ª runiÃo anual portir • 30 de outubro de 2015 • insa, i.p...

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Acrilamida em doçaria Portuguesa Susana Jesus a , Inês Delgado b , Ana Ramos a , Carlos Brandão c , Nelson Félix c , Isabel Castanheira b a Departamento de Química, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade NOVA de Lisboa, Monte da Caparica, Portugal b Departamento de Alimentação e Nutrição, Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, I.P., Lisboa, Portugal c Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril, Estoril, Portugal [email protected] Palavras chave: Acrilamida, Reação de Maillard, Asparagina, Açúcares redutores Introdução A acrilamida foi sintetizada pela primeira vez em 1949, tendo sido considerada, em 1994 pela IARC, um contaminante do grupo 2 A (carcinogénico para o animais e provavelmente para humanos). Vários contaminantes que se formam a partir de alimentos processados, sendo um deles a acrilamida. Este composto de estrutura vinílica foi descoberto, em 2002, em alimentos processados. É um contaminante decorrente do processamento. Diversa investigação tem sido publicada, acerca das vias de formação da acrilamida a partir de alimentos processados, uma vez que esta é um dos contaminantes importantes que deve ser formado no decorrer do processamento, existindo várias possibilidades de formação. A via mais comum é a da reação de Maillard na qual estão envolvidos 2 precursores: a asparagina e os açúcares redutores. Outra das vias de formação, é através da acroleína, sendo que esta pode ser formada a partir da decomposição de triglicerídeos e por fim no caso do grupo das carnes poderá formar-se através da decomposição de carosina. Com o desenrolar da investigação, tem-se vindo a evidenciar/demonstrar a neurotoxicidade da acrilamida. 8ª REUNIÃO ANUAL PORTFIR • 30 de Outubro de 2015 • INSA, I.P. Objetivo Com este trabalho pretendeu-se quantificar os níveis de acrilamida na doçaria Portuguesa, validar o método de quantificação e otimizar o método de extração . Resultados e discussão 1. Performance do método Para a curva de calibração foi utilizado o padrão de acrilamida. A curva correlaciona a área do pico com a concentração do padrão. Os resultados para a exatidão e veracidade encontram-se dentro dos critérios de aceitação recomendados pela EFSA [1]. 2. Resultados das amostras Nas Fig. 3, 4 e 5 os resultados obtidos são agrupados com os valores: 1) indicativos da EFSA; 2) da literatura; 3) sem valor indicativo conhecido. O teor de acrilamida nas amostras de biscoitos variou entre 110 μg/Kg e 354 μg/Kg, sendo o valor mais baixo o biscoito de caramelo e o mais alto o grego. Como se pode verificar, estes resultados não excedem o valor indicativo da EFSA, 500 μg/Kg. Em relação à amostra de pão, esta está acima do valor indicativo da EFSA [1]. Os resultados apresentados na figura 4 indicam que as amostras com um maior teor de acrilamida são a torta de laranja, o queque de chocolate e o pão deus. Em comparação com os valores encontrados em literatura, todas as amostras têm um teor de acrilamida mais elevado [2]. Quanto às amostras dos pastéis constata-se que o pastel de nata é o que tem o valor mais baixo, pelo contrário o pastel de chícharo é o que contém maior teor de acrilamida. Figura 3 Resultados das amostras dos biscoitos e pão 0 100 200 300 400 500 600 700 Biscoitos de caramelo Biscoitos Gregos Biscoitos Apertados Pão Acrilamida (ug/Kg) Amostras Valor indicativo (ug/Kg) Figura 5 Resultados das amostras dos pastéis Materiais e Métodos Amostragem Neste trabalho foram analisadas 30 amostras de doces e pão, recolhidas em estabelecimentos hoteleiros do Norte, Centro e Sul do País. Metodologia de preparação O teor de acrilamida foi determinado pelo método UPLC-MS, precedido pelo método de extração em fase sólida. 2g de amostra 20 ml de H2O:HCOOH (0,1%) Vortex 2 min Agitador oscilante 70 osci/min 30 min Centrifugadora 15 min a 10000 rpm Conclusões Os resultados do controlo de qualidade permitem concluir que o método é adequado para a análise da acrilamida, nos produtos analisados. Pelos resultados agrupados por alimentos com valores da EFSA conclui-se que os biscoitos estão abaixo do valor indicativo, no entanto o pão excede o valor indicativo no grupo 1. Os teores de acrilamida detetados no segundo grupo foram mais elevados para toda a pastelaria analisada. O teor de acrilamida encontrado no pastel de nata é dos mais baixos sendo a quarta amostra analisada com menor teor de acrilamida. Os nossos resultados indicam que o teor de acrilamida encontrado, nestas amostras de pasteis de nata, não apresentam risco para a saúde. No entanto, são necessários mais estudos de ocorrência de acrilamida, na doçaria portuguesa e em particular para o pastel de nata. Referências [1] States, M. 12.11.2013. Off. J. Eur. Union 15, 20122014 (2013). [2] Mojska, H., Gielecińska, I., Szponar, L. & Ołtarzewski, M. Estimation of the dietary acrylamide exposure of the Polish population. Food Chem. Toxicol. 48, 20902096 (2010). Figura 4 Resultados das amostras de tortas e queques y = 75,057x - 41,087 R² = 0,9999 0 5000 10000 15000 20000 0 50 100 150 200 250 300 Área do pico [Acrilamida] (ug/L) Figura 2 Curva de calibração 0 200 400 600 800 1000 1200 Acrilamida (ug/Kg) Amostras Valor indicativo (ug/Kg) SPE UPLC-MS Acrilamida Batatas Batatas fritas Snacks Café Café instantâneo Grãos de café Cereais Pão Pastelaria Figura 1 Grupos de alimentos processados onde foi detetada a formação de acrilamida Cromatograma 0 200 400 600 800 1000 Pastel de nata Pastel de Bolota Pastel de Chícharo Acrilamida (ug/Kg) Agradecimentos Os autores agradecem ao projeto TDS-Exposure o apoio financeiro na realização deste trabalho.

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  • Acrilamida em doçaria

    Portuguesa

    Susana Jesus a, Inês Delgado b, Ana Ramos a, Carlos Brandão c, Nelson Félix c, Isabel Castanheira b

    a Departamento de Química, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade NOVA de Lisboa, Monte da Caparica, Portugal

    b Departamento de Alimentação e Nutrição, Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, I.P., Lisboa, Portugal

    c Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril, Estoril, Portugal

    [email protected]

    Palavras chave: Acrilamida, Reação de Maillard, Asparagina, Açúcares redutores

    Introdução

    A acrilamida foi sintetizada pela primeira vez em 1949, tendo sido considerada, em 1994 pela IARC, um contaminante do grupo 2 A (carcinogénico para o animais e provavelmente para humanos). Vários contaminantes que se formam a partir de alimentos processados, sendo um deles a acrilamida. Este composto de estrutura vinílica foi descoberto, em 2002, em alimentos processados. É um contaminante decorrente do processamento. Diversa investigação tem sido publicada, acerca das vias de formação da acrilamida a partir de alimentos processados, uma vez que esta é um dos contaminantes importantes que deve ser formado no decorrer do processamento, existindo várias possibilidades de formação. A via mais comum é a da reação de Maillard na qual estão envolvidos 2 precursores: a asparagina e os açúcares redutores. Outra das vias de formação, é através da acroleína, sendo que esta pode ser formada a partir da decomposição de triglicerídeos e por fim no caso do grupo das carnes poderá formar-se através da decomposição de carosina. Com o desenrolar da investigação, tem-se vindo a evidenciar/demonstrar a neurotoxicidade da acrilamida.

    8ª REUNIÃO ANUAL PORTFIR • 30 de Outubro de 2015 • INSA, I.P.

    Objetivo

    Com este trabalho pretendeu-se quantificar os níveis de acrilamida na doçaria Portuguesa, validar o método de quantificação e otimizar o método de extração .

    Resultados e discussão

    1. Performance do método

    Para a curva de calibração foi utilizado o padrão de acrilamida. A curva correlaciona a área do pico com a concentração do padrão. Os resultados para a exatidão e veracidade encontram-se dentro dos critérios de aceitação recomendados pela EFSA [1].

    2. Resultados das amostras

    Nas Fig. 3, 4 e 5 os resultados obtidos são agrupados com os valores: 1) indicativos da EFSA; 2) da literatura; 3) sem valor indicativo conhecido. O teor de acrilamida nas amostras de biscoitos variou entre 110 µg/Kg e 354 µg/Kg, sendo o valor mais baixo o biscoito de caramelo e o mais alto o grego. Como se pode verificar, estes resultados não excedem o valor indicativo da EFSA, 500 µg/Kg. Em relação à amostra de pão, esta está acima do valor indicativo da EFSA [1]. Os resultados apresentados na figura 4 indicam que as amostras com um maior teor de acrilamida são a torta de laranja, o queque de chocolate e o pão deus. Em comparação com os valores encontrados em literatura, todas as amostras têm um teor de acrilamida mais elevado [2]. Quanto às amostras dos pastéis constata-se que o pastel de nata é o que tem o valor mais baixo, pelo contrário o pastel de chícharo é o que contém maior teor de acrilamida.

    Figura 3 – Resultados das amostras dos biscoitos e pão

    0

    100

    200

    300

    400

    500

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    Biscoitos de

    caramelo

    Biscoitos Gregos

    Biscoitos Apertados

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    Amostras

    Valor indicativo (ug/Kg)

    Figura 5 – Resultados das amostras dos pastéis

    Materiais e Métodos

    Amostragem Neste trabalho foram analisadas 30 amostras de doces e pão, recolhidas em estabelecimentos hoteleiros do Norte, Centro e Sul do País.

    Metodologia de preparação O teor de acrilamida foi determinado pelo método UPLC-MS, precedido pelo método de extração em fase sólida.

    2g de amostra

    20 ml de H2O:HCOOH (0,1%)

    Vortex 2 min

    Agitador oscilante 70 osci/min 30 min

    Centrifugadora 15 min a 10000 rpm

    Conclusões

    Os resultados do controlo de qualidade permitem concluir que o método é adequado para a análise da acrilamida, nos produtos analisados. Pelos resultados agrupados por alimentos com valores da EFSA conclui-se que os biscoitos estão abaixo do valor indicativo, no entanto o pão excede o valor indicativo no grupo 1. Os teores de acrilamida detetados no segundo grupo foram mais elevados para toda a pastelaria analisada. O teor de acrilamida encontrado no pastel de nata é dos mais baixos sendo a quarta amostra analisada com menor teor de acrilamida. Os nossos resultados indicam que o teor de acrilamida encontrado, nestas amostras de pasteis de nata, não apresentam risco para a saúde. No entanto, são necessários mais estudos de ocorrência de acrilamida, na doçaria portuguesa e em particular para o pastel de nata.

    Referências

    [1] States, M. 12.11.2013. Off. J. Eur. Union 15, 2012–2014 (2013). [2] Mojska, H., Gielecińska, I., Szponar, L. & Ołtarzewski, M. Estimation of the dietary acrylamide exposure of

    the Polish population. Food Chem. Toxicol. 48, 2090–2096 (2010).

    Figura 4 – Resultados das amostras de tortas e queques

    y = 75,057x - 41,087 R² = 0,9999

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    [Acrilamida] (ug/L)

    Figura 2 – Curva de calibração

    0 200 400 600 800

    1000 1200

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    Amostras

    Valor indicativo (ug/Kg)

    SPE UPLC-MS

    Acrilamida

    Batatas

    Batatas fritas

    Snacks

    Café

    Café instantâneo

    Grãos de café

    Cereais

    Pão Pastelaria

    Figura 1 – Grupos de alimentos processados onde foi detetada a formação de acrilamida

    Cromatograma

    0

    200

    400

    600

    800

    1000

    Pastel de nata Pastel de Bolota Pastel de Chícharo

    Acr

    ilam

    ida

    (ug

    /Kg

    )

    Agradecimentos

    Os autores agradecem ao projeto TDS-Exposure o apoio financeiro na realização deste trabalho.

    mailto:[email protected]