tdah - moyses e collares (9)

Upload: sandroalmeida1

Post on 08-Jul-2015

1.201 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 5/9/2018 TDAH - Moyses e Collares (9)

    1/9

    A HISTORIA NAo CONTADA DOSDISTURBIOS DE APRENDIZAGEMMaria Aparecida Affonso Moyses

    Faculdade de Ciencias Medicas'UnicampCecilia Azevedo Lima Col/ares

    Faculdade de Educa~1io/Unicamp

    Ao se pretender uma ana li se c ri tic a do s ign ificado para a educacao do quesc convenc ionou chamar de distdrbios de aprendizagem, e inicialmente necessarioque ossa cxprcssao scja aprcendida do ponto de vista ctimol6gieo.

    A palavra disnirbio cornpoe-se do radical turbare e do prefixo dis. 0 radicalturbare signiflca "alteracao viole nt a na ordem natural" e pode ser identificadorambem nas palavras turvo, turbilhao, pcr turbar , conturbar ctc . 0 prefixo dis por seusignificado - "altcracao com sentido anorrnal, patologico" - possui, intrinsecamcnte ,valor negativo. E exatamcnte par esse significado que e urn prefixo muito usado naicnnlnologia medica. Assim, rctomando a palavra distiirbio, pode-se traduzi-la por"anormalidade patologica por altcracao violent a na ordem natural".

    E a cxprc ssao disturbios de aprendizagem'l E bast ante c la ra . Re fe re -se auma "anormalidade patologica por altcraeao violerua naordcm natural da aprendizagem",ou seja, obv iamcruc local iz ada em quem aprcnde. E implicito na propria expressaoque, ao se fazer tal diagnostico, cstao (ou for am) devidamente cxcluidos todos osfatorcs que possam interferir negatlvamcnte no processo cnsino-aprendizagem (quenao sao objcto de esrudo ncste rcxto), uma vez que nao sc fala em "disturbios doprocesso ensino-aprendizagem".

    Portant0,disttlrblo deaprendizagem remere, obrigatotiamente, a urn problema,ou, mais c la ramcnte, a uma doenca que acornete 0 a luno - 0 portador - em nlvelindividual, organico, Para urn problema individual, s o p o dem surglr solucoes individuais.Para urn problema medico, so lu c oe s med ic a s.o usa dessa expressao (reflcxo da freqiiencia com que ocorre0 diagllosrico)t ern se cxpandido de mane ir a a ssus tadora ent re profe ssores e , e rnbora a rna io ria naoconsiga explicar claramente seu significado, seus critcrlos, quando utilizada, pcrcebe-seque ~ cxatamente com 0 prop6sito de s e r ef er ir a u ma d oe nc a, a ur n problemalocalizado no aluno.

    Pode-se constatar, assim, a concretizacao no cotidiano da sala de aula doprocesso de biologiza~i io das questoe s soc ia ls (no case, a s educacionais) , processoeste de cunho idcol6gico incgavel.

    "

    31

  • 5/9/2018 TDAH - Moyses e Collares (9)

    2/9

    A b io lo gi za ca o - c c on se qi ie nt e p ato lo gi za ca o - da ap rend iz agem esca r no t ei aos deterrniuantes politicos c pedagogicos do fracasso escolar, isentando dere sponsabi lidadcs 0 s is tema soc ia l vlgentc e a ins ti tuicao escolar ne le inser ida . E osdisttirbios de aprendlzagem sao u ma da s fo rrnas de c x pr es sa o r na is em moda, naatualidade, dcssa biologiz.1~iio da educacao c, mais especificarncnte, do fracasso escolar,

    o concelto oficial dos dlstdrbios de aprendlzagemTem sido freqilente, nos meios cducacionais, ouvir-sc que 0 termo disttlrbios

    de aprendizagem nao r cmct e ob ri g at o ri amcn t e a urn problema biol6gico, localizadono individuo. Com 0 objc tivo de desfazcr e sse cquivoco, va le a pena c itar a de finicaoestabcle cida em 1981 pelo National Joint Comittee for Le arning Disabilities, nosEstados Unidos da America ':

    Dlsnirbios de aprendizagern e ur n iermo gcndrico que se re fc re a urng ru p o h c te ro g cn c o d e a lr er ac o es m a ni fc st as p o r d if ic u ld a dc s s ig n if ic at iv a sna aquisicao c usa de audicao, fala, lcitura, escrita, racloclnlo ou habilidadcsmaternaticas. Estas alteraciies sao intrinsecas ao lndividuo epresumivelmeme devidas d disfuncdo do sistema nervoso central. Apesarde um disturblo de aprendizagcm poder ocorrer concomitantcmente comourras condicoes dcsfavoravcis (por cxcmplo, altcracao sensorial, rctardomenta l, d isn irb io soc ia l ou cmoc iona l) ou influenclas ambientais (porcxemplo, difcrcncas culturais, instrucflo Insufuclcnte/inadequada, fatorcspsicogenicos), m10 C rcsultado direto des r as condicocs ou influcncias.(grifo nosso)

    IEsse comite c conside rado , nac ionalmcnte, como 6rguo com cxperiencia ecompctc ncia para normatlzar a a ssunto e elaborou e sse conceito em substituic ao aoutro anter ior, de 1968~.Para cvitar "erros de interpretacdo inadvertldos ", a comitepublicou a dcf 'iniciio com cxplicacocs frase a frasc , Assim, a sentcnca grifada nessetexto rcccbe os scguintcs adendos:

    . .. s~gnifica que a fonte do disnirbio dove ser encontrada intemamcnte apcs~oa que c a fctada ... A causa do dlsnirbio de aprcndizagcm e limadisfuncao conhccida ou prc sumida no s is tema ncrvoso cent ra l. A f ra seicnta falar claramcnte da intencao subjaccnrc no conceito de que disuirblosde aprcndizagem 5:10intrinsecos ao indivlduo.

    . I A i,nda... a Com ite concorda q~e evid~nc iaconcreta de organ icidade1 l ? 0 lpr~cls3 cstar pre~entc p ar a s c d la gn os ti ca r u m a p es so a p or ta do ra ded is tu rb io de aprcndizagem, mas ncnhuma pes s oa pode receber csted iagnos tlco a monos que uma dis funcao do s istema ne rvoso cen tra l seja. a ca~sa suspeltada. I

    i .. ~3 posi~iio de que urn disturblo de aprendizagem p od eria te r causasna?-biol6g leas, com dcstaque para as psicol6g icas, surge entre profission ais da psicologiaI . E ss e cOI~i:e c fonnado por sCis organiza~6cs profi ss ionais l igadas ao assunto: AmericanSpeech-Ung . .Jage- l- !canng Association, Associa tion for Chi ldren and Adult s with LearningDisabil it ies, . Council for Learning Disabil it ies, Divis ion for Chi ldren with CommWlicatio~Disorders!lntemat ional Reading Associa tion e Onon Dyslexia Society.

    2. Esse condcito d~ 1968 sem comentado adia1l1c, nas pp. 38-39.

    32

    e da eduCa9ao como reaciio a s crltlcas que come~av~ a surg!r no ~rasil em relac aoa cssa questa03. Essa p ole mica IS artifie~al,. ao .se,d~svlar da dlsc~ssao fun~amental Cs6 pode ser mant ida par se ignorar a propna h~s t? r~a~a.const ru~ao d_ateona sobrc osdisulrbios de aprelldiwgem. Conhecer cssa historia e importante nao apenas ?~~a asupera~ao desse tipo de equivoco mas, principalmcnte, para que se possa dcsmitiflcarcssa teoria.

    "

    Recllperando a historia realInicialmente, c precise c la rear um ponto: osdisulrbios de a.p~el1diwgel~lsaoum a constru~ao do pcnsamento medico, s ur ge r n como entidades noso[oglcas e perslstem

    assirn ale hoje, como "docn~as" ncuro16gicas.Como fio condutor na recupcra~iio da historicidade, to~emos com~ model~

    de entendimento a dislexia, sem duvida 0 disttirbio mals dissemmado, refenndo-se aalteracao patol6gica na aquisi9ao/dominio da linguagem cscrita ,

    Aqui, ISnccessarlo urn parentese, para explicitar sobre qual dis1cxia

  • 5/9/2018 TDAH - Moyses e Collares (9)

    3/9

    sit~a ~ao descrita acima como disle xia), postulou a exlstencia de ceguelra verbalcOlrgenita,ldisttirbio de leitura pre tensamente provocado par um d e fe i to g e ne t lc o , Apart ir dal , publ icou a lguns re la tos de casas , t ip icos, segundo e le , decegueira verbalcotlgenita Ie que confirmariam sua teoria. A analise desses relates, cntretanto, ei nc ap az d e apontar qu a lqu e r e lemento que pcrmita minimamente suspeitar de umadoenca na j crian9a em que st ao. Ao cont rarlo, esses rela tes sa o tipic os no se ntido deidentiflcar problemas no proccsso ens i n o -ap rend iz agem , de ordem claramente pcdag6gica.Apenas COTIlO excmplo, podemos citar 0 adolescerue que se sentia humilhado em salade aula e tia o c on se gu ia l er pois sofr ia com as gozacccs dos c ol cg as e n es sa c on di ca osua leituralpiorava muito; 0 "tratamento" prescrlto foi uma orieruacao it professorapara que nao 0 fizesse ler em VOzalta , com grande mclhora em seu aprcndizado, Essecaso foi descrito como tipico par Hinshelwood, que interpretou 0 progresso do jovernc om o e vi de nc ia d a v ali da de de seu diagn6stico. (Coles, 1987): ~mbora Hinshelwood tenha s e l im i ta do a alguns trabalhos em que rel ata

    casas como 0 desc ri to , scm qua lque r comprovacao de sua teor ia (a existenc ia . de urndefcito cerebral gcnctico que impedir ia a aprcndizagcm) e nao tenha side minimamentercconhecido por decadas, e comum ser cltado em textos re centes como 0primeirogrande autor no campo tc6rico que entao sc iniciava, 0 dos disnlrbios de aprendizagem,. ~ linha te6ri ca - altcra coes organicas e/ ou gc nc ticas impcdindo que crianc asaprendam a l er - nao te ve repe rcussao no campo da a prendiz agcm, da lingiHstic a emesmo da! propria mcdicina-: Os trabalhos de Hinshc1wood nao foram citados por

    ou tros aut~re s e nao fora rn publ ic ados out ros t raba lhos com esse e studo,"A p ro xim a p is ta dessa tenta tiva de rccupcrar a historicidade dessa producao

    de conheclmcntos s6 surge ern ]918, com Strauss. Essc ncurologista amcricano lancaa hipotesel de que os disturbios de comportamento e, com menor cnfase, as deaprend izagem poderiam scr conscqi lcntes de l ima lesdo cerebral minima. Tambemcssa hipo tc sc e publicada scm qua lqucr evidenc la emplrica ; sua or igem e ,rnais limavez, 0 "rac ioc inio clinico tra dic ional". A observaca o de que algumas pc ssoas quesobreviviam a doencas ncurol6g icas be rn e stabe lecida s, p rinc ipalmenrc infeccoes ctraumas, passavam a aprescntar, como uma das seqiiclas, a ltcracocs dc comportamcnto(em rclacao a seu proprio padrao anter ior it docnca), suscira a ideia de que individuoscom "cornportamento anorrnal " podcriam tcr , como causa basica, uma lesao cerebral.Lesao sufic ientc para alterar 0 comportamento, porcrn minima 0 bas tante para naoprovocar outras manlfestacoes ncurologlcas." (Schechter, 1982)

    A hipotc se de Strauss e possibilitada, historicamcnte, por urn contexter ecept ive, ba sicamcnte par duas quesroes, A primc ira e a oc orrencia , na primeiradecada do s ec ulo X X, de uma cpidernia de e n ce fal it e l ct a rg i ca nos Estados Unidos,4. Em 1925, William S. Gmy, dirctor do Research Committee of the Commonwealth Fund,iniciou a publicncao de Ievantamentos bibliognificos sobre 0 esmdo-da-nrtc rcfcrentcs nleitura. No primciro mimcro, 0 comitc rcgistra, entre as 436 rcferenciasIlstudas, apenas umaque scguia essa linha, Essa rcfercnclae um trabalho do proprio Hinshelwood. Segundo Coles(1987), postcrionnente Gray continuou dando pouco crcdito a cssa tcoria,5. Essa questao do nome queStrauss atribui a pretcnsa patologia e essencial pam0entendimentodessa historia. Ate entao, as altem~oes componamentais e/ou intelectuais dccorrentes de umadoen~a neurol6gica comprovada cram uma das muitas manifcsta~oes de compromctimentoneurol6gico, destacando-se as motams e sensoriais.Ao se pretender a e)(istcnciade uma lesaocaprichosa a ponto de s6 interferir com 0 comportamcnto c a aprendizagem, a ressalva"minima" e flmdamental.

    34

    com altas taxas de morbidadc e morta lidade, Entretanto, sobreviveram muitas pcssoasque, ao lado de outras scqUclas neurologicas, aprcsentavam r n u d a n c a de comportarnentoelou de fu nc o es in te lc c tu a is , A s eg un d a q u es ra o e a tendencia da sociedade emdiscriminar, extirpar 0perigo de comportamentos diferentes dos socialmente estabelecidoscomo "normais" . As fonnas como fora rn t ra tados os compor tamentos "desviantes"ao longo da historia do homem e um eixo central para se apreender porque arned ical iz acao , a pa tolog izacao sao tao faci1mente ace ltas c disseminadas , uma vezque respondem a anseios da propria sociedade, A n ao -a ce lt ac ao d as normas sociaisincomoda a maioria das pessoas e qucstiona essas normas, ao coloca-las comonao-natura is, portan to nao obriga to riamente cor re ta s.? Ao longo dessa historla dedisctiminacao, ocorr e, com 0 nascimento da c ie nc ia mo de rn a, a substituicao dareligiao pcla ciencia como legir imadora das crltcrios de norrnalidadc/anormalidade.as bruxos, os hereges sao transforrnados em loucos, c riminosos, doen te s. E a par ti rda scgunda metade do s cc ul o X IX a medic ina,mais tarde acornpanhada pela psicolcgia,estabelece-se como uma das principais fontes desses criterios, cmprestando urn caraterclentifico a questoes idcol6gicas.

    Rc tomando a Str auss , sua h ipotese nao teve aco lh ida sign ifica tiva no meioc ient if ico, para a soc iedade , nem chcgou a exist ir. Embora ja possa ser idcntificado,a processo de biologlzacao do comportamento ainda esta se iniciando, pouco sofisticadoc, por que nao, poueo compctcnte. Ate entao, a tcoria nao consegue sc infiltrar nocot idiano , nao se concret iz ando de fa te ,

    Em 1925, Orton, neurologista americana, ressuscita Hinshclwood c descrcveem POliCOempo mui tos casas dc cegueira verbal congenita, obtcndo rapldamcnte urnf inanc iamento da Pundacao Rockfel le r pa ra pesquisa r "cs te d is turbio previamentenegligcnciado", segundo as palavras de Gcschwind, Esse autor, ncurologista amcricanode rename, em 1982 faz a biografia de Orton, relatando esses fates. (apud Coles,1987) E cont inuando , coma que , fr en te a urn jovcm com dif iculdadc de lei tur a, Ortonpercebeu cstar diante de ur n "fenomeno rcmarcavel. ; reconhcceu que este hist6ricopacicnte estava de faro sofrendo da rnesma condicao descr ita peloncurologista ingles,James Hinshelwood? ". Ate 1940, Orton publica va ries trabalhos sa bre a assunto eacaba lancando uma nova tcor ia , sup lantando a "cegueira verbal congtinita" por umacxplicacao sua: a strephosymbolia. Baseado exc lusivamen te em o b se rv ac oc s d a l ei tu raem c riancas, propoe que os disuirbios de leitura seriam causados pe la falencia emestabclece r a domina nc ia para 1inguagem no hemisfe rio esque rdo; da i, durante aleitura , os impulses nervosos produziriam registros lingliisticos igualmente em amboshcmisferlos cerebra is, a o i nv es de prcdominantemcnte no dominante para l inguagem.a result ado seria complic ado, pois, segundo Orton, os dois hemisfcrios ce rebra is" ... sfio reverse s em padra o, isto e, 0 hcmlsfe rio e squerdo tern a mesma relacao como hemisferio direito que a mao esquerda tern com a mao dire ita. Parece logico,portanto, concluir que os registros (ou engrarnas, como sao charnados) de urn hemisferioscr iio copias e spccular es . .. do out ro em questao '" . Essa dominancia mista causariaconfusao na pe rcepcao, na or ientacao espac ia l e na d irecao da lci tur a, segundo Orton ,..... impedindo 0 re conhec imento imediato de d if erencas ent re pa re s de palavras . ..como 'was' e 'saw', 'not' e 'ton' e outras ... ". (apud Calles, 1987)6. Esse tema tern side bastante estudado por varios auto=, podendo ser destacados Foucault,Aries, Basaglia, aos quais remetemos os leitores.7. Rcssalve-sc que Hinshelwood ern, na verdade, oftalmologista. Porcm aDser ressusdtadocomo um des pais da dislexia, e transfonnado em neurologista, provavelmente para maiorcredibilidade da versiio oficiaI.

    35

  • 5/9/2018 TDAH - Moyses e Collares (9)

    4/9

    Pode-se identific ar, a qui, a origem de se conside rar a leitura em espelhocomo patognomonica de dislexia ( te rmo que ja corneca a apa rcce r nessa epoca),E interessante que apesar de a teoria da strephosymbolia nunca ter s ido

    compr~.":ad~ e ser ho je ncg ligen.ciada (ou mesmo explici ta rnente r ejei tada ), suaconsequcncia perdura, quase com vida propria, permeando toda a area daaprcndizagem:a s " reve rses", a lei tu ra em espe lho , a imagem especular .Como Hinshe lwood , Or ton n lio fo i r econhec ido nos me los c ient fficos pordecadas, Chcgou a ter alguns seguidores, a estimular algumas escolas especi ais,

    P?re,m .e sses fatos ti:eram minima expressao, Ate a dc cada de 1960, a campo dosdisturbios de aprendizagem aparentava estar mono; na verdade, estava quiescente.Ate a dccada de 1950, era outra a abordagem begemonica sabre aprend i zagem,Como exemplo, Vernon, psicologo ingles considerado uma das grandes autor idades

    no assunto, em l iv ro publ ic ado em 1957, conc lu i nao exist ir "nenhuma evidenc ia "da ~xistcncia de cegueira verbal congenlta e a fi rma : .. .. . e improvavel que constituamars que um a pequena parte me smo dos casas scveros de dlsturbio de leitura."Critic a as tcorias de Hinshelwood e de Orton e, fazendo urna rcvisao de pe squisa ssobre causas inatas de disttlrbios, conclui que" . .. a s invest igacoes que foram c itadasnao fo~cc ,e~ c la ra e :idcne ia da existencia de qualque r condicao organica ina ta queca use disturbio de leitura , exccto talvez em uma minoria de ca sa s". Sobre dislexiaafirma sumariamente , em nota de rod a pe , que c omo a tcoria .....n ao p od c ser accitaatc 0momento, 0 tcrmo dislcxico nao sera empregado neste livro". (apud Coles, 1987)

    Porem, no mesmo ano de 19:57, estrutura-sc , na medic ina 0 conceito delesdo cerebral minima, ou stndrome hipercindttca; ou hiperatividade' como entidadeclinica passfvel de tratamcnto medicamentoso. '

    A criarao da teoria fisiopatologicaA partir da administra cso experimental de calmante s e cstirnula ntcs dos is tema nc rvoso cen tra l (anfetaminas) a c rianca s com disttlrbios de contportamenm

    - em uma das expcriencias mais aruicticas na historia da medicina'' - Bradley(1937) rc la tou melhora da h ipe ra tividade , da agressividade e da aprcnd izagcm empadrao constante e rnantido, corn 0 uso de anfetamlnas, Tentando explicar es~c efeitoparadoxa l' - uma droga est i rnu lante mclhorando c rlaneas exc itadas - const ru iu- seuma teoria sobre a fi siopa to logia da "doenca". Pos tu lou-se um dcfei to na SubstanciaReticular ~tivadora Ascendcnte (SRAA), especle de "fil tro" que, sob con tro le vo lu rua rlo ,8. Trabalhahdo em uma instituicao para crianeas com problemas de difercntes t ipos e causas 0autor fO.l"testando" as efeitos de drogas com a~aono sistema nervoso central.Os efeitos:rolatc'!'ls dessa~drogasem a~ultosy eram bernconhecidos, com s e ri a s r e st ri c oe s a o seu uso;, em criancas, nao se conhcciam ainda seus efeitos, presumivelmente mais intensos;.' Alemdi~, como as c r ia n ca s ~ r am intemas na inslitui~ao,mio luiqualquer referenda a explicitacaode ~scoS para a famfl la , nem mesmo de consentirnento. A partir do primeiro trabalho,. publicado em 1937, 0autor persi st iu nessa l inha de pesquisa, agora ja acornpanhado poroutrosa~torcs. Emurn de sells trabalhos posteriores,chega aafirmar que" ...existe uma certa~prcensii~p~b!!ca,baseada largamente ,eminfonna~6es incorrelas, de que seu uso pode Jevara dep~dencJa .(~radl~y,. 1950) Em.sm~ese,0 autor testou drogas potendalmente pcrigosasem cna~~as com dtagnoslloos os mals dlversos, sem consentimento da familia. E tirou suas: conclusoes apenas de suas "impressoes c1inicas".

    I36:

    dctermina os estimulos que chcgarao ao cortex cerebral, tornando-sc conscientes e osque scrao resolvidos em cstruturas subcorticais, A SRAA e uma da s arc a s de maiercomplexidade funcional do ccrebro e seu cstudo c cxtremamente sofisticado e atracnte.Localizar nessa area urn pretenso defeito garantiu urn novos(a/us a esse campo te6rico.

    Embor a n cn h um outro autor ( ne m e le mesmo) tenha conseguido rcproduziros re su ltados de Bradley e s is tema ticamente se dcsc revam respos ta s i rr egular es ,inconstantes e tcmporarias com 0 usa de est imulan te s do s is tema ne rvoso cen tra l, ateoria construida persistiu tambem com vida autonoma, Mais que isso, as expericnciasiniciai s de Bradley nao sao mencionadas, " sumira rn" da hist6ria oflcial , talvez pclaabsoluta fa lta de ctica, talvez porque nao intc ressasse divulgar quc a brilha nte ecornplcxa teoria era sustentada por resultados quesrionaveis de uma e xp cr ie nc iaquestionavel.

    E a hipotc se e xplicativa, embora ate hoje nunc a confirmada, pa s sou a serapre sentada como uma teor ia c ie rul fica , e laborada a pa rt ir de cvldcnc ia s empirica s ecxpe rimcntais, segundo os mclhores prccc itos da cicncla, totalmente cornprovada.Uma tcor ia que sc proc lama inqucst ionavel . Essa teoria foi consagrada em 1962, nomesmo congre sso em que se c riou 0 termo disfuncdo cerebral 1I11llillla.

    "

    o surgimento da disfuncdo cerebral minima (DCM)Em 1962, r ca li zo u -s e u rn sirnposio intcmacional em Oxford, rcunindo os

    grupos de pesquisa que se dedicavam a estudar a entidade lesdo cerebral minima.Ncssc encontro, todos os grupos aprcscntaram 0 mesmo resultado: cmprcgando todosos mcrodos de Invcstigacao disponfvcis, inclusive o cxame anatomo-patologico completedo cercbro (das peSS03S "docntcs" e que haviarn morrido por qua lquc r causa) , naose conscguiu dctcc ta r ncnhuma lcsao! Ncsse memento, os pcsquisadorcs cnvolvidosrcconhcceram cstar c rr ados, pore rn scm quest iona r 0 ponto c rucial de sua pos tu ramcdicalizantc : reconhccem nao haver lcsao c proclamam a cxistencia deuma disfuncao.Surge , a ss im, a disfuncdo cerebral minima (DCM).

    Essa "doenca" teria por manifcstacoes clinicas: hipcrat ividadc, agrcssividade,disnirbio de aprendizagcm, disturbio de linguagem, incoordenacao motom, defic it deconccntracf io, instabilidadc de humor, baixa tolcrfincia a frustraeocs e outras monoscomuns. Chama a a tencao que todas a s rnan ifc stacoes refc rcm-se a comportamentoe/ou a cognicao; a lcm disso, nenhuma e obriga tor ia , nao existe numero minima desintomas, qualquer combinacao c suflcicrne. Incxistcm criterlos que objetivcrn 0 quesc cntende, par cxcmplo, por agrcssividade, hiperatividade, disnirbios decomportamcntoou de aprcndiz age rn e todos os outros sintomas.? Ainda no conceito inicia l, saoobrigator ios: intcligencia normal; cxame flsico ( incluindo 0 neurol6gico) normal oucom alteracoes "minor", raio-x de cranio normal, eletroenccfalograrna n orm al o ucom altcracocs "minor"; qualqucr exame laborator ia l normal.

    Rca lmcnte, trata -se de uma "doenca" muito e squisi ta, que se bascia naauscncia obrigat6r ia de qualquer alreracao objctiva, Enfim, baseia-se na normalidade,o oposto do obje to habi tual da medic ina . Porem, ao se recupe ra r a historia daOeM,a impossibilidade de se comprovar a cxistencia de anormalidade bio16gica e gritante,9. Rcssalte-se que se eSHi falalldo de critelios pam 0 diagncstico de uma docn\a orgfinica.DClllrodo proprio rcferendal da Illcdicina como ciencia,0 Inlnimo que sc pode espcrnr c aexp1ica~ao,a objetividade e a padroniz.'1"iiode criterios.

    37

  • 5/9/2018 TDAH - Moyses e Collares (9)

    5/9

    !; I

    D~{, a (mi~a salda de ntro do campo medi co e pre sumir uma disfuncdo (alteracao nafuiwao scm correspondencia ana tomica l, Porern , quando se fala em qua lque r out rap at olo gi a p or d is fu ne ao , existem, multo bern estabclec idos , os criterios para se udiagn6stic1 , que incluem a l teracoes laborato ria is detcrminadas.i ~a fase inicial, assumindo quese trata de uma h i po te s e p r csunt iv a , 0conceito de DCM inc lu i a inda 0 que talvez fosse seu ponte mais import ante: oscriterios d h exclusao, Esses criterios estabeleciam, para 0 dia gn6stico de DCM, aobr igatoriedade de se exc lu ir: a ) causa s de or igem emocional , pedag6gica, soc ia l,cultural oJ. outras; b) outras doencas que pudessem explicar 0 "quadro clinico".

    i ~o s e c ol oc ar os disttlrbios de aprendizagem como urna das possivelsmanifestacocs da DCM ( e rnanl festacao sufic iente para tal diagn6stico), e st a s c explicitandoo ~onccitoi s.ubja;ente. a d~sc~s~o inicial deste tcxto: os 1i~trirbios Sa? express.'io deuma alte ra 9a o biologica, individual . Ao se formula r a hlpotcse de dlslexia, mesmoque seignore, formalmente, a referencia e a uma disfunaio neurologica. A dcfinicaod e disllirb~os de aprendizagem estabclecida em 1968 , por urn grupo multidisciplinaremerlcanojr'I'hc National Advisory Committee on Handicapped Children) e bast anteeloqilente: i

    Cri~n~as com disturbios de a p re n diz ag e m c xib cm u ma a lt er ac ao em urnou mais processes psicologlcos basicos envolvidos na comprecnsao ouuso :da l inguagem fa lada ou esc ri ta , Podcm se manife star por a ltcracoesna audi9ao, pensamcnto, fala, leitura , escrita , soletracao ou aritmctica.ElcS inc luem cond icoes 'quc tcm sido referidas como dcflchs dc pcrcepeao,lcsao cerebral, disfuncao cerebral minima, dislcxia, afasia dedesenvolvimen!o etc . Eles nao incluern problemas d e a p rc n d iz a gcm quesao :primariamcnte devidos a deficiencies visual, audit iva ou rnotora, arctardo mental , disn irbio emocional ou desvantagem ambiental . ( apudColes, 1987)

    Trata-se de conceitos, tanto 0da DCM como 0de disttirbios de aprendizagem,vagos, imprecisos, que se basciamcm exclusoes e cm rcfc rcnc ias a slnonirnos e/ouout ros concc itos, que por sua vez , tambcm carecem de precisi lo .

    Entre tanto, se na dccada de 1960,0 diagnostico dessas ernidadcs nosologlcasa inda exige a e xc lusa o de outras patologias, c ondicoes ou influencias que possamexplicar 0' prob lema , e sses c ri td rios de exc lus iio sao poster io rmcnte e liminados dosconceitos, tornando-os ainda mais vagos e abrangentcs. Cornparando-se as dcflnicoesde disttlrbios de aprendizagem estabelccidas em 1968 e em 1981 , podc-se constatarque, embor a s e p r et cn d cn d o objet iva e prccisa , a ultima, ao ace itar a concomitfmc iade condicoes anteriormente exclusiona is, pcrmite que qual qu er c r ia n c a com dificuldadesna escola seja passivel de c n qua d rarn en to n e sse diagnosrico. Em relaeao a DCM, amudanca e mais sut il, pois os c riterlos de e xc lusa o "sornem" do concei to, scm quese possa Iocalizar 0 momento, 0 porque e os responsaveis p e la su p re s sao . Assim,hoje, conceitualmcnte , uma mcsma crianca pode ser portadora dedislexia e dcficienciamental; de epilepsia e de disfuncdo cerebral minima; de dislexia e de condicoessociais,fpedag6gicas a dv er sa s; e por aL

    Entretanto, sc 0 conce ito se arnplia, continua nao respondendo a questaofundamental. Como idcntificar uma crianca dislixica? Como diferencia-la de umamal alfabctizada?

    38

    A bi%giza{:ao da sociedadeExiste outro ponto que mcre ce se r dc staca do. Por que na deca~a ~~ 1960

    essas teoriasconseguem se legitimare ser aceitas? Sena o ocorre~l muda~~.as slgnificantcsem sua cstrutura, se continuam scm qualquer fundamenta cao empmca , a respostadeve ser busc ada no me i o social. 0 que estava aconteeendo no r n u n d o ?

    Alsuns fates sao import antes. A guerra fria esta em momento cspccia lmentedcli cado: re~olu~ao cubana; guerra do Vietna ... Em todo 0 rnundo, a juventudecon tc sta com violenc la todos os valore s e stabelec i dos; rnov imcnto hippie, Bcatlcs,Rolling Stones, mini-saia, movimento e studan ti l, Maio de 68 . . . A corrida espacial , apol it ic a de integracao racial obriga t6r ia nas c scolas in. lp lantada, por Kennedy . .. 0sistema escolar am cricano (e em todo 0 mundo) ern Crise, questionado de um.l?dopclos jovcns e de o ut re , p er outros motives, p~la socicdade,: . Ao :r~casso prcvislvcle "cxpli cavel" de ncgros, soma-so a gora 0 mespera~o e 11lexph~avel fra~asso dac la ssc media branca . .. Enfim, todos os va lo re s da soc iedade americana estao sendocontcstndos pelos j ov cn s c p el as minorias, com demands dc rc fo rma das instituicocssocia is, inclusive a cscolar .

    A rea cao aos c onflitos so:i~is nao ta rda e oc orre como um mOl!l,ento d,~intensa biologizacao das qucstoes sociars. E ncsse contexro que.Arthur Jensen ~rovaque as difcrcncas de QI e ntre bra nc os e nc gros sao gencncamcntc ~c terrl1l~la da s."Prcva-sc", a inda , que os d if erentes papeis sociais e ntre os sexes sao dev.td~s.ad ifc rcncas b io logica s- ccrcbra is (0 homem com m~i~r cap~c idade de racl ':Cl l110matcmat ico c de a bstrac ao e a mulher COIllmaior dominie de lingua gcm; a raz ao nohomcm c a emocao na mulhcr), Difunde-se a psicocirurgia como solucao para av iolencla nos guc tos (lobotomia para "cc rebros d is func iona is") . Disscminam-sc ostes te s de QI, inc lusive em rev is ta s leiga s. l"o rcducionisrno biol6gico prctcnde que a sltuacao e0 destino de individuose grupos possam ser explica dos por - c re duzidos a - c ara ctcristica s indi~i.duai s.As circunstancias sociais teriarn lnfluencia minima, isentando-se de responsabilidadcso s is tema soc iopol it ico c cada urn de seus intcgrantcs. Dessa conccpcao decorre queo individuo C 0 ma ior rcsponsavel por seu destine, por sua condi cao de vida. Esseprocesso idcolo . . ico foi muito bcm crlticado por Ryan (1971), que, para descreve-lo,cunhou a exprc ;ao "cu lpab il iz ar a v it ima". Uma das caractcr ls rlca s fun?amenta isdesse proccsso consiste em se apresentar como voltado ao plen~ d~scn~ol,vLlnento decada homem defendendo que e fundamenta l conhecc r seus propnos lirnitcs pa ra seevitar frustracoes; seu discurso oficial c pe lo "cncorajamento de ind ivfduos e gruposa aceitar e f az cr 0 melhor de sc u proprio des tin e" ". (Ryan, 1971)A criafao da versdo ojida/

    Nessc contexto, concrctizam-se e rapidamcnte se disserninam as entidadesDCM e disturbios de aprendizagem. Surgem como mais um passo em um a longa10. Nes sa epoca , no Br as il , a r ev is ta Cnuelro publicava artigos com 0titulo "Seu filho c

    superdotado?" , com urn teste de QI. Atualmcnte, a revista Claudia publica testessemclhantes,com 0 titulo "Seu filho c dislexico?",II. No limite, significa0 encaminhamcnto "natural" do horuern para carrei~s como engenharta,pelo seu "dom" para as matenuitlcas. A mulher sera plenamentc realizada se accL tar slia" ap ti d: 'i o" para se r a s ec rcuir ia do engenheiro, par exemplo.

    39

  • 5/9/2018 TDAH - Moyses e Collares (9)

    6/9

    cadcia de hip6teses jamais cornprovadas. Porern, sao apresentadas aos mcios eientificosc a sociedade como ultimos avances de uma teoria cientff ica que vern se desenvolvendoM rnaisde50 anos; que terncomo base uma ampla e s6l ida producao de conhecimentos,com grandes pesqu isadores que mui to con tr ibu ir arn para a c lenc ia em gera l. Enf im,urn conhecimento c ient ifico com passado . E e exa tamente a l que &1.0 ressuscitadosa lguns autore s, com enfa se em Hinshe lwood e Or ton (Bradley , ao con tra rio, jamaissera citado, como dissemos), atribuindo-lhes uma producao ciemifica, uma importsnciaque jamais tiveram. 12 Niio eo ca so de se critiear e sse s autore s por seus e quivoc os oupelo que niiof izeram, prineipalmente se os inscr innos em seu tempo, nas possibilidadescientlficas concrctas de cntao. Pore1 1 1 , e inaceitavel que, um seculo depois, ncurologistasde renorne pretendam a t ri bui r -l hes uma cont r ibu ic a o in comensu ra v el para a ncurolog iade hoje. 13

    Esta complcxa conjuncao defatores - momenta hist6rico, forma de divulgacaocicntifica e mesmo a mudanca de nome (embora incorrcto, para os leigos umadis funcao apa renta um prob lema menos grave , menos i rremediave l que uma lcsao),aliada a existencia de tra tarnento mcdieamentoso 14 , alem de muitos outros naoidentif icados - permite que essa 1inha te6rica scja facilmente assimilada, reeonhecidacomo "correta", como cicntif ica, status que a te cnt flo lhc Cr:1 ncgado,

    E termos como ltiperativo, DeM, distdrblo, dislexia, hipercinetico invademo cotidiano da sala de al l la, inf il tram-se na fala dos professores. A hipotese setransforma em verdade absoluta, incontestdvel, Em crenca. ]5Elabora- se uma hip6tese scm qua lque r cvidcnc ia e rnp lr ic a que a supor te ;

    convencidos de sua perfc i9ilo,cicnlistas passam a olhar a rea1idade sob0 vies de suacre nc a; l 1a . busc a de el ementos que confirrncm sua hipotcse inicia l, dcforrnam apropr ia r ca lidade c e ssa rca lidade de forrnada c , por sua vez , a comprovacao cmpir ic ada hipotese, confcrindo-Ihe 0 c statuto de c icnc ia . Transformada em vc rdade, a tuaainda maisl sobre a realidnde, dcformando-a mais e ma is. As novas obscrvacoes darcal idade dssim a rt if ic ia lizada pc rmitcm modiflcacoes, cvo lucoes na teoria, comexplica90eS fisiopatologicas cada vez mais sofisticadas, complexes, a tracntes. Cria-seuma csplra] viciada, com novas mascaras para a mesma velha ideia, que nunca sccomprovou; (Quadro I): ' ~m conseqilencla , fala-sc hoje, praticarnente scm rcaftiiocontrar ia , da cxistenc ia

    de 18% de ~isl t!xiCOS,de 5 a 15% de hlperativos na populaeao em idade cscolar , Qu edocll{.'as S G F e ssa s q ue se m an ife sta m C OIl ltamanha freqiidncia? Na area da sa ude, os1 2 . ! lmpossivet resistir a analogia com 0 filme Blade runner (0 cacador de androides), em que,

    ! aos andr6ides recem-construidos se "emprestava" urnpassado, lima familia, uma vida,'comIfotos e t~do mais, para que se acrcditassem humanos, elos de urna corrente.[3.!0 nome :da Orton Dyslexia Society - uma das principais associaeocs amcrieanas na area. - e urna evidencia desse reconhcclmento.14.,Alias. esse e umponto interessante que marca mals uma diferenea da DCM com0campoide conhfcimento medico. Em rel3~ao Ii DCM, a primeira descobena e 0 tratamento'medicamentoso. habilualmcnlc uma das tiltimas questOesconhecidas acerca de lima doen~a.1 0 exemplo da Aids - bas tanle d ivu lgado e a lual - e elucidativo de como progride 0!conheci.rtento medico, desdel,a Suspeila de que se tra ta de uma docn~ diferente , suaIIescri~d epidemiologica e c1inica,ate a comprcensao da fisiopatologia e causas; s6 entaoIsepode holuiqiara a busca de medicamenlos, vacinas.1 5 . " Sobre as diferen~s entre c i C o t , . ia e cren

  • 5/9/2018 TDAH - Moyses e Collares (9)

    7/9

    . .~. ...._.......!.!

    II ~mbora nao se d ivu lgue, e ssa teoria e violentamente combatida no interiorda pr6pri~ medicina e da psicologia desde 0 infcio,' par autores que , por outra

    concepcao ide c ienc ia e de m undo, lutam contra a biolog izaeao da soc iedade e ten tamrecuperar 9s reais determinantes da aprendizagem. Em ge ra l , e s se s autores encontrammaior dificuldade para pub1icar scus trabalhos, tanto na literatura cientifica como naleiga . No Brasil, p or em , c hc ga -s e q ua se as raias da censura ,I I II 1'penas como cxemplo, podemos citar alguns aut ores importantes nadcsmitificaeao da DCM e da dislexia que , como Vernon O a cltado) nao tcm sidodivulgadod no Brasil.i Gomez ( 1967 ) d emon s tro u a a bso l ut a f a lt a de criterlos para 0 diagn6stico

    de DCM. Conrad (1977), alertando para 0 fato de que existem criancas com problemascomportamentais reais, dcfendeu que, com um estudo adequado, sempre se consegueidcntificarios detcrminantes d e sse c ompo r tamcnto no mcio socia l c/ou na familia; 0"problcm~", na verdade, c urnareaqao (quase que "normalv) a uma shuacao agressiva .Mil le r (1978) , compa rando as op inioc s dos adu ltos em contato com as c riancas quehaviam reccbido 0 diagnostico de DCM - se consideravam ou mio a crianca hipcrativa- dernonstrou niio haver a men or concordancla de opiniocs, ncm entre todos osadu ltos , n~m por subgrupos (pai e mae, p rofe ssore s, medicos , psicologos) ; nenhurng ru po ou c a te g or i a profissional detcm a chave para definir 0 c r it c ri o d e n o rrn al 'a n orma lem rc lacao a compor tamcnto. Esse c ri te rlo e definido pe lo l imiar de tolcr anc ia decada urn , dcpcndcndo de sua .concep~ao de soc iedadc , de v ida .

    .,. . , .,.

    Ate que ponto uma c rianca e c spe rta, a tiva , e st imulada, levada e a part ir deque se torna patologicamentc hiperativa?Uma p r imc i ra c c rt e za : e s sa s "d o en c as" c a ra c tc r iz am-se par s o s e manifestarcmquando a c rianca c rura na escola, Como a tendenc ia c que cIa entre c ada vez mais

    cedo, a inc idenc ia tern se dcslocado dos scte anos pa ra baixo , chcgando ao c iimulodc "d iagn6s ticosjpre \' isOcs" do t ipo "c ssa c rianca va i tor dislex ia quando ent ra r naprlmeira scrlc" feitos aos tres ou quatro anos de idadc . 0 outro lado da moeda e afala muito f rc q ii en te d as m a cs : "eu nunca ha v ia p c rc c b id o que m c u f ilh o era doentem e clc cntrar na escola". A segunda ccrteza: a "docnca" mclhora au cura com0tempo, dal 0 nome "dislexia cspccifica de cvolucao",

    Mcsmo em textos dc autore s que acredl tam nos disttlrbios, pode-se ler essasmcsma c ri tica s, a lgumas vezes tentando jusr ifica -la s, out ra s apa rcntcmente comolapses, Lefevre, ncuropediatra brasilc iro de rename, principal introdutor daDCM noBrasil, fala da "abundante, confusa c conflitante lircratura" a respeito de DCMcmbora "cste ja incluida entre os motivos que mais frcqiicntcmcntc lcvam urna criancaaos consu lto rios da e spc c ia l id a de " . (Lefevre e Recd, 1985, p. 685) Os a u to rcs r e co n he c ema existencia da surpresa dos pais ao descobrirem que seu filho c "doente '" , poremclaramente outorgam aos medicos a posse do crherlo de normalidade:

    E interessante assinalar a relativamente p e quc n a f r eq t ie n ci a com que aInstabilidadejhipcrativldade e re fe rida como queixa pr inc ipal : 14 vezesem nossos 100 pacientes, Ao procedermos ao cxame clfnico dos mesmos,entreraruo, foi passive I constatar que ela, na realidade, ocorre muitoma ls veze s, po is foi encon trada em 68 casas . Causa e st ranheza veri fic arque alguns pacicntes intensamente hiperativos nao Cram reconhecidoscomo tais pclos seus responsaveis, preocupados talvez com outros sintomas

    42

    que lhes pareeiam mais importantes. Ter n- s e a impre ss iio de que a lgunspa is no convlvio quot idiano se vi io " imunizando" no que diz r espc ito ahipe rat iv idade dos filhos, que a c aba , sc ndo considcrada como u rn fe nomcnona tura l, proprio da idade . (Le fevre e Reed, 1985 , p . 687)

    Por outro lado, os mcsmos autores alertam para a d issern inac fio da "docnca",afirrnando:A OCM passou pa ra 0 domlnio do conhecimento leigo, 0 "diagn6stico",com fundamcntos subjet ivos , tornou-sc a la rmantemente freqi iente.Rcconhccarnos que e rnais comedo para urna escola atr ibuir 0 fracassode um aluno a DeM do que procura r reve r seus c ri te rios pcdagogicos .Para os pais tambem pode scr mais com edo, pais reduzcm a propriare sponsabi lidade no que tange iI disciplina familiar. (Lefevre cReed,1985, p. 692)Re forc an do a d i sc u ssa o que ve rn se dcscnvolvcndo , os mcsmo s a u to res a f irmam:

    A dislcxia podc ser definida COIllO pcrturbacao constitucional, primaria,g e nc t lc a rn emc t r an sm lr i da , c a ra c tc r iz a da por d if ic ul da de em a dq u ir ir acapacidade de leitura, ut il iz ados os me todos de ens ino cos tumeiros . Adcnominacao "d islcx ia de cvolucao" indica que 0 dcfcito tcnde adesaparcccr com 0 progresso da maturacao, em oposicao a "dislex ia delnvolucao" cncontrada em quadros rcgressivos quc tcndem !1 sc agravarcom 0 t empo. A "dis lexia de cvolucao" e considerada "cspccifica"porquc e desacompanhada de problemas neurol6gicos, segundo opiniaocorrente. (Le fevre c Reed, 1985 , p. 689)

    Schechter (1982), em tcxto sobrc a cnacao c evolucao do conceito dehipcratividade como cntidade medica, anallsou alguns pontos, fundamentals para ele ,para a accitacao pcla socicdadc da mcdicalizacao do comportamcnto e da aprcndizagcm,destacando: a) as altcracoc s da estrutura familiar, de a grc gada para nuclear C 0conscq iicnte vazio na oricntacao das novas fami tias sobre c rlac fio de f ilhos , vaziorapidamcnte ocupado pclos medicos; b ) a formacao acri tica dessc profi ss ional , que,par ncm rcconhecer sua falta de condicocs para lidar com esse tipo de qucstoes,utillza em seu cstudo 0 ra ciodnio c linico, biol6gico; c) a cxistencia prccoce detcrapeutica mcd icamentosa, "descobcrta" 20anos antes da dcfin i"iio da sfndromc c\inica.

    Espcciflcamcntc em rclacao a dislexia, Black (1973) estudou a ocorrenciade lci tu ra /e sc ri ta c spccu la r em pcssoas considc radas norma ls e rn compa racfio compessoas que haviarn sido diagnosticadas como disldxicas, nao cncontrando difcrcncas.Os /lomlais aprcscnraram 20% de eITOSr everses para letras c 7% para palavras,enquanto as disldxicos aprcsentararn 22% e 5%, rcspectivamcnte.

    A leitura cspecular e ur n fen6meno que ocorre nonnalrucnte em qualquerpessoa, intcnsiflcando-se em condlcoes dc stress, de cansaco, E comprcensivel quescja mais frcqiicnte durante 0 processo de aqulsicaojdomfnio da linguagem escrita , Sese admire que ncssc proccsso a crianc a e sta adquirindo lctras, nao se pode falar em"crros por suprcssao de letras", urn dos mais difundidos "sina is" da dislexla.Os deflcits/erros de percepcao constitucm outro ponto bastante citado quando

    se fa la em dis/exia, com muitos autorcs "provando" sua existencia, caracterizando-oscomo "0problema de base". Enlre tanto, esses autores nao consideram quee impossivel,por I lleio de testes ou qualquer ou tro metodo, ava liar cxc1usivamente a pe rcep~i io.

    "

    43

  • 5/9/2018 TDAH - Moyses e Collares (9)

    8/9

    Vellutino, autor com inumeras pesquisas sobre 0 tema, argument a que outros fatores- como ca pa cidadc de soluciona r probl emas, rnotivac iio, ha bi lida de na Ieitura ,dominio l inguist ico - sao os ve rdadci ros re sponsaveis pe la s di fc rencas obse rvadasentre leitores normais e dislexicos e que tem sido consideradas defic its de percepcao.Em um de seus e studos , a ssurn indo que 0 usc da l inguagem esc ri ta COIllO insrrumcntode tes te int roduz c la ra vantage rn pa ra 0 grupo que sa be ler frcnte a analfabetos oudisldxicos, comparou 0 desempenho de "normals" e "disldxicos" usando 0 alfabetohcbraico, desconhecido por todos, comparando ainda com urn terceiro grupo, constltuldopor "normals" que conhcciarn a l ingua hcbraica, 0 resultado des dois primcirosgrupos foi ident ico quando lhe s e ra so lici tado que rcproduzissem de memoria, ape sbreve cxposicao, lct ra s/pa lavra s hcbraica s, em cont ra ste com urn desempcnho mui tosuperior do grupo que dominava a cscrita hcbraica. 0 autor conclui que 0 que sechama de "e rros de percepca o" sao, na ve rdade, "crros de intrusao lingiifstica".(Vellutino, 1979)

    Mais r eccntcmente, a pesqu isa ncuromc trica tern s ido apre sentada como amais sofi st ic ada tccno logia para ava liar a s funcoes das diferentes areas cercbrais,Alguns autorc s pre tendcm que seu uso no dlagnos tico dedisulrblos de aprendizagempcrmitiria 97% de ccrtcza, alern de ser a evidcncia cmpirica da base orgfinica,ncurologlcn, do dlsnirbio. 17 Esse mctodo consistc nu analise computudorizadn dercgistros cle troencefalograficos obtidos com potencial evocado. Potencial evocado(ou "em! rcsposta") sao alteracoes eletricas no ccrebro, perceptfveis aoele trocnccfalograma, obtidas ao submcter a pessoa a difcrcntcs cstimulos. Os estimulos(percepcao) sao eonduzidos pelas vias ncrvosas ate a area corrcspondcrue do cercbro,onde sao proc essados, ge rando potenciais e lctri cos, que podem se r ca prados pa re le trodos colocados em pontos dc te rminados do c rania. As mudancas nos potenc ia isevocados ~efletem 0 funcionamento de uma dcterrninada area cerebral. Por exemplo,c si imulos y isua is dcvem provocar r espos ta s na rcgi iio do cortex v isua l. Porem, nao scpode ria le va nta r para esse me todo a s mesmas qucstoes que Vcllurlno colocou parapcrcepcao{ Coles (1987) coloca mul to hem que a a tividadc cerebra l de duas pcssoas"Iendo" u rn t ex to em castelhano s e r a d if er cn te s c urna conhecer a lingua e a outrana o. Da l1/esma forma, pode-se di zer que avaliar a at ividade c ere bral evoc ada poresllmulos de linguagem escrita em pcssoas que sabcm Icr c compara-la com a dea~a lfabe t~ (ou dislexicos; const itui u rn vies me todologico, pois a s re sul tados saoabsolutam? 'n te prcvisive ls . Se sc pre tende isencao , tai s r esul tados so podem ter umainterprc tacao: a de quc ler c diferentc de cnxcrgar simbolos, Alias, dcve-se ressalrarque 0 proprio cri ador do rnet odo, John, no livro em que 0 difunde , publ ic ado em1977, ao defender sua excepcional e ficacia eo poder d a n eu ro m ct ri a, t am b cm c ri ti caas!pesqUi1S que fundamentam 0 metodo, ao afirmar:

    I Desde que 0 significado funcional das medidas (neuromctricas) a inda, nao Ifoi estabcleeido, nao seria lcgftimo afirmar que uma crianca com'r alguma medida s igni ficantemente desvian te do va lor media tenha sido,destf modo, idcntif icada como portadora de dlsturbio de aprendizagern.

    A medida nao pode ser assurnida a priori como sendo relevante aprocesses cerebrais envolvidos na aprendizagem ... Implicacoes tautologicass om enr e podem ser ev i t adas eorrelacionando as m e d i d a s (neurometricas)c o~ uma medida independcnte e valida de prc ju izo da aprend izagem deorigem organica, (apud Coles, 1987)

    ~------~I- '17 :Com es~e a rgu rn e n to , n a o se esta admitindo a inexis t enc ia de tais evidencias, peJo menosI anleriOn)1C11le?! I

    4 4 I

    Isto e , se se provar que uma c rianca e portadora dedislexia , ai a neurorncrriaes t a c a pa c it a da a c o nf i rrn ar !ADeM se t rans forma em ADD

    E ass im, a teor ia sobrev ive autonomamente, scm prcc isar se cornprova r,pa irando aci rna daqui lo que se chama c ienc ia , Sobrevive , e e mutante; modlfica-se,perpctuando a espiral vic iada.

    Em 1980, a Academia Americana de Psiqu ia tr ia , cons iderando imprec isosas conccitos de DeM, hiperatividade, crianca hiperclndtlca, disttirbios de aprendizageme outros unificou-os em uma nova sindrome, ADM (Attention Deficit Disorders -Disturbios por Deficit de Atencao). A just ificat iva foi que0 "dcfeito" basico situar-se- iana e sfe ra da a tencao, da i decorr endo todas a s posslvc is manlfc stacoes clfnicas, sejade comportamcnto ou de aprend izagem. Na dcf in icao da Academia, e ssa s indr~n:e,que tern dais sub tipos (corn e scm hiperatividade), aprescnta como "dados :ssencla~s:freqiientementc falha em terminar tarefas; frcqilenternentc parcce nao ~uvlr;f rcqiicntcmentc age sem pensar; frcqi 'lelllementc tern dif iculdade de concentracao emtraba lhos c scolare s; fr cq iien temente tcm dlsni rb iosdc aprcndlzagcm". (Hughes c talii, 1983)

    A ironia talvez seja a unica forma possfve l de rcac iio, a lcm do sus to , Comodisc utir sc riamente uma "doenca" que se ca rac teriz a por e sses "sintomas"? Comol ida r com tal intcnsidade de b iolog izacao da sociedade? Soc iedadc que ace ita e ansciapor e sse proc essol Em nome de um discurso voltado a faze r com que "cada um acclt cc faca 0 mclhor de s cu d es ti ne ", que se tern fe ito a s crinncas que rccc?cm es~esdiannosticos-rotulos? Quais suas conscqiicncias? Sc, de um lado, 30 rcduzir 0 socialao biologico, ocorrc uma generalizada iscncao de responsabilida_des, a cr.i

  • 5/9/2018 TDAH - Moyses e Collares (9)

    9/9

    ,. -,I"a amne sia invade 0 campo dos d isni rb los de aprendizage rn , com conscqi ienc la sperniciosas, A amnesia permite que se c a rn inhe de uma hi p6t es c a outra , sem questionars e sc e st a t ra b al ha nd o em dire~i io a uma exp li c ac a o real, ou apenas justificando uma

    velha ideia, jamais provada",, lssim como esses, fates poderiam ser chamados de "a historia que a

    medicina nao contou para a educacao", scm duvida deve haver muitas outras mit lflcacoescientificizadas, seja na area medica, na psicologia, ou qualquer outra area a flm , e quetem sido passivamente incorporadas como verdadc pela educacao, Canguilhcm (1982),ao criticar '0 conceito positivista de normal/anonnal, supcrando-o, eoloca que 0 quediferencia la saude da docnca mio e mcramente uma questao de quant idade , masbasicamente de q u al id a de , L embr e- se de que a quant idade e urn dos a tribut os daqualidade. Segundo 0 autor , urn erro grosseiro, dceorrcnte da vlsao posit iva ,e imaginarque se entendera 0 que e saude estudando a doenca. Talvez af resida urn dos problemasfundamentals da educa cao hoje. Pcrc ebe r que niio sera por meio do estudo do erro,da docnca,' de urn teoricamcnte possive l porem ra ro d isui rbio de aprendizage rn , quese entendcra 0proccsso ensino-aprendlzagem. 0 problema da escola brasilc ira nao seresolvera, Com certeza , pela transformacao do espaco pedag6gico, do sadio, do prazer,em espacoc llnico , da docnca, da rotulacao, Cabe a educacao a tare fa, 0 desafio dere tomar seu proprio campo de conhecimento, seja e rn nive l tcor ico, seja na a tuacao ,no eot id iano da sala de aula.

    Quadro JA perda da historia real

    crcneas, hip6teses scm comprovacao;mltlf icacao de autorcs, com valor cientif ieo irreal;"csqueeimento" dos crlterios de cxclusao;"csquecimcnto" da criacilo artif ic ia l da f isiopatologia;mcnosprezo e boicotc a qucstionamentos cicntif icos.

    Aliada avisiio organicist a e funcionalista da sociedade;formacao acrltica de profissionais;mercado de trabalho atracnte, em cxpansao,

    Lemaprogre ssiva c constante ampl iacao da esp ira l v lc iada , com explicacoes econcc itos cada vcz ma is complexes, sof ist ic ados , a tra cntes , sobre umalicerce irreaL

    Epatologizacao do espaco escolar, difieultando transformacocs;criancas rot uladas, introjet ando urna docnca inexistente, com repercussoessobre a auto-estima, auto-imagem, autocenceito.

    46

    Bibliografia

    BLACK,F.W. Reversal and rotation errors by normal and retarded readers. Perceptualand motor skiffs 36, 1973, p, 895.

    BRADLEY,C.Behavior of children receiving benzedrine. Am . J. Psychiat. 94, 1937, p,577.Benzedrine and dexedrine in the treatment of children's behavior disorders.---Pediatrics 5 (I), 1950, p. 24.

    CANGUILHEM,G. 0 normal eo patokigico. 21 ed., Rio de Janeiro, Forense Universitaria,1982.

    COLES, G. The learn ing l IIyst ique . (A cri tical look a t learning d isab il it ies) . USA,Pantheon, 1987.

    CONRAD, P. Situational hiperactivity: a social system approach. The Journal a/schoolhealth 47, 1977, p. 280.GOMEZ, M.R. Minimal Cerebral Dysfunction (Maxima neurological confusion). Clin.pediatr. 6, 1967, p . 589 .

    HECHTMAN, L.; WEISS, G. ; PERLMAN, T. Hypcrac rivc r a s young adul ts : pa st andcurrent substance abuse and antisocia l behavior. Alii. J. Orthopsychiat. 54 ,1984, p. 415.

    HELLER, A. 0 cotidiano e a historia. 31c d., Rio de Janeiro, Paz c Terra, 1989.HUGHES, M.e.; GOLDMAN, B.L.; SNYDER, N.F. Hiperactivity and the attention defic it

    disorders Alii. Fam. Physician. 27 (6), 1983, p. Il9.JACOBY. R. Social aninesya. Boston, Beacon Press, 1975.LEFEVRE, A.B.; REED, U.c. Disfuncao cerebral minima. Em E. Marcondcs (org.),Pediatria lxisica. 71ed. , Sao Paulo, Sarv ie r, 1985 .MILLER, J.S. Hyperactive children. A ten-year-study. Pediatrics 61, 1978, p. 217.RYAN,W. Blaming tire victim: Nova Jorque , Random House , 1971.SCHECHTER, N.L. The baby and the bathwatcr : hyperactivity and the mcdicalizarion

    of child rearing. Perspect. Bioi. Med. 25 (3), 1982, p . 406 .SULZBACHER, 5.1. Psychotropic medication with children: an evaluation of procedural

    biases in results of reported studies. Pediatrics 51 (3) , 1973, p , 513 .VELLUTINO, F.R. Dyslexia. Cambridge, MIT Press, 1979.VERNON, M.D.Backwardness in reading. Londrcs, Cambridge University Press, 1957.

    "

    47