referências a mamíferos marinhos n'os lusíadas:

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Evans, Joám; Crespo, Óscar; Kristensen, Bárbara, Eds.: Estudos Atlânticos. Instituto Galego de Estudos de Segurança Internacional e da Paz, Rianxo, 2006 (35-47) 35 Referências a mamíferos marinhos n’Os Lusíadas: A realidade biológica e o mundo natural na base da narrativa épica Cristina Brito Centro de História de Além-Mar, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas Universidade Nova de Lisboa, Lisboa (Portugal) Resumo Os Lusíadas constituem um capítulo da história marítima portuguesa, a glorificação do desco- brimento do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama, escrito pelo marinheiro e poeta Luís de Camões. A narrativa assenta na realidade histórica do povo português, mas os acontecimentos reais são também influencia- dos pelos deuses da mitologia, os anjos e os santos. Mas, para além das suas características épicas e históricas, Os Lusíadas são também uma fonte valiosa de descrições da paisagem, da geografia, dos animais e das plantas ao longo da viagem marítima para a Índia. Na verdade muitos dos seres vivos que os navega- dores portugueses encontraram ao longo da sua jornada foram nessa altura observados pela primeira vez. Outros, no entanto, eram já mais familiares, fosse por fazer parte, ou por serem semelhantes a outros, da fauna e flora de Portugal ou de outras regiões conhecidas. Fazendo referência apenas aos mamíferos ma- rinhos que surgem como a base biológica sobre a qual o autor construiu o poema, encontra- mos os golfinhos ou delfins e as focas ou quo- quas. Mais misteriosas e mitológicas surgem as sereias ou sirenas, que enfeitiçavam os mari- nheiros com os seus cantos, mas na verdade têm a sua origem nos gordos e pachorrentos manatins e dugongos. Abstract Os Lusíadas are an important chapter of the maritime Portuguese history, the glorification of the discovery of the maritime route to India by Vasco da Gama, wrote by the poet Luís de Camões. The poem is based on the historical reality of the Portuguese people, but some real events described are also influenced by mythological gods, angels and saints. Besides its epical and historical characteristics, Os Lusíadas are also a valuable source of sight- ings, geography, animals and plants descrip- tions along the maritime journey to India. In fact, many of the animals that the navigators found in this journey were seen for the first time by the Occidental world. Nevertheless, some others were already familiar to the Por- tuguese, because they were a part or similar to Portugal or other regions fauna. Just refer- ring to marine mammals that appear as a bio- logical basis from which the author created the poem, the dolphins or delfins, as well as the seals or quoquas, can be referred. More mysterious and mythological than these ani- mals, the mermaids or sirenas, which be- witched the sailors with their magnificent chants, can also be found. In reality, these beautiful creatures had their true origin in the fat and slow moving manatees and dugongs.

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Page 1: Referências a mamíferos marinhos n'Os Lusíadas:

Evans, Joám; Crespo, Óscar; Kristensen, Bárbara, Eds.: Estudos Atlânticos. Instituto Galego de Estudos de Segurança Internacional e da Paz, Rianxo, 2006 (35-47)

35

Referências a mamíferos marinhos n’Os Lusíadas: A realidade biológica e o mundo natural na base da narrativa épica

Cristina Brito

Centro de História de Além-Mar, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas

Universidade Nova de Lisboa, Lisboa (Portugal)

Resumo

Os Lusíadas constituem um capítulo da história

marítima portuguesa, a glorificação do desco-

brimento do caminho marítimo para a Índia

por Vasco da Gama, escrito pelo marinheiro e

poeta Luís de Camões. A narrativa assenta na

realidade histórica do povo português, mas os

acontecimentos reais são também influencia-

dos pelos deuses da mitologia, os anjos e os

santos. Mas, para além das suas características

épicas e históricas, Os Lusíadas são também

uma fonte valiosa de descrições da paisagem,

da geografia, dos animais e das plantas ao

longo da viagem marítima para a Índia. Na

verdade muitos dos seres vivos que os navega-

dores portugueses encontraram ao longo da

sua jornada foram nessa altura observados

pela primeira vez. Outros, no entanto, eram já

mais familiares, fosse por fazer parte, ou por

serem semelhantes a outros, da fauna e flora

de Portugal ou de outras regiões conhecidas.

Fazendo referência apenas aos mamíferos ma-

rinhos que surgem como a base biológica sobre

a qual o autor construiu o poema, encontra-

mos os golfinhos ou delfins e as focas ou quo-

quas. Mais misteriosas e mitológicas surgem as

sereias ou sirenas, que enfeitiçavam os mari-

nheiros com os seus cantos, mas na verdade

têm a sua origem nos gordos e pachorrentos

manatins e dugongos.

Abstract

Os Lusíadas are an important chapter of the

maritime Portuguese history, the glorification

of the discovery of the maritime route to India

by Vasco da Gama, wrote by the poet Luís de

Camões. The poem is based on the historical

reality of the Portuguese people, but some

real events described are also influenced by

mythological gods, angels and saints. Besides

its epical and historical characteristics, Os

Lusíadas are also a valuable source of sight-

ings, geography, animals and plants descrip-

tions along the maritime journey to India. In

fact, many of the animals that the navigators

found in this journey were seen for the first

time by the Occidental world. Nevertheless,

some others were already familiar to the Por-

tuguese, because they were a part or similar

to Portugal or other regions fauna. Just refer-

ring to marine mammals that appear as a bio-

logical basis from which the author created

the poem, the dolphins or delfins, as well as

the seals or quoquas, can be referred. More

mysterious and mythological than these ani-

mals, the mermaids or sirenas, which be-

witched the sailors with their magnificent

chants, can also be found. In reality, these

beautiful creatures had their true origin in the

fat and slow moving manatees and dugongs.

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Cristina Brito

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Introdução

Os portugueses foram primeiro pescadores costeiros, a seguir navegadores de

longo curso e, finalmente, os primeiros descobridores, nos Tempos Modernos, das ter-

ras que circundavam o Mar Atlântico e das ilhas que nele afloravam. N’Os Lusíadas, ao

longo dos seus X cantos, o Poeta criou uma narrativa maravilhosa, escreveu o poema

nacional, heróico e homérico, a glorificar estes feitos marítimos dos portugueses, en-

quanto gentes do mar e da exploração em busca do desconhecido. Os Lusíadas consti-

tuem, um primoroso capítulo da História da Marinha portuguesa, a glorificação do

descobrimento do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama, escrito por um

marinheiro e poeta de um excepcional talento que se chamou Luís Vaz de Camões

(Oliveira, 1908: 11).

Para quem o saiba ler, sentir, e bem interpretar, ainda hoje Os Lusíadas são

fonte de bravura e temeridade onde, em muitos episódios, personagens e aconteci-

mentos atingem proporções gigantescas. Enquanto epopeia erudita corresponde a uma

certa exigência colectiva da nação e é fruto da sua época. Perpassa, assim, diante de

nós uma sucessão de acontecimentos da história de um povo, num género literário tí-

pico da infância dos povos, quando a história e a lenda se confundem. A narrativa as-

senta na realidade histórica do povo português, mas na acção intervêm igualmente os

deuses da mitologia, os anjos e os santos, e os acontecimentos reais são também in-

fluenciados pela presença de Deus, de fadas e de bruxas (Alves, 1994: 25).

Ocorre ao longo do poema épico, o maravilhoso cristão e pagão, misturado com

o maravilhoso supersticioso e popular. As epopeias são, na verdade, a história do sen-

tir dos povos, artística ou poeticamente representada, pois enquanto uma crónica

conta, o poema canta e glorifica. Mas, para além das suas características épicas e his-

tóricas, Os Lusíadas são também uma fonte valiosa de descrições da paisagem, da ge-

ografia, da fauna e da flora ao longo da viagem marítima para a Índia. Na verdade,

muitos dos animais e plantas que os navegadores portugueses encontraram no decor-

rer da sua jornada, foram nessa altura observados pela primeira vez através de olhos

incrédulos e surpreendidos. Outros, no entanto, eram já mais familiares, fosse por fa-

zer parte, ou por serem semelhantes a outros, da fauna e flora de Portugal ou de ou-

tras regiões conhecidas. Devemos, no entanto, referir que não há a considerar n'Os

Lusíadas uma fauna, nem uma flora, mas sim, apenas alusões a animais, a plantas ou

a paisagens quando isso convém à elaboração do poema (Frade, 1972: 285). Apesar

disso, as referências a determinados animais, reais ou fantasiados, poderão dar-nos

uma noção das espécies faunísticas que viviam naquela época nas regiões por onde os

portugueses passaram.

Neste trabalho é feita a interpretação das palavras de Luís de Camões n’Os Lu-

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síadas, para determinar a ocorrência de mamíferos marinhos, para tentar perceber

quais as espécies que eram encontradas pelos navegadores daquele período, em espe-

cial, na costa ocidental africana. Para apoiar as descrições feitas pelo Poeta, vamos

procurar fundamento em algumas observações de pilotos, nos relatos das viagens ma-

rítimas e nos registos feitos por marinheiros. Neste sentido, grande parte da discussão

das referências obtidas é feita de forma complementar com outras fontes históricas

para este período da história de Portugal e da história do Atlântico. Nestas narrativas

vê-se que a ciência caminha às apalpadelas e que, muitas vezes, a lenda surge.

Lenda, que não é talvez outra coisa que verdade mascarada, história disfarçada (La

Croix, 1978: 18). Mas, ainda assim, tentamos destrinçar as histórias e as lendas, para

seguir o rastro dos golfinhos, das focas, dos sirénios e do âmbar cinzento dos cachalo-

tes ao longo desta narrativa épica. Assim sendo, o principal objectivo é descobrir a

verdade científica, as observações zoológicas e o mundo natural subjacentes a cada

uma das referências aos grandes animais marinhos do misterioso e maravilhoso Mar

Oceano. Para além disso, as referências a mamíferos marinhos n’Os Lusíadas acabam

por ser um pretexto para a discussão das ocorrências destes animais nas viagens marí-

timas dos portugueses durante a época dos descobrimentos no Oceano Atlântico.

Os golfinhos

Os golfinhos surgem n'Os Lusíadas, por diversas vezes e em várias situações,

sempre pelo nome de Delfim. No canto VI, estância 77, encontramos versos com refe-

rência aos golfinhos: "Os delfins namorados, entretanto/Lá nas covas marítimas en-

traram/Fugindo à tempestade e ventos duros/Quem nem no fundo os deixa estar se-

guros". Estes animais são, segundo Frade (1972: 307), os verdadeiros golfinhos, os gol-

finhos-comuns, pertencentes à espécie Delphinus delphis. Segundo o zoólogo B. Osó-

rio (1906: 198) os delphins ou golfinhos a que se refere Luís de Camões «namorados,

assim lhes chama o Poeta, por que se vêm muitas vezes à superfície dos mares ou

pelo tempo sereno subindo ou descendo os nossos rios, o Tejo por exemplo, quasi

sempre aos casais, macho e fêmea caminhando juntos, são bastante vulgares para

que precisemos dizer d'elles alguma coisa». Frade (1972: 307) acrescenta ainda que

pelo mesmo nome são popularmente designadas outras espécies de golfinhos, de pe-

quena estatura, tais como Phocoena phocoena, a toninha, hoje chamado boto, e Tur-

siops tursio, o roaz corvineiro, hoje denominado golfinho-roaz e de nome específico

Tursiops truncatus.

Nos trabalhos anteriormente referidos, ambos os autores associam os delfins de

Luís de Camões à espécie Delphinus delphis, provavelmente devido à semelhança or-

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tográfica e onomatopeica entre o termo português para o nome comum do animal e o

termo latim para o seu nome específico. Na realidade, estes golfinhos encontrados ao

longo dos caminhos marítimos, poderão ser quaisquer grupos das diversas espécies de

pequenos cetáceos oceânicos que vivem nas águas costeiras da África Ocidental e no

Oceano Atlântico. Animais de hábitos gregários, vivem em grupos de grandes dimen-

sões (até milhares de indivíduos) onde se encontram adultos, juvenis e crias, e muitas

vezes acompanham as embarcações durante longos períodos de tempo.

Figura 1. Peixes voadores, tubarões e golfinhos rodeando um navio da época das descobertas nas costas ocidentais africanas. Gravura do século XVI de retirada de Peres (1982: 58).

Sendo animais muito curiosos, alguns podem deslocar-se e saltar nas ondas for-

madas à proa das embarcações, e também na esteira de água deixada pelos barcos,

mas muitos mais podem ser observados à superfície do mar numa grande extensão em

redor da embarcação (ver Figura 1 e Figura 2). Descrições destas podem ser encontra-

das nos relatos das viagens marítimas ao longo da costa ocidental de África, como a

que se encontra na narração da “Segunda viagem de Paulo Dias Novais de Garcia Si-

mões para o provincial, de São Paulo de Luanda, a vinte de Outubro de 1575” (Anó-

nimo, 1989a: 93-94).

Mas não deixarei de contar uma coisa que nela aconteceu e foi muito maravi-lhosa e que até este dia não se tinha visto outra semelhante, que foi o mar fes-tejar este alegre dia de Natal, louvando ao Senhor com o seu pescado, porque amanheceu o nosso galeão com as mais velas, cercadas ao redor com tanta soma de peixes grossos sobre a água, que quase uma légua não se via outra coisa, e o que mais me espantava era que davam cambadelas como meninos com cabeça na água e todo o corpo em cima, outros dando grandes saltos para cima faziam grande estrondo no mar. Este espectáculo durou duas horas. (...) Aos dezassete de Janeiro tivemos vista da ilha de Ano Bom, que está de Angola duzentas lé-guas e vinte e cinco de São Tomé. Depois da linha até aqui tomámos muitos pei-xes grandes como toninhas, que são como porcos e outros semelhantes.

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Embora surgindo em grupos numerosos, as suas vindas à superfície para respirar,

apenas deixam vislumbrar a cabeça, a zona dorsal e a barbatana dorsal, o que não

permite fazer distinção entre espécies, a qual muitas vezes se baseia na observação

cuidada da coloração do corpo e da forma e tamanho da cabeça e do bico.

Por vezes, em determinadas situações em que os golfinhos saltam completa-

mente fora de água, a observação do corpo por completo ou do tipo de saltos que

executam permite identificar as diferentes espécies de golfinhos. No entanto, para os

marinheiros da época dos descobrimentos estes encontros eram motivo de exaltação e

de novidade, e não de observações zoológicas rigorosas. Mesmo assim algumas descri-

ções, como a de Paulo Dias Simões (Anónimo, 1989a: 94) que se segue, permitem-nos

identificar, sem grande dúvida, a espécie observada.

Ao primeiro de Fevereiro pusemo-nos na altura do rio de Congo, sete graus da linha para cá. (...) Neste dia se chegou ao galeão um peixe, andando algum tempo ao redor dele, o qual não mostrava outra coisa senão uma bandeira preta como grande asa de pavão direita a cima. E, correndo a gente do mar a ver esta novidade, espantou-se e nunca mais apareceu.

Paulo Dias Simões e os seus marinheiros observaram provavelmente uma orca

(Orcinus orca), cuja barbatana dorsal preta do macho poderá ter até 2 metros de al-

tura e parecer um grande estandarte fora de água. Na Guiné-Bissau, ainda hoje se

utiliza o nome vernáculo “roaz de bandeira” para denominar a orca (Reiner e Simões,

1999: 128).

Figura 2. Grupo oceânico de golfinhos-malhados (Stenella attenuatta) nas águas do arquipélago de São Tomé e Príncipe (Golfo da Guiné, África Ocidental) em Outubro de 2005. Fotografia da au-toria de Inês Carvalho.

Voltando aos Lusíadas e ao seu autor, nem sempre que é utilizado o termo Del-

fim, este se refere ao animal em termos da sua ocorrência biológica, existindo outros

sentidos subjacentes. Existe uma situação, no canto VI estância 22, em que, segundo

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Frade (1972: 307), por Delfim se entende a constelação desse nome no hemisfério sul:

"Anfitrite, fermosa como as flores/Neste caso não quis que falecesse/O delfim traz

consigo que aos amores/Do Rei lhe aconselhou que obedecesse". No entanto, para Al-

ves (1994: 101), esta estância tem outra interpretação, aludindo aos amores de Nep-

tuno por Anfitrite. De acordo com o mito, Anfitrite recusou o casamento com Neptuno

e escondeu-se, mas este enviou um delfim que a descobriu e a convenceu a render-se

ao seu amor. Neptuno corresponde ao grego Poseidon, filho de Saturno e Cibele. Era

venerado como deus do Mar e antes das expedições marítimas os navegadores invoca-

vam-no e ofereciam-lhe sacrifícios. Representavam-no nu, com barba e cabeleira

farta, tendo por insígnia o tridente, e muitas vezes aparecia acompanhado por um

golfinho (Alves, 1994: 159).

As focas

No canto I, estância 52, surge a referência a focas: "E, por mandado seu, bus-

cando andamos/A terra Ocidental que o Indo rega/Por ele o mar remoto navega-

mos/Que só dos feios focas se navega". A palavra foca era, no Português Arcaico do

séc. XVI, do género masculino (Alves, 1994: 120) e, em geral, considerava-se que sur-

gia como reforçando o sentido de algo feio. Segundo alguns autores, nos mares nave-

gados pelos portugueses não eram frequentes as focas, pelo que o termo se deve en-

tender no sentido de animais raros e estranhos, de regiões muito distantes. Osório

(1906: 184-185) refere ainda que «quem recordar estes versos, estudando a geogra-

phia zoológica actual, não comprehenderá de certo o poema n'este ponto, porque nos

mares nunca d'antes navegados, por Vasco da Gama, e pelos que o precederam n'ou-

tras viagens até ao Cabo da Boa Esperança, não existem phocas presentemente». No

entanto, continua a dizer, «não há dúvida, porém, que existiam na ephoca em que foi

percorrido pela primeira vez o caminho marítimo para a Índia».

Existem, na verdade, diversas referências historiográficas que permitem de-

monstrar que as focas ou lobos-marinhos habitavam o mar tenebroso navegado pelos

portugueses. Segundo a Relação da Primeira de Viagem de Vasco da Gama, decorrida

entre 1497 e 1499 (Anónimo, 1989b: 10): “A vinte e sete dias do mês d'Outubro ves-

pora de Sam Simam e Judas, que era sexta feira, achamos muitas baleas, e hummas

que se chamam quoquas, e lobos marinhos».

Este relato permite perceber que se referem a focas encontradas no Atlântico

durante a sua viagem, pois o termo português “cocas” lembra onomatopaica e orto-

graficamente o termo “Koky” utilizado por Alberto Magno em De Animalibus para des-

crever focas (Almaça, 1998: 48).

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Outras descrições, referindo os lobos-marinhos, são encontradas na “Chronica

do descobrimento e conquista da Guiné” de Zurara na descrição de Afonso Gonçalves

Baldaia quando chegou ao Rio do Ouro (Zurara, 1989: 30):

E porque viu, em uma coroa que estava à entrada do rio, grande multidão de lo-bos-marinhos (os quais, segundo estimaçam d’alguns seria ataa cinquo mil), fez matar aquelles que pôde, de cujas pelles fez carregar seu navyo, pois, ou por serem ligeiros de mattar ou por o engenho daquelles ser auto pêra tal feito, fe-zeram em aquelles lobos muy grande matança. (...) E foi isto no ano de Jesus Cristo de 1436.

Noutras páginas deste livro (Zurara, 1989: 31), existem mais referências aos lo-

bos-marinhos que se encontravam na costa de África e noutras regiões do Oceano

Atlântico percorridas ou visitadas pelos portugueses:

Bem he que foram contra aquellas partes dous navyos, cada um por sua vez, mas huu se tornou por tempo contrário, e o outro hya somente ao Ryo do Ouro por pelles e azeite daquelles lobos marinhos que já falamos nos outros capítulos ante deste.

Em termos biológicos, as focas ou lobos-marinhos referidos nestas antigas des-

crições de Zurara, correspondem à espécie Monachus monachus, hoje em dia vulgar-

mente conhecida por foca monge mediterrânea. Provavelmente seria esta espécie,

mediterrânea e mais meridional no Atlântico, a predominante ou exclusiva naquelas

paragens da costa ocidental africana e naqueles tempos (Frade, 1972: 310). Outrora

bastante disseminada, a intensidade com que os portugueses as caçaram, matando-as

aos milhares no período dos descobrimentos marítimos, levou à dizimação dos lobos-

marinhos nestas antigas paragens da costa ocidental africana. Encontra-se actual-

mente limitada a pequenas populações isoladas na Madeira, nas costas ocidentais

africanas e nas zonas costeiras e ilhas do Mediterrâneo (Rice, 1998: 46).

No entanto, as descrições encontradas nos Lusíadas, tal como a do Roteiro da

Viagem de Vasco da Gama, terão que ser consideradas com cuidado no que diz res-

peito à espécie em causa. Infelizmente, estas descrições não nos dão uma ideia clara

do local geográfico onde a observação destes animais ocorreu, sabendo-se apenas que

foi no Oceano Atlântico. Hoje em dia é sabido que os lobos-marinhos (ou seja, a espé-

cie foca monge do Mediterrâneo) não habitam as águas do Atlântico sul. Assim, pode

dar-se o caso de, uma vez identificadas e denominadas as focas achadas pela primeira

vez na Madeira pelos portugueses, fosse atribuído o mesmo nome a animais encontra-

dos em outros locais e com uma aparência morfológica semelhante. Estes animais en-

contrados algures na zona oriental do Atlântico sul poderiam, eventualmente, ser le-

ões-marinhos ou otárias, espécies muito abundantes nessas regiões, mas biologica-

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mente distintas do lobo-marinho aqui tratado. De futuro, mais estudos e análises

comparativas de descrições anatómicas e comportamentais de animais diversos, que

surgem nas fontes historiográficas, poderão permitir esclarecer com maior clareza

esta questão.

Os sirénios

As sereias, ou sirenas, surgem como os seres mitológicos, que enfeitiçavam os

navegantes com os seus cantos, provocando naufrágios, e que os devoravam de se-

guida (Alves, 1994: 187). No canto V, estância 88, lê-se: “Cantem, louvem e escrevam

sempre extremos/Desses seus Semideuses e encareçam/Fingindo magas Circes, Poli-

femos/Sirenas que co canto os adormeçam”. Novamente no canto X, estância 5: “Mú-

sicos instrumentos não faltavam/(Quais, no profundo Reino, os nus espritos/Fizeram

descansar da eterna pena)/Cua voz angélica de Sirena”. De novo, no canto X, estân-

cia 45: “Mais estanças cantara esta Sirena/Em louvor do ilustríssimo Albuquer-

que/Mas alembrou-lhe uma ira que o condena/Posto que a fama sua o mundo cer-

que”. As sereias surgem sempre associadas a canções que entoam com a sua voz an-

gélica e, em cada um dos cantos, se denota claramente “o maravilhoso canto da se-

reia” em que a acção se desenrola sob o influxo destes entes sobrenaturais (Alves,

1994: 297). Portanto, n’Os Lusíadas, o Poeta usou o termo Sirenas para aludir às ca-

racterísticas fantásticas destas criaturas, mas à época existiam já outras descrições

destas sereias enquanto animais pertencentes à ordem dos sirenídeos. É de salientar

uma passagem do “Tratado das ilhas Molucas e dos costumes dos índios e de tudo o

mais”, no seu capítulo X quando se refere “Dos pescados e mariscos” (Anónimo,

1989c: 21-22).

Há aí muitos pescados de mar e nenhum dos rios; o principal é um a que cha-mam juro e de coiro; nunca melhor vi em outras partes senão aqui e quando to-mam por tal o apresentam aos reis e senhores; na grandeza é como uma toninha e parece no focinho e cabeça vaca e os Portugueses assim lhe chamam peixe-vaca, porque em postas por tal é julgada (...) e nos ombros junto do pescoço tem umas barbatanas como braços com que se governa e come erva ao longo da ribeira quanto pode alcançar; deitam de meio corpo fora do mar; as fêmeas têm nos peitos duas tetas com que criam os filhos. Tudo isto são coisas que creio não verem nem escreverem de pescados os antepassados, ainda que muitos me afir-maram que na costa de Melinde havia peixes que tinham figura de natureza de mulher e o mais do tempo andavam em pé (...).

Os sirenídeos, manatins e dugongos, são grandes e vagarosos herbívoros mari-

nhos comummente denominados por vacas marinhas. Estes animais estão incluídos na

Ordem Sirenia, cujo termo deriva do latim Siren e cujo significado indica que são se-

melhantes a sereias. As sereias (termo inglês Siren), na mitologia grega e romana,

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eram criaturas metade mulher e metade ave, viviam em ilhas e entoavam doces can-

ções que enfeitiçavam os marinheiros e os conduziam até aos recifes onde naufraga-

vam (Rice, 1998: 127). Na Idade Média, alguns autores confundiram estas criaturas

com outras caracterizadas por serem metade mulher e metade peixe, também deno-

minadas por sereias (termo inglês Mermaids), e foram estas sereias que os navegado-

res portugueses julgaram encontrar quando observaram pela primeira vez os estra-

nhos manatins. A forma alongada do corpo, que termina com uma grande barbatana

caudal, e as glândulas mamárias desenvolvidas localizadas debaixo das barbatanas

peitorais, conduziram a uma associação entre estes mamíferos marinhos e as sereias

metade mulher metade peixe.

Na Guiné-Bissau, onde estes animais ainda existem em abundância (Schumann

estimou, para 1997, a população em cerca de 10.000 indivíduos) ainda hoje se lhes dá

o nome de “peixe-mulher” (Reiner e Simões, 1999: 119). Actualmente, estes manatins

(Trichechus senegalensis), podem ser encontrados nas zonas média e inferior dos mai-

ores rios da África Ocidental, distribuindo-se desde o Senegal até Angola (Rice, 1998:

130).

O âmbar

Em dois passos diferentes do seu poema, Luís de Camões refere-se à massa ou

âmbar cinzento. No canto VI, estância 25: “De fumos enche a casa a rica massa/Que

no mar nasce a Arábia em cheiro passa.” No canto X, estância 37: “Outras ilhas, no

mar também sujeito/A vós, na costa de África arenosa/Onde sai do cheiro mais per-

feito/A massa, ao mundo oculta e preciosa”. Segundo Osório (1906: 197), a massa a

que o Poeta, assim como outros dos nossos escritores antigos se referem, é o âmbar

cinzento, uma substância muito empregada em perfumaria até meados do século XX e

que provém dos intestinos dos cachalotes: «é uma concreção ou cálculo que n’elles se

forma». Encontrada flutuando nos mares da costa oriental de África, sem lhe conhe-

cerem a proveniência, muitos julgaram, tal como Luís de Camões, que nascia do mar.

Alves (1994: 60) refere também que o âmbar é uma substância sólida, oleosa, com

cheiro a almíscar, usado como perfume e remédio. Segundo o mesmo autor abunda

em Sofala, na costa da Arábia e em maior quantidade na costa da Etiópia. Aguça o en-

tendimento, aviva a memória, faz bem ao espasmo, paralisia e gota. Frade (1972:

317) afirma que o âmbar é, de facto, uma concreção intestinal do cachalote (Physeter

macrocephalus), extraída do cetáceo ou, depois de expelida, encontrada junto às

praias flutuando na superfície do mar.

Noutro estudo, Frade (1963: 712-713) ao analisar o terceiro colóquio de Garcia

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da Orta que é inteiramente dedicado ao âmbar e daí ser chamado “Colóquio Terceiro

do Ambre”, refere-se também quanto à origem desta substância. Na opinião de alguns

seria o esperma da baleia, na de outros esterco do animal ou ainda “fonte que ema-

nava do fundo do mar”, aceitando Orta esta hipótese. O conde de Ficalho, ao fazer o

comentário dos dizeres de Orta respeitantes ao âmbar, refere que este se produz no

intestino terminal do cachalote, sob a forma de concreção, que pode ser extraído

deste cetáceo ou é expelido pelo animal no momento de ser arpoado. Numa outra

obra (Almaça, 1998: 29) que também discute os colóquios do grande naturalista por-

tuguês do Renascimento, referem-se ainda algumas curiosidades sobre este produto

natural, nomeadamente que já se tinha visto um pedaço de âmbar grande como um

homem e muitas vezes este vem cheio de bicos de pássaros ou com cascas de mariscos

misturadas.

O âmbar cinzento é realmente uma substância que se forma apenas no intestino

terminal dos cachalotes (Physeter macrocephalus) e que, provavelmente, é expelido

durante a defecação. Este contém geralmente numerosas maxilas dos cefalópodes – os

bicos -, pois este é o alimento típico desta espécie de cetáceos. Como é menos denso

que a água, o âmbar flutua quando é expelido pelos cachalotes e pode ser encontrado

a flutuar na superfície da água ou sendo arrojado às praias. Ainda no decorrer do sé-

culo XX, este produto era muito apreciado e valioso por se tratar de um excelente fi-

xador de perfumes, mas mais recentemente passou a ser substituído por um composto

sintético (Almaça, 1998: 30).

Discussão

No fim desta análise observa-se que não existe, obviamente, n’Os Lusíadas um

tratado de zoologia, apesar das inúmeras referências aos mais distintos animais,

desde os mamíferos marinhos aos peixes, passando igualmente pelas aves e répteis.

Em geral, a psicologia dos animais e os seus comportamentos são invocados por Ca-

mões quando este desejava evidenciar determinadas qualidades humanas e estabele-

cer simples comparações ou paralelos (Osório, 1906: 178). Ainda assim, à semelhança

do que Frade (1972: 318) também refere, fica a noção de que o Poeta tinha uma cul-

tura excepcional, para a época em que viveu, e que estava bem documentado nos

múltiplos assuntos que versou. A sua obra reflecte de um modo claro, a par das tradi-

ções lendárias, o que a ciência de então havia averiguado.

Toda a ciência, decorrente da experiência dos descobrimentos, sobre os grandes

animais marinhos e os seus produtos naturais, tal como é o caso dos cachalotes e do

âmbar cinzento, provém apenas de fugazes observações. O conhecimento obtido é o

Page 12: Referências a mamíferos marinhos n'Os Lusíadas:

Estudos Atlânticos @@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@

Literaturas Atlânticas Comparadas

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resultado de descrições apressadas, muitas vezes, exacerbadas e fantasiosas, não

existindo qualquer espírito naturalista nem um verdadeiro conceito científico subja-

cente. Isto implica que nas diversas fontes históricas dos séculos XV e XVI não se re-

conheça verdadeiramente uma ciência zoológica. As referências a animais, mais ou

menos extensas, figuram normalmente por associação estrita com os produtos a que

dão origem (Frade, 1963: 695). O reduzido conhecimento que nos chega desta época,

e não apenas através da obra Os Lusíadas, surge de relatos com intuitos pragmáticos e

comerciais, numa perspectiva altamente predatória. Na verdade, estes grandes ani-

mais funcionavam como uma fonte rica e alternativa de alimento e de sustento para

as populações humanas em diversos locais geográficos e mesmo durante as viagens

marítimas de exploração.

Apesar disso, Luís Vaz de Camões ao contar a viagem de Vasco da Gama à Índia,

o assunto principal do poema, vai referindo copiosamente os diversos fenómenos da

natureza, apontando as plantas e os animais que surpreenderam os navegadores, quer

pela sua abundância quer pela estranheza do seu aspecto (Osório, 1906: 184). De

qualquer das formas é importante salientar que, geralmente nesta altura, a curiosi-

dade humana estava ainda fortemente limitada pelas influências do pensamento me-

dieval e pelo conhecimento enciclopédico. Era ainda muito cedo para uma abordagem

naturalista ou científica face aos episódios que os mamíferos marinhos proporciona-

vam, a qual só muito mais tarde se começa a perceber.

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Page 13: Referências a mamíferos marinhos n'Os Lusíadas:

Referências a mamíferos marinhos n’Os Lusíadas @@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@

Cristina Brito

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Agradecimentos

Este trabalho foi financiado por uma Bolsa de Doutoramento atribuída pela Fun-

dação para a Ciência e Tecnologia, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Su-

perior do governo português (SFRH/BD/21836/2005). Agradece-se ainda o apoio logís-

tico do CHAM – Centro de História de Além-Mar da Faculdade de Ciências Sociais e

Humanas da Universidade Nova de Lisboa e da Escola de Mar – Investigação, Projectos

e Educação em Ambiente e Arte.

«nos mares nunca dantes navegados, por homens e só por animais, alude às feias focas»

Fernando Frade sobre Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões.