul 0,14 0,15

Rio Grande do Sul 0,23 0,21

Santa Catarina 0,16 0,15

Paraná 0,13 0,11

Nota: A variabilidade é medida pelo coeficiente de variação nos resíduos em relação à tendência exponencial.

Fonte: HELFAND & RESENDE (1998)

Para esses autores, a análise dos diferenciais de preço sugere que pode haver

economia considerável de custos, resultado da transferência da produção de animais do

Sudeste para o Centro-Oeste. Em Goiás, o preço do milho nos anos 90 foi em média 25 a

80 reais mais barato que nos quatro estados do Sudeste, mas o mesmo não pode ser dito

sobre o Sul. No Paraná os preços do milho tenderam a ser menores que em Goiás nos anos

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9077

. Dessa forma, se a produção animal deve migrar do Sul para o Centro-Oeste, é

provável que não seja em função do preço do milho.

As conclusões dos trabalhos HELFAND & RESENDE (1998), são as seguintes.

Primeiro, mostram que a produção de milho no Centro-Oeste tem características bem

diferentes das demais regiões. Considerando-se a distância dos mercados consumidores, só

a peculiar relação com a soja explica o crescimento da produção de milho no Centro-Oeste,

especialmente em vista da menor atuação da Política Geral de Preços Mínimos (PGPM) na

década de 9078

; segundo, não há evidência de um êxodo em massa da produção de aves e

suínos do Sul para Centro-Oeste, apesar de o Sul ter sete vezes mais estoques de aves que o

Centro-Oeste, os estoques cresceram apenas marginalmente mais rápido no centro-Oeste

nos anos 90 (55% contra 50%); terceiro, o rápido crescimento da produção comercial de

aves no Centro-Oeste levou a um dramático crescimento no abate. De 1990 a 1995, o abate

comercial cresceu por um fator 13 no Mato Grosso do Sul, 7,5 no Mato Grosso e apenas 1,5

no Sul. Entretanto, nenhum estado no Centro-Oeste já atingiu 2% do abate doméstico;

quarto, a análise dos diferenciais de preços sugere que poderia haver considerável redução

de custos de produção decorrentes de uma mudança da produção animal do Sudeste para o

Centro-Oeste. O mesmo não pode ser dito sobre uma mudança da produção animal do Sul

para o Centro-Oeste. Especialmente no caso do Sul, a redução do custo da ração é

insuficiente para compensar o maior custo de transporte entre o Centro-Oeste e os

mercados consumidores do sudeste.

Entretanto, outros aspectos não podem ser menosprezados para compreender esse

movimento, como é o caso da perspectiva de redução dos custos de transportes através da

melhoria da malha rodo-hidro-ferroviária, eleita pelo programa Avança Brasil como

prioritária para a redução do chamado “custo Brasil” para a Região. Não menos importantes

são os incentivos fiscais e creditícios concedidos pelos governos estaduais, que têm atraído

77

Com exceção de alguns anos, a diferença com Santa Catarina e Rio Grande do Sul não tem sido muito

grande, por exemplo, os diferenciais de preços entre Santa Catarina e Goiás foram só 0, 9, 4, e 3 reais. Com o

Rio Grande do Sul, os diferenciais para o mesmo período foram –6, 2, 9, 7 (HELFAND & RESENDE, 1998),

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IMPACTOS DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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os maiores abatedouros do País para o Centro-Oeste. Outros fatores importantes de atração

são os recursos do Fundo Constitucional do Centro-Oeste, que, apesar de conceder crédito a

taxas de juros elevadas, se comparadas às de outras realidades internacionais, ao menos

representa uma alternativa, numa conjuntura em que os produtores rurais não têm mais

acesso a grandes volumes de crédito subsidiado, como no passado.

Dessa forma, o padrão atual de produção de frangos de corte está baseado em um

número menor de integrados, sendo formado por médios e grandes produtores integrados.

A integradora é uma grande empresa verticalizada, englobando o incubatório, indústria de

ração, abatedouros e outras atividades necessárias a produção em massa de frangos, para

atender o mercado interno e externo. Portanto os motivos locacionais estão ligados a

produção em grande escala e neste momento Centro-Oeste foi escolhido para desenvolver

esta função.

Na verdade a escolha da região para os novos investimentos em avicultura de corte

estão ligadas ao que foi apresentado aliado a um ambiente transnacional, mostrando a face

da globalização impactando sobre os processos de produção de frango.

IV. 5 - Impactos Previstos para Rio Verde

Fazendo referência ao novo modelo de produção que está sendo implantado

atualmente em Rio Verde, uma equipe multidisciplinar composta por advogados,

sanitaristas, engenheiros ambientais, biólogos e sociólogos, foi montada para estudar os

possíveis impactos. Esta equipe foi responsável também pela elaboração dos programas de

acompanhamento e monitoramento dos impactos79

e pelo cronograma de medidas

78

Segundo HELFAND & RESENDE (1998), esse quadro pode mudar, naturalmente, na medida em que se

gere uma demanda local pelo milho, como se espera com a expansão da agroindústria de aves e suínos. 79

A caracterização do meio físico da região mostrou as condições do solo, lençol freático e clima e a

caracterização do meio biótico fez um levantamento sobre a fauna e flora locais. Foram também pesquisados

o meio sócio-econômico com as populações rural e urbana analisando a evolução da populacional e a

estrutura urbana de serviços, água, esgoto, tráfego de veículos, energia, limpeza pública, sistema de

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mitigadoras, otimizadoras ou compensadoras conforme o caso. O Estudo de Impacto

Ambiental e Relatório de Impactos ao Meio Ambiente (EIA-RIMA), aprovado pela

FEMAGO, detectou vários impactos positivos e negativos da implantação do projeto Buriti

no distrito agroindustrial de Rio Verde. Para cada impacto negativo foi apresentada uma

sugestão de medida mitigadora, otimizadora ou compensadora, buscando o

desenvolvimento sustentado (FORÇA RURALISTA 1999:57).

Foram detectados os seguintes impactos positivos: a geração de empregos, a

diminuição de poeiras fugidias do distrito, a preservação de fisionomias de matas de

galerias, o aumento de arrecadação de impostos, o maior desenvolvimento tecnológico, os

efeitos paisagistas, a oferta de serviços (posto de saúde, creche, etc.), a higienização do

ambiente de trabalho, a dinamização econômica, a redução de preços de bens de consumo

produzidos no Estado *, a valorização de imóveis rurais, a fixação do homem no campo, a

capacitação da mão-de-obra e a melhoria do nível educacional. Os impactos negativos

detectados foram os seguintes: a instabilidade do meio físico, a poluição ambiental, a

redução da vegetação, a impermeabilização do solo de forma definitiva, a diminuição a

camada orgânica, as modificações no fluxo pluvial *, os acidentes de trabalho/risco à saúde

*, a fuga da fauna ainda existente, a compactação do solos, o escorregamento de solo em

área de aterro *, o sistema viário deficiente *, as perdas de solos, a captação de água

contaminada *, a instabilidade da rede elétrica, o rebaixamento do lençol freático *, as

falhas no sistema de esgoto *, a fonte geradora de água insuficiente * e a contaminação de

solo com óleos, graxas e combustíveis * (a presença do asterisco indica impactos

apresentados com possibilidades de ocorrência na região).

IV. 8 - Conclusão

As transformações das condições sociais dos trabalhadores agrícolas no complexo

avícola industrial são extremamente complexas, por abrangerem uma série de formas de

comunicação, transporte, educação, saúde, atividade econômicas e estrutura fundiária (FORÇA

RURALISTA, 1999:57)

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IMPACTOS DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA

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subordinação do trabalho agrícola ao capital. Para SORJ et alli (1982), as duas formas

básicas são representadas pela subordinação do campesinato, através da integração

horizontal, e pela sua proletarização, através da integração vertical, de maneira que os

camponeses canalizam seus interesses juntamente com o mesmo capital que os subordina.

Portanto, do que foi apresentado, constatamos impactos: nas relações de produção,

com a emergência do sistema integração de produção de frango, substituindo o sistema de

produção independente e subordinando as propriedades à lógica dos grandes capitais

industriais da avicultura; no tamanho dos integrados, já que hoje são médios e grandes

produtores em função do oferecimento de garantias bancárias ao financiamento de galpões

de maior tamanho e com elevado nível automação, utilizando um menor número de

integrados; na eficiência da produção, já que da forma como o sistema integração remunera

o integrado, a eficiência aumenta e não existe pagamento de não trabalho, o que é muito

comum na atividade pecuária; na geração de empregos, pois a cada dia, graças à

automação, 1 homem cuida demais frangos e mais galpões, contribuindo para desemprego

tecnológico e passando de um sistema de produção de frangos com base na mão-de-obra

familiar para a utilização de mão-de-obra assalariada; na localização das granjas pois

atualmente as novas plantas de produção de frangos são montadas no Centro-Oeste, região

produtora de grãos e fornecedora de grandes incentivos fiscais; e na escala de produção, já

que para viabilizar a produção é necessário criar, cada vez mais aves, para permitir um

ganho razoável na criação de frangos.

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CAPÍTULO V

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste último capítulo são elencados alguns elementos estudados no corpo do

trabalho e acrescidos de algumas contribuições para um melhor entendimento da avicultura.

São apresentados: as características do desenvolvimento da ciência e tecnologia como um

elemento de subordinação dos processos de produção; a depreciação tecnológica, que tem

sido um dos elementos de constrangimento para a participação de integrados em

integrações ou de investimentos em nova capacidade produtiva; os gargalos da avicultura,

expressando os pontos frágeis da sua cadeia produtiva, a emergência da questão ambiental,

sinalizando para a produção com desenvolvimento sustentado; e termina com a conclusão

final, analisando o recorte estudado e as suas possíveis contribuições ao melhor

entendimento da avicultura.

V. 1 - Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia

O desenvolvimento social, econômico e cultural da humanidade, desde os tempos

mais remotos até os nossos dias, está baseado na existência de um tempo excedente de

trabalho. Para GRAZIANO DA SILVA (1988: 2), quando o homem passou a dispor de

uma “sobra” do tempo de trabalho necessário à sua perpetuação é que alguns dos membros

da sua espécie puderam dedicar-se a outros afazeres ou até mesmo não fazer nada. Ou seja,

a própria divisão social do trabalho que daí se seguiu iria permitir inclusive que alguns

trabalhassem e outros não, que uns se tornassem escravos e outros senhores.

Para MATOS (1996b), a mudança técnica como resultado da introdução no sistema

econômico de máquinas para substituição do trabalho humano, reduz o esforço despendido

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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na produção, diminui custos, eleva a relação capital-trabalho e substitui o trabalho vivo por

trabalho morto. Neste aspecto, o objetivo do capital quando emprega maquinaria tem por

finalidade baratear as mercadorias, encurtar a parte do dia de trabalho do trabalhador para si

mesmo (trabalho necessário) para ampliar a outra parte (trabalho excedente) que ele dá

gratuitamente ao capitalista (MARX, 1982)

Na verdade o autor deixa claro que sob determinadas condições históricas e sociais,

o tempo de trabalho necessário para a sobrevivência e reprodução, pode ser tomado como

uma constante. Assim, o aumento da produtividade estará no aumento do produto

excedente por unidade de tempo do trabalho total. Sendo que, o aumento da capacidade

produtiva de um conjunto de pessoas pode ser conseguido pela cooperação entre esses

trabalhadores, pela sua especialização em determinadas atividades através de uma adequada

divisão de tarefas e, pelo uso de ferramentas e máquinas apropriadas.

A partir desse raciocínio, GRAZIANO DA SILVA (1988: 4) define ciência e

tecnologia. Para o autor, o conjunto de conhecimentos disponíveis, que permite uma ou

mais maneiras de se fazer uma determinada tarefa com mais eficiência constitui o que

chamamos de ciência, e a aplicação desses conhecimentos a uma determinada atividade

produtiva é o que se denomina de tecnologia. Esse conjunto de conhecimentos disponíveis

num determinado momento é um produto social: ou seja, a própria ciência depende do nível

de desenvolvimento e das necessidades técnicas da sociedade.

Cita ainda que, a própria ciência tem um caráter de classe na sociedade capitalista,

já que a tecnologia é a aplicação da ciência ao processo produtivo. A tecnologia é, portanto,

uma relação social e não um conjunto de coisas como poderíamos pensar ao olhar as

máquinas, os adubos químicos, as sementes etc. A tecnologia é o conjunto dos

conhecimentos aplicados a um determinado processo produtivo com objetivo de lucro,

portanto, a tecnologia adequada ao sistema capitalista é aquela que permite gerar mais

lucros.

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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114

Numa sociedade capitalista, que é uma sociedade de classes, a ciência destina-se a

colocar à disposição da sociedade o saber necessário para garantir a produção e reprodução

dos processos vitais da sociedade na forma em que foi determinado pela classe dominante.

A reprodução da força de trabalho exige não só uma reprodução da qualificação desta às

regras da ordem estabelecidas, isto é, uma reprodução da submissão desta à ideologia

dominante para os operários e uma reprodução da capacidade de manejar bem a ideologia

dominante para os agentes da exploração e da repressão, a fim de que possam assegurar

também, pela palavra, a dominação da classe dominante (IANNI, 1976).

Portanto, as classes subordinadas não escolhem as tecnologias, elas recebem as

pressões para aplicação das ciências mais intensamente nos setores de maior tecnificação,

mais capitalizados e complementares às necessidades das classes dominantes numa

condição relativa de falta de melhores alternativas. Dessa forma, a indústria, valendo-se da

ciência e desenvolvendo a tecnologia, não dá autonomia para o produtor utilizar esta ou

aquela tecnologia; o processo é imposto, já que está determinado o padrão de galpão a ser

implantado, a genética do frango a ser usado, a ração a ser consumida, o manejo a ser

aplicado, as medicações e vacinas necessárias, as normas de climatização a serem seguidas

e, inclusive, as regras para remuneração também já estão definidas.

V. 2 - Depreciação Tecnológica

Utilizando as considerações teóricas sobre ciência e tecnologia é possível focalizar

o objeto de estudo deste trabalho e extrair algumas reflexões. A avicultura vem passando

por um intenso desenvolvimento tecnológico, de maneira que as estruturas produtivas de

criação de frangos têm sido superadas em um intervalo de tempo cada vez menor. Esse

ambiente de intensa depreciação tecnológica tem representado uma grande instabilidade e

limitado a decisão de investimento do avicultor80

, por ocasião da aquisição de

financiamento para construção de nova capacidade produtiva.

80

Essa situação tem sido observada em Rio Verde.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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O grau de mudança tecnológica poderá ser influenciado também por fatores

relativos ao ambiente econômico, principalmente o protecionismo e o aproveitamento de

vantagens comparativas baseadas em mão-de-obra barata, recursos naturais abundantes,

subsídios e políticas cambiais que retardam a competição. Portanto, as estruturas de

mercado são definidoras e selecionadoras das novas tecnologias.

Considerando que a introdução de máquinas e instrumentos de trabalho mais

aperfeiçoados, possibilita aumentar relativamente à fração do trabalho excedente sobre o

trabalho necessário (elevando os lucro da empresa inovadora em relação à média das

outras, pelo rebaixamento do preço unitário), o agricultor integrado na hora de investir deve

considerar que o equipamento adquirido tem que produzir o custo do seu investimento mais

um determinado lucro, enquanto não for superado por outro mais eficiente81

.

Neste aspecto MATOS (1996a: 30) sublinha que, “... a expectativa de um elevado

ritmo de obsolescência tecnológica estaria positivamente relacionada a um maior ritmo de

introdução de inovações. Os custos incorridos no abandono da tecnologia anterior

determinariam a cautela do empresário quanto à introdução, muito embora, na verdade, isso

também se refira ao volume de capital imobilizado na técnica anterior ou à vida útil, ainda

rentável, que se espera dos equipamentos envolvidos. A expectativa de redução dos custos

de produção e outros custos, associados à nova tecnologia a partir dos melhoramentos da

inovação, também condiciona o atraso na sua introdução”.

Cita ainda que “Isso sugere que a análise da inovação se constitui em um processo

de aperfeiçoamento sucessivo através do qual ela passe a ser vista como um conjunto de

inovações articuladas. Às vezes, o inovador inicial obteria maiores lucros se esperasse um

pouco mais de tempo para introduzir uma inovação. Sendo assim, a espera por inovações

secundárias ou por aperfeiçoamentos na inovação primária certamente produziria maior

81

Uma das maneiras de aumentar a taxa de lucro, é aumentar a velocidade de rotação do capital (D-M),

segundo GRAZIANO DA SILVA (1988), isso pode ser conseguido através do progresso técnico.

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rentabilidade, levando-se a concluir que o lucro não está associado somente à audácia, mas

também à cautela”.

Portanto com relação a esse aspecto GRAZIANO DA SILVA (1988) sublinha que,

o que interessa é usar tanto mais intensamente quanto possível as suas máquinas para que

possa tanto mais rapidamente substituí-las por outras mais modernas82

, certamente mais

aperfeiçoadas e, possivelmente, mais baratas. Há duas razões para esse tipo de

comportamento: primeira, que a depreciação mais rápida minimiza as perdas de

obsolescência; segunda, devido à competição (concorrência) entre os capitais privados pelo

maior lucro, um determinado capitalista sempre procura sair na frente dos outros, para com

novas máquinas mais aperfeiçoadas, baratear seu produto e obter um lucro extraordinário

antes que seus concorrentes consigam também trocar os equipamentos antigos.

V. 3 - Os Gargalos da Avicultura

Dentre os gargalos da atividade, a despeito da exuberância dos números de

produção, SALLE et alii (1998) consideram que a avicultura brasileira opera sobre uma

verdadeira “corda bamba” devido aos desequilíbrios que podem obstar sua cadeia

produtiva. As raízes desse desequilíbrio se encontram, preponderantemente, nos seguintes

pontos: dependência, quase absoluta, de material genético importado e carências no sistema

de controle sanitário.

Em relação a dependência de material genético importado, a avicultura brasileira

depende, quase totalmente, da importação de material genético básico. Este procedimento é

histórico e decorre do fato de que os EUA e alguns países da Europa, desde a primeira

metade deste século, desenvolvem trabalhos de melhoramento genético que resultaram na

obtenção de novas linhagens “híbridos” cuja produtividade resultante é superior à das

82

As novas máquinas, quando introduzidas pela primeira vez, são ineficientes uma vez que o modelo novo

não teve oportunidade de passar por uma rigorosa análise de seu funcionamento, o que faz com que se espere

o surgimento de novos métodos e aperfeiçoamentos de suas funções, portanto fica implícito um certo ciclo

vital de desenvolvimento de novas técnicas de produção (MARX, 1982)

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linhagens puras. Dispor de linhagens mais produtivas permitiu que essas empresas privadas

expandissem seus mercados a nível mundial, fator que assegurou a aplicação de

investimentos contínuos no melhoramento e, por decorrência, melhoras também contínuas

nas respectivas linhagens83

(SALLE et alii, 1998).

COTTA (1997) argumenta que, do ponto de vista genético, os cruzamentos foram

feitos de maneira a não se poder ir além da produção do frango de corte. Essa situação

coloca a avicultura brasileira na incômoda dependência dos países detentores das linhagens

puras. Cita ainda que o Brasil importa, na área de frango de corte, principalmente as

linhagens Hubbard, Arbor Acres, Cobb, Isa-vedette, Avian Farms, Ross e Hibro, todas

produzindo pintos de um dia com possibilidade de separação de sexo.

Durante tempos, acreditou-se que essa dependência representava o grande gargalo

do setor, não só pelo dispêndio de divisas, mas, sobretudo, por colocar a produção brasileira

submissa a fornecedores externos. Para SALLE et alii (1998: 232) não é bem assim. O

dispêndio de divisas chega a ser desprezível se considerados os benefícios da importação, já

que representam menos de 2% das divisas arrecadadas (exclusivamente) com as

exportações de frango e apenas alguns milésimos da produção bruta brasileira, conforme

apresentado na Tabela 18. Observa-se também que, os benefícios internos alcançados com

a importação de US$ 17 milhões de material genético em 1997, foram de US$ 6,5 bilhões

(US$ 883 milhões em exportação + US$ 5,624 bilhões consumidos internamente = US$

6,507 bilhões).

No que se refere à submissão do setor a outros países SALLE et alii (1998: 231)

consideram isso pouco provável, já que sendo o Brasil um dos principais produtores

mundiais, é também um dos grandes consumidores de material genético melhorado. Dessa

83

Na área de frangos de corte essa dependência ultrapassa os 70% e se baseia nas linhagens Hubbard,

Peterson, Arbor Acres, Cobb, Aviam Farms (todas americanas), Indian River (européia), Shaver (canadense),

Isa, MPK (franco-americanas) e Hybro (holandesa). A dependência só não é absoluta porque, a Agroceres

mantém uma joint-venture com a empresa escocesa Ross, através da qual produzem no Brasil avós da

linhagem AgRoss, a Perdigão que mantêm o seu próprio trabalho de melhoramento genético para a produção

de Chester e a Sadia que também iniciou, mais recentemente, trabalho de melhoramento genético no País.

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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forma é um mercado respeitado disputado. Além disso, a disponibilidade interna de

linhagens cujo desempenho é reconhecido mundialmente, coloca o Brasil em pé de

igualdade com as melhores aviculturas do mundo. Cita ainda que “... curiosamente – e por

conta da alimentação natural, do clima e, também, das condições de manejo – há linhagens

que, no Brasil, apresentam melhor desempenho que o registrado em seus países de origem

ou em qualquer outro país, fator que destaca ainda mais a avicultura brasileira no panorama

avícola internacional”.

TABELA 18 – Balança Comercial da Avicultura Brasileira 1997 (Milhões de US$) Importações (Material Genético)

Exportações (Carne de Frango*)

17

900

Saldo 883

Valor da produção consumida internamente (carne de frango e ovos) 5.624

* Não inclui as exportações de ovos férteis, pintos de um dia, ovos in natura e ovos industrializados.

Fonte: SALLE et alii (1998),

Mesmo considerando o custo da produção interna desta genética, inferior à média

do mercado internacional, os benefícios internos da importação são grandes, já que se não

tivesse importado o material genético, seria necessário mais divisas para atender à demanda

interna de carne de frango. Entretanto o risco de ocorrência de um surto de doenças em um

dos países fornecedores ou a introdução no país de doenças aviárias exógenas, colocaria o

Brasil numa desconfortável condição de não poder atender a rotineira e indispensável

demanda interna e externa.

Dessa forma, o segundo problema, o problema sanitário, se agrava pela falta de

resolução do problema genético. Neste aspecto SALLE et alii (1998: 233) citam que “o

controle sanitário constitui-se no maior (e no iminente) risco enfrentado pela avicultura

brasileira, podendo desestruturá-la completamente, o que ocasionaria reflexos negativos

imensuráveis para o Brasil – quer em termos econômicos (valor econômico da produção,

captação de divisas), quer em termos sociais (abastecimento da população e inclusive,

maciça geração de empregos; não se pode ignorar, a propósito, que como atividade rural

não sazonal, a avicultura é mantenedora permanente de mão-de-obra no campo; e que, ao

tornar viável o minifúndio, permitiu a redução do êxodo rural)”.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Portanto, é necessidade premente estabelecer capacidade e conhecimento para

resguardar a produção avícola nacional contra a entrada e disseminação de agentes de

doenças que possam vir a comprometer o comércio interno e as exportações de produtos

avícolas. Qualquer falha no sistema que possibilite a passagem de problemas sanitários

pode ser utilizada, por países importadores ou concorrentes, na solicitação de suspensão das

exportações de carnes frescas de aves pelo Brasil. Fatos recentes, como a gripe do frango

em Hong Kong e México, são exemplos das difíceis fissuras que podem ocorrer no sistema

de produção devido a problemas sanitários.

A impossibilidade parcial ou total de importação de material genético, impõe ao

Brasil que disponha de suas próprias linhagens produtoras de frangos e ovos, ao menos para

o atendimento estratégico da atividade nas ocorrências excepcionais. Assim, programas

oficiais de melhoramento, como o que vem sendo realizado pelo Centro Nacional de

Pesquisa de Suínos e Aves da Embrapa, devem ser mantidos e incentivados, buscando-se,

inclusive, a participação privada, sendo a única forma de dar escala comercial a tais

programas, já que o grande objetivo desses programas é a geração de tecnologias e de

recursos humanos para suprir as necessidades da iniciativa privada.

V. 4 - A Emergência da Questão Ambiental

A questão ambiental na Europa tem merecido grande preocupação atualmente, a

temperatura baixa do clima temperado inibe a fermentação e dessa forma diminui a

decomposição de resíduos orgânicos, isso limita a ampliação da produção animal nesta

região. Uma opção que se apresenta no momento é a produção de aves e principalmente de

suínos no clima tropical, diminuindo o problema ambiental na Europa e dinamizando a

produção animal em clima tropical. Considerando este aspecto o Centro-Oeste se apresenta

como a nova fronteira de produção. Portanto, a nossa capacidade de produção está

determinada pela nossa capacidade de destruir os dejetos das aves e suínos e de controlar os

impactos negativos, dando sustentabilidade a estes sistemas de produção.

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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL

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A cama de frango vai ser produzida em alta escala para um consumo estável ou até

declinante em função da tendência de especialização dos bovinos, resultando na diminuição

do plantel e mudança para uma alimentação mais eficiente e menos grosseira. Além disso é

possível que restrições ambientais relacionadas com o odor, com a poluição da água e com

o manejo dos dejetos estimulem mais ainda o abandono das regiões mais densamente

povoadas do Sul (TALAMIN et alli, 1998).

ORTEGA (2000) cita que cada vez mais é exigido por parte dos importadores que a

produção seja feita sem causar danos ambientais, mesmo porque, passaram a utilizar esse

instrumento em substituição às barreiras alfandegárias, combatidas pela Organização

Mundial do Comércio (OMC) como forma de discriminar a importação de países que não

os priorizam. Para o autor, em função das condições climatológicas e ambientais atuais é

possível produzir frangos de corte com excelente qualidade no Centro-Oeste. É preciso

explorar melhor o marketing desses aspectos. Em nível internacional a criação de um selo

de qualidade, reconhecendo as características sanitárias dos produtos de empresas de

associações da região é importante nesse sentido.

Entretanto, é necessário ter a audácia para aproveitar o momento atual, mas é

preciso, também, cautela com uma visão de longo prazo no sentido ampliar a produção em

ambiente sustentado. Para que tenhamos desenvolvimento sustentado é necessário resolver

o problema futuro do excesso de produção de cama de frango, já que é possível que a sua

utilização para bovinos e no solo não seja o suficiente para consumir todo o volume

produzido, por isso é necessário intensificar estudos sobre opções de materiais utilizados

como cama de frango, bem como a sua reutilização por mais vezes em um galpão.

V. 5 - Conclusão Final

Procuramos analisar em nossa dissertação a evolução da base técnica avicultura de

corte no Brasil. Pudemos identificar a consolidação desta atividade industrial a partir da

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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década de 70, de maneira que a grande quantidade de dados estatísticos desta época até o

momento atual mostra uma grande superioridade de crescimento desse setor em relação à

produção de outras fontes de proteína animal. Junto com o crescimento percebemos a

emergência do Brasil como um dos destaques mundiais na produção de frangos de corte.

Internamente a importância desse setor econômico cresce tanto pela função social, já que é

consumido com variações mínimas no tocante à quantidade, por ricos e pobres, quanto por

gerar a circulação de cerca de 6 bilhões de dólares e mais de 2 milhões de empregos, sendo

reconhecido por ser o setor mais tecnificado e organizado da pecuária.

Percebemos na avicultura de corte brasileira uma intensa mudança da base técnica,

resultante da aquisição de tecnologias de ponta, de maneira que:

- Identificamos modificações de base técnica na área da genética brasileira

permitindo a substituição de raças puras de aves pela importação de material genético de

produção de híbridos sintéticos de alta performance;

- Na área da nutrição, identificamos mudanças que permitem hoje a possibilidade de

formulação de rações utilizando aminoácidos digestíveis, aumentando a precisão dos

cálculos de ração e diminuindo a necessidade de elevados níveis de segurança;

- Na área da informática, os avanços permitem atualmente a formulação de rações

em microcomputadores com o auxílio da programação linear, permitindo o cálculo de

rações de mínimo custo, diminuindo custos e aumentando a estabilidade do preço das

rações;

- Na área de equipamentos, identificamos intensa automação de maneira que hoje o

funcionamento dos comedouros e dos bebedouros não depende mais da mão-de-obra

humana, são mais eficientes em termos de limpeza, melhoram o ganho de peso e diminuem

a mortalidade em função da ausência de pessoas andando com freqüência dentro do galpão;

- Na área da indústria de rações, vimos a sua reorganização em função da logística

de transporte, regionalizando-se e diversificando sua produção associada a tecnologia mais

acessíveis de menores plantas, miniaturização da informática e acesso ao premix em

pequenas escalas. Por outro lado, com a emergência da verticalização apareceram as

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grandes integrações que passaram a produzir um volume de rações maior que a própria

produção do setor da indústria de rações;

- Na área da climatização, os equipamentos também passaram por intensa

automação. Atualmente, para aquecimento, as campânulas mais utilizadas são a gás com

queimador de infravermelho, sendo mais eficientes, de baixo custo e aquecem o dobro de

pintinhos. Na refrigeração, passa a fazer parte dos galpões o sistema de nebulizadores e

exaustores movimentando o ar de um lado a outro do galpão (sistema semi-climatizado),

permitindo a criação de frangos em alta densidade, sendo que tanto o aquecimento quanto a

refrigeração podem controlados automaticamente;

- Muitas mudanças foram identificadas também nos galpões de maneira que neste

período estudado os galpões aumentaram a sua capacidade interna, passando de cerca de

1000 m2 para 1600 m

2. As coberturas de telhas de barro e amianto foram substituídas por

telhas de alumínio e os lanternis não são mais utilizados em função da implantação

ventilação negativa nos galpões. A estrutura de madeira é substituída pela estrutura em

cimento pré-moldado ou metálica, permitindo a diminuição dos custos de galpões de

grande porte e a iluminação feita por lâmpadas incandescentes cedeu lugar para as

lâmpadas fluorescentes, diminuindo custos com energia elétrica e aumentando a eficiência

da iluminação;

- Em relação às técnicas de criação, vimos os avanços conseguidos com a técnica

criação de lotes sexados, permitindo mais uniformidade dos lotes de frangos com reflexos

positivos tanto no abate como na criação, e na técnica de criação de frangos em alta

densidade, que permite a otimização da utilização dos galpões; e

- Identificamos um novo modelo de produção de frangos. A produção atomizada de

carne de aves por parte de muitos milhares de pequenos produtores, está sendo substituída

recentemente por um pequeno número médios e grandes produtores integrados, utilizando

as mais sofisticadas técnicas de criação.

As explicações para essas mudanças de base técnica puderam ser mais bem

entendidas pelas contribuições de vários autores, merecendo destaque as contribuições:

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- de GRAZIANO DA SILVA, que atribui essas mudanças à desagregação do

complexo rural e formação dos complexos agroindustriais, ou seja, uma estrutura com

característica auto-suficiente é substituída por outra ligada à jusante e à montante a

indústria;

- de GOODMAN, que apresenta a tese de que o apropriacionismo e

substitucionismo industrial foram os responsáveis pelas modificações ocorridas no campo.

Ele se baseia na tese de que a indústria se apropria das atividades do campo através do

desenvolvimento tecnológico, substituindo com eficiência atividades que no caso da

avicultura se concentram na área da genética, nutrição e mecânica. Esse processo é tão

intenso que sobrou para o campo apenas a criação do frango (por isso a apropriação é dita

parcial);

- de ROMEIRO, que acredita que questões ligadas à terra e ao trabalho explicam o

que ocorreu no campo. Segundo o autor, a economia de terra devido o seu custo, com a

aplicação de tecnologia aumentando a produtividade e à economia da mão-de-obra devido

também ao custo e a baixa eficiência humana tem justificado as modificações poupadoras

de terra e trabalho; e

- de vários autores que identificaram na atuação do Estado o incentivo para o

crescimento do setor através de políticas públicas. Para GODOY (1999) coube ao Estado a

regulamentação da importação de pintinhos avozeiros e o incentivo a pesquisa em

instituições de pesquisa e universidades públicas. Os benefícios no passado com

financiamentos são descritos por DELGADO (1985) e em tempo recente por ORTEGA

(2000), que destaca a participação atual do Estado no financiamento de novas unidades

produtivas de frangos de corte no Centro-Oeste.

Com relação aos impactos constatamos seus efeitos:

- nas relações de produção, com a emergência do sistema integração de produção de

frango substituindo o sistema de produção independente e subordinando as propriedades à

lógica dos grandes capitais industriais da avicultura;

- no tamanho dos integrados, visto que a tendência atual é de que os integrados

sejam, cada vez maiores e em menor número em função do oferecimento de garantias

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bancárias ao financiamento de galpões de maior tamanho, com elevado nível automação, e

do aumento da escala para viabilizar a produção;

- na eficiência da produção, já que da forma como o sistema integração remunera o

integrado, a eficiência aumenta e não existe pagamento de não trabalho, o que é muito

comum na atividade pecuária;

- na geração de empregos, pois a cada dia, graças à automação, 1 homem cuida de

mais frangos e mais galpões, contribuindo para desemprego tecnológico e passando de um

sistema de produção de frangos com base na mão-de-obra familiar para a utilização de

mão-de-obra assalariada;e

- na localização das granjas, pois atualmente as novas plantas de produção de

frangos são montadas no Centro-Oeste, região produtora de grãos e fornecedora de grandes

incentivos fiscais.

No nosso entendimento, o recorte estudado é mais transparente quando interpretado

pelo foco da ciência e tecnologia. As classes subordinadas não escolhem as tecnologias,

elas recebem as pressões para aplicação das ciências mais intensamente nos setores de

maior tecnificação, mais capitalizados e se tornam complementares às necessidades das

classes dominantes em função uma condição relativa de falta de melhores alternativas.

Dessa forma a indústria, ao valer-se da ciência e desenvolvendo a tecnologia, não dá

autonomia para o produtor utilizar esta ou aquela tecnologia. O processo é imposto já que

está determinado o padrão de galpão a ser implantado, a genética do frango ser usado, a

ração ser consumida, o manejo a ser aplicado, as medicações e vacinas necessárias, a

normas de climatização a serem seguidas e, inclusive as regras para remuneração do serviço

prestado.

Diante desse quadro a busca de financiamentos para construção de galpões com

tecnologias de ponta tem criado constrangimentos para o produtor em função uma intensa

depreciação tecnológica e do montante elevado do financiamento. Entretanto, baseado no

que foi estudado acreditamos que a recomendação mais prudente é aquela que diz que, o

que interessa, é usar tanto mais intensamente quanto possível às máquinas para que possa

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tanto mais rapidamente substituí-las por outras mais modernas, certamente mais

aperfeiçoadas e, possivelmente, mais baratas. Há duas razões para esse tipo de

comportamento: primeira, que a depreciação mais rápida minimiza as perdas de

obsolescência; segunda, que devido à competição (concorrência) entre os capitais privados

pelo lucro, um determinado capitalista sempre procura sair na frente dos outros, para com

novas máquinas mais aperfeiçoadas, baratear seu produto e obter um lucro extraordinário

antes que seus concorrentes consigam também trocar os equipamentos antigos.

Diante da exuberância dos números da avicultura de corte, o elo mais frágil de sua

cadeia produtiva é o problema sanitário. O controle sanitário se constitui no maior (e no

iminente) risco enfrentado pela avicultura brasileira, podendo desestruturá-la

completamente, o que ocasionaria reflexos negativos imensuráveis para o Brasil, quer em

termos econômicos (valor econômico da produção, captação de divisas), quer em termos

sociais (abastecimento da população e, inclusive, maciça geração de empregos). Não se

pode ignorar, a propósito, que como atividade rural não sazonal, a avicultura é mantenedora

permanente de mão-de-obra no campo; e que, ao tornar viável o minifúndio, permitiu a

redução do êxodo rural.

Portanto, é necessidade premente estabelecer capacidade e conhecimento para

resguardar a produção avícola nacional contra a entrada e disseminação de agentes de

doenças que possam vir a comprometer o comércio interno e as exportações de produtos

avícolas. Qualquer falha no sistema que possibilite a passagem de problemas sanitários

pode ser utilizada, por países importadores ou concorrentes, na solicitação de suspensão das

exportações de carnes frescas de aves pelo Brasil. Fatos recentes, como a gripe do frango

em Hong Kong e México, são exemplos das difíceis fissuras que podem ocorrer no sistema

de produção devido a problemas sanitários.

A possibilidade de restrições parciais ou totais de importação de material genético,

impõe ao Brasil que disponha de suas próprias linhagens produtoras de frangos e ovos, ao

menos para o atendimento estratégico da atividade nas ocorrências excepcionais. Assim,

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programas oficiais de melhoramento como o que vem sendo realizado pelo Centro Nacional

de Pesquisa de Suínos e Aves da Embrapa, devem ser mantidos e incentivados, buscando-

se inclusive a participação privada, sendo a única forma de dar escala comercial a tais

programas, já que o grande objetivo desses programas é a geração de tecnologias e de

recursos humanos para suprir as necessidades da iniciativa privada.

No momento atual, com a queda das barreiras comerciais decorrente da

globalização, é cada vez mais é exigido, por parte dos importadores, que a produção seja

feita sem causar danos ambientais. Os importadores passaram a utilizar esse instrumento

em substituição às barreiras alfandegárias, combatidas pela Organização Mundial do

Comércio (OMC), como forma de discriminar a importação de países que não os priorizam.

O Centro-Oeste se apresenta como o grande potencial para produção de frangos de

corte em ambiente globalizado. É necessário ter a audácia para aproveitar o momento atual,

mas é preciso também cautela com uma visão de longo prazo no sentido ampliar a

produção em ambiente sustentado. Para que tenhamos desenvolvimento sustentado é

necessário resolver o problema futuro do excesso de produção de cama de frango, já que é

possível que a sua utilização para bovinos e no solo não seja o suficiente para consumir

todo o volume produzido, por isso é necessário intensificar estudos sobre opções de

materiais utilizados como cama de frango, bem como a sua reutilização por mais vezes em

um galpão.

À luz do que foi apresentado sobre o recorte estudado é possível identificar uma

contribuição para que se possa formular um conjunto de políticas públicas que bem

atendam à produção de proteína animal, mas que identifique prioritariamente a

possibilidade de melhor investir no ser humano e diminuir a desigualdades sociais.

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