revista f. cultura de moda #15

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Ponto G, de gastronomia. A comida está na moda.

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EDITORIALPonto G, de gastronomia.

Pensar a comida através do contexto social da moda não é tarefa difícil, em 2015. A atenção a ser conferida, eu diria, é sobre a forma como a gastronomia está para o estilo e a gastronomização, para a moda.

A gastronomização, como a moda, está no território do marketing, dos valores e necessidades que determinados indivíduos, em determinado espaço e tempo, vão desejar consumir. A gastronomia, como o estilo, configura um gosto individual, uma fruição derivada de uma ideia mais aprofundada ou conhecimento burilado sobre um produto.

Atualmente, as pessoas não estão mais interessadas em comer apenas para matar a sua fome - aquelas pessoas, é bom lembrar, que possuam renda suficiente para não se preocupar com os meios de se ganhar o “pão nosso de cada dia”. Aquelas mesmas que não querem, apenas, cobrir seus corpos com qualquer pedaço de tecido.

Moda, estilo, gastronomia e gastronomização - e seus diálogos - aparecem de forma tão evidente nessa temporada que decidimos dedicar uma edição inteira ao assunto. A Expo Mundial de Milão é o só um dos reflexos - e uma das nossas pautas - que vocês podem conferir com a assinatura da jornalista Nivea Heluey, direto dos pavilhões dedicados a discutir como vamos “Nutrir o Planeta”, no futuro.

Acredito muito na transformação social através das mais diversas disciplinas. A gastronomia é só uma delas, e muito importante, pois é capaz de colocar o cidadão em contato com o produto da sua própria terra, convertendo uma situação de vida ruim em dignidade e empoderamento pessoal. Ponto para Alex Atala e os projetos Atá e Gastromotiva, que também são pauta nesta edição 15, com assinatura de Katia Dias.

Não há como dissociar a gastronomia das delícias sensoriais do sexo, por exemplo. A hashtag #foodporn, tão incensada no Instagram, diz tudo sobre isso e sobre como essa é uma das fortes tendências para esse setor. Por isso, nossa edição chama-se Ponto G. Uma brincadeira, cheia de malícia, sobre como é possível degustar a comida com o mesmo êxtase do sexo. Sua boca encheu d’água?

Moda de Autor vem com novos nomes mais quentes do que nunca, nossas colunas sobre música, livros e cinema também estão demais! Tendências e estilo? Vai ter também. Enfim, mais uma Revista F. recheada com muito tutano. Gostinho bom.

Cheers, Raquel Gaudard

DIREÇÃO GERAL DE MODAALINE FIRJAM - [email protected]

CONCEPÇÃO E EDITORIA DE CONTEÚDORAQUEL GAUDARD (MTB 17010) - [email protected]

DIREÇÃO DE ARTEVINICIUS ROMÃO - [email protected]

PRODUÇÃO EXECUTIVAVINICIUS RODRIGUES - [email protected]

PRODUÇÃO E CENOGRAFIAANESLEY PEREIRA - produçã[email protected]

STYLING VINICIUS RODRIGUES - [email protected]

COMERCIALDELAINE LOPES - [email protected] LISBOA - [email protected]

OPERAÇÃO COMERCIALCLÁUDIO ALVIM - [email protected]

REVISÃO DE TEXTOHELLEN KATHERINE

CAPAArte gráfica por Vinícius RomãoModelo: Roberta Castro (Élyseé Model Management)Foto: Márcio Brigatto Assistente de fotografia: Venderlei Nazareth Hair e make-up por Phillipe Oliviéer (Equipe André Pavam Cabeleireiros) Edição de Moda: Aline FirjamStyling: Vinicius RodriguesProdução e cenografia: Anesley PereiraAssistente de Produção: Ana Luiza GraçaAGRADECIMENTOS ESPECIAISINGRID OG (EMPÓRIO DO BANHO), LUIZ FERNANDO M. DA SILVA (BRETAS), JAEL PIFANO E EQUIPE E MARÍLIA GUEDES.

TIRAGEM: 8 milIMPRESSÃO: Gráfica AméricaDISTRIBUIÇÃO: Mix Alternativo e Linder Panfletagem

Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da revista. Fica expressamente proibida a reprodução total ou parcial sem autorização prévia do conteúdo editorial. Todos os direitos reservados. A F. Cultura de Moda não se responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios publicados na revista.

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ALICE LINHARES é jor-nalista e estudante do campo da moda e da arte. Tem interesse por fazer parte de um mundo dinâmico e em constante transformação.

KATIA DIAS é jornalis-ta, com incursões em universos plurais, como arte, viagens e automó-veis. Trabalha como as-sessora da Pró-Reitoria de Cultura da UFJF.

RAQUEL GAUDARD é jor-nalista e mãe do Galileo. Atualmente vive na Itália e muito feliz.

DANIELLE MAGNO - “Eu gosto dos Beatles. E isso já diz muito sobre mim.”

MÁRCIO BRIGATTO é fotó-grafo, há 26 anos.

DANIELLE SARTORI é jor-nalista, eterna apreciadora das “modas” e das artes.

NAYANA MAMEDE é for-mada em Artes Visuais, fotógrafa e cantora de chuveiro.

NIVEA HELUEY é de-signer, consultora de fashion business e jor-nalista de moda.

RODRIGO AZEVEDO é stylist, coolhunter e que-ria que o Jurassic Park fosse verdade.

HELLEN KATHERINE é jornalista, apaixonada por internet, comunica-ção, moda e beleza. Se aventurando, agora, pelo mundo da assessoria.

JOTA JOTA é dono de um estilo inovador e criativo, que se reflete em sets úni-cos e trilhas de desfile ori-ginais, criados a partir de uma incessante pesquisa por novas sonoridades.

RAFAEL BITTENCOURT é psicólogo de formação, estrategista de branding e trendhunter de profissão e boêmio nas horas vagas.

VINÍCIUS ROMÃO tra-balha como designer gráfico, se amarra em música, fotografia e pé na areia.

COL ABORADORES

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- F.WORKS ONLINE: NOVO PROJETO DA F.WORKS PRODUTORA NO AR!

- STREET STYLE MEMORY EM JUIZ DE FORA

- LOCAL: TEMPO DE IDENTIDADE

- ESTILO: A HORA E A VEZ DAS BOLSAS DIVERTIDAS

- PUBLIEDITORIAL INFANTIL

- UMA MODA PALATÁVEL: O MENSWEAR E A GASTRONOMIA

- MENSWEAR: O OLHAR VIRTUAL DOS HOMENS PARA O MUNDO FASHION

- ESPECIAL EXPO MUNDIAL 2015, DIRETO DE MILÃO.

- PUBLIEDITORIAL LOOKBOOK

- TREND TOPICS: VERÃO 2016 NA ÁREA

- MODA DE AUTOR: ROMANIFFY MENDONÇA, MARIANA PROCÓPIO, NINO DE BARROS E XIMENE RODRIGUES DÃO AS CARTAS DA CRIAÇÃO AUTORAL, COM DNA JUIZ-FORANO.

- EDITORIAL: EAT MY FASHION

- ATUALIDADE: A GASTRONOMIA É POP?

- CULTURA: VOCÊ TEM FOME DE QUÊ?

- GASTRONOMIA E AFETO

- PUBLIEDITORIAL GASTRONOMIA: RECEITAS DESTACÁVEIS PARA COLECIONAR

- F.INDICA: LIVROS, MÚSICA E CINEMA

- PUBLIEDITORIAL ETIQUETA

- ONDE ENCONTRAR

SUMÁRIO

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N O S I T Ede cara nova: Moda de Autor se-gue com novos nomes com muito talento. Gostaria de divulgar seu projeto de moda conosco? Que-remos conhecê-lo! :)

F.Works Online é o nome do novo projeto da F.Works Produtora de Moda, em que nossa equi-pe de produção visita as melhores marcas de Juiz de Fora e região, apresentando aos nossos fashion followers no Instagram, Facebook, Twitter e Blog, lan-çamentos de coleção, desfiles, previews e showrooms. E nossa primeira parada foi na multi-marcas Lívori Store. Tudo lindo!

Tem uma marca e gostaria de participar desse projeto? g e r a l @ f w o r k s p r o d u t o r a . c o m . b r32 3217-6538

S I G A A N O S S A A R R O B I N H A : @ F W O R K S P R O D U T O R AW W W . F W O R K S P R O D U T O R A . C O M . B R

N O F A C Evárias postagens ao longo do dia sobre o universo da marca F. Works e da moda.

N O P I N T E R E S Tinspire-se em nossos bo-ards variados.

N O I N S T A G R A Mcoberturas dos eventos com o selo F.Works Pro-dutora, paparazzi do nos-so time de colaboradores e muito mais!

E N O B L O G A C E R V O P R O D U Ç Ã O várias matérias de edições passadas da Revista F., notícias sobre a moda local e global, galerias de eventos, vídeos, receitinhas e onde comer em Juiz de Fora.

Curtiu? Não curtiu? Converse com a gente: j o r n a l i s m o @ f w o r k s p r o d u t o r a . c o m . b r

F. WORKS ONLINE

© V i n í c i u s R o d r i g u e s© V i n í c i u s R o d r i g u e s

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STREETSTYLE

MEMORYA cultura gastronômica está na moda. Dos incontáveis programas de culinária pelos canais da televi-são e de internet à avalanche de es-tabelecimentos seguidos pelo termo “gourmet”, a economia se voltou para a indústria dos alimentos.

A Aline Freire é estudante de Es-tética, mas poderia facilmente ser confundida com uma profissional da moda. Uma “passadela” nas suas redes sociais mostra que ela é familiar ao mundinho fashion. A Aline, que ainda está no co-mecinho do curso, pensa grande e entende que uma mudança de ares poderá ser necessária para a carreira que pretende seguir.

A Ana Laura Giacomini tem sorri-so fácil. E como não poderia ter? Coração em ordem, sempre rode-ada por uma gangue de amigos do bem e entre leituras e músicas inspiradoras. A Ana Laura contou que está tentando deixar o cabelo crescer, mas vem considerando o processo “chatinho”. Nada que ela não tire de letra com uma boa dose de Mumford&Sons.

p o r C r a f t S t y l e – F o t o s © N a y a n a M a m e d e – T e x t o © R o d r i g o A z e v e d o

ALINE FREIRE

ANA LAURA GIACOMINI

A preocupação com a ori-gem e qualidade do que servimos nunca foi tão ex-pressiva, assim como o in-teresse por novas técnicas e formas de vivenciar sa-bores, aromas e receitas.

Passamos por cupcakes, cheesecakes, cake pop e push cakes e tentamos não levar bolo ou ficar de fora da festa. E, se até nossa ali-mentação é sujeita a modismos, nossos re-tratados mostram que a combinação “moda e gastronomia” pode render uma apresenta-ção que agrada ao paladar e ao estilo.

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A Anna Mancini, designer e ilustrado-ra, está empolgada para esse ano. Ela, que trabalha como freelancer e cola-bora para publicações independentes, está se preparando para duas feiras da área: uma em BH e outra em Brasília. A Anna, que assina seus trabalhos auto-rais como Manzanna, gosta de experi-mentar novas receitas em seu tempo livre, brincar com seu gato Lilo e, vejam

só, desenhar mais um pouco.

O Bruno Vargas está “nos final-mentes” do seu curso de Design de Moda. Empolgado com os desafios e projetos que estão por vir, ele não vê a hora de terminar esse ciclo. Como já trabalha no mercado, o Bruno tem uma jornada pesada, mas aprecia e dá conta do recado, sem perder o

bom humor e a irreverência.

O Bernardino Guedes se dá bem com crianças. “Teacher/Tio” dos bons, o pro-fessor de inglês conquista os alunos com humor e carisma. O Bernardino tem também seu lado vítima da moda, sem-pre de olho nas promoções e pensando nas comprinhas da próxima viagem. Na cozinha, ele não se aventura com muita

frequência, mas sabe dar seus palpites.

ANNA MANCINI

BRUNO VARGAS

BERNARDINOGUEDES

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A Ana Carolina Nascimento, a Carol, estuda Direito, mas foge dos clichês de seu campo de estudo. Ela curte se jogar na cultura street: é do rap, do hip hop e do skate. Simpática ao vegetarianismo, pretende, pela quinta vez - como ela bem lembra -, tentar se adequar a esse estilo de vida. Falando de moda, a Carol adora customizar suas peças e garimpar roupas vintage - garimpo este que rola até nos guardados da sua mãe.

O Cezar Augusto curte a ponte entre antropologia, arquitetura e urbanis-mo. Daí a intenção de combinar seus interesses em duas graduações. Ele é da tribo que confirma a teoria de que tatuar vicia e já coleciona bastantes desenhos pelo corpo. A mãe até tenta dar um freio nele, mas dá para perce-ber quem leva vantagem no impasse.

A Luana Gerhein gosta de uma boa con-versa. Estudante de Farmácia, ela traba-lha como hostess da cervejaria Timboo, onde tem a chance de exercitar seu lado comunicativo. O que para muitos parece uma rotina conflitante, para a Luana faz todo sentido e ela até pretende unir as áreas em seu trabalho de conclusão de curso. Avessa às tecnologias de telefo-nia modernas, curte mesmo desacelerar ouvindo Caetano Veloso e Milton Nasci-mento ou com os episódios de “How to get away with murder”.

CAROLNASCIMENTO

CEZARAUGUSTO

LUANA GERHEIN

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O Michel Ferreira diz que não possui limites gastro-nômicos. Vai do “podrão” da esquina ao menu “gourme-tizado”, sem preconceitos, nem frescuras. Apaixonado por desenhos e brinquedos, o Michel coleciona tatua-gens (já atingiu a primeira dezena) e é dono orgulhoso

de seis calopsitas.

O Lucas Barreto, estudante de Gas-tronomia, cresceu em meio a receitas e tomou gosto pela área ao provar as delícias confeitadas por suas tias. Mui-to musical, o Lucas toca vários instru-mentos desde pequeno e assume o fanatismo pelas bandas dos anos 80 e 90. Como adora viajar, não duvide esbarrar com ele por festivais ou por mercados/feiras gastronômicas mundo afora, colecionando sabores e experi-

ências para colocar na bagagem.

A Nara Esteves chama atenção pelas mui-tas tatuagens de flores. Florida, como a rua portenha e seu restaurante de cozinha argentina, com destaque para as empa-nadas, a Nara também é plural no que diz respeito aos estudos de idiomas, filosofia, moda e às sessões de cinema – com uma queda pelos filmes clássicos e os de fora do circuito, que já tiveram até a aprovação

do filho Leon e seus amiguinhos.

MICHELFERREIRA

LUCAS BARRETO

NARA ESTEVES

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A Paula Duarte é uma fotógrafa que vive se aventurando na frente das câmeras. É daquelas pessoas que co-nhecem seus melhores ângulos, pos-suem repertório de poses e, claro, que contam com uma visão conquistada pela experiência profissional. Por isso, a Paula sempre é chamada para um projeto ou outro dos amigos - quando não está investindo nos seus próprios, que são sempre no melhor estilo “tu-do-ao-mesmo-tempo-agora”.

O Samuel Vieira Mendes anda flertando com o minimalismo na moda. “Preto, branco, cinza e um ponto de cor, como um azul Klein.” É assim que o historia-dor da arte define sua dinâmica fashion atual, apostando no “menos é mais”. O Samuel, contudo, muda drasticamente quando está na cozinha: gosta de abusar de temperos, misturar influências culiná-rias e ingredientes e dá valor a uma mesa farta – de comida e de amigos.

O Vitor Nogueira, como bom estudante de Turismo, gosta de ganhar o mundo. Entre inter-câmbios e viagens a passeio, o Vitor curte explorar novas cul-turas e adicionar experiências à bagagem. Apesar de não ser exatamente caseiro, agora tem bons motivos para voltar ao lar, porque é pai coruja de um gato persa de olhos azuis, o Francis.

PAULA DUARTE

SAMUELVIEIRA MENDES

VITOR NOGUEIRA

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E M S U A T E R C E I R A E D I Ç Ã O , E V E N T O A O A R L I V R E R E Ú N E M O D A , G A S T R O N O M I A , M Ú S I C A E A R T E S A N A T O .

p o r A l i c e L i n h a r e sLOCAL

TEMPO DE IDENTIDADE

A vontade de trazer ao grande público o trabalho de pequenos criadores de Juiz de Fora e região foi o impulso necessário para dar vida ao Mercado Aberto, que reúne mú-sica, gastronomia, moda e artesanato. Após três edições, o evento vem se consolidando como uma oportunidade de promover uma nova forma de consumo, ocupar o espa-ço público de maneira saudável e criativa e trazer ao mundo offline marcas que têm atuação forte na internet.

Diego Casanovas, um dos organizadores do Mercado Aberto, conta que a ideia surgiu ao observarem uma carência de eventos que reunissem diversos segmentos de produ-tores locais. “Em cada evento que íamos, percebíamos que sempre faltava algo que criasse um impacto maior. Após um tempo de insatisfação, resolvemos tentar sanar, em uma única proposta, os problemas que havíamos observado”, explica.

Moda, brechós, artigos de decoração, aces-sórios, ilustrações e gastronomia compõem o leque de opções que as pessoas encontram no Mercado Aberto. E o que une todos estes criadores é justamente a essência do evento: diversidade, criatividade e colaboração. Pela praça, circulam famílias completas, jovens descolados e bebês de colo, todos dividindo um momento agradável de troca.

U M P R A T O C H E I O ! Sem dúvida, um dos grandes destaques do Mercado Aberto é a diversidade gastronômi-ca. Diego ressalta a existência de uma série de produtores na cidade, voltados para a criação de comida artesanal. “Decidimos que seria importante inserir no Mercado esses produtores, juntamente com os demais arte-

sãos, porém queríamos que essa participação não fosse coadjuvante como de costume nos outros eventos, mas sim uma participação efe-tiva e de igual para igual entre todos”. Passeando por entre os expositores, você pode experimentar um bolo de cerveja, to-mar um café, um drink ou uma cerveja ar-tesanal. Pode também degustar e levar para casa deliciosos pães ou temperos típicos de diferentes partes do mundo. Diego participa do Mercado com a marca Ra-vanello Conserve e Spezie que, ainda em pro-cesso embrionário, traz ao público especiarias, ervas, conservas e molhos de diversas regiões do mundo por onde ele passou, reunindo dife-rentes sabores, cores e texturas. Outra marca veterana do evento é a Tapiocaria Dedos de Moça, formada por Jamille Borella, Maria Letí-cia Barbosa e Flávia Thomé, em julho de 2014. Baseadas no conceito itinerante, as moças for-mam parcerias e levam suas tapiocas a vários lugares. Elas ressaltam a dimensão cultural de seu trabalho. “Não fazemos apenas tapiocas. Trazemos também um pouco da cultura indí-gena, a valorização de uma região brasileira, o toque de nossos ancestrais, traduzindo a cultu-ra de um passado e unindo-a à modernidade”. O conceito de comida vegana também está presente, mostrando que diferentes gostos po-dem se encontrar e compartilhar o mesmo es-paço. A proposta da marca Trash Food é trans-formar um hambúrguer, típica comida de fast food, em uma deliciosa combinação nutritiva e saudável. Carolina Vieira, uma das sócias, explica que os hambúrgueres de lentilha, be-rinjela, arroz e feijão ou inhame são vegetaria-nos e veganos, feitos de forma completamente artesanal, desde o pão até os molhos. Para a sobremesa, marcas como o Bolo Hún-garo da Maricota e Cucca – doces&delícias. Bolos, tortas, cookies, docinhos e cupcakes são apresentados ao público com o cuidado das técnicas artesanais. Ana Cláudia Ferrei-ra, da Cucca, apresenta a principal faceta do trabalho. “Além de ter a preocupação com o sabor e a apresentação dos produtos, também há uma nostalgia por trás do que faço. Uma receita de ‘dona fulana’, uma técnica que re-monta a ‘como minha tia fazia’. Uma colcha de retalhos de aprendizados do tempo e da me-mória.” Marina Barbosa, da Maricota, fala so-bre a importância da parceria com o Mercado

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Aberto. “Ocupar um espaço público a fim de promover produtos artesanais locais em uma tarde festiva é algo que complementa o conceito da Maricota. Tem sido uma experiência incrível conhecer pessoas e produtos tão bacanas, nos faz acreditar que essa lógica alternativa de comércio e produção pode ser apresentada de uma forma honesta e gostosa à sociedade.”

Todos estes criadores ressaltam - e comemoram! – o fato de que a culinária artesanal vem ganhando cada vez mais destaque. As me-ninas da Tapioca explicam: “Se antes ter o que todo mundo tinha

era divertido e sinônimo de status, hoje o barato é ser/ter/comer produtos diferentes”. Desta forma, muito mais do que uma simples resposta a uma necessidade fisiológica, a gastronomia torna-se elemento através do qual a cultura é exposta e trabalhada. Ana Claudia comenta: “Nós nos reunimos em torno de uma mesa em qualquer cultura. Os rituais, os ingredientes, os protocolos etc. va-riam conforme lugares, situações e modos de relacionamento. Mas o fato é que, através da comida, a identidade é exposta”. CONHEÇA: facebook.com/MercadoAber toJF

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p o r H e l l e n K a t h e r i n e

ESTILO

FUNBAGSTIME

A moda food inspired saiu das passarelas para entrar nas compo-sições de looks mais irreverentes. Não é de hoje que doces, cho-colates, salgados e opções de fast food vêm sendo apresentados por estilistas, em forma de detalhes, estampas e acessórios. Mas a tendência ganhou novo fôlego quando marcas de luxo passaram a apostar com força no estilo fun, incluindo peças divertidas em seu mix de produtos elegantes e, rapidamente, favoritos de celebridades. De desenhos animados a bebidas, um bocado de personalidade era preciso para desfilar clutches e sapatos inusitados por aí.

E, assim, comida virou moda. A fome fashion foi instigada por designers que já imprimiam em suas produções o DNA funny que ganhava as ruas - e quem nunca desejou uma das icônicas clutches by Charlotte Olympia, por exemplo, passou a repen-sar. O bom humor é a prin-cipal referência da estilista cujas criações singulares dispensam apresentações, já que a it-label é mundial-mente conhecida por trazer acessórios que mesclam elementos vintage com o peculiar humor britânico.

Para a F., Charlotte con-tou que a essência de sua marca vem de seu amor pelo passado e pela ins-piração de elementos da própria rotina – viagens, pessoas, cinemas, artes e design. “A maioria das mi-nhas coleções são, inclu-sive, inspiradas em luga-res onde nunca fui. Tento imprimir a sensação que deve ser estar lá”, revela.

O resultado se manifesta nas cores, texturas dos materiais, design marcante dos acessórios e até nos nomes das peças – algo que, se-gundo ela, é levado muito a sério. “O nome valoriza o produto, dando--lhe personalidade”, explica.

Da cozinha, vemos frutas, legumes, doces e snacks darem forma aos mais diversos modelos de bolsas da marca - algumas das mais que-ridinhas dos fashionistas. Clutches em formato de garrafa de cham-

pagne (Champagne Bag), rodelas de limão e laranja (as Citrus Clu-tches) e com prints de pimenta (Chilli Pandora) podem ser adqui-ridas – assim como os sapatos Nice Melon e Tequila Sunrise, que nos remetem a uma fatia de me-lancia e a um shot de tequila.

Defensora da moda como forma de expressão, Charlotte acredita em um estilo feminino, atempo-ral, bem humorado e, ao mesmo tempo, elegante. “Amo dar alma e história às minhas coleções. Gosto de criar peças que fazem sorrir”, conta a designer. Sem surpresas, olha a gastronomia se encaixando perfeitamente nesse conceito.

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FICHA TÉCNICAFOTOGRAFIA POR ALUIZIO E EQUIPE

(STUDIO PHOTO ALUIZIO)

CABELO E MAQUIAGEM POR MARÍLIA GUEDES

AGRADECIMENTO: EMPÓRIO DO BANHO

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p o r R a f a e l B i t t e n c o u r t

MENSWEAR

UMA MODA PALATÁVEL

A ideia de um estilo de vida saudável e natural deixou, há tempos, de se aproximar da ideia de privação dos prazeres da mesa. O termo “orgânico”, de cerca de cinco anos para cá, ganhou muito mais importância neste que-sito que os “noventistas” “light” e “diet” que permearam o lifestyle “Molico”: um dia, o aspartame foi escolha das estrelas e, hoje, ele é um veneno (a nova gordura trans?), substituído por açúcar mascavo ou algum cristal... orgânico. Assim como na moda, a gastronomia e os há-bitos alimentares mudam, afinal, os interesses pessoais estão sempre em movimento, em direção a novas descobertas e possibilidades. Talvez o fato de o sabor ter voltado à mesa em uma posição prioritária tenha feito com que a relação com a comida voltasse a ser mais per-missiva, gostosa e lúdica – vide os inúmeros “hambúrgueres orgânicos” sem agrotóxicos e sem conservantes que foram surgindo por aí. Enquanto isso, no dia a dia entrelaçado pelas redes sociais, o Pinterest virou a maior fonte de inspiração de pratos saudáveis e fofos; o Insta-gram, a nova galeria fotográfica com pratos das mais diversas hashtags e dicas imperdíveis de onde comer a melhor pizza da cidade essa semana; já o YouTube tangibiliza a teoria de Warhol sobre a fama, dando um canal para cada um que queira ensinar aquelas receitinhas acha-das no antigo caderno que pertencia à família. Seguindo esta mesma ló-gica, vimos, nos últimos dois anos, um cardápio cada vez maior de progra-mas de culinária de todos os tipos, com cozinheiros ganhando lugar de supers-tars – no Rio de Janeiro,

Bela Gil é o mais novo ícone pop-florido-tropical, esban-jando simpatia solar e esti-lo replicado pelas cariocas mais... orgânicas. Todo este grande menu de variedades culinárias só vem provando que a cozinha é, mais do que nunca, um território democrá-tico e de encontros diversos, permitindo que a própria ar-quitetura venha se adaptan-do para tornar o cômodo um local ainda mais confortável, aconchegante e receptivo.

Se a comida e os prazeres da mesa invadi-ram as diversas esferas do cotidiano, a moda também se apropriou desta influência nas mais diferentes nuances, uma vez que ela bebe de várias fontes e vice-versa. Afinal, em um mundo onde o consumidor é rei, ele é empoderado com um cardápio cada vez mais variado de alternativas, oportunidades e direitos. Por isso, entender seus desejos é o primeiro passo para iniciar uma criação. Não há mais espaço para que um estilo seja forçado a descer goela abaixo, como nos tempos em que moda e ditadura eram asso-ciadas. Os desejos individuais, reunidos em uma esfera social, é que vêm orientando o movimento da moda: as tendências. Por isso, antes mesmo de Karl Lagerfeld des-filar em supermercados e jantares, a Prada já tinha servido bananas na coleção de Primave-ra-Verão 2011 e a Dolce&Gabbana estampa-ria as mais diversas frutas no verão seguinte. A moda masculina, claro, não ficou de fora - a começar pela Moschino, que decidiu abraçar a rebeldia kitsch contra os “organicismos” e a saudabilidade, com uma coleção toda de-dicada ao fast food. Frankie Morello já optou por um caminho democrático para o Verão 2014, pedindo “Food 4 All” em cores fortes e estampas com padronagens exageradas e exóticas, replicando o que, um dia, era um moletom com giga-estampa de hambúrguer a ser vendido em algum container em Sho-reditch. O olhar criativo na moda e na vida,

que se volta cada vez mais para as ruas, mostra que tudo é possível, assim como na arte: de uma estampa de sushi a um cutelo de pingente, desde que este consumidor continue a ser mimado e bem nutrido de beleza e bem-estar.

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R E F L E X Õ E S S O B R E O O L H A R V I R T U A L D O S H O M E N S P A R A O M U N D O F A S H I O N .

p o r R o d r i g o A z e v e d oMENSWEAR

Uma tendência sazonal e passageira, assim como muitas reveladas pela indústria fashion, ou o futuro da comunicação de moda? É curioso perceber como esta questão ainda é pertinente quando falamos dos blogs, uma ferramenta que, sem dúvida, mudou o jeito de se trabalhar e de se pensar a informação.

Vale lembrar que os alardeados “quinze mi-nutos de fama”, aposta de muitos especia-listas para o fenômeno, já foram, há muito, superados, uma vez que os primeiros diários virtuais datam de meados dos anos 1990. De lá para cá, a cultura blogger cresceu e os números de visualizações, curtidas e com-partilhamentos, também.

O flerte com a moda foi natural e inevitável. Afinal, esta indústria criativa se faz valer de uma constante atualização e de uma tentati-va de controlar, ou, pelo menos, adaptar-se, ao Zeitgeist, ao “espírito do tempo”, ao pre-sente, ao “aqui e agora” - mesmo que, con-tudo, não possa ser vista como um exemplo de convivência estritamente pacífica. Por terem sido catapultados da internet para as filas A das passarelas mais importantes do circuito, os blogueiros de moda trouxeram muita desconfiança dentro do meio especia-lizado. O processo de assimilação enfrentou - e ainda enfrenta – reveses e tal dificulda-de é extrapolada quando o intento é falar de moda masculina no Brasil.

“O mercado de moda masculina sempre vi-veu uma escassez de investigação. É muito limitado ainda falar sobre a história da moda masculina brasileira com a audiência mé-dia”, esclarece Felipe Cireno Teobaldo, o Teo, pioneiro na comunicação de moda online para homens com seu Neonico - projeto que se tornou carro-chefe de um acervo imagé-tico e criativo de suporte para a inspiração livre de seus leitores.

Recifense, radicado em São Paulo, ele acredita que hoje os blogueiros cum-pram o papel de uma ponte entre o produto/opinião e o consumidor, enquan-to os jornalistas viveriam entre a informação/investigação e o consumidor. “Como todo ciclo de inovação, o novo comunicador automaticamente foi eleito como assassino do antigo comunicador, mas o desenvolvimento do

A TRAJETÓRIA AGRIDOCE DOS BLOGS DE MODA MASCULINA

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mercado os integrou de maneira madura. Cabe a cada um deles um lado da informação”, ressalta.

Wesley Guedes, responsável pelo blog Bandalho, entende que a resistência inicial com a cultura blogger é com-preensível. “Os blogueiros entraram em um nicho antes dominado por jornalistas formadores de opinião inseridos dentro do que a gente poderia chamar de imprensa formal. Com o crescimento da internet e o fácil acesso a ela, é na-tural que a troca de informações dentro desse espaço vir-tual se faça de uma maneira mais informal e livre”, explica.

Mineiro de Juiz de Fora, Wesley decidiu criar um espaço na internet para falar de assuntos do seu interesse, como moda, lifestyle, gastronomia e decoração, fazendo um re-corte de sua experiência e de seu repertório. Capitão da Marinha Mercante Brasileira, nada mais orgânico que seu blog tivesse o mesmo nome do livro de registros das ope-rações de uma embarcação.

Assim como ele, Rodrigo Perek, de Curitiba, re-solveu investir em um blog homônimo – anterior-mente conhecido como “Garoto de Grife” – por

hobby, procurando falar de beleza e moda de uma ma-neira descomplicada e acessível. Para o paranaense, seu trabalho não tem um expediente jornalístico, ainda que ele lide com comunicação e compreenda os blo-gueiros como formadores de opinião. “Falo no meu blog sobre moda masculina usando informações do que acho pertinente, do que leio e tenho contato, não faço um tra-balho de jornalista”, completa.

Para além dos looks do dia, coberturas de eventos e di-cas de produtos e serviços, o audiovisual ganha destaque na convergência online de conteúdo autoral. “As pessoas estão cada vez mais objetivas, então o formato vídeo é

uma maneira de interagir de uma forma legal com seus leitores e seguido-res”, afirma o curitibano. Wesley concorda que as possibilidades devem ser experimentadas, mas que a palavra (bem) escrita tem fôlego e não deve ser deixada de lado.

É notório, no entanto, que, embora existam ressalvas de uma mídia espe-cializada, a cultura blogger avança em termos de poder de mobilização e se firma como um termômetro imbatível do público consumidor de indústrias e manifestações criativas. Segundo Teo, ainda que seja necessário superar o despreparo de muitos blogueiros, muito pode ser feito para se inovar e se democratizar, de fato, o mercado de moda masculina no país.

“Não acredito que a informação de moda masculina representa um nicho, mas sim um ecossistema complexo. Existem poucos projetos que se dispõem a falar com o homem conservador nacional - também existem poucos proje-tos para o novo mercado classe C em explosão”, ele lembra. “É preciso tratar com muito respeito o leitor, sempre”, resume.

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BRIF

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p o r N i v e a H e l u e y , d e M i l ã o .

ESPECIAL

EXPO MUNDIAL 2015

Mais uma das grandes ideias germinadas em Londres. E quem diria que 164 anos, duas guerras mundiais e inúmeros conflitos depois, a Universal Exhibition ainda percorreria o mundo de cinco em cinco anos aportando em cidades-sede escolhidas criteriosa-mente pelo bureau responsável. Não só aporta, mas se acomoda, recebe muita atenção e é visitada por milhões de pessoas em cada uma de suas edições, como acontece este ano, em Milão, desde o dia 1º de maio até 31 de outubro.

Chegar e partir são dois momentos separados por experiências em série, das mais simples às extraordinárias. Visitar a Expo 2015 foi um programa inédito nos meus diários de bordo, tão inédito quanto inesquecível.

Era sexta feira, 15 de maio, um dia indeciso entre o resquício de inver-no europeu e um tímido verão: teve chuva, ventania e sol, mas nada atrapalhou a chegada ao local. Interessante que desde a bilheteria, nós, turistas, já podemos começar a observar o viés comportamental embutido em cada etapa técnica da visita. Italianos se comportam italianissimamente, as filas são meio bagunçadas e, talvez por esta-

rem ainda frescos na operacionalização de uma Expo, percebi certo “bater de cabeças”. Mas nada que tire o charme daquela bella gente. Os polizie, homens e mulheres em fardas de modelos e tons diferen-tes, faziam acreditar que poderia ser um editorial ou que ensaiavam a marcação de um desfile. Dio Mio, que gente linda.

O pavilhão Zero faz as honras da casa e introduz o tema desta edição, que é “Alimentar o Planeta – Energia para a Vida”. Através de mon-tagens iconográficas e instalações, a história é apresentada, desde nossos primórdios nômades até as formações das primeiras estrutu-ras mais organizadas de cultivo agrícola e pecuário. Distintas coleta e colheita, podemos avançar e já começar a entender os problemas inerentes ao tema quando comer é o verbo conjugado por pessoas do mundo inteiro, os habitantes do planeta.

É no mínimo dicotômico e intrigante pensar que ainda estamos tão absurdamente despreparados e intelectualmente desnutridos, sus-tentando fome e total escassez em determinadas regiões do planeta, enquanto outras lutam com doenças relacionadas à obesidade, ao excesso de comida. Primeiro puxão de orelha, leia-se: somos muito estúpidos. Em uma montagem muito didática e visual, vemos clara-mente o que é desperdiçado em alimentos ao redor do planeta e o quanto seria necessário para erradicar a fome global. Ali eu me perdi. Ali eu me desanimei. Ali resolvi que estava só na entrada do evento e que, se não ativasse o botãozinho invisível da sublimação, o passeio estaria acabado e iria voltar pra casa arrasada.

Ultrapassado o portal “tapa na cara”, ei-la linda e gigante, estendida em duas largas avenidas pontuadas pelos pavilhões dos países par-ticipantes. Começa o show, com demonstrações explícitas de quem é mais criativo, mais bonito, mais abonado. Talvez não fosse esse o intuito lá nos idos de 1851, mas a Expo evidencia os orçamentos disponíveis em verdadeiras vitrines. Eu ainda acredito na intenção primordial de estabelecer bases de diálogos e troca de informações entre expositores e participantes, mas, para ser muito sincera, o tu-rismo pelo passeio é o que dita a pauta do dia.

Já começo com o primeiro quitute, que é pra entrar logo no cli-ma. Uma concotion de cachorro-quente assado em um croissant,

acompanhado de uma Coca-Cola gelada, me trazem ao ponto certo onde a globa-lização chega ao meu estômago recebida com festa. Agora sim estou pronta, são 145 países buscando a atenção dos visi-tantes. Pra mim, só o empenho criativo e de planejamento de cada nação partici-

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pante já vale o passeio. É mostrar pela porta de entrada quem você é e, num espaço limitado, apresentar suas abordagens sobre o tema e impressionar de alguma forma. Daí em diante, surpresas. É bom ressaltar que é simplesmente impossível visi-tar tudo em um único dia, mas o que selecionei para ver já me deu tudo e um pouco mais do que eu queria.

Ah, Brasil, como eu fiquei orgulhosa. O ponto alto da minha pro-gramação foi visitar o pavilhão do meu país, este gigante que amo, que não tem me dado muitos motivos de orgulho de uns tempos pra cá e do qual estou distante há alguns anos. O Brasil da Expo 2015 é o Brasil dos meus sonhos: intenso, genuíno, original, feliz, natural, cool, despretensiosamente ultrachic. Isso pra mim é o luxo

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brasileiro, representado com a criatividade do Studio Arthur Casas em parceria com o ate-liê Marko Brajovic, responsáveis pelo projeto escolhido através de um concurso promovido pelo IAB. Entrar por uma rede foi sacada de mestre. Lá dentro, mostras da criatividade brasileira associada a projetos de sustentabi-lidade são pontuadas por arte, e até Portinari está lá, eternamente lindo. Verdade seja dita, o

Brasil é muito qualificado no assunto e não é para menos que seja o quarto maior pavilhão da feira. Tem muito pra mostrar. E tem muito, muito mais: Japão graciosamente engenhoso, um Chile do Atacama à Patagônia, Estados Unidos - bem bobo, pra falar a verdade -, um Irã que me despertou a simpatia que não acontece em outras bases de contato, uma França provençal e com cheiro de Boulangerie, alguns estigmatizados países africanos e suas monoculturas que parecem gritar por

atenção, uma China do arroz ao cutting edge tech, paradoxalmente ilustrado por um jardineiro cuida-doso catando flores secas do lindo canteiro de entrada, colocando-as, uma a uma, no saco de tecido. Allora (palavra deliciosa e tão ita-liana pra se começar qualquer fra-se, significa algo tipo “então...” ou “bem...”), tem a Itália. E você acha que o país anfitrião, na cidade ber-ço do design, ia fazer algo menos que incrível? O Pallazo Italia e suas narrativas sobre os quatro poderes - Know-how, Beleza, Limitação e Futuro - dividem espaço com as maravilhas gastronômicas, espe-cialmente a famosa Dieta Medi-terrânea, considerada pela Unesco um patrimônio intangível da socie-dade. E assim se passou um dia. Tínhamos hora para sair e pegar a condução para o hotel, mas a von-tade era ficar, dormir ali, se pudés-semos, continuar explorando.

P A V I L H Ã O B R A S I LP A V I L H Ã O B R A S I L

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FICHA TÉCNICAFOTOGRAFIA POR MÁRCIO BRIGATTO

MODELOS: ISABELLA OG E ISABELA

RODRIGUES (ÉLYSÉE MODEL MANAGENT),

ANA CARLA FREITAS E FLÁVIA SCHMITD

(ZURETTA) E CAIO PANNAIN (REGATAS

BRASIL)

PRODUÇÃO POR ALINE FIRJAM E VINICIUS

RODRIGUES

HAIR E BEAUTY: JAEL PIFANO E EQUIPE

ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA: BRUNO

BRIGATTO

AGRADECIMENTO: EMPÓRIO DO BANHO

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TREND TOPICS #15

VERÃO2016SPFW

A 39ª edição do SPFW comemorou duas décadas de temporada brasileira em grande estilo. O clima otimista foi alimentado por uma seleção de atrações pa-ralelas, buscando a integração da moda à vida real no sentido de aproximá-la das pessoas que a constroem e a consomem.

Entre exposições e bate-papos, nos concentramos na oferta das passarelas, onde foi apresentado um Verão 2016 bem nesse mood, igualmente animado, pontuado por tendências já anunciadas e outras boas novidades. Vale perceber

MAIS PRA LÁ DO QUE PRA CÁ!A assimetria traz uma leitura nada óbvia de alguns itens must-have do guarda-roupa feminino. Saias, blusas, vesti-dos e casaquetos fresh ganham recortes diferenciados, deixando a pele à mostra, sem exageros, e brincando com a geometria do jeito mais cool possível. Animale e Ronaldo Fraga causaram desejo.

BRANCO IS THE NEW BLACKE nada poderia ser mais fresco! O branco dominou as passarelas e foi protagonista dos mais variados estilos. So-fisticado, sporty, casual, romântico ou despojado, a cor passou longe do tédio e mostrou como texturas, bordados e aplicações deixam tudo mais interessante. Vimos com Alexandre Herchcovitch, Gloria Coelho e Osklen.

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p o r H e l l e n K a t h e r i n ei m a g e n s p o r T R E N D S T O P . C O M

TRÊS DIMENSÕESJunte a ascensão do handmade com o desenvolvimento acelerado de tecnologias para a moda e a estação mais quente do ano surge enriquecida pela inspiração 3D. O verão ganha aplicações em relevo e efeitos tridimensionais que valori-zam até as produções mais simples.

CLOCHARDSEm duas palavras: conforto e elegância. A calça clássica dos anos 80 voltou, trazendo a boa e velha cintura alta alongado-ra de silhueta. Mais molinha ou mais estruturada, ela combina fácil com tops mais curtos e, por isso, promete ser aposta certeira em produções mais arrumadinhas de dias mais quentes.

como algumas apostas vêm adaptadas de uma estação pra outra, ao mesmo tem-po em que outras passeiam facilmente entre as temperaturas do ano. Versatilida-de é a palavra de ordem.

Em resumo, as cinturas estão mais altas, os tecidos mais confortáveis e as mode-lagens bastante democráticas. O sexy e o andrógino convivem, mais do que nun-ca, em harmonia e as marcas apostam no usável, pro dia e pra noite. O resultado é uma estação rica em possibilidades – bem a gosto do freguês.

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INCOMING MODA DE AUTORINCOMING MODA DE AUTOR

TREND TOPICS #15

VERÃO2016SPFW

ALONGA O COLETE!Peça indispensável da temporada, o colete ganhou uns bons centímetros de comprimento – ou foi aquele cardigan comprido de inverno que perdeu as mangas? O importante é que o item é o complemento ideal para atualizar o closet e garantir bossa aos looks – Reinaldo Lourenço, Cavalera e UMA mostraram.

SWEET GIRLA tendência girlie é presença confirmada no guarda-roupa da próxima estação, mas de um jeito gracioso e nem tão delicado. Laços gigantes, peplums e babados indiscretos foram posicionados estrategicamente, convivendo com mo-delagens que valorizam o corpo num combo ultramoderno.

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INCOMING MODA DE AUTORMODA DE AUTOR

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p o r R a q u e l G a u d a r d

INCOMING

MODA DE AUTOR

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FICHA TÉCNICAFoto e styling : Fernanda Mansur Beauty: Bruna ReisVestido: Romaniffy Mendonça e Mariana ProcopioModelo: Lays Xavier

ROMANIFFY MENDONÇA

“ P A R A M I M , M O D A É C O M P O R T A M E N T O , A T I T U D E

E O U S A D I A . ”

Fluminense de Volta Redonda, Romaniffy Mendonça, 24, é esti-lista, modelista, costureiro e contador de histórias. O sonho de tornar-se o profissional que hoje é, levou o jovem, então com 17 anos, a mudar-se para o Rio de Janeiro. Lá, graduou-se pelo SENAI-Cetiqt, em Tecnologia de Produção do Vestuário – Mode-lagem. “Me intrigava criar e não saber como executar minhas próprias peças, por isso optei pela graduação em Modelagem. Foi lá, também, onde o meu interesse pela costura foi aprimora-do, hoje essencial nas minhas criações.” Os primeiros vestidos traçados no papel foram ainda quando criança e, desde então, não parou mais. Romaniffy teve a sorte de ser incentivado pelos pais, que confiaram no seu talento e na decisão de ser um profissional criativo da moda. “Desde peque-no tenho uma ligação muito forte com a moda, que se reflete di-retamente no meu próprio estilo. Carrego a moda comigo, desde um simples corte de cabelo até a forma como me comporto.”

Juiz de Fora entrou na sua rota quando decidiu especializar--se em Arte, Cultura de Moda e Moda, pelo Instituto de Artes e Design, na UFJF. Na cidade, conheceu o trabalho de Mariana Procópio, artista de macramê, que havia criado uma mandala usando a técnica. E Romaniffy tratou de estabelecer o crossover.

“Logo que coloquei os olhos na peça, imaginei as costas de um vestido. A partir daí, comecei a criar algo que fosse o comple-mento da obra de arte feita por Mariana.” A parceria deu certo. Um vestido verde e marrom, com formas retas e leve drapeado no busto, arrematado pela mandala em macramê, foi exposto na Galeria de Arte Hiato, em Juiz de Fora. Atualmente, Romaniffy e Mariana seguem com a par-ceria, desenvolvendo uma coleção juntos, através da marca do estilista. “Serão peças que representam o que é orgânico e leve, carregadas de referências do interior do sul do Brasil, onde moro atualmente”, conta. Seu último editorial é um estudo de modelagem tridimensio-nal e plana, onde estruturas e formas se alinham ao universo criativo das obras do arquiteto Oscar Niemeyer. “A minha pro-posta neste trabalho concentra-se inteiramente em desvendar a barreira intransponível entre retas e curvas, fixos e flexíveis em a mesma coisa ou, como diria o poeta, encontrar beleza em curvas sublimes’’. Romaniffy considera-se casado com a moda, num relaciona-mento afetivo que não deixa cair na rotina. “Criar libera uma adrenalina fascinante e passar por todos os processos que a moda me proporciona (croqui, modelagem, corte e costura) faz com que cada vestido, através dos seus traços e alfinetadas, cada parte costurada, revele uma nova história.”

Vai lá >> facebook.com/romaniffy.mendonca

MARIANA PROCÓPIO

“ P E N S O E M E X P A N D I R P A R A P E R C E B E R O U T R O S O L H A R E S

S O B R E A M I N H A A R T E . ”

A artista Mariana Procópio, 30, nascida e criada em Juiz de Fora, escolheu uma técnica milenar para desenvolver o seu trabalho: o macramê. Segundo conta, sua origem é ancestral, com data em 2500 a.C. e raízes na China, Mesopotâmia e Egito. “É uma arte de tecer fios e fibras sem nenhuma ferramenta, utilizando somente as mãos.” Com o macramê, a partir de dois tipos de nós, são criados desenhos e formas diferentes. “A técnica proporciona uma infinidade de criações, que surgem de uma disciplina de trabalho, onde peças únicas aparecem”. Mariana conta que é possível desenvolver esculturas, peças de-corativas, móveis, luminárias e o que mais se quiser inventar. A artista gosta de criar espontaneamente e sua mandala, que revela um desenho de pássaros brincando com uma flor, foi mesmo um ponto de partida para futuras colaborações com o estilista Romaniffy Mendonça.

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MODA DE AUTOR

© T h i a g o B r i t t o

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Além da oportunidade de expor na Galeria de Arte Hiato, em Juiz de Fora, Mariana participou da ArtRio de 2014, em parceria com o F.Studio Arquitetura, ex-pondo uma cadeira e uma luminária. “Eles me convi-daram para tecer a estrutura que haviam criado em ferro”. O assento da cadeira foi realizado com cordas náuticas, utilizando a técnica do macramê. A artista, que é psicóloga por formação pela UFJF, cur-sou Introdução às Artes em Portugal, na Universidade de Belas Artes do Porto. Sobre como suas peças são recebidas pelo mercado local? “Sinto que as pessoas admiram, gostam bastante. Mas penso em expandir para outros lugares, até mesmo para perceber outros olhares sobre a minha arte.” Atualmente, Mariana inventa moda com novos ma-teriais, misturando prata, pedras brutas, madeiras, diferentes tipos de fios e tecidos, “além de continuar a criar roupas com meu amigo Roma”, completa a artista, feliz da vida.

Vai lá >> facebook.com/MarianaProcopioHandicrafts

NINO DE BARROS

“ A A R T E T E M D E E S T A R A B E R T A À F R U I Ç Ã O . ”

Com apenas 20 anos, Nino de Barros já tem, curiosamente, um pot-pourri de ótimos trabalhos para escrever a sua história. Mineiro de Caratinga, transferiu-se para Juiz de Fora em 2011 e, atualmente, cursa o 5º período de Artes e Design pela UFJF, com intenção de especializar-se em moda. Da marca Cabalística, projeto iniciado em 2013 e focado em vestuário vintage alter-nativo, com abordagem dark - e desenvolvido em parceria com seu atual namorado (o artista digital Lucas Nova) e uma amiga -, Nino teve sua primeira experiência profissional em moda. Além disso, lhe serviu, como ele mesmo afirma, como uma incubadora para sua paixão e a real vontade de seguir carreira na área.

V Í D E O A R T E C A L O R / / V I M E O . C O M / L U C A S N O V A / C A L O RV Í D E O A R T E C A L O R / / V I M E O . C O M / L U C A S N O V A / C A L O R

[ C O L L A G E ] R E A L C E[ C O L L A G E ] R E A L C E

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MODA DE AUTOR

Desde o ano passado, Nino realiza experiências e crossovers diversos en-tre a moda contemporânea e a arte digital, fotografia e audiovisual, lançando mão de plataformas midiáticas e redes sociais para construir o seu discurso. Produz, ainda, alguns trabalhos e estudos envolvendo traduções intersemióti-cas, como um curta-metragem que assina com Lucas. “cAlor” foi exibido em festivais locais, como o Primeiro Plano, e premiado em um festival de cinema realizado pela UFMT, como melhor curta experimental. “A vertente digital e a minha relação com a media art, assim como nos ex-perimentos com a glitch art, serão sempre experimentais e baseiam-se na apropriação estética em função das colagens, utilizando da linguagem pela qual tenho interesse e me inspiro.”

Baseado no conto “Desenredo”, de Guimarães Rosa, Nino produziu um livro/editorial, desenvolvido como proposta acadêmica para uma disciplina de moda. Nele, utiliza técnicas de colagem para traduzir a narrativa do tema. “O univer-so do autor é facilmente vislumbrado em imagens, por isso o trabalho com a fotografia e a produção de moda minuciosa: para conter tantos signos que remetessem à atmosfera do conto.”

C O S M I C Q U E E N / / F O T O G R A F I A : L U C A S N O V A | C O L A G E M + M A I Ô ( C O N S T E L L A T I O N B O D Y ) E C O L A R ( N E C K C O R S E T ) : N I N O D E B A R R O SC O S M I C Q U E E N / / F O T O G R A F I A : L U C A S N O V A | C O L A G E M + M A I Ô ( C O N S T E L L A T I O N B O D Y ) E C O L A R ( N E C K C O R S E T ) : N I N O D E B A R R O S

D E S E N R E D O / / F O T O G R A F I A + T R A T A M E N T O D E I M A G E M : L U C A S N O V AD E S E N R E D O / / F O T O G R A F I A + T R A T A M E N T O D E I M A G E M : L U C A S N O V AT R A D U Ç Ã O I N T E R S E M I Ó T I C A + P R O D U Ç Ã O : N I N O D E B A R R O ST R A D U Ç Ã O I N T E R S E M I Ó T I C A + P R O D U Ç Ã O : N I N O D E B A R R O S

[ C O L L A G E ] T E X T U R E[ C O L L A G E ] T E X T U R E

U R B A N N O M A D / / U R B A N N O M A D / / F O T O G R A F I A + E D I Ç Ã O : F O T O G R A F I A + E D I Ç Ã O :

L U C A S N O V A | P R O D U Ç Ã O L U C A S N O V A | P R O D U Ç Ã O + M O D E L O : N I N O D E + M O D E L O : N I N O D E

B A R R O SB A R R O S

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Pense numa marca onde, do princípio ao fim, tudo foi bem pensado e amarrado. Te faz lembrar grandes no-mes já consolidados da moda? Pois bem, a Nylow é uma marca recém-nascida que produz exclusivamente leg-gings, coisa ainda inédita no Brasil até o seu lançamen-to. E o melhor: chegou com muito tutano e criatividade envolvidos. Você vai entender o porquê. “A gente passava noites muito divertidas lá em casa, ouvindo músicas novas, vendo vídeos, sites de fotogra-fia, recortando revistas de moda”, diz Ximene Rodri-gues, designer de superfícies têxteis, juiz-forana criada na terrinha e saída dali para correr o mundo de pos-sibilidades que a moda pode proporcionar, para quem quer viver dela. E Camilla Loures - ou Loulou, como Ximene carinho-samente chama a sócia e amiga - era sua cúmplice nessas viagens. “Nós temos essa coisa ‘cármica’, uma levanta e a outra corta. Nessas, a gente tinha ideias de chá mate aromatizado a nuvens engarrafadas”, conta. Certo dia, Loulou e Ximene deram de cara com um site gringo de meias coloridas, estampadas, e ficaram com essa imagem na cabeça. “O tempo passou e um dia a Lou me marcou num Instagram só de leggings colori-das, de todo jeito, e pirei! Eu vivia de leggings e sempre acreditei em escolher um produto pra trabalhar, esgo-tando suas possibilidades. Entendemos na hora que era aquilo o que nós tínhamos de fazer.”

Seu projeto mais atual é uma performance, que pretende promover a discussão de gênero por meio de um laboratório. “Faço uma imersão na cultura drag, clubber e em casas noturnas, utilizando meu corpo como uma tela e a própria linguagem dessas atmosferas como supor-te, associando-as, diretamente, à performance artística, contrapondo-a com a cultura do entretenimento.” Nino conta que a reação do público às performances e à sua interação não é o seu objetivo, mas inevitavelmente alimenta e valida seu traba-lho artístico. “Faço pela oportunidade de utilizar a linguagem da moda, minhas referências e gosto pessoal para criar algo em que utilizo meu próprio corpo como suporte. Não espero, necessariamente, o entendi-mento do público diante das ‘montações’. Afinal, a arte tem de estar aberta à fruição”, conclui.

Vai lá >> facebook.com/ninombarros

XIMENE RODRIGUES

“ N O S J O G A M O S P A R A F O R A D A Z O N A D E C O N -F O R T O D O ‘ M E -N O S É M A I S ’ .

N A N Y L O W , N Ã O T E M R O T I N A . ”

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MODA DE AUTOR

A Nylow, como nome, veio da fibra de poliamida que é base para todas as malhas feitas para leggings. “A gente não queria que fosse o mesmo nome da revista (Nylon) e estudamos variações que fizessem sentido para falar, ouvir e usar graficamente.” Como conceito, as meninas pensaram num ambiente new wave, com lu-zes neon e clima 80’s - além do unicórnio, ícone e logotipo escolhido para a marca, que representa o lado feminino, mítico e forte da Nylow. “Nos jo-gamos para fora da zona de conforto do ‘menos é mais’, na Nylow não tem rotina. Acreditamos que na moda tem espaço pra tudo, basta ser criativo, por isso não dependemos das tendências. Queremos ser mais modernos e menos ‘contemporâneos’, somos dessa geração que não se esconde.” Por trás de tudo está, além de Ximene e Camilla, Kione Rabelo, musa das planilhas e departamento financeiro. “Mas todas dão pitaco em tudo, do botão da calça à negociação. E lembrando que todas nós temos empregos (por enquanto) nessas mesmas áreas, ainda.” Ximene conta que fizeram tudo como manda o figurino, desde o plano de negócios, que durou pouco mais de um ano, cercando todas as variáveis, estratégias, números e amigos que poderiam ajudá-las. “Achei importante a gente tentar construir bases sólidas pra não gastar energia à toa ou morrer na praia. Mas tudo pode acontecer, uma marca é um organismo vivo, a gente não sabe onde vai dar.” Um conselho? Ximene orienta ter um plano de negócios sim, que dá tra-balho, mas é muito importante no processo de estruturação da marca. “Pensar numa estratégia de marketing é também essencial. Esgotar o

conceito, ter ideias mirabolantes e anotar tudo. Não enlouque-ça. Nunca tudo vai estar 100% pronto. Mas o carro tem de ir para a rua”, conclui.

Vai lá >>www.nylow.com.brfacebook.com/nylowlandinstagram.com/nylowland

F O T O G R A F I A : B I A F O T O G R A F I A : B I A G A L V Ã O P H O T O G R A P H YG A L V Ã O P H O T O G R A P H Y

M O D E L O : C A M I L A H U B E R M O D E L O : C A M I L A H U B E R E G A B I C E R C A I O L IE G A B I C E R C A I O L I

B E A U T Y : J U A C Á C I OB E A U T Y : J U A C Á C I OS T Y L I N G + P R O D U Ç Ã O : S T Y L I N G + P R O D U Ç Ã O :

M A R I A C L A U D I A P O M P E O M A R I A C L A U D I A P O M P E O E E Q U I P E N Y L O W E E Q U I P E N Y L O W

L I G H T D E S I G N : A N A L I G H T D E S I G N : A N A L U Z I A M O L I N A R I D I L U Z I A M O L I N A R I D I

S I M O N IS I M O N IC E N O G R A F I A : M I N A C E N O G R A F I A : M I N A

Q U E N T A LQ U E N T A L

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EDITORIAL

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Casaco Carina Duek, D’ STORE, preço sob consulta, cinto Olympiah, D’ STORE, preço sob consulta.

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Vestido Carina Duek, D’STORE, preço sob consulta; cinto, acervo produção; bota SCHUTZ, preço sob consulta.

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Camisa ARPEL, lenço HERMÈS, acervo produção; calça Authoria, DROP’S ATITUDE, preço sob consulta; bolsa Ateen, D’ STORE, preço sob consulta; sapato SCHUTZ, preço sob consulta.

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Camisa BOBSTORE, preço sob consulta; saia Liziane Richter, LÍVORE, preço sob consulta; lenço Tigresse, FLOW, preço sob consulta; sa-pato SCHUTZ, preço sob consulta.

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Camisa Artsy Brasil, D’ STORE, preço sob consul-ta; vestido Olympiah, D’ STORE, preço sob con-sulta; cinto LE LIS BLANC, preço sob consulta.

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Camisa Liziane Richter, LÍVORE, preço sob con-sulta; colete Liziane Richter, LÍVORE, preço sob consulta; saia LE LIS BLANC, preço sob con-sulta; cinto LE LIS BLANC, preço sob consulta; sapato SCHUTZ, preço sob consulta.

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Casaco Carina Duek, D’ STORE, preço sob consulta; camisa Carina Duek, D’ STORE, pre-ço sob consulta; colar, acervo produção; calça Lança Perfume, ZURETTA, preço sob consulta; cinto Iorane, FLOW, preço sob consulta; sapato SCHUTZ, preço sob consulta.

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Camisa Carina Duek, D’ STORE, preço sob con-sulta; saia Authoria, DROP’S ATITUDE, preço sob consulta; sapato SCHUTZ, preço sob consulta.

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Camisa BOBSTORE, preço sob consulta; colete Espaço Fashion, ZURETTA, preço sob consulta; saia Espaço Fashion, ZURETTA, preço sob consulta; sapato SCHUTZ, preço sob consulta.

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FICHA TÉCNICAFOTOGRAFIA: Márcio Brigatto MODELO: Roberta Castro (Élysée Model Management) EDIÇÃO DE MODA: Aline Firjam STYLING: Vinicius Rodrigues CENOGRAFIA: Anesley PereiraCABELO E MAQUIAGEM: Philippe Oliviéer (Equipe Andre Pavam Cabeleireiros)ASSISTENTE DE PRODUÇÃO: Ana Luiza Graça ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA: Venderlei Nazareth DIREÇÃO DE ARTE: Vinicius RomãoCONCEPÇÃO: Raquel Gaudard AGRADECIMENTO: Cencosud Brasil Comercial Ltda. (Bretas), LUIZ FERNANDO M. DA SILVA - Gerente Regional.

Casaco BOBSTORE, preço sob consulta; cardi-gan Lucidez, ARPEL, preço sob consulta; cami-sa Artsy Brasil, D’ STORE, preço sob consulta; colar BOBSTORE, preço sob consulta; calça Lança Perfume, ZURETTA, preço sob consulta; cinto Olympiah, D’ STORE, preço sob consulta; bolsa Ateen, D’ STORE, preço sob consulta; sa-pato SCHUTZ, preço sob consulta.

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P o r D a n i S a r t o r i

ATUALIDADE

GASTRONOMIAPOP

Não é necessário ser um cool hunter para notar que a gastronomia está na moda. Assunto onipresente, fica quase impossível acreditar que possam existir pesso-as imunes ou suficientemente blasés aos apelos irre-sistíveis dos programas culinários da TV ou das fotos de comida que fazem qualquer internauta se encantar e sair distribuindo coraçõezinhos no Instagram.

E é claro que, por trás de toda esta mídia ou de cada refeição, existe um exército de pessoas que traba-lham, vivenciam e enxergam a gastronomia sob as mais diferentes óticas. A aborda-gem sobre o alimento, como cada chef encara o seu ofício e qual o percurso que cada um fez até se apaixonar pela profissão também podem ser surpreendentemente ricos e interessantes. E justamente por ser um assunto tão farto, é que buscamos diferentes olhares sobre este tema tão caro e tão presente no nosso dia a dia, que é a comida e o ato de comer.

Fernanda Fartes, durante a faculdade de Comunicação, decidiu fazer o curso de co-zinheiro do Hotel Grogotó, em Barbacena, e foi lá que a chef diz ter se apaixonado profunda-mente pela profissão. O amor pela cozinha ela credita à sua origem mineira, que sempre valorizou os prazeres da boa mesa. Depois disso, vieram diversos cursos e diferentes cidades, além de temporadas de estudos em Buenos Aires e Nova York. Passou por um es-tágio no Restaurante D.O.M., atual 6º melhor restaurante do mundo, no Hotel Emiliano (SP), no Marquise Restaurante (JF), no Carême (RJ) e no grupo Meza Bar (RJ).

DANI SARTORI - PARA VOCÊ GASTRONOMIA É CULTURA? POR QUÊ?

FERNANDA FARTES - Completamente. Através da cozinha, identificamos os costumes e a época de um povo, suas pai-xões, sua maneira de lidar com seu corpo, com seus prazeres, com suas crenças e com a natureza que lhe cerca. Enquanto cozinhamos e comemos, estamos lidando com todo aquele complexo que inclui os nossos desejos, nossa educação, nos-sos limites, nossas experiências e nossas raízes.

DANI SARTORI - A GASTRONOMIA É POP? FERNANDA FARTES - É, e, às vezes, até mais do que deveria. A

“glamourização” da cozinha não combina com a essência dela. Valorizar sim, mas sem excessos, por favor. Um bom exemplo são as faculdades de gastronomia, que formam chefs de cozinha, coisa que não existe. Chef é título que se conquista com os anos de experiência e se você tiver um perfil de liderança. A rea-lidade do mercado é trabalho duro e salário baixo.

DANI SARTORI - SE VOCÊ PU-DESSE CONVIDAR UM CHEF ES-TRELADO PARA JANTAR COM VOCÊ QUEM SERIA?FERNANDA FARTES - Olivier Roellinger. Esse chef francês é extremamente sensível, consciente e experiente. Ele ama sua região, Cancale, na França, tem total respeito pela natureza e reflete, constante-mente e muito, sobre gastro-nomia. Ele ficou famoso em todo o mundo quando decidiu abdicar das três estrelas que recebeu do Guia Michelin.

Ingrid Borges sempre teve a cozinha como uma inclina-

ção e uma paixão. Mas somente depois de se graduar em Jornalismo, é que foi atrás de uma formação em Gastrono-mia, no curso do Hotel Grogotó, em Barbacena. Da tempora-da de sete anos no Rio de Janeiro, acumulou passagens por

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diversos restaurantes. Durante dois anos, atuou como subchef executiva da rede de restaurantes Gula Gula e, há pouco, foi para a Bahia vivenciar outras experiências gastronômicas, atuando como chef de um restaurante dentro de uma pousada.

DANI SARTORI - QUEM TE INSPIRA NA CULINÁRIA?INGRID BORGES - Qualquer um que se disponha a passar mais da metade de seus dias em pé, num calor huma-namente insuportável, carregando peso e lidando com todo o tipo de adversidade que acontece dentro de uma cozinha profissional já é o meu herói, seja onde e quem for. Cada trabalhador anônimo que cozinha efetivamente a comida que cativa e faz o cliente voltar é a verdadeira alma deste mercado. São eles que fazem 95% da en-grenagem de uma boa cozinha, seja ela premiada ou de boteco, funcionar bem.

DANI SARTORI - EM QUEM VOCÊ LANÇARIA UM RAIO “GOURMETIZADOR”? E “DES-GOURMETIZADOR”?INGRID BORGES - Partindo da ideia original de “gour-metização”, que, antes do conceito ser deturpado, seria melhorar e sofisticar determinado produto ou sen-sação, eu lançaria um raio “gourmetizador” paradoxal e irônico nas pessoas que querem “gourmetizar” tudo. No meu raio, a “gourmetiza-ção” consistiria em tirar as pessoas dessa cafonice de achar que basta usar algu-mas palavras elaboradas na descrição de um prato para que ele se transforme em algo sofisticado e mais caro. E o raio “desgourmetizador”, sem dúvida, iria para todos os restaurantes que cobram preços exorbitantes. Se meu raio “desgourmetizador” existisse, tudo o que tirasse o foco da comida e aumentas-se demais o preço final dos pratos seria eliminado.

DANI SARTORI - SE VOCÊ TI-VESSE QUE RESGATAR DO ES-QUECIMENTO ALGUM PRATO QUE ANDA SUPER FORA DE MODA, QUAL SERIA?INGRID BORGES - Sem dúvida nenhuma, seria a canja de galinha. Por mais que dentro das casas das famílias eu du-vide que ela tenha saído de moda algum dia, eu adoraria

tirar esse prato “do armário”. Acho uma combinação que reúne elementos fundamentais para que uma comida seja perfeita: é fácil de fazer, utiliza ingredientes comuns e re-mete à comida caseira e da infância, além de seu aroma e paladar remeterem a uma atmosfera muito confortável.

Gustavo Gerheim já é a 4ª geração de uma família de cozinheiros/confeiteiros. O gosto pela boa mesa veio da bisavó materna, quituteira de mão cheia que cozi-nhava os mais diversos pratos em almoços e jantares fartos. O hábito de reunir a família nas refeições e datas comemorativas foi passado para a avó e para uma tia--avó, que resolveram abrir um negócio, batizando-o de Vó Sinhá, em homenagem à mãe. Hoje, o estabeleci-mento, que já soma 34 anos, é comandado por Gustavo e por seus pais. Mesmo tendo crescido cercado destas

referências, Gustavo acabou optando por fazer Psicologia, curso no qual se graduou, mas que não chegou a exer-cer por muito tempo. DANI SARTORI - SE VOCÊ TIVES-SE QUE ELEGER UM ALIMENTO PARA REPRESENTAR O BRASIL CULTURALMENTE, QUAL SERIA?GUSTAVO GERHEIM - O pão de queijo. Porque além de ser uma receita brasileira, é tam-bém mineira. E é muito carac-terístico do Brasil por causa do polvilho. Até onde eu sei, ele é um produto bem típico. Eu não tenho conhecimento de nenhum lugar que tenha pão de queijo e que ele esteja dissociado de uma referência brasileira. Você pode até en-contrar, mas ele vai ser des-crito ou reconhecido como um tipo de pão do Brasil.

DANI SARTORI - UM CHEF OU PROGRAMA DE TV QUE TE INSPIRA?GUSTAVO GERHEIM - Gosto muito do programa do Yotam Ottolenghi, que passa no ca-nal GNT. Adoro como ele usa seu background cultural a seu favor. Nascido em Jeru-

salém, ele é filho de um italiano com uma alemã, atu-almente vive em Londres, e isso acaba se refletindo no modo inusitado como ele utiliza as diversas especiarias em suas receitas. Tem muita coisa legal e eu sempre descubro novos temperos com ele. Inclusive, preparo

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algumas das receitas dele para o meu restaurante. DANI SARTORI - ALGUMA TRADIÇÃO RELACIONADA À COMIDA OU PRATO ESPECÍFICO QUE VOCÊ GOSTARIA DE ENSINAR AOS SEUS FILHOS?GUSTAVO GERHEIM - A expectativa que eu tenho de passar para os meus filhos é a curiosidade, a liber-dade e a falta de preconceito em experimentar tudo. Eu sempre comi de tudo e eu sempre gostei muito de comer. Arrisco dizer que foi isso que me levou para culinária, talvez a junção de gostar muito de comer com a tradição que já vem da família, que é sempre muito voltada para a comida.

Fred Mendes tinha a música como sua ati-vidade principal e cozi-nhava nas horas vagas, até que resolveu virar o disco, influenciado pelo irmão que já faleceu. Hoje em dia, é um chef que toca bateria como hobbie. Formado pelo SENAC há 5 anos e es-tudante de Gastronomia pelo CES, conhece bem o mercado de Juiz de Fora. Trabalhou em di-ferentes restaurantes da cidade, como Savoir Faire, Victory Hotel, Bra-von e Privilège Buffet, e chegou a chefiar o TIL por dois anos, local onde começou como auxiliar de cozinha. Atualmente, além de prestar serviços em festas particulares e consultorias, se prepara para estar à frente do seu próprio negócio.

DANI SARTORI - NA SUA OPINIÃO, QUEM É SUPERESTI-MADO E QUEM É GÊNIO DA COZINHA? POR QUÊ?FRED MENDES - Acho que, na cozinha, não tem que ter nenhum desses “atributos”. O importante na cozinha é você ter uma equipe, trabalhar junto... Ninguém faz um prato sozinho, tem muita coisa por trás. Acho im-portante dar apoio e incentivo a um colaborador, opor-tunidades para crescer junto, e quando isso acontece, naturalmente coisas geniais saem de uma cozinha!

DANI SARTORI - QUAL ALIMENTO AS PESSOAS E O RAIO “GOURMETIZADOR” AINDA NÃO DESCOBRIRAM E QUE VOCÊ ADORA?FRED MENDES - O clássico das sobras do almoço de ontem, bolinho de arroz. O leque de opções para o raio “gourmetizador” é incrível, tenho até um cardápio

de “bolinho de arroz gourmet”.

DANI SARTORI - QUAL PRATO VOCÊ GOSTARIA DE TER CRIADO?FRED MENDES - Gos-taria de ter criado o mais clássico e “ba-tido” prato de todos, que, particularmente, eu adoro: petit gateau. Um erro de técnica e cocção criou esse bo-linho deliciosamente quente e cremoso, que fica ainda melhor contrastando com o gelado de um sorvete!

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N O B R A S I L E N O M U N D O , M O V I M E N T O S G A N H A M F O R Ç A P A R A C E R T I F I C A R A G A S T R O N O M I A C O M O C U L T U R A , R E C O N H E C E N D O - A C O M O U M A A R T E V I T A L P A R A A L I M E N T A R O F Í S I C O E O E S P Í R I T O , P R O M O V E N D O O P O R T U N I D A D E S D E P A Z , I G U A L D A D E E C I D A D A N I A .

p o r K a t i a D i a sCULTURA

VOCÊ TEM FOME DE QUÊ?

“Foi no aprendizado do ofício de cozinheiro que entendi que precisava entender melhor a minha relação com a panela, com o fogo, com a minha praça e com a cozinha. No meu processo evolutivo, percebi que o fundamento daquela relação começava com o ingrediente e que não dava para entender o ingrediente sem entender o seu entorno, a natureza. Sem esquecer que a natureza tem entre seus componentes um elemento que, muitas vezes, é deixado de lado: o homem. Foi quando entendi isso que a minha relação com a natureza e com as panelas começou a se aprofundar e a transcender o limite da cozinha. Com o uso da cultura do Brasil, dos sabores da minha infância e vivendo o espírito de viajante que herdei de minha família, comecei a compor o meu receituário. Realizei que a cozinha é o principal elo entre a natureza e a cultura e que criatividade sem utilidade não faz sentido (...)”.

Com essas palavras, Alex Atala inicia a carta aberta do Instituto ATÁ, pedra fundamental do “Eu Como Cultura”, um movimento que afirma, pelo Projeto de Lei 6562/13, a gastronomia como parte indissociável da cultu-ra do país. Causos contados à mesa, receitas passadas entre gerações, histórias de vidas transformadas pelo poder eco-nômico, político e social dessa arte ganham força na proposta desse chef e empreendedor. À frente do D.O.M., classificado pela revista inglesa Restaurant como o sexto melhor do plane-ta, Atala atende à revista F. com o dinamismo e a simplicidade que lhe são peculiares, desta-cando a capacidade da culinária em revelar talentos e promover a cidadania, caso de muitos que já trabalharam com ele. “Meu braço direito é um grande exemplo do que a gastronomia é capaz de fazer por uma pes-

soa”, diz, referindo-se a Geovane Carneiro, seu subchef há mais de uma década.

Atala não desanima com os entraves burocráticos que o Projeto de Lei vem enfrentando. “Nosso foco conti-nua sendo a obtenção de um milhão de assinaturas, e estamos avançando nesse propósito”. Como a própria

página - www.eucomocultura.com.br - justifi-ca, “com a incorporação da gastronomia à Lei Rouanet, será possível proporcionar incentivos fiscais a quem apoiar projetos relacionados à gastronomia brasileira. Dessa forma, será pos-sível que empresas e pessoas físicas doem ou patrocinem, com dedução no Imposto de Ren-da, pesquisas, acervos e publicações relacio-nadas ao tema. Além disso, esse movimento de estudos e afirmação da gastronomia como cul-tura permite que ingredientes e receitas sejam descobertos e preservados, como aconteceu na Europa, em que queijos e embutidos, por exemplo, conseguiram sobreviver à imposição sanitária e tornaram-se patrimônio cultural de países como Espanha, França e Itália”.

A L E X A T A L A

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Nessa proposta que se sobrepuja à mera sobrevivência, a gastronomia alcança um status revolucionário em bandeiras como a do site Chefs4Peace (chefs4peace.weebly.com), onde a ideia é cozinhar receitas pela paz, rompendo barreiras de religião, raça, cor, gênero e da própria geografia política, unindo mulçumanos, cristãos e judeus pelo mundo afora. Iniciativa de igual peso está na Gastromotiva (www.gastromo-tiva.org), cujo Coordenador de Comu-nicação, Bruno Tavares, avalia: “Se le-varmos em consideração as cidades em que já estamos, vamos perceber que ainda há muito a fazer. Desejamos que, cada vez mais, possamos contribuir não só para a formação de pessoas em vul-nerabilidade social, mas entrar mais a fundo no tema da alimentação dentro de comunidades. Queremos diversificar nossa atuação, uma vez que vemos que existem muitos problemas diferentes que tangem à alimentação. Queremos também contribuir para que as políticas públicas sejam mais eficazes e que, de fato, gerem transformação”.

Tavares destaca que um bom exemplo para visualizar o que podem alcançar

é a participação de David Hertz, chef e fundador da Gastromotiva, na confe-rência anual do World Bank. “O gran-de desafio do Banco Mundial é acabar com a pobreza até 2030 e a comida tem grande papel nesse objetivo. Nos-sa participação demonstra que nossos valores e ações estão em sintonia com algo tão importante. Mas ainda so-mos uma organização pequena com recursos limitados, o que dificulta a ampliação de projetos”, diz. Ele prevê que 2015 será especial. “Estamos em processo final para iniciarmos as ativi-dades em uma nova capital brasileira, chegando à meta de formar mil alunos neste ano. Além disso, começamos a trabalhar intensamente com a questão da alimentação infantil. Fizemos uma extensa pesquisa e desenvolvemos um novo projeto que irá trabalhar essa questão nos próximos anos”. E para fechar com chave de ouro, a Gastro-motiva trará, em conjunto com o site Tudo Gostoso (www.tudogostoso.com.br), o Food Revolution Day, sob a or-ganização do chef inglês Jamie Oliver, com o objetivo de forçar os 20 maiores países a criarem políticas de educação alimentar para as crianças.

Parceira do Instituto ATÁ, a Gastromotiva, em quase nove anos, for-mou mais de 1.240 alunos. Segundo Tavares, desse total, o grupo conseguiu potencializar a atuação com os Trabalhos de Ação nas Co-munidades e, com isso, atingiu mais de 45 mil pessoas. “Além disso, temos uma taxa de aproximadamente 80% de empregabilidade após a formação dos nossos alunos. Para isso, contamos com o apoio de uma rede de restaurantes que não só investem financeiramente na formação desses alunos, como os empregam. Também contamos com outros parceiros que nos permitem manter a estrutura atual, mas que ainda é muito menor do que gostaríamos”, avalia.

Nesse caminho, as trajetórias de sucesso são muitas. Segundo Ta-vares, contabilizados, seriam mais de 1.200 sonhos realizados só com os cursos de capacitação da Gastromotiva. “Todas as histórias

nos emocionam, mas três são especiais. Temos a Uridéia Andrade, que teve uma infância difícil no sertão do Rio Grande do Norte, veio para São Paulo em busca de uma vida melhor e acabou vivendo em uma favela. Ouviu todos os ‘nãos’ que a vida poderia lhe impor, até que descobriu a cozinha. Foi nossa primeira aluna e a comida não só transformou a sua vida, como a de muitos outros. Hoje, Uridéia é uma grande empreendedora, dona de seu próprio buffet e contrata diversos dos nossos ex-alunos. Temos também o Diego Santos, que, após o curso, virou chef, professor da Gastromotiva e hoje está na Itália, estudando na Universidade de Ciências Gastronômicas, como bolsista. Por fim, tem a Renata Camargo, que, após o curso da Gas-tromotiva, se viu com uma necessidade enorme de compartilhar o que aprendeu. Hoje, ela é coordenadora do curso de São Paulo e virou uma grande referência para todos os alunos”.

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Há quem acredite que a refeição começa e termina na mesa, mas esta não parece ser uma lógica partilhada por Ana Holanda, edi-tora-chefe da revista Vida Simples e criadora do projeto “Minha Mãe Fazia”. Para Ana, que conserva uma infância repleta de doces me-mórias, a comida é uma ponte que nos con-duz às nossas lembranças mais preciosas. E é a partir daí, com um enfoque inspirador de recordações de sabores inesquecíveis, que a jornalista faz um delicioso convite a nos co-nectarmos com nossas lembranças gustativas através da página virtual “Minha Mãe Fazia”. E acrescenta: “Eu acho que toda criança precisa crescer rodeada de comida gostosa, cheirosa, verdadeira. Tem que ir à feira, em horta, em pomar. Tem que comer fruta e deixar escor-rer o caldo pelo braço. Tem que reconhecer o cheiro da manga, do maracujá, da pitanga, da hortelã. Tem que perceber a mágica que é ver a mistura do ovo, da farinha e do leite se transformar em um bolo cheiroso. Tem que crescer e se lembrar disso com afeto.”

QUAL A SUA IDEIA DE UMA REFEIÇÃO REPLETA DE AFETO?Primeiro, acho que a comida tem que ser de verdade, o que também é sinônimo de comida saborosa. Não imagino uma refeição repleta de afeto tendo como prato principal uma la-sanha congelada. Gosto de comida saborosa, em que existe muito de quem a preparou ali. E isso não significa que precisa ser gourmet. Pode ser arroz, feijão, bife, salada. Bem bá-sico. Quando a gente cozinha, um pouco de nós fica naquele alimento. E o prato passa a ter alma. Outro dia, vi um programa na tevê em que um jovem padeiro falava que quanto menos o pão fosse processado, melhor. Ele defendia que o pão não precisava passar por uma porção de máquinas. Quanto mais fos-se sovado à mão, melhor, porque isso traria alma para o pão. Quando ele falou isso, achei

tão bonito. É isso, né? A gente coloca muito de quem somos quando estamos cozinhando. Então, existe certa doação ao cozinhar. Existe alma, existe afeto.

QUAL LEMBRANÇA QUE LHE É MAIS CARA DAS RECEITAS QUE SUA MÃE FAZIA?Eu adorava sentir o cheiro da comida sendo preparada: alho fritando, feijão sendo cozido, bolo saído do forno. Quando eu era criança, minha mãe ficava com a gente. Mas ela não ti-nha tempo, de verdade, para ficar com a gente. Ela era dona de casa, mãe de três filhos (sou a do meio) e precisava cuidar da casa, fazer as coisas acontecerem, preparar o almoço todo dia. O cheiro da comida no ar era a presença da minha mãe. Ela não estava ao meu lado, mas eu sabia que ela estava ali porque eu sen-tia o aroma da cozinha invadindo a casa.

QUAL FOI O SEU MAIOR ACHADO NOS CADERNOS DE RECEITAS? POR QUÊ?O mais bacana entre os achados nos cader-nos de receitas de família - um estudo em que venho me aprofundando nos últimos tempos - é perceber o quanto esses cadernos não tra-zem apenas receitas. Eles são um reflexo das pessoas, das relações que elas estabeleciam e de um tempo. Existem motivos históricos e sociais para, por exemplo, as mulheres de uma determinada época colarem as receitas de papel entre as páginas (aquelas receitas que vinham nas latas de leite condensado ou de creme de leite). Outra coisa muito bacana são as surpresas que esses cadernos escondem: poemas, dedicatórias, pequenos diários. Outro dia, uma amiga me contou que, após a morte da mãe, folheando os antigos cadernos de re-ceitas dela, descobriu vários poemas escritos à mão. Poemas lindos sobre saudade, amor. Uma descoberta de uma delicadeza só. Coisas que só um caderno de receitas nos revela.

GASTRONOMIA E AFETO

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p o r R a q u e l G a u d a r d

TREND FOOD

O FUTURO DA COMIDA

O título acima poderia se desdobrar num texto alarmista e pre-monitório sobre mudanças climáticas e situações emergen-ciais, desses que temos lido cotidianamente. Quem assistiu, por exemplo, ao filme “Interstellar” (2014, Ridley Scott) sabe que a preocupação com o tema não é infundada e, se chegou às grandes telas, é, em grande parte, generalizada. A película apresenta uma versão muito plausível sobre um possível futu-ro, com um cenário nada amistoso para as gerações posterio-res à nossa. Elas vão sofrer com a falta de comida e de água potável, sim. O planeta Terra continua existindo, mas a huma-nidade, depois de ter destruído seu próprio ambiente, não. Se poderemos migrar, antes da extinção, para outro planeta?

Melhor falar sobre um futuro mais próximo e colorido, deliciosa-mente recheado com as previsões da moda, só que para a gastro-nomia. Cecile Poignant, trendhunter, editora e curadora no Trend Union - do oráculo das tendências Lidewij Edelkoort -, afirmou, em recente evento sobre o assunto, em Amsterdam, que agora é a hora da vez das modas das comidas. “A moda não está mais na moda, a comida sim”, disparou para a sua audiência. Appunto, diriam os italianos, tão conhecidos por sua fascinante cozinha.

Mas atenção: não é 100% edulcorado o nosso panorama gastro-nômico atual. Segundo Pognant, nossa comida piorou muito nos últimos 50 anos, em termos nutricionais. Atualmente, é preciso comer 100 (isso mesmo, c-e-m) maçãs para se obter o valor nutricional de apenas uma, daquelas cultivadas na década de 1950. Outra revelação/comparação bombástica é que a sua ba-tatinha frita favorita, made by Mc Donald’s, contém mais de 19 ingredientes, enquanto as reais, caseiras, contam com apenas três. Faça a matemática da saúde. Lemos muito sobre tendências de moda e é interessante analisar a gastronomia também sob esse ângulo. Fica fácil entender, por exemplo, o sucesso dos food trucks, das hortas indoor, da febre gourmet e so on. Quando a gastronomia teve, assim, tantos en-tendedores e apaixonados por seu universo? Eu não me lembro. Confira alguns macroapontamentos:

RAÍZESCONFORTO/QUALIDADE/ENVOLVIMENTO/S IMPLIC IDADEQualidade é infinitamente mais importante do que quantidade. A assinatura traduz a ideia do abraço apertado que daremos às comidas naturais, aquelas que nutrem de verdade o corpo e que não tem de, necessariamente, ser perfeitas. Aqui, a preferência é por comidas reais: nada mais démodé que refeições industrializadas.

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TREND FOODTREND FOOD

SOMOS TODOS FAZENDEIROSPUREZA/URBANIZAÇÃO/ENERGIA/ENGAJAMENTO/LOCALQuanto mais urbanos nos tornamos, mais buscamos alternativas para as comidas naturais. A procura pelo contato com a natureza é reali-zada até mesmo minimamente, através de hortinhas indoor que cultivamos dentro dos nossos apartamentos.

#FOODPORNMACIEZ/FLUIDEZ/SENSUALIDADE/PROIB IDO/ESTRUTURAExperiências multissensoriais no campo da gastronomia nos lembram de que comemos não só para nos nutrir: estamos envolvendo a gastro-nomia de apelos eróticos, com novas texturas, estruturas, cores. Curiosamente, os tais chefs de cozinha que tanto têm feito sucesso atualmente serão substituídos, em breve, por “food designers”.

HÍBRIDOFUTURO/CONVENIÊNCIA/ IMPRESSÃO 3D/ INVENÇÃO/COMBINAÇÃONo futuro, que acontece agora, a conveniência é sinônimo de “no time to lose”, mas da forma mais interessante e saborosa possível. A impressão 3D produzirá grande impacto na indústria da gastronomia, assim como a nanotecnologia. Além disso, vale prestar atenção sobre como a comida está cada vez mais pensada e utilizada como remédio e, combinada com outros ingredientes, produzindo novos significados.

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B J Ö R K – V U L N I C U R A ( O N E L I T T L E I N D I A N R E C O R D S )

O vazamento do novo disco de Björk fez a cantora antecipar o lançamento de seu nono álbum de estúdio. E como todo retorno de Björk, esse tam-

bém veio acompanhado da expectativa de críti-cos e ouvintes sobre o que ela faria dessa vez.

Imprevisível como só ela, em “Vulnicura” não aposta em novos ca-minhos, mas remonta às sonoridades iniciais de sua carreira. Björk constrói um ambien-

te denso e sensível, comum na obra da artista e reforçado, neste trabalho, pelo sofrimento da separação conjugal - retratada cronologicamente em faixas compostas no período entre um ano antes e um ano depois do ocorrido.

A abertura “Stone Milker”, prima da distante “All Is Full Of Love”, de 1997, é o capítulo de aber-tura do disco que conta, momento a momento, o drama da separação de Matthew Barney, artista americano com quem Björk foi casada por 13 anos e teve uma filha. Batidas arrastadas, bases orquestrais e arranjos eletrônicos seguem em “Lion Song”, “History Of Touches” e “Black Lake” - esta última, par de “Jóga” do terceiro álbum solo, “Homogenic”. “Not Get” e “Atom Dance” são mais ecléticas e mistu-ram elementos de diversos períodos de sua carrei-ra, como as cordas de “Post” e “Homogenic” com as batidas tribais de “Volta”. Ainda em “Atom Dan-ce”, um duelo vocal delicado com Antony Hegarty, do Antony and The Johnsons. “Mouth Mantra” e “Quicksand” contêm a presença mais intensa da produção eletrônica, por onde a voz de Björk pas-

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seia confortavelmente ao longo das composições. Se não traz uma nova Björk, “Vulnicura” propor-ciona uma audição mais aceitável ao grande pú-blico ao relembrar a época mais pop da cantora e, certamente, presenteia os fãs saudosos da cantora-menina do começo da carreira.

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Mais um projeto vindo da Islândia vem ganhando destaque a cada lançamento. A banda FM Belfast surgiu em 2005 com duas pessoas, mas só começou suas atividades propriamen-te a partir de 2006, quando seis novos integrantes se juntaram. A participação no Iceland Airwaves Fes-tival naquele ano mostrou à Islândia e ao mundo o estilo irreverente com live acts superanimados que levantam a plateia. Donos de hits próprios, faixas como “Frequency”, “Par Avion” e “I Don’t Want To Go To Sleep Either” são algumas das músicas mais vibrantes nos shows. Com uma discografia trienal (“How To Make Friends”

em 2008, “Don’t Want To Sleep” em 2011 e “Brighter Days” em 2014), os músi-cos da fria ilha no Atlântico Norte desenham uma so-noridade alegre, jovial e, ao mesmo tempo, emotiva. Os primeiros singles a sa-írem de “Brighter Days” foram “We Are Faster Than

You” e “Delorean”, mas o álbum alavanca mesmo com a faixa-título “Brighter Days” e com “Gold”. Vários vídeos e pocket shows da banda podem ser assistidos no Youtube para se perceber, sensorial-mente, o estilo de se divertir e fazer música dessa showband. FM Belfast é um bom exemplo, e uma dica para o resto do mundo, do que deveria ser a boa música pop desse século.

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Apesar da longa discografia (dez álbuns), Macy Gray nunca repetiu o sucesso comercial de seu disco de estreia “On How Life Is”, de 1999, com o mega hit “I Try”. Naturalmente, isso não impe-diu a cantora de formar um fã-clube fiel, nem de ser aclamada pela crítica. Com uma voz própria, Macy desenhou, ao longo de 15 anos, uma car-reira sólida, mas é com “The Way” que a cantora volta em grande estilo.

O disco mostra uma artista mais segura em um cami-nho mais acertado, aliando boas melodias e letras que falam desde drogas até amor, em suas muitas for-mas - gravado à moda an-tiga, com banda e cantora tocando juntos no estúdio. A faixa de abertura, “Sto-ned”, é uma canção arrasta-

da que fala sobre ficar “chapado”. Ironicamente, levamos um “tapa” com a sequência, “Bang Bang”, uma das melhores do álbum, que traz uma Macy roqueira, com muitas guitarras, e onde se sente, fortemente, a sensualidade da voz rouca. Em seguida, uma diversidade de ritmos mostra por que “The Way” é um dos melhores discos de sua carreira. A dançante “Hands” e a sensual “I Miss The Sex” fazem uma boa sequência para um dos pontos fortes da artista: as baladas românticas – “First Time”, “The Way” e “Queen Of The Big Hurt”. A sequência final “Me With You”, “Need You Now” e “Life” formam a tríade mais comercial do ál-bum, garantindo sua audição até o último instru-mento. “The Way” é um excelente disco que deve agradar crítica e fãs e, certamente, entrará para a lista dos álbuns mais vendidos da artista. Mais importante que isso é ver uma Macy Gray mais certa de quem ela quer ser.

F. INDICA

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Hoje vivemos o tempo da “gourmetização”, tudo precisa passar pelo “toque do chef” para ter um gosto especial. Mas isso não significa que os chefs de verdade pensem necessariamente as-sim. Talvez a onda de programas culinários que assola as TV’s do mundo inteiro explique o tal raio “gourmetizador”. Todos querem ser chef, mas ninguém quer ser cozinheiro, dizem alguns. A ideia de que cozinhar é algo que todos podem fazer não é má, cozinhar é ritual e está carregado de simbolismos. Mas perder um pouco da pegada fancy viria a calhar. Cozinha é espaço de cultura, amor, suor, briga e, claro, sabor.

CHEF´S TABLE (EUA, 2015)

O Netflix não anda brincando em suas produções. Agora, também investe em documentários. O docsérie narra a história de seis gran-des chefs pelo mundo, suas relações com a cozinha, seus países, cultura dos pratos e a gas-tronomia internacional. Tem suor e criação!

CERVEJA FALADA (BRASIL, 2010, CURTA)

O mais velho mestre cerve-jeiro do Brasil, que na época da realização do curta so-mava 93 anos, fala sobre a tradição de se fazer a bebida no sul do país e de como passou por momentos históricos do século XX no ofício. Ele é engraçado, leve e importante, ao mostrar parte da identidade cultural brasileira.

ESTÔMAGO (BRASIL/ITÁLIA, 2007)

Cultuado filme nacional, vencedor de festivais. Raimundo Nonato é um nordestino que vai para a cidade grande e acaba num boteco, onde suas receitas (de coxinhas) conquistam os clientes. Com o sucesso, vai parar num restaurante italiano e, também, na cozinha

CINEMAp o r D a n i e l l e M a g n o

da prisão - o motivo só é revelado no final. A ascensão social – e queda – do chef é o seu domínio da culinária. Comida é poder, ou melhor, uma maneira de se conseguir poder, e isso fica muito claro no seu tempo na prisão. É uma fábula gastro-nômica e, bem, tem lá seus momentos indigestos.

COMO ÁGUA PARA CHOCOLATE (1992)

É um filme mexicano delicioso no sentido pleno, a história de um amor que não pode se concretizar por questões fami-liares. Tita perde o homem que ama para a irmã, mas todo o contato que faz com o amado (que não se torna amante, que fique claro) é através da comida que prepara para a família. Exímia cozinheira, Tita deixa que todas as emoções transpa-reçam na sua comida. Realismo fantástico e romance nada bobo, além de pratos maravilhosos.

“ A G A S T R O N O M I A É U M A L I N G U A G E M P A R A E X P R E S S A R N O S S A C U L T U R A . ”

Mas se o seu gosto é por programas culinários, não se preocu-pem, amigos: emissoras abertas ou por assinatura terão pelo menos um para chamar de seu. Da ex-modelo Rita Lobo ao charmosíssimo e descolado chef Anthony Bourdain, cozinhar, criar e viver a cultura através da comida também estão por lá. O destaque, então, vai para Bourdain - Parts Unknown (CNN Internacional, 5ª temporada), onde ele viaja pelo mundo todo comendo e enchendo a cara (literalmente) de cultura regional – e ele ama o Brasil, hein! A narração em off é o ponto alto, cheia de poesia e alfinetadas irônicas.

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O chef Joan Roca diz que “a gastronomia é uma linguagem que usamos para explicar nossa terra, cultura, memória, vivências, viagens”. Seguindo essa ideia, o nosso Alex Atala lançou o projeto “Eu Como Cultura”, movimento que reivindica o reconhecimento, por lei, da gastronomia brasileira como manifestação cultural. Não é novidade, Câmara Cascudo falava sobre isso num livro já indicado por nós, “A História da Alimentação no Brasil” (edição 11, de 2013). Basta dar uma olhadinha nas prateleiras das livrarias e ver uma infinidade de títulos sobre gastronomia, cozinhar, faça você mesmo, seja um chef... Mais do que aprender receitinhas, o sentido aqui é justamente entender o princípio de cozinhar e comer. Vamos?

Em “A Virtude da Gula” (Editora Senac, 2015, 272 p.), o autor Raul Lody nos libera de um dos sete pecados capitais. Ele contextualiza, historicamente, o significado da gula ao longo dos anos e em culturas distintas, mostrando que comer, mesmo em excesso, é uma questão cultural, econômica e, dependendo da época, pode ser considerado ostentação ou necessidade. Com isso, ele debruça sobre os tradicionais pratos da gastronomia brasileira, revelando ingredientes de forma despudorada, mostrando o significado social, o ritual de preparo e o valor de elementos culinários próprios que reforçam a identidade nacional - como o coco, a tapioca, o feijão e temperos.

Já Anthony Bourdain é conhecido por ser um chef cool e profundo conhecedor da gastronomia dos países mais remotos que podemos imaginar. Mas essa fama só foi possível depois do lançamento de “Cozinha Confidencial” (Cia. Das Letras, 2001,

p o r D a n i e l l e M a g n o

C Â M A R A C A S C U D O

LIVROS

“ C O M E R É U M A T O O R G Â N I C O Q U E A I N T E L I G Ê N C I A T O R N O U S O C I A L . ”

376 p.), no qual ele dilacera, sem dó e piedade, o funcionamento de uma grande cozinha. Não tem glamour, mas muita coisa suja (dicas de não comer peixes em aviões, não encarar ensopados, uso de produtos fora da validade e por aí vai...), drogas, subemprego de imigrantes que são a força vital da cozinha de restaurantes estrelados e, claro, também o prazer de fazer uma comida bem feita, pensada e criativa. Bourdain conhece gastronomia internacional porque, antes de tudo, ele trabalhou com pessoas do mundo todo. Isso faz diferença. Suas vivências foram tantas que acabaram virando programa de TV, também indicado nesta edição.

Por fim, “Comida como Cultura” (Senac, 2008, 208 p.), Massimo Montanari coloca a história a serviço da mesa. Todo o processo de fazer a comida e comer, para o autor, são princípios fundamentais para se entender a cultura de um lugar. Assim, o plantar, colher, limpar, preparar e consumir são determinados pela geografia, política, cultura, sociedade e até por preceitos religiosos. Na segunda parte do livro, o autor conversa sobre a invenção da cozinha, momento no qual deixamos de lado o alimento natural e, com acúmulo de conhecimento e técnicas, criamos formas elaboradas de conservar e produzir o que comemos. E, por fim, argumenta que comer e cozinhar são atos de escolha, determinados culturalmente, de identidade social e, também, de prazer coletivo - ou que, pelo menos, incentivam a estar com o outro.

F. INDICA

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ONDE ENCONTRAR

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ETIQUETAAGRESSIVE EYEWEAR, Rua Santa Clara, 33, Ljs 218/1.122 Copacabana, Rio De Janeiro, Presença confirmada no Guest Fashion edição de Setembro no Victory Business Hotel nos dias 11, 12 e 13. Facebook: agressiverio, www.agressiveoculos.com.br, e-mail: [email protected] DAS FITAS, Aceitamos encomendas nos telefones (32)9955-1103 e (32)8894-4087.CRAVO DOURADO, (32) 3235-6339, (32)8857-1065, VENDAS EM CONSIGNADO E ATACADO, Facebook: cravodourado, site: www.cravodourado.com.br.FRADE SPORTS, Rua Olegário Maciel, 240, Santa Helena, Lj 04, (32) 3241-3136, Facebook: FradeSports.GW FASHION, Galeria Epaminondas Braga, Lj 06, (32)3215-0167, Galeria João Beraldo, 109, (32)3211-8199, [email protected] IN, Rua Olegário Maciel, 770, Santa Helena, (32)3015-4020, (32)9137-2838, Facebook: Italia in, Instagram: @italian_in, e-mail: [email protected] FASHION, Center Moda, São João Nepomuceno, Lj 12, (32) 3261-2765, e-mail: [email protected] CALÇADOS, Rua Halfeld, 608, Lj 112, Centro, (32)3025-6798, Facebook: LakshmiJF, e-mail: [email protected] POR SAPATILHAS, Sapatilhas pronta entrega e encomendas, (32)8815-9637, (32)8817-7423, Facebook: loucasporsapatilhasjf.PONTO NATURAL, Rua Santa Rita, 565, (32)3212-0820, Avenida Rio Branco, 660/664, Manoel Honório, (32)3083-8450, www.pontonaturalbrasil.com.br.SANTA LOLLA, Independência Shopping, L2, (32)3236-1370, Braz Bernardino, 197, (32)3241-6744, facebook.com/SantaLollaJuizDeFora, Instagram: @santalollajuizdefora.STUDIO 87, Vendas online: www.studio87.art.br, e-mail: [email protected] OUTLET, Avenida Barão do Rio Branco 2.465 (em frente à Catedral) Facebook: suplementosoutlet.TRACK & FIELD, Avenida Independência, 3.600, Cascatinha, Independência Shopping, Lj 222, (32) 3236-5244.UNCLE K, Avenida Independência, 3.600, Cascatinha, Independência Shopping, Lj 214, (32)3313-8202, Instagram: @unclekjuizdefora.VICTORIA CANINE BOULEVARD PET, Rua Dom Silvério, 107, Alto dos Passos, (32)3025-6799, [email protected], Facebook: victoriacanineboulevardpet.

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