refletindo sobre museus

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MIDAS (2014) Varia e dossier temático: "Museos y participación biográfica" ................................................................................................................................................................................................................................................................................................ Elisa Noronha Nascimento A musealização da arte contemporânea como um processo discursivo e reflexivo de reinvenção do museu ................................................................................................................................................................................................................................................................................................ Aviso O conteúdo deste website está sujeito à legislação francesa sobre a propriedade intelectual e é propriedade exclusiva do editor. Os trabalhos disponibilizados neste website podem ser consultados e reproduzidos em papel ou suporte digital desde que a sua utilização seja estritamente pessoal ou para fins científicos ou pedagógicos, excluindo-se qualquer exploração comercial. A reprodução deverá mencionar obrigatoriamente o editor, o nome da revista, o autor e a referência do documento. Qualquer outra forma de reprodução é interdita salvo se autorizada previamente pelo editor, excepto nos casos previstos pela legislação em vigor em França. Revues.org é um portal de revistas das ciências sociais e humanas desenvolvido pelo CLÉO, Centro para a edição eletrónica aberta (CNRS, EHESS, UP, UAPV - França) ................................................................................................................................................................................................................................................................................................ Referência eletrônica Elisa Noronha Nascimento, « A musealização da arte contemporânea como um processo discursivo e reflexivo de reinvenção do museu », MIDAS [Online], 3 | 2014, posto online no dia 09 Junho 2014, consultado no dia 16 Junho 2015. URL : http://midas.revues.org/563 ; DOI : 10.4000/midas.563 Editor: Alice Semedo, Raquel Henriques da Silva, Paulo Simões Rodrigues, Pedro Casaleiro http://midas.revues.org http://www.revues.org Documento acessível online em: http://midas.revues.org/563 Documento gerado automaticamente no dia 16 Junho 2015. © Revistas MIDAS

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Refletindo sobre museus

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  • MIDAS3 (2014)Variae dossier temtico: "Museos y participacin biogrfica"

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    Elisa Noronha Nascimento

    A musealizao da artecontempornea como um processodiscursivo e reflexivo de reinveno domuseu................................................................................................................................................................................................................................................................................................

    AvisoO contedo deste website est sujeito legislao francesa sobre a propriedade intelectual e propriedade exclusivado editor.Os trabalhos disponibilizados neste website podem ser consultados e reproduzidos em papel ou suporte digitaldesde que a sua utilizao seja estritamente pessoal ou para fins cientficos ou pedaggicos, excluindo-se qualquerexplorao comercial. A reproduo dever mencionar obrigatoriamente o editor, o nome da revista, o autor e areferncia do documento.Qualquer outra forma de reproduo interdita salvo se autorizada previamente pelo editor, excepto nos casosprevistos pela legislao em vigor em Frana.

    Revues.org um portal de revistas das cincias sociais e humanas desenvolvido pelo CLO, Centro para a edioeletrnica aberta (CNRS, EHESS, UP, UAPV - Frana)

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    Referncia eletrnicaElisa Noronha Nascimento, A musealizao da arte contempornea como um processo discursivo e reflexivo dereinveno do museu, MIDAS [Online], 3|2014, posto online no dia 09 Junho 2014, consultado no dia 16 Junho2015. URL: http://midas.revues.org/563; DOI: 10.4000/midas.563

    Editor: Alice Semedo, Raquel Henriques da Silva, Paulo Simes Rodrigues, Pedro Casaleirohttp://midas.revues.orghttp://www.revues.org

    Documento acessvel online em:http://midas.revues.org/563Documento gerado automaticamente no dia 16 Junho 2015. Revistas MIDAS

  • A musealizao da arte contempornea como um processo discursivo e reflexivo de reinven (...) 2

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    Elisa Noronha Nascimento

    A musealizao da arte contemporneacomo um processo discursivo e reflexivode reinveno do museuIntroduo

    1 Marcado por um conjunto de circunstncias que assinalam as ltimas cinco dcadas domundo dos museus, este estudo1 considera a dcada de 1960 como um divisor de guasna vida destas instituies.2 No somente pelos desafios suscitados pelas novas realidadespolticas, governamentais, sociais, artsticas e culturais que se consolidaram a partir de ento,como tambm por uma crescente atitude crtica do museu sobre si mesmo, por um crescente(auto)questionamento sobre seus limites, papis, pblicos e objetos; o que contribuiu paragerar uma certa crise de identidade e esquizofrenia, evidenciadas pela dificuldade que osmuseus apresentavam (e, em muitos casos, ainda apresentam) ao tentarem resolver os seusproblemas de definio e funo (Cameron 1971). E nesta mesma dcada, mais precisamenteno inverno de 1969, Christo (n. 1935) e Jeanne-Claude (1935-2009) empacotaram o Museumof Contemporary Art de Chicago3. A imagem de um museu de arte contempornea empacotadotornou-se emblemtica do desafio assumido por este estudo: um questionamento contnuosobre o que define e especifica um museu de arte contempornea e sobre como seria possvelabord-lo na sua dinmica processual de (auto)afirmao e reinveno institucional.

    Fig. 1 foto: Shunk-Kender Roy Lichtenstein Foundation

    2 E entre as diferentes dinmicas performadas pelo museu de arte contempornea e queconstituem a sua identidade, optou-se por desenvolver o estudo centrando-se nos modos comoestas instituies se afirmam e se reinventam atravs do comprometimento que estabelecemcom o seu prprio objeto, i. e., com a arte contempornea. Ou seja, como estas instituiescontextualizam paradigmas e funes que as justificam e as fundamentam ao musealizarema arte contempornea? Como cada museu se define historicamente enquanto museu de artecontempornea? Como se enquadra nesta tipologia de museu? Quais so seus modelosreferenciais de museus e de prticas? Qual o perodo abrangido pelas suas colees? Como assuas colees so expostas? Que conceitos ou pressupostos definem as caractersticas dos seus

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    espaos arquitetnicos e expositivos? Como definem a arte contempornea e os seus critriosde catalogao e documentao? Como os artistas so envolvidos e participam em todo esteprocesso?

    3 Assume-se, portanto, a musealizao como o meio de atuao e reinveno do museu;assume-se que atravs das negociaes, escolhas e decises implcitas s interpretaese representaes consequentes ao ato de colecionar, conservar, expor, comunicar e tornaracessveis os seus objetos o museu constri, questiona e afirma sua identidade. A musealizao analisada, assim, como um processo discursivo, o que envolve a reiterao de normas, deconvenes, de prticas significativas historicamente e culturalmente localizadas mas tambmcom um processo reflexivo, o que envolve agncia e disrupo crtica no fluxo do pensamento eda ao. A partir desta perspetiva, para alm de ser uma instituio que realiza a musealizao,ao transformar objetos em testemunhos autnticos de uma determinada realidade, o museu ele prprio realizado ou performado pela articulao dos diferentes elementos que constituemeste processo: os seus espaos fsicos, objetos, prticas, agentes, conceitos, determinaes,objetivos, valores. Neste sentido, a questo que aqui se coloca : como os museus de artecontempornea so performados atravs do comprometimento que estabelecem com o seuprprio objeto, i. e., com a arte contempornea?

    4 Porm, apesar deste estudo se centrar nos modos como os museus se afirmam e se reinventamao musealizarem a arte contempornea, no se pressupe aqui que a sua identidade estejaapenas relacionada com os tipos de relaes que estabelecem com os seus objetos crtica,discursiva, reflexiva, ritualista e nem que estas sejam as nicas relaes estabelecidas. Pelocontrrio, assume-se que a sua reinveno situa-se, principalmente, na realizao de umapoltica de conversao cultural entre muitos participantes e atravs da promoo de espaospara onde confluem uma srie de dilemas, contradies e tenses em relao aos processos deseleo e produo de conhecimento (Padr 2003). O que se prope que a musealizao daarte contempornea se constitui como um destes espaos.

    Contextos5 O marco contextual deste estudo a convergncia de trs fenmenos que assinalam as ltimas

    cinco dcadas do mundo dos museus: o que pode ser definido como a reinveno do museu;o boom de museus de arte contempornea; e a prpria arte contempornea. Ou seja, so asreflexes e as problemticas que surgem do encontro entre esses trs contextos que constituemo pano de fundo da investigao e a animam.

    6 A reinveno do museu diz respeito s adaptaes, s respostas, s solues do museufrente s exigncias de uma nova realidade poltica, social e cultural ps-moderna,lquida, tardia ou radicalizada: tensa e contraditria, composta por ritmos espcio-temporaisdesiguais (Lopes 2000, 342). Frente a essa nova realidade, os museus mudaram rapidamentee radicalmente e so constantemente desafiados a justificar a sua existncia, a desenvolvernovas prticas, a reimaginar o seu futuro. Segundo Hooper-Greenhill (2001), duas questesorientam fundamentalmente esse processo e projetam a identidade de um ps-museu ou deum museu lquido, tardio ou radicalizado. A primeira diz respeito s narrativas e s vozes,ou o que dito e quem diz; a segunda diz respeito compreenso, interpretao e construo de significados, ou quem ouve. Por outras palavras, tal processo orientado pelareconceptualizao da relao entre o museu e o seu pblico, na qual a reflexo sobre os modosde construo do conhecimento apresenta-se como um aspeto vital. A identidade do museuprojeta-se, assim, com a poltica cultural em que est engajado, o que implica em possibilidadede agenda, de ao, de exame crtico do seu patrimnio e em procura por novas formas deadaptar as suas prticas de longa data s novas circunstncias. Entende-se, portanto, que areinveno do museu um processo variado e anacrnico ou que existe enquanto potnciaprpria de nossa poca, sendo parte essencial dessa reinveno as diversas sensibilidadessociais e culturais que se do no mundo. Isso implica que os museus reinventam-se seguindoobjetivos e prticas distintas, definidos atravs de uma maior participao e protagonismo deseus interlocutores, nos seus contextos de interao.

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    7 O boom de museus de arte contempornea entendido, primeiramente, como manifestaodaquilo que Fyfe denominou the museum phenomenon, i. e., o extraordinrio crescimentodo nmero e da variedade de museus em todo o mundo, vinculado s transformaes daseconomias regionais, ao desenvolvimento de uma sociedade de consumidores e violaodos limites estabelecidos entre cultura cultivada e cultura popular (2006, 40); motivaes oupreocupaes estas que conduziram, por um lado, proliferao de museus de vizinhana,muitas vezes concentrados na cultura da vida quotidiana e no patrimnio local e, por outrolado, proliferao de museus superstar relacionados com a construo ou representao deidentidades e aqui se refere s cidades e os seus incentivos promoo e competio globalpor prestgio e por uma parcela do mercado do turismo cultural mas tambm com questesdo espetculo, do trfego global em smbolos, do fluxo de capital (Macdonald 2006, 5).

    8 Ao mesmo tempo, o museum phenomenon foi acompanhado por transformaes sociais nemsempre positivas e, consequentemente, por reformas polticas e econmicas que visaramrecuperar e promover a confiana social, a cooperao e o bem-estar comunitrio. Frente atal situao e em muitos pases os museus foram reconhecidos governamentalmente comoferramentas eficazes para a reduo da excluso social, para a melhoria da autoestima dosindivduos, contribuindo para a sade da sociedade. E se, por um lado, este reconhecimentopode ser percebido como uma oportunidade para o desenvolvimento de novas competncias,por outro, o envolvimento do museu com uma agenda poltica mais alargada significou muitasvezes a redefinio de suas prioridades, a justificao do seu valor e sua existncia em termosdos objetivos especificados pelos organismos de financiamento governamentais4 (Scott 2003,2007, 2009).

    9 Por conseguinte, o boom de museus de arte contempornea diz respeito, para alm doextraordinrio crescimento do nmero de instituies dessa natureza, presena de taisinstituies em cidades de qualquer tamanho, deixando de serem privilgios apenas dasgrandes metrpoles (Lorente 2008). Diz respeito a um certo valor utilitarista que considera osmuseus de arte contempornea peas motoras dos projetos urbansticos de reabilitao dereas histricas ou degradadas, atribuindo a tais instituies a capacidade de reestruturaodo tecido urbano, socioeconmico e simblico; e que as torna, por um lado, excelentesinstrumentos para a projeo de uma imagem monumental e expressiva do poder das cidadese seus governantes (Layuno Rosas 2008, 9) e, por outro, objetos de intenso escrutnio:acadmico, empresarial, governamental, jornalstico (Prior 2002).

    10 O terceiro contexto ou fenmeno evocado a prpria arte contempornea, e maisespecificamente, a problemtica de definio que a acompanha. Apesar de ser uma expressoque se impe sobretudo a partir dos anos de 1980 (Millet 1997), a categoria arte contemporneano nova, e pode-se dizer que durante muito tempo referiu-se simplesmente artemoderna que se est fazendo agora ou a arte produzida por nossos contemporneos, i. e.,o contemporneo no seu sentido mais evidente (Danto 1999). No entanto, a partir dos anosde 1950 comea a emergir uma distino entre o moderno e o contemporneo e, assim comoo moderno foi definido como algo mais que um conceito temporal e a designar no apenasuma arte mais recente, adquirindo um significado estilstico, uma noo de estratgia, estiloe ao (30), o contemporneo passou a designar algo mais que a arte do momento presente,a arte contempornea passou a significar arte produzida com uma determinada estrutura deproduo nunca vista antes, [...], em toda a histria da arte (32).

    11 Segundo Millet (1997), tal necessidade de distino emerge primeiramente no mundo dosmuseus quando os conservadores foram confrontados com um problema muito concreto:quando aqueles que pertenciam s instituies mais importantes, j largamente providas deobras do incio do sculo XX e cujas colees continuaram a ser enriquecidas, tiveram deapreender a classificao dessas colees; e quando aqueles que contribuam para o arranquede novas instituies inteiramente dedicadas arte contempornea, tiveram que definir o seucampo de competncia relativamente a museus que seguiam a evoluo da arte moderna. Paraambos, a questo a ser respondida era: Onde termina a arte moderna e onde comea a artecontempornea? (15).

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    12 No final da dcada de 1990, Millet (1997) realizou um inqurito com a finalidade de percebercomo esta questo vinha sendo respondida e sobretudo investigar do que se falava quando sefalava de arte contempornea. Uma das concluses a que chegou foi que para a maioria dasinstituies interrogadas a rutura entre a arte moderna e contempornea acontece em torno dosanos de 1960, quando se impuseram a pop art, o novo realismo, a op art e a arte cintica, aminimal art e o color-field painting, os happenings, a arte conceitual, a arte povera, a landart, a body art, o support-surface e outras inmeras formas de arte e processos que recorrerama todo tipo de material, ao prprio corpo do artista, participao do pblico. Contudo, aideia dominante surgida com o inqurito foi que a arte contempornea, ou melhor, a arte queos conservadores dos museus designavam como contempornea era definida no tanto emtermos temporais ou estticos e sim em termos materiais; mais precisamente a arte que,pela natureza de seus materiais e processos, os obriga a modificar profundamente o seu papelou seu modo de trabalho (Millet 1997, 17).

    13 Doze anos aps a publicao do resultado do inqurito realizado por Millet, os editores darevista eletrnica e-flux, confrontados com a dificuldade em estruturar o ndice de um wikisobre arte contempornea, convidaram crticos, curadores, artistas de vrias partes do mundoa refletir e a responder a partir de suas prprias experincias profissionais questo o que arte contempornea? (Aranda et al. 2009, 2010). O panorama introdutrio traado peloseditores sobre o estado da discusso de tal questo reflete a complexidade e um certo paradoxoque a subjaz: se, por um lado, a hesitao inicial em desenvolver qualquer tipo de estratgiaabrangente para a compreenso da arte contempornea foi compreensvel e justificvel dadoque a mesma se encontrava em sua fase emergente, por outro lado, o trabalho desenvolvidoat ento pelos museus, pela academia e pelo mercado de arte formou um contexto concretopara a produo artstica com parmetros que so de certa forma assumidos como adquiridos,mas que no so declarados como tal.

    14 No mesmo ano de publicao das primeiras respostas pela e-flux, a edio de outono da revistaOctober apresentava o resultado de um outro inqurito sobre a contemporaneidade da arte,realizado desta vez por Foster, atravs de um questionrio enviado para aproximadamente 70artistas, crticos e curadores dos Estados Unidos da Amrica e da Europa. De certa maneira,as questes propostas por Foster tinham como fundamento a mesma situao paradoxalpontuada pela e-flux: por um lado, a sensao de que a prtica artstica atual flutua livrede determinao histrica, de definio conceitual e juzo crtico e, por outro lado, atransformao da arte contempornea em um objeto institucional em si, com investigadorese programas acadmicos dedicados ao seu estudo, assim como, museus e outras instituiesmundiais (2009, 3). No entanto, as questes formuladas por Foster incitaram no apenas orelativismo implcito constatao da pluralidade de momentos e da diversidade de prticasque caracterizam a contemporaneidade da arte mas, principalmente, um posicionamentoreflexivo em relao maneira como a arte contempornea vem sendo apresentada, estudada,discutida pelos historiadores da arte, pelos crticos, pelos museus.

    15 Neste mbito, observa-se que as investigaes desenvolvidas por Millet, pela revista e-flux e por Foster trazem tona, para alm da diversidade de intenes e realizaes daarte contempornea, a impossibilidade de captur-la numa nica dimenso, seja esttica,social, cultural, histrica, econmica ou poltica. De tal modo que, segundo Smith (2006),por mais de duas dcadas no se articulou qualquer generalizao de sucesso sobre aarte contempornea. No entanto, pode-se dizer que duas grandes definies ou tendnciasdespontaram nos principais centros mundiais de distribuio de arte: a arte contemporneacomo o novo moderno e a arte contempornea como trnsito entre culturas (Smith 2006). Aarte contempornea como o novo moderno diz respeito sua forma mais institucionalizada ea uma certa globalizao esttica, i. e., a arte contempornea como um movimento artstico estilos e prticas , como a ltima fase da histria da arte moderna na Europa, nos EstadosUnidos da Amrica e nas suas colnias culturais, como a continuao da linhagemmodernista e, consequentemente, a sua renovao ativa, como o elevado estilo cultural deseu tempo (688). Por sua vez, a arte contempornea como trnsito entre culturas diz respeito arte que emerge ideologicamente no cruzamento dialtico com a cultura de um mundo

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    ps-colonial, ps-guerra fria, ps-ideolgico, transnacional, desterritorializado, diasprico,global (Smith 2006, 693); cruzamento este estabelecido materialmente e simbolicamente,atravs de procedimentos de traduo, interpretao, subvero, hibridao, crioulizao,deslocamento e remontagem (694).

    16 De acordo com Smith (2006, 2009a, 2009b), uma terceira resposta seria possvel ainda: aarte contempornea como a arte da contemporaneidade o que diz respeito s preocupaes eestratgias de uma gerao de artistas herdeiros dos xitos e deficincias das disputas polticasdas dcadas de 1960 e 1970 do anticolonialismo ao feminismo , interessados por elementosque caracterizam as duas primeiras tendncias, porm, menos atenciosos s suas respetivasestruturas de poder, de desvanecimento e estilos de luta. Diz respeito a uma gerao deartistas mais preocupados com as potencialidades interativas dos diversos meios e materiais,com a compreenso da natureza mutvel do tempo, do lugar, dos meios de comunicao, edo humor do presente, e que procuram fluxos sustentveis de sobrevivncia, cooperao ecrescimento num mundo complexo e antagnico (Smith 2009b, 8). Diz respeito a uma artemais pessoal, de menor escala e modesta, em contraste com a escala monumental e espetacularque caracteriza a arte contempornea como o novo moderno, e em contraste com o testemunhoconflituoso que continua a ser o objetivo da maioria da arte como trnsito entre culturas (Smith2009a).

    17 Apreendidas em conjunto, essas trs respostas ou tendncias caracterizariam a artecontempornea do final do sculo XX e incio do sculo XXI. E a particularidade das mesmasest, segundo Smith (2009b), no facto de abarcarem no apenas a prpria obra de arte mas,tambm, de se constiturem como uma interrogao dentro da prpria ontologia do presenteao questionarem o que isso de existir em condies de contemporaneidade? (2009a, 54).Enfim, a questo de maior relevncia nessa discusso o reconhecimento de que houve apartir da segunda metade do sculo XX uma mudana significativa nos modos de produo,interpretao e distribuio da arte em todo o mundo. No entanto, esta mudana tem ocorridode maneiras distintas em cada regio, nao ou cidade, dependendo sobretudo do histricoartstico, da cultura e poltica local, o que vem exigindo uma grande variedade de abordagenscrticas, atentas aos limites e potencialidades de cada contexto e s conexes possveis entrea arte de lugares distintos e distantes (Smith 2010).

    Do que se fala quando se fala em musealizao?18 Neste estudo so desenvolvidas trs consideraes sobre a musealizao, cada uma priorizando

    perspetivas distintas, porm, no excludentes entre si e que fundamentam o entendimentoda musealizao como um meio de (auto)afirmao e reinveno do museu. Sendo assim,no se pretende definir um conceito objetivo de musealizao e sim refletir sobre questesou princpios que a caracterizam como um processo cultural, construtor de significadose de representaes; mas, sobretudo, que a caracterizam como um espao e momento deenvolvimento crtico do museu, o que envolve discursos e reflexividade.

    19 Ao falar de musealizao, fala-se, portanto, de um processo cultural produtor de significadospartilhados, o que diz respeito a sensibilidades e desejos presentes, ou seja, da musealizaono apenas como um processo de construo e preservao de um passado os seus objetos,os factos, as circunstncias mas tambm como um processo de construo e preservao deum presente com os seus critrios e os seus valores , da relao que temos hoje com ascoisas que atualmente acreditamos nos constituir enquanto seres humanos, indivduos sociais,histricos e culturais. Neste sentido, um estudo sobre o processo de musealizao pode revelarmuito mais sobre o presente conhecido e prximo do que sobre o passado estranho e longnquo.

    20 Fala-se de contexto museolgico e dos efeitos e registos que o particulariza e o especfica.Neste sentido, o estudo sobre o processo de musealizao desenvolve-se no horizonte dosseus resultados, na perspetiva das suas consequncias. Entre estas consequncias, os efeitosprprios descontextualizao (fsica e/ou conceitual) dos objetos, por exemplo, a suaalienao ou secularizao e resignificao (Mensch 1992); o modo de ver especfico sob oqual os objetos so expostos no museu, o qual Alpers (1991) identifica como museum effect;e nos museus de arte, uma ateno especfica, uma metamorfose do olhar que liberta da sua

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    funo as obras de arte (Malraux 1965). Por outro lado, ainda circunscrito aos museus de arte,efeitos prprios transformao do museu no contexto primrio da arte, repleto de obras queassumem seus efeitos, suas condies de visualizao e de propriedade como um pressupostosubjacente (Buskirk 2012, 5). A discusso sobre os efeitos da musealizao toma ainda outroscontornos quando a descontextualizao e mais especificamente a recontextualizao de umobjeto no museu convertida em elemento chave da obra de arte. E aqui o readymade torna-se paradigmtico, abrindo, de uma certa maneira, a possibilidade para que o museu se torneum princpio inerente prpria obra de arte um campo disponvel para uma reordenaoconstante e, em certo sentido, causa, efeito e encarnao das atitudes e prticas que definemo momento ps-histrico da arte (Danto 1999, 28).

    21 Por fim, fala-se sobretudo sobre envolvimento crtico e agncia, de discursos (Foucault 2000,2005) e reflexividade (Giddens 1991, 2000) construdos medida que o museu dialoga comaes, proposies, agentes que tensionam e revisam as prticas e os pressupostos que osjustificam e fundamentam; situando-se neste extremo do dilogo o seu prprio objeto, i. e.,a arte contempornea, ao desafi-lo a desenvolver novas formas de expor, de colecionar, deconservar, a criar novos conceitos e categorias, a estabelecer outro tipo de mediaes, decontato com o seu pblico e com outras instituies, enfim, ao desafiar o museu a confrontar-se com os seus prprios discursos e representaes.

    22 Crimp (2005) discorre, por exemplo, sobre como as obras de Robert Rauschenberg(1925-2008), do incio da dcada de 1960, ameaavam a ordem do discurso do museu pelaintroduo da fotografia na superfcie pictrica; ao esta que significava a extino de ummodo tradicional de produo e que questionava as pretenses de autenticidade sob as quaiso museu determinava o seu conjunto de objetos e o seu campo de conhecimento. Segundoo autor, quando os agentes determinantes de uma rea do discurso comeam a ruir, abre-separa o conhecimento toda uma gama de novas possibilidades, as quais no poderiam ter sidovislumbradas do lado de dentro do antigo campo (122). Crimp refere-se runa da modernaepistemologia da arte5 e, consequentemente, da coerncia epistemolgica do museu quando omesmo permitiu que a fotografia entrasse em seus espaos, porm, no sendo o museu capazde explicar atravs do seu sistema discursivo as novas atividades estticas que surgiram como seu desmoronamento.

    23 Por outro lado, a partir da dcada de 1960 e mais sistematicamente a partir da dcada de 1980,muitos museus comearam a desenvolver estratgias crticas e reflexivas de envolvimentoatravs do dilogo estabelecido com os prprios artistas que, por via de diferentes propostas,questionam os sistemas estabelecidos de poder atrelados s prticas museolgicas, denunciamos sistemas rgidos de interpretao, revelam a existncia de narrativas mltiplas, desafiandoa histria das instituies (Putnam 2001). Refira-se, neste contexto, a abertura do museu aosartistas associados crtica institucional. Identificada inicialmente como a prtica artsticapolitizada dos finais dos anos 60 e comeo dos anos 70 (Ramsden 1975), e manifestando-se demuitas formas a partir de ento obras e intervenes artsticas, escritos crticos ou ativismoartstico poltico a crtica institucional definida de uma maneira geral como uma crticaexercida por artistas e dirigida contra s instituies artsticas principalmente o museu dearte , contra as suas funes sociais, ideolgicas e de representao (Alberro 2009). Todavia,Fraser observa que apesar de realmente agitar e corroer os alicerces do museu, provocandosignificativas transformaes, a crtica institucional:

    No uma questo de ser contra a instituio: Ns somos a instituio. uma questo de quetipo de instituio que somos, que tipo de valores institucionalizamos, que formas de prticasremuneramos, e a que tipos de recompensas aspiramos. Por ser a instituio da arte internalizada,incorporada, e representada por indivduos, estas so as questes que a crtica institucionaldemanda que perguntemos, sobretudo, a ns mesmos. (Fraser 2005, 283)

    24 Torna-se quase automtico considerarmos positivo o envolvimento crtico e reflexivo domuseu. Ainda mais tendo em conta que a reflexividade est imediatamente relacionadacom a difuso extensiva das instituies modernas, universalizadas por meio dos processosde globalizao6. Neste contexto, um museu reflexivo em sintonia com a sensibilidadelocal o que realmente se espera. Por outro lado, a questo que se coloca : ser que os

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    museus esto realmente preparados e dispostos a enfrentar as perturbaes e as instabilidadesimplcitas reflexividade? A abertura experimental ou a democracia dialgica pressupe, porexemplo, a redefinio de papis e o tensionamento das relaes de confiana, autoridade eresponsabilidade entre os agentes responsveis pela produo de conhecimento; conhecimentoeste em relao ao qual as prticas museolgicas so organizadas e que num processoativo, circular e dialgico no se apresenta apenas como resultado da perceo, aprendizadoe raciocnio, mas tambm e principalmente como o processo da perceo, aprendizado eraciocnio com a produo de um resultado especfico (Whitehead 2009). E um resultadopossvel desse processo, enquanto potncia, a reinveno do prprio museu.

    Estratgia metodolgica25 Embora este estudo tenha dialogado com distintas reas de conhecimento como os estudos

    artsticos e os estudos culturais, a sua realizao d-se no campo discursivo da museologia,assumindo o pensamento crtico museolgico como perspetiva orientadora, como programa deentendimento da realidade museal. E, de uma certa maneira, est identificado com os estudosque orbitam a museologia crtica (Shelton 2001, 2006), na medida em que se caracteriza comouma tentativa de abarcamento de tal realidade com o propsito de analisar e supervisionar todasaquelas aderncias que, com o passar do tempo, impedem o seu crescimento e revitalizao(Hernndez 2006), desde uma postura interdisciplinar, circunstancial, poltica, reflexiva eemancipadora (Padr 2003). Assim sendo, procurou-se construir um entendimento sobreos museus de arte contempornea centrado nos movimentos de atualizao, adeso, rutura,afirmao, reorientao de discursos e prticas institucionais.

    26 Assente na metodologia dos estudos de caso, a investigao deu-se em dois momentosdistintos e sucessivos. Inicialmente, desenvolveu-se de maneira exploratria e heurstica,visando desenvolver um quadro de discusso para a anlise dos casos7. Atravs de umareviso da literatura sobre museus de arte contempornea, procurou-se identificar discusses,paradigmas, questes, que, uma vez articulados pudessem fundamentar ou operar como umaabordagem ou entendimento de tais instituies. Sem a pretenso de identificar uma totalidadede discursos, definiram-se sistematicamente quatro problemticas que estariam na base dosprocessos e estudos dos museus de arte contempornea (quadro 1). Estas problemticasorientaram o primeiro contato com cada um dos casos, funcionando como linhas ou domniosde investigao.Quadro 1: Problemticas que estariam na base da prtica e do estudo dos museus de artecontempornea

    1. o museu de arte contempornea e a sua histria: a origem histrico-objetiva do museu de arte contempornea,apresentada como exemplo e resultado de um processo de consecutiva especializao e fragmentao que atingiuos museus a partir do sculo XIX, como consequente subdiviso do museu de arte e complementar ao museude arte antiga; a utilizao do termo contemporneo como maneira de definir a especializao de um museu; osvalores e as funes subjacentes sua consolidao ao longo dos seus quase 200 anos de existncia; os modelosparadigmticos; as novas perspetivas, papis, agentes e desafios que surgem a partir das ltimas dcadas do sculoXX;

    2. o museu de arte contempornea e a sua dimenso espacial/arquitetnica: os modelos arquitetnicos referenciais;o museu de arte contempornea como espao de encenao espetacular; o seu protagonismo nos projetos dereabilitao urbanstica e na projeo do poder (econmico, cultural, turstico) das cidades e dos seus governantes;

    3. o museu de arte contempornea e as suas poticas e polticas museolgicas: as narrativas e os discursosexpositivos; o dilema entre exposio permanente vs. exposies temporrias; a reviso histrica dos modos deexpor a arte contempornea; o museu como espao de experimentao, interpretao, entretenimento e produode conhecimento; o museu e os seus agentes i. e., os seus pblicos, profissionais, parceiros, mecenas e patronos; asagendas curatoriais e de pesquisa; as polticas de gesto das colees; os desafios e as estratgias de conservaoda arte contempornea;

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    4. o museu de arte contempornea e o artista: a crtica institucional; o envolvimento dos artistas na criao deestruturas institucionais; os dilogos entre o artista, o museu e o pblico.

    27 Este primeiro contato foi realizado, atravs de uma reviso da bibliografia sobre os casos e deuma leitura exploratria dos seus registos de prticas e processos. O objetivo foi perceber quaisdas quatro problemticas definidas eram compartilhadas e referidas pelos relatos e estudossobre o processo de formao institucional dos trs museus estudados e, por conseguinte,definir quais seriam assumidas como contextos ou esferas de discusso na anlise do processode construo da identidade de cada museu.

    28 A partir deste confronto foi possvel redefinir o quadro de discusso para que o mesmorespeitasse a integridade e as particularidades de cada caso, e permitisse, ao mesmo tempo,estabelecer comparaes entre eles. Este quadro passou a ser constitudo por trs esferas dediscusso (quadro 2) que orientaram a recolha e anlise dos dados no segundo momento dainvestigao.Quadro 2: Trs esferas de discusso para a anlise dos estudos de caso

    1. museu de arte contempornea: modelos paradigmticos e casos inspiradores, i. e., a consolidao do museu dearte contempornea, atravs da reproduo ou emulao de paradigmas institucionais;

    2. museu de arte contempornea em suspenso, i. e., o museu de arte contempornea entendido como umatipologia de museu que coleciona, conserva e expe a arte contempornea e que tensionado e problematizadopelas caractersticas materiais e conceituais do seu prprio objeto;

    3. dilogos entre o museu e o artista, i. e., as estratgias de envolvimento crtico e reflexivo que surgem da relaoentre o museu de arte contempornea e o artista.

    29 Assumindo durante o desenvolvimento dos estudos de caso contornos essencialmentequalitativos, esta segunda fase da investigao objetivou perceber como cada um dostrs museus selecionados contextualizavam essas trs esferas de discusso. Para tanto,desenvolveu-se uma estratgia metodolgica hbrida8, utilizando a triangulao entre mtodos(Denzin e Lincoln 2005) para a recolha de dados e uma abordagem discursivo-interpretativapara a anlise dos dados.

    Algumas consideraes finais30 Partindo de questes que surgem do encontro entre trs fenmenos que assinalam as ltimas

    cinco dcadas do mundo dos museus, nomeadamente a reinveno do museu, o boom demuseus de arte contempornea e a prpria arte contempornea, este estudo procurou construirum entendimento sobre os museus de arte contempornea, analisando os modos como osmesmos se organizam e se identificam como instituies desta natureza ao colecionarem,conservarem, exporem, tornarem acessvel e inteligvel o seu objeto. Por outras palavras,procurou-se explorar e analisar como os museus de arte contempornea contextualizamos paradigmas, as funes que os justificam e os fundamentam ao musealizarem a artecontempornea e quais so as transformaes por eles sofridas ao longo deste processo. Nestesentido, a musealizao da arte contempornea foi abordada como um processo discursivo ereflexivo de afirmao e de reinveno dos museus.

    31 Durante este estudo foi possvel perceber que os modos como os museus estudados seorganizam e se identificam no dizem respeito apenas afirmao ou reviso de discursos queos fundamentam como museus de arte contempornea e que foram aqui sistematizados emtrs esferas de anlise. Dizem respeito principalmente aos modos como se relacionam com osseus prprios contextos histricos, polticos, artsticos, culturais; e que, portanto, a anlise daconstituio e a reinveno de sua identidade teria que ser considerada, sobretudo em relao aestes contextos. E que, apesar deste estudo se centrar nos modos como os museus estudados se

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    organizam, se identificam e se reinventam ao musealizarem a arte contempornea, de se centrarprincipalmente na anlise e na interpretao dos seus discursos e de orientar a apreciaodos seus discursos por apenas trs esferas de discusso, considera-se que todo este processode organizao, identificao e reinveno do museu constitudo por uma rede muito maiscomplexa de agentes, de negociaes, de tenses e de dilemas.

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    Notas

    1 Este artigo resulta da investigao realizada no mbito do doutoramento em museologia realizado naFaculdade de Letras da Universidade do Porto, sob a orientao da professora doutora Alice Semedo,com o ttulo: Discursos e Reflexividade: Um Estudo Sobre a Musealizao da Arte Contempornea.2 Faz-se aqui uma aproximao ao conceito the artworld de Danto (1964), referindo-se assim histriado museu, ao pensamento ou teoria museolgica e importncia de ambos para o estudo e compreensodo museu enquanto tal.3 Para isso os artistas utilizaram 930 metros quadrados de uma pesada lona castanho-esverdeada e 1 219metros de corda de Manila.4 Scott (2009) cita, por exemplo, as reformas econmicas e estruturais propostas pela Organisation forEconomic Cooperation and Development (OECD) tendo como objetivo a modernizao governamental,o que exige uma maior responsabilidade na utilizao das verbas pblicas pelos rgos do setor pblico

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    ou pelos rgos financiados pelos governos; responsabilidade esta medida atravs de indicadores deeficincia econmica e eficcia na produo de resultados que cumpram com objetivos econmicos esociais gerais.5 Onde a arte apresentada como autnoma, alienada, algo parte, submetendo-se apenas prpriahistria e dinmicas internas (Crimp 2005, 14).6 No entanto, nem a radicalizao da modernidade nem a globalizao da vida social so processos queesto, em algum sentido, completos. Muitos tipos de respostas so possveis, dada a diversidade culturaldo mundo como um todo. Porm, as suas implicaes so sentidas em toda parte (Giddens 1991).7 Trs museus foram analisados neste estudo: o Museu do Chiado Museu Nacional de ArteContempornea (MNAC), instituio pertencente ao Estado portugus e situado em Lisboa, fundado em1911 e tutelado pela Direo-GeraldoPatrimnioCultural (Portugal); o Museu de Arte Contemporneade Serralves, situado no Porto (Portugal), inaugurado em 1999 e tutelado pela Fundao de Serralves,por sua vez constituda por uma participao significativa de capital privado, associada presena doEstado portugus; e o Museu de Arte Contempornea da Universidade de So Paulo (MAC-USP), noBrasil, criado em 1963, e tutelado pela Universidade de So Paulo, uma universidade pblica, mantidapelo Estado de So Paulo e ligada Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econmico, Cincia eTecnologia.8 Caracterizada pela utilizao pragmtica de princpios metodolgicos e como forma de fugir filiaorestritiva a um discurso metodolgico especfico (Flick 2009, 33).

    Para citar este artigo

    Referncia eletrnica

    Elisa Noronha Nascimento, A musealizao da arte contempornea como um processo discursivoe reflexivo de reinveno do museu, MIDAS [Online], 3|2014, posto online no dia 09 Junho 2014,consultado no dia 16 Junho 2015. URL: http://midas.revues.org/563; DOI: 10.4000/midas.563

    Autor

    Elisa Noronha NascimentoDoutora em Museologia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, mestre em Artes Visuaispela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e bacharel em Artes Plsticas pela Universidadedo Estado de Santa Catarina (Brasil). professora afiliada da Faculdade de Letras da Universidadedo Porto. Os seus interesses de investigao esto relacionados com a interseo entre os estudosartsticos e a museologia, assumindo como ponto de confluncia os museus e os centros de artecontempornea nas suas diversas dimenses (colees, exposies, espaos, agentes) e a prpriaarte contempornea como uma forma profundamente importante de pensamento e de provocao aopensamento. [email protected]

    Direitos de autor

    Revistas MIDAS

    Resumos

    Este artigo apresenta sucintamente um estudo desenvolvido sobre museus de artecontempornea, mais especificamente sobre a musealizao da arte contempornea comoum processo de atualizao, adeso, rutura, afirmao, reorientao de discursos e prticasinstitucionais. Centra-se na construo do enquadramento terico utilizado para explorar comoos museus ao musealizarem a arte contempornea realizam os paradigmas, as discusses,as funes que os justificam e os fundamentam; e quais so as transformaes por elessofridas ao longo deste processo. Essencialmente, insere-se na discusso sobre a constituioda identidade dos museus e procura compreender e refletir criticamente acerca das ideiasatuais, do conceito implcito do que vem a ser um museu de arte contempornea quando umadeterminada instituio se manifesta como tal.

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    The musealization of contemporary art as a discursive and reflexiveprocess of museums reinventionThis article concisely presents a study about museums of contemporary art. Specifically,it examines the 'musealization' of contemporary art as a process of updating, accessing,rupturing, affirming and reorienting institutional discourses and practices. Building atheoretical framework, it explores how institutions apply paradigms, discussions and functionsthat justify and support them, as well as the transformations that occur during the processof musealization of contemporary art. Essentially, it enters the debate regarding museumsidentity, while searching for a critical understanding and reflection on current and implicitideas of what constitutes a contemporary art museum when institutions manifest themselvesas such.

    Entradas no ndice

    Keywords :contemporary art museum, museum identity, musealisationPalavras-chave :museu arte contempornea, museus e identidade, musealizao