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    Anais do SIMCAM4 IV Simpsio de Cognio e Artes Musicais maio 2008

    A percepo da produo vocal pelo regente coral

    Snizhana [email protected]

    Resumo: O presente trabalho considera o conceito percepo vocal, incluindo suas funes erecursos, como a capacidade de ouvir, conscientizar e fazer, atravs dos seguintes tipos derecepo sensorial: controle auditivo, sensao muscular, sensibilidade vibracional e viso. Umabreve descrio sobre cada um deles revela a sua importncia no processo de desenvolvimentode uma percepo profissional. Ao mesmo tempo analisada a interligao da percepo vocalcom outra habilidade auditiva, a percepo interna, determinando as diferenas e aspeculiaridades no processo vocal. A discusso a respeito destes elementos chama ateno paraoutras habilidades ligadas percepo, que so a memria musical e a recepo musical. Apresente pesquisa tambm apresenta um dos mtodos de aperfeioamento da capacidadeauditiva, oferecendo um exerccio prtico, em anexo. Este trabalho tem por objetivos aampliao do referido conceito, trazendo para realidade brasileira a reflexo sobre o seudesenvolvimento alm do conhecimento da Escola de Msica da Rssia e Ucrnia, que foiadquirido pela autora com os anos de pesquisa terica e prtica. Assim, a discusso aliceradana pesquisa da literatura russa e ucraniana sobre o assunto e tem o foco central baseado notrabalho de Vladimir Morzov. As concluses, colocadas aqui em forma abreviada, destacam aatual importncia e o lugar da percepo vocal na produo coral. Metodologicamente estetrabalho baseou-se em procedimentos de busca, comparao e anlise da literatura supracitada,seguidos de reflexo e formulao para adequao realidade brasileira.

    Palavras-chave : percepo vocal, percepo interna, regncia coral.

    Introduo. A Regncia umaparte muito importante da interpretaoe produo musical, onde maisprofundamente se revela a sua essncia.A responsabilidade do regente grande,pois ele aparece como intermedirionecessrio entre compositor e ouvinte eest no centro da corrente: composio interpretao recepo. Ele devepossuir muitas habilidades pessoais e

    musicais para participar genuinamentede todos os elos desta corrente.Refletindo sobre as habilidades

    do regente, chegou-se ao tema destapesquisa a percepo do regente que uma das mais importantes habilidadesmusicais, no somente do regente, masde qualquer msico. Ela participa dotrabalho do incio ao fim e necessriaem todos os elos da correntesupracitada: composio interpretao recepo. E no sparticipa, mas torna-se o princpio

    organizador e criador no processo quenasce no momento em que o regente va partitura pela primeira vez.Escolhendo a obra, o regente a reproduzna mente em primeiro lugar, criando emseguida o quadro musical imaginrio.Depois, nos ensaios, e, posteriormente,no concerto, ele tentar realizar aimagem musical desenvolvida por ele.Por fim, durante o concerto, estando frente do conjunto, alm de controlar a

    execuo prevenindo as falhaspossveis, o regente dever analisar oresultado sonoro em relao imagemmusical criada por ele e, ao mesmotempo, ativar a prpria recepo crtica,pois, ele intrprete, ouvinte e crtico.

    E a Regncia Coral? Tendo emvista que os instrumentos neste caso soas vozes humanas, que no possuem aaltura fixa do som, podemos concluir:se o regente no tiver ouvido bemtreinado, o resultado sonoro serinsatisfatrio.

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    Entretanto, o presente trabalhoest baseado nas pesquisas tericas eprticas expostas na literaturamusical metodolgica da Rssia eUcrnia com o foco especial nos

    trabalhos de cientista russo, V.Morozov. Trabalhando na Universidade

    como professora de regncia coral, apesquisadora verificou que muitosalunos no conseguiam reger a obra semanteriormente ouvi-la ou toc-la aopiano e costumam analisar a partituraouvindo-a. Isso pode prejudicar acapacidade de desenvolvimento daimagem musical da obra estudada emsuas mentes.

    H muitas pesquisas que falamsobre as habilidades auditivasnecessrias dos msicos de diversasespecializaes, porm, so poucas asque do ateno ao ouvido do regentecoral, principalmente quelecomponente que se chama percepovocal. No temos conhecimento depesquisas que considerem a percepovocal em conjunto com outrascapacidades e componentes musicais.Portanto, este trabalho, voltou suaateno para uns dos principaiselementos na vida profissional doregente coral percepo interna epercepo vocal e aquelas habilidadesprofissionais que esto interligadas,como: memria musical e recepomusical.

    O que a percepo vocal ? Isto

    a capacidade de distinguir e utilizartodas as possibilidades da voz cantada,detectar os erros e problemas na voz,causados por questes tcnicas,fisiolgicas ou de outra espcie,capacidade que ajuda os coralistas aalcanar em um resultado sonoromelhor. Ela exige interao de vriosrgos dos sentidos, ativao dashabilidades psquicas e intelectuais e apresena de determinadas capacidadesprticas. Como uma formaobiopsicofisiolgica complexa,

    percepo vocal possui um grandesistema de mecanismos reguladores doprocesso de formao vocal, que serdiscutido mais tarde. Isto umfenmeno adquirido e no um talento

    musical ou lugar da nota (saberextrair a nota certa).E a percepo interna? Isto

    uma aptido tanto de compreensoauditiva, como surgimento nos centrosde ouvido das imagens sonoras dosfenmenos musicais j recebidos,quanto de imaginao auditiva, comocriao nos centros de ouvido dasimagens sonoras novas dos fenmenosmusicais ainda no conhecidos, atravsde elaborao criativa dos mesmosrecebidos anteriormente1. Os doistermos interagem permanentemente etm como rgo principal decoordenao o ouvido, que dever tantocontrolar diretamente a execuo,quanto ajudar na sua preparao.

    Assim, h dois objetivosprincipais neste trabalho : 1) trazer adiscusso sobre o desenvolvimento dapercepo vocal, pois na literaturametodolgica existente este foco estausente, e 2), considerando que a Escolana rea de msica da Rssia e Ucrniasempre era bastante produtiva eeficiente, divulgar seu conhecimentoque foi adquirido com os anos depesquisa terica e prtica. Alm disso,houve interesse em sintetizar oconhecimento previamente existente, aomesmo tempo em que se considerou a

    experincia da autora deste trabalho,permitindo um processo de reflexo eformulao especficas.

    No decorrer desta pesquisa foiutilizado o mtodo de busca, deanlise , de comparao, de reflexo e

    1 No termo fenmeno musical, encontrado notrabalho de pesquisadora russa, Seredinskaia(1962), subentende-se todos os elementosmusicais, tanto em estado desunido ou isolado,quanto na totalidade dos mesmos (por exemplo,uma seqncia dos acordes ou uma obra paraorquestra).

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    de sntese da literatura supracitada e doconhecimento adquirido. Nos trabalhoscientficos consultados, percebe-se queforam consideradas e pesquisadas asbases fisiolgicas da percepo vocal.

    Porm, h necessidade de analisar suaparticipao na produo musical e decriar uma linha didtica para seudesenvolvimento, pois o aproveitamentodos recursos da percepo vocal indispensvel!

    Aspectos histricos. Ainda nasegunda metade do sculo XIX ostericos europeus, pesquisando assuntosde interpretao, audio ou de prticavocal e compreendendo o ouvidomusical como um conceito multifrio,de alguma forma comearam aconsiderar aquelas qualidades epossibilidades especiais do ouvido, quemais tarde receberam o nome percepovocal.

    Na Rssia, os primeiros que seinteressaram pelo ouvido musical ecomearam a pesquisar este assunto deposies pedaggicas, foram NicolaiRimsky-Krsakov (Artigos e notasmusicais, So Petersburgo, SPB, 1911)e Sergui Maicapar (Ouvido musical,SPB, 1915). O conceito percepointerna foi introduzido justamente porRimsky-Krsakov (EnciclopdiaMusical, 1981, p.104). Conformepesquisa do terico russo, G. Freindling(1967, p. 29), na Alemanha interessou-se pelo assunto professor e terico dopianismo, K. A. Martinsen

    (Schpferischer Klavierunterricht,1957). Ele fez uma anlise comparativaentre o processo interpretativo de ummsico de alto nvel e de um msicoamador e constatou o fato de que nainterpretao do primeiro prevalece aesfera auditiva, que vem antes e depoisda emisso do som (a audio posterior j ocorre com a funo analisadora),enquanto que, na interpretao dosegundo (amador), a esfera auditiva

    vem somente em ltimo lugar(Ilustrao 1).

    Os dois termos, percepointerna e percepo vocal, entraram nalinguagem dos msicos quasesimultaneamente. Entretanto, o primeiroera intensivamente pesquisado enquanto

    o outro no.Saber ouvir significa podersentir, conscientizar e realizar. Nosperodos de domnio da fala na infnciaou, posteriormente, do canto (nosperodos de assimilao do esteretipomotor), o papel principal pertence recepo auditiva. Por isso, se a pessoaperde o ouvido, sendo adulta, a falapermanece e se isso ocorre na primeirainfncia, j no. Depois da assimilaodo esteretipo motor, o papel doanalisador auditivo fica importante paraa anlise das nuanas finas e, tambm,para a funo corretora na hora dasmudanas sonoras do meio ambiente.

    A percepo vocal umasensao complexa musical e vocal quesurge do resultado da interao entre osmuitos sistemas sensrios. SegundoMorozov (2002, p. 231-232), cada umdos rgos de sensibilidade ou dosanalisadores fisiolgicos recebe e passapara a parte central do crebro a suainformao especfica sobre o processovocal: o ouvido sobre ascaractersticas acsticas da voz doexterior; a sensao muscular sobre aparticipao no trabalho dos gruposmusculares; a sensibilidade vibracional sobre os processos acsticos dentro dotrato vocal; a sensao de tato sinaliza

    sobre o trabalho do sistema respiratrio junto com os receptores dos msculosrespiratrios; a sensao debarorrecepo sobre a fora dapresso subgltica; por fim, a visotambm indiretamente participa noprocesso vocal, atravs das suasimaginaes visuais. Depreende-se da que a percepo vocal algo mais doque simplesmente ouvido.

    Resumindo, pode-se dizer que a

    percepo vocal uma capacidade deouvir, conscientizar e fazer atravs de

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    vrios tipos de recepo (tanto externos,quanto internos), que orientam a prpriapercepo vocal e deveriam serestudados com os alunos dasespecialidades ligadas ao canto. Alguns

    deles pretendemos considerar aqui.Controle auditivo,sensibilidade muscular, vibracional eviso. necessrio notar que o controleauditivo possui dois elementos:percepo do seu prprio som(autodomnio auditivo) e do som quevem do exterior. O termo autodomnioauditivo tem em vista, no caso, tanto acapacidade de se ouvir como se fosse defora, quanto um ouvido ativo criadorque permita tornar consciente a tarefado intrprete, imaginar de antemo oque deve ressoar. Em outras palavras,um msico profissional capaz dereconstituir mentalmente a obra musicalatravs do ouvido ativo criador.

    Um dos pesquisadores russos narea de voz, Dmitri Liush (1988, p. 95)disse que o autodomnio auditivo serealiza atravs dos sistemas sensriosdo organismo do ser humano, ligadosinerentemente ao aparelho vocal, e queo seu complexo vocal um sistemaauto-regulador que se realiza atravs doseguinte esquema com ligaoretroativa: crebro aparelho vocal ouvido, sensaes musculares evibracionais crebro (Ilustrao 2).

    Uma grande cantora russa dosculo XX, A. Nejdanova, falava: Oque cantar bem? Isso significa se

    ouvir bem!. No h duvida que ocontrole auditivo leva ao crebro ainformao mais importante, pormpode dar falha tanto porque a pessoa seouvi tambm por cavidades internas,como por motivos das possveismudanas acsticas. E aqui deveriamentrar em ao outros auxlios dapercepo vocal.

    Todos os movimentos doaparelho vocal esto sendo controlados

    pela ordem dos centros nervosos e essesmovimentos revelam-se tanto no

    processo de canto real, quanto nomental. Segundo Morozov (2002, p.230), a pessoa que est imaginandoalguma ao ou estado reproduzinvoluntariamente estas aes e estados:

    a imaginao mental cria osmovimentos correspondentes, estados esensaes do cantor. Esta leipsicofisiolgica baseada no atoideomotor que provm de movimentomuscular no reflexo, mas produzidopor idia dominante.

    Assim, a sensao auditiva emuscular so sistemas sensrios maisrelevantes na pedagogia vocal. Porm,existem outros canais de ligaoretroativa, que so importantes emvrios casos de regulao do processovocal: vibrosensibilidade e viso.

    A vibrossensibilidade sedesperta por energia sonora, pois resultado dos fenmenos acsticoscomplexos no aparelho vocal ecaracteriza a qualidade do trabalho dosistema dos ressonadores na formaodo som. A funo principal davibrosensibilidade a formao dotimbre. A sensibilidade dos receptoresde vibrao das pessoas diferente.

    E a viso? Qual o seu papel naproduo vocal? Certamente a visopoderia participar, pelo menos, em doismomentos: na hora de imaginar algo,que poderia ajudar na formao do som(fenmeno psicofisiolgico) e/ou nahora da utilizao dos aparelhosespeciais eletrnicos com objetivo

    educacional (funo corretora). O usodas associaes uma tcnica justificada fisiologicamente epraticamente, pois organiza o aparelhovocal do cantor, mobiliza exatamenteaqueles reflexos que so necessriospara que a voz adquira uma sonorizaoe projeo boa. Ao mesmo tempo atecnologia moderna oferece vriosprogramas de computador que, juntocom o equipamento apropriado, contm

    os recursos para fazer uma anliseacstica da voz cantada, ajudando

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    melhorar ou desenvolver algumasqualidades vocais (timbre, afinaoetc.).

    Segundo Morozov (2002),graas ao mtodo anlise atravs da

    sntese, alguns sons, que so ausentesna fala audvel, ns conseguimosreproduzir mesmo sem ouvi-los. Estemtodo permite ouvir aquilo quesomente subentende-se. Assim, ficamais claro o mecanismo da percepovocal como a capacidade no somentede ouvir a voz, mas imaginar e sentir otrabalho do aparelho vocal.

    O que traz a percepo vocal? Note-se que h diferena entre apercepo musical, que controla a alturarelativa, a durao e a fora do som, eque uma capacidade auditiva (ouvir eanalisar), e a percepo vocal, quecontrola ainda a qualidade do som e aconformidade da ressonncia com aimagem que est sendo interpretada, eque uma capacidade prtica (ouvir,analisar e saber como fazer).

    Assim, definimos duas funesprincipais da percepo vocal: a funointerpretadora, isto , quando percepovocal age de um modo refletor,controlando a qualidade do som doprprio regente que est cantando, e afuno administrativa que consiste emanlise da fonao dos coralistas e dasua orientao pedaggica.

    No se pode tambm deixar dolado os seus recursos principais: auxlio afinao, tcnica individual,

    interpretao da partitura, coordenao timbrstica e auxliointerpretador execuo coral.

    Interligao entre percepovocal e percepo interna. necessrio de assinalar aqui trs funesprincipais da percepo interna de ummsico profissional: imaginar (lermentalmente uma ou vrios linhasmeldicas ao mesmo tempo), manipular(operar livremente com as imagens

    auditivas musicais) e criar ( a criaonos centros de ouvido das imagens

    sonoras novas dos fenmenos musicaisainda no conhecidos, atravs deelaborao criativa dos mesmos,recebidos anteriormente). Entretanto,pretende-se falar aqui somente sobre

    uma das suas qualidades, que temrelao com a percepo vocal doregente coral: a imaginao mentalauditiva.

    Na ctedra de Psicologia naUniversidade Federal de Moscou eramfeitos vrios experimentos queprovaram interligao da recepoauditiva com funo simultnea dascordas vocais (Morozov, 1977;Nasaikinski, 1972). SegundoSeredinskaia (1962), a percepointerna depende, em primeiro lugar, dariqueza das impresses musicais dosalunos; em segundo lugar, da qualidadede recepo e memria musical deles;em terceiro lugar, da capacidade doscentros de ouvido deles de criar asimagens sobre fenmenos musicaisnovos atravs da sntese e, em quartolugar, de desenvolvimento do raciocniomusical dos alunos, pois antes desintetizar alguma coisa, precisa poderpr em ordem as impresses recebidasanteriormente e separar as necessriasneste instante.

    A ligao entre a percepovocal e a percepo interna indispensvel. Vejamos: a etapa deaperfeioamento de sensibilidademuscular , tambm, uma etapapreparatria para trabalhar percepo

    interna. Portanto, no processo dedesenvolvimento de percepo vocalser, sem dvida alguma, trabalhada,tambm, a percepo interna. E aocontrrio a maioria dos exercciosdirecionados para aprimoramento dapercepo interna de um modo ou deoutro ajudam a desenvolver a percepovocal.

    A percepo e as habilidadesinterligadas. O esquema completo de

    educao do ouvido aparece da seguintemaneira: da recepo inconsciente da

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    msica atravs do ciclo vocal (elementomotor) at a recepo consciente dainformao musical com percepointerna. Seredinskaia comenta (1962, p.9), que percepo depende da

    qualidade de recepo e memriamusical dos alunos. A pesquisadoraconsidera a memria musical como umprocesso psicolgico de conservao naconscincia dos fenmenos musicaisrecebidos anteriormente ou no momentoatual e sua posterior recepo, e arecepo musical como um processopsicolgico de reflexo nos centrosauditivos daqueles fenmenos musicaisque, no momento atual, esto agindosobre nosso aparelho auditivo.Recepo o momento inicial efundamental de conhecimento dosfenmenos musicais. Seus resultados,gravados na conscincia, ficam comobase futura para a atividade doraciocnio e para a imaginao auditiva.

    Outro pesquisador russo,Maksimov, ofereceu o mtodo deformao da percepo do cantor, cujalinha principal baseada na duplicidadedo processo de entoao que inclui oprocesso simultneo de canto em mentee canto em voz alta. Veremos a Escala-vocalise que um dos exerccios destemtodo (Ilustrao 3). Percebe-se que amudana das vogais, conforme o grau aser cantado, e alternncia dos registrosajudam ativar o ouvido interno e ouvirduas linhas meldicas ao mesmo tempo:a prpria escala e a tnica.

    Segundo o professor russo,Vinogradov (1987, p.51), mais fcil verificar a produtividade damemorizao atravs da reproduo:quanto maior o intervalo de tempo quese d entre a memorizao e areproduo do material, mais eficaz otrabalho da memria ser considerado.Precisamos tratar a memorizao comoa possibilidade de reproduzir a mesmacoisa em condies novas (em outra

    tonalidade, tempo ou dinmica) oureconstituir algo novo no mbito dos

    princpios assimilados (em verso deoutro modo ou gnero). Em outraspalavras, a memorizao serve nocomo base para a repetio da tarefaresolvida, mas para a repetio da ao

    no rumo da tarefa. Note-se que o autordirige nossa ateno para amemorizao consciente. No tempo dememorizao consciente o estudantetem a possibilidade de abordar a obracomo se fosse abranger o materialmusical todo. A memria conscienteajudar, futuramente, a conscientizar efixar as sensaes muscularesnecessrias execuo. Dessa maneira,essas sensaes musculares (ou amemria muscular) um eloimportantssimo entre a memriaauditiva e a percepo vocal.

    Conseqentemente podemosobservar que existe uma ligaoinevitvel entre memria e recepomusicais, junto com a percepo internae a percepo vocal. Isso traz aconcluso de que o plenodesenvolvimento dessas capacidades um processo nico. Realmente, osprofessores experientes comentam queaqueles exerccios que influemsimultaneamente sobre odesenvolvimento de vrias habilidadesso sempre mais produtivos.

    Concluindo , o conceito depercepo vocal um dos maisimportantes na prtica da produovocal, porm um dos menospesquisados. H necessidade de inserir

    este conceito no trabalho dirio dosregentes de coro, pois para um aluno apercepo vocal o meio para aprenderenquanto para um professor o meiopara ensinar. A anlise das sensaes,sejam internas ou externas, a nicamaneira de avaliar o trabalho do prprioaparelho vocal e controlar o seufuncionamento, podendo ainda ensinar,pois, s podemos de fato ensinar aquiloque um dia passou pela nossa mente,

    nossas sensaes e nosso corao, ouseja, aquilo que se constitui como parte

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    de nossa experincia real. A educaodo ouvido profissional, do qual faz partea percepo vocal, um processocomposto por elementos de naturezasdistintas, um processo longo e

    multifrio.Dessa maneira, chegamos aalgumas concluses importantes:1) aessncia psicofisiolgica da percepovocal concentra-se na interao dossistemas que participam tanto noprocesso de formao e emisso do somquanto no processo de sua recepo;2) a percepo vocal de um regente decoro deve ser desenvolvida pelo regenteconscientemente e sistemicamente,tanto nas aulas, durante o perodo deestudo, quanto posteriormente, na vidaprofissional;3) h necessidade de umdesenvolvimento direcionado nosomente das sensaes propriamenteauditivas, mas de todo o complexo desensaes internas indispensveis parapossuir uma formao ntegra dapercepo profissional, para qualquerregente.

    Subreas de conhecimento: msica;regncia coral; canto; percepo.

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